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São normas materiais, imperativas, de Direito NORMAS DE APLICAÇÃO IMEDIATA Ana Maria Varela

Público ou de Direito Privado. Conseguem


aplicar-se a situações específicas e muito São um processo de regulação
concretas. de situações privadas
internacionais autónomo do Norma
● ANTÓNIO MARQUES DOS SANTOS: processo de regulação indireto Norma de
são normas materiais especialmente (à parte do processo conflitual). material conflitos
auto-limitadas (porque têm um âmbito Portanto, primeiro cumpre ver ad hoc
de aplicação no espaço diferente daquele se há norma de aplicação
que resulta das normas de conflitos) e imediata, caso em que se aplica
com uma especial intensidade a mesma; e o resto resolve-se
valorativa (porque estão sempre ao com recurso à articulação As normas de aplicação imediata são compostas
serviço de importantes fins do Estado). hierárquica entre normas. por dois elementos:
● DÁRIO MOURA VICENTE e LIMA 1) componente material – norma material
PINHEIRO: são sempre normas O processo é o processo de especial intensidade imperativa: são
materiais (e nunca normas de conflitos), conflitual, mas a técnica normas imperativas, sendo essenciais para
mas podem ou não estar ao serviço de utilizada é que é diferente, pois a organização social, económica e política
fins do Estado. aqui aplicam-se sempre normas de um ordenamento jurídico; pretendem
de conflitos unilaterais ad hoc. apoiar-se em certas situações mesmo que
portanto, primeiro identifica-se as normas de conflitos gerais não digam
Há uma definição de normas de aplicação
a norma de conflitos, e depois que são elas as competentes;
imediata no art. 9.º do Regulamento Roma I,
vê-se se há alguma norma que 2) norma de conflitos ad hoc a ela acoplada
em que se fala em disposições cujo respeito é
derrogue essa regra. – que delimita seu campo de aplicação
considerado fundamental. A este propósito,
no espaço: aplicam-se por uma norma de
ELSA DIAS OLIVEIRA critica que o artigo diz
conflitos acoplada.
menos do que deveria dizer, já que em matéria
de proteção da parte mais fraca se podem
encontrar normas de aplicação imediata, o que
não está claro no art. 9.º/ 1.
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Com âmbito explícito NORMAS DE APLICAÇÃO IMEDIATA Ana Maria Varela
EXEMPLO: o art. 23.º/ 1 da Lei das
Cláusulas Contratuais Gerais refere Com âmbito implícito
quais as cláusulas contratuais gerais EXEMPLO: o art. 1682.º-A do Código Civil tem uma
proibidas. Ou seja, há uma norma de norma de conflitos ad hoc implícita, e não expressa, a
aplicação material, porque há um acompanhar. Então, a única forma de aplicar esta
regime material (o das cláusulas Se não há conexão mais estreita com o
disposição é através de uma construção dogmática
contratuais gerais na secção indicada), foro, sendo a lei escolhida pelas partes
(olhar para a norma e interpretá-la, para entender se
sendo que a última parte manifesta uma a portuguesa…
esta tem um campo de aplicação que extravasa o que
norma de conflitos ad hoc acoplada ao ● DÁRIO MOURA VICENTE
estava determinado pelas normas de conflitos gerais).
regime material, que diz que o regime entende que o art. 21.º, d) da
material será aplicado desde que o Lei das CCG é aplicável por ● MARQUES DOS SANTOS descobre estas normas pela via
contrato apresente uma conexão estreita força da regra de conflitos geral interpretativa, a partir dos fins da norma de aplicação imediata
com o território português. (o art. 3.º do Regulamento (especial intensidade valorativa). Olhando para o art. 1682.º-A
- O art. 23.º da Lei das CCG é Roma I). do CC, está subjacente a estabilidade patrimonial da família,
uma norma de conflitos que ● MARQUES DOS SANTOS havendo um interesse fundamental do Estado a aplicar esta
fala numa conexão estreita com entende que a norma de norma. Utiliza-se um método autónomo, a priori. Se se
a ordem portuguesa, aplicação imediata – o art. 21.º, concluísse que estava presente uma norma de aplicação
atribuindo-lhe competência. d) – só pode ser aplicada imediata, aplicava-se esta norma com precedência.
- Norma de conflitos ad hoc: art. quando a norma de conflitos – ● LIMA PINHEIRO e DÁRIO MOURA VICENTE sustentam
21.º, d) da Lei das CCG. É o art. 23.º – o permitir (caso que as normas de aplicação imediata podem ou não estar ao
expressa, porque remete para contrário, o Direito português serviço de fins do Estado, e não se está perante um processo
o Direito português, não se aplica-se, mas a Lei das CCG autónomo, mas perante um processo conflitual (não se podendo
limitando a remeter para o não). O art. 23.º, enquanto ignorar a ponderação conflitual). Como tal, seria relevante o
Direito interno, mas falando norma especial, está ligado ao art. 52.º do Código Civil.
em ‘’normas desta secção’’, art. 21.º, d) da Lei das CCG, e - Há três formas de identificar estas normas: 1) ou há
conjunto limitado de normas apenas se aplica quando exista uma norma semelhante no ordenamento; 2) ou se
individualizadas do Direito uma conexão mais estreita com considera que é como se existisse uma nroma de
português. a ordem jurídica a que aquela conflitos especial ad hoc implícita; 3) ou poderia
pertença. retirar.se da interpretação de uma norma constitucional. 2
NORMAS DE APLICAÇÃO IMEDIATA Ana Maria Varela

Podem haver normas de aplicação imediata de diferentes Estados a querer aplicar-se a certa situação → concorrência de normas de aplicação imediata.
Qual a relevância que se pode reconhecer na ordem jurídica do foro às normas de aplicação imediata de um Estado terceiro?

A. Normas de aplicação
Em Portugal, ou há uma norma que confere expressamente a possibilidade de relevância às normas de
imediata do foro: aplicadas
aplicação imediata estrangeira de terceiros Estados ou essas normas não existem. A existirem, essas normas
pelo julgador nos casos em que
são normas de reconhecimento, pois que conferem eficácia a normas de aplicação imediata
caia no seu âmbito de
estrangeira (MARQUES DOS SANTOS).
aplicação material e espacial
(art. 9.º/ 2 do Regulamento EXEMPLO 1: Está pendente aplicar a lei EXEMPLO 2: X e Y convencionaram a realização de
Roma I; art. 16.º do portuguesa ou a lei suíça. Porém, a lei suíça é um espetáculo de pirotecnia em Espanha, no mês de
Regulamento Roma II). uma lei estrangeira de um terceiro Estado, não agosto, e que a lei aplicável ao contrato era a
B. Normas de aplicação sendo a ‘lex causae’ nem a ‘lex fori’. Assim, portuguesa. Após terem celebrado o contrato, vieram
imediata estrangeira: o questiona-se se há, em Portugal, alguma norma a ser implementadas medidas legislativas em
Estado do foro não está que reconheça eficácia à norma material suíça, Espanha que proíbem a realização de espetáculos
vinculado pelo Direito respondendo-se que não. Ainda assim, há normas deste tipo, em agosto, por causa dos incêndios. Ora,
Internacional Público Geral ou de reconhecimento especiais para estas matérias: a execução deste contrato, em Espanha, seria ileal. A
Comum a tomar a aplicação o art. 23.º/ 2 da Lei das CCG é uma norma de lei que se aplica ao contrato é o art. 150.º do Código
destas normas, mas também reconhecimento das normas de aplicação Civil (situações de impossibilidade); mas, para se
não está proibido de conferir imediata estrangeiras de terceiros Estados, desde dizer que há impossibilidade legal, tem de se
relevância a essas normas. que exista uma conexão especial com essa ordem fundamentar isso na lei espanhola. Só que acontece
Portanto, para decidir se se vai jurídica, e só relativamente a normas de qeu esta última não é a lei que regula o contrato,
conferir relevância a essas aplicação imediata de Estados-membros. Ora, porque as partes escolheram a lei portuguesa para o
normas, importa averiguar se esta norma não podia aqui ser aplicada, já que a efeito. Assim, a lei espanhola terá entrada pelo art. 9.
há disposições legais ou Suíça não é um Estado-membro da UE. Há, º/ 3 do Regulamento Roma I, segundo o qual o
princípios que o obriguem a então, outra norma, que é a do art. 9.º/ 3 do tribunal pode conferir relevância às normas do país
fazer (art. 9.º/ 3 do Regulamento Roma I, que permitia – mas não onde o contrato pudesse ser executado.
Regulamento Roma I). obrigava – dar essa relevância. 3

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