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1. Conceito de Homicídio
O homicídio é crime contra a vida. Nesse sentido, explica o prof. Cleber Masson “a vida constitui-se
em direito fundamental do ser humano, consagrado no art. 5º da Constituição Federal. Trata-se de direito
formal e materialmente constitucional, com caráter supraestatal. Não obstante, tem natureza relativa: pode
sofrer limitações, desde que legítimas e sustentadas por interesses maiores do Estado. Nesse sentido, a
admissão da pena de morte em tempo de guerra (CF, art. 5º, XLVII, a), a legítima defesa (CP, art. 25) e o
Segundo o Professor Rogério Sanches, trata-se da injusta morte de uma pessoa praticada por outrem.
Conforme proclama Nelson Hungria, homicídio é o tipo central dos crimes contra a vida. É o ponto
CP).
Protege-se a vida humana, a qual se inicia no nascimento com vida. Não importa a viabilidade da
vida humana, basta que haja vida biológica. Obviamente, diferente do que ocorria no passado, mesmo o ser
humano com características “monstruosas” (monstrum vel prodigium, para o Direito Romano), é merecedor
de tutela penal.
HOMICÍDIO
3. Observações
a) Homicídio Preterdoloso
O homicídio preterdoloso não está previsto ao teor do art. 121 do Código Penal, trata-se de uma
espécie qualificada de lesão corporal, lesão corporal seguida de morte. In casu, o resultado morte ocorre a
título de culpa.
Configura lesão corporal seguida de morte, prevista ao teor do art. 129, §3º, do Código Penal, e não
sendo crime doloso contra a vida, NÃO É JULGADO perante o Tribunal do Júri.
O crime de GENOCÍDIO tutela a diversidade humana e, por isso, tem caráter coletivo ou
transindividual, não atraindo, por si só a competência do Tribunal do Júri. Ocorre que uma das formas de
praticar genocídio é por meio da morte de membros do grupo. A competência constitucional para o
julgamento de crimes contra a vida é do júri. Sendo o delito de genocídio atraído pelo Tribunal do Júri.
doloso contra a vida, pois não foi catalogado no Capítulo I do Título I da Parte
A tipificação do homicídio pode ser transferida do Código Penal para leis extravagantes em
decorrência das características da vítima. Nesses termos, quem mata dolosamente e com motivação política
o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal
incide no crime definido pelo art. 29 da Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional. Assim, se a
motivação for política contra os agentes mencionados restará afastado o delito de homicídio.
4.1. Conduta
Trata-se de crime de conduta livre. É classificado como crime de conduta livre porque não existe no
art. 121 do CP um meio específico para se praticar o crime de homicídio. O homicídio pode ser praticado
tanto por meio de ação quanto por omissão. No tocante a omissão, será praticado pelo denominado
garantidor, isso porque ele devendo e podendo agir, nada o faz (art. 13, §2º do Código Penal).
O núcleo do tipo é matar, ou seja, eliminar a vida alheia. Trata-se de um crime de forma livre, pois a
conduta de matar admite qualquer forma de execução. Normalmente, o agente mata a vítima por ação (tiro,
facada, envenenamento, atropelamento). Contudo, é perfeitamente possível matar por omissão, nos casos de
a) Direta - o meio de execução é manuseado diretamente pelo agente. Por exemplo, o agente atira,
b) Indireta - o meio de execução é indiretamente manipulado pelo agente. Por exemplo, o ataque de um
cão treinado.
Salienta-se que, a depender do caso concreto, o meio de execução pode caracterizar uma
E em que momento acontece a morte? Se verifica com a cessação da atividade encefálica. Para a
encéfalo e funções neurais, resultante de edema e maciça destruição dos tecidos encefálicos, apesar da
atividade cardiopulmonar poder ser mantida por avançados sistemas de suporte vital e mecanismos de
ventilação”.
É o verbo matar. Trata-se de crime de forma livre. Pode ser praticado por ação ou
por omissão, desde que presente o dever de agir (hipóteses previstas no art. 13, § 2º,
execução podem ser materiais (os que assolam a integridade física do ofendido) ou
morais (a morte é produzida por um trauma psíquico na vítima como, por exemplo, a
Cumpre destacarmos que o meio de execução do delito de homicídio é livre, conforme mencionado
acima. Contudo o meio de execução empregado poderá caracterizar uma qualificadora, como se dá no
emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
Indaga-se: a transmissão dolosa do vírus HIV pode ser considerada um meio de execução do
crime de homicídio? O vírus HIV é transmitido por meio da relação sexual, bem como através do
1ªC - A conduta do agente que, sabendo que está contaminado, transmite a doença de forma
intencional (seja por meio da relação sexual ou por meio de sangue contaminado) não é considerada
homicídio, podendo ser uma lesão corporal gravíssima ou perigo de contágio venéreo. Este é o
entendimento do STF (Info 603) e do STJ. STJ: Na hipótese de transmissão dolosa de doença incurável,
a conduta deverá será apenada com mais rigor do que o ato de contaminar outra pessoa com moléstia
grave, conforme previsão clara do art. 129, § 2.º inciso II do Código Penal. STJ. 5ª Turma. HC
que caracteriza homicídio, mesmo que o tempo para a consumação (a morte) seja longo. Isso porque o
vírus HIV é capaz de matar, sua transmissão dolosa será um homicídio tentado ou consumado, com
3ªC: Para Rogério Sanches, se a vontade do agente era a transmissão da doença de natureza
fatal, haverá tentativa de homicídio (ou homicídio consumado, caso seja provocada morte como
desdobramento da doença). Se não quis e nem assumiu o risco (usando preservativos), mas acaba
transmitindo o vírus, deve responder por lesão corporal culposa (ou homicídio culposa, no caso de
4.2. Sujeitos
4.2.1. Ativo
Trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Não se exige
4.2.2. Passivo
Qualquer pessoa viva pode ser sujeito passivo (vítima) do homicídio. É necessário que seja após o
nascimento. O homicídio protege a vida humana extrauterina. Nessa vertente, Rogério Sanches (Código
Penal para Concursos, 2019) “tutela-se a vida extrauterina, iniciada com o parto”.
É necessário pelo menos o início do parto para que o crime de homicídio seja possível. Antes do
início do parto a vida humana intrauterina não é protegida pelo art. 121 do CP, mas pelo crime de aborto,
Quanto ao início do parto, parte da doutrina afirma que ele se dá com a dilatação do colo do útero,
enquanto outra parcela da doutrina defende que será com o início das contrações. Por fim, doutrina
Conforme Rogério Sanches, nas hipóteses em que o nascimento não se produzir espontaneamente,
pelas contrações uterinas, como ocorre em se tratando de cesariana, por exemplo, o começo do nascimento é
determinado pelo início da operação, ou seja, pela incisão abdominal. De semelhante, nas hipóteses em que
as contrações expulsivas são induzidas por alguma técnica médica, o início do nascimento é sinalizado pela
não há falar mais em aborto, mas em homicídio ou infanticídio, conforme o caso, pois não se mostra
necessário que o nascituro tenha respirado para configurar o crime de homicídio, notadamente quando
existem nos autos outros elementos para demonstrar a vida do ser nascente” – Informativo 507, STJ.
É o dolo, denominado de animus necandi ou animus occidendi. Não se reclama nenhuma finalidade
específica. O homicídio poderá ser praticado tanto de forma dolosa (simples, privilegiado e qualificado)
Obs.: O homicídio culposo que se dá na direção de veículo automotor encontra-se tipificado no art.
302 do CTB.
O homicídio é crime simples (atinge um único bem jurídico); comum (pode ser praticado por
qualquer pessoa); material (o tipo contém conduta e resultado naturalístico, exigindo este último – morte –
para a consumação); de dano (reclama a efetiva lesão do bem jurídico); de forma livre (admite qualquer
meio de execução); comissivo (regra) ou omissivo (impróprio, espúrio ou comissivo por omissão, quando
presente o dever de agir); instantâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo),
concurso eventual (praticado por um só agente, mas admite concurso); em regra plurissubsistente (a conduta
de matar pode ser fracionada em diversos atos); e progressivo (para alcançar o resultado final o agente passa,
necessariamente, pela lesão corporal, crime menos grave rotulado nesse caso de “crime de ação de
passagem”).
Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. A competência é do Tribunal do Júri para as
modalidades dolosas e do juiz singular para o homicídio culposo. Lembre-se: homicídio culposo não é
(i)
(ii)
Art. 121, § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
diminuição de pena. Assim, segundo ensina Rogério Sanches privilégio, nesse contexto, equivale a causa de
diminuição de pena.
Uma vez presentes os requisitos, o juiz DEVE reduzir a pena. A discricionariedade do juiz recai
Privilégio, no Direito Penal é o contrário de uma qualificadora (aumento dos limites das penas
mínimas e máximas), uma vez que diminui, em abstrato, as penas mínimas e máximas. Com isso, note que,
em verdade, o §1º do art. 121 do CP não é um privilégio, pois não há a diminuição em abstrato dos
Desta forma, o homicídio privilegiado nada mais é do que uma mera causa de diminuição de pena,
A nomenclatura “homicídio privilegiado” foi criada pela doutrina e encampada pela jurisprudência.
Incomunicabilidade do privilégio
O prof. Cleber Masson explica que as hipóteses legais de privilégio apresentam caráter subjetivo.
Relacionam-se ao agente, que atua imbuído por relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, e não ao fato. Por corolário, a causa de
diminuição da pena não se comunica aos demais coautores ou partícipes, em consonância com a regra
Vejamos um exemplo: “A”, ao chegar à sua casa, depara-se com sua filha chorando copiosamente.
Pergunta-lhe o motivo da tristeza, vindo a saber que fora ela recentemente estuprada por “B”. Pede então a
“C”, seu amigo, que mate o estuprador, no que é atendido. “A” responde por homicídio privilegiado
(relevante valor moral), enquanto a “C” deve ser atribuído o crime de homicídio, simples ou qualificado
(dependendo do caso concreto), mas nunca o privilegiado, pois o relevante valor moral a ele não se estende.
Por valor social deve-se interpretar a situação em que o agente mata alguém para atender aos
interesses da coletividade. Por exemplo: matar perigoso bandido que ronda a vizinhança/ indivíduo que mata
o traidor da pátria. Corresponde assim, ao interesse de toda comunidade. O agente mata para preservar os
O relevante valor moral está relacionado a existência de sentimentos nobres de natureza individual.
Entende-se que há valor moral, quando o agente mata para atender interesses particulares, normalmente
A eutanásia pode ser ativa ou passiva. A ativa ocorre quando presentes atos positivos com o fim de
matar alguém, eliminando ou aliviando o sofrimento de alguém. Por outro lado, a passiva: se dá com a
Motivo de relevante valor moral é aquele que se relaciona a um interesse particular do responsável
pela prática do homicídio, aprovado pela moralidade prática e considerado nobre e altruísta. Exemplo: matar
aquele que estuprou sua filha ou esposa. E, como observado pelo item 39 da Exposição de Motivos da Parte
Especial do Código Penal, é típico exemplo do homicídio privilegiado pelo motivo de relevante valor moral
A última privilegiadora relaciona-se com o estado anímico do agente, conhecido por parte da
• Reação imediata;
• Injusta provocação da vítima.
c.1) Domínio de violenta emoção: domínio não se confunde com mera influência de violenta
emoção. A influência meramente é causa atenuante (art. 65, CP). Com isso quer dizer que a emoção não
O Código Penal filiou-se a uma concepção subjetivista. Leva-se em conta o aspecto psicológico do
agente que, dominado pela emoção violenta, não se controla. Sua culpabilidade é reduzida, refletindo na
c.2) Reação imediata (logo em seguida a injusta provocação da vítima): para a configuração do
privilégio se exige que o revide seja imediato, ou seja, sem intervalo temporal. A reação será considerada
c.3) Injusta provocação da vítima: não significa necessariamente uma agressão, mas qualquer