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Introdução
Os crimes contra a vida estão entre os que possuem penas mais altas
segundo as determinações do Código Penal brasileiro. Tirar a vida de
alguém, seja de maneira intencional ou não, pode significar até 30 anos
de reclusão, além do pagamento de multas.
É importante lembrar que um crime contra a vida não ocorre somente
de maneira direta, ou seja, por meio de uma ação física, mas também
quando alguém faz um disparo de arma de fogo contra outra pessoa,
por exemplo. A ação de induzir ou auxiliar alguém a suicidar-se também
está dentro dos crimes contra a vida.
Neste capítulo, você vai ler sobre o homicídio e as suas qualificadoras
e majorantes, que podem fazer a pena ser aumentada, bem como o
conceito de homicídio privilegiado e culposo. Você também vai ler sobre
o feminicídio e de que forma pode ocorrer.
Homicídio simples
A vida é o mais valioso dos bens jurídicos de que dispõe o ser humano. Do ponto
de vista biológico, sem a vida, não teríamos existência e, sem esta, não haveria
direitos a serem tutelados (ou deveres a serem cumpridos).
A vida é, pois, o centro de irradiação de todo e qualquer direito. Andreucci
(2019) nos diz que proteger a pessoa significa, em primeiro lugar, garantir-lhe
a vida, resguardando-a desde a concepção, passando pelo nascimento até a
2 Homicídio
Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser
protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode
ser privado da vida arbitrariamente. Os crimes contra a pessoa são aqueles
que mais imediatamente afetam a pessoa (ente humano). Os bens físicos ou
morais que eles ofendem ou ameaçam estão intimamente consubstanciados
com a personalidade humana. Tais são: a vida, a intangibilidade corpórea
(integridade corporal), a honra e a liberdade do indivíduo (ORGANIZAÇÃO
DOS ESTADOS AMERICANOS, [2019?], documento on-line).
Crime previsto no art. 121 do Código Penal, o homicídio é conceituado como a elimi-
nação da vida humana. É a eliminação da vida extrauterina de uma pessoa por outra.
Vejamos o art. 121 do Código Penal: “Homicídio simples Art. 121 Matar
alguém: Pena — reclusão, de seis a vinte anos” (BRASIL, 1940, documento
on-line). Qualquer pessoa pode praticar homicídio. Trata-se de crime comum.
O crime é unissubjetivo, ou seja, basta uma pessoa para que o crime seja carac-
terizado, assim, a pluralidade de sujeitos não integra o tipo. Permite concurso
eventual de agentes tanto na coexecução (coautoria) quanto na participação.
O núcleo do tipo é indicado pelo verbo matar, que significa eliminar, ceifar
e tirar a vida de pessoa humana. A morte pode se dar por ação (crime comis-
sivo) ou por omissão (crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão).
A objetividade jurídica do homicídio é a proteção do direito à vida, garantido
pelo art. 5º, caput, da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
É crime de forma livre, ou seja, qualquer meio, ao menos relativamente
idôneo, capaz de produzir o evento de morte, é homicídio. O crime pode
ser conceituado sob o aspecto material, considerando o conteúdo do fato
punível, sob o aspecto formal e sob o aspecto analítico.
Homicídio 3
Ainda, o autor traz que o meio pode ser físico ou material, que se dividem em:
Além disso, o meio pode ser também moral ou psicológico, em que o agente
mata a vítima mediante um severo trauma emocional, como, por exemplo,
mentir para a vítima debilitada ou enferma, comunicando-lhe o falecimento
de um ente querido. Quando a vítima for menor de 14 anos ou maior de 60
anos, a pena do homicídio será acrescida de um terço.
4 Homicídio
A Lei nº. 9.434, 4 de fevereiro de 1997 — que dispõe sobre a remoção de órgão, tecidos
e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento — estabelece que
a retirada post mortem de tecido, órgãos ou partes do corpo humano destinados a
transplantes deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e
Homicídio 5
Homicídio privilegiado
O homicídio privilegiado vem previsto no art. 121, § 1º, do Código Penal, que
prevê causas especiais de diminuição de pena (BRASIL, 1940).
A primeira delas refere-se a relevante valor social. Relevante valor social
é aquele que diz respeito aos interesses ou fins da vida coletiva. Muito embora
não justifiquem o ato, tanto que a lei o considera criminoso, tornam o agente
merecedor de uma pena menor. Não há dúvida que é menor a reprovabilidade
de um homicídio quando o agente atua imbuído por relevante valor moral ou
social, como, por exemplo, homicídio praticado contra um traidor da pátria ou
contra um político corrupto que lesou os interesses da coletividade.
A segunda causa especial de diminuição de pena, para Andreucci (2019), é o
relevante valor moral, que diz respeito aos interesses particulares, individuais
do agente, aos sentimentos de piedade, compaixão e comiseração, como, por
exemplo, prática da eutanásia, que é homicídio compassivo, misericordioso
ou piedoso.
Segundo o autor, na eutanásia, o agente elimina a vida de sua vítima com o
intuito de poupá-la de intenso sofrimento e acentuada agonia, abreviando-se,
assim, a existência. O valor social ou moral do motivo do crime é ser apreciado
não segundo a opinião ou ponto de vista do agente, mas com critérios objetivos,
segundo a consciência ético-social geral ou senso comum.
Outra hipótese apresentada de causa especial de diminuição de pena do
homicídio privilegiado é aquela do chamado homicídio emocional, que tem
como requisitos, segundo Andreucci (2019):
São exemplos de homicídio emocional quando o réu, cuja filha menor foi seduzida e
corrompida por seu ex-empregador, mata este, ou a ré, que surpreendeu o marido em
flagrante adultério, elimina-o junto com a amante ou ainda o réu que mata o ofensor
da honra da sua mãe. Há casos em que o homicídio privilegiado a que alude o art. 121
do Código Penal é determinado pelo impulso psicofísico relativo que surge no auge da
emoção, mas não é apenas essa, em si, que faz merecer o privilégio, porém a emoção
derivada da injusta provocação da vítima. Ofender a honra da mãe de agente constitui
provocação injusta. É motivo que causa emoção violenta, a ensejar imediata reação.
Homicídio culposo
O homicídio culposo, previsto no art. 121, § 3º, do Código Penal, para Andreucci
(2019), caracteriza-se pela incidência do elemento subjetivo de culpa, que
tem sua essência na inobservância do cuidado objetivo necessário. O cuidado
objetivo é a obrigação determinada a todos, no convívio social, de realizar
condutas de forma a não produzir danos a terceiros.
Para o mesmo autor, a imprudência é a prática de um fato perigoso, como,
por exemplo, dirigir veículo em rua movimentada com excesso de velocidade.
A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato
realizado, como, por exemplo, deixar uma arma de fogo ao alcance de uma
criança. A imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão.
No caso de o homicídio culposo ter sido praticado na direção de veículo
automotor, aplicamos a regra específica do art. 302 da Lei nº. 9.503, de 23 de
setembro de 1997, que é o Código de Trânsito Brasileiro.
Há, ainda, o homicídio culposo circunstanciado, previsto no art. 121, § 4º,
do Código Penal, quando o crime resulta de inobservância de regra técnica
de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro
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Homicídio qualificado
O art. 121, § 2º, do Código Penal trata do homicídio qualificado, com pena de
reclusão de 12 a 30 anos. O homicídio, quando qualificado, é caracterizado
quando os recursos ou meios empregados pelo agente se revelam mais perigosos
e de difícil defesa por parte da vítima. São os casos, em consequência, de
homicídios mais graves do que o homicídio simples. No Brasil, a premeditação
não constitui qualificadora do crime de homicídio e nem tão pouco causa de
aumento de pena.
O homicídio qualificado é considerado crime hediondo, conforme art. 1º, I, da Lei nº.
8.072, de 25 de julho de 1990. O homicídio qualificado consiste em um tipo penal
derivado. No caso, os motivos determinantes, os meios empregados, a forma de sua
execução ou as características da vítima — ou todas essas circunstâncias reunidas
— tornam o fato mais reprovável do que aquela perpetração na modalidade básica.
torpeza;
futilidade;
finalidade de facilitar ou assegurar a execução, ocultação, vantagem
ou impunidade de outro crime.
8 Homicídio
formas de matar mais covardes. Com efeito, são situações nas quais o agente
atua de maneira desleal, mais segura ou com abuso da boa-fé da vítima. Em
breves palavras, são modos de execução mais reprováveis porque dificultam,
oneram ou impossibilitam a legítima defesa por parte do ofendido.
Feminicídio
O feminicídio é a expressão fatal das diversas violências que podem atingir as
mulheres em sociedades marcadas pela desigualdade de poder entre os gêneros
masculino e feminino e por construções históricas, culturais, econômicas,
políticas e sociais discriminatórias.
Uma pesquisa interessante sobre o tema homicídio é o artigo Motivação dos crimes
de homicídio, realizada pela Campanha pela Preservação da Vida, que vale a leitura e
está disponível em:
https://qrgo.page.link/Hvjnq
É preciso ter claro que todo feminicídio é um homicídio, mas nem todo
homicídio de mulher é um feminicídio. Isso pode ser explicado da seguinte
forma, segundo Souza e Japiassu (2018): a morte, ainda que violenta, de uma
mulher decorrente de um acidente de trabalho em nada se relaciona com a sua
condição de mulher. Portanto, para caracterizar a qualificadora do feminicídio,
devemos nos atentar para especial motivação que move a conduta contra o
sujeito passivo: a condição de mulher. Isso significa que o agente feminicida,
ou seus atos, reúne um ou vários padrões culturais arraigados em ideias mi-
sóginas de superioridade masculina, de discriminação contra a mulher e de
desprezo a ela ou à sua vida.
Com todas essas questões apresentadas, o Estado não pode ficar omisso
aos casos de violência contra a mulher, nos casos de feminicídio, e tratar como
crimes passionais sem dar uma resposta rápida para a sociedade sobre um
crime tão brutal que é a violência contra as mulheres.
ANDREUCCI, R. A. Manual de Direito Penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
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BRASIL. Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial
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decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 17 maio 2019.
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Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 out. 1941. Disponível em: http://www.planalto.
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tico de morte encefálica. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 dez. 2017. Disponível
em: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20171205/19140504-resolucao-do-
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SOUZA, A. B. G.; JAPIASSU, C. E. A. Direito Penal: volume único. São Paulo: Atlas, 2018.