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Argumentação Contra Pena de Morte

- Direitos Humanos
Na declaração universal dos Direitos Humanos, emitida a 10 de
Dezembro de 1948 temos presentes diversos artigos que
permitem contra-argumentar a pena de morte de uma forma
clara. Destaco o artigo 3 (Todo o ser humano tem direito à vida, à
liberdade e à segurança pessoal) e o artigo 5 (Ninguém será
submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante). A partir da leitura destes dois artigos
conseguimos, de forma a não sobrarem dúvidas, perceber que a
pena de morte vai diretamente contra DOIS direitos fundamentais
de todos os humanos.

- Constituição da República Portuguesa


Na CRP, aprovada em Assembleia da República a 2 de Abril de
1976, e revista pela última vez em 2005, é possível encontrar
diferentes artigos que zelem pela vida humana, privatizando os
portugueses da pena de morte. Iniciando-se logo no 1º artigo
(Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da
pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção
de uma sociedade livre, justa e solidária), tal artigo seria
completamente violado com a pena de morte, uma vez que
sujeitar uma pessoa à perda da sua vida pelo cometer de um
crime vai completamente contra a dignidade de um ser humano.
É novamente notável a defesa pela vida humana no artigo 18,
alínea 2 (A lei só pode restringir os direitos, liberdades e
garantias nos casos expressamente previstos na Constituição),
onde nenhum destes direitos, liberdades e garantias têm como
premeditado a possibilidade de restringir a vida humana. Para
além disso, é possível constatar nos artigos 24 e 25 o direito à
vida e à integridade pessoal (1. A vida humana é inviolável. 2. Em
caso algum haverá pena de morte. // 1. A integridade moral e
física das pessoas é inviolável. 2. Ninguém pode ser submetido a
tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou
desumanos). Tendo em conta todos estes artigos, é possível
deduzir que a pena de morte é considerada desumana ao olhos da
CRP, uma vez que se violam direitos substanciais e estruturais da
vida humana. Por fim, é importante ressaltar que Portugal foi o
país pioneiro na defesa dos direitos humanos, nomeadamente no
direto à vida, uma vez que foi o primeiro país/estado a abolir por
completo a pena de morte. Incialmente foi abolida a pena de
morte contra mulheres em 1772, e mais tarde, em 1884, foi
aprovado o decreto de lei que expressamente proibia a morte
como uma pena aplicável, sendo os crimes civis ou não.

- Pessoas Injustamente Condenada a penas de morte


Não é novidade para ninguém que a justiça comete erros, porém,
nas normas da CRP, é possível voltar atrás com a palavra, e voltar
a dar liberdade àqueles que são injustamente condenados.
Porém, com a pena de morte, as injustiças e erros na justiça
podem custar a vida de uma pessoa inocente. Estes erros são
notórios em países que ainda não aboliram esta violação aos
direitos fundamentais dos humanos. É exemplo os Estados
Unidos,que de acordo com a revista ciêntifica Proceedings of the
National Academy of Sciences de todos os condenados à pena de
morte, cerca de 4,1% destas vítimas são injustamente
condenados à perda da sua vida. E não basta falar de números, é
necessário falar destas vítimas. Temos o caso de Troy Davis, um
homem negro que foi acusado de matar um polícia em 1989. No
dia 21 de setembro de 2011 foi morto através de uma injeção
letal, apesar da sua culpa no ocorrido nunca ter sido
conclusivamente provada durante o processo judicial. Após a sua
morte, das 9 pessoas que testemunharam contra Troy, 7 delas
voltaram com a palavra atrás, admitindo estar a ser persuadidos
pela polícia a testemunhar contra Troy. Para além disto, nenhuma
evidência forense ou de DNA foi encontrada durante as
investigações, não havendo provas concretas contra o condenado,
e, ainda, uma testemunha chegou a afirmar que o verdadeiro
assassino confessou este crime durante uma festa, antes do
condenamento de Troy. Como tal, sendo o humano um ser capaz
do erro, é impensável colocar uma vida nas mãos de um ser que
pode de forma injusta condenar alguém da forma errada.
- Taxa de Criminalidade
Podem mesmo achar que por haver a pena de morte a taxa de
criminalidade dos países que aplicam esta medida é baixa, uma
vez que esta pena deve de assustar todos os que pensam em
cometer atos ilícitos. Porém, pegando no caso dos Estado Unidos,
conseguimos comprovar que as coisas não funcionam dessa
forma. A taxa de criminalidade dos Estados Unidos, país onde a
pena de morte ainda não foi abolida, é das mais altas do mundo,
sendo cerca de 55.19, segundo o Numbeo. Por outro lado, temos
o nosso próprio país, Portugal, que, não seguindo a linha de
países que aplicam a medida extrema de tirar a vida de um
indivíduo como pena, tem uma das taxas mais baixas de
criminalidade do mundo, e a 4º mais baixa da europa, sendo
apenas de 27.47, também segundo o Numbeo.

- Sistemas Penais
É importante ressaltar a importância da existência de sistemas
penais que tenham como objetivo a priorização da reabilitação,
perdão e redenção, uma vez que a pena de morte não possíbilita
atingir nenhum destes 3 pontos. Todo o ser humano é livre de se
redimir da ação tomada no passado, uma vez que é um ser que
erra, e que, muitas das vezes, está disposto a aprender de modo
a não voltar a errar. Além disso, temos que dar possibilidade à
reabilitação social dos indivíduos condenados, uma vez que,
muitos destes acabam por cometer atos ilícitos devido à
precariedade do sistema e contexto social em que se inserem,
como modo de se vingarem e cessarem a sua tristeza e revolta
interna.

- Utilização indevida da Pena de Morte


Ao darmos o poder da justiça suprema, ou seja, indiretamente o
estado, de puder regular penas de morte, podemos estar sujeito
ao descontrolo da aplicação destas em medidas políticas. A
verdade é que, em alguns países, incluindo o Sudão e o Irão,
usam a pena de morte como uma ferramenta política. Torna-se,
com efeito, uma forma de punir oponentes políticos que não
concordam com as opiniões do estado. Portanto, a aprovação de
tal medida como pena de morte irá abrir portas possível para
uma menor força de oposição contra o estado, uma menor
liberdade de expressão, e um maior controlo do estado sobre a
‘opinião pública’, impedindo a democracia de decorrer como
deve.

- Continuar o ciclo da violência


A retribuição da retirada do direito de vida é, de facto, uma
forma subtil de falar em vingança, constituindo, essencialmente,
uma forma de pensamento imperfeito, que defende que dois
erros podem tornar algo certo. Se o argumento principal é que
matar pessoas é errado e imoral, portanto não faz sentido tirar a
vida a alguém que cometeu um crime, independentemente da
sua gravidade, uma vez que não seria coerente o raciocínio,
tornando esta pena uma decisão hipócrita.

- Peso da Discriminação
Por mais que possamos imaginar viver em um mundo que somos
todos vistos por igual, a verdade é que nem sempre e
discriminação é indiferente àqueles que detêm o poder da
justiça. E não digo isto apenas da boca para fora, uma vez que, a
professora Katherine Beckett, da Universidade de Washington,
após a examinação de 285 casos, descobriu que os juizes tinham
4,5 vezes mais probabilidade de decretar uma pena de morte a
um negro, comparativamente com um branco, em circunstâncias
semelhantes. Assim, conclui-se que a pena de morte afeta de
forma diferente os indivíduos de uma mesma sociedade.
Efetivamente, os segmentos mais pobres e as minorias raciais
tendem a ser discriminadas, sendo, consequentemente, julgados
de forma desproporcional e injusta. Em muitos casos, esta
discriminação deve-se também à menor capacidade que estes
grupos têm em suportar os custos de um bom suporte jurídico.
Para comprovar estes fatos, tenho aqui este esquema que
pretende comprovar a disparidade entre penas de morte
atribuídas a negros e a brancos:
- Tese Final
“O Direito Penal (Pena de Morte) é um direito essencialmente
mutável e relativo. Logo, deve ficar fora de seu alcance a
imposição de penas de caráter imutável e absoluto, de total
irreversibilidade e irremediáveis quando se descobre que foram
impostas pela perseguição, pelo capricho ou pelo erro. Deve
ficar de fora de seu alcance a pena que só um juiz onisciente,
incorruptível, absolutamente igual seria competente para
aplicar: a pena cuja imposição só deveria estar na alçada do ser
absoluto, se ele estatuísse e impusesse penas: a pena absoluta, a
pena de morte. Aos seres relativos e falíveis só compete aplicar
penas relativas e modificáveis. E, mantendo-se assim, enquanto
não soubermos substituir as penas por medidas mais humanas e
eficazes de defesa social.” de autoria de LYDIO MACHADO
BANDEIRA DE MELLO em “O criminoso, o crime e a pena”

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