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O ano de 2018 marcou os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Adotada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, a Declaração é resultado do esforço conjunto de
representantes de países de todas as regiões do mundo no sentido da construção da paz e da tolerância, na
sequência da destruição causada durante a Segunda Guerra Mundial, que havia se encerrado três anos antes,
em 1945.
Entre as consequências mais visíveis e dramáticas do conflito, estavam os milhões de refugiados que, ao redor
do planeta, haviam sido forçados a deixar seus países de origem devido às hostilidades ou em razão de
perseguições em razão de sua raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política. Estima-se em mais
de 40 milhões de pessoas o número de deslocados à força apenas na Europa ao final da guerra.
A situação dos refugiados e o dever de protegê-los consistiram, portanto, em dois dos mais significativos temas
da agenda política presentes na elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tanto é assim, que
um dos 30 artigos da Declaração - o artigo 14 - assegura a todo ser humano que seja vítima de perseguição o
direito de procurar e receber proteção internacional em outro país.
A reflexão sobre a questão dos refugiados é de suma importância e atualidade. A agência da ONU para
refugiados (ACNUR) divulga que a quantidade de pessoas deslocadas à força no mundo alcançou os 65
milhões ao final de 2016, o que configura um triste recorde e ultrapassa os números registrados na Segunda
Guerra Mundial. Em média, uma em cada 113 pessoas em todo mundo foi forçada a se deslocar, e, embora
muito se tenha falado a respeito das chegadas massivas de refugiados na Europa, 84% dos refugiados no
mundo foram recebidos pelos países em desenvolvimento.
O Brasil presta sua contribuição à proteção dessas pessoas, acolhendo milhares de refugiados e solicitantes de
refúgio em seu território. Segundo dados de abril de 2018, 10.145 pessoas já foram reconhecidas como
refugiadas no país e existem 86 mil processos de solicitação de refúgio em trâmite, conferindo às pessoas
envolvidas o direito à documentação relativa à sua condição migratória e o acesso ao mercado de trabalho e
aos serviços públicos de saúde e educação.
Mecanismos de proteção complementar foram estabelecidos pelo Brasil para aplicação em fluxos migratórios
específicos que demandavam respostas humanitárias, como haitianos e venezuelanos. A esse respeito,
ressalte-se a criação, em fevereiro de 2018, do Comitê Federal de Assistência Emergencial, responsável por
definir as diretrizes e as ações prioritárias da administração pública federal no âmbito do acolhimento de
pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária.
A Lei de Refúgio brasileira (Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997) é considerada uma das mais avançadas do
mundo. Recentemente, a entrada em vigor da nova Lei de Migração brasileira (Lei nº 13.445, de 24 de maio de
2017) consolidou a perspectiva de direitos humanos no âmbito da política migratória nacional, posicionando o
país na vanguarda do tratamento da temática e tornando o Brasil uma referência no debate global sobre
migrações, em consonância com as normas e parâmetros internacionais mais elevados.
CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS
REFUGIADOS (1951)
Refugiado, conforme a Convenção de Genebra, é toda a pessoa que “temendo ser perseguida por
motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país
de sua nacionalidade e que não pode, ou em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção
desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência
habitual, em conseqüência de tais acontecimentos não pode ou, devido ao referido temor, não quer
voltar a ele”.
A partir de 1997, a legislação brasileira acrescenta uma nova situação, considerando refugiadas
também “as vítimas de violação grave e generalizada dos direitos humanos” (art. 1º).
A tabela a seguir, busca registrar alguns itens que podem ajudar a distinguir entre imigrantes e
refugiados. Mas, tenhamos presente que estes elementos nem sempre são tão nítidos, claros,
perceptíveis nas situações vividas pelas pessoas. Neste âmbito, sublinha-se a importância de ter em
consideração os chamados “fluxos mistos”, ou seja, nos mesmos trânsitos, nas mesmas fronteiras,
nos mesmos grupos humanos, podem estar presentes tanto migrantes, exercendo seu direito de
migrar, quanto pessoas necessitadas de proteção, as quais devem merecer atenção específica.
Ao longo do desenvolvimento da sociedade e da história mundial, é notório que diversos grupos
sofreram perseguições étnicas e religiosas, além de terem sido vítimas de genocídios, fome,
guerras etc. O que piora esse contexto histórico é saber que tais absurdos continuam acontecendo
em pleno século XXI.
Apesar de toda a evolução da espécie humana, juntamente com a integração dos povos e o uso de
tecnologia, pode-se notar que o sentimento nacionalista ainda é muito forte, o que, de certo modo,
exclui todos esses grupos que sofrem nos seus países de origem e migram em busca de melhores
oportunidades.
Ser parte de uma nação é um direito básico ligado diretamente à cidadania e ao sentimento de
dignidade. Quando alguém ou um grupo decide migrar e abandonar seu país de origem, colocando-
se às margens do desconhecido, o problema não deve ser visto apenas como local.
Embora a Declaração Universal dos Direitos humanos traga em sua redação, mais especificamente
no artigo segundo, o direito a não distinção do país ou do território da naturalidade da pessoa, para
que não ocorra nenhum tipo de discriminação quando há necessidade de migrar, sabemos que
infelizmente não é o que ocorre.
Atualmente, países como, por exemplo, a Angola, estão passando por uma greve nacional de
médicos; quebra do poder de compra em 170% e fome, segundo Isabel dos Santos, a filha do ex-
chefe de Estado José Eduardo dos Santos.
Todos os tipos de crises que possam subtrair ou extinguir direitos básicos de um ser humano violam
milhares de políticas sociais, que foram criadas e estabelecidas justamente para que os erros do
passado não se repitam. Entretanto, é difícil identificar o foco do problema, pois, muitas vezes é
pluridimensional.
No Brasil, atualmente podemos ver a crise migratória que está ocorrendo no estado de Roraima,
fronteira com a Venezuela, mais precisamente pela porta de entrada, no município de Pacaraima.
Há inclusive a confirmação pela prefeitura de Boa Vista de que cerca de 40.000 venezuelanos já
tenham entrado na cidade, o que representa mais de 10% dos cerca de 330.000 habitantes da
capital.
2 CONCEITO DE IMIGRANTE
Na história da humanidade, o homem sempre migrou e sempre migrará, às vezes por motivos de
força maior, como desastres naturais e destruições, e também por motivos sociais, políticos e
econômicos. Migrar é característico do ser humano, por isso a história das migrações se confunde
com a própria história da humanidade.
Imigrantes são pessoas que deixam seus países em razão de pobreza, péssimas condições de
sobrevivência, desemprego, fome etc. Na maioria das vezes, os imigrantes deixam seus países
porque ali não há perspectiva de melhoria de vida.
Ao mesmo tempo em que esses grupos buscam novas oportunidades no desconhecido, há ainda a
esperança de retornarem ao país natal com a perspectiva de que o cenário deixado para trás tenha
mudado.
Esse é um dos numerosos paradoxos da imigração: ausente onde está presente e presente onde
está ausente. Duplamente presente – efetivamente aqui e ficticiamente lá – e duplamente ausente –
ficticiamente aqui e efetivamente lá – o imigrante teria uma vida dupla, que ultrapassa e que é
diversa da oposição tradicionalentre vida pública e vida íntima: uma vida presente, banal, cotidiana,
vida que pesa e enreda, vida segunda, ao mesmo tempo cronológica e essencialmente secundária;
uma vida ausente, figurada ou imaginada, rememorada, uma vida que foi primeira cronologicamente
e que permaneceu primeira, essencial, afetiva e efetivamente, e que, sem dúvida, voltará a sê-lo um
dia (SAYAD, 2000, p.20)
Nesse ponto, imprescindível é esclarecer a diferença entre os termos imigrante, migrante e
refugiado.
De acordo com o dicionário Aurélio, migração é: 1. Passagem dum país para outro (falando-se de
um povo ou de grande multidão); 2. Viagens periódicas ou irregulares feitas por certas espécies de
animais.
Assim, é migrante a pessoa ou grupo que em determinado tempo se deslocou de um país para
outro.
Todavia, chegando ao país desconhecido, essa pessoa ou grupo será denominado imigrante.
Há também a figura do migrante temporário, que permanece por apenas alguns meses naquele
determinado país, e os migrantes que fixam residência permanente no novo local.
Por outro lado, considera-se refugiado quem sai de seu país para fugir de situação de guerra ou de
perseguição.
A figura do refugiado está ligada com necessidade de proteção internacional, uma cooperação para
preservar determinada pessoa ou grupo que corre grave risco vivendo no seu país de origem, como
por exemplo, durante uma guerra civil.