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DIREITOS HUMANOS E A CONJUNTURA HUMANITÁRIA DOS

REFUGIADOS VENEZUELANOS NO BRASIL

Anna Beatriz Pereira de Santana

Kaio Henrique da Silva Custódio

Resumo

O presente artigo científico analisa a situação dos refugiados venezuelanos no Brasil. Traz-se
inicialmente alguns conceitos jurídicos pertinentes, como o de migrantes, refugiados e
imigrantes, até a legislação relacionada, nacional e internacional. Faz-se, ademais, uma breve
abordagem sobre a Convenção de Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque de 1967 no
que tange às garantias, direitos e deveres internacionais assegurados. Outrossim, sumariza-se
algumas considerações sobre as leis brasileiras nº 13.445/2017 (Lei de Imigração) e
9.474/1997 que regulam a situação dos refugiados e imigrantes no Estado brasileiro. Além
disso, comenta-se sobre o refúgio e o procedimento para aquisição da benesse. Em um
segundo momento, averigua-se a conjuntura em concreto dos refugiados no país, trazendo
aspectos sociais, econômicos e culturais vivenciados e partilhados. Por último, procura-se
expor como a jurisprudência nacional tem visto o assunto no que tange a resolução das
diversas problemáticas advindas da vivência dos refugiados venezuelanos no Brasil.

Palavras-chave: Refugiados; Refúgio; Venezuelanos; Leis nº 13.445/2017 e 9.474/1997;


Imigração.
Introdução

As duas grandes guerras mundiais foram um marco de destaque na era histórica


contemporânea, seja pelos avanços tecnológicos que ocorreram no globo, seja pela maior
complexificação das estruturas sociais no pós-conflito. Neste sentido, os países se tornaram
cada vez mais distintos em suas perspectivas soberanas, implementando filosofias e modelos
de coletividades ímpares.
Falar de migração, é reiterar um fenômeno que acompanha o ser humano desde dos
primórdios de sua existência. O homem é um ser de mudança, de deslocamento. Esse tema
está diretamente atrelado às sociedades hodiernas e as suas configurações. A globalização
que, em tese, integrou o mundo no século XX, massificou o processo de locomoção humana
entre os Estados, principalmente, dentro dos blocos geopoliticamente agrupados.
Destes cenários, surge a figura do imigrante-refugiado, o qual para além de ser uma
pessoa em locomoção, possui uma razão especial, que seja, fugir de uma perseguição ou
crise. O refugiado é uma vítima do sistema estatal. A Cooperação Internacional entre os
países é o que possibilita a fuga e a instalação em um outro território, com melhores
condições de vida.
Quando se aborda os Direitos Humanos, não há como duvidar da sua aplicação
imediata aqueles que migram e pedem refúgio. Desta feita, brevemente, abordar-se-á os
principais diplomas jurídicos pertinentes e suas matérias regulatórias, de modo a focar na
situação social dos refugiados venezuelanos no Brasil e as problemáticas cotidianas em uma
nova ordem orgânica social de vivência.
O presente artigo se utilizou da pesquisa bibliográfica para refletir e explicar os
conteúdos. Além disso, empregou uma visão dialógica, crítica e interdisciplinar para abordar
a temática, de modo a agregar o conhecimento em diferentes perspectivas teóricas e, ainda
assim, fazer um abordagem expositiva e crítica sobre onde se está e para qual local deve-se
caminhar, de modo a proteger e promover, em toda sua plenitude, os direitos humanos e a
garantir sua materialização evidente na vida dos mais vulneráveis.
Ademais, por meio de uma pesquisa jurisprudencial dos principais tribunais do Brasil
buscou analisar e entender a real posição do Brasil em relação ao fluxo migratório em massa
dos cidadãos venezuelanos, quais respostas humanitárias o governo federal está se valendo
para dar suporte aos seus nacionais e também aos imigrantes e refugiados venezuelanos
índios e não índios.
A situação de instabilidade causada por esse grande fluxo migratório de pessoas que
chega ao Brasil todos os dias, faz com que esse tema tenha relevância, entender como o
Governo Federal está se portando internacionalmente e nacionalmente frente a esse impasse é
importante para analisarmos a capacidade do país em lidar com situações que necessitam de
respostas céleres e de mecanismos eficazes de acolhimento. Desta forma, conseguiremos
entender como está sendo feita a gestão governamental e qual importância é dada a nossos
direitos fundamentais.

1. Conceituação

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano, assim como os outros animais,


deslocam-se no globo terrestre. A migração faz parte da história humanística, sendo uma
impulsionadora da transformação social e cultural. Migrar é sinônimo de querer mudar ou
anseio de encontrar novos mundos e perspectivas para satisfazer interesses e necessidades
atuais.
A Migração pode ser entendida como o ato de movimentar-se. Já a Emigração é o ato
de sair do país, enquanto que a migração é a ação de ingressar, que seja, entrar em um país.
Feita essas breves definições, cabe tecer maiores considerações sobre os termos,
principalmente, sob a ótica voltada para os refugiados venezuelanos no Brasil e a sua
condição de imigrantes.
Uma definição pura do termo migração apresentaria certas palavras núcleos
caracterizadoras do fenômeno, que apesar das distinções de pensamento doutrinário, fariam
parte da maioria dos conceitos dados pelos juristas sobre o assunto. Vislumbram-se os
seguintes termos em repetição: “o deslocamento de pessoas e populações na superfície
terrestre”.
A Organização Internacional para as Migrações, um órgão da Organização das Nações
Unidas voltado à promoção do deslocamento humano ordenado e sob o compromisso em
efetivar as normativas onusianas sobre os direitos humanos apresenta o seguinte conceito, in
verbis:
“Um termo abrangente, não definido pelo direito internacional, que
reflete o entendimento leigo comum de uma pessoa que se muda de seu
local de residência habitual, seja dentro de um país ou através de uma
fronteira internacional, temporária ou permanentemente, e por várias
razões . O termo inclui várias categorias legais bem definidas de pessoas,
como trabalhadores migrantes; pessoas cujos tipos particulares de
movimentos são legalmente definidos, como migrantes contrabandeados;
bem como aqueles cujo status ou meios de locomoção não são
especificamente definidos pelo direito internacional, como estudantes
internacionais”. (grifo e tradução nossa)1

No trecho supracitado, a definição consegue ser mais ampla vez que faz alusão ao
animus de constituir residência habitual, do âmbito para onde se dá a movimentação, se
nacional ou estrangeiro, o tempo de permanência e aos motivos que levam ao deslocamento
migratório. Estes são elementos complementares ao núcleo definidor do instituto jurídico,
mas que melhor qualificam o conceito, resultando numa melhor completude deste.
No que tange à classificação, a ONU subdivide a migração em regular e irregular. A
partir da visão de Louise Arbour2, a sua representante para a migração internacional, assim
define-se a migração regular: “refere-se a pessoas que entram ou permanecem em um país no
qual não são nacionais por meio de canais legais, e cuja posição naquele país é obviamente
conhecida pelo governo e em conformidade com todas as leis e regulamentos”. Continua,
agora, definindo a migração irregular: “é a situação das pessoas que estão em um país, mas
cujo status não obedece os requisitos nacionais”. Interessante, ademais, que ela traz que o
migrante irregular pode ser regularizado, caso não seja, precisa ser devolvido ao seu país de
origem.
A Agência das Nações Unidas para Refugiados, ACNUR3, esclarece o que se entende
por refugiado, de modo a melhor categorizar o termo na temática da regularidade migratória.
Assim sendo, conceitua-se o refugiado como alguém forçado a se evadir do seu país por
questões de guerra, perseguição ou violência. Além disso, acrescenta-se que o refugiado sai
do seu país de origem, por causa de um receio motivado na perseguição por questões ligadas
à raça, religião, nacionalidade, opinião política ou filiação em determinado grupo social.

1
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR MIGRATION. About migration. Disponível
em:<https://www.iom.int/about-migration>. Acesso em: 15 out. 2022.

2
NAÇÕES UNIDAS. Saiba tudo sobre o pacto global para migração. ONU NEWS. Disponível
em:<https://news.un.org/pt/story/2018/12/1650601>. Acesso em: 15 out. 2022.

3
ACNUR. Agência da onu para refugiados. Disponível em:<https://www.acnur.org/portugues/>. Acesso em:
16 out. 2022.
No Blog Virtual Âmbito Jurídico4, o termo refugiado, a partir de uma análise
dialógica de todos os dispositivos legais que trazem uma definição sobre a designação, assim
conceituam o termo. Neste ínterim, expõe-se:

“Refugiado é todo indivíduo que se vê obrigado a fugir de seu país de


origem ou no qual mantinha residência habitual, em virtude de fundados
temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo
social ou opiniões políticas, bem como em virtude de grave e generalizada
violação de direitos humanos, desde que não desfrute de proteção ou
assistência por parte de organismos ou instituição da ONU, não seja
residente no território nacional e não tenha direitos e obrigações
relacionadas com a condição de nacional brasileiro, não tenha cometido
crime contra a paz, crime de guerra, crime contra a humanidade, crime
hediondo, participado de atos terroristas ou tráfico de drogas, bem como não
seja considerado culpado de atos contrários aos fins e princípios das Nações
Unidas”. (grifo nosso)

A Lei nº 9.474 de 1997, em seu art. 1º, incs. I, II e III, define o que se entende por
refugiado, incluindo os requisitos objetivos e subjetivos que ocasionam no enquadramento de
uma pessoa como refugiada no Brasil. A título expositivo, deve-se mostrar literalmente o que
diz a lei. Nesse sentido, tem-se o seguinte:

“Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:

I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião,


nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu
país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal
país;

II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua
residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das
circunstâncias descritas no inciso anterior;

III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado


a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país”.

A despeito do migrante poder ser regular ou irregular, que seja, ser recebido
legalmente, com conhecimento estatal, ou ilegalmente, podendo ser clandestino, o refugiado
estaria acobertado pela legislação do país receptor diante da sua vulnerabilidade. Seria mais
um pedido de ajuda ou refúgio, do que uma simples migração em condições normais de
vivência humana, de modo a se ater a questão da regularidade do migrante-refugiado. O

4
MORAIS, Ângela Maria Fonsêca; DA SILVA, Rubens Alves. Refugiados e imigrantes no brasil e no
mundo. Âmbito Jurídico, 2020. Disponível em:<
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-internacional/refugiados-e-imigrantes-no-brasil-e-no-mundo/>.
Acesso em: 20 out. 2022.
refugiado se desloca sob motivos justos e graves, principalmente, por perigo de vida,
procurando um Estado que o acolha e proteja.
Neste momento, faz-se imprescindível trazer uma definição sobre o que seria a
imigração, visto que como o foco da presente pesquisa se dá sobre a situação jurídica dos
venezuelanos em terras nacionais, como imigrantes que são, cabe apresentar um conceito
para tal palavra. Assim sendo, de acordo com o Blog Virtual Mundo Educação, a imigração
se define da seguinte forma:

“A imigração é o processo de entrada de um indivíduo em um


determinado território. Ela se dá por motivações econômicas, políticas,
culturais e naturais. No geral, os imigrantes buscam por meio desse processo
uma melhor condição de vida. Continua, a imigração é um movimento de
deslocamento da população e refere-se à entrada de um ou mais
indivíduos em um determinado território. Dessa maneira, o termo
imigração é corretamente aplicado para a entrada e fixação desses
indivíduos em um território diferente da sua localidade de origem. Os
sujeitos que praticam a imigração são chamados de imigrantes”.5 (grifo
nosso)

Já em termos legais, a Lei de Imgração nº 13.445/2017, o seu art. 1º, §1º, inc. I, assim
define o imigrante: “pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se
estabelece temporária ou definitivamente no Brasil”. Assim sendo, soma-se ao conceito de
estrangeiro que reside em país diferente do de origem, a questão do tempo de permanência no
país estrangeiro.
Resta indubitável, em suma, a partir das definições apresentadas, de que os
venezuelanos se classificam como migrantes, lato sensu. Todavia, mais especificamente, eles
se locomovem para dentro do território brasileiro em uma visível situação de imigração. Por
último, adjetivando o termo, diante das motivações que desembocam no deslocamento
internacional para um país estrangeiro, tem-se a qualidade de refugiado dos mesmos.

5
CAMPOS, Mateus. Imigração. MUNDO EDUCAÇÃO, 2021. Disponível
em:<https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/imigracao.htm#:~:text=A%20imigra%C3%A7%C3%A3o%2
0%C3%A9%20o%20processo,uma%20melhor%20condi%C3%A7%C3%A3o%20de%20vida.>. Acesso em: 16
out. 2022.
2. Instrumentos legais e normativos, nacionais e internacionais, que regulam a situação
jurídica dos refugiados

As normas internacionais de proteção aos refugiados se dividem em três vertentes: o


Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Direito Internacional dos Refugiados e o
Direito Internacional Humanitário. Todos esses diplomas possuem o ponto em comum de
proteger o direito fundamental de migrar e garantir que os migrantes exerçam livremente os
seus direitos de humanidade.
Os principais diplomas jurídicos estrangeiros, ratificados pelo Brasil, que regulam a
situação dos refugiados são a Convenção de Genebra de 1951 e o Protocolo de Nova York de
1967, ambos internalizam na ordem jurídica interna direitos e garantias dos refugiados.
A Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados foi formalmente
adotada em 28 de julho de 1951. Inicialmente, o instrumento jurídico foi feito para regular a
situação dos refugiados na Europa, após o fim da segunda guerra mundial. A supracitada
Convenção define o que se entende por refugiado, ademais, esclarece os direitos e deveres
entre os refugiados e os países que os acolhem.
Com o passar do tempo, o aumento das perseguições e dos conflitos sociais, a
Convenção de 1951 precisou ser revista, visto que a sua aplicabilidade era restrita a fatos
ocorridos antes de 1951, aplicando-se apenas aos refugiados europeus. Desse cenário,
criou-se o Protocolo ao Estatuto dos Refugiados, conhecido como o Protocolo de Nova
Iorque, o qual entrou em vigor em 4 de outubro de 1967. O Protocolo ampliou a aplicação da
Convenção de 1951, promovendo um dever dos Estados de aplicarem o instrumento
internacional a todos os refugiados, sem limites de datas ou limitações de espaço geográfico.
A Agência das Nações Unidas para Refugiados, ACNUR, tem sua competência
atribuída pelo Estatuto dos Refugiados. Nesta esteira, deve o órgão promover sistemas legais
de proteção, bem como supervisioná-los. Interessante pontuar que quando os Estados
ratificam a Convenção de 1951 e o Protocolo de Nova Iorque de 1967, assumem o
compromisso de cooperar e não embaraçar as atividades da ACNUR. Nesta perspectiva,
segue transcrição do que a Agência fala sobre o assunto em seu site oficial, diz-se que:

“De acordo com o seu Estatuto, é de competência do ACNUR promover


instrumentos internacionais para a proteção dos refugiados e supervisionar
sua aplicação. Ao ratificar a Convenção e/ou o Protocolo, os Estados
signatários aceitam cooperar com o ACNUR no desenvolvimento de suas
funções e, em particular, a facilitar a função específica de supervisionar a
aplicação das provisões desses instrumentos”6.

A Organização das Nações Unidas é uma entidade internacional que possui a


finalidade de assegurar a segurança, bem estar dos refugiados e a cooperação entre os povos.
O principal órgão que atua em defesa dos direitos dos refugiados, seja promovendo, seja
protegendo, é a Agência da ONU para Refugiados, de sigla ACNUR. Além de oferecer
ajudas e auxílios aos refugiados, ela garante assistência a diversos outros grupos de
migrantes, que sejam, os deslocados e os apátridas.
No que tange aos dispositivos legais nacionais de proteção aos direitos dos
refugiados, a Constituição da República, como instrumento jurídico magno e de máxima
importância no ordenamento jurídico nacional, traz em seu art. 5º, inc. XV, da CRFB/88 que
o Brasil preza pela liberdade de locomoção em território nacional, como regra geral,
principalmente em momentos internos pacíficos. Desta feita, deve-se expor o dispositivo de
forma a melhor entender o conteúdo, in verbis:

“É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo


qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens”.

A Lei nº 13.455 de 2017 revogou o Estatuto do Estrangeiro, a Lei nº 6.815 de 1980,


tornando-se o diploma mais importante sobre a imigração no ordenamento jurídico pátrio. A
Lei atual, em vigor, além de definir o que se entende por imigrante, estando o refugiado
incluído nessa categoria, regula os direitos, princípios e deveres dos estrangeiros. Pode-se
inclusive falar a respeito de um direito de imigração, o qual abrange o ingresso, a autorização
de trabalho, vistos consulares e a saída do estrangeiro.
A Lei nº 9.474 de 1997 regulamenta a implementação do Estatuto dos Refugiados de
1951. O diploma legal é um extenso instrumento que viabiliza uma série de direitos aos
refugiados. Ela fala sobre o conceito, a extensão e a exclusão dos refugiados. Ademais, cria o
Comitê Nacional Para os Refugiados, CONARE, estabelecendo a sua competência, a
estrutura, o funcionamento e as atribuições.

6
UNHCR - AGÊNCIA DA ONU PARA REFUGIADOS. Convenção de 1951. Disponível em:<
https://www.acnur.org/portugues/convencao-de-1951/>. Acesso em: 19 out. 2022.
O CONARE7 é um órgão colegiado vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança
Pública, que possui a principal atribuição de deliberar sobre as solicitações de
reconhecimento da condição de refugiado no Brasil. Precipuamente, o órgão atua
internamente, junto ao ACNUR BRASIL. Acrescente-se também que, como mais um órgão
administrativo do Poder Executivo que lida com os imigrantes, há o Conselho Nacional de
Imigração, CNIg8, o qual está incumbido de regulamentar as atividades laborais dos
refugiados no Brasil, exercendo um papel fundamental de adaptação dos estrangeiros no país.

3. O refúgio e as suas implicações

O refúgio é a principal medida que a ordem jurídica internacional oferece ao


refugiado. A Convenção de Genebra de 1951 foi o primeiro instrumento normativo
internacional que tratou desse instituto. Nessa esteira, o retromencionado documento, além de
definir o termo, estabeleceu as bases pilares do refúgio, que são, os seus princípios, direitos e
garantias.
O refugiado, para se constituir como tal, deve preencher os requisitos legais objetivos
e subjetivos do art. 1º, incs. I, II e III, da Lei nº 9. 474/1997. Após isto, pode solicitar ao
Estado brasileiro o refúgio. Como primeira condição, deve estar em território nacional. O
refugiado deve comunicar a sua chegada à Polícia Federal ou autoridade migratória na
fronteira e solicitar o instrumento legal. O pedido é inteiramente gratuito, sendo desnecessária
a presença de advogado.
O Blog Virtual Âmbito Jurídico9 traz uma definição sintética e auto explicativa do
termo refúgio. Frise-se que antes de conceituar, traz uma definição de Aurélio Buarque de
Holanda sobre o tema. Neste sentido, tem-se o seguinte trecho:

7
COMITÊ NACIONAL PARA OS REFUGIADOS. Institucional. Disponível
em:<https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/seus-direitos/refugio/institucional>. Acesso em: 17 out. 2022.

8
PORTAL DE IMIGRAÇÃO. Informações gerais. Disponível em:<
https://portaldeimigracao.mj.gov.br/pt/informacoes-gerais. Acesso em: 17 out. 2022.

9
ÂMBITO JURÍDICO. O refúgio no Brasil: definição e requisitos. Disponível em:<
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-90/o-refugio-no-brasil-definicao-e-requisitos/#:~:text=A%20partir
%20da%20an%C3%A1lise%20conjunta,religi%C3%A3o%2C%20nacionalidade%2C%20grupo%20social%20
ou>. Acesso em: 20 out. 2022.
“Aurélio Buarque de Holanda conceitua refúgio como “asilo, abrigo,
apoio, amparo”. O refúgio, juridicamente falando, não possui conceito
diferente deste trazido pelo dicionário. O ato de concessão de refúgio
consiste, realmente, em conceder abrigo, amparo, apoio, enfim, consiste em
conceder proteção àquele que foge de seu país porque lá não lhe é conferida
a proteção que necessita”. (grifos nosso)

O Direito Internacional dos Refugiados assegura que o ato de conceder um refúgio,


não é ação discricionária do Estado Soberano, visto que uma vez presentes os requisitos de
concessão do refúgio, os quais são estabelecidos internamente, o Estado possui o dever de
reconhecer o indivíduo como refugiado, podendo acolher o perseguido ou encaminhá-la a
outro Estado, o qual se comprometa a não devolvê-lo ao seu país de origem. Essa última
possibilidade se baseia no princípio da não-devolução, conhecido também como princípio
non-refoulement. Logo, reitere-se, não podem os Estados Soberanos, uma vez recebidos os
refugiados, devolvê-los aos seus Estados de origem ou o local onde tinham residência
habitual.
Interessante pontuar que se os Estados Soberanos tivessem critérios subjetivos da
condição de refugiados ou fosse um ato discricionário para conceder refúgio, não se teria
segurança jurídica e proteção efetiva. A concessão de refúgio é ato humanitário, quase um
pedido de socorro ou ajuda concedido, que visa assegurar os direitos humanos dos
imigrantes, resguardando-os de serem postos de volta aos seus países de origem.

4. Posição do Brasil frente aos migrantes da Venezuela

O Fluxo de migrantes venezuelanos aumentou mais de 200% entre 2017 e 2020,


segundo o Relatório Situacional Brasil: Tráfico de Pessoas em Fluxos Migratórios Mistos em
Especial de Venezuelanos, lançado pela a iniciativa Track4Tip do Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).10 Estas pessoas que abandonaram suas vidas na
Venezuela e vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor e digna necessitam de
assistência social e emprego. O que só é possível por meio de políticas públicas promovidas
pelo Estado, com o escopo de ajudar, proteger e possibilitar uma vida adequada a estes
migrantes em situação de vulnerabilidade.

10
UNODC-NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIMES, TRACK4TIP. Relatório Situacional do Brasil.
Nações Unidas, 2021. pp. 20-28. Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/lpo-brazil/Topics_TIP/Publicacoes/Relatorio_Situacional_Brasil_T4T.pdf.>
Acesso em: 20. Out. 2022.
Neste sentido, em 2018, ano em que surgiu a necessidade de uma resposta célere a
migração em massa dos venezuelanos, o Governo Federal em conjunto com o Exército
Brasileiro e o estado de Roraima - que faz fronteira com a Venezuela, tendo sido atingido de
forma mais significativa pelo fluxo migratório – instituíram a Operação Acolhida,

“Uma ação conjunta, interagências, e de natureza humanitária, envolvendo


as Forças Armadas e vários órgãos da esfera federal, estadual e municipal,
além de agências internacionais e organizações não governamentais. Nesse
contexto, em 1° Março (Sic.) de 2018, o Estado-Maior Conjunto das Forças
Armadas determinou ao Exército Brasileiro que estabelecesse a
Força-Tarefa Logística Humanitária para o estado de Roraima para que
pautasse a sua atuação por meio do tripé: ordenamento da fronteira,
abrigamento e interiorização dos imigrantes.”11

Neste trilhar, a Operação Acolhida conta com a colaboração de cerca de 120 (cento e
vinte) agências e instituições civis12 com o objetivo de levar dignidade humana a milhares de
venezuelanos migrantes e refugiados, por meio da atuação harmoniosa e solidária os militares
e civis buscam desenvolver e concretizar políticas públicas como a interiorização dos
imigrantes e refugiados.

4.1 Interiorização dos imigrantes e refugiados

A interiorização é uma importante política pública instituída pelo Governo Federal


com o apoio de agências como a ACNUR – Agência da ONU para refugiados, pois visa
equilibrar a quantidade de migrantes nos estados do Brasil, possibilitando que mais estados
possam dar assistência social, sem sobrecarregar apenas os estados fronteiriços, como
Roraima, evitando a pressão dos serviços públicos desses locais. Esta iniciativa busca
promover meios para que os migrantes refugiados possam alcançar uma vida digna, desta
feita, as pessoas inscritas são selecionadas para diferentes cidades do Brasil, onde por três
meses recebem abrigo, alimentação e qualificação para conseguir um trabalho formal,
gerando segurança e novas oportunidades para essas pessoas.

11
KANAAN, Coronel; SIDMAR, 2° Tenente; TÁSSIO, Major. As ações do exército brasileiro na ajuda
humanitária aos imigrantes venezuelanos. In: ZUBEN, Catarina von, et. al. (org.). Migrações Venezuelanas.
Campinas, SP: Núcleo de Estudos de População ―Elza Berquó‖ – Nepo/Unicamp, 2018. p. 68. Disponível em:
https://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/livros/mig_venezuelanas/migracoes_venezuelanas.pdf. Acesso em:
20. out. 2022.
12
BRASIL. Ministério da Defesa. Operação Acolhida. Gov.br, 2022. Disponível em:
<https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/exercicios-e-operacoes/acoes-humanitarias/operacao-acolhida.>
Acesso em: 15. Out. 22
Estima-se que cerca de 80 mil pessoas13 foram beneficiadas por esta política pública
desde 2018 até 2022, famílias inteiras receberam este auxílio e muitos já montaram seu
próprio negócio. No entanto, apesar do Brasil instituir respostas a esse imenso fluxo
migratório, esta ainda apresenta-se insuficiente, pois muitos migrantes não conseguiram ser
beneficiados por essa iniciativa, além de mostrarem-se ausentes de concretização alguns dos
eixos da proposta. É o que se depreende das pesquisas jurisprudenciais dos principais
tribunais do país. Em 2018, por exemplo, o Ministério Público do Trabalho impetrou uma
Ação Civil Pública no Tribunal do Trabalho da 11ª região, solicitando que fosse demonstrado
o cumprimento das políticas de inserção dos migrantes venezuelanos promovidas pela União.
Neste sentido,

Na referida ação, a União se comprometeu a "promover o acolhimento dos


migrantes e implementar políticas de inserção dos mesmos no mercado de
trabalho, em todos os casos em que o país seja convocado a intervir em
situações de fluxos migratórios”. No caso destes autos, o requerente alega
que a União Federal teria adotado, tardiamente, medidas para promover a
inserção laboral dos migrantes em postos de trabalho dignos e, apesar dos
esforços realizados para o desenvolvimento de medidas de recepção, o ente
não estaria desenvolvendo nenhuma política de formação, qualificação
profissional e inserção dessas pessoas no mercado de trabalho. Assim, busca
o requerente a comprovação dos seguintes fatos. (TRT11 • Produção
Antecipada de Provas • 0000694-52.2018.5.11.0051 • 1ª Vara do Trabalho
de Boa Vista do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região - Inteiro Teor)
(grifos nossos) 14

Desse modo, faz-se necessário a concretização em maior escala das propostas


instituídas como políticas públicas pelo governo federal, a fim de abarcar o grande número de
migrantes refugiados provenientes da Venezuela.

4.1.1 População Indígena Venezuelana

13
ACNUR. Agência da ONU para refugiados. Disponível em:
<https://www.acnur.org/portugues/2022/06/12/interiorizacao-beneficia-mais-de-76-mil-pessoas-refugiadas-e-mi
grantes-da-venezuela-no
brasil/#:~:text=Interiorizados%20e%20adaptados&text=Hoje%20ele%20%C3%A9%20parte%20da,de%20inter
ioriza%C3%A7%C3%A3o%20do%20Governo%20Federal.> Acesso em: 15. Out. 2022
14
BRASIL. Tribunal regional do Trabalho (11ª). Ação Civil Pública 0000694-52.2018.5.11.0051. PODER
JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª REGIÃO 1ª
Vara do Trabalho de Boa Vista PAP 0000694-52.2018.5.11.0051 REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO REQUERIDO: UNIÃO FEDERAL (AGU) - RR. Requerente: MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO Requerido:UNIÃO FEDERAL (AGU) - RR. Relator: GLEYDSON NEY SILVA DA ROCHA,5
de setembro de 2018. TRT11 • Produção Antecipada de Provas • 0000694-52.2018.5.11.0051 • 1ª Vara do
Trabalho de Boa Vista do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região - Inteiro Teor. RORAIMA, 2018.
Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trt-11/863219614/inteiro-teor-863219730.>
Acesso em: 17. out. 2022.
Importante destacar que a população indígena Venezuelana também foi prejudicada
pelas crises socioeconômicas e políticas do país. No Brasil, em 2022 o número de indígenas
venezuelanos migrantes é de mais de sete mil pessoas15, o que acarreta a necessidade de uma
rápida resposta humanitária do Governo Federal em conjunto com a Fundação Nacional do
Índio – FUNAI, para atender as vulnerabilidades dos mesmos. No entanto, há deficiências em
relação à celeridade de concretização das propostas referentes a estes povos. Em decorrência
disso, o Ministério Público Federal impetrou Ação Civil Pública no Tribunal Regional
Federal da 1 ª Região, em desfavor da União e da FUNAI, solicitando que seja prestada
assistência adequada aos povos indígenas, visto que muitos estavam sofrendo com
deportações em massa orientadas pela Polícia Federal Brasileira e outros foram acolhidos
como venezuelanos não índios, o que é um claro desrespeito à etnia e cultura desses grupos.
Neste trilhar,

Trata-se de ação civil pública, com pedido de tutela de urgência, ajuizada


pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em face da UNIÃO FEDERAL e
da FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI na qual se requer a
concessão de provimento jurisdicional que determine: 1.1) aos demandados
União e FUNAI que procedam à obrigação de fazer consistente em concluir,
no prazo de 30 (trinta) dias, os eixos 1, 2, 3 e 5 do Plano de Ação sobre os
povos Warao e E’ñepá, mencionado no item V.2 da inicial, sem prejuízo de
adaptações ou atualizações reputadas necessárias no âmbito da
discricionariedade da Administração Pública; 1.2) à demandada FUNAI
que, tão logo concluídos os eixos 1, 2,3 e 5 do Plano de Ação, concretize as
ações neles preconizadas e assegure, de forma permanente e continuada, o
atendimento indigenista qualificado às populações Warao e E’ñepá,
inclusive com visitas periódicas aos abrigos em que acolhidos e/ou outros
locais de concentração de indígenas de tais etnias, intermediação na gestão
de conflitos e na tomada de decisões junto aos agentes administradores
envolvidos nas políticas de gestão migratória. [...] Ante o exposto, JULGO
PROCEDENTES os pedidos contidos na inicial, sentenciando o processo
com resolução do mérito, com esteio no artigo 487, I, do CPC. Antecipo os
efeitos da tutela, em vista do direito vindicado reconhecido na sentença, e do
periculum in mora, considerando que a omissão persiste até os dias atuais,
ensejando danos dia a dia renovados e possivelmente irreversíveis à
população indígena migrante. Concedo o prazo de 90 (noventa) dias para
que a UNIÃO e a FUNAI comprovem que deram início à implementação do
plano de ação. (TRF1 • AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL • Direitos
Indígenas (9989) • 1000145-20.2019.4.01.4200 • Órgão julgador 2ª Vara
Federal Cível da SJRR do Tribunal Regional Federal da 1ª Região - Inteiro
Teor) (grifos nossos)16

15
ACNUR. Agência da onu para refugiados. Disponível em:
<https://www.acnur.org/portugues/2022/04/19/indigenas-venezuelanos-no-brasil-ja-somam-mais-de-7-mil-pesso
as-sendo-819-reconhecidas-como-refugiados/.> Acesso em: 17.out. 2022
16
BRASIL. Tribunal Regional do Federal (1ª). Ação Civil Pública 1000145-20.2019.4.01.4200. PODER
JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária de Roraima 2a Vara Federal Cível da SJRR. ATIVO:
É responsabilidade da União promover meios de subsistência, garantindo acolhida
humanitária, igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares,
inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas. Além de
observar a cultura e os costumes dos povos indígenas. De acordo com o Art. 5º, caput, da
Constituição Federal de 198817, como também o artigo 3º da Lei de Migração nº 13.445/2017
que rege os princípios e garantias dos migrantes18 , artigos 4ª e 5ª da Lei nº 13.684/201819,
que dispõe sobre a assistência emergencial para acolhimento a pessoas em situação de
vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária. Além de
respeitar a Convenção nº 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais, visto ser o Brasil
signatário desta convenção e já a ter internalizado no ordenamento jurídico pátrio por meio
do Decreto nº 10.088, de cinco de novembro de 201920.
Desta feita, não resta dúvidas da necessidade de concretização das políticas de
proteção social que devem ser aplicadas pelo Governo Federal por meio da FUNAI a esses
grupos indígenas em situação de vulnerabilidade. Faz-se importante no acolhimento não
apenas dar abrigo e alimentação como também oferecer serviços de promoção cultural,
materiais multilíngues e pessoas capacitadas para ajudarem na adaptação e comunicação das
tribos de forma adequada e confortável para essas pessoas. Nos momentos de preparação para
oferecimento desses serviços e quando colocados em prática devem ser levado em

Ministério Público Federal (Procuradoria) (Apelante), PASSIVO: União Federal, PASSIVO: Fundacao Nacional
do Indio - Funai. Relatora: FELIPE BOUZADA FLORES VIANA,5 de fevereiro de 2019. TRF1 • AÇÃO
CIVIL PÚBLICA CÍVEL • Direitos Indígenas (9989) • 1000145-20.2019.4.01.4200 • Órgão julgador 2ª Vara
Federal Cível da SJRR do Tribunal Regional Federal da 1ª Região - Inteiro Teor. RORAIMA, 2022. Disponível
em: <https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trf-1/1466615970/inteiro-teor-1466615971.> Acesso em: 17
out. 2022
17
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes…”. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa
do Brasil. Brasília, DF:Diário oficial da República Federativa do Brasil, 2020. Disponível em:
<planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 22.out.2022
18
BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 201, Institui a Lei de Migração. Brasília, DF:Diário oficial da
República Federativa do Brasil, 2017. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm>. Acesso em: 22. out. 2022
19
BRASIL. Lei nº 13.684, de 21 de junho de 2018. Dispõe sobre medidas de assistência emergencial para
acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise
humanitária; e dá outras providências. Brasília, DF: Diário oficial da República Federativa do Brasil, 2018.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13684.htm>. Acesso em:
22.out.2022
20
BRASIL.Decreto nº 10.088, de 5 de novembro de 2019. Consolida atos normativos editados pelo Poder
Executivo Federal que dispõem sobre a promulgação de convenções e recomendações da Organização
Internacional do Trabalho - OIT ratificadas pela República Federativa do Brasil. Brasília, DF:Diário
oficial da República Federativa do Brasil, 2019.Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d10088.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2
%BA%2010.088%2C%20DE%205,pela%20Rep%C3%BAblica%20Federativa%20do%20Brasil.>. Acesso em:
22. out. 2022.
consideração não apenas as estatísticas e números da migração, mas sim, a vida de cada uma
dessas pessoas que estão sendo influenciadas diretamente pela crise em seu país de origem e
estão migrando em busca da sobrevivência, onde a forma do acolhimento poderá fazer toda a
diferença, tornando-o assim humanizado.

4.2 Combate à discriminação

Prover abrigo, alimentação e qualificação profissional é de vital importância, esta


proteção social básica ajuda a suprir as primeiras necessidades dos imigrantes e refugiados
que chegam ao Brasil em situação de vulnerabilidade, mas ainda outro ponto de grande
importância faz parte da política de interiorização e deve ser promovido com seriedade pelo
Governo Federal, qual seja o combate à discriminação contra venezuelanos índios e não
índios.
O fluxo em massa de cidadãos da Venezuela para o Brasil, em especifico para o estado
de Roraima, influenciou diretamente a situação socioeconômica do local tendo como
consequência um aumento na xenofobia e discriminação contra os venezuelanos. Assim,
além de lidar com todos os desafios da imigração estas pessoas ainda têm que lidar com a
xenofobia e o preconceito socioeconômico difundindo em grande escala não apenas em
Roraima, mas no Brasil inteiro e até mesmo nas redes sociais.
As noticias relacionadas à discriminação contra os venezuelanos que migram para o
Brasil são inúmeras e assombrosas. Uma matéria do jornal diário espanhol El País, retrata
com clareza as tensões que acontecem na fronteira entre os dois países,

Um nó diplomático vai se adensando na cidade de Pacaraima, em Roraima,


na fronteira com a Venezuela, desde que, no dia 18 de agosto, um grupo de
brasileiros destruiu acampamentos improvisados de centenas de imigrantes.
As imagens gravadas e distribuídas nas redes sociais correram o mundo para
revelar a tensão entre as populações dos dois países. De um lado, o
desesperado êxodo venezuelano. De outro, a falta de preparo do Brasil para
lidar com os novos refugiados.21

Não há desculpas para o preconceito, por isso é dever do Governo Federal promover
políticas públicas de combate à xenofobia contra os imigrantes e refugiados venezuelanos,
bem como instituir ferramentas de suporte mais eficazes ao estado fronteiriço para assim

21
MENDONÇA, Heloísa. O “monstro da xenofobia” ronda a porta de entrada de venezuelanos no Brasil. El
País, Pacaraíma, 27. Ago. 2018. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/17/politica/1534459908_846691.html.> Acesso em: 20. out. 2022.
conseguir desenvolver meios de receber e lidar da melhor forma com o fluxo migratório de
pessoas.
Destarte, faz-se importante trabalhar para combater o discurso de ódio e
discriminação, respeitando o artigo 2ª da Declaração Universal de Direitos Humanos, que
assegura o direito a todos de não serem discriminados por motivos de origem nacional.
Assim, o Brasil enquanto ente internacional e nacional tem a responsabilidade de promover
meios para que todas as pessoas em seu território tenham vida digna e oportunidades iguais.
Portanto, o Brasil ainda tem muito que fazer para resguardar os direitos dos imigrantes e
refugiados venezuelanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como escopo entender a real situação dos migrantes
venezuelanos à luz dos direitos humanos após a grande crise sociopolítica ainda em vigor na
República Bolivariana da Venezuela. Em um primeiro momento, nos propomos a entender
conceitos jurídicos pertinentes à nossa análise, como o de migrantes, imigrantes e refugiados.
Assim, após a exposição e ampla pesquisa doutrinária e legislativa foi possível
concluir que a forma mais adequada de classificação dos migrantes venezuelanos seria de
refugiados para aqueles que solicitarem e preencherem os requisitos legais para essa situação
de tratamento, cabe ressaltar que a situação deverá ser analisada caso a caso e então
concedida, uma vez que, gera mais segurança jurídica e facilita a aplicação de políticas
públicas, a exemplo da interiorização.
Destarte, posteriormente a exposição conceitual e legislativa analisamos a situação
real dos imigrantes e refugiados venezuelanos índios e não índios que chegam ao Brasil em
grande fluxo todos os dias, bem como a resposta humanitária concedida pelo governo federal
brasileiro em conjunto com o exército brasileiro e as organizações e instituições civis, com o
objetivo de dar acolhimento e qualificação para que estas pessoas tenham qualidade de vida e
novas oportunidades no mercado de trabalho brasileiro.
No entanto, ao decorrer da pesquisa jurisprudencial foi possível perceber que algumas
políticas públicas não estavam sendo concretizadas da maneira adequada, tendo a situação
que ser judicializada para gerar resultados positivos. Além disso, problemas com relação ao
preconceito de origem nacional e étnica se tornaram mais latentes no estado de Roraima e no
Brasil como um todo, tendo o governo federal a responsabilidade de promover políticas
públicas de enfrentamento à xenofobia e ao discurso de ódio contra os venezuelanos
indígenas e não indígenas.
Por conseguinte, espera-se que o Brasil continue comprindo e procurando sempre
concretizar as políticas públicas e planos de acolhimentos propostos, para uma acolhida
humanitária adequada em relação aos venezuelanos, os proporcionando segurança,
alimentação e conforto para que possam continuar suas vidas com condições dignas e em paz.
REFERÊNCIAS

ACNUR. Agência da ONU para refugiados. Disponível em:


<https://www.acnur.org/portugues/2022/06/12/interiorizacao-beneficia-mais-de-76-mil-pesso
as-refugiadas-e-migrantes-da-venezuela-no
brasil/#:~:text=Interiorizados%20e%20adaptados&text=Hoje%20ele%20%C3%A9%20parte
%20da,de%20interioriza%C3%A7%C3%A3o%20do%20Governo%20Federal.> Acesso em:
15. Out. 2022

ADV BOX. Direito de Imigração: compreenda a complexidade da área. Comunicação e


Conteúdos, 2021. Disponível em:<https://blog.advbox.com.br/direito-de-imigracao/>. Acesso
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intitulado Direito Internacional dos Refugiados e o Brasil, Projeto do Processo:
447798/2014-6-CNPq; Edital: MCTI/CNPq/Universal 14/2014; Apoio a Projetos de
Pesquisa/MCTI/CNPQ/ Universal 14/2014. Curitiba: Editora Gedai/UFPR, 2018. Disponível
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0dos%20Refugiados%20e%20o%20Brasil.compressed-ilovepdf-compressed.pdf>. Acesso
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CRETO%20N%C2%BA%2010.088%2C%20DE%205,pela%20Rep%C3%BAblica%20Fede
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do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Diário Oficial da
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm>. Acesso em: 17 out. 2022.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm#:~:text=Institui%2
0a%20Lei%20de%20Migra%C3%A7%C3%A3o.&text=Art.,pol%C3%ADticas%20p%C3%
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BRASIL. Tribunal Regional do Federal (1ª). Ação Civil Pública


1000145-20.2019.4.01.4200. PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária
de Roraima 2a Vara Federal Cível da SJRR. ATIVO: Ministério Público Federal
(Procuradoria) (Apelante), PASSIVO: União Federal, PASSIVO: Fundacao Nacional do
Indio - Funai. Relatora: FELIPE BOUZADA FLORES VIANA,5 de fevereiro de 2019. TRF1
• AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL • Direitos Indígenas (9989) • 1000145-20.2019.4.01.4200
• Órgão julgador 2ª Vara Federal Cível da SJRR do Tribunal Regional Federal da 1ª Região -
Inteiro Teor. RORAIMA, 2022. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trf-1/1466615970/inteiro-teor-1466615971.>
Acesso em: 17 out. 2022

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (11ª). Ação Civil Pública


0000694-52.2018.5.11.0051. PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 11ª REGIÃO 1ª Vara do Trabalho de Boa
Vista PAP 0000694-52.2018.5.11.0051 REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO REQUERIDO: UNIÃO FEDERAL (AGU) - RR. Requerente: MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO Requerido:UNIÃO FEDERAL (AGU) - RR. Relator:
GLEYDSON NEY SILVA DA ROCHA,5 de setembro de 2018. TRT11 • Produção
Antecipada de Provas • 0000694-52.2018.5.11.0051 • 1ª Vara do Trabalho de Boa Vista do
Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região - Inteiro Teor. RORAIMA, 2018. Disponível
em: <https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trt-11/863219614/inteiro-teor-863219730.>
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<https://www.unodc.org/documents/lpo-brazil/Topics_TIP/Publicacoes/Relatorio_Situacional
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