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PAINEL IV - GRUPOS

VULNERÁVEIS E POLÍTICAS
PÚBLICAS (REFUGIADOS)
Adv. Ma. Yasmim Santa Brígida
.CONCEITO
"Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo inAdivíduo que: I - devido a
fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade,
grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e
não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo
nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não
possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no
inciso anterior; III – devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é
- Flexibilização
obrigado dodeconceito
a deixar seu país de soberania,
nacionalidade a soberania
para buscar refúgio em outro como
país".
responsabilidade.
.LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL
1) Direitos Humanos é um dos propósitos da ONU, no art. 1º, 3 da CNU (da 7) Pacto de São José da Costa Rica - Convenção Americana de
DUDH de 1948, PIDCP e PIDESC de 1966). A DUDH, no art. XIV, afirma, Direitos Humanos (CADH), de 1969. Opiniões Consultivas (O.C) e
ainda, que todo ser humano vítima de perseguição tem o direito de procurar e
gozar de asilo em outros países; a proteção da vida digna (art. 25, 1º); o direito sentenças judiciais; convencionalidade de normas e interpretações.
de deixar um país (art. 13); e o direito à nacionalidade (art. 15). Dever de adotar as medidas legislativas ou de outras naturezas que
forem necessárias para tornar efetivos os direitos e liberdades
2) Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948 (direito de asilo lato estabelecidos (art. 2º).
sensu).
8) Declaração de Cartagena sobre os Refugiados (1984) - estende a
3) Convenção relativa ao Estatuto do Refugiado de Genebra, 1951 (regime
específico) e o Protocolo Sobre o Estatuto dos Refugiados (previsão de solução proteção às vítimas de violação generalizada e maciças de direitos
de controvérsias na CIJ). Obs: non refoulement, do art. 33 da Convenção. humanos.

4) Declaração de NY sobre Refugiados e Migrantes, 2016 (proteção contra 9) A Declaração de São José sobre Refugiados e Pessoas
abusos e explorações impetradas aos refugiados em situação de vulnerabilidade, Deslocadas, de 1994 - direitos econômicos e sociais.
nos países receptores a fim de se ter uma migração segura, ordenada e regular).
10) Em 2014, na XI Conferência Sul-Americana sobre Migrações,
5) Declaração de Viena de 1993 - abordagem global por parte da comunidade
internacional para desenvolver estratégias para tratar das causas remotas e os foi criada a Declaração de Brasília. Programa “Fronteiras
efeitos das movimentações de refugiados, bem como a obtenção de soluções Solidárias e Seguras” (integração local, reassentamento solidário e
duradouras. de mobilidade laboral).

6) Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, de 1948 (direito a 11) Princípios Interamericanos sobre os Direitos Humanos de
procurar e receber asilo, art. 27). Todos os Migrantes, Refugiados, Apátridas e Vítimas do Tráfico de
Pessoas, da Resolução 04/19 da CIDH.
.LEGISLAÇÃO NACIONAL
1) CF/88 : art. 1º, inciso III - dignidade da pessoa humana pautará a proteção dos direitos humanos no Brasil.
Art. 3º, IV, assegura a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. Art. 5.º, caput, afirma a igualdade de todos perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país, a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Art. 4º, II, assegura-se que a República
Federativa do Brasil se rege, nas suas relações internacionais, pelo princípio da prevalência dos direitos
humanos. At. 5º, § 2º afirma que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que o Brasil seja
parte, isto é, incluem os tratados de direitos humanos no bloco de constitucionalidade
2) Estatuto do Refugiado - Lei nº. 9474/97. Estrangeiro indocumentado que entrar irregularmente no país não
pode ser impedido de solicitar o refúgio (art. 8); extensão da condição ao cônjuge, ascendentes, descendentes e
membros do grupo familiar que do refugiado dependerem economicamente em território nacional (art. 2º); o
trâmite do pedido do reconhecimento da condição de refúgio é ato declaratório fundamentado. Repatriação
(não). Reassentamento (hipóteses restritas). non-refoulement (art.7)..
.LEGISLAÇÃO NACIONAL
3) Lei nº. 13.445/2017 - acolhida humanitária na política migratória brasileira (visão humanizada). O reconhecimento do status de
refugiado por mais de quatro anos - Visto de permanência. Visto ou à autorização de residência para fins de reunião familiar.
Autorização de residência por acolhida humanitária (visto temporário). Naturalização (ordinária, 4 anos do pedido).

Art. 3º - A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes: I - universalidade, indivisibilidade e
interdependência dos direitos humanos; II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;
III - não criminalização da migração; V - promoção de entrada regular e de regularização documental; VI - acolhida humanitária
(…); VIII - garantia do direito à reunião familiar; IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;
X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas; XI - acesso igualitário e livre do migrante a
serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia,
serviço bancário e seguridade social.
Art. 4º - Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como são assegurados: III - direito à reunião familiar do
migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e dependentes; VIII - acesso a serviços públicos de saúde e
de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição
migratória (…); IX - amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos; X - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XI -
garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de proteção ao trabalhador,
sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória (…); XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as
garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização migratória.
.JURISPRUDÊNCIA
O ethos do séc. XXI exige a adoção de medidas nacionais de implementação dos tratados de direitos humanos a incluírem
a criação de procedimentos de direito interno para execução de sentenças internacionais, além da aplicabilidade direta das
normas convencionais no plano nacional, visto que as jurisdições nacional e internacional se encontram em interação, pois
possuem o propósito comum e convergente de proteção da pessoa humana (TRINDADE, 2017).

1) Opinião Consultiva n. 18 (2003) - "Migrantes Indocumentados".


Fixou: as disparidades do mundo contemporâneo e a vulnerabilidade dos migrantes; a construção do direito individual subjetivo de asilo; a posição e o rol
dos princípios gerais do direito; os princípios fundamentais como substrato do próprio ordenamento jurídico; o princípio da igualdade e não discriminação no
direito internacional dos direitos humanos; o conteúdo e o alcance do jus cogens; o conteúdo e o alcance das obrigações erga omnes de proteção no
contexto dos imigrantes indocumentados (TRINDADE, 2017).
2) Caso Família Pacheco Tineo vs. Bolívia (2013). Condenação específica da violação direta do non refoulement e da negação ao direito de
concessão de reconhecimento do status de refugiado.
3) Opinião Consultiva n°. 21 (2014) - "Direitos e garantias de crianças no contexto da migração e/ou em necessidade de proteção internacional". O
Tribunal determinou com precisão quais as obrigações dos Estados em relação às medidas passíveis de serem adotadas a respeito de meninos e meninas,
associadas à sua condição migratória.
4) Caso Personas Dominicanas y Haitianas Expulsadas vs. República Dominicana (2014).
5) Opinião Consultiva n. 25 (2018) - " A instituição do asilo em suas diversas formas e a legalidade de seu reconhecimento como direito humano
de todas as pessoas, conforme o princípio da igualdade e não discriminação”.
.SITUAÇÃO
. Maio de 2022 - mais de 100 milhões de pessoas estavam deslocadas forçosamente no
mundo.

. Ao final de 2021, o número de 89,3 milhões de pessoas incluía 27,1 milhões de


refugiados. 4,6 milhões de solicitantes do reconhecimento da condição de refugiado.
4,4 milhões de pessoas da Venezuela deslocadas. A maioria das pessoas vivem em
países vizinhos aos seus.

. A Turquia abriga 3,8 milhões de pessoas refugiadas.


. 6,1 milhões de pessoas refugiadas, solicitantes do reconhecimento da condição de
refugiado e migrantes da Venezuela em 2021. A Colômbia acolheu 1,8 milhão de
pessoas venezuelanas deslocadas fora do seu país.
. Ucranianos: Até 7 de junho de 2022, cerca de 7,3 milhões de passagens foram
registradas na fronteira saindo da Ucrânia, com 2,3 milhões de retorno ao país.
Muitos se tornaram deslocados internos.
.DEMANDAS E POLÍTICAS PÚBLICAS
. O acesso a direitos básicos deve ser garantido aos venezuelanos que ingressam no país (saúde, educação,
unidade familiar, liberdade de circulação, abrigo, trabalho), bem como o acesso a serviços básicos.

. O tipo de atendimento jurídico : orientação sobre documentos, orientação sobre regularização migratória,
naturalização, questões trabalhistas, preenchimento do Sisconare. Denúncias de situações de xenofobia e
discriminação racial, orientação sobre expulsão.

. Acesso a serviços e políticas públicas no contato com Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de
Referência de Assistência Social (CRAS), atendimento psicológico, assistência social, informações sobre
empregabilidade e encaminhamento de currículos, cursos profissionalizantes, cursos de português, acolhida e
moradia.

. Dificuldade de inserção no mercado de trabalho formal e a exploração laboral da população migrante;


dificuldade nos processos de revalidação de diplomas (dificuldade de demonstração de experiência profissional);
a carência de fluxos de atendimento e referenciamento dos serviços públicos.

. Refugiados e migrantes da etnia indígena Warao no Estado do Pará.


.ALTERNATIVAS
Os refugiados são expostos a pelo menos quatro espécies de vulnerabilidades: temporal, espacial,
sociocultural e sociopolítica.
1 ) Ordenamento de fronteira - regularização, tratamento social e médico do imigrante, por meio dos postos de recepção.
2 ) O CONARE - concedeu, de uma só vez, a condição de refugiado a 21.432 venezuelanos, na Resolução Normativa nº 29
(CONARE, 2019). Reconhecimentos coletivos.
3 ) Redes de parcerias - por vários atores, públicos e privados, em diversos planos de governo, para produção de políticas
públicas.
4 ) Segurança - os Estados têm a obrigação de proteger seus nacionais e todas as pessoas que se encontram sob sua jurisdição.
5 ) Trabalho: desconhecimento do idioma português é usado por diversos empregadores para negar direitos, a Convenção 111 da
OIT, de 1958, que estabelece que nenhum trabalhador deve ser preterido ou dispensado, em razão de sua nacionalidade. O
trabalho decente é central para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 (p.8,8). Incentivos de
fomento ao empreendedorismo, que buscam promover a capacitação empresarial. Possibilitar a comprovação de experiências
profissionais anteriores.
6 ) Moradia : abrigos que os recebem de forma provisória e com pequena quantidade de vagas disponíveis.
.ALTERNATIVAS
7 ) Educação: ensinar e instruir o refugiado quanto ao idioma português (autonomia no território nacional), conferindo-lhe a
capacidade de entender seus direitos; a importância de um sistema educacional (infantil, médio, técnico e superior- sendo ele público
municipal, estadual ou federal e particular) inclusivo e responsável; e a prestação de educação social à população sobre as pessoas
refugiadas. Parcerias com o SESC. Universidade Federal do Pará (UFPA) possui um Processo Seletivo Especial. Inserção em creches
e escolas para crianças refugiadas é dificultoso por falta de documentos e vagas. Revalidação de diplomas com altas taxas de
despesas.
8 ) Saúde: de acordo com a Lei nº 8.080/1990 e o art. 196 da CF/1988, os princípios do Sistema Único de Saúde são a universalidade,
a equidade e a integralidade. Falta de preparo dos profissionais da saúde. Perigo de transmissão de doenças. Desconhecimento dos
procedimentos de acesso a esse serviço no país receptor. Falta de recursos (quando não existem tratamentos gratuitos). Medo de
utilizar os serviços públicos - no caso dos imigrantes indocumentados. Necessidade do abastecimento de água potável em postos e
centros, nutrição adequada, apoio psicossocial, vacinação e assistência maternoinfantil. Centros de referências (o Centro de
Referência para a Saúde dos Refugiados no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, a fim de capacitar os profissionais
do SUS).
Obs: Pandemia do vírus Covid-19 = dificultou o acesso ao direito de asilo, com o fechamento das fronteiras, aumento das detenções,
retornos forçados, deportações, retenção dos migrantes, processos de separação familiar e exposição ao risco de tráfico humano. As
consequências aos trabalhadores refugiados na economia informal, com baixos salários e condições indecentes de trabalho. O Policy
Brief intitulado “Protecting migrant workers during the COVID-19 pandemic”, publicado pela OIT. A Comissão Interamericana,
adotou a Resolução nº 01/2020, intitulada “Pandemia e Direitos Humanos nas Américas”.
.ATUAÇÃO JURÍDICA E O TRABALHO DA CRIOAB

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