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Direito internacional dos Direitos Humanos

Definição: “Consiste em um sistema de normas gerais tuteladoras de bens da vida primordiais


(dignidade, vida, segurança, liberdade, honra, moral, entre outros) e previsões de instrumentos
políticos e jurídicos de implementação dos mesmos, cuja finalidade precípua consiste na
concretização da plena eficácia dos Direitos Humanos Fundamentais”.

“O direito internacional dos direitos humanos consiste em um sistema de normas,


procedimentos e instituições internacionais desenvolvidos para implementar esta concepção e
promover o respeito dos direitos humanos em todos os países, no âmbito mundial”.

Evolução: iniciou com previsões locais (regionais), para atingir nível internacional através da
DUDH (1948). Nas palavras de Francisco Rezek “até a fundação das Nações Unidas, em 1945,
não era seguro afirmar que houvesse, em direito internacional público, preocupação consciente
e organizada sobre o tema dos direitos humanos”. (Direito Internacional Público, 1996, p. 223).

Características dos Direitos Humanos

• Imprescritibilidade: os direitos humanos não se perdem pelo decurso do prazo;

• Inalienabilidade: não há possibilidade de transferência dos direitos humanos, seja a


título gratuito, seja a título oneroso;

• Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia. Dessa característica surgem


discussões importantes na doutrina, como a renúncia ao direito à vida e a eutanásia, o
suicídio e o aborto;

• Inviolabilidade: impossibilidade de desrespeito por determinações infraconstitucionais


ou por atos das autoridades públicas, sob pena de responsabilização civil, administrativa
e criminal;

• Universalidade: a abrangência desses direitos engloba todos os indivíduos,


independentemente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-
filosófica.

• Efetividade: a atuação do Poder Público deve ser no sentido de garantir a efetivação


dos direitos e garantias previstos, com mecanismos coercitivos para tanto.

• Complementariedade: os direitos humanos não devem ser interpretados isoladamente,


mas de forma conjunta com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelas
declarações, tratados, convenções, constituições, etc.

• Interdependência: relação entre o direito e a respectiva garantia. Aplicável no direito


interno. (Direito à liberdade = habeas corpus; direito à informação = habeas data).
PRINCIPAIS DOCUMENTOS INTERNACIONAIS:

1) Declaração Universal dos Direitos Humanos 1948

• Artigos 1º e 2º - Consagram os 4 princípios fundamentais dos Direitos Humanos:


dignidade, liberdade, igualdade e fraternidade.

• Artigos 3º, 4º, 5º e 9º - proclamam o direito à vida, à liberdade e à segurança.

• Artigo 6º - cuida dos direitos de personalidade e vem complementado pelo artigo 12,
relativo a privacidade.

• Artigo 7º - reforça o princípio da igualdade perante a lei.

• Artigos 8º e 10 – contemplam o princípio do amplo acesso à jurisdição, igualdade


(jurisdicional) e publicidade no processo.

• Artigo 11 – estabelece a presunção de inocência e a irretroatividade da lei penal in pejus.

• Artigos 13 e 14 – asseguram a liberdade de circulação e escolha de residência, abandono


e regresso ao seu país, bem como o direito de requerer asilo.

• Artigo 15 – direito à nacionalidade passa a ser reconhecido como direito humano.

• Artigo 16 – reconhece a família como o elemento natural e fundamental da sociedade.

• Artigo 17 – Direito à propriedade (respeitado o interesse público e social da mesma).

• Artigo 18 e 19 – consagram do direito à liberdade de pensamento, consciência e de


religião, opinião e expressão.

• Artigo 20 – Direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas, vedada a filiação


obrigatória.

• Artigo 21 – amplo acesso aos cargos e funções públicas, respeitada a igualdade de


condições e reprovando o nepotismo e violações a concursos públicos.

• Artigo 22 – Direito à segurança social.

• Artigos 23 a 25 – reconhecimento dos direitos sociais dos trabalhadores como direitos


humanos.

• Artigo 26 – A educação é reconhecida como direito humano.

• Artigo 28 – reafirma o compromisso com a internacionalização e efetivação dos direitos


humanos.

• Artigos 29 e 30 – não se pode invocar um direito humano para violar outro.


2) Pacto dos Direitos Civis e Políticos – PIDCP 23.03.1976

• Documento que reforça as previsões da DUDH e que tratam principalmente, dos


direitos e liberdades seguintes:

• Direito à vida;

• De não ser torturado;

• Não ser escravizado nem submetido à servidão;

• Liberdade e segurança pessoal;

• De não ser preso arbitrariamente;

• A um julgamento justo;

• Igualdade perante a lei;

• Proteção da vida privada;

• Liberdade de locomoção, dentre outros.

Com relação ao direito à vida, o pacto traz previsão acerca da pena de morte, a qual só pode ser
imposta em casos de crimes mais graves, em conformidade com a legislação vigente na época
em que o crime foi cometido. Só poderá ser aplicada com base em uma sentença transitada em
julgado e imposta por juízo competente. De acordo com o pacto, a pena de morte não se aplica
a menores de 18 anos e gestantes e tampouco ser restabelecida nos Estados que a tenham
abolido.

3) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – PIDESC

O PIDESC possui 5 partes:

• 1ª) trata da autodeterminação dos povos;

• 2ª) compromisso dos Estados em efetivarem os direitos previstos no referido pacto


(os Estados assumiram verdadeira obrigação jurídica para promoverem políticas
públicas para efetivarem os direitos do pacto);

• 3ª) cuida dos direitos sociais, econômicos e culturais, destacando o direito ao trabalho
e a liberdade sindical;

• 4ª) Direito à segurança social (alimentação, vestuário, moradia, saúde, meio


ambiente, saneamento básico, etc.);

• 5ª) Direito à educação: com as seguintes diretrizes a) ensino primário obrigatório e


gratuito; b) ensino secundário técnico e profissional; c) ensino superior acessível à
todos; d) a educação de base deve ser incentivada e encorajada para aqueles que não
receberam instrução primária; e) promover o desenvolvimento.

O direito à cultura está inserido neste tópico, conforme se denota pelo artigo 15 do referido
pacto, que dentre outras prevê a proteção dos interesses morais e materiais de toda a produção
intelectual, artística, científica e literária.
4) Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher – 1979

• Procedeu o reconhecimento da mulher como sujeito de direito e merecedora de


proteção, vedando qualquer forma de discriminação baseada no sexo.

• Com relação ao trabalho, a convenção veda a diferença de salários, exercício de


funções e de critérios de admissão por motivos de sexo, idade, cor ou estado civil.

• Quanto ao poder familiar, a convenção diz que devem ser exercidos igualmente pelo
homem e pela mulher (planejamento familiar).

• O Estado deve criar mecanismos para coibir a violência doméstica.

• Criação de medidas especiais e temporárias para acelerar a igualdade de fato entre


homens e mulheres.

5) Convenção sobre os Direitos da Criança 02.09.1990

Dividido em 5 categorias:

• Direito à sobrevivência;

• Direito ao desenvolvimento;

• Direito à proteção;

• Direito à participação na vida social;

• Direito à liberdade de exprimir sua própria opinião.

6) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – 03.12.2006

• Por se tratar de um dos grupos mais marginalizados da sociedade a convenção enfatiza


e reafirma que as pessoas com deficiência são titulares de direitos humanos.

• A convenção dispõe que se deve “promover, proteger e assegurar o desfrute plano e


equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por parte de todas
as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua inerente dignidade.”

• A convenção não objetiva a criação de direitos específicos, mas de garantir o pleno


uso e gozo dos direitos existentes, pelas pessoas que possuem alguma deficiência
física ou psíquica.

7) O Direito Constitucional Brasileiro e os tratados internacionais

• A cláusula de abertura possibilita a entrada no ordenamento jurídico brasileiro de


outros direitos, que podem ser decorrentes de princípios (e com intervenção direta do
STF) e outras vezes decorrentes de atos, tratados, pactos, convênios, convenções,
protocolos, ou outros instrumentos que buscam produzir efeitos jurídicos
potencialmente concretos.
• Artigo 5º - (...)

• § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros


decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

• § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Posição hierárquica dos tratados:

• Tratados Gerais (“pacta sunt servanda”)

• § 2º do art. 5º CF/88

• Tratados sobre direitos humanos:

• § 3° do art. 5° CF/88

O ingresso dos tratados e convenções no ordenamento jurídico brasileiro:

• Tratados gerais e pré EC 45/2004:

• Posição hierárquica: infraconstitucional

• Tratados sobre Direitos Humanos pós EC 45/2004:

• Posição hierárquica: equivalentes a EC’s.

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