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SUMÁRIO

1. REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO ................................................. 2

2. ESTADO DE DIREITO: FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E DEVIDO


PROCESSO LEGAL ................................................................................................... 5

3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ..... 8

4. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA ..................................................... 15

5. ATO ADMINISTRATIVO- VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE ... 17

6. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...................................... 23

7. DIREITO ADMINISTRATIVO E NOVO CÓDIGO CIVIL ........................ 26

7.1- A função social da propriedade ....................................................... 32

7.2- Propriedade Pública e Privada ........................................................ 34

7.3- O estatuto da cidade e sua função social ....................................... 35

7.4- Bens Públicos ................................................................................. 36

7.5- Concessões florestais ..................................................................... 44

7.6- Editais de Licitação – Principais Informações ................................. 45

8. REGIME JURÍDICO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS ...................... 47

Classificação: .............................................................................................. 48

9. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 56

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1. REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

Fonte: www.travelnotesandbeyond.com

O regime jurídico administrativo consiste importante tema no contexto jurídico


Brasileiro. Trata-se do conjunto de regras e princípios que estruturam o Direito
Administrativo lhe conferindo autonomia enquanto um ramo autônomo da ciência
jurídica. Para tanto, necessário será analisar os princípios concernentes ao tema, a
fim de melhor compreendê-lo.
Na Constituição da República Federativa do Brasil, encontramos um conjunto
de princípios e normas, os quais norteiam a atividade desempenhada pelos agentes
encarregados de zelar pela coisa pública. Desse modo, conjugando as regras e os
princípios que estruturam a Administração Pública Brasileira, tem-se o regime jurídico
administrativo.
Tradicionalmente, entende-se que as normas jurídicas que compõem o
regime jurídico-administrativo orbitam em torno de dois princípios fundamentais. De
um lado, tem-se o princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse
privado; do outro, o princípio da indisponibilidade do interesse público pela
Administração.
O princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado
confere base às prerrogativas e privilégios que a lei confere à Administração para a
melhor concretização do interesse público. Cuida-se de princípio implícito do sistema

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do Direito Positivo brasileiro, identificável a partir do art. 1º, caput, o art. 3º, o art. 193,
e o art. 170, caput, todos da Constituição Federal.
Entretanto, isso não representa o esmagamento do interesse privado. Quando
este se encontra revestido sobre o manto do direito subjetivo, assegura-se ao
administrado todo um conjunto de proteções contra o arbítrio do Estado e a quebra da
isonomia. E, se se trata de direito fundamental individual, é perfeitamente possível que
a supremacia do interesse público sobre o interesse privado determine a prevalência
daquele sobre outro interesse privado.
Por sua vez, a indisponibilidade do interesse público pela Administração
ampara os direitos do administrado em face do Estado, quando este exerce
competências administrativas. Também é princípio implícito, surpreendido ao se
examinar as garantias fundamentais do administrado, constantes de preceitos como
o art. 5º, caput, II, LIV e LV, § 1º e § 2º, e o art. 37, caput, e § 6º, ambos da Constituição
Federal.
O que se deve entender por interesse público? Interesse público consiste no
interesse social positivado em norma jurídica. Trata-se do interesse que o indivíduo
possui enquanto membro da sociedade ou de um grupo social específico, num dado
espaço e num dado tempo. Enfim, consubstancia-se em interesse que indivíduo
compartilha com os seus semelhantes no meio social, sob os auspícios do sistema do
Direito Positivo.
Entretanto, o interesse público não é um monólito. Não há um interesse público,
mas sim uma variedade de interesses públicos, cuja extensão e intensidade são
proporcionais ao grau de intervenção estatal que o sistema do Direito Positivo
determina na ordem econômica ou na ordem social.
No caso brasileiro, em razão da natureza bastante analítica da Constituição
Federal vigente, os interesses públicos se encontram expressa ou implicitamente
positivados por meio de normas constitucionais. Desafia-se aqui a identificação de um
interesse público que não tenha referência direta ou indireta na Lei Maior.
Convém ainda anotar que dificilmente um interesse público deixa de estar
associado a um direito fundamental. Ao se desapropriar um terreno particular para a
construção de um hospital público, procura-se atender o interesse na expansão e
melhoria dos serviços que integram o Sistema Único de Saúde e, sem sombra de

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dúvida, dar concretização ao direito fundamental social do administrado à saúde
pública.
Duas espécies básicas de interesses públicos podem ser identificadas:
(I) os interesses difusos, aqueles que o indivíduo tem enquanto membro da
sociedade (v. g., o art. 144, o art. 196, o art. 205, e o art. 225, todos da Constituição
Federal);
(II) os interesses coletivos, aqueles que o indivíduo tem enquanto integrante de
um grupo social constitucionalmente tipificado como merecedor de políticas públicas
específicas (v. g., o art. 227 e o art. 231, ambos da Constituição Federal).
Recorde-se que a doutrina administrativista, há décadas, não trabalha mais
com a identidade entre interesse público e interesse do Estado enquanto pessoa
jurídica. Ademais, também é pacífica a natureza instrumental das competências
administrativas. Por conseguinte, não se justifica a defesa de um muro intransponível
entre o interesse público e o interesse difuso.
Tende a ocorrer o conflito entre interesses públicos, haja vista o crescimento
das demandas por uma maior intervenção administrativa nas relações econômicas e
sociais (v. g., Emenda Constitucional nº 65, de 13 de julho de 2010). E, justamente
em razão da indisponibilidade do interesse público pela Administração, esta tem o
dever de harmonizá-los quando em rota de colisão.
Por fim, é imperativo destacar que o sistema do Direito Positivo, por meio da
Constituição Federal, estabelece em prol de cada administrado, uma esfera de direitos
intangíveis pelo Estado, cuja proteção justifica a própria existência de todos os
poderes constituídos.
Na expansão dos interesses públicos coletivos, é inevitável que se eleve o
número de arestas entre eles e os direitos fundamentais individuais. Naturalmente,
as ações administrativas que passarão a ser demandadas para a concretização
daqueles interesses pressupõem a intervenção na liberdade individual e na
propriedade privada.
O mesmo ocorre com os interesses públicos coletivos anteriormente
estabelecidos, que passam a disputar a preferência da Administração com os novos
interesses públicos coletivos instituídos.
De todo modo, quando se afirma que atividade administrativa se destina a
concretização do interesse público, não se pode negar que ela também visa à
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efetivação do direito fundamental. O regime jurídico-administrativo constitui
instrumento essencial para esse escopo máximo da Administração.

2. ESTADO DE DIREITO: FUNÇÃO ADMINISTRATIVA E DEVIDO PROCESSO


LEGAL

Fonte: www.administradores.com.br

O Estado de direito é formado por duas componentes: o Estado (enquanto


forma de organização política) e o direito (enquanto conjunto das normas que regem
o funcionamento de uma sociedade). Nestes casos, portanto, o poder do Estado
encontra-se limitado pelo direito.
O Estado de direito surge por oposição ao Estado absolutista, em que o rei se
encontrava acima de todos os cidadãos e podia ordenar e mandar sem que mais
nenhum poder lhe fizesse contrapeso. O Estado de direito, por sua vez, supõe que o
poder surge do povo, o qual elege os seus representantes para o governo.
Com o desenvolvimento do Estado de direito, aparece a divisão de poderes (o
Poder Legislativo, o Poder Judicial e o Poder Executivo, três instâncias que, no Estado
absolutista, se reuniam na figura do rei). Desta forma, os tribunais tornam-se
autónomos relativamente ao soberano e aparece o parlamento para fazer frente e
oposição ao poder do governante.

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A noção de democracia é outro conceito relacionado com o Estado de direito,
uma vez que supõe que o povo tem o poder e o exerce através das eleições ao eleger
os seus representantes.
Em todo o caso, há que ter em conta que a democracia não implica que exista
um verdadeiro Estado de direito. Um líder pode chegar ao poder por vias democráticas
e depois abolir o Estado de direito, como foi o caso de Adolf Hitler na Alemanha.
Também podem existir governos que respeitam o funcionamento democrático perante
determinadas questões mas que violam o Estado de direito perante outras.
Muito se fala, no estudo do direito administrativo, em função administrativa e
interesse público. Na literatura jurídica e na jurisprudência faz-se largo uso dessas
expressões. Disso resulta que, com o passar do tempo, o estudante de direito passe
a nutrir uma falsa sensação de que conhece o significado e a amplitude desses
conceitos jurídicos indeterminados.
Entretanto, uma análise mais detida mostra que, conquanto comuns, essas
expressões nem sempre são compreendidas na dimensão que merecem. Sim,
estimado internauta, nem tudo o que se pensa conhecer, se conhece de verdade.
Portanto, a melhor das posturas é aquela que parte da máxima platônica "só sei que
nada sei". De nossa parte, diminuímos um pouco mais a sensação do "nada saber".
A ideia de função administrativa parte da célebre teoria da tripartição das
funções, idealizada com mais cientificidade por Montesquieu em O espírito das leis
(1748). Nessa concepção de Estado, que parte da premissa de que o poder estatal
não pode se concentrar nas mãos de um único indivíduo, há três funções básicas a
se desempenhar: editar normas jurídicas, aplicar essas normas aos conflitos jurídicos
e executar as normas desempenhando atividades para atender concretamente às
necessidades coletivas. Extraem-se dessa exposição as funções legislativa,
jurisdicional e administrativa.
Entre estas, a que especial relevo representa para o direito administrativo é a
função administrativa. Nesse ramo do direito público, não há preocupação com as
atividades que o Estado realiza na produção de normas jurídicas ou na solução de
controvérsias jurídicas penais, civis ou trabalhistas. De modo algum! O que se busca
é tão só captar o modo de atuação estatal na função administrativa. Nessa linha,
podemos afirmar que a função administrativa é a tônica do direito administrativo.

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A função administrativa se concretiza na prática de atos jurídicos infralegais,
excepcionalmente infraconstitucionais, que visam a atender de modo direto, concreto
e imediato determinada finalidade de interesse público.
Assim, todas as vezes que o Estado age para suprir as necessidades da coletividade,
seja por meio de fomento (crédito habitacional, isenções fiscais ou remissão de
dívidas), serviço público (telecomunicações, transporte, educação ou saneamento
básico) ou polícia administrativa (fiscalização ambiental, polícia de ocupação do solo
e ordenamento territorial), está desempenhando a função administrativa e, portanto,
está sob a regência do direito administrativo.
A Constituição da República, ao dispor sobre a Administração Pública e fixar
os parâmetros de sua atuação, indica os princípios que deverão nortear o processo
administrativo. De forma explícita, a Constituição estabelece em seu art. 5º LIV:
“Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. O
princípio do devido processo legal refere-se a todo processo. Portanto, também diz
respeito ao processo administrativo sancionador. Nesse caso, torna-se imprescindível
a presença do devido processo legal, até porque este princípio por ser o mais
completo e estar relacionado aos demais princípios processuais não pode deixar de
merecer uma atenção especial do Administrador.
Preceitua Lucas Rocha Furtado que o processo administrativo deve estar
pautado de legalidade, moralidade, impessoalidade, razoabilidade, publicidade,
eficiência, moralidade dentre outros.
Quando se fala no devido processo legal, como sugere a própria expressão,
estamos diante de uma série de princípios e normas legais e constitucionais que
deverão ser aplicadas no processo para ao final alcançar um resultado amparado pela
Constituição.
O Superior Tribunal de Justiça entende como conexos ao devido processo legal
o princípio do contraditório e da ampla defesa, no sentido de que esses dois princípios
também encontram amparo constitucional no art. 5º LIV.
O devido processo legal não só engloba o princípio do contraditório e da ampla
defesa, como também está atrelado a alguns princípios do processo administrativo
sancionador, dentre os principais destaca-se: o princípio da tipicidade; princípio da
presunção de inocência; princípio da motivação das decisões e o princípio da
prescrição.

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3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Fonte: www.n3w5.com.br

O LIMPE é uma combinação interessante de letras, formada por alguns


princípios encontrados na Constituição Federal da República Federativa do Brasil.
São eles, respectivamente, os princípios:
 Legalidade
 Impessoalidade
 Moralidade
 Publicidade
 Eficiência
Esses apresentados, são referentes à Administração Pública e estão presentes
no artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Através dele, todas as pessoas que
fazem parte dessa administração devem se pautar, em obediência à Constituição
Brasileira. É importante ressaltar, que os princípios citados não são os únicos, mas há
referência de outros princípios em leis esparsas e específicas.
Princípio da Legalidade:
Dentre os princípios da Administração, o da legalidade é o mais importante e
do qual decorrem os demais, por ser essencial ao Estado de Direito e ao Estado
Democrático de Direito. Constitui, assim, vetor basilar do dito regime jurídico-

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administrativo. Daí ser necessário fixar: permite-se a atuação do agente público, ou
da Administração, apenas se permitida, concedida ou deferida por norma legal, não
se admitindo qualquer atuação que não contenha prévia e expressa permissão legal.
Ao particular é dado fazer tudo quanto não estiver proibido; ao administrador somente
o que estiver permitido pela lei (em sentido amplo). Não há liberdade desmedida ou
que não esteja expressamente concedida. Toda a atuação administrativa vincula-se a
tal princípio, sendo ilegal o ato praticado sem lei anterior que o preveja. Também assim
será se a desobediência for em relação a regulamento ou qualquer outro ato
normativo. Do princípio da legalidade decorre a proibição de, sem lei ou ato normativo
que permita, a Administração vir a, por mera manifestação unilateral de vontade,
declarar, conceder, restringir direitos ou impor obrigações.
O princípio da legalidade está previsto na Constituição Federal não somente no
seu art. 37, mas também nos arts. 5º, II e XXXV, e 84, IV. Assim, ao dispor que
ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei, o constituinte impediu o administrador de, salvo se permitido por lei, impor qualquer
obrigação ou dever aos administrados. Do mesmo modo, nenhuma lesão ou ameaça
de lesão, ainda que perpetrada pela Administração, está a salvo de apreciação
judicial.
Há, porém, restrições previstas na Constituição: medidas provisórias (art. 62),
estado de defesa (art. 136) e estado de sítio (arts. 137 a 139). Sem significar exceção
ao princípio da legalidade, a Constituição admite a edição de decreto (v. Capítulo VIII,
item 2.5) que discipline a extinção de funções ou cargos, quando vagos, ou determine
a organização e funcionamento da Administração Pública, desde que não aumente
despesas nem crie ou extinga órgãos públicos (art. 84, VI, a e b). Do mesmo modo,
admite-se a excepcional atuação administrativa não fundada em lei (em sentido estrito,
como ato normativo oriundo do Legislativo) em razão de medida provisória, em face da
decretação do estado de sítio ou do estado de defesa. Sem que preexista previsão
legal, poderá a Administração atuar, praticando atos jurídicos presumivelmente válidos
e eficazes (v. princípio da presunção de legalidade), e tal possibilidade será decorrente
de atos oriundos do próprio Poder Executivo.
Daí que, considerada a legalidade em sentido estrito (como ato proveniente do
Legislativo), conviveria o sistema constitucional com exceções ao princípio da
legalidade, mas se tomada a expressão em seu sentido amplo (lei como expressão

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do direito ou da juridicidade), o sistema constitucional passa a não admitir exceções
ao princípio, mas hipóteses de atuação válida não fundada em ato do Legislativo, mas
do próprio Executivo.
Não se pode confundir o princípio da legalidade com o da reserva de lei: o
primeiro, princípio que significa a submissão ao império da Constituição e das leis; o
segundo, limitação à forma de regulamentação de determinadas matérias, cuja
natureza é indicada pela Carta Magna (lei complementar, lei ordinária etc.). Ambos
tocam ao conteúdo do poder deferido: se amplo (legalidade) ou restrito (reserva).
Também não se confundem o da legalidade com o da legitimidade. O segundo
diz respeito à investidura no poder; o primeiro, à forma de exte- riorização, de
materialização. A legalidade, como visto, obriga a Administração (seus órgãos,
agentes) à atuação vinculada à norma legal (ao que tenha sido positivado), enquanto
a legitimidade exige que a função seja exercida em conformidade com valores que
transcendem a previsão legal, por exemplo, com o que democraticamente tenha sido
estabelecido.
Princípio da Impessoalidade:
O segundo princípio expresso no art. 37, caput, da Constituição agasalha três
abordagens distintas. Significa tanto a atuação impessoal, genérica, ligada à
finalidade da atuação administrativa que vise à satisfação do interesse coletivo, sem
corresponder ao atendimento do interesse exclusivo do administrado, como também
significa a imputação da atuação do órgão ou entidade estatal, não o sendo quanto
ao agente público, pessoa física, como ainda a isonomia, porque obrigatório o
tratamento igualitário de todos os administrados. As três abordagens encontram
correspondência com o texto constitucional. A impessoalidade está relacionada à
finalidade, ao fim estatuído pela lei e cuja perdição significa desvio, invalidando o ato,
como também está relacionada à imputação da atuação administrativa e à
necessidade de observância do princípio de isonomia. Tanto assim que a própria
Constituição Federal proíbe a utilização da atuação como meio de promoção pessoal
de autoridades ou servidores públicos, vedando a utilização de nomes, símbolos e
imagens (art. 37, § 1º). Em reforço ao segundo entendimento tem-se, ainda, a
manutenção dos efeitos de ato administrativo editado por servidor ilegalmente
investido no cargo ou função, exatamente porque a atuação não é atribuída a pessoa

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física, mas a entidade ou órgão, assim como o sistema de imposição da
responsabilidade civil do Estado.
A impessoalidade de que trata a Carta Magna possui, então, duas
consequências:
a) obriga ao atendimento do interesse público, sendo impessoal, abstrata,
genérica;
b) a atividade administrativa é imputada ao órgão ou à entidade, e não ao
agente.
Note-se que a Constituição do Estado de São Paulo (art. 111) consagra
separadamente os dois princípios — impessoalidade e finalidade. O princípio, por fim,
também pode ser tido como indicativo da imparcialidade, que condiciona a atividade
administrativa a deferir tratamento igual a todos, independentemente de qualquer
interesse político (nesse sentido: Lúcia Valle Figueiredo, Curso de direito
administrativo, 3. ed., São Paulo: Malheiros, 1999, p. 59).
A impessoalidade está relacionada: à finalidade; à imputação (o ato é atribuído
à entidade e não ao agente); à isonomia (todos são iguais perante a Administração);
à imparcialidade (a todos o mesmo tratamento).
Princípio da Moralidade Administrativa:
O terceiro princípio expresso, o da moralidade, corresponde à proibição de a
atuação administrativa distanciar-se da moral, dos princípios éticos, da boa-fé, da
lealdade. Já se disse que o conteúdo do princípio seria “o conjunto de regras tiradas
da disciplina interior da Administração” (Maurice Hauriou), contudo, ante o sistema
legal pátrio, significa mais: que a atuação administrativa não pode contrariar, além da
lei, a moral, os bons costumes, a honestidade, os deveres de boa administração. Se
da atuação do agente público resultar a inobservância de um padrão de moral, ainda
que comum e não propriamente administrativa, redundará a edição de ato inválido,
porque ilegal. A moralidade, como princípio, é de difícil conceituação e sugere sua
dependência do princípio da legalidade. Mas ao expressá-lo o constituinte desejou
dar-lhe conteúdo próprio e aplicável à Administração Pública. Diz-se, então, que a
moral que guia o princípio não é a moral comum, mas a tirada da conduta interna da
Administração. Significa dizer, a moral que se relaciona ao princípio é jurídica, e não
subjetiva subjetiva, ligada a outros princípios da própria Administração e aos princípios
gerais de direito. Daí o divórcio possível entre ato legal e imoral, porque violado o

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princípio da moralidade administrativa (é o que ocorre, por exemplo, com as
nomeações para cargos em comissão, com as decisões editadas tão só por critérios
de natureza político-partidária etc.). O exemplo dado por Rodolfo de Camargo
Mancuso (Ação popular, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p. 70-1) é suficiente:
determinado prefeito, por ter sido derrotado no pleito eleitoral e às vésperas do
encerramento do mandato, congela o imposto territorial urbano com o fito de diminuir
as receitas do Município e inviabilizar a sua administração. Ainda que tenha agido
conforme a lei, agiu com inobservância da moralidade administrativa.
Por fim, diga-se que a imoralidade administrativa qualificada é a que configura
o ato de improbidade administrativa, e não apenas o ato imoral. A probidade
administrativa está relacionada ao princípio da moralidade, mas é forma qualificada
da não observância desse princípio. Tanto assim que se pune com maior rigor a
imoralidade qualificada pela improbidade (CF, art. 37, § 4º). A boa-fé, a lealdade, a
razoabilidade e a proporcionalidade são princípios gerais que ditam o conteúdo do
princípio da moralidade administrativa, e a sua violação pode ser identificada, por
exemplo, pela infringência dos requisitos da finalidade, do motivo ou do objeto do ato
administrativo.
A moralidade, em síntese, tem o seu conteúdo determinado por valores morais
juridicizados, localizados ou recepcionados pelo sistema normativo, como o são os
princípios gerais de direito que têm conteúdo moral — boa-fé, imparcialidade,
honestidade etc.
A prática de ato administrativo, a celebração de contrato administrativo com
prejuízo ou violação da moralidade administrativa não apenas exigirá a invalidação do
ato ou contrato como a responsabilização (por improbidade administrativa) do agente
público e dos que concorreram ou se beneficiaram, ainda que particulares.
Os atos de improbidade podem acarretar o enriquecimento ilícito do agente ou
de terceiro (particular ou pessoa jurídica, dano ao Erário e ao patrimônio público), ou
podem representar a violação de outros princípios. As três modalidades estão
previstas na Lei n. 8.429/92, a Lei de Improbidade Administrativa.
O controle jurisdicional por violação da moralidade também pode decorrer da
promoção de ação popular (Lei n. 4.717/65), ajuizada por qualquer cidadão e com a
finalidade de invalidar o ato lesivo ou contrário à moralidade e responsabilizar o
agente. A ação popular, que também pode ser movida em razão do ato ou contrato

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lesivos ao meio ambiente, ao patrimônio público, histórico, artístico e cultural, figura
como ação constitucional (CF, art. 5º, LXXIII). A ação movida em razão da prática de
atos de improbidade administrativa não se confunde com a ação popular. A primeira,
também espécie de ação coletiva ou civil pública, pode ser movida pelo Ministério
Público ou pela entidade do Poder Público interessada (a que tenha sofrido a lesão
ou a quem o agente esteja vinculado), enquanto a ação popular somente pode ser
movida pelo cidadão. A ação de improbidade pode permitir a aplicação de sanções
específicas (CF, art. 37, § 4º, e Lei n. 8.429/92, art. 12, I, II e III), enquanto da ação
popular somente pode resultar a anulação do ato ou contrato lesivos e a
responsabilização civil dos responsáveis. Ambas, porém, não têm natureza penal e
são processadas em primeira instância.
Interessa notar, desde já, que a CF de 1988 consagrou a moralidade
administrativa como princípio da Administração Pública e, como todos os demais
princípios, seus destinatários não são apenas os agentes públicos, os órgãos e
entidades da Administração, mas todos os que, de qualquer modo, se relacionam com
o Poder Público ou exercem funções públicas. Daí por que não apenas os agentes
públicos, mas também os particulares, podem responder por atos que tenham sido
praticados com a violação da moralidade administrativa.
Princípio da Publicidade:
O dever de dar publicidade, ou seja, de levar o conhecimento do ato ou da
atividade administrativa a terceiros, a fim de facilitar o controle e conferir possibilidade
de execução, constitui o quarto vetor da Administração Pública.
A atuação transparente do Poder Público exige a publicação, ainda que
meramente interna, de toda forma de manifestação administrativa, constituindo esse
princípio requisito de eficácia dos atos administrativos. A publicidade está intimamente
relacionada ao controle da Administração, visto que, conhecendo seus atos, contratos,
negócios, pode o particular cogitar de impugná-los interna ou externamente.
A publicidade pode ser interna (obrigatória sempre) ou externa (obrigatória para
os atos concluídos, fases de procedimentos, atos em formação, atas de julgamento,
contratos etc.). O princípio propicia, ainda, a obtenção de informações, certidões,
atestados da Administração, por qualquer interessado, desde que observada a forma
legal. O art. 5º, XXXIII, assegura, assim, o direito que todos têm de receber
informações dos órgãos públicos, sejam de interesse pessoal, sejam de interesse

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coletivo e geral. Concorrem, porém, reservas ao princípio quando em jogo estiver a
segurança da sociedade e/ou do Estado ou quando o conteúdo da informação for
resguardado por sigilo.
A Lei n. 11.111/2005 regulamenta o acesso aos documentos públicos de
interesse particular ou de interesse coletivo e a possibilidade de restrição em razão
da segurança da sociedade e do Estado. Daí ser correto concluir: a publicidade é
obrigatória como meio conferidor de eficácia da atividade administrativa, mas se
admite a manutenção do sigilo quando expressamente autorizar a Constituição ou
quando concorrer possível prejuízo para a coletividade ou para outrem.
O princípio também diz respeito aos julgamentos realizados por órgãos do
Judiciário, admitindo-se que a lei limite, em determinados atos, a presença às próprias
partes e a seus advogados, desde que o sigilo seja imprescindível para a defesa da
intimidade e sem prejuízo do direito público à informação (CF, art. 93, IX, com a
redação dada pela EC n. 45/2004 — Reforma do Judiciário e do Ministério Público).
Princípio da Eficiência:
O último princípio expresso no caput do art. 37 é o da eficiência, que também
abarca dois entendimentos possíveis: tange ao agente público, que não pode atuar
amadoristicamente, devendo buscar a consecução do melhor resultado possível,
como também diz respeito à forma de organização da Administração Pública, que
deve atentar para os padrões modernos de gestão ou administração, vencendo o peso
burocrático, atualizando-se e modernizando-se. Com relação à exigência de
eficiência, há normas expressas que a consagram no próprio texto constitucional: a
avaliação periódica de desempenho a que está submetido o servidor; o estágio
probatório; a possibilidade de formalização de contratos de ampliação da autonomia
operacional de entidades administrativas (CF, art. 37, § 8º). Há, ainda, normas
infraconstitucionais que confirmam o princípio, como a possibilidade de celebração de
contratos de gestão com as organizações sociais, os termos de parceria com as
organizações da sociedade civil, dentre outras.
No campo da eficiência incide, por exemplo, o dever de a Administração atuar
com economicidade, produtividade, otimizando seus resultados e reduzindo custos
operacionais. A omissão injustificada do Poder Público pode significar a violação do
princípio da eficiência, como também a demora injustificada da sua atuação. Veja-se,
por exemplo: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável

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duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação, como
impõe a Constituição Federal, art. 5º, LXXVIII.

4. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Fonte: empreendedorx.com.br

Pode-se adotar a seguinte designação para a organização administrativa


brasileira:
Administração Direta: conjunto de órgãos criados na estrutura de cada uma das
pessoas políticas para o exercício das funções administrativas e outras atípicas.
Assim, corresponde aos órgãos que integram a estrutura da União, dos Estados-
Membros, do Distrito Federal e dos Municípios (atuação direta, ou desconcentrada,
do Poder Público).
Administração Indireta: conjunto de entidades dotadas de personalidade
jurídica própria e criadas para o exercício de funções específicas, como as autarquias,
agências, fundações, entidades empresariais (sociedades de economia mista e
empresas públicas e suas subsidiárias). Os consórcios públicos, constituídos sob a
forma de associações públicas, são também integrantes da Administração Indireta
(Lei n.11.107/2005).
Paraestatais, entes de cooperação: entidades criadas pelo setor privado, com
personalidade jurídica de direito privado, mas que mantêm vínculo jurídico com as
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pessoas políticas, como os serviços sociais autônomos, as organizações sociais, as
organizações da sociedade civil de interesse público, dentre outros. O vínculo pode
ser resultante de lei (como no caso dos serviços sociais autônomos — ex.: SESC,
SESI, SENAI), de contrato de gestão (como para as organizações sociais) ou de
parceria (como no caso das organizações da sociedade civil de interesse público).
As empresas públicas e as sociedades de economia mista integram a
Administração Indireta, conquanto Hely Lopes Meirelles tenha sugerido a inclusão
entre as chamadas paraestatais. A obra atualizada do doutrinador já contém a
ressalva, não subsistindo a antiga posição (Direito administrativo brasileiro, 28. ed.,
São Paulo: Malheiros, 2003, p. 65-66). Para que não se incorra em equívoco, já que
tanto as empresas públicas e as sociedades de economia mista como as paraestatais
são pessoas jurídicas de direito privado, constituídas, pois, sob o regime do direito
privado, destaque-se que: as entidades empresariais são constituídas por desejo do
Estado (a lei apenas autoriza a constituição); as paraestatais, por desejo de
particulares (pessoas físicas ou jurídicas); as empresas estatais integram a
Administração (administração indireta); as paraestatais atuam ao lado da
Administração, ou seja, de forma paralela a esta.
Admite-se a constituição de entidades da Administração Indireta por qualquer
dos poderes do Estado, ainda que primariamente a ocorrência seja típica do Poder
Executivo. Por isso, nada impede que o Legislativo constitua entidade autárquica ou
fundacional, podendo também fazê-lo o Judiciário, mas desde que observada a regra
do art. 37, XIX, da Constituição Federal. Em síntese:
— Administração Direta: Chefia do Poder (por exemplo, a Presidência da
República) e seus órgãos auxiliares (por exemplo, os Ministérios), seus órgãos de
assessoramento (por exemplo, AGU) e de consulta (por exemplo, Conselho da
República e Conselho de Defesa Nacional). As funções próprias da pessoa política
(no caso, a União) é desconcentrada ou repartida internamente entre os órgãos
mencionados.
— Administração Indireta: Autarquias, Agências, Fundações, Empresas
Públicas e Sociedades de Economia Mista, todas dotadas de personalidade jurídica
própria, criadas por lei ou a partir de autorização legislativa e resultantes de
descentralização administrativa. Ex.: na Administração Federal: IBAMA (autarquia);
ANATEL (agência reguladora); Fundação Nacional de Saúde (fundação); Caixa

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Econômica Federal (empresa pública); Banco do Brasil (sociedade de economia
mista). As funções próprias da pessoa política foram, pelas leis que criaram aquelas
entidades, outorgadas a cada uma das entidades mencionadas, ocorrendo a
descentralização administrativa.
Todas as funções administrativas, exercidas direta ou indiretamente pelo
Estado, acham-se gizadas pelos princípios e regras jurídicas que informam o regime
jurídico-administrativo. São princípios as normas jurídicas que fundam o sistema,
enquanto as regras possuem conteúdo certo, determinado e preciso.

5. ATO ADMINISTRATIVO- VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE

Fonte: blog.proab.com.br

O conceito que São Tomás de Aquino chamou de derivação por


determinação ainda hoje está presente na nossa cultura jurídica, que traduz a mesma
ideia a partir da noção de discricionariedade. Utilizando a terminologia tomista,
podemos definir um ato discricionário como sendo aquele que envolve uma operação
de determinação - e não apenas de conclusão (dedução). A discricionariedade é um
conceito jurídico que tem origem no Direito Administrativo, mas que - como veremos
a seguir - pode ser utilizado para descrever as funções de todos os atos estatais que
envolvem uma determinação. Façamos, pois, uma ligeira exposição sobre a ideia de

17
discricionariedade no Direito Administrativo e de como esse conceito pode ser
estendido para os atos legislativos e judiciais.
O Direito Administrativo divide os atos administrativos em duas espécies:
vinculados e discricionários. A atividade administrativa é voltada para a
implementação das decisões políticas e, no Estado contemporâneo, essas decisões
são normalmente objetivadas na forma de uma lei. As normas de Direito Administrativo
normalmente atribuem consequências jurídicas a uma situação hipotética e, com isso,
a atividade dos administradores é basicamente aplicar as disposições de uma norma
geral a situações particulares, verificando se o caso concreto é abrangido pela
definição abstrata da norma e indicando as suas consequências jurídicas.
Em alguns casos, as normas oferecem ao administrador critérios objetivos
para a atribuição de consequências jurídicas às situações concretas. Nessa hipótese,
a atividade administrativa é vinculada, ou seja, há apenas uma solução juridicamente
válida para cada caso e não é necessário um juízo subjetivo do administrador para
que a normas seja concretizada. Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello:
"atos vinculados seriam aqueles em que, por existir prévia e objetiva tipificação legal
do único possível comportamento da Administração em face de situação igualmente
prevista em termos de objetividade absoluta, a Administração, ao expedi-los, não
interfere com apreciação subjetiva alguma". Como, nesses casos, os critérios jurídicos
que regulam o caso concreto podem ser derivados da lei geral, identificamos aqui uma
operação dedutiva, ou seja, uma conclusão no sentido tomista.
Por outro lado, existem casos em que a própria norma não oferece critérios
objetivos para a avaliação jurídica das situações concretas. A concretização dessas
normas exige do administrador uma avaliação subjetiva da situação concreta, um
julgamento de conveniência e oportunidade. A norma oferece ao administrador alguns
critérios que deverão orientar a sua opção subjetiva e o ato administrativo deve
adequar-se a essas orientações, mas os critérios oferecidos pela norma não são
suficientemente concretos para que haja uma única solução possível.
Nesse caso, teríamos um ato discricionário, que é definido por Celso Antônio
como "os que a Administração pratica com certa margem de liberdade
de avaliação ou decisão segundo critérios de conveniência e oportunidade
formulados por ela mesma, ainda que adstrita à lei reguladora da expedição deles".
Nesses casos, o agente administrativo precisa fazer uma operação de determinação,

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complementando a regra geral com critérios de sua escolha, para que seja possível a
aplicação da norma abstrata ao fato concreto.
Os atos vinculados são aqueles que tem o procedimento quase que
plenamente delineados em lei, enquanto os discricionários são aqueles em que o
dispositivo normativo permite certa margem de liberdade para a atividade pessoal do
agente público, especialmente no que tange à conveniência e oportunidade,
elementos do chamado mérito administrativo.
A discricionariedade como poder da Administração deve ser exercida
consoante determinados limites, não se constituindo em opção arbitrária para o gestor
público, razão porque, desde há muito, doutrina e jurisprudência repetem que os atos
de tal espécie são vinculados em vários de seus aspectos, tais como a competência,
forma e fim.
Distinção entre arbítrio e ato discricionário:
O ato administrativo discricionário não deve ser confundido com o arbítrio, vez
que, este implica numa atuação administrativa além dos limites legais, sendo,
portanto, sempre ilegítimo e inválido. Agride, ainda, os próprios princípios traçados
para a Administração Pública.
Aquele, como já foi dito, é a certa liberdade - que na verdade, passa-se como
um dever vinculado à observância do objetivo traçado pela lei àquela política pública
-, que a própria lei confere ao administrador para praticar atos, mas sempre nos limites
que ela traça. Portanto, o ato discricionário corretamente praticado, deve se adequar
também ao respeito da lei e dos princípios da administração pública. Neste caso, se
desrespeitados tais limites e princípios, o ato administrativo, passa de discricionário
para arbitrário.
Pode-se conceituar a discricionariedade administrativa como sendo o dever de
o Administrador Público, optar pela solução, razoável, proporcional e dentro dos
limites da norma, que mais se compatibilize com o interesse público, ou seja, com a
eficiente realização do objetivo colimado, tudo ditado pela constituição Federal, pelas
normas de inferior hierarquia e pelos valores dominantes ao tempo da consecução do
ato.
Sem maiores pretensões, o conceito busca realçar a ideia de um "DEVER"
discricionário.

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Compromete-se com a necessidade de o Administrador estar sempre vinculado
à legalidade, enquanto conceito amplo, hoje integrado também por outras fontes de
Direito distintas da lei "stricto sensu".
Ressalte-se, ainda, a indiscutível sobrevalência do interesse público sobre
todas as condutas administrativas.
Os atos administrativos podem ser extintos através das seguintes formas:
anulação, a revogação e a convalidação.
A anulação, ou invalidação, é o desfazimento do ato administrativo, com base
no seu poder de autotutela, sobre os próprios atos.
Também pode ser feita pelo Poder Judiciário, mediante provocação dos
interessados, que poderão utilizar, para esse fim as ações ordinárias e especiais
previstas na legislação processual ou os remédios constitucionais de controle judicial
da Administração Pública,
Um aspecto que se discute é quanto ao caráter vinculado ou discricionário da
anulação.
Deve-se observar, que a Administração tem, em regra, o dever de anular os
atos ilegais, sob pena de cair por terra o princípio da legalidade. No entanto, poderá
deixar de fazê-lo, em circunstâncias determinadas, quando o prejuízo resultante da
anulação puder ser maior do que o do decorrente da manutenção do ato ilegal, nesse
caso, é o interesse público que norteará a decisão.
As nulidades no direito privado obedecem a um sistema dicotômico, composto
da nulidade e da anulabilidade, a primeira figurando no artigo 166 e a segunda no
artigo 171 do Código Civil.
No Direito Civil, são as seguintes as diferenças entre a nulidade absoluta e
relativa:
1. Na nulidade absoluta, o vício não pode ser sanado, na nulidade relativa pode.
2. A nulidade absoluta pode ser decretada pelo juiz de ofício ou mediante
provocação do interesse ou do Ministério Público (art. 168 do CC), a nulidade relativa
só pode ser decretada se provocada pela parte interessada.
No Direito Administrativo são duas as diferenças básicas entre a nulidade e a
anulabilidade. Primeiramente, a nulidade não admite convalidação, ao passo que na
anulabilidade ela é possível.

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As nulidades e anulabilidades se referem aos cinco elementos do ato jurídico,
definidos no artigo 2º da lei de ação popular, a saber:
1. Vício no elemento competência decorrente da inequação entre a conduta e
as atribuições do agente. É o caso em que o agente pratica o ato que refoge ao círculo
de suas atribuições (excesso de poder).
2. Vício no elemento finalidade: compete na prática de ato direcionado a
interesses privados, o agente confere autorização apenas aquele a quem
pretende beneficiar.
3. Vício de forma provém de ato que inobserva ou omite o meio de
exteriorização exigido para o ato, ou que não atende ao procedimento previsto em lei
como necessário à decisão que a Administração deseja tomar.
4. Vício do elemento motivo. Ocorre de três modos:
a) inexistência de fundamento para o ato;
b) fundamento falso, vale dizer, incompatível com a verdade real;
c) fundamento desconexo com o objetivo pretendido pela Administração.
5. Vício no elemento objeto: consiste na prática de ato dotado de conteúdo
diverso de que a lei autoriza ou determina. Há vício se o objeto é ilícito, impossível ou
indeterminável.
A revogação é o ato administrativo discricionário pelo qual a administração
extingue um ato válido, por razões de oportunidade e conveniência.
Seus efeitos produzem efeitos ex nunc:
1. Não podem ser revogados os atos vinculados, precisamente, porque nestes
não há os aspectos concernentes à oportunidade e conveniência.
2. Não podem ser revogados os atos que exauriram os seus efeitos.
3. A revogação não pode ser feita quando já se exauriu a competência
relativamente ao objeto de ato.
4. A revogação não pode atingir os meros atos administrativos, como certidões,
atestados, vetos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela lei.
5. Também não podem ser revogados os atos que integram um procedimento,
pois a cada novo ato ocorre a preclusão com relação ao anterior.
6. Não podem ser revogados os atos que geram direitos adquiridos, conforme
expresso na Súmula 473 do STF.

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Já a convalidação ou saneamento é o ato administrativo pelo qual é suprido o
vício existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos à data em que foi praticado.
Tratando-se de ato vinculado praticado por autoridade incompetente, a
autoridade competente não poderá deixar de convalidá-lo, se estiverem presentes os
requisitos para a prática do ato; a convalidação é obrigatória, para dar validade aos
efeitos já produzidos; se os requisitos legais não estiverem presentes, ela deverá
necessariamente anular o ato. Se o ato praticado por autoridade incompetente é
discricionário e, portanto, admite apreciação subjetiva quanto aos aspectos de mérito,
não pode a autoridade competente ser obrigada a convalidá-lo, porque é obrigada a
aceitar a mesma avaliação subjetiva feita pela autoridade incompetente; nesse caso
poderá convalidar ou não, dependendo de sua própria apreciação discricionária.
Há três formas de convalidação. A primeira é a ratificação. A autoridade que
deve ratificar deve ser a mesma que praticou o ato anterior ou um superior hierárquico,
mas o importante é que a lei lhe haja conferido essa competência específica. A
segunda é a reforma. Esta forma de aproveitamento admite que novo ato suprima a
parte inválida do ato anterior, mantendo sua parte válida. A última é a conversão, que
se assemelha à reforma. Por meio dela a Administração depois de retirar a parte
inválida do ato anterior processa a sua substituição por uma nova parte de modo que
o novo ato passa a conter a parte válida anterior e uma nova parte, de modo que o
novo ato passa a conter a parte válida anterior e uma nova parte, nascida esta com o
ato de aproveitamento.
Nem todos os vícios do ato permitem seja este convalidado. Os vícios
insanáveis impedem o aproveitamento do ato, ao passo que os vícios sanáveis
possibilitam a convalidação. São convalidáveis os atos que tenham vício de
competência e de forma. Também é possível convalidar atos com vício no objeto, ou
conteúdo, mas apenas quando se tratar de conteúdo plúrimo, ou seja, quando a
vontade administrativa se preordenar a mais de uma providência administrativa no
mesmo ato. Vícios insanáveis tornam os atos inconvalidáveis.

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6. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Fonte: www.blogtechne.techne.com.br

Controle da Administração Pública é a faculdade de vigilância, orientação e


correção que UM PODER, ÓRGÃO OU AUTORIDADE exerce sobre a conduta
funcional de outro.
Espécies de Controle:
1. Extensão do controle:
• CONTROLE INTERNO: é todo aquele realizado pela entidade ou órgão
responsável pela atividade controlada, no âmbito da própria administração. exercido
de forma integrada entre os Poderes- responsabilidade solidária dos responsáveis
pelo controle interno, quando deixarem de dar ciência ao TCU de qualquer
irregularidade ou ilegalidade.
• CONTROLE EXTERNO: ocorre quando o órgão fiscalizador se situa em
Administração DIVERSA daquela de onde a conduta administrativa se originou.
- controle do Judiciário sobre os atos do Executivo em ações judiciais;
- sustação de ato normativo do Poder Executivo pelo Legislativo;
• CONTROLE EXTERNO POPULAR: As contas dos Municípios ficarão,
durante 60 dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e
apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.
2. Momento em que se efetua:

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• CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO: é o que é exercido antes de
consumar-se a conduta administrativa, como ocorre, por exemplo, com aprovação
prévia, por parte do Senado Federal, do Presidente e diretores do Banco Central.
• CONTROLE CONCOMITANTE: acompanha a situação administrativa no
momento em que ela se verifica. É o que ocorre, por exemplo, com a fiscalização de
um contrato em andamento.
• CONTROLE POSTERIOR OU CORRETIVO: tem por objetivo a revisão de
atos já praticados, para corrigi-los, desfazê-los ou, somente, confirmá-los. ABRANGE
ATOS como os de aprovação, homologação, anulação, revogação ou convalidação.
3. À natureza do controle:
• CONTROLE DE LEGALIDADE: é o que verifica a conformidade da conduta
administrativa com as normas legais que a regem. Esse controle pode ser interno ou
externo. Vale dizer que a Administração exercita-o de ofício ou mediante provocação:
o Legislativo só o efetiva nos casos constitucionalmente previstos; e o Judiciário
através da ação adequada. Por esse controle o ato ilegal e ilegítimo somente pode
ser anulado, e não revogado.
• CONTROLE DO MÉRITO: é o que se consuma pela verificação da
conveniência e da oportunidade da conduta administrativa. A competência para
exercê-lo é da Administração, e, em casos excepcionais, expressos na Constituição,
ao Legislativo, mas nunca ao Judiciário.
4. Órgão que o exerce:
• CONTROLE ADMINISTRATIVO: é exercido pelo Executivo e pelos órgãos
administrativos do Legislativo e do Judiciário, sob os ASPECTOS DE LEGALIDADE
E MÉRITO, por iniciativa própria ou mediante provocação.
Meios de Controle:
- Fiscalização Hierárquica: esse meio de controle é inerente ao poder
hierárquico.
- Supervisão Ministerial: APLICÁVEL nas entidades de administração indireta
vinculadas a um Ministério; supervisão não é a mesma coisa que subordinação; trata-
se de controle finalístico.
-Recursos Administrativos: são meios hábeis que podem ser utilizados para
provocar o reexame do ato administrativo, pela PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA. Recursos Administrativos: em regra, o efeito É NÃO SUSPENSIVO.

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-Representação: denúncia de irregularidades feita perante a própria
Administração;
-Reclamação: oposição expressa a atos da Administração que afetam direitos
ou interesses legítimos do interessado;
-Pedido de Reconsideração: solicitação de reexame dirigida à mesma
autoridade que praticou o ato;
-Recurso Hierárquico próprio: dirigido à autoridade ou instância superior do
mesmo órgão administrativo em que foi praticado o ato; é decorrência da hierarquia;
-Recurso Hierárquico Expresso: dirigido à autoridade ou órgão estranho à
repartição que expediu o ato recorrido, mas com competência julgadora expressa.
• CONTROLE LEGISLATIVO: Não pode exorbitar às hipóteses
constitucionalmente previstas, sob pena de ofensa ao princípio da separação de
poderes. O controle alcança os órgãos do Poder Executivo e suas entidades da
Administração Indireta e o Poder Judiciário (quando executa função administrativa).
- Controle Político: tem por base a possibilidade de fiscalização sobre atos
ligados à função administrativa e organizacional.
- Controle Financeiro: A fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e
renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle
externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.
- Campo de Controle: Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro,
bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta,
assuma obrigações de natureza pecuniária.
TCU: é órgão integrante do Congresso Nacional que tem a FUNÇÃO DE
auxiliá-lo no controle financeiro externo da Administração Pública.
Obs.: No âmbito estadual e municipal, aplicam-se, no que couber, aos
respectivos Tribunais e Conselhos de Contas, as normas sobre fiscalização contábil,
financeira e orçamentária.
• CONTROLE JUDICIAL: é o poder de fiscalização que o Judiciário exerce
ESPECIFICAMENTE sobre a atividade administrativa do Estado. Alcança,

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basicamente, os atos administrativos do Executivo, mas também examina os atos do
Legislativo e do próprio Judiciário quando realiza atividade administrativa.
Obs.: É VEDADO AO JUDICIÁRIO apreciar o mérito administrativo e restringe-
se ao controle da legalidade e da legitimidade do ato impugnado.
Atos sujeitos a controle especial:
- atos políticos;
- atos legislativos;
- atos interna corporis.

7. DIREITO ADMINISTRATIVO E NOVO CÓDIGO CIVIL

Fonte: congressodireitoempresarialbahia.com

O novo CPC, em vigor desde março de 2016, trouxe ao mundo jurídico


inúmeras inovações, algumas de muito destaque e repercussão e outras que, embora
também de grande importância, são menos percebidas, talvez por estarem em
dispositivos que a uma primeira leitura não revelam o imenso impacto prático que
contém.
Um desses dispositivos é o artigo 15, que prevê a aplicação supletiva e
subsidiária do novo código aos processos administrativos, eleitorais e trabalhistas,
assim dispondo: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais,
26
trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas
supletiva e subsidiariamente”.
É certo que a expressão adotada – “na ausência de normas” – não denota a
extensão que a aplicação do código pretende ter, e pode levar a interpretações que
restrinjam seu alcance, o que não parece ter sido a intenção do legislador. Ao inserir
um dispositivo que expressamente prevê sua aplicação aos processos
administrativos, eleitorais e trabalhistas, o novo CPC se assume como uma norma
mãe, mais extensa e minuciosa, portadora de regras e princípios que podem e devem
ser transportadas aos demais processos, de forma a complementá-los e atualizá-los.
Como destacaram Leonardo Ferres da Silva Ribeiro, Maria Lúcia Lins
Conceição, Rogerio Licastro Torres de Mello, Teresa Arruda Alvim Wambier,
“o legislador disse menos do que queria. Não se trata somente de aplicar as normas
processuais aos processos administrativos, trabalhistas e eleitorais quando não
houver normas, nestes ramos do direito, que resolvam a situação. A aplicação
subsidiária ocorre também em situações nas quais não há omissão. Trata-se, como
sugere a expressão ‘subsidiária’, de uma possibilidade de enriquecimento, de leitura
de um dispositivo sob outro viés, de extrair-se da norma processual eleitoral,
trabalhista ou administrativa um sentido diferente, iluminado pelos princípios
fundamentais do processo civil” (Primeiros comentários ao Novo Código de Processo
Civil. Artigo por artigo. São Paulo: RT, 2015, p. 75).
O campo de aplicação do novo CPC ao processo administrativo é
especialmente amplo, sobretudo porque a lei do processo administrativo no âmbito
federal – Lei 9.784/99 –, além de ser sintética quando comparada ao CPC,
praticamente não sofreu atualizações desde sua edição, em janeiro de 1999.
Os princípios contidos no CPC, como a promoção da solução consensual dos
conflitos, o prazo razoável para solução do processo, os deveres de boa-fé, a
cooperação processual, o novo perfil do contraditório – com sua significação ampliada
– entre outros, tem perfeita aplicação aos processos administrativos e estão
certamente abrangidos pelo caráter supletivo e subsidiário do código.
Não apenas os princípios e regras gerais do novo CPC – objeto que são de
uma nova teoria geral do processo – têm aplicação no processo administrativo, tendo
também aplicação as regras sobre o início do processo, legitimidade ativa,
impedimentos e suspeições, forma tempo e lugar dos atos do processo, comunicação

27
dos atos, instrução, etc, que devem ser interpretadas em conjunto com a legislação
administrativa vigente.
Não houve, entretanto, uma substituição dessas normas, ou mesmo alguma
espécie de revogação ou enfraquecimento. Pelo contrário. O novo CPC, ao afirmar
sua aplicação supletiva e subsidiária ao processo administrativo, realizou verdadeira
ampliação normativa, atualização e enriquecimento das normas então vigentes, sem
que para isso as tenha suprimido.
O novo CPC impõe ao aplicador e ao intérprete uma nova leitura das normas
que regem o processo administrativo, uma leitura conjunta e sistemática, que
contemple o alargamento semântico e garanta o desenvolvimento e a adaptação de
todo o regramento procedimental brasileiro, nos sentidos formal e material, ao novo
sistema.
A Lei 9.784/99 prevê, por exemplo, que os atos do processo devem ser por
escrito, com a assinatura da autoridade responsável, e que o processo deverá ter suas
páginas numeradas e rubricadas, normas estas que seguramente devem ser
atualizadas, adequando-as ao processo virtual, à certificação digital. O novo CPC
sequer faz referência à produção do processo por escrito, como o faz a Lei 9.784/99,
limitando-se a afirmar que em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso
da língua portuguesa – uma nova linguagem que se adéqua tanto aos processos
digitais quanto aos atos praticados oralmente, ou por videoconferência, e até mesmo
aos escritos. Essas funções de atualização e expansão dos diplomas administrativos
promovidas pelo CPC são fundamentais e devem ser implementadas na sua mais
ampla extensão, aproximando, o quanto possível, o processo administrativo do
processo judicial.
Dentre as normas do novo código perfeitamente aplicáveis, de forma supletiva
e subsidiária, ao processo administrativo, está o novo regramento da citação e da
intimação na forma eletrônica.
Segundo o novo código, a citação pode ser: I – pelo correio; II – por oficial de
justiça; III – pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório;
IV – por edital; V – por meio eletrônico, conforme regulado em lei (artigo 246).
O CPC cria, ainda, a obrigação de empresas públicas ou privadas –
ressalvadas as de pequeno porte e microempresas – manterem cadastro nos
sistemas de processo em autos eletrônicos, para recebimento de citações e

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intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por este meio (artigo 246,
§1º). Por sua vez, as intimações “realizam-se, sempre que possível, por meio
eletrônico, na forma da lei” (artigo 270).
Segundo a lei geral do processo administrativo, a intimação tem um sentido
mais amplo, abrangendo o conceito de citação, para a qual não há referência
expressa. A intimação é, portanto, o meio mais básico de comunicação entre a
administração e o administrado, no âmbito do processo administrativo federal.
Sobre a forma da intimação, a referida lei prevê que “pode ser efetuada por
ciência no processo, por via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro
meio que assegure a certeza da ciência do interessado” (artigo 26, §1º). A lei traz uma
fórmula casuística seguida de uma previsão aberta, admitindo, por fim, quaisquer
formas de intimação que assegurem a ciência do interessado.
A intimação eletrônica, prevista pelo novo CPC, é plenamente aplicável ao
processo administrativo, devendo ser considerada, inclusive, a forma preferencial de
comunicação dos atos processuais, dada a sua economia e celeridade, evidenciando-
se, novamente, suas funções de atualizar e expandir as normas administrativas.
Embora não haja previsão de intimação eletrônica na Lei 9.784/99 não há mais
quaisquer dúvidas acerca da sua possibilidade.
A elaboração de um sistema tecnológico que permita o envio e registro de
intimações eletrônicas, nos diversos processos administrativos, é a menor das
dificuldades, já existindo, atualmente, instrumentos que permitem essa execução. O
arcabouço normativo, por outro lado, precisa ser inteiramente construído e moldado a
cada situação, a cada tipo específico de relação existente entre a Administração
Pública e seus administrados, para que funcione e garanta o efetivo conhecimento e
exercício do contraditório e da ampla defesa, consagrando o devido processo legal
administrativo.
A Administração Pública relaciona-se com os administrados de diversas
formas, seja como prestador de serviços públicos, como agente econômico, ou
mesmo no exercício de seus poderes administrativos (poder de polícia, poder
disciplinar, poder hierárquico, etc.). Em cada um desses casos, a organização
administrativa atua por meio de processos administrativos, instaurados com
finalidades diferentes e seguindo procedimentos diferentes. Essa enorme diversidade
de relações travadas pela Administração Pública com os administrados deve ser

29
necessariamente levada em conta ao se trazer ao processo administrativo as regras
e princípios do novo CPC.
No campo do processo civil, a Lei 11.419/2006 já estabelece parâmetros para
a comunicação eletrônica de atos processuais, prevendo um cadastramento prévio do
interessado junto ao Poder Judiciário (artigo 2º). Realizado o cadastramento, as
intimações podem ser feitas por comunicação eletrônica, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do dia em que o usuário acessar o conteúdo da intimação no sistema.
Caso a parte não acesse a intimação em 10 dias, considera-se realizada a intimação
(artigo 5º). Traz ainda a lei uma previsão interessante, admitindo a citação, exceto em
questões penais, por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível
ao citando (artigo 6º).
A exceção feita aos processos criminais, quanto à citação inicial, parece se
justificar na medida em que todos os indivíduos da sociedade são potenciais
interessados, tornando inviável a exigência de cadastramento prévio de toda a
comunidade. Não se aplicaria tal restrição, por exemplo, ao processo administrativo
disciplinar, onde existe uma relação jurídica previamente estabelecida entre o Estado
e o servidor público, já havendo, inclusive, o cadastro de cada um deles no banco de
dados. Nesse caso, bastaria uma construção normativa que permitisse a citação e as
intimações.
A possibilidade de cadastramento prévio de interessados se coloca como um
obstáculo importante a ser enfrentado no momento da construção normativa para a
adoção da intimação eletrônica no processo administrativo. O CPC exigiu o
cadastramento prévio obrigatório para empresas e entes da Administração Pública –
com a ressalva das microempresas e empresas de pequeno porte. No âmbito
administrativo, porém, não se pode criar uma obrigação geral de cadastramento
dirigida a todos os cidadãos, o que além de demandar lei específica – talvez em um
futuro não tão distante – violaria gravemente a razoabilidade, considerando as
concretas restrições de acesso à tecnologia existentes em muitos setores sociais.
Por outro lado, nas situações nas quais já existe uma relação jurídica específica
estabelecida entre Estado e pessoa privada – pessoa natural ou jurídica – a
dificuldade parece muito menos presente. Situações como ações disciplinares e ações
de fiscalização, nas quais o interessado no processo administrativo já possui,
previamente, cadastro junto ao ente público, a construção normativa para exigir a

30
atualização cadastral e passar a prever a comunicação dos atos processuais na forma
eletrônica é muito mais simples.
Assim ocorre com os processos administrativos decorrentes da competência
fiscalizatória das Agências Reguladoras, nos quais as pessoas – naturais ou jurídicas
– autuadas pelo cometimento de infração possuem, em regra, a obrigação de prévio
cadastramento como condição para a obtenção de autorização do ente público para
o exercício da atividade econômica. Nesses casos, quando do cometimento de uma
infração, o agente econômico já possui um cadastro junto à agência reguladora,
havendo uma relação jurídica específica entre Administração e administrado, tornando
possível, com pouca dificuldade, a implantação da regra de intimação eletrônica para
os atos do processo administrativo fiscalizatório.
No caso das Agências, em razão do poder normativo que possuem, há a
possibilidade da criação de normas regulatórias estabelecendo obrigações aos
agentes econômicos, dotadas de obrigatoriedade e cogência, podendo nesse âmbito
ser instituída a previsão de cadastramento do agente econômico para recebimento de
eventuais intimações eletrônicas do ente regulador.
A adoção do formato eletrônico de intimação, em processos de fiscalização por
infração administrativa, no âmbito das agências reguladoras, necessita apenas de
previsão normativa e regulação da matéria no âmbito administrativo, o que pode ser
feito por meio de adequação do arcabouço normativo regulatório interno. Nesses
casos, não se pode alegar a ausência de lei, pois o CPC tem aplicação ao caso, de
forma supletiva e subsidiária, dispensando a exigência de outra lei com a mesma
previsão no âmbito administrativo. É suficiente que a norma administrativa preveja,
como obrigação do agente econômico, ao efetuar seu cadastro e solicitar autorização
para o exercício da atividade econômica, o fornecimento de endereço eletrônico para
o recebimento das comunicações em processo administrativo, à semelhança do que
determinou o novo CPC no âmbito do processo judicial.
A realização de intimação eletrônica nos processos administrativos constitui
uma evolução inevitável, parte de uma evolução ainda maior, ou mesmo de uma
verdadeira revolução administrativa, da qual ainda não se consegue medir os
resultados, que é a aplicação das normas do novo CPC aos processos
administrativos.

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A comunicação eletrônica de atos do processo administrativo gera segurança
e economia para a Administração e, em última análise, para o cidadão responsável
pelo custeio de todo o sistema de gestão pública. Com a previsão agora expressa em
lei – o novo CPC – cabe à Administração a regulação interna da matéria, em cada
caso, para trazer esse importante avanço para o campo das relações administrativas.

7.1- A função social da propriedade

As transformações sociais, econômicas e políticas ensejam mudanças na


sociedade. Tais transformações provocam mudanças no direito; mudam-se os
princípios, alteram-se os paradigmas legais, surgem novas formas contratuais. A
massificação da sociedade e das relações sociais, provocadas pela intensa
intervenção da economia e da sociologia no direito, levou à massificação contratual.
Injustiças sociais acontecem em todas as fases da história da humanidade.
Verifica-se, por vezes, um descompasso entre o direito e os fenômenos sociais. Como
no eterno fluxo e refluxo das ondas, as matrizes filosóficas do Direito procuram manter
o equilíbrio social. Equilíbrio social esse, que a cada momento histórico se transmuda
ao sabor do ir e vir das demandas e das necessidades da própria sociedade.
Assim é que a doutrina da função social emerge como uma dessas matrizes,
limitando institutos de conformação nitidamente individualista, em contraposição aos
ditames do interesse coletivo – que se apresentam acima dos interesses particulares
– concedendo aos sujeitos de direito não só uma igualdade em seu aspecto
estritamente formal, mas permitindo uma igualdade e liberdade aos sujeitos de direito,
os igualando de modo a proteger a liberdade da cada um deles, em seu aspecto
material.
A propriedade hodierna não mais tem o perfil daquela de outrora, aliás, a
liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato. Nesse sentido, pode-se abordar a concepção da função social com o
significado de que o contrato não deve ser concebido como uma relação jurídica que
só interessa às partes contratantes, impermeável às condicionantes sociais que o
cercam e que são por ele própria afetada.
A sociedade, após um longo e doloroso processo de lutas e convulsões,
assumiu o compromisso de redistribuir a riqueza por ela produzida, ou seja, integrar

32
aquelas camadas marginalizadas pela concentração abusiva de renda, transformar a
massa em cidadãos Entretanto, as camadas que detêm os meios e bens de produção,
a elite composta pelos grandes latifundiários e conglomerados empresariais, impõem
resistências a esse escopo e aferram-se às suas posses de modo intransigente e,
muitas vezes, violento, num esforço cego e inconsequente. E esse fenômeno se
reproduz com bastante frequência nas classes sociais baixas, não sendo, portanto,
privativo da elite dirigente. Da bicicleta ao automóvel, da pequena gleba rural ao
latifúndio, da pequena empresa à grande corporação industrial, ninguém se dispõe a
renunciar ao direito de propriedade em prol desse interesse coletivo.
Existe no direito positivo brasileiro todo um sistema integrado por institutos de
direito material e processual para a propriedade e todas as suas manifestações. Tem
a propriedade um regime jurídico constitucional e infraconstitucional onde se faz
sempre presente um rígido e cauteloso cuidado para com o direito de propriedade.
Nunca o operador jurídico se ressentiu da ausência de meios legais para garantir a
posse e a propriedade individual, haja vista o conjunto dos poderosos interesses que
surgem em sua defesa. O que se reivindica hoje do Direito, são soluções pacíficas e
legais para a posse e propriedade sociais.
A função social é intrínseca à propriedade privada. As concepções
individualistas sucumbiram ante à força das pressões sociais em prol de sua
democratização. Pode-se dizer que não basta apenas o título aquisitivo para conferir-
lhe legitimidade: é preciso que o seu titular, ao utilizar o feixe dos poderes - absolutos,
amplos ou restringidos - integrantes do direito de propriedade, esteja sensibilizado
com o dever social imposto pela Constituição Federal.
Quando se fala em função social da propriedade não se indicam as restrições
ao uso e gozo dos bens próprios. Tais restrições seriam limites negativos aos direitos
do proprietário. A noção de função social da propriedade relaciona-se com a
capacidade produtiva da propriedade, ou seja, trata-se do poder de dar ao objeto da
propriedade destino determinado, de vinculá-lo a certo objetivo.
Este estudo tem como objetivos: apresentar a função social no âmbito do direito
civil; analisar a função social que todo o direito tem e as novas perspectivas com o
advento do novo Código Civil, e refletir a função social específica da propriedade:
como ela deve ser exercida para cumprir a sua função social.

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A metodologia apresentada será a pesquisa qualitativa, isto é, a bibliográfica,
consultando ideias de autores consagrados no assunto.

7.2- Propriedade Pública e Privada

A Constituição Federal, no art. 5º XXII e XXIII, garante o direito de propriedade


como um direito individual que assegura a seu titular uma série de poderes de cunho
privado e civilista, poderes estes que são exercidos de forma absoluta, exclusiva e
perpétua.
Apesar da Constituição Federal garantir o direito de propriedade, condiciona o
seu instituto ao atendimento da função social. E vai mais além, estabelece as
possibilidades de intervenção do Estado na propriedade particular (Ex.: requisição e
desapropriação).
Sendo assim, o direito de propriedade não pode ser visto como um direito
absoluto, pois há um ônus para quem o detém, estando condicionado ao cumprimento
de sua função social, sob pena de intervenção do Estado. Função Social da
propriedade é o uso desse direito em consonância com suas finalidades econômicas
e sociais, buscando sempre o bem-estar social.
A intervenção na propriedade ajusta a propriedade privada à função social à
qual está condicionada. Não há incompatibilidade entre função social e direito a
propriedade. A função social da propriedade busca reprimir apenas o uso abusivo do
direito de propriedade, garantindo o seu exercício de maneira justa e útil ao bem-estar
comum.
Em relação à propriedade privada, o princípio da função social representa uma
reação contra a concepção individualista da propriedade, dando a ela a função de
instrumento ao bem-comum.
O Estatuto da Cidade repete a ideia do Art. 182 da Constituição Federal, em
seu artigo 2º, inciso I:

[...] a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes
diretrizes gerais: I-Garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como
o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura
urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as
presentes e futuras gerações. [...]

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Esse Princípio parte da ideia de que alguns bens comportam inúmeras formas
de utilização, conjugando-se o uso comum do povo com os usos privativos exercidos
pelos particulares para diferentes finalidades. Cabe ao poder público conciliar as
inúmeras formas de uso de um mesmo bem público. Há ainda os casos em que o bem
público é utilizado por entidades de direito privado que prestam serviço público por
delegação do Estado.
Sendo assim, é compatível o Princípio da Função Social e a Propriedade
Pública, seja para os casos de uso coletivo ou uso pela própria administração do bem,
principalmente no que se refere ao pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e à garantia do bem-estar de seus habitantes. A função social da propriedade
pública é um direito coletivo dos cidadãos, que pode ser exigido judicialmente, por
meio da ação popular e da ação civil pública.

7.3- O estatuto da cidade e sua função social

Com o advento do Estatuto da cidade, a função social da propriedade imóvel


ganha nova roupagem. Ela passa a estar atrelada ao aproveitamento e à destinação
que o Plano Diretor lhe atribuiu.
Diz Elida Séguin (apud TEIZEN JÚNIOR, 2004, p.156-157):

[...]“Novamente, o direito do proprietário receberá novo contorno no plano


municipal. As punições para o que descumpra o ordenamento recaíram sobre
a res. É a propriedade que responderá através da edificação compulsória, do
IPTU progressivo e da desapropriação-punição.”[...]

Existe uma necessidade física de se estabelecer uma correlação entre


habitante e metro quadrado de área verde. A existência de uma política de incentivo
à arborização urbana, por meio da extra fiscalidade e da reformulação/rearborização,
mobiliário urbano (jardineiras) é uma forma de mitigar a impermeabilização do solo
urbano.
Afirma ainda Elida Séguin (apud TEIZEN JÚNIOR, 2004, p. 157):
“Esta política teria como objetivo aumentar a área verde do centro,
proporcionando diminuição da temperatura ambiente (mais sombras). As árvores
também diminuem o efeito da poluição sonora das ruas e das partículas em
suspensão (poluição atmosférica), promovendo uma melhoria geral das condições de

35
vida na região. Este conforto ambiental atingido através do aumento da área verde,
poderá ser inserido em diversos aspectos, como em leis de uso do solo, colocação de
imobiliário urbano, com características da região, realocação da arborização, etc.”
Os espaços de vivência ambiental têm como objetivo evidenciar os contrastes
entre as sensações vivenciadas frequentemente nos grandes centros (medo, stress,
desconfortos diversos) e aquelas que raramente paramos para perceber e apreciar
como o olfato, o silêncio, a tranquilidade.
Nesse sentido, diz Comparato (apud TEIZEN JÚNIOR, 2004, p. 158):

[...] “A função social da propriedade não se confunde com as restrições legais


ao uso e gozo dos bens próprios; em se tratando de bens de produção, o
poder-dever do proprietário de dar à coisa sua destinação compatível com o
interesse da coletividade transmuda-se, quando tais bens são incorporados
a uma exploração empresarial, em poder-dever do titular do controle de dirigir
a empresa para a realização dos interesses coletivos.”[...]

As áreas verdes, com apelos sonoros e olfativos, recebem o nome de parques


temáticos. Fazem com que a cidade perca um efeito homogeneizante, chamando
atenção por sua peculiaridade, adquirindo uma identidade coletiva e individual.

7.4- Bens Públicos

Em sentido amplo, são todas as coisas corpóreas ou incorpóreas, imóveis,


móveis e semoventes, créditos, direitos e ações que pertençam, a qualquer título, às
entidades estatais, autárquicas, fundacionais e empresas governamentais.
Todos os bens públicos são bens nacionais, embora politicamente componham
o acervo nacional, civil e administrativamente, pertencem a cada entidade pública que
os adquiriram (federal, estadual ou municipal).
Segundo a destinação, o Código Civil divide em 3 categorias:
Bens de uso comum do povo ou de domínio público: estradas, ruas, praças,
praias, etc.
Bens de uso especial ou do patrimônio administrativo: edifícios das repartições
públicas, veículos da administração, mercados. Também são chamados de bens
patrimoniais indisponíveis;
Bens dominiais ou do patrimônio disponível: bens não destinados ao povo em
geral, nem empregados no serviço público, mas sim, permanecem à disposição da

36
administração para qualquer uso ou alienação na forma que a lei autorizar. Também
recebem a denominação de bens patrimoniais disponíveis ou bens do patrimônio
fiscal.
Administração dos bens públicos, em sentido estrito, admite unicamente sua
utilização e conservação segundo a destinação natural ou legal de cada coisa, e em
sentido amplo, abrange também a alienação dos bens que se revelarem inúteis ou
inconvenientes ao domínio público e a aquisição de novos bens, necessários ao
serviço público. Rege-se pelas normas do Direito Público, aplicando-se
supletivamente os preceitos do Direito Privado.
Utilização dos bens públicos:
Uso Comum do Povo:
Os usuários são anônimos, indeterminados e os bens são utilizados por todos
os membros da coletividade (uti universi);
Permanecem sob a administração e vigilância do Poder Público, que têm o
dever de mantê-los em normais condições de utilização pelo público em geral.
Uso Especial:
A Administração atribui a determinada pessoa para fruir de um bem público
com exclusividade;
É também uso especial aquele a que a Administração impõe restrições ou para
a qual exige pagamento, bem como o que ela mesma faz de seus bens para a
execução de serviços públicos;
Qualquer indivíduo pode adquirir direito de uso especial (privatividade de uso)
de bem público mediante contrato ou ato unilateral da Administração, na forma
autorizada por lei ou simplesmente consentida pela autoridade pública. Pode ser
gratuito ou remunerado, tempo certo ou indeterminado.
Autorização de uso:
Ato unilateral, discricionário e precário;
Se consubstancia em ato escrito, revogável a qualquer tempo sem ônus para a
Administração;
Dispensa lei e autorização.
Ex.: ocupação de terreno baldio, retirada de água em fontes.
Permissão de uso
Ato negocial, unilateral, discricionário e precário;

37
Gera direitos subjetivos defensáveis pelas vias judiciais, inclusive ações
possessórias;
Depende de licitação;
A utilização do bem público deve ser de interesse da coletividade.
Ex.: banca de jornal.
Cessão de uso:
É a transferência gratuita da posse de um bem público para outra entidade ou
órgão da mesma entidade que dele tenha necessidade e se proponha a empregá-lo
nas condições convencionadas;
Quando a cessão é entre entidades diferentes, é necessária autorização legal;
Trata-se de transferência de posse e não de propriedade.
Concessão de uso:
Sua outorga não é nem discricionária e nem precária, mas deverá ser sempre
precedida de autorização legal e, normalmente, de licitação;
Tem a estabilidade relativa dos contratos administrativos, gerando direitos
individuais e subjetivos para o concessionário;
Pode ser remunerado ou gratuito; por tempo certo ou indeterminado;
Sujeita-se às normas do Direito Público (alteração de cláusulas regulamentares
e rescisão antecipada).
Concessão especial de uso:
É a nova figura jurídica criada para regularizar a ocupação ilegal de terrenos
públicos pela população de baixa renda;
É outorgada a todo aquele que, até 30/06/2002, possuíam como seu, por 5
anos, e sem oposição, até 250m2 de imóvel público situado em área urbana,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família desde que não seja proprietário ou
concessionário de outro imóvel urbano ou rural;
Trata-se de direito do possuidor;
Transferível por ato Inter vivos ou causa mortis;
Se extingue se o concessionário der ao imóvel destinação diversa de moradia
ou adquirir a propriedade de outro imóvel urbano ou rural.
Concessão de direito real de usos:
Contrato pelo qual a Administração transfere o uso remunerado ou gratuito de
terreno público a particular, como direito real resolúvel;

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É transferível;
O imóvel reverte a Administração, se não lhe derem o uso contratual;
Outorgado por escritura pública ou termo administrativo;
Depende de autorização legal e de concorrência prévia.
Enfiteuse ou aforamento
Transferência do domínio útil de imóvel público (posse, uso e gozo perpétuos)
a outra pessoa que por sua vez assume a obrigação de pagar perpetuamente uma
pensão anual (foro) ao senhorio direto;
Exercício simultâneo de direitos dominiais sobre o mesmo imóvel por 2
pessoas:
Estado – domínio direto
Particular foreiro – domínio útil:
Os bens públicos são inalienáveis enquanto destinados ao uso comum do povo
ou a fins administrativos especiais, isto é, enquanto tiverem afetação pública
(destinação pública específica). Qualquer bem poderá ser doado, vendido ou
permutado, desde o momento em que seja, por lei, desafetado da destinação
originária e traspassado para a categoria de bem dominial, isto é, patrimônio
disponível da Administração.
A alienação de bens imóveis está disciplinada, em geral, na legislação própria
das entidades estatais, a qual, comumente, exige autorização legislativa, avaliação
prévia e concorrência. A alienação de bens móveis ou semoventes, necessitam de
avaliação prévia, autorização legal e licitação. As vendas são geralmente feitas em
leilão administrativo.
Formas de Alienação:
1. Venda
Contrato de Direito Privado;
Serve, se seguidas as formalidades acima.
Doação:
Contrato civil;
Pode ser com ou sem encargos;
Depende de lei autorizadora, prévia avaliação e licitação.
Doação em Pagamento:

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Não exige licitação, mas exige prévia autorização legislativa e avaliação do
bem;
Normas de compra e venda.
Permuta:
A lei autorizadora deve identificar os bens a serem permutados e proceder a
avaliação prévia para efetivação da troca sem lesão ao patrimônio público;
Não exige licitação;
Investidura:
Incorporação de área pública, considerada como sobra inaproveitável de
terreno público em decorrência de conclusão de obra, por proprietário de imóvel
lindeiro (incorpora lote a seu lote);
Visa o aproveitamento de terrenos isoladamente inaproveitáveis;
A formalização se faz por escritura pública ou termo administrativo.
Concessão de Domínio:
Só é utilizada nas concessões de terras devolutas da União, dos Estados e dos
Municípios;
São vendas ou doações dessas terras públicas, precedidas de lei autorizadora
e avaliação, além da aprovação do CN, quando excedentes de 2.500 hectares;
Quando feito entre entidades estatais, formaliza-se por lei e independe de
registros;
Quando feita à particular, exige termo administrativo ou escritura pública e o
título deve ser transcrito no registro imobiliário competente;
Importa alienação de imóvel – transferência de propriedade.
Legitimação de Posse:
É modo excepcional de transferência de domínio de terra devoluta ou área
pública sem utilização, ocupada por longo tempo, por particular que nela se instala,
cultivando-a ou levantando edificação para seu uso;
É expedido título de legitimação de posse que na verdade é título de
transferência de domínio.
Atributos dos Bens Públicos:
I. Imprescritibilidade
II. Impenhorabilidade
III. Não oneração

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A aquisição onerosa de imóvel depende de autorização legal e de avaliação
prévia, podendo dispensar concorrência se o bem escolhido for o único que convenha
à Administração.
Quanto aos móveis e semovente, sua aquisição dispensa autorização especial,
por já subentendida na lei orçamentária, ao conceder dotação própria, mas dependerá
de licitação, salvo se estiver na reduzida faixa de inexigibilidade.
É possível a aquisição de bens por usucapião em favor do Poder Público.
Cargo Público:
Cargos públicos divididos em relação ao provimento:
Cargo Efetivo:
Obrigatório concurso público para provimento de cargo efetivo. O concurso
poderá ser de provas ou de provas e títulos.
O art. 37, III CF determina que o prazo do concurso público poderá ser de até
2 anos prorrogável ou não por igual período (1 vez). No edital do concurso público que
será definido, entre outras coisas, o prazo de validade do certame.
Concurso de Provas: objetiva e/ou subjetiva, teórica e/ou prática.
Concurso de Títulos: não é eliminatória apenas classificatória. Não poderá
haver apenas concurso de títulos, o que é permitido é concurso de provas e títulos.
Cargo em Comissão:
Cargo de chefia, direção ou assessoria. Cargo em Comissão também é
chamado de Cargo de Confiança. Não há estabilidade caso o indivíduo escolhido não
seja servidor público estável. O art. 37 incisos II e V CF determina que a escolha do
indivíduo é livre, não há concurso, assim como a exoneração do cargo que também é
livre. O critério de seleção é a “confiança” mas deve respeitar outros critérios como,
por exemplo, ser brasileiro, estar quites com a justiça eleitoral, ter a escolaridade
mínima exigida etc.
Como a escolha para cargos em comissão é livre, internos ou externos à
Administração Pública. No caso de já ser servidor público, pode-se nomear indivíduos
este deverá deixar (temporariamente) o cargo efetivo para assumir o cargo de
confiança. Quando for exonerado do cargo de confiança volta a assumir o cargo
anterior. Isto acontece porque o cargo em confiança requer dedicação plena (integral),
não é possível a acumulação de cargos. A remuneração também será somente uma.

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A Emenda Constitucional 19 altera o art. 37 inciso V definindo que a lei
estabelecerá um percentual mínimo de cargos em comissão que devem ser
preenchidos por indivíduos com cargo efetivo. Por exemplo, no Rio de Janeiro este
percentual é de 75%, esta lei não existe em todos os Estados.
Cargo em Comissão é diferente de Função de Confiança:
Cargo em Comissão é de livre nomeação. Ex: Secretário do governo.
Função de Confiança só é para agente efetivo (com cargo de carreira). Ex.
Chefe de equipe.
Para que alguém de um órgão ou entidade exerça um cargo de confiança em
outro órgão ou entidade, o agente deve ser cedido para lá.
Obs: os servidores não são “emprestados” são cedidos!
Classificação de Cargos:
Quanto a remuneração (provimento):
Efetivo: exige concurso público para nomeação.
Em comissão: nomeação e exoneração é de livre escolha (demissão ad
nutum).
Quanto a estrutura:
De carreira: estruturada em níveis ou classes. A passagem de níveis é feita por
meio de promoção (por tempo ou merecimento).
Ex: Juiz Substituto-Juiz Titular-Desembargador.
Isolados: cargo único, não há classes. Ex. Oficial de Justiça.
Regras do Cargo Público:
Todo Cargo de Carreira é Efetivo;
Todo Cargo em Comissão é Isolado;
Há Cargos Efetivos que são Isolados.
Concurso:
E a modalidade de licitação para escolha de trabalho técnico, científico ou
artístico, entre quaisquer interessados, por meio da instituição de prêmios ou
remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital.
Deverá ser precedido de regulamento próprio, a ser obtido pelos interessados
no local indicado no edital, no qual deverá haver indicação para:
I - a qualificação exigida dos participantes;
II - as diretrizes e a forma de apresentação do trabalho;

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III - as condições de realização do concurso e os prêmios a serem concedidos.
Convite:
É a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu
objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de três.
A sua divulgação deverá se dar pela afixação, em local apropriado, de cópia do
instrumento convocatório e também por meio de convite enviado a cada um dos
convidados, cuja cópia deve ser apensada ao processo administrativo, nos termos do
art. 38, II, da Lei n° 8.666/93.
O convite pode ser utilizado em situações nas quais não exista determinação
legal que obrigue o emprego de outra modalidade e em função dos seguintes limites,
tendo em vista o valor estimado da contratação:
Obras e serviços de engenharia: até R$ 150 mil.
Compras e demais serviços: até R$ 80 mil.
Em função do teor do art. 22, § 7°, da Lei n° 8.666/93, questão fundamental
relacionada a modalidade convite diz respeito ao prosseguimento da licitação quando
não houver, no mínimo, três propostas válidas, assim consideradas aquelas cuja
documentação para habilitação foi aprovada e que a proposta financeira não contém
vícios passíveis de desclassificação. Em que pese existirem divergências, tanto na
doutrina como na jurisprudência acerca da questão, o Tribunal de Contas da União
firmou o entendimento a respeito da necessidade de repetição do convite no caso da
não obtenção injustificada das três propostas válidas. Em outras palavras, o convite
somente pode prosseguir com menos de três propostas válidas em casos de
manifesto desinteresse dos convidados ou de limitações do mercado, situações
devidamente justificadas no processo.
No convite, cabe a Administração selecionar os participantes da licitação. Essa
escolha, todavia, deve atender ao interesse público, fundamentando-se nos princípios
da impessoalidade e da moralidade. Nesse sentido, JUSTEN FILHO (2004) afirma
que:
A faculdade de escolha pela Administração dos dentinários do convite deve ser
exercida com cautela, diante dos riscos de ofensa à moralidade e à isonomia. Se a
Administração escolher ou excluir determinados licitantes por preferências meramente
subjetivas, estará caracterizado desvio de finalidade e o ato terá de ser invalidado. A

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seleção prévia dos participantes faz-se no interesse da Administração e para a
consecução do interesse público.
Desapropriação:
A desapropriação corresponde a um instrumento de intervenção na
propriedade privada e que leva à perda da propriedade imóvel. Somente pode ser
realizada por pessoas jurídicas de direito público e desde que atendidos os
pressupostos constitucionais e legais (utilidade pública, necessidade pública ou
interesse social). Trata-se de modo de aquisição originária da propriedade e apenas
de forma excepcional dispensa o expropriante do pagamento de justa e prévia
indenização (como pode ocorrer na hipótese do art. 243 da CF).
A competência para legislar sobre a matéria é privativa da União (CF, art. 22,
II), sendo concorrente a competência para declarar a necessidade, a utilidade pública
ou o interesse social que exigem a expropriação.
As diferentes espécies de desapropriação podem ser:
a) desapropriação ordinária: por interesse social, necessidade ou utilidade
pública);

b) desapropriação urbanística;

c) desapropriação para fins de reforma agrária — rural ;

d) desapropriação confiscatória .

Interessa notar que da desapropriação sempre decorre a incorporação do bem


expropriado ao patrimônio público (é promovida com esse propósito), mas entre as
espécies há as que permitem ao expropriante a transferência de domínio
posteriormente (como a rural e urbanística).

7.5- Concessões florestais

Aspectos Estratégicos da Gestão de Florestas Públicas:


• Ordenamento territorial;
• Retorno para o patrimônio público de milhões de ha de florestas;
• Fomentar modelo de desenvolvimento regional baseado em uma economia
florestal de base sustentável;
• Fortalecimento da gestão de Ucs.

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• Conservação da biodiversidade;
• Atração de investimentos privados de longo prazo;
• Fortalecimento da capacidade de gestão e proteção do patrimônio florestal
nacional;
• Geração de receitas para estados e municípios;
• Ampliação do controle e da qualidade sócio ambiental da produção florestal
Concessões Florestais – Prática:
As florestas públicas precisam estar no Cadastro Nacional de Florestas
Públicas para serem consideradas no Plano Anual de Outorga Florestal (PAOF).
Uma vez no PAOF, estas florestas passam por uma análise para verificar se
são aptas e passíveis de serem incluídas no processo de concessão
As florestas públicas precisam estar matriculadas em nome da União (ou
Estados) e possuir seus instrumentos de gestão.
 Planos de manejo ou Relatórios Ambientais Preliminares;
 Conselhos Gestores
 Etapa sob a responsabilidade do ICMBio
 Áreas prioritárias: Flonas em novas fronteiras

7.6- Editais de Licitação – Principais Informações

Para preparação do edital de licitação devem ser feitos estudos técnicos


preliminares, que incluem o inventário florestal e levantamentos do potencial das
cadeias produtivas florestais na região. O Edital indica os produtos e serviços objeto
da concessão florestal e todas as condições obrigatórias para qualificar os
concorrentes da licitação.
Identificação das comunidades;
 Definição dos indicadores econômicos;
 Definição das UMFs;
 Acordos intersetoriais e integração com políticas federais e estaduais;
 Contextualização regional;
 Atendimento a requerimentos legais e informações aos órgãos de
controle;
 Definição dos indicadores.
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Para preparação do edital de licitação devem ser feitos estudos técnicos
preliminares, que incluem o inventário florestal e levantamentos do potencial das
cadeias produtivas florestais na região. O Edital indica os produtos e serviços objeto
da concessão florestal e todas as condições obrigatórias para qualificar os
concorrentes da licitação.
Habilitação e Julgamento:
O Edital de Licitação deve conter todas as regras detalhadas de como serão
pontuadas as propostas e definido o vencedor para cada unidade de manejo. A
licitação deve levar em conta os critérios preço e técnica, sendo que a técnica deve,
sempre, ter peso maior que o preço. O critério técnico inclui 4 temas:
I- Maior benefício social;
II- Menor impacto ambiental;
III- Maior eficiência; e
IV- Maior agregação de valor local.
Para cada um dos temas é preciso existir pelo menos um indicador com
parâmetros objetivos para efeito de pontuação ou bonificação de uma proposta. Para
se habilitar a participar da licitação os concorrentes devem ser empresas brasileiras
(com sede e administração no país) e que tenham situação regular e sem pendências
ambientais.
Assinatura do Contrato:
Cada unidade de manejo florestal pode ter apenas um contrato de concessão
florestal que deve incluir todos os produtos e serviços autorizados.
Não podem ser objeto de concessões florestais o uso dos recursos genéticos,
fauna, recursos minerais, recursos hídricos e o carbono (exceto para florestas
plantadas). Produtos de uso para subsistência das comunidades locais também são
excluídos do objeto da concessão.
O concessionário deve garantir o acesso livre e regulado às áreas de
concessão florestal. Todos os lotes de concessão incluem áreas de diferentes
tamanhos, para dar oportunidade de acesso aos produtores de diferentes escalas.
Processo de Concessão Florestal:
O concessionário paga pelo uso dos recursos florestais (produtos e serviços),
sendo obrigatório um preço mínimo anual equivalente até 30% do valor anual
estimado dos produtos a serem explorados.

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O valor arrecadado, é distribuído da seguinte maneira: No caso de Flonas:
I- até 30% destinados ao órgão gestor (SFB) e
II- 70% divididos entre Instituto Chico Mendes (40%), estados (20%),
municípios (20%) e o FNDF (20%). Os custos do edital são pagos pelos
vencedores do edital da concessão florestal. Além destes custos, o
concessionário deverá cumprir com os investimentos previstos no contrato,
inclusive aqueles que foram decorrentes da oferta feita para ganhar a
concessão florestal.

8. REGIME JURÍDICO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

Fonte: prev.sjp.pr.gov.br

Em linhas gerais, as agências reguladoras são pessoa jurídica de direito público


interno, criadas por meio de lei, cuja função é a de regular e fiscalizar as atividades
de determinado setor privado do país. As agências reguladoras são conceituadas
como sendo autarquias sob regime especial, criadas para regular um setor específico
da atividade econômica.
As agências reguladoras foram criadas num momento em que havia forte
presença do Estado brasileiro no gerenciamento da economia, desempenhando de
forma direta serviços públicos, que de um certo modo levaram à falência do Estado,
já que num dado momento o Estado já não conseguia mais custear este modelo. A
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partir de então, surgiu a proposta de concentrar nas mãos do Estado apenas a
execução dos serviços essenciais, delegando à iniciativa privada a execução de
funções que dada sua natureza e peculiaridades, poderiam ser desempenhadas pelos
particulares, em regime de livre iniciativa ou de direito público, surgiram então as
agências reguladoras, cujas atividades seriam executadas pela iniciativa privada, mas
controladas e reguladas pelo Estado. Nesta empreitada, o Brasil optou por adotar o
modelo de agência reguladora independente norte-americana, como forma de
estimular o investimento de capital estrangeiro.
As agências reguladoras foram criadas não apenas para executarem serviços
públicos, mas sobretudo, para garantir que esta prestação ocorra da melhor forma
possível, prevenindo o Estado contra falhas que poderiam ser causadas por entes não
dotados de conhecimento técnico necessário para a consecução destas atividades.
Alguns exemplos de agências reguladoras são a ANATEL, ANVISA e ANAC.
Com relação ao regime jurídico das agências reguladoras, a doutrina costuma
apenas dizer que as agências reguladoras são “autarquias em regime especial”,
sem, no entanto, se debruçar profundamente sobre o citado “regime especial”. Fala-
se em “regime especial” porque existe a independência em relação ao órgão estatal
da administração direta ao qual a agência reguladora está vinculada; mandato e
estabilidade dos seus dirigentes para garantir a referida independência; vínculo
institucional para os demais servidores que junto a estas agências trabalham; e
poder regulatório dos setores das respectivas atuações.
Serviços de Telecomunicações:
A LGT define serviço de telecomunicações como o conjunto de atividades que
possibilita a oferta de telecomunicação. Telecomunicação é a transmissão, emissão
ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo
eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou
informações de qualquer natureza.
Não constituem serviços de telecomunicações o provimento de capacidade de
satélite, a atividade de habilitação ou cadastro de usuários e de equipamentos para
acesso a serviços de telecomunicações e os serviços de valor adicionado.
Classificação:

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Quanto à abrangência dos interesses a que atendem, a LGT classifica os
serviços de telecomunicações em serviços de interesse coletivo e serviços de
interesse restrito.
Interesse coletivo:
Os serviços de interesse coletivo são aqueles passíveis de serem oferecidos a
todos aqueles que se enquadrarem no regulamento específico, ou seja, o prestador
não pode deixar de prestá-lo quando solicitado, desde que seja técnica e
economicamente viável.
Interesse restrito:
Entende-se como de interesse restrito o serviço destinado ao uso do
executante ou de um grupo de pessoas naturais ou jurídicas, caracterizado pela
realização de atividade específica (p. ex. passageiros de navios).
Quanto ao regime jurídico de sua prestação, os serviços de telecomunicações
classificam-se em públicos e privados.
Regime público:
O serviço de telecomunicações em regime público é sempre de interesse
coletivo e é aquele prestado mediante concessão ou permissão, com atribuição a sua
prestadora de obrigações de universalização e de continuidade. Incluem-se neste
caso as diversas modalidades do serviço telefônico fixo comutado, de qualquer
âmbito, destinado ao uso do público em geral.
Regime privado:
Já o regime privado está sujeito a regras mais flexíveis e com menor
interferência da União na sua regulação, não havendo controle de tarifas (pratica-se
preço). O serviço prestado no regime privado é outorgado mediante autorização
(existindo exceções nas quais ele é objeto de concessão, como é o caso do Serviço
Móvel Celular - SMC) e pode ser de interesse restrito ou coletivo.
Natureza dos Contratos de Serviços
Regime Concessão ou permissão interesse coletivo Telefonia Fixa Comutada
Público (STFC)
Regime Autorização e excepcionalmente concessão Telefonia Fixa Comutada
Privado interesse coletivo ou restrito e todos os demais
serviços

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Em princípio, o serviço em regime público é sempre objeto de um contrato de
concessão, ficando a permissão reservada para alguns casos excepcionais.
Concessão:
Define-se como concessão de serviço de telecomunicações a delegação de
sua prestação, mediante contrato, por prazo determinado, no regime público,
sujeitando-se a concessionária aos riscos empresariais, remunerando-se pela
cobrança de tarifas dos usuários ou por outras receitas alternativas e respondendo
diretamente pelas suas obrigações e pelos prejuízos que causar.
Permissão:
Define-se como permissão de serviço de telecomunicações o ato administrativo
pelo qual se atribui a alguém o dever de prestar serviço de telecomunicações no
regime público e em caráter transitório, até que seja normalizada a situação
excepcional que a tenha ensejado. Observa-se, portanto, que a permissão é
reservada para casos excepcionais.
Autorização:
Já os serviços sob o regime privado são, em princípio, objeto de autorização,
existindo exceções, casos em que são objeto de concessão. Define-se como
autorização de serviço de telecomunicações o ato administrativo vinculado que faculta
a exploração, no regime privado, de modalidade de serviço de telecomunicações,
quando preenchidas as condições objetivas e subjetivas necessárias.
São condições objetivas:
a) a disponibilidade de radiofrequências quando necessárias, e;
b) a apresentação de um projeto viável.
São condições subjetivas para a empresa:
a) ser constituída sob as leis brasileiras;
b) não estar proibida de contratar com o poder público;
c) dispor de qualificação técnica, e;
d) não ser responsável pela prestação da mesma modalidade de serviço na
mesma área.
Legislação: Principais Serviços:
Hoje existem 67 serviços de telecomunicações diferentes com
regulamentações próprias existindo uma intenção da Anatel de reduzi-los a apenas
quatro serviços. Nesse cenário diversificado, a abordagem seria bastante abrangente

50
e complexa, razão pela qual tratar-se-á neste tópico daqueles serviços de maior
relevância. Os quatro principais serviços são:
Telefonia Fixa
Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) é o serviço de telecomunicações
que, por meio de transmissão de voz e de outros sinais, destina-se à comunicação
entre pontos fixos determinados, utilizando processos de telefonia. De interesse
coletivo, o STFC é prestado em regime público e em regime privado e admite as
seguintes modalidades:
Local Destinada à comunicação entre pontos fixos
determinados, situados em uma mesma área Local.
Longa Distância Destinada à comunicação entre pontos fixos
Nacional determinados, situados em áreas locais distintas no
território nacional.
Longa Distância Longa Distância Internacional: destinada à
Internacional comunicação entre um ponto fixo situado no território
nacional e outro ponto no exterior.

Dois tipos específicos de STFC merecem ser objeto de destaque:


 Telefone de Uso Público (TUP) – é aquele que permite o acesso de
qualquer pessoa, dentro de condições normais de utilização,
independentemente de assinatura de inscrição junto à prestadora de
serviço, e;
 0800 - que corresponde a uma chamada franqueada do Serviço
Telefônico Público, completada sem interceptação, destinada ao assinante
do Serviço Telefônico Público responsável pelo seu pagamento, conforme
contrato específico.
Telefonia Móvel (SMC e SMP):
Serviço Móvel Celular (SMC) é o serviço de telecomunicações móvel terrestre,
aberto à correspondência pública, que utiliza sistema de radiocomunicações com
técnica celular, interconectado à rede pública de telecomunicações, e acessado por
meio de terminais portáteis, transportáveis ou veiculares, de uso individual.
Excepcionalmente, por motivos históricos, o SMC, que é prestado em regime privado,
foi objeto de contrato de concessão e não de autorização. Atualmente, a Anatel já não
emite outorgas para SMC e incentiva as operadoras detentoras das licenças a
substituí-las por novas licenças de SMP.
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O novo serviço, Serviço Móvel Pessoal (SMP) é definido como o serviço de
telecomunicações móvel terrestre de interesse coletivo que possibilita a comunicação
entre Estações Móveis e de Estações Móveis para outras estações. O SMP é
caracterizado por limitar a sua comunicação entre estações de uma mesma Área de
Registro do SMP. Caso as estações se encontrem em diferentes Áreas de Registro,
a comunicação far-se-á mediante acesso a redes de telecomunicações de interesse
coletivo.
Comunicação Multimídia:
Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) é um serviço fixo de
telecomunicações de interesse coletivo, prestado em âmbito nacional e internacional,
no regime privado, que possibilita a oferta de capacidade de transmissão, emissão e
recepção de informações multimídia, utilizando quaisquer meios, a assinantes dentro
de uma área de prestação de serviço. O SCM substituiu o SLE - Serviço Limitado
Especializado de Redes e Circuitos e atualmente a Anatel não emite mais outorgas
para essas modalidades de SLE.
Comunicação de Massa:
Serviços de Comunicação De Massa (SCMa) são serviços de
telecomunicações de interesse coletivo que possuem simultaneamente as seguintes
características essenciais:
a) distribuição ou difusão dos sinais ponto-multiponto ou ponto-área;
b) fluxo de sinais predominantemente no sentido prestadora usuário,
c) conteúdo das transmissões não gerado ou controlado pelo usuário e
d) escolha do conteúdo das transmissões realizada pela prestadora do serviço.
A nova regulamentação do SCMa ainda está sendo discutida e os serviços
incluídos - basicamente Radiodifusão e TV por Assinatura - são atualmente objeto de
legislação específica.
Outros Serviços:
Outros serviços de relevância que merecem ser citados são:

SME - Serviço Móvel Especializado (“Trunking”)


SER – Serviço Móvel Especial de Radiochamada (“Paging”)
SMGS – Serviço Móvel Global por Satélite (geoestacionários ou não)
Serviço de Rádio Táxi
Serviço Móvel Marítimo (Estação de Navio)
Serviço de TV por Assinatura (TV a Cabo)
Rádio do Cidadão
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Serviço de Radioamador
Serviço Público Restrito
SRTT - Serviço de Rede de Transporte de Telecomunicações
O SRTT inclui as seguintes sub- modalidades: Serviço Especial de Repetição de
Sinais de TV, Vídeo e Áudio, Serviço por Linha Dedicada Nacional e Internacional,
Serviço de Rede Comutada e Serviço de Comunicação de Textos – Telex.

Serviços Especiais
Serviços de telecomunicações que tem por finalidade o atendimento de
necessidades de comunicações de interesse geral, não abertos à correspondência
pública. Alguns exemplos são Serviços Especiais para Fins Científicos ou
Experimentais e de Rádio Determinação.

Espectro de Radiofrequências:
O espectro de radiofrequências é um recurso limitado, constituindo-se em bem
público, administrado pela Anatel. Cabe à agência manter plano com a atribuição,
distribuição e destinação de radiofrequências e detalhamento necessário ao uso das
radiofrequências associadas aos diversos serviços e atividades de telecomunicações,
atendidas suas necessidades específicas e as de suas expansões.
O plano deve destinar faixas de radiofrequência para:
a) fins exclusivamente militares;
b) serviços de telecomunicações a serem prestados em regime público e em
regime privado;
c) serviços de radiodifusão;
d) serviços de emergência e de segurança pública, e;
e) outras atividades de telecomunicações.
O uso de radiofrequência, tendo ou não caráter de exclusividade, dependerá
de prévia outorga da Agência, mediante autorização, exceto quando for uso de
radiofrequência por meio de equipamentos de radiação restrita definidos pela Agência
ou uso, pelas Forças Armadas, de radiofrequências nas faixas destinadas a fins
exclusivamente militares.
Define-se como Autorização de uso de radiofrequência, o ato administrativo
vinculado, associado à concessão, permissão ou autorização para prestação de

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serviço de telecomunicações, que atribui ao interessado, por prazo determinado, o
direito de uso de radiofrequência, nas condições legais e regulamentares.
Serviços Que Utilizam Satélites:
Cabe à Anatel dispor sobre os requisitos e critérios específicos para execução
de serviços de telecomunicações que utilizem satélites, geoestacionários ou não,
independentemente de o acesso a ele ocorrer a partir do território nacional ou do
exterior.
O provimento de capacidade espacial é oferecido por entidades detentoras do
direito de exploração de satélite brasileiro ou estrangeiro para o transporte de sinais
de telecomunicações. A prestação de serviços de telecomunicações utilizando
satélites é realizada por entidade que detém concessão, permissão ou autorização
para prestação de serviços de telecomunicações.
Alguns exemplos de serviços de telecomunicações que utilizam satélites são:
Serviço Móvel Global por Satélite, DTH (Direct to Home, modalidade de TV por
assinatura); SLP - Serviço Limitado Privado, SLE - Serviço Limitado Especializado e
SCM – Serviço de Comunicação Multimídia, SRTT - Serviço de Rede de Transporte
de Telecomunicações e STFC - Serviço Telefônico Fixo Comutado.
Certificação de Equipamentos:
A Anatel tem a responsabilidade pela Certificação de Equipamentos que é o
conjunto de procedimentos regulamentados e padronizados que resultam na
expedição de Certificado ou Declaração de Conformidade, específicos para produtos
de telecomunicações.
Entende-se como Homologação o ato privativo da Anatel pelo qual, na forma e
nas hipóteses previstas no Regulamento para Certificação e Homologação de
Produtos para Telecomunicações, aprovado pela Resolução nº 242/00, a Agência
reconhece os certificados de conformidade ou aceita as declarações de conformidade
para produtos de telecomunicações.
O Regulamento estabelece as regras e os procedimentos gerais relativos à
certificação e à homologação de produtos para telecomunicação, incluindo a avaliação
da conformidade dos produtos para telecomunicação em relação à regulamentação
técnica emitida ou adotada pela Anatel e os requisitos para a homologação de
produtos para telecomunicação nele previstos.

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Constituem princípios gerais dos processos de certificação e de homologação
de produtos para telecomunicação da Anatel:
1. Assegurar que os produtos comercializados ou utilizados no País
estejam em conformidade com os Regulamentos editados ou com as
normas adotadas pela Anatel;
2. Assegurar que os fornecedores dos produtos atendam a requisitos
mínimos de qualidade para seus produtos;
3. Assegurar que os produtos para telecomunicação comercializados no
País, em particular aqueles ofertados pelo comércio diretamente ao público,
possuam um padrão mínimo de qualidade e adequação aos serviços a que
se destinam;
4. Assegurar o atendimento aos requisitos de segurança e de não agressão
ao ambiente;
5. Facilitar a inserção do Brasil em acordos internacionais de
reconhecimento mútuo;
6. Promover a isonomia no tratamento dispensado aos interessados na
certificação e na homologação de produtos para telecomunicação; e
7. Dar tratamento confidencial às informações técnicas, que assim o
exijam, dentre as disponibilizadas pelas partes interessadas.
8. A legislação de telecomunicações sofreu enormes mudanças a partir da
Emenda Constitucional no 8. A partir de 1995, grande número de Decretos,
Normas, Resoluções, Regulamentos, Portarias e outros documentos foram
emitidos e outros existentes foram substituídos, com o duplo objetivo de
estabelecer as bases para a operação das empresas privadas e fazer frente
às mudanças tecnológicas que ocorreram na década passada no segmento
de telecomunicações.
9. A melhor forma de consultar em detalhe a legislação sobre qualquer
tema de telecomunicações e, em particular dos Serviços, é pesquisar no
site da Anatel - www.anatel.gov.br nos tópicos de legislação respectivos.

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