Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 – Apresentação
1.1 - Niklas Luhmann (1927-1998), sociólogo alemão.
Teoria dos sistemas.
Para Luhmann, a sociedade é vista como um sistema estruturado que exclui o homem
concreto, passando este a fazer parte de um mundo circundante, razão pela quais as
ações do ‘homem concreto’ não coincidem com aquelas que emanam da sociedade, em
síntese, a sociedade é um sistema e o homem a circunda. Todavia, sociedade e homem
concreto estão estruturados de uma maneira que permita a existência de ambos, pois
esta precisa daquela, o que não significa dizer que dela faça parte.
“Sistema, é para Luhmann um conjunto de elementos delimitados segundo o princípio
da diferenciação. Os elementos, ligados uns aos outros, excluem outros elementos do
seu convívio, formam em relação a estes, um conjunto diferenciado. Todo sistema
pressupõe um mundo circundante com o qual se limita”. (p. 03)
1.2 – Estado e modernidade: a necessidade de legitimação de poder da estrutura.
Desfragmentação do mundo medieval e reestruturação social para o capital.
Acumulação primitiva
Reestruturação da sociedade em torno da economia e do mercado.
Estruturação do poder do estado e a criação da nação e identidade nacional.
Necessidade de legitimação da nova estrutura de poder.
Exemplificação sobre a necessidade da legitimação de poder: os reis taumaturgos.
(BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio, França e
Inglaterra. São Paulo: Cia das Letras, 1993)
2 – Legitimação pelo procedimento (1969)
2.1 – Apresentação
O direito é visto como uma estrutura que define os limites e as interações da sociedade.
Como estrutura ele é indispensável por possibilitar uma estabilização de expectativas
nas interações. Ele funciona como um mecanismo que neutraliza a contingência de
ações individuais, permitindo que pessoa possa esperar, com um mínimo de garantia, o
comportamento do outro e vice e versa.
As normas não podem evitar a desilusão mas garantem a expectativa.
Uma estrutura jurídica para Luhmann é legitima na medida em que é capaz de produzir
uma prontidão generalizada para a aceitação de suas decisões ainda indeterminadas
quanto ao conteúdo concreto, dentro de certa margem de tolerância.
Procedimentos são sistemas de ação, através dos quais os endereçados das decisões
aprendem a aceitar uma decisão que vai ocorrer, antes da sua ocorrência.
Análise de três procedimentos jurídicos: o judiciário, o legislativo e o administrativo.
Mas nenhum deles é entendido no sentido usual do direito processual, mas com o
significado amplo de sistema empírico de relações sociais controladas por regas
jurídicas, mas também por componentes extrajurídicos.
O estabelecimento de instancias de decisão retira e confere a posição de opositor para
outras pessoas, criando-se condições para que os oponentes não decidam por si
próprios, mas através dos papeis que vão assumindo no correr do procedimento: papel
de parte processual decorrente de autos. A função legitimadora do procedimento não
está em se produzir consenso entre as partes, mas em tornar inevitáveis e prováveis
decepções em decepções difusas: apesar de descontentes, as partes aceitam a decisão.
Nesse sentido, a função legitimadora do procedimento não está em substituir uma
decepção por um reconhecimento, mas em imunizar a decisão final contra decepções
inevitáveis. Luhmann concebe a legitimidade como uma ilusão funcionalmente
necessária, pois se baseia na ficção de que existe a possibilidade de decepção rebelde,
só que esta não é, de fato, realizada. O direito se legitima na medida em que seus
procedimentos garantam essa ilusão.
O direito, então, legitima-se quando os procedimentos geram a ilusão, que é necessária
a fim de que a possibilidade de decepção rebelde não se concretize.
2.2 – Fundamentos
A – A concepção clássica do procedimento legal
O sentido do procedimento judicial juridicamente organizado será igualmente
relacionado a um critério de verdade pelas doutrinas dominantes do processo, a um
conhecimento exato daquilo que é legalmente válido e é legal no caso especifico. Aí se
prevê, tal como no caso da eleição politica e da legislação, que através da decisão se
realizará aquilo que é justo. De acordo com isso o objetivo principal do procedimento
judicial será geralmente indicado como proteção jurídica e, nesta versão, usado como
justificação dos institutos particulares do direito processual.
O núcleo de todas as teorias clássicas do procedimento é a relação com a verdade ou
com a verdadeira justiça como objetivo. Sob estas circunstancias e nesta perspectiva
polemica contra o poder, não era possível ver na legitimação do poder o sentido do
procedimento juridicamente organizado.
O pensamento moderno especificou o conceito de verdade no contexto do
desenvolvimento das ciências e, vinculado a fortes pressupostos metodológicos,
decompôs, por esse meio, os pensamentos de direito natural, positivando o direito, quer
dizer, fundamentando-o em torno de processos de decisão.
2.3 – Processos Judiciais
É necessário encarar o coletivo, que é característico de todos os procedimentos judiciais
e reconhecer estes processos como sistemas de atuação organizados e empiricamente
compreensíveis, podendo ser orientados, não só por meio de disposições jurídicas, mas
também pelo exercício social institucionalizado e, finalmente, pelas expectativas de
comportamento que se geram circunstancialmente a partir daí.
A – Diferenciação
Trata-se de construir para si próprio um ambiente intelectual, de forma que os processos
seletivos de elaboração de informações do meio ambiente possam ser orientados por
regras e decisões do próprio sistema, portanto estruturas e acontecimentos do meio
ambiente não sejam automaticamente válidos, mas sim que possam ser reconhecidas
após filtragens de informações.
O procedimento como sistema social, só tem um espaço de manobra de
desenvolvimento por motivos da existência de incerteza em questões de direito e de
verdade e só na medida do alcance desta incerteza. A diferenciação de processos
jurídicos refere-se ao processo de absorção dessa incerteza e menciona que esse
processo é dirigido por critérios internos do procedimento e não por critérios externos.
A canalização e controle das influencias sociais através da legislação, portanto a
positivação do direito, constitui uma condição prévia essencial da autonomia social da
evolução legal da decisão. O juiz retira o seu parecer do direito escrito onde se definem
quais são os fartos e qual o sentido em que são relevantes para a decisão e não
diretamente a ideia do verdadeiro sentido e do justo que lhe foram impostas numa
organização visualizada da vida social. Assim, ele pode operar com um afastamento
maior e não está obrigado, em todos os assuntos muito diversificados sobre os quais
terá que decidir, a poder adivinhar os princípios morais do parecer que sejam suscetíveis
de consenso. Ele pode e deve decidir como um estranho.
B – Autonomia
No espaço de manobra do procedimento pode desenrolar-se uma elaboração de
informações relativamente autônoma. Uma organização jurídica generalizada do
procedimento constitui, simultaneamente uma das condições prévias de sua
autonomia.
As mesmas instancias que estabelecem o direito não denunciam simultaneamente quais
os fatos verdadeiros e quais os não verdadeiros. Ambos os meios estão separados e nem
sequer se podem dominar reciprocamente. O seu confronto só pode realizar-se dentro
e através do processo jurídico. Assim, se alivia o processo da pressão social e daí
resultam possibilidades internas duma mudança de princípios de orientação: uma
pessoa tem de escolher e expor as normais, de acordo com o os fatos do caso e também,
ao invés, os fatos de acordo com as normas.
Na linguagem de decisão dos próprios processos jurídicos, esta condição de autonomia
exprime-se manifestamente sob a forma de uma separação rígida entre problemas de
direito e problemas de fato, cuja correlação fica a cargo de cada caso particular.
Para uma legitimação do procedimento são a diferenciação e a autonomia que abrem
um espaço de manobra para a atuação dos participantes pleno de alternativas e de
importância básica, reduzindo a complexidade. Só assim os participantes podem ser
motivados a tomarem eles próprios, os riscos da sua ação, a cooperaram, sob controle,
na absorção da incerteza e dessa forma a contraírem gradualmente um compromisso.
C – Sistema de contato
Os sistemas de contato geram-se quando os próprios participantes se encontram
amiúde por diversos motivos e aí prosperam separadamente, em dependência
alternada, na medida em que uma vez um lado é mais forte, outra vez o outro, e agora
um e depois o outro se sente sempre obrigado a cooperação com o adversário.
Em qualquer dos casos, os sistemas de contato servem de medianeiros à garantia
jurídica, na medida em que a tornam assunto duma votação social anterior e com isso,
a organização do direito torna-se dependente das estruturas de poder e motivo, já que
não podem mais ser controladas pelo próprio processo jurídico.
Prevalecendo esta estabilização de contatos, então os sistemas de contatos já não se
formam espontaneamente, tem de ser procurados e estabilizados através de uma união
pessoal mais ou menos artificial entre inúmeros processos; quer no caso de uma pessoa
procurar um advogado que conheça bem o juiz, na vaga esperança de não ser uma
vitima desse bom conhecimento; quer no caso de vários interessados se fundirem em
consórcios de interesse e estabelecerem escritórios de contato no setor governativo
com o mesmo objetivo das boas relações e com os mesmos riscos.
Com isso, porém, põe-se a pergunta, se, e até que ponto se podem confiar aos
representados os argumentos e o efeito da legitimação de um sistema de contato
formado por representantes, principalmente quando a clientela muda de processo pra
processo.
D – Adoção de papéis
O desempenho de um papel é uma condição previa de caráter geral para uma interação
continua. No processo Jurídico, todos os participantes tem de propor aos outros papeis,
permanentemente em alternância, confirmar-lhes seus papeis e apoia-los na
interpretação, apoio que lhes permitira que cada um se compenetre do seu papel e nele
se mantenha, mesmo quando se verifique um agravamento.