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Anais do Encontro de Direito & Novas Tecnologias: os desafios a partir das

novas relações
08 de junho de 2020

Coordenação Geral e Comissão Executiva


Ariê Scherreier Ferneda
Aron Vitor Fraiz Costa
Miriam Olivia Knopik Ferraz

Comissão científica
Mirela Miró Ziliotto (PUCPR)
Bruna Lietz (PUCRS)
Gabriel Percegona Santos (UFPR)
Guilherme Carvalho Passos (PUCPR)
Pedro Andrade Guimarães Filho (PUCPR)
Marcelo Bertoncini (PUCPR)
Antonio Carlos Gonçalves Filho (UFPR)
Larissa Milkiewicz (PUCPR)
Mariana Gmach Philippi (PUCPR)
Pâmela Varaschin Prates (PUCPR)
Deise dos Santos Nascimento (UFPR)
Bruna Antunes Ziliotto (PUCPR)
Bruno Castro (PUCPR)
Lucas Hinckel Teider (PUCPR)
Wanessa Ramos (PUCPR)
Thiago Barcik Lucas de Oliveira (PUCPR)
Everton Jonir Fagundes Menengola (PUCPR)
Oksandro Osdival Gonçalves (PUCPR)
Lucas Henrique Muniz da Conceição (Birkbeck – Londres)
E56
Encontro de Direito & Novas Tecnologias: os desafios a partir das
novas relações (1 : 2020 : Paraná, PR).
Anais [recurso eletrônico] / Encontro de Direito & Novas
Tecnologias: os desafios a partir das novas relações, 08 de junho
de 2020. – Paraná: PUCPR, 2018.
ISBN 978-65-86052-22-0

1. Tecnologia e direito. I. Pontifícia Universidade Católica do


Paraná. II. Título.
745-129-20 CDD : 344.095

APOIO
Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Centro de Investigação de Direito Privado da Universidade de Lisboa

Registro e Catalogação
GRAMMA EDITORA
www.grammaeditora.com

É de inteira responsabilidade dos autores o conteúdo da obra e as fontes


consultadas.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 14

A LGPD E A PROTEÇÃO DE DADOS SENSÍVEIS NOS PROCESSOS SELETIVOS COMO


INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO
CORPORATIVO ........................................................................................................................................... 16
Flávia Potcker Duque
Cinthia Obladen De Almendra Freitas

RISCOS DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NO DIREITO EMPRESARIAL: A LGPD SOB A


PERSPECTIVA DA GESTÃO DE RISCOS E A GOVERNANÇA CORPORATIVA................................. 19
Marcos Guilherme Rodrigues Mafra
Ana Maria Silveira Sasso Gomes

INTERSEÇÃO ENTRE JUSTIÇA E TECNOLOGIA: ANÁLISE DO ACESSO AO JUDICIÁRIO E DA


NÃO DEMOCRATIZAÇÃO DA INTERNET NO BRASIL .................................................................. 21
Mylena Araújo da Silva

SAINDO DA ESCURIDÃO: UM OLHAR SOBRE AS TÉCNICAS DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS


COMO INSTRUMENTO FOMENTADOR DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS ............................... 24
Carina Deolinda da Silva Lopes
Franceli Bianquin Grigoletto Papalia

SOFTWARES DE CONVERSÃO DE CALIGRAFIA E OS PERIGOS PARA A PROTEÇÃO DA


PRIVACIDADE NO CIBERESPAÇO...................................................................................................26
Luiza Berger von Ende
Bruna Bastos

TECNOLOGIA DISRUPTIVA E DIREITOS FUNDAMENTAIS: APONTAMENTOS PARA UM


DIREITO DISRUPTIVO......................................................................................................................29
Filipe Benevides Mendonça
Leonardo Roza Tonetto

APLICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL AO DIREITO: UMA ANÁLISE DO PROJETO


VICTOR, A IA DO STF.......................................................................................................................31
Filipe Benevides Mendonça
Leonardo Roza Tonetto

ROBÔ PROCESSUAL: CONSTITUCIONALIDADE DA APLICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


AOS ATOS DE MERO EXPEDIENTE ................................................................................................33
Sérgio Rodrigo de Pádua
BLOCKCHAIN, UM FIM OU UM NOVO COMEÇO PARA OS CARTÓRIOS .............................. 36
Vitor Pacifico de Moraes Neto

A COMPATIBILIDADE ENTRE BLOCKCHAIN E A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD


............................................................................................................................................. 38
Juliana Horn Machado Philippi

BLOCKCHAIN E REGISTROS PÚBLICOS ................................................................................. 40


Juliana Horn Machado Philippi

GOVERNO ELETRÔNICO, INVISIBILIDADE DIGITAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS .. 42


Fábio de Sousa Santos

AS ATIVIDADES ONLINE DAS EMPRESAS TRANSNACIONAIS E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS


DAS CRIANÇAS ..................................................................................................................... 44
Marcella Oldenburg Almeida Britto
Danielle Anne Pamplona

O PAPEL DAS REDES SOCIAIS SOB A PERSPECTIVA DA E-DEMOCRACY E FAKE DEMOCRACY


............................................................................................................................................. 46
Leonardo de Andrade Alberto
Murilo Borges

O HOMEM, A TECNOLOGIA E A EXPLORAÇÃO PORNOGRÁFICA NÃO CONSENTIDA DE


CRIANÇAS E ADOLESCENTES................................................................................................ 48
Marcelo Refosco
Bárbara Chiodini Axt Hoppe

A AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO DE DADOS DIANTE DA (IN)SEGURANÇA NO


CIBERESPAÇO: UM DESAFIO
............................................................................................................................................. 51
Larissa Rocha de Paula Pessoa
Mariana Caroline Pereira Félix

A INFLUÊNCIA EXERCIDA PELO CIBERFEMINISMO NA VOTAÇÃO SOBRE A LEGALIZAÇÃO DO


ABORTO OCORRIDA NA ARGENTINA, E OS REFLEXOS EM UMA FUTURA VOTAÇÃO NO
BRASIL ................................................................................................................................. 54
Giovanna Cabrera Bettega

AS IMPLICAÇÕES DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO ÂMBITO DO DIREITO CONCORRENCIAL


........................................................................................................................................... ..57
Alexander Haering Gonçalves Teixeira
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, GIG ECONOMY E A NECESSIDADE DE EVOLUÇÃO DO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .............................................................................. 59
Bruno Carvalho Neves

A UTILIZAÇÃO DOS SOCIAL BOTS E O DÉFICIT DEMOCRÁTICO ................................................ 62


Almira Maria Lima Machado
Geovana Teixeira Machado

O USO DA TÉCNOLOGIA ENQUANTO TUTELA AO DIREITO DE ACESSO À EDUCAÇÃO


SUPERIOR PRIVADA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19: PARCIAL EFETIVIDADE NA
DESIGUAL SOCIEDADE BRASILEIRA...................................................................................... 64
Saulo Capelari Junior

DIREITO CRIMINAL, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O LABELLING APPROACH: PERSPECTIVAS


ACERCA DA UTILIZAÇÃO DE IA’S NOS DIAS ATUAIS ............................................................ 67
Thômas Henrique de Souza Carvalho
Camila Vaninni dos Santos

INOVAÇÃO E CORRUPÇÃO: COMO A TECNOLOGIA CORROBORA NO COMBATE A


CORRUPÇÃO E CONSEQUENTE FOMENTO AOS DIREITOS HUMANOS ............................... 70
Gabriel Pereira de Carvalho

INOVAÇÃO NO CAMPO DO DIREITO À INFORMAÇÃO QUALIFICADA: O CASO DA FACT-


CHECKING NO BRASIL DA PÓS-VERDADE ............................................................................ 73
Wellen Pereira Augusto

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITOS AUTORAIS: PANORAMA MUNDIAL DOS DESAFIOS E


PROBLEMÁTICAS DE SUA APLICAÇÃO ................................................................................. 76
Salus Henrique Silveira Ferro

RESPONSABILIDADE DO VEÍCULO AUTÔNOMO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO


ESTADUNIDENSE E EUROPEU .............................................................................................. 78
Salus Henrique Silveira Ferro

ADVOCACIA 4.0: O USO DE SOFTWARES QUE PRODUZAM CONTEÚDO JURÍDICO NOS


ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA .............................................................................................. 80
Felipe Kenzo Torres Alves

HERANÇA DIGITAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: BENS DIGITAIS, DIREITO À


PRIVACIDADE E DIREITO SUCESSÓRIO ................................................................................ 82
Anna Luísa Braz Rodrigues
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO CONTEXTO
DO COVID-19 (CORONAVÍRUS) ............................................................................................ 85
Paula Yurie Abiko
Ariê Scherreier Ferneda

RESOLUÇÃO CNS 466/2012 E LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS: A


IMPORTÂNCIA DA ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS NA PANDEMIA MUNDIAL
DE COVID-19 ........................................................................................................................ 87
Anna Luísa Braz Rodrigues

INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL DE SOCIEDADES EMPRESÁRIAS EM CRIPTOMOEDAS


............................................................................................................................................. 90
Geovane Antunes Santos Oliveira
Igor Murilo Lindner de Andrade

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E SEUS IMPACTOS NOS DIREITOS FUNDAMENTAIS À


PRIVACIDADE E PROTEÇÃO DE DADOS ............................................................................... 93
Bruno Fediuk de Castro
Gilberto Bomfim

A REALIZAÇÃO REMOTA DOS CONCLAVES SOCIETÁRIOS ................................................... 96


Bruno Fediuk de Castro
Gilberto Bomfim

OS DESAFIOS DA COMPLEXA INTEGRAÇÃO ENTRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, BIG DATA E A


LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS BRASILEIRA – LEI 13.709/2018 ................. 99
Dânton Hilário Zanetti de Oliveira
Fabiana Faraco Cebrian

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES QUANTO AOS DADOS PESSOAIS DOS


CONSUMIDORES: DIÁLOGO DAS FONTES ENTRE O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
E A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS ........................................................................... 102
Ana Carolina Fontana de Mattos
Dânton Hilário Zanetti de Oliveira

A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E A EXCLUSÃO SOCIAL E PROFISSIONAL DO IDOSO ............ 104


Amanda Cristina Silvério
Jair Aparecido Cardoso

A PROTEÇÃO DO TRABALHADOR EM FACE DA AUTOMAÇÃO: A NECESSIDADE DE UMA


LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR AO ART. 7º, XXVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DIANTE
DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
........................................................................................................................................... 107
Rodrigo Aguiar da Silva
Pedro Victor dos Santos Witschoreck
VERIFICAÇÃO DE FATOS NOS SITES DE REDES SOCIAIS: COMBATE À DESINFORMAÇÃO
COM MAIS INFORMAÇÃO ................................................................................................. 110
Arthur Emanuel Leal Abreu

REMOVER, ESCLARECER OU DESINDEXAR: APLICAÇÃO DA TEORIA DA


PROPORCIONALIDADE PARA IDENTIFICAR A OBRIGAÇÃO CABÍVEL NO COMBATE À
DESINFORMAÇÃO NA INTERNET ....................................................................................... 113
Arthur Emanuel Leal Abreu
Adriano Sant’Ana Pedra

AS REDES SOCIAIS ENQUANTO FENÔMENOS DEMOCRÁTICOS NA PROMOÇÃO DE


ENGAJAMENTO POLÍTICO DOS CIDADÃOS ....................................................................... 116
Bruna Andrade Obaldia

AS REPERCUSSÕES JURÍDICAS DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS ....................................... 119


Fernando Afonso Marques de Melo

A SUPRESSÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA E O ATIVISMO


DIGITAL PRÓ-DEMOCRACIA ............................................................................................... 122
Hendrisy Araujo Duarte
Bruna Bastos

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO TELEPRESENCIAL TRABALHISTA: OS 6 PILARES NECESSÁRIOS


PARA SUA REALIZAÇÃO E EFETIVIDADE ............................................................................ 125
Lourival Barão Marques Filho
Daniel Castanha de Freitas

AUDIÊNCIAS VIRTUAIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO E O ACESSO À JUSTIÇA EM TEMPOS DE


PANDEMIA (COVID-19) ...................................................................................................... 128
Sandra Mara de Oliveira Dias

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NAS DECISÕES JUDICIAIS DA JUSTIÇA DO TRABALHO SOB A


PERSPECTIVA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO JUIZ NATURAL E DEVER DE
FUNDAMENTAÇÃO ESTRUTURAL NO ESTADO DE DIREITO .............................................. 131
Sandra Mara de Oliveira Dias

AVANÇO TECNOLÓGICO E A PROTEÇÃO DE DADOS COMO GARANTIA FUNDAMENTAL DE


DIREITO .............................................................................................................................. 134
Walisson Ribeiro Pinto

OS IMPACTOS DAS PLATAFORMAS DIGITAIS NO DIREITO DO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA


SUBORDINAÇÃO JURÍDICA FRENTE À EMPRESA UBER
........................................................................................................................................... 136
Beatriz Queiroz Cunha
A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2018 E A INFLUÊNCIA DO TWITTER .............................. 139
Paola dos Reis Cândido da Silva
Nicolas Addor

EFICIÊNCIA DO PORTAL E-CIDADANIA COMO MEIO DE PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE


CIVIL ................................................................................................................................... 141
Tassia Teixeira de Freitas Bianco Erbano Cavalli
Nicolas Addor

MEMES E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: OS DIREITOS HUMANOS EM FACE DA ASCENSÃO DA


EXTREMA DIREITA NO BRASIL ........................................................................................... 144
João Víctor Vieira Carneiro
Lugan Thierry Fernandes da Costa

CONTRATOS ELETRÔNICOS E A ESCADA PONTEANA: A NECESSÁRIA REGULAMENTAÇÃO A


PARTIR DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
........................................................................................................................................... 147
Ivanilton Mendes Andrade Junior

A PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS E A PROTEÇÃO JURÍDICA DE PESSOAS REFUGIADAS E


SOLICITANTES DE REFÚGIO NO BRASIL ............................................................................. 150
Derek Assenço Creuz
Carolina Stephani Melnik Blicharski

CRISE SANITÁRIA E A REGULAMENTAÇÃO DA TELEMEDICINA NO BRASIL: NOVAS


FRONTEIRAS ENTRE DIREITOS HUMANOS DOS PACIENTES E INOVAÇÃO EM SAÚDE ...... 153
Thiago de Menezes Ramos
Tanise Zago Thomasi

A ANOMIA SOBRE A PROPAGANDA ELEITORAL PAGA NA INTERNET NAS ELEIÇÕES 2018 E


A MONETIZAÇÃO DAS FAKE NEWS .................................................................................... 156
Marco Aurélio Rodrigues da Cunha e Cruz
Adriana Martins Ferreira Festugatto

DELIBERAÇÃO (DEMOCRÁTICA) DIGITAL? ......................................................................... 159


Mariana Carolina Lemes
Daniel Roxo de Paula Chiesse

AS FAKE NEWS NA ERA DA PÓS-VERDADE E A NECESSIDADE DE GARANTIA DE UMA


OPINIÃO PÚBLICA LIVRE NA DEMOCRACIA BRASILEIRA ................................................... 162
Leonardo Bocchi Costa

DIREITOS HUMANOS E RISCOS AMBIENTAIS: A MINERAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS NA


SOCIEDADE DE RISCO ........................................................................................................ 165
Dieniffer Sena de Mattos
Ygor de Siqueira Mendes Mendonça
ADOÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES
ADMINISTRATIVAS E JUDICIAIS NO BRASIL ....................................................................... 168
Alan José de Oliveira Teixeira

A EFETIVAÇÃO DO DIREITO À INFORMAÇÃO DO CONSUMIDOR E A MITIGAÇÃO DOS


RISCOS NA MODERNIDADE AVANÇADA ............................................................................ 171
Ana Carolina Fontana de Mattos
Ygor de Siqueira Mendes Mendonça

HERANÇA DIGITAL: O DIREITO SUCESSÓRIO COMO NORTE LEGISLATIVO À TRANSMISSÃO


MORTIS CAUSA DE DADOS REMANESCENTES................................................................... 173
Thiago Barcik Lucas de Oliveira
Bianca Amorim Bulzico

A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: UMA ANÁLISE COMPARADA


ENTRE BRASIL E UNIAO EUROPEIA .................................................................................... 176
Giovana Batisti Vieira
Bianca Amorim Bulzico

DIREITO À DESCONEXÃO COMO GARANTIDOR DO DIREITO À SAÚDE ............................. 178


Danna Catharina Mascarello Luciani
Maria Paula Miranda Carvalho

DOS RISCOS DA SOCIEDADE INFORMACIONAL: OS DADOS PESSOAIS SENSÍVEIS


ANALISADOS SOB O VIÉS DA ISONOMIA VERSUS A DISCRIMINAÇÃO ............................. 180
Eduarda Aparecida Santos Golart
Isabel Christine Silva De Gregori

CRIPTOMOEDAS, BLOCKCHAINS E OS DIREITOS NA INTERNET: ANÁLISE DAS


CRIPTOMOEDAS E MECANISMOS CORRELATOS COMO FORMAS DE GARANTIA E
EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS ............................................................................... 183
Gustavo Alarcon Rodrigues
Patrícia Borba Marchetto

A PUBLICIDADE ABUSIVA INTRÍNSECA A JOGOS ELETRÔNICOS INFANTIS: UMA ANÁLISE


SOB A ÓTICA DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL ..................................................... 185
Jackeline Prestes Maier
Nathalie Kuczura Nedel

DA PROTEÇÃO DA INTIMIDADE NO CIBERESPAÇO: A (IN)EFICÁCIA DA TUTELA DO CRIME


CIBERNÉTICO DE PORNOGRAFIA DA REVANCHE .............................................................. 188
Gabriela Gonçalves Medeiros
Jackeline Prestes Maier

A GLOBALIZAÇÃO E O TRATAMENTO JURÍDICO DO CIBERCRIME NO BRASIL: UMA ANÁLISE


DA VULNERABILIDADE DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES ................................................. 191
Caroline Gassen Batistela
Renata Vicente Duarte
HERANÇA DIGITAL NO CONTEXTO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DAS DIFICULDADES E
POSSIBILIDADES ................................................................................................................. 194
Caroline Gassen Batistela
Renata Vicente Duarte

AS DECISÕES SEM HUMANOS AINDA PODEM SER HUMANAS? ....................................... 197


Vanessa Ferreira de Almeida

PROTEÇÃO DE DADOS EM TEMPOS DE PANDEMIA: A (IN)COMPATIBILIDADE DO SISTEMA


DE MONITORAMENTO INTELIGENTE (SIMI) À LUZ DO DIREITO À PRIVACIDADE
........................................................................................................................................... 200
Maria Lydia de Melo Frony

AS POSSIBILIDADES DE INTERROGATÓRIO ONLINE DE RÉU PRESO NO PROCESSO PENAL


BRASILEIRO: ENTRECHOQUES COM AS GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO ACUSADO
........................................................................................................................................... 202
Caio José Arruda Amarante de Oliveira

REDES SOCIAIS, (DES)INFORMAÇÃO E DEMOCRACIA ....................................................... 205


Christiane Costa Assis
David Ian Santos

A RELAÇÃO ENTRE A SURVEILLANCE E AS CIDADES INTELIGENTES: O


COMPARTILHAMENTO DE DADOS E O AVANÇO DO MUNDO “SMART” .......................... 208
Gabriel Lima Mendes
Hígor Lameira Gasparetto

O VÍCIO DE CONSENTIMENTO DE UMA REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM E A


BIOTECNOLOGIA DA REPRODUÇÃO ASSISTIDA ................................................................. 210
Lorena Pinto Gonçalves

AUDIÊNCIA POR VIDEOCONFERÊNCIA: A EFETIVAÇÃO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO


PROCESSO EM PERÍODO DE PANDEMIA ............................................................................ 213
Mariane de Matos Aquino
Fernanda da Silva Soares

OS IMPACTOS DAS FAKE NEWS NOS PROCESSOS ELEITORAIS DEMOCRÁTICOS .............. 216
Sabrina Barbosa Paiva
Aline Rodrigues de Sales

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DIANTE DA INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL ............................... 218


Lucienne Michelle Treguer Cwikler Szajnbok

A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ATRAVÉS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: IMPACTOS NAS


RELAÇÕES DE TRABALHO .................................................................................................. 221
Ana Cláudia Favarin Pinto
Caroline Schemmer
O COVID-19 E A INTENSIFICAÇÃO DA UBERIZAÇÃO NO BRASIL: A INFORMALIDADE COMO
REGRA ................................................................................................................................ 224
Heloísa Santana Luna

TRABALHO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA NA PANDEMIA: UM PROJETO DE VIDA


........................................................................................................................................... 227
Maria Sara de Lima Dias
Paula Caldas Brognoli

O ESTADO DE DIREITO NA ERA DOS ALGORITMOS: O IMPACTO DO BIG DATA NA CULTURA


DEMOCRÁTICA ................................................................................................................... 230
Pedro Henrique do Prado Haram Colucci

POLARIZAÇÃO POLÍTICA DIGITAL: A CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS NA DIVISÃO


SOCIOPOLÍTICA EM BOLHAS INFORMATIVAS E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A
CIBERDEMOCRACIA ........................................................................................................... 232
Rodrigo Aguiar da Silva
Rafael Santos de Oliveira

OS IMPACTOS DEMOCRÁTICOS NO TWITTER A PARTIR DA DECISÃO DO SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL EM DIVULGAR A REUNIÃO MINISTERIAL DO DIA 22 DE ABRIL DE 2020
........................................................................................................................................... 235
Pedro Victor dos Santos Witschoreck
Rafael Santos de Oliveira

A DIMENSÃO COLETIVA DO DIREITO À PRIVACIDADE ...................................................... 237


Giulia de Angelucci
Mariana Lemos Steinke Martins

A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS E SEUS IMPACTOS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO


........................................................................................................................................... 239
Letícia Vieira Mattos

ENSINO JURÍDICO: UMA ANÁLISE SOBRE A NECESSIDADE DE INFORMAR ALUNOS E


PROFESSORES ACERCA DO EMPREGO DE FERRAMENTAS DOTADAS DE INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL NAS PLATAFORMAS EDUCACIONAIS ............................................................... 242
Maryana Zubiaurre Corrêa
Nathalie Kuczura Nedel

A TUTELA DO DADO PESSOAL ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL E A VIGILÂNCIA


ELETRÔNICA EM FACE DO CONSUMIDOR ......................................................................... 245
José Henrique De Oliveira Couto
A TECNOLOGIA BLOCKCHAIN COMO RUPTURA DO MODELO ASSEMBLEAR DAS
SOCIEDADES COOPERATIVAS BRASILEIRAS
........................................................................................................................................... 247
Leonardo Rafael de Souza
Maylin Maffini

A INFLUÊNCIA DO CENÁRIO ALGORÍTMO DAS REDES SOCIAIS PARA A E-DEMOCRACIA


........................................................................................................................................... 249
Andressa de Bittencourt Siqueira

A DIFICULDADE DE RECONHECIMENTO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM A


IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA PEER-TO-PEER.......................................................... 251
Alexandre Maschio Domingos

AS POSTAGENS DE JAIR BOLSONARO DELETADAS PELAS REDES SOCIAIS: QUANDO O


EXCESSO NOS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E A PROPAGAÇÃO DE
DESINFORMAÇÃO FEREM A DEMOCRACIA ....................................................................... 253
Bianca Maschio
Pillar Cornelli Crestani

A RESIDÊNCIA ALTERNADA NA GUARDA COMPARTILHADA À ÓTICA DO PRINCÍPIO DO


MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA .................................................................................... 256
Camila Corral Machado
César Inácio Mayora

TECNOLOGIA E A TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO: OS DIREITOS HUMANOS DO


TRABALHO COMO GARANTIDOR DO TRABALHO DECENTE .............................................. 259
Fernanda Barcellos Mathiasi

SUGESTÃO DE TAREFAS PROCESSUAIS POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: PERSPECTIVAS DE


OTIMIZAÇÃO E DESAFIOS HERMENÊUTICOS..................................................................... 261
Gabriel Marconi de Campos Moura
Heitor Oliveira de Paula Costa

A UTILIZAÇÃO DE “ROBÔS” EM CAMPANHAS ELEITORAIS: AMEAÇA À AUTENTICIDADE E


CAUSA DE ANULAÇÃO ....................................................................................................... 264
Gabriel Vieira Terenzi

O ‘INQUÉRITO DAS FAKE NEWS’ E SUA LEGITIMIDADE PERANTE O REGIME DEMOCRÁTICO


........................................................................................................................................... 267
Pablo Ruan Siqueira Lopes

UMA NOVA ROUPAGEM NO CONSUMO DA MODA A PARTIR DA OBTENÇÃO DE DADOS


PESOSAIS E AS TÉCNICAS DE ELABORAÇÕES DE PERFIS COMPORTAMENTAIS NA
SOCIEDADE INFORMACIONAL ........................................................................................... 269
Gabriela Gonçalves de Medeiros
Isabel Christine Silva De Gregori
A RELATIVIZAÇÃO DO DIREITO À PROTEÇÃO DE DADOS EM PROL DO DIREITO À SAÚDE
........................................................................................................................................... 272
Gabriel Oliveira Chaves
Kléber Kevin Gomes Ferreira

DESFALQUE DEMOCRÁTICO E GOVERNANÇA DAS PLATAFORMAS DE REDES SOCIAIS


........................................................................................................................................... 275
Lucas Henrique Muniz da Conceição
14

APRESENTAÇÃO

O
Encontro de Direito e Novas Tecnologias: os desafios a partir das novas
relações, realizado em 08 de junho de 2020, foi idealizado em um momento
atípico pelo qual passa a humanidade: a pandemia da COVID-19
(Coronavírus).

Diante do isolamento social e da impossibilidade de realizar um evento


presencial, com contato humano, a Comissão Organizadora optou por promover um
evento online. Com isso, permitiu-se a participação de alunos de graduação e de
programas pós-graduação em Direito de diversos Estados, de modo a garantir, assim,
um intercâmbio rico de ideias e experiências.

O evento foi realizado com o apoio da rede de pesquisa formada pela


Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul e pelo Centro de Investigação de Direito Privado da Universidade
de Lisboa.

Contamos, ainda, com a participação do professor Cláudio Lucena (UEPB), o


qual ministrou a palestra intitulada “E se o sensor fosse você? Human as a service”. A
professora Vivian Cristina Lima López Valle também nos agraciou com sua fala a
respeito do “Estado, Inteligência Artificial e Direito Administrativo: desafios na
regulação do ambiente 4.0”.

Participou também das exposições o professor Gustavo Martinelli, o qual


tratou da “Sandbox regulatória como incentivo à inovação no Brasil”, bem como a
professora Camila Salgueiro da Purificação Marques, que trouxe aos ouvintes algumas
reflexões sobre “Democracia e redes sociais: lutas por direitos e desafios
autoritários”.

Além das exposições, foram apresentados mais de 100 (cem) resumos, cujos
autores demonstraram grande competência e entusiasmo ao tratarem de temas
atinentes à temática central do evento: Direito e Tecnologia.

Cada resumo científico foi atentamente avaliado. Ao final de cada explanação


os autores receberam orientações e sugestões. Por isso, dirigimos nossos
15

agradecimentos aos avaliadores: Mirela Miró Ziliotto (PUCPR); Bruna Lietz (PUCRS);
Gabriel Percegona Santos (UFPR); Guilherme Carvalho Passos (PUCPR); Pedro
Andrade Guimarães Filho (PUCPR); Marcelo Bertoncini (PUCPR); Antonio Carlos
Gonçalves Filho (UFPR); Larissa Milkiewicz (PUCPR); Mariana Gmach Philippi
(PUCPR); Lucas Henrique Muniz da Conceição (Birkbeck – Londres); Pâmela
Varaschin Prates (PUCPR); Deise dos Santos Nascimento (UFPR); Bruna Antunes
Ziliotto (PUCPR); Bruno Castro (PUCPR); Lucas Hinckel Teider (PUCPR); Wanessa
Ramos (PUCPR); Thiago Barcik Lucas de Oliveira (PUCPR); e Everton Menegola
(PUCPR).

Agradecemos também os monitores de cada sala de apresentação, que


auxiliaram de modo gracioso a organização do evento: Danna Catharina Mascarello
Luciani; Vitor Pacífico de Moraes Neto; Natália Matias Augusto; e Jackson Victor Vaz
Lassen.

Por fim, agradecemos a todos os autores que participaram do evento


carinhosamente organizado e que compõem estas Memórias do Encontro de Direito e
Novas Tecnologias: os Desafios a partir das Novas Relações.

Ariê Scherreier Ferneda

Aron Vitor Fraiz Costa

Miriam Olivia Knopik Ferraz


16

LGPD E A PROTEÇÃO DE DADOS SENSÍVEIS NOS PROCESSOS SELETIVOS COMO


INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE NO AMBIENTE DE TRABALHO
CORPORATIVO

1
Flávia Potcker Duque
2
Cinthia Obladen de Almendra Freitas
RESUMO

O fenômeno Big Data e a aplicação de técnicas de Mineração de Dados (Data Mining)


revolucionaram a forma como são realizados os processos seletivos de empregados
no âmbito corporativo, uma vez que auxiliam o recrutamento e a seleção de
candidatos a partir de análises rápidas e precisas de seus dados pessoais de acordo
com o perfil esperado, aumentando as chances de acerto na contratação. Embora
torne os processos seletivos mais ágeis e eficientes, o uso dessas ferramentas para
tratamento de dados pessoais dos candidatos pode suprimir a igualdade de
oportunidades de acesso ao emprego se baseado em critérios que reflitam
preconceitos do recrutador ou empregador, especialmente quando se referem a
dados sensíveis, classificados assim por revelar aspectos mais suscetíveis à
discriminação. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Lei nº 13.709/2018, ao
regular o tratamento de dados pessoais, exerce um papel de combate à discriminação
ao conferir uma proteção especial aos dados sensíveis por meio de restrições e
critérios mais rigorosos, além de ter como princípio a impossibilidade de tratamento
de dados pessoais para fins discriminatórios, ilícitos ou abusivos. Considerando que o
processo seletivo é a porta de acesso a um emprego digno, garantir a igualdade de
oportunidades para todos os candidatos não é somente combater a discriminação,
mas também promover a diversidade no ambiente de trabalho. Além de ser um
indicador de responsabilidade social empresarial, a diversidade é uma estratégia para
se obter uma vantagem competitiva em relação à concorrência, já que pessoas com
diferentes habilidades, características e experiências têm perspectivas diferentes

1 Mestranda em Direito Econômico e Socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná-


PUCPR; Especialista em Direito e Processo do Trabalho pelo IBMEC-RJ. Advogada. Email:
flaviapduque@gmail.com
2 Doutora em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná-PUCPR; Professora Titular

da Pontifícia Universidade Católica do Paraná-PUCPR para o curso de graduação em Direito e


Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) na mesma instituição.
Membro Consultivo da Comissão de Inovação e Gestão da OAB-PR. Email: cinthia.freitas@pucpr.br
17

sobre o negócio, podendo contribuir, individual ou coletivamente, para criação de


soluções mais inovadoras e criativas. Considerando que a LGPD adota como princípio
a não discriminação e oferece um regulamento mais rigoroso para o tratamento de
dados pessoais sensíveis, a pesquisa visa identificar se a proteção de dados pessoais
sensíveis, aplicada aos processos seletivos de emprego, poderá contribuir para a
promoção da diversidade no ambiente de trabalho corporativo. A pesquisa será
realizada por meio do método hipotético-indutivo, com uma abordagem qualitativa e
seguirá o procedimento bibliográfico e documental. Parte-se da hipótese de que a
adoção das regras previstas na LGPD para tratamento de dados sensíveis nos
processos seletivos de emprego contribuirá para a promoção da diversidade no
ambiente de trabalho corporativo, já que dados suscetíveis à discriminação não
poderão ser apreciados pelos recrutadores e empregadores sem que haja uma
finalidade específica e consentimento expresso de seu titular. Apesar da definição do
início da vigência da LGPD estar condicionada à conversão da Medida Provisória nº
959/2020 em Lei e ainda não existir uma regulamentação pela Autoridade Nacional
de Proteção de Dados, identificar se a referida Lei contribuirá para a promoção da
diversidade no ambiente de trabalho por meio da proteção de dados sensíveis
permitirá propor diretrizes para que os processos seletivos incorporem a proteção de
dados pessoais e da privacidade de seus candidatos, não somente para cumprir a Lei,
mas para garantir oportunidades iguais de acesso ao emprego e um ambiente de
trabalho mais heterogêneo e inclusivo.

Palavras-chave: LGPD; dados sensíveis; proteção de dados; diversidade; processos


seletivos.

REFERÊNCIAS

BÂRA, Adela; SIMONCA, Iuliana; BELCIU, Anda; NEDELCU, Bogdan. Exploring data in
human resources big data. Database systems journal, Bucareste, v. 6, n. 3, p. 3-10,
2015. Disponível em: http://www.dbjournal.ro/archive/21/21_1.pdf. Acesso em: 27
maio 2020.

BARAK, Michalle E. Mor. Managing Diversity: toward a globally inclusive workplace. 4


ed. Thousand Oaks: Sage Publications, 2016.
18

BRASIL. Lei nº 13.709 de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados


Pessoais (LGPD). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 28 maio 2020.

PARCHEN, Charles Emmanuel; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra. Big data e


mineração de dados sob a ótica do direito constitucional à privacidade e intimidade.
In: FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra; BARRETO JUNIOR, Irineu Francisco;
BOFF, Salete Oro (Coord.). Direito, governança e novas tecnologias II. 1 ed.
Florianópolis: CONPEDI, 2016, p. 133-151.

RODOTÀ, Stefano. A vida na sociedade de vigilância: privacidade hoje. 1 ed. Rio de


Janeiro: Renovar, 2008.
19

RISCOS DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NO DIREITO EMPRESARIAL: A LGPD SOB A


PERSPECTIVA DA GESTÃO DE RISCOS E A GOVERNANÇA CORPORATIVA

3
Marcos Guilherme Rodrigues Mafra
4
Ana Maria Silveira Sasso Gomes
RESUMO

O presente resumo tem como objetivo analisar a elaboração do relatório de impacto à


proteção de dados pessoais, previsto no artigo 5º, inciso XVII da Lei Geral de Proteção
de Dados (LGPD) sob aspecto da gestão de riscos, principalmente aqueles atrelados
aos dados relacionados à liberdades civis e aos direitos fundamentais, dentro da
realidade corporativa. Para tanto, será analisada as normas técnicas constantes na
ISO 27.001:2013, que abrangem o tratamento de riscos de segurança da informação,
dissertando a respeito da forma em que se seleciona e identifica riscos de segurança
da informação de maneira apropriada, bem como a determinação de controles para
serem implementados para tratar riscos, definindo planos de ações com seus
respectivos responsáveis. Tais planos podem abranger desde a mitigação até a
aceitação desses riscos de segurança da informação, inclusive de forma alinhada com
a ISO 31.000:2018. Sendo assim, torna-se necessária a análise de processos e
procedimentos no âmbito prático corporativo, para que a seleção e identificação de
riscos gerem informações que permitirão a conexão com bases legais para o
tratamento de dados pessoais, previstas no artigo 7º da LGPD. Para tanto, os riscos
identificados deverão ser alocados em uma matriz 5x5, em forma de mapa de calor, o
que permite a visualização de todos os riscos de segurança da informação aos quais a
empresa está sujeita, a fim de definir controles e planos de ação necessários para a
implementação da LGPD. Garante-se, assim, uma análise diagnóstica responsiva
rastreável e o efetivo registro dos riscos de segurança da informação, atendendo ao
direito à transparência do titular, conforme o artigo 6º, inciso VI da LGPD. A gestão de
riscos de segurança da informação não pretende apenas criar estratégias
corporativas, mas também visa apoiar que empresas atinjam objetivos da LGPD,

3 Advogado. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Técnico em


Informática pela TECPUCPR. Pós-graduando Direito Empresarial e Econômico na ABDConst.
Certificado em Compliance Anticorrupção pela LEC (CPC-A).
4 Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Positivo. Pós-graduanda em Compliance e

Governança Jurídica pela FAE Centro Universitário.


20

demostrando quais situações podem dificultar ou impedir que estes sejam


alcançados. Nesse sentido, busca-se definir o papel da gestão de riscos enquanto
instrumento fundamental para o diagnóstico de LGPD, durante sua implantação na
empresa, bem como em seu monitoramento contínuo.

Palavras-chave: Gestão de riscos; segurança da informação; Lei Geral de Proteção de


Dados.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOMAS TÉCNICAS. NBR ISO 27.001: Tecnologia da


informação – Técnicas de segurança – Sistemas de gestão de segurança da informação -
Requisitos. Rio de Janeiro: NBR, 2013.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 31.000. Gestão de Riscos


– Princípios e diretrizes. Rio de Janeiro, NBR 2018.

BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados


Pessoais (LGPD). 14 ago. 2018.

CASTRO, Rodrigo Pironti Aguirre de; GONÇALVES, Francine Silva Pacheco.


Compliance e gestão de riscos nas empresas estatais. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum,
2019. 169p. ISBN 978-85450-0642-8.

MALDONADO, VIVIANE NÓBREGA MALDONADO; BLUM, RENATO OPICE. LGPD: Lei


Geral de Proteção de Dados comentada. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
21

INTERSEÇÃO ENTRE JUSTIÇA E TECNOLOGIA: ANÁLISE DO ACESSO AO JUDICIÁRIO E DA


NÃO DEMOCRATIZAÇÃO DA INTERNET NO BRASIL

5
Mylena Araújo da Silva

RESUMO

O presente trabalho tem por escopo sugerir uma reflexão crítica acerca do acesso ao
judiciário e a importância da discussão sobre as dificuldades à cobertura de internet
existentes no Brasil considerando as desigualdades sociais e econômicas entre as
regiões. Metodologicamente, fez-se abordagem qualitativa e exploratória com revisão
bibliográfica e documental em livros, teses artigos e dados estatísticos. O estudo tem
o propósito de questionar os reflexos sociais diante da prática forense com as
ferramentas tecnológicas, com especial destaque para a dificuldade de acesso aos
interessados em postular diretamente ao juízo diante do trabalho remoto dos fóruns.
Através disto, analisou-se o contraponto entre o modo que a incorporação da
tecnologia da informação pelo Poder Judiciário proporciona maior agilidade no
processamento das informações permitindo celeridade às demandas e o desafio em
permitir a acessibilidade desse mecanismo às camadas mais vulneráveis através de
um instrumento de facilitação frente à realidade díspar de regiões sem essa
ferramenta de comunicação. A consolidação do acesso à justiça mediante o
implemento do processo eletrônico otimiza os serviços judiciais, trazendo eficácia ao
processo e ampliando a transparência dos atos tomados pelo juízo. O enquadramento
dessas inovações tecnológicas no meio jurídico demanda uma releitura do processo
em conjunto com a observação dos impactos sociais, sejam eles positivos ou
negativos. Analisou-se, através de pesquisa realizada pelo PNAD, que 10,7% das casas
particulares na região Norte não há de telefone e que em 24,4% destes ambientes não
tem serviço de acesso à internet disponível. Com estes dados a problemática se torna
nítida através do empecilho existente nas regiões brasileiras que demonstram o
contraste diante da garantia formal de acesso ao Judiciário. Esse aspecto decorre de
limites com cunho social e econômico resultando na exclusão de cidadãos à
possibilidade de propor demandas perante os órgãos jurisdicionais, direito este

5 Graduanda na Faculdade Estácio de Castanhal – FCAT. Contato: mylena.ars@gmail.com


22

concebido, doutrinariamente, como garantia de acesso aos próprios direitos


garantidos pela Constituição Federal e demais atos normativos. Assim, conclui-se que
o acesso à justiça, visto do âmbito tecnológico, na medida em que auxilia na análise
processual com menor custo e tempo possíveis, vai de encontro com o problema
ético-social existente nas diferentes realidades das regiões brasileiras. Ante esses
impasses que cercam o acesso ao judiciário, urge a necessidade do debate na tentativa
de propor solução prática para tornar a Justiça equitativa e mais acessível diante da
dimensão social do Estado Democrático de Direito com a ampliação do acesso da
população pobre à justiça.

Palavras-chave: Acesso à justiça; informatização judiciária; inclusão digital; democratização da


internet.

REFERÊNCIAS

ADORNO JÚNIOR, Helcio Luiz; SOARES, Marcele Carine dos Praseres. Processo judicial
eletrônico, acesso à justiça e inclusão digital: os desafios do uso da tecnologia na
prestação jurisdicional. Revista de direito do trabalho, São Paulo, SP, v. 39, n. 151, p.
187-206, maio/jun. 2013.

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução Ellen Grace


Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1998.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Disponível em:


https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101543.pdf. Acesso 20 maio
2020.

MENDONÇA, Henrique Guelber de. A Informatização do Processo Judicial sem traumas.


Revista de Processo. São Paulo, ano 33, n. 166, p. 118-135, dez. 2008.
23

ROVER, Aires José. O governo eletrônico e a inclusão digital: duas faces da mesma
moeda chamada democracia. In: ROVER, Aires José (Org.). Inclusão digital e governo
eletrônico. Zaragoza: Lefis Series, v. 3, 2008, p. 9-34.
24

SAINDO DA ESCURIDÃO: UM OLHAR SOBRE AS TÉCNICAS DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS


COMO INSTRUMENTO FOMENTADOR DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

6
Carina Deolinda da Silva Lopes
7
Franceli Bianquin Grigoletto Papalia
RESUMO

A presente pesquisa está associada a linha que trabalho os novos desafios nas
relações interpessoais e traz à discussão os meios alternativos de resolução de
conflitos frente uma análise das relações interpessoais. A escuridão que
representamos permanecer ultimamente, imaginando e criando visões de mundo,
fatos e ilusões, efetiva que estamos tratando de uma visão distorcida da realidade,
aspectos bem atuais em nosso dia a dia das relações sociais e interpessoais. A ideia
deste trabalho é trazer ao leitor a importância das formas alternativas de resolução
de conflitos, mais especificamente a mediação e a importância de suas técnicas na
concretização da saída das pessoas em conflito da escuridão em que se encontram,
quando não enxergam nada em sua frente além do problema que envolve uma dada
situação relacional. Visa o presente estudo analisar, ainda, as formas alternativas de
resolução de conflitos, diferenciado os seus procedimentos e forma de interação e
aplicabilidade nos processos judiciais, frente a previsão do Código de Processo Civil e
o entendimento jurisprudencial dos Tribunais, bem como diferenciar a ideia de
justiça restaurativa ao conceito de mediação, uma vez que trata-se de forma de
abrangência pacificadora mais ligada a área criminal. Far-se-á ainda, o
aprofundamento da mediação, examinando seus aspectos procedimentais e
apresentada uma comparação com as análises feitas por Platão. A partir de uma
pesquisa de cunho qualitativo, realizada por meio de levantamento bibliográfico e
documental, relatou-se um apanhado dos dispositivos legais e sua aplicabilidade nos
casos concretos, para ao final buscar averiguar se a medição é uma forma de

6 Mestre em Direito; Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos da UNIJUI,


Bolsista Capes, vinculada à linha de pesquisa do PPGDH/UNIJUÍ “Democracia, Direitos Humanos e
Desenvolvimento”; orientanda da Profa. Dra. Elenise Felzke Schonardie; Advogada. E-mail:
lopesdeo@hotmail.com.
7 Mestranda em Educação pela UFSM, vinculada a Linha de Pesquisa “LP2: Políticas públicas

educacionais, práticas educativas e suas interfaces” orientada pela Professora Doutora Liliana Soares
Ferreira; Advogada; Juíza leiga da Comarca de Faxinal do Soturno – TJRS; docente e pesquisadora do
grupo de pesquisa Káiros. E-mail: franpapalia@gmail.com.
25

resolução dos conflitos que atende os seus pressupostos necessários para agregar
positivamente junto as relações interpessoais.

Palavras-chave: Formas alternativas de resolução de conflitos; mito da caverna. mediação.

REFERÊNCIAS

SPENGLER, Fabiana Marion. Retalhos de mediação. Santa Cruz do Sul: Essere nel
Mondo, 2014.

TJRS. Apelação Cível, Nº 70070492970. Nona Câmara Cível. Relator: Miguel Ângelo da
Silva, Julgado em: 18-11-2016. Disponível em:
https://www.tjrs.jus.br/site/jurisprudencia/. Acesso em: 12. Maio. 2020.

URY, William. O poder do não positivo: como dizer não e ainda chegar ao sim.
Tradução de Regina Lyra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

WARAT, Luis Alberto. Surfando na pororoca: o ofício do mediador. Florianópolis:


Fundação Boiteux, 2004.
26

SOFTWARES DE CONVERSÃO DE CALIGRAFIA E OS PERIGOS PARA A PROTEÇÃO DA


PRIVACIDADE NO CIBERESPAÇO

8
Luiza Berger von Ende
9
Bruna Bastos
RESUMO

A utilização de pictogramas, alfabetos e palavras propiciou o registro de atividades


rotineiras do ser humano primitivo, até se tornarem poderosos instrumentos de
efetivação de contratos e autenticação de negócios. O desenvolvimento e a
popularização da tecnologia nas últimas décadas, por sua vez, possibilitaram a leitura,
a interpretação e a digitalização da caligrafia humana por intermédio de robôs.
Softwares e aplicativos, como o Handwriting input da empresa Google, precisam de
apenas uma fotografia para interpretar escritas à mão e convertê-las em texto digital,
trazendo novas perspectivas de utilização do ambiente virtual. Apesar da facilitação
do cotidiano, e tendo em vista o crescente vazamento de dados pessoais
disponibilizados online e a conhecida capacidade de aprendizado da inteligência
artificial, questiona-se: como o funcionamento de softwares de leitura de caligrafia
pode colocar em risco a segurança do usuário em casos de coleta indevida de dados?
Utiliza-se do método de abordagem dedutivo, com a aplicação das normas gerais
sobre privacidade e proteção de dados pessoais, bem como dos direitos
fundamentais, em relação ao caso dos programas de conversão de caligrafia e dos
métodos de procedimento monográfico e comparativo, através de revisão
bibliográfica e documental sobre a temática. Objetiva-se, dessa forma, investigar o
funcionamento dos programas e como podem surgir vulnerabilidades no tocante à
privacidade do usuário, comparando com casos de vazamentos de dados de outros
aplicativos. Em razão da temática, o trabalho se insere no grupo “Novas tecnologias e
robotização no Direito”. Assim, os dados pessoais, tais como grafia e assinatura, são
informações capazes de identificar uma determinada pessoa e, por serem privadas,

8 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria. Pesquisadora do Centro de Estudos
e Pesquisas em Direito e Internet/UFSM. E-mail: luiza.bergerv@gmail.com.
9 Mestranda em Direitos da Sociedade em Rede pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da

Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista CAPES. Pós-graduanda em Educação Transformadora


pela PUCRS. Especialista em Direitos Humanos e Questão Social pela PUCPR. Advogada. Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria/FADISMA. Pesquisadora do Centro de Estudos e
Pesquisas em Direito e Internet/UFSM. E-mail: bts.bru@gmail.com.
27

merecem proteção jurídica, especialmente diante da disponibilidade desses dados no


ciberespaço. Os possíveis problemas desse tipo de aplicativo de leitura de caligrafia
são o vazamento de dados sensíveis, como a assinatura pessoal, e o acesso facilitado a
essa assinatura pelo próprio software, que pode fazer pequenas modificações (ou
nenhuma) e assinar documentos por si próprio, o que facilitaria a falsificação de
declarações. É importante discorrer, também, sobre a necessidade de prevenção de
vazamentos, tendo em vista a ausência de legislação em vigor sobre a temática no
Brasil e os riscos inerentes à utilização da internet no tocante à disponibilidade e à
violação de dados pessoais sensíveis, que consubstancia-se em uma afronta ao direito
à privacidade, intrinsecamente ligado à dignidade da pessoa humana e aos direitos
fundamentais constitucionalmente assegurados. Os vazamentos ocorrem, em grande
parte, porque os pacotes de aplicativos transmitem dados de um servidor ou
dispositivo para outro sem a criptografia adequada. Um exemplo dessa realidade é o
caso do aplicativo de relacionamento 3Fun que, pela falta de cuidado no
armazenamento em servidores, expôs a localização, as fotos privadas, a orientação
sexual e outros dados sensíveis de mais de 1,5 milhão de usuários. Diante desse
cenário, é importante perceber que, ainda que não tenham ocorrido relatos de
vazamento nos aplicativos de caligrafia, os casos ocorridos em outros programas
mostram a necessidade da atuação preventiva em tal situação, garantindo a
segurança do usuário ao evitar coletas indevidas de dados.

Palavras-chave: Aplicativos; caligrafia; direito à privacidade; proteção de dados pessoais na


internet.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Vigilância Líquida: diálogos com David Lyon. Rio de Janeiro:
Zahar, 2013.

BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do


consentimento. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
28

CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a


sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

MAGRANI, Eduardo. Entre dados e robôs: ética e privacidade na era da


hiperconectividade. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung, 2018.

PASQUALE, Frank. The Black Box Society: the secret algorithms that control money
and information. Cambridge: Harvard University Press, 2015.
29

TECNOLOGIA DISRUPTIVA E DIREITOS FUNDAMENTAIS: APONTAMENTOS PARA UM


DIREITO DISRUPTIVO

10
Filipe Benevides Mendonça
11
Leonardo Roza Tonetto
RESUMO

As novas tecnologias são responsáveis por modificar o modo de agir do homem sobre
o mundo e sobre sua própria cognição humana. Tecnologia disruptiva é toda aquela
que rompe com modelos produtivos e tecnológicos de uma maneira tão brusca que
muda a própria sociedade. A exemplo da Uber: antes, todos usavam o sistema dos
táxis. Com o advento da uber e sua capacidade de utilizar big data (dados em massa)
de maneira célere e eficiente, o próprio conceito de mobilidade urbana mudou. As
pessoas passaram a se deslocar em locais e horários que eram anteriormente muito
mais complicados para o uso do táxi tradicional. Lado outro, houve uma grande
inundação no mercado com o advento de tais aplicativos, que se lançaram ao mercado
sem antecipação de qualquer regulação estatal, que se viu, posteriormente, compelida
a se adaptar aos novos modelos de negócio. Inovações disruptivas impõem aos
Estados os desafios de decidir quando, por que e até onde regular. Assim, objetiva a
pesquisa, analisar a proposta de uma produção jurídica que explore um novo direito
que seja desenvolvido por estratégias jurídicas eficientes, ou seja, uma nova
epistemologia jurídica capaz de oferecer uma inovação no trato entre direito e
tecnologia. Nesse sentido, a regulação inicial de novas tecnologias deve se deter aos
domínios da garantia da segurança do usuário e do respeito às liberdades
fundamentais. O Direito fundamental nesse caso, atua como meio de prevenção e
gerenciamento de riscos, devendo ter como matriz epistemológica um Paradigma
Científico que seja capaz de observar o fenômeno das Novas Tecnologias e apresentar
respostas que coadunem com os novos fenômenos tecnológicos. Com todo o contexto,

10 Graduando em Direito pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim (FDCI). E-mail:


filipebmendonça@gmail.com
11 Graduando em Direito pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim – FDCI; integrante do programa

de Iniciação Científica em Direito Constitucional e Direito à igualdade em foco: um estudo dos estatutos
protetivos dos direitos fundamentais de grupos sociais à luz do Estado Constitucional de Direito (raça, pessoa
com deficiência e gênero; integrante do Grupo de Estudos Interdisciplinares entre Direito e Neurociências,
vinculado ao Programa de Mestrado em Psicologia Forense, da UTP. E-mail: lrtonetto18@gmail.com
30

o trabalho é norteado pela compreensão de novas tecnologias através de seus


impactos sociais e de sua produção de complexidade junto ao Direito e através do
denominado Direito Disruptivo. Este Direito fornece nova visão para a
regulamentação e regulação, com o fim de se evitar riscos e contingências nascidas
com o social e refletidas em complexidades sociais que exige uma pluralidade de
saberes para alcançar os problemas sócio-jurídicos e assim serem desenvolvidas
efetivas estratégias jurídicas para a sociedade, para que assim, possa absorver e
resolver, de um lado os problemas apresentados pelo advento das novas tecnologias
e, do outro lado, possibilidades para que o Direito seja revisitado em suas bases
metodológicas diante do cenário de complexidades atuais e riscos inerentes aos
direitos e garantias fundamentais.

Palavras-Chave: Direito disruptivo; direito fundamental; inovação; tecnologia.

REFERÊNCIAS

CALDANI, Miguel Angel Ciuro. La Estrategia Jurídica, uma Deuda Del Derecho Actual?
2011, p. 57, publicado em Estratégia Jurídicia, Rosario. Disponível em:
http://www.centrodefilosofia.org/IyD/IyD46_6.pdf. Acesso: 01 de junho de 2020.

ROCHA, Leonel Severo (org.). Paradoxos da Auto-Observação. Percursos da Teoria


Jurídica Contemporânea. 2ª ed. Ijuí: Unijuí, 2013.
31

APLICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL AO DIREITO: UMA ANÁLISE DO PROJETO


VICTOR, A IA DO STF

12
Filipe Benevides Mendonça
13
Leonardo Roza Tonetto
RESUMO

O mundo assistiu, durante a segunda metade do século XVIII, à primeira revolução


industrial. Foi a partir desse momento que, com o desenvolvimento da máquina a
vapor, passamos a ter a possibilidade de multiplicar a produção de bens e alimentos,
substituindo assim o protagonismo da força humana e o trabalho artesanal nesses
aspectos [1]. Hodiernamente, dentro do contexto da quarta revolução industrial –
também chamada de “Indústria 4.0” - assistimos a Victor, inteligência artificial
desenvolvida pelo Supremo Tribunal Federal em parceria com a Universidade de
Brasília resolver, em cinco segundos, demandas que funcionários da Suprema Corte
brasileira concluiriam em cerca de trinta minutos [2]. Nesse sentido se faz necessária
a análise do Projeto Victor para estabelecer visão ampliada do potencial existente nas
inteligências artificiais em transformar o direito como conhecemos, sobretudo no que
diz respeito à possibilidade de considerável redução do acervo de processos e
aumento da celeridade processual. O trabalho a ser apresentado tem como objetivo
estabelecer quadro comparativo entre o referido projeto brasileiro frente a outros
sistemas desenvolvidos, tanto em outros países, quanto em outros tribunais pátrios,
no que diz respeito ao uso inicial e perspectivas de possível utilização para assim
abordar a chance de retrocesso e a possibilidade de que Inteligências Artificiais nos
Tribunais possam transformar o judiciário brasileiro em um sistema positivista
estrito, visto que a referida inteligência tão somente julgará com base na lei, sem que
se considerem todos os fatos que gravitam sob os casos concretos.

Palavras-Chave: Projeto Victor; inteligência artificial; indústria 4.0; positivismo estrito.

12 Graduando em Direito pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim (FDCI).


13 Graduando em Direito pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim (FDCI).
32

REFERÊNCIAS

FILIPPO FILHO, Guilherme. Automação de processos e de sistemas. 1ª ed. São Paulo:


Editora Érica, 2014.

TEIXEIRA, Matheus. STF investe em inteligência artificial para dar celeridade a


processos. Portal JOTA, São Paulo, publicado em 11/12/2018. Seção Tecnologia.
Disponível em: https://www.jota.info/coberturas-especiais/inova-e-acao/stf-aposta-
inteligencia-artificial-celeridade-processos-11122018. Acesso em: 29 maio 2020.
33

ROBÔ PROCESSUAL: CONSTITUCIONALIDADE DA APLICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


AOS ATOS DE MERO EXPEDIENTE

Sérgio Rodrigo de Pádua14

RESUMO

A inteligência artificial está cada vez mais relacionada ao mundo do Direito, como
pode se observar da implementação de sistemas pelos Tribunais (Victor do Supremo
Tribunal Federal, Sócrates do Superior Tribunal de Justiça, Elis do Tribunal de Justiça
do Estado de Pernambuco, Radar do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais,
etc.) e pelo setor privado (ROSS Intelligence, por exemplo), o que demanda estudo
próprio voltado ao impacto da referida tecnologia na gestão processual e na teoria
dos atos processuais. A metodologia utilizada foi qualitativa, voltada para a análise
bibliográfica e documental. O objetivo da pesquisa consiste em demonstrar a
constitucionalidade da transcendência do modelo de divisão forte entre atos
processuais judiciais indelegáveis (sentenças, decisão interlocutória e despachos de
mero expediente) e delegáveis (atos ordinatórios), a qual já se percebia na prática
jurisdicional. Assim, com passar do tempo verifica-se que houve um esmaecimento
dos limites entre atos de mero expediente e despachos (art. 203, §3º, do Código de
Processo Civil), haja vista que, por imperativo de eficiência processual (art. 8º do
Código de Processo Civil), muitos juízes delegam atividade típica aos despachos para
a realização por servidores do Judiciário utilizando-se de portarias do Juízo (na forma
do art. 93, XVI, da Constituição Federal). Com a chegada da era da inteligência
artificial processual o referido fenômeno está se intensificando, num movimento sem
volta, de maneira que os atos, antes reservados aos despachos serão cada vez mais
delegados a sistemas automatizados (com algum nível de autonomia computacional).
Dessa forma, causa preocupação nas comunidades jurídica e acadêmica a emergência
de um desenho institucional, sob os prismas constitucional e processual, que
recepcione os benefícios da inteligência artificial processual (celeridade,

14Doutorando e Mestre em Direitos Fundamentais e Democracia pelo Centro Universitário Autônomo


do Brasil (UniBrasil). Professor do curso de Direito da Faculdade de Tecnologia de Curitiba (FATEC-
PR). Pesquisador de inteligência artificial jurídica. Analista Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado
do Paraná (TJPR). Membro do Conselho Diretor da ANJUD – Associação dos Analistas Judiciários do
Paraná. Bolsista CAPES/PROSUP.
34

assertividade, imparcialidade heurística e acurácia) sem o sacrifício da atividade


jurisdicional (e da própria democracia) pautando em suas próprias vantagens
(adaptabilidade, justiça, ponderação e independência do julgador). Destaca-se que os
despachos de mero expediente não possuem natureza decisória em sentido estrito
(características das sentenças e das decisões interlocutórias – art. 203, §1º e §2º, do
Código de Processo Civil), haja vista que sequer podem ser objeto de recurso (art.
1.001 do Código de Processo Civil). Os resultados da pesquisa indicam a possibilidade
de utilização de robôs processuais (inteligência artificial) para a prática automatizada
(inclusive por meio de machine learning) de atos de menor complexidade (atos de
mero expediente e atos relacionados a despachos), o que pode dar maior nível de
celeridade e previsibilidade aos trâmites processuais, desde que respeitadas a
inafastabilidade da figura humana do julgador (art. 5º, XXXV, da CF) e independência
deste (art. 35, I, da Lei Complementar 35/1979), mediante o controle humano
concomitante (do juiz e de sua equipe técnica) sobre os atos realizados por meio de
inteligência artificial, a fim de que o human due process of law não seja totalmente
desumanizado por um paradigma de machine process of law.

Palavras-chave: Robô processual; inteligência artificial; tecnologia; atos de mero expediente.

REFERÊNCIAS

ALVES, Isabella Fonseca. ALMEIDA, Priscila Brandão de. Direito 4.0: uma análise
sobre inteligência artificial processo e tendências de mercado. In: ALVES, Isabella
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Tradução: Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, edição do Kindle.

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido


Rangel. Teoria Geral do Processo. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
35

FENOLL, Jordi Nieva. Inteligencia Artificial y Proceso Judicial. Madri: Marcial Pons,
2018.

LINNA JR., Daniel W. What We Know and Need to Know About Legal Startups. South
Carolina Law Review, V. 67, p. 389-417, 2016.
36

BLOCKCHAIN, UM FIM OU UM NOVO COMEÇO PARA OS CARTÓRIOS

Vitor Pacifico de Moraes Neto15

RESUMO

A tecnologia do blockchain foi lançada em 2008 e inicialmente utilizada pelo Bitcoin,


moeda exclusivamente digital, em circulação desde 31 de outubro de 2008. A
tecnologia permite a troca de informações entre duas partes de forma segura, rápida
e criptografada. Inicialmente fora usada exclusivamente pela moeda Bitcoin, contudo
a inteligência de sua tecnologia pode e vem sendo utilizada para os mais diversos fins.
A possibilidade de trocar informações com qualquer pessoa no mundo através de
uma rede confiável e sem intermediários trouxe aplicações para a blockchain que
mudarão o mundo e as instituições como as conhecemos. A principal característica da
tecnologia de blockchain é a eliminação de um terceiro interveniente da relação entre
as partes, tornando qualquer operação mais fácil, ágil e segura. Além de todas essas
características, a tecnologia blockchain tem baixo custo e é altamente escalável, ou
seja, pode atender uma demanda inimaginável. Por um outro lado a atividade
registral no Brasil remonta à séculos passados e hoje é exercida através dos
cartorários, funcionários públicos concursados que conferem fé pública à atos e
documentos. Os cartórios ainda tem seus registros em livros e esta é a normativa da
lei. A presente pesquisa visa estudar a presença da tecnologia blockchain nos
cartórios do Brasil e sua aplicabilidade no sistema atual. A metodologia aplicada ao
presente caso será a hipotético-dedutiva, partindo da análise de artigos e livros sobre
o tema e aspectos gerais da tecnologia e construindo um pensamento que irá de
encontro com a temática legal da questão dos cartórios no Brasil. O objetivo desta
pesquisa é concluir se a tecnologia blockchain poderá ser utilizada como ferramenta
dos cartórios ou se substituirá os mesmos nos serviços prestados hoje. Analogamente
ao processo de cunhagem de moedas, os cartórios podem se tornar obsoletos com o
surgimento de uma nova tecnologia que confere segurança as relações ou se
tornarem o meio pelo qual as pessoas terão acesso à tecnologia blockchain. Contudo a

15Bacharel em Direito pela PontifíciaUniversidadeCatólica do Paraná (PUCPR),


v.pacifico@hotmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0301085052630005.
37

introdução disto não deve ser repentina e não sabemos se será bem quista, tendo em
vista que é mais barata, segura e rápida.

Palavras Chave: blockchain; cartórios; tecnologia; futuro; registros públicos.

REFERÊNCIAS

DRESCHER, Daniel. Blockchian Básico: uma Introdução Não Técnica em 25 Passos, São
Paulo: Novatec, 2018. ISBN: 978-85-7522-672-8.

LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos: Teoria e Prática. 8. Ed. Salvador:


Juspodivm, 2017. ISBN: 978-85-442-2745-9

MOUGAYAR, William. Blockchain para Negócios: Promessa, Prática e Aplicação da


Nova Tecnologia da Internet. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017. ISBN: 978-85-5080-
067-7

TAPSCOTT, Don; TAPSCOTT, Alex. Blockchain Revolution: Como a tecnologia por trás
do bitcoin está mudando o dinheiro, o mundo e os negócios. New York: Senai-SP.
2017. ISBN: 978-85-8393-789-0.
38

A COMPATIBILIDADE ENTRE BLOCKCHAIN E A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – LGPD

Juliana Horn Machado Philippi16

RESUMO

Com o crescente movimento de utilização, tratamento e compartilhamento de dados,


sobretudo em meio digital, ganhou corpo a preocupação com a proteção de tais
dados. Tal receio incide também sobre os dados armazenados em blockchain,
sobretudo em virtude de suas características de transparência e imutabilidade, razão
pela qual o objeto do estudo é averiguar a compatibilidade, no Brasil, entre a Lei n.
13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD) e o armazenamento de dados
em blockchain. A pesquisa foi realizada pelo método dedutivo, mediante a técnica
bibliográfica, com abordagem qualitativa, e teve por objetivo verificar a
compatibilidade entre o armazenamento e registro de dados em blockchain e a LGPD.
Apesar de ser a tecnologia por trás do Bitcoin, a blockchain não se resume aos
criptoativos. Blockchain é uma tecnologia de armazenamento de dados em rede
distribuída, e tem como principais características a transparência e a imutabilidade
dos dados registrados. E, justamente por conta dessas características, é que se
questiona a respeito da proteção dos dados, especialmente tendo em vista legislações
como a LGPD no Brasil. Apesar de não haver previsão expressa na Constituição
Federal (CRFB/88), o direito à proteção dos dados tem sido reconhecido como direito
fundamental, relacionado ao direito à privacidade. A LGPD é um instrumento para a
tutela da privacidade, a transparência e intimidade dos titulares dos dados, que
podem requerer sua anonimização, bloqueio ou exclusão, acesso aos dados, correção,
dentro outros direitos previstos na LGPD. Tendo em vista as diferentes possibilidades
de configuração, chega-se à conclusão de que a blockchain pode ser compatível com a
LGPD, visto que a proteção dos dados pessoais pode se dar mediante anonimização,
bem como uso de off-chains (registro das informações em uma rede separada e
convencional, isto é, não blockchain), side chains (redes paralelas à principal, com
restrições ao acesso), redes permissionadas (em as quais há a possibilidade de maior

16 Advogada. Mestranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade


Católica do Paraná – PUCPR. Membro do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas e Desenvolvimento
Humano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (NUPED). E-mail: julianahmachado@gmail.com.
39

controle da privacidade), bem como pelo uso de criptografia assimétrica (com pares
de chaves, públicas e privadas).

Palavras-Chave: Blockchain; LGPD; Constituição Federal; privacidade; proteção de dados.

REFERÊNCIAS

BAIÃO, Renata Barros Souto maior. Lei Geral de Proteção de Dados, direito ao
pagamento, correção de dados e blockchain: análise da pertinência tecnológica.
Cadernos Jurídicos. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, ano 21, n. 53, janeiro-
março/2020. p. 151-162.

FILIPPI, Primavera de; WRIGHT, Aaron. Blockchain and the Law: The Rule of Code.
Cambridge: Harvard University Press, 2018.

REVOREDO, Tatiana. Blockchain: Tudo o que você precisa saber. 1. ed. São Paulo: The
Global Strategy, 2019.

TAPSCOTT, Don; TAPSCOTT, Alex. Blockchain Revolution: como a tecnologia por trás
do Bitcoin está mudando o dinheiro, os negócios e o mundo. São Paulo: Senai, 2016.

TEPEDINO, Gustavo; FRAZÃO, Ana; OLIVA, Milena Donato (Org.). Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais e suas repercussões no Direito Brasileiro. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. p. 53-83.
40

BLOCKCHAIN E REGISTROS PÚBLICOS

Juliana Horn Machado Philippi17

RESUMO

Em razão das características da blockchain – isto é, a segurança, autenticidade e


integridade das informações registradas –, nasce o questionamento acerca de sua
aplicabilidade aos cartórios, e até mesmo sobre a continuidade destes. A pesquisa é
realizada pelo método dedutivo, mediante a técnica bibliográfica, com abordagem
qualitativa, e tem por objetivo geral verificar a viabilidade do uso de rede blockchain
pelas serventias extrajudiciais nos registros públicos. Em 2008, alguém sob o
pseudônimo de Satoshi Nakamoto (cuja identidade continua desconhecida, não se
sabendo sequer se é uma pessoa ou grupo) publicou o whitepaper da blockchain, uma
rede peer to peer (ponta a ponta), com regras e cálculos distribuídos em diversos
computadores, para assegurar a integridade das informações sem a necessidade de
intermédio por terceiro confiável, sendo a tecnologia por trás do criptoativo Bitcoin.
A blockchain funciona como um livro-razão virtual, em que as informações são
registradas em blocos, com selo de registro de tempo (timestamp). Como o próprio
nome diz, blockchain é uma cadeia de blocos ligados entre si por hashes (códigos com
o conjunto da criptografia das informações), sendo que em cada bloco há a menção do
hash do bloco anterior, o que confere segurança, transparência e a imutabilidade das
informações e dados, visto que tem como base o consenso dos pontos da rede. Com
relação às serventias extrajudiciais, não se pode descurar que a legislação
constitucional e infraconstitucional no Brasil exige a figura dos notários e
registradores para a realização de certos atos, em razão da fé pública. Destarte, tem-
se que, no atual estado da arte, é impossível a supressão dos notários e registradores,
razão pela qual não é possível afirmar que a blockchain vá acabar com as serventias
extrajudiciais, a menos que haja reforma na legislação. No entanto, tem-se notícia de
diversas situações em que a blockchain tem sido utilizada em atos de registro civil e
imobiliário, bem como para produção de provas referentes a fatos ocorridos na

17 Advogada. Mestranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade


Católica do Paraná – PUCPR. Membro do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas e Desenvolvimento
Humano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (NUPED). E-mail: julianahmachado@gmail.com.
41

internet, o que em outros tempos seria feito por ata notarial. Nesse passo, é notável a
colaboração que a blockchain pode oferecer para as atividades das serventias
extrajudiciais, com mais eficiência (visto que certamente haverá mais agilidade e
redução dos custos), além da segurança das informações e registros, o que
certamente impedirá muitas fraudes e reduzirá as exigências de documentos e
certidões.

Palavras-Chave: Blockchain; registros públicos; cartórios; eficiência.

REFERÊNCIAS

BAIÃO, Renata Barros Souto Maior. Blockchain, registros públicos e a possibilidade de


reinvenção dos serviços cartorários extrajudiciais. Disponível em:
https://www.lexmachinae.com/2018/12/05/blockchain-registros-publicos-
reinvencao-cartorios-extrajudiciais/. Acesso em 23 set. 2019.

CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e dos Registradores Comentada. 9. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2014.

PEIRÓ, Nicolás Nogueroles; GARCÍA, Eduardo J. Martinez. Blockchain e os sistemas de


registros de imóveis. Revista de Direito Imobiliário. v. 42. n. 86. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2019. p. 321-349.

REVOREDO, Tatiana. Blockchain: Tudo o que você precisa saber. 1. ed. São Paulo: The
Global Strategy, 2019.

TAPSCOTT, Don; TAPSCOTT, Alex. Blockchain Revolution: como a tecnologia por trás
do Bitcoin está mudando o dinheiro, os negócios e o mundo. São Paulo: Senai, 2016.
42

GOVERNO ELETRÔNICO, INVISIBILIDADE DIGITAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS

Fábio de Sousa Santos18

RESUMO

O objetivo é analisar o impacto da digitalização das atividades da Administração


Pública, rotulada de Governo Eletrônico, na aptidão das figuras estatais pra
adimplemento dos direitos fundamentais sociais, especialmente em sua função
prestacional. A análise é feita com base no conceito de invisibilidade digital, definida
como a incapacidade de ter acesso ao governo digital, causada por sua
vulnerabilidade social (baixa escolaridade) e econômica (renda insuficiente para
arcar com os custos de acesso) especialmente a partir de dados empíricos sobre o
percentual da população brasileira com acesso a rede mundial de computadores. A
invisibilidade digital oferece especial risco a função prestacional dos direitos sociais,
quando as ferramentas tecnológicas são utilizadas como ferramentas mediadoras
únicas para o acesso a tais direitos, surgindo daí a necessidade do Estado oferecer
alternativas analógicas (não digitais) de acesso à Administração Pública ou garantir a
provisão de meios hábeis para o acesso digital. Aqui apresenta-se importante a
distinção entre a dimensão subjetiva (impacto na esfera individual de direitos) e
objetiva (criação de um sistema de valores que deve orientar as ações da sociedade).
Tendo em conta a dimensão objetiva dos direitos fundamentais, a alternativa da
provisão de meios para a acesso digital, como parte da função procedimental dos
direitos fundamentais, parece mais atrativa, especialmente diante da ampliação da
dependência social do uso de tais ferramentas. Sem apresentar uma aversão à
modernização tecnológica, a concretização da função prestacional da dimensão
subjetiva de direitos fundamentais sociais não pode prescindir do adequado
oferecimento da acessibilidade dos destinatários das ações do Estado, sob pena de
constituir-se em verdadeira restrição ao adimplemento da obrigação estatal. A
implantação de ferramenta tecnológica que não leva em conta a realidade social

18Doutorando e Mestre em Direito Econômico e Socioambiental pela PUCPR. Procurador do Estado de


Rondônia.
43

impõem aos destinatários das ações estatais degrau intransponível na busca pela
concretização das promessas constitucionais.

Palavras-chave: Administração Pública; vulnerabilidade social; direitos fundamentais.

REFERÊNCIAS

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2014.

BARBOSA, Alexandre Fernandes et al. O governo eletrônico no Brasil: perspectiva


histórica a partir de um modelo estruturado de análise. Revista de Administração
Pública, Rio de Janeiro, v. 43, p.23-48, 2009. Bimestral. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rap/v43n1/a03v43n1.pdf. Acesso em: 06 nov. 2019.

BITENCOURT, Caroline Müller. Controle jurisdicional de políticas públicas. Porto


Alegre: Núria Fabris Editora, 2013.

FREITAS, Juarez. Direito Administrativo e inteligência artificial. Interesse Público – IP,


Belo Horizonte, ano 21, n. 114, p. 15-29, mar./abr. 2019.

HACHEM, Daniel. A maximização dos direitos fundamentais econômicos e sociais pela


via administrativa e a promoção do desenvolvimento. Revista de Direitos
Fundamentais e Democracia, v. 13, n. 13, jan.-jun., 2013.
44

AS ATIVIDADES ONLINE DAS EMPRESAS TRANSNACIONAIS E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS


DAS CRIANÇAS

Marcella Oldenburg Almeida Britto 19


Danielle Anne Pamplona20
RESUMO

No segundo pós-guerra a atividade econômica cresceu em relevância, especialmente


pelas novas possibilidades de seu exercício em novos territórios. Com a
descolonização, os territórios agora independentes foram povoados por empresas
com sede nos países então colonizadores. A sujeição jurídica de suas atividades nestes
novos territórios, no entanto, era ao ordenamento que neles germinava. Com isso, a
legislação que obrigava a matriz era diferente da legislação que obrigava a filial,
permitindo algumas distorções na extensão de proteção dos direitos humanos dos
colonizadores e dos colonizados. Nesta toada, o aumento da atividade empresarial e o
consequente poderio das grandes corporações elevou significativamente os casos de
violações aos direitos humanos, especialmente de grupos humanos vulnerabilizados,
a exemplo das crianças e das mulheres. O desenvolvimento tecnológico acrescentou
outra dificuldade à proteção de direitos eis que o controle no ambiente online
dificilmente equivale àquele off-line. Neste contexto, o presente artigo avalia a
violação dos direitos de um grupo vulnerável específico diante de um prestador de
serviços online. A pesquisa se volta à atividade de crianças no YouTube. Partindo dos
direitos internacionalmente reconhecidos, tenta-se identificar a equivalência da
proteção doméstica concedida às crianças, especialmente em suas atividades nesta
plataforma, e sua conformidade com o estabelecido internacionalmente por tratados
e manifestações das relatorias especiais da ONU e dos sistemas europeu e
interamericano. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa,

19 Marcella Oldenburg Almeida Britto. Mestranda em Direito Socioambiental e Sustentabilidade na


Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Especialista em Direito Processual Civil pelo
Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar. Email: marcella_oldenburg@yahoo.com.br
20 Danielle Anne Pamplona. Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Pós-Doutora na American University, Washington-DC


(2015-2016). Visiting Scholar no Max Planck Institute for Comparative Public Law and International
Law; Coordenadora da Clínica de Direitos Humanos da PUC-PR. Vice-presidente na Global Business and
Human Rights Scholars Association – América Latina. Email:
dapamplona@pamplonabrazbrusamolin.com.br
45

pautada no método hipotético-dedutivo, e a análise e levantamento de dados


bibliográficos e documentais enquanto técnica de investigação. A pesquisa conclui
que o Brasil não possui dispositivo legal que trate especificamente sobre o assunto,
cabendo apenas a aplicação do Código Civil, do Estatuto da Criança e do Adolescente e
dos dispositivos internacionais concernentes à proteção jurídica das crianças.

Palavras-chave: Direitos humanos; tecnologia; internet; direito das crianças.

REFERÊNCIAS

OLSEN, Ana Carolina Lopes. PAMPLONA, Danielle Anne. Violações a Direitos Humanos
por Empresas Transnacionais na América Latina – Perspectivas de Responsabilização.
Revista Direitos Humanos e Democracia, Editora Inujuí, Ano 7, n° 13, Jan./Jun. 2019.
Disponível em:
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/direitoshumanosedemocracia. Acesso
em: 31 maio 2020.

RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 6ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.

ROLAND, Manoela Carneiro. ARAGÃO, Daniel Maurício de. ANGELUCCI. Desafios e


perspectivas para a construção de um instrumento jurídico vinculante em direitos
humanos e empresas. Revista Direito FGV. São Paulo, v. 14, n. 02, maio-agosto de
2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rdgv/v14n2/1808-2432-rdgv-14-
02-0393.pdf. Acesso em: 31 maio 2020.

RUGGIE, John. UN Guiding Principles on Business and Human Rights. Nova York, p. 1-
10, Junho/2011. Disponível em https://www.shiftproject.org/un-guiding-principles/.
Acesso em: 31 maio 2020.

UNITED NATIONS. Convention on the Rights of the Child. Nova York, p.1-15,
Setembro/1990.Disponívelem:https://www.ohchr.org/en/professionalinterest/page
s/crc.aspx. Acesso em: 31 maio 2020.
46

O PAPEL DAS REDES SOCIAIS SOB A PERSPECTIVA DA E-DEMOCRACY E FAKE DEMOCRACY

Leonardo de Andrade Alberto21


Murilo Borges22
RESUMO

A democracia se constrói a partir de grandes teorias que descrevem os seus limites e


possibilidades, permitindo a delineação do alcance e as potencialidades de seus
pressupostos quando contrastados às experiências democráticas concretas. Pode-se
perceber que os avanços da participação política mostram que algumas concepções
da democracia privilegiam o respeito pela inclusão social e, con untamente, re letem
questões pertinentes relativas ao exercício democrático propriamente dito, assim
considerado o direito à participação não apenas quanto às deliberações politicas, mas
também relativamente à possibilidade de fruição de uma vida digna através do direito
à igual proteção (não violação) e igual fruição (promoção) das prestações estatais.
Atualmente, com o desenvolvimento da internet essa participação mostra-se
prevalente, uma vez que, em primeiro momento, pareceu ser um avanço rumo a uma
democracia direta digital (e-democracy ; Entretanto, o que parece ter ocasionado é
que, com o advento das redes sociais a democracia representativa vem sendo
corroída, em razão da difusão de noticias falsas, cujas consequências geralmente são
tão relevantes a ponto de mobilizar milhares de pessoas em prol de uma utópica
realidade. Fenômeno este denominado como fake democracy. Neste sentido, a
presente pesquisa de natureza qualitativa tem por objetivo principal analisar o papel
das redes sociais na construção da atual e futura democracia frente formas que
deturpam tal conceito – fake democracy – tendo como lapso temporal o movimento
denominado “Primavera Árabe” que consistiu em protestos ocorridos a partir do final

21 Discente do curso de Direito na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG/Frutal). Bolsista de


iniciação cientí ica Edital 0 /20 PAPq/UEMG. Pesquisador do grupo de pesquisa “Sociedade da
Informação e Fake Democrac : os riscos à liberdade de expressão e à democracia constitucional”,
vinculado ao núcleo de Mestrado da FMP/RS. ID Lattes: 8443356914835663. E-mail:
leonardoaalberto@hotmail.com.
22 Discente do curso de Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público FMP/ S e de

elações Internacionais no Centro Universitário Internacional (UNINTER/PR). Bolsista do grupo de


pesquisa Sociedade da Informação e Fake Democrac : os riscos à liberdade de expressão e à
democracia constitucional”, vinculado ao núcleo de Mestrado da FMP/RS. ID Lattes:
1858164428261194. E-mail: muriloborgesdh@outlook.com.
47

de 2010 no Oriente Médio e Norte da África, até aos atuais movimentos


antidemocráticos ocorridos no primeiro semestre de 2020 no Brasil, desconjunturas
que se iniciam no mundo virtual e se personificam de forma súbita. Para fomentação e
interpretação dos dados é utilizado o método dedutivo, partindo-se do pressuposto
de que as redes sociais foram criadas com intuitos democráticos, porém foram
usurpadas para a criação de um “sistema representativo” ilegítimo. A pesquisa
encontra-se em andamento, porém é possível levantar como resultados parciais que
governantes e grupos autoritários têm cada vez mais utilizado das redes sociais para
propagação do ódio e de fake news contra instituições democráticas e representativas
e grupos minoritários atraindo para si apoiadores que fazem das redes sociais uma
incubadora da fake democracy.

Palavras-chave: autoritarismo; democracia; fake news; globalização; informação.

REFERÊNCIAS

ASSANGE, Julian. Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet. São Paulo: Boitempo


Editorial, 2015.

BAUMAN, Zygmunt. igil ncia líquida: diálogos com David L on. Trad. Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

CAN ILH , José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 7. ed. Coimbra: Livraria
Almedina, 2003.

LEVITSY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Trad. Renato


Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

L , Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010.


48

O HOMEM, A TECNOLOGIA E A EXPLORAÇÃO PORNOGRÁFICA NÃO CONSENTIDA DE


CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Marcelo Refosco23
Bárbara Chiodini Axt Hoppe24
RESUMO

Quando se estuda a história da sociedade humana percebe-se uma predileção do


homem por viver em coletividade e percebe-se, também, a retratação da nudez como
um fenômeno natural nas diferentes épocas. A tecnologia trouxe a possibilidade de
pessoas se reencontrem, porém, transformou a sociedade em rede, designada por
Castells, num grande balcão de possíveis vítimas para os chamados predadores online
escolherem suas presas. O que antes era feito por meio da oralidade e contato físico,
hoje, por meio da tecnologia, da internet e das redes sociais, a forma como o ser
humano se comunica sofreu transformações aproximando pessoas distantes
geograficamente. Se nos tempos das cavernas, o homem reproduzia a nudez pelas
pinturas rupestres, conforme a sociedade evoluiu novas maneiras surgiram e há
registro de nudez ao longo da história em peças arqueológicas, esculturas, pinturas,
livros como o Kama Sutra, evoluindo, hoje, para fotografias e vídeos digitais. Devido a
ingenuidade natural da idade, crianças e adolescentes são mais vulneráveis aos riscos
que circundam a sociedade em rede. Um desses riscos da atual sociedade é a
exploração pornográfica não consentida que em tempos de pandemia e isolamento
social devido ao COVID-19, tratou de deixar as pessoas isoladas em casa e,
consequentemente, mais tempo na internet. Como resultado desse confinamento, a
ação dos predadores online se intensificou e o número de crimes virtuais aumentou
em diversos países no mundo, como Itália, Espanha e Brasil. Esta pesquisa visa a
reflexão sobre o perigo das redes sociais que permitem que indivíduos de qualquer
parte do mundo se comuniquem com crianças e adolescentes, e a refletir sobre meios
de evitar essa aproximação e a troca de material de cunho sexual. Recentemente, foi

23 Autor. Bacharel em Sistemas de Informação pela UFN, acadêmico do 9º semestre do curso de Direito
da Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA e pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas em
Direito e Internet (CEPEDI) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
mrefosco@terra.com.br.
24 Coautora. Advogada e integrante do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI)

da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: barbara.axt@hotmail.com.


49

sancionada a Lei 13.718/2018 que tipifica algumas condutas libidinosas como crimes,
que até então não tinham tipificação ou se enquadravam como contravenção penal.
Muitas crianças e adolescentes, na ânsia por novas experiências e pela baixa
autoestima, acabam manipuladas pela conversa dos predadores online e enviam
fotografias íntimas cofiando sua intimidade a um estranho. Para atingir os fins
estipulados, utiliza-se o método de abordagem dedutivo, como método de
procedimento, monográfico e técnica de pesquisa bibliográfica. O presente resumo
está inserido no grupo novos desafios nas relações interpessoais. Conclui-se que
apesar da existência de aplicativos destinados a bloqueios de material pornográfico e
monitoramento da navegação na internet, os mesmos não impedem a troca de fotos e
mensagens dentro das redes sociais. Sendo assim, mesmo que a Lei 13.718, de 2018,
tenha tipificado o crime de divulgar cena de sexo, nudez ou pornografia, acaba sendo
um efeito paliativo e que a melhor forma de evitar a exploração pornográfica não
consentida, até então, continua sendo a prevenção vitimaria e conscientização do
usuário sobre os efeitos do seu comportamento e dos perigos escondidos na internet.
Porém, não será a hora das empresas proprietárias dos aplicativos de redes sociais
olharem mais a fundo essa questão e contribuírem com a sociedade permitindo filtros
que impeçam tal troca de material?

Palavras-chave: Criança e Adolescente; exploração pornográfica; predadores online; redes


sociais; sociedade;

REFERÊNCIAS

ATTANASIO, Angelo. Coronavírus: o dramático aumento da atividade dos pedófilos


virtuais com o isolamento. BBC News Mundo. 28 abri. 2020. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-52450312. Acesso em: 14 jun. 2020.

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a


sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

CHARON, Joel M.; VIGILANT Lee Garth. Sociologia. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
50

MATESCO, Viviane. Corpo, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

SYDOW, Spencer Toth; DE CASTRO, Ana Lara Camargo. Exposição pornográfica não
consentida na internet: da pornografia de vingança ao lucro. Belo Horizonte: Editora
D’Placido: 20 7.
51

A AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO DE DADOS DIANTE DA (IN)SEGURANÇA NO


CIBERESPAÇO: UM DESAFIO

25
Larissa Rocha de Paula Pessoa
26
Mariana Caroline Pereira Félix
RESUMO

Os avanços das tecnologias de comunicação e informação contribuíram com as


mudanças nas relações sociais pessoais, nas empresas e no Estado, desenvolvendo
uma sociedade em rede ou sociedade da informação, imersa no ciberespaço. A
questão da insegurança no compartilhamento de dados pessoais por meio da Internet
vem tomando proporções cada vez maiores. Simples interações online já dispõem da
mais variada gama de informações sobre quem está acessando, expondo o
consumidor, ou o contribuinte, ou usuários de mídias sociais, criando um grande
banco de dados pessoais. Nesse cenário, informação também é poder, uma vez que já
surgiram vários casos de exposição de documentos, fotos, compra de dados privados,
falsificação de cartões de crédito, em grandes esquemas de fraudes. Para isso, em
busca de uma alternativa para extenuar o problema da insegurança no ciberespaço,
deve-se destacar a importância da Autoridade Nacional de Proteção de Dados –
ANPD, criada no Brasil pela Lei nº 13.853/19. A ANPD é responsável por implementar
e fiscalizar o cumprimento da LGPD no território nacional, buscando sua efetiva
aplicação na proteção de dados. É uma medida que busca conferir maior segurança à
sociedade em rede. Por meio de sua competência normativa, fiscalizadora,
deliberativa e sancionatória, a ANPD fomentará um embasamento mais seguro para a
coleta de dados. Ocorre que a Autoridade deveria ser implementada conforme no
art.65, I, mas não foi. Quando a LGPD entrar plenamente em vigor, é essencial que o
órgão responsável por sua aplicação e fiscalização já esteja operante. Além disso, faz-
se necessário que ANPD possua, de fato, a autonomia técnica e decisória assegurada
no art. 55-B da referida lei. Sendo um órgão da Administração Pública Federal,
integrante da Presidência da República, sua autonomia e independência são

25 Mestranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Pós-graduanda em Processo Civil
pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. E-mail: larissarch@globo.com.
26 Mestranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Especialista em Direito e Processo

Tributário pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. E-mail: marianapfelix@gmail.com.


52

indispensáveis na garantia do livre exercício e desempenho de suas funções. A


pesquisa se caracteriza, quanto à metodologia, como um estudo descritivo-analítico,
com abordagem qualitativa, visando corroborar com o estabelecimento de uma
melhor e mais segura política de proteção de dados através das funções conferidas à
ANPD. Objetiva-se chamar atenção para a importância de se regulamentar e efetivar
uma política de proteção de dados em harmonia com o ordenamento jurídico
brasileiro. Quanto aos objetivos específicos, analisar-se-á os desafios da
implementação da ANPD, bem como sua função em auxiliar no cumprimento da
normatização estabelecida. No tratamento do problema, observa-se pela
implementação prática do exposto na lei, visando conferir maior segurança à
população, no sentido de impor limites ao manuseio de dados, bem como
compartilhamento e armazenamento, e ampliar a fiscalização e a proteção dos dados
através da ANPD. Por fim, conclui-se que o problema central do ciberespaço, da
insegurança advinda da vida digital, será um desafio para ser totalmente solucionado,
uma vez que a dificuldade de controle da distribuição de dados e do anonimato se
destacam diante da busca por regulamentação. Entretanto, a criação prática da ANPD
será um passo rumo à uma maior segurança nas relações digitais, aumentando a
fiscalização do tratamento com dados e aplicando a LGPD.

Palavras-chave: Ciberespaço; proteção de dados; autoridade nacional de proteção de dados;


privacidade.

BRASIL. Lei n° 13.853/2019. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/l13853.htm. Acesso
em: 01. jun. 2020.

BRASIL. Lei n° 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados). Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso
em: 01. jun. 2020.
53

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política. In: CASTELLS,


Manuel; CARDOSO, Gustavo (Orgs.). A Sociedade em Rede: do conhecimento à ação
política; Conferência. Belém: Imprensa Nacional, 2005.

DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais: elementos da formação


da Lei geral de proteção de dados. 2. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.

LÉVY, Pierre. O que é virtual? 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011.
54

A INFLUÊNCIA EXERCIDA PELO CIBERFEMINISMO NA VOTAÇÃO SOBRE A LEGALIZAÇÃO DO


ABORTO OCORRIDA NA ARGENTINA, E OS REFLEXOS EM UMA FUTURA VOTAÇÃO NO
BRASIL

Giovanna Cabrera Bettega27

RESUMO

O advento das novas tecnologias de comunicação e o crescente uso das redes sociais
no cotidiano da sociedade provocou inúmeras transformações no exercício do direito
de livre expressão do pensamento, ampliando o alcance das ideias e modificando as
formas de organização dos movimentos sociais, tornando-os mais acessíveis. Entre
eles destaca-se o feminismo, que ao utilizar-se das redes sociais como plataforma
ampliou o seu alcance e modificou as estratégias de manifestações, sejam elas das
formas mais tradicionais (marchas, concentrações) ou restritas às redes virtuais,
surgindo movimentos que ultrapassam fronteiras nacionais. Entre esses movimentos
estão as manifestações sobre a legalização do aborto ocorridas na Argentina em 2018,
que mobilizaram através das redes sociais – principalmente facebook e twitter –
milhares de pessoas a irem as ruas e pressionarem o governo para que submetessem
à votação uma proposta de lei favorável a legalização do aborto, que embora
aprovada pela Câmara dos Deputados foi recusada pelo Senado Argentino. Devido a
intensa cobertura midiática e online, essa mobilização Argentina teve grande
repercussão mundial, obtendo adesão principalmente nos países da América Latina,
que estão iniciando as discussões sobre a legalização do aborto, entre eles o Brasil.
Imagens de manifestantes utilizando lenços verdes espalharam-se pelas redes sociais
brasileiras gerando diversos debates contra e a favor da legalização do aborto, e
mesmo com negativa do Senado Argentino as discussões seguiram acirradas,
pressionando os órgãos públicos a debater sobre o assunto. O ciberfeminismo
redimensionou os movimentos sociais, tornando-os mais acessíveis e aumentando o
número de simpatizantes, considerando a influência e alcance da mobilização nas
redes sociais o presente trabalho busca averiguar a relevância do movimento

27Graduanda do curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria, bolsista do programa PIBIC-
CNPq, integrante do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI) e parte da equipe
de revisão editorial da Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM. Emil: gibettega@hotmail.com
55

argentino no cenário mundial e a influência do movimento feminista nas redes sociais


sob a ótica da legalização do aborto. O trabalho viabiliza-se por meio do estudo de
pesquisas e relatórios sobre o tema, além da análise com base na legislação brasileira,
o método de abordagem utilizado para a realização da pesquisa é o dedutivo, partindo
da construção de um referencial teórico sobre o movimento feminista e seu
crescimento com o uso das redes sociais, para uma posterior análise especifica dos
movimentos argentinos e sua influência na votação do projeto de lei sobre o aborto, e
do estudo dos movimentos brasileiros focados nesse tema. Como método de
procedimento utiliza-se o monográfico ao fazer o mapeamento e seleção dos
movimentos feministas que atuam nas redes sociais. Nesse sentido, as técnicas de
pesquisa envolvem não só a bibliográfica, para o embasamento teórico do projeto,
como também a observação direta intensiva e sistemática, para a análise de casos
específicos do movimento feminista na Internet e suas atividades. Pretende-se que,
com a conclusão do projeto de pesquisa, seja possível sistematizar e identificar a
influência exercida pelo movimento feminista nas redes sociais, ciberfeminismo, nas
discussões em prol da legalização do aborto, delimitando a sua repercussão,
principalmente no Brasil, e analisando a forma como os movimentos brasileiros
reagiram.

Palavras-chave: Ciberfeminismo; legalização do aborto; redes sociais.

REFERÊNCIAS

FAUSTO, Sergio; SORJ, Bernardo. Ativismo político em tempos de internet. São Paulo:
Edições Plataforma Democrática, 2016.

GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira


de Educação. Rio de Janeiro, v. 16, n. 47, pp. 333-361, ago. 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.pdf. Acesso em: 31 maio 2020.

LEMOS, Marina Gazire. Ciberfeminismo: novos discursos do feminismo em redes


eletrônicas. (Dissertação). 2009. 129 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e
56

Semiótica) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. PUC/SP. Disponível em:


https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/5260. Acesso em: 31 maio 2020.
57

AS IMPLICAÇÕES DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO ÂMBITO DO DIREITO CONCORRENCIAL

Alexander Haering Gonçalves Teixeira28

RESUMO

Esse resumo se refere a apresentação dos fundamentos jurídicos hábeis para


responsabilizar civilmente os anunciantes que selecionam, como palavras-chave, termos
correspondentes às marcas de seus concorrentes a fim de tomar para si parte da
clientela cultivada por outrem. A expansão do comércio virtual vem acompanhada do
surgimento de ferramentas de marketing e publicidade on-line cuja legalidade é
duvidosa. Uma dessas ferramentas é conhecida como "links patrocinados", ferramentas
essas oferecidas pelos principais motores de busca do mercado (Google, Bing, Yahoo,
etc). Os motores de busca permitem que anunciantes, mediante pagamento, selecionem
palavras-chave idênticas às marcas de seus concorrentes. As palavras-chave são
associadas aos links patrocinados dos anunciantes. Toda vez que essas palavras-chave
forem digitadas nos buscadores, surgirá na lista de resultados, no topo da lista e em
posição destacada, link patrocinado remetendo à página na Internet do anunciante. Em
síntese, um consumidor busca pela página de uma empresa e tem como resposta um link
que o remete para página de outra empresa. Tal prática permite que anunciantes
embarquem no prestígio e força atrativa de marcas de terceiros, sem terem de
desembolsar pelo uso da propriedade intelectual alheia. A Lei da Propriedade Industrial
brasileira (Lei 9.279/1996), em seu artigo 129, dispõe que a propriedade de uma marca
comercial é adquirida, no Brasil, por meio do registro validamente expedido, sendo
assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo o território nacional. A jurisprudência
atual do Superior Tribunal de Justiça reconhece que a finalidade da proteção ao uso das
marcas é dupla: por um lado protegê-la contra usurpação, proveito econômico
parasitário e o desvio desleal de clientela alheia e, por outro, evitar que o consumidor

28 Mestrando em direito pelo Centro Universitário Internacional – UNINTER, sob orientação do Prof.
Dr. Rui Carlo Dissenha. Graduado em Direito pelo Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA (2012).
Especialista em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná - EMAP (2013). Especialista
em Direito e Processo Penal pelo Centro Universitário UniOpet (2016). Especialista em Direito Militar
pela Universidade Candido Mendes -UCAM (2018). Advogado. Assessor de apoio para assuntos
jurídicos da 5ª Região Militar. Membro da Comissão de Gestão Pública e Controle da Administração da
Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Paraná (biênio 2019/2021). E-mail:
alexander.haering.teixeira@gmail.com
58

seja confundido quanto à procedência do produto (art. 4, VI, do CDC). A tutela da marca
se dá com o fito de impedir concorrência desleal, promovida mediante desvio de
clientela ou qualquer outra forma de concorrência parasitária, em que uma parte se
apropria indebitamente dos investimentos realizados por outrem. A metodologia
empregada é a crítico-reflexiva, que se opera através de revisão bibliográfica e da
análise urisprudencial do caso “Coca-cola” e a perda do direito sobre uso exclusivo do
termo “zero”, ulgado pelo Superior ribunal de Justiça. Até o presente momento, as
investigações científicas tem demonstrado que os anunciantes que pagam e selecionam
palavras-chave nos buscadores para que haja confusão de marcas com seus
concorrentes violam a Lei 9.279/96 e o Código de Defesa do Consumidor, sendo passives
responsabilização na esfera cível.

Palavras-chave: Ciberespaço; segurança; marcas; violação; responsabilidade.

REFERÊNCIAS

BARROS, Mário da Fonseca Fernandes de. Das sociedades cooperativas perante o


direito comercial brasileiro. Bahia: Imprensa Vitória, 1943.

CERQUEIRA, João da G. Tratado da propriedade industrial. 3. ed. Rio de Janeiro:


Lumen Juris, 2010.

FORGIONI, Paula A. A evolução do direito comercial brasileiro: da mercancia ao


mercado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

LEITÃO, Adelaide M. Estudo de direito privado sobre a cláusula geral de concorrência


desleal. Coimbra: Livraria Almedina, 2000.

SALOMÃO FILHO, Calixto. Condutas tendentes à dominação dos mercados: análise


jurídica. São Paulo: Faculdade de Direito da USP, 2001.
59

DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, GIG ECONOMY E A NECESSIDADE DE EVOLUÇÃO DO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Bruno Carvalho Neves29

RESUMO

O objetivo geral do presente trabalho é contribuir com as discussões acerca do


desenvolvimento tecnológico e seus impactos nas relações sociais, analisando o
surgimento do arranjo econômico denominado gig economy. Dentre os objetivos
específicos pretendemos fazer reflexões acerca da evolução tecnológica, identificando
quais relações jurídicas podem ser impactadas pelos novos modelos surgidos na era
digital, bem como analisar o conceito de gig economy, verificando os reflexos desse
novo arranjo em sociedade e identificando o papel do direito na regulação de
eventuais descompassos em relação ao ordenamento e aos princípios do direito. Com
o intuito de alcançar os objetivos propostos, adotaremos uma metodologia
exploratória e descritiva, utilizando procedimento de pesquisa bibliográfica e
almejando resultado qualitativo. Partimos da premissa de que o direito tem um
importante papel em relação ao desenvolvimento e à evolução tecnológica. Mas nos
surgiu a seguinte problemática central descrita em forma de pergunta: há
necessidade de evolução do ordenamento jurídico brasileiro frente ao
desenvolvimento tecnológico e o surgimento da gig economy? Novos modelos de
relações jurídicas têm surgido e, junto com eles, surgem novos conceitos, novos
comportamentos e consequências jurídicas decorrentes de tais relações ainda
desconhecidas, demonstrando a importância do estudo do fenômeno. Alguns dos
tradicionais e velhos modelos normativos têm se mostrado obsoletos ou
ultrapassados diante do surgimento de novos cenários, de modelos emergentes e de
novas relações jurídicas. Quando nos referimos à evolução tecnológica, estamos
tratando das invenções que causam impacto no cotidiano da sociedade, as quais têm
intensa e larga utilidade e aplicação nos afazeres dos indivíduos no cotidiano, a
exemplo dos dispositivos móveis (smartphones e tablets) e dos respectivos

29Advogado, pós-graduado em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho, pós-graduado em Direito


Tributário com formação para o magistério superior, professor universitário, mestrando em Direito,
Justiça e Desenvolvimento pelo IDP-SP. brunocneves@gmail.com
60

aplicativos e sistemas para os citados dispositivos. Com o surgimento de plataformas


digitais surge também o fenômeno da gig economy, considerado um arranjo
alternativo de emprego, sendo uma forma de trabalhar baseada em pessoas que têm
empregos temporários ou realizam trabalhos autônomos em separado (freelancer),
pagos separadamente, em vez de trabalhar para um empregador fixo. Os
trabalhadores ganham a vida na gig economy, fazendo trabalhos estranhos sempre
que podem. Os impactos na seara laboral são consideráveis, vez que surgem novos
tipos de relações, nas quais o trabalhador fica submetido à condições de trabalho
diferentes das que já conhecemos tradicionalmente, estando o prestador de serviços
na qualidade de profissional autônomo, ficando à margem de direitos sociais
importantes consagrados na Constituição Federal. Fala-se em crise na subordinação
jurídica no âmbito das relações trabalhistas. Mas as transformações não se resumem
apenas à esfera das relações laborais, avançando às esferas do direito contratual,
direito do consumidor, direito civil, dentre outras áreas. Em razão de tais
características e considerando a necessidade de o direito evoluir na medida em que as
relações sociais evoluem, podemos considerar que a evolução tecnológica, com o
advento de novos arranjos, deve ser acompanhada pelo sistema jurídico, com a
criação de novas ferramentas normativas para regular e limitar a prática de
atividades que sejam prejudiciais ao ordenamento pátrio, em respeito aos preceitos
contidos na Constituição da República.

Palavras-chave: desenvolvimento tecnológico; gig economy; evolução do direito;

REFERÊNCIAS

CAMBRIDGE UNIVERSITY. Definition of gig economy from the Cambridge Advanced


Learner's Dictionary & Thesaurus. Cambridge University Press. Disponível em
https://dictionary.cambridge.org/us/dictionary/english/gig-economy. Acesso em 15
Out. 2019.

DARYL D. GREEN, Jack McCann, Thao Vu1, Nancy Lopez, Samuel Ouattara. Gig
Economy and the Future of Work: A Fiverr.com Case Study. Management and
Economics Research Journal 281Vol. 4, Iss./Yr. 2018, 281–288. Disponível em:
61

https://doi.org/10.18639/MERJ.2018.04.734348https://www.researchgate.net/pub
lication/330207602_Gig_Economy_and_the_Future_of_Work_A_Fiverrcom_Case_Stud
y. Acesso em 15 Out. 2019.

FELICIANO, Gulherme Guimarães. PAQUALETO, Olívia de Quintana Figueiredo.


(Re)Descobrindo o Direito do Trabalho: Gig Economy, Uberização do trabalho e outras
reflexões. Associação Nacional dos Magistrados Trabalhistas (ANAMATRA), 2019.
Disponível em:
https://www.anamatra.org.br/images/DOCUMENTOS/2019/O_TRABALHO_NA_GIG_
ECONOMY_-_Jota_2019.pdf. Acesso em 14 Out. 2019.

GASPAR, Danilo Gonçalves. A crise da subordinação jurídica clássica enquanto


elemento definidor da relação de emprego e a proposta da subordinação potencial.
Dissertação no programa de mestrado em Direito Privado e Econômico da
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2011. Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/12378/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%
20de%20Mestrado%20%20A%20Crise%20da%20Subordina%C3%A7%C3%A3o%2
0Jur%C3%ADdic%20Enquanto%20Elemento%20Definidor%20da%20Rela%C3%A7
%C3%A3o_0.pdf. Acesso em: 25 maio 2020.

RODRIGUEZ, José Rodrigo (Org.). O novo Direito e Desenvolvimento: Presente,


passado e futuro: Textos selecionados de David M. Trubek. – Max Weber sobre direito
e ascensão do capitalismo. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
62

A UTILIZAÇÃO DOS SOCIAL BOTS E O DÉFICIT DEMOCRÁTICO

Almira Maria Lima Machado30


Geovana Teixeira Machado31
RESUMO

Em 2016, o mundo viu Donald Trump ser eleito ao que mais tarde Cambridge Analitica
revelou ser uma intensa utilização de bots. Em 2017, os bots foram utilizados para
influenciar a votação no Brexit Leave no Reino Unido, enquanto que em 2018, essas
mesmas técnicas foram utilizadas na eleição que elegeu Bolsonaro. Diante desse
contexto o presente artigo relata como os sociais bots são utilizados com manipulação
política e como podem impactar no funcionamento da democracia, influenciando o
pensamento e o voto do cidadão. O objetivo deste estudo, portanto, é analisar a
influência dos social bots no jogo democrático, e como isso pode ter impactado nas
eleições para a Presidência da República no Brasil em 2018. A pesquisa foi realizada a
partir de revisão bibliográfica interdisciplinar, análise de dados atuais que demonstram
a queda do índice de democracia global e estudo de casos. A partir dessas análises, foi
possível compreender democracia como conjunto de regras e procedimentos de
constituição do Estado, processo de tomada de decisão política e legitimação do poder
político. Por sua vez, déficit democrático é a insuficiência democrática, consubstanciada
na crise da democracia. Um dos quatro fatores dessa crise é a perda de referências.
Nesse sentido os sociais bots contribuem para a perda dessas referências, vez que
falseiam a verdade, disseminando fake news. Outro aspecto constatado pela pesquisa é
que a utilização dos bots contribui para a radicalização dos discursos políticos conforme
dados de Universidade de Cambridge. Portanto, conclui-se que os social bots, são usados
na manipulação política que influencia substancialmente na livre formação de opinião
do cidadão, contribuindo para o déficit democrático, causando a falta de credibilidade
nas instituições políticas, bem como maior descrença na mídia, sendo imperativo rever
os instrumentos de proteção da liberdade de opinião política pela legislação eleitoral.

30 Professora Graduada em Letras pela Universidade Federal do Acre - UFAC. Graduanda em Direito na
Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Membra do Grupo de Estudos em Análise Econômica do
Direito
PUCPR. Membra do Grupo de Estudos em Mediação e Negociação da PUCPR. E-mail:
miralimamachado@gmail.com.
31 Graduanda em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-mail:
geovanatmachado@gmail.com.
63

Palavras-chave: Democracia; déficit; social bots; eleições.

REFERÊNCIAS

ANDREA, Gianfranco. Redes sociais estão ameaçando a democracia. Justificando,


14/08/2019. Disponível em: https://www.justificando.com/2019/08/14/as-redes-
sociais-estao-ameacando-a-democracia/. Acesso em: 20 maio. 2020.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política.


13 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2010, p. 326.

CASTRO, Leonardo Aires de. A crise da democracia anunciada: Brasil entre o déficit
democrático, a democracia do público e a crise democrática. Revista Teoria & Pesquisa,
v. 27, n. 2, 2018, p. 1-25.

GURUMURTHY, Anita; BHARTHUR, Deepti. Democracia e a virada algorítmica: questões,


desafios e o caminho a seguir. Sur - Revista Internacional de Direitos Humanos, São
Paulo, v. 15, n. 27, p. 41-52, jul. 2018.

KELSEN, Hans. A democracia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 09.
64

O USO DA TÉCNOLOGIA ENQUANTO TUTELA AO DIREITO DE ACESSO À EDUCAÇÃO


SUPERIOR PRIVADA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19: PARCIAL EFETIVIDADE NA
DESIGUAL SOCIEDADE BRASILEIRA

Saulo Capelari Junior32

RESUMO

As relações sociais e jurídicas estão sendo moldadas a partir das limitações impostas
pela pandemia do Novo Coronavirus (COVID-19). Diante desse panorama atual,
diversos meios são utilizados para garantir a continuidade da vida. Setores foram
impactados pela crise, sendo obrigados a transformar seus modos operandi para
garantir a permanência no mercado. Tanto as grandes indústrias, pequenas empresas,
ramos alimentícios, transporte de pessoas como também o setor educacional, estão
passando por esta transformação e a tecnologia tem colaborado para que as pessoas e
instituições não fiquem estagnados. No que diz respeito à educação, os estudantes das
Instituições privadas, também foram impactados pelo atual cenário. No entanto, de
acordo com o Diretor Executivo da SEMESP, foi possível evitar o atraso na prestação
do ensino programático e a perda de qualidade do mesmo, ao utilizarem os aparatos
tecnológicos a disposição no mercado. Até o final de abril 78% das instituições
particulares migraram as atividades presenciais para as salas virtuais de acordo com
pesquisa realizada pela ABMES. O escopo do presente trabalho é observar como a
utilização da tecnologia tem colaborado para o acesso à educação superior particular,
buscando efetividade ao art. 205 da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Com isso, é possível vislumbrar que o Brasil é um país emergente, que, suporta
fortíssimas, evidentes e inquestionáveis desigualdades sociais, segundo o IBGE. Além
disso, como aponta outra pesquisa elaborada pelo mesmo Instituto, cerca de 25,3%
da população brasileira não possui acesso à internet. Em relação aos estudantes, tanto
no ensino básico como no superior, essa porcentagem aumenta substancialmente,
pairando em 73,1%, em relação à falta de acessibilidade à internet. Infere-se que, é
possível vislumbrar dois pontos importantíssimos, primeiramente, muitas IES

32 Graduando em Direito pelo Centro Universitário Toledo – Araçatuba/SP. Líder certificado pela
Universidade de Harvard Curso presencial . Pesquisador pelo grupo de pesquisa “Jurisprudência de
Direito Fundamentais” do mesmo centro universitário. E-mail: saulinho.capelari@hotmail.com
65

conseguiram adequar suas estruturas (física, tecnológica e profissional) para seguir


com suas atividades, alcançando viabilidade para manter o conteúdo programático
em dia. Num segundo momento, e principalmente, boa parte dos alunos não possuem
acesso de qualidade aos meios tecnológicos capazes de proporcioná-los o efetivo
acesso à educação conforme aponta levantamento feito pelo Diário do Nordeste. Bem
sabemos serem tempos excepcionais, mas, isso apenas avultou uma tutela ineficiente
ao direito à educação tanto no período pandêmico como antes do mesmo se instaurar.
Em outros países, pode-se afirmar que a referida desigualdade se deu por
diversidades naturais, no entanto, no Brasil, como bem expõe Ghiraldelli, as
desigualdades sociais ganham força frente a má distribuição social de rendas e
riquezas, dificultando o acesso à educação superior particular. Para a presente
pesquisa fora utilizado o método dedutivo, além do amparo bibliográfico doutrinário
e análise histórica.

Palavras-chave: Direito à educação; Constituição Federal de 1988; pandemia COVID-19;


tecnologia; desigualdade.

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os conceitos


fundamentais e a construção do novo modelo. 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2015.

BAÍSLIO, Dione Ribeiro. Direito à educação: Um direito essencial ao exercício da


cidadania. Sua proteção à luz da teoria dos Direito Fundamentais e da Constituição
Federal de 1988. 2009. 140 f. Dissertação. Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo, 2009.

GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Filosofia e história da educação brasileira: da colônia ao


governo Lula. 2º edição. Barueri, SP: Manole, 2009.

SEMESP. Instituições de ensino adotam aulas remotas síncronas durante a quarentena.


SEMESP site oficial. 12.06.2020. Notícias COVID-19. Disponível em:
66

https://www.semesp.org.br/noticias/instituicoes-de-ensino-adotam-aulas-remotas-
sincronas-durante-a-quarentena/. Acesso em: 20 maio. 2020.

Associação brasileira de mantedores de ensino superior – ABMES. Até o fim de abril


78% das faculdades particulares migraram aulas para ambientes virtuais.
ABMES.ORG. 12.06.2020. Disponível em:
https://abmes.org.br/noticias/detalhe/3770/ate-o-fim-de-abril-78-das-faculdades-
particulares-migraram-aulas-para-ambientes-virtuais. Acesso em: 19 maio. 2020.
67

DIREITO CRIMINAL, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O LABELLING APPROACH: PERSPECTIVAS


ACERCA DA UTILIZAÇÃO DE IA’S NOS DIAS ATUAIS

Thômas Henrique de Souza Carvalho33


Camila Vaninni dos Santos34
RESUMO

O presente resumo tem como objetivo trazer à luz do Direito o debate acerca da
utilização da inteligência artificial e como ela reforça o labelling approach nos casos
de racismo em âmbito nacional. A metodologia utilizada consiste na pesquisa
bibliográfica, elaborada a partir de material já publicado, como livro, artigo e
periódico. De antemão, deixa-se claro a intenção de construir um debate construtivo
acerca do tema, não com fins de negar a utilização da tecnologia, mas sim, com as
problemáticas aqui levantadas, buscar apontar as correções necessárias para sua
efetivação, seja na segurança pública como meio de identificação mais econômico ou
no recrutamento e seleção de pessoas para determinadas vagas de emprego. Porém,
sem se abster dos erros já cometidos pela Inteligência Artificial (IA). Ao abordarmos
o tema é necessária a adoção de uma definição técnica como bem estabelecido por
Coppin e Faceli, este segundo se referindo também ao processo de aprendizado de
máquina (machine learning). Fato é que, para a Criminologia, o labelling approach foi
uma verdadeira revolução. Em seu surgimento embrionário, Lemert já nos
apresentava que a inserção de rótulos em indivíduos tem algum peso para que o
mesmo pratique determinada conduta reiteradamente. Se atendo aos casos ocorridos
no Reino Unido, Brasil e em relação à empresa Google, notamos uma coincidência que
reside no fato da IA ter agido de forma racista. Quem programa os robôs e os
algoritmos são seres humanos, que inconsciente ou não, acabam reproduzindo seus
preconceitos, transmitindo muitas das vezes o racismo estrutural, que em seu
conceito primário, trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas
quase que diárias citando o negro como elemento fora do contexto social. Estas
citações estão embutidas em nossos costumes estruturais e promovem, direta ou

33 Acadêmico do 7º Período do Curso de Direito da FESP-PR, auxiliar jurídico no escritório Chalfin,


Goldberg, Vainboim Advogados Associados e membro do Laboratório de Criminologia no Instituto
Brasileiro de Ciências Criminais.
34 Acadêmica do 8º Período do Curso de Direito da FESP – PR.
68

indiretamente, a segregação ou o preconceito racial, como bem cita o autor Jaime


Folle. Vale destacar como já mencionado por Teider e Pivatto que a saída para tal
problema passa longe da responsabilização penal seja da IA ou de seu respectivo
programador de forma imediata, mas oferecer critérios para que os fatos sejam
apurados de maneira correta. Contudo, uma solução a ser considerada não estaria
tão distante de nós, afinal, conselhos de medicina ao redor do mundo discutem e
definem o limite de determinadas práticas e as devidas razões de se proibir a venda
de órgãos. Neste sentido, como menciona Smith, por que não formar um conselho de
programadores, engenheiros de hardware e afins, que pensassem formas de
combater as eventuais problemáticas decorrentes do uso das tecnologias neste
resumo mencionadas? Assim, as punições seriam pensadas de maneira razoável, sem
que sejam meramente punitivistas ou demasiadamente branda, tendo em vista que
partiriam de um pensamento técnico e com fins de proporcionar um ambiente
saudável de utilização e possíveis detecções de falhas. Deve-se ressaltar que um
esboço com algumas diretrizes já foi elaborado pela comissão europeia (High-Level
Expert Group on Artificial Intelligence set up by the European Commission), sendo
este formado por ilustres especialistas da área.

Palavras-chave: Direito Penal; Inteligência Artificial; labelling approach.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Phillippe Oliveira. Racismo e Direito Penal: análise de uma relação


fabricada. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 22, n. 5074, 23 maio 2017. Disponível
em: https://jus.com.br/artigos/57770. Acesso em: 15 maio 2020.

COPPIN, Ben. Inteligência Artificial. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

ETHICS GUIDELINES FOR TRUSTWORTHY AI. Building trust in human-centric AI.


Disponível em: https://ec.europa.eu/futurium/en/ai-alliance-consultation. Acesso
em: 25 mai. 2020.
69

FACELI, Katti. Inteligência Artificial: Uma Abordagem de Aprendizado de Máquina. 1. ed.


Rio de Janeiro: LTC, 2011.

JAIME FOLLE. Preconceito e racismo: problema é estrutural e não conjuntural.


OESTEMAIS. Disponível em: https://www.oestemais.com.br/opiniao/preconceito-e-
racismo-problema-e-estrutural-e-nao-conjuntural/. Acesso em: 24 mai. 2020.
70

INOVAÇÃO E CORRUPÇÃO: COMO A TECNOLOGIA CORROBORA NO COMBATE A


CORRUPÇÃO E CONSEQUENTE FOMENTO AOS DIREITOS HUMANOS

Gabriel Pereira de Carvalho35

RESUMO

A contemporaneidade traz consigo, como um dos maiores desafios, o combate a


corrupção. De antemão, conforme aborda Cecily Rose, corrupção afeta a obrigação do
Estado de consolidar, gerir e promover os direitos humanos, e nos casos específicos
diretamente impactados pela corrupção, os direitos econômicos e sociais, como o
direito a um nível de vida adequado, à saúde e educação. Esses fatos levam a uma
reflexão acerca dos danos causados aos direitos humanos nas mais diversas esferas
sociais, isso porque o desvio das funções estatais de seu principio fundante acarreta
em desvios de verba que garantiriam a manutenção e direitos de subsistência social
mínima. Com isso, pode-se denotar que o combate a corrupção incide diretamente na
garantia e promoção dos Direitos Humanos, visto que esses não teriam suas
estruturas financeiras de realização deturpadas, bem como suas politicas de
promoção e eficácia poderiam ser expandidas, como políticas públicas de erradicação
da fome e extensão da qualidade educacional básica. Ademais, cumpra-se ressaltar
também a dificuldade de denúncias de crimes estatais, visto que há uma grande
problemática de vinculação e alarde de tais crimes. Sendo assim, é necessário um
meio eficaz de registrar queixas relacionadas a crimes de corrupção de uma maneira
anônima, segura e que garanta a expansão de um sistema de vigilância sob tais
delitos, e justamente em tal aspecto incide a necessidade do uso de tecnologias. Esse
estudo depreende-se por meio de uma consulta de diversas fontes que representam
pesquisas já realizadas na área de Corrupção, Direito e Tecnologia, Direitos Humanos
e Criminologia. Assim, a presente pesquisa tem o escopo de, a partir do método
dialético, analisar índices métricos de corrupção, como o Corruption Perceptions
Index, comparando em relação aos índices de investimento em áreas bases da
sociedade como saúde, educação e segurança, paralelo ao índice de criminalidade

35Aluno especial do Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás.


Graduado em Direito pela Universidade Federal de Goiás. Ex-Pesquisador do Observatório Goiano de
Direitos Humanos.
71

dessas regiões, sendo esse o método recorrentemente utilizado no estudo da


Zemiologia, que tem em seu escopo a analise do dano causado por crimes de
corrupção. A partir de tais fatores, e levando em conta a disponibilidade do uso da
tecnologia para promoção dos Direito Humanos, uma das maiores inovações que
podem ajudar na expansão das denúncias, e consequentemente uma maior
fiscalização dos recursos e ações estatais, se trata de uma maneira de realizar
denúncias via internet, de forma anônima, relatando os fatos observados, e
relacionado os entes envolvidos, sendo o último o fator de maior dificuldade. No ano
de 2020, o Estado brasileiro iniciara um portal online de denúncias relativas à
corrupção que apresenta as premissas elencadas, sendo um protótipo de promoção
aos Direitos Humanos.

Palavras-Chave: Zemiologia; Corrupção; Inovação; Direitos-Humanos.

REFERÊNCIAS

CONSEJO INTERNACIONAL DE POLÍTICAS DE DERECHOS HUMANOS. La Corrupción y


los Derechos Humanos: Estableciendo el vínculo. Genebra: ICHRP, 2009. Disponível
em: http:// www.ichrp.org/files/reports/52/131_report_es.pdf. Acesso em: 31 maio.
2020.

FRIEDRICHS, David O., SCHWARTZ, Martin D. Editor´s introduction: on social harm


and a twenty-first century criminology. Crime, Law and Social Change, Netherlands, v.
48, p. 1-7, out. 2007.

ROSE, Cecily. The Limitations of a Human Rights approach to Corruption.


International & Comparative Law Quarterly, Cambridge, v. 65, p. 405-438, apr. 2016.

S I AS A A, S. C., E , . S., e DE A AJ, S. ou can’t bribe a computer: dealing with


the societal challenge of corruption through ICT. Mis Quarterly. Minessota, Vol. 40, pg.
511-526, 2016.
72

TRANSPARENCY INTERNATIONAL. Corruption perception index. Disponível em:


http://www.transparency.org. Acesso em: 30 mai. 2020.
73

INOVAÇÃO NO CAMPO DO DIREITO À INFORMAÇÃO QUALIFICADA: O CASO DA FACT-


CHECKING NO BRASIL DA PÓS-VERDADE

Wellen Pereira Augusto36

RESUMO

Com a chegada da “sociedade da informação” novas formas de relações sociais


surgiram, as quais foram capazes de modificar o processo de midiatização dos novos
meios de comunicação. Nesse aspecto, a nova era gera uma “produção distribuída” de
acesso e compartilhamento da informação, de modo que os indivíduos interajam no
processo. No campo do Direito, o tema alcança tanto a interação sociocultural
enquanto desdobramento do direito à liberdade de manifestação do
pensamento/expressão, como o acesso a ela pelos meios de comunicação, os quais
também a exercem. Sem dúvidas, é um dos direitos humanos e fundamentais mais
importantes, inclusive previsto expressamente no artigo 13 da Convenção Americana
de Direitos Humanos e art. 5º, IX da Constituição Federal. Por isso, compreende-se
que a análise da qualidade das informações veiculadas é importante elemento do
direito à informação. No Brasil atual, um grande óbice à fruição do direito à
informação são as fakes news: mecanismos de desinformação na era da “pós-
verdade”. Adota-se essa terminologia para classificar o momento onde a
desinformação é a regra da comunicação, conceituada como “desconstrução da
verdade” e apego às crenças pessoais em detrimento da verdade dos fatos. trabalho,
dessa forma, aborda a ferramenta da fact-checking, uma inovação originada no
jornalismo investigativo, como qualificadora da informação veiculada pelos canais de
comunicação. As agências brasileiras inovam, no sentido criativo e difusor de novas
ideias, quando adotam um mecanismo de checagem dos fatos buscando contribuir
para a verificação de informações já noticiadas. O processo passa por etapas de a)
identificação da informação – observação, seleção e levantamento; b) checagem; c)
representação, isto é, a conclusão dos processos anteriores, que culmina na
classificação da informação em “verdadeiro”, “falso”, “contraditório”, exagerado”,

36Pós-graduanda em Direito Constitucional pela Academia Brasileira de Direito Constitucional –


ABDConst. Bacharela em Direito pelo Centro Universitário UNISEP. E-mail: wellen._@hotmail.com.
74

“discutível” etc. Assim, investiga-se como a técnica de fact-checking contribui para


uma informação qualificada, isto é, legítima e verdadeira e, como consequência, se
amplifica o direito à informação. Para isso, foi utilizado o método lógico dedutivo e de
pesquisa em fontes bibliográficas. Os resultados indicam que o processo de checagem
das agências contribui para a comunicação de informações verdadeiras e ao combate
à desinformação. Dessa forma, conclui-se que o mecanismo permite o exercício pleno
do direito à informação constitucionalmente previsto ao confrontar notícias falsas,
usadas para manipular a opinião pública.

Palavras-chave: Fact checking; Direito à informação; Direitos Humanos; Pós-verdade.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Vol.1 –A


Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

DUNKER, Christian. Subjetividade em tempos de pós-verdade. In: DUNKER, Christian;


TEZZA, Cristovão; FUKS, Julián; TIBURI, Marcia; SAFATLE, Vladimir. Ética e Pós-
Verdade. Porto Alegre: Dublinense, 2017.

PEIXOTO, João Guilherme de Melo; SOUZA, Alice Cristiny Ferreira de. A caça à
verdade: critérios, metodologias e selos do Fact-Checking brasileiro. Revista Cultura
Midiática, ano XI, n. 21-jul-dez/2018, p. 83-103. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/cm/article/view/43545/21584. Acesso
em: 30 de maio de 2020.

SARLET, Ingo Wolfgang; MOLINARO, Carlos Alberto. Direito à informação e direito de


acesso à informação como direitos fundamentais na Constituição brasileira. Revista
da AGU, Brasília-DF, ano XIII, n. 42, p. 09-38, out./dez. Disponível em:
http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/11403/2/Direito_a_768_Infor
mac_807_a_771_o_e_Direito_de_Acesso_a_768_Informac_807_a_771_o_como_Direitos_
Fundamentais_na.pdf. Acesso em: 30 de maio de 2020.
75

SILVA, Mayara Karla Dantas da; ALBUQUERQUE, Maria Elizabeth Baltar Carneiro de.
Representação da informação noticiosa pelas agências de fact-checking: do acesso à
informação ao excesso de desinformação. Revista Brasileira de Biblioteconomia e
Documentação, v. 15, n. 2, maio/ago. 2019. Disponível em:
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1225. Acesso em: 30 de maio de 2020.
76

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITOS AUTORAIS: PANORAMA MUNDIAL DOS DESAFIOS E


PROBLEMÁTICAS DE SUA APLICAÇÃO

Salus Henrique Silveira Ferro37

RESUMO

A rápida evolução tecnológica proporcionada pela inteligência artificial, desencadeou


paradigmas jurídicos que não correspondem com a realidade vigente, nas mais
distintas áreas jurídicas. Nesse contexto, os direitos autorais merecem uma atenção
especial, no qual recentemente uma decisão inédita do Tribunal de Shenzhen na
China, definiu a qualificação da máquina, dotada de inteligência artificial, dentro do
cenário da proteção de direitos autorais, sendo o fruto de sua produção automatizada
tutelado ao direito de copyright. A decisão, torna-se um paradigma mundial e nos faz
pensar nos desafios jurídicos da tutela dessas produções à base de inteligência
artificial. Ocorre que o desenvolvimento da inteligência artificial tornou possível a
criação desses produtos que sequer tem alguma intervenção humana, sendo fruto
essencialmente da atividade automatiza com a intervenção de softwares. Através de
uma pesquisa exploratória da análise bibliográfica e dos distintos ordenamentos
jurídicos acerca do tema, tendo como objetivo específico evidenciar as principais
problemáticas e desafios na proteção dos direitos autorais dessas produções no
cenário jurídico mundial. Em uma análise preliminar, de modo hipotético, percebe-se
que a discussão jurídica vai além da norma já positivada, tendo um caráter
extremamente interpretativo e importante no que tange aos conceitos elencados,
sobretudo no intuito de caracterizar a autoria da obra realizada, distinguindo-se em
normas de produto humano, computer genereted works e de inteligência artificial.
Conclui-se que apesar de algumas normas possuírem um caráter mais interpretativo
à tutela das obras de inteligência artificial, será inevitável uma reforma para
assegurar esse direito, e por ter um caráter essencialmente econômico, proporcionará
cada vez mais discussões nos países que ainda não se adequaram ou se pronunciaram
sobre o assunto.

37 Advogado. Mestrando em Direito e Ciência Jurídica pela Faculdade de Direito da Universidade de


Lisboa (FDUL), é membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito & Internet (CEPEDI). Correio
eletrônico: salusferro@ymail.com.
77

Palavras-chave: Direitos Autorais; Inteligência Artificial; paradigma.

REFERÊNCIAS

COMISSÃO EUROPÉIA. Inteligência artificial: Comissão lança trabalho sobre relação


entre tecnologia de ponta e normas éticas. Comunicado de imprensa. União Européia.
Bruxelas, 09 mar. 2018, p. 1-2.

FEDERAL REGISTER NOTICES. United States Patent and trademark office. Intellectual
Property Protection for Artificial Intelligence Innovation, Wednesday, 30 Oct. 2019.
Vol.84, nº210. p. 58141–58142.

GUADAMUZ, Andres. Do Androids Dream of Electric Copyright? Comparative analysis


of originality inartificial intelligence generated works. Intellectual Property, Brighton,
2017. Quaterly, Social Science Research Network (SSRN), p. 1-20. June 5, 2017.

GUADAMUZ, Andres. Artificial intelligence and copyright. Wipo Magazine, Genebra, 5º


edition, p. 14-20, October. Disponível em:
https://www.wipo.int/export/sites/www/wipo_magazine/en/pdf/2017/wipo_pub_
121_2017_05.pdf. Acesso em: 10 maio 2020.

YAN, Li. Court Rules AI-written article has copyright. China Daily Global, Pinyin, 08
Jan. 2020. Acervo Digital. Society, p. A6.
78

RESPONSABILIDADE DO VEÍCULO AUTÔNOMO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO


ESTADUNIDENSE E EUROPEU

Salus Henrique Silveira Ferro38

RESUMO

O impacto da inteligência artificial na responsabilidade civil é estimulante, sobretudo,


nos seus diferentes graus de desenvolvimento, ocasionando uma plena revolução
jurídica. Para tanto, algumas tecnologias já estão inseridas em nossa realidade,
evidenciando problemáticas jurídicas de difícil caracterização, como o que ocorre
com os veículos autônomos. Em um contexto global, percebe-se que mesmo já
propiciando efeitos jurídicos e discussões acerca da sua responsabilização, os
argumentos figuram-se diversos em várias partes do globo. A pesquisa destina-se em
especial para a responsabilização dos veículos autônomos no âmbito jurídico
estadunidense e europeu, por entender que tais discussões estão mais desenvolvidas
e possuem pontos relevantes e divergentes sobre o assunto. Através de uma
metodologia comparativa da análise bibliográfica e nos distintos ordenamentos
jurídicos e disposições acerca do tema nos Estados Unidos e na União Europeia, tem
por objetivo específico identificar os principais desafios e decisões jurídicas sobre o
assunto, de modo a traçar as considerações sobre a responsabilidade no âmbito civil,
através desse panorama geral. Em uma análise preliminar, percebe-se que os
entendimentos no âmbito da responsabilização civil são distintos, possuindo uma
maior discussão e desenvolvimento na perspectiva americana, embora o sistema
europeu também possua diretrizes elaboradas pelo Parlamento Europeu, mas que
projetam interpretações ambíguas. Ainda, evidencia-se um caráter
fundamentalmente comercial na interpretação americana, pela proteção dos
produtos das suas próprias empresas, podendo acarretar na ausência ou em
dificuldade de responsabilização das mesmas, ao possibilitar o veículo autônomo
como dotado de personalidade jurídica, o e-personality. Já no âmbito europeu, tais
diretrizes visam uma maior preocupação das consequências futuras, como o caso da

38 Advogado. Mestrando em Direito e Ciência Jurídica pela Faculdade de Direito da Universidade de


Lisboa (FDUL), é membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito & Internet (CEPEDI). Correio
eletrônico: salusferro@ymail.com.
79

implementação de um seguro obrigatório da própria robótica, destinando a


responsabilização do produtor, na medida em que com o grau avançado e autônomo
da inteligência artificial, pode-se ocorrer o risco de utilização indevida e de abuso de
uma forma jurídica desse gênero, ao qual facilitará a isenção de culpa. Assim, percebe-
se que a União Europeia ao contrário da visão estadunidense, visa direcionar a
responsabilização civil antes mesmo dessa tecnologia ser implementada por
completo dentro de seu território, para não incorrer na mesma obscuridade que cada
vez mais a jurisprudência estadunidense enfrenta.

Palavras-chave: Inteligência artificial; veículo autônomo; União Europeia; Estados Unidos.

REFERÊNCIAS

BUITEN, Miriam. Towards Intelligent Regulation of Artificial Intelligence. Cambridge


University Pres, Cambridge, Vol 10, nº 1. P. 41-59. 29. Apr. 2019

COMISSÃO EUROPÉIA. Carro autônomos na União Européia: da ficção científica à


realidade. União Européia. Bruxelas, 14 jan. 2019, p.4.

COMISSÃO EUROPÉIA. White Paper: on Artificial Intelligence – A European Approach


to excellent and trust. European Commission. Brussel, 19 feb. 2020, 1-26.

MADIEGA, Tambiama. EU guidelines on ethics in artificial intelligence: Context and


implementation. European Parliament. Sept. 2019. p. 1-13.

WALLACE, Nicholas. Europe plans to strictly regulate high-risk AI technology.


American Association for the Advancement of Science. Washington, 19. Feb. 2020,
Science, p. 14-16.
80

ADVOCACIA 4.0: O USO DE SOFTWARES QUE PRODUZAM CONTEÚDO JURÍDICO NOS


ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA

Felipe Kenzo Torres Alves39

RESUMO

A presente pesquisa foi realizada no âmbito do mestrado acadêmico do Instituto


Brasiliense de Direito Público (IDP) e apresentou a seguinte questão: em que medida
a utilização de softwares que produzam conteúdos jurídicos entra em conflito com a
Constituição Federal de 1988 e a legislação em vigor que regulam a atividade da
advocacia? A hipótese proposta trabalhada é a de que a utilização de softwares que
produzam conteúdo jurídico pelos escritórios de advocacia não entra em conflito com
a Carta Magna e a legislação em vigor que regulam a atividade da advocacia. Contudo,
é proibida a utilização de software que tenha como objetivo acobertar mecanismos
para mercantilização da advocacia ou que objetiva captar clientes. A metodologia
utilizada foi a hipotético-dedutiva com a utilização da técnica de pesquisa
bibliográfica e documental realizando uma pesquisa exploratória. No recorte
metodológico da pesquisa utilizaremos a legislação de regência da advocacia, as
decisões dos Tribunais de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil das diversas
Seccionais sobre a possibilidade do uso de softwares jurídicos na atividade do
advogado e na análise dos softwares, descrever-se-á aqueles que realizam atividades
típicas do advogado. Realizar-se-á na pesquisa: i) o relato das atividades dos
advogados previstas na Constituição de 1988 e na legislação de regência da
advocacia; ii) relato dos softwares que produzam conteúdo jurídico típicos da
atividade privativa do advogado; iii) relacionar-se-á as atividades do advogado com o
que é feito pelos softwares; iv) verificar-se-á os possíveis conflitos existentes na
utilização de softwares que produzam conteúdo jurídico com a Constituição e a lei de
regência da advocacia e v) analisar-se-á, as possíveis soluções para os eventuais
conflitos.

Palavras-chave: Direito; advocacia; tecnologia.

39 Mestre em Constituição e Sociedade pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP)


81

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Rui. O dever do advogado. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa,
2002.

BRASIL. Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Estatuto da Advocacia. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8906.htm. Acesso em: 16 nov. 2018.

BUCHANAN, B. G.; HEAD ICK, . E. “Some Speculation about Artificial Intelligence and
Legal easoning”. Stanford Law Review, v. 23, 1970.

ELIAS, Paulo Sá. Algoritmos, inteligência artificial e o direito. Disponível em:


https://www.conjur.com.br/dl/algoritmos-inteligencia-artificial.pdf. Acesso em: 15
dez. 2018.

LÔBO, Paulo. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo: Saraiva: 7.


ed. 2014.
82

HERANÇA DIGITAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: BENS DIGITAIS, DIREITO À


PRIVACIDADE E DIREITO SUCESSÓRIO


Anna Luísa Braz Rodrigues

RESUMO

O InMemorial é um cemitério virtual que conecta o mundo real com o virtual por
meio de cadastros criados gratuitamente por familiares. Os túmulos virtuais contêm
informações sobre a trajetória da pessoa falecida, sendo possível que amigos e
parentes deixem mensagens, deixem flores ou acendam velas virtuais. Contudo, essa é
apenas uma demonstração de como a morte ganha novos contornos diante de um
mundo tecnológico em que as relações sociais são vivenciadas por meio virtual. Para
além, o caso da americana Louise Palmer destacou a problemática quanto aos dados
pessoais que sobrevivem após a morte do usuário. A mãe de Becky Palmer, que
morreu aos 19 anos em decorrência de tumor cerebral, manteve acesso ao perfil no
Facebook da filha com possibilidade de visualizar suas mensagens privadas.
Entretanto, ao se tornar um perfil memorial, o acesso foi suspenso e a empresa negou
a possibilidade de voltar a viabilizá-lo. Em sua defesa, a mãe alegou que encarava o
conteúdo como uma herança legitimada pelo seu vínculo familiar. Em virtude da
ausência de disposição de última vontade e da política de privacidade do site, não foi
possível que Louise voltasse a acessar o perfil de Becky. O tema-problema do
presente trabalho se apresenta nitidamente: o que fazer com todo conteúdo disposto
na rede e na nuvem após a morte do usuário? Mais que isso, há legítimo direito de
continuação de uso dos perfis por parte de herdeiros? Há um direito à privacidade
post mortem a ser respeitado quantos dados virtuais da pessoa falecida? A pesquisa
realizada teve natureza dogmática e caráter bibliográfico, incluindo revisão de
literatura e documentos normativos. Apesar de algumas propostas legislativas, a
legislação brasileira não conta com especificações quanto ao tema. Em sede judiciária,


Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Lavras. Integrante do grupo de pesquisa
Laboratório de Bioética e Direito, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq. Estagiária
do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Lavras).
Integrante do projeto Virada de Copérnico, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Direito Civil-
Constitucional, vinculado ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
E-mail: anna.rodrigues@estudante.ufla.br
83

dois precedentes relevantes podem ser destacados: o primeiro foi julgado e deferido
pelo TJMS em relação ao pedido de uma mãe para que o perfil da filha falecida fosse
excluído, vez que se sentiu ferida pelas constantes homenagens publicadas; o segundo
foi julgado e indeferido pelo TJMG em relação ao pedido de outra mãe para que
obtivesse acesso aos dados de telefone da filha falecida protegidos por senhas e
mecanismos da fabricante. Cabe esclarecer que bens digitais são tudo aquilo que a
pessoa cria e disponibiliza em ambiente digital, de modo que é possível apontar esse
conjunto como patrimônio e bem de valor. Importante arrazoar que alguns desses
bens incluem um valor econômico destacado a ser explorado, afinal as redes sociais
podem ser um meio de trabalho e apresentar um viés financeiro relevante. Assim,
surge uma primeira via de solução quanto ao embate entre direito à privacidade e
direito sucessório: é preciso classificar os bens digitais quanto ao caráter econômico e
público. Ademais, os direitos da personalidade não podem ser transmitidos em via
sucessória, logo caberia quanto aos dados que tocam em tal tema um interesse
juridicamente relevante a ser tutelado após a morte do usuário. Por fim, indica-se a
manifestação prévia de vontade, sendo possível até mesmo utilizar mecanismos já
disponibilizados pelas plataformas.

Palavras-chave: Herança digital; Bens digitais; Direito à privacidade; Direito sucessório.

REFERÊNCIAS

FILHO, Marco Aurélio de Farias Costa. Herança digital: valor patrimonial e sucessão
de bens armazenados virtualmente. Revista Jurídica da Seção Judiciaria de
Pernambuco, [S.l.], [s.v.], n. 9, p. 187-215, 2016. Disponível em:
https://revista.jfpe.jus.br/index.php/RJSJPE/article/view/152/143. Acesso em: 31
maio. 2020.

LEAL, Livia Teixeira. Internet e morte do usuário: a necessária superação do


paradigma da herança digital. Revista Brasileira de Direito Civil – RBDCivil, Belo
Horizonte, v. 16, [s.n.], p. 181-197, 2018. Disponível em: https://itsrio.org/wp-
content/uploads/2019/05/LEAL-Livia-Teixeira.-Internet-e-morte-do-
usu%C3%A1rio-RBDCivil.pdf. Acesso em: 31/05/2020.
84

MENDES, Laura Schertel Ferreira; FRITZ, Karina Nunes. Case Report: corte alemã
reconhece a transmissibilidade da herança digital. RDU, Porto Alegre, v. 15, n. 85, p.
188-211, 2019. Disponível em:
https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/3383.
Acesso em: 31 maio. 2020.

Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, 1ª Vara do Juizado Especial Central,


Processo n. º 0001007-27.2013.8.12.0110, Juíza Vania de Paula Arantes. Data do
julgamento: 19/03/2013.

Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Vara Única da Comarca de Pompeu, Processo n. º


0023375-92.2017.8.13.0520, Juiz Manoel Jorge de Matos Junior. Data do julgamento:
08/06/2018.
85

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO CONTEXTO


DO COVID-19 (CORONAVÍRUS)

Paula Yurie Abiko40


Ariê Scherreier Ferneda41
RESUMO

O presente trabalho busca fazer uma análise de como a inteligência artificial (IA)
pode auxiliar no combate à violência contra a mulher, especialmente no contexto do
coronavívurs (COVID-19). As medidas de confinamento, como a quarentena ou o
distanciamento social, representam, em muitos casos, um agravamento da situação de
violência doméstica contra a mulher. Nesse sentido, percebe-se que o lar não é um
lugar seguro, isso porque um estudo realizado pelo Raio-X do Feminicídio em São
Paulo revelou que 66% dos feminicídios consumados ou tentados foram praticados
na casa da vítima (240 casos de um total de 364 casos registrados entre março de
2016 a março de 2017). Assim, vislumbra-se um cenário de grande risco para as
mulheres em razão do isolamento da vítima, maior propensão ao consumo de álcool e
drogas, comportamento controlador do agressor em tempo integral e o desemprego.
Ademais, pontua-se que, de acordo com o Núcleo de Gênero do MPSP, o número de
registro de boletins de ocorrência poderá diminuir consideravelmente durante o
isolamento em razão do receio da vítima e dos demais fatores já apontados. Desse
modo, uma alternativa viável capaz de registrar eventos de violência doméstica, sem
que, necessariamente, a vítima tenha de acionar a autoridade competente, é o uso de
aplicativos que se utilizam da inteligência artificial. Citam-se como exemplo o
aplicativo proposto por Fernanda Amorim que visa fiscalizar o cumprimento de
medida protetiva de urgência para evitar novas agressões, e o aplicativo HEAR -
Helping Everyone to Actively React, o qual capta sons do ambiente para identificar

40 Pós-Graduanda em Direito Penal pela Academia Brasileira de Direito Constitucional. Graduada em


Direito pela FAE Business School. E-mail: paula_abiko@hotmail.com. Membro do Neurolaw, Grupo de
pesquisas de Direito Penal e Neurociências, Membro do GEA, Grupo de estudos avançados, teoria de
delito IBCCRIM, Membro do International Center For Criminal Studies, Colunista do Sala de Aula
Criminal e Canal Ciências Criminais.
41 Graduanda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Membro do Grupo de Estudos

em Análise Econômica do Direito. Coordenadora Adjunta do Grupo de Estudos Trabalhistas.


Fundadora do NÔMA – Norma e Arte. Pesquisadora de Iniciação Científica 2019-2020. E-mail:
ariefernedaxx@gmail.com.
86

palavras ou qualquer ruído que possam ter sido produzidos em um contexto de


violência. Identificados sons de possível violência doméstica, o aplicativo notifica a
rede de usuários próximos ao local da suposta agressão. A inteligência artificial pode,
portanto, auxiliar nos casos de violência doméstica, devendo ser ressaltado que não é
a solução, pois a Lei Maria da Penha, embora com grandes avanços legislativos de
proteção às mulheres, ainda não inibe o aumento das agressões e, em casos mais
graves, dos feminicídios. É fundamental o debate e reflexão sobre o tema, em demasia
no momento de pandemia global atual, no qual os índices de violência aumentaram
no Brasil e no mundo. Dessa forma, a utilização destes aplicativos, e especificamente
do Hear e inteligência artificial, pode mostrar-se um auxiliar a tutela de direitos
dessas mulheres.

Palavras-chave: Violência; mulher; coronavírus; quarentena; distanciamento social.

REFERÊNCIAS

AMORIM, Fernanda Pacheco. Nenhuma a menos: a inteligência artificial no combate à


violência contra a mulher. 119f. 2018. Dissertação (Mestrado). Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI. Itajaí, 2018.

MONTENEGRO, Marilia. Lei Maria da Penha. Uma análise criminológico crítica. 1ª


edição, Rio de Janeiro, Revan. 2015.

SÃO PAULO. Ministério Público de São Paulo. Nota Técnica. Raio-X da violência
doméstica durante isolamento. Um retrato de São Paulo. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/pls/portal/!PORTAL.wwpob_page.show?_docname
=2659985.PDF. Acesso em: 23 maio 2020.

SÃO PAULO. Ministério Público de São Paulo. Núcleo de Gênero. Raio-X do feminicídio
em São Paulo. É possível evitar a morte. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Nucleo_de_Genero/Feminicidio/RaioX
FeminicidioC.PDF. Acesso em: 23 maio 2020.
87

RESOLUÇÃO CNS 466/2012 E LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS: A


IMPORTÂNCIA DA ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS NA PANDEMIA MUNDIAL
DE COVID-19

Anna Luísa Braz Rodrigues

RESUMO

A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa emitiu comunicado exigindo que todos os


protocolos quanto ao COVID-19 fossem encaminhados para sua análise. Contudo, a
agilidade almejada se mostrou dificultosa em tempos de crise social, vez que a alta
demanda obrigou que o órgão designasse funções aos Comitês de Ética em Pesquisa.
Em contraponto ao trabalho realizado na aprovação dos protocolos, a Aliança
Pesquisa Clínica Brasil organizou um abaixo-assinado e apontou burocracia
governamental como principal responsável pela dificuldade de inclusão de cientistas
em pesquisas internacionais sobre o vírus. Assim, é possível perceber que a ética em
pesquisa com seres humanos volta a se contrapor com a pressa pelos avanços
científicos almejados pela sociedade. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é
debater e reafirmar a importância da ética em pesquisa com seres humanos, tendo
em vista o caráter de direitos humanos de diversas normativas. A pesquisa realizada
se baseou em investigação bibliográfica, com destaque para documentos e resoluções
consultados, e interdisciplinaridade, vez que não se limitou aos preceitos jurídicos e
abarcou a perspectiva bioética. De tal maneira, é preciso destacar a Declaração
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (2005) elaborada pela UNESCO, uma vez
que seu texto buscou condensar valores da dignidade da pessoa humana, dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais. No Brasil, estamos sob a vigência da
Resolução CNS 466/2012, que estabelece sistema de apreciação dos projetos em
função de uma base unificada. A normativa destaca o consentimento livre e
esclarecido, bem como o assentimento livre e esclarecido, dando ênfase à proteção de


Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Lavras. Integrante do grupo de pesquisa
Laboratório de Bioética e Direito, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq. Estagiária
do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Lavras).
Integrante do projeto Virada de Copérnico, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Direito Civil-
Constitucional, vinculado ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
E-mail: anna.rodrigues@estudante.ufla.br
88

vulnerabilidades na relação estabelecida entre pesquisador e participante de


pesquisas clínicas. Portanto, há determinação de técnicas de proteção de dados, como
o sigilo e o dever de informação que vincula o destino final dos dados coletados. Além
disso, é relevante debater em que nível a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD) e os debates acerca do adiamento de sua vigência influenciam no contexto
atual, afinal trata dos direitos que cidadãos terão sobre seus dados e os critérios que
empresas e agentes públicos deverão seguir para utilizá-los. Em seu artigo 13, por
exemplo, a possibilidade de utilizar dados pessoais para finalidades estritas de
pesquisa em saúde pública por órgão de pesquisa fica estabelecida, desde que não
haja comunicação para terceiros e sejam mantidos em ambiente seguro. Ademais,
novos recursos para tratamento de dados pessoais passam a ser amplamente
debatidos, como a pseudonimização. Por fim, cabe concluir pela importância de
manter os debates quanto à ética em pesquisa com seres humanos para que as
normas vigentes e a entrarem em vigência sejam colocadas em pauta pública. Porém,
é imprescindível adotar os mecanismos disponíveis para averiguação cautelosa, pois,
mesmo que diante de uma burocracia questionável, os motivos de sua existência
refletem a importância dos direitos humanos, especificamente na proteção da pessoa
humana e de seus dados pessoais, em situações limítrofes do convívio social. A
história é implacável ao demonstrar as consequências graves apresentadas pelas
atrocidades em experimentação humana baseadas em emergência e utilitarismo
social.

Palavras-chave: Ética; Direitos Humanos; Resolução CNS 466/2012; Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais; COVID-19.

REFERÊNCIAS

BERGSTEIN, Gilberto. A informação na relação médico-paciente. São Paulo: Saraiva,


2013.

GOLISZEK, Andrew. Cobaias humanas: a história secreta do sofrimento provocado em


nome da ciência. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
89

GUILHEM, Dirce; DINIZ, Débora. O que é ética em pesquisa. São Paulo: Brasiliense,
2014.

SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade. São Paulo: Atlas, 2011.

TEPEDINO, Gustavo; TERRA, Aline de Miranda Valverde Terra; CRUZ, Gisela Sampaio da.
Fundamentos do Direito Civil: Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
90

INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL DE SOCIEDADES EMPRESÁRIAS EM


CRIPTOMOEDAS

Geovane Antunes Santos Oliveira42


Igor Murilo Lindner de Andrade43
RESUMO

Em pesquisa bibliográfica, este trabalho objetiva, por meio de uma metodologia


dedutiva, a interpretação da legislação aplicável às sociedades empresariais, a análise
da utilização de criptomoedas na integralização de capital e sua consequência perante
a sociedade. Para integralização, as Sociedades Anônimas dependem de uma
avaliação mais minuciosa para a integralização de bens, diverso da moeda nacional,
por meio de um laudo de avaliação, cumprindo os requisitos da LSA (Lei n. 6.404/76).
Para as Sociedades Limitadas, não se faz necessário a elaboração do laudo, mas os
sócios respondem solidariamente pela avaliação do bem pelo período de 5 (cinco)
anos. Em relação as criptomoedas, primeiro precisamos defini-las para verificarmos a
possibilidade de integralização. Em razão da descentralização estatal destes ativos
não existe uma legislação que as defina com precisão, em especial no ordenamento
jurídico brasileiro, assim, levantam-se 3 (três) hipóteses sobre a sua conceituação
jurídica, como: (I) moeda; (II) valor mobiliário; e (III) bens incorpóreos. Sobre o item
(I), devemos diferenciar a semântica do significado jurídico, juridicamente moeda é
uma unidade do Sistema Monetário Nacional e, de acordo com a Lei n. 9.069/95, a
moeda oficial do Brasil é o Real, assim, criptomoedas, no ordenamento jurídico pátrio,
juridicamente, não podem ser consideradas moedas. Sobre o item (II), valores
mobiliários são títulos emitidos pelas sociedades com o fito de levantar capital, por
exemplo, as debêntures são títulos com um prazo de vencimento indexados a uma
taxa de juros, assim, o comprador do título resgatará o valor deste mais a taxa de
juros previamente estabelecida. Deste modo a criptomoeda só poderia ser um valor
mobiliário, se emitido pela própria sociedade, que além da sua atividade social teria

42 Graduando em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Membro do Grupo
de Estudos em Análise Econômica do Direito da PUCPR - (GRAED).
43 Graduando em direito pela Centro Universitário de Curitiba (UNICURITIBA). Membro dos Grupos de

Pesquisa: Economia Colaborativa: As Diferentes Formas de Sociedades Empresariais do UNICURITIBA;


e Arbitragem como instrumento para solução de conflitos decorrentes de contratos comerciais
internacionais do UNICURITIBA.
91

que minerar criptomoedas. Contudo, esbarramos em outro percalço a Lei n. 6.385/76,


define taxativamente quais o são os valores mobiliários no Brasil e sujeitos a análise
da CVM. Em razão do exposto, concluímos que as criptomoedas não são valores
mobiliários. Sobre o item (III), a qual define que criptomoedas são bens incorpóreos e
intangíveis, esta definição faz mais sentido, afinal são bens incorpóreos/intangíveis,
vez que não tem materialidade e existência física e não deixam de ser bens jurídicos,
pois produzem resultados na realidade fática e tem significância na realidade jurídica.
Em relação às sociedades empresárias limitadas, o problema é mitigado, vez que
bastaria utilizar a cotação do ativo na hora que ocorreu a deliberação e aprovação
pelos sócios. O problema maior se dá nas sociedades anônimas, pois a integralização
em bens ocorre apenas mediante a elaboração de laudo de avaliação destes, assim, há
uma dificuldade técnica na metodologia utilizada para subsidiar o laudo. Dentro do
tema volatilidade, o capital social formado apenas com criptomoedas pode gerar um
problema de liquidez da sociedade. Ademais, as transações com criptomoedas são
asseguradas pela tecnologia blockchain, que após ocorrida a operação é registrada e
impossível de ser desfeita, deste modo, dentro do direito pátrio, temos uma colisão
com o instituto da nulidade, que visa retornar o negócio jurídico ao status quo ante ao
ato.

Palavras-chave: Criptomoedas; integralização de capital; tecnologia; Direito Societário.

REFERÊNCIAS

CAMPINHO; Sérgio. Curso de direito comercial: sociedade anônima. 2ª Edição. São


Paulo: Saraiva. 2017.

CARVALHOSA; Modesto. Comentários à Lei das Sociedades Anônimas. 6ª Edição. São


Paulo: Saraiva. 2014.

DINIZ, Gustavo Saad. Curso de direito comercial. 1º Edição. São Paulo: Atlas. 2019.

EIZIRIK; Nelson. A Lei das S/A Comentada. 2ª Edição. São Paulo: Quartier Latin. 2016.
92

NEGRÃO; Ricardo. Curso de direito comercial e de empresa, volume. 1: teoria geral da


empresa e direito societário. 15ª Edição. São Paulo: Saraiva Educação. 2019
93

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E SEUS IMPACTOS NOS DIREITOS FUNDAMENTAIS À


PRIVACIDADE E PROTEÇÃO DE DADOS

Bruno Fediuk de Castro 44


Gilberto Bomfim45
RESUMO

A mudança de paradigma em curso a partir da quarta Revolução Industrial é


considerada como algo diferente de tudo aquilo que já foi experimentado pela
humanidade. Estão sendo promovidas profundas alterações nos sistemas econômicos,
sociais, políticos e culturais. Essa revolução é disruptiva por causa da crescente
harmonização e integração de muitas descobertas e disciplinas diferentes. Se por um
lado essa revolução vem gerando grandes benefícios, impulsionada pela inteligência
artificial, big data, blockchain e a internet das coisas, de outro, apresenta grandes
desafios relacionados principalmente a violação de direitos fundamentais à
privacidade e proteção de dados. Esse novo cenário vem exigindo a atuação do
Direito, que precisará apresentar soluções jurídicas que garantam a segurança e o
exercício de direitos. O problema a ser enfrentado é compreender o tratamento
jurídico da proteção à privacidade e proteção de dados pessoais frente ao crescente
fluxo de informações na internet. O objetivo é identificar as possíveis violações ao
direito à privacidade e proteção de dados e como o ordenamento jurídico brasileiro
está se adaptando a essa nova realidade. O estudo utiliza o método hipotético-
dedutivo, com uma abordagem qualitativa. Uma tecnologia que ganhou destaque, pelo
seu potencial de causar a violação de direitos do cidadão, é o chamado big data. Ao
mesmo tempo em que a big data possibilita a criação de novos produtos e serviços, os
quais atendem a demandas e solucionam problemas de diversos setores da sociedade,
levanta uma série de questionamentos relacionados aos direitos à privacidade e à
proteção dos dados pessoais. Com a disseminação da coleta massiva de informações
das pessoas, os riscos de abusos e violação ao direito à privacidade (garantido no

44 Mestrando em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do


Paraná (Curitiba - PR, Brasil). Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Curitiba - UniCuritiba
(Curitiba – PR, Brasil). Advogado. https://orcid.org/0000-0003-0947-8142. E-mail:
bfc.adv@gmail.com.
45 Mestrando em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do

Paraná (Curitiba - PR, Brasil). Procurador federal, membro da AGU. https://orcid.org/0000-0002-


0141-7620. E-mail: g_bomfim@hotmail.com.
94

Brasil pela Constituição Federal) vêm crescendo, provocando o debate sobre a


necessidade de legislações específicas. Considerando essa realidade, o Brasil aprovou
alguns diplomas legais que merecem atenção: a Lei nº 12.527, de 2011, Lei da
Transparência, que regula o acesso às informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º
da Constituição; a Lei 12.737, de 2012, que dispõe sobre a tipificação criminal de
delitos informáticos; a Lei nº 12.965, de 2014, Marco Civil da Internet, que estabelece
princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e, também, a
Lei nº 13.709, de 2018, Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que dispõe sobre o
tratamento de dados pessoais, disciplinando como empresas e entes públicos podem
coletar e tratar informações de pessoas, estabelecendo direitos, exigências e
procedimentos nesses tipos de atividades. A LGPD reconheceu a finalidade da tutela
dos dados pessoais para a proteção de direitos como a privacidade, honra e imagem e
a promoveu a efetivação e promoção de Direitos Humanos Fundamentais como
justificativa para a tutela dos dados pessoais. Conclui-se que a legislação brasileira
vem se aprimorando e que a LGPD trouxe avanços na busca pela proteção dos dados
pessoais e efetividade do direito fundamental à privacidade do cidadão, mas os
maiores efeitos devem ficar para 2021, considerando o adiamento da vigência da lei
por força da MP 959, de 29/04/2020.

Palavras-Chave: Quarta Revolução Industrial; big data; privacidade; proteção de dados; direitos
fundamentais.

REFERÊNCIAS

FRAZÃO, Ana. MULHOLLAND, Caitlin. Inteligência Artificial e Direito: ética, regulação e


responsabilidade. Coordenação Ana Frazão e Caitlin Mulholland. São Paulo:
Thompson Reuters Brasil, 2019.

KAGERMANN, H., WAHLSTER, W. & HELBIG, J. Securing the future of German


manufacturing industry: Recommendations for implementing the strategic initiative
INDUSTRIE 4.0 (Final report of the Industrie 4.0 Working Group). ACATECH –
National Academy of Science and Engineering, April, 2013.
95

PIAIA, Thami Covatti Piaia; COSTA, Bárbara Silva Costa; WILERS, Miriane Maria
Willers. Quarta revolução industrial e a proteção do indivíduo na sociedade digital:
desafios para o Direito. Revista Paradigma, Ribeirão Preto-SP, a. XXIV, v. 28, n. 1, p.
122-140, Jan/abr. 2019

SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Editora


Lumen Juris, 2008.

SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: EDIPRO, 2016


96

A REALIZAÇÃO REMOTA DOS CONCLAVES SOCIETÁRIOS

Bruno Fediuk de Castro 46


Gilberto Bomfim47
RESUMO

Para diminuir o risco de contágio e tentar conter a proliferação desenfreada do


coronavírus, foram tomadas medidas sanitárias restritivas, incluindo o isolamento
social. A partir disso, houve a edição de uma série de Medidas Provisórias e de leis
que criaram regras para regular os setores atingidos, readequando o ordenamento
jurídico à nova realidade. No âmbito empresarial, muitas empresas ficaram
impossibilitadas de realizar assembleias e reuniões, principalmente as assembleias
gerais ordinárias, previstas no artigo 132 da Lei nº 6.404/1976 e as assembleias de
sócios, nos termos do artigo 1.078 da Lei nº 10.406/2002. Ambas legislações
determinam que, anualmente, nos quatro meses seguintes ao término do exercício
social, devem os sócios das sociedades de responsabilidade limitada e os acionistas
das sociedades anônimas, abertas ou fechadas, reunirem-se para deliberar sobre
determinadas matérias obrigatórias. Para adequar essa necessidade a nova realidade,
foi editada a Medida Provisória nº 3 , de 30 de março de 2020 “MP 3 ” , que,
instituiu regras transitórias para o momento da pandemia, como prorrogar o prazo
para a realização da assembleias ordinárias anuais para até sete meses após o
encerramento do exercício social, e alterou em caráter definitivo aspectos formais
relacionados a realização dos conclaves societários. Nesse aspecto, possibilitou a
realização de conclaves semipresenciais pelas sociedades limitadas e sociedades
anônimas fechadas, permitindo que os sócios e acionistas possam “participar e votar
a distância”, mas sem retirar expressamente a exigência que das assembleias serem
realizadas na sede da companhia ou em outro lugar indicado com clareza nos
anúncios. Por outro lado, possibilitou que a Comissão de alores Mobiliários “C M”
autorize a realização de conclaves digitais (remotos) para as sociedades anônimas

46 Mestrando em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do


Paraná (Curitiba - PR, Brasil). Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Curitiba - UniCuritiba
(Curitiba – PR, Brasil). Advogado. https://orcid.org/0000-0003-0947-8142. E-mail:
bfc.adv@gmail.com.
47 Mestrando em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do

Paraná (Curitiba - PR, Brasil). Procurador federal, membro da AGU. https://orcid.org/0000-0002-


0141-7620. E-mail: g_bomfim@hotmail.com.
97

abertas, dispensando-se a exigência de que sejam realizadas em um espaço físico.


Com base na MP 931, a Instrução Normativa nº 79 de 14 de abril de 2020, do
Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração da Secretaria Especial
de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministérios da Fazenda “D EI” ,
regulamentou a participação e votação à distância em reuniões e assembleias
semipresenciais de cooperativas, sociedades limitadas e sociedades anônimas
fechadas. A questão a ser enfrentada no estudo é se as assembleias digitais (remotas)
somente estariam autorizadas para as companhias abertas, ou se a realização de
conclaves de forma digital (remota) poderá ser uma opção para todos os tipos
societários, sem a necessidade da presença física dos envolvidos em um mesmo
ambiente. O estudo utiliza o método hipotético-dedutivo, por meio de uma
abordagem qualitativa, assim como o procedimento de pesquisa monográfico e
técnica de bibliografia em livros e artigos científicos. Em uma análise preliminar,
conclui-se que a MP 931 permitiu a realização de conclaves digitais apenas para as
companhias abertas, que poderiam ser dispensadas pela CVM, enquanto possibilitou
expressamente os conclaves semipresenciais para as cooperativas, sociedades
limitadas e sociedades anônimas fechadas, permitindo nesse apenas que associados,
sócios e acionistas possam “participar e votar a dist ncia”.

Palavras-chave: Conclaves societários; assembleias remotas; assembleias digitais.

REFERÊNCIAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Volume 1: direito de empresa,


empresa e estabelecimentos. 19ª ed. São Paulo: Saraiva. 2015

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Volume 2: sociedades. 20ª ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais. 2016.

GRAU, Eros Roberto. Ensaio e Discussão sobre a interpretação/Aplicação do Direito.


São Paulo: Malheiros, 2002.
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LAMY FILHO, Alfredo; BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. A lei das S.A. Pressupostos.
Elaboração. Aplicação. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1992.

LAMY FILHO, Alfredo; BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. Direito das Companhias. 2ª Ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2017.
99

OS DESAFIOS DA COMPLEXA INTEGRAÇÃO ENTRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, BIG DATA E A


LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS BRASILEIRA – LEI 13.709/2018

Dânton Hilário Zanetti de Oliveira48


Fabiana Faraco Cebrian49
RESUMO

A Lei nº 3.70 , de 4 de agosto de 20 8, conhecida como “Lei Geral de Proteção de


Dados Pessoais” LGPD tem por ob etivo de tutelar os direitos fundamentais de
liberdade e de privacidade, bem como o livre desenvolvimento da personalidade da
pessoa natural, constituindo um marco legal de intervenção na atividade econômica,
na medida em que impõe aos agentes de tratamento obrigações legais e boas práticas
no trato de dados pessoais, inclusive no ambiente digital. Na era da Sociedade
Informacional, na qual cada vez mais os modelos de negócio passam a ter como
principal insumo produtivo os dados pessoais – data driven economy – quanto mais
dados e maior a capacidade de processamento destes, melhores serão as perspectivas
de sucesso do negócio. Nesse contexto, o Big Data, grande conjunto de dados dotados
dos atributos de velocidade, variedade, volume, veracidade e valor os “5 ’s” do Big
Data), tornou-se de grande valia para a formação de um ecossistema coordenado de
ações voltadas à extração do significado dos dados, que podem ser explorados tanto
economicamente, como em prol do bem-estar social. A seu turno, a Inteligência
Artificial (IA) é um método capaz de lidar com a análise de Big Data (Big Data
Analytics) em suas variadas formas e tamanhos, em substituição à categorização,
genérica, pela personalização ou individualização, executando ações diversas a partir
da extração de significado deste grande conjunto de dados. Verifica-se, entretanto,
certa tensão provocada entre a análise e a proteção de dados, tal como prevista na
LGPD, cabendo evidenciar que o debate coloca, de um lado, o indivíduo e, do outro,
análise de Big Data a partir da IA. Com efeito, observa-se que em alguns casos a

48 Advogado. Mestrando em Direito Socioambiental e Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade


Católica do Paraná (PUC-PR). Pós-graduado em Direito Processual Civil pela PUC-PR. Pós-graduado em
Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade de Direito de Curitiba (Unicuritiba). Professor do curso
de Direito da FAE – Centro Universitário e Pós-Graduação da Unicuritiba. Membro da Comissão de
Inovação e Gestão da OAB-PR, coordenando o Grupo Permanente de Discussão sobre Privacidade e
Proteção de Dados Pessoais. Árbitro na Câmara de Arbitragem Arbi-ON. E-mail:
danton.zanetti@zomadv.com.
49 Mestranda em Direito Socioambiental e Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica do

Paraná (PUC-PR). E-mail: fabiana.cebrian@gmail.com.


100

aplicação do Big Data e IA pode restar fragilizada ou até mesmo ser considerada ilícita
por conta das balizas legais impostas pela LGPD. Diante da complexidade desta
interação, questiona-se: é possível a interação harmônica da LGPD com os
fundamentos do Big Data e IA? Os conceitos fundamentais que envolvem tanto o Big
Data quanto a IA apontam para uma não conformação integral aos dispositivos da
LGPD. Dentre os conceitos, pode-se destacar a complexidade do processamento de
dados em redes neurais, que cria uma opacidade e, consequentemente, dificuldade na
compreensão do racional das decisões automatizadas. Isto porque a lógica dos
algoritmos de Inteligência Artificial é aprendida com os dados de treinamento e
raramente é refletida em seu código-fonte. Além disso, a redefinição da finalidade do
uso dos dados é comumente empregada para a otimização do Big Data, o que, nos
termos da LGPD, não expressaria uma finalidade específica, na ótica do titular dos
dados pessoais. Assim, a partir do método hipotético-dedutivo, pretendeu-se
demonstrar que tanto a complexidade da regulamentação do tratamento de dados
pessoais quanto da análise de Big Data com IA em redes neurais, demandam a
compreensão das profundas diferenças existente entre dados frente às formas
convencionais e complexas de tratamento, a fim de harmonizar lei e tecnologia em
prol do bem-estar individual e coletivo.

Palavras-Chave: novas tecnologias; sociedades; inteligência artificial; big data; proteção de


dados.

REFERÊNCIAS

BOFF, Salete Oro; FORTES, Vinícius Borges; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra.
Proteção de dados e privacidade: do direito às novas tecnologias na sociedade da
informação. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.

BRASIL. Lei 13.709, de 14 de agosto de 2018, Lei Geral de Proteção de Dados - LGPD,
2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 28.mar.2020.
101

BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de Dados Pessoais: a função e os limites do


consentimento. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra; BARDDAL, Jean Paul. Análise preditiva e


decisões judiciais: controvérsia ou realidade? Democracia Digital e Governo
Eletrônico, v. 1, p. 107-126, 2019.

HOLMES, Dawn E. Big Data. A very short introduction. Oxford: Oxford University
Press, 2017.
102

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES QUANTO AOS DADOS PESSOAIS DOS


CONSUMIDORES: DIÁLOGO DAS FONTES ENTRE O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E
A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS

Ana Carolina Fontana de Mattos50


Dânton Hilário Zanetti de Oliveira51
RESUMO

A sociedade informacional prenunciada por Manuel Castells, cujos efeitos são


maximizados no século XXI, trouxe consigo inúmeras incertezas e desafios à
sociedade e ao Direito. Exemplo disso é o exponencial crescimento no volume de
dados pessoais em circulação na internet, muitas vezes essenciais ao acesso de bens e
serviços. Tais relações são marcadas por sua natureza consumerista, cuja principal
consequência é o reconhecimento da vulnerabilidade de um dos polos da relação: o
consumidor, a quem se volta a tutela de proteção do Código de Defesa do Consumidor
(Lei nº. 8.078/90) – CDC. Paralelamente, com o advento da Lei Geral de Proteção de
Dados (Lei nº 13.709/2018) – LGPD, ainda em vacatio legis, o indivíduo também
recebe outra qualificação, qual seja, de titular de dados pessoais. O ordenamento
jurídico brasileiro passa, portanto, a reconhecer uma dupla esfera de proteção
individual, tanto em relação ao consumo em si, quanto em relação ao tratamento de
dados pessoais do indivíduo, enquanto consumidor. Não se olvida que o próprio CDC
já contemplava, de forma pontual, a proteção de dados do consumidor, porém, é
inegável que a LGPD, na condição de lei específica sobre a temática, constitui sistema
normativo mais completo a este respeito, razão pela qual há que se estabelecer um
verdadeiro diálogo de fontes entre ambas as normas em comento. Essa afirmativa é
evidenciada em conflitos oriundos das relações de consumo – ou seja, envolvendo o
fornecedor de bens ou serviços (art. 3º, CDC) e o consumidor destes (art. 2º, CDC) –

50 Advogada. Mestranda em Direito Socioambiental e Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade


Católica do Paraná (PUC/PR). Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC/PR). E-mail: anacfmattos@hotmail.com
51 Advogado. Mestrando em Direito Socioambiental e Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade

Católica do Paraná (PUC-PR). Pós-graduado em Direito Processual Civil pela PUC-PR. Pós-graduado em
Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade de Direito de Curitiba (Unicuritiba). Professor do curso
de Direito da FAE – Centro Universitário e Pós-Graduação da Unicuritiba. Membro da Comissão de
Inovação e Gestão da OAB-PR, coordenando o Grupo Permanente de Discussão sobre Privacidade e
Proteção de Dados Pessoais. Árbitro na Câmara de Arbitragem Arbi-ON. E-mail:
danton.zanetti@zomadv.com.
103

em caso de violação da proteção de dados pessoais e, consequentemente, da


inobservância das obrigações legais previstas na LGPD. Com isso, cabe repensar a
aferição da responsabilidade civil dos fornecedores quanto ao tratamento dos dados
pessoais de consumidores, sobretudo visando harmonizar as regras dispostas em
ambos os mencionados diplomas legais. A metodologia empregada para o
desenvolvimento do trabalho será a pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, por meio
do método de abordagem hipotético-dedutivo.

Palavras-chave: Relação de consumo; proteção de dados pessoais; diálogo das fontes;


responsabilidade civil; direito do consumidor.

REFERÊNCIAS

BOFF, Salete Oro; FORTES, Vinícius Borges; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra.
Proteção de dados e privacidade: do direito às novas tecnologias na sociedade da
informação. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.

BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de Dados Pessoais: a função e os limites do


consentimento. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

EFING, Antônio Carlos. Fundamentos do Direito das Relações de Consumo. 4. Ed. rev.,
ampl. e atual. Curitiba: Juruá, 2019.

RODOTÀ, Stefano. A vida na sociedade da vigilância: a privacidade hoje. Rio de Janeiro:


Renovar, 2008.

TEPEDINO, Gustavo; FRAZÃO, Ana; OLIVA, Milena Donato. Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais e suas repercussões no direito brasileiro. 1. Ed. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2019.
104

A EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E A EXCLUSÃO SOCIAL E PROFISSIONAL DO IDOSO

Amanda Cristina Silvério52


Jair Aparecido Cardoso53
RESUMO

Em 2019, idosos com 65 anos ou mais representavam 9,52% da população brasileira.


Em 2058 a projeção é de 25,49%. Enquanto em 2019 a população em idade ativa (15
aos 64 anos) era de 69,38%, estima-se que em 2059 será de 60,05% (IBGE, 2020). A
taxa de ocupação54 em 2018 de idosos de 60 a 69 anos era de 62,1% (IBGE, 2018). Se
por um lado muitos idosos encontram-se aposentados ou em processo, exigindo
adequações do próprio sistema previdenciário para garantir liquidez financeira e
proteção desse grupo etário, por outro, tem-se a necessidade de repensar
reconfigurações do trabalho da população idosa que se manterá economicamente
ativa em uma sociedade cada vez mais tecnológica. Partindo deste último recorte,
com base no método de pesquisa bibliográfico-documental, busca-se analisar os
impactos tecnológicos sobre o mercado de trabalho e envelhecimento da população.
Tecnologias podem ser excludentes quando não há gestão de conhecimento e
capacitação. preciso lembrar que “envelhecer hoje em dia para aqueles idosos que
mal tiveram oportunidade de frequentar os bancos escolares pode significar exclusão
digital e isolamento social” FI C UZ, 20 7 . Estudos retratam as dificuldades
envolvendo a relação entre os idosos e novas tecnologias, por exemplo, devido a
questões técnicas (números e letras miúdos, tamanho da tela, bem como expressões
em idiomas estrangeiros), além do receio de quebrar o equipamento ou não saber
utilizá-lo (USP, 2013.). Tais razões restam amenizadas quando esses idosos recebem
qualificação, a exemplo de cursos de inclusão digital (USP, 2013). Uma rede de
cooperação entre as próprias empresas, governos e trabalhadores pode oportunizar a
requalificação da mão de obra ao invés de excluí-la do mercado, seja mediante cursos,
palestras, políticas públicas ou empresariais de incentivo à contratação de idosos, e

52 Mestranda em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto- FDRP-USP. Servidora Pública
Federal lotada na Advocacia Geral da União- Procuradoria Federal Seccional em São João da Boa Vista-
SP. E-mail: amandasilverio@usp.br.
53 Professor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo – FDRP/USP. E-

mail: jaircardoso@usp.br.
54 Na tabela do IBGE analisada como proporção de empregados e trabalhadores sem vínculo.
105

garantia de subsídios físicos e psíquicos para estes lidarem com tais inovações. O
combate às práticas discriminatórias de contratação, manifestas no subemprego, bem
como no avanço da pejotização, que é a causa do idoso passar a ser visto como um
trabalhador “autônomo”, o que lhe propicia menor renda FELIX, 20 , p. 24 ,
precisam ser debatidas frente aos avanços tecnológicos. O próprio art. 21 do Estatuto
do Idoso estabelece a necessidade de inclusão social diante das novas tecnologias.
Plataformas digitais voltadas para esta população têm possibilitando surgimento de
novas redes de negócios. A MaturiJobs, o Lab 0+ e o 7Bi, são “redes que conectam e
proporcionam soluções de negócios para os idosos” SIL A, 20 8 , e somam
resultados positivos, corroborando assim para uma mudança de mentalidade sobre
como o labor do idoso passa ser interpretado socialmente. A capacitação desses
idosos, seja no âmbito das empresas ou fora delas, auxilia na manutenção destes no
mercado, tal como o caso de “empreendedorismo sênior”, que ganhou destaque em
Portugal (MARTINS e VENTUROSO, 2015, p. 63). A integração desses idosos no novo
contexto jus-laboral gera intercâmbio dos saberes intergeracionais, combate à
marginalização, bem como possibilita a reestruturação de estratégias protetivas
pautadas nos valores do trabalho e na dignidade do trabalhador.

Palavras-chave: Envelhecimento da população; novas tecnologias; idosos; mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 31 maio.
2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores sociais-


trabalho e renda. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9221-sintese-de-
indicadores sociais.html?edicao=25875&t=downloads. Acesso em 01 jun. 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Projeção da população do


Brasil e das Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em:
106

https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao//index.html. Acesso em: 01 jun.


2020.

MARTINS, Halah Cristóvão; VENTUROSO, Alexandre Olivato. O Envelhecimento da Força de


Trabalho. Ribeirão Preto: Revista Eletrônica UNISEB, v. 06, nº 06, jul/dez, 2015. Disponível em:
http://estacioribeirao.com.br/revistacientifica/arquivos/revista6/5.pdf. Acesso em: 02 nov.
2019.

SILVA, Élcio. Especialistas apresentam tecnologias e projetos para o envelhecimento ativo.


Jornal da USP, São Paulo, 17 mai. 2018. Disponível
em:https://jornal.usp.br/universidade/especialistas-apresentam-tecnologias-e-projetos-para-o-
envelhecimento-ativo/. Acesso em: 31 maio. 2020.
107

A PROTEÇÃO DO TRABALHADOR EM FACE DA AUTOMAÇÃO: A NECESSIDADE DE UMA


LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR AO ART. 7º, XXVII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DIANTE
DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

Rodrigo Aguiar da Silva55


Pedro Victor dos Santos Witschoreck56
RESUMO

Os modos de prestação de trabalho transformaram-se sobremaneira da Primeira à


Quarta Revolução Industrial, notando-se uma substituição crescente do trabalho
humano pelas novas tecnologias, o que aponta uma demanda para definir meios que
previnam o desemprego tecnológico ou atenuem seus efeitos. Nesse contexto, a
Constituição Federal de 1988 elencou como direito fundamental a proteção do
trabalhador em face da automação no seu art. 7º, XXVII, porém após trinta anos de
sua promulgação não houve regulamentação posterior pelo Poder Legislativo, que
vetou projetos de lei nesse sentido apresentados em sua maioria na década de 1990,
quando os impactos tecnológicos não eram tão céleres e prejudiciais ao trabalhador.
Desse modo, questiona-se: é necessário promulgar uma lei específica que combata o
desemprego tecnológico diante dos impactos sociais das tecnologias atuais? Como
poderiam ser concretizadas as medidas protetivas legais? Para tanto, adotou-se uma
pesquisa com finalidade básica-estratégica, desenvolvendo conhecimentos que
possam ser utilizados para compreensão e possível solução do problema sob análise.
Além disso, trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa e
utilizando-se o método dedutivo através de uma pesquisa bibliográfica e documental.
Verificar o histórico das transformações no trabalho da Primeira à Quarta Revolução
Industrial; Analisar os principais impactos sociais das inovações tecnológicas no
trabalho; Classificar o tipo de norma do art. 7º, XXVII, da Carta Magna, e expor os
motivos que levaram a uma inércia do Poder Legislativo na edição de uma lei
regulamentadora; Expor as razões que ensejam uma legislação protetiva do

55 Advogado especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Estácio de Sá. Discente
do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSM (Mestrado). Integrante do Centro de Estudos e
Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI) da UFSM. E-mail: aguiar.jus@gmail.com.
56 Discente do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSM (Mestrado). Integrante do Centro de
Estudos e Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI) da UFSM. Bolsista CAPES. E-mail:
pedroviktor@hotmail.com.
108

trabalhador em face dos automação na sociedade pós-industrial, bem como pesquisar


quais poderiam ser as medidas protetivas estabelecidas legalmente e os meios para
concretizá-las. Além de uma legislação protetiva específica do trabalhador em face da
automação, seriam necessárias também políticas públicas para concretizar essa
proteção, com a requalificação humana para o trabalho tecnológico. Tais políticas
públicas poderiam ser estruturadas a partir da própria internet, pois a ampla
acessibilidade virtual facilitaria uma formação continuada, através de parcerias
público-privadas, podendo o governo ofertar cursos virtuais teóricos e a prática ser
desenvolvida nas próprias empresas. Além disso, seria necessário reformular o
ensino escolar e universitário, adaptando os jovens ao atual contexto de celeridade e
volatilidade das atividades profissionais, estimulando suas habilidades e
competências criativas e a necessidade de constante requalificação, considerando que
estes atuarão futuramente em profissões diversas das existentes atualmente.

Palavras-chave: Automação; proteção; tecnologia; trabalho.

REFERÊNCIAS

DINIZ, Patrícia Dittrich Ferreira. Trabalhador versus automação: impactos da inserção


da tecnologia no meio ambiente do trabalho à luz do tecno-direito e da tecnoética.
Curitiba: Juruá, 2015.

ESTEVES, Alan da Silva. Proteção do trabalhador em face da automação: eficácia


jurídica e social do inciso XXVII do art. 7º da constituição brasileira. São Paulo: LTr,
2013.

FREIRE, Emerson; BATISTA, Sueli Soares dos Santos. Sociedade e tecnologia na era
digital. São Paulo: rica, 2014.

MCKINSEY & COMPANY. O futuro do mercado de trabalho: impacto em empregos,


habilidades e salários. Disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-
109

insights/future-of-work/jobs-lost-jobs-gained-what-the-future-of-work-will-mean-
for-jobs-skills-and wages/pt-br. Acesso em: 14 de nov. de 2018.

SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016.


110

VERIFICAÇÃO DE FATOS NOS SITES DE REDES SOCIAIS: COMBATE À DESINFORMAÇÃO COM


MAIS INFORMAÇÃO

Arthur Emanuel Leal Abreu57

RESUMO

Com o desenvolvimento da internet e das tecnologias digitais, houve uma mudança no


modelo predominante de comunicação. Na sociedade em rede, conectada, qualquer
usuário da internet pode criar, produzir e distribuir conteúdo, que é acessível por
suas conexões. Com isso, atualmente, há mais informação em circulação, em
diferentes fluxos. Apesar dos benefícios ocasionados pela grande quantidade de
informação disponível na internet, bem como pela diversidade de fontes, é inegável
que também há problemas, como a desinformação, provocada, em parte, pelos
conteúdos enganosos e pela inabilidade do intérprete em avaliar a qualidade e a
confiabilidade da informação recebida. Em face do fenômeno da desordem
informacional e da disseminação de informações falsas, popularmente denominadas
“fake news”, muito se discute sobre quem teria o poder de classificar notícias e
informações como falsas. Diante disso, esta pesquisa investiga a atuação das agências
de verificação de fatos, a fim de identificar se a verificação é um mecanismo adequado
para combater a desinformação. Nesse contexto, o trabalho, primeiramente, identifica
o âmbito de atuação dessas agências como a busca de fatos que corroborem ou
refutem alegações feitas em publicações nos sites de redes sociais, seja por veículos
da mídia tradicional, seja por indivíduos ou grupos. Dessa forma, constata que a
verificação de fatos não consiste simplesmente em julgar a veracidade de conteúdos
disponíveis na internet, mas sim em apresentar evidências factuais relacionadas às
alegações. Em seguida, esta pesquisa analisa os procedimentos adotados pelas
agências e os formatos de apresentação de conteúdo, isto é, como os resultados das
verificações de fatos são publicados. Embora haja particularidades no procedimento
adotado por cada agência, de modo geral, a verificação consiste na seleção de uma

57Mestrando em Direitos e Garantias Fundamentais, na Faculdade de Direito de Vitória (FDV). Bolsista


da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES). Especialista em Linguagem,
Tecnologia e Ensino, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bacharel em Direito e
especialista em Compliance, pela FDV. E-mail: arthurlealabreu@gmail.com.
111

mensagem que circula na internet e a busca por fontes confiáveis, que confirmem ou
neguem o que está sendo alegado, com a indicação de hiperlinks, o que facilita o
acesso à informação referenciada. Para auxiliar na compreensão do leitor, é comum
que as agências associem uma etiqueta ao conteúdo verificado, sintetizando o
resultado da análise: “verdadeiro” ou “falso”, por exemplo. Entretanto, os
verificadores de fatos não devem ser entendidos como juízes da verdade, pois suas
análises não suprimem conteúdo nem impedem que os indivíduos tenham acesso à
publicação original. Pelo contrário, a verificação fornece um relatório detalhado,
indicando fatos e referências. Assim, oferece mais informações para o usuário, que
pode formar suas convicções com uma visão mais ampla sobre o assunto, podendo
separar fatos de opiniões. Nos sites de redes sociais, os provedores podem indexar o
resultado da verificação às publicações analisadas, alertando ao receptor daquele
conteúdo que a informação foi checada por terceiros, que buscaram os fatos
relacionados às alegações daquela mensagem. Ainda assim, não há violação da
liberdade de expressão do usuário que publicou o conteúdo, pois este permanece
disponível, mesmo que seja entendido e marcado como falso. Portanto, a verificação
de fatos e a vinculação de seus resultados às publicações originais podem ser
ferramentas eficazes, baseando-se no combate à desinformação com mais informação,
sem violar as liberdades fundamentais.

Palavras-chave: Fact-checking; desinformação; fake news; liberdade de expressão; redes sociais.

REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Gustavo Ferraz Sales. Autorregulação de fake news no Facebook:


incentivos e freios à proliferação de desinformação. Revista de Direito e as Novas
Tecnologias, São Paulo, v. 3, abr./jun. 2019.

MARANHÃO, Juliano; CAMPOS, Ricardo. Fake news e autorregulação regulada das


redes sociais no Brasil: fundamentos constitucionais. In: ABBOUD, Georges; NERY JR,
Nelson; CAMPOS, Ricardo (Coords.). Fake news e regulação. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2018.
112

SILVEIRA, Marilda de Paula. As novas tecnologias no processo eleitoral: existe um


dever estatal de combate à desinformação nas eleições? In: ABBOUD, Georges; NERY
JR, Nelson; CAMPOS, Ricardo (Coords.). Fake news e regulação. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2018.

TRÄSEL, Marcelo. A eficácia da checagem de fatos no combate à desinformação.


Cadernos Adenauer: fake news e as eleições 2018, ano XIX, n. 4, p. 69-87, 2018.
Disponível em: http://eduardomagrani.com/wp-
content/uploads/2019/05/PUBLICACAO-2019-KA-Cadernos-2018.4-site.pdf. Acesso
em: 01 jun. 2020.

WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein. Information disorder: toward an


interdisciplinary framework for research and policymaking. Strasbourg: Council of
Europe, 2017. Disponível em: https://rm.coe.int/information-disorder-toward-an-
interdisciplinary-framework-for-researc/168076277c. Acesso em: 01 jun. 2020.
113

REMOVER, ESCLARECER OU DESINDEXAR: APLICAÇÃO DA TEORIA DA


PROPORCIONALIDADE PARA IDENTIFICAR A OBRIGAÇÃO CABÍVEL NO COMBATE À
DESINFORMAÇÃO NA INTERNET

Arthur Emanuel Leal Abreu58


Adriano Sant’Ana Pedra59
RESUMO

Um dos problemas vivenciados na sociedade contemporânea é a desinformação, um


fenômeno complexo, consistente na compreensão inadequada da realidade, em razão
de fatores como a disseminação de informações falsas, imprecisas ou enganosas –
popularmente conhecidas como “fake news” –, bem como a incapacidade de um
indivíduo de filtrar e interpretar adequadamente as informações a que ele é exposto.
A desinformação é ainda mais grave no ambiente digital, uma vez que, na internet, as
informações circulam em maior quantidade e velocidade. Recentemente, a
desinformação vem desempenhando papel importante nos processos políticos ao
redor do planeta (como ocorreu em relação ao Brexit e às últimas eleições
presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, por exemplo). Diante da presença de
conteúdos que podem causar desinformação na internet, é possível recorrer ao Poder
Judiciário com o intuito de impor limitações a essas informações. Nesse contexto, esta
pesquisa busca critérios para identificar a determinação judicial mais adequada para
combater a desinformação na internet, dentre as seguintes possibilidades: remover o
conteúdo da internet; esclarecer ou retificar as informações; ou desindexar
informações, desfazendo associações entre conteúdos. Este trabalho propõe a
aplicação da teoria da proporcionalidade, de Robert Alexy, que apresenta três etapas
subsequentes: os juízos de adequação, de necessidade e de proporcionalidade em
sentido estrito. Diante do caso concreto, o agente deve identificar quais medidas são
adequadas para alcançar o objetivo de evitar desinformação; dentre as medidas
58 Mestrando em Direitos e Garantias Fundamentais, na Faculdade de Direito de Vitória (FDV). Bolsista
da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES). Especialista em Linguagem,
Tecnologia e Ensino, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bacharel em Direito e
especialista em Compliance, pela FDV. E-mail: arthurlealabreu@gmail.com.
59 Doutor em Direito do Estado (PUC/SP), mestre em Direitos e Garantias Fundamentais (FDV) e

especialista em Justiça Constitucional e Tutela Jurisdicional de Direitos (Università degli Studi di Pisa).
Professor permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos e Garantias
Fundamentais da FDV e um dos líderes do Grupo de Pesquisa “Estado, Democracia Constitucional e
Direitos Fundamentais”. E-mail: adrianopedra@fdv.br.
114

adequadas, deve identificar qual delas é menos onerosa, ou seja, qual delas intervém
de modo menos intenso; e, por fim, deve verificar se os benefícios resultantes da
intervenção proposta são proporcionais às limitações e aos ônus impostos à
informação questionada. Embora a análise deva ser feita caso a caso, a pesquisa
indica que a desindexação é medida cabível quando se trata de informações
verdadeiras, mas que estejam descontextualizadas ou ultrapassadas pelo decurso do
tempo. Já a remoção de conteúdo e a determinação de esclarecimento ou retificação
podem ser medidas adequadas quando se trata de informações falsas, imprecisas ou
enganosas – considerando que há um grande espectro de falsidade, que vai desde a
descontextualização até a completa fabricação de conteúdos. Nesses casos, é preciso
avaliar se a remoção e o esclarecimento são capazes de evitar a desinformação; em
seguida, deve-se avaliar qual medida provoca menor interferência sobre os direitos
de quem produziu aquele conteúdo; e, por fim, comparar as vantagens e
desvantagens da medida proposta, a fim de identificar se ela é tão benéfica a ponto de
justificar a limitação sobre a informação originalmente publicada.

Palavras-chave: Desinformação; democracia; fake news; proporcionalidade; liberdade de


expressão.

REFERÊNCIAS

ABREU, Arthur Emanuel Leal; BURGO, Vitor. O direito de apagar dados da internet: a
possibilidade de remoção de resultados da Pesquisa Google no Brasil. Revista de
Direito e as Novas Tecnologias [digital], v. 3, p. 12, abr.-jun. 2019. Disponível em:
https://www.academia.edu/40235497/. Acesso em: 01 jun. 2020.

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 5. ed. Trad. de Virgílio Afonso da
Silva. São Paulo: Malheiros, 2008.

COLNAGO, Cláudio de Oliveira Santos; PEDRA, Adriano Sant'Ana. Meio ambiente


digital, arquitetura e direito de resposta: os deveres dos prestadores de serviços de
internet. In: BAEZ, Narciso Leandro Xavier; STURMA, Pavel; MOZETIC, Vinicius
Almada; FAIX, Martin (Orgs.). Mecanismos internacionais e internos de efetividade dos
115

direitos fundamentais. Joaçaba: UNOESC, 2014. p. 397-419. Disponível em:


https://www.academia.edu/36422968/. Acesso em: 01 jun. 2020.

CUEVA, Ricardo Villas Bôas. Alternativas para a remoção de fake news das redes
sociais. In: ABBOUD, Georges; NERY JR, Nelson; CAMPOS, Ricardo (Coords.). Fake
news e regulação. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.

MACEDO JÚNIOR, Ronaldo Porto. Fake News e as novas ameaças à liberdade de


expressão. In: ABBOUD, Georges; NERY JR, Nelson; CAMPOS, Ricardo (Coords.). Fake
news e regulação. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.
116

AS REDES SOCIAIS ENQUANTO FENÔMENOS DEMOCRÁTICOS NA PROMOÇÃO DE


ENGAJAMENTO POLÍTICO DOS CIDADÃOS

Bruna Andrade Obaldia60

RESUMO

Em torno de uma concepção histórica acerca dos grandes fenômenos que marcam o
curso da humanidade, pode-se dizer que o advento da internet é algo novel. Todavia,
há que se ter em mente que a internet, podendo ser investigada sob a perspectiva das
novas tecnologias de informação e comunicação e, mais ainda, sob a ótica das redes
sociais, transformou consideravelmente a sociedade e, assim, as relações humanas. O
potente instrumento da internet, investigado, no presente ensaio, no recorte das
redes sociais, é capaz de disseminar os mais diversos conteúdos informativos para
todos os continentes do mundo, em uma contagem de tempo ínfima. Essa extrema
velocidade com que conteúdos são propagados na rede é a responsável pelo amplo
acesso informacional que os usuários das redes sociais possuem. Notícias surgem
incessantemente. Aliado a isso, há que se pensar que a internet e, pois, as redes
sociais possibilitam que os cidadãos expressem e discutam suas opiniões políticas uns
com os outros, o que tende a despertar um maior interesse em práticas que as
próprias redes também facilitam, como organizações e manifestações políticas de
toda sorte. Isso, obviamente, sem deixar de reconhecer alguns problemas existentes
nesse cenário, que são capazes de limitar o acesso à informação dos cidadãos e, assim,
limitar também o exercício democrático nas redes sociais através dos conteúdos
informativos nela dispostos, como é o caso do fenômeno das bolhas informacionais.
Destarte, investigam-se as redes sociais e a possibilidade de que estas detenham um
caráter densamente democrático no que diz respeito à efetivação do acesso à
informação dos cidadãos que nelas estão inseridos. Isso porque, de fato, tal espécie de
promoção de engajamento político dos cidadãos realizada pelas redes sociais, que
têm como condição de possibilidade a internet, é dotada de um caráter inegavelmente
democrático. Assim, o estudo busca investigar em que medida as redes sociais

60Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Maria


(PPGD/UFSM). Membro do Núcleo de Estudos Avançados em Processo Civil (NEAPRO) da UFSM.
Bolsista CAPES. Endereço eletrônico: obaldiabruna@gmail.com
117

desempenham um papel relevante no que tange efetivamente ao ideal democrático


que se desenha sob a perspectiva do engajamento político das pessoas e, ato contínuo,
da própria democracia. Para a realização do presente trabalho, o método de
abordagem utilizado foi o dedutivo; isso porque, ao partir de ideais gerais sobre o
fenômeno da internet e das redes sociais, foi possível a obtenção de deduções acerca
da delimitação temática proposta. No que tange ao procedimento, o método utilizado
foi o monográfico; tal escolha se justifica já que a fim de obter generalizações, o
trabalho estuda o fenômeno determinado da internet no recorte ainda mais específico
das redes sociais e sua relação com a prática da democracia no que tange ao estímulo
ao engajamento político que propicia aos cidadãos. Ademais, a técnica de pesquisa
utilizada foi a bibliográfica, uma vez que o ensaio se utilizou de autores que tratam de
temas atinentes à democracia, internet e redes sociais. Ao final, ante todo o exposto,
depreender-se-á que as redes sociais, construídas sob os pilares da internet, são
absolutamente importantes no que diz respeito à propagação de conteúdos
informativos aos cidadãos.

Palavras-chave: Cidadãos; democracia; Internet; redes sociais.

REFERÊNCIAS

BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da Democracia Participativa: por um Direito


Constitucional de luta e resistência, por uma Nova Hermenêutica, por uma
repolitização da legitimidade. 3. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede – A Era da Informação: Economia, Sociedade


e Cultura. Tradução de Roneide Venâncio Majer. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

LEVY, Pierre. Cibercultura. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 1999.

MAGRANI, Eduardo. Democracia conectada: a internet como ferramenta de


engajamento político-democrático. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2014.
118

VELOSO, Renato. Tecnologias da informação e comunicação: desafios e perspectivas. 1.


ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
119

AS REPERCUSSÕES JURÍDICAS DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS

Fernando Afonso Marques de Melo61

RESUMO

A cada dia as relações contratuais são cada vez mais influenciadas pelas tecnologias.
Os agentes buscam meios de aprimorar a forma como se relacionam e no âmbito dos
negócios jurídicos não poderia ser diferente. Surge no Brasil um contexto em que as
relações privadas de caráter contratual passam a se utilizar de modo mais recorrente
das tecnologias. Os requisitos inerentes ao negócio jurídico se amoldam à estas. Os
contratantes hoje possuem assinaturas digitais. O contrato físico, até mesmo por
questões de economia e celeridade dá lugar à espaços eletrônicos em tablets e
computadores, onde os contratantes firmam suas assinaturas e estabelecem pactos
sobre os mais diversos objetos. Nesse contexto, o presente estudo visa discutir as
repercussões jurídicas dos contratos eletrônicos na forma das contratações e nos
aspectos processuais de demandas jurídicas que envolvam a questão. A metodologia
utilizada é de caráter eminentemente bibliográfico e documental, tendo como fontes a
utilização de artigos, teses, dissertações, legislação e jurisprudência pertinentes à
matéria. Os requisitos do negócio jurídico se adequam às novas tecnologias na
medida em que elementos e formas antes indispensáveis são feitos em meios virtuais.
Nessa perspectiva, discute-se de que modo a validade de um contrato assinado em um
tablet pode ser verificada. Questiona-se como os instrumentos tecnológicos garantem
que a assinatura eventualmente aposta ao contrato seja daquele que a subscreve. As
tecnologias embora avancem, apresentam certas falhas que comprometem a própria
segurança jurídica do negócio. Nessa perspectiva, contratos celebrados por pessoas
de pouca instrução, podem ser objeto de discussões judiciais, como hoje são em
contratos firmados em meio físico. Ainda, surgem questões relacionadas ao
ajuizamento de demandas judiciais, especialmente as execuções. São colocados em
debate como devem ser analisados os requisitos de processamento das referidas

61 Mestrando em Direito (Área de Concentração Direito, Democracia e Transformações na Ordem


Socioeconômica) pela UFERSA - Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Graduado em Direito pela
Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Pós-graduando em Direito Civil. E-mail:
fernandoammelo96@gmail.com.
120

lides, a presença de testemunhas ou mesmo a exigência de um contrato em meio


físico e original em atendimento aos princípios da cartularidade e circulabilidade de
alguns contratos. A discussão empreendida desenvolve amplo debate e se mostra
relevante em um contexto onde o judiciário deve tomar posição sobre as referidas
matérias. Observa-se a necessidade de legislação específica que aprimore os pontos
ora objeto de controvérsia, ao tempo em que as posições dos tribunais devem se
unificar com a finalidade de que prevaleça a autonomia da vontade e sejam
garantidos os direitos inerentes aos mais diversos contratos que se estabeleçam
porventura na modalidade eletrônica.

Palavras-chave: Contratos eletrônicos; validade; repercussões jurídicas.

REFERÊNCIAS

BARBAGALO, Erica Brandini; DE MATTIA, Fábio Maria. Contratos eletrônicos:


contratos formados por meio de redes de computadores peculiaridades jurídicas da
formação do vínculo. 2000.

BARRETO, Ricardo Menna. Contrato eletrônico como cibercomunicação


jurídica. Revista Direito GV, v. 5, n. 2, p. 443-458, 2009.

DE CESARO, T.; RABELLO, R. Um modelo para a implementação de contratos


eletrônicos válidos. Revista Brasileira de Computação Aplicada, v. 4, n. 1, p. 48-60, 9
dez. 2011.

ENÉIAS, Miria Soares; REGO, Amanda Barbosa. Validade jurídica dos contratos
eletrônicos. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, v.
36, 2008.

SANTOS, Manoel J. Pereira dos; ROSSI, Marilza Delapieve. Aspectos legais do comércio
eletrônico: contratos de adesão. In: LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos
121

eletrônicos: validade jurídica dos contratos via internet. São Paulo: Atlas, 2007, p. 83-
84.
122

A SUPRESSÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA E O ATIVISMO


DIGITAL PRÓ-DEMOCRACIA

Hendrisy Araujo Duarte 62


Bruna Bastos63
RESUMO

Os movimentos sociais podem ser percebidos como alavancas para mudanças sociais,
suscitadas por uma necessidade de revolucionar o status quo e defender demandas
que não são percebidas por uma grande parcela da sociedade, incluindo
representantes políticos. Esses movimentos buscam um conjunto mais suportável de
condições econômicas, sociais e políticas, e ganharam novas formas a partir da
popularização da ferramenta da internet, que concedeu proporções diferentes às
manifestações de grupos que não precisam mais de liderança e que podem apresentar
pautas múltiplas, visando a transição de paradigmas através da mobilização social e
de uma nova forma de abordagem. O ano de 2020, no Brasil, está sendo marcado por
novos movimentos contra o fascismo, visando reafirmar princípios democráticos e
direitos fundamentais que foram suprimidos, com a justificativa do combate à
pandemia da Covid-19. Fascismo, para fins deste trabalho, é um conjunto de discursos
nacionalistas que visam o autoritarismo e o desprezo por direitos humanos. Assim,
questiona-se: os excessos cometidos pelo poder público, sob o contexto da pandemia
de COVID-19, foram um estímulo ao ativismo digital pró-democracia? Para responder
ao problema de pesquisa, utilizam-se o método de abordagem dedutivo e de
procedimento monográfico, através de pesquisa bibliográfica e documental. Destarte,
o objetivo é compreender o protagonismo das manifestações online no período de
distanciamento social, considerando a facilidade de circulação de ideias e de diálogos
sobre direitos humanos e a importância de manutenção da democracia. Dessa forma,

62 Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal pela Verbo Jurídico. Advogada. Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria/FADISMA. Pesquisadora do Centro de Estudos e
Pesquisas em Direito e Internet/UFSM. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8649104965342461.
Endereço eletrônico: duartehendrisy@gmail.com.
63 Mestranda em Direitos da Sociedade em Rede pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da

Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista CAPES. Pós-graduanda em Educação Transformadora


pela PUCRS. Especialista em Direitos Humanos e Questão Social pela PUCPR. Advogada. Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria/FADISMA. Pesquisadora do Centro de Estudos e
Pesquisas em Direito e Internet/UFSM. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4588534886687945.
Endereço eletrônico: bts.bru@gmail.com.
123

esse trabalho se encaixa do grupo temático “ edes sociais e proteção da democracia”.


Nesse sentido, os ativismos digitais viabilizam atingir o maior número possível de
pessoas, potencializando a conscientização em favor da democracia e contra
mensagens que são produzidas, cada vez mais, por inteligência artificial especializada
em distorcer informações e alavancar preconceitos e fake news. Assim, a
possibilidade de diálogo horizontal proporcionada pelas redes sociais online acabou
sendo materializada nas manifestações pró-democracia ocorridas em cidades como
São Paulo e Rio de Janeiro a partir do dia 31 de maio de 2020, e em outros países. A
questão principal nessa temática gira em torno da prevalência de posicionamentos
fascistas pelo governo federal do Brasil e dos Estados Unidos, que se utilizam do
período da pandemia para fazer valer essas ideias e violar ou suprimir direitos
fundamentais dos cidadãos. Essas manifestações decorrentes do ativismo digital pró-
democracia, como reação da população a atos autoritários estatais, têm gerado
comentários dos presidentes dos EUA e do Brasil, através de redes sociais online,
sobre conferir tratamento de organizações terroristas aos grupos autodenominados
antifascistas. É importante pensar que esse posicionamento, assim como outros que
visam descredibilizar a democracia e os direitos dos cidadãos (inclusive, excluindo
determinados sujeitos como detentores de direitos, principalmente nos grupos
minoritários), acabam por fortalecer a causa da democracia, que tem por objetivo,
sobretudo, a igualdade material e a dignidade da pessoa humana. Assim, conclui-se
que esses excessos, ocorridos, especialmente, no período pandêmico, foram a
centelha responsável por mover a população, através do ativismo digital, para as ruas,
garantindo a continuidade dos movimentos sociais pró-democracia e das lutas por
igualdade.

Palavras-chave: Ativismo digital; democracia; fascismo; redes sociais; violação de direitos.

REFERÊNCIAS

BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria
performativa de assembleia; tradução Fernanda Siqueira Miguens. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
124

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da


internet; tradução Carlos Alberto Medeiros. 1ª ed. Rio de Janeiro, Zahar, 2013.

GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e redes de mobilização civis no Brasil


contemporâneo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

LIMA, Gabriela Bezerra. Tipos de Ativismo Digital e Ativismo Preguiçoso no Mapa


Cultural. Revista GEMINIS, v. 3, n. 1. São Paulo, 2012. p. 71-96. Disponível em:
http://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/99. Acesso
em 18 dez 2019.

SCHERER-WARREN, Ilse. Dos movimentos sociais às manifestações de rua: o ativismo


brasileiro no século XXI. Política & Sociedade, v. 13, n. 28. Florianópolis, 2014.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2014v13n28p13. Acesso em
18 dez 2019.
125

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO TELEPRESENCIAL TRABALHISTA: OS 6 PILARES NECESSÁRIOS


PARA SUA REALIZAÇÃO E EFETIVIDADE

Lourival Barão Marques Filho64


Daniel Castanha de Freitas65
RESUMO

Com a suspensão das atividades processuais presenciais em razão da Covid-19, as


audiências deixaram de ocorrer no Judiciário Trabalhista. Para a retomada das
atividades, houve edição de ato normativo do Conselho Superior da Justiça do
Trabalho estabelecendo a possibilidade de designação de audiências de instrução na
modalidade telepresencial. Neste contexto, por intermédio de metodologia dedutiva,
o estudo visa compreender a dinâmica, o alcance e os limites deste formato de
audiência, bem como fixa seis requisitos essenciais para que este momento
processual desenvolva-se com efetividade. O primeiro pilar é ter ciência de que as
audiências virtuais, por ora, não conseguem substituir na íntegra as audiências
presenciais. De fato, o modelo telepresencial possui limitações fáticas, pragmáticas,
técnicas e jurídicas e, portanto, não consegue atender todos os processos. Deve-se
considerar, ainda, o paradoxo de que ao se utilizar do que há de mais moderno na
comunicação intersubjetiva, o ritmo das audiências presenciais é mais lento e não
será possível manter a mesma quantidade de instruções presenciais. Mas, dentro do
recorte delimitado e específico de sua incidência, tais audiências podem oferecer uma
resposta razoavelmente satisfatória ao processo. Fixada esta premissa, tem-se o
segundo pilar que orienta e define a audiência telepresencial: a cooperação. A
audiência de instrução telepresencial exige muito mais esforço, dedicação e
participação de todos os sujeitos processuais, incidindo o princípio da cooperação
(art. 6º do CPC) em sua máxima extensão e dimensão. Neste cenário, defende-se que
não exista ato unilateral do magistrado na designação das audiências e que elas

64 Mestre e doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR).


Coordenador e professor do curso de pós-graduação em direito, processo do trabalho e direito
previdenciário da Escola dos Magistrados do Trabalho do Paraná. Juiz do Trabalho, titular da 18ª Vara
de Curitiba/PR. Coordenador do Cejusc de Curitiba/PR. E-mail: lourivalbaraomarques@gmail.com
65 Professor de Direito Administrativo da FAE Centro Universitário - Campus São José dos Pinhais (PR).

Doutorando e Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR. Pesquisador
membro do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas e Desenvolvimento Humano da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná - NUPED-PUCPR. Advogado. E-mail: advcastanha@gmail.com
126

somente ocorram quando resultar de consenso entre todos os sujeitos processuais.


Em terceiro lugar desponta a boa-fé (art. 5º do CPC) como elemento hábil a
solucionar o problema da incomunicabilidade na coleta da prova oral. Cooperação e
boa-fé caminham juntas e sem esta ideia de lealdade processual, não é factível a
realização das audiências de instrução telepresenciais. Para as partes chegarem ao
consenso de que utilizarão este formato, devem pressupor também respeito e
confiança recíprocos. O quarto atributo indispensável para o desenvolvimento
adequado da audiência telepresencial é a capacitação do servidor que opera a
plataforma digital, que deve ser implementado pelo respectivo tribunal. O quinto
pilar em que se edifica a efetividade deste momento processual é a adequada triagem
do processo que será encaminhado para a audiência virtual. Nesta medida, processos
complexos com múltiplos réus e/ou com intensa animosidade devem ser descartados,
porque não se enquadram no formato e, além disso, exigirão um dispêndio
desproporcional de tempo e energia, que neste momento devem ser canalizados para
as demandas com horizonte de solução mais próximo. O sexto elemento é a
eliminação da falácia da ultra complexidade generalizada das audiências. Conforme
pesquisa empírica efetuada na 18ª Vara do Trabalho de Curitiba, em 26,12% das
audiências de instrução não há produção de prova oral e em 26,53% é efetuada
conciliação durante a assentada. São estas demandas com potencial de conciliação e
com prova oral reduzida ou inexistente que o magistrado deve encaminhar para o
formato virtual.

Palavras-chave: Audiência tele presencial; Justiça do Trabalho; cooperação.

REFERÊNCIAS

CUNHA, Leonardo da. Negócios jurídicos processuais no processo civil brasileiro. In:
CABRAL, Antonio do Passo; NOGUEIRA, Pedro Henrique (coord.). Negócios
processuais. 4. ed. Salvador: JusPodivm, 2019, p. 43-78.

DIDIER JUNIOR, Fredie. O princípio da cooperação: uma apresentação. Revista de


Processo, São Paulo, v.30, n.127, p.75-79, set./2005.
127

GREGER, Reinhard; KOCHEM, Ronaldo (trad.). Cooperação como princípio processual.


Revista de processo. São Paulo, v.37, n.206, p.123-134, abr. 2012.

MARQUES FILHO, Lourival Barão. Audiência de instrução telepresencial trabalhista:


os 6 pilares necessários para sua realização e efetividade. Jota. Disponível em: Acesso
em:

MITIDIERO, Daniel. Processo justo, colaboração e ônus da prova. Revista do Tribunal


Superior do Trabalho. Brasília, v.78, n.1, p.67-77, jan./mar. 2012.
128

AUDIÊNCIAS VIRTUAIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO E O ACESSO À JUSTIÇA EM TEMPOS DE


PANDEMIA (COVID-19)

Sandra Mara de Oliveira Dias66

RESUMO

Em razão da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), o CNJ, através da Portaria


314 de 2020, adotou a plataforma Cisco Webex para assegurar a continuidade da
prestação jurisdicional. O tempo não para a Justiça do Trabalho não pode parar, pois
tutela direitos sociais fundamentais e créditos de natureza alimentar. Pergunta-se as
audiências virtuais tem assegurado o acesso à Justiça durante a pandemia? A
conciliação é obrigatória no DPT, e deve ser realizada a qualquer momento (artigo
764 da CLT/1945), sob pena de nulidade. A partir de 06 de abril de 2020, as
audiências virtuais de conciliação passaram a ser realizadas no E.TRT9, com o
objetivo de dar andamento aos processos, para celebração de acordos com extinção
do processo com resolução do mérito, artigo 831 da CLT e para homologação de
negociação processual entre as partes, sobre ônus da prova, prova pericial, prova
emprestada e juntada de documentos, por força do artigo 190 do CPC/2015. Conclui-
se que com as audiências virtuais surge um novo processo do trabalho, cooperativo,
que exige lealdade e boa-fé das partes e procuradores. Para fazer justiça precisa da
colaboração de todos os envolvidos no processo, ninguém consegue fazer justiça
sozinho, a jurisdição é inerte só age se provocada (artigo 2º, do CPC/2015) é o
advogado é indispensável a administração da Justiça (artigo 113 da CF/88). O CNJ no
procedimento de controle administrativo 3753-91- 2020, decidiu que para realização
das audiências virtuais deve haver concordância das partes e não pode imputar
penalidades processuais as que justificarem o motivo do não comparecimento. Pontos
positivos : a)Acesso substancial à justiça previsto no artigo 5º, XXXV da CF/88,
concretizando os ensinamentos de Cappelletti e Garth (1988), que reconhecem o
acesso à ustiça como “requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos –
de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas

66Doutoranda em Direitos Fundamentais e Democracia pelo Centro Universitário Autônomo do Brasil


(UniBrasil), Mestre em Direitos Fundamentais e Democracia pela mesma Universidade, Juíza do
Trabalho titular da 3ª Vara do Trabalho de São José dos Pinhais, email:sandradiassmod@gmail.com.
129

proclamar os direitos de todos.”; todos com acesso a internet podem participar das
audiências virtuais de suas residências, baixando o link que pode ser enviado por
whatssap ou e-mail, ou através de uma simples ligação telefônica; b) princípio da
oralidade as partes podem ser ouvidas e as audiências gravadas; c) a verdade virtual
torna-se real, Chaves Junior 20 0 diz“no novo processo não vigora mais o dogma,
segundo o qual o que não está no processo está fora do mundo; o princípio é outro: o
que está no google está no processo”.; d redução de custos não há custos para
participar das audiências virtuais; e) economia de tempo duração razoável do
processo, artigo 5º,LXXVIII da CF/88; f) eficiência, paz social e segurança jurídica; g)
Segundo dados do CNJ, o E. TRT9, ocupa 4º lugar de usuário da plataforma CISCO
WEBEX. As audiências virtuais devem continuar pós-pandemia: nos “eas cases”;
2) conciliação CEJUSCS e Varas do Trabalho; 3) saneamento do processo; 4) fim das
Cartas Precatórias e Rogatórias, o juízo deprecante pode ouvir as testemunhas em
qualquer local. A audiência virtual de conciliação além de garantir o acesso à Justiça
traz paz aos jurisdicionados trabalhistas.

Palavras-chave: Pandemia novo (Coronavírus-19); audiências virtuais de conciliação; Justiça do


Trabalho; acesso à justiça;

REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Estatísticas de acesso usuários a Plataforma


CISCO WEBEX. Disponível em:
https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=a89ef492-f81e-4679-a58f-
f7caa7452d82&sheet=740707b2-b87f-4ac0-a185-b430f855e682&lang=pt
BR&opt=currsel&select=clearall. Acesso em 12.06.2020.

CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de Resende. O processo em rede. In (Coord)


Comentários à lei do Processo Eletrônico. São Paulo: LTr, 2010. P. 29.

CAPPELLETI, Mauro e GARTH, Bryan. Acesso à Justiça. Tradução e revisão de Ellen


Gracie Northfleet, Sergio Antônio Fabris: Porto Alegre, 1988, p. 12.
130

RENAULT, Luiz Otávio Linhares. Prefácio. In: CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de
Resende. Comentários à lei do processo eletrônico. São Paulo: LTr, 2010.
131

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NAS DECISÕES JUDICIAIS DA JUSTIÇA DO TRABALHO SOB A


PERSPECTIVA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO JUIZ NATURAL E DEVER DE
FUNDAMENTAÇÃO ESTRUTURAL NO ESTADO DE DIREITO

Sandra Mara de Oliveira Dias67

RESUMO

Este resumo aponta a relevância do uso da tecnologia para dar efetividade e


celeridade aos processos trabalhistas. Traz-se à discussão a possibilidade do uso da
inteligência artificial nas decisões judiciais da Justiça do Trabalho. A doutrina tem se
manifestado sobre o tema. Para Pereira (2017), “a máquina poderá apenas ser
utilizada enquanto auxílio e não como substituto da tarefa decisória que deverá ser
humana e estar ao serviço da humanidade.” Hasselmann 20 , “é importante
explicitar três dimensões da condição humana, que apartam a máquina do homem: os
logos, que significa a inteligência ou razão humana; o phatos, os sentimentos e
paixões humanas; e o virtus, componente ético ou moral das ações humanas.” Ainda
Hasselmann (2019) esclarece que “a Inteligência Artificial pode ser utilizada nas
questões jurídicas mais simples, mas nas complexas que reclamam a presença da
razão pragmática não é compatível o seu uso, o phatos (sentimentos e paixões) e
virtus (comportamentos éticos e morais só existentes no ser humano), que envolve
aspectos racionais, sentimentais e morais, não pode se valer da Inteligência Artificial”.
Lima 20 argumenta que “mesmo as mais tecnológicas Inteligências Artificiais
necessitam do homem, para supervisionar o seu trabalho, ainda mais aqueles com
carga subjetiva nunca poderão ser feitos por alguém além do próprio homem, o papel
dos interpretes da lei, deve ser dos magistrados.” O uso da Inteligência Artificial nas
decisões judiciais somente seria possível se fosse aplicada a teoria de Montesquieu, na
qual o uiz era considerado “boca da Lei”. Manoel Atienza 2002 ensina que com
relação aos casos difíceis – “hard cases” – há necessidade da construção racional do
processo argumentativo”. A Inteligência Artificial da forma com que os algoritmos são
programados não tem como executar esse raciocínio argumentativo para solucionar

67Doutoranda em Direitos Fundamentais e Democracia pelo Centro Universitário Autônomo do Brasil


(UniBrasil), Mestre em Direitos Fundamentais e Democracia pela mesma Universidade, Juíza do
Trabalho titular da 3ª Vara do Trabalho de São José dos Pinhais.
132

os “hard cases”, o que impossibilitaria a sua utilização nas decisões da Justiça do


trabalho. Concluiu-se que a Inteligência Artificial pode auxiliar na análise de
documentos, legislação, na prática de atos processuais, pesquisas de jurisprudências,
precedentes, que podem ser utilizados na fundamentação das decisões judiciais da
Justiça do Trabalho. A Inteligência Artificial pode também ser aplicada nos “eas -
cases”, ou se a, nas decisões que envolvem simples cálculos matemáticos, com
limitação de valor da causa de R$ 5.000,00, conforme Direito Comparado na Estônia
admite-se o julgamento por juízes robôs nesta hipótese, matéria exclusivamente de
direito e demandas repetitivas, desde que devidamente supervisionados e validados
por um juiz do trabalho. Mas nos “hard cases”, aqueles casos em que o intérprete
exerce o papel criativo do direito, considera valores éticos, morais, faz sopesamento
de normas e exige um critério de racionalidade argumentativa no momento de julgar,
não seria possível o uso da Inteligência Artificial nas decisões na Justiça do Trabalho
por encontrar óbice no princípio do juiz natural, 5º, incisos XXXVII e LIII, da CF/88 e
10 da DUDH/1948, que estabelece um juiz constitucionalmente competente, humano,
independente e imparcial para julgar os conflitos trabalhistas e no dever de
fundamentação estrutural das decisões judiciais, artigos 93, IX, da CF/88, 832 da
CLT/1945 e 489 do CPC/2015.

Palavras-chave: Inteligência Artificial; Decisões Judiciais; Justiça do Trabalho

REFERÊNCIAS

ATIENZA, Manuel. As razões do direito – teorias da argumentação jurídica. São Paulo:


Landy, 2002.

ÉPOCA. Estônia quer substituir juízes por Robô. Disponível em:


https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/04/estonia-quer-
substituir-osjuizes-porrobos.html. Acesso em: 12 jun. 2020.

HASSELMANN. Gustavo. Os limites da Inteligência Artificial no Direito. Disponível em:


https://www.migalhas.com.br/depeso/310527/os-limites-da-inteligencia-artificial-
no-direito. Acesso em: 03 mar. 2020.
133

LIMA, Renata Alburqueque. MAGALHÃES. Átila de Alencar Araripe. MARTINS. Osmar


Alefe Farias. A Influência da Inteligência Artificial no Direito do Trabalho: Uma
Análise a luz da Globalização. Doutrina – Revista Magister de Direito do Trabalho No.
92 – Nov-Dez/2019.

PEREIRA, Alexandre Libório Dias. Ius ex machina? Da informática jurídica ao


computador-juiz. Revista RJLB, Coimbra, ano 3, n. 1, p. 46-126, 2017. Disponível em:
http://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2017/1/2017_01_0043_0126.pdf. Acesso em: 15
fev. 2020.
134

AVANÇO TECNOLÓGICO E A PROTEÇÃO DE DADOS COMO GARANTIA FUNDAMENTAL DE


DIREITO

Walisson Ribeiro Pinto68

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo, analisar o avanço tecnológico e a proteção de


dados como garantia fundamental de direito. Vivemos na era da informação, onde o
trafego de dados cresce de maneira exponencial, na qual, em questão de segundo, são
enviados e recebidos arquivos, onde não se mede a distância, tão pouco a logística.
Desse modo, a caminhada tecnológica carregou consigo o respaldo e amparo jurídico,
hoje vemos, um cenário mais delicado, acompanhamos gradualmente em veículos de
informações, o vazamento de bancos de dados, que por seguinte podem ser
transferidos, manipulados, reinventados, por vezes, sem o conhecimento ou o prévio
consentimento da vítima, gerando ações ilícitas ou constrangedoras de toda ordem.
Apresenta-se como alternativa, a análise de eficácia da Lei nº 13.709, de 14 de agosto
de 2018, em se ter uma jurisdição transparente, assim, através do método hipotético-
dedutivo, pretende-se demonstrar a necessidade da implementação do LGPD, como
garantia fundamental de direito, adequado às novas tecnologias, com o fim de atender
aos objetivos principais de proteção, quais sejam: (i) violação da intimidade; (ii) da
vida privada; (iii) da honra; (iv) imagem das pessoas. Dessa forma, entende-se que
trazendo a proteção de dados pessoais como garantia fundamental de direito, é uma
alternativa que oferece ao aplicador da lei um viés mais amplo sobre o assunto.
Percebe-se, com isso, maior segurança a efetividade jurídica, bem como, a
possibilidade a fim de fiscalizar a atividade ou de normas específicas que estabeleçam
os deveres e responsabilidades das empresas, com vistas a proteger a dignidade e os
direitos fundamentais da pessoa, particularmente em relação à sua privacidade. Por
fim, concluiu-se que, é necessário a importância da aplicação do viés legislativo no
tratamento dos dados pessoais, exigindo transparência de quem lida com dados
pessoais, buscando proteger o interesse público.

68Graduando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Integrante do Grupo de


monitoria em direito civil. Pesquisador de Iniciação Científica 2020-2021. E-mail:
walisson.dh@hotmail.com.
135

Palavras-chave: Avanço tecnológico; proteção de dados; lei nº 13.709; direito fundamental.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Brasília, 14 de agosto de 2018; 197º da Independência e 130º da República.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 23 mai. 2020.

ALMEIDA, Nathalie Dutra de; CUNHA, Leandro Reinaldo da. Avanços tecnológicos, o
direito à privacidade e o cyberbullying. In CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO
E CONTEMPORANEIDADE, 3; 2015, - Santa Maria. Anais eletrônico Santa Maria:
UFSM, 2015. P. 27 – 29. Disponível em:
http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2015/6-17.pdf. Acesso em: 23 mai.
2020.

BOSSOI, Roseli Aparecida Cassarini, A proteção dos dados pessoais face às novas
tecnologias, conpedi, 1 – 26, 2014, Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=d1aae872c07c10af. Acesso em: 22
mai. 2020.
136

OS IMPACTOS DAS PLATAFORMAS DIGITAIS NO DIREITO DO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA


SUBORDINAÇÃO JURÍDICA FRENTE À EMPRESA UBER

Beatriz Queiroz Cunha69

RESUMO

Notadamente a sociedade tem se transformado sem qualquer precedente, para isso a


tecnologia tem sido o ponto chave, provocando uma verdadeira disrupção digital.
Diante disso, o Direito do Trabalho é veementemente afetado, já que, nessa realidade,
as plataformas digitais têm ganhado cada vez mais força, fazendo com que as relações
trabalhistas assumam características peculiares. Provoca-se, assim, a necessidade de
uma análise atenciosa e detalhada, uma vez que o mundo do trabalho é afetado,
colocando em cheque tradicionais conceitos, essenciais para assegurar a proteção do
trabalhador. A partir dessa premissa, objetiva-se, através dessa pesquisa, analisar os
impactos provocados nos trabalhadores em razão das transformações provocadas
pela gig economy, sob a ótica trabalhista. Desse modo, será dado o enfoque na
empresa Uber, evidenciando como se configura o conceito de subordinação jurídica
na relação existente entre a empresa e o motorista. Para isso utilizou-se o método
dedutivo, a abordagem a partir do método qualitativo, classificando-se a pesquisa
com base no objetivo em exploratória. Ademais, adotou-se a pesquisa bibliográfica,
documental e eletrônica, através do uso de: livros, revistas, sites, anais e afins
referentes aos universos: jurídico, tecnológico e sociológico. Nessa conjuntura, a
empresa multinacional Uber é uma das maiores plataformas que fomentam a
disrupção, caracterizando-se como on-demand, isto é, uma plataforma da gig
economy que consiste na oferta de serviços por aplicativo, identificando a oferta e a
demanda, sendo executada em razão de uma necessidade apresentada. A partir do
seu modo de funcionamento, fomenta-se a calorosa discussão a respeito da
configuração ou não de uma relação de emprego, sendo necessário para isso analisar
os requisitos legais. Nessa pesquisa, procurou-se analisar o requisito mais
controverso: a subordinação jurídica. Esse pressuposto consiste no dever de

69Graduanda do Curso de Direito da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB; Bolsista pelo programa
de iniciação científica da Pró-reitoria da UEPB. Correio eletrônico: beatrizqc27@gmail.com.
137

obediência do empregado, sujeito às regras e às orientações estabelecidas pelo


empregador. No entanto, não é possível evidenciar a aplicação integral do conceito
tradicional quanto aos motoristas da Uber, uma vez que a relação entre eles e a
empresa se constitui a partir de características peculiares e novas em função da
tecnologia disruptiva. Portanto, evidencia-se que o conceito clássico de subordinação
não consegue abarcar a nova realidade, uma vez que é indubitável os profundos
impactos provocados pelas plataformas digitais nas relações de trabalho com
alterações significativas no modo como se configuram. Em recente decisão, na mesma
linha do STJ, a 5ª Turma do TST entendeu como impossível o enquadramento dessa
relação aos conceitos clássicos de vínculo de emprego, mas reconheceu como
necessária uma proteção social aos motoristas, afirmando ser precisa uma
atualização legislativa urgente. Nesse sentido, a certeza do caráter protecionista do
Direito do Trabalho, confere-nos o dever de buscar adequar o conceito de
subordinação a essa relação emergente, em ascendente crescimento, que necessita
urgentemente de proteção. Diante disso, entende-se como necessária a reconstrução
desse pressuposto, sob uma interpretação histórico evolutiva, moldando-o segundo
as características contemporâneas das relações de trabalho.

Palavras-chave: Direito do trabalho; tecnologia; uber; subordinação.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Wanessa Mende de. Reflexões sobre a subordinação jurídica na Era da


Economia Sob Demanda. In: CHAVES JÚNIOR, José Eduardo de Resende (Org.).
Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano. São Paulo: LTr, 2017.

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. – 14ª ed. rev., atual. e ampl. – [3. Reimpr.]
– Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. – 16. ed. rev. e ampl. – São
Paulo: LTr, 2017.
138

OLIVEIRA, Murilo C. Sampaio; ASSIS, Anne Karolline Barbosa de; COSTA, Joelane
Borges. O direito do trabalho (des)conectado das plataformas digitais. Teoria Jurídica
Contemporânea. Rio de Janeiro, v. 4 n. 2 p. 246-266, jan./jun. 2019

SLEE, Tom. Uberização: A nova onda do trabalho precarizado. Tradução: João Peres.
São Paulo: Elefante, 2017.
139

A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2018 E A INFLUÊNCIA DO TWITTER

Paola dos Reis Cândido da Silva70


Nicolas Addor71
RESUMO

A utilização de mídias sociais ensejou a intensa interação da sociedade e atores


políticos. De fato, na conjuntura em que a comunicação se encontra no início de 2020,
admite-se que a internet deu voz a grupos, pessoas e comunidades antes
negligenciadas na mídia vertical. Dessa maneira, a internet proporcionou uma relação
sem intermediários entre a esfera cível e a esfera política. No aspecto das campanhas
eleitorais, Emerson Urizzi Cervi e Michele Goulart Massuchin72 destacam que as
campanhas eleitorais atingiram o estágio pós-moderno, em que o uso de tecnologias
como estratégia eleitoral pelos partidos proporcionou o aumento da quantidade de
informação política que circula em sociedade e possibilitou mecanismos mais
democráticos de debate horizontalizado e amplo. Diante desse cenário, o Twitter se
tornou uma fonte vasta para a análise e coleta de dados sobre o impacto das redes nas
eleições. Ante do exposto, a pesquisa busca analisar o uso da rede social Twitter como
ferramenta de campanha eleitoral nas eleições presidenciais de 2018, para interação
dos candidatos com seus eleitores, e sua importância como indicador da vontade
popular. Intenta-se, por meio da investigação do engajamento dos usuários sobre tais
eleições, buscar responder em que grau é relevante estudar a interação dos
candidatos com os usuários na rede e de que modo o número de postagens,
seguidores e engajamento servem de parâmetro para aferir a vontade popular. Dessa
maneira, adotou-se uma abordagem quantitativa, de natureza básica, cujo objetivo da
pesquisa é de cunho descritivo, com a coleta de dados sobre as postagens e número
de seguidores dos dois principais candidatos presidenciais, delimitando os meses em
que houve a campanha eleitoral. Outrossim, adotou-se o método indutivo. Como se

70 Graduanda em Direito pela PUCPR. E-mail: paola.candido@hotmail.com.


71 Professor da Faculdade Inspirar. Doutorando e Mestre em Direito pela PUCPR. Especialista em
Direito Constitucional pela ABDConst. Bacharel em Direito pela UCDB. E-mail:
nicolasaddor@gmail.com.
72 CERVI, Emerson Urizzi; MASSUCHIN, Michele Goulart. Redes sociais como ferramenta de campanha

em disputas subnacionais: análise do Twitter nas eleições para o governo do Paraná em 2010.
Sociedade e cultura, v. 15, n.1, p. 25-38, jan./jun. 2012.
140

trata de uma pesquisa em andamento, as considerações ainda são preliminares, mas é


possível concluir, em pesquisa realizada pelo próprio Twitter, a ocorrência de uma
grande utilização da rede em momentos sensíveis no processo eleitoral, com altos
picos nos dias de votação e em debates. Ademais, vislumbrou-se que os principais
temas debatidos foram Corrupção e Segurança, com uma ampla margem de interação
feita pelo candidato vencedor da eleição presidencial. Por certo, os dados possibilitam
revelar informações bastante consideráveis, como temas debatidos, momentos de
maior interação dos com os candidatos, bem como o número de seguidores.

Palavras-chave: Eleições; twitter; interações sociais.

REFERÊNCIAS

CERVI, Emerson Urizzi; MASSUCHIN, Michele Goulart. Redes sociais como ferramenta
de campanha em disputas subnacionais: análise do Twitter nas eleições para o
governo do Paraná em 2010. Sociedade e cultura, v. 15, n.1, p. 25-38, jan./jun. 2012.

TWITTER. Como foram as eleições 2018 no twitter. Disponível em:


https://blog.twitter.com/pt_br/topics/company/2018/como-foram-as-eleicoes-
2018-no-twitter.html. Acesso em: 15 abr. 2020.

TWITTER. Twitter e as eleições 2018 no Brasil. Disponível em:


https://blog.twitter.com/pt_br/topics/company/2018/twitter-e-as-eleicoes-2018-
no-brasil.html. Acesso em: 30 mar. 2020.
141

EFICIÊNCIA DO PORTAL E-CIDADANIA COMO MEIO DE PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE


CIVIL

Tassia Teixeira de Freitas Bianco Erbano Cavalli73


Nicolas Addor74
RESUMO

O sistema político brasileiro é concentrado sob um complexo de atores


representativos eleitos de modo direto por meio do escrutínio secreto e obrigatório.
Em outras palavras, o poder decisório do Poder Público e, em especial, do Poder
Legislativo, é tomado majoritariamente por meio da democracia representativa. Ao
longo do processo de universalização da internet, iniciou-se no Brasil e no mundo um
processo de interação e criação de comunidades em rede que tomaram maior forma e
importância para serem consideradas movimentos sociais on-line. Diante da
relevância de tais movimentos via internet e da estruturação da rede mundial de
computadores, a Administração Pública considerou a importância de estar presente
nas redes sociais, sítios e outros serviços online. Como consequência, implementou-se
plataformas digitais com os mais variados propósitos. Uma dessas plataformas, o E-
cidadania, do Senado Federal, possibilita aos usuários devidamente cadastrados a
participarem e interagirem em audiências públicas de forma online, a proporem e
votarem ideias legislativas e a opinarem sobre projetos de leis em andamento na casa
alta do Congresso Nacional. Ainda nesse contexto, existem estruturas que surgem na
Internet. Um exemplo é o portal, em funcionamento desde 200 , denominado “e-
democracia”, elaborado pela Câmara dos Deputados, cuja intenção precípua é
fomentar a participação dos indivíduos nos debates ocorridos na Câmara, com a
participação de qualquer cidadão via portal, sendo os debates acompanhados pelos
deputados federais, potencialmente transformador da realidade. Com o fim de
analisar e consequentemente propor mudanças nessas plataformas, o
questionamento vital que se tem nesta pesquisa é se tais programas de participação
social do governo federal são eficientes nos resultados que buscam obter. A pesquisa

73Professora Universitária. Doutoranda e Mestre em Direito pela PUCPR. E-mail


tassia_erbano@yahoo.com.br.
74 Professor do Curso de Direito da Faculdade Inspirar. Doutorando e Mestre em Direito pela PUCPR.

Especialista em Direito Constitucional pela ABDConst. Bacharel em Direito pela UCDB. E-mail:
nicolasaddor@gmail.com.
142

terá como norte a análise das plataformas digitais federais brasileiras de participação
cidadã, buscando, com isso, investigar as disfunções existentes nos programas em
vigor. A metodologia adotada é adotou-se uma abordagem quantitativa, de natureza
básica, cujo objetivo da pesquisa é de cunho descritivo. Como se trata de uma
pesquisa em andamento, as considerações ainda são parciais: no âmbito das
plataformas digitais em vigor, há pouca eficácia quando os projetos de lei votados são
levados ao escrutínio do Congresso Nacional, por serem meramente ignorados ou
fortemente alterados, o que, por derradeiro, deixa explícito a insegurança jurídica dos
programas de participação democráticos direto. Ademais, o engajamento do público
no âmbito das plataformas existentes é baixo se comparado com a totalidade da
população, o que resulta a uma ínfima quantidade de ideias legislativas que possuam
apoio suficiente dos outros usuários para serem levadas para apreciação pelo
Congresso Nacional. Finalmente, o longo procedimento burocrático para levar ao
Congresso Nacional projetos populares e a falta de transparência dos processos
legislativos dificulta o engajamento de movimentos sociais como autores decisórios.

Palavras-chave: Ampliação da democracia representativa; democracia participativa; formação


da democracia digital no Brasil.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Câmara dos Deputados. E-Democracia. Disponível em:


www.edemocracia.camara.gov.br. Acesso em: 01 jun. 2020.

BRASIL. E-CIDADANIA. Relatório de eventos interativos. Disponível em:


https://www.senado.gov.br/bi-pdf/Arquimedes/ecidadania/rel-evento-Interativo-
completo-pdf.pdf. Acesso em: 01 jun 2020.

CASTELLS, Manuel. O poder da comunicação. 2. ed. São Paulo: Paz&Terra, 2017.

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança. 2 ed. São Paulo: Zahar, 2017.
143

PAMPLONA, Danielle Anne; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra. Exercício


democrático: a tecnologia e o surgimento de um novo sujeito. Revista Pensar,
Fortaleza, v. 20, n. 1, pp. 82-105, jan./abr. 2015, p. 99-101.
144

MEMES E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: OS DIREITOS HUMANOS EM FACE DA ASCENSÃO DA


EXTREMA DIREITA NO BRASIL

João Víctor Vieira Carneiro 75


Lugan Thierry Fernandes da Costa76
RESUMO

O presente trabalho objetiva investigar, por meio de análise qualitativa e


bibliográfica, o fenômeno dos memes de Internet, com enfoque em seu uso como
ferramenta comunicacional nas redes sociais. A hipótese em questão é a influência da
comunicação memética no meio político e, in casu, como isso se articula na crítica dos
direitos humanos por parte da extrema direita no Brasil. O conceito de meme é
anterior à cibercultura, tendo surgido com significado distinto na obra do biólogo
Richard Dawkins. A ressignificação da palavra em meio à cibercultura dá origem ao
“meme de Internet”, definido por Limor Shifman como um grupo de itens digitais com
características em comum: conteúdo, forma e/ou postura (stance), criados com
consciência recíproca e que foram circulados, imitados e/ou transformados por
usuários da Internet. O conteúdo de um meme é variável, mas percebe-se uma
crescente difusão de memes de teor político. Deste modo, participa e,
consequentemente, cria fluxos de mão dupla entre política institucional e sociedade
civil, cujas posições se articula sempre no campo de participantes de um âmbito
digital e informacional – no sentido que lhe dá Manuel Castells. Por extrema direita,
entende-se (por proximidade, alt-right), a princípio, como uma agregação de cunho
político direcionadas pelo conservadorismo e pelo liberalismo – ainda que estas
noções sejam ressignificadas e até dessignificadas – encrustadas no mote “liberal na
economia e conservador nos costumes”. Isto se coloca, via de regra, como reação ao
suposto gigantismo do Estado brasileiro e às transformações oriundas de
movimentos políticos progressistas e política públicas. Assim aparece no
mapeamento feito por Marcio Moretto Ribeiro e Pablo Ortellado e nos servirá de
ponto de partida. Entre meme e extrema direta, constitui-se mutuamente uma forma
específica de pensar a política. Em outros termos, coloca-se a hipótese de uma

75 Graduando em Direito (UFPR). Email: joaovvcarneiro@gmail.com


76 Graduado em Direito (UFPR). Mestrando em Filosofia (PUCPR). E-mail: luganthierry@hotmail.com
145

transferência da dinâmica do meme para a dinâmica ideológica da extrema direita.


Dois indícios disso: os memes são compartilháveis entre extrema direita brasileira e
outras em ascensão no mundo; os memes são introduzidos na comunicação desses
grupos, a ponto de serem teatralizados por vezes. Em suma, a extrema direita estaria
utilizando o meme no sentido da produção de uma gramática política própria. Entre
extrema direta e fluxos políticos, aparece a crítica dos direitos humanos como tópico
privilegiado dessa gramática. Tanto nos memes que circulam em páginas e grupos de
extrema direta quanto em sua agenda a crítica dos direitos humanos é feita de forma
simplificada e estigmatizada. A saber, a identificação genérica de reconhecimento de
direitos humanos com defesa de crimes. Nesse quadro, essa pauta política é
disseminada pelo meme e reproduzida no âmbito política reforçada por essa
disseminação e transformada pela lógica dessa forma de comunicação. Diante disso,
poderíamos concluir, de forma parcial, que existe uma intercambialidade na lógica
comunicacional da extrema direita no Brasil e aquela do meme; e que, nessa
dinâmica, a agenda política de crítica dos direitos humanos ganha peso e forma,
estendendo-se ao nível de proteção e a narrativa dos direitos humanos no país.

Palavras-chave: Memes; extrema direita; direitos humanos; participação política.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6. ed. 1 v. (A era da informação: economia,


sociedade e cultura). Trad. Roneide Venancio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

CHAGAS, Viktor et al. A política dos memes e os memes da política: proposta


metodológica de análise de conteúdo de memes dos debates eleitorais de 2014.
Intexto, n. 38, p. 173-196, 2017.

ELLAD , Pablo; IBEI , Márcio Moretto. Mapping Brazil’s political polarization


online. The Conversation. [s.i.] 3 ago. 2018. Disponível em:
https://theconversation.com/mapping-brazils-political-polarization-online-96434.
Acesso em: 30 maio 2020.
146

RIBEIRO, Márcio Moretto. Antipetismo e conservadorismo no Facebook. In: SOLANO,


Esther et al. (Ed.). O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. Boitempo
Editorial, 2018.

SHIFMAN, Limor. Memes in Digital Culture. Cambridge: MIT Press, 2014.


147

CONTRATOS ELETRÔNICOS E A ESCADA PONTEANA: A NECESSÁRIA REGULAMENTAÇÃO


A PARTIR DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

Ivanilton Mendes Andrade Junior77

RESUMO

As inovações advindas da popularização dos computadores e da própria Internet


fizeram emergir novas questões para ramos já tradicionais das Ciências Jurídicas, dos
quais se destaca o Direito Civil e sua Teoria Geral dos Contratos. Dentro deste cenário,
a possibilidade de contratar foi expandida a partir das tecnologias introduzidas pelo
mundo digital, o que permitiu a desmaterialização dos contratos em prol da rapidez e
maior eficiência atribuídas aos documentos eletrônicos. Essa mudança de paradigma
contratual foi respaldada pelos juristas com base nos arts. 104 e 107 do Código Civil,
vez que estabelecem, no ordenamento jurídico, o princípio da liberdade das formas,
desde que preenchidos os requisitos de validade pelos contratos, haja vista seu
enquadramento na categoria de negócios jurídicos. Contudo, apesar de os acordos
eletrônicos, em uma leitura rápida, confirmarem os requisitos de existência, validade
e eficácia e, portanto, adequados ao cenário supramencionado, surgem questões
acerca de seus elementos, as quais precisam ser levantadas à luz das possibilidades
de alterações indevidas em documentos digitais, bem como pela captação e uso
indevido de dados privados dos contratantes. Por isso, o presente trabalho busca
investigar quais pontos previstos na Escada Ponteana dos contratos tradicionais
necessitam melhor regulamentação, a fim de garantir maior segurança jurídica aos
contratos eletrônicos e assegurar que a vontade neles expressa reflita a manifestada
pelos contratantes. Para essa análise, será usado o método lógico dedutivo e pesquisa
em fontes bibliográficas e documentais em legislações pertinentes. As conclusões
preliminares demonstram a necessidade de regulamentação dos contratos
eletrônicos, tal como é feita com contratos de adesão, tendo em vistas as múltiplas
possibilidades de judicialização e incremento na insegurança jurídica nos pactos

77 Pós-graduando no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Relações Sociais e Novos Direitos pela
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB.
Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahua - UESB. E-mail:
ivaniltonjr@hotmail.com.
148

celebrados eletronicamente, inclusive quanto aos smart contracts. A partir deste


cenário, entendeu-se necessário debater a ampliação e, consequentemente, a
popularização do uso de sistemas de segurança digital, como o caso da assinatura
digital. De mesmo modo, para uma perfeita construção de pactos no espaço digital,
vislumbra-se necessária a adoção de padrões mínimos na confecção, manutenção e
transmissão dos arquivos digitais utilizados nos contratos eletrônicos, o que pode ser
feito seguindo, a título de exemplo, regulamentações como a do Processo Judicial
Eletrônico ou implemento da tecnologia Blockchain. Isto posto, apesar da aparente
contradição com o princípio das liberdades das formas e o disposto no art. 421,
parágrafo único, do Código Civil, as medidas para regulamentação dos contratos em
âmbito eletrônico mostram-se adequadas para garantir um modelo de contratação
digital robusto e com a segurança jurídica necessária para a conversão dos mais
diversos tipos de contratos analógicos em digitais.

Palavras-chave: Contratos Eletrônicos; negócio jurídico; escada ponteana; inovações


tecnológicas.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4ª


Ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

BOIAGO JÚNIOR, José Wilson. Contratação Eletrônica: Aspectos Jurídicos. 1ª Ed.


Curitiba: Juruá, 2005.

LAWAND, Jorge José. Teoria geral dos contratos eletrônicos. 1ª Ed. São Paulo: Editora
Juarez de Oliveira, 2003.

MALHEIRO, Emerson Penha; SANCHEZ, Diego Santos. As relações contratuais sob a


ótica da sociedade da informação: os contratos eletrônicos. ANIMA: Revista Eletrônica
do Curso de Direito das Faculdades OPET. Curitiba PR - Brasil. Ano VIII, n . 15, jul/dez
2016. Disponível em: http://www.anima-opet.com.br/pdf/anima15/artigo-3.-as-
149

relacoes-contratuais-sob-a-otica-da-sociedade-da-informa.pdf. Acesso em: 01 de


junho de 2020.

MENKE, Fabiano. Assinatura eletrônica do direito brasileiro. 1ª Ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2005.
150

A PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS E A PROTEÇÃO JURÍDICA DE PESSOAS REFUGIADAS E


SOLICITANTES DE REFÚGIO NO BRASIL

Derek Assenço Creuz78


Carolina Stephani Melnik Blicharski 79
RESUMO

As interseções entre Direito e Tecnologia originam debates urgentes na esfera


jurídica nacional e internacional, inclusive sobre a forma com que a proteção de
dados pessoais deve ocorrer frente à sociedade da informação, em que os limites
entre público e privado estão cada vez mais indistintos e turvos. A proteção jurídica
de pessoas em situação de refúgio (pessoas refugiadas e solicitantes de refúgio)
reclama para si espaço neste cenário de discussão em razão da vulnerabilidade
inerente à essa condição social e jurídica, assim como em virtude das novas
tecnologias e seus impactos no Direito Internacional dos Refugiados. Este trabalho
busca elucidar quais são as interseções entre o regime jurídico de pessoas em
situação de refúgio a nível internacional, regional e, especialmente, nacional, e o
sistema de proteção de dados brasileiro (conforme expressão cunhada por Bellizze
Oliveira e Pereira Lopes), construído, sobretudo, a partir da Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD) e do Decreto n° 10.046/2019. A pesquisa utiliza o método qualitativo,
empregando as técnicas metodológicas de revisão de literatura especializada e,
posteriormente, de análise legislativa, traçando um quadro comparativo entre a
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 (promulgada no Brasil a
partir do Decreto n° 50.215/1961), a Lei do Refúgio (Lei n° 9.474/1997), a Lei Geral
de Proteção de Dados (Lei n° 13.709/2018) e o Decreto n° 10.046/2019. Objetiva-se
verificar, ao longo do trabalho, se a proteção de dados pessoais cristalizada no
ordenamento jurídico nacional pode suficientemente atender os requisitos
internacionalmente estabelecidos a respeito da proteção de solicitantes de refúgio e
de refugiados e o princípio da confidencialidade intrínseco a esse status. Apontando-
se as questões de maior relevância para a proteção de dados pessoais
especificamente de pessoas em situação de refúgio no Brasil, realiza-se uma análise

78Bacharel em Direito pela Universidade Positivo (UP). E-mail: derek.creuz@outlook.com


79.Pós-graduanda em Processo Civil pela Escola Superior de Advocacia (ESA/PR). E-mail:
carolblicharski@hotmail.com
151

crítico-descritiva da LGPD e do Decreto n° 10.046/2019 a partir dos critérios


previamente elucidados, conferindo atenção (mas não se limitando somente) à
necessária utilização devida do princípio de confidencialidade no âmbito do refúgio, à
possibilidade do compartilhamento de dados, e à responsabilização pela violação da
proteção de dados. A nível de conclusão, o trabalho afirma que o sistema de proteção
de dados pessoais no Brasil não oferece proteção satisfatória aos refugiados e aos
solicitantes de refúgio, e apresenta possíveis itinerários a serem adotados para um
melhor tratamento da temática, de forma a gerar impactos positivos aos grupos
vulneráveis em questão.

Palavras-chave: Proteção de dados pessoais; refúgio; tecnologia; confidencialidade.

REFERÊNCIAS

BELLIZZE OLIVEIRA, Marco Aurélio; PEREIRA LOPES, Isabela Maria. Os princípios


norteadores da proteção de dados pessoais no Brasil e sua otimização pela Lei
13.709/2018. In: TEPEDINO, Gustavo; FRAZÃO, Ana; OLIVA, Milena Donato (Coords.).
Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e suas Repercussões no Direito Brasileiro. São
Paulo: Thomson Reuters Editora, 2019, p. 53-84.

BRASIL. Lei n° .474, de 22 de ulho de 7 “Define mecanismos para a


implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras
providências.” . Brasília, 1997. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9474.htm. Acesso em 31 mar. 2020.

BRASIL. Lei n° 3.70 , de 4 de agosto de 20 8 “Lei Geral de Proteção de Dados


LGPD ” . Brasília, 2018. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso
em 30 mar. 2020.

BRASIL. Decreto n° 0.04 /20 , de de outubro de 20 “Dispõe sobre a


governança no compartilhamento de dados no âmbito da administração pública federal
152

e institui o Cadastro Base do Cidadão e o Comitê Central de Governança de Dados.” .


Brasília, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/decreto/D10046.htm. Acesso em: 30 mar. 2020.
153

CRISE SANITÁRIA E A REGULAMENTAÇÃO DA TELEMEDICINA NO BRASIL: NOVAS


FRONTEIRAS ENTRE DIREITOS HUMANOS DOS PACIENTES E INOVAÇÃO EM SAÚDE

Thiago de Menezes Ramos 80


Tanise Zago Thomasi 81
RESUMO

A Lei nº 13.989, de 15 de abril de 2020, é a responsável por regulamentar o uso da


telemedicina no Brasil no contexto da atual crise sanitária decorrente da pandemia da
COVID-19. Para o CFM, a telemedicina é definida como o exercício da Medicina por
meio de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, visando a
assistência, educação e pesquisa em saúde. O estudo tem por objetivo discutir a
pertinência jurídica dessa regulamentação no país na esfera de proteção dos direitos
humanos dos pacientes. A metodologia empregada parte de uma abordagem
qualitativa do tema, tendo a pesquisa caráter exploratório. Como aporte, utiliza-se
posicionamentos de cortes internacionais de direitos humanos sobre o direito à
saúde, pandemia e proteção dos pacientes. A Corte Interamericana de Direitos
Humanos preconiza que, na atual crise sanitária, o direito à saúde deve ser garantido,
respeitando-se a dignidade humana e os princípios fundamentais da bioética. O
respeito à autonomia dos pacientes é fundamental, de modo que as discussões éticas
em saúde podem favorecer a construção de sistemas sanitários mais acessíveis,
se consideradas sob o prisma da justiça distributiva e do indivíduo, do sujeito em si.
Para a OMS, há um crescente consenso internacional de que todos os pacientes têm
direito à privacidade, à confidencialidade de suas informações médicas, ao
consentimento ou recusa ao tratamento e a ser informado sobre os riscos relevantes
sobre os procedimentos médicos. Em termos regulatórios, a Lei 13.989/2020 estatui
que o médico deverá informar ao paciente todas as limitações dessa prática, dada a
impossibilidade de realização de exame físico durante a consulta e que a prestação

80 Mestrando em Direitos Humanos pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos


Humanos da Universidade Tiradentes (UNIT). Bolsista da Capes (Prosup/Taxa). Graduado em Direito
pela Universidade Tiradentes (UNIT). E-mail: thiagomenezes1211@gmail.com
81 Doutora em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Mestre em Direito pela

Universidade de Caxias do Sul (UCS). Graduada em Direito pela Universidade Católica de Pelotas
(UCPEL). Professora e Pesquisadora na Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Tiradentes
(UNIT) e Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: tanisethomasi@gmail.com
154

desse serviço deverá seguir os padrões normativos e éticos usuais do atendimento


presencial. A norma é silente em relação à autonomia dos pacientes, visto que não
dispõe de direitos, como direito à segunda opinião médica, privacidade e recusa ao
tratamento médico diante dessa nova realidade. Nesse contexto, a atual crise faz das
soluções de atendimento virtual, como a telessaúde, uma ferramenta indispensável à
medida que pode ajudar a achatar a curva de infecções, ao promover o
distanciamento entre médicos e pacientes e possibilitar a formação de equipes
médicas mais equipadas. No entanto, o paciente é marcado pela vulnerabilidade. Os
cuidados, nesse segmento, devem estar centrados no paciente, a fim de que o maior
benefício para a sua saúde e bem-estar possam ser atingidos. A Corte Europeia de
Direitos Humanos considera que no contexto da assistência médica, as obrigações
positivas em torno do direito à vida exigem que os Estados adotem normas que
obriguem os hospitais, privados ou públicos, a tomarem medidas apropriadas para a
proteção da vida dos pacientes, o que inclui a implementação, supervisão e execução
do funcionamento efetivo dessa estrutura regulatória. Portanto, a telemedicina deve
estar alinhada com a proteção dos pacientes enquanto sujeitos de direitos.

Palavras-chave: Direitos dos pacientes; inovação; saúde; telemedicina.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Aline. Direitos Humanos dos Pacientes. Curitiba: Juruá, 2016.

BRASIL. Lei nº 13.989, de 15 de abril de 2020. Dispõe sobre o uso da telemedicina


durante a crise causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2). Diário Oficial da União:
edição 73, seção 1, p.1, 16 abr.2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L13989.htm.
Acesso em: 22 maio 2020.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Resolução CFM nº 1.643/2002. Define e


disciplina a prestação de serviços através da Telemedicina. Diário Oficial da União:
seção 1, p.205, 26 ago. 2002. Disponível em:
155

www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2002/1643_2002.pdf. Acesso em: 22


maio 2020.

CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Declaración de la Corte


Interamericana de Derechos Humanos 1/20 de 9 de abril de 2020. San José, Costa Rica.
14 abril 2020. Disponível em:
http://www.corteidh.or.cr/tablas/alerta/comunicado/declaracion_1_20_ESP.pdf.
Acesso em: 21 maio 2020.

EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Case of Calvelli and Ciglio v. Italy. Application
n. 32967/96. Judgment. 17 january 2002. (§49). Disponível em:
http://hudoc.echr.coe.int/eng?i=001-60329. Acesso em: 12 maio 2020.

SCHWAMM, Lee H. Can telehealth help flatten the curve of COVID-19? Harvard Health
Publishing, Harvard Medical School. 24 March 2020. Disponível em:
https://www.health.harvard.edu/blog/can-telehealth-help-flatten-the-curve-of-
covid-19-2020032419288. Acesso em: 23 maio 2020.
156

A ANOMIA SOBRE A PROPAGANDA ELEITORAL PAGA NA INTERNET NAS ELEIÇÕES 2018 E


A MONETIZAÇÃO DAS FAKE NEWS

Marco Aurélio Rodrigues da Cunha e Cruz 82


Adriana Martins Ferreira Festugatto 83
RESUMO

A desinformação é um fenômeno comunicacional que acompanha a humanidade


desde os primórdios. Com a potencialidade digital conferida pelas redes sociais e
aplicativos de mensagem, ganhou novos contornos, com ampliação de velocidade de
disseminação e alcance. Dirigida aos mais variados temas e fins, inclusive na atual
pandemia do COVID19, é no âmbito político-eleitoral que seus efeitos mostram-se
ainda mais deletérios ao Estado democrático, com reflexos no debate público e no
exercício do direito ao sufrágio. Uma estratégia efetiva de enfrentamento ainda não
foi apresentada, mas há iniciativas. As investigações ainda em curso pela CPMI das
Fake News e o Inquérito STF 4781 visam apurar a existência de esquemas de
financiamento e divulgação em massa de desinformação nas redes sociais. Algumas
organizações, como a Sleeping Giants, atuam para desmonetizar sites que
costumeiramente propagam desinformação, através da supressão de publicidade
oriunda de mídia programática. A intenção dessas iniciativas é seguir o rastro
financeiro e apurar quem, de fato, dirige e opera o mercado das fake news. Contudo,
cabe enfatizar que a legislação eleitoral vigente permite o impulsionamento de
propaganda eleitoral na internet, sem regras jurídicas que prevejam limites e
direcionamento, ao contrário da publicidade de campanha tradicional nos jornais. A
Lei n. 9.504/97 (art. 57-C), como efeito colateral, passou a oportunizar que condutas
voltadas para a desinformação transitem livremente durante o período eleitoral,
época extremamente importante para informação e tomada de decisão pelo eleitor. O
objetivo desta pesquisa é investigar se a anomia sobre a propaganda eleitoral paga na
internet tem relação, e em qual grau, com a monetização da propagação de fake news.
Utiliza-se de pesquisa bibliográfica e documental e o método dedutivo para

82 Doutor em Direito Constitucional, Professor Permanente|PPGD-Unoesc, e-mail:


mar.cunhaecruz@gmail.com.
83 Mestranda em Direitos Fundamentais pela UNOESC, e-mail: drika_ferreira1@hotmail.com.
157

estabelecer uma relação lógica, coerente e ordenada entre as proposições


apresentadas. Como principais resultados, evidenciou-se que o Facebook foi o maior
beneficiado com a alteração legislativa que autorizou o impulsionamento de
propaganda eleitoral e aparece no topo da lista de fornecedores do pleito de 2018. A
empresa não apresentou uma política efetiva de combate à fake news, externada
inclusive pelo pedido de desculpas ante a insuficiência da sua atuação no cenário que
se formou nas eleições estadudinenses de 20 . Iniciativas como a “Biblioteca de
anúncios”, apesar de permitirem a pesquisa de anúncios que envolvam “temas sociais,
eleições e política”, não repercutem no enfrentamento às fake news, e quiçá, trazem
qualquer efeito no que tange a desmonetização das organizações que se formaram em
torno da desinformação, até porque não deixam clara a política efetiva do Facebook
quanto a restrição de conteúdos relacionados à desinformação, e muito menos
tornam públicos os resultados auferidos nesse controle interno, talvez com receio da
perda de receita que uma medida mais ostensiva pelas plataformas digitais possa
gerar.

Palavras-chave: Democracia; fake news; novas tecnologias; propaganda eleitoral.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito n. 4781. Autor: sob sigilo. Relator:
Ministro Alexandre de Moraes. Decisão em 26 de maio de 2020. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/mandado27maio.pdf.
Acesso em: 31 mai. 2020.

FESTUGATTO, Adriana Martins Ferreira; CRUZ, Marco Aurélio Rodrigues Cunha;


MOZETIC, Vinícius Almada. O direito à informação e o impulsionamento de
propaganda eleitoral na internet nas eleições de 2018. In: 5º CONGRESSO
INTERNACIONAL DE DIREITO E CONTEMPORANEIDADE. Mídias e Direito da
Sociedade em Rede, 5., 2019, Santa Maria. Anais Santa Maria: UFSM, 2019. Disponível
em:
https://www.ufsm.br/cursos/pos38/graduacao/santamaria/ppgd/wpcontent/uploa
ds/sites/563/2019/09/10.7.pdf. Acesso em: 31 maio. 2020.
158

MOZOROV, Evgeny. Big Tech: A ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo:
Ubu, 2018.

PIRES, Breiller. Movimento expõe empresas do Brasil que financiam, via anúncios,
sites de extrema direita e notícias falsas. El país, São Paulo, 20 mai. 2020. Disponível
em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-05-20/movimento-expoe-empresas-do-
brasil-que-financiam-via-publicidade-sites-de-extrema-direita-e-que-propagam-
noticias-falsas.html#?sma=newsletter_brasil_diaria20200521. Acesso em: 31 mai.
2020.
159

DELIBERAÇÃO (DEMOCRÁTICA) DIGITAL?

Mariana Carolina Lemes84


Daniel Roxo de Paula Chiesse85
RESUMO

O século XXI já se caracteriza por uma forte crise democrática, consequência daquilo
que se vem denominando pós-verdade, ou seja, a priorização de fatos subjetivos,
como emoções e crenças pessoais, em detrimento de fatos objetivos quando se trata
de moldar a opinião pública. A possibilidade de que os algoritmos possam
maximizar o enfraquecimento da democracia coloca sob investigação o papel das
redes sociais. A deliberação democrática cede ante o peso das manipulações
político-partidárias, influenciando não apenas campanhas eleitorais, mas,
igualmente, o destino social das nações, justificando o interesse da pesquisa
proposta. Estabelecendo como motivação central da pesquisa a democracia,
pretende-se responder como (e se) os algoritmos podem conduzir a sociedade
matematizada a uma democracia ilegítima. Apresentada a hipótese de influência da
deliberação democrática pelos algoritmos, ponto marcante deste siglo, a pesquisa
qualitativa foi desenvolvida de modo prospectivo, à procura de uma resposta
coerente para a dúvida apresentada, evidenciando que os caminhos trilhados desde
a quarta revolução industrial e, a influência dos algoritmos digitais de mecanismos
de pesquisa e de mídias sociais no processo de deliberação política democrática.
Para tanto, o trabalho parte da ideia de democracia deliberativa, criada por
Habermas. Fundada a democracia deliberativa na premissa de que cidadãos e
representantes políticos se devem justificativas mútuas, apresenta-se a tese de que
o debate político não deve ser baseado em inverdades e manipulações, sob pena de
ilegitimidade democrática da sociedade. Os objetivos específicos da pesquisa estão
voltados ao atendimento de questões mais particulares. Primeiro, busca-se

84 Doutoranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação (stricto sensu) em Direitos


Fundamentais, Universidade do Oeste de Santa Catarina, UNOESC. Mestre em Direitos Sociais, Difusos
e Coletivos, Centro Universitário Salesiano, UNISAL. Professora do Curso de Bacharelado em Direito
da UNOESC - campus Chapecó. Advogada. e-mail: mariana.lemes@unoesc.edu.br.
85 Mestre em Direitos Sociais, Difusos e Coletivos, Centro Universitário Salesiano, UNISAL. Professor

do Curso de Direito da Fundação Educacional Rosemar Pimentel - campus Volta Redonda.


Coordenador e Professor do Curso de Pós Graduação em Direito Civil e Processual Civil da Fundação
Educacional Rosemar Pimentel - campus Volta Redonda. Advogado. e-mail: daniel@chiesse.adv.br.
160

demonstrar o grande valor econômico desses códigos invisíveis no mercado de


tecnologia de informação e comunicação, com o crescimento do poder. Baseado
nisso e, na opacidade desses algoritmos86, apontar como a comunicação vem sendo
influenciada e manipulada, argumentando as implicações para a democracia, de
modo a expor que a objetividade e precisão dos algoritmos representam uma das
preocupações da sociedade atual. A administração de volumes de dados
descomunais deve considerar direitos fundamentais como segurança e privacidade,
sem descuidar, ainda, da autonomia no processo democrático de tomada de decisões
políticas. Em tempos de inteligência analítica voltados à Big Data, o processo
decisório se transforma em verdadeiro mercado de análise de dados, servindo,
indistintamente, a clientes ou usuários, empresas e entidades. Demonstra-se o risco
criado para os direitos fundamentais, ponderando que a sociedade matematizada
deflagrou um processo de muito maior sujeição e submissão dos cidadãos,
contribuindo para a derrocada da democracia e do processo emancipatório dos
indivíduos. A influência digital impõe questionar se inadvertidamente o poder e o
governo já não estão sendo exercidos pelos donos das informações coletadas e
processadas.

Palavras-chave: Algoritmos; democracia deliberativa; direitos fundamentais digitais;


plutocracia; thick data.

REFERÊNCIAS

ARVANITAKIS, James. (2017). If Google and Facebook rely on opaque algorithms,


what does that mean for democracy? Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/319163734. Acesso em: 09 fev. 2020.

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desafios para a regulação da propaganda eleitoral. Dissertação de mestrado, UFMG.
Disponível em:
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/DIRSBELHWW/1/julia_rocha_de_barc
elos___disserta__o.pdf. Acesso em: 07 abr. 2020.

86Os modelos de algoritmos "opacos e invisíveis são a regra, e os claros são a exceção". (O'NEIL,
2016, p. 24).
161

BECKER, Daniel; SOILO, Andressa. Thick data e como as percepções humanas podem
salvar o Big Data. Disponível em: https://newlaw.com.br/thick-data-e-como-as-
percepcoes-humanas-podem-salvar-o-big-data/. Acesso em: 07 abr. 2020.

LOBE, Adrian. Wenn Programmierer mächtiger als Politiker werden. Süddeutsche


Zeitung, 2018. Disponível em:
https://www.sueddeutsche.de/digital/digitalisierung-und-demokratie-hey-mark-
zuckerberg-meine-demokratie-ist-nicht-dein-labor-1.4049824. Acesso em: 08 fev.
2020.

WANG, Tricia. (2016). The human insights missing from big data. Palestra proferida
no evento EDxCambridge. Disponível em:
https://www.ted.com/talks/tricia_wang_the_human_insights_missing_from_big_dat
a#t-938104. Acesso em: 07 abr. 2020.
162

AS FAKE NEWS NA ERA DA PÓS-VERDADE E A NECESSIDADE DE GARANTIA DE UMA


OPINIÃO PÚBLICA LIVRE NA DEMOCRACIA BRASILEIRA

Leonardo Bocchi Costa87

RESUMO

O presente estudo tem como finalidade a abordagem acerca da imprescindibilidade


das redes sociais para a disseminação do fenômeno das fake news na sociedade
brasileira contemporânea. Com efeito, busca-se a discussão acerca do conceito de
pós-verdade, era na qual as pessoas tomam como verdadeiro aquilo que lhes convém
e, por conseguinte, geram propagação das fake news nas redes sociais, cadeia de
eventos que acarreta um risco iminente à democracia substancial brasileira. Isso
porque um dos pressupostos essenciais para a verificação da democracia em um
Estado é a existência de uma opinião pública livre, situação que está diretamente
relacionada ao direito de informação jornalística (considerado herdeiro direto da
liberdade de imprensa), além de significar uma garantia institucional da democracia
substancial. Perceba-se, porém, que a opinião pública livre não obsta de nenhuma
maneira a possibilidade de combate à disseminação das fake news, sob a
argumentação falaciosa de se estar violando a liberdade de expressão dos indivíduos
e o direito à informação jornalística. Ao contrário disso, a necessidade de garantia a
uma opinião pública livre impõe ao Estado brasileiro a obrigação de repelir a
disseminação de notícias falsas, tendo em vista que a virulência de tais informações
dolosamente forjadas por indivíduos protegidos pelo anonimato quase inerente às
redes sociais viola o direito à informação jornalística, que é formado, em seu cerne,
pelos elementos da crítica e da notícia, este que traduz a divulgação de um fato cujo
conhecimento tenha importância para o indivíduo na sociedade em que vive. Deve-se
ressaltar que a notícia é inseparável do fato, que deve ser compreendido como um
acontecimento verdadeiro, de modo que não se tutelam no conceito de notícia as
inverdades propagadas nas fake news. Muito pelo contrário, para garantir uma

87 Graduando em Direito pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Atualmente é


bolsista pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, tendo sido aprovado em processo seletivo para o
exercício da função de estagiário no gabinete da Vara de Família, Infância e Juventude de
Jacarezinho/PR.
163

imprensa livre, o Estado brasileiro deve combater veementemente as fake news,


atuação que pode ser demonstrada com a instauração, pelo Congresso Nacional, da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News, onde ataques cibernéticos
que atentam contra a democracia e a utilização de perfis falsos para influenciar os
resultados das eleições de 2018 são investigados. Tal atuação investigativa por parte
do Poder Legislativo é consequência do inevitável impacto da disseminação das fake
news nos páreos eleitorais contemporâneos, desequilibrando decisivamente as
disputas representativas, de modo a afetar peremptoriamente as democracias de
todo o mundo, motivo pelo qual o Estado brasileiro tem o dever constitucional de
frear a disseminação das fake news, a fim de que a democracia pátria não sofra os
efeitos deletérios da desinformação. Utilizaram-se como métodos de abordagem o
método dedutivo, sem prejuízo da pesquisa indireta bibliográfica.

Palavras-Chave: Democracia; direito de informação jornalística; disseminação de fake news;


redes sociais.

REFERÊNCIAS

AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. Belo Horizonte:


Fórum, 2018. p.895.

ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional. 20 ed. São Paulo: VERBATIM, 2016. p.655.

BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Direitos Fundamentais em Espécie. In: BRANCO,


Paulo Gustavo Gonet; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p.1470.

BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Assembleia Nacional Constituinte, 1988.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Acesso em: 6 maio 2020.
164

CALDAS, Camilo Onoda Luiz; CALDAS, Pedro Neris Luiz. Estado, democracia e
tecnologia: conflitos políticos e vulnerabilidade no contexto do big-data, das fake
news e das shitstorms. Perspectivas em ciências da informação, Belo Horizonte, v. 24,
n. 2, p. 196-220, 2019. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
99362019000200196&tlng=pt. Acesso em: 26 mai. 2020

NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Direito e Jornalismo. São Paulo: VERBATIM, 2011.
165

DIREITOS HUMANOS E RISCOS AMBIENTAIS: A MINERAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS NA


SOCIEDADE DE RISCO

Dieniffer Sena de Mattos88


Ygor de Siqueira Mendes Mendonça89
RESUMO

A sociedade de risco, também conhecida como modernidade avançada, surge a partir do


movimento tecnocientífico e do ilimitado crescimento econômico. É um período que reflete a
distribuição desigual dos riscos e o rompimento com os padrões de segurança. Assim, se
anteriormente os riscos puderam ser aceitos como uma parte necessária do progresso, na
modernidade avançada já não podem ser simplesmente percebidos como aspectos positivos
do acelerado processo de modernização. E isso porque o risco e o seu potencial destrutivo
passam a ser caracterizados como incalculáveis, transfronteiriços, transtemporais e globais. O
resultado disso é a ideia de policrise, considerada um conjunto de crises que se originam e se
sustentam mutuamente, a exemplo da crise e dos conflitos ambientais. Sobre este ponto,
destaca-se que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito humano e
fundamental, devendo ser assegurado às presentes e futuras gerações. Porém, sob a ótica da
produção de normas simbólicas e da deterioração dos mecanismos de controle, algumas
atividades causam uma verdadeira corrida armamentista computacional, a exemplo da
mineração das criptomoedas. Por este motivo, questionou-se como os riscos ambientais
dessa atividade se apresentam na modernidade avançada. Para tanto, partiu-se de uma
pesquisa de natureza qualitativa, pautada no método dedutivo. Além disso, utilizou-se o
levantamento e a análise de dados bibliográficos e documentais como técnica de investigação.
Por sua vez, o objetivo geral esteve focado em identificar a natureza dos riscos ambientais das
criptomoedas na perspectiva da sociedade de risco. A partir das reflexões realizadas e da
metodologia empregada, pôde-se perceber que na ótica da sociedade de risco há uma
predominância dos interesses econômicos em detrimento das normas e padrões de
segurança ambientais. Somado a isso, a inconsistência dos mecanismos de controle
tradicionalmente adotados pela sociedade corrobora para a utilização de novas tecnologias,
como é o caso das criptomoedas. Ocorre que de acordo com pesquisadores da Universidade
de Munique, na Alemanha, como Stoll, Klabeen e Gallersdorfer, a emissão de CO2 na atmosfera

88 Graduanda em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail:


dienisena@gmail.com.
89Doutorando em Direito Socioambiental e Sustentabilidade na Pontifícia Universidade Católica do

Paraná (PUCPR). Mestre em Desenvolvimento Socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos


Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA). Especialista em Direito Civil e Processual
Civil pela Universidade da Amazônia (UNAMA). E-mail: ygoor.mendes@gmail.com
166

por meio da mineração de criptomoedas é comparável ao que cidades emitem anualmente, a


exemplo de Las Vegas e Hamburgo. Além disso, segundo o economista holandês Vries, com o
surgimento das criptomoeadas no mercado financeiro, estima-se que o seu processo de
mineração – baseado no sistema de "prova de trabalho" – tem gerado um dispêndio
exacerbado de energia elétrica, com capacidade para alcançar o consumo energético de
países como a Irlanda e a Áustria. Esse gasto de recursos, no entanto, coloca-se de maneira
diametralmente oposta ao novo modelo sustentável mundial de proteção ao meio ambiente.
Com efeito, tem-se o aumento das médias de temperatura, as mudanças climáticas e a
modificação das estruturas químicas da água do mar, capazes de provocar o desequilíbrio
ambiental do planeta e da sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações ao
provocar. Assim, pôde-se perceber que, nesse cenário, os riscos ambientais da mineração das
criptomoedas – especialmente os aqui analisados – podem ser considerados riscos próprios
da sociedade de risco, isto é, de natureza abstrata, transfronteiriços, atemporais e globais.

Palavras-chave: Direitos Humanos; sociedade de risco; riscos ambientais; criptomoedas

REFERÊNCIAS

BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Trad. Jorge Navarro, Daniel
Jiménez, Maria Rosa Borrás. Barcelona: Paidós, 1998.

FERREIRA, Heline Sivini. A dimensão ambiental da teoria da sociedade de risco. In:


FERREIRA, Heline Sivini; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra (orgs.). Direito
Socioambiental e Sustentabilidade: Estados, Sociedades e Meio Ambiente. Curitiba: Letra da
Lei, 2016. p. 108-158.

GIRARD, Lucas. Impactos ambientais da mineração de criptomoedas. CEST - Centro de Estudos


Sociedade e Tecnologia. Universidade de São Paulo. Boletim - v.3, n. 6, ago. 2018.

STOLL, Christian; KLAABEN, Lena; GALLERSDORFER, Ulrich. The Carbon Footprint of Bitcoin.
Joule. Vol. 3, nº 7, 1647-1661, jun. 2017. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2542435119302557#!. Acesso em
13 jun. 2020.
167

VRIES, Alex de. Bitcoin's Growing Energy Problem. Joule. Vol. 2, 801-809, maio 2018.
Disponível em: https://www.cell.com/joule/fulltext/S2542-4351(18)30177-6. Acesso em 13
jun. 2020.
168

ADOÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES


ADMINISTRATIVAS E JUDICIAIS NO BRASIL

Alan José de Oliveira Teixeira90

RESUMO

O uso da Inteligência Artificial (IA) nas mais diversas atividades tem se intensificado
nas últimas décadas. No Direito, sistemas de IA são utilizados para a realização de
pesquisas jurídicas, além de trabalhos maçantes e repetitivos. Mais recentemente,
tem-se discutido a possibilidade da adoção dessas tecnologias na operosidade da
atividade decisória. No Brasil, o Poder Judiciário começa a simpatizar com o uso da IA,
justamente pela eficiência que a tecnologia proporciona em determinadas atividades.
O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, a exemplo, tem investido em
inovações como a indexação processual automática com o fim de identificar
demandas repetitivas. Em parceria com a Universidade de Brasília, no ano de 2018, o
Supremo Tribunal Federal iniciou o pro eto “ ictor”, que em sua fase inicial permitiu
a leitura de todos os recursos extraordinários que sobem para o STF e identifica quais
estão vinculados a determinados temas de repercussão geral. Ademais, sabe-se que a
inteligência artificial funciona a partir dos chamados “algoritmos”, sistemas
programados para buscar respostas a partir de uma base de dados. É nesse contexto
que a adoção das IA pode ser problemática: o sistema está suscetível aos “vieses
algoritmos”, ou se a, as máquinas podem se comportar de modo a refletir os valores
humanos implícitos envolvidos na programação. O gravame ocorre quando a
Inteligência Artificial passa de instrumento a fator decisório, fundamento da decisão
jurídica. Nessa passagem, tanto a decisão administrativa como a decisão judicial que
se baseiam na IA tornam-se difíceis de questionamento a partir de critérios jurídicos,
porquanto os profissionais do direito desconhecem o algoritmo de funcionalidade
daquele determinado sistema. Desse modo, afigura-se relevante um estudo que vise

90 Mestrando em Direito pelo Centro Universitário Internacional UNINTER na qualidade de bolsista


integral do PPGD. Bacharel em Direito pelo UNICURITIBA. Pós-graduando em Direito Administrativo e
Licitações pela Universidade Cândido Mendes. Membro da Red Iberoamericana Juvenil de Derecho
Administrativo – RIJDA e do grupo de pesquisa "A Administração Pública Brasileira e seus controles na
perspectiva da Sociedade Global, Tecnológica e de Risco e mediante consideração de inovações
tecnológicas disruptivas", sob orientação do Prof. Dr. Daniel Ferreira. E-mail: alanjose2011@live.com.
169

investigar os limites e possibilidades da adoção da inteligência artificial como


fundamento nas decisões administrativas e judiciais no Brasil, tendo em vista a
problemática retratada acima. Nesse sentido, o presente trabalho intenta uma revisão
bibliográfica abrangendo textos legais, jurídico-normativos, comentadores, livros e
artigos científicos pertinentes ao tema da pesquisa, bem como eventual análise
qualitativa de dados a respeito do uso da IA pelo judiciário brasileiro. O trabalho
encontra-se em sua fase inicial, notadamente no levantamento bibliográfico, pelo que
não é possível apresentar resultados até esse determinado momento da pesquisa.

Palavras-chave: Inteligência Artificial; direito e novas tecnologias; fundamentação da decisão


jurídica; teoria da decisão jurídica; decisão administrativa e judicial.

REFERÊNCIAS

CELLA, José Renato Gaziero; WOJCIECHOWSKI, Paola Bianchi. Inteligência artificial


nos processos judiciais eletrônicos. In: ROVER, Aires José et al (Coord.). Direito e
novas tecnologias. Florianópolis: FUNJAB, 2013. Disponível em:
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/livro-direito-e-novas-tecnologias. Acesso
em: 02 jun. 2020.

NUNES, Dierle; MARQUES, Ana Luiza Pinto Coelho. Inteligência artificial e direito
processual: vieses algorítmicos e os riscos de atribuição de função decisória às
máquinas. Revista de Processo, vol. 285/2018, p. 421–447, nov./2018.

’NEIL, Cath . Weapons of math destruction: how big data increases inequality and
threatens democracy. New York: Crown Publishers, 2016.

ROVER, Aires José. Informática no Direito: inteligência artificial. Curitiba: Juruá, 2011.

VALENTINI, Romulo Soares. Julgamento por computadores? As novas possibilidades


da juscibernética no século XXI e suas implicações para o futuro do direito e do
170

trabalho dos juristas. Tese. (Doutorado em direito) – Faculdade de Direito,


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
171

A EFETIVAÇÃO DO DIREITO À INFORMAÇÃO DO CONSUMIDOR E A MITIGAÇÃO DOS


RISCOS NA MODERNIDADE AVANÇADA

Ana Carolina Fontana de Mattos91


Ygor de Siqueira Mendes Mendonça92
RESUMO

A modernidade avançada, também conhecida como sociedade de risco, pode ser


percebida a partir da revolução tecno-científica e do crescimento econômico
ilimitado, que subverte os padrões de segurança em benefício da retroalimentação
entre a indústria, ciência e tecnologia. Como resultado, tem-se a quebra dos padrões
de segurança das Instituições e a normalização simbólica de permanentes ameaças e
destruições. Essa naturalização dos custos do progresso cria riscos incalculáveis,
transfronteiriços, globais, transtemporais e legitima o exercício simbólico da política,
da ciência e do direito no contexto de proteção dos direitos humanos e fundamentais.
A respeito do assunto, percebe-se que na seara do direito do consumidor, tais riscos
têm o condão de inviabilizar o pleno exercício de seus direitos básicos como à saúde e
à segurança, tendo em vista que a falência dos padrões de certeza e segurança
proporciona a própria imperceptibilidade momentânea dos riscos. Diante disso, é
indispensável que o Estado garanta a efetivação do direito à informação, pois a partir
do momento em que o consumidor detém informações corretas, pode efetuar
decisões de consumo mais acertadas e salutares, invertendo a própria lógica da
sociedade de risco – mas não eximindo a responsabilidade das empresas e
fornecedores. Nesse sentido, questionou-se qual a relação entre a teoria da sociedade
de risco e a importância do direito à informação nas relações de consumo. Para tanto,
realizou-se pesquisa de natureza qualitativa, pautada no método hipotético-dedutivo,
bem como a análise e levantamento de dados bibliográficos e documentais enquanto
técnica de investigação. Por sua vez, o objetivo geral é o de constatar a importância do
direito à informação nas relações de consumo, especialmente no contexto da

91 Mestranda em Direito Socioambiental e Sustentabilidade na Pontifícia Universidade Católica do


Paraná (PUC/PR). Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). E-
mail: anacfmattos@hotmail.com
92 Doutorando em Direito Socioambiental e Sustentabilidade na Pontifícia Universidade Católica do

Paraná (PUCPR). Mestre em Desenvolvimento Socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos


Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA). Especialista em Direito Civil e Processual
Civil pela Universidade da Amazônia (UNAMA). E-mail: ygoor.mendes@gmail.com
172

modernidade avançada. A partir das reflexões realizadas e da metodologia


empregada, pôde-se concluir que, de fato, a informação correta, acessível e clara é
essencial para a proteção do consumidor, especialmente se pensada a partir da lógica
da sociedade de risco, que contrapõe a garantia e a segurança das relações privadas e
interpessoais. Assim, o direito à informação encontra papel central na tentativa de
mitigação dos riscos, tendo em vista, principalmente, a garantia legal do fornecimento
de informações adequadas e necessárias ao consumidor.

Palavras-chave: Sociedade de risco; riscos tecnológicos; direito do consumidor; direito à


informação.

REFERÊNCIAS

BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Trad. Jorge
Navarro, Daniel Jiménez, Maria Rosa Borrás. Barcelona: Paidós, 1998.

BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo global. España: Siglo Veintiuno, 2002.

EFING, Antônio Carlos. Fundamentos do Direito das Relações de Consumo. 4. ed.


Curitiba: Juruá Editora, 2019.

EFING, Antônio Carlos; GIBRAN, Fernanda Mara. Sociedade de Consumo e o Direito à


Informação. In: Marcos Wachowicz, Carol Proner. (Org.). Inclusão tecnológica e Direito
à Cultura: movimentos rumo à sociedade democrática do conhecimento. 1ed.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2012, v. 1, p. 185-220.

FERREIRA, Heline Sivini. A dimensão ambiental da teoria da sociedade de risco. In:


FERREIRA, Heline Sivini; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra (orgs.). Direito
Socioambiental e Sustentabilidade: Estados, Sociedades e Meio Ambiente. Curitiba:
Letra da Lei, 2016, p. 108-158.
173

HERANÇA DIGITAL: O DIREITO SUCESSÓRIO COMO NORTE LEGISLATIVO À TRANSMISSÃO


MORTIS CAUSA DE DADOS REMANESCENTES

Thiago Barcik Lucas de Oliveira93


Bianca Amorim Bulzico94
RESUMO

Nas últimas décadas, grandes transformações e revoluções tecnológicas modificaram a vida


em sociedade, em especial por meio do uso da internet, que remodelou de forma significativa
as relações humanas ao viabilizar o compartilhamento de informações em larga-escala,
causando grandes repercussões para o Direito, especialmente para o Direito Privado. Nesse
sentido, o Direito das Sucessões não foge a regra, e em grandes debates, muito se tem
discutido a respeito do impasse na transmissão mortis causa da chamada herança digital.
Nesse contexto, a dúvida se instala a respeito de como serão tratados os dados
remanescentes deixados pelo “de cujus”, e qual seria o direcionamento sucessório ideal ao
patrimônio digital deixado na forma de herança. As opiniões se dividem entre o
reconhecimento e não-reconhecimento da herança, ou de parte dela, como integrante ao
patrimônio do indivíduo, e consectariamente, de sua transferência aos seus herdeiros. As
legislações brasileiras que poderiam positivar a presente questão, como o Código Civil, o
Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados, não fazem qualquer menção sobre
o tema, de modo que a discussão e suas possíveis soluções são entregues a doutrina. Para
uma abordagem mais contextualizada da questão, propõe-se a compreensão da natureza
jurídica dos bens digitais, enquanto bens incorpóreos, não apenas para fins didáticos, mas
como uma possível proposta de tratamento mais preciso e efetivo na passagem do
patrimônio digital quanto a transferência mortis causa, dividindo-os, assim, em bens digitais
patrimoniais, bens digitais existenciais e bens digitais patrimoniais-existenciais.
Posteriormente, insere a necessidade e enfretamento do debate a respeito dos direitos
personalíssimos do “de cujus”, que podem ser violados com a divulgação de suas informações,
na mesma proporção que os direitos de terceiros. O tema será abordado através de uma
análise bibliográfica pormenorizada, utilizando-se da metodologia hipotético-dedutiva.
Diante disso, a fim de demonstrar a necessidade ao reconhecimento dos bens digitais, o
presente artigo trata de sua projeção no plano sucessório, criando um caminho possível de

93 Mestrando em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do


Paraná. Pós-Graduado em Direito das Sucessões e Empresarial pela ABDCONST. Advogado. E-mail:
thiago@loes.adv.br
94 Mestranda em Direito Socioambiental e Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica do

Paraná. Advogada. E-mail: biancabulzico@gmail.com


174

atribuição da herança digital aos herdeiros, através das regras sucessórias já existentes,
reconhecendo e dialogando intimamente com os direitos existenciais do falecido.

Palavras-chave: Direito Digital; tratamento de dados; herança digital; bens digitais; direitos
personalíssimos.

REFERÊNCIAS

AUGUSTO, Naiara Czarnobai; OLIVEIRA, Rafael Niebuhr Maia de. A Possibilidade


Jurídica da ransmissão de Bens Digitais “causa mortis” em elação aos Direitos
Personalíssimos do “de cu us”. V Congresso Iberoamericano de investigadores e
docentes de direito e informática. Edição de 2015. UFSM - Universidade Federal de
Santa Maria. Disponível em: http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2015/6-
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BANTA, Natalie M. Inherit the Cloud: The Role of Private Contracts in Distributing or
Deleting Digital Assets at Death. (November 1, 2014) Fordham Law Review, vol. 83,
nº. 799, 2014. Research Paper nº. 2015-7. p. 825. Disponível em:
https://ssrn.com/abstract=2561871. Acesso em: 01 jun. 2020.

CARVALHO, Gabriel Honorato de; GODINHO, Adriano Marteleto. Planejamento


Sucessório e Testamento Digital: a proteção dinâmica do patrimônio virtual. In:
TEIXEIRA, Daniele Chaves (Coord.). Arquitetura do Planejamento Sucessório. 2º ed.
Belo Horizonte: Fórum, 2019.

LEAL, Livia Teixeira. Internet e Morte do Usuário: a necessária superação do


paradigma da herança digital. Revista Brasileira de Direito Civil - RBDCilvil, Belo
Horizonte, v. 16, p. 181-197, abr./jun. 2018.

TARTUCE, Flávio. Herança digital e sucessão legítima primeiras reflexões. RJLB, Ano
5 (2019), nº 1. Ano 5 (2019), nº 1, 871-878. Disponível em:
175

http://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2019/1/2019_01_0871_0878.pdf. Acesso em:


01 jun. 2020.
176

A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: UMA ANÁLISE COMPARADA


ENTRE BRASIL E UNIAO EUROPEIA

Bianca Amorim Bulzico95


Giovana Batisti Vieira96
RESUMO

Na era da Quarta Revolução Industrial o desenvolvimento tecnológico da Inteligência


Artificial permeia a vida em sociedade sem que, muitas vezes, seja percebida. A
evolução das máquinas “inteligentes” substitui, em pouco tempo, tarefas até então
realizadas exclusivamente por humanos. Na medida em que a tecnologia da
Inteligência Artificial proporciona diversos benefícios à sociedade, essa interação
também causa insegurança diante dos seus efeitos negativos. A exposição ao uso
dessa tecnologia pode apresentar riscos materiais (danos à saúde e a segurança dos
indivíduos, danos à propriedade, etc.) e não materiais (danos à privacidade, ao direito
de liberdade de expressão, dignidade humana, discriminação, etc.). Diante destes
potenciais perigos, questiona-se sobre quem seria responsabilizado civilmente pelos
danos causados pelo uso da Inteligência Artificial. A legislação brasileira permeia-se
em lacunas para a solução de questões que versem a respeito da responsabilização
civil dos danos causados pelo uso das novas tecnologias inseridas pela Inteligência
Artificial, de modo que o assunto é cautelosamente curatelado por doutrinadores.
Diante disso, a presente pesquisa escolheu a proposta de regulamentação criada pela
União Europeia para realizar uma análise comparada com o Projeto de Lei 21/2020, o
qual estabelece princípios, direitos e deveres para o uso da inteligência artificial no
Brasil. A escolha pela União Europeia como padrão comparativo está intimamente
ligada à influência que os países exercem sobre o legislativo brasileiro, afim de
encontrar maior segurança jurídica. Sendo assim, o escopo do presente artigo
objetiva-se em auferir maior compreensão a respeito do Projeto de Lei 21/2020, e se
seria eficiente na regulamentação da responsabilidade civil e dos danos causados pela
Inteligência Artificial. A questão será abordada a partir de uma análise bibliográfica

95 Mestranda em Direito Socioambiental e Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica do


Paraná. E-mail: biancabulzico@gmail.com
96 Mestranda em Direito Socioambiental e Sustentabilidade pela Pontifícia Universidade Católica do

Paraná. E-mail: giovanabatistivieira@hotmail.com


177

pormenorizada e utilização dos métodos comparativo e dedutivo. Após essa análise,


conclui-se que a proliferação de estudos preocupados em delimitar a
responsabilização civil àqueles causadores de risco através do uso de sistemas
inteligentes nas mais diferentes formas, podem instruir à legislação brasileira à um
maior grau de confiabilidade e segurança jurídica sobre o assunto, aproximando-se da
aparente efetividade utilizada pelo modelo europeu.

Palavras-chave: Inteligência Artificial; riscos; responsabilidade civil; Brasil; União Europeia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Projeto de Lei 21/2020. Estabelece princípios, direitos e deveres para o uso
da inteligência artificial no Brasil, e dá outras providências. Disponível em:
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pelos atos autônomos da IA. Revista Brasileira de Políticas Públicas. V. 7, n. 3, dez.
2017. p. 239-254.

SCHERER, Matthew U. Regulating Artificial Intelligence Systems: risks, challenges,


competencies and strategies. In: Harvard Journal of Law and Technology. V. 29, n. 2,
2016. p. 354-400.
178

DIREITO À DESCONEXÃO COMO GARANTIDOR DO DIREITO À SAÚDE

Danna Catharina Mascarello Luciani97


Maria Paula Miranda Carvalho98
RESUMO

O presente resumo objetiva demonstrar – a partir do método dedutivo e da revisão da


bibliografia correlata e de pesquisas sobre o tema – a importância do direito à
desconexão, especialmente em tempos de pandemia, como forma de garantia do
direito à saúde. Após o decreto de estado de calamidade pública em virtude da
pandemia de COVID-19, de acordo com estudos realizados pela FGV, quase 80% das
indústrias brasileiras migraram pelo menos parte de suas atividades para o
teletrabalho (trabalho não presencial que ocorre pela utilização de telemática), e,
nesse cenário, 48% dos trabalhadores tiveram sua carga de trabalho aumentada.
Ainda, 82% dos entrevistados nascidos entre 1995 e 2010 (a Geração Z) têm
dificuldades para estabelecer uma rotina saudável com horários definidos para
trabalho, descanso e lazer. O descompasso desses horários, derivado da preferência a
uma dessas atividades, pode acarretar danos ao direito à saúde, constitucionalmente
garantido, que pressupõe, em geral, a proteção contra doenças físicas e mentais, e, em
especial, daquelas decorrentes da relação de trabalho. Percebe-se, a partir de dados
do INSS, que de 2017 para 2019 dobrou o número de benefícios previdenciário
“auxílio-doença” concedido em virtude do burnout ou “Síndrome do Esgotamento
Profissional” CID-10 Z73.0), e a ISMA BR estima que 30% dos brasileiros sofrem com
o problema. Trata-se de sobrecarga de trabalho que pode levar à um quadro de
exaustão emocional, à diminuição da realização pessoal e até mesmo, à
despersonalização do indivíduo, e tende a aumentar em ambientes de trabalho que
demandem competitividade e responsabilidade em excesso dos empregados. Um dos
meios para evitar essa sobrecarga dos funcionários é garantir que esses tenham seu
direito à desconexão respeitado. Derivado dos direitos ao descanso e ao lazer
(constitucionalmente previstos), expressa-se pela desvinculação plena do

97 Mestranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela PUCPR (bolsista PROEX), Bacharel em


Direito pela PUCPR, Membro do Grupo de Estudos em Análise Econômica do Direito (GRAED).
98 Bacharela em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR),
popmpmc@hotmail.com.
179

trabalhador dos meios informatizados utilizados para o exercício de seu labor, de


modo que o empregado possua lapso temporal em que não se encontra a disposição
do empregador, a fim de que possa fruir seus direito ao descanso e ao lazer. Mesmo
com a migração para o teletrabalho, é fundamental observar a jornada de trabalho do
empregado e seu direito à desconexão, para que seja possível a manutenção de sua
vida privada e de sua saúde, física e psicológica.

Palavras-Chave: Direito à desconexão; direito à saúde; Covid-19; teletrabalho.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Economia. Acompanhamento Mensal do Benefício Auxílio-
Doença Previdenciário Concedido Segundo os Códigos da CID-10. Disponível em:
http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/estatsticas/tabelas-cid-10/. Acesso
em: 11 jun 2020.

CARLOTTO, S. Síndrome de Burnout em professores: prevalência e Fatores Associados.


Revista psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 24, n. 4, p. 403-410, out-dez 2011. ISSNe
1806-3446. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ptp/v27n4/03.pdf. Acesso
em: 11 jun 2020.

FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. 56% dos brasileiros têm dificuldade de equilibrar


atividades profissionais e pessoais no isolamento social. Disponível em:
https://portal.fgv.br/noticias/56-brasileiros-tem-dificuldade-equilibrar-atividades-
profissionais-e-pessoais-isolamento. Acesso em: 11 jun 2020.

FUNDAÇÃO Getúlio Vargas. Pandemia já afeta trabalho de 53,5% das famílias.


Disponível em: https://portalibre.fgv.br/noticias/pandemia-ja-afeta-trabalho-de-
535-das-familias. Acesso em: 11 jun 2020.

INTERNATIONAL Stress Management Association no Brasil. Síndrome de Burnout.


Disponível em: http://www.ismabrasil.com.br/img/estresse82.pdf. Acesso em: 11
jun 2020.
180

DOS RISCOS DA SOCIEDADE INFORMACIONAL: OS DADOS PESSOAIS SENSÍVEIS


ANALISADOS SOB O VIÉS DA ISONOMIA VERSUS A DISCRIMINAÇÃO

Eduarda Aparecida Santos Golart99


Isabel Christine Silva De Gregori100
RESUMO

A revolução tecnológica gerou mudanças qualitativas e quantitativas no que tange ao


armazenamento e tratamento das informações, dando seguimento a sociedade
informacional, colocando à informação em destaque e criando uma economia em
torno dela. Dentro dessa nova estrutura, tem-se a utilização dos dados pessoais
captados no ciberespaço em grande escala, muitas vezes sem o conhecimento e
autorização de seus titulares. Com base nisso, cabe perquirir em que medida a
utilização de dados pessoais sensíveis infringe o princípio da isonomia, gerando
discriminação intencional dos seus titulares? Desse modo, o presente trabalho tem
como objetivo analisar a sociedade informacional enquanto propulsora da coleta e
uso de dados pessoais sensíveis a fim de verificar a sua potencial utilização para fins
discriminatórios, o que gera uma ofensa ao princípio da isonomia por consequência.
Ademais, no que se refere aos objetivos específicos, tem-se que se busca estudar a
sociedade informacional, enquanto propulsora da coleta e uso dos dados pessoais,
enquanto um primeiro objetivo. Ainda, é um dos objetivos específicos analisar o uso
de dados pessoais sensíveis com intuito discriminatório, o que enseja a violação do
princípio da isonomia. Para responder a problemática proposta e atender aos
objetivos dados, foram utilizados métodos de abordagem, procedimento e técnica de
pesquisa, sendo o dedutivo, o estruturalista e pesquisa documental e bibliográfica
respectivamente. Nessa conjuntura, percebe-se que os dados pessoais sensíveis são
aqueles que se relacionam com condições mais íntimas das pessoas, pois se referem a
orientação sexual, raça, religião, ideologia político-partidária, estado de saúde e
outros dados que também podem se referir à aspectos mais íntimos. Justamente por

99Autora. Mestranda em Direito na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduada pela
Faculdade Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA). E-mail:
eduardaparecida@hotmail.com.
100 Autora. Doutora em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC,

Mestre em Integração Latino-Americana pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Professora
do Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail:
isabelcsdg@gmail.com
181

tratar de questões tão particulares e sensíveis, esses dados podem ser usados para
causar discriminação intencional, ou seja, para agredir outras pessoas em razão de
suas condições. Essa discriminação, pode ocorrer de diversas formas, mas pode-se
citar, de forma meramente exemplificativa, o uso dos dados pessoais sensíveis
coletados no ciberespaço nas relações de trabalho, onde empregadores ao exercerem
o dever de vigilância acabam utilizando dados pessoais, inclusive sensíveis e antes da
relação trabalhista se constituir. Nesse caso, resta clara a afronta ao princípio da
isonomia. Assim sendo, percebe-se que os dados pessoais sensíveis, enquanto
facilmente captados no ciberespaço, em decorrência da internet das coisas e da
datificação da vida, acabam por gerar um espaço de insegurança onde eles podem
facilmente serem utilizados com o intuito de discriminar, infringindo o princípio da
isonomia e agredindo ou retirando outros direitos em decorrência de tal ação. É em
razão disso que a Lei Geral de Proteção de Dados prevê a categoria especial dos dados
sensíveis e o princípio da não discriminação para fins ilícitos ou abusivos.

Palavras-chave: Dados pessoais sensíveis; discriminação; isonomia.

REFERÊNCIAS

BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do


consentimento. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 20. ed. São Paulo: Paz e Terra, vol. 1., 2019.

COSTA, Andréa Dourado; GOMES, Ana Virginia Moreira. Discriminação Nas Relações
De Trabalho Em Virtude Da Coleta De Dados Sensíveis. Scientia Iuris. Londrina. v.21,
n.2, p.214-236, jul. 2017.

DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro:


Renovar. 2006.
182

SILVA FILHO, Penildon. Políticas de ação afirmativa na Educação Brasileira: estudo de


caso do programa de reserva de vagas para ingresso na Universidade Federal da
Bahia. Jundiaí: Paco Editorial. 2013.
183

CRIPTOMOEDAS, BLOCKCHAINS E OS DIREITOS NA INTERNET: ANÁLISE DAS


CRIPTOMOEDAS E MECANISMOS CORRELATOS COMO FORMAS DE GARANTIA E
EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

Gustavo Alarcon Rodrigues101


Patrícia Borba Marchetto102
RESUMO

A pesquisa em questão trata-se de uma análise jurídica das criptomoedas e das


Blockchains voltada para a compreensão do seu potencial de serventia à dinâmica de
tutela e efetividade de direitos humanos dentro dos ambientes virtuais, tendo como
base para os ensaios aqui pretendidos a compreensão das criptomoedas como formas
privadas de garantia de direitos nos ambientes virtuais, as novas roupagens
presentes nos direitos humanos e, também, a crise de legalidade e legitimidade
reinante no ambiente digital. Assim, com base no referencial proposto, busca-se
demonstrar como as criptomoedas e tecnologias correlatas atuam no sentido de
trazer balizas estáveis aos direitos dos usuários da rede, efetivando a liberdade
humana, a privacidade e diversos reflexos sociais em um ambiente fatidicamente
avesso aos direitos vigentes no mundo físico. Nesse interim, orienta-se à análise da
hipótese da ausência de um poder jurídico legitimamente estabelecido na rede,
apresentando facetas ora alegais ora violadoras de direitos, incapazes de tutelar
efetivamente a dignidade humana que se manifesta através da rede mundial de
computadores. Parte-se, portanto, de um referencial geral acerca da técnica
informacional e sua potencialidade e concretude lesiva à dinâmica de direitos
fundamentais, visando demonstrar como a internet instaura um ambiente
juridicamente sui generis, sem a mínima capacidade e aptidão para prover direitos do
mundo dos átomos para aqueles ambientes digitais. Posteriormente, fazendo uso de
literatura especializada e geral, busca-se compreender a capacidade das

101 Mestrando em Direito pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Humanas e


Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP . Bacharel em Direito pela
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, “Júlio de Mesquita Filho” UNESP . Advogado.
102 Doutora em Direito pela Universitat de Barcelona. Professora vinculada ao Programa de Pós-

graduação em Direito da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, da Universidade Estadual Paulista


“Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Professora Assistente Doutora vinculada ao Departamento de
Administração Pública da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara-SP, da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP .
184

criptomoedas responderem incisivamente a tal dinâmica supressiva de direitos,


apresentando as características disruptivas que marcam seu funcionamento e, dentro
dessa análise, conduzindo para a correlação dessas novas tecnologias com a garantia
do direito à liberdade, direito à privacidade e direitos socioeconômicos na rede
mundial de computadores. A pesquisa adota como base metodológica o método
hipotético-dedutivo, partindo da questão problema para a composição da hipótese
primária, visando o alcance aos objetivos pré-definidos. A hipótese será sujeita à
avaliação por meio de imersão em robusto embasamento teórico para, dessa forma,
comprovar sua veracidade. Trata-se de projeto de pesquisa de Mestrado do autor,
cuja tese encontra-se ainda em produção, motivos pelos quais se torna impossível
prever com exatidão os resultados a serem obtidos.

Palavras-chave: Direitos humanos; criptomoedas; blockchains; privacidade; liberdade.

REFERÊNCIAS

ARMER, Paul. Computer Technology and Surveillance. Santa Clara (EUA): Center for
Advanced Studies in the Behavioral sciences, 1975. Disponível em:
https://stacks.stanford.edu/file/druid:zf198qx6952/zf198qx6952.pdf. Acessado em
25 out. 2019.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Vol. 1.

DE FILIPPI, Primavera; WRIGHT, Aaron. Blockchain and the Law: The rule of code.
Cambridge (EUA): Harvard Press, 2018.

ELLUL, Jacques. A Técnica e o Desafio do Século. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

MARTINS, Hermínio. Experimentum Humanum: civilização tecnológica e condição


humana. Belo Horizonte: Sociedade e Cultura, 2013.
185

A PUBLICIDADE ABUSIVA INTRÍNSECA A JOGOS ELETRÔNICOS INFANTIS: UMA ANÁLISE


SOB A ÓTICA DO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

Jackeline Prestes Maier103


Nathalie Kuczura Nedel104
RESUMO

Conforme os dados disponibilizados pelo site de notícias Valor Investe, o Brasil é o


13º maior mercado de games no mundo e o maior da América Latina. Assim sendo, é
uma das mercadorias mais comercializadas e desejadas pelo público infantil. No
entanto, tais jogos além de visarem o entretenimento infantil, são também meios
interativos e que proporcionam uma grande exposição de informações, nem sempre
relacionadas ao conteúdo do jogo. É nesse ambiente que surge uma nova forma de
publicidade infantil denominada “advergame”. eferida terminologia é utilizada para
conceituar a união das publicidades em plataformas de games infantis. É dessa forma
que as marcas utilizam-se dos jogos eletrônicos infantis para divulgar e promover
seus produtos ao seu público alvo: crianças. Dessa forma, com base no princípio da
proteção integral, cumpre perquirir em que medida a publicidade realizada em jogos
eletrônicos infantis influencia o consumo precoce, tornando-se abusiva perante o
consumidor? Assim, o trabalho possui como objetivo geral verificar a abusividade das
publicidades infantis em jogos eletrônicos. Como objetivo específico busca-se
verificar como ocorrem as publicidades nas plataformas de jogos infantis eletrônicos
e de que forma tais publicidades influenciam o consumo precoce, tornando-se abusiva
perante o consumidor. Para cumprir com o objetivo do presente trabalho será
utilizado como método de abordagem o dedutivo e como método de procedimento o
estruturalista. A técnica de pesquisa empregada é a pesquisa bibliográfica. De acordo
com o Código de Defesa do Consumidor, configura-se como publicidade abusiva a
“publicidade discriminatória de qualquer natureza, que incite à violência, explore o
medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da
criança, desrespeite valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a

103 Pós-graduanda em Direito Processual Civil e Direito Digital pelo Complexo de Ensino Renato
Saraiva (CERS). Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA).
104 Pós-Doutoranda pela UNISINOS. Doutora em Direito pela UNISINOS. Mestre em Direito pela Maria

UFSM. Graduada em Direito pela UFSM. Professora e Vice-Coordenadora do curso de Direito na


FADISMA.
186

se comportar de forma pre udicial ou perigosa à sua saúde ou segurança”. Nesse


mesmo contexto, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária – CONAR,
dispõe em seu Artigo 37 a importância da responsabilidade da publicidade destinada
ao público infantil, impedindo qualquer anúncio que dirija apelos imperativos de
consumo diretamente às crianças, o que se vislumbra facilmente em sites de games
eletrônicos. Diante do conceito exposto pelo CDC e pelo CONAR, o que se verifica é a
abusividade dessa forma de publicidade, visto que as marcas se beneficiam da
hipervulnerabilidade e da condição de pessoa especial em desenvolvimento da
criança para influenciar o seu consumo precoce e consequentemente aumentar o
engajamento da marca e do produto. No entanto, o Princípio da Proteção Integral,
assegura a tríplice responsabilidade da família, Estado e sociedade em assegurar a
proteção e os direitos das crianças e adolescentes. Resta evidente, por fim, a
necessidade de repensar a conjugação dessa forma de publicidade e a necessidade de
uma norma especifica que regulamente e proíba essa forma de publicidade infantil no
Brasil. Ademais, para além de proibir tais publicidades, é necessário também punir as
marcas que publicitam produtos infantis através da publicidade abusiva e que em
razão delas causem qualquer prejuízo ao desenvolvimento da criança, conforme
prevê o Princípio da Proteção Integral e as demais regulamentações que protegem o
público infantil.

Palavras-Chaves: Criança; publicidade abusiva; jogos eletrônicos.

REFERÊNCIAS

BRASIL, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm.
Acesso em: 21 de mai. 2019

Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. 2014. Disponível em:


http://www.conar.org.br/codigo/codigo.php. Acesso em: 21 de mai. 2020.

COVOLO, Lizandra Della Mea; SILVA, Rosane Leal. O advergame como estratégia de
publicidade on-line para o público infantil: desafios na regulação. In: Seminário
187

Internacional de demandas sociais e políticas públicas na sociedade contemporânea.


Santa Cruz do Sul, Anais....Santa Cruz do Sul: Rio Grande do Sul, 2014. Disponível:
https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/view/11688.
Acesso em: 21 de mai. 2019.

VALOR INVESTE, 2019. Brasil é o 13º maior mercado de games do mundo e o maior da
América Latina. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/objetivo/empreenda-
se/noticia/2019/07/30/brasil-e-o-13o-maior-mercado-de-games-do-mundo-e-o-
maior-da-america-latina.ghtml. Acesso em: 21 de mai. 2020.
188

DA PROTEÇÃO DA INTIMIDADE NO CIBERESPAÇO: A (IN)EFICÁCIA DA TUTELA DO CRIME


CIBERNÉTICO DE PORNOGRAFIA DA REVANCHE

Gabriela Gonçalves Medeiros105


Jackeline Prestes Maier106
RESUMO

Os dispositivos tecnológicos possuem uma série de dados e informações relacionadas


à vida das pessoas, não apenas do proprietário, mas também das pessoas com quem
ele se relaciona. Diante das constantes transformações da sociedade informacional
surge um novo paradigma dos crimes cometidos dentro desse ciberespaço. O
anonimato e a interface impessoal contribuem na ocorrência dos denominados
crimes cibernéticos, principalmente naqueles em que há uma exposição da
privacidade alheia. A denominada pornografia da revanche (tradução da expressão
em inglês “revenge porn” é a termologia utilizada para definir as divulgações de
fotos ou vídeos, com conteúdo sexual, expostos em âmbito virtual (redes sociais,
aplicativos de mensagens instantâneas, hospedagem em websites, entre outros) sem
o devido consentimento da vítima. Nesse sentido, cumpre perquirir em que medida
há uma segurança no ciberespaço de proteção às imagens íntimas de vítimas da
pornografia da revanche? Assim, o presente trabalho possui como objetivo geral
verificar a (in)eficácia das legislações que protegem a intimidade da vítima da
pornografia da revanche. Como objetivos específicos busca-se verificar a pornografia
da revanche enquanto uma nova roupagem de violência de gênero e a (in)eficácia das
legislações que protegem a intimidade das vítimas desse crime cibernético. Para
tanto, será utilizado como método de abordagem o dedutivo e como método de
procedimento o dedutivo. A técnica de pesquisa empregada é a pesquisa bibliográfica.
Ademais, o trabalho se enquadra na linha de pesquisa “proteção do ciberespaço e
segurança” da PUC-PR. A pornografia da revanche pode ser entendida como uma

105Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Direitos Emergentes na Sociedade Global –


Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Santa
Maria - FADISMA (2020). Integrante do Grupo de Pesquisa em Propriedade Intelectual na
Contemporaneidade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Advogada. E-mail:
gabyi.medeiros@hotmail.com
106Pós-graduanda em Direito Processual Civil e Direito Digital pelo Complexo de Ensino Renato Saraiva

(CERS). Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA). Membro Sênior do
Núcleo de Estudos em (Web)Cidadania – NEW da FADISMA. Advogada. E-mail:
jackelinepmaier@gmail.com
189

nova roupagem da violência de gênero, pois na maior parte dos casos as vítimas são
mulheres e o vídeo amador deturpado, com o objetivo claro de prejudicar alguém. No
ciberespaço, qualquer usuário é capaz de produzir e compartilhar conteúdos, sem que
haja qualquer impedimento para que imagens e vídeos considerados impróprios não
sejam espalhados pela rede. Essas fotos ou vídeos, muito embora, em regra, sejam
produzidas de forma consensual, em momento de relação íntima entre a vítima e o
agressor, são divulgadas sem autorização e como forma de vingança, trazendo uma
série de danos irreversíveis às vítimas, pois o compartilhamento do conteúdo íntimo
no ambiente virtual permite que o mesmo seja replicado inúmeras vezes, não
impedindo sua posterior republicação. Diante disso, a Lei n.º 12.737/2012, conhecida
como “Lei Carolina Dieckmann” tipificou o crime chamado invasão de dispositivo
informático. O Marco Civil da Internet – Lei n.º 12.965/2014 estabelece uma proteção
dos dados pessoais e da privacidade dos usuários. A Lei n.º 13.718/2018 alterou o
Código Penal, criminalizando a divulgação, transmissão, oferta, distribuição e
publicação de cena de sexo, nudez ou pornografia, sem consentimento da vítima, com
a previsão de aumento de pena se “o crime é praticado por agente que mantém ou
tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
humilhação”. Porém, em que pese os avanços legislativos acerca da temática, ainda
resta evidente a sua ineficácia e a falta de segurança efetiva no ciberespaço para
proteger às imagens íntimas de vítimas de pornografia da revanche.

Palavras-chave: Ciberespaço; crimes cibernéticos; intimidade; pornografia da revanche.


segurança.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet: reflexões sobre a


internet, os negócios e a sociedade. Traduzido por Maria Luiza X. de A. Borges, revisão
Paulo Vaz. Rio de Janeiro, RJ: Editora Zahar, 2003.

COLLI, Maciel. Cibercrimes: limites e perspectivas à investigação policial de crimes


cibernéticos. Curitiba: Juruá, 2010.
190

FARIA, Fernanda Cupolillo Miana de; ARAÚJO, Júlia Silveira de; JORGE, Marianna
Ferreira. Caiu na rede é porn: Pornografia de Vingança, violência de gênero e
exposição da “intimidade”. In: Contemporaneidade. Revista de Comunicação e Cultura.
v. 13. n. 03. 2015. Disponível em:
https://portalseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/13999/1
0888. Acesso em: 31 de maio de 2020.

ROCCO, Barbara Linhares Guimarães; DRESCH, Márcia Leardin. Violação dos direitos à
intimidade e à privacidade como formas de violência de gênero. In: Revista Percurso.
v. 1. n. 14, 2014. Disponível em:
http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/percurso/article/view/833 Acesso em:
31 de maio de 2020.

SPÍNOLA, Luíza Moura Costa. Justiça Restaurativa em crimes de violação à intimidade


cometidos pela internet. In: Selma Pereira de Santana; Ílson Dias dos Santos. (Org.).
Justiça Restaurativa: um sistema jurídicopenal mais humano e democrático.
01ed.Salvador: EDUFBA, 2014, v. 01, p. 255-271
191

A GLOBALIZAÇÃO E O TRATAMENTO JURÍDICO DO CIBERCRIME NO BRASIL: UMA ANÁLISE


DA VULNERABILIDADE DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Caroline Gassen Batistela107


Renata Vicente Duarte108
RESUMO

Sabe-se que as relações ocorridas na internet não se evadem do Direito, portanto,


passíveis da incidência da atuação do Estado e das regras jurídicas vigentes. Cabe ao
Direito, disciplinar e regulamentar os comportamentos que ocorrem também no
ambiente virtual. Há poucos anos o Brasil editou a Lei nº 12.965/14, Marco Civil da
Internet, que regula os crimes praticados em ambiente virtual. Referida lei, revela-se
não só atrasada, mas insuficiente principalmente quanto a proteção de crianças e
adolescentes. Objetiva-se, portanto, uma análise minuciosa da lei em comento para
que se possa afirmar se ela é suficiente para a proteção de crianças e adolescentes.
Para isso utiliza-se o método de abordagem dedutivo e o método de procedimento
monográfico, com técnicas de pesquisa bibliográficas. Para Zanellato, “A Internet é um
meio que permite trocar correspondências, arquivos, ideias, comunicar-se em tempo
real, fazer pesquisa documental ou utilizar serviços e comprar produtos”, assim,
pode-se dizer que a internet é uma rede de computadores interligados. Os crimes
virtuais podem ser conceituados como condutas que ocorrem de modo não
autorizado a sistemas informáticos, comunicações, dados pessoais e outros. De forma
abrangente, Ferreira define crime de informática como sendo toda ação típica,
antijurídica e culpável, cometida contra ou pela utilização de processamento
automático de dados ou sua transmissão. Ainda em 2012, a Legislação brasileira
passou a contar com uma lei mais específica sobre as invasões de computadores que
tipificou alguns os crimes eletrônicos no País. A partir de então, invadir ou adulterar
computadores, criar programas que permitam violar sistemas e divulgar dados
obtidos sem autorização pode resultar em multa e aplicação de pena privativa de
liberdade. Hoje, 80% dos pais não fazem a menor ideia do que os filhos fazem no

107 Advogada, inscrita na OAB/RS 102.718. Especializando em Direito das Famílias e Sucessões pela
Escola Superior do Ministério Público (FMP). carolinebatistela@gmail.com
108Bacharela em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM e acadêmica do 9º

semestre do curso de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA. E-mail:


renatav.duarte@gmail.com.
192

ambiente digital. No Brasil, segundo estudo da Cetic, 21% dos pais não fazem
qualquer restrição ao uso das crianças entre cinco e nove anos. Logo, fica evidente
quão fácil é acessar os conteúdos que envolvem crianças, já que estas não contam
com a devida atenção de seus representantes legais. Em se tratando de Crianças e
Adolescentes, em 2008, o Estatuto que os rege teve acréscimo de vários artigos. O que
antes não era considerado crime, passou a ser tratado como ilícito penal. Os artigos
acrescentados ao ECA, na sua maioria, possuem mais de um verbo no núcleo do tipo
penal, porém toda essa legislação ainda se mostra insuficiente para ceifar de vez a
problemática abordada. Uma solução possível, mas ainda arriscada, seria a
implementação de artigos indeterminados no Código Penal para que o magistrado
possa ter um maior poder discricionário, analisando caso a caso.

Palavras-chave: Globalização; cibercrime; crianças e adolescentes.

REFERÊNCIAS

DIAS, Tatiana de Mello. Dilma sanciona leis que definem cibercrimes. Disponível em:
http://blogs.estadao.com.br/link/tag/lei-azeredo/. Acesso em: 31 maio 2020.

MELO, Marco Antônio Machado Ferreira de. A tecnologia e a solidariedade, in:


ZANIOLO, Pedro Augusto. Crimes Modernos: O impacto da tecnologia no direito. 2º
edição, Curitiba: Juruá, 2012.

MORGADO, Maria Jose. Os sete obstáculos de combate ao cibercrime. Disponível em:


http:// http://oscot.pt/os-sete-obstaculos-no-combate-ao-cibercrime. Acesso em: 31
maio 2020.

SNC, Redação. Crianças são as vítimas mais vulneráveis aos cibercrimes. Disponível
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https://www.nsctotal.com.br/noticias/criancas-sao-as-vitimas-mais-vulneraveis-
aos-cibercrimes. Acesso em 31 maio 2020
193

ZANELLATO, Marco Antônio. Condutas Ilícitas na sociedade digital, Caderno Jurídico


da Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo, Direito e Internet, n.
IV, Julho de 2002.
194

HERANÇA DIGITAL NO CONTEXTO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DAS DIFICULDADES E


POSSIBILIDADES

Caroline Gassen Batistela109


Renata Vicente Duarte110
RESUMO

O conjunto de valores e crenças que formam o comportamento e os padrões


repetitivos constroem, coletivamente, uma cultura. Na era informacional, essa cultura
é ditada pelos criadores que transforam o poder do conhecimento e da criatividade
em patrimônio na internet. São propriedades de uma pessoa e podem ter alto valor
econômico. Já existe um comércio de contas no aplicativo Instagram, por exemplo.
Quanto maior o número de seguidores de uma página, maior o valor que ela
representa. Assim, questiona-se: o patrimônio digital poderá ser herdado? O objetivo
desse estudo é analisar as dificuldades e possibilidades que envolvem a sucessão de
patrimônio digital. Para tanto, utiliza-se o método de abordagem dedutivo, como
método de procedimento, o monográfico e técnicas de pesquisa bibliográficas,
documental e documental indireta. A palavra sucessão significa transmissão e pode
decorrer de ato inter vivos ou mortis causa. Nesse trabalho, tem-se por foco as
sucessões que envolvem transmissão de um conjunto de patrimônio ativo e passivo,
direitos reais e obrigacionais, ou seja, bens, valores, direitos e dívidas deixados pela
pessoa que falece aos seus sucessores. Além disso, pode conter bens materiais ou
imateriais, mas avaliáveis economicamente, porquanto os direitos e deveres
meramente pessoais extinguem-se com a morte. Bens digitais são instruções
traduzidas em linguagem binária que podem ser processadas em dispositivos
eletrônicos, como fotos, músicas e filmes., ou seja, quaisquer informações que podem
ser armazenadas em bytes em aparelhos como computadores, celulares e tablets. Já
os ativos digitais envolvem direitos autorais. Portanto, esses bens e ativos digitais
podem conter músicas e filmes comprados pelo usuário, assim como suas criações
literárias hospedadas em um servidor de e-mail, por exemplo. Podem envolver, ainda,

109Advogada, inscrita na OAB/RS 102.718. Especializando em Direito das Famílias e Sucessões pela
Escola Superior do Ministério Público (FMP). E-mail: carolinebatistela@gmail.com.
110Bacharela em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM e acadêmica do 9º

semestre do curso de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA. E-mail:


renatav.duarte@gmail.com.
195

informações e conteúdo de foro íntimo e particulares. Com o falecimento do usuário


seria possível aos seus herdeiros requererem acesso a esse conteúdo ou a empresa
servidora poderia encerrar a conta ao tomar conhecimento da morte do usuário?
Envolvem-se o sopesamento dos direitos à privacidade e à intimidade do de cujus,
assim como o direito à sucessão e à história da família. Em seus atos de última
vontade, poderia o falecido dispor sobre o acesso às suas contas obrigando as
plataformas a segui-los? Essas questões merecem investigação tendo em vista que no
Brasil não há norma reguladora, embora existam movimentações legislativas. O
Projeto de Lei n.º 8.562 de 2017 pretendia acrescentar um capítulo no Código Civil
para dispor sobre Herança Digital, mas foi arquivado em 2019. Já o Projeto de Lei nº
5.820 de 2019, ainda em tramitação, propõe nova redação ao art. 1.881 do Código
Civil, definindo herança digital e criando uma modalidade virtual do codicilo para
facilitar e desburocratizar o direito das sucessões. Nesse contexto, as dificuldades
ainda permeiam a ausência de legislação específica que regule a questão da herança
digital, o que leva a possibilidade das empresas que hospedam os perfis dos usuários
falecidos a recusarem a fornecer acesso aos bens e ativos digitais do falecido aos
herdeiros.

Palavras-chave: Herança digital; sucessões; patrimônio digital.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Projeto de Lei nº 5.820 de 2019. Dá nova redação ao art. 1.881 da Lei nº
10.406, de 2002, que institui o Código Civil. Brasília, DF, 2015. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=182902
7&filename=PL+5820/2019. Acesso em: 31 maio 2020.

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a


sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

LARA, Moisés Fagundes. Herança digital. Porto Alegre: Editora Clube de Autores,
2016.
196

TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
197

AS DECISÕES SEM HUMANOS AINDA PODEM SER HUMANAS?

Vanessa Ferreira de Almeida111

RESUMO

O debate sobre a introdução do uso da inteligência artificial no gerenciamento da


força do trabalho é sempre visto à margem do debate principal que gira em torno da
automação e as novas tecnologias no local de trabalho. Até agora, esse debate
concentrou-se em quantos empregos serão perdidos como consequência da inovação
tecnológica e como serão os trabalhos do futuro, sem, contudo, analisar as
consequências do uso do gerenciamento por algoritmo no local de trabalho, que tem
aumentado exponencialmente. Dada a sua difusão, como essa tecnologia é
desenvolvida está levantando questões jurídicas e éticas profundas que precisam ser
abordadas, tendo em vista o aumento da pressão para tornar os algoritmos. O centro
do debate sobre a responsabilização e regulação dos algoritmos está no fato de que
eles podem tomar decisões sobre os humanos em áreas sensíveis e subjetivas, como
saúde, emprego, crédito, segurança nacional, entre outros. Um receio mais recente é
que o aumento de grandes conjuntos de dados combinados ao aprendizado de
máquina “Machine Learning” possa permitir que essas técnicas se am usadas para
exercer poder de maneiras que a sociedade proíbe ou deve desfavorecer, mas que a
sociedade não seria capaz de detectar. Um aspecto ainda pouco explorado no que
concerne aos algoritmos é o seu uso no ambiente de trabalho. Embora seja provável
que a tecnologia será capaz de automatizar algumas tarefas rotineiras e
desagradáveis, ela também aumentará a possibilidade de monitorar cada vez mais as
atividades relacionadas ao trabalho de uma maneira que não muito desejável à classe
trabalhadora. O software e o hardware já estão se espalhando nos locais de trabalho
modernos que permitem à gerência dar aos trabalhadores instruções sobre o
trabalho que realizam e controlar seu desempenho por meio de ferramentas digitais.
A inteligência artificial, o uso de big data e o "gerenciamento por algoritmo" já são
uma realidade no mundo do trabalho, levando a práticas comerciais muito intrusivas.
Assim, o presente artigo discute a necessidade de que humanos continuem

111Mestranda em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Email:


lemaladive@gmail.com
198

gerenciando outros humanos, ainda que com o auxílio da inteligência artificial, para
evitar que estes vieses sejam introduzidos na criação dos algoritmos, além de
demonstrar como a legislação trabalhista e a negociação coletiva devem
desempenhar um papel muito mais central para que esses fenômenos ocorram de
uma maneira que possa respeitar a dignidade humana e os direitos fundamentais dos
trabalhadores - ainda assim, esses aspectos ainda são pouco pesquisados no vasto
debate sobre automação e o futuro do trabalho.

Palavras chaves: algoritmos, direito do trabalho, regulamentação, automação.

REFERÊNCIAS

BODIE, Matthew. Et al. The Law and Policy of People Analytics, University of Colorado
Law Review, Forthcoming Saint Louis U. Legal Studies Research. Colorado, Estados
Unidos. Paper No. 2016-6. Pg. 962-1018. Publicado em Março de 2016. Disponível em:
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2769980. Acesso em: 20 maio
2020.

LEE, Min Kyung, et al. Working with Machines: The Impact of Algorithmic and Data-
Driven Management on Human Workers. In: Conferência: CHI '15 Proceedings of the
33rd Annual ACM Conference on Human Factors in Computing Systems. Coreia do Sul.
Abril de 2015. Publicado em abril de 2015. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/277875720_Working_with_Machines_Th
e_Impact_of_Algorithmic_and_Data-Driven_Management_on_Human_Workers. Acesso
em: 19 de maio 2020.

LEVY, Karen. BAROCAS, Salon. Designing Against Discrimination in Online Markets.


Berkeley Technology Law Journal. Califórnia, Estados Unidos. Edição nº 32. Pgs. 72-91.
Publicado em Dezembro de 2017. Disponível em:
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3084502. Acesso em
20/05/2020.
199

MULLER, Catelejine. Artificial intelligence – The consequences of artificial intelligence


on the (digital) single market, production, consumption, employment and society
(own-initiative opinion). Comitê Europeu Econômico e Social. Bruxelas, Bélgica.
Publicado em 31 de maio de 2017. Disponível em:
https://www.eesc.europa.eu/en/our-work/opinions-information-
reports/opinions/artificial-intelligence-consequences-artificial-intelligence-digital-
single-market-production-consumption-employment-and. Acesso em: 20 maio 2020.

ROSSITER, Ned. Software, Infrastructure, Labor: A Media Theory of Logistical


Nightmares. Editora Routledge. Londres, Reino Unido. 2016.
200

PROTEÇÃO DE DADOS EM TEMPOS DE PANDEMIA: A (IN) COMPATIBILIDADE DO SISTEMA


DE MONITORAMENTO INTELIGENTE (SIMI) À LUZ DO DIREITO À PRIVACIDADE

Maria Lydia de Melo Frony112

RESUMO

A pandemia do coronavírus foi determinante para a reformulação das relações


sociais, bem como do indivíduo e o Estado no tocante ao tratamento de dados
pessoais, uma vez em jogo a importância de maior adesão da população mundial aos
mecanismos de controle da pandemia, tais como, o isolamento e/ou distanciamento
social. Em vários países europeus, como Alemanha, França, Itália e Espanha, foi
implementado o sistema de geolocalização, mecanismo que gerou intenso debate
quanto à consonância dessa ferramenta com os direitos personalíssimos de cada
indivíduo. A partir desse contexto excepcional, este presente trabalho teve como
objetivo verificar se, a partir do paradigma civil-constitucional brasileiro, amparado
sob a perspectiva da proteção de dados pessoais, há a compatibilidade da
implantação do Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI) pelo Governo do Estado
de São Paulo para controle e fiscalização da localização de moradores da capital.
Tendo como ponto de partida da análise a evolução histórica
do direito à privacidade no sistema jurídico-constitucional brasileiro, foi realizado o
exame da nova Lei de Proteção de Dados e de seus consectários, sob a perspectiva de
singularidade da pandemia do Covid-19 (coronavírus). Em conclusões parciais do
estudo, observa-se que, embora seja eminente a necessidade de publicização da
eficiência de políticas públicas voltadas ao distanciamento social, para fins de
accountability da própria atuação do Estado no controle pandêmico da doença, é
importante sinalizar uma possível incompatibilidade dessa nova sistemática com o
direito à privacidade dos indivíduos, tendo em vista que a transmissão da localização
destes indivíduos, pelas operadoras de telefonia, sem a devida autorização específica
dos titulares dessas informações, pode não se coadunar com a perspectiva de
proteção de dados pessoais pretendida pela nova Lei Geral de Proteção de Dados –
Lei nº 3.709/18. Além disso, a ausência de um órgão regulamentador dessa atividade

112 Graduanda em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UnB). Graduanda em Gestão de
Políticas Públicas pela Universidade de Brasília (UnB). E-mail: marialydia.melofrony@gmail.com
201

pode ser prejudicial à proteção desses dados, uma vez a ausência de garantia de como
e até quando essas informações seriam utilizadas pela máquina estatal.

Palavras-chave: Proteção de dados; direito à privacidade; sistema de monitoramento


inteligente; pandemia.

REFERÊNCIAS

BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do


consentimento. Livro Virtual – Bibliteca Digital – PUC-SP. Forense, Rio de Janeiro,
2019.

BRASIL. Governo do Estado de São Paulo. Governo de SP apresenta Sistema de


Monitoramento Inteligente contra coronavírus. Disponível em:
https://www.saopaulo.sp.gov.br/sala-de-imprensa/release/governo-de-sp-
apresenta-sistema-de-monitoramento-inteligente-contra-coronavirus-2/. Acesso em:
24 maio 2020.

BENNET, Colin. Regulating privacy, Data protection and public policy in Europe and the
United States. Ithaca: Cornell University Press, 1992.

JÚNIOR, Tércio Sampaio Ferraz Jr. Sigilo de dados: o direito à privacidade e os limites
à função fiscalizadora do Estado. In: Revista da Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo, vol. 88, 1993.

MOSES, Lyria Bennett. How to think about law, regulation and technology: problems
with ‘technolog ’ as a regulatory target. Law, Innovation and Technology, Abingdon-
on-Thames, v. 5, n. 1, p. 1-20, 2013.
202

AS POSSIBILIDADES DE INTERROGATÓRIO ONLINE DE RÉU PRESO NO PROCESSO PENAL


BRASILEIRO: ENTRECHOQUES COM AS GARANTIAS FUNDAMENTAIS DO ACUSADO

Caio José Arruda Amarante de Oliveira113

RESUMO

O processo penal é o instrumento legitimador do poder de penar do Estado, tornando


a ser – também - nesse sentido, a linha tênue entre os direitos fundamentais do
cidadão e o Poder de Império estatal. Por conseguinte, sob a égide do Estado
Democrático de Direito, os direitos humanos fundamentais tiveram as suas eficácias
ampliadas sobre os diversos grupos vulneráveis, entre estes: os acusados, os
suspeitos e os condenados. Assim, o processo – para ser considerado democrático -
reclama por um procedimento em contraditório, em que presentes estejam,
substancialmente, a imparcialidade, a presunção de inocência e a ampla defesa.
Dentro deste último princípio, o interrogatório emerge como um dos meios de defesa,
e mormente de prova, profusamente admitidos no ordenamento processual penal
brasileiro. Outrossim, aliada às tendências das novas tecnologias, a Lei nº
11.900/2009 – a Lei da Videoconferência - trouxe a possibilidade do interrogatório
online de réu preso, desde que excepcionalmente, bem como se satisfeita uma das
hipóteses trazidas pelo referido dispositivo. Desse modo, a concepção teleológica da
legislação que possibilitou o interrogatório via online, estabeleceu-se ao abrigo das
hipóteses de maior celeridade e de redução dos riscos de fuga da parte acusada.
Todavia, as fórmulas abertas e imprecisas trazidas pelo parágrafo único do Art. 185 e
seguintes do Código de Processo Penal brasileiro, podem desembocar na
discricionariedade judicial, que por resultado, influenciar-se-ia no achincalhamento
do contraditório e do direito de defesa do acusado, além disso, há um risco
clarividente da banalização do mecanismo tecnológico novel, que somente dever-se-
ia ser utilizado como ultima ratio. Ademais, restringir-se-á ainda a capacidade do
magistrado de distinguir as condições físicas e mentais do réu, podendo fazer com
que se minore o livre convencimento motivado do julgamento, imprescindível no

113 Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Bolsista de Iniciação
Científica na Universidade Estadual da Paraíba, PIBIC/UEPB/CNPq. Email: caioarruda31@gmail.com.
203

modelo acusatório do processo penal brasileiro. Discutir-se-á, portanto, até que ponto
a inovação tecnológica, materializada pelo interrogatório na modalidade online,
favorece a democracia do processo penal, afirmando a paridade de armas, os direitos
fundamentais do acusado e os Tratados e Convenções de Direitos Humanos. Isto
posto, será mesmo a tecnologia capaz de suceder o pensamento humano? Em
contrapartida, será empregado o método de abordagem dedutivo, assim, iniciar-se-á
especificando os princípios processuais penais como fundamentadores da
legitimidade e da garantia do processo penal em conformidade constitucional,
conferindo ao réu, direitos indisponíveis que convergem com o conteúdo valorativo
dos Direitos Humanos. Além disso, como método de procedimento será abarcado o
explicativo, definindo a natureza dúplice do interrogatório: Como meio de defesa e
como meio de prova. Da mesma maneira, estudar-se-á os impactos da inovação
tecnológica no processo penal brasileiro, legando especial ênfase aos Direitos
Humanos do réu. Arremata-se concluindo: Sob pena de um processo kafkiano, a
presença física do julgador em contato com o acusado resta imprescindível, ao passo
que, ausente essa conexão, minorado estaria o contraditório e a ampla defesa,
corolários constitucionais e direitos fundamentais que geram dever de respeito,
proteção e promoção.

Palavras-chave: Processo penal; lei da videoconferência; inovação; novas tecnologias. direitos


humanos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689compilado.htm. Acesso em: 12 mai. 2020.

BRASIL. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Atos Internacionais. Pacto


Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Promulgação. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em:
12 mai. 2020.
204

BRASIL. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção


Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de
novembro de 1969. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm. Acesso em: 12 mai. 2020.

BRASIL. Lei nº 11.900, de 8 de janeiro de 2009. Altera dispositivos do Decreto-Lei no


3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, para prever a possibilidade
de realização de interrogatório e outros atos processuais por sistema de
videoconferência, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11900.htm#art1.
Acesso em: 12 mai. 2020.

COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda; LOPES JÚNIOR, Aury; ROSA; Alexandre Morais
da. Delação Premiada no Limite: A Controvertida Justiça Negocial Made in Brazil.
Florianópolis: EMais, 2018.
205

REDES SOCIAIS, (DES)INFORMAÇÃO E DEMOCRACIA

Christiane Costa Assis114


David Ian Santos115
RESUMO

O presente trabalho tem como problema de pesquisa a complexa interação entre


democracia e informação pelas redes sociais e tem como objetivo discutir possíveis
salvaguardas democráticas que possibilitem a participação informada pelos cidadãos.
Para tanto, adota-se a técnica de pesquisa documental em face da legislação aplicável
ao tema e pesquisa bibliográfica a partir de fontes secundárias para o referencial
teórico e fundamentação do trabalho. A caracterização da democracia como governo
do povo experimenta constantes releituras em face de novos contextos. Inicialmente
entendida como simples participação nos pleitos eleitorais, a democracia agora exige
uma cidadania ativa na qual os cidadãos são coautores e destinatários de todas as
decisões, sob pena de ilegitimidade destas. Entretanto, referida participação precisa
ser informada no intuito de proporcionar um debate orientado pelo agir
comunicativo – e não estratégico – que busque respostas e soluções adequadas. Nesse
contexto, exige-se a transparência e veracidade das informações para que os cidadãos
possam, efetivamente, participar das decisões estatais e exercer o controle social. A
velocidade e acessibilidade das redes sociais proporcionam uma troca de informações
capaz de impactar a democracia. De um lado, tais redes podem oferecer soluções
rápidas e com a capilaridade adequada para variadas situações de interesse público;
de outro, podem disseminar informações falsas (as fake news) ou especificamente
selecionadas para determinado público-alvo (o microtargeting), conduzindo os
cidadãos a decisões total ou parcialmente desinformadas e, portanto, ilegítimas. Os
problemas das fake news e do microtargeting não são exclusivamente digitais, porém
adquirem um novo relevo nas redes sociais. Os perfis que divulgam informações
falsas ou selecionadas são visualmente semelhantes aos demais perfis e transmitem

114 Doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professora da Universidade do Estado de Minas
Gerais. Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Crise Federativa e Narrativas Democráticas” da
Universidade do Estado de Minas Gerais. Email: christiane.assis@uemg.br.
115 Graduando em Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais. Membro do Grupo de Pesquisa

“Crise Federativa e Narrativas Democráticas” da Universidade do Estado de Minas Gerais. Email:


sidavidsantos@gmail.com.
206

uma falsa credibilidade. Os administradores desses perfis podem ser robôs que
produzem conteúdo em velocidade superior à de um usuário humano ou podem ser
humanos contratados com a finalidade específica de promover a desinformação como
estratégia política. Após a postagem nesses perfis a dinamicidade das redes sociais
permite que os usuários inadvertidamente absorvam essas informações e as
disseminem por meio do compartilhamento da publicação. Em relação ao conteúdo
selecionado em face do público-alvo, embora as redes sociais permitam certa
personalização de anúncios, publicações e privacidade, os usuários não possuem
controle absoluto do que lhes será exibido e nem o dimensionamento adequado sobre
o uso de suas informações pessoais. Funcionando como um canal de influência dos
cidadãos, as redes sociais se tornaram uma temática a ser abordada pelo viés da
democracia, pois servem, concomitantemente, como instrumento de promoção e
destruição da participação popular informada. Sabe-se que as redes sociais não foram
concebidas como um recurso estritamente político ou informacional, porém é
necessário incluí-las nas rotinas do aprendizado democrático como forma de
promoção da cidadania ativa.

Palavras-chave: Democracia; participação; informação; redes sociais.

REFERÊNCIAS

FENTON, Natalie; FREEDMAN, Des. Fake Democracy: Bad News. Socialist Register, v.
54, p. 130-150, 2018. Disponível em:
https://socialistregister.com/index.php/srv/article/view/28588. Acesso em: 22 mai.
2020.

HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre a facticidade e validade. Vol. II. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

HEAWOOD, Jonathan. Pseudo-public political speech: Democratic implications of the


Cambridge Analytica scandal. Information Polity, Amsterdam, v. 23, n. 4, p. 429-434,
2018. Disponível em: https://content.iospress.com/download/information-
polity/ip180009?id=information-polity%2Fip180009. Acesso em: 22 mai. 2020.
207

PERSILY, Nathaniel. The 2016 U.S. Election: Can Democracy Survive the Internet?
Journal of Democracy, v. 28, n. 2, p. 63-76, April 2017. Disponível em:
https://doi.org/10.1353/jod.2017.0025. Acesso em: 22 mai. 2020.

RUEDIGER, Marco Aurélio (Coord.). Robôs, redes sociais e política no Brasil: estudo
sobre interferências ilegítimas no debate público na web, riscos à democracia e
processo eleitoral de 2018. Rio de Janeiro: FGV, DAPP, 2017. Disponível em:
http://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/bitstream/handle/bdtse/4433/2017_ruedig
er_robos_redes_sociais_.pdf?sequence=1. Acesso em: 22 mai. 2020.
208

A RELAÇÃO ENTRE A SURVEILLANCE E AS CIDADES INTELIGENTES: O COMPARTILHAMENTO


DE DADOS E O AVANÇO DO MUNDO “SMART”

Gabriel Lima Mendes116


Hígor Lameira Gasparetto117
RESUMO

Em um universo cada vez mais tecnológico, permeado pela difusão da inteligência artificial,
onde as pessoas estão cada vez mais conectadas a objetos e ambientes virtuais, acarretando
na geração de dados interativos entre sujeitos, tanto no tempo quanto no espaço, por meio da
Internet of things (IoT). Tecnologia essa que ganha força com o advento das cidades
inteligentes. Tal sistema Smart é capaz de receber dados e informações da cidade e
transformar em alternativas para contornar os principais problemas urbanos de cada local.
No entanto, contrasta-se um evidente contraponto nessa relação entre a produção desses
dados e sua devida manutenção em sigilo. Nessa perspectiva, quanto maior o número de
dispositivos conectados, mais dados serão produzidos, e, como resultado, maior será o fluxo
informacional de dados pessoais que serão obtidos pelos controladores dos objetos
conectados à Internet das Coisas, sejam empresas ou o Estado. Dessa forma, questiona-se até
que ponto o compartilhamento desses dados (de forma intencional ou não), sob a perspectiva
do avanço do mundo Smart, configura uma relação de violação de privacidade dos seus
usuários? Para enfrentar essa indagação, o presente trabalho se utilizará do método de
abordagem dialético, uma vez que se propõe a analisar os benefícios da internet das coisas no
sentido de proporcionar significativos avanços no que tange ao progresso tecnológico das
cidades inteligentes, fazendo um contraponto com os malefícios diante da lógica da
surveillance à produção de dados em massa. Ademais, utilizar-se-á dos métodos de
procedimentos monográfico e comparativo, assim como se recorrerá da técnica de pesquisa
bibliográfica. Outrossim, com a finalidade de sanar as demandas oriundas desta pesquisa,
atentar-se-á a autores que trabalham na perspectiva da sociedade em rede, como Castells e
Magrani. O estudo proposto tem por objetivo identificar e analisar as cidades inteligentes e
seus instrumentos do cotidiano capazes de serem dispositivos vigilantes, observando o
quanto essa relação pode infringir o Direito Fundamental de seus usuários ao que tange à

116 Mestrando em Direito pelo PPGD-UFSM. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). Integrante do Grupo de Pesquisas em Propriedade Intelectual na Contemporaneidade
da UFSM (GPPIC). Contato eletrônico: gabriellbmendes@gmail.com.
117 Mestrando em Direito pelo PPGD-UFSM. Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM) e em Direito pela Universidade Franciscana (UFN). Integrante do
Núcleo de Estudos Avançados em Processo Civil da UFSM (NEAPRO). Contato eletrônico:
higorlameira@gmail.com
209

Privacidade, tendo em vista o compartilhamento de dados pessoais evidenciados pelo avanço


desenfreado das tecnologias com soluções baseadas em IoT. Ao final, como reflexões a serem
levantadas, denota-se que as Tecnologias Smart, sob o mecanismo da internet das coisas,
podem transformar o mundo em uma grande sociedade de controle. Desse modo, verifica-se
que as tecnologias das cidades inteligentes, geram uma conectividade de dados e pessoas a
todo momento, os quais muitas vezes são utilizados de modo inapropriado ou sem a sua
devida proteção, afetando, assim, o Direito Fundamental da Privacidade de seus usuários por
meio da vigilância de certas empresas. Sendo assim, as questões que tangem a surveillance
devem ser amplamente debatidas pelo universo acadêmico, midiático e do ponto de vista
jurídico, a fim de que os dados pessoais dos usuários conectados à Sociedade em Rede
possam ser mantidos em segurança, sem que Direitos Fundamentais, a exemplo da
Privacidade, fiquem à mercê de interesses econômicos e empresariais.

Palavras-chave: Cidades inteligentes; compartilhamento de dados; direito digital; internet das


coisas; surveillance.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 11. ed. Traduzido por Roneide Venâncio Majer. São
Paulo: Paz e Terra, 2008. v. 1.

CASTRO, Catarina Sarmento e. Direito da informática, privacidade e dados pessoais. Coimbra:


Edições Almedina, 2005.

FAVERA, Rafaela Bolson Dalla. Surveillance e Direitos Humanos: o tratamento jurídico do tema
nos EUA e no Brasil, a partir do caso Edward Snowden. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora,
2018. v. 1.

LEITE, Carlos. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num


planeta urbano. Porto Alegre: Bookman, 2012.

MAGRANI, Eduardo. A internet das coisas. Rio de Janeiro: FGV, 2018.


210

O VÍCIO DE CONSENTIMENTO DE UMA REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST MORTEM E A


BIOTECNOLOGIA DA REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Lorena Pinto Gonçalves118

RESUMO

O objetivo do estudo é analisar os aspectos jurídicos da reprodução assistida quando


existe um vício de consentimento durante o procedimento biotecnológico, levando
em conta os direitos da personalidade do falecido e da criança nascida. A reprodução
assistida, é o meio pelo qual indivíduos tentam solucionar seus problemas
relacionados a infertilidade. O problema trazido pela pesquisa, é como resolver o
conflito entre o direito à identidade genética e o direito da personalidade post
mortem, quando concomitantemente existe um vício de consentimento no
procedimento da reprodução assistida. A metodologia utilizada é a lógico-dedutiva,
através do estudo da reprodução assistida, suas exigências, como também dos
direitos da personalidade nascituro e do morto. Esta reprodução pode ocorrer de
duas formas: i. Inseminação artificial: Quando há introdução de espermatozoides in
vivo para uma possível fecundação; ou ii. Fecundação in vitro: A fecundação ocorre
em laboratório com a implantação de um espermatozoide em um óvulo, que será
implantado posteriormente na cavidade uterina. O estudo focaliza quando o material
genético é proveniente do próprio casal, o que é reconhecido como reprodução
homóloga. Especialmente quando a fecundação é in vitro, se um dos cônjuges entrar
em óbito, subtende-se que houve a necessidade de criopreservar o material recolhido.
Considera-se que quando um indivíduo entra em óbito, deverá haver a aplicação dos
fins intrínsecos de uma pessoa e a princípios, pois, a tutela jurídica existirá para todos
aqueles episódios em que não há referência a sua vida de particular, como no
transplante de órgãos. Neste procedimento de criopreservação é exigido o comum
acordo do casal quanto ao destino do material. Além disso, cabe dizer que para

118Lorena Pinto Gonçalves – UNIFACEAR – Centro Universitário; Graduanda em Direito. Diretora de


Desenvolvimento Acadêmico do Centro Acadêmico Professor Petrus Tybur Junior da UNIFACEAR –
Centro Universitário. Integrante no Grupo de Pesquisa de Análise Econômica do Direito (GRAED). Já
estagiou nos Juizados Especiais no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná; no Ministério Público e
atualmenteestá estagiando no Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. É Conciliadora em
andamento do CEJUSC no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
211

submissão a este tipo de reprodução, é obrigatório haver prévia autorização em


escrito do doador, em cumprimento a Resolução 1.358/92 do Conselho Federal de
Medicina. Posto que essa resolução não contém força de lei, a princípio, a prática
desse meio de reprodução sem o consentimento é vedada e fundamentada também
pela bioética. Nesta visão, a consequência da prática desse meio de reprodução sem
autorização prévia, seria a consideração de que o material utilizado seria de um
doador anônimo. Em fundamento aos direitos da personalidade do falecido, não
existiria, portanto, violação ao princípio da paternidade responsável, reflexos no
direito de família e no direito sucessório. Ocorre que, em contrapartida, também
existe o direito do nascituro eventualmente requerer seu direito a identidade
genética, porém, tendo vista que o documento em que a vontade foi manifestada por
aquele que realizou a doação, é o meio pelo qual ocorre a atribuição da paternidade e
os direitos sucessórios, conclui-se que nesta pesquisa inicial, o problema de pesquisa
não é resolvido. O motivo é simples, a busca por esse direito por parte da criança e até
mesmo de sua mãe em processo judicial ficará prejudicada, posto que, de acordo com
as considerações aqui trazidas, bem como pela disposição expressa pelo Conselho
Nacional de Justiça em seu Provimento Nº 63 de 14/11/2017, a autorização é um
documento necessário para o reconhecimento de filiação, conforme o seu art. 17.

Palavras-chave: Direito da personalidade post mortem; direito à identidade genética;


reprodução assistida;

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Julia Picinato Medeiros de; ARAUJO, Carlos Henrique Medeiros de. Biodireito e
Legislação na Reprodução Assistida. Revista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e do
Hospital das Clínicas da FMRP. São Paulo, Volume 51 - nº 3 - Julho/Setembro - 2018.
Disponível em: https://bit.ly/2Yrvm6Q. Acesso em: 29 maio 2020.

BELTRÃO, Silvio Romero. Tutela jurídica da personalidade humana após a morte: conflitos
em face da legitimidade ativa. Revista de Processo, São Paulo, v. 40, n. 245, p. 177-196, set.
2015.Disponível
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bi
212

bli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.247.07.PDF. Acesso em: 29 maio


2020.

FISCHER, Karla Ferreira de Camargo. Inseminação artificial post mortem e seus reflexos no
Direito Sucessório. In: Congresso Brasileiro de Direito de Família, VII, Out. 2009. Anais
Eletrônicos. [S.I]: IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família: 2009. 1-21. Disponível
em: http://www.ibdfam.org.br/assets/upload/anais/224.pdf> Acesso em: 29 maio 2020.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 11. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara

Koogan, 2017.

DELGADO, Mário Luiz. Prévia autorização na reprodução assistida heteróloga post mortem.
[S.I]: Revista Consultor Jurídico, set. 2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-
set-15/processo-familiar-previa-autorizacao-reproducao-assistida-heterologa-post-mortem.
Acesso em: 29 maio 2020.
213

AUDIÊNCIA POR VIDEOCONFERÊNCIA: A EFETIVAÇÃO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO


PROCESSO EM PERÍODO DE PANDEMIA

Mariane de Matos Aquino119


Fernanda da Silva Soares120
RESUMO

É fato incontroverso que a missão do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos
mais caros aos cidadãos, tais como, liberdade e intimidade, razão pela qual não pode
haver qualquer reserva ou mitigação desta proteção. Entretanto, o Direito Penal não
se resume às instituições da pena e do crime para salvaguarda dos bens jurídicos,
inclui as garantias do denunciado, as quais constituem verdadeiros direitos humanos
e fundamentais. Dentre tais garantias, está a duração razoável do processo, que
embora já não esteja sendo concretizada efetivamente pelo ordenamento jurídico
brasileiro, nota-se que o isolamento social, devido à Covid-19, poderia prejudicar
ainda mais a aplicação. No intuito de evitar um agravamento ao processo penal, bem
como aos direitos do denunciado, com a inobservância da duração razoável do
processo, recorreu-se ao instituto da videoconferência disponível no ordenamento
processual penal brasileiro há mais de dez anos, mas subutilizado face as
controvérsias que pairavam sobre sua aplicação. Pretende-se com a pesquisa abordar
a essencialidade da videoconferência para garantia da duração razoável do processo,
principalmente diante do cenário causado pela pandemia, bem como, demonstrar que
sua utilização, ao contrário do que defende parte da doutrina, não ofende princípios
constitucionais, longe disso, assegura-os. Para tanto, utilizar-se-á o método de
abordagem hipotético-dedutivo, a fim de verificar se a hipótese ora apresentada se
confirma diante das variáveis. Nesse sentido, destaca-se que parte da doutrina que
critica a utilização do citado recurso tecnológico, entende que a videoconferência
inviabiliza a diretriz constitucional de que o denunciado tem o direito de estar na
presença física do juiz, e que impossibilita o contato psicológico com o denunciado, o

119 Advogada. Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2020 – 2022).
Pós-Graduanda em Direito Penal e Processo Penal Econômico pela Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (2019-2020). Membro da Comissão da Advocacia Criminal de Londrina. Associada ao Instituto
Brasileiro de Ciências Criminais. E-mail: aquinomariane2@gmail.com.
120 Promotora de Justiça. Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2020 –

2022). Pós-graduada em Direito Penal Econômico pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(2007). E-mail: fersoares001@gmail.com.
214

que seria indispensável para o conhecimento de sua personalidade; ou ainda, que


inviabiliza ao magistrado considerar as reações corporais e faciais do denunciado,
para verificar a verossimilhança das declarações colhidas. Contudo, o que se tem
averiguado é que o contato auditivo e visual de todos os presentes, ainda que
virtualmente, está garantido; a qualidade da prova não está prejudicada; os custos
foram reduzidos e os adiamentos de audiências restaram injustificados. Ademais, a
audiência por videoconferência está em sintonia com a ordem constitucional, assim
como com os vetores norteadores do princípio da dignidade da pessoa humana, vez
que os princípios do juiz natural, identidade física do juiz, acesso à justiça, ampla
defesa, contraditório, devido processo, direito de ser julgado em prazo razoável, entre
outros, não foram prejudicados. Na verdade, a inovação tecnológica fez renascer e nos
dar esperança de concretização ao consagrado “Princípio da Duração azoável do
Processo” e sem causar pre uízo ao “Princípio da eracidade”. Acrescente-se, ainda,
que tem proporcionado o ponto de equilíbrio entre os princípios da ampla defesa e
devido processo legal e da eficiência e brevidade (processuais). Portanto, verifica-se
que a utilização da videoconferência no âmbito processual penal poderá ser um
legado da pandemia, que tem levado o operador do direito a perceber que a
tecnologia alterou a realidade, e a justiça não pode ficar aquém dessa situação,
impondo a revisão de antigos conceitos e práticas.

Palavras-chave: Audiência; videoconferência; pandemia; duração razoável do processo.

REFERÊNCIAS

BATISTA, NILO. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 12. ed., rev. e atual., Rio
de Janeiro: Revan, 2011.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 314, de 20 de abril de 2020.


Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3283. Acesso em: 30 de maio de
2020.

LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro: Impetus, 2013.
215

PASTOR, Daniel. Acerca del derecho fundamental al plazo razonable de duración del
proceso penal. REJ – Revista de Estudios de la Justicia – Nº 4 – Año 2004.

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 6. ed. rev. ampl. e atual. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2002.
216

OS IMPACTOS DAS FAKE NEWS NOS PROCESSOS ELEITORAIS DEMOCRÁTICOS

Sabrina Barbosa Paiva 121


Aline Rodrigues de Sales 122
RESUMO

Este artigo tem por escopo analisar os impactos das fake news nos processos
eleitorais dos sistemas democráticos, verificando como tais práticas criminosas
podem macular eleições e, consequentemente, resultar em governos ilegítimos.
Embora possua origem remota, a partir da popularização das redes sociais, as notícias
fraudulentas ganharam um poder de disseminação jamais visto: uma vez publicada,
podem atingir milhares de pessoas em fração de minuto, podendo gerar efeitos, por
vezes, irreparáveis, pois, se, por um lado, a difusão de tais conteúdos ocorra com
facilidade e rapidez, por outro lado, a sua desmitificação nem sempre é possível, pelo
menos em tempo hábil, sobretudo no que se refere à seara eleitoral. Por essa razão,
essas práticas vêm sendo disseminadas, frequentemente, nos processos eleitorais
atuais dos sistemas democráticos. Valendo-se do poder de alcance das redes sociais,
segmentos partidários difundem notícias falsas contra seus adversários, com a
intenção de angariar o máximo de eleitores, estes, muitas vezes, deslumbrados por
uma manchete atrativa e pelo bombardeio de informações próprio do mundo digital,
esquecem de verificar a procedência do conteúdo falso. As consequências dessas
condutas criminosas são desastrosas, ferem de morte o processo eleitoral limpo,
transparente e legal, violando um dos maiores instrumentos de participação política
dos regimes democráticos: o voto. Conclui-se, portanto, que a intervenção do Poder
Público, por meio de uma legislação que vise proteger o processo eleitoral,
combatendo esse tipo de prática criminosa, é imprescindível nos regimes
democráticos, sob pena de fazer ascender, cada vez mais, governos ilegítimos, mesmo
que estes tenham sido elegidos por vias ditas “democráticas”. Para a pesquisa
utilizou-se os procedimentos metodológicos bibliográficos.

Palavras-chave: Fake news; processo eleitoral; democracia.

121 Graduanda em Direito pela UEPB.


122 Graduada em Letras e Graduanda em Direito pela UEPB.
217

REFERÊNCIAS

GROSS, Clarissa Piterman. Fake news e democracia: discutindo o status normativo do


falso e a liberdade de expressão. In: RAIS, Diogo (Coord.). Fake news: a conexão entre
a desinformação e o direito. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. p. 153 -174.

LIMA, Ramalho. Estudo revela que bots espalham fake news massivamente em
poucos segundos. [S. l]: Tecmundo, 24 nov. 2018. Disponível em:
https://www.tecmundo.com.br/internet/136479-estudo-revela-bots-espalham-fake-
newsmassivamente-segundos.htm. Acesso em: 02 jun. 2020.

NEISSER, Fernando Gaspar. Crimes eleitorais e controle material da propaganda


eleitoral: necessidade e utilidade da criminalização da mentira na política. 2014.
Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2014.
218

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DIANTE DA INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

Lucienne Michelle Treguer Cwikler Szajnbok123

RESUMO

O presente trabalho pretende demonstrar a relevância da educação e a imperiosa


necessidade de o Estado e a sociedade se unirem na busca da melhoria das condições
e da qualidade do ensino, mormente em se considerando os desafios advindos da
Indústria 4.0. Indicadores, quer nacionais, quer internacionais, apontam claramente
que a educação brasileira está em um patamar muito aquém do ideal, apresentando-
se, dessa forma, como um obstáculo à busca do desenvolvimento, notadamente em
um ambiente desafiador que se vislumbra com a Indústria 4.0. Tenha-se presente que
pesquisas realizadas pelos economistas Carl Benedikt Frey e Michael A. Osborne, da
Oxford Martin School, demonstram que profissões e ocupações que empreguem
funções repetitivas, rotineiras e que possam ser realizadas por máquinas e
computadores estão seriamente ameaçadas de extinção. Diante desse cenário, como
problematização, o presente estudo se propõe a uma reflexão sobre as medidas
necessárias à superação das mazelas educacionais brasileiras, a partir da urgente
elaboração e implementação de políticas, impulsionadas tanto por agentes públicos
quanto privados, direcionadas à educação, até como medida de preparação e
capacitação da mão de obra para enfrentar os desafios oriundos da Indústria 4.0. Para
os fins propostos pelo presente estudo, será adotado o método hipotético-dedutivo,
desenvolvido por Karl Popper e, assim, serão analisadas hipóteses viáveis para a
solução do problema apresentado. Ademais, a pesquisa será desenvolvida mediante
pesquisa bibliográfica, com consulta à doutrina e a periódicos, tanto nacionais quanto
estrangeiros, das áreas econômica e jurídica, além da análise de dados estatísticos. O
objetivo da pesquisa será demonstrar a atual situação da educação brasileira,
inclusive sob o aspecto normativo, e apresentar a inadiável necessidade de se investir
no ensino brasileiro, viabilizando maior acesso e melhor qualidade de ensino. Como
resultados esperados, acredita-se que investimentos públicos e privados,

123Doutoranda e Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.


Graduada em Administração de Empresas e Direito, com especialização em Direito Empresarial.
Advogada, Pesquisadora e Docente. E-mail: lucienne.szajnbok@gmail.com
219

direcionados à educação, de forma consistente e focada, propiciarão condições à


superação da desigualdade socioeconômica, assim como propiciarão a formação, a
habilitação e à readequação de profissionais para enfrentar os desafios tecnológicos e
de inovação decorrentes da Indústria 4.0, o que favorecerá ainda a inserção do Brasil
em um mercado internacional altamente competitivo.

Palavras-chave: Educação; Indústria 4.0; Desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

BUSSO, Matías et al. Learning better: public policy for skills development.
Washington: Inter-American Development Bank, 2017. Disponível em:
https://publications.iadb.org/en/learning-better-public-policy-skills-development.
Acesso em: 25 mai. 2020.

CANAVARRO, José Manuel Portocarrero. Indústria 4.0, educação, competências,


emprego e trabalho. In: MÓNICO, Lisete et al. Capital psicológico, estratégia e gestão na
diversidade das organizações. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2019. p. 215-233.

FREY, Carl Benedikt; OSBORNE, Michael A. The future of employment: how


susceptible are jobs to computerisation?. Oxford Martin School, Programme on the
Impacts of Future Technology, University of Oxford, 17 set. 2013. Disponível em:
https://www.oxfordmartin.ox.ac.uk/downloads/academic/The_Future_of_Employme
nt.pdf. Acesso em: 25 mai. 2020.

LAURETH, Waleska Camargo. Convergência tecnológica, educação e trabalho: do


discurso social global aos desafios regionais. Revista da ABET, Salvador, v. 13, n. 2, p.
279-293, jul./dez. 2014. Disponível em:
http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/abet/article/view/25677. Acesso em: 25
mai. 2020.
220

SCHLEICHER, Andreas. PISA 2018: insights and interpretations,2019. Paris: OECD,


2019. Disponível em:
http://www.oecd.org/pisa/PISA%202018%20Insights%20and%20Interpretations%
20FINAL%20PDF.pdf. Acesso em: 25 mai. 2020.
221

A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ATRAVÉS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: IMPACTOS NAS


RELAÇÕES DE TRABALHO

Ana Cláudia Favarin Pinto124


Caroline Schemmer125
RESUMO

A 4ª Revolução Industrial é caracterizada, principalmente, pela tentativa de eliminar


fronteiras físicas, biológicas e digitais, sendo marcada fortemente por sua velocidade
e pelo impacto sistêmico que a conduz. Ela não é definida por um conjunto
determinado de tecnologias, mas a transição em direção a novos sistemas que foram
construídos sobre a infraestrutura da revolução digital. Assim, um de seus pilares é a
inteligência artificial, originada em 1956 quando John McCarthy utilizou o termo
numa conferência de especialistas celebrada em Darmouth Colege. Porém, as novas
tecnologias estão fundindo diversos setores, de forma a criar grandes promessas e
possíveis perigos para a sociedade. Atualmente, estudos comprovam que o alcance da
inteligência artificial é considerável, existindo uma enorme capacidade de gerar, em
pouco tempo, sistemas que possuem autonomia e que são aptos a realizar tarefas
humanas em alguns estágios da formação da vontade e tomada de decisões. Diante
deste cenário, o presente trabalho questiona: a inteligência artificial tem o poder de
substituir o humano em suas atividades? Ainda, de que modo os avanços tecnológicos
irão impactar no emprego e/ou trabalho? Para tanto, o método de abordagem
utilizado é o hipotéticodedutivo, tendo em vista que partirá de hipóteses cabíveis
para as respostas aos problemas apresentados, de modo que a análise possa acolher
ou rejeitar tais proposições. Os métodos de procedimento serão o histórico e o
comparativo. O objetivo geral do presente trabalho é analisar de que forma a
inteligência artificial é aplicada nas relações de trabalho. Ainda, o objetivo específico é
entender quais são os impactos positivos e negativos no uso de tal tecnologia, bem
como de que maneira as relações de trabalho estão sendo atingidas por esse fato. O
resultado que se obteve é de que não temos conhecimento dos limites do

124 Discente do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Maria


(Mestrado). Integrante do Grupo de Pesquisa Phronesis: Jurisdição e Humanidades da UFSM. E-mail:
anaclaudia.favarin@gmail.com
125 Graduada em Direito pela Universidade Franciscana. E-mail: carolineschemmer@gmail.com.
222

desenvolvimento tecnológico da inteligência artificial e, devido a essa razão, se faz


necessária uma maior regulamentação dessas tecnologias, tanto no âmbito nacional
como internacional, para que diretrizes e padrões éticos sejam observados. O uso
desta inteligência deve ser supervisionado pelos humanos, de modo que os
programas e algoritmos utilizados devem ser seguros e que possibilitem o controle
pelos cidadãos. Portanto, esta tecnologia deve ser desenvolvida para que sua
utilização facilite a vida do ser humano e não para eliminar por completo sua
participação nas atividades existentes na sociedade.

Palavras-chave: impactos; inovação tecnológica; inteligência artificial; relações de trabalho.

REFERÊNCIAS

ALVES, José Eustáquio Diniz. Inteligência artificial: ameaça à civilização. 2017.


Disponível em: https://projetocolabora.com.br/artigo/inteligencia-artificial-ameaca-
civilizacao/. Acesso em: 01 jun. 2019.

ALVES, José Eustáquio Diniz. Transumano: a união do ser humano com os robôs e a
inteligência artificial. 2017. Disponível em:http://www.ihu.unisinos.br/78-
noticias/572333-transumano-a-uniao-do-ser-humano-com-os-robos-e-a-
inteligencia-artificial. Acesso em: 15 mai. 2020.

MENEZES FILHO, Naércio. Inteligência artificial e mercado de trabalho. In: PIO, Carlos;
REPEZZA, Ana Paula. Diálogos Estratégicos: O Brasil e os desafios da quarta revolução
industrial. Brasília: Secretaria Especial de Assuntos Estratégico, volume 1. Número 2,
julho/2018. p. 59-61.

PINHEIRO, Patrícia Peck. A inteligência Artificial deve ser regulamentada em âmbito


internacional. In: PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito digital aplicado 3.0. São Paulo:
Thompson Reuters Brasil, 2018. p. 29-33.
223

SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016. 159 p.
Tradução Daniel Moreira Miranda.
224

O COVID-19 E A INTENSIFICAÇÃO DA UBERIZAÇÃO NO BRASIL: A INFORMALIDADE COMO


REGRA

Heloísa Santana Luna126

RESUMO

O advento do proletariado digital na era de serviços é um fenômeno observado que


modifica progressivamente a estrutura do trabalho. Com a pandemia provocada pelo
Covid-19, houve uma corroboração e aprofundamento da situação vivenciada de
precarização acelerada da mão de obra, desmantelamento das relações de trabalho e
disseminação da informalidade como regra no Brasil. Na sociedade brasileira,
acompanha-se o vertiginoso crescimento do proletariado de serviços em razão da
disparidade socioeconômica e escassez da empregabilidade. Ao depararem-se com
um mercado avassalador, exorbitantemente desigual, os trabalhadores, com a
ascensão das novas plataformas digitais e do fenômeno da uberização, veem a
informalidade como única saída para sobreviverem. Soma-se a essa realidade o fato
de que a máquina capitalista apropriou-se de um discurso de empreendedorismo
impulsionador da falsa ideia de libertação e de que o individuo, nessas novas
condições, possuiria a possibilidade de ser seu próprio patrão. Assim, ele perde
gradativamente a consciência de sua condição de trabalhador e enfraquece a luta do
proletariado, o que contribui para a desintegração de entidades representativas como
os sindicatos e, também, fomenta o crescimento de uma classe inconsciente de sua
própria realidade. Contudo, a oportunidade oferecida pelo trabalho informal é a
condição mais viável por ser apenas a única saída para grande parcela dessa massa
desempregada. Sendo assim, trabalhar em jornadas intermitentes, precárias e isentas
de direitos trabalhistas é o que icardo Antunes utilizou como título de sua obra, “
Privilégio da Servidão”. Desse modo, pode-se vislumbrar que até mesmo as precárias
condições de trabalho são privilégios, por conseguinte, trabalhar de qualquer maneira
que seja e receber algum tipo de remuneração, é uma regalia na sociedade brasileira.
Diante desse quadro penoso, o Brasil e o mundo vivenciam uma grande crise de
saúde: a pandemia provocada pelo Covid-19. Essa situação de instabilidade de

126
Graduanda em Direito pela Universidade Federal da Paraíba. E-mail: heloisalunaufpb@gmail.com
225

microempreendedores, profissionais ligados a plataformas digitais e outras


modalidades de trabalhadores informais enfrentam os riscos de saúde, permanecem
trabalhando intermitentemente e com pouquíssimos recursos para conseguirem o
mínimo para sobreviver e sustentarem suas famílias. Portanto, a dificuldade de
existência de uma equidade de oportunidades econômicas assola o mundo
globalizado, alicerçado numa tecnologia que é indisponível para maior parte da
população brasileira de classes mais baixas. Com isso, a pandemia revelou uma
elevação das disparidades socioeconômicas e uma exploração da mão de obra
proletária. Nesse sentido, as tecnologias da informação aumentaram a flexibilidade do
trabalho, a mobilidade do capital e separou o trabalhador da proteção institucional, o
deixando a mercê das grandes empresas prestadoras de serviços, a sociedade em
rede. Esta que por sua vez percebe na informalidade o caminho mais
economicamente rentável para sustentar a mutabilidade do capital e superar a
rigidez e normatização do trabalho. Com isso, no Brasil, essa classe cada vez mais,
com o Covid-19, sem amparo ou direitos humanos básicos, padece em nome do
capital. Ademais, utilizando-se do método dedutivo buscar-se-á estudar o fenômeno
da informalidade promovido pela sociedade em rede e seus efeitos no contexto da
pandemia.

Palavras-chave: Covid-19; trabalho informal; precarização.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Pedro Henrique Melo et al. Na era das máquinas, o emprego é de


quem? Estimação da probabilidade de automação de ocupações no Brasil. Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, Rio de Janeiro, p. 7-32, 4 abr. 2019.

ANTUNES, Ricardo. A sociedade da terceirização total. Revista da Associação Brasileira


de Estudos do Trabalho (ABET), v. 14, n. 1, Jan./ Jun. 2015.

ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado na era digital. 1ª ed.


São Paulo: Boitempo, 2018.
226

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Nem-


nem ou sem-sem? Jovens querem trabalhar, mas não têm oportunidades no mercado.
DIEESE: São Paulo, 2018.
227

TRABALHO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA NA PANDEMIA: UM PROJETO DE VIDA

Maria Sara de Lima Dias127


Paula Caldas Brognoli128
RESUMO

O objetivo principal deste artigo é discutir as relações de trabalho que com o advento
das novas tecnologias tenderão a aumentar a velocidade do aprendizado. As
empresas e grandes oligopólios também tenderão a acelerar cada vez a velocidade do
trabalho e das atividades principalmente em função do maior isolamento social. A
velocidade da tecnologia, portanto acelera o tempo de trabalho e a mais valia do
processo produtivo. É fundamental o trabalhador se preparar para as novas relações
de trabalho que tendem a ser editadas e reeditadas cada vez mais rápido, guiadas pela
mão do capital informacional. O conflito entre o fator humano e o fator trabalho
tecnificado e tecnológico, tende a se acelerar a mais valia do capital estendendo suas
garras para a vida privada do trabalhador. Assim a velocidade com a maior utilização
de meios digitais da atividade de trabalho. Deste modo se compreende a idéia de uma
carreira solo pode estar ameaçada, neste momento da pandemia, sendo substituída
por atividades e prestação de serviço remoto, para poucos trabalhadores,
nomeadamente aqueles que já estão inseridos nas redes sociotécnicas. Assim o
trabalho do futuro assume uma nova forma que dilapida os direitos dos
trabalhadores e já não existe mais uma carreira estável e segura em nossa sociedade,
nem mesmo para o trabalhador autônomo, na forma em que esse planejava a sua
vida há uma década atrás. A carreira e o trabalho tendem a serem incorporadas pelas
novas tecnologias na economia de amanhã e dominar melhor os recursos digitais, no
aprender via computador na adaptação a um novo contexto extremamente
competitivo. São exigências de uma sociedade baseada na econômica capitalista e do
mercado de trabalho enquanto isso no meio acadêmico se formatam discursos de
desintegração do valor do trabalho, do sentido e de sua centralidade na vida humana.
Apesar de todos os recursos tecnológicos e científicos, a universidade formadora

127 Professora. Doutora. Integrante do Departamento Acadêmico Estudos Sociais (DAESO),


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pós-Graduação em Tecnologia -PPGTE, Curitiba, Paraná,
Brasil.. (e-mail: maria.dias@utfpr.edu.br)
128 Graduanda em Administração da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). e-mail:

paulacbrognoli@hotmail.com
228

ainda não está preparando a população para o futuro do trabalho e para as demais
formas de aprendizagem do trabalho que são necessárias para a vida em sociedade.
As reconfigurações das carreiras que antes eram estáveis ou pelo menos previsíveis a
médio prazo desaparecem no mundo do trabalho função do coronavírus. Ao longo da
história mundial os direitos dos trabalhadores foram conquistados com sangue e
suor, e agora são rapidamente dilapidados pelo capital informacional. Em nome dos
direitos da grande maioria da população, direitos humanos e principalmente o direito
a vida, que lugar de proteção social terá o trabalhador do futuro?. Assim a adequação
da universidade a modalidade do trabalho remoto também é uma preparação para
um trabalho remoto. Toda esta preparação para uma modalidade de trabalho remoto
que houve na Europa não aconteceu no Brasil na forma de proteção social em que
deveria estar prevista, uma flexibilização do trabalho forjada a toque de caixa, retira
neste novo contexto os direitos dos trabalhadores. Se historicamente as leis brasileira
com a reforma trabalhista que passou a regulamentar na CLT (Consolidação das Leis
do Trabalho) o trabalho na modalidade home office, que se caracteriza pela prestação
dos serviços fora das dependências da empresa. O teletrabalho surge como uma
transformação no modo de se realizar o trabalho, mediado e viabilizado pela
tecnologia da informação e da comunicação. É preciso urgência para aprender e a
desenvolver novas formas de relacionamento na sociedade, para antecipar o futuro
das carreiras e das profissões. Somente uma visão de perspectiva global pode nos
ajudar a sobreviver a pandemia. Portanto o Direito também precisa se adequar
rapidamente às novas mudanças e estender seus braços para a proteção dos direitos
dos trabalhadores. Antecipar mudanças que possam nos ajudar ainda a sobreviver
com o trabalho. O contexto do mundo do trabalho em suas relações com as novas
tecnologias imersivas e contextos sociais. Na problematização da relação do trabalho
com as práticas sociais o trabalho é o fundante do ser social, sem o seu trabalho se
mata e se morre. Como considerações finais o resultado das tecnologias, aceleram o
tempo de trabalho e o trabalhador, é preciso que o direito se levante em prol da vida
humana no planeta. A sobrecarga do trabalho aumenta a doença mental e a violência
na pandemia. Se existe uma carreira segura de trabalho, para que o trabalhador se
projete no futuro, este projeto de vida deve se situar além do capital.

Palavras-chave: trabalho; tecnologia; planejamento; carreira.


229

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Ricardo; PRAUN, Luci. A sociedade dos adoecimentos no trabalho. Serv.


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COUTINHO, A. R.; CIRINO, S. M. Trabalho, identidade e reconhecimento a


"captura" da subjetividade do trabalhador no capitalismo contemporâneo: uma
estratégia frustada?. Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL], v. 19, n. 3, p. 777-798, 24
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Programa de Posgrado en Tecnología y Sociedad (PPGTE) de la Universidad
Tecnológica Federal del Paraná (UTFPR). Ciencia y Sociedad, v. 45, n. 1, p. 37-49, 20
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DIAS, Maria Sara de Lima; MOREIRA NT, Pedro; BROGNOLI, Paula Caldas. Diva
Guimarães: a filosofia de vida que faz a carreira. Cad. Gên. Tecnol., Curitiba, v. 13, n.
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GIL, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas


230

O ESTADO DE DIREITO NA ERA DOS ALGORITMOS: O IMPACTO DO BIG DATA NA CULTURA


DEMOCRÁTICA

Pedro Henrique do Prado Haram Colucci129

RESUMO

Os influxos gerados a partir das novas tecnologias da informação e comunicação


(TIC) circundam o tecido social. Dentro desse cenário, o uso intenso e diário das
redes sociais por parte da população e a enorme capacidade dessas plataformas de
criação e reprodução de conteúdo resultam em cadeias de dados massivas, chamadas
de big data, que são agrupadas e processadas por tecnologias capazes de relacionar
esses dados e extrair informações úteis para aqueles que possuem acesso a essas
bases. A problemática surge na falta de transparência na administração dessas
ferramentas, de que forma a instrumentalização dos dados coletados podem
influenciar na esfera privada dos indivíduos, inclusive em seus processos de tomada
de decisão, considerando que as plataformas passam a possibilitar que se crie perfis
comportamentais que espelham a persona do indivíduo a partir da análise de seus
posicionamentos e percepções na rede sobre diversos temas. O objetivo do presente
estudo é analisar como esse fenômeno impacta a cultura democrática, considerando
que os algoritmos que manejam esses dados influenciam no universo político e,
consequentemente, na percepção do estado das coisas na realidade do indivíduo em
questão. A partir do método sóciojurídico-crítico, busca-se confrontar essas práticas
que atravessam o mundo jurídico por meio de uma análise interdisciplinar,
questionando contradições e pressupostos de legitimidade. As tecnologias que se
utilizam do big data interferem sobre diversos campos que são tutelados pelo mundo
jurídico, como a privacidade e o direito à informação. Nesse sentido, considerando os
efeitos nocivos que a instrumentalização escusa de dados pode causar em um sistema
político que tem como razão de existência a autodeterminação para escolha de
representantes, a deturpação de processos eleitorais passa a ser uma realidade

129Graduando da Faculdade de Direito de Franca (FDF), membro do Laboratório de Direitos Humanos


da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FDRP – USP) e membro do
Grupo de Estudos Avançados em Escolas Penais do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais em
Ribeirão Preto (GEARP – IBCCRIM).
231

constante, como na experiência da campanha do Brexit no Reino unido em 2016, e as


interferências da empresa de análise de dados Cambridge Analytica, por meio de
métodos questionáveis de propaganda e manipulação de algoritmos. Tem-se, como
resultado do impacto da utilização desses métodos de exploração indevida de dados
pessoais de usuários, a subversão da ideia de cultura democrática e a erosão de
valores liberais clássicos, afastando os cidadãos do campo de reflexões racionais no
debate político.

Palavras-chave: Algoritmos; Big data; Democracia; Privacidade.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e
os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. São
Paulo: Vestígio, 2019.

MOROZOV, Evgeny. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu,
2018.

O'NEIL, Cathy. Weapons of Math Destruction: how Big Data Increases Inequality and
Threatens Democracy. Nova Iorque: Crown, 2016.

SHAFFER, Kris. Data versus Democracy: how Big Data Algorithms Shape Opinions and Alter
the Course of History. Nova Iorque: Apress, 2019.
232

POLARIZAÇÃO POLÍTICA DIGITAL: A CONTRIBUIÇÃO DAS REDES SOCIAIS NA DIVISÃO


SOCIOPOLÍTICA EM BOLHAS INFORMATIVAS E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A
CIBERDEMOCRACIA

Rodrigo Aguiar da Silva130


Rafael Santos de Oliveira131
RESUMO

A comunicação virtual característica da sociedade em rede sujeita o internauta a uma


avalanche de informações, diante do número elevado de conteúdos postados nas
plataformas digitais. Diante dessa hiperconexão, empresas tecnológicas buscaram
alternativas para que os usuários ficassem cada vez mais tempo em suas plataformas,
podendo assim colher seus dados e tratá-los para encaminhar publicidade e
conteúdos de maneira personalizada, através de algoritmos. Tal estratégia também
tem sido utilizada por políticos para captação de eleitores, restringindo a informação
dos cidadãos aos interesses e ideologias previamente manifestados por ele na própria
plataforma digital, impedindo-o de ter contato com opiniões diversas da sua. Desse
modo, questiona-se: a utilização de algoritmos para direcionamento de conteúdos
personalizados em âmbito digital tem potencial de influenciar a polarização política
atualmente existente na sociedade brasileira? Para tanto, adotou-se uma pesquisa
com finalidade básica-estratégica, desenvolvendo conhecimentos que possam ser
utilizados para compreensão e possível solução do problema sob análise. Além disso,
trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa e utilizando-se o
método dedutivo através de uma pesquisa bibliográfica e documental. Verificar a
importância da comunicação no contexto da sociedade informacional e a criação de
conteúdo personalizado; contextualizar a existência de uma polarização política na
sociedade brasileira, avaliando o histórico de sua origem e os motivos para essa
fragmentação ideológica; analisar a contribuição de algoritmos em redes sociais para
a polarização e as consequências para a ciberdemocracia. As comunicações políticas

130 Advogado especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Estácio de Sá. Discente
do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSM (Mestrado). Integrante do Centro de Estudos e
Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI) da UFSM. E-mail: aguiar.jus@gmail.com.
131 Doutor em Direito pela UFSC. Docente no Departamento de Direito da UFSM e no Programa de Pós-

Graduação em Direito da UFSM (Mestrado). Líder do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito e


Internet (CEPEDI) da UFSM. E-mail: rafael.oliveira@ufsm.br.
233

digitais circulam cada vez mais em grupos de interesses fechados, mostrando tão
somente conteúdos que agradam os usuários, ecoando seus interesses e fechando-os
às opiniões diversas. Isso acaba acirrando os debates acalorados já existentes em uma
sociedade com polarização política tal qual a brasileira, na medida em que, ao receber
restritivamente informações relacionadas à ideologia de cada um, o usuário passa a
pensar que apenas estas são críveis ou dignas de atenção. Os autores pesquisados
apontam a necessidade de modificar os procedimentos algorítmicos das plataformas
digitais, seja através de uma atitude da própria empresa privada ou de exigências do
poder público após fiscalização, visando uma maior autonomia dos usuários da Rede
na escolha dos conteúdos mostrados a ele, evitando assim que as informações
assimiladas sejam baseadas exclusivamente em ecos das suas próprias ideologias,
acirrando ainda mais a fragmentação da sociedade no âmbito político.

Palavras-chave: algoritmos; comunicação; polarização política; redes sociais.

REFERÊNCIAS

ABIDO, Leonardo. Algoritmos e democracia: reflexões sobre a influência da


inteligência artificial nos processos democráticos contemporâneos. In: MAPELLI,
Aline; GIONGO, Marina; CARNEVALE, RITA (orgs.). Os impactos das novas tecnologias
no Direito e na Sociedade. Erechim: Deviant, 2018.

GOMES, Wilson. A democracia no mundo digital: história, problemas e temas. São


Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.

LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia


planetária. São Paulo: Paulus, 2010.

MAGRANI, Eduardo. Democracia conectada: a internet como ferramenta de


engajamento político-democrático. Curitiba: Juruá, 2014.
234

PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Rio de
Janeiro: Zahar, 2012.
235

OS IMPACTOS DEMOCRÁTICOS NO TWITTER A PARTIR DA DECISÃO DO SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL EM DIVULGAR A REUNIÃO MINISTERIAL DO DIA 22 DE ABRIL DE 2020

Pedro Victor dos Santos Witschoreck132


Rafael Santos de Oliveira133
RESUMO

A decisão proferida pelo Ministro Celso de Mello, sobre a divulgação da gravação da


reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril de 2020, gerou uma série de debates
jurídicos, dentre eles, destaca-se a publicidade versus o direito a intimidade e
privacidade. Diante da sobreposição da publicidade na presente decisão, houve
grande impacto na internet, em especial, no Twitter, onde diversas personalidades
políticas se manifestaram. Desse modo, verificou-se que as razões pelas quais levaram
a divulgação da mídia audiovisual da reunião em apreço transcenderam os objetivos
iniciais (apurar a intervenção do Presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal do Rio
de Janeiro) e abarcaram uma ampla discussão a respeito de diversas outras questões
constitucionais em torno do comportamento do Poder Executivo na atual conjuntura.
A partir disso, analisar-se-á a influência exercida pelo Twitter na disseminação de
opiniões políticas, bem como a contribuição dessas manifestações na construção de
um diálogo visando a proteção democrática e atentando-se as possíveis
consequências jurídicas e sociais oriundas dos impulsos despóticos do Poder
Executivo. Considera-se relevante uma série de manifestações ocorridas na reunião,
versando sobre temas como o armamento da população, as ações do Governo perante
o atual estado de Pandemia, a prisão dos ministros do STF, a independência dos
poderes, a exploração da Amazônia, etc. Tais aspectos demonstraram muito além
daquilo que se pretendia com a divulgação da gravação audiovisual, gerando sérias
consequências acerca da percepção popular sobre o Poder Executivo. Para a
realização deste artigo, optou-se pelo desempenho de uma pesquisa descritiva e
comparativa, a partir de uma abordagem dedutiva. A pesquisa se deu por meio

132 Discente do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSM (Mestrado). Integrante do Centro de


Estudos e Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI) da UFSM. Bolsista CAPES. E-mail:
pedroviktor@hotmail.com.
133 Doutor em Direito pela UFSC. Docente no Departamento de Direito da UFSM e no Programa de
Pós-Graduação em Direito da UFSM (Mestrado). Líder do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito e
Internet (CEPEDI) da UFSM. E-mail: rafael.oliveira@ufsm.br.
236

bibliográfico e documental, uma vez que se utilizou de autores que tratam de temas
relativos à democracia, internet, temas constitucionais e política nacional, bem como
o próprio documento digitalizado onde consta a decisão do Ministro Celso de Mello
(Inquérito 4.831 – Distrito Federal). A escolha dos métodos tem como objetivo
verificar as proporções tomadas pelos tweets de alguns políticos e o teor
constitucional presente neles, fazendo alguns comparativos em torno das afirmações
expostas e seus reflexos nos demais usuários da rede social em apreço. Enfim, a partir
do exposto, visualizar-se-á um pouco da influência dessa rede social perante a crise
política que nos assola e a forma com que seus usuários se articulam diante dessas
questões, bem como a maneira que o próprio Twitter assume um espectro político
relevante e possibilita a disseminação de opiniões em segundos. O presente resumo
abarca as discussões debatidas no eixo temático denominado “redes sociais e
proteção da democracia”.

Palavras-chave: publicidade; Twitter; Poder Executivo; democracia.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a


sociedade. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

LÉVY, Pierre. Ciberdemocracia. Tradução de Alexandre Emílio. Barcelona: Editions


Odile Jacob, 2002.

MAGRANI, Eduardo. Democracia conectada: a internet como ferramenta de


engajamento político-democrático. Curitiba: Juruá, 2014.

NISSENBAUM, Helen. Privacidad amenazada: Tecnología, política y la integridad de la


vida social. Tradução de Henrique Mercado. Cidade do México: Oceano, 2011.
237

A DIMENSÃO COLETIVA DO DIREITO À PRIVACIDADE

134
Giulia de Angelucci
135
Mariana Lemos Steinke Martins
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo precípuo fomentar o debate acerca dos
delineamentos que se apresentam ao direito à privacidade, notadamente a partir dos
novos moldes da sociedade atual marcada pelo advento da tecnologia e das
preocupações circundantes a este tema. A investigação é pautada pelo método
indutivo e possui caráter qualitativo. É por meio da análise crítico-descritiva de
revisão de bibliografia e do levantamento legislativo que despontam as inferências
aqui realizadas. O ponto de partida deste estudo é a remissão histórica do direito à
privacidade, isto ocorre pela necessidade de compreender as perspectivas
apresentadas a este direito. Partindo das predileções de Warren e Brandeis, que o
definiram como o direito à ser deixado só, acompanha-se a trajetória deste direito até
o implemento da concepção da proteção de dados pessoais como elemento intrínseco
à privacidade. Esta compreensão soma-se ao direito à ser deixado só, estendendo a
tutela jurídica da vida privada. Em seguida, norteado por três casos da jurisprudência
brasileira relacionados ao vazamento de dados pessoais – caso Netshoes, caso Atlas
Quantum e caso Banco Inter –, parte-se para a análise dos direitos coletivos em
sentido amplo, compreendendo as três categorias que o compõem (direitos difusos,
direitos coletivos em sentido estrito e direitos individuais homogêneos), bem como o
estudo sobre a reparação de danos morais causados à uma coletividade. Ainda,
explora-se a Lei Geral de Proteção de Dados e seu art. 42, que estabelece a reparação
a título de danos morais coletivos. Neste ínterim, rememoram-se os conceitos por trás
do dano moral individual e do dano moral coletivo. Depreendendo-se que para ser
passível de tutela por via de dano moral coletivo, o direito à privacidade deve ser

134 Graduanda em Direito pela Universidade Positivo. Estagiária e pesquisadora-bolsista do Centro de


Pesquisa Jurídica e Social (CPJUS) da Universidade Positivo. Pesquisadora voluntária do Programa de
Iniciação Científica (PIC) da Universidade Positivo desde 2017. Pesquisadora do Grupo de Estudos de
Direito Civil Constitucional do Programa de Pós-Graduação em Direito Civil da Universidade Federal do
Paraná - Virada de Copérnico. Pesquisadora do Grupo de Estudos em Direito dos Contratos da
Universidade Positivo. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Direito Privado no Século XXI do Instituto
Brasiliense de Direito Público.
135 Graduanda em Direito pela Universidade Positivo.
238

considerado como um direito difuso ou como um coletivo em sentido estrito,


assumindo, portanto, uma nova dimensão. Por fim, é promovida a reflexão
concernente à dimensão coletiva que vem sendo adotada pelo direito à privacidade,
contraposta à individualidade que o marcou em seus primórdios.

Palavras-chave: Direito à privacidade; direitos coletivos; dano moral coletivo; proteção de


dados pessoais.

REFERÊNCIAS

BRANDEIS, Louis D.; WARREN, Samuel D. The right to privacy. Havard Law Review, v.
4, n. 5, dec. 15, 1890.

BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados


Pessoais (LGPD). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 15 ago. 2018.

MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. São Paulo: Saraiva,
2012.

MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana: uma leitura civil-
constitucional dos danos morais. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

ROQUE, André. A tutela coletiva dos dados pessoais na Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais (LGPD). Revista Eletrônica de Direito Processual, ano 13, v. 20, n. 2,
mai./ago. 2019.
239

A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS E SEUS IMPACTOS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Letícia Vieira Mattos136

RESUMO

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) editada em agosto de 2018, mas ainda não
em vigência, tem por objeto a proteção geral dos dados pessoais para qualquer
operação de tratamento realizada por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito
público ou privado. Inspirada na Lei Europeia, General Data Protection
Regulation (GDPR), a lei brasileira estabelece os parâmetros pelos quais as empresas
poderão realizar o tratamento de dados pessoais, o que até então era feito de maneira
insuficiente pelas leis existentes no arcabouço jurídico brasileiro. Adequar referida
ferramenta legal aos contratos de trabalho é medida que se impõe às empresas, sob
pena de serem responsabilizadas arduamente. O descumprimento da legislação
poderá acarretar em diversas sanções administrativas, mas sobretudo, impactar
diretamente na imagem da empresa. A proteção da privacidade dos indivíduos num
mundo em que a informação circula em altíssima velocidade, muitas vezes sem
controle e com consequências indesejadas para o titular das informações, se mostra
verdadeiramente essencial. Desta feita, a presente pesquisa tem por escopo estudar
como a exigência do consentimento do titular de dados pessoais pela lei vai impactar
diretamente a conduta do empregador, modificando a rotina laboral-empresarial,
desde a fase pré-contratual até o pós extinção do contrato de trabalho, com o
manuseio destes dados até seu descarte, em especial no que tange aos dados super
sensíveis, a fim de evitar as sanções administrativas previstas na lei. Propõe-se,
portanto trazer à baila os limites do poder diretivo do empregador no que tange à
logística de manuseio destes dados e a anuência do empregado, quando há a exigência
de tal concordância e quando não há, como isto influencia na colheita destes dados, na
finalidade e limite desta captação, na possibilidade de compartilhamento e no
momento e maneira de seu descarte.Tais ponderações tem o condão de que a

136Graduada em Direito-UEL. Pós Graduada Latu Sensu Direito do Trabalho e Previdenciário UNIVEM.
Integrante do Grupo de Pesquisa Intervenção do Estado na Vida das Pessoas-INTERVEPES-
UENP.email:leticiamarilia123@gmail.com
240

empresa oberve e respeite os direitos de personalidade dos empregados no cotidiano


laboral, como a privacidade, incentivando que a lei geral de proteção de dados seja
cumprida veementemente no caso concreto, adequando o cotidiano laboral da
empresa aos novos contratos de trabalho e ajustando aqueles existentes, a partir de
noções objetivas e de aplicação prática. Conclui-se por meio do estudo que a LGPD, lei
recentíssima e que ainda não está em vigência no ordenamento jurídico brasileiro,
enfrentando inclusive um desencontro de datas para isto, possui importantes
instrumentos e institutos jurídicos com o condão de tutelar a privacidade dos
trabalhadores nas empresas. Todavia, tais diretrizes precisam ser consideradas sob a
ótima trabalhista a fim de que tenham uma real eficácia prática, sob pena de ser
apenas uma lei que embora formalizada não apresenta nenhuma utilidade. É
indubitável que para se atingir tal eficácia, torna-se imperioso que a empresa adote
procedimentos corretos e transparentes com o escopo de coletar os dados de seus
empregados de modo a não atingir sua privacidade e intimidade e sobretudo sua
dignidade. A presente pesquisa se utiliza da metodologia da revisão bibliográfica.

Palavras-chave: Trabalho; Dados; Proteção; Lei;

REFERÊNCIAS

DELGADO, Maurício. Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16ª Edição. São Paulo:
LTr Editora Ltda., 2017.

FRAZÃO, Ana. Nova LGPD: a importância do consentimento para o tratamento dos


dadospessoais. [online]. Disponível em:
https://www.jota.info/paywall?redirect_to=//www.jota.info/opiniao-e
analise/colunas/constituicao-empresa-e-mercado/nova-lgpd-a-importancia-do-
consentimento-para-o-tratamento-dos-dados-pessoais-12092018. Acesso em
29.05.2020

MALDONADO, Viviane.Lgpd Lei Geral De Proteção De Dados Pessoais - Manual De


Implementação.1ª Edição.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.
241

TEPEDINO, Gustavo, Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e suas repercussões no


Direito do Trabalho.1ª Edição.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.
242

ENSINO JURÍDICO: UMA ANÁLISE SOBRE A NECESSIDADE DE INFORMAR ALUNOS E


PROFESSORES ACERCA DO EMPREGO DE FERRAMENTAS DOTADAS DE INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL NAS PLATAFORMAS EDUCACIONAIS

Maryana Zubiaurre Corrêa 137


Nathalie Kuczura Nedel138
RESUMO

A inteligência artificial (IA) participa ativamente no mundo humano porquanto é a


ciência da computação que constrói mecanismos e/ou dispositivos inteligentes, dos
quais, simulam a capacidade de pensamento do ser humano. A operacionalização de
um sistema inteligente no Ensino Jurídico, permite o fornecimento de suportes para
os sistemas acadêmicos. Assim, a partir dos dados fornecidos pela na sua
programação, possibilita desdobramentos e até mesmo criações, podendo contribuir
para um aperfeiçoamento no estudo do Direito, pois pode ser aplicado no âmbito de
Plataformas Educacionais. Nesse aspecto, é que se situa o objeto da presente
pesquisa. Assim, em que medida há necessidade, a partir do ponto de vista jurídico, de
informar para os alunos e professores sobre o emprego de ferramentas dotadas de
inteligência artificial no ensino do direito? Por meio de um estudo bibliográfico de
documentação indireta, em fontes do Direito, este trabalho procurará responder ao
problema, mormente verificando a lacuna legislativa quanto ao ponto em específico.
A discussão é relevante pois é necessário identificar se quando inserido algoritmos de
IA nas plataformas educacionais, é obrigatório ou não informar os membros do setor
educacional. Nesse âmago, a utilização de ferramentas dotadas de IA nas plataformas
de ensino, podem corrigir provas, indicar os alunos que estão assistindo às aulas e
exercer outras atribuições. Exemplo disso são as Faculdades da Laureate, que vêm
utilizando ferramentas de IA para a correção de atividades avaliativas, incluindo
questões discursivas. Frise-se que referidas Instituições optaram por não informar os
alunos sobre tal situação, o que gerou insurgências destes. Insta demarcar que a

137Acadêmica do 7º semestre da Faculdade de Direito de Santa Maria – FADISMA. Endereço eletrônico:


zubiaurremaryana@gmail.com.
138Professora da Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA). Coordenadora de Pesquisa e

Extensão da FADISMA. Doutora em Direito pela UNISINOS. Mestre com louvor pela Universidade
Federal de Santa Maria. Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria. Endereço
eletrônico: nkuczura@gmail.com.
243

Constituição Federal de 1988 positivou o acesso à informação, no artigo 5°, XIV. Tal
dispositivo assegura, de forma ampla, aos indivíduos o direito de serem informados.
Situação que se aplica às relações entre o Estado e particulares e entre particulares.
Especificamente quando se está diante de uma Instituição Privada, por exemplo,
deve-se, ainda, observar os ditames do Código de Defesa do Consumidor, que
apresenta igualmente o referido Direito. Dessa forma, tem-se que o emprego de
ferramentas dotadas de IA é de suma importância e traz benefícios, porém
imprescindível que os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem tenham
conhecimento acerca de como serão realizadas as correções das avaliações, o
planejamento das atividades, entre outros. No entanto, insta destacar que a IA não irá
substituir os professores, porquanto estes devem fornecer as diretrizes para o
sistema, sem que haja a substituição total. Assim, empregar-se-á um sistema híbrido,
mas para que tal funcione, necessário que os professores conheçam a ferramenta
utilizada e possam com esta “dialogar”. Já em relação aos alunos, não se faz necessário
que os mesmos saibam especificamente as variáveis das ferramentas dotadas de
inteligência artificial, mas que estejam cientes do seu emprego e forma macro de
funcionamento. Por fim, apesar de não haver legislação específica, existe previsão
constitucional e infraconstitucional que deve ser aplicada ao caso. Logo, é
imprescritível que tanto os alunos quanto os professores saibam que há o emprego
destes mecanismos, de forma que tenham acesso às informações do procedimento do
sistema.

Palavras-chave: Ensino Jurídico; inteligência artificial; plataformas educacionais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988; Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26. mai.
2020.

FELIPE, B. Direitos dos robôs, tomadas de decisões e escolhas morais: algumas considerações
acerca da necessidade de regulamentação ética e jurídica da inteligência artificial. Rio de
Janeiro: Juris Poiesis, 2017. p. 150-169.
244

FOLHA DE SÃO PAULO. Faculdades da Laureate substituem professores por robô sem que
alunos saibam. 2. mai. 2020. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/05/faculdades-da-laureate-substituem-
professores-por-robo-sem-que-alunos-saibam.shtml. Acesso em: 26. mai. 2020.

HOGEMANN, E. O futuro do direito e do ensino jurídico diante das novas tecnologias. Revista
Interdisciplinar de Direito, 2018. V.16. n 1. p. 2.

SPERANDIO, H. Desafios da inteligência artificial para a profissão jurídica. 2018. Dissertação


(Mestrado em Direito) Disponível em: https://direitosp.fgv.br/publicacoes/desafios-
inteligencia-artificial-para-profissao-juridica. Acesso em: 22 de abril de 2020.
245

A TUTELA DO DADO PESSOAL ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL E A VIGILÂNCIA ELETRÔNICA


EM FACE DO CONSUMIDOR

José Henrique De Oliveira Couto139

RESUMO

Segundo Beniger, a partir da 1ª Revolução Industrial houve construções e adaptações


tecnológicas para aproximação do consumidor com o fornecedor. Se no passado as
revistas e os jornais eram os objetos responsáveis pela aproximação daqueles, na
modernidade é a internet, afinal esta eclodiu tanto rompendo as barreiras das distâncias
por permitir um globalizado comércio, quanto tornando a velocidade interconectada
com as relações econômicas. Nesse caldo, Doneda pondera que os dados pessoais, que
são divergentes de informações pessoais, pois essas são frutos do processamento e
refinamento dos dados; são conteúdos que revelam, mediante leis, características
pessoais, tal como o sobrenome. Portanto, os dados e as informações pessoais são
fundamentais para o desenvolvimento humano. Então, tanto os dados quanto as
informações personalíssimas são considerados direitos fundamentais, visto que revelam
características inerentes das pessoas. Partindo daí, com o advento da internet, a relação
entre o consumidor e o fornecedor se expandiu, de modo que aquele passou de um
sujeito vulnerável na relação econômica, para um sujeito hipervulnerável por ter os
dados personalíssimos coletados abusivamente. Não é atoa que os consumidores
passaram de comerciantes para seres comercializados, afinal, com a monitoração
eletrônica, as empresas coletam e compartilham, sem a devida autorização, os dados
pessoais dos consumidores. Em virtude disso, Rosenvald e Cristiano Chaves ponderam
que deve haver limitações aos direitos subjetivos para manutenção da igualdade
comercial, onde o consumidor deverá ser protegido diante de abusividades e condutas
ilícitas, então por haver violações aos deveres de cooperação, lealdade e informação nos
contratos eletrônicos, a boa-fé acaba sendo expurgada do negócio jurídico, de modo que
os dados pessoais dos consumidores são tolhidos abusivamente. Diante deste cenário, a
Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), conforme artigo 1º, pondera sobre a
tutela de direitos fundamentais, deixando evidente que os dados personalíssimos dos

139Graduando em Direito pela Universidade Federal De Uberlândia (UFU). Endereço eletrônico:


henrrique_jose2000@hotmail.com
246

consumidores devem ser protegidos com efetividade. O trabalho se pauta no método de


abordagem dedutivo, investigando doutrinas, artigos científicos e legislações.
Palavras-chave: Vigilância eletrônica; internet; consumidor; dados personalíssimos; direitos
fundamentais.

REFERÊNCIAS
BENIGER, James. The Control Revolution: Technological and Economic Origins of the
Information Society. Cambridge: Harvard University Press, 1989.

BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em: 10/06/2020.

DONEDA, Danilo. A proteção dos dados pessoais como um direito fundamental. Espaço
Jurídico, Joaçaba, v. 12, n. 2, p. 91-108, jul./dez. 2011. Disponível em:
https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/1315/658. Acesso
em: 09/06/2020.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Parte Geral e

LINDB. 18. ed. Salvador: Juspodivm, 2020.

LINS, Bernardo Felipe Estellita. A evolução da Internet: uma perspectiva histórica.


Cadernos Aslegis, v. 48, n. 17, p. 11-45, fev. 2013. Disponível em:
https://www.aslegis.org.br/files/cadernos/2013/caderno-48/Aslegis48_baixa.pdf.
Acesso em: 09/06/2020.
247

A TECNOLOGIA BLOCKCHAIN COMO RUPTURA DO MODELO ASSEMBLEAR DAS


SOCIEDADES COOPERATIVAS BRASILEIRAS

Leonardo Rafael de Souza140


Maylin Maffini141
RESUMO

A história da tecnologia mostra que o desenvolvimento tecnológico traz consigo uma


carga de inovação que rompe competências e conhecimentos técnicos, afetando desde
projetos e técnicas de produção até mudanças de hábitos, atitudes e comportamentos.
Consequência dessa ruptura é a tendência de resistência às mudanças tecnológicas,
seja negando o novo ou tentando adequá-lo a uma realidade existente. Esta
resistência é ainda mais latente no Direito, onde a racionalidade lógico-formal tende a
insistir numa dogmática jurídica tradicional muitas vezes incapaz de bem interpretar
as mudanças do plano dos fatos, especialmente frente às mudanças tecnológicas de
uma internet até então informacional para uma internet de valores. O presente
trabalho tem caráter exploratório, utilizando-se de pesquisa bibliográfica e
documental, sendo a abordagem do problema descritiva por meio da análise da
legislação no que concerne ao fenômeno da digitalização das assembleias gerias das
sociedades cooperativas brasileiras. Apesar do novo artigo 43-A da Lei das
Sociedades Cooperativas (Lei 5.764/71), acrescido pela MP n° 931/2020, autorizar a
realização de assembleias à distância, a Instrução Normativa n° 79/2020, da DREI,
que regula sobre o funcionamento das assembleias digitais e registro dos seus atos
perante as Juntas Comerciais, demonstra em seu texto normativo limitar a própria

140 Advogado, sócio e diretor técnico da Souza & De Lorenzi Advogados Associados (Florianópolis e
Curitiba), especializado em Direito Cooperativo. Professor de Direito Eletrônico e Direito Empresarial
no Centro Universitário OPET (UniOpet); Doutorando em Direito pela PUC/PR; mestre em Gestão
Cooperativa pela PUC/PR e especialista em Cooperativismo pela Unisinos/RS. É presidente da
Comissão de Direito Cooperativo da OAB/SC, membro da Comissão de Estudos em Cooperativismo do
Conselho Federal da OAB, e membro pesquisador do Grupo Permanente de Discussão em Blockchain e
Criptoativos da OAB/PR; Integra a Associação Internacional de Direito Cooperativo, com sede na
Espanha, bem como integra a Comunidade Internacional de Advogados Cooperativistas (IUS
Cooperativum) com sede em Luxemburgo. É membro da Blockchain Research Institute no Brasil e
board member da Crypto Jr. Blockchain and Cryptocurrency Consulting.
141 Advogada, sócia da Maffini Advogados, graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, Pós-graduação em Direito Processual Civil pelo IBEJ - Instituto Brasileiro de Estudos
Jurídicos, Pós-graduação em Banking e Finanças pela PUC-PR, membro da Comissão de Direito
Bancário e da Comissão de Inovação e Tecnologia da OAB/PR; Mestre em Direito Socioeconômico pela
PUC-PR, Professora convidada do Curso de Direito Digital na Pós-graduação da PUCPR-Maringá e da
FAE Business School - Centro Universitário; e-mail: maymaffini@gmail.com
248

tecnologia que reconhece. Neste regulamento, regras de convocação, instalação,


deliberação e voto nos ambientes assembleares digitais buscam apenas reproduzir o
teatralizado funcionamento dos processos decisórios assembleares atuais, limitando
a atuação libertária da tecnologia. Assim, o presente artigo busca demonstrar como a
tecnologia Blockchain pode contribuir e romper com as regras existentes para propor
uma nova forma assemblear que resgate a gestão democrática pelos sócios, regra
principiológica nos processos decisórios das sociedades cooperativas.

Palavras-chave: Tecnologia. Blockchain. Assembleias Gerais. Sociedades Cooperativas.


Digitalização.

REFERÊNCIAS

ATZORI, Marcella. Blockchain technology and decentralized governance: Is the state


still necessary? Available at SSRN 2709713, 2015.

GOMES, Delber Pinto. Contratos ex machina: breves notas sobre a introdução da


tecnologia Blockchain e Smart Contracts. Disponível em:
https://www.cije.up.pt/download-file/2274. evista Electrónica de Derecho N.º 3 (V.
17). Publicado em out. 2018. Acesso em: 01 jun. 2020.

GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Sociedades cooperativas. São Paulo: Lex, 2018.

SWAN, Melanie. Blockchain. Blueprint for a new economy. O´Reilly Media. Kindle e-
book. 2015.

SZABO, Nick. Formalizing and Securing Relationships on Public Networks. ac. 1997.
Disponível em http://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/%20article/view/548/469.
Acesso em: 30 de maio 2020.
249

A INFLUÊNCIA DO CENÁRIO ALGORÍTMO DAS REDES SOCIAIS


PARA A E-DEMOCRACIA

Andressa de Bittencourt Siqueira 142

RESUMO

Na medida em que as redes sociais online impõem novos desafios à democracia – que
passa a ser denominada de e-democracia, democracia digital, ou teledemocracia –
abre-se a mais diversa gama de questões para a análise das inovadoras ágoras
digitais, que ocupam espaço nessas redes, cujo desenvolvimento paulatino ocorreu
em decorrência dos avanços tecnológicos realizados ao longo dos anos. Dentre tais
desafios, situa-se a utilização de algoritmos para interferência no fluxo informacional
nas redes sociais, estabelecendo-se, assim, o seguinte problema de pesquisa: de que
modo o princípio democrático adaptou-se à tecnologia, de maneira primordial no que
tange ao uso de algoritmos nas redes sociais? De uma perspectiva metodológica,
adotou-se tanto o método hipotético-dedutivo de abordagem, uma vez que se parte
da premissa da não obsolescência do princípio democrático, como o método
estruturalista de procedimento, porquanto se parte da observação prática para o
plano abstrato, retornando-se ao plano concreto com um tipo ideal elaborado. A
presente exposição, nessa linha, apresenta como pesquisa teórica em sua natureza,
enquanto que, quanto aos objetivos, consiste em exploratória por excelência, além de
explicativa, porquanto visa a explicitar o fenômeno da adaptação do princípio
democrático ao desenvolvimento tecnológico. Com efeito, confirma-se a hipótese de
pesquisa estabelecida ao início, segundo a qual não há o que falar em novo modelo de
regime político modelado frente às novas tecnologias, apenas trata-se da democracia
adaptada às novas formas de comunicação através das redes sociais assomada à
utilização de algoritmos. Quanto a estes últimos, não há violação ao princípio
democrático, visto que a problemática não reside no algoritmo em si mesmo, mas,
sim, nas premissas pelas quais determinado algoritmo tenha sido programado.

142 Mestranda em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Bolsista integral
PROEX vinculada à CAPES. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Direitos Fundamentais
(GEDF/CNPq). Advogada. Endereço eletrônico: andressa.siqueira@edu.pucrs.br.
250

Palavras-chave: democracia digital; teledemocracia; ágoras digitais; avanços tecnológicos;


princípio democrático.

REFERÊNCIAS

CUNNINGHAM, Frank. Teorias da democracia. Uma introdução crítica. Tradução por


Delamar José Volpato Dutra. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FREITAS, Juarez. Direito Administrativo e inteligência artificial. Interesse Público – IP,


Belo Horizonte, ano 21, n. 114, p. 15-29, mar./abr. 2019.

GOMES, Wilson. A democracia digital e o problema da participação civil na decisão


política. Revista Fronteiras: estudos midiáticos, v. VII , n. 3, p. 214-222, set./dez. 2005.

PINON, Stéphane. Nouvelles questions sur la démocratie. 4 décembre 2009. Paris –


Sénat Table ronde: Droits, justice et démocratie. Sous la présidence du prof. A.- M. Le
Pourhiet Journée d’études à Cerg -Pontoise. Démocratie et contre-pouvoirs sociaux,
nov. 2009.

VIALA, Alexandre. Le macronisme ou le spectre de l’épistocratie. Le Monde – Idées, 18


out. 2017. Disponível em: lemonde.fr/idees/article/2017/10/18. Acesso em: 31 maio
2019.
251

A DIFICULDADE DE RECONHECIMENTO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM A


IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA PEER-TO-PEER

Alexandre Maschio Domingos143

RESUMO

A tecnologia peer-to-peer é um real fenômeno crescente em esfera mundial quando


se diz respeito a fortes debates acerca da vinculação trabalhista entre o trinômio:
Empresa, prestador de serviço ou funcionário (aqui permeia a dúvida) e utilizador.
Não se trata necessariamente de um evento puramente econômico, mas também
jurídico, ao passo que o legislador deve se atentar as falhas legais, a fim de aprimorar
e evitar fraudes, bem como o judiciário não pode se abster de julgar questões que
nem se quer são legisladas, avocando a si o princípio da inafastabilidade do controle
jurisdicional.O problema aqui é que embora o direito seja uma área de estudo que
abrange quase todas as outras áreas, não é humanamente possível obrigar que todos
os juízes tenham conhecimento de múltiplas áreas que envolvem esta temática. A
dificuldade se acentua quando no Brasil este modelo de empreendimento está caindo
no gosto da sociedade, possuindo diversas vertentes possíveis, desde
compartilhamento de bicicletas até o sistema compartilhado de caronas, além de
muitos sites de troca de produtos e serviços. Dentre as principais atividades ligadas a
este ecossistema, encontra-se o peer-to-peer com finalidade lucrativa, modelo
utilizado pela “Uber” por exemplo, e é neste modelo de empreendimento que
encontramos o trinômio supracitado e a cerne de todo debate mundial acerca do
reconhecimento ou não do vínculo de emprego.Ao parecer do autor que aqui
subscreve, a Economia Compartilhada em sede de peer-to-peer sem finalidade
lucrativa se assemelha a Solidariedade Orgânica de Émile Durkheim, pois neste
modelo de negócio o que se cria é um mutualismo necessário, ou seja, a necessidade
de usuário e do detentor do bem/prestador de serviço se relacionaram de maneira
harmônica, unitária e com finalidade de integração, e isto é exatamente o que se
espera na solidariedade orgânica.Por outro lado a utilização desta tecnologia com a
finalidade de obtenção de lucro, faz com que haja o mutualismo, mas de maneira

Acadêmico de Direito no Centro Universitário Toledo – Campus Araçatuba-SP. Produtor e diretor do


143

Web – Vlog Youtube Brasil: Alexandre M Domingo. E-mail: alexandre_mdomingos@hotmail.com


252

exploratória por parte da empresa detentora do capital, entretanto o que é observável


é que este exploração é simbólica, diferente das bases exploratórias que conhecemos
até os dias de hoje. Sobre aspecto similar Castells (p. 230, 1999) nos dá uma
interessante definição da relação da utilização da tecnologia no meio de controle
laboral passível de configuração de um subordinação simbólica: “a ‘empresa
horizontal’ é uma rede dinâmica e estrategicamente planejada de unidades auto
programadas com base na descentralização, participação e coordenação” Nesse novo
paradigma, grande tônica será dada na capacidade que as empresas têm de gerenciar
as informações do processo produtivo. E deste modo, a transformação da exploração
foi extraordinariamente inovada e deturpada pelas empresas que utilizam as novas
tecnologias e assim devem ser combatidas, a fim de assegurar os direitos dos
trabalhadores.

Palavras-Chave: Direito; Tecnologia; Vínculo

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 14, 2009.

CASTELLS, Manuel. “ espaço de fluxos” in: A Sociedade em ede. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, p. 230, 1999.

DURKHEIM, Emily. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Martins Fontes, p. 224,
1995.
253

AS POSTAGENS DE JAIR BOLSONARO DELETADAS PELAS REDES SOCIAIS: QUANDO O


EXCESSO NOS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E A PROPAGAÇÃO DE
DESINFORMAÇÃO FEREM A DEMOCRACIA

Bianca Maschio144
Pillar Cornelli Crestani145
RESUMO

Com o passar dos anos, a forma de governar e de se comunicar com a população


através da tecnologia e das redes sociais vem sendo exercida de forma cada vez mais
afinca pelos governantes. Isso, inclusive, vem sendo muito utilizado pelo atual
Presidente do Brasil – Jair Messias Bolsonaro – de modo a imprimir a sua
personalidade e seu estilo informal nas publicações das contas presidenciais, no
ciberespaço. Assim, é possível questionar se as postagens do Presidente –
especialmente, aquelas relacionadas ao contexto da pandemia de Covid-19, com a
propagação de declarações que contrariam as recomendações dos organismos de
saúde e com o compartilhamento de informações inverídicas ou desprovidas de
embasamento científico – estão abarcadas pelo direito à liberdade de expressão e se o
seu conteúdo pode ser considerado prejudicial à democracia. A partir dessas
considerações, aderiu-se ao eixo temático “ edes Sociais e Proteção da Democracia”,
bem como, à pesquisa, foi aplicada a metodologia de abordagem indutiva, aliada ao
método de procedimento monográfico, pois o trabalho partirá de uma situação
específica – o episódio da exclusão das postagens de Jair Bolsonaro nas redes sociais
Facebook, Instagram e Twitter, pelos próprios provedores de aplicação. Nesse
sentido, a pesquisa objetivou analisar, especificamente, os casos de exclusão
unilateral, pelos próprios provedores de aplicação, das postagens do Presidente da
República, nas referidas plataformas, e verificar se o conteúdo publicado por ele
excede os limites da liberdade de expressão e, também, se poderia ser considerado
prejudicial à democracia. Diante disso, expõe-se que a liberdade de expressão é

144 Bianca Maschio. Membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI),
vinculado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sob coordenação do Prof. Dr. Rafael Santos
de Oliveira. Advogada. E-mail para contato: bianca.maschio@jobimadvogados.com.br.
145 Pillar Cornelli Crestani. Membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito e Internet (CEPEDI),

vinculado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sob coordenação do Prof. Dr. Rafael Santos
de Oliveira. Advogada e pós-graduanda em Direito Digital, pela Fundação Escola Superior do Ministério
Público (FMP). E-mail para contato: pillarcrestani.pesquisa@gmail.com.
254

fundamental para o Estado Democrático de Direito, sendo necessário que a sociedade


permita que os indivíduos expressem quem são e quais as suas ideias. Outrossim,
verificou-se que as redes sociais ampliaram a liberdade de expressão das pessoas, as
quais, não raro, acabam excedendo as limitações jurídicas inerentes a essa garantia
constitucional, ao proferir ofensas aos direitos de terceiros. Nesse sentido, destaca-se
que, além do respeito aos direitos da coletividade, é possível afirmar que um dos
limites da liberdade de expressão é a observância quanto à veracidade do conteúdo
que será compartilhado na internet, visando, assim, à preservação do direito
informacional dos internautas. Isso quer dizer que a propagação de desinformação e a
ultrapassagem dos limites da liberdade de expressão podem ser considerados atos
prejudiciais ao exercício da democracia. Logo, por esse viés e num primeiro olhar,
pode-se referir que o Presidente da República, no contexto excepcional da pandemia
de Covid-19, ao divulgar, em suas redes sociais, informações tendenciosas ou
inverídicas, assim como, ao publicar conteúdos impondo, ao povo, a adoção de
medidas contrárias às recomendações dos organismos de saúde – expondo a saúde
pública a risco – acabou excedendo os limites da liberdade de expressão e, também,
ofendendo a democracia brasileira. Desta forma, não se deu por esgotada a pesquisa,
nos incentivando a refletir – de forma a complementar esse contexto – sobre a
legitimidade dos provedores de aplicação, em estabelecer uma filtragem de conteúdo
ou regras de exclusão de publicações que violem seus termos de uso.

Palavras-Chave: Democracia; desinformação; liberdade de expressão; redes sociais.

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luis Roberto. Liberdade de expressão versus direitos da personalidade.


Colisão de direitos fundamentais e critérios de ponderação. In: SARLET, Ingo
Wolfgang (Org.) Direitos Fundamentais, Informática e comunicação: algumas
aproximações. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

CARDON, Dominique. A democracia internet: promessas e limites. Trad. Nina Vincent


e Tiago Coutinho. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
255

FACEBOOK e Instagram removem vídeo de Jair Bolsonaro por violação de regras. G1,
[s.l.], 30 mar. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/03/30/facebook-e-
instagram-removem-video-de-jair-bolsonaro-por-violacao-de-regras.ghtml. Acesso
em: 25 maio 2020.

FAUSTINO, André. Fake news: a liberdade de expressão nas redes sociais na


sociedade de informação. São Paulo: Lura Editorial, 2019.

FISS, Owen M. A ironia da liberdade de expressão: estado, regulação e diversidade na


esfera pública. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
256

A RESIDÊNCIA ALTERNADA NA GUARDA COMPARTILHADA À ÓTICA DO PRINCÍPIO DO


MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA

Camila Corral Machado146


César Inácio Mayora147
RESUMO

Nos últimos tempos houve uma evolução das relações pessoais da sociedade, diante
disso surgiram algumas mudanças nas relações familiares, dentre essas mudanças
contínuas o divórcio acabou não sendo mais uma barreira a ser enfrentada,
aumentando gradativamente os casos de dissolução do vínculo conjugal. Porém, na
existência de filhos, mesmo que a relação conjugal tenha seu fim, o mesmo não
acontece com o poder familiar, pois os pais têm o dever de assistência para o melhor
interesse da criança, existindo assim, os modelos de guardas, seja unilateral, seja
compartilhada, com a finalidade de propiciar a convivência familiar mais adequada a
criança, afinal, a convivência familiar é um direito humano garantido pela Declaração
Universal de Direitos Humanos da ONU e a Constituição Federal. A partir disto, o
presente trabalho tem como objetivo mostrar as barreiras da guarda compartilhada
diante da possibilidade da residência alternada, neste sentido, surge o
questionamento: Em que medida a residência alternada no instituto da guarda
compartilhada tem efetividade como uma inovadora forma de garantia de direitos
humanos à ótica da convivência familiar, respeitando o princípio do melhor interesse
da criança? Assim, para responder o problema de pesquisa utilizou-se o método de
abordagem dedutivo, com fontes bibliográficas, documentais e dados secundários.
Esta temática se enquadra na linha de pesquisa da Pontifícia Universitade Católica/PR
(PUC/PR), qual seja, Inovação e Direitos Humanos. Ademais, o tema tem grande
relevância para comunidade acadêmica no que tange o estudo do direito das famílias
visto que a guarda compartilhada é um tema inovador e desafiador para o Direito,
pois foi regulamentado como regra no ano de 2014, diante disso a fixação da dupla

146 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Santa Maria/RS (FADISMA). Telefone/Celular:
(55) 999272497. Endereço Eletrônico: camilacorral15@gmail.com;
147 Aluno do 7º semestre do curso de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria/RS (FADISMA).
Membro do Grupo de Pesquisa em Propriedade Intelectual e Contemporaneidade (GPPIC) da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Telefone/Celular: (55) 999888634. Endereço Eletrônico:
cesar.mayoraa@hotmail.com.
257

residência não se trata de um simples procedimento, mas de uma ferramenta que


garante a convivência familiar entre pais e filhos, proporcionando o melhor interesse
da criança. Foi possível concluir que analisando o princípio do melhor interesse da
criança, a residência alternada poderá ser um mecanismo incentivador de uma
convivência familiar adequada e salutar no âmbito da guarda compartilhada, sendo
assim uma forma de garantia de direitos humanos através da função social da família
proporcionando a ambos, pais e filhos, a garantia de direitos humanos há muito já
sedimentado, tanto pela Declaração Universal de Direitos Humanos, quanto pela
Constituição Federal, neste caso a convivência familiar, independentemente da
situação fática em que se encontram os pais. Portanto, é necessária uma reflexão por
parte da comunidade acadêmica, bem como o estudo do direito das famílias, visto que
a temática não se trata de mero ato procedimental e sim ferramenta que visa a
garantia de melhor convivência familiar e dos interesses da criança.

Palavras-chave: Residência alternada; guarda compartilhada; convivência familiar.

REFERÊNCIAS

BAUSERMAN, Robert. Child Adjustment in joint-custody versus sole-custody


arrangements: a meta-analytic review. Journal of Family Psychology. EUA: American
Psychological Association. Disponível em:
https://www.apa.org/pubs/journals/releases/fam-16191.pdf. Acesso em 31 maio
2020.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990. Presidência da República.


Planalto. Brasília/DF. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 31/05/2020.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1428596/RS. Rio Grande do


Sul.CI IL E P CESSUAL CI IL. ECU S ESPECIAL. DI EI CI IL E P CESSUAL
CI IL. FAMÍLIA. GUA DA C MPA ILHADA. C NSENS . NECESSIDADE.
AL E N NCIA DE ESID NCIA D MEN . POSSIBILIDADE. Relatora: Min. Nancy
258

Andrighi. Data do julgamento: 03/06/2014. Disponível em:


https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp. Acesso em: 31 maio 2020.

CALDERÓN, Ricardo. Princípio da Afetividade no Direito de Família, 2ª edição. [Digite


o Local da Editora]; [Digite o Nome da Editora], [Inserir ano de publicação].
9788530977153. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530977153/. Acesso em:
26 maio 2020.

CHAMBERS, R.P.P.D. O. Poder familiar e a guarda compartilhada: novos paradigmas do


direito de família, 2ª edição.São Paulo/SP; Editora Saraiva, 2016. 9788502637306.
Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502637306/. Acesso em:
31 maio 2020.
259

TECNOLOGIA E A TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO: OS DIREITOS HUMANOS DO


TRABALHO COMO GARANTIDOR DO TRABALHO DECENTE

148
Fernanda Barcellos Mathiasi

RESUMO

Entender as transformações do trabalho, identificando o que é um "bom trabalho",


"trabalho ruim" ou "trabalho precário" é fundamental para a regulamentação e
proposição de direitos que garantam cada vez mais uma vida digna, numa perspectiva
de direitos humanos do trabalho e consequentemente a valorização do “trabalho
decente”, conceito da rganização Internacional do rabalho. ob etivo deste artigo
científico é uma discussão teórico-bibliográfica de autores nacionais e internacionais
que definem socio-juridicamente os atributos do trabalho na sociedade
contemporânea, que tem a tecnologia, como um dos elementos fundamentais de
transformações sofridas neste mercado nos últimos anos. Assim surge a pergunta
central da pesquisa: como os direitos humanos do trabalho pode garantir um
“trabalho decente” em um mundo de tecnologia e trabalho precário? Para isso
faremos num primeiro momento uma reconstrução histórica dos direitos humanos
até a ideia dos direitos humanos do trabalho, englobando o “trabalho decente” e suas
características. Num segundo momento, uma construção bibliográfica dialogando
com os conceitos de trabalho “bom”, “ruim” e “decente”, fazendo um contraponto ao
"trabalho precário" (forma de atividade remunerada com piores condições para o
trabalhador), para assim finalizar, sustentando a tese central de que a
regulamentação dos direitos humanos do trabalho, dentro de uma sociedade
globalizada, é um instrumento para alcançar uma sociedade mais justa através do
“trabalho decente”, afastando os impactos ruins da tecnologia que muitas vezes gera o
“trabalho precário”. Metodologicamente a pesquisa parte de um estudo bibliográfico,
apresentando alguns dados qualitativos e quantitativos de relatórios da OIT, como
forma de construir melhor o objeto e argumentação lançada a debate. Os resultados

148Doutoranda em Ciências Sociais em Cotutela pela UAS-Universidade Autônoma de Sinaloa-México e


Universidade Federal de Juiz de Fora-MG-Brasil; Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal
de Juiz de Fora-Brasil; Advogada Especialista em Direito do Trabalho e Previdenciário pela PUC
MINAS-Brasil. E-mail: fernandabarcellosmathiasi@gmail.com.
260

leva-nos a compreender que diante do desafio das transformações das relações de


trabalho pela tecnologia, a regulamentação do direito do trabalho, afinada com os
princípios da promoção dos direitos humanos do trabalho, numa perspectiva
internacional, atentando-se para o “trabalho decente”, se apresenta como solução
para a busca da justiça social, diminuição das desigualdades econômicas e sociais,
além de proporcionar garantias mínimas aos trabalhadores. Este trabalho faz parte
da tese doutoral da autora, ainda em andamento, que discute mais profundamente as
mudanças e regulamentação do mercado de trabalho.

Palavras-chave: Direitos Humanos; trabalho decente; trabalho precário; tecnologia; relações de


trabalho

REFERÊNCIAS

ABRAMO, Laís. Trabajo decente y equidad de género en América Latina (pp. 978-92).
Oficina Internacional del Trabajo, 2006.

DE LA GARZA, Enrique (Ed.). Tratado latinoamericano de sociología del trabajo.


FLACSO México, UAM, FCE, 2003.

GIL, Jose Luis. Trabajo decente y reformas laborales. Revista Derecho social y empresa,
(7), 21-78, 2017.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito contemporâneo do trabalho. Editora Saraiva,


2017.

STANDING, Guy. O Precariado: A nova classe perigosa. 1. Ed. Belo Horizonte. Autêntica
Editora, 2014.
261

SUGESTÃO DE TAREFAS PROCESSUAIS POR INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: PERSPECTIVAS DE


OTIMIZAÇÃO E DESAFIOS HERMENÊUTICOS

Gabriel Marconi de Campos Moura149


Heitor Oliveira de Paula Costa 150
RESUMO

Surge o presente estudo alinhado ao pro eto “Sugestão de arefas”, um software de


Inteligência Artificial capaz de sugerir tarefas processuais a serem adotadas em razão
de atos judiciais dirigidos às partes de um processo, desenvolvido no âmbito de
trabalho de uma empresa de tecnologia de gestão e otimização de demandas judiciais.
A partir da classificação de documentos e etiquetagem massiva de frases
representativas de diferentes consequências jurídicas – originadas de peças
processuais decisórias, de peticionamento ou ordinatórias –, treina-se o modelo de
Inteligência Artificial a identificar classes de medidas processuais a serem adotadas em
determinado contexto pelas partes. Inicialmente, realizaram-se, em um banco de dados
de publicações extraídas de Diários de Justiça, buscas textuais de palavras-chave
conjugadas por operadores lógico Booleanos. Feita a classificação dessas publicações
de acordo com a classe processual a que pertencem, vale-se de uma ferramenta de
anotação de texto, por meio da qual cada publicação é dividida em frases a serem
posteriormente etiquetadas. Sequencialmente, os arquivos etiquetados com as
consequências jurídicas atribuídas a determinados padrões frasais são exportados e
tornam-se insumo para as fases de pré-processamento e treino, utilizando dois
modelos baseados em arquitetura de redes neurais do tipo BERT. O primeiro desses
classifica as frases de acordo com a tarefa processual a ser sugerida, enquanto o
segundo extrai o prazo existente para a prática de um ato processual ou a data e hora
de audiências e sessões de julgamento. Devidamente treinado, integrou-se o modelo a
uma API e ao sistema de gestão processual oferecido aos usuários do serviço,
possibilitando a identificação automatizada de tarefas no curso do processo e,
consequentemente, maior otimização e planejamento estratégico na atuação judicial
em um grande contingente de demandas. Apesar dos avanços notados no

149 Graduando em Direito pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: gabrielmarconicm@gmail.com.


150 Graduando em Direito pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: heitoropcosta@hotmail.com.
262

aperfeiçoamento deste modelo de Inteligência Artificial, encontra a tecnologia utilizada


determinados fatores limitantes. Isso porque a interpretação e aplicação do
conhecimento jurídico em atos concretos é tarefa indissociável da dimensão da
pragmática da comunicação humana, envolta, ainda, em elementos variados de ordem
hermenêutica e cognoscente. Partindo dessa problemática, propõe-se verificar a
aplicabilidade do modelo de IA na predição de tarefas processuais e analisar, a partir
da revisão bibliográfica em hermenêutica filosófica e Inteligência Artificial, os pontos-
limite da dessa tecnologia. Para tanto, objetiva-se: a) verificar quantitativa - por
avaliação do índice de correção das sugestões feitas pela IA - e qualitativamente - por
avaliação da adaptabilidade do modelo na identificação de sentenças e contextos
diversos - a aplicabilidade da tecnologia na predição de tarefas processuais; b)
identificar os principais pontos de incorreção e limites interpretativos na sugestão de
tarefas pelo modelo de IA; c) analisar o papel do enviesamento interpretativo na
determinação dos limites adaptativos encontrados; d) analisar as incorreções e limites
interpretativos encontrados a partir da distinção entre racionalidade lógico-formal e a
concepção de círculo hermenêutico. Pretende-se, assim, avaliar a viabilidade técnica da
aplicação do mencionado modelo de IA na interpretação e sugestão de tarefas
processuais, bem como submeter os resultados encontrados acerca de seu uso a uma
necessária e fundamentada crítica jurídica, pautada nos referenciais
supramencionados.

Palavras-chave: Hermenêutica; inteligência artificial; linguagem; predição.

REFERÊNCIAS

CHANG, Ming-Wei et al. BERT: Pre-training of Deep Bidirectional Transformers for


Language Understanding. Cornell University, Ithaca, out. 2018. Disponível em:
https://arxiv.org/abs/1810.04805v2. Acesso em: 01 jun. 2020.

PEIXOTO, Fabiano Hartmann; SILVA, Roberta Zumblick Martins da. Inteligência


artificial e direito. Curitiba: Alteridade, 2019.
263

PEREIRA, Rodolfo Viana. Hermenêutica Filosófica e Constitucional. 2. ed. Belo


Horizonte: Del Rey, 2006.

ROSA, João Luís Garcia. Fundamentos da Inteligência Artificial. Rio de Janeiro: LTC,
2011.

STRECK, Lênio Luiz. Hermêneutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica
da construção do Direito. 11ª. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2014.
264

A UTILIZAÇÃO DE “ROBÔS” EM CAMPANHAS ELEITORAIS: AMEAÇA À AUTENTICIDADE E


CAUSA DE ANULAÇÃO

Gabriel Vieira Terenzi151

RESUMO

As redes sociais adquiriram inegável relevância nos procedimentos eleitorais da atual


democracia representativa, onde indivíduos adquirem poder para decidir por meio de
competição ao voto popular. Nessa concepção, as campanhas traduzem-se na
oportunidade para que o candidato exponha a intenção real do mandato pretendido,
e, portanto, no mais acirrado momento dessa competição entre propostas, tendendo a
ser refletida nas urnas. Inobstante a atuação retificadora das normas eleitorais na
tentativa de coibir abusos durante as campanhas na busca de deliberações “lisas”,
essa atuação não se confunde com o mérito do sufrágio. Afinal, não cabe a juízes e
tribunais eleitorais solucionar a suposta deficiência do processo político ou a
fragilidade dos partidos. Assim, a atribuição conferida pela Constituição, ao prever,
em seu artigo 4, § º, a necessidade de proteção à “normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso” revela-se uma delicada
tarefa que constitui o cerne da problemática do presente trabalha: estabelecer limites
de um isento controle de autenticidade, sem infringir a dimensão da liberdade
pessoal do voto sob argumentos moralistas. Tem se debatido esse controle em
relação à possibilidade de que “robôs” se am utilizados na disseminação massiva de
informações, no contexto das eleições. s perfis “fakes” em redes sociais permitem a
quase instantânea divulgação de conteúdos (fraudulentos ou não) a incontáveis
eleitores. Essa divulgação pode afetar o pleito, desbalanceando a igualdade entre os
concorrentes e excluindo candidatos às reais chances de vitória. A Lei Eleitoral (nº
9.504/97) sofreu alterações recentes no tema, regulando-se proibida a realização de
propagandas eleitorais pagas na internet, com exceção do “impulsionamento” – o
pagamento para que determinadas postagens tenham maior visibilidade nas redes
sociais. Segundo os dispositivos previstos pelo artigo 57 e seguintes da norma, a
utilização dos “bots” na campanha pode infringir diversas determinações, á que: o

151 Mestrando em Ciência Jurídica pela UENP. gabrielvterenzi@gmail.com.


265

impulsionamento deve ser inequívoco e veicular conteúdo positivo, é vedado o


anonimato, deve ser diretamente contratado com o provedor da rede social e partir
de candidato, partido ou coligação. A teor do § 1º do art. 57-H, constitui ainda crime a
contratação de pessoas para ofender partidos e candidatos pela internet. Os
beneficiados, todavia, argumentam ser a prática manifestação de liberdade de
expressão, externa às atribuições da Justiça Eleitoral. Com o exposto, fica evidente o
problema antes denunciado: há de se estabelecer limites de modo que a intervenção
judicial não deslegitime os pleitos que intentam preservar. Afinal, a utilização de
“robôs” nas campanhas, além de ilegal, tem o potencial de romper a autenticidade das
eleições, por configurar abuso de poder, infringindo igualdade entre os candidatos,
podendo determinar a anulação da votação, conforme dispõe o art. 222 do Código
Eleitoral.

Palavras-chave: Robôs; campanhas eleitorais; autenticidade; anulação da votação.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal. 5 de outubro de 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em 28 maio 2020.

BRASIL. Lei nº 9.504/97. Brasília, 30 de setembro de 1997 Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9504.htm. Acesso em: 29 maio 2020.

RIBEIRO, Pedro José Floriano. Campanhas eleitorais em sociedades midiáticas:


articulando e revisando conceitos. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 22, p. 25-43, jun. 2004.

SALGADO, Eneida Desiree. Princípios constitucionais estruturantes do direito eleitoral.


2010. 345 f. Tese (Doutorado em Direito) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2010.
266

SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalism, Socialism and Democracy. 3. ed. New York:
Harper Colophon Books, 1950.
267

O ‘INQUÉRITO DAS FAKE NEWS’ E SUA LEGITIMIDADE PERANTE O REGIME DEMOCRÁTICO

Pablo Ruan Siqueira Lopes152

RESUMO

Na era da ‘pós-verdade’, as notícias falsas ganharam mais notoriedade. Sua rápida e


eficaz propagação em redes populares, como o WhatsApp e o Twitter, permitiram que
ataques à democracia se tornassem mais veementes e ganhassem fiéis adeptos. Mais
recentemente, o Inquérito Judicial n. 4.781/DF, amplamente conhecido como
“inquérito das ‘fake news’”, que investiga crimes cometidos no mbito da rede
mundial de computadores, não só contra a honra de juízes do Supremo Tribunal
Federal, mas contra o regime republicano em si, surgiu de forma polêmica. Isso
porque o Presidente da Corte, Ministro Dias Toffoli, abriu a ação de ofício, baseando-
se, de maneira não literal, no atual artigo 43 do Regimento Interno do Tribunal, que
estabelece exceções à prévia manifestação do Ministério Público. O objetivo desse
trabalho é defender a legalidade do inquérito, bem como sua legitimidade diante da
lei nº 7.170, a Lei de Segurança Nacional, criada em plena ditadura militar, mas não
revogada e que vem sendo aplicada com um ‘filtro democrático’ pelo S F. método
utilizado é o qualitativo, e consiste em uma interpretação sistemática dos referidos
dispositivos. Dessa forma, podemos observar que existe uma base de indivíduos que
clama por uma eventual intervenção militar ou até mesmo pela impensável volta do
Ato Institucional nº 5, bem como outros participantes de um verdadeiro exército de
fake news, que defendem os mesmos ideais. Aliado a isso, há uma retórica e prática
do atual Presidente da República, chefe da Administração Pública e Comandante
Supremo das Forças Armadas, contra as instituições democraticamente constituídas.
É bem sabido que uma democracia consegue se desfazer de dentro para fora, como foi
o caso da Alemanha de Weimar: existia ali uma verdadeira ‘não-vontade’ de
Constituição, embasado na conivência dos juízes e no auge do positivismo jurídico.
Torna-se legítimo, então, que o guardião da Constituição defenda o sistema
democrático.

Palavras-chave: Democracia, fake news, redes sociais, STF.

152 Acadêmico de Direito da Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: pablolopes954@gmail.com


268

REFERÊNCIAS

ALVES, Bruno Almir Scariot. A era da desinformação: o direito à liberdade de


expressão em tempos de pós-verdade. 2018. 65 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Grau de bacharel em Direito) Faculdade Meridional, Passo Fundo, 2018.

BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos


fundamentais e a construção do novo modelo. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020.

BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2019.

FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão e


dominação. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

KIRSZTAJN, Laura Mastroianni. A lei de segurança nacional no STF: como uma lei da
ditadura vive na democracia? 2018. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Grau de
bacharel em Direito) Escola de Formação da Sociedade Brasileira de Direito Público,
São Paulo, 2018.
269

UMA NOVA ROUPAGEM NO CONSUMO DA MODA A PARTIR DA OBTENÇÃO DE DADOS


PESOSAIS E AS TÉCNICAS DE ELABORAÇÕES DE PERFIS COMPORTAMENTAIS NA
SOCIEDADE INFORMACIONAL

Gabriela Gonçalves de Medeiros153


Isabel Christine Silva De Gregori154
RESUMO

O acesso ao ciberespaço deixa rastros, permitindo a possibilidade de se traçar o perfil


de cada internauta. Os dados pessoais são toda informação relacionada à pessoa
natural identificada ou identificável e além de serem captados pelas mais variadas
formas, são tratados e armazenados em bancos de dados. A Lei Geral de Proteção de
Dados – Lei nº 13.709/2018 traz a figura do banco de dados como sendo o conjunto
estruturado desses dados pessoais. Dentre as técnicas de tratamento dos dados
pessoais, destaca-se o profiling, que consiste na elaboração de perfis de
comportamento de uma pessoa a partir das informações que ela disponibiliza ou que
são colhidas no ciberespaço. Dessa forma, o presente trabalho buscou responder a
seguinte questão: se a criação de profiling dos usuários acarreta em uma nova
roupagem na maneira de se consumir a moda? Assim, o presente trabalho possui
como objetivo analisar se a criação desses perfis acarreta em uma nova roupagem nos
paradigmas de consumo referentes à moda. Para responder ao referido problema,
utilizou-se como método de abordagem o dedutivo e como método de procedimento
o estruturalista. Como técnica de pesquisa utilizou-se a pesquisa bibliográfica. Com a
coleta de dados e a criação do profiling do titular, é possível se obter as preferências
pessoais e outros registros da vida dos internautas, com o direcionamento de
propagandas e anúncios, estabelecendo uma relação mercadológica e de consumo em

153 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Direitos Emergentes na Sociedade Global –


Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Santa
Maria - FADISMA (2020). Integrante do Grupo de Pesquisa em Propriedade Intelectual na
Contemporaneidade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Advogada. E-mail:
gabyi.medeiros@hotmail.com
154 Doutora em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC (2007),

Mestre em Integração Latino-Americana pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM (2000).
Professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Federal de Santa Maria -
UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa em Propriedade Intelectual na Contemporaneidade, registrado no
Diretório de Grupos do CNPq e certificado pela UFSM. E-mail: isabelcsdg@gmail.com
270

torno dos dados pessoais. Nesse sentido, a criação desses perfis acaba influenciando
fortemente as informações que chegam ao alcance dos indivíduos, através dos filtros
bolhas. Assim, há um novo modo de consumo da moda baseado na circulação da
informação, sendo esse mais um risco da sociedade informacional que precisa ser
observado, uma vez que aquele que busca informações e recebe de forma parcial e já
determinada a certos conteúdos encontra-se manipulado e ilhado por essa rede.
Dessa maneira, o profiling pode influenciar as preferências e escolhas do consumidor
na sociedade informacional, inclusive acarretando em uma diminuição da sua esfera
de liberdade de escolha, pois há um pressuposto de que aquela pessoa adotará um
comportamento predefinido. Por fim, restou claro que o tratamento dos dados
pessoais e a criação de profiling dos usuários traz uma nova roupagem na maneira de
se consumir a moda.

Palavras-chave: Ciberespaço; dados pessoais; moda; profiling.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Vida para Consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.


Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.

BERNARDES, Marciele Berger. Democracia na sociedade informacional: o


desenvolvimento da democracia digital nos municípios brasileiros. São Paulo: Saraiva.
2013.

FORTES, Vinícius Borges. Os direitos de privacidade e a proteção de dados Pessoais na


internet. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.

LOJKINE, Jean. A Revolução informacional. Traduzido por José Paulo Netto. 3. ed. São
Paulo: Cortez, 2002.

RAIMUNDO, João Pedro Sargaço Dias. Uma nova frente da proteção de dados pessoais:
a (im)possibilidade de assegurar um eventual direito ao esquecimento. Dissertação
271

de Mestrado em Direito. Faculdade de Direito. Universidade do Porto. Disponível em:


https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/75966. Acesso em: 01. jun. 2020.
272

A RELATIVIZAÇÃO DO DIREITO À PROTEÇÃO DE DADOS EM PROL DO DIREITO À SAÚDE

Gabriel Oliveira Chaves155


Kléber Kevin Gomes Ferreira156
RESUMO

O estudo a seguir busca analisar o embate existente entre o direito de proteção de


dados pessoais, o qual consiste num desdobramento do direito à privacidade,
consubstanciado pela criação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, e o direito à
saúde, ambos são direitos constitucionais que encontram-se, cada vez mais, em
situações vulneráveis, nas quais um acaba sendo relativizado em prol da
consolidação do outro, como se observa no atual cenário de pandemia. Utilizar-se-á,
nesta pesquisa, o método indutivo, a fim de analisar situações particulares com
objetivo de construir uma solução comum à conjuntura, de forma a conservar as
garantias anteriormente citadas. Esta tratativa não tem origem hodierna, Brandeis e
Warren, em 1890, no artigo The Rights to Privacy, já demonstravam a necessidade de
dialogar acerca dos contornos do direito à privacidade. Atualmente, a relevância do
tema aufere maiores proporções, haja vista a alta conectividade decorrente do
isolamento social acabar gerando uma desmedida captação e tratamento de dados
pessoais, inclusive de informações sensíveis, caracterizando uma verdadeira
sociedade de vigilância. O ano de 2020 está sendo marcado pela disseminação do
COVID-19, fato gerador de uma pandemia cujos efeitos são comparados aos das
guerras mundiais. Com isso, muitos países buscam meios eficazes na identificação de
pessoas infectadas, dentre eles podem ser observados métodos invasivos,
acarretando, possivelmente, colisão entre princípios. Neste contexto, o caso mais
evidente é observado na China, país no qual foram adotadas medidas extremas, como
a ampla disseminação de aplicativos voltados ao rastreamento e contenção do vírus,
chegando ao seu ápice na utilização, pelos cidadãos, de pulseiras capazes de

155 Acadêmico no curso de direito da Universidade Estadual da Paraíba, campus I. Atuou como
monitor por um ano (2017-2018) no componente curricular história do direito e um ano (2018-2019)
como estagiário na 28ª Promotoria de Justiça da Comarca de Campina Grande/PB. Atualmente é
estagiário do Ministério Público Federal, em Campina Grande/PB. E-mail: gabriel.chavespb@gmail.com
156 Acadêmico no curso de direito da Universidade Estadual da Paraíba, campus I. Atuou como
monitor por um ano (2018-2019) no componente curricular direito administrativo e como estagiário
na 28ª Promotoria de Justiça da Comarca de Campina Grande/PB. Atualmente atua como pesquisador -
Iniciação Científica - CNPq/IC, na área de Direitos Sociais e é estagiário na Advocacia Geral da União -
AGU, em Campina Grande/PB. E-mail: kleberferreira.r@gmail.com
273

monitorar a temperatura corporal e outros sinais biológicos que geram dados acerca
da saúde dos indivíduos. Por sua vez, buscam-se adotar, no Brasil, meios de
monitoramento de aglomerações através do tratamento de informações contidos nos
bancos de dados das operadoras de telefonia. Ainda, a título de exemplo, na Europa
alguns aplicativos foram criados visando monitorar pessoas infectadas, desde que
obtida a devida autorização. No entanto, surgem debates acerca da violação, por
medidas como as supramencionadas, ao direito de proteção de dados pessoais,
relacionada, de forma imediata, à possibilidade de relativização dessa garantia
fundamental pelo direito à saúde e, de forma mediata, à possibilidade de uso desses
dados sensíveis para finalidades diversas. Assim, alerta Harari sobre a possibilidade
de os diversos dados coletados, somados aos biométricos antes expostos, serem
capazes de evidenciar posicionamentos particulares frente a diversas circunstâncias,
sendo possível indicar o que agrada ou não determinada pessoa. Dessa forma, faz-se
necessário observar as legislações sobre a proteção de dados pessoais, como a LGPD e
o regulamento de proteção de dados da Europa, tendo como finalidade alcançar
equilíbrio entre os princípios abordados, levando-se em conta a situação
extraordinária vivenciada. Dessa forma, é observada, como possível meio de solução
da problemática, a técnica da ponderação proposta por Robert Alexy. No entanto,
destaca-se que mesmo em momentos extremos os direitos fundamentais não podem
ser preteridos, como assentou o Supremo Tribunal Federal no julgamento de ações
direta de inconstitucionalidade referentes à Medida Provisória 954/2020.

Palavras-chave: Privacidade; saúde; ponderação; direitos fundamentais.

REFERÊNCIAS

BLUM, Renato Ópice; MALDONADO, Viviane Nóbrega. Comentários ao GDPR:


Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia. 1ª ed. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2018.

FRAZÃO, Ana; OLIVA, Milena Donato; TEPEDINO, Gustavo. Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais e suas repercussões no direito brasileiro. 1ª ed. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2019.
274

MAGENTA, Matheus. Coronavírus: governo brasileiro vai monitorar celulares para


conter pandemia. BBC News Brasil, Londres, 03/04/2020. Disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52154128. Acesso em: 15 de maio de 2020.

Europeus tentam usar tecnologia contra coronavírus, mas esbarram em privacidade.


CNN, São Paulo, 26/03/2020. Disponível em
https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/2020/03/26/europeus-tentam-usar-
tecnologia-contra-coronavirus-mas-esbarram-em-privacidade. Acesso em: 15 de
maio de 2020.

STF suspende compartilhamento de dados de usuários de telefônicas com IBGE. Portal


STF, Brasília, 07/05/2020. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=442902. Acesso
em: 08 de maio de 2020.
275

DESFALQUE DEMOCRÁTICO E GOVERNANÇA DAS PLATAFORMAS DE REDES SOCIAIS

157
Lucas Henrique Muniz da Conceição
RESUMO

A expansão da Internet e das comunicações de mídia digital no século XXI foi adotada
globalmente como uma manifestação de valores democráticos e liberdades
individuais (e.g. liberdade de associação, expressão e acesso à informação).
Simultaneamente, se observa uma recessão democrática a nível mundial, com a
ascensão de governos autocráticos e populistas no começo do século. Para
compreender essa aparente dicotomia, este artigo investigará a teoria do
constitucionalismo digital, que defende a transcendência do princípio do rule of law à
esfera privada que regula relações e práticas sociais no campo digital. Essa
abordagem apresenta uma extensão da perspectiva liberal do constitucionalismo,
lançando o projeto constitucional de limitação de poder e respeito aos direitos
humanos individuais ao ambiente digital em uma estrutura normativa. Contudo,
reduzir a constituição apenas à sua perspectiva normativa não apenas implica a
derrogação de seu aspecto político na manutenção de uma sociedade democrática,
mas também falha em considerar outras complexidades sociais que influenciam os
momentos constitucionais nas civilizações ocidentais. Destarte, compreende-se que
as redes sociais exercem governança quando atuam como moderadoras das
comunicações dispostas na plataforma, regulando a liberdade de expressão de seus
usuários frente às normas e princípios dispostos em suas diretrizes estatutárias.
Desta forma, a complexidade que envolve as comunidades virtuais se alastra em
diversos aspectos da vida em sociedade. Por exemplo, enquanto as redes sociais
fornecem espaço e utilidades que permitem aos indivíduos exercer direitos
fundamentais, o exercício desses direitos está associado à produção e exploração de
dados pessoais, componente econômico que impulsiona o capitalismo
contemporâneo. Além disso, embora a publicação de conteúdos nas redes sociais
possa ser percebida como parte das operações do sistema de comunicação em massa,
a governança exercida pelo proprietário das plataformas digitais é uma expressão de
um poder político que não está vinculado às operações da política estatal. Por meio de
157 Mestre em Direito Constitucional, Birkbeck, University of London. Bacharel em Direito,
Universidade Federal do Paraná. E-mail: lmuniz01@mail.bbk.ac.uk
276

um estudo analítico-filosófico, este artigo propõe estabelecer uma abordagem


multidisciplinar com foco na perspectiva do constitucionalismo social,
compreendendo o princípio constitucional além de sua perspectiva liberal e
normativa e concernente às múltiplas complexidades do ambiente social. Isso nos
permite embarcar em uma investigação constitucional que repensa o poder, a
política, o direito e a democracia, mantendo o objetivo final de proteger a autonomia
política de cada cidadão e a proteção dos direitos humanos. Isso implica em
considerar o constitucionalismo digital sob o ponto de vista democrático, abordando
o papel das plataformas como agentes moderadoras de discursos, assim como o seu
desempenho enquanto agente que corrobora com a deterioração dos níveis
democráticos. A preocupação, portanto, é dupla, pois se refere não apenas à
governança exercida pelas plataformas de mídia social em detrimento de seus
usuários, mas também à correlação das comunidades virtuais com o cenário jurídico e
político mais amplo em que estão inseridas. Conclui-se que uma crítica ao
constitucionalismo digital deve abordar as novas estruturas de poder e governança
que se estabelecem fora do paradigma do Estado-nação, mas, no entanto, contribuem
para a deterioração dos níveis de democracia nas sociedades em que se baseiam.
Palavras-chave: Constitucionalismo digital. Democracia. Redes Sociais. Constitucionalismo
social.

REFERÊNCIAS
BERMAN, Paul Schiff. Cyberspace and the State Action Debate: The Cultural Value of
Appl ing Constitutional Norms to “Private” egulation. U. Colo. L. Rev., v. 71, n. 4,
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GILLESPIE, Tarleton. Custodians of the Internet: Platforms, Content Moderation, and the
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LANDAU, David. Abusive Constitutionalism. UC Davis Law Review, v. 47, n. 1, p. 189–260,


2013. Disponível em: <https://papers.ssrn.com/abstract=2244629>. Acesso em:
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SUZOR, Nicolas Pierre. Digital constitutionalism and the role of the rule of law in the
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2019. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/german-law-
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Acesso em: 24 jul. 2019.
278

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