Você está na página 1de 130

ia as premissas básicas da legislação

TECNOLOGIA JURÍDICA pessoas se organizem a im de realizar

E DIREITO DIGITAL
I Congresso Internacional de Direito e Tecnologia – 2017 artiicial permitem predições precisas
que já estão em uso no campo jurídico.

RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES


HENRIQUE ARAÚJO COSTA
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
Coordenadores
para o desenvolvimento da prática
Prefácio: ANA FRAZÃO
de livros e artigos cientíicos.

PATROCÍNIO
PÁGINA EM BRANCO
TECNOLOGIA JURÍDICA
E DIREITO DIGITAL
I CONGRESSO INTERNACIONAL
DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017
PÁGINA EM BRANCO
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES
HENRIQUE ARAÚJO COSTA
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
Coordenadores

TECNOLOGIA JURÍDICA
E DIREITO DIGITAL
I CONGRESSO INTERNACIONAL
DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Prefácio
Ana Frazão

Realização

Organização Executiva

Apoio

Belo Horizonte

CONHECIMENTO JURÍDICO

2018
© 2018 Editora Fórum Ltda.

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
inclusive por processos xerográicos, sem autorização expressa do Editor.

Conselho Editorial

Adilson Abreu Dallari Floriano de Azevedo Marques Neto


Alécia Paolucci Nogueira Bicalho Gustavo Justino de Oliveira
Alexandre Coutinho Pagliarini Inês Virgínia Prado Soares
André Ramos Tavares Jorge Ulisses Jacoby Fernandes
Carlos Ayres Brito Juarez Freitas
Carlos Mário da Silva Velloso Luciano Ferraz
Cármen Lúcia Antunes Rocha Lúcio Delino
Cesar Augusto Guimarães Pereira Marcia Carla Pereira Ribeiro
Clovis Beznos Márcio Cammarosano
Cristiana Fortini Marcos Ehrhardt Jr.
Dinorá Adelaide Museti Groti Maria Sylvia Zanella Di Pietro
Diogo de Figueiredo Moreira Neto Ney José de Freitas
Egon Bockmann Moreira Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho
Emerson Gabardo Paulo Modesto
Fabrício Mota Romeu Felipe Bacellar Filho
Fernando Rossi Sérgio Guerra
Flávio Henrique Unes Pereira Walber de Moura Agra

CONHECIMENTO JURÍDICO

Luís Cláudio Rodrigues Ferreira


Presidente e Editor

Coordenação editorial: Leonardo Eustáquio Siqueira Araújo

Av. Afonso Pena, 2770 – 15º andar – Savassi – CEP 30130-012


Belo Horizonte – Minas Gerais – Tel.: (31) 2121.4900 / 2121.4949
www.editoraforum.com.br – editoraforum@editoraforum.com.br

T255 Tecnologia jurídica e direito digital: I Congresso Internacional


de Direito e Tecnologia - 2017/ Ricardo Vieira de Carvalho
Fernandes, Henrique Araújo Costa, Angelo Gamba Prata
de Carvalho (Coord.).– Belo Horizonte : Fórum, 2018.

485 p.
ISBN: 978-85-450-0453-0

1. Direito Público. 2. Direito Privado. 3. Direito


Constitucional. I. Fernandes, Ricardo Vieira de Carvalho. II.
Costa, Henrique Araújo. III. Carvalho, Angelo Gamba Prata
de. IV. Título.

CDD 341
CDU 342

Informação bibliográica deste livro, conforme a NBR 6023:2002 da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; COSTA, Henrique Araújo;


CARVALHO, Angelo Gamba Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica e direito
digital: I Congresso Internacional de Direito e Tecnologia - 2017. Belo
Horizonte: Fórum, 2018. 485 p. ISBN 978-85-450-0453-0.
SUMÁRIO

PREFÁCIO
ANA FRAZÃO ........................................................................................................17

UM POUCO DO CONGRESSO ............................................................................25

APRESENTAÇÃO
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES
HENRIQUE ARAÚJO COSTA
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO ..................................................33

PARTE I
TECNOLOGIA NO DIREITO

CAPÍTULO 1
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) APLICADA AO DIREITO:
COMO CONSTRUÍMOS A DRA. LUZIA, A PRIMEIRA
PLATAFORMA DO BRASIL COM MACHINE LEARNING
UTILIZADO SOBRE DECISÕES JUDICIAIS
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES
DANILO BARROS MENDES
HUGO HONDA FERREIRA
ANDRÉ BERNARDES SOARES GUEDES ......................................................39
1.1 Introdução .................................................................................................39
1.2 Os primeiros passos ................................................................................44
1.2.1 Sobre os dados ..........................................................................................45
1.2.2 Extração (extract) ......................................................................................45
1.2.3 Transformação (transform) ......................................................................46
1.2.4 Carregamento (load) ................................................................................47
1.3 Estudo do objeto e programação estratégica .......................................47
1.4 Pré-processamento ..................................................................................50
1.4.1 Pré-processamento textual .....................................................................51
1.4.2 Processamento de linguagem natural ..................................................53
1.5 Amostragem dos dados ..........................................................................57
1.6 Aprendizado de máquina.......................................................................58
1.6.1 Naive bayes .................................................................................................59
1.6.2 RNN – LSTM ............................................................................................61
1.6.3 CNN – redes neurais convolucionais ...................................................62
1.6.4 RNN – Multicamadas..............................................................................63
1.6.5 Estratégias de treinamento.....................................................................64
1.7 Avaliação dos modelos ...........................................................................65
1.8 Conclusão ..................................................................................................66

CAPÍTULO 2
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OUTRAS INOVAÇÕES
TECNOLÓGICAS APLICADAS AO DIREITO
ALEXANDRE RODRIGUES ATHENIENSE
TATIANA CARNEIRO RESENDE .....................................................................69
2.1 Introdução: o que é inteligência artiicial e quais são suas
principais variações? ...............................................................................69
2.2 O big data jurídico e a aplicabilidade da inteligência artiicial
no contexto da Justiça brasileira ............................................................73
2.3 Inovação tecnológica e inteligência artiicial no direito ....................80
2.3.1 O advento das legaltechs e lawtechs e seus campos de atuação ..........80
2.3.2 O uso de inteligência artiicial e outras tecnologias no setor
público brasileiro .....................................................................................85
2.4 Desaios jurídicos da inovação e aspectos regulatórios ....................88
Referências ................................................................................................92

CAPÍTULO 3
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION
OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES
COLIN RULE
TAYNARA TIEMI ONO
GABRIEL ESTEVAM BOTELHO CARDOSO .................................................97
3.1 Introduction ..............................................................................................97
3.2 The global trend toward ODR .............................................................102
3.3 The growth of ODR in Brazil: e-negotiation and e-mediation .......105
3.3.1 E-negotiation ..........................................................................................108
3.3.2 E-mediation ............................................................................................ 111
3.4 ODR challenges faced in Brazil ........................................................... 114
3.4.1 Brazilian culture .................................................................................... 114
3.4.2 The education of online mediators ..................................................... 116
3.4.3 Enforceability .........................................................................................117
3.4.4 Technological challenges ...................................................................... 118
3.5 Conclusion .............................................................................................. 119
References ............................................................................................... 119

CAPÍTULO 4
RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS: O CASO EUROPEU E
UMA ANÁLISE DO CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO
ISABELA MAGALHÃES ROSAS
CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO ...................................................125
4.1 Introdução: conceituação ......................................................................125
4.2 Como funciona a plataforma europeia? .............................................128
4.2.1 Estudo de caso – Comissão Europeia .................................................128
4.2.2 Vantagens da implementação da plataforma ODR – European
Commission ............................................................................................129
4.3 Desaios e perspectivas da adaptação do modelo ao Brasil ...........131
4.3.1 Panorama do Judiciário brasileiro .....................................................131
4.3.2 As plataformas privadas de resolução on-line de conlitos
no Brasil ...................................................................................................133
4.3.3 A plataforma do governo: consumidor.gov.......................................135
4.4 Conclusões ..............................................................................................137
Referências ..............................................................................................138

CAPÍTULO 5
EXPLOITING THE WEB OF LAW
RADBOUD WINKELS........................................................................................139
5.1 Introduction ............................................................................................139
5.2 Creating a web of law ...........................................................................140
5.2.1 Legal portals ........................................................................................... 141
5.2.2 The Dutch case law portal ....................................................................142
5.2.3 Recommending sources of law ............................................................145
5.2.4 A Formative evaluation ........................................................................146
5.3 Adding other document features ........................................................148
5.3.1 Reference similarity combined with text similarity ........................148
5.3.1.1 Formative evaluation ............................................................................150
5.3.2 Network analysis combined with topic modelling ..........................151
5.3.2.1 Formative evaluation ............................................................................152
5.4 Conclusions ............................................................................................154
References ...............................................................................................155

PARTE II
TECNOLOGIA, DESENVOLVIMENTO E DIREITOS

CAPÍTULO 1
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS
TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
BRUNO FEIGELSON ..........................................................................................159
1.1 Introdução ...............................................................................................159
1.2 Metodologia de análise das inovações tecnológicas ........................163
1.2.1 Planejamento regulatório: o nascimento de modelos em lacunas
legais .......................................................................................................165
1.2.2 Judicialização dos conlitos: a tentativa de encaixar modelos
disruptivos nas dinâmicas postas.......................................................167
1.2.3 Regulamentação do modelo disruptivo:
estabilidade x intervenção ....................................................................170
1.2.3.1 Fomento e abertura de mercado .........................................................172
1.3 O novo direito do trabalho: direito do colaborador ......................... 174
1.3.1 Venture capitals: inanciando um outro capitalismo..........................177
1.3.2 O novo direito do consumidor: direito do usuário ..........................179
1.4 Conclusões preliminares ......................................................................181
Referências ..............................................................................................182

CAPÍTULO 2
JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI: A REALIDADE E A
FICÇÃO CIENTÍFICA DO DISCURSO SOBRE O FUTURO DA
ADVOCACIA NA ERA DA INFORMAÇÃO
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO ................................................185
2.1 Introdução ...............................................................................................185
2.2 O desenvolvimento tecnológico e o fenômeno da disrupção .........187
2.3 A transformação da prática jurídica em razão da tecnologia .........191
2.4 Caminhos alternativos ao ludismo jurídico: perspectivas para o
futuro .......................................................................................................196
Referências ..............................................................................................197
CAPÍTULO 3
A INCORPORAÇÃO DOS DIREITOS DE PRIVACIDADE NA
INTERNET NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
VINÍCIUS BORGES FORTES ...........................................................................201
3.1 Introdução ...............................................................................................201
3.2 O direito à privacidade e à proteção dos dados pessoais como
direitos fundamentais ...........................................................................203
3.3 A tutela dos dados pessoais a partir da proteção dos “direitos
de privacidade na internet” como direitos fundamentais ..............212
3.4 Conclusão ................................................................................................218
Referências ..............................................................................................219

CAPÍTULO 4
CREDIT SCORING E BIG DATA NO REGIME JURÍDICO
BRASILEIRO
CARLOS EDUARDO GOETTENAUER DE OLIVEIRA .............................223
4.1 Introdução ...............................................................................................223
4.2 Credit scoring e a importação tardia de um modelo ..........................225
4.3 Credit scoring, big data e os modelos preditivos inteligentes ............229
4.3.1 As fontes de dados e a privacidade .....................................................232
4.3.2 Algoritmos e transparência..................................................................235
4.4 Conclusão ................................................................................................237
Referências ..............................................................................................238

CAPÍTULO 5
CONFLITOS NO USO DA TECNOLOGIA DO BIG DATA:
VIOLAÇÃO DE PRIVACIDADE E DISCRIMINAÇÃO
PELO PROCESSAMENTO DE DADOS
MARIA CRISTINE BRANCO LINDOSO ......................................................241
5.1 Direitos de personalidade e proteção de dados pessoais ................241
5.1.1 Proteção da privacidade .......................................................................245
5.2 Dados pessoais e o surgimento do big data ........................................247
5.3 Big data como instrumento de poder ..................................................249
5.4 Big data e discriminação ........................................................................252
5.4.1 Violação aos direitos de privacidade .................................................254
5.4.2 Discriminação estatística a partir da manipulação de processos
decisórios ................................................................................................256
5.5 Conclusão ................................................................................................259
Referências ..............................................................................................260
CAPÍTULO 6
A REPÚBLICA DE PORTO ALEGRE: MAPA DAS DECISÕES
DA 8ª TURMA DO TRF4 NA LAVA-JATO
PEDRO FERNANDO NERY ..............................................................................263
6.1 Introdução ...............................................................................................263
6.2 A 8ª Turma ..............................................................................................265
6.2.1 Divergências: entendendo o mapa ......................................................269
6.3 Conclusão ................................................................................................277
Referências ..............................................................................................277

PARTE III
REGULAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS

CAPÍTULO 1
ENTRE OS NOVOS COMPORTAMENTOS SOCIAIS E AS
VELHAS FERRAMENTAS REGULATÓRIAS: UMA ANÁLISE
SOBRE A TRAJETÓRIA DA REGULAÇÃO DO UBER
NAS CAPITAIS BRASILEIRAS
ALCEU FERNANDES DA COSTA NETO ......................................................281
1.1 Introdução ...............................................................................................281
1.2 Metodologia ............................................................................................282
1.3 Revisão bibliográica ............................................................................284
1.4 Resultados e discussões ........................................................................287
1.4.1 Processos: do ingresso do Uber até a regulamentação ....................287
1.4.2 A regulação não é o im dos problemas .............................................290
1.4.3 O Poder Judiciário é o garantidor do Uber no Brasil .......................294
1.5 Conclusão ................................................................................................296
Referências ..............................................................................................298

CAPÍTULO 2
DIREITO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA
ADRIANO DE ÁVILA FURIATI ......................................................................303
2.1 Introdução ...............................................................................................303
2.2 Novo modelo de negócios para os serviços jurídicos ......................306
2.3 Direito, políticas públicas e desenvolvimento ..................................310
2.4 Política de governança digital .............................................................312
2.5 Política de defesa da concorrência ......................................................315
2.6 Conclusão ................................................................................................318
Referências ..............................................................................................319

CAPÍTULO 3
SERIAM AS FINTECHS APENAS CORRESPONDENTES
BANCÁRIOS ELETRÔNICOS?
LUIZ HUMBERTO CAVALCANTE VEIGA, VALTER VITELLI ...............323
3.1 Introdução ...............................................................................................323
3.2 O que são instituições inanceiras? .....................................................324
3.2.1 Deinição (doutrina) ..............................................................................324
3.2.2 Legislação aplicável ...............................................................................325
3.3 O que são correspondentes bancários? ..............................................326
3.3.1 Deinição .................................................................................................326
3.3.2 Regulação aplicável ...............................................................................328
3.4 As intechs ................................................................................................329
3.4.1 O que são as intechs? .............................................................................329
3.4.2 Principais áreas de atuação das intechs .............................................330
3.4.3 O Fintech 100 ..........................................................................................331
3.5 Regulações sobre as intechs .................................................................331
3.5.1 A Portaria nº 105 da Comissão de Valores Mobiliários ...................333
3.5.2 Edital de Consulta Pública nº 55/2017.................................................334
3.6 Perspectivas para as intechs .................................................................337
3.7 O desaio jurídico das intechs no Brasil .............................................338
3.8 Conclusão ................................................................................................339
Referências ..............................................................................................340

CAPÍTULO 4
GOVERNANÇA NA INTERNET: CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS E
INSTITUCIONAIS DO PODER TECNOLÓGICO
HELOISA KORB BONDAN
LUIZ MARCELO BERGER ................................................................................343
4.1 Introdução ...............................................................................................343
4.2 O novo paradigma da internet ............................................................345
4.3 Soberania e regulabilidade...................................................................347
4.3.1 Soberania.................................................................................................347
4.3.2 Regulabilidade .......................................................................................350
4.4 O código que governa a internet (o código é a lei) ...........................352
4.4.1 A lei é o código .......................................................................................353
4.4.2 Coleta de dados e o controle da rede ..................................................354
4.4.3 Os atores: Estados, empresas privadas e instituições técnicas .......355
4.5 Quem governa a internet......................................................................358
4.6 Consequências para o ordenamento jurídico....................................365
4.7 Considerações inais ..............................................................................367
Referências ..............................................................................................369

CAPÍTULO 5
COMENTÁRIOS SOBRE SOCIOLOGIA E DIREITO NA SOCIEDADE
INFORMACIONAL
NATÁLIA PEPPI CAVALCANTI
LUCAS GONÇALVES SIMÕES VIEIRA .......................................................373
5.1 Introdução ............................................................................................... 374
5.2 A sociedade informacional .................................................................375
5.2.1 O mundo codiicado ..............................................................................376
5.3 A sociologia na sociedade informacional ..........................................377
5.3.1 A solidariedade orgânica e seus aspectos .........................................378
5.3.2 Capital cultural e capital social ...........................................................380
5.4 O direito na sociedade informacional ................................................381
5.4.1 Fundamentos .........................................................................................382
5.4.2 Legislação................................................................................................384
5.4.3 Jurisprudência ........................................................................................385
5.5 Conclusão ................................................................................................387
5.5.1 Quanto ao Projeto de Lei nº 5.555/2013 de autoria do Deputado
João Arruda ............................................................................................388
5.5.2 A extensão do conceito de domicílio aos smartphones......................389
Referências ..............................................................................................390

PARTE IV
CONTRATAÇÃO NA ERA DIGITAL

CAPÍTULO 1
SMART CONTRACTS: TOPICS UNDER BRAZILIAN LAW
AGNES MACEDO DE JESUS
RODRIGO RABELLO IGLESIAS ....................................................................395
1.1 Introduction ............................................................................................395
1.2 Which smart contracts can be understood as contracts? ................396
1.2.1 Contractual aspects applicable to smart contracts ...........................397
1.2.1.1 Inluence of the Constitution and the Consumer Protection
Code on Contract Law ..........................................................................397
1.2.1.2 General rules of Contract Law.............................................................399
1.2.1.3 Validity requirements ...........................................................................400
1.2.1.4 Peremptory norms .................................................................................403
1.2.2 Limits of smart contracts regarding Contract Law ..........................403
1.2.2.1 The object of the contract .....................................................................403
1.2.2.2 Contractual formality requirements .................................................404
1.2.3 Proposed understanding of smart contracts under
Brazilian law ...........................................................................................405
1.3 Which contracts beneit by being converted to smart
contracts? ................................................................................................407
1.3.1 Transaction costs ...................................................................................407
1.3.1.1 Bargaining costs and smart contracts ................................................408
1.3.1.1.1 Ex ante reduction of agreements to software code ...........................409
1.3.1.1.2 Control over the performance of the smart contract .......................410
1.3.1.1.3 Trust no longer required between the parties and on
enforcement by the State ......................................................................412
1.3.1.1.4 The repeated use of a smart contract..................................................413
1.3.1.2 Enforcement costs and smart contracts ............................................. 414
1.4 The response of the brazilian judiciary to smart contracts ............416
1.4.1 Ex ante and ex post solutions: Code v. Judiciary ................................417
1.4.2 Adjudication scope ................................................................................418
1.4.2.1 Adjudication over human conduct .....................................................419
1.4.2.2 Ad hoc measures .....................................................................................420
1.5 Conclusion ..............................................................................................420
Bibliography ...........................................................................................421

CAPÍTULO 2
DIREITO SOCIETÁRIO E CONTRATOS PARA NOVAS
TECNOLOGIAS
MARLON TOMAZETTE....................................................................................423
2.1 As sociedades enquanto instrumentos essenciais para a
economia contemporânea.....................................................................423
2.2 O direito societário como direito a serviço do
desenvolvimento ....................................................................................426
2.3 Novos negócios de tecnologia e a necessidade de formação de
sociedades ...............................................................................................428
2.4 Investidor-anjo .......................................................................................429
2.5 Contrato de vesting .................................................................................432
2.5.1 Natureza atípica .....................................................................................433
2.5.2 Cláusulas recomendáveis .....................................................................434
Referências ..............................................................................................436

CAPÍTULO 3
A NÃO CONFIGURAÇÃO DO CONTRATO ELETRÔNICO COMO
CONTRATO DE ADESÃO
LORENA MUNIZ E CASTRO LAGE
RENÉ VIAL ...........................................................................................................439
3.1 Introdução ...............................................................................................439
3.2 Comércio eletrônico ..............................................................................440
3.2.1 Evolução do comércio............................................................................440
3.2.2 Surgimento do comércio eletrônico ................................................... 442
3.2.3 Modelos de comércio eletrônico ......................................................... 444
3.3 Contrato eletrônico ............................................................................... 444
3.3.1 Princípios do direito contratual eletrônico ........................................446
3.3.1.1 Princípio da identiicação .....................................................................446
3.3.1.2 Princípio do impedimento de rejeição ...............................................447
3.3.1.3 Princípio da veriicação ........................................................................447
3.3.1.4 Princípio da privacidade ......................................................................447
3.3.1.5 Princípio da neutralidade e da perenidade das normas
reguladoras do ambiente digital .........................................................448
3.3.2 Leis aplicáveis.........................................................................................448
3.3.3 Momento de formação do contrato eletrônico ..................................451
3.4 Classiicação dos contratos ...................................................................453
3.4.1 Quanto ao método de contratação ......................................................454
3.4.1.1 Contratos paritários...............................................................................454
3.4.1.2 Contratos de adesão ..............................................................................455
3.4.2 Quanto ao meio técnico empregado ...................................................457
3.4.2.1 Contratos eletrônicos intersistêmicos.................................................457
3.4.2.2 Contratos eletrônicos interpessoais ....................................................458
3.4.2.3 Contratos eletrônicos interativos ........................................................458
3.5 A não coniguração do contrato eletrônico como contrato de
adesão ......................................................................................................459
3.5.1 As contratações eletrônicas contemporâneas....................................459
3.5.2 Requisitos essenciais .............................................................................461
3.5.2.1 Interatividade .........................................................................................462
3.5.2.2 Negociação ..............................................................................................463
3.6 Considerações inais ..............................................................................464
Referências ..............................................................................................465

CAPÍTULO 4
AS FORMAS DE PROMOÇÃO E INCENTIVO DO ESTADO
BRASILEIRO NA INOVAÇÃO
DIOGO LUIZ ARAÚJO DE BENEVIDES COVÊLLO..................................467
4.1 Introdução ...............................................................................................467
4.2 A inovação no cenário nacional e internacional ...............................469
4.2.1 Cenário nacional ....................................................................................469
4.2.2 Cenário internacional ...........................................................................474
4.3 Contratação de startup pelo Poder Público no Brasil como
forma de incentivo direto à inovação tecnológica ............................475
4.4 Conclusão ................................................................................................478
Referências ..............................................................................................479

SOBRE OS AUTORES...........................................................................................481
ALEXANDRE RODRIGUES ATHENIENSE, TATIANA CARNEIRO RESENDE
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OUTRAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS AO DIREITO
85

Segundo o site StartSe, a empresa Localiza Herz, grande locadora de


veículos brasileira, teve economia de milhões de reais nos últimos anos,
em virtude da contratação de startups jurídicas.103

2.3.2 O uso de inteligência artiicial e outras tecnologias


no setor público brasileiro
A adoção de inteligência artiicial e outras tecnologias não é
exclusividade do setor privado do mercado jurídico, já que muitas solu-
ções para aprimorar e dar mais eiciência e produtividade ao trabalho
do setor público também têm surgido ao longo dos anos. Apesar disso,
é possível perceber uma “assimetria entre a Administração Pública e
a iniciativa privada no que se refere à adoção de novas tecnologias”.104
No âmbito das investigações policiais, o ePol, sistema de inqué-
rito eletrônico da Polícia Federal desenvolvido há seis anos e meio, tem
o objetivo de dar maior racionalidade aos processos da Polícia Federal
e evitar a sobreposição de trabalho, já que um dos problemas mais
comuns entre as delegacias é o de comunicação:105

[...] o ePol já foi implantado em nove estados brasileiros. O sistema


auxilia o trabalho do delegado organizando a condução da investigação
eletronicamente. “Ao encontrar as condutas dos envolvidos de forma
sistematizada e reunida, o delegado consegue saber rapidamente o que
tem que fazer, quais documentos precisam de assinatura, o que depende
dele, e qual o prazo que tem que fazer uma tarefa”, explica [João Arthur]
Brunet. O projeto, que roda na nuvem interna da PF, já possui 2 mil casos
e 1.300 inquéritos. Antes disso, por exemplo, um delegado em Porto
Alegre não tinha comunicação efetiva com investigações da Paraíba.
De acordo com Brunet, a implantação do sistema na nuvem a interligação
do ePol com a Justiça. Hoje, o inquérito da PF vai eletronicamente para
a justiça. “O sistema é capaz de fazer uma análise descritiva: quem faz o
quê, como fez, quando fez”, diz o professor. Além disso, fornece dados
sobre atuação policial no Brasil, o que permite que a própria corregedoria

103
BORRELLI, Isabela. Localiza tem economia na casa de milhões após contratar startups
de lawtech. Startse. Disponível em: <htps://conteudo.startse.com.br/corporate/isabela/
localiza-lawtech/>. Acesso em: 13 out. 2017.
104
BECKER, Daniel; FERRARI, Isabela. A prática jurídica em tempos exponenciais. Jota, 4
out. 2017. Disponível em: <htps://jota.info/artigos/a-pratica-juridica-em-tempos-exponen
ciais-04102017>. Acesso em: 13 out. 2017.
105
VIVIANI, Luís. Sistema de inquérito eletrônico já é usado em 9 estados. Jota, 10 out. 2017.
Disponível em: <htps://jota.info/justica/sistema-de-inquerito-eletronico-ja-e-usado-em-9-
estados-10102017>. Acesso em: 11 out. 2017.
86
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

use o sistema para fazer relatórios, saber quem está conduzindo qual
investigação e tirar dali estatísticas sobre essas condutas. [...] o que o
sistema faz é reunir um conjunto de termos e buscar nos documentos
um conjunto semelhante.106

Além disso, a Polícia Federal brasileira pretende usar a inteli-


gência artiicial para realizar leitura e cruzamento de dados de forma
rápida e eiciente. A proposta foi lançada pela Associação Nacional
dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), que constituiu um grupo de
estudos em parceria com a Faculdade de Direito do IDP, em São Paulo,
que conta com a participação de grandes especialistas em tecnologia da
informação e uso da inteligência artiicial, cujo objetivo é desenvolver
mecanismos que possam acelerar o combate à corrupção, fraudes e
crimes cibernéticos.
Isso é possível porque os softwares de última geração não apenas
compreendem signiicados de conteúdos dentro dos documentos, como
também fazem correlações, sendo possível analisar milhares de páginas
e estabelecer conexões automaticamente. Dessa forma, torna-se possível
analisar de forma mais eiciente contratos para identiicar indícios de
superfaturamento ou até mesmo elementos de lavagem de dinheiro.
No Ministério Público, um programa de inteligência artiicial
desenvolvido pela empresa Softplan tem auxiliado os promotores a
organizarem e agilizarem o seu trabalho. Denominado de Assistente
Digital do Promotor, o software ajuda a dar vazão ao grande volume
de processos, além de fornecer análises mais eicientes e objetivas que
servirão de base para as acusações e outros trabalhos do Parquet:

Nele, a busca de jurisprudência para fortalecer determinada tese é feita


com recursos que chamam a atenção para o nível hierárquico da decisão,
levando em conta se ela é recente ou não, o grau de similaridade com
o caso concreto, entre outras. Além disso, o sistema identiica padrões
em dois níveis. Compara o caso em análise com outros similares que
já passaram pela promotoria, e também com registros em bancos de
jurisprudência.107

106
VIVIANI, Luís. Sistema de inquérito eletrônico já é usado em 9 estados. Jota, 10 out. 2017.
Disponível em: <htps://jota.info/justica/sistema-de-inquerito-eletronico-ja-e-usado-em-9-
estados-10102017>. Acesso em: 11 out. 2017.
107
MINISTÉRIO Público começa a usar inteligência artiicial para acusar. Conjur, 28 abr. 2017.
Disponível em: <htp://www.conjur.com.br/2017-abr-28/mp-comeca-usar-inteligencia-
artiicial-elaborar-acusacoes>. Acesso em: 26 maio 2017.
ALEXANDRE RODRIGUES ATHENIENSE, TATIANA CARNEIRO RESENDE
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OUTRAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS AO DIREITO
87

Outro exemplo é o uso do robô Dra. Luzia na Procuradoria do


Distrito Federal nas execuções iscais. Tecnologia 100% nacional, o
software tem como objetivo melhorar a execução das dívidas públicas,
podendo servir também a outros tipos de processos de massa, de cunho
repetitivo:108 “Baseada em Inteligência Artiicial, a robô-advogada é
capaz de entender os processos, o seu andamento e quais suas possíveis
soluções. A máquina também pode ser usada para cruzar dados e
encontrar endereços ou bens dos envolvidos nos processos”.109
No âmbito do Judiciário, uma solução também apresentada pela
Softplan, empresa responsável pelo software e-SAJ, utilizado em alguns
dos tribunais brasileiros, pretende devolver ao juiz seu papel original
de julgador, usurpado pela posição de juiz-gestor, que surgiu com o
aumento do número de casos no Judiciário brasileiro nos últimos anos:110

É uma ferramenta que o jargão tecnológico chama de business


inteligence, ou BI. Com base nas informações produzidas pelo tribunal, o
sistema produz análises, desenha gráicos e tira conclusões para embasar
o processo de tomada de decisões. [...] Com isso, a ferramenta é capaz
de analisar a atividade jurisdicional paulista dos últimos 12 meses e
prever o comportamento da população em relação ao Judiciário pelos
próximos 24 [...] De posse dessas informações, o tribunal pode tomar
decisões como a alocação de juízes, abertura de concursos, especialização
de varas, correições extraordinárias e mais uma série de possibilidades
que só o uso do programa vai dizer [...] A própria Softplan vem tentando
vender a tribunais um sistema de análise de dados que separa sozinho,
de uma petição, o que está sendo pedido, o que são relatos de fatos, os
valores da causa, o que é doutrina citada etc. [...] Esse tipo de interação
permite que programas de computador se tornem assistentes digitais da
magistratura. Quando um juiz recebe uma petição e já sabe exatamente
o que ler dela, também é capaz de tomar decisões mais precisas e mais
céleres – já que o mesmo robô informa qual é a jurisprudência a respeito
de cada pedido [...] “Já é possível que o juiz se preocupe apenas em
concordar ou não com as conclusões do programa. Ele sempre vai ser

108
GROSSMANN, Luís Osvaldo; QUEIROZ, Luiz. Primeira robô-advogada do Brasil mira
R$24 bilhões em cobranças judiciais. Convergência Digital, 4 jul. 2017. Disponível em:
<http://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTem
plate=site&infoid=45615&sid=3>. Acesso em: 20 set. 2017.
109
DRª LUZIA, primeira robô-advogada do Brasil, já tem trabalho pela frente. Canal Tech,
5 jul. 2017. Disponível em: <htps://canaltech.com.br/robotica/dra-luzia-primeira-robo-
advogada-do-brasil-ja-tem-sua-primeira-missao-96658/>. Acesso em: 13 de out. 2017.
110
CANÁRIO, Pedro. Robôs permitem que juízes deixem de lado função de gestor de
processos e varas. Conjur, 26 ago. 2017. Disponível em: <htps://www.conjur.com.br/2017-
ago-26/robos-permitem-juizes-deixem-lado-funcao-gestor>. Acesso em: 13 out. 2017.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
88 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

necessário, porque processos tratam de problemas reais com implicações


concretas, então precisa dizer se aquelas situações apontadas pelo
sistema se aplicam ao caso ou não, ou se o pedido em questão é o mesmo
sobre o qual se irmou determinada jurisprudência”, explica o analista
de negócios da Softplan Alexandre Golin.111

2.4 Desaios jurídicos da inovação e aspectos regulatórios


O uso de inteligência artiicial ou outras inovações tecnológicas
cada vez mais inseridas na sociedade e em diversos campos do mer-
cado traz algumas preocupações sociais, econômicas e jurídicas. Isso
porque, tendo em vista o potencial disruptivo dessas soluções, elas
afetam questões sensíveis à sociedade e ao direito, como privacidade
de informações e segurança da informação, ética no relacionamento
homem-máquina, responsabilização pelos atos desta, bem como a
despersonalização dos serviços.
Em grande parte dos casos, a tecnologia nos leva a repensar a
nossa concepção do direito, inclusive em suas áreas mais clássicas, bem
como o papel do Estado e do mercado, levando a uma reformulação
de conceitos tradicionais como privacidade e consentimento, por
exemplo.112
Além disso, o surgimento dessas novas tecnologias traz consigo
novas preocupações, impulsionando as discussões no âmbito jurídico
para áreas completamente novas para os juristas. É o caso, por exemplo,
da estereotipação do consumidor em razão de suas opções de produtos e
serviços, da restrição de notícias em razão do peril de usuário deinido
pela máquina e dos riscos à privacidade e à segurança dos usuários.
Esta última toma uma proporção muito grande diante da reali-
dade dos objetos inteligentes e conectados. Em um mundo cada vez
mais automatizado, em que a vigilância se torna a regra, o impacto
gerado sobre os direitos e liberdades dos indivíduos é substancial,
provocando discussões em relação à privacidade e propriedade dos
dados. Segundo Ben Wizner, a automação sem restrições legais pode
levar à tirania:

111
CANÁRIO, Pedro. Robôs permitem que juízes deixem de lado função de gestor de
processos e varas. Conjur, 26 ago. 2017. Disponível em: <htps://www.conjur.com.br/2017-
ago-26/robos-permitem-juizes-deixem-lado-funcao-gestor>. Acesso em: 13 out. 2017.
112
AGUIAR, Ricardo. Inteligência artiicial e machine learning: o que a sociedade pensa sobre
seus riscos e benefícios? Sprace. Disponível em: <htps://www.sprace.org.br/divulgacao/
noticias/inteligencia-artiicial-e-machine-learning>. Acesso em: 13 out. 2017.
ALEXANDRE RODRIGUES ATHENIENSE, TATIANA CARNEIRO RESENDE
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OUTRAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS AO DIREITO
89

Quando colocamos a “inovação” dentro – ou no topo – de uma hierarquia


normativa, teremos um mundo que relete interesses particulares ao
invés de valores públicos [...] Cada um é ameaçado pelo aumento da
automação sem restrições por fortes proteções legais. A liberdade é
ameaçada quando a arquitetura de vigilância que já construímos é
treinada, ou treina a si mesma, para rastrear-nos de forma abrangente e
tirar conclusões com base em nossos padrões de comportamento público.
A igualdade é ameaçada quando a tomada de decisão automatizada
relete o mundo desigual em que vivemos, reproduzindo resultados
tendenciosos sob um manto de imparcialidade tecnológica.113

Conforme podemos perceber, o uso da inteligência artiicial


implica novos desaios que, até então, não eram objeto de preocupação
do direito. Essas implicações dizem respeito inclusive a direitos funda-
mentais, gerando repercussões em outras áreas, como ética e economia.
Tendo em vista o caráter disruptivo dessa tecnologia, as soluções e
institutos jurídicos até então existentes podem não ser úteis ou apli-
cáveis, tornando necessário o desenvolvimento de novos raciocínios
e soluções.
Outra preocupação pode se dar com as consequências da substi-
tuição do trabalho humano pelas máquinas num ritmo de disseminação
exponencial, como vem acontecendo. Isso porque, “quanto mais rápido
surgirem as novas ondas de tecnologia e quanto mais baratas elas forem
para serem implementadas, mais ampla será sua difusão, e mais rápida
e profunda será a taxa de perda de emprego, com menos tempo de
adaptação para as economias”.114
Essa desconiança não se limita às atividades manuais e que
exigem menor qualiicação, pois, com o desenvolvimento da compu-
tação cognitiva, é possível que computadores exerçam atividades de

113
Tradução nossa de: “When we place “innovation” within – or atop – a normative hierarchy,
we end up with a world that relects private interests rather than public values [...]. Each
is threatened by increased automation unconstrained by strong legal protections [...].
Liberty is threatened when the architecture of surveillance that we’ve already constructed
is trained, or trains itself, to track us comprehensively and to draw conclusions based on
our public behavior paterns. Equality is threatened when automated decision-making
mirrors the unequal world that we already live in, replicating biased outcomes under a
cloak of technological impartiality” (WIZNER, Ben. Artiicial intelligence at any cost is
a recipe for Tyranny. ACLU, 23 ago. 2017. Disponível em: <htps://www.aclu.org/blog/
privacy-technology/surveillance-technologies/artificial-intelligence-any-cost-recipe-
tyranny>. Acesso em: 13 out. 2017).
114
TAURION, Cezar. IA já chegou. Não a subestime! Linkedin, 12 mar. 2017. Disponível em:
<https://www.linkedin.com/pulse/ia-j%C3%A1-chegou-n%C3%A3o-subestime-cezar-
taurion>. Acesso em: 26 maio 2017.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
90 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

alto nível intelectual. Isso fez surgir diversas críticas à implantação


dessas soluções no meio jurídico.
No entanto, grande parte dos atuantes na área de direito e tecno-
logia desmistiicam a assertiva de que os sistemas cognitivos vão subs-
tituir integralmente os proissionais do direito em todas suas atividades.
Segundo Luiz Vendramin, advogado da Funcesp, se um trabalho
pode ser feito por um computador, ele não é um trabalho privativo
de um advogado.115 Nesse sentido, a inserção de meios tecnológicos e
cognitivos ao direito pode gerar uma colaboração com o trabalho do
proissional, sem substituí-lo, agregando capacidades e recursos que
o homem não é capaz de desenvolver.
Por meio desse raciocínio, a máquina atuaria de forma comple-
mentar ao trabalho do jurista, fornecendo-lhe subsídios capazes de
aprimorar o seu trabalho e permitir que seu tempo seja dedicado a tarefas
puramente intelectuais e analíticas, ou seja: cada um preenchendo o
talento que o outro não tem. Assim, a máquina é capaz de dar sugestões
de soluções para o caso, mas é o ser humano que, tomando esses dados
como base, encontrará a melhor solução em cada caso:

Em janeiro, a consultoria McKinsey divulgou um novo estudo dizendo


que, embora quase metade de todas as tarefas possam ser automatizadas
com a tecnologia atual, somente 5% dos empregos seriam inteiramente
automatizados. Com base nesta deinição, a McKinsey estima que 23%
do trabalho de um advogado poderá ser automatizado.116

O advogado Alexandre Zavaglia, coordenador do IDP em São


Paulo, não descarta a possibilidade de a tecnologia afetar postos de
trabalho de advogados, mas airma que isso afetará somente aqueles
ligados a tarefas repetitivas, ao mesmo tempo em que surgirão diversas
outras áreas de atuação, como o direito aplicado às novas relações
surgidas a partir da tecnologia (consumidor, penal, trabalhista, civil e
responsabilidade civil), direitos fundamentais (privacidade, imagem

115
RAVAGNANI, Giovani dos Santos. A ressigniicação da advocacia: lawtechs e
legaltechs. Migalhas, 30 jun. 2017. Disponível em: <htp://www.migalhas.com.br/
dePeso/16,MI261196,61044-A+ressignificacao+da+advocacia+Lawtechs+e+Legaltechs>.
Acesso em: 13 out. 2017.
116
LOHR, Steve. Saiba como a inteligência artiicial pode ser usada a favor do direito. Estadão,
26 mar. 2017. Disponível em: <htp://link.estadao.com.br/noticias/inovacao,saiba-como-
a-inteligencia-artiicial-pode-ser-usada-a-favor-do-direito,70001713918>. Acesso em: 26
maio 2017.
ALEXANDRE RODRIGUES ATHENIENSE, TATIANA CARNEIRO RESENDE
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OUTRAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS AO DIREITO
91

e informação), jurimetria, gestão de riscos e predição de resultados.117


Além disso, segundo ele, “há um componente da estratégia proissional
que nunca poderá ser substituído por robôs”.118
Diante dessa realidade, é necessário adaptação e abertura por
parte dos juristas, no sentido de repensar a coniguração de suas pro-
issões. A não adaptação do proissional pode implicar diretamente na
(não) sobrevivência do proissional no mercado,119 no sentido em que
airma o autor italiano Renato Borruso, em seu livro Computer e dirito,
publicado em 1989: “Se o jurista se recusar a aceitar o computador,
que formula um novo modo de pensar, o mundo, que certamente não
dispensará a máquina, dispensará o jurista. Será o im do Estado de
Direito e a democracia se transformará facilmente em tecnocracia”.120
É o que demonstra a Canadian Bar Association, no resultado de
uma pesquisa realizada em 2014, que constatou que a chave para o
exercício de uma proissão jurídica viável, competitiva e relevante é
a inovação,121 necessitando, assim, de maiores gastos com pesquisa e
desenvolvimento por parte dos escritórios e setores jurídicos, abrindo
mão da resistência dos proissionais em relação às novas tecnologias.
Além disso, o uso dessa tecnologia pode acarretar uma pressão
pelo aprofundamento das discussões jurídicas, tendo em vista o con-
fronto com novas realidades que irão advir e os desaios jurídicos
trazidos pela realidade disruptiva. Esse aprofundamento pode ser ainda
mais aprimorado pelo acesso a informações cada vez mais estruturadas
e sistematizadas, capazes de permitir um melhor conhecimento sobre
a realidade do complexo cenário jurídico brasileiro.

117
DINIZ, Laura; LEORATTI, Alexandre. Inovação digital – Cases sobre o futuro do Direito.
Jota, 27 maio 2017. Disponível em: <htps://jota.info/especiais/inovacao-digital-cases-
sobre-o-futuro-do-direito-27052017>. Acesso em: 29 maio 2017.
118
DINIZ, Laura; LEORATTI, Alexandre. Inovação digital – Cases sobre o futuro do Direito.
Jota, 27 maio 2017. Disponível em: <htps://jota.info/especiais/inovacao-digital-cases-
sobre-o-futuro-do-direito-27052017>. Acesso em: 29 maio 2017.
119
GUARDIOLA SALMERÓN, Miriam. 10 tecnologías que cambiarán la Abogacía. Abogacía,
1º mar. 2017. Disponível em: <htp://www.abogacia.es/2017/03/01/10-tecnologias-que-
cambiaran-la-abogacia/?lang=es>. Acesso em: 30 maio 2017.
120
BORRUSO, Renato. Computer e dirito. Milão: [s.n.], 1989.
121
SOBOWALE, Julie. How artiicial intelligence is transforming the legal profession. Aba
Journal, abr. 2016. Disponível em: <htp://www.abajournal.com/magazine/article/how_
artiicial_intelligence_is_transforming_the_legal_profession>. Acesso em: 30 maio 2017.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
92 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Referências
6 EXEMPLOS de como usar computação cognitiva. Exame, 16 set. 2016. Disponível
em: <htps://exame.abril.com.br/tecnologia/6-exemplos-de-como-usar-computacao-
cognitiva/>. Acesso em: 10 out. 2017.
A DIFERENÇA entre inteligência artiicial, machine learning e deep learning. Data Science
Brigade. Disponível em: <htps://medium.com/data-science-brigade/a-diferen%C3%A7a-
entre-intelig%C3%AAncia-artiicial-machine-learning-e-deep-learning-930b5cc2aa42>.
Acesso em: 10 out. 2017.
AGUIAR, Ricardo. Inteligência artiicial e machine learning: o que a sociedade pensa sobre
seus riscos e benefícios? Sprace. Disponível em: <htps://www.sprace.org.br/divulgacao/
noticias/inteligencia-artiicial-e-machine-learning>. Acesso em: 13 out. 2017.
ANDREESSEN, Marc. Why software is eating the world. Andreessen Horowiz. Disponí-
vel em: <htps://a16z.com/2016/08/20/why-software-is-eating-the-world/>. Acesso em:
11 out. 2017.
ARRUDA, Andrew. The world’s irst AI legal assistant. YouTube, 21 dez. 2016. Disponível
em: <htps://www.youtube.com/watch?v=wwbr0fombFs&feature=youtu.be>. Acesso
em: 30 maio 2017.
BARBOSA, Maristela. A relação entre direito e tecnologia no Brasil: conheça o mercado
das lawtechs. Startupi, maio 2017. Disponível em: <htps://startupi.com.br/2017/05/a-
relacao-entre-direito-e-tecnologia-no-brasil-conheca-o-mercado-das-lawtechs/>. Acesso
em: 13 out. 2017.
BASSI, Silvia. Watson IBM mudará o mundo para melhor em cinco anos, diz
Ginni Rometty. IDGNow!, 28 out. 2016. Disponível em: <http://idgnow.com.br/
internet/2016/10/28/watson-ibm-mudara-o-mundo-para-melhor-em-cinco-anos-diz-
ginni-romety/>. Acesso em: 30 maio 2017.
BECKER, Daniel; FERRARI, Isabela. A prática jurídica em tempos exponenciais. Jota,
4 out. 2017. Disponível em: <htps://jota.info/artigos/a-pratica-juridica-em-tempos-
exponenciais-04102017>. Acesso em: 13 out. 2017.
BERTÃO, Naiara. Funções típicas de advogados já são feitas por softwares e robôs. Exame,
20 jan. 2017. Disponível em: <htp://exame.abril.com.br/revista-exame/deixa-que-o-robo-
resolve/>. Acesso em: 24 maio 2017.
BICUDO, Lucas. Robô faz em segundos o que demorava 360 mil horas para um advogado.
Startse, 29 ago. 2017. Disponível em: <htps://conteudo.startse.com.br/mundo/lucas-
bicudo/software-do-jpmorgan/>. Acesso em: 25 maio 2017.
BOLEN, Alisson. An executive’s guide to cognitive computing. SAS. Disponível em:
<htps://www.sas.com/en_us/insights/articles/big-data/executives-guide-to-cognitive-
computing.html>. Acesso em: 26 maio 2017.
BORRELLI, Isabela. Localiza tem economia na casa de milhões após contratar startups
de lawtech. Startse. Disponível em: <htps://conteudo.startse.com.br/corporate/isabela/
localiza-lawtech/>. Acesso em: 13 out. 2017.
CAMARGO, Coriolano Almeida; CRESPO, Marcelo. Inteligência artiicial, tecnologia e o
direito: o debate não pode esperar! Migalhas, 30 nov. 2016. Disponível em: <htp://www.
migalhas.com.br/DireitoDigital/105,MI249734,41046-Inteligencia+artiicial+tecnologia+
e+o+Direito+o+debate+nao+pode>. Acesso em: 26 maio 2017.
ALEXANDRE RODRIGUES ATHENIENSE, TATIANA CARNEIRO RESENDE
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OUTRAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS AO DIREITO
93

CANÁRIO, Pedro. Robôs permitem que juízes deixem de lado função de gestor de
processos e varas. Conjur, 26 ago. 2017. Disponível em: <htps://www.conjur.com.br/2017-
ago-26/robos-permitem-juizes-deixem-lado-funcao-gestor>. Acesso em: 13 out. 2017.
CARDOSO, Gustavo Vitorino. Legaltech ou lawtech? Tecnoadvocacia. Disponível em:
<https://www.juristasdobrasil.com/single-post/legaltech-ou-lawtech>. Acesso em:
11 out. 2017.
COELHO, Alexandre Zavaglia Coelho. A judicialização na era da inteligência artiicial
cotidiana. Estadão, 18 jan. 2017. Disponível em: <htps://www.linkedin.com/pulse/
judicializa%C3%A7%C3%A3o-na-era-da-intelig%C3%AAncia-artiicial-zavaglia-coelho>.
Acesso em: 30 maio 2017.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em números: ano-base 2016. Brasília, 2017.
Disponível em: <htp://www.cnj.jus.br/iles/conteudo/arquivo/2017/09/904f097f215cf19a
2838166729516b79.pdf>. Acesso em: 9 out. 2017.
DANIEL, Dan. Sobre IA e direito. Portal de E-Governo, Inclusão Digital e Sociedade do
Conhecimento, 30 nov. 2011. Disponível em: <htp://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/
intelig%C3%AAncia-artiicial-e-o-direito-%C3%A9-poss%C3%ADvel-at%C3%A9-onde>.
Acesso em: 26 maio 2017.
DINIZ, Laura. Quarta Revolução Industrial no direito. Jota, 30 out. 2016. Disponível em:
<htps://jota.info/justica/evento-em-brasilia-discute-o-impacto-da-quarta-revolucao-
industrial-no-direito-13102016>. Acesso em: 29 maio 2017.
DINIZ, Laura; LEORATTI, Alexandre. Inovação digital – Cases sobre o futuro do Direito.
Jota, 27 maio 2017. Disponível em: <htps://jota.info/especiais/inovacao-digital-cases-
sobre-o-futuro-do-direito-27052017>. Acesso em: 29 maio 2017.
DRª LUZIA, primeira robô-advogada do Brasil, já tem trabalho pela frente. Canal Tech,
5 jul. 2017. Disponível em: <htps://canaltech.com.br/robotica/dra-luzia-primeira-robo-
advogada-do-brasil-ja-tem-sua-primeira-missao-96658/>. Acesso em: 13 de out. 2017.
ESTEVES, Luiz Alberto. Rivalidade após entrada: o impacto imediato do aplicativo Uber
sobre as corridas de táxi porta-a-porta. CADE. Disponível em: <htp://www.cade.gov.
br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/dee-publicacoes-anexos/rivalidade-
apos-entrada-o-impacto-imediato-do-aplicativo-uber-sobre-as-corridas-de-taxi.pdf/
view>. Acesso em: 11 out. 2017.
FALCÃO, Márcio. PF planeja usar inteligência artiicial em investigações. Jota, 6 abr.
2017. Disponível em: <htps://jota.info/justica/pf-planeja-usar-inteligencia-artiicial-em-
investigacoes-06042017>. Acesso em: 26 maio 2017.
FEIGELSON, Bruno. Você sabe o que é LawTech? Jota, 4 mar. 2017. Disponível em: <htps://
jota.info/colunas/lawtech/voce-sabe-o-que-e-lawtech-04032017>. Acesso em: 11 out. 2017.
FERREIRA, Wanise. IBM e Finch levam a computação cognitiva para a área jurídica.
Inovação nas Empresas, 27 set. 2016. Disponível em: <htp://www.inovacaonasempresas.
com.br/2016/09/ibm-e-finch-levam-a-computacao-cognitiva-para-a-area-juridica/>.
Acesso em: 25 maio 2017.
GHISSERMAN, Maurício. Busca Booleana: inteligência na utilização das ferramentas
de pesquisa. Kenoby. Disponível em: htp://www.kenoby.com/blog/busca-booleana-o-
que-e/. Acesso em: 6 out. 2017.
GROSSMANN, Luís Osvaldo; QUEIROZ, Luiz. Primeira robô-advogada do Brasil mira
R$24 bilhões em cobranças judiciais. Convergência Digital, 4 jul. 2017. Disponível em:
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
94 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

<htp://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemp
late=site&infoid=45615&sid=3>. Acesso em: 20 set. 2017.
GUARDIOLA SALMERÓN, Miriam. 10 tecnologías que cambiarán la Abogacía. Abogacía,
1º mar. 2017. Disponível em: <htp://www.abogacia.es/2017/03/01/10-tecnologias-que-
cambiaran-la-abogacia/?lang=es>. Acesso em: 30 maio 2017.
HELBING, Dirk et al. Will democracy survive big data and artiicial intelligence? Scientiic
American, 25 fev. 2017. Disponível em: <htps://www.scientiicamerican.com/article/
will-democracy-survive-big-data-and-artiicial-intelligence/>. Acesso em: 6 out. 2017.
HOF, Robert D. Deep learning: with massive amounts of computational power, machines
can now recognize objects and translate speech in real time. Artiicial intelligence is inally
geting smart. MIT Technology Review. Disponível em: <htps://www.technologyreview.
com/s/513696/deep-learning/>. Acesso em: 9 out. 2017.
HOW Watson helps lawyers ind answers in legal research. Medium. Disponível em:
<htps://medium.com/cognitivebusiness/how-watson-helps-lawyers-ind-answers-in-
legal-research-672ea028db8>. Acesso em: 26 maio 2017.
HOW will artiicial intelligence afect the legal profession in the next decade? Queen’s
University. Disponível em: <htp://law.queensu.ca/how-will-artiicial-intelligence-afect-
legal-profession-next-decade>. Acesso em: 30 maio 2017.
JOTA, André. Inteligência artiicial, machine learning e deep learning: entenda melhor.
TecMundo, 7 jun. 2017. Disponível em: <htps://www.tecmundo.com.br/inteligencia-
artiicial/117510-inteligencia-artiicial-machine-learning-deep-learning-entenda-melhor.
htm>. Acesso em: 09 out. 2017.
KOHN, Alice. An AI law irm wants to ‘automate the entire legal world’. Futurism.
Disponível em: <htps://futurism.com/an-ai-law-irm-wants-to-automate-the-entire-legal-
world/>. Acesso em: 26 maio 2017.
LOHR, Steve. Saiba como a inteligência artiicial pode ser usada a favor do direito.
Estadão, 26 mar. 2017. Disponível em: <htp://link.estadao.com.br/noticias/inovacao,saiba-
como-a-inteligencia-artiicial-pode-ser-usada-a-favor-do-direito,70001713918>. Acesso
em: 26 maio 2017.
MARCONDES, Pyr. Qual a diferença entre inteligência artiicial, machine learning e
deep learning? PROXXIMA, 8 mar. 2017. Disponível em: <htp://www.proxxima.com.
br/home/proxxima/blog-do-pyr/2017/03/08/qual-a-diferenca-entre-inteligencia-artiicial-
machine-learning-e-deep-learning.html>. Acesso em: 9 out. 2017.
MARR, Bernard. What everyone should know about cognitive computing. Forbes,
23 mar. 2016. Disponível em: <htps://www.forbes.com/sites/bernardmarr/2016/03/23/
what-everyone-should-know-about-cognitive-computing/#23b1e5ca5088>. Acesso em:
26 maio 2017.
MELO, João Ozorio de. Escritório de advocacia estreia primeiro “robô-advogado” nos
EUA. Conjur, 16 maio 2016. Disponível em: <htp://www.conjur.com.br/2016-mai-16/
escritorio-advocacia-estreia-primeiro-robo-advogado-eua>. Acesso em: 25 maio 2017.
MERKER, Julia. Watson entra no setor jurídico. Baguete, 26 set. 2016. Disponível em:
<https://www.baguete.com.br/noticias/26/09/2016/watson-entra-no-setor-juridico>.
Acesso em: 24 de maior de 2017.
MINISTÉRIO Público começa a usar inteligência artiicial para acusar. Conjur, 28 abr. 2017.
Disponível em: <htp://www.conjur.com.br/2017-abr-28/mp-comeca-usar-inteligencia-
artiicial-elaborar-acusacoes>. Acesso em: 26 maio 2017.
ALEXANDRE RODRIGUES ATHENIENSE, TATIANA CARNEIRO RESENDE
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E OUTRAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS AO DIREITO
95

MISSÃO e objetivos. AB2L. Disponível em: <https://www.ab2l.org.br/missao-e-


objetivos/>. Acesso em: 11 out. 2017.
MOREIRA, André de Oliveira Schenini. Sobre o direito e a inteligência artiicial (e
robótica) – Parte I. Oscorp, 26 jan. 2017. Disponível em: <htp://www.oscorp.com.br/single-
post/2017/01/26/Sobre-o-Direito-e-a-Intelig%C3%AAncia-Artiicial-Rob%C3%B3tica---
Parte-I>. Acesso em: 26 maio 2017.
MOURA, Victor Macedo de. O que é computação cognitiva? Beta Labs, 27 jul. 2015.
Disponível em: <htps://blog.betalabs.com.br/o-que-e-computacao-cognitiva/>. Acesso
em: 24 maio 2017.
NUNES, Marcelo Guedes. O que é jurimetria. Associação Brasileira de Jurimetria – ABJ.
Disponível em: <htp://abjur.org.br/o-que-e-jurimetria.php>. Acesso em: 9 out. 2017.
NYBO, Erick. Quem são as lawtechs/legaltechs e como elas estão mudando a advocacia.
Startupi, jul. 2017. Disponível em: <https://startupi.com.br/2017/07/quem-sao-as-
lawtechslegaltechs-e-como-elas-estao-mudando-advocacia/>. Acesso em: 13 out. 2017.
QUAL é a diferença entre IA, machine learning, deep learning e computação cognitiva?
CIO from IDG, 1º jul. 2016. Disponível em: <htp://cio.com.br/tecnologia/2016/07/01/
qual-e-a-diferenca-entre-ia-machine-learning-deep-learning-e-computacao-cognitiva/>.
Acesso em: 10 out. 2017.
RADAR. AB2L. Disponível em: <htps://www.ab2l.org.br/radar/>. Acesso em: 11 out. 2017.
RAVAGNANI, Giovani dos Santos. A ressignificação da advocacia: lawtechs e
legaltechs. Migalhas, 30 jun. 2017. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/
dePeso/16,MI261196,61044-A+ressigniicacao+da+advocacia+Lawtechs+e+Legaltechs>.
Acesso em: 13 out. 2017.
RIGUEIRA, Marina. Qual é a diferença entre AI, machine learning e deep learning.
IMasters. Disponível em: <htps://imasters.com.br/desenvolvimento/qual-e-diferenca-
entre-ai-machine-learning-e-deep-learning/?trace=1519021197&source=single>. Acesso
em: 9 out. 2017.
SILLS, Anthony. ROSS and Watson tackle the law. IBM, 14 jan. 2016. Disponível em:
<htps://www.ibm.com/blogs/watson/2016/01/ross-and-watson-tackle-the-law/>. Acesso
em: 30 maio 2017.
SOBOWALE, Julie. How artiicial intelligence is transforming the legal profession. Aba
Journal, abr. 2016. Disponível em: <htp://www.abajournal.com/magazine/article/how_
artiicial_intelligence_is_transforming_the_legal_profession>. Acesso em: 30 maio 2017.
TARDELLI, Brenno. Ok, temos inteligência artiicial. E o direito com isso? Carta Capital,
26 jan. 2015. Disponível em: <htp://justiicando.cartacapital.com.br/2015/01/26/ok-temos-
inteligencia-artiicial-e-o-direito-com-isso/>. Acesso em: 26 maio 2017.
TARDELLI, Eduardo. O que são as legaltechs no Brasil? Administradores.com, 18 ago.
2017. Disponível em: <htp://www.administradores.com.br/noticias/negocios/o-que-sao-
as-legaltechs-no-brasil/120899/>. Acesso em: 13 out. 2017.
TAURION, Cezar. IA já chegou. Não a subestime! Linkedin, 12 mar. 2017. Disponível em:
<htps://www.linkedin.com/pulse/ia-j%C3%A1-chegou-n%C3%A3o-subestime-cezar-
taurion>. Acesso em: 26 maio 2017.
TAURION, Cezar. Você realmente sabe o que é big data? IBM Developer Works. Disponível
em: <htps://www.ibm.com/developerworks/community/blogs/ctaurion/entry/voce_
realmente_sabe_o_que_e_big_data?lang=en>. Acesso em: 25 maio 2017.
96
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

THE FUTURE of legal services. The Law Society, 26 jan. 2016. Disponível em: <htp://
www.lawsociety.org.uk/news/stories/future-of-legal-services/>. Acesso em: 11 out. 2017.
TRONCO, Giordano. FISL 17: computação cognitiva pode ser o futuro da internet
das coisas. Techtudo, jul. 2017. Disponível em: <htp://www.techtudo.com.br/noticias/
noticia/2016/07/isl-17-computacao-cognitiva-pode-ser-o-futuro-da-internet-das-coisas.
html>. Acesso em: 24 maio 2017.
TURNER, Karen. Meet ‘Ross’, the newly hired legal robot. Washington Post, 16 maio 2016.
Disponível em: <htps://www.washingtonpost.com/news/innovations/wp/2016/05/16/
meet-ross-the-newly-hired-legal-robot/?utm_term=.bc1cb2eb8f52>. Acesso em: 30 maio
2017.
VARGA, Sergio; ROTTA, Thiago Cesar. Ainal, o que é computação cognitiva? TLCBrazil,
30 set. 2016. Disponível em: <htps://www.ibm.com/developerworks/community/blogs/
tlcbr/entry/mp270?lang=en>. Acesso em: 10 out. 2017.
VIVIANI, Luís. Como a tecnologia pode aprimorar o trabalho da Justiça. Jota, 10 out. 2017.
Disponível em: htps://jota.info/justica/como-a-tecnologia-pode-aprimorar-o-trabalho-
da-justica-10102017. Acesso em: 11 out. 2017.
VIVIANI, Luís. Jurimetria tem potencial para mudar a cara do Judiciário. Jota, 10 out.
2017. Disponível em: <htps://jota.info/justica/jurimetria-tem-potencial-para-mudar-a-
cara-do-judiciario-10102017>. Acesso em: 11 out. 2017.
VIVIANI, Luís. Sistema de inquérito eletrônico já é usado em 9 estados. Jota, 10 out. 2017.
Disponível em: <htps://jota.info/justica/sistema-de-inquerito-eletronico-ja-e-usado-em-
9-estados-10102017>. Acesso em: 11 out. 2017.
WAISBEG, Noah. Will IBM’s Watson trasform contract review and law practice?
Remaking Law Firms, 24 jun. 2015. Disponível em: <htp://www.remakinglawirms.com/
one-ring-rule-will-ibms-watson-transform-contract-review-law-practice/>. Acesso em:
30 maio 2017.
WIZNER, Ben. Artiicial intelligence at any cost is a recipe for Tyranny. ACLU, 23 ago.
2017. Disponível em: <htps://www.aclu.org/blog/privacy-technology/surveillance-
technologies/artiicial-intelligence-any-cost-recipe-tyranny>. Acesso em: 13 out. 2017.

Informação bibliográica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

ATHENIENSE, Alexandre Rodrigues; RESENDE, Tatiana Carneiro. A in-


teligência artificial e outras inovações tecnológicas aplicadas ao direito.
In: FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; COSTA, Henrique Araújo;
CARVALHO, Angelo Gamba Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica e direito
digital: I Congresso Internacional de Direito e Tecnologia - 2017. Belo Horizonte:
Fórum, 2018. p. 69-96. ISBN 978-85-450-0453-0.
CAPÍTULO 3

E-NEGOTIATION, E-MEDIATION,
AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE
RESOLUTION IN BRAZIL

RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES

COLIN RULE

TAYNARA TIEMI ONO

GABRIEL ESTEVAM BOTELHO CARDOSO

3.1 Introduction
Oicial legal statistics supplied by the National Justice Council122
(CNJ) corroborates with numbers123 what millions of citizens who are
waiting for their legal cases to be decided by the courts already know:
the Brazilian state court system is facing a crisis. One might even say

122
Created by Constitutional Amendment n. 45/2004, one of the most signiicant reforms
in the Constitution of 1988, the National Justice Council – CNJ – is responsible for the
management and strategic planning of the Judiciary, as well as its supervision. Its role is
strictly administrative and it endeavors to perfect institutions and transparency regarding
court management and decisions (ZAMPIER, D. Reforma constitucional que criou CNJ
completa 10 anos. CNJ, 2014. Available at: <htp://www.cnj.jus.br/2rdh>. Accessed: 19 Dec.
2016).
123
One of CNJ’s duties is the production of the Brieing “Justice in Numbers”, which is
basically an annual statistical analysis of the Judiciary´s activities. This analysis is public
and is sent to the Congress so that the measures may then be taken to beter develop the
legal system (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 4, de 16 de agosto de
2005. Brasília: CNJ, 2005).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
98 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

that the Brazilian legal system is almost in a state of bankruptcy; its


slowness is shocking, its lack of eiciency is crippling, and it is proving
inadequate in achieving its core mission: the delivery of timely justice
to citizens.
This present situation is a perhaps the inheritance of an older
Brazil, in which the government was mired in an ineicient, complex
and corrupt bureaucracy laden with unenforceable, incongruent, and
obsolete laws.124 Fortunately, new laws were introduced in 2015 that
aimed to overhaul the legal system and address these shortcomings.
However, regardless of these legislative changes, without a broader
cultural revolution in the legal community, these challenges will
continue unabated.
For many years, the court system was the only legal means
available for conlict resolution in Brazil.125 As a result the courts have
received staggeringly high numbers of legal ilings, and the “culture
of litigation” has grown deep roots. Furthermore, the recent re-
democratization of Brazil has contributed signiicantly to the increase of
court cases. In this environment, procedural law has forcefully steered
disputants toward litigation, which has led to a decreased focus on
collaborative approaches.126
Approximately 25 million claims are iled every year in Brazilian
courts;127 together with other 74 million pending cases in the court
system, resulting in almost 100 million lawsuits pending in 2016.128
Adding to this massive backlog is the reality that the courts are moving

124
MARINONI, L. G.; BECKER, L. A. Inluência das relações pessoais sobre a advocacia e o
processo civil brasileiro. In: BECKER, L. A (Org.). Qual é o jogo do processo? Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris Editor, 2012. p. 451.
125
Despite legal provisions authorizing resolution of complaints by Arbitration – e.g., Lei
9307/1996, in practice these alternative forms of conlict resolution have not seen signiicant
use.
126
Adversarial forms of conlict resolution – litigation – are predominant to other forms that
prefer the common good and long term relationships. The paradigm of competition as the
prime solution to social relations has long been the hallmark; however, in its place was
ofered a new paradigm of cooperation based on game theory and in other conceptions,
such as the Nash equilibrium or the prisoners’ dilemma (CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA. Manual de mediação judicial. 5. ed. Brasília: CNJ, 2015. p. 55-64).
127
The data in the report refer to 2015 and also show that the total number of new cases in
Brazil, considering the Brazilian population – 206 million inhabitants, according to IBGE,
the Brazilian Institute of Geography and Statistics – is 24,600,000 a year (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 44 and IBGE. Projeção
da população do Brasil e das Unidades da Federação. Available at: <htp://www.ibge.gov.br/
apps/populacao/projecao/index.html>. Accessed: 19 Dec. 2016).
128
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 42.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
99

very slowly to process cases. On average, before reaching an appellate


court, trial courts take an average of eleven years to render decisions.129
This means that the average citizen who relies on the courts to have his
rights declared must wait more than a decade for justice to be done.130
The legal system is further distorted because signiicant numbers
of lawsuits are afected by the statute of limitations; unscrupulous
litigants take advantage of the slowness of the system, and are beneited
accordingly. Moreover, the court system is viewed negatively by many,
in great part because of the slowness of the courts in rendering decisions.
One unavoidable consequence of this byzantine legal system is
that the inancial costs for prosecuting a lawsuit are signiicant. Expenses
related to the maintenance and expansion of this legal apparatus, in
2015, were estimated as being R$ 79.2 billion, a per capita expense of R$
387.56 per year.131 Data further indicates that during the last six years
this cost has been constantly and signiicantly increasing.132 In addition
to paying taxes that help inance the court machinery, litigants must also
pay additional fees in order to have his case carried through to closure.
Costs to litigants reached R$ 9.2 billion in court fees in a single year.133
These obstacles to access to justice have caused commotion in
public administration circles. It is clear to many in government that bold
action is required to address these challenges. As a result, alternative
dispute resolution (ADR) has been atracting special atention. In
2015 the Law of Mediation was introduced (Lei 13,140/2015) and
the enforcement reach of the Law of Arbitration (13,129/2015) was

129
As we observe the two procedural phases in Brazilian trial courts – the cognitive and
executive phases – one may say that, combined, the average time it takes for a case to be
decided by a trial court exceeds a decade. The executive phase takes an average of 8.5
years to be concluded, while the cognitive phase takes 2.9 years. These numbers show how
slow the Brazilian legal system really is (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça
em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 71).
130
According to CNJ data, this excessive time can be atributed to an excessive work load
of judges. In 2015, the average work load of a Brazilian judge was 7,082 cases a year, the
majority of which focused on Federal and local jurisdiction, thus relecting a cultural
conlict resolution mentality in Brazil, i.e., the predominance of litigation (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 54-55).
131
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 33.
132
The increment in the costs of the legal system in the past half decade, in Brazil, reached
approximately one hundred reais per capita- an increase of 31%. This means that the
inancial costs of access to the court system in Brazil, which is not cheap, constantly
increases (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016.
p. 33)
133
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 34.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
100 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

expanded.134 These legislative reforms, aimed directed at eiciency


improvements in the Brazilian Justice System, culminated with the
introduction of a New Civil Process Code, NCPC (Lei 13,105/2015).
Throughout the debates around the formulation of this code, MPs
discussed the importance of increasing alternatives to the judicial path
to resolve conlicts. Mediation, arbitration, and conciliation were all
reinforced and stimulated in Brazil135 based on the mechanisms within
this legislation.
In 2010, looking to rapidly increase the use of mediation and
conciliation in Brazil the CNJ edited the Resolution 125 in order to
promote the consensual means of conlict resolution in and outside the
courts. This edit ofered more explicit guidance for the practice of ADR,
as well as encouraged the growth of the number of ADR professionals.136
In 2015, this movement gained force as the consensual mechanisms of
ADR were introduced by the NCPC as a stage of the judicial review
of the case. The intent was to create an important opportunity for
the parties to negotiate.137 Therefore, even though ADR approaches

134
The Lei 13,129/2015 modiies the leter of the articles 1st, 2nd, 4 th, 13th, 19th, 23rd, 30th,
32nd, 33rd, 35th and 39th of the Lei 9,307/1996, thus modifying and enhancing arbitration
in Brazil. The main reforms consist of permiting public administration to make use of
this mechanism as well as it: a) allows the parties to choose their judges; b)interrupts
prescription terms whenever arbitration is instituted; c)concedes precautionary and
urgency decisions within the use of arbitration; c) originates the arbitral leter (document);
and the arbitral decision. All in all, all of those mechanisms represent the development
and growth of arbitration in Brazil (translated from Portuguese) (BRASIL. Lei nº 13.129.
Brasília. Casa Civil, Subcheia para Assuntos Jurídicos, 2015).
135
As assessed in the irst elaborative preview of the New Civil Process Code “The preview
stipulation of mediation and arbitration, conceived in the 144th and 153rd articles
endeavours answering these conlict resolution mechanisms and all its promising
perspectives” (BRASIL. Senado Federal. Comissão Especial destinada a proferir parecer ao
Projeto de Lei nº 6.025, de 2005, ao Projeto de Lei nº 8.046, de 2010, ambos do Senado Federal, e
outros, que tratam do “Código de Processo Civil” (revogam a Lei nº 5.869, de 1973). Projetos de
Lei nºs 6.025, de 2005, e 8.046, de 2010. Available at: <htp://s.conjur.com.br/dl/relatorio-
cpc-sergio-barradas.pdf>. Accessed: 19 Dec. 2016).
136
Such resolution is a compass to all Judiciary, thus receiving the name of Judiciary National
Program. This speciic edition focuses on how conlicts are solved in Brazil. It considers
several already discussed issues in order to provide as a tool extra-judicial means, such as
consensual methods, regulated by the Law of Mediation and the Law of Arbitration; it also
compliments the maintenance of ADR initiatives scatered throughout the country and its
expansion due to public or private entities. Such process must be based on a public policy
able to guarantee the fair execution of ADR in Brazil.
137
According to the leter of the 334th article; NCPC, whenever atended all the processual
provisions, a conciliatory or mediation audience is to be convoked, and the defendant
intimated. This audience is to be dispensed only if both parties expressly turn it down or
if the case is unable to be self-composed. The article also authorizes the realization of the
audience online- a mark of modernity in Brazilian legislation and a great opportunity to
ODR in Brazil.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
101

were a relative novelty in the Brazilian legal system, these legal


provisions introduced ADR into the legal system in a meaningful and
deinitive way.
The extrajudicial resolutions generated by ADR have also been
imbued with legitimacy through enforcement. The Civil Process Code
established that ADR agreements and arbitral decisions constitute
executive titles. This means that, in the case of a lack of adherence to
the terms of an ADR agreement, the injured side may appeal directly to
judicial enforcement mechanisms so that issues can be resolved without
additional legal hearings.138
This efort toward the creation of a more fast and eicient legal
system, without encroaching on individual rights, has not yet achieved
its inal objective. Besides honing the measures already underway,
it is now clear that new ideas are also necessary to fully realize the
improvements required.
One such new idea is technology. Improvements in informatics
and communication networks have had as a major impact on many
areas of society. Many industries, such as medicine and inance, have
been completely transformed by these new technologies. Now we are
entering a period where these disruptive innovations can be applied
to the practice of law.139 The ield of Online Dispute Resolution, or
ODR, is focused on the question of how technology can be used to help
individuals ind fast and fair resolutions to their disputes.140
The already mentioned Law of Mediation (Lei 13,140/2015), in
its 46th paragraph, authorized private mediators and companies to

138
In order to difer the Cognisance and Executive Processes, it is worth to note the following
excerpt of the work of Enrico Tulio Liebman- Italian jurist who inluenced in a great measure
the present conformation of the Brazilian Process System: “[...] whereas the cognisance
process tends to determine the rule enforceable to the concrete case, civil execution is to
endeavor legally- and regardless of the defendant will- the practical reairmation of the
previously damaged right. Such activity depends on a series of acts which conforms the
executive process” (translated from Portuguese) (LIEBMAN, E. Processo de execução. 1. ed.
São Paulo: Bestbook, 2001. p. 18).
139
“The adoption of technological devices in legal routine provides us with quality and
haste as well as registers the reality occurred during the audience. [...] The development
of informatics, the difusion of internet and the enhancement of sound, recording and
transmission devices are indispensable options and operationalize audiences- thus
enabling them to be more dynamic and original, shortening distances” (translated from
Portuguese) (OLIVEIRA, V. O juiz e o novo Código de Processo Civil. 1. ed. Curitiba: CRV,
2016. p. 148.)
140
“ODR is the application of information and communications technology to the practice
of dispute resolution” (RULE, C. Technology and the future of dispute resolution. Dispute
Resolution Magazine, v. 1, 2015. p. 2).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
102 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

utilize ODR (more speciically, online mediation) both within judicial


and extrajudicial channels. The aspiration of this reform was to enable
the private sector to contribute to the resolution of access to justice
challenges in Brazil.
These initiatives have been successful in promoting ODR’s
emergence in Brazil. Now e-mediation and e-negotiation are important
conlict resolution tools in Brazil. The use of ODR technology enables
disputes to be resolved both quicker and more cost-efectively than
resolutions through the courts. These techniques are now described
within the judiciary as constructive processes.141 It is now the oicial
policy of the Brazilian judiciary to promote online mechanisms for
conlict resolution, and this development ofers the opportunity of a
true transformation of the litigation culture that has so long dominated
the Brazilian legal system.
In this article, we intend to analyze the Brazilian conflict
resolution system and the initiatives aligning it to global trends
promoting ODR. To achieve that, the article is divided into three parts.
Part I is dedicated to the global development of ODR. Part II focuses on
the already in-progress initiatives around e-mediation and e-negotiation
in the Brazilian legal system. To conclude, Part III details the challenges
that Brazil faces moving forward in the use of internet and information
technology to expand access to justice.

3.2 The global trend toward ODR


Online Dispute Resolution irst emerged in the late 1990s as
a means of resolving disagreements regarding purchases conducted
over the internet. Early pioneers like the global eBay marketplace and
the Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN)
provided examples for how high volumes of disputes could be resolved
in cross-jurisdictional transactions. Since that time ODR has grown into
a global movement backed by many dozens of providers around the
world, and undergirded by a strong academic and theoretic foundation.
The National Center for Technology and Dispute Resolution (odr.info)
serves as a hub for this global movement, supporting a global network

141
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Manual de mediação judicial. 5. ed. Brasília: CNJ,
2015. p. 56; DEUTSCH, M. The resolution of conlict. 1. ed. New Haven: Yale University
Press, 1973.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
103

of ODR Fellows and an Annual Conference that has met more than
ifteen times on ive continents.142
ODR first entered the Brazilian market in 1996, and each
subsequent project has evolved in terms of reach, technology, and
sophistication. By 2010 eBay was resolving more than 60 million
disputes per year through its ODR platform, more than the entire US
Civil Court system. In 2011 eBay spun out some of its ODR technology
to start Modria.com, an ODR provider that supports resolutions around
the world. Since 2000, ODR mechanisms have resolved more than 400
million disputes globally, and that number continues to grow.
International organizations have promoted ODR as a solution
to access to justice challenges since 2002. UNCITRAL, the United
Nations organization in charge of harmonizing global laws, convened
a Working Group devoted to ODR with more than 66 member nations.
As ODR took of in geographies like North America and Europe,143
the development of ODR in Brazil began in earnest a decade later. An
international survey of the growth of ODR by Melissa Conley Tyler
indicated that Brazil’s use of ODR lagged behind initiatives in other
geographies,144 but the clear potential of ODR approaches in tackling
the challenges being experienced in Brazil was clear even before ODR
experiments began in earnest. The delay in Brazil’s adoption of ODR
approaches might have even been a beneit in retrospect, as other
geographies tested and reined ODR tools, ensuring that Brazil could
learn from best practices prior to beginning their own initiatives. The

142
“Much of ODR’s early development was based in the US for several reasons: (a) the early
development of US-based internet, for defense and research projects; (b) the deeply-set
roots and early adoption of ADR processes in the US; (c) the competitive and innovative
nature of the US ADR market; (d) the high-quality ICT infrastructure; (e) the tech
savvy, increasingly wired population; and (f) US corporate culture, demanding instant
accessibility of people and information” (PEARLSTEIN, A., HANSON, B.; EBNER, N. ODR
in North America. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan; RAINEY, Daniel (Ed.). Online
dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven International Publishing, 2013.
p. 19).
143
“As of July 2004, at least 115 ODR services had been launched worldwide, setling more
than 1.5 million disputes. ODR services ofer examples of using technology to resolve
everything from eBay disputes to commercial litigation; from family disputes to the Sri
Lankan peace process. There are now ODR services in all regions” (TYLER, M. C. 115 and
counting: The State of ODR 2004. In: TYLER, M. C.; KATSH, E.; CHOI, D. (Ed.). Proceedings
of the Third Annual Conference on Online Dispute Resolution. Melbourne: University of
Melbourne, 2004. p. 1).
144
TYLER, M. C. 115 and counting: The State of ODR 2004. In: TYLER, M. C.; KATSH, E.;
CHOI, D. (Ed.). Proceedings of the Third Annual Conference on Online Dispute Resolution.
Melbourne: University of Melbourne, 2004. p. 2.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
104 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

geographies that were most successful in implementing ODR were


those that coordinated its launch between many stakeholders, including
governmental organizations, foundations, chambers, private start-ups
or individual enthusiasts.
In Europe, the number of private and public ODR start-ups has
grown steadily. Certain countries have led the way as early adopters
(e.g. England, The Netherlands) but now the more conservative
governments on the Continent are following suit. 145 In 2015 the
European Union adopted a new regulation requiring all merchants in
EU Member States to notify their consumers about the availability of
ODR, and the EU launched its own ODR iling form to collect buyer
complaints and distribute them to regionally appropriate ODR service
providers. An excellent example of the expansion of dispute resolution
in Europe is the Directive 2008/52/CE de le Parlement Européen et de Conseil
de 21 Marz, 2008,146 which made mediation mandatory in EU member
states in certain cases such as torts and contract disputes, where the
parties were from diferent countries.
The Civil Justice Council in the United Kingdom recently
convened a working group consisting of experts in the ODR ield to
study its application in civil cases. The Final Report of this working
group recommended that the Ministry of Justice create something called
“Her Majesty’s Online Court”, which would be designed to use ODR
approaches to resolve civil cases less than £25,000 without requiring
disputants to show up in person at the court, or to be represented by a
lawyer. As Lord Justice Fulford, the Senior Presiding Judge of England
and Wales, put it, “ODR will be an integral part of the going [court]
digitalization process. It is absolutely necessary for the survival of the
justice system in the UK”. The UK has now earmarked more than £700
million to help fund this modernization of the justice system, and ODR
will likely be an integral component.147
ODR is showing particular traction within courts and legal
service organizations. The provincial government of British Columbia,

145
ROSS, G.; POBLET, M. ODR in Europe. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan;
RAINEY, Daniel (Ed.). Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven
International Publishing, 2013.
146
EUROPEAN PARLIAMENT AND THE EUROPEAN UNION COUNCIL. Directiva
2008/52/CE do Parlamento Europeu e do Conselho. Jornal Oicial da União Europeia,
Estrasburgo, May 21st, 2008, relates certain aspects of the civil and commercial mediation.
147
RULE, C.; SCHMITZ, A. The new handshake: online dispute resolution and the future of
consumer protection. [s.l.]: American Bar Association Press, 2017. p. 18.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
105

in Canada, recently recently created an online resolution process, the


Civil Resolution Tribunal, which aims to move most low-dollar value
civil disputes from the courts to ODR systems. British Columbia has
been on the cuting edge of ODR for some time, and now the British
Columbia Legal Services agency has launched MyLawBC.com, which
uses ODR to expand services to low-income families in the province.
The Dutch Legal Aid Board has also used ODR to support divorce and
separation cases, and the Indian government has launched the Online
Consumer Mediation Center (OCMC) to resolve disputes between
buyers and sellers in India.148
If anything, the momentum behind ODR appears to be growing
around the world. Those who have seriously considered the problem
of access to justice, especially for high volume/low value cross-
jurisdictional disputes, have come to the conclusion that ODR is the best
option for the future. Judges, Bar Association Presidents, regulators,
general counsels, and legal aid atorneys are all confronting shrinking
budgets, growing numbers of self-represented litigants, and changing
expectations amongst the constituencies they are trying to serve. The
track record ODR has already achieved in a wide variety of global
applications is encouraging them to think seriously about how ODR can
work in their home geographies.149 With all of this momentum, it’s no
surprise that legal sector leaders in Brazil are asking the same questions.

3.3 The growth of ODR in Brazil: e-negotiation and


e-mediation
A truism in dispute resolution is that the best time to resolve a
dispute is as early as possible. The longer a dispute goes on, the more
distrust can build, making resolution even more elusive. Catching a
dispute early in its lifecycle can optimize the chance that the issue can
be resolved by mutual agreement between the parties. And even beter
than resolving a dispute early is preventing the dispute from arising in
the irst place. As Louis Kriesberg and Bruce W. Dayton put it:

148
RULE, C. Technology and the future of dispute resolution. Dispute Resolution Magazine,
v. 1, 2015.
149
KATSH, E.; RULE, C. What we know and need to know about Online Dispute Resolution.
South Carolina Review, v. 67, p. 5-6, 2015.
106
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

It is easier to stop a conlict from escalating destructively if the struggle


has not persisted for a long time and not escalated greatly. This underlies
the high interest among conlict resolution practitioners in the potential
of early warning and preventive diplomacy.150

In dispute resolution, delays can make disputes escalate and


intensify. Therefore, moving quickly to resolve cases is extremely
important. The legal system is not optimized around speed, and that
generates frustration on the part of disputants.151 ODR systems need
to be easily accessible and fast moving to avoid generating that kind of
frustration. In response to this dynamic, important legislative reforms
were put into motion in order to improve the timeliness of the Brazilian
legal system.152
The New Civil Process Code (Lei 13.105/2015) and the Law of
Mediation (Lei 13,140/2015), legal bills which enhanced and ampliied
the usage of ADR, made explicit the acceptability of using technology,
including virtual environments, as a permissible form of mediation.153
The 334th article, 7th paragraph of the NCPC says: “The conciliatory
audience or mediation audience may be realized electronically in the
terms of the Law” (translated from Portuguese). In a similar way, the
46th article of the Brazilian Law of Mediation notes: “Mediation may
be realized by internet or by any other means of communication that
permits distance transactions, since the parties agree” (translated from
Portuguese).
These measures signal a strong political will towards modernizing
the conlict resolution systems in Brazil, especially through the inclusion
of new technologies. These moves have created a fertile environment
for the development of ODR in Brazil. Although the changes in the
ield of conlict resolution are a recent development in Brazil, several
private initiatives have quickly emerged to implement ODR in Brazil.

150
KRIESBERG, L.; DAYTON, B. Constructive conlicts: from escalation to resolution. 4. ed.
Plymouth: Rowman & Litleield Publishers, Inc., 2011. p. 198.
151
RULE, C. Introduction to online dispute resolution for business. Mediate.com, 2002.
Available at: <htp://www.mediate.com/articles/rule2.cfm>. Accessed: 30 Dec. 2016.
152
Brazilian Law, originated from the Continental-Germanic stream, promote the leter of the
Law to an uppermost source of Rights; therefrom one can observe a will of change by the
political power.
153
Conlict spires is the name of the social efect – so described by experts in the mater – in
which the parties reactions escalate and interpose – thus generating so an intense and
damaged conlict as the original issue. Therefore the means of a conlict are as much
important as the conlict itself (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Manual de mediação
judicial. 5. ed. Brasília: CNJ, 2015. p. 48).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
107

The openness of the Brazilian legal system to ODR has signaled to the
marketplace that ODR approaches are welcome, and that is causing
developments to accelerate.
The expansion of internet access is also fueling the reach of
ADR. Brazil is a very large country, with marked diferences in income
154

and infrastructure across the diferent regions of the country. However,


the use of communication technology via the internet opens access to
redress for many Brazilians who are located in distant or rural locations.
The distance between Manaus, Brazilian Northern economic pole, and
Porto Alegre, the Southern capital is 3,133km – that is approximately
the distance between Barcelona and Moscow plus 100km; or between
Washington D.C. and Phoenix, Arizona. Online options for iling cases
and communicating with counter parties may make justice possible if
the parties are physically separated by these great distances. In addition,
the procedural lexibility of ODR, married to the lexibility of online
communications, provides conditions that allow conlicts to be resolved
faster and, consequentially, more efectively, because haste avoids the
aforementioned escalation in complexity and frustration.
Therefore, we now observe in Brazil an acknowledgement of the
advantages associated with ODR that have been described by experts
in other countries which implemented ODR mechanisms previously.
This development is stimulating the development of ODR experiments
in the public and private sector aimed at realizing these eiciency,
speed, and cost improvements155 for Brazil.
According to a study on ODR performed by the group “Law,
Research, Innovation and Technology” of the Faculty of Law in the
University of Brasília,156 the present online platforms existing in Brazil
practice of e-negotiation and of e-mediation, and focus primarily on
the resolution of conlicts involving consumption.

154
Despite its limitations due to legal and security issues, ADR ofers a greater range of
conlict solutions mechanisms than the traditional path, from the perspective of the
procedure (Mediation, Arbitration, Conciliation) to the perspective of the third party to
assist the parties.
155
RULE, C. Discusses the intersection between ADR and online dispute resolution (ODR).
Jams Dispute Resolution Alert, 2012. p. 4-5.
156
DireitoTec (www.direitotec.com.br) is a research and development group from the Law
School of the University of Brasília (UnB), based in Brasilia (DF). The group focused on the
study of innovation in Law, speciically regarding new technologies (LegalTech) in order
to provide Brazilian students with that knowledge and stimulate the development of ODR
and even more.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
108 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

We will now delve into the specifics of e-negotiation and


e-mediation systems as deployed in Brazil and examine the services
and platforms some of the online dispute resolution providers that
have recently launched.

3.3.1 E-negotiation
Negotiation is a form of conlict resolution where the dispute is
resolved only between the disputing parties, with no third party neutral
involved. Depending on how the e-negotiation is designed, the resulting
process can result in an enforceable agreement which may enable one
party of the other to compel judicial enforcement if necessary. We will
now analyze four e-negotiation providers to call out the variations in
their approaches.
The oldest and most used e-negotiation tool in Brazil is called
“Reclame Aqui”. In this online platform, (i) the consumers are able
to register their virtual or physical complaints related to products,
services or companies; (ii) then, the companies are convoked to answer
the complaints, presenting the available solutions; (iii) and, at last,
the consumer registers his evaluation regarding the atitude of the
company and informs whether his mater was plainly solved or not.
In such procedure the parties are not helped by a third party and the
participation of lawyers is dismissed.
“Reclame Aqui” has generated promising results157 for it promotes
quick communication between the parties. The platform is free of cost
and possesses mechanisms that maintain high levels of solvency of the
negotiated terms, though not generating an executive title. Basically,
the developed strategy to bind the negotiators to the result of their
deliberation accrues from the publicity of the results obtained. It causes,
consequently, a concern to the companies regarding the building of a
good reputation in the market as well as to their buyers.158 After all,
“reputation systems allow users to make judgments as to which sellers
provide the greatest chance of a successful transaction, and therefore
lowest risk of dispute”.159

157
Reclame Aqui is an e-negotiation platform created founded in 2001 that answers 30,000
demands per day. There are 120,000 companies and 15 million users registered.
158
Every day more than 600,000 people search for the companies reputation before
purchasing, hiring or contracting” (RECLAME AQUI. 2016. Available at: <htp://www.
reclameaqui.com.br/>. Accessed: 30 Dec. 2016).
159
“Complain Here” (RECLAME AQUI. 2016. Available at: <htp://www.reclameaqui.com.
br/>. Accessed: 30 Dec. 2016).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
109

Another existing platform is “Sem Processo”.160 In contrast to


Reclame Aqui, the negotiation in this case is practiced by lawyers rather
than by the parties themselves. In order to engage the negotiation
procedure, (i) one person’s atorney must initiate the process by sending
a demand to “Sem Processo” which, in turn, (ii) communicates the
demand to the legal team of the involved company. Sem Processo then
opens a virtual space for the e-negotiation to take place.
The use of “Sem Processo” is free to the lawyers of consumers,
with the costs shifted to the respondent companies. The platform
focuses on the creation of an environment that enables the lawyer
to solve the consumer’s problems directly with the company. The
negotiated terms are signed by both parties’ lawyers, and in line with
the terms in the 784th article; item IV of the NCPC,161 the platform
generates an extrajudicial executive title162 that is enforceable by a court.
The negotiation takes place in a private virtual environment
that treats the negotiated agreement as conidential, thus possibly
conferring an advantage to the company for the agreement avoids the
creation of a precedent. However, some consumers may also appreciate
this design, especially those consumers who do not wish to have their
issues exposed.
Another available e-negotiation mechanism: “e-Conciliar”,163
whose concept involves facilitating the negotiation of an issue involved
in a currently active judicial process. According to the 841st article of the
NCPC, this form of transaction is available only to Torts. An eventual
agreement, if certiied by the judge in the active judicial process, solves

160
“No Process” (SEMPROCESSO.COM.BR. 2016. Available at: <htps://www.semprocesso.
com.br/>. Accessed: 30 Dec. 2016).
161
Art. 784th. “The followings are considered extrajudicial titles: IV – the instrument of
transaction demanded by the Parquet, the Public Atorney’s Association, The Public
Advocacy, the transactioneers atorneys or by any Court registered conciliator or mediator”
(BRASIL. Lei nº 13.105 – Código de Processo Civil. Brasília: Casa Civil, Subcheia para
Assuntos Jurídicos, 2015).
162
The executive title is “immediate source of right – independent of any sanctioning rule
or consequent legal efects. The abstract eiciency designed to the title explains its role in
execution; thus presenting a hasteful instrument able to accomplish execution regardless
of any demonstration of existence of the credit” (LIEBMAN, E. Processo de execução. 1. ed.
São Paulo: Bestbook, 2001. p. 39).
163
The E-conciliar platform intends to use ODR as a model of a “collaborative auction” in
which the parties, by means of conidential bids, favors an agreement generated by a
virtual mechanism which identiies the fairest value according to the parties’ bids. That
is, the platform is redeemed as a forth party, directly interfering in their negotiation
with its system (RESOLUÇÃO de conlitos. E-Conciliar, 2016. Available at: <htps://www.
econciliar.com.br/>. Accessed: 30 Dec. 2016).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
110 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

the mater of the cause and generates a judicial executive title164 which
is legally enforceable.
Finally, the last platform we will examine is eConciliador
which began setling disputes in January 2014. eConciliador is an
intelligent data-driven negotiation software that resolves civil and
labor legal disputes as well as customer service claims in less than ive
minutes. This fully automated platform allows parties to negotiate
and setle disputes 24/7, with or without a lawyer, and at any stage
of the dispute – before the claim is iled (extra-judicial), once iled
(judicial) and even post-sentencing (pós-sentença). eConciliador is able
to achieve this through its customized algorithms that are tailored to
the client’s setlement policies and the software also learns and reacts
to the proposals being made by the user. As an automated platform,
eConciliador can negotiate and setle and unlimited number of cases
simultaneously. Once the case is setled, plaintifs upload the executed
setlement agreement to ensure enforceability.
While many of these examples focus on cases within the courts or
at risk of being iled in court, there is also a considerable and growing
use of e-negotiation as a means of resolution/prevention of conlicts
outside of the justice system. The primary application of e-negotiation
in this context is the ield of consumer relations. The eiciency of
ODR is extremely helpful in resolving consumer issues before they
undermine customer trust and loyalty, or bubble up in social media.
It is not necessary to have the threat of judicial enforcement to make
these extrajudicial e-negotiation processes successful, because the
parties are more than adequately incentivized by their desire to preserve
strong buyer-seller trust.165
The use of e-negotiation mechanisms is especially interesting
when there is no explicit conlict of interests between the parties, or
when the conlict is still in an early stage. These online platforms are
intended to smooth communication between the parties at the earliest
appearance of a potential problem and to foster mutually-acceptable

164
Art. 515, III, NCPC (BRASIL. Lei nº 13.105 – Código de Processo Civil. Brasília: Casa Civil,
Subcheia para Assuntos Jurídicos, 2015).
165
In this perspective, negotiation is looks forward to strengthen the relations buyer-seller.
One may say that “If customers do not trust a particular site or service then most likely
over time they will scale back their use. Also, they will probably share their negative
experience with others, many of whom will have litle no direct experience with the site”
(RULE, C.; FRIEDBERG, L. The appropriate role of dispute resolution in building trust
online. Artiicial Intelligence and Law, v. 13, 2005. p. 196).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
111

resolutions in an extrajudicial path. However, disputants do not


always possess the psychological or emotional fortitude to engage
in a negotiation without the help of a third party. In those situations,
e-mediation may be a beter process to forge an agreement.

3.3.2 E-mediation
E-negotiation is often very informal, but e-mediation is slightly
more regulated. The challenge of ensuring the process and the neutrals
are truly impartial requires a bit more oversight than e-negotiation
processes, which are entirely driven by the parties themselves. In
Brazil our research veriied the dynamic of a growing preference for
mediation as ODR techniques become more legitimized. The legal
changes speciically call out e-mediation as a preferred process, so that
may explain why e-mediation has improved its status in such a short
period of time.
From this perspective, e-mediation has the highest proile due
to its up to date legal authorization (Law 13,105/2015 and 13,140/2015).
As such, there are quite a few recent e-mediation initiatives in Brazil:
“Vamos conciliar”,166 “Justiça sem processo”167 and “Juster”.168 These
platforms operate in a straightforward and similar way, facilitating
face-to-face mediation via videoconferencing to enable the parties to
communicate with the mediator, so there is no need to examine each
in turn.
As a rule, e-mediation requires a software platform that assures
the conidentiality and privacy of the negotiations. Parties are often
quite sensitive to the security of the information shared in these online
sessions, though any outcome must be agreed to by both disputants.169
Adherence to the agreed upon solution is improved because both
parties have veto power over any resolution achieved, ensuring that
the parties feel ownership over the outcome. However, Brazilian Law

166
MILANEZ, G. Vamos conciliar. Vamosconciliar.com, 2016. Available at: <htp://www.
vamosconciliar.com/>. Accessed: 30 Dec. 2016.
167
JUSPRO – JUSTIÇA SEM PROCESSO. 2016. Available at: <htps://www.juspro.com.br/>.
Accessed: 30 Dec. 2016.
168
JUSTER – RESOLUÇÃO DE CONFLITOS. 2016. Available at: <htps://juster.com.br/>.
Accessed: 30 Dec. 2016.
169
“The mediator has no power to issue a decision or impose an outcome on disputing
parties. In other words, decision-making authority rests with the parties over both process
and substantive issues” (HALOUSH, H. A.; MALKAWI, B. H. Internet characteristics and
online alternative dispute resolution. Harvard Negotiation Law Review, v. 13, p. 336, 2008).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
112 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

(speciically, the NCPC) also confers a judicially binding element to


any agreement achieved, ensuring it has executive title and can be
enforced in the courts.170
One of the pros of e-mediation is that “records are preserved and
reviewable, allowing for more seamless processes and joint frames of
reference”.171 Therefore, any future legal challenges to the mediation
outcome can be quickly resolved if the parts had previously agreed to
give access of their registers.172 Mediation outcomes cannot be a coercive,
so agreements cannot be annulled with the argument that one of the
parties did not consent to the outcome achieved. Should such a protest
arise, the maintenance of records may be presented to verify that in fact
both parties did agree to the outcome. This is one of the most atractive
aspects of the mediation process: a cooperative model.173
In spite of e-mediation’s relatively recent introduction in Brazil,
expectations are rising about its eicacy, and demand is growing due
to promotion from recent legal changes and from high expectations
drawn from other successful e-mediation programs outside of Brazil.
The Law of Mediation (Lei 13,140/2015) created a few mechanisms
destined to strengthen extrajudicial mediation practice, and that
law harmonized perfectly with e-mediation. Exemplifying the 22nd
article; IV item of the Law of Mediation174 speciically permits the use
of contractual provisions that require mediation as a irst alternative
to solve any conlicts that may arise, thus strongly urging potentially
unwilling parties to fulill their contractual obligations, even going so
far as to establish penalties for non-compliance.

170
See note 168.
171
EBNER, N. e-Mediation. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan; RAINEY, Daniel (Ed.).
Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven International Publishing,
2012. p. 17.
172
Conidentiality may be relativized if the parts consent to disclosing information of their
processes for future use, as established in article 30 of law 13,140/2015.
173
Ideal to the common good and to the establishment of long-term relationships. The
cooperation as understood based on the game theory and in other conceptions such as
Nash equilibrium or the prisoners dilemma inluence this way of understanding and
dealing with human relationships which may embrace conlict resolution in Brazil
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Manual de mediação judicial. 5. ed. Brasília: CNJ,
2015. p. 55-64).
174
Art. 22, Law 13.140/2015. “The contractual forecast of mediation must have at least:
I – minimum and maximum time for the irst mediation meeting from the date of the
invitation received; II – place of the irst meeting of mediation; III – criteria of choosing the
mediator or the team of mediation; IV – penalty in case of unatendance from the invited
party for the irst meeting”.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
113

Even if there is no contractual provision requiring the use of


mediation, if one is invited to take part in a session of mediation and
subsequently refuses to atend it,175 The suitor must necessarily pay 50%
or the costs and of the total of the atorney’s fees if he or she eventually
wins the case in a future arbitral or judicial process.176 This goes farther
than most mediation acts in other geographies outside Brazil, but it
should be noted that such a condition does not damage the principle
of disputants autonomy,177 because it does not force the parties into an
accord, it only requires them to be present for the irst meeting, even
if only to communicate their disinterest in continuing the mediation.
Another issue that is driving the increase in e-mediation in
Brazil comes from the expansion of cross-border transactions, which
are generating cases that involve parties scatered around the globe.
The practice of e-mediation is a perfect it for these types of issues178
because the parties need not be in the same place to participate in an
e-mediation, and issues of jurisdiction mater less in cases where the
parties must agree on the outcome. The expansion of global eCommerce
guarantees an increase in the volumes of conlicts that transcend the
geographic frontiers of each country, requiring the development of
resolution mechanisms able to handle these new kinds of disputes.
“ODR is not tied to geography or jurisdiction”.179 In addition, “parties
gain access to mediator expertise beyond that which might be available

175
Art. 21st, Law of Meditation. “The extrajudicial mediation procedure invitation may
be presented by any means of communication and must present the negotiation scope,
the day and placement of the irst meeting. Detached paragraph. The invitation is to be
considered dismissed if unanswered in the term of 30 days counting on the day of its
receiving”.
176
Article 22nd §2nd, IV, Law of Mediation. “The irst meeting unatended provides the party
with 50% of the costs and atorney’s fees if the party is to win the case in posterior arbitral
or judicial procedure – insofar as it involves the scope of the mediation to which it was
invited”.
177
Art. 2nd, Law of Mediation is to be guided by the following principles: “I – the mediator’s
impartiality; II – isonomy between the parties; III – orality; IV – informality; V –
autonomous will of the parties; VI – guidance towards consensus; VII – conidentiality;
VIII – good-faith”.
178
The ever quicker and thoroughly scatered insertion of technology in various activities
around the globe is already real. ODR is not diferent – if we observe Asia, Oceania,
America and Europe we may ind several initiatives in the most embodiment stages. The
world, indeed, drifts along the path of making its conlicts resolution praxis something
hastier, more intelligent and technological.
179
“A technology-empowered consumer in Brazil can purchase an item from a seller in
France to a market in China” (RULE, C. Technology and the future of dispute resolution.
Dispute Resolution Magazine, v. 1, 2015. p. 4).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
114 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

in any given geographical region”.180 In this sense, e-mediation its


perfectly with where global commerce is evolving.
From this perspective, the expansion of e-mediation in Brazil is
a direct result of both legislation promoting mediation and of external
inluences, such as the expansion of eCommerce and cross-border
consumer transactions. The e-mediation initiatives cited here are still
in the initial stages, but they are growing fast. This fast growth is
generating some signiicant challenges, which we will explore in the
next section of this article.

3.4 ODR challenges faced in Brazil


The promulgation of a new law is not adequate, in and of itself,
to generate the changes in society and commerce. Adequate conditions
are necessary if the law is to produce its intended efects.181 Thus,
although meaningful and an important milestone in the expansion of
conlict resolution in Brazil, the legislative reforms produced during
2015 will be efective in promoting ODR only if several obstacles are
simultaneously overcome. A few of them are described below:

3.4.1 Brazilian culture


The irst overall challenge is the litigation culture that still
dominates in Brazil. The judicial model of issue resolution is still quite
strong in the way Brazilian people understand their rights and paths
to resolution of their demands. A justice’s decision is still preferred to
consensual accords between the parties. This represents a major obstacle
to the expansion of ODR.
Such a fact can be observed in data extracted from State Special
Justice reports. These oices, which have been part of the Brazilian
legal system since 1995,182 “are competent to conciliate, process, decide
and execute civil cases with limited complexity and crimes of minor

180
EBNER, N. e-Mediation. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan; RAINEY, Daniel (Ed.).
Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven International Publishing,
2012.
181
“A rule to be considered socially eicient whenever it inds adequate conditions in
reality to produce efects” (translated from Portuguese) (FERRAZ JR., T. A validade das
normas jurídicas. Complexidade, Direito e Sociedade, v. 15, p. 86, 1994. Available at: <htps://
periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/issue/view/1516>. Accessed: 5 Jan. 2017).
182
BRASIL. Lei nº 9.099. Brasília: Casa Civil, Subcheia para Assuntos Jurídicos, 1995.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
115

damaging potential”.183 That is, they are granted limited authority to


resolve conlicts that both a) involve lower tiers of social repercussions
and b) have a higher likelihood of being solved by negotiation inter
partis.
The setlement meeting, guided by a conciliator, is held as the irst
stage of demand processing by a Special Justice Court. If a consensus
is not reached, the parties must present their issue to a judge who will
decide the mater. However, according to statistics provided by the
National Justice Council184 in 2015: “the Special Justice cognisance stages
present only a percentage of 16% of conciliatory results”.185 Therefore,
in spite of the existence of a State institution destined to provide the
parties an opportunity to resolve their problems via dialogue and
conciliation, the vast majority of cases still are resolved by an evaluative,
judicial process.
Despite such low percentages of conciliatory results, the CNJ
has optimistic projections for the future, mostly due to the NCPCs
enforceability which “foresees the realization of a previous audience
of mediation and conciliation as a mandatory stage, previous to the
conformation of the litigious case as a general commandment to all Civil
Law Processes”.186 Such a norm envisages the solution of most conlicts
via mutual agreement between the parties, thus avoiding litigation as
the default resolution option. It is also expected that promotion of these
new conlict resolution methods will change social atitudes around
which resolution path is most desirable.
In a litigious society the introduction of ODR may face initial
resistance and skepticism, and that skepticism will only be overcome
if ODR mechanisms can consistently display greater eiciency and
satisfaction than court-based processes. The government is very
interested in promoting ODR as the default resolution option for civil
cases, so it is likely that the government will promulgate norms to
stimulate more interest and support of ODR processes. The beneits
that ODR may introduce to the parties when compared to litigation
may also eventually win over other players within the judiciary. Once
the preference, satisfaction, eicacy, and savings data are validated, no
one will want to miss out on those beneits.

183
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 81.
184
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 81.
185
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 81.
186
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 45.
116
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Leading Brazilian thinkers are already asking these questions


and promoting the social change required for Brazilians to embrace
ODR. As one article recently noted, “we need a cultural turn toward
the dispute resolution ield... In our culture, we are used to the idea
that it is good and most of the time necessary that our conlicts would
be setled by a decision maker, and we seek enforceable redress. Now
it is time for a cultural turn”.187
Another cultural issue is that unlike the USA or Europe, the
Brazilian people do not, as a rule, trust private service provider
platforms. If ODR is to overcome that resistance, the quality of
ODR platforms must be high, and the virtual environment and user
experience must be well designed – not clumsy or uncomfortable. Users
will stay away unless the ODR services communicate safety, eiciency,
and ease of use.

3.4.2 The education of online mediators


Regarding e-mediation, an important challenge to be faced relates
to the education of professionals who intend to serve as mediators.
An ODR mediator must be as neutral and as impartial as possible; he
or she must be able to communicate with respectful and constructive
language; be competent to guide a dialogue and develop rapport; and
be interested in the considerations developed by the parties. All of these
requirements must be achieved through efective training and ongoing
quality monitoring if the potential of e-mediation is to be realized.
The former Secretary of the Judiciary Reforms, Flávio Caetano,
airmed that Brazil will make use of a “real army” of about 17,000
mediators in order to respond to the existing demand for millions of
resolutions. This is the irst step in this challenge: the education of the
mediator.188
The qualiications one needs to be a judicial mediator are quite
rigid. Art. 1 of the Law of Mediation lays them out with great speciicity:
civil capacity; to be graduated from a course of study at least for two

187
ZANFERDINI, F. A. M.; OLIVEIRA, R. T. Online dispute resolution in Brazil: are we ready
for this cultural turn? Revista Paradigma, v. 241, p. 68-80, 2015. p. 77.
188
POMBO, Bárbara. Brasil terá “verdadeiro exército” de mais de 17 mil mediadores a partir
de 2015. Jota, 29 jun. 2015. Avaible at: <htp://jota.info/justica/brasil-tera-verdadeiro-
exercito-de-mais-de-17-mil-mediadores-a-partir-de-2015-29062015>. Accessed: 11 Jan.
2017.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
117

years before the application; education from a training program for


mediators that is recognized by governmental entities; training must
contain, according to the 1st Annex of the Resolution 125/2010 of the
CNJ, (i) theoretical module (at least 40 hours in-class); and (ii) a practical
supervised module (60-100 hours).
In contrast, anyone can work as an extrajudicial mediator if he
or she demonstrates (art. 9th of the Law of Mediation): civil capacity;
trust of the parties; and is able to “present capacity for performing
mediation”,189 even if the mediator is independent of any established
mediation panel or formal certiication body.
The second important component for education regards
continuous training and mediators recertiication. According to the
Professor Ada Pellegrini Grinover, “the future of conciliation and
mediation is quite promising; though it depends on a serious political
will [...] and on the rigorous education and constant recycling of
conciliators and mediators”.190
Therefore, in order to facilitate the expansion of e-mediation
throughout Brazil, the continuous education of those intending to play
the role of mediator is essential. Even if everything else goes perfectly,
low quality mediators may doom the efort to failure.

3.4.3 Enforceability
One major challenge to the expansion of ODR is the lack of
mechanisms to ensure adherence to the terms accorded by the parties.
Study after study has shown that parties don’t want agreements,
they want outcomes. If e-mediation delivers millions of agreements
that are promptly ignored by the parties, it will have been a waste
of time. According to Maxime Hanriot, “the lack of enforceable
outcomes constitutes a major hurdle for the development of ODR, and

189
In the First Journey of Mediation of the Federal Justice Council, the line number 47 was
approved. Its text interprets the “education of the extrajudicial mediator”: “The reference
to the education of the extrajudicial mediator in the ninth article of the Law of Mediation
makes mandatory previous experience, vocation, the trust of the parties and capacity to
mediate as well as knowledge of the principles of mediation; therefore it does not suice
the education in other knowledge areas which relate to the merit of the conlict only”.
190
FERNANDES, W. Futuro da conciliação e mediação no Brasil é promissor, avalia
especialista. Agência CNJ de Notícias, 2015. Available at: <htp://www.cnj.jus.br/noticias/
cnj/81029-futuro-da-conciliacao-e-mediacao-no-brasil-e-promissor-avalia-especialista>.
Accessed: 5 Jan. 2017.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
118 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

considerably decreases the level of trust of the potential parties to an


ODR scheme”.191
Despite Brazilian legislation that provides a certain binding
strength to the outcomes achieved in e-negotiation and e-mediation
(because yes, under the legislation negotiation and mediation outcomes
can conform to executive titles, meaning the outcomes are enforceable
by a court), there remains a concern that parties will not take negotiation
and mediation outcomes as seriously as they take judicial decisions. In
Brazil, the competency to execute executive titles is held only by the
State, so the State is perceived to have the ultimate enforcement power.
According to data provided by the CNJ, in the Judiciary “half
of the almost 74 million cases, in course, processed at the end of 2015
were executive”.192 Another liable indication is the executive congestion
index, which is of 86,6%, i.e., 13,4 processes, among each one hundred
that reached executive stages in 2015 received a solution by the
Judiciary. This sense that binding judicial outcomes are the only really
enforceable resolutions will be a major obstacle to wider adoption of
ODR if the public is not disabused of the notion early and often.

3.4.4 Technological challenges


Amongst the technological challenges to the usage of ODR in
Brazil, it is interesting to highlight:
(i) machine learning processes that make use of immense
data sets (several petabytes) and go through repeated rule-
generation processes in order to produce efective results. If
these techniques are to be utilized for e-negotiation, we must
factor in the cost of implementation, coding time, and human
supervision at launch to provide the constant validation
necessary to ensure such mechanisms are efective.
(ii) a lack of common data standards in the Brazilian legal
environment: there is no XML standard regarding systems,
document species, databases, websites, etc. across all
Brazilian courts. For example, each Brazilian State Court
has its own PJE (Electronic Judicial Process). That creates
enormous diiculties in terms of organization, coherence,

191
HANRIOT, M. Online dispute resolution (ODR) as a solution to cross border consumer
disputes: the enforcement of outcomes. McGill Journal of Dispute Resolution, v. 2, 2015.
192
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016. p. 61.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
119

and case exchange between systems. For ODR to realize


its potential, we may need to convene working groups to
standardize the data structures and remove inconsistency.
This can take a long time and be quite expensive.
(iii) inding qualiied developers who can build ODR to our
exacting speciications is a major challenge. Development
talent is scarce and expensive. The focus in academic
computer science programs in universities and in the private
employment markets is not on ODR approaches, meaning
the pool of qualiied developers is likely to be small.
(iv) the necessary hardware infrastructure to support ODR
platforms is unexplored in the Brazilian market. Additional
exploration is required to ensure the infrastructure exists
to deliver these ambitious plans at scale, and to ensure that
all Brazilian consumer data is not shared outside of Brazil.

3.5 Conclusion
One may say that Brazil presents a quite promising environment
for the development and exploration of ODR. The Brazilian market
is large, there is signiicant support from the judiciary, new laws are
creating momentum and visibility, and there is a large backlog of cases
that demand resolution. The challenges we have presented in this article
are important barriers and must be overcome, but we believe the social
and economic beneits coming from the deployment of ODR services in
Brazil will create enough enthusiasm to overcome the obstacles. In the
short or medium terms Brazilian ODR may signiicantly diminish the
volume and the costs of litigation and, therefore, reduce the Custo-Brasil –
Brazilian Cost – of delivering fast and fair resolutions to Brazilian
citizens while expanding access to justice.

References
BARENDRECHT, M.; HONEYMAN, C. Dispute resolution: existing business models
and looming disruptions. Dispute Resolution Magazine, 2014.
BRASIL. Lei nº 13.105 – Código de Processo Civil. Brasília: Casa Civil, Subcheia para
Assuntos Jurídicos, 2015.
BRASIL. Lei nº 13.129. Brasília. Casa Civil, Subcheia para Assuntos Jurídicos, 2015.
BRASIL. Lei nº 13.140. Brasília: Casa Civil, Subcheia para Assuntos Jurídicos, 2015.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
120 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

BRASIL. Lei nº 9.099. Brasília: Casa Civil, Subcheia para Assuntos Jurídicos, 1995.

BRASIL. Senado Federal. Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei
nº 6.025, de 2005, ao Projeto de Lei nº 8.046, de 2010, ambos do Senado Federal, e outros, que
tratam do “Código de Processo Civil” (revogam a Lei nº 5.869, de 1973). Projetos de Lei nºs
6.025, de 2005, e 8.046, de 2010. Available at: <htp://s.conjur.com.br/dl/relatorio-cpc-
sergio-barradas.pdf>. Accessed: 19 Dec. 2016.

CHAMBLISS, E.; KNAKE, R. N.; NELSON, R. L. Introduction: what we know and need to
know about the state of “access to justice” research. South Carolina Law Review, v. 67, 2016.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2015.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2016.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Manual de mediação judicial. 5. ed. Brasília: CNJ,


2015.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 125. Brasília: CNJ, 2010.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 4, de 16 de agosto de 2005. Brasília:


CNJ, 2005.

CORTÉS, P. Online dispute resolution for consumers. In: WAHAB, Mohamed; KATSH,
Ethan; RAINEY, Daniel (Ed.). Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague:
Eleven International Publishing, 2013.

DAVIS, B. G. A pioneer’s vision of the promise of online dispute resolution. Dispute


Resolution Magazine, 2003.

DEUTSCH, M. The resolution of conlict. 1. ed. New Haven: Yale University Press, 1973.

EBNER, N. e-Mediation. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan; RAINEY, Daniel


(Ed.). Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven International
Publishing, 2012.

EBNER, N.; ZELEZNIKOW, J. Fairness, trust and security in online dispute resolution.
Hamline University’s School of Law’s Journal of Public Law and Policy, v. 36, 2015.

FERNANDES, W. Futuro da conciliação e mediação no Brasil é promissor, avalia


especialista. Agência CNJ de Notícias, 2015. Available at: <htp://www.cnj.jus.br/noticias/
cnj/81029-futuro-da-conciliacao-e-mediacao-no-brasil-e-promissor-avalia-especialista>.
Accessed: 5 Jan. 2017.

FERRAZ JR., T. A validade das normas jurídicas. Complexidade, Direito e Sociedade, v. 15,
p. 86, 1994. Available at: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/issue/
view/1516>. Accessed: 5 Jan. 2017.

HALOUSH, H. A.; MALKAWI, B. H. Internet characteristics and online alternative dispute


resolution. Harvard Negotiation Law Review, v. 13, p. 336, 2008.

HANRIOT, M. Online dispute resolution (ODR) as a solution to cross border consumer


disputes: the enforcement of outcomes. McGill Journal of Dispute Resolution, v. 2, 2015.

IBGE. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. Available at: <htp://www.
ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html>. Accessed: 19 Dec. 2016.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
121

JUSPRO – JUSTIÇA SEM PROCESSO. 2016. Available at: <htps://www.juspro.com.br/>.


Accessed: 30 Dec. 2016.

JUSTER – RESOLUÇÃO DE CONFLITOS. 2016. Available at: <htps://juster.com.br/>.


Accessed: 30 Dec. 2016.

KATSH, E.; RULE, C. What we know and need to know about Online Dispute Resolution.
South Carolina Review, v. 67, 2015.

KRIESBERG, L.; DAYTON, B. Constructive conlicts: from escalation to resolution. 4. ed.


Plymouth: Rowman & Litleield Publishers, Inc., 2011.

LAVI, D. Can the leopard change his spots?! Relections on the ‘collaborative law’
revolution and collaborative advocacy. Cardozo J. of Conlict Resolution, v. 13, p. 61, 2011.

LIEBMAN, E. Processo de execução. 1. ed. São Paulo: Bestbook, 2001.

LOUTOCKY, P. Online dispute resolutio to resolve consumer disputes from the


perspective of European Union Law: is the potential of ODR fully used? Masaryk University
Journal of Law and Technology, v. 10, 2016.

MARINONI, L. G.; BECKER, L. A. Inluência das relações pessoais sobre a advocacia e o


processo civil brasileiro. In: BECKER, L. A. (Org.). Qual é o jogo do processo? Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris Editor, 2012.

MILANEZ, G. Vamos conciliar. Vamosconciliar.com, 2016. Available at: <htp://www.


vamosconciliar.com/>. Accessed: 30 Dec. 2016.

MILLER-MOORE, D. ODR at the AAA: online dispute resolution in practice. University


of Toledo Law Review, v. 38, 2006.

MODRIA – ONLINE DISPUTE RESOLUTION FOR ECOMMERCE. 2017. Available at:


<htp://modria.com/>. Accessed: 3 Jan. 2017.

OLIVEIRA, V. O juiz e o novo Código de Processo Civil. 1. ed. Curitiba: CRV, 2016.

ONLINE dispute resolution (ODR) as a solution to cross border consumer disputes: the
enforcement of outcomes. McGill Journal of Dispute Resolution, v. 2, 2015.

PEARLSTEIN, A., HANSON, B.; EBNER, N. ODR in North America. In: WAHAB,
Mohamed; KATSH, Ethan; RAINEY, Daniel (Ed.). Online dispute resolution – Theory and
practice. The Hague: Eleven International Publishing, 2013.

POBLET, M.; CASANOVAS, P. Emotions in ODR. International Review of Law Computers


& Technology, v. 21, p. 145-155, 2007.

POMBO, Bárbara. Brasil terá “verdadeiro exército” de mais de 17 mil mediadores a partir
de 2015. Jota, 29 jun. 2015. Avaible at: <htp://jota.info/justica/brasil-tera-verdadeiro-
exercito-de-mais-de-17-mil-mediadores-a-partir-de-2015-29062015>. Accessed: 11 Jan.
2017.

RABINOVICH-EINY, O.; KATSH, E. Technology and the future of dispute systems


design. Harvard Negotiation Law Review, v. 17, 2012.

RECLAME AQUI. 2016. Available at: <htp://www.reclameaqui.com.br/>. Accessed:


30 Dec. 2016.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
122 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

RESOLUÇÃO de conlitos. E-Conciliar, 2016. Available at: <htps://www.econciliar.com.


br/>. Accessed: 30 Dec. 2016.

RINDERLE, S.; BENYOUCEF, M. Towards the automation of e-negotiation processes


based on web services – A modeling approach. Lecture Notes in Computer Science, 2005.

ROSS, G.; POBLET, M. ODR in Europe. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan;
RAINEY, Daniel (Ed.). Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven
International Publishing, 2013.

RULE, C. Discusses the intersection between ADR and online dispute resolution (ODR).
Jams Dispute Resolution Alert, 2012.

RULE, C. Introduction to online dispute resolution for business. Mediate.com, 2002.


Available at: <htp://www.mediate.com/articles/rule2.cfm>. Accessed: 30 Dec. 2016.

RULE, C. Technology and the future of dispute resolution. Dispute Resolution Magazine,
v. 1, 2015.

RULE, C.; FRIEDBERG, L. The appropriate role of dispute resolution in building trust
online. Artiicial Intelligence and Law, v. 13, 2005.

RULE, C.; SCHMITZ, A. The new handshake: online dispute resolution and the future of
consumer protection. [s.l.]: American Bar Association Press, 2017.

SEMPROCESSO.COM.BR. 2016. Available at: <htps://www.semprocesso.com.br/>.


Accessed: 30 Dec. 2016.

SETH, K. Online dispute resolution. KarnikaSeth.com. Available at: <http://www.


karnikaseth.com/wp-content/uploads/ODR-CIAC%20conference%20paper.pdf>.
Accessed: 5 Jan. 2017.

SOURDIN, T.; LIYANAGE, C. The promise and reality of online dispute resolution in
Australia. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan; RAINEY, Daniel (Ed.). Online dispute
resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven International Publishing, 2013.

SZLAK, G. R. Online dispute resolution in Latin America. In: WAHAB, Mohamed;


KATSH, Ethan; RAINEY, Daniel (Ed.). Online dispute resolution – Theory and practice.
The Hague: Eleven International Publishing, 2013.

TYLER, M. C. 115 and counting: The State of ODR 2004. In: TYLER, M. C.; KATSH, E.;
CHOI, D. (Ed.). Proceedings of the Third Annual Conference on Online Dispute Resolution.
Melbourne: University of Melbourne, 2004.

VILALTA, A. ODR and e-commerce. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan; RAINEY,
Daniel (Ed.). Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven
International Publishing, 2013.

YUN, Z. et al. Online dispute resolution in Asia. In: WAHAB, Mohamed; KATSH, Ethan;
RAINEY, Daniel (Ed.). Online dispute resolution – Theory and practice. The Hague: Eleven
International Publishing, 2013.

ZAMPIER, D. Reforma constitucional que criou CNJ completa 10 anos. CNJ, 2014.
Available at: <htp://www.cnj.jus.br/2rdh>. Accessed: 19 Dec. 2016.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES ET AL.
E-NEGOTIATION, E-MEDIATION, AND THE EXPANSION OF ONLINE DISPUTE RESOLUTION IN BRAZIL
123

ZANFERDINI, F. A. M.; OLIVEIRA, R. T. Online dispute resolution in Brazil: are we


ready for this cultural turn? Revista Paradigma, v. 241, p. 68-80, 2015.

Informação bibliográica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; RULE, Colin; ONO, Taynara Tiemi;


CARDOSO, Gabriel Estevam Botelho. E-negotiation, e-mediation, and the
expansion of online dispute resolution in Brazil. In: FERNANDES, Ricardo
Vieira de Carvalho; COSTA, Henrique Araújo; CARVALHO, Angelo Gamba
Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica e direito digital: I Congresso Internacional
de Direito e Tecnologia - 2017. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 97-123. ISBN
978-85-450-0453-0.
PÁGINA EM BRANCO
CAPÍTULO 4

RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS:


O CASO EUROPEU E UMA ANÁLISE DO
CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO

ISABELA MAGALHÃES ROSAS

CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO

4.1 Introdução: conceituação


A resolução on-line de conlitos (ODR ou online dispute resolution)
é a transposição dos métodos adequados de resolução de conlito (ADR
ou alternative dispute resolution) para plataformas on-line, assim como
a criação de novas formas de se resolver litígios (design de sistemas).
Isso devido aos recursos oferecidos pelo meio digital e à combinação de
métodos ADR, ou seja, uma completa revolução da dinâmica presencial
de resolução de conlitos (RULE, 2002, p. 13). As plataformas de ODR,
segundo Jo DeMars, são uma boa opção para qualquer conlito que
possa ser facilmente documentado (texto ou informações digitais que
possam ser carregadas para a plataforma, como fotos, vídeos ou docu-
mentos escaneados) (ADAMS, 2015).
O Relatório Final da Força Tarefa em Comércio Eletrônico e
ADR da American Bar Association – ABA estabelece que a resolução
de conlitos on-line (ODR) utiliza métodos alternativos de resolução
de conlitos para solucionar determinada reclamação ou disputa. São
muitos os designs de sistemas que se adequam a essa modalidade de
resolução. As partes podem usar a internet e as tecnologias baseadas
nela de várias maneiras, sendo que o método on-line pode ocorrer
inteiramente na internet – por meio de e-mail, videoconferência ou
126
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

ambos – ou também pode se misturar à encontros pessoais inter partes,


por exemplo (ADAMS, 2015).
Parte da doutrina percebe a tecnologia das plataformas de
resolução on-line de conlitos como uma “quarta parte” que interage
com as partes e com o terceiro neutro. Isso porque toda a facilidade
do desenvolvimento processual, da transmissão de informação e das
utilidades tecnológicas caracterizariam a própria plataforma como uma
parte interventora e facilitadora na resolução do conlito:

Katsh e Rikin (2001) denominam a tecnologia no ODR de “quarta


parte”, airmando que esta passa a interagir com as partes envolvidas
no conlito e o terceiro imparcial (quando presente). As ferramentas
tecnológicas melhorariam o processo de solução do conlito e agiriam
de forma mais decisiva do que simplesmente transferindo a informação
por meio da Internet. Comportar-se-iam como uma verdadeira aliada da
terceira parte (árbitro, mediador ou conciliador). A tecnologia escolhida
garantiria grande leque de utilidades aptas a facilitar e aprimorar o
processo da ODR, como, por exemplo, apresentando e organizando
informações, de maneira graicamente amigável ao usuário. (LIMA,
FEITOSA, 2016)

Ou seja, as plataformas de ODR são fruto do desenvolvimento


tecnológico na área do direito, que busca reconigurar a resolução de
conlitos tradicional para uma forma mais célere, eicaz e econômica. A
consequência principal da adoção de plataformas de resolução on-line de
conlitos é a desjudicialização e, prezando pela autocomposição, a ODR
possui uma grande eicácia na resolução dos conlitos, concretizando
a tutela do direito pretendido.
Os métodos de resolução de conlitos mais adequados (ADR
ou adequate dispute resolution) surgiram como uma resposta à inerente
ineiciência dos tribunais, como uma forma mais célere e eicaz de
resolução de litígios alternativa ao sistema judicial, em que as partes
escolhem um facilitador neutro, muitas vezes com conhecimentos
especíicos relevantes à disputa, para conciliar, mediar ou arbitrar, por
exemplo (RULE, 2002, p. 2-3).
O conceito das formas mais correntes de ADR pode ser sintetica-
mente aqui explanado.193 A arbitragem é um procedimento que neces-
sariamente é relativo a um conlito envolvendo direitos patrimoniais

193
O site da Corte de Nova Iorque traz uma seção que explica de forma simples a ADR, suas
diferentes formas, vantagens e meios para o interessado buscar na ADR a resolução do seu
conlito (WHAT..., [s.d.]).
ISABELA MAGALHÃES ROSAS, CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO
RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS: O CASO EUROPEU E UMA ANÁLISE DO CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO
127

disponíveis e, no Brasil, é regulada pela Lei nº 9.307/96. Nela, o árbitro


ouve argumentos e evidências de cada parte e depois decide. Em
arbitragens vinculantes, as partes acatam a decisão do árbitro como
acatariam a sentença de um juiz, normalmente sem direito à recurso. Na
arbitragem não vinculativa, as partes podem solicitar um julgamento
pelas vias judiciais tradicionais se não aceitarem a decisão do árbitro.
A mediação, por sua vez, é regulada pela Lei nº 13.140/15 e,
segundo o parágrafo único do art. 1º dessa lei, “Considera-se mediação
a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório,
que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identiicar
ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia”. O mediador,
então, não exprime uma opinião e muito menos uma decisão acerca
do mérito do caso, mas auxilia as partes a se comunicarem para que
possam tentar resolver a própria disputa.
O que se espera destacar é, na realidade, a busca por alternativas
às Cortes e Tribunais, assim como a incorporação desses métodos pela
via tradicional para buscar maior celeridade e uma justiça que preze
pelas formas consensuais de resolução de conlito.
Fato é que esses métodos, antes assumidos como “alternativos”,
tornaram-se tão relevantes e vantajosos que são agora tidos como
os métodos “adequados” à resolução de certas demandas, ainda
mais diante das ininitas possibilidades e vantagens oferecidas pelas
plataformas on-line. Suas aplicações abrangem desde disputas traba-
lhistas, de propriedade intelectual, de direito societário e de políticas
públicas (RULE, 2002), até reclamações cíveis de baixo valor e conlitos
internacionais de direitos do consumidor (ONLINE DISPUTE RESO-
LUTION ADVISORY GROUP, 2015).
Uma resolução on-line de conlito entre consumidores e forne-
cedores se daria, normalmente, por meio dos seguintes procedimentos:
inicialmente, o consumidor preencheria uma reclamação e o fornecedor
seria notiicado dela. Ambas as partes devem ser, nesse momento,
instruídas de como o processo funciona e, caso necessário, haverá uma
assistência técnica. É, então, nomeado um terceiro neutro, o mediador
ou o conciliador, que se encarrega de intermediar ou facilitar o processo.
A partir de então, dar-se-ão os meios de prova (coleta de depoimentos e
de documentação). É, assim, conduzido o diálogo entre as partes, com
a facilitação do terceiro neutro, objetivando uma conclusão consensual
do processo. Existem dois inais possíveis: o alcance de um acordo
ou transposição do litígio para a arbitragem ou até sua judicialização
(ADAMS, 2015).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
128 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

No desenvolvimento do presente artigo, a exposição de exemplos


concretos de plataformas hoje em funcionamento busca ilustrar os
benefícios dessa tecnologia.

4.2 Como funciona a plataforma europeia?


4.2.1 Estudo de caso – Comissão Europeia
A plataforma de ODR da União Europeia (UE), desenvolvida,
operada e disponibilizada pela European Commission desde 15.2.2016,
visa prover um amplo acesso geográico, setorial e multilíngue a
todos os países-membros da União Europeia às entidades de ADR da
Comissão. A escolha do presente artigo em analisar essa plataforma
decorre do estudo extenso de viabilidade e de prospecção realizado
para a sua implementação, assim como a peculiaridade do aspecto
transfronteiriço.
Essa plataforma funciona para o consumidor em quatro simples
passos. Primeiramente, o consumidor preenche um formulário de
reclamação on-line e o envia para análise do fornecedor que, na segunda
etapa, propõe uma solução entre os métodos mais adequados de reso-
lução de conlito disponíveis. Uma vez que o consumidor e o fornecedor
concordam no método/entidade de ADR para resolver o conlito, a
plataforma de ODR da UE transfere automaticamente a demanda à
entidade, no que seria a terceira fase. Finalmente, a entidade de ADR
lida com o caso exclusivamente por meio digital e chega a um resultado
em até 90 dias.
A ideia da plataforma da European Commission se deu com os
ótimos resultados observados em exemplos de ODR em funcionamento,
tais como Ebay, Rechtwijzer, Canadian Civil Resolution Tribunal,
Financial Ombudsman Service, Nominet, Resolver, Youstice, Online
Schlichter, Cybersetle, Modria, Traic Penalty Tribunal, entre outros
(ONLINE DISPUTE RESOLUTION ADVISORY GROUP, 2015).
Em particular, cabe ressaltar o caso da plataforma de ODR do
Ebay. Sessenta milhões de conlitos são resolvidos por ano usando
a plataforma on-line. Os principais litígios envolvem ou o não paga-
mento por compradores ou as reclamações de itens comprados que
não correspondem à descrição dada no site (ONLINE DISPUTE RESO-
LUTION ADVISORY GROUP, 2015).
O processo de ODR do Ebay é dividido em duas etapas. As par-
tes são inicialmente encorajadas a resolver seu conlito por meio de
ISABELA MAGALHÃES ROSAS, CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO
RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS: O CASO EUROPEU E UMA ANÁLISE DO CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO
129

negociação direta on-line, sendo assistidas na plataforma para evitar


mal-entendidos e alcançar uma solução. Em um segundo momento,
caso o litígio não se resolva mediante negociação, o Ebay oferece um
serviço de resolução pela própria plataforma. As partes apresentam
seus argumentos em uma “área de discussão” e, então, um membro
da equipe do Ebay traz uma solução vinculante baseada na política de
garantia de devolução de dinheiro do site. Esse procedimento on-line
de adjudicação é célere, dentro de limites temporais estabelecidos. Ele
deve ser realizado em até trinta dias após a data estimada da entrega e,
para estimular ao máximo a autocomposição, não antes de oito dias após
a primeira reclamação do consumidor sobre o fornecedor (ONLINE
DISPUTE RESOLUTION ADVISORY GROUP, 2015).
Outro problema recorrente enfrentado por usuários do Ebay
é relacionado a reclamações postadas no site. Essas manifestações,
que consistem em sua maioria em reviews e feedbacks de compras,
frequentemente ensejam ações de difamação e, devido à complexidade
da matéria, são remetidas à uma empresa independente, chamada Net
Neutrals. Essa empresa trabalha por meio do independent feedback review.
Esse método funciona a partir da análise das provas apresentadas por
ambas as partes por um terceiro neutro especializado, que as convida
a produzir seus argumentos em um novo espaço de discussão e, então,
determina se o comentário deve ou não ser removido do site. Esse
processo dura sete dias (ONLINE DISPUTE RESOLUTION ADVISORY
GROUP, 2015).
Este caso é emblemático e denota a eiciência dos métodos de
resolução on-line de conlitos. O Ebay foi um dos pioneiros na utilização
de tais métodos, iniciando os experimentos acerca dessa inovação no
inal da década de noventa e apresentando resultados de celeridade e
economia que inspiraram uma série de empreendedores a adotarem
a resolução on-line de conlitos em seus negócios. Ademais, a própria
European Commission, na esfera governamental, inspirou-se na expe-
riência do Ebay para o desenvolvimento de sua plataforma.

4.2.2 Vantagens da implementação da plataforma ODR –


European Commission194
Graças à plataforma de ADR/ODR, os consumidores e fornece-
dores da UE conseguem resolver seus conlitos independentemente
de fronteiras, de forma rápida, simples e inanceiramente acessível.

194
Os dados desse item foram retirados de European Commission (2011).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
130 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Consumidores da UE sentem-se encorajados a reclamarem seus


direitos, sendo que 45% deles consideram fácil a resolução de conlitos
por meio dessa nova ferramenta e 70% demonstram-se satisfeitos com
os seus resultados.
Os fornecedores, por sua vez, sentem-se incentivados a efetuar
transações internacionais devido à praticidade da plataforma no âm-
bito de resolução internacional de conlitos. Ademais, as empresas da
UE irão economizar anualmente, em média, se utilizarem ADR em
vez de processos judiciais, de 1,7 a 3 bilhões de Euros; e, em tempo,
economizam 258 dias.
O impacto no orçamento da UE também deve ser considerado.
Os custos para desenvolver um sistema de ODR com meios para tran-
sações transfronteiriças de comércio eletrônico podem ser estimados
em cerca de 2 milhões de Euros e os custos anuais de manutenção e
funcionamento, em cerca de 300 mil Euros.
A plataforma de ODR da Comissão Europeia está em funcio-
namento desde fevereiro de 2016 e já tratou de quarenta e dois mil
casos. Dado o número de plataformas de resolução de conlitos on-line
existentes na União Europeia e o estágio inicial da implementação da
plataforma de ODR da EC, pode-se considerar esse número relati-
vamente bom e promissor, com potencial de atender às previsões da
pesquisa de impacto realizada em 2011.
Considera-se, assim, de extrema relevância a análise da expe-
riência da EC para consolidar o conceito cunhado em 2002 por Colin
Rule, uma vez que a plataforma de ODR criada pela Comissão consiste
exatamente nessa transposição dos métodos adequados de resolução
para o meio digital, valendo-se, inclusive, de câmaras especializadas
em ADR para lidar com seus casos. Levando em conta a solidez e
inluência da Comissão Europeia, essa adoção de um método ODR
governamental/público que conjugue todo o aparato de ADR dos países
da União Europeia com demandas emergentes de consumidores contra
fornecedores de toda a Europa, de maneira transfronteiriça, denota um
fortalecimento das plataformas de resolução on-line de conlitos. Esse
fortalecimento enseja, inclusive, uma maior legitimação da terminologia
especíica cunhada para esses métodos (ODR), alvo de discussões no
meio jurídico (HALOUSH; MALKAWI, 2008).
ISABELA MAGALHÃES ROSAS, CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO
RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS: O CASO EUROPEU E UMA ANÁLISE DO CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO
131

4.3 Desaios e perspectivas da adaptação do modelo ao


Brasil
4.3.1 Panorama do Judiciário brasileiro
Nesta seção, analisaremos a estrutura quantitativa do sistema
judiciário brasileiro. Utilizaremos como norte desta tarefa o décimo
terceiro relatório Justiça em números, do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) (2017), assim como dados do Ministério da Educação e das asso-
ciações de advogados do Brasil e de outros países.
Esse relatório é a principal fonte de dados oiciais acerca do Poder
Judiciário. Publicado anualmente desde 2004, ele divulga de maneira
relativamente detalhada a realidade dos tribunais brasileiros e a relação
dos indicadores separados por classes de litígio e por competências. É a
partir dele que se consegue subsídios para a gestão judiciária brasileira
e para análises essenciais para a constatação dos principais gargalos
e avanços do sistema – aqueles infelizmente muito mais presentes do
que estes.
Segundo o relatório do CNJ, o Judiciário brasileiro terminou o
ano de 2016 com 79,7 milhões de processos em tramitação, sendo que
ao longo do ano ingressou quase a mesma quantidade de processos
que foram baixados,195 o que demonstra um crescimento na ordem de
5,6% e 2,7%, respectivamente. Esse aumento em ambos os indicadores
demonstra que o aumento da eiciência do nosso Judiciário não acom-
panhou o aumento da demanda da jurisdição e que o número assus-
tador de 80 milhões de processos aguardando solução deinitiva não
tende a diminuir. Pelo contrário, o que se observa é o aumento de 2,7
milhões no estoque de processos judiciais do país de 2015 para 2016.
Outra análise importante acerca dos dados do Justiça em números
é em relação ao tempo médio que o processo leva da sua distribuição
até a sua baixa, assim como da inalização dos processos pendentes.
Na Justiça Comum, que representa a maior parcela das movimentações
do Judiciário brasileiro (63,1 milhões de casos pendentes, ou quase

195
“É oportuno esclarecer que, conforme o glossário da Resolução CNJ n. 76/2009, consideram-
se baixados os processos:
• Remetidos para outros órgãos judiciais competentes, desde que vinculados a tribunais
diferentes;
• Remetidos para as instâncias superiores ou inferiores;
• Arquivados deinitivamente;
• Em que houve decisões que transitaram em julgado e iniciou-se a liquidação,
cumprimento ou execução” (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2017).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
132 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

80% do total), o tempo médio de baixa do processo varia de 1 ano no


2º grau até 5 anos e 9 meses nas execuções extrajudiciais de primeiro
grau, passando pelos 3 anos e 1 mês que os processos de conhecimen-
to levam em média. Quanto aos casos pendentes, essa variação é de
2 anos e 6 meses até 7 anos e 6 meses, passando por 5 anos e 4 meses,
respectivamente. Esses dados ilustram o porquê de, apesar do aumento
da produtividade dos magistrados, o estoque de processos no Brasil
só aumentar nos últimos anos, subindo de 60,7 milhões em 2009 para
79,7 milhões de 2016 – um crescimento de 31,2% ao longo dos 7 anos.
Para o presente estudo, é importante ressaltar os dados referentes
ao direito consumerista, uma vez que o quadro comparativo levantado
leva em conta, principalmente, plataformas de resolução on-line de
conlitos que lidam com essa classe de demandas e que grande parte
da matéria tratada nas plataformas de ODR hoje tangencia o direito
do consumidor.
O número total de processos dessa classe tramitando é de
1.760.905, representando 3,46% do total de processos em tramitação
hoje no Brasil. A maioria desses casos tramita nos Juizados Especiais e
Turmas Recursais, ou seja, envolve causas cujos valores não passam de
quarenta salários mínimos. Vale ressaltar também que esses processos
versam majoritariamente sobre pedidos de pagamento sobre danos
morais ou materiais decorrentes de falhas do produto ou serviço con-
tratado. Esse tipo de demanda é a considerada mais adequada para ser
trabalhada nas plataformas existentes de resolução on-line de conlito,
uma vez que normalmente demandam um conjunto fático probatório
menos robusto e complexo, em geral facilmente digitalizável.
O Brasil conta atualmente com mais de 1 milhão de advogados
cadastrados nas seccionais da Ordem dos Advogados de Brasil – OAB
(INSTITUCIONAL..., [s.d.]), o que equivale a um advogado para cada
198 pessoas,196 proporção muito mais acentuada do que a do segundo
colocado, os EUA, que possui um advogado para cada 245 pessoas.
Além disso, cerca de 440 mil funcionários públicos (entre magistrados,
servidores e auxiliares) estão atuando no Poder Judiciário (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 2017), onerando anualmente cerca de 76
bilhões de reais aos cofres públicos, o que corresponde a quase 90% de
todo o gasto do Estado com o Judiciário. Não bastasse o número alto
de proissionais do direito no país, o Brasil ainda conta com o maior

196
Cálculo a partir da relação entre o quadro de advogados da OAB e a projeção da população
do Brasil do IBGE. A projeção está disponível IBGE ([s.d.]).
ISABELA MAGALHÃES ROSAS, CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO
RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS: O CASO EUROPEU E UMA ANÁLISE DO CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO
133

número de cursos de bacharelado em direito, com 1229 instituições


registradas no MEC que ofertam cerca de 240 mil vagas por ano.197 Vale
ressaltar que esse número é superior ao total de cursos de direito de
todos os outros países no mundo somados, o que demonstra que não
há de fato uma tendência de estabilização nos números de proissionais
no Judiciário pelo menos em um futuro próximo.
Vislumbra-se nesse panorama do Judiciário brasileiro que há um
número exacerbante de processos em andamento, o que causa lentidão,
ineiciência e gastos para o Estado. As práticas de ADR no Brasil têm
potencial para além da mera composição evolutiva de um processo
tradicional, em um contexto de tentativa de desafogar um Judiciário
ineiciente. A resolução pelo método adequado pode se dar de forma
a estimular a desjudicialização, especialmente quando envolta pelos
inúmeros benefícios da resolução on-line de conlitos.
Percebe-se a necessidade emergente de novos métodos que
busquem a desjudicialização como uma solução para o contexto atual
de crise do Judiciário brasileiro. Diante da inovação tecnológica efer-
vescente e sua união ao direito, as plataformas de ODR são por óbvio
uma excelente alternativa que, como exposto anteriormente, já se
demonstram altamente eicazes, céleres e econômicas.
Na verdade, já existem plataformas on-line de resolução de conli-
to brasileiras que são recentes. Pela falta de estudos qualitativos e quan-
titativos oiciais, pode-se aferir que a academia, assim como o Estado
e o mercado jurídico brasileiro, ainda estão em uma etapa incipiente
de desenvolvimento desse novo modelo de resolução de conlitos no
Brasil, mesmo diante do grande potencial das plataformas já existentes.

4.3.2 As plataformas privadas de resolução on-line de


conlitos no Brasil
Para o desenvolvimento do presente artigo, foi feita uma pesquisa
não oicial com as principais plataformas de ODR atuantes no cenário
jurídico brasileiro. Foi enviado um questionário para a Justo (Arbitranet
e Acordo Fácil), a Itkos, a Resolvejá, a D’Acordo, a Mediação Online
e a Sem Processo, sendo que as duas últimas ainda não responderam.
Aqui, os dados serão tratados de forma genérica para não comprometer
informações sigilosas coniadas pelas empresas.

197
Consulta realizada no portal e-MEC (<htp://emec.mec.gov.br/>).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
134 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

As plataformas combinadas resolveram cerca de treze mil casos


no ano de 2016, contemplando classes de conlitos consumeristas,
imobiliários, fundiários, empresariais, bancários, trabalhistas e de
família. A projeção para 2017 é de aumento na ordem de dez a vinte
vezes, ou seja, uma expansão signiicativa para até 160 mil casos.
Para utilizar a plataforma da Justo, os consumidores das em-
presas associadas acionam a plataforma com sua demanda e a própria
plataforma procede com a negociação de acordo com as linhas gerais
estipuladas pela empresa, trabalhando segundo a metodologia “em-
presa para empresa para consumidor” (B2B2C). No caso de arbitra-
gens, o demandante provoca a plataforma, que notiica o demandado.
A partir daí, as partes escolhem um árbitro e todas as diligências e
procedimentos são realizados por meio da plataforma da Justo, cha-
mada Arbitranet.
O tempo médio de resolução do conlito varia de dez a vinte dias
em casos que envolvem transação ou conciliação, cem dias para arbi-
tragem e, em casos de mediação, existem maiores variações: de uma
semana a três meses nos casos empresariais, de um mês a seis meses em
casos de agronegócio e, em casos mais complexos envolvendo acidentes
aéreos, três meses a um ano.
Os custos pela resolução dos conlitos também variam de acordo
com o método adequado ao caso e com a complexidade da demanda.
Os casos de negociação podem variar de cinquenta a cinco mil reais;
os de arbitragem têm o valor ixo de dois mil reais; e os de mediação
on-line icam em trezentos reais por consulta com o mediador, o que,
pelo fato de serem necessárias múltiplas consultas, relete um mínimo
de mil reais por resolução através desse método. Levando-se em
consideração que a resolução por mediação realizada pelas empresas
consultadas lida com causas de valores relativamente altos (duzentos
mil a dois milhões de reais nos casos de acidentes aéreos e dezoito a
quatrocentos e cinquenta milhões nos casos de conlitos possessórios
do agronegócio), mesmo o método mais caro de resolução on-line de
conlito ainda é signiicativamente mais econômico do que a tradicional
judicialização do conlito.198
As empresas consultadas demonstraram certas diiculdades na
adequação do modelo à estrutura burocrática do Judiciário brasileiro.

198
No caso de conlitos envolvendo ações possessórias do agronegócio, por exemplo, os
honorários advocatícios são ixados em 20% do valor da coisa litigiosa (art. 26, Tabela de
Honorários OAB-MG), o que nos casos citados pela empresa poderiam variar de trezentos
e sessenta mil a nove milhões de reais.
ISABELA MAGALHÃES ROSAS, CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO
RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS: O CASO EUROPEU E UMA ANÁLISE DO CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO
135

Outros desaios conirmados por elas foram conseguir a coniança de


clientes (empresas) ao modelo não tradicional para lidar com conlitos,
pressão de entidades de classe, desconhecimento da população em geral
e a conciliação de tecnologia de informação (TI) e direito.
Os dados levantados não representam a totalidade do mercado
jurídico de resolução on-line de conlitos no Brasil, entretanto ilustram
com eiciência o cenário de atuação dessas plataformas. Os números
apresentados reforçam todos os benefícios proporcionados pela ODR, já
demonstrados nos dados da European Commission, também no Brasil.
A celeridade e a economia inanceira e processual propiciadas pelas
plataformas restam claras, além, por óbvio, da grande desjudicialização
proporcionada pelos métodos adequados de resolução de conlitos
aplicados em voga.

4.3.3 A plataforma do governo: consumidor.gov199


Em 2014, o governo brasileiro, através da Secretaria Nacional do
Consumidor (Senacon), criou a plataforma consumidor.gov. O projeto
tem como objetivo estimular a resolução consensual de conlitos entre
consumidores e fornecedores de todo o Brasil.
Com mais de trezentas e cinquenta empresas e quatrocentos e vinte
mil usuários cadastrados, a plataforma funciona como intermediário do
diálogo entre fornecedor e consumidor. Diferentemente das platafor-
mas privadas e da plataforma da Comissão Europeia, ela não utiliza
os métodos de conciliação, mediação ou de arbitragem para atender às
demandas. Por meio dela, o consumidor se manifesta acerca de alguma
insatisfação com o produto ou serviço adquirido, a empresa responsável
é comunicada e responde à reclamação. Sua resposta é, então, avaliada
pelo consumidor, que a classiica conforme sua satisfação e pertinência.
A plataforma da Senacon aposta na transparência e na publici-
dade como instrumentos para estimular a adesão e comprometimento
dos consumidores e fornecedores. Esses princípios norteiam toda a
formulação da consumidor.gov que, por meio de gráicos e tabelas,
classiica as empresas demandadas de acordo com índices de satisfação,

199
Todos os dados desse tópico foram retirados do site consumidor.gov.br (<htps://www.
consumidor.gov.br/pages/principal/?1508117328810>). Todas as empresas consultadas
utilizam índices para medir a satisfação de seus clientes. O índice mais utilizado é o Net
Promoter Score, bem como mensagens enviadas aos consumidores para a avaliação do
serviço prestado. O índice de satisfação médio dos clientes varia de 75% a 92%.
136
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

de resposta, de solução e de tempo médio de resposta. Dessa forma,


a plataforma se apresenta como um meio de constranger as empresas
que se mostrarem displicentes com as reclamações de seus clientes.
Ela também permite que empresas se destaquem ao responder eicien-
temente às demandas de seus consumidores.
Outro aspecto importante de se ressaltar em relação à consumi-
dor.gov são as parcerias institucionais do projeto. Procons de dezesseis
estados, entidades do Ministério Público Estadual de dez estados e
da Defensoria Pública de outros nove, assim como dez Tribunais de
Justiça, já são parceiros da plataforma do Senacon. Isso demonstra
que, para além da desjudicialização dos conflitos, outro objetivo
importante da plataforma é relativo a conferir maior celeridade, eicácia
e acessibilidade inanceira ao próprio Poder Judiciário tradicional.
O êxito da plataforma no quesito de adesão pode ser evidenciado
pelo alto número de usuários cadastrados e pelo fato de que dezenove
das 20 empresas mais demandadas estejam cadastradas no portal.
Além disso, a consumidor.gov intermediou quase quinhentas e dez mil
reclamações do seu lançamento em junho de 2014 até dezembro de 2016.
Apenas no ano 2016, foram registradas 288 mil reclamações no portal,
com índice de solução de resposta de 80,1% e 6,1 dias, respectivamente.
A nota média do consumidor em relação aos atendimentos da
plataforma foi de 3,3 em 5.12.2016, o que se considera um bom índice
de satisfação de resposta às reclamações.
Todos os fatores acima explanados reforçam que a experiência
brasileira no setor público tem obtido resultados satisfatórios. Tais
resultados implicam um estímulo à autocomposição apesar da não
utilização ampla de métodos adequados de resolução de conlitos,
especialmente em comparação às plataformas privadas de ODR e à
plataforma da European Commission, limitando-se a consumidor.gov
à negociação direta.
Em comparação à experiência europeia, em especial, a consu-
midor.gov se mostra também altamente eiciente. Mas é necessário
destacar, como supramencionado, que apesar de ambas serem em-
preendimentos governamentais, não há plena utilização dos métodos
de ADR, o que pode de certa forma limitar a desjudicialização, apesar
de também permitir que o consumidor acesse mais amplamente seus
direitos.
ISABELA MAGALHÃES ROSAS, CARLOS EDUARDO RABELO MOURÃO
RESOLUÇÃO ON-LINE DE CONFLITOS: O CASO EUROPEU E UMA ANÁLISE DO CONTEXTO JURÍDICO BRASILEIRO
137

4.4 Conclusões
As plataformas de ODR contribuem para a criação de uma nova
cultura de desjudicialização, bem como reforçam um compromisso com
a duração razoável do processo. A busca por métodos adequados que
são mais simples, rápidos e inanceiramente acessíveis é um grande
passo para a solução alternativa à justiça tradicional, hoje em crise.
O presente artigo visou apresentar um panorama geral do que
tem sido desenvolvido no Brasil, tanto no âmbito privado, quanto no
âmbito público, tendo como ponto de partida a experiência europeia,
bem como a crise do Judiciário brasileiro tradicional. Para isso, buscou-
se apresentar dados que ilustrassem a necessidade de desjudicialização,
os benefícios da implementação das plataformas de ODR na Europa
e, também, demonstrar como a evolução da ODR no Brasil já vem se
mostrando altamente promissora.
Inicialmente, sobre os dados da European Comission, pode-se
aferir que, apesar do breve período de funcionamento, a plataforma
é altamente eicaz em tempo e economia inanceira, atingindo no di-
reito consumerista a garantia de que o consumidor terá mais chances
de resolver seus conlitos de forma efetiva e imparcial, o que o torna
uma parte menos vulnerável em litígios contra grandes corporações.
A consequência é que mais consumidores persigam seus direitos,
conlitos sejam criados e resolvidos mais frequente e efetivamente e, a
partir disso, haja efetivo progresso na consolidação dos princípios da
segurança jurídica e da paridade de armas.
É importante o comparativo com o cenário e os benefícios da
experiência europeia, uma vez que essa plataforma é a plena con-
solidação do que se entende doutrinariamente por plataforma de
ODR. Conclui-se que, apesar da plataforma governamental brasileira,
consumidor.gov, ser altamente eiciente, ela apresenta uma limitação à
desjudicialização quando não adota plenamente os métodos de ADR,
como é feito pela plataforma da European Commission.
Conclui-se, também, que o cenário privado de plataformas brasi-
leiras é altamente promissor. Isso porque, apesar dos gargalos apre-
sentados em pesquisa não oicial, as vantagens de desjudicialização,
celeridade e economia inanceira são plenamente alcançadas. Assim,
visualiza-se as plataformas de ODR como verdadeiras alternativas e
soluções ao Judiciário brasileiro, percebendo-se que o direito se desen-
volve de fato quando aliado aos avanços tecnológicos, tanto no âmbito
público de resolução de conlitos, quanto no privado.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
138 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Referências
ADAMS, Colin (Ed.). Online dispute resolution: an international business approach to
solving consumer complains. Bloomington, IN: AuthorHouse, 2015.
BRASIL. Lei nº 13105, de 16 de março de 2015. Disponível em: <htp://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 ago. 2017.
BRASIL. Lei nº 13140, de 26 de junho de 2015. Disponível em: <htp://www.planalto.gov.
br/ccivil03/Ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm>. Acesso em: 27 ago. 2017.
BRASIL. Lei nº 9307, de 23 de setembro de 1996. Disponível em: <htps://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/LEIS/L9307.htm>. Acesso em: 27 ago. 2017.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em números: ano base 2016. Brasília:
CNJ, 2017.
EUROPEAN COMMISSION. Commission Staf Working Paper. Executive Summary of
The Impact Assessment. Bruxelas, 2011. Disponível em: <htp://ec.europa.eu/consumers/
redress_cons/docs/summary_impact_assessment_adr_en.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2017.
HALOUSH, H. A.; MALKAWI, B. H. Internet characteristics and online alternative
dispute resolution. Harvard Negotiation Law Review, Cambridge, v. 13, n. 2, verão de 2008.
IBGE. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. [s.d.]. Disponível em:
<htps://ww2.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>. Acesso em: 5 out. 2017.
INSTITUCIONAL / quadro de advogados. OAB – Conselho Federal, [s.d.]. Disponível
em: <htp://www.oab.org.br/institucionalconselhofederal/quadroadvogados>. Acesso
em: 1 out. 2017.
KATSH, Ethan; RIFIKIN, Janet. Online dispute resolution: resolving conlicts in cyberspace.
San Francisco: Jossey-Bass, 2001.
LIMA, Gabriela Vasconcelos; FEITOSA, Gustavo Raposo Pereira. Online dispute
resolution (ODR): a solução de conlitos e as novas tecnologias. Revista de Direito, Santa
Cruz do Sul, v. 3, n. 50, p. 53-70, set. 2016. Disponível em: <htps://online.unisc.br/seer/
index.php/direito/article/view/8360>. Acesso em: 15 out. 2017.
ONLINE DISPUTE RESOLUTION ADVISORY GROUP. United Kingdom Civil Justice
Council. Online Dispute Resolution for Low Value Civil Claims. London: United Kingdom
Civil Justice Council, 2015.
RULE, Colin. Online dispute resolution for business: B2B, e-commerce, consumer,
employment, insurance, and other commercial issues. San Francisco, Califórnia: Jossey-
Bass, 2002.
WHAT is ADR? NY Courts, [s.d.]. Disponível em: <htps://www.nycourts.gov/ip/adr/
What_Is_ADR.shtml>. Acesso em: 25 ago. 2017.

Informação bibliográica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

ROSAS, Isabela Magalhães; MOURÃO, Carlos Eduardo Rabelo. Resolução on-


line de conlitos: o caso europeu e uma análise do contexto jurídico brasileiro.
In: FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; COSTA, Henrique Araújo;
CARVALHO, Angelo Gamba Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica e direito
digital: I Congresso Internacional de Direito e Tecnologia - 2017. Belo Horizonte:
Fórum, 2018. p. 125-138. ISBN 978-85-450-0453-0.
CAPÍTULO 5

EXPLOITING THE WEB OF LAW200

RADBOUD WINKELS

5.1 Introduction
More and more sources of law are (freely) available online in
Europe and the rest of the world. It concerns both legislation and case
law and possibly others like legal commentaries. Professionals may
already get lost in the multitude of information, let alone ordinary
citizens and (small and medium sized) enterprises. Traditionally
commercial publishers provide this information, plus support for
access. Legal experts write commentaries for them, editors provide
links between diferent (types of) sources and warn subscribers for
interesting new developments and case law. Now that large amount
of sources of law become electronically available online, the question
is whether new ways for supporting access can be developed. One
stream of research may be directed towards crowdsourcing, have users
of legal information share their collections of material, the links they
see between diferent sources, their commentaries, etc. Another stream
of research is directed at (semi-) automated linking and clustering of
sources of law, analysis of the network of law to ind authoritative
sources or predict the change of opinion of higher courts, etc.201 In the
OpenLaws.eu project we explore both approaches (WASS et al., 2013).202

200
This paper will appear in Post-proceedings of Complexité et politiques publiques, France,
May 2015.
201
These topics occur in a series of international workshops on “Network Analysis in Law
(NAiL)” I have been organizing since 2013.
202
See: <htps://info.openlaws.com/openlaws-eu/>.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
140 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

We are developing a platform that enables users to ind legal


information more easily, organize it the way they want and share it
with others. The primary focus is on legal professionals, but ultimately
the platform should be useful for everybody. The OpenLaws Internet
platform is based on open data, open innovation and open source
software. This means that OpenLaws integrates legal communities
and IT communities in the design and in the operation of the system.
In this paper I will irst describe how we create the web of law if
it is not available in machine readable form, or extend it when that is
necessary (section 2). Next, I will explain how we recommend sources
of law to users given a current document they are investigating based
on network analysis. The focus will be on legislation and case law.
In section 3 we will add other document features, particularly ‘text
similarity’, to suggest interesting new documents. I will also present
small formative evaluations of all approaches and in section 4 end with
conclusions and further research.

5.2 Creating a web of law


Sources of law form a network of (parts of) documents, they cite
and reference each other. We distinguish three types of documents:
• Legislation: legal rules of a generally binding character,
typically has explicit processes for declaring rules in force and
for modifying existing rules. Typically has a complex reference
structure. The bibliographic distinction (SAUER, 1998)
between ‘works’ and ‘expressions’ is of critical importance,
because the text changes over time. ‘Expressions’ are the
diferent versions of a ‘work’, e.g. ‘article x of law y in force at
date t’ and the same article at date ‘t+1’ where the text difers.
Figure 1 presents an example of a legislative network.
• Case Law: legal decisions on individual cases that have a
formative inluence on future decisions on similar cases. This is
most obviously the case for the judiciary, but other arbitration
bodies may in practice be relevant in everyday live (for
instance arbitration courts for consumer complaints). These
documents are typically never changed over their lifetime,
and do not have to be declared in force or retracted. Legal
decisions may be selectively published, however, depending
on their formative inluence on future decisions. Cases cite
other cases and – depending on the legal system – legislation.
RADBOUD WINKELS
EXPLOITING THE WEB OF LAW
141

• Commentaries: documents that function as expert commentary


on legal rules and decisions. These documents typically make
references to rules or decisions, but otherwise share litle in
terms of structure or metadata with sources of law. Legal
publishers and their products fall under this category.
Several researchers have applied network analysis to legal
documents, but never for recommending new documents and only to
one type of data at a time: for establishing the authority of case law
as in Fowler & Jeon (2008) and Winkels et al. (2011), or analyzing the
structure of legislation as in Liiv et al. (2007) and Mazzega et al. (2009).
Van Opijnen (2014) uses links to legislation in Dutch case law when
deciding upon the relevance of a particular case, but not to suggest other
relevant sources of law and not as an applied context for legislation. In
our work, we use network analysis of both legislation and case law to
recommend potentially interesting new sources of law.

5.2.1 Legal portals


Most of the sources of law available online are stand-alone web
services or databases, containing one type of documents, not linked to
other sources. For instance the Dutch portal for case law203 contains a
(small) part of all judicial decisions in the Netherlands. Case citations in
these decisions are sometimes explicitly linked, references to legislation
are not.204 From earlier research we know that professional users of
legal documents would like to see and have easy access to related ones
from other collections. E.g. when we evaluated a prototype system that
recommends other relevant articles and laws to users of the oicial
Dutch legislative portal, they told us they would like to see relevant
case law and parliamentary information as well (WINKELS et al., 2013).
Another problem of existing portals and data bases is that not
even all internal links are explicitly represented. This is especially true
for so called relative links like “the previous article”, or “the second
sentence of article x” and incomplete ones (“that law” or “article y”
without the law that it is part of).
If these links are not given, we can try to ind them automatically.
For inter- and intra- legislation links we have shown this can be done

203
<rechtspraak.nl>.
204
Recently one has started to add some links to cited legislation in metadata, but not all and
it does not give information on where in the text the citation occurs, nor how often.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
142 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

very efectively for the Dutch case (de Maat e.a, 2006) and others for
other jurisdictions (e.g Palmirani et al. (2003) for Italy; Tran et al. (2013)
for Japan). For inter-case law links it is a bit more diicult, but we have
shown it works for the Dutch case (Winkels et al. (2011) and so did Van
Opijnen (2014)). That leaves inding citations in case law to legislation
and possibly inding links in other sources of law like commentaries
to both case law and legislation. In this paper we will focus on inding
references to legislation in Dutch case law and how we can use these
to improve access to Dutch sources of law.
The data available in the Dutch oicial portals is not ideal for
further analysis like natural language parsing or network analysis.205 For
legislation we started transferring the data to an RDF linked data format
in 2011 and storing it at the Metalex Document Server (HOEKSTRA,
2011). The server currently contains 45,165 document versions (March
2016), and this number is growing every day since every change to
the weten.nl site is added to the triplestore. In Winkels et al. (2013)
we describe how we generate networks for legislation using SPARQL
queries on the RDF data. Here we will describe how we build a network
of relations between case law and legislation.

5.2.2 The Dutch case law portal


The Dutch portal for case law contains a small, but growing
part of all judicial decisions in the Netherlands. Case citations in these
decisions are sometimes explicitly marked in metadata (e.g. the irst
instance case); references to legislation only the main one(s) in recent
cases. The texts are available in an XML format, basically divided in
paragraphs using <para> tags, with a few metadata elements. The most
relevant metadata for our purpose are:
• The date of the decision (‘Datum uitspraak’)
• The ield(s) of law (‘Rechtsgebieden’)
• The court (‘Instantie’).

205
In 2016 a new version of the Dutch legislative portal was launched that overcomes many
of the problems.
RADBOUD WINKELS
EXPLOITING THE WEB OF LAW
143

Figure 1: The network of Dutch Immigration Law. Colours denote


diferent laws (e.g. green is “Vreemdelingenbesluit” (VB)); size
of nodes the relative importance of the law based on number of
ingoing and outgoing references. The references are depicted as lines
between nodes

The court decisions do not contain inline, explicit, machine


readable links to cited legislation or other cases. So even when the
metadata contain such references, we do not know in which paragraph
the case or article was cited. We resort to parsing techniques to make
these citations explicit and count them. We chose to work with a subset
of all case law to start with; those cases that were tagged as belonging
to ‘immigration law’ and that contained the actual text of the verdict.
That gave us 13,311 documents to work with.
For locating references to legislation in case law we use regular
expressions as we have done in the past together with a list of names
and abbreviations of Dutch laws (MAAT et al., 2006). This list also
contains the oicial identiier of the law (the BWB-number), which
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
144 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

can be used for resolving the reference later on. We consider high
precision to be more important than high recall.206 Users will forgive
us if we miss a reference, but be annoyed by false ones. We evaluated
this procedure by checking 25 randomly selected documents by hand.
These documents contained 163 references to legislation of which
141 were correctly identiied (recall of 87%). There was one false
positive (precision of 99%). The references we missed were mostly
those to the ‘Vreemdelingencirculaire’ (‘Aliens act’, a lower law that has
a diferent structure than regular ones) and treaties with very long
names like ‘Europees Verdrag tot bescherming van de rechten van de mens
en de fundamentele vrijheden’ (‘Convention for the Protection of Human
Rights and Fundamental Freedoms’). When we tried to capture this
with regular expressions, they would match too easily, often matching
entire sentences where they should have matched only the law. We
declared these conventions outside the scope of this irst experiment.
Resolving the references was a bit trickier, since sometimes they
used anaphora, e.g. referring to ‘that law’. In such cases, the citation
was resolved by using the previous law identiier if it existed, i.e.
we assume that the complete law was introduced just before in the
text and resolved correctly. We used the same process for resolving
ambiguous title abbreviations; e.g. ‘WAV’ is an abbreviation of ‘Wet
Arbeid Vreemdelingen’ (law on labour for immigrants), ‘Wet Ammoniak en
Veehouderij’ (law on ammonia and livestock) and ‘Wet Ambulancevervoer’
(law on ambulance transport). Most of the time the full title is used
before the abbreviation is used.
Another issue is determining the exact version of the law the
case refers to. Typically, a judge will refer to the version that is in force
at the moment of the decision, but it may also be the version that was
in force at the time of the relevant facts, or even sometimes an earlier
version of the relevant law, etc. We cannot decide which version is the
correct one without interpreting the content of the case. Therefore we
decided to resolve the reference to the ‘work’ level of the source of law,
i.e. no particular version.207 The resulting references are added to the
XML of the case law document. The inal network of the 13,311 case

206
Precision gives the percentage of all references we ind that is relevant or correct. Precision
of 100% means all references we ind are relevant or correct. Recall gives the percentage
of all relevant or correct references there are, that we actually ind. A recall of 100% would
mean we ind all relevant or correct references.
207
Bibliographic conventions distinguish four levels of documents: Work, expression,
manifestation and item (SAUR, 1998).
RADBOUD WINKELS
EXPLOITING THE WEB OF LAW
145

documents has 85,639 links to legislation (on average 6.5 references per
case); the links connect the ECLI identiier208 of the case with the BWB
identiier of the (part of) law it refers to.
We evaluated the resolving process by checking 250 random
ones by hand. Of these, 234 should have been resolved since the other
16 were outside of the scope of this experiment. 198 were resolved
correctly (a recall of 85%). We had 10 ‘false’ positives, i.e. references
that were declared out of scope, so a precision of 95%. The results were
good enough to continue. Since case decisions may refer to the same
source of law, e.g. an article, more than once, we count the number of
references and compute the weight of the link between the case and
the article as: W= 1/n where n is the amount of occurrences of a certain
reference and W is the weight of the edge. The lower the weight, the
stronger the impact on the network is.

5.2.3 Recommending sources of law


When a user clicks an article in our prototype legislative
recommender portal, related case law and legislation is retrieved:
1. The system checks whether the article appears in the case law
network. If so, it creates a so-called ego graph, a local network
containing all the nodes and edges within a certain weighted
distance from the current node (NEWMAN, 2010). We start
searching with a weighted distance of 0.4 and gradually
increase it up to 2.0 until we have a suiciently large, but still
manageable network.
2. To ind relevant legislation, the system also checks whether
the current node is in the legislative network of the MetaLex
document server. If so, it again creates an ego graph, this time
for an unweighted network. To control the size of the graph,
we use only references coming from the selected version
(expression) of the current node.
3. If we have two local networks, we want to combine them in
order to (beter) predict the importance of legislative nodes.
To do this, we need to assign weights to the legislative graph.
We chose the value 0.1 as it allows the legislative network to
inluence the result but not overrule the case law references.

208
‘European Case Law Identiier’; see Council of the Eurpoean Union conclusions on ECLI
at: <htp://eur- lex.europa.eu/legal-content/EN/ALL/?uri=CELEX:52011XG0429(01)>.
146
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

4. Finally, we use betweenness centrality on the combined


network to determine the most relevant articles for the current
focus. Betweenness centrality is a measure of centrality in a
graph based on shortest paths. For every pair of nodes in a
graph, there exists at least a shortest path between the nodes
such that either the number of edges that the path passes
through (for unweighted graphs) or – as in this case - the sum
of the weights of the edges (for weighted graphs) is minimized.
5. The results are shown to the user in the top of frame A of
Figure 2.

5.2.4 A Formative evaluation


We asked several professional users of the Dutch Immigration
Service to use the prototype system and ill in an evaluation form
afterwards. It was a small study; three users replied. The purpose of a
formative evaluation (as opposed to a summative one) is to evaluate
work in progress and adapt the design. It is to see whether one is on the
right track. The three users were positive; they appreciated the clean
and unclutered interface and indicated that it was easy to understand
without help. They also liked the indication of the number of times a
case was referring to an article when you click on a case. They noted
that the inclusion of case law added suggestions of relevant articles that
were not available in a previous system (WINKELS et al., 2013). They
complained about the slowness of the system and the fact that references
to the ‘Vreemdelingencirculaire’ were missing (as we explained above).
Figure 2: The user has article 2a of the Immigration law in focus.
Current version is January 2014 (see pull-down menu at left). Relevant other articles are presented in window A
(red or dark border) on the left and below that relevant case law

EXPLOITING THE WEB OF LAW


RADBOUD WINKELS
147
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
148 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

5.3 Adding other document features


In the previous experiment we only exploited the web of
references between documents. Now we will explore whether we
can improve suggestions for relevant documents by including other
features, notably similarity measures based on the comparison of the
actual text of documents. As stated in the introduction, we focus on
case law in this study.
Relevancy for case law is hard to deine; it is subjective, depends
on the task or problem of the user searching for case law and also on
the type of user. For a student or novice, well known landmark cases
might be very relevant, while for a legal expert these are probably not.
He or she will be more interested in less known or very recent new cases.
In previous research we have concentrated on legal expert users and
we still are, but we will also have a look at the preferences of novices.

5.3.1 Reference similarity combined with text similarity


The irst experiment concerns case law within the Dutch tax
domain, about 6,000 documents. They were taken from the oicial
Dutch portal based on the metadata ‘Field(s) of law’ (see above).
After some pre-processing in which XML tags and strange characters
were removed, we used the same parser as described earlier to detect
references to legislation. A small test revealed that this time overall
recall of the parser was only 55%. Main reason is missing names and
abbreviations of tax laws and the use of diferent terms in the tax domain
(like ‘protocol’) compared to other domains of law. The efect of these
omissions is multiplied if a case refers to the same item more than once.
We made some small adaptations to the parser and decided to continue
the research since precision was still more than 95%.
Our hypothesis is that ‘similar’ cases can be identified by
similarity in the legislation they cite and by similarity of the words
used in the judgements. As a baseline we use the similarity in words
used (text similarity): Bag-of-words combined with normalised
TF/IDF weighting and cosine similarity.209 TF/IDF corrects for frequency
of terms and normalisation for the length of documents; otherwise
documents with highly frequent words and long documents would be

209
TidfVectorizer of SciKit-learn (PEDREGOSA et al., 2011) was used with minimal document
frequency set to 1 and maximum to .7.
RADBOUD WINKELS
EXPLOITING THE WEB OF LAW
149

overrated by the cosine similarity measure. For any document in our


set (the focus document) we can now select the n-most similar other
documents from that set. The left part of Table 1 gives an example for
the 10 most similar documents found this way for a verdict of the court
of Amsterdam of 2010 (BO1378)210 on the value of a house. The most
similar case is one of the court of Alkmaar of 2008 (BC6103),211 also on
the value of a house.

Table 1: 10 Most similar documents to RBAMS-2010-BO1378


according to bag-of-words (left) or bag-of-references (right)

ECLI-NL-RBAMS-2010-BO1378

Bag of Words Bag of References

1 RBALK-2008-BC6103 0.72 RBSGR-2008-BD1495 0.89

2 RBDOR-2010-BM0117 0.69 RBUTR-2010-BU4490 0.73

3 RBALK-2011-BQ0469 0.64 RBOVE-2014-951 0.69

4 RBARN-2006-AY9465 0.64 RBALK-2008-BD7537 0.69

5 RBDOR-2010-BO5257 0.62 RBALK-2007-BB9105 0.69

6 RBAMS-2011-BV6758 0.61 RBAMS-2011-BQ424 0.65

7 RBDOR-2010-BM2339 0.61 RBALK-2008-BC4175 0.64

8 GHAMS-2013-CA2684 0.61 RBALK-2012-BX0044 0.59

9 RBAMS-2011-BR6478 0.60 RBALK-2008-BD5937 0.58

10 RBHAA-2006-AZ2187 0.59 GHAMS-2001-AD8208 0.57

The same algorithms are used to calculate the reference structure


similarity between two documents. The right part of Table 1 gives the
10 most similar documents based on that method. Here number 1 is a
verdict of the court of The Hague of 2008 (BD1495)212 on pollution tax
for commercial property.
The inal step combines the bag-of-words similarity score and
the bag-of-references similarity score by taking the average of the two

210
<htp://deeplink.rechtspraak.nl/uitspraak?id=ECLI:NL:RBAMS:2010:BO1378>.
211
<htp://deeplink.rechtspraak.nl/uitspraak?id=ECLI:NL:RBALK:2008:BC6103>.
212
<htp://deeplink.rechtspraak.nl/uitspraak?id=ECLI:NL:RBSGR:2008:BD1495>.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
150 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

scores. Now we can determine the n most similar documents for any
focus document. We chose to only take into account the focus documents
that have at least four outgoing references for now, this because of the
relatively low recall of the parser. If a focus document has only one
outgoing reference, the bag-of- references similarity scores will be
either 0.0 or 1.0; this may be acceptable in a later stage with a superior
reference parser, but at this stage these extreme scores are too uncertain.

5.3.1.1 Formative evaluation


A small group of experts was asked to evaluate the system. They
were asked to irst read a focus document, randomly selected from a
prepared database213 and shown on an evaluation website that was
created for this purpose. Subsequently they were asked to read six
recommended documents and rank them on relevancy to the focus
document. The most relevant one is ranked irst (1), the least relevant
last (6). The six documents were three with the highest similarity
scores for the baseline implementation (bag-of-words only) and three
documents with the highest similarity scores for the bag-of-words
combined with the bag-of- references. They were also asked to give an
overall score for the relevance of a suggestion on a scale from 1-10 with
1 representing ‘not relevant’ and 10 ‘very relevant’. This was done to
assess the overall quality of suggestions. Even very bad suggestions
may be ranked after all. Figure 1 gives an example screen from the
evaluation site. Our intuition was that it is easier to rank suggestions
for relevance than to assess the overall relevance of a suggestion.

Figure 3: Screenshot of the evaluation site (in Dutch)

213
Because we are interested in whether adding the bag-of-references to the similarity scores
improves performance, documents that had recommendations that occurred in both sets
were removed.
RADBOUD WINKELS
EXPLOITING THE WEB OF LAW
151

This method of evaluation is rather subjective if a small amount


of test subjects is used, but if can serve to determine if the research is
heading in the right direction and ind possible bugs and errors (SHANI;
GUNAWARDANA, 2011).
Four experts evaluated 18 cases; 15 unique ones and 3 the same
for all experts. Results are presented in Table 2. It is clear that adding
the bag-of-references worsens performance. This may partly be due to
the fact that only 55% of references were found.

Table 2: Results expert evaluation

Average rank Average score

Bag-of-words only (baseline) 3.06 5.58

Bag-of-words with bag-of-references 3.94 4.46

It may also be that similarity in references relects something


else than similarity in text. To further investigate this aspect, we
examined to what extend the bag-of-words approach suggests the same
documents as the bag-of-references approach. We analysed the top
ten recommendations for 1,000 focus documents for both approaches.
We ignored recommendations with a similarity score of zero. Of the
remaining 9,528 recommendations, 1,135 were recommended by both
algorithms (about 12%).
Again, the amount of overlap may turn out to be higher with
a beter performing parser. Another explanation is that similarity in
references relects a more abstract commonality than our evaluators
could spot or found useful.

5.3.2 Network analysis combined with topic modelling


A more advanced approach of comparing similarity of texts than
the bag-of-words approach discussed above is that of topic modelling.
A topic model represents a document, a court judgement in this case,
as a mixture of topics. A topic is a set of words or phrases. Perhaps
the most common topic model currently in use is Latent Dirichlet
Allocation (LDA) from Blei et al. (2003). One downside of this approach
is that it treats documents as bags of words, i.e. ignores word order and
therefor word phrases like ‘European Union’ or ‘our Minister’. Several
extensions of LDA have been proposed, one of which is Turbo Topics
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
152 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

(BLEI; LAFFERTY, 2009) which starts like LDA, but subsequently


signiicant words that are preceding or succeeding topic-words are
searched in the texts and added to the topic model. In this experiment
we use the open source implementation of Turbo Topics in MALLET.214
To be able to compare the results with suggestions purely based
on network analysis, we decided to use the same domain as in the
earlier work described above, namely immigration law (WINKELS et
al., 2014). After some pre-processing and selection of those cases with
actual content, we worked with a set of nearly 13,500 cases.
After all cases were represented as mixtures of topics, we selected
the n best suggestions for each case by calculating the similarity between
the topic mixtures. We calculate the sum of squared errors between a
speciied case and all other cases and convert this to a similarity value
ranging from 0% to 100% overlap. Table 3 gives an example for three
suggestions for case ECLI:NL:RBSGR:2009:BH7787 (a case of 2009 of the
court of The Hague about a refugee from Turkey who was a courier for
PKK) with similarity measures. It obviously has a similarity measure
of 100% with itself. Next comes a case from the same court of 2004
with a similarity in topics of more than 99% (also about a member of
the PKK), etc.

Table 3: Example output of 3 suggestions for case


ECLI:NL:RBSGR:2009:BH7787

Case Similarity measure

ECLI:NL:RBSGR:2009:BH7787 100.00

ECLI:NL:RBSGR:2004:AQ5970 99.28

ECLI:NL:RBDHA:2015:4915 99.01

ECLI:NL:RVS:2004:AQ5615 98.67

5.3.2.1 Formative evaluation


For this project, the evaluators consisted of three novices, two
legal experts with experience in the immigration law, and two legal
experts without experience in this ield. For the results the four legal
experts were pooled together, since there was no diference in their

214
MAchine Learning for LanguagE Toolkit, McCallum (2002).
RADBOUD WINKELS
EXPLOITING THE WEB OF LAW
153

evaluations. The evaluators were given ive randomly selected cases for
which they ranked three suggestions from best to worst, and for which
they stated whether any of the three suggestions is good enough for a
recommender system. One of the three suggestions was most similar
according to the method using a topic model, another was the most
relevant based on the references to legislation according to Winkels
et al. (2014) and one of the suggestions was based on a combination
of the two methods. For the combination of the two methods, a list
of the top 200 suggestions according to the topic model was obtained
(for each randomly selected case), and also a list of the top ten suggestions
according to the references to legislation. The irst suggestion from the
top ten list that appeared in the other list of the top 200 suggestions,
was chosen as the suggestion based on both methods. The evaluators
were unaware of which suggestion was obtained by which method.

Figure 4: Percentage of evaluators that thought a suggestion was


good enough for recommendation

Both legal experts and novices showed signiicant preference for


the suggestions based on topic similarity. The legal experts wanted to
see 85% of the suggestions based on topic similarity in a recommender
system, for the novices this was 87% (see Figure 2). The legal experts
ranked the suggestions based on topic similarity as best suggestion 80%
of the time, while the novices always ranked the suggestion based on
topic similarity as best suggestion. This indicates that suggestions based
on topic similarity can give useful suggestions within Dutch case law.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
154 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

5.4 Conclusions
We described results of research that is part of the OpenLaws.
eu project. Ultimate aim is to deliver a platform for using, sharing and
enriching big open legal data. Besides ofering users the opportunity to
collect, organize and annotate legal data, we also want to ofer automatic
suggestions based on analysis of existing data. In the future that may
also be based on user-generated data. Users of OpenLaws can already
annotate sources of law, highlight sections or phrases, group sources
together in folders and link a source to other sources. In the future, this
data can be analysed as well to improve suggestions for other users.
For now the recommendations are based on the analysis of oicial
sources of law. We have presented irst results for available data in the
Netherlands. Based on analysis of the network of both legislation and
case law, we ofer users suggestions for interesting material based on
their current focus document.
We have shown that it works quite well to automatically ind
and resolve references to legislation in Dutch case law. The parser was
perhaps a bit over-ited for the immigration domain, since it performed
less well in the tax domain. It can easily be improved, but we will have
to check whether this has repercussions for the immigration domain
and how it performs in other legal ields. The prototype system will
perform much beter when running on a proper server. We also did not
exploit the network of case law itself this time. In Winkels et al. (2011) we
showed that this can be used to estimate the authority of cases, so if we
include this the suggestions of relevant case law should be improved.
The network of references can be used to provide users of the
legislative portal with relevant judicial decisions given their current
focus and moreover, suggest additional relevant legislative sources.
Another next step is adding legal commentaries and doctrine to the
network and possibly parliamentary data.
When compared with suggestions of case law based on similarity
of the actual text of the judgements, whether seen as just ‘bags of
words’ or as a mixture of ‘topics’, users seem to prefer those over
the suggestions based on network analysis or similarity in reference
structures. We still have the intuition that similarity in reference
structure indicates some common feature of cases, but perhaps it is too
abstract for users. In our irst experiment we treated the references as
an unordered set; perhaps we should retain the order and try again.
RADBOUD WINKELS
EXPLOITING THE WEB OF LAW
155

In the future we will use some additional features as:


• The relative frequency of the reference in a court decision
(what van Opijnen (2014) called ‘multiplicity’).
• The hierarchical position of the law cited, e.g. whether
the referred law is a European directive or treaty, or a
governmental decree.
• Document structure level of the reference. A lower document
structure level (e.g. article or clause instead of a chapter)
suggests a more speciic reference, which could indicate a
diferent role.
• The date of a case, preferring more recent cases for expert
users. We can assume experts are well aware of older
(landmark) cases, and will be more interested in (very) recent
ones.
Acknowledgements. Part of this research is co-funded by the
Civil Justice Programme of the European Union in the OpenLaws.eu
project under grant JUST/2013/JCIV/AG/4562. I would like to thank
my students: Erwin van den Berg, Bart Vredebregt and Wolf Vos who
performed the experiments.

References
BLEI, D. M.; LAFFERTY, J. D. Visualizing topics with multi-word expressions. arXiv,
0907, 2009.
BLEI, D. M.; NG, A.Y. ; JORDAN, M. I. Latent Dirichlet Allocation. Journal of Machine
Learning Research, v. 3, p. 993-1022, 2003.
FOWLER, J. H.; JEON, S. The authority of Supreme Court precedent. Social Networks,
v. 30, p. 16-30, 2008.
HOEKSTRA, R. The MetaLex Document Server - Legal Documents as Versioned
Linked Data. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE SEMANTIC WEB, 10th.
Proceedings… Berlin: Springer, 2011.
LIIV, I.; VEDESHIN, A.; TÄKS, E. Visualization and structure analysis of legislative acts:
a case study on the law of obligations. ICAIL, p. 189-190, 2007.
MAAT, E. de; WINKELS, R.; ENGERS, T. van. Automated detection of reference structures
in law. In ENGERS, T. van (Ed.). Jurix. Amsterdam: IOS Press, 2006.
MAZZEGA, P.; BOURCIER, D.; BOULET, R. The network of French legal codes. ICAIL,
p. 236-237, 2009.
MCCALLUM, A. K. Mallet: a machine learning for language toolkit. 2002. Avaible in:
<htp://mallet.cs.umass.edu>.
NEWMAN, M. Networks: an introduction. Oxford: Oxford University Press, 2010.
156
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

OPIJNEN, M. van. Op en in het web. Hoe de toegankelijkheid van rechterlijke uitspraken


kan worden verbeterd. Thesis (PhD) – University of Amsterdam, Dutch, 2014.
PALMIRANI, M.; BRIGHI, R.; MASSINI, M. Automated extraction of normative references
in legal texts. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON AI AND LAW, 9th. Proceedings…
New York: ACM, 2003.
PEDREGOSA, F. et al. Scikit-learn: machine learning in Python. Journal of Machine Learning
Research, v. 12, p. 2825-2830, 2011.
SAUR, K. G. Functional requirements for bibliographic records. UBCIM Publications –
IFLA Section on Cataloguing, v. 19, 1998.
SHANI, G.; GUNAWARDANA, A. Evaluating recommendation systems. In: SHANI, G.;
GUNAWARDANA, A. Recommender systems handbook. Berlin: Springer, 2011.
TRAN, O. T.; LE NGUYEN, M.; SHIMAZU, A. Reference resolution in legal texts. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON AI AND LAW, 14th. Proceedings… New York:
ACM, 2013.
WASS, C. et al. OpenLaws.eu. In: INTERNATIONAL LEGAL INFORMATICS
SYMPOSIUM IRIS, 16th, 2013. Proceedings… Salzburg, Austria, 2013.
WINKELS, R. G. F.; BOER, A.; PLANTEVIN, I. Creating Context Networks in Dutch
Legislation. In: ASHLEY, K. (ed). (Ed.). Jurix. Amsterdam: IOS Press, 2013.
WINKELS, R. G. F.; DE RUYTER, J.; KROESE, H. Determining Authority of Dutch Case
Law. In: ATKINSON, K. (Ed.). Jurix. Amsterdam: IOS Press, 2011.

Informação bibliográica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

WINKELS, Radboud. Exploiting the web of law. In: FERNANDES, Ricardo


Vieira de Carvalho; COSTA, Henrique Araújo; CARVALHO, Angelo Gamba
Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica e direito digital: I Congresso Internacional
de Direito e Tecnologia - 2017. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 139-156. ISBN
978-85-450-0453-0.
PARTE II

TECNOLOGIA,
DESENVOLVIMENTO E DIREITOS
PÁGINA EM BRANCO
CAPÍTULO 1

DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO


ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS
E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS

BRUNO FEIGELSON

1.1 Introdução
O presente artigo objetiva analisar a relação entre a inovação
tecnológica característica da quarta revolução industrial e seus relexos
no âmbito das ciências jurídicas. O fenômeno pode ser analisado por
duas perspectivas. A primeira vertente –, foco do presente estudo –,
diz respeito à forma como o direito se relaciona com as dinâmicas
disruptivas que vêm impactando os diversos setores econômicos. Já
a segunda, trata da forma como este fenômeno se relaciona com o
impacto que a tecnologia exerce no âmbito do exercício proissional
das carreiras jurídicas.1
Em obra recente, Paul Mason expressa que quase sem ser
notados, territórios inteiros de vida econômica estão começando a se
mover num ritmo diferente. O autor destaca a proliferação das moedas
paralelas, de bancos de tempo, de coletivos e espaços autogeridos.
Além disso, notam-se novas formas de propriedade, novas formas de
empréstimo e novos contratos legais: toda uma subcultura de negócios

1
O tema das lawtechs não será analisado neste trabalho.
160
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

emergiu nos últimos dez anos, chamada pela mídia de “economia de


compartilhamento”.2
Nesta nova realidade, povoada por organizações exponenciais –3
empresas inovadoras que crescem em velocidades antes inconcebíveis
– e com ideologias dataístas –,4 que preconizam o luxo de informação
como valor máximo da existência –, não é mais possível conceber que
o direito se mantenha estático diante de mudanças tão profundas.
As expressões tecnologia disruptiva e inovação disruptiva são,
por natureza, inconclusivas, visto que estamos vivendo o fenômeno
neste momento histórico, conforme leciona Clayton M. Christensen,
professor de administração de Harvard e autor da célebre obra The
innovator’s dilemma.5 O autor busca, de maneira repetitiva, distinguir o
conceito depurado em sua teoria e a forma como o termo vem sendo
aplicado pela mídia. Não cabe aqui analisar os aspectos conceituais,
mas sim visualizar como os modelos de negócios, em geral baseados
em plataforma tecnológicas, vêm alterando de maneira profunda a vida
humana e, por consequência, gerando relexos do ponto de vista do
Estado, da regulação e do direito.
A proposta de compreender as consequências de uma mudan-
ça em tempo real – ou seja, comentar o presente tentando visualizar o
futuro –, é uma tarefa que implica potenciais equívocos. Ainda assim,
diante das abruptas mudanças observadas nos últimos anos, compreen-
demos que a elaboração de um trabalho que traga algumas relexões
iniciais pode contribuir para suscitar debates no âmbito das esferas
políticas, da comunidade jurídica, no ambiente empreendedor e no
ecossistema tecnológico.6 Assim, o presente trabalho deve ser ainda

2
MASON, Paul. Pós-capitalismo: um guia para o nosso futuro. Tradução José Geraldo Couto.
São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 18.
3
Título da obra de autoria de Michael S. Malone, Salim Ismail e Yuri Van Geest (ISMAIL, S.;
MALONE, M. S.; GEEST, Y. V. Organizações exponenciais. [s.l.]: HSM, 2016).
4
O dataísmo é amplamente analisado por HARARI, Y. N. Homo Deus. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016.
5
A obra foi originalmente publicada em 1997 pela Harvard Business School Press
(CHRISTENSEN, C. M. The innovator’s dilemma. Cambridge: Harvard Business School
Press, 1997). Além disso, o uso da terminologia já tinha sido expresso por Clayton M.
Christensen em coautoria com Joseph Bower, em artigo de 1995 denominado Disruptive
technologies: catching the wave (BOWER, J. L.; CHRISTENSEN, C. M. Disruptive technologies:
catching the wave. Harvard Business Review, v. 73, n. 1, p. 43-53, Jan./Feb. 1995).
6
Cabe mencionar que parte expressiva das relexões previstas no presente estudo foram
objeto de artigo publicado na obra Regulação e novas tecnologias, publicado pela Editora
Fórum (FREITAS, R. V. de; RIBEIRO, L. C.; FEIGELSON, B. (Coord.). Regulação e novas
tecnologias. Belo Horizonte: Fórum, 2017). No entanto, a velocidade dos acontecimentos
o aprofundamento das pesquisas e das experiências proissionais impulsionaram novas
conclusões e referências.
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
161

compreendido como relexões infantes de um fenômeno em estado


de descoberta.
Cabe mencionar que aqui fazemos uso de uma plataforma que
nasceu antes da era industrial, mas que neste período foi amplamente
popularizada no mundo, o livro. Acredito que o futuro dos livros de
não icção – notadamente os que ensejam maiores relexões –, estará
em plataformas mais lexíveis, que oportunizarão que as obras nasçam
como primeiras relexões e amadureçam com os acontecimentos e
comentários, para se consolidarem em teorias propriamente ditas.
Desta forma, a encruzilhada que vivenciamos é: as transformações são
demasiadamente substanciais, implicando necessárias reformulações.
No entanto, a impressão de uma obra impõe a ela uma limitação física
que diiculta a continuidade do desenvolvimento de suas relexões a
partir de seus leitores.
Em um ambiente de modernidade líquida,7 o direito – que é uma
linguagem, um mecanismo, uma ciência, que conseguiu se adaptar e
sobreviver aos diferentes momentos da sociedade humana –, certa-
mente terá que ampliar suas características de lexibilidade de maneira
substancial nos próximos anos, visto que as certezas se esvaziam com
uma velocidade cada vez maior. Os debates legislativos e as decisões
judiciais, por exemplo, nunca tiveram prazos de validade tão curtos na
sociedade contemporânea. E a tendência é apenas de aceleração de tal
movimento. Neste cenário, a segurança jurídica, paradigma essencial
para a paciicação social, torna-se vulnerável, assim como toda a
humanidade, inserida em uma vida líquida, permeada por incertezas.
Assim, observamos que a disrupção no campo do direito ou,
em outras palavras, o direito disruptivo, possui uma dupla acepção.
Num primeiro momento, ela se refere aos relexos jurídicos de um
período de mudanças muito intensas nas sociedades. De modo que se a
revolução industrial foi um marco para o im do feudalismo e início da
era industrial, a criação da internet é um marco do im da era industrial
e início da era da informação. Tais transformações nos impactam em
termos econômicos, sociais e até biopsicológicos e, por consequência,
ensejam relexões profundas em todas as áreas do direito.
Com o surgimento da internet, no auge da guerra fria e, sobre-
tudo, a partir da criação do world wide web, em 1992, pelo cientista Tim
Berners-Lee, os hábitos humanos foram alterados de forma signiicativa.

7
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
162
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

No entanto, foi a partir do maior acesso à internet e do desenvolvimento


de determinados aparatos tecnológicos – com especial ênfase à prolife-
ração do uso dos smarthphones –, que essas modiicações no cotidiano
passaram a substancialmente impactar modelos econômicos mais
tradicionais.
É neste ambiente que as novas dinâmicas disruptivas acabam
por estimular relexões que servem ao Estado, à regulação e ao direito,
graças à alta velocidade com que se estabelecem e da intensidade
como entram no cotidiano das relações sociais. Cabe ainda reiterar que
diante do frescor dos acontecimentos, e da falta de material acadêmico
elaborado até o presente momento, as análises aqui feitas terão caráter
eminentemente empírico e autoral, fruto das minhas relexões e vi-
vências. Devido à escassez de desenvolvimento teórico prévio sobre o
tema, será um exercício introspectivo para compreender um fenômeno.
A história ainda está sendo escrita, e buscar compreendê-la sem um
distanciamento temporal, e sem aguardar o desfecho de determinadas
questões em curso, é um risco suportado por esta investigação.
A segunda forma de observar o termo diz respeito ao fato de
observamos a tecnologia como instrumento de mudança do próprio
direito, da forma de compreender o Estado e, por consequência, sua
interferência no mercado e na vida dos indivíduos. Estamos a analisar
aqui os impactos da tecnologia na formulação das normas, na regulação
dos setores econômicos, no ensino jurídico, na cultura humana, na forma
de resolver conlitos e mesmo na forma mais prosaica de organizações
de escritórios de advocacia e partidos políticos. O fenômeno é e será
ainda muito mais amplo, o que abre caminho para diferentes relexões
a respeito do que será o amanhã destas instituições.
A lei de Moore, que preconiza um aumento de 100% do poder
de hardware a cada curto espaço de tempo, é uma regra, que apesar de
não ter sido prevista no ordenamento jurídico mundial, irá impactar
cada vez mais o sistema legal. Experimentamos apenas o início de
uma grande revolução. E o que é mais interessante, tudo ocorrerá de
forma cada vez mais célere e integrada. A igura do Estado moderno
ocidental que foi se alastrando para diversas partes do globo sofrerá
simultaneamente com as mudanças provocadas pela tecnologia, e a
forma de organização humana será simultaneamente impactada em
diversos países. Países como o Brasil não terão a possibilidade de
importar modelos validados por outras nações.
Entendemos que o presente trabalho é uma colcha de impres-
sões amalgamadas na tentativa de organizar o momento vivenciado,
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
163

seguindo uma tendência do ecossistema das startups. Obras que tratam


de disrupção, mais do que outros títulos, precisam ser vivas e dinâmicas,
e a impressão no papel impossibilitará mudanças mais céleres através
de feedbacks dos leitores, questão que pretendo atenuar fazendo uso de
eventuais novas edições.
Feitas essas considerações, e reiterando que o presente trabalho
é o rascunho de uma teoria que se estabelecerá nos próximos anos,
passamos a tecer nossas relexões. As duas primeiras décadas do século
XXI estão sendo marcadas pela celeridade e intensidade de mudanças na
vida humana, alterações essas decorrentes de novas dinâmicas baseadas
na tecnologia da informação. A própria conceituação do que deveria ser
encarado como inovação disruptiva ainda não é um consenso do ponto
de vista acadêmico. Certo é que independentemente da nomenclatura,
o estágio é de grandes movimentações tectônicas. As estruturas da
sociedade se transformam rapidamente, o momento é efetivamente
de mudança do status quo, e quase todos os aspectos da vida humana
como conhecemos hoje serão de alguma forma impactados pela nova
era da informação, que ainda se apresenta em seus estágios iniciais.

1.2 Metodologia de análise das inovações tecnológicas


As transformações ocorridas como relexo das inovações tecno-
lógicas têm ampla relação com o direito. Num enfoque metodológico,
entendemos que a relação entre modelos disruptivos e direito ocorre
em três etapas distintas, que, diante da celeridade e da intensidade
já expostas, podem ocorrer em espaço de tempo relativamente curto
e de modo bem intenso. Ou seja, a velocidade avassaladora dos con-
tágios sociais faz com que o espaço que separa uma etapa de outra se
encurte. A fragmentação, portanto, é utilizada como mecanismo para
uma compreensão mais clara de como o direito se relaciona com tais
mudanças.
A primeira interação entre modelos disruptivos e direito diz
respeito à forma como tais dinâmicas muitas vezes se inserem em
lacunas de não regulamentação ou não regulação normativas, o que
em muitas hipóteses oportuniza uma vantagem competitiva para as
empresas que passam a atuar em determinado período em ambiente
relativamente livre.
Denominamos esta primeira etapa de planejamento regula-
tório. Neste período, empreendedores e investidores, em paralelo
aos estudos para veriicar se o novo modelo possui capacidade de
164
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

tração, pesquisam os ambientes regulatórios, ambicionando encontrar


caminhos de vácuos legais, ou minimamente penumbrosos, para esta-
belecerem suas atividades. Não estamos aqui a defender uma teoria
conspiratória, muito pelo contrário, é notória a ocorrência de hipóteses
em que empreendedores tecnológicos desaiam mesmo as normas
postas, criando assim dinâmicas novas. Ainda assim, cabe mencionar
que o espaço de não previsão legal é sempre um ambiente de conforto
e estímulo para a aparição de soluções que façam uso de tecnologia.
Aqui cabe mencionarmos uma característica importante da era
da informação, e da própria face do novo capitalismo que vivenciamos.
Dinâmicas disruptivas tendem a ambicionar a criação de modelos de
resolução de problemas existentes, fazendo uso de muita tecnologia e
poucos recursos humanos, criando plataformas que possuem ganhos
escalonáveis.
Essas características particulares do capitalismo na era da in-
formação tendem a buscar se afastar de condutas claramente ilícitas.
No entanto, como as soluções são inovadoras por natureza, há uma
tendência grande de não terem sido previstas pelo ordenamento legal,
ainda pertencendo a zonas cinzentas. Assim, o direito se relaciona com
as dinâmicas disruptivas de maneira distante, em uma primeira etapa.
O local de pouca regulamentação, ou de pouca identiicação, será um
ambiente fértil para o investimento de tempo de empreendedores que
se enxergam como “resolvedores” de problemas sociais.
A segunda interação diz respeito ao choque que ocorre entre as
novas dinâmicas e os modelos até então postos, provocando tensões que
inevitavelmente serão resolvidas no âmbito do Judiciário. Denominamos
esta etapa de judicialização. Momento em que o Estado, através do Poder
Judiciário, diante de temas pouco ou não regulamentados e regulados,
possui o potencial de declarar como, parcialmente ou integralmente,
ilegal determinada modelagem, ou permitir o natural avanço das novas
dinâmicas já incorporadas na vida dos indivíduos. Trata-se em última
análise de batalha mercadológica que inevitavelmente será vencida
pelo novo modelo, mas que pode sofrer importantes atrasos diante de
eventual decisão judicial desfavorável.
A terceira interação pode ser compreendida como o momento em
que o Estado e o direito passam a se adaptar à nova realidade. Ou seja,
a etapa em que o direito satisfaz a sua missão de paciicar os conlitos
sociais, e cria parâmetros normativos para a nova realidade da vida.
Conforme detalharemos em tópico próprio, é neste ponto que surge
uma questão de natureza mais ideológica: deve o Estado regulamentar
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
165

exaustivamente determinada nova dinâmica ou permitir que uma


atividade que nasceu em um ambiente de grande liberdade siga sem
grandes alterações?

1.2.1 Planejamento regulatório: o nascimento de modelos


em lacunas legais
Em regra, o modelo disruptivo nasce a partir de uma ideia simples
que propõe uma mudança de mindset. Uma alteração na percepção e
no hábito de determinado comportamento da vida. Na maioria das
vezes, como dito, tratam-se de insights, de captações até obvias, que
surgem a partir de lacunas da realidade posta. Propostas de condutas
que, por serem percebidas como tão óbvias para os indivíduos, acabam
por gerar escalabilidade, o que do ponto de vista do ecossistema de
startups costuma ocorrer de forma célere e sem a necessidade de altos
investimentos na sua gênese –, especialmente se comparados com os
custos envolvidos em dinâmicas tradicionais.
Isso porque as empresas que chegam a ser valoradas em bilhões
nascem de startups que utilizam o modelo de “startup enxuta” como
seu manual de funcionamento. A expressão que decorre do livro de
mesmo nome, de autoria de Eric Ries,8 propõe, de forma resumida, que
tais empresas tenham por premissa básica a geração de conhecimento.
Ou seja, o que se induz é que os empreendedores em tais sistemáticas
gerem aprendizado a todo momento ao longo do processo de
estabelecimento do projeto. Neste sentido, há sim um direcionamento
baseado na ideia inicial, mas o crescimento acaba por ocorrer a partir
dos feedbacks do mercado.
Assim, o que se pode dizer é que os modelos disruptivos são
bem-sucedidos por conta da inspiração de uma ideia simples somada
a um amplo processo de aprendizado. Neste contexto, os produtos
são confeccionados diretamente para os interesses dos usuários, o que
facilita ainda mais a sua aceitabilidade pelo público. A integração do
mercado, e o encurtamento das distâncias entre indivíduos pelo uso
da tecnologia, permitiram que o estudo de mercado deixasse de ser
uma etapa do processo de elaboração do produto para ser o próprio
mecanismo de confecção. Ou seja, as empresas desenham as dinâmicas
de forma exemplar porque trabalham com um nível de aperfeiçoamento

8
RIES, Eric. A startup enxuta. Nova York: Crown Publishing Group, 2011.
166
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

praticamente instantâneo em relação ao posicionamento dos usuários.


O usuário passou a ser o piloto, o grande gerente de produto.
No entanto, esta breve constatação da dinâmica do nascimento
dos modelos disruptivos é somada à capacidade de estabelecimento
de tais projetos, fato que se correlaciona diretamente com o direito.
O que se nota é que a análise objetiva ou abrangente de lacunas legais
para o estabelecimento de ideias inovadoras que gerem tração, ou seja,
que caiam nas graças do público, é medida primordial para o sucesso.
E é aí que um fenômeno interessante surge. Os comportamen-
tos até então impensáveis, por conta da sua inovação, na maioria das
vezes, não possuem uma previsão legal especíica, o que redunda em
oportunidade única para o empreendedor. Ou seja, do ponto de vista
do negócio, duas são as questões a serem postas: essa ideia cairá nos
gostos dos indivíduos? E qual será a melhor forma de implementá-la?
E do ponto de vista jurídico a questão que vem a reboque é:
tal dinâmica é lícita? Sendo a resposta positiva, fatalmente o que se
observará é um cenário de completa falta de regulamentação para
o novo modelo, visto que não há como o legislador ou uma agência
reguladora elaborarem uma norma para condutas e práticas ainda
inexistentes.
A título de exemplo, quem imaginaria entrar em um automóvel
privado, de um indivíduo que não possui nenhum tipo de autorização
estatal para dirigir de maneira proissional, ou ainda alugar um imóvel
particular por alguns dias como se fosse um hotel. Todas essas ideias,
hoje tidas como óbvias, até bem pouco tempo atrás eram impensáveis
e, consequentemente, não regulamentadas.
O direito, em muitas situações, vem a reboque dos fatos, o que
no caso das dinâmicas disruptivas é algo ainda mais perceptível, pois
tais modelagens avançam na vida social em velocidade incompatível
com os movimentos normativos. Os modelos disruptivos se movem
como drones, ao passo que as normas, muitas vezes – especialmente em
países como o Brasil –, andam ainda em locomotivas a vapor.
Essa constatação não necessariamente signiica dizer que algo
precisa ser mudado. As ciências políticas e jurídicas ainda terão muito o
que debater a respeito de como o Estado deve se adaptar a este mundo
disruptivo, o que já faz pensar que ao longo dos próximos anos poderão
surgir teorias políticas e jurídicas de um Estado disruptivo, que terá que
se mover em velocidade adequada para atender às rápidas mudanças
de hábito. Seja como for, o que se constata hoje é que as velocidades
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
167

são incompatíveis, o que implica uma necessária observação das duas


outras etapas subsequentes dentro da proposta de análise das três fases.
Outro aspecto a ser analisado, antes que se avance neste estudo,
diz respeito à falta de tipicidade tributária dos novos modelos regu-
latórios. Do ponto de vista da arrecadação por parte do Estado, a nova
modelagem, imprevisível, não conta com uma dinâmica legal instituída,
o que permite que as empresas atuem durante determinado espaço de
tempo sem necessariamente arcar com determinados custos, que seriam
proporcionais para os demais modelos econômicos postos em xeque.

1.2.2 Judicialização dos conlitos: a tentativa de encaixar


modelos disruptivos nas dinâmicas postas
Conforme observado no tópico anterior, o sistema normativo
não está apto a acompanhar a velocidade de mudanças de hábitos
em um mundo disruptivo. Até que o Estado se adapte à velocidade
dos acontecimentos do novo mundo, a incompatibilidade entre regu-
lamentação e novas dinâmicas continuará a ensejar conlitos que serão
resolvidos nas esferas do Judiciário. A instabilidade normativa nunca
foi tão grande, e nunca também o Judiciário foi tão relevante para
dar segurança jurídica em uma realidade cada vez mais líquida e in-
constante. A instabilidade que cria e destrói mercados bilionários em
curtos espaços de tempo, e que permite formas de viver mais livres
e desprovidas de ancoras, acaba por lançar desaios complexos nos
Tribunais do Brasil e do mundo.
As demandas são e serão levadas ao Judiciário tanto por parte
de anseios da sociedade, como do Estado e também dos players e
indivíduos que passam a ser diretamente impactados com os novos
hábitos. No entanto, o que já se observa é que, até mesmo do ponto
de vista do Judiciário, os modelos disruptivos implicam mudanças.
Neste sentido, três são os pontos a serem observados. O primeiro
deles diz respeito à natural inaplicabilidade de normas confeccionadas
para a nova modelagem disruptiva, o que signiica dizer que o espaço
de lacuna acaba ampliando o poder do Judiciário. Diante da falta de
normas existentes, o Judiciário é provocado muitas vezes a “legislar”,
o que implica muitas vezes enfrentar árduos trabalhos de analogia para
encontrar soluções para o caso concreto.
No âmbito do sistema jurídico brasileiro, a questão se torna ainda
mais complexa, visto que o nosso ordenamento é de ampla tradição
romano-germânica, civil law, muito pautado na aplicação de normas
168
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

concretas nos casos analisados e pouco experiente no uso de precedentes


como metodologia de julgamento. Assim, entendemos que países de
tradição anglo-saxã, como dinâmicas baseadas no common law, tenderão
a ter maiores facilidades para enfrentar esta nova dinâmica da vida
humana. Mas mesmo esses sistemas jurídicos passarão por reformas
amplas em decorrência das inovações disruptivas.
Além disso, os modelos disruptivos também tendem a engessar o
Judiciário. A rápida formação de usuários implica que o modelo objeto
de determinado litígio, em regra, ingresse na disputa judicial com alto
grau de popularidade, deslegitimando possíveis decisões que proíbam
ou limitem a mencionada dinâmica. Ou seja, as questões passam a
chegar já decididas ao Judiciário, graças ao engajamento de grande
parte da população, endossadas inclusive pela mídia, o que implica
dizer que decisões contrárias aos novos modelos podem potencialmente
abalar a paz social – o que seria contraditório com a própria premissa
que justiica o Poder Judiciário.
A tração – elemento tão característico de tais dinâmicas e que
pode ser caracterizado, de forma simplista, como a capacidade de
conquistar usuários – é fator que altera até mesmo a dinâmica de
julgamento, empoderando de maneira única os usuários, os cidadãos.
Em uma sociedade típica da era da informação, o capital político
(originalmente transferido pelos cidadãos para o Estado), ao menos
em parte, retorna para os usuários que usufruem dele através de um
mercado mais livre, célere e integrado. Trata-se de uma verdadeira
regulação direta, expressão cunhada em alusão à democracia direta,
que é exercida pelos cidadãos sem a exigência de representação. Da
mesma forma, os litígios que tradicionalmente possuem uma pretensão
resistida, no âmbito das dinâmicas disruptivas, são resolvidos pelos seus
próprios usuários que, utilizando determinada plataforma, legitimam,
enquanto sociedade, a legalidade do modelo – ainda que sem uma
previsão legal previamente positivada.
É como se o estabelecimento de marcos legais, a elaboração de
decisões judiciais e a formação dos produtos ocorressem em um único
momento, enquanto startups e mercado dialogam na formação de di-
nâmicas disruptivas que irão abalar de maneira substancial o mercado.
Eventual judicialização que ocorra por conta de uma reação do player
que não consegue competir no mercado é uma mera manifestação
protocolar do Poder Judiciário, que neste ponto passa a ter pouca
legitimidade para decidir de maneira contrária. A legitimidade das
decisões judiciais – tema pouco abordado no âmbito acadêmico-dou-
trinário, notadamente se comparado com as relexões relacionadas à
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
169

legitimidade de atos do Poder Executivo – ganha enorme relevância


nas questões que tenham por objeto dinâmicas disruptivas.
O terceiro ponto a ser observado diz respeito ao poder econô-
mico que os modelos disruptivos passam a ter, o que do ponto de vista
do universo jurídico signiica munição para travar batalhas judicias
em todas as instâncias. A rápida valorização econômica das novas es-
truturas, que nada mais é do que um relexo fático do valor emocional
que usuários e sociedade passam a dar para determinada empresa,
enseja uma nova realidade do ponto de vista dos desaios no campo
legal e jurídico. Em estruturas moldadas para conservar a paz social,
a possibilidade de rápido acesso aos recursos inanceiros oportuniza
uma célere estabilidade da disputa. O direito, neste sentido, parece
ser elástico para comportar o fenômeno, passando de certa maneira
incólume, enquanto outras estruturas sociais rompem.
Para exempliicar de forma concreta alguns aspectos já tratados
no âmbito desta segunda etapa, cabe analisar os fatos ocorridos no
ano de 1999 e seguintes, nos Estados Unidos, envolvendo o Napster.
Até então, ninguém poderia imaginar que a indústria fonográica
seria exposta a uma alteração profunda, que até hoje sofreria relexos
das ideias e projeto propostos por um único indivíduo. A mudança
de dinâmica de indústria tão consagrada é de simples compreensão
quando observamos a lista dos álbuns mais vendidos de todos os
tempos no Brasil, rol que inclui Padre Marcelo Rossi, Xuxa e Leandro e
Leonardo. No mencionado ranking não há nenhuma referência a álbuns
gravados no período pós-1998.
É neste contexto que compreendemos que o Napster – marca
hoje não tão conhecida quanto Uber, Netlix, WhatsApp, Airbnb ou
Spotify – foi precursor de uma dinâmica disruptiva, que até hoje gera
relexos. Parece claro que o programa criado por Shawn Fanning e Sean
Parker ensejou uma das primeiras grandes batalhas que colocavam
uma nova forma de consumir produtos e serviços, baseado no uso da
internet, e um modelo tradicional de uma indústria consolidada em
lados opostos. O Napster permitia que os usuários izessem o download
de um arquivo diretamente do computador de um ou mais usuários
de maneira descentralizada, o que para a indústria fonográica era um
pesadelo. Em janeiro de 2001, auge do uso do programa, havia 8 milhões
de usuários conectados trocando diariamente um volume estimado de
20 milhões de áudios em MP3.
A crise foi provisoriamente solucionada, ainda no ano de 2001,
mais precisamente em março, quando, após uma guerra legal travada
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
170 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

principalmente pelas líderes do mercado, Sony e Warner, o Napster


foi obrigado a ser desligado. Até mesmo algumas bandas entraram na
disputa durante este período, tal como o Metallica, que declarou pu-
blicamente sua contrariedade ao programa. Com o im do site, o setor
respirou aliviado, sem com isso perceber que a aparente vitória era uma
ilusão – a forma de consumir música já tinha se alterado, e mesmo que
o principal “facilitador” estivesse proibido judicialmente de continuar
suas atividades, os indivíduos nunca mais passariam a comprar álbuns
como anteriormente.
O fato já conta com mais de 15 anos, porém é mais atual do
que nunca. O debate travado entre Napster e a indústria fonográica,
guardadas algumas particularidades, é o mesmo que ganha as capas
dos jornais quando observamos os embates entre Uber e táxis, Netlix
e empresas de televisão a cabo, Airbnb e redes hoteleiras, WhatsApp
e as empresas de telefonia, Spotify e as gravadoras.
E a principal lição que parece ser absorvida deste caso é: ainda
que o Estado vede determinada conduta por considerá-la ilegal no
primeiro momento, o poder de determinadas ideias é tão profundo que
se materializará de outra forma. Ou seja, ainda que se vede a prática
de uma conduta por uma empresa, ainda que aniquile um novo grupo
econômico emergente que pratica uma dinâmica disruptiva, esta trará
alterações irreversíveis para os modelos postos. Da mesma forma que a
indústria fonográica nunca mais foi a mesma, a comunicação, a forma
como as pessoas se locomovem nas cidades, ou os locais em que elas
icam quando viajam nunca mais serão os mesmos. Percepção que de-
monstra a limitação do Estado, notadamente do Judiciário, para tratar
das novas dinâmicas disruptivas. É como se os novos insights tivessem
incutido em si certa inevitabilidade, não podendo desta forma serem
controlados.

1.2.3 Regulamentação do modelo disruptivo:


estabilidade x intervenção
A última etapa a ser analisada diz respeito justamente à criação
de normas especificamente desenhadas para regulamentarem ou
regularem os modelos disruptivos. E aqui mais uma vez estamos
diante de fenômeno único, visto que as novas normas a serem criadas
não nasceram em decorrência de uma análise abstrata de determinada
situação, mas sim em decorrência muitas vezes de calorosos embates
– o que enseja consequências óbvias, que implicam todo tipo de
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
171

questionamento em relação à criação de uma lei para se adequar a um


caso concreto especíico.
Feitas essas considerações preliminares, o que se constata é que
o ponto principal em relação à regulamentação do modelo disruptivo
diz respeito justamente à gradação no estabelecimento normativo, que
tanto pode ser observado como forma de estabilizar um aspecto da vida,
como também pode ser compreendido como um excesso de intervenção.
Assim, a estabilidade e a segurança jurídica, princípios basilares
de uma sociedade saudável, são colocadas em confronto com o princípio
da liberdade. Isto porque o desenvolvimento dos modelos disruptivos
em sua maioria partem da premissa do princípio da legalidade privada
plena, que preconiza que tudo é permitido até que a lei disponha em
contrário. Ou seja, a regulamentação ou regulação vêm justamente
para impor limites, o que será um tormento para empresas e usuários
adaptados a operar em ampla liberdade.
No mais, a imposição legal correrá o risco de deslegitimação,
diante da premissa de que todo poder emana do povo e em nome
dele deve ser exercido. Se uma base extensa de usuários experimenta
determinada dinâmica e a aprova socialmente, qual seria a legitimidade
de um parlamento ou mesmo de uma agência reguladora em impor
limites ao modelo? Desta forma, mais uma vez estamos diante de um
relexo que impacta diretamente no âmbito da legitimidade.
O que se observa, portanto, é que a legitimidade dos usuários,
que resulta do sucesso do modelo disruptivo a partir da sua utilização, é
uma forma de mudança de hábito da vida cotidiana, como também uma
construção de posicionamento político da sociedade, que se relete dire-
tamente na representação indireta, e mesmo em uma certa retomada por
parte da sociedade de parte de certos monopólios atribuídos ao Estado.
Desta forma, ainda que as ciências políticas e jurídicas ainda
não tenham sido capazes de reletir e trazer soluções para um mundo
disruptivo, é certo que política e direito sofrem relexos claros de tais
modelos, e em certa medida icam cerceados de assumirem posições
impositivas como outrora. E tais alterações implicam relexos inclusive
na forma como o Estado regula e regulamenta os modelos postos em
xeque.
É possível, e até provável, que as modelagens disruptivas, além
de inviabilizarem a regulamentação por parte do Estado, em decorrência
da falta de legitimidade anteriormente exposta, possam acabar por
ensejar transformações de ordem desburocratizante em outros modelos.
Como exemplo, temos as dinâmicas tradicionais de transporte público
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
172 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

regulamentado, como é o caso de táxis, e até o sistema inanceiro,


através de bancos, podem ter seus sistemas de controles lexibilizados
em decorrência de novas modelagens que atuam em lacunas legais.
Do ponto de vista do direito, entre tantas mudanças que devem
ser analisadas e reletidas, no âmbito de dois direitos tradicionais, as
adaptações parecem ter que ser observadas de maneira mais urgente.
A releitura das lógicas jurídicas hegemônicas precisa acompanhar os
fatos da vida especialmente no âmbito do direito trabalhista e do consu-
midor. Nestes, a premissa de que um dos polos da relação possui menos
força que o outro parece ser suavizada com as modelagens disruptivas.
As legislações protetivas parecem não mais acompanhar os fatos que
demonstram um poder maior de colaboradores e usuários, que não
mais podem ser encarados de forma simplista como trabalhadores e
consumidores.
Algumas dinâmicas disruptivas são tão impactantes que alteram
inclusive dinâmicas de trabalho e da forma de consumir, o que implica
dizer que utilizar as legislações vigentes para tais situações é não estar
atento para as particularidades envolvidas. Conforme observaremos,
as normas trabalhistas e consumeristas não estão compatíveis com
algumas novas dinâmicas disruptivas.

1.2.3.1 Fomento e abertura de mercado


Antes de se avançar para análise da questão trabalhista e consu-
merista, cabe analisar a importância que a criação de normas passa a
ter do ponto de vista do mercado. Conforme exposto, a legitimidade
para regular e regulamentar modelos disruptivos validados pelo
mercado passa a ser uma barreira para a formulação de novas normas.
No entanto, analisando a primeira e última etapa de interferência entre
modelos disruptivos e direito, o que se observa é que a formulação
de novas normas de fomento pode ser vetor para o estímulo de mais
disrupção.
Como dito, a primeira etapa após o insight de uma ideia simples,
com potencial de tração, é compreender as balizas legais existentes. Neste
sentido, as zonas de não regulamentação ou cinzentas são estímulos
para a continuidade das atividades. No entanto, o que estamos a tratar
neste item é a possibilidade de criação de novas modelagens, em que
o direito se antecipa e abre espaço através de normas de fomento para
que as dinâmicas loresçam em um ambiente de segurança.
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
173

Este talvez seja um dos grandes desaios dos Estados neste início
de século XXI – criar mecanismos normativos de estímulo para que
mentes e capital sejam atraídos para a formação de modelagens que vão
melhorar a vida de seus cidadãos, sem que isso implique gasto público.
O que estamos a defender é que ao menor sinal de possibilidade de
nova dinâmica, o Estado rapidamente debata as vantagens, balize da
maneira menos intervencionista o modelo, e garanta que as validações
entre mercado e startups serão respeitadas pelo Estado. Isso ganha
especial importância no momento em que se compreende que os países,
enquanto ainda existentes barreiras soberanas, estão em disputa entre
si por tal atração.
Trata-se de um mundo em concorrência, em que os avanços
tecnológicos parecem inevitáveis, e em que o sistema legal passa a ser
um vetor relevante a ser analisado para o estabelecimento das empresas.
A vantagem de ser pioneiro nos usos destas novas dinâmicas está no
potencial de criar centros de pesquisa, plantas industriais e estar passos
à frente de outras nações que não tenham normas de fomento.
Para ilustrar o ponto, cabe tratar dos carros autônomos, ou seja,
automóveis conduzidos sem motoristas. A questão que se coloca é: se
a população de um país acredita majoritariamente que tais veículos
serão uma realidade nos próximos anos, por consequência lógica essa
nação deveria se preocupar em regular a prática da maneira mais célere
possível.
Enquanto players como Google, Uber e Tesla investem pesado
para transformar a icção cientíica em realidade, contando já com
a tecnologia pronta para início de testes em grande escala, todos os
países no mundo terão as mesmas condições de criarem ambientes
férteis para atração da operação de tais empresas. Motoristas serão os
futuros ascensoristas de elevador, proissão fadada ao esquecimento,
e é importante que as sociedades compreendam esse fenômeno.
Se o carro autônomo efetivamente se concretizar como realidade
nos próximos anos, o que vamos vivenciar é uma revolução completa
na indústria automobilística. Uma revolução silenciosa mundial já vem
ocorrendo com os carros elétricos. Em que pese a crítica dos céticos, no
âmbito da Tesla, Elon Musk acertou em cheio. As viagens civis rumo
ao planeta vermelho justiicadamente ensejam maiores dúvidas, muito
embora diversos investidores qualiicados apostem nisso.9

9
A trajetória de Elon Musk é amplamente detalhada na biograia de Ashlee Vance (VANCE,
A. Elon Musk. 1. ed. São Paulo: Intrínseca, 2015).
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
174 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Hoje a indústria brasileira, em grande parte sucateada, ainda


tem no setor automobilístico um alento. Trata-se de representação
expressiva, que fatalmente será afetada pelo movimento disruptivo
dos carros autônomos. E o ponto que se coloca é: será o Brasil um im-
portador de carros autônomos ou exportador deste tipo de produto?
É de se reletir que as próximas décadas serão marcadas por uma
substituição em massa dos carros “não autônomos” por automóveis da
nova geração, gerando desemprego não só para os “ascensoristas de
carros”, mas especialmente para integrantes da indústria automobilista.
E aí está uma oportunidade que o Brasil poderia aproveitar.
O primeiro país que enfrentar essa realidade, e minimamente se
propuser a debater o tema do ponto de vista jurídico, criando marcos
legais minimamente estáveis, terá uma vantagem competitiva para
entrar nessa nova onda. Os frutos de ser um dos primeiros países
escolhidos para o experimentalismo dos carros autônomos são claros.
É nesse mercado novo que se forjará a indústria automobilística do novo
século e todas as outras indústrias correlacionadas. O Brasil pode ser
uma das potências automobilísticas do século XXI se tiver a coragem
de ser um dos primeiros a debater a regulamentação e regulação de
tema tão complexo. Os riscos certamente são muitos, mas devem ser
enfrentados o mais depressa pelo Estado.

1.3 O novo direito do trabalho: direito do colaborador


Exploração da mão de obra era um dos elementos essenciais do
fundamento da economia. Na era da informação, no entanto, quebra-
se essa lógica. O trabalho braçal cada vez mais será feito por máqui-
nas, sendo reduzido ao custo de equipamento, manutenção e energia.
O valor do ser humano estará cada vez mais em sua capacidade
cognitiva, o que impossibilita uma exploração nos padrões anteriores.
O antigo direito do trabalho, na nova dinâmica disruptiva, passa
a ser substituído pelo direito do colaborador. E tal constatação parte
basicamente de uma única nova característica: os indivíduos que em-
pregam sua força de trabalho, e desta forma contribuem para a geração
de lucro para as empresas, possuem uma autonomia que não era obser-
vada em modelagens anteriormente postas.
O indivíduo neste novo mundo passa a ter um posicionamento de
colaborador do negócio, inclusive tendo sua remuneração muitas vezes
relacionada com o sucesso do business, e uma rotina de lexibilidade
de tempo que não justifica a aplicação da legislação trabalhista
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
175

tradicional. É de se notar neste sentido que a legislação brasileira é


muito intervencionista e em certa medida arcaica, diicultando muitas
vezes o desenvolvimento de práticas utilizadas em diversas partes do
globo – muitas das quais atraem grande interesse por parte dos cola-
boradores, notadamente dos chamados millenials.
A reorganização do trabalho ocorre em dois sentidos. A primeira
faceta de mudança diz respeito à diminuição da verticalização econô-
mica das empresas. Hoje o que se observa em diversos setores é que a
cadeia de produção está mais complexa. Ou seja, grupos econômicos
horizontalizados dão espaço para um maior número de empresas, de
dimensões menores e mais especializadas.
Essa economia horizontalizada põe em xeque as estruturas am-
plamente hierarquizadas. Planos de carreira e estabilidade de emprego
serão lembranças de um ambiente de trabalho progressivamente em
desuso, diante de um mundo com tamanha volatilidade do mercado
de trabalho, em que a liquidez da realidade se expressa de forma tão
intensa.
Além disso, em um mundo cujo conhecimento é o grande valor,
o cérebro passa a valer mais que a força de trabalho. Daí a importância
que os investidores passam a dar para a igura do fundador de deter-
minada empresa. Trata-se do grande objeto de valor das operações, que
representa o conhecimento, o know-how e a capacidade de entender o
novo mundo e assim conduzir os projetos.
Em uma nova dimensão de automação e robótica, a exploração
simples da mão de obra é substituída por ambientes de mão de obra
amplamente especializada. O direito do trabalho atual ainda faz sentido
para atividades condizentes com o século passado, mas em nada se
adequa às novas modelagens que se proliferam em diversos segmentos.
A desconstrução da exploração da mão de obra, em contrapartida ao
investimento do suor, se coloca de forma clara. No âmbito de dinâmicas
disruptivas, em regra, estamos diante de práticas mais relacionadas
com parcerias e menos com subordinação.
Isso se relete inclusive no ambiente de aquisições de empresas,
que passam a ter especial foco nos indivíduos que conduzem o negócio,
implicando a aproximação das áreas de M&A e dos departamentos de
RH. Os diretores de novos de negócios nunca foram tão headhunters
como neste novo mundo.
Além disso, analisando o direito trabalhista sob um viés mais
ilosóico e subjetivo, cabe mencionar que as dinâmicas de trabalho
passam a ser mais lexíveis. O que se poderia denominar de modelagem
176
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Google se espalha com uma velocidade cada vez mais intensa por
diferentes segmentos da economia. Trata-se muitas vezes de demanda
do mercado e dos próprios colaboradores, o que implica constatar que
o direito do trabalho precisa se adequar, sob pena de ser compreendido
como razão de atraso social – perspectiva já compartilhada por alguns
setores econômicos especíicos.
Um aspecto de natureza geracional, abordado de forma breve
anteriormente, diz respeito às principais características da geração Y,
millenials, ou ainda geração on demand, que já se encontra plenamente
inserida no mercado de trabalho, e ao longo dos próximos anos gal-
gará passos acelerados rumo às lideranças do setor público e privado.
Aspectos como o desejo de valorização do reconhecimento nas insti-
tuições, a diiculdade em vivenciar dinâmicas hierarquicamente estra-
tiicadas e o anseio por compatibilizar vida proissional e pessoal são
apenas alguns dos elementos que movem esta nova geração de indi-
víduos. A própria tecnologia, que integra diversos momentos da vida
pessoal e proissional, rompe com a barreira estanque que tradicio-
nalmente separava trabalho e tempo livre.
Outro aspecto a ser analisado diz respeito à utilização das plata-
formas como forma de exploração econômica. As modelagens deno-
minadas de marketplace, B2B, B2C, O2O, entre outras, ensejam uma nova
realidade. As novas aplicações tecnológicas oportunizam a estruturação
de diversos micronegócios. Estamos caminhando a passos largos para
uma nova realidade que, sob a perspectiva marxista, pode ser carac-
terizada como a ditadura da pequena burguesia. Momento em que a
dita exploração do trabalho, em diversos segmentos, parece sucum-
bir às modelagens de parceria entre empresas, ou entre indivíduos e
empresas.
A ausência de vínculo empregatício é uma marca das novas
dinâmicas, cabendo um próprio questionamento a respeito da existência
ou não de relação de trabalho. A zona cinzenta que se coloca entre uma
relação eminentemente civil e trabalhista é o que enseja a relexão de que
uma nova categoria, que aqui deinimos como direito do colaborador,
se insere. Parece relevante que haja uma proteção para ambos os lados,
empresas e indivíduos que se relacionam em dinâmicas de B2B, B2C,
O2O ou marketplace. No entanto, o que existe hoje do ponto de vista
normativo parece não ser adequado, implicando necessárias e urgentes
mudanças.
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
177

1.3.1 Venture capitals: inanciando um outro capitalismo


Conforme exposto no item anterior, a mudança no ambiente de
trabalho fez com que as áreas de recursos humanos (RH) e fusões e
aquisições (M&A) se aproximassem de maneira outrora impensável.
A forma de nascimento das novas empresas também traz importantes
relexos para o universo dos negócios, e, consequentemente, para o
direito. A igura do fundador, que pode ser compreendido como o líder
ideológico da modelagem, passou a ter uma importância muito grande,
diminuindo por consequência a presença de executivos habilitados em
cortar, aumentar a eiciência e o lucro.
Como dito, vivemos um período de transição entre o im da era
industrial, pautada em uma cultura de consumo que se iniciou com a
revolução industrial, e a ascensão da era da informação, que tem por
marco inicial a popularização da internet. Diante de uma nova forma
de produção, a ideia do consumo ganhou escala global e se iniltrou
nos diferentes países e culturas mundiais. Do ponto de vista do inves-
timento, a grande marca desta era são os bancos de investimento, com
suas respectivas formas de atuação.
As lições de investimento de Warren Bufet – classiicado por
muitos como o maior investidor do século XX – demonstram bem
essa percepção de mundo, em que se deveria investir em produtos
fáceis de vender, rentáveis e com uma boa base de clientes. Não sem
motivo a Coca-Cola é um dos símbolos de sucesso e case icônico da
vida de grandes investimentos de Bufet. Como dica para obter lucro,
o “Oráculo” – que não possui um computador em sua mesa e não usa
celular – sugere encontrar uma empresa com problemas temporários
e aproveitar a baixa das ações.
No entanto, esta realidade parece cada vez mais distante em um
ambiente disruptivo baseado em plataforma. As diferentes plataformas
tecnológicas estão alterando as cadeias produtivas e de comércio,
horizontalizando as relações. Neste contexto, as grandes corporações
tradicionais passam a dar espaço para novos grupos empresariais
tecnológicos, que por sua vez criam ecossistemas enormes que com-
portam proissionais liberais e empresas de menor porte. Verticalizar
não faz mais sentido, e a grande palavra da primeira metade do sécu-
lo XXI é “conexão”. Vivemos na “sociedade em rede”, tema exaus-
tivamente trabalho pelo professor Manuel Castells.
Tal mudança social e econômica implica a valorização da igura
do venture capital, VC, estrutura que tem no investidor Peter Thiel
um bom exemplo de como fazer dinheiro no século XXI. Neste novo
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
178 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

contexto, a perspectiva de comprar empresas que levaram décadas


para se consolidar, fazer adequações de custos, valorizar, vender ou
usufruir dos resultados não faz o menor sentido. O conceito passa a
ser adquirir plataformas tecnológicas, preferencialmente as monopolis-
tas – conforme bem orienta o próprio Thiel em sua obra Zero to one –,10 e
aumentar múltiplos simplesmente com o aumento da base de usuários,
tração, e a descoberta e/ou a execução de mecanismo de rentabilização.
Fenômeno interessante dessa transição, no âmbito do cenário
brasileiro, pode ser observado no recente investimento feito pelo famoso
empresário Jorge Paulo Lemann no Snapchat. Conforme exposto pela
mídia, o aporte em questão coincidiu com o im de um curso realizado
por Lemann no Vale do Silício. Ainda não é possível saber se tal posi-
cionamento será isolado ou uma nova guinada do ícone empresarial
brasileiro, que tradicionalmente sempre optou por seguir a cartilha de
adquirir empresas sólidas – tradicional cultura do Banco Garantia, em
grande medida inspirado no modelo do Goldman Sachs.
Do ponto de vista jurídico, a troca da era industrial pela era
da informação e seus reflexos nas operações negociais implicam
transformações. Se antes o advogado do comprador deveria buscar
os riscos existentes a partir de gigantescas due diligences, focadas em
empresas com décadas de operação e história, agora a questão é analisar
potenciais riscos em modelagens inovadoras nunca antes testadas. Se
antes o ativo era o fundo de comércio propriamente dito, o conjunto
de ativos de fácil identiicação, agora a questão são os usuários e as
cabeças que criaram. Trata-se de comprar objetos mais “líquidos”,
menos “palpáveis”. E o desaio passa a ser manter usuários e ampliar
projetos e dinâmicas, o que inevitavelmente ocorre com a manutenção
dos indivíduos que estão do lado vendedor.
Se antes as operações societárias se caracterizavam por mudança
de controle, com novos times de executivos alinhados com a lógica dos
fundos de cortar, tornar mais eiciente e lucrar, as novas estruturas
agora devem desenhar ambientes em que muitas vezes os fundadores
são mantidos no controle de decisões estratégicas, devendo ser, ao
máximo, preservados. É preciso, portanto, que os advogados tenham
grandes habilidades do ponto de vista da psicologia. Trata-se de uti-
lizar conhecimento técnico-jurídico nas novas dinâmicas de negócios,
ajudando na modelagem de estruturas legais que satisfaçam uma junção

10
THIEL, P.; MASTERS, B. Zero to one: notes on startups, or how to build the future. New
York: Crown Business, 2014.
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
179

perfeita entre capital e cabeças estratégicas. Do contrário, a compra de


determinada plataforma pode redundar em grandes prejuízos. A igura
do founder nunca foi tão relevante nos M&As.
Ainda que o número de usuários seja grande em determinada
plataforma, a volatilidade de mudança não permite uma garantia
dessa estabilidade. Até mesmo as empresas de produtos neste novo
mundo de “criativos inteligentes” – expressão bastante explorada por
Eric Schmidt e Jonathan Rosenberg na obra Como o Google funciona –11
sofrem profundamente com a saída de seus líderes. A queda das ações
da Apple após a já esperada renúncia de Steve Jobs no ano de 2011 ilus-
tram bem o ponto, ensejando o questionamento de a quanto poderia
chegar a desvalorização do Facebook com uma improvável saída de
Mark Zuckerberg da empresa.
Estamos diante de uma nova dimensão de capitalismo, mais
pautada no ser humano que tem a capacidade de enxergar e conduzir
a empresa até o futuro. Esse “capitalismo informacional”, como deiniu
Manuel Castells, deve ser muito bem compreendido pelos advogados
que buscam contribuir com momento tão particular da sociedade
humana.

1.3.2 O novo direito do consumidor: direito do usuário


Ainda, cabe apontar um relexo jurídico decorrente do novo
mindset dos empreendedores. A perspectiva de criar empresas que
nascem com o objetivo de resolver um problema – muitas vezes até
sem um modelo de rentabilização claro –, em contraposição ao estabe-
lecimento de projetos que visavam “vender” produtos em escala, de-
monstra uma mudança substancial do capitalismo.
Se antes cinco ou seis canais de televisão dominavam o entrete-
nimento dos indivíduos, permitindo que a massiicação de publicidades
com slogans fortes estimulasse o aumento da base de consumidores,
hoje, grandes impérios, como Google, cresceram em escala global
sem gastar um dólar com anúncios. A conexão em rede acabou com o
domínio do convencimento. As poucas fontes de informação que carac-
terizavam o século XX foram substituídas pelas bilhões de fontes do
século XXI. Atualmente, todos os internautas são potenciais produtores
de conteúdo, e se tiverem uma opinião relevante podem potencialmente
arrebanhar seguidores – isso muda tudo.

11
SCHMIDT, E.; ROSENBERG, J. Como o Google funciona. São Paulo: Intrínseca, 2015.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
180 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Esse poder dos usuários implica uma mudança clara em relação


ao comportamento das empresas, notadamente em dinâmicas de livre
mercado. E não estamos aqui a tratar de mudanças supericiais, mas
efetivamente de cultura empresarial. Os indivíduos nunca estiveram
com tanto poder para compreender o que efetivamente é uma crença
corporativa e o que é o estabelecimento de slogans vazios. No âmbito
dos monopólios naturais, ainda é possível agir como no século XX,
muito embora o anseio de empreendedores em romper com o status
quo ameasse até mesmo dinâmicas aparentemente “à prova de balas”.
O táxi é um bom exemplo de que até em dinâmicas dependentes
de autorização estatal é possível mudanças bruscas. Quem poderia
imaginar que a forma de quebrar com um segmento como esse seria com
a prestação de serviços de transporte individual com carros privados?
Ou seja, a falta de eiciência no sistema fechado oportunizou a criação
de um mercado paralelo que em última análise ameaça uma dinâmica
aparentemente estável.
Esse novo mundo de grande poder dos indivíduos, que inverte
em certa medida a lógica até então posta, de que as corporações
ditavam o comportamento, acaba por impactar a dinâmica do “direito
do consumidor”. Entendo que esse “ramo” do direito deve dar origem,
ao longo dos próximos anos, ao “direito do usuário”. Isso porque os
indivíduos que utilizam as novas plataformas tecnológicas têm maior
conhecimento, e, principalmente, poder frente às empresas, o que
justiica uma nova forma de o direito compreender e tratar o fenômeno.
Em regra, as barreiras de entrada nas novas dinâmicas disruptivas
são menores que nas modelagens econômicas físicas, o que admite que
um mesmo segmento seja atendido simultaneamente por mais de uma
empresa, gerando ambientes de concorrência perfeita, o que, por si
só, regula o mercado. E, mais que isso, a perspectiva empreendedora
moderna pautada na resolução de problemas e não na criação de
produtos comerciais estimula o estabelecimento de um ecossistema que
busca na ineiciência dos mercados a sua fonte de inspiração. Estamos
diante de um sistema de autorregulação privada de ineiciências
corporativas, que carecerá cada vez menos da interferência estatal para
tutelar eventuais problemas na relação entre empresa e indivíduo.
A tutela estatal de proteção do consumidor resta menos relevante,
visto que as empresas passam a ter um cuidado especial com seus
usuários, com receio de perdê-los para a concorrência. A diminuição
do controle de mercado é notória em diversas modelagens disruptivas.
Tal ausência de monopólio, em decorrência mesmo do empoderamento
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
181

a partir da escolha dos usuários, justiica a menor importância que se


dá ao sistema normativo protetivo.
Em um mundo de ampla valorização da avaliação, em que o
poder está nas mãos do usuário a todo momento, a legislação consume-
rista tradicional passa a ter papel secundário. São os usuários integrados
em rede que dão o norte de quem vai ou não sobreviver no mercado.
Outro aspecto a ser analisado diz respeito à responsabilidade na
hipótese de eventual dano. Cabe, neste sentido, questionar se ela deveria
ser imputada à plataforma ou ao prestador do serviço ou vendedor do
produto. A tendência é no sentido de horizontalização e descentrali-
zação da prestação de serviços, do comércio, e até mesmo da produção.
As plataformas tecnológicas organizam e oportunizam contato entre
indivíduos, quebrando com a lógica de centralização corporativa. Uber,
Airbnb, ifood, Getninjas, entre tantos outros, demonstram essa nova
dinâmica. Do ponto de vista jurídico, as responsabilidades dos players
do marketplace ainda não estão claramente deinidas.
Elucubra-se qual deveria ser o papel das empresas detentoras das
ferramentas de tecnologia nesta nova realidade, e de como é possível
criar mecanismos de garantia que protejam os usuários. E até mesmo
reletir a partir dos possíveis riscos sistêmicos existentes na hipótese
de imputação de responsabilidade para os provedores das novas
dinâmicas, que podem condenar não só empresas como as próprias
dinâmicas. São problemas novos, que carecerão cada vez mais do esta-
belecimento de uma nova área do direito para sua adequada relexão.

1.4 Conclusões preliminares


Falar de uma nova teoria do direito é certamente algo muito
ousado neste momento histórico. Mas as novas dinâmicas disruptivas
ensejarão transformações no direito – da mesma forma que já vêm
fazendo com tantas outras áreas da vida humana –, o que pode ser
compreendido como um aspecto revolucionário. Os novos modelos
disruptivos são relexos de uma nova compreensão a respeito da vida,
são fonte de mudanças e são indicativos de transformações bruscas que
alcançam diversas áreas do conhecimento e sociedade, e, inevitavel-
mente ensejarão seus relexos no direito. Trata-se de uma nova forma
de viver, e, por consequência, uma necessária nova forma de encarar
a realidade.
Estamos vivendo a plena ebulição de uma nova dimensão. A tec-
nologia tem acelerado as alterações de percepções e hábitos humanos.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
182 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

Partindo de uma visão platônica da realidade, em que as ideias estariam


fora do tempo e espaço, o que observamos é que estamos diante de uma
enxurrada de conexões que passam a descortinar uma nova realidade,
fato que por si só justiica a necessidade de novas relexões jurídicas
e políticas. Experimentamos uma verdadeira explosão cambriana
disruptiva, que não tem mais volta, e alterará por completo a vida dos
indivíduos.
Naturalmente, o Estado terá que se estruturar para atender às
novas gerações, que, a partir de novos anseios, se reletem em novos
modelos disruptivos. Assim, indivíduos com mais acesso à informação
e com maior nível crítico acabam por buscar novas formas de vivenciar
o Estado e o direito. É preciso que as ciências jurídicas relitam este
novo mundo que já não é mais um ilme de icção cientíica futurista,
mas sim uma realidade.

Referências
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BOWER, J. L.; CHRISTENSEN, C. M. Disruptive technologies: catching the wave. Harvard
Business Review, v. 73, n. 1, p. 43-53, Jan./Feb. 1995.
CHRISTENSEN, C. M. The innovator’s dilemma. Cambridge: Harvard Business School
Press, 1997
FELD, B.; MENDELSON, J.; COSTOLO, D. Venture deals: be smarter than your lawyer
and venture capitalist. 2. ed. Hoboken, N.J: Wiley, 2012.
FREITAS, R. V. de; RIBEIRO, L. C.; FEIGELSON, B. (Coord.). Regulação e novas tecnologias.
Belo Horizonte: Fórum, 2017.
HARARI, Y. N. Homo Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
HOROWITZ, B.; CIPOLLA, M. B. O lado difícil das situações difíceis. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2015.
ISMAIL, S.; MALONE, M. S.; GEEST, Y. V. Organizações exponenciais. [s.l.]: HSM, 2016.
JÚDICE, L. P.; NYBO, E. F. Direito das startups. Curitiba: Juruá, 2016.
MASON, P. Pós-capitalismo: um guia para o nosso futuro. Tradução José Geraldo Couto.
São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
MENDES, G. F. Direito, inovação e tecnologia. São Paulo: Saraiva, 2015. v. 1. Série Direito,
Inovação e Tecnologia.
PINHEIRO, P. P. Direito digital aplicado 2.0. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
RIES, E. A startup enxuta. Nova York: Crown Publishing Group, 2011.
SCHMIDT, E.; ROSENBERG, J. Como o Google funciona. São Paulo: Intrínseca, 2015.
BRUNO FEIGELSON
DIREITO DA INOVAÇÃO: A RELAÇÃO ENTRE AS NOVAS TECNOLOGIAS E AS CIÊNCIAS JURÍDICAS
183

SKIDELSKY, R.; SKIDELSKY, E. How Much is Enough?: Money and the good life. New
York: Other Press, 2012.
TAPSCOTT, D.; TAPSCOTT, A. Blockchain Revolution. São Paulo: Senai, 2017.
THIEL, P.; MASTERS, B. Zero to one: notes on startups, or how to build the future. New
York: Crown Business, 2014.
VANCE, A. Elon Musk. 1. ed. São Paulo: Intrínseca, 2015.

Informação bibliográica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

FEIGELSON, Bruno. Direito da inovação: a relação entre as novas tecnologias


e as ciências jurídicas. In: FERNANDES, Ricardo Vieira de Carvalho; COSTA,
Henrique Araújo; CARVALHO, Angelo Gamba Prata de (Coord.). Tecnologia
jurídica e direito digital: I Congresso Internacional de Direito e Tecnologia - 2017.
Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 159-183. ISBN 978-85-450-0453-0.
PÁGINA EM BRANCO
CAPÍTULO 2

JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI:


A REALIDADE E A FICÇÃO CIENTÍFICA
DO DISCURSO SOBRE O FUTURO DA
ADVOCACIA NA ERA DA INFORMAÇÃO

ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO

2.1 Introdução
O desenvolvimento tecnológico e a inovação têm o condão
não somente de transformar os meios de produção econômica, mas
também – e sobretudo – de alterar profundamente o meio social, seja na
divisão do trabalho, seja nas percepções do indivíduo sobre o mundo.
Ao tratar da divisão do trabalho social, Durkheim12 já propugnava que
o progresso não seria meramente efeito do tédio, mas antes de tudo o
resultado da complexiicação da sociedade, consistindo a inovação em
meio para a sobrevivência das diversas formas de vida que são próprias
da modernidade. Como qualquer outra transformação, diicilmente a
inovação tecnológica seria aceita sem qualquer animosidade.
Os estudiosos da Revolução Industrial dos séculos XVII e XVIII
indicam que suas maiores consequências foram sociais, na medida
em que a transição para a nova economia criou miséria e desconten-
tamento, levando empresários e burgueses empedernidos à falência e
produzindo, entre trabalhadores, revolta que os conduziu a reagir à

12
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
p. 193-273.
186
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

nova lógica produtiva com violência contra as máquinas que responsa-


bilizavam por seus problemas.13 O conhecido movimento ludista, que
teve início no século XVII com atos de destruição de máquinas movidas
a água ou vento e teve seu ápice no início do século XIX nos distritos
industriais ingleses, se caracterizou pela canalização da revolta dos
trabalhadores contra o maquinário que, em lugar da lógica capitalista,
criam ser a ferramenta fundamental para sua exploração.14
Ao passo que os ludistas originais podem ser considerados
os verdadeiros contrarrevolucionários da Revolução Industrial, os
“ludistas” das revoluções cientíicas e tecnológicas modernas são
aqueles que nunca tentaram, quiseram ou foram capazes de entender as
transformações operadas por esses processos.15 Na era da informação,
destruir máquinas certamente não terá qualquer consequência prática
no sentido da interrupção da inovação, porém o termo “ludista” pode
adquirir novas acepções ao ser associado com a atitude de repelência
à inovação tecnológica, especialmente nos setores em que possa ter
efeitos disruptivos.
O mundo jurídico tem visto de perto o potencial transformativo
das tecnologias da informação sobre práticas que desde os bacharéis de
Coimbra pareciam imutáveis. A automatização de repetitivos proce-
dimentos burocráticos, a introdução da inteligência artiicial para a
análise contratual e a análise de decisões, a possibilidade de previsão
de decisões judiciais por intermédio de modelos estatísticos e a auto-
matização da advocacia de massa são apenas alguns exemplos de
mudanças no mercado jurídico que podem alterar completamente as
feições da advocacia contemporânea. Se a tecnologia traz a promessa
de desburocratização e de revolução da advocacia, não se pode afastar
a presença do fantasma do ludismo, veriicável em substancial medida
no discurso do “senso comum teórico dos juristas”16 sobre a tecnologia.

13
HOBSBAWN, Eric. The age of revolution. Nova Iorque: Vintage Books, 1996. p. 38-39. Ver
também: THOMPSON, E. P. The making of the English working class. Nova Iorque: Vintage
Books, 1980; HOBSBAWN, Eric. The machine breakers. Past & Present, n. 1, p. 57-70, fev.
1952.
14
MARX, Karl. Capital: a critique of political economy. Middlesex: Penguin Books, 1976.
p. 554-555.
15
Ver: SNOW, C. P. The two cultures and the scientiic revolution. Nova Iorque: Cambridge
University Press, 1961; PYNCHON, Thomas. Is it O.K. to be a luddite? New York Times, 28
out. 1984.
16
WARAT, Luis Alberto. Saber crítico e senso comum teórico dos juristas. Sequência, v. 3,
n. 5, p. 48-57, 1982.
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI: A REALIDADE E A FICÇÃO CIENTÍFICA DO DISCURSO...
187

Neste trabalho, pretende-se separar o que há de mera especulação


e o que há de real nas conjecturas correntes sobre o futuro da advocacia
em face da inovação tecnológica, procurando ressaltar sempre a neces-
sidade de os juristas acompanharem e conhecerem as reais funções
das ferramentas que têm sido introduzidas no mundo jurídico para
transformá-lo, e não para destruí-lo.
Para tanto, o trabalho inicialmente tratará do fenômeno da dis-
rupção e sua relação com o desenvolvimento tecnológico, trabalhando
a dinâmica entre inovação, renovação e obsolescência no mercado jurí-
dico atual. Em seguida, pretende-se refutar alguns pontos do discurso
jurídico corrente sobre o futuro (ou o im) da advocacia em razão da
tecnologia, o que será feito mediante a análise crítica desse discurso e
a apresentação de alguns exemplos que permitam demonstrar a real
função desses instrumentos para o aprimoramento do mundo jurí-
dico. Por im, este artigo brevemente apresentará as perspectivas de
adaptação do mundo jurídico à tecnologia, procurando demonstrar as
possibilidades desse novo mundo para o direito.

2.2 O desenvolvimento tecnológico e o fenômeno da


disrupção
Em seu livro clássico Capitalismo, socialismo e democracia, Joseph
Schumpeter17 sugere que o capitalismo é, por sua própria natureza, um
método de transformação econômica que apenas circunstancialmente
se reveste de caráter estacionário. As transformações econômicas
são operadas pelas alterações na vida social, pelo aumento da popu-
lação e pelas variações na distribuição de riquezas que resultam
do surgimento de novos bens de consumo, dos novos métodos de
produção e transporte, dos novos mercados e das novas formas de
organização industrial produzidas para fazer frente às demandas com
que se deparam os agentes econômicos. Nesse sentido, a economia
capitalista revoluciona incessantemente sua estrutura a partir de dentro,
destruindo o antigo para introduzir elementos novos em um processo
de destruição criadora.
A dinâmica da inovação afeta os processos produtivos por com-
pleto, de maneira a alterar fundamentalmente as relações de trabalho e

17
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de
Cultura, 1961. p. 108-110.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
188 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

a demanda pela prestação de serviços de proissionais especializados.


A passagem para o século XXI foi, em grande medida, marcada pela
transição de uma economia baseada na produção de bens para um
sistema estruturado sobre ideais de produtividade e de crescimento
atrelados à geração de conhecimento e à prestação de serviços, contri-
buindo para uma demanda cada vez maior por proissionais altamente
especializados em suas atividades intelectuais.18
A transformação, portanto, advém principalmente de uma mu-
dança na demanda, que passa a requerer o atendimento mais veloz de
suas recém-surgidas necessidades, e do correspondente movimento das
forças produtivas no sentido de sua restruturação para que se atenda à
demanda em questão com a correspondente maximização de lucros.19
Os recursos disponíveis, assim, passam a ser alocados para o campo da
inovação para que efetivamente possam fazer frente a essas demandas,
o que não necessariamente é acompanhado por uma alteração na
forma de estruturação do trabalho que se submete à lógica produtiva
vigente em determinado mercado.20 O que se veriica, na verdade, é
que a compreensão do valor do trabalho em cada atividade é fator
determinante para a deinição do papel da tecnologia na intermediação
das relações de prestação de serviços.21
Observe-se que tal tendência não é exclusiva da sociedade da
informação, apesar de contar com uma série de peculiaridades que
são próprias do universo digital e da economia globalizada contempo-
rânea. Ao referir-se à estrutura do capitalismo moderno, Werner
Sombart22 aduzia que a nova ordem econômica capitalista requeria “meio-
humanos”, seres desalmados, despersonalizados e desincorporados,
que se tornariam pequenas engrenagens de um mecanismo complexo.
Signiica dizer que determinadas atividades, a partir da reformulação da
lógica produtiva e da introdução de aparatos tecnológicos que facilitem
ou substituam o trabalho humano, despem o trabalho de qualquer

18
CASTELLS, Manuel. The rise of the network society. 2. ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010.
p. 218-219.
19
CHRISTENSEN, Clayton M. The innovator’s dilemma: when new technologies cause
great irms to fail. Boston: Harvard Business School Press, 1997. p. 89. Ver também:
BAUDRILLARD, Jean. La société de consummation: ses mythes, ses structures. Paris: Denoël,
1970.
20
CHRISTENSEN, Clayton M. The innovator’s dilemma: when new technologies cause great
irms to fail. Boston: Harvard Business School Press, 1997. p. 90-91.
21
BIERNACKI, Richard. The fabrication of labor: Germany and Britain, 1640-1914. Berkeley:
University of California Press, 1997.
22
SOMBART, Werner. Der moderne Kapitalismus. Leipzig: Duncker & Humblot, 1902.
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI: A REALIDADE E A FICÇÃO CIENTÍFICA DO DISCURSO...
189

valor moral ou senso de propósito para dar lugar à implementação


racionalizada de tarefas em série.23 Trata-se, fundamentalmente, do
que Marx24 denominou por “reiicação” do trabalho.
Ainda que tal raciocínio possa, em alguma medida, ser trans-
portado para as relações econômicas atuais, certamente não se pode
falar em progresso econômico e em inovação tecnológica como se fazia
na primeira metade do século XX. Hoje, o desenvolvimento econômico
tende não a fortalecer o modelo da macroempresa verticalizada, mas
a “miniaturizar” as estruturas corporativas em virtude das economias
de recursos possibilitadas pela tecnologia.25 Em termos econômicos,
a tecnologia permite que custos sejam reduzidos mediante a espe-
cialização do trabalho, a introdução de maquinário automatizado,
entre outras técnicas de otimização da produção.26 Daí a importância
dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, considerando que
os recursos (físicos, humanos, entre outros) necessários a determinado
empreendimento serão condicionados, entre outros fatores, pela capa-
cidade técnica disponível.27
É importante observar que, no mesmo passo em que possibilita
a redução das estruturas organizacionais das empresas, a tecnologia
permite a substituição do trabalho repetitivo por tecnologia capaz de
absorver essas atividades.28 A tecnologia, assim, promoveria a substi-
tuição do trabalho repetitivo e massiicado pelo trabalho especializado,
muitas vezes encerrando antigos métodos de trabalho para dar lugar
a novos formatos de trabalho que, por automatizarem processos
mecânicos e repetitivos antes realizados por humanos, podem ser
considerados os verdadeiros culpados pela degradação de condições
de trabalho, pela redução de remunerações e mesmo pelo desem-
prego. Tal atitude se traduz, em um primeiro momento, em um “pessi-
mismo tecnológico”, postura de desconiança com relação às novas

23
BAUMAN, Zygmunt. Work, consumerism and the new poor. 2. ed. Nova Iorque: Open
University Press, 2005. p. 7-8.
24
MARX, Karl. Capital: a critique of political economy. Middlesex: Penguin Books, 1976.
p. 198-210.
25
BAUMAN, Zygmunt. Work, consumerism and the new poor. 2. ed. Nova Iorque: Open
University Press, 2005. p. 64.
26
PENROSE, Edith. The theory of the growth of the irm. 4. ed. Oxford: Oxford University Press,
2009. p. 80-82.
27
PENROSE, Edith. The theory of the growth of the irm. 4. ed. Oxford: Oxford University Press,
2009. p. 80-82.
28
BAUMAN, Zygmunt. Work, consumerism and the new poor. 2. ed. Nova Iorque: Open
University Press, 2005. p. 64.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
190 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

tecnologias,29 para eventualmente evoluir para o que aqui se procura


denominar por “ludismo”, isto é, a aversão à tecnologia em razão da
mudança social que tem o condão de provocar.30
A reformulação da lógica operativa de determinada atividade
econômica, repercutindo seja na estrutura de incentivos dos agentes,
seja na divisão social do trabalho, pode ser sintetizada por intermédio
do fenômeno da disrupção, isto é, da superação de modelos de negócio
antigos por estratégias inovadoras. Segundo Christensen,31 a disrupção
pode apresentar tanto ameaças – na medida em que tem o condão de
tornar obsoletos mesmo os modelos de negócios de grandes e sadias
empresas – quanto oportunidades de investimento e crescimento se as
oportunidades foram captadas a tempo.
Além disso, especialmente em momentos de crise, não se pode
ignorar a impressão de que o próprio mercado de trabalho poderia
passar por processo de disrupção mediante a introdução de tecnologias
que automatizem procedimentos laborativos antes levados a cabo
por seres humanos.32 Contudo, tal ponto de vista – ainda que não
dispensável de pronto – em grande medida ignora o fato de que a
mudança tecnológica foi fator fundamental para a geração de empregos
na América Latina desde os anos 1990, especialmente no mercado de
serviços em franca expansão.33 Por esse motivo, é necessário que se
tenha cautela em qualquer análise que pretenda atribuir à tecnologia,
por si só, a degradação de condições de trabalho ou a diminuição do
acesso a empregos, mesmo porque a inovação tem o potencial de criar
novos mercados, novas demandas e até novos postos de trabalho aptos
a substituir aqueles que se tornaram obsoletos.34
Em síntese, a disrupção não deve ser rejeitada de pronto, na
medida em que não objetiva diretamente extinguir proissões, mas

29
MARX, Leo. The idea of “technology” and postmodern pessimism. In: EZRAHI, Yaron;
MENDELSOHN, Everet; SEGAL, Howard. Technology, pessimism, and postmodernism.
Berlin: Springer, 1994.
30
JONES, Steven E. Against technology: from the luddites to neo-luddism. Nova Iorque:
Routledge, 2006.
31
CHRISTENSEN, Clayton M. The innovator’s dilemma: when new technologies cause great
irms to fail. Boston: Harvard Business School Press, 1997. p. 16-17.
32
CASTELLS, Manuel. The rise of the network society. 2. ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010.
p. 267-272.
33
CASTELLS, Manuel. The rise of the network society. 2. ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010.
p. 267-272.
34
Com relação ao determinismo tecnológico, ver: MCLUHAN, Marshall; MCLUHAN, Eric.
Laws of media: the new science. Toronto: University of Toronto Press, 1988.
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI: A REALIDADE E A FICÇÃO CIENTÍFICA DO DISCURSO...
191

transformá-las, consistindo muito mais em fenômeno socialmente


construtivo do que destrutivo.35 O direito e o mercado de serviços jurí-
dicos não escapam a essa lógica, tendo seus seculares procedimentos
mecânicos e analógicos sendo substituídos por alternativas eletrônicas
que em substancial medida incrementam eficiência e reduzem
burocracia. O ludismo também se faz presente no âmbito do direito,
considerando que as inovações tecnológicas no mundo jurídico não
apenas têm sido recebidas com certa resistência, como têm ensejado
relexões sobre um eventual im de diversas carreiras jurídicas. Com
isso, expostas as premissas teóricas ora adotadas, as próximas seções
cuidarão de expor o modus operandi da disrupção das atividades
advocatícias e o discurso dos juristas sobre o futuro de seu ofício.

2.3 A transformação da prática jurídica em razão da


tecnologia
O espanto que a introdução de novas tecnologias no mundo
jurídico causa pode ser explicado pelo fato de as proissões jurídicas
terem mudado pouco em seus métodos nas últimas décadas. Para
além da gradativa – e ainda não completa – introdução do processo
eletrônico e do desenvolvimento de mecanismos virtuais de pesquisa
de jurisprudência, o trabalho do jurista contemporâneo continua não
apenas analógico, mas desnecessariamente mecânico e repetitivo. Frente
aos diversos avanços e benefícios que a tecnologia pode prestar à prática
jurídica, não parece adequado que continuemos a perpetuar a imagem
descrita por Charles Dickens,36 de diversos advogados prostrados em
torno de montanhas de papéis caros e sem sentido.
Ao analisar o futuro da advocacia frente à inovação tecnológica,
Richard Susskind37 entende que, para que os advogados sobrevivam
e prosperem nesse contexto tão diverso, faz-se necessário que respon-
dam de maneira criativa às demandas em constante evolução e ao
mercado de trabalho em transformação. Confrontada com a tecnologia,
a advocacia pode ser segregada em diversas rotinas separadas, cada
qual tornada mais eiciente mediante a implementação de solução

35
SUSSKIND, Richard; SUSSKIND, Daniel. The future of professions: how technology will
transform the work of human experts. Oxford: Oxford University Press, 2015. p. 110.
36
DICKENS, Charles. Bleak house. Londres: Bradbury & Evans, 1853. p. 2.
37
SUSSKIND, Richard. The end of lawyers? Rethinking the nature of legal services. Oxford:
Oxford University Press, 2010. p. 269.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
192 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

tecnológica especíica.38 Nesse sentido, o primeiro passo é o de superar a


igura do advogado onipotente para conceber soluções que aperfeiçoem
a realização das diversas tarefas que constituem tal ofício.
Cabe, desde já, adiantar que a proposta da tecnologia aplicada ao
direito não é a de destruir postos de trabalho e relegar a uma pequena
elite de advogados a condução de atividades jurídicas complexas e
ainda inalcançáveis por máquinas, mas de ressigniicar a advocacia
a partir de ferramentas que permitam aperfeiçoar a proissão. O afas-
tamento de eventuais opiniões em contrário pode se dar com a referência
às primeiras teorizações sobre o papel das máquinas na sociedade.
Segundo Ada Lovelace,39 pioneira da programação de computadores,
máquinas seriam incapazes de criar coisas novas. Para Lovelace,40 a
“máquina analítica” não teria a pretensão de criar, mas tão somente de
fazer qualquer coisa que os seres humanos sejam capazes de determinar
que faça. Por conseguinte, mesmo a inteligência artiicial terá caráter
instrumental.
Asseveram McGinnis e Pearce41 que as máquinas terão papel
relevante na ressigniicação de cinco searas básicas: (i) a descoberta de
itens relevantes, isto é, a revisão de documentos jurídicos com vistas
a identiicar palavras-chave que tornem um documento especíico
relevante em meio a um cipoal de outras peças; (ii) a pesquisa jurídica,
em grande medida aperfeiçoada por algoritmos que permitam iden-
tiicar os aspectos mais relevantes de precedentes judiciais ou de artigos
doutrinários; (iii) a geração de documentos, mediante a introdução de
elementos de grandes bases de dados em formulários estruturados para
dar forma a contratos ou outras peças; (iv) a geração de textos de forma
livre, como memorandos e relatórios; e (v) a previsão de casos futuros.
A aplicação de soluções tecnológicas ao direito passa a produzir
preocupações na medida em que apresenta seu potencial de disrupção,
isto é, de alterar a dinâmica de trabalho dos operadores do direito de
sorte a desempenhar mais eicientemente as funções antes atribuídas a

38
SUSSKIND, Richard. Tomorrow’s lawyers: an introduction to your future. Oxford: Oxford
University Press, 2017. p. 34-37.
39
A respeito da história de Lady Ada Lovelace e de seu papel na criação e evolução da
computação, ver: ESSINGER, James. Ada’s algorithm: how Lord Byron’s daughter Ada
Lovelace launched the digital age. Londres: Melville House, 2014.
40
LOVELACE, Ada. Notas à tradução. In: MENABREA, L. F. Sketch of the analytical engine
invented by Charles Babbage. Scientiic Memoirs, v. 3, 1843.
41
MCGINNIS, John O.; PEARCE, Russell G. The great disruption: how machine intelligence
will transform the role of lawyers in the delivery of legal services. Fordham Law Review,
v. 82, n. 6, p. 3041-3066, 2014. p. 3046.
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI: A REALIDADE E A FICÇÃO CIENTÍFICA DO DISCURSO...
193

humanos.42 Em termos econômicos, a tecnologia tem o condão de reduzir


custos de transação na organização das atividades jurídicas, isto é, de
reduzir os custos de operação do sistema econômico ao proporcionar
novas formas de organização das atividades jurídicas.43 Daí por que
se pode airmar que a disrupção afeta não apenas advogados isolados,
mas também tem o potencial de revolucionar os grandes escritórios
de advocacia que, por seu volume de atividades e pelo número de
proissionais envolvidos, antes pareceriam too big to fail.44 O crescimento
das demandas por tecnologia, assim, exige uma necessária realocação
de recursos, sob pena de grandes modelos de negócio sucumbirem às
eiciências produzidas pela tecnologia.45
Tendo em vista essas premissas, a referência a alguns dos serviços
jurídicos eletrônicos atualmente disponíveis pode servir para esclarecer
as perspectivas dos anos vindouros e os desaios de adaptação que
serão paulatinamente impostos à advocacia. Em primeiro lugar, a evo-
lução dos serviços de assistência jurídica on-line tende a colocar tais
plataformas como primeira opção à clássica procura por um advogado,
levando o usuário a, inicialmente, procurar conhecer seu problema on-
line antes de procurar por um proissional presencialmente.46
Nesse sentido, pode-se mencionar a plataforma Jusbrasil,47 que
conta com ampla gama de advogados cadastrados que podem ser
facilmente acessados por qualquer usuário que procure consulta jurí-
dica. No entanto, pode-se ir ainda mais além para cogitar de serviços
completamente automáticos que prescindem até mesmo da intervenção
de advogados reais, como já acontece no âmbito da medicina, com
plataformas capazes de, a partir de algoritmos de inteligência artiicial,

42
CHRISTENSEN, Clayton M. The innovator’s dilemma: when new technologies cause great
irms to fail. Boston: Harvard Business School Press, 1997.
43
Ver: COASE, Ronald. The nature of the irm. Economica: New Series, v. 4, n. 16, p. 386-405,
nov. 1937.
44
Conferir: GARTH, Bryant G. As proissões jurídicas no século XXI: globalização, a
reforma da educação jurídica, desigualdade e império. In: FORTES, Pedro Rubim Borges.
A formação da advocacia contemporânea. Cadernos FGV Direito Rio, v. 10, 2014;
GALANTER, Marc; PALAY, Thomas M. Why the big get bigger: the promotion-to-partner
tournament and the growth of large irms. Virginia Law Review, v. 76, p. 747-811, 1990.
45
CHRISTENSEN, Clayton M. The innovator’s dilemma: when new technologies cause great
irms to fail. Boston: Harvard Business School Press, 1997. p. 172.
46
SUSSKIND, Richard; SUSSKIND, Daniel. The future of professions: how technology will
transform the work of human experts. Oxford: Oxford University Press, 2015. p. 68-69.
47
Disponível em: <htps://www.jusbrasil.com.br/>.
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
194 TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

fornecer respostas e diagnósticos a partir de questões de pacientes e


mesmo de proissionais da área média. É essa a proposta de serviços
como o MedWhat.48
Na mesma linha, a dispensabilidade dos serviços advocatícios
frente à eiciência de plataformas on-line para a gestão de conlitos
também pode ser vislumbrada na seara do comércio eletrônico. Evi-
dência dessa tendência pode ser encontrada na edição de 2017 do
Prêmio Conciliar é Legal, do Conselho Nacional de Justiça, que agraciou
a empresa de tecnologia Mercado Livre por seu eicaz sistema de con-
ciliação e mediação de conlitos que, além de prevenir a judicialização
de diversas lides entre seus usuários, foi capaz de encerrar mais de
mil processos na Justiça, dando nova leitura à Resolução nº 125/2010
do CNJ, que deiniu a Política Judiciária Nacional de Tratamento
Adequado de Conlito.49
Outra onda de inovações pode ser veriicada no campo da análise
e produção de documentos, atividades que ocupam parcela substancial
do tempo dispendido por advogados em seu mister. Airma Susskind50
que tentativas de implementação de tecnologias para a produção de
minutas de testamentos e de documentação voltada ao mercado de
seguros já se faziam presentes no início dos anos 1980. Pode-se, nesse
sentido, mencionar os serviços LegalZoom51 e Rocket Lawyer,52 que têm
por objeto, entre outras funções, o fornecimento de modelos adaptáveis
para diversos tipos de contratos e outros documentos jurídicos.
À simples produção de documentos padronizados – que a cada
dia recebe inovações tendentes a aperfeiçoar e personalizar com maior
eicácia as peças produzidas, bastando a revisão de um proissional para
que sejam aplicadas à prática – acrescentam-se os complexos serviços
de gestão de processos de massa que, além de fornecerem estatísticas
acuradas dos processos em tramitação e de seus andamentos, se
utilizam de análise de big data e de dados extraídos de bases de dados
públicas para apoio na geração de petições. Não se pode deixar de

48
Disponível em: <htps://medwhat.com/>.
49
Ver: BANDEIRA, Regina. CNJ premia Mercado Livre por conciliar conlitos antes do
processo judicial. CNJ, 17 mar. 2017. Disponível em: <htp://www.cnj.jus.br/noticias/
cnj/84490-cnj-premia-mercado-livre-por-conciliar-conlitos-antes-do-processo-judicial>.
Acesso em: 9 out. 2017.
50
SUSSKIND, Richard. Tomorrow’s lawyers: an introduction to your future. Oxford: Oxford
University Press, 2017. p. 46.
51
Disponível em: <htps://www.legalzoom.com/country/br>.
52
Disponível em: <htps://www.rocketlawyer.com/>.
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI: A REALIDADE E A FICÇÃO CIENTÍFICA DO DISCURSO...
195

mencionar, nesse campo, a iniciativa brasileira Dra. Luzia, software de


inteligência artiicial aplicada a execuções iscais que conta inclusive
com o potencial de identiicar e priorizar as execuções mais eicazes,
assim permitindo a otimização da bizantina sistemática de execução
iscal no direito brasileiro.53
Por im – obviamente sem pretender exaurir o assunto –, pode-
se mencionar, no campo da previsão de decisões judiciais, o Supreme
Court Forecasting Project,54 implementado por pesquisadores norte-ame-
ricanos em 2004 para, a partir da análise em massa de casos julgados
pela Suprema Corte dos Estados Unidos, prever resultados de casos
futuros antes mesmo dos debates orais. Simultaneamente, as mesmas
“perguntas” submetidas ao sistema foram realizadas a proissionais do
direito atuantes na Suprema Corte. O modelo estatístico estruturado
pelos pesquisadores previu corretamente 75% das decisões do Tribunal,
ao passo que operadores do direito acertaram 59,1% dos resultados.
Todos esses exemplares de serviços potencialmente disruptivos
na seara jurídica servem para demonstrar como a fronteira da tecno-
logia jurídica difere das práticas corriqueiras da advocacia. Talvez
seja essa a razão pela qual as tecnologias disruptivas causem tanto
amedrontamento quando o que está em questão é o futuro da prática
jurídica. Conforme prevê Susskind,55 diicilmente, no futuro, grandes
advogados terão a importância que têm nos dias de hoje, tendo em vista
que advogados menos experientes (e mais baratos) serão capazes de
desempenhar as mesmas funções se auxiliados por sistemas inteligentes
e processos automatizados. Isso não signiica, por óbvio, o im da advo-
cacia, mas representa uma potencial queda na demanda por advogados
tradicionais. Essas inovações, porém, podem representar oportunidades
interessantes para proissionais lexíveis e capazes de adaptarem-se a
novas condições, como se pretenderá sustentar a seguir, em síntese
conclusiva do presente estudo.

53
Ver, sobre o modus operandi da execução iscal no Brasil: CUNHA, Alexandre dos Santos;
KLIN, Isabela do Vale; PESSOA, Olívia Alves Gomes. Custo e tempo do processo de execução
iscal promovido pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. Brasília: IPEA, 2011.
54
RUGER, Theodor W. et al. The Supreme Court forecasting project: legal and political
science approaches to predicting Supreme Court decisionmaking. Columbia Law Review, v.
104, p. 1150-1210, 2004.
55
SUSSKIND, Richard. Tomorrow’s lawyers: an introduction to your future. Oxford: Oxford
University Press, 2017. p. 133.
196
RICARDO VIEIRA DE CARVALHO FERNANDES, HENRIQUE ARAÚJO COSTA, ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO (COORD.)
TECNOLOGIA JURÍDICA E DIREITO DIGITAL – I CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E TECNOLOGIA – 2017

2.4 Caminhos alternativos ao ludismo jurídico:


perspectivas para o futuro
Por mais que se enuncie a necessidade de o proissional do direito
estar preparado para adaptar-se às novas condições de mercado geradas
pela tecnologia, pouco se tem tratado sobre as formas por meio das quais
os advogados poderão se preparar para essas mudanças. Nesse sentido,
faz-se necessário não somente que os advogados atuais repensem suas
práticas para adentrarem em novos mercados, mas que a formação dos
futuros juristas seja reformulada para que prepare proissionais para o
uso instrumental das tecnologias. Ante todo o exposto até o momento,
tem-se que o ensino jurídico não pode estar voltado à formação de
artesãos, mantendo-se incapaz de fomentar o uso das tecnologias e que
permeiam a realidade da proissão.56
Certo é que, em face dessas transformações, é necessário que
o jurista esteja preparado para conhecer e operar as inovações que
se lhe apresentam. Cabe, aqui, trazer de volta a alegoria do ludismo
apresentada no início deste trabalho, para lembrar que os ludistas do
século XIX não eram movidos tão somente pela ignorância quanto ao
papel das máquinas, mas antes de tudo pelo descontentamento sobre
a possibilidade de mudança de seu métier. Ainda que expressões como
“disrupção” ou “destruição criadora” possam sugerir a completa
substituição do antigo pelo novo, tal impressão não é verdadeira, na
medida em que a automação dos procedimentos jurídicos tem o condão
tão somente de privilegiar a capacidade intelectual de resolução de
problemas do advogado, que pode reduzir seu grau de preocupação e
o tempo dispendido com atividades mecânicas e repetitivas.
Conforme aduziu Roberto Mangabeira Unger, em palestra na
Universidade de Harvard, “ninguém deve realizar o trabalho que
pode ser feito por uma máquina”,57 de maneira que a possibilidade de
repetição de uma atividade não deve ser submetida ao labor humano.
Assim, o processo produtivo se transforma em um constante processo
de inovação e renovação autônomas. Complementa o autor, a respeito

56
FELIX, Loussia P. Musse. Novas dimensões da atuação jurídica: o papel de advogados,
burocrats e acadêmicos na redeinição da formação e das funções dos operadores jurídicos.
Disponível em: <htp://lasa.international.pit.edu/LASA98/Felix.pdf>. Acesso em: 9 out.
2017.
57
Informação fornecida por Roberto Mangabeira Unger, na palestra No one should have to
do work that can be done by a machine – Harvard thinks big, apresentada na Universidade de
Harvard, Cambridge, em 2013.
ANGELO GAMBA PRATA DE CARVALHO
JURISTAS E LUDISTAS NO SÉCULO XXI: A REALIDADE E A FICÇÃO CIENTÍFICA DO DISCURSO...
197

da preocupação com a geração de desemprego, que os resultados da


implementação de soluções tecnológicas dependem em grande medida
da forma de organização econômica em que se desenvolvem, uma vez
que um sistema de produção econômica descentralizada, cooperativa
e pautada no aproveitamento máximo da relação homem-máquina tem
potencial efeito contrário: o de produzir novas oportunidades.
Por conseguinte, o futuro da advocacia terá relação inarredável
com a tecnologia, que vem potencializar os serviços jurídicos e tornar
mais eiciente o aproveitamento do tempo dos operadores do direito.
O papel deste trabalho foi o de, a partir da exposição abstrata dos argu-
mentos “ludistas”, indicar que o futuro da advocacia não se resume
à destruição da prática jurídica como é hoje conhecida, mas consiste
sobretudo na perspectiva de criação de novas formas de advocacia, de
maneira descentralizada, inteligente e eiciente, reduzindo inclusive o
papel da escala na prestação satisfatória de serviços jurídicos. Assim, a
inovação tecnológica no direito não deve ser vista com a desconiança
dos ludistas, mas com a agudeza que é própria do mundo jurídico
para que seus operadores sejam os agentes da própria transformação.

Referências
BANDEIRA, Regina. CNJ premia Mercado Livre por conciliar conlitos antes do processo
judicial. CNJ, 17 mar. 2017. Disponível em: <htp://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84490-
cnj-premia-mercado-livre-por-conciliar-conlitos-antes-do-processo-judicial>. Acesso
em: 9 out. 2017.
BAUDRILLARD, Jean. La société de consummation: ses mythes, ses structures. Paris:
Denoël, 1970.
BAUMAN, Zygmunt. Work, consumerism and the new poor. 2. ed. Nova Iorque: Open
University Press, 2005.
BIERNACKI, Richard. The fabrication of labor: Germany and Britain, 1640-1914. Berkeley:
University of California Press, 1997.
CASTELLS, Manuel. The rise of the network society. 2. ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2010.
CHRISTENSEN, Clayton M. The innovator’s dilemma: when new technologies cause great
irms to fail. Boston: Harvard Business School Press, 1997.
COASE, Ronald. The nature of the irm. Economica: New Series, v. 4, n. 16, p. 386-405,
nov. 1937.
CUNHA, Alexandre dos Santos; KLIN, Isabela do Vale; PESSOA, Olívia Alves Gomes.
Custo e tempo do processo de execução iscal promovido pela Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional. Brasília: IPEA, 2011.
DICKENS, Charles. Bleak house. Londres: Bradbury & Evans, 1853.

Você também pode gostar