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28/06/2023, 10:22 Documento:710017239862

Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio Grande do Sul
Gab. Juíza Federal JOANE UNFER CALDERARO (RS-5B)

RECURSO CÍVEL Nº 5014788-32.2022.4.04.7107/RS


RELATORA: JUÍZA FEDERAL JOANE UNFER CALDERARO
RECORRENTE: LUIZ HENRIQUE DE SOUZA (AUTOR)
ADVOGADO(A): ALESSANDRA FRANKE STEFFENS (OAB SC021390)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

VOTO

Trata-se de ação em que o autor, licenciado das Forças Armadas


após a prestação do serviço militar obrigatório,  postula a condenação da
União a indenizar-lhe, proporcionalmente, as férias decorrentes da prestação do
serviço militar obrigatório, no período de 15/02/2018 a 01/12/2018, o qual,
quando do licenciamento, não lhe foi concedido ou indenizado.

Em suas razões recursais, em suma, sustenta que deve ser


computado o período de Curso de Preparação dos Oficiais de Reserva, para
todos os efeitos legais, inclusive para o período aquisitivo do direito às férias,
motivo pelo qual a sentença deve ser reformada. Ainda, alega que a Turma
Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, no Pedido de
Uniformização de Interpretação de Lei n.º 5000793-77.2016.4.04.7101/RS,
adotou a tese de que o período de prestação de serviço militar obrigatório gera
direito a férias regulamentares, uma vez que inexiste qualquer distinção entre as
modalidades dos serviços militares (obrigatório e de carreira) no artigo 63, da
Lei nº 6.880/80, cabendo a reparação mediante indenização em pecúnia, sem
direito à dobra, correspondente à última remuneração na ativa, acrescida do
terço constitucional, obedecidos os dispositivos legais aplicáveis, nos casos em
que a parte já houver sido desligada do Exército.

No que tange ao mérito recursal, verifico que a sentença recorrida


espelha o entendimento deste Colegiado acerca do direito à indenização de
férias não gozadas para aquele que prestou o serviço militar inicial e foi
licenciado antes de completar 12 meses, citando, inclusive, precedente desta
Turma Recursal, o qual sintetiza os fundamentos para a rejeição da tese da
parte autora (evento 15, SENT1):

2. FUNDAMENTAÇÃO

A controvérsia cinge-se à existência (ou não) do direito a indenização


de  férias  não gozadas para aquele que prestou o serviço  militar  inicial  e foi
licenciado antes de completar 12 meses.
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=2&numero_gproc=710017401199&versao_gproc=2&crc_gproc=99371c1e&term… 1/7
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Sobre o assunto, peço vênia para transcrever trecho do voto da Juíza Federal
Joane Unfer Calderaro, proferido no julgamento do Recurso Cível n° 5003263-
41.2022.4.04.7111/RS, cujos fundamentos adoto como razões de decidir:

O inciso XVII  do art. 7° c/c com o inciso VIII, do art. 142, ambos da
Constituição Federal, asseguram ao militar o direito a férias, além do
adicional de 1/3 sobre a remuneração:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros


que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a


mais do que o salário normal;

(...)

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e


pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer
destes, da lei e da ordem.

(...)

VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII,
XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem
como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. 37,
inciso XVI, alínea "c";   (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
77, de 2014)

(...)

Assim, a Constituição Federal recepcionou os preceitos relativos


às férias, estabelecidos nos Estatutos Militares:

Art. 50. São direitos dos militares:

(...)

IV - nas condições ou nas limitações impostas na legislação e


regulamentação específicas:

(...)

o) as férias, os afastamentos temporários do serviço e as licenças;

(...)

Art. 63.  Férias  são afastamentos totais do serviço, anual e


obrigatoriamente concedidos aos militares para descanso, a partir do
último mês do ano a que se referem e durante todo o ano seguinte.

(...)

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Desse modo, o primeiro  período aquisitivo  de  férias  somente se


incorpora ao direito do militar  após doze meses de atividade. Não é
possível, portanto, o gozo (concessão para descanso) de  férias  antes
desse prazo mínimo inicial.

Nesse passo, a MP 2.215-10, de 2001, assim dispôs:

Art.  2o    Além da remuneração prevista no art. 1o  desta Medida


Provisória, os militares têm os seguintes direitos remuneratórios:

(...)

II - observada a legislação específica:

(...)

d) adicional de férias; e

(...)

Por sua vez, regulamentando o adicional de férias, o art. 80 do Decreto


4.307, de 2002:

Art.  80.    O adicional de  férias  será pago, antecipadamente, no valor


correspondente a um terço da remuneração do mês de início das férias.

§  1o    O  militar  excluído do serviço ativo, por transferência para a


reserva remunerada, reforma, demissão,  licenciamento, no retorno à
inatividade após a convocação ou na designação para o serviço
ativo, perceberá o valor relativo ao período de férias a que tiver direito
e ao incompleto, na proporção de um doze avos por mês de efetivo
serviço, ou fração superior a quinze dias.

Como visto, o direito à  férias  é adquirido após o interregno


correspondente a doze meses, o qual se denomina 'período aquisitivo',
ou seja, por força do disposto no art. 63 da Lei nº 6.880/80, não há que
se falar em concessão ou indenização de  férias  sem que o
primeiro período aquisitivo esteja completo.

No caso do licenciamento ocorrer antes de completado o


primeiro  período aquisitivo  não haverá que se falar em pagamento
de férias proporcionais, apesar do que estabelece, isoladamente, o § 1º
do art. 80 do Decreto nº 4.307/2002.  Na verdade, tal dispositivo
disciplina o pagamento de férias proporcionais àqueles que já lograram
completar o período aquisitivo inicial.

Pelo exposto, em casos análogos, este Colegiado vem decidindo


pela improcedência da demanda, tendo em vista que o autor passou para
a  reserva não remunerada  após  prestar o serviço  militar  obrigatório
por período inferior a doze meses.

No caso dos autos, é incontroverso que o autor  prestou  serviço militar


obrigatório no período de 15/02/2018 a 01/12/2018,  na condição de aluno de
Órgão de Formação de Reserva (OFR). Veja-se, no ponto, o teor de certificado
de situação militar anexado à inicial (evento 1, CERTRESERVA4):

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Assim, nos termos da fundamentação acima exposta, não tendo o autor


completo doze meses de atividade militar, não adquiriu direito a férias e,
consequentemente, ao pagamento do  aludido benefício, tampouco ao
respectivo adicional.

Ainda nesse sentido:  5064409-24.2019.4.04.7100, QUINTA TURMA


RECURSAL DO RS, Relator RODRIGO KOEHLER RIBEIRO, julgado em
06/05/2020.

A pretensão autoral, portanto, não pode ser acolhida.

3. DISPOSITIVO

Ante o exposto, forte no art. 487, I, do Código de Processo Civil, julgo


improcedentes os pedidos formulados na inicial.

Assim, a sentença recorrida solucionou adequadamente a lide, em


consonância com a legislação de regência, não merecendo reparos.

Conclusão

O voto é por negar provimento ao recurso da parte autora, nos


termos da fundamentação.

A decisão da Turma Recursal assim proferida, no âmbito dos


Juizados Especiais, é suficiente para interposição de quaisquer recursos
posteriores.

O prequestionamento é desnecessário no âmbito dos Juizados


Especiais Federais. Isso porque o Artigo 46 da Lei 9.099/95 dispensa a
fundamentação do acórdão.

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Com isso, nos pedidos de uniformização de jurisprudência não há


qualquer exigência de que a matéria tenha sido prequestionada. Para o
recebimento de Recurso Extraordinário, igualmente, não se há de exigir, tendo
em vista a expressa dispensa pela lei de regência dos Juizados Especiais, o que
diferencia do processo comum ordinário.

Todavia, dou expressamente por prequestionados todos os


dispositivos indicados pelas partes nos presentes autos, para fins do art. 102, III,
da Constituição Federal, respeitadas as disposições do art. 14, caput e parágrafos
e art. 15, caput, da Lei nº 10.259, de 12.07.2001. A repetição dos dispositivos é
desnecessária, para evitar tautologia.

Condeno a parte recorrente vencida (art. 55 da Lei 9.099/1995) ao


pagamento de honorários advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor da
condenação ou, não havendo condenação, 10% sobre o valor da causa
atualizado. Em qualquer das hipóteses o montante não deverá ser inferior ao
valor máximo previsto na tabela da Justiça Federal para a remuneração dos
Advogados Dativos nomeados como auxiliares no âmbito dos JEFs (Resolução-
CJF nº 305/2014, Tabela IV). Exigibilidade suspensa em caso de deferimento da
gratuidade da justiça. A verba honorária é excluída caso não tenha havido
participação de advogado na defesa da parte autora assim como na hipótese de
não ter havido citação. Custas devidas pelo(a) recorrente vencido(a), sendo
isentas na hipótese de enquadrar-se no artigo 4º, inciso I ou II, da Lei nº
9.289/96.

Ante o exposto, voto por negar provimento ao recurso.

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Gab. Juíza Federal JOANE UNFER CALDERARO (RS-5B)


RECURSO CÍVEL Nº 5014788-32.2022.4.04.7107/RS
RELATORA: JUÍZA FEDERAL JOANE UNFER CALDERARO
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RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)

ACÓRDÃO

A 5ª Turma Recursal do Rio Grande do Sul decidiu, por


unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto do(a)
Relator(a).

Porto Alegre, 31 de março de 2023.

Documento eletrônico assinado por JOANE UNFER CALDERARO, Relatora do Acórdão, na forma
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EXTRATO DE ATA DA SESSÃO VIRTUAL DE 24/03/2023


A 31/03/2023

RECURSO CÍVEL Nº 5014788-32.2022.4.04.7107/RS


RELATORA: JUÍZA FEDERAL JOANE UNFER CALDERARO
PRESIDENTE: JUIZ FEDERAL GIOVANI BIGOLIN
RECORRENTE: LUIZ HENRIQUE DE SOUZA (AUTOR)
ADVOGADO(A): ALESSANDRA FRANKE STEFFENS (OAB SC021390)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)
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Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Virtual, realizada no
período de 24/03/2023, às 00:00, a 31/03/2023, às 14:00, na sequência 367,
disponibilizada no DE de 15/03/2023.

Certifico que a 5ª Turma Recursal do Rio Grande do Sul, ao apreciar os autos do


processo em epígrafe, proferiu a seguinte decisão:
A 5ª TURMA RECURSAL DO RIO GRANDE DO SUL DECIDIU, POR
UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

RELATORA DO ACÓRDÃO: JUÍZA FEDERAL JOANE UNFER CALDERARO


VOTANTE: JUÍZA FEDERAL JOANE UNFER CALDERARO
VOTANTE: JUIZ FEDERAL ANDREI PITTEN VELLOSO
VOTANTE: JUIZ FEDERAL GIOVANI BIGOLIN
PIERRE VIANNA RASSIER
Secretário

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