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Apelação Cível - Turma Espec.

III - Administrativo e Cível


Nº CNJ : 0105341-55.2014.4.02.5101 (2014.51.01.105341-8)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : EUGENIA MARIA MARTINHO MIDLEJ
ADVOGADO : RJ138001 - GEOVANI DOS SANTOS DA SILVA
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 06ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01053415520144025101)

EMENTA

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. PENSÃO MILITAR. ACUMULAÇÃO


COM DUAS APOSENTADORIAS DE MÉDICA. POSSIBILIDADE.
INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 29 DA LEI Nº 3.765/60 CONFORME ART. 37, XVI, E
§ 10, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88.
1. É plenamente cabível a percepção cumulativa do benefício da pensão militar com os
proventos de duas aposentadorias derivadas de cargos de médico. A peculiaridade com que
é tratada constitucionalmente a cumulação de cargos públicos remunerados pelo artigo 37,
inciso XVI, alínea “c”, deve nortear a interpretação do artigo 29 da Lei nº 3.765/60, de
modo a permitir a percepção simultânea de pensão militar com os proventos decorrentes de
duas aposentadorias do cargo de médico.
2. Tendo em vista que inexiste demonstração de que a autora preencheu, na via
administrativa, todos os requisitos para o deferimento da pensão militar pretendida e uma
vez que a discussão nestes autos se limitou a possibilidade de cumulação de duas
aposentadorias de médica com a pensão militar, a apelação deve ser parcialmente acolhida
para reformar a sentença e julgar procedente, em parte, o pedido apenas para se admitir a
cumulação de duas aposentadorias de médica com pensão militar.
3. Diante da sucumbência reciproca, os honorários de advogado e as custas devem ser
recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre a autora e a ré, nos termos
do artigo 21 do CPC/73, uma vez que a sentença foi publicada em 14/04/2015.
4. Apelação conhecida e parcialmente provida.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os presentes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Sétima Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2a Região, por unanimidade,

1
dar parcial provimento ao recurso, na forma do Relatório e do Voto, que ficam fazendo
parte do presente julgado.

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2018 (data do julgamento).

(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)

EUGÊNIO ROSA DE ARAÚJO


Juiz Federal Convocado
Relator
T215960 - orb

2
Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0105341-55.2014.4.02.5101 (2014.51.01.105341-8)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : EUGENIA MARIA MARTINHO MIDLEJ
ADVOGADO : RJ138001 - GEOVANI DOS SANTOS DA SILVA
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 06ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01053415520144025101)
VOTO

Conheço do apelo, porque presentes os pressupostos de admissibilidade.

No mérito, dou-lhe parcial provimento.

Objetiva a autora ser habilitada à cota-parte de pensão militar assegurada pela Lei nº
3.765/60, na condição de filha de militar, sem prejuízo do recebimento dos proventos de
aposentadoria decorrentes de duas matrículas no cargo de médica.

A apelante entende que a possibilidade de acumular a pensão militar pretendida com


as suas aposentadorias está respaldada no art. 11 da Emenda Constitucional nº 20/98.

O art. 37, §10, da Constituição da República, prevê a regra que veda o recebimento
simultâneo de proventos com a remuneração de cargos, ou seja, proíbe o acúmulo de
cargos, fazendo expressa ressalva aos cargos acumuláveis, que estão previstos no inciso
XVI do próprio artigo 37. Essa é a redação clara da norma, transcrita abaixo:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40


ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão
declarados em lei de livre nomeação e exoneração. ”. (G.N).
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

Considerando que a vedação acima que proíbe a acumulação de proventos e


vencimentos somente foi instituída pela Emenda Constitucional nº 20/98 e tendo em vista
que existiam casos em que servidores aposentados reingressaram no serviço público

1
prestando concurso público, o poder constituinte derivado estabeleceu uma norma de
transição, permitindo o recebimento simultâneo de proventos e vencimentos na hipótese
especificada abaixo, vedando, porém, uma segunda aposentadoria, ou seja, proibiu
expressamente o acúmulo de proventos de cargos inacumuláveis. Veja-se a seguir a norma:

“Art. 11 - A vedação prevista no art. 37, § 10, da Constituição Federal, não se aplica aos membros de poder e aos inativos, servidores e
militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público por
concurso público de provas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na Constituição
Federal, sendo-lhes proibida a percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência
a que se refere o art. 40 da Constituição Federal , aplicando-se-lhes, em qualquer hipótese, o limite de que trata o § 11 deste
mesmo artigo”. (G.N).

Contudo, essa norma do art. 11 da EC nº 20/98, por razões óbvias, não se aplica às
hipóteses em que a própria Constituição da República (art. 37, inciso XVI) permite a
acumulação de cargos, tais como no caso da apelante (profissionais de saúde), pois nesses
casos, a acumulação de proventos é um consectário lógico da acumulação de cargos.

Em momento algum está se discutindo a possibilidade da apelante acumular


proventos de médica, pois o art. 37, inciso XVI, c, permite expressamente essa acumulação.
Desta forma, a exclusão do art. 11 da EC nº 20/98 ao caso em análise é manifesta.
Quanto à pretensão em se acumular duas aposentadorias e uma pensão militar, deve-se
ressaltar que o fundamento no qual a Administração Militar indeferiu o pedido da apelante
seria a previsão constante no artigo 29 da Lei nº 3.765/60, que em sua redação originária,
dispunha:

“Art. 29. É permitida a acumulação:

a) de duas pensões militares;

b) de uma pensão militar com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos,


aposentadoria ou pensão proveniente de um único cargo civil.” (G.N.)

Por sua vez, a Constituição Federal de 1988 é explícita em admitir a cumulação


remunerada de dois cargos públicos de profissionais de saúde, desde que haja
compatibilidade de horários, a teor do disposto no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, in verbis:

2
“(...)
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
...
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; ;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 2001)

(...)”

Cumpre observar que diante deste permissivo constitucional, mesmo quando ainda
vigia a redação originária da Lei nº 3.765/60, a jurisprudência já havia firmado o
entendimento de ser plenamente cabível a cumulação de pensão militar com duas
aposentadorias decorrentes de cargo de professor (mesma regra dos profissionais de saúde),
conforme se depreende do seguinte aresto do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

“ADMINISTRATIVO. VIÚVA DE MILITAR. PENSÃO MILITAR. CONCESSÃO.


CUMULAÇÃO. PROVENTOS DE APOSENTADORIA DE DOIS CARGOS DE
PROFESSOR. ARTIGO 72, DO DECRETO Nº 49.096/60. POSSIBILIDADE.
- O ordenamento constitucional hodierno consagra o princípio geral da inacumulação de
cargos públicos, excepcionado apenas as hipóteses nela exaustivamente previstas, dentre elas a
de dois cargos de professores (art. 37, XVI, ("a"), desde que haja compatibilidade de horários.
- O artigo 72, do Decreto nº 49.096/60, deve ser interpretado à luz do preceito constitucional
que arrola as exceções ao mencionado princípio, o que há de ser feito necessariamente pela
admissibilidade da acumulação da Pensão Militar com os proventos de aposentadoria de dois
cargos de professor, ainda que as fontes pagadoras sejam distintas.
- Recurso especial não conhecido.”
(REsp 170536/RJ, Sexta Turma, Relator Ministro Vicente Leal, DJ 28/09/1998)”.

Para consolidar a orientação adotada, trago decisão do Superior Tribunal de Justiça


proferida pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima nos autos do Recurso Especial nº 1.089.113
(DJe 03/03/2010):

“Trata-se de recurso especial manifestado pela UNIÃO com base no art. 105, III, "a", da
Constituição Federal.
Insurge-se a recorrente contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que manteve

3
incólume sentença que, por sua vez, julgara procedente o pedido formulado na inicial a fim de
reconhecer o direito de a recorrida acumular suas duas aposentadorias de Professora (a
primeira paga pelo Município do Rio de Janeiro e a segunda pelo Estado do Rio de Janeiro),
com a pensão instituída por seu falecido pai, ex-militar do Exército.
(...)
É o relatório.
O presente recurso especial não pode ser conhecido.
Com efeito, verifica-se, da leitura do acórdão recorrido, que o Tribunal de origem decidiu a
controvérsia com base em fundamento eminentemente constitucional, senão vejamos (fl. 144):
Em síntese, o ordenamento constitucional hodierno consagra o princípio geral da inacumulação
de cargos públicos, excepcionado apenas as hipóteses nela exaustivamente previstas, dentre
elas a de dois cargos de professores (art. 37, XVI, "a"), desde que haja compatibilidade de
horários.
O artigo 29 da Lei nº 3.765/60, que autoriza apenas a cumulação da pensão militar com
proventos oriundos de um único cargo civil, deve ser interpretado à luz do preceito
constitucional que arrola as exceções ao mencionado princípio, o que há de ser feito
necessariamente pela admissibilidade da acumulação da pensão militar com os proventos de
aposentadoria de dois cargos de professor, ainda que as fontes pagadoras sejam distintas.
(...)
Ante o exposto, nos termos do art. 557, caput, do CPC, nego seguimento ao recurso especial.
Intimem-se.” (G.N).

Confira-se neste mesmo sentido: REsp nº 1.171.664, Relator Ministro Felix Fischer,
DJe 02/09/2010.

Assim, mesmo havendo na redação originária do artigo 29 da Lei nº 3.765/60 vedação


expressa à acumulação da pensão militar com aposentadorias provenientes de mais de um
cargo civil, não se poderia ter por legítima tal proibição, porquanto aqueles que se
aposentaram nos moldes do artigo 37, inciso XVI, alínea “c”, da Carta Maior, acabariam
por ser obrigados por lei ordinária a optarem por uma de suas aposentadorias para que
pudessem receber o benefício da pensão militar.

Caso se concebesse tal possibilidade, se estaria convalidando o sobrepujamento de


norma constitucional por norma infraconstitucional, ao se admitir haver na lei ordinária
uma limitação à permissão constitucional.

Com o advento da Medida Provisória nº 2215-10/2001, o referido dispositivo legal


passou a ter a seguinte redação:

4
“Art. 29. É permitida a acumulação:

I - de uma pensão militar com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos ou


aposentadoria;

II - de uma pensão militar com a de outro regime, observado o disposto no art. 37, inciso XI,
da Constituição Federal.” (G.N)

Com efeito, a peculiaridade com que é tratada constitucionalmente a cumulação de cargos públicos
remunerados deve nortear a interpretação do aludido dispositivo, de forma a se concluir que a alteração do
artigo 29 da Lei nº 3.765/60, introduzida pela Medida Provisória nº 2215-10/2001, ao suprimir a referência
a “um único cargo civil”, teve por fim amoldá-lo ao texto constitucional hodierno, que permite a
aposentadoria em dois cargos nas profissões lá abrangidas, taxativamente, dentre as quais se inclui a dos
profissionais de saúde.

Ademais, caso o Constituinte pretendesse obstar a percepção de pensão por morte


concomitantemente com remuneração de cargos públicos acumuláveis, o teria feito
expressamente.

Por conseguinte, é de se reconhecer plenamente cabível a percepção cumulativa pela


autora do benefício da pensão militar com os proventos de suas duas aposentadorias
derivadas de cargos de médica, sendo esse o entendimento deste Tribunal e do STF sobre a
matéria, in verbis:

“AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


ADMINISTRATIVO. ACUMULAÇÃO DE DOIS CARGOS PÚBLICOS DE
MÉDICO COM PENSÃO MILITAR. ARTIGO 37, INCISO XVI, ALÍNEA C,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE.
AGRAVO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS DE
SUCUMBÊNCIA. ARTIGO 85, § 11, DO CPC/2015. REITERADA
REJEIÇÃO DOS ARGUMENTOS EXPENDIDOS PELA PARTE NAS SEDES
RECURSAIS ANTERIORES. MANIFESTO INTUITO PROTELATÓRIO.
MULTA DO ARTIGO 1.021, § 4º, DO CPC/2015. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO.
(STF, ARE 1117555 AgR, rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, 04/06/2018)”.

5
ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACUMULAÇÃO DE PENSÃO MILITAR COM DUAS
APOSENTADORIAS PROVENIENTES DO EXERCÍCIO DO CARGO DE MÉDICA.
POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 29 DA LEI N° 3.765/60 CONFORME O
ART. 37, XVI E § 10, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. Apelação contra sentença que julgou improcedente o pedido de
acumulação da pensão militar, que a demandante faz jus em razão do óbito de seu pai, que era
militar das Forças Armadas, com duas aposentadorias provenientes de cargos de médica.
2. O direito à pensão por morte deverá ser examinado à luz da legislação que se encontrava
vigente ao tempo do óbito do militar instituidor do benefício, por força do princípio tempus
regit actum (STF, 1ª Turma, ARE 773.690, Rel. Min. ROSA WEBER, DJE 18.12.2014; STJ,
5ª Turma, AgRg no REsp 1.179.897, Rel. Min. JORGE MUSSI, DJE 18.11.2014). Em razão
da data do óbito do militar (16.6.2000), aplica-se ao caso a Lei n° 3.765/60, em sua redação
original.
3.O art. 29, "b", da Lei n° 3.765/60 dispõe que é permitida a acumulação da pensão militar
com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos, aposentadoria ou pensão
proveniente de um único cargo civil.
4. No entanto, a Constituição Federal, apesar de vedar a acumulação remunerada de cargos
públicos e aposentadorias, excepciona essa regra para alguns casos, como o de acumulação de
dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde (art. 37, XVI e § 10, da
Constituição Federal). Precedentes: TRF2, 8ª Turma, ApelReex 201351010445382, Rel. Des.
Fed. MARCELO PEREIRA DA SILVA, E- DJF2R 11.9.2015; TRF2, 5ª Turma, ApelReex
201151010132486, Rel. Des. Fed. ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES, E-
DJF2R 6.2.2014.
5. Desta forma, é possível a tríplice acumulação pretendida, uma vez que a presente hipótese
versa sobre duas remunerações relativas ao cargo de médica e uma pensão militar, razão pela
qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais normas de
inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária (art. 29, "b", da
Lei nº 3.765/60).
6. Os atrasados devem ser pagos desde a data do requerimento administrativo (3.8.2015),
ressalvados eventuais montantes pagos administrativamente.
7. Com relação à correção monetária, a partir de 30.6.2009, aplicam-se os percentuais dos
índices oficiais de remuneração básica da caderneta de poupança, em virtude da recente
decisão do E. STF, no RE 870.947, Rel. Min. LUIZ FUX, DJE 27.4.2015, que, ao reconhecer
a existência de repercussão geral sobre o tema, embora pendente de julgamento final,
consignou em seus fundamentos que, na parte em que rege a atualização monetária das
condenações imposta à Fazenda Pública, o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/2009, continua em pleno vigor. No período anterior devem ser observados
os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução nº 267, de

6
2.12.2013, do E.CJF). 1
8. Os juros de mora devem ser fixados, desde a citação, no mesmo percentual dos juros
aplicados à caderneta de poupança, a partir da vigência da Lei nº 11.960/2009, que alterou o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 (STJ, Corte Especial, REsp Representativo de
Controvérsia 1.205.946, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJE 2.2.2012; AgRg no REsp
1.086.740, Rel. Min. ASSUSETE MAGALHÃES, DJE 10.2.2014; AgRg no REsp 1.382.625,
Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJE 7.3.2014; TRF2, ApelReex 200051010111096, Rel.
Des. Fed. MARCUS ABRAHAM, E-DJF2R 26.6.2014; AC 200551010246662, Rel. Des.
Fed. ALUISIO MENDES, E-DJF2R 24.6.2014), com a ressalva da Súmula 56 do TRF2.
9. Inversão dos ônus sucumbenciais. Causa de pouca complexidade e que não apresenta
singularidade em relação aos fatos e direitos alegados, sopesando o tempo transcorrido (1
ano), a instrução dos autos e a existência de apelação, razoável a fixação dos honorários em
R$ 5.000,00. 5. Apelação provida
(TRF2, 0022996-61.2016.4.02.5101, rel. Des. Federal Ricardo Perlingeiro, 5ª Turma
Especializada, 12/05/2017).

APELAÇÃO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. MANDADO DE SEGURANÇA. PENSÃO


POR MORTE. CUMULAÇÃO COM OUTRAS DUAS APOSENTADORIAS DO CARGO
DE MÉDICO. POSSIBILIDADE. EXCEÇÃO CONSTITUCIONAL. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO DA UNIÃO.
1. A impetrante, ora apelada, é viúva de ex-militar da Marinha do Brasil, falecido no ano de
1981, e era beneficiária da pensão instituída pelo de cujus, através do Título de Pensão Militar
nº 41.280/81. A apelada já usufrui de dois proventos de aposentadoria, pagas pelo Ministério
da Saúde pelo exercício da função de médica no Hospital Federal dos Servidores do Estado do
Rio de Janeiro, matrícula SIAPE nº 6555162, e no Hospital São Lourenço - SUS/SMS,
matrícula SIAPE nº 0555162.
2. O direito à pensão por morte deverá ser examinado à luz da legislação que se encontrava
vigente ao tempo do óbito do militar instituidor do benefício, por força do princípio tempus
regit actum. Tendo em vista que o óbito do militar ocorreu no ano de 1981, o direito à pensão
é regulado pela Lei nº 3.765/60, sem as alterações introduzidas pela Medida Provisória nº
2.215- 10/2001. Segundo a redação original do artigo 29, alínea 'b', da Lei nº 3.765/60,
somente é possível a acumulação de uma pensão militar com proventos de aposentadoria de
um único cargo civil.
3. Ocorre que a Constituição Federal de 1967, em seu artigo 99, inciso IV, vigente à data do
óbito do ex-militar instituidor do benefício, muito embora proibisse a acumulação remunerada
de cargos e funções públicas, permitia a acumulação de remuneração e de aposentadoria de
dois cargos privativos de médico. Esta exceção também foi prevista pela Constituição Federal
de 1988, em seu artigo 37, inciso XVI, alínea 'c', e § 10, que, malgrado vede a acumulação

7
remunerada de cargos públicos e a percepção simultânea de aposentadorias decorrentes de
cargos públicos, excepciona essa regra para autorizar a acumulação de remuneração e de
aposentadoria de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas.
4. Desta forma, a impetrante faz jus à cumulação da pensão militar com os proventos das duas
aposentadorias do cargo de médico, por tratar-se de hipótese excepcionada pela Carta Magna,
razão pela qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais
normas de inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária
(artigo 29, alínea ‘b’, da Lei nº 3.765/60) sobre as exceções constitucionalmente previstas.
(Precedentes do TRF2: AC 201051100004390. Relatora: Desembargadora Federal Vera Lúcia
Lima. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe 23/09/2014; APELRE
201151010132486. Relator: Desembargador Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes. 1
Órgão julgador: Quinta Turma Especializada. DJe 06/02/2014; APELRE 201151010179600.
Relator: Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama. Órgão julgador:
Sexta Turma Especializada. DJe 15/04/2013; AC 200451010218420. Relatora: Juíza Federal
Convocada Maria Alice Paim Lyard. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe
09/06/2008).
5. Negado provimento à apelação da União Federal.
(TRF2, 0022612-06.2013.4.02.5101, rel. Des. Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes,
5ª Turma Especializada, 13/03/2015)”.

Com efeito, cabe a cumulação de duas aposentadorias de médica com a pensão militar.

Por outro lado, tendo em vista que inexiste demonstração de que a autora preencheu,
na via administrativa, todos os requisitos para o deferimento da pensão militar pretendida e
uma vez que a discussão nestes autos se limitou a possibilidade de cumulação de duas
aposentadorias de médica com a pensão militar, a apelação deve ser parcialmente
acolhida para reformar a sentença e julgar procedente, em parte, o pedido apenas para se
admitir a cumulação de duas aposentadorias de médica com a pensão militar.

Diante da sucumbência recíproca, os honorários de advogado e as custas serão


recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre a autora e a ré, nos termos
do artigo 21 do CPC/73, uma vez que a sentença foi publicada em 14/04/2015 (fl. 80).

Isto posto,

I. Conheço e dou parcial provimento à apelação da autora para reformar a sentença e


julgar procedente, em parte, o pedido apenas para se admitir a cumulação de dois proventos

8
de médica com a pensão militar.

II. Sucumbência recíproca (CPC/73, art. 21).

É como voto.

(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
EUGÊNIO ROSA DE ARAÚJO
Juiz Federal Convocado
Relator
T215960 - orb

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