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EMENTA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os presentes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Sétima Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2a Região, por unanimidade,
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dar parcial provimento ao recurso, na forma do Relatório e do Voto, que ficam fazendo
parte do presente julgado.
(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
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Apelação Cível - Turma Espec. III - Administrativo e Cível
Nº CNJ : 0105341-55.2014.4.02.5101 (2014.51.01.105341-8)
RELATOR : Desembargador Federal JOSÉ ANTONIO NEIVA
APELANTE : EUGENIA MARIA MARTINHO MIDLEJ
ADVOGADO : RJ138001 - GEOVANI DOS SANTOS DA SILVA
APELADO : UNIAO FEDERAL
PROCURADOR : ADVOGADO DA UNIÃO
ORIGEM : 06ª Vara Federal do Rio de Janeiro (01053415520144025101)
VOTO
Objetiva a autora ser habilitada à cota-parte de pensão militar assegurada pela Lei nº
3.765/60, na condição de filha de militar, sem prejuízo do recebimento dos proventos de
aposentadoria decorrentes de duas matrículas no cargo de médica.
O art. 37, §10, da Constituição da República, prevê a regra que veda o recebimento
simultâneo de proventos com a remuneração de cargos, ou seja, proíbe o acúmulo de
cargos, fazendo expressa ressalva aos cargos acumuláveis, que estão previstos no inciso
XVI do próprio artigo 37. Essa é a redação clara da norma, transcrita abaixo:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
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prestando concurso público, o poder constituinte derivado estabeleceu uma norma de
transição, permitindo o recebimento simultâneo de proventos e vencimentos na hipótese
especificada abaixo, vedando, porém, uma segunda aposentadoria, ou seja, proibiu
expressamente o acúmulo de proventos de cargos inacumuláveis. Veja-se a seguir a norma:
“Art. 11 - A vedação prevista no art. 37, § 10, da Constituição Federal, não se aplica aos membros de poder e aos inativos, servidores e
militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público por
concurso público de provas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na Constituição
Federal, sendo-lhes proibida a percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência
a que se refere o art. 40 da Constituição Federal , aplicando-se-lhes, em qualquer hipótese, o limite de que trata o § 11 deste
mesmo artigo”. (G.N).
Contudo, essa norma do art. 11 da EC nº 20/98, por razões óbvias, não se aplica às
hipóteses em que a própria Constituição da República (art. 37, inciso XVI) permite a
acumulação de cargos, tais como no caso da apelante (profissionais de saúde), pois nesses
casos, a acumulação de proventos é um consectário lógico da acumulação de cargos.
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“(...)
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
...
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; ;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 2001)
(...)”
Cumpre observar que diante deste permissivo constitucional, mesmo quando ainda
vigia a redação originária da Lei nº 3.765/60, a jurisprudência já havia firmado o
entendimento de ser plenamente cabível a cumulação de pensão militar com duas
aposentadorias decorrentes de cargo de professor (mesma regra dos profissionais de saúde),
conforme se depreende do seguinte aresto do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
“Trata-se de recurso especial manifestado pela UNIÃO com base no art. 105, III, "a", da
Constituição Federal.
Insurge-se a recorrente contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que manteve
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incólume sentença que, por sua vez, julgara procedente o pedido formulado na inicial a fim de
reconhecer o direito de a recorrida acumular suas duas aposentadorias de Professora (a
primeira paga pelo Município do Rio de Janeiro e a segunda pelo Estado do Rio de Janeiro),
com a pensão instituída por seu falecido pai, ex-militar do Exército.
(...)
É o relatório.
O presente recurso especial não pode ser conhecido.
Com efeito, verifica-se, da leitura do acórdão recorrido, que o Tribunal de origem decidiu a
controvérsia com base em fundamento eminentemente constitucional, senão vejamos (fl. 144):
Em síntese, o ordenamento constitucional hodierno consagra o princípio geral da inacumulação
de cargos públicos, excepcionado apenas as hipóteses nela exaustivamente previstas, dentre
elas a de dois cargos de professores (art. 37, XVI, "a"), desde que haja compatibilidade de
horários.
O artigo 29 da Lei nº 3.765/60, que autoriza apenas a cumulação da pensão militar com
proventos oriundos de um único cargo civil, deve ser interpretado à luz do preceito
constitucional que arrola as exceções ao mencionado princípio, o que há de ser feito
necessariamente pela admissibilidade da acumulação da pensão militar com os proventos de
aposentadoria de dois cargos de professor, ainda que as fontes pagadoras sejam distintas.
(...)
Ante o exposto, nos termos do art. 557, caput, do CPC, nego seguimento ao recurso especial.
Intimem-se.” (G.N).
Confira-se neste mesmo sentido: REsp nº 1.171.664, Relator Ministro Felix Fischer,
DJe 02/09/2010.
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“Art. 29. É permitida a acumulação:
II - de uma pensão militar com a de outro regime, observado o disposto no art. 37, inciso XI,
da Constituição Federal.” (G.N)
Com efeito, a peculiaridade com que é tratada constitucionalmente a cumulação de cargos públicos
remunerados deve nortear a interpretação do aludido dispositivo, de forma a se concluir que a alteração do
artigo 29 da Lei nº 3.765/60, introduzida pela Medida Provisória nº 2215-10/2001, ao suprimir a referência
a “um único cargo civil”, teve por fim amoldá-lo ao texto constitucional hodierno, que permite a
aposentadoria em dois cargos nas profissões lá abrangidas, taxativamente, dentre as quais se inclui a dos
profissionais de saúde.
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ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACUMULAÇÃO DE PENSÃO MILITAR COM DUAS
APOSENTADORIAS PROVENIENTES DO EXERCÍCIO DO CARGO DE MÉDICA.
POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 29 DA LEI N° 3.765/60 CONFORME O
ART. 37, XVI E § 10, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. Apelação contra sentença que julgou improcedente o pedido de
acumulação da pensão militar, que a demandante faz jus em razão do óbito de seu pai, que era
militar das Forças Armadas, com duas aposentadorias provenientes de cargos de médica.
2. O direito à pensão por morte deverá ser examinado à luz da legislação que se encontrava
vigente ao tempo do óbito do militar instituidor do benefício, por força do princípio tempus
regit actum (STF, 1ª Turma, ARE 773.690, Rel. Min. ROSA WEBER, DJE 18.12.2014; STJ,
5ª Turma, AgRg no REsp 1.179.897, Rel. Min. JORGE MUSSI, DJE 18.11.2014). Em razão
da data do óbito do militar (16.6.2000), aplica-se ao caso a Lei n° 3.765/60, em sua redação
original.
3.O art. 29, "b", da Lei n° 3.765/60 dispõe que é permitida a acumulação da pensão militar
com proventos de disponibilidade, reforma, vencimentos, aposentadoria ou pensão
proveniente de um único cargo civil.
4. No entanto, a Constituição Federal, apesar de vedar a acumulação remunerada de cargos
públicos e aposentadorias, excepciona essa regra para alguns casos, como o de acumulação de
dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde (art. 37, XVI e § 10, da
Constituição Federal). Precedentes: TRF2, 8ª Turma, ApelReex 201351010445382, Rel. Des.
Fed. MARCELO PEREIRA DA SILVA, E- DJF2R 11.9.2015; TRF2, 5ª Turma, ApelReex
201151010132486, Rel. Des. Fed. ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES, E-
DJF2R 6.2.2014.
5. Desta forma, é possível a tríplice acumulação pretendida, uma vez que a presente hipótese
versa sobre duas remunerações relativas ao cargo de médica e uma pensão militar, razão pela
qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais normas de
inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária (art. 29, "b", da
Lei nº 3.765/60).
6. Os atrasados devem ser pagos desde a data do requerimento administrativo (3.8.2015),
ressalvados eventuais montantes pagos administrativamente.
7. Com relação à correção monetária, a partir de 30.6.2009, aplicam-se os percentuais dos
índices oficiais de remuneração básica da caderneta de poupança, em virtude da recente
decisão do E. STF, no RE 870.947, Rel. Min. LUIZ FUX, DJE 27.4.2015, que, ao reconhecer
a existência de repercussão geral sobre o tema, embora pendente de julgamento final,
consignou em seus fundamentos que, na parte em que rege a atualização monetária das
condenações imposta à Fazenda Pública, o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/2009, continua em pleno vigor. No período anterior devem ser observados
os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução nº 267, de
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2.12.2013, do E.CJF). 1
8. Os juros de mora devem ser fixados, desde a citação, no mesmo percentual dos juros
aplicados à caderneta de poupança, a partir da vigência da Lei nº 11.960/2009, que alterou o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 (STJ, Corte Especial, REsp Representativo de
Controvérsia 1.205.946, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJE 2.2.2012; AgRg no REsp
1.086.740, Rel. Min. ASSUSETE MAGALHÃES, DJE 10.2.2014; AgRg no REsp 1.382.625,
Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJE 7.3.2014; TRF2, ApelReex 200051010111096, Rel.
Des. Fed. MARCUS ABRAHAM, E-DJF2R 26.6.2014; AC 200551010246662, Rel. Des.
Fed. ALUISIO MENDES, E-DJF2R 24.6.2014), com a ressalva da Súmula 56 do TRF2.
9. Inversão dos ônus sucumbenciais. Causa de pouca complexidade e que não apresenta
singularidade em relação aos fatos e direitos alegados, sopesando o tempo transcorrido (1
ano), a instrução dos autos e a existência de apelação, razoável a fixação dos honorários em
R$ 5.000,00. 5. Apelação provida
(TRF2, 0022996-61.2016.4.02.5101, rel. Des. Federal Ricardo Perlingeiro, 5ª Turma
Especializada, 12/05/2017).
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remunerada de cargos públicos e a percepção simultânea de aposentadorias decorrentes de
cargos públicos, excepciona essa regra para autorizar a acumulação de remuneração e de
aposentadoria de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
profissões regulamentadas.
4. Desta forma, a impetrante faz jus à cumulação da pensão militar com os proventos das duas
aposentadorias do cargo de médico, por tratar-se de hipótese excepcionada pela Carta Magna,
razão pela qual, tendo em vista a supremacia das normas constitucionais sobre as demais
normas de inferior hierarquia, não há que se falar em prevalência de legislação ordinária
(artigo 29, alínea ‘b’, da Lei nº 3.765/60) sobre as exceções constitucionalmente previstas.
(Precedentes do TRF2: AC 201051100004390. Relatora: Desembargadora Federal Vera Lúcia
Lima. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe 23/09/2014; APELRE
201151010132486. Relator: Desembargador Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes. 1
Órgão julgador: Quinta Turma Especializada. DJe 06/02/2014; APELRE 201151010179600.
Relator: Desembargador Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama. Órgão julgador:
Sexta Turma Especializada. DJe 15/04/2013; AC 200451010218420. Relatora: Juíza Federal
Convocada Maria Alice Paim Lyard. Órgão julgador: Oitava Turma Especializada. DJe
09/06/2008).
5. Negado provimento à apelação da União Federal.
(TRF2, 0022612-06.2013.4.02.5101, rel. Des. Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes,
5ª Turma Especializada, 13/03/2015)”.
Com efeito, cabe a cumulação de duas aposentadorias de médica com a pensão militar.
Por outro lado, tendo em vista que inexiste demonstração de que a autora preencheu,
na via administrativa, todos os requisitos para o deferimento da pensão militar pretendida e
uma vez que a discussão nestes autos se limitou a possibilidade de cumulação de duas
aposentadorias de médica com a pensão militar, a apelação deve ser parcialmente
acolhida para reformar a sentença e julgar procedente, em parte, o pedido apenas para se
admitir a cumulação de duas aposentadorias de médica com a pensão militar.
Isto posto,
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de médica com a pensão militar.
É como voto.
(assinado eletronicamente – art. 1º, § 2º, inc. III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006)
EUGÊNIO ROSA DE ARAÚJO
Juiz Federal Convocado
Relator
T215960 - orb