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AO JUÍZO DA SEGUNDA VARA CÍVEL DA COMARCA DE FORMOSA-

GO

Processo N. 5675333-93.2019.8.09.0044

ADENOR PAULO CAPPELLESSO, brasileiro, casado, produtor


rural, portador da cédula de identidade nº 8019669939
SSP/RS e inscrito no CPF sob o nº 556.662.051-53,
residente e domiciliado na rua 16, casa 238,
Formosinha, Formosa Goiás, CEP: 73.813-230, vem à
presença de Vossa Excelência, com todo respeito e
acatamento, por intermédio de seu Advogado in fine
assinado, cujo Endereço Profissional consta no
instrumento de procuração, apresentar
CONTESTAÇÃO
em face da AÇÃO DE COBRANÇA promovida por ARNALDO
LOPES DE AVELAR, pelas fundamentações de fato e de
direito que passa a ser aduzidas:

I – Da síntese do processo
Cuida-se de Ação de Cobrança proposta por
ARNALDO LOPES DE AVELAR em face de ADENOR CAPPELLESSO
e RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO, objetivando receber dos
Réus a importância de R$ 1.488.714,08 (um milhão,
quatrocentos e oitenta e oito mil, setecentos e
quatorze reais e oito centavos).
Aduz, em apertada síntese, que figurou como
credor solidário juntamente com os Réus na Ação de
Execução de Título Extrajudicial em face de ALVARO
MAGOGA, STELLA DE ASSIS BRASIL e CARLOS FRANCISCO
MAGOGA, nos autos do processo nº 9801090006, que
tramitou perante a 1ª Vara Cível, Inf e Juventude
desta comarca.
Esclareceu que o crédito solidário das partes
decorreu do Instrumento Particular de Pagamento com
Sub-Rogação de direitos de crédito, firmado com a
instituição financeira BRB-BANCO DE BRASÍLIA, credor
originário nos autos do processo nº 9801090006.
Asseverou que o contrato de Sub-rogação do
crédito foi apresentado junto ao juízo da Execução,
visando a substituição processual do BRB-BANCO DE
BRASÍLIA do polo ativo da demanda, nas pessoas de
ADENOR CAPPELLESSO, RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO e
ARNALDO LOPES DE AVELAR, o qual foi homologado em
12/09/2008, nos termos do art. 567, III, do CPC/73.
Discorreu que a partir de então “todos os atos
judiciais foram direcionados aos Exequentes sub-
rogados ADENOR CAPPELESSO e sua mulher RAQUEL DE SOUSA
CAPPELLESSO e ARNALDO LOPES DE AVELAR.”
Divaga que RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO figurou
apenas como esposa de ADENOR CAPPELLESSO e não como
parte na Execução, contudo, a qualifica como Réu na
presente Ação para cobrar os valores que entende serem
devidos.
Afirmou, ainda, que o advogado DANIEL VICENTE
GOETTEMS – OAB/GO 18.506 patrocinou o feito em nome de
todos os credores solidários - ADENOR CAPPELLESSO,
RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO e ARNALDO LOPES DE AVELAR.
Pontuou que referido advogado em 13/11/2015
substabeleceu os poderes conferidos por ADENOR
CAPPELLESSO e RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO para os
advogados DIANINY CAPPELLESSO – OAB/GO 41413-A e
DJALMA SPINDOLA DE ATHAYDES NETO – OAB/GO 41409-A,
porém continuando o patrocínio da causa em favor de
ARNALDO LOPES DE AVELAR.
Verberou que em 16/11/2015 foi pactuado ACORDO
entre o credor solidário ADENOR CAPPELLESSO e os
devedores ALVARO MAGOGA, STELLA DE ASSIS BRASIL e
CARLOS FRANCISCO MAGOGA, remindo grande parte do
débito, o qual foi homologado pelo juízo da Ação de
Execução - processo nº 9801090006.
Contudo, a despeito de ser parte daquele
processo e ter sido devidamente intimado de todos os
atos processuais, o Requerente afirma que não teve sua
participação e anuência na transação, destacando que
“nem mesmo foi comunicado do acordo, nem dos valores
e nem das condições do pacto.”
Sustentou que à época da Transação, em
16/11/2015, a dívida foi confessada pelos devedores no
valor de R$ 2.977.428,16 (dois milhões, novecentos e
setenta e sete mil, quatrocentos e vinte oito reais e
dezesseis centavos).
Vergastou que é detentor de 50% (cinquenta por
cento) do crédito Exequendo objeto da sub-rogação,
dizendo que “tem-se que sua quota parte alcança o
valor de R$ 1.488.714,08 (um milhão, quatrocentos e
oitenta e oito mil, setecentos e quatorze reais e oito
centavos)”.
Com base nisto, almeja que ADENOR CAPPELLESSO e
RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO sejam condenados a lhe
pagar o valor de R$ 1.488.714,08 (um milhão,
quatrocentos e oitenta e oito mil, setecentos e
quatorze reais e oito centavos), por terem recebido
parte da dívida sem nada lhe repassar.
A insurgência do Requerente, contudo, não
reúne condições de êxito.
II - Os fatos como realmente ocorreram
Na origem, a instituição financeira BRB-BANCO
DE BRASÍLIA emitiu Cédula de Crédito Rural
Pignoratícia nº 96/011, no valor de R$ 136.092,61,
figurando como devedores ALVARO MAGOGA, STELLA DE
ASSIS BRASIL e CARLOS FRANCISCO MAGOGA, os quais se
tornaram inadimplentes, dando origem na Ação de
Execução, processo nº 9801090006, que tramitou na 1ª
Vara Cível desta comarca.
Ocorre que, durante o curso da mencionada
Execução os devedores ALVARO MAGOGA e sua esposa
STELLA DE ASSIS BRASIL, alienaram para o Requerente -
ARNALDO LOPES DE AVELAR o imóvel denominado Fazenda
Poço, no Município de Flores de Goiás, que, por sua
vez, alienou o imóvel para os Réus ADENOR CAPPELLESSO
e RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO, terceiros de Boa-fé.
Com efeito, a instituição financeira veio a
ingressar com Ação Pauliana contra ALVARO MAGOGA,
STELLA DE ASSIS BRASIL, ARNALDO LOPES DE AVELAR,
ADENOR CAPPELLESSO e RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO,
visando o desfazimento do negócio jurídico.
Em 05/05/2008 as partes entabularam acordo na
Ação Pauliana, onde ADENOR CAPPELLESSO, RAQUEL DE
SOUSA CAPPELLESSO e ARNALDO LOPES DE AVELAR efetuaram
conjuntamente o pagamento de R$ 208.689,88 (duzentos e
oito mil, seiscentos e oitenta e nove reais e oitenta
e oito centavos), quitando integralmente a dívida
junto BRB-BANCO DE BRASÍLIA, sub-rogando-se no direito
de crédito objeto da Ação de Execução, processo nº
9801090006, que tramitou na 1ª Vara Cível desta
comarca.
É o que se deve constar como relatório factual.
III – Da Sub-rogação e da universalidade do
Direito de crédito
De forma arbitrária e totalmente desconexa do
contrato celebrado entre as partes, o Requerente se
auto proclama como detentor de 50% do crédito sub-
rogado pelo BRB-BANCO DE BRASÍLIA.
Excelência, como corolário da transação
realizada na Ação Pauliana, o BRB- Banco de Brasília
informou ao juízo da Execução - processo nº 9801090006
(fls. 242, terceiro parágrafo) que “os requerentes,
Sr. ADENOR, Sra RAQUEL e Sr. ARNALDO, na qualidade de
novos CREDORES SUB-ROGADOS, recebem todos os
direitos, ações, garantia e privilégio da dívida
primitiva”, requerendo a substituição processual, nos
termos do art. 567, III, do CPC/73.
Veja pelo trecho da petição acima transcrito, o
banco BRB-BANCO DE BRASÍLIA afirma que os SUB-ROGADOS
RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO, ADENOR CAPPELLESSO e
ARNALDO LOPES DE AVELAR, passaram a dotar do direito
sobre a totalidade do crédito perante ALVARO MAGOGA,
STELLA DE ASSIS BRASIL e CARLOS FRANCISCO MAGOGA.
No mesmo sentido, segue transcrição do pedido
feito pelo BRB-BANCO DE BRASÍLIA perante o juízo da
Execução para proceder a sua substituição processual
naquele feito, in verbis:
“Posto isso, requerem à Vossa
Excelência que, nos termos do artigo 567,
III do código de Processo Civil,
homologue a presente substituição
processual, conforme acima noticiada para
que produza seus jurídicos e legais
efeitos, passando a figurar no pólo ativo
da lide o novo credor-exequente sub-
rogado nos direitos de crédito, Sr.
ADENOR, Sr. Raquel e Sr. ARNALDO,
consignando ainda, a substituição de
todas garantias processuais e
contratuais inerentes aos títulos em
execução”.

Nesse viés, em interpretação conjunta da


CLÁUSULA TERCEIRA e CLÁUSULA QUINTA do INSTRUMENTO
PARTICULAR DE PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO DE DIREITO
firmado entre as partes e o BRB-BANCO DE BRASÍLIA,
depreende-se que não houve distinção do crédito entre
RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO, ADENOR CAPPELLESSO e
ARNALDO LOPES DE AVELAR, todos concorreram
igualitariamente sobre a totalidade do crédito, senão
vejamos:
“CLÁUSULA TERCEIRA: Por este instrumento
particular e na melhor forma de direito, em
PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO DE DIREITOS, com
fundamento nos artigos 346 e 349 do Código
Civil Brasileiro, o credor SUB-ROGADOR
recebe em pagamento de terceiros, como
efetivamente já tem por recebido, esses na
qualidade de credores SUB-ROGADOS, e,
expressamente, cede, transfere e sub-roga,
como de fato tem efetivamente cedido,
transferido e sub-rogado aos novos credores
SUB-ROGADOS, todos os direitos, ações,
privilégios, garantias e condições
decorrentes dos créditos descritos e
referidos em suas qualidades, quantidades,
principal, acessórios e seus acréscimos
legais, inclusive as garantias e condições
judiciais existentes, tudo, pelo valor
líquido e certo de R$ 208.686,88 (duzentos
e oito mil e seiscentos e oitenta e seis
reais e oitenta e oito centavos), valor
esse já pago efetivamente ao credor SUB-
ROGADOR, tudo em cumprimento ao acordo
entabulado nos autos 200800735913, em
especial itens “5” e “6”.
CLÁUSULA QUINTA: Em função do presente
pagamento com sub-rogação de direitos,
firmado entre as partes, e pelo valor do
pagamento ora efetuado, as partes concordam
que irão fazer petição conjunta,
direcionada ao juízo da Vara Cível de
Formosa-GO, nos autos da execução
mencionada, para requererem a substituição
processual, nos termos do artigo 567,
inciso III do Código de Processo Civil
Brasileiro, sendo que os SUB-ROGADOS
receberão os autos no estado em que se
encontram, não respondendo o SUB-ROGADOR
pela boa ou má liquidação da dívida, para
que assim, passe a constar e figurar no
pólo ativo da demanda executiva, na
qualidade de novos credores, os SUB-
ROGADOS, ADENOR PAULO CAPPELLESSO, RAQUEL
DE SOUZA CAPPELLESSO e ARNALDO LOPES DE
AVELAR IDALINO, em substituição ao antigo
credor SUB-ROGADOR, BRB-BANCO DE BRASÍLIA
S/A.
Da meticulosa leitura do requerimento de
substituição processual e do contrato de sub-rogação
firmado entre as partes, infere-se que RAQUEL DE SOUSA
CAPPELLESSO foi identificada como nova credora sub-
rogada, de forma igualitária com os demais credores,
apondo sua assinatura e reconhecendo sua firma em
todos os instrumentos no campo destinados
especificamente aos credores “SUB-ROGADOS”.
Portanto, RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO não
figurou como um mero cônjuge anuente de ADENOR
CAPPELLESO no processo.
Assim, conclui-se que ADENOR CAPPELLESSO,
RAQUEL DE SOUSA CAPPELLESSO e ARNALDO LOPES DE AVELAR,
compartilham de igual direito sobre a totalidade do
crédito sub-rogado, sem qualquer distinção entre eles,
onde os pagamentos devem respeitar a proporção de um
terço (1/3) para cada credor.
De modo, fica rechaçada a tese de que o
Requerente é detentor de 50% (cinquenta por cento) do
crédito sub-rogado, onde deve ser reconhecido o abuso
do direito de cobrança, e, assim, decotar o valor
excedente.

IV – Do silêncio e anuência tácita, preclusão


temporal e coisa julgada

Conspícuo Julgador, cai por terra alegação do


Requerente em dizer que não tinha conhecimento do teor
do acordo homologado na Ação de Execução - processo nº
9801090006, uma vez que o mesmo era parte do processo
e possuía advogado constituído naqueles autos.
Nessa linha entendimento, é incontroverso que o
Requerente foi integrado à relação processual da
Execução - processo nº 9801090006, tendo sido intimado
para todos os atos processuais após a substituição
processual do BRB-BANCO DE BRASÍLIA no polo ativo da
demanda.
Tanto assim o é, que o próprio Requerente
confirma em sua peça de ingresso que “todos os atos
judiciais foram direcionados aos Exequentes sub-
rogados ADENOR CAPPELESSO e sua mulher RAQUEL DE SOUSA
CAPPELLESSO e ARNALDO LOPES DE AVELAR.“
Excelência, apesar do Requerente figurar como
exequente na Execução, o mesmo sempre se demonstrou
desperançoso em receber o crédito, inclusive chegou a
propor aos Requeridos, caso fosse recuperado algum
valor na Execução os mesmos poderiam ser convertidos
em favor de ADENOR e RAQUEL.
Confiante na palavra do litisconsorte, ora
Requerente, após anos de intensas tentativas de
recuperação de crédito, ADENOR CAPPELLESSO entabulou
acordo no valor global de R$ 770.005,00 (setecentos e
setenta mil e cinco reais), sendo que R$ 520.005,00
(quinhentos e vinte mil e cinco reais) foram pagos em
16 parcelas no período compreendido entre os dias
16/11/2015 à 15/02/2017 e R$ 250.000 (duzentos e
cinquenta mil reais), mediante entrega do imóvel
denominado Fazenda Amendoim e Lagoa Grande, com área
de 40 hectares localizada em Flores de Goiás, com
matrícula 1.851.
Assim sendo, a referida transação foi levada ao
juízo para homologação, vindo o magistrado a suspender
a Execução até a efetiva quitação do acordo.
Nesse sentido, o artigo 118 do Código de
Processo Civil preconiza que “cada litisconsorte tem o
direito de promover o andamento do processo, e todos
devem ser intimados dos respectivos atos”
Destarte, a v. decisão que suspendeu a Execução
foi disponibilizada na edição nº 00002081, na página
1414 do Diário da Justiça Eletrônico do TJGO, no dia
02/08/2016, publicada no primeiro dia útil seguinte,
qual seja, 03/08/2016, constando dentre outros o nome
do Requerente- ARNALDO LOPES DE AVELAR e do seu
advogado - DANIEL VICENTE GOETTEMS – OAB/GO 18.506,
transcorrendo o prazo legal sem oposição.
É isso mesmo! O Requerente e seu advogado
quedaram-se inertes quanto ao convocado da justiça,
deixaram de manifestar sobre os valores acordados e
todos os termos da transação.
De acordo com o princípio da lealdade
processual apenas permite concluir que o Requerente
aceitou, com o seu silêncio, de maneira tácita, os
termos do acordo firmado com os devedores.
É nesse sentido que os tribunais veem se
posicionando quanto ao silêncio das partes, quando
intimadas e não se manifestam sobre atos processuais,
caracterizando a anuência tácita sobre o ato judicial,
em conformidade com o que dispõe o art. 111 do Código
Civil.
Art. 111. O silêncio importa anuência,
quando as circunstâncias ou os usos o
autorizarem, e não for necessária a
declaração de vontade expressa.

Registre-se ser esse o entendimento


adotado pela 12ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais, consoante o
precedente abaixo colacionado:

EMENTA: CAUTELAR - SUSTAÇÃO DE PROTESTO -


DESISTÊNCIA - ACORDO - PARTES - SILÊNCIO -
HONORÁRIOS DE ADVOGADO. Acordado o fim do
processo com uma das partes, intimadas as
demais para se posicionarem, o silêncio
compreende-se como anuência tácita; logo, o
pacto de não-pagamento de honorários de
advogado vale para todas. Recurso provido.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0290.11.003092-8/001 -
COMARCA DE VESPASIANO - APELANTE(S): PREMO
CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS S/A -
APELADO(A)(S): BANCO BRASIL S/A. Processo
N. 1.0290.11.003092-8/001, de relatoria
Des.(a) Saldanha da Fonseca.

Com efeito, sobreveio a sentença homologatória


da transação, em 27/07/2017, extinguindo a execução
nos termos do art. 487, III, alínea “b” c/c 924, III,
ambos do CPC, dando por satisfeita a pretensão
executória para todos os Exequentes, inclusive para o
próprio Requerente.
E, mais uma vez, o Requerente permaneceu
silente, deixando de manifestar sobre a sentença,
ensejando a presunção da satisfação integral da
obrigação, considerando que não há mais nada a se
pleitear na ação de execução após o trânsito em
julgado, o qual ocorreu em 29/08/2017.
Não se olvida, ademais, que toda marcha
processual é sempre progressiva, quando uma das partes
deixa de manifestar sobre as decisões judiciais e não
apresenta justificativa plausível para tanto,
incabível a insurgência quantos aos efeitos dos atos
processuais, ante a incidência da preclusão temporal
a teor do disposto nos artigos 223 do CPC, senão
vejamos:

Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-


se o direito de praticar ou de emendar
o ato processual, independentemente de
declaração judicial, ficando
assegurado, porém, à parte provar que
não o realizou por justa causa.

O mesmo entendimento perfilha o egrégio


Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, a exemplo do
aresto a seguir transcrito:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDENIZAÇÃO EM FASE DE


CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. LAUDO PERICIAL.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO PELA AGRAVANTE, AINDA
QUE REGULARMENTE INTIMADA. DECISÃO
HOMOLOGATÓRIA. SUPERVENIENTE INSURGÊNCIA
RECURSAL. PRECLUSÃO TEMPORAL. DESPROVIMENTO.
AGRAVO INTERNO PREJUDICADO.I - O Código de
Processo Civil fixa limites temporais para a
prática dos atos processuais, tendo em vista a
necessidade de evitar a perpetuação do
processo. Assim, de nada adiantaria
estabelecer-se prazos sem que previstas
consequências à parte que os descumprir. Por
essa razão, o CPC dispõe no art. 223, caput,
que o decurso do prazo produz a perda da
faculdade da parte praticar ou emendar o ato
processual, a chamada preclusão temporal. II -
Ainda que regularmente intimada para manifestar
sobre o laudo pericial a agravante quedou-
se inerte, precluso está o direito de se
insurgir quanto aos critérios nele adotados,
mormente sobre a decisão que o homologa. III -
Agravo de instrumento desprovido. IV -
Definitivamente entregue a prestação
jurisdicional, prejudicado o agravo interno
oposto da decisão indeferitória do pedido de
efeito suspensivo.  Processo n. 5554417-
02.2018.8.09.0000 - Agravo de Instrumento, de
relatoria do Des. Carlos Magno Rocha da
Silva, da 4ª Câmara Cível, publicado no Dje
de 24/07/2019.

Assim, não houve a devida impugnação do


Requerente, aperfeiçoando a sua anuência sobre todos
os termos e valores acordados.
Logo, a homologação do acordo e a NOVAÇÃO do
débito/crédito valeu para todos os credores, inclusive
para o próprio Requerente.
Nesse viés, o direito de crédito do Requerente
também foi alcançado pela coisa julgada formal e
material, nos termos dos artigos 506, 507 e 508, todos
do CPC, in verbis:

“ Art. 506. A sentença faz coisa


julgada às partes entre as quais é
dada, não prejudicando terceiros.

 Art. 507. É vedado à parte discutir no


curso do processo as questões já
decididas a cujo respeito se operou a
preclusão.

 Art. 508. Transitada em julgado a


decisão de mérito, considerar-se-ão
deduzidas e repelidas todas as
alegações e as defesas que a parte
poderia opor tanto ao acolhimento
quanto à rejeição do pedido.”

Em exegeses aos arts. 506, 507 e 508, todos do


CPC, denota-se, por exigência legal, que a sentença faz
coisa julgada para todos os envolvidos no processo,
estando vedado o Requerente de rediscutir questões já
decididas na Ação de Execução - processo nº
9801090006.

Nesse sentido é o precedente do TJGO, vejamos:


"APELACAO CIVEL. COISA JULGADA. TRANSACAO.
ACAO DE MANUTENCAO DE POSSE. 1 - PROLATADA
A SENTENCA DE HOMOLOGACAO DE TRANSACAO
ENTRE AS PARTES, EM ACAO DE USUCAPIAO, COM
O TRANSITO EM JULGADO, IMPEDE QUE A MESMA
QUESTAO SEJA NOVAMENTE EXAMINADA E DECIDIDA
EM ACAO DE MANUTENCAO DE POSSE, OU SEJA, EM
OUTRO PROCESSO, CARACTERIZANDO, ASSIM,
A COISA JULGADA MATERIAL. APELACAO CIVEL
CONHECIDA E IMPROVIDA." Processo n. 71378-
2/188 - APELACAO CIVEL, de relatoria do
DES. FELIPE BATISTA CORDEIRO, da 3A CAMARA
CIVEL, publicado no Dje 27/11/2003.

V – Da Novação do débito, Jurisprudência e o


art. 272 do Código Civil.

Decerto que a lei dos ritos preleciona no


art. 6º que “todos os sujeitos do processo devem
cooperar entre si para que se obtenha, em tempo
razoável, decisão de mérito justa e efetiva.”

Excelência, toda a celeuma decorre do fato do


Requerente - ARNALDO LOPES DE AVELAR ter vendido um
imóvel para os Réus com pendências judiciais, em que
pese ter se comprometido a entrega-lo livre e
desembaraçado de quaisquer ônus.
Com efeito, o Requerente não honrou com o
pactuado, tanto que o negócio foi objeto da Ação
Pauliana promovida pelo BRB-BANCO DE BRASÍLIA,
forçando os Requeridos a pagar dívidas em nome de
ALVARO MAGOGA, STELLA DE ASSIS BRASIL e CARLOS
FRANCISCO MAGOGA.
Não se nega, que o fato dos Requeridos terem
que pagar dívidas para desgravar a fazenda, gerou uma
situação de desconforto entre as partes, uma vez que
já tinham implementado a terra para cultivo de soja.

Contudo, o Requerente promove a presente Ação


motivado por sua ambição, pois, de forma espúria,
cobra indevidamente 50% do valor de R$ 2.977.428,16
(dois milhões, novecentos e setenta e sete mil,
quatrocentos e vinte oito reais e dezesseis centavos).

Da análise do acervo fático-probatório dos


autos, denota-se que houve a novação do débito para
R$ 770.005,00 (setecentos e setenta mil e cinco
reais), onde houve a anuência tácita do Requerente,
pois deixou de impugnar no momento adequado os termos
e valores transacionados e homologados em juízo.

Excelência, pela dificuldade de encontrar


casos símiles ao presente, torna-se pertinente
realizar a releitura da decisão monocrática do
Eminente Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, ao
proferir decisão no AREsp 1076435, publicada no Dje
25/04/2018, a qual teve seu trecho parcialmente
colacionado no corpo da petição inicial.

Nesse ponto, nota-se um equívoco de


interpretação do Requerente e, possivelmente, a
intenção de induzir este magistrado ao mesmo erro,
senão vejamos:

A decisão do AREsp 1076435 RS (2017/0068856-8)


restou assim ementada:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL


CIVIL (CPC/15). CREDORES SOLIDÁRIOS. ACORDO
EXTRAJUDICIAL. INTEGRALIDADE DA DÍVIDA.
EXTINÇÃO. COBRANÇA SOBRE O CREDOR QUE
RECEBEU. NÃO IMPUGNAÇÃO NO MOMENTO
OPORTUNO. FUNDAMENTOS NÃO ATACADOS. SÚMULA
283/STF. DEMAIS VIOLAÇÕES.
PREQUESTIONAMENTO. AUSENTE. SÚMULA 356/STF.
NEGO PROVIMENTO AO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL.

Em sua decisão, o Ministro PAULO DE TARSO


SANSEVERINO, consignou trecho do voto condutor do
Acórdão proferido pela DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL, no
AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo N° 70063378970 (N°
CNJ: 0023275- COMARCA DE PORTO ALEGRE
46.2015.8.21.7000), vejamos:

“Ademais, verifica-se que o agravante alega a


impossibilidade da extinção da obrigação em
decorrência do acordo firmado por apenas um dos
credores com o devedor.

No entanto, ao contrário do alegado, o


Tribunal de origem consignou que:
Compulsando os autos, verifica-se que o
agravante firmou acordo extrajudicial, fls.
556/557, do processo principal, com a
credora Vera Lúcia Ortiz Álvares, em
04/12/2013, que restou devidamente
homologado pelo MM. Juízo "a quo", em
27/01/2014, na qual abrangeu a
integralidade da dívida existente, que à
época era de R$ 128.951,64 (cento e vinte e
oito mil, novecentos e cinqüenta e um reais
e sessenta e quatro centavos). As partes
foram devidamente intimadas da v. decisão
homologatória, através da NE n° 64/2014, do
processo n° 001/1.07.0243528- 0,
disponibilizada na edição n° 5255 no Diário
da Justiça Eletrônico do dia 06/02/2014,
considerando-se publicada no primeiro dia
útil que se seguir, qual seja, 07/02/2014,
transcorrendo o prazo legal sem oposição de
recurso pelas partes. No caso, tenho que
não há falar em prosseguimento da execução
por parte do credor solidário ZELOMAR
ORTIZ, pois houve acordo abrangendo a
integralidade da dívida, ainda que sem a
anuência deste. Com efeito, na forma do
art. 844, § 2°, do Código Civil, a
transação havida entre um dos credores
solidários e o devedor, extingue a
obrigação deste com os outros credores.
Ademais, o art. 272 do Código Civil prevê
que o credor que tiver recebido o pagamento
responderá aos outros pela parte que lhes
caiba. (e-STJ, fls. 70/72- grifou-se).

Após a referida transcrição, o Eminente


ministro do colendo STJ, assim fundamentou:

“Sendo assim, restou fundamentado no


acórdão recorrido, que houve acordo
extrajudicial da integralidade da dívida,
sendo que intimados não houve a devida
impugnação no momento oportuno.

Além disso, o credor que tiver recebido o


pagamento responderá aos outros pela parte
que lhes caiba, motivo pelo qual a execução
não precisa prosseguir.”

Em exegese ao julgado pretérito, veja que o


Ministro frisou que o credor solidário ao ser intimado
do acordo da integralidade da dívida e deixa de
impugnar no momento correto, opera-se a preclusão.

Ainda, no sobredito julgamento, o preclaro


Ministro destaca que o credor solidário que recebeu o
pagamento deve responder perante os demais credores no
tocante ao pagamento que recebeu e não pela a parte
que remiu a dívida.

Nota-se que nos casos em que há intimação


dos demais credores sobre o ato e estes ficam
silentes, nenhum dos julgados referiram ao credor que
realizou o acordo deve responder pela diferença da
dívida remida, mas responde tão somente pelo pagamento
que recebeu – parte final do art. 272, do Código
Civil.

É de ressaltar que o caso apreciado pelo


TJRS e pelo Ministro do STJ se assemelha ao da
Execução - processo nº 9801090006, onde o Requerido
ADENOR CAPPELLESSO celebrou acordo com os devedores,
abrangendo a integralidade da dívida, e o Requerente e
seu advogado, embora intimados, quedaram-se inertes.

Como visto, o Requerente cobra em excesso


o montante de 50% (cinquenta por cento) do crédito,
onde apenas é detentor de um terço (1/3) e pior:
ignora os efeitos da NOVAÇÃO da dívida, para cobrar
um valor exorbitante.

Deveras que o credor ADENOR CAPPELLESSO


recebeu o valor de R$ 520.005,00 (quinhentos e vinte
mil e cinco reais), de forma parcelada, e um imóvel no
valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil
reais), totalizando o valor de R$ 770.005,00
(setecentos e setenta mil e cinco reais).

Nos termos do artigo 272, do Código Civil, o


mesmo responde perante os demais credores (RAQUEL e
ARNALDO), daquilo que efetivamente recebeu, na
proporção de um terço (1/3) para cada credor.

Contudo, o Requerente desde o deslinde da


Execução sempre se recusou em receber a sua quota-
parte do acordo, em que pese o Requerido ADENOR
CAPPELLESSO, por diversas vezes tentar fazê-lo.

Tanto assim o é, que o Requerido ADENOR


CAPPELLESSO não se desfez da Fazenda Amendoim e Lagoa
Grande, com área de 40 hectares localizada em Flores
de Goiás, com matrícula 1.851, avaliada na época em R$
250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais),
justamente para resguardar a quota-parte do
Requerente.

VII – Do real valor devido e proposta de pagamento

Como visto, o Requerente promove a presente


ação, objetivando receber o valor de R$ 1.488.714,08
(um milhão, quatrocentos e oitenta e oito mil,
setecentos e quatorze reais e oito centavos).

Contudo, pelos fundamentos pretéritos, fica


evidenciado que o Requerente não é detentor de 50% do
crédito, possuindo apenas um terço (1/3) deste, bem
como ficou constatado que houve a novação do débito
para R$ 770.005,00, o qual está representado pelo
valor de R$ 520.005,00 e uma fazenda no valor de R$
250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).

Deve-se considerar que o valor venal do imóvel


pode sofrer variação, a maior ou a menor, conforme o
mercado atual.

Desta forma, indiscutivelmente houve excesso


de cobrança por parte do Requerente, considerando que
possui apenas um terço (1/3) do valor de R$
770.005,00, já computado a sua quota-parte sobre a
fazenda.

Portanto, o valor devido ao Requerente é,


aproximadamente, de R$ 256.668,33 (duzentos e
cinquenta e seis mil, seiscentos e sessenta e oito
reais e trinta e três centavos) e não o absurdo valor
cobrado na inicial.

Assim sendo, o Requerido ADENOR CAPPELLESSO


oferece ao Requerente a Fazenda Amendoim e Lagoa
Grande, como forma de pagamento da quota-parte,
podendo dá a destinação que melhor lhe atender (pegar
para si ou vendê-lo).
Caso, eventualmente, o Requerente venha
recusar o referido imóvel, deve-se levar em conta o
que o Requerido efetivamente recebeu, em dinheiro e de
forma parcelada, o valor de R$ 520.005,00 (quinhentos
e vinte mil e cinco reais), devendo repassar ao
Requerente o valor de R$ 173.335,00 (cento e setenta e
três mil, trezentos e trinta e cinco reais), o
equivalente um terço (1/3).

Com relação a fazenda, frisa-se que o


Requerido não tem interesse de adquirir a quota-parte
do Requerente, portanto o caminho mais escorreito é a
venda do imóvel, cujo os frutos devem ser divididos na
proporção de um terço (1/3) para cada credor, nos
termos da cláusula terceira e quinta do contrato de
sub-rogação.

VII – Da sanção civil prevista no art. 940 do Código


Civil.

Buscando coibir o abuso no exercício do


direito de cobrança, o legislador explicitou que
aquele que cobrar por dívida já paga, no todo ou em
parte ou ainda cobrar mais do que lhe for devido
deverá ser apenado na exata medida da cobrança
indevida.

O artigo 940, do Código Civil, assim


estabelece:

“Aquele que demandar por dívida já paga,


no todo ou em parte, sem ressalvar as
quantias recebidas ou pedir mais do que for
devido, ficará obrigado a pagar ao devedor,
no primeiro caso, o dobro do que houver
cobrado e, no segundo, o equivalente do que
dele exigir, salvo se houver prescrição.”
Conforme orientação jurisprudencial e
doutrinária, a sanção civil prevista no art. 940 do
Código Civil tem aplicação quando presentes duas
condições: a cobrança judicial de quantia indevida e a
má-fé do credor.

Abalizando tal entendimento, tem-se das


valiosas lições do ilustre doutrinador FABRÍCIO
ZAMPROGNA MATIELLO:

“O objetivo da lei é, à evidência, reprimir a


má-fé e coibir os abusos e ele relacionados. Assim,
pressuposto básico da aplicação das penalidades é a
comprovação de que o autor portou-se com malícia, com
dolo de lesão à parte contrária e intenção em obter
vantagem ilídima.”

Da leitura do art. 940 do Estatuto


Substantivo Civil, percebe-se da redação contida na
segunda parte, segundo a qual aquele que pedir mais do
que for devido ficará obrigado a pagar ao devedor o
equivalente do que dele exigir.

Portanto, desnecessário que o valor cobrado


tenha sido efetivamente pago, basta a cobrança
indevida e de má-fé do credor.

Desse modo, a sanção civil de direito


substantivo é imputável a quem pratica o ato ilícito
consistente na cobrança abusiva.

Nesse viés, o artigo 187, do Código Civil


preleciona que “Também comete ato ilícito o titular de
um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.”
Na espécie, com amparo nos elementos
constantes nos autos, depreende-se que o Requerente
cobra, de forma abusiva, o valor total de R$
1.488.714,08 (um milhão, quatrocentos e oitenta e oito
mil, setecentos e quatorze reais e oito centavos) dos
Requeridos.

Excelência, quando os Requeridos receberam a


notificação da presente demanda, passaram noites sem
dormir, uma vez que, são pessoas comuns, trabalhadores
autônomos e que “matam um leão por dia” para assegurar
a mantença da família.

Portanto, são pessoas que não reúnem condições


de pagar uma dívida desse valor.

À valer, é falta de responsabilidade do


Requerente em elaborar uma tese, sem eira e nem beira,
para realizar uma cobrança milionária,
indiscutivelmente causou aflição nos Requeridos.

Afere-se a má fé do Requerente ao se descurar


da devida cautela no momento do ajuizamento da ação,
abstendo-se de aferir corretamente o que lhe é devido.

Data máxima vênia, o Requerente tropeça


naquela velha máxima: “O seu direito termina quando
começa o direito do outro.”

Chega às raias do absurdo o Requerente alegar


que “...somente teve notícia da situação ora
questionado, há cerca de 30 dias, pois achava que o
processo estava prosseguindo regularmente (em
andamento), notadamente em face da morosidade do
processo de execução.”

Não é, contudo, o que se verifica naqueles


autos.
Repita-se, o Requerente foi intimado do acordo
conforme TJ-GO DIÁRIO DA JUSTIÇA ELETRÔNICO - EDIÇÃO
2081 - SEÇÃO III, o que é confirmado pelo próprio
Requerente ao dizer que “todos os atos judiciais foram
direcionados aos Exequentes sub-rogados”.

Disso resulta que não restou demonstrado pelo


Requerente o que foi por ele afirmado, pelo contrário,
fica evidente o método persuasivo e dissimulado em sua
narrativa, alterando a verdade dos fatos, onde tais
circunstâncias retratam a má-fé.

Pela literalidade das argumentações lançadas


na inicial, em cotejo com os documentos juntados pelo
próprio Requerente, por óbvio conclui-se o seguinte:

a) Que o Requerente abandonou a


Execução, deixando de fiscalizar os atos
processuais, quando caiu em si, o processo já
estava encerrado; ou

b) Que o Requerente está tendo um lapso


de perda de memória ou mesmo mentindo, pois, teve
ciência do acordo e encerramento da Execução,
inclusive recusou receber sua quota-parte; ou

c) Que, propositalmente, deixou de


impugnar a transação e os valores nela
encartados, o que o fez através de um pernicioso
silêncio, motivado por uma fantasiosa cobrança
milionária.

Excelência, não importa qual o caminho


percorrido pelo Requerente, quer seja o abandono da
Execução ou mesmo a suposta tramoia do sonho
milionário, ambas as situações tropeçam na mesma lousa
fria e compartilham da vala comum, qual seja: "ninguém
pode se beneficiar da própria torpeza".
Ou seja, nenhuma pessoa pode fazer algo
incorreto e/ou em desacordo com as normas legais e
depois alegar tal conduta em proveito próprio.

Agora, indiscutivelmente, a versão apresentada


pelo Requerente está diametralmente oposta do que
consta nos autos da Execução e das previsões
contratuais, em especial as cláusulas terceira e
quinta do instrumento de SUB-ROGAÇÃO.

Ademais, não se olvida que o Requerente,


antes de propor a presente Ação, tinha ciência da
existência da Execução, inclusive integrando à lide,
onde não só teve acesso a todos os documentos, como
também participou da confecção do Contrato de Sub-
rogação e petição para a substituição processual, que
o fez através da aposição da sua assinatura e
reconhecimento de firma.

Somado a isso, o Requerente está representado


por advogado, que, à princípio, presume-se o
conhecimento sobre os efeitos da intimação, da
preclusão temporal, da coisa julgada e dos princípios
que norteiam a Boa-fé, notadamente o princípio
lealdade processual e da proibition da venire contra
factum próprium.

Emérito Julgador, a teoria nemo potest


venire contra factum proprium, adágio latino cujo
tradução apresentaria em algo do tipo "vir contra seus
próprios atos" ou "comportar-se contra seus próprios
atos".

Em razão do venire contra factum proprium, o


comportamento incoerente se torna combatível porque
fere a confiança legítima e a boa-fé objetiva, e, sob
esta ótica, examinar-se-á a contradição entre as
condutas inicial e posterior.

Veja que comportamento contraditório do


Requerente fica caracterizado, (i) ao afirmar que é
detentor de 50% do crédito, mesmo tendo assinado
instrumento contratual de sub-rogação do crédito que
prevê três credores igualitários, (ii) mesmo fazendo
parte do processo de execução e sendo intimado sobre
todos os atos, o mesmo declara o desconhecimento do
acordo e da sentença homologatória, mesmo após 02
(dois) anos do encerramento do processo.

De outro lado, o comportamento sub-reptício do


Requerente está consagrado em suas proposições,
vejamos:

(i) construiu, de forma consciente, uma


tese que contraria os seus próprios
atos, que o faz em total desacordo dos
limites estabelecidos na clausula
terceira e quinta do contrato de SUB-
ROGAÇÃO;

(ii) (ii) alegar desconhecimento do acordo


e de uma sentença homologatória, mesmo
sendo intimado, pela justiça, sobre
tais atos.

Atuando desta forma, é nítida a pretensão do


Requerente é retirar a segurança jurídica dos atos
processuais, em torná-los sem efeitos, o que, data
máxima vênia, deve ser coibido por este preclaro
Magistrado.

Em relação ao tema, o Superior Tribunal de


Justiça no julgamento de recurso repetitivo (Tema 622)
definiu: “A aplicação da sanção civil do pagamento em
dobro por cobrança judicial de dívida já adimplida
(cominação encartada no artigo 1.531 do Código Civil
de 1916, reproduzida no artigo 940 do Código Civil de
2002) pode ser postulada pelo réu na própria defesa,
independendo da propositura de ação autônoma ou do
manejo de reconvenção, sendo imprescindível a
demonstração de má-fé do credor.” (grifos nossos)
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. COBRANÇA INDEVIDA. MÁ-FÉ
RECONHECIDA. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE PROVA. SÚMULA
7/STJ.
1. De acordo com o entendimento firmado nesta
Corte em sede de recurso repetitivo, "a
aplicação da sanção civil do pagamento em dobro
por cobrança judicial de dívida já
adimplida (cominação encartada no artigo
1.531 do Código Civil de 1916, reproduzida no
artigo 940 do Código Civil de 2002) pode ser
postulada pelo réu na própria defesa,
independendo da propositura de ação autônoma ou
do manejo de reconvenção, sendo imprescindível
a demonstração de má-fé do credor." (REsp
1.111.270/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/11/2015, DJe
16/02/2016).
2. É inviável rever a conclusão do Tribunal de
origem de que houve má-fé na cobrança, pois
demandaria reexame de provas, o que é vedado
nesta instância especial, conforme Súmula
7/STJ.
3. Agravo interno não provido. AgInt no AREsp
1454812 / SP, de relatoria do Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, publicado no Dje 20/08/2019.

No mesmo sentindo, entendeu o TJDF, vejamos:

“DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. DESPESAS


CONDOMINIAIS. PENALIDADE PREVISTA NO ART.
940 DO CÓDIGO CIVIL. MÁ-FÉ DO CREDOR.
COMPROVAÇÃO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
CONFIGURAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. 1 - Nos
termos do art. 940 do Código Civil, "Aquele
que demandar por dívida já paga, no todo ou
em parte, sem ressalvar as quantias
recebidas ou pedir mais do que for devido,
ficará obrigado a pagar ao devedor, no
primeiro caso, o dobro do que houver
cobrado e, no segundo, o equivalente do que
dele exigir, salvo se houver prescrição." 2
- De acordo com a orientação emanada do
egrégio Superior Tribunal de Justiça, a má-
fé do Credor enseja a devolução em dobro
dos valores indevidamente demandados, com
escopo no art. 940 do Código Civil. 3 - A
pretensão de desistência da ação somente
após a apresentação da contestação não
afasta a aplicação da penalidade prevista
no art. 940 do CCB, por força do disposto
no art. 941 do mesmo diploma legal. 4 - A
alteração da verdade dos fatos autoriza a
condenação da parte nas penas da litigância
de má-fé, consoante previsão do inciso II
do art. 80 do CPC. Apelação Cível
desprovida .” (Acórdão 1135420,
07027442520188070001, Relator: ANGELO
PASSARELI, 5ª Turma Cível, data de
julgamento: 7/11/2018, publicado no DJE:
13/11/2018. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Na verdade, a funesta realidade, é que o


Requerente cobra R$ 1.488.714,08, onde, efetivamente,
é detentor de apenas um terço (1/3) do valor de R$
770.005,00.

Ou seja, o valor devido ao Requerente é de R$


256.668,33, acrescidos de correção monetária a contar
do trânsito em julgado da sentença homologatória e
juros de mora a contar da citação.

Paripassu, têm-se que houve excesso de cobrança


no valor aproximado de R$ 1.232.045,75 (um milhão,
duzentos e trinta e dois mil, quarenta e cinco reais e
setenta e cinco centavos).

Após os esclarecimentos susos, requer que


seja analisada, na ocasião do julgamento, a conduta
maliciosa do Requerente e ser reconhecido o abuso no
exercício do direito de cobrança, para aplicar a
sanção civil sobre excesso decotado, nos termos da
segunda parte do art. 940, do Código Civil.

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