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Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da 3ª Vara Federal Criminal

da Seção Judiciária do Rio de Janeiro

Procedimento nº 5091826-18.2021.4.02.5101

Glaidson Acácio dos Santos, nos autos do


procedimento em epígrafe, por seus advogados que subscrevem a
presente, vem respeitosamente a Vossa Excelência expor e
requerer o que se segue.

No dia 25 de agosto de 2021, ou seja, há mais de


um mês, o Reqte. foi preso preventivamente por decisão proferida
nestes autos (cf. comunicação de prisão – Evento 9).

No dia 8 de setembro próximo passado, Vossa


Excelência deferiu o pedido de dilação do prazo do inquérito por
mais 15 dias (Evento 31), em atendimento à promoção ministerial
(Evento 28) e à representação da autoridade policial (Evento
21).

O prazo concedido por Vossa Excelência expirou


no dia 23 de setembro de 2021, sem que, até a presente data, o
Ministério Público Federal tenha oferecido denúncia contra o
Reqte.

O prazo para conclusão do inquérito policial, em


caso de investigado preso, é de 15 dias, podendo ser renovado
por mais 15 dias por decisão judicial fundamentada (Lei n.º
5.010/66, art. 66). Na falta de previsão expressa na lei
especial, vale a regra do Código de Processo Penal de que o prazo
é contado a partir da data em que foi efetivada a prisão (CPP,
art. 10) – no caso presente, o dia 25 de agosto de 2021.

Quer conte-se o novo prazo de 15 dias a partir


do despacho de Vossa Excelência (08/09/2021), quer conte-se dois
prazos sucessivos de 15 dias, fato é que está expirado o prazo
legal sem que tenha sido formulada acusação contra o Reqte.

O excesso de prazo, verificadas tais


circunstâncias, é incontroverso. E a demora, ante
previsão expressa da lei, afigura-se inadmissível, data
maxima venia, pois a liberdade tem pressa e nada
justifica, presente sua restrição, aguardar-se 1 (um) minuto
a mais sequer, daí o pleito que ora se formula, endereçado a
Vossa Excelência, pretendendo-se a revogação da prisão
decretada contra o requerente Glaidson Acácio dos Santos,
verdadeira pena antecipada, da forma como transcorre a
apuração.

Até porque, se o fundamento para a


prorrogação indefinida do encerramento do inquérito policial é
a existência de quantidade significativa de dispositivos
eletrônicos a serem examinados, não se vislumbra como e em que
medida a liberdade do requerente possa obstar diligências como
tais, que transcorrem, uma vez apreendido o material
mencionado, nos domínios internos da Polícia e do Ministério
Público Federal, acautelados, por conseguinte, do mundo
exterior.

E é precisamente esta, aliás, a finalidade da


medida cautelar de busca e apreensão, que pressupõe, como tal,

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não apenas fundadas razões que a autorizem, na forma do
artigo 240 do Código de Processo Penal, mas também o periculum
in mora, revelador da necessidade de que eventuais provas e
instrumentos do fato sejam preservados.

A jurisprudência pátria, além do mais, não


transige com os prazos legais em casos de investigado preso. Há,
inclusive, precedentes do Tribunal Regional Federal da 2ª
Região, subjacentes aos quais se identificam hipóteses
semelhantes ao caso concreto, em que o excesso de prazo para o
encerramento da investigação, sem apresentação de acusação
formal, justificou a revogação da prisão decretada. Confiram-
se, abaixo, excertos de alguns desses julgados:

“(...)Desse modo, por se estar diante de meras


suposições de que o paciente tenha cometido outros
ilícitos, por ser o contrabando crime cometido sem
violência ou grave ameaça e não estarem demonstrados
os requisitos do art. 312, do CPP, a custódia deve ser
revogada, sobretudo diante do excesso de prazo, já que,
embora os fatos não encerrem complexidade excepcional,
o paciente está preso desde 02/10/2020 sem que tenha
sido oferecida denúncia”.
Diante do exposto, voto no sentido de CONCEDER A
ORDEM, para revogar a prisão preventiva de Renan
Barbosa Fernandes da Cunha, ressalvada a possibilidade
de nova decretação da custódia, se sobrevierem fatos
que a justifiquem. Expeça-se alvará de soltura, devendo
o paciente ser colocado em liberdade, se por outro
motivo não estiver preso (julgado em 18/11/2020)”. 1

1 TRF-2, Habeas Corpus n° 5013180-05.2020.4.02.0000/ES, 1ª Turma


Especializada Relator Juiz Federal Gustavo Arruda Macedo, Julgado em
18/11/2020.

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HABEAS CORPUS – PRISÃO PREVENTIVA – EXCESSO DE PRAZO
PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA – VIOLAÇÃO AO ART. 46 DO
CPP – DECURSO DE MAIS DE 1 MÊS DA ENTREGA DO RELATÓRIO
FINAL DO IPL – ORDEM CONCEDIDA.
É ilegal, por excesso de prazo, a prisão preventiva
quando, após o decurso de mais de 1 mês da entrega do
relatório final do IPL, o MPF ainda não ofereceu
denúncia (violação ao art. 46 do CPP).
No caso dos autos, muito embora a autoridade policial
tenha apresentado seu relatório final em 30.07.2020, o
Ministério Público ainda não ofereceu denúncia em
desfavor do paciente. Pelo contrário, segundo se
verifica da promoção constante no evento 52 do IPL, o
MPF devolveu os autos à autoridade policial em
19.08.2020 para a realização de diligências adicionais
– expedição de ofício ao INSS para saber se os nomes e
CPFs encontrados em anotações do paciente foram
utilizados para requerer auxílio emergencial do Governo
Federal –, fixando o prazo de 90 dias para cumprimento.
Decorridos mais de 30 dias da conclusão do relatório
final até a data em que foi determinada soltura do
paciente em liminar, e tendo o MPF requerido novas
diligências, resta evidenciado o excesso de prazo para
o oferecimento da denúncia e, em via de consequência,
a ilegalidade da prisão cautelar, que deve ser
relaxada. Em consulta aos autos do inquérito na
presente data (22.09.2020), verifica-se que,
decorridos 54 dias da conclusão do relatório final, as
diligências ainda não foram cumpridas.
Ainda que não fosse esse o caso, deve-se atentar à
postura extremamente colaborativa adotada pelo
paciente no curso da investigação. Com efeito, em sede
policial, não apenas confessou a prática dos supostos

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fatos criminosos como também descreveu, com riqueza de
detalhes, o seu modus operandi.
O risco à aplicação da lei penal pode ser mitigado pela
aplicação da medida cautelar de monitoramento
eletrônico.
Ordem concedida, para substituir a prisão preventiva
do paciente pela medida cautelar de monitoramento
eletrônico (art. 319, IX, do CPP) . 2

DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA.


EXCESSO DE PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA.
I – Considerando que o paciente está preso
preventivamente há mais de dois meses e não há qualquer
previsão de oferecimento da denúncia, resta evidente o
constrangimento ilegal por excesso de prazo.
II – Ordem concedida” 3.

HABEAS CORPUS - PRISÃO PREVENTIVA - EXCESSO DE PRAZO -


PACIENTE PRESO POR 51 DIAS SEM OFERECIMENTO DE DENÚNCIA
- ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA PARA SUBSTITUIR A PRISÃO
PREVENTIVAPOR CAUTELARES MENOS GRAVOSAS.
Paciente preso em flagrante em 09.04.2019, quando
ingressava em sua residência, após supostamente retirar
dos Correios pacote contendo componentes para montagem
de cerca de 20 carregadores de fuzis. A prisão foi
convertida em preventiva, para a garantia da ordem
pública.

2 TRF2, Habeas Corpus n° 5011057-34.2020.4.02.0000/RJ, 2ª Turma


Especializada, Relatora Desembargadora Federal Simone Schreiber, Julgado em
22.09.2020
3 TRF2, HABEAS CORPUS Nº 5000251-71.2019.4.02.0000/RJ, 2ª Turma
Especializada, Relator Desembargador Federal Messod Azulay Neto, Julgado em
12.03.2019

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No âmbito do habeas corpus 5002789-25.2019.4.02.0000,
este Colegiado manteve sua prisão preventiva por
entender que, além de os supostos fatos serem graves,
havia risco de reiteração da prática delitiva, na
medida em que ‘o próprio paciente admitiu já ter sido
contratado anteriormente para receber componentes do
exterior e montar carregadores para armas. Com efeito,
em seu interrogatório em sede policial, realizado na
presença de seu advogado, o paciente declarou que ‘é a
segunda vez que recebe a solicitação de receber e
montar um carregador’ e que ‘o primeiro objeto postal
continha peças para montagem de quatro pistolas Glock
380’.
No entanto, a despeito de tal quadro, o fato é que até
o momento ainda não foi oferecida denúncia e, em razão
disso, o paciente permaneceu preso por 51 dias até ser
solto por decisão liminar proferida em 31.05.2019. Em
consulta os autos de origem, verifica-se que até o
momento ainda não foi oferecida denúncia.
Ordem parcialmente concedida, para substituir a prisão
preventiva do paciente pelas medidas cautelares de
comparecimento mensal em juízo para informar suas
atividades e proibição de ausentar-se da comarca sem
autorização judicial”. 4

Uma prisão sem acusação formal nos prazos da lei


é, portanto, uma prisão ilegal.

No mais, eventual risco à aplicação da lei penal,


como suscitado na decisão de Vossa Excelência, pode ser
neutralizado, com idêntica eficácia e menor afetação aos

4 TRF2, Habeas Corpus Nº 5004073-68.2019.4.02.0000/RJ, 2ª Turma


Especializada, Relatora Desembargadora Federal Simone Schreiber, Julgado em
25.06.2019.

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direitos do requerente, mediante recolhimento de passaportes e
imposição de restrições cumulativas, nisso residindo a
desproporcionalidade que encerra a prisão decretada, permissa
venia.

Não há, portanto, justificativa plausível para


que permaneça preso o Reqte., presumidamente inocente por
imposição constitucional (CR, art. 5º, inc. LVII), sem que contra
si pese sequer acusação formal, em evidente mora dos órgãos de
persecução penal, máxime num contexto em que, considerando a
natureza inquisitorial das investigações até aqui realizadas, o
Reqte. já foi submetido a todos os meios extraordinários
previstos na legislação processual penal.

Diante do exposto, é a presente para levar estes


fatos à elevada consideração de Vossa Excelência para que
restitua a legalidade nestes autos, com o relaxamento da ilegal
prisão do Reqte., pelo extravasamento do prazo do art. 66 da Lei
n.º 5.010/66.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2021.

A. Nabor A. Bulhões Cláudio Figueiredo Costa


OAB/DF 01465/A OAB/RJ 1.584-B

Raphael Gaudio
OAB/RJ 224.377

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