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Ementa e AcórdãoEmenta: DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL.

AGRAVO EM
RECLAMAÇÃO. RECURSO QUE NÃO ATACA O FUNDAMENTO DA DECISÃO AGRAVADA.
INVIABILIDADE DO RECURSO.
1. A petição de agravo regimental não impugnou o único fundamento da decisão
agravada. Nesses casos, é inadmissível o agravo, conforme orientação do Supremo Tribunal
Federal. Precedentes.
2. Agravo não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma da Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Virtual, por unanimidade de votos, em não conhecer do agravo interno,
nos termos do voto do Relator.
Brasília, 5 a 12 de maio de 2023.
Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO - Relator
Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode
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15/05/2023
PRIMEIRA TURMA
AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.065 RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
AGTE.(S) :MÁRCIO SIQUEIRA BATTIROLA
ADV.(A/S) :VLADIMIR DE AMORIM SILVEIRA
AGDO.(A/S) :JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JÚRI DO FORO
CENTRAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE
ADV.(A/S) :SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
BENEF.(A/S) :NÃO INDICADO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):


1. Trata-se de agravo contra decisão monocrática pela qual neguei seguimento à reclamação
nos seguintes termos:
1. Trata-se de reclamação, com pedido de liminar, ajuizada por Márcio Siqueira Battirola
contra decisão proferida nos Autos nº 5018970-50.2023.8.21.7000, pela 1ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ/RS), que não conheceu do habeas corpus,
por não se poder falar “em excesso de prazo na conclusão do processo; se já, como citado, há uma
condenação, não se pode falar em ‘perda de higidez da prisão preventiva’”.
2. O autor alega que “a situação dos autos contrariou o entendimento do Supremo nas
ADIs 6.581 e 6.582 no sentido de que as prisões preventivas devem ser reavaliadas a cada 90 dias
durante todo o processo de conhecimento até o julgamento em segunda instância”.
3. O órgão reclamado prestou informações.
4. A Procuradoria-Geral da República opina pelo não conhecimento da reclamação, em
parecer assim ementado: PROCESSO PENAL. RECLAMAÇÃO. HABEAS CORPUS.
PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA
FORMAÇÃO DA CULPA. INSTRUÇÃO DEFICIENTE DOS
AUTOS. ADI N. 6.581 E N. 6.582. AUSÊNCIA DE ADERÊNCIA
ESTRITA ENTRE O ATO RECLAMADO E OS PARADIGMAS APONTADOS COMO VIOLADOS.
PARECER PELO NÃO CONHECIMENTO DA RECLAMAÇÃO.
5. É o relatório. Decido.
6. A ausência da juntada da decisão reclamada ensejaria a abertura de prazo para
emenda da inicial, nos termos dos arts. 318, VI, 320 e 321 do CPC. Não obstante, da consulta ao
andamento do processo de origem (na página eletrônica do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul), já é possível afirmar a inviabilidade da reclamação. Assim, em observância ao
princípio da celeridade processual, desde logo aprecio o pedido.
7. A reclamação dirigida a esta Corte só é cabível quando se sustenta usurpação de sua
competência, ofensa à autoridade de suas decisões ou contrariedade a súmula vinculante (CF/88,
arts. 102, I, l, e 103-A, § 3º). Tratando-se de alegação de violação a decisão dotada de efeito
vinculante, há necessidade de relação de aderência estrita entre o ato impugnado e o paradigma
supostamente violado.
8. Os paradigmas tidos como violados, ADIs 6.581 e 6.582, fixaram interpretação
conforme a Constituição, ao parágrafo único, do art. 316, do Código de Processo Penal (CPP), com
a redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), entendendo que o Juízo competente
deverá ser acionado a rever a legalidade e a atualidade dos fundamentos da prisão preventiva em
90 dias, bem como que a ausência da reavaliação da medida, em tal prazo, não implica revogação
automática da custódia. Na oportunidade, entendeu-se que tal dispositivo se aplica até o final do
processo de conhecimento, quando se encerra a análise de fatos e provas pelo tribunal de 2º grau,
mas não vale para prisões cautelares decorrentes de sentença condenatória de 2ª instância ainda
não transitadas em julgado.
Veja-se, nesse sentido, a ementa dos paradigmas, em que o Ministro Alexandre de Moraes ficou
redator para o acórdão :
2
Rel

CONSTITUCIONAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL.ART.


316, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, COM A
REDAÇÃO DADA PELA LEI 13.964/2019.
DEVER DO MAGISTRADO DE REVISAR A NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO
DA PRISÃO PREVENTIVA A CADA
NOVENTA DIAS. INOBSERVÂNCIA QUE NÃO ACARRETA
A REVOGAÇÃO AUTOMÁTICA DA PRISÃO.
PROVOCAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE PARA
REAVALIAR A LEGALIDADE E A ATUALIDADE DE SEUS
FUNDAMENTOS. OBRIGATORIEDADE DA REAVALIAÇÃO
PERIÓDICA QUE SE APLICA ATÉ O ENCERRAMENTO DA
COGNIÇÃO PLENA PELO TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO.
APLICABILIDADE NAS HIPÓTESES DE
PRERROGATIVA DE FORO. INTERPRETAÇÃO CONFORME À
CONSTITUIÇÃO. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
1. A interpretação da norma penal e processual penal exige que se
leve em consideração um dos maiores desafios institucionais do Brasil na
atualidade, qual seja, o de evoluir nas formas de combate à criminalidade
organizada, na repressão da impunidade, na punição do crime violento e no
enfrentamento da corrupção. Para tanto, é preciso estabelecer não só uma
legislação eficiente, mas também uma interpretação eficiente dessa mesma
legislação, de modo que se garanta a preservação da ordem e da segurança
pública, como objetivos constitucionais que não colidem com a defesa dos
direitos fundamentais.
2. A introdução do parágrafo único ao art. 316 do Código de Processo
Penal, com a redação dada pela Lei 13.964/2019, teve como causa a
superlotação em nosso sistema penitenciário, especialmente decorrente do
excesso de decretos preventivos decretados. Com a exigência imposta na
norma, passa a ser obrigatória uma análise frequente da necessidade de
manutenção de tantas prisões provisórias.
3. A inobservância da reavaliação prevista no dispositivo impugnado,
após decorrido o prazo legal de 90 (noventa) dias, não implica a revogação
automática da prisão preventiva,
3
devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade
de seus fundamentos. Precedente.
4. O art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal aplica-
se até o final dos processos de conhecimento, onde há o encerramento da
cognição plena pelo Tribunal de segundo grau, não se aplicando às prisões
cautelares decorrentes de sentença condenatória de segunda instância ainda
não transitada em julgado.
5. o artigo 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal aplica-
se, igualmente, nos processos em que houver previsão de prerrogativa de foro.
6. Parcial procedência dos pedidos deduzidos nas Ações Diretas.
9. O ato reclamado, por sua vez, é decisão que “não conheceu do
habeas corpus, por não se poder falar ‘em excesso de prazo na conclusão do
processo; se já, como citado, há uma condenação, não se pode falar em ‘perda
de higidez da prisão preventiva’.”
10. A revisão de ofício, da prisão cautelar, a cada 90 dias é voltada ao
Juízo que decretou a custódia preventiva, providência que deve ser tomada no
curso da investigação ou do processo. Nos presente caso, conforme informado
pelo juízo reclamado, já houve condenação. Senão vejamos:
Em resposta ao solicitado por Vossa Excelência, em relação ao processo
nº 5018970-50.2023.8.21.7000, informo que, monocraticamente, não conheci do
habeas corpus, porque os motivos do pedido de revogação da prisão preventiva
são juridicamente inapropriados. Isto porque, se já há um julgamento com
condenação, não se pode falar em excesso de prazo, tampouco, em perda da
higidez da prisão preventiva. Irresignada, a Defesa interpôs agravo regimental
contra a decisão referida acima. O recurso foi julgado pela 1ª Câmara Criminal

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no dia 9 de março de 2023. Os Desembargadores, por maioria, rejeitaram o
agravo regimental.
11. Dito isso, não há, nos presentes autos, decisão que permita a
reavaliação da prisão nos moldes do que foi decidido
4
nas ADIs 6.581 e 6.582. De modo que carece a presente reclamação de
aderência entre o ato reclamado e os paradigmas tidos por violados; exigência
imprescindível para o cabimento da presente reclamação (Rcl 12.887-AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli).
12. Diante do exposto, com base no art. 21, § 1º, do RI/STF, nego
seguimento à reclamação. Fica prejudicado o pedido liminar.
13. Em caso de interposição de recurso, deve a parte trazer aos autos
as decisões pertinentes proferidas nos Autos nº 5018970- 50.2023.8.21.7000,
sob pena de não conhecimento.
2. A parte agravante junta documentos e reitera os fundamentos da
petição inicial.
3. É o relatório.
5
Voto - MIN. ROBERTO BARROSO
15/05/2023 PRIMEIRA TURMA
AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.065 RIO GRANDE DO SUL
VOTO:
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):
1. O agravo não pode prosperar, tendo em vista que a parte agravante não atacou o único
fundamento da decisão recorrida.
2. Nos termos dos art. 317, § 1º, do RI/STF, cabe à parte agravante impugnar os
fundamentos da decisão que pretender reformar. Nesse sentido, vejam-se: Rcl 8.974-AgR, Rel. Min.
Teori Zavascki; Rcl.
2. 703-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes; Rcl 5.684-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski;
Rcl 9.344-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli; Rcl 12.967-AgR, Relª. Minª. Cármen Lúcia. Esse entendimento
foi, inclusive, incorporado pelo art. 932, III, do CPC/2015.
3. No caso dos autos, neguei seguimento à reclamação pela falta da necessária relação
de aderência estrita entre a decisão reclamada e o paradigma tido por violado. Conforme
documentação anexada ao presente agravo (a qual não foi instruída junto à reclamação quando do
seu ajuizamento), o reclamante já foi julgado e condenado pelo Tribunal do Juri, sem notícia de
recurso, de forma que existe condenação em definitivo. Portanto, trata-se de hipótese que torna
desnecessária a revisão da prisão (a qual já deixou de ser cautelar), conforme a jurisprudência desta
Corte.
4. Tal fundamento não foi enfrentado pelo agravante, o qual se limitou a reiterar os
argumentos da inicial. O agravo passou ao largo do fundamento da decisão monocrática, não o
impugnando.
5. Diante do exposto, não conheço do agravo.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO
RCL 58065 AGR / RS
6. É como voto.
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Extrato de Ata - 15/05/2023
PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA
AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.065
PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
AGTE.(S) : MÁRCIO SIQUEIRA BATTIROLA ADV.(A/S) : VLADIMIR DE AMORIM SILVEIRA
(75834/RS) AGDO.(A/S) : JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JÚRI DO FORO CENTRAL DA
COMARCA DE PORTO ALEGRE ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS BENEF.(A/S)
: NÃO INDICADO
Decisão: A Turma, por unanimidade, não conheceu do agravo interno, nos termos do voto do
Relator. Primeira Turma, Sessão Virtual de 5.5.2023 a 12.5.2023.

Composição: Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente), Cármen Lúcia, Luiz Fux e Alexandre
de Moraes.
Disponibilizaram processos para esta Sessão os Ministros Rosa Weber e André Mendonça
(não participaram do julgamento desses feitos os Ministros Luiz Fux e Cármen Lúcia,
respectivamente) e Dias Toffoli.
Luiz Gustavo Silva Almeida
Secretário da Primeira Turma

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