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AO JUÍZO DA 8ª VARA FEDERAL CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO

ESTADO DE GOIÁS

Processo: 1012240-09.2023.4.01.3500
Autor: ANTONIO CARLOS DE CAMARGO SCANO
Réu: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

A parte autora, devidamente qualificada nos autos do processo em


epígrafe, por seus advogados constituídos, vem à presença de Vossa Excelência, apresentar
RÉPLICA, pelos fatos e fundamentos a seguir deduzidos e requerer o que segue.

Trata-se de ação previdenciária que busca a revisão de


aposentadoria por idade (NB 195.092.424-3) para determinar a aplicação do art. 29, inciso I
da Lei 8.213/91 no cálculo do salário-de- benefício considerando o período contributivo
anterior à competência julho de 1994.

As razões lançadas pela Autarquia Ré não merecem acolhimento


conforme será demonstrado a seguir.

1) DO PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO

Preliminarmente, o INSS pugna pela suspensão do processo,


asseverando que ainda não houve a publicação do acórdão paradigma tampouco o trânsito
em julgado da tese em questão.
N. Julgador, trata-se de pedido desarrazoado, eis que o próprio
Supremo Tribunal Federal possui entendimento no sentido de que não se exige a
publicação do acórdão das suas decisões para que estas sejam cumpridas, em
obediência ao princípio da eficiência, devendo a prestação jurisdicional
prontamente ser seguida.

Vejamos o seguinte precedente:

"DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
LEGITIMIDADE. POLO PASSIVO. ASSISTÊNCIA À SAÚDE.
REPERCUSSÃO GERAL. INSURGÊNCIA VEICULADA
CONTRA A APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO
IMEDIATA DOS ENTENDIMENTOS FIRMADOS PELO
PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM
REPERCUSSÃO GERAL. 1. A existência de precedente firmado
pelo Plenário desta Corte autoriza o julgamento imediato de
causas que versem sobre o mesmo tema, independente da
publicação ou do trânsito em julgado do paradigma.
Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento." (ARE
930.647-AgR/PR, rel. min. ROBERTO BARROSO) "Agravo
regimental no recurso extraordinário. Precedente do Plenário.
Possibilidade de julgamento imediato de outras causas. Precedentes.
1. A Corte possui entendimento no sentido de que a existência
de precedente firmado pelo Plenário autoriza o julgamento
imediato de causas que versem sobre o mesmo tema,
independentemente da publicação ou do trânsito em julgado do
'leading case'. 2. Agravo regimental não provido, com imposição de
multa de 2% (art. 1.021, § 4º, do CPC).

3. Majoração da verba honorária em valor equivalente a 10% (dez por


cento) daquela a ser fixada na fase de liquidação (art. 85, §§ 2º, 3º e
11, do CPC), observada a eventual concessão do benefício de
gratuidade da justiça." (RE 611.683-AgR/DF, rel. min. DIAS
TOFFOLI)
Assim, após dez anos aguardando a resolução da celeuma jurídica,
decidido o feito pelo STF, deve a Revisão da Vida Toda ser imediatamente aplicada
ao processo, bem como concedida a tutela de evidência nos termos do art. 311 do
CPC.

Ressalte-se que a 15ª Vara de Juizado Especial da SJGO tem


decidido em consonância com o entendimento retro, conforme se observa da sentença em
anexo, tendo a I. Magistrada – Dra. Luciana Lurenti Gheller – decidido nos seguintes
termos:

“Inicialmente, tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal – STF


finalizou o julgamento do RE 1276977, com decisão favorável aos
aposentados (6 votos favoráveis e 5 votos contra), não há que se
falar em suspensão do processo. Além disso, é oportuno
salientar que o STF tem entendimento pacificado de que
decisões desse jaez produzem eficácia vinculante a partir da
publicação da ata de julgamento, sendo desnecessário aguardar
o trânsito em julgado ou mesmo a publicação do Acórdão.
Nesse sentido colaciono trecho da Reclamação 54.423 - MG, da lavra
do Relator Ministro Nunes Marques (DJE nº 153, divulgado em
02/08/2022): Ressalto que este Tribunal tem reiteradamente
assentado que paradigmas dotados de eficácia vinculante passam a
irradiar seus regulares efeitos a partir da publicação da ata de
julgamento, sendo despiciendo aguardar o trânsito em julgado ou
mesmo a publicação do acórdão paradigma (ARE 650.574-AgR, Rel.
Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma; AI 709.043-AgR/PR, Rel. Min.
Dias Toffoli, Primeira Turma, Rcl 6999- Agr, Relator Ministro Teori
Zavascki, Plenário).”

Assim, pugnando pela uniformidade deste Tribunal e diante de


matéria apta a julgamento do mérito, pugna pelo regular processamento do feito.

2) DA DECADÊNCIA

Quanto a alegação de decadência, consoante art. 103, da Lei n.


8.213/91, o marco inicial da decadência do direito sob análise ocorre após 10 anos do
primeiro dia do mês subsequente ao do recebimento da primeira prestação, in verbis:
Art. 103. O prazo de decadência do direito ou da ação do segurado
ou beneficiário para a revisão do ato de concessão, indeferimento,
cancelamento ou cessação de benefício e do ato de deferimento,
indeferimento ou não concessão de revisão de benefício é de 10
(dez) anos, contado:
I - do dia primeiro do mês subsequente ao do recebimento da
primeira prestação ou da data em que a prestação deveria ter sido
paga com o valor revisto; ou
II - do dia em que o segurado tomar conhecimento da decisão de
indeferimento, cancelamento ou cessação do seu pedido de
benefício ou da decisão de deferimento ou indeferimento de
revisão de benefício, no âmbito administrativo.

Assim, sabendo que o termo inicial da decadência se deu em


novembro de 2019, o direito pleiteado não foi fulminado pelo instituto
supramencionado.

3) DO MÉRITO

Quanto as razões de mérito invocadas pelo INSS, cumpre pontuar


que são genéricas, sem adentrar às especificidades do quadro do Autor, aos salários-de-
contribuição aqui apresentados, limitando-se a reproduzir o texto legal e invocar questões
já combatidas pelo STF no julgamento da Revisão da Vida Toda.

A autarquia Ré fez alegações infundadas, não trazendo aos autos


qualquer fato ou documento impeditivo, modificativo ou extintivo da pretensão do
Requerente (conforme disposto no artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil).

Ademais, caberia ao Réu apresentar na contestação toda a sua


matéria de defesa, o que não foi feito. Nota-se ainda que, em momento algum, o Réu
menciona qualquer fato relacionado às provas anexadas à exordial, presumindo-se aceitos
os fatos narrados pelo Autor.
Por fim salientamos que os argumentos presentes na
contestação apresentada pela Autarquia Ré já foram detalhadamente analisados na
petição inicial, tornando despicienda nova análise da matéria, sob pena de
redundância.

Por todo o exposto, deve ser facultado ao segurado optar pela


aplicação das regras permanentes do art. 29, I, da Lei 8.213/91, com a utilização de todo o
período contributivo, incluindo as contribuições anteriores a julho de 1994, se assim lhe for
vantajoso.

4) DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Conforme intimação deste Douto Juízo para que a parte apresente


a última declaração do imposto de renda entregue, a fim de comprovar que não está
obrigado a cumprir tal obrigação junto à SRF, a parte autora reitera não possuir condições
de arcar com as custas do processo judicial sem prejuízo de seu sustento, pois além de
idoso, recebe aposentadoria correspondente a um salário-mínimo.

Assim, a parte junta aos autos cópia das três últimas declarações de
IRPF, estando isento da apresentação da Declaração do Imposto de Renda por não
incorrer em nenhuma das hipóteses de obrigatoriedade estabelecidas pelas Instruções
Normativas (IN) da Receita Federal do Brasil.

Contudo, é importante relembrar a jurisprudência consolidada do


Tribunal Regional Federal da 1ª região quanto à gratuidade da justiça, visto que esse
sodalício entende que a justiça gratuita deve ser deferida ao requerente que perceba
mensalmente valores [líquidos] de até 10 (dez) salários-mínimos, em face da
presunção de pobreza que milita em seu favor. Vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


HIPOSSUFICIÊNCIA DEMONSTRADA. DIREITO
DIREITO ASSEGURADO. 1. Pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, para o deferimento da gratuidade de justiça,
não pode o juiz se balizar apenas na remuneração auferida, no
patrimônio imobiliário, na contratação de advogado particular pelo
requerente (gratuidade de justiça difere de assistência judiciária), ou
seja, apenas nas suas receitas. Imprescindível fazer o cotejo das
condições econômico-financeiras com as despesas correntes
utilizadas para preservar o sustento próprio e o da família (STJ,
AgRg no AREsp 257.029/RS, Ministro Herman Benjamin, 2T,
DJe 15/02/2013). No mesmo sentido: REsp 1.196.941/SP,
Ministro Benedito Gonçalves, 1T, DJe 23/03/2011. 2. Nesta
Corte, prevalece o entendimento de que a justiça gratuita
deve ser deferida ao requerente que perceba mensalmente
valores [líquidos] de até 10 (dez) salários-mínimos, em face
da presunção de pobreza que milita em seu favor (TRF1, AG
1015536-05.2019.4.01.0000, relator Desembargador Federal
Wilson Alves de Souza, 1T, PJe 18/12/2019). Confiram-se
também, entre outros: AC 0010049-98.2011.4.01.3800, relatora
Juíza Federal Convocada Olívia Merlin Silva, 1T, e-DJF1
04/12/2019; AG 1019347-07.2018.4.01.0000, relator
Desembargador Federal Francisco de Assis Betti, 2T, e-DJF1
29/11/2019; EDAC 0008481-49.2011.4.01.9199, relatora
Desembargadora Federal Gilda Sigmaringa Seixas, 1T, e-DJF1
23/10/2019; AG 0037586-52.2013.4.01.0000, relator
Desembargador Federal Jirair Aram Meguerian, 6T, e-DJF1
08/07/201; AC 0001427-98.2008.4.01.3100, relator
Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, 6T, e-DJF1
30/04/2018; AGTAG 1018022-26.2020.4.01.0000, relator
Desembargador Federal Wilson Alves de Souza, 1T, PJe
18/12/2020). 3. O agravante tem rendimento mensal bruto de R$
4.326,04 e, após descontos, o valor líquido é de R$ 2.613,64, ou
seja, bem abaixo de 10 salários-mínimos. 4. Agravo de instrumento
provido.
(AG 1016291-29.2019.4.01.0000, DESEMBARGADOR
FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA, TRF1 - SEXTA
TURMA, PJe 31/08/2022 PAG.) (grifo nosso)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.
HIPOSSUFICIÊNCIA DEMONSTRADA. DIREITO
ASSEGURADO. 1. Pela jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, para o deferimento da gratuidade de justiça, não pode o
juiz se balizar apenas na remuneração auferida, no patrimônio
imobiliário, na contratação de advogado particular pelo requerente
(gratuidade de justiça difere de assistência judiciária), ou seja,
apenas nas suas receitas. Imprescindível fazer o cotejo das
condições econômico-financeiras com as despesas correntes
utilizadas para preservar o sustento próprio e o da família (STJ,
AgRg no AREsp 257.029/RS, relator Ministro Herman Benjamin,
2T, DJe 15/02/2013). No mesmo sentido: REsp 1.196.941/SP,
relator Ministro Benedito Gonçalves, 1T, DJe 23/03/2011. 2.
Nesta Corte, prevalece o entendimento de que a justiça
gratuita deve ser deferida ao requerente que perceba
mensalmente valores [líquidos] de até 10 (dez) salários-
mínimos, em face da presunção de pobreza que milita em
seu favor (TRF1, AG 1015536-05.2019.4.01.0000, relator
Desembargador Federal Wilson Alves de Souza, 1T, PJe
18/12/2019). Confiram-se também, entre outros: AC 0010049-
98.2011.4.01.3800, relatora Juíza Federal Convocada Olívia Merlin
Silva, 1T, e-DJF1 04/12/2019; AG 1019347-07.2018.4.01.0000,
relator Desembargador Federal Francisco de Assis Betti, 2T, e-
DJF1 29/11/2019; EDAC 0008481-49.2011.4.01.9199, relatora
Desembargadora Federal Gilda Sigmaringa Seixas, 1T, e-DJF1
23/10/2019; AG 0037586-52.2013.4.01.0000, relator
Desembargador Federal Jirair Aram Meguerian, 6T, e-DJF1
08/07/201; AC 0001427-98.2008.4.01.3100, relator
Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, 6T, e-DJF1
30/04/2018; AGTAG 1018022-26.2020.4.01.0000, relator
Desembargador Federal Wilson Alves de Souza, 1T, PJe
18/12/2020). 3. Conforme anotado pelo Juiz de primeiro grau, o
agravante tem rendimento mensal bruto de R$ 8.000,00, ou seja,
abaixo de 10 salários-mínimos. 4. Agravo de instrumento provido.
(grifo nosso)

(AG 1005261-60.2020.4.01.0000, DESEMBARGADOR


FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA, TRF1 - SEXTA
TURMA, PJe 23/08/2022 PAG.)

ISSO POSTO, requer a parte autora o prosseguimento do feito, a


concessão da tutela de evidência e o julgamento procedente de todos os pedidos
formulados na exordial.

Pede deferimento.

Aparecida de Goiânia, 03 de abril de 2023.

Gustavo Escobar Hayann Victor Borges


OAB/GO n. 25.790 OAB/GO n. 32.746

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