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Autos nº: 5661932-18.2019.8.09.

0144

Polo Ativo: Edilene Aparecida De Carvalho

Polo Passivo: Universidade Do Estado De Goias Ueg

Serventia: Silvânia - Juizado das Fazendas Públicas

SENTENÇA

Trata-se de RECLAMATÓRIA TRABALHISTA proposta por EDILENE

APARECIDA DE CARVALHO em face da UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

– UEG, ambos qualificados.

A parte autora ingressou com a presente ação aduzindo que foi contratada

pela requerida para prestar serviços, com vínculo temporário, tendo a situação, no

entanto, perdurado por prazo superior ao previsto no contrato.

Entende que a prorrogação da vigência de seu contrato de trabalho

descaracterizou o caráter excepcional da temporariedade, o que enseja sua nulidade.

Ao final, requer a nulidade do contrato de trabalho por tempo determinado,

bem como a condenação da requerida ao pagamento do FGTS sobre todo o período

laborado.

Citada, a requerida UEG apresentou contestação na movimentação 41,

alegando, preliminarmente, a competência absoluta do Juizado Especial da Fazenda

Pública e a prescrição quinquenal de parte da verba pleiteada, argumentando a

inaplicabilidade do ARE n.° 709121 para as causas que envolvem a Administração

Pública.

No mérito, sustenta que o ônus da comprovação do vínculo sob regime de

contratação temporária é da autora, e, caso procedente, seja aplicada a devida

correção monetária.

Houve réplica, mov. 42.

Vieram os autos conclusos.

É o relatório. Decido.
Cumpre salientar que a presente ação se encontra apta a receber

julgamento antecipado, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil, tendo

em vista que a matéria em análise é eminentemente de direito, afigurando-se

suficiente a prova documental constante dos autos.

A Universidade ré suscitou a prejudicial de mérito relativa à prescrição,

visando a exclusão da condenação de todos os eventuais direitos e interesses da

parte autora, anteriores a cinco anos da propositura da ação.

Conforme dispõe o Decreto nº 20.910/32, os direitos ou ações contra a

Fazenda Pública Estadual, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos,

contados do ato ou fato do qual se originaram.

No entanto, o caso sob análise possui peculiaridades que devem ser

observadas em razão do julgamento do ARE n.° 709.212/DF pelo Supremo Tribunal

Federal, consonante será explanado abaixo.

O julgamento do STF no ARE n.° 709.121/DF, em regime de repercussão

geral (Tema 608), declarou a inconstitucionalidade, com efeitos ex nunc, dos arts.

23, §5°, da Lei n.° 8.036/90 e 55 do Decreto n.° 99.684/90, no tocante à prescrição

trintenária para cobrança de débitos relativos ao Fundo de Garantia por Tempo de

Serviço (FGTS), tendo fixado o entendimento de que deve ser aplicado, em seu

lugar, o prazo prescricional quinquenal, in verbis:

“Recurso extraordinário. Direito do Trabalho. Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço (FGTS). Cobrança de valores não pagos. Prazo

prescricional. Prescrição quinquenal. Art 7°, .3.'XIX, da Constituição.

Superação de entendimento anterior sobre prescrição trintenária.

Inconstitucionalidade dos arts. 23, § 5°, da Lei 8.036/1990 e 55 do

Regulamento do FGTS aprovado pelo Decreto 99.684/1990. Segurança

jurídica. Necessidade de modulação dos efeitos da decisão. Art. 27 da Lei

9.868/1999. Declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex nunc.

Recurso extraordinário a que se nega provimento”. (ARE 709212,

Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 13/11/2014,

ACÓRDÃO ELTRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -MÉRITO DJe-032 DIVULG

18-02-2015 PUBLIC 19-02- 2015)


Na oportunidade, o Ministro Gilmar Mendes, ao modular os efeitos da

decisão, entendeu que, para os casos em que o termo inicial da prescrição for

posterior à data do julgamento do ARE n.° 709.212/DF (13/11/2014), deverá ser

aplicado o prazo prescricional de 05 (cinco) anos. No entanto, naqueles em que o

termo inicial seja anterior ao julgamento, aplica-se a prescrição trintenária, desde

que a ação tenha sido proposta em até: a) 05 (cinco) anos a partir da data da

decisão do STF, ou seja, até 13/11/2019, ou; b) 30 (trinta) anos a partir do termo

inicial da prescrição, devendo ser observado o que primeiro ocorrer. Para melhor

elucidação, transcrevo as palavras do Ministro Gilmar Mendes:

“A modulação que se propõe consiste em atribuir à presente decisão

efeitos ex nunc (prospectivos). Dessa forma, para aqueles cujo termo

inicial da prescrição ocorra após a data do presente julgamento, aplica-

se, desde logo, o prazo de cinco anos. Por outro lado, para os casos em

que o prazo prescricional já esteja em curso, aplica-se o que ocorrer

primeiro: 30 anos, contados do termo inicial, ou 5 anos, a partir desta

decisão. Assim se, na presente data, já tenham transcorrido 27 anos do

prazo prescricional, bastarão mais 3 anos para que se opere a prescrição,

com base na jurisprudência desta Corte até então vigente. Por outro lado,

se na data desta decisão tiverem decorrido 23 anos do prazo

prescricional, ao caso se aplicará o novo prazo de 05 anos, a contar da

data do presente julgamento.”

Nesta esteira, entendo que a modulação dos efeitos pelo Supremo Tribunal

Federal teve por fito garantir a segurança jurídica àqueles que iniciaram o contrato

de trabalho em período anterior à declaração de inconstitucionalidade dos arts. 23,

§5°, da Lei n.° 8.036/90 e 55 do Decreto n.° 99.684/90, devendo, assim, ser

mantido o período trintenário anterior ao ajuizamento da ação nos casos acima

mencionados.

Nesse sentido, vejamos o seguinte trecho do julgado proferido pelo

Superior Tribunal de Justiça, que explana de forma cristalina o exposto no

julgamento do REsp n.° 1841538 em que o Estado do Amazonas pleiteava a

aplicação do prazo quinquenal em detrimento do trintenário:


ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. NULIDADE DO CONTRATO

DE TRABALHO TEMPORÁRIO. DIREITO AO FGTS. RE N.

765.320/RG. PRAZO PRESCRICIONAL PARA O RECEBIMENTO DOS

VALORES DEVIDOS. ARE N. 709.212/DF. APLICAÇÃO. MODULAÇÃO

DOS EFEITOS. SEGURANÇA JURÍDICA. TERMO INICIAL DO

CONTRATO DE TRABALHO ANTERIOR AO JULGAMENTO DA

REPERCUSSÃO GERAL. MOMENTO DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO DE

COBRANÇA. DEFINIÇÃO DO PRAZO PARA RECEBIMENTO DAS

PARCELAS VENCIDAS. TRINTENÁRIO. QUINQUENAL. RECURSO

ESPECIAL IMPROVIDO. O Supremo Tribunal Federal, ao modular o

entendimento firmado no julgamento do ARE n. 709.212/DF, com o

objetivo de garantir a segurança jurídica e evitar surpresa, adotou efeitos

ex nunc, preservando, assim, o direito ao recebimento de parcelas do

FGTS em período superior a 5 anos (limitado a 30 anos), para aquele cujo

contrato de trabalho foi celebrado até 13.11.2014 e a ação foi ajuizada

dentro do prazo de 5 anos a contar de tal data, desde que, entre o termo

inicial e o ajuizamento da ação, o prazo não seja superior a 30 anos. Em

consequência da modulação aplicada, emergem as seguintes

conclusões com relação aos contratos de trabalho em curso no

momento do julgamento do Supremo Tribunal Federal (ARE n.

709.21 2/DF -Tema 608/STF), conforme a hipótese: (i) se o

ajuizamento da ação, objetivando o recebimento das parcelas do

FGTS, ocorreu até 13.11.2019, aplica-se a prescrição trintenária,

ou seja, o trabalhador tem direito ao recebimento das parcelas

vencidas no período de 30 anos antes do ajuizamento da ação; e

(ii) se o ajuizamento da ação, objetivando o recebimento das

parcelas do FGTS, ocorreu após 13.11.2019, aplica-se a prescrição

quinquenal, ou seja, o trabalhador faz jus somente ao recebimento

das parcelas vencidas no período de 5 anos antes do ajuizamento

da ação. (STJ - REsp: 1841538 AM 2019/0297438-7, Relator: Ministro

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Data de Julgamento: 04/08/2020, T1 -

PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/08/2020) (g.n.)


No mesmo sentido entende o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA. CONTRATO

TEMPORÁRIO. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE FGTS.

CONTRATO TEMPORÁRIO. FGTS DEVIDO. INOCORRÊNCIA DO PRAZO

PRESCRICIONAL. ENCARGOS LEGAIS. CORRETAMENTE OBSERVADOS.

MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1. A orientação advinda de precedente do

Supremo Tribunal Federal (ARE nº 709.2012/DF) julgado sob o rito da

repercussão geral (Tema 608), com efeito vinculante, é a de que, para os

casos em que o termo inicial da prescrição for posterior à data do

julgamento do ARE nº 709.212/DF (13/11/2014), deverá ser aplicado o

prazo prescricional de 05 (cinco) anos. No entanto, naqueles em que o

termo inicial seja anterior ao julgamento, deve ser aplicado o que

primeiro ocorrer: 05 (cinco) anos a partir da data da decisão, em

13/11/2014, ou o prazo de 30 (trinta) anos a partir do termo

inicial da prescrição. Considerando que o termo inicial da prescrição é

01/06/2005, torna-se evidente que deve ser aplicado o prazo de 05

(cinco) anos a partir da decisão do STF no ARE n.° 709.212/DF, isto é, a

partir de 13/11/2014, o que se encerrou em 13/11/2019, ou seja, em

momento posterior ao ajuizamento da ação. (…) RECURSO CONHECIDO E

DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO

TRABALHO ->Recursos -> Apelação Cível 5366964-40.2018.8.09.0006,

Rel. Des (a). Aureliano Albuquerque Amorim, 5ª Câmara Cível, julgado

em 13/06/2023, DJe de 13/06/2023 – Grifado)

Na casuística, observa-se que o prazo prescricional já estava em curso

quando fora proferido o referido acórdão pelo STF (13.11.2014), uma vez que a

autora fora contratada, por tempo determinado, a partir de 01/08/2011.

Contando-se o prazo trintenário a partir de 01/08/2011, este encerrar-se-

ia somente em 01/08/2041 e, considerando-se a segunda alternativa prevista no

julgado vinculante, o prazo quinquenal contado a partir de 13/11/2014 (data do

acórdão) findou-se em 13.11.2019, ou seja, antes daquele, prevalecendo, por

conseguinte, o prazo quinquenal.


Nesse sentido, é uníssona também a jurisprudência desse e. sodalício

estadual:

PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. FGTS. PAGAMENTO DEVIDO. PERÍODO

DO RECOLHIMENTO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. (…) 1 - O Supremo

Tribunal Federal, no julgamento com repercussão geral do ARE n°

709212/DF, firmou posicionamento no sentido de que a prescrição da

ação, para cobrança do FGTS, é de 5 (cinco) anos. Contudo, houve

modulação dos efeitos da decisão, proferida no mencionado recurso, a

fim de que, nas ações em curso, fosse aplicado o que acontecer

primeiro: o prazo prescricional de 30 (trinta) anos, contados do termo

inicial, ou de 5 (cinco) anos, a partir da referida decisão, este último

aplicável à presente hipótese. (…)(TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO

TRABALHO -> Recursos -> Apelação Cível 5656306-92.2019.8.09.0087,

Rel. Des(a). JEOVA SARDINHA DE MORAES, 6ª Câmara Cível, julgado

em 19/04/2021, DJe de 19/04/2021 – Grifado).

Assim, considerando que a presente demanda foi ajuizada em 14/11/2019,

incide na espécie o prazo quinquenal.

Inexistindo outras preliminares a serem analisadas e presentes os

pressupostos processuais e condições da ação, passo ao exame do mérito.

Verifica-se que a questão discutida nos autos se refere ao recebimento de

FGTS decorrente de prestação de serviços realizada pela parte autora à Universidade

Estadual de Goiás.

A Constituição Federal de 1988 determina, em seu artigo 37, II, que a

investidura no serviço público, seja como estatutário ou como celetista, dependerá

de aprovação em concurso público, ressalvadas as nomeações para cargo em

comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

São chamados de estatutários os servidores públicos civis da União,

Estados, Municípios, das Autarquias e das Fundações Públicas, os quais são regidos

por regime jurídico próprio, sendo da Justiça Comum Estadual a competência para

dirimir os litígios porventura existentes. Já os servidores celetistas compreendem os

empregados públicos, e são regulados pelos ditames da Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT), competindo à Justiça do Trabalho apreciar as questões oriundas

dessa relação.

Analisando os autos, verifico que a questão deve ser vista, inicialmente,

sob o prisma do regime jurídico estatutário, eis que resta incontroversa no processo,

não só pelas afirmações da exordial, como também pelos documentos acostados, a

condição de servidor público da parte requerente, porquanto exercia função regida

pela Lei nº 13.664/00 do Estado de Goiás.

Assim, se considerado válido o contrato temporário celebrado, afiguram-se,

em regra, inaplicáveis as normas celetistas, sendo indispensável a observância das

regras de direito público, notadamente aquela contida no art. 39, § 3º, CF, (que

dispõe acerca dos direitos trabalhistas assegurados aos servidores) e as estipuladas

pelas Leis Estaduais supramencionadas, desde que não contrariem a Magna Carta.

Esclarecida a relação havida entre as partes, bem como os direitos a ela

inerentes, passo à análise do pedido aduzido na inicial.

A parte requerente afirma ser nulo o contrato temporário, em decorrência

das sucessivas renovações que teriam desvirtuado a finalidade da contratação. Como

consequência da nulidade do contrato, requer que a requerida seja condenada a

depositar os valores relativos ao FGTS de todo o período trabalhado, conforme

previsão do art. 19-A da Lei 8.036/90.

Pois bem. Em regra, a investidura em cargos, empregos ou funções

públicas da Administração Pública Direta e Indireta ocorrerá por meio de concurso

público. Contudo, o art. 37, inciso IX, da CF/88 prevê a possibilidade de contratação

de servidores temporários por meio de contrato por tempo determinado para atender

necessidade transitória de interesse público.

A Constituição do Estado de Goiás, em dispositivo idêntico ao contido na

CF/88, autorizou a contratação por tempo determinado em seu art. 92, inc. X, com a

redação dada pela Emenda Constitucional nº 34, de 10/06/2003. Com o objetivo de

disciplinar a contratação de pessoal por prazo determinado, foi editada a Lei nº

13.664, de 27/07/2000, a qual estava vigente à época dos fatos.


Desse modo, há dois requisitos primordiais para a contratação temporária:

1) necessidade temporária de excepcional interesse público; e 2) contratação por

tempo determinado.

In casu, a parte autora celebrou contrato temporário com a Universidade

Estadual de Goiás – UEG. No entanto, verifica-se a partir dos documentos jungidos à

inicial, que a relação continuou em vigor por tempo muito superior ao estipulado.

Contudo, a requerida não menciona ter sido realizado qualquer termo

aditivo, pelo contrário, os documentos jungidos ao caderno processual levam a crer

que o contrato inicialmente temporário passou a vigorar por tempo indeterminado. A

parte ré também não apresenta justificativa pela prorrogação tácita do contrato.

Assim, verifica-se que a parte autora passou a exercer suas funções sem

prazo determinado para o desligamento. Ocorre que, conforme já mencionado, o

ingresso de servidores na Administração Pública, sem concurso público, é vedado

pela Constituição Federal, nos termos do art. 37, inciso II. O § 2º do art. 37 do

mesmo diploma legal, por sua vez, preceitua que a inobservância do inciso II

(investidura em cargo ou emprego público mediante aprovação prévia em concurso

público) implicará a nulidade do ato.

Desse modo, constata-se que as sucessivas renovações descaracterizaram

o caráter temporário da contratação e seus fundamentos constitucionais, o que

enseja a aplicação do art. 19-A da Lei Federal nº 8.036/90. Vejamos:

Art. 19-A. É devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador

cujo contrato de trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no

art. 37, § 2o, da Constituição Federal, quando mantido o direito ao salário.

Nesse sentido é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado

de Goiás:

APELAÇÃO CÍVEL. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. CARGO TEMPORÁRIO E

EM COMISSÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA. APLICAÇÃO DA CLT.

IMPOSSIBILIDADE. CONTRATO NULO. RELAÇÃO JURÍDICO-

ADMINISTRATIVO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. DIREITO A RECEBIMENTO

DE FGTS. 1. A legitimidade passiva refere-se àquele que suporta os

efeitos da ação, desse modo, não se confunde com o mérito da demanda,


portanto o CERNE é parte legítima para figura no polo passivo da

demanda, visto que este é responsável pelos créditos trabalhistas

requeridos pelo autor, ao menos, antes da sucessão. 2. O contrato

temporário em que se dá sucessivas renovações é considerado

nulo, ante a afronta ao art. 37, inciso IX, da Constituição Federal.

3. Deve ser mantida sua característica de estatutário, o contrato

temporário ainda que tenha havido sucessivas prorrogações. 4. Tratando-

se de relação jurídico-administrativa e em consonância ao entendimento

do Superior Tribunal de Justiça, deve ser aplicada a toda e qualquer

pretensão de cobrança em face da administração pública o prazo previsto

no art. 1º do Decreto nº 20.910/1932. 5. Diante da constatação da

nulidade do contrato por tempo determinado, forçosa aplicação do

art. 19-A da Lei n.º 8.036/90, a qual teve sua constitucionalidade

declarada e que prevê o direito ao servidor temporário de

perceber o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. APELO

CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJGO, APELACAO CIVEL

225193-97.2013.8.09.0051, Rel. DES. NORIVAL SANTOME, 6A CAMARA

CIVEL, julgado em 31/05/2016, DJe 2043 de 09/06/2016)

Destaco, ainda, o entendimento predominante do Superior Tribunal de

Justiça:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO

ESPECIAL. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. NULIDADE DO CONTRATO.

DIREITO AOS DEPÓSITOS DO FGTS. RECONHECIMENTO. 1. Segundo a

atual e predominante jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça, "o servidor público, cujo contrato temporário de natureza

jurídico-administrativo foi declarado nulo por inobservância do

caráter transitório e excepcional da contratação, possui direito

aos depósitos do FGTS correspondentes ao período de serviço

prestado, nos termos do art. 19-A da Lei n. 8.036/90." (REsp

1.517.594/ES, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 03/11/2015, DJe 12/11/2015) 2. Agravo interno a que se


nega provimento. (AgInt no AREsp 822.252/MT, Rel. Ministro SÉRGIO

KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/08/2016, DJe 29/08/2016)

ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.

CONTRATO TEMPORÁRIO DE PESSOAL SEM CONCURSO PÚBLICO.

NULIDADE DECLARADA. DEPÓSITO DO FGTS. OBRIGATORIEDADE.

PRECEDENTES DO STF E DO STJ. 1. O acórdão recorrido está em

consonância com a jurisprudência desta Corte no sentido de que a

contratação temporária de excepcional interesse público gera o

direito aos depósitos do FGTS, desde que hajam sucessivas

renovações, como na espécie. Precedente: AgRg no REsp

1.554.980/MG, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe

14/12/2015. 2. Agravo não provido. (AgRg no REsp 1479487/MT, Rel.

Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em

05/05/2016, DJe 18/05/2016)

Cabe ressaltar que o Supremo Tribunal Federal no âmbito do Recurso

Extraordinário (RE) 596.478 reconheceu o direito ao depósito do Fundo de Garantia

do Tempo de Serviço – FGTS aos trabalhadores que tiveram o contrato de trabalho

com a administração pública considerado nulo, manifestando-se pela

constitucionalidade do art. 19-A da Lei nº 8.036/90.

Recurso extraordinário. Direito Administrativo. Contrato nulo. Efeitos.

Recolhimento do FGTS. Artigo 19-A da Lei nº 8.036/90.

Constitucionalidade. 1. É constitucional o art. 19-A da Lei nº

8.036/90, o qual dispõe ser devido o depósito do Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço na conta de trabalhador cujo

contrato com a Administração Pública seja declarado nulo por

ausência de prévia aprovação em concurso público, desde que

mantido o seu direito ao salário. 2. Mesmo quando reconhecida a

nulidade da contratação do empregado público, nos termos do art. 37, §

2º, da Constituição Federal, subsiste o direito do trabalhador ao depósito

do FGTS quando reconhecido ser devido o salário pelos serviços

prestados. 3. Recurso extraordinário ao qual se nega provimento. (RE

596478, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min.


DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 13/06/2012, REPERCUSSÃO

GERAL - MÉRITO DJe-040 DIVULG 28-02-2013 PUBLIC 01-03-2013

EMENT VOL-02679-01 PP-00068)

Nesse sentido, verifica-se que a parte requerente faz jus ao depósito do

FGTS em conta vinculada em decorrência das reiteradas renovações que

desvirtuaram a temporariedade de seu contrato de trabalho, respeitada a prescrição

quinquenal.

Quanto ao valor para fins de cálculo do FGTS, a quantia deve ser calculada

com base na variação de salário da parte requerente durante o contrato vigente à

época.

Acrescente-se que o Tribunal Superior do Trabalho, na Súmula 363,

também aplicável ao presente caso, pacificou a questão ao estabelecer que:

“A contração de servidor público, após a Constituição de 1988, sem

prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no seu art. 37, II,

e § 2°, somente conferindo-lhe direito ao pagamento da contraprestação

pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor

da hora do salário mínimo, e dos valores referentes aos depósitos do

FGTS.” (g.n.)

Deste modo, tem direito a parte requerente ao FGTS referente ao período

laborado, respeitada a prescrição quinquenal.

Por oportuno, esclareço que no tocante ao recebimento da multa de 40%

(quarenta por cento), incidente sobre os depósitos do FGTS, entendo não ser devida.

Em igual sentido, menciono o julgamento da apelação cível nº 225193-

97.2013.8.09.0051 de relatoria do Desembargador NORIVAL SANTOME, julgado em

31/05/2016, DJe 2043 de 09/06/2016 – já colacionado alhures -. Vale ressaltar que

a dispensa não foi sem justa causa, não havendo que se dizer em direito ao

recebimento da referida multa.

Importante destacar, também, que eventuais períodos exercidos em cargo

comissionado devem ser excluídos dos cômputos relativos ao FGTS, uma vez que, se

tratando de cargo de livre nomeação e exoneração, não é devida a verba em caso de

dispensa, consonante consolidado entendimento jurisprudencial, senão vejamos:


ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.

FGTS. CARGO EM COMISSÃO. NÃO CABIMENTO. - Ao servidor público

ocupante de cargo em comissão, de livre nomeação e exoneração

pela Administração Pública, não é devido o FGTS por ocasião de

sua dispensa.(TJ-MG - AC: 10344120043031001 MG, Relator: Alberto

Vilas Boas, Data de Julgamento: 11/08/2015, Câmaras Cíveis / 1ª

CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 18/08/2015) (g.n.)

Por todo o exposto, com fulcro no art. 487, inciso I, do Código de Processo

Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS para

declarar a nulidade do contrato temporário da parte requerente com a UEG e, em

consequência, condenar a requerida a proceder ao depósito do Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço – FGTS, respeitada a prescrição quinquenal, com exceção de

eventual ínterim relativo a cargo comissionado, considerando-se, para fins de

apuração, a remuneração percebida pela parte autora durante o período de vigência

do contrato, incidindo, ainda, sobre os valores encontrados na fase de liquidação,

juros de mora pelo índice de remuneração da caderneta de poupança, a partir da

citação, e correção monetária, pelo IPCA-E, desde a data em que deveria ter sido

feito cada recolhimento, ambos até 08/12/2021.

Todavia, a partir de 09/12/2021 deverão ser observadas as inovações

trazidas pelo artigo 3° da EC 113/2021, assim a incidência, de uma única vez, do

índice da taxa SELIC, acumulado mensalmente, merecendo a sentença ser

reformada nesse ponto.

Deverá a parte requerida, ainda, restituir eventuais custas adiantadas pela

parte autora.

Sem honorários advocatícios e remessa necessária em razão da ação

tramitar sob a égide da lei 12.153/2006.

Transitando em julgado, não havendo o cumprimento espontâneo pelo

Estado de Goiás, intime-se a parte autora para, no prazo de 15 (quinze) dias, dar

início ao cumprimento da sentença, sob pena de imediato arquivamento.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

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