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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-AIRR-658-54.2016.5.09.0659

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 10053D335BED8E2A8A.
Agravante e Agravado: FERNANDO KAZUSHI SAGAE
Advogado: Dr. Edson Antonio Fleith
Agravante e Agravada: COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA � COPEL
Advogada: Dra. Daiane Medino da Silva

GMLC/rdr

DECISÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO RECLAMADA


Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão
na qual foi denegado seguimento ao recurso de revista.
Contraminuta apresentada.
Dispensada a manifestação do Ministério Público do Trabalho,
nos termos do RITST.
O acórdão regional foi publicado na vigência da Lei nº 13.467/17.
É o relatório.
Inicialmente, ressalto que a decisão denegatória do Tribunal
Regional não acarreta qualquer prejuízo à parte, em razão de este juízo ad quem, ao
analisar o presente agravo de instrumento, proceder a um novo juízo de
admissibilidade da Revista.
Presentes os pressupostos legais de admissibilidade, conheço
do apelo.
O recurso de revista teve seu processamento denegado com
amparo nos seguintes fundamentos, na fração de interesse:
(...)
Recurso de: COPEL GERACAO E TRANSMISSAO S.A.
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Recurso tempestivo (decisão publicada em 13/07/2017 - fl. 305f38f;
recurso apresentado em 21/07/2017 - fl. cd39db0).
Representação processual regular (fl. 1129e9f).
Preparo satisfeito (fls. 0111319, 98fe27e, 98fe27e e 6fb2335).
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DURAÇÃO DO TRABALHO / HORAS IN ITINERE.

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DURAÇÃO DO TRABALHO / HORAS IN ITINERE / SUPRESSÃO /
LIMITAÇÃO POR NORMA COLETIVA.
Alegação(ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) nº 90; nº 277 do Tribunal Superior do
Trabalho.
- violação do(s) artigo 7º, inciso XXVI da Constituição Federal.
- violação da (o) Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 58, §2º.
- divergência jurisprudencial.
A recorrente pede exclusão da condenação em horas in itinere.
Sustenta que restou comprovado que o local de trabalho era atendido por
linha de ônibus; que a decisão desconsiderou os acordos coletivos de
trabalho, que estipulam que "o empregado beneficiado pelo transporte
fornecido pela empresa não terá direito à remuneração extraordinária por
conta do tempo gasto com o itinerário."
Fundamentos do acórdão recorrido:
[...]
Não se vislumbra possível violação à mencionada Súmula 277 porque
não foi atendida a exigência do prequestionamento. A Turma não se
pronunciou a respeito da sua aplicação à hipótese dos autos, tampouco
solucionou a controvérsia à luz dessas normas. Aplicam-se a Orientação
Jurisprudencial 118 da Subseção I Especializada em Dissídios Individuais e a
Súmula 297, ambas do Tribunal Superior do Trabalho.
Diante do quadro fático retratado no julgado, não suscetível de ser
reexaminado nesta fase processual, infere-se que o entendimento está em
consonância com a Súmula 90 do TST. Não é razoável admitir que a
manifestação reiterada do Tribunal Superior do Trabalho seja contra legem ou
em afronta à Constituição Federal. Assim, o recurso de revista não comporta
seguimento por possível violação a dispositivos da legislação federal ou por
divergência jurisprudencial (Súmula 333 do TST).
Denego.
CONCLUSÃO
Denego seguimento.
[...]
A parte agravante insiste no processamento do recurso de
revista. Em síntese, alega que “É incontroverso que as Recorrentes firmaram acordos
coletivos de trabalho (id 9b8792f - id f8d0763 - id 25e7e12) com os Sindicatos da Categoria
para fornecer o transporte aos empregados, e pactuou que o período do trajeto não seria
considerado como horas in itinere, pois conforme mencionado exaustivamente e
comprovado, o trajeto é servido por linha regular de transporte coletivo, compatível com os
horários de trabalho do Recorrido”. Aponta discrepância legal e jurisprudencial.
Ao exame.
No caso dos autos, verifica-se que o TRT manteve a sentença
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que não reconheceu a validade da norma coletiva.
Acontece que o acórdão regional, tal como prolatado, contraria o
julgamento exarado pelo STF no RE nº 1.121.633/GO (Tema 1.046).
Por essa razão, diante da possível violação ao art. 7º, XXVI, da
CF/88, dou provimento ao agravo de instrumento, para prosseguir no exame do
recurso de revista.

RECURSO DE REVISTA
Presentes os pressupostos extrínsecos, prossigo no julgamento
do apelo.
Trata-se de recurso de revista interposto contra acórdão de
TRT.
Presentes os pressupostos extrínsecos, prossigo no julgamento
do apelo.
HORAS IN ITINERE – RESTRIÇÃO EM NORMA COLETIVA –
INDISPONIBILIDADE RELATIVA – OBSERVÂNCIA DO PATAMAR CIVILIZATÓRIO
MÍNIMO – TEMA 1046 - POSSIBILIDADE
CONHECIMENTO
Nas razões recursais, afirma que deve ser respeitada a norma
coletiva que restringiu o direito reivindicado pela parte. Aponta violação aos arts. 7º,
XXVI, da CF/88 e 58 da CLT, contrariedade à Súmula 90 do TST, além de divergência
jurisprudencial.
O e. TRT examinou a matéria com base nos seguintes
fundamentos:
[...]
1. HORAS IN ITINERE - PREVISÃO COLETIVA
Os acordos coletivos que afastavam o cômputo das horas in itinere
como parte da jornada foram invalidados pelos seguintes motivos: "por
força do que dispõem o artigo 58, parágrafo 2º, da CLT e a Súmula 90, II,
do TST, o direito ao pagamento das horas in itinere prevalece sobre o
disposto em tais normas coletivas que isentam o empregador da
respectiva remuneração, na medida em que estas encontram limite nos
direitos mínimos assegurados pela legislação trabalhista". (g. n.)
Dissentindo, a empresa reitera a possibilidade de pactuação nos moldes
como efetuada.
Sem razão.

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Os instrumentos convencionais não podem fixar direitos abaixo do
patamar mínimo estipulado pela legislação heterônoma. Com efeito, é
inválida a cláusula de norma coletiva que descaracteriza a própria
natureza das horas in itinere. O entendimento desta 4ª Turma é no
sentido de que a negociação coletiva não pode reduzir direitos mínimos
do trabalhador de indisponibilidade absoluta. Vale dizer, não se admite a
prevalência da vontade coletiva quando suas normas afrontam normas
legais de ordem pública e sua aplicação importar prejuízo ao
trabalhador. (g. n.)
Ademais, nas palavras do Exmo. Des. Adilson Luiz Funez, "vale
mencionar que o fato de a reclamada fornecer moradia gratuita aos
empregados em local mais próximo do de prestação de serviços (Vila
Residencial da Usina Hidrelétrica) e, mesmo assim, o reclamante optar por
residir em município mais distante (Guarapuava) é irrelevante, se preenchidos
os requisitos legais para percepção das horas in itinere. " (autos nº
01316-2014-096-09-00-7, decisão publicada em 22.01.2016).
Nesse mesmo diapasão,
"RECURSO DE REVISTA. HORAS IN ITINERE. EXCLUSÃO.
ALTERAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO. NEGOCIAÇÃO COLETIVA.
IMPOSSIBILIDADE. De acordo com entendimento reiterado desta
Corte, a partir da publicação da Lei 10.243/2001, a qual acresceu o
§ 2º ao art. 58 da CLT, não é possível suprimir, por meio de norma
coletiva, o pagamento das horas in itinere, pois se cuida de
garantia mínima assegurada ao trabalhador. Da mesma forma, a
jurisprudência desta Corte é no sentido de ser inválida a
negociação coletiva que fixa o salário básico do empregado como
base de cálculo das horas de percurso, excluindo do seu cômputo
as demais parcelas salariais. Há precedentes. Recurso de revista
não conhecido." (Processo: RR - 1627-24.2012.5.18.0121 Data de
Julgamento: 15/03/2017, Relator Ministro: Augusto César Leite de
Carvalho, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/03/2017)
Nego provimento.
[...]
No caso em análise, não foi reconhecida a validade da norma
coletiva que restringiu o direito da parte autora.
Todavia, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento realizado
em 02/06/2022, analisou a questão relacionada à validade de normas coletivas que
limitam ou restringem direitos não assegurados constitucionalmente, tendo o Plenário
da Excelsa Corte, quando da apreciação do Recurso Extraordinário com Agravo n.º
1.121.633/GO, fixado a tese jurídica no Tema 1.046 de sua Tabela de Repercussão Geral,
no sentido de que "são constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao
considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos
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de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de
vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente
indisponíveis".
O caso concreto examinado pelo STF dizia respeito à validade de
norma coletiva que suprimia/reduzia as horas in itinere, oportunidade na qual, o Relator
do feito, o Ministro Gilmar Mendes, asseverou que "de acordo com a jurisprudência do
STF, a questão se vincula diretamente ao salário e à jornada de trabalho, temáticas em
relação às quais a Constituição autoriza a elaboração de normas coletivas de trabalho
(inciso XIII e XIV do artigo 7° da Constituição Federal)".
Arrematou, ainda, que "tendo em vista o reconhecimento da
aplicabilidade da teoria do conglobamento por esta Corte, desnecessária a explicitação de
vantagens compensatórias que justificassem a redução das horas in itinere, haja vista a
validade de cláusula coletiva flexibilizadora de direito positivado em lei trabalhista".
O acórdão do Tema 1.046 foi publicado no dia 28/04/2023, no
qual restou esclarecido que “a redução ou a limitação dos direitos trabalhistas por acordos
coletivos deve, em qualquer caso, respeito aos direitos absolutamente indisponíveis,
constitucionalmente assegurados” e que, “Por força do princípio da indisponibilidade dos
direitos trabalhistas, as convenções coletivas não podem diminuir ou esvaziar o padrão geral
de direitos trabalhistas previstos na legislação aplicável, salvo quando houver autorização
legal ou constitucional expressa” e que “Isso significa que acordos e convenções coletivas
apenas podem tratar de parcelas justrabalhistas de indisponibilidade relativa”.
Constou , outrossim, da decisão que “A jurisprudência do TST tem
considerado que, estando determinado direito plenamente assegurado por norma
imperativa estatal (Constituição, Leis Federais, Tratados e Convenções Internacionais
ratificados), tal norma não poderá ser suprimida ou restringida pela negociação coletiva
trabalhista, a menos que haja autorização legal ou constitucional expressa” e que,
“Portanto, são excepcionais as hipóteses em que acordo ou convenção coletivos de trabalho
podem reduzir garantias previstas no padrão geral heterônomo justrabalhista”, concluindo
que “Isso ocorre somente nos casos em que a lei ou a própria Constituição Federal
expressamente autoriza a restrição ou supressão do direto do trabalhador” e que “É o que
se vislumbra, por exemplo, na redação dos incisos VI, XIII e XIV do art. 7º da Constituição
Federal de 1988, os quais estabelecem que são passíveis de restrição, por convenção ou
acordo coletivo, questões relacionadas a redutibilidade salarial, duração, compensação e
jornada de trabalho”.
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Nessa esteira, exemplificou o STF o seguinte:
“(...) a jurisprudência do próprio TST e do STF considera possível dispor,
em acordo ou convenção coletiva, ainda que de forma contrária a lei sobre
aspectos relacionados a:
(i) remuneração (redutibilidade de salários, prêmios, gratificações,
adicionais, férias) e
(ii) jornada (compensações de jornadas de trabalho, turnos
ininterruptos de revezamento, horas in itinere e jornadas superiores ao
limite de 10 horas diárias, excepcionalmente nos padrões de escala doze
por trinta e seis ou semana espanhola)”.
Registre-se, por fim, que o sobredito acórdão da Suprema Corte
transitou em julgado no dia 09/05/2023.
Dessa forma, do exposto no acórdão do Tema 1046, estando
o direito em debate listado no rol exemplificativo enunciado pelo STF, não resta
dúvida de que aquele pode ser alvo de flexibilização por intermédio de negociação
coletiva, independente de vantagem compensatória.
Acrescente-se, ademais, que inexiste Súmula ou Orientação
Jurisprudencial desta Corte, específica ao caso, declarando a invalidade do instrumento
coletivo ora em apreço.
Sendo assim, estando o acórdão regional em dissonância com a
tese entabulada no Tema 1.046, há que se prover o recurso a fim de se assegurar a
prevalência da norma coletiva.
Destarte, conheço do recurso de revista, por violação ao art. 7º,
XXVI, da CF/88.
MÉRITO
Como consequência lógica do conhecimento do recurso de
revista, por violação ao art. 7º, XXVI, da CF/88, dou-lhe provimento para, reformando a
sentença, declarar a validade da norma coletiva, e afastar da condenação o pagamento
das horas in itinere.
Desse modo, reputo prejudicada a análise do recurso de revista
do Reclamante quanto à limitação do pagamento das horas in tinere, porquanto já não
remanesce condenação da Reclamada nos presentes autos, tendo sido reformada a
sentença a quo no tópico.
Ademais, cabe registrar que o reclamante, nas razões do agravo
de instrumento, não se insurgiu quanto ao despacho de admissibilidade que denegou
seguimento ao seu recurso de revista no tópico “honorários advocatícios
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sucumbenciais”, motivo pelo qual a oportunidade de fazê-lo tornou-se preclusa.

CONCLUSÃO
Diante do exposto, conheço do agravo de instrumento, e, no
mérito, dou-lhe provimento parcial para prosseguir no exame do recurso de revista.
Conheço do recurso de revista, por violação ao art. 7º, XXVI, da CF/88, dou-lhe
provimento para, reformando o acórdão regional, declarar a validade da norma
coletiva que limita as horas in itinere. Declaro prejudicada a análise do recurso de
revista do Reclamante quanto à limitação do pagamento das horas in tinere, porquanto
já não remanesce condenação da Reclamada nos presentes autos, tendo sido
reformada a sentença a quo no tópico.
Publique-se.
Brasília, 19 de junho de 2023.

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LIANA CHAIB
Ministra Relatora

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