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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-ED-RR - 2383-89.2010.5.02.0075

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100543D39CFC85EE8F.
Recorrente: JBS S.A.
Advogado: Dr. Adauto Luiz Siqueira
Advogado: Dr. Mozart Victor Russomano Neto
Recorrido: JOÃO CARLOS CORREIA
Advogada: Dra. Jucineida Aparecida Valentini
Advogado: Dr. Júlio César Amaro da Silva
Recorrido: INDEPENDÊNCIA S.A.
Advogado: Dr. Ivo Nicoletti Júnior
Recorrido: MIGUEL GRAZIANO RUSSO E OUTRO
Advogado: Dr. Aldo de Cresci Neto
Advogado: Dr. Ricardo Christophe da Rocha Freire

GVPACV/tam/gvc

DECISÃO

Trata-se de recurso extraordinário interposto em face de


acórdão proferido por esta Corte Superior Trabalhista em que a parte insurge-se
quanto ao tema “sucessão trabalhista”.
A parte recorrente argui prefacial de repercussão geral.
Sustenta que inexiste elemento objetivo autorizador para o reconhecimento de
sucessão empresarial, nos termos dos arts. 10 e 448 da CLT. Argumenta também que
não participou da fase de conhecimento, sendo indevida sua participação na fase de
execução. Aduz, ainda, a violação do art. 5º, II, XXII, LIV e LV da Constituição Federal.
Apresentadas contrarrazões
É o relatório.
A decisão recorrida concluiu, in verbis (destaques acrescidos):

VOTO
MARCOS PROCESSUAIS E NORMAS GERAIS APLICÁVEIS
Considerando que o acórdão regional foi publicado em 5/11/2018,
incidem as disposições processuais da Lei 13.467/2017.
Presentes os pressupostos extrínsecos de admissibilidade, passo à
análise dos pressupostos recursais intrínsecos.
O presente feito se encontra em fase de execução, razão pela qual
somente será objeto de análise a indicação de ofensa a dispositivo da
Constituição Federal, a teor do disciplinado no artigo 896, § 2º, da CLT.
TRANSCENDÊNCIA DA CAUSA
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Nos termos do artigo 896-A da CLT, com a redação que lhe foi dada pela
Lei nº 13.467/2017, antes de adentrar o exame dos pressupostos intrínsecos
do apelo, é necessário verificar se a causa oferece transcendência.
Primeiramente, destaco que o rol de critérios de transcendência
previsto no mencionado preceito é taxativo, porém, os indicadores de cada
um desses critérios, elencados no § 1º, são meramente exemplificativos. É o
que se conclui da expressão "entre outros", utilizada pelo legislador.
No caso, a resposta é afirmativa.
Com efeito, a transcendência jurídica diz respeito à interpretação e
aplicação de novas leis ou alterações de lei já existente e, no entendimento
consagrado por esta Turma, também à provável violação de direitos e
garantias constitucionais de especial relevância, com a possibilidade de
reconhecimento de afronta direta a dispositivo da Lei Maior, o que se verifica
no caso dos autos.
A presente demanda versa sobre possível negativa de prestação
jurisdicional, em desatendimento ao previsto no artigo 93, IX, da Constituição
Federal, e eventuais ofensas a outras garantias constitucionais, a exemplo do
respeito à coisa julgada e ao direito de propriedade, a revelar prudência do
prosseguimento no exame das matérias.
Assim, admito a transcendência da causa.
FASE DE EXECUÇÃO - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL –
MANIFESTAÇÃO DA CORTE DE ORIGEM SOBRE QUESTÃO SUFICIENTE À
MANUTENÇÃO DA DECISÃO – NÃO CONFIGURAÇÃO – INUTILIDADE DA
MEDIDA – SUCESSÃO TRABALHISTA – AQUISIÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS
DA EMPRESA RECUPERANDA – TRANSFERÊNCIA TOTAL DOS ATIVOS - LEI
DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL – AFASTAMENTO DA BLINDAGEM PREVISTA
NO ARTIGO 60, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 11.101/2005 – DISPOSITIVOS
CONSTITUCIONAIS NÃO VIOLADOS – TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA DA
CAUSA RECONHECIDA – APELO QUE NO MÉRITO NÃO POSSUI VIABILIDADE
CONHECIMENTO
A recorrente sustenta que o Tribunal Regional, mesmo instado via
embargos de declaração, não se manifestou sobre a certidão de objeto e pé
juntada aos autos, aprovação do plano pela assembleia geral de credores e a
consequente homologação do plano de recuperação judicial pelo Juízo
competente, efetivamente cumprido. Afirma, ainda, que houve omissão
quanto à aplicação, ou não, do artigo 141, II, da Lei nº 11.101/2005. Aponta
violação do artigo 93, IX, da Constituição Federal.
No mérito, defende, em síntese, que a aquisição das unidades
produtivas da empresa Independência Alimentos S/A, em sede de
recuperação judicial, com a aprovação da assembleia geral de credores e
homologação judicial, afasta a sua responsabilidade pelas obrigações
trabalhistas existentes antes da alienação, por aplicação do disposto no artigo
60 da Lei nº 11.101/2005. Alega que no plano chancelado pelo Judiciário
constou cláusula expressa sobre a inexistência de sucessão. Por fim, aduz que
o Supremo Tribunal Federal, nos autos da ADI nº 3.934/DF, concluiu que "a
alienação de empresa em processo de recuperação judicial afasta a

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responsabilidade solidária do comprador". Aponta, no aspecto, violação aos
artigos 5º, II, XXII, LIV, LV e XXXVI, e 102, §2º, da CF/88.
Observados os requisitos do artigo 896, § 1º-A, I, II, e III, transcreve-se a
decisão recorrida:

"Quanto ao mérito, não divirjo da decisão da origem. A


situação, no meu sentir, está sobejamente explicada no parecer
do ilustre Fábio Ulhoa Coelho (fls. 334 e seguintes), onde a
sucessão entre a Independência e a BYN-Mellon (e depois com a
agravante) é descrita com riqueza de detalhes.
O parecer é longo e não pretendo - nem há necessidade de
ser redundante, fazendo-o - reproduzi-lo neste voto,
reportando-me a ele e incorporando-o a meu voto, como razão
para decidir. Destaco, apenas, que o escudo pretendido pela
agravante, traduzido na blindagem da aquisição dos
estabelecimentos da sucedida, através do processo de
recuperação judicial, não pode prevalecer, vez que a transação
deixou de cumprir premissas básicas para que a sucessão
inexistisse, quais sejam:
a) nos termos do art. 60 da Lei de Falências (LF) o objeto da
alienação realizada em recuperação judicial deve ser "filial" ou
unidade produtiva isolada, sendo que, conforme documentos
apresentados pelo exequente (e de acordo com outras decisões
deste Regional constantes dos autos, inclusive), a Independência
S/A alienou todos os estabelecimentos que possuía para a
agravante, menos um (o de Santana de Parnaíba que,
posteriormente, acabou sendo arrendado para a agravante),
resultando a transação, então, na completa transferência de todo
o ativo para a recorrente;
b) a venda não foi feita por intermédio de hasta pública.
Sendo assim, não discrepo dos julgados de fls. 875/914 (que
concluem pela existência da sucessão) e, considerando que a
transferência do patrimônio da executada Independência S/A não
esteve sob o guarda-chuva legal da Lei de Falências, confirmo a
existência da sucessão reconhecida pela origem, negando
provimento ao agravo de petição apresentado pela sucessora."
(fls. 1476/1477 - destaquei).

Ainda, em sede de embargos de declaração, o TRT consignou que:

"De qualquer forma, esclareço que, como decidido, o


escudo pretendido pela embargante, traduzido na blindagem da
aquisição dos estabelecimentos da devedora principal, através do
processo de recuperação judicial, não pode prevalecer, vez que
não cumpriu as premissas básicas para que não houvesse
sucessão ou qualquer gravame. Ou seja, nos termos do art. 60 da

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Lei de Falências (LF) o objeto da alienação realizada em
recuperação judicial deve ser "filial" ou unidade produtiva isolada,
o que não é o caso dos autos. Ainda, a venda não foi feita por
intermédio de hasta pública.

Desta forma, ainda que tenha havido homologação judicial, percebe-se


que não foram observados os trâmites que validassem a operação realizada.
Assim, foi mantida a sucessão reconhecida pela origem." (fl. 1507 – destaquei)
Pois bem.
O exame dos autos revela que a Corte a quo proferiu decisão completa,
válida e devidamente fundamentada, razão pela qual não prospera a alegada
negativa de prestação jurisdicional.
Com efeito, constata-se do acórdão recorrido que foi levada em
consideração, no deslinde da controvérsia, a circunstância da homologação
judicial do plano de recuperação judicial, consoante acima destacado.
Outrossim, os argumentos expostos pelo Tribunal Regional, mesmo de
forma implícita, revelam que, não obstante a aprovação da assembleia geral
de credores e a chancela do Judiciário, a inobservância de premissas básicas
acerca da transação realizada, a exemplo da transferência de todo ativo da
empresa recuperanda, é suficiente para conclusão do afastamento da
blindagem prevista na Lei nº 11.101/2005.
Isso retira qualquer utilidade no provimento em questão (acolhimento
da negativa), uma vez que, mesmo com eventual manifestação expressa sobre
os pontos ventilados pela empresa na preliminar de nulidade, subsistirá
fundamento bastante, por si só, para manutenção do desfecho adotado na
origem, como a seguir será demonstrado.
Na verdade, a argumentação abordada nos embargos de declaração
evidencia que a real pretensão da parte era obter o reexame do conjunto
probatório e a alteração do registro fático feito pelo Tribunal Regional,
objetivos que não se coadunam com as disposições do artigo 897-A da CLT.
Acrescente-se que, para fins de prequestionamento, não é necessário
que a decisão faça referência expressa aos dispositivos legais invocados. A
adoção de tese explícita acerca da matéria discutida é suficiente para que se
considere preenchido o mencionado requisito, de acordo com a Orientação
Jurisprudencial nº 118 da SBDI-1 do Tribunal Superior do Trabalho. Além
disso, o item III da Súmula nº 297 desta Corte deixa claro que se considera
prequestionada a matéria jurídica invocada no recurso principal na hipótese
de o Tribunal recorrido haver se recusado a adotar tese, mesmo após ter sido
instado a fazê-lo, via embargos de declaração.
Ileso, portanto, o artigo constitucional indicado.
No mérito, melhor sorte não assiste à recorrente.
De início, é preciso esclarecer que o artigo 50, XVIII, incluído pela Lei nº
14.112, de 2020, o qual possibilitou a venda integral da devedora como um
dos meios de recuperação judicial, não se aplica à hipótese, uma vez que a
homologação do plano ocorreu em data anterior à vigência da referida norma
(7/2/2009 - fl. 1530), quando ausente tal previsão. Assim, a apreciação da

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controvérsia, no particular, tomará por base o ordenamento jurídico vigente à
época dos fatos.
Dito isso, passo à análise do caso concreto.
O TRT, com base no conjunto fático-probatório, em especial no parecer
coligido aos autos, afastou a norma prevista no artigo 60, parágrafo único, da
Lei nº 11.101/2005 e reconheceu a sucessão da recorrente nas obrigações
trabalhistas da empresa Independência S/A, fundamentalmente, por dois
argumentos: a) transferência de todo o ativo desta para a adquirente; e b)
ausência de hasta pública para venda das unidades produtivas da
recuperanda.
Embora a alienação de ativos sem a realização de hasta pública possa
ser validada por posterior homologação judicial, como decidido pelo Pleno
desta Corte Superior, no julgamento do IRR nº 69700-28.2008.5.04.0008, em
22/5/2017 (vide item 9 da ementa), a aquisição de todos os estabelecimentos
da primeira ré (premissa insuscetível de modificação nesta seara, pelo óbice
da Súmula nº 126 do TST), subverte toda lógica contida no mencionado
dispositivo legal e na operação que ele representa.
Cita-se, por cabível, o seu inteiro teor, com a redação já modificada pela
Lei nº 14.112, de 2020, considerando que anteriormente já havia
entendimento sobre a inclusão das obrigações de natureza trabalhista:

"Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado


envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas
isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o
disposto no art. 142 desta Lei.
(...)
Parágrafo-único. O objeto da alienação estará livre de
qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
obrigações do devedor de qualquer natureza, incluídas, mas não
exclusivamente, as de natureza ambiental, regulatória,
administrativa, penal, anticorrupção, tributária e trabalhista,
observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei." (destaquei).

No bojo do julgamento da ADI nº 3.934/DF, em que foi declarada a


constitucionalidade da norma em debate (redação da Lei nº 11.101/2005), o
Supremo Tribunal Federal esclareceu:

"Do ponto de vista teleológico, salta à vista que o referido


diploma legal buscou, antes de tudo, garantir a sobrevivência das
empresas em dificuldades – não raras vezes derivadas das
vicissitudes por que passa a economica globalizada -, autorizando
a alienação de seus ativos, tendo em conta, sobretudo, a função
social que tais complexos patrimoniais exercem, a teor do
disposto no art. 170, III, da Lei Maior.
(...)

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Isso porque o processo falimentar, nele compreendido a
recuperação das empresas em dificuldades, objetiva, em última
análise, saldar o seu passivo mediante a realização do respectivo
patrimônio. Para tanto, todos os credores são reunidos segundo
uma ordem pré-determinada, em consonância com a natureza do
crédito de que são detentores.
O referido processo tem em mira não somente contribuir
para que a empresa vergastada por uma crise econômica ou
financeira possa superá-la, eventualmente, mas também busca
preservar, o mais possível, os vínculos trabalhistas e a cadeia de
fornecedores com os quais ela guarda verdadeira relação
simbiótica." (ADI 3934, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI,
Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2009, DJe-208 DIVULG
05-11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381-02
PP-00374 RTJ VOL-00216-01 PP-00227) (destaquei).

Em interpretação dos aludidos fundamentos, não é crível, portanto, que


os efeitos da blindagem possam alcançar situações em que houve a
transmissão de todos os bens da empresa em recuperação judicial para a
adquirente, a fulminar a continuidade da empresa.
Por isso, a compreensão literal, mais adequada ao caso, revela que esse
resultado - afastamento de eventual sucessão do arrematante nas obrigações
anteriores do devedor - só acontecerá quando a aquisição se referir a filiais ou
unidades produtivas isoladas, pois, só assim, restaria garantido o princípio da
preservação da empresa, em exata aplicação do artigo 47 da lei em comento.
Embora o conceito de UPI seja indeterminado – diferente do
relacionado à filial, amplamente tratado como o estabelecimento secundário
que possui relação de dependência e subordinação com a matriz –, é certo
que ele também está atrelado ao destacamento de parcela do patrimônio do
devedor com destinação produtiva, como explica Ivanildo Figueiredo, em
artigo intitulado "Alienação de Ativos na Recuperação Judicial":
(...)
Nesse contexto, não se amolda à hipótese normativa a situação
dos autos. Neles, foi demonstrado que "a Independência S/A alienou
todos os estabelecimentos que possuía para a agravante, menos um (o
de Santana de Parnaíba que, posteriormente, acabou sendo arrendado
para a agravante), resultando a transação, então, na completa
transferência de todo o ativo para a recorrente".
O autor acima mencionado, ao tratar dos requisitos na alienação de
ativos da empresa em recuperação, evidencia:
(...)
Ressalte-se que não se trata, aqui, de perscrutar acerca da validade do
plano de recuperação judicial, que, como visto, já foi homologado pela
autoridade competente, mas, apenas, de aferir a possibilidade de incidência
da exceção legal prevista em lei, em face do descumprimento das condições

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necessárias para tanto (obtenção do regular enquadramento jurídico, que se
sobrepõe às demais circunstâncias alegadas pela parte).
Sobre o tema da sucessão, apreciado sob à luz da Lei nº 11.101/2005,
Fábio Ulhoa Coelho leciona:
(...)
E acrescenta:
(...)
Por coerência, então, com os conceitos legais e doutrinários
declinados, é impossível determinar a blindagem patrimonial do
adquirente, pelas obrigações trabalhistas anteriores à alienação, quando
comprovado o esvaziamento patrimonial da empresa recuperanda, em
prejuízo do que prescreve o artigo 60, parágrafo único, da Lei nº
11.101/2005.
Não socorre à ré, ainda, a alegação da necessidade de interpretação
conjunta desse dispositivo com o artigo 141, caput e II, do mesmo arcabouço
legal, tendo em vista que o último se aplica, unicamente, no âmbito da
falência.
De modo direto e específico, Luísa Penkal Bernardino de Souza, em
artigo publicado na Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n.
57, 2020, com o título "Alienação de Unidade Produtiva Isolada no Processo de
Recuperação Judicial: 'blindagem' do adquirente", citando, inclusive, doutrina,
conclui:
(...)
Logo, deve prevalecer, no presente caso, a regra geral prevista nos
artigos 10 e 448 da CLT, com o reconhecimento da sucessão empresarial.
Cito, por oportuno, julgado desta Corte Superior, proferido em condição
análoga à dos autos:
(...)
Saliente-se, por fim, que esta Corte Superior já firmou posicionamento
no sentido de que somente a inequívoca dissonância entre a decisão
transitada em julgado e aquela proferida em sede de execução, caracteriza
afronta à coisa julgada (Orientação Jurisprudencial nº 123 da SbDI-II do TST), o
que não é a ocasião dos autos.
Incólumes os demais artigos indicados pela parte.
Por todo o exposto, deve ser mantida a decisão regional.
Não conheço.

No tocante ao tema “sucessão trabalhista”, o acórdão proferiu


decisão no sentido de que “Nesse contexto, não se amolda à hipótese normativa a situação
dos autos. Neles, foi demonstrado que a Independência S/A alienou todos os
estabelecimentos que possuía para a agravante, menos um (o de Santana de Parnaíba que,
posteriormente, acabou sendo arrendado para a agravante), resultando a transação, então,
na completa transferência de todo o ativo para a recorrente (...) Logo, deve prevalecer, no
presente caso, a regra geral prevista nos artigos 10 e 448 da CLT, com o reconhecimento da
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sucessão empresarial.”.
Verifica-se, portanto, que a controvérsia foi solucionada à luz
da legislação infraconstitucional (arts. 10 e 448 da CLT), de modo que a alegada
afronta constitucional somente poderia se dar de forma indireta ou reflexa, o que torna
inadmissível o recurso extraordinário, nos termos do disposto no art. 102, III, "a" da
Constituição Federal.
Nesse sentido, os seguintes precedentes do e. STF (grifou-se):

EMENTA Agravo regimental em recurso extraordinário


com agravo. Direito do Trabalho. Sucessão trabalhista .
Transferência de empregado da Companhia Brasileira de
Trens Urbanos - (CBTU) para a Companhia Fluminense de
Trens Urbanos (FLUMITRENS). Legalidade. Legislação
infraconstitucional. Análise. Impossibilidade. Fatos e provas.
Reexame. Inadmissibilidade. Precedentes. 1. É Inviável, em
recurso extraordinário, o reexame dos fatos e das provas dos
autos (Súmula nº 279/STF), bem como a análise da legislação
infraconstitucional . 2. Agravo regimental não provido. (ARE
1374680 AgR, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado
em 30/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-126 DIVULG
28-06-2022 PUBLIC 29-06-2022)

EMENTA DIREITO DO TRABALHO. SUCESSÃO


TRABALHISTA. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL.
EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
21.10.2011. A suposta afronta ao preceito constitucional indicado
nas razões recursais dependeria da análise de legislação
infraconstitucional, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa,
insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso
extraordinário, considerada a disposição do art. 102, III, "a", da Lei
Maior . Agravo regimental conhecido e não provido. (ARE 697707
AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em
24/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-198 DIVULG 07-10-2013
PUBLIC 08-10-2013)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PROCESSUAL CIVIL E
TRABALHO. SUCESSÃO TRABALHISTA . 1. Inexistência de
contrariedade ao art. 93, inc. IX, da Constituição da República. 2.
Análise de normas infraconstitucionais: ofensa constitucional
indireta . Precedentes. 3. Agravo regimental ao qual se nega

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provimento. (ARE 726800 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA,
Segunda Turma, julgado em 23/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-099 DIVULG 24-05-2013 PUBLIC 27-05-2013)O entendimento
desta Corte Superior trabalhista foi de que a jurisprudência do
Pleno e da SDBI-1 do c. TST são no sentido de que o Decreto
Estadual 21.352/1991 não garante a reintegração de empregado
de sociedade de economia mista estadual dispensado sem justa
causa após a privatização.

Acrescente-se que, para se alcançar a pretensão recursal de


reforma, que parte de premissas fáticas contrárias às adotadas no v. acórdão recorrido,
necessário seria o revolvimento de fatos e provas, procedimento vedado em sede de
recurso extraordinário, nos termos da Súmula nº 279 do STF , segundo a qual “Para
simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”, o que inviabiliza o
prosseguimento do recurso e, por conseguinte, o exame das afrontas constitucionais
suscitadas.
Nesse sentido, citam-se os seguintes precedentes da Corte
Suprema:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. EMPRESARIAL. SUCESSÃO DE EMPRESAS.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL E DE REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO: SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (AI 861443 AgR,
Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em
11/11/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-241 DIVULG 09-12-2014
PUBLIC 10-12-2014)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL E TRABALHISTA. SUCESSÃO DE
EMPRESA. EXECUÇÃO. PENHORA. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE
DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO REEXAME DE
PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
(AI 808366 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma,
julgado em 09/11/2010, DJe-227 DIVULG 25-11-2010 PUBLIC
26-11-2010 EMENT VOL-02439-02 PP-00536)

Dentro desse contexto, nego seguimento ao recurso


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Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-ED-RR - 2383-89.2010.5.02.0075

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extraordinário e determino a baixa dos autos à origem depois do transcurso in albis do
prazo recursal.
Publique-se.
Brasília, 30 de junho de 2023.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

ALOYSIO SILVA CORRÊA DA VEIGA


Ministro Vice-Presidente do TST

Firmado por assinatura digital em 30/06/2023 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que
instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

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