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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100543D39CFC85EE8F.
Recorrente: JBS S.A.
Advogado: Dr. Adauto Luiz Siqueira
Advogado: Dr. Mozart Victor Russomano Neto
Recorrido: JOÃO CARLOS CORREIA
Advogada: Dra. Jucineida Aparecida Valentini
Advogado: Dr. Júlio César Amaro da Silva
Recorrido: INDEPENDÊNCIA S.A.
Advogado: Dr. Ivo Nicoletti Júnior
Recorrido: MIGUEL GRAZIANO RUSSO E OUTRO
Advogado: Dr. Aldo de Cresci Neto
Advogado: Dr. Ricardo Christophe da Rocha Freire
GVPACV/tam/gvc
DECISÃO
VOTO
MARCOS PROCESSUAIS E NORMAS GERAIS APLICÁVEIS
Considerando que o acórdão regional foi publicado em 5/11/2018,
incidem as disposições processuais da Lei 13.467/2017.
Presentes os pressupostos extrínsecos de admissibilidade, passo à
análise dos pressupostos recursais intrínsecos.
O presente feito se encontra em fase de execução, razão pela qual
somente será objeto de análise a indicação de ofensa a dispositivo da
Constituição Federal, a teor do disciplinado no artigo 896, § 2º, da CLT.
TRANSCENDÊNCIA DA CAUSA
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Nos termos do artigo 896-A da CLT, com a redação que lhe foi dada pela
Lei nº 13.467/2017, antes de adentrar o exame dos pressupostos intrínsecos
do apelo, é necessário verificar se a causa oferece transcendência.
Primeiramente, destaco que o rol de critérios de transcendência
previsto no mencionado preceito é taxativo, porém, os indicadores de cada
um desses critérios, elencados no § 1º, são meramente exemplificativos. É o
que se conclui da expressão "entre outros", utilizada pelo legislador.
No caso, a resposta é afirmativa.
Com efeito, a transcendência jurídica diz respeito à interpretação e
aplicação de novas leis ou alterações de lei já existente e, no entendimento
consagrado por esta Turma, também à provável violação de direitos e
garantias constitucionais de especial relevância, com a possibilidade de
reconhecimento de afronta direta a dispositivo da Lei Maior, o que se verifica
no caso dos autos.
A presente demanda versa sobre possível negativa de prestação
jurisdicional, em desatendimento ao previsto no artigo 93, IX, da Constituição
Federal, e eventuais ofensas a outras garantias constitucionais, a exemplo do
respeito à coisa julgada e ao direito de propriedade, a revelar prudência do
prosseguimento no exame das matérias.
Assim, admito a transcendência da causa.
FASE DE EXECUÇÃO - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL –
MANIFESTAÇÃO DA CORTE DE ORIGEM SOBRE QUESTÃO SUFICIENTE À
MANUTENÇÃO DA DECISÃO – NÃO CONFIGURAÇÃO – INUTILIDADE DA
MEDIDA – SUCESSÃO TRABALHISTA – AQUISIÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS
DA EMPRESA RECUPERANDA – TRANSFERÊNCIA TOTAL DOS ATIVOS - LEI
DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL – AFASTAMENTO DA BLINDAGEM PREVISTA
NO ARTIGO 60, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 11.101/2005 – DISPOSITIVOS
CONSTITUCIONAIS NÃO VIOLADOS – TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA DA
CAUSA RECONHECIDA – APELO QUE NO MÉRITO NÃO POSSUI VIABILIDADE
CONHECIMENTO
A recorrente sustenta que o Tribunal Regional, mesmo instado via
embargos de declaração, não se manifestou sobre a certidão de objeto e pé
juntada aos autos, aprovação do plano pela assembleia geral de credores e a
consequente homologação do plano de recuperação judicial pelo Juízo
competente, efetivamente cumprido. Afirma, ainda, que houve omissão
quanto à aplicação, ou não, do artigo 141, II, da Lei nº 11.101/2005. Aponta
violação do artigo 93, IX, da Constituição Federal.
No mérito, defende, em síntese, que a aquisição das unidades
produtivas da empresa Independência Alimentos S/A, em sede de
recuperação judicial, com a aprovação da assembleia geral de credores e
homologação judicial, afasta a sua responsabilidade pelas obrigações
trabalhistas existentes antes da alienação, por aplicação do disposto no artigo
60 da Lei nº 11.101/2005. Alega que no plano chancelado pelo Judiciário
constou cláusula expressa sobre a inexistência de sucessão. Por fim, aduz que
o Supremo Tribunal Federal, nos autos da ADI nº 3.934/DF, concluiu que "a
alienação de empresa em processo de recuperação judicial afasta a
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responsabilidade solidária do comprador". Aponta, no aspecto, violação aos
artigos 5º, II, XXII, LIV, LV e XXXVI, e 102, §2º, da CF/88.
Observados os requisitos do artigo 896, § 1º-A, I, II, e III, transcreve-se a
decisão recorrida:
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Lei de Falências (LF) o objeto da alienação realizada em
recuperação judicial deve ser "filial" ou unidade produtiva isolada,
o que não é o caso dos autos. Ainda, a venda não foi feita por
intermédio de hasta pública.
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controvérsia, no particular, tomará por base o ordenamento jurídico vigente à
época dos fatos.
Dito isso, passo à análise do caso concreto.
O TRT, com base no conjunto fático-probatório, em especial no parecer
coligido aos autos, afastou a norma prevista no artigo 60, parágrafo único, da
Lei nº 11.101/2005 e reconheceu a sucessão da recorrente nas obrigações
trabalhistas da empresa Independência S/A, fundamentalmente, por dois
argumentos: a) transferência de todo o ativo desta para a adquirente; e b)
ausência de hasta pública para venda das unidades produtivas da
recuperanda.
Embora a alienação de ativos sem a realização de hasta pública possa
ser validada por posterior homologação judicial, como decidido pelo Pleno
desta Corte Superior, no julgamento do IRR nº 69700-28.2008.5.04.0008, em
22/5/2017 (vide item 9 da ementa), a aquisição de todos os estabelecimentos
da primeira ré (premissa insuscetível de modificação nesta seara, pelo óbice
da Súmula nº 126 do TST), subverte toda lógica contida no mencionado
dispositivo legal e na operação que ele representa.
Cita-se, por cabível, o seu inteiro teor, com a redação já modificada pela
Lei nº 14.112, de 2020, considerando que anteriormente já havia
entendimento sobre a inclusão das obrigações de natureza trabalhista:
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Isso porque o processo falimentar, nele compreendido a
recuperação das empresas em dificuldades, objetiva, em última
análise, saldar o seu passivo mediante a realização do respectivo
patrimônio. Para tanto, todos os credores são reunidos segundo
uma ordem pré-determinada, em consonância com a natureza do
crédito de que são detentores.
O referido processo tem em mira não somente contribuir
para que a empresa vergastada por uma crise econômica ou
financeira possa superá-la, eventualmente, mas também busca
preservar, o mais possível, os vínculos trabalhistas e a cadeia de
fornecedores com os quais ela guarda verdadeira relação
simbiótica." (ADI 3934, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI,
Tribunal Pleno, julgado em 27/05/2009, DJe-208 DIVULG
05-11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381-02
PP-00374 RTJ VOL-00216-01 PP-00227) (destaquei).
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necessárias para tanto (obtenção do regular enquadramento jurídico, que se
sobrepõe às demais circunstâncias alegadas pela parte).
Sobre o tema da sucessão, apreciado sob à luz da Lei nº 11.101/2005,
Fábio Ulhoa Coelho leciona:
(...)
E acrescenta:
(...)
Por coerência, então, com os conceitos legais e doutrinários
declinados, é impossível determinar a blindagem patrimonial do
adquirente, pelas obrigações trabalhistas anteriores à alienação, quando
comprovado o esvaziamento patrimonial da empresa recuperanda, em
prejuízo do que prescreve o artigo 60, parágrafo único, da Lei nº
11.101/2005.
Não socorre à ré, ainda, a alegação da necessidade de interpretação
conjunta desse dispositivo com o artigo 141, caput e II, do mesmo arcabouço
legal, tendo em vista que o último se aplica, unicamente, no âmbito da
falência.
De modo direto e específico, Luísa Penkal Bernardino de Souza, em
artigo publicado na Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n.
57, 2020, com o título "Alienação de Unidade Produtiva Isolada no Processo de
Recuperação Judicial: 'blindagem' do adquirente", citando, inclusive, doutrina,
conclui:
(...)
Logo, deve prevalecer, no presente caso, a regra geral prevista nos
artigos 10 e 448 da CLT, com o reconhecimento da sucessão empresarial.
Cito, por oportuno, julgado desta Corte Superior, proferido em condição
análoga à dos autos:
(...)
Saliente-se, por fim, que esta Corte Superior já firmou posicionamento
no sentido de que somente a inequívoca dissonância entre a decisão
transitada em julgado e aquela proferida em sede de execução, caracteriza
afronta à coisa julgada (Orientação Jurisprudencial nº 123 da SbDI-II do TST), o
que não é a ocasião dos autos.
Incólumes os demais artigos indicados pela parte.
Por todo o exposto, deve ser mantida a decisão regional.
Não conheço.
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sucessão empresarial.”.
Verifica-se, portanto, que a controvérsia foi solucionada à luz
da legislação infraconstitucional (arts. 10 e 448 da CLT), de modo que a alegada
afronta constitucional somente poderia se dar de forma indireta ou reflexa, o que torna
inadmissível o recurso extraordinário, nos termos do disposto no art. 102, III, "a" da
Constituição Federal.
Nesse sentido, os seguintes precedentes do e. STF (grifou-se):
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provimento. (ARE 726800 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA,
Segunda Turma, julgado em 23/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-099 DIVULG 24-05-2013 PUBLIC 27-05-2013)O entendimento
desta Corte Superior trabalhista foi de que a jurisprudência do
Pleno e da SDBI-1 do c. TST são no sentido de que o Decreto
Estadual 21.352/1991 não garante a reintegração de empregado
de sociedade de economia mista estadual dispensado sem justa
causa após a privatização.
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extraordinário e determino a baixa dos autos à origem depois do transcurso in albis do
prazo recursal.
Publique-se.
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