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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000500586

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2100420-18.2019.8.26.0000, da Comarca de Jundiaí, em que é agravante MUNICÍPIO DE
JUNDIAÍ, é agravado G. FIGUEIREDO ASSESSORIA E CONSULTORIA DE
IMÓVEIS LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 18ª Câmara de Direito Público


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores BEATRIZ BRAGA


(Presidente) e ROBERTO MARTINS DE SOUZA.

São Paulo, 26 de junho de 2019.

Burza Neto
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: 2100420-18.2019.8.26.0000.


AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ.
AGRAVADO : G.FIGUEIREDO ASSESSORIA E CONSULTORIA DE IMÓVEIS
LTDA
COMARCA : JUNDIAÍ.

VOTO Nº: 45.008


EMENTA: Agravo de Instrumento - EXECUÇÃO FISCAL -
INCLUSÃO DOSSÓCIOS DA EXECUTADA NO POLO
PASSIVO DA COBRANÇA - Insurgência contra a decisão que
determinou a instauração do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, nos moldes dos arts. 133 e seguintes do
NCPC, para apreciar o pedido de inclusão dos sócios no polo
passivo da demanda Descabimento Incidente que não se coaduna
com as regras especificas da cobrança dos créditos públicos,
disciplinadas pela Lei nº 6.830/80 Recurso Provido.

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto


contra a decisão trazida por cópia digitalizada a fls. 48/50
autos principais que, determinou a instauração do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica, previsto nos
artigos 133 a 137, do CPC.

Inconformado, sustenta o agravante pelo


provimento do recurso a fim de reformar a r. decisão, com a
declaração de que tal instituto não tem aplicação às
execuções fiscais.

Pela decisão de fls. 13, foi determinado o


processamento do presente recurso de Agravo de Instrumento,
com o efeito suspensivo, estando em termos para julgamento.

É o relatório.

O recurso comporta provimento.

Primeiramente, cabe registrar que a decisão


agravada foi proferida em 10.04.2019, motivo pelo qual o
presente recurso será julgado à luz do NCPC/2015 e da LEF.

Respeitando o entendimento adotado pelo Nobre

Agravo de Instrumento nº 2100420-18.2019.8.26.0000 -Voto nº 45.008.. 2


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Magistrado “a quo”, o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica apenas é aplicável no âmbito das
execuções civis ordinárias.

Isto porque as execuções de créditos públicos


são regidas por legislação especial no caso a Lei nº 6.830/80
que possui diversas peculiaridades que se mostram
incompatíveis com o procedimento previsto no NCPC.

Aliás, a questão “sub-judice” já foi


enfrentada pelo Eminente Desembargador Dr. Erbetta Filho, nos
autos do AI n° 2173556-19.2017.8.26.0000, em caso idêntico,
que adoto como razões de decidir:

Dispõe a Lei de execuções fiscais, por


exemplo, que a defesa do executado somente
será aceita após a garantia do Juízo (Art. 16,
§ 3º da LEF). Somente em hipóteses
excepcionais que tratem de matéria de ordem
pública ou que não haja a necessidade de
dilação probatória, tem-se admitido o
exercício do contraditório pelo executado sem
que seja cumprida tal formalidade, sendo
possível a oposição de exceção de
preexecutividade.

O procedimento de desconsideração da
personalidade jurídica, por outro lado,
possibilita que os sócios da pessoa jurídica
executada requeiram, inclusive, a produção de
provas (Art. 135 do NCPC), sem nada dispor
sobre a garantia do Juízo.

O incidente previsto na nova legislação


processual ainda dispõe que o processo
principal ficará suspenso até a sua decisão
final. Tal previsão, como bem ressaltou a
Municipalidade-agravante, acaba por criar uma
nova hipótese de suspensão da cobrança, não
abarcada pela Lei de Execuções Fiscais e,
também, sem que haja a correpondente suspensão
do prazo prescricional.

Além disso, essa disposição impediria a


penhora dos bens dos sócios nas hipóteses em
que não houvesse pagamento do débito ou
oferecimento de garantia, na forma como
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estabelece o Art. 10 da Lei nº 6.830/80.

Ademais, nos casos em que o pedido de inclusão


dos sócios funda-se na dissolução irregular da
sociedade empresária, como é o caso dos
presentes autos, a responsabilização dos
sócios prescinde do exercício do contraditório
num primeiro momento, uma vez que esta
hipótese de responsabilidade decorre da
própria legislação tributária (Art. 135 do
CTN) e, inclusive, do entendimento sumulado
pelo Superior Tribunal de Justiça (Súmula nº
435).

Assim, outra solução descabe senão o


provimento do recurso interposto para o fim de que o
requerimento de inclusão dos sócios no polo passivo da
execução seja apreciado pelo Juízo, sem a necessidade de
instauração do procedimento previsto no artigo 133 e
seguintes do Novo Código de Processo Civil.

Por derradeiro, considera-se prequestionada


toda matéria infraconstitucional e constitucional, observando-
se que é pacífico no Superior Tribunal de Justiça que,
tratando-se de pré-questionamento, é desnecessária a citação
numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão
posta tenha sido decidida.

E mais, os embargos declaratórios, mesmo para


fins de prequestionamento, só são admissíveis se a decisão
embargada estiver eivada de algum dos vícios que ensejariam a
oposição dessa espécie recursal (EDROMS-18205/SP, Ministro
FELIX FISCHER, DJ-08.05.2006 p.240).

Ante o exposto, DÁ-SE provimento ao recurso.

LUIZ BURZA NETO


Relator

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