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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2020.0000896996

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1040555-53.2018.8.26.0053 e código 130F6EB5.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1040555-53.2018.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
INSTITUTO DE PAGAMENTOS ESPECIAIS DE SÃO PAULO - IPESP, é
apelado ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE APOSENTADOS DE CARTÓRIOS
EXTRAJUDICIAIS.

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Em julgamento estendido, nos

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termos do art. 942 do CPC, por maioria de votos, negaram provimento ao recurso,
vencidos o 3º e 4º juízes. Declara voto o 3º juiz.", de conformidade com o voto do
Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


ENCINAS MANFRÉ (Presidente), CAMARGO PEREIRA, ANTONIO CARLOS
MALHEIROS E JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA.

São Paulo, 26 de outubro de 2020.

MARREY UINT
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1040555-53.2018.8.26.0053 e código 130F6EB5.
Apelante: Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo - Ipesp
Apelado: Associação Paulista de Aposentados de Cartórios Extrajudiciais
Comarca: São Paulo
Voto nº 39.501

Apelação Cível - Ação de obrigação de fazer - Aposentados


de cartórios extrajudiciais que pretendem o reajustamento
de seus proventos com base no salário mínimo, nos termos
da Lei Estadual nº 10.393/70 - Sentença de procedência -
Manutenção - Ação Direta de Inconstitucionalidade nº

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4.420/SP - Regramento da Lei Estadual nº 14.016/2010 não
se aplica a quem, na data da publicação da r. Lei, já estava
em gozo do benefício ou havia cumprido os requisitos
necessários à sua concessão.
Recurso não provido.

Trata-se de ação de obrigação de fazer


com pedido de tutela provisória ajuizada pela Associação Paulista
de Aposentados de Cartórios Extrajudiciais em face de IPESP –
Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo – Carteira de
Previdência das Serventias Notarias e de Registro do Estado de São
Paulo, objetivando a condenação do Réu na obrigação de fazer,
consistente no reajustamento de seus salários de benefício, desde
maio de 2008, com base no salário mínimo vigente.

Argumenta a Autora que seus associados


são servidores de serventias extrajudiciais aposentados e que a
concessão dos seus benefícios está amparada na Lei Estadual nº
10.393/70, a qual estipula que o benefício previdenciário deve ser
reajustado com base no salário mínimo e que tal legislação não está
sendo observada pelo Requerido, o que resulta na defasagem de
seus proventos.

Alega que no ano de 2008 a parte ré


suspendeu todos os reajustes salariais sob a alegação de que o
salário mínimo como parâmetro para reajuste não foi recepcionado
pela Constituição Federal, já que em seu artigo 7º, IV, ao tratar do

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salário mínimo, vedou sua vinculação para qualquer fim.

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Devidamente citado, o Réu apresentou
contestação e pediu a improcedência do pedido, ante a proibição
de se utilizar o salário mínimo como indexador. Defende também
que a Administração Pública está adstrita ao princípio da legalidade
e que a pretensão da parte autora viola o art. 2º, da CF (fls. 68/80).

Houve réplica (fls. 137/145).

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A r. sentença prolatada pelo mm. Juiz Sérgio
Serrano Nunes Filho julgou procedente o pedido e determinou que o
Réu realizasse o reajuste dos proventos de aposentadoria e pensão
dos associados na época do ajuizamento com base no salário
mínimo nacional, com o pagamento das diferenças dos reajustes
anuais dos benefícios na mesma proporção do salário mínimo
regional, a serem pagos com atualização monetária desde cada
pagamento devido não realizado e acrescido de juros moratórios
desde a citação. Em razão da sucumbência, o vencido foi
condenado a arcar com o pagamento das custas e despesas
processuais, além dos honorários advocatícios da parte contrária,
arbitrada em 10% do valor atribuído à causa atualizado.

Apela o requerido aduzindo preliminarmente


a ocorrência de prescrição do fundo de direito. No mérito pugna
pela impossibilidade do reajuste pelo salário-mínimo, nos termos da
Súmula Vinculante nº 4, do STF, como também que a Administração
Pública está adstrita ao princípio da legalidade e que a pretensão
viola o art. 2º, da CF. Pleiteia a reforma do julgado. Subsidiariamente
requer a redução da verba honorária e aplicação da Lei nº
11.960/09 ao caso em tela (fls. 160/172).

Contrarrazões às fls. 174/193.

É o relatório.

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Inicialmente, correta a r. sentença ao

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acolher a prescrição quinquenal somente, tendo em vista o disposto
no Decreto nº 20.910/32.

A súmula 85, do C. Superior Tribunal de


Justiça também consagrou este entendimento, “in verbis”: “Nas
relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure
como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas

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antes do quinquênio anterior à propositura da ação”.

Nesse sentido:

"RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO


MUNICIPAL. LEI Nº 8.880/94. DIFERENÇAS VENCIMENTAIS. LEI
MUNICIPAL Nº 6.612/94. PRESCRIÇÃO. PRESTAÇÕES DE TRATO
SUCESSIVO. SÚMULA 85/STJ. Em se tratando de ação que visa o
pagamento de diferenças vencimentais oriundas da edição da
Lei nº 8.880/94, a relação é de trato sucessivo, incidindo a
prescrição nos moldes da Súmula nº 85/STJ: "Nas relações
jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure
como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas
antes do qüinqüênio anterior à propositura da ação". Não
ocorrência da chamada prescrição do fundo de direito. Recurso
não-conhecido" (RESP 627718/RN, 5ª Turma, de minha relatoria,
DJU de 02/08/2004).

Passa-se à análise do mérito.

A Carteira de Previdência das Serventias


não Oficializadas da Justiça do Estado, entidade destinada a
proporcionar aposentadoria aos seus segurados e a conceder
pensão aos dependentes dos segurados, foi reorganizada em 16 de
dezembro de 1970 pela Lei Estadual nº 10.393/70.

A Lei nº 10.394, de 16 de dezembro de 1970,


reorganizou a Carteira de Previdência dos Advogados de São Paulo,
revogando a Lei nº 5.174/59.

A Lei Estadual nº 13.549/09, de 26 de maio

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de 2009, instituiu o regime de liquidação da Carteira de Previdência

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dos Advogados e organizou novas regras atuariais.

Por seu turno, a Lei nº 14.016, de 12 de abril


de 2010, que declarou em extinção a Carteira de Previdência das
Serventias não Oficializadas da Justiça do Estado, e alterou entre
outras, a Lei nº 10.393/70, nos seguintes termos, no que interessa ao
presente caso:

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Artigo 4º - A Carteira das Serventias adotará o regime
financeiro de capitalização e será administrada pela entidade
de que trata o artigo 10 desta lei, na qualidade de seu
liquidante, sendo vedado o resgate antecipado de quaisquer
valores de contribuições, salvo na forma dos benefícios
previstos nesta lei.
Artigo 5º - Os artigos 1º, 2º, 3º, 4º, 6º, 11, 12, 13, 15, 19, 20, 21, 22,
24, 25, 26, 27, 28, 29, 32, 33, 34, 38, 39, 40, 41, 43, 45, 47, 50, 51,
53, 54, 57, 59, 61, 63, 68, 69 e 70 da Lei nº 10.393, de 16 de
dezembro de 1970, passam a vigorar com a seguinte redação:

(...)

VII - “Artigo 12 - Os benefícios da Carteira serão reajustados


anualmente, no mês de janeiro, de acordo com a variação do
IPC-FIPE (Índice de Preços ao Consumidor apurado pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), calculados sobre
os doze últimos meses, ou desde a data do último reajuste se
inferior a este período.

Parágrafo único - O reajuste de que trata o “caput” deste


artigo, assim como a concessão de novos benefícios, somente
será aplicado se ficar previamente demonstrada a
manutenção do equilíbrio atuarial pelo estudo técnico a que
se refere o artigo 51 desta lei, além da existência de recursos
financeiros disponíveis na Carteira.” (NR);

VIII - “Artigo 13 - Os benefícios da Carteira serão calculados de


acordo com a tabela anexa, cujos valores serão reajustados
anualmente no mês de janeiro e nos exercícios seguintes pelo
mesmo índice e periodicidade previstos no artigo 12, vedada
qualquer reclassificação.

Parágrafo único - A tabela anexa prevalecerá para fixar-se o


valor dos benefícios, independentemente de alterações que
possam surgir na organização extrajudicial do Estado.” (NR);

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A r. lei trouxe alterações como a proibição

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de novas inscrições, a possibilidade de desligamento com previsão
de restituição de parte das contribuições vertidas, a instituição de
novo regime de reajuste de contribuições e de benefícios, entre
outras.

A Autora busca a condenação da parte ré


para que ela seja compelida a efetuar o reajuste dos proventos,
desde maio de 2008, com base no salário-mínimo vigente, bem

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como a restituição dos valores equivocadamente descontados,
devidamente atualizados.
Com efeito, dispunham os artigos 12 e 13 da
aludida Lei 10.393/70:
"Artigo 12 - Sempre que se alterar o salário-mínimo na Capital do
Estado, serão reajustados, na mesma proporção, os benefícios
concedidos por esta lei. Parágrafo único - Vigorará o reajuste a
partir do primeiro dia do mês seguinte àquele em que ocorrer a
alteração.

Artigo 13 - Os benefícios serão calculados em salários mínimos,


para que possam ser reajustados automaticamente na forma do
que dispõe o artigo anterior. Parágrafo único - O cálculo será
feito até centésimos de salário-mínimo, arredondando-se para
mais a fração igual ou superior a cinco milésimos e desprezando-
se a inferior."
Da leitura da legislação em comento,
constata-se que, de fato, estipulou-se que o salário mínimo seria
utilizado como fator de indexação dos proventos de pensão e
aposentadoria dos serventuários vinculados à carteira de
previdência mantida pelo IPESP.
No caso em tela não se está a discutir a
manutenção deste ou daquele regime jurídico. Entendo tratar-se sim
de respeito ao contrato (de previdência) e obrigações assumidas,
cujas regras devem ser integralmente cumpridas tal como firmados.
O contrato foi celebrado por livre iniciativa das partes, cumprindo-
lhes honrarem todo o pacto estabelecido. O aplicável para a
aposentadoria é aquele em que o peticionário preencheu os
requisitos legais para tanto, ainda que não tenha exercido a

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faculdade que lhe assistia. A alteração posterior não pode atingir

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direito por ele adquirido quando da plena vigência da lei anterior.
Àquele que na data da publicação da Lei,
já estava em gozo de benefício ou já tinha cumprido, com base no
instituído pela Lei nº 10.394, de 1970, os requisitos necessários à
concessão do benefício, são inaplicáveis as regras instituídas pela
nova norma, nos termos do decidido pelo C. STF na ADI 4429/SP.
Naquela ocasião, o Ministro Relator Marco Aurélio Mello consignou

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em seu voto:

Assim, incumbe ressaltar, desde logo, que as novas regras


instituídas pela norma impugnada são inaplicáveis a quem, na
data da publicação da Lei estadual nº 13.549, de 2009, já estava
em gozo de benefício ou já tinha cumprido, com base no
regime instituído pela Lei nº 10.394, de 1970, os requisitos
necessários à concessão. É exigível a viabilidade do exercício do
direito na forma como regulado antes da liquidação, ainda que
se precise repassar verbas públicas do Estado de São Paulo para
cobrir o déficit matemático”.

E conclui o i. Ministro:

“Ante o quadro, acolho parcialmente o pedido para:


a) declarar a inconstitucionalidade dos § 2º e § 3º do artigo 2º
da Lei nº 13.549, de 2009, do Estado de São Paulo, no que
excluem a assunção de responsabilidade pelo Estado. Eis os dois
preceitos:
Artigo 2º […]
§ 2º - Em nenhuma hipótese o Estado, incluindo as entidades da
administração indireta, responde, direta ou indiretamente, pelo
pagamento dos benefícios já concedidos ou que venham a ser
concedidos no âmbito da Carteira dos Advogados, nem
tampouco por qualquer indenização a seus participantes ou
insuficiência patrimonial passada, presente ou futura.
§ 3º - É vedada a inclusão na lei orçamentária anual, bem como
em suas alterações, de quaisquer recursos do Estado para
pagamento de aposentadorias e pensões de responsabilidade
da Carteira dos Advogados.
b) conferir interpretação conforme à Constituição ao restante da
norma impugnada, proclamando que as regras não se aplicam
a quem, na data da publicação da Lei, já estava em gozo de
benefício ou já tinha cumprido, com base no regime instituído
pela Lei nº 10.394, de 1970, os requisitos necessários à

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concessão.” (ADI nº 4.429/SP, Plenário, rel. Min. Marco Aurélio, j.


14.12.2011). (grifo nosso)

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Já a constitucionalidade da Lei nº 14.016 foi
questionada no Supremo Tribunal Federal, na ADI 4420/SP, que assim
restou ementada:

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. EXTINÇÃO DA CARTEIRA DE
PREVIDÊNCIA DAS SERVENTIAS NÃO OFICIALIZADAS DA JUSTIÇA

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DO ESTADO DE SÃO PAULO. PROTEÇÃO DOS DIREITOS
ADQUIRIDOS. DIREITO À CONTAGEM RECÍPROCA DO TEMPO DE
SERVIÇO.

1. A Lei nº 14.016, de 12.04.2010, do Estado de São Paulo, que


declarou em regime de extinção a Carteira de Previdência das
Serventias não Oficializadas da Justiça daquele Estado, não
padece de inconstitucionalidade formal, visto que o
constituinte conferiu aos Estados-membros competência
concorrente para legislarem sobre previdência social,
consoante o disposto no art. 24, XII, da Constituição Federal.

2. A extinção da Carteira de Previdência das Serventias não


Oficializadas da Justiça daquele Estado, embora possível por
meio da referida lei, deve, contudo, respeitar o direito
adquirido dos participantes que já faziam jus aos benefícios à
época da edição da lei, bem como o direito à contagem
recíproca do tempo de contribuição para aposentadoria pelo
Regime Geral de Previdência Social (CF, art. 201, §9º) ?dos
participantes que ainda não haviam implementado os
requisitos para a fruição dos benefícios.
3. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga
parcialmente procedente para: (i) declarar a
inconstitucionalidade do art. 3º, caput, e § 1º, da Lei nº
14.016/2010, do Estado de São Paulo, no que excluem a
assunção de responsabilidade pelo Estado; (ii) conferir
interpretação conforme à Constituição ao restante do diploma
impugnado, proclamando que as regras não se aplicam a
quem, na data da publicação da lei, já estava em gozo de
benefício ou tinha cumprido, com base no regime instituído
pela Lei estadual nº 10.393/1970, os requisitos necessários à
concessão; (iii) quanto aos que não implementaram todos os
requisitos, conferir interpretação conforme para garantir-lhes a
faculdade da contagem de tempo de contribuição para
efeito de aposentadoria pelo Regime Geral da Previdência

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Social, nos termos do art. 201, § 9º, da Constituição Federal.


(grifo nosso)

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Nessas circunstâncias, o reajuste dos
benefícios com base no salário mínimo regional, nos termos previstos
na Lei nº 10.393/70, não afronta o disposto na Súmula Vinculante n.º
4, do STF, posto que garante a segurança jurídica e visa tão somente
o estrito cumprimento de dispositivo legal, que não pode ser alterado
por decisão judicial.

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Nesse cenário, a discussão acerca da não
recepção pela Constituição Federal do salário mínimo como
indexador restou dirimida para aqueles que já haviam firmado o
contrato de previdência, quando do advento da nova lei.
Não se desconhece que o artigo 7º, inciso
IV, da CF passou a proibir expressamente a vinculação do salário
mínimo para qualquer fim. Ocorre que a ADI 4420 foi julgada em
16/11/2016, mais de 8 anos depois de editada a Súmula Vinculante
nº 4 e evidentemente depois da CF/88, de modo que o STF, ao dar
interpretação conforme à constituição determinando que as regras
da Lei Estadual nº 14.016/10 não se aplicam a quem já gozava o
benefício, acabou por recepcionar totalmente a Lei nº 10.393/70.
Em que pese, ainda, a edição da súmula
vinculante nº 4, o Egrégio Supremo Tribunal Federal (“Salvo nos casos
previstos na constituição, o salário mínimo não pode ser usado como
indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou
de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”), o índice
anteriormente usado (salário mínimo) também não pode ser
substituído por mera decisão administrativa, devendo ser mantido
até a edição de novo ato normativo.
O direito dos associados da Requerente de
continuar recebendo os seus proventos nos termos da lei anterior (Lei
Estadual nº 10.363/70), é fato que se impõe, posto que já
incorporado aos seus patrimônios. Não pode a lei posterior, mais
gravosa, atingir uma situação jurídica já consolidada sob a égide da

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 9


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lei anterior, sob pena de injustificável ofensa ao artigo 5º, XXXVI, da

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Constituição da República.
Confiram-se, aliás, os precedentes deste E.
Tribunal de Justiça em casos análogos ao aqui tratado:

Apelação Cível 1055288-92.2016.8.26.0053 Relator(a): Sidney


Romano dos Reis Comarca: São Paulo Órgão julgador: 6ª
Câmara de Direito Público Data do julgamento: 04/12/2017
Data de publicação: 05/12/2017 Ementa: Apelação Cível
Administrativo e Previdenciário Pensionistas de Serventuário de

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Cartório Extrajudicial - Ação Ordinária pretendendo o
pagamento integral do benefício com base no salário mínimo -
Sentença de procedência Remessa necessária e recurso do
IPESP Remessa necessária parcialmente provida e recurso do
IPESP desprovido. Precedente do C. STF Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.420/SP Regras que não se aplicam a
quem, na data da publicação da Lei, já estava em gozo do
benefício ou havia cumprido os requisitos necessários à sua
concessão. Pagamento dos atrasados até o falecimento do
instituidor da pensão nos termos da Lei nº 10.393/70 Após a
instituição da pensão, no entanto, os pagamentos desta
também deverão ser pagos nos termos do art. 34 da mesma
norma Valores em atraso que deverão observar a aplicação
da Lei Federal nº 11.960/09. R. Sentença parcialmente reformada
Remessa necessária parcialmente provida e recurso do IPESP
desprovido.

Apelação Cível 0035781-12.2009.8.26.0053 Relator(a): Antônio


Carlos Malheiros Comarca: São Paulo Órgão julgador: 3ª
Câmara de Direito Público Data do julgamento: 16/04/2013 Data
de publicação: 26/04/2013 Ementa: CARTEIRA DE PREVIDÊNCIA
DOS ADVOGADOS - Lei Estadual n. 13.549/09 alterou a forma de
reajuste do benefício e do percentual de contribuição pela
Administração - Competência passou do IPESP para o Instituto
de Pagamentos Especiais de São Paulo - Pretensão de
declaração de inconstitucionalidade dos artigos 2º, § 2º, 6º, §§ 1º
e 2º, 33, § 2º, e 34, todos da Lei - Alegação de afronta ao direito
adquirido de aposentados e pensionistas Pretensão de
restituição de valores pagos e suspensão do desconto de 20% -
Admissibilidade Julgamento da ADI n° 4.429/SP que preserva o
direito adquirido dos aposentados e dos que já tinham cumprido
os requisitos para aposentação - Percentual da contribuição
previdenciária e reajuste do benefício que devem observar os
termos da Lei Estadual n° 10.394/70 - Ausência de ofensa à
Súmula Vinculante nº 4, do STF - Restituição de valores

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 10


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eventualmente descontados a maior - Juros moratórios que


deverão observar as regras do art. 161, § 1º, e art. 167, parágrafo

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único, do CTN - Recurso provido.
No que tange aos honorários advocatícios,
embora observe-se equívoco na r. sentença ao arbitrar a verba
honorária tendo por base o valor da causa, pois nos termos do artigo
85 §2º, essa deve ser fixada tendo por base o proveito econômico
(que no caso dos autos diz respeito às diferenças no valor dos
proventos), não se verifica discrepância entre o valor fixado pela r.

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sentença e a valoração equitativa da justa remuneração devida ao
causídico da parte autora.
Por esse prisma, mantém-se integralmente a
r. sentença, inclusive no tocante à verba honorária.

Por derradeiro, considera-se prequestionada


toda matéria infraconstitucional e constitucional, observando-se que
é pacífico no STJ que, tratando-se de prequestionamento, é
desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando
que a questão posta tenha sido decidida (EDROMS 18205/SP, Min.
Felix Fischer, DJ 08.05.2006, p. 24).

Diante do exposto, nega-se provimento ao


recurso.

MARREY UINT
Relator

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 11


fls. 326

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PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2021.0000760228

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1040555-53.2018.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
INSTITUTO DE PAGAMENTOS ESPECIAIS DE SÃO PAULO - IPESP, é
apelado ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE APOSENTADOS DE CARTÓRIOS
EXTRAJUDICIAIS.

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "MANUTENÇÃO DO

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LUIZ EDMUNDO MARREY UINT, liberado nos autos em 17/09/2021 às 19:54 .
ACÓRDÃO, V.U", de conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


ENCINAS MANFRÉ (Presidente), CAMARGO PEREIRA, KLEBER LEYSER DE
AQUINO E JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA.

São Paulo, 14 de setembro de 2021.

MARREY UINT
RELATOR
Assinatura Eletrônica
fls. 327

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Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053

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Apelante: Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo - Ipesp
Apelado: Associação Paulista de Aposentados de Cartórios Extrajudiciais
Comarca: São Paulo

Voto nº 42.357

Juízo de Retratação - Ação de obrigação de fazer -

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LUIZ EDMUNDO MARREY UINT, liberado nos autos em 17/09/2021 às 19:54 .
Aposentados de cartórios extrajudiciais que pretendem o
reajustamento de seus proventos com base no salário
mínimo, nos termos da Lei Estadual nº 10.393/70 -
Sentença de procedência - Manutenção - Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.420/SP - Regramento da Lei
Estadual nº 14.016/2010 não se aplica a quem, na data da
publicação da r. Lei, já estava em gozo do benefício ou
havia cumprido os requisitos necessários à sua concessão.
Manutenção do Acórdão.

Trata-se de ação de obrigação de fazer


com pedido de tutela provisória ajuizada pela Associação Paulista
de Aposentados de Cartórios Extrajudiciais em face de IPESP –
Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo – Carteira de
Previdência das Serventias Notarias e de Registro do Estado de São
Paulo, objetivando a condenação do Réu na obrigação de fazer,
consistente no reajustamento de seus salários de benefício, desde
maio de 2008, com base no salário mínimo vigente.

Argumentou a Autora que seus associados


são servidores de serventias extrajudiciais aposentados e que a
concessão dos seus benefícios está amparada na Lei Estadual nº
10.393/70, a qual estipula que o benefício previdenciário deve ser
reajustado com base no salário mínimo e que tal legislação não está
sendo observada pelo Requerido, o que resulta na defasagem de
seus proventos.

Alega que no ano de 2008 a parte ré

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 2


fls. 328

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suspendeu todos os reajustes salariais sob a alegação de que o

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salário mínimo como parâmetro para reajuste não foi recepcionado
pela Constituição Federal, já que em seu artigo 7º, IV, ao tratar do
salário mínimo, vedou sua vinculação para qualquer fim.

Devidamente citado, o Réu apresentou


contestação e pediu a improcedência do pedido, ante a proibição
de se utilizar o salário mínimo como indexador. Defende também
que a Administração Pública está adstrita ao princípio da legalidade

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LUIZ EDMUNDO MARREY UINT, liberado nos autos em 17/09/2021 às 19:54 .
e que a pretensão da parte autora viola o art. 2º, da CF (fls. 68/80).

Houve réplica (fls. 137/145).

A r. sentença prolatada pelo mm. Juiz Sérgio


Serrano Nunes Filho julgou procedente o pedido e determinou que o
Réu realizasse o reajuste dos proventos de aposentadoria e pensão
dos associados na época do ajuizamento com base no salário
mínimo nacional, com o pagamento das diferenças dos reajustes
anuais dos benefícios na mesma proporção do salário mínimo
regional, a serem pagos com atualização monetária desde cada
pagamento devido não realizado e acrescido de juros moratórios
desde a citação. Em razão da sucumbência, o vencido foi
condenado a arcar com o pagamento das custas e despesas
processuais, além dos honorários advocatícios da parte contrária,
arbitrada em 10% do valor atribuído à causa atualizado.

Foi interposto recurso de apelação pela


parte requerida aduzindo preliminarmente a ocorrência de
prescrição do fundo de direito. No mérito pugna pela impossibilidade
do reajuste pelo salário-mínimo, nos termos da Súmula Vinculante nº
4, do STF, como também que a Administração Pública está adstrita
ao princípio da legalidade e que a pretensão viola o art. 2º, da CF.
Pleiteia a reforma do julgado. Subsidiariamente requer a redução da
verba honorária e aplicação da Lei nº 11.960/09 ao caso em tela (fls.
160/172).

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 3


fls. 329

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Contrarrazões às fls. 174/193.

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A Turma Julgadora, em julgamento
estendido, nos termos do art. 942, do NCPC, formada por esta
relatoria e pelos eminentes Desembargadores Armando Camargo
Pereira, José Antônio Encinas Manfré, Antônio Carlos Malheiros e José
Luiz Gavião de Almeida, negaram provimento ao recurso, vencidos o
3º e 4º Juízes, com declaração de voto do 3º Juiz (fls. 207/217).

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Inconformado, o Instituto de Previdência do
Estado de São Paulo - IPES interpôs recurso extraordinário (fls.
231/243), contrarrazoado às fls. 246/263.

O recurso não foi admitido pela Presidência


desta Seção (fls. 264) e, após a interposição de agravo contra este
despacho, o Ministro Luiz Fux determinou a remessa dos autos para
análise e adequação em relação ao RE nº 565.714, Tema nº 25, STF,
DJ de 08.08.2008 (fls. 286/289). Assim, a Egrégia
Presidência desta Seção de Direito Público devolveu os autos a esta
Turma Julgadora para retratação ou manutenção do julgado, nos
termos do art. 1.030, II, do Código de Processo Civil (fls. 290).

Manifestação da Associação Paulista de


Aposentados de Cartórios Extrajudiciais (fls. 295/299 e 302/304).

É o relatório.

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento


do RE nº 565.714/SP, sob o regime da repercussão geral, fixou o
entendimento no sentido de que a vinculação do adicional de
insalubridade ao salário mínimo é inconstitucional:

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. ART. 7º, INC. IV, DA CONSTITUIÇÃO

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 4


fls. 330

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DA REPÚBLICA. NÃO-RECEPÇÃO DO ART. 3º, § 1º, DA LEI


COMPLEMENTAR PAULISTA N. 432/1985 PELA CONSTITUIÇÃO DE

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1988. INCONSTITUCIONALIDADE DE VINCULAÇÃO DO ADICIONAL
DE INSALUBRIDADE AO SALÁRIO MÍNIMO: PRECEDENTES.
IMPOSSIBILIDADE DA MODIFICAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO DO
BENEFÍCIO POR DECISÃO JUDICIAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

1. O sentido da vedação constante da parte final do inc. IV do


art. 7º da Constituição impede que o salário-mínimo possa ser
aproveitado como fator de indexação; essa utilização tolheria
eventual aumento do salário-mínimo pela cadeia de aumentos

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que ensejaria se admitida essa vinculação (RE 217.700, Ministro
Moreira Alves). A norma constitucional tem o objetivo de impedir
que aumento do salário-mínimo gere, indiretamente, peso maior
do que aquele diretamente relacionado com o acréscimo. Essa
circunstância pressionaria reajuste menor do saláriomínimo, o
que significaria obstaculizar a implementação da política salarial
prevista no art. 7º, inciso IV, da Constituição da República. O
aproveitamento do salário-mínimo para formação da base de
cálculo de qualquer parcela remuneratória ou com qualquer
outro objetivo pecuniário (indenizações, pensões, etc.) esbarra
na vinculação vedada pela Constituição do Brasil. Histórico e
análise comparativa da jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal. Declaração de não-recepção pela Constituição da
República de 1988 do Art. 3º, § 1º, da Lei Complementar n.
432/1985 do Estado de São Paulo.

2. Inexistência de regra constitucional autorizativa de concessão


de adicional de insalubridade a servidores públicos (art. 39, § 1º,
inc. III) ou a policiais militares (art. 42, § 1º, c/c 142, § 3º, inc. X).

3. Inviabilidade de invocação do art. 7º, inc. XXIII, da


Constituição da República, pois mesmo se a legislação local
determina a sua incidência aos servidores públicos, a expressão
adicional de remuneração contida na norma constitucional há
de ser interpretada como adicional remuneratório, a saber,
aquele que desenvolve atividades penosas, insalubres ou
perigosas tem direito a adicional, a compor a sua remuneração.
Se a Constituição tivesse estabelecido remuneração do
trabalhador como base de cálculo teria afirmado adicional
sobre a remuneração, o que não fez.

4. Recurso extraordinário ao qual se nega provimento.” (RE


565714, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em
30/04/2008, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-147 DIVULG
07-08-2008 PUBLIC 08-08-2008 REPUBLICAÇÃO: DJe-211 DIVULG

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 5


fls. 331

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06-11-2008 PUBLIC 07-11-2008 EMENT VOL-02340-06 PP-01189 RTJ


VOL-00210-02 PP-00884)

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Ocorre que o caso em apreço não se
amolda ao precedente indicado, tendo em vista que o reajuste dos
benefícios com base no salário mínimo regional, nos termos previstos
na Lei nº 10.393/70, não afronta o disposto na Súmula Vinculante n.º
4, do STF, posto que garante a segurança jurídica e visa tão somente
o estrito cumprimento de dispositivo legal, que não pode ser alterado

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por decisão judicial.

Nesse cenário, a discussão acerca da não


recepção pela Constituição Federal do salário mínimo como
indexador restou dirimida para aqueles que já haviam firmado o
contrato de previdência, quando do advento da nova lei.
Não se desconhece que o artigo 7º, inciso
IV, da CF passou a proibir expressamente a vinculação do salário
mínimo para qualquer fim. Ocorre que a ADI 4420 foi julgada em
16/11/2016, mais de 8 anos depois de editada a Súmula Vinculante
nº 4 e evidentemente depois da CF/88, de modo que o STF, ao dar
interpretação conforme à constituição determinando que as regras
da Lei Estadual nº 14.016/10 não se aplicam a quem já gozava o
benefício, acabou por recepcionar totalmente a Lei nº 10.393/70.
Em que pese, ainda, a edição da súmula
vinculante nº 4, o Egrégio Supremo Tribunal Federal (“Salvo nos casos
previstos na constituição, o salário mínimo não pode ser usado como
indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou
de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”), o índice
anteriormente usado (salário mínimo) também não pode ser
substituído por mera decisão administrativa, devendo ser mantido
até a edição de novo ato normativo.
Outrossim, o direito dos associados da
Requerente de continuar recebendo os seus proventos nos termos
da lei anterior (Lei Estadual nº 10.363/70), é fato que se impõe, posto
que já incorporado aos seus patrimônios. Não pode a lei posterior,
mais gravosa, atingir uma situação jurídica já consolidada sob a

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 6


fls. 332

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égide da lei anterior, sob pena de injustificável ofensa ao artigo 5º,

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XXXVI, da Constituição da República.
Aliás, em recente decisão proferida em
16.08.2021, pelo C. Supremo Tribunal Federal no Recurso
Extraordinário com Agravo nº 1.336.672/SP, o Ministro Alexandre de
Moraes ressalvou os direitos adquiridos dos participantes da carteira
de previdência que já se encontravam em gozo dos planos de
benefícios ou que já reuniam os requisitos necessários à

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aposentação, na data da publicação da Lei Estadual nº 13.549/09:
“Sobre a matéria, o Plenário desta CORTE, no julgamento da Ação
Direta 4.420 (Redator p/ o Acórdão Min. ROBERTO BARROSO, DJe de
1º/8/207), assentou que, embora seja legítima a extinção da Carteira
de Previdência das Serventias não Oficializadas da Justiça do Estado
de São Paulo por meio da Lei Estadual 14.016/2010, deve ser
respeitado o direito adquirido dos participantes que já faziam jus ao
benefícios à época da edição da lei”.
Confiram-se, aliás, os precedentes deste E.
Tribunal de Justiça em casos análogos ao aqui tratado:

Apelação Cível 1055288-92.2016.8.26.0053 Relator(a): Sidney


Romano dos Reis Comarca: São Paulo Órgão julgador: 6ª
Câmara de Direito Público Data do julgamento: 04/12/2017
Data de publicação: 05/12/2017 Ementa: Apelação Cível
Administrativo e Previdenciário Pensionistas de Serventuário de
Cartório Extrajudicial - Ação Ordinária pretendendo o
pagamento integral do benefício com base no salário mínimo -
Sentença de procedência Remessa necessária e recurso do
IPESP Remessa necessária parcialmente provida e recurso do
IPESP desprovido. Precedente do C. STF Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.420/SP Regras que não se aplicam a
quem, na data da publicação da Lei, já estava em gozo do
benefício ou havia cumprido os requisitos necessários à sua
concessão. Pagamento dos atrasados até o falecimento do
instituidor da pensão nos termos da Lei nº 10.393/70 Após a
instituição da pensão, no entanto, os pagamentos desta
também deverão ser pagos nos termos do art. 34 da mesma
norma Valores em atraso que deverão observar a aplicação
da Lei Federal nº 11.960/09. R. Sentença parcialmente reformada
Remessa necessária parcialmente provida e recurso do IPESP
desprovido.

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 7


fls. 333

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Apelação Cível 0035781-12.2009.8.26.0053 Relator(a): Antônio

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Carlos Malheiros Comarca: São Paulo Órgão julgador: 3ª
Câmara de Direito Público Data do julgamento: 16/04/2013 Data
de publicação: 26/04/2013 Ementa: CARTEIRA DE PREVIDÊNCIA
DOS ADVOGADOS - Lei Estadual n. 13.549/09 alterou a forma de
reajuste do benefício e do percentual de contribuição pela
Administração - Competência passou do IPESP para o Instituto
de Pagamentos Especiais de São Paulo - Pretensão de
declaração de inconstitucionalidade dos artigos 2º, § 2º, 6º, §§ 1º
e 2º, 33, § 2º, e 34, todos da Lei - Alegação de afronta ao direito
adquirido de aposentados e pensionistas Pretensão de

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restituição de valores pagos e suspensão do desconto de 20% -
Admissibilidade Julgamento da ADI n° 4.429/SP que preserva o
direito adquirido dos aposentados e dos que já tinham cumprido
os requisitos para aposentação - Percentual da contribuição
previdenciária e reajuste do benefício que devem observar os
termos da Lei Estadual n° 10.394/70 - Ausência de ofensa à
Súmula Vinculante nº 4, do STF - Restituição de valores
eventualmente descontados a maior - Juros moratórios que
deverão observar as regras do art. 161, § 1º, e art. 167, parágrafo
único, do CTN - Recurso provido.

Houve, portanto, a análise da aplicação do


precedente vinculante à hipótese dos autos pelo Acórdão. Por
conseguinte, não é hipótese de readequação do julgado.
Ante o exposto, pelo meu voto, mantém-se
o v. Acórdão de fls. 207/217, com determinação de retorno dos autos
à Egrégia Presidência desta Seção de Direito Público.

MARREY UINT
Relator

Apelação Cível nº 1040555-53.2018.8.26.0053 -Voto nº 8

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