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WILLIAM DANIEL DA SILVA COSTA

OS ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DA AÇÃO DE BUSCA E


APREENSÃO DE VEÍCULOS
DECRETO-LEI Nº 911/69

Centro Universitário Toledo


Araçatuba
2019
WILLIAM DANIEL DA SILVA COSTA

OS ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DA AÇÃO DE BUSCA E


APREENSÃO DE VEÍCULOS:
DECRETO-LEI Nº 911/69

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em
Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário
Toledo.

Centro Universitário Toledo


Araçatuba
2019
WILLIAM DANIEL DA SILVA COSTA

OS ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DA AÇÃO DE BUSCA E


APREENSÃO DE VEÍCULOS:
DECRETO-LEI Nº 911/69

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em
Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário
Toledo.

Orientador: Paulo Roberto Cavasana Abdo.

11 de março de 2.019

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Me. Paulo Roberto Cavasana Abdo

______________________________________

______________________________________
Dedico este trabalho aos meus pais e ao meu
irmão que me deram luz e força para superar
as dificuldades perseguidas até a conclusão
deste curso.
AGRADECIMENTOS

Ao longo deste curso que foi um sonho para mim e para os meus familiares, é com
imensa gratidão que deixo esses agradecimentos a Deus pela oportunidade e pela luz enviada
nesses anos de estudo e perseverança.
Tenho como agradecimento ao meu querido pai, o sr. José Luiz da Silva Costa, que
apesar de ter estudado até a 4ª série me incentivou para que eu estudasse pois seria o único
caminho para atingir o sucesso.
A minha mãe, companheira, amiga e conselheira a sra. Edileide da Silva Costa por
tudo, pois se tenho caráter e sou quem eu sou foi pela dedicação dela.
Dentre todas as pessoas da minha vida, a minha mãe é a pessoa que sempre esteve do
meu lado e mesmo diante das dificuldades me ensinou a não desistir e acreditar que tudo era
uma fase e que no outro dia, a vida iria melhorar e que eu conseguiria atingir os meus
objetivos.
Obrigado mãe pelas palavras, pelos dias sem comer trabalhando por seus filhos e por
cada minuto que dedicou a sua vida por mim.
Tão importante quanto aos meus pais, ao meu lado eu tive o meu único irmão Diego
Bruno da Silva Costa que apesar da distância sempre me apoiou e me ajudou em todos os
momentos.
Por fim, sou imensamente grato as pessoas que passaram na minha vida diante desses
anos de faculdade e que mesmo vindo de escola púbica, morador de periferia, depositaram a
confiança em mim e sempre me ajudaram mesmo que da forma mais simples.
“Onde estiver o seu tesouro, aí também estará
o seu coração” (Mateus, 6:14)
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo a explanação da ação de busca e
apreensão de veículos no âmbito do Decreto-lei nº 911 de 1969 com a alteração sofrida pela
lei nº 10.932 do ano de 2004 em que alterou significativamente os preceitos da purgação da
mora para a restituição do veículo após a apreensão e quanto aos pressupostos processuais da
ação em que pese a notificação extrajudicial enviada no endereço do devedor comprovando a
sua constituição em mora. O tema abordado visa a demonstração processual e as suas
aplicabilidades no tocante ao ambiente do Decreto-lei e ao Código de Processo Civil e as suas
pontualidades que se tratam de extrema importância no decurso do processo. Não obstante,
tem como preceito os vícios encontrados no ajuizamento e no decurso da ação na aplicação
direta dos operadores de direito.

Palavras-chave: Busca e apreensão, Alienação fiduciária, Veículo financiado, Decreto-lei


911/69.
ABSTRACT

The purpose of this work is to explain the search and exclusion of vehicles within the scope of
Decree-Law No. 911 of 1969 with an amendment suffered by Law No. 10,932 of the year
2004 that changed the meaning of the purgation precepts of the delay for the restitution of the
self-service after a seizure and for the procedural requirements of the action in which an out-
of-court notification is handled does not have a debtor's address proving that it was in default.
The object addressed is the procedural presentation and its applicability with regard to the
environment of the Decree-Law and the Code of Civil Procedure and its policies that have
been treated as extremely important in the course of the process. Nevertheless, the precepts
are not advantageous and there is no course of action in the direct application of the legal
operators.

Keywords: Search and seizure, Fiduciary Alienation, Vehicle financed, Decreto-lei 911/69.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

1 O NEGÓCIO FIDUCIÁRIO ........................................................................................ 11

1.1 Do momento histórico do Decreto-lei ....................................................................... 11


1.2 Alterações do Decreto-lei .......................................................................................... 12
1.3 Natureza do Decreto-lei ............................................................................................. 14
2 DOS ASPECTOS TEÓRICOS DA AÇÃO ................................................................... 16
2.1 Pressupostos processuais ........................................................................................... 16
2.2 Comprovação da mora ............................................................................................... 17
2.3 Liminar....................................................................................................................... 18
2.4 Fumus Bonis Iuris ...................................................................................................... 19
2.5 Periculum in Mora ..................................................................................................... 20
2.6 Indeferimento da Liminar .......................................................................................... 21
2.7 Agravo de Instrumento .............................................................................................. 22
2.8 Emenda a Inicial ........................................................................................................ 25
3 DOS ASPECTOS PRÁTICOS E TÉORICOS DA DEFESA ..................................... 27
3.1 Apreensão do veículo ................................................................................................. 27
3.2 Consolidação da posse e da propriedade ................................................................... 28
3.3 Purgação da mora....................................................................................................... 28
3.4 Da restituição do veículo ........................................................................................... 29
3.5 Das astreintes ............................................................................................................. 30
3.6 Da contestação ........................................................................................................... 32
3.7 Comparecimento espontâneo ..................................................................................... 34
3.8 Do princípio do contraditório .................................................................................... 35
3.9 Do princípio da ampla defesa ou da amplitude do direito de ação ............................ 36
4 DOS ASPECTOS DO JULGAMENTO DA AÇÃO .................................................... 38
4.1 Extinção pela ausência de pressupostos processuais ................................................. 38
4.2 Extinção pela ausência de comprovação da mora...................................................... 38
4.3 Veículo não apreendido ............................................................................................. 39
4.4 Réu não citado ........................................................................................................... 40
4.4.1 Citação por hora certa ......................................................................................... 41
4.4.2 Citação por edital ................................................................................................ 42
4.4.3 Curador Especial................................................................................................. 43
4.5 Extinção do processo por abandono da causa ............................................................ 44
4.5.1 Intimação pessoal ............................................................................................... 45
4.6 Sentença procedente .................................................................................................. 46
4.7 Acolhimento dos pedidos do autor ............................................................................ 47
4.8 Sentença improcedente .............................................................................................. 47
4.9 Da sentença improcedente e da multa do Decreto-lei................................................ 48
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 51
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 56
10

INTRODUÇÃO

O trabalho de pesquisa realizado demonstrando os aspectos teóricos e práticos da ação


de busca e apreensão em alienação fiduciária com base no Decreto-lei nº 911 de 1969 tem
como objetivo demonstrar o procedimento teórico e as aplicações na prática processual tanto
no procedimento adotado pela legislação especial como nos aspectos do Código de Processo
Civil em que são aplicados diante das lacunas do Decreto-lei que versa exclusivamente sobre
a alienação fiduciária.
A pesquisa aborda os aspectos práticos e teóricos desta ação e os entendimentos e
controvérsias pacíficadas pelas alterações legislativas, bem como as posições dos juízes
singulares nas decisões e os aspectos para resolver a questão apontada com a aproximação da
teoria e da prática.
O estudo apresenta a similitude da ação de busca e apreensão visando a retomada de
veículos com os entendimentos práticos dos operadores do direito num procedimento especial
que garante o contraditório apesar de não atingir efetivamente o acolhimento das teses de
defesa.
No mais, destaca-se as consequências e as soluções processuais e práticas visando o
exercício do direito do credor perante a poder judiciário e as intitulações no âmbito dos
devedores quanto à defesa.
11

1 O NEGÓCIO FIDUCIÁRIO

1.1 Do momento histórico do Decreto-lei

O negócio fiduciário tem origem da Inglaterra denominado como “trust” em que tinha
como base o uso das coisas e nisso o direito era apenas de administrar. Com a vontade de
busca desses bens por parte de quem era proprietário resultou na existência da alienação
fiduciária, assim com a evolução histórica, o Decreto-lei foi criado em razão da necessidade
de positivação dos negócios fiduciários sem proteção especifica que eram realizados antes do
ano 1965. (CHALHUB, 2017)
Em razão das inúmeras práticas comerciais sem a devida proteção, o Brasil teve como
inicio de positivação a Lei nº 4.864/65 - Lei de Estímulo à Indústria de Construção civil, sob o
conceito de cessão de crédito de forma fiduciária, sendo que no ano de 1965 denominada a
Lei de Mercado de Capitais, foi regularizada e efetivadamente criada à lei de alienação
fiduciária em garantia de bem móvel.
O surgimento do Decreto-lei 911/69 vigente foi necessidade pois as leis anteriores
apresentavam lacunas que não resolviam o direito das partes que somente foi possível a
regularização com a edição deste Decreto.
A alienação fiduciária trata-se de instrumento de garantia em que as instituições
financeiras fazem com o consumidor que tem essa obrigação um caráter possessório e
garantia real.
O Decreto-lei objeto da pesquisa tem como edição em 1º de Outubro de 1969 pelos
Ministros da Marinha de Guerra do Exército e da Aeronáutica Militar especificadamente na
era da Ditadura Militar pelo governo de Emílio Garrastazu Médici visando a proteção das
instituições bancários e os negócios jurídicos que eram realizados.
Foi criado diante de forte influencia dos bancos em que de certo modo financiavam o
movimento do país, em que mesmo diante da ditadura militar, o crescimento do PIB era
significativo tendo em vista as atividades de produção e o poder aquisitivo em mãos da classe
media.
Com essa nova era, conhecida como “milagre econômico”, as instituições financeiras
tiveram que assegurar veementemente os seus empréstimos, mantendo-se como proprietário
12

do bem entregando apenas a posse às pessoas permitindo-lhe a retomada diante do


inadimplemento.
Assim, até os dias atuais que ocorre em toda economia, os bancos ajudam no
crescimento das situações econômicas das populações para a aquisição de bens, no entanto,
prezam por garantia.
Logo, o Decreto-lei tem como base o regime militar como endurecimento político e a
necessidade de regulamentação diante do crescimento econômico do país e a possibilidade de
classes inferiores adquirir novo bens e adentrar a novas condições financeiras preservando
também a relação negocial.

1.2 Alterações do Decreto-lei

Com a promulgação da Constituição Federal no ano 1988 que tem como marco
fundamental para os direitos dos indivíduos do país, visto que asseguravam direitos dos
cidadãos que não previam a legislação anterior.
O Decreto criado no ano de 1969 apesar da vigência até os dias atuais, não contém
nenhum indicio de ser revogado por outro pois ainda tem eficácia as financeiras e aos
adquirentes.
Em consoante aos entendimentos da Constituição da Republica Federativa do Brasil
de 1988, fizeram-se necessárias alterações no Decreto a fim de assegurar os novos direitos da
época e adentrar ao procedimento com ampla defesa e contraditório.
Assim, foi alterado por duas leis, sendo uma a Lei nº 10.931/2004 e a segunda pela Lei
nº 13.043/2014 – Código de Processo Civil que iniciou a vigência em 2015 imputando novas
regras no âmbito processual das ações de busca e apreensão e os aspectos defensivos.
A Lei nº 10.931/2004 trouxe à vigência o art. 3 § 2 do Decreto em que o devedor
poderá ter o seu veículo restituído livre de ônus, desde que após a apreensão do bem realize
no prazo de 5 (cinco) dias o pagamento dos valores indicados pelo credor na petição inicial,
sendo as parcelas vencidas e vincendas.

§ 2o No prazo do § 1o, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida


pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese
na qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada pela Lei 10.931, de
2004)
13

Neste dilema, por muito tempo houve discussão quanto aos valores da purgação da
mora, quais seriam o pagamento do valor das parcelas vencidas ou o pagamento do valor das
parcelas vencidas e vincendas pois anteriormente a essa nova redação, com a apreensão do
veículo, o réu poderia requerer o cálculo das parcelas em aberto até a data de apreensão e
efetuar pagamento para ter o veículo restituído e possibilitando a manutenção do contrato.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DE CONTRAVOÉRISA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO DE
BUSCA E APREENSÃO. DECRETO-LEI N. 911/1969. ALTERAÇÃO
INTRODUZIDA PELA LEI N. 10.931/2004. PURGAÇÃO DA MORA.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE PAGAMENTO DA
INTEGRALIDADE DA DÍVIDA NO PRAZO DE 5 DIAS APÓS A EXECUÇÃO
DA LIMINAR.
1. Para fins fo art. 543-C do Código de Processo Civil: "Nos contrato firmados na
vigência da Lei n. 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após
a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida
- entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo credo na inicial -,
sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação
fiduciária".
2. Recurso especial provido.
(SRJ - REsp: 1418593 MS 2013/0381036-4, Relator: Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, Data de Julgamento: 14/05/2014, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de
Publicação: DJe 27/05/2014)

Pacificando o entendimento, o Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp


n. 1.418.593/MS no ano de 2.014 decidiu que a purgação da mora deveria ser realizada de
acordo com o valor determinado na exordial, sendo ele, o valor das prestações vencidas e
vincendas.
A explanação neste ponto adentra a posição apontada pelo Superior Tribunal de
Justiça reconhecida pelos Tribunais de Justiça e pelos Magistrados em que com a alteração do
Decreto-lei por meio da lei nº 10.931/2004, altera significativamente a defesa dos devedores
para reaver o bem apenas com o pagamento dos valores integrais da divida em aberto.
Por verdade, tanto quanto benéfica a Instituição financeira, depara-se com
desproporcionalidade para com o devedor que o seu inadimplemento por vezes não são de
espontânea vontade e sim por casos de força maior e por isso não efetuam o pagamento das
parcelas.
Em análise de que perder o bem por não ter efetuado o pagamento de parcelas é uma
medida de justiça em favor do credor, quanto ao devedor, não há proporcionalidade pois o
mesmo está inadimplente porque não pôde efetuar o pagamento das parcelas e no momento da
perda da posse do bem deverá realizar a quitação integral do contrato para ter o seu bem
devolvido, o que demonstra desarrazoabilidade.
14

Assim, com as alterações apresentadas pela nova lei 2004 e o Código de Processo
Civil de 2015 os aspectos do procedimento da ação de busca e apreensão e do Decreto-lei
tiveram um novo patamar quanto aos aspectos defensivos e de julgamentos favorecimento em
certa parte ao proprietário do veículo.

1.3 Natureza do Decreto-lei

O decreto-lei tem a previsão de estabelecer as relações negociais entre as instituições


financeiras com os consumidores que desejam adquirir um veículo mantendo-o como garantia
real do contrato de alienação fiduciária que com o inadimplemento das parcelas poderá
ensejar a execução desse veículo posto em garantia.
A relação negocial destes contratos tem como fundamento e característica a garantia
real, pois é dado o veículo em garantia em eventual inadimplência que ensejaria a retomada
de veículo para a satisfação dos valores da obrigação principal.
Tem como obrigação indivisível o veículo posto em a garantia pois acompanha o
contrato e apenas com o pagamento da divida principal livra o bem de ônus. Assim, o credor
pode realizar a venda do bem para garantir o adimplemento dos valores conforme prevê o §4º
do artigo 1º do Decreto-lei.

§ 4º No caso de inadimplemento da obrigação garantida, o proprietário fiduciário


pode vender a coisa a terceiros e aplicar preço da venda no pagamento do seu crédito
e das despesas decorrentes da cobrança, entregando ao devedor o saldo porventura
apurado, se houver.

Essa garantia possibilita a instituição financeira ter como propriedade o veículo no


caso de inadimplência, mas também admite no curso do contrato mediante o pagamento do
convencionado a utilização mediante pagamento de parcelas pactuadas e com o término do
pagamento o veículo passará para a sua propriedade.
Neste diapasão, a Nobre Doutrinadora Maria Helena Diniz no Curso de Direito Civil
Brasileiro na pagina 522, da 29ª Edição, preleciona.

Colocando o credor a salvo da insolvência do devedor, com sua outorga o bem dado
em garantia sujeitar-se-á, por vínculo real, ao adimplemento da obrigação contraída
pelo devedor. Tem por escopo garantir ao credor o recebimento do débito, por estar
15

vinculado determinado bem pertencente ao devedor ao seu pagamento. (DINIZ,


Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 29ª Edição, p. 522)

A relação prevista nesta legislação tem como fundamento a concessão de valores para
adquirir um veiculo mantendo-o como garantia no caso de inadimplência das parcelas.
Todavia esses contratos visam unicamente à possibilidade de entregar o veiculo ao contratante
em que ele mantém apenas a posse direta do bem, por meio de pagamento das prestações
concedidas pela instituição financeira.
Tem por estudo e procedimento administrativo a aprovação do crédito admitindo a
aquisição do bem mediante pagamento de parcelas fixas, sendo que figurado como
consumidor o particular com Cadastro de Pessoa Física, bem como as pessoas jurídicas
cadastradas por meio de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica.
Nestes termos, o contrato de alienação fiduciária entre as partes tem como objeto o
veículo que é dado em posse ao outro como garantia real indivisível que poderá ser cobrado
no caso de inadimplemento das parcelas pactuadas em razão de ser o contrato característico
de uma garantia real que é o veículo.
16

2 DOS ASPECTOS TEÓRICOS DA AÇÃO

2.1 Pressupostos processuais

Para o ajuizamento das ações de busca e apreensão com fundamento na retomada de


veículo objeto da garantia do contrato, deverá o credor apresentar documentos que são
indispensáveis para o regular andamento do processo tendo em vista a especialidade do
procedimento e da forma que deve ser conduzida.
No momento do ajuizamento da ação de busca e apreensão, a instituição financeira
credora deverá demonstrar a cédula de crédito bancário assinada pelo devedor com o veículo
objeto da garantia descriminado no teor da cédula.
Além da cédula de crédito, tão menos importante, o documento de transferência do
veículo assinado pelo devedor, o certificado de alienação fiduciária no veículo denominado
como gravame, bem como demonstrar o endereço atualizado em que o veículo se encontra
para o deslocamento do Oficial de Justiça para realizar a busca e apreensão do veículo e
consequentemente a citação do devedor.
Com a demonstração preliminar desta documentação, deverá ainda ser realizada a
notificação do devedor sobre a mora, enviada por notificação extrajudicial no endereço
previsto no contrato informado pelo devedor.

Art. 3o O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na


forma estabelecida pelo § 2o do art. 2o, ou o inadimplemento, requerer contra o
devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual
será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em plantão judiciário. (Redação
dada pela Lei nº 13.043, de 2014)

A mora é um requisito previsto como pressuposto essencial à propositura da ação de


busca e apreensão, como prevê o Decreto-lei quando expõe que somente será realizada a ação
de busca e apreensão quando preencher os requisitos e que tenha o devedor ciência da mora
comprovadamente nos autos.
Os pressupostos processais exigidos nestas ações são os requisitos necessários que
demonstram ao juízo o negócio fiduciário e a relação entre as partes. (CHALHUB, 2017)
17

2.2 Comprovação da mora

Como supratratado, a notificação extrajudicial trata-se de um pressuposto processual


indispensável para o ajuizamento da ação e que corrobora no andamento regular do processo.
A notificação extrajudicial ou realizada pelo cartório de notas e títulos tratada como
comprovação da mora, tem como necessidade em informar o devedor das parcelas em aberto
e dar ciência da possibilidade do ajuizamento da ação de busca e apreensão.
Embora simplório o procedimento para caracterizar a mora do réu, o dispositivo
original do Decreto-lei 911/69 já previa a importância da notificação como pressuposto
processual, contudo tinha um parecer diferente da nova redação do §2ª do art. 2º do Decreto,
pois previa que a mora decorreria do simples vencimento do prazo para pagamento e por meio
de notificação do Cartório de Títulos e Documentos ou por protesto realizado pelo cartório de
protesto de título, assim seguindo:

§ 2º A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e poderá ser


comprovada por carta registrada expedida por intermédio de Cartório de Títulos e
Documentos ou pelo protesto do título, a critério do credor.

Não obstante, com a redação original do dispositivo, a interpretação deixava lacunas


pois entendia que a notificação poderia apenas ser enviada ao devedor sem constar contudo
que o aviso de recebimento deveria ser demonstrado que estava assinado por terceiro ou pelo
devedor.
Com a alteração apresentada pela Lei n° 13.043 de 2.014, o §2º do art. 2 foi alterado
suprindo as lacunas e prevendo que a comprovação da mora decorreria do simples vencimento
da obrigação, contudo exigindo que a notificação fosse recebida para comprovar a mora.
Assim, a redação dada pela alteração:

§ 2o A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e poderá ser


comprovada por carta registrada com aviso de recebimento, não se exigindo que a
assinatura constante do referido aviso seja a do próprio destinatário.

Pacificado o entendimento, denota-se que somente poderá ser objeto de pressuposto


processual a notificação devidamente assinada pelo devedor ou por terceiro, sendo que
enviada no endereço do contrato.
18

Ademais, diante desta comprovação da mora o Superior Tribunal de Justiça antes


mesmo da alteração do Decreto em 2.004 já havia o causídico entendimento que é aplicado
até os dias atuais da comprovação da mora e da sua necessidade com a Súmula nº 72 “A
comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado
fiduciariamente”.
Neste compasso, a inadimplência de parcela contratual enseja por si só a razão de
extinção do contrato entre as partes podendo consolidar a propriedade em nome da autora e
para isso deve o devedor ser notificado por meio de notificação extrajudicial possibilitando o
autor propor a medida necessária permitida para a retomada do veículo, que como apontado
poderá ser realizado pela ação de busca e apreensão. (CHALHUB, 2017)

2.3 Liminar

A ação de busca e apreensão tem como objetivo retomar o veículo para a sua posse a
fim de realizar a venda e aplicar o valor da venda no saldo em aberto do devedor, visto que
diante da primeira parcela inadimplida, as parcelas subsequentes vencem conforme a lei.
Para atingir o fim destas ações, se faz necessário de forma liminar o pedido de tutela
provisória buscando com o ajuizamento da ação conseguir a apreensão do veículo antes de
que o devedor tome ciência da ação e por tratar-se de bem móvel, locuplete o bem
impossibilitando o credor de retomar para a sua posse.
Desta forma, para ver o direito aplicado assegura o Código de Processo Civil as tutelas
provisórias que poderão ser requeridas com o intuito de conceder efeitos antes da sentença
final de mérito possibilitando a realização da apreensão do bem atingindo o direito imposto no
contrato.
Todavia, esse direito tanto é assegurado pelo art. 3º do Decreto-lei como
complementado pelo art. 300 do Código de Processo Civil.

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir
caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir
a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
19

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação


prévia.
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

A concessão das tutelas quando requeridas e preenchidas os requisitos visam proteger


o direito do credor, visto que restringe a principio da ampla defesa e do contraditório que
prevê a Constituição da Republica de 1988.
O juiz ao se deparar com um pedido de tutela antecipada, deve analisar perigo de dano
e a probabilidade de risco ao resultado do processo para assim deferir a liminar requerendo a
apreensão de imediato do veículo ou indeferir a medida requerida entendendo que não há os
pressupostos plausíveis.
Com a medida imposta pelo Decreto-lei nº 911/69 os veículos podem ser apreendidos
liminarmente se estiverem preenchidos os pressupostos processuais da ação e do deferimento
da tutela provisória em atendimento às terminologias perigo de dano e a probabilidade de
risco ao resultado do processo “periculum in mora” e “fumus bonis iuris”.

2.4 Fumus Bonis Iuris

A relação do processo o contrato deve ser pautada em segurança jurídica e atender a


finalidade jurídica processual para que não pratique danos às partes.
No entanto, quando se trabalha com a prática de tutelas provisórias antecipada no
processo, certamente o réu poderá ser prejudicado ainda que instantaneamente, isso porque
nas ações de busca e apreensão visa à retomada do veículo bem que por muitas vezes tem
diversas parcelas pagas e por estar em um período de insuficiência financeira é retirado do
devedor.
O fumus bonis iuris tem como tradução literal a fumaça do bom direito.
O direito aqui garantido neste requisito trata-se de importante verificação de que a
probabilidade de veracidade do direito ora alegado pelo autor é evidente por meio de prova
inequívoca e verossimilhança da constituição do direito postulado.
A prova inequívoca apresentada, tem como fundamento dos documentos preliminares,
que são a notificação extrajudicial e o contrato que demonstra a inadimplência do
consumidor.
20

Por verossimilhança consta pelo documento particular da relação negocial entre as


partes, conforme atende a lição abaixo:

“A expressão prova inequívoca da verossimilhança é, no mínimo, contraditória. A


mais correta interpretação dada aos requisitos é a de juízo de probabilidade de
acolhimento das alegações pelo autor em sua inicial; é mais forte do que uma
simples possibilidade, inerente às liminares de cautela, mas menos contundente do
que a certeza, esta só obtida com o desenvolvimento completo do processo e a
prolação da sentença definitiva de mérito (cognição exauriente)”. (BARROSO, 2000
apud FERREIRA, 2009)

A tutela provisória concedida no inicio do processo tem como finalidade a retomada


do veículo objeto do contrato com garantia real e para o deferimento dessa liminar um dos
requisitos é que com a analise superficial dos documentos apresentados o juízo entenda que o
autor tem o efetivo direito sobre o que está requerendo em juízo.

2.5 Periculum in Mora

Neste mesmo seguimento, paralelo ao fumus bonis iuris utiliza-se o periculum in mora a
fim de demonstrar o direito para o deferimento da liminar e a necessidade da apreensão do
veículo em caráter de urgência e preliminar.
Trata-se de requisitos indispensáveis para o deferimento da liminar que sem demonstrar
a evidência ao juízo, impossibilitará de retomar o bem objeto da ação que visa apenas a
garantia.
O tema abordado tem como fundamento o perigo da demora que nada mais é do que a
demora da decisão poderá ensejar dano irreparável ao credor que neste caso verifica-se a
perda de vista do veículo bem como as avarias que poderão ocorrer se o veículo se manter na
posse do devedor.
A relação quando se atende ao Decreto-lei 911/69 para as liminares tem como razão no
periculum in mora a imediata retomada da garantia real do contrato, pois com a demora da
decisão final de mérito do processo, poderá o devedor esconder o veículo ou até mesmo a
depreciação do bem.
No entanto, ainda que a princípio o dano seja irreparável, a natureza da ação e a
retomada da garantia, não obstante, se restar impossível de retomar o bem, o Decreto-lei
admite a conversão da ação de busca e apreensão em ação de execução de título extrajudicial.
21

Portanto, deve demonstrar ao juízo o dano que será causado quando o a liminar não for
deferida e assim poderá com a demora perder o bom estado físico do bem em razão da
depreciação.

2.6 Indeferimento da Liminar

Quanto ao exposto nos tópicos acima, adentramos nas questões das liminares quando as
tutelas provisórias são indeferidas por fatores externos a vontade do credor que por vezes não
consegue demonstrar ao juízo todos os pressupostos processuais válidos.
A liminar visa a retomada do veículo de forma preliminar a fim de evitar que o devedor
tenha conhecimento da ação e esconda o bem impossibilitando a apreensão, bem como
depreciar o bem no momento da sua apreensão.
Contudo, para o deferimento há a necessidade de preenchimento dos requisitos de
periculum in mora e fumus bonis iuris, porquanto serão analisados pelo Juízo que assim irá
deferir a tutela se os pressupostos estiverem preenchidos.
Não obstante, além desses requisitos, há como regra a informação de documentos dos
quais o Decreto-lei prevê para o deferimento da medida, pois não só demonstrar o perigo da
mora e a probabilidade de danos, deverá demonstrar a constituição em mora, o gravame, o
contrato e o documento de transferência.
Ocorre que por vezes não é possível a regularização dessas documentações.
Assim, sem a comprovação dos documentos, a liminar é indeferida e o réu pode ser
citado ou a ação ser extinta sem resolução do mérito por ausência de pressupostos conforme
prevê o Código de Processo Civil.

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento
válido e regular do processo;

Entende-se como pressuposto necessário a notificação extrajudicial quando não são da


forma prevista no Decreto-lei bem como da consolidada pelos Tribunais, visto que o juízo
atenderá ao dispositivo do Código de Processo Civil quando o aviso de recebimento da
notificação extrajudicial não é entregue ao devedor ou a terceiro, retornando o aviso de
entrega como mudou-se, ausente, não procurado, endereço insuficiente e recusado.
22

Nessas circunstancias, o pressuposto processual não foi concretizado por delimitações


alheias a vontade do credor, que terá a sua liminar indeferida e adentrar a uma outra medida
do Decreto-lei que é o ajuizamento da ação de execução de título extrajudicial.
Todavia, o credor realiza o contrato e pactua com o consumidor exigindo documentos a
fim de verificar a veracidade do mesmo e no mesmo passo requer comprovantes de residência
que quando é enviado a notificação para comprovar a mora, deve-se atentar ao endereço
previsto no contrato e nos comprovantes de residência, que ao contrário deste endereço, os
juízo entendem por indeferir a tutela postulada.
O Decreto-lei prevê taxativamente a necessidade de assinatura de terceiro ou do próprio
devedor em cientificar o aviso de recebimento para dar validade na mora.

PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL RECEBIDA POR TERCEIRO.
ENCAMINHADA AO ENDEREÇO DO DEVEDOR. NOTIFICAÇÃO
ENCAMINHADA POR ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. MORA CONHECIDA.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Em 2014 com o
advento da Lei 13.043 /14 o Decreto Lei 911 /69 sofreu alteração, onde passou a
entender que a notificação extrajudicial encaminhada ao devedor e recebida por
terceiro, reconhece a mora. 2. A nova edição do parágrafo 2º do artigo 2 , do
Decreto Lei nº 911 /69 nada mais fala em notificação extrajudicial encaminhada por
Cartório de Títulos e Documentos para reconhecimento da mora. 3. Apelação
conhecida e parcialmente provida, apenas para reconhecer a mora, devendo os autos
voltarem a vara de origem para prosseguimento do feito. (PRIMEIRA CÂMARA
CÍVEL 06304620720178040001 AM 0630462-07.2017.8.04.0001 (TJ-AM)
MARIA DAS GRAÇAS PESSOA FIGUEIREDO.)

O Superior Tribunal de Justiça tem o entendimento consolidado e com a alteração do


Decreto-lei em 2.004 os respectivos tribunais pacificaram de que as notificações devem
retornar com o aviso de recebimento assinada, não importando se a mesma foi enviada por
Cartório de Notas e Títulos ou pelo escritório de advocacia do credor.
Por outro lado, se esse requisito não é atendido, poderá ensejar o indeferimento da
liminar ou ainda mais gravoso, a extinção do processo sem resolução do mérito por ausência
de pressupostos processuais.
A liminar quando é indeferida em despacho preliminar, considerando as imposições do
Código de Processo Civil, pode ser interposto o recurso de agravo de instrumento contra a
decisão interlocutória.

2.7 Agravo de Instrumento


23

A premissa maior nas ações de busca e apreensão é a incessante tentativa de retomar a


garantia real da cédula de crédito bancário. No entanto, como supramencionado, a liminar é
indeferida haja vista o não cumprimento dos requisitos essenciais para o ajuizamento da ação.
Salienta-se que são inúmeros motivos dos quais os juízes utilizam para indeferir as
liminares, sendo eles: a existência de ação de revisão de contrato do mesmo contrato, ação de
consignação em pagamento tramitando, o retorno negativo da notificação enviada no
endereço do contrato, o protesto por edital como forma de comprovação da mora e ainda
quando o veículo está em nome de terceiro.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.CONTRATO SWAP. AÇÃO REVISIONAL.


VARIAÇÃO CAMBIAL. CUMULAÇÃO DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
COM JUROS, MULTA E TAXAS.IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO
STJ.DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. AÇÃO PARCIALMENTE
PROCEDENTE. APELAÇÃO DA DEVEDORA PARCIALMENTE PROVIDA.
Indevida a cobrança de comissão de permanência cumulada com juros, multa e
taxas, ainda que estabelecidos no contrato,conforme precedentes do C. Superior
Tribunal de Justiça (STJ).CIVIL. BEM MÓVEL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.
AÇÃO DE DEPÓSITO. MORA DESCARACTERIZADA EM AÇÃO
REVISIONAL DO CONTRATO. CARÊNCIA DA AÇÃO DE DEPÓSITO
SUPERVENIENTE. PROCESSO EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
APELAÇÃO DA CREDORA IMPROVIDA. Se, em ação revisional, foi
reconhecida a existência de verbas indevidas na pretensão de cobrança de valores
estabelecidos em contrato de financiamento com cláusula de alienação fíduciária,
tipificada a carência superveniente da ação de depósito processada simultaneamente,
ante a descaracterização da mora do devedor-fiduciante.
(TJ-SP - APL 992090441400 SP, Relator: Adilson de Araujo, Data de Julgamento:
11/05/2010, 31ª Câmara de Direito Privado, Data Publicação 17/05/2010)

No Código de Processo Civil de 2.015 dispõe o remédio aos aplicadores do direito


quando essas liminares requeridas são deferidas ou indeferidas, utilizando do recurso de
agravo de instrumento previsto no Capítulo III da lei 13.205 de 16 de março de 2.015 nos
artigos 1.015 e seguintes, visando a reforma pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado da
decisão proferida pelo Juízo.

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
(...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
24

O recurso de Agravo de Instrumento é utilizado para recorrer de decisões interlocutórias


que não põem fim ao processo. Tratam-se de decisões que tem caráter decisório, mas que é no
transcorrer do processo e não resolver definitivamente o mérito das partes.
A medida utilizada para a reforma dessas decisões, tem como base para a interposição
rol taxativo que somente são admitidos quando estão dentro desse parâmetro, visto que ao
contrário o Relator que recebe o recurso, nega admissibilidade, com o fundamento em que há
decisões que poderão somente ser objeto de impugnações em sede de preliminar de recurso de
apelação.

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.


§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não
comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser
suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão
final, ou nas contrarrazões.

O recurso de agravo de instrumento quando serão interpostos quando autorizados pelo


rol taxativo no prazo de 15 dias úteis, conforme o §5º do art. 1.003 do Códex.
O recurso será interposto perante ao Tribunal de Justiça, com documentos importantes
dos autos de primeira instancia formando-se um instrumento a fim de que os
Desembargadores tenham ciência do ocorrido e do tramite.
Com o caráter de especialidade, ainda que os processos tendem serem digitalizados, os
instrumentos são necessários quando os processos de primeiro grau forem físicos.

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:


I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso
I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.
§ 1o Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e
do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais.

Tão importante quanto a formalização dos instrumentos em anexo ao recurso, devem ter
em conta de que quando o processo da primeira instância for físico, deverá o recorrente
comprovar em até 3 dias úteis ao juízo a interposição do agravo de instrumento no segundo
grau, sob pena de não conhecimento.
25

Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia
da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da
relação dos documentos que instruíram o recurso.
§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no
caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.
§ 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde que arguido e
provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento.

O deferimento da liminar é taxativo a possibilidade de interposição do recurso de


agravo de instrumento podendo reverter a decisão. O recurso quando é dado provimento
revertendo a decisão deverá os autos ser remetido ao juízo dos autos do processo da ação de
busca e apreensão e com a reforma deverá seguir o julgamento adotado.

2.8 Emenda a Inicial

Neste tópico abordaremos um desdobramento que vem se consolidando nos tópicos


iniciais deste trabalho, onde com as alterações legislativas que influenciarão no Decreto-lei, o
Código de Processo Civil de 2015 tem como inovação o direito do credor quando não está
regular a petição inicial e os seus documentos a realização da emenda para regulariza os
vícios e assim o juízo prosseguirá com o feito.
Como já previamente acordado, o Decreto-lei teve sua promulgação na época da
ditadura militar e além da sua alteração por lei em 2.004, a vigência deste é impactante até os
dias atuais.
Todavia, em relação a possibilidade de emenda a inicial na ação de busca e apreensão
sempre foi um tema em que houve muitas discussões pela impossibilidade ou pela
possibilidade de realiza-las.
O Código de Processo Civil de 2015 veio com uma nova perspectiva em sua redação
pois busca a primazia da resolução do mérito e com isso infringe o entendimento inicial do
procedimento da busca e apreensão em que após a vigência deveria buscar atingir o mérito da
ação, e assim o entendimento consolidou possibilitando os autores em emendar a petição
inicial quando não estão regulares a fim de prosseguir com o processo.
A ação de busca e apreensão de veículos por se tratar de procedimento especifico,
necessita de cumprir os pressupostos processuais. Mas por certas vezes, como já esclarecido
anteriormente, quando os autos não estão regulares, poderá o juízo determinar a emenda a
inicial no prazo de 15 dias úteis.
26

Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos
arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o
julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a
emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou
completado.

Porquanto o procedimento da ação é simplório e não detém de dilação probatória ou


necessidade de perícia e audiências, a possibilidade de emenda a inicial com o Código de
Processo Civil o princípio da primazia da resolução do mérito nestes casos.
Esse princípio tem enorme influência aos juízes e aos Tribunais.

TJ-GO - AGRAVO DE INSTRUMENTO AI 02562898420168090000 (TJ-GO)


Data de publicação: 26/09/2016 Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
DE BUSCA E APREENSÃO. NOTIFICAÇÃO DA MORA. NECESSIDADE DE
IDENTIFICAÇÃO DO RECEBEDOR. POSSIBILIDADE DE EMENDA DA
PETIÇÃO INICIAL. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA RESOLUÇÃO DO
MÉRITO COMO NORMA FUNDAMENTAL POSITIVADO PELO NOVO CPC .
1. Para a constituição do devedor em mora nos contratos de alienação fiduciária, é
imprescindível a comprovação de encaminhamento de notificação ao endereço
constante do contrato, bem como de seu efetivo recebimento. 2. Com a positivação
do princípio da primazia da resolução do mérito com advento do Novo Código de
Processo Civil , torna-se obrigatória a abertura de prazo para o autor emendar sua
petição inicial para trazer a notificação da mora do devedor com o respectivo
comprovante de recebimento. Agravo de Instrumento conhecido e parcialmente
provido.

Em atenção o principio da primazia da resolução do mérito tão importante ao novo


patamar do direito processual civil brasileiro extrai o sentido de que deve o poder judiciário
realizar de todos dos meios legais que tem em mãos para possibilitar as partes o saneamento
do processo para atingir a decisão de mérito satisfazendo o interesse e solucionando o conflito
entre as partes.
27

3 DOS ASPECTOS PRÁTICOS E TEÓRICOS DA DEFESA

3.1 Apreensão do veículo

Com o inadimplemento das parcelas contratuais e após cumprida as obrigações de


emendar a inicial ou o deferimento direto da medida no limiar do processo, o credor poderá
realizar a apreensão do veículo que está em posse de devedor retornando-o para a sua posse.
Embora contenha procedimento simplório quanto à retomada do veículo, no ambiente
prático processual por vezes prolonga anos para obter êxito pois o devedor ciente do
inadimplemento e sabido da praxe da ação de busca e apreensão pelas instituições financeiras
acabam escondendo o bem ou até mesmo realizam a venda para terceiros.
Insta salientar que visando restringir a venda para terceiros, é registrado no gravame a
alienação fiduciária o que impediria de realizar a transferência de propriedade sem o
consentimento do credor responsável por aquela inscrição.
Destarte, objetivando o cumprimento do mandado que deve ser realizado por Oficial
de Justiça, são realizadas diversas diligências em diversos endereços nas mediações
requeridas pelo credor para verificar a existência do veículo estacionado ou em outras
residências.
O juiz diante da impossibilidade de apreensão em endereços indicados pelo réu,
poderá deferir caso seja solicitado pela parte, a busca por meio dos sistemas nacionais do
Bacenjud, Renajud, Infojud para encontrar novos endereços ou ainda oficiar empresas que
contenham bancos de dados para informar os endereços do devedor.
A retomada do veículo é o objetivo desta ação e tem como fundamento legal o art. 3º
do Decreto-lei 911/69 que prevê que no caso de inadimplência do contratante, poderá ser o
veículo apreendido por meio da tutela provisória e com a medida cumprida o devedor poderá
apresentar a contestação.
28

3.2 Consolidação da posse e da propriedade

O veículo quando é apreendido por Oficial de Justiça deve ser imediatamente


informado ao juízo por meio da juntada do auto de preensão do bem nos autos contando o
estado físico em que foi encontrado e apreendido, bem como por certidão valendo-se da fé
pública informando a citação do réu.
O veículo deverá ser removido para pátio credenciado ou entregue ao fiel depositário
indicado anteriormente pelo credor na petição inicial para que fique responsável por zelar
pelas condições em que o veículo foi apreendido.
Este procedimento é o que prevê o §13º do art. 3 do Decreto-lei 911/69.

§ 13. A apreensão do veículo será imediatamente comunicada ao juízo, que intimará


a instituição financeira para retirar o veículo do local depositado no prazo máximo
de 48 (quarenta e oito) horas. (Incluído pela Lei nº 13.043, de 2014)

Nesta mesma oportunidade, a legislação determina que o devedor deve entregar os


documentos do veículo que estão em sua posse para o Oficial de Justiça quando da remoção
do veículo de sua localidade, conforme o § 14º do art. 3.
Com o cumprimento da liminar apreendendo o veículo e decorrido o prazo de 5 dias, o
bem é consolidado na posse para o credor que poderá realizar as providências que entender
necessárias para a satisfação do crédito e liquidar a divida com o devedor quando o valor for
possível.
A consolidação da posse e da propriedade em que o preleciona o §1º do art. 3º do
Decreto-lei é a medida assecuratória em que os contratos de alienação fiduciária tem, pois
passam apenas a posse do veículo para o réu utilizar, contudo a propriedade é do credor que
tem o direito de requerer em qualquer momento de inadimplência do contrato desde que
comprovado a mora.

3.3 Purgação da mora

A legislação dos contratos de alienação fiduciária tem como intuito a proteção das
instituições financeiras pois como todo o exposto neste trabalho, as medidas impostas são
29

favoráveis exclusivamente aos credores que podem retirar o veículo do financiado


imediatamente por estarem inadimplentes mesmo que apenas de uma parcela, enquanto já
haviam pagos o correspondente de 90% do contrato.
No entanto, visando assegurar também o financiado, o decreto-lei em sua primeira
redação, previa que com a apreensão do veículo no prazo de 5 dias poderia o devedor requerer
o pagamento das parcelas em aberto conforme o cálculo de contador judicial e assim teria o
bem restituído livre de ônus.
Com a alteração legislativa dada pela lei nº 10.931 de 2004, a purgação da mora foi
alterada fazendo que para que o veículo fosse restituído livre de ônus ao financiado deveria
realizar a purgação da mora correspondente a totalidade da dívida pendente apresentada pelo
credor na inicial.
Por muito tempo, se discutiu qual seria o valor da divida pendente para a purgação da
mora e o Superior Tribunal de Justiça entendeu que para a purgação da mora no contrato de
alienação fiduciária nas ações de busca e apreensão o valor correspondente seria o das
parcelas vencidas e vincendas do contrato mais as custas processuais e honorários
advocatícios. (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2014).
Desta forma, o veículo pode ser retomado para a posse do credor caso esteja o
financiado inadimplente, contudo no prazo de 5 dias poderá o financiado efetuar o pagamento
das parcelas vencidas e vincendas do contrato para que o veículo seja restituído livre de ônus
e consequentemente o contrato seja quitado sendo baixado inclusive o gravame de alienação
fiduciária e a relação contratual entre as partes se exaure.

3.4 Da restituição do veículo

O pagamento da purgação da mora das parcelas vencidas e vincendas surge o direito


do devedor em ter o veículo restituído livremente de ônus. O mencionado livre de ônus
entende-se que o veículo deverá ser restituído sem o registro do gravame e com o contrato
finalizado.
Na mesma condição de restituição do veículo pela purgação da mora, poderá surgir
esse direito quando o agravo de instrumento for dado provimento revogando a liminar
deferida pelo juízo, fazendo assim o dever de devolução do bem.
30

§ 2o No prazo do § 1o, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida


pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese
na qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada pela Lei 10.931, de
2004)

A ordem de restituição do veículo compreende na obrigação de fazer dentro da ação de


busca e apreensão que não há prazo fixado por lei, ficando por encargo do juiz em razão da
proporcionalidade e da razoabilidade.
O tempo de restituição por vezes não são fixados por não conter predeterminação na
lei e fica encargo do credor em restituir no prazo em que entende como plausível e que nem
sempre atende aos interesses do réu que requer o seu veículo imediatamente.
Assim, o juiz deve atentar-se à razoabilidade e a proporcionalidade do tempo para a
restituição do veículo ao financiado que está sem o veículo mesmo adimplente com as suas
obrigações.

3.5 Das astreintes

A obrigação de fazer da qual é a restituição do veículo, por não conter prazo pré-
fixado em lei e ficar a cargo da proporcionalidade e da razoabilidade com base na decisão do
juiz, o Código de Processo Civil de 2.015 prevê o instituto de multa diária quando não for
cumprida a obrigação de fazer.
A multa diária reconhecida com a denominação de astreintes tem origem do direito
francês e tem caráter coercitivo a fim de coagir o devedor da obrigação a cumpri-la no prazo
informado.
Este meio de forçar a cumprir a obrigação não se confunde com punição e sim num
meio de dar efetividade nas decisões judiciais quando não são cumpridas demonstrando o
poder do judiciário.
O valor da multa é revertido para parte contraria e deve ser proporcional ao valor do
processo e o detrimento da obrigação imposta pois não poderá ultrapassar o valor integral da
obrigação que deveria ter sido realizada.
O legislador prevê a multa diária como um meio acessório, pois sem a obrigação
principal não haveria como fixar.
31

Neste trabalho, o tema desenvolvido é a retomada de veículo objeto de contratos de


alienação fiduciária por meio de liminar requerida pelo credor e as astreintes surgem nesta
relação processual quando a liminar é revogada ou há purgação da mora, que nada mais é do
que o reconhecimento do pedido, assim, surgindo a obrigação do credor restituir o bem a
devedor, contudo assim não faz.
A multa cominatória deve ser fixada com base da proporcionalidade visto que
aumentará conforme o atraso da restituição do veículo, sendo que o valor integral desta não
poderá superar o valor do bem.
O código de processo civil impõe a fixação da multa conforme o art. 536 e
seguintes.

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação


de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a
efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente.

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase
de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde
que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável
para cumprimento do preceito.
§ 1º - O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a
periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa
causa para o descumprimento.
(...)
§ 4º - A multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da
decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado.

Da analise dos dispositivos legais desta medida, trata-se de imposição que pode ser
realizada tanto no cumprimento de sentença quando não são reconhecidos os direitos dos
credores, como na fase de conhecimento, que não foram restituídos os veículos.
Compete ainda ressaltar que o instituto das astreintes não são apenas da restituição dos
veículos, pois podem adentrar a questões dos pertences que foram apreendidos nos veículos
que não fazem parte do bem e devem ser restituídos.
A fixação das multas podem ser de oficio pelo juiz sendo dispensável o requerimento
da parte contrária para a incidência, bem como para quando realizadas em valor exorbitante,
poderá ser reduzido.
Por fim, tão quão importante quanto a imposição das astreintes, o Superior Tribunal de
Justiça prevê que deverá ser realizado a intimação pessoal do devedor da obrigação para que
possa ser cobrado o valor das multas.
32

Súmula 410 do Superior Tribunal de Justiça


A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança
de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

Portanto, neste tópico adentra-se à restituição do veículo por não ter prazo fixo,
compreendendo-se na proporcionalidade e na razoabilidade, no entanto, quando não restituído
poderá o juízo de oficio requerer a imposição de multa pelo descumprimento desde que tenha
sido realizado a intimação pessoal do devedor da obrigação para cumprir a determinação do
juízo no prazo. Todavia embora fixado o valor pecuniário, o juiz poderá reduzir se entender
como exorbitante.

3.6 Da contestação

A defesa na ação de busca e apreensão é o instrumento pelo qual também é apontado


no Código de Processo Civil como contestação alegando de fato matéria que impede, extingui
ou modifica o direito.
A contestação do Código de Processo Civil é disciplinada pelo art. 355 e tem como
termo inicial na regra geral, o prazo da data da audiência, do protocolo do pedido de
cancelamento da audiência e de demais hipóteses previstas no art. 231 do Código.
Ocorre que nos autos da ação de busca e apreensão o Decreto-lei prevê a
tempestividade de forma diferente pois tem com termo inicial a execução da liminar, ou seja,
após executada a tutela provisória de apreensão do veículo, o financiado tem o prazo de 15
dias para protocolizar a contestação independente de purgação da mora.
Não obstante, a questão disciplinada tem extrema relevância na prática processual pois
por diversas vezes são apresentadas as contestações antes mesmo da apreensão, ou até mesmo
da citação quando não foi possível realizar a retomada do veículo.
Por um lado, temos o direito positivo do Decreto-lei no §3º do art. 3º que dispõe a
cerca de que a contestação será apresentada somente após a execução da apreensão do
veículo.

§3o “O devedor fiduciante apresentará resposta no prazo de quinze dias da execução


da liminar.” (Redação dada pela Lei 10.931, de 2004)
33

Em confronto com o preceito do Decreto-lei há a prescrição do Código de Processo


Civil que prevê a possibilidade de apresentação da contestação antes mesmo da intimação.
Sob o prisma do competente Decreto-Lei, somente após executada a liminar, é que a
requerido será citado e, "somente se admite contestação após o cumprimento da liminar" (RT
695/109) IN C.P.CIVIL E LEGISLAÇÃO PROCESSUAL EM VIGOR, THEOTÔNIO
NEGRÃO.
Neste sentido, o tratamento a ser dado nos casos de apresentação da contestação antes
da apreensão do veículo, seria o desentranhamento da contestação com o fundamento de
extemporânea e certo tumultuo processual, vez que deve ser respeitado o previsto no
competente §3º do artigo 3º do Decreto-Lei 911/69.
A jurisprudência diverge neste sentido, contudo de forma minoritária, os que adotam
essa linha de entendimento assegura que o aludido Decreto-Lei é norma específica e portanto
prevalece sobre a norma geral.
No sentido contrário e majoritário, são diversas as decisões dos Tribunais de Justiça
dos Estados, bem como ao próprio Superior Tribunal de Justiça desde o ano de 2.004 tem o
entendimento que os devedores poderão apresentar a contestação antes da execução da
liminar, uma vez que não pode limitar o inadimplente a se defender pois estaria em desacordo
com o principio da ampla defesa e do contraditório.
Como mencionado, são diversas as decisões aceitando a possibilidade de apresentação
e análise das contestações antes da liminar conforme AREsp n. 927.121/PR, Relator Ministro
MARCO BUZZI, Dje 19/10/2016, AREsp n. 241.960/DF, Relatora Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, DJe 05/08/2016.
Assegurados neste posicionamento, este é o entendimento seguido majoritariamente
em atenção ao REsp n. 236.497/GO, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Dj
17/12/2004.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


CONTESTAÇÃO OFERECIDA ANTES DA CITAÇÃO. COMPROVAÇÃO DA
MORA. SÚMULA 72 STJ. LIMITE À DEFESA OPOSTA PELO DEVEDOR
FIDUCIANTE. ART. 3º, § 2º, DO DECRETO-LEI N. 911/69. Réu ciente da
expedição de uma ordem para apreender seus bens, não está compelido a esperar a
execução, para se defender. Tanto mais, quando se sente vítima de ilegalidade. É
lícito e salutar que se adiante e fulmine a ilegalidade. O Decreto-lei 911/69 exige
para a concessão da liminar, a comprovação da mora ou do inadimplemento do
devedor (Art. 3º, caput). O réu tendo conhecimento de que o autor não comprovou a
mora, não precisa esperar pela expropriação de seus bens, para depois apresentar
defesa. A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem
alienado fiduciariamente (Súmula 72). O momento processual para a comprovação
da mora é ato de interposição da ação, e não a posteriori. A defesa do réu não é
34

limitada ao pagamento do débito ou cumprimento das obrigações. Pode-se alegar,


por exemplo: excesso do valor da dívida, juros não previstos no contrato,
contrariedade a lei ou ao contrato. Precedentes.

Concluso portanto que a contestação exposta no Código de Processo Civil deve ser
atendida na ação de busca e apreensão, independente de sua tempestividade, pois o trazido no
Decreto-lei é imposto somente quando o veículo foi apreendido, enquanto pode ser
apresentada e discutida antes mesmo da apreensão conforme consolidado pelo Superior
Tribunal de Justiça mesmo que ainda alguns magistrados entendam como impertinentes o
recebimento da contestação fora do prazo do decreto-lei.
Em atendimento ao todo exposto, pertinente se valer de que há dois entendimentos que
seguem em vigor na prática quanto a apresentação da contestação sobre a tempestividade e
sobre as matérias apresentadas que ora podem ser acolhidas, ora outro podem não ser e o
veículo ser apreendido sem adentrar nas discussões meritórias da contestação.

3.7 Comparecimento espontâneo

Seguindo a correlação do tópico acima correlacionando com o ordenamento jurídico


brasileiro, a contestação pode ser apresentada anteriormente à execução da liminar com a
apreensão do veículo e com isso as discussões de matérias relevantes ao processo podem levar
a ação a extinção sem resolução do mérito.

Embora o tema seja de consequência da contestação apresentada extemporaneamente,


há novamente uma contrariedade com o dispositivo do Decreto-lei 911/69 quando retrata que
a contestação deverá ser apresentada após a execução da liminar.

O legislador do Código de Processo Civil no §1º do artigo 239 disciplina a


possibilidade do réu comparecer espontaneamente no processo contrariando a regra do
Decreto-lei, reconhecendo como válido o réu entrar no processo, ou seja, regularizar a
triangulação processual mesmo que o bem não tenha sido apreendido.
O dispositivo tem como simples leitura a afirmação da validade sem qualquer dúvida
que posse ser surgida acerca da matéria.
35

Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do


executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de
improcedência liminar do pedido.
§ 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a
nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de
contestação ou de embargos à execução.

Nesse interim, seguindo o mesmo entendimento e o mesmo patamar referente à


contestação antes da execução da liminar consoante a ampla defesa e o contraditório, é
também utilizado o instituto do comparecimento espontâneo como forma de estar no
processo, contudo sem apresentar a contestação apenas acompanhando os atos processuais
com a protocolização do instrumento de procuração.

3.8 Do princípio do contraditório

Previsto expressamente na Constituição da República de 1988 o princípio do devido


processo legal que origina os princípios da ampla defesa e do contraditório tem como base o
auxílio à justiça especialmente no tocante as partes da relação negocial.
O tema abordado neste trabalho é fundamentalmente importante à sociedade, no
entanto, na prática o processo é relativamente favorecido a instituição financeira
impossibilitando por vezes a discussão de matérias pertinentes ao contrato por parte do
financiado, parte mais fraca do contrato.
Um dos pontos mais importantes do processo é o reverenciado princípio do
contraditório que está consagrado na Constituição da República no art. 5º, LV da CF onde as
partes tem o direito de participar do processo e dos atos praticados neles, bem como tomar
ciência e manifestar de forma a que entende de direito sobre o que mencionado pela outra
parte.
Por outras palavras, este princípio dá o direito à parte contrária de saber do conteúdo
do processo para que possa se defender de forma devida.

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;
36

Apesar de se tratar de um princípio de extrema relevância ao processo cujo pode se


atentar a nulidade quando não ocorra o procedimento em atenção a este. Todavia, não é
absoluto o direito nele contido, pois há matérias de ordem pública, ou seja, quando estiverem
relacionadas as condições da ação e de pressupostos processuais, o juiz poderá reconhecer de
oficio matérias que poderão ser julgadas sem a manifestação da parte contrária.

“Da decisão suficientemente fundamentada, devem constar todos os elementos que o


juiz levou em conta para decidir; da decisão completa, devem constar também
elementos fáticos e/ou jurídicos que, segundo as partes, ou segundo uma das partes,
deveriam ter sido levados em conta pelo juiz, para decidir” (ARRUDA ALVIM
WAMBIER, Teresa. 2005 apud SANTOS, Welder Queiroz dos, 2017, p. 81).

Na lógica desse princípio, observa-se que o devedor poderá quando o seu veículo for
apreendido e mesmo que não houver purgação da mora apresentar a contestação impugnando
as matérias que entendem cabíveis e que devem ser fielmente analisadas pelo juízo, ainda que
não tenha nulidades processuais.
O procedimento da ação de busca e apreensão apesar de conter ato simplório que é a
retomada do veículo, na atualidade mesmo que na contestação venha com matérias que
contém entendimentos firmados pelos Tribunais que possibilitaria a descaracterização da
mora por irregularidade de claúsulas ou encargos do contrato, não são analisados e as ações
são julgadas procedentes sem tampouco atentar-se aos pedidos de forma devida requeridos na
contestação, restringindo o direito do contraditório suscintamente no processo.

3.9 Do princípio da ampla defesa ou da amplitude do direito de ação

Como desdobramento do princípio do contraditório temos como consequência e


atrelado a este o princípio da amplitude de defesa, também denominado como ampla defesa.
Trata-se de um princípio também previsto na constituição da república que tem grande
importância nas ações de busca e apreensão, pois como tratado, não atendem de forma
objetiva as discussões das matérias.
Por todo modo, é um principio que assegura que a parte contraria deve também
participar no convencimento do magistrado para realizar o julgamento, ou seja, ambos as
partes, tanto o autor como o réu têm o direito de pronunciar quanto as alegações da outra parte
antes do julgamento do juízo.
37

Neste mesmo patamar, questiona-se a inaplicabilidade dos juízes não quanto as


liminares, mas sim, referente a não análise de toda as matérias apresentadas nas relações
processuais antes dos julgamentos destas ações.
Oportuno, as partes podem apresentar peças no momento oportuno, contudo, são
análises que deveriam ser relevantes a primeiro grau de jurisdição em atenção e conforme ao
princípio da economia processual e da celeridade processual.
38

4 DOS ASPECTOS DO JULGAMENTO DA AÇÃO

4.1 Extinção pela ausência de pressupostos processuais

Os pressupostos processuais como já mencionados, são elementos necessários para a


existência e a validade do processo e que quando não são cumpridos, impossibilitam o
prosseguimento do processo extinguindo-o sem resolver o mérito das partes que recorreram
ao judiciário para ter o direito garantido.
Por estar ausente os pressupostos, o juízo poderá extinguir a ação com no art. 485,
inciso IV do Código de Processo Civil após o decurso do prazo da intimação de emenda a
inicial que tem como caráter sanador de vicio que a parte terá a possibilidade de corrigir o
erro ou apresentar os documentos.
A ausência de documentos indispensáveis faz a extinção do processo que acarreta na
não efetividade da retomada do veículo e caso a tutela provisória já tenha sido cumprida, faz
com que o veículo tenha que ser restituído.
Por fim, caso ocorra a ausência de pressuposto com a extinção, contudo havendo
contestação nos autos, o autor será condenando em pagar honorários advocatícios ao réu nos
termos do art. 85 do Código de Processo Civil.

4.2 Extinção pela ausência de comprovação da mora

Tão importante quanto as documentações que fazem parte ao ajuizamento da ação, a


notificação deve ser recebida pelo devedor ou por terceiro conforme aponta o Decreto-lei.
Como preliminarmente estudado, a notificação é o meio do qual o devedor tem a
ciência efetiva que está em débito e que com o não pagamento ensejará no ajuizamento da
ação de busca e apreensão que irá ter a posse do bem perdida pois será devolvida ao
proprietário.
No que tange a não comprovação da mora ou a sua não regularização, a ação estará
ausente de um dos pressupostos de validade para o ajuizamento da demanda.
39

“Considerando que, no caso, a mora é ex re, e, portanto, sua constituição decorre do


simples fato do não pagamento, a lei exige que seja comprovada mediante carta
dirigida ao devedor, por intermédio do Registro de Títulos e Documentos, ou por
protesto, que pode ser das notas promissórias, das letras de câmbio aceitas pelo
credor ou do próprio contrato.” (Súmula 72 do STJ, apud CHALHUB, Melhim
Namem, 5ª ed., 2017, p. 189)

Na lição de Melhim Namem (2017, p. 189) demonstra que para o ajuizamento da ação e
o seu prosseguimento válido, deve-se apresentar a notificação válida assinada por terceiro ou
pelo devedor para que o juiz defira a tutela provisória requerida e autorize a apreensão do
veículo.
Corroborando nesse seguimento, a falta desse pressuposto processual que é a
notificação, ensejará a extinção do processo que poderá ser alegado em qualquer momento
pelo réu ou ainda a conhecimento de oficio pelo juiz. (Elpídio Donizetti, 2009)

4.3 Veículo não apreendido

O objeto da ação de busca e apreensão tem como finalidade a retomada do veículo de


forma liminarmente que pode ser requerida ao juízo após demonstrado que a propriedade do
veículo é de propriedade da autora e que o veículo está somente em posse do financiado, bem
como apresentar documentos pertinentes: sendo a notificação extrajudicial entregue no
endereço do contrato com aviso de recebimento assinada por terceiro ou pelo próprio devedor,
o registro do gravame de alienação fiduciária e por fim o contrato tão importante quanto aos
documentos anteriores.
Embora o veículo seja o objetivo desta ação, ocorre que pode acontecer de não ser
encontrado mesmo diante de inúmeras diligências do Oficial de Justiça.
Com a não localização do veículo no endereço do contrato, o credor é intimado a
apresentar novos endereços que possivelmente o veículo possa se encontrar.
Nesses moldes, o art. 319 do Código de Processo Civil trata como um dever do autor
da ação apresentar todas as informações pessoais do réu constantes nos inciso II para que a
citação ocorra e como consequência o veículo possa ser apreendido.
O que acontece é que mesmo com os endereços em que o autor tenha em mãos
fornecidos pelo réu, pode ocorrer do mesmo ter se deslocado para outra localidade.
40

O juízo portanto ao intimar o credor para indicar novos endereços para a localização
do veículo e consequentemente realização a citação do réu age com legitimidade no §1º do
artigo 319 do Código de Processo Civil que traz a possibilidade de que caso essas
informações não sejam trazidas com veracidade ou não fossem capaz de realizar o ato, o juízo
poderá intimar a parte para completar ou indicar novo endereço.
Decorre esta relação também do princípio do impulso oficial disciplinado no art. 262
do Códex, onde deve o juiz utilizar de meios provenientes também à sua disposição para
realizar buscas de endereços.
Portanto, quando intimado para indicar novos endereços e este não tiver em mãos
novas informações, poderá requerer ao juízo para que utilize do poder judiciário para a
localização de novas informações.
As buscas realizadas pelo judiciário poderão ser realizadas por meio dos sistemas
Bacenjud, Infojud e Renajud. Desses sistemas, a bacenjud é o meio eletrônico entre o poder
judiciário e as instituições financeiras por meio do Banco Central onde é possível localizar os
dados cadastrados nos bancos, sendo ato legal conforme comunicado do Bacen n° 8.422, de 8
de maio de 2001.
Em outros sistemas, temos o Infojud que é uma parceria do Conselho Nacional de
Justiça em junho de 2007 com a Secretaria da Fazenda e a Receita Federal onde detém
informações das declarações de imposto de rendas e outras constantes nos bancos de dados.
Por fim, o sistema Renajud o magistrado poderá requerer informações ao
Departamento Nacional de Trânsito – Denatran das informações armazenadas nos bancos de
dados.
Assim, o poder judiciário colabora com a efetividade do processo quando não o
veículo não é apreendido com os endereços constantes no contrato e na inicial e assim
possibilita o autor em não ver o seu processo ser extinto por não ter mais informações
necessárias para o prosseguimento da ação.

4.4 Réu não citado

Não obstante, a problemática maior deste tópico é de que quando é possível a


apreensão do veículo, mas não foi possível a localização do réu e por isso não foi citado a
ação não prossegue.
41

Por vezes, a apreensão do veículo ocorre com a realização de guincho por ter sido
encontrado estacionado ou até mesmo por apreensão em razão de blitz policial. Ocorre nesses
casos que o processo não pode prosseguir sem a citação do réu mesmo que o veículo tenha
sido apreendido ou ainda mais, faz-se necessário o mesmo procedimento através do sistema
Bacenjud, Renajud e Infojud para tentar a localização de novos endereços do réu.
Por consequência lógica, com a apreensão do veículo, o devedor deveria consentir e
assim entrar em contato com a autora para se informar do procedimento, contudo, no país
onde a inadimplência é costumeira, as pessoas abandonam o veículo e as dívidas.
Desta forma, a autora tem como consequência jurídica pedidos a serem realizados ao
juízo para validar a citação ainda que o réu não tenha sido encontrado para conseguir a
efetividade da ação por meio de sentença procedente.

4.4.1 Citação por hora certa

A citação por hora certa também uma forma de citação ficta quando não é possível
realizar a citação real por meio de carta com aviso de recebimento ou a realizada por Oficial
de Justiça em que o réu tem a citação pessoal e por isso tem conhecimento efetivo da ação que
esta ajuizada em seu desfavor, neste caso, pelo inadimplemento da parcelas do contrato de
alienação fiduciária do qual inclusive o veículo foi retomado para a posse da credora.
Esta modalidade de citação é admissível quando atendido os requisitos legais previstos
no art. 252 do Código de Processo Civil que prevê que poderá ser realizada quando por 2
vezes o oficial de justiça tentar intimar e houver suspeita de ocultação do réu a fim de não
receber a intimação.
O procedimento previsto nesta modalidade tem forma certa que deve ser conforme o
art. 253 do Código, onde o Oficial de Justiça intimará qualquer pessoa da família ou em sua
falta, o vizinho, comunicando que voltará para realizar a citação em dia e hora marcada, cujo
caso esteja ausente, será citado em nome dos indicados neste artigo deixando contrafé
declarando o nome do recebedor.
Dentre o procedimento, o mandado deve constar expressamente que será nomeado
curador especial se houver revelia, ou seja, se não houver pronunciação no prazo legal.
42

Por fim, feita a citação no prazo de 10 dias da juntada do mandado que o réu foi citado
por hora certa, diz o art. 254 que deverá ser enviado no prazo de 10 dias dando-lhe ciência de
todo o ocorrido.
Nesta hipótese, caso ocorrido a citação por hora certa deverá prosseguir a ação com a
nomeação de defensor dativo que poderá apresentar a defesa em nome da parte, sendo a
autora intimada para apresentar a réplica e em seguida será proferida à sentença.

4.4.2 Citação por edital

A citação do réu não é um pressuposto do processo e sim uma condição de eficácia


como ato de validade, e essa uma descrição expressa no art. 239 do Código de Processo Civil
vez que é um ato realizado depois de ajuizado a ação, ou seja, após já regularizada a formação
do instrumento do processo.
Deve ser a citação realizada pessoalmente em nome do réu em atenção ao art. 242 do
Código de Processo Civil e desta forma é que completa a estrutura tríplice da relação jurídica
pois torna a coisa litigiosa ao réu que não tinha conhecimento da ação.
Como já estudado e debatido, por diversas a situação, o réu não é citado mesmo que o
veículo tenha sido apreendido o que faz com que o ato válido da ação não seja concretizado e
se a sentença por proferida desta forma, padece de vicio.
Portanto, visando sanar o vício da citação do réu, o legislador previu a citação ficta do
qual tem como fundamento nas citações por edital e por hora certa onde presumem que o réu
foi citado mesmo sem tomar ciência da ação.
A regra do Código de Processo Civil é a citação real quando são realizadas
pessoalmente ao réu por meio do correio através de carta com aviso de recebimento ou por
oficial de justiça do qual lhe é entregue cópia da inicial da ação.
Neste caso, a citação por edital é admitida nos termos do art. 256 do Código de
Processo Civil:

Art. 256. A citação por edital será feita:


I - quando desconhecido ou incerto o citando;
II - quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar o citando;
III - nos casos expressos em lei.
§ 1 (...)
43

§ 2o No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua


citação será divulgada também pelo rádio, se na comarca houver emissora de
radiodifusão.
§ 3o O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas
de sua localização, inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre
seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços
públicos.

Desta forma, a citação por edital é o meio pelo qual em que a pare autora poderá dar
como citado o réu quando não localizado diante de diversas tentativas de citação, quando está
em lugar ignorado ou incerto, bem como quando desconhecido, pondo assim validade e
prosseguimento a ação com a sentença procedente após apresentado a defesa por meio de
defensor dativo nomeado pelo juízo.

4.4.3 Curador Especial

As citações fictas ensejam o direito de defesa da parte independentemente de estarem


pessoalmente no processo exercendo o direito constitucional garantido dos quais preservam os
princípios da ampla defesa e do contraditório.
Ocorrendo as citações por edital e hora certa no curso do processo, deve ser nomeado
curador especial exercendo o direito previsto no inciso II do art. 72 do Código de Processo
Civil a fim de que fique devidamente representado no processo.
O curador especial no caso das citações fictas deve ser atendido pela Defensoria
Pública conforme o art. 4º, inciso XVI da Lei Complementar nº 80/94 que organiza a
Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e que prescreve normas
gerais para a sua organização nos Estados e de outras prioridades.
As contestações nos casos de curadores especiais não seguem o entendimento
convencional da impugnação especifica das alegações da inicial por desconhecerem o réu e
não terem conhecimentos dos fatos da causa, é concedido o direito de impugnar as alegações
por meio da negativa geral conforme descreve o parágrafo único do art. 324 do Código de
Processo Civil.
Como prerrogativa, segundo o inciso I do art. 44 da Lei Complementar nº 80/94
assegura aos Defensores Públicos o prazo em dobro nos casos em que atuarem, ou seja,
teoricamente os curadores especiais para apresentar a contestação utilizariam do prazo em
dobro, no entanto, o Supremo Tribunal Federal entende que a prerrogativa do prazo em dobro
44

nos casos de intimações para cumprimento de atos judiciais quando exercentes como
curadores especiais não são aplicáveis, conforme precedentes Pet. 932-SP (DJU de
14.09.1994) e AG 166.716-RS (DJU de 25.05.1995).
Assim, quando é realizada a citação ficta, deverá ser nomeado curador especial
exercente taxativamente nestas hipóteses de cabimento pela Defensoria Pública que poderão
apresentar a contestação como negativa geral diferente da regra geral por justamente não
conhecer o réu e os fatos da ação, contudo esta prerrogativa foi limitada pelo quanto a exercer
o prazo em dobro no exercício de curador especial.

4.5 Extinção do processo por abandono da causa

Noutro ponto de extrema importância e relevância ao âmbito jurídico desta ação,


adentra-se a uma questão administrativa dos credores e das suas assessorias quanto ao
prosseguimento das ações.
Por conter inúmeras demandas ajuizadas, as instituições financeiras trabalham com o
jurídico de massa, ou seja, jurídico especializado em ações de busca e apreensão e que tem
que demandas milhares de ações e seus respectivos andamentos.
Ocorre que devido as grandes demandas, em algumas situações as intimações não são
dadas andamentos e por isso geram a extinção do processo por abandono e causa em razão de
não terem cumpridos os despachos.
Segundo o Código de Processo Civil nos incisos II e II do art. 485, o juiz não resolverá
o mérito quando o processo ficar parado por mais de 1 ano por negligência das partes ou ainda
ficar parado por mais de 30 dias quando o autor abandonar a causa.
Pois bem, por atender um jurídico exaustivo de processo as assessorias não realizam o
cumprimento de despachos, seja o mais singelo possível quanto ao mais rigoroso possível,
ensejam a extinção do processo com a ineficácia de ver o crédito satisfeito.
Contudo, mantendo essas decisões nos respectivos Tribunais, ensejam a condenação
em honorários em desfavor da autora e o dever de devolução dos veículos apreendidos
liminarmente.
45

4.5.1 Intimação pessoal

Neste tópico, faz-se necessário adentrar sobre a matéria de extinção do processo sem
resolução do mérito por se tratar de um ponto de extrema relevância ao direito processual e o
seguimento que este pode trazer ao processo da ação de busca e apreensão e as suas
consequências.
O art. 485 preceitua os seguintes termos:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


(...)
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a
causa por mais de 30 (trinta) dias;
(...)
§ 1o Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será intimada pessoalmente
para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias.
(...)
§ 4o Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu,
desistir da ação.
(...)
§ 6o Oferecida a contestação, a extinção do processo por abandono da causa pelo
autor depende de requerimento do réu.

Anteriormente apresentado a questão da negligência das partes em dará andamento no


processo ou o abandono da causa pela parte autora, estes para ocorrer são necessários
providências das quais inexistentes, a sentença extintiva do direito da autora deverá ser
cassada.
O processo quando for extinto em atenção aos incisos I e II, deverá ser realizado a
intimação pessoal da autora para que se possa perpetrar que tanto quanto o autor e o seu
respectivo advogado não tenham mais interesses na ação, ou seja, caso esteja havendo desídia
do procurador constituído nos autos em dar prosseguimento na ação, a parte é intimada do ato
para que se tenha interesse em prosseguir com o feito tomando as medidas cabíveis.
A necessidade de intimação pessoal é um requisito segundo prevê expressamente o §1º
do artigo 481 que quando não analisado pelo juiz, enseja a cassação da sentença.
Noutro ponto importante deste tema é a impossibilidade de extinção por meio do juiz
de oficio quando o réu já está nos autos, seja pelo comparecimento espontâneo ou após a
apreensão do veículo com a citação, pois essa extinção sem resolução do mérito só poderá ser
realizada se o réu requerer de forma expressa segundo o §6º do estudado artigo.
46

A extinção do processo sem resolução do mérito é acolhida e muito utilizada pelos


juízes quando os atos processuais não são cumpridos, realizando a intimação pessoal e
extinguindo o feito sem analisar o mérito em desacordo com os fundamentos constitucionais e
aos princípios da primazia da resolução do mérito e da economia processual.
Não obstante, a questão pontuda é relevante aos autores da ação que mesmo diante da
desídia, sofrem a condenação em honorários advocatícios por não terem vencidos a ação e
existir parte contrária, bem como a liminar anteriormente deferida, perde os seus efeitos e
mesmo inadimplente o réu tem o direito de se ver na posse do bem novamente.

4.6 Sentença procedente

A ação de busca e apreensão tem como fundamento preliminar o deferimento de


liminar para retomada do veículo e com o decurso do prazo do réu purgar a mora no valor das
parcelas vencidas e vincendas, bem como também já definidas as matérias da contestação e da
réplica, o pedido final da ação, é considerar definitiva a liminar consolidando a posse e a
propriedade do veículo em nome da credora.
Como consequência condenar o réu em custas processuais e honorários advocatícios
de sucumbência.

“Analisando os fundamentos de fato e de direito expostos na inicial e na


contestação, bem como a prova produzida pelas partes, o juiz emite o julgamento. Se
a pretensão manifestada pelo autor estiver de acordo com o ordenamento jurídico e
as provas forem hábeis para demonstrar a titularidade do direito postulado, o
desfecho da demanda será no sentido da procedência do pedido.” (ELPÍDIO,
Donizetti, 2009, p. 243)

Assim, esta ação busca o deferimento no limiar do processo com a tutela provisória
para retomar o bem da posse do devedor para que na cognição exauriente possa tornar
definitiva a tutela.
47

4.7 Acolhimento dos pedidos do autor

O julgamento do mérito nestas ações valem-se de matérias de direito que seguem um


direito positivista, assim não se faz necessário a análise de mais documentos quando não
apresentados fatos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito da autora na
contestação que fazem com que o juiz tenha que analisar os autos de forma precisa pois os
documentos em regra que são anexados à petição inicial são os necessários para o
convencimento da inadimplência das parcelas do contrato e o direito de retomada do veículo
com a sentença de procedência da ação acolhendo os pedidos iniciais.
Por não haver delongadas discussões nestas ações, são acolhidos os pedidos de
julgamento antecipado do mérito nos termos do art. 355, I e II do Código de Processo Civil,
justamente por não ter o processo necessidade de praticar nenhum ato capaz de modificar o
julgamento, ou seja, o processo encontra-se maduro para o proferimento da sentença.
A razão que assegura este julgamento é a revelia conforme o inciso II ou quando
houver desnecessidade de produção de outras provas conforme prevê o inciso I e por fim, não
estar incontroversas as alegações da autora com o do réu.
Todavia, com acolhimento dos pedidos iniciais surgem o direito do réu em ter o
veículo prestado contas no quanto foi vendido e no quanto foi capaz de abater na sua dívida.

Efetivada a venda, apura-se o saldo entre o produto da venda e o montante da dívida


e encargos, procedendo-se a prestação de contas ao devedor; havendo sobra, o
credor deverá entregá-la ao devedor ou, ao contrário, remanescendo saldo devedor, o
devedor continua responsável pelo pagamento. (CHALHUB, 2017, p. 232)

Portanto, em razão da obrigação de prestar contas do valor do veículo e do débito


remanescente. O devedor terá a informação do quanto o veículo foi vendido e se foi capaz de
realizar a quitação valor das parcelas em aberto do contrato ou se haverá saldo a pagar.

4.8 Sentença improcedente

Derradeiramente, em confronto com a sentença procedente acolhendo os pedidos


iniciais, o juiz poderá não acolher os pedidos iniciais julgando a ação improcedente.
48

A sentença procedente nas ações de busca e apreensão estão atreladas ao estado do


processo e da relação processual entre as partes.
Embora demonstrado o direito na petição inicial, o réu demonstra algum fato
impeditivo ou extintivo do direito de ação da autora, portanto fazendo com que a ação seja
infundada e com vicio.
Dentre essa linha de raciocínio, a improcedência da ação também está diretamente
relacionada com a descaracterização da mora quando o devedor tem ajuizado uma ação de
revisão de contrato em que o juiz declara ter encargos abusivos ou clausulas exorbitantes que
como consequência faz o contrato ser revisado e recalculado, descaracterizando a mora do
devedor.
Por isso, nesse ocorrido, a ação de busca e apreensão perde a sua razão pois o devedor
não está mais inadimplente e com isso mora não está mais caracterizada.
Outro ponto também importante quanto a sentença improcedente é nos casos em que a
instituição financeira tem problema de recebimento dos boletos pagos na agência bancária e o
réu na contestação alega que efetuou o pagamento das parcelas do contrato e comprova com
os comprovantes.
Portanto, dessas situações prejudiciais que são a descaracterizada da mora do réu pela
revisão das cláusulas contratuais e a comprovação do pagamento da parcela que está sendo
cobrada na ação, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é que a sentença deve ser de
improcedência dos pedidos da petição inicial.

4.9 Da sentença improcedente e da multa do Decreto-lei

O decreto-lei 911/69 dentre os dispositivos legais prevê a existência de multa quando


o veículo apreendido pela tutela provisória e a sentença foi de improcedência, haverá a
incidência de multa de 50% do valor originalmente pactuado no contrato de alienação
fiduciária realizado entre as partes, sem prejuízo do pedido de perdas e danos referente ao
valor do veículo.
Essa multa tem caráter punitivo e vem como consequência da improcedência dos
pedidos iniciais do credor e não como caráter indenizatório referente ao veículo, sendo que
poderá cobrar o valor da multa mais o valor do veículo que será definido em momento
oportuno do processo.
49

§ 6o Na sentença que decretar a improcedência da ação de busca e apreensão, o juiz


condenará o credor fiduciário ao pagamento de multa, em favor do devedor
fiduciante, equivalente a cinqüenta por cento do valor originalmente financiado,
devidamente atualizado, caso o bem já tenha sido alienado. (Redação dada pela Lei
10.931, de 2004)
§ 7o A multa mencionada no § 6o não exclui a responsabilidade do credor fiduciário
por perdas e danos. (Incluído pela Lei 10.931, de 2004)

Não obstante, resta evidentemente previsto no Decreto-lei quanto à possibilidade de


aplicabilidade da multa do §6º do art. 3º que serão nos casos de improcedência dos pedidos
iniciais uma vez que o veículo apreendido estivesse vendido no momento da sentença.
Contudo, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido por conceder a multa nas
hipóteses em que se configuram como ausência de pressupostos do art. 485, inciso VI do
Código de Processo Civil conforme recente Acórdão proferido pela Ministra Nancy Andrighi
no julgamento do REsp nº 1.715.749 – SC.

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO


FIDUCIÁRIA. MORA DESCARACTERIZADA. FIXAÇÃO DE MULTA COM
BASE NO ART. 3º, § 6º, DO DECRETO-LEI N. 911/69. JULGAMENTO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO. EXECUÇÃO DE LIMINAR POSTERIORMENTE
REVISTA. FINALIDADE DA NORMA. OBSERVÂNCIA. 1. Ação ajuizada em
19/12/16. Recurso especial interposto em 12/07/17 e concluso ao gabinete em
10/01/18. 2. O propósito recursal reside em decidir sobre a possibilidade de
imposição da multa prevista no § 6º do art. 3º do DL 911/69. 3. A multa prevista no
art. 3º, § 6º, do Decreto-lei 911/69 deve incidir quando configurada a conduta
abusiva do autor que, indevidamente, alija o réu da posse do bem e o aliena a
terceiro, impedindo o fiduciante de adquirir-lhe, futuramente, a propriedade plena.
Precedentes. 4. No particular, o juízo de primeiro grau de jurisdição, inicialmente,
deferiu a liminar de busca e apreensão, mas, em sentença, julgou extinto o processo
sem resolução de mérito, ante a ausência de comprovação da constituição em mora
do devedor fiduciário. No intervalo entre a liminar e a sentença, o credor fiduciário
fez uso da faculdade que o Decreto-lei lhe confere e alienou o bem a terceiro,
assumindo, assim, o risco de arcar com as consequências da medida. 5. Recurso
especial conhecido e não provido. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.715.749 - SC
(2017/0323842-4) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI - DJe:
29/10/2018)

Embora a lei tenha trazido a forma expressa da aplicação da penalidade omitindo-se


nos processos que são extintos, o Superior Tribunal de Justiça entende que a multa deve ser
aplicada com base no §6º em razão da credora ter assumido o risco ao vender o veículo
quando somente tinha em seu favor uma tutela provisória passível de revogação. (Resp
1715749)
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Destarte, o §6º do artigo 3º do Decreto-lei 911/69 prevê a possibilidade em que o juiz


poderá aplicar a penalidade quando o veículo que foi apreendido liminarmente tenha sido
vendido antes do proferimento da sentença e esta for de improcedência dos pedidos iniciais.
Trata-se de uma medida positivada em que o legislador originário ao colocar apenas a
improcedência, não atingiu a extinção sem resolução do mérito conforme vem entendendo o
Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial nº 1.715.749 – SC.
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5 CONCLUSÃO

O decreto-lei nº 911 de 1969 foi criado em razão da necessidade das instituições


financeiras em garantir os seus empréstimos diante do crescimento disparado da economia.
As disposições deste Decreto começaram a confrontar com a Constituição da
República do ano de 1988 que fez surgir novos patamares ao direito e as relações negociais
entre as partes pois prezavam por uma igualdade na relação processual em razão do devido
processo legal e as suas garantias frente ao ser humano e o dever de zelo pelo Estado.
A natureza desta legislação se vale de uma garantia real de um bem móvel indivisível
que é delimitado neste trabalho de pesquisa por se tratar especialmente de ação de busca e
apreensão de veículos pois tem como garantia do contrato realizado entre a instituição
financeira e o contratado o bem.
O veículo é dado como garantia contudo a sua propriedade só é concedida com o
término do pagamento das parcelas convencionadas no contrato, que caso fique inadimplente
a contratante poderá retirar o bem de sua posse.
A ação de busca e apreensão fundada no Decreto-lei nº 911/69 tem um rito especial e a
tendência desse procedimento é o encerramento com o julgamento do mérito de forma mais
rápida que os convencionais.
Para que a ação possa prosseguir, deverá conter no ajuizamento da ação com a petição
inicial alguns pressupostos processuais dos quais se estiverem ausentes ensejarão a extinção
do processo.
Nesta seara, um dos pressupostos processuais de extrema importância é a notificação
para a comprovação a mora conforme prevê o §2º do art. 2º do Decreto-lei. Na redação
original do dispositivo, a notificação desde que enviada no endereço do contrato seria capaz
de comprovar a mora do devedor e portanto mesmo com o não retorno do aviso de
recebimento assinado poderia ser pressuposto para o ajuizamento da ação.
Com a alteração trazida pela Lei nº 10.931/2004 a notificação passou a ser exigida
com a assinatura do devedor ou de terceiro para ser admitida como pressuposto processual da
ação e assim possibilitar o deferimento da tutela provisória.
A tutela provisória é o meio em que os credores requerem ao juiz com base no fumus
bonis iuris e no periculum in mora denominados pelo art. 300 do Código de Processo Civil
como probabilidade do direito e o perigo de dano o deferimento no limiar do processo uma
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medida que possibilitam retomar o bem que é de sua propriedade frente ao inadimplemento
das parcelas do contrato.
O juiz com base na probabilidade do direito e do perigo de dano poderá deferir ou
indeferir a tutela provisória, no entanto, nesta ação em especialmente conforme dispõe o caput
do art. 3º do Decreto-lei, a liminar poderá ser deferida desde que comprovada a mora, ou seja,
comprovado a inadimplência por meio da notificação com aviso de recebimento assinado pelo
devedor ou por terceiro, a liminar poderá ser deferida.
Não obstante, quando a tutela provisória for inferida, será passível de interposição de
recurso de agravo de instrumento nos termos do inciso I do art. 1.015 do Código de Processo
Civil. Ainda, haverá na hipótese de saneamento de vicio, poderá o juiz conceder o prazo de 15
dias para que o autor regularize o vício para que a tutela provisória possa ser deferida.
Em relação aos aspectos práticos desta ação, em preliminar a apreensão do veículo
após o deferimento da liminar segue um rito em que deve ser realizado por Oficial de Justiça
competente para a comarca e que seguirá com as diligências nos endereços informado pelo
autor.
Com a apreensão do veículo faz-se necessário juntar o auto de apreensão e a certidão
do Oficial de Justiça nos autos para ciência do juízo. Após a apreensão do veículo e com o
decurso do prazo de 5 dias sem o pagamento do réu, o veículo consolidará a posse a
propriedade em nome da autora que poderá realizar a venda do bem para terceiros para abater
o valor da venda com o valor do saldo em aberto do contrato, nos termos do §1º do artigo 3º
do Decreto-lei.
A purgação da mora prevista no §2º do art. 3º teve como discussões desde a alteração
dada pela Lei nº 10.931/2004 pois o dispositivo prevê o pagamento da integralidade da divida
em 5 dias da apreensão para que o veículo restituído, no entanto, por anos havia-se o
entendimento que corresponderia ao pagamento apenas das parcelas vencidas e não todo o
valor do contrato.
A discussão quanto aos valores permaneceram por anos até a recente decisão do
Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp: 1418593 MS 2013/0381036-4 proferido
pelo Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO em 14/05/2014 que pôs fiz a discussão
determinando que o valor da purgação da mora seria no valor correspondente ao que
informado na inicial, ou seja, das parcelas vencidas e vincendas.
Embora essa discussão tenha se firmado por anos, o próprio Decreto-lei no §3º do art.
2º apontava que com o vencimento de uma parcela por inadimplência do contratante, estaria
considerada as demais vencidas.
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Por outro lado, realizada a purgação da mora como uma forma de reconhecimento do
pedido, o veículo deve ser restituído para o réu livre de ônus. Para a devolução do veículo não
há prazo expresso na lei, contudo deve o juiz se valer da razoabilidade e da proporcionalidade
para fixar o prazo, embora mesmo que fixado prazo, poderá o juiz se valer de multa
pecuniária pelo descumprimento da obrigação em atenção aos artigos 536 e 537 do Código de
Processo Civil.
Nos aspectos de defesa do réu, o Decreto prevê a possibilidade de apresentação da
contestação somente após o cumprimento da tutela provisória que apreendeu o bem, do qual
poderá o réu realizar a purgação da mora ou apresentar a contestação. Todavia, a discussão
neste tema está paralelamente atrelado ao princípio da ampla defesa e do contraditório pois
estes asseguram que o réu poderá comparecer no processo em qualquer momento quando tiver
conhecimento.
O Decreto dispõe de forma contraria ao Código de Processo Civil de 2.015 e por isso
surge os efeitos práticos da apresentação da contestação.
Como é sabido, a Constituição da Republica assegura por meio do devido processo
legal que as partes terão o direito a defesa, contudo o Decreto que é de 1969 prevê que
somente poderá apresentar após cumprida a liminar e caso fosse apresentada antes do
momento correto, não poderia ser analisada pelo juízo.
Destarte, este é o entendimento até os dias atuais de diversos juízos mesmo diante da
Constituição da Republica de 1988.
A jurisprudência majoritária entende que a contestação poderá ser analisada antes do
cumprimento da tutela provisória ou até mesmo antes da citação conforme os julgamentos do
AREsp n. 927.121/PR, Relator Ministro MARCO BUZZI, Dje 19/10/2016, AREsp n.
241.960/DF, Relatora Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe 05/08/2016.
Corroborando nesse mesmo entendimento, o Código de Processo Civil no §1º do artigo 329
prêve a possibilidade do comparecimento espontâneo do réu na ação independente de ser
citado.
No tocante ao julgamento, a ação de busca e apreensão segue o rito especial com a
subsidiariedade do Código de Processo Civil, por isso quando o processo está em ordem, o
julgamento dessas ações não prolonga como as ações convencionais. Essa análise pode ser
vista tanto nas resoluções do mérito como nas sem resolução do mérito, como por exemplo a
ausência da notificação que é um requisito para o ajuizamento da ação e por isso poderá haver
extinção do processo nos termos do inciso IV do art. 485 do Código de Processo Civil que
poderá ser alegado a qualquer tempo pelo réu ou ser conhecido de oficio pelo juízo.
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Atentos ainda que quando o veículo foi apreendido mas o réu não tenha sido citado, o
Código de Processo Civil visando o prosseguimento da ação admite as citações fictas que são
as citação por hora certa quando o réu está se ocultando e o Oficial de Justiça consegue
perceber está ação ou no caso do réu ser desconhecido ou estar em lugar incerto que poderá
ser realizado a citação por edital. Nestas hipóteses de citação ficta, será nomeado curador
especial exercido pela Defensoria Pública na defesa do réu.
A Defensoria Pública segundo o inciso I do art. 44 da Lei Complementar nº 80/94
assegura aos seus exercícios o prazo em dobro. Embora a prerrogativa fosse em todos os
casos conforme a lei complementar, o Supremo Tribunal Federal posicionou contrário a esta
Lei dizendo que a prerrogativa do prazo em dobro quando exercentes como curadores
especiais não são aplicáveis, conforme precedentes Pet. 932-SP (DJU de 14.09.1994) e AG
166.716-RS (DJU de 25.05.1995).
Esta ação visa por meio de tutela provisória a retomada do veículo, com a confirmação
na sentença acolhendo os pedidos iniciais para que o credor possa vender o bem a terceiro a
fim de realizar o abatimento do valor da venda com o valor das parcelas em aberto do
contrato.
Nesse tramite, o réu tem o direito de ter realizado a prestação de contas em relação ao
valor do veículo e o valor que mantém de saldo remanescente para pagar do contrato
conforme o art. 2º do Decreto-lei.
Embora seja a intenção do autor a sentença procedente, o juízo pode decidir ao
contrário e declarar como improcedente os pedidos iniciais fazendo com o que o autor tenha
que restituir o veículo e condene-o em honorários advocatícios de sucumbência.
Não obstante, da sentença improcedente o autor deve restituir o veículo para o réu,
todavia quando esse comando não é respeitado, é aplicado multa de 50% do valor
originalmente financiado e mais o dever de pagamento das perdas e danos referente ao valor
do veículo conforme os §6º e 7º do art. 3º do Decreto-lei.
O Decreto é expresso a hipótese de aplicabilidade da multa de 50% do valor
originalmente financiado que são nos casos de improcedência dos pedidos iniciais do autor
quando o veículo apreendido na tutela provisória tenha sido vendido antes da sentença final,
contudo mitigando a previsão do dispositivo o Superior Tribunal de Justiça vem entendendo
conforme o julgamento proferido pela Ministra Nancy Andrighi no julgamento do REsp nº
1.715.749 – SC que nos caso de extinção do processo sem resolução do mérito é também
aplicada a multa.
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Diante de todo o exposto, a ação e busca e apreensão visa por meio de um rito especial
a retomada de veículos dados em garantia de um contrato de alienação fiduciária com a
instituição financeira, modelo este criado em razão do crescimento econômico da época que
persegue até os dias atuais. No entanto, vejamos que está ação favorece em regra a instituição
financeira pelas formas de prosseguimento do rito e pelas análises superficiais feitas pelos
juízes na análise das matérias da contestação. Essa é a razão de um país onde o
desenvolvimento é pequeno a cada ano e assim fazem com que as pessoas tenham que aderir
este modelo de contrato para que possam adquirir os seus bens e que no momento de
fragilidade econômica perde o direito do contrato e ainda ficam com valores em abeto com a
proprietária do bem. Este modelo de relação negocial por mais que vicioso e desfavorável,
não há indícios de mudanças, por isso, as pessoas manterão neste seguimento para adquirir
seus bens mesmo diante do desfavorecimento.
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