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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

JEAN FABRÍCIO DA SILVA

LEI Nº 12.977/2014 - LEI DO DESMONTE E A RESPONSABILIDADE DO


COMÉRCIO DE PEÇAS USADAS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Florianópolis
2021
JEAN FABRÍCIO DA SILVA

LEI Nº 12.977/2014 - LEI DO DESMONTE E A RESPONSABILIDADE DO


COMÉRCIO DE PEÇAS USADAS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina
como requisito parcial à obtenção do título
de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Hernani Luiz Sobierajski, MSc.

Florianópolis
2021
JEAN FABRÍCIO DA SILVA

LEI Nº 12.977/2014 - LEI DO DESMONTE E A RESPONSABILIDADE DO


COMÉRCIO DE PEÇAS USADAS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel em Direito e aprovado em sua
forma final pelo Curso de Direito da
Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, (dia) de (mês) de 2021.

______________________________________________________
Professor e orientador Hernani Luiz Sobierajski, MSc.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, Dr./Ms./Bel./Lic
Universidade...

______________________________________________________
Prof. Nome do Professor, Dr./Ms./Bel./Lic
Universidade do Sul de Santa Catarina
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

LEI Nº 12.977/2014 - LEI DO DESMONTE E A RESPONSABILIDADE DO


COMÉRCIO DE PEÇAS USADAS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca
Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de
Conclusão de Curso.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em
caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, de de 2021.

____________________________________
JEAN FABRÍCIO DA SILVA
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem ele nada seria.


Aos meus pais, que sempre me incentivaram nos estudos, ajudando nos
momentos de decisão a seguir a melhor caminhada.
Ao professor e orientador, Hernani Luiz Sobierajski, que sempre esteve
disposto a ajudar, transmitindo todo seu conhecimento teórico e prático na elaboração
deste trabalho.
A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a conclusão de mais
essa etapa na minha vida. Gratidão!
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém
ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê” (Arthur Schopenhauer).
RESUMO

Considerando a Lei nº 12.977 - Lei do Desmonte, sancionada em 20 de maio de 2014,


que disciplina a atividade de desmontagem de veículos automotores terrestres, e o
Código de Defesa do Consumidor (CDC) que determina a responsabilidade civil tanto
do fornecedor quanto do consumidor na compra e venda dos produtos de desmanche
ilegais, tem-se como objetivo conhecer a responsabilidade do fornecedor e do
consumidor na compra e venda ilegal desse material de desmanche. Para tanto,
procede-se à metodologia de abordagem é de pensamento dedutivo, de natureza
qualitativa. Quanto ao procedimento, opta-se pelo monográfico com técnica de
pesquisa bibliográfica, fundamentando-se na legislação, na doutrina e na
jurisprudência correlata, bem como, periódicos e artigos científicos. Conclui-se que a
responsabilidade civil no CDC é objetiva e, que os sujeitos da relação de consumo
são responsáveis pela compra e venda de produtos de desmanche ilegal, desde que
em cada caso, não tenham conhecimento da procedência ilegal do produto.

Palavras-chave: Lei nº 12.977/2014. Código de defesa do consumidor.


Responsabilidade civil. Comércio de desmanche ilegal.
LISTA DE SIGLAS

a.C. - Antes de Cristo


Art. - Artigo
CC - Código Civil de 2002
CC/16 - Código Civil de 1916
CDC - Código de Defesa do Consumidor
CMB - Corpo de Bombeiros Militar
CRFB/88 - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CTB - Código de Trânsito Brasileiro
DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito
Disp - Departamento de Inteligência da Segurança Pública
EUA - Estados Unidos da América
IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
IGP - Instituto Geral de Perícias
PL - Projeto de Lei
SIDSEGSP - Sindicato das Empresas de Seguros e Resseguros de São Paulo
STJ - Superior Tribunal de Justiça
SSP - Secretaria da Segurança Pública
SUSEP - Superintendência de Seguros Privados
TJ/DFT - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
TJ/RS - Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
TJ/SC - Tribunal de Justiça de Santa Catarina
UF - Unidade Federativa
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Roubo e furto de veículos – 1º semestre Brasil e Unidades da Federação


2019-2020 ................................................................................................................. 41
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
2 DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL .......................................................... 12
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E FONTES .............................................. 12
2.1.1 Histórico......................................................................................................... 12
2.1.2 Fontes ............................................................................................................ 16
2.2 CAMPO DE APLICAÇÃO DO CDC ................................................................... 17
2.2.1 Quem é o consumidor .................................................................................. 18
2.2.2 Vulnerabilidade do consumidor na relação de consumo .......................... 21
2.2.3 Quem é o fornecedor .................................................................................... 22
2.2.4 Relações de consumo entre consumidores e fornecedores de produto . 24
3 RESPONSABILIDADE CIVIL .............................................................................. 27
3.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................................................... 27
3.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................ 32
3.3 CONDUTA HUMANA ........................................................................................ 33
3.4 CULPA............................................................................................................... 34
3.5 NEXO CAUSAL ................................................................................................. 35
3.6 DANO ................................................................................................................ 36
3.7 EXCLUDENTES DE ILICITUDE ........................................................................ 37
4 EFICÁCIA DA LEI Nº 12.977/2014 - LEI DO DESMONTE ................................. 39
4.1 DA ABRANGÊNCIA E DA FINALIDADE DA LEI Nº 12977/14 .......................... 39
4.2 DECISÕES JUDICIAIS A RESPEITO DO TEMA .............................................. 48
4.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC .......................................................... 53
4.4 A RESPONSABILIDADE DO DESMANCHE EM RELAÇÃO AO CONSUMIDOR
NA VENDA DE PEÇAS USADAS SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO ........................ 54
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60
10

1 INTRODUÇÃO

Em levantamento estatístico, de 2015 a 2019 o Brasil ultrapassou a marca de


um milhão de ocorrências de roubo de veículos que têm como destino o desmanche
ou a adulteração do automóvel. Para essas estatísticas há inúmeras explicações,
porém, o motivo principal, além da revenda do veículo roubado, é o volume do
mercado irregular de vendas de peças automotivas.
Carros roubados abastecem o mercado criminoso de peças ilícitas, no qual é
possível comprá-las mais barato, sem comprovação de origem, pois as empresas
fantasmas emitem notas fiscais frias para esconder esse tipo de comércio. O
desmanche e a venda de peças, como portas, faróis e capôs, entre outras, estimulam
a ação dos ladrões com expertise em arrombar e ligar os veículos em questão de
segundos.
Além disso, milhares de acidentes ocorrem nas estradas brasileiras pelo uso
de peças impróprias em veículos que foram avariados e restaurados, somando um
prejuízo milionário em todos os Estados brasileiros. Afeta não só a relação
consumerista como também a segurança pública e o meio ambiente. Isso porque, em
geral, os donos de ferros-velhos descartam óleo, fluídos e carcaças, em terrenos
baldios.
Considerando os dados supracitados e tendo o pesquisador não só crescido,
mas também trabalhado em loja de vendas de automóveis junto ao pai, teve a vivência
diária dos graves problemas que esse cenário produz há muito tempo. Indignado com
a indústria ilegal de peças usadas, sobretudo, por saber o que está por traz de todo
esse esquema que afeta toda sociedade, decidiu falar sobre o tema.
Sendo assim, e ante a possibilidade da responsabilização dos sujeitos da
relação consumerista impõe-se identificar a seguinte situação: Qual a
responsabilidade do fornecedor e do consumidor no comércio de peças ilegais de
desmanche?
Com intuito de responder à aludida indagação, este trabalho está dividido em
três capítulos de desenvolvimento.
No primeiro capítulo será abordado o Direito do Consumidor no Brasil, mais
especificamente seu histórico, fontes e o campo de sua aplicação.
11

No segundo capítulo será estudada a responsabilidade civil, seu conceito e


evolução histórica, assim como seus pressupostos: conduta humana, culpa, nexo
causal, dano e excludentes de ilicitude.
E o último capítulo verificará a Lei nº 12.977/2014, os julgados acerca do tema
e a responsabilidade do consumidor e fornecedor frente ao comércio ilegal de peças
de desmanche.
Trata-se de método de abordagem de pensamento dedutivo que parte do
Direito do Consumidor no Brasil para a eficácia da Lei nº 12.977/2014, de natureza
qualitativa.
O método de procedimento é monográfico, realizado por meio de técnica
bibliográfica, baseada em lei, doutrinas, artigos científicos, periódicos.
Registra-se que, a importância do tema reside na identificação da
responsabilidade dos sujeitos da relação consumerista na compra e venda de peças
automotivas ilegais e, como a Lei do Desmonte que tem como objetivo principal,
estabelecer procedimentos para desmontagem, reciclagem e recuperação de peças
de veículos automotores terrestres coibindo o comércio ilícito de autopeças atua
nesse processo.
12

2 DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

Neste capítulo será estudado o Direito do Consumidor no Brasil, com enfoque


em seu histórico e fontes. Se delimitará também o campo de atuação do Código de
Defesa do Consumidor (CDC), partindo-se da vulnerabilidade do consumidor na
relação de consumo, assim como sua conceituação e a do fornecedor e, por fim, as
relações de consumo entre consumidores e fornecedores de produto.

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E FONTES

O Direito do Consumidor visa atender às relações de consumo, aquelas


travadas entre fornecedores e consumidores. A proteção do consumidor nas relações
travadas com empresas passa a ser discutida por meio do PL nº 3683/1989, originado
do PLS (Projeto de Lei do Senado) 97/1989, de autoria do Senador Jutahy Magalhães
(PMDB/BA), apresentado em 2 de maio de 1989, que foi transformado na Lei Ordinária
8078/1990 - Código de Defesa do Consumidor (CDC).1
Para melhor compreensão da relação consumerista é essencial discorrer sobre
seu histórico, fontes e o campo de sua aplicação além dos sujeitos que a compõem.

2.1.1 Histórico

A proteção legal que descreve a relação estabelecida entre fornecedor e


consumidor não é ideia recente ou mesmo moderna, “pois já em 2.800 a.C., com maior
razão nos textos do Código de Hamurabi, já se percebia a preocupação em garantir-
se a proteção no que concernia à segurança, à saúde e a qualidade de serviços
prestados”.2
Nas palavras de Santos o referido código já em seu tempo “regulamentava o
comércio, de modo que o controle e a supervisão se encontravam a cargo do palácio.
O que demonstrava que se existia preocupação com o lucro abusivo é porque o
consumidor já estava tendo seus interesses resguardados”. De acordo com a Lei 235

1 ROCHA, Everardo. FRID, Marina. CORBO, William. O paraíso do consumo: Émile Zola, a magia e
os grandes magazines. 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.
2 VIEIRA, Fernando Borges. O direito do consumidor no Brasil e sua breve história. Migalhas, 2019.

Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/163956/o-direito-do-consumidor-no-brasil-e-sua-


breve-historia. Acesso em: 7 set. 2021.
13

do Código de Hamurabi: “o construtor de barcos estava obrigado a refazê-lo em caso


de defeito estrutural, dentro do prazo de até um ano”.3
O termo consumerismo deriva do inglês consumerism, e está relacionado com
o movimento social surgido nos Estados Unidos da América (EUA) no final do século
XIX, contra a produção, a comercialização e a comunicação em massa, contra os
abusos nas técnicas de marketing, propaganda, a periculosidade de produtos e
serviços, visando à qualidade e confiabilidade destes. Tinha como principal premissa
trazer mais igualdade a uma relação desigual entre consumidores e empresas4
Um marco dessa perspectiva foi o discurso do Presidente John Kennedy, em
1962, que se inicia com a frase: “Consumidores, por definição, somos todos nós”.
Defendeu, em sua fala, a necessária proteção a esse grupo econômico, por parte do
Estado, que deveria tutelar seus interesses. Do contrário, todo o desenvolvimento e
crescimento do país estariam em cheque.5
Nas décadas seguintes, Guglinski explica que se iniciou um movimento de
codificação dos direitos dos consumidores, nos países de Civil Law6, e de um avanço
jurisprudencial nessa mesma linha, nos países de Common Law7. A trajetória não foi
simples, “para que se chegasse à proteção atual. Avanços e retrocessos foram
constantes, como em todos os âmbitos do Direito. Entretanto, pode-se dizer que foi

3 SANTOS, Altamiro José dos. Direitos do Consumidor. Revista do IAP. Curitiba, Instituto dos
Advogados do Paraná, n. 10, 1987. p. 79.
4 GUGLINSKI, Vitor. Breve histórico do direito do consumidor e origens do código de defesa do

consumidor. Meu Jurídico. Direito do Consumidor, 2019. Disponível em:


https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/05/08/breve-historico-direito-consumidor-e-
origens-codigo-de-defesa-consumidor/. Acesso em: 7 set. 2021.
5 ROCHA, Everardo. FRID, Marina. CORBO, William. O paraíso do consumo: Émile Zola, a magia e

os grandes magazines. 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2016.


6 O Civil Law, também chamado de sistema romano-germânico, é um sistema jurídico que tem a lei

como fonte imediata de direito, isto é, que utiliza as normas como fundamento para a resolução de
litígios. Esse sistema jurídico é utilizado em todos os países da Europa continental e da América
Latina e em diversos países da Ásia e da África. SIGNIFICADOS. O que é Civil Law? Direito. 2020.
Disponível em: https://www.significados.com.br/civil-law/. Acesso em: 22 out. 2021.
7 O Common Law é utilizado no Reino Unido, nos Estados Unidos e em diversos outros países que

foram colônias britânicas. Neste sistema jurídico, a fonte primária do Direito é a jurisprudência, isto é,
as decisões que foram tomadas em julgamentos anteriores. As leis escritas servem como
embasamento apenas quando a jurisprudência não é capaz de solucionar a questão.
As decisões judiciais no Common Law têm caráter ambivalente, pois além de resolverem litígios,
servirão como normas para casos futuros. Esse sistema utiliza o processo indutivo de análise. .
SIGNIFICADOS. O que é Common Law? Direito. 2020. Disponível em:
https://www.significados.com.br/civil-law/. Acesso em: 22 out. 2021.
14

encontrado um relativo equilíbrio, capaz de garantir condições básicas para os


indivíduos”.8
O movimento se fortaleceu espalhando-se pelo mundo. Desse modo,
estabelecia-se um novo paradigma de Direito do Consumidor, que certifica neste um
sujeito de direitos específicos e lhe confere direitos fundamentais.
No Brasil, foi aplicada a estrutura do direito português até que leis próprias
fossem instituídas. Sob influência do direito europeu, essas leis compunham-se de
normas de direito civil, comercial, entre outras e traziam modestas disposições acerca
do consumidor. Ensina Roberto que não é possível compreender o momento atual do
direito privado brasileiro sem olhar para sua história. “Para tanto, não será suficiente
começar com o desembarque das caravelas portuguesas em 1500. A história é mais
antiga. O direito brasileiro é filho do direito português que, a seu turno, participa de um
contexto mais amplo”.9
Quanto às legislações correlatas que serviram de suporte ao tema, a exemplo:
O Decreto n. 22.626, de 1933 (ainda em vigor), destinado a reprimir a usura;
o Decreto-Lei n. 869 de 1938, que tratava sobre os crimes contra a economia
popular e, em 1962, a Lei n. 4.137, sobre a Repressão ao Abuso
Econômico”.ao qual muitos atribuem a característica de inauguração do
direito consumerista brasileiro. Destaca-se ainda, em nível estadual, a criação
do Procon de São Paulo, em 1978, por meio da Lei n. 1.903, de 1978, e no
âmbito federal, em 1985, o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor por
meio de Decreto n. 91.469, experiências iniciais relativas à defesa específica
do consumidor.10

Estudos apontam que “na segunda metade da década de 80 o consumidor


brasileiro preocupou-se mais com seus direitos, em especial após a implantação do
Plano Cruzado e toda a celeuma dele decorrente”.11 Entretanto, somente com o novo
texto constitucional de 1988, os direitos do consumidor receberam a maior proteção,
tornando-se cláusula pétrea prevista no inciso XXXII de seu art. 5º, dispondo que:
O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Determinou
ainda no art. 48, do Ato das Disposições Transitórias que: “O Congresso

8 GUGLINSKI, Vitor. Breve histórico do direito do consumidor e origens do código de defesa do


consumidor. Meu Jurídico. Direito do Consumidor, 2019. Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/05/08/breve-historico-direito-consumidor-e-
origens-codigo-de-defesa-consumidor/. Acesso em: 7 set. 2021. p. 3.
9 ROBERTO, Giordano Bruno Soares. Introdução à história do Direito Privado e da codificação:

uma análise do novo Código Civil. 4.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2018. E-book.
10 VIEIRA, Fernando Borges. O direito do consumidor no Brasil e sua breve história. Migalhas, 2019.

Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/163956/o-direito-do-consumidor-no-brasil-e-sua-


breve-historia. Acesso em: 7 set. 2021.
11 ALCARÁ, Marcos. A evolução do direito do consumidor. Universidade Estadual de Mato Grosso do

Sul, Unidade Universitária de Dourados/MS. Revista Jurídica Direito, Sociedade e Justiça, 2013.
Disponível em: https://periodicosonline.uems.br/index.php/RJDSJ/article/view/655/619. Acesso em: 7
set. 2021. p. 11.
15

Nacional, dentro de 120 (cento e vinte) dias da promulgação da


Constituição, elaborará Código de Defesa do Consumidor”. A codificação
aconteceu depois de decorridos quase 2 (dois) anos. 12

Ressalta-se que os direitos ali expressos são garantias fundamentais dos


cidadãos, as quais não podem ser alteradas (sofrer restrições) ou suprimidas nem
mesmo por emenda constitucional. Ainda na CRFB/88 os artigos 150, parágrafo 5º e
170, V - delimitaram que o poder público é limitado para tributação e o direito do
consumidor é previsto como princípio base para a atividade econômica. 13
O Código foi votado e aprovado na edição da Lei nº 8.078, de 11 de setembro
de 1990, criando assim, o CDC, porém passou a vigorar somente a partir de 11 de
março de 1991, contribuindo para estruturação do tema no Brasil. Assim, surgiram as
bases normativas específicas para a relação consumidor/fornecedor de bens e
serviços trazendo para ambos uma consciência mais presente das obrigações e
direitos que cada qual conserva.14
Considerada uma das leis mais democráticas até hoje editadas no Brasil, pois:
Contou com intensa participação de diversos setores da sociedade civil
(associações de defesa do consumidor, órgãos públicos relacionados ao
consumidor, Ministério Público, entidades empresariais etc.), que
apresentaram inúmeras sugestões na sua elaboração. Por isso mesmo,
nações avançadas na tutela dos direitos do consumidor consideram nosso
CDC como uma das legislações mais avançadas na matéria e até o tem
utilizado como paradigma para reforma e elaboração de suas respectivas leis
de proteção ao consumidor (Holanda, Portugal, Itália, Canadá etc.).15

Importante destacar que o CDC tem um alcance que envolve “desde relações
de compra de produtos (alimentos, roupas, brinquedos, eletrônicos), compra de bens
duráveis (terrenos, apartamentos, carros) até as contratações de serviços (plano de
saúde, telefonia móvel, conserto de eletrodomésticos)”.16 Estabelece normas de
proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social.

12 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Presidência da República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 8 set. 2021.
13 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Presidência da República, 1988. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 8 set. 2021.
14 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá

outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.


Acesso em: 8 set. 2021.
15 SÃO PAULO. Ministério Público. O direito do consumidor no 3º milênio. Escola Superior do

Ministério Público de São Paulo. Caderno Jurídico Escola Superior do Ministério Público de São
Paulo Ano 3. v.2. n.6 - janeiro/2014. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Cadernos_Tematicos/direito_co
nsumidor.pdf. Acesso em: 8 set. 2021.
16 FILOMENO, José Geraldo Brito. Direitos do Consumidor. 15. ed. Rev., atual. e refor. Atlas: São

Paulo, 2018.
16

2.1.2 Fontes

No ordenamento jurídico brasileiro a proteção legal do consumidor tem como


característica eixo constitucionalização e codificação. Ambas as codificações,
CRFB/88 e o CDC estão no núcleo do Direito do Consumidor, com o destaque de ser
a Lei nº 8.078/90 produzida, ela própria, em atenção a um específico mandamento
constitucional de codificação.17
Portanto, o CDC não esgota, infraconstitucionalmente o direito que normatiza,
pois precisa se organizar com outras leis, como microssistema. Por ter tal Código
normas que se referem a outras, de base processual, civilista e administrativa, em
especial, deve se harmonizar com essas normas. “Sua natureza é derrogatária, do
que decorre a necessidade de saber o que altera e o que preserva de institutos
tradicionais”.18
A título de exemplo a disciplina dos contratos de consumo precisa se coordenar
com a teoria geral dos contratos, de semelhante maneira como deve se coordenar as
normas processuais do código, com a disciplina processual geral. “Além dessa relação
do microssistema, com as teorias gerais, o Direito do Consumidor tem fontes setoriais.
Regulações setoriais trazem, eventualmente, problemas específicos de relação de
consumo”.19
O mesmo autor explica também que com relação aos outros ramos do Direito,
o Direito do Consumerista exige:
O que se costuma chamar ‘diálogo de fontes’, uma ‘conversa’ teleológica e
sistêmica, com as normas inseridas nas teorias gerais dos institutos que
aproveita (contrato, responsabilidade civil, processo, por exemplo).
Inicialmente, ao ser promulgado, o CDC representou uma fratura na disciplina
tradicional, em diversos pontos. Muito se discutiu, por exemplo, sobre os
efeitos das inovações legislativas em matéria consumerista, sobre os grandes
códigos.20

17 NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 11.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2017.
18 SÃO PAULO. Ministério Público. O direito do consumidor no 3º milênio. Escola Superior do

Ministério Público de São Paulo. Caderno Jurídico Escola Superior do Ministério Público de São
Paulo Ano 3. v.2. n.6 - janeiro/2014. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Escola_Superior/Biblioteca/Cadernos_Tematicos/direito_co
nsumidor.pdf. Acesso em: 8 set. 2021.
19 SCHUSTERSCHITZ, Marcio. Fontes do direito do consumidor. Consumidor em posts, 2019.

Disponível em: https://marcioschusterschitz.com/2019/01/03/fontes-do-direito-do-consumidor/. Acesso


em: 11 ago. 2021.
20 SCHUSTERSCHITZ, Marcio. Fontes do direito do consumidor. Consumidor em posts, 2019.

Disponível em: https://marcioschusterschitz.com/2019/01/03/fontes-do-direito-do-consumidor/. Acesso


em: 11 ago. 2021.
17

Diante disso, considera-se o direito comparado “é uma boa luz de proa para
estabelecer a interpretação de normas de proteção do consumidor, ao importar
acepções já conferidas a relações similares, lembrando das interconexões que a
tecnologia imprime aos cidadãos mundialmente”.21
Enfrenta-se um grande desafio na relação que existe entre regulação jurídica
da proteção do consumidor e da internet, afinal, com a migração da economia para o
ambiente digital, surge nesse cenário relações de consumo dinâmicas, tendo em foco
a velocidade com que as empresas criam produtos e serviços, é necessário que as
fontes do direito que assegura essa proteção acompanhem tal velocidade.22
Neste contexto, a jurisprudência é uma excelente aliada da compreensão das
normas do CDC e também dos seus princípios, delimitados nos artigos 4º a 6º do
referido diploma legal. Portanto, quando há dilema sobre qual normativo aplicar para
a relação jurídica consumerista, em caso de inexistência de norma específica, buscar
a interpretação da relação nos princípios é um modo seguro para se proceder.23
Apesar da Lei nº 8.078/90 ser um microssistema jurídico, não deve “afastar a
aplicação de outras normas, não importando se elas são nacionais ou
internacionais”24, porém para interpretá-las é imprescindível observar o ponto de
convergência entre elas: à vulnerabilidade do consumidor, que será estudada a seguir.

2.2 CAMPO DE APLICAÇÃO DO CDC

É uma Lei Principiológica que se destina a efetivar, no plano infraconstitucional,


os princípios constitucionais de proteção e defesa dos consumidores. Para tanto, o
CDC “criou uma sobre estrutura jurídica multidisciplinar, normas de sobre Direito
aplicáveis em todos os ramos do Direito em que ocorrem as relações de consumo
entre consumidores e fornecedores de produto”.25

21 KAGEYAMA, André. Histórico do direito do consumidor no Brasil, suas principais fontes e


princípios. Themis, 2020. Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/direito-do-consumidor/#3.
Acesso em: 15 set. 2021.p.1.
22 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor: direito material e processual. 6.ed. Rio de

Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.


23 FILOMENO, José Geraldo Brito – Direitos do Consumidor. 15. ed. Rev., atual. e refor. Atlas: São

Paulo, 2018.
24 GANDOLFE, Lucas Teoria do diálogo das fontes na relação de consumo e o seu reconhecimento

jurisprudencial. Migalhas, 2019. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/300568/teoria-


do-dialogo-das-fontes-na-relacao-de-consumo-e-o-seu-reconhecimento-jurisprudencial. Acesso em:
15 set. 2021.
25 SIQUEIRA, Roberta C. de M. Proteção do consumidor. Direito do Consumidor. 2015. p.5.
18

Assim, passa-se a estudar os pontos principais dessa relação.

2.2.1 Quem é o consumidor

Com o objetivo de auxiliar o reconhecimento de uma relação de consumo na


qual aplica-se as normas da Lei nº 8.078/90, em seu texto, delimita-se o conceito de
quem pode ser considerado como consumidor no art. 2º a saber: “Consumidor é toda
pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final”. E em seu parágrafo único: “Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”.26
No Brasil, há duas escolas que conceituam o consumidor: “finalista ou
subjetiva, cuja origem se deu com as escolas francesas - considerada mais
restritiva - e a maximalista ou objetiva - a qual adota um conceito mais amplificado de
consumidor”.27
A primeira escola de pensamento, chamada subjetiva ou finalista, procura
encaixar no conceito de consumidor:
Apenas aqueles que sejam considerados realmente vulneráveis na relação
jurídica assimétrica de consumo. Para tal, considera como consumidor aquele
que seja o destinatário final e econômico do serviço ou produto. Destinatário
final porque retira o bem do mercado. Destinatário econômico porque não o
reemprega no mercado para fins de exercício de sua própria atividade,
exaurindo a função econômica do bem.28

Ou seja, na primeira escola há uma leitura restritiva do conceito de destinatário


final, referido na lei. De acordo com o entendimento de Braga Netto para os finalistas
“o consumidor seria apenas aquele que se aproveita dos produtos ou serviços para si,
sua família ou em uso doméstico. Há para essa corrente, uma leitura restritiva do
conceito de destinatário final, referido na lei”.29

26 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá


outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.
Acesso em: 8 set. 2021.
27 ZAPOLLA, Letícia Ferrão; CARDOSO, Jair Aparecido. Do conceito jurídico de consumidor: a

dialética disputa entre finalistas e maximalistas. In: Anais Do Congresso Brasileiro de Processo
Coletivo e Cidadania, n. 3, p.441-457, out. 2015. Disponível em:
hhttps://revistas.unaerp.br/cbpcc/article/download/68/627/338. Acesso em: 14 set. 2021.
28 ROCHA, Thiago dos Santos. Dos conceitos de consumidor, fornecedor, produto e serviço no CDC.

Uma análise dos artigos 1º ao 3º do microssistema consumerista. Revista Jus Navigandi,


Teresina, ano 23, n. 5550, 11 set. 2018. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/67844. Acesso
em: 14 set. 2021.
29 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de Direito do Consumidor: à luz jurisprudência do STJ.

Salvador: JusPodivm, 2019. p. 151.


19

Por outro lado, para escola maximalista a definição do art. 2º deve ser
interpretada o mais extensamente possível, para que as normas do CDC possam ser
aplicadas a um número cada vez maior de relações no mercado. Consideram que a
definição do art. 2º “é puramente objetiva, não importando se a pessoa física ou
jurídica tem ou não tem lucro quando adquire um produto ou utiliza um serviço.
Destinatário final seria o destinatário fático do produto, aquele que o retira do mercado
e o utiliza, o consome”.30
Assim, os maximalistas creem que “também são abrangidos pela proteção
dada ao consumidor, aqueles que adquirem os produtos ou os usam
profissionalmente, desde que, claro, não seja para revenda”.31 Zapolla e Cardoso
advertem que para tal corrente, “pouco importa a utilização do bem ou serviço
consumido, se este será utilizado para fins profissionais ou não profissionais, sendo
relevante apenas o ato do consumo, ou seja, é mais ampla do que a finalista, a qual
considera o uso de tal bem ou serviço”.32
Dessa forma, Almeida assevera que ao passo que na teoria finalista “o grande
questionamento reside na impossibilidade de inclusão de pessoa jurídica no conceito
de consumidor, na maximalista há uma preocupação em definir em quais casos esta
deve ser considerada como tal”.33 Logo, o CDC seria o Diploma apropriado para tutelar
toda e qualquer relação de mercado, de maneira independente do sujeito que a
desenvolve, seja pessoa física ou não.
Cabe destaque a opinião de Martins: “Na jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça (STJ), o Direito do Consumidor é uma das mais desafiadoras disciplinas
que a Corte debate em seus julgamentos e, dos pontos mais complexos está na
definição do que seja consumidor”.34

30 MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao


Código de Defesa do Consumidor. 5.ed. São Paulo: RT, 2016. p. 123.
31 BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Manual de Direito do Consumidor: à luz jurisprudência do STJ.

Salvador: JusPodivm, 2019. p. 152.


32 ZAPOLLA, Letícia Ferrão; CARDOSO, Jair Aparecido. Do conceito jurídico de consumidor: a

dialética disputa entre finalistas e maximalistas. In: Anais Do Congresso Brasileiro de Processo
Coletivo e Cidadania, n. 3, p.441-457, out. 2015. Disponível em:
hhttps://revistas.unaerp.br/cbpcc/article/download/68/627/338. Acesso em: 14 set. 2021.
33 ALMEIDA, Fabrício Bolzan de. Direito do Consumidor Esquematizado. São Paulo: Saraiva,

2018. p. 62.
34 MARTINS, Humberto. Relações de consumo na visão do Superior Tribunal de Justiça (Parte 1).

Consultor Jurídico, 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-ago-15/direito-civil-atual-


relacao-consumo-visao-superior-tribunal-justica-parte. Acesso em: 15 set. 2021. p. 2-3.
20

Isso porque, ao tratar da análise das relações de consumo, o STJ já se


manifestou pela Teoria Finalista Mitigada que considera o consumidor:
Tanto a pessoa que adquire para o uso pessoal quanto os profissionais
liberais e os pequenos empreendimentos que conferem ao bem adquirido a
participação no implemento de sua unidade produtiva, desde que, nesse
caso, demonstrada a hipossuficiência, sob pena da relação estabelecida
passar a ser regida pelo CC.35

No prisma da argumentação jurídica, há inúmeras interpretações de


consumidor, com base na legislação e na doutrina. Dentre elas quatro podem ser
extraídas do CDC, sendo que um deles é material e os outros três sentidos são por
equiparação, que assim podem ser organizados:
a) o artigo 2º do CDC dispõe que “consumidor é toda pessoa física ou jurídica
que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”;
b) o parágrafo único do artigo 2º do CDC equipara a consumidor “a
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo”;
c) o artigo 17 do CDC também equipara a consumidor todas as vítimas do
dano causado pelo fato do produto e do serviço; e
d) o artigo 29 do CDC indica que são equiparadas a consumidor todas as
pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais e que, por
isso, fazem jus à proteção contratual.36

A doutrina convencionou chamar de consumidor por equiparação ou bystander


todos aqueles que, “embora não tenha participado diretamente da relação de
consumo, sofre as consequências do efeito danoso decorrente de defeito na
prestação de serviço à terceiros, que ultrapassa o seu objeto”.37
Verifica-se então, que o consumidor é aquele que age com vistas ao
atendimento de suas necessidades próprias ou de outrem38, isto é, aquele que não
adquire produtos ou serviços visando repassá-los em busca de lucro.

35 DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça. Consumidor segundo a teoria


finalista aprofundada. Jurisprudência em temas. 2019. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-do-tjdft-
1/definicao-de-consumidor-e-fornecedor/mitigacao-da-teoria-finalista-para-o-finalismo-aprofundado.
Acesso em: 1 out. 2021.
36 MARTINS, Humberto. Relações de consumo na visão do Superior Tribunal de Justiça (Parte 1).

Consultor Jurídico, 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-ago-15/direito-civil-atual-


relacao-consumo-visao-superior-tribunal-justica-parte. Acesso em: 15 set. 2021. p. 3.
37 RESENDE, Gustavo Altino. Os direitos do consumidor por equiparação. Migalhas. 2019.

Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/298335/os-direitos-do-consumidor-por-


equiparacao. Acesso em: 1 out. 2021.
38 NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 11.ed. rev. e atual. - São Paulo: Saraiva,

2017. p. 153.
21

2.2.2 Vulnerabilidade do consumidor na relação de consumo

É incontestável que a relação de consumo apresenta clara vulnerabilidade de


uma das partes, sendo especificamente o consumidor. Trata-se de um conceito que
fundamenta todo o sistema consumerista, “o qual busca proteger a parte mais frágil
da relação de consumo, a fim de promover o equilíbrio contratual que decorre dos
fornecedores estarem em uma posição majoritária, tanto economicamente, quanto de
informações”.39
O CDC parte do pretexto de que o consumidor é um sujeito vulnerável ao
adquirir produtos e serviços ou simplesmente se expor a práticas do mercado. Por
isso, assegura o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de
consumo, Bessa e Moura pontuam que:
A vulnerabilidade é o ponto fundamental do CDC e, na prática, traduz-se na
insuficiência, na fragilidade de o consumidor se manter imune a práticas
lesivas sem a intervenção auxiliadora de órgãos ou instrumentos para sua
proteção. Por se tratar de conceito tão relevante, a vulnerabilidade permeia,
direta ou indiretamente, todos os aspectos da proteção do consumidor. 40

A razão desta proteção é porque o consumidor é considerado o elo mais fraco


da economia e, por isso, é importante que haja uma lei especial para conferir-lhe uma
tutela maior. Esta proteção está consolidada nos artigos iniciais do CDC que norteiam
toda a tutela do consumidor vulnerável da relação de consumo.41
O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor tem previsão no inciso I
do art. 4º, a saber:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia
das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

39 DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça. Princípio da vulnerabilidade do


consumidor. Jurisprudência em temas. 2021. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-do-tjdft-
1/principios-do-cdc/principio-da-vulnerabilidade-do-consumidor-1. Acesso em: 15 set. 2021.
40 BESSA, Leonardo Roscoe; MOURA, Walter José Faiad de. Ministério da Justiça. Secretaria

Nacional do Consumidor. Manual de Direito do Consumidor. 4. ed. - revis. e atual. Brasília/DF,


2014. p. 77. Disponível em: https://www.defesadoconsumidor.gov.br/images/manuais/manual-do-
direito-do-consumidor.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.
41 BESSA, Leonardo Roscoe; MOURA, Walter José Faiad de. Ministério da Justiça. Secretaria

Nacional do Consumidor. Manual de Direito do Consumidor. 4. ed. - revis. e atual. Brasília/DF,


2014. Disponível em: https://www.defesadoconsumidor.gov.br/images/manuais/manual-do-direito-do-
consumidor.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.
22

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de


consumo;.42

Dessa maneira, o consumidor é reconhecido “como a parte mais frágil da


relação jurídica de consumo. Por se tratar de conceito tão relevante, a vulnerabilidade
permeia, direta ou indiretamente, todos os aspectos da proteção do consumidor”.43
Sobre a discussão do tema Tartuce esclarece que trata-se de: “uma presunção
absoluta, na qual a expressão consumidor vulnerável é pleonástica, uma vez que
todos os consumidores têm tal condição, decorrente de uma presunção que não
admite discussão ou prova em contrário”.44
Como salienta Martins:
Por um lado, nota-se a essencialidade de se reconhecer a vulnerabilidade do
consumidor, visto que os fornecedores se organizam, quase sempre, em
estruturas verticalizadas capazes de transformar insumos em produtos e de
reduzir os custos de transação. Por outro lado, o consumidor não tem
qualquer controle sobre essas estruturas nas quais os fornecedores se
organizam, nem sobre o correspondente ciclo de produção, o que o torna
desconhecedor dos meandros da relação de consumo e sujeito às regras dos
titulares dos bens de produção, além de ser frágil contratual e, em tese,
economicamente.45

Conhecido o conceito de consumidor e sua vulnerabilidade na relação de


consumo, abordar-se-á a definição de fornecedor para que assim, seja possível
estudar as relações de consumo entre eles.

2.2.3 Quem é o fornecedor

Outro agente da relação de consumo é o fornecedor de produtos e serviços,


que também recebe conceituação na Lei nº 8.078/90, disposta no seu art. 3º:
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.46

42 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá


outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.
Acesso em: 8 set. 2021.
43 ROCHA, Thiago dos Santos. Dos conceitos de consumidor, fornecedor, produto e serviço no CDC.

Uma análise dos artigos 1º ao 3º do microssistema consumerista. Revista Jus Navigandi,


Teresina, ano 23, n. 5550, 11 set. 2018. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/67844. Acesso
em: 14 set. 2021.
44 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito do Consumidor: direito material e processual. 6.ed. Rio de

Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.p.33.


45 MARTINS, Humberto. Relações de consumo na visão do Superior Tribunal de Justiça (Parte 1).

Consultor Jurídico, 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-ago-15/direito-civil-atual-


relacao-consumo-visao-superior-tribunal-justica-parte. Acesso em: 15 set. 2021. p.2.
46 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
23

Nessa perspectiva, considera-se que fornecedor pode ser pessoa física ou


jurídica, não importando a característica de sua forma (pública, privadas ou até
mesmo sem personalidade), tão pouco se é nacional ou não. Para distingui-lo, é
essencial conhecer sua posição na relação consumerista. Dessa forma, quando ele
não estiver como destinatário final será o fornecedor. 47
Em vista disso, fornecedores estão ligados ao comércio, agindo para isso, com
caráter profissional, e, para que este se faça existente, atribui-se também a
característica de fim lucrativo, isto é, aquele “que produz, monta, cria, constrói,
transforma, importa, exporta, distribui ou comercializa produtos ou prestações de
serviços, onde existam fins de remuneração”.48 Assim, todo aquele que desempenha
exercício profissional é, portanto, um fornecedor.
Ademais, uma característica relevante de um fornecedor é a habitualidade de
suas atividades. Oferece no mercado de consumo os seus produtos ou serviços,
buscando o lucro ou não. No entanto, auferir dinheiro é a verdadeira finalidade. Além
disso, entidades filantrópicas, por exemplo, podem muito bem produzir e vender
produtos para garantir o próprio sustento.49
Por isso, aquele que vende a um terceiro algo que não lhe é mais útil, não pode
ser considerado de fato um fornecedor, já que é fundamental que a venda de produtos
seja habitual. Logo, a habitualidade é também um atributo dos fornecedores. Aquele
que participa da cadeia produtiva, quer seja direta ou indiretamente, tendo como
objetivo o lucro, pessoa jurídica ou não, desde que ofereça bens e serviços de forma
habitual e profissional é, portanto, um fornecedor, independente de estar com sua
situação regularizada ou não.50
A grande e a pequena indústria, a grande e a pequena loja, a grande fábrica de
doces e a doceira que trabalha em casa, todos são considerados fornecedores pelo
CDC, desde que trabalhem com o objetivo de lucro. Inclusive:

outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.


Acesso em: 8 set. 2021.
47 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2019.
48 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2019. p.

85.
49 ROCHA, Thiago dos Santos. Dos conceitos de consumidor, fornecedor, produto e serviço no CDC.

Uma análise dos artigos 1º ao 3º do microssistema consumerista. Revista Jus Navigandi,


Teresina, ano 23, n. 5550, 11 set. 2018. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/67844. Acesso
em: 14 set. 2021.
50 ALMEIDA, Fabrício Bolzan de. Direito do Consumidor Esquematizado. São Paulo: Saraiva,

2018.
24

Enquadrou como fornecedores os entes despersonalizados (o espólio, a


massa falida e o consórcio de empresas) eis que são sujeitos de direito. A
massa falida pode ser demandada com base no CDC, por exemplo, caso
ocorra um acidente de consumo envolvendo produtos ou serviços
comercializados antes da decretação da falência. 51

Dessa maneira e à priori, fornecedores são todas pessoas capazes, físicas ou


jurídicas, além dos entes desprovidos de personalidade. Não há exclusão alguma do
tipo de pessoa jurídica, já que o CDC é genérico e busca atingir todo e qualquer
modelo. Incluindo-se:
As pessoas jurídicas públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, com
sede ou não no país, as sociedades anônimas, as por quotas de
responsabilidade limitada, as sociedades civis, com ou sem fins lucrativos, as
fundações, as sociedades de economia mista, as empresas públicas, as
autarquias, os órgãos da Administração direta etc. 52

Delineados os conceitos de consumidor e fornecedor, passa-se ao exame das


relações de consumo entre eles.

2.2.4 Relações de consumo entre consumidores e fornecedores de produto

Para definir a relação de consumo é imprescindível se descobrir sobre em que


situações será aplicável ou não a Lei nº 8.078/90. Quando num dos polos da relação
se identificar o consumidor e no outro o fornecedor, ambos comercializando produtos
e serviços, ficará instituída uma relação de consumo, para a qual será aplicado o CDC
e, em caso contrário, aplica-se o Código Civil (CC).53
A relação de consumo é, essencialmente, o vínculo jurídico, ou o pressuposto
lógico do negócio jurídico celebrado de acordo com as normas da Lei nº 8.078/90, que
não apresenta de forma expressa a conceituação de relação de consumo, citando
somente os seus elementos subjetivos e objetivos, o que, por si só, já possibilita traçar
os contornos deste tipo de relação jurídica. Desse modo, são elementos da relação
de consumo:
a) Elementos subjetivos: o credor, o devedor e o consensualismo que deve
existir entre eles como uma convergência de vontades para que o acordo seja
pactuado sem vícios e sem prejuízo de igualdade entre os sujeitos
envolvidos;
b) Elementos objetivos: o negócio celebrado entre as partes, como um
instrumento para a concretização e formalização do vínculo jurídico, e o bem,

51 LAGES, Leandro. Código de Defesa do Consumidor. A lei, a jurisprudência e o cotidiano. 2.ed.


São Paulo: Lumen Juris, 2015. p. 32.
52 NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 11.ed. rev. e atual. - São Paulo: Saraiva,

2017. p.171.
53 LAGES, Leandro. Código de Defesa do Consumidor. A lei, a jurisprudência e o cotidiano. 2.ed.

São Paulo: Lumen Juris, 2015.


25

seja móvel, imóvel, corpóreo ou incorpóreo, objeto mediato da relação


jurídica.54

A ausência de qualquer um desses requisitos descaracteriza a relação jurídica


de consumo, afastando-a, portanto, do âmbito de aplicação do CDC. Assim, consiste
na atividade ou serviço é a ação humana que tem por vistas uma finalidade, tendo a
lei do consumidor delimitado as relações jurídicas no polo final de consumo, definindo
as regras da lei que serão aplicadas nessa relação.55
Salienta-se, ainda, que o conceito legal de produto está descrito no § 1º do Art.
3º, CDC, como se vê:
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 56

Logo, a definição legal é bastante genérica, incluindo no conceito qualquer bem


ainda que imaterial. Maciel entende que para aplicação do CDC é necessário que haja
o intuito de lucro do fornecedor e, exatamente por isto, “o produto deve revestir-se de
onerosidade. É dizer: os bens recebidos a título gratuito não devem enquadrar-se, a
princípio, na definição do CDC. Contudo, ao tratar especificamente dos produtos, o
código não faz qualquer distinção quanto à remuneração”.57
Na relação entre fornecedor e consumidor, Nunes adverte que não há que se
perder de vista os princípios constitucionais que devem nortear a aplicação do CDC,
como:
A dignidade da pessoa humana, proteção à vida, saúde e segurança,
transparência, harmonia, vulnerabilidade, liberdade de escolha, intervenção
do estado, boa-fé, equilíbrio, igualdade nas contratações, dever de informar,
proteção contra publicidade enganosa ou abusiva, cláusulas abusivas,
conservação, revisão, reparação a danos materiais e morais, proibição de

54 PAIVA, Clarissa Teixeira. O que caracteriza a relação de consumo. Revista Jus Navigandi. ano
20, n. 4401, 20 jul. 2015.. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/34128/o-que-caracteriza-uma-
relacao-de-consumo. Acesso em: 18 set. 2021.
55 MARTINS, Humberto. Relações de consumo na visão do Superior Tribunal de Justiça (Parte 1).

Consultor Jurídico, 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-ago-15/direito-civil-atual-


relacao-consumo-visao-superior-tribunal-justica-parte. Acesso em: 15 set. 2021. p. 3-4.
56 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá

outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.


Acesso em: 10 set. 2021.
57 MACIEL, Igor. Direito do consumidor. Resumo do CDC. 2018. Disponível em:

https://dhg1h5j42swfq.cloudfront.net/2018/09/29165243/Resumo-CDC.pdf. Acesso em: 30 set. 2021.


p.6.
26

tarifamento, reparação integral, direitos individuais e difusos, assistência


jurídica e acesso à justiça.58

Assim, explica ainda o autor, a melhor interpretação dos dispositivos é a que


“abrange no conceito de produto as amostras grátis, os brindes e demais artifícios
utilizados pelos fornecedores com o intuito de fidelizar ou ampliar sua clientela,
independente da contraprestação paga pelos consumidores”.59
Ante os argumentos supramencionados, verifica-se que não importa o tipo
contratual que as partes celebrarão para que uma dada relação jurídica seja, ou não,
de consumo, pois não é o negócio jurídico em si que faz incidir as normas do CDC. A
par da responsabilidade civil, objeto central desta pesquisa, merece destaque o
estudo no próximo capítulo.

58 NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 11.ed. rev. e atual. - São Paulo: Saraiva,
2017. p.172.
59 MACIEL, Igor. Direito do Consumidor. Resumo do CDC. 2018. Disponível em:

https://dhg1h5j42swfq.cloudfront.net/2018/09/29165243/Resumo-CDC.pdf. Acesso em: 30 set. 2021.


p.6.
27

3 RESPONSABILIDADE CIVIL

Neste capítulo será estudada a responsabilidade civil, seu conceito e sua


evolução histórica, seus pressupostos, ação ou omissão, culpa, nexo causal, dano e
na sequência excludente de ilicitude.

3.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Responsabilidade exprime ideia de restauração de equilíbrio, de


contraprestação, de reparação de dano. “O sentido embrionário do termo vem do
latim respondere, responder a alguma coisa, isto é, o dever que existe de
responsabilizar alguém por seus atos, sejam eles materiais, morais ou estéticos”.
Então, a ação humana capaz de resultar prejuízo a outrem, sujeita-se a
responsabilidade, pois aquele que causa prejuízo, tem a obrigação de repará-lo.60
Em seu sentido etimológico, responsabilidade exprime:
A ideia de obrigação, encargo, contraprestação. Em sentido jurídico, o
vocábulo não foge dessa ideia. A essência da responsabilidade está ligada à
noção de desvio de conduta, ou seja, foi ela engendrada para alcançar as
condutas praticadas de forma contrária ao direito e danosas a outrem.
Designa o dever que alguém tem de reparar o prejuízo decorrente da violação
de um outro dever jurídico. Em apertada síntese, responsabilidade civil é um
dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da
violação de um dever jurídico originário.61

A noção de responsabilidade no direito civil surge como uma obrigação


derivada, um dever sucessivo. Na definição de Gagliano e Pamplona Filho “a
responsabilidade, para o direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada
um dever jurídico sucessivo de assumir as consequências de um fato”.62
O art. 186 do CC dispõe sobre ela: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002).63
Dessa forma, a ação humana capaz de resultar prejuízo a outrem, se sujeita a
responsabilidade, pois aquele que causa prejuízo tem a obrigação de repará-lo.

60 TARTUCE. Manual de Direito Civil, 7. ed. São Paulo: Forense, 2017.p.35.


61 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 12. ed. – São Paulo: Atlas,
2015. p. 16.
62 GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil:

Responsabilidade Civil. 15. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 51.


63 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência

da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso


em: 25 set. 2021.
28

Consoante Gonçalves a responsabilidade exprime:


A ideia de restauração de equilíbrio, de contraprestação, de reparação de
dano. Sendo múltiplas as atividades humanas, inúmeras são também as
espécies de responsabilidade, que abrangem todos os ramos do direito e
extravasam os limites da vida jurídica, para se ligar a todos os domínios da
vida social. Coloca-se, assim, o responsável na situação de quem, por ter
violado determinada norma, vê-se exposto às consequências não desejadas
decorrentes de sua conduta danosa, podendo ser compelido a restaurar o
statu quo ante.64

Em vista disso, à atribuição das repercussões de determinado comportamento


ao seu autor, tem com finalidade, recompor o patrimônio lesado, para que assim, seja
possível voltar a possuir o estado anterior que foi violado pelo dano.
No que se refere à sua evolução histórica, é essencial o seu estudo para que
se identifique sua estrutura no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro, bem como
para análise de sua efetividade, já que nos ordenamentos jurídicos contemporâneos,
busca-se cada vez mais, ampliar o dever de indenizar, com objetivo de que cada vez
menos danos sejam irressarcidos.65
A responsabilidade civil tem uma extensa e morosa evolução histórica. Nas
sociedades primitivas, regidas por processos de ordem costumeira, reagiam-se as
ofensas e lesões sofridas de maneira imediata, direta e violentamente, ou seja,
quando havia uma agressão injusta contra a pessoa, a família ou o grupo social, a
reação era espontânea e imediata.66
Durante este período o fator culpa não era cogitado. “O indivíduo gerador do
dano instigava uma reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Durante esse
período, a aplicabilidade conceitual do que é ou deveria ser o direito era inexistente
e dava espaço para o império da vingança privada”.67
Consequentemente, a vingança se sobrepujava ao Direito, já que os homens
faziam justiça pelas próprias mãos.
Considerando a ótica da vingança privada, tem-se o marco histórico do Direito
Romano, que nasce da compreensão de que tal manifestação é natural e inerente do

64 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 4. Responsabilidade civil.13. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 15.
65 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Responsabilidade Civil - v. 7. São Paulo:

Saraiva, 2016.
66 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 12. ed. São Paulo: Atlas,

2015.
67 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 4. Responsabilidade civil.13. ed. São

Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 16.


29

ser humano. Entretanto, era importante intervir na sociedade, para que então, fosse
possível organizar um poder público que regulasse formas de reparação de danos.68
Nessa perspectiva, a vingança privada passou a ser normalizada com
fundamento no princípio da Lei do Talião, da retribuição do mal pelo mal, conhecido
até hoje pela expressão ‘olho por olho, dente por dente’. Embora a reação contra o
mal injusto, era necessário que o poder público intervisse, pois por meio dele era
determinado quando e como a vítima da agressão teria o direito de retaliação, dando
a esta o direito de lesar o agressor inicial, de forma análoga a que tivesse sofrido.69
Em verdade, “para coibir abusos, o poder público intervinha apenas para
declarar quando e como a vítima poderia ter o direito de retaliação, produzindo na
pessoa do lesante dano idêntico ao que experimentou”.70 Não havendo, portanto,
distinção entre a responsabilidade civil e responsabilidade penal, pois tudo era
compreendido como pena imposta ao agressor.
Facilmente se observa que a responsabilidade era tida como objetiva no
período mais antigo, isto é, não dependia de uma comprovação de dolo ou culpa.
“Mais tarde, e representando essa mudança uma verdadeira evolução ou progresso,
abandonou-se a ideia de vingança e passou-se à pesquisa da culpa do autor do
dano.71
Então, compreendeu-se que seria mais vantajoso e racional, substituir a pena
de Talião pela compensação econômica. Por isso, no novo sistema o autor da
agressão reparava o mal que causou à vítima, realizando uma compensação com
pagamento de uma determinada quantia em dinheiro ou bens. Desse modo, a
vingança passou a ser substituída por uma composição econômica.72
Sob a égide do Estado, surgiu a composição legal ou tarifada. Ao contrário da
econômica, que partia da vontade da vítima, a nova composição passou a ser
obrigatória e tarifada, permitindo que o Estado determinasse o valor da pena a ser

68 GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil:
Responsabilidade Civil. 15. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2017.
69 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Responsabilidade Civil - v. 7. São Paulo:

Saraiva, 2016.
70 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Responsabilidade Civil - v. 7. São Paulo:

Saraiva, 2016. p. 40.


71 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 4. Responsabilidade civil.13. ed. São

Paulo: Saraiva Educação, 2018.


72 GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil:

Responsabilidade Civil. 15. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2017.


30

paga em inferência dos casos concretos, surgindo a Lex Aquilia de damno, ou seja, a
Lei Aquília.73
Instituída a referida lei, nota-se uma evolução sobre o tema Responsabilidade
Civil, iniciando-se um princípio norteador de compensação de dano, Venosa sustenta
que a Lei Aquiliana foi “um plebiscito aprovado provavelmente em fins do século III ou
início do século II a.C., que possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de obter o
pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse destruído ou deteriorado
seus bem”.74
Complementa ainda o mesmo autor que desse novo sistema extrai-se que: “O
princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independente
de relação obrigacional preexistente”.75
Este princípio tornou-se o ponto basilar da responsabilidade extracontratual,
não derivada de contrato e, por isso, denominada de responsabilidade aquiliana.
Certifica-se, portanto, que o nascimento da estrutura jurídica da responsabilidade
extracontratual, ocorreu no Direito Romano, inserindo-se a culpa como elemento
essencial ao direito de reparação do dano.76
Lima defende que é incontestável que a evolução do instituto da
responsabilidade extracontratual ou aquiliana se operou no direito romano, no sentido
de:
Incorporar o elemento subjetivo da culpa, contra o objetivismo do direito
primitivo, extinguindo-se do direito a ideia de pena, para substituí-la pela
reparação do dano sofrido. [...] A função da pena transformou-se, tendo por
fim indenizar, como nas ações reipersecutórias, embora o modo de calcular
a pena ainda fosse inspirado na função primitiva da vingança. 77

Contudo, somente no Código Napoleônico surgiram os contornos atuais do


instituto da responsabilidade civil que se opera atualmente. Os critérios e o rol dos
casos de reparação obrigatória, para a instituição do dever de reparar em todos os

73 SOUZA, Wendell Lopes Barbosa de. A perspectiva histórica da responsabilidade civil. Obras
Jurídicas. TJSP, 2016. Disponível em:
https://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/ObrasJuridicas/rc1.pdf?d=636680468024086265.
Acesso em: 25 set. 2021.
74 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil. v.4. São Paulo: Atlas, 2016. p. 21.
75 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil. v.4. São Paulo: Atlas, 2016. p. 21.
76 SANTANA, Felipe de Carvalho. A responsabilidade civil extracontratual e os seus pressupostos.

Revista de Direito UNIFACS. 2018. Disponível em:


https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/5396. Acesso em: 26 set. 2021.
77 LIMA, Alvino. Culpa e risco. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998.
31

casos de dano, independentemente do grau ou nível da culpa do agente ofensor,


foram extintos. 78
No ordenamento jurídico brasileiro, a responsabilidade civil foi expressa no art.
159 do Código Civil de 1916 (CC/16), que assim aduzia sobre os atos ilícitos:
"Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar
direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”.79
Revogado pelo atual CC que adota o princípio da responsabilidade civil com
base na culpa e define o ato ilícito conforme já estudado no art. 186. Estabelece ainda
no art. 927 que:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.80

Enquanto ciência a responsabilidade civil consolidou-se e ganhou status


constitucional na promulgação da CRFB/88. Em vista disso, extrai-se das lições de
Montenegro Filho:
Há um aumento expressivo das demandas como objetivo de obter reparação
por danos, máxime aquelas que buscam compensação por dano moral,
expressamente assegurado na Carta Magna em seu art. 1º, III que visa
retribuir integralmente o status que o ofendido tinha antes de ser lesado,
fixando-se a indenização na proporção do dano.81

Consagrou-se então, a base fundamental da responsabilidade civil que é o


princípio nemimem laedere, quer dizer, a ninguém é dado causar prejuízo a outrem.
A mencionada regra, com parcial correspondência ao art. 159 do revogado código,
também tratou da responsabilidade extracontratual (fora do contrato), há muito
conhecida como responsabilidade aquiliana, a qual comprovada à culpa, deve o
ofensor reparar os prejuízos suportados pelo ofendido. 82

78 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 31. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
79 BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm. Acesso em: 26 set. 2021.
80 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência

da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso


em: 25 set. 2021.
81 MONTENEGRO FILHO, Misael. Ação de Indenização no Novo CPC. 3.ed. rev. atual. e ampl. São

Paulo: Atlas, 2016.


82 MORAES, Rodrigo Jorge. A responsabilidade civil subjetiva e objetiva. Contextualização histórico-

evolutiva, características e aspectos distintivos, modalidades, aplicabilidade no direito privado, público


e difuso. Migalhas. 2018. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/284802/a-
responsabilidade-civil-subjetiva-e-objetiva--contextualizacao-historico-evolutiva--caracteristicas-e-
aspectos-distintivos--modalidades--aplicabilidade-no-direito-privado--publico-e-difuso. Acesso em: 26
set. 2021.
32

Acerca disso, novidade interessante trouxe a nova lei civil, “na exata medida
em que adotou dois sistemas de responsabilidade, quais sejam, a responsabilidade
subjetiva e a responsabilidade objetiva, mantendo-se a primeira (subjetiva) como
regra geral do nosso código, sustentada na teoria da culpa”.83
Em verdade, trata-se a responsabilidade civil do dever, da obrigação do
ofensor em restituir, restaurar o patrimônio (moral ou material) do ofendido, fazendo
voltar (ou que se aproxime ao máximo) ao estado quo ante da ação ou omissão
causadora do dano.84
Diante disso, para configurar a existência da responsabilidade civil, é preciso
que estejam presentes seus pressupostos, elementos caracterizadores, que serão
verificados a seguir.

3.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Analisando-se o art. 186 do CC, considerado a base fundamental da


responsabilidade civil, consagradora do princípio de que a ninguém é dado causar
prejuízo a outrem, embora a doutrina não seja uníssona sobre o assunto, a maioria os
extrai do referido artigo os seguintes pressupostos: a) conduta (positiva ou negativa);
b) dano ou prejuízo; c) o nexo de causalidade.85
Entre os doutrinadores que comungam com este entendimento está Cavalieri
Filho que entende como pressupostos da responsabilidade civil:
a) conduta culposa, que se extrai da expressão “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imperícia”;
b) nexo causal, expresso no verbo “causar”;
c) dano, revelado nas expressões “violar direito ou causar dano a outrem”. 86

Na mesma linha de raciocínio, Diniz leciona que os pressupostos são difíceis


de ser caracterizados devido à imprecisão na doutrina. Isso porque, haverá

83 GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil:
Responsabilidade Civil. 15. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2017.p.72.
84 MORAES, Rodrigo Jorge. A responsabilidade civil subjetiva e objetiva. Contextualização histórico-

evolutiva, características e aspectos distintivos, modalidades, aplicabilidade no direito privado, público


e difuso. Migalhas. 2018. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/284802/a-
responsabilidade-civil-subjetiva-e-objetiva--contextualizacao-historico-evolutiva--caracteristicas-e-
aspectos-distintivos--modalidades--aplicabilidade-no-direito-privado--publico-e-difuso. Acesso em: 26
set. 2021.
85 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: obrigações e reponsabilidade civil. v.2. São

Paulo, Saraiva, 2017.


86 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 12. ed. São Paulo: Atlas,

2015. p.40.
33

responsabilidade civil se houver uma ação comissiva ou omissiva qualificada


juridicamente; ocorrer um dano moral e/ou patrimonial causado à vítima por ato
comissivo ou omissivo do agente ou de terceiro por quem o imputado responde, ou
por fato de animal ou coisa a ela vinculada; nexo de casualidade entre dano e ação.
Então, é possível dizer que para que surja a obrigação de indenizar, é
necessário que estejam presentes os pressupostos da responsabilidade civil, que
serão apresentados na sequência.

3.3 CONDUTA HUMANA

Inicialmente, para analisar a responsabilidade civil, verifica-se como primeiro


pressuposto, a conduta humana, ação ou omissão que, para o direito passa a ter
importância quando delas surtem efeitos jurídicos. “Apenas pessoas naturais ou
jurídicas podem ser responsabilizadas civilmente, por ações ou omissões que causem
danos”. Assim, não há que se falar em um fato da natureza, mesmo que cause dano,
gerar responsabilidade civil.87
A conduta humana pode ser dividida em positiva ou negativa, a primeira
representa um ato ativo, a prática de uma conduta. Por outro lado, a segunda refere-
se à uma atuação omissiva/negativa e se traduz em um não fazer, em uma abstenção.
Nesse contexto, “a ação (ou omissão) humana voluntária é pressuposto necessário
para a configuração da responsabilidade civil. Cuida-se, em outras palavras, da
conduta humana, positiva ou negativa (omissão), guiada pela vontade do agente, que
desemboca no dano ou prejuízo”.88
Afirma-se ainda que a conduta deve ser voluntária, controlável pela vontade e,
por isso:
A voluntariedade, que é a pedra de toque da noção de conduta humana ou
ação voluntária, primeiro elemento da responsabilidade civil, não traduz
necessariamente a intenção de causar o dano, mas sim, e tão somente,
a consciência daquilo que se está fazendo. E tal ocorre não apenas quando
estamos diante de uma situação de responsabilidade subjetiva (calcada na
noção de culpa), mas também de responsabilidade objetiva (calcada na ideia
de risco), porque em ambas as hipóteses o agente causador do dano deve
agir voluntariamente, ou seja, de acordo com a sua livre capacidade de
autodeterminação. Nessa consciência, entenda-se o conhecimento dos atos

87 MENDONÇA, Rafael Dantas Carvalho. A responsabilidade civil no direito brasileiro. Conteúdo


Jurídico, 2018. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/51542/a-
responsabilidade-civil-no-direito-brasileiro. Acesso em: 28 set. 2021.
88 GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil:

Responsabilidade Civil. 15. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2017. p.77.


34

materiais que se está praticando, não se exigindo, necessariamente, a


consciência subjetiva da ilicitude do ato.89

Isto é, para que seja configurado o dever de indenizar, isto é, a


responsabilidade civil, o fato deve ser voluntário, controlável e dominável pelo homem,
excetuando-se a ação de eventos ocasionados por forças naturais ou por indivíduo
inconsciente.90
Conhecida a relevância do pressuposto em comento, observa-se que, se a
ação ou omissão forem a causa direta do dano, constituirão pressupostos à obrigação
de indenizar.

3.4 CULPA

A culpa tem dois sentidos: o amplo (lato sensu) e o estrito (stricto sensu). No
primeiro, a culpa compreende o dolo, ou seja, a intenção de prejudicar outrem, a ação
ou omissão voluntária delimitada no art. 186 do CC, a saber: “Art. 186 Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 91
Ao passo que, a culpa de sentido estrito, em outras palavras, é o desrespeito a
um dever precedente ou a violação de um direito subjetivo alheio, pela fuga de um
padrão geral de conduta. Tanto no artigo supracitado quanto no art. 159 do CC/16, a
culpa em sentido estrito é relacionada a três modelos jurídicos, sendo eles, a
imprudência, a negligência e a imperícia.92
Analisando a culpa strictu sensu:
É a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o
desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com
resultado não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na
consideração das consequências eventuais de sua atitude. 93

Insta salientar que a culpa em sentido amplo compreende: o dolo, que é a


violação intencional do dever jurídico, e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela

89 GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil:
Responsabilidade Civil. 15. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2017. p.77-78.
90 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 4. Responsabilidade civil.13. ed. São

Paulo: Saraiva Educação, 2018.


91 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência

da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso


em: 25 set. 2021.
92 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: obrigações e reponsabilidade civil. v.2. São

Paulo, Saraiva, 2017.


93 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil. v.4. São Paulo: Atlas, 2016. p. 24.
35

imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever.


Ademais, ressalta-se que a razão da indenização é essencialmente reparadora dos
danos sofridos pelo lesado, e não de punição ou sanção como na esfera penal.94
Marchi corrobora quando afirma que a imprudência vem a ser uma falta de
cuidado somada a uma ação, algo próximo da ideia de culpa: “in comittendo dos
romanos. A negligência, por sua vez, é uma falta de cuidado somada a uma omissão
(culpa in omittendo). Por fim, a imperícia pode ser definida como a falta de qualificação
geral para desempenho de uma função ou atribuição”.95
Destaca-se, ainda, que a culpa em sentido estrito possui dois elementos: “Um
objetivo, qual seja, a violação de um dever e o consequente desrespeito a um direito
alheio, e outro subjetivo, que é a previsibilidade da impossibilidade de praticar o ato,
por ato consciente ou até inconsciente”.96
Compreende-se que, para que se configure a obrigação de indenizar:
Não basta que o autor do fato danoso tenha procedido ilicitamente, violando
um direito (subjetivo) de outrem ou infringindo uma norma jurídica tuteladora
de interesses particulares. A obrigação de indenizar não existe, em regra, só
porque o agente causador do dano procedeu objetivamente mal. É essencial
que ele tenha agido com culpa: por ação ou omissão voluntária, por
negligência ou imprudência, como expressamente se exige no art. 186 do
Código Civil.97

Realizada as breves considerações sobre culpa, passa-se ao estudo do nexo


causal.

3.5 NEXO CAUSAL

O nexo de causalidade é o pressuposto que determinará ao magistrado se o


dano gerado a terceiro poderá ou não, ser avaliado como resultado da conduta (ação
ou omissão) praticada por um agente. É o liame que une a conduta do agente ao dano,

94 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Responsabilidade Civil - v. 7. São Paulo:
Saraiva, 2016.
95 MARCHI, Cristiane. A culpa e o surgimento da responsabilidade objetiva: evolução histórica,

noções gerais e hipóteses previstas no Código Civil. Revista dos Tribunais, 2017. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_
produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RTrib_n.964.08.PDF. Acesso em: 29 set. 2021.
96 MARCHI, Cristiane. A culpa e o surgimento da responsabilidade objetiva: evolução histórica,

noções gerais e hipóteses previstas no Código Civil. Revista dos Tribunais, 2017. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_
produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RTrib_n.964.08.PDF. Acesso em: 29 set. 2021.
97 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 4. Responsabilidade civil.13. ed. São

Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 25.


36

e, por meio de exame da relação causal é que se conclui quem foi o causador do
dano.98
Trata-se de elemento indispensável. A determinação do nexo causal é uma
situação de fato a ser avaliada no caso concreto, não sendo proveitoso enunciar uma
regra absoluta. Constitui o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil,
estabelecendo “a relação de causa e efeito entre a conduta culposa ou o risco criado
e o dano suportado por alguém”. Por esse motivo, nota-se que o nexo de causalidade
como um elo entre a conduta e o fato danoso.99
O vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se nexo causal, de modo que:
O fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua
consequência previsível. Tal nexo representa, portanto, uma relação
necessária entre o evento danoso e a ação que o produziu, de tal sorte que
esta é considerada como sua causa.100

Nesse contexto, lembra ainda Cavalieri Filho que “o nexo de causalidade é


elemento indispensável em qualquer espécie de responsabilidade civil. Pode haver
responsabilidade sem culpa, [...] mas não pode haver responsabilidade sem nexo
causal”.101
De uma forma simples, define-se nexo causal como a relação de causa e efeito
entre a conduta praticada e o resultado, que representa o dano e, sem a ocorrência
dele, não haverá responsabilidade civil.

3.6 DANO

A existência de dano é requisito indispensável para a reparação civil. Não seria


possível se falar em indenização, nem em ressarcimento se não existisse o dano. Este
pressuposto pode caracterizar-se como qualquer lesão sofrida pelo ofendido, tanto na
sua esfera patrimonial, quanto extrapatrimonial, que para Diniz pode ser caracterizado
como “a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma

98 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: obrigações e reponsabilidade civil. v.2. São
Paulo, Saraiva, 2017
99 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil. v.4. São Paulo: Atlas, 2016.
100 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Responsabilidade Civil - v. 7. São Paulo:

Saraiva, 2016. p. 129.


101 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed., rev. e ampl. São

Paulo: Atlas, 2015. p. 49.


37

pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou


moral”.102
Igualmente, define-se dano como uma subtração ou diminuição de um bem
jurídico, independente da sua natureza, tratando-se de um bem patrimonial, ou um
bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem a
liberdade etc. Em verdade, a responsabilidade civil não cuida unicamente de dano
patrimonial, incluindo-se também o dano moral.103
Sendo assim, via de regra, todos os danos causados deverão ser ressarcidos
à vítima. Porém, a dogmática civilista determina que, para que o dano seja reparado
de forma efetiva, alguns requisitos devem ser observados, sendo eles: a violação de
um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou jurídica;
a certeza do dano; e a subsistência do dano.104

3.7 EXCLUDENTES DE ILICITUDE

Conhecidos os elementos da responsabilidade civil, verifica-se agora as causas


excludentes de ilicitude, que afastam a responsabilidade do agente e rompem com o
nexo de causalidade. O art. 188 do CC estabelece tais causas que não acarretam
no dever de indenizar.
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito
reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim
de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os
limites do indispensável para a remoção do perigo.105

Assim, não haverá responsabilidade do agente quando o nexo de causalidade


estiver ausente. Cavalieri Filho ensina que: "Causas de exclusão do nexo causal

102 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Responsabilidade Civil - v. 7. São Paulo:
Saraiva, 2016.p.76.
103 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 12. ed. São Paulo: Atlas,

2015.
104 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil. v.4. São Paulo: Atlas, 2016.
105 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência

da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso


em: 23 out. 2020.
38

são, pois, casos de impossibilidade superveniente do cumprimento da obrigação não


imputáveis ao devedor ou agente”. 106
Além do art. 188 do CC, também haverá exclusão do nexo causal nas
seguintes hipóteses: culpa exclusiva da vítima (exemplo: art. 12, § 3º, III e art. 14,
3º, II do Código de Defesa do Consumidor (CDC); fato de terceiro (idem) e caso
fortuito e força maior (art. 393, do CC), a saber:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
[...]
§ 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será
responsabilizado quando provar:
[...]
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
[...]
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
[...]
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
[...]
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.107

E, por fim, o art. 393, do CC: “Art. 393. O devedor não responde pelos
prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se
houver por eles responsabilizado”.108
Colhe-se desse entendimento que dano é lesão a um interesse jurídico
tutelado, patrimonial ou não, causado por ação ou omissão do sujeito infrator.
Tecida uma abordagem que englobou os elementos necessários a
compreensão da origem e do corpo do instituto, é chegado o momento de se
aprofundar no exame acerca do objetivo central do presente estudo, cujo olhar ficará
a cargo do capítulo seguinte.

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed., rev. e ampl. São
106

Paulo: Atlas, 2012. p. 52.


107

108BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência
da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso
em: 23 out. 2020.
39

4 EFICÁCIA DA LEI Nº 12.977/2014 - LEI DO DESMONTE

A eficácia da Lei do Desmonte é um tema muito recente no ordenamento


jurídico vigente e a sua aplicação enfrenta grandes desafios no mundo jurídico, porém
exibe mais uma garantia importante de proteção aos consumidores, a segurança
pública, ao meio ambiente e consequentemente a toda sociedade.
Este capítulo aludirá a respeito da abrangência e finalidade da lei e, por fim, o
posicionamento jurisprudencial sobre o tema.

4.1 DA ABRANGÊNCIA E DA FINALIDADE DA LEI Nº 12977/14

Em vigor a partir de maio de 2015, a Lei nº 12977/14, também conhecida como


Lei do Desmonte, marca um conquista e torna-se um mecanismo incisivo no combate
ao roubo de veículos e suas consequências na relação entre consumidores e
fornecedores.109
Prevê que os estabelecimentos comerciais que já exerciam a atividade de
desmontagem de veículos tinham o prazo máximo de três meses, como se extrai da
leitura do art. 19, in verbis: “Art. 19. As unidades de desmontagem de veículos já
existentes antes da entrada em vigor desta Lei deverão adequar-se às suas
disposições no prazo máximo de 3 (três) meses”.110
Trouxe também uma nova redação para o art. 126 do CTB, que trata da baixa
de registro de veículo aduz:
Art. 126. O proprietário de veículo irrecuperável, ou destinado à
desmontagem, deverá requerer a baixa do registro, no prazo e forma
estabelecidos pelo Contran, vedada a remontagem do veículo sobre o mesmo
chassi de forma a manter o registro anterior.
Parágrafo único. A obrigação de que trata este artigo é da companhia
seguradora ou do adquirente do veículo destinado à desmontagem, quando
estes sucederem ao proprietário.111

109 SILVA, Manoel Alves da. Lei nº 12.977/2104 (Lei do desmanche): minimização das ocorrências
relativas a roubos, furtos e receptações de veículos para desmanche. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 20, n. 4390, 9 jul. 2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/33123. Acesso em: 20
out. 2021.
110 BRASIL. Lei nº 12.977, de 20 de maio de 2014. Regula e disciplina a atividade de desmontagem

de veículos automotores terrestres; altera o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -
Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12977.htm. Acesso em: 20 out. 2021.
111 BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503compilado.htm. Acesso em: 20 out.


2021.
40

Assim, a atividade de desmontagem de veículos automotores (oficinas de


desmanche): foi substituída a expressão definitivamente desmontado por destinado à
desmontagem; isto é, “primeiro se realiza a baixa do registro, junto ao órgão de
trânsito, para somente depois proceder a sua retirada de peças para revenda”. Esse
banco de dados nacional facilitará a busca de informações pelos órgãos competentes,
visto que ocorrerá a concentração de todas elas no mesmo local.112
No art. 11, da Lei do Desmonte observa-se:

Art. 11. Fica criado o banco de dados nacional de informações de veículos


desmontados e das atividades exercidas pelos empresários individuais
ou sociedades empresárias, na forma desta Lei, no qual serão registrados as
peças ou conjuntos de peças usadas destinados a reposição e as partes
destinadas a sucata ou outra destinação final. 113

Diante dos elementos expostos, examina-se que o legislador teve a expectativa


de que a lei traria, quando em vigência, benefícios para a coletividade em geral,
sobretudo em relação à segurança pública, uma vez que, certamente, refletiria no
número de roubos de veículos com destinação ao desmanche.
A nova lei cobra ainda o registro das peças que virarem sucatas ou tiverem
outro destino. Para tanto, a implementação, gestão e alimentação é de
responsabilidade:
Do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), que terá também a função
de disciplinar os critérios para a verificação das condições das peças usadas,
os requisitos de segurança e a lista das peças que não podem ser usadas
para a reposição.114

Portanto, percebe-se que apenas podem ser reaproveitadas as peças que


atenderem às exigências técnicas.
De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública, “nos
primeiros três meses do 2020 os roubos e furtos de automóveis somaram 97.767,
valor que representa um 73,6% do total de crimes”.115 São inúmeras teorias, no
entanto, a motivação principal, além da revenda do veículo roubado, é o crescimento

112 CÓDIGO BRASILEIRO DE TRÂNSITO. CTB Digital. 2020. Disponível em:


https://www.ctbdigital.com.br/comentario/comentario126. Acesso em: 22 out. 2021.
113 BRASIL. Lei nº 12.977, de 20 de maio de 2014. Regula e disciplina a atividade de desmontagem

de veículos automotores terrestres; altera o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -
Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12977.htm. Acesso em: 22 out. 2021.
114 CÓDIGO BRASILEIRO DE TRÂNSITO. CTB Digital. 2020. Disponível em:

https://www.ctbdigital.com.br/comentario/comentario126. Acesso em: 22 out. 2021.


115 ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Roubo e furto de veículos 2019-2020.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-


content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf. Acesso em: 20 out. 2021.
41

do mercado irregular de vendas de peças automotivas e utilizando como se fossem


novas (chamado no comércio como peça dublê).116
Comprovando-se essa causa central, Cerutti adverte que:
Os roubos de carros estão diminuindo de forma sustentada nos últimos anos
como muitos dos outros crimes, más nenhuma outra categoria tem tanta
incidência como esta que representa quase três quartos do total, constituindo
um dos pontos mais quentes e o foco de algumas políticas de segurança
como a “Lei do Desmanche”.117

Para melhor evidenciar as estatísticas, a Figura 1 demonstra os dados do


Anuário Brasileiro de Segurança Pública, referente aos roubos e furtos de veículos em
cada Unidade Federativa (UF) do país nos anos de 2019-2020:

116 CERUTTI, Federico. Os roubos de carros representam mais de 70% dos atos criminosos no Brasil.
Jornal do Vale do Itapocu. 2021. Disponível em: https://www.jdv.com.br/os-roubos-de-carros-
representam-mais-de-70-dos-atos-criminosos-no-brasil/. Acesso em: 21 out. 2021.
117 CERUTTI, Federico. Os roubos de carros representam mais de 70% dos atos criminosos no Brasil.

Jornal do Vale do Itapocu. 2021. Disponível em: https://www.jdv.com.br/os-roubos-de-carros-


representam-mais-de-70-dos-atos-criminosos-no-brasil/. Acesso em: 21 out. 2021.
42

Figura 1 - Roubo e furto de veículos - 1º semestre Brasil e Unidades da Federação -


2019-2020

Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, 2021.118

Em observância aos dados acima, possível depreender que há um longo


caminho na busca pela redução do comércio ilegal de autopeças. Os Estados que
apresentaram as maiores altas foram São Paulo (33,2%), Santa Catarina (16,67%),
Minas Gerais (11,11%) e Rio de Janeiro (5,26%).
Frente a esse cenário que produz reflexos em vários setores da sociedade,
além do já estudados, afeta de forma negativa o mercado de seguros. Por isso, a

118ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Roubo e furto de veículos 2019-2020.


Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2020/10/anuario-14-2020-v1-interativo.pdf. Acesso em: 20 out. 2021.
43

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), defende a comercialização legal de


peças usadas em oficinas autorizadas pelo DETRAN119 (Departamento Estadual de
Trânsito) de cada Estado.120
Convém esclarecer que a SUSEP foi criada pelo Decreto-lei nº 73, de 21 de
novembro de 1966, é um órgão governamental responsável pela autorização, controle
e fiscalização dos mercados de seguros no Brasil, vinculada ao Ministério da
Economia, e tem entre suas funções atuar na prevenção e combate à fraude no
mercado de seguros, bem como punição em caso de ocorrência de desvio de
comportamento.121
Já as competências dos DETRAN são descritas no art. 22 do CTB. Em seu
inciso II, prevê:
Art. 22. Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos Estados
e do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição:
[...]
II - realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, de
aperfeiçoamento, de reciclagem e de suspensão de condutores e expedir e
cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para Dirigir e Carteira Nacional
de Habilitação, mediante delegação do órgão máximo executivo de trânsito
da União.122

Considera-se que a Lei do Desmonte retrata um relevante progresso no setor


de empresas que fazem comércio de peças usadas de veículos automotores. Por esse
motivo, esse tipo de empresa deverá adequar-se a uma série de normas e
procedimentos para atender aos requisitos legais e, então, conseguir seu
credenciamento.123
Sob essa ótica, a Lei nº 12977/14 prevê nos artigos 3º e 4º, I, II, III, IV e V:

119 Os DETRAN são os órgãos executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal, responsáveis
por realizar a formação de condutores, aperfeiçoamento, reciclagem e suspensão dos mesmos;
realizar vistorias de segurança em veículos, emplacar, registrar e licenciar veículos; realizar a
fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas e penalidades previstas no CTB,
exceto no caso dos incisos VI e VIII do art. 24, em que a competência para tal é de outros órgãos.
120 BRASIL. Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966. Dispõe sôbre o Sistema Nacional de

Seguros Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0073.htm. Acesso em: 21 out. 2021.
121 BRASIL. Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966. Dispõe sôbre o Sistema Nacional de

Seguros Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0073.htm. Acesso em: 21 out. 2021.
122 BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503compilado.htm. Acesso em: 27 out.


2021.
123 REIS, Alessandro. Desmanches: como adquirir peças de outros carros sem comprar algo roubado.

Universo On Line (UOL) - São Paulo, 2020. Disponível em:


https://www.uol.com.br/carros/noticias/redacao/2020/10/06/desmanches-como-adquirir-pecas-de-
outros-carros-sem-comprar-algo-roubado.htm. Acesso em: 26 out. 2021.
44

Art. 3º A atividade de desmontagem somente poderá ser realizada por


empresa de desmontagem registrada perante o órgão executivo de trânsito
do Estado ou do Distrito Federal em que atuar.
Art. 4º O funcionamento e o registro de que trata o art. 3º estão condicionados
à comprovação pela empresa de desmontagem dos seguintes requisitos:
I - dedicar-se exclusivamente às atividades reguladas por esta Lei;
II - possuir unidade de desmontagem dos veículos isolada, fisicamente, de
qualquer outra atividade;
III - estar regular perante o Registro Público de Empresas, inclusive quanto à
nomeação dos administradores;
IV - ter inscrição nos órgãos fazendários; e
V - possuir alvará de funcionamento expedido pela autoridade local. 124

Ou seja, a empresa que tiver atividade de desmanche de veículos deverá


obrigatoriamente se regularizar junto ao DETRAN do Estado em que está instalada e,
sobretudo, dedicar-se de modo exclusivo às atividades legalmente definidas.
No que se refere às instalações e funcionamento, é necessário que a empresa
possua linha de desmontagem dos veículos isolada, fisicamente, de qualquer outra
atividade da empresa. Ainda de estar corretamente registrada nos órgãos
competentes, e também possuir autorização para funcionamento, isto é, o alvará,
conforme expresso no inciso V, do art. 4º supracitado.125
Na opinião de Silva a Lei do Desmonte traz “regras mais rígidas acerca do
desmanche ou destruição de veículo, como também sobre a destinação das peças ou
conjunto de peças usadas para reposição ou para qualquer outra destinação”. A
empresa será também, obrigada a comunicar toda e qualquer alteração de endereço
e de troca de administradores antes do vencimento da validade do registro. 126
Cabe destacar que, a determinação sobre o destino dos produtos de
desmanche da Lei nº 12.977/14, encontra no art. 21 do CDC, a seguinte previsão:
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de
qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de
empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que
mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes
últimos, autorização em contrário do consumidor.127

124 BRASIL. Lei nº 12.977, de 20 de maio de 2014. Regula e disciplina a atividade de desmontagem
de veículos automotores terrestres; altera o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -
Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12977.htm. Acesso em: 26 out. 2021.
125 BRASIL. Lei nº 12.977, de 20 de maio de 2014. Regula e disciplina a atividade de desmontagem

de veículos automotores terrestres; altera o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -
Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12977.htm. Acesso em: 26 out. 2021.
126 SILVA, Manoel Alves da. Lei nº 12.977/2104 (Lei do desmanche): minimização das ocorrências

relativas a roubos, furtos e receptações de veículos para desmanche. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 20, n. 4390, 9 jul. 2015. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/33123. Acesso em: 26
out. 2021.
127 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
45

Conforme Azevedo, evidencia-se que o CDC não impõe a utilização de peças


novas, mas exige “no caso de uso de peças não originais, o expresso e consciente
consentimento do consumidor, devendo, para a garantia também do fornecedor, esta
ser expressa e prévia”.128
Além disso, a empresa deve também informar toda e qualquer alteração de
endereço e de troca de administradores ainda antes do vencimento da validade do
registro. Transcreve-se:
Art. 4º O funcionamento e o registro de que trata o art. 3º estão condicionados
à comprovação pela empresa de desmontagem dos seguintes requisitos:
[...]
§ 2o Toda alteração de endereço ou abertura de nova unidade de
desmontagem exige complementação do registro perante o órgão de trânsito.
§ 3o A alteração dos administradores deverá ser comunicada, no prazo de 10
(dez) dias úteis, ao órgão executivo de trânsito do Estado ou do Distrito
Federal.129

Tratando-se do registro empresarial, terá validade de 1 (um) ano da primeira


vez, e de 5 (cinco) anos a partir de cada renovação, concedido pelo órgão executivo
de trânsito, que ficará incumbido de fiscalizá-la, in loco, antes da concessão, da
complementação ou da renovação do questionado registro, além de realizar
fiscalizações periódicas, independentemente de comunicação prévia (art. 4º, §§ 5º, I
e II, 6º e 7º).130
Destaca-se que: “As empresas que não obedecerem às regras estarão sujeitas
a multas de R$ 2 mil a R$ 8 mil, de acordo com a gravidade da infração, e a outras
sanções, chegando à interdição do estabelecimento, no caso de repetição de
penalidades” (art. 13, incisos I a III, §§ 1º a 6º).131

outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.


Acesso em: 8 nov. 2021.
128 AZEVEDO, Flavio Olímpio de. Art. 21 do CDC comentado. DireitoCom. 2018. Disponível em:

https://www.direitocom.com/codigo-de-defesa-do-consumidor-comentado/titulo-i-dos-direitos-do-
consumidor/capitulo-iv-da-qualidade-de-produtos-e-servicos-da-prevencao-e-da-reparacao-dos-
danos/artigo-21-4. Acesso em: 8 nov. 2021.
129 BRASIL. Lei nº 12.977, de 20 de maio de 2014. Regula e disciplina a atividade de desmontagem

de veículos automotores terrestres; altera o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -
Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12977.htm. Acesso em: 26 out. 2021.
130 BRASIL. Lei nº 12.977, de 20 de maio de 2014. Regula e disciplina a atividade de desmontagem

de veículos automotores terrestres; altera o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -
Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12977.htm. Acesso em: 26 out. 2021.
131 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Regras para desmontagem de automóveis entram em vigor em

2015. Agência Câmara Notícia. 2014. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/434360-


regras-para-desmontagem-de-automoveis-entram-em-vigor-em-2015/0. Acesso em: 27 out. 2021.
46

Todavia, caso a empresa cometa nova irregularidade, é possível sua interdição


e a cassação do seu registro de funcionamento. O requerimento de novo registro só
será permitido após dois anos desde que haja regularizações das pendências
anteriores.132
Entre os desafios da Lei nº 12977/14 encontra-se uma situação enfrentada por
esse tipo de negócio que gera inúmeros problemas. 133 “As empresas nem sempre
conseguem armazenar de forma adequada cada veículo que chega. Em geral,
inúmeros componentes só são retirados dos veículos após o cliente fazer
solicitação”.134
Nessa perspectiva, todo veículo irrecuperável ou sucata adquirida é
desmontado e as peças e componentes são reaproveitados. Ocorre que:
Algumas são comercializadas como sucatas e a maioria como peça pronta
para utilização. Os principais resíduos tais como: sucatas metálicas,
plásticos, borrachas, baterias e fiação são vendidos para outras empresas
com interesse comercial nessa matéria. Não há um controle de qualidade e
nem inventário dos itens retirados. Com isso pode acontecer que peças
aparentemente íntegras não estejam adequadas para a utilização.135

Logo, essas peças inadequadas podem ser vendidas causando danos que
podem chegar até mesmo a um acidente de carro com consequência de morte.
Saliente-se que para cada carro adquirido é preciso emitir uma nota fiscal e,
apenas com a autorização do DETRAN pode ser iniciado o desmanche do veículo.
Cerutti explica que, feito isto:
As peças são colocadas no banco de dados para obter um código de
identificação. Todas as peças devem conter uma etiqueta com o nome, o
número de seguimento e o código de barras correspondente que permita
rastrear a origem dela e que o cliente não adquira peças do mercado ilegal. 136

À vista disso, surge mais uma dificuldade que diz respeito aos impactos no meio
ambiente, já que “há riscos no manuseio de fluidos e componentes químicos presentes

132 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Regras para desmontagem de automóveis entram em vigor em
2015. Agência Câmara Notícia. 2014. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/434360-
regras-para-desmontagem-de-automoveis-entram-em-vigor-em-2015/0. Acesso em: 27 out. 2021.
133 GIMENES, Antônia Maria et al. Logística reversa de peças e sucatas automotiva no Brasil.

Revista Inesul. 2016. Disponível em: https://www.inesul.edu.br/revista/arquivos/arq-


idvol_53_1519773598.pdf. Acesso em: 26 out. 2021.
134 MARTINS, Christiane. Sucata: saiba como destinar sem ter problemas com a lei. Política Nacional

de Resíduos Sólidos (PNRS). 2018. Disponível em: https://conteudo.vgresiduos.com.br/plano-de-


gerenciamento-de-residuos-solidos. Acesso em: 26 out. 2021.
135 SOUZA, Rafael Henrique Rezende de; SANTOS, Silvana. A “importância da Lei do Desmonte”.

Revista Multiatual. 2019. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/08/a-importancia-da-lei-


do-desmonte.html. Acesso em: 26 out. 2021. p.5.
136 CERUTTI, Federico. Os roubos de carros representam mais de 70% dos atos criminosos no Brasil.

Jornal do Vale do Itapocu. 2021. Disponível em: https://www.jdv.com.br/os-roubos-de-carros-


representam-mais-de-70-dos-atos-criminosos-no-brasil/. Acesso em: 27 out. 2021.
47

em algumas peças. Mesmo durante o processo de lavagem onde são utilizados


produtos químicos corrosivos”137. Sobre o assunto a Lei do Desmonte dispõe:
Art. 17. O atendimento do disposto nesta Lei pelo empresário individual ou
sociedade empresária não afasta a necessidade de cumprimento das normas
de natureza diversa aplicáveis e a sujeição às sanções decorrentes, inclusive
no tocante a tratamento de resíduos e rejeitos dos veículos desmontados ou
destruídos.138

A grande questão ambiental é como destinar este material de forma a causar o


menor impacto ambiental possível.
Em 2016, um ano após a Lei nº 12977/14 entrar em vigor, foi criada a Operação
Desmanche ampliada ao longo dos anos e que completou em 2021 a sua 99ª versão.
A Força-Tarefa é coordenada pelo Departamento de Inteligência da Segurança
Pública (Disp) da Secretaria da Segurança Pública (SSP), em conjunto com a Brigada
Militar (BM), Polícia Civil, Instituto-Geral de Perícias (IGP), DETRAN e Corpo de
Bombeiros Militar de cada Estado em que ela ocorre (CBM).139
Na visão Meirelles a operação tem:
Importante função pedagógica para coibir a atividade ilegal dos Desmanches.
A continuidade do trabalho, com o retorno à municípios já visitados
anteriormente, reforça nosso compromisso no enfrentamento ao comércio
ilegal de peças veiculares.140

Porém, mesmo que o número de roubos e furtos de automóvel tenha diminuído


sensivelmente, chegando a casa dos 26,7%, os governos da maioria dos Estados
brasileiros ainda não têm controle integral sobre ferros-velhos. Apesar da Força-
Tarefa em cada UF realizar inúmeras operações que resultam em prisões e no
fechamento destes locais, a venda de peças clandestinas segue proliferando.141

137 SOUZA, Rafael Henrique Rezende de; SANTOS, Silvana. A “importância da Lei do Desmonte”.
Revista Multiatual. 2019. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/08/a-importancia-da-lei-
do-desmonte.html. Acesso em: 28 out. 2021. p.7.
138 BRASIL. Lei nº 12.977, de 20 de maio de 2014. Regula e disciplina a atividade de desmontagem

de veículos automotores terrestres; altera o art. 126 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 -
Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12977.htm. Acesso em: 28 out. 2021.
139 MEIRELLES, Airton Gustavo. 99ª Operação Desmanche interdita estabelecimentos

irregulares. Secretaria de Segurança Pública RS. 2021. Disponível em: https://estado.rs.gov.br/99-


operacao-desmanche-interdita-estabelecimentos-irregulares-em-santa-maria. Acesso em: 28 out.
2021.n.p.
140 MEIRELLES, Airton Gustavo. 99ª Operação Desmanche interdita estabelecimentos

irregulares. Secretaria de Segurança Pública RS. 2021. Disponível em: https://estado.rs.gov.br/99-


operacao-desmanche-interdita-estabelecimentos-irregulares-em-santa-maria. Acesso em: 28 out.
2021.n.p.
141 FOLHA WEB. Ferros velhos encontram dificuldades para se regularizar no Detran.

2021.Disponível em: https://folhabv.com.br/noticia/CIDADES/Capital/Ferros-velhos-encontram-


dificuldades-para-se-regularizar-no-Detran/75416. Acesso em: 28 out. 2021.
48

Outro ponto é o registro junto ao DETRAN. Empresas desse segmento alegam


que órgão não tem nenhuma celeridade para efetivar o registro necessário para
expedição do alvará de funcionamento.142
Desse modo, mesmo coibindo o número de roubos e furtos, o comércio de
peças usadas e sua utilização como se fosse nova, o consumidor continua sendo
lesado, e a eficácia da Lei do Desmonte fica prejudicada, não alcançando sua
amplitude, sobretudo, devido à autorização para o comércio, pois se o empresário não
a consegue ou isso ocorre num prazo muito longo, este passa a vender na ilegalidade.
Passa-se agora a examinar os julgados acerca do tema.

4.2 DECISÕES JUDICIAIS A RESPEITO DO TEMA

A proposta inicial deste estudo era verificar as decisões do Tribunal de Justiça


de Santa Catarina (TJ/SC). Entretanto, frente à escassez de julgados, optou-se por
abranger outros Estados. A pesquisa foi realizada nos tribunais na data de 25 de
outubro do corrente ano, foram inseridas no campo destinado à consulta de
jurisprudência as seguintes palavras: responsabilidade civil, lei do desmonte, Lei nº
12.977/2014, art. 21 do CDC.
No sítio do TJ/SC, como resultado sucederam 20 decisões, todas, sem
exceção, guardam pertinência com o tema no que se refere a recusa administrativa
ao pedido de credenciamento para realização de operações comerciais de compra e
venda de peças e sucatas de veículos no âmbito nacional. Por oportuno, segue a
ementa escolhida pela data mais recente.
O Desembargador (Des.) Jaime Ramos, da Terceira Câmara de Direito Público,
proferiu decisão sobre a exigência de prévio cadastro pela Lei do Desmonte, em sede
de Remessa Necessária Cível, sob sua relatoria. Da ementa se extrai, in verbis:

REEXAME NECESSÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. EMPRESA


QUE ATUA NO COMÉRCIO DE PEÇAS AUTOMOTIVAS ORIGINÁRIAS DE
SINISTROS. PRETENSÃO DE CREDENCIAMENTO NO DETRAN/SC.
NEGATIVA DO ÓRGÃO. INVOCAÇÃO DE DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. REGRA PREVISTA NA LEI FEDERAL N. 12.977/2014 E NA
RESOLUÇÃO N. 611/2016 DO CONTRAN. AUSÊNCIA DE REGRAMENTO
ADMINISTRATIVO NO ÂMBITO ESTADUAL. "MOROSIDADE ESTATAL NA
CRIAÇÃO DO SISTEMA PRÓPRIO DE CADASTRAMENTO.
POSSIBILIDADE DE CREDENCIAMENTO PROVISÓRIO DA EMPRESA

142 FOLHA WEB. Ferros velhos encontram dificuldades para se regularizar no Detran.
2021.Disponível em: https://folhabv.com.br/noticia/CIDADES/Capital/Ferros-velhos-encontram-
dificuldades-para-se-regularizar-no-Detran/75416. Acesso em: 28 out. 2021.
49

PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE, DESDE QUE


PREENCHIDOS OS DEMAIS REQUISITOS PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO.
SENTENÇA CONFIRMADA. REMESSA DESPROVIDA.143

Ainda sobre a necessidade de legalização da empresa, além da ausência de


regularidade formal das peças e o risco ambiental, previstos na Lei do Desmonte, em
consulta ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS), na mesma esteira,
agora em Recurso Inonimado, o Des. Daniel Henrique Dummer, assim decidiu:

RECURSO INOMINADO. SEGUNDA TURMA RECURSAL DA FAZENDA


PÚBLICA. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DETRAN.
AUTO DE INFRAÇÃO REGULARMENTE LAVRADO. AUSÊNCIA DE
DIREITO À REPARAÇÃO. 1. Cuida-se de Ação Indenizatória apresentada
pela empresa demandante, que atua no ramo de desmontagem de
veículos automotores, na cidade de Caxias do Sul, e que foi autuada pela
fiscalização da parte demandada. A atividade empresarial em tela passou a
sofrer severa – e necessária – fiscalização do Poder Público. 2.
A Lei Federal 12.977/2014 regula e disciplina a atividade de desmontagem
de veículos automotores terrestres, e nos artigos 3º e 4º evidencia que a
atuação empresarial exige registro perante órgão executivo de trânsito, e
alvará de funcionamento, dentre outros requisitos. [...] 3. A parte demadante
não apresentou o competente registro autorizativo da atividade, nos termos
das legislações federal e estadual, e não apresentava condições físicas
adequadas ao exercício da atividade, o que não foi minimamente questionado
nos autos. [...] Logo, a apreensão não decorreu de motivação ambiental, mas
pela ausência de regularidade formal das peças encontradas no local. 6.
Nesse caso, conforme artigo 6º, caberia à parte requerente, em cinco dias
apresentar os documentos comprobatórios a demonstrar a regularização, o
que não foi feito. Por isso, a parte demandante não faz jus à devolução do
que foi apreendido. 7. O risco ambiental no caso está suficientemente
descrito, e autorizou a imediata destruição do material, na forma do §3º do
artigo 5º da Lei. Todavia, deve-se ressaltar que o artigo 7º confere direito
indenizatório à parte que tiver demonstrado a regularidade dos bens
apreendidos, naquele prazo de 5 dias. A empresa autora não fez a prova, não
tem o direito a receber os bens de volta, e por isso, nenhuma indenização é
devida. 8. Por tais razões, descabe o provimento dos pleitos indenizatórios,
não caracterizada a fonte do dever de indenizar. Sem a fonte do dever de
indenizar não há falar em dano, quanto mais no presente caso em que este
não foi minimamente demonstrado. Ausência de qualquer ato praticado que
permita a responsabilização do DETRAN. RECURSO DESPROVIDO. 144

143 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ/SC). Remessa Necessária Cível
n. 5023220-63.2019.8.24.0023, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Jaime Ramos, Terceira
Câmara de Direito Público, j. 29-06-2021. Disponível em:
https://eprocwebcon.tjsc.jus.br/consulta2g/externo_controlador.php?acao=processo_consulta_publica
&txtNumProcesso=5023220-63.2019.8.24.0023. Acesso em: 25 out. 2021.
144
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Recurso Cível, Nº
71009657339, Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Daniel
Henrique Dummer, Julgado em: 30-08-2021. Disponível em:
https://www.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Turmas%20Recursa
is&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=&num_processo=71
009657339&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em: 25 out. 2021.
50

Em atenta leitura aos julgados acima, pode-se verificar que o entendimento é


pela vedação ao credenciamento sem que a empresa cumpra os pressupostos para
o desenvolvimento da atividade de comércio de peças e sucatas automotivas
provenientes de sinistro, e pela preservação do meio ambiente, evitando assim, que
peças roubadas e/ou furtadas, sirvam para o comércio ilícito que deixam o consumidor
vulnerável, assim como a degradação ambiental tão nociva para toda a sociedade.
Encontra-se ainda, no mesmo tribunal, outra decisão, o Des. Relator Niwton
Carpes da Silva, decidiu favoravelmente pela responsabilidade civil na relação
consumerista de vendas de peças usadas sem o devido registro, em Apelação Cível:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


CONSERTO DE CAMINHÃO. APLICABILIDADE DO CDC.
ESCLARECIMENTOS PRESTADOS PELA OFICINA ACERCA DA
NECESSIDADE DE TROCA DE PEÇAS E RETIFICA DO
MOTOR. UTILIZAÇÃO DE PEÇAS USADAS E REPARO PARCIAL DOS
DEFEITOS A PEDIDO DO CONSUMIDOR. DEVER DE INFORMAÇÃO
OBSERVADO. AUSÊNCIA DE FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E
DE RESPONSABILIDADE DA RÉ PELO NOVO CONSERTO. Trata-se de
ação de indenização por danos materiais e morais decorrentes de falha na
prestação do serviço mecânico realizado pela empresa ré em um caminhão
de propriedade da empresa autora, julgada parcialmente procedente na
origem. Aplicabilidade do CDC à relação havida entre as partes, pois a
empresa autora utilizou os serviços prestados pela requerida na
condição de destinatária final, além de ser evidente a condição de
hipossuficiência técnica e econômica. Aplicação da Teoria Finalista
Mitigada, consoante orientação do Superior Tribunal de Justiça. Entretanto,
em que pese a aplicação das regras consumeristas, os pedidos indenizatórios
devem ser julgados improcedentes, pois não evidenciada a falha na
prestação do serviço por parte da oficina autorizada ré. Os elementos
probatórios constantes nos autos demonstram que a parte autora foi
devidamente esclarecida de que necessitava efetuar a troca de peças,
obviamente por peças novas, e realizar a retifica do motor, mas optou por
fazer os serviços que seu orçamento abarcava, o que se entende, mas
também tal escolha retira da parte ré a responsabilidade pelo novo conserto
realizado pela autora, agora com peças novas e com o acolhimento de todas
as orientações dos profissionais. No caso dos autos, o dever de informação
previsto no artigo 6º, inc. III, do CPC, foi observado pela parte ré, optando a
autora por não observar as orientações técnicas que lhe foram repassadas,
seja por falta de condições financeiras, seja por qualquer outro fator, devendo
arcar, por este motivo, com as consequências decorrentes. Ainda que a parte
autora seja hipossuficiente tecnicamente, a questão não me parece de difícil
compreensão. Ora, é evidente para qualquer leigo que
a utilização de peças usadas e o reparo parcial de um defeito, quando a
recomendação é a troca por peças novas e o conserto da totalidade dos
problemas, pode acarretar problemas maiores futuramente, exatamente o
que ocorreu no caso em apreço. Não se pode concordar com o laudo pericial
que concluiu que houve falha na prestação do serviço e que o réu assumiu o
risco de o problema não ser resolvido ao utilizar peças usadas e reparar
parcialmente o problema, pois que o risco, na verdade, foi assumido pela
parte autora ao fazer tais escolhas, mesmo alertada das consequências.
51

Sendo assim, não evidenciada falha na prestação do serviço, impõe-se a


reforma da sentença e a improcedência da ação. APELAÇÃO PROVIDA. 145

Nesse contexto, resta claro a eficácia da Lei nº 12.977/14 no que se refere à


adequação das empresas e aos órgãos responsáveis pela fiscalização e controle,
promovendo a lisura das informações técnicas assegurando o conhecimento de todo
o processo desde a origem até o destino de cada peça ou componente
comercializado.
Novamente, objetivando uniformização no resultado da busca aplicada em
consulta ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ/DFT), realizou-se
pesquisa na mesma sistemática. Em decorrência foram alcançadas duas decisões,
sendo que dessas, uma guarda pertinência com o tema proposto e, por oportuno,
segue a ementa transcrita.
Extrai-se da ementa do acórdão proferido na Apelação Cível do Juizado
Especial sob relatoria do Desembargador Aiston Henrique de Sousa:

DIREITO CIVIL. VEÍCULO FURTADO. SERVIÇO DE DESMONTAGEM DE


VEÍCULO. NECESSIDADE DE REGISTRO. DANOS MATERIAIS.
1 - Na forma do art. 46 da Lei 9.099/1995, a ementa serve de acórdão.
Recurso próprio, regular e tempestivo. 2 - Serviço de desmontagem de
veículo. Ferro velho. Na forma do art. 3º e 7º da Lei 12.977/2014, o serviço
de desmontagem ou destruição de veículo com a comercialização de
peças usadas ou sucata só pode ser realizado por empresa registrada
perante o órgão de trânsito, podendo o veículo ser desmontado
somente após a baixa do registro no DETRAN. Ademais, o exercício
irregular dessa atividade pode configurar crime de receptação qualificada (art.
180 §§ 1º e 2º Código Penal).
3 - Responsabilidade civil. Não havendo demonstração da regularidade da
empresa de desmontagem de veículo perante a Junta Comercial e o
DETRAN, de titularidade do réu, bem como de que o veículo localizado nas
dependências de seu estabelecimento foi adquirido regularmente e o registro
baixado junto ao órgão de trânsito, responde ilimitada e solidariamente pelos
danos causados a terceiros decorrentes do exercício irregular da atividade
econômica (art. 990, Código Civil). No caso dos autos, restou incontroverso
que o veículo do autor foi furtado, e posteriormente localizado no ferro velho
do réu, sem comprovação de sua origem. 4 - Danos Materiais. Demonstrada
a propriedade do bem, bem como o seu estado anterior ao crime de furto,
deve o réu responder pelos danos materiais ocasionados ao autor. A
condenação observou o direito de recomposição do patrimônio danificado
pelo ato ilícito e o valor da indenização tem conformidade com a prova
produzida nos autos, considerando, ainda, a ausência de impugnação
específica. 5 - Recurso conhecido, mas não provido. Custas processuais e

145RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do rio Grande do Sul (TJ/RS). Apelação Cível, Nº
70083610451, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Niwton Carpes da Silva,
Julgado em: 30-04-2020. Disponível em:
https://www.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal%20de%20
Justi%C3%A7a%20do%20RS&versao=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo
_mask=&num_processo=70083610451&codEmenta=7706337&temIntTeor=true. Acesso em: 26 out.
2021.
52

honorários advocatícios fixados em 10% do valor da condenação, pelo


recorrente vencido, os quais se encontram suspensos ante a gratuidade de
justiça concedida. CONHECIDO. RECURSO IMPROVIDO. UNÂNIME. 146

Por fim, observa-se que em todos os tribunais pesquisados foram encontradas


inúmeros julgados nas varas criminais do país, condenando a receptação quer seja
simples ou qualificada, dos veículos e peças para processo de desmonte ilegal. Da
ementa da Apelação Criminal, quando o relator Des. Ernani Guetten de Almeida, da
Terceira Câmara Criminal, decidiu, observa-se:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA, CONTRA O


PATRIMÔNIO E CONTRA A CRIANÇA E ADOLESCENTE. ASSOCIAÇÃO
CRIMINOSA, RECEPTAÇÃO QUALIFICADA E CORRUPÇÃO DE
MENORES (ART. 288, PARÁGRAFO ÚNICO, ART. 180, §1º, AMBOS DO
CÓDIGO PENAL, E ART. 244-B DA LEI 8.069/90). SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA. RECURSO MINISTERIAL. PLEITO DE CONDENAÇÃO
NOS TERMOS DA DENÚNCIA. ACOLHIMENTO. RECEPTAÇÃO
QUALIFICADA (ART. 180, §1º, DO CÓDIGO PENAL). MATERIALIDADE E
AUTORIA DELITIVAS DEVIDAMENTE COMPROVADAS POR TERMOS DE
APREENSÃO [...] CRIMINAL. AGENTES QUE, COM O AUXÍLIO DE
ADOLESCENTES, SUBTRAÍAM VEÍCULOS NA REGIÃO DE JOINVILLE E
OS TRANSPORTAVAM ATÉ GARUVA, REALIZAVAM O DESMONTE E
RETORNAVAM COM SUAS PARTES PARA COMERCIALIZAÇÃO EM
LOJAS DE AUTOPEÇAS QUE LHES PERTENCIAM. PRODUTOS DE
CRIMES ADQUIRIDOS, DESMONTADOS, TRANSPORTADOS, MANTIDOS
EM DEPÓSITO E EXPOSTOS À VENDA PELOS APELADOS, NO
EXERCÍCIO DA ATIVIDADE COMERCIAL. CIÊNCIA E PARTICIPAÇÃO DO
ESQUEMA CRIMINOSO POR TODOS. [...] NEGATIVA DE AUTORIA
ISOLADA NOS AUTOS. CONDENAÇÃO QUE SE IMPÕE. [...]EXPEDIÇÃO
DE MANDADO DE PRISÃO E DE INTIMAÇÃO PARA CUMPRIMENTO
IMEDIATO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. PROVIDÊNCIA A SER
ADOTADA PELO JUÍZO A QUO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.147

Ainda que em estudo atento dos julgados extraídos, impossível afirmar a


eficácia da Lei do Desmonte em toda sua amplitude, principalmente, levando-se em
consideração a ausência de julgados e o aumento do comércio que a lei busca coibir.

146 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. ACJ -
Apelação Cível do Juizado Especial. 20140910147346ACJ. 19/04/2016. Disponível em:
https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaosweb/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscai
ndexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexad.
apresentacao.Contr. Acesso em: 26 out. 2021.
147 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. TJSC, Apelação Criminal n. 0800115-

88.2014.8.24.0119, de Garuva, rel. Ernani Guetten de Almeida, Terceira Câmara Criminal, j. 21-05-
2019. Disponível em:
https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=RECEPTA%C7%C3O%20QUALIFICADA%20%20pr
ocesso%20de%20desmonte%20lei&only_ementa=&frase=&id=AABAg7AAFAAP9T2AAN&categoria=
acordao_5. Acesso em: 26 out. 2021.
53

4.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC

A responsabilidade relacionada aos produtos e serviços, tem previsão nos


artigos 12 ao 14 do CDC, estabelecendo a obrigação do fornecedor em reparar os
danos causados aos consumidores decorrentes de vício do produto, informações
insuficientes ou inadequadas ou, ainda, de falhas na prestação de serviços,
independentemente da existência de culpa.148
Desse modo, diante de uma relação de consumo, a responsabilidade objetiva
passa a ser a regra, de modo que não se exige a comprovação de culpa do fornecedor
que, independentemente desta, responderá pelos danos ocorridos.
Observa-se que § 1º do art. 12 do CDC institui o dever de segurança, isto é, de
não colocar no mercado de consumo produtos com defeito (art. 14, § 1º), que possam
lesar o consumidor, e se assim ocorrer, o fornecedor responderá, independentemente
da culpa, pelo dano causado ao consumidor, pois, conforme a teoria do risco do
negócio, quem desempenha uma atividade deve suportar o prejuízo que porventura
cause:149
Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a teoria
do risco do negócio. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma
atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigado a repará-
lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil
desloca-se da noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como risco-
proveito.150

Portanto, nos casos em que o consumidor sofrer qualquer espécie de dano


decorrente de defeito no produto, na prestação de serviços ou ainda da falta de
informações adequadas acerca dos mesmos, caberá a ele comprovar tão somente a
conduta, ou seja, ação ou omissão do fornecedor), a existência de dano e o nexo
causal entre ambos.151

148 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.
Acesso em: 2 nov. 2021.
149 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

Responsabilidade objetiva do fornecedor. 2021. Disponível em:


https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-do-tjdft-
1/responsabilidade-civil-no-cdc/responsabilidade-objetiva-do-fornecedor. Acesso em: 15 nov.
2021.n.p.
150 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 12. ed. São Paulo: Atlas,

2015.p.22.
151 VILEN, Letícia. Responsabilidade objetiva no CDC: legislação, responsabilidades e exceções.

Portal Aurum, 2021. Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/responsabilidade-objetiva-do-


cdc/. Acesso em: 3 nov. 2021.
54

Essa opção legislativa se baseia na teoria do risco, segundo a qual aquele que
cria um risco, ou seja, o fornecedor ou prestador de serviços, deve responder por suas
consequências independentemente da existência de culpa, de modo a evitar que o
consumidor fique sem o devido amparo.152 Em suma, “A ideia fundamental da teoria
do risco pode ser simplificada ao dizer-se que, cada vez que uma pessoa, por sua
atividade, cria um risco para outrem, deveria responder por suas consequências
danosas”.153
Porém, embora o CDC tenha a preocupação de amparar os consumidores e
evitar que estes sofram danos irreparáveis, o legislador também deu atenção a
situações excepcionais em que não será aplicada a responsabilidade objetiva.
Sendo assim, conforme o § 3º do art. 12, o fornecedor não será
responsabilizado em quando:
a) Demonstrar que não colocou o produto no mercado;
b) Demonstrar que inexiste defeito;
c) Comprovar que o dano foi decorrente de fato praticado pelo
consumidor ou por terceiro, não tendo relação, portanto, com o produto
disponibilizado.154

Em contrapartida, o § 3º do art. 14, prevê que o prestador de serviços será


isento de responsabilidade quando: a) Provar que o defeito inexiste; b) Ou que os
danos ocorreram por culpa exclusiva do consumidor ou de terceira pessoa.
Desse modo, o fornecedor só não será responsabilizado nos casos em que for
provado as situações supramencionadas.

4.4 A RESPONSABILIDADE DO DESMANCHE EM RELAÇÃO AO CONSUMIDOR


NA VENDA DE PEÇAS USADAS SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO

Ao solicitar um orçamento de reparos no motor ou na lataria do automóvel, o


consumidor na maioria das vezes se surpreende com o alto valor. O Sindicato das

152 VILEN, Letícia. Responsabilidade objetiva no CDC: legislação, responsabilidades e exceções.


Portal Aurum, 2021. Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/responsabilidade-objetiva-do-
cdc/. Acesso em: 3 nov. 2021.
153 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

Responsabilidade objetiva do fornecedor. 2021. Disponível em:


https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/cdc-na-visao-do-tjdft-
1/responsabilidade-civil-no-cdc/responsabilidade-objetiva-do-fornecedor. Acesso em: 15 nov.
2021.n.p.
154 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá

outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm.


Acesso em: 2 nov. 2021.
55

Empresas de Seguros e Resseguros de São Paulo (SIDSEGSP) alerta que esse


susto:
Faz muita gente pensar em alternativas. Mas não há muitas. Além do
mercado paralelo de peças fabricadas à semelhança das originais, a saída
mais comum é recorrer aos desmanches. E aí entra-se em um obscuro
mundo de negócios, no qual é preciso ter muita atenção para não correr
risco de sofrer pena de três meses a um ano de detenção, e o pagamento de
multa.155

Vale dizer que de acordo com a SUSEP “as seguradoras de veículos estão
autorizadas a utilizar peças similares e usadas no lugar das originais nos serviços de reparo”.
Entretanto, a escolha sobre qual tipo de peça será utilizada no conserto, nova ou usada,
caberá ao consumidor.156
No Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ/DFT) o Des. Hector
Valverde, em apelação em que foi relator, manifestou entendimento sobre o art. 21 do
CDC, que torna regra o emprego de peças originais e novas, de forma que a reposição
de usados somente ocorre mediante autorização expressa do consumidor,
fundamentando-se assim:

DIREITO DO CONSUMIDOR. ERRO MATERIAL NO DISPOSITIVO DA


SENTENÇA. INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM. CORREÇÃO DE OFÍCIO.
MANUTENÇÃO DE VEÍCULO. UTILIZAÇÃO DE PEÇAS USADAS. NÃO
COMPROVAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO CONSUMIDOR.
DANO MORAL. VALOR DA REPARAÇÃO. DANO MATERIAL.
FUNDAMENTO NÃO ATACADO [...]. 2. A norma torna regra o emprego
de peças originais e novas, de forma que a reposição de usados somente
ocorre mediante autorização expressa do consumidor, o que não restou
comprovado nos autos. Art. 21 do CDC. 3. A falha na prestação dos serviços
restou configurada, uma vez a oficina mecânica não comprovou ter
informado, ao consumidor, a utilização de peças usadas em seu
veículo. Art. 6º, III, do CDC. 4. O dano moral está comprovado, pois evidente
a violação de direito da personalidade da autora, notadamente da sua
integridade psíquica, tendo em vista o abalo ao sossego e à sua
tranquilidade.157

155 O MUNDO obscuro dos desmanches. Tome cuidado ao escolher onde comprar os itens que você
precisa para não ser lesado. SINDSEGSP, 2012. Disponível em:
http://www.sindsegsp.org.br/site/noticia-texto.aspx?id=7194. Acesso em: 16 nov. 2021.n.p
156 SEGURADORAS poderão utilizar peças paralelas e usadas em reparos de veículos. G1. Auto

Esportes. Rio de janeiro, 28 ago. 2016. Disponível em:


https://autoesporte.globo.com/videos/noticia/2019/08/seguradoras-poderao-utilizar-pecas-paralelas-e-
usadas-em-reparos-de-veiculos.ghtml. Acesso em: 21 nov. 2021.
157 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

Apelação Cível 07063518020178070001, Relator: HECTOR VALVERDE, 1ª Turma Cível, data de


julgamento: 24/1/2018, publicado no DJE: 29/1/2018.Disponível em:
https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-
web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&contr
oladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAn
terior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=
resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivr
e&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAOS&numeroDaUltimaPagina=1&b
56

Neste caso, aplicou-se o art. 21 do CDC para proteção do consumidor, pois


este não foi informada pela oficina a utilização de peças usadas.
Ainda sobre o assunto, o IDEC pontua que:
Em caso de vício de produto (defeitos que não sejam causados pelo mau uso
ou pelo desgaste natural), o fornecedor tem no máximo 30 dias para
disponibilizar a peça. Após esse período, o consumidor pode optar por
substituição do produto por outro do mesmo tipo, em perfeitas condições de
uso; pela restituição imediata da quantia paga, com correção monetária; ou
pelo abatimento proporcional do preço, quando possível.158

Assim, conforme já estudado, as peças usadas devem estar de acordo com a


Lei do Desmonte que prevê a catalogação e discriminação de todos os produtos de
origem de desmanche, assim como, o comércio que se destina a esse tipo de venda,
que deve estar legalizado nos ditames das normas da referida lei.
Outra demanda que ganha destaque é a responsabilidade de quem usa a peça
comprada em desmanche ilegal. Nesse sentido, a Polícia Civil esclarece que: “Tanto
o vendedor, quanto o comprador dessas peças produtos de crime, são
responsabilizados criminalmente”.159 Observa-se, que na seara penal é crime tanto do
fornecedor quanto do consumidor e não há que se falar em receptação dolosa.
Quando, “Mesmo havendo algum indicio de que a coisa seja produto de crime
a pessoa não se preocupa e recebe ou adquire a coisa160”, trata-se da receptação
culposa, com previsão no § 3º do art. 180 do Código Penal (CP), é considerada como
falta de cuidado quanto à origem da coisa, que provavelmente, tem origem criminosa,
mas a pessoa preferiu ignorar.161

uscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDoc
umento=1069299. Acesso em: 8 nov. 2021.
158INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (IDEC). Código de Defesa do

Consumidor determina fornecimento de peças de reposição. 2013.


Disponível em: https://idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/codigo-de-defesa-do-consumidor-
determina-fornecimento-de-pecas-de-reposico. Acesso em: 16 nov. 2021.n.p.
159 POLÍCIA CIVIL intensifica fiscalização a desmanche de veículos. Assessoria da Polícia Civil de

Mato Grosso (MT), 20 maio 2018. Disponível em: http://www.mt.gov.br/rss/-


/asset_publisher/Hf4xlehM0Iwr/content/9791214-policia-civil-intensifica-fiscalizacao-a-desmanches-
deveiculos/pop_up?_101_INSTANCE_Hf4xlehM0Iwr_viewMode=print&_101_INSTANCE_Hf4xlehM0I
wr_languageId=pt_BR. Acesso em: 16 nov. 2021.
160 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território (TJDFT),

Direito Fácil, 2014. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-


produtos/direito-facil/edicao-semanal/receptacao-culposa. Acesso em: 16 nov. 2021.
161 BRASIL. Decreto Lei nº 2.848, de 7de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 16 nov. 2021.


(Grifo nosso).
57

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior,
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em
residência.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.162

O ato de comprar coisa roubada é um crime acessório, isto é, necessita que


tenha ocorrido um crime anterior, que na maioria das vezes é um furto ou um roubo
como nos casos de veículos e peças automotiva.
Convém lembrar, ainda, que o crime se configura não somente pelo ato da
compra, como também “receber, transportar, conduzir ou ocultar algo que sabe ser
produto de crime. Até mesmo o ato de influenciar e incentivar um terceiro para que
este adquira, receba ou oculte o objeto que é produto de um crime anterior, é tipificado
como crime de receptação”.163
Ante os argumentos supracitados, resta clarividente que é fundamental
encontrar uma solução definitiva para que consumidor, fornecedor e toda a sociedade
não fiquem reféns desse ciclo lesivo.

162 BRASIL. Decreto Lei nº 2.848, de 7de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 16 nov. 2021.
(Grifo nosso).
163 DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território

(TJDFT), Direito Fácil, 2014. Disponível em:


https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-
semanal/receptacao-culposa. Acesso em: 16 nov. 2021.
58

5 CONCLUSÃO

As empresas de desmonte e revenda de peças automotivas operam adquirindo


veículos retirados de circulação e, muitas fomentam o comércio ilegal desses
produtos. Desse modo, no Brasil, os índices de roubos e furtos de automóveis e os
desmanches clandestinos que recebem as peças dos carros roubados e repassam
até mesmo por encomenda, são alarmantes. Em 2019 ultrapassou a marca de um
milhão de roubos em quatro anos.
Por essa razão, este comércio ilegal gera reflexos em diversos setores da
sociedade como na segurança pública, no mercado de seguros, na economia e no
meio ambiente, afetando também as relações com os consumidores que compram
estas peças ilícitas, por vezes sem saber, por outras coniventes com o comércio ilegal.
Para salvaguardar a relação entre consumidor e fornecedor, o CDC impõe ao
fornecedor que sejam reparados os danos causados aos consumidores decorrentes
de vício do produto, informações insuficientes ou inadequadas ou, ainda, de falhas na
prestação de serviços, independentemente da existência de culpa, ou seja, no CDC a
responsabilidade civil é objetiva.
Em contrapartida, prevê também no caso de uso de peças não originais, o
expresso e consciente consentimento do consumidor, devendo para garantia do
fornecedor, esta ser expressa e prévia. Assim, nos casos em que consumidor e
fornecedor têm conhecimento da ilicitude da relação de compra e venda, ambos
responderão civilmente e nos casos de receptação, penalmente.
Ao ser homologada em 2014, passou a vigorar em 2015 a Lei do Desmonte,
estabelecendo normas para regulamentar a atividade de desmontagem no país. A lei
surgiu com a expectativa de reduzir o número de roubos e furtos de veículos no
território nacional e, depois de quatro anos, embora alguns especialistas afirmem que
ainda não trouxe resultados positivos, o fato é que, caiu sensivelmente, passando para
26,7%.
O objetivo da referida lei é infligir um rígido controle de forma a reduzir o
comércio ilegal de peças automotivas e, paralelamente, cessar os furtos e roubos de
veículos nos Estados brasileiros. Logo, os desmanches antes clandestinos passaram
a ser fiscalizados influenciando de forma positiva, toda a cadeia social que esse
comércio ilegal afeta.
59

A responsabilidade de fiscalizar os desmanches e lojas de autopeças fica a


cargo dos DETRANs de cada Estado. O órgão também é responsável pela
autorização e credenciamento das empresas que desejam comercializar os produtos
que a lei normaliza.
Constata-se que a legislação representa um avanço nesse setor. Esse tipo de
empresa deverá adequar-se a uma série de normas e procedimentos para atender
aos requisitos legais e, dessa forma, conseguir seu credenciamento. Quanto aos
impactos ambientais, há riscos no manuseio de fluidos e componentes químicos
presentes em algumas peças, inclusive no processo de lavagem destas.
A adequação dessas empresas à legislação é um fator contributivo até para a
segurança pública, visto que os órgãos responsáveis pela fiscalização e controle terão
mais informações técnicas que ajudarão a conhecer desde a origem até o destino de
cada peça ou componente comercializado, o que consequentemente, garante aos
consumidores e fornecedores a transparência na relação de consumo e a legalidade
do comércio.
Por esse ângulo, na pesquisa realizada nos tribunais brasileiros, foi possível
verificar que, a eficácia da Lei do Desmonte fica comprometida por alguns fatores
como as dificuldades e demora impostas pelos DETRANs para autorizar o comércio
dos desmanches, raciocínio este que é fundamentado pelos inúmeros processos que
tramitam, requerendo ao Poder Judiciário que se faça valer os direitos dessa
autorização.
Observou-se também, mesmo que em números reduzidos, que as decisões
pendem a aplicabilidade do CDC na responsabilidade civil do fornecedor quando o
não conhecimento da utilização de peças usadas, de origem ilícita.
Em contrapartida, inundam as varas criminais os processos de receptação
qualificada no que tange ao desmanche e a comercialização para loja de autopeças.
Por fim, o pesquisador entendeu que ao realizar uma pesquisa, não
obrigatoriamente se alcançará respostas para todas as dúvidas suscitadas
principalmente no Direito. Frente a esse tipo de comércio tão nocivo para a sociedade,
espera-se ter motivado outros pesquisadores a publicitar o tema, pois só o
conhecimento e a insatisfação com a lei promovem a busca de soluções.
60

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