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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIEURO

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE DIREITO

MYCHEL MARTINS DA SILVA

OS EQUIVALENTES JURISDICIONAIS COMO MECANISMOS DE


PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO DO
CONSUMIDOR

Brasília
2020
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIEURO
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE DIREITO

MYCHEL MARTINS DA SILVA

OS EQUIVALENTES JURISDICIONAIS COMO MECANISMOS DE


PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO DO
CONSUMIDOR

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel
em Direito pela Faculdade de Direito
do Centro Universitário Unieuro.
ORIENTADORA: Me. Gabriela Nunes

Brasília
2020
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao Senhor Deus e


aos meus pais, que sempre me deram
forças durante essa jornada. Também
dedico ao meu irmão, familiares e amigos.
AGRADECIMENTOS

É com muito orgulho que posso dizer que consegui concluir esse desafio.
Durante esse período de 5 anos, foram altas e baixos, que me fizeram pensar se tinha
escolhido o curso certo, mas, hoje posso concluir que essa escolha foi correta.
Essa jornada de 05 anos, é uma experiência de aprendizado, pois diante das
dificuldades que vieram a surgir nesse período, entendi minha capacidade de vencer
os obstáculos. Além disso, nesse período adquiri vários conhecimentos que pretendo
levar para a minha vida profissional.
Agradeço imensamente ao Senhor Deus, por ter me dado forças para concluir
essa etapa, sem o seu auxílio eu não teria chegado tão longe. Agradeço por ter me
guiado nessa jornada da melhor maneira possível.
Igualmente, agradeço os meus pais, por terem sido protagonistas na
conclusão dessa etapa. Não só nessa jornada de 05 anos, mais em todos os
momentos, que sempre fizeram o possível e o impossível para que eu conseguisse
vencer os desafios.
De modo geral, agradeço ao meu irmão, meus familiares e amigos, pelo apoio
recebido durante esses 05 anos. Ainda, a todos os professores do curso que
contribuíram na conclusão dessa etapa.
Ademais, um agradecimento especial a minha orientadora Gabriela Nunes,
que orientou da melhor maneira possível durante todo o desenvolvimento deste
trabalho.
RESUMO

O presente trabalho objetiva analisar e discutir os equivalentes jurisdicionais como


mecanismos de prevenção e tratamento do superendividamento do consumidor. O
superendividamento é um fenômeno que impossibilita o consumidor, pessoa física, de
arcar com suas dívidas atuais e futuras de consumo, afetando a sua dignidade e
violando seu mínimo existencial. São vários os fatores que contribuem para o
surgimento do superendividamento do consumidor, podendo ocorrer pelos chamados
acidentes de vida ou até mesmo pelo excesso do uso do crédito de consumo.
Atualmente não existe no ordenamento jurídico brasileiro, uma legislação especial que
possa lidar com a prevenção e tratamento do superendividamento do consumidor. A
pesquisa objetiva demonstrar uma solução alternativa que possa sanar ou controlar
os efeitos do superendividamento do consumidor. Portanto, visa um estudo analítico
nas relações de consumo e sua relação com o consumidor superendividado. Visa
demonstrar possíveis soluções jurídicas em amparo ao consumidor superendividado.
Busca-se, também uma análise da autocomposição como uma equivalente
jurisdicional na prevenção e tratamento do superendividamento do consumidor.
Investiga-se este tema sob as perspectivas de estudos bibliográficos e, de pesquisas
a legislações e artigos disponíveis sobre o assunto.

Palavras-chave: Superendividamento. Consumidor superendividado. Equivalentes


jurisdicionais. Autocomposição.
ABSTRACT

This paper aims to analyze and discuss jurisdictional equivalents as mechanisms for
the prevention and treatment of consumer over-indebtedness. Over-indebtedness is a
phenomenon that makes it impossible for the individual consumer to bear his current
and future consumption debts, affecting his dignity and violating his existential
minimum. There are several factors that contribute to the emergence of consumer
over-indebtedness, which may occur due to so-called life accidents or even the
excessive use of consumer credit. Currently, there is no special legislation in the
Brazilian legal system that can deal with the prevention and treatment of consumer
over-indebtedness. The research aims to demonstrate an alternative solution that can
remedy or control the effects of consumer over-indebtedness. Therefore, it aims at an
analytical study on consumer relations and its relationship with the over-indebted
consumer. It aims to demonstrate possible legal solutions in support of the over-
indebted consumer. It also seeks an analysis of self-composition as a jurisdictional
equivalent in the prevention and treatment of consumer over-indebtedness. This topic
is investigated from the perspective of bibliographic studies, and from research to
legislation and articles available on the subject.

Keywords: Over-indebtedness. Over-indebted consumer. Jurisdictional equivalents.


Self-composition.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09

CAPÍTULO 1 – O SUPERENDIVIDAMENTO: UMA VISÃO PANORÂMICA DO


INSTITUTO SOB A ÓTICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR ................................. 12
1.1. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA NO BRASIL 12
1.2. ABRANGÊNCIA CONCEITUAL DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR SOB A
PERSPECTIVA LEGAL E DOUTRINÁRIA ............................................................... 14
1.3. A DIMENSÃO CONCEITUAL DE SUPERENDIVIDAMENTO E SEUS
PRESSUPOSTOS DE CARACTERIZAÇÃO ............................................................. 17
1.4. FATOS GERADORES DO SUPERENDIVIDAMENTO ..................................... 19
1.5. A CLASSIFICAÇÃO DO SUPERENDIVIDAMENTO .......................................... 21

CAPÍTULO 2 – A PREVENÇÃO E O TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO


DO CONSUMIDOR: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA JURÍDICA ............... 23
2.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS EM DEFESA DO CONSUMIDOR
SUPERENDIVIDADO ................................................................................................ 23
2.2. A BOA FÉ, O DIREITO À INFORMAÇÃO NOS CONTRATOS DE CONCESSÃO
DE CRÉDITO E A PROTEÇÃO CONTRA A PUBLICIDADE ENGANOSA .............. 25
2.3. AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA DE AMPARO AO CONSUMIDOR
SUPERENDIVIDADO E O PROJETO DE LEI 3.515/2015 ...................................... 28
2.4. O SUPERENDIVIDAMENTO À LUZ DO DIREITO COMPARADO ................... 30

CAPÍTULO 3 – A PREVENÇÃO E O TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO:


UMA ANÁLISE VOLTADA PARA OS EQUIVALENTES JURISDICIONAIS .......... 32
3.1. A AUTOCOMPOSIÇÃO COMO EQUIVALENTE JURISDICIONAL .................. 32
3.2. A AUTOCOMPOSIÇÃO COMO MECANISMO DE PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR: ...................... 34
3.2.1. A negociação em matéria de superendividamento do consumidor
.................................................................................................................................. 34
3.2.2. A Conciliação e Mediação no contexto do superendividamento .. 35
3.2.3. A arbitragem como forma de resolução de conflitos que envolvem o
superendividamento do consumidor ................................................................... 38
3.3. A RELEVÂNCIA DA AUTOCOMPOSIÇÃO NOS CASOS DE
SUPERENDIVIDAMENTO ....................................................................................... 40

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 45
9

INTRODUÇÃO

O superendividamento é um assunto que vem ganhando cada vez mais


relevância no Brasil, isso porque, vem crescendo drasticamente o número de
consumidores superendividados, que já não conseguem mais pagar suas dívidas de
consumo. Diante da impossibilidade de suprir com suas dívidas de consumo, o
consumidor superendividado tem seu mínimo existencial violado, ocorrendo sua
exclusão social do mercado de consumo. Logo, se torna um grande desafio para o
consumidor superendividado sair dessa situação, uma vez que não encontra amparo
legal a esse fenômeno do superendividamento. Nesse ínterim, esse trabalho objetiva
discutir o tema “os equivalentes jurisdicionais como mecanismos de prevenção e
tratamento do superendividamento do consumidor”.
A área de concentração desse trabalho de conclusão de curso é a do Direito
do Consumidor. Dito isso, justifica-se a proposta pesquisa, pelo fato de os
consumidores superendividados não encontrarem um aparo legal no ordenamento
jurídico brasileiro. Assim, a pesquisa em questão é necessária para demonstrar um
meio alternativo voltado a prevenção e tratamento do superendividamento, uma vez
que a falta de uma regulamentação no ordenamento jurídico, vem afetando a vida dos
consumidores superendividados, que necessitam de um amparo legal para sanar ou
controlar os efeitos desse fenômeno.
No que se refere ao problema de pesquisa, este, se limita a problemática do
superendividamento, ou seja, a falta de uma previsão pelo Código de Defesa do
Consumidor e a reinserção do consumidor em situação de inadimplência. Logo, nessa
visão se faz o seguinte questionamento: diante da falta de uma regulamentação no
ordenamento jurídico brasileiro. A autocomposição pode ser uma equivalente
jurisdicional utilizada para sanar ou controlar os efeitos do superendividamento do
consumidor?
Nesse contexto, a hipótese trazida ao questionamento: é que em meio a falta
de uma regulamentação ao superendividamento, a autocomposição pode funcionar
como uma forma de sanar ou controlar os efeitos desse fenômeno. A autocomposição
é uma equivalente jurisdicional que conta com técnicas da conciliação, mediação e
negociação, que a partir da atuação das próprias partes ou com auxílio de um terceiro,
encontram soluções consensuais para o conflito. No contexto do superendividamento,
essas técnicas da autocomposição, poderiam ser aplicados para facilitar um acordo
10

de mútua satisfação para o pagamento das dívidas, de modo que protegesse o mínimo
existencial, funcionando como uma forma de evitar a exclusão social ou de reinserção
do consumidor em situação de inadimplência.
Em relação ao referencial teórico, os capítulos da pesquisa tem como principal
embasamento bibliográfico os seguintes autores e obras: Cláudia Lima Marques
(prevenção e tratamento do superendividamento - caderno de investigações
cientificas); Bruno Miragem (curso de direito do consumidor); Karen Danielevicks
Bertoncello e Schmidt Neto (direitos do consumidor endividado II: vulnerabilidade e
inclusão); Fernanda Tartuce (mediação nos conflitos civis); e Daniel Amorim Neves
(manual de direito do consumidor).
O objetivo geral do presente trabalho é examinar se os métodos da
autocomposição podem ser alternativas na prevenção e tratamento do
superendividamento do consumidor. Já os objetivos específicos são: verificar o
fenômeno do superendividamento sob a ótica do direito do consumidor; investigar as
possíveis soluções jurídicas ao superendividamento; analisar os equivalentes
jurisdicionais no contexto do superendividamento do consumidor.
A proposta pesquisa é realizada a partir de estudos bibliográficos, como
pesquisas à legislação, livros, revistas e publicações em documentos eletrônicos.
Ademais, se utiliza da pesquisa qualitativa, uma vez que não tem preocupação com
representatividade numérica, e sim, com o aprofundamento da compreensão do
fenômeno social do superendividamento. Por fim, o método de abordagem é
hipotético-dedutivo, já que consiste em uma investigação de uma premissa verdadeira
a ser estudada, com finalidade de obter um resultado que seja favorável ou não à
premissa investigada.
O trabalho de pesquisa se divide em três capítulos, sendo, o
superendividamento: uma visão panorâmica do instituto sob a ótica do direito do
consumidor; a prevenção e o tratamento do superendividamento do consumidor: uma
análise sob a perspectiva jurídica; a prevenção e o tratamento do superendividamento:
uma análise voltada para os equivalentes jurisdicionais.
O primeiro capítulo, propõe-se em demostrar sob a perspectiva do direito do
consumidor e doutrinário uma análise geral do superendividamento. Para tanto, o
capítulo apresenta um histórico sobre a evolução da legislação consumerista no
Brasil, expõe quem são os sujeitos que protagonizam uma relação de consumo, e
aborda conceitos, pressupostos e causas do superendividamento.
11

No segundo capítulo, pretende-se demonstrar sob o enfoque jurídico, as


possibilidades de tratamento e prevenção ao superendividamento. Nessa perspectiva,
faz-se uma apurada análise de princípios constitucionais, direitos e proteções
previstas no Código de Defesa do Consumidor. Além disso, faz-se uma análise do
projeto de lei 3.515/2015, bem como, uma investigação do superendividamento pelo
direito comparado.
Por fim, o terceiro capítulo propõe-se em uma análise da aplicação dos
equivalentes jurisdicionais como mecanismos de prevenção e tratamento do
superendividamento. Nesse ponto, propõe-se em uma análise da autocomposição
como uma equivalente jurisdicional no superendividamento, examinando as técnicas
da conciliação, mediação e negociação. Ademais, faz-se uma análise da arbitragem
nas resoluções de conflitos relacionados ao superendividamento.
Em suma, o projeto de pesquisa pretende analisar o fenômeno bastante
comum nas sociedades consumeristas, o chamado superendividamento, buscando-
se um estudo analítico nas relações de consumo e sua relação com o consumidor
superendividado. Busca-se, também uma análise dos equivalentes jurisdicionais
como mecanismo de prevenção e tratamento do superendividamento.
12

CAPÍTULO 1 – O SUPERENDIVIDAMENTO: UMA VISÃO PANORÂMICA DO


INSTITUTO SOB A ÓTICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

Para uma melhor compreensão do tema, faz-se necessário apresentar uma


análise detalhada de alguns assuntos. Dessa forma, esse capítulo pretende fazer um
breve apanhado histórico sobre a evolução do Código de Defesa do Consumidor,
esclarecer o que caracteriza uma relação de consumo, extraindo conceitos do ponto
de vista legal e doutrinário e explorar a definição, pressupostos e quais são as causas
do superendividamento do consumidor. A construção desse capítulo baseou-se nas
obras de Cláudia Lima Marques e Bruno Miragem.

1.1. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA NO BRASIL

Pode-se dizer que a ideia de uma legislação consumerista no mundo e no


Brasil se deu a partir da Revolução Industrial, em decorrência da alta produção através
do uso da tecnologia, fazendo com que as sociedades se tornassem cada vez mais
consumidoras, surgindo a partir daí a necessidade de regular as relações de consumo
(AZEVEDO, 2015, p. 18).
De acordo com Souza (2018, p. 06), a evolução para alcançar uma legislação
consumerista no Brasil foi um processo lento e demorado em comparação a outros
países, visto que a Revolução Industrial só aconteceu por volta de 1930. Ainda, nesse
cenário, as relações eram regidas pelo Código Civil de 1916, em que prevalecia o
estipulado nos contratos, sem previsão de proteção aos consumidores.
Foi a partir de 1970, com a criação de associações e entidades no Brasil, que
começaram a surgir alguns movimentos com a finalidade de defesa aos
consumidores. Nesse ínterim, foram aparecendo institutos com o objetivo de proteger
os consumidores, como o Conselho de Defesa do Consumidor, criado em 1974, no
Rio de Janeiro, e de outras entidades e associações, que surgiram em 1976, como no
caso do Procon, em São Paulo (CAVALIERI FILHO, 2019, p.19).
Ademais, antes do advento da Constituição Federal de 1988, já era debatido
a necessidade de uma regulamentação nas relações consumeristas. Logo, a criação
de um Anteprojeto com a finalidade de proteger os consumidores no Brasil, já era
idealizado pelo Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (THEODORO JÚNIOR,
2017, p. 22).
13

Entretanto, foi com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que


começou a existir um amparo legal para promover a proteção dos consumidores, uma
vez que ficou estabelecido no seu artigo 5°, inciso XXXII, que: “o Estado promoverá,
na forma da lei, a defesa do consumidor” (AZEVEDO, 2015, p. 18).
Também ficou estabelecido a defesa do consumidor como sendo um dos
princípios gerais da atividade econômica, conforme consta no artigo 170, inciso V, da
Constituição Federal de 1988, que dispõe que (SOUZA, 2018, p. 23):

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e


na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...] V - defesa do consumidor

Logo, com a previsão constitucional de o Estado defender o consumidor, foi


que se tornou indispensável a intervenção estatal para regularizar o mercado de
consumo. Portanto, para contemplar o estabelecido pela Carta Magna, ficou
estipulado no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que “o
Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição,
elaborará código de defesa do consumidor” (THEODORO JÚNIOR, 2017, p. 22).
Segundo Cavalieri Filho (2019, p. 23), o constituinte originário, não só
estipulou a obrigação de o Estado ser o responsável pela defesa do consumidor, como
determinou que criasse uma legislação especifica para cumprir esse mandamento.
De modo a cumprir a ordem constitucional, o parlamento iniciou a concepção
da legislação, fazendo com que fossem questionados por grupos econômicos sobre o
processo legislativo adotado para a elaboração do código. Entretanto, os
questionamentos não foram capazes de retardar o andamento do projeto do código,
já que esse acabou sendo convertido em lei ordinária por decisão do parlamento,
transformando-se na Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Código de Defesa
do Consumidor (SOUZA, 2018, p. 08).
Assim surgiu a lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e nela passou a
estabelecer-se medidas de proteção e defesa do consumidor. Essa normativa é a que
consta no art. 1º, da referida lei, que dispõe que:

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do


consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos art. 5°,
inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas
Disposições Transitórias.
14

Nessa senda, percebe-se que a constituição Federal de 1988, foi um marco


importante na proteção dos direitos dos consumidores e na criação do Código de
Defesa do Consumidor. Nesse sentido cita-se Marques (2013, p. 33):

Note-se aqui a importância da Constituição brasileira de 1988 ter reconhecido


este novo sujeito de direitos, o consumidor, individual e coletivo, e
assegurado sua proteção constitucionalmente, tanto como direito
fundamental no art. 5.°, XXXII, como princípio da ordem econômica nacional
no art. 170, V, da CF/1988. Em outras palavras, a Constituição Federal de
1988 é a origem da codificação tutelar dos consumidores no Brasil, pois no
art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias encontra-se o
mandamento (G ebot) para que o legislador ordinário estabelecesse um
Código de Defesa e Proteção do Consumidor, o que aconteceu em 1990.

Percebe-se que a evolução histórica para a concretização de uma legislação


consumerista no Brasil, foi um processo extenso, de modo que o surgimento do
Código de Defesa do Consumidor, só foi possível por conta do advento da
Constituição Federal de 1988, que ordenou que o Estado criasse normas protetivas a
defesa dos consumidores (SOUZA, 2018, p. 08).
Dessa forma, foi através da Constituição Federal de 1988, que começou a
existir um amparo legal a defesa do consumidor no Brasil, ficando o Estado obrigado
a intervir nas relações de consumo, para assegurar a proteção dos vulneráveis. Logo,
a Carta Magna, se trata de um marco histórico na proteção dos consumidores no
Brasil, sendo o responsável pela existência do Código de Defesa do Consumidor.

1.2. ABRANGÊNCIA CONCEITUAL DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR SOB A


PERSPECTIVA LEGAL E DOUTRINÁRIA

O que seria uma relação de consumo? O Código de Defesa do Consumidor,


não traz um conceito específico que possa responder essa questão de forma direta.
No entanto, o legislador ao definir os elementos de uma relação jurídica de consumo,
deixou claro que para caracterizar essa relação deve existir um vínculo entre o
consumidor, fornecedor e o objeto ofertado (MIRAGEM, 2016, p. 155).
Para entender o que vem a ser um consumidor, é importante primeiramente
analisar o conceito trazido pelo art. 2° do Código de Defesa do Consumidor, que
estabelece que: “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final”.
15

Nessa senda, percebe-se que o dispositivo se utiliza do vocábulo “destinatário


final” para definir um consumidor. No entanto, a interpretação do que seria um
destinatário final ocasionou sérias discussões no mundo jurídico, passando então a
surgir duas correntes doutrinarias conhecidas como teoria finalista ou subjetiva, e,
maximalista ou objetiva (SOUZA, 2018, p. 23).
A teoria finalista ou subjetiva, é aquela que interpreta o vocábulo destinatário
final de modo restrito. Dessa forma, essa teoria entende que para ser enquadrado
como um destinatário final, a pessoa deve adquirir um produto ou contratar um serviço,
com uma destinação pessoal, isto é, sem a finalidade de consumo para satisfazer um
interesse profissional (THEODORO JÚNIOR, 2017, p. 24).
Conforme Tartuce (2018, p. 96), a teoria finalista ou subjetiva foi a adotada
pelo art. 2°, do Código de Defesa do Consumidor. Segundo essa teoria, a expressão
“destinatário final” seria aquele consumidor (pessoa, física ou jurídica), que retira da
cadeia de consumo, o produto ou serviço, para o uso ou consumo pessoal (destinação
final fática), sem o intuito de auferir lucro pelo meio produtivo ou de o inserir
novamente no mercado (destinação final econômica).
De outro modo, a corrente maximalista ou objetiva, é aquela que entende que
a expressão “destinatário final”, deve ser interpretada de forma ampla. De acordo com
essa teoria, será considerado destinatário fático toda a pessoa física ou jurídica que,
ao praticar um ato de consumo, retire do mercado o produto ou serviço o destinando
para uso, ou consumo pessoal ou profissional, não importando se desse consumo vai
ser auferido lucro (CAVALIERI FILHO, 2019, p. 85).
De acordo com Souza (2018, p. 23), a teoria maximalista considera como
consumidor o destinatário fático, isto é, todos aqueles que adquirem um produto ou
serviço, para satisfazer um interesse pessoal, familiar ou profissional, não objetivando
o inserir novamente no mercado.
Cabe agora trazer outra definição de consumidor, prevista no art. 2°, parágrafo
único, do Código de Defesa do Consumidor, que diz o seguinte: “equipara-se a
consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo
nas relações de consumo”. Assim, a Lei 8.078/1990 (CDC), expandiu a equiparação
aos artigos 17 e 29, relativas a práticas comerciais pelos fornecedores (MIRAGEM,
2016, pp. 160 - 162). Nesse sentido se faz prudente citar o entendimento de Marques
(2013, pp. 108 - 109):
16

O ponto de partida dessa extensão do campo de aplicação do CDC é a


observação de que muitas pessoas, mesmo não sendo consumidores stricto
sensu, podem ser atingidas ou prejudicadas pelas atividades dos
fornecedores no mercado.

Segundo Miragem (2016, p. 159), as três equiparações previstas no Código


de Defesa do Consumidor, têm o objetivo de proteger aquelas pessoas, que mesmo
que não tenham praticado um ato de consumo, se encontrem expostas a danos
existentes do mercado.
Dessa forma, os artigos são claros no sentido de equiparar todos os terceiros
que não são consumidores diretos, isto é, expandir indiretamente a proteção aos
sujeitos que estão vulneráveis a possíveis riscos do mercado de consumo
(CAVALIERI FILHO, 2019, p. 95).
Em suma, o Código de Defesa do Consumidor, trouxe duas definições de
consumidores, o padrão ou stricto sensu, que é aquele que adquire ou utiliza o produto
como destinatário final, e os equiparados, que são aqueles terceiros, expostos a
práticas nocivas do mercado de consumo (SOUZA, 2018, p. 25).
Agora passa-se a análise da outra parte da relação de consumo, o fornecedor.
Dessa forma, para definir o que vem a ser um fornecedor, o art. 3°, do Código de
Defesa do Consumidor, Lei 8.078/1990, traz uma conceituação para sua
caracterização. Consta no texto que:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

Segundo Miragem (2016, pp. 176 - 177), o legislador não expôs limites no
conceito de fornecedor, abrangendo toda sua natureza, regime jurídico ou
nacionalidade. Ou seja, para ser considerado um fornecedor, não importa, por
exemplo, se a empresa é nacional ou estrangeira, privada ou pública, o que interessa
é o elemento de sua atividade de fornecer produtos ou serviços para o mercado de
consumo.
Conforme Cavalieri Filho (2019, p. 101), o principal objetivo da definição é de
não limitar os sujeitos que fornecem produtos ou serviços, considerando como
fornecedor todos aqueles que atuam nas diversas etapas do processo, seja na sua
17

produção, criação, transformação, distribuição ou comercialização de produtos ou


serviços.
No entendimento de Filomeno (2018, p. 95), o fornecedor pode ser definido
como qualquer pessoa que coloca no mercado de consumo produtos ou serviços com
a finalidade de satisfazer os interesses pessoais ou profissionais dos consumidores.
Ademais, Marques (2013 p. 112), traz uma conceituação para definir um fornecedor
de produtos, in verbis:

Quanto ao fornecimento de produtos, o critério caracterizador é desenvolver


atividades tipicamente profissionais, como a comercialização, a produção, a
importação, indicando também a necessidade de certa habitualidade, como
a transformação, a distribuição de produtos.

De outro modo, o que vai caracterizar um fornecedor de serviços serão as


atividades profissionais desenvolvidas com habitualidade e mediante remuneração,
não importando se a natureza dessa remuneração foi dada de forma direta ou indireta
pelo consumidor (THEODORO JÚNIOR, 2017, p. 33).
Logo, o que vai definir um fornecedor ou prestador, é o modo como é
desenvolvida a atividade de fornecer produtos ou serviços, sendo requisito para sua
caracterização, a habitualidade e ser tipicamente profissional, com intuito econômico,
não sendo considerado fornecedores ou prestadores, aqueles que praticam apenas
um ato isoladamente (TARTUCE, 2018, PP. 89 - 90).
Portanto, é essencial para caracterizar uma relação de consumo, a presença
de um fornecedor, que oferta no mercado o produto ou serviço, e de um consumidor,
que pretende com uma destinação final, adquirir ou utilizar esse produto ou serviço.

1.3. A DIMENSÃO CONCEITUAL DE SUPERENDIVIDAMENTO E SEUS


PRESSUPOSTOS DE CARACTERIZAÇÃO

Diante da atual sociedade, que cada vez mais consomem produtos ou


serviços, sejam eles essenciais ou não. Pode-se dizer que é normal que os
consumidores possuam dívidas com diversos fornecedores e se encontrem
endividados. No entanto, muitas vezes os consumidores, para satisfazer suas
necessidades, básicas ou não, acabam consumido mais do que podem, fazendo com
que suas dívidas de consumo ultrapassem o valor dos seus recursos financeiros,
gerando a partir desse cenário a premência de contratar um crédito para suprir
18

eventuais despesas, o que os levam para o endividamento excessivo ou


superendividamento (MARQUES, 2010, pp. 17 - 19).
Antes de seguir com a conceituação, cabe esclarecer que existe uma
diferença entre incumprimento e superendividamento. No primeiro caso, o consumidor
deixar de honrar com o pagamento das dívidas em razão de desrespeito ao prazo
estipulado com as obrigações assumidas. Já no segundo caso, o consumidor
simplesmente deixa de pagar suas dívidas por não possuir recursos financeiros
suficientes. Nesse sentido, cita-se Lima e Bertoncello (2010, p. 41), que entendem
que:

[...] o incumprimento diz respeito simplesmente ao não pagamento das


dívidas assumidas, independente das razões que o justifiquem (podendo ser
um atraso oportunista e intencional); o superendividamento é a
impossibilidade de pagamento por insuficiência de rendimentos. Nesse
passo, o incumprimento é identificado pelo caráter individual e casuístico
relacionado ao devedor; em contrapartida o superendividamento está
relacionado à visão conjuntural do consumidor no mercado de consumo,
tornando-se fenômeno social e mundial da pós-modernidade.

Conforme Schmidt Neto (2016, p. 213), ocorre o superendividamento, quando


o consumidor possui um conjunto de dívidas que são maiores que seus recursos
financeiros, tornando-se nesse caso impossível de quitar os débitos por conta própria,
necessitando de auxílio para reestruturar sua vida econômico-financeira.
Para Miragem (2016, p. 440), o superendividamento é aquela situação em que
os consumidores se encontram incapacitados de adimplir suas dívidas quando se
tornam exigíveis, seja, por conta de um descontrole na administração dos recursos
financeiros ou por algum fato imprevisível surgido na sua vida pessoal.
Já para Lima e Bertoncello (2010, p. 41), o superendividamento pode ser
compreendido como a falência ou insolvência dos consumidores, visto que, se
encontram em uma situação, a longo prazo, de impossibilidade financeira para arcar
com o pagamento de suas dívidas. Nesse mesmo contexto, de acordo com Marques
(2010 p. 41), o superendividamento é uma situação que ocorre na vida dos
consumidores, que os impossibilitam de pagar suas dívidas de consumo, em
decorrência da atual insuficiência de recursos. In verbis:

O superendividamento pode ser definido como impossibilidade global do


devedor-pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, de pagar todas as suas
dívidas atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas com o Fisco,
19

oriundas de delitos e de alimentos) em um tempo razoável com sua


capacidade atual de rendas e patrimônio.

No que se refere aos pressupostos de caracterização do superendividamento,


é importante ressaltar que não existe uma definição legal no ordenamento jurídico.
Logo, por não existir uma legislação especifica que possa definir esses pressupostos,
a doutrina adota alguns requisitos com base no direito comparado, de modo a auxiliar
na caracterização do superendividamento (SCHMIDT NETO, 2016, p. 214).
Segundo Marques (2010, p. 64), são os pressupostos de caracterização do
superendividamento: "o consumidor pessoa física, de boa-fé, com qualquer renda
familiar e que não tenha contraído crédito para o exercício de suas atividades
profissionais, tendo em vista que estas já são tuteladas pela Lei de Falências”.
Igualmente Carpena e Cavallazzi (2006, p. 329), consideram como requisito
de caracterização do superendividamento, a presença de um consumidor pessoa
física, de boa-fé, que contraiu créditos com a destinação de suprir suas necessidades
pessoais, descaracterizando se foram contraídas com finalidades profissionais.
No que se refere a boa-fé, entende-se por aquele consumidor que ao
satisfazer suas necessidades, contraiu dívidas de consumo em prestações, com
objetivo de pagá-las no prazo estabelecido. Ademais, em relação a valor dos débitos,
não existe um mínimo específico para caracterizar o superendividamento, sendo o
único requisito que a soma do conjunto das dívidas do consumidor seja superior aos
seus ganhos, pondo em risco sua dignidade (SCHMIDT NETO, 2016, p. 214).
Nesse sentido, conclui-se que, caracteriza-se o superendividamento, pela
impossibilidade do consumidor (pessoa física) e de (boa-fé), arcar com o pagamento
de suas dívidas de consumo (excluídas as profissionais), pela insuficiência de
recursos.

1.4. FATOS GERADORES DO SUPERENDIVIDAMENTO

São vários os fatores que contribuem para o superendividamento do


consumidor, não podendo ser restringido a apenas um fato. Esse fenômeno pode se
iniciar da deficiente administração das obrigações ou de problemas específicos e
ocasionais de ordem pessoal ou familiar. Nesse contexto, cita-se Batello (2006, PP.
226 - 2027), que explica o seguinte:
20

Na maioria dos casos, o superendividamento não se deve a uma única causa,


já que o devedor deve fazer frente a um conjunto de obrigações derivadas de
aquisição de bens e serviços de primeira necessidade, créditos hipotecários,
carros, móveis e etc. e, inclusive, decorrentes do abusivo e incorreto uso do
cartão de crédito. Soma-se ainda, causas não econômicas, tais como falta de
informação e educação dos consumidores, rupturas familiares, acidentes ou
enfermidades crônicas etc.

No entanto, entre os vários fatores geradores do superendividamento, tem um


que acaba se destacando, que é a facilidade ao crédito de consumo, que pode ser
entendido, em um contrato de pagamento a crédito ou a prestações em que os
consumidores se utilizam para satisfazer suas necessidades, básicas ou não, o que
pode ser um perigo, conforme explica Claudia Lima Marques (2010, pp. 19 – 20, grifo
do autor):

Os perigos do crédito podem ser atuais ou futuros. Atuais, pois o crédito


fornece ao consumidor, pessoa física, a impressão que pode – mesmo com
seu orçamento reduzido- tudo adquirir e embebido das várias tentações da
sociedade de consumo, multiplica suas compras até que não lhe seja mais
possível pagar em dia o conjunto de suas dívidas em um tempo razoável.
[...]Um dos perigos futuros do crédito é que mesmo se a pessoa puder fazer
frente a suas dívidas parceladas naquele mês em que está empregada e de
boa saúde (fazendo bicos ou trabalhando horas extras) no outro em que tiver
problemas no trabalho ou na família (doença de alguém da família ou dele,
mortes, acidentes etc.)...a casa cai.

Ademais, a concessão de crédito, acaba sendo um fator agravante ao


superendividamento, visto que muitas vezes os fornecedores não se atentam em
saber a real situação financeira do adquirente, apenas os induzindo para a
contratação, sem ao menos passar as devidas informações com clareza, como no
caso das taxas de juros, o que acaba por contribuir com o endividamento excessivo
do consumidor (CARPENA e CAVALLAZZI, 2006, p. 338).
Conforme Bolson (2007, p. 179), a publicidade também contribui com o
superendividamento, pois o excesso de propagandas em que os consumidores têm
acesso por vários meios de comunicação, fazem surgir novas necessidades de
consumo, sendo elas essenciais ou não.
No entendimento de Lima e Bertoncello (2010, p. 43), são os principais fatores
que contribuem para o superendividamento: a falta de cuidado no momento da
contratação de crédito, em que o fornecedor não passa as informações com clareza
para o consumidor; o excesso de publicidades enganosas e abusivas, influenciado os
21

indivíduos a adquirir ou contratar novos produtos e serviços; as crises econômicas


que assola o país; bem como o aumento desenfreado do desemprego.
Nessa senda, resta demonstrado que o superendividamento decorre de vários
fatores, podendo ter sua ocorrência a partir de um acidente de vida (desemprego,
acidentes, problemas de saúde, etc.), pela utilização em excesso do crédito de
consumo, por meio das práticas abusivas dos fornecedores (fixação de taxa de juros
exorbitantes, publicidades enganosas, dentre outros).

1.5. A CLASSIFICAÇÃO DO SUPERENDIVIDAMENTO

Pode-se dizer, que o superendividamento é dividido em duas classificações,


o superendividado passivo e ativo. No superendividamento passivo, o consumidor não
contribuiu para o endividamento excessivo. Já no superendividamento ativo, o
consumidor acabou gastando excessivamente ou não teve um controle correto na
admiração dos seus gastos de consumo. (MARQUES, 2010, p. 21).
Conforme Miragem (2016 p. 442), no superendividamento ativo, é o
consumidor que se coloca nessa situação, seja pela falta de uma organização
financeira ou pelo descontrole de gastos. De outro modo, no superendividamento
passivo, não é consumidor que se coloca nessa situação, surgindo essa consequência
na sua vida por algum imprevisto pessoal ou familiar.
Nessa senda, para uma melhor compreensão entre o superendividamento
ativo e passivo, cabe trazer uma classificação formulada por Leitão Marques (2000,
p.02), que define o seguinte:

O sobre-endividamento pode ser ativo, se o devedor contribuir ativamente


para se colocar em situação de impossibilidade de pagamento, por exemplo,
não planejando os compromissos assumidos e procedendo a uma
acumulação exagerada de créditos e relação aos rendimentos efetivos e
esperados; ou passivo, quando circunstâncias não previsíveis (desemprego,
precarização do emprego, divórcio, doença ou morte de um familiar, acidente,
etc.) afeta gravemente a capacidade de reembolso do devedor, colocando-o
em situação de impossibilidade de cumprimento.

No que tange ao superendividamento ativo, este se subdivide em consciente


e inconsciente. No superendividamento ativo consciente, o consumidor ao ter
contraído as dívidas de consumo, tinha o conhecimento de que seus recursos
financeiros não eram compatíveis com as obrigações assumidas. Já no
22

superendividamento inconsciente, o consumidor ao ter agido por impulso não realizou


nenhum planejamento financeiro adequado no momento da aquisição das dívidas de
consumo (SCHMIDT NETO, 2016, p. 217).
O que diferencia o superendividamento passivo em relação ao ativo
(consciente ou inconsciente), é o fato de o consumidor não ter se colocado nessa
situação, isto é, não conseguiu arcar com o pagamento de suas dívidas por
consequência de uma circunstância imprevisível, advinda dos chamados acidentes de
vida (desemprego, doenças, etc.) (MARQUES, 2016, pp. 258 – 259).
Ademais, Lima e Bertoncello (2010, p. 41), classificam o superendividamento
como boa-fé e má-fé do consumidor. Em se tratando do superendividamento de boa-
fé, o consumidor deixa de horar com o pagamento de suas dívidas por ter ocorrido
algum fato imprevisível, o conhecido acidente de vida, ou ainda, pela inexperiência ou
despreparo que teve em contrair essas despesas. No superendividamento de má-fé,
o consumidor simplesmente ignora a incompatibilidade da sua renda ao contrair novas
dívidas de consumo.
Dessa forma, o superendividamento pode ser compreendido por duas
classificações, o ativo que se subdivide em consciente (aquele que tem ciência que
gasta mais do que pode) e inconsciente (o que não se planejou corretamente ao
contrair as dívidas), e o passivo (consumidor impossibilitado de honrar com as
obrigações em decorrência dos acidentes de vida).
23

CAPÍTULO 2 – A PREVENÇÃO E O TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO


DO CONSUMIDOR: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA JURÍDICA

O presente capítulo pretende demonstrar sob a perspectiva jurídica, as


possibilidades de tratamento e prevenção ao superendividamento, nesse contexto,
faz-se necessário uma análise de princípios, direitos e proteções aplicados em defesa
do consumidor, bem como, explorar um possível amparo legal do superendividamento
sob a ótica do projeto de lei 3.515/2015, e investigar como é tratado esse fenômeno
no direito comparado. Esse capítulo baseou-se nas obras de Schmidt Neto, Cláudia
Lima Marques e Bruno Miragem.

2.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS EM DEFESA DO CONSUMIDOR


SUPERENDIVIDADO

O superendividamento, como já foi exposto, se trata de uma situação em que


o consumidor se vê impossibilitado de arcar com suas dívidas de consumo em
decorrência da atual insuficiência de recursos. Dito isso, essa impossibilidade de arcar
com suas dívidas, faz com que esse consumidor superendividado, comprometa seu
mínimo existencial e seja excluído do mercado de consumo (uma nova espécie de
morte civil), deixando a sua dignidade social fragilizada, o que é contrário ao previsto
na constituição Federal de 1988, que estabelece como um dos princípios
fundamentais da República, no artigo 1º, inciso III, a dignidade da pessoa humana
(MARQUES, 2010, p. 25).
Segundo Barroso (2009, p. 253), o princípio da dignidade da pessoa humana,
é compreendido como um conjunto de valores civilizatórios, isso porque, esse
princípio está atrelado a própria existência do ser humano, de tal maneira, que essa
existência merece ser dotada de direitos fundamentais (liberdade, igualdade, vida,
propriedade, etc.), com finalidade de se garantir condições a uma subsistência digna.
Na concepção de Sarlet (2009, p. 67), o princípio da dignidade da pessoa
humana, é entendido como a base geral que reconhece as qualidades e valores de
cada ser humano, reconhecendo que essa existência merece ser respeitada através
de um complexo de direitos e deveres fundamentais, que possam assegurar um
mínimo de condições para uma subsistência saudável e digna. In verbis:
24

Assim, tenho por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e


distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando,
neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e
desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas
para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa
e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão
com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seres
que integram a rede da vida.

Compreendido o princípio da dignidade da pessoa humana, deve ser


analisado o princípio do mínimo existencial, que é definido como um conjunto de bens
e utilidades que são essenciais para que concretize uma subsistência digna
(BARROSO, 2009, p. 253).
O princípio do mínimo existencial, é a essência para que se garanta ao ser
humano, um conjunto de prestações materiais indispensáveis para uma existência
física, espiritual e intelectual digna. Nessa perspectiva, cita-se Barcellos (2002, p. 197-
198) que explica que:

o mínimo existencial corresponde ao conjunto de situações materiais


indispensáveis à existência humana digna; existência aí considerada não
apenas como experiência física – a sobrevivência e a manutenção do corpo
– mas também espiritual e intelectual, aspectos fundamentais em um Estado
que se pretende, de um lado, democrático, demandando a participação dos
indivíduos nas deliberações públicas, e, de outro, liberal, deixando a cargo de
cada um seu próprio desenvolvimento.

De acordo com Sarlet (2009, p. 65), para que se concretize uma existência
digna, deve ser assegurado um mínimo de condições que sejam capazes de respeitar
a vida, integridade física e moral do ser humano, ou seja, circunstâncias que possam
satisfazer aos indivíduos de exercer os seus direitos fundamentais à vida, igualdade,
propriedade, liberdade, etc.
Ademais, segundo Souza (2018, p.13), também deve ser observado o
princípio da vulnerabilidade, que foi consagrado no art. 4, inciso I, do Código de
Defesa do Consumidor, pela Política Nacional de Relação de Consumo, que tem como
um dos objetivos, o respeito à dignidade. Nesse contexto, conforme Marques (2010,
p. 87), a vulnerabilidade é compreendida como:

uma situação permanente ou provisória, individual ou coletiva, que fragiliza,


enfraquece o sujeito de direitos, desequilibrando a relação de consumo.
Vulnerabilidade é uma característica, um estado do sujeito mais fraco, um
sinal de necessidade de proteção.
25

No entendimento de Moraes (2009, p. 125), o princípio da vulnerabilidade, tem


a finalidade de reconhecer a fragilidade dos consumidores em uma relação jurídica de
consumo, visto que, esses sujeitos correm o risco de serem expostos a possíveis
ofensas ou danos na sua incolumidade, física, psíquica ou econômica.
A Constituição Federal de 1988, por reconhecer que o Estado é o responsável
pela defesa do consumidor, e contemplar a dignidade da pessoa humana como um
dos fundamentos da República, o consumidor superendividado se torna amparado
constitucionalmente (LIMA e BERTONCELLO, 2010, p. 46).
Dessa forma, a dignidade da pessoa humana, mínimo existencial e
vulnerabilidade, são princípios que devem ser aplicados em defesa do consumidor
superendividado, de modo a respeitar e resguardar sua dignidade que se encontra
fragilizada pelo superendividamento.

2.2. A BOA FÉ, O DIREITO À INFORMAÇÃO NOS CONTRATOS DE CONCESSÃO


DE CRÉDITO E A PROTEÇÃO CONTRA A PUBLICIDADE ENGANOSA

No que se refere a boa-fé em uma relação jurídica de consumo, é necessário


compreender a distinção entre a boa-fé subjetiva e objetiva. A boa-fé subjetiva, diz
respeito ao próprio sujeito, que em uma relação jurídica pode ter falsas percepções
de determinado fato, desconhecendo os impedimentos de determinadas normas
jurídicas. Por seu turno, a boa-fé objetiva, se trata da exigência para que os sujeitos
se comportem em uma relação jurídica com respeito, lealdade e fidelidade, limitando
que as partes ajam de acordo com seus interesses egoístas, ficando ambos
subordinados na relação a colaborar em harmonia para que concretize de forma justa
os fins pretendidos (MIRAGEM, 2016, p. 145).
Segundo Filomeno (2018, p. 329), a boa-fé subjetiva se trata de um ato interno
psicológico, ou seja, se refere ao sujeito que pratica um ato com sentimento de que
está agindo em conformidade com as normas jurídicas.
A boa-fé objetiva é compreendida como regramento ético da relação jurídica,
que visa estabelecer o respeito, lealdade, informação e cooperação entre as partes,
com fins de alcançar o justo cumprimento das obrigações. Nessa perspectiva, cita-se
Marques (2011, p. 216), que entende que:
26

[...] Boa-fé objetiva significa atuação refletida, uma atuação refletindo,


pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus
interesses legítimos, suas expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com
lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem
excessiva, cooperando para atingir o bom fim das obrigações: o cumprimento
do objetivo contratual e a realização dos interesses das partes.

O código de Defesa do Consumidor, aderiu à boa-fé objetiva no artigo 4°,


inciso III, estabelecendo que os atos praticados pelos sujeitos em uma relação jurídica
de consumo, devem ser “sempre com base na boa-fé e equilíbrio”, ou seja, as partes
devem se portar em todas as fases dessa relação em “harmonia” para alcançar um
justo equilíbrio (TARTUCE, 2018, p. 51).
Pode-se destacar a boa-fé objetiva, através do artigo 6°, inciso III, do Código
de Defesa do Consumidor, que determina que os fornecedores, tem o dever de passar
as informações e especificações (quantidade, características, qualidade, tributos
incidentes, preço e risco) do produto ou serviço que está sendo disponibilizado ao
consumidor (MIRAGEM, 2016, p. 214).
Conforme explica Cavalieri Filho (2019, p.122), esse dever dos fornecedores
em passar as informações e especificações do produto ou serviço aos consumidores,
se justifica pelo fato de serem os detentores do domínio do processo produtivo.
Nessa perspectiva, cabe enfatizar o direito à informação nos contratos de
concessão de crédito, uma vez que, o Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo
52°, estabelece que:

Art. 52 No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de


crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá,
entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III - acréscimos legalmente previstos;
IV - número e periodicidade das prestações;
V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

Percebe-se, que nos contratos de crédito, o fornecedor fica subordinado a


informar ao consumidor, todos os elementos específicos do contrato (preço, montante
dos juros, taxas etc.). Essas informações devem ser transmitidas adequadamente, de
modo que o consumidor consiga compreender os riscos e benefícios desse crédito
(MIRAGEM, 2016, p. 215).
27

Na concepção de Marques (2010, p. 26), à informação detalhada, pode ser


considerado o maior instrumento de prevenção ao superendividamento do
consumidor. In verbis:

O maior instrumento de prevenção do superendividamento dos consumidores


é a informação. Informação detalhada ao consumidor é um dever de boa-fé,
dever de informar os elementos principais e mesmo dever de esclarecer o
leigo sobre os riscos do crédito e o comprometimento futuro de sua renda.

Além disso, outra questão que deve ser analisada, é a boa-fé nos meios de
publicidades, visto que, o Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo 6°, inciso
IV, trouxe a previsão de proteção aos consumidores contra publicidades enganosas
ou abusivas pelos fornecedores (CAVALIERI FILHO, 2019, p.122).
Cabe destacar a publicidade enganosa, por se tratar de uma violação direta
ao princípio da veracidade, que estabelece como obrigação do fornecedor, o dever de
passar informações corretas e verdadeiras do produto ou serviço que está sendo
disponibilizado ao consumidor (MIRAGEM, 2016, p. 275).
Para compreender a publicidade enganosa, cabe trazer a conceituação, que
consta no § 1°, do artigo 37° do Código de Defesa do consumidor, que dispõe que:

§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de


caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço
e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

A publicidade enganosa se dividi em comissiva e omissiva. A publicidade


comissiva se refere a falsas informações apresentada pelo fornecedor, que não condiz
com a realidade do produto ou serviço, induzindo o consumidor ao erro. Já na
publicidade omissiva, o fornecedor deixa de informar algum elemento importante do
produto ou serviço, levando o consumidor ao engano (CAVALIERI FILHO, 2019,
p.164).
Como se percebe, a publicidade enganosa, se trata de falsas informações ou
de omissões, que faz com que o consumidor se engane sobre as verdadeiras
características, preço, especificações ou de qualquer outro dado do produto ou serviço
(MIRAGEM, 2016, p. 275).
28

De acordo com Martínez (2002, p. 123), não há o que se falar em boa-fé dos
fornecedores, quando a publicidade tem o objetivo de induzir os consumidores a uma
falsa expectativa das condições de contratação do produto ou serviço.
Nesse sentido, conclui-se que, os fornecedores devem agir sempre com base
na boa-fé objetiva, não se utilizando de publicidades falsas para satisfazer seus
interesses, cooperando com as reais expectativas pretendidas pelos consumidores,
não abusando dos seus direitos, especialmente no que se refere aos contratos de
crédito, informando com veracidade e adequadamente todos os elementos, condições
e riscos do contrato, para que o consumidor chegue a uma decisão conscientemente.

2.3. AUSÊNCIA DE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA DE AMPARO AO CONSUMIDOR


SUPERENDIVIDADO E O PROJETO DE LEI 3.515/2015

O crédito de consumo vem sendo cada vez mais a alternativa utilizada pelos
consumidores para satisfazer suas necessidades, básicas ou não. Entretanto, essa
facilidade do acesso ao crédito de consumo, tem se tornado uma das principais
causas do superendividamento. Nesse cenário, segundo Schmidt Neto (2016, p.226),
é imprescindível uma regulamentação que possa lidar com as situações de
superendividamento, especialmente com mecanismos de prevenção no que se refere
a oferta de crédito para o consumo. Nesse interim, importante mencionar o
entendimento de Batello (2006, p. 227):

Nesse diapasão, a massificação da oferta do crédito para o consumo e o fato


de que o superendividamento dos consumidores assume proporções cada
vez maiores e mais preocupantes levam à necessidade de estabelecer um
regime jurídico específico para a prevenção e tratamento do
superendividamento do consumidor, tanto no plano teórico quanto no plano
normativo, principalmente no caso de países em desenvolvimento como o
Brasil.

Conforme explica Marques (2014, p. 1407), as normas atuais do Código de


Defesa do Consumidor, se tornaram ineficazes em relação ao tema do crédito ao
consumidor (pessoa física), fazendo-se necessário a atualização das normas, para
enfrentar e prevenir o fenômeno do superendividamento.
Nessa perspectiva, o Projeto de Lei 3.515/2015, que segue em tramitação na
câmara dos deputados, pretende alterar o Código de Defesa do Consumidor, para
29

aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor e trazer mecanismos de prevenção


e tratamento ao superendividamento (MIRAGEM, 2016, p. 124).
De acordo o Projeto de Lei 3.515/2015, o Código de Defesa do Consumidor,
passaria a dispor nos direitos básicos do consumidor, no artigo 6°, inciso XI:

a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de


prevenção e tratamento de situações de superendividamento, preservado o
mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio da revisão e
repactuação da dívida, entre outras medidas.

O Projeto de Lei 3.515/2015, pretende introduzir o Capítulo VI-A, no Código


de Defesa do Consumidor, que segundo o artigo 54-A: “este Capítulo tem a finalidade
de prevenir o superendividamento da pessoa natural e de dispor sobre o crédito
responsável e sobre a educação financeira do consumidor”.
Uma das medidas que consta no Capítulo VI-A, na proposta do Projeto de Lei
3.515/2015, se trata do direito à informação, que reforça no artigo 54-B, o quadro de
informações obrigatórias a serem passadas ao consumidor no momento do
fornecimento de crédito e na venda a prazo. Ainda, conforme o § 1º, do referido artigo,
“as informações [...] devem constar de forma clara e resumida no próprio contrato, na
fatura ou em instrumento apartado, de fácil acesso ao consumidor” (SCHMIDT NETO,
2016, p. 227).
Outro ponto que cabe destacar no Capítulo VI-A, do Projeto de Lei 3.515/2015,
é a questão da publicidade enganosa na oferta de crédito, que de acordo com o artigo
54-C, inciso I, fica proibido “fazer referência a crédito “sem juros”, “gratuito”, “sem
acréscimo”, com “taxa zero” ou expressão de sentido ou entendimento semelhante.”
Ademais, o Projeto de Lei 3.515/2015, pretende também introduzir o capítulo
V, no Código de Defesa do Consumidor, para estabelecer a conciliação no
superendividamento. De acordo com o artigo 104-A, caput, do referido Capítulo:

Art. 104-A A requerimento do consumidor superendividado pessoa natural, o


juiz poderá instaurar processo de repactuação de dívidas, visando à
realização de audiência conciliatória, presidida por ele ou por conciliador
credenciado no juízo, com a presença de todos os credores, em que o
consumidor apresentará proposta de plano de pagamento com prazo máximo
de 5 (cinco) anos, preservados o mínimo existencial, nos termos da
regulamentação, e as garantias e as formas de pagamento originalmente
pactuadas.
30

Segundo Silvia (2016, PP. 254), o fenômeno do superendividamento tem se


tornado cada vez mais presente na vida dos consumidores, tornando-se necessário a
aprovação do Projeto de Lei 3.515/2015, para que possa trazer inovações para o
Código de Defesa do Consumidor, com mecanismos que discipline a prevenção e o
tratamento do superendividamento.
É de extrema urgência a aprovação do Projeto de Lei 3.515/2015, visto que,
a sua aprovação se trata de um grande avanço no combate do superendividamento
do consumidor, que atualmente não encontra amparo legal para sair dessa situação
(SCHMIDT NETO, 2016, p. 228).
Nessa senda, resta demonstrado a necessidade de aprovação do Projeto de
Lei 3.515/2015, para que possa trazer ao Código de Defesa do Consumidor,
mecanismos eficazes na prevenção e tratamento do superendividamento do
consumidor.

2.4. O SUPERENDIVIDAMENTO À LUZ DO DIREITO COMPARADO

Pode-se dizer que os regimes utilizados pelos países que já possuem uma
legislação especifica ao tratamento do superendividamento, se distingue em “fresh
start policy” e o “sistema da reeducação” (LIMA e BERTONCELLO, 2010, p. 63).
O modelo fresh start, teve seu surgimento em 1934, através de uma decisão
de um tribunal norte-americano. Esse regime, liga-se a ideia de que o
superendividamento se trata de uma consequência natural da economia de mercado,
visto que, o uso do crédito por ser considerado indispensável, torna-se um risco
natural ao consumidor (SCHMIDT NETO, 2016, p. 220).
Conforme Lima e Bertoncello (2010, p. 63), o modelo fresh start entende que
o superendividamento é um risco decorrente da expansão do mercado financeiro.
Nesse sentido, esse sistema compreende que é inevitável a utilização do crédito sem
algum tipo de risco, e que por esse motivo os consumidores merecem uma espécie
de responsabilidade limitada.
Em relação ao tratamento que o modelo fresh start adota ao
superendividamento, este decorre da liquidação dos bens do devedor para o
pagamento das dívidas, ficando perdoados os valores excedentes. Após esse
procedimento, o consumidor estará apto a recomeçar novamente, podendo utilizar-se
do crédito sem nenhum tipo de restrição (SCHMIDT NETO, 2016, p. 220).
31

Quanto ao modelo do sistema da reeducação, este responsabiliza os atos dos


consumidores como cidadãos decentes e não tanto como agentes econômicos.
Portanto, esse modelo está ligado diretamente a falha do consumidor, que necessita
de reeducação (LIMA e BERTONCELLO, 2010, p. 63).
Esse modelo da reeducação, se relaciona a responsabilidade dos atos do
consumidor, que contribuiu passivamente com esse conjunto de dívidas advindas da
facilidade do acesso ao crédito para consumo e dos apelos de publicidades, ou seja,
dívidas contraídas que decorreram de circunstâncias extraordinárias, que
impossibilitou o consumidor de honrar com seus compromissos assumidos (SCHMIDT
NETO, 2016, PP. 219 - 220).
De acordo com Schmidt Neto (2016, p. 219), os países que utilizam o modelo
do sistema da reeducação, exige que que os devedores realizem o pagamento da
totalidade ou de grande parte de suas dívidas com o patrimônio existente e com seus
rendimentos futuros. Dessa forma, o pagamento das dívidas deve ser feito com base
em um plano de pagamento, através de um acordo fixado entre os credores.
Segundo Marques (2010, p. 31), o melhor modelo a ser adotado pelo Brasil,
é o da reeducação, uma vez que, o modelo fresh start é avançado em relação a
sociedade que já conhece as normas do bem de família e dos limites da liquidação.
Dessa forma, percebe-se que, o modelo fresh start entende que o
superendividamento se relaciona com os riscos do mercado financeiro, e que por esse
fator os consumidores merecem uma espécie de responsabilidade limitada, devendo
ser sanada a falência do devedor pela liquidação dos bens. Por outro lado, o modelo
da reeducação, compreende que o superendividamento se relaciona a falha do
consumidor, necessitando ser reeducado, visto que, contribuiu passivamente com a
impossibilidade de arcar com dívidas.
32

CAPÍTULO 3 – A PREVENÇÃO E O TRATAMENTO DO


SUPERENDIVIDAMENTO: UMA ANÁLISE VOLTADA PARA OS EQUIVALENTES
JURISDICIONAIS

Este capítulo pretende demonstrar a aplicação dos equivalentes jurisdicionais


como forma de prevenção e tratamento do superendividamento. Dessa forma, faz-se
necessário uma análise da autocomposição como equivalente jurisdicional, expondo
seus mecanismos no contexto do superendividamento. Esse capítulo baseou-se nas
obras de Karen Danielevicks Bertoncello, Fernanda Tartuce e Daniel Amorim Neves.

3.1. A AUTOCOMPOSIÇÃO COMO EQUIVALENTE JURISDICIONAL

Os equivalentes jurisdicionais, são meios alternativos de solução de conflito


sem a intervenção da jurisdição, isto é, alternativas oferecidas que permitem
solucionar a lide através da atuação das próprias partes ou de um terceiro nomeado
por elas. Segundo Fernanda Tartuce (2019, p. 183):

Usa-se a expressão “equivalentes jurisdicionais” para designar os meios


pelos quais se pode atingir a composição da lide por atuação dos próprios
litigantes ou pela atuação de um particular (que, embora desprovido de poder
jurisdicional estatal, é eleito pelas partes para definir o impasse).

Conforme explica Neves (2019, p.61), os equivalentes jurisdicionais, são


meios alternativos que visam buscar uma solução do conflito, sem que os litigantes
precisem valer-se da jurisdição estatal. In verbis:

O Estado não tem, por meio da jurisdição, o monopólio da solução dos


conflitos, sendo admitidas pelo Direito outras maneiras pelas quais as partes
possam buscar uma solução do conflito em que estão envolvidas. São
chamadas de equivalentes jurisdicionais ou de formas alternativas de solução
dos conflitos.

Nessa senda, a autocomposição faz parte dos equivalentes jurisdicionais,


sendo considerado uma das alternativas mais populares para solucionar o conflito
existente entre as partes, sem que haja interferência da jurisdição (NEVES, 2019,
p.63).
33

A autocomposição, vincula-se a vontade das partes, que para solucionar um


conflito, podem aplicar normas diversas da prevista para o caso concreto. Nesse
interim, importante mencionar o entendimento de Fernanda Tartuce (2019, p. 227):

[...] a autocomposição é regida pela vontade das pessoas – que são livres
para preencher o conteúdo da norma como bem entenderem, não
necessariamente por aplicação direta das previsões legais ao caso concreto.
O Direito positivo e a ordem jurídica atuam e são restabelecidos de forma
indireta na autocomposição, na medida em que a permitem e que lhe dão
certas balizas.

Segundo Neves (2019, p.63), na autocomposição o conflito se resolve


mediante a vontade unilateral ou bilateral das partes, que sacrifica os seus interesses
de forma integral ou parcial. Nesse ínterim, na autocomposição a solução do conflito
decorre diretamente da autonomia da vontade das partes, sendo considerado um
excelente meio de pacificação social.
Outrossim, a autocomposição se trata de uma alternativa oferecida os
litigantes, para que possam buscar uma solução do conflito sem atuação da jurisdição
estatal, ou seja, a composição da lide é resolvida pela vontade de um ou ambos os
sujeitos, não havendo interferência de um poder decisório (FERNANDA TARTUCE,
2019, p. 25).
De acordo com Neves (2019, p.63), a autocomposição é um gênero, tendo
como espécies a transação (que é a mais utilizada), a submissão e a renúncia. A
transação se refere à vontade bilateral das partes, que concordam em sacrificar
parcialmente a pretensão dos seus interesses, para alcançar à solução do conflito.
Em relação à renúncia e submissão, a solução do conflito decorre diretamente da
vontade unilateral, isto é, uma das partes sacrifica o exercício de um direito que
teoricamente seria legitimo.
Percebe-se que na autocomposição a vontade das partes se dividi em
unilateral e bilateral. A autocomposição é unilateral, quando o ato a ser praticado
depende exclusivamente de umas das partes, ou seja, a solução do conflito vai
depender da renúncia ou submissão de um dos litigantes. Por seu turno, a
autocomposição é bilateral, quando a solução do conflito depende da participação de
ambas as partes, que se utilizam dos métodos da negociação, conciliação ou
mediação, como forma de chegarem a uma transação (FERNANDA TARTUCE, 2019,
PP. 36 - 51).
34

Dessa forma, a autocomposição se trata de um equivalente jurisdicional, que


objetiva resolver um conflito pela vontade das próprias partes. Segundo Neves (2019,
p. 64):

Atualmente nota-se um incremento na autocomposição, em especial na


transação, o que segundo parcela significativa da doutrina representa a busca
pela solução de conflitos que mais gera a pacificação social, uma vez que as
partes, por sua própria vontade, resolvem o conflito e dele saem sempre
satisfeitas. Ainda que tal conclusão seja bastante discutível, por
desconsiderar no caso concreto as condições concretas que levaram as
partes, ou uma delas, à autocomposição, é inegável que a matéria “está na
moda”.

Nessa perspectiva, conclui-se que, a autocomposição é uma excelente


alternativa disponibilizada aos sujeitos que desejam buscar a solução do conflito de
maneira amigável, isso porque, não ficam subordinados a interferência da jurisdição
estatual, de modo que são livres para resolver o conflito de acordo com a autonomia
de suas vontades.

3.2. A AUTOCOMPOSIÇÃO COMO MECANISMO DE PREVENÇÃO E


TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR

Como já foi exposto, o ordenamento jurídico brasileiro não possui uma


legislação específica na prevenção e tratamento do superendividamento, tornando-
se, um problema ao consumidor superendividado, que tem seu mínimo existencial
comprometido. Diante desse cenário, os equivalentes jurisdicionais podem ser uma
alternativa na prevenção e tratamento do superendividamento, especialmente a
autocomposição por meio das técnicas da negociação, conciliação e mediação
(BERTONCELLO, 2016, p. 292).
Dessa forma, esse tópico pretende apresentar a negociação, conciliação,
mediação e a arbitragem como meios alternativos para prevenção e tratamento do
superendividamento.

3.2.1. A negociação em matéria de superendividamento do consumidor

A negociação é uma técnica da autocomposição, que permite o diálogo


diretamente pelas partes envolvidas, ou seja, por meio de uma comunicação direta,
35

os sujeitos podem buscar um acordo ao conflito. Nesse sentido, é considerado uma


excelente alternativa para resolver controvérsias, como também menos custoso.
(FERNANDA TARTUCE, 2019, p. 48).
Esse método permite a negociação das mais variáveis espécies de conflitos,
o que torna apta a ser utilizada em questões que envolva o superendividamento do
consumidor. De acordo com Scavone Junior (2020, p. 277):

A negociação pode ser conceituada como o conjunto de atos que visam a


solução de conflitos das mais variadas espécies, como os conflitos pessoais,
profissionais, políticos, diplomáticos, familiares, jurídicos, trabalhistas,
empresariais, comerciais etc.

De acordo com Fernanda Tartuce (2019, p. 41), por meio da negociação


direta, as partes envolvidas em uma controvérsia, podem sem a intervenção de um
terceiro, negociarem soluções benéficas para a controvérsia.
Nessa perspectiva, a negociação tem o principal objetivo de que as partes
envolvidas em uma controvérsia, consigam obter através de um diálogo um acordo de
mútua satisfação (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 277).
Ademais, existem métodos que envolve na negociação a participação de
terceiros (conciliador ou mediador). Conforme explica Garcez (2004, PP. 01 - 02), a
negociação direta é:

[...] evidentemente o mais eficaz e radical método para solução de quaisquer


problemas, pois, em primeiro lugar, sendo personalíssimo, preserva a autoria
e a autenticidade dos negociadores na solução de seus próprios conflitos,
não existindo nada mais adequado e duradouro do que uma solução
autonegociada. Em seguida, surgem os métodos que embora tenham a
negociação como base, aproveitam a participação de terceiros, facilitadores,
que auxiliam as partes a atingir o estágio produtivo das negociações e a
chegarem a um acordo e que são a mediação, a conciliação e as diversas
combinações desses métodos e que constituem, por assim dizer, os ADRs
ou MASCs.

Nesse contexto, a negociação direta ou aquelas técnicas que envolva a


participação de terceiros (conciliador ou mediador), podem funcionar como forma de
resolver ou minimizar os efeitos do superendividamento do consumidor, uma vez que
esses institutos traz a possibilidade de negociar as variáveis espécies de conflitos.

3.2.2. A Conciliação e Mediação no contexto do superendividamento


36

Para compreender os métodos da conciliação e mediação no contexto do


superendividamento, é necessário entender antes o conceito e a distinção dessas
duas técnicas da autocomposição.
A conciliação se refere a um terceiro imparcial (conciliador), que exerce o
papel de intermediário entre as partes. Nesse ínterim, o conciliador não tem poder
decisório, apenas o papel de auxiliar a negociação entre as partes, sugerindo
alternativas e soluções para que consigam chegar a um acordo (NEVES, 2019, p. 64).
De acordo com Scavone Junior (2020, p. 287), a conciliação é compreendida
pela atividade do conciliador, que exerce o papel de apoio na obtenção da solução do
conflito entre as partes, ou seja, tenta sugerir alternativas que possa contribuir para a
resolução do conflito.
Logo, a conciliação se trata de uma técnica da autocomposição, que objetiva
facilitar a negociação de um acordo de vontade entre as partes. Nesse sentido,
importante mencionar o entendimento de Fernanda Tartuce (2019, p. 48), que explica
que:

Por tal técnica de autocomposição, um profissional imparcial intervém para,


mediante atividades de escuta e investigação, auxiliar os contendores a
celebrar um acordo, se necessário expondo vantagens e desvantagens em
suas posições e propondo saídas alternativas para a controvérsia, sem,
todavia, forçar a realização do pacto.

Em relação a mediação, a definição pode ser extraída no parágrafo único do


artigo 2°, da lei 13.140 de 2015. Consta no seu texto que:

Art. 2 Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro


imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as
auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a
controvérsia.

Nessa senda, na mediação as partes escolhem ou aceitam um terceiro


imparcial (mediador), para que desempenhe o papel de auxiliador e estimulador do
diálogo. Dessa forma, o mediador não sugere alternativas como o conciliador,
somente fica responsável em promover uma comunicação de forma clara entre as
partes, para que possam negociarem melhores soluções para o conflito (FERNANDA
TARTUCE, 2019, p. 51).
Conforme explica Neves (2019, p.63), a conciliação é recomendável
preferencialmente nos casos em que não tenha havido vínculo anterior entre as
37

partes. Por outro lado, a medição deve ser preferencialmente utilizada nos casos em
que tenha existindo um vínculo anterior entre os sujeitos.
Feito essa distinção entre conciliação e mediação, passa-se a uma análise
dessas duas técnicas da autocomposição no contexto do superendividamento. De
acordo com Lima e Bertoncello (2010, p. 87):

O sistema jurídico brasileiro ainda não contempla legislação especial sobre o


superendividamento, de modo que a conciliação e a mediação são
ferramentas que devem ser utilizadas para possibilitar o acesso à Justiça de
consumidores que buscam resolver ou minorar os problemas decorrentes do
superendividamento.

Segundo Bertoncello (2016, PP. 293 - 294), a conciliação seria apta às


relações de consumo, isso porque, sua destinação é para soluções de conflitos
objetivos, em que as partes não tiveram um vínculo anterior. Mas, explica a autora,
que no superendividamento as relação entre o devedor e os fornecedores (de serviços
essenciais ou não) são muitas vezes com um vínculo continuado, o que tornaria a
mediação mais adequada ao caso, visto que as técnicas de obtenção de um acordo
ensejaria a negociação com a continuidade do vínculo.
Nessa linha, Bertoncello (2016, p. 295), entende que a sistemática ideal a ser
utilizada no superendividamento do consumidor, em sede de método autocompositivo,
é aplicação mista das técnicas da conciliação e mediação. Mista porque, a atuação
do conciliador em opinar e sugerir melhores soluções facilita a negociação de um
acordo proveitoso para ambas as partes, enquanto, que a aplicação das técnicas da
mediação é revertida em proveito do consumidor superendividado, visto que, as
relações com maior incidência nesse fenômeno social são de longa duração,
entabuladas com agentes financeiros.
Em 2004, foi realizado a primeira pesquisa no Rio Grande do Sul, em que
ficou comprovada a necessidade de estabelecer um sistema voltado a conciliação de
dívidas dos consumidores superendividados. Com base no resultado da pesquisa,
Clarissa Costa de Lima e Karen Danielevicks Bertoncello, resolveram estabelecer um
projeto-piloto da conciliação voluntária no superendividamento. Nesse sentido, o
projeto-piloto acabou se tornando sucedido, ocasionando em Projetos voltados a
conciliação do consumidor superendividado nos Tribunais de Justiça do Paraná, São
Paulo, Pernambuco, Paraíba e do Distrito Federal, e ainda, foi utilizado como modelo
para o Projeto de Lei 3515/2015 (MARQUES, 2016, pp. 267 – 268).
38

Explica Bertoncello (2016, pp. 297 - 298), que o procedimento conciliatório no


superendividamento é célere e simplificado. O devedor preenche um formulário com
a declaração de receitas e despesas, em que são convidados os seus credores para
a audiência conciliatória. Nessa audiência designada de renegociação, o consumidor
superendividado com auxílio de um conciliador, tenta negociar um plano de
pagamento (que preserve o mínimo existencial), através da comparação da
declaração de suas receitas e despesas com as propostas sugeridas pelos seus
credores. Nesse ínterim, Bertoncello (2016, p.298), entende que:

O ponto alta dessa audiência é justamente a possibilidade de coleta


simultânea e/ou sucessiva das propostas na mesma seção, permitindo que o
consumidor superendividado possa escolher, se for o caso, a ordem dos
pagamentos, conforme critérios pessoais de capacidade de reembolso ou,
até mesmo, da natureza da dívida. Com isso, o conciliador exercerá o papel
determinante na renegociação das dívidas e respectivo resgate da saúde
financeira do superendividado, na medida em que facilitará essa aproximação
com os credores e, acima de tudo, será o veículo pacificador e redutor da
frequente confusão mental a que o devedor se encontra quando acometido
da condição de superendividado.

Atualmente a “conciliação/mediação pode ser realizada no Poder Judiciário e


pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, como por
exemplo os PROCON’s” (LIMA E BERTONCELLO, 2010, p. 87):
Dessa forma, percebe-se que, diante da falta de uma legislação especial para
prevenção e tratamento do superendividamento, as técnicas do método
autocompositivo da conciliação/medição, podem ser alternativas utilizadas pelo
consumidor superendividado, como forma de sanar ou controlar os impactos desse
fenômeno.

3.2.3. A arbitragem como forma de resolução de conflitos que envolvem o


superendividamento do consumidor

Antes de mais nada, cabe esclarecer que a arbitragem se trata de um


mecanismo da heterocomposição. Segundo Fernanda Tartuce (2019, p. 56) a
heterecomposição: “é o meio de solução de conflitos em que um terceiro imparcial
define a resposta com caráter impositivo em relação aos contendores”. De acordo com
Scavone Junior (2020, p. 01), a arbitragem pode ser definida:
39

como o meio privado, jurisdicional e alternativo de solução de conflitos


decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis por sentença arbitral,
definida como título executivo judicial e prolatada pelo árbitro, juiz de fato e
de direito, normalmente especialista na matéria controvertida.

Conforme explica Neves (2018, p. 565), a arbitragem é um equivalente


jurisdicional, que busca a resolução de conflitos através de uma decisão de um
terceiro (árbitro) de confiança escolhido pelas partes. Portanto, a decisão desse
terceiro (árbitro) vai ser em caráter impositivo, em que o conflito vai ser resolvido
independentemente da vontade das partes. Nessa perspectiva, cita-se Fernanda
Tartuce (2019, p. 56) que explica que:

Na arbitragem, a decisão sobre o conflito será proferida por uma pessoa de


confiança, mas equidistante em relação às partes; o árbitro, embora
desprovido de poder estatal (porquanto não integrante do quadro dos agentes
públicos), profere decisão com força vinculativa.

A arbitragem pode ser tanto subjetiva quanto objetiva. Subjetiva porque


qualquer pessoa (física ou jurídica) que for capaz de contratar pode se utilizar da
arbitragem. Objetiva pelo fato da arbitragem se aplicar as questões que envolvam
direitos patrimoniais disponíveis (GUERRERO, 2020, p.263).
As partes podem optar pela arbitragem por meio da cláusula compromissória
ou compromisso arbitral. Com a cláusula compromissória, já fica previsto desde a
elaboração do contrato que em caso de controvérsia, a resolução do conflito vai ser
submetido a arbitragem. Por outro lado, o compromisso arbitral, é quando já há um
conflito existente entre as partes, no qual se submetem a arbitragem para a resolução
do conflito (GUERRERO, 2020, p.261).
Nessa senda, a arbitragem pode ser uma possibilidade nas resoluções de
conflitos que envolva o superendividamento do consumidor, visto que, o próprio
Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo 4°, inciso V, incentiva a criação de
“mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo”. De acordo com
Ribeiro (2006, p. 127):

O legislador, ao incentivar a criação de mecanismos alternativos de


composição de conflitos, objetiva apenas disponibilizar ao consumidor
diversos instrumentos para a tutela de seus direitos. Não se busca a
substituição dos mecanismos judiciais de composição de litígios pelos
mecanismos extrajudiciais, mas tão-somente a coexistência de ambos. Na
verdade, rompe-se a crença de que somente os mecanismos judiciais são
eficiente e seguros para resolver disputas. Ora, a implementação dos
mecanismos alternativos de conflitos acaba por incentivar o envolvimento da
40

comunidade na resolução de conflitos, evidenciando um maior nível de


cidadania e consciência dos jurisdicionados.

Cabe ressaltar que existem controvérsias acerca da arbitragem nas relações


de consumo, pois o artigo 51°, inciso VII, do Código de Defesa do Consumidor, veda
cláusulas contratuais que “determinem a utilização compulsória de arbitragem”.
Entretanto, o parágrafo 2º, do art. 4º, da Lei nº 9.307/1996 (Lei da Arbitragem),
estabelece que (THEODORO JÚNIOR, 2017, p. 51):

§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se


o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar,
expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula.

Segundo Theodoro Júnior (2017, p. 51), o Supremo Tribunal Federal, já tem


o entendimento de ser possível a convenção da arbitragem nos contratos de consumo.
Nesse sentido, conclui-se que, a arbitragem pode funcionar como um meio
alternativo para resoluções de conflitos que envolvem o superendividamento do
consumidor, já que o próprio Código de Defesa do Consumidor, incentiva a instituição
de mecanismos alternativos para soluções de conflitos de consumo. Portanto, o
Código de Defesa do Consumidor deixa a possibilidade de resolver controvérsias do
superendividamento pelo método alternativo da arbitragem, possibilitando que o
devedor superendividado convencione com seus credores a resolução do conflito pela
decisão de um árbitro.

3.3. A RELEVÂNCIA DA AUTOCOMPOSIÇÃO NOS CASOS DE


SUPERENDIVIDAMENTO

A autocomposição, como já foi exposto, se trata de uma alternativa oferecida


as partes, que visam buscar uma solução do conflito sem atuação da jurisdição estatal.
Nesse contexto, a autocomposição é um instrumento que se torna relevante para
todos os tipos de conflitos, possibilitando que as partes encontrem pela negociação,
conciliação ou mediação, alternativas para sanar a controvérsia. No
superendividamento do consumidor, as técnicas da autocomposição são de extrema
relevância, pois, abrange a possibilidade de um acordo voluntário de pagamento entre
o devedor e seus credores, e ainda, facilita a reinserção do consumidor em situação
41

de inadimplência. Conforme explica Lima e Bertoncello (2010, p. 87), mesmo os


países que já dispõem de uma legislação ao superendividamento:

[...] há espaço para as soluções consensuais estabelecidas por meio de


acordo voluntário entre o consumidor e seus credores, o que pode ocorrer
dentro ou fora dos Tribunais (judicial e extrajudicial). O ajuste amigável dos
débitos apresenta consideráveis vantagens, pois evita o estigma pessoal e
social do consumidor, bem como o registro de seu nome em cadastros de
superendividados.

Em matéria de superendividamento, as técnicas da autocomposição, em


especial a conciliação e mediação, oferece ao consumidor superendividado uma
maior facilidade de renegociação das dívidas, bem como, abre espaço para sua
reinserção social, e ainda, possibilita a preservação da continuidade do vínculo com
os fornecedores (BERTONCELLO, 2016, PP. 293 - 300).
De acordo com Bertoncello (2016, p.300), as técnicas da autocomposição são
relevantes na preservação do mínimo existencial do consumidor superendividado.
Uma das formas de preservação do mínimo existencial, é a conciliação, em que a
busca de um acordo ocorre com a participação de um conciliador, que visa contribuir
na elaboração de um plano de pagamento com base nas reais e atuais condições de
reembolso do devedor. Logo, a conciliação é uma técnica da autocomposição que
objetiva um plano de pagamento que possa viabilizar a continuidade do pagamento
das despesas relacionadas à manutenção do mínimo existencial do consumidor
superendividado. Conforme explica Bertoncello (2016, p. 299):

A preservação do mínimo existencial advirá da construção conjunta entre


conciliador, devedor e credores, e não pela imposição resultante de decisão
judicial. O caráter pedagógico dessa construção do mínimo existencial
interessa a toda a sociedade, visto que depende da atuação ativa de todos
os envolvidos naquele ambiente de renegociação. Aos credores, porque
cientes da importância de viabilizar a reinserção do consumidor no mercado,
seja de trabalho ou de consumo, permitindo a continuidade da circulação das
riquezas, e, notadamente, ao devedor, porquanto revigorado com a
preservação da dignidade.

Como percebe-se, a autocomposição traz a possibilidade de o consumidor


superendividado, renegociar de maneira amigável com seus credores, soluções
consensuais para um acordo voluntario de pagamento das dívidas. Dessa forma, a
autocomposição é um instrumento de resolução de conflitos de extrema relevância
nos casos do superendividamento, sendo um grande suporte ao consumidor
42

superendividado, que atualmente não encontra amparo legal capaz de lidar com a
preservação do seu mínimo existencial e sua reinserção social.
43

CONCLUSÃO

Por conta de não existir uma legislação especial no Brasil que ampare o
consumidor superendividado, o presente trabalho foi elaborado com intuito de discutir
“os equivalentes jurisdicionais como mecanismos de prevenção e tratamento do
superendividamento do consumidor”. Para tanto, a presente pesquisa se utilizou de
artigos, livros, revistas e publicações relacionados ao tema proposto.
Logo, foi utilizada a pesquisa bibliográfica e qualitativa, tendo como método
de abordagem: hipotético-dedutivo, visto que consiste em uma investigação de uma
premissa verdadeira a ser estudada, que visa obter um resultado que seja favorável
ou não à premissa investigada.
O primeiro capítulo, propôs em demostrar uma visão panorâmica do
superendividamento sob a ótica do direito do consumidor. Nessa perspectiva, foi
apresentado um breve contexto histórico da legislação consumerista no Brasil. Tratou-
se de definições de consumidor e fornecedor, e, de conceitos, pressupostos e causas
do superendividamento. O capítulo de um modo geral, demonstrou-se a partir do
histórico da legislação consumerista, que o consumidor sempre foi visto como a parte
vulnerável nas relações consumerista, tanto, que a própria Constituição Federal de
1988, reconheceu essa vulnerabilidade. Logo, o superendividamento sob a ótica do
direito do consumidor, decorre diretamente de fatores relacionados a vulnerabilidade
do consumidor.
Já o segundo capítulo, tratou sob as possibilidades jurídicas de tratamento e
prevenção ao superendividamento. Nesse ponto, demonstrou-se a dignidade da
pessoa humana, mínimo existencial e vulnerabilidade, como princípios aplicáveis em
defesa do consumidor superendividado. Ainda, demonstrou-se a importância da boa-
fé nos contratos de concessão de crédito, sendo uma forma de prevenção ao
superendividamento. Ademais, tratou-se dos principais aspectos do projeto de lei
3.515/2015, que pretende regular o superendividamento. E por fim, verificou-se com
base no direito comparado, que o superendividamento se resolve através da
liquidação dos bens ou por um acordo de pagamento fixado em cima do patrimônio e
rendimentos futuros.
O terceiro capítulo trouxe a análise da aplicação dos equivalentes
jurisdicionais como mecanismos de prevenção e tratamento do superendividamento.
Nessa perspectiva, demonstrou-se um breve conceito da autocomposição como
44

equivalente jurisdicional. Analisou-se os métodos autocompositivo da conciliação,


mediação e negociação, verificando se essas técnicas são uma forma de prevenção
e tratamento ao superendividamento. Ademais, verificou-se, se a arbitragem pode ser
uma ferramenta nas resoluções de conflitos que envolva o superendividamento do
consumidor. Por fim o capítulo se encerra mostrando a relevância da autocomposição
na preservação do mínimo existencial e reinserção social do consumidor
superendividado.
Ante o exposto, pretendeu-se responder a seguinte problemática: Diante da
falta de uma regulamentação no ordenamento jurídico brasileiro. A autocomposição
pode ser uma equivalente jurisdicional utilizada para sanar ou controlar os efeitos do
superendividamento do consumidor?
A resposta é que sim. Atualmente a técnicas da autocomposição vem se
tornando alternativas em matéria do superendividamento. Nessa linha, já existem
projetos no Brasil, voltados a prevenção e tratamento do superendividamento, que se
utilizam dos métodos autocompositivo da conciliação e mediação. Esses métodos da
conciliação e mediação, permite um plano de pagamento de dívidas, com a
continuidade das despesas relacionadas à manutenção do mínimo existencial. Além
disso, o acordo enseja na reinserção social do consumidor superendividado. Portanto,
diante da falta de uma legislação ao superendividamento, a autocomposição pode ser
uma equivalente jurisdicional utilizada para sanar ou controlar os efeitos desse
fenômeno no Brasil.
45

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