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22/05/2023 11:10 Envio | Revista dos Tribunais

Obsolescência programada nas relações de consumo

OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO


Programmed Obsolescence in Consumer Relations
Revista de Direito do Consumidor | vol. 134/2021 | p. 227 - 249 | Mar - Abr / 2021
DTR\2021\6893

André Perin Schmidt Neto


Pós-Doutor em Direito pela Università degli Studio di Salerno/Itália. Pós-Doutor em Filosofia pela PUCRS. Doutor e
Mestre pela UFRGS, Especialista em Direito do Consumidor e Direitos Fundamentais pela mesma universidade.
Atualmente, é professor da graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É professor da Pós-
Graduação Lato Sensu da UFRGS, PUCRS, UNISINOS, UNIRITTER, URI. Atua no Centro de Pesquisa da Escola
Superior da Magistratura (ESM/AJURIS), onde é pós-graduado e professor. Membro da Comissão Especial de Defesa
do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil. Autor de livros e artigos jurídicos. andreschmidt20@hotmail.com
 
Mellany Chevtchik
Mestranda em Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2020). Graduada com Láurea em
Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/2019). Coordenadora-Adjunta
do Projeto de Pesquisa Reforma Constitucional Tributária: Tributação sobre o Consumo (UFRGS/2020). Assistente de
Pesquisa no Projeto de Pesquisa Organização do Estado e das Instituições no Brasil (UFRGS/2019). Coordenadora-
Adjunta do Centro de Estudos Tributários (CET) da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS/2020). Membro dos Grupos de Pesquisa MERCOSUL, Direito do Consumidor e Globalização (CNPq),
Supremacia do Direito (CNPq) e Direito Tributário - Tributação sobre o Consumo (CNPq). melchev10@gmail.com
 
Área do Direito: Consumidor
Resumo: O consumo globalizado de bilhões de pessoas na sociedade de consumo criou uma cultura da efemeridade
que mantém cativos os consumidores via obsolescência dos produtos, quer em razão da moda, do design, da
redução da vida útil ou do desenvolvimento de novas tecnologias, com graves consequências para o meio ambiente.
Nesse sentido, há que se analisar o tratamento da obsolescência programada em uma pesquisa bibliográfica, a fim de
se assegurar a proteção dos consumidores em um ambiente sustentável. A despeito dos esforços da doutrina, os
estudos da jurisprudência e da legislação no âmbito do direito comparado revelam o déficit brasileiro no tratamento da
matéria, ao mesmo tempo que indicam alternativas possíveis, mormente a necessidade de tratamento legal, como
ocorre na França.
 
Palavras-chave:  Obsolescência programada – Sociedade de consumo – Direito do consumidor – Sustentabilidade –
Vida útil
Abstract: The globalized consumption of billions of people in the consumer society has created an ephemeral culture
that captivates consumers through the obsolescence of products, whether due to fashion, design, reduced lifespans or
the development of new technologies, having severe environmental consequences. In this sense, it is necessary to
analyze the treatment of planned obsolescence, in order to ensure consumer protection in a sustainable environment.
Despite the efforts of the doctrine, the study of case law and rules in the field of comparative law revealed the Brazilian
deficiency in the treatment of this issue, while indicating possible alternatives, especially the need for legal treatment,
as in France.
 
Keywords:  Planned obsolescence – Consumer society – Consumer rights – Sustainability – Lifespan
Para citar este artigo: SCHMIDT NETO, André Perin; CHEVTCHIK, Mellany. Obsolescência programada nas
relações de consumo. Revista de Direito do Consumidor. vol. 134. ano 30. p. 227-249. São Paulo: Ed. RT, mar./abr.
2021. inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.
Sumário:
 
1. Introdução - 2. Sociedade de consumo e obsolescência programada - 3. Formas de enfrentamento da
obsolescência programada - 4. Conclusão - 5. Referências
 
1. Introdução
O consumo globalizado de bilhões de pessoas na sociedade de consumo criou uma cultura da efemeridade que
mantém cativos os consumidores via obsolescência dos produtos, quer em razão da moda, do design, da redução da
vida útil ou do desenvolvimento de novas tecnologias. O período de tempo entre as linhas de produção e as latas de
lixo está ficando cada vez mais curto. O impacto ambiental decorrente do descarte crescente de materiais (como lixo
eletrônico) na natureza é tema relevantíssimo e que deve ser enfrentado com urgência.
Ademais, cada venda realizada, na perspectiva das empresas, representa um consumidor a menos. A forma de
recuperá-lo, é tornar o produto obsoleto, trazendo de volta à loja um consumidor que já adquiriu aquele produto no

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passado. Para tal, o produto adquirido deve rapidamente tornar-se ultrapassado ou perder a sua utilidade em razão
da redução da vida útil provocada pelo surgimento de um modelo mais moderno ou pela evolução tecnológica.
Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo o estudo da obsolescência programada nas relações de
consumo, por meio de pesquisas bibliográfica e jurisprudencial, pelo método dedutivo, analisar sua origem, evolução
e reflexos para o consumidor, a sociedade e o meio ambiente. Tendo em vista a internacionalidade da matéria, a
análise será realizada sob a ótica do direito comparado, mais especificamente sob o enfoque do direito norte-
americano e do direito europeu, utilizando como parâmetro não somente a doutrina, mas também a jurisprudência e a
legislação em vigor, em contraste com a realidade brasileira.
A primeira parte analisa a sociedade do espetáculo como fundamento da obsolescência programada, abordando,
desde a sua origem, até a teorização e a sistematização, no período que se segue à Grande Depressão. Em seguida,
expõe-se o modo como o problema é enfrentado no âmbito do direito internacional, com ênfase na União Europeia,
dados os recentes avanços no tratamento da matéria, e, por fim, no direito brasileiro, visando com isso contribuir com
alternativas possíveis para o direito pátrio.
2. Sociedade de consumo e obsolescência programada
A sociedade de consumo se formou a partir da percepção de que os níveis de produção exigiriam uma participação a
mais dos trabalhadores, que eram vistos como mera força de trabalho e passaram a entregar o fruto do seu labor ao
mercado no final da cadeia produtiva como consumidores. A criação da lógica que trata o consumo como sucesso e
realização pessoal, criando sonhos, e a subsequente frustração dessas expectativas para trazer de volta o
consumidor, fizeram da sociedade de consumo uma gestora de ilusões rotineiramente quebradas para dar origem a
novas. Percebeu-se que o consumidor satisfeito não contribui para o sistema. Assim surgiu a ideia por traz das
obsolescências artificiais.
2.1. Sociedade de consumo
Vivemos em uma sociedade em que os bens já não são produzidos unicamente para serem utilizados, mas também,
para serem simplesmente adquiridos. Para o consumidor atual, exposto a tantas técnicas de persuasão, a inutilidade
do bem deixa de ser fator negativo, tanto pela desnecessidade, quanto pela dificuldade de uso, pois o objetivo da
compra não é mais o produto em si, mas, muitas vezes, só o ato de comprar, que indica uma suposta conquista no
caminho da realização pessoal. A felicidade confundida com a acumulação compulsiva de significados concretiza o
momento em que o consumidor/trabalhador entrega o fruto de seu trabalho em troca de uma ilusória “maximização da
existência”.1
Os centros urbanos incentivam esse comportamento, estimulando o acesso aos mais diversos produtos e serviços,
criando necessidades que antes não existiam. Muitas vezes, tais necessidades têm duração previamente estipulada
com intuito de tornar obsoletos os produtos, forçando os consumidores a se manter cativos. Trata-se da
“obsolescência programada”2 dos bens de consumo, isto é, o lançamento sazonal planejado de produtos no intuito de
manter os indivíduos como consumidores. Tudo é efêmero porque acompanha a moda, o fashion e o moderno.
Nesse contexto, a sociedade de consumo cumpre a promessa de satisfazer todos os desejos humanos, mas tais
promessas só se mantêm sedutoras enquanto os desejos permanecem insatisfeitos. Vale dizer: o consumidor não
pode ficar plenamente satisfeito, pois a sua insatisfação (e consequente infelicidade) perpétua é o que mantém este
sistema consumista.
“O método explícito de atingir tal efeito é desperdiçar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem
sido promovidos no universo dos desejos dos consumidores (...) satisfazendo cada necessidade/desejo/vontade de tal
maneira que eles só podem dar origem a necessidades/desejos/vontades ainda mais novos.”3
A criação de necessidades para eternizar a insatisfação e provocar a busca pela felicidade em novos atos de
consumo é o motor do sistema de mercado vigente que se tornou o modelo cultural hodierno. O produto novo, objeto
do desejo, que era prestigioso no espetáculo da compra, torna-se vulgar no momento em que entra na casa desse
consumidor e, ao mesmo tempo, na casa de todos os outros. Revela tarde demais sua pobreza essencial.4
Se a busca por realização deve prosseguir e se as novas promessas devem ser atraentes e cativantes, as promessas
já feitas devem ser rotineiramente quebradas e as esperanças de realização frustradas com regularidade, mantendo o
círculo vicioso entre as linhas de montagem, as lojas e as latas de lixo. Afinal, na lição de Schumpeter, bens de
consumo novos são o impulso fundamental que coloca e mantém a máquina capitalista em movimento.5 Logo, se os
produtos adquiridos pelos consumidores ontem se tornam obsoletos, o mercado estará novamente disponível.
De fato, a produção em massa tornou possível a redução dos preços dos produtos a partir do ganho em escala. Com
isso, o valor de consertos, muitas vezes, torna-se mais elevado do que o próprio custo de aquisição de um produto
novo.6 Ao mesmo tempo em que tal faz crescer a produção e o consumo, eleva a chamada economia do descarte,
com enormes danos ambientais a ela associados. O lixo eletrônico tem se tornado o maior dos problemas justamente
onde a obsolescência é mais frequente.7
Para além do excesso e do desperdício econômicos, o consumismo também é, por tal razão, a economia do engano.
Aposta na irracionalidade dos consumidores, e não em suas estimativas sóbrias e bem informadas; estimula emoções
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e não cultiva as decisões racionais.8


Percebendo e incentivando tais características desta nova sociedade, desde há muito empresas promovem estudos
que estimulem as compras.9 O marketing, a publicidade e as chamadas “ciências do vender” têm como propósito
induzir, ou, mais corretamente, nas palavras de Ron Harris e Einat Albin10, manipular o consumidor. Valem-se dos
meios de comunicação de massa para transmitir a mensagem de qual produto ou serviço ofertado o consumidor deve
adquirir.
A simples comunicação informativa voltada a um convencimento puramente racional nem sempre atinge o objetivo da
venda. A argumentação racional nem sempre convence o consumidor, e, ademais, impede a compra por impulso.
Assim, quanto menos racionalidade houver, melhor para o vendedor, pois, se são “as últimas unidades”, a ansiedade
de não conseguir o que o consumidor foi levado a crer que “precisa”, levará fatalmente à compra irrefletida. Assim, o
apelo às emoções e ao inconsciente do consumidor produz melhores resultados. Por isso, comumente os anúncios
publicitários são carregados de apelos emocionais dramáticos ou humorísticos e, também por isso, os fornecedores
associam o seu produto ao prazer, à realização pessoal e à ascensão social, incutindo a mensagem de que o
consumidor precisa realizar a compra.
Por outro lado, o modelo cultural da sociedade do consumo atribui contornos transcendentais ao ato de consumir,
gerando um simulacro que pretende servir de sentido à própria vida.
Isso pode ser observado a partir das investigações da chamada “antropologia do consumo”, que estuda, por meio de
pesquisas, de que forma os consumidores fazem suas escolhas. Aparelhos sofisticados examinam o movimento do
olho humano diante de uma prateleira, o tempo gasto, o que o seduz e, principalmente, como chegar às operações
subconscientes que levem o consumidor à compra.
Nesse quadro, a livre escolha do consumidor torna-se cada vez mais e mais mitigada, porque mais facilmente
manipulada, previsível diante da grande quantidade de informações que o fornecedor passa a ter sobre o
comportamento dos consumidores em geral, obtidas através da sociedade tecnológica, partindo-se de informações de
consumidores específicos que deliberadamente fornecem seus dados e preferências na rede mundial de
computadores.
É fato. As redes sociais nunca tiveram o objetivo de ser um mero programa de interação social. Sua função primordial,
como mostram as recentes denúncias, é coletar o maior número de dados dos consumidores para que as ofertas
sejam direcionadas.11 No mesmo sentido, muitos aplicativos gratuitos de smartphones em verdade não o são, pois o
consumidor paga pelo seu uso fornecendo suas informações. Não desembolsa dinheiro, mas permite o acesso ao seu
comportamento na rede, o que, nos dias de hoje, tem muito valor. Nessa cultura de celebração do consumo, como
consolo ou recompensa, o ato da compra reveste de maior valor o produto adquirido.
Nesse ambiente de manipulação, a contratação eletrônica é a forma perfeita para o desenvolvimento da chamada
“obsolescência programada”, pois praticamente retira do consumidor a possibilidade de optar pela não contratação,
pois se quiser continuar a usar o produto, terá que aceitar os termos impostos pelo fornecedor. Portanto, se o
consumidor não atualizar o software, não conseguirá mais baixar programas no smartphone ou tablet e, ao mesmo
tempo, a cada toque na tela que indaga se aceito os termos que ninguém lê, automaticamente estará abrindo mão de
direitos, notadamente à privacidade.
O argumento de que o programa é gratuito desconsidera que o consumidor paga por eles com as informações
pessoais de que abre mão e que, como temos visto, são comercializadas para fornecedores ávidos em enviar ofertas
direcionadas, via algoritmos, a um público de prováveis consumidores do produto posto à venda. E quando o aparelho
não mais se mostra compatível com a nova versão do software, o lixo é o seu destino, pois outra opção que não a
compra de um novo não há, em um círculo vicioso que estimula e incentiva a cooptação dos chamados consumidores
cativos.
2.2. Obsolescência: origem e evolução
A redução da vida útil de bens de consumo ou do ciclo de vida de seus componentes remonta à técnica da
adulteração de produtos, já praticada no século XIX, como denunciava obra publicada em 1820.12 Posteriormente, o
emprego de materiais com vida útil reduzida foi associado ao consumo repetitivo.13 Todavia, essa é apenas uma das
dimensões de um fenômeno que se manifestou no século XX nas mais variadas formas, mormente considerando que
(pseudo) avanços tecnológicos e designs mais atraentes também tornam os produtos obsoletos.
A chamada obsolescência funcional ou tecnológica ocorre quando uma mercadoria se torna ultrapassada em razão
de inovações tecnológicas, de um produto que executa a mesma função melhor. Pode ser fruto de avanços
tecnológicos genuínos (não programados), mas é muito difícil identificar os casos em que é proposital. Ainda que sem
o nome, fora descrita já em 1832 como um fenômeno inerente à Revolução Industrial. 14 Foi o caso da partida elétrica
de automóveis, introduzida em 191315 e do som estéreo com o aumento progressivo de canais (dois canais, três
canais, e assim por diante). 16 Hodiernamente, é o que ocorre com computadores, tablets e celulares.

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Mas ao invés de aguardar por inovações tecnológicas, os fabricantes podem recorrer à chamada obsolescência de
desejabilidade17, psicológica, progressiva ou dinâmica.18 Também chamada de obsolescência programada em sentido
amplo, é quase tão antiga quanto a humanidade e está arraigada aos fenômenos da moda19 e à insaciabilidade dos
desejos. 20 Mudanças estéticas aliadas ao uso de técnicas publicitárias tornam os bens de consumo ultrapassados,
fora de moda, persuadindo os consumidores a adquirir novos produtos. Mais simples de criar e produzir, trabalha com
as ilusões e expectativas do público, visando estimular o consumo.
Apesar das controvérsias em torno da gênese das mudanças de modelo anuais na indústria automobilística, fato é
que as montadoras passaram a dedicar mais atenção às mudanças de modelos em meados da década de 1920.21
Através de uma transformação nos hábitos de consumo da nação, Justus George Frederick vislumbrou, em 1928, um
caminho que poderia sustentar a economia dos Estados Unidos por meio de consumo e crescimento repetitivo em
todas as indústrias.22
Com a crise econômica de 1929, a indústria tornou-se extremamente criativa e competitiva. De designs arredondados
a linhas retas, mudanças de cores e tamanhos, a estratégia de mercado passou a orientar-se por mudanças
constantes de estilo.23 A direção da indústria americana passou das mãos dos engenheiros para as mãos dos
designers.24 Contudo, isso não foi suficiente para estimular a demanda e reaquecer a economia.
Após uma década de consumo e afluência sem precedentes, a demanda dos consumidores caiu drasticamente
durante a Grande Depressão. O desemprego e os anos de privação seguiram se agravando.25 Preocupado com a
queda nas vendas de imóveis, em 1932, no auge da crise, Bernard London, um corretor bem-sucedido no mercado
imobiliário de Manhattan, escreve o primeiro de uma série de panfletos sobre a obsolescência programada.26
O plano consistia em atribuir uma vida útil a todos os produtos de manufatura, mineração e agricultura no momento de
sua produção. Uma vez expirado esse prazo legal, atribuído por engenheiros, economistas e matemáticos a serviço
do Governo, os bens estariam “legalmente mortos”.27 Sua crença era que após um primeiro processo de “varredura”
necessário para eliminar os produtos obsoletos em uso, o sistema funcionaria sem problemas no futuro. Novos
produtos seriam constantemente produzidos para tomar o lugar dos obsoletos. Os empregos seriam restaurados e a
prosperidade das empresas recuperaria o país.28
A proposta de obsolescência compulsória não encontrou acolhida legislativa e obsolescência programada difundiu-se
com a manipulação da estrutura e dos materiais empregados na fabricação de produtos (obsolescência programada
técnica, de qualidade ou em sentido estrito), tal como preconizava sua gênese na adulteração de mercadorias.
Mesmo assim, credita-se a London o pioneirismo no emprego da expressão já em 1932. Posteriormente, o termo
popularizou-se na década de 1950, mormente através de designers como Clifford Brooks Stevens, que se dizia ter
inventado a obsolescência programada, em que pese seu conceito de obsolescência se assemelhasse mais à noção
de obsolescência programada em sentido amplo.29
Aqui, uma ressalva necessária: nem toda obsolescência é programada ou realizada de má-fé. Há, de fato, uma
evolução constante nos produtos e serviços, que devem acompanhar as exigências do mercado e, no ponto, nada há
de ilícito. A maioria dos novos modelos é lançada em razão de um avanço técnico ou estético na produção e não
propositalmente tornado obsoleto. Outras mercadorias possuem um ciclo de vida relativamente curto, são
rapidamente descartáveis. O fato é que os produtos acompanham estas mudanças dinâmicas na sociedade e, desde
que a redução da vida útil não ocorra propositalmente como estratégia comercial, a obsolescência é natural. Até
porque, como dizia Heráclito, “a única coisa que não muda é que tudo muda”.
3. Formas de enfrentamento da obsolescência programada
Conforme visto, da confluência entre as relações de consumo e o meio ambiente revelam-se problemas como a
obsolescência programada. Diante disso, é evidente a necessidade urgente do controle de práticas abusivas que
artificialmente reduzem o tempo de vida útil dos produtos, o que traria enorme benefício aos consumidores, à
sociedade e ao meio-ambiente. Poucos países, contudo, possuem regulamentação acerca da matéria, e os que o
fizeram, vêm encontrando dificuldades na sua aplicação perante os atos perpetrados pelos fabricantes de produtos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, não há leis federais ou estaduais específicas contra a obsolescência programada e
as soluções são construídas pelos tribunais, bem ao estilo da common law30, mormente através das chamadas class
actions.31 No Brasil, por sua vez, também não há regulamentação legal específica da matéria, e a questão tem gerado
insegurança jurídica, além de discussões nos Tribunais. No contexto europeu, a França lança novas luzes sobre o
problema.
3.1. Obsolescência programada na União Europeia
Em 2013, o Comitê Econômico e Social Europeu (European Economic and Social Committee and the Committee)
adotou um parecer sobre o ciclo de vida dos produtos industriais e informações do consumidor, em que preconiza a
proibição total dos produtos cujos defeitos sejam programados para pôr fim a sua vida útil.32 Além do reconhecimento

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de quatro modalidades de obsolescência33, o parecer teceu importantes considerações de caráter ambiental, social,
cultural, econômico e no âmbito da saúde pública.
Ademais, o parecer recomenda que as empresas facilitem o reparo dos produtos, mediante a (i) possibilidade técnica
de reparo; a (ii) possibilidade de substituição dos componentes por até 05 anos após a compra do produto; e a (iii)
disponibilização de informação sobre as possibilidades de reparo do produto. Outro ponto abordado foi o fomento a
medidas de certificação voluntárias, com a padronização das garantias a nível da União Europeia e a manutenção de
estoques dos componentes que mais apresentem defeitos.
Do ponto de vista da vida útil dos produtos, o Comitê recomenda a divulgação da expectativa de vida útil dos produtos
pelos fornecedores, de modo a permitir que o consumidor tome decisões mais conscientes no momento da compra. O
Comitê sugere ainda a criação de um sistema de garantia de duração mínima dos produtos (em que as empresas
devem internalizar os custos de reciclagem de produtos cuja duração seja inferior a cinco anos), bem como a
instituição de um sistema de garantia mínima de funcionamento, em que os reparos sejam suportados pelo fabricante.
Visando a melhorar a comunicação e o acesso dos consumidores à informação, o Comitê sugere a criação de um
“Observatório Europeu da Obsolescência Programada”, assim como a harmonização das diretivas sobre a
obsolescência programada (práticas comerciais e resíduos, por exemplo) dentro do quadro legislativo, incumbindo a
Comissão Europeia de realizar estudos mais objetivos acerca dos impactos sociais da obsolescência programada.
As recomendações visam a fortalecer os laços de confiança entre os consumidores e os fabricantes, assim como
explorar o potencial de criação de empregos na União Europeia (de um modo diferente do que London previa, isto é,
através do investimento no setor de reparos), tudo isso, tendo em vista os três eixos de combate à obsolescência
programada: (i) ecodesign dos produtos; (ii) economia circular; e (iii) economia funcional.
Assim, o Comitê manifestou sua intenção em ingressar em uma fase de transição econômica, de uma sociedade de
desperdício para uma sociedade sustentável, cujo crescimento seja orientado para a satisfação das necessidades dos
consumidores numa perspectiva cidadã, jamais como um fim em si mesmo.
Após a adoção do parecer, o programa de combate à obsolescência programada organizou uma série de eventos,
mesas redondas e audiências públicas: em 25.06.2014, uma conferência em Madri, Espanha (“Novas atitudes em
relação ao consumo: melhores práticas no domínio da obsolescência programada e do consumo colaborativo”); em
22.09.2014 uma audiência pública em Bruxelas, Bélgica (Rumo a uma economia circular: “Um programa de
desperdício zero para a Europa”); em 17.10.2014, uma mesa redonda em Bruxelas, Bélgica (“Obsolescência
Programada”); em 09.09.2015 outra mesa redonda em Bruxelas, Bélgica (“Economia Funcional”); e em 08.06.2016,
uma audiência pública, também em Bruxelas, Bélgica (“A Economia Funcional”).34
Mais recentemente, o Parlamento Europeu instou a Comissão Europeia a atuar no combate à obsolescência
programada, através da Resolução de 04 de julho de 2017, sobre produtos com uma vida útil mais longa. A resolução
norteia-se nos seguintes pilares: conceber produtos robustos, duráveis e de qualidade; promover a reparos e
durabilidade; introduzir um modelo econômico vocacionado para o uso; fomentar pequenas e médias empresas e
gerar de empregos; garantir um melhor acesso dos consumidores à informação; reforçar o direito à garantia legal; e
proteger os consumidores da obsolescência dos softwares, além de outras medidas específicas contra a
obsolescência programada.35
Neste cenário, podemos dizer que a França ocupa posição de vanguarda no tratamento legal da matéria. A lei
francesa proíbe a prática da obsolescência programada, mediante o emprego de técnicas que visam,
deliberadamente, reduzir a expectativa de vida de um produto, a fim de aumentar sua taxa de reposição, prevendo
pena de dois anos de prisão e multa de 300.000 euros, que pode ser elevada a 5% do volume de negócios da
empresa.36 Para tanto, os consumidores podem apresentar uma queixa, individualmente ou através de ações
coletivas.37 Recentemente, o governo francês anunciou ainda a criação de um índice de reparabilidade para
aparelhos eletrônicos.38 Trata-se de mais uma medida voltada ao combate da obsolescência programada.
3.2. Obsolescência programada no Brasil

A Constituição da República Federativa Brasileira39, em seu artigo 5º, ao tratar dos direitos e deveres individuais e
coletivos, outorga à defesa do consumidor, em seu inciso XXXII, o status de direito fundamental. Tal postulado
também se encontra positivado entre os princípios gerais da ordem econômica, no art.  170, V, da Magna Carta,
assim, como a defesa ao meio ambiente (inciso VI). Mais adiante, ao tratar do meio ambiente em capítulo próprio, a
Constituição estabelece o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225).
No âmbito da legislação infraconstitucional, a lei prevê o direito à reparação de defeitos ocultos (assim entendidos
aqueles não decorrentes do desgaste natural do produto, mas da própria fabricação) até o fim da vida útil do bem.
Vale dizer: com base no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 (LGL\1990\40)40),
art.  26, §  3º  (“tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o
defeito”) a doutrina e a própria jurisprudência dos Tribunais têm entendido que a responsabilidade das empresas

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pelos vícios ocultos do produto não está limitada ao prazo de garantia contratual, porque o prazo para reclamar surge
no momento em que fica evidenciado o defeito.41
Dessa forma, o termo inicial da garantia legal (30 dias no caso de bens não duráveis e 90 dias no caso de bens
duráveis) fica em aberto até a descoberta do vício. Note-se, contudo, que isso não significa uma garantia eterna.42
Utilizando o critério da vida útil do bem, pretende-se evitar que a garantia legal se confunda com o desgaste natural
do produto. O critério da vida útil funcionaria assim como uma regra de equilíbrio, conferindo coerência ao
ordenamento jurídico.43
Mas qual o tempo médio de vida útil de cada produto? Até quando o fornecedor permanece responsável pelos vícios
do produto vendido? Quando o problema no produto deixa de ser considerado vício e passa a ser tratado como
desgaste natural, configurando excludente de responsabilidade por exclusão de nexo causal em razão da inexistência
de defeito, como descreve o artigo 12, §  3º, no inciso II? Quais os limites entre a obsolescência lícita e a
obsolescência programada?

Visando a responder a essas perguntas, em 11 de abril de 2013, foi apresentado Projeto de Lei 5.367/200944,
prevendo a obrigação dos fornecedores de bens duráveis comercializados no Brasil de informar, de modo claro,
preciso e ostensivo e em língua portuguesa, a vida útil prevista dos bens duráveis ofertados (art. 2.º), sob pena de
aplicação sanções administrativas e penais estabelecidas no CDC (LGL\1990\40), sem prejuízo de outras (art. 3.º).
Tal projeto, que pretendia outorgar maior proteção ao consumidor e ao meio-ambiente, e que foi arquivado, em 31 de
janeiro de 2015, em virtude do término da legislatura, embora pudesse ser considerado um avanço, não seria uma
solução ideal, pois conferia ao próprio fornecedor a indicação aleatória do tempo de garantia do produto, confundindo
o direito legal de ter o bem reparado com garantia meramente contratual. Na ausência de um índice de durabilidade
totalmente imparcial, a melhor alternativa continua sendo a definição caso a caso. 45

Ainda em termos legislativos, tramita na Câmara dos Deputados do Brasil o Projeto de Lei 3.472/201246, que propõe a
alteração da Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (LGL\1998\75), visando a enfrentar a obsolescência programada
sob o viés da facilitação da reparação de produtos eletrônicos e seus componentes (art. 36-A). O § 1º determina que
os órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor devem atuar objetivando restringir iniciativas de
obsolescência programada por parte de fabricantes de produtos eletrônicos e seus componentes. O problema é a
falta de estrutura conferida aos Procons no Brasil, dificultando atuação com a efetividade exigida, o que de resto
constitui falha de todo o sistema de controle instituído no país através das chamadas agências reguladoras.
A boa novidade tem sido as decisões judiciais inovadoras, que, atentas a essa realidade acima abordada, têm
reconhecido a necessidade de proteção aos consumidores no caso de venda de bens duráveis com vida útil inferior
àquela que legitimamente se esperava, entendendo que nesse caso haveria defeito de adequação do produto (art. 18
do CDC (LGL\1990\40)) e quebra da boa-fé objetiva (CC (LGL\2002\400), arts. 113, 187 e 422; CDC (LGL\1990\40),
art.  4º, III e 51, IV), configurando descumprimento do dever de informação e não realização do próprio objeto do
contrato, que era a compra de um bem cujo ciclo vital se esperava, de forma legítima e razoável, fosse mais longo.
De fato, os prazos de garantia, sejam legais ou contratuais, visam a assegurar o comprador de produtos em face dos
defeitos relacionados ao desgaste natural do bem, em um intervalo mínimo de tempo no qual não se espera que haja
sua deterioração. Após o decurso desse prazo, tolerável que, em razão do uso ordinário do bem, algum desgaste
possa surgir. Todavia, situação diversa é a do vício intrínseco do produto existente desde sempre, mas que somente
se manifesta depois de expirada a garantia, como é o caso de um eletrodoméstico que, mesmo após o prazo
contratual de garantia, explode por defeito de fabricação, e não pelo mau uso. Estas as considerações tecidas por
ocasião do julgamento do REsp 984.106/SC47, que afirma a necessidade de se ter em vista o “critério da vida útil” do
bem.48
O julgado traz ainda outros exemplos de obsolescência programada, como o caso de incompatibilidade entre
equipamentos em virtude de componentes antigos e novos, de modo a obrigar o consumidor a atualizar por completo
o produto (caso dos softwares), equipamentos com reduzida vida útil de componentes eletrônicos (como baterias de
telefones celulares), com o posterior e estratégico inflacionamento do preço do componente para que seja mais
vantajosa a compra do conjunto, e ainda o lançamento de uma nova linha de produtos, cessando a fabricação de
insumos e peças necessárias à antiga.
Contudo, a jurisprudência não é unânime. No julgamento do RI 71004479119, a Primeira Turma Recursal Cível de
Porto Alegre/RS entendeu que, diante da impossibilidade de a autora atualizar o software do seu celular para a
versão mais recente, e, com isso, fazer uso de determinados aplicativos, o aparelho se tornara imprestável. Assim, o
fato de a ré tornar obsoletos seus aparelhos antigos, lesando o consumidor no uso de seu aparelho antigo, impondo a
necessidade de adquirir um novo produto foi interpretado como prática abusiva, passiva de indenização.49
A Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de Pouso Alegre/MG, por sua vez, ao enfrentar
semelhante problema, adotou posicionamento diverso, mantendo a sentença que julgou improcedente a ação,
entendendo que não houve prática abusiva, dado que o aparelho do autor não se tornara imprestável para o uso,
condição tida na ocasião como sine qua non para se falar em obsolescência programada.50

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Na ausência de dispositivos legais vedando a prática da obsolescência programada, há ainda julgados que não
encontram óbice na prática. Um deles, proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul afirmou que os
aparelhos celulares estariam sujeitos ao fenômeno da obsolescência programada, “tornando-se descartáveis com o
passar do tempo diante do advento de novas tecnologias” e, apesar e não ser imune a críticas, tal modo de
funcionamento do sistema capitalista não seria ilícito nem ilegal.51
Mas nem todos os casos derivam da obsolescência programada em sentido estrito.
Embora seja lícito aos fabricantes antecipar o lançamento de um produto, julgados recentes consideraram prática
comercial abusiva e propaganda enganosa (CDC (LGL\1990\40), art. 6º, IV) o lançamento e comercialização de dois
modelos de veículo no mesmo ano, quando ambos são divulgados como o modelo do ano seguinte.52 As decisões
exaltam a necessidade de observância da boa-fé objetiva, seu efeito vinculante em relação à oferta e a publicidade
veiculada, de modo a proteger a expectativa legítima criada pela informação, que deve ser prestada de forma
adequada, para assegurar ao consumidor uma escolha livre e consciente. Tais casos dizem respeito, mesmo que
indiretamente, ao enfrentamento da obsolescência programada em sentido amplo.
4. Conclusão
Conforme visto, nem toda obsolescência é programada. Alguns produtos ficam obsoletos em razão de um avanço
tecnológico não programado e é muito difícil identificar aqueles que são propositais. Para conter esse fenômeno
crescente, a sociedade e o poder público devem atuar, a fim de regular e fiscalizar a obsolescência programada,
impedindo seja aceita como prática comercial normal ou lícita.
Até porque, na sociedade de consumo, há grande estímulo para que o produtor busque estratégias aptas a que as
pessoas se antecipem na compra de um produto novo, notadamente no caso de bens duráveis, em que a demanda
pelo produto se relaciona com a quantidade desse produto no mercado, adquirida no passado. Quanto maior a
durabilidade, maior a demora imposta ao fabricante para realizar nova venda ao consumidor, já que o número de
vendas cai na proporção inversa em que a durabilidade do produto aumenta.
Assim, a publicidade, o crédito e a obsolescência programada atuam em uma causação circular cumulativa que se
retroalimenta. A publicidade cria o desejo de consumir e as ilusões na mente dos consumidores. O crédito fornece os
meios para o consumo e, por vezes, leva ao superendividamento. A obsolescência programada, por sua vez, renova
as necessidades geradas pela publicidade e assim por diante.
Nesse contexto, e em um ambiente de imperfeita concorrência e abuso do poder econômico, em que a eficiência
mercadológica se mostra agressiva, o enfrentamento da chamada obsolescência programada é urgente e necessária,
inclusive, como visto, em razão dos impactos desse cenário no meio ambiente, em face do volume de descarte de lixo
na natureza.
Em que pese o reconhecimento do fenômeno no Brasil, resta claro que a ausência de regulamentação legal em um
país com fortes influxos da civil law afeta sobremaneira o enfrentamento do problema, gerando insegurança jurídica
em detrimento do direito fundamental à proteção do consumidor.
Apesar de apontada, na origem, como uma possível solução para a crise de 1929, durante a Grande Depressão, a
obsolescência programada tornou-se um grave problema a ser enfrentado, quer pela regulação legal eficiente, quer
pela tomada de consciência da sociedade e dos próprios Tribunais, acerca da necessidade de evitar danos não só ao
meio-ambiente como à boa-fé contratual, por meio de princípios e normas de Direito.
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SLADE, Giles. Made to Break: Technology and Obsolescence in America. Cambridge, MA: Harvard University Press,
2006.
THE Light Bulb Conspiracy. Direção: Cosima Dannoritzer. Barcelona, 2010 (52min).
 
 
 
1 .Ver LATOUCHE, Serge. Bon pour la casse: Les déraisons de l’obsolescence programmée. Brignon: Les Liens Qui
Liberent, 2012 [E-book]. O crítico francês analisa a sociedade do crescimento (société de croissance), lastreada em
um modelo de organização baseado na acumulação ilimitada, cuja lógica não é crescer para satisfazer as
necessidades dos consumidores, mas crescer por crescer.
 
2 .BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2007. p. 42.
 
3 .BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Trad. Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 64.
 
4 .DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
p. 46-47.
 
5 .Neste processo, a destruição criadora seria essencial, revolucionando incessantemente a estrutura econômica a
partir de dentro, destruindo o antigo e criando o novo. (SCHUMPETER, Joseph A. Capitalism, Socialism and
Democracy. 2. ed. New York and London: Harper & Brothers Publishers, 1947. p. 83).
 
6 .Em 2017, o Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (IPCA) registrou uma redução no preço de TVs,
aparelhos de som e informática (-6,50%), eletrodomésticos e equipamentos (-2,65%). Em contrapartida, houve um
aumento de nos preços de consertos e manutenção (+3,14%). INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA (IBGE). Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor: IPCA e INPC. Disponível em: [https://
biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/236/inpc_ipca_2017_dez.pdf]. Acesso em: 27.08.2018.
 
7 .De acordo com o Global E-Waste Monitor 2017, em 2016 foram gerados 44,7 milhões de toneladas métricas de
resíduos eletrônicos, sendo que, destes, apenas 20% (o equivalente a 8,9 milhões de toneladas) de todo o lixo
eletrônico foram reciclados. BALDÉ, C.P.; FORTI, V.; GRAY, V., KUEHR, R.; STEGMANN, P. The Global E-waste
Monitor. United Nations University (UNU), International Telecommunication Union (ITU) & International Solid Waste
Association (ISWA), Bonn/Geneva/Vienna, 2017, p. 5. As embalagens são outro problema. Hoje, de acordo com
dados do Ministério do Meio Ambiente, um terço do lixo doméstico é composto por embalagens. MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE (MMA). Impacto das embalagens no meio ambiente. Disponível em: [www.mma.gov.br/
responsabilidade-socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/consumo-consciente-de-embalagem/impacto-das-
embalagens-no-meio-ambiente]. Acesso em: 27.08.2018.
 
8 .BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Trad. Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 63-65.
 
9 .GALBRAITH, John Kenneth. The Affluent Society. London: Hamish Hamilton, 1958. p. 215.
 
10 .HARRIS, Ron; ALBIN, Einat. Bankruptcy in light of manipulation in credit advertising – Personal Bankruptcy in the
21st Century: Emerging Trends and New Challenges. Theoretical Inquires in Law, July 2006. Disponível em:
[www.westlaw.com]. p. 1.
 
11 .ESTADÃO. Como o Facebook coleta e usa dados de quem não é usuário da rede social. Disponível em: [https://
link.estadao.com.br/noticias/empresas,como-o-facebook-coleta-e-usa-dados-de-nao-usuarios-da-rede-
social,70002272050]. Acesso em: 27.08.2018; ABRIL. Google permite que empresas leiam mensagens de usuários
do Gmail, diz WSJ. Disponível em: [https://veja.abril.com.br/economia/google-permite-que-empresas-leiam-
mensagens-de-usuarios-do-gmail-diz-wsj/]. Acesso em: 27.08.2018.

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12 .O químico alemão ACCUM denunciou em obra publicada 1820 a adulteração de alimentos. ACCUM, Fredrick. A
Treatise on Adulterations of Food, and Culinary Poisons. London: Longman, Hurst, Rees, Orme and Brown, 1820.
 
13 .Ver HOBSON, J. A. Work and wealth: a human valuation. New York: The Macmillan Company, 1914, p. 134. Em
1925, ao se debruçar sobre o tema da adulteração, Stuart Chase escreveu que: “Under the present industrial order,
quick turnover means quick profit. Maximum profit is, therefore, achieved by a flow of goods with the shortest
practicable life”. The tragedy of waste. New York: The Macmillan Company, 1925. p. 71 e ss. Um exemplo clássico é o
caso da redução da vida útil das lâmpadas incandescentes de 2.500 horas para 1.000 horas, obrigando os
consumidores a substituírem as lâmpadas com mais frequência. Tal prática teria sido empregada pelo Cartel
Phoebus, na década de 1920. Oficialmente, o Cartel Phoebus nunca existiu. THE Light Bulb Conspiracy. Direção:
Cosima Dannoritzer. Barcelona, 2010 (52min).
 
14 .“But machinery for producing any commodity in great demand, seldom actually wears out; new improvements, by
which the same operations can be executed either more quickly or better, generally superseding it long before that
period arrives: indeed, to make such an improved machine profitable, it is usually reckoned that in five years it ought to
have paid itself, and in ten to be superseded by a better.” (BABBAGE, Charles. On the Economy of Machines and
Manufactures. London: Charles Knight, pall-mall east, 1832. p. 231.)
 
15 .SLADE, Giles. Made to Break: Technology and Obsolescence in America. Cambridge, MA: Harvard University
Press, 2006. p. 4.
 
16 .PACKARD, Vance. The Waste Makers. New York: David McKay Company, Inc., 1960. p. 55 e ss.
 
17 .PACKARD, Vance. The Waste Makers. New York: David McKay Company, Inc., 1960. p. 55.
 
18 .SLADE, Giles. Made to Break: Technology and Obsolescence in America. Cambridge, MA: Harvard University
Press, 2006. p. 4-5.
 
19 .LATOUCHE, Serge. Bon pour la casse: Les déraisons de l’obsolescence programmée. Brignon: Les Liens Qui
Liberent, 2012 [E-book].
 
20 .GALBRAITH, John Kenneth. The Affluent Society. London: Hamish Hamilton, 1958. p. 112.
 
21 .SLADE, Giles. Made to Break: Technology and Obsolescence in America. Cambridge, MA: Harvard University
Press, 2006. p. 29 e ss.; LATOUCHE, Serge. Bon pour la casse: Les déraisons de l’obsolescence programmée.
Brignon: Les Liens Qui Liberent, 2012 [E-book]. De acordo com Daniel RAFF, o emprego da técnica não foi o fator
determinante para o sucesso dos fabricantes, mas sim, a adoção de novas estratégias de produção, a partir das quais
as mudanças anuais nos modelos passaram a ser uma vantagem competitiva. Making Cars and Making Money in the
Interwar Automobile Industry: Economies of Scale and Scope and the Manufacturing behind the Marketing. Business
History Review. v. 54. n. 4. 1991, p. 721-753. Na década de 1950, o fenômeno intensificou-se ainda mais, os
fabricantes investiram fortemente em departamentos de design, oferecendo aos consumidores veículos que
parecessem novos a cada ano e cada vez menos melhorias tecnológicas – basta ver as propagandas das grandes
montadoras norte-americanas, Ford (“Nothing Newer in THE WORLD OF STYLE”), Chevrolet (“Styling That Sets a
New Style”), De Soto (“Best Dressed Car of the Year”), Oldsmobile (“Start of a New Styling Cycle”), Chrysler (“The
Newest New Cars in 20 Years”), Nash (“The World’s Newest ... Car”) e Pontiac (“Completely New From Power to
Personality”). O resultado: a depreciação passou a ser mais rápida, e os carros já não duravam mais como
antigamente. PACKARD, Vance. The Waste Makers. New York: David McKay Company, Inc., 1960. p. 78 e ss.
 
22 .SLADE, Giles. Made to Break: Technology and Obsolescence in America. Cambridge, MA: Harvard University
Press, 2006. p. 58.
 
23 .PACKARD, Vance. The Waste Makers. New York: David McKay Company, Inc., 1960. p. 118 e ss.
 
24 .SLADE, Giles. Made to Break: Technology and Obsolescence in America. Cambridge, MA: Harvard University
Press, 2006, p. 58. p. 64.
 

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25 .Nos Estados Unidos, “o PIB real caiu perto de 27% de 1929 a 1933, e o desemprego subiu de 3% para 25%”.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução da 3ª edição norte-americana. Traduzido por Allan Vidigal
Hastings. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 745.
 
26 .Ending the Depression Through Planned Obsolescence (1932) foi seguida por The New Prosperity Through
Planned Obsolescence: Permanent Employment, Wise Taxation and Equitable Distribution of Wealth (1934), e
Rebuilding Prosperous Nations Through Planned Obsolescence (1935).
 
27 .LONDON, Bernard. Ending the Depression Through Planned Obsolescence. New York [s.n.], 1932. p. 6; 12.
 
28 .Neste sistema, os produtos obsoletos deveriam ser entregues para descarte em agências governamentais, em
troca de um recibo indicando o valor a ser pago pelo Governo posteriormente. Estes recibos seriam aceitos como
forma de pagamento de um novo imposto a incidir sobre as vendas, de modo que o consumidor receberia pelos bens
entregues ao Governo, mas o Governo não teria de desembolsar para pagar por eles. Os consumidores que
continuassem a utilizar bens que ultrapassaram a data de obsolescência determinada no momento de sua criação
seriam taxados, por retardar o progresso e não promover o desenvolvimento, de modo a assegurar uma receita para
o Estado. Ao invés de aguardar a morte do proprietário para a incidência de impostos sobre sua herança, os tributos
seriam arrecadados com a “morte” dos bens. O Governo poderia estender a vida útil de bens úteis após sua validade
se o pleno emprego fosse mantido sem sua substituição. Dessa maneira, não haveria superprodução. Produção e
consumo regulariam um ao outro. LONDON, Bernard. Ending the Depression Through Planned Obsolescence. New
York [s.n.], 1932. p. 6 e ss.
 
29 .SLADE, Giles. Made to Break: Technology and Obsolescence in America. Cambridge, MA: Harvard University
Press, 2006. p. 152; LATOUCHE, Serge. Bon pour la casse: Les déraisons de l’obsolescence programmée. Brignon:
Les Liens Qui Liberent, 2012 [E-book]; PACKARD, Vance. The Waste Makers. New York: David McKay Company, Inc.,
1960. p. 54.
 
30 .A common law é um direito jurisprudencial (case law) por excelência, em que as leis (no inglês, statutes)
desempenham função secundária. Já nos países da família romano germânica a lei é a fonte primordial de direito. Ver
DAVID, René. Os grandes sistemas do direito contemporâneo. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014. p. 111; 415.
 
31 .Um caso que ficou bastante conhecido foi o caso Westley vs. Apple (2003), em que se discutiu a vida útil das
baterias do iPod da “Maçã”. O processo acabou resultando em um acordo envolvendo um recall para substituição das
baterias, bem como, o aumento da garantia dos aparelhos para 02 anos. DANNORITZER, 2010. A “Gigante de
Cupertino” ainda enfrenta diversas ações judiciais, após admitir ter reduzido a velocidade dos iPhones antigos para
economizar bateria. DAILY MAIL. Apple now facing EIGHT class action lawsuits after admitting it DOES slow down old
iPhones to save battery life. Disponível em: [www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-5215793/Apple-facing-EIGHT-
lawsuits-iPhone-slowdown.html]. Acesso em: 27.08.2018.
 
32 .EUROPEAN ECONOMIC AND SOCIAL COMMITTEE (EESC). Towards more sustainable consumption: industrial
product lifetimes and restoring trust through consumer information. Disponível em: [www.eesc.europa.eu/en/our-work/
opinions-information-reports/opinions/towards-more-sustainable-consumption-industrial-product-lifetimes-and-
restoring-trust-through-consumer-information#downloads]. Acesso em: 27.08.2018.
 
33 .A inclusão de uma quarta modalidade retrata os problemas e os desafios das novas tecnologias. Assim, temos: (i)
a obsolescência programada em sentido estrito, que consiste em projetar um produto para ter uma vida útil reduzida;
(ii) a obsolescência psicológica, ligada às campanhas publicitárias que visam tornar os produtos existentes obsoletos
na mente dos consumidores; (iii) a obsolescência indireta, ligada à impossibilidade de reparar um produto; e, ainda,
(iv) a obsolescência por incompatibilidade, em que um dispositivo não funciona mais quando o sistema operacional é
atualizado. EUROPEAN ECONOMIC AND SOCIAL COMMITTEE (EESC). Towards more sustainable consumption:
industrial product lifetimes and restoring trust through consumer information, p. 5. Disponível em:
[www.eesc.europa.eu/en/our-work/opinions-information-reports/opinions/towards-more-sustainable-consumption-
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34 .EUROPEAN ECONOMIC AND SOCIAL COMMITTE (EESC). Obsolescence Project: New attitudes towards
consumption - Related Events. Disponível em: [www.eesc.europa.eu/en/our-work/publications-other-work/project/
obsolescence-project-new-attitudes-towards-consumption/events]. Acesso em: 27.08.2018.
 
35 .EUROPEAN PARLIAMENT (EUROPARL). European Parliament resolution of 4 July 2017 on a longer lifetime for
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36 .A Lei de Transição Energética (Lei 2015-992, de 17 de agosto de 2015) introduziu o art. L. 213-4-1.-I ao Code de
la Consommation, trazendo a definição de obsolescência programada («L’obsolescence programmée se définit par
l’ensemble des techniques par lesquelles un metteur sur le marché vise à réduire délibérément la durée de vie d’un
produit pour en augmenter le taux de remplacement. ») e as respectivas sanções («  L’obsolescence programmée est
punie d’une peine de deux ans d’emprisonnement et de 300 000 € d’amende. Le montant de l’amende peut être porté,
de manière proportionnée aux avantages tirés du manquement, à 5 % du chiffre d’affaires moyen annuel, calculé sur
les trois derniers chiffres d’affaires annuels connus à la date des faits »). Posteriormente, a matéria passou a ser
regulada pelos arts. L. 441-2 e L. 454-6 do Code, introduzidos pela Ordonnance 2016-301 du 14 mars 2016.
 
37 .Atualmente, a Direção Geral da Concorrência, Defesa do Consumidor e Controle de Fraude (DGCGRF) investiga
queixas de obsolescência programada contra as empresas Epson e a Apple. As denúncias foram apresentadas pela
associação de proteção ao consumidor HOP – Halte à l’Obsolescence Programmée. O fabricante japonês de
impressoras é suspeito de usar a obsolescência programada, indicando que os cartuchos enquanto ainda há tinta,
com o objetivo de estimular a recompra, enquanto a Gigante de Cupertino é acusada de retardar versões mais antigas
do iPhone para preservar baterias. Ver REUTERS. Enquête sur Epson pour obsolescence programmée. Disponível
em: [https://fr.reuters.com/article/businessNews/idFRKBN1EM16S-OFRBS]. Acesso em: 27.08.2018; REUTERS.
CORR-Enquête contre Apple pour obsolescence programmée en France. Disponível em: [https://fr.reuters.com/article/
technologyNews/idFRKBN1EX27R-OFRIN]. Acesso em: 27.08.2018.
 
38 .A ideia é atribuir uma pontuação aos equipamentos, de acordo com a vida útil, a partir de 1º de janeiro de 2020. A
informação deverá constar obrigatoriamente na embalagem dos produtos. Todavia, de acordo com especialistas, o
principal obstáculo continua sendo o elevado preço dos reparos. Ver: SCIENCES ET AVENIR. Obsolescence
programmée: Un «indice de réparabilité» prévu pour 2020. Disponível em: [www.sciencesetavenir.fr/high-tech/
obsolescence-programmee-un-indice-de-reparabilite-des-produits-electromenagers-prevu-pour-2020_125581]. Acesso
em: 27.08.2018.
 
39 .BRASIL. Constituição (1988). Planalto. Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm]. Acesso em: 27.08.2018.
 
40 .BRASIL. Lei 8.078, de 11.09.1990 (LGL\1990\40). Planalto. Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/
L8078.htm]. Acesso em: 27.08.2018.
 
41 .Note-se aqui uma evolução no tratamento dos vícios redibitórios: o Código Civil de 1916 estabelecia prazo
decadencial de 15 dias em relação aos bens móveis (art. 178, § 2º) e de 6 meses em relação aos bens imóveis
(art. 178, § 5º, IV). O Código Civil de 2002 ampliou os prazos decadenciais para 30 dias, no caso de bens móveis e 1
ano no caso de bens imóveis (art. 445). Todavia, o prazo máximo para aparecimento do vício oculto é de 180 dias e 1
ano, respectivamente (art. 445, § 1º), sem olvidar a possibilidade de cumulação do prazo decadencial com o prazo de
garantia contratual (art. 446). O CDC (LGL\1990\40), por sua vez, estabeleceu o prazo decadencial de 30 dias para
produtos e serviços não duráveis e 90 dias para os duráveis (art. 26), o que, à primeira vista, poderia parecer uma
redução na esfera de garantias do consumidor. No entanto, atento à vulnerabilidade do consumidor, o CDC
(LGL\1990\40) estabelece que se tratando de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito, utilizando o critério da vida útil para contagem dos prazos (art. 26, § 3º). (BESSA, Leonardo
Roscoe. Vício do Produto e do Serviço. In: BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA,
Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 211).
 
42 .MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações
contratuais. 6. ed. rev. São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 1253-4.
 
43 .MIRAGEM, Bruno. Vício oculto, vida útil do produto e extensão da responsabilidade do fornecedor. Comentários à
Decisão do REsp 984.106/SC, do STJ. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: Ed. RT, ano 22, v. 85, jan.-fev.
2013, p. 353. No mesmo sentido: BESSA, 2013, p. 213.
 
44 .BRASIL. Projeto de Lei n. 5.367 de 2009. Câmara dos Deputados. Disponível em: [www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=437370]. Acesso em: 27.08.2018.
 
45 .MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Ed. RT, 2016. [E-book], especialmente no ponto
sobre o prazo para o exercício do direito de reclamar por vícios.

https://revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 12/13
22/05/2023 11:10 Envio | Revista dos Tribunais

 
46 .BRASIL. Projeto de Lei 3.472/2012. Câmara dos Deputados. Disponível em: [www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=537785]. Acesso em: 27.08.2018.
 
47 .BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 984.106/SC. Relator: Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 04.10.2012.
 
48 .No mesmo sentido, os seguintes julgados: CURITIBA. Primeira Turma Recursal. Recurso Inominado 0018841-
39.2015.8.16.0182. Relatora: Fernanda de Quadros Jorgensen Geronasso, julgado em 21.03.2017. CURITIBA.
Primeira Turma Recursal. Recurso Inominado 0007460-97.2016.8.16.0182. Relatora: Fernanda de Quadros
Jorgensen Geronasso, julgado em 15.02.2017.
 
49 .RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Recurso Cível 71004479119. Relator: Lucas Maltez Kachny, Primeira
Turma Recursal Cível, julgado em 22.04.2014.
 
50 .POUSO ALEGRE. Turma Recursal Cível. Recurso Inominado 0157861.67.2015.8.13.0525. Relator: José Hélio da
Silva, julgado em 10.11.2015.
 
51 .RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Recurso Cível 71004731089. Relator: Cleber Augusto Tonial, Terceira
Turma Recursal Cível, julgado em 30.01.2014. O caso em comento envolvia a migração do sistema CDMA para o
GSM, com a pretensão do consumidor em manter a tecnologia obsoleta ou receber um valor maior do que o oferecido
pela operadora para troca do aparelho. Outro julgado, proferido em primeira instância pela 2ª Vara Cível de São
Bernardo do Campo, entendeu que a situação narrada nos autos constituía hipótese de obsolescência programada,
mas que seria plenamente admissível no ordenamento jurídico brasileiro, não constituindo conduta abusiva por parte
da ré, eis que tratar-se-ia de prática comercial disseminada na sociedade. No caso, a autora pleiteava o reembolso
pela compra de um chuveiro elétrico que apresentou defeito dentro do prazo de garantia contratual e que, mesmo
após o conserto, persistiu, bem como indenização por danos morais. A decisão proferida em primeira instância foi
parcialmente reformada, em sede de apelação, condenando a ré ao pagamento de indenização por danos materiais.
SÃO BERNARDO DO CAMPO. 2ª Vara Cível. Procedimento Comum 1024471-98.2015.8.26.0564, julgado em
12.02.2016.
 
52 .“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSUMIDOR. ‘REESTILIZAÇÃO’ DE PRODUTO. VEÍCULO
2006 COMERCIALIZADO COMO MODELO 2007. LANÇAMENTO NO MESMO ANO DE 2006 DE NOVO MODELO
2007. CASO ‘PÁLIO FIRE MODELO 2007’. PRÁTICA COMERCIAL ABUSIVA. PROPAGANDA ENGANOSA.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. ALEGAÇÃO DE REESTILIZAÇÃO LÍCITA AFASTADA. LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROCEDENTE. [...] Embora lícito ao fabricante de veículos antecipar o lançamento de um
modelo meses antes da virada do ano, prática usual no país, constitui prática comercial abusiva e propaganda
enganosa e não de “reestilização” lícita, lançar e comercializar veículo no ano como sendo modelo do ano seguinte e,
depois, adquiridos esses modelos pelos consumidores, paralisar a fabricação desse modelo e lançar outro, com
novos detalhes, no mesmo ano, como modelo do ano seguinte, nem mesmo comercializando mais o anterior em
aludido ano seguinte.[...].” (STJ, Recurso Especial 1.342.899/RS, rel. Min. Sidnei Beneti, j. 20.08.2013). Ver também
“RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO.
LEGITIMIDADE. AUTOMÓVEL. LANÇAMENTO DE DOIS MODELOS DISTINTOS NO MESMO ANO, AMBOS
NOTICIADOS COMO O MODELO DO ANO SEGUINTE. PROPAGANDA ENGANOSA. CARACTERIZAÇÃO. [...]
Constitui publicidade enganosa o lançamento de um novo modelo de veículo, totalmente remodelado, no mesmo ano
em que já fora comercializado modelo anterior, ambos noticiados como o modelo do ano seguinte”. (STJ, Recurso
Especial 871.172/SE, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 14.06.2016).

     

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