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Proteção ambiental e direito do consumidor: para

um consumo sustentável em construção

Environmental protection and consumer rights: an

ongoing sustainable consumption process
BR
Cláudio José Franzolin
Doutor e Mestre em Direito pela PUC-SP. Especialista em
AS
Direito dos Contratos pelo Centro de Extensão Universitária (C.E.U. – I.I.C.S.)
e em Direito Empresarial pela Universidade Mackenzie. Professor Pesquisador da
Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
Associado do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor – BRASILCON,
do Instituto de Direito Privado (IDP) e do Instituto O Direito por um Planeta
ILC

Verde. Advogado e Consultor Jurídico.

cfranzol30@gmail.com

Recebido em: 22.06.2018

Pareceres em: 18.07.2018 e 19.07.2018
ON

Áreas do Direito: Consumidor; Ambiental

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo
fundamental apresentar um panorama acerca do
consumo sustentável. Numa primeira parte o tra-
balho, apontam-se algumas considerações acerca
da movimentação do consumo que, antes, era ba-
seado na satisfação de necessidades, mas, depois,
estimulado para abastecer o mercado de forma
continuada, passou a se associar bens de consu-
mo ao bem-estar do consumidor, estimulando um
novo fenômeno social denominado consumismo.
No entanto, paralelamente, passa a ocorrer o des-
locamento das preocupações ambientais para o
âmbito das relações de consumo, após a Rio-92,
ou seja, os problemas ambientais passaram a ser
associados ao consumo. Apresentamos, então, a
necessidade de que o direito do consumidor, sob
uma perspectiva sistemática, passe a incorporar
Abstract: This study primarily aims at presenting
an overview about sustainable consumption. In
the first part of this study, some considerations are
made about the understanding of consumption,
in the past, it was based on the idea of meeting
needs, and now, managed by suppliers, through
many strategies adopted by the companies, it is
based on the idea of continuously supplying the
market, stimulating a new social phenomenon
called consumerism. However, in parallel, there
has been a change of the environmental concerns
which is now regarded within consumption rela-
tions, after Rio-92, that is to say, environmental
problems have been associated to consumption.
We then present the need that the consumer
right, under a systematic perspective, starts to
encompass environmental concerns, allowing

Franzolin, Cláudio José. Proteção ambiental e direito do consumidor: para um consumo sustentável em construção.
Revista de Direito do Consumidor. vol. 119. ano 27. p. 129-165. São Paulo: Ed. RT, set.-out. 2018.
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preocupações ambientais, permitindo que sejam new duties, new judicial categories, new interests
revelados novos deveres, novas categorias jurí- to create sustainable consumption. To this end,
dicas e novos interesses com o intuito de que se we used the theoretical framework based on the
construa um consumo sustentável. Para tanto, complex thought and ecocomplexity presented by
partimos do referencial teórico baseado no pen- Delton Winter de Carvalho.
samento complexo e na ecocomplexidade apre-
sentada por Delton Winter de Carvalho.
Palavras-chave: Consumo sustentável – Direitos K eywords: Sustainable consumption – Human
humanos – Pós-consumo – Resíduos sólidos. rights – Post-consumption – Solid waste.
BR
Sumário: 1. Introdução. 2. O direito do consumidor: consumo, consumismo e consumo susten-
tável. 3. Pensamento complexo no estudo do direito do consumidor e a construção do consu-
mo sustentável. 3.1. Deveres decorrentes do consumo sustentável. Conclusão. Referências.
AS
Do ponto de vista psicológico e emocional (e da forma como
moldamos nossa identidade), a maioria de nós ainda pensa
e age como se ainda vivesse no cenário que conhecemos em
nossa juventude. Porém, na verdade, no que se refere à realidade
ILC

econômica da vida, estamos perdendo o mundo de vista.

Al Gore

1. Introdução
ON

Sob uma perspectiva histórica, as origens da preocupação com o direito do

consumidor, segundo Carlos Ferreira de Almeida1, é a mensagem dirigida pelo
presidente John F. Kennedy, ao Congresso dos Estados Unidos, em 15 de março de
19622, sem desconsiderar, obviamente, os movimentos e organizações que já se

1. ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Direito do consumo. Coimbra: Almedina, 2005. p. 15.
2. “Consumers, by definition, include us all. They are the largest economic group in the
economy, affecting and affected by almost every public and private economic deci-
sion. Two-thirds of all spending in the economy is by consumers. But they are the only
important group in the economy who are not effectively organized, whose views are
often not heard. The federal Government – by nature the highest spokesman for all
the people – has a special obligation to be alert to the consumer’s needs and to advance
the consumer’s interests. Ever since legislation was enacted in 1872 to protect the con-
sumer from frauds involving use of the U.S. mail, the Congress and Executive Branch
have been increasingly aware of their responsibility to make certain that our Nation’s
economy fairly and adequately serves consumers’ interests […] (KENNEDY, John F.
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Ademais, para avançar no estudo do direito do consumidor sob a perspectiva

ambiental, captamos a importância da ecocomplexidade, lançada por Delton de
Carvalho.
Nesse sentido, o autor apresentou os desafios para o direito ambiental no
século XXI. Segundo ele, é preciso que sejam superadas estruturas tradicionais
de direito ambiental; é preciso estreitar a relação entre direito e ciência e também
que o direito ambiental assimile mais sensibilidade com as análises baseadas em
probabilidades e em estudos científicos, ainda que não conclusivos.
Captamos que tais desafios lançados pelo autor também se revelam no direito
BR
do consumidor, como forma de auxiliar na construção do consumo sustentável
enquanto o mais novo e talvez, o mais desafiador para este século XXI. Afinal, o
consumo envolve, de um lado, lucratividade, crescimento, mercado; consumo sus-
tentável envolve desaceleração do mercado, assunção de custos pela iniciativa pri-
AS
vada e menos lucratividade para os agentes econômicos (fornecedores), do outro.
Mas, articulando sob uma perspectiva mais elaborada consumo e sustentabi-
lidade, juntos podem promover a construção de interesses comuns: promoção
para novos negócios os quais possam agregar valores ecológicos, incorporação
ILC

pela iniciativa privada de interesses coletivos, o que pode sugerir uma nova fase
do capitalismo no século XXI, a proteção das atuais e das futuras gerações e, final-
mente, valorização de uma intepretação que reconheça situações de incertezas
em detrimento da racionalidade concludente.
ON

Em suma, consumo, meio ambiente e saúde são demandas as quais estreitam

profunda conexão entre o direito ao meio ambiente e o direito dos consumidores,
enquanto direitos novos, conexos e interdisciplinaridade; conexão que deman-
dará atuações regulatórias e interpretações as quais possam reconstruir deveres
aos fornecedores, fortalecer o papel dos consumidores e estreitar pontes entre
consumo e sustentabilidade para a preservação mais efetiva dos bens ambientais
e da própria espécie humana.

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