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I. Constituição Ecológica:
O Direito Constitucional Ecológico é uma superação do Direito Constitcuinal
Ambiental, assentado em uma matriz teórica e normativa antropocêntrica (p. 37).
Muitos autores defendem essa visão antropocêntrica do direito constitucional brasileiro:
Os primeiros passos para isso já começaram a ser dados pela CF/88, que em
seu artigo 225 estabelece deveres de proteção ambiental, o que caracteriza uma proteção
jurídica de natureza objetiva dos bens ambientais, dever imposto ao Poder Público e à
coletividade (art. 225, § 1º, I e VI, por exemplo) – p. 55/56)
No mesmo sentido e ecocentrismo, é a Lei de Crimes e Infrações
Administrativas Ambientais – Lei n.º 9.605/1998 (ver artigo 32).
Os autores não entendem haver diferença entre ser-humano e natureza, pois a
proteção do primeiro é a da última, e vice-versa. Eles entendem ser vital a “religação”
entre os dois (p. 57).
Não é possível estabelecer uma dicotomia carteriana entre ser-humano e
natureza. Seria uma incoerência antológica, dado que o ser-humano é parte da natureza,
e a condição existencial humana é inerente à natureza p. 58).
Os autores defendem que o Direito Ambiental e o Direito Constitucional
Ambiental, na sua versão antropocêntrica, teriam fracassado na promoção ambiental,
dos seres humanos e não-humanos e dos elementos abióticos (p. 138).
No Brasil, o paradigma antropocêntrico apareceu na fundamentação dos votos
e manifestações dos Ministros Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, no julgamento da
ADI n.º 4.983/CE, sobre a prática da “vaquejada”. Para a Ministra Rosa Weber, “o
atual estágio evolutivo da humanidade impõe o reconhecimento de que há dignidade
para além da pessoa humana, de modo que se faz presente a tarefa de acolhimento e
introjecção da dimensão ecológica ao Estado de Direito (...) a Constituição, no seu
artigo 225, § 1º, VII, acompanha o nível de esclarecimento alcançado pela humanidade
no sentido de superação da limitação antropocêntrica que coloca o homem no centro
de tudo e todo o resto como instrumento a seu serviço, em prol do reconhecimento de
que os animais possuem uma dignidade própria que deve ser respeitada. O bem
protegido pelo inciso VII do § 1º do artigo 225 da Constituição, enfatizo, possui matriz
biocêntrica, dado que a Constituição confere valor intrínseco às formas de vida não
humanas e o modo escolhido pela Carta da República para a preservação da fauna e
do bem-estar do animal foi a proibição expressa de conduta cruel, atentatória à
integridade humana”.
O STJ, no julgamento do REsp n.º 1.797.175/SP, reconheceu não apenas a
superação do paradigma jurídico antropocêntrico, mas também atribuiu “dignidade e
direitos aos animais não humanos e à Natureza”.
Aos animais não humanos é segurado pelo art. 225, da CF, a proteção contra
práticas cruéis e às espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção (§ 1º, VII), até a
proteção da “função ecológica” (§1º, VII), e dos processos ecológicos essenciais (§ 1º,
i), é possível identificar pequenos movimentos rumo a um novo paradigma ecocêntrico.
Esse posicionamento não é unânime na doutrina. Asis Roig entende que os
deveres dos seres humanos em face dos aniamis teriam como justificativa unicamente m
interesse humano ou humanidade, de modo que não seria possível atribuir-lhes direitos
(ROIG, R. A. Deberes y derechos em la Constitución. Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1991, p. 172).
No mesmo sentido, para Pereira da Silva, o direito é um fenômeno cultural que
regula as realçoes entre seres vivos, responsáveis e com consciência de seus deveres
para com o meio-ambiente, de modo que os direitos subjetivos apenas podem ser
atribuídos aos membros da espécie humana, cabendo à Natureza apenas ser tutelada
com responsabilidade pelos humanos (PEREIRA DA SILVA, V. Verde cor de direito:
lições de direito do ambiente. Almedina, Coimbra, p.31).
Sarlet e Fensterseifer entendem que deve ser atribuído um valor intrínseco à
vida, independentemente de se tratar de uma vida humana ou não-humana, pois há uma
dependência existencial entre espécies naturais. Assim, defendem o reconhecimento de
status jurídico ou legal aos entres biológicos não-humanos, assegurando-lhe certos
direitos, mas não necessariamente os mesmos direitos dos seres humanos (p. 144).
Parece difícil conceber que a CF, ao determinar a proteção da vida de espécies
naturais em face da sua ameaça de extinção, estivesse a promover unicamente a
proteção de algum valor instrumental de espécies naturais [talvez também tenha a ver
com a proteção do patrimônio genético e biolócio?] p. 148.
O estabelecimento de deveres de proteção da fauna e da flora pela CF
implicaria na existência de um valor por si mesmo dos elementos bióticos e abióticos, o
que também pode ser creditado como uma dimensão de dignidade dos seres não-
humanos e da natureza (p. 151-152).
O Código Florestal de 2012 tem sido apontado como uma fonte de retrocessos
em matéria de proteção ambiental, destacando-se a diminuição da extensão e até mesmo
a extinção das áreas de preservação permanente e da reserva legal, além da anistia para
quem desmatou ilegalmente no passado (p. 455).;
Tais institutos objetivam a proteção dos solos e do ecossistema florestal como
um todo e, no caso da APP, também do equilíbrio ecológico da área urbana, de modo a
evitar erosões e deslizamentos de terra, além de serem fundamentais para a proteção dos
recursos hídricos, preservação da biodiversidade e fertilidade do solo, além da
manutenção do microclima, entre outros serviços ambientais (p. 456).
A justificativa de retirar o “ônus” da proteção ambiental – no caso, minimizar o
“custo ambiental” que atinge o produtor rural, beneficiando a iniciativa e a atividade
econômica, é insuficiente. Tal justificativa, pro si só, não ampara tal medida de
restrição ao direito fundamental ao meio ambiente – que tem toda a coletividade como
seu titular. (p. 456). Mesmo porque, tal limitação do direito fundamental ao meio
ambiente, afeta e limita outros direitos fundamentais, sejam eles liberais, sociais ou
ecológicos, de um sem número de pessoas. Minimiza-se o mínimo existencial
ecológico, e o ônus ambiental é redistribuído de forma desproporcional justamente às
pessoas e grupos mais vulneráveis, que sentirão os efeitos imediatos de efeitos
climáticos extremos provocados pelo aquecimento global (p. 456-457).
Nesse cenário, a PGR, em 2013, ajuizou três ADIs (4.901, 4.902 e 4.903)
perante o STF.
A 4.901 questiona, entre outros dispositivos, o artigo 12, §§ 4º, 5º, 6º, 7º e 8º),
que reduzem a área de reserva legal (em virtude da existência de terra indígenas e
unidades de conservação no território municipal) e da dispensa da constituição de
reserva legal por abastecimento público de água, tratamento de esgoto, exploração de
energia elétrica e implantação ou ampliação de ferrovias e rodovias.
A 4.902 questiona temas relacionados à recuperaçõ de áreas desmatadas, como
a anistia de multas e outras medidas que desestimulariam a recomposição da vegetação
original, permitindo novo desmatamento sem a recuperação daquele anteriormente
realizado de forma irregular (art. 7º, § 3º). O art. 17 isenta os agricultores da obrigação
de suspender as atividades em áreas onde ocorreu desmatamento irregular antes de
22/07/2008.
A ADI 4.903 questiona a redução da área de reserva legal prevista pela nova
lei.
Em linhas gerais, as ADIs questionam diversos dispositivos do Código
Florestal brasileiro (Lei n.º 12.651/2012), relacionados, sobretudo, às APPs, à redução
da reserva legal e também à anistia para quem promove degradação ambiental. O
julgamento foi concluído em 2018, com o STF reconhecendo a validade de diversos
dispositivos, declarando alguns trechos inconstitucionais e atribuindo interpretação
conforme a outros itens.
A anistia conferida aos proprietários que aderissem ao Programa de
Regularização Ambiental (PRA) não configuraria uma anistia, uma vez que os
proprietários continuariam sujeitos à punição na hipótese de descumprimento dos
ajustes firmados nos termos de compromisso.
Houve interpretação conforme a constituição à norma para que os entornos de
nascentes e olhos d´’agua intermitentes fossem considerados APP e de preservação
ambiental.