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GESTÃO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Reconhecer os conceitos legais sobre dano ambiental.

2. Analisar os conceitos de responsabilidade civil, administrativa e penal perante danos ao meio ambiente.

1 Introdução
A crise ambiental tem significado uma mudança transcendente em todas as áreas do conhecimento.

O direito ambiental representa uma delas: apesar de mais de trinta anos de desenvolvimento, é considerado uma

nova disciplina jurídica, podendo-se situar sua origem na década de 70 (Funiber, 2009).

No entanto, a ideia de que o direito ambiental é um ramo jurídico “novo” pode nos levar a pensar que, antes de

seu surgimento, não existiam normas jurídicas que tratavam dos principais problemas ambientais e do

esgotamento dos recursos naturais. Muito pelo contrário, há séculos podemos situar os primeiros antecedentes

nas normas de verdadeira tutela de recursos naturais.

Dizemos que uma disciplina jurídica é autônoma quando apresenta um objetivo e princípios próprios e é capaz

de desenvolver suas próprias instituições (Funiber, 2009).

Você sabe qual o objetivo do Direito Ambiental?

O direito ambiental tem por objetivo estabelecer limites àquelas atividades humanas que podem representar um

risco, um perigo a causar danos ao meio ambiente.

Segundo o mesmo autor, o Direito Ambiental foi conformando-se a partir de instâncias políticas no âmbito

internacional e transformando-se – da mesma forma que outras ciências – em um campo de conhecimento

produtivo visando acompanhar a elaboração de soluções necessárias para evitar o agravamento da crise

ambiental e paliar os impactos negativos.

Uma das formas encontradas para que isso ocorresse, foi o surgimento da questão das responsabilidades: civil,

administrativa e criminal.

Vamos conhecê-las?

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2 Direito ambiental
Dentre os países que consagram o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado em suas

legislações, uma coisa é certa: o simples fato de o terem feito traz em si latente o reconhecimento da

importância em tratar a questão ambiental admitindo-se sua especificidade a partir do acompanhamento dos

princípios gerais do Direito Ambiental (Pedro e Frangetto, 2009).

Tanto isso é verdade que países que incluíram esse direito em suas Constituições vêm estabelecendo, de forma

explícita, inúmeras determinações que contêm em si orientações dos citados princípios dentre as obrigações que

impõem. Entre eles:

Uma constituição analítica, como é a Constituição da República Federativa do Brasil de 1998, claramente absorve

a orientação dos princípios gerais do Direito Ambiental. ao, por exemplo, prever o Estudo de Impacto Ambiental

– um dos instrumentos de implementação do Princípio da Prevenção – para toda atividade potencialmente

degradadora do meio ambiente (Pedro e Frangetto, 2009).

Fique ligado

Na realidade o próprio caput do artigo reservado ao meio ambiente, na


Constituição Federal de 1988, é uma releitura do princípio 1 da Declaração de
Estocolmo. A redação de ambos os dispositivos apresenta semelhanças, o que não
é mera coincidência.

A Declaração de Estocolmo afirma que o homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e às

condições de vida satisfatória, em um ambiente cuja qualidade lhe permita viver com dignidade e bem-estar; que

ele tem o dever solene de proteger e melhorar o ambiente para o presente e as futuras gerações; e que; sob esse

ponto de vista, as políticas que encorajam ou permitem que perpetuem o apartheid, a segregação racial, a

discriminação, as formas, coloniais ou outras, de opressão ou de dominação estrangeiras são condenadas e

devem ser eliminadas (Princípio 1, Declaração de Estocolmo, 1972).

Com isso, percebemos que não há o que não esteja relacionado ao meio ambiente e, logo, precise, sob ao menos

um aspecto, sofrer influência das leis e princípios que regulam o uso dos recursos naturais.

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Por esse motivo, ressalta-se ser o Direito Ambiental dotada da transdisciplinaridade.

O meio ambiente, como tema transversal, implica atrelar, principalmente nas avaliações ambientais,

opiniões de toda ordem, vindas dos entendimentos das mais diversas disciplinas. A composição

mista das comissões e conselhos ambientais é a exata demonstração disso (Pedro e Frangetto, 2009).

Ainda segundo os mesmos autores, cada um tem seu papel a exercer no processo de desenvolvimento

sustentável. As pessoas (naturais ou jurídicas; públicas ou privadas) têm uma função a cumprir na gestão do

meio ambiente.

Isoladamente, mantendo ao menos uma conduta ambiental não destrutiva.

Em conjunto, sendo proativos na administração e recuperação dos bens ambientais.

A essa forma conjunta de participação dos atores ambientais costuma-se dar o nome de função jurídica

ambiental.

Ressalva-se que são titulares dessa função, nos termos do art. 225, caput da Lei Maior, o Poder Público e a

coletividade.

Na função jurídica ambiental, os titulares ao direito ecologicamente equilibrado estão na posição de sujeitos

ativos deste direito (eles são a primeira parte da relação jurídica ambiental) e, por isso mesmo, podem exigir dos

sujeitos passivos (outra parte) as prestações objeto da relação jurídica em questão (Pedro e Frangetto, 2009).

Para podermos falar sobre responsabilidade civil, administrativa e criminal perante danos ao meio ambiente,

temos que primeiro entender o que é o dano ambiental.

3 Dano Ambiental
A obrigatoriedade da reparação do dano ambiental está inserida na Lei n. 6.938/81 em seu 1. do art. 14, que

estabelece:

“Sem obstar a aplicação das penalidades deste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da

existência da culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,

afetados por sua atividade. (...)”

Sendo essa norma uma ferramenta de fundamental importância para a garantia de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

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Dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais, com consequente degradação – alteração adversa ou in pejus

– equilíbrio ecológico.

Atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os

elementos da biosfera, a fauna e a flora” (Lei n. 6.938/81. Art. 3º., V).

Podemos então concluir, que dano ambiental é toda e qualquer degradação que afete o equilíbrio

ecológico do meio ambiente, tanto físico quanto estético. Denota-se pelo próprio conceito

acima, que é muito difícil a reparação do dano ambiental (Funiber, 2009).

Para o Prof. Paulo de Bessa Antunes (apud Funiber, 2009), a reparação dos danos ambientais é, provavelmente, o

momento, mas crítico da delicada relação entre o meio ambiente natural, desenvolvimento socioeconômico e a

aplicação das normas do Direito Ambiental.

Tal fato é indiscutível, pois, a dedicação ao cuidado com o meio ambiente é diretamente proporcional ao maior

ou menor rigor com a qual é encarada a responsabilização dos causadores de danos ao meio ambiente.

Por muito que se tenha falado sobre o assunto, a realidade é que até hoje, não existe um critério para fixação do

que, efetivamente, constitui-se no dano ambiental e como este deve ser reparado.

A primeira hipótese a ser considerada é a repristinação do ambiente agredido ao seu status quo ante.

Todos nós sabemos que não é simples a reconstrução de um local degradado. Muitas vezes a degradação de um

determinado local implicou na extinção de uma espécie vegetal, ou animal, por exemplo. E em muitas situações

não será possível colocar na natureza espécie destruída.

Segundo a Revista de Direito Ambiental (Revista dos Tribunais, 1997), no nosso ordenamento jurídico há duas

formas de reparação do dano ambiental:

A primeira pela reconstituição do bem lesado.

A segunda pela indenização em dinheiro.

Ainda segundo a mesma revista, a reconstituição do bem lesado seria a forma mais adequada ao ressarcimento

do evento prejudicial ao meio ambiente, pois o objetivo primordial em sede de direito ambiental é preservar o

meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações presente e futuras. Contudo, na prática, isto muitas

vezes torna-se impossível e em alguns casos, embora na composição do dano, o responsável, replante a mesma

espécie florestal que desmatou, o ambiente agredido não retorna ao seu status quo ante, é só verificarmos os

casos de exploração florestal nas reservas indígenas, onde foi retirada vegetação, que a natureza levou 50 anos

para formar.

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Por outro lado, não há no nosso ordenamento jurídico, normas legais que versem sobre critérios de reparação de

danos ambientais. Ficando muitas vezes difícil apurar o valor do dano ambiental, posto que os elementos que o

compõem são insuscetíveis de fixação valorativa.

Poderão responder pelo dano ambiental os autores diretos ou indiretos da lesão ambiental, a administração

pública e os entes público, basta que exista:

Nos termos da lei, o responsável principal é o “poluidor”. De acordo com dispositivo legal, poluidor é: “a pessoa

física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente por atividade causadora de

degradação ambiental” (Lei n. 6.938/81, art. 14, 1º. e art. 3º. , IV).

“Embora quem quer que contribua para a degradação do meio ambiente é civilmente responsável pelos danos

daí decorrentes, não há dúvida que a responsabilidade primeira - mas não exclusiva – reside com o

empreendedor. É ele o titular do dever principal de zelar pelo meio ambiente e é ele que aproveita, direta e

economicamente, a atividade lesiva”.

Havendo mais de um empreendedor, pode a reparação ser exigida de todos e de qualquer um dos responsáveis,

segundo as regras da solidariedade. É que, como sustenta Jorge Alex Nunes Athias (apud Funiber, 2009): “uma

das maiores dificuldades que se pode ter em ações relativas ao meio ambiente é exatamente determinar de quem

partiu efetivamente a emissão que provocou o dano ambiental, máxima quando isso ocorre em grandes

complexos industriais onde o número de empresas em atividade é elevado. Não seria razoável que, por não se

poder estabelecer com precisão a qual deles cabe a responsabilização isolada, se permitisse que o meio ambiente

restasse indene”.

Ao que pagar pela integridade do dano caberá ação de regresso contra os outros corresponsáveis, pela via da

responsabilização subjetiva, e onde se poderá discutir a parcela de responsabilidade de cada um. Tratando-se de

conduta comissiva, a administração pública e o ente público respondem objetivamente pelas lesões que

causarem ao meio ambiente, ressalvado o direito de regresso contra o servidor que agiu com dolo ou culpa.

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A simples autorização do órgão ambiental para funcionar uma atividade não gera por si só a responsabilidade da

Administração Pública. É preciso que haja nexo causal entre a autorização emitida e o dano efetivamente

causado ao meio ambiente.

Se o IBAMA expede as licenças ambientais para a instalação de uma grande hidrelétrica sem exigir o EIA/RIMA,

pode ser responsabilizado, pois o EIA/RIMA é uma exigência legal, o qual não fica a critério do poder

discricionário do administrador público. Portanto, não é só como agente poluidor que o Poder Público pode ser

controlado pelo Poder Judiciário, mas também quando se omite do dever constitucional de proteger o meio

ambiente (Funiber, 2009).

4 Da Responsabilidade Penal, Civil e Administrativa


O desenvolvimento econômico e social indispensável à civilização dos tempos modernos, tem sido a justificativa

para a acelerada e muitas vezes, irreversível devastação, do nosso patrimônio natural.

Nas últimas décadas a poluição, o desmatamento, a caça, a pesca predatória não são mais praticadas em pequena

escala. A degradação ambiental tem alcançado níveis tão assustadores, que levou a sociedade a repensar esse

modelo de desenvolvimento, e ao mesmo tempo, buscar a tutela jurídica penal dos bens ambientais, por

entender, serem os mesmos, necessários à vida.

Com efeito, o controle a ser exercido sobre o homem predador, dar-se-á pela aplicação de normas penais

ambientais, rígidas, onde se objetiva, efetivamente, combater a degradação ambiental, utilizando-se estes

instrumentos normativos para proteção do meio ambiente.

A responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, de acordo com os preceitos do 1º. Do art. 14º. Da Lei n.

6.938/81, é uma responsabilidade objetiva e se fixa independentemente de culpa. O que significa que quem

danificar o ambiente tem o dever legal de repará-lo. Não se perguntando a razão da degradação para que haja o

dever de reparar. Caberá ao acusado provar que a degradação era necessária, natural ou impossível de ser

evitada.

As pessoas que vivem em sociedade são obrigadas a:

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Nasce assim, para cada um, certo dever de comportamento, uma obrigação de suportar essa imposição. Esse

comportamento passivo, juridicamente é denominado de dever jurídico.

O dever de conhecer essa delimitação é de suma importância para todos, sob pena de sujeitarmo-nos à punição.

A noção de dever jurídico é fundamental para o entendimento do que seja um ilícito.

Os atos ilícitos civil, administrativo ou penal, encontram-se absortos no mesmo conceito, ou seja, a

antijuricidade, a qual é entendida não só como uma transgressão de um preceito jurídico, mas também como

agressão aos valores guardados e protegidos na norma legal ou regulamentar.

Os atos ilícitos constituem-se nos atos praticados em desacordo com as normas legais. São assim considerados,

por serem contrários ao direito por serem irregulares e proibidos. Podemos considerar ato ilícito, como sendo a

violação do direito ou dano causado a outrem, por dolo ou culpa, podendo ser decorrente de uma ação ou

omissão do sujeito.

• Infração administrativa

É o cometido de uma transgressão contra a administração pública, cuja sanção pode ser aplicada isolada

ou cumulativamente. Na verdade, é a transgressão cometida em desacordo com as normas legais ou

regulamentos da administração pública, a qual se impõe a penalidade administrativa. A Lei 9.605/98

preencheu uma importante lacuna no que se refere aos ilícitos administrativos ambientais e quanto à

previsão de sanções a serem impostas pela Administração Pública.

• Infração civil

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É a infração cometida em desacordo com as leis, normas, ou regras jurídicas, ou contra o interesse

privado de outrem, onde se impõe obrigatoriamente a responsabilidade civil de reparação ao dano.

• Infração penal

A Lei 9.605/98 sistematizou os tipos penais antes de dispersos em vários diplomas legais e deu um

tratamento mais rigoroso aos responsáveis pelas condutas criminosas que agridem o meio ambiente.

A infração penal é a violação da lei penal que resulta no crime ou na contravenção e dá margem à aplicação da

pena restritiva de liberdade.

É ressaltado que é imposta aos infratores de forma repressiva e abarcam uma graduação que vai desde a pena de

advertência, até a reparação dos danos causados.

5 Conclusão
Diante do exposto, espera-se que, em conjunto, os instrumentos de implementação dos princípios ambientais

continuem sendo reforçados, organizados e efetivamente utilizados, para que todos, exercendo os respectivos

papéis de atores ambientais, viabilizem a vida saudável almejada no processo de desenvolvimento sustentável

por meio de mecanismos de harmonização entre as chamadas dimensões humana e natural do meio ambiente

(Pedro e Frangetto, 2009).

É importante sabermos que quando estamos estudando as responsabilidades e suas sanções, há uma infinidade

de coisas a serem observadas e estudadas. O aqui exposto, foi apenas um pequeno resumo do que consideramos

necessário para que você possa começar a procurar o que mais considere necessário para seu próprio

conhecimento.

O que vem na próxima aula


Na próxima aula, você vai estudar:
• a Lei de Crimes Ambientais 9605/98 e sua aplicação, e estudará um panorama atual sobre o assunto.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reconheceu os conceitos legais sobre dano ambiental.

• Analisou os conceitos de responsabilidade civil, administrativa e penal perante danos ao meio ambiente.

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• Analisou os conceitos de responsabilidade civil, administrativa e penal perante danos ao meio ambiente.

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