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Resumo - Direito do Ambiente

Introdução ao Direito do Ambiente (Universidade Aberta)

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Resumo do Tópico 1:
A abordagem jurídica do ambiente
Conceito amplo
Incluí não só as componentes ambientais naturais, mas também os componentes ambientais humanos (isto é, não apenas o
ambiente natural mas também o construído).

Conceito estrito de ambiente


Caracterizado como direito ecológico, i.e., relacionado sobretudo com o conjunto de elementos naturais básicos, embora com
dimensões económicas, sociais e culturais.

Componentes ambientais
Ver artigos 6º e 17º na Lei de bases do Ambiente.

Ver artigos
2 nº2; 5º a);6º;

Existência do Direito do Ambiente como um novo ramo do Direito.


a) Aparecimento de um novo valor: valor ambiental;
b) Este projecta-se num novo bem jurídico colectivo e num novo direito subjectivo;
c) A disciplina jurídica de ambiente, além de necessitar de ensinamentos das ciência naturais e sociais, coloca questões que
exigem o contributo de quase todos os ramos clássicos do Direito;
d) Os esquemas jurídicos tradicionais revelam-se, muitas vezes, insuficientes para resolver questões jurídicas ambientais.
e) Disciplina jurídica dotada de substantividade própria;
f) A concepção foi expressa pela Declaração de Limoges (Novembro de 1990);
g) Autonomização pela doutrina e por algumas legislações dos “princípios fundamentais do Direito do Ambiente”;
h) Reconhecimento (terá que ser forçoso) de instrumentos jurídicos próprios.
i) Não pode ser esquecido que em Portugal existe a Lei de Bases do Ambiente, o que dá mais um argumento para se poder falar
de um “Direito do Ambiente”.

O ambiente como um novo bem jurídico.


Resulta que determinados componentes ambientais (solo, agua e ar) outrora passíveis de ser utilizados por todos sem obediência a
quaisquer regras ou limites, são agora bens juridicamente protegidos, os quais, por estarem cada vez mais ameaçados nas
sociedades dos nossos dias, são alvo de uma tutela jurídica que visa tornar a sua utilização e o seu aproveitamento mais racionais e
equilibrados.
A consideração do ambiente como bem jurídico tem como consequência o reconhecimento de que ele deverá ser objecto de
tutela e protecção jurídica autónoma.

Ambiente como um novo direito subjectivo fundamental consagrado na Constituição Portuguesa.


A Constituição da República Portuguesa prevê no artigo 66º, Parte I – Direitos e Deveres Fundamentais dos Cidadãos) «o direito a um
ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado», autónomo relativamente a outros direitos como o direito à vida, à
saúde, à propriedade… Daqui se infere que o direito ao ambiente surge como direito subjectivo inalienável pertencente a qualquer
pessoa. Deve, contudo, ter-se em conta que a dimensão subjectiva do ambiente nunca poderá ser relegada para segundo plano “à
sombra” da sua consideração como valor fundamental da comunidade politicamente organizada mas sim não poderá ser sacrificada
em nome do seu relevo comunitário. Uma última nota para dizer que este direito – opção feita por conceito estrito de ambiente –
caracterizado como direito ecológico, i.e., relacionado sobretudo com o conjunto de elementos naturais básicos, embora com
dimensões económicas, sociais e culturais.

Conclusão. O reconhecimento da existência de um direito subjectivo ao ambiente não deve fazer esquecer o seu carácter de bem
jurídico unitário de toda a comunidade, i.e., a titularidade de um direito subjectivo ao ambiente não traz consigo a subversão do
ambiente como bem jurídico colectivo.

A protecção do ambiente uma das preocupações fundamentais dos cidadãos nos nossos dias

Nos finais do séc. XX as preocupações em torno da qualidade do ambiente e da necessidade de proteger os componentes ambientais
são preocupações sentidas de forma cada vez mais intensa por toda a população, quer do ponto individual quer do ponto colectivo.

As notícias e as discussões sobre a deterioração crescente do ambiente em que vivemos e sobre a necessidade de o preservar, sob
pena de a nossa própria existência ser posta em causa, estão agora «na ordem do dia», talvez só desta forma se consiga fazer alguma
coisa para evitar a deterioração do mundo em que vivemos.

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Basta pensar em problemas como os do «buraco» da camada de ozono, da contaminação do ar e das águas, das chuvas ácidas ou da
rapidíssima desflorestação, sendo imperioso lutar contra tais problemas para que todos possamos usufruir de um «ambiente de vida
humano, sadio e ecologicamente equilibrado» (artigo 66º, nº 1 da CRP)

Razões porque necessitam os juristas de estudar as questões ambientais com base numa abordagem interdisciplinar

Os juristas tem a necessidade de levar a cabo um tratamento interdisciplinar uma vez que a correcta compreensão dos problemas
ambientais exige que ultrapassem as fronteiras dos diversos ramos de saber relacionando-se com as ciências naturais, engenharia e
técnica.

Os principais problemas com que se defrontam os juristas na regulação jurídica dos problemas ambientais

Porque a abordagem jurídica do ambiente convoca praticamente todas as disciplinas jurídicas tradicionais: Direito Constitucional, o
internacional, o comunitário, o civil, o administrativo e o penal.

As pré compreensões do Direito do ambiente

Perspectiva antropocêntrica (defesa do ambiente com o objectivo da preservação da vida humana)

Perspectiva ecocêntrica (defesa e promoção da natureza como um valor novo; ambiente tutelado em si mesmo).

O ambiente como um novo bem jurídico protegido pelo direito

A convicção de que há necessidade de preservar a promover o ambiente está na base da emergência recente do ambiente como
bem digno de protecção ou tutela jurídica, ou seja, na base da sua transmutação de mero interesse socialmente relevante em
autêntico bem jurídico.
A ter em conta a referência sistémico-social da noção de bem jurídico, i.e., o bem jurídico, ainda que possua dimensões
individuais, deve sempre ser visto como bem jurídico da colectividade.
O bem jurídico é autónomo porque é tutelado em si e por si mesmo. Daqui resulta que determinados componentes ambientais
(naturais com maior importância: o solo, o ar e a água) outrora passíveis de serem utilizados por todos sem qualquer obediência
a quaisquer regras ou limites, são agora bens juridicamente protegidos sendo alvo de uma tutela jurídica visando tornar a sua
utilização e aproveitamento mais racionais e equilibrados.

A implicação ou referencia sistemático-social da noção de bem jurídico

A ter em conta a referência sistémico-social da noção de bem jurídico, i.e., o bem jurídico, ainda que possua dimensões
individuais, deve sempre ser visto como bem jurídico da colectividade.

O direito ao ambiente é hoje um (novo) direito fundamental dos cidadãos

A Constituição da República Portuguesa prevê no artigo 66º, Parte I – Direitos e


Deveres Fundamentais dos Cidadãos) «o direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado»,
autónomo relativamente a outros direitos como o direito à vida, à saúde, à propriedade… Daqui se infere que o direito ao
ambiente surge como direito subjectivo inalienável pertencente a qualquer pessoa.

Dano ambiental

Ocorre sempre que uma dada acção humana viole as disposições jurídicas destinadas a proteger o direito subjectivo ao ambiente
dos indivíduos, acarretando consequências danosas para o ambiente.

Será que só o Estado é titular do direito à indemnização por danos ao ambiente, ou também os cidadãos (individualmente
considerados ou associados) poderão ser titulares de tal direito?

Titulares do direito de indemnização decorrente de um acto ilícito ambiental, só o


Estado (com outras pessoas colectivas de direito público) ou os cidadãos individualmente considerados? A questão remete-nos
para a análise anterior referente à dupla fisionomia do bem jurídico colectivo e direito subjectivo fundamental do ambiente: se
for um bem jurídico respeitante a toda a comunidade nacional, defender-se-á que o titular do direito ao ressarcimento será o
representante dessa comunidade – o Estado; ao contrário, se for como direito subjectivo dos indivíduos, serão eles os titulares do
ressarcimento sempre que sofram as ofensas.

Direito do ambiente como nova disciplina jurídica autónoma

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Sim, pode. O Direito Ambiental vê necessidade se desenvolver técnicas jurídicas próprias e exclusivas.

A criação do Direito do Ambiente é uma necessidade do ordenamento jurídico


O impacto que a actuação do Homem tem sobre a natureza tornou necessária a procura de soluções que permitam prevenir e
actuar sobre os comportamentos lesivos dos valores ambientais.
A questão da autonomia do Direito do Ambiente têm sido suscitada pelo facto deste recorrer a técnicas e métodos de outros
ramos de Direito, como o Direito Administrativo ou o Direito Penal, e efectuar um tratamento interdisciplinar das questões
ambientais, recorrendo ao contributo de diferentes ciências.
No entanto, a consideração do ambiente como um novo bem jurídico, bem como, o desenvolvimento de métodos, técnicas e
instrumentos jurídicos próprios, apontam no sentido da autonomia do Direito do Ambiente.

A Lei de Bases do Ambiente adoptou um conceito amplo ou estrito do ambiente?


O conceito estrito do ambiente centra-se nos componentes ambientais naturais (ar, luz, água, solo vivo, subsolo, flora e fauna),
enquanto o conceito amplo inclui não apenas os componentes ambientais naturais, mas também os componentes ambientais
humanos (paisagem, património natural e construído, poluição).
A Lei de Bases do Ambiente integra os componentes ambientais naturais (artigo 6.º a 16.º) e os componentes ambientais
humanos (artigo 17.º a 26.º), o que parece sugerir a adopção pela ordem jurídica portuguesa de um conceito amplo de
ambiente.
No entanto, considerações relativas ao carácter operativo da protecção jurídica do ambiente, recomendam a utilização de uma
noção estrita de ambiente, centrada nos componentes ambientais naturais, posição esta que parece estar sustentada no artigo
2.º da Lei da Bases do Ambiente.
Deste modo, os componentes ambientais humanos ocuparão uma “segunda linha” de protecção, sendo a sua regulação remetida
preferencialmente para outros ramos do Direito, como o Direito do Urbanismo.

Resumo do Tópico 2:
Os princípios do Direito do Ambiente
Princípios fundamentais do Direito do Ambiente. Ver artigo 2 e 3º na Lei de Bases do ambiente e CRP artigo 66º
a) Princípio da prevenção;
b) Princípio da correcção na fonte;
c) Princípio da precaução;
e) Princípio da integração;
f) Princípio da participação;
g) Princípio da cooperação internacional.

Estes princípios tem utilidade por:


a) Serem um padrão que permite aferir a validade das leis, tornando inconstitucionais ou ilegais as disposições legais ou
regulamentares ou os actos administrativos que os contrariem;
b) No seu potencial como auxiliares da interpretação de outras normas jurídicas;
c) Na sua capacidade de integração de lacuna, i.e., quando não há previsão de um caso na lei e a integração da lacuna consiste na
criação da disciplina jurídica para aquele caso concreto.

Exemplos concretos (legais e jurisprudênciais) que traduzam a adopção dos princípios do Direito do Ambiente.

O princípio da correcção na fonte -diz-nos quem, onde e quando se deve evitar a poluição; é bastante recente no Direito do
Ambiente. Também designado por princípio do produtor-eliminador, princípio da auto-suficiência ou princípio da proximidade.
Visa pesquisar as causas da poluição para, sempre que possível, as eliminar ou então, para as moderar, evitando que a mesma se
repita. Apela mais para a ideia de prevenção dos danos actuando a priori e na origem. Ideia mais de acordo com o espírito e
prática do Direito do Ambiente.
Exemplo:
Exemplo da correcção na fonte na acepção subjectiva, A portaria nº555/90 de 17 de Julho que contem normas relativas à
eliminação das emissões sonoras das aeronaves civis subsónicas com propulsão por reacção, interditando as aeronaves que não
estejam conforme com as normas sobre limites do ruído. Uma medida destinada igualmente a evitar a poluição sonora, mas sem
respeitar o princípio da correcção na fonte subjectiva seria a imposição de sistemas de insonorização de edifícios.

Exemplo da correcção na fonte na acepção espacial é o Regulamento Comunitário relativo a circulação de resíduos
No Regulamento 259/93 do Conselho de 1 de Fevereiro no artigo 4º, nº3 alínea a) ii, fala mesmo do princípio da proximidade e
estabelece condições rigorosas de circulação para os produtos constantes nas listas anexas.

Exemplo da correcção na fonte em sentido temporal


É o Decreto-lei sobre a bifenilospoliclorados (PCB) e PTC ver Decreto-Lei 221/88 de 28 de Junho.

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Invés de uma proibição absoluta, proíbe-se o uso dessas substâncias apenas em contacto directo com os alimentos ou estipular
percentagens máximas.

O princípio da integração - a protecção do ambiente deve ser uma preocupação subjacente as todas as actividades; considera
que não há actividade humana que não seja susceptível de afectar de maneira directa ou indirecta, em maior ou menor grau, o
ambiente, é compreensível que as questões ambientais não possam ser apenas preocupações dos Ministérios do Ambiente mas
de todos porque a politica do ambiente é transversal: perpassa as restantes políticas devendo ser tida em consideração em todas
elas. Por força deste princípio, é possível fiscalizar a legalidade de uma medida adoptada no âmbito de qualquer outra política, à
luz da sua conformidade com os princípios de política do ambiente e sancionar o seu desrespeito.

Exemplo:
Alguns projectos de obras devem ser sujeitos a um procedimento de avaliação de impacte ambiental antes do licenciamento. Se da
avaliação resultar que, tal como esta projectada essa obra, é muito onerosa para o ambiente, ela não deverá realizar-se.

Princípio da participação - confere aos cidadãos o direito de intervir nas decisões que possam afectar o ambiente; defende-se, ao
nível do Direito do Ambiente, a necessidade de os órgãos e agentes administrativos bem como os diferentes grupos sociais
existentes na comunidade, intervirem, de forma consultiva e, também, com um papel activo nas tomadas de decisão relevantes
para o ambiente. Os cidadãos devem ser ouvidos na formulação e execução da política de ambiente. Este princípio – o da
participação – está ligado ao direito à informação, pois só os cidadãos devidamente informados é que poderão ter oportunidade
de exercer convenientemente o seu direito de participação.

Exemplos:
A prática tem mostrado que diversas associações de defesa do ambiente como a Quercus ou a liga para a Protecção da Natureza,
tem usado o seu direito de participação contribuindo para a preservação do ambiente através de acções que chegam ao nosso
conhecimento e se tornam eficazes por via dos meios de comunicação social.

O princípio da cooperação internacional - impõe aos Estados o dever de colaborar para proteger eficazmente o ambiente; põe
em destaque o papel do Direito Administrativo e da Administração Pública em matéria ambiental. Mas neste caso a cooperação
tem a ver com as relações estabelecidas entre a Administração e a “sociedade civil” (particulares e associações representativas).
Abrange, ainda, a cooperação internacional e, nessa acepção, está consagrado na alínea e) do artigo 3º da Lei de Bases do
Ambiente. A protecção do ambiente não é só tarefa do Estado mas também a busca de soluções se deve fazer a nível
internacional.

Exemplos:
Formalmente nem o Tratado da Euratom nem qualquer outro Tratado internacional proíbem a realização de experiencias
nucleares não laboratoriais para fins militares. Considerando, os perigos efectivos que tais experiencias fora de um laboratório
comportam, considerando também os pedidos instantes formulados não só pelos Estados membros da União europeia como
Estados do sul do Pacifico e considerando, finalmente, o princípio da cooperação, a Franca deveria ter-se abstido de levar a cabo
as experiencias nucleares que, em 1996, tornaram tristemente celebre o atol de Mururoa.

Princípio da precaução – destina-se a superar o cepticismo decorrente da falta de provas científicas, invertendo o ónus da prova
de um dano ambiental possível; é o mais recente do Direito do Ambiente. Não deve ser confundido com o princípio da
prevenção. Tem a máxima aplicação em casos de dúvida, reservando em favor do ambiente o benefício da dúvida nos casos de
falta de provas científicas evidentes sobre o nexo causal entre uma actividade e um determinado fenómeno de poluição ou
degradação ambientais. A aplicação deste princípio leva a que o ónus da prova da inocuidade de uma acção em relação ao
ambiente seja transferido do Estado ou dos potenciais poluídos para os potenciais poluidores.
Exemplos
Actualmente receia-se que o milho geneticamente modificado possa ser prejudicial a saúde. Todavia ainda não decorreu tempo
suficiente nem se fizeram investigações suficientes para se afirmar sequer qual o tipo de danos que podem vir a ocorrer as pessoas
ou animais. Como medida de preocupação pode-se interditar a produção e importação de milho geneticamente modificado.
Ou
Após a ocorrência da morte de peixes de um rio não foi possível averiguar a causa. Poderá ser devido a métodos de pesca ou
actividades recreativas ilegais mas não há provas desta suspeita como princípio da preocupação podem suspender-se as actividades
de pesca e recreativas e prosseguir-se a investigações.

Princípio da prevenção – visa evitar a produção de um dano antes dele ter ocorrido; é uma regra de mero bom senso.
Corresponde ao aforismo popular «mais vale prevenir do que remediar». E mais vale prevenir porque: 1. na maior parte dos
casos, depois da poluição ou o dano ocorrerem, são impossíveis de remover. É o caso, p. ex., da extinção de uma espécie animal
ou vegetal; 2. Mesmo quando a reconstituição natural é materialmente possível pode ser muito onerosa e esse esforço não pode
ser exigido ao poluidor; 3. economicamente é sempre mais dispendioso remediar do que prevenir.

Exemplos:

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Existe uma variadíssima gama de instrumentos que podem ser utilizados para preventivamente, evitar a ocorrência de danos
ambientais: instrumentos anteriormente existentes que são aplicados agora à protecção do ambiente (como instrumentos
financeiros e fiscais) e instrumentos criados especialmente com vista à protecção do ambiente (como a avaliação de impacte
ambiental ou a criação de zonas de reserva territorial)

A legislação sobre a utilização do domínio público hídrico (Decreto Lei nº 47/94 de 22 de Fevereiro) reconhece que «a água é
recurso natural escasso e indispensável para a vida e para o exercício de enorme variedade de actividades económicas».
E em consequência,
«A utilização do domínio público hídrico (…) qualquer que seja a natureza e personalidade jurídica do utilizador, esta sujeita ao
pagamento de uma taxa, denominada “taxa” de utilização destinada à protecção e melhoria daquele domínio.»

Sujeitar o consumo de água ao pagamento de taxa é sem dúvida um estímulo financeiro que conduz à redução do seu consumo.

Princípio do poluidor-pagador -Estabelece que os danos ambientais devem ser suportados pelos poluidores e não pelos
contribuintes; está expressamente consagrado no artigo 3º da lei de Bases do Ambiente: «[…] sendo o poluidor obrigado a
corrigir ou recuperar o ambiente, suportando os encargos daí resultantes, não lhe sendo permitido continuar a acção poluente.»
O princípio do poluidor-pagador (PPP) não é o mesmo que a responsabilidade civil por danos ambientais; o PPP é o princípio que,
com maior eficácia ecológica, com maior economia e equidade social, consegue realizar o objectivo de protecção do ambiente. O
PPP desempenha uma função que, em linguagem económica, se denomina internalização das externalidades ambientais
negativas, i.e., actividades geradoras de externalidades negativas são aquelas que impõem custos a terceiros independentemente
da vontade destes e também independentemente da vontade de quem desenvolve essas actividades.

Exemplos:
No artigo 24 nº1 alínea c) da Lei de Bases do ambiente, sobre resíduos e efluentes, fala-se
«… Da aplicação de instrumentos fiscais e financeiros que incentivem a reciclagem e utilização de resíduos e efluentes».
Ou
No artigo 6º do Decreto –Lei nº 293/97 de 9 de Setembro, relativo à gestão dos resíduos esclarece que «… os custos de gestão dos
resíduos são suportados pelo respectivo produtor».

É por forca desta norma que não só para cobrir os custos, mas também para estimular a redução da produção de resíduos, a
deposição de resíduos em aterros esta sujeita ao pagamento de taxas.

Tendo em conta os vários princípios de Direito do Ambiente que conhece, em qual deles enquadraria a criação da Reserva
Agrícola Nacional? Justifique.
O princípio da prevenção.

Resumo do Tópico 3:
O ordenamento jurídico ambiental

Diplomas normativos nacionais e comunitários fundamentais que asseguram a protecção do ambiente.


a) CRP;
b) Lei de Bases do Ambiente;
c) Código Civil;
d) Código Penal;
e) Código do procedimento administrativo;
f) Lei das Associações de Defesa do ambiente;
g) Decreto-lei de Avaliação de Impacte Ambiental;
h) Lei de Participação Procedimental e Acção Popular.

O ambiente, em face da Constituição Portuguesa, como uma tarefa fundamental do Estado e como um direito subjectivo
fundamental.
O ambiente foi consagrado na CRP como uma das tarefas fundamentais do estado (principalmente no artigo 9º, alíneas d) e e)
embora não se devam esquecer as normas do nº2 do artigo 66º e os nº 1 alínea d) e 2 do artigo 93º) direito este que surge
configurado como direito subjectivo fundamental, autónomo em relação a outros direitos, maxime o direito da propriedade.

A influência do Direito Comunitário na protecção do ambiente em Portugal.


Decorre de aplicabilidade directa e primazia sobre o Direito Nacional.
Em relação à aplicabilidade directa significa que algumas normas do Direito Comunitário produzem efeitos automaticamente, a
partir do momento que entram em vigor, vinculando o Estado e cidadãos. A primazia significa que as normas de Direito
Comunitário gozam de prevalência hierárquica sobre o Direito Nacional obrigando a uma interpretação conforme o Direito
Comunitário e à desaplicação do Direito Nacional que o contrarie.

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Devido ao atrás exposto, o Direito Comunitário derivado do Ambiente tem tido um papel corrector do Direito Nacional no que
respeita às directivas na falta de transposição pontual ou incorrecta.
O que na prática se tem verificado desde a adesão de Portugal as Comunidades Europeias tem sido um impulsionador do Direito
Comunitário do Ambiente: muitas das disposições nacionais de protecção do ambiente surgiram por causa de, e tiveram o seu
conteúdo influenciado por disposições de Direito Comunitário do ambiente.
Podemos concluir que a influência do Direito comunitário sobre o Direito Nacional é qualitativa e quantitativamente grande.

Desenvolvimento sustentável.
Houve, também, modificações introduzidas no artº 2 relativo aos objectivos da Comunidade. Pela primeira vez surge agora,
expressamente, o ambiente como “missão” fundamental da Comunidade, condição para a melhoria da “qualidade de vida”,
apenas compatível com um “crescimento sustentável” da economia.
Mas o que é crescimento ou progresso económico sustentável? A expressão doutrinalmente mais correcta é a de
desenvolvimento sustentável, que surgiu para contrapor à concepção clássica de crescimento económico que contabiliza a
riqueza nacional ignorando a existência e o estado de conservação dos recursos naturais. Os métodos utilizados para aferir a
riqueza de uma nação não nos dão uma ideia do bemestar do seu povo.
Analogamente, o crescimento económico sem preocupações com o ambiente, também se reflecte na riqueza nacional. Contudo,
o aumento da poluição e a degradação das componentes ambientais daí resultantes não são sinónimos de bem-estar social.
Nasce, então, uma reacção radical de alguns grupos ecologistas que se apercebem dos problemas ecológicos decorrentes do
crescimento económico. Põem em causa os valores defendidos pela sociedade de consumo e defendem o crescimento zero.
Surge a noção de desenvolvimento sustentável.
Subjacente a esta noção está a ideia de que os recursos naturais são escassos e esgotáveis e que, por isso, devem ser objecto de
uma utilização especialmente parcimoniosa e jurídica.

- Uma politica e estratégia de desenvolvimento económico e social contínuo, sem prejuízo do ambiente e recursos naturais, de
cuja qualidade depende a continuidade da actividade humana e do desenvolvimento.
(5º programa comunitário de acção em matéria de ambiente – Maio de 1993)
- Satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias
necessidades.
(Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas)

A importância do facto de a CRP prever no seu texto disposições relativas ao ambiente


O ambiente foi consagrado em 1976 na CRP como uma das tarefas fundamentais do estado.

As formas pelas quais o ambiente foi acolhido na CRP


A Forma é a protecção do ambiente em tribunal.
Artigo 20º da CRP; artigo 268º, nº 4 e 5; alínea a) do nº3 artigo 52º.

A importância atribuída pela CRP à defesa do ambiente em tribunal.


No artigo 20º da CRP consagra-se o que normalmente se denomina por “Direito à protecção jurisdicional efectiva”. De acordo com
esta norma, é garantido aos cidadãos o “ acesso ao direito e aos tribunais para a defesa dos seus direitos e interesses legalmente
protegidos”.

Este direito dos cidadãos tem enorme importância para a tutela das suas posições jurídicas subjectivas em tribunal, importância essa
que se torna ainda mais acentuada no caso especifico dos direitos fundamentais. Esta possibilidade de acesso à justiça, nos termos
latos em que é definida, torna-se no meio da inexistência, em Portugal, de um mecanismo específico de protecção de tais direitos
pelo Tribunal Constitucional.

O Ambiente é estabelecido na Constituição da República Portuguesa como um direito subjectivo fundamental.


Artigo 66.º nº2. Efectivamente o artigo 66.º estabelece que todos têm direito a um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado,
consagrado como um direito subjectivo fundamental de todos os cidadãos.

A Lei de Bases do Ambiente estabelece a protecção do Ambiente como um dever dos cidadãos
Efectivamente os artigos 2.º e 40.º da Lei de Bases do Ambiente estabelecem o princípio de que todos os cidadãos têm o dever de
defender um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado.

Os Estados-membros da União Europeia podem beneficiar de medidas derrogatórias de propostas de harmonização legislativa em
matéria ambiental
Sim, mas essa possibilidade é condicional estando sujeita à observação de certos requisitos.
Nos termos do artigo 191.º, n.º 2 é possível que um Estado-membro beneficie de medidas provisórias, mas estas não podem ter
como causa razões económicas e estão sujeitas a um processo de controlo. Por sua vez, o artigo 192.º, n.º 5 permite que quando
as medidas adoptadas representem um custo desproporcionado para um Estado-membro que este possa beneficiar de medidas
de derrogação temporárias.

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O desenvolvimento sustentável é um objectivo da política ambiental comunitária


Estando o mesmo previsto no Tratado da União Europeia.
O artigo 3.º do Tratado da União Europeia estabelece que esta está empenhada no desenvolvimento sustentável da Europa, o
qual assenta, nomeadamente, num nível elevado de protecção e no melhoramento da qualidade do ambiente.

O princípio do desenvolvimento sustentável está previsto na ordem jurídica portuguesa


Na Constituição Portuguesa e na Lei de Bases do Ambiente.
Efectivamente o princípio do desenvolvimento sustentável está previsto na ordem jurídica portuguesa, nomeadamente, na
Constituição Portuguesa (cfr. artigo 66.º, n.º 2) e na Lei de Bases do Ambiente (cfr. artigo 2.º, n.º 2; artigo 3.º, al. b); artigo 4.º, al.
a)).

O Direito de Acção Popular pode ser utilizado por um cidadão na defesa do ambiente, independentemente da existência de um
interesse pessoal
Sim, mas deverá estar no gozo dos seus direitos civis e políticos.
A Constituição da República Portuguesa e a Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto permitem que qualquer cidadão possa exercer o
direito de acção popular, independentemente de um interesse pessoal. O artigo 2.º da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto estabelece
que para isso o cidadão deverá estar «no gozo dos seus direitos civis e políticos».

Qualquer associação é titular do Direito de Acção Popular em matéria ambiental?


Sim, se a associação tiver como objecto social a defesa do ambiente.
Da redacção do artigo 52.º, n.º 3 da Constituição da República Portuguesa e do artigo 2.º da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto,
decorre que apenas podem exercer o direito de acção popular as associações que têm como objecto social a defesa do ambiente.

Para além das normas que integram o Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, existem na ordem jurídica portuguesa outras
normas relativas à Avaliação de Impacte Ambiental?
Sim, na Lei de Bases do Ambiente.
Efectivamente os artigos 30.º e 31.º da Lei de Bases do Ambiente estabelecem os princípios gerais a que devem obedecer os
estudos de avaliação de impacte ambiental.

Todos os projectos públicos para que possam ser executados deverão ser objecto de um procedimento de Avaliação de Impacte
Ambiental?
Não. Apenas estão sujeitos ao procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental os projectos que possam produzir efeitos
significativos no ambiente, nos termos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio.

Todos os projectos susceptíveis de produzirem efeitos significativos no ambiente estão sujeitos a Avaliação de Impacte
Ambiental?
Sim, embora alguns deles estejam ou possam ser dispensados da AIA.
A Avaliação de Impacte Ambiental não se aplica aos projectos destinados à defesa nacional (artigo 1.º, n.º 6 do Decreto-Lei n.º
69/2000, de 3 de Maio) e pode ser dispensado «em circunstâncias excepcionais e devidamente fundamentadas» por despacho
ministerial (artigo 3.º, n.º 1).

A protecção do ambiente não seja apenas uma competência dos Estados, mas também da Comunidade
A necessidade do Direito Comunitário do Ambiente: porque constitui uma especial preocupação das Instituições da Comunidade
Europeia?
a) O ambiente não conhece fronteiras há problemas ambientais transfronteiriços que exigem uma regulamentação
supranacional.
A protecção do ambiente só será eficaz se as normas de protecção das componentes ambientais forem iguais para todos os
Estados.
b) No território da UE as mercadorias circulam livremente as mercadorias que circulam entre Estados-membros tem que
obedecer às mesmas normas relativas às características técnicas, composição ou qualidade dos produtos potencialmente
poluentes, para diminuir a sua perigosidade.
c) No território da UE existe liberdade de estabelecimento e empresas e prestadores de serviços as regras sobre o funcionamento
de instalações industriais, como níveis máximos de poluição por emissões, tem que ser uniforme sob pena de haver deslocação
de indústrias poluentes para outros Estados onde as exigências ambientais sejam menores.
d) Um dos objectivos da UE é assegurar a liberdade de concorrência entre as empresas a liberdade estaria posta em causa se os
Estados-membros pudessem livremente manipular as condições ambientais de funcionamento no seu território.

As razoes que justificaram que a protecção do ambiente na Europa começasse a ser uma preocupação dos países europeus no
inicio da década de 70
Inicio dos anos 70, os países industrializados começaram a sentir com maior intensidade o problema da poluição devido,
também, a alguns acidentes graves como fugas de produtos tóxicos, marés negras devido a naufrágios de petroleiros, explosões
em instalações industriais… Havia que tomar medidas curativas para o problema.

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O fundamento para a adopção das primeiras medidas de protecção do ambiente da Comunidade Europeia
O Tratado de Roma (1957) institui a CEE. Não há, inicialmente, qualquer referência directa ao ambiente. Ate 1987, qualquer
abertura à protecção do ambiente pela CEE é muito limitada pois o Tratado, no artigo 100º, só permitia a adopção de medidas
em matérias que tivessem “incidência directa no estabelecimento ou no funcionamento do mercado comum”. A pouco e pouco
se caminharia para a adopção de medidas de protecção do ambiente, (v. artº 2, preâmbulo 3 do Tratado de Roma) e essas vagas
referências foram suficientes para fundamentar a protecção do ambiente como objectivo essencial da CEE.
O fundamento para a adopção destas medidas foi uma interpretação hábil das afirmações contidas no preambulo e no artigo 2º
do Tratado de Roma acerca dos objectivo da Comunidade.

Objectivos da acção da Comunidade em matéria de ambiente, após o Acto Único europeu


Em 1987, O Acto Único Europeu (Tratado celebrado em 1986 que constituiu a primeira grande revisão do Tratado de Roma e que
entrou em vigor em 1987), atribuiu, pela primeira vez, competências em matéria de protecção do ambiente à Comunidade.

Objectivos
- Preservar, proteger e melhorar a qualidade do ambiente. visão ecológica pura e propugna a protecção directa do ambiente
entendido como um fim em si mesmo.
- Contribuir para a protecção da saúde das pessoas.
Considera-se o bem jurídico ambiente numa perspectiva mais antropocêntrica e conservadora. Tal como está formulado é
demasiado restritivo e deveria ser ampliado, também, para a protecção da saúde dos seres vivos.
- Assegurar uma utilização pendente e racional dos recursos naturais advoga-se a protecção não instrumentalizada dos recursos
naturais. Orienta-se, novamente, a protecção da natureza para a sua utilização pelo homem na perspectiva de não exaustão
futura e da durabilidade dos recursos naturais. É a ideia de “desenvolvimento sustentável”.

Princípios
Artº 130R, no seu nº 2: princípios fundamentais do Direito Comunitário do Ambiente:
- Princípio da prevenção;
- Princípio da reparação na fonte;
- Princípio do poluidor pagador (PPP);
- Princípio da integração.

As principais alterações introduzidas pelo Tratado da União europeia ao artigo 130ºR


- Objectivos e Princípios
Continua actualmente prevista no artº 130R. Apenas foram introduzidas algumas alterações na redacção anterior pelo Tratado da
União Europeia. A saber:
1. Passa da “acção” da Comunidade em matéria de ambiente para “politica” da Comunidade em matéria de ambiente;
2. Acrescenta-se um quarto objectivo: a promoção, no plano internacional, de medidas destinadas a enfrentar os problemas
regionais e mundiais do ambiente.
3.Antes dos princípios foi aditado, no artº 130R, nº 2, a seguinte afirmação: « A politica da Comunidade no domínio do ambiente
visará a um nível de protecção elevado, tendo em conta a diversidade das situações existentes nas diferentes regiões da
Comunidade.»
4.À listagem de princípios foi acrescentado mais um: o princípio da precaução. É, tal vez a mais importante alteração.
5.O princípio da reparação na fonte passou a designar-se princípio da correcção na fonte. (natureza preventiva e antecipatória dos
danos)

Por que motivo é importante, em Portugal, conhecer o Direito Comunitário do Ambiente?


Decorre de aplicabilidade directa e primazia sobre o Direito Nacional.
Em relação à aplicabilidade directa significa que algumas normas do Direito Comunitário produzem efeitos automaticamente, a
partir do momento que entram em vigor, vinculando o Estado e cidadãos. A primazia significa que as normas de Direito
Comunitário gozam de prevalência hierárquica sobre o Direito Nacional obrigando a uma interpretação conforme o Direito
Comunitário e à desaplicação do Direito Nacional que o contrarie.
Devido ao atrás exposto, o Direito Comunitário derivado do Ambiente tem tido um papel corrector do Direito Nacional no que
respeita às directivas na falta de transposição pontual ou incorrecta.
O que na prática se tem verificado desde a adesão de Portugal as Comunidades Europeias tem sido um impulsionador do Direito
Comunitário do Ambiente: muitas das disposições nacionais de protecção do ambiente surgiram por causa de, e tiveram o seu
conteúdo influenciado por disposições de Direito Comunitário do ambiente.
Podemos concluir que a influência do Direito comunitário sobre o Direito Nacional é qualitativa e quantitativamente grande.

A Constituição Portuguesa consagra no artigo 52.º o «direito de acção popular».


Este instrumento jurídico pode ser utilizado na defesa do ambiente?
Sim, essa possibilidade é reconhecida expressamente pelo artigo 52.º, n.º 3, al. a).

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O artigo 176.º do Tratado da Comunidade Europeia prevê que «as medidas adoptadas por força do artigo 175.º não obstam a
que cada Estado-Membro mantenha ou introduza medidas de protecção reforçadas. Essas medidas devem ser compatíveis
com o presente Tratado e serão notificadas à Comissão». Comente.
Num discurso próprio e articulado, a/o estudante deverá comentar a norma do TCE, nomeadamente tendo em conta a relação
entre Direito Nacional e Direito Comunitário, e demonstrar as consequências práticas da sua aplicação.

Enumere as principais leis portuguesas destinadas especificamente à protecção do ambiente.


a) CRP;
b) Lei de Bases do Ambiente;
c) Código Civil;
d) Código Penal;
e) Código do procedimento administrativo;
f) Lei das Associações de Defesa do ambiente;
g) Decreto-lei de Avaliação de Impacte Ambiental;
h) Lei de Participação Procedimental e Acção Popular.

Qual o sentido geral da Lei das Bases do Ambiente na tarefa de protecção jurídica do ambiente?
Artigo 2.º
Princípio geral
1 - Todos os cidadãos têm direito a um ambiente humano e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender, incumbindo ao
Estado, por meio de organismos próprios e por apelo a iniciativas populares e comunitárias, promover a melhoria da qualidade
de vida, quer individual, quer colectiva.

Quais os componentes ambientais regulados pelas Lei de Bases do Ambiente?


a)Ar;
b) Luz;
c)Água;
d)Solo vivo;
e)Subsolo;
f)Flora;
g)Fauna.

Em que medida atribui a Lei das Associações de Defesa do Ambiente um papel decisivo a estas associações? Quais os principais
instrumentos de que esta dispõem, em face desta lei?
Nesta lei prevê-se a existência de associações de âmbito nacional, regional ou local, em função da área na qual desenvolvem a
sua acção e do número de associados, embora não se façam corresponder efeitos práticos a tal distinção (Lei nº 10/87 de 4 de
Abril).
- Principais direitos: as associações têm o direito de participação e intervenção na política do ambiente e nas grandes opções
legislativas sendo mesmo conferido ás que gozem de representatividade genérica*, o estatuto de parceiro social (artigo 4º);
direito de consulta e informação (artigo 5º); de promoção de meios administrativos com vista à defesa do ambiente (artigo 6º)
tendo legitimidade para propor acções em tribunal com carácter de prevenção ou cessação de actos lesivos do ambiente e para
recorrer judicialmente de actos administrativos violadores das normas legais protectoras do ambiente (artigo 7º).

Explique a importância da Lei nº83/95 de 31 de Agosto de 1995, na protecção do ambiente.


Dá consagração legal à norma contida no artigo 52, nº 3, CRP. Garante o direito de acção popular para defesa de determinados
interesses, entre os quais o ambiente, a todos os cidadãos, associações, fundações defensoras dos interesses nela protegidos e
ainda às autarquias locais.
Há dois direitos diferentes conferidos nesta lei: participação procedimental e acção popular. Quanto ao primeiro refere-se ao
direito de serem ouvidos, de participarem nos procedimentos relativos à adopção de planos de desenvolvimento de actividade
da Administração Pública, planos de urbanismo, planos directores e de ordenamento do território e às decisões sobre a
localização de obras públicas e outros investimentos públicos com impacte relevante no ambiente. Daí fazer-se anúncio público
para chamada de atenção à participação dos cidadãos. Quanto ao segundo, refere-se à possibilidade dos interessados poderem
recorrer aos tribunais para impugnar quaisquer actos administrativos lesivos do ambiente.
A lei prevê ainda importantes disposições relativas à responsabilidade civil e penal por violação dos interesses que protege (entre
os quais o ambiente) bem como à necessidade de realizar seguro de responsabilidade civil.

É possível enumerar taxativamente as actividade sujeita a avaliação de impacte ambiental


A Avaliação de Impacte Ambiental aplica-se apenas a projectos públicos ou privados com sentido de obras ou outras
intervenções no meio natural ou paisagem. Nem todos estão sujeitos a avaliação mas apenas aqueles que forem susceptíveis de
produzir efeitos significativos sobre o ambiente. (artigo 2).

A legislação nacional sobre a avaliação de impacte ambiental.

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A força jurídica do resultado da AIA pode considerar-se ambígua. Porque a sua não vinculatividade, ou seja, as autoridades com
competência para autorizar o projecto não estão inibidas de o fazer sempre que outras razões sociais ou económicas mais fortes
o justifiquem, constitui a sua principal fraqueza; ou seja uma protecção eficaz do ambiente exige que, sempre que a avaliação
ambiental de um projecto seja negativa (isto é, quando resultarem indícios de que a realização do projecto poderá causar danos
ambientais significativos9 o resultado da avaliação deva ser vinculativo, não podendo o projecto ser aprovado ou licenciado.

É sempre obrigatório fazer avaliação de impacte ambiental?


A avaliação de impacte ambiental é um procedimento administrativo que garante que, antes da autorização de um projecto, os
seus potenciais impactes significativos (positivos e negativos) sobre o ambiente, serão satisfatoriamente avaliados e tidos em
consideração. Este procedimento reúne o dono da obra, as autoridades públicas e o público em geral.

À luz da lei actual, se a avaliação de impacte ambiental de um projecto permitir concluir que os impactes ambientais desse
projecto serão negativos e muito significativos, ele não deverá realizar-se.
A descrição de medidas previstas para evitar, reduzir e remediar os eventuais impactes negativos é, especialmente importante
para o projecto vir a ser autorizado.

Resumo do Tópico 4:
O ambiente e a Administração Pública
Em que medida alguns dos princípios fundamentais do Direito do Ambiente reflectem o protagonismo atribuído ao Direito
Administrativo na protecção jurídica do ambiente.
O Principio da Prevenção tem neste domínio um relevo particular, devido à natureza muito própria de valores que se tutelam: é que
o bem jurídico ambiente, sobretudo no que diz respeito aos seus componentes naturais, tem uma natureza única que torna a sua
recuperação extremamente difícil, quando não for impossível. É evitar que tais comportamentos possam acarretar a degradação
daquele.
O artigo 3º, alínea a) da Lei de Bases do Ambiente “ as actuações com efeitos imediatos ou a prazo no ambiente” sejam “
considerados de forma antecipativa” de forma a eliminar ou reduzir as próprias causas de alteração do ambiente.

O Principio da Participação as normas jurídicas – administrativas reguladoras do procedimento administrativo definem que pode
participar, chamando a atenção para os interesses ambientais que possam ser de alguma forma afectados por decisões da
Administração em preparação.
Tais normas revelam hoje em Portugal, uma grande abertura para cidadãos individualmente considerados e associações
participarem.

O Principio da Cooperação pode ser encarado na dimensão internacional, quando se fala na integração da política ambiental com
outras políticas públicas. Designadamente a agrícola e a de desenvolvimento industrial. Tem fundamentalmente a ver com o direito
administrativo e com a AP.

Acto administrativo
É o principal acto jurídico da AP em países (como Portugal) que se inserem no sistema de administração executiva, acto esse que
reflecte os poderes de supremacia e autoridade da Administração. É portanto a figura principal do nosso Direito administrativo;
Decisões dos órgãos da Administração que ao abrigo de normas de direito publico visem produzir efeitos jurídicos numa situação
individual e concreto. Artigo 120º do CPA.

Os principais actos administrativos susceptíveis de produzirem efeitos ambientais.


a) Actos de controlo; (fiscalização) preventiva;
b) Declarações com efeitos jurídicos específicos;
c) Proibições;
d) Actos administrativos de «estímulo»;
e) Actos sancionatórios.

Explicar a importância do procedimento administrativo para a protecção do ambiente.


Há interligação entre aquele e esta ao longo do Código do Procedimento
Administrativo. Desde logo porque entre os objectivos prioritários estão os de regular a formação da vontade da Administração
para que sejam tomadas decisões justas, legais, úteis e oportunas; assegurar a informação dos interessados e a sua participação;
salvaguardar a transparência da acção administrativa… tudo que diz respeito à tutela jurídico-ambiental.
Grande importância do princípio da participação.
Indissociável da informação porque a participação não pode existir se não houver uma correcta informação. O préstimo desta
conjugação é inegável na protecção do ambiente.

Esta leitura deverá ser complementada com a consulta da Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87, de 7 de Abril, e alterações
subsequentes) e do Código de Procedimento Administrativo

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(Decreto-Lei n.º 442/91, de 15 de Novembro, e alterações subsequentes), que poderá obter recorrendo à colectânea de legislação
sugerida ou acedendo à pasta da legislação.

No mês passado, a Câmara Municipal de Monte do Paço apresentou uma proposta de delimitação da REN, a qual mereceu a
concordância da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional.

Como classificaria o acto administrativo que procedeu à delimitação da REN?


A declaração de delimitação de uma determinada área como Reserva Ecológica Nacional integra
o tipo de actos administrativos denominados «declarações com efeitos jurídicos específicos».

Quais os requisitos que devem ser observados para que uma determinada área seja declarada como REN?
A Reserva Ecológica Nacional pretende garantir a protecção de ecossistemas, de modo a assegurar a estabilidade ecológica e a
utilização racional dos recursos naturais, com vista à protecção das potencialidades biofísicas e culturais do território.
A REN deve estar de acordo com as orientações estratégicas de âmbito nacional e regional. A proposta de delimitação é
elaborada pela Câmara Municipal, devendo merecer a concordância da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional.

Quais as implicações dessa declaração?


A declaração de uma área como Reserva Ecológica Nacional implica uma série de condicionamentos quanto à ocupação, uso e
transformação do solo, nomeadamente, a proibição de operações de loteamento, de obras de urbanização, construção a
ampliação, de vias de comunicação, de escavações e aterros, e de destruição do revestimento vegetal.
Todas as obras e outro tipo de acções que configurem uma violação da REN devem ser embargadas e demolidas, incorrendo os
seus responsáveis em contra-ordenações.
Os actos administrativos que violem a REN são considerados como nulos, podendo os seus responsáveis incorrer em
responsabilidade civil.

Para além deste tipo de acto administrativo, que outros actos administrativos conhece?
Actos administrativos permissivos, ou seja, actos que permitem que alguém adopte uma determinada conduta ou omita um
determinado comportamento. É o caso da autorização, da licença, da concessão ou da delegação.
Actos administrativos de comando, ou seja, actos que impõem a alguém a adopção de uma conduta positiva ou negativa. É o
caso das proibições ou das ordens.
Actos administrativos punitivos, ou seja, actos que impõem uma sanção a alguém. É o caso da aplicação de coimas e de sanções
acessórias.
Actos administrativos de estímulo, ou seja, actos que pretendem incentivar alguém a adoptar uma determinada conduta. É o
caso das subvenções ou das isenções.

Em que medida os cidadãos podem participar no processo de adopção desses actos administrativos?
O processo administrativo prevê um conjunto de mecanismos que asseguram a participação dos interessados:
- Direito de intervenção (artigo 52.º do Código de Procedimento Administrativo - CPA) e legitimidade para iniciar um
procedimento administrativo (artigo 53.º/CPA);
- Direito à informação sobre o andamento dos processos (artigo 61.º/CPA), o que implica, nomeadamente, a possibilidade de
consultar o processo e obter certidões (artigo
62.º/CPA);
- Direito de audiência dos interessados (artigo 100.º/CPA);
- Direito de petição (artigo 115.º/CPA);
- Submissão de propostas a discussão pública (artigo 118.º/CPA);
- Direito de reclamação e de recurso (artigo 158.º/CPA).

Indique os tipos de actos administrativos sancionatórios que conhece e apresente exemplos concretos para cada um deles.
Coimas e sanções acessórias.

Direito Administrativo como o principal ramo clássico do Direito na ordenação jurídica dos problemas ambientais
O Direito Administrativo ocupa a posição de maior protagonismo na disciplina jurídica do ambiente porque é através dos meios e
instrumentos do Direito Administrativo clássico que se regulam juridicamente os componentes relativos ao ambiente. Assim, o
Direito Administrativo é o Direito que regula a organização e a actuação da Administração Pública sempre que esta usa os seus
poderes especiais de autoridade em face dos particulares. Na prossecução do interesse público, a Administração recorre a meios
autoritários de Direito Administrativo, estabelecendo diversas relações entre os seus órgãos e agentes e entre estes e os
particulares.

Administração Publica o principal actor na defesa e promoção do ambiente


A Administração Pública é o principal actor na defesa e incentivo do Ambiente porque a “saúde” deste depende das políticas
daquela. Em diversos países tem-se assistido há vários anos, a nível governamental, da criação dos Ministérios do Ambiente, mas

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também o mesmo tem acontecido, em virtude do desenvolvimento sustentável, a uma distribuição horizontal das tarefas pelas
instituições locais, regionais e nacionais.

As autorizações são actos administrativos de grande importância. Caracterize as modificações que o Direito do Ambiente tem
trazido a estes actos.
Acto administrativo com interesse muito especial. Praticado pela Administração em beneficio dos particulares uma vez que afasta
limitações em situações concretas. Com os novos condicionalismos colocados à livre actividade e iniciativa económica dos
particulares, as autorizações têm tido de se adaptar a novas realidades.

Quais os principais instrumentos facultados pelo procedimento administrativo (nomeadamente de entre aqueles previstos pelo
Código do Procedimento Administrativo) na defesa do ambiente?
Decreto-lei nº 442/91, de 15 de Novembro ponto 4 CPA.

Será que os tribunais administrativos têm um papel importante na tutela do ambiente?


Uma das notas definidoras do contencioso administrativo é a nota orgânica que “exige” que seja um tribunal administrativo a
resolver o litígio. Tendo os tribunais comuns a competência-regra para conhecer os litígios jurídico-ambientais, cabe aos tribunais
administrativos o adequado entendimento do princípio da prevenção em matéria jurídico-ambiental. É quando a Administração
pratica actos como a violação das normas comprometendo a qualidade do ambiente que os tribunais administrativos surgem como
o local para reagir contra esses actos, nomeadamente, o recurso ao contencioso de anulação do respectivo acto.
Estes também se julgam capazes para efectivar acções de responsabilidade do Estado.

Resumo do Tópico 5:
A reacção às condutas violadoras do ambiente

Indicar os pressupostos da responsabilidade civil.


É um instinto cuja antiguidade remonta ao Direito Romano. Evoluiu porque teve que se adaptar às necessidades postas pelas
sociedades modernas. Em muitos casos revela-se um meio inadequado de lidar com os atentados ao ambiente.

Conhecer e explicar os fundamentos das novas formas de responsabilidade civil.


Porque nem sempre se verificam os pressupostos atrás descritos, novas formas de responsabilidade tiveram que ser
equacionadas para superar este impasse. Surge, assim, a responsabilidade sem culpa ou objectiva nas modalidades de
responsabilidade pelo risco e responsabilidade por factos lícitos.
Estas formas prescindem do pressuposto subjectivo – aquele cuja prova é a imputação subjectiva do facto ao lesante, a culpa, na
forma de dolo ou negligência.
Os fundamentos da atribuição de responsabilidade sem culpa são diferentes nos casos de responsabilidade pelo risco e por
factos lícitos. Na primeira é o fundamento da justiça distributiva; no segundo também, apesar de serem casos diferentes.

A adequação do instituto da responsabilidade civil à protecção dos bens ambientais.


Serão sempre mais adequados os novos instrumentos de protecção jurídica como os de cariz preventivo como é o caso da
avaliação de impacte ambiental, a eco-rotulagem, as eco-auditorias, etc.

Crimes que de forma autónoma protegem o ambiente.


Código Penal de 1982. A Revisão de 1995 introduziu alterações como algumas neocriminalizações como é o caso do crime de
danos contra a natureza e do crime de poluição os quais constituem verdadeiros crimes ecológicos por protegerem o ambiente
de forma directa.
a) Neocriminalização - Qualificação como crime de uma conduta até então vista como não criminosa.
b) Crime - Conduta descrita num tipo legal de crime da Parte Especial do Código Penal por ser desvaliosa do ponto de vista
do bem a proteger.
c) Direito Penal - Conjunto de normas jurídicas que ligam a certos comportamentos humanos, os crimes, determinadas
consequências jurídicas, sendo a mais relevante a pena. As principais são as penas de prisão e de multa.
d) Carácter subsidiário ou de ultima ratio - do direito penal traduz-se no facto de que este só deve intervir qualificando
uma conduta como crime e fazendo-lhe corresponder uma sanção quando as sanções impostas por outros ramos do
direito forem ineficazes ou insuficientes para proteger o bem jurídico.
e) Eficácia da intervenção penal - Aptidão dos meios de natureza penal para, em certos casos, proteger o bem jurídico.

Interesse difuso
São um tipo de interesse transindividual ou metaindividual, isto é, pertencem a um grupo, classe ou categoria
indeterminável de pessoas, que são reunidas entre si pela mesma situação de fato. Eles têm natureza indivisível, ou seja,
são compartilhados em igual medida por todos os integrantes do grupo. Exemplos: os moradores de uma região atingida
pela poluição ambiental, ou os destinatários de uma propaganda enganosa divulgada pela televisão.

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Dano ambiental acumulado


É provocado ou por poluição cumulativa, em que varias condutas idênticas contribuem para um dano global, sendo impossível
individualizar um responsável, ou uma poluição em cadeia em que condutas diferentes produzem o mesmo dano, sendo igualmente
impossível avaliar as responsabilidades individuais.

A eficácia da tutela penal do ambiente


A intervenção do direito penal nas questões ambientais só deve ocorrer se possuir um carácter de efectividade na defesa do bem
jurídico. Rejeitamos aquilo a que se tem chamado direito penal simbólico. Assim, a eficácia da intervenção penal na protecção do
ambiente depende do efectivo sancionamento das condutas proibidas e do conhecimento que a comunidade adquira da
aplicação de penas a esses comportamentos.

Importância do direito de mera ordenação social na tutela do ambiente


O Direito de mera ordenação social é o direito administrativo de natureza sancionatória especialmente vocacionado para a
protecção do ambiente. Afirme-se a sua autonomia perante o direito penal reconhecendo-lhe especificidades dogmáticas,
sancionatórias e processuais.

Apreciar criticamente a dupla função, repressiva e preventiva, do direito de mera ordenação social.
Dois vectores de sinal contrário convergem no direito do ambiente:
a) Tutela penal – corresponde a uma neocriminalização;
b) Tutela ambiental – a cargo do direito de mera ordenação social cuja génese assenta numa ideia de descriminalização.
Tutela penal, repressiva; tutela ambiental, preventiva; ilícito de mera ordenação social ocupará uma posição intermédia.

- Em que medida é que o regime do ilícito de mera ordenação social confirma ao intuitos preventivos:
1. Especifica compreensão de que a culpa deve ser aqui objecto, configurando-a como mera imputação do facto à
responsabilidade social do seu autor, facilita a punição do agente poluidor.
2. A punição regra da tentativa e da negligência nas contra-ordenações ambientais.
3. A própria noção de coima enquanto aviso ao cidadão que faltou ao seu dever de colaborar na prossecução dos interesses do
Estado…
4. Consequências jurídicas da infracção no que diz respeito às várias sanções acessórias.

Podem bem ser mais prejudiciais para o condenado do que a própria coima.
5. Ponto de vista processual: conhecimento e sancionamento do ilícito atribuído às autoridades administrativas com a intenção
de fomentar a proximidade entre as autoridades fiscalizadoras e os eventuais infractores com o intuito de potenciar a celeridade
e eficácia daquela intervenção.
Acreditando na aptidão do direito de mera ordenação social para sancionar as infracções ambientais e, mais do que isso, prevenir
a ocorrência de tais prejuízos ecológicos, cremos poder concluir pelo seu melhor posicionamento para a tutela ambiental
relativamente ao direito penal.

Enuncie os pressupostos de aplicação da responsabilidade civil e demonstre a sua adequação na protecção do ambiente.
Os pressupostos são: a existência de um facto ilícito, a existência de um dano, um nexo de causalidade entre facto e dano e a
imputação do facto a um agente.

A eficácia do Direito Penal na protecção do Ambiente.


Num discurso próprio e crítico, a/o estudante deverá enunciar as principais questões suscitadas pela aplicação do Direito Penal
em matéria ambiental, comparando-o com a utilização de outros instrumentos de reacção às condutas violadoras.

Na sua opinião, qual o fundamento da preferência do legislador português pela reparação da situação anterior, no caso de
terem sido causados danos ao ambiente?
O legislador adoptou um critério formal para qualificar uma conduta como contraordenação, o que equivale a dizer que é a
previsão da coima como sanção para um facto que o integra no ilícito de mera ordenação social.

Porque é que a responsabilidade civil não é o instituto mais adequado para a defesa global do ambiente?
Seja qual for a vertente, a responsabilidade civil não se revela adequada a certas formas de dano, sobretudo danos ecológicos
mas também certos danos ambientais.
Danos ecológicos são danos sem lesados individuais e danos sem causador determinado. Nestes casos não existe qualquer
esquema de lesante/lesado, mas tão somente o interesse global de defesa do ambiente. Mas mesmo nos casos com
lesante/lesado, o instituto da responsabilidade civil é inadequado porque as actividades poluentes são muito lucrativas e são
encaradas pelo poluidor como “custos de produção com direito a pagamento diferido” e, às vezes, “que não serão sequer pagos”
devido às normais demoras dos processos judiciais.
Em suma, pode-se afirmar que a responsabilidade civil raramente pode ser um instrumento eficaz para evitar lesões ao ambiente
porque ele actua depois e em consequência de uma lesão grave do ambiente. Serão sempre mais adequados os novos

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instrumentos de protecção jurídica como os de cariz preventivo como é o caso da avaliação de impacte ambiental, a eco-
rotulagem, as eco-auditorias, etc.

Indique os aspectos que na sua opinião são demonstrativos do carácter preventivo das contra-ordenações.
a) Especifica compreensão de que a culpa deve ser aqui objecto, configurando-a como mera imputação do facto à
responsabilidade social do seu autor, facilita a punição do agente poluidor.
b) A punição regra da tentativa e da negligencia nas contra-ordenações ambientais.
c) A própria noção de coima enquanto aviso ao cidadão que faltou ao seu dever de colaborar na prossecução dos
interesses do Estado…
d) Consequências jurídicas da infracção no que diz respeito às varias sanções acessórias. Podem bem ser mais
prejudiciais para o condenado do que a própria coima.
e) Ponto de vista processual: conhecimento e sancionamento do ilícito atribuído às autoridades administrativas
com a intenção de fomentar a proximidade entre as autoridades fiscalizadoras e os eventuais infractores com o
intuito de potenciar a celeridade e eficácia daquela intervenção.

Como esta configurada a responsabilidade civil na Lei de Bases do ambiente?


A lei prevê ainda importantes disposições relativas à responsabilidade civil e penal por violação dos interesses que protege (entre
os quais o ambiente) bem como à necessidade de realizar seguro de responsabilidade civil.

Origem da responsabilidade civil extracontratual


Contrapõe-se à responsabilidade civil contratual que é a que resulta do incumprimento de um contrato pré-existente entre dois
indivíduos. Ocupamo-nos, agora, da primeira.
A responsabilidade civil extracontratual tem mais de vinte séculos de existência. Foi no ano de 286 a.C. que a lex aquilia de
damno estabelecia um direito de indemnização a favor do dono de um escravo ou de um quadrúpede injustificadamente morto
por um terceiro e estabelecia a correspondente obrigação de o lesante pagar ao dono o valor da rês nesse caso. Surge, assim, o
instituto da responsabilidade civil que perdura até aos nossos dias. Figura consagrada no artigo 483 do Código Civil Português.

Evolução da responsabilidade civil


Ainda hoje, a figura da responsabilidade civil aquiliana está consagrada no Código Civil Português (artigo 483), bem como a
obrigação de indemnização (artigo 562) e o modo de reparação do dano (artigo 564).

Pressupostos da responsabilidade civil


Um individuo é civilmente responsável perante outro, quando:
a) Há existência de um facto (dano que seja resultado de uma acção ou omissão voluntária do lesante);
b) O facto tem que ser ilícito (deve ser resultado da violação de um direito alheio ou de uma lei que proteja esses interesses);
c) Imputação do facto ao agente seja a título de dolo ou a titulo de negligencia;
d) Existência de um dano (o facto tem que ter causado prejuízos).

Dois tipos de dano:


1. Patrimonial – incide sobre bens económicos. Susceptível de ser avaliado em dinheiro como é o caso da destruição de um bem
móvel ou deterioração de um bem imóvel.
2. Não patrimonial – incide sobre bens não económicos como a saúde, a tranquilidade, beleza, honra e, por isso, não susceptível
de avaliação pecuniária. São exemplos as dores, o desgosto, a ansiedade, a vergonha, etc. O dinheiro pode proporcionar algumas
satisfações, se se atribuir a quem sofrer esses danos, podendo, de alguma forma, compensar o dano sofrido.

f) Existência de um nexo de causalidade entre o facto e o dano. Sá assim há responsabilidade civil. A causalidade não tem
que ser determinista mas probabilística.

Novas formas de responsabilidade civil


Porque nem sempre se verificam os pressupostos atrás descritos, novas formas de responsabilidade tiveram que ser
equacionadas para superar este impasse. Surge, assim, a responsabilidade sem culpa ou objectiva nas modalidades de
responsabilidade pelo risco e responsabilidade por factos lícitos.
Estas formas prescindem do pressuposto subjectivo – aquele cuja prova é a imputação subjectiva do facto ao lesante, a culpa, na
forma de dolo ou negligência.
Os fundamentos da atribuição de responsabilidade sem culpa são diferentes nos casos de responsabilidade pelo risco e por
factos lícitos. Na primeira é o fundamento da justiça distributiva; no segundo também, apesar de serem casos diferentes.

A responsabilidade civil e a protecção do ambiente


A Lei de Bases do Ambiente atribui grande importância à responsabilidade civil dedicando-lhe alguns artigos.

Lei de Bases do Ambiente


Sobre a responsabilidade civil:
- Artigo 3º, alínea h) – princípio da responsabilização;

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- Nº 4 do artigo 40 – direito subjectivo ao ambiente;


- Artigo 41 – responsabilidade objectiva por danos ao ambiente;
- Artigo 43 – indemnizações e insolvência
- Artigo 48 – formas de reparação do dano.

Podem as pessoas colectivas ser punidas pela prática de crimes ecológicos?


Inclusão dos crimes contra o ambiente no Código Penal e não em legislação extravagante impede a responsabilização criminal
das pessoas colectivas e é sabido que são elas, em regra, os principais agentes poluidores. Essa impossibilidade de
responsabilidade criminal das pessoas colectivas, por força do carácter pessoal da responsabilidade criminal no direito penal
clássico ou de justiça (artigo 11º do Código
Penal).

Qual a configuração jurídica dos crimes ecológicos b e quais as vantagens que esta apresenta relativamente as restantes
possibilidades?
A configuração jurídica dos crimes contra o ambiente, teoricamente, pode ser concebida como:
a) Crimes de dano: necessária a lesão efectiva do interesse ou objecto tutelado pela norma;
b) Crime de perigo concreto: necessária a verificação efectiva de um perigo para o interesse ou objecto protegido;
c) Crime de perigo abstracto: consuma-se pela mera adopção de uma conduta que o legislador presume, sem exigir prova em
contrário, que é perigosa para o interesse ou objecto protegido.
d) Crime de perigo abstracto-concreto: consuma-se quando a conduta adoptada for idónea a criar o perigo para o interesse ou
objecto protegido.

Pode uma associação de defesa do ambiente intervir no processo penal em que se aprecie um crime ecológico? De que forma?
É no processo penal que se vai investigar a existência de um crime, determinar quem foi o seu agente, recolher provas
necessárias para se proceder ao seu julgamento e eventual condenação. A vítima do crime pode constituir-se assistente no
processo, mas nem todas, mas apenas aquelas que são titulares do interesse que a incriminação do interesse visou proteger
(artigo 68º do Código do Processo Penal). Esta participação tem importantíssimas consequências práticas porque tem direitos
como participar activamente na tramitação processual e na conformação da própria decisão final (artigo 69º do Código do
Processo Penal).
Pela lei nº 83/95 de 31 de Agosto, reconhece-se expressamente aos titulares do direito de acção de popular, a possibilidade de se
constituírem assistentes no processo penal, tornando-se essa possibilidade inequívoca.

A consideração dos crimes ecológicos como normas penais em branco origina a sua inconstitucionalidade?
A configuração dos crimes ecológicos como de desobediência a prescrições administrativas faz deles normas penais em branco
porque o total preenchimento do tipo legal de crime só pode ser feito por remissão para outras normas, i.e., há que ter em conta
também, o prescrito em normas de natureza administrativa.

Considera que o direito penal pode ter uma intervenção eficaz na protecção do ambiente?
A intervenção do direito penal nas questões ambientais só deve ocorrer se possuir um carácter de efectividade na defesa do bem
jurídico. Rejeitamos aquilo a que se tem chamado direito penal simbólico. Assim, a eficácia da intervenção penal na protecção do
ambiente depende do efectivo sancionamento das condutas proibidas e do conhecimento que a comunidade adquira da
aplicação de penas a esses comportamentos.

Quais as razoes que justificam o aparecimento do direito de mera ordenação social?


Hipercriminalização – excessivo alargamento do direito penal a áreas para as quais não foi pensado. A reacção a esta acção
indesejável dá-se através do fenómeno inverso, ou seja, a descriminalização enquanto desqualificação de uma conduta como
crime. Assim, o direito de mera ordenação social não é nem pretende ser direito penal, antes se configurando como direito
administrativo de carácter sancionatório. Ele é, então, expressão de três fundamentais objectivos:
1. Retirar dos quadros do direito penal aquelas infracções que não possuem relevância ética;
2. Guardar o conteúdo ético que vive nas sanções penais para comportamentos também eticamente relevantes;
3. Permitir o aparecimento de sanções diversas das penais e atribuir aos agentes administrativos a faculdade de os aplicar.

Como se distingue a coima, enquanto sanção especifica do ilícito de mera ordenação social, da pena de multa?
Sanção pecuniária oscilando entre um limite mínimo e um máximo consoante o agente seja uma pessoa singular ou colectiva e
também consoante a conduta seja dolosa ou meramente negligente. Assim, os critérios para determinar o montante da coima
são: a gravidade da contra-ordenação, a culpa; a situação económica do agente e o beneficio económico retirado da infracção
pelo agente responsável pela conduta.
A coima não é algo de análogo à multa, porque esta tem finalidade exclusivamente preventiva e a primeira é uma mera
advertência ao cidadão faltoso. (p. 181 manual)
Assim se o agente condenado não pagar uma multa, quer voluntária quer coercivamente, terá que cumprir pena de prisão o que
já não acontece no caso da coima. Aqui há várias hipóteses a considerar:
- A autoridade administrativa ou o tribunal podem autorizar o pagamento no prazo de um ano ou em prestações conforme a
situação económica do agente;

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- O condenado pode pedir (requerer) a substituição desta por prestação de trabalho a favor da comunidade;
- Se não se verificar nada do anterior exposto, a coima prescreve. E não haverá, em caso algum, cumprimento de uma pena de
prisão por força deste não pagamento.

Diga quais as fases do processo contra - ordenacional, indicando os momentos mais relevantes de cada uma delas.
Duas fases distintas e autónomas entre si no processo contra-ordenacional:
1. Fase administrativa – a autoridade competente investiga o ilícito e, caso recolha indícios suficientes, o sanciona;
2. Fase judicial – é meramente eventual porque a sua existência depende da vontade do particular que ficou descontente com a
condenação da autoridade administrativa.

Indique algumas especifidades das contra - ordenações.


a) A fase administrativa do processo esta configurada de forma bilateral. De um lado a Administração sancionada e do outro o
agente poluidor. Neste caso a intervenção das associações de defesa do ambiente e dos particulares é muito limitada.
b) A intervenção do Ministério Público na fase administrativa do processo é também praticamente inexistente. A competência
cabe exclusivamente à Administração.
c) Na fase judicial, a situação inverte-se tendo, agora, o Ministério Público, uma posição dominante. Pode evitar o sancionamento
do agente poluidor bastando ouvir a autoridade administrativa mas não sendo obrigado a fazê-lo, nem, caso a ouça, a ficar
vinculado na sua decisão.

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