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Fo
Curso de
ren se
l in g u a g e m e Construção
de T exto no D ir e it o
Vl C T D R
Ga b r ie l
Rd d r íg u e z
2- E d iç ã o a m p l ia d a
COM C A P ÍTU LO SO B R E
M o n o g r a f ia J u r íd ic a
D ad os Internacionais de C a t a lo g aç ão n a P ublicação (CIP)
(C â m a r a B rasileira do L ivro, S P , B rasil )
Bibliografia.
02-4241 CDU-340.113.2
Í n d ic e p a r a C a t á l o g o S is t e m á t ic o
Diagramação
Elaine Cristina de Oliveira
Revisão
Ademar Lopes Junior
Capa
Equipe LZN
| V|
Sumário
Introdução.............................................................................................................1
A redação como parte da advocacia.........................................................1
Sanando dúvidas preliminares....................................................................2
[VII|
3.2 O número dos autos e a referência..............................................157
3.3 O parágrafo inicial: O nome das partes e o tipo de ação....... 158
3.4 A narração dos fatos...................................................................... 160
3.4.1 Características do texto narrativo..........................................162
3.4.2 Primeiro passo: Selecionar os fatos a serem narrados....... 164
3.4.3 A função argumentativa da narração.....................................176
3.4.4 A seleção dos fatos e a prova processual: Fatos contro
versos e incontroversos............................................................179
3.4.5 Quando narrar os fatos.............................................................182
3.4.6 Conclusão................................................................................... 184
3.4.7 O modo de dispor os fatos selecionados..............................185
3.4.7.1 O decurso do tempo e os tipos de narrativa: Linearidade
e não-linearidade....................................................................... 185
3.4.7.2 As funções da narração alinear...............................................188
3.4.8 Os meios de enunciar o transcurso do tempo..................... 193
3.4.8.10 tempo verbal.................................................................195
3.4.8.1.10 tempo verbal em relação ao momentoda enunciação 195
3.4.8.1.2Tempo verbal em relação a outraação narrada no texto 197
3.4.8.2Outras formas de demarcar o tempo: A utilização de
advérbios e locuções adverbiais.............................................201
3.4.9 Os erros mais comuns nas narrações jurídicas.................... 202
3.5 Relembrando................................................................................... 205
3.6 Exercícios........................................................................................ 207
Anexo de Notas..............................................................................213
Lição 4. Argumentação jurídica........................................................215
4.1 Introdução........................................................................................ 215
4.2 Características do texto argumentativo......................................217
4.3 O argumento: Conceito e alcance...............................................219
4.4 Iniciando a argumentação: O leitor como alvo dotexto..........224
4.5 Selecionando os elementos: Os tipos deargumento.................227
4.5.1 Argumento de prova................................................................. 228
4.5.1.1 A prova testemunhai................................................................233
4.5.1.20 argumento de prova técnica...............................................234
4.5.1.30 argumento de prova documental...................................... 236
4.5.2 Outros tipos de argumento...................................................... 238
4.5.2.1 O argumento ab autoritatem...................................................... 239
4.5.2.20 argumento contrario setisu...................................................... 215
Iviu1
4.5.2.30 argumento a simili ou por analogia...........................248
4.5.2.40 argumento a jortion...............................................................253
4.5.2.50 argumento a completudine......................................................256
4.5.2.60 argumento a coherentia..........................................................258
4.5.2.70 argumento psicológico.........................................................260
4.5.2.80 argumento ao absurdo.........................................................261
4.5.2.90 argumento de senso comum...............................................263
4.5.2.10 O argumento de competêncialingüística.......................... 265
4.5.2.11 O argumento de fuga........................................................... 266
4.6 Ordenando os argumentos............................................................269
4.7 O cuidado na seleçào de argumentos:A coerência...................270
4.8 Várias teses em uma mesma perição. Teses principais e teses
subsidiárias.......................................................................................272
4.9 A conclusão da peça argumentativa:O pedido......................... 274
4.10 A sentença como lugarda argumentação...........................276
4.11 Conclusão................................................................................27 8
4.12 Resumo....................................................................................279
4.13 Exercícios................................................................................281
Anexo de Notas......................................................................................285
Lição 5. Escrevendo: Estrutura da frase e pontuação......................... 287
5.1 Introdução........................................................................................ 287
5.2 A estrutura da frase........................................................................289
5.3 Frase, oração e período.................................................................291
5.3.1 A frase............................................................................................291
5.3.2 A oração........................................................................................ 292
5.3.3 O período..................................................................................... 292
5.4 Estudando a oração.......................................................................293
5.4.1 Termos essenciais da oração: sujeito e predicado.................293
5.4.1.1Tipos de sujeito.........................................................................296
5.4.1.2Tipos de predicado.............................. ....................................255
5.4.2 Termos integrantes da oração: Complemento
verbal, complemento nominal, agente da passiva.................300
5.4.2.1 Complemento verbal: Objeto direto e objeto indireto......300
5.4.2.2 Complemento nominal............................................................... 302
5.4>2.3Agente da passiva.....................................................................303
5.4.3 Termos acessórios da oração: Adjunto adverbial, adjunto
adnominal, aposto e vocativo................................................... 304
5.4.3.1 Adjunto adnominal................................................................... 304
5.4.3.2Adjunto adverbial..................................................................... 305
5.4.3.3 Aposto......................................................................................... 307
5.4.3.4Vocativo...................................................................................... 308
5.4.4 Conclusão....................................................................................308
5.5 Uso da vírgula dentro da oração..................................................308
5.5.1 Ordem dos termos da oração..................................................309
5.5.2 Não use a vírgula......................................................................... 310
5.5.3 Use a vírgula..................................................................................311
5.6 O período com mais de uma oração.............................................313
5.6.1 As orações subordinadas..........................................................314
5.6.1.1 Orações subordinadas substantivas.........................................315
5.6.1.2 Orações subordinadas adjetivas...............................................319
5.6.1.3 Orações subordinadas adverbiais.............................................323
5.6.1.4Orações subordinadas reduzidas..............................................327
5.6.2 Orações coordenadas...................................................................331
5.6.2.1 Orações coordenadas assindéticas...........................................332
5.6.2.2 Orações coordenadas sindéticas..............................................332
5.7 A vírgula entre as orações do período..........................................334
5.7.1 As orações subordinadas substantivas................................... 334
5.7.2 Orações subordinadas adjetivas...............................................335
5.7.3 Orações subordinadas adverbiais.............................................336
5.7.4 Orações subordinadas reduzidas..............................................336
5.7.5 Orações coordenadas.................................................................337
5.8 Conclusão e Exercícios...................................................................338
Anexo de Notas........................................................................................ 350
| X|
6.6 Resumo................................................................................................373
Anexo de Notas.........................................................................................374
Liçao 8. A monografia...................................................................................409
8.1 Introdução...........................................................................................409
8.2 Vamos falar em ciência?.................................................................. 410
8.3 Atribuindo cienrificidade ao escrito: A originalidade................410
8.4 A monografia final de curso de direito......................................... 413
8.5 Cienrificidade do texto jurídico. Veridicidade científica........... 420
8.6 Citações e referências...................................................................... 422
8.7 Estrutura da monografia e etapas de elaboração........................427
8.8 Dicas especiais de redação............................................................... 433
8.9 Conclusão...........................................................................................434
Anexo de Notas.........................................................................................436
Bibliografia......................................................................................................439
[XI]
Introdução
que nào exista tempo hábil para a elaboração de argüiçòes mais volumo
sas e, aparentemente, completas. Diante dessa premissa, mais que notó
ria, o advogado pode passar a pensar que sua petição, como um todo,
merece menor trabalho, sendo a boa redação sinônimo de prolixidade e
arcaísmo, por demais inadequada à consecução de resultados. Nesse con
texto, importaria a capacidade de articular a petição de forma mais sucin
ta possível, “acertando” a tese pleiteada e deixando ao magistrado a aná
lise pura dos elementos probatórios colhidos na instrução do processo,
sendo despiciendas grandes interferências textuais que, a bem da verda
de, correm o risco de, ao se aprofundarem em detalhes, nào serem inte
gralmente apreciadas.
Esse posicionamento, como visto acima, tem sua lógica própria,
mas parte de uma observação reduzida da realidade e de uma idéia equi
vocada a respeito da escrita competente. Primeiramente, a boa escrita
nào significa, forçosamente, a escrita dclongada, prolixa e repleta de pre-
ciosismos. Na verdade, escrever bem é escrever com clareza, ordem e
método, sem precisar delongar-se em idéias de pouca relevância para o
resultado final da demanda. Um dos fatores pelo qual se constrói o bom
texto é a seleção dos argumentos e elementos a serem enunciados, ou
seja, a capacidade de delongar-se naquilo que é mais importante, e ser
sucinto quanto ao que é, no contexto, periférico. Portanto, nesse primeiro
ponto, o estudo da construção textual é, novamente, fator essencial, vez
que visa a —ao contrário de tornar o texto mais complexo e, portanto,
menos acessível ao interlocutor —fazer o texto claro até mesmo àquele
que dispõe de pouco tempo para a ele se ater, permitindo a leitura fluen
te, sem confusões de estilo.
Mas é natural que, a partir do momento em que o profissional se
sente mais seguro ao redigir, ordenando idéias com maior coerência e fa
zendo-as fluir no texto escrito, procure ser mas cuidadoso em sua exposi
ção textual, e, assim, passe a expor ao Poder Judiciário sua tese em maio
res detalhes, não deixando premissas por analisar e preocupando-se em
construir uma fundamentação mais convincente para sua tese. articulan
do argumentos que outrora seriam dispensáveis. Essa reação é natural e
nào deve, de maneira alguma, ser entendida como prolixidade inútil, ina
dequada portanto ao ritmo de trabalho atual e à sobrecarga de processos
por que passa o nosso Poder Judiciário. Afinal, uma argumentação deta
lhada, quando necessária, nào pode ser motivo para nào apreciação pelo
6 M anual de Redação Forense
destinatário do texto, sob pena de estar ele furtando-se ao dever que lhe
impinge sua função.
A defesa escrita deve, por força constitucional, ser apreciada pelo
Poder Judiciário em sua íntegra. Nenhum acúmulo de serviço congênere
pode ser invocado frente ao princípio da ampla defesa, do devido proces
so legal, ou, ainda, do princípio de que a lei não pode afastar da aprecia
ção do Poder Judiciário lesao ou ameaça a direito, todos eles elevados à
função de garantia fundamental do artigo 5U da Carta Constitucional.
Voltaremos a isso mais adiante, quando tratarmos da decisão judicial como
espaço argumentativo, mas vale o alerta: quando relevante, o bom texto,
ainda que mais extenso, merece apreciação e assim o Direito resguarda
caminhos, até última instância, para que todos os argumentos expendidos
pela parte sejam devidamente analisados e sopesados antes de que se
profira qualquer decisão. Então, quando se entra na seara da argumenta
ção mais detalhada, do texto mais conclusivo, e preciso lembrar-se de
que, quando ele se faz imprescindível, deve desse modo ser construído e,
para tanto, é evidente a necessidade de capacidade redacional mais apu
rada. E esse o caso, por exemplo, dos recursos formulados ao Supremo
Tribunal Federal e ao Supremo Tribunal de Justiça, que exigem, por força
de entendimento sumular, argumentação mais detalhada até para que se
jam admitidos. Isso também será objeto de estudo posterior.
Se, então, a sobrecarga de trabalho, seja do advogado, seja do desti
natário de suas petições, nào pode ser invocada como fator da desneces
sidade de recorrer-se ao estudo do texto como instrumental do trabalho
da advocacia, por outro o dinamismo das relações de comunicação atuais
tampouco serve para que se entenda o estudo da língua portuguesa e das
técnicas de seu uso eficiente como algo menos primordial para o opera
dor do direito.
É certo que vários recursos e necessidades vêm, hoje, a tomar mais
dinâmica a comunicação e isso, vez por outra, é entendido como permis
sivo para uma linguagem menos apurada, com menor cuidado com a lín
gua pátria e menor necessidade de construções textuais coerentes e coe
sas, ou, em outras palavras, a língua escrita toma-se cada vez menos usu
al e, então, ainda quando imprescindível, constrói-se de forma menos
complexa.
Os recursos multimídia e os elementos audiovisuais são cada vez
mais difundidos e isso, a princípio, nada tem de criticável, desde que o
Introdução 7
Sumário:
1 . 1 0 texto. 1.2 A competência textual. 1.3 Resumo. 1.4 Exercícios.
1.1 O texto
Na introdução, defendemos a importância da redação para o advo
gado e, para fazê-lo, reiteramos a necessidade de conhecer os elementos
teóricos da construção do texto. Diante disso, a primeira lição que se faz
oportuna nasce desta questão: o que é um texto?
O texto é o conjunto de enunciados lingüísticos com unidade de
sentido. Ressalta, daí, a sua primeira característica: o texto, para ser ca
racterizado como tal, deve conter unidade. E isso que o distingue, primor
dialmente, de um emaranhado de palavras.
Para entender, leiamos atentamente o texto abaixo, fragmento do
conto “A Causa Secreta”, de Machado de Assis:
0 desconhecido declarou1 chamar-se1 Fortunato Gomes da
Silveira, ser1 capitalista, solteiro, morador1 em Catumbi. A ferida foi
reconhecida grave. Durante o curativo ajudado2 pelo estudante,
Fortunato serviu1 de criado, segurando1 a bacia, a vela, os panos,
sem perturbar1 nada, olhando1 friamente para o ferido, que gemia3
muito. No fim, entendeu-se1 particularmente com o médico, acompa
nhou-o1até o patamar da escada e reiterou1ao subdelegado a decla
ração de estar1 pronto a auxiliar as pesquisas da polícia. Os dois
saíram,45ele e o estudante ficaram12 no quarto.
Garcia estava2 atônito. Olhou2 para ele, viu2-o sentar1 tranqüila
mente, estirar1 as pernas, meter1as mãos nas algibeiras das calças,
e fitar1 os olhos do ferido. Os olhos eram claros, cor de chumbo,
moviam-se devagar, e tinham a expressão dura, seca e fria. Cara
magra e pálida; uma tira estreita de barba, por baixo do queixo, e de
uma têmpora, outra, curta, ruiva e rara. Teria1quarenta anos. De quan
do em quando, voltava-se1 para o estudante, e perguntava1 alguma
coisa acerca do ferido; mas tomava1 logo a olhar para ele, enquanto
o rapaz lhe dava2 a resposta. A sensação que o estudante recebia2
1111
12 Manual de Redação Forense
Texto:
Elementos internos - intimamente ligados entre si
Elementos externos —conhecimento de mundo do leitor
momento histórico
características pessoais do autor
papel social do autor no momento da produ
ção do texto.
= significação.
O Gol foi o primeiro carro a voltar. Logo atrás, veio o Santana, com
os presos Paulo Mendes das Neves, de 20 anos, e Mauro Borges da
Silva, de 36. Na esquina das Ruas Simão Álvares e Inácio Pereira da
Rocha, Neves aproveitou um descuido do investigador Willian Ruy
Teixeira, de 38, e tomou sua pistola calibre 380.
Foram pelo menos dois disparos: um na cabeça de Teixeira e
outro na nuca do investigador Mauro Aparecido Gomes, de 35, que
morreu. Além de estar com as mãos algemadas para frente, Neves
tinha os braços entrelaçados com os de Silva. Os dois sairam do
carro e correram cerca de 100 metros pela Rua Simão Álvares, onde
invadiram uma sede da associação Comercial de São Paulo.
Mendes dominou três funcionários que estavam no térreo do so
brado. Todos subiram para o piso superior, onde mais dois funcioná
rios foram tomados como reféns. Os policiais baleados foram leva
dos ao Hospital das Clínicas.
Mais de 100 policiais cercaram o sobrado. A negociação começou
com Mendes exigindo um carro e munição para fugir. Como a fuga foi
negada, exigiu a presença da imprensa, do juiz corregedor Maurício
Lemos Porto Alves e de seu pai, Osias Hermes Alves. A todo mo
mento, aparecia na janela com a arma apontada para a cabeça de
um refém.
Por volta das 13h20, fez um disparo em direção à parede da sala.
Dez minutos depois, com a chegada do juiz, o primeiro refém foi solto.
Às 14h, ao vero pai, soltou uma refém. O delegado Carlos Eduardo Duar
te de Carvalho, do Grupo Especial de Resgate (GER), negociou a ren
dição do detento, que tirou o pente da arma e o jogou para o delegado.
O leitor, ao interpretar o texto acima, que vem com negritos nos
sos, entende já que ele conta com unidade de sentido, narrando um even
to criminoso, retomando elementos anteriores que permitem ao interlocutor
entender o que se passara com os presos que eram transportados nas via
turas policiais.
Diante da leitura da matéria jornalística, procure responder com
certeza: quem é o p a i cuja presença o criminoso Paulo Mendes das Ne
ves exigiu para que os reféns fossem libertados?
A resposta, ao contrário do que parece, nào é evidente. A origem
da confusào está na frase da linha 55, que diz “Como a fugafoi negada, exigiu
a presença da imprensa, do jui% corregedor Maurício Lemos Porto Alves e de seu
pai, Osias Hermes Alves”. No modo como foi escrita, a frase traz uma am
bigüidade. Perceba-se que nào é possível identificar se Osias é pai do
preso ou pai do juiz-corregedor. O pronome seuy no caso, pode fazer refe
rência tanto ao fugitivo quanto ao jui* corregedot\ termo este que lhe é
imediatamente anterior.
18 Manual de Redação Forense
1.3 Resumo
Neste capítulo, vimos que:
a) A principal característica do texto é sua unidade de significado.
b) Essa unidade de significado nào é natural de qualquer redaçào,
devendo ser trabalhada.
c) Um bom texto, do ponto de vista dessa característica, é aquele
que assume unidade de sentido, nào confundindo o leitor.
d) Alguns textos há, como os textos de publicidade, que admitem
mais de uma forma de leitura, mais de um sentido, mas isso nào
é, via de regra, adequado ao texto jurídico.
22 M anual de Redação Forense
1.4 Exercícios
I. Leia o quanto segue para responder às questões 1 a 4
É sempre importante reler os textos que escrevemos antes de passá-
los a seus destinatários finais. As vezes, o que é claro para aqueles que
elaboram o texto pode ser ambíguo para o leitor. Exemplo disso é a situ-
açào de que dá conta o julgado abaixo, copiado do Boletim da AASP nu
2.138, p. 250:
Indenização - furto de veiculo em estacionamento de shopping
center- Apelante que, ao oferecer estacionamento, e tolerar o estaci
onamento de lojista, recebe formalmente para guarda os veículos e
demais pertences das pessoas que confiam nos serviços ofereci
dos, e que tacitamente são contratados. Ausência de impugnação à
existência de mercadoria no interior do veículo e ao valor pleiteado
pela autora. Responsabilidade da Seguradora que abrange apenas
o veículo e exclui qualquer outro bem deixado sob guarda do segura
do. Suficiência da prova do estacionamento e do furto. Não
prevalecimento, contra o segurado, da cláusula redigida pela se
guradora que dispõe que a cobertura de furto só prevalecerá nos
casos em que ficou comprovada a destruição ou rompimento de
obstáculo à subtração do veículo, porque sua redação não permite
saber se a destruição ou rompimento de obstáculo diz respeito ao
veículo, ou ao local destinado ao estacionamento. Honorários cor
retamente fixados. Ação procedente. Recursos improvidos (19 TAC -
3* Câmara; Ap. 823.764-3 - São Paulo - SP; Rei. Juiz Carvalho Viana;
j. 17/11/98, v.u.; ementa)
Respostas:
1) Nào. Prevalece a indefinição. Embora se tenham acrescentado outras palavras, permane
ce o texto sem dizer ao certo se os obstáculos encontram-se no estacionamento ou no
veículo.
2) O pronome “ele” pode estar referindo-se tanto a “automóvel” quanto a “estaciona
mento”. Isso dá margem a ambigüidade.
3) Cláusula décima —O ressarcimento dos prejuízos causados com o sinistro só serão
ressarcidos pela seguradora caso o automóvel deixado no estacionamento do shopping
ccnter contratante haja sido furtado mediante destruição ou rompimento de obstáculo
que exista no veículo.
4) Cláusula décima —O ressarcimento dos prejuízos causados com o sinistro só serào
ressarcidos pela seguradora caso o automóvel deixado no estacionamento do shopping
center contratante haja sido furtado mediante destruição ou rompimento de obstáculo
que neste exista.
5) O réu assaltou o banco e assaltou também seu comparsa.
O réu e seu comparsa assaltaram o banco.
6) Seu pai, que é um asno, está preso no mata-burros.
O asno que pertence a seu pai está preso no mata-burros.
7) Meu cliente encontrou o gerente do banco que estava indo fazer um saque na conta
corrente dele mesmo, gerente.
Meu cliente encontrou o gerente do banco que estava indo fazer um saque na conta
corrente do correntista.
Meu cliente, que ia fazer um depósito em sua própria conta corrente, encontrou o
gerente do banco.
8) Gel para facilitar a pentear cabelos muito volumosos.
Gel para facilitar a dar mais volume ao penteado dos cabelos.
9) O juiz foi pessoalmente ao gabinete do desembargador pedir que mudasse o julgado
dele, juiz.
O juiz foi pessoalmente ao gabinete do desembargador pedir que este alterasse seu
próprio julgado.
10) O julgamento foi adiado.
Hermelindo foi adiado.
Lição 1: Q conceito de texto 25
Anexo de Notas
Sumário:
2.1 Vocabulário: Conceito e alcance. 2.2 Texto e seleçào vocabular. 2.2.1 Sele
ção vocabular e clareza: Levando o leitor em consideração. 2.2.2 Seleçào vocabular e sentido.
2.2.3 Seleçào vocabular e vocabulário jurídico: Linguagem técnica X jargão. 2.2.4 Seleçào de
palavras e sustentabilidade: O preciosismo. 2.3 Exercitando o uso do vocabulário. 2.4
Segue: vocabulário jurídico. As formas de referência e tratamento. 2.5 Os brocardos e ex
pressões latinas. 2.6 Palavras e expressões mais usuais do latim. 2.7 Os superlativos. 2.8
Resumo. 2.9 Exercícios.
rou anos para chegar ao estagio atual, e a única forma de apreendê-lo, dis
cuti-lo e sobre ele construir um raciocínio era conhecer a aludida palavra.
Quem conhece o vocábulo clonagem e seu significado (o termo
clonagem) inclui em sua visào de mundo todo um complexo fenômeno da
engenharia genética. Essa palavra, entào, nào é apenas a forma de uma
pessoa exteriori^ar a outra o fenômeno da engenharia genética, mas repre
senta, mais que isso, o modo como o fenômeno passou a fa^er parte de seu
conhecimento. E isso acontece com todas as palavras que vêm a nosso voca
bulário: elas abrem espaço para a inclusào em nosso pensamento de todo
o seu conceito, sua origem, e portanto nào sào apenas uma forma de
extern ri^ar um conceito, mas também de apreendê-b e raciocinar sobre ele.
Isso tudo para afirmar que ter maior vocabulário significa, primei
ramente, ter maior possibilidade de expressar as idéias e, em segundo
lugar, ter mais elementos para formar o raciocínio, uma vez que este, antes
mesmo de ser transmitido a outrem, já é formado de palavras.
Nesse ponto, somos brindados por nos comunicarmos em língua
portuguesa. Ela, mais que outras, oferece um léxico vasto, com palavras
de sentido específico, além de uma fartura de sinônimos que permitem
uma expressão vasta, adequada para qualquer tipo de mensagem, em qual
quer tipo de ambiente. Conhecê-las todas é tarefa impossível, mas sem
pre um bom dicionário vem a suprir suficientemente qualquer tipo de
dúvida, seja na leitura, seja na escrita.
Mas usar essas palavras com competência é tarefa um pouco mais
árdua. Vejamos, entào, o que nos é relevante a respeito desse tema.
ACATEDRAL
Entre brumas, ao longe, surge a aurora
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúmea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus” 3
-II-
0 País passava por um momento de efervescência política. Parti
dários e adversários do monopólio se engalfinhavam em disputas
oratórias que celebrizaram a sede do Clube Militar. Ao final, ficou
claro que a opinião pública estava dividida e Getúlio, ao apresentar
Liçào 2: Vocabulário e vocabulário jurídico 31
—III —
Prova de amor ou desconfiança?
Ê difícil responder a esta pergunta quando o papo é ciúme. Ele
pode pintar no namoro de várias formas e ser o principal motivo para
um lance não dar certo.
Por outro lado, o ciúme pode também ser o tempero que o seu
namoro precisa para fugir da rotina. Afinal, depois de uma briga da
quelas por causa do ciúme do gato, vocês ficam no maior lovet não
ficam? Mas, para não piorar o clima na hora do ciúme, existem algu
mas regrínhas que você precisa conhecer.5
Brás Cubas (em uma observação que parece atual, pois muitos ba
charéis, lamentavelmente, ainda agem como tal personagem) fez simples
mente colher de todas as suas matérias uma série de palavras que sào
cristalizadas nessa área do conhecimento,
/
como termos mais usuais, sem
necessariamente serem técnicas. E ao conjunto dessas expressões que
denominamos jargão* O jargão é a gíria profissional. E a “ornamentação”
que dá a forma da linguagem, em aplicação, em nosso caso, ao Direito.
Lembremo-nos da gíria do jovem. O que ela representa? Represen
ta uma série de palavras que sào utilizadas no dia-a-dia dos falantes, e
que assumem valor significado muito semelhante a outros vocábulos da
língua portuguesa, que deixam de ser utilizados por eles. Quando o jovem
diz que algo é “da hora”, hoje, significa dizer que é bom, interessante,
emocionante ou outro sinônimo qualquer. Não há, evidentemente, signi
ficado técnico em tal expressào; ao contrário, seu sentido é muito mais
amplo, difuso, que qualquer outra palavra que se lhe atribua em sinonímia.
No direito, algumas expressões assumem o mesmo valor da gíria do
jovem, posto que aplicáveis a um contexto mais eficiente. Vejamos o
texto abaixo:
O condutor afirma que deu voz de prisão ao meliante, o qual em
preendeu fuga do local dos fatos, em desabalada carreira, adentrando
a um estabelecimento comercial de venda de roupas, onde tomou
por refém um indivíduo; ato continuo, quando o meliante fazia men
ção de agredir um cidadão, o condutor disparou a arma, alvejando a
perna do meliante, que passou a claudicar, ato contínuo, não conse
guindo empreender nova fuga, o condutor o algemou, prontamente
providenciando sua condução ao nosocômio...
A exordial ministerial apresentou uma miríade de falsas afirma
ções, que não passam de bazófias que devem ser repelidas por
esse Douto Areópago, como foram pelo Tribunal Popular, quando
proferida defesa por este mesmo causídico.
uma linguagem tào arcaica, tào antiga ou complicada, se nada há que lhe
altere o sentido em relaçào a uma linguagem comum?
Nada justifica. O jargào serve como um dos sinais distintivos da
linguagem, mas utilizar algumas expressões em repetiçào, que nào mais
sào que forma de revelar-se como membro de uma classe, a dos operado
res do Direito, no caso, nào é sinal de boa expressão, de bom texto, de
construção clara. Ao contrário, revela-se como pobreza de estilo, como fal
ta de conhecimento ou de segurança para a utilização de outros termos
de nossa língua que nào somente se expressam com o mesmo valor, como
também utilizam uma linguagem mais corrente e permitem troca por ou
tros termos, sinônimos, que acabam por organizar uma construção textu
al, no mínimo, de leitura mais fluente.
Ao redigir, entào, o autor deve distinguir o que é termo técnico,
insubstituível e com carga semântica determinada, daquilo que é propri
amente um jargào. Não se afirma que o jargào nào se possa utilizar nunca,
pois ele, como qualquer outro termo, também é parte do universo de
linguagem que o autor tem à sua disposição. Entretanto, ao contrário do
termo técnico, a gíria profissional nào deve ser repetida várias vezes em
um texto, pois o leitor sabe que ele pode ser trocado por outras palavras
de valor semelhante, do uso corrente da língua, ao contrário do termo
técnico, cuja repetiçào se admite, em tese, por lhe faltarem sinônimos
com a mesma carga de significado.
Vale a pena lembrar, sobre isso, a liçào do professor Mário Ferreira
dos Santos, versando sobre a linguagem no Direito: “Deve-se escrever com
as palavras que usamos na linguagem comum. Por isso convém evitar-se
os arcaísmos, expressões raras e obsoletas. Quando o discurso, a palestra
ou o relato refiram-se a temas científicos e filosóficos deve ser empregada
a terminologia em uso nessas ciências. A finalidade dessa regra é garantir
a clareza que é uma das qualidades principais de um bom estilo”.y
Desenvolveremos posteriormente o conceito de estilo, mas já pare
ce óbvio que escrever bem é escrever com clareza, levando-se em conta o
interlocutor, aquele a quem o texto se dirige. Usar termos da linguagem
corrente, sem os chamados preciosismos não significa, de forma alguma, ter
uma linguagem menos culta. As palavras da linguagem corrente sào vári
as e suficientes para que o autor se expresse de modo claro e bastante
persuasivo, transmitindo suas idéias eficientemente aos seus potenciais
leitores, geralmente os membros do Poder Judiciário.
44 Manual de Redação Forense
aferro, pertinácia e obsecrar. Pode-se dizer que o texto nào sustenta o uso
de tais vocábulos.
Em outras palavras, podemos dizer que a petiçào, no seu todo, nào
sustenta a linguagem adequada para o uso de palavras arcaicas, que, por
isso mesmo, constituem mais um vício de linguagem que uma propriedade
de estilo. Se o texto deve ter unidade de significado, deve ter também
uma unidade de linguagem, o que significa afirmar que qualquer palavra
preciosa, antes de aprimorar o texto, faz somente destoar do resto do voca
bulário selecionado para enunciar seu conteúdo.
Qualquer palavra de requinte selecionada para o texto deve ter,
entào, sustentabilidade dentro dele, ou seja, deve aparecer no meio de uma
linguagem toda culta, para que nào haja desarmonia. E, além de
desarmônico, o texto com preciosismo ou arcaísmo pode ter sua leitura
comprometida, porque muitas vezes esses termos preciosos ou arcaicos,
ainda no meio jurídico, contrariamente ao que ocorre com o jargão, cor
rem o risco de nào serem compreendidos pelo leitor.
Já vimos que é preferível ser claro a utilizar uma linguagem rebus
cada. Temos, neste contexto, de perceber mais: que uma linguagem cui
dadosa c erudita nào significa, necessariamente, linguagem “preciosa”.
Isso é importante que seja ressaltado, pois muitos autores confundem
linguagem culta com uso de termos inusitados, antigos, arcaicos e de sig
nificado pouco preciso para o leitor médio. Vejamos, para exemplificar, o
texto abaixo, retirado da obra “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago:
Um estômago que trabalha em falso acorda cedo. Alguns dos
cegos abriram os olhos quando a manhã ainda vinha longe, e no seu
caso não foi tanto por culpa da fome, mas porque o relógio biológico,
ou lá como se costuma chamar-lhe, já se lhes estava desregulando,
supuseram eles que era dia claro, então pensaram, Deixem-me dor
mir, e logo compreenderam que não, al estava o ressonar dos com
panheiros, que não dava lugar a equívocos. Ora, é dos livros, mas
muito mais da experiência vivida, que quem madruga por gosto ou
quem por necessidade teve de madrugar, tolera mal que outros, na
sua presença, continuem a dormir à perna solta, e com dobrada
razão no caso de que estamos falando, porque há uma grande dife
rença entre um cego que esteja a dormir e um cego a quem não
serviu de nada ter aberto os olhos.13
distintos. Mas aqui nào nos interessa o estilo literário do autor, mas sim
plesmente a seguinte observação: existe alguma palavra, no texto recor
tado, arcaica, rebuscada ou de sentido obscuro? A toda evidência, nào.
Todos os vocábulos utilizados sào de linguagem corrente.
Nào se pode dizer que o autor se utiliza de linguagem pouco culta,
coloquial, e muito menos que seu texto não é eficiente, pois não foi gra
tuitamente que a obra mereceu o Nobel de literatura. Na verdade, o que
determina a eficiência e o estilo do texto nào é o emprego de algumas
poucas palavras raras selecionadas a dedo, mas sim a seleçào constante de
termos claros e precisos para enunciar a idéia que se quer transmitir ao leitor.
O que determina a boa seleçào de vocábulos é sua coerência, nào
uma ou outra palavra rara.
Todo falante da língua conhece um universo de palavras bem maior
do que o utilizado em sim fala. Somos capazes de entender vários termos
e, mesmo assim, nào os utilizar com eficiência quando vamos construir
uma petição. O qv* determina a boa seleçào e o bom uso das palavras é a
utilização no caso concreto de todas elas, colocando em prática as pala
vras de que temos conhecimento.
É assim que se fundamenta a distinção entre léxico ativo e léxico pas
sivo. Léxico ativo é o conjunto de palavras que o leitor conhece e que real
mente usa em sua conversação, e léxico passivo sào as palavras que o leitor
conhece, reconhecendo seu significado quando as lê ou ouve, mas nào as
utiliza efetivamente em seu texto, por insegurança ou por falta de prática.
Por isso nào se diz que o enriquecimento do vocabulário, com a
apreensão contínua de novos termos de nossa língua nào seja importante.
Mas necessitamos mais que isso: precisamos fazer com que as palavras
apreendidas sejam, adequadamente, utilizadas em nosso texto, com vari
edade e precisão, pois assim conseguimos construir bom estilo, sem ter
mos de recorrer a termos de uso menos comum e inteligível.
novas. Essas palavras podem ser simplesmente ignoradas pelo leitor, que
buscará seu significado por outros elementos do texto, ou simplesmente,
ainda que inconscientemente, poderá deixar de lado aquele trecho que
nào lhe pareceu claro em busca de outras informações que seguem na
leitura. Se fizer isso, como é freqüente, desperdiçará grande oportunidade
de trazer ao seu léxico termos que podem vir a enriquecer e facilitar sua
escrita: consultar no dicionário os termos lidos e compreender seu signi
ficado permite utilizá-los com segurança e pertinência em ocasiões pos
teriores. E assim, conhecendo o valor, o estilo e as possibilidades de uso,
vai-se construindo linguagem mais primorosa.
\
As vezes, entretanto, acessar o significado de vários vocábulos, por
meio da consulta em dicionário das palavras lidas ou ouvidas não é sufi
ciente para que o estudante os aplique em seu texto. Pode-se perceber isso
com uma atitude simples: lendo-se uma boa peça, escrita por um colega,
vemos palavras bem utilizadas, cujo teor conhecemos mas, mesmo as
sim, não as usaríamos se estivéssemos redigindo peça jurídica de igual
teor. Por que isso acontece? Porque conhecer muitas palavras nào signifi
ca utili%á-lar. podemos incorporar vários vocábulos em nosso léxico pas
sivo, não os transferindo para o léxico ativo, este que, com certeza, é bem
mais reduzido que aquele.
Para que ocorra essa transferência, para que se possa utilizar todas
as palavras conhecidas, principalmente a de uso menos freqüente, é ne
cessário exercitar, praticar. Procurar, a cada texto escrito, alterar palavras
por sinônimos, buscar novas possibilidades de expressar a mesma idéia,
de modo adequado. Um exercício dirigido, dos mais eficientes para o de
senvolvimento do vocabulário ativo é a paráfrase. Parafrasear um texto
significa “traduzi-lo na mesma língua” expressar de forma diferente todo
o conteúdo de um texto-origem, resumindo-o, ampliando-o, atualizando-
o ou, simplesmente, colocando-o em uma linguagem diferente, alterando
suas palavras, sua estrutura, enfim, sua enunciaçào. Na paráfrase mais
comum, é fornecido um texto ao estudante, que deve, a partir dele, cons
truir um novo texto, com o mesmo conteúdo, mas evitando ao máximo
repetir suas palavras ou suas frases. Com isso, treina-se a sinonímia, a
substituição de vocábulos por outros do mesmo teor, que, ao serem escri
tos, passam a fazer parte do vocabulário ativo do estudante.
Nos exercícios do fim do capítulo encontram-se propostas para prá
tica desse método, com maiores explicações.
Lição 2: Vocabulário e vocabulário jurídico 51
Esses adjetivos sâo utilizados, muitas vezes, nos vocativos das pe
tições enviadas a juízo, como que chamando os leitores principais da peça
para atentar para os argumentos que passarào a ser apresentados, em cons
truções comuns, notadamente em razões de recurso, como:
Razões de apelação:
Apelante: Tício da Silva.
Apelada: J ustiça Pública.
Origem: processo nu 1/00, da Digníssima Primeira Vara Criminal do foro
central da Capital deste Estado de Sào Paulo.
Egrégio Tribunal,
Colenda Câmara,
Culto Relator,
Nobre Procurador de Justiça!
O ora apelante, irresignado com a respeitável sentença do Meritissimo
Juiz de primeira instância, que o condenou a cinco anos de reclusão, em
regime inicial fechado, vem, nesta, mostrar as razões que o fazem pedir a
reforma da ferida decisão monocrática, conforme ora se passa a expor.
Surgem, também, no endereçamento de petições, como:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO EGRÉGIO TRI
BUNAL DE ALÇADA CRIMINAL DESTE ESTADO DE SÂO PAU-
LO - CULTO RELATOR DA APELAÇÃO CRIMINAL N“ 0001/00 -
DOUTOR PRUDENTE DE MORAIS.
Autos de nQ0001/00
Ref.:
Embargos de declaração.
- I -
-II-
A magnífica sentença prolatada pelo merítíssimo juiz de primeira
instância é inatacável em seus sábios fundamentos, não merecen
do qualquer guarida as razões do apelante, as quais, ainda que
Lição 2: Vocabulário e vocabulário jurídico 59
que fazer cumprir o “respeito recíproco” de que trata o artigo de lei acima
recortado, que se revela como garantia da devida operacionalidade da
Justiça, por várias razões que constituem mérito em que aqui nào nos
podemos estender. Qualquer reverência por parte do advogado que se
revele como exclusiva do magistrado pode tomar ares de subordinação do
patrono, e isso representaria entrave à operacionalidade do Direito.
E essa paridade de tratamento já se encontra presente nas formas
de referência ao trabalho dos advogados, pelos próprios membros da ma
gistratura —principalmente os partícipes dos Tribunais —que, ao redigi
rem suas decisões, fazem construções do ripo:
Nas doutas razões de apelaçào, o culto patrono articulou argumentos
que, nào bastante revelarem seu amplo conhecimento jurídico e raro em
penho profissional, carecem de maior razão.
Todavia, o trabalho de funcionários de cartório muitas vezes nào
respeita essa paridade. É o caso das referências que fazem aos represen
tantes das partes no processo, quando envolvem Promotor ou Procurador
de Justiça e advogado. Nào é nada incomum haver publicações em Diário
Oficial nos seguintes termos:
Sustentou oralmente o advogado Dr. Caio da Silva e fez uso da
palavra o Excelentíssimo Senhor Procurador de Justiça Tício Ferreira.
um meio para conseguir determinado fim nào tem força moral para con
denar esse meio.
PRAESCRIPTIO ENIM JURIS PUBLICI EST: a prescrição é de Direito
Público.
PRAESUMPTIO CEDIT VERITATI: a presunção cede à verdade.
PRAESUMPTIO EST CONJECTURA SEU DIVINATIO IN REBUS
DUBIIS COLLECTA EX ARGUMENTIS VELINDICIIS PER RERUM
CIRCUMSTANTIAS FREQUENTER EVENIENTIBVUS: presunção é
a conjetura ou adivinhação coligida nas coisas duvidosas, de infícios ou ar
gumentos, pelas circunstâncias das coisas que frequentemente acontecem.
PRAESUMPTIO JURIS ET DE JURE: presunção absoluta.
QUOD DEUS AVERTAT: Deus nos livre.
QUOD VOLUMUS FACILE CREDIMUS: facilmente cremos aquilo que
desejamos.
QUOT CAPITA , TOT SENSUS: quantas cabeças, tantas sentenças.
RATIO JURIS: razão dó direito. Motivo que o hermenauta encontra no
direito vigente para justificar a interpretação ou solução que dá a uma
regra jurídica ou a certo caso concreto.
RATIO LEGIS: a razão da lei. Espírito que inspira a lei e deve ser objeto
de investigação dos intérpretes e comentadores que procuram esclarecer
o seu texto.
REFORMATIO IN MELIUS/IN PEJUS: reforma para melhor/para pior.
RES INTER ALIOS JUDICATA ALIIS NEQUE NOCET NEQUE
PRODEST: a coisa julgada nào pode aproveitar e nem prejudicar senào
às próprias partes.
RES JUDICATA PRO VERITATE HABETUR: a coisa julgada é tida
por verdade. Axioma jurídico, segundo o qual aquilo que foi objeto de
julgamento definitivo nào pode ser novamente submetido a discussão.
RES NULLIUS: coisa de ninguém, isto é, que a ninguém pertence.
REUS ABSOLVITUR ETIAM SI NIHIL PRAESTITERIT: o réu deve
ser absolvido mesmo que nada alegue.
74_____________________________________________ Manual de Redação Forense
Nomenclatura de crimes
Animicida —o que mata a alma.
Assassínio —ato da eliminação da vida.
Assassino —indivíduo que mata alguém.
Deicida —que, ou que matou Deus.
Filicida —morte que os judeus deram a Cristo.
Filicídio - pessoa que mata o próprio filho.
Fratricida —autor de fratricídio; relativo a guerras chis.
Fratricídio —assassínio de irmão.
Homicida —pessoa que pradca homicídio.
Homicídio - assassínio, morte de uma pessoa praticada por outra.
Infanticida —assassínio do recém-nascido até sete dias após o nascimen
to; morte do próprio filho.
Genocida —pessoa que pratica o genocídio.
Genocídio —ato de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional,
étnico, racial ou religioso.
Latrocida —pessoa que mata o ladrão.
Latrocídio —ato de matar o ladrão.
Latrocínio —ato de roubar à mão armada.
Liberticida —pessoa que destrói ou procura destruir as liberdades ou imu-
nidades de um país.
Liberticídio —destruição da liberdade política de um país.
Magnaticida - assassino de um grande capitalista.
Magnaticídio - ato de a pessoa matar um magnata.
Magnicida - assassínio de um magno; de uma pessoa ilustre.
Mariticida - mulher que mata o marido.
Matricídio —ato de a pessoa matar a própria mãe.
Morticínio —grande número de mortes.
78 Manual de Redação Forense
2.7 Superlativos
Acre —acérrimo. Crível —credibilíssimo.
Afável —afabilíssimo. Cru —cruíssimo.
Ágil - agilíssimo, agüimo. Cruel - crudelíssimo, cruelíssimo.
Agradável —agradabilíssimo. Descortês —descortesíssimo.
Agro —agérrimo. Dessemelhante - dissimflimo.
Agudo —aculíssimo, acuüssimo, Dicaz —dicacíssimo.
agudíssimo. Difícil —dificílimo, dificilíssimo.
Alto —altíssimo, supremo, sumo, Divino —diviníssimo.
supérrimo.
Doce —dulcíssimo, docíssimo.
Amargo —amarguíssimo, amarís-
Dócil —docílimo, docilíssimo.
simo.
Amigo —amicíssimo, amiguís- Douto —doutíssimo.
simo. Eficaz —eficacíssimo.
Antigo —antiguíssimo, antiquís- Exemplar - exemplaríssimo.
simo. Fácil - facílimo, facilíssimo.
Áspero —asperíssimo, aspérrimo. Falaz —falacíssimo.
Atroz —atrocíssimo. Feliz —felicíssimo.
Audaz —audacíssimo. Feroz —ferocíssimo.
Baixo —baixíssimo, ínfimo. Fiel —fidelíssimo.
Belaz - belacíssimo. Fraco —fraquíssimo.
Benéfico —beneficentíssimo. Frágil - fragüimo.
Benévolo —benevolentíssimo. Frio - friíssimo, frigidíssimo.
Bom —boníssimo, ótimo. Gago —gaguíssimo.
Breve —brevíssimo. General - generalíssimo.
Capaz - capacíssimo. Geral—geralíssimo, generalíssimo.
Célebre - celebérrimo. Grácil —gracílimo.
Célere - celérrimo. Grande - grandíssimo, grandecís-
Coisa —coisíssima. simo, máximo.
Comum —comuníssimo. Hábil - habilíssimo.
Cortês —cortesíssimo. Humilde —humüimo, humildís
Cristào —cristianíssimo. simo.
80 Manual de Redação Forense
Masculinos e Femininos
Abade —abadessa. Alemão —alemã.
Abegão - abega. Alentejão - alentejona.
Açafrão —açafroa. Alfaiate —alfaiata, modista.
Adrião —adriana. Algibebe —algibeba.
Adulão —adulona. Almirante - almiranta.
Aeromoço —aeromoça. Alvação —alvaçà.
Afegão —afegã. Amigalhão —amigalhona.
Ajudante —ajudanta. Anão —anã.
Alazão —alazà. Ancião —anciã.
Alcaide—alcaidessa, alcaidina. Anfitrião - anfitrioa.
Alcaiate —alcaiata. Aprendiz - aprendiza.
Aldeão —aldeã. Arameu - araméia.
Aldravào —aldravona. Asneirão - asneirona.
Alegrote —alegrota. Ateu —atéia.
82 Manual de Redação Forense
Homófonos e Parônimos
Abriu —do verbo abrir.
Abril —4“ mês do ano.
Aça —mulato.
Assa —do verbo assar.
Acedia —inércia.
Assedia —do verbo assediar.
Acender —pôr fogo a.
Ascender -elevar-se.
Acento—inflexão da voz.
Assento - base.
Acenso —ant. oficial.
Assenso - assentimento.
Acerto - ajuste.
Asserto - proposição afirmativa.
Acessório —pertences.
Assessório —diz respeito ao assistente ou adjunto.
Aceto - o mesmo que vinagre.
Asseto - injúria.
Achada - ato de achar.
Axada —mês do calendário hindu.
Ache —espécie de manto antigo.
Axe —esfoladura, ferida.
Lição 2: Vocabulário e vocabulário jurídico 87
Aria —cantiga.
Arraçar - ser de boa raça.
Arrassar - corrente de metal.
Arrear - pôr arreios, aparelbar, enfeitar.
Arriar —afrouxar, abaixar.
Arreio —aparelho de bestas.
A reio —locução adverbial.
Arremeção - medida agrária.
Arremessão - ato de arremessar bruscamente.
Asar —guarnecer de asas.
Azar —má sorte, ocasionar.
Asceta —contemplativa.
Aceta - do verbo acetar.
Asseta —ferir ou matar com seta; do verbo assetar.
Ascendimento —subida.
Acendimento —ateamento.
Ascensão - subida.
Ascensão - ardor da febre.
Ascético —místico.
Acético - ácido.
Asinha - advérbio e diminutivo de asa.
Azinha —fruto da azinheira.
Assidrado - da cor da sidra.
Acidrado —semelhante à cidra.
Lição 2: Vocabulário e vocabulário juridico 89
Cem -numeral.
Sem —preposição, designação de falta, exclusão.
Cementar —modificar as propriedades (de um metal).
Cimentar - ligar com cimento.
Cemento —substância com que se rodeia um corpo para o cementar.
Cimento - espécie de amálgama.
Cena - espetáculo.
Sena —carta ou dado com seis pintas.
Cenáculo —refeitório; convivência.
Senáculo - lugar onde o senado romano celebrava sessões.
Cenário - decoração; relativo a ceia.
Senário - que consta de seis unidades.
Cenatório —que diz respeito a ceia.
Senatório - relativo ao senado.
Cenho —rosto carrancudo.
Senho —sinal.
Cênio - fachada nos teatros antigos.
Sênio —velhice.
Censo —recenseamento.
Senso —juízo.
Censual —relativo ao censo.
Sensual —relativo aos sentidos.
Censualista —recebedor de censos.
Sensualista —relativo ao sensualismo.
Cepiâo —reprod. do latim (caepio-onis).
Cipiào - reprod. do latim (scipio-onis).
Céptico - que duvida.
Séptico —que causa infecção.
Céreo - de cera.
Cério —fruto, metal.
Lição 2: Vocabulário e vocabulário jurídico 93
Ceres —cereais.
Seres —habitantes da China; entes.
Cério —fruto, metal.
Sério —grave.
Cerra —do verbo cerrar.
Serra —instrumento cortante, montanha; do verbo serrar.
Cerração —nevoeiro denso.
Serração —ato de serrar.
Cerrado —denso, terreno murado; parricípio do verbo cerrar.
Serrado —particípiò de serrar.
Cervo - veado.
Servo —criado, serviçal.
Cessão —ato de ceder.
Sessão - tempo que dura uma assembléia.
Cessar —parar.
Sessar —joeirar, peneirar.
Cetáceo —mamífero com forma de peixe.
Setáceo —cerdoso, áspero.
Cevar —nutrir, saciar.
Sevar —ralar.
Chá —infusão de folhas para bebidas.
Xá —título do soberano da Pérsia.
Chácara —quinta.
Xácara - poesia popular.
Chara —costume.
Xara —seta.
Charada —adivinha.
Xarada - estação do calendário hindu.
Charrasca —espécie de toutinegra.
Xarrasca - aparelho de pesca.
94 Manual de Redação Forense
Desfear —afear.
Desfiar - reduzir a fios.
Deslaçar —desfazer a laçada.
Deslassar - tornar frouxo.
Despensa - copa.
Dispensa —ato de dispensar.
Despercebido —nào percebido, nào notado.
Desapercebido —Desacautelado, desguarnecido.
Destinto —destingido.
Distinto —que sobressai.
Eça —apelido.
Essa —catafalco, pronome.
Elidir —eliminar.
Ilidir —refutar.
Emaçar —reunir em maço.
Emassar —converter em massa.
Embalçar —meter nas balças ou nos matagais.
Embalsar —pôr (o vinho) em balsa ou doma.
Emergência —açào de emergir.
Imergência —açào de imergir.
Emergir —sair de onde estava mergulhado.
Imergir —mergulhar.
Emérito —insigne, jubilado.
Imérito —nào merecido.
Emerso - que emergiu.
Imerso —mergulhado.
Emigração - ato de emigrar.
Imigração - ato de imigrar.
Eminente —excelente.
Iminente —sobranceiro, pendente.
98 M anual de Redação Forense
Estasiado—ressequido.
Extasiado —arrebatado.
Estático - firme.
Extático —absorto.
Esterno - osso dianteiro do peito.
Externo —que está por fora.
Estirpe —raiz, linhagem.
Extirpe —flexào do verbo extirpar.
Estofar —cobrir de estofo
Estufar —meter em estufa.
Estrato —filas de nuvens.
Extrato —coisa que se extraiu de outra.
Estrear —usar pela primeira vez.
Est-riar —fazer estrias em.
Estrema - limite de terras, marco.
Extrema - verbo extremar.
Estremado —demarcado.
Extremado —extraordinário.
Estropear —fazer tropel.
Estropiar - deformar.
Facha —acha de armas.
Faixa - banda, flexào do verbo faixar.
Facho —archote.
Faixo - flexào do verbo faixar.
Fês —plural de fê.
Fez —barrete turco; verbo fazer.
Fiúsa - desusado.
Fiúza - confiança.
Ganço —ganho.
Ganso —ave.
100 Manual de Redação Forense
Manoal —meloal.
Manual —relativo à mão; compêndio.
Março —3o mês do ano.
Marso - filho de Circe, poeta romano.
Matacão - pedregulho.
Mata-cão —planta venenosa.
Meada - porção de fios.
Miada —miar de muitos gatos.
Meado - parte média; mistura de milho e centeio.
Miado - mio; particípio de miar.
Mear —dividir no meio.
Miar - dar mios.
Mesinha —diminutivo de mesa.
Mezinha —medicamento.
Mexelhão - que mexe nos objetos.
Mexilhão —molusco.
Mocho —ave noturna.
Moxo - relativos aos Moxos; o de sua tribo.
Moleta - pedra de moer tinta.
Muleta —bastão de apoio.
Montarás - do verbo montar.
Montaraz —montanhoso; silvestre.
Montesinho —montes.
Montezinho - diminutivo de monte.
Lição 2: Vocabulário e vocabulário jurídico 103
Remiçào —resgate.
Remissão —perdão.
Resina- substancia oleosa.
Rezina —diz-se de, ou pessoa teimosa, ranzinza.
Retenção —ato ou efeito de reter
Retensão —muita tensão.
Riso —ato de rir.
Rizo —do verbo rizar; colher os rizes.
Roído - particípio de roer.
Ruído—rumor.
Rossio - praça.
Rocio —orvalho.
Ruço —pardacento.
Russo - habitante ou língua da Rússia.
Sanção - aprovação.
Sansào —espécie de guindaste.
Seção —divisão; parte.
Sessão —tempo durante o qual se reúne uma corporação.
Cessão —ato de ceder.
Serina —albumina do soro.
Cerina —um dos princípios que constituem a cera.
Serro —espinhaço.
Cerro —outeiro.
Serva —criada; escrava.
Cerva - fêmea do cervo.
Sessaçào —açào de sessar.
Cessação —ato de cessar.
Sesta —hora de descanso.
Sexta - redução de sexta-feira; hora canônica; intervalo musical.
106 Manual de Redação Forense
Antônimos
2.9 Exercícios
PARÁFRASE
Construir a paráfrase de um texto significa “traduzi-lo na mesma
língua”. Ou seja, escrever as mesmas idéias que nele constam, com pala
vras diferentes. O grande segredo da boa paráfrase, entào, é a utilização
dos sinônimos. Não podendo repetir o termo do texto original, mas tendo
de expressar a mesma idéia, o aluno é obrigado a buscar termos de mes
mo significado, ampliando seu vocabulário. Melhor é a paráfrase quanto
mais próxima chegar ao sentido do texto original, e quanto menos repetir
os termos neste utilizados.
Evidentemente, algumas palavras nào poderão ser alteradas, ou, se
forem, podem fazer com que o texto original afaste-se um pouquinho de
seu sentido primeiro. O importante é tentar.
Vejamos um exemplo de paráfrase:
Texto original:
Não há dúvida nenhuma que fiscal do Juizado de Menores é um
cara frustrado. É um tipo que sonhou um dia ser policial e, tendo ido
parar noutra repartição da vida, se apresentou voluntariamente ao
142 M anual de Redação Forense
Paráfrase:
Tenho absoluta certeza de que fiscal do Juizado de Menores é
pessoa malograda, desiludida. É alguém que aspirava à carreira
policial mas, tendo-se desencaminhado para outra vida, ofereceu
seus préstimos para a indispensável vigilância dos garotos que en
ganam os pais e saem a passear fingindo ser maiores, ainda não
sendo.
Se algum leitor duvida de minhas palavras - o que considero
improvável, pois minhas palavras têm tido muita credibilidade - que
esse descrente atente-se à cara de “tira", a exalar arbitrariedade, que
eles exibem. Percebam o modo despótico, inerente ao policial típico.
(Benjamin, Antônio Herman V., in: Ação Civil Pública, Editora Re
vista do Tribunal, São Paulo, 1995, pp. 112-113.)
7 ) manifestou, revelou,
3 ) doou, ofertou.
9 ) cometeram.
10 ) bateram, soaram.
11 ) ministrou.
12 ) bastam, sào suficientes
13 ) dedicarei.
14 ) consagra, dedica.
15 ) cismou.
16 ) proporciona.
17 ) exponha, mostre.
Respostas:
4- D
5 - (le;2g£j;4a;5m;6o;7c;8b;9d;10i;lll;12n;13q;14f;15p;16h;17k)
Lição 2: Vocabulário e vocabulário jurídico 153
Anexo de Notas
1 Estas definições sào do professor Napoleào Mendes de Almeida, in: Gramática Metódica
da Língua Portuguesa, Editora Saraiva, 40J Ediçào, 1995, §§ 5 a 12.
2 Garcia, Othon M ., in: Comunicação em Prosa Moderna , 17a Ediçào, Rio de Janeiro, Editora
Fundação Getúlio Vargas, 1997, p. 155.
3 Alphonsus de Guimaraens in: Clássicos da Poesia Brasileira , seleção e organização de
Frederico Barbosa, Editora OESP e Klick, Agosto/99, p. 166.
4 Gajardoni, Almir, “Lendas do Faroeste Político”, in; Revista Jornal dos Jornais, Ano 1, nü
6, p. 70.
s Revista Todateeiu ano 4 - nu47, Outubro/99 p. 52, Editora Alto Astral
6 Com efeito, a arte de escrever repousa essencialmente na escolha do termo justo para a
expressão das nossas idéias e dos nossos sentimentos. Por outras palavras: só escreve
mos bem, quando, na série sinonímica, escolhermos a palavra ou o grupo de palavras que
melhor se ajustam àquilo que queremos exprimir. E nessa escolha que reside, em grande
parte, o segredo do estilo. M. R. LAPA, p. 21
7 In: SAVIOLI, Francisco Platão & FIORIN, José Luiz , Lições de Texto, Leitura e Redação,
Editora Atica, São Paulo, 1996.
H O mais que famoso Dicionário Aurélio, ao definir uma das acepções de jargào como giria
profissional\ traz como ilustração interessante texto de Lima Barreto, retirado da obra
Histórias e Sonbos%de que aqui nos apropriamos: “Para eles [os doutores javaneses] é boa
literatura a que é constituída p o r vastas compilações de cousas de sua profissão , escritas laboriosamente
em um jargào enfadonho com fingimento de língua arcaica ”.
,J SANTOS, Mário Ferreira dos, in: Curso de Oratória e Retórica, Editora Logos, Sào Paulo,
1954, vol. I, p. 29.
10 Vale a pena lembrar ao advogado iniciante que são poucos os clientes que se entusiasmam
ao ler, nos relatórios a eles enviados por operadores do direito, termos técnicos da área
jurídica que nào conseguem compreender. Principalmente quando a comunicação entre
advogado e cliente é freqüente, como no caso de departamentos jurídicos de empresas de
grande porte, bom profissional e aquele que consegue a comunicação eficiente com seus
colegas, que pertencem a outra área de atuação.
A empresa moderna cria, cada vez mais, células multidisciplinares de trabalho e, então,
aqueles que delas participam devem estar preparados para despojarem-se ao máximo da
linguagem técnica quando souberem estar travando diálogo com profissionais de outra
formação.
11 In: Gramática Metódica da Língua Portuguesa, § 880, p. 517.
12 Veja-se como a expressão posto que é utilizada, na linguagem mais antiga, com o valor
concessivo, de “ainda que”, “embora”, na passagem do conto “O Alienista”, de Machado
de Assis. Pode crer-se que a intenção do Mateus era ser admirado e invejado, p o s t o que ele não
a confessasse a nenhuma pessoa , nem ao boticário, nem ao padre Lopes, seus grandes amigos. E
154 M anual de Redação Forense
entretanto ttao fo i outra a alegação do boticário, quando o alienista Ibe disse que o albardeiro talve^
padecesse do amor das pedras , mania que ele Bacamarte descobrira e estudava desse algum tempo.
Aquilo de contemplar a casa.,?'
13 Saramago, José, in: Ensaio sobre a cegueira, Editora Companhia das Letras, 1995, Sào Paulo,
p. 99.
Livro de anotações, vocabulário. Aqui: dicionário.
u Garcia, Othon Moacyr, op. cit. p. 191.
15 E sobre tal respeito que o professor Ives Gandra da Silva Martins dita, em trecho de seu
decálogo para os operadores do Direito; “Respeita teus julgadores como deseja que te
respeitem. Só assim, em ambiente nobre e altaneiro, as disputas judiciais revelam, em seu
momento conflitual, a grandeza do Direito”. A Cultura do Jurista, in: Formação Jurídica ,
Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 130.
16 No ambiente forense, mais que em outros quaisquer, exige-se, também, a forma de
tratamento às coisas emanadas pela autoridade judiciária, o que, a nosso ver, consistem em
extremada polidez, que, por vezes, parecem modo de subserviência', é o caso de “sentença”
e “acórdão”, que nâo sào pessoas nem grupo de pessoas, mas que clamam as formas de
referência “respeitável” e ‘Venerando”, respectivamente.
17 Trechos copiados do Boletim da AASP nu2.121, de 23 a 29/8/99.
18 Fontes: Dicionário Latino-Português - José Cretella Júnior e Geraldo de Ulhoa Cintra -
Editora Anchieta, Sào Paulo, 1944 .BrocardosJurídicos—Dirceu Victor Rodrigues - Editora
Saraiva, Sào Paulo, 1953. Dicionário Micbaellis da Língua Portuguesa , Editora Melhoramen
tos, Sào Paulo, 1996. Expressões batinas Jurídicas e Forenses, Vicente de Paula Saraiva, Edi
tora Saraiva, 1999.
19 Vide também artigo 20 do Decreto 2.954 de 29/1/1999.
20 Kury, Adriano da Gama, in: Para Falar e Escrever M elhor o Português, Editora Nova Fron
teira, Rio de Janeiro, 1994, pp. 265-267.
Lição 3
Iniciando o Texto Jurídico:
O Direcionamento, a Qualificação e
a Narração dos Fatos
Sumário
3.1 O início da petiçào: o encaminhamento. 3.2 O número dos autos e a
referência. 3.3 O parágrafo inicial: O nome das partes e o tipo de ação. 3.4 A narração dos
fatos. 3.4.1 Características do texto narrativo. 3.4.2 Primeiro passo: Selecionar os fatos. 3.4.3
A função argumentativa da narração. 3.4.4 A seleçào dos fatos e a prova processual: Fatos
controversos e incontroversos. 3.4.5 Quando narrar os fatos. 3.4.6 Conclusão. 3.4.7 O
modo de dispor os fatos selecionados. 3.4.7.1 O decurso do tempo e os tipos de narrativa:
Linearidade e não-tinearidade. 3.4.7.2 As funções da narração alinear. 3.4.8 Os meios de
enunciar o transcursos do tempo. 3.4.8.1 O tempo verbal. 3.4.8.1.1 O tempo verbal em
relação ao momento da enunciaçao. 3.4.8.1.2 Tempo verbal em relação a outra ação narrada no
texto. 3.4.8.2 Outras formas de demarcar o tempo: a utilização de advérbios c locuções adver
biais. 3.4.9 Os erros mais comuns nas narrações jurídicas. 3.5 Relembrando. 3.6 Exercícios.
laçào, deverá encontrar esse título na referência da peça, nào tendo de ler
grande parte do conteúdo de cada petição do advogado para identificá-la.
Vejamos como a referência se apresenta, no exemplo abaixo:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA
DIGNÍSSIMA PRIMEIRA VARA CRIMINAL DO FORO REGIONAL
DE SANTANA, NESTA COMARCA DE SÀO PAULO.
Autos de nü 058/99
Ref.:
Alegações finais.
(art 500 CPP)
TÍCIO LEITE, por seu advogado, nos autos da AÇÀO PENAL
r____^ ^ n /_^ ,
que lhe move a JUSTIÇA PUBLICA, vem, respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, apresentar suas alegações finais, nos termos do
artigo 500 do Código de Processo Penal, nos termos que seguem:
(...)
Ou:
HERMETO CORIOLANO e outra, por seu advogado, nos autos da
ação de execução que lhes move o BANCO BOASORTE, vem, respei
tosamente, â presença de Vossa Excelência, requerer a juntada do
incluso instrumento de mandato, bem como o comprovante de reco
lhimento da respectiva taxa favorecendo a Caixa de Assistência ao
Advogado.
Nota 1: É recomendável que o nome das partes venha em desta
que, em maiúsculas ou em negrito, novamente para facilitar a atividade
do cartório, porquanto os seus serventuários devem, com rapidez, proce
der à leitura desses nomes. Nào é nenhuma atitude menor do advogado
tomar esse dpo de providência que tenha o propósito de tomar mais ágil
o trabalho de outros, ao contrário, revela solidariedade àqueles que tam
bém colaboram para a celeridade de seus serviços. Existem advogados
que já entregam suas petições com dois furos feitos na lateral esquerda
das laudas, para evitar que o próprio cartório tenha que o fazer para ane
xar a petiçào aos autos.
Nota 2: Nessa qualificação, devem constar, entào, essas informa
ções: a indicação do nome da parte que se dirige ao juiz; em que pólo da
ação ela se encontra; qual o tipo de açào em que se manifesta; o nome da
parte contrária.
Nota 3: Nas ações penais públicas, movidas pelo representante do
MP, costuma-se, nessa qualificação, denominar-se a parte contrária por
JUSTIÇA PÚBLICA.
Nota 4: Nas petições iniciais, não basta indicar o nome das partes.
Como elas ainda nào estão identificadas no processo, uma vez que os
autos ainda não foram formados, é imprescindível que haja, no lugar des
sa indicação, a qualificação das partes, sendo ela indispensável para que
ocorra a individualizaçào dos pólos da açào. Com a qualificação, o juízo
se torna precavido quanto à confusão entre homônimos, identifica o do
micílio das partes para efeito de competência e citação, o estado civil
para a outorga uxória, dentre outras. Sendo assim, o artigo 282, II, do
Código de Processo Civil exige sejam as partes, na inicial, qualificadas
pela indicação do nome completo, estado civil, profissão, domicílio e
residência. Para reforçar esse detalhamento, costumam-se inserir outros
fatores de identificação, como número de cédula de identidade e CPF.
HERMELINDO DA SILVA, brasileiro, solteiro, professor, residente
à rua dos Pássaros, 2, na capital de Sâo Paulo, portador da cédula
160 Manual de Redação Forense
-II-
Poucas horas antes do amanhecer, então, o réu chamou o autor
para que ambos fossem embora. O autor, já cansado, agradeceu a
atitude e dirigiu-se ao carro do réu, tomando assento no banco da
172 M anual de Redação Forense
carona. Para seu espanto, o réu. ainda muito animado pelo ensejo
da festa, saiu em alta velocidade. Convidou o réu, seu carona, para
que ambos fossem a uma boate próxima, mas este negou-se a
acompanhá-lo, dizendo estar cansado. O réu continuou, enquanto
pilotava, a insistir, afirmando que haveria na boate mulheres bonitas
e que, em fim noite, seria proveitoso para ambos: deveriam prolon
gar a noitada até o nascer do sol. O autor, entretanto, expôs sua
vontade de ir para casa, dizendo aue deveriam lembrar-se de ciue
teriam prova da faculdade na semana seguinte e que por isso seria
bom não abusar. O réu persistia no seu intento de persuadir o autor
a acompanhá-lo e, aparentemente descontrolado, fazia curvas em
alta velocidade, rangendo os pneus, atravessava semáforos fecha
dos. assim expressava sua indignação ou desapontamento por ter
de levar a casa o autor, enouanto este, temeroso, por várias vezes
pedia para que a velocidade do carro fosse abrandada. Não foi aten
dido, e então o acidente parecia premente: o carro era dirigido no
limite do controle humano, com freadas ríspidas, acelerações repen
tinas, que faziam o veículo atingir velocidade absolutamente incom
patível com as vias por que passava. O descontrole mental do réu,
talvez por causa de aloum elemento alterador do humor consumido
na festa, aflorava naquele momento. Ao entrarem na avenida Nove de
Julho, o autor iá previa o pior: percebendo que era por conta da sorte
que até o momento não se haviam acidentado, clamou ao autor que
freasse, tomasse a velocidade normal e o rumo de casa. Foi então
oue a vontade de demonstrar sua contrariedade tomou novo ímpeto:
o autor acelerou ainda mais seu carro e, na intenção de tirar um
“fino” do limite da guia, ao divisar um pedestre na calçada, perdeu
o governo do carro, que seguiu seu curso indo de encontro, em alta
velocidade, a um poste de luz.
Ambos os textos narram os mesmos fatos e têm como elementos
juridicamente relevantes o acidente e alguns aspectos da conduta do réu,
nos limites da culpa grave. Também ambos os textos trazem as circuns
tâncias suficientes para o entendimento e individualizaçào do caso con
creto. No entanto, o segundo texto é, perceptivelmente, mais longo e de
talhado que o primeiro. Em que consiste esse detalhamento?
Ocorre que o segundo texto traz, além dos elementos necessários
para o entendimento do contexto em que houve os fatos juridicamente
relevantes, outros atinentes à técnica narrativa em geral. O primeiro de
les sào os fatos que procuram satisfazer a curiosidade do leitor ou prender
a atencào à leitura.
j
tào, só deve ser feita quando se tem certeza de sua pertinênáay caso contrario
seu efeito pode ser deletério: eles podem tornar a narrativa longa, confu
sa, cansativa ao leitor. Isso, aliás, é muito comum em narrações que pre
tendem ser longas.
Portanto, da gama de fatos que chegam ao conhecimento do advo
gado, ele só deve selecionar esses últimos se tiver uma intenção clara e se
seu efeito, no texto, for benéfico.
Ao falarmos de satisfazer a curiosidade do leitor ou prender sua
atenção, invadimos de certa maneira a função literária do texto narrativo.
Afinal, são os autores da literatura que, em suas narrações, procuram des
pertar o interesse do leitor: diz-se que um bom romance prende a atenção
do leitor até a ultima página, assim como o bom filme segura o espectador
até o último minuto. Como isso ocorre? Por meio da criação de um conflito.
Nota: Pode o leitor estranhar que, ao tratarmos da narrativa em
texto jurídico, adentremos às técnicas de produção de narrações que pren
dam a atenção do leitor, ou lhe despertem o interesse na leitura. Afinal, a
função do texto jurídico é a de informar e persuadir e não de divertir ou
entreter. Essa assertiva é verdadeira. A função principal da narração jurí
dica nào é, ao contrário da literária, a de emocionar e entreter, mas sim a
de informar os fatos e, de forma implícita, persuadir. Ocorre que a emo
ção, a persuasão e o interesse sào elementos que se complementam, de
modo que a leitura agradável nào se pode dissociar da pretensão suasória,
da “adesão dos espíritos” de que nos fala Perelman. Por isso, a narraçào
que prende a atenção do leitor é, de fato, um dos fatores que torna o texto
persuasivo e claro. No entanto, vale frisar que esses elementos que bus
cam criar o conflito sào, em verdade, de importância menor que aqueles
que trazem informações básicas para a compreensão e individualizaçào
dos fatos juridicamente relevantes. Dessa forma, o redator iniciante deve-
se preocupar em selecionar elementos apenas para informar, deixando de
lado a criaçào do conflito, até que tenha maior segurança para fazê-lo, vez
que, sem ela, os elementos fáticos menos relevantes podem transformar a
narrativa em uma construçào pouco clara, que, em lugar de prender a
atenção do leitor, vêm a confundi-lo.
Um texto prende a atenção do leitor quando neste faz criar uma
expectativa pelo desfecho. Essa expectativa nasce de um conflito, um
embate que é exposto ao leitor e que se resolve, de maneira satisfatória
ou infeliz. No entanto, para que o conflito surja no texto, é necessário
174 M anual de Redação Forense
0 réu ameaçava a vítima que, aos gritos, clamava por não ser
morta. Ele pediu as jóias e, ao ouvir a negativa da vítima, que dizia
não possuir nenhuma, não teve dúvida: com frieza desumana, puxou
o gatilho do revólver encostado à cabeça da vitimada, prostrando-a
no chão, sem vida, de forma cruel, por motivo absolutamente fútil.
- II-
O réu, no intento de roubar, pediu à vítima jóias e dinheiro. Assus
tado, temeroso e alterado, pois não é um bandido profissional, mas
incidentalmente cometendo aquele equívoco, ouviu a ríspida nega
ção da vítima e, supondo tendo ela chance de reação, que por certo
poria sua vida em risco, em um ímpeto de emoção e medo apertou o
gatilho, temendo por sua sobrevivência.
Termos em que,
pede deferimento.
São Paulo, 27 de outubro de 1990.
No caso da petição simples acima, apenas o último parágrafo é ar-
gumentativo. Todos os outros sào narração dos fatos, que, embora não
sejam complexos, configuram-se essenciais ao deferimento do pedido for
mulado na petição e, daí, pode influenciar em toda a causa. Narrar os
fatos é, então, em primeiro lugar, selecionar aqueles que sào necessários
em cada momento processual, para o entendimento da argumentação e
do pedido.
Há casos em que o operador do direito, embora já haja narrados os
fatos principais dentro do processo, repete-os. Por exemplo, nas razões de
apelação, em que o advogado as inicia construindo o denominado “Rela
to dos Fatos e do Processo”. Nesse relato, ele resume os fatos principais
do processo, com o intuito de que o julgador em segunda instância, que
nào acompanhou a instrução processual , tenha, pela simples leitura das
razões de apelação, noção dos fatos que originaram o processo e, além
disso, dos momentos principais marcados nos autos. O objetivo desse
relato é tornar mais célere o trabalho do julgador.
Em resumo, o autor da petição deve narrar os fatos todas as vezes
que eles sejam novos ou que entender que relatá-los, em breve resumo,
contribui para a aceitação de sua tese, tornando sua petição completa,
sem lacunas, com os elementos mínimos necessários para a compreensão
de seu pleito.
3.4.6 Conclusão
Assim, o primeiro passo da narrativa é a seleção dos fatos a serem
narrados. Sobre eles, o aluno deve lembrar que:
- Os fatos juridicamente relevantes devem ser todos seleciona
dos para serem expostos na narrativa.
- Além deles, devem aparecer na narração dos fatos, obrigatoria
mente, aqueles que constituem as circunstâncias mínimas para o
entendimento do caso (reveja as sete perguntas da boa narrativa).
- Podem ser selecionados outros elementos, que, embora de me
nor importância, contribuem para criar um conflito no texto e
Lição 3: Iniciando o texto jurídico: o direcion., a qualif. e a narração dos fatos 185
-II-
0 autor, no dia 3 de fevereiro do corrente ano, comprou uma es
tante em loja da empresa-ré, sendo informado de que estava adqui
rindo um produtor feito em madeira maciça. Efetuada a compra em
tal estabelecimento (nota fiscal em anexo 1), o autor recebeu, após
uma semana, o móvel em sua casa. Ao tentar montá-io, de acordo
com o manual de instruções, a madeira lateral da estante, no mo
mento da fixação de um parafuso, rachou-se et então, o autor pôde
perceber que o móvel, ao contrário do quanto lhe fora dito pelo vende
Lição 3: Iniciando o texto jurídico: o direcion., a qualif. e a narração dos fatos 187
bém, nos textos da literatura de ficçào, como vistos nos exemplos iniciais.
Entretanto, a pouca orientação quanto à passagem do tempo pode ser
uma intenção daquele que narra, constituindo, entào, um outro tipo de jus
tificativa para a nào linearidade da narrativa.
Há algum tempo, assistimos a uma brilhante sustentação de um
colega no Plenário do Júri, que pode ser grosso modo resumida no texto
abaixo. Leia-o com atenção:
Depois da narração do nobre promotor de justiça, os senhores
jurados podem-se perguntar o que um advogado pode falar em defe
sa do acusado. O promotor narrou a barbaridade da cena do crime,
com acerto: três tiros que traspassaram a vítima, atingindo-a pelas
costas. Foi essa, realmente, a cena do homicídio, e nada a ela pode
ser acrescido, nem pode ser retirado da narração feita pelo distinto
acusador.
Ainda assim, a defesa diverge, e muito, da interpretação dada ao
crime pelo Promotor de Justiça.
A cena do crime, tão abominável, não surgiu do vazio. Foi motiva
da por fatores anteriores, que se desenrolaram no decorrer do tem
po. Na antevéspera do crime, nós vimos, pelo depoimento da teste
munha, que o réu fora ameaçado pelo vitimado, em frente a seu
próprio lar. Imaginem os senhores o que é sair da própria casa,
diante dos filhos, e deparar-se com alguém, de dedo em riste, ame-
açando-o de morte, em altos brados.
Quatro meses antes da data do crime, temos também depoimen
tos, presenciados por Vossas Excelências, de que houve um entrevero
entre réu e vítima, talvez motivado por ciúmes, talvez por questões
financeiras, não se sabe ao certo. O que se sabe é que ambos havi
am-se atracado na porta de um bar, e, a partir, daí, a hostilidade entre
os dois tendeu apenas a crescer. O vitimado, já falecido - mas é ne
cessário que se diga - já tinha passagem pela policia. Era pessoa, por
assim dizer, perigosa. Desde o dia da briga no bar, sabe-se, dia a dia
o réu recebia nova ameaça, e elas referiam-se à sua própria vida.
E assim foi por vários meses, agüentando aquela pressão, o
medo da morte a cada esquina. Até o dia em que a ameaça tomou
corpo, vindo bater às portas de sua casa. Ê claro que, nesse momen
to, a emoção aflora, o que era controlável se descontrola e libera o
anseio não de matar o inimigo com a frieza de que nos fala a acusa
ção, mas de, simplesmente, por fim a uma ameaça que perdurava e,
pior, aproximava-se cada vez mais. A preservação da vida é instintiva,
não se trata de frieza, de dolo, de premeditação.
A emoção, por vezes, foge ao controle do mais equilibrado dos
seres humanos, e foi sabendo disso que a lei criou a figura da violen
ta emoção.
Lição 3: Iniciando o texto jurídico: o direcion., a qualif. e a narração dos fatos 193
-II-
0 autor ajuizou, em janeiro de 95, ação de despejo por falta de
pagamento, porque o recorrido deixara de pagar-lhe mais de cinco
meses de aluguel, de janeiro a maio de 94. Chegou o réu a, um mês
depois de notificado, em julho de 94, a purgar a mora, mas o fez
parcialmente, voltando a deixar de pagar outros quatro meses: agos
to a novembro de 95, conforme documentos anexos.
enuncia serve como referência para todos os fatos narrados. É assim que
expõe o Professor José Luiz Fiorin:2
Mostra Benveniste que uma coisa é situar um acontecimento no
tempo crônico e outra é inseri-lo no tempo da língua. Para ele, o
tempo lingüístico é irredutível seja ao tempo crônico, seja ao tempo
físico. Dessa forma, o lingüista francês considera que há um tempo
específico da língua.
(...)
Está afirmando que a dívida ainda nào vencera, pois seu pagamen
to foi prometido para o dia seguinte ao momento em que o texto foi redi
gido (ato da fala).
Para enunciar corretamente, deve-se utilizar um advérbio que assu
ma como referência o marco temporal demarcado no texto (o dia 26 de
janeiro). Deve-se, entào, dizer:
0 autor foi à empresa do réu no dia 26 de janeiro de 1999, e este,
naquela oportunidade, disse que efetuaria o pagamento da dívida no
dia seguinte.
3.5 Relembrando
a) A petição inicia-se com o encaminhamento, que deve conter a
designação do juiz, desembargador (ministro, promotor, delega
do ...), acompanhada da devida fórmula de tratamento, a vara,
o foro ou o Tribunal e a comarca.
b) Em alguns casos, o encaminhamento pode conter, além de to
dos esses dados, o nome do destinatário.
c) Depois do encaminhamento, seguido de espaço em branco, a
petiçào deve indicar o número dos autos.
d) É recomendável que se insira uma referência, o “nome da peça”,
para orientar a leitura dos autos em momento posterior.
e) O parágrafo inicial deve trazer o nome da parte que fala nos
autos, o tipo da açào, a parte adversa e uma introdução para a
alegação que se iniciará.
f) Nas petições iniciais, o primeiro parágrafo deve qualificar as
partes.
g) As petições iniciam-se, em geral, com uma narrativa dos fatos.
h) A narrativa dos fatos pode referir-se aos fatos do mundo exteri
or ou às ações havidas no decorrer do processo.
i) A narrativa é figurativa, ou seja, contém personagens e coisas.
Os personagens, por meio de suas ações, transformam uma re
alidade anterior.
j) O primeiro passo de quem pretende construir uma narrativa é
selecionar os fatos que serào narrados.
k) Os principais fatos a serem narrados sào os juridicamente rele
vantes, aqueles que importam conseqüência jurídica ou aquele do
qual nasce o ponto principal para a argumentação ou o pedido.
1) Nào bastam, em narrativas mais apuradas, principalmente as
iniciais, os fatos juridicamente relevantes. E preciso que nelas
se insiram outros, circunstanciais, que levam o leitor a compre-
206 Manual de Redação Forense
3.6 Exercícios
1. Suponha que dois colegas, que passeavam juntos, encontraram-se na
rua com Joào, um amigo que há muito nào viam. Este estava em um
carro importado, grande, brilhante, muito bem cuidado, mas também
muito antigo. Usava roupas caras, bonitas, mas com certo desleixo:
gravata mal arrumada, colarinho nào fechado. Seu semblante estava
muito bom, jovial, mas sua barba estava por fazer e os cabelos,
despenteados. Vendo a mesma cena, cada amigo fez a seguinte descri
ção:
Primeiro:
Encontrei o João. Ele estava em um carro importado caríssimo,
brilhante, bem cuidado, com bancos de couro lindos, um deslumbre.
Seu rosto estava jovial, de quem se deu bem na vida, suas roupas
eram finíssimas, num tom desleixado, que dava certo ar de despreocu
pação. Sorridente, cumprimentou-me rapidamente, apressado para
algum negócio, e pediu para que eu fosse conhecer seu escritório.
Segundo:
Encontrei o João. Ele estava em um carro velho, daqueles
grandalhões, que hoje em dia não valem centavo. Procurava cuidar
do carro para dar uma valorizada, mas de longe se vê que não tem
um tostão para comprar um carro novo, coitado. Seu aspecto era
desleixado, a barba por fazer, a roupa amassada, mal arrumada,
acho que suja até. Cumprimentou-me rapidamente e foi embora, fez
um convite formal de que eu o visitasse.
Com base nos textos acima, responda:
a) Qual dos dois procurou transmitir uma visào positiva a respeito de Joào?
b) O que se pode dizer a respeito do ponto de vista de cada um dos narradores?
c) Que recurso utilizaram para convencer o leitor ou ouvinte a respeito de seu ponto de
vista?
d) É possível construir uma descrição totalmente imparcial da cena acima exposta? Por
quê?
2. Exercício prático.
Os textos abaixo são narrações feitas em primeira pessoa. São enun
ciadas como se um cliente contasse a você um caso que lhe ocorreu,
implicando, supostamente, algumas conseqüências jurídicas. Dos fa
tos narrados, muitos sào aproveitáveis para uma peça jurídica e ou
tros, absolutamente dispensáveis. Eles vêm, algumas vezes, fora da
ordem cronológica. Colha os fatos que entender relevantes para pro-
208 M anual de Redação Forense
por uma peça jurídica, apenas quanto à narração dos fatos. Não se preo
cupe, por ora, em argumentar.
Proceda da seguinte maneira:
Selecione os fatos que entender relevantes.
Ponha-os na ordem que pretende narrar.
Exponha-os, em uma petiçào, fazendo o devido encaminhamento, in
dicando o número dos autos, a referência e construindo um parágrafo
inicial.
Depois do parágrafo inicial, abra o subtítulo: “Dos Fatos” e narre-os
de forma persuasiva e bem compreensível ao leitor, com o maior nú
mero de detalhes, pertinentes, possível.
TEXTO 1
Meu avô tinha deixado para a minha avó uma casa Atibaia. “Tinha
deixado” porque meu avô morreu, isso já faz bem uns quinze anos.
Mais um pouco, talvez. Sei que minha avó herdou tudo do velho, inclu
sive essa casa de que estou falando. Bem, a velha ficou morando lá
depois da morte do marido, e não demorou mais que oito ou dez
meses (quem sabe um ano?), para que ela fosse encontrar com o
vovô, lá no andar de cima. Saudades, você sabe. Foi ai que minha
mãe contratou advogado, para saber dos bens da mãe dela. Eu sei
que foi feito tudo nos conformes, e a minha mãe agora é dona legiti
ma da casa de Atibaia. A irmã dela, minha tia, aceitou ficar com um
apartamento meio espremido, em um prédio velho lá no Bom Retiro.
É trouxa a titia, a casa de Atibaia é tão melhor, mais longe, tudo bem,
mas com três quartos, uma cozinha novinha que ela comprou junto
comigo, eu fui com ela, colocamos uma cozinha novinha, daquelas
chiques, encomendadas na loja da Avenida Ibirapuera. Do aparta
mento do Bom Retiro ninguém cuidava, também pudera, já foi com
prado caindo aos pedaços. Mas acontece que naquela casa de Atibaia,
como ninguém foi morar lá, mamãe colocou um caseiro. No começo,
bom menino, ele a esposa e um filhinho. Eu joguei muita bola com o
Jefferson, filho dele, hoje grandão o desgraçado, foi criado com leite
Ninho à custa do dinheiro que deveria ser meu. Mas o pai dele, seu
Assis (deve ser Francisco de Assis), diz hoje que não vai sair de lá
não. Diz que está lá há mais de dez anos e ninguém foi ver o imóvel,
o que é mentira, eu bem lhe disse que eu jogava com o Jefferson, faz
no máximo sete anos, e era no campo de futebol no quintal, eu e meu
irmão plantamos grama nele. No campo, não no Jefferson. Bom,
mas eles não querem sair de lá, alegando que a casa agora é deles.
Meu pai pagava o salário deles todos os meses, depois parou, fica
mos meio sem dinheiro, mas pagamos todos os impostos. Acho que
o fato de não termos dinheiro não justifica ele querer ficar com a
casa. Na verdade, o vizinho diz que ele usa a casa para fazer uns
cultos estranhos e incorpora uns espíritos do além. Mas isso não
Lição 3: Iniciando o texto jurídico: o direcion., a qualif. e a narração dos fatos 209
importa: eu quero tirar todos eles da casa porque vou morar lá, eu e
minha futura esposa, eu me caso mês que vem e não posso adiar o
casamento. O doutor sabe, essas coisas precisam ser rápidas, me
precipitei e... Esquece, tem como me ajudar? Eu já disse que estou
meio desprevenido.
TEXTO 2
O bar era do seu Manoel, eu estava lá refrescando a goela quando
a policia chegou e me carregou para o distrito. Disse a eles o tempo
todo que não sabia por que estava sendo preso, o que não é de todo
mentira porque ninguém me explicou nada direito, foram chegando e
me trazendo pra cá, dizendo só que eu era foragido, que há tempos
estavam atrás de mim. E estavam mesmo, meu outro advogado já
tinha me dito para eu dar sumiço, mas eu resolvi ficar aqui por São
Paulo mais um tempo, juntar um dinheiro para voltar para minha
terra. Para minha terra, bem dizer, não, porque lá eu também não
posso aparecer. Acontece que lá no interior eu era casado, tinha uma
mulher muito bonita, mas muito safada. Morreu, coitada. Eu sai do
interior com uma mão na frente e outra atrás, vim pra esta cidade
porque não conseguia suportar a dor de haver sido traído por ela.
Pela mulher, não pela cidade. Aqui eu arranjei outra, mas fiquei re
moendo a dor do passado, e então, num belo dia, resolvi ligar para
minha ex, no interior, e a convidei para vir a São Paulo. Quando ela
chegou, na rodoviária, eu não agüentei a raiva, puxei a faca e a matei
ali mesmo, perto da Estação do Metrô. Saí correndo e tenho certeza
que ninguém me viu, mas mesmo assim, depois de uns bons seis
anos, eu fui chamado a julgamento, o oficial de justiça apareceu na
porta de casa. Foi aí que contratei advogado, um cara meia-boca, que
disse que o processo estava bem difícil para mim. Não sei por quê,
se ninguém me viu. Fui a júri e a defesa não foi boa, me condenaram,
peguei seis anos e achei que iria direto pro xadrez. Mas não fui, não.
O advogado falou que iria apelar da sentença. Passaram quase dois
anos e então o advogado me ligou, dizendo que a apelação não tinha
dado certo. Disse que eu deveria me apresentar no Fórum, que eu
não iria pra cadeia, no máximo para a colônia, pois assim determina
va a sentença, e eu bem sei que essa tal de colônia nem existe. Achei
que ele estava me enganando, e disse isso a ele. Foi então que o
doutor falou pra eu ou me apresentar, ou sumir de vez, porque, se eu
não me apresentasse, quando eles me pegassem na rua eu iria pra
cadeia mesmo. Não me pegaram na rua, mas no Bar do Seu Manoel,
refrescando a goela. No mais, foi bem feito, porque um dia eu peguei
a falecida me traindo com o prefeito. Na época, claro, ela ainda não
era falecida. Pegar, não peguei, mas me disseram. Desde então,
esperei o dia certo pra fazer o que fiz. Isso eu conto pro senhor, por
que, se o delegado perguntar, eu nego.
TEXTO 3
Àquela época, eu sabia e muito bem o que estava se passando.
Eu, minha esposa e um casal amigo nosso nos conhecemos todos
210 Manual de Redação Forense
TEXTO 4
Meu problema é que o banco diz que eu assinei uma nota promis
sória que eu nâo assinei, tenho a mais absoluta certeza. Disse ao
meu advogado antigo que a assinatura não era minha de jeito ne
nhum, mas ele não acreditou e é por isso que eu estou procurando o
senhor. Eu fui fiador de uma funcionária minha, mas posso garantir-
lhe que não assinei essa nota cuja cópia está no processo, que
vocês chamam de autos, sabe lá Deus por quê. Ela trabalhou na
minha empresa como recepcionista, mulher atraente e bastante es
perta, funcionária de confiança. Um certo dia pediu que eu fosse com
ela a uma concessionária de carros, ela queria comprar um carro
novo, desses populares. A princípio eu achei bastante estranho, ela
não ganhava para isso. E nem eu, que sou o dono, tinha dinheiro pra
sair por aí comprando carro zero. Meu vizinho, o proprietário da loja
ao lado, esse sim, ganha dinheiro como água, vendendo a mesma
coisa que eu. Ninguém mais vende lustres na Consolação, só ele,
amarra cachorro com lingüiça o maldito. Bom, eu então fui com ela -
a funcionária, não a lingüiça - na concessionária, e lá me informa
ram que seria feito um contrato de leasing, do qual eu seria o fiador.
Aceitei, minha funcionária tinha seus meios de persuasão, se é que
me entende. Naquele dia, eu assinei um contrato como avalista, eu
acho, esse que está aí, com o timbre do banco. Essa assinatura é
minha. Mas posso jurar que foi isso a única coisa que assinei. Pas
saram-se uns três ou quatro meses e uma moça do banco ligou,
dizendo que minha funcionária não pagava as prestações, e que eu
deveria responder por elas. Na hora, disse que não adiantava nada o
banco vir pra cima de mim. Estou quebrado faz tempo, afirmei, e
perguntei se ela não ligou enganado, talvez quisesse falar é na loja
ao lado, com o meu vizinho. Aquele sim tem dinheiro. Disse à moça
que me botar na Justiça era como dar rajada de metralhadora no
cemitério: atira à vontade, dona, que não faz diferença, tá todo mundo
morto mesmo! Eu sei tratar com credor, não sei? Tanto sei que ela
pressionou direto minha ex-funcionária - esqueci de dizer que a essa
altura eu já a havia dispensado - a qual apareceu na minha loja dias
depois, dizendo que eu ficasse tranqüilo, porque ela já havia feito um
novo parcelamento da dívida, e que iria honrar tudo até o fim. Tive
mos uma conversa agradável, ela me garantindo que o banco não
mais me incomodaria. Tudo bem. Passou um ano, e então a história
se repetiu novamente. A moça do banco ligou dizendo que outras
parcelas deveriam ser pagas. Se quer dinheiro, fala com meu vizi
nho, respondi; para cada lâmpada que eu vendo, o turco vende dez
lustres de cristal. Não adiantou, o banco agora está me acionando. O
que eu consegui perceber é que, àquela época que a mulher do
banco me ligou pela primeira vez, eles renegociaram o contrato, e foi
aí que apareceu essa nota promissória, como garantia da
renegociação. Ela é datada daquela época. Mas o senhor pode ver
212 Manual de Redação Forense
que essa assinatura não é minha, eu não participei dessa nova ne
gociação, nem sei em que termos ela ocorreu. A ex-funcionária apa
receu semana passada lá na loja, e eu disse que tomaria providên
cias criminais contra ela, está na cara que foi ela quem forjou minha
assinatura nessa nota. Filho, trinta anos de comércio: assino como
fiador, mas nem chego perto de promissória. Deus me livre! Pois a
moça ficou tão apavorada quando eu falei que falsificou minha assi
natura, que mudou logo a conversa. Se insinuou toda, me chamou
pra sair, disse que tínhamos que conversar com mais intimidade. E
eu fui, é claro. Tudo tem seu lado bom, à exceção do LP da Fafá de
Belém! O doutor não achou graça?
Lição 3: Iniciando o texto jurídico: o direcion., a qualif. e a narração dos fatos 213
Anexo de Notas
1 REALE JR., Miguel, in: Teoria do Delito, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1998,
p. 30.
2 FIORIN, José Luiz, in: As Astúcias da Enunciaçào: as categorias de pessoa* espaço e tempo.
Editora Atica, 1996, p. 142.
1 Ver PLATÃO & FIORIN, op d t , pp. 212-214.
Lição 4
Argumentação Jurídica
Sumário:
4.1 Introdução. 4.2 Características do texto argumentativo. 4.3 O argumen
to: Conceito e alcance. 4.4 Iniciando a argumentação: O leitor como alvo do texto. 4.5
Selecionando os elementos: Os tipos de argumento. 4.5.1 Argumento de prova. 4.5.1.1 A
prova testemunhai. 4.5.1.2 O argumento de prova técnica. 4.5.1.3 O argumento de prova
documental. 4.5.2 Outros tipos de argumento. 4.5.2.1 O argumento ab autoritatem. 4.5.2.2
O argumento contrario sensit. 4.5.2.3 O argumento a simili ou por analogia. 4.5.2.4 O argu
mento a fortiori. 4.5.2.5 O argumento a completudine. 4.S.2.6 O argumento a coberentia.
4.5.2.7 O argumento psicológico. 4.S.2.8 O argumento ao absurdo. 4.5.2.9 O argumento de
senso comum. 4.5.2.10 O argumento de competência lingüística. 4.5.2.11 O argumento de
fuga. 4.6 Ordenando os argumentos. 4.7 O cuidado na seleção de argumentos: A coerência.
4.8 Várias teses em uma mesma petiçào. Teses principais e teses subsidiárias. 4.9 A conclu
são da peça argumentativa: O pedido. 4.10 A sentença como lugar da argumentação. 4.11
Conclusão. 4.12 Resumo. 4.13 Exercícios.
4.1 Introdução
No capítulo anterior, vimos o modo de iniciar uma petiçào genéri
ca, bem como algumas técnicas para a boa narrativa dos fatos. Soubemos
que a narraçào é figurativa, que ela implica a participação de personagens
para uma alteração em uma situação previamente estabelecida, e que tem
um ponto de vista implícito, nào revelado, mas presente, que lhe traz um
efeito persuasivo. A narrativa é importante, entào, porque leva ao conhe
cimento do julgador os fatos passados, sobre os quais deve o magistrado
aplicar a lei cabível.
Mas é no momento de aplicação da lei, ou melhor, da discussão a
respeito do preceito legal a ser aplicado a cada caso, que a tarefa do advo
gado torna-se mais complexa, pois ele deve, no texto, convencer o julgador
a respeito de sua tese.
Aproveitando-se dos elementos fáticos que foram levados a conhe
cimento do julgador por meio das provas processuais e da narração, o
autor do texto deve apresentar uma ou mais teses jurídicas, que apontam
[ 215 |
216 Manual de Redação Forense
com maior relevo, não só porque neste trabalho cuidamos do texto escri
to, mas também porque, sem qualquer sombra de dúvida, a argumentação
escrita tem maior lugar no processo brasileiro, não obstante o princípio da
oralidade.
(...)
tenha cometido mais um. Nào é certo, universal, mas é apenas provável ou
ra^ável que isso haja ocorrido. Da mesma forma, uma testemunha que
tenha presenciado o fato criminoso e que reconheça o réu como autor do
crime, também traz um indício de verdade. É provável, diante do reco
nhecimento, que o réu tenha cometido o crime. O depoimento de tal
testemunha funciona também como argumento para a acusação. Nenhum
dos dois argumentos indica com exatidão que a tese acusatória é falsa ou
verdadeira, mas pode-se dizer, apenas, que, com relaçào à aludida tese, o
primeiro argumento —a folha de antecedentes - é mais fraco que o segun
do, o reconhecimento. Ambos colaboram para a mesma conclusão, a con
firmação da autoria do crime.
Da mesma forma ocorre com as teses que visam à discussão quan
to à aplicação e interpretação das normas legais. A interpretação varia de
acordo com o julgador e com a argumentação feita pelas partes. Se admi
tíssemos que os argumentos jurídicos são provas cabais da verdade, cer
tamente nào se poderia aceitar a existência de dois entendimentos distin
tos para a mesma lei, como nào se pode aceitar que haja dois resultados
diferentes para uma mesma equaçào matemática. Mas o próprio sistema
normativo reconhece como legítima a existência de mais de um entendi
mento distinto para a mesma lei, como ocorre no artigo 105, III, c, do
texto constitucional, que assenta ser cabível recurso especial quando a
decisào recorrida “ der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja
atribuído outro tribunal No mesmo sentido, os embargos infringentes pre
vêem que, para o mesmo caso, com as mesmas teses articuladas, haja
entendimentos divergentes.
Podemos ir mais fundo nessa questão: pode-se articular que, se exis
tem entendimentos divergentes para a mesma lei, ou para o mesmo caso
concreto, é porque um dos posicionamentos é equivocado, pouco lógico,
e, assim, o próprio sistema normativo faria a previsão de recursos jurídi
cos para que um Tribunal Maior ou uma Câmara mais numerosa forneces
se a tese, ou o entendimento, ou a corrente “verdadeira”. Essa argüição
nào procede, pois, a despeito de brilhantes teóricos do direito defende
rem a existência de uma única interpretação legítima para a lei, nào se
pode dizer que existam interpretações “erradas” ou “ilegítimas”. O que
se pode afirmar, somente, é que existam decisões ou teses com funda
mentos mais fortes, ou seja, com argumentos melhores que a sustentem.
Os fundamentos, que nada mais são que argumentos, sustentam uma tese
Lição 4: Argumentação jurídica 223
o c. • /
com exatidão indiscutível. E a soma dos argumentos que deixa uma ou
outra tese mais forte, com maior sustentabilidade diante de outra .e, por
tanto, a articulação de argumentos variados e pertinentes é importante
toda a vez que se necessite persuadir alguém. Parece-nos evidente que o
direito procura criar mecanismos para uniformizar posicionamentos e
decisões judiciais, porquanto é desejo maior de toda a sociedade que se
apliquem soluções idênticas para casos essencialmente iguais, mas, na
ocorrência da divergência entre teses, deve ser vencedora aquela que ti
ver maiores argumentos a embasá-la, e por isso, grosso modo, diz-se que
a lógica do direito é argumentativa ou retórica.
__^ ^ *
Como prova concreta, ele é incontestável. E o que ocorre na maio
ria das lides penais, em que as provas feitas pela polícia técnica no inqu
érito policial nào sào submetidas ao acompanhamento das partes e, en
tào, raramente há condições ou viabilidade de contestá-las em momento
posterior, ainda que se contratem novos peritos. Por isso sào, na prática,
aceitos e nào discutidos, a nào ser que um elemento muito forte leve ao
convencimento contrário.
Sem possibilidade de contestação por causa do hermético conheci
mento que encerra, a prova técnica passa, quando nessas condições, a
funcionar como ponto de partida para a argumentação.
Elas demonstram os fatos, procuram reproduzi-los atestá-los e o
fazem com grande grau de certeza e exatidão. Esse é o ponto positivo da
prova concreta. O ponto negativo é que a prova técnica tende a ser muito
aguda, ou seja, a tornar certo um ponto que é apenas parte do todo dis
cutido no processo. Em outras palavras, a prova técnica muitas vezes faz
análise reducionista da realidade.
Imaginemos um debate político. Dois candidatos, um da situação e
outro da oposição, procuram cada qual defender seu ponto de vista.
Candidato da situação: nosso governo é o melhor de todos os
tempos, pois as pesquisas de todos institutos de economia compro
vam que a inflação havida durante nossa administração é a mais
baixa de todos os tempos. Outras pesquisas mostram que a morta
lidade infantil é a mais baixa. Outras pesquisas também compro
vam, em unanimidade, que as exportações aumentaram.
Candidato da oposição: é certo que a inflação é a mais baixa de
todos os tempos, mas, por outro lado, as pesquisas mostram que o
desemprego é o mais alto de todos os tempos. Ademais, se há pro
vas incontestáveis de que a mortalidade infantil baixou, bem como
que as exportações aumentaram, há dados técnicos de que o país,
ainda assim, encontra-se no maior déficit público de sua história.
Todos os argumentos apresentados, que constituem prova con
creta, são incontestáveis e, ainda assim, a argumentação não che
gou a seu fim. Não se pode definir qual é o melhor governo, pois a
prova técnica não responde a isso. As pesquisas, os índices, firmado
por expertos, fixam apenas parte de toda a discussão. Caberá a
cada candidato demonstrar o que é mais importante: emprego ou
inflação? Mortalidade infantil ou déficit público? Não contestam dire
tamente a prova técnica, mas discutem seu valor para demonstrar a
tese, qual é a melhor proposta de governo.
No ambiente judiciário ocorre o mesmo. Um exame grafotécnico
pode tornar incontroverso que o réu assinou determinado documento,
236 M anual de Redação Forense
mas isso nào põe fim à argumentação. Funciona como ponto de partida
para outras discussões, sobre as quais cabem outros raciocínios, outros
argumentos: alguém que assinou um documento como fiador pode ser
desobrigado da garantia por haver renegociação da dívida, sem a sua de
vida ciência. Um laudo da polícia pode deixar incontroverso que os projé
teis atingiram a vítima pelas costas, mas isso nào define a cena do crime:
o acusador pode dizer que a vítima foi executada pelas costas sem ter
direito a qualquer reaçào, enquanto o defensor pode dizer que o homicida
encontrou a vítima pela frente e esta, ao ver a arma, virou-se de costas,
no momento em que os disparos já eram efetuados.
A prova técnica tende a ser aceita quando nào há elementos fortes,
também técnicos, que a contrariem. No entanto, da mesma maneira que
tende a ser forte, tende a ser restrita a alguns elementos que nào abarcam
toda a situação concreta discutida nas teses postas ao conhecimento do
judiciário. Ainda assim, funciona, e bem, como elemento de persuasão
quanto aos fatos, e deve sempre ser realçada na argumentação escrita,
explicando-se como as suas conclusões colaboram para a comprovação
da tese argüida.
É fato que esse tipo de construção, com cópia —nào longa —das
provas que sào utilizadas como argumento toma a argumentação mais
extensa, mas essa extensão acaba sendo compensatória ao próprio leitor,
que não tem de desviar-se da leitura da peça para consultar o documento
referido, com o fim de compreender o que lhe é dito em argumentação.
A prova documental é, entào, modo de argumentar-se quanto aos
fatos, por meio de documentos que devem, sempre, fazer parte dos autos.
O argumento se toma mais persuasivo na medida em que o conteúdo do
documento c mais bem aproveitado no texto do profissional, para servir
de demonstração retórica de uma tese. Por isso se aconselha seja seu con
teúdo, no quanto interessa ao argumentante, copiado na peça.
citar aquela de que se saiba ter o leitor maior afinidade, ou, ao menos, que
conheça seu nome como pessoa apta a avalizar a tese que se pretende
comprovar.
Nota: Deparamo-nos aqui, novamente, com a questão do auditório
especializado. Como o leitor das petições é o magistrado, sabe-se que ele
deve conhecer todos aqueles que sào autoridades reconhecidas no Direi
to e, por isso, não nos deparamos com grandes dificuldades quanto a este
aspecto. Uma citaçào de Pontes de Miranda, por exemplo, causa efeito
persuasivo em qualquer leitor, variando sua força pelo maior ou menor
grau de afinidade que tenha o magistrado para com o referido autor. Mas,
graças à gama de livros jurídicos que as editoras, por fim, estào lançando
em nosso país, alguns autores nào sào conhecidos e reconhecidos por
todos os leitores (o que nào significa que seus escritos sejam de pouco
valor). Quando o argumentante sentir a possibilidade de o autor citado
nào ser devidamente conhecido, deve apresentá-lo ao leitor, com os
predicados que lhe impinjam o status de autoridade, antes de copiar o
trecho que pretende utilizar, deste modo: Como assenta Joel de Figueiredo
Dias, professor catedrático da Universidade de Coimbra e presidente do Instituto de
Direito Pena/ Econômico Europeu Essa apresentação, ainda que o leitor
nào conheça o professor citado, passa-lhe o status de autoridade, dando
maior força ao argumento.
Essa presunção de razào ao que diz a autoridade representa o pri
meiro efeito suasório do argumento ab autoritatem. O segundo efeito diz
respeito à isenção presumida que tem a autoridade. O advogado, quando
se manifesta nos autos, é visto —porque é fato —como argumentante
imbuído de grande parcialidade. Nào lhe é aconselhável, por isso, criar de
próprio punho definições, conceitos ou distinções na área do direito exa
tamente no momento de defender um cliente, pois, qualquer conceito ali
insculpido perde, inevitavelmente, sua carapaça de ciência para parecer
ao leitor construção falaciosa. Para ser mais claro, ninguém admitiria como
científica ou isenta uma definição ou interpretação jurídica criada para ser
usada em um caso concreto, defendendo um determinado interesse. Nào que isso
nào possa ser feito, mas, se o for, terá com certeza certo enfraquecimento
na intençào de buscar a adesão do leitor. Portanto, o argumento de autori
dade, a citação da doutrina quanto aos elementos mais complexos reforça
a isençào e o acerto das assertivas citadas, vez que, no momento em que
242 Manual de Redação Forense
somente pode estar resolvida de duas formas: uma certa, outra errada.
Mas no Direito isso nào ocorre. Tem-se dado em demasia relevo a algu
mas autoridades, que proferem teses que contam com grande força de
aceitação, como se tivessem o poder de ditar verdades. Isso porque presu
me-se que pessoas com comprovado conhecimento jurídico têm, natural
mente, o poder de fazer a melhor interpretação do direito em todos os
casos que lhes vierem à apreciação. Por conta disso é que surgem as cha
madas “interpretações autorizadas “ do Direito, que nada mais sào que
interpretações provenientes de pessoas consagradas.
Deve aquele que se depara com um argumento de autoridade pro
ferido pela parte contrária preocupar-se em combatê-lo, tendo em conta,
primeiramente, que nào basta a autoridade ditar a tese, ela deve
fundamentá-la. Assim, um dos modos de desconstituir a força persuasi-
va de um argumento de autoridade é expor que nào é a autoridade que,
por si, constitui a tese, mas sim os argumentos que usa para fundamentá-
la. Isso é muito bem expresso no aforismo latino “Amtcus P/a/us, sedi magi
amica veritas” (Gosto de Platào, mas prefiro a verdade. A expressào indica
que, ainda que Platào tenha um conjunto de idéias que representaram
conhecimento fabuloso para os de sua época, muitas vezes pode-se dele
discordar).
Presume-se que uma autoridade em determinada área de conheci
mento sempre profira bons fundamentos. Mas isso é apenas uma presun
ção: autoridades também erram, ainda que com menor freqüência. Não
sào poucas as petições que recortam trechos de livros com meras afirma
ções, como se elas por si só comprovassem a tese, porém tal tipo de argu
mentação, aos olhos do profissional mais atento, é fraca. Para prevenir-se
contra isso, o advogado deve perceber que o argumento ab autoritatem é
muito eficiente, mas tem, como todo enunciado lingüístico, suas limita
ções: o raciocínio que leva à afirmação da autoridade deve ser sempre
reconstruído na petição e, ademais, deve-se sempre mostrar com clareza
a pertinência da citação ao caso concreto, pois a doutrina, como disse
mos, nào é elaborada para um caso individual.
Nota: Não são deveras raros os casos em que os argumentos de
autoridade, porque muito valiosos, representam o único fundamento da
petiçào. Para evitar isso, vale uma “dica”: nunca termine o tópico com
uma citação. Toda vez que for copiada a doutrina, reserve ao menos um
parágrafo posterior para desenvolvê-la, mostrando a “razào de afirmar”
Lição 4: Argumentação jurídica 245
Ora, se o agente público pode agir dentro dos limites do quanto lhe
autoriza a lei, significa, contrario sensu, que ele não pode agir fora dos limites
da lei. Aí está, entào, um argumento persuasivo.
Para se combater um argumento contrario sensu, deve-se checar se
realmente não é equivocada a inversão do raciocínio de que o argumento
exsurge. Caso essa inversão não seja possível, deve-se demonstrar tal im
possibilidade, o que desconsritui o raciocínio contrario sensu.
248 M anual de Redação Forense
entendido, com mais razão, como inapto para sustentar ação de exe
cução.
mento tende a demonstrar que a norma jurídica que incide sobre o caso é
aquela mais benéfica à parte cujo interesse se defende.
O texto abaixo dá conta desse tipo de argumento:
O réu, segundo diz a inicial do Ministério Público, haveria feito
propaganda enganosa de produto. Isso porque o inculpado é propri
etário de uma loja de móveis e, querendo divulgar oferta de seu pro
duto. veiculou propaganda em jornal local, anunciando a venda de
estantes “padrão mogno", a um preço muito baixo.
Policiais da Delegacia do Consumidor, em diligência no local,
verificaram que a estante anunciada não era de mogno maciço, mas
de madeira de inferior qualidade, apenas revestida com uma pelícu
la que imita a cor da madeira de mogno.
Em virtude da existência de tal publicidade enganosa, entende a
acusação que o ora réu deve estar incurso na pena do artigo 7^ da Lei
8.137, que dispõe que:
Art. 7e Constitui crime contra a relação de consumo:
VII. induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou
afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou
serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou
divulgação publicitária.
Pena - detenção, de 2 a 5 anos, ou multa.
No entanto, a defesa tem visão muito diversa da aplicação do
ditame legal retro recortado. Na verdade, se for admitida que a propa
ganda objeto da presente ação é de fato enganosa, o réu deveria
estar incurso em outro dispositivo legal, qual seja o artigo 66 do
Código de Defesa do Consumidor, que assim dispõe:
CDC:
Art. 61 - Constituem crimes contra as relações de consumo pre
vistas neste Código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis
especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes.
Art. 66 - Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação
relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, se
gurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos
ou serviços:
Pena - detenção de três meses a um ano e multa.
Ora, como pode haver dois dispositivos legais vigentes, cominando
pena para a mesma conduta, a de publicidade enganosa? Como um
cânone legal pode impor a pena máxima de cinco anos para uma
conduta enquanto outro, para a mesma conduta, impõe pena máxi
ma de apenas um ano? Teria cochilado o legislador?
Entendemos que não: o artigo 7- da Lei 8.137 deve ser aplicado
quando exista um consumidor lesado, enquanto o artigo 66 do Códi-
260 M anual de Redação Forense
(-)■
Desse modo, somente há uma solução para a causa, a de que
não se condene o acusado. O vitimado deve executar sua confissão
de dívida no juízo civil, afastando da esfera criminal o caso concreto.
Como determina a lei maior, toda decisão judicial deve ser funda
mentada. Mas a que isso interessa quanto à argumentação?
Interessa muito. Em primeiro lugar, porque fundamentar uma deci
são nada mais é do que argumentar: fundamentos da sentença sào argu
mentos. E para que se argumenta? Para persuadir. Entào, se o Poder Judi
ciário é obrigado a fundamentar seus julgados, pode-se dizer que todo ma
gistrado, ao decidir, é obrigado a persuadir, a convencer os leitores a res
peito do acerto de sua resolução.
Lição 4: Argumentação jurídica 277
4.11 Conclusão
A argumentação é livre, e dela não se podem passar modelos, ape
nas noções e tipos de argumentos, que ajudam a sistematizar e expandir
as possibilidades do texto jurídico no que atine à persuasão.
Construir a argumentação e o pedido com certeza é a tarefa mais
importante para quem redige no foro. Sabendo construí-la, depois de co
nhecer os métodos de narração dos fatos, vistos no capítulo anterior, res
ta passarmos por duas etapas: a enunciação e as questões específicas de
cada petiçào.
Lição 4: Argumentação jurídica 279
4.12 Resumo
a) A argumentação é, sem dúvida, o trabalho mais importante do
advogado. Nas lides judiciais toda argumentação é parcial.
b) O texto argumentativo rege-se por uma combinação de idéias e
por isso se diz que ele é temático.
c) Todo texto argumentativo está em restrita dependência com uma
realidade de mundo, acessível a qualquer leitor.
d) Os argumentos sào elementos lingüísticos que visam à persua
são. Isso significa dizer que eles nào sào falsos ou verdadeiros,
mas sim eficientes ou nào para contribuir no convencimento do
ouvinte.
e) O texto argumentativo deve tentar ao máximo tomar-se ade
quado as características do leitor, pois nào se pode negar que
em toda argumentação há um quê de emparia e subjetivismo.
f) As provas sào elementos de convencimento a respeito de fatos.
Quando elas sào exploradas em uma exposição lógica e suasória,
transformam-se em argumentos de prova.
g) Um ripo de argumento de prova é o que explora a prova teste
munhai, e é tão mais persuasivo quanto maior for a credibilidade
e isençào de interesses do testemunho prestado.
h) A prova técnica, quando aceita como verdadeira, transforma-se
em prova concreta. Indiscutível, em geral ela nào consegue re
solver todos os elementos dispostos em uma argumentação ju
rídica e, portanto, transforma-se em ponto de partida para argu
mentos maiores.
i) A prova documental merece cuidados ao transformar-se em ar
gumento, principalmente o de serem os trechos relevantes do
documento devidamente copiados na peça argumentativa para
evitar que o leitor tenha de sair da leitura da peça para compre
ender seu sentido.
280 M anual de Redação Forense
meio de temas mais subjetivos. Seu uso deve ser muito comedi
do, pois ele tem forte tendência a confundir o leitor.
t) Os argumentos devem ser dotados de coerência. Assim, o argu
mentante deve fazer um esboço prévio de suas idéias para saber
se nào há o risco de elas se contraporem.
u) As decisões judiciais também sào peças argumentativas e é as
sim que elas devem expor um percurso racional para convencer
as partes de seu acerto. Mais que isso, devem demonstrar que
apreciaram todos os argumentos dirigidos ao julgador e, conse
qüentemente, refutar expressamente todos aqueles que tiveram
de ser rejeitados para que a decisào se firmasse em determinado
sentido.
4.13 Exercícios
1. O fragmento que segue foi retirado do livro “Primo Altamirando e
Elas”, de Stanislaw Ponte Preta, mais exatamente da crônica “O car
naval, coitadinho”, redigida no início da década de 60. Para iniciar o
texto, introduzindo o assunto, o autor utiliza-se de um recurso que, no
caso, busca o efeito humorístico. Esse recurso deveria ser (ou é) um
tipo de argumento. Identifique-o, explicando, com suas palavras, como
o autor o transformou para seu propósito.
"No período de Cinzas, resta ao homem uma única alegria: re
cordar9\ (Mareei Proust) - e você aí, que leu Proust de cima a baixo,
ficará besta consigo mesmo, por desconhecer completamente esse
pensamento do grande escritor francês. Nós também não o conhecí
amos, mas como não nos ocorre nenhuma maneira de iniciar a re
portagem, tacamos na página esta leviandade literária, com o mes
mo ar inconseqüente dos foliões que ainda insistem no dar vexame
carnavalesco em nome de uma tradição que entrou pelo cano já vai
pra algum tempo.
Tá ficando cada vez pior. No outro dia, lemos num vespertino uma
reportagem que tinha este título: uO Carnaval Carioca Vai Degenerar
em Bagunça”, e o que nos deu vontade de ler foi esse “vai” aí. Vai
como, se já foi ?
Respostas
1. O autor, ao citar Proust, busca fundamentar seu posicionamento sobre o carnaval com
uma afirmação de pessoa de renome. Utilizou-se, portanto, de argumento de autorida
de. O efeito humorístico consiste em Ponte Preta haver inventado, criado a citação, que ele
mesmo diz jamais haver sido escrita por Proust.
2.
a) A argumentação inicia-se no segundo parágrafo do texto.
b) A tese defendida c a de que o bom escritor nào precisa conhecer a gramática e, mais, que
deve ofendê-la, para que não seja por ela dominado, tolhido em sua criatividade.
284 M anual de Redação Forense
Anexo de Notas
1 PERELMAN, Chaim, in: Ética e Direito, Editora Martins Fontes, Sào Paulo, 1996, pp.
492-493.
2 PERELMAN, Chaim, in: Tratado da Argumentação , Editora Martins Fontes, 1996, Sào
Paulo, p. 131.
3 Pellegrini, Ada & outros, in: Juizados Especiais Criminais, Editora Revista dos Tribunais,
Sào Paulo, 1997, p. 200.
4 PERELMAN, Chaim, in: Lógica Jurídica , Editora Martins Fontes, Sào Paulo, 1998,
pp. 78-79.
Lição 5
Escrevendo: Estrutura da Frase
e Pontuação.
Sumário:
5.1 Introdução. 5.2 A estrutura da frase. 5.3 Frase, oraçào e período. 5.3.1 A
frase. 5.3.2 A oraçào. 5.3.3 O período. 5.4 Estudando a oraçào. 5.4.1 Termos essenciais da
oraçào: Sujeito e predicado. 5.4.1.1 Tipos de sujeito. 5.4.1.2 Tipos de predicado. 5.4.2Ter
mos integrantes da oraçào: Complemento verbal, complemento nominal, agente da passi
va. 5.4.2.1 Complemento verbal: Objeto direto e objeto indireto. 5.4.2.2 Complemento
nominal 5.4.2.3 Agente da passiva. 5.4.3 Termos acessórios da oraçào: Adjunto adverbial,
adjunto adnominal, aposto e vocativo. 5.4.3.1 Adjunto adnominal. 5.4.3.2 Adjunto adver
bial. 5.4.3.3 Aposto. 5.4.3.4 Vocativo. 5.4.4 Conclusào. 5.5 Uso da vírgula dentro da oração.
5.5.1 Ordem dos termos da oraçào. 5.5.2 Nào use a vírgula. 5.5.3 Use a vírgula. 5.6 O
período com mais de uma oraçào. 5.6.1 As orações subordinadas. 5.6.1.1 Orações subordi
nadas substantivas. 5.6.1.2 Orações subordinadas adjetivas. 5.6.1.3 Orações subordinadas
adverbiais. 5.6.1.4 Orações subordinadas reduzidas. 5.6.2 Orações coordenadas. 5.6.2.1
Orações coordenadas assindéticas. 5.6.2.2 Orações coordenadas sindédeas. 5.7 A vírgula
entre as orações do período. 5.7.1 As orações subordinadas substantivas. 5.7.2 Orações
subordinadas adjetivas. 5.7.3 Orações subordinadas adverbiais. 5.7.4 Orações subordina
das reduzidas. 5.7.5 Orações coordenadas. 5.8 Conclusão e Exercícios.
5.1 Introdução
Estruturado o texto jurídico em seu esboço, com narração e argu
mentação, o advogado passa a escrevê-lo. E o momento que chamamos
de enunciação do texto.
Vimos, quanto a esse tema, a propriedade das palavras utilizadas,
ao estudarmos o vocabulário. Mas, além das palavras, a estrutura do tex
to jurídico passa por construções mais complexas: a frase, a oração, o
período e o parágrafo.
No ato de escrever o texto, percebe-se que existem inúmeras possi
bilidades de fazê-lo. Para transmitir as mesmas idéias, as construções são
infinitas. E por isso dizemos que nesse momento inicia-se uma etapa to
|287|
288 M anual de Redação Forense
Mas aquele que sabe as escalas todas conhece mais possibilidades de com
posição, por isso suas músicas sào mais belas e, também, lhe é muito mais
fácil compor, pois o faz com segurança.
Para compor o texto é a mesma coisa. O conteúdo, que corresponde
à inspiração do músico, pode ser o mesmo para dois escritores, mas com
porá o melhor texto aquele que souber manejar com mais habilidade as
estruturas possíveis, a frase e o parágrafo.
Um dos pontos principais da estrutura do texto, reflete-se no uso
da pontuação. E comum ao professor, entào, ouvir do aluno asserções
como “nào sei onde colocar as vírgulas” ou “é nas vírgulas que me atrapa
lho”. Todo escritor tem dificuldades com as vírgulas, c nós as superare
mos neste capítulo, mas é imprescindível afirmar que a dificuldade com
“as vírgulas” nào nasce, em geral, da vírgula propriamente dita, mas sim
do desconhecimento da estrutura das frases e das orações. A vírgula
condensa toda uma forma de composição de texto, nào muito simples,
que passaremos neste capítulo a estudar.
Vejamos o exemplo abaixo:1
Por outro lado,1inúmeros problemas e grande prejuízos podem
ser causados pelas ações praticadas contra o funcionamento da
própria máquina,11 como é o caso da disseminação proposital do
chamado “vírus de computador",1" destruindo programas e fichário
do usuário,lv que,v pela sua maior freqüência e pelas proporções que
vêm tomando,^ estão a merecer do legislador maior atenção e im
portância que os limites do crime de dano nem sempre chegam a
fornecer.
No texto acima temos um período, que se inicia com a letra maiús
cula e termina com o ponto final. Dentro do período, várias pausas, as
vírgulas. Elas não forma lançadas no texto à sorte, ou procurando aper.as
que o leitor faça, a cada vírgula, pausas para a respiração. Na verdade,
elas resumem todo um conhecimento de estrutura de frases e orações que
é necessário ter para construir um texto fluente como aquele. Vejamos
quais sào as causas do uso de cada vírgula do recorte acima:
I. Vírgula separando locuçào conjuntiva no início da oração e de
marcando início da oração principal.
II. Vírgula separando o fim da oraçào principal e início de oraçào
subordinada adverbial comparativa.
III. Vírgula marcando início de oraçào subordinada adjetiva
explicativa reduzida de gerúndio (destruindo programas e fichário
do usuário = os quais destroem programas e fichário do usuário).
Lição 5: Escrevendo: estrutura da frase e pontuação 291
Bela gravata.
Realmente muito interessante.
Frases verbais são aquelas que têm ação e, então, a presença de um
ou mais verbos. Ex.:
0 recurso deve ser recepcionado por Vossas Excelências.
Não havendo recolhimento do réu à prisão, o recurso é conside
rado deserto.
Ontem mesmo me manifestei sobre esse tema.
5.3.2 A oração
Oração é o enunciado que contém verbo ou expressão verbal, con
juntamente com os termos que lhe sào acessórios.
Assim, se a palavra “julgar” é verbo, Eujulguei o processo é uma oração.
Sendo “absolver” um verbo, Não absolvi o acusado é uma oração.
Daí que o enunciado ‘Julgou o processo, mas não absolveu o acusado”
contém duas orações.
5.3.3 O período
Período é a frase expressa por uma ou mais de uma oração. Ele se
inicia na letra maiúscula e termina em uma pausa forte, o ponto final, o
ponto de exclamação, as reticências, o ponto de interrogação etc. Ex:
A câmara julgadora leu minhas razões, ouviu a sustentação oral
que fiz, mas sequer se convenceu do cabimento do recurso que in
terpus.
Temos acima um só período, com cinco orações diferentes, que
compõem um sentido completo.
3) Verbo-nominal
Diz-se que o predicado é verbo-nominal quando ele admite dois
núcleos: Um verbal e um nominal.
O primeiro caso é o do verbo nocional, que admite predicativo do
objeto, como explicado no item anterior. Vejamos os exemplos:
Os desembargadores consideraram os réus culpados.
Os desembargadores - sujeito.
consideraram - verbo nocional - primeiro núcleo do predicado.
os réus - objeto direto do verbo considerar.
Culpados - noção a respeito dos réus (=objeto). Predicativo do
objeto - segundo núcleo do predicado.
a) De tempo.
A audiência começará às duas horas.
Daqui a oito semanas, haverá o decurso do lapso prescricional.
b) De causa.
Houve perempção por inépcia da parte.
O inquérito foi arquivado por falta de provas.
Por causa de um assalto, meu cliente foi preso.
c) De adição.
Além de tudo isso, há a questão da ilegitimidade de parte.
d) De companhia.
Cheguei juntamente com o cliente.
Venha com seus familiares.
e) De concessão.
Em que pesem os argumentos da parte, sua pretensão carece
de fundamento jurídico.
Apesar da decisão do agravo, acho que ganharemos a causa.
Não obstante todas as considerações da parte contrária, a sen
tença não merece qualquer reparo.
f) De condição.
Sem cópia do acórdão, o traslado não fica devidamente instruido.
Somente me manifesto mediante provocação da parte.
g) De lugar.
Botou o carro diante dos bois.
As folhas caem da árvore.
i) De intensidade.
Ando meio desligado.
O Ministro falou muito bem.
As vendas andam um pouco baixas.
j) De meio.
Deve-se ouvir a testemunha por carta precatória.
Vou a Alagoas de avião.
k) De freqüência.
Raramente ele aparece por aqui.
Faço plenários com certa freqüência.
5.4.3.3 Aposto
Aposto é o termo que tem a finalidade de explicar ou desenvolver o
sentido de outro. Veja o exemplo:
Você deverá ter a limitação do fim-de-semana, uma das penas
alternativas da nova lei.
O termo em negrito é o aposto, explicando o sentido da expressão
anterior.
Vivo em São Paulo, a maior cidade do Brasil.
Doutor Antônio, um dos grandes causídicos desta cidade, atuará
neste caso.
Para seu caso, vislumbro uma única solução: a venda de todos
os bens.
A cidade do Recife tem praias maravilhosas.
308 Manual de Redação Forense
5.4.3.4 Vocativo
Vocativo (do latim vocare, chamar) é o termo que serve para trazer
ao texto a pessoa do interlocutor, dando realce àquele com quem fala
mos. Nas petições, o vocativo é muito usual.
Todas as alegações, Excelências, são infundadas.
Senhores jurados, nada mais resta à defesa.
Antes pudéssemos, meu povo, reverter essa situação.
Amigo Brutus, eu não esperava por isso.
Nos ninhos do ano passado, Sancho, não há mais pássaros
este ano.
5.4.4 Conclusão
Até agora, vimos todos os termos que formam a oração. A partir
deles, pode-se desenvolver o estudo do uso da vírgula e iniciar o estudo
da construção de frases. Mas sào importantes algumas observações preli
minares.
A primeira delas é que a identificação desses termos da oraçào deve
ser reiterada, ou seja, deve estar presente sempre que se redige o texto.
Sem isso todo o estudo é inócuo, despido de qualquer resultado. Rever a
estrutura da oraçào sem dela se lembrar no momento da escrita é atitude
análoga à do advogado que estuda por longo tempo todas as teorias do
direito a respeito do instituto da posse, mas, ao mover uma açào
possessória, nào usa qualquer dos elementos que apreendeu durante o
estudo. A teoria cai no vazio.
É preciso que, ao ler e ao escrever, o aluno treine a identificação
desses termos. Perceba-se que eles dizem respeito apenas à oraçào, ou
seja, à estrutura com apenas um núcleo verbal. Mas, ainda que em
estrutura mais simples, a lembrança dos termos que compõem a oração já
nos é suficiente para vermos uma matéria bem prática: o uso da vírgula
dentro da oraçào.
uma oração (pois aparece o verbo “tomar”) que faz o papel de objeto
direto. A oraçào sublinhada, por ser parte —objeto direto —da principal, é
chamada oraçào subordinada substantiva objetiva direta. Temos, entào,
na estrutura:
Eu peço que Vossas Excelências tomem a decisão mais justa.
a) Objetiva direta.
A oração subordinada substantiva objetiva direta é aquela que tem
a função de objeto direto.
Desejamos que tenha sucesso.
O magistrado ordenou que se penhorassem as linhas telefôni
cas.
Sabia que ele não iria sustentar tudo sozinho.
A desembargadora afirmou que não concorda com o voto do
relator.
Seu sócio perguntou se você virá hoje.
b) Objetiva indireta.
Oraçào subordinada substantiva objetiva indireta é aquela que
serve como objeto indireto à oração principal.
318 Manual de Redação Forense
c) Subjetiva.
A oração subordinada substantiva subjetiva é aquela que funciona
como sujeito da oração principal.
É evidente que houve ameaça por arma de fogo.
É evidente isso = isso é evidente (sujeito).
O que é evidente? Que houve ameaça por arma de fogo.
É evidente = oração principal.
Que houve ameaça por arma de fogo = o. s. s. subjetiva.
É necessário que se produzam novas provas nos autos.
Parece que o juiz foi substituído.
d) Predicativa.
Oraçào subordinada substantiva predicativa é aquela que exerce,
na oraçào principal, a funçào de predicativo do sujeito.
Sua decisão é que o dano moral não é devido.
O fato é que a defesa foi mal elaborada desde o início.
As orações sào complementos do verbo de ligaçào (sua decisào
é o quê? “que o dano moral nào é devido.”) e, portanto, representam o
predicativo do sujeito da oraçào principal.
e) completiva nominal.
As substantivas completivas nominais sào aquelas que têm funçào
de complemento nominal.
Tenho certeza da sua vitória (“da sua vitória" = complemento no
minal).
Tenho certeza de que você vencerá (o. sub. subs. completiva no
minal).
O fato de que tenha o réu fugido não impede seu julgamento.
Mas subsiste o medo de que ele ameace as testemunhas.
Lição 5: Escrevendo: estrutura da frase e pontuação 319
f) Apositiva.
Oraçào subordinada substantiva apositiva é aquela que funciona
como aposto de um termo da oraçào principal.
Tomei uma decisão: que a partir de hoje não mais fumarei.
0 promotor fez sua proposta: que você passe a trabalhar em
obras sociais.
Meu primo que mora em Londres escreveu dizendo que vai ca
sar-se.
Qual dos primos? Aquele que mora em Londres.
Meu sócio que faz direito trabalhista infelizmente não virá hoje.
Meu sócio, que comprou um carro novo, está em litígio com a
concessionária.
b) Consecutiva.
Sào aquelas que evidenciam a conseqüência, o efeito do que é
dito na oraçào principal. Esse tipo de oração é geralmente iniciado pela
conjunção que, após “tanto” ou expressão equivalente.
Tão efetiva foi a intimidação causada pela arma de brinquedo que
as vítimas clamavam para que o meliante não atirasse.
Tanto queriam lesar o credor que retroagiram a data da venda do
imóvel.
Lição 5: Escrevendo: estrutura da frase e pontuação 325
O contrato foi feito de tal sorte que não se lhe pode discutir qual
quer cláusula.
c) Condicional.
As orações condicionais, muito comuns na redação jurídica, sào
aquelas que exprimem uma condição necessária para que ocorra o que a
oraçào principal prescreve. Sào, geralmente, as orações iniciadas por “se”
ou outra conjunção de mesmo sentido.
Se cair a noite, nós não conseguiremos voltar.
Você só terá alguma chance de resultado caso redija bons
memoriais.
Vera disse que voltaria se eu lhe preparasse um bom leitão as
sado.
Liberte-se o réu, se por al não estiver preso.
Eu aceito, desde que haja um bem em garantia, os termos do
contrato.
d) Concessiva.
Orações subordinadas adverbiais concessivas são aquelas que fa
zem uma concessão ao quanto está sendo afirmado na oração principal.
Ou seja, assumem como verdadeira uma afirmação contrária à da oraçào
principal, o que, todavia, nào joga por terra a força desta. As conjunções
concessivas mais comuns são “embora” e “ainda que” ou equivalentes.
Não obstante o Ministério Público entenda injusto o veredito do
Conselho de Sentença, é certo que este não decidiu em desconfor-
midade com a prova processual.
Terá de refazer o contrato, ainda que pague caro por isso.
Mesmo que o cliente não esteja pagando, vou recorrer da decisão.
e) Conformativa.
As orações subordinadas adverbiais conformativas expressam a con
formidade do quanto está na oraçào principal com uma outra assertiva,
a da oraçào subordinada. Sào as principais conjunções conformativas:
conforme, segundo e como.
As guias devem ser recolhidas diretamente no banco, como eu já
lhe mostrei.
Consoante o que ensina o professor Pontes de Miranda, contra
to é ato bilateral.
326 M anual de Redação Forense
f) Final.
As orações subordinadas adverbiais finais expressam a finalidade,
o escopo daquilo que é afirmado na oraçào principal. “A fim de que” é
uma forma comum de iniciar uma oração subordinada final.
A fim de que não se possa alegar ignorância, vai a presente em
duas cópias.
Eu vim para que todos tenham vida.
Para que eu possa juntá-las aos autos, as cópias devem ser
todas autenticadas.
g) Comparativa.
A oraçào comparativa representa o segundo termo de uma compa
ração, de que faz parte a oraçào principal.
Falou como um advogado de anos de profissão.
Existe mais honestidade na palavra de um bandido que de um
político.
O homem trabalhou tanto quanto um cavalo.
h) Temporal.
As orações subordinadas adverbiais temporais situam no tempo o
fato que é expresso na oração principal.
Assim que os autos voltarem à mesa, copie o relatório.
Quando for iniciar a sustentação, faça a saudação ao juiz presi
dente.
Não se esqueça de ligar logo quando chegar.
Enquanto o recurso é julgado, execute provisoriamente
a sentença.
Lição 5: Escrevendo: estrutura da frase e pontuação 327
i) Proporcional.
As orações proporcionais sào iniciadas por expressões como “ao
passo que”, “à medida que” e “à proporção que”, e indicam açào que
ocorre proporcionalmente à açào indicada na oraçào principal.
À medida que o promotor falava, os jurados criavam repulsa pelo
réu.
Minhas dívidas cresceram ao passo que os impostos iam au
mentando.
Os memoriais são tão mais convincentes quanto menos deta
lhados.
Quanto mais você gritar, menos lhe vão respeitar.
Fazer.
Infinitivo: fazer.
Gerúndio: fazendo.
Particípio: feito.
Infinitivo Flexionado
Andar
Eu - andar
Tu - andares
Ele - andar
Nós - andarmos
Vós - andardes
Eles - andarem
Fazer.
Lição 5: Escrevendo: estrutura da frase e pontuação 329
Eu - fazer.
Tu -fazeres
Ele - fazer
Nós - fazermos
Vós - fazerdes
Eles - fazerem
E assim que as orações reduzidas sào bom recurso para aquele que
escreve o texto, vez que evitam a repetiçào de conjunções. Entretanto,
deve-se estar atento para o fato de, ao reduzir-se a oraçào, nào lhe preju
dicar o sentido.
Nota 2: As orações reduzidas devem ser empregadas com comedi-
mento, pois elas —principalmente as de gerúndio —quando usadas exces
sivamente, tomam a leitura cansativa e o estilo pobre.
b) Orações reduzidas de particípio.
Orações reduzidas de particípio sào adverbiais ou adjetivas, e se
utilizam dessa forma nominal do verbo. Exs.:
O réu, condenado a quatro anos de detenção, cometeu
novo crime.
= Que foi condenado a quatro anos de detenção - oração adjetiva
explicativa.
a) Aditivas.
Sào iniciadas geralmente pela conjunção “e”, embora outras haja
que expressem o mesmo de adição, de soma de idéias.
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua.
Comi e bebi por conta da casa.
Nem empresto dinheiro, nem assino como fiador.
0 v. acórdão não só aumentou a pena, mas também tornou mais
grave seu regime.
b) Advetsativas.
As adversarivas iniciam-se por conjunção que procura mostrar opo
sição, contraste com idéia de outra otaçào coordenada.
Comi mas não paguei.
0 quantum da indenização merece ser majorada, todavia devem-
se observar os limites legais.
O réu chorava copiosamente, porém não parecia haver perdido
sua razão.
Você quer participar dos lucros, mas não deseja trabalhar.
c) Alternativas.
As orações coordenadas sindéricas alternativas expressam duas ou
mais idéias que se alternam ou se excluem. Geralmente, sào marcadas
pela conjunção “ou”.
Ou deixar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil.
Recorra da decisão ou contente-se com esse resultado.
Dependendo de questões política, ora se aceita uma tendência
mais liberal, ora se cumpre a lei com draconiano rigor.
d) Conclusivas.
Iniciadas na maioria das vezes pelas conjunções “portanto” ou
“logo”, enunciam uma conclusão de uma oraçào anterior.
334 M anual d e Redação Forense
e) Explicativas.
As orações coordenadas explicativas exprimem o motivo, a razào
de uma afirmação anterior.
Não tire qualquer conclusão, pois você ainda não ouviu as ra
zões da defesa.
Exponha todos os detalhes, que a causa é muito complicada.
Não fui eu quem redigiu esse texto, porque não cometo tantos
erros de grafia.
RESUMO: ORAÇÕES.
PERÍODOS COMPOSTOS.
Período composto: orações subordinadas ou coordenadas.
1. Oração Subordinada: funciona como termo de uma principal.
1.1 Substantiva: composto oracional que exerce função pró
pria do substantivo.
a) Subjetiva: tem funçào de sujeito.
b) Objetiva Direta: objeto direto.
c) Objetiva Indireta: objeto indireto.
d) Predicativa: predicativo do sujeito.
e) Completiva Nominal: complemento nominal.
f) Apositiva: aposto.
1.2 Adjetivas: têm lugar, na oração principal, de adjunto adno
minal:
a) restritivas: individualizam um elemento no
conjunto.
b) explicativas: funcionam como explicação ou ên
fase.
1.3 Adverbiais: desempenham função própria de adjunto ad-
verbial.
a) temporais
b) causais
c) consecutivas
d) condicional
e) comparativa
f) conforma tiva
g) concessiva
h) proporcional
0 final
Orações reduzidas
a) gerúndio
b) particípio
340 Manual de Redação Forense
c) infinitivo
2. Orações coordenadas: orações colocadas lado a lado, sem que
uma seja termo integrante da outra, ou seja, nào existindo rela-
çào sintática entre elas.
2.1 Orações coordenadas assindéticas.
2.2 Orações coordenadas sindéticas.
a) aditivas
b) adversativas
c) conclusivas
d) explicativas
e) alternativas
1. Justifique o emprego da vírgula nas orações abaixo.:
a) Freqüentemente, eles me visitam.
b) O presente caso, Excelências, merece algumas palavras de con-
sideracão.
c) O terceiro juiz pediu vista dos autos. Estes, entretanto, encon
tram-se em cartório.
d) Eu defendo devedor principal. Meu amigo, o fiador.
e) O oficial de justiça, funcionário dotado de fé pública, certificou
a aludida citaçào.
f) O réu, ou melhor, o ora apelante pede Justiça.
g) O juiz, com certeza, nào se atentou para o fato
h) Depois da tempestade, vem a calmaria.
2. Justifique o emprego da vírgula nos períodos abaixo.:
a) Passada a tempestade, vem a calmaria.
b) Porque você disse que viria, eu mandei fazer sua comida predi
leta.
c) Tivesse o réu devolvido a quantia de que se apropriou, o resul
tado seria diverso.
d) O autor, caso se venha a confirmar a sentença de primeira ins
tância, deverá arcar com os ônus de sucumbência.
e) Nào pude protocolar a petiçào, nem mesmo tirar cópia da sen
tença.
Lição 5: Escrevendo: estrutura da frase e pontuação 341
/
causa por essa Corte ad quem. E evidente que, nào cabe à agra
vada complementar esse traslado que veio defeituoso, porque
não é dela o interesse em ver reformada a decisào interlocutória
de fls. 606 que, com acerto, decidiu pela impossibilidade da ad
missão do recurso especial.
B) A parte, apesar do quanto afirma na minuta, nào trouxe no tras
lado que montara, as peças essenciais para o conhecimento da
causa por essa Corte ad quem. E evidente que nào cabe, à agra
vada complementar esse traslado que veio defeituoso, porque
não é dela o interesse em ver reformada, a decisào interlocutória
de fls. 606 que, com acerto, decidiu pela impossibilidade da ad
missão do recurso especial.
C) A parte, apesar do quanto afirma na minuta, nào trouxe, no
traslado, que montara, as peças essenciais para o conhecimento
da causa por essa Corte ad quem. E evidente que nào cabe à
agravada complementar esse traslado que veio defeituoso, por
que nào é dela o interesse em ver reformada a decisào
interlocutória de fls. 606, que, com acerto, decidiu pela impos
sibilidade da admissào do recurso especial.
D) A parte apesar do quanto afirma na minuta, nào trouxe no tras
lado, que montara, as peças essenciais para o conhecimento da
causa por essa Corte ad quem. E evidente que nào cabe à agrava
da complementar esse traslado que veio defeituoso, porque nào
é dela o interesse em ver reformada a decisão interlocutória de
fls. 606 que, com acerto, decidiu pela impossibilidade da admis
são do recurso especial.
E) A parte, apesar do quanto afirma na minuta, nào trouxe, no
traslado que montara, as peças essenciais para o conhecimento
da causa por essa Corte ad quem. E evidente que nào cabe à
agravada complementar esse traslado que veio defeituoso, por
que nào é dela o interesse em ver reformada a decisào
interlocutória de fls. 606, que, com acerto, decidiu pela impos
sibilidade da admissào do recurso especial.
—III —
A) O resultado seria visceralmente diverso se esse DD. Juízo de
terminasse, prontamente, a citaçào do acusado para os termos
Lição 5: Escrevendo: estrutura da frase e pontuação 347
Respostas
3) a)
I. errou a autora. A oração subordinada que se inicia é explicativa e, portanto, deveria vir
separada por vírgula.
II. acertou a autora. A oraçào é restritiva, nào podendo ser separada por vírgula.
IH.idem item II.
b) as orações subordinadas substantivas não vêm separadas por vírgula, à exceção das
apositivas.
Caso A: a vírgula nào determina o início da oração subordinada substantiva, mas sim o fim
de expressào adverbial.
Caso B: a ausência de vírgula é correta.
4) Alternativas: D, E, D.
5) Alternativas: D, E, C.
6) Alternativa: B.
7) Seqüência: 15,3,4,0,14,1,2,8,9,5,10,6,7,16,11,12.
8)
I. alternativa: C.
gflBsJg —. — -—- •--*-:: - ■—j ■—: “ t - r .-1" r
Anexo de Notas
Sumário:
6.1 Introdução. 6.2 O estilo. 6.3 A expressào do período. 6.4 O estudo do
parágrafo. 6.4.1 O tópico frasal e o parágrafo da petiçào. 6.5 A petição em seu estilo. Algu
mas recomendações. 6.5.1 O uso do computador.6.5.2 A forma da petiçào. 6.6 Resumo.
6.1 Introdução
Ao escrever, contamos com uma grande liberdade de criaçào. Po
demos construir frases mais longas, mais curtas, parágrafos maiores ou
menores, em uma possibilidade quase infinita de combinações. Essa li
berdade é limitada, entretanto, pelas regras gramaticais, que garantem um
mínimo de padronização da língua.
Aos poetas, aos escritores literários é lícito que essa limitação da
gramaticalidade seja algumas vezes quebrada, mas a formalidade da co
municação no espaço jurídico nào faz bem-vinda a ousadia no que se
refere à transgressão dos dogmas gramaticais.
O que a frase tem de gramatical, em sua estrutura, já vimos no
capítulo anterior. Neste capítulo, portanto, abordaremos tópico novo, tendo
então como premissa que tudo o que se falar sobre das possibilidades de
construção do período ou do parágrafo deve respeitar aos limites impos
tos pelas normas gramaticais que atingem tais estruturas.
Cuidaremos, aqui, dos requisitos de estilo para que a frase, o pará
grafo e o texto todo ajudem a transmitir ao leitor com maior eficiência as
idéias e os argumentos que o autor selecionou, que entende importante
transmitir.
1351|
352 M anual de Redação Forense
6.2 O estilo
Há pessoas que conseguem reconhecer se um quadro de um pintor
famoso é autêntico vendo se os traços da pintura realmente correspondem
ao estilo do artista. Da mesma forma, alguém que conhece moda sabe
dizer, ao olhar um corte de uma roupa, quem foi o estilista que a dese
nhou, pois cada criação deste carrega traços pessoais. Mutatis mutandi’
quando lemos a petição de um advogado mais antigo ou a doutrina de um
autor conhecido, identificamos traços de seu estilo, palavras que repete,
construções que usa com freqüência, formatação que adota etc.
O estilo é a forma personalíssima de expressão, algo que tem, no
nosso caso, o texto, da mente de quem o cria, da pessoa que o redige. Nào
há estilo correto ou incorreto, mas adequado ou não. Com o passar do
tempo, a pessoa que escreve vai criando um estilo pessoal, familiarizando-
se com certas formas de expressão que podem ser em parte alteradas, mas
que, no que há de mais geral, permanecem na mente daquele que redige,
sedimentando seu modo pessoal de redação.
Com o aprendizado, entào, é certo que o aluno vai criando seu esti
lo, e sobre ele nào se pode interferir, a não ser no caso de algum defeito
muito grave. Por isso nào se pode dogmatizar a redaçào de peças jurídicas
além de certos limites, pois em muito ela depende de algo pessoal. Alguns
escrevem de modo prolixo, outros são mais sucintos, resumidos, dizem
apenas o essencial. Uns fazem frases longas, caudalosas, com escrita pe
sada, palavras mais arcaicas, enquanto outros gostam de parágrafos cur
tos, segmentados, frases resumidas, sem orações subordinadas em exces
so, sem muitas pausas.
Esses modos pessoais de redação, que aos poucos vão-se forman
do na escrita de cada um, devem ser respeitados, mas isso não nos obsta
dc fazer breves considerações a respeito do modo de construir o texto
jurídico, em seu desenvolvimento. Cada um, a partir disso, adapta-o a seu
gosto, a seu estilo, se já o tiver formado, mas desta lição, sem qualquer
dúvida, poderá tirar técnicas aproveitáveis, ainda que elas consistam na
observação de estilos mais diversos.
Vamos, então, ao estudo inicial: a expressão da frase.
dela, seu sentido complementar pode ser conferido pelas orações subor
dinadas.
b) Evite, em regra, as inversões nos termos da oraçào.
Como já se disse, as inversões sào muito comuns na escrita forense.
Nem sempre, entretanto, elas trazem um resultado eficiente em uma peti
çào. As inversões que mais devem ser evitadas sào aquelas que anteci
pam o verbo ou o predicado como um todo ao sujeito, tais como:
Pede o perito sejam elaborados quesitos mais claros.
Disse a promotora de justiça que não cabe suspensão do pro
cesso no presente caso.
Antecipa o requerente sua falta de disposição para firmar acordo.
a denotar seu significado mais subjetivo, enquanto ele, quando vem de
pois do substantivo, tende a atribuir a este qualidade de seu significado
mais objetivo.
Desse modo “advogado velho” significa “advogado idoso” ou, pior,
“advogado senil”, enquanto “velho advogado” significa “advogado sá
bio, experiente”. Nào se trata de uma explicaçào gramatical, mas sem
dúvida o uso tende a confirmar essa observação.
Portanto, a colocaçào de palavras deve observar, no mínimo, a cla
reza e o significado dos termos da oraçào. Via de regra, as inversões da
ordem direta da oraçào sào pouco recomendáveis, pois tendem a trazer
menor clareza ao período. Quando feitas tais inversões, elas devem seguir
uma intencào
j clara.
c) Desejando dar realce ao adjunto adverbial, antecipe-o e/ou use-
o entre vírgulas.
Já vimos, aos estudar o uso da vírgula, no capítulo anterior, que os
adjuntos adverbiais deslocados devem vir isolados entre vírgulas. Nem
sempre, entretanto, isso ocorre na escrita comum. Veja:
Amanhã alguém deve acompanhar o julgamento da apelação.
A frase deve ter uma idéia completa, sem grandes excessos. O texto
acima é um exemplo da boa distribuição de frases. Veja que os períodos
alternam orações coordenadas e subordinadas, sem excessos nem de uma,
nem de outra. Mais, as frases, nem longas nem curtas, têm todas quase o
mesmo tamanho, sem prejuízo do conteúdo que nelas é exposto. Além
disso, todas as intercalações sào marcadas por vírgula, eficientemente.
/
-II-
0 dano moral, que a empresa autora pretende que seja concedi-
do em face da atitude que imputa à presente empresa ré, é totalmen
te descabido, pois não se pode pretender seja dado dano moral à
pessoa jurídica, pois é bem sabido que o dano moral é concedido
como um meio de reparar a “dor n^lma”, de agraciar com um bene
fício financeiro o sofrimento psicológico, e é evidente que não se
pode dizer que uma empresa tenha sofrimento psicológico ou dor na
alma, estando evidentemente a autora pretendendo locupletar-se com
a indústria do dano moral que por ai se instaura.
autos de
nu 99.00000-1
Ref.:
Juntada de procuração,
vista dos autos fora de cartório e
pedido de justiça gratuita para os primeiros peticionários.
JOAO e HELENA, brasileiros, casados entre si, aposentados, res
pectivamente, portadores dos RG nQs 3333333 e 44444, inscritos em con
junto no CPF sob n- 555555, residentes e domiciliados na Cidade de São
Paulo, na Rua dos Anzóis, Sào Paulo, ambos representados por seu advo
gado TÍCIO SILVA, com escritório nesta capital, fone 555-0000, e MA
RIA, já devidamente qualificada nos presentes autos, por seu advogado
CAIO SILVA, com escritório na Av. 4, nü 000, conjunto 1, CEP: 1111-
111, telefone, Jardim Betoven, Sào Paulo, SP, vêm, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência expor e requerer o seguinte:
1. Três sào os demandados nesta ação.
2. Os primeiros —casal demandado João e Helena —possuem ad
vogado distinto daquele que patrocina os interesses da terceira
demandada - Maria —conforme se depreende das procurações
ora anexadas (anexos 1 e 2).
3. Diante disto, e considerando o quanto estabelece o artigo 191
do CPC, entenderam os patronos de apresentar este petitório
em conjunto para a juntada das procurações e obtenção da de
vida contagem do prazo em dobro, assim como vista dos autos
fora de Cartório para a elaboração da respectiva resposta.
4. O casal João e Helena já foi citado para contestar a presente
açào.
5. A requerente Maria, neste momento, dá-se por citada da pre
sente demanda.
6. As contestações serão entregues no fim do prazo em dobro, de
30 dias, a partir da juntada desta.
7. Entenderam os demandados de manter a vista dos autos, fora
de Cartório, no escritório do advogado Tício Silva, cujo endere
ço está atrás indicado, o qual apresentará esta petição e retirará
o processo para a finalidade supra.
368 M anual de Redação Forense
TÍCIO SILVA
OAB-SP 00002
Advogado de João e Helena.
6.6 Resumo
a) O estilo de escrita representa modo pessoal de criação e é
construído e alterado ao longo da vida pelas idéias do autor e
pelas influências exteriores, das mais variáveis. Alguns modos
de construção de texto assumem menor clareza, e por isso o
aluno deve estar atento para alterar seu estilo —se já o tem for
mado.
b) Escrever frases longas constitui, via de regra, recurso pouco efi
ciente para a clareza do texto jurídico. Ademais, facilita muito
os erros de pontuação.
c) A frase deve ser construída preferencialmente em ordem direta.
Subverter a ordem direta não é, por si só, recurso de estilo.
d) Antecipações e inversões justificam-se quando dão notório realce
a um elemento da oraçào, quando buscam expressividade ou
têm a finalidade de evitar ambigüidades.
e) O aluno deve estar sempre atento para nào trazer excesso de
informações em uma só frase. O raciocínio do leitor desenvol
ve-se por meio da soma de idéias. Entre uma e outra deve haver
pausas.
f) O parágrafo atende a dois requisitos: a distribuição espacial do
texto e a uma idéia-núcleo. Essa idéia-núcleo geralmente carac
teriza o tópico firasal e é inserida no início de cada parágrafo.
g) Vários são os estilos de paragrafaçào do texto jurídico, mas o
redator deve sempre ter em conta que os parágrafos curtos sào
mais atraentes à leitura.
h) O computador, embora nào constitua grande recurso para a cons
trução do texto, é essencial, nos dias de hoje, para dar-lhe a
forma final.
i) Com os recursos do computador, fica mais fácil conceder a pe
tição elementos formais essenciais. O cabecalho, as fontes bem
j j ’
Anexo de Notas
1 O uso da palavra monocrâtico foi algumas vezes criticado por autores, por esta nao existir
nos dicionários dc nossa língua. O Dicionário Micbae/is já traz verbete para esse termo e,
embora nao cuide especificamente de seu sentido jurídico, seu sentido lato é bastante
próximo deste. E que muitos dicionadstas nào cuidam de palavras que sutgem no
contexto jurídico, mas nao se pode criticar seu uso, desde que seja técnico.
2 Garcia, Othon Moacyr, op. cit. p. 203.
' D URAN DIN, Guy im A s M entiras na Propaganda e na Publicidade,JSN Editora, Sào Paulo,
1997, p. 104.
Lição 7
Evitando os erros mais comuns
1375|
376 M anual de Redação Forense
E é errado:
A moça à quem me dirigi é aquela.
g) Há crase toda a vez que o termo regente exigir preposiçào a e o
termo regido, feminino, admitir o artigo a. Regra prática para
saber se existe a crase é substituir o termo feminino por um
masculino. Se, em lugar do “a” original, aparecer “ao”, existe
crase. Se aparecer apenas “a” ou “o”, é sinal de que nào estào
presentes artigo e preposiçào, nào se devendo, entào, usar o si
nal indicativo de crase.
Vejamos:
Assisti a peça de teatro.
Substitui-se peça por palavra masculina:
Lição 7: Evitando os erros mais comuns 385
Redigi a petição.
Substitua por palavra masculina.
Redigi o documento.
Não há, então, crase.
Redigi a petição.
Por isso:
Ouvi cantar os pássaros (e não ouvi os pássaros cantarem, muito
embora o sujeito do verbo ouvir - eu - seja diferente do sujeito do
verbo cantar - os pássaros).
Ele não deixou cair as calças ( e não caírem as calças, embora
haja sujeitos diferentes: ele - deixar; as calças- cair).
Mandei entrar os acusados.
50. O réu disse nào ser pessoa violenta e jamais andar armado. Por
tou arma justo no dia do crime !
fu s t o é adjetivo. Justamente é a palavra correta para se usar como
advérbio, como sinônimo de logo. Assim:
O réu disse não ser pessoa violenta e jamais andar armado. Por
tou arma justamente no dia do crime !
Justamente quando não trouxe o talão de cheque, você me lem
brou de pagar-lhe.
Exercícios
Assinale, dentre as frases abaixo, quais delas têm erro de escrita, e justifi
que-os:
1) O processo foi enviado à esse Douto Juízo.
2) As razões de apelação foram deixadas a apreciação de Vossa Excelên
cia.
3) Fui convidado à proferir uma palestra.
4) Redigi à petiçào.
5) Essas razões devem ser quase idênticas aquelas que você redigiu na
semana passada.
6) Fiz alusão as questões suscitadas.
7) Tudo o que está nesse livro nos favorece. É preciso que você mostre
que ele vai de encontro a nossa tese.
8) Estou as suas ordens.
9) A lei somente passou a vigir em outubro de 1995.
10) A lei somente passou a viger em Outubro de 1995.
11) Eu nào me adeqüei à estrutura daquele escritório.
12) Redigi todos os prazos hoje afim de que possa viajar tranqüilo no feriado.
13) Nesse prazo, deve ser contado o final de semana.
14) Com essa alegação, o réu pretende criar nova figura jurídica.
15) O patrono do acusado somente comparece ao interrogatório de seu
constituinte se quizer.
16) Eu nào tenho muita credibilidade naquele cliente, pois ele nào me
pareceu falar a verdade.
Lição 7: Evitando os erros mais comuns 403
Respostas:
1) O processo foi enviado a esse Douto Juízo.
2) As razões de apelação foram deixadas à apreciação de Vossa Excelência.
3) Fui convidado a proferir uma palestra.
4) Redigi a petiçào.
5) Essas razões devem ser quase idênticas àquelas que você redigiu na semana passada.
6) Fiz alusão às questões suscitadas.
7) Tudo o que está nesse livro nos favorece. É preciso que você mostre que ele vai ao
encontro de nossa tese.
8) Estou às ordens.
9) A lei somente passou a viger em outubro de 1995.
10) A lei somente passou a viger em outubro de 1995.
11) Eu não me adaptei à estrutura daquele escritório.
12) Redigi todos os prazos hoje a fim de que possa viajar tranqüilo no feriado.
13) Nesse prazo, deve ser contado o fim de semana.
14) Com essa alegação, o réu pretende criar figura jurídica.
15) O patrono do acusado somente comparece ao interrogatório de seu constituinte se
quiser.
16) Eu não tenho muito crédito naquele cliente, pois ele não me pareceu falar a verdade.
17) Nós nunca reouvemos o dinheiro que depositamos naquela empresa.
18) A vítima foi roubada em frente à delegacia de polícia.
19) Esse acórdão não tem nada a ver com o caso em tela.
20) O resultado seria outro sc o réu fosse mais bem instruído a prestar depoimento.
21) Prefiro ter de trabalhar hoje a perder o prazo.
22) Nào houve nada entre mim e ela.
23) Por que você nào tira umas férias?
24) Sei que o procurador de justiça não quis dar parecer, mas por quê?
25) Queria saber o motivo por que o juiz indeferiu meu pedido.
26) Por que só agora o réu traz a lume esse documento?
27) Nunca se saberá o porquê do suicídio.
28) Nunca se saberá o porquê do suicídio.
29) Anseio por que você ganhe essa causa.
30) Apresentei memoriais porque achei que o parecer do procurador deveria ser contradito.
31) Chegou a hora de a onça beber água.
32) Era medo o motivo de o réu fugir do oficial de justiça.
406 M anual de Redação Forense
Sumário
8.1 Introdução. 8.2 Vamos falar em ciência? 8.3 Atribuindo cientificamente
ao escrito: A originalidade. 8.4 A monografia final de curso de direito. 8.5 Cientificidade do
texto jurídico. Vericidade científica. 8.6 Gtações e referências. 8.7 Estrutura da monografia e
estapas de elaboração. 8.8 Dicas especiais de redação. 8.9 Conclusão.
8.1 Introdução
Ao tratar-se de redação, como se tem tratado nesta obra, encontra
mos enorme gama de temas a abordar. Nao é possível invadi-los todos
com profundidade, por isso a intenção tem sido a de mostrar um panora
ma das^diversas frentes de estudo que constituem a boa escrita. Cuidando
da redação forense, como já esclarecemos, centra-se o estudo não apenas na
escrita jurídica, mas na escrita jurídica argumentativa, aquela que procura
convencer, persuadir, na atividade forense.
As questões de redação forense ter-se-iam findado no capítulo ante
rior, pois o tema de que tratamos neste capítulo nào é pertinente à escrita
exclusiva do foro. Entretanto, o convívio do profissional e do estudante
de direito com a pesquisa jurídica tem sido tào mais próximo nos últimos
tempos - principalmente pela inclusão da (compulsória) monografia de
fim de curso, mas também pelo surgimento de vários cursos de pós-gra-
duação lato sensu —que não julgamos inconveniente lançar algumas dicas
sobre o diferencial da escrita forense e da pesquisa metodológica jurídica,
sobre o que também lecionamos.
É evidente que, aqui, abordaremos menos a metodologia, alvo de
excelentes obras da literatura nacional, e mais a redação cientifica, como
complemento necessário àqueles que adotam esta obra em cursos de re
daçào na graduação e no pós-graduação.
[409]
410 M anual de Redação Forense
As duas premissas ali fixadas sào fatores diferenciais, que nos vão
apresentar relevância neste capítulo: o primeiro deles, o fato de ser o
direito uma ciênáay porque traz matéria e meios próprios de estudo e in
vestigação. A falta da exatidão própria da matemática ou a ausência de
fórmulas e diagramas não lhe retira, ao contrário do que muitos pensam,
a qualidade da cientificidade.3
O segundo fator relevante é a necessidade, para a construção dessa
ciência, da boa pesquisa. Ela implica a consulta a fontes válidas, que
permitam ao leitor do escrito científico comprovar, se o quiser, a
veridicidade daquilo que lhe é transmitido, aceitando o percurso desen
volvido no texto da monografia como algo fundamentado em premissas
válidas.
Ciência e pesquisa, entào, são os elementos principais do escrito
monográfico.
çara mão. Somente com essa descrição minuciosa é que aquele biólogo
haverá de permitir que sua experiência seja reproduzida pelos interessados
na industrialização da vacina que ele criara.
Aü está, então, um dos fundamentos da ciência: o de permitir a
reprodução da experiência feita. Se sua descoberta for mesmo dotada de
perfeito método científico, poderá ser reproduzida a qualquer tempo, por
qualquer pessoa, que sempre alcançará o mesmo resultado —no exemplo,
a produção da ‘vacina do câncer’. Entretanto, se nosso biólogo não hou
ver descrito com acuidade sua experiência, não propiciará oportunidade
de sua reprodução, nào permitirá críticas, ou qualquer consideração pos
terior a respeito de seu erro ou acerto. Em outras palavras, sua experiên
cia, por absoluta falta de relatório, em nada contribuirá à comunidade
científica, que continuará se comportando como se o trabalho daquele
cientista jamais houvesse existido.
Quando o pesquisador escreve seu texto jurídico, deve preocupar-
se em possibilitar que suas idéias (leituras e conclusões) sejam colocadas à
prova. Como não é possível refazer experimentos em tubos de ensaio, como
é o biólogo, deve o jurista demonstrar que seu raciocínio, insculpido em
sua dissertação, baseou-se em afirmações consideradas válidas pela co
munidade jurídica, ou seja, em obras de autores reconhecidos. Mais que
isso, deve demonstrar que fez bom uso dessas afirmações, interpretando-
as corretamente, adequando-as a seu percurso expositivo ou argumentativo
com propriedade e critério.
Por isso, o texto científico-jurídico, que se pretenda criterioso, se
gue características bastante distintas de elaboração, se comparado ao tex
to literário ou ao texto argumentativo das peças e recursos da atividade
no foro. A exigência de constante indicação de fonte bibliográfica deve
ser obedecida com gravidade, podendo-se afirmar que “...uma tese ou
obra jurídica (salvo um ‘manual para estudantes*), quando desprovida ou
com número reduzido de notas de rodapé [...], salvo raríssimas exceções,
não mereceria nem mesmo ser lida”.1A
A veridicidade científica, que deve ser objetivo daquele que redige
uma dissertação jurídica, passa pela constante indicação bibliográfica, a
denominação das fontes que lhe permearam o raciocínio exposto. Essa
indicação permite aos leitores checarem o que lhes é dito, eventualmente
consultando aquelas mesmas fontes, interpretando-as etc. Pode aconte
cer, por exemplo, que um autor citado, autoridade em determinada área
422 M anual de Redação Forense
rio montado, já tem em mente (e em suas fichas) a bibliografia que vai ser
utilizada em cada tópico já determinado.
Redigido o sumário, com a referência certa a cada parte do texto,
basta o trabalho de redação.
Claro, a redação nào é um trabalho simples, de enunciaçào pura de
idéias prontas e imutáveis, pois, como vimos ao longo deste manual, é
impossível divorciar totalmente conteúdo e forma, como se o fichamento
e a organização da bibliografia e do sumário fossem a elaboração do con
teúdo e a escrita apenas a expressão do raciocínio já formulado.24 Por isso,
nào estranhe o estudante se, ao redigir sua monografia, calhem surgir idéias
novas, comentários inéditos, revelando nova reflexão, anteriormente nào
feita.
Entretanto, essas novas idéias devem ser lançadas no texto com
parcimônia, sob pena de comprometerem sua coerência, se implicarem
alteração perceptível na linha mestra do percurso argumentativo. Ade
mais, o surgimento de novas idéias no decorrer do texto pode revelar ao
estudante um trabalho de leitura e fichamento pouco acurado, insuficien
te para que hajam coadunado todas as idéias e conclusões mestras, antes
do início da redação.
Na organização do sumário, portanto, o estudante já deve trazer
bem seguro todo seu plano de leitura, as assertivas que serão feitas, e, ao
máximo possível, o percurso lógico de seu texto. A preguiça nào o pode
vencer, no momento dessa elaboração prévia: deixar o surgimento das
idéias principais para o momento da redação pode ser tarefa essencial
mente comprometedora à qualidade do texto, notadamente daquele que
se pretende científico.
A elaboração do sumário e do fichamento, e da ordem de toda a
bibliografia, repita-se, deve ser exaustiva. O estudante deve preocupar-se
em comprovar todo o estudo feito, a consulta às várias fontes, o conheci
mento de vários dados que nào estão explícito nelas (definição das pro
priedades de cada fonte citada, como o contexto histórico do momento
de produção do texto citado, a escola filosófica a que pertence o autor,
seus principais feitos etc.), a pertinência de cada citaçào ao contexto de
senvolvido e a reflexão aprofundada a respeito do tema. Como se tem
dito, a monografia não é prova de genialidade, mas de estudo e método.
Do estudo e da sua elaboração surge, como exigência final do texto,
sua conclusão. A ela deve ser dedicado um capítulo separado. Em
432 M anual de Redação Forense
vocabulário técnico deve ser respeitado, mas o jargào jurídico26 tem de ser
abandonado por completo, pois nada acrescenta ao discurso científico;
ao contrário, demonstra maior intimidade com a prática e menor com a
teoria.
Por último, cabe ressaltar a necessidade de cuidado com o estilo.
Parece ousado afirmar, mas, em matéria humana, nào há boa ciência que
se faça sem arte; os textos que representam referência no Direito sào,
todos, textos que foram cuidadosamente trabalhados por seus autores no
que se refere à redaçào e ao estilo. Em todo bom texto científico,
notadamente no campo jurídico, o autor lhe agrega uma segunda preocu
pação, a 1elaboração da mensagem p or si mesma \21 aquela ênfase estética acres
cida à informação veiculada.
Essa ênfase nào tende ao exagero, ou melhor, é a ênfase da clareza,
do grande paradoxo da enunciaçào, o de que é melhor o estilo quanto
menos ele aparecer. O estilo elegante é aquele estilo discreto, que pouco
aparece; quando o autor do escrito (científico, principalmente), pretende
demonstrar que teve acuidade na estruturação do texto, tende ao exagero,
utilizando palavras difíceis e preciosas. Deve agir como a pessoa que,
procurando vestir-se elegantemente, lembra-se da regra de que a melhor
roupa é aquela que nào chama a atenção; se procurar demonstrar estar bem
vestido, tende ao ridículo e, paradoxalmente, perde a elegância.
Portanto, deve sim o autor da monografia preocupar-se com sua
escrita, com aquele plus que traz seu texto ao demonstrar, com discrição,
a competência lingüística, diferenciando seu texto da mera compilação, da
demonstração de conteúdo, lembrando-se de que “a língua exprime e o
estilo realça”.2R
A redaçào com estilo cuidadoso é muito importante ao estudante
que elabora monografia, pois o texto deve sempre convidar à leitura, como
já se expôs, e aqui não é diferente. Somente se deve lembrar, à exaustão,
que o estilo é de objetividade e clareza, com gramática escorreita e lin
guagem fluente. E só.
8.9 Conclusão
Como alertado, desde o início deste capítulo, nào se pretende aqui
uma exposição detalhada da metodologia jurídica. Entretanto, como este
manual tem sido adotado em cursos jurídicos, nào nos pareceu demais
Lição 8: A monografia 435
Anexo de Notas
1 Cf. MARCHI, Eduardo C. Silveira. Guia de Metodologia Jurídica . Itália: Edizioni dei Grifo,
2001, p. 26.
2 VANDELVE, Kenneth J. Pensando como um Advogado. Martins Fontes Editora, 2000, SP,
p. 149.
3 Cfr. ECO, Umberto. Como se Fa^uma Tese. Sào Paulo: Ed. Perspectiva. 1999, p. 21 “...Para
alguns, a ciência se identifica com as ciências naturais ou com a pesquisa em base quanti
tativas: uma pesquisa nao é científica se nào se conduzir mediante fórmulas e diagramas.”
4 MARCHI, Guia de... cit, p. 30.
’ NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Manual da Monografia Jurídica. Sào Paulo, 2001, p. 28.
6 MARCHI, cit. p. 27.
7 Art. 9 Ü: para conclusào do curso, será obrigatória apresentação e defesa de monografia
final, perante banca examinadora, com tema e orientador escolhidos pelo aluno.
8 COSTA, Nelson Nery. “Projeto de Pesquisa de Monografia”. Revista da Ordem dos Advoga
dos do Brasil%Ano XXX, nu 70, jan./jul. 2000, p. 75.
9 MELO FILHO, Álvaro. “Juspedagogia: ensinar direito o Direito”. OAB, Ensino Jurídico ,
2000, p. 44.
u>b it tv R ^ Eduardo C.B. Direito e ensino jurídico: legislafào educacional\ Sào Paulo: Atlas,
2001, p. 92.
11 CARVALHO, Marlene et SILVA, Maurício da, 'Leu, mas nào entendeu: um problema
que costuma explodir na universidade”. Ciência Hoje, nü 119, vol. 20.
12 RODRIGUEZ, Víctor Gabriel. Argumentação Jurídica , Técnicas de Persuasão e Lógica Infor
mal. Campinas: Ed. LZN, 2001, p. 81.
13 Esclarecedora a afirmação de Miracy B. S. Gustin e Maria T. Fonseca Dias, comentando o
tema: “ O texto redigido deverá representar clareza, objetividade e precisão da linguagem.
Pra que isso ocorra é importante uma revisão do texto final cm relaçào a seu estilo,
vocabulário, correções gramaticais, símbolos, abreviações, citações etc Isso requer consul
tas constantes ao orientador e, se necessário, a colegas ou profissionais da área de lingua
gem c de normalização para sanar dúvidas nào solucionadas por meio dos demais expe
dientes...” (Re)pensando apesquisa jurídica. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 134.
u “ Para além da disciplina, quantificação e especialização dos fenômenos que a experiência
ordenada produz, a a bordagem interdisciplinar busca refletir o real sem suprimir-lhe as
contradições, acentuando os ângulos de entrosamento de seus diferentes aspectos na
totalidade. Busca-se, neste modelo, uma aproximação epistemológica capaz, portanto, de
articular os pontos de integração na vida social.” SOUSA Jr., José Geraldo de, “Ensino
Jurídico :pesquisa e interdisciplinaridade”. OAB: Ensino Jurídico , Brasília, 1996, p. 96.
15 MARCHI, cit. p. 36.
16 MARCHI, cit. p. 39.
Lição 8: A monografia 437
| 439 |
440 M anual d e Redação Forense
R o d r íg u e z
A p re s e n te o b ra n a s c e u d o tra b a lh o e m s a la de a u la , cm c u rs o d e re d a ç à o
fo re n s e q u e h á te m p o s a d m in is tra m o s . T al e x p e r iê n c ia fez c o m q u e o a u to r c o n h e
c e s s e a lg u m a s d a s d ú v id a s m a is c o m u n s à q u e le s q u e se p r o p õ e m ao e s tu d o d a s
té c n ic a s re d a c io n a is e, a s s im , e n te n d e -s e p o r b e m , lo g o d e in íc io , s o lv e r a lg u m a s
d e la s , p a ra q u e o c u rs o se in ic ie c o m c la re z a e m s e u s p r o p ó s ito s e p re m is s a s .
R e d ig ir é e x te rio riz a r, e m p a la v ra s , id é ia s e m o rd e m e m é to d o . P a ra n o ss o
o b je tiv o , a q u i, s ig n ific a e x p o r fa to s d e fo r m a c la ra e c o m b in a r c o n c e ito s e id é ia s , c o m
o o b je tiv o d e p e rs u a d ir. E a c o m p e tê n c ia p a ra fa z ê -lo n ã o é, n itid a m e n te , u m a
q u e s tã o de a rte , m a s de té c n ic a a p u ra d a . E , n e s ta o b ra , p re te n d e -s e d e s e n v o lv e r u m
p o u c o d e s s a té c n ic a e s p e c ífic a , a re d a ç ã o d o te x to ju ríd ic o , c u jo d o m ín io c o n s titu i
u m d o s a s p e c to s q u e d e v e m in te g r a r o le q u e d e c o n h e c im e n to d o a d v o g a d o , p a ra a
c o m p le titu d e d e s u a a tiv id a d e .
U m e s tu d o d irig id o , c o n c is o m a s c o m p le to , é o q u e o ra n o s p ro p o m o s a fa ze r,
p ro c u ra n d o a ju d a r o p ro fis s io n a l d a a d v o c a c ia a, n o se u tra b a lh o d iá rio , c o n s tru ir
te x to s c la ro s , c o e re n te s e p e rs u a s iv o s , q u e s e ja m c a p a z e s d e e x te r io riz a r to d a a te o ria
ju ríd ic a de q u e e le se sa b e c o n h e c e d o r, a d e q u a n d o - a a o c a s o c o n c re to e, a s s im ,
p ro d u z in d o o D ire ito d a su a m e lh o r fo rm a . P a ra q u e is so a c o n te ç a , se rá n e c e s s á rio
re v is a r a lg u n s c o n c e ito s d e te o ria do te x to e d a g r a m á tic a , p a ra , c o n c o m ita n te m e n te ,
d e m o n s tra r-s e s u a a p lic a b ilid a d e à re d a ç ã o d irig id a à a tiv id a d e a d v o c a tíc ia .
O
C o n te ú d o do C D R O M : C o n s titu iç ã o F e d e ra l, C ó d ig o C ivil, C ó d ig o de
P ro c e s s o C iv il, C ó d ig o de D e fe s a d o C o n s u m id o r, C ó d ig o C o m e rc ia l,
L e g is la ç ã o E s p e c ia l, S ú m u la s d o s T rib u n a is E s ta d u a is e S u p e rio re s,
E s ta tu to da A d v o c a c ia e a O A B , ju ris p ru d ê n c ia p o r a s s u n to e m u ito m a is.
ISBN 8 5 - 8 8 3 8 7 - 15-S
Av. M are c h a l Rondon, 301 • Jd. C h ap adão
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