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Perita em Documentoscopia
REGINALDO TIROTTI
Perito em Ciências Forenses
REGINALDO TIROTTI
Perito em Ciências Forenses
ISBN: 978-85-7456-404-3
São Paulo - SP
ISBN: 978-85-7456-404-3 2021
© Copyright 2021 by Livraria e Editora Universitária de Direito
Editor responsável
Armando dos Santos Mesquita Martins
Produtor editorial
Luiz Antonio Martins
Revisão
Luiz Antonio Martins e Isadora Pimenta de Arauj?
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total Dedicamos este livro para todos que buscam estu-
ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por siste- dar a Grafoscopia, uma área das mais desafiadoras
mas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos,
das Ciências Forenses. O exame perceptual exige
videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou par-
cial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra, em qualquer sis- atém de boa visão, a sua devida análise e avaliação
tema de processamento de dados. Essas proibições se aplicam também às das características com o raciocínio completo.
características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos di-
reitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Bom estudo!
Penal, cf. Lei no 10.695, de 1°.07.2003) com pena de prisão e multa,
conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (Lei
no 9.610, de 19.02.1998).
- Impresso no Brasil -
IV v
AGRADECIMENTOS
Reginaldo Tirotti
VI
VIl
,
SUMARIO
PREFÁCIO ......................................................................................... !
IX
4.1.1.4 Lápis .................................................................... 31 5.1.2.3 Adequabilidade .................................................. 80
4.1.2 Grafocinética ................................................................... 32 5.1.2.4 Quantidade ......................................................... 81
4.1.2.1 Velocidade .......................................................... 32 5.1.2.5 Espontaneidade ................................................. 82
4.1.2.2 Sucessão de movimentos .................................. 33 5.2 Etapas de um exame grafoscópico ......................................... 82
4.1.3 Morfologia gráfica .......................................................... 33 5.2.1 Análise ............................................................................. 82
4.1.3.1 Diferenças formais ............................................ 33 5.2.2 Confronto ........................................................................ 83
4.1.3.2 Gramas ........................................................ ........ 34 5.2.3 Avaliação/ ponderações ................................................. 85
4.1.3.3 Letras ................... ................................................ 36 5.2.3.1 Constância .......................................................... 85
4.1.3.4 Ataques e remates .............................................. 38 5.2.3.2 Raridade na população ..................................... 86
4.1.3.5 Linhas de impulso, traços ornamentais e 5.2.3.3 Imperceptibilidade ............................................ 86
cetras ..................................................... .............. 42
4.1.3.6 Polimorfismos gráficos ..................................... 43 6. IDENTIFICAÇÃO GRÁFICA .................................................... 87
4.1.3.7 Escritas correntes, assinaturas e rubricas ...... .43 6.1 Classificação das escritas ......................................................... 88
4.2 Qualidades do grafismo ........................................................... 44 6.1.1 Grafismos naturais ......................................................... 89
4.2.1 EOG subjetivos ............................................................... 45 6.1.2 Grafismos disfarçados .................................................... 94
4.2.1.1 Ritmo .................................................................. 45 6.1.3 Grafismos imitados ........................................................ 95
4.2.1.2 Dinamismo ........................................................ 46
4.2.1.3 Velocidade ......................................................... 47 7. INDÍCIOS DE AUTENTICIDADE E FALSIDADE ................... 97
4.2.1.4 Habilidade .......................................................... 49
4.2.2 EOG objetivos .......................... ....................................... 50 8. AÇÕES FRAUDULENTAS: ESPÉCIES DE AUTENTICIDA-
4.2.2.1 Trajetória ............................................................ 50 DE E FALSIFICAÇÃ0 .............................................................. 101
4.2.2.2 Idiografismos ..................................................... 52 8.1 Autofalsificação/disfarce ....................................................... 101
4.2.2.3 Espontaneidade .......................................... ....... 53 8.2 Falsificação por imitação servil ............................................ 103
4.2.2.4 Andamento gráfico ........................................... 53 8.3 Falsificação por imitação exercitada .................................... 103
4.2.2.5 Alinhamento gráfico ......................................... 54 8.4 Falsificação de memória ........................................................ 104
4.2.2.6 Espaçamentos gráficos ...................................... 56 8.5 Falsificação sem imitação ...................................................... 105
4.2.2.7 Inclinação axial... ............................................... 58 8.6 Falsificações por decalque .................................. ................... 106
4.2.2.8 Proporcionalidade ............................................. 60 8.6.1 Direta ............................................................................. 106
4.2.2.9 Calibre ..................................... ............................ 61 8.6.2 Indireta .......................................................................... 106
4.2.2.10 Pressão .............................................................. 63
4.2.2.11 Gladiolagem ..................................................... 64 9. EXAMES E PROCEDIMENTO ................................................ 109
4.2.2.12 Tendência de punho ....................................... 65 9.1 Objetivo do exame .................................................................. 110
9 .1.1 Autenticidade/falsidade ............................................... 11 O
5. EXAME GRAFOSCÓPICO ........................................................ 75 9.1.2 Autoria ........................................................................... 111
5.1 Peças paradigmas e questionadas ........................................... 76 9.2 Diferenças entre disfarce e simulação ................................. 112
5.1.1 Peças questionadas ......................................................... 76 9.3 Equívocos em exames grafotécnicos .................................... l14
5.1.2 Peças paradigmas ........................................................... 77
5.1.2.1 Contemporaneidade ......................................... 78 10. CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS ........................................ 117
5.1.2.2 Autenticidade ..................................................... 79 I 0.1 Autenticidade ......................................................................... 117
X XI
10.2 Falsidade ................................................................... .............. 118
10.3 Critérios Importantes .............................................. .............. 119
10.3.1 Critérios para identificação de autoria .................... 120
10.3.2 Critérios para a não identificação de autoria .......... l20
10.3.3 Critérios para a exclusão de autoria ......................... l20
10.4 Falsidade ou disfarce ............................................................. 121
10.5 Escala de possibilidades .............. ... ....................................... 122 ,
10.6 Abordagem bayesiana ........................................................... 123
10.7 Escala de possibilidades verbais ........................................... 124
PREFACIO
10.7.1 Exemplo prático .......................................................... 126
XII
Tudo isso é apresentado em linguagem simples e direta,
o que facilita não apenas a leitura, mas também a busca por
informações específicas.
Apreciem a leitura.
,
HISTORICO E
Samuel Feuerharmel CONCEITUAÇAO -
Perito Criminal Federal aposentado
2
3
desenvolvimento de um meio de comunicação mais eficaz e A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios por volta
permanente. de 3500 a.C., sendo a designação geral dada às escritas feitas
Cenas de caçadas, objetos de uso, animais e acidentes da com auxílio de objetos em formato de cunha. Esse alfabeto
natureza foram retratados durante alguns milênios em rochas representava coisas mundanas (pictogramas), mas, por pratici-
das primeiras habitações humanas. Essa forma de escrita figu- dade, essas formas se tornaram mais simples e abstratas.
rada é denominada pictografia (do latim pictus significa pinta- O hieroglifo, ou hieróglifo, é constituído por sinais da
do e do grego grafe significa descrição). escrita de antigas civilizações, tais como os egípcios, os hititas,
Ao longo do tempo, o homem passou a atribuir signi- e os maias. Essa linguagem se popularizou devido à utilização
ficado /ideia aos pictogramas. Por exemplo, um desenho de do papiro como base da escrita, que possibilitou sua perma-
sol poderia significar algo além do astro, como: a posição; a nência por muitos séculos, além de facilitar a difusão.
claridade; o dia; a luz; ou o calor. Esse tipo de linguagem é Em razão de sua alta complexidade, a escrita por hieró-
denominado ideografia. glifos foi considerada uma incógnita por séculos, sendo alguns
Com o uso de ideogramas, a comunicação se tornou mais hieroglifos estudados até os dias de hoje.
elaborada, possibilitando até mesmo a formulação contextual.
Posteriormente, o homem começou a criar sinais que não
mais representavam apenas uma ideia e, sim, um som. Esses
sons podiam ter qualquer forma, não havendo a necessidade
de conexão entre seus correspondentes externos. Assim, nas-
ceu a escrita fonética.
Em várias partes do mundo, a escrita foi sendo aprimo-
rada a ponto de se abolir o uso de ideogramas e dando espaço
à criação da escrita silábica. Posteriormente, surgiu a escrita
alfabética que, por sua vez, assumiu tamanha importância nos
últimos 3.000 anos e, embora seja considerada uma subdivi-
são da fonética, será estudada separadamente.
Inicialmente, havia dois alfabetos coexistentes: o Cunei- Em 1799, homens sob o comando de Napoleão Bo-
forme e o Hieróglifo. naparte, enquanto cruzavam a região de Roseta, no Egito,
4 MANUAL PRÁTI CO DA A NÁLI SE GRAFO TÉ CN ICA H ISTÓR ICO E CONC EIT UAÇÃO 5
encontraram a Pedra de Roseta, um grande bloco de granito O português e outras línguas neolatinas adotaram o alfa-
do Antigo Egit contendo escritos em hieróglifo, grego e de- . beto romano, bem como o inglês, o turco, entre outras.
mótico egípcio.
Atualmente, existem cinco alfabetos, sendo todos deri-
Esse texto foi fundamental para auxiliar a interpretação vados do grego e do latim: Grego (na Grécia); Cirílico (em
dos hieroglifos na atualidade. Compreendido pela primeira países eslavos); Gaélico (na Irlanda); Latino (em diversos paí-
vez por Jean François Champollion, em 1822, e, posterior- ses de língua latina, entre outros); e Gótico (na Alemanha)2.
mente, por Thomas Young, em 1823, profundos conhecedo-
res da língua grega. Ambos realizaram a comparação da versão 1.2 CONCEITOS IMPORTANTES
em hieróglifo com a em grego.
Após os sumérios, surgiram os fenícios, povo de origem O conceito tradicional de Grafoscopia está relacionado aos es-
semítica que se estabeleceu na costa oriental do Mediterrâneo. tudos criminalísticos. Como finalidade da disciplina, tem-se
Eles, por sua vez, modificaram, disciplinaram e simplificaram a verificação da autenticidade ou falsidade documental, bem
o alfabeto hebraico, criando um alfabeto próprio. como, a determinação de sua autoria.
O alfabeto fenício possuía vinte e dois sinais, sendo todos O conceito de Grafoscopia, segundo Gomide 3 , "é a disci-
consoantes. Os gregos, após o desaparecimento da Fenícia, plina que tem por finalidade determinar a origem do documen-
aperfeiçoaram o alfabeto e, em meados do século IV a.C., já se to gráfico". Este, por sua vez, é o objeto da disciplina, devendo
encontrava completo. ser verificada a autoria ou a existência de suposta fraude.
No ano de 496 a.C. , houve o início da conquista da Pe- Ademais, para Gomide 4 , documento "é o suporte que
nínsula grega e, em 146 a.C., Roma dominava o Oriente e contém um registro gráfico". Alguns suportes utilizados são:
incorporava a Grécia, se apropriando do alfabeto grego através papéis, pergaminhos, tecidos, plásticos, entre outros mate-
dos colonos. riais. Isto é, objetos, ou superfícies, utilizados para a fixação
Assim, com os conceitos básicos em mente, começare- Também chamado de homológico de com-
mos o estudo da grafoscopia. paração formal ou método de Bertillon,
consiste na apreciação de convergências e
divergências dos elementos de ordem pura-
m ente fo rmal, além de semelhanças no feitio
das letras, m ediante a comparação de letra
por letra.
MÉTODOS GR A FOSCÓPICOS 11
10 MANUA L PRÁTICO DA A N Á LISE GRA FOTÉC N ICA
Este método teve poucos seguidores, posto que igno-
1) Como se formam os traços;
ra a verdade de que a escrita reúne elementos qualitativos,
2) Quais os hábitos de movimentação do escritor; e
identificados e integrados, que se vinculam aos elementos
quantitativos de reciprocidade compreensível e naturalmente 3) Quais são as causas determinantes de impulsos,
fundamen tais 6 • ênfases e anomalias do gesto gráfico.
O método Grafocinético, ou Morfocinético, foi estabe- Há uma distinção importante entre GRAFOLOGIA e GRA-
lecido em 1927 por Edmond Solange Pellat, em seu livro Les FOSCOPIA. Ambos estudam os grafismos, contudo, com ob-
lois de l'écriture, que formulou as denominadas leis da escrita. jetivos diferentes.
Mais à frente, aprofundaremos o assunto.
A Grafologia se refere à ciência que estuda as caracterís-
Antes de iniciar a perícia, i.e., confrontação entre peça ticas da personalidade do homem por meio de seu grafismo,
questionada e padrões paradigmas, o perito deve estar ciente muito utilizada na área de recursos humanos, posto que é um
da finalidade do seu trabalho: se objetiva a confirmação da au- exame rápido (muitas vezes por meio de ditado) e não há a
tenticidade ou, caso não seja autêntica, de quem seria a autoria possibilidade de simulações.
da falsificação.
Portanto, o método G rafológico não é utilizado para exa-
Conforme Cavalcante e Lira7 , nesse método é dada aten- mes de apuração quanto a autenticidade ou falsidade.
ção especial aos movimentos que dão origem ao gesto gráfico
A Grafologia não se confunde com Grafoscopia ou Gra-
e objetiva verificar:
fotecnia. Como sabemos, a grafologia está voltada ao estudo
6 da personalidade. Já, a Grafoscopia, é o estudo do punho
DEL PICCHIA FILHO, ].; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen- escritor, cujo objetivo é conhecer a autoria de um grafismo.
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual.- São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 339. Sendo o Método Grafocinético, atualmente, o mais utilizado
7
CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sa- para tal exame.
gra- Luzato, 1996. p. 68.
Ili
GRAFOLOGIA GRAFOSCOPIA
Estuda a personalidade Objetivo n a Autenticidade e autoria
RH Finalidade Forense
A escrita é examinada Há comparação entre padrão e questionado
1º LEI DA ESCRITA
15
14 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA
haverá produção da escrita sempre com as mesmas peculiari- relatou que "ninguém é capaz de imitar, ao mesmo tempo,
dades. estes cinco elementos do grafismo: riqueza e variedade de for-
mas, dimensão, enlaces, inclinação e pressão".
Após a Segunda Grande Guerra Mundial, observou-se
que pessoas cujas mãos ou cujos braços haviam sido amputa- Assim, constata-se que, como não existem duas pessoas
dos e que desenvolveram a habilidade de escrever segurando o com cérebro, músculos, ossos e nervos idênticos, também não
lápis ou a caneta com outro órgão, como, por exemplo, a boca existem duas pessoas com escritas idênticas.
ou o pé, mantiveram suas características individualizadoras da A doutrina explica que, para produzir o grafismo, o ser
escrita. A literatura a este respeito é farta, portanto, provada humano passa por três fases 6 :
pela casuística pericial. 1) Evocação;
Dessa forma, o indivíduo com punho escritor destro, 2) Ideação;e
i.e, que escreve com a mão direita, se, por exemplo, passar a
3) Execução.
fazê-lo com a mão esquerda, canhota, após treinamento, apre-
sentará escrita com as mesmas características grafocinéticas.
A evocação é a busca de informações, imagens, sons ou
A situação dos loucos é outro exemplo. Em seus acessos emoções dentro da memória/cérebro, sendo considerada a
não conseguem escrever, porém voltam a fazê-lo nos momen- imagem gráfica (morfologia).
tos de lucidez, sendo a maior evidência da premissa da primei- A ideação é a fase na qual o escritor, após ter evocado a
ra lei de Solange Pellat. ideia, põe em funcionamento a sua criatividade, acrescentan-
O cérebro comanda o sistema motor composto por ossos, do à simbologia sua característica individual (gênese).
músculos e nervos, cuja tonicidade e controle varia de pessoa A execução é a emissão da ordem do cérebro para que
para pessoa. Portanto, o ato de escrever é um gesto humano o órgão que porta o instrumento escritor execute os movi-
que se origina no cérebro. mentos sobre o papel ou documento, já evocados e ideados
Robert Saudek, grafologista tcheco, que fundou a socie- (cinetismo).
dade de grafologia profissional na Holanda, publicou o estudo As duas primeiras fases provêm do cérebro, já, a terceira,
"Grafologia Experimental" em 1929, que examinou a veloci- é a parte motora. Em resumo: a evocação é O QUE fazer;
dade da escrita.
Com uso de microscópio, paquímetro, placa de pressão, 6
CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sa-
régua, transferidor e imagens em câmera lenta, seu estudo gra - Luzato, 1996. p. 32
til
4.1 ASPECTO GRAFOCINÉTICO E Neste livro, serão abordados apenas os instrumentos grá-
MORFOLÓGICO ficos mais prováveis de ocorrerem em um documento. É váli-
do lembrar que o estudo do traço vai muito além do depósito
A escrita é produzida por duas forças básicas: uma vertical, ou de tinta, ou massa de tinta, na superfície do suporte. Esse es-
oblíqua, que ocorre por meio da pressão do instrumento es- tudo auxilia o perito a desvendar a grafocinética.
critor (lápis, caneta, usualmente) contra o suporte (geralmen-
te, papel); e outra horizontal (deslocamento), que acontece
4.1.1.1 Penas
pelo arraste do instrumento escritor sobre o suporte, podendo
ser em movimentos retilíneos ou circulares. Os vetores dessas As penas podem ser:
forças (intensidade, direção e sentido) dependerão muito de
a) Metálicas
características individuais.
a.l) Penas comuns
Não há como explicar sobre grafocinética sem antes
a.2) Penas de caneta tinteiro ou, simplesmente,
adentrar nos instrumentos gráficos. Cada instrumento gráfico
caneta tinteiro
se comporta de uma maneira, sendo importante conhecê-los.
b) De p ato
4.1.1 INST RUMENTOS GRÁF ICOS E c) De Cana
TRAÇADOS
As penas comuns ou de aço, ainda que constituídas de
Aqui, desvendaremos todos os aspectos constitutivos do traço. ligas metálicas, são adaptáveis às canetas. Existem milhares
Primeiramente, vislumbraremos com o que podemos escrever, de espécies com variações de tamanhos, formatos, tipos de bi-
quais são os instrumentos gráficos: cos e marcas dos fabricantes.
a) Penas;
b) Esferográficas;
c) Hidrográficas;
d) Lápis;
e) Giz;
f) Carvão e outros materiais improvisados.
9
DEL PICCHIA FILHO,].; DEL PICCHIA, C. M.
R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documen-
toscopia: "da falsidade documental". 3. ed. rev., ampl. e
atual. São Paulo: Editora Pillares, 20 16. p. 162.
1~1
Falha inicial e Estri as
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Es quí r olas
-.,
7'
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Falha inicial é a imperfeição decorrente do início do tra- /~
çado. Isso ocorre, pois a tinta que estava na superfície exposta
da esfera encontra-se seca, essa falha serve para verificar de
onde iniciou o traçado.
Estrias são pequenas falhas lineares que aparecem em al-
I
'J
.,
) L
guns movimentos da caneta esferográfica em razão da dinâ-
mica da esfera em contato com o tubo e de suas imperfeições. A esquírola resulta da descarga excessiva de massa de tin-
ta, que ocorre pelo giro da esfera sem contato suficiente com o
N esse traço semicircular, pode-se observar que o traçado
suporte para que se realize a deposição. Esse acúmulo de tinta
foi realizado em sentido horário, conforme demonstrado pelas
ocorre até que a carga do bulbo se acomode. Geralmente, está
estrias que correm para o sentido de fora do traço.
presente nos cotovelos e em vértices horizontais/laterais.
. '
Por sua vez, após estudarmos sobre os instrumentos escritores Um traço raramente terá significado sem o outro, i.e., quando
e seus traços, aprenderemos a fazer a Análise Grafodnética, considerado isoladamente. Depois do primeiro traço, virá o
cuja finalidade é desvendar os hábitos de movimentação do segundo, que poderá ser sobreposto ou conjugado.
escritor e as causas determinadoras de impulsos, ênfases e ano-
Após feito alguns esclarecimentos sobre grafocinética, ve-
malias do gesto gráfico.
remos a morfologia gráfica.
Observa-se a intensidade do traçado para descobrir sua
velocidade, em seguida, é possível detectar o sentido de pro- Traços sobreposto s Traços conjugados
dução do traçado por meio de estrias e esquírolas e, após, in- apontados por apontados por
meio das set a s. meio das setas .
ferir sobre a trajetória dos movimentos.
I I
Como afirma Del Picchia, a diferença de tamanho não é Possantes superiores
4.1 .3 .2 Gramas
/ v c
1 Grama 2 Gramas Grama Circular
s o (v\
Grama Sinuoso Grama Circular 4 Gramas
Em laçada Em haste
Dupla possan t e
Platô
Superior
~
Àdireita /
Inferior À esquerda f\.
g) Ponto de repouso: ocorre quando o escritor, ao
e) Gancho: analogamente à classificação em arpão, iniciar ou finalizar um gesto, apoia o instrumen-
o lançador realiza uma pequena mudança de sen- to escrevente no papel de maneira a provocar o
tido imediata, entretanto, de maneira curvilínea, aparecimento de um ponto e, depois, se inicia a
assemelhando-se a um gancho. projeção do lançamento.
Esse hábito gráfico também é considerado um Esse tipo de ataque/remate é muito frequente na
elemento individualizador da escrita, sendo im- escrita senil. O escritor, não tendo m ais o controle
portante a sua verificação ao longo de um exame motor fino, primeiramente, apoia a caneta no pa-
grafo técnico. pel para, então, desenvolver a escrita.
Trata-se, entretanto, de uma característica quere-
Superior
?
~
À direita r sulta de circunstâncias momentâneas, sendo pos-
sível que o escritor não apresentasse esse tipo de
~
Inferior hábito anteriormente.
À esquerda
questionada com assinatura paradigma. Não é indicado que o Inicia-se o estudo pelos Elementos de Ordem Geral Sub-
confronto seja feito pelo cotejo da escrita corrente paradigma jetivos e, posteriormente, veremos os EOG Objetivos.
em relação à assinatura questionada, pois, pode induzir o pe-
rito a resultados errôneos. 4 .2.1 EOG S U BJ ETIVO S
Assim, ressalta-se que não é apropriado utilizar um estilo
de grafismo para examinar outro. Afinal, dessa forma, o prin- Os EOG Subjetivos são compostos por características muito di-
cípio da adequabilidade não seria cumprido, como veremos fíceis de serem simuladas ou maquiadas, pois são involuntárias.
mais à frente. Ademais, a conceituação desses elementos é mais abstrata do
que os EOG Objetivos. Assim sendo, conheceremos um a um.
4.2.1 .3 Veloc i do de
I
I
4.2.1.4 Habilidade
Observa-se que, em regra, o estudo aprimora o grafismo, Em situações de sobreposição, que prejudiquem a visua-
i.e., quanto mais treino, mais velocidade e m enos oscilações. lização da trajetória gráfica, é recomendável verificar outras
amostras da mesma assinatura, pois, com a variação do pun ho,
4.2.2 EOG O BJ ETI VOS poderá ser possível verificar os traços sobrepostos que não fi-
quem visíveis em uma primeira observação.
Os EOG objetivos são demonstráveis com mais facilidade, Outra forma de verificar sobreposição de traços é por
sendo assim, as características materiais e visíveis do grafismo. meio do uso de um microscópio óptico. Sendo observado o
afllamento do traçado sobreposto.
4.2.2.1 Traj et ó ri a
4.2.2.3 Espontaneidade
mg3 lmg4
' '
~o. .r. a ..
~:c~ C\..~"-'4Z v ~o c~ ~~/..C,_ÇJ
._.,·~-~ x l u ;.,"'J ),..C..:"' YVX:'~.,. :...'\ ck.
~.L!o. '""YY\ l..-:.\'")0 ~ ' '
Tomamos como referência a linha de base, ainda que teó- • Sinistrógira: tendência em sentido sinistro, i.e., à
rica, e lançamos um eixo vertical perpendicular, visualizando esquerda do eixo ortogonal (0° até 90°).
um plano cartesiano (x, y) e comparando a inclinação corres-
pondente aos alógrafos. É comum realizar essa análise tendo
como base lançamentos que possuem hastes verticais.
Assim, a inclinação axial poderá ser classificada da se-
guinte forma:
4.2.2.10 Pressão
• Gladiolagem positiva: ocorre quando o punho es- É perceptível apenas em determinados símbolos gráficos, sen-
critor possui o hábito de desenvolver a extensão do bem visível no grafismo das letras 'M' e 'N'. Vejamos:
MAIS COMUM
Ao longo do exame, o perito deve questionar se o punho Primeiramente, vamos definir, dentro da perspectiva do
teria a mobilidade necessária para realizar aquela execução. estudo das exatas e de uma forma bem simples, cada um
desses conceitos:
"r
r1 1 11 • Direção: pense em uma reta imaginária onde um
objeto possa se locomover;
• Sentido: imagine para que lado esse objeto poderá
n•"'u'"'' ' '·''"''......... .,, , .. ,, .. ,,.,,.,,. .. M• •
' ' ''"'""' ' '''u"'"''"'"o ......... , •. .,J'.•.o ••• . , •"I ' ir. Mantendo-se sobre a linha anteriormente esti-
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.................................. ............. ,. ... .
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pulada.
...............,,....... ...........................................
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...... .............................
__..
v ~~~6D~
Ac:ut;)ngulo Retângulo ObtusàngiAo Equilátero Isósceles Escaleno
Horário Anti-horário
D O!_ "::, 0
Outra informação importante a ser pontuada é quanto
aos momentos de um círculo, que serão descritos confor-
;=·õ"oEõõ ParaleiOIJ"amo RectMgulo Quadrado Losango
me as horas de um relógio.
00000
Hexágmo Heptágono Octógono Decãgono Circunferénda
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TH "' CORPO
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PERNA
R
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MlÁLI~E DE GR AFISM OS 73
72 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA
EXAME ,
GRAFOSCOPICO
75
da autenticidade, i.e., se é proveniente do punho autêntico de assinatura, diversas assinaturas, rubricas ou até graflsmos,
quem se diz ser. Além disso, o punho suspeito de um exame como o preenchimento de um documento.
pericial denomina-se periciando. Pode-se questionar a autenticidade (Foi feita pelo real ti-
Um exame grafoscópico acurado é dividido em três etapas: tular daquela assinatura?) ou sua autoria (Quem foi o autor?
a) Análise; Quem escreveu?).
b) Confronto; e
5.1.2 PEÇAS PARADIGMAS
c) Avaliação, ou Ponderação.
C ontemporaneidade
A utenticidade
5.1.1 PEÇAS QUESTIONADAS A dequabilidade
Quantidade
Peça questionada (peça duvidosa, peça de exame, objeto) é E spontaneidade
aquela em que se questiona a sua autenticidade. Pode ser uma
?.J'In cvY\,0 ~ ~ ~~
5 .1.2.3 Ade q uobilidode
A doutrina antiga dizia que, quando havia predomínio A característica será um hábito gráfico se ela for constante en-
de características convergentes, a assinatura seria autêntica, já, tre os achados. Como já vimos, hábitos gráficos são caracte-
5.2.3.3 I mpercept i bi li da d e
Após ensinar todas as características que
Características imperceptíveis são aquelas que nem o próprio compreendem o grafismo, este capítulo trata
lançador se apercebe. Podem auxiliar o perito em casos de fal- de como fazer a identificação gráfica.
sidade e disfarce, por exemplo: Cabe, primeiramente, ressaltar a dife-
• Em falsidade: por não ser perceptível, o falsário rença entre os exames de AUTENTICIDA-
provavelmente não a verificará e, por conseguinte, DE gráfica e AUTORJA gráfica.
não a reproduzirá; e A autenticidade é um exame meramen-
• Em disfarce: por não ser perceptível, o detentor da te confirmativo, utiliza-se para confirmar se
característica não se aperceberá, assim, dificilmen- a escrita é autêntica.
te a alterará em um disfarce. Na autoria gráfica, é necessária a inves-
tigação. Busca-se saber quem é o autor da-
quele grafismo, comparando o punho ques-
tionado dentre os punhos suspeitos para,
então, encontrar similitudes e características
identificadoras da autoria.
Assim sendo, no caso de assinaturas,
quando afastada a hipótese de autenticidade,
----·--L..
'----
__..-_
J ___ ~
T
a divisão é feita entre assinaturas genuínas e não genuínas.
l Patológicos
Calor e Frio
O calor pode causar moleza e fraqueza muscular. Já o frio
pode causar tremores que modificam, de forma sucinta,
São apontados como normais aqu 1 escritos lançados a escrita.
espontaneamente, isentos de perturbações de qualquer natu-
reza, sejam passageiras ou patológicas. Intoxicações
Por sua vez, os grafismos acidentais são aqueles que fo- O uso de entorpecentes, em geral, pode causar distúrbios
gem do normal, em decorrência de causas passageiras, como na escrita. O álcool, por exemplo, demonstrou causar al-
por exemplo, emoção, calor, frio, intoxicações, fraqueza e mo- terações no calibre, aumentando-o. Contudo, não alte-
léstias agudas e efêmeras. Abordaremos algumas dessas causas. rou a gênese gráfica.
demonstrado a seguir:
t .
de
I - f
~
I .
(,~.
f
-
I' f. ~· '
I
1 2021 = 92 1 1 2021 = 7s 1
..
-
..
.
~~---··
.ift
.. .
bios mais frequentes. Mas, no caso de doenças, cria-se '
19
Idem.
92 MAN UA L PRÁT ICO DA ANÁ LI SE GRAFOT ÉCNICA I DENTI FI CAÇÃO GRÁ FICA 93
fu filigranas demonstram falta de precisão do punho, 6.1.3 GRAF ISMOS IM ITADOS
que pode ser decorrente de fraqueza e dor.
Em casos de grafismos :mitados, a determinação da autoria é
muito complexa, pois, na imitação, tenta-se copiar os gestos
6.1.2 GRAFISMOS DISFARÇADOS
gráficos de outrem e, muitas vezes, deixa-se transparecer pou-
Grafismos disfarçados são escritas autênticas em que o autor cas características do seu punho escritor.
não deseja transparecer suas características gráficas, contudo Os decalques dificilmente permitirão dizer quem os exe-
não imita escrita de outra. Assim, o disfarce pode ocorrer de cutou, pois não constituem escrita e sim desenhos. Ademais,
diversas formas e podem ser utilizados isoladamente ou cumu- não passam de meras co.Jerturas sem liberdade de movimento,
lativamente. sendo o escritor limitado a acompanhar o debuxo, ou ima-
Alguns dos critérios adotados em disfarces são: gem, visto por transparéncia.
• Escrita cursiva modificando as formas dos caracteres; Escrita à mão guiaca: duas pessoas podem, conjuntamen-
te, executar a mesma assinatura. Um sendo o guia e o outro, o
• Escrita cursiva com caligrafação dos caracteres;
guiado. Esse tipo de escita imitativa divide-se em:
• Escrita cursiva variando a inclinação;
• Escrita à mão forçada: somente cabível quando
• Aumento ou diminuição da calibragem;
houver disparidade de força entre o guia e o guia-
• Utilização da mão esquerda (esquerdismo), entre do. M anifestc.m-se distúrbios como borrões, arra-
outros membros; nhaduras e arrastamento. Por outro lado, nenhu-
• Deformação dos caracteres e dos traços, simulan- ma caracterís:ica gráfica do guiado passará para a
do canhestrismo gráfico; peça forjada;
• Variações de forma; aumento ou diminuição de • Escrita à mão apoiada: a colaboração do guia não
calibragem; erros ortográficos; mudanças de incli- interfere no grafismo. As características ficarão re-
nação; entre outros. gistradas com as perturbações próprias de seu es-
tado patológi:o;
O perito deve ter muita cautela para não confundir esses • Escrita à mão guiada propriamente dita: na execu-
critérios com os grafismos simulados ou imitados - vide tabela ção de alguns gestos, as duas vontades coincidem
das características mais comuns no capítulo 9. e os movimentos recebem ênfase maior do que os
98 MANUAL PRÁT ICO DA ANÁL ISE GRAFOTÉCNICA INDÍCIOS DE AUTENT ICIDADE E FALSIDADE 99
AÇOES -
FRAUDULENTAS:
espécies de
autenticidade
e falsificação
8.1 AUTOFALSIFICAÇÃO/
DISFARCE
101
Como o autor busca promover a alteração do grafismo 8.2 FALSIFICAÇÃO POR IMITAÇÃO SERVIL
original, não há como impedir a denúncia dos elementos grá-
ficos originários do subconsciente, que são inerentes à exterio- Nessa falsificação, o falsário possui um padrão à vista e, assim,
rização do "eu" gráfico. · tenta copiá-lo de maneira idêntica. Contudo, em razão das
Na maioria das vezes, o autor tenta modificar a pressão imprecisões do punho, o falsário não consegue reproduzir sua
normal de seu punho, assim como, a inclinação axial e o traje- habilidade e dinâmica.
102 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA AÇÕES FRAUDULENTAS: ESPÉCIES DE AUTENTICIDADE E FALSIFICAÇÃO 103
haja vista o número de características concomitantemente in- Por exemplo, o falsário lembraria do embelezamento da
seridas no gesto gráfico. letra 'E', em 'Erondina', mas não se atentaria às demais ca-
racterísticas presentes ao longo do lançamento, a não ser que
tivesse tempo hábil para treinar sua escrita.
104 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA AÇÕES FRAUDULENTAS: ESPÉCIES DE AUTENTICIDADE E FALSIFICAÇÃO 105
8.6 FALSIFICAÇÕES POR DECALQUE
8.6.1 DIRETA
109
9.1 OBJETIVO DO EXAME nas características morfológicas, mas também, em outros ele-
mentos:
Qual a finalidade do exame: confirmar a autoria? Ou desco-
a) Cinetismo: deve ser obrigatoriamente distinto. O
brir o autor? O perito deve estar atento aos quesitos, pois são
examinador deverá notar, nas peças paradigmas, as
eles que guiam a perícia, demonstrando o que necessita ser
formações mais típicas, pois, dificilmente se repe-
examinado e apurado.
tirão nas peças questionadas. Idiografocinetismos,
oferecerão um conjunto antagônico significativo;
9.1 .1 AUTEN TI C! DADE/FALSI DADE
h) Qualidade do traçado: em regra, as características
dessa natureza manifestar-se-ão antagônicas;
A apuração da autenticidade gira em torno de uma peça ques-
tionada, ou peça de exame. Aquela em que reside a dúvida e
c) Qualidades gerais do grafismo: na maioria dos
casos, será franco o predomínio das divergências.
cujo objetivo é apurar se a assinatura, ou o graflsmo, é ou não
Algumas características dessa natureza podem ser
é proveniente do punho escritor suspeito.
encontradas dentro do quadro de semelhanças,
O exame vislumbra apenas dois resultados: AUTENTI- pois se repetem nos grafismos de um falsário; e
CIDADE ou FALSIDADE. Entretanto, apesar da aparência
d) Velocidade e pressão: é impossível a realização
simplista, o exame é complexo.
de todos os movimentos com igual velocidade e
A autenticidade pode ser confundida com uma falsifi- pressão.
cação por imitação ou decalque, no entanto, a assinatura di-
ferente do padrão pode ter aparência de falsificada, mas, na Algumas características podem até se assemelhar, porém,
realidade, tratar-se de disfarce (autofalsificação). é impossível a concordância de todos os aspectos, sem que seja
As aparências podem enganar um leigo, porém o perito feita falsificação por inserção digital.
precisa estar preparado para diferenciar tais singularidades.
9.1.2 AUTORIA
Para um exame apurado, que visa detectar a falsidade,
Del Picchia2 1 ensina que o perito deverá se apoiar, não apenas
A autoria busca acusar o autor do grafismo ou assinatura.
A apuração da autoria de um grafismo, ou assinatura, é uma
21
DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC- situação muito delicada.
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen-
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 224
outra pessoa. A simulação é o ato contrário, ocorre quando 13) Mudança na inclinação 13) Inclinação similar
t>
um terceiro tenta se passar por vítima do ato fraudulento.
Do disfarce, provém a autofalsificação e, da simulação,
provém a falsificação de memória, por imitação servil ou 22 SILVA, E.S.C.; FEUERHARMEL, S. DOCUMENTOSCOPIA: As-
por decalque. pectos Científicos, Técnicos e furídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014.
p. 252-253.
112 MANUA L PRÁT I CO DA ANÁL I SE GRAFOT ÉCN ICA EXAMES E PROCED I MI. NTO 113
DISFARCE SIMULAÇÃO 4) Falta de apreciação dos movimentos da escrita
14) Tamanho diferente 14) Mesmo tamanho que resultaram na forma;
15) Mesmas proporções 15) Diferentes proporções 5) Avaliação inadequada das divergências;
16) Algumas formas de letras não 6) Superavaliação de características de classe ou
16) Formas de letras similares
usuais
sistema;
17) Disposição similar 17) Disposição distinta
18) Utilização de espaços dife- 7) Ignorar ou subestimar divergências;
18) Utilização de espaços similares
rentes 8) Omissão de avaliação dos padrões para con-
19) Alinhamento em relação a 19) Alinhamento em relação a
firmação de mesma autoria;
linha de base similar linha de base distinto
9) Influência de informações externas sobre o caso; e
10) Incompetência do perito.
9.3 EQUÍVOCOS EM EXAMES
GRAFOTÉCNICOS Portanto, o perito deve levar em consideração todas as
particularidades da escrita, obedecendo os princípios e man-
A incumbência do perito é trazer a verdade ao incidente e des- damentos da grafotecnia e sempre estar atento para não come-
cobrir o que está oculto para que, então, seja possível solucio- ter erros, tais como os supracitados.
nar o caso que lhe foi confiado. Assim, não sendo permitido
ao mesmo incidir em erro crasso.
23
SILVA, E.S.C.; FEUERHARMEL, S. DOCUMENTOSCOPIA: As-
pectos Científicos, Técnicos e Jurídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014.
p. 252-253.
10.1 AUTENTICIDADE
117
menta senão o detentor da assinatura autêntica. Um cuidado O sucesso da falsificação depende de dois fatores: a com-
que se deve ter com esse tipo de conclusão é sobre a autenti- plexidade da assinatura e a habilidade do falsário. O sucesso de
cidade documental, que pode ser interpretada extensivamente uma reprodução vai além da capacidade do perito.
caso o perito conclua pela autenticidade de uma assinatura.
10.3 CRITÉRIOS IMPORTANTES
Para que essa persuasão seja segura, a assinatura deve ter
características suficientes para amparar a persuasão do perito.
A análise grafoscópica não deve conduzir apenas a d uas con-
clusões: identificação ou exclusão de autorias gráficas. Se assim
10.2 FALSIDADE
fosse, haveria a necessidade de uma terceira opção: a não iden-
tificação do punho, que não é a mesma coisa que exclusão e
A falsidade é a persuasão de que o legítimo autor não assinou
que também não é indefinição.
a peça em questão, nem que estivesse sob o efeito de drogas,
tentando disfarçar seus lançamentos ou fazendo uma assina- Superada a concepção de uma conclusão limitada a falsi-
tura anormal. dade, autenticidade e inconclusividade, inclui-se a conclusão
por não identificação. Assim, o perito não estaria mais diante
O perito, primeiramente, exclui a hipótese de autoria
da dicotomia Autenticidade x Falsidade, mas sim, diante de
para concluir que o lançamento é proveniente de um terceiro
duas dicotomias: Identificação ou Não identificação; e Elimi-
punho, ainda que em face de tantas variantes.
nação ou Não Eliminação.
Cumpre esclarecer que é com plexo para o perito assinar
uma persuasão categórica em face de elementos que podem
sofrer variações. Não existe DNA do traçado e nem a impres- AUTENTICIDADE IDENTIFICAÇÃO ELIMINAÇÃO
X X X
são digital de um lançamento. O exame é puramente percep- FALSIDADE NÃO IDENTIFICAÇÃO NÃO ELIMINAÇÃO
tual e o perito formula sua persuasão através da observação e
avaliação das características vislumbradas, conforme já descri-
to neste livro. A identificação é demonstrável, portanto, confirmado o
Com base no predomínio de divergências e convergên- punho escritor, não há como eliminá-lo (Não Eliminação) . Já,
cias, o perito pode concluir pela correspondência (genuína) a Não Identificação, não quer dizer que a autoria foi elimina-
ou não correspondência (não genuína) dos lançamentos. Mas, da. Se não identificar o autor, não necessariamente se elimina
não há como exprimir uma conclusão categórica quanto à au- a possibilidade de autoria de um punho suspeito.
tenticidade ou a falsidade.
10.3 .3 CRITÉRIOS PARA A EXCLUSÃO DE Samuel Feuerharmel fez o estudo das construções exóti-
AUTORIA cas, ou melhor dizendo, as características que são pouco utili-
zadas pela sociedade para se construir grafismos. Esse estudo
Uma frase famosa que ilustra bem esse critério é: " Quem pode pode auxiliar muito o perito no momento dessa diferenciação.
mais pode menos, quem pode menos não pode mais". Ou seja,
A escala de possibilidades é um modo visual de demonstrar a O teorema de Bayes permite trabalhar com possibilidades
conclusão pericial, contudo, pouco eficiente. É medida pelo epistemológicas. Feuerharmel prevê a utilização de um quadro
grau de persuasão do perito, que nem sempre pode ser quan- grafoscópico, que não seria o mesmo que um quadro de carac-
tificado por meio de porcentagem. terísticas, mas sim de possibilidades, que consiste em:
A escala reproduz o quanto o perito está convencido a 1°. Assinatura;
respeito da autenticidade de um lançamento, para sim ou
2°. Documento;
para não.
}
0
. Documentos relacionados;
4°. Circunstâncias;
CERTEZA TOTAL
5°. Histórico das partes; e
SIM CERTEZA MORAL
6°. Alegações das partes e testemunhas.
POSSIBILIDADE RAZOÁVEL
INCERTEZA TOTAL
Diferentemente do que alguns peritos defendem, a aná-
POSSIBILIDADE RAZOÁVEL (2- 49%)
lise global do processo pode auxiliar a conclusão do exame.
NÃO CERTEZA MORAL (<1%)1 Uma análise profunda dos autos pode trazer muitas respostas
CERTEZA MORAL(= 0%) e realmente auxiliar o juízo, mesmo que algumas delas não
possam ser consideradas categóricas.
{ 1 'J . . . . . ..
··-
PP5
....................... ;· '';(
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PP4
---·....f/Jn , ~
126 MAN UA L PRÁ TI CO D A A NÁ LISE GRAFOTÉCNIC A CON CLUSÕES GR A FOSCÓ PIC AS 127
3) As assinaturas paradigmas apresen tam recuo ini- 5) As assinaturas paradigmas apresentam gênese grá-
cial, conforme demonstrado por meio do traçado. fica com a presença da letra BRP e uma laçada.
A letra P, que apresenta a gênese gráfica com pou-
PQ1 ca haste, o que a deixa mais próxima da letra D.
PP5
I P01
134 MAN U A L PRÁT I CO DA ANÁ LI SE GRAFOTÉCN ICA CONCLUSÕES GRAFOSCÓP I CAS 135
BIBLIOGRAFIA
137
, ,
INDICE ALFABETICO
A convergência 102
convergências 9, 83, 84, 109, 117,
Adequabilidade 44, 77, 80
118, 120
adequado 10,87, 103,112, 119,
120, 132
D
alinhamento 44, 54, 114
dinâmica 28, 46, 103
Alógrafo 36, 37, 56, 58, 60, 61, 62,
64, 127, 133 Dinamismo 44, 46, 47, 106, 112
ANÁLISE 21, 32, 39, 58, 62, 76, 81, Disfarce 18, 19, 82, 86, 88, 94, 101,
82, 84, 89, 109, 119, 123, 126, 110, 112, 113, 114, 121, 132
130 divergência 34, 84, 99, 120
andamento gráfico 32, 44, 53, 65 divergências 9, 10, 78, 79, 83, 84,
Ataques 38, 39, 4 1, 42, 51, 73, 122 85, 88, 109, 111, 115, 117, 118,
120, 135
AUTENTICIDADE 7, 12, 13, 14,
53, 76, 77, 79, 80, 84,87, 88, 97,
101, 110, 117, 118, 119, 122, E
132
Equívocos 114, 135
AVALIAÇÃO 76, 85, 112, 115, 118
Espaçamentos Gráficos · 44, 56
Espontaneidade 44, 53, 77, 82, 103,
c 106
Calibre 11, 44, 61, 62, 91, 127 esquírolas 26, 27, 29, 30, 32
CONFRONTO 11, 44, 76, 77, 82, Estrias 25, 27, 28, 32, 51
83
evocação 17
Contemporaneidade 77, 78
139
E~ES 13,25,87, 109,114,124, objeto 4, 5, 7, 21, 69, 75, 76
125, 134, 135
execução 17, 18,39,67,68,95, 106 p
parada 19, 46, 48, 106
F
pausada 36
falsificação 12, 18, 19, 85, 99, 101, Pressão 10, 16, 17,22,24,31,32,
103, 104, 105, 106, 110, 111, 44,47,48,49,63,64, 102,111,
112,119, 134 133
Proporcionalidade · 11, 44, 60, 61
G
Gramas 11, 34, 36, 71, 73 R
ranhuras 25
H
Remates 38, 39, 42, 73
habilidade 16, 44, 49, 50, 103, 119,
Ritmo 10,44,45,46,64, 106,113
121
haste 35, 49, 58, 60, 61, 129
s
I Simulação 112, 113, 114
sulcagem 24, 25
ideação 17, 18
Sulco 24,30
IDENTIFICAÇÃO 99
imitação 84, 95, 101, 103, 105, 110,
T
112, 124, 125, 134, 135
Inclinação axial 44, 58, 102 Tendência de punho 44, 65
tipos de grafismos 8
M Trajetória 21, 32, 44, 48, 50, 51, 66,
69, 104
momento gráfico 34, 38, 40, 49, 51
li
o v
velocidade 10, 16, 30, 32, 44, 47, 48,
objetivo 13, 14, 44, 45, 47, 50, 75 ,
49, 50, 68, 106, 111, 113, 121
97, 109, 110, 112
140