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JACQUELINE MILA TIROTTI

Perita em Documentoscopia

REGINALDO TIROTTI
Perito em Ciências Forenses

Prefácio por Samuel Feuerharmel


JACQUELINE M I LA TIROTTI
Perita em Documentoscopia

REGINALDO TIROTTI
Perito em Ciências Forenses

Da dos Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(BENITEZ Catalogação Ass. Editorial, MS, Brasil)
T517m Tirotti , Jacqueline MiJa
l.ed. Manual prático da análise grafotécnica
Jacqueline Mila Tirotti, Reginaldo Tirotti. - l.ed. - São
Paulo : Leud, 2021.
152 p .; 14 x 21 em.

ISBN: 978-85-7456-404-3

1. Assinaturas (Escrita) 2. Grafismo- Análise.


3 . Grafismo - Técnica. 4. Pericias grafoscópicas-
Criminalística. I. Título.
08-20211128 CDD 343.98

Índice para catálogo sistemático:


1. Assinaturas: Perícias grafoscópicas: Criminalística 343.98
,
TECNICA
Bibliotecária- Aline Graziele Benitez CRB-1/3129

São Paulo - SP
ISBN: 978-85-7456-404-3 2021
© Copyright 2021 by Livraria e Editora Universitária de Direito

Editor responsável
Armando dos Santos Mesquita Martins

Produtor editorial
Luiz Antonio Martins

Revisão
Luiz Antonio Martins e Isadora Pimenta de Arauj?

Projeto gráfico, diagramação e capa


Rita Motta - Ed. Tribo da Ilha

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Parque Novo Mundo- São Paulo - SP - CEP: 02178-020
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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total Dedicamos este livro para todos que buscam estu-
ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por siste- dar a Grafoscopia, uma área das mais desafiadoras
mas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos,
das Ciências Forenses. O exame perceptual exige
videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou par-
cial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra, em qualquer sis- atém de boa visão, a sua devida análise e avaliação
tema de processamento de dados. Essas proibições se aplicam também às das características com o raciocínio completo.
características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos di-
reitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Bom estudo!
Penal, cf. Lei no 10.695, de 1°.07.2003) com pena de prisão e multa,
conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (Lei
no 9.610, de 19.02.1998).

- Impresso no Brasil -

IV v
AGRADECIMENTOS

Agradeço o amor e o carinho de minhas filhas Stephanie e Ana


Carolina, ao empenho especial de minha filhaJacqueline, sem
a qual esta obra não teria saído de sonhos para a realidade. Aos
mestres e amigos, a Da. Ana Maura Del Picchia, Dr. Celso
Mauro Del Picchia, Dr. Erick Simões da Câmara e Silva e Dr.
Samuel Feuerharmel, pelas orientações, amizade e paciência a
mim dedicadas.

Reginaldo Tirotti

Agradeço a Deus por me dar sabedoria, à minha família pelo


apoio, aos meus professores pelos ensinamentos e a todos que
acreditaram no meu trabalho (j uízes, advogados e partes), fa-
zendo-me colocar todos os ensinamentos e sabedoria em prol
da justiça.

Jacqueline Mila Tirotti

VI
VIl
,
SUMARIO

PREFÁCIO ......................................................................................... !

1. HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃ0 .............................................. .3


I .1 Breve histórico da escrita........................................................... 3
1.2 Conceitos importantes ............................................................... 7

2. MÉTODOS GRAFOSCÓPICOS ......................................... .......... 9


2.1 Método morfológico ......................................... ......................... 9
2.2 Método grafológico .................................................................. 10
2.3 Método grafométrico ............................................................... 11
2.4 Método sinalético ............................................................. ........ 11
2.5 Método grafocinético ............................................................... 12
2.6 Pontos importantes ........................................... ....................... 13

3. AS LEIS DA ESCRITA ................................................................. l5


1• Lei da escrita .. ............................................................................... 15
2• Lei da escrita ................................................................................. 18
3• Lei da escrita ........... ...................................................................... 18
4" Lei da escrita ................................................................................. 19

4. ANÁLISE DE GRAFISMOS ........................................................ 21


4.1 Aspecto grafocinético e morfológico .............. ....................... 22
4.1.1 Instrumentos gráficos e traçados .................................. 22
4.1.1.1 Penas ................................................................... 23
4.1.1.2 Esferográficas .............................. ....................... 25
4.1.1.3 Hidrográficas ..................................................... 30

IX
4.1.1.4 Lápis .................................................................... 31 5.1.2.3 Adequabilidade .................................................. 80
4.1.2 Grafocinética ................................................................... 32 5.1.2.4 Quantidade ......................................................... 81
4.1.2.1 Velocidade .......................................................... 32 5.1.2.5 Espontaneidade ................................................. 82
4.1.2.2 Sucessão de movimentos .................................. 33 5.2 Etapas de um exame grafoscópico ......................................... 82
4.1.3 Morfologia gráfica .......................................................... 33 5.2.1 Análise ............................................................................. 82
4.1.3.1 Diferenças formais ............................................ 33 5.2.2 Confronto ........................................................................ 83
4.1.3.2 Gramas ........................................................ ........ 34 5.2.3 Avaliação/ ponderações ................................................. 85
4.1.3.3 Letras ................... ................................................ 36 5.2.3.1 Constância .......................................................... 85
4.1.3.4 Ataques e remates .............................................. 38 5.2.3.2 Raridade na população ..................................... 86
4.1.3.5 Linhas de impulso, traços ornamentais e 5.2.3.3 Imperceptibilidade ............................................ 86
cetras ..................................................... .............. 42
4.1.3.6 Polimorfismos gráficos ..................................... 43 6. IDENTIFICAÇÃO GRÁFICA .................................................... 87
4.1.3.7 Escritas correntes, assinaturas e rubricas ...... .43 6.1 Classificação das escritas ......................................................... 88
4.2 Qualidades do grafismo ........................................................... 44 6.1.1 Grafismos naturais ......................................................... 89
4.2.1 EOG subjetivos ............................................................... 45 6.1.2 Grafismos disfarçados .................................................... 94
4.2.1.1 Ritmo .................................................................. 45 6.1.3 Grafismos imitados ........................................................ 95
4.2.1.2 Dinamismo ........................................................ 46
4.2.1.3 Velocidade ......................................................... 47 7. INDÍCIOS DE AUTENTICIDADE E FALSIDADE ................... 97
4.2.1.4 Habilidade .......................................................... 49
4.2.2 EOG objetivos .......................... ....................................... 50 8. AÇÕES FRAUDULENTAS: ESPÉCIES DE AUTENTICIDA-
4.2.2.1 Trajetória ............................................................ 50 DE E FALSIFICAÇÃ0 .............................................................. 101
4.2.2.2 Idiografismos ..................................................... 52 8.1 Autofalsificação/disfarce ....................................................... 101
4.2.2.3 Espontaneidade .......................................... ....... 53 8.2 Falsificação por imitação servil ............................................ 103
4.2.2.4 Andamento gráfico ........................................... 53 8.3 Falsificação por imitação exercitada .................................... 103
4.2.2.5 Alinhamento gráfico ......................................... 54 8.4 Falsificação de memória ........................................................ 104
4.2.2.6 Espaçamentos gráficos ...................................... 56 8.5 Falsificação sem imitação ...................................................... 105
4.2.2.7 Inclinação axial... ............................................... 58 8.6 Falsificações por decalque .................................. ................... 106
4.2.2.8 Proporcionalidade ............................................. 60 8.6.1 Direta ............................................................................. 106
4.2.2.9 Calibre ..................................... ............................ 61 8.6.2 Indireta .......................................................................... 106
4.2.2.10 Pressão .............................................................. 63
4.2.2.11 Gladiolagem ..................................................... 64 9. EXAMES E PROCEDIMENTO ................................................ 109
4.2.2.12 Tendência de punho ....................................... 65 9.1 Objetivo do exame .................................................................. 110
9 .1.1 Autenticidade/falsidade ............................................... 11 O
5. EXAME GRAFOSCÓPICO ........................................................ 75 9.1.2 Autoria ........................................................................... 111
5.1 Peças paradigmas e questionadas ........................................... 76 9.2 Diferenças entre disfarce e simulação ................................. 112
5.1.1 Peças questionadas ......................................................... 76 9.3 Equívocos em exames grafotécnicos .................................... l14
5.1.2 Peças paradigmas ........................................................... 77
5.1.2.1 Contemporaneidade ......................................... 78 10. CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS ........................................ 117
5.1.2.2 Autenticidade ..................................................... 79 I 0.1 Autenticidade ......................................................................... 117

X XI
10.2 Falsidade ................................................................... .............. 118
10.3 Critérios Importantes .............................................. .............. 119
10.3.1 Critérios para identificação de autoria .................... 120
10.3.2 Critérios para a não identificação de autoria .......... l20
10.3.3 Critérios para a exclusão de autoria ......................... l20
10.4 Falsidade ou disfarce ............................................................. 121
10.5 Escala de possibilidades .............. ... ....................................... 122 ,
10.6 Abordagem bayesiana ........................................................... 123
10.7 Escala de possibilidades verbais ........................................... 124
PREFACIO
10.7.1 Exemplo prático .......................................................... 126

1l.BIBLIOGRAFIA ....................................................................... 137


Foi com muita satisfação que recebi a honra de prefaciar mais
12. ÍNDICE ALFABÉTIC0 ............................................................ 139
esta obra dos colegas Jacqueline e Reginaldo. É de longa data
que conheço os autores, competentes peritos com quem mui-
tas vezes compartilhei ideias, dúvidas e experiências.

O livro "Manual Prático da Análise Grafotécnica" traz


informações claras e objetivas, constituindo uma excelente
fonte de conhecimentos para os peritos que estiverem inician-
do na área, mas também uma ótima referência para os peritos
mais experientes.
Em seus primeiros capítulos, o livro apresenta definições
de vários termos chaves para as perícias grafotécnicas, sempre
acompanhadas de excelentes imagens ilustrativas. Nos capítu-
los finais, são abordados alguns procedimentos práticos para a
realização de exames grafotécnicos, bem como considerações
sobre várias formas de expressar nossas conclusões periciais.
Ao término, é apresentada a descrição de uma perícia
real realizada pela autora, na qual se pode acompanhar os
procedimentos executados por uma perita grafotécnica em seu
trabalho.

XII
Tudo isso é apresentado em linguagem simples e direta,
o que facilita não apenas a leitura, mas também a busca por
informações específicas.
Apreciem a leitura.
,
HISTORICO E
Samuel Feuerharmel CONCEITUAÇAO -
Perito Criminal Federal aposentado

O aspecto histórico demonstra a evolução da


escrita desde a sua criação até os dias atuais.
Somado aos conceitos necessários para a
compreensão dos demais capítulos, esse as-
pecto enria sabedoria do leitor.

1.1 BREVE HISTÓRICO DA


ESCRITA

O ser humano viveu durante um longo pe-


ríodo sem a existência da escrita. Sua origem
remonta a um passado relativamente recente
em relação à história da humanidade.

N o momento em que a organização so-


cial se tornou mais complexa, a transmissão
de conhecimento apenas por tradição oral
demonstrou-se ineficiente, dando espaço ao

2
3
desenvolvimento de um meio de comunicação mais eficaz e A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios por volta
permanente. de 3500 a.C., sendo a designação geral dada às escritas feitas
Cenas de caçadas, objetos de uso, animais e acidentes da com auxílio de objetos em formato de cunha. Esse alfabeto

natureza foram retratados durante alguns milênios em rochas representava coisas mundanas (pictogramas), mas, por pratici-
das primeiras habitações humanas. Essa forma de escrita figu- dade, essas formas se tornaram mais simples e abstratas.
rada é denominada pictografia (do latim pictus significa pinta- O hieroglifo, ou hieróglifo, é constituído por sinais da
do e do grego grafe significa descrição). escrita de antigas civilizações, tais como os egípcios, os hititas,

Ao longo do tempo, o homem passou a atribuir signi- e os maias. Essa linguagem se popularizou devido à utilização

ficado /ideia aos pictogramas. Por exemplo, um desenho de do papiro como base da escrita, que possibilitou sua perma-

sol poderia significar algo além do astro, como: a posição; a nência por muitos séculos, além de facilitar a difusão.
claridade; o dia; a luz; ou o calor. Esse tipo de linguagem é Em razão de sua alta complexidade, a escrita por hieró-
denominado ideografia. glifos foi considerada uma incógnita por séculos, sendo alguns

Com o uso de ideogramas, a comunicação se tornou mais hieroglifos estudados até os dias de hoje.
elaborada, possibilitando até mesmo a formulação contextual.
Posteriormente, o homem começou a criar sinais que não
mais representavam apenas uma ideia e, sim, um som. Esses
sons podiam ter qualquer forma, não havendo a necessidade
de conexão entre seus correspondentes externos. Assim, nas-
ceu a escrita fonética.
Em várias partes do mundo, a escrita foi sendo aprimo-
rada a ponto de se abolir o uso de ideogramas e dando espaço
à criação da escrita silábica. Posteriormente, surgiu a escrita
alfabética que, por sua vez, assumiu tamanha importância nos
últimos 3.000 anos e, embora seja considerada uma subdivi-
são da fonética, será estudada separadamente.
Inicialmente, havia dois alfabetos coexistentes: o Cunei- Em 1799, homens sob o comando de Napoleão Bo-
forme e o Hieróglifo. naparte, enquanto cruzavam a região de Roseta, no Egito,

4 MANUAL PRÁTI CO DA A NÁLI SE GRAFO TÉ CN ICA H ISTÓR ICO E CONC EIT UAÇÃO 5
encontraram a Pedra de Roseta, um grande bloco de granito O português e outras línguas neolatinas adotaram o alfa-
do Antigo Egit contendo escritos em hieróglifo, grego e de- . beto romano, bem como o inglês, o turco, entre outras.
mótico egípcio.
Atualmente, existem cinco alfabetos, sendo todos deri-
Esse texto foi fundamental para auxiliar a interpretação vados do grego e do latim: Grego (na Grécia); Cirílico (em
dos hieroglifos na atualidade. Compreendido pela primeira países eslavos); Gaélico (na Irlanda); Latino (em diversos paí-
vez por Jean François Champollion, em 1822, e, posterior- ses de língua latina, entre outros); e Gótico (na Alemanha)2.
mente, por Thomas Young, em 1823, profundos conhecedo-
res da língua grega. Ambos realizaram a comparação da versão 1.2 CONCEITOS IMPORTANTES
em hieróglifo com a em grego.
Após os sumérios, surgiram os fenícios, povo de origem O conceito tradicional de Grafoscopia está relacionado aos es-
semítica que se estabeleceu na costa oriental do Mediterrâneo. tudos criminalísticos. Como finalidade da disciplina, tem-se
Eles, por sua vez, modificaram, disciplinaram e simplificaram a verificação da autenticidade ou falsidade documental, bem
o alfabeto hebraico, criando um alfabeto próprio. como, a determinação de sua autoria.

O alfabeto fenício possuía vinte e dois sinais, sendo todos O conceito de Grafoscopia, segundo Gomide 3 , "é a disci-
consoantes. Os gregos, após o desaparecimento da Fenícia, plina que tem por finalidade determinar a origem do documen-
aperfeiçoaram o alfabeto e, em meados do século IV a.C., já se to gráfico". Este, por sua vez, é o objeto da disciplina, devendo
encontrava completo. ser verificada a autoria ou a existência de suposta fraude.

No ano de 496 a.C. , houve o início da conquista da Pe- Ademais, para Gomide 4 , documento "é o suporte que
nínsula grega e, em 146 a.C., Roma dominava o Oriente e contém um registro gráfico". Alguns suportes utilizados são:
incorporava a Grécia, se apropriando do alfabeto grego através papéis, pergaminhos, tecidos, plásticos, entre outros mate-
dos colonos. riais. Isto é, objetos, ou superfícies, utilizados para a fixação

Pouco tempo depois, o alfabeto romano conquistava o de inscrições.

mundo. Inicialmente, era composto por 16 letras e, posterior-


mente, somou-se as letras G, H, J, Q, V, X, Y e Z 1•
2
Idem, p. 21.
3 GOMIDE, L. e GOMIDE, T. L. F. Grafoscopia- Estudos. São Paulo:
1
CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sa- Editora Oliveira Mendes, 1997. p. 1.
gra- Luzato, 1996. p. 17. 4
Idem, p. 2

6 MANUAL PRÁT I CO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA HISTÓRI CO E CONCEITUAÇÃO 7


Quanto aos registros gráficos, o que se destaca é a es-
crita, sendo a mais importante e conceituada pelo respeitável
Gomide. Além disso, afirma que os registro gráficos devem
conter um mínimo de elementos técnicos para a determinação
de sua autoria. ,
A escrita pode ser direta ou indireta, conforme seu tipo METODOS
de formação: GRAFOSCÓPICOS
• Diretas, ou grafismos, são as provenientes direta-
mente do homem através do ato de escrever; e
• Indiretas, ou impressões, são aquelas produzidas
Ao longo dos anos, a perícia grafoscópica
através de processos artificiais.
utilizou diversos métodos para examinar a
escrita. Alguns métodos, por ineficiência,
Quanto aos tipos de grafl.smos, têm-se:
foram deixados para trás enquanto outros
• Rubricas;
perduraram até os dias atuais.
• Assinaturas;
Dessa forma, inicia-se o estudo do
• Escritas cursivas;
método mais antigo ao mais atual, sempre
• Escritas em letras de forma; apontando os prós e contras intrínsecos.
• Pictografias; e
• C riptografias . 2.1 M ÉTODO MORFOLÓ G ICO

Assim, com os conceitos básicos em mente, começare- Também chamado de homológico de com-
mos o estudo da grafoscopia. paração formal ou método de Bertillon,
consiste na apreciação de convergências e
divergências dos elementos de ordem pura-
m ente fo rmal, além de semelhanças no feitio
das letras, m ediante a comparação de letra
por letra.

8 MANUAL PR ÁT ICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCN ICA 9


Assim, havendo analogias, as escritas provavelmente te- 2.3 MÉTODO GRAFOMÉTRICO
riam saído do mesmo punho. Se predominassem divergências,
Este método foi criado por Edmond Locard, Perito Francês
a conclusão seria, obrigatoriamente, contrária.
e autor do tratado sobre criminalística. Locard procurou se
Historicamente, desse método, resultaram graves erros
fundamentar nas observações iniciadas por Langebruch, que
judiciais. Relatado como um dos mais importantes, o caso de
ensinava a variabilidade da escrita em todas as suas caracterís-
Dreyfus, que era oficial do exército francês e foi falsamente
ticas e que essa permanecia constante na proporcionalidade de
acusado de passar informações militares para os alemães.
seus gramas.

Isto é, na Grafometria, a maior preocupação gira em tor-


2.2 MÉTODO GRAFOLÓGI C O
no das grandezas da escrita, como o estudo do calibre das
Enquanto o método morfológico tem por base observar ape- letras, cujo fundamento p ressuposto seria de que as caracterís-
nas as formas, o método grafológico, atribui maior atenção ticas de proporcionalidade não variam.
às características subjetivas do grafismo, como o estudo dos Porém, o próprio Locard reconheceu que o método re-
símbolos. Desse método, surgiram duas escolas: A francesa, quer a coleta de textos de extensão razoável e, portanto, é im-
chefiada por Crepieux-Jasmin e a alemã de Ludwirges Klages. praticável no exame de assinaturas 5 •
A escola francesa segue diversos critérios, como: dimen-
são; direção; forma; ordem; pressão; continuidade; velocidade; 2.4 MÉTODO SINALÉ T ICO
entre outros. Ademais, objetivava buscar "signos" reveladores
Este método teve como fundador o italiano Ottolengui, que
das qualidades morais, intelectuais e artísticas do escritor.
simplesmente procurou melhorar o método de Bertillon.
Com base nesses signos, acreditavam ser possível determinar a
identificação gráfica. Assim, de posse de padrões de confronto, deveria o técni-
Vale lembrar que, na escola alemã, os "grafismos-tipp" co analisá-los, partindo do geral para o particular e procurando
são, por assim dizer, subordinados às diferentes classes de individualizar os valores da escrita para, depois, pesquisá-los
ritmos gráficos e aos signos substituídos pelo movimento na peça questionada.
de concentração e relaxamento muscular, dessa forma, reve-
lando o escritor por suas qualidades temperamentais. 5 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen-
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual.- São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 206.

MÉTODOS GR A FOSCÓPICOS 11
10 MANUA L PRÁTICO DA A N Á LISE GRA FOTÉC N ICA
Este método teve poucos seguidores, posto que igno-
1) Como se formam os traços;
ra a verdade de que a escrita reúne elementos qualitativos,
2) Quais os hábitos de movimentação do escritor; e
identificados e integrados, que se vinculam aos elementos
quantitativos de reciprocidade compreensível e naturalmente 3) Quais são as causas determinantes de impulsos,
fundamen tais 6 • ênfases e anomalias do gesto gráfico.

O exame necessita ser procedido sob o critério racional,


2.5 MÉTODO GRAFOCINÉTICO
derivado de profundo estudo das diversas maneiras de produ-
ção gráfica.
Este método não é embasado em características isoladas, pelo
contrário, considera todos os elementos gráficos de qualquer
natureza, dando-lhes valor consoante e raciocínio pericial.
2.6 PONTOS IMPORTANTES

O método Grafocinético, ou Morfocinético, foi estabe- Há uma distinção importante entre GRAFOLOGIA e GRA-
lecido em 1927 por Edmond Solange Pellat, em seu livro Les FOSCOPIA. Ambos estudam os grafismos, contudo, com ob-
lois de l'écriture, que formulou as denominadas leis da escrita. jetivos diferentes.
Mais à frente, aprofundaremos o assunto.
A Grafologia se refere à ciência que estuda as caracterís-
Antes de iniciar a perícia, i.e., confrontação entre peça ticas da personalidade do homem por meio de seu grafismo,
questionada e padrões paradigmas, o perito deve estar ciente muito utilizada na área de recursos humanos, posto que é um
da finalidade do seu trabalho: se objetiva a confirmação da au- exame rápido (muitas vezes por meio de ditado) e não há a
tenticidade ou, caso não seja autêntica, de quem seria a autoria possibilidade de simulações.
da falsificação.
Portanto, o método G rafológico não é utilizado para exa-
Conforme Cavalcante e Lira7 , nesse método é dada aten- mes de apuração quanto a autenticidade ou falsidade.
ção especial aos movimentos que dão origem ao gesto gráfico
A Grafologia não se confunde com Grafoscopia ou Gra-
e objetiva verificar:
fotecnia. Como sabemos, a grafologia está voltada ao estudo
6 da personalidade. Já, a Grafoscopia, é o estudo do punho
DEL PICCHIA FILHO, ].; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen- escritor, cujo objetivo é conhecer a autoria de um grafismo.
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual.- São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 339. Sendo o Método Grafocinético, atualmente, o mais utilizado
7
CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sa- para tal exame.
gra- Luzato, 1996. p. 68.

12 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA


MÉTOOOS GRAFOSCÓPICOS 13

Ili
GRAFOLOGIA GRAFOSCOPIA
Estuda a personalidade Objetivo n a Autenticidade e autoria
RH Finalidade Forense
A escrita é examinada Há comparação entre padrão e questionado

Sem mais delongas, passemos para o próximo capítulo,


AS LEIS DA ESCRITA
em que começaremos a estudar a fundo os elementos da gra-
foscopia, por meio do método grafocinético.
Primeiramente, é importante ressaltar que
as leis da escrita independem dos alfabetos
utilizados. Após esse breve aviso, iniciemos
o estudo das quatro Leis da escrita retiradas
do livro Les lois de l'écriture, do perito francês
Edmond Solange Pellat.

1º LEI DA ESCRITA

"O gesto gráfico está sob a influência


imediata do cérebro. Sua forma não
é modificada pelo órgão escritor se
este fonciona normalmente e se en-
contra suficientemente adaptado à
suafonçáu':

O cérebro humano é o gerador do gesto grá-


fico, onde nasce a imagem das letras e de-
mais símbolos utilizados na escrita. Assim,
desde que o mecanismo muscular esteja
convenientemente adaptado à sua função,

15
14 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA
haverá produção da escrita sempre com as mesmas peculiari- relatou que "ninguém é capaz de imitar, ao mesmo tempo,
dades. estes cinco elementos do grafismo: riqueza e variedade de for-
mas, dimensão, enlaces, inclinação e pressão".
Após a Segunda Grande Guerra Mundial, observou-se
que pessoas cujas mãos ou cujos braços haviam sido amputa- Assim, constata-se que, como não existem duas pessoas
dos e que desenvolveram a habilidade de escrever segurando o com cérebro, músculos, ossos e nervos idênticos, também não
lápis ou a caneta com outro órgão, como, por exemplo, a boca existem duas pessoas com escritas idênticas.
ou o pé, mantiveram suas características individualizadoras da A doutrina explica que, para produzir o grafismo, o ser
escrita. A literatura a este respeito é farta, portanto, provada humano passa por três fases 6 :
pela casuística pericial. 1) Evocação;
Dessa forma, o indivíduo com punho escritor destro, 2) Ideação;e
i.e, que escreve com a mão direita, se, por exemplo, passar a
3) Execução.
fazê-lo com a mão esquerda, canhota, após treinamento, apre-
sentará escrita com as mesmas características grafocinéticas.
A evocação é a busca de informações, imagens, sons ou
A situação dos loucos é outro exemplo. Em seus acessos emoções dentro da memória/cérebro, sendo considerada a
não conseguem escrever, porém voltam a fazê-lo nos momen- imagem gráfica (morfologia).
tos de lucidez, sendo a maior evidência da premissa da primei- A ideação é a fase na qual o escritor, após ter evocado a
ra lei de Solange Pellat. ideia, põe em funcionamento a sua criatividade, acrescentan-
O cérebro comanda o sistema motor composto por ossos, do à simbologia sua característica individual (gênese).
músculos e nervos, cuja tonicidade e controle varia de pessoa A execução é a emissão da ordem do cérebro para que
para pessoa. Portanto, o ato de escrever é um gesto humano o órgão que porta o instrumento escritor execute os movi-
que se origina no cérebro. mentos sobre o papel ou documento, já evocados e ideados
Robert Saudek, grafologista tcheco, que fundou a socie- (cinetismo).
dade de grafologia profissional na Holanda, publicou o estudo As duas primeiras fases provêm do cérebro, já, a terceira,
"Grafologia Experimental" em 1929, que examinou a veloci- é a parte motora. Em resumo: a evocação é O QUE fazer;
dade da escrita.
Com uso de microscópio, paquímetro, placa de pressão, 6
CAVALCANTI, A. e LIRA, E. Grafoscopia essencial. Porto Alegre: Sa-
régua, transferidor e imagens em câmera lenta, seu estudo gra - Luzato, 1996. p. 32

MANUAL PRÁT ICO DA ANÁ LI SE G RA FOTÉ CN I CA AS LE I S DA ESCRITA 17


a ideação é COMO fazer; e, por fim, a execução é o ATO traçado a própria marca do esforço que foi Jeito para ob-
de fazer. ter a modificação':

Na prática, essa lei tein aplicação usual em casos de autofalsi-


2º LE I DA ESCRITA
ficação/disfarces, podendo ocorrer em simulações.
"Quando se escreve, o "eu" está em ação, mas o sentimento
O farsante busca modificar os seus hábitos para elabo-
quase inconsciente de que o "eu" age passa por alternati-
vas contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele
rar uma escrita/assinatura disfarçada, ou seja, autofalsificação.
está no seu máximo de intensidade onde existe um esforço Esse disfarce, pode ser feito com adições e/ou subtrações ao
a fazer, isto é, nos inícios, e no seu mínimo de intensidade seu traçado normal.
onde o movimento escriturai é secundado pelo impulso
adquirido, isto é, nas extremidades': Todavia, o simulador poderá se trair através de: paradas
súbitas; desvios; quebras; mudanças abruptas de d ireção; ou,
O enunciado da segunda lei se aplica aos casos de anonimo- ainda, sobreposições na escrita, cabendo ao técnico em grafo-
grafia, onde o esforço inicial dos disfarces é muito mais acen- tecnia interpretar essas particularidades.
tuado e perde sua intensidade à medida que a escrita progride.
Isso ocorre, pois, o punho escritor nunca conseguirá mascarar 4º LEI DA ESCRITA
o seu verdadeiro "eu" por muito tempo, denunciando-se em
"O escritor que age em circunstâncias em que o ato de
certos momentos.
escrever é p articularmente difícil, traça instintivamente
O mesmo ocorre em casos de falsificação, demonstran- ou as formas de letras que lhe são mais costumeiras, ou
do a importância de um exame mais atento aos fins de lan- as formas de letras mais simples, de um esquema fácil de
ser construído':
çamentos, onde os maneirismos gráficos ocorrerão com mais
frequência.
Há casos em que se torna difícil ou penoso escrever, tais como:
Contudo, cumpre esclarecer que o falsário buscará imi- circunstâncias desfavoráveis; posições desfavoráveis, como em
tar, principalmente, inícios e fins. veículos em movimento ou deitado em uma cama; suportes
inadequados, como em madeiras e paredes; enfermidades; ou,
3º LEI DA ESCRITA ainda, situações que demandem extrema urgência.

"Não se pode modificar voluntariamente em um dado Em circunstâncias como as mencionadas, há de se preva-


momento sua escrita natural senão introduzindo no seu lecer a "lei do mínimo esforço", resultando em simplificações,

t8 MANUAL PRÁTI CO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA AS LEIS DA ESCRITA 19


abreviaturas, uso preferencial por letras de forma ou esquemas
pouco usuais.
Essa lei explica também as simplificações ocorridas quan-
do é necessário realizar o lançamento de diversas assinaturas
em um curto período, como por exemplo, assinar vários che- I

ques pré-datados para pagar a anuidade de um curso. ANALISE DE


GRAFISMOS

O capít ulo objetiva conhecer o grafismo em


todos os seus aspectos e, para melhor com-
preensão, será dividido em dois subcapítu-
los: primeiramente, aspectos Grafocinético e
Morfológico; e, posteriormente, Qualidades
do Grafismo.

O primeiro subcapítulo tratará do estu-


do constitutivo dos traços, para compreen-
der sobre os instrumentos gráficos (objetos
utilizados para escrever) e, principalmente,
como desvendar a trajetória do traçado.
Ademais, no segundo subcapítulo, ob-
servaremos as qualidades ou características
do grafismo, cuja finalidade é conhecer o
graflsmo, saber suas variações e diferenças.

20 MANUAL PR ÁT ICO DA ANÁ LI SE GR A FOTÉCN ICA


21

til
4.1 ASPECTO GRAFOCINÉTICO E Neste livro, serão abordados apenas os instrumentos grá-
MORFOLÓGICO ficos mais prováveis de ocorrerem em um documento. É váli-
do lembrar que o estudo do traço vai muito além do depósito
A escrita é produzida por duas forças básicas: uma vertical, ou de tinta, ou massa de tinta, na superfície do suporte. Esse es-
oblíqua, que ocorre por meio da pressão do instrumento es- tudo auxilia o perito a desvendar a grafocinética.
critor (lápis, caneta, usualmente) contra o suporte (geralmen-
te, papel); e outra horizontal (deslocamento), que acontece
4.1.1.1 Penas
pelo arraste do instrumento escritor sobre o suporte, podendo
ser em movimentos retilíneos ou circulares. Os vetores dessas As penas podem ser:
forças (intensidade, direção e sentido) dependerão muito de
a) Metálicas
características individuais.
a.l) Penas comuns
Não há como explicar sobre grafocinética sem antes
a.2) Penas de caneta tinteiro ou, simplesmente,
adentrar nos instrumentos gráficos. Cada instrumento gráfico
caneta tinteiro
se comporta de uma maneira, sendo importante conhecê-los.
b) De p ato
4.1.1 INST RUMENTOS GRÁF ICOS E c) De Cana
TRAÇADOS
As penas comuns ou de aço, ainda que constituídas de
Aqui, desvendaremos todos os aspectos constitutivos do traço. ligas metálicas, são adaptáveis às canetas. Existem milhares
Primeiramente, vislumbraremos com o que podemos escrever, de espécies com variações de tamanhos, formatos, tipos de bi-
quais são os instrumentos gráficos: cos e marcas dos fabricantes.

a) Penas;
b) Esferográficas;
c) Hidrográficas;
d) Lápis;
e) Giz;
f) Carvão e outros materiais improvisados.

22 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOT ÉCNICA ANÁ LI SE D E GRA FI SMOS 23


Ocorre que, muitos grafotécnicos e do-
cumentólogos insurgem contra o uso desse
instrumento gráfico, pois facilita o trabalho
dos falsificadores, já que, comumente, ocor-
rem falhas e deficiências nos traçados, que PARA
são suscetíveis de serem confundidas com SABER
MAIS
anormalidades provocadas por reproduções
aos leit ores
fraudulentas 9 • que queiram
se aprofun -
Não aprofundaremos nesse tópico, pois
As penas de bico fino exigem a leveza do punho para lan- da r no t ema ,
esse tipo de instrumento escritor, atualmen- indico o li v ro
çamentos de grafismos rápidos. As penas de pato e de cana não
te, é pouco utilizado no Brasil. do reno mado
são muito utilizadas no Brasil, sendo usada apenas por alguns p er ito Celso
povos, principalmente, na Índia. M.R . Dei
4.1.1.2 Esferográfico s Picchia, Trata-
A sulcagem é formada com a abertura das farpas da pena, do de Docu -
que ocorre quando pressionada contra a base escrevente, de- ment osco pia
Seu traçado não produz sulcagem, como as - Da fals idade
positando a tinta na parte interior dos sulcos. documental.
pontas de penas, e os traços resultam do atri-
Sulco é o aprofundamento causado em decorrência da to e do movimento de rotação da pequena
pressão da ponta do instrumento contra a base escrevente. esfera, que se impregna da massa colorida
existente no depósito, sobre o suporte.

Apesar de não produzirem sulcagem


sobre o suporte, as ranhuras presentes na es-
fera, juntamente com o atrito realizado ao
escrever, deixam marcas (estrias) ao longo
do traçado.

9
DEL PICCHIA FILHO,].; DEL PICCHIA, C. M.
R.; DEL PICCHIA, A. M. G. Tratado de Documen-
toscopia: "da falsidade documental". 3. ed. rev., ampl. e
atual. São Paulo: Editora Pillares, 20 16. p. 162.

24 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GRAFISMOS 25


1> Você sabe o que é espraiamento?
É uma característica proveniente das canetas esferográ-
ficas roller-ball, que possuem cargas fluidas e, normalmente,
esfera de cerâmica.
Com isso, a tinta se espalha nas laterais, formando mar-
gens e causando esse efeito denominado espraiamento ou en-
gordamento.

O funci onamento da esferográfica é comum em todos os


modelos, entretanto, as tintas, assim como as esferas, podem
compor traçados distintos.

-ESFEROGRÁFICAS À TINTA LÍQUIDA


Esse tipo de esferográfica, geralmente denominada jloa-
ting-ball ou roller-ball, possui o mesmo sistema que a esfe-
rográfica comum, porém, comporta cargas fluídas/líquidas e,
muitas vezes, sua esfera é de cerâmica (ao invés de metálica,
como em esferográficas comuns de tinta pastosa) .
-ESFEROGRÁFICAS À TINTA PASTOSA
Uma das características diferenciadoras é o fluxo mais in-
tenso, sem haver deposição exagerada de tinta ou borrões con- fu esferográficas que contêm tinta pastosa demonstram
centrados, mas, podendo-se observar formação de esquírolas, outro comportamento, já que a tinta apresenta material mais
eventualmente. denso do que a anteriormente abordadas, sendo comum a ma-
nifestação de falhas, esquírolas e estrias.
Outra característica visível é o fato de, muitas vezes, o
traçado sofrer "engordamento" ou espraiamento alongado.

26 MAN lJAL PRÁTICO DA A NÁLISE GRA FOTÉC NICA


ANÁLI S E DE GR AFISM OS 27

1~1
Falha inicial e Estri as

·····.. ,..

,.,

/
!'
I

I~
Es quí r olas

-.,
7'
{{
Falha inicial é a imperfeição decorrente do início do tra- /~
çado. Isso ocorre, pois a tinta que estava na superfície exposta
da esfera encontra-se seca, essa falha serve para verificar de
onde iniciou o traçado.
Estrias são pequenas falhas lineares que aparecem em al-
I

'J
.,
) L
guns movimentos da caneta esferográfica em razão da dinâ-
mica da esfera em contato com o tubo e de suas imperfeições. A esquírola resulta da descarga excessiva de massa de tin-
ta, que ocorre pelo giro da esfera sem contato suficiente com o
N esse traço semicircular, pode-se observar que o traçado
suporte para que se realize a deposição. Esse acúmulo de tinta
foi realizado em sentido horário, conforme demonstrado pelas
ocorre até que a carga do bulbo se acomode. Geralmente, está
estrias que correm para o sentido de fora do traço.
presente nos cotovelos e em vértices horizontais/laterais.

MANU A L PRÁ TI CO DA A NÁLISE GRAFOTÉ CN ICA ANÁLISE DE GRAF ISMO S 29


Sempre que se vê uma esquírola, é possível inferir que ela
ocorreu após a curva. Ou seja, ao vislumbrar uma esquírola
à esquerda de uma laçada, saberá o sentido em que fora pro-
duzida, sendo um elemento importante para a verificação do'
sentido do traçado.
Esquírolas não são consideradas características identifica-
doras de punho, já que elas ocorrem em razão da caneta e não
por ser uma característica personalíssima. Entretanto, estão
diretamente relacionadas à velocidade do punho escritor, que,
apesar do caráter subjetivo, pode dizer muito em um exame
grafo técnico.

4.1 .1.3 H idr o grá fi cos

Também denominadas de pontas porosas ou bico de nylon.

Uma das grandes desvantagens de se analisar um lança-


mento feito por caneta hidrográfica está na facilidade com que 4.1.1.4 Lápis
permitem lavagens químicas, as quais, em regra, não são visí-
veis nem mesmo ao ultravioleta. E, por conta da ausência de Na escrita a lápis não há formação de sulcagens, apenas marcas
sulcos e depressões, as operações de supressão de dados podem deixadas pela pressão, denominadas foulage.
ser realizadas de forma a dificultar sua detecção10 •

. '

10 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-


CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen-
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 168.

30 MANUAL PRÁ T IC O DA A N Á LI SE GRAFOTÉCNIC A AN Á LISE DE GR A FI SM OS 31


4.1.2 GRAFOCINÉ T ICA 4.1 .2.2 Suc es são de mov im en to s

Por sua vez, após estudarmos sobre os instrumentos escritores Um traço raramente terá significado sem o outro, i.e., quando
e seus traços, aprenderemos a fazer a Análise Grafodnética, considerado isoladamente. Depois do primeiro traço, virá o
cuja finalidade é desvendar os hábitos de movimentação do segundo, que poderá ser sobreposto ou conjugado.
escritor e as causas determinadoras de impulsos, ênfases e ano-
Após feito alguns esclarecimentos sobre grafocinética, ve-
malias do gesto gráfico.
remos a morfologia gráfica.
Observa-se a intensidade do traçado para descobrir sua
velocidade, em seguida, é possível detectar o sentido de pro- Traços sobreposto s Traços conjugados
dução do traçado por meio de estrias e esquírolas e, após, in- apontados por apontados por
meio das set a s. meio das setas .
ferir sobre a trajetória dos movimentos.

4.1.2.1 Veloc i dade

Movimentos mais leves tendem a ser mais rápidos, enquanto


os mais pressionados tendem a ser mais lentos. Isso ocorre em
razão da força empregada e do atrito com o papel.

A velocidade pode ser verificada por meio de três fatores:


pressão, andamento gráfico e mudanças de sentido.
Q uanto mais leveza na pressão, mais fluido o andamento
gráfico e, quanto mais retilíneo, i.e., sem muitas mudanças de
sentido, mais rápido será o grafismo.
4.1.3 MOR FOLOG IA GR Á F IC A
Quando vislumbramos muitos momentos gráficos cur-
tos, com angulações, mudanças de sentido e maior pressão, 4.1.3.1 Difere nça s formais
certamente, será um grafismo moroso.
As variações formais ocorrem, geralmente, quando se empre-
gam letras ou sinais pertencentes a sistemas caligráficos ou
com esquemas distintos.

32 MANUAL PRÁT ICO DA ANÁ LI SE G RA FOTÉ CNI CA


ANÁ LISE DE GR A FI SMOS 33

I I
Como afirma Del Picchia, a diferença de tamanho não é Possantes superiores

necessariamente considerada uma divergência formal.

4.1 .3 .2 Gramas

O conceito de grama compreende naturalmente um traço exe-


cutado sem inversão de movimento. Havendo mudança de
sentido em um momento gráfico, vislumbrar-se-á outro gra- Em laçad a Em haste

ma. Por exemplo, a letra V possui dois gramas.


Possan te s inferiores

/ v c
1 Grama 2 Gramas Grama Circular

s o (v\
Grama Sinuoso Grama Circular 4 Gramas
Em laçada Em haste

Dupla possan t e

-ESTUDO DOS GRAMAS I

• Não passantes: quando não existe nenhum traço


acima ou abaixo do corpo da letra.
• Passantes: quando parte da letra ultrapassa, infe-
rior ou superiormente, sua altura média. Podem
ser: superiores, inferiores, duplo passante, presilha
ou anel.

34 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GRAFISMOS 35


Outras espécies de gram as

• Cursiva: caracteriza-se pela escrita de alógrafos co-


Presilhas Anel nectados entre si dentro de uma mesma palavra.
No Brasil, é comumente utilizado em lançamen-
tos gráficos.

Platô

É denominado platô, o grama que forma uma planície


no topo de um alógrafo. Para Silva e Feuerharmel, alógrafo Quadro sinóptico

é um modelo teórico de escrita específico, i.e., uma letra,


um numeral. Superiores

4.1.3.3 Letras Não


Inferiores
Passantes
Gramas
Letra é a unidade do alfabeto. Suas formas usuais obedecem a Duplo
dois esquemas: impressa ou cursiva. passante

• Impressa: caracteriza-se pela escrita pausada, em


Presilha
que cada letra é feita separadamente. É usada em
impressões tipográficas e é popularmente conheci-
da como letra de forma ou letra bastão. Anel

36 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GRAFISMOS 37


4.1.3.4 Ataques e Remates

Sempre que o instrumento escritor é colocado sobre a super-


fície de um papel e passa a desenvolver símbolos, haverá, ne-
cessariamente, o início e o fim de ao menos um momento
gráfico. Ao início do traçado, é dado o nome de ataque e, ao
final, de remate ou arremate, podendo ser classificados em:
a) Ensaiados: aqueles em que, antes do traço, o escri-
tor faz um verdadeiro exercício no ar, abaixando a c) Apoiado: no início da execução ou término da es-
mão paulatinamente até o instrumento tocar no crita, algumas pessoas "descansam" a caneta sobre
papel. Ocorre mais em lançamentos circulares. a superfície do papel, possibilitando ocorrer um
pequeno acúmulo de tinta.

b) Não apoiado: são aqueles em que o escritor execu-


ta o movimento inicial, ou final, do traço sem que
haja o descanso/repouso do instrumento escritor. d) Arpão: trata-se de um hábito gráfico que é de-
Identificados pela espessura menor e/ou baixa in- tectado mediante a análise de ataques e remates,
tensidade da coloração do traçado. caracterizando-se pela formação de uma pequena
quebra brusca de sentido e ocasionando~ a forma-
ção de um ângulo, semelhante a um arpão.

38 M AN U A L PRÁT I CO DA ANÁLISE GR A FOTÉCNICA ANÁLISE DE G RAFI SMOS 39


Ressalta-se que, tal característica, é típica de um
determinado tipo de punho escritor, sendo consi-
derado um elemento individualizador da escrita.

Superior
~

---- ....·-~--·,,.~.-..-- ·•\~ ... •'


..

Àdireita /
Inferior À esquerda f\.
g) Ponto de repouso: ocorre quando o escritor, ao
e) Gancho: analogamente à classificação em arpão, iniciar ou finalizar um gesto, apoia o instrumen-
o lançador realiza uma pequena mudança de sen- to escrevente no papel de maneira a provocar o
tido imediata, entretanto, de maneira curvilínea, aparecimento de um ponto e, depois, se inicia a
assemelhando-se a um gancho. projeção do lançamento.

Esse hábito gráfico também é considerado um Esse tipo de ataque/remate é muito frequente na
elemento individualizador da escrita, sendo im- escrita senil. O escritor, não tendo m ais o controle
portante a sua verificação ao longo de um exame motor fino, primeiramente, apoia a caneta no pa-
grafo técnico. pel para, então, desenvolver a escrita.
Trata-se, entretanto, de uma característica quere-

Superior
?
~
À direita r sulta de circunstâncias momentâneas, sendo pos-
sível que o escritor não apresentasse esse tipo de

~
Inferior hábito anteriormente.
À esquerda

f) Infinito: da mesma forma, alguns escritores costu-


mam executar movimentos rápidos para iniciar ou
terminar um momento gráfico, ocasionando um
afilamento do traçado, também çhamado infinito.

40 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA


ANÁLISE DE GRAFISMOS 41
4 .1.3.5 Linhos de Impu lso, Tr o ç o s 4.1.3.6 Polimorfismos Gráficos
Ornamen tais e Cetros
Polimorfismos gráficos ocorrem quando o escritor utiliza .
As linhas de impulso, como o próprio nome explana, são li- concomitantemente, mais de uma forma gráfica, ou estilo gt·i
nhas que antecedem ao ataque de um lançamento gráfico dan- fico, ao longo da éshita.
do a impressão de impulsão.

Se, no ataque, existe a linha de impulso, no remate, existe


a cerra. Esta, é formada por um traço ornamental que conclui
o lançamen to, sobretudo, em assinaturas.
Del Picchia11 conceitua os traços ornamentais como Algumas vezes, o punho escritor pode variar, utilizando :t·.
"acessórios adicionados a determinadas letras com interesse es- escritas cursiva e impressa em um mesmo lançamento gráfi o.
tético, que, mais tarde, podem in tegrar o conjunto de hábitos
gráficos, mais frequentemente nos ataques e remates".
4.1.3.7 Escritos Cor ren tes, Assinaturas e
Rubr icas
Tra ç os ornamentais

I Linhas de impu lsf


~ Os grafismos das assinaturas nem sempre guardam as m sm.t·
características dos dizeres de um mesmo punho. k vezes, o
/
I Ceifas 1f escritor prefere empregar, em sua assinatura, letras morfolop,i
camente distintas àquelas usuais em sua escrita corrente.

Assinaturas são, geralmente, compostas. pelo nome c so


brenome do autor.
Rubricas, norm almente, se reduzem a um pequeno tHI

mero de traços, sendo uma simplificação da respectiva assili.J


tura. Geralmente, verifica-se o uso da primeira letra do nome'
ou do sobrenom e.
11
DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC- No cotejo, o adequado é comparar a escrita con' ·t11r
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen-
tal". 3. ed. rev. , ampl. e atual. - São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 185 questionada com a escrita corrente paradigma, ou assinntlll .t

42 MANUAL PR ÁTI CO DA ANÁ LI SE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GR A I I',M!13 !H


----- -~~~~--------------------------------------------------------------~

questionada com assinatura paradigma. Não é indicado que o Inicia-se o estudo pelos Elementos de Ordem Geral Sub-
confronto seja feito pelo cotejo da escrita corrente paradigma jetivos e, posteriormente, veremos os EOG Objetivos.
em relação à assinatura questionada, pois, pode induzir o pe-
rito a resultados errôneos. 4 .2.1 EOG S U BJ ETIVO S
Assim, ressalta-se que não é apropriado utilizar um estilo
de grafismo para examinar outro. Afinal, dessa forma, o prin- Os EOG Subjetivos são compostos por características muito di-
cípio da adequabilidade não seria cumprido, como veremos fíceis de serem simuladas ou maquiadas, pois são involuntárias.
mais à frente. Ademais, a conceituação desses elementos é mais abstrata do
que os EOG Objetivos. Assim sendo, conheceremos um a um.

4.2 QUALIDADES DO GRAFISMO


4.2.1.1 Ritmo
As qualidades do grafismo são todas as características de um
lançamento gráfico. A maioria das doutrinas as denominam O ritmo gráfico, conceituado por Del Picchia12 , consiste na
como Elementos de Ordem Geral, que são subdivididos em cadência de movimentos, compreendendo as formações har-
Subjetivos e Objetivos. moniosas ou contrafeitas.

ELEMENTOS DE ORDEM GERAL (EOG)


Ritmo
Dinamismo
Subjetivos
Velocidade
Habilidade
Andamento Gráfico
Alinhamentos
Espaçamentos Gráficos
Limitantes Verbais
Relações de Proporcionalidade
Inclinação axial
Objetivos
Calibre
Pressão
Trajetória 12
DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-
Gladiolagem CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsid1de documen-
Tendência de punho tal". 3. ed. rev., ampl. e atual.- São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 21 3.
Espontaneidade

44 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GRAFISMOS 45


A primeira escrita demonstra ritmo mais lento, com a • Para Del Picchia14 , "é o estudo concomitantemen-
cadência dos movimentos desarmonica, enquanto que, a se- te das forças de pressão e velocidade".
gunda imagem, demonstra ritmo mais rápido e movimentos
harmônicos. Os dois autores supracitados divergem quanto à natureza
do dinamismo. Falat entende que o dinamismo é um Elemen-
Outro ponto que compete ao ritmo gráfico é a parada
to de Ordem Geral Objetivo, porém, Del Picchia elenca com o
que ocorre entre as letras 'i' e 'o', conforme demonstrado na
Elemento de Ordem Geral Subjetivo.
imagem a seguir: após a letra 'i', o punho perfaz o pingo e,
A posição adotada por nós, autores, é convergente com
depois, volta para o movimento da letra 'o'.
a vis,ão de Del Picchia. Em que, dinamismo é tratado como
Elemento de Ordem Geral Subjetivo devido à subjetividade
implícita a seu conceito, diferentemente dos Elementos de
Ordem Geral Objetivos, que possuem fácil visualização.

4.2.1 .3 Veloc i do de

Atualmente, não há método para quantificar o valor da velo-


cidade em que se realiza um traçado. Portanto, não se pode
considerá-la um elemento objetivo. Porém, observando o gra-
fismo, é possível verificar se a escrita é rápida, média ou lenta.
Inclusive, apesar de seu caráter subjetivo, a comparação entre
4.2.1.2 Dinamismo
as velocidades empregadas em duas escritas é bastante difun-
dida na sociedade pericial.
Quanto à dinâmica da escrita, há duas conceituações:
• Para Falat13 , "é o estudo concomitantemente d o A velocidade aumenta quando temos maior fl uidez do

movimento e forçà'; movimento e menos desconexões, que formam m ais momen-


tos gráficos.

13 FALAT, Luiz Roberto Ferreira. Produção da prova pericial grafotécnica 14


no processo civil. Curitiba: Juruá, 2008. p. 124. Idem p. 215.

46 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GRAFISMOS 47


Antes de explicar como notar as características a respeito Verifica-se, nas imagens a seguir, a diferença de velocida-
da velocidade de um punho, teremos de esclarecer sobre os de entre os grafismos.
MOMENTOS do grafismo.
Momentos Gráficos - São os lançamentos realizados en-
tre as paradas e retomadas de uma escrita.
.~ ..
,A primeira escrita demonstra oscilações/tremores, que é
sinal de morosidade e e apresenta desconexão entre o anel e a
haste que compõem a letra 'd', bem como possui alta pressão.
Na segunda imagem, não há oscilações, a pressão é menor e a
escrita é coesa, i.e., feita em momento gráfico único.
Momentos Diminutos - São falhas que ocorrem devido
Observe, no quadro a seguir, algumas características que
à alta velocidade, baixa pressão e/ ou mal funcionamento
denotam rapidez e lentidão ao longo da escrita:
do instrumento. Parecem, muitas vezes, momentos grá-
ficos, pois o instrumento escritor quase não toca o papel.
RAPIDEZ LENTIDÃO
Entretanto, podem ser diferenciados pela verificação da
Momentos diminu tos Momentos gráficos
trajetória contínua no traçado. Pressão baixa Pressão alta
Traços ágeis Traços oscilantes/trêmulos

Assim, no cotejo dessas características, é possível classifi-


car a velocidade de um punho.

I
I
4.2.1.4 Habilidade

Não é sobre a escrita mais bem desenhada e nem sobre a es-


crita mais bela, mas sim, sobre a habilidade muscular do pu-
nho escrevente, que depende da educação do gesto gráfico.

48 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁ LI SE DE GR AF ISMO S 4'J


Abaixo, podemos examinar três grafismos coletados e ob- ser classificada em: sinistro-destro (da esquerda para a direita)
servar a habilidade diferenciada conforme a escolaridade: ou destro-sinistro (da direita para a esquerda), i.e., horário ou
anti-horário, respectivamente.

[> Com o decifrar a trajetória?


Oraflsmo 1: O lallÇIIdor cursou apenas o ensino fundamental
8 trabalhava como auxiliar de llmoeza.
A trajetória é decifrada da mesma maneira como se de-
senrola um cordão emaranhado, inicia-se pelas pontas soltas.
Verifica-se o sentido desses traços soltos para identificar
qual é o caminho percorrido, observando indícios como falha
Oraftsmo 2: O lançador cursou até o ensino médio 8
trabalhava como secretária. inicial e estrias. Devido ao sentido linear da escrita, n o Bra-
sil, ser sinistro-destro, na maioria das vezes, o primeiro ataque

fiM~ .. C.r. Ji. f. ..


ocorre por um traço à esquerda, contudo, pode haver exceções.
Encontrado o sentido, segue-se o caminho até que se en-
Orallsmo 3: O lallÇIIdor cursou faculdade. cerre o momento gráfico. Caso o lançamento tenha mais de
um momento gráfico, repete-se o processo.

Observa-se que, em regra, o estudo aprimora o grafismo, Em situações de sobreposição, que prejudiquem a visua-
i.e., quanto mais treino, mais velocidade e m enos oscilações. lização da trajetória gráfica, é recomendável verificar outras
amostras da mesma assinatura, pois, com a variação do pun ho,

4.2.2 EOG O BJ ETI VOS poderá ser possível verificar os traços sobrepostos que não fi-
quem visíveis em uma primeira observação.
Os EOG objetivos são demonstráveis com mais facilidade, Outra forma de verificar sobreposição de traços é por
sendo assim, as características materiais e visíveis do grafismo. meio do uso de um microscópio óptico. Sendo observado o
afllamento do traçado sobreposto.
4.2.2.1 Traj et ó ri a

Por trajetória, entende-se o caminho desenvolvido pelo ins-


trumento escritor na p rogressão do gesto gráfico. Podendo

50 MANUAL PRÁTIC O DA ANÁLISE GRAFOTÉCNIC A


ANÁLISE DE GRAFISMOS 51
Teoria dos idiotismos gráficos15 : A doutrina antiga utili-
zava essa teoria, sob a qual, concluía-se que a presença de
determinados idiotismos representava a autenticidade do
gesto, bem como, a ausência desses, implicaria à conclu-
são de que os punhos escritores seriam divergentes.

4.2.2.3 Espontaneidade

O gesto' espontâneo é aquele sem artificialismo, ou seja, o pu-


nho escritor habituado com aqueles grafismos o faz sem tentar
modificá-lo e sem tentar mascará-lo.

Espontâne a Artific ial


IW::Ji

(~I~ l 't t ' r tr

mg3 lmg4

4 .2 .2.4 Andame nto Gráfico


mg5

O andamento gráfico é o estudo do desenvolvimento do gra-


fismo em relação a seus momentos gráficos, i.e., os levanta-
mentos normais do instrumento gráfico.

4 .2 .2.2 I di og rafi smos

Os idiografismos são características individualizadoras do


punho escritor, dotadas de caráter amorfo, não sendo permiti- 15
FALAT, Luiz Roberto Ferreira. Produção da prova pericial grafotécnica
do estabelecer classificação ou enumeração. no processo civil. Curitiba: Juruá, 2008. p. 136.

52 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GRAFISMOS 53


- - ------- ~--~- ------------------------------------------------------------,

4.2.2.5 Al in h a mento Gráfico • Arqueada: apresenta concavidade em sentido infe-


rior, sendo, no primeiro momento, ascendente e,
O alinhamento é determinado pelas possíveis nuances que os em seguida, descendente.
lançamentos gráficos podem apresentar em relação à linha de
base. Para isso, realiza-se uma linha teórica aposta sob o lança-
mento gráfico, sendo, o ponto de partida, abaixo do primeiro
grama minúsculo.
A escrita pode ser alinhada, ascendente, arqueada, des-
cendente ou sinuosa. Vejamos: ' .
• Alin hada: que não tem propensão à inclinação,
nem para cima e nem para baixo, assim, faz-se reta • D escendente: inicia-se acostada à linha de base
e alinhada em relação a linha base. apresentando, posteriormente, descendência em
relação à mesma.

• Ascendente: o gesto gráfico se inicia na linha de


base apresentando, posteriormente, ascendência
........ ........~
.......
em relação à mesma. .... ..

54 MA NU A L PRÁT IC O DA ANÁ LISE GR A FOTÉ CNICA


ANÁLISE DE GR AFISM OS 55
• Sinuosa: nesse tipo de grafismo, os gestos são • Interliterais: são aqueles estabelecidos pelas dis-
dispostos de forma a apresentar ascendências tâncias existentes entre as letras.
e descendências consecutivas em relação à linha
de base.

' '

• lntervocabulares: são os detectados entre os lança-


4.2.2.6 Esp a çame nt os Gráficos mentos dos vocábulos/palavras.

O punho escritor, que já executou um determinado gesto grá-


fico inúmeras vezes, o faz com similar simetria espacial, a recí- 6tu ,,\:!) ~~~
..~. .~ ............
...-+ n LL-t
..~... .
proca é verdadeira.
Dessa forma, deverão ser observadas, junto ao desenvol-
vimento gráfico, as características quanto aos tipos de espaça-
mento.
• lntergramaticais: são aqueles estabelecidos pela
distância realizada na produção dos alógrafos. • Intersilábicos: são aqueles que ocorrem entre as
sílabas de um lançamento gráfico.

56 MAN U A L PRÁ TI CO DA ANÁ LI SE GRA FOT ÉCNICA A NÁ LI SE DE GRAF I SMOS 57


• Interlineares: são aqueles contidos entre as linhas • Alinhada: aquela em que o eixo gramatical se situa
dos lançamentos gráficos dispostos em um texto em 90°, i.e., perpendicular à linha de base.
inserido num suporte sem pauta.

. /
.
I

~o. .r. a ..
~:c~ C\..~"-'4Z v ~o c~ ~~/..C,_ÇJ
._.,·~-~ x l u ;.,"'J ),..C..:"' YVX:'~.,. :...'\ ck.
~.L!o. '""YY\ l..-:.\'")0 ~ ' '

• Dextrogira: inclinação à direita do eixo perpendi-


cular (90° até 180°) .
4.2.2.7 In c li nação axia I

Na análise do gesto gráfico poderemos encontrar mais de um


tipo de inclinação no mesmo vocábulo. A inclinação axial será
classificada seguindo as mesmas coordenadas designadas ao .<§b.
eixo da Terra.

Tomamos como referência a linha de base, ainda que teó- • Sinistrógira: tendência em sentido sinistro, i.e., à
rica, e lançamos um eixo vertical perpendicular, visualizando esquerda do eixo ortogonal (0° até 90°).
um plano cartesiano (x, y) e comparando a inclinação corres-
pondente aos alógrafos. É comum realizar essa análise tendo
como base lançamentos que possuem hastes verticais.
Assim, a inclinação axial poderá ser classificada da se-
guinte forma:

58 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁ LI SE DE GRA FI SMOS 59


4.2.2.8 Pr opore i o na li da de • Proporcional: ocorre quando a altura das le-
tras maiúsculas e hastes de alógrafos passantes é
A relação de proporcionalidade gramatical é verificada através proporcional à altura das letras minúsculas não
do estabelecimento de uma correlação entre as letras maiúscu- passantes.
las e minúsculas não passantes.
A doutrina adota os seguintes tipos de proporcionalidade:
• Alta proporcionalidade: quando as letras maiús-
culas e as hastes de alógrafos passantes são bem
maiores do que as letras minúsculas não passantes.

r:···········\····1·······r·······1··········j········ 4 .2.2 .9 Ca li bre

Gdt---La.Ad&- A conceituação de calibre é: "diâmetro da parte interior de


um tubo". Na grafotecnia, serve para examinar a dimensão
das letras minúsculas e, também, observar o desenvolvimento
• Baixa proporcionalidade: quando as letras maiús- lateral de um lançamento.
culas e as hastes de alógrafos passantes não têm Enquanto a proporcionalidade é a relação das letras
muita diferença, em altura, em relação às letras maiúsculas e de alógrafos passantes superiores em relação às
minúsculas não passantes. letras minúsculas, o calibre é a relação existente apenas dentre
as letras minúsculas não passantes.
• 4 .......... . ..... . . . . ~ . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .

• Grande calibre: são sinais gráficos representativos


de alógrafos minúsculos não passantes dotados de
extensões verticais superiores a 4 mm (h>4 mm);
• Médio calibre: são sinais gráficos representativos
de alógrafos minúsculos não passantes dotados
de extensões verticais situadas entre 3 e 4 mm
(3<h<4 mm);

60 MAN UAL PRÁTI CO DA ANÁ LI SE GRAFOTÉCNICA ANÁ LI SE DE GR AFISMOS


• Pequeno calibre: são sinais gráficos representativos
de alógrafos minúsculos não passantes dotados de
extensão vertical inferior a 3 mm (h<3 mm);

A letra apresenta calibragem média

4.2.2.10 Pressão

Pressão é a força exercida em sentido vertical do instrumento


escritor contra o suporte. As marcas objetivas da pressão tam-
bém dependem da natureza do instrumento escrevente, cane-
tas esferográficas, por exemplo, comportam maior pressão que
Essa análise não será feita medindo letra por letra, mas
canetas hidrográficas.
sim, será estimada uma média das alturas das letras que com-
põem o grafismo. A pressão, ou peso gráfico, pode ser classificado confor-
me sua intensidade: alta; média; ou baixa.
A título de curiosidade, cabe acrescentar que a calibra-
gem muito reduzida é denominada de micrografia.
Quanto ao desenvolvimento lateral, que compreende a
expansão dos traços lançados, a escrita pode ser classificada ~\/
como normal ou aglutinada. A escrita 'normal' tem desenvol-
vimento e traços laterais prolongados. Enquanto, na 'aglutina-
da', a escrita é comprimida.
Na imagem a seguir, a primeira transcrição é considerada
normal. Já, a segunda, é classificada como aglutinada.

62 MANUAL P RÁT ICO DA AN ÁLI S E GRAFOTÉCNICA


ANÁLIS E DE GRA FISMOS 63
Quando utilizados instrumentos escritores de ponta rí- vertical de maneira ascendente, i.e., há a expansão
gida, como as canetas esferográficas, observa-se, no verso da do grafismo.
folha grafada, o relevo deixado pelo grafismo. Quanto maior
for o relevo, maior foi a pressão exercida.
Alguns punhos escritores mantêm o ritmo com maior ou
menor pressão, outros, apresentam ciclotimias, irregularidades
e desconexões.

4.2.2.11 G\odio \agem

A Gladiolagem é a variação de altura que ocorre ao longo da


extensão vertical dos lançamentos e pode ser verificada em três
momentos distintos: em grupos gráficos; em vocábulos isola- • Gladiolagem negativa: contrária à positiva, o an-
dos; ou em conjuntos vocabulares. Além disso, é classificada damento gráfico é dotado de extensão decrescen-
em três categorias: te, i.e., há o afunilamento do grafismo.
• Gladiolagem constante: ocorre quando os alógra-
fos, ou sinais gráficos, se desenvolvem de maneira
semelhante, constante, uniforme e sem variação
quanto à altura.

4.2.2.12 Tendência de punho

• Gladiolagem positiva: ocorre quando o punho es- É perceptível apenas em determinados símbolos gráficos, sen-
critor possui o hábito de desenvolver a extensão do bem visível no grafismo das letras 'M' e 'N'. Vejamos:

64 MANUAL PRÁT ICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCN I CA ANÁ LI SE DE GRAFISMOS 65


• Tendência à angulosidade: na trajetória, ocorre a • Tendência mista: ocorre quando o punho es-
formação de movimentos angulosos quando há critor executa o lançamento de diversas formas,
inversão de sentido. i.e., realiza mais de uma tendência em um mesmo
lançamento.

• Tendência à arcada: o lançamento produz conca-


vidade voltada à região inferior e, consequente- - PEGADA DO INSTRUMENTO ESCRITOR E EXE-
mente, convexidade para a região externa, asseme- CUÇÃO DO GRAFISMO
lhando-se a morros.

MAIS COMUM

Caneta voltada ao papel.

Favorece escritas 1·erticais e


inclinadas à direita.
• Tendência à guirlanda: o lançamento ocorre de
forma oposta à arqueada, apresentando convexi-
dade em sentido inferior e concavidade em senti-
do superior, assemelhando-se a picos.
INCOMUM

Caneta voltada para o corpo do


escritor.

Favorece escritas inclinadas à


esquerda.

66 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLSE DE GRAFISMOS 67


- ASSINATURA COM TRABALHO DE PUNHO OU Não é necessário descrever tudo ponto a ponto. Não pre-
BRAÇO cisa descrever todas as formas que vislumbrar, mas sim, as que
Assinaturas com trabalho de braço são diametralmente maio- forem relevantes para embasar a sua convicção e para respon-
res em extensão e possuem traços rápidos, maior velocidade. der aos quesitos, quando houver.
Enquanto, assinaturas com trabalho de punho, costumam ser Aqui vão algumas dicas para facilitar esse processo de des-
menores e mais lentas. crição:

I> Como distinguir? Direção e Sentido

Ao longo do exame, o perito deve questionar se o punho Primeiramente, vamos definir, dentro da perspectiva do
teria a mobilidade necessária para realizar aquela execução. estudo das exatas e de uma forma bem simples, cada um
desses conceitos:

"r
r1 1 11 • Direção: pense em uma reta imaginária onde um
objeto possa se locomover;
• Sentido: imagine para que lado esse objeto poderá
n•"'u'"'' ' '·''"''......... .,, , .. ,, .. ,,.,,.,,. .. M• •
' ' ''"'""' ' '''u"'"''"'"o ......... , •. .,J'.•.o ••• . , •"I ' ir. Mantendo-se sobre a linha anteriormente esti-
'"'"'»' ' ''" ' ''"'~''""'""u"u"''"'"'''"'
.................................. ............. ,. ... .
... , • . , !HH<oo o oo" ' ' ' ' " " ' " ' " ' '"''~"'' IH ! U " l
pulada.
...............,,....... ...........................................
, .............. ..
. .. .. ...... .... . ....................... u ........... .

...... .............................
__..

Se imaginarmos uma li nha (direção) vertical, por exem-


plo, o sentido poderá ser para cima ou para baixo. Caso
a direção seja horizontal, o sentido poderá ser para a es-
,..., I"~ "'"
querda ou para a direita.

Para descrever o sentido, é comum utilizarmos a seguinte


denominação: destro (à direita); e sinistro (à esquerda).
I> Como descrever uma forma ou um grafismo?
Como já mencionado no subcapítulo Trajetória, para se
O momento de descrever os grafismos é desafiador para os descrever um percurso, utilizamos as seguintes descrições:
mais diversos peritos. Às vezes, o perito vislumbra um grafismo
enorme e quer descrever tudo o que está vendo. Ledo engano!

68 MA NU A L PRÁT ICO DA AN Á LI SE G RA FO T ÉCN I CA


A N Á LI SE DE GRAF ISM OS 69
• Sentido Destro-sinistro: está indo da direita para Formas
a esquerda( ...). As formas mais simples e comuns são: quadrado, retân-
• Sentido Sinistro-destro: está indo da esquerda gulo, triângulo e círculo. Contudo, uma assinatura pode
para a direita (_.). ter forma de triângulo escaleno, por exemplo, ou de um
círculo que contenha algumas angulosidades, se asseme-
O sentido também pode ser demonstrado quanto ao lhando a um hexágono.
movimento circular, com base no relógio: horário e A imagem, a seguir, exibe algumas denominações:
anti-horário.

v ~~~6D~
Ac:ut;)ngulo Retângulo ObtusàngiAo Equilátero Isósceles Escaleno

Horário Anti-horário

D O!_ "::, 0
Outra informação importante a ser pontuada é quanto
aos momentos de um círculo, que serão descritos confor-
;=·õ"oEõõ ParaleiOIJ"amo RectMgulo Quadrado Losango
me as horas de um relógio.

00000
Hexágmo Heptágono Octógono Decãgono Circunferénda

Ademais, em gramas curvilíneos utilizamos as terminolo-


gias côncavo e convexo para descrever o sentido de aber-
tura do semicírculo. Côncavo é a denominação dada à
parte interna da curva e convexo à parte externa.

Por exemplo: na imagem acima, há um círculo feito com


sentido anti-horário e abertura às 3 horas.

70 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA ANÁLISE DE GRAFISMOS 71


Conforme já abordado neste livro, também poderemos
utilizar a nomenclatura dada às formas de gramas -laçadas, pre-
silhas, platô, bem como, às classificações dos ataques e remates.
\
Não é necessário se prender a terminologias, o importante
é se fazer entender e não deixar de descrever o que vislumbrar!
j
i
"
Terminologias para partes específic'!:!_
Outra dificuldade encarada por diversos peritos é quanto
às terminologias das partes de uma letra. Frente a isso,
a imagem a seguir infere alguns norn.es utilizados como
referência ao longo das descrições necessárias para desen-
volver um bom laudo.

P1NGO

b eanlp
TH "' CORPO

-
r--·---

PERNA
R

~
AM O

rutNA
----~

~ . , . e.
~
=

-e
.. ANEl

MlÁLI~E DE GR AFISM OS 73
72 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA
EXAME ,
GRAFOSCOPICO

Quando existe uma assinatura sendo ques-


tionada, o perito deverá buscar padrões do
punho suspeito para se confrontar as carac-
terísticas. Primeiramente, definiremos o que
é o material questionado, ou seja, o objeto a
ser examinado. O que se questiona? Assina-
turas? Rubricas? Grafismos?

Assim, com o material questionado


definido, o perito deverá buscar padrões
do suspeito (material paradigma). O sus-
peito nem sempre será alguém que fez uma
determinada falsidade, mas sim alguém
cuja existência, exatidão ou legitimidade não
se tem certeza.
Como explanado no primeiro capítulo
deste livro, em um questionamento referente
a uma assinatura, o objeto será a assinatura
questionada e o objetivo será a verificação

75
da autenticidade, i.e., se é proveniente do punho autêntico de assinatura, diversas assinaturas, rubricas ou até graflsmos,
quem se diz ser. Além disso, o punho suspeito de um exame como o preenchimento de um documento.
pericial denomina-se periciando. Pode-se questionar a autenticidade (Foi feita pelo real ti-
Um exame grafoscópico acurado é dividido em três etapas: tular daquela assinatura?) ou sua autoria (Quem foi o autor?
a) Análise; Quem escreveu?).

b) Confronto; e
5.1.2 PEÇAS PARADIGMAS
c) Avaliação, ou Ponderação.

É por meio das peças paradigmas que vamos conhecer as ca-


Antes de adentrar às etapas, aprofundaremos um pouco
racterísticas padrões. Assim, é necessário obedecer a certos cri-
em alguns conceitos importantes, como: o que são peças pa-
térios para a sua admissão.
radigmas e peças questionadas; e quais princípios devem ser
seguidos para se obter padrões relevantes. O perito deve ser muito zeloso ao escolher os paradigmas
ou padrões de confronto, pois elas guiarão o exame e, a f:-.lta
5.1 PEÇAS PARADIGMAS E de critério na escolha, poderá levar à uma conclusão errônea.
QUESTIONADAS Os critérios utilizados para a admissibilidade dos padrões
são: Autenticidade; Adequabilidade; Contemporaneidade;
~ Peça B Peças 1:o persuasao
~ Quantidade; e Espontaneidade.
:~ questionada t:: para d'1gmas
Q)
~pericial:
o o Para que esses critérios nunca mais saiam de sua mente,
~ou Padrão roA poso
,
ou -t;
tl de ~ confronto, o
os autores criaram um mnemônico: CAAQE- que remete à
Peça de t:
~Confronto ctT pento

chega fruta caqui.
Exame
• t>w à conclusão.

C ontemporaneidade
A utenticidade
5.1.1 PEÇAS QUESTIONADAS A dequabilidade
Quantidade
Peça questionada (peça duvidosa, peça de exame, objeto) é E spontaneidade
aquela em que se questiona a sua autenticidade. Pode ser uma

]6 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCN ICA EXAME GRAFOSCÓPICO 77


Aprofundaremos, agora, em cada um desses critérios. Para a conclusão de autenticidade, não haverá problema
ao utilizar padrões não contemporâneos, já que as característi-
5 .1.2.1 Contem poro neidade cas serão necessariamente demonstráveis. Ademais, se houver
manutenção do gesto gráfico ao longo dos anos, também não
Contemporaneidade é a qualidade ou condição de ser con- haverá problema em sua utilização.
temporâneo, de existir ao mesmo tempo; coexistência, ou seja,
Entende-se que, quando se visa apurar uma assinatura,
de ser da mesma época.
paradigmas extemporâneos poderão até permitir afirmar a sua
Muitos perguntam: Mas, quanto tempo de diferença da autenticidade, porém, não será possível vislumbrar falsidade
peça questionada o padrão precisa obedecer? Algumas doutrinas com paradigmas de épocas muito distantes, posto que as di-
falam em dois anos, outras falam que não mais que cinco anos. vergências podem ser mudanças sofridas pelo próprio punho
Para os autores, o período é relativo pela seguinte razão: ao longo do tempo.
esse critério depende muito de caso a caso. Suponha-se que o
periciando teve uma doença grave e sofreu alterações no seu 5.1.2.2 Autenticidade
punho nos últimos meses de vida, isso deve ser levado em con-
sideração para o critério de contemporaneidade. Por motivos óbvios, os padrões utilizados devem ser AUTÊN-
Esse tipo de situação é muito comum em casos de pacien- TICOS, i.e., devem ser confiáveis, já que é por meio deles que
tes oncológicos ou doentes terminais. Poucos meses, ou sema- o perito conhecerá as características do punho confrontado.
nas antes do falecimento, a assinatura não será a mesma, pois, Preferencialmente, o perito utilizará documentos públi-
de fato, uma pessoa que está com dor e tomando medicamentos cos, como: Carteira de Identidade; Título de Eleitor; Passa-
fortíssimos não conseguiria conservar a mesma gênese gráfica. porte; Carteira Nacional de H abilitação; e Carteiras de Con-
Portanto, os padrões preferenciais serão aqueles com data selhos Profissionais.
mais próxima possível do dia em que a amostra questiona-
Outros documentos confiáveis são os reconhecidos por
da fora produzida, o que dificilmente será apresentado para o
autenticidade em tabelionatos, como: cartões de assinatu-
exame pericial.
ras de cartório; assentamentos de casamento; procurações;
Essas discrepâncias ensejam um risco na conclusão de fal- entre outros.
sidade, já que, as características destoantes, poderão ser inter-
Apesar da presunção de legitimidade, esses documentos
pretadas como divergências, quando, na verdade, ocorrem em
podem apresentar vícios. Todavia, quando solicitados para
razão das alterações advindas do tempo.

78 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA


EXAME GRAFOSCÓPICO 79
figurarem como paradigmas, dificilmente o periciando utiliza- o perito deverá solicitar ao periciando que escreva os mesmos
rá documento de fraude anterior. dizeres, atentando-se às características da escrita, como uso de
O perito deverá solicitar os referidos padrões e/ou per- letra cursiva ou impressa.
guntar, no momento da coleta, se o periciando possui algum Observe as seguintes transcrições: "uma geladeira nova''
desses documentos. não é o mesmo que "um ano de alegria vâ'. As letras, apesar
Na coleta, para que seja possível reconhecer a autentici- de serem as mesmas, não estão no mesmo posicionamento,
dade, o periciando deverá apresentar documento de identida- i.e., não há as mesmas conexões. Assim, não é possível realizar
de no momento do ato e o perito deverá saber reconhecer se o a análise entre as letras. Portanto, quanto mais específico for,
documento apresentado é autêntico ou falso, pois, a coleta de melhor para o exame.
um terceiro se passando pelo periciando será nula.
Em razão disso, o perito deverá sempre se atentar aos ele-
~~A)~OJ .
mentos de segurança de documentos oficiais.

?.J'In cvY\,0 ~ ~ ~~
5 .1.2.3 Ade q uobilidode

A adequabilidade é a qualidade ou condição do que é adequá-


vel, ou seja, adequável ao exame pericial. 5.1.2.4 Quont idade

Não é possível comparar o que não é comparável, por


O perito deverá trabalhar com um número suficientemente
exemplo, não é possível comparar banana com maçã, da mes-
grande de padrões. Sem isso, não há como vislumbrar se uma
ma forma que não se pode comparar algarismos com letras.
característica é um hábito ou uma exceção. Então, é recomen-
Esses serão diferentes, pois são espécies distintas.
dável adquirir uma quantidade mínima de grafismos, prefe-
O perito grafotécnico deve comparar grafismos com gra- rencialmente, de datas diferentes, além da coleta de padrões.
fismos, assinaturas com assinaturas, rubricas com rubricas e
Dentro de um processo, é possível adquirir certos pa-
algarismos com algarismos.
drões, como: documento apresentado aos autos; procuração
Em razão disso, o perito deverá colher grafismos específi- para trabalhos advocatícios; declaração de hipossuficiência; e
cos para a confrontação. Se houver uma frase manuscrita no do- ata de audiência. Além disso, o perito judicial poderá solicitar
cumento questionado, assim como qualquer preenchimento, outros padrões, bem como proceder a coleta de grafismos.

80 MANUAL PRÁT ICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA EXAME GRAFOSCÓP ICO 81


Na doutrina atual, não há especificação de um número O perito deverá ficar atendo às variações do punho peri-
mínimo de padrões. Contudo, para os autores, um número ciado e a seus hábitos gráficos. Frente a isso, poderemos clas-
recomendável seria de, pelo menos, cinco padrões. sificar a frequência com que essas características aparecem da
seguinte maneira:
5.1.2 .5 Espontaneidade • Constantes: sempre presentes;
• Frequentes: presentes em quase todos os lança-
Espontaneidade é a característica do que é espontâneo; des- mentos;
provido de disfarce; normal; feito com naturalidade. Nesse
• Ocasionais: presentes em metade das peças ana-
sentido, é uma escrita que não apresenta disfarces ou qualquer
lisadas;
tipo de alteração.
• Raras: presentes poucas vezes; e
Em razão desse critério, o perito deve escolher padrões
• Ausentes: quando não forem encontradas nos
naturais, ou seja, aqueles em que o periciando não previa que lançamentos.
seriam utilizados para o exame de confronto.

l> Como descobrir um hábito gráfico?


5.2 ETAPAS DE UM EXAME
Um hábito é uma ação que se repete com frequência e re-
GRAFOSCÓPICO
gularidade. Nesse sentido, precisaremos de certo número de
5.2 .1 ANÁLISE exemplares para verificar tal característica. Sem a presença
de um número razoável de padrões, não poderemos estabele-
O primeiro passo é analisar tanto as peças questionadas quan- cer que certa característica é realmente um hábito gráfico.
to os padrões. A análise é o exame detalhado de cada seção que
compõe um todo, buscando compreender tudo aquilo que o 5.2.2 CONFRONTO
caracteriza.
N o confronto é feita a comparação das características vislum-
Para isso, serão verificadas as características importantes
bradas. Assim, o perito deve observar se há predomínio de
presentes nos grafismos examinados. Lógico que existem va-
convergências ou divergências.
riações, i. e., características que variam conforme os lançamen-
tos, mas, também, existem características constantes, que são Quando há o predomínio de características convergentes,
denominados hábitos gráficos. pode-se concluir que é uma assinatura convergente, ou seja,

82 MANUAL PRÁT ICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCN I CA


EXAM E GRAFOSCÓP I CO 83
que se adequa aos padrões. Entretanto, quando há o predo- no caso contrário, quando havia predomínio de divergências,
mínio de características divergentes, pode-se concluir que há seria uma falsificação. Contudo, atualmente, dá-se mais peso
divergência dentre as amostras comparadas. à avaliação desses achados.
Cumpre esclarecer que corresponder aos padrões não é
necessariamente concluir pela autenticidade, bem como con- 5.2.3 AVA LIAÇÃO/P ON DERAÇÕES
cluir pela divergência náo é a mesma coisa que concluir pela
falsidade. A análise de semelhanças e divergências faz parte do O perito deve avaliar as características confrontadas. Por exem-
exame, contudo, não é um único veredito. plo, existem características que serão semelhantes, porém, por
Alguns peritos utilizam terminologias para graduar os ní- coincidência ou em razão de características de classe.
veis dessas características, como: Quando o perito estiver diante de uma característica con-
• Afastamentos: "diferenças" provenientes do mes- vergente ou divergente, deverá buscar o raciocínio pericial e,
mo punho, mas que não chegam a ser característi- tendo em vista que um falsário geralmente tenta reproduzir o
cas de punhos distintos; padrão que detém, se perguntar: Essa característica corresponde
ao que um falsário faria? E, ainda, essa característica poderia ser
• Diferenças: não chegam a ser tão fortes quanto as
feita pelo lançador, quando quisesse disfarçar?
divergências. São características discrepantes, con-
tudo, não demonstram serem necessariamente de Os critérios de avaliação dos achados conferem mais rele-
vância a três características:
punhos distintos;
• Divergências: características que realmente con- a) Constância/hábitos gráficos;
trastam uma assinatura da outra, sendo diferenças b) Raridade dessa característica na população em geral; e
em características relevantes, que levam o perito à c) Imperceptibilidade da referida característica.
persuasão de falsidade;
• Semelhanças: características que se assemelham, Então, nos aprofundaremos um pouco mais sobre esses
contudo, podem ser provenientes de imitação; e critérios.
• Convergências: características relevantes para a
convicção de autoria. 5 .2.3 .1 Cons tân c ia

A doutrina antiga dizia que, quando havia predomínio A característica será um hábito gráfico se ela for constante en-
de características convergentes, a assinatura seria autêntica, já, tre os achados. Como já vimos, hábitos gráficos são caracte-

84 MANU AL PRÁ TIC O DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA EXAME GRAFOSCÓPICO 85


rísticas que se repetem constantemente nos grafismos e devem
ser encontrados nas peças questionadas.

5.2.3.2 Raridade na população

Quanto mais rara a característica, menor a chance de que, por IDENTIFICAÇÃO


,
coincidência, apareça em uma peça questionada feita por ou- GRAFICA
tro punho.

5.2.3.3 I mpercept i bi li da d e
Após ensinar todas as características que
Características imperceptíveis são aquelas que nem o próprio compreendem o grafismo, este capítulo trata
lançador se apercebe. Podem auxiliar o perito em casos de fal- de como fazer a identificação gráfica.
sidade e disfarce, por exemplo: Cabe, primeiramente, ressaltar a dife-
• Em falsidade: por não ser perceptível, o falsário rença entre os exames de AUTENTICIDA-
provavelmente não a verificará e, por conseguinte, DE gráfica e AUTORJA gráfica.
não a reproduzirá; e A autenticidade é um exame meramen-
• Em disfarce: por não ser perceptível, o detentor da te confirmativo, utiliza-se para confirmar se
característica não se aperceberá, assim, dificilmen- a escrita é autêntica.
te a alterará em um disfarce. Na autoria gráfica, é necessária a inves-
tigação. Busca-se saber quem é o autor da-
quele grafismo, comparando o punho ques-
tionado dentre os punhos suspeitos para,
então, encontrar similitudes e características
identificadoras da autoria.
Assim sendo, no caso de assinaturas,
quando afastada a hipótese de autenticidade,

86 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA


- - - - -- - -

procura-se conhecer o verdadeiro autor de uma escrita, i.e., o


falsário.
{ PQXPP ;
6 .1 C LASSIFICAÇÃO DAS ESCRITAS ....
,-
_________ __r::________.
-.--...
-~, _.___

GENUÍNA l NÃO GENUÍNA


Para a doutrina internacional, The Modular Forensic Handwri- Semelhança da 1 Diferença da
morfologia J morfologia
ting Method (2016 Version), de Bryan Found e Carolyne Bird,

----·--L..
'----
__..-_
J ___ ~
T
a divisão é feita entre assinaturas genuínas e não genuínas.

Genuína quer dizer que a assinatura corresponde ao pu-


Diferença na
habilidade ou
espontaneidade
J Diferença nos
hábftos gréficos
=FalslfiCIIÇllo por
l
Disfarce/
Autofalsificaçi!o
Falsificação sem
imitação
--~
= Decalque J lmiteçAo
\.__
nho periciado, ou seja, sua forma é convergente e não apresen-
ta divergências importantes ao padrão. Já a não genuína ocorre
quando a assinatura não corresponde ao punho periciado. A
não correspondência não necessariamente será uma falsidade, Após a análise do primeiro estágio, procura-se enquadrar
podendo ser uma assinatura disfarçada ou anormal. a escrita nas seguintes classificações:
a) Grafismos naturais;
Esse tipo de classificação preza pela aparência formal, em
um primeiro estágio, da assinatura questionada comparada b) Grafismos disfarçados; e
aos padrões, veja tabela a seguir: c) G rafismos imitados ou simulados.

Aparência da assinatura Possibilidades Vamos analisá-las profundamente nos tópicos a seguir.


-1° Estágio -2° Estágio
Autenticidade ou uma 6.1.1 GRAF ISMOS NATURAIS
Corresponde = Genuína
falsidade perfeita
Falsidade ou assinatura anormal
Não corresponde = Não genuína Os grafismos naturais são aqueles provenientes de um mesmo
(disfarce ou anormal)
punho escritor, sendo autênticos. Porém, há certas caracterís-
ticas que podem confundir o perito.

O organogram a a seguir especifica as subclassificações


dos grafismos naturais.

88 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA IDENTIFICAÇÃO GRÁF ICA 89


a diminuição. N os estados exaltivos, mostram maior calibra-
Normais gero. Tremores também acompanham a emotividade, sendo
Grafismos
naturais I: Acidentais acentuado, no início, e diminuindo progressivamente".
Anormais

l Patológicos
Calor e Frio
O calor pode causar moleza e fraqueza muscular. Já o frio
pode causar tremores que modificam, de forma sucinta,
São apontados como normais aqu 1 escritos lançados a escrita.
espontaneamente, isentos de perturbações de qualquer natu-
reza, sejam passageiras ou patológicas. Intoxicações
Por sua vez, os grafismos acidentais são aqueles que fo- O uso de entorpecentes, em geral, pode causar distúrbios
gem do normal, em decorrência de causas passageiras, como na escrita. O álcool, por exemplo, demonstrou causar al-
por exemplo, emoção, calor, frio, intoxicações, fraqueza e mo- terações no calibre, aumentando-o. Contudo, não alte-
léstias agudas e efêmeras. Abordaremos algumas dessas causas. rou a gênese gráfica.

Além disso, é comum que pessoas em estado de abstinên-


Emotividade
cia apresentem sinais de tremor proeminentes.
N os distúrbios desse gênero, as formas gráficas, em regra,
não se modificam. Em casos especiais, registram poli- Senilidade
morfismos ou inconsistências e, algum as vezes, aparecem
Sobre a senilidade, Del Picchia16 explica que: ''A idade
letras de formas dissonantes da escrita habituaP 6 .
avançada com as desagregações dos centros nervosos supe-
Del Picchia17 explica que "a calibragem muda sensivel- riores vai acompanhada de frequente distúrbio na escrita.
mente. Nos estados inibitórios, as letras em regra tendem Não se pode fixar idade exata para tais variações, pois não
acompanha a idade civil, e sim, a psicofisiológica ':
16
DEL PICCHIA FILHO, ].; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-
CHIA, A. M. G. Tratado de Documenroscopia: "da falsidade documen- 16
DEL PICCHIA FILHO, ].; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual.- São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 316.
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen-
17
Idem. tal". 3. ed. rev., arnpl. e atual.- São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 318.

90 MAN UAL PRÁ TI CO DA ANÁ LI S E GRAFOTÉ CN ICA


ID ENT IFI CAÇÃO GRÁ FI CA 91
Recentemente, a autora presenciou um caso que se en- Ademais, dependendo da doença, será administrado uma
caixa perfeitamente nessa explicação. Uma senhora de quantidade demasiada de medicamentos, bem como re-
92 anos e seu marido de 75 anos foram fornecer padrões. médios fortíssimos que possuem efeitos colaterais como:
A senhora Ivonete era muito mais ativa, enquanto o se- perda de peso; força; tremor e dor, o que, muito prova-
nhor Francisco já havia sofrido um Acidente Vascular Is- velmente, alterará os grafismos.
quêmico, que lhe acometeu o sistema motor fino e, por
isso, demonstrava mais dificuldade na escrita, conforme Assinatura antes do câncer

demonstrado a seguir:

t .
de
I - f
~
I .
(,~.
f
-
I' f. ~· '
I

.~4 '.i, u~LlliLUJ.L . .J,;JJ)ifU);


21-02-1929 li/11/1MI
'f Assinatura do Emoreoador --~
~~;~' ~·;~c Assinatura semanas antes do falecimento

1 2021 = 92 1 1 2021 = 7s 1

àV~11 :J; '<-"·' .c-'>U'

Setas mostra m a presença de


Patológicos

Sobre grafismos patológicos, Del Picchia19 explica que:


"Não seria possível esquematizar um quadro dos distúr-
:,-
filigranas nas re tiradas e retomadas

..
-
..
.
~~---··
.ift
.. .
bios mais frequentes. Mas, no caso de doenças, cria-se '

uma dificuldade para a autenticação de documentos não


contemporâneos, já que tal patologia pode ser frequente-
:~ "!" .,
.f ..
mente confundida com fraudes': "'

19
Idem.

92 MAN UA L PRÁT ICO DA ANÁ LI SE GRAFOT ÉCNICA I DENTI FI CAÇÃO GRÁ FICA 93
fu filigranas demonstram falta de precisão do punho, 6.1.3 GRAF ISMOS IM ITADOS
que pode ser decorrente de fraqueza e dor.
Em casos de grafismos :mitados, a determinação da autoria é
muito complexa, pois, na imitação, tenta-se copiar os gestos
6.1.2 GRAFISMOS DISFARÇADOS
gráficos de outrem e, muitas vezes, deixa-se transparecer pou-
Grafismos disfarçados são escritas autênticas em que o autor cas características do seu punho escritor.
não deseja transparecer suas características gráficas, contudo Os decalques dificilmente permitirão dizer quem os exe-
não imita escrita de outra. Assim, o disfarce pode ocorrer de cutou, pois não constituem escrita e sim desenhos. Ademais,
diversas formas e podem ser utilizados isoladamente ou cumu- não passam de meras co.Jerturas sem liberdade de movimento,
lativamente. sendo o escritor limitado a acompanhar o debuxo, ou ima-
Alguns dos critérios adotados em disfarces são: gem, visto por transparéncia.

• Escrita cursiva modificando as formas dos caracteres; Escrita à mão guiaca: duas pessoas podem, conjuntamen-
te, executar a mesma assinatura. Um sendo o guia e o outro, o
• Escrita cursiva com caligrafação dos caracteres;
guiado. Esse tipo de escita imitativa divide-se em:
• Escrita cursiva variando a inclinação;
• Escrita à mão forçada: somente cabível quando
• Aumento ou diminuição da calibragem;
houver disparidade de força entre o guia e o guia-
• Utilização da mão esquerda (esquerdismo), entre do. M anifestc.m-se distúrbios como borrões, arra-
outros membros; nhaduras e arrastamento. Por outro lado, nenhu-
• Deformação dos caracteres e dos traços, simulan- ma caracterís:ica gráfica do guiado passará para a
do canhestrismo gráfico; peça forjada;
• Variações de forma; aumento ou diminuição de • Escrita à mão apoiada: a colaboração do guia não
calibragem; erros ortográficos; mudanças de incli- interfere no grafismo. As características ficarão re-
nação; entre outros. gistradas com as perturbações próprias de seu es-
tado patológi:o;
O perito deve ter muita cautela para não confundir esses • Escrita à mão guiada propriamente dita: na execu-
critérios com os grafismos simulados ou imitados - vide tabela ção de alguns gestos, as duas vontades coincidem
das características mais comuns no capítulo 9. e os movimentos recebem ênfase maior do que os

94 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA


IDEN TIF ICAÇÃO GRÁFICA 95
da escrita normal do guiado. Em outros trechos,
porém, há desencontro das vontades, que decor-
rem quebras bruscas de movimento;
• Escrita à mão inerte: nula será a colaboração do
guiado. Ela refletirá as características do guia ,
com as deformações consequentes às dificuldades INDICIOS DE
de acomodação da mão inerte, transformando-a
AUTENTICIDADE
em acessório inadequado ou incorreto equipa-
mento escriturai; E FALSIDADE
• Escrita de espelho: também chamada de escrita
invertida ou au miroir, nada mais é que a escrita
de trás para frente. Ao invés da escrita comum, Neste capítulo verificaremos alguns indí-
que é da esquerda para a direita, essa ocorre da cios que servirão para ajudar na apuração de
direita para a esquerda20 • falsidade ou autenticidade da escrita. Serão
pontuadas apenas algumas características,
lembrando que, para a persuasão do perito,
é imprescindível o cotejo entre as assinaturas
paradigmas e questionadas. Ademais, é es-
sencial, lembrar: qual o objetivo do falsário?
Induzir alguém ao erro.
Assim, o falsário, na maioria das vezes,
tentará confeccionar um documento perfei-
to, sem borrões, falhas e etc. Limitando-se
aos erros essenciais que já estão presentes na
assinatura autêntica que utilizou como base.
Entendendo um pouco da mente do
20 DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC-
falsário, veremos os indícios que podem nos
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen-
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 326. ajudar a chegar à persuasão por autenticidade:

96 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA


97
• Emprego de instrumento gráfico em mau estado Verificou-se, na prática, que ninguém consegue executar
de funcionamento; duas assinaturas iguais entre si, havendo sempre alguma diver-
• Uso de tintas apagadas; gência formal, que denominamos variações normais da escrita.
• Borrões e Borraduras; Quando se depara a uma assinatura idêntica a algum do-
• Retoques ostensivos e necessários; cumento, provavelmente, deve se tratar de uma falsificação
• Falta de tinta; por decalque ou inserção digital.

• Repetição inútil da assinatura *exceto: em che-


ques, o falsificador, não raro, repete a firma no
verso, por mero engodo psicológico;
• Suportes inadequados, por exemplo: papel recor-
tado com alguma rebarba;
• Assinatura em local inadequado, por exemplo:
o falsário costuma lançar a assinatura no local
correto.

Assim sendo, agora veremos os indícios que podem nos


ajudar a chegar à persuasão pela falsidade:
• Retoques delicados e desnecessários;
• Emendas;
• Sobreposição ou superposição.

I Falsífícacão com a oresenca de retoaues

98 MANUAL PRÁT ICO DA ANÁL ISE GRAFOTÉCNICA INDÍCIOS DE AUTENT ICIDADE E FALSIDADE 99
AÇOES -
FRAUDULENTAS:
espécies de
autenticidade
e falsificação

Nos capítulos anteriores vislumbramos as


variações do gesto gráfico, bem como, algu-
mas formas de alteração e imitação.

Dessa forma, passaremos a relacionar


os métodos usuais com as espécies de ações
fraudulentas conceituadas pela doutrina.

8.1 AUTOFALSIFICAÇÃO/
DISFARCE

Entende-se por autofalsificação quando o


agente escritor tenta produzir gestos gráficos
dissonantes a seu próprio grafismo. É uma
espécie de autenticidade com a presença
de disfarce.

101
Como o autor busca promover a alteração do grafismo 8.2 FALSIFICAÇÃO POR IMITAÇÃO SERVIL
original, não há como impedir a denúncia dos elementos grá-
ficos originários do subconsciente, que são inerentes à exterio- Nessa falsificação, o falsário possui um padrão à vista e, assim,
rização do "eu" gráfico. · tenta copiá-lo de maneira idêntica. Contudo, em razão das
Na maioria das vezes, o autor tenta modificar a pressão imprecisões do punho, o falsário não consegue reproduzir sua
normal de seu punho, assim como, a inclinação axial e o traje- habilidade e dinâmica.

to normal de sua escrita.


Autên tica Imitação

c .c~ 8.3 FALSIFICAÇÃO POR IMITAÇÃO


EXER C ITADA
ssinatura do Aposetítad
Nessa falsificação, o falsário possui um padrão e procura re-
produzi-lo da maneira mais fiel possível, inclusive, tentando
A letra 'F', do padrão, é simples. O falsário conseguiria realizar a mesma dinâmica, nem que, para isso, tenha que trei-
reproduzir. Contudo, na peça questionada, figura a letra 'F' nar incessantemente.
que lembra uma letra 'E'.
Porém, apesar de incansável treinamento, esse tipo de fal-
Ademais, apesar da diferença no elemento que mais cha- sificação será passível de identificação, já que há alterações no
m a a atenção (letra maiúscula), há convergência em um ele- emprego da dinâmica, da naturalidade e da espontaneidade,
mento sutil: o fechamento da letra 'O'. característica impossíveis de serem imitadas.
Será que um falsário, que não conseguiu reproduzir a le- Ademais, mesmo quando as amostras são semelhantes,
tra 'F', faria o mesmo fechamento da letra 'O'? nenhum falsário poderia constituir uma falsificação perfeita,

102 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA AÇÕES FRAUDULENTAS: ESPÉCIES DE AUTENTICIDADE E FALSIFICAÇÃO 103
haja vista o número de características concomitantemente in- Por exemplo, o falsário lembraria do embelezamento da
seridas no gesto gráfico. letra 'E', em 'Erondina', mas não se atentaria às demais ca-
racterísticas presentes ao longo do lançamento, a não ser que
tivesse tempo hábil para treinar sua escrita.

8.5 FALSIFICAÇÃO SEM IMITAÇÃO

Em alguns casos, o falsificador não possui o padrão de assi-


I/$
naturas da vítima, então, muitas vezes, apenas transcreve seu
nome ou perfaz alguma insígnia.

Nesse tipo de falsificação, é possível verificar a autoria


8.4 FALSIFICAÇÃO DE MEMÓRIA dentre os suspeitos, já que a liberdade de produção desse tipo
de falsificação é tão grande que se deixará denunciar por suas
Para concretizar essa falsificação, o falsário deverá possuir con- características gráficas.
tato anterior com o padrão gráfico, além de momento oportu-
no para assimilar as principais características do gesto gráfico. PP2

A produção contará apenas com a memória. Assim, guar-


dará somente os aspectos gerais do grafismo, salientando a
imagem e pontos da trajetória, portanto, não se atentando às
demais características genéticas do grafismo.

104 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA AÇÕES FRAUDULENTAS: ESPÉCIES DE AUTENTICIDADE E FALSIFICAÇÃO 105
8.6 FALSIFICAÇÕES POR DECALQUE

O decalque pode ser elaborado de forma direta ou indireta.

8.6.1 DIRETA

O decalque direto é feito por transparência. Coloca-se a assi-


natura autêntica por baixo e o papel por cima, ambos sob uma
superfície luminosa, assim, o papel ficará relativamente trans-
parente, permitindo que o falsificador execute a cobertura da
assinatura a ser falsificada.

8.6.2 IND IRETA

De forma indireta, pode-se executar a assinatura levemente


sob papel carbono ou à lápis e, depois, cobri-la à caneta.

A imagem a seguir apresenta decalque feito, primeira-


mente, à lápis e, posteriormente, à caneta.
Como mencionado, esse tipo de falsificação necessita da
utilização de algum padrão original em sua execução. Sendo
que, o padrão original serve de guia para o falsificador, que,
assim, o copia de maneira idêntica.
Nesse tipo de falsificação, é comum ocorrer paradas não
habituais, ausência de dinamismo, espontaneidade, naturali-
dade, bem como, comprometimento do ritmo e da velocidade
na escrita.

106 M A NUAL PR Á TICO DA A NÁ LI SE GRAFOTÉCNIC A


AÇÕE S FRA U ) U LENTAS : ESPÉCI ES DE A UTENTIC I DADE E FALSIFIC A ÇÃ O 107
EXAMES E
PROCEDIMENTO

Para proceder um bom exame, é necessário,


primeiramente, saber o objetivo da análise
para, então, buscar paradigmas adequados
ao cotejo.

Se observados e respeitados tais crité-


rios, concomitantemente - elementos gené-
ticos; elementos formais (morfológicos); e
elementos cinéticos (dinâmicos) -, o exame
será produzido com transparência e fideli-
dade, alcançando um resultado inequívoco
e conclusivo, o que resultará em um laudo
pericial grafotécnico acurado.
O método de exame mais eficiente e fi-
dedigno que temos atualmente é o método
grafocinético, supra explanado neste livro. As-
sim, faz-se o cotejo entre as assinaturas conhe-
cendo suas características e comparando-as
quanto às convergências e divergências vis-
lumbradas.

109
9.1 OBJETIVO DO EXAME nas características morfológicas, mas também, em outros ele-
mentos:
Qual a finalidade do exame: confirmar a autoria? Ou desco-
a) Cinetismo: deve ser obrigatoriamente distinto. O
brir o autor? O perito deve estar atento aos quesitos, pois são
examinador deverá notar, nas peças paradigmas, as
eles que guiam a perícia, demonstrando o que necessita ser
formações mais típicas, pois, dificilmente se repe-
examinado e apurado.
tirão nas peças questionadas. Idiografocinetismos,
oferecerão um conjunto antagônico significativo;
9.1 .1 AUTEN TI C! DADE/FALSI DADE
h) Qualidade do traçado: em regra, as características
dessa natureza manifestar-se-ão antagônicas;
A apuração da autenticidade gira em torno de uma peça ques-
tionada, ou peça de exame. Aquela em que reside a dúvida e
c) Qualidades gerais do grafismo: na maioria dos
casos, será franco o predomínio das divergências.
cujo objetivo é apurar se a assinatura, ou o graflsmo, é ou não
Algumas características dessa natureza podem ser
é proveniente do punho escritor suspeito.
encontradas dentro do quadro de semelhanças,
O exame vislumbra apenas dois resultados: AUTENTI- pois se repetem nos grafismos de um falsário; e
CIDADE ou FALSIDADE. Entretanto, apesar da aparência
d) Velocidade e pressão: é impossível a realização
simplista, o exame é complexo.
de todos os movimentos com igual velocidade e
A autenticidade pode ser confundida com uma falsifi- pressão.
cação por imitação ou decalque, no entanto, a assinatura di-
ferente do padrão pode ter aparência de falsificada, mas, na Algumas características podem até se assemelhar, porém,
realidade, tratar-se de disfarce (autofalsificação). é impossível a concordância de todos os aspectos, sem que seja
As aparências podem enganar um leigo, porém o perito feita falsificação por inserção digital.
precisa estar preparado para diferenciar tais singularidades.
9.1.2 AUTORIA
Para um exame apurado, que visa detectar a falsidade,
Del Picchia2 1 ensina que o perito deverá se apoiar, não apenas
A autoria busca acusar o autor do grafismo ou assinatura.
A apuração da autoria de um grafismo, ou assinatura, é uma
21
DEL PICCHIA FILHO, J.; DEL PICCHIA, C. M. R.; DEL PIC- situação muito delicada.
CHIA, A. M. G. Tratado de Documentoscopia: "da falsidade documen-
tal". 3. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Pillares, 2016. p. 224

110 M A NU A L PR Á T ICO DA ANÁLISE GRAFOTÉC N ICA


EXA MES E PR O CED IM ENT O 111
Quando há falsificação por imitação, na maioria das ve- KOPPENHAVER (2007) apud SILVA e FEUERHAR-
zes, o punho escritor omite suas características, tentando dese- MEV2, trazem um quadro comparativo elaborado para auxi-
nhar a assinatura da vítima e, assim, deixando vestígios insufi- liar nessa diferenciação, vejamos:
cientes para proceder o exame.
Na autoria, vislumbra-se um grafismo/assinatura e dois DISFARCE SIMULAÇÃO
1) Velocidade moderada 1) Escrita lenta
ou mais suspeitos. Assim, havendo possibilidade, o perito deve
2) Desvio em relação ao modelo 2) Tentativa de imitar o modelo
identificar características suficientes do autor presentes no do-
3) Letras maiúsculas próximas ao
cumento questionado. 3) Letras maiúsculas modificadas
modelo
O objetivo da comparação não é só em sua forma, mas 4) Características sutis convergen- 4) Características sutis divergentes
tes com os padrões dos padrões
também, nos movimentos, no dinamismo, nas forças utiliza-
5) Padrão de variação correto 5) Padrão de variação incorreto
dos no gesto de escrever, nos hábitos da escrita e na avaliação
6) Ausência de variação natural
do significado das respectivas semelhanças, variações ou di- 6) Inconsistente
em características de escrü a
ferenças. Com isso, será provável realizar a identificação da 7) Adere-se mais proximamente 7) Adere-se mais proximamente as
autoria gráfica. do padrão regras do sistema de escrita
8) Método de construção incor-
8) Método de construção correto
reto
9.2 DIFERENÇAS ENTRE DISFARCE E 9) Ritmo moderado 9) Ritmo pobre
SIMULAÇÃO 10) Ausência de levantamento I O) Presença de levantamento
do instrumento escritor ou gotas do instrumento escritor ou gotas
Os disfarces e simulações podem até confundir os leigos, po- de tinta anormais em relação aos de tinta anormais em relação aos
padrões padrões
rém, ao perito é imprescindível fazer tal diferenciação.
11) Sem retoques 11) Com retoques
O disfarce ocorre quando o autor deseja enganar tercei- 12) Atenção consciente ao ato da
12) Escrita mais natural
ros e disfarçar as suas características, tentando se passar por escrita

outra pessoa. A simulação é o ato contrário, ocorre quando 13) Mudança na inclinação 13) Inclinação similar
t>
um terceiro tenta se passar por vítima do ato fraudulento.
Do disfarce, provém a autofalsificação e, da simulação,
provém a falsificação de memória, por imitação servil ou 22 SILVA, E.S.C.; FEUERHARMEL, S. DOCUMENTOSCOPIA: As-
por decalque. pectos Científicos, Técnicos e furídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014.
p. 252-253.

112 MANUA L PRÁT I CO DA ANÁL I SE GRAFOT ÉCN ICA EXAMES E PROCED I MI. NTO 113
DISFARCE SIMULAÇÃO 4) Falta de apreciação dos movimentos da escrita
14) Tamanho diferente 14) Mesmo tamanho que resultaram na forma;
15) Mesmas proporções 15) Diferentes proporções 5) Avaliação inadequada das divergências;
16) Algumas formas de letras não 6) Superavaliação de características de classe ou
16) Formas de letras similares
usuais
sistema;
17) Disposição similar 17) Disposição distinta
18) Utilização de espaços dife- 7) Ignorar ou subestimar divergências;
18) Utilização de espaços similares
rentes 8) Omissão de avaliação dos padrões para con-
19) Alinhamento em relação a 19) Alinhamento em relação a
firmação de mesma autoria;
linha de base similar linha de base distinto
9) Influência de informações externas sobre o caso; e
10) Incompetência do perito.
9.3 EQUÍVOCOS EM EXAMES
GRAFOTÉCNICOS Portanto, o perito deve levar em consideração todas as
particularidades da escrita, obedecendo os princípios e man-
A incumbência do perito é trazer a verdade ao incidente e des- damentos da grafotecnia e sempre estar atento para não come-
cobrir o que está oculto para que, então, seja possível solucio- ter erros, tais como os supracitados.
nar o caso que lhe foi confiado. Assim, não sendo permitido
ao mesmo incidir em erro crasso.

Huber & H EADRICK (1999) apud SILVA et


3
FEUERHARMEU , elencam as dez causas que podem oca-
sionar erros nos exames de manuscritos, vejamos:
1) Padrões inadequados ou não autênticos;
2) Limitações ou insuficiência do material questionado;
3) Falta de compreensão dos elementos determina-
dores da escrita;

23
SILVA, E.S.C.; FEUERHARMEL, S. DOCUMENTOSCOPIA: As-
pectos Científicos, Técnicos e Jurídicos. Campinas/SP, Millennium, 2014.
p. 252-253.

114 MANUAL PRÁTICO DA ANÁL ISE GRAFOTÉCNICA EXAMES E PROCEDIMENTO 115


CONCLUSOES
,
-
GRAFOSCOPICAS

Feito o exame, o perito deverá elaborar uma


conclusão, que será uma afirmação feita de
acordo com a sua convicção. Cumpre escla-
recer que não é um jogo de sete erros, não
se trata de quanto mais convergências, au-
tenticidade, ou mais divergências, falsidade.
A perícia deve avaliar cada característica para
se fo rmar uma persuasão.

A conclusão é uma das partes mais im-


portantes do laudo, pois é onde o perito ex-
plana sua persuasão, mas, de nada vale sem
uma boa fundamentação coerente. Portanto,
a conclusão deve ser objetiva, curta, simples
e compreensível para leigos no assunto.

10.1 AUTENTICIDADE

A autenticidade é a persuasão de que ni n~


guém mais seria o legítimo autor do lança~

117
menta senão o detentor da assinatura autêntica. Um cuidado O sucesso da falsificação depende de dois fatores: a com-
que se deve ter com esse tipo de conclusão é sobre a autenti- plexidade da assinatura e a habilidade do falsário. O sucesso de
cidade documental, que pode ser interpretada extensivamente uma reprodução vai além da capacidade do perito.
caso o perito conclua pela autenticidade de uma assinatura.
10.3 CRITÉRIOS IMPORTANTES
Para que essa persuasão seja segura, a assinatura deve ter
características suficientes para amparar a persuasão do perito.
A análise grafoscópica não deve conduzir apenas a d uas con-
clusões: identificação ou exclusão de autorias gráficas. Se assim
10.2 FALSIDADE
fosse, haveria a necessidade de uma terceira opção: a não iden-
tificação do punho, que não é a mesma coisa que exclusão e
A falsidade é a persuasão de que o legítimo autor não assinou
que também não é indefinição.
a peça em questão, nem que estivesse sob o efeito de drogas,
tentando disfarçar seus lançamentos ou fazendo uma assina- Superada a concepção de uma conclusão limitada a falsi-
tura anormal. dade, autenticidade e inconclusividade, inclui-se a conclusão
por não identificação. Assim, o perito não estaria mais diante
O perito, primeiramente, exclui a hipótese de autoria
da dicotomia Autenticidade x Falsidade, mas sim, diante de
para concluir que o lançamento é proveniente de um terceiro
duas dicotomias: Identificação ou Não identificação; e Elimi-
punho, ainda que em face de tantas variantes.
nação ou Não Eliminação.
Cumpre esclarecer que é com plexo para o perito assinar
uma persuasão categórica em face de elementos que podem
sofrer variações. Não existe DNA do traçado e nem a impres- AUTENTICIDADE IDENTIFICAÇÃO ELIMINAÇÃO
X X X
são digital de um lançamento. O exame é puramente percep- FALSIDADE NÃO IDENTIFICAÇÃO NÃO ELIMINAÇÃO
tual e o perito formula sua persuasão através da observação e
avaliação das características vislumbradas, conforme já descri-
to neste livro. A identificação é demonstrável, portanto, confirmado o
Com base no predomínio de divergências e convergên- punho escritor, não há como eliminá-lo (Não Eliminação) . Já,
cias, o perito pode concluir pela correspondência (genuína) a Não Identificação, não quer dizer que a autoria foi elimina-
ou não correspondência (não genuína) dos lançamentos. Mas, da. Se não identificar o autor, não necessariamente se elimina
não há como exprimir uma conclusão categórica quanto à au- a possibilidade de autoria de um punho suspeito.
tenticidade ou a falsidade.

118 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS 119


10.3.1 CRITÉRIOS PARA I DENTI FI CAÇ ÃO DE quem tem maior habilidade na escrita, pode simular ter habi-
AUTORIA lidade inferior, diminuindo a velocidade, por exemplo. Con-
tudo, uma pessoa com punho menos habilidoso não tem ca-
Para a identificação gráfica, o perito precisa de características pacidade de perfazer destreza que não a possui.
suficientemente seguras para a sua conclusão, por exemplo:
Mas, como saber se realmente o periciando não possui
a) Grande quantidade de convergências; habilidade suficiente?
h) Convergências importantes, como: a) Adquirindo padrões anteriores e posteriores aos
b.l) Constância; lançamentos questionados- para verificar se não
b.2) Raridade; houve evolução gráfica- e respeitando os critérios
b.3) lmperceptibilidade; de admissibilidade dos padrões;

c) Poucas divergências justificáveis; e a) Verificando se a qualificação dos lançamentos é


compatível com o nível de escolaridade do punho
d) Nenhuma divergência inexplicável.
periciado.

10.3.2 CRITÉRIOS PARA A NÃO


10.4 FALSIDADE OU DISFARCE
IDENTIF ICAÇ ÃO DE AUTORIA

Há maior possibilidade de equívoco quando o perito está


Um dos critérios para se concluir pela não identificação do
diante dessas duas possibilidades. Assim, o expert não deve le-
punho é a presença de divergências inexplicáveis e/ou grande
var em consideração apenas a morfologia dos lançamentos,
quantidade de divergências secundárias. O fato de o lança-
e sim observar suas características sutis e de baixa percepção.
mento não ser genuíno e não haver elementos para a identifi-
cação da autoria, já torna possível concluir pela não identifica- Um falsário reproduz o que vê e, o farsante, muda o que
ção do punho autor. consegue perceber. Portanto, características imperceptíveis e ra-
ras são as mais confiáveis para se formular a conclusão pericial.

10.3 .3 CRITÉRIOS PARA A EXCLUSÃO DE Samuel Feuerharmel fez o estudo das construções exóti-
AUTORIA cas, ou melhor dizendo, as características que são pouco utili-
zadas pela sociedade para se construir grafismos. Esse estudo
Uma frase famosa que ilustra bem esse critério é: " Quem pode pode auxiliar muito o perito no momento dessa diferenciação.
mais pode menos, quem pode menos não pode mais". Ou seja,

120 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS 121


Pois, quanto mais raro e imperceptível o hábito gráfico, menor A certeza total não prevê a possibilidade de dúvidas. Caso
a possibilidade de o falsário copiar e de o farsante se atentar a o perito não esteja totalmente convencido, teria de se reduzir
não reproduzi-lo. seu nível de certeza.
Observa-se, primeiramente, o sentido e a direção da escri- Portanto, a escala reproduz o quanto o perito está con-
ta. O mais comum, no ocidente, é o lançamento com ataque vencido e não necessariamente a verdade real. Ademais, a
em movimento descendente e para a direita, pois é o movimen- utilização de porcentagem pode ser alvo de impugnações por
to da nossa leitura e da nossa escrita. Podendo haver nuances, advogados ou assistentes técnicos, considerando que a quan-
como fora observado nos estudos do citado professor. tificação de uma análise subjetiva é passível de argumentação.

10.5 ESCALA DE POSSIBILI DADES 10.6 ABORDAGEM BAYE SIANA

A escala de possibilidades é um modo visual de demonstrar a O teorema de Bayes permite trabalhar com possibilidades
conclusão pericial, contudo, pouco eficiente. É medida pelo epistemológicas. Feuerharmel prevê a utilização de um quadro
grau de persuasão do perito, que nem sempre pode ser quan- grafoscópico, que não seria o mesmo que um quadro de carac-
tificado por meio de porcentagem. terísticas, mas sim de possibilidades, que consiste em:
A escala reproduz o quanto o perito está convencido a 1°. Assinatura;
respeito da autenticidade de um lançamento, para sim ou
2°. Documento;
para não.
}
0
. Documentos relacionados;
4°. Circunstâncias;
CERTEZA TOTAL
5°. Histórico das partes; e
SIM CERTEZA MORAL
6°. Alegações das partes e testemunhas.
POSSIBILIDADE RAZOÁVEL

INCERTEZA TOTAL
Diferentemente do que alguns peritos defendem, a aná-
POSSIBILIDADE RAZOÁVEL (2- 49%)
lise global do processo pode auxiliar a conclusão do exame.
NÃO CERTEZA MORAL (<1%)1 Uma análise profunda dos autos pode trazer muitas respostas
CERTEZA MORAL(= 0%) e realmente auxiliar o juízo, mesmo que algumas delas não
possam ser consideradas categóricas.

122 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA


CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS 123
Cumpre esclarecer que o "histórico dos envolvidos" não ii. Alta (forte convicção quanto à autoria). Esse grau
se prestará para culpar uma das partes de acordo com os seus de convicção geralmente é atingido quando os es-
antecedentes, apenas as informações que possam ser úteis para critos questionados são totalmente compatíveis
a perícia deverão ser utilizadas, sem jamais haver julgamento com os respectivos padrões, mas não são muito
por parte do expert. extensos e complexos, nem apresentam elementos
As alegações servirão para que o perito possa ter uma visão peculiares e de difícil imitação.
completa, ainda que "em cima do muro", para verificar o que iii. Moderada (convicção apenas mediana quanto
as informações documentoscópicas possam trazer para o exame. à autoria). Esse grau de convicção geralmente é
atingido quando os escritos questionados são ape-
No último subcapítulo deste livro será mostrado um
nas parcialmente compatíveis com os respectivos
caso em que a autora, na qualidade de perita, utilizou esses
padrões e/ou demasiadamente curtos e simples.
elementos.
iv. Nula (quando não é possível atribuir a autoria
ao fornecedor dos padrões). Neste caso, o perito
10.7 ESCALA DE POSSIBILIDADES VERBAIS
realizou a contento seus exames, confrontando as
A convicção para exames grafoscópicos pode empregar esca- escritas questionada e padrão, e não encontrou
las verbais ao invés de conclusões categóricas. Dessa forma, nenhum indício de unicidade de punho (mesma
Feuerharmel prevê que a convicção do perito, quanto à auto- autoria) entre as escritas comparadas.
ria da assinatura questionada, pode ser:

i. Máxima (convicção acima de qualquer dúvi-


da razoável quanto à autoria). Esse grau de con-
vicção geralmente é atingido quando os escritos
questionados são totalmente compatíveis com os
respectivos padrões e ainda são extensos, com-
plexos e possuem alguns elementos cuja ocorrên-
cia seja rara na população em geral (peculiarida-
des gráficas) e que imponham dificuldades para
sua imitação.

124 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA CONC LUSÕES GRAFOSCÓPICAS 125


10.7.1 EX EMP LO PR ÁT IC O I) As assinaturas paradigmas apresentam compor-
tamento predominantemente sobre a pauta, com
- Laudo do Processo 0727301-42.2019.8.07.0001 reali- letras em calibre grande e pouco espaçadas.
zado pela Perita Jacqueline Tirotti:
PQ1

~ J?: . . . ..)i 'l. : _


Análise das assinaturas

{ 1 'J . . . . . ..

2) As assinaturas questionadas apresentam espaça-


mento entre os primeiros e segundos alógrafos
PP2 para os demais, conforme evidenciado por meio
do traçado.

··-
PP5
....................... ;· '';(
" -
.................. _../!'!'!]'

................. ,t' .r.:q'

........;;.~;0/ -
PP4

---·....f/Jn , ~

126 MAN UA L PRÁ TI CO D A A NÁ LISE GRAFOTÉCNIC A CON CLUSÕES GR A FOSCÓ PIC AS 127
3) As assinaturas paradigmas apresen tam recuo ini- 5) As assinaturas paradigmas apresentam gênese grá-
cial, conforme demonstrado por meio do traçado. fica com a presença da letra BRP e uma laçada.
A letra P, que apresenta a gênese gráfica com pou-
PQ1 ca haste, o que a deixa mais próxima da letra D.

~--·:E:: ...1:2: ~ PP5

4) As peças questionadas são feitas rente ao início da


pauta, conforme demonstrado por meio das setas.

PP5

I P01

:_!i .3?:: ]) -· ~::


6) As assinaturas questionadas DIVERGEM do
padrão MORFOLOGICAMENTE (ou seja,
quanto à forma, morfologia).
7) A diferença de morfologia autoriza o perito a
concluir pela NÁO CORRESPONDÊNCIA de
punho.
8) Porém, não é possível excluir de maneira categó-
rica autoria.

128 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS 129


-ANÁLISE DOS GRAFISMOS 2) Os grafismos presentes no documento não pos-
PP5
suem elementos identificadores do punho escri-
46 ,_1!.0~ M ~ "'-__ j_!.fl(q_ _ tor do periciando.

__ ;/} ~()._~--- ~-p__ 4 _ ,/-019___


- CIRCUNSTÂNCIAS DOCUMENTAIS
___.1/t _~Jido_ __ fl:? _cA{ __ _e:/t_~i?I.L
1) Os documentos questionados são contratos ban-
cários.
1) Foram colhidos padrões de grafismos específicos 2) Contratos bancários, em geral, são assinados na
do periciando, visando verificar se algum grafis- frente do bancário, que deve conferir a assinatu-
mo foi feito pelo periciando. ra, para então, confirmar a veracidade.
3) Alguns contratos bancários são convencionados
, e/ou execu~ por meio indireto, o banco envia o contrato por
~ (m;;)L ).J ()1J da do~9 e-mail, o contratante imprime o contrato, assina,
VIA
e envia para o banco por meio de carta.
4) No contrato em questão, a localidade expressa
está Ag Brasília. Ou seja, o contrato foi feito na
agência.
5) N ão há elementos identificadores do punho es-
de 20J.9 critor paradigma nos escritos presentes nos con-
tratos. Quanto ao preenchimento, pode ser feito
por um bancário, mas, a assinatura, sempre pelo
contratante.
6) A assinatura diverge do padrão do punho autêntico.
7) Há diferença morfológica nas assinaturas ques-
tionadas (quanto à forma). Quando há diferença
dc20~ morfológica em punhos habilidosos, mesmo que
não se encontre elementos identificadores, não

130 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS 131


há como excluir a autoria, já que o lançador tem PQ3

a possibilidade de alterar seus grafismos.


8) Contudo, a diferença morfológica já permi-
te de o perito concluir que a assinatura não pode
ser considerada autêntica.
9) Não concluir pela autenticidade não é neces-
sariamente concluir pela falsidade.
10) Também, não é necessariamente concluir pelo
disfarce.
11) A G rafoscopia encontra limitações, quando não
há como concluir categoricamente, o perito deve
ir até o limite seguro. Ao passar do limite, o pe-
rito será especulativo, já que, sem elementos, não 14) As assinaturas questionadas apresentam finaliza-
há como provar as razões da sua persuasão. ção com alógrafo semelhante a letra Y, conforme
12) No caso em tela, caso fosse um disfarce, já que o demonstrado por meio dos traçados.
contrato foi assinado em banco, o bancário de-
veria solicitar que o contratante assinasse outro
contrato, preenchesse os dados ou assinasse o
nome inteiro.
13) Assim, esse fato afasta a possibilidade de disfarce,
já que o bancário dificilmente aceitaria uma assi-
natura tão discrepante do documento apresenta-
do para a identificação. 15) A característica não aparece nos padrões, porém,
na cópia em baixa resolução - que se encontra
anexa aos contratos questionados - em razão da
baixa pressão do traçado a laçada não aparece.
Assim, a forma se assemelha a letra Y, conforme
demonstrado por meio dos traçados.

132 MANUAL PRÁTICO DA ANÁLISE GRAFOTÉCNICA CONCLUSÕES GRAFOSCÓPICAS 133


extensos e complexos, nem apresentam elementos
peculiares e de difícil imitação.
iii. Moderada (convicção apenas mediana quanto
à autoria). Esse grau de convicção geralmente é
atingido quando os escritos questionados são ape-
nas parcialmente compatíveis com os respectivos
16) A gênese gráfica original e autêntica é com uma la-
padrões e/ou demasiadamente curtos e simples.
çada, conforme demonstrado por meio do traçado.
i v. Nula (quando não é possível atribuir a autoria
17) Nesse sentido, as características presentes nas as-
ao fornecedor dos padrões). Neste caso, o perito
sinaturas questionadas fortalecem a hipótese de
realizou a contento seus exames, confrontando
falsificação.
as escritas questionada e padrão, e não encon-
trou nenhum indício de unicidade de punho
-CONCLUSÃO DOS EXAMES
{mesma autoria) entre as escritas comparadas.
A convicção para exames grafoscópicos vem empregando es-
calas verbais. D essa forma, a convicção do perito, quanto à Quando atinge o quarto nível de convicção, o perito
autoria dos escritos questionados, pode ser: realizou seus exames a contento, sem limitações graves, e as
i. Máxima (convicção acima de qualquer dúvida ra- características encontradas não são compatíveis, havendo pre-
zoável quanto à autoria). Esse grau de convicção dominância de divergências, estas em elementos importantes
geralmente é atingido quando os escritos questio- para a convicção pericial.
nados são totalmente compatíveis com os respecti- As assinaturas questionadas no documento PQ1 a PQ6;
vos padrões e ainda são extensos, complexos e pos- NÃO CORRESPONDEM ao padrão de BRUNO, conforme
suem alguns elementos cuja ocorrência seja rara na demonstrado no exame.
população em geral (peculiaridades gráficas) e que As assinaturas impugnadas no documento questionado
imponham dificuldades para sua imitação. não correspondem ao padrão do periciando, não havendo
como atribuir a identidade. Nesse sentido, não há como con-
ii. Alta (forte convicção quanto à autoria). Esse grau
siderar as assinaturas questionadas como autênticas, já que
de convicção geralmente é atingido quando os es-
apresentam divergências.
critos questionados são totalmente compatíveis
com os respectivos padrões, mas não são muito Em razão de equívocos na gênese gráfica, a hipótese mais
fortalecida é a de falsidade.

134 MAN U A L PRÁT I CO DA ANÁ LI SE GRAFOTÉCN ICA CONCLUSÕES GRAFOSCÓP I CAS 135
BIBLIOGRAFIA

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Feuerharmel, DOCUMENTOSCOPIA: Aspectos Científicos,
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137
, ,
INDICE ALFABETICO

A convergência 102
convergências 9, 83, 84, 109, 117,
Adequabilidade 44, 77, 80
118, 120
adequado 10,87, 103,112, 119,
120, 132
D
alinhamento 44, 54, 114
dinâmica 28, 46, 103
Alógrafo 36, 37, 56, 58, 60, 61, 62,
64, 127, 133 Dinamismo 44, 46, 47, 106, 112

ANÁLISE 21, 32, 39, 58, 62, 76, 81, Disfarce 18, 19, 82, 86, 88, 94, 101,
82, 84, 89, 109, 119, 123, 126, 110, 112, 113, 114, 121, 132
130 divergência 34, 84, 99, 120
andamento gráfico 32, 44, 53, 65 divergências 9, 10, 78, 79, 83, 84,
Ataques 38, 39, 4 1, 42, 51, 73, 122 85, 88, 109, 111, 115, 117, 118,
120, 135
AUTENTICIDADE 7, 12, 13, 14,
53, 76, 77, 79, 80, 84,87, 88, 97,
101, 110, 117, 118, 119, 122, E
132
Equívocos 114, 135
AVALIAÇÃO 76, 85, 112, 115, 118
Espaçamentos Gráficos · 44, 56
Espontaneidade 44, 53, 77, 82, 103,
c 106
Calibre 11, 44, 61, 62, 91, 127 esquírolas 26, 27, 29, 30, 32
CONFRONTO 11, 44, 76, 77, 82, Estrias 25, 27, 28, 32, 51
83
evocação 17
Contemporaneidade 77, 78

139
E~ES 13,25,87, 109,114,124, objeto 4, 5, 7, 21, 69, 75, 76
125, 134, 135
execução 17, 18,39,67,68,95, 106 p
parada 19, 46, 48, 106
F
pausada 36
falsificação 12, 18, 19, 85, 99, 101, Pressão 10, 16, 17,22,24,31,32,
103, 104, 105, 106, 110, 111, 44,47,48,49,63,64, 102,111,
112,119, 134 133
Proporcionalidade · 11, 44, 60, 61
G
Gramas 11, 34, 36, 71, 73 R
ranhuras 25
H
Remates 38, 39, 42, 73
habilidade 16, 44, 49, 50, 103, 119,
Ritmo 10,44,45,46,64, 106,113
121
haste 35, 49, 58, 60, 61, 129
s
I Simulação 112, 113, 114
sulcagem 24, 25
ideação 17, 18
Sulco 24,30
IDENTIFICAÇÃO 99
imitação 84, 95, 101, 103, 105, 110,
T
112, 124, 125, 134, 135
Inclinação axial 44, 58, 102 Tendência de punho 44, 65
tipos de grafismos 8
M Trajetória 21, 32, 44, 48, 50, 51, 66,
69, 104
momento gráfico 34, 38, 40, 49, 51
li

o v
velocidade 10, 16, 30, 32, 44, 47, 48,
objetivo 13, 14, 44, 45, 47, 50, 75 ,
49, 50, 68, 106, 111, 113, 121
97, 109, 110, 112

140

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