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Enumeração
Por enumeração entendemos aqui simplesmente manter-se a par dos objetos de uma
coleção ou conjunto por um cotejo um-a-um dos objetos com outros objetos usados
como marcadores. Se um pastor, ao fim do dia, desejava saber se seu rebanho estava
completo ou não, poderia fazer uma checagem cotejando cada animal com um objeto
de uma coleção conhecida e ordenada que fosse prontamente acessível. Na maior
parte das civilizações estudadas, esta coleção conhecida e ordenada consistia em uma
sequência de partes do corpo humano. Nenhuma linguagem era necessária para levar
a efeito esse cotejo um-a-um. Por exemplo, os bugilai da Nova Guine usavam a
seguinte sequência de partes, que eram ticadas uma a uma por um simples toque do
dedo indicador da mão direita:
Dedo mínimo da mão esquerda
Dedo anular da mão esquerda
Dedo médio da mão esquerda
Dedo indicador da mão esquerda
Dedo polegar da mão esquerda
Pulso esquerdo
Cotovelo esquerdo
Ombro esquerdo
Lado esquerdo do peito
Lado direito do peito
Numeração
Com a criação de uma linguagem incluindo palavras para as várias partes do corpo, era
natural que essas palavras, de preferência as reais partes do corpo humano, fossem
usadas no processo de enumeração e esta mudança marca a transição para a
“numeração”. No dialeto bugilai, palavras que chamaríamos “palavras-número” para
os números iniciais tinham como significado inicial as partes do corpo já mencionadas.
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I Tarongesa Dedo mínimo da mão esquerda
2 Meta kina Dedo anular da mão esquerda
3 Guigimeta Dedo médio da mão esquerda
4 Topea Dedo indicador da mão esquerda
5 Manda Dedo polegar da mão esquerda
6 Guben Pulso esquerdo
7 Trankgimbe Cotovelo esquerdo
8 Podei Ombro esquerdo
9 Ngama Lado esquerdo do peito
10 Dala Lado direito do peito
Assim, o uso gradual da linguagem falada marcou um grande passo a frente. Voltando
aos bugilai, notamos que, quando há palavras para as diversas partes do corpo, já não
é necessário percorrer a demorada sequência de ações físicas. Basta dizer as palavras
correspondentes em ordem. Se o último objeto de um conjunto a ser cotejado era,
digamos, podei ("ombro esquerdo"), então toda vez que se tivesse de verificar esse
conjunto bastaria ficar ouvindo e notar se o último objeto checado correspondia ou
não a podei. Isto não significa, contudo, que podei efetivamente se tivesse
transformado num nome para o número cardinal 8. Este tipo de procedimento de
cotejo afigura-se mais qualitativo do que quantitativo. De fato, nessa forma primitiva,
a numeração parece residir inteiramente nas coisas enumeradas e não no espírito
humano. O que se requer é uma sequência ordenada de sinais que possam ser
reproduzidos à vontade. Com a invenção da linguagem, palavras tomam lugar de
objetos na sequência ordenada. O uso de palavras-número, todavia, não implica por si
só o conceito de número cardinal, embora sem dúvida tenha levado a ele.
Experimentos etnográficos com povos primitivos têm mostrado que o domínio de
uma sequência ordenada de palavras-número não leva necessariamente ao conceito
de número cardinal.
Números
Não temos dados suficientes para fixar o período da história primitiva em que foram
descobertos os números cardinais. Os mais antigos documentos escritos de que
dispomos mostram a presença do conceito igualmente na China, Índia, Mesopotâmia
e Egito. Todos esses documentos contém a questão “Quantos ... ?”. Esta questão
pode ser respondida de forma mais adequada em termos de números cardinais.
Portanto, quando esses primitivos documentos foram escritos – e provavelmente
muito antes dessa época – o conceito de numero cardinal já se tinha formado.
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“conjunto completo de cinco objetos”. Só sabiam que num certo ponto da sequência
natural o som manda tinha de ser produzido. Mas os habitantes das ilhas Nicobar,
mais sofisticados, que usavam os dedos das mãos e dos pés como sequência natural
de contagem, quando diziam hean umdjome (que significa "um homem") para
expressar vinte, punham em relevo o conceito de conjunto. 0 uso deste conceito
torna-se mais claro ainda quando examinamos a expressão usada pela mesma tribo
para uma centena – tanein umdjome – onde tanein é a palavra para o cinco. Aqui se
prefigura uma ideia de multiplicação; pelo menos parece haver uma compreensão da
ideia de conjuntos equivalentes.
Com o tempo, alguns povos mais atentos devem ter observado que a ordem dos
objetos dos conjuntos a serem cotejados era irrelevante. 0 passo seguinte parece ter
sido o mais difícil, ou seja, perceber que o nome do último numero ordinal enunciado
não só atribuía um nome ao último objeto do conjunto a ser cotejado, como dizia
quantos objetos havia nesse conjunto, no total. Hoje, é claro, sabe-se que o cardinal
de um conjunto independe da natureza dos objetos que ele contém, assim como da
ordem em que esses objetos estão arranjados.
Supõe-se que outros objetos, além dos dedos ou partes do corpo – tais como seixos,
sementes secas ou cortes feitos com um canivete de pederneira num bastão –,
também tenham sido usados nos estágios mais primitivos da enumeração. Se, por
exemplo, um rebanho formado de mais de dez ou vinte carneiros era anotado via uma
correspondência um-a-um com uma pilha de seixos, o número de seixos da pilha
poderia ser facilmente ajustado ao número de cabeças do rebanho. Seixos havia em
toda parte; quando o rebanho crescia, era fácil colocar mais seixos na pilha de
correspondência. Tais objetos, porém, não tinham as duas características essenciais
de que o homem primitivo necessitava – características fornecidas por um conjunto de
partes do corpo – ou seja, uma ordem definida e uma "finitude absoluta".
Assim retornamos a questão que levou aos sistemas de numeração. O que se deve
fazer quando esses marcadores se esgotam e ainda restam objetos a ser cotejados?
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Em principio, três métodos diferentes foram desenvolvidos para resolver este
problema, embora apenas um deles sobrevivesse na sociedade moderna. Uma
maneira de continuar é simplesmente estender a sequência ordenada dos
marcadores. Certamente em procedimentos em que a sequência original de contagem
era a dos dedos de uma mão, extensões aos dedos da outra mão, ou aos dedos dos
pés, ou ainda a outras partes do corpo, eram fáceis. Mas a vantagem real da
numeração sobre a enumeração consiste em usar palavras em vez de ações, e a
necessidade de um vocabulário ampliado teria apresentado dificuldades a muitos
desses povos – provavelmente a maioria deles.
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Um sistema de numeração
aditivo não posicional baseado
no dez e certamente um
desenvolvimento natural, se
Figura 2 não inevitável.
O modelo posicional envolve duas ideias distintas. Primeiro, quando urn homem de
contar tiver erguido todos os seus dedos, ele terá de voltar à posição original (com as
mãos fechadas) antes de poder continuar seu procedimento de contagem. Esta ação
por si só não é suficiente para garantir um modelo posicional, ainda que, de certo
modo, seja a ideia básica envolvida na numeração posicional de base dez. Por estar
com a atenção voltada para realizar criteriosamente a correspondência um-a-um entre
os dedos de suas mãos (numa certa ordem) e os objetos a serem cotejados, ele tem
poucas condições de lembrar quantas vezes esticou todos os dedos e começou de
novo. Isto ocorre especialmente quando o conjunto a ser cotejado é grande. Ele
necessita, portanto, de uma outra ideia, que consiste numa espécie de "memória" ou
"memória-registro" para as contagens dos "todos" - que seja prontamente acessível e
fácil de ler.
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Figura 3
Da primeira posição, com cada homem de contar esticando nove dedos, uma
contagem adicional de um resulta na segunda posição e depois na terceira.
Figura 4
Por certa o "0" é um "porta-lugar" na numeração posicional, mas ele é muito mais que
isso. É o símbolo para o número cardinal do conjunto vazio – isto é, um numeral para o
numero cardinal zero. A sequência dos homens de contagem torna claro que o zero é
as duas coisas. A Figura 4 mostra dois dos significados fundamentais do zero num
desenho abrangente e compreensivo.
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expressar números – isto é, a criação de símbolos para certas ideias. Pareceria natural
que o conceito de número fosse anterior ao interesse por símbolos para expressar esse
conceito. Todavia, esperamos ter conseguido mostrar que não foi esse o caminho pelo
qual a numeração realmente se desenvolveu. A numeração evolveu da enumeração
não verbal simplesmente porque a linguagem surgiu como um procedimento
simplificador.
Isto não significa, todavia, que deveríamos tentar reconstituir a sequência histórica de
acontecimentos ao ensinar nossas crianças. Hoje em dia as crianças chegam, mesmo
ao jardim de infância, com grande facilidade no uso da linguagem e com um
vocabulário razoavelmente completo de palavras-número. A única coisa que, de fato,
precisamos fazer para essas crianças modernas – mas devemos fazê-lo direta e
consistentemente – é deixá-las descobrir o quanto antes que a última palavra-número
atribuída ao ultimo objeto de um conjunto a ser contado não só dá nome àquele
objeto, enquanto o último de uma sequência ordenada, como também designa a
número cardinal do conjunto todo.
Figura 5
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simplificadores da matemática moderna. A maior parte dos historiadores atribui o
interesse principal por cálculos aos povos orientais e o interesse principal par sistemas
numéricos àqueles que mais ou menos seguiram a tradição predominantemente
grega. Ao que parece, contudo, deve-se a essência da abordagem moderna a uma
síntese dos dois pontos de vista – uma síntese alcançada bem recentemente.
Os significados do zero
Figura 6
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Obviamente este é um sistema de base dez, mas não-posicional. A representação do
numero 345 pelas letras-numerais gregas da tabela poderia ser (300 + 40 + 5 =
= 345). 0 número 345 poderia ser representado com a mesma facilidade por (5 +
+ 40 + 300 = 345). Percebemos, então, que há seis maneiras diferentes de representar
o mesmo número.
Representemos agora o número 305 mais uma vez usando as letras-numerais dos
gregos. Obviamente há duas maneiras de representá-lo: (para 5 + 300) e (para
300 + 5). Haverá necessidade de um símbolo para o zero num sistema de numeração
não-posicional?
O zero como um porta-lugar - Por outro lado não era possível a numeração posicional
funcionar adequadamente sem um símbolo para uma posição ou lugar vazio. Na
Suméria pré-babilônica, onde já em 3500 a.C. era usado um sistema de numeração
posicional de base sessenta (por alguns pouquíssimos especialistas), às vezes era
indicado um lugar vazio deixando-se, de fato, um lugar vazio no numeral. Veja a figura
7 a seguir.
Figura 7
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Figura 8
O zero como numero - 0 zero como número tem uma história bastante diferente.
Aqui também seria mais conveniente recorrer ao esquema da Figura 5 e considerar
separadamente os dois ramos de desenvolvimento do conceito de numero – o das
“propriedades dos números" e o das "propriedades das operações com números. Ainda
que os gregos dos séculos VI, V e IV antes de Cristo tenham sido os principais
incrementadores do estudo das propriedades dos números, eles nunca reconheceram
o zero como número. Para eles, o conjunto dos números inteiros começava com o um,
ao qual seu saber numérico assinalava atributos como "masculino", "razão", "essência
dos números", "origem de todas as coisas" e "o divino princípio". Mesmo onde
aspectos místicos eram menos pronunciados que na tradição original pitagórica, com
seus conceitos de "numero poligonal", "número perfeito", "números abundantes e
deficientes" e "números amigáveis", para mencionar apenas alguns, o zero não tinha
lugar nas reflexões gregas. Da mesma forma, quando matemáticos gregos deram
alguns passos vacilantes no sentido do desenvolvimento de um sistema de números,
como no admirável tratamento dos irracionais devido a Eudoxio, o zero não teve
nenhuma participação.
Até onde nos é possível chegar, recuando na historia, podemos dizer que
provavelmente foram os matemáticos hindus e árabes, do período de cerca de 500
d.C. a 1100, os primeiros a reconhecer o zero como número. Tudo indica, ainda, que a
iniciativa tenha sido antes dos hindus. Isto aconteceu de duas maneiras: (1) através
das tentativas de resolver certas equações quadráticas de um tipo que se pode
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descrever como sendo da forma AX – BX = 0, onde uma raiz é zero, enquanto a outra
é algum número racional diferente de zero, e (2) através de um estudo cada vez mais
sistemático das propriedades das operações com números.
Quanto ao primeiro ponto, a maioria dos matemáticos antigos aceitava o zero como
uma solução possível, ainda que não se desse muita importância a tal solução, uma
vez que o zero não era muito significativo como solução de problemas práticos.
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Quanto ao segundo, há diversos relatos bem documentados e importantes, dos quais
dois serão citados aqui. 0 matemático hindu Mahavira (c. 850 d.C., Mysore, india)
escreveu um grande livro, Ganita-Sara-Sangraha (0 compendio do cálculo), no qual há
a afirmação: "Um número multiplicado por zero é zero, e aquele número permanece
inalterado quando é dividido por, somado a ou diminuído de zero”. Essa afirmação
parece conter já a essência do conceito de zero como "elemento neutro da adição", e é
interessante observar que Mahavira considera que a divisão por zero tem o mesmo
efeito que a adição e a subtração de zero - ou seja, que não tem nenhum efeito sobre
o número sobre o qual opera, como divisor. Essa concepção grosseira e errada foi
substituída nos trabalhos do grande matemático hindu Bhaskara (professor em Ujjain,
Índia). Bhaskara afirma, 300 anos depois de Mahavira, cujos trabalhos conhecia, que
"um número definido dividido por cifra [zero] é um submúltiplo do nada". E prossegue
para ilustrar este entendimento escrevendo (usaremos notação moderna): “10 ÷ 0 =
= 10/0” e “3 ÷ 0 = 3/0”. Diz Bhaskara: "Essas frações, cujo denominador é cifra são
denominadas quantidades infinitas". Quase todos os escritores de menor importância
desse período reconhecem o zero como elemento neutro da adição e – sob certas
restrições – da subtração, mas a maior parte deles ou evitava o problema de dividir por
zero ou declarava que o resultado de tal divisão não tem sentido.
Em suma, podemos dizer que o zero tornou-se plenamente reconhecido como número
somente a partir de Bhaskara. Podemos seguramente reafirmar que na matemática
elementar moderna o zero é tanto um porta-Iugar como um número cardinal,
dependendo de que se considere numeração ou sistema de números.
Pode-se conjecturar que os gregos dos séculos VI e V a.C. não estivessem muito
interessados em numeração – se é que, de fato, tinham algum interesse nisso. Isto
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era verdade, apesar de um fato que parece absolutamente certo: os viajantes gregos
que estiveram no Oriente tiveram contato íntimo com sistemas de numeração
posicional. Como o dos babilônios, que eram muito superiores ao seu sistema não-
posicional, quanto ao esquema e quanto a operacionalidade. Ao que parece, suas
mentes não estavam voltadas para aspectos mecânicos e rotineiros da matemática
elementar, mas tinham fascínio por razões subjacentes suspeitadas e possíveis
justificações.
Seja como for, os pitagóricos não aperfeiçoaram nem divulgaram a numeração, mas se
concentraram – além do seu magnífico trabalho em geometria – no estudo das
propriedades dos números, particularmente dos inteiros positivos. Com isso deixaram
de lado, talvez conscientemente, o estudo das propriedades das operações numéricas,
muito mais significativo, que os teria levado a criar uma estrutura para os sistemas de
números similar a que criaram para a geometria.
A língua grega daquela época remota tinha duas palavras de especial importância para
nosso propósito: logistike e arithmetike, que podem ser traduzidas respectivamente
por "logística" e "aritmética".
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A logística grega - A logística lida com numeração e computação (cálculos),
entendendo-se pela última os vários meios e caminhos pelos quais um numeral
complicado podia ser transformado em outro mais simples – tal como transformamos
uma multiplicação numeral, digamos 8 x 27, no numeral mais conveniente 216. De
acordo com a filosofia antidemocrática e aristocrática da irmandade, a logística era
considerada uma ocupação indigna de um homem de bem. Assim, ela era deixada, em
grande parte, ao povo das classes mais baixas, que fazia da computação um afazer
especial, usando ábacos e tabelas (tábuas) que devem ter sido projetadas para eles
pelos pitagóricos. Os pitagóricos talvez explicassem a esses comerciantes como tais
tabelas e dispositivos deviam ser usados, mas nunca diziam como fazê-los ou quais
os modelos secretos que os tornavam possíveis.
A "aritmetica" grega - 0 jovem de origem nobre que desejasse se iniciar nos segredos
da irmandade enfatizava o estudo da arithmetike. Arithmetike, como é de imaginar,
não era absolutamente a "aritmética" dos dias atuais, mas, antes, o que descrevemos
como "teoria dos números" ou, possivelmente, "aritmética superior".
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fascinantes dos números. Os números pares e os números ímpares já foram
mencionados antes. Como o ponto de vista grego em relação a matemática era mais
geométrico do que aritmético, e como em seus trabalhos mais antigos, pelo menos, os
gregos só consideravam números inteiros, não é de surpreender que tentassem
representar números por modelos geométricos.
Logo depois do círculo, que muitos consideravam a figura plana mais próxima da
perfeição, o quadrado era a mais importante. Arranjos quadrados de pontos,
provavelmente formados de seixos nas versões mais antigas, levaram os gregos a
números que eram quadrados perfeitos – isto é, números que podem ser expressos
como o produto de dois fatores iguais (Ver Figura abaixo.)
Figura 9
Figura 10
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A sequência dos números triangulares pode ser gerada pela fórmula
n(n 1)
2
que, para n = 1, 2, 3, ... fornece os números 1, 3, 6, 10, 15, ...
O uso de letras do alfabeto no duplo papel de letras e numerais por parte de vários
sistemas de numeração deu origem a uma espécie de magia numérica secreta (na
realidade seria magia "numeral"), conhecida como numerologia ou gematria. Para os
numerologistas, duas palavras eram equivalentes quando somavam o mesmo número
ao se interpretarem essas letras como numerais. Infelizmente, esse misticismo
numérico não se confinou à mitologia grega, nem ao mundo antigo. Par exemplo, em
praticamente todos os períodos da história alguns escritores cristãos foram capazes
de mostrar, igualando nomes e numerais, que arqui-inimigos de suas ideias eram
indicados pelo "numero da besta" no livro do Apocalipse, 666! (Apoc. 13:18)
A ligação dos gregos com os números primos era bem mais séria e mais profunda.
Sabe-se que, com exceção do um e do dois, qualquer número inteiro que não é primo
pode ser expresso como um produto de primos. Os gregos não só formalizaram essa
descoberta como estabeleceram a que mais tarde se tomou conhecido como "teorema
fundamental da aritmética" (onde o termo "aritmética" é tomado no sentido original
grego) – a saber, que um número composto pode ser expresso como um produto de
primos de uma só maneira (não contando, naturalmente, as possíveis permutações de
fatores). Este teorema é conhecido como "teorema da fatoração única". De fato, se
144 é fatorado como
12 x 12
(4 x 3) x (4 x 3)
(2 x 2 x 3) x (2 x 2 x 3)
ou como
9 x 16
9 x (4 x 4)
(3 x 3) x (2 x 2 x 2 x 2)
ou como
8 x 18
(2 x 4) x (2 x 9)
(2 x 2 x 2) x (2 x 3 x 3),
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Euclides apresentou nos seus Elementos uma demonstração de que o conjunto dos
números primos e infinito – isto é, que não há um número primo que seja o maior de
todos. Apesar de muitas tentativas, algumas feitas pelos maiores matemáticos de
seu tempo, por enquanto não se divisou nenhum método prático para testar se um
número grande é ou não é primo, nem foi descoberto um gerador verdadeiramente
geral de números primos.
Com o devido respeito a muito poucos aritméticos gregos isolados, deve-se sublinhar
que os únicos números aceitos pela grande maioria dos matemáticos gregos eram os
números naturais. Eles interpretavam o que chamamos hoje de números racionais
como razões entre números naturais. Alguns dos pitagóricos verdadeiramente
grandes conceberam os números que não podiam ser expressos como razões de
números naturais. Como sempre, chegaram a esse conceito através de situações
geométricas. O primeiro desses matemáticos foi Eudoxio (408-355 a.C).
Eudoxio mostrou que a medida da diagonal do quadrado unitário não podia ser
expressa como razão entre dois números naturais – como diríamos hoje, que o
símbolo 2 não representa um número racional. Eudoxio desenvolveu uma
engenhosa teoria das "razões iguais", que, com alguns aprimoramentos de pouca
monta, poderia ter se tornado a base de um sistema de números reais.
Provavelmente, Eudoxio só foi compreendido por poucos contemporâneos seus; é
duvidoso que qualquer um deles (inclusive, talvez, o próprio Eudóxio) fosse capaz de
prever o enorme alcance de sua descoberta.
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