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O dilúvio da informação
Umberto Eco é um intelectual que transita com rara habilidade por áreas do pensamento
que não se bicam. Ele é um teórico respeitado no campo da semiótica e um literato de
mão-cheia. Ganhou o público e as telas de cinema com seu primeiro romance, O Nome
da Rosa. O autor italiano, de 68 anos, também viaja com facilidade pelo tempo. Tem
fascínio pela Idade Média, o ambiente preferido para as intrigas de suas novelas. Na vida
real, porém, está preocupado com o que será da sociedade e da cultura na era da internet.
Na Universidade de Bolonha, onde leciona, Eco recebeu Vida Digital para a seguinte
entrevista.
Veja – Certa vez, o senhor disse que "quando a internet se tornasse um meio de
implementar comunidades reais, por intermédio de comunidades virtuais, teríamos uma
grande mudança". O que queria dizer com isso?
Eco – Na primeira fase, a internet implementou a solidão. As pessoas passaram a
trabalhar em casa, a se comunicar virtualmente. Como transformar essa solidão em
ocasiões sociais? Aqui, em Bolonha, estamos inaugurando em dezembro um enorme
espaço público cheio de computadores e livros. A Itália tem população de 58 milhões de
habitantes e uma minoria de 5 milhões conectada à internet. Nesses espaços, as pessoas
terão acesso à internet, poderão escrever suas teses, receber cursos de treinamento, todo
tipo de informação. Tem gente que usa a internet uma vez por semana, então para que
comprar um computador? Cinqüenta pessoas usando computadores numa sala podem
trocar informação. Assim se utiliza um instrumento de solidão para criar uma pequena
comunidade.
Veja – O senhor acredita que a internet vá mudar o idioma inglês, pela disseminação de
seu uso entre pessoas que não o dominam muito bem?
Eco – Sim, mas esse idioma já vinha mudando bem antes da internet. A existência da
América mudou o inglês usado em Oxford e, à medida que o idioma circula, ele está em
constante mutação. O que aconteceu com o grego clássico quando ele passou a ser falado
na região mediterrânea, pelos egípcios e até pelos romanos? Surgiu uma espécie de novo
grego elementar chamado coiné. Era polido, em comparação ao grego de Homero. Mas
Aristóteles escreveu naquele idioma. Então, mesmo com um idioma universal
simplificado, você pode fazer excelentes coisas.