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CIBERESPAÇO E

CIBERCULTURA -
Pierre Lévy

Profª Bruna Fernanda Presner


Após a ênfase à Ciência com as mudanças
ocorridas na Modernidade e intensificadas com o
Positivismo, tivemos a partir do século XIX
vários avanços que começaram a surgir com a
criação e desenvolvimento de tecnologias de
registro analógico e posteriormente pela
tecnologia digital. Um dos principais marcos da
Contemporaneidade foi o desenvolvimento e
globalização da Internet
Internet foi criada em 1969 com o nome de "Arpanet"
nos EUA
Texto escrito por
LEONARDO WERNER SILVA, Folha de S. Paulo 2001
da Folha de S.Paulo

A internet foi criada em 1969, nos Estados Unidos. Chamada de Arpanet, tinha como
função interligar laboratórios de pesquisa. Naquele ano, um professor da
Universidade da Califórnia passou para um amigo em Stanford o primeiro e-mail da
história.

Essa rede pertencia ao Departamento de Defesa norte-americano. O mundo vivia o


auge da Guerra Fria. A Arpanet era uma garantia de que a comunicação entre
militares e cientistas persistiria, mesmo em caso de bombardeio. Eram pontos que
funcionavam independentemente de um deles apresentar problemas.

A partir de 1982, o uso da Arpanet tornou-se maior no âmbito acadêmico.


Inicialmente, o uso era restrito aos EUA, mas se expandiu para outros países, como
Holanda, Dinamarca e Suécia. Desde então, começou a ser utilizado o nome internet.
Por quase duas décadas, apenas os meios acadêmico e científico tiveram acesso à rede.
Em 1987, pela primeira vez foi liberado seu uso comercial nos EUA.

Em 1992, começaram a surgir diversas empresas provedoras de acesso à internet


naquele país. No mesmo ano, o Laboratório Europeu de Física de Partículas (Cern)
inventou a World Wide Web, que começou a ser utilizada para colocar informações ao
alcance de qualquer usuário da internet.

Desde então, a difusão da rede foi enorme. Hoje, a internet tem mais de 250 milhões de
usuários em todo o mundo. Até o final de 2004, o tráfego mundial de e-mails deverá
estar em torno de 35 bilhões de mensagens diárias.

Quase 90% dos usuários de internet estão nos países industrializados. Os EUA e o
Canadá respondem por 57% do total, segundo relatório da Organização Internacional
do Trabalho.

No Brasil, a exploração comercial foi liberada em 1995. Universidades como as federais


do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro estavam conectadas à rede desde 1989. A
Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) conectou-se um ano depois.
Ciberespaço
Técnica, cultura e diversos setores da vida contemporânea foram reconfiguradas para um novo espaço
como nunca antes na história: o ‘mundo virtual’.

Pierre Lévy (Tunísia, 1956) é filósofo, sociólogo e pesquisador em ciência da informação e da


comunicação e estuda o impacto da Internet na sociedade, as humanidades digitais e o virtual.

Segundo o filósofo Pierre Lévy, o ambiente desenvolvido por uma grande infraestrutura técnica na
área da telecomunicação possibilitou uma interconexão mundial através de computadores, cabos, fios
e redes. Formando dentro de um espaço virtual um emaranhado de trocas simbólicas entre as pessoas
se expandindo desde as relações sociais, informações, trocas financeiras, entretenimento, entre
diversos outros setores da vida humana.

[...] É o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo
especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo
oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse
universo (Lévy, 1999. p. 17).
"a extensão do ciberespaço acompanha e acelera uma
virtualização geral da economia e da sociedade. Das
substâncias e dos objetivos voltamos aos processos que o
produzem. Dos territórios, pulamos para o nascente, em
direção às redes móveis que os valorizam e as desenham. Dos
processos e das redes, passamos à competências e aos
cenários que as determinam, mais ainda. Os suportes de
inteligência coletiva do ciberespaço multiplicam e colocam
em sinergia as competências. Do design à estratégia, os
cenários são alimentados pelas simulações e pelos dados
colocados à disposição pelo universo digital. Ubiquidade da
informação, documentos interativos interconectados,
telecomunicação recíproca e assíncrona em grupo e entre
grupos: ciberespaço faz dele o vetor de um universo aberto.
Simetricamente a extensão de um novo espaço universal dilata
o campo de ação dos processos de virtualização" (Lévy, 1999,
pp. 49-50).
iLUSTRAÇÃO CRIADA POR: 千图网
Características do Ciberespaço
- Novas noções de tempo e espaço: quando acessamos o ciberespaço
somos levados a um espaço e tempo diferente do físico. Quem nunca
estava tão imerso no mundo virtual que não percebeu as horas passarem
e esqueceu que você também existia fora da internet?
- Hipertextualidade: possibilidade de abrirmos várias abas e aplicativos
ao mesmo tempo tornando o acesso ao ciberespaço interativo de acesso a
vários conteúdos e ações nesse espaço, além de que todo este conteúdo é
repleto de imagens, sons e movimento.
- Envio, recebimento e exclusão das informações automaticamente:
praticidade de agilidade para a troca de informações, transações
financeiras e relações sociais. Mas, que também pode nos causar
insegurança devido a não termos garantia de veracidade.
- Aceita qualquer dado: “a internet aceita tudo”; entretanto ainda
poderemos sermos penalizados na realidade física dependendo do
conteúdo de nossas publicações e ações neste espaço. Mas em
contrapartida a fiscalização é baixa e este espaço é tão amplo e com
tantas possibilidades que na maioria das vezes vários cibercrimes
ocorrem.
- Não possui centro ou diretriz linear, espaço caótico e móvel: o
ciberespaço não possui um centro e as relações e trocas simbólicas
ocorrem tão rapidamente e de forma caótica.

“[...] um ambiente inconstante e virtual, no qual os


dados se encontram em interminável movimento e se
sucedem se modificam, se interagem e se excluem"
(MONTEIRO, CARELLI E PICKLER, 2008, p. 1).
A Netflix desenvolveu uma série
denominada “Black Mirror”, cujo
intuito é trazer a tona diversas
implicações que o ciberespaço e a
cibercultura trazem para nossas
vidas de forma impactante e que nos
leva a refletir sobre as influências do
mundo virtual e sobre o nosso
comportamento diante do mesmo. O
nome da série pode ser traduzida
como “Espelho negro”, você já olhou
para a tela do seu celular ou
computador quando não o está
utilizando? O que vê? Conseguiu
perceber a analogia?

Este trailer se refere ao filme lançado pelos produtores da série com o título “Bandersnatch”, onde o expectador do filme pode
interagir com o filme ao fazer as escolhas pelo personagem principal e dependendo das suas escolhas durante o filme você
poderá mudar o seu final. Se ficou curioso, está aí uma indicação e poderá consultar diversas análises sobre o filme,
disponíveis na internet.
CIBERCULTURA
- Mudança da estrutura da linguagem/comunicação: forma própria de
comunicação que pode ocorrer por cliques (amei, compartilhar, não gostei,
concordo, não concordo, adicionar ao carrinho, etc), por estruturas de
imagens (emojis, memes, fotos, etc) e com o próprio linguajar como as
gírias que só são compreendidas neste meio.
- Interconexão: possibilidade de interação com qualquer pessoa que também
esteja conectada a este mesmo espaço em qualquer lugar deste espaço,
acesso a instituições virtualizadas (bancos, lojas, etc) e a simulações de
lugares físicos como acesso por aplicativos a viagens virtuais.
- Criação de comunidades virtuais: interação de grupos de pessoas com os
mesmos interesses.
- Inteligência coletiva
- Complementação das relações e não substitui a realidade física:
para o filósofo as relações construídas no ciberespaço apenas
complementam os relacionamentos físicos, não necessariamente os
substituindo

Cibercultura, segundo Pierre Lévy:

"cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas


(materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de
modos de pensamento e de valores que se desenvolvem
juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, p.17)
“A cibercultura é a expressão da aspiração de construção
de um laço social, que não seria fundado nem sobre links
territoriais, nem sobre relações institucionais, nem
sobre as relações de poder, mas sobre a reunião em torno
de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o
compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem
cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. O
apetite para as comunidades virtuais encontra um ideal
de relação humana desterritorializada, transversal,
livre. As comunidades virtuais são os motores, os
atores, a vida diversa e surpreendente do universal por
contato.” (LÉVY, p.130)
RESUMINDO...
Imaginemos que o ciberespaço seria uma sala infinita sem teto ou paredes (sem
limitações) que é constituído por três fatores: a parte material (aparatos tecnológicos
que são físicos que possibilitam que esse espaço existam como cabos, fios,
computadores, celulares, entre outros), as simulações virtuais que são os conteúdos
simbólicos que podem ser acessados e trocados neste espaço (todo conteúdo que
pode existir não apenas na internet como em outros sistemas off-line) e as pessoas
que desenvolveram, fazem a manutenção e alimentam o ciberespaço.

A cibercultura seria as mobílias e decorações que são inseridas em lugares dentro do


ciberespaço, ou seja, toda expressão humana que seja transferida para esse lugar e
que é reconfigurada neste espaço.

Toda criação no ciberespaço inicialmente sai do mundo físico, é virtualizado e toda a


produção deste espaço retorna ao mundo físico de alguma forma, seja por influência
ou por consequência das ações no plano real. Para o filósofo o ciberespaço e a
cibercultura são extensões da vida que acontece no plano físico.
VENENO DA CIBERCULTURA: A
INTELIGÊNCIA COLETIVA
— isolamento e de sobrecarga cognitiva (estresse pela comunicação e pelo trabalho
diante da tela),

— dependência (vício na navegação ou em jogos em mundos virtuais),

— dominação (reforço dos centros de decisão e de controle, domínio quase


monopolista de algumas potências econômicas sobre funções importantes da rede
etc.),

— exploração (em alguns casos de teletrabalho vigiado ou de deslocalização de


atividades no terceiro mundo),

— bobagem coletiva (rumores, conformismo em rede ou em comunidades virtuais,


acúmulo de dados sem qualquer informação, "televisão interativa").

(LÉVY, p.27)
A CIBERCULTURA SERIA FONTE DE
EXCLUSÃO?
Um dos principais efeitos colaterais desse processo é o de acelerar cada vez mais o
ritmo da alteração tecnosocial, o que acaba exigindo maior adaptação e participação
do ciberespaço.

Para o filósofo não adianta tentarmos “fugir” dessa nova realidade, pois faz parte do
processo essa inserção ao Ciberespaço e a Cibercultura, pois, do contrário ficaremos
para trás e poderemos correr o risco de sermos excluídos em diversos âmbitos da vida
social. Pois, o ciberespaço seria a nova extensão da vida que acontece na realidade
física.

Entretanto, Lévy ressalta a importância de estabelecermos filtros por meio do senso


crítico referentes às informações e relações estabelecidas no mundo virtual para que
possamos usufruir deste novo contexto de forma positiva e saudável não só para o
indivíduo quanto para toda a humanidade.
REFLETINDO...

Segundo Lévy, precisamos ter discernimento e senso crítico diante destas


implicações que surgem com o novo contexto do Ciberespaço e da
Cibercultura. Analisando sobre os impactos que percebemos referentes
ao Ciberespaço e a Cibercultura no cotidiano das pessoas, você acha que
estamos prontos para lidarmos com esse novo contexto?
Sugestão de filmes que retratam o cenário do Ciberespaço é a
trilogia “Matrix”
REFERÊNCIAS
SILA, Leonardo Werner. Internet foi criada em 1969 com o nome de "Arpanet" nos EUA.
Folha S. Paulo, 2001. Disponível
em:<https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u34809.shtml#:~:text=08%2F200
1%20%2D%2009h10-,Internet%20foi%20criada%20em%201969,nome%20de%20%22A
rpanet%22%20nos%20EUA&text=A%20internet%20foi%20criada%20em,primeiro%20e
%2Dmail%20da%20hist%C3%B3ria.> Acesso em 16/08/20

"Ciberespaço e Cibercultura: Definições e Realidades Virtuais Inseridas na Práxis do


Homem Moderno" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2020.
Consultado em 13/08/2020 às 10:21. Disponível na Internet em
http://www.pedagogia.com.br/artigos/ciberespaco_cibercultura/?pagina=2

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo:Editora 34,1969. 264 p.

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