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MARTINO, Luis Mauro Sa. Teorias das mídia Digitais.

Linguagens, ambientes e
redes. Petropólis, Vozes: 2014. 291 p.

 Mídias digitais e relacionamentos pg 10


 Dados transformados em números pg 11
 Conceitos chave pg 11
 Web 2.0 pg 12-13
 Importância dos conceitos pg 14
 Como exemplificar um assunto em constante transformação pg 14
 Eixos temáticos pg 16
 Cyber pg 21
 Cibercultura Pierre Lévy pg 27
 Ciberespaço Pierre Lévy pg 29
 Cultura de convergência pg 37
 O processo de escrita no computador pg 41
 Comunidade virtual pg 44-45
 Estrutura relacional nas redes sociais pg 57-58, 60-61, 80
 Aspectos das redes sociais pg 74-75
 Internet e esfera pública pg 91
 Linguagem universal das mídias digitais pg 104
 Blogar: novo narcisismo pg 119
 Produção de conteúdo na internet pg 129
 A quem se escreve pg 146
 Seleção do que será publicado pg 146
 Emissor e receptor pg 146
 Circulação de conteúdo por grupo de interesse pg 147

1 Luis Mauro Sá Martino, os conceitos e as teorias midiáticas


Martino nos mostra em sua obra a mais antiga crítica a tecnologia registrada.
Está contida no diálogo Fedro de Sócrates, escrito por Platão. “A escrita oferece às
pessoas apenas a aparência do saber, não sua realidade. As pessoas vão ouvir muitas
coisas sem, de fato, aprenderem, e vão ficar acreditando que sabem muito quando na
verdade não sabem nada.” Se notarmos bem essa é a mesma crítica que é feita
atualmente à internet e às mídias digitais. Para alguns críticos, a internet tende a deixar
às gerações mais jovens menos inteligentes, afinal, em vez de treinar a memória com
estudo sério, tudo está à disposição no Google ou na Wikipédia.
Falando sobre a importância dos conceitos, o autor nos diz que se um conceito
está em uso por dez anos ou mais, significa que se tem algo importante a se pensar sobre
eles. Seguem alguns:
● Barreira digital: Diferença de acesso às tecnologias e mídias digitais, bem como
à cultura desenvolvida nesses ambientes, vinculadas a problemas sociais e
econômicos.
● Ciberespaço: Espaço de interação criado no fluxo de dados digitais em redes de
computadores; virtual por não ser localizável no espaço, mas real em suas ações
e efeitos.
● Cultura participatória ou de convergência: Potencialidade de qualquer indivíduo
se tornar um produtor de cultura, seja recriando conteúdos já existentes, seja
produzindo conteúdos inéditos.
● Inteligência coletiva: Possibilidade aberta pelas tecnologias de rede de aumentar
o conhecimento produzido de maneira social e coletiva.
● Interatividade: Interferência e interação entre usuários, ou usuários / programas /
conteúdos, em diferentes níveis e formas, nos sistemas de comunicação digital
em rede.
● Interface: A operação das mídias digitais acontece a partir de pontos de contato
“amigáveis” entre dispositivos e usuários, moldados a partir de referências
culturais anteriores.
● Virtualidade: Dados das mídias digitais existem de maneira independente de
ambientes físicos, podendo se desenvolver livres, a princípio, de qualquer
barreira desse tipo.

1.1 Mídias Digitais


Joshua Meyrowitz1, citado por Martino, propõe que as diversas mídias são
centrais para a compreensão dos processos sociais, políticos e históricos de uma época.
Nesta definição temos três elementos: pensar os meios de comunicação como canais
para levar informações de um ponto a outro, mas também como uma linguagem
específica derivada de suas características e, finalmente, como um ambiente no qual
estamos imersos o tempo todo. O pesquisador canadense explora alguns outros
conceitos: cada mídia, com suas características específicas, pode interferir diretamente
na psicologia humana, moldando a maneira como nos relacionamos com os outros e
com a realidade em geral. Sua área é a Tecnopsicologia, ou estudo das condições
psicológicas dos indivíduos sob influência de inovação tecnológica. Para ele a mídia é
um elemento decisivo na formação da mente, dos modos de sentir, perceber e
compreender a realidade. “Quando a ênfase em um dado meio tecnológico muda, o todo
da cultura se transforma”. Não por acaso as crianças parecem estar cada vez mais
familiarizadas com a tecnologia. “As novas gerações nascem sabendo de tudo”, dizem
as pessoas. Na perspectiva de Kerckhove2, isso é explicado pelo ambiente midiático no
qual cada geração é formada.
1 MEYROWITZ, J. “Medium theory”. In: CROWLEY, D. & MITCHEL, D. Communication Theory
Today. Standford: Standford University Press, 2000.
2 KERCKOVE, D. A pele da cultura. São Paulo: Annablume, 2011.
Além disso, Martino nos diz que hoje não existe mais uma realidade fora das
mídias. Segundo o filósofo Jean Baudrillard 3, a realidade desapareceu e vivemos um
mundo hiper-real gerado pela combinação entre tecnologias da comunicação e
sociedade de consumo. Ele parte do princípio que não existe mais “realidade” fora das
mídias, das tecnologias de comunicação e de consumo. Aliás, esses três fatores estão
ligados na medida em que os meios de comunicação não existem fora da sociedade de
consumo, da qual não apenas são parte integrante quanto também assumem, muitas
vezes, a face de protagonistas.

1.2 Web 2.0


Outro importante conceito citado por Martino é a tão conhecida expressão Web
2.0. Termo cunhado por Tim O´Reilly 4 em 2005 para definir o alto grau de
interatividade e conexões pelas redes sociais, colaboração e produção / uso / consumo
de conteúdos pelos próprios usuários. A internet e as mídias digitais passam a fazer
parte mais ativamente da vida das pessoas, não só no computador, mas através de
tablets, celulares e smartphones. Antes, a Web 1.0 (mais popular a partir de 1995) tinha
um caráter mais estável, como blogs, navegadores offline sem muitas interações.

1.3 Ciber e seus desdobramentos


Ciber é uma expressão quase mágica. Quando dizemos ciber-qualquer coisa
sabemos que vamos falar de internet ou mídias digitais. Martino nos brinda com alguns
conceitos célebres dos derivados dessa expressão. Cyber é um conceito que foi cunhado
por Norbert Wiener5 em 1948 em seu livro Cybernetics. Cibernética vem do grego
Kibernos “controle”. É a área do saber que se dedica a estudar as relações entre
informação e controle em um sistema.
Para definir cibercultura ele retoma Pierre Lévy6, filósofo francês que em 1996
escrevendo sobre como seria a educação nos próximos anos, usou o termos cibercultura
para designar a reunião de relações sociais, das produções artísticas, intelectuais e éticas
dos seres humanos que se articulam em redes interconectadas de computadores, isto é,
no ciberespaço. Trata-se de um fluxo contínuo de ideias, práticas, representações, textos
e ações que ocorrem entre pessoas conectadas por um computador ou algum dispositivo
semelhante - a outros computadores. Em outras palavras, é a cultura, entendida em
sentido bastante amplo, que acontece no ciberespaço.

1.4 Comunidades Virtuais e Redes Sociais - um olhar de Martino e de Sibilia

3 BAUDRILLARD, J. Tela total. Porto Alegre: Sulina, 2001.


_____. Simulacros e simulações. Lisboa: Relógio d´Água, s.d.
4 O´REILLY, T. What is Web 2.0? [Disponível em http://oreilly.com/pub/a/web2/archive/what-is-web-
20.html?page=1].
5 WIENER, N. Cibernética e sociedade. São Paulo: Cultrix, 1975.
6 LÉVY, P. O que é virtual. São Paulo: Ed. 34, 2003.
Não menos importante é o conceito de Comunidade Virtual. Martino cita a
conceituação de Howard Rheingold7, que em 1994 escreveu sobre os relacionamentos
online em seu livro intitulado A comunidade virtual. Nas palavras dele, comunidades
virtuais são uma “teia de relações pessoais” presentes no ciberespaço, formadas quando
pessoas mantém conversas sobre assuntos comuns durante um período de tempo
relativamente longo. A interação humana é o ponto de partida e a razão de ser das
comunidades virtuais.
Chegamos então no que seria a estrutura relacional nas redes sociais, que é a
relação entre relações, isto é, uma perspectiva mútua e recíproca sobre a maneira como
as pessoas interagem. Não interessa apenas como dois indivíduos interagem, mas como
essa interação interfere nas outras. É o princípio de uma rede social. Saber que um
colega se interessa por um determinado tema pode te aproximar (ou afastar) desse
colega. Ou seja, as redes sociais são definidas pelos vínculos fluidos e flexíveis, e pelas
várias dinâmicas dessas relações.
J.A.Barnes8, apresentou um estudo em 1954 sobre redes sociais. Para ele esse
campo de relações sociais era constituído não só pelas ligações de uma pessoa com
outras, que, por sua vez, mantinham com outras, e assim por diante, formando uma
espécie de ligação contínua entre vários indivíduos que nem sempre se conheciam ou
tinham contato direto. Barnes chamou esse tipo de campo de rede social.
Sibilia (2008, p.23) fala das redes sociais como novos mecanismos para as
demandas socioculturais, através de ferramentas como blogs, fotologs e webcams:

Em meio aos processos de globalização dos mercados em


uma sociedade altamente midiatizada, fascinada pela
incitação à visibilidade e pelo império das celebridades,
percebe-se um deslocamento daquela subjetividade
“interiorizada” em direção a novas formas de
autoconstrução. [...]Referem-se às personalidades
alterdirigidas e não mais introdirigidas, construções de si
orientadas para o olhar alheio ou “exteriorizadas”, não
mais introspectivas ou intimistas.

Martino discorre ainda sobre uma genealogia da noção de “rede” que o


sociólogo francês Pierre Mercklé9 fez tecendo algumas características das redes sociais
online como o fato de permitirem

[...] a criação de “identidades transparentes” ,


estabelecidas em conexões interpessoais desenvolvidas a
partir da interação entre perfis. Ao mesmo tempo,
7 BARNES, J.”Class and commitees in a Norwegian Island Parish”. Human Relations, n. 7, 1954, p. 38-
58.
8 MERCKLÉ, Pierre. La sociologie des réseaux sociaux. La Découverte, pp.120, 2011, Repères.
Disponível em https://hal-genes.archives-ouvertes.fr/UNIV-LYON2/halshs-00579224v1.
9 SIEGEL,L. Being human in the age of the eletronic mob. Nova York: Random House, 2008.
convivem também “identidades carnavalescas” , nas quais
as projeções de si mesmo e as relações desconhecidas ou
propositalmente falsas, os perfis fake, garantem tipos
diferentes de exposição de si e, consequentemente, de
interação. Nesse sentido, o termo “redes sociais online”
refere-se a um número considerável de formas de
interação entre indivíduos a partir da construção de
páginas ou perfis. (Mercklé, 2011, não p.).

A análise combinatória das relações nas redes sociais auxilia a compreender o


que, de fato, significa uma relação social online, sua capacidade quase incalculável de
multiplicação de conteúdos e saberes - e, por que não, de poderes.
Sobre a produção de conteúdo na internet, Lee Siegel 10, crítico cultural norte-
americano tem como alvo a euforia de alguns teóricos em relação ao potencial de
algumas tecnologias e mídias. A humanidade chegou até os anos 1990 sem internet e
poderia ter continuado sem. Hoje, no entanto, não podemos imaginar a vida sem as
conveniências e comodidades oferecidas pela rede. Em suas palavras, um mundo
“confuso, fragmentado e desconectado, encontra na internet um ambiente favorável para
a conexão e sociabilidade neste contexto. E hoje, qualquer um pode ser, virtualmente,
produtor de cultura. No entanto essa produção de conteúdo pelos usuários esbarra em
um problema de ordem técnica: a especialidade e a competência de quem escreve, algo
sempre passível de dúvida.

1.5 Mediatização
Martino usou o conceito do pesquisador dinamarquês Sig Hjarvard 11, para
explicar que

[...] mediatização é o processo pelo qual relações humanas


e práticas sociais se articulam com as mídias, resultando
em alterações nessas atividades. É um conjunto de
fenômenos que, espalhados pela vida cotidiana, tornam-se
parte das atividades rotineiras de maneira tão intrincada
que muitas vezes, por conta da proximidade, se tornam
invisíveis - ou, pelo menos, deixam de chamar a atenção.
(Martino, 2014, p. 239)

10 HJARVARD, S. “Midiatização: teorizando a mídia como agente de mudança social e cultural”.


Matrizes, vol. 5, n. 2, jan-jun./2012, p. 53-91.
11 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua – PNAD, 2016. Acesso à internet e à televisão e posse de telefone
móvel celular para uso pessoal : 2016. Pág. 14 . Disponível em <
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101543> . Acesso em
04/07/2018.
Isso torna a mídia um ambiente no qual os seres humanos estão inseridos, da
mesma maneira em que se está inserido no espaço natural do clima e dos espaços. O
processo de mediatização não ocorre de maneira igual em todas as sociedades. Trata-se
de um fenômeno histórico e social vinculado a uma série de condições econômicas,
políticas e tecnológicas.

1.6 Blogs
Um blog pessoal tende a conseguir um público restrito àqueles interessados na
obtenção de dados sobre a vida alheia na ilusão de obter nos blogs, uma narrativa “real”.
Já num blog jornalístico, por sua natureza, pretende-se encontrar um veículo de
informação que deve, a princípio, interessar a um público maior do que aquele dedicado
às aventuras pessoais. Nesse sentido, o blog jornalístico dedica-se a temas outros que a
vida pessoal do autor, mesmo quando a interferência e a referência mútua é inevitável.
O limite é mais explícito, e os elementos vinculados à vida pessoal/assunto público
tende a ser separado. Algumas vezes os blogs podem ter uma relevância inesperada. É o
caso do 11 de setembro de 2001, onde relatos pessoais colaboraram para informações
“direto da fonte” . Da mesma maneira um jornal britânico contratou um morador de
Bagdá para escrever um blog diretamente da zona de conflito em 2003.

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