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Realização:
O espaço Inteligências
Múltiplas, inspirado
na neurociência. E no
detalhe, a sala Novas
Tecnologias: ambientes
dos estudos de casos
2
apresentação
a
Roberta Ferraz, coordenadora
3
EXEMPLOS MAIORES QUE OS
SONHOS. POR QUE NÃO?
c
Antonio Simão Neto, diretor da Interfaces e curador
4
3mil
pessoas estiveram
presentes no
Educação 360
Uma das apresentações de estudos de casos no
durante os dois
espaço “Você é o conteúdo”, na biblioteca dias do evento.
Enquanto as
conferências
magnas
Cadeiras aconteciam,
customizadas
na sala “O aproximadamente
ensino & o
6,5
indivíduo”
a
Pela Educação e curador
6
49
atividades foram
oferecidas ao
público.
20
horas de palestras
integraram o
evento, com a
apresentação de
39
experiências de
sucesso no Brasil e
no mundo.
100
especialistas foram
convidados.
7
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O PÚBLICO
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Edu
2
AV
Educar para um
mundo complexo
EDGAR MORIN
magnas
10
e m uma das
mais aguarda-
das conferências,
o antropólogo, soci-
nomia, somos traduzidos apenas em
números frios. Em Ciências Huma-
nas, fico sabendo como agimos em
sociedade. Mas há conhecimentos
“
ólogo e filósofo francês separados de tudo isso, e precisa-
Edgar Morin pediu para que, em tem- mos integrá-los. O aluno precisa
pos de globalização e fragmentação entender que a diversidade é o
da realidade, as escolas trabalhem tesouro da Humanidade.
mais a diversidade do ser humano. As instituições rígidas e a
Ele criticou o atual modelo de ensi- resistência de alguns professo-
no no mundo, que, segundo ele, se res, que preferem permanecer
especializou em fornecer conhe- fechados em suas disciplinas,
cimentos fragmentados. Ele afir- foram alguns dos obstáculos
mou que isso seria próprio dos mencionados pelo pensador
É preciso ensinar nossos tempos, que estão reple- para a concretização de uma
tos de conhecimentos e saberes reforma educacional, que
também o que seria dispersos, desorganizados: exigirá uma visão muito mais
— O grande imperativo de aberta de mundo.
um conhecimento hoje em dia é conectar, não so- — Ensinar a viver é também
mente o conhecimento, mas transmitir aquilo que as pesso-
pertinente. Não é também os alunos com seus as pensam sobre a sua própria
professores, conectar os huma- vida. Portanto, há muitas re-
um conhecimento nos e os povos. E, nesse mundo formas a serem feitas. Mas é
da separação, é preciso ter esse uma tarefa difícil, porque há
matematicamente conhecimento capaz de ligar, resistências institucionais.
que eu chamo de complexidade. Morin se aprofundou no
sofisticado, mas um De acordo com Morin, a escola debate filosófico e nas dico-
não atende mais às necessidades tomias para defender sua tese.
conhecimento capaz vitais do cidadão, que passariam Para ele, não existe razão sem
por um aprendizado integrado e emoção, assim como não é
de ver os múltiplos pela observação de todos os as- possível que as paixões domi-
pectos da realidade humana: nem o pensamento racional.
aspectos de uma — Aprendemos na escola Além disso, ele acredita que
muitos conceitos, muitos conhe- é preciso que as questões do
mesma realidade.” cimentos, mas todos dispersos. “eu” e do “nós” sejam traba-
Precisamos desenvolver um mo- lhadas conjuntamente, de for-
delo educacional que ligue esses ma que a pessoa não seja sufo-
conhecimentos, que os coloque cada pela sociedade. Segundo
em perspectiva. As escolas acu- ele, atualmente há um afasta-
mularam saberes, mas não são ca- mento cada vez maior entre
pazes de organizá-los. esses dois pronomes, gerando
Morin pregou que a verdadeira radicalismo nos extremos:
reforma educacional no mundo só — O “eu” deve se desenvolver
será possível assim que os currículos dentro do “nós” de modo harmô-
das diversas disciplinas se preocupa- nico. Se houver a predominância
rem em pensar conjuntamente o ser do “eu” dentro do “nós”, é egoís-
humano. mo. Mas, se o “nós” abafa o “eu”, é
— Há uma realidade mutilada de nós o indivíduo que não pode se desen-
mesmos, fatiada. Nas aulas de Biologia, volver. Temos que conciliar a relação
eu conheço nosso organismo. Na de Eco- entre família e pátria com as necessi-
11
“
Edgar Morin
Precisamos estar
conscientes de que toda
decisão é uma aposta.
E, conscientes disso,
devemos ser capazes dades do ser
humano.
de utilizar uma Já sobre a
alteridade, o an-
estratégia, ou seja, tropólogo afirmou
que não só o aluno, mas
modificar a ação ou a os cidadãos em geral preci-
sam conhecer e compreender o
decisão de acordo com “outro”. O esforço de entender a
realidade do outro lado deve come-
os acontecimentos.” çar, principalmente, pela batalha do de funda-
autoconhecimento: mental, mesmo
— Não ensinamos nem a nos cérebro, fisiologia, mesma
conhecer. As escolas deveriam es- capacidade de amar, chorar e rir. Mas
“Ter consciência é timular que alunos escrevessem eles são diferentes em relação ao ca-
diários e depois os lessem com ráter e principalmente em relação às
importante. Não o passar do tempo. E essa prática culturas. É preciso reconhecer nessa
poderia perpassar ao longo de toda diversidade uma riqueza humana.
se trata apenas a educação básica. Só conhecendo Porque a diversidade é o tesouro da
nossas fraquezas é que conhecemos unidade. Unidade e diversidade são
de transformar também as fraquezas dos outros e, inseparáveis. E o que nos torna ver-
assim, as compreenderemos. dadeiramente humanos é reconhe-
a realidade, mas O exercício da alteridade foi o cer o outro.
grande tópico do discurso de Morin. Atento à permanente mudança
transformar a si Isso porque, para ele, reconhecer as das relações humanas, Morin disse
diferenças no outro e compreendê- que é necessário que a educação es-
mesmo, e me parece -las é o que nos torna verdadeira- teja preparada para trabalhar com
mente seres humanos. Ele chamou as diversas percepções de uma re-
que nisso tudo o a atenção ainda para dois aspectos alidade que se revela cada vez mais
simultâneos da Humanidade: uma plural aos olhos dos alunos. Ele
ensino é fundamental. unidade biológica e uma diversidade deu exemplo de como um evento
cultural. Portanto, ressaltar as dife- do cotidiano, como um acidente de
A escola é capaz de renças e transmitir esses valores aos carro, pode ser relatado de formas
alunos, segundo o pensador, são os diferentes por conta das emoções
formar seres que vivam principais objetivos da escola: provocadas em cada espectador. E
— O ser humano é ao mesmo comparou ainda a capacidade de as
melhor.” tempo constituído por uma unida- comunidades elaborarem deuses e
12
“
Antônio Gois,
colunista do Globo
PIERRE LÉVY
14
‘u ma vez
que a pes-
soa tenha a
nova gerência de conhecimento, para
depois passar para os alunos.
— Nós causamos muito mais
“
base das discipli- impacto na rede do que imagi-
nas, como História, namos. Não há, no processo de
Geografia, Matemática... ela precisa compartilhamento da informa-
seguir um aprendizado autônomo, ção, uma autoridade para dizer o
seja sozinho ou em grupo.” A afir- que é falso e o que é verdadeiro.
mação do filósofo e antropólogo Assim, é importante ter capaci-
francês Pierre Lévy sintetiza, de dade crítica. Você pode criticar
certa forma, suas reflexões sobre os dados, precisa consultar vá-
as possibilidades apresentadas no rias fontes, ver visões diferen-
Em 1994, no ensino com as novas ferramentas tes... O ciberespaço não está
digitais: o indivíduo é responsá- fazendo nada. As pessoas é
início da world wide vel por seu próprio aprendizado. que estão. Esse processo co-
No entanto, essa situação fica loca a pessoa no centro do
wibe, a grande rede, mais complexa quando se insere processo de aprendizado —
um componente ético no pro- definiu o filósofo, que tam-
havia menos de 1% cesso: bém expôs desafios: — Uma
— Existem vários passos rápida busca no Google não
da raça humana para que esse aprendizado seja resolve. É um longo proces-
realizado, como uma curado- so de pesquisa. Não é fácil e
conectada. Agora, ria de dados e, logo após, uma rápido, mas que aluno que-
categorização. Quando a pes- remos formar? Queremos
20 anos depois, soa faz isso em um ambiente bons estudantes. Pessoas éti-
compartilhado como a internet, cas. Essa é uma perspectiva
temos 40% da raça acaba contribuindo para a cons- da criação de um novo modo
trução do conhecimento coleti- de fazer conhecimento e dá
humana conectados vo. Por isso, há uma responsa- trabalho.
bilidade da sua atuação na rede. A fala de Pierre Lévy ins-
no planeta. Nas A pesquisa não é mais pessoal. pirou quem estava na plateia.
Agora ela é social também — A jornalista Janaína Lellis, de
cidades grandes, em explicou Lévy, que aposta nes- 24 anos, percebeu que, assim
se modelo como o ideal para o como os meios de comuni-
qualquer continente, futuro da comunicação: — Pre- cação se desenvolveram (do
cisamos programar cabeças para impresso para o digital), a edu-
80% da população a construção do conhecimento cação precisa acompanhar esse
coletivo. processo.
estão conectados.” As técnicas, ele explicou, já — A educação ficou trava-
estão criadas. Existem inúmeras da em um momento anterior
ferramentas de distribuição de da comunicação — opina ela,
informação — especialmente via que se divertiu com duas tira-
redes sociais. Para ele, falta agora a das do francês: “Wi-fi liberado
criação de uma cultura de respon- é questão de direitos huma-
sabilidade da colaboração em rede nos” e “Espero que vocês não
dessa informação apurada. E é aí tenham postado nada no Face-
que o professor é chamado ao posto book enquanto eu estou aqui fa-
de protagonista. De acordo com o fi- lando”.
lósofo, o primeiro passo do profissional Esta nova fase da educação, se-
dessa categoria é aprender ele mesmo essa gundo Pierre Lévy, é a capacidade
15
“
Rafael Parente
Se você está
interessado em
algum assunto,
é fundamental
consultar várias
de orientar
fontes. Fontes que os alunos em
direção ao conhe-
não apresentem o cimento autônomo.
Nesse sentido, não ha-
mesmo ponto de verá o risco de o novo mo-
delo de aprendizado aumentar
vista sobre aquele a desigualdade entre classes so-
ciais, já que críticos consideram
assunto. É preciso uma necessidade transformar a bém saber
nova era em mais inclusiva. Para como usá-las.
não apenas checar o antropólogo, a questão central — Os dados não são
não está na diferença, mas, sim, objetivos ou neutros. Os mesmos
a fonte, mas fazer no indivíduo. eventos podem ser observados
— A questão mais importante de maneiras diferentes. É preci-
uma checagem é a autonomia, a liberdade e a dig- so considerar todas essas coisas
nidade. Não me importa se você para ensinar os alunos e eles não
cruzada.” tiver um bilhão e eu tiver somen- virarem ovelhinhas que seguem
te um milhão. O que eu quero é qualquer coisa — desafiou o aca-
que todos consigam sobreviver dêmico.
nesse novo ambiente complexo. Esses são os pensamentos de
“Eu acho E que tenhamos um bom sistema Pierre Lévy sobre um cenário já
de orientação, no nosso sistema existente. O filósofo ainda projeta
que primeiro educacional, para auxiliar todas que novas transformações estão
as pessoas a serem autônomas e por vir com o desenvolvimento
precisamos terem dignidade — explicou o mais apurado dos algoritmos (se-
francês. quência de instruções que com-
adaptar o nosso O auditório principal do Edu- põem os softwares).
cação 360 ficou lotado para assistir — O futuro terá combinações
aprendizado, para à conferência do filósofo. Na por- de metadados. Assim, eles serão
ta, uma fila enorme se formou, de capazes de relacionar automatica-
depois pensarmos quem não estava inscrito e tentava mente conhecimentos a partir de
uma vaga. Quem conseguiu seu conexões semânticas. A partir daí
em mudar o nosso lugar ouviu ainda que o desafio da criamos uma inteligência coletiva
pesquisa hoje não é só escolher as e reflexiva — projetou o filósofo.
ensino.” melhores informações, mas tam- O que Pierre Lévy não vê para
16
“
Pierre Lévy
As melhores fontes
são as fontes
transparentes, porque
elas mesmas dizem
quem elas são, como
lidade para
elas mesmas, a são financiadas.
ter mais conheci-
mento no meio em Elas falam sobre
que estão inseridas e ter
um conhecimento crítico sua própria pauta de
das suas próprias ações e refle-
xões — definiu Pierre Lévy. interesses.”
A importância do cidadão au-
o futuro é tônomo na obra de Pierre Lévy
uma previsão mexeu até com a realidade de
que constantemente apa- moradores de favelas no Rio de “Eu ainda sou muito
rece na ficção: a inteligência arti- Janeiro. Presente no encontro, o
ficial. O francês é enfático quan- arquiteto Manoel Ribeiro, que foi fã da inteligência
do coloca o homem no centro do coordenador em oito comunida-
desenvolvimento intelectual dele des do Favela Bairro — projeto coletiva. Mas é
mesmo — contribuindo, assim, da prefeitura do Rio de Janeiro
para a inteligência coletiva. que realizou investimento em co- preciso sublinhar
— Talvez vocês tenham perce- munidades —, afirmou que uma
bido que eu nunca utilizei o tema frase do francês mexeu com ele que a inteligência
inteligência artificial. Eu acho que durante o seu trabalho. A senten-
ele é confuso, gera uma ideia er- ça foi “O outro é alguém que sabe coletiva é baseada na
rônea. O principal efeito do al- de coisas que eu não sei”, e ela o
goritmo é aumentar a inteligência levou a mudar o olhar sobre as inteligência pessoal,
pessoal e a coletiva. E você não pessoas.
tem programas ou computadores — Ele me inspirou e me deu que não pode ser
que sejam de fato inteligentes, no uma base ética. A partir dela, tra-
sentido de autonomia, como nós balhei para perceber a identifica- substituída. A
somos. Pode haver programas al- ção da população de uma favela
tamente especializados em deter- com o objetivo de construir um inteligência coletiva é
minados usos, e, nessas habilida- conhecimento coletivo naquela
des específicas, eles são melhores realidade — afirmou o urbanista baseada nos processos
que nós, mas as decisões éticas e de 73 anos.
epistemológicas são sempre feitas de aprendizagem
pelas pessoas. O futuro vai ajudar Pierre Lévy
as pessoas a tomar a responsabi- https://twitter.com/plevy pessoais.”
17
Por uma educação
relevante e concretizada
18
‘c oncre-
tizada
relevante.
e
do que uma educação relevante deve
estar associada a competências cog-
nitivas, socioemocionais, práticas
“
Essas são as e valores éticos. — Um segundo
duas palavras que ponto, que é importante, é que
eu queria que vocês guardassem nós precisamos perceber que no
desta minha apresentação”. Com país, agora, a educação é para
essa frase, José Francisco Soares, todos. Quando a gente estava
presidente do Instituto Nacional no ensino médio, isso era para
de Estudos e Pesquisas Educa- poucos. Agora, é para todos.
cionais (Inep), iniciou sua confe- Mas tem escola que ensina de
rência. Ele, então, explicou que, fato o relevante, e outra que
O Brasil era uma apesar da afirmação presente na não ensina. E a equidade é im-
Constituição brasileira de que a portante.
república sem escolas. educação é um direito de todos, Soares defendeu a constru-
é preciso provar que ela está, ção de uma base nacional co-
A gente saiu do de fato, sendo garantida ou, em mum curricular, demanda an-
suas palavras, concretizada. Já tiga de professores. Com esse
império e se tornou a relevância diz respeito ao tipo conteúdo, no qual o governo
de conteúdo que é ensinado começou a trabalhar recente-
uma república sem aos jovens. mente, estará mais definido o
Segundo Soares, a avaliação que os alunos devem apren-
escolas para todo da concretização do direito der em cada etapa.
à educação deve ser feita por — Base nacional comum
mundo, ao contrário três dimensões: o acesso, a tra- não é currículo escolar. Não
jetória regular e o aprendizado. temos, de Brasília, que di-
de outros países da Já a relevância do conteúdo zer como cada unidade vai
deve respeitar as diferenças re- funcionar. Mas temos que
América Latina. gionais do país. definir certas coisas que o
— Cada região tem as suas aluno deve sair sabendo.
Então como povo e especificidades, o que é natu- Para isso, é preciso qualifi-
ral, por causa da cultura. Eu vi cação. Hoje, quem está na
país a gente tem que o mar pela primeira vez aos 20 escola dos bons professores
anos, minha mãe viu o mar aos aprende corretamente. Mas
trazer essa dimensão.” 65. E o meu pai não quis ver o quem não está não aprende
mar. Vocês no Rio veem o mar — ponderou.
sempre – brincou Soares, que é Soares pregou a necessida-
mineiro, em uma das ocasiões de de acesso a dados confiá-
em que pontuou seu discurso veis de escolas para que sejam
com histórias bem-humoradas. replicadas boas experiências
Segundo Soares, a dimensão educativas desenvolvidas isola-
territorial do Brasil faz com que damente. Para o presidente do
os interesses dos estudantes muitas Inep, conhecer e imitar os bons
vezes sejam diferentes, de acordo exemplos é um dos caminhos
com o lugar em que vivem. No en- para a necessária reforma de
tanto, há conteúdos que devem ser todo o sistema.
ensinados em todas as escolas. Ao longo de seu discurso, o
— Nós precisamos definir quais coi- conferencista citou metas pre-
sas comuns são essas e nós não temos vistas no Plano Nacional da Edu-
uma boa definição — disse, acrescentan- cação (PNE), aprovado em junho
19
“
Octavio Guedes,
diretor de
redação do EXTRA
A avaliação é
fundamental. O
aluno tem o direito de
ser avaliado, porque,
quando a criança não
aprende, ela precisa pelo Congresso.
Um dos objetivos
ser ajudada. Não é a universalização
do ensino infantil nos
ajudar a criança que próximos dez anos. Hoje,
de acordo com o Inep, 93%
não aprendeu é uma das crianças de 4 a 6 anos estão
na pré-escola. Por outro lado, no
forma sofisticada de ensino médio, a realidade é ruim: Ideb). Já
somente metade dos jovens de nos anos finais
exclusão.” 15 a 17 anos está nesse estágio da do fundamental, o resul-
educação formal, quando a meta é tado é menos colorido. E, no en-
chegar a 85%. Mais: apenas 66% sino médio, temos um problema
dos brasileiros de 16 anos termina- estrutural.
“O que nós ram o ensino fundamental, o que A dificuldade de alunos brasi-
o próprio gestor considerou uma leiros lidarem bem com esse tipo
oferecemos para ele “situação preocupante”. de avaliação foi abordada em uma
Soares comentou também das perguntas da plateia. A autora
(aluno de 16, 17 dados do Índice de Desenvol- da questão, uma professora, afir-
vimento da Educação Básica mava que os estudantes têm muito
anos) é um pacote (Ideb), divulgados na véspera receio de serem avaliados e, então,
da apresentação. Os números de indagava: de que maneira o Inep
inteiro sem a menor 2013 mostraram que o Brasil não pode proporcionar essa reflexão e
teve avanço na média final do abrir esse debate nas escolas?
flexibilidade. Imagina ensino médio, que ficou em 3,7, — Temos de distinguir duas di-
aquém da meta de 3,9. Nos anos mensões: a da seleção e a da ava-
o trabalhador que finais do ensino fundamental, liação. A seleção é uma forma de-
a meta era 4,4, mas a nota geral mocrática de se fazer uma escolha
vai para o ensino ficou em 4,2. Ele admitiu que o quando não existem vagas para
período final da educação básica todos. O Enem, por exemplo, faz
médio noturno, ele é sofre de problemas graves: com que tenhamos um conjunto
— Nos anos iniciais do ensi- cada vez maior de alunos que es-
obrigado a ir todos os no fundamental, observamos um tavam nos lugares mais diferen-
avanço significativo desde 2005 tes e que conseguiram vagas nas
dias à escola.” (quando foi aferido o primeiro universidades. O que não tira do
20
“
José
Francisco
Soares
Em vários países
do mundo, a
autonomia da
escola é muito
maior. É muito
maior flexibilida- comum a gente
de da dinâmica do
ensino é fundamen- ver a escola
tal nesse processo:
— Está claro, em re- administrando
lação ao ensino médio, que
temos uma dificuldade estrutu- o seu orçamento,
ral. Oferecemos para jovens de
Enem a di- 15 a 18 anos um pacote inteiro, enquanto aqui no
mensão da sele- sem flexibilidade alguma. Imagi-
ção e, sendo seleção, va- na o trabalhador que vai para o Brasil a escola está
mos ter uma tensão. Já a avaliação ensino médio noturno e tem de
é absolutamente fundamental. O ir à escola todos os dias e fazer sempre dependendo
aluno tem o direito de ser avaliado. todas as disciplinas de uma vez.
Quando a criança não aprendeu, Mais do que isso, a proposta que das secretarias.”
ela precisa ser ajudada. Não ajudar temos é de quando a escola era
a criança que não aprendeu é uma para poucos, uma proposta total-
forma sofisticada de exclusão. Há mente propedêutica para quem
pedagogias que fizeram muito mal vai para a universidade. Todos “Dos jovens de
porque sugerem que a gente não têm que ter oportunidade de ir
tem de olhar para a pessoa e ver à faculdade, mas você pode ser 16 anos, só 66%
o que ela aprendeu. Gostaríamos feliz sem ir à universidade. Nós
que toda escola entendesse, do precisamos de um ensino médio terminaram o ensino
ponto de vista pedagógico, o que que também dialogue com o tra-
significa aquele resultado. E que a balho. O que estou advogando é fundamental. Por
avaliação fosse capaz de, ao mes- que percebamos que, aos 15 ou
mo tempo em que apresentasse 16 anos, seria legal que o adoles- isso, temos que ter
os resultados, dissesse de onde os cente recebesse certificações no
resultados vêm. ensino médio, além de ter por- metas para mudar
Outra questão feita pela plateia tas da universidade abertas. Para
era sobre como o Enem pode ser isso, vamos precisar ter flexibi- essa situação, que é
útil na reformulação do currículo lidade.
escolar de forma que torne o en- muito preocupante,
sino médio mais atrativo para o Inep
aluno. Soares defendeu que uma www.inep.gov.br muito ruim.”
21
Educação para
todos em países em
desenvolvimento
SHUKLA BOSE
22
a defesa do
afeto e da es-
perança marcou
ajudá-las a aumentar suas oportunida-
des na vida. E, mais importante, elas
devem se desenvolver como indi-
“
a conferência mag- víduos com altos valores morais e
na da indiana Shukla sociais. Não é só ganhar conheci-
Bose, criadora da Fundação Humani- mento e habilidade, mas também
tária Parikrma. A educadora chamou serem indivíduos que possam se
a atenção para o quanto os vínculos avaliar, ser felizes e sentir a ale-
afetivos são importantes no pro- gria da vida. Pode soar esotéri-
cesso educativo de crianças pobres, co ou demais para pedir. Mas é
que precisam de muito mais do possível se a educação for pro-
que obter conhecimento. Na ins- jetada para desenvolver indiví-
Não precisamos tituição que coordena, a gentileza duos, para motivar, encorajar e
está entre as lições ensinadas a aperfeiçoar indivíduos, e não
ser tão especialistas estudantes. para desprezar, desaprovar e
— Acreditamos em mágica e desencorajar qualquer um.
na área para compre- milagre. Os professores devem Uma educação de alta qualida-
ser capazes de fazer o que pare- de ajuda cidadãos a trabalhar
endermos e pensarmos ce possível apenas em contos de juntos para criar instituições e
fadas – afirmou a indiana. sociedades mais fortes.
na educação. Tudo que Shukla lamentou que, apesar No entanto, ela alerta para o
da ascensão econômica de países fato de que cada sociedade tem
precisamos é de insight, em desenvolvimento, como o a sua forma de alcançar bons
Brasil e a Índia, a diferença entre resultados em educação. Não
sinceridade e muito senso ricos e pobres está aumentando existe uma fórmula única:
e, embora haja um aumento na — É muito importante que
comum. Países em desen- taxa de alfabetização em muitas a gente entenda: nem tudo que
nações, o número de crianças funciona nos Estados Unidos
volvimento, como Brasil, que não vão à escola ainda per- e no Reino Unido necessaria-
manece extremamente alto no mente tem de funcionar no
Índia e China, têm luta- mundo. Mais de 57 milhões de Brasil, na Índia, na China ou
crianças não frequentam unida- na Malásia.
do contra a pobreza por des de ensino e pelo menos 250 A indiana defendeu que es-
milhões de crianças não sabem colas “sensíveis e progressis-
muitas décadas. E há ler ou contar, mesmo frequen- tas” devem desenvolver, nas
tando escolas. Para Shukla, essas populações pobres, habilidades
mais semelhanças que nações devem aprender umas que se tornaram necessárias no
com as outras estratégias para século XXI. E argumenta que,
diferenças entre esses melhorar esse quadro: para ser autêntico, o ensino não
— Todos sabemos que a edu- deve se limitar ao desenvolvi-
países.” cação é essencial para o desenvol- mento profissional e à prepara-
vimento econômico. Cidadãos que ção para o ambiente de trabalho.
conseguem ler, calcular e pensar Os currículos escolares devem
criticamente têm oportunidades ser integrais, interdisciplinares e,
econômicas melhores, produtivida- ainda, voltados para competên-
de melhor e filhos mais saudáveis. cias exigidas pelo mundo contem-
Toda criança deveria ter a chance de porâneo. Ela usou como exemplo
ir à escola. Mas não se trata apenas de as “sete habilidades de sobrevivên-
colocá-las em salas de aula, mas de ter cia” descritas pelo especialista em
certeza de que o que elas aprendem vai educação de Harvard Tony Wagner
23
“
Ediane Merola,
repórter do GLOBO
24
“
Shukla Bose
Nossos critérios de
seleção são muito
simples: as crianças
têm que ser as mais
trabalho in- pobres de todas. Foi
tenso com a
comunidade e uma coisa que aprendi
com as famílias. A
ideia é lidar com todas com a Madre Teresa.
as necessidades das crian-
ças: as escolas ficam abertas São crianças que nun-
inclusive nos feriados, garantem
que os alunos façam sempre três re- ca teriam frequentado
feições por dia, recebam cuidados
pectativas com a saúde, além de manter uma a escola. Elas teriam
para elas e como relação próxima com as famílias dos
nós somos pacientes é o jovens. Há até parcerias com ONGs começado a trabalhar
que nós conhecemos como amor. para reabilitar pais alcoólatras.
Falo aos meus professores que, se os — Nós acreditamos na famí- ou, muitas delas, já
alunos os amarem, não vão querer lia, em valores, e damos muita im-
desapontá-los. Onde já há violência, portância a relações pessoais. Não teriam morrido por
erradicá-la deve ser uma questão de devemos perder isso — afirmou a
longo prazo. Se você é gentil com a educadora. falta de saúde.”
criança, ela será gentil com você. Quando ainda era uma estudan-
Hoje, sua Fundação — uma te, Shukla trabalhou como volun-
organização não governamental tária ao lado de Madre Teresa de
— oferece ensino gratuito a 1.600 Calcutá por sete anos. Um espec- “Também dou muita
crianças em quatro escolas. O pro- tador da conferência pediu que ela
jeto, cujo nome significa algo como contasse mais sobre como a convi- importância às meni-
“uma revolução completa”, foi vência com a líder religiosa trans-
fundado há 11 anos pela ativista, formou a vida da educadora. nas. Eu não recebo
logo após ela abandonar a carrei- — Uma das coisas que aprendi
ra de executiva de mais de 20 anos com ela foi a humildade. Apesar os meninos de uma
numa multinacional. Este ano, a de todo o reconhecimento que ela
fundação, localizada em Bangalore, tinha, continuava a ser muito hu- família se as meninas
a quarta cidade mais populosa da milde e simples. Tento desespera-
Índia, inaugurou uma academia de damente adquirir simplicidade — da mesma família não
formação de professores que aten- disse a conferencista.
de cerca de dois mil educadores. puderem frequentar a
Os bons resultados de sua inicia- Fundação Parikrma
tiva são alcançados por meio de um www.parikrmafoundation.org escola.”
25
mesas
plenárias
26
a globalização, as novas tecnologias
de informação e comunicação e as
novas descobertas das neurociências
decretaram a falência do modelo atu-
al de educação e a necessidade urgente de novos
modelos. A mesa plenária “Grandes tendências
para a transformação da educação” teve a par-
ticipação do neurocientista e professor universi-
tário José Morais, da diretora do Instituto Inspira-
re, Anna Penido, do vice-diretor do Instituto de
TENDÊNCIAS
27
“
A nossa revolu-
ção educacional
é bem diferente
daquela que acon-
teceu em países como
França, Alemanha e
Stavros Panagiotis
Xanthopoylos
O vice-diretor do Instituto de
Desenvolvimento Educacional
da FGV chamou a atenção para
a globalização dos novos tempos,
propiciada pela internet. Para ele,
o mundo virtual é um caminho
sem volta, e cabe aos educadores
Anna Penido
28
José Morais
29
Maria do Pilar, Mozart
Neves Ramos e Brian Perkins
30
‘o
professor mais bem pago deste país
deveria ser o alfabetizador.” A fra-
se de Mozart Neves Ramos, diretor do
Instituto Ayrton Senna, foi pontuada por
aplausos durante a mesa plenária “Educação e socie-
dade”, que apresentou percalços e soluções para a
educação, como a mobilização da sociedade.
O Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb), por exemplo, é esperado, todos
EDUCAÇÃO E
dade do ensino.
editor do GLOBO
31
Mozart Neves Ramos
32
Maria do Pilar da Lacerda
O desenvolvimento da educa-
ção requer investimentos a longo
prazo, segundo Brian Perkins. Para
o pesquisador americano, o tempo
do mandato de um governante do
Executivo é de apenas quatro anos
— muito pouco para querer resol-
ver as questões da área:
“
Todo projeto
pedagógico come-
ça dizendo que a
escola vai formar
cidadãos autônomos,
críticos e participa-
de Belo Horizonte (2002 a 2007), — Tem que mudar a mentali- tivos, um trecho que
quando, durante uma greve de pro- dade individual de querer a solu-
fessores, recebeu pais que queriam ção rápida. Temos que pensar em o professor já sabe
apresentar as próprias demandas. A 20 anos, e um dos aspectos mais
partir daí, começou a rotina de um importantes nesse sentido é desen- de cor. Aí você chega
encontro por mês que reunia entre volver o profissional da educação.
200 a 500 responsáveis. Essa inicia- O pesquisador aconselhou uma à escola e encontra
tiva trouxe benefícios a partir de um mudança na lógica do atual modelo
ideal de educação democrática. de investimento em educação. Hoje todos esses alunos
— A escola mostrar que se os governos injetam mais dinheiro
importa é significativo. O olhar no fim do caminho, o ensino mé- autônomos, críticos
afetivo do professor é muito im- dio. Para ele, o aporte financeiro
portante, e essa proximidade faz nos primeiros anos da educação bá- e participativos na
diferença — afirmou a educadora. sica refletiriam resultados melhores
Maria do Pilar indicou algu- no final da jornada escolar: sala da direção.”
mas maneiras de aumentar essa — Criei um programa em que
participação e o interesse de pais o aluno não passava da 3ª, da 5ª e Maria do Pilar
pela educação. Uma das iniciativas da 8ª se não tivesse um determi- Lacerda,
bem-sucedidas que conheceu foi nado nível de leitura e fui muito diretora da
em uma escola de Belo Horizon- criticado pela possibilidade de Fundação
te, onde os pais dos alunos se res- reprovação de crianças tão novas. SM
ponsabilizaram em construir sofás Oito anos depois, essa geração
para uma sala de leitura: de estudantes apresentou resul-
— Essa era uma função do tados muito melhores no ensino
Estado, mas os pais fazendo dão médio. Isso deixou claro que vale
outra dimensão para a impor- a pena aumentar os investimen-
tância da leitura. tos na educação básica.
33
Viviane Mosé, Aparecida
Lacerda e Tião Rocha
34
o
ALMA BRASILEIRA
menino tinha uma tia rainha. Na
escola, tentou falar para professo-
res sobre sua adoração pela parente
real. Mas, tendo aparência distante do
que os docentes idealizavam da aristocracia, o ga-
roto foi ignorado. Já adulto, estudou Antropologia
para resgatar a memória da tia Perpétua, rainha
do congado. O dono dessa história é o educa-
EDUCAÇÃO DE
35
Aparecida Lacerda
36
Viviane Mosé
37
Gustavo Ioschpe, Pedro Bial e
Ismar de Oliveira Soares
38
p ergunta 1: “Por que a mídia prefere
as notícias negativas e deu pouca
ênfase para a conquista, por parte de
um brasileiro, do prêmio equivalente ao
Nobel da Matemática?” Pergunta 2: “Por que a mí-
dia gastou tanto espaço com a conquista do No-
bel de Matemática quando deveria abordar mais
os problemas da educação?”
Esse foi apenas o sentido (e não a construção
literal) das duas primeiras perguntas que pousa-
EDUCAÇÃO
39
“
Edgar Morin
prestou um grande
serviço à TV bra-
sileira em 67, 68.
Era um programa
execrado, e Morin
Pedro Bial
40
Ismar de Oliveira Soares
O educomunicador é o profis-
sional responsável por estimular os
alunos a produzir conteúdo de mí-
dia. Essa foi a definição dada pelo
entusiasta e pesquisador da ideia
Ismar de Oliveira Soares, da Uni-
versidade de São Paulo (USP). Ele
afirmou que o estudante passa a ter
Gustavo Ioschpe
41
Seja no Brasil ou no mundo, o que não falta
são boas histórias sobre educação. Nos dois
dias do Educação 360, foram apresentados
37 estudos de casos selecionados de várias
regiões do país e dois casos internacionais:
escolas com modelos pedagógicos diferen-
ciados, projetos inovadores, iniciativas de
professores para estimular seus alunos,
enfim, gente que não está à espera
de que um dia a educação me-
lhore, mas que faz a sua parte
para isso.
estudos
42
de casos
COMO APRENDER
“
FÍSICA BRINCANDO
d ouglas de Melo
Silva, de 27 anos,
mostrou que a
criatividade pode
ser uma grande
aliada na hora de ensinar Física.
O professor criou uma série de
atividades que mudaram a forma
de avaliar seus alunos. Uma delas
outros professores.
— Sei que já tem professor
adaptando para Geografia e Mate-
mática. A ideia é que se dissemine
mesmo — afirmou Silva.
Além do jogo de tabuleiro, o
professor desenvolve experimen-
tos, pelos quais o aluno entra em
contato com a Física de forma
Alguns alunos já
me contaram que
estão pensando em
foi um jogo de tabuleiro, Túmulos direta, como a produção de uma
Físicos, que ajuda os estudantes pilha feita com frutas. criar jogos, e eu apoio.
a assimilar, de maneira lúdica, o — Assim eles aprendem que
conteúdo do ano letivo. dentro das frutas tem energia. É Digo a eles que têm
Todo confeccionado pelo pro- importante problematizar situa-
fessor, o jogo é inspirado no tradi- ções do cotidiano dos alunos. Eles que tentar mesmo.”
cional Banco Imobiliário. Mas, em precisam ver onde aplicam aquilo
vez de comprar casas, títulos de que estou ensinando. Por exem- Douglas de Melo Silva,
propriedades ou hotéis, os alunos plo: fiz com eles um circuito com professor de Física
adquirem covas, lápides e mauso- limões. Agora, eles sabem que
léus de físicos famosos, como Al- podem ligar uma TV com limão.
bert Einstein, e cada carta corres- Tudo bem que vão precisar com-
ponde a uma pergunta de Física. prar uns 300, e a televisão só vai “Eles contam que
— Assim, eles passam a conhe- piscar, mas eles já sabem da pos-
cer as pessoas relacionadas a este sibilidade – afirmou, provocando passaram a conversar
universo — explicou o professor, risos no público.
que atua como banqueiro e ava- Da plateia, a professora Fátima mais com os pais por
liador, já que ele também atribui Cristina Magalhães, de 38 anos,
nota aos alunos, pela maneira aproveitou para compartilhar sua causa do xadrez.”
como participam da atividade. experiência. Professora do Colé-
Ele usa o jogo como prova nas gio Estadual Erich Walter Heine, Fátima Cristina
18 turmas em que leciona nos mu- em Santa Cruz, Zona Oeste do Magalhães,
nicípios de Niterói e São Gonçalo. Rio, ela usa o xadrez na aula de professora
A experiência ajudou os alunos a Prática Administrativa. de Prática
aprender conceitos como peso, — Eu os instigo a procurar as Administrativa
massa e temperatura e, de quebra, regras para aprender a jogar. Isso
conseguiu melhorar as médias, já é muito bom porque incentivo,
que foram de 5 para 8, no Ciep assim, a busca pelo conteúdo. Há
George Savalla Gomes — Palha- também outros benefícios, já que
ço Carequinha, em São Gonçalo. melhora a concentração e a intera-
O uso do jogo de tabuleiro nas ção social — comemorou Fátima.
aulas, que começou em 2013, foi
tão bem aceito que já está sendo PROF. DOUGLAS DE MELO
aplicado em outras escolas, por douglas_termodinamica@ig.com.br
43
EM BUSCA DOS ALUNOS
“
QUE FALTAM ÀS AULAS
A presença dos
pais na escola é
n o Colégio Estadual
Raul Vidal, em Ni-
terói, se o aluno não
vai à escola, a escola
vai até o aluno. Só
no último ano, a diretora Antô-
nia Crispim reintegrou 181 alunos
faltosos à sala de aula. A ação faz
parte do programa de combate à
Muitas vezes, o aluno que está fora
da escola ingressa no mercado de
trabalho para complementar a ren-
da familiar.
— Uma vez fui visitar uma alu-
na faltosa no Ceasa (Central de
Abastecimento, em Irajá, Zona
Norte do Rio), onde ela estava tra-
balhando. Mas ela não voltou para
fundamental. Por evasão escolar da Secretaria esta- o colégio — contou a diretora. —
dual de Educação. Ela morava num lar que não cor-
isso, criei o café com — Nós temos que combater as respondia às exigências do Esta-
faltas antes que elas se transfor- tuto da Criança e do Adolescente,
os familiares. Os mem em evasão escolar — afir- então tive também que conversar
mou Antônia Crispim. com sua família.
encontros acontecem O trabalho de Antônia conta Claudeluci Montalvão, de 18
com o apoio fundamental dos alu- anos, faz parte do time de visita-
bem cedo, então todos nos, já que o monitoramento da dores. A aluna do 3º ano do ensino
frequência do grupo fica a cargo médio contou que o trabalho de
podem comparecer.” do representante de cada turma. resgate exige muito cuidado. Afi-
Toda sexta-feira, é entregue à dire- nal, o colega faltoso não deve se
Antônia Crispim, tora uma lista com os nomes dos sentir pressionado:
diretora do C.E. alunos faltosos. — Eu tento mostrar para ele a
Raul Vidal — Se o aluno faltou três dias du- importância de se estar na escola,
rante a semana, eu ligo o meu alerta. a falta que ele faz na turma. Não
O primeiro passo é telefonar para chego ao domicílio pedindo justi-
esse aluno — contou a diretora. ficativas. Busco apontar exemplos.
“A gente fala a lín- Essa abordagem é feita por Falo do meu pai e da minha mãe,
meio de um telefonema. Mas, se a que não têm estudo e “batem mui-
gua dos alunos.” estratégia não surte efeito, Antô- ta cabeça” para sobreviver até hoje.
nia parte para o resgate domiciliar. Antônia costuma dar o seu nú-
Claudeluci Para a tarefa, a educadora recrutou mero de telefone para os alunos.
Montalvão, 14 alunos da escola que formam o Uma forma de estabelecer mais um
aluna time de visitadores. canal de comunicação com o grupo
“visitadora” — A visita de um colega levanta e monitorar sua frequência:
a autoestima do aluno faltoso — — Avisamos sempre se vamos
garantiu Antônia. — O time de faltar ou chegar atrasados. Já estu-
visitadores é formado por jovens dei em escolas onde só fui conhe-
que já faltaram muito às aulas. cer o diretor no meio do ano —
Ausência de motivação, falta de revelou Claudeluci.
acompanhamento dos pais e difi-
culdade na aprendizagem são algu- PROF. ANTÔNIA CRISPIM
mas das razões por trás das faltas. antoniacrispim@hotmail.com
44
PROJETO DE LEITURA
“
NA ILHA DE MARAJÓ
e ra uma viagem de
escola, e o estudante
carioca Luis Carlos
Guedes, então com
16 anos, em 2012,
chegou à Ilha de Marajó, no Pará,
achando que encontraria belezas
naturais e muita pobreza. Mas Luti,
como é chamado pelos amigos,
não é o espaço físico, é um lugar
de espaço e tempo das nossas vi-
das onde a gente aprende.
O acervo da biblioteca Sonho de
Papel foi montado com 300 livros
doados no Rio, que Luti levou nas
malas a cada volta à comunidade.
Os amigos brincavam: “Lá vem o
Luti sem fronteiras”, e a expressão
Eu aprendi que
para acontecer
educação é preci-
enxergou além e quis transformar acabou nomeando a ONG criada
de alguma forma a vida da comu- por ele: Lute sem Fronteiras, com so ter uma pessoa
nidade ribeirinha de São Miguel, a ajuda do Instituto Azzi, que tem
no município de Portel. De lá para como objetivos mostrar a Amazô- disposta a ensinar
cá, criou uma biblioteca e projetos nia do ponto de vista de quem vive
sustentáveis que desenvolvem a co- lá e desenvolver a comunidade. e outra disposta a
munidade. Mais: construiu com os Segundo Andrei Pinheiro, coor-
moradores uma escola para educa- denador da biblioteca, a população aprender, não é uma
ção infantil e ensino fundamental. agora tem sonhos. Ele, que ficou
Até então, os alunos tinham que quatro anos sem estudar, está ter- questão de dinheiro.
viajar de barco quatro horas por dia, minando o ensino médio aos 21 e
para chegar ao colégio mais próximo. quer ser engenheiro florestal: O mais incrível des-
Hoje, a escola de São Miguel tem — Eu era daqueles que tinham
pouco mais de cem estudantes e seis preguiça de ler, que escolhiam os ta escola é que não
professores cedidos pela prefeitura. livros mais finos. Quando pensa-
Graduando de Direito na PU- mos na biblioteca, ficamos em dú- fui eu que fiz, nem
C-Rio, Luti tem 21 anos agora e vida se a galera ia mesmo gostar.
inspirou a plateia com sua história. Me surpreendi porque todos gos- a prefeitura, mas
Ele é o único jovem embaixador tam muito de ler e eu já até escolhi
da ONU na América Latina para um livro bem volumoso! todos eles.”
Cidadania Global e Educação e foi Um aluno da Escola Sesc que es-
ganhador do Prêmio Faz Diferen- tava na plateia ficou especialmente Luis Guedes,
ça 2013 pelas iniciativas na região. sensibilizado. Paraense da Ilha de criador da
Para resolver a falta de dinheiro Cotijuba, Gabriel Lira, de 16 anos, ONG Lute sem
para a construção da escola, Luti viveu as mesmas dificuldades dos Fronteiras
correu atrás de doações e trabalho meninos de São Miguel:
voluntário: — Sei o quanto é difícil ter que
— O mais incrível da nossa es- estudar longe de casa, para onde
cola é que ela foi construída pelo você faz uma verdadeira viagem de
Ronildo, pelo Ramon, pela Socor- barco para chegar. Isso atrapalha o
ro, pela Araci... Foram eles que fi- aprendizado.
zeram a escola onde estudam seus
filhos e seus irmãos mais novos. LUTE SEM FRONTEIRAS
Foi aí que eu aprendi que a escola http://lutesemfronteiras.tumblr.com
45
LITERATURA INFANTIL PODE
“
SER COISA DE ADULTO
A narrativa está
na vida da gente
a história do Insti-
tuto Ler É Abra-
çar começou há
oito anos, quando
suas fundadoras,
as educadoras Rona Hanning e
Carolina Sanches, foram convi-
dadas a desenvolver um progra-
ma de leitura com 250 crianças,
com moradores de comunidades
não pacificadas do Rio de Janeiro.
Segundo Rona, cerca de 80% dos
participantes são mulheres já apo-
sentadas:
— Essas pessoas têm um con-
texto de vida difícil. O ponto de
partida foi identificar uma questão
em comum, que pudesse ser abor-
para nos lembrar em um abrigo do Méier, na Zona dada de várias maneiras. Com isso,
Norte do Rio de Janeiro. Desde conseguimos sensibilizar grande
de que a gente então, o projeto cresceu, ganhou parte dos integrantes.
uma sede na Tijuca e, além de A professora aposentada Val-
existe.” continuarem trabalhando com dete dos Santos conhece bem esse
crianças, elas tentam envolver os universo literário. Ela trabalhou
adultos no mundo da literatura in- durante 11 anos na sala de leitura
fantojuvenil, organizando encon- da Escola Municipal 25 de Abril,
“Livro é secundário. tros mensais no local. em Freguesia, no bairro de Jacare-
— Há algumas décadas, o desa- paguá, na Zona Oeste da cidade.
As pessoas é que são fio era ter o livro nas bibliotecas. De acordo com sua experiência,
Havia pouco material de literatura no início, os alunos resistem aos li-
importantes. Essa é infantojuvenil disponível no Brasil. vros, mas, com o tempo, o quadro
Hoje, a batalha é outra: fazer com é revertido.
que é a ‘virada’ da que o livro, que já está nas escolas, — Fora dos horários das ofi-
chegue até as pessoas, sensibilizan- cinas, que eram obrigatórias, eles
sala de leitura.” do-as de alguma forma — afirmou iam para a sala de leitura assistir
Rona Hanning. à televisão. Fomos tentando, aos
Rona Hanning, Para Rona, é importante acabar poucos, mudar o hábito dos alu-
pedagoga com o preconceito que os adultos nos. Começamos a colocar à dis-
têm de que a literatura infantojuve- posição revistas em quadrinhos e
nil é algo menor: tiramos o aparelho de TV. Depois
— É preciso entender que ela de aproximadamente três anos,
nos motiva a olhar para a vida. A percebemos que havia sido criado
narrativa, mesmo através de ima- um grupo de leitores. Eles foram
gens, está na nossa vida para lem- ampliando os interesses e, além
brar que existimos, que temos mais dos gibis, passaram a se interessar
que apenas um instinto de sobre- pelos livros. O trabalho que de-
vivência. Mesmo que sejam deli- senvolvemos na escola foi pareci-
cadas, as imagens podem trazer à do com o que é feito pelo Ler É
tona lembranças muito duras, de- Abraçar — contou, orgulhosa.
pendendo da vivência de cada um.
Nos últimos três anos, o institu- INSTITUTO LER É ABRAÇAR
to vem desenvolvendo um projeto http://lereabracar.blogspot.com.br
46
EMPREENDEDORISMO E
“
SUSTENTABILIDADE EM BALI
c onsiderada a escola
mais verde da Ter-
ra, a Green School
— localizada em
Bali, na Indonésia
— foi criada há cinco anos pelo
empresário canadense radicado em
Bali John Hardy. Ele, que ganhou
fortuna no ramo de joalheria, de-
estimula a minha criatividade. Além
da matemática e do inglês, a gente
tem aula de Drama, Música, Arte,
Estudo Verde, Computação e Es-
portes”, contou o aluno brasileiro
Tiago, durante o vídeo de apresen-
tação. Outra aluna chamou a aten-
ção para a horta da escola: “Aqui, a
gente planta, cuida, colhe e depois
Um rio passa no
meio da escola.
Isso é mais magní-
cidiu mudar sua vida após assistir come tudo que a gente plantou.”
ao documentário “Uma verdade O pai de Tiago vê no dia a dia da fico do que qualquer
inconveniente”, de Al Gore. “Pen- Green School o ideal do educador
sei em que mundo ia deixar para os Paulo Freire, que acreditava que es- paisagem.”
meus quatro filhos e investi tudo cola boa é aquela que o aluno gosta
para fazer uma escola carbono de frequentar até no fim de semana:
zero e que trouxesse benefícios “O que acho incrível é a alegria que
para o entorno e para o planeta”, meu filho tem pra vir pra cá todos “O professor deve ter
disse ele, em vídeo exibido durante os dias. Isso é justamente o que
a apresentação do estudo de caso. Paulo Freire falava.” A mãe justifica uma escuta ativa para
Com 450 alunos de 45 naciona- essa atitude: “As crianças amam vir
lidades, a escola oferece, do jardim porque, além de ser um lugar mági- saber qual é o ritmo
de infância ao ensino médio, um co, elas se sentem respeitadas.”
espaço totalmente integrado à na- Para estudar na instituição, é pre- e qual é a necessida-
tureza, construído em bambu, com ciso pagar uma mensalidade de US$
água reciclada e quase toda a ener- 1 mil (cerca de R$ 2,5 mil). A partir de de cada um dos
gia oriunda de placas solares. Há, dos conceitos de ecologia e de sus-
inclusive, um aluno brasileiro. tentabilidade, a escola une discipli- alunos.”
A educadora Carolina Bergier nas tradicionais a aulas de artes, es-
foi voluntária da escola e apresen- tudos verdes e empreendedorismo. Carolina Bergier,
tou a iniciativa: O resultado é que, entre os alunos ex-voluntária
— Não há paredes, e isso nos da primeira turma de formados no da escola
faz aprender que, entre mim e ensino médio da escola, no meio de
você, não há barreiras e que mi- 2014, alguns foram aceitos em uni-
nhas ações impactam o outro. versidades como Harvard e Cam-
Apesar do cenário deslumbrante, a bridge sem necessidade de exames,
verdadeira magia da Green Scho- pois essas instituições consideram
ol acontece dentro da sala de aula. que os alunos da Green School, se-
Cada estudante tem o seu tempo e gundo Carolina, “estão preparados
sua maneira de aprender. O foco para o mundo”. Outros já têm o
na sustentabilidade busca formar próprio negócio.
futuros líderes verdes.
Para os alunos, o ambiente faz GREEN SCHOOL
toda diferença: “Esse espaço aberto www.greencampbali.com/newsite
47
ESCOLAS VIVAS: O ALUNO
“
APRENDE COM SEUS ATOS
Os alunos são
certificados de
‘a lguém aqui es-
pera uma mu-
dança na educa-
ção?”. Foi com
essa pergunta
que a advogada e educadora Maria-
na Carvalho iniciou a apresentação
sobre as chamadas escolas vivas.
Quase todas as pessoas levantaram
ainda haver uma de 13 anos que não
esteja preparada para isso.
Castigo também é um termo
que não existe nesse modelo, e sim
consequências.
— Numa escola que visitei, uma
criança costumava se jogar numa
porta de bambu. A educadora cha-
mou a atenção dela algumas vezes,
que passaram pela a mão. E ela rebateu: mas ela continuou. Como conse
— Não vai rolar mudança na quência, essa criança foi indagada
educação infantil, educação enquanto a gente conti- pela educadora sobre quanto tempo
nuar apenas esperando por isso. ela deveria ficar sem entrar naquela
ciclo fundamental e As escolas vivas são espaços sala. O efeito tem sempre que estar
onde o aluno aprende através de ligado à causa — conta Mariana.
ensino médio.” suas próprias ações. Mariana visi- O modelo explanado por Maria-
tou algumas na Bahia e na Argenti- na surgiu com a Escola da Ponte,
Mariana Carvalho, na de 2012 a 2014 e percebeu que de Portugal. A instituição, no co-
educadora essas instituições não têm uma for- meço, era classificada como escola
ma única. Por onde andou, notou livre. No entanto, a dificuldade de
modelos que acontecem em jar- explicar para pais e educadores que
dins, residências e até salas de ioga. a tal liberdade tinha certas restri-
“Em educação, a Para ela, o diferencial do projeto ções deu origem à nomenclatura
de uma escola viva é a sensibilidade “escola viva”, que hoje também
gente tem muito esta do educador. E exemplificou: existe no Brasil, no Uruguai, na
— Quando uma criança quer Argentina e na Espanha.
cultura do medo. A mostrar um desenho, ela diz “olha Da plateia, o educador Leandro
o que eu fiz” e não adjetiva “o que Gomes chamou a atenção para a
gente tem que ter eu fiz”. Mas, quando a gente co- resistência da sociedade a projetos
menta, com um “que lindo!”, um inovadores de ensino. Para ele, não
menos medo e processo destrutivo se inicia nessa é o diploma que faz um educador,
criança. Ela vai passar a competir mas, sim, a sua capacidade de dia-
mais vontade.” consigo mesma e se superar sem- logar com o aluno.
pre. Já o educador da escola viva — Eu acredito em quem cons-
Leandro diz: “Legal, você fez uma caixinha trói a aula com amor e vontade, em
Gomes, com uma mancha preta grande e quem consegue se expressar com
educador um traço vermelho.” Ele não cria a criança. A gente tem que acabar
um problema para a criança. com esse medo do novo. Existem
Na escola viva, generalizar é erro. várias pessoas no mundo, não exis-
O olhar individualizado é o diferen- te um único modelo de ensino.
cial. Há crianças, por exemplo, que
estão preparadas para usar uma faca MARIANA CARVALHO
com segurança, outras, não. Pode mari.bfc@gmail.com
48
TECNOLOGIA TELECURSO:
“
METODOLOGIA TELESSALA
n o fim da década de
1970, um programa
de TV que surgiu
para levar escolari-
dade básica a quem
precisava concluir os estudos ia ao
ar pela primeira vez. Era o Tele-
curso, que, em 1993, chegou tam-
bém às salas de aula e se tornou
municipal. Uma das escolas que
vivenciaram a proposta foi o Ciep
Federico Fellini, em Tomás Coe-
lho, Zona Norte do Rio.
A metodologia articula o con-
teúdo científico com ações lúdicas
dentro de sala. Os alunos sentam
em círculo, assistem a teleaulas e
participam de debates em que são
O elo afetivo que
esse professor cons-
trói com o grupo é
uma metodologia adotada por go- instigados a fazer reflexões sociais.
vernos, empresas e instituições do — Seu currículo valoriza a cul- muito importante.
terceiro setor. tura nacional e local, trazendo a
A tecnologia educacional Te- vida para dentro da sala de aula Por isso a gente acre-
lecurso/Metodologia Telessala já e estimulando a criatividade e a
foi implementada em mais de 32 participação social. Muitos estu- dita na existência de
mil salas de aula, formando mais dantes chegam à sala sem sonhos,
de 40 mil professores e mais de sem perspectiva de vida, mas du- um único professor,
sete milhões de estudantes em rante o processo começam a se re-
todo o Brasil. conectar com eles mesmos e com porque os alunos estão
Por meio de uma parceria fir- a sua missão no mundo — disse
mada em 2013 entre a Fundação Helena. precisando resgatar a
Roberto Marinho e o Ministério da Para a implantação da metodo-
Educação, foi ampliado o número logia, a Secretaria de Educação do amorosidade. A afeti-
de estados que adotam a metodo- estado ou do município precisa
logia em escolas da rede pública mapear as escolas que apresentam vidade tem que estar
para a adequação da idade-ano. Em muitos alunos em defasagem ida-
2014, alcançou 223 mil alunos em de-ano e identificar professores da presente em todo o
12 estados. própria rede que possam assumir
— A iniciativa também é utili- turmas. Esses docentes passam processo.”
zada para a Educação de Jovens e por uma formação continuada ao
Adultos e como alternativa ao en- longo do projeto. Helena Jacobina,
sino básico em municípios e comu- — O professor também é um coordenadora
nidades dispersas. Temos experiên- aprendiz, na medida em que passa
cias bem-sucedidas na Amazônia, a mediar o conhecimento, valori-
no Acre, em Rondônia e no Pará zando os saberes dos estudantes e
— explicou Helena Jacobina, coor- colocando-os como protagonistas
denadora de projetos da gerência de sua aprendizagem – explicou a
de Educação e Implementação da coordenadora.
Fundação Roberto Marinho.
No Rio, a primeira experiência TELECURSO/
aconteceu em 2009, com o proje- METODOLOGIA TELESSALA
to Autonomia, em nível estadual, www.telecurso.org.br/metodologia-te-
e o Autonomia Carioca, em nível lessala
49
PROJETO DA PREFEITURA
“
DO RIO DÁ ATENÇÃO
ESPECIAL A ADOLESCENTES
Um aluno ‘terrí-
vel’ pediu para se
sentar do meu lado
a s transformações
físicas e emocionais
da pré-adolescência
começam por volta
dos 11 ou 12 anos,
logo na chegada dos jovens ao 6o
ano, que marca o início do segundo
segmento do ensino fundamental.
Para garantir uma melhor apren-
das provas bimestrais, seja nas ava-
liações externas.
A professora Ana Ligia Reis, da
Escola Municipal Adlai Stevenson,
localizada em Vista Alegre, bairro da
Zona Norte, destacou a importância
do papel do professor na construção
desse novo paradigma educacional:
— O apoio do professor nes-
na sala. Sabia que dizagem dos alunos e prepará-los sa fase é importante para o jovem.
para os próximos desafios da vida Ele deve estar sempre por perto,
a concentração dele escolar, a Secretaria municipal de deve ser observador e motivador,
Educação do Rio de Janeiro desen- para poder ajudar nessa formação
melhorou? Tudo isso volve em 378 turmas uma solução de modo mais eficaz. Em termos de
simples, mas inédita no Brasil: o 6º conteúdo, ter um só professor ajuda
passa pelo carinho.” ano experimental. o aluno a entender que as disciplinas
O diferencial do projeto é re- se relacionam entre si, porque os
Ana Lígia Reis, presentado pela figura do profes- conteúdos são articulados. Assim,
professora sor generalista, que leciona todo ele chega mais preparado ao 7º ano.
o conteúdo previsto no programa Aos poucos, o município se or-
curricular. Dessa forma, os estu- ganiza para implementar a novi-
dantes só passam a ter oito profes- dade em todas as escolas da rede
“No 6o ano, temos sores no 7º ano, quando já estão que oferecem o 6º ano. A secretá-
mais amadurecidos e preparados ria municipal de Educação, Helena
a maior taxa de para lidar com as transformações. Bomeny, salientou que o caminho
A medida começou a ser testada a ser percorrido ainda é longo.
reprovação no em escolas da rede municipal em — A rede é muito grande, temos
2011, por causa dos elevados índi- 1.515 escolas e precisamos adap-
Brasil inteiro.” ces de evasão escolar e repetência tá-las a essa realidade que estamos
no 6o ano identificados em todo criando. Primeiro, porque estamos
Jurema o país. Durante a apresentação do incluindo um ano a mais no primeiro
Holperin, projeto, a subsecretária de ensino da segmento, em escolas que normal-
subsecretária rede, Jurema Holperin, explicou por mente oferecem aulas até o 5o ano e
municipal que é uma iniciativa importante: passarão a fazê-lo até o 6o. Acredito
de — Nós apostamos na manuten- que essa reorganização da rede será
Educação ção do vínculo com um único pro- gradativamente implantada.
fessor, porque esse é um momento
turbulento para esses jovens, e tem SECRETARIA MUNICIPAL
dado resultado. As turmas apre- DE EDUCAÇÃO DO RIO DE
sentam médias muito superiores às JANEIRO
turmas regulares, seja no resultado www.rio.rj.gov.br/web/sme
50
CLUBE DE LEITORES: MAIS
“
LEITURA E TROCA DE IDEIAS
51
O SEGREDO DO SUCESSO
“
DE SOBRAL, NO CEARÁ
52
O PAPEL DOS GAMES
“
NA EDUCAÇÃO
53
ISMART: UM INSTITUTO
“
EM BUSCA DE TALENTOS
Eu soube quanto
o Ismart pagava
h á 10 anos, o estudante
Luiz Fernando da Sil-
va Sousa viu sua vida
mudar completamen-
te — e para melhor.
Morador da Rocinha, no Rio de Ja-
neiro, ele é um dos jovens talentos
que foram beneficiados pelo Insti-
tuto Social para Motivar, Apoiar e
— disse Maria Amélia.
Os estudantes também recebem
acompanhamento psicológico e
bolsas para aprender inglês. A série
de benefícios contempla progra-
mas de tutoria e monitoria, progra-
ma de verão no exterior, atividades
culturais, orientação vocacional e
desenvolvimento profissional.
por ano por cada Reconhecer Talentos (Ismart), que — Não adianta darmos só a edu-
seleciona alunos de baixa renda, de cação formal. Temos que oferecer
aluno. E pensei: a 12 a 14 anos, e lhes concede bolsas todo o aparato para desenvolver
em escolas particulares. o potencial dos jovens. Por esses
mensalidade disso — Graças ao Ismart, estudei no alunos virem de escolas públicas,
Colégio São Bento (um dos mais nós os ensinamos a transitar em
aqui é o salário da bem colocados no Enem) e, no fim mundos diferentes e orientamos
deste ano, me formo em Direito na nos desafios acadêmicos, para que
minha mãe.” PUC-RJ, com bolsa de 100% — aprendam a ter uma disciplina para
contou Sousa, hoje com 22 anos. o estudo. Dessa forma, ampliamos
Raí Gomes, ex-bolsista Atualmente, a instituição tem suas perspectivas de trabalho e de
do Colégio São Bento cerca de mil bolsistas ativos em vida — explicou a diretora.
São Paulo (capital, Cotia, São José Outro jovem que, com o apoio
dos Campos e Sorocaba) e no Rio do projeto, conseguiu traçar um
de Janeiro. A diretora executiva do novo futuro foi Raí Gomes. Em
“Eu convenci minha instituto, Maria Amélia Sallum, ex- 2005, então estudante da Escola
plicou que são selecionados anu- Municipal Gonçalves Dias, em São
irmã a fazer facul- almente cerca de 200 alunos, por Cristóvão, Zona Norte do Rio de
meio de parcerias com as secreta- Janeiro, ele foi selecionado pelo
dade. Você acaba rias municipais de Educação. Ismart e, assim como Sousa, con-
Os candidatos devem estar ma- quistou uma bolsa de estudos no
influenciando triculados no 7º ou no 9º ano do Colégio São Bento:
ensino fundamental, ser prove- — Quando terminei o ensino
muita gente.” nientes de famílias com renda per médio, mudei-me para São Gon-
capita de até dois salários mínimos çalo e comecei a cursar Ciência
Luiz Fernando e nunca ter repetido de ano. Além da Computação na Universidade
Sousa, ex- de pagar a mensalidade escolar, o Federal Fluminense (UFF). Eu me
bolsista do Ismart fornece aos alunos material formo no fim do ano. Outra con-
Colégio escolar, uniforme e ajuda de custo quista na minha vida foi ter con-
São Bento para transporte e alimentação. seguido uma vaga de estágio na
— Acreditamos que o profes- Microsoft. Estou lá há dois anos.
sor é quem melhor tem condições
para identificar os alunos que são ISMART
curiosos e que gostam de estudar www.ismart.org.br
54
ESCOLAS BILÍNGUES NA
“
REDE MUNICIPAL DO RIO
55
UM BRASIL CHEIO DE BOAS
“
PRÁTICAS EDUCACIONAIS
Concordo com
o educador José
a os 22 anos, o jor-
nalista Caio Dib
abandonou o tra-
balho no escritório
para conhecer boas
práticas educacionais espalhadas
pelo Brasil. O que era apenas um
desejo pessoal se transformou no
projeto Caindo no Brasil, criado
ças e jovens.
O jornalista não encontrou ta-
blets e softwares pelo caminho, mas
conheceu projetos voltados para o
desenvolvimento de competências
e valores fundamentais para uma
vida na cultura digital, como sensi-
bilidade, diálogo e empatia.
A ONG criada por Monique em
Pacheco quando ele e financiado por ele mesmo. Du- 2011 está no livro de Dib. A inicia-
rante cinco meses, Dib visitou 58 tiva investe em palestras, seminá-
diz que, em educa- cidades de 12 estados do país. Um rios e oficinas para levar conscien-
dos projetos que conheceu foi a tização social a crianças e jovens.
ção, a prática chama ONG Desabafo Social, criada pela No ambiente virtual, estimula de-
estudante Monique Evelle em Sal- bates por meio das redes sociais,
a teoria.” vador, Bahia, para promover ações de uma web rádio e de sua própria
em defesa dos direitos humanos da revista on-line.
infância e juventude. Juntos, Dib — A ideia é estimular o engaja-
e Monique compartilharam expe- mento dos jovens em causas sociais,
“Eu não busquei riências que enriquecem o debate garantindo a realização de ativida-
sobre educação no Brasil. des em que exista a troca de expe-
conhecer aquela escola O roteiro da viagem do jornalis- riências sobre os direitos humanos
ta incluiu 30 iniciativas com cará- — contou Monique, exemplifican-
boa, senso comum, ter regional fundamentadas numa do: — Quando uma reportagem
cultura de formação para a vida. revela o nome de um menor, eu
que faz o aluno Pelo site, é possível conhecer os chamo a atenção dos meninos para
projetos mapeados por Dib. Qua- o erro cometido pelo repórter. Um
passar na prova do torze dessas iniciativas estão em menor não pode ter o seu nome re-
seu livro “Caindo no Brasil”, re- velado na imprensa.
vestibular.” cém-lançado. Priorizando a atuação em bair-
— A viagem me fez perceber ros populares, o Desabafo Social
Caio Dib, que são as sutilezas que fazem a recebeu, em março de 2014, o Prê-
jornalista e diferença na educação — afirmou mio de Protagonismo Juvenil pela
escritor Caio Dib. — Em uma escola de Associação Brasileira de Magistra-
educação infantil, os próprios alu- dos, Promotores de Justiça e De-
nos criaram regras de convivência fensores Públicos da Infância e da
que foram penduradas na parede. Juventude.
E deu muito certo. Conheci tam-
bém um caso muito interessante CAINDO NO BRASIL:
na cidade de Nova Olinda, no Ce- www.caindonobrasil.com.br
ará: a Fundação Casa Grande, que
oferece um programa de capacita- DESABAFO SOCIAL:
ção em gestão cultural para crian- www.desabafosocial.com.br
56
PROJETO DUPLA ESCOLA:
“
FORMAÇÃO INTEGRAL
57
O PLANO DE EDUCAÇÃO
“
EM TERESINA, NO PIAUÍ
O aluno precisa
ser instigado. Não
o s resultados obtidos
nos últimos anos
pela Escola Munici-
pal Bom Princípio,
de Teresina (PI), na
Prova Brasil, que compõe o Índice
de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb), têm sido motivo de
orgulho. A instituição conquistou
já era baixa (0,3 nos anos iniciais).
Depois do trabalho realizado junto
aos pais, está há dois anos em 0%.
— A gente quer dividir a respon-
sabilidade com os pais e responsá-
veis. Começamos promovendo um
festival de sorvete e, na ocasião,
aproveitamos para apresentar toda
a equipe, mostrar a infraestrutura
adianta planejar 6,7 no Ideb de 2009, 7,7 em 2011, da escola e destacar as vantagens
e 5,8 em 2013. Apesar da queda, o da participação da família nesse
um tema que não resultado ainda está cinco pontos ambiente. Não é necessário que o
acima da meta projetada para este pai seja alfabetizado para acompa-
esteja em alta. A ano, que era 5,3. Com isso, a escola nhar o filho nas atividades — afir-
rural Bom Princípio se tornou uma mou Iraneide, ressaltando que a
cidade fez 162 anos, das melhores escolas públicas do parceria entre a escola e a família
1º ao 5º ano do país. tem sido um sucesso: — Oferece-
então voltamos todas Os números chamam ainda mais mos várias atividades para os res-
atenção quando a diretora pedagó- ponsáveis, como ginástica e curso
as nossas atenções gica Iraneide Santana Gomes Nasci- de material de limpeza. Em um dos
mento conta que a escola, que atende cursos, os pais produziram xampus
para isso. Identifi- 310 alunos, carece de infraestrutura. a partir de ervas que colheram no
— Não temos biblioteca, mas te- quintal de casa.
camos o que pode mos um pátio onde os alunos, reuni- Outro diferencial da Bom Prin-
dos debaixo de uma árvore, partici- cípio é o tempo de duração de cada
ser trabalhado nas pam de rodas de leitura. Priorizamos aula, que é de 60 minutos.
ações que garantem a aprendizagem, — Aumentamos em 10 minutos
disciplinas com esse damos assistência pedagógica aos a duração das aulas para garantir o
professores e fazemos um planeja- tempo de aprendizagem dos nossos
tema.” mento focado nas necessidades de alunos — justificou a pedagoga.
cada um. Temos empreendido mui- Iraneide também afirmou que a
Iraneide tos esforços para que nossos alunos afinidade da equipe é essencial para
Santana, aprendam a ler já nos primeiros anos um trabalho bem feito.
diretora do ensino fundamental. — Nossa equipe é muito coe-
pedagógica Em 2007, quando Iraneide che- sa, ama o que faz e pensa 24 horas
da Escola gou à escola, a nota da instituição no bem-estar dos alunos. Mesmo
municipal no Ideb era 4,4, não muito diferen- quando nos encontramos fora do
Bom te da média do Nordeste, de 3,5. ambiente escolar, o assunto é sem-
Princípio De acordo com a pedagoga, um pre o mesmo: nosso trabalho.
fator importante na melhora dos
resultados foi o envolvimento da SECRETARIA MUNICIPAL
família na rotina escolar dos alu- DE EDUCAÇÃO DE TERESINA
nos. A taxa de abandono da rede www.semec.pi.gov.br
58
EM MACAÍBA, UM POLO
“
DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
a cidade de Macaíba,
no Rio Grande do
Norte, está prestes
a virar um polo de
educação científica
nacional. Isso porque o local foi
escolhido para a implantação do
Campus do Cérebro, em 2015, que
terá um corpo docente de 25 pes-
em bairros violentos ou excluí-
dos socialmente e que têm pou-
cas perspectivas para o futuro. A
ideia é suprir o direito à educação
e oferecer um espaço contínuo de
aprendizado e de troca de experi-
ências — disse Rosélia.
Esses centros oferecem oficinas
que relacionam o conhecimento
Viemos de escolas
tradicionais.
Fui obrigada
quisadores na área de neurociências, científico às outras áreas do conhe-
25 laboratórios com equipamentos cimento: a reaprender a
de última geração e um supercom- — Temos oficinas mais técni-
putador com capacidade para rea- cas, como a de Ciência e Robótica, importância do aluno
lizar 46 trilhões de operações por mas também a de Ciência e Arte.
segundo. A unidade será a primeira Temos ainda Ciência e Ambiente, naquele contexto
escola de ensino regular do Projeto em que os alunos estudam pro-
de Educação Científica, idealizado cessos coletivos que preservem e de sala de aula e a
pelo neurocientista Miguel Nico- recuperem ecossistemas locais —
lelis, que já conta com outros três explicou a coordenadora. minha relação com a
centros de ensino complementar. Em seis anos, o projeto já cole-
— O Campus do Cérebro é ciona histórias de sucesso. Um dos aprendizagem.”
produto de um longo trabalho e exemplos é Jhons Phyllyppe Rodri-
um sonho de Miguel que está se re- gues, de 18 anos. Ele conheceu o
alizando — vibrou Rosélia Cristina projeto aos 12 anos e não o largou
de Oliveira, coordenadora pedagó- mais. Rodrigues fez questão de via- “Nossa formação é
gica do projeto. jar de Macaíba ao Rio de Janeiro
A ideia do Campus nasceu em para contar sua história: coletiva, é ouvindo
2003 e se concretizou em 2007, — Eu não gostava de trabalhar
com a implementação de três cen- em grupo e tinha dificuldades na um, o outro e
tros de educação científica que escola. Ao longo do projeto, tudo
funcionam como complemento à mudou. Eu me apaixonei pela edu- todos.”
rede pública de ensino. Uma das cação e, hoje, além de ser monitor
unidades funciona no bairro Espe- num dos centros, eu consegui en- Rosélia de
rança, na periferia de Natal (RN). trar para uma faculdade pública — Oliveira,
Outra está instalada na Escola comemorou Rodrigues, que estuda coordenadora
Agrícola de Macaíba. E a terceira Engenharia da Computação na pedagógica
funciona na cidade de Serrinha, na Universidade Federal do Rio Gran-
Bahia. Atualmente, as três unida- de do Norte.
des atendem 1.416 alunos, todos
estudantes de escolas públicas, en- INSTITUTO
tre o 6º e o 9º ano. INTERNACIONAL DE
— O objetivo é promover a in- NEUROCIÊNCIAS
clusão social de alunos que moram www.natalneuro.org.br
59
PRÁTICAS INOVADORAS
“
DE APRENDIZADO
60
A QUALIDADE DAS
“
ESCOLAS PARTICULARES
a qualidade e as prá-
ticas de ensino nas
escolas particula-
res foram debati-
das por represen-
tantes de instituições consideradas
referências no campo educacional.
De um lado, o tradicional Colé-
gio São Bento, com a presença de
filosofia da Escola Parque, voltada
para o estímulo da autonomia dos
alunos. Segundo a diretora, o co-
légio deve preparar o aluno para o
mundo tal como ele é:
— Ele tem que ser protagonista
de sua história, precisa pensar cri-
ticamente. E esse estudante precisa
entender o valor do conhecimento.
Ele (o aluno)
tem que ser
protagonista
sua supervisora pedagógica, Maria As duas instituições, porém, aca-
Elisa Penna Firme. Do outro, a bam sendo marcadas por estereó- de sua história,
Escola Parque, que investe numa tipos, segundo Andrea: na Escola
educação mais participativa e com Parque, o aluno estaria livre para precisa pensar
ambientes descontraídos, com sua fazer o que quisesse, enquanto o
diretora Patricia Konder Lins e Sil- São Bento seria uma escola marca- criticamente.”
va. Coube a Andrea Ramal, educa- da pela disciplina implacável. Mas
dora da PUC-Rio, mediar o debate não é bem assim. A plateia questio- Patricia Konder,
que reuniu as duas escolas. nou aspectos tradicionais na linha diretora da Escola
A repercussão dos dados do Ín- pedagógica da Escola Parque, no Parque
dice de Desenvolvimento da Edu- que Patricia Konder foi enfática,
cação Básica (Ideb) de 2013 deu o dizendo que não abre mão do ca-
tom do início do debate: lendário de provas.
— A escola pública vive pati- — O aluno vai ter que fazer O aluno pode repetir
nando. Nunca conseguimos chegar provas no mundo. Tem inspetor
a uma nota média maior do que 4. que vigia esse aluno, que não pode no colégio. A gente
Enquanto isso, temos escolas par- olhar para o lado.
ticulares com índices de desem- Já Maria Elisa relatou o caso de pode identificar que
penho no mesmo nível de países uma mãe que, na década de 1970,
como o Japão. O que faz a quali- foi até o colégio tirar dúvidas com o um aluno precisa
dade do nosso modelo de escola então reitor Dom Lourenço. Ao per-
particular? — indagou Andrea. guntar qual seria a linha da escola, ela de mais tempo.”
Tanto para Maria Elisa quanto para se surpreendeu com a resposta não
Patricia, a sintonia entre o pensamen- muito ortodoxa: Maria Elisa
to adotado pela escola e sua prática — Dom Lourenço respondeu Penna Firme,
faz toda a diferença. O objetivo e a que o São Bento era uma escola em diretora do
filosofia de uma instituição precisam busca de si mesma, de uma identi- Colégio São
ser transformados em prática. dade. Bento
— A escola é bem-sucedida quan-
do ela tem objetivos claros. Nossa in- COLÉGIO SÃO BENTO
tenção é preparar o aluno para o que www.csbrj.org.br
ele quer, não necessariamente para o
Enem — sustentou Maria Elisa. ESCOLA PARQUE
Patricia aproximou o assunto da www.escolaparque.g12.br
61
MOVIMENTO PARATODOS
“
E SUA PROPOSTA ESPECIAL
Existe um mito
de que a inclusão
a inclusão dos porta-
dores de deficiên-
cia nos processos
de ensino-aprendi-
zagem e no merca-
do de trabalho é uma das princi-
pais reivindicações do movimento
ParaTodos, criado em 2013. Du-
rante uma hora, representantes do
com que o mercado de trabalho
entenda e respeite a qualificação
profissional daqueles que buscam
emprego na iniciativa privada.
— Há problemas nas institui-
ções de ensino, mas as escolas
públicas estão mais preparadas do
que as particulares para receber es-
ses alunos. No mercado de traba-
não pode acontecer grupo debateram as dificuldades lho, é a mesma coisa. As empresas,
encontradas por pais e filhos nas quando praticam a inclusão, geral-
no ciclo fundamental instituições de ensino e trocaram mente o fazem em posições subal-
experiências com a plateia. ternas, como trabalhos de mensa-
II e no ensino médio.” Uma das fundadoras do mo- geiro — lamentou.
vimento, a jornalista Ciça Melo Para alguns participantes, o en-
Ciça Melo, fundadora reconhece que ainda é preciso ha- contro teve contornos de alívio e
do ParaTodos ver avanços na legislação para que desabafo porque, após a apresen-
sejam garantidos os direitos desses tação, foi aberta uma rodada de
estudantes. No entanto, ela des- depoimentos, na qual pais e edu-
tacou que o papel do educador é cadores puderam contar um pou-
“É preciso trazer a mais importante do que a lei, já que co do desafio que enfrentam dia-
ele pode atender de imediato às ne- riamente para a inclusão de filhos
turma para junto desse cessidades dos estudantes: e alunos. Para a professora Marisa
— Uma vez eu vi um cadeirante Lemos, mãe de uma portadora de
aluno especial. E às querendo entrar em um restauran- Síndrome de Down, o encontro
te, mas não havia rampas, apenas foi uma oportunidade para buscar
vezes nos sentimos escadas. Então, um senhor come- mais forças para combater o pre-
çou a reclamar, disse que era um conceito:
muito sozinhos.” absurdo que não houvesse uma lei — Muita gente ainda nos olha
que obrigasse os estabelecimentos com pena por causa das dificul-
Norma, professora a ter rampas. Paciente, o cadeirante dades que enfrentamos com nos-
de educação só perguntou se o senhor poderia sos filhos, mas nós os amamos e
física ajudá-lo, porque ele precisava en- não aceitamos ser tratadas assim,
trar. Esse exemplo mostra que não só queremos que sejam incluídos,
podemos esperar as leis para agir, porque isso faz parte da dignidade
porque a necessidade é imediata. humana, e todos precisam disso.
O ParaTodos realiza encontros Eles não devem ficar confinados
periódicos em diversas instituições em guetos ou em escolas especiais:
para promover reflexões que levem são parte da sociedade, como to-
a sociedade a compreender melhor dos nós.
as necessidades dos portadores
de deficiência. Atualmente, uma MOVIMENTO PARATODOS
das dificuldades do grupo é fazer http://paratodos.net.br
62
HANDEBOL: UMA BOA
“
TÁTICA DE ENSINO
o s amigos Alexan-
dre Almeida e Joel
Dutra entraram
juntos, em 1986,
no Colégio Esta-
dual Antônio da Silva, no bair-
ro de Comendador Soares, no
município de Nova Iguaçu (RJ).
Naquele mesmo ano, o professor
por exemplo, foi cortado da semi-
final do Campeonato Brasileiro.
A reclamação dos professores de
um estudante acaba em papo ao
pé do ouvido no fim do treino.
— Sou o que sou por causa des-
se projeto e por causa do Costa. A
gente aprendeu com ele que não
dá para ser um professor comum.
O projeto faz com
que o garoto passe
mais tempo na es-
João Batista da Costa assumia a A gente tem que dar mais — disse
Educação Física da escola e cria- Alexandre Almeida. cola, se interesse por
va um programa de esportes fora A sala de troféus está lotada.
do horário regular das aulas. Desde 2001, o colégio represen- uma atividade que
Eles não sabiam, mas o encon- ta o Rio em pelo menos alguma
tro do trio mudaria vidas a partir categoria dos Jogos Escolares forma cidadãos.”
da modalidade que fez mais suces- Brasileiros. Três atletas formados
so entre a garotada, o handebol. no projeto já passaram pela sele-
Além de uma revolução nos resul- ção brasileira. Uma delas, Lucí-
tados escolares, o time já formou olla, participou, inclusive, de três “Se você pegar 2000 alu-
atletas para seleções brasileiras e é Olimpíadas (2000, 2004 e 2008).
um dos mais fortes das categorias Em 2014, a equipe conseguiu o nos, 10, 5 deles se tor-
de base no país. segundo lugar no Brasileiro de
Os colegas seguiram juntos clubes. narão atletas. Mas você
para a Faculdade de Educação Dois ex-atletas do time agora
Física da Universidade Federal ajudam nas aulas, depois de se for- transforma a vida de
do Rio de Janeiro, em 1998. De- marem em Educação Física. Dutra
pois, continuaram o projeto que e Almeida consideram a dupla seus um menino que esta-
foi criado pelo professor Costa. sucessores. A professora Simone
O handebol passou a ser o maior Almeida, da Escola Municipal Al- ria praticando coisas
atrativo do colégio. Hoje, cerca meida Garrett, está pensando em
de 150 alunos treinam na escola, implementar um projeto parecido erradas a sair desse
sendo 60 com alto rendimento. na sua escola, mas com vôlei, e ou-
A reprovação caiu. Nos últimos viu quem já tem a medalha de ouro universo.”
seis anos, a taxa foi de 31% para nesse quesito.
apenas 3%. — É sensacional ouvir a histó- Joel Dutra,
— Diziam que os alunos que ria deles. Era só um sonho, e eles professor de
treinavam não tinham foco nas au- nem podiam imaginar o quanto ia educação
las e, a partir de 2006, ampliamos o crescer. Eu sinceramente acredito física
projeto para cobrar deles também no esporte como fator de transfor-
os resultados nas aulas — explicou mação — afirmou Simone.
Almeida.
Quando o melhor aluno da PROFESSOR JOEL DUTRA:
equipe faltou uma semana inteira, joeltd@ig.com.br
63
UMA SAÍDA PARA
“
O ÊXODO RURAL
A gente faz,
praticamente,
u m grupo de 15 muni-
cípios forma a região
Baixo Sul da Bahia,
que tem cerca de 360
mil pessoas. Muitas
delas não viam o campo como um
lugar muito promissor profissio-
nalmente. Para tentar mudar esse
quadro, entraram em ação as Casas
pobreza espiritual. A gente preci-
sava de uma pedagogia que desse
conta dessa riqueza.
Os alunos passam uma semana
na Casa e continuam seus estudos
nas duas semanas seguintes com
suas famílias, sempre acompanha-
dos por monitores. Ao longo da
formação, são feitas 45 alternâncias
uma alfabetização Familiares Rurais, pequenas associa- desse tipo. Esse formato é o pilar
ções voltadas aos jovens agricultores, dessa pedagogia por promover tem-
no primeiro ano do focadas em educação. São ações que pos de formação teórica e prática.
fazem parte do Programa de Desen- — Isso não seria possível se não
ensino médio.” volvimento e Crescimento Integra- tivéssemos um plano educacional.
do com Sustentabilidade do Baixo As idas e vindas precisam ser notó-
Joana Almeida, Sul da Bahia (PDCIS), criado pela rias. Eles colocam tudo na mochila
assessora educacional Fundação Odebrecht. Com elas, es- e deixam a família por um tempo.
pera-se, inclusive, colocar um freio Na sexta alternância, já estão di-
no êxodo rural. ferentes. Os educadores também
Atualmente há Casas funcio- vivem em transformação. Não há
“No colégio nando em três municípios do sul quem não se transforme nessa in-
baiano, cada qual voltada para uma teração — reforçou Joana.
convencional, a gente especificidade: Tancredo Neves Exemplo do resultado alcançado,
(agropecuária), Nilo Peçanha (agro- Benivaldo dos Santos, de 26 anos,
estudava separado florestal) e Igrapiúna (agronegócio). concluiu sua formação na CRF de
Nelas, o ensino médio é integrado Tancredo Neves. Hoje, participa de
do pessoal da área à educação profissional. Estima-se uma cooperativa na cidade, onde
que, apenas em 2014, o programa produz alimentos, como abacaxi e
urbana. Éramos capacite 280 estudantes, benefician- aipim, com uma renda estimada em
do indiretamente 2,8 mil pessoas R$ 2,5 mil mensais:
chamados de em mais de 200 comunidades da — Lá, pude ver que morar na
região. As três possuem certificado Zona Rural era possível. Me deu um
roceiros.” do Ministério da Educação. novo horizonte e a certeza de que é
— Há quem não acredite que é possível viver no campo de forma
Benivaldo possível viver bem no campo. Esse digna. Minha família só almoçava um
dos Santos, era um dos nossos desafios. Busca- pouco melhor no domingo. Roupas
agricultor mos construir, na prática, uma vida só eram compradas no São João e no
melhor para essas pessoas, a come- fim de ano. Depois, a minha vida mu-
çar pela educação — avaliou Joana dou, e a da minha família também.
Almeida, assessora educacional: —
Fui morar em Tancredo Neves por PDCIS
um tempo para entendê-los. En- www.fundacaoodebrecht.org.br/PD-
contrei pobreza material, mas não CIS
64
AS COMPETÊNCIAS
“
SOCIOEMOCIONAIS
65
CRAQUE DE BOLA
“
E DE ESCOLA
Nossa
intenção não
o Instituto Bola Pra
Frente, fundado
pelo ex-jogador de
futebol Jorginho em
2000, em Guadalu-
pe, Zona Oeste do Rio, educa crian-
ças de 6 a 9 anos através do esporte.
A instituição atua diretamente em
12 escolas municipais do Complexo
quentam o Bola Pra Frente estão
com as notas na média 7 ou acima.
Atuando em uma comunidade
que ainda não foi pacificada, o tra-
balho é também uma maneira de
tirar crianças e adolescentes do trá-
fico de drogas.
— Os traficantes conhecem nos-
so trabalho, eles nos respeitam. O
é proporcionar do Muquiço, em Guadalupe, Zona que acontece é um acordo de ca-
Oeste do Rio. Segundo Victor La- valheiros: os meninos até comple-
atividade ou formar deira, diretor executivo do Instituto, tarem 18 anos são nossos. Depois,
a ideia é levar os conceitos do fute- estão livres. Queremos mudar a ca-
atletas. Nosso foco bol para a sala de aula e, assim, aju- beça desses jovens de uma maneira
dar no aprendizado. que, para eles, não faça sentido en-
é a educação, e o — As crianças já entram em trar para o tráfico — disse o diretor.
campo sabendo das regras do jogo. Ladeira, aliás, não acredita na
esporte é a linguagem. Elas entendem o que é um cartão justificativa de que “o tráfico paga
vermelho, um cartão amarelo, res- mais” quando um adolescente es-
Damos o conteúdo peitam a figura do juiz como um colhe esse caminho:
mediador e a do treinador como — Entre 10 e 14 anos, ninguém
que as crianças já um tutor. Por que eles não respei- está preocupado com o quanto vai
tam o professor da mesma manei- ganhar. Eles querem se destacar,
estão aprendendo em ra? Aí entra o esporte educacional, querem ser bons em alguma coisa.
que contribui para educação, in- Se ter uma pistola e um rádio na
sala de aula. O que clusão e participação, cooperação cintura vai fazer dele respeitado, é
e corresponsabilidade — afirmou isso que ele acaba escolhendo.
queremos é formar Ladeira. O professor de Educação Físi-
O objetivo não é valorizar a ca João Augusto trabalha na Es-
o cidadão.” competição entre as crianças: cola Municipal Madre Benedita,
“Queremos formar homens e mu- em Guadalupe, e contou que mui-
Victor Ladeira, lheres que sonham e querem uma tas crianças que estão no Bola Pra
diretor vida melhor”, explicou o ex-joga- Frente são seus alunos. Professor
executivo do dor Jorginho em um vídeo exibido há 39 anos, ele mesmo vê no espor-
Instituto Bola durante a palestra. Esse objetivo te uma chance de transformação:
Pra Frente vem sendo alcançado e é com- — Os meninos são como meus
provado por números: 93% das netos. Faço escolinha de vôlei, bas-
crianças e adolescentes se sentem quete. Teve uma época em que eu
seguros dentro da instituição; 80% mesmo pagava pelos materiais.
dos jovens que se formam, aos 18
anos, conseguem um emprego até INSTITUTO BOLA PRA
um ano depois de saírem do Insti- FRENTE
tuto; 88% dos estudantes que fre- www.bolaprafrente.org.br
66
TRANSFORMAÇÃO PELAS
“
ARTES PLÁSTICAS
‘a prendi
quem tem um
que
67
BIBLIOTECA INFANTIL NA
“
REDE: ALUNOS AUTORES
Nós percebemos a
importância de se
o gosto pelo mun-
do digital, visto por
alguns pais e edu-
cadores como um
“inimigo” que afasta
as crianças dos livros, transformou-
se em um poderoso aliado para as
professoras Lauriana Guttierrez e
Liliana Mendes, do Colégio de Apli-
tês”, a forma abreviada com que
as crianças escrevem nos meios
digitais, suprimindo as vogais. Para
vencer essa prática, Liliana e Lau-
riana identificaram a necessidade
de alfabetizar letrando digitalmen-
te as crianças.
— Partimos do mapeamento dos
textos a que os alunos têm acesso no
trabalhar a leitura cação João XXIII, da Universidade meio digital e percebemos a dificul-
Federal de Juiz de Fora, em Minas dade de encontrar material paradi-
enquanto elemento Gerais. Juntas, elas criaram a Biblio- dático que discuta essa questão das
teca Virtual Infantil, com um acervo novas tecnologias de forma adequa-
interdisciplinar porque composto por textos e ilustrações da. Produzimos, então, um material
produzidos pelos alunos dos anos paradidático: “A turminha dos artei-
ela perpassa todas as iniciais do ensino fundamental. ros”, que está disponível para down-
— O projeto teve como eixo re- load na internet — disse Lauriana.
disciplinas.” pensar as práticas de leitura e escri- Sempre em evolução, o site da
ta para além da sala de aula, usando biblioteca oferece fábulas, autor-
Lauriana Gutierrez, as novas tecnologias — disse Lau- retratos, histórias em quadrinhos e
professora do Colégio riana, idealizadora e coordenadora até livros de receitas. Os próximos
de Aplicação João XXIII da Biblioteca Virtual Infantil. passos serão a produção de audio-
Lançada em 2013, a iniciativa se books e uso da linguagem brasilei-
dedica a estudantes do 3º ano do ra de sinais (libras).
ensino fundamental. Primeiro, as Ana Paula, professora da rede
“A biblioteca é fruto professoras oferecem literatura aos municipal do Rio de Janeiro, bus-
alunos. A partir da leitura, eles fazem cou na palestra conhecimento para
de um trabalho que pesquisas e constroem seus textos. conseguir divulgar os projetos que
— Vamos criando redes inter- vem executando dentro da creche
foi desenvolvido em textuais, um texto vai puxando em que trabalha:
o outro. Em uma das atividades, — Gostaríamos de divulgar os
sala de aula.” propusemos que eles construís- projetos nas redes sociais e num
sem uma história em quadrinhos. blog, que estamos querendo cons-
Liliana Mendes, Fizemos um roteiro, com uma te- truir. Queremos somar valores e
professora mática, no caderno. Depois, fomos ideias ao nosso projeto — disse a
Colégio de para o computador. Junto à cons- professora, considerando a experi-
Aplicação trução da escrita, vem a construção ência animadora: — É uma opor-
João XXIII dos cenários. Em seguida, a rees- tunidade para abraçarmos maior
crita, onde corrigimos o texto com conhecimento.
o aluno — contou Liliana, que é
co-orientadora do projeto. BIBLIOTECA VIRTUAL
Um dos desafios da iniciativa é INFANTIL
o que elas chamaram de “interne- www.ufjf.br/bibliotecavirtualinfantil
68
ESCOLAS RURAIS
“
CONECTADAS
u ma das contrapar-
tidas exigidas pela
Anatel para que as
empresas de teleco-
municações entras-
sem no leilão da banda 4G foi a
conexão das escolas localizadas
em áreas rurais do país. Por isso,
estima-se que cerca de 22 mil uni-
aos próprios professores.
— Nossas oficinas qualificam os
professores, mas a verdade é que os
alunos são nativos do mundo digi-
tal, cresceram com essa tecnologia e
sabem utilizá-la melhor que muitos
mestres. O papel dos professores é
estimular e orientar o uso da tecno-
logia, para que eles possam utilizá-la
A gente traba-
lha com eles a
importância do
dades de ensino serão conectadas de forma autônoma para estímulo
até dezembro de 2015, por meio da ao aprendizado e não apenas como manejo da terra. A
Fundação Telefônica Vivo. entretenimento — afirmou Ariane.
A implementação dessa estra- A implantação do projeto na ideia não é tirar todo
tégia começou na escola munici- escola Zeferino Lopes de Castro
pal Zeferino Lopes de Castro, em trouxe outros benefícios para Via- mundo de lá e falar
Viamão, região metropolitana de mão: a prefeitura redefiniu os pa-
Porto Alegre (RS). A instituição râmetros tecnológicos de todas as para eles ‘venha para
atende do 1º ao 9º ano do ensino 63 escolas da rede e vai levar, por
fundamental e tem 120 alunos. To- recursos próprios, os benefícios da a cidade você também’.
dos eles têm notebooks ou tablets iniciativa para todos os estudantes
com acesso à internet de alta velo- da rede municipal de educação. A nossa perspectiva é
cidade, recursos tecnológicos que Com a conexão, também che-
são utilizados nas aulas regulares gou uma preocupação com a qua- melhorar a vida deles
e não apenas em momentos espe- lidade do conteúdo acessado pelos
ciais, como destacou Ariane Duar- jovens. E esse foi um dos assuntos no campo.”
te, gerente do projeto. perguntados a Ariane: o que fazer
— Ali nós implantamos um mo- para os alunos não ficarem ligados Ariane Duarte,
delo, que tentamos levar para as apenas em aplicativos e jogos? gerente do projeto
demais escolas rurais. Estamos utili- — No início, os adolescentes
zando a tecnologia para tentar quali- ficam enlouquecidos, mas eles
ficar não só os alunos, mas também aprendem que há momentos para
professores, por meio de oficinas o jogo, já que podem levar o com-
digitais, já que é natural que haja um putador para casa. Uma diretora,
descompasso nas áreas mais caren- inclusive, notou que as crianças
tes — destacou a gerente. ficavam sentadas na calçada da es-
A iniciativa acabou indo além da cola aos domingos, por causa da
conexão à internet. Na escola gaú- conexão. Ela, então, passou a abrir
cha, os alunos têm aulas extracur- a escola no fim de semana para elas
riculares de robótica e de lógica de não ficarem na calçada.
programação, nas quais podem uti-
lizar na plenitude os novos recursos ESCOLAS RURAIS
tecnológicos disponíveis, nas quais, CONECTADAS
frequentemente, ensinam algo novo www.escolasrurais.org.br
69
ESCOLA AMORIM LIMA:
“
MÉTODOS SEM PROVAS
O que a gente
tem que fazer
u ma escola que não
separa os alunos por
série, não aplica pro-
vas e tem um currí-
culo flexível. Assim
é a Escola Municipal Desembarga-
dor Amorim Lima, em São Paulo,
inspirada no modelo da Escola da
Ponte, em Portugal, idealizada pelo
da instituição, eles decidiram ir
à direção, que criou um conse-
lho deliberativo para aumentar a
participação da comunidade na
rotina escolar. Em um desses en-
contros do conselho, o modelo
da Escola da Ponte foi sugerido
pelo grupo, que decidiu encarar o
desafio de implementar o projeto
é preparar esses educador português José Pacheco. tão inovador.
— Há 19 anos, quando comecei — Havia muita insatisfação na
alunos para que a trabalhar na Amorim Lima, per- escola, por isso decidimos tentar
cebi que era um local cheio de gra- — afirmou a diretora.
eles queiram estudar des e todo pintado de cinza para O início do projeto foi mar-
esconder a sujeira. Além disso, cado por dificuldades. Além da
cada vez mais, para havia um problema grave de pro- adaptação ao modelo, houve con-
fessores ausentes — contou Ana flitos entre os entusiastas do pro-
inventarem projetos de Elisa Siqueira, diretora da escola. jeto e pais e professores, que dis-
O projeto foi implementado em cordavam da proposta. O quadro
vida. Essa escola dá 2004, e hoje atende 800 alunos do de desconfiança ficou para trás
ensino fundamental, do 1° ao 9° tão logo a proposta foi colocada
a oportunidade para ano. As aulas têm duração diária de em prática.
cinco horas, mas, em vez do qua- Professora da Faetec, Risomar
o aluno pensar sobre dro-negro, há rodas de conversa Guedes perguntou à diretora sobre
e oficinas nas quais os estudantes o tratamento que a Amorim Lima
a própria vida. Ele trabalham em grupos de cinco, — cujas turmas são marcadas por
orientados por três professores. O diferentes níveis de aprendizagem
aprende a lidar aluno é responsável pela elabora- — dispensa aos alunos com altas
ção do seu roteiro de pesquisas. habilidades.
com a própria — Se o aluno não consegue — O educador pode trazer mais
cumprir o seu roteiro até o fim do desafios para esse aluno. Nós ofe-
realidade.” ano, ele não é reprovado, mas pre- recemos oficinas de Matemática,
cisa concluir as pesquisas no ano por exemplo, para os que desejam
Ana Elisa seguinte. Se, no 9º ano, ele ainda participar de Olimpíadas de Mate-
Siqueira, tiver pesquisas a serem concluídas, mática. Oferecemos também um
diretora da então ele fica mais um ano na es- curso, ministrado por pais volun-
escola cola. Mas isso é raro de acontecer, tários, para os que querem cursar
já que ele tem bastante tempo para escolas técnicas federais — res-
assumir responsabilidades — ex- pondeu a gestora.
plicou Ana.
O projeto da escola nasceu a E. M. DESEMBARGADOR
partir de uma iniciativa dos pais. AMORIM LIMA
Insatisfeitos com os problemas http://amorimlima.org.br
70
DIVERSÃO E INFORMAÇÃO
“
NO MUSEU CATAVENTO
o Museu Catavento
Cultural e Educa-
cional ocupa uma
região de oito mil
metros quadrados
no Centro de São Paulo. Situado
no prédio histórico do Palácio
das Indústrias, construído no iní-
cio do século XX, apresenta 250
Engenho e Sociedade. No espaço
reservado à vida, é possível transi-
tar por conteúdos da genética e da
biologia. No Engenho, o público
desvenda o funcionamento de es-
truturas criadas pelo homem, en-
trando em contato com a ótica e
a mecânica. Já no ambiente Socie-
dade, a ecologia e a nanotecnologia
Nós temos como
regra não abordar
os assuntos profun-
instalações, que já atraíram mais ganham destaque, assim como a
de dois milhões de visitantes em prevenção às drogas. A astronomia damente.
cinco anos. e o interior da Terra estão repre-
A equipe de educadores não sentados no Universo. Já estamos na tercei-
economiza recursos para instigar — No espaço sobre prevenção
a curiosidade do público. De uma às drogas, o público é convidado ra geração de educa-
simples placa ao lado do bebedou- a usar óculos que distorcem a vi-
ro a simuladores que reproduzem são e terá que percorrer um trajeto dores do Catavento.
o sistema solar, todos os espaços com obstáculos — afirmou Pedro
são voltados para despertar o cien- Jackson Nascimento, educador do E, durante a capaci-
tista que existe dentro de cada um museu. — A gente pensou numa
dos visitantes. forma de simular a embriaguez, tação, eles têm encon-
— Pensamos em instalações porque nós queremos que o públi-
que transmitissem conhecimentos co vivencie os temas. tros com sumidades,
básicos e causassem perplexidade. O museu oferece 17 roteiros di-
É preciso sair com dúvidas do mu- ferentes. Em um deles, o visitante como Marcos Pontes,
seu, que é um espaço de educação conhece um estúdio de TV. Segun-
não formal. E caberá à escola a do Nascimento, é possível apren- o astronauta brasi-
tarefa de se aprofundar nos con- der a usar uma câmera de forma
teúdos – afirmou Ana Rita Carlos diferente no estúdio: leiro.”
Lima, coordenadora de projetos — No Engenho, são apresenta-
do educativo do museu. das noções de ótica através de uma Ana Rita
Ao lado do bebedouro, por lente. E, no espaço da vida, vamos Carlos Lima,
exemplo, há um cartaz com a in- saber como a visão é processada. coordenadora
formação de que a água foi trazida Na seção dedicada ao Universo, do museu
pelos cometas. o público tem acesso a tecnolo-
— Nós jogamos a informação gias interativas e pode chacoalhar,
para que o visitante procure por si literalmente, a bordo de uma nave
só a resposta — contou Ana Rita. espacial, onde imagens em 3D do
— No fundo, a gente quer formar sistema solar são exibidas em um
uma nova geração de cientistas imenso telão.
através do museu.
Há quatro ambientes princi- CATAVENTO CULTURAL
pais de exposição: Universo, Vida, www.cataventocultural.org.br
71
AS CRIANÇAS SÃO AS
“
DONAS DA HISTÓRIA
Não adianta
encher o espaço de
e ra uma casa mal
assombrada com
séculos de história
pra contar sobre o
Sertão do Cariri, no
município de Nova Olinda, Ceará.
A ideia era restaurar o edifício para
ali criar a Fundação Casa Grande,
um centro de resgate da Pré-His-
artes, memória e turismo. Quaren-
ta meninos da comunidade dirigem
a Meninada do Sertão, atuando
como professores e gestores. Com
11 laboratórios, a instituição ofere-
ce acesso a um acervo de mais de
3,5 mil gibis, CDs, DVDs de filmes
clássicos e documentários, e uma
infraestrutura que possibilita a prá-
interatividade. Tem tória e da cultura dos cariris. Assim tica em rádio, vídeo e montagem de
foi feito em 1992. Lá dentro, esta- espetáculos. Os jovens comandam a
que ser um espaço va o Memorial do Homem Kariri, programação de uma rádio comu-
com peças arqueológicas e exposi- nitária entre 8h e 19h, e a equipe de
onde o cachorro que ções sobre os sítios mitológicos da vídeo já produziu material para o
região, como o Reinado Encanta- Canal Futura, a ONU e a Unesco.
passa dê uma paradi- do, que inspirou Ariano Suassuna — Qual é o conteúdo do traba-
em seu “Romance d’A pedra do lho do nosso projeto? É a capaci-
nha debaixo da mesa reino”. Só que houve um impre- dade que a criança tem de perceber
visto: as crianças invadiram a casa. as coisas e repassar para o outro.
pra fugir do calor.” Foi criada, então, a Escola de Co- Você chega à casa e vê crianças de
municação Meninada do Sertão. 4 anos no laboratório de vídeo —
— É que a Casa Grande começou contou Alemberg à plateia.
na época da “bila” (bola de gude) — O comando do Memorial foi
“O adulto é traidor contou Francisco Alemberg de Souza entregue à meninada aos poucos,
Lima, diretor-presidente da escola, e logo os jogadores de bila passa-
da infância. Ele se lembrando que as crianças ficavam ram a assumir postos de diretoria.
brincando no terreno da casa, até que O agitador de brincadeiras, por
esquece dos seus so- perceberam que ali havia um museu: exemplo, tornou-se diretor cultu-
— A relação entre o brinquedo po- ral, enquanto o menino organiza-
nhos de criança.” pular e a ciência estava numa calçada. do, habituado a varrer a calçada,
Quando os meninos começa- foi nomeado diretor de manuten-
Francisco ram a entrar na casa, a equipe da ção. Os dois com 8 anos de idade.
Alemberg, fundação passou a contar lendas — Tem gente que me pergunta
diretor da para eles. Depois, criaram uma es- sobre a pedagogia utilizada na es-
escola cola de iniciação à Casa Grande. cola. Qual é a pedagogia utilizada
— Foi quando começaram a es- por uma mãe? Pois então, eu digo
tudar a arqueologia e a mitologia lo- que eu adoto a pedagogia de mãe
cal para trabalharem como guias no afirmou Alemberg, feliz da vida
Memorial. Eles acompanhavam até as com os resultados.
escavações — disse Alemberg, que é
neto do primeiro proprietário da casa. FUNDAÇÃO CASA
Hoje, a escola forma crianças e GRANDE
jovens nas áreas de comunicação, www.fundacaocasagrande.org.br
72
MATEMÁTICA RIO: AULAS
“
‘POPS’ PARA A INTERNET
73
A ARQUITETA QUE PROJETA
“
AS ESCOLAS DOS SONHOS
74
UMA NOVA ROTINA COM
“
O TEMPO INTEGRAL
75
PORTAL FGV ENSINO
“
MÉDIO: DE OLHO NO ENEM
Liberar os da-
dos do Enem é
n o ar desde 2012, o
portal FGV Ensino
Médio Digital, pro-
duzido pela Funda-
ção Getulio Vargas,
disponibiliza cursos e questões que
ajudam tanto alunos quanto profes-
sores na preparação para o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem).
questão precisa ser feita por 200
pessoas, no mínimo. O ideal é que
os dados da prova do Enem sejam
liberados para conseguirmos anali-
sar melhor — afirmou Borges.
Para deixar o padrão cada vez
mais próximo ao do Enem, o time
ganhará um reforço. Foi o que
apontou a assistente editorial do
essencial para en- Já são 80 mil cadastros no site, sen- programa, Gabriela Visconti:
do que 70 mil são de estudantes. — Teremos um professor de
tendermos a prova. O portal nasceu com o objetivo Estatística para ajudar na aplica-
de disponibilizar questões simi- ção do TRI. Nossa ideia é tornar o
Algumas perguntas lares às do Enem na internet, se- site cada vez mais interessante para
gundo o supervisor de projetos da alunos, professores e escolas.
são tão difíceis que nós FGV, Valterlei Borges: A dificuldade é grande para ela-
— Tentamos nos aproximar das borar cada item. Depois de pronto,
mesmos não as respon- questões do Enem. Por isso, temos ele vai parar no banco do site, que
um manual próprio para os profes- hoje tem cerca de dez mil pergun-
demos com rapidez. sores que vão pensar as questões. O tas cadastradas.
objetivo é democratizar o acesso. Os educadores selecionados
Às vezes um conteúdo Segundo ele, o portal não teria para formular as questões passam
como apresentar questões exatamen- por um treinamento, que dura um
para formar o aluno é te como as do Enem porque não se dia. Segundo a pesquisadora do
tem acesso às estatísticas da prova: portal, Mariana Gugliemo, o esfor-
deixado de lado para — Esses dados são um tanto ço está apenas começando:
obscuros, e essa é uma das críticas — O processo é demorado e
que ele seja aprova- ao exame. Mas, hoje, todo mundo crucial. São três etapas: o professor
terá que passar pela prova. Não elabora, depois passa por um leitor
do no Enem.” tem jeito. crítico, que avalia se enunciados,
Depois de familiarizar os alunos perguntas e outros elementos que
Valterlei Borges, com o conteúdo, e os professores compõem a questão estão em har-
professor com as questões, o próximo pas- monia, e, por último, um coordena-
so do projeto é aplicar a Teoria dor de disciplinas é o responsável
de Resposta ao Item (TRI) — um por analisar. As questões são pensa-
modelo estatístico utilizado em das para desenvolver as habilidades
avaliação de habilidades e conheci- do Enem (cada área do conheci-
mentos — às questões. Isso por- mento tem 30 habilidades) e avalia-
que o Ministério da Educação usa das por um programa antiplágio.
esse método no exame.
— Estamos aprimorando. Apli- PORTAL FGV ENSINO
camos um simulado presencial, já MÉDIO
que para avaliar e saber o TRI, a ensinomediodigital.fgv.br
76
GALPÃO APLAUSO:
“
FORMAÇÃO PARA AS ARTES
77
MANDALA DOS SABERES:
“
CULTURA LOCAL EM ALTA
Somos um
povo muito rico
n uma lição de como
as diferenças são ca-
pazes de se comple-
mentar, a pedagoga
Sueli de Lima apre-
sentou o método Mandala dos
Saberes. Desenvolvida pela ONG
Casa da Arte de Educar — que
atua há 15 anos em favelas cario-
frisou a pedagoga.
A metodologia das manda-
las nasceu em 2006, na Favela da
Mangueira, com o desafio de ten-
tar deixar mais clara para os pro-
fessores parte dos saberes que os
estudantes possuem e, ao mesmo
tempo, esclarecer para esses alunos
os desafios do saber acadêmico.
culturalmente. Mas cas e no Brasil, nas áreas de edu- Desde 2007, o método é utilizado
cação integral, educação de jovens em dez mil escolas do país com os
essas manifestações e adultos e direitos humanos —, a piores índices de rendimento por
metodologia busca ampliar o diá- meio do programa Mais Educação,
culturais não estão logo entre escolas e seus territó- do governo federal.
rios, relacionando a cultura local ao — Já fizemos várias rodadas
impactando nossa aprendizado. A ferramenta pode ser de diálogos com professores no
aplicada em vários setores e, agora, país inteiro. O método mostra as
produção escolar.” começa a ser usada em dez comuni- possibilidades de pensarmos uma
dades com UPPs na Grande Tijuca, educação para além de um sistema
Sueli Lima, na Zona Norte do Rio de Janeiro. escolar. Não temos um sistema de
pedagoga Para atingir esse objetivo, o pla- educação, que é aquele que articu-
no pedagógico parte de mandalas, la escola com museu, escola com
nas quais os saberes são relaciona- biblioteca, com as ONGs, com a
dos. Segundo Sueli, a elaboração praça. Precisamos conquistar uma
de mandalas demonstra possibi- compreensão de educação para
lidades de se visualizar com mais além da escola, articulada com a
clareza tudo aquilo que os estudan- questão dos direitos, da saúde —
tes possuem e que pode vir a ser defendeu a educadora.
relacionado com outros campos Na plateia, surgiu uma questão:
do conhecimento acadêmico. Des- como se caracteriza essa metodo-
sa forma, ajudam a aproximar as logia das mandalas? Interdiscipli-
escolas das comunidades, porque nar, multi, trans?
trabalham com construção de re- — É intercultural. É o “entre”
des e processos participativos. que interessa, entre mim e você,
— Elas são instrumentos de entre culturas, entre grupos sociais,
construção desses diálogos entre entre saberes, entre linguagens. É
o saber formal e o saber consti- o espaço de troca. Temos diversas
tuído da sociedade, do cotidiano, manifestações culturais, e elas não
das nossas práticas. A linguagem estão participando da produção es-
acadêmica pode conversar com a colar – respondeu Sueli.
linguagem cotidiana, artística. Tra-
ta-se de uma metodologia aberta e CASA DA ARTE DE EDUCAR
que não tem uma resposta certa — www.artedeeducar.org.br
78
VIRADA EDUCAÇÃO:
“
MOVIMENTO ENTUSIASMO
79
DÉBORA SEABRA: A
“
INCLUSÃO EM PESSOA
Tenho dois
alunos que são
d ébora Araújo Sea-
bra de Moura nas-
ceu em Natal (RN)
há 33 anos. Hoje é
professora da Es-
cola Doméstica, na mesma cidade.
Sua trajetória seria semelhante à de
muitas educadoras não fosse ela a
primeira professora com Síndrome
planejamento semanal de aulas,
da organização dos arquivos e
materiais e de diversas atividades,
como contação de histórias. Ela
mesma revela, orgulhosa, que co-
nhece os pais de todos os alunos.
Débora, que foi vítima da falta de
respeito de colegas de turma, é
quem intervém nas brigas entre as
gêmeos e a gente de Down no país. Ela é do time crianças:
que luta pela Inclusão — assim — A gente senta numa roda e
trata eles da mesma mesmo, com I maiúsculo, como converso com eles sobre respeito.
gosta de repetir. Ninguém pode passar pelo que eu
forma. Meu irmão e A história de Débora se refle- passei, por humilhação, discrimi-
te nas páginas do livro “Débora nação e exploração.
eu somos diferentes, conta histórias”, com oito fábu- Entre as bandeiras levantadas
las relacionadas ao tema inclusão, por Débora está a defesa de escolas
mas meus pais tratam lançado em 2013 pela Editora Al- regulares para todos. Ela enfrentou
faguara. Um sapo que não sabe dificuldades, mas conta que cres-
a gente igual também. nadar e uma galinha surda são ceu fazendo tudo o que qualquer
alguns dos personagens da obra. pessoa da idade dela faz. Ela, in-
A diversidade abre Ela agora quer se dedicar ao texto clusive, trabalhou como modelo e
de sua biografia, que já começou a recepcionista em eventos.
caminhos para ser escrita. — Sempre estudei em esco-
Não se trata de uma história fácil las regulares porque o contrário é
todos.” de ser contada. Ainda na escola, ela discriminatório. Inclusão ensina
foi alvo de bullying. Colegas abusa- a conviver — afirmou. — Não
Débora Seabra, vam de sua generosidade e pediam tenho uma doença, é só um jeito
professora seu celular emprestado para fazer diferente de ser. Especial para mim
ligações à sua custa. A dificuldade é minha família. Superar dificulda-
para aprender era grande. Para se des nos fortalece e traz felicidade.
enturmar, era enorme. Uma vez, Hoje, a professora fala de sua
ela lembra, foi obrigada a cheirar trajetória em palestras pelo Brasil e
o sapato de uma colega de turma. no exterior. No dia 21 de março de
Nesse dia, decidiu que seguiria em 2014, data em que é comemorado
frente: o Dia Internacional da Síndrome
— Pensei “não vou desistir, não de Down, Débora ministrou pa-
vou desistir” e gritei com ela. Uma lestra na sede da Organização das
amiga se juntou a mim, e começa- Nações Unidas (ONU), em Nova
mos a gritar juntas — contou Dé- York, nos Estados Unidos.
bora.
Hoje, na escola, como pro- DÉBORA SEABRA
fessora auxiliar, ela participa do debora .seabra@uol.com.br
80
MATEMÁTICA NÃO É UM
“
BICHO DE SETE CABEÇAS
o s professores da
Universidade
Harvard Robert e
ram um método de
de
81
a voz do
público
82
O público
interagiu
produzindo
textos, vídeos
e desenhos
“Faria
de cada
momento uma
nova oportunidade
de me reconhecer
nos outros.”
“EDUCAÇÃO
é a única coisa
que nos torna Gabriel
diferentes!” Lima
Pensador
Cinthya
Miyuki
83
O MELHOR PROFESSOR
É AQUELE QUE...
“Ensina
com amor e
exerce a profissão
“Desperta porque sente prazer
em seus alunos Daniela
Rosset, e gosta do que faz. É
o interesse pelo Ana Flávia aquele que desperta no
saber e extrai o melhor e Paula aluno o interesse pelo
de cada ser humano, Nicolay
conhecimento.”
contribuindo para o
desenvolvimento da
sociedade.”
Priscilla
Caetano
“Aponta os
caminhos, inspira, é
flexível e sabe chamar a Marcela
atenção dos seus alunos. Teixeira
Enfim, é um líder na busca
pelo conhecimento.”
Mauricio
Lima
84
“Motiva
os alunos para
que sejam fonte,
água que jorra de den-
tro para fora, assim como
a vontade de aprender
que vem de dentro
para fora.”
Thiago
“Entende seu Heydson
aluno como um
estímulo para seu
crescimento e como
fonte de renovação Thiago
na sua caminhada Ferreira
“Incentiva as profissional.”
Camara
perguntas, e não
as respostas, e que
constrói escol(h)as
alternativas.”
Leandro
Gomes
“Ao mesmo
tempo que Ed
ensina, aprende Rodrigues
e constrói junto
com seus alunos o
processo de ensino-
aprendizagem.”
Juliana
da
Fonseca
Rodrigues
85
SE ESSA ESCOLA
FOSSE MINHA...
Ana
Carolina
de Souza
“Certamente
transformaria
a escola num
espaço de trocas, onde
o eu representaria o
coletivo de atores sociais
que compartilham
“Eu
conhecimentos, saberes
diria que
e emoções.”
acolhimento é a
Edson palavra-chave. Uma
Ferreira escola que acolhe o
Soares Vinicius
público, seja ele qual for,
formado por pais ou
alunos, é essencial
a todos.”
Talita
Raquel
Dantas
Cardoso
86
“Eu ensinaria
o aluno
considerando toda a
bagagem que ele
Marco
Aurélio já tem.”
de
Oliveira
Ana Leite
“Valorizaria
toda a
diversidade
“Eu cultural presente
investiria mais na escola e na
nas relações de sociedade.” Aline
afeto entre docentes Almeida
e discentes, nas aulas da Silva
extramuros e em
‘professores’ formados
fora da academia
tradicional.”
Ana
Condeixa
“Investiria
em esportes,
pois acredito que
o esporte estimula
a capacidade
intelectual.”
Ana
Silvana Beatriz
Rabelo Avelar
87
expediente
88p.
88