Você está na página 1de 3

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

IL – Instituto de Linguagens
Departamento de Letras
Disciplina: Metodologia de Pesquisa
Docente: Professora Doutora Gleyva Maria
Discente: 202111117016 – Wagner Aparecido da Silva

Resenha sobre o filme: Ponto de Mutação

Por que o filme se chama Ponto de Mutação? Mutação refere-se à mudança,


metamorfose, transformação. Do que e para quê? O filme nos mostra indivíduos
discutindo muitos assuntos e falam na inépcia da maneira de pensar contemporânea em
lidar com o todo. Um exemplo é a discussão desenvolvida na cena do mecanismo do
relógio na torre. Ela mostra de forma concreta o pensamento Cartesiano. Onde cada
parte deve funcionar em harmonia isoladamente. Um parafuso, uma engrenagem não é o
suficiente para que faça o todo funcionar, ou melhor, o todo não é a engrenagem. O
pensamento cartesiano segmenta e isso está nos dias atuais: na escola, na academia,
segmentado como se uma frente fosse independente da outra. O mesmo acontece na
área médica: cada especialidade durante a graduação é vista como um universo
aparentemente distinto, enquanto tudo se encaixa de forma sistêmica no conhecimento.
Na faculdade de Letras muito a ver também, por exemplo, na disciplina de
Morfossintaxe é instrumentado o Gerativismo e na Linguística, muitas vezes somos
imersos em algo repetido, embora de forma generalizada.
No filme, aparece o holístico, o conhecimento não segmentado muito
característico da sabedoria oriental. Há três personagens centrais: uma cientista
desgostosa com o destino do seu conhecimento usado para a guerra, um político
candidato à casa branca e um poeta, desiludido amorosamente. Os três passeiam pelo
Monte Saint-Michel na França (um mosteiro fortificado construído no século XVIII) e
atravessam cada setor discutindo determinado assunto sobre o conhecimento humano.
Passam por Einstein, Newton, Descartes, e não param por aí, falam também sobre
política, ecologia, física e poesia. A princípio isso parece desconexo, esse sentimento
ainda que não tenha sido o objetivo central do filme, é uma consequência para o
expectador. A maneira de compreender o conhecimento como algo não segmentado ou
fracionado não permite este estranhamento de que frentes como política e ecologia não
possam estar interligados em uma discussão sobre Ciência, ainda que outras frentes
como Física Quântica e Poesia estejam encaixadas.
O tema central, no entanto, se refere aos métodos científicos atuais, o
cartesianismo mesclado ao newtonismo. Eles não seriam mais capazes de nos oferecer
um conceito de mundo. O mundo mudou muito e como uma “aldeia” global, precisa-se
de um conceito que tome o todo como fundamento, sem segmentar ou fragmentá-lo. O
bater das asas de uma borboleta pode provocar um furacão do outro lado do mundo, esta
frase mostra de forma simplista que nada está isolado, nada está segmentado e, ainda,
que a fragmentação embora tivesse sido muito importante em tempos idos, hoje
enquanto comunidade global, não atende mais às exigências do existir. Decisões
políticas podem interferir em muitas coisas, descobertas científicas podem ser
instrumentos de benefícios na saúde, mas também uma maneira de trucidar uma
população inteira e que apesar de saber usar as palavras, elas podem não atender aos
nossos próprios interesses emocionais.
Novas propriedades e processos emergentes são rejeitados pelo pensamento
Cartesiano. Ele impõe o simplismo, a realidade múltipla e fracionada. Esta característica
fez com que o conhecimento cartesiano tenha esgotado sua capacidade de fazer algum
sentido, sua práxis e seu próprio senso de realidade. A concepção atual de mundo
excluiu a complexidade da realidade. Esta exclusão criou problemas com a política, com
a cultura, na ecologia, no próprio reconhecimento do outro enquanto ser distinto. O
fracionamento do conhecimento, o mecanicismo, provou-se incapaz de conter a
realidade em um contexto mais amplo.
Em determinados momentos o filme insinua que a biologia não deve ser
vista como um elemento isolado. Uma garrafa jogada no chão, a princípio uma atitude
de falta de educação e higiene do indivíduo, serve como argumento para a questão
politica e em como as pessoas identificam isso de forma isolada, mostrando assim que o
“ponto de mutação” deve acontecer em uma extensa reforma na educação e na relação
interpessoal e em como a política deveria alicerçar todo o resto. Colocar personagens de
temperamentos e nichos diferentes sobre os conhecimentos do/de mundo apenas
engrandece a discussão, trazendo-nos mais uma vez a importância da intercomunicação
de todas as frentes do conhecimento fragmentado.
Além das certezas absolutas que o uso do cartesianismo pode deixar,
sabemos que nada é estático, isolado ou capaz de conter a si próprio em uma
embalagem hermeticamente fechada. A metáfora da maré diz muito sobre isso. Na areia
deixamos nossas marcas – o conhecimento científico cartesiano, absoluto – mas em sua
viagem fluida a água a ocupar todos os espaços antes ditos certos e tudo aquilo que era
sólido desmanchou, agora, no mar.

Ficha Técnica do filme:

Título: Mindwalk (Original)


Ano de produção: 1990
Dirigido e produzido por: Bernt Amadeus Capra
Estreia: 9 de Setembro de 1990 (Brasil)
Duração: 112 minutos
Classificação: Livre para todos os públicos
Gênero: Drama
Países de Origem: Estados Unidos da América
Elenco: John Heard, Liv Ullmann, Sam Waterston
Roteiristas: Floyd Byars e Fritjof Capra (autor do livro)

Sinopse: Uma cientista desencantada com o projeto Guerra nas Estrelas, um


candidato à presidência dos Estados Unidos e um dramaturgo em crise, irão dialogar
conosco, num cenário de um castelo medieval, no litoral da França, temas como: os
Caminhos da Ciência, a Natureza e o Homem, Descartes, Einstein, Ecologia, Política,
Física Quântica, Trazendo a expressão de um novo paradigma, uma nova visão de
mundo que pode mudar nossa forma de pensar e agir.A ciência, a natureza e o homem.
Descartes, Einsten, Ecologia, Política, Física Quântica e os novos paradigmas. Onde
tudo isso se encaixa?
Filme baseado na obra: O Ponto de Mutação: A Ciência, a Sociedade e a
Cultura Emergente de Fritjof Capra (irmão do diretor do longa-metragem).

Você também pode gostar