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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO


FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
PROF. ME. KAROLINE BARBOSA
REDAÇÃO CIENTÍFICA

Júlio Augusto Sarmento Maia Filho - 202378840002

RESENHA CRÍTICA REFERENTE À OBRA "A CHEGADA”

BELÉM
2023
1. INTRODUÇÃO:
“A Chegada”, de 2016, é um filme norte-americano dos gêneros ficção científica,
drama e suspense. Foi dirigido pelo cineasta Denis Villeneuve, e roteirizado por Eric
Heisserer. Villeneuve é um diretor franco-canadense, envolvido em longa-metragens
aclamados na premiação Canadian Screen Award, como Maelstrom (2001),
Polytechnique (2009), Incendies (2010) e Enemy (2013). Esteve recentemente nas
produções Blade Runner 2019 (2017) e Duna (2021). “A Chegada” baseia-se no conto
“Story of Your Life” (1999), do autor Ted Chiang; e alcançou um total de oito indicações
ao Oscar de 2017, nas categorias de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro
adaptado, melhor edição de som, melhor som, melhor design de produção, melhor
fotografia e melhor edição. O cientificismo presente na obra está relacionado à linguagem
e à comunicação em prática.

2. RESUMO DO FILME:
O enredo é centrado na personagem Louise Banks (Amy Adams), linguista
especializada em traduções, que é convocada pelo Governo dos Estados Unidos para
intermediar o contato com naves extraterrestres -em seu caso, com a nave localizada no
Estado de Montana (EUA)-, que subitamente pousam sobre a Terra; o objetivo da
cientista é descobrir quais as intenções de seus tripulantes no planeta. Gradativamente,
Louise e o físico Ian Donnelly interagem com os seres, decifrando sua linguagem e
desenvolvendo um método de comunicação, enquanto a humanidade está à mercê das
especulações sobre o que de fato ocorre nos 12 pontos de aterrisagem das espaçonaves. A
narrativa acompanha os desdobramentos cognitivos e conflitos emocionais da
protagonista, levados ao extremo conforme ela aprofunda sua relação com os alienígenas,
jornada intercalada às notícias e plantões televisivos, os quais, junto à locação da equipe
de pesquisa do filme, indicam as crescentes tensões na geopolítica mundial diante da
situação e da falta de respostas para resolvê-la.

3. ANÁLISE CRÍTICA:
“A língua é a cola que mantém as civilizações unidas”, essa citação, na trama, está
presente no prefácio de um dos trabalhos acadêmicos da professora Louise Banks, e é
retirada pelo cientista Ian Donnelly para uma reflexão, a qual é um dos cernes do filme:
afinal, essa aparente união dos povos é sustentada pela linguagem ou pela produção da
ciência? Ao longo da estória, há na verdade a conciliação entre o que se entende por fala e
escrita, e a sua aplicação em um processo de tentativas, denominadas, na pesquisa
científica, de experimentação. Do ponto de vista do conhecimento científico, a construção
de bases sólidas nos estudos, antes de chegar, de fato, na pergunta-chave de interesse para
a humanidade – “qual o seu propósito na Terra ?”-, é um dos fundamentos que se percebe
em todo e qualquer saber produzido em nível acadêmico, fundamentado em entender os
conceitos, mas também os contextos nos quais o objeto de estudo -os seres extraterrestres-
estão inseridos, para, assim, interagir com eles de modo a compreender a complexidade
da relação de afetação mútua durante as interações. Ademais, os múltiplos significados
dados a uma mesma palavra, semanticamente, são um dos elementos de tensão ao fim da
trama, uma vez que as tomadas de decisão dos indivíduos são influenciadas a partir do
modo como eles receberão uma mesma informação direcionada. Desse modo, pode-se
dizer que o cientificismo da obra tem a sua relevância trazida por meio da construção
subjetiva associada à linguagem, isto é, de que maneira ela determina comportamentos,
afetos e, de modo especial para a obra, a noção que se tem de fenômenos naturais a
exemplo do tempo, discussão ímpar no campo da comunicação social
.
4. CONTEXTUALIZAÇÃO CIENTÍFICA:
De modo central para as discussões científicas do filme, e assemelhando-se ao real,
há uma hipótese, um objeto de pesquisa a ser comprovado por Louise: os visitantes do
espaço são capazes de responder qual o propósito de sua vinda à Terra? Em um primeiro
momento, os militares e autoridades políticas desejam essa resposta imediatamente;
entretanto, contrariando o senso comum -no geral, simplificador- de que tal
questionamento poderia ser prontamente formulado aos seres alienígenas, Banks afirma
que seria necessário, antes de tudo, apresentar paulatinamente (em etapas bem definidas)
os elementos da pergunta, com o objetivo de concluir qual olhar esses seres detinham
para cada categoria de palavra em sua própria civilização, junto ao código linguístico e
simbólico adotado por eles para representar a sua realidade. As etapas do que pode ser
considerada a metodologia científica da linguista dividiram-se da seguinte forma:
discernir a noção de afirmação da noção de pergunta; formular a ideia de intenção, haja
vista que a estudiosa trabalhou com um cenário no qual os extraterrestres seriam racionais
e outro em que seriam irracionais; definir a diferença entre motivação pessoal e
motivação coletiva, com base no fato de que o pronome possessivo “sua” poderia ser
interpretado tanto no singular quanto no plural; e, por fim, adquirir vocabulários novos
para traduzir a resposta fornecida ao fim dos encontros.
Como metodologia utilizada no enredo, pode-se destacar os recursos visuais
traduzidos na escrita. Louise associa seus sons e gestos aquilo que escreve, com o intuito
de que os extraterrestres também o façam. O resultado do método é que a partir dessa
associação, os heptapods (denominação dada aos tripulantes da nave) passam a fornecer a
sua escrita de acordo com a ação ou conceito, que é armazenada em um sistema digital
próprio, cujo funcionamento assemelha-se ao de um tradutor, expressando uma frase ou
pergunta, previamente em linguagem humana, no formato da linguagem analisada. A
espaçonave é aberta a cada 18 horas, logo, o método de observação é dividido em sessões,
e a cada uma delas há o rigor pela objetividade, uma vez que a comunidade global
rapidamente entra em estado de crise, conflitos e revoltas, em virtude do medo imposto
por uma invasão do planeta.
Um ponto de grande relevância para a estória diz respeito à escrita da raça heptapod,
a qual é classificada pelos cientistas como semasiográfica, na qual um símbolo transmite
um significado, e não um som para unir-se a outros e formar palavras; ela também não
possui direção -esquerda, direita, horizontal ou vertical-, estrutura-se em círculos iguais
ou diferentes entre si, sendo que um único ciclo pode traduzir uma frase inteira. O seu
modelo de escrever é significativo para a trama, pois traduz valores, entendimentos e uma
forma de lidar com a realidade própria de sua espécie; dimensão explorada por Louise,
que acrescenta à obra dilemas éticos e subjetivos da conduta humana, além de pautar uma
série de pesquisas fora da ficção, na área da comunicação.
Há, ainda, uma menção à comunidade científica internacional e à cooperação em
nome da ciência, evidenciada na atuação conjunta dos países que abrigavam espaçonaves;
exemplo disso é a contribuição de cientistas do Paquistão para o estudo dos Estados
Unidos, ao identificarem os padrões de logogramas emitidos e a ausência de
temporalidade neles, isto é, que não havia início, meio e fim em uma sentença.
5. COMENTÁRIOS PESSOAIS:
“A Chegada” conta com a sua premissa inicial de ficção científica para conduzir o
telespectador em um exercício de autoconhecimento, especulações e inversão de
expectativas que presenteiam a atenção dedicada aos momentos de introspecção de sua
protagonista, cujas reações e dúvidas promovem o sentimento de identificação na
audiência. A câmera estática e aberta em diversos planos, com movimentação mínima em
grande parte do filme, constrói o imaginário de um ambiente vasto, porém congelado,
desamparado face à incerteza de uma ameaça iminente, silenciosa e passiva. As notícias
televisivas elucidam do modo mais dinâmico possível o fortalecimento das incertezas, a
preocupação sobre o desconhecido, além dos movimentos de contestação da ciência
atrelados a sua atuação nas mídias, influenciando comportamentos. Vale destacar a
adaptação da geopolítica, demonstrada em sua dimensão positiva, de cooperação, porém
em sua dimensão negativa em certo momento, no qual o desacordo prevalece e influi em
sigilo. O rigor científico, embora esquecido no desenrolar do último ato para focar na
psiquê dos personagens, é parte integral da obra e desdobra-se nas questões morais da
reflexão final

6. CONCLUSÃO:
Portanto, recomendado não só aos amantes de ficções científicas de qualidade, mas
também a todos que se perguntam acerca da universalidade das leis naturais, o filme “A
Chegada” conta com inquietantes questionamentos, inseridos em uma narrativa sólida,
com dinamismo de acontecimentos e convergência de pautas contemporâneas como
linguagem, comunicação, afetividades, política, diplomacia, mídias, violência e
alteridade. De fato, a obra proporciona o aprofundamento em cima do comportamento
humano, ao subverter o objeto de estudo do filme para o falar, em detrimento do conteúdo
falado.

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