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Rauana Ferreira de Sá
Resumo: O artigo explora a narrativa do filme "A Chegada" sob a perspectiva do discurso, com
foco especial em elementos de linguagem, memória e afeto. Ancorado em teorias como a
linguagem de Saussure, a memória de Halbwachs e a psicologia do afeto, o texto destaca como
o heptapodês, a linguagem alienígena do filme, desafia as noções convencionais de tempo e
como a protagonista, Louise Banks, experimenta uma não linearidade temporal. O ethos de
Louise, construído por sua credibilidade como linguista e sua conexão emocional com a filha, é
central na análise, destacando como sua abordagem à linguagem alienígena influencia a
compreensão do público sobre a complexidade da trama. Cenas específicas, como a decifração
do heptapodês e a revelação das conexões emocionais de Louise, são exploradas para ilustrar a
interseção única entre linguagem, memória e afeto no filme. Ao fundir teorias clássicas e
contemporâneas, o artigo busca oferecer uma compreensão aprofundada da experiência
cinematográfica de "A Chegada".
Introdução
1. Contextualização Teórica
2. Análise da Narrativa
3. Cenas Específicas
A memória, nesse contexto, não é apenas um registro linear, mas sim um tecido
entrelaçado de experiências passadas e futuras. A habilidade de Louise em compreender
a linguagem extraterrestre redefine sua relação com o tempo, moldando suas ações e
emoções de maneira única.
Quanto ao afeto, a narrativa é permeada por uma poesia emocional, onde a conexão
entre Louise e sua filha, marcada por eventos futuros conhecidos, adiciona uma camada
profunda de significado. O filme explora como as relações humanas são moldadas não
apenas pela linguagem verbal, mas também por uma compreensão mais ampla do tempo
e do afeto.
Em mais uma cena em que Louise revela sua compreensão não linear do tempo.
A linguagem torna-se o veículo para transmitir a complexidade de sua experiência,
desafiando as noções tradicionais de memória e causando um impacto emocional
significativo.
A teoria de Hebb, com seu princípio "células que disparam juntas, se conectam",
pode ser aplicada ao filme "A Chegada" considerando a experiência da protagonista,
Louise Banks. Sua interação constante com a linguagem alienígena cria conexões
neurais únicas, permitindo uma compreensão não linear do tempo. A repetição e a
consistência na exposição aos símbolos alienígenas podem fortalecer essas conexões,
possibilitando a assimilação da linguagem alienígena e a capacidade de ver o futuro.
Assim, a teoria de Hebb oferece uma lente para entender como a experiência contínua e
a consistência na aprendizagem podem moldar a percepção e as habilidades cognitivas,
como exemplificado na narrativa do filme.
Ao analisar "A Chegada" à luz das teorias de Noam Chomsky, é possível destacar
a complexidade da linguagem e sua influência na cognição humana, elementos
fundamentais no filme. Chomsky propôs a ideia de uma gramática universal inata,
sugerindo que os seres humanos têm uma predisposição biológica para adquirir
linguagem.
Assim, a análise à luz das teorias de Chomsky destaca como "A Chegada"
explora e desafia conceitos linguísticos fundamentais, proporcionando uma narrativa
que transcende as fronteiras da linguagem humana e da cognição, alinhando-se, de certa
forma, com a visão de Chomsky sobre a diversidade e complexidade inerentes à
linguagem. Ao aplicar a distinção entre competência e desempenho à personagem da
Dra. Louise Banks em "A Chegada", observamos que sua competência linguística vai
além das habilidades cotidianas. Competência, no sentido chomskiano, refere-se à
capacidade inata de entender e produzir uma linguagem.
linear para interpretar as mensagens. Sua compreensão se baseia em uma visão mais
ampla do tempo e da linguagem, permitindo-lhe explorar significados além de uma
interpretação estritamente literal.
A narrativa sugere que a ambiguidade é resolvida não apenas por meio de uma
análise linguística convencional, mas pela aceitação e incorporação da perspectiva não
linear proporcionada pela linguagem extraterrestre. A habilidade de Louise em
compreender a complexidade da comunicação alienígena reside na superação das
limitações da interpretação linear e na aceitação da riqueza de significados possíveis.
A teoria de Saussure pode ser usada para analisar o filme "A Chegada" à luz das
relações entre linguagem e percepção temporal. Saussure destacou a sincronia (estrutura
linguística) e a diacronia (evolução temporal) da linguagem. No filme, a linguagem
alienígena desafia a linearidade temporal humana, refletindo a ideia saussuriana de que
a linguagem molda nossa compreensão do tempo. Além disso, a natureza icônica dos
símbolos alienígenas pode ser comparada à relação entre significante e significado em
Saussure, enfatizando a arbitrariedade e a construção de sentido na linguagem.
Outra teoria de Saussure que pode ser aplicada ao filme "A Chegada" é a ideia
de valor relacional dos signos. Saussure argumentou que as palavras obtêm significado
por sua relação com outras palavras na língua. No filme, a protagonista, Louise Banks,
enfrenta a complexidade da linguagem alienígena, onde cada símbolo não é isolado,
mas interage com outros para formar significado. Essa interdependência reflete a visão
saussuriana de que o significado é construído através de relações dentro do sistema
linguístico.
A teoria pode ser relevante ao analisar "A Chegada" é a distinção entre langue
(sistema linguístico) e parole (ato individual de fala). No filme, a linguagem alienígena
representa uma língua desconhecida, um sistema complexo que transcende as línguas
humanas. A protagonista, Louise, desempenha o papel de parole ao tentar compreender
e comunicar-se com os alienígenas. Essa dicotomia reflete a ideia saussuriana de que a
competência linguística (langue) é distinta da performance individual (parole),
destacando como a linguagem é um sistema subjacente que molda as expressões
individuais.
O filme oferece insights que reverberam para além da tela, questionando nossa
própria relação com a linguagem, memória e afeto. A capacidade transformadora da
comunicação é explorada, sugerindo que nossa compreensão do mundo e de nós
mesmos é, em última análise, moldada pela forma como nos expressamos e nos
conectamos.
Em suma, "A Chegada" não é apenas um filme de ficção científica, mas sim
exploração poética da linguagem como um veículo para a transformação humana. A
interconexão entre memória e afeto revela não apenas as maravilhas da comunicação
além do nosso planeta, mas também as complexidades intrínsecas de nossa própria
experiência emocional e cognitiva.
Referências