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FILHO, Domício Proença. A Linguagem Literária.

acompanharem ao ser enunciada; por força, entretanto,


São Paulo: Ática, 1986. Série Princípios. (p. 5-10 e 36- de sua situação nesse conjunto e da associação com as
44) demais afirmações que a ela se vinculam, abre-se para
um sentido múltiplo, ganha marcas de ambigüidade: no
contexto do fragmento transcrito e da totalidade do
A LINGUAGEM LITERÁRIA poema de que faz parte – “A flor e a náusea”, de Carlos
Drummond de Andrade – podemos entender essa flor
1. Introdução (p. 5-10) como esperança de mudança, por exemplo. Mas esse
sentido que o texto a ela confere não reproduz nenhuma
realidade imediata; nasce tão-somente do próprio texto.
Texto literário, texto não-literário A flor dessa rua deixa de ser um elemento vegetal para
Imaginemos que, na comunicação cotidiana, alçar-se à condição de símbolo, ganha uma significação
alguém nos diga a seguinte frase: que vai além do real concreto e que passa a existir em
função do conjunto em que a palavra se encontra. É claro
- Uma flor nasceu no chão da minha rua!
que os versos remetem a uma realidade dos homens e do
Conforme as circunstâncias em que é dita, isto é, mundo, mas muito mais profunda do que a realidade
de acordo com a situação de fala, entendemos que se imediatamente perceptível e traduzida no discurso
refere a algo que realmente ocorreu, corresponde a um comum das pessoas. É o que acontece com essa
fato anterior ao seu enunciado e de fácil comprovação. modalidade de linguagem, a linguagem da literatura,
Mesmo diante de sua transcrição escrita, o que nela se tanto na prosa, como nas manifestações em verso.
comunica basicamente permanece.
Na prosa, por exemplo, podemos encontrar a
Num ou noutro caso, para trazer essa palavra flor em outro contexto lingüístico e com outro
informação, o nosso interlocutor selecionou uma série de sentido, que lhe é conferido exatamente por essa nova
palavras do idioma que nos é comum e, de acordo com circunstância: trata-se do romance Memórias Póstumas
as regras que presidem o seu funcionamento e que todos de Brás Cubas, onde o termo parece numa afirmação
conhecemos, as dispôs numa seqüência. A seleção feita e vinculada a um famoso personagem criado pelo escritor:
a sucessão estabelecida conferem à frase uma “Uma flor, o Quincas Borba”.
significação que pode ser submetida à prova da verdade
Aí está um conteúdo inteiramente distinto do
em relação à realidade imediata. Como é fácil concluir, é
que se configura no poema drummondiano e que só pode
isso que acontece ao nos comunicarmos no dia-a-dia do
ser percebido plenamente, na força de sua causticante
nosso convívio social.
ironia, quando a frase é considerada na totalidade do
Retomemos a nossa frase inicial, agora romance de que faz parte. É possível perceber a estreita
ligeiramente modificada e combinada com outros relação entre a dimensão lingüística e a dimensão
elementos: literária que envolve a significação das palavras quando
Uma flor nasceu na rua! estas integram o sistema semiótico que é o texto
Passem de longe, bondes, ônibus, rios de aço do literário.
tráfego. Os três exemplos que acabamos de examinar
Uma flor ainda desbotada permitem algumas conclusões:
ilude a polícia, rompe o asfalto.
A fala ou discurso é, no uso cotidiano, um
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
instrumento da informação e da ação e não exige, no
Garanto que uma flor nasceu.
mais das vezes, atitude interpretativa. A significação das
palavras, nesse caso, tem por base o jogo de relações
Sua cor não se percebe.
configuradoras do idioma que falamos.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros. A fala comum se caracteriza pela transparência.
É feia. Mas é realmente uma flor. O mesmo não acontece com o discurso literário. Este se
encontra a serviço da criação artística. O texto da
literatura é um objeto de linguagem ao qual se associa
Percebemos, desde logo, que estamos diante de
uma representação de realidades físicas, sociais e
uma utilização especial da língua que falamos. O ritmo
emocionais mediatizadas pelas palavras da língua na
que caracteriza o texto, a natureza do que se comunica e,
configuração de um objeto estético. O texto repercute em
ao chegar até nós por escrito, a distribuição das palavras
nós na medida em que revele emoções profundas,
no espaço do papel, justificam essa conclusão. A nossa
coincidentes com as que em nós se abriguem como seres
frase-exemplo depende também, como ato lingüístico
sociais. O artista da palavra, copartícipe da nossa
que é, da gesticulação e da entoação que a
humanidade, incorpora elementos dessa dimensão que
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nos são culturalmente comuns. Nosso entendimento do ainda não foram vistas e como são profunda e
que nele se comunica passa a ser proporcional ao nosso autenticamente em si mesmas.
repertório cultural, enquanto receptores e usuários de um A segunda metade da mesma centúria assiste a
saber comum. uma mudança significativa: o núcleo da conceituação se
O discurso literário traz, em certa medida, a desloca para o como a literatura se realiza. Sua
marca da opacidade: abre-se a um tipo específico de especificidade, segundo essa nova visão, nasce do uso da
descodificação ligado à capacidade e ao universo linguagem que nela se configura.
cultural do receptor. É consenso, na atualidade, que os aspectos
Já se percebe o alto índice de multissignificação estéticos da obra literária podem ser alcançados através
dessa modalidade de linguagem que, de antemão, do texto e que todos eles têm uma base lingüística
quando com ela travamos contato, sabemos ser especial (sintática, semântica ou estrutural).
e distinta da modalidade própria do uso cotidiano. Quem A questão fundamental, e que continua
se aproxima do texto literário sabe a priori que está desafiando os especialistas, é a caracterização da
diante de manifestação da literatura. natureza das propriedades estéticas do texto literário e
quais as ligações entre ambos.
Literatura: conceitos Este livro não tem a menor pretensão nem a
A literatura é, tradicionalmente, uma arte verbal. veleidade de responder a essa indagação. Acredito,
A persença do advérbio se justifica diante das inúmeras porém, que, se não podemos, até o momento,
propostas de vanguarda que, sobretudo a partir dos anos caracterizar plenamente a especificidade da literatura,
60, buscaram espaços extraverbais para concretizá-la. temos possibilidade, graças ao desenvolvimento dos
No Brasil, o Movimento da poesia concreta e o estudos e das pesquisas na área, de indicar traços
Movimento do poema-processo são dois exemplos fortes peculiares e identificadores do discurso literário
dessas atitudes. enquanto tal.
Por outro lado, tomo o termo, em sentido
restrito, a partir de uma perspectiva estética, isto é, como 5. Características do discurso literário (p. 36-44)
o equivalente à criação estética, sem entrar no mérito da
controvérsia que ainda hoje o acompanha.
Literatura e especificidade
Vale recordar que o conceito de literatura não é
matéria pacífica entre os estudiosos que a ela se Se a literatura é uma arte, nessa condição ela é
dedicam. Mesmo neste último sentido, tem vivido um meio de comunicação de tipo especial e envolve uma
variações significativas ao longo da história. Foge ao linguagem também especial. Esta última, como já foi
propósito deste volume restrear tais perspectivas; visto, apóia-se numa língua e se configura em textos em
indicam-se, entretanto, na bibliografia do final do que se caracteriza uma determinada modalidade de
volume, algumas obras que podem ser esclarecedoras a discurso.
propósito do assunto. O código em que se pauta o discurso literário
Essa posição não impede, porém, que sejam guarda íntima relação com o código do discurso comum,
assinaladas duas concepções que a têm identificado com mas apresenta, em relação a este, diferenças
maior relevo no âmbito da cultura ocidental: singularizadoras.
Há os que entendem que a obra literária envolve Diante do mistério do fenômeno literário, o
uma representação e uma visão do mundo, além de uma grande desafio dos estudiosos e pesquisadores tem sido
tomada de posição diante dele. Tal posicionamento caracterizar plenamente essa especificidade.
centraliza, assim, suas atenções no criador de literatura e Identificar, entretanto, certos traços peculiares
na imitação da natureza, compreendida como cópia ou do discurso literário tem sido possível: o que ainda não
reprodução. A linguagem é vista como mero veículo se conseguiu definir, mesmo à luz desses traços, é o
dessa comunicação, e, como assinala Marucie-Jean índice da chamada literariedade, busca mobilizadora
Lefebve, “a beleza da obra resulta, então, de um lado, da sobretudo da crítica formalista e estruturalista.
originalidade da visão, e, de outro, da adequação de sua A próposito, estudiosos como Greimas, por
linguagem às coisas expressas”. É a chamada concepção exemplo, vinculam a interpretação dessa literariedade a
clássica da literatura. uma conotação sócio-cultural e sua conseqüente variação
No século XIX, os românticos acrescentam algo no tempo e no espaço humanos.
a esse conceito: à luz da ideologia que os norteia, Essa relatividade e essas limitações não
entendem que ao artista cabe a visão das coisas como impedem que assinalemos uma série de caracteres
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distintivos do discurso literário em relação ao discurso É nesse sentido que alguns estudiosos situam o
comum. Vamos a eles. distanciamento que a linguagem literária assume em
relação ao que chamam grau zero da escritura.
Complexidade Entenda-se, a princípio, grau zero como o
discurso preocupado sobretudo com a plena clareza da
O discurso da literatura se caracteriza por sua comunicação nele veiculada e com a obediência às
complexidade. No discurso não-literário, há um normas usuais da língua. (Para uma visão mais
relacionamento imediato com o referente; caracteriza-se, minuciosa do conceito, pode-se ver o livro de Roland
na maioria dos casos, a significação singular dos signos, Barthes, Novos ensaios críticos seguidos de o grau zero
marcados pela transparência, como vimos na frase- da escritura, edição da Cultrix de 1974.)
exemplo “Uma flor nasceu no chão da minha rua”. Já o
que depreendemos do texto literário ultrapassa, como já A literatura, na verdade, cria significantes e
foi assinalado, os limites da simples reprodução. A funda significados. Apresenta seus próprios meios de
natureza das informações que, por seu intermédio, são expressão, ainda que se valendo da língua, ponto de
transmitidas, vai além do nível meramente semântico partida. Superposto ao da língua, o código literário, em
para se converter em algo tal, que sua comunicação se certa medida, caracteriza alterações e mesmo oposições
torna impossível através das estruturas elementares do em relação àquele. É um desvio mais ou menos
discurso cotidiano. acentuado em relação ao uso lingüístico comum. Em
termos literários, por exemplo, assegurada a coerência
No dispositivo verbal configurador da obra de do conjunto em que inseríssemos a afirmação, teriam
arte literária, revelam-se realidades que, mesmo sentido frases como “a flor de nossa rua comeu todos os
vinculadas a elementos de natureza individual ou de medos” ou “a flor expulsou todos os monstros” e, fora
época, atingem espaços de universalidade. Por seu desse âmbito sintático-vocabular, lembro versos como
intermédio se busca aceder à plenitude do real. “Um supremíssimo cansaço/íssimo, íssimo/cansaço” de
Em certo sentido, a linguagem literária produz; a Fernando Pessoa, onde, como se vê, se fere, em nome da
não-literária reproduz. expressividade poética, a norma morfológica do idioma
O texto literário é, ao mesmo tempo, um objeto no seu uso cotidiano.
lingüístico e um objeto estético. E mais: para a plurissignificação do texto
Nessa situação, configura-se um sistema de contribuem, como acentua Paul Ricoeur, fatores de
signos secundário em relação à língua de que se vale, ordem sincrônica e de ordem diacrônica. Vale dizer, os
esta funcionando, no caso, como o sistema 1. Entenda-se primeiros se vinculam à carga significativa ligada às
o adjetivo secundário vinculado sobretudo à natureza relações entre as palavras no conjunto do texto de que
complexa que está sendo assinalada e não somente ao fazem parte; já o plano da diacronia envolve tudo o que
fato de que o sistema 1 é uma língua natural. de significação e evocação o tempo agregou aos
vocábulos, no decurso de sua história, incluídas nessa
A obra de arte literária, valho-me ainda uma vez totalidade as dimensões resultantes do uso das palavras
de Lefebve, é sempre a intersecção de dois movimentos na tradição literária.
de sentidos opostos que se envolvem, por um lado, um
dobrar-se da literatura sobre si mesma “num puro objeto Num ou noutro caso, a plurissignificação pode
de linguagem” e, por outro lado, um abrir-se “ao mundo associar-se ao âmbito sócio-cultural, como quer, por
interrogado na sua realidade e na sua presença essencial exemplo, Della Volpe, ou a espaços miticos e
[...] movimentos contraditórios e entretanto solidários, arquetípicos, como pretende Northrop Frye; situo-me, no
pólos ao mesmo tempo complementares e antagonistas, caso, entre os que acreditam que tais dimensões não se
criadores de um campo dinâmico que só ele permite excluem, antes se complementam.
compreender os diversos aspectos do fenômeno A multissignificação é, pois, uma das marcas
literário”. fundamentais do texto literário como tal. É o traço que
permite, entre outras, as múltiplas leituras existentes da
obra de João Cabral de Melo Neto, de Carlos Drummond
Multissignificação de Andrade, de Guimarães Rosa; que possibilita a
Ao caracterizar-se no texto literário um uso Roland Barthes a sua apreciação da obra de Racine e que
específico e complexo da língua, os signos lingüísticos, nos autoriza ler, em Iracema, de José de Alencar, uma
as frases, as seqüências assumem significado variado e síntese simbólica do processo civilizatório da América,
múltiplo. Assim, afastam-se, por exemplo, da entre outras interpretações. A permanência de
monossignificação típica do discurso científico, para só determinadas obras se prende ao seu alto índice de
citar um caso. polissemia, que as abre às mais variadas incursões e
possibilita a sua atemporalidade.
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gentes, e essa acuidade mobiliza-lhe a criação
Predomínio da conotação progressora.
A linguagem literária é eminentemente Na maioria dos casos, é a própria obra que traz
conotativa. O texto literário resulta de uma criação, feita em si suas próprias regras. A obra de arte literária se faz,
de palavras. É do arranjo especial das palavras nessa fazendo-se.
modalidade de discurso que emerge o sentido múltiplo Observe-se que as normas reguladoras do texto
que a caracteriza. não-literário, aquelas que se impõem ao indivíduo por
Os signos verbais, no texto de literatura, por corresponderem àquilo que habitualmente se diz,
força do processo criador a que são submetidos, à luz da precisam ser obedecidas, sob pena de sérios ruídos na
arte do escritor, revelam-se carregados de traços comunicação e, em certas circunstâncias, até de total
significativos que a eles se agregam a partir do processo obliteração do que se pretende comunicar. No texto
sócio-cultural complexo a que a língua se veicula. O literário a criação estética autoriza qualquer transgressão
texto literário pode abrigar a presença de elementos nesse sentido. E em termos de história literária,
identificadores de um real concreto, quase sempre múltiplos e vários têm sido os percursos nessa direção,
garantidor de verossimilhança, como costuma também, seja em termos individuais, seja ao nível de época.
nessa mesma dimensão, apresentar uma imagem desse
real ligada estreitamente a outros elementos que fazem o Ênfase no significante
texto. Essa presença, que pode trair uma dimensão
denotativa, não é, entretanto, seu traço dominante. Este Enquanto o texto não-literário confere destaque
reside na conotação, conceito fundamental para os ao significado, ou seja, ao plano de conteúdo, o texto
estudos de literatura e de tal maneira que especialistas literário tem o seu sentido apoiado no significado e no
como André Martinet, Georges Mounin e, entre nós, significante, com especial relevo concedido a este
José Guilherme Merquior chegam a admitir que nas último. A questão, entretanto, não é pacífica. Sobretudo
conotações reside “o segredo do valor poético de um quando pensamos que, ao situar significante e
texto”. significado no âmbito da semiótica, estes ganham
dimensões que, embora relacionadas com a visão da
lingüística, adquirem matizes diferentes e contribuem
Liberdade na criação efetivamente para o sentido do texto, principalmente em
As manifestações literárias podem envolver termos da informação estética que nele se configura.
adesão, transformação ou ruptura em relação à tradição Num poema como o “Soneto de separação”, de Vinícius
lingüística, à tradição retórico-estilística, à tradição de Morais, por exemplo, os fonemas bilabiais de certos
técnico-literária ou à tradição temático-literária às quais vocábulos parecem contribuir para o sentido dominante
necessariamente está vinculado o trabalho do escritor. A no texto, centrado na separação entre dois seres:
literatura se abre, então, plenamente, à criatividade do
artista. Em seu percurso, ela consiste na constante Soneto de separação
invenção de novos meios de expressão ou numa nova
utilização dos recursos vigentes em determinadas De repente do riso fez-se o pranto
épocas. Mesmo nos momentos em que a obediência a Silencioso e branco como a bruma
determinados princípios pareceu regular os E das bocas unidas fez-se a espuma
procedimentos literários, a literatura, por sua própria E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
natureza, levou à abertura de caminhos renovadores.
Não existe uma “gramática normativa” para o De repente da calma fez-se o vento
texto literário. Seu único espaço de criação é o da Que dos olhos desfez a última chama
liberdade. E da paixão fez-se o pressentimento
Se a norma, em alguns instantes, regulou a E do momento imóvel fez-se o drama.
“arte”, o “engenho” foi sempre além, com maior ou
menor evidência. E os movimentos de vanguarda, a De repente, não mais que de repente
constante exigência e busca do novo continuam sendo Fez-se de triste o que se fez amante
suas marcas mais patentes, num curso que segue paralelo E de sozinho o que se fez contente.
à dinâmica do processo cultural em que se integra. Nesse
processo, ora o acompanha, ora se antecipa, Fez-se do amigo próximo o distante
transformadora, porta-voz do devir. Veja-se o Ulisses, de Fez-se da vida uma aventura errante
Joyce, por exemplo. O artista da palavra tem uma De repente, não mais que de repente.
sensibilidade mais apurada do que a do comum das
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Textos há em que o significante sobressai de as línguas acompanham as mudanças culturais; mudam-
maneira ainda mais marcante, como neste poema se os tempos, mudam-se as vontades, mudam as pessoas,
concreto de Ronaldo Azeredo: os povos, a linguagem; a literatura, manifestação
cultural, acompanha as mudanças da cultura de que é
parte integrante e altamente representativa. A literatura
VVVVVVVVVV traz a marca de uma variabilidade específica, seja a nível
VVVVVVVVVE de discursos individuais, seja a nível de
VVVVVVVVEL representatividade cultural. E não nos esqueça de que, na
base da literatura, está a permanente invenção.
VVVVVVVELO
VVVVVVELOC
VVVVVELOCI
VVVVELOCID
VVVELOCIDA
VVELOCIDAD
VELOCIDADE

A questão é facilmente compreensível: basta


substituir os vocábulos de um texto por sinônimos, para
aquilatar a relevância do significante. Pensemos na fala
famosa do Hamlet, de Shakespeare:

To be or not to be: that is the question


(Ser ou não ser: eis a questão)

Veja-se o efeito de substituições:

Am I or am I not: that is the question


(Sou ou não sou: eis a questão)

ou

To be or not to be: that is what worries me


(Ser ou não ser: é isso que me preocupa)

Evidentemente, perde-se muito do efeito estético


com as expressões substitutas, levando-se em conta,
obviamente, o contexto em que as palavras do teatrólogo
se inserem.
No “Soneto de separação”, de Vinícius de
Morais, é possível trocar algumas palavras para verificar
a força do significante, colocando, por exemplo,
“repentinamente” em lugar de “de repente”; “juntas”,
onde está “unidas”; ou “tranqüilidade”, onde se encontra
“calma”.

Variabilidade
O texto literário se vincula, como foi assinalado,
a um universo sócio-cultural e a dimensões ideológicas;
sua natureza envolve mutações no tempo e no espaço;
ele tem uma língua como ponto de partida e de chegada;
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