Você está na página 1de 22

FUNDAMENTOS

DA LÍNGUA
PORTUGUESA

Asafe Cortina
Mecanismos de coesão
e coerência textual
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar os conceitos de anáfora e catáfora.


 Associar os conceitos de continuidade temática e progressão semân-
tica para a construção da coerência.
 Ilustrar exemplos de construção da coesão e coerência em textos.

Introdução
Neste capítulo, você vai aprender sobre mecanismos de coesão e de
coerência textual. Primeiro, você irá ler sobre dois conceitos importantes
que dizem respeito às referências textuais e que garantem a coesão de
um texto: a anáfora e a catáfora. Em seguida, você irá estudar sobre con-
tinuidade temática e progressão semântica e como esses dois elementos
são fundamentais para a coerência de um texto.
Finalmente, você vai observar alguns elementos, mecanismos e princí-
pios de coesão e de coerência textual que colaboram para que um texto
tenha um desenvolvimento lógico e um sentido pertinente.

Anáfora e catáfora
Um dos fatores mais importantes em uma composição textual diz respeito à
coesão. A coesão é um conjunto de elementos e características que harmoni-
zam, conectam e ligam as partes de um texto para que ele possa ter sentido e
para que o leitor possa perceber um senso de continuidade entre as palavras,
as frases, os parágrafos, etc., de forma que o texto seja melhor compreendido.
2 Mecanismos de coesão e coerência textual

Existem alguns recursos para garantir a coesão dentro de um texto, como


a coesão por referência, que ocorre quando utilizamos alguns grupos de
palavras que tem a função de referenciar elementos já citados ou que ainda
serão citados no decorrer do texto. Entre essas palavras, temos os pronomes
pessoais, os possessivos, os demonstrativos, os indefinidos, os relativos e os
advérbios de lugar.
Observe o exemplo:

Pedro comprou o carro que ele queria há muito tempo.

Na frase acima, o pronome relativo “que” e o pronome pessoal “ele” são


elementos de coesão porque relacionam e elencam ideias de forma que o leitor
possa identificar ao que cada uma dessas palavras se refere. Sabemos que a
palavra “que” diz respeito ao carro e a palavra “ele”, se refere a Pedro.
Dentro dos aspectos de coesão, que dizem respeito às referências em um
texto, temos os conceitos de anáfora e de catáfora que, basicamente, estão
relacionados à posição do elemento que foi ou será referenciado em um texto
em relação à palavra que a referencia.

Anáfora
Anáfora é o nome que se dá quando um elemento de coesão retoma um elemento
que já foi citado em um texto. Ou seja, podemos entender como anáfora quando
o elemento B faz referência (ou retoma) o elemento A que já fora citado no
texto, de forma que sem o elemento A, não podemos entender o significado
ou a referência de B.

É preciso atentar para não confundir a anáfora de coesão textual com a anáfora de
uma figura de linguagem.
A anáfora, de coesão textual, diz respeito às referências que acontecem dentro de
um texto em que um elemento retoma algo já mencionado.
Já a anáfora, como uma figura de linguagem, é um recurso de repetição da mesma
palavra ou expressão com o objetivo de enfatizar uma mensagem.
Mecanismos de coesão e coerência textual 3

Leia os exemplos abaixo:

a) Camila estava viajando, mas ela chegou semana passada.


b) Meu pai estava de aniversário. Comprei-lhe uma gravata.
c) Eu adotei um gato. O bichinho já se sente o dono da casa.
d) O laboratório de informática foi roubado. Os teclados foram todos
levados.
e) Inglês e matemática: essas são as matérias que mais gosto na escola.

Observe que em todos os exemplos, temos elementos que garantem uma


coesão textual e que colaboram, também, para a fluidez da leitura. Imagine,
por exemplo, se em vez de usarmos “ela” na primeira frase, repetíssemos o
nome Camila. A leitura, com certeza, tornar-se-ia menos fluída.
No exemplo A, o pronome “ela” se refere à Camila, elemento já mencio-
nado no texto. Se não tivéssemos mencionado o nome Camila no texto, não
conseguiríamos entender a que a palavra “ela” se referia.
Da mesma forma, podemos observar elementos em todas as outras frases
que se referenciam a algo já mencionado na frase, de maneira que retomem
uma ideia ou componente já citado:

a) Camila estava viajando, mas ela chegou semana passada.


b) Meu pai estava de aniversário. Comprei-lhe uma gravata.
c) Eu adotei um gato. O bichinho já se sente o dono da casa.
d) O laboratório de informática foi roubado. Os teclados foram todos
levados.
e) Inglês e matemática: essas são as matérias que mais gosto na escola.

Note que no exemplo C, não temos apenas um pronome retomando “um


gato”, temos um sintagma “o bichinho”. Isso nos demonstra que a anáfora
não ocorre exclusivamente por meio de pronomes, mas por qualquer unidade
lexical que se refira a algo que já foi anteriormente mencionado, seja de maneira
direta ou indireta, completa ou parcial.
Veja que nos exemplos A, B, C e E temos uma referência direta. Cada
uma das palavras destacadas retoma algo diretamente mencionado nas frases.
Contudo, no exemplo D temos um tipo diferente de anáfora, que se referencia
de forma indireta ao que já foi dito.
No caso do exemplo D, as palavras “os teclados” não fazem uma referência
direta ao sintagma “o laboratório de informática”, mas de qualquer forma,
podemos observar que existe uma referência anafórica, porque precisamos
4 Mecanismos de coesão e coerência textual

saber que é sobre o laboratório de informática para entender o tipo de teclado


que foi levado. Se não tivéssemos essa informação, poderíamos pensar que
eram teclados de música, por exemplo.
Em resumo, anáfora são elementos de coesão que retomam alguma infor-
mação previamente mencionada no texto.

Catáfora
Catáfora refere-se à retomada referencial inversa à anáfora. Ou seja, elementos
catafóricos são aqueles que irão se referenciar a uma informação subsequente
no termo, a algo que ainda será mencionado. Dessa maneira, só é possível
compreender o referencial do termo catafórico quando chegamos no elemento
ao qual ele se refere no texto.
Observe os exemplos:

a) Os lugares que precisam de conserto são estes: a sala e a cozinha.


b) Eu quero mesmo fazer isto: viajar por todo o mundo.
c) Paula o analisou e pensou: Diego está com algum problema.
d) Bruna comprou várias coisas: maquiagem, uma bolsa, um sapato e
um perfume.

Nos exemplos acima, podemos observar elementos que se relacionam com


informações que ainda serão mencionadas no texto, de forma que o leitor
precisa ou interpretar o referencial das unidades catafóricas ou esperar que
sejam citados no texto.
Vejamos esses elementos nos exemplos:

a) Os lugares que precisam de conserto são estes: a sala e a cozinha.

A palavra “estes” se refere a duas outras que serão logo citadas: a sala e
a cozinha.

b) Eu quero mesmo fazer isto: viajar por todo o mundo.

O pronome “isto” faz referência ao que vem sequencialmente na frase:


viajar por todo o mundo.

c) Paula o analisou e pensou: Diego está com algum problema.


Mecanismos de coesão e coerência textual 5

O pronome “o” se refere a Diego.

d) Bruna comprou várias coisas: maquiagem, uma bolsa, um sapato e


um perfume.

O sintagma “várias coisas” faz referência a tudo que vem após os dois
pontos: maquiagem, uma bolsa, um sapato e um perfume.
Em suma, entende-se que catáfora é quando um elemento menciona algo
que ainda será citado no texto.

Continuidade temática e progressão semântica


Entre os componentes de coesão e coerência textual, existem dois que são
responsáveis para o desencadeamento do texto se torne claro, para que ele
tenha sentido e para que cumpra seu propósito: a continuidade temática e a
progressão semântica.
Como sabemos, um texto não se caracteriza por ser um aglomerado de
palavras e ideias aleatórias. Geralmente, um texto se organiza e se estrutura
sob certos princípios, de modo que possa ser coerente, coeso e lógico. Logo,
se estamos lendo um texto sobre tecnologias digitais, por exemplo, podemos
esperar informações sobre diferentes exemplos de tecnologia, sobre as dificul-
dades de utilizar tecnologias emergentes, sobre a importância da tecnologia
no cenário atual e etc. Contudo, não esperamos que o texto mude subitamente
e comece a falar sobre gatos ou sobre música.
Progressão semântica é o desenvolvimento do conteúdo de um texto (ou
de um tema/rema) para que este apresente um sentido. Ou seja, as informações
apresentadas a respeito do assunto do texto se desenvolvem de uma forma
lógica ,fazendo com que cada parte faça sentido e tenha coerência com o todo.
Já a continuidade ou progressão temática é o procedimento utilizado
em um texto para dar sequência a eles de forma lógica e organizada. São,
resumidamente, os recursos adotados para garantir que um texto avance e
para que as ideias apresentem um sequenciamento lógico.
Entendemos que um texto tenha, normalmente, uma unidade temática;
ou seja, o assunto sobre o qual o texto decorrerá. Também sabemos que,
naturalmente, “novas” informações serão apresentadas sobre esse tema. É
com base nessa ideia que podemos entender dois conceitos fundamentais para
a coerência textual: tema e rema.
6 Mecanismos de coesão e coerência textual

Tema é o assunto/tópico que o texto abordará. É uma informação claramente


apresentada ou facilmente inferida que pode ser entendida diretamente no
texto ou no contexto. Rema são as informações novas introduzidas em um
texto, “aquilo que se diz sobre o tema”.
Vamos utilizar o exemplo mencionado anteriormente sobre um texto a
respeito de tecnologias digitais. “Tecnologias digitais” é o que consideramos
como tema do texto, enquanto informações sobre diferentes exemplos de
tecnologia, dificuldades de utilizar tecnologias emergentes e a importância
da tecnologia no cenário atual são tidos como remas.
A continuidade temática é um recurso que garante a clareza de um texto e
que permite não só a conexão de seus elementos, mas também a manutenção
da informação e a eficiência do texto em apresentar-se de forma que o leitor
possa “acompanhar o fio da meada”.
De acordo com as diferentes relações entre tema-rema, existem diferentes
tipos de continuidade temática. Conforme Suárez, Luz e Quintero (2012),
podemos distinguir seis progressões temáticas:

1. Continuidade de tema linear: quando o rema (ou parte dele) se converte


em tema da oração seguinte (Figura 1).
■ Exemplo: No que diz respeito à tecnologia, os programas de com-
putador relacionados ao ensino se desenvolvem rapidamente. Esses
programas têm por objetivo...

Tema 1 Rema 1

Tema 2 Rema 2

Tema 3 Rema 3

Figura 1. Esquema para a representação da continuidade temática — continuidade de


tema linear.
Mecanismos de coesão e coerência textual 7

2. Continuidade de tema constante: quando um elemento é o tema


constante de várias orações e em cada uma delas ele apresenta um
rema novo (Figura 2).
■ Exemplo: O aplicativo tem possibilitado diversas atividades fora
da sala de aula. Ele incentiva os alunos a consultarem diferentes
materiais. Além disso, ele permite que os professores organizem as
atividades de forma mais simples.

Tema 1 Rema 1

Tema 1 Rema 2

Tema 1 Rema 3

Figura 2. Representação da continuidade temática – continuidade de tema constante.

3. Continuidade tema/hiperrema: quando um rema (ou parte dele) se


desenvolve em um hiperrema e, a partir disso, novas orações são apre-
sentadas, sendo cada uma com um tema e um rema (Figura 3).
■ Exemplo: Entre os aplicativos utilizados em sala de aula e que são
mais úteis para os professores estão o Google classroom e o Moodle.
– O Google classroom é um sistema que permite…
– Já o Moodle, bastante semelhante, é mais utilizado para…
8 Mecanismos de coesão e coerência textual

Tema 2 Rema 2

Tema 1 Rema 1
Tema 3 Rema 3

Tema 4 Rema 4

Figura 3. Estrutura da representação da continuidade temática — continuidade tema/


hiperrema.

4. Continuidade de tema derivado: quando o tema de uma oração dá


origem aos temas das próximas (Figura 4).
■ Exemplo: A utilização de tecnologias em salas de aula é bastante
importante. Seus efeitos cooperam para o melhor desenvolvimento
dos alunos. Já a falta de recursos para...

Tema 1

Tema 2 Rema 2 Tema 3 Rema 3 Tema 4 Rema 4

Figura 4. Estrutura da representação da continuidade de tema variado.

5. Continuidade de tema convergente: quando o novo tema de uma


nova parte do texto é resultante de informações já conhecidas pelo
leitor (Figura 5).
■ Exemplo: Adotar tecnologias na escola permite que os alunos de-
senvolvam um perfil mais autônomo e independente. Esse perfil
colabora...
Mecanismos de coesão e coerência textual 9

Tema 1 Rema 1 Tema 2 Rema 2 Tema 3 Rema 3

Tema 4 Rema 4

Figura 5. Esquema da continuidade de tema convergente.

6. Continuidade intercalada: quando não existe, evidentemente, ape-


nas um esquema particular, de forma que a coerência seja alcançada
por sentido e não necessariamente por continuidade tema-rema. Essa
relação pode ser observada por efeitos de implicatura, de causa e de
efeito, etc. (Figura 6).
■ Exemplo: Utilizar a tecnologia como parte das sequências didáticas
contribui grandemente para o avanço intelectual dos alunos. Infe-
lizmente, o governo não dispõe de verbas voltadas para a educação.

Esquema 1 Esquema 4
Esquema 2 Tema 1 Rema 1 Esquema 5
Esquema 3 Esquema 6

Figura 6. Representação da continuidade intercalada.

Com esses diferentes esquemas de continuidade temática, podemos per-


ceber a importância da sequencialidade lógica da informação de modo que a
apresentação de tema(s) e rema(s) desenvolva um texto coerente e coeso, para
que o leitor construa possibilidades e elabore uma linha de pensamento que
possa se desenvolver de forma constante e correta por meio do texto.
A partir de seus conhecimentos de continuidade temática e progressão
semântica, observe agora dois exemplos:
10 Mecanismos de coesão e coerência textual

TEXTO 1:
É indubitável que as tecnologias são partes fundamentais do cotidiano
atual: são partes da nossa casa, são utilizadas no nosso trabalho, colaboram
para a nossa comunicação, facilitam algumas tarefas, etc.
Podemos afirmar que a tecnologia não é restrita apenas a uma fun-
ção ou a um determinado público. Ela é constantemente utilizada para
diferentes propósitos e por distintos tipos de pessoas.
Ao sabermos o quanto a tecnologia é presente nos nossos dias, po-
demos concluir que ela se torna componente essencial para a educação:
além de facilitar algumas atividades rotineiras dos professores e colaborar
para sua organização, ela também é esperada pelos alunos, que utilizam
ferramentas, como aplicativos e software com bastante frequência.
Logo, adotar diferentes tecnologias digitais em sala de aula pode
contribuir muito para o desenvolvimento de conteúdos e para a organi-
zação da sala de aula. Quando utilizadas corretamente podem facilitar
o trabalho do professor e fornecer diferentes recursos para melhorar o
desempenho dos alunos.
Contudo, embora utilizar ferramentas tecnológicas em sala de aula
seja um fator indiscutivelmente benéfico, sabemos que existem certas
limitações como, por exemplo, o alto custo para o fornecimento de
tecnologias que não sejam retrógradas.
Como sabemos, a realidade política do nosso país não destina recursos
financeiros suficientes para a educação, de forma que escolas públicas
mal tenham condições de fornecer suprimentos básicos aos alunos e/ou
professores, como cadernos, lápis, giz, etc. Portanto, como seria possível
para essas escolas adotar a tecnologia?
(...)

TEXTO 2:
É indubitável que as tecnologias são partes fundamentais do cotidiano
atual: são partes da nossa casa, são utilizadas no nosso trabalho, colaboram
para a nossa comunicação, facilitam algumas tarefas e etc.
Ao sabermos o quanto a tecnologia é presente nos nossos dias, po-
demos concluir que ela se torna componente essencial para a educação:
além de facilitar algumas atividades rotineiras dos professores e colaborar
Mecanismos de coesão e coerência textual 11

para sua organização, ela também é esperada pelos alunos, que utilizam
ferramentas, aplicativos e software com bastante frequência.
Existem aplicativos gratuitos na internet que podem ser utilizados para
a edição e publicação de fotos. Eles permitem que um usuário tire uma
foto e edite com diferentes recursos e filtros. Um exemplo é o Instagram,
que além de ser uma rede social, apresenta para o usuário diferentes
possibilidades de edição de foto.
O primeiro aplicativo de edição de foto que deu origem a todos
os outros se chama Photoshop da empresa Adobe e que foi lançado (a
primeira versão) em 1988.
Além do Photoshop, a Adobe tem outros programas de imagem e
vídeo, como Illustrator, InDesign, Acrobat Reader, etc.
(...)

Você consegue perceber alguma diferença entre o texto 1 e o texto 2 em


termos de sequencialidade e de desenvolvimento lógico de conteúdo?
É possível perceber que o texto 1 se desenvolve a partir do tema “tecno-
logias” e apresenta remas relacionados ao uso da tecnologia nas escolas, às
contribuições da tecnologia em sala de aula, tanto para o professor quanto
para o aluno, às limitações financeiras que impedem a adoção de tecnologia
em escolas públicas e etc., de forma que o texto seja coerente e que as ideias
sejam sequenciadas e lógicas para o leitor.
É bastante claro, também, que existem diferentes tipos de relação entre
tema-rema e que existe uma progressão semântica –em que novas informações
são adicionadas em relação ao tema principal e que se conectem ao todo,
criando um texto com um sentido e um objetivo claro.
Já no texto 2, embora pareça se desenvolver sobre o mesmo tema (tecnolo-
gias), parece existir uma falta de coesão e, em certos pontos, até de coerência
por haver quebras das continuidades temáticas e da progressão semântica.
O texto começa a se desenvolver a respeito da presença de tecnologias no
cotidiano do mundo atual, logo passa para um recorte sobre o uso de tecno-
logias em sala de aula e, logo após, passa para exemplos de aplicativos para
edição de fotos e, por fim, para uma explicação sobre os diferentes recursos
disponibilizados por uma determinada companhia.
Embora o assunto a respeito dos aplicativos de edição de fotos possa parecer
ligado ao tema principal, existiu uma quebra de continuidade temática e de
progressão semântica porque não houve continuidade do tema/rema apresen-
tado no segundo parágrafo: o uso das tecnologias nas escolas.
12 Mecanismos de coesão e coerência textual

Embora possamos – se forçarmos um pouco – encontrar uma certa relação


entre os parágrafos 3, 4 e 5 com os dois primeiros, é bastante claro, para o
leitor, que houve um rompimento no fluxo de ideias. Esperava-se que o texto
continuasse a decorrer sobre as tecnologias em salas de aula e apresentassem
outros remas sobre o assunto, mas houve uma ruptura brusca e bastante evidente
quando o assunto foi alterado para “aplicativos de edição de fotos”.
A falta de continuidade temática e de progressão semântica podem fazer
com que o leitor perca o interesse pelo texto ou que considere o texto como
incoerente ou com falta de coesão.
Portanto, é preciso observar mecanismos de continuidade temática e de
progressão semântica para garantir que um texto cumpra, eficientemente,
seus objetivos.

Exemplos de construção de coesão e de


coerência
A coesão e a coerência são dois fatores fundamentais para o desenvolvimento
de textos. Um texto não é apenas um aglomerado de palavras. Para que seja
considerado como texto, é preciso que ele comunique/informe e que cumpra
certos propósitos.
Podemos entender como coesão os mecanismos que garantam uma sequên-
cia lógica e semântica entre as partes de um texto, seja entre palavras, frases ou
parágrafos; de maneira que o texto inteiro possa ser entendido como um todo e
que o leitor entenda a relação de todos os seus componentes de forma natural.
A coerência, por sua vez, diz respeito ao sentido e à lógica de um texto.
Um texto incoerente é aquele que não faz sentido e cuja veracidade não é
encontrada em nenhum contexto.
Existem diferentes mecanismos e princípios que garantem tanto a coesão
quanto a coerência textual.

Elementos de coesão textual


Primeiramente, é importante entender que existem dois tipos de coesão textual:
a coesão referencial, que diz respeito à remissão e referências entre elementos
de um texto e a coesão sequencial, que é a responsável pela sequência lógica
e pela progressão de tema de um texto.
Alguns mecanismos garantem a coesão textual, como veremos a seguir:
Mecanismos de coesão e coerência textual 13

1. Referências: quando um termo dentro do texto se refere a outro já citado


ou que será posteriormente citado, por meio de anáfora ou catáfora.
Exemplos são:
■ referência pessoal: utilizando um pronome pessoal ou possessivo
para criar uma referência.
– Exemplo: Paula e Pedro viajaram. Eles foram para Paris.
■ demonstrativa: quando a referência ocorre com o uso de pronomes
demonstrativos ou advérbios.
– Exemplo: Ele se lembrou de todos os detalhes, menos deste: enviar
o convite do casamento.
2. Substituição: ocorre quando um termo é substituído por outro dentro
de um texto. Exemplos são:
■ sinonímia: quando a palavra é substituída por um sinônimo para
evitar repetições.
– Exemplo.: A menina e o menino se perderam na floresta. A garota,
pelo menos, estava com seu celular.
■ metonímia: quando utilizamos uma palavra em vez de outra, baseada
em uma relação semântica.
– Exemplo: O governo dos Estados Unidos tem demonstrado grandes
preocupações. A Casa Branca alega que...
■ epíteto: quando um termo é substituído por uma qualificação.
– Exemplo: Fernando Pessoa foi um poeta português. O melhor po-
eta do mundo publicou poemas utilizando diferentes pseudônimos.
3. Elipse: quando existe a omissão de algum elemento do texto de forma
que essa omissão ainda deixe claro o que foi omitido.
■ Exemplo: Sobraram dois pedaços de pizza. Você os quer? (Elemento
elipsado: “dois pedaços de pizza”.)
■ Exemplo: Elas compraram roupas. Eles, jogos. (Elemento elipsado:
“compraram”.)
4. Conjunção: permite o desencadeamento lógico e contínuo dos textos,
desenvolvendo ideias de adição, de oposição, etc.
■ Exemplo: Nós não entendemos a matéria, mas ela sim.
■ Exemplo: Dirceu foi ao mercado e à farmácia.
5. Lexical: utilização de palavras com sentidos apropriados e que se
encaixem no contexto do texto.
■ Exemplo: A universidade permite que os alunos escolham disciplinas
eletivas. A instituição oferece mais de cem opções...
14 Mecanismos de coesão e coerência textual

Princípios de coerência textual


A coerência é o que garante a lógica e a pertinência do texto como um todo,
de modo que o leitor possa identificar o conteúdo dos textos como verossímeis
e lógicos. Existem três princípios lógicos de coerência textual, sendo eles:

1. Princípio da não contradição: um texto se torna incoerente se ele apre-


senta ideias que se contradigam entre si, de modo que uma anule a outra.
 Exemplo: A tecnologia é benéfica para o desenvolvimento dos alunos.
Ferramentas tecnológicas fazem mal para o progresso dos estudantes.

Existem duas ideias opositivas nas orações acima e, por conseguinte,


apresentam uma contradição.

2. Princípio da não tautologia: tautologia é um vício linguístico em


que um emissor repete o mesmo pensamento com palavras sinônimas.
Quando um texto apresenta a mesma ideia repetidas vezes, acaba se
tornando redundante.
 Exemplo: A tecnologia é importante para a sala de aula, porque ferra-
mentas tecnológicas são benéficas para o ensino, uma vez que aparelhos
tecnológicos contribuem para a didática.

O parágrafo acima apresentou três vezes a mesma ideia, de forma que


quebrou o princípio da não tautologia.

3. Princípio da relevância: a relevância diz respeito à relação entre os


conteúdos apresentados em um texto. Para ser coerente, um texto precisa
apresentar assuntos que possam se relacionar entre si para alcançar um
entendimento global. Partes do texto que abordam assuntos diferentes
e que não são possíveis de relacioná-los com o resto, tornam o texto
incoerente.
 Exemplo: Utilizar a tecnologia em sala de aula pode contribuir para a
organização dos professores. No Japão, os alunos fazem reverência ao
passar por um professor.

Embora possa parecer que exista uma conexão entre os dois parágrafos (uma
vez que ambos falam de professores), não existe uma relação lógica entre os
dois assuntos, tornando, assim, uma das informações irrelevantes para o texto.
Mecanismos de coesão e coerência textual 15

Além desses princípios básicos de coerência, existem alguns fatores que


podem ajudar a tornar um texto coerente, entre eles: o conhecimento de mundo,
as inferências, a contextualização, a informatividade e etc.
Em suma, existem práticas e mecanismos que garantem não só a sequência
lógica e estrutural de um texto, mas também a sua relevância e pertinência.
Sem coesão, não é possível que um leitor acompanhe o fluxo de ideias pre-
tendido pelo escritor e sem coerência não é possível que o receptor encontre
a pertinência e a lógica de um texto, prejudicando, assim, a principal função
de um texto: a comunicação.

1. Qual das alternativas apresenta esperando. Entreguei-lhe


o uso de uma anáfora? o bilhete da minha mãe.
a) Direi a ela apenas isto: não e) Entre as matérias, vão cair
aceito mais amor incompleto. na prova apenas estas:
b) Na cena do crime, o detetive trigonometria e polinômios.
encontrou vários objetos: 3. Qual a diferença entre tema e rema?
uma faca, um pedaço de a) Tema é o assunto sobre o qual
pano e uma corda. um texto é desenvolvido.
c) Minha família está sempre Rema é tudo aquilo que não
brigando. Eles não conseguem se referência ao assunto.
passar um dia sem discutir. b) Tema é o assunto sobre o qual
d) Ele a olhou e concluiu: Bruna é a um texto é desenvolvido. Rema
mulher mais bonita do mundo. são as informações novas
e) Os conteúdos mais cobrados adicionadas sobre esse assunto.
na prova de literatura são c) Rema é o assunto sobre o
estes: romantismo e barroco. qual um texto é desenvolvido.
2. Qual das alternativas apresenta Tema são as informações novas
o uso de uma catáfora? adicionadas sobre esse assunto.
a) Paula está sempre atrasada. Ela d) Tema é o assunto principal
nunca se importa com o horário. que defende a ideia de um
b) Meu cachorro é muito agitado. texto e argumenta em favor do
O animal não para nunca. ponto de vista do autor. Rema
c) Chocolate e baunilha: são as ideias que se opõem
esses são os sabores que ao ponto de vista do autor.
mais gosto de sorvete. e) Tema é o elemento que garante
d) Cheguei atrasado e o a coerência de um texto. Rema
professor estava me
16 Mecanismos de coesão e coerência textual

é o elemento que garante sustenta e organiza a sequência


a coesão de um texto. de informações em um texto.
4. Qual das alternativas apresenta b) Coesão são mecanismos que
uma continuidade temática linear? garantem que um texto seja não-
a) A respeito do programa -contraditório, não-tautológico
didático, a universidade oferece e relevante. Coerência são
diversas disciplinas eletivas mecanismos que permitem
para os alunos calouros. Essas um sequenciamento lógico das
disciplinas permitem que os informações e uma ligação entre
alunos entrem em contato e os elementos de um texto.
explorem outros tópicos. c) Coesão são mecanismos que
b) As aulas de culinária são permitem um sequenciamento
destinadas aos públicos lógico das informações e uma
iniciantes. Elas são ministradas ligação entre os elementos
por uma cozinheira profissional. de um texto. Coerência são
c) A adoção de diferentes técnicas as práticas adotadas para
para o desenvolvimento da garantir que um texto seja
língua estrangeira é essencial. pertinente e lógico.
Seus efeitos são cognitivos d) Coesão são técnicas adotadas
e comunicacionais. O ganho para que o texto seja verossímil
linguístico é bastante evidente e realístico. Coerência são
nos primeiros seis meses. mecanismos que ligam os
d) O livro trabalhado no semestre elementos do texto, desde
será Orgulho e Preconceito. Ele palavras até parágrafos.
foi escrito por Jane Austen. e) Coesão é o que garante a
e) O efeito do remédio é imediato: eliminação de repetições
acaba com a dor de cabeça. desnecessárias em um texto e
5. Qual a diferença entre evita que ele seja tautológico.
coesão e coerência? Coerência é a utilização de
a) Coesão é o que garante a lógica corretas referências (que podem
e a pertinência de um texto, ser anáforas ou catáforas) entre
enquanto coerência é o que os elementos de um texto.
Mecanismos de coesão e coerência textual 17

Referência

SUÁREZ, M.; LUZ, E.; QUINTERO, O. Esquemas de progresión temática en textos es-
pecializados. In: ISQUIERDO, A. N.; SEABRA, M. C. C. (Ed.). Ciências do Léxico. Campo
Grande: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2012. v. 4, p. 397-414..

Leituras recomendadas
KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2012.
KOCH, I. V. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2011.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

Você também pode gostar