Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
r
.1 Tenho
ll
insi~cido em ponruar q ue
ll r1jlungem não é ape nas a cx-
r>rtsNilo de um sc nriclo. Q uer dizer,
n co mpreens.io de um texro não se
expressão de um sentido e de uma intenção'
aconteça com sucesso.
A seguir, tomamos outra vez como base
1 - Não. assim não pode ser. Ca ntar sem a tilulação devida é um desres-
peito à ordem.
E os urubus, em uníssono. expu lsara m da tl oresta os passarinhos que can-
l''íl"t.1 11.1 idcntificaçiio apenas de de nossa análise a fábula de Rubem Al- tavam sem alvarás...
'''"' <.Ontc1ídos. É prci.:iso ir ,1lém, ves, detendo-nos agora em questões de s ua
p.ir.1 reconhecer também a i11te11- 1 MORAL: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.
r1>••. pmpúsito co1111111icatil'<>
o
construção.
1.om que esse sentido é expresso. (Rubem Alves. Estórias de quem gost.a de escrever.
l l.1hiwalme11re, os objcrivos das Co1tez Edilora: SCio Paulo. 1984, pp. 61-62).
.11 1vidJdes de comprcensiio de texto
1 rm-~c concentrado em Jescohrir
"o que o amor disse"; "qun l a s ua
7.1 Análise da fábula
Como referi no cap.ítul o ::interio r, diante da ev idente dificul-
111,·n ~agem ''. Convém a 11,1 lisar flor "Os urubus e os sabiás"
</li<' ()li COI// que /Jl'f!/ Cl/S[fo u /Ili · dade de se esgotar a tota lidade dos elementos analisá veis, vamos
for disse o que rlisse. Apoi:ido
...
,-,_ -,- -·--··-·-·--·--..... .... ........,:
_ - .,,_ ................, ... '''"
110
fixar-nos n aqueles que m ais dirern mcnte estilo vinculados à s ua
M·nrido (lo que diic nrns. ...sr:111 as
ÜS URUBUS E OS SA1311\S coesão e à sua coerência.
i11h'11ç<!es. e
aí que 1110 1':1 () pcri~o ...
i.
res cJe quem deve obedecer.
(c} Se o que prelendcmos é entender cada vez mais como se dá a conslru-
çao de _um l.exto. podemos concluir que uma exploracão vocal)uJar clessa
·
; Reparemos que a arrogâ ncia dos urubus. no seu empenho por manter a •
~ burocracia, é reiterada. do princípio ao fim (aves beca.Q~ las hecas. em
I
ordem e mais relevante do que simplesmenle apresentar o síqnilicado de '. nossa cullllra. estão ligadas a conlextos de poderl. decidiram \quem pode .
~
<
) ~CJl~v~as supostam ente desconhecidas. ou exerci Lar. em rrases. a sua subs- decidir?!, mesmo conJ.ra a nawreza. rancor. encrespar a lesla. Ululação 1
~ LJlu1c_ao por ~ utras sinônimas ou anlônimas. Nesses Li pos ele exercicío, o ·~ devida. decidir em uníssono. expulsar. mandar nos ouuos...J e é posta em 1
~ i~al ~ que nao se pocle perceber como a simples escoll1a das palavras iá ~ oposicão à serenidade do mundo naLural dos passarinhos.
~ icpresenla um :ecurso ela coesão e ela coerência do lexlO. Quer dizer. o que ~ (0 Podemos perceber ainda o quanLo uma análi se dessa naLureza mobiliza
~ vale ressa~ Lar e que a escolha de cada palavra eslâ prêsa a uma razão de ~ nosso conhecimento de mundo ou traz à tona os esquemas culturais - e
i orde~11 r~ a1or. a uma_ razão de. ordem textual garanlir a sua convergência ~ seus valores simbó.licos - que predomi nam em nossa realidade. Repare-
i mos na intencão do autor dequestionar a inconsistência de certas medidas
~ semanlica. ~sua un1dacle. 1ns1sto: n~o se pode perceber essa reg ularidade
~ pela pwduçao ou análise de lrases sol tas. ~ inslilucionais, o que está. rnetaloricamente. representado pelo conjunto de
~ (d) Co~vé~ observar ainda que não é a uniclade lexiccJI isolada que garanLe \ decisões Lomadas pelos urubus mesmo cont.ra a nawreza: tuclo isso exprns·
li a coeren.c1a do Lexto, mas a convergência de contextos emque um determi-
nado º?l: to ele referência so apresenLa. Por exemplo, não é. simplesmente,
~ so por palavras que se ajustam a conjuntos semanticamente a!ins - em
ordem a uma macrouniclade.
a repet1~ao_ da palavra 'urubu· que garante unidade. mas a permanência. {g) Uma análise assim como esta é consistente ainda pelo rato de se apoiar
a constancia das atitudes aLribuídas no lexLo a esse ·objelo do discurso' no Lexto. nos sinais de sua superficie - que sã.o as palavras que o cons·
ou. noutra.s palavras. a essa classe de personagem: querem tomar-se can· tituem e as relações por elas expressas. Na verdade. dessa forma, esLamos
tores. decidem (mesmo contra a nalureza), querem ter nomes pomposos tentando ver como o texto loi-se Jazendo, como as palavras foram promo-
enLor_ta~ o bico. encrespam a Lesta. convocam os passarinhos. impõe~ vendo a conslrução de uma unidade. Do lado do leitor. lica evidente a trillla
cond1çoes. co_nseguem unanimidade. expulsam as aves que cantam sem que precisa ser [eita para o êxito na compreensão do que é dito.
alva1ás. Ou seia. a seleção lexi.cal vai sustentando uma imagem de ·1m1bus·
-
-- ----
-F'-'""'........
Pi . _ ........ li"•--.. -·-
Quanto à natureza dos nexos coesivos ~ (b) Os nexos de con/.iguidacle ocorreram quando a mesma classe de objetos
~ foi referida. mas não o mesmo membro dessa classe. Por exemplo, entre
1.embramos que esses nexos, tal como fo i apresentado no ~ a referência a ·urubus· e a ouLra a ·cada urubuzinllo' não há equlvalência
capítulo 6, pod em ser nexos de equivalência, nexos de contigui- ~ referencial: LraLa-se de duas unidades diferentes do mesmo conjunto de ob·
dade., nexos de associação e nexos de conexão ou sequenciação . jeLos. Ou seja. não llá equivalência. mas há contiguidade relerencial, pois,
Vejamos como esses nexos se constituíram no texto em análise. como disse. Lrata-se da mesma classe de membros. De qualquer lorm a. vale
No momento, fixo-me nos três primeiros, pois os nexos de cone- salieolar que pela contiguidade referencial. se eslã assegurando também a
xão e sequenciação serão analisados, no tópico seguinte, quando i conti nuidade que a consLrução do texLo requisita.
nos ocuparmos dos recursos grama t icais. (e} Os 11Gxos de associação são os mais rrequenLes em Lodo Upo de texlo.
como decorrência da exigência de conLinuidade da própria c0€rêncla ou
corno rorma de assegurar a inexistência de rupLu ras ou desconLinuidades.
Todo Lexto supõe um fio. que não se pode parlir... Assim. as referências. ,:
• urubus_, eles; as prcclicações. os aLribu Los. as relações vão se associando e criancio urna i1
rede de aproximações Corno já mostrei. ex iste uma associação clara enLre !:
urubus --. si (Jízerw11 compelicões eJ71 re si): 'u rubus· e ·aves·: enlre ·aves becadas · e ·interesse pelo poder': enLre 'es- ~
urubus__. urul)us: cola' e ·prolessor': enlJc 'canários. sa.biás' e ·canto': entre ·interesse pelo }
urubus - > os velllos urubus; poder' e ·exigência ele concursos. de diplomas. de alvarás' ele. Ou seja,
numa oll1ad a ma is cuicJadosa podemos perceber que nada no texlO eslá
' Vai..: , a lieJlla r que •>ll l't'OS 11 c xos de
pi nLassi lgos. canários e sa bifls -> as pobres aves:
dHo por acaso: ou nada está solto: ludo está Fm inlerdependéncia. Nas
''111111'.tlência podem ser encontra- pintassilgos. canários e sabiás-> os passarinhos: 1rases isoladas. a unidade req uisilada é apenas aquela restri La a seu i nte-
dos un texto <:rn ard 1isc. .F111'1';1rru 1-
''"' .11·numcr:i -los cx:1usril';1111cn tc
1 as pobres aves-> elas 2. rior. No texto, a p1imeim lrase se arlicula com a segunda: a seg unda com a
para 11:in alo ngar cin clcn1n si<1 ,,
O recurso à elipse também pode implicar umnexo terceira .. ; loclas sG articulam entre si, e nada pode ser dito som o apoio do 1
1>10..:l'di111ento de an:íli~e . Mas, na
de equivalência relerencial. uma vez que é possiveJ contex Lo preceltenLe ou subsequenLe. Mas a gente só enxerga isso quanclo ~
,,i1.1 de aula, uma an51ise exaustiva
pode aco nrccc r sem pro ble111:1. resga tar. na procura pelo sujeito de cada verbo. a se lança na escrita e na análise de texLOs! ~
.... ,,,, "· '·' '" ' .....
_ "'· ...,.,,,' ·• ' ....... .....
_
' Oh~rrvem os que o que t·sr<.Í t>m retornada à referência anterior, corno no trecho: E
io1to aq ui não é sim plesmc11tt· iden- para islo 111udaram escolas e imoorlaram protesso- Ainda a propósito de nexos de equivalência referencial, veja-
1il1c,1r as ocorrênc ias d1: elipse,
1111111:1 a ritud c de mcr;1 proc ura po r
res. gargarejaram dó-ré-mi·lá. mandaram imprimir mos o segu inte fragme nto de texto:
diplomas, e fizeram compeUçôes entre si, para ver
~-·õ'"i;p;~;~·; Aô:· p·;d·c~. .Í[;~~;~;:~·,s·;·~;~~~· h~·~'";;··;~~;d~;. ·~-\;;~;~..~;t~;
lllto' do mundo sin r:ítico. O que
,·~ r;\ e111 jogo é reconh ecer cm que ouais cfeles seriam os mais imporlanles e Leriam a
\11lltt·~ 10~ a mesma referência vol-
permissão de ma11dar nos outros o mesmo recurso na do Brasil e em transmiti r ~ (1) "verdadeiro" aspecLo civilizado. Ele
11111 .1 <•Lllrrer, para assim se pod er
rr\.'11pcr.1r a continu idade rderen- da elipse. numa siluação de equivalência referen- (2) visitou pessoalmente a Exposição Universal da Filadéllia (1876). l á (3)
lln l do rexto, q ue é co11diçfo de sua cial. pode ser vislo no Lrecho: E as pobres aves se teri.a conhecido Alexander Graham Bell, IDIB (4) lhe (b) apresentou sua (6)
\'Ol'r(·11ci;1. Volto a insis tir: o que
olharam petplexas, potq11e nunca haviam imaginado mais nova invenção. o Lelefone. Ao Lestá-lQ.. (7) o Imperador (8) teria dito QQ..
1111/1111/,1 11ão é recu11/Jl'cer uni fato
JlT11111111ical , si mples111ente; o que que lais coisas 11ouvesse. Não tiaviam vassado por inventor americano (9) que. (10) estando disponível no mercado. o Brasil
llll(J•llf<1 ,; a11t1/i11r o concurso desse escolas de canto, porquo o canlo nascera com elas seria o 2fill. ( 1J) primeiro comprador.
/11/11 J.ll'olmati,-a/ prir.1 a co11stru ç'10
E nunca apresentaram um diploma para provar crue (Palha de S.Pauto, Mais. 19/ 11/2000).
,{,, .-111•s1111 e dt1 coerê11cia do texlo.
~bja1J1 canlar, mas cantavam. simplesmenLe1...
--·$•(•$"")$-b,. ., __
q_;_; ~T••,1-'.1'"""7'"....;.· ••1••• '" ·~' ' ' "'"l>•,..7•(*""'••" " Cj u:; ti) J.J
'·
~
De saída, podemos dizer que esse fra gmen to apresenta uma nos segmentos anteriores, havia um o utro poss1vel r eferen
grande densidade coesiva, po is, apenas no â mbito da continui- te para o pronome (Alcxander G raharn Be lJ ), a lém de a
da de referenc ia l, se veem onze nexos . Al.guns comentários acerca primeira referência ao Imperador esta r um tanto di.s tante e
d esses nexos podem ser releva ntes; vejamos: terem ocorrido outras retomadas pronominais a ntes;
• Em (1), o pronome 'seu' poderia irnplícar ambiguidade: • em (9) , o inventor americano, verificamos a substituição
'o asp ecto verdadeiramente civilizado' era do Brasil ou do da r eferência a Alexa nder G raha m Bell por uma expres-
Imperador ? Formalmente, o pronome poderia retomar um são que, nesse contex to, o caracteriza (o inventor ame-
o u outro antecedente; a dúvida se desfaz quando apela- ricano); a conveniência de um procedimento como esse
mos, primeiramente, para a proximida de entre a referê ncia não é, simplesmente, ev itar a repetição de uma palavra, é
a Brasil e o pronome e, cm segundo, q ua ndo consideramos possibi litar o acrésci mo de uma informação que torna o
a imprevisibilid ade ele a lguém "se empenhar em transrnitir texto m ais informativo e relevan te;
seu verdadeiro aspecto cívilizado ". Pelo menos nt:sse con- • em (10), podemos ver que o te rmo elíptico aí é 'o telefo -
texto, essa in terpretaç5o não seria muito p rov<1vel; ne', uma vez que não reria coerê nci a aceita r, como 'a lgo
• cm (2 ), (Ele (2) visitou ...), não bá dúvida de q ue o prono- dí spon ívcl no mercado', o utro o bjeto senão o telefone ('o
me retoma a rt:ferência a 'O imperador'; o único referente Imperador', ' Alexa ndt: r Gra banl BcU' ? N ão te ri a sentido);
possível no contexto ;-1 nrcrior ('Brasil ') não era coe rente podemos ve r, por esse viés, como é s ignificativa a inter-
com o n úc leo do pred ic;ido ('visitou') , que, no contex- pretaçã o que se apoia também cm nosso conhecimento de
to 'visita r pessoa lmente', ex igia a refer ência a um agente mu ndo e não apenas nos aspectos forma is do e nunciado;
humano; • en.1 ( L1), igualmente, é clara a conveniênc ia de se apelar
• em (3), é fac ilmente ide ntifi ca da a retomada de uma loca- ' 1• para a coe rência do q ue é d ito: nesse contexto, o telefone
li zação espac ial (Ext>osição Universal da Filadélfia -?Lá); é o único o b jeto comp rável; só nesse sentido se pode esta-
• cm ,gue (4) lhe (5) apresentou sua mais nova inve11çãu(6), belecer um nexo acei tável.
se identifica m facilmente os referentes dos pronomes, o J\ análise qu e empreendo a partir desse fragm ento revela:
que supõe a consíde raçã o não apenas dos pronomes mas .. • ... .. • • ... . ........ <. .~I
também das predicações cm que eles aparecem; por exem - {a) a !unção coesiva que os pronomes e oulrds expressões relcrenciais as-
plo, a c iênc ia de que ' a mais nova invenção' nã o era do sumem na consLruGàO de um Lexto:
Imperador permite que se identifique os referc11 tes do
(IJ) a necessidade ele se extrapolar o formal, ou a mera expressêo linguísti-
'q ue', do 'lhe' e do 'sua ' - Alexander Graham B el/;
ca . para se recuperc:ir a legilimiclílcle de um nexo:
• cm (7), 'ao testá -l o', ta nto a proximidade em relação ao
(e) o predominio da coerência na procura inLerpreLaliva de qualquer nexo.
o bjeto de referência ('telefone' ) quanto o nosso conheci-
Isto é, se empreendemos a ali vidade de esLabelecer os nexos em um texto,
mento de mundo nos 1.e vam a reconhecer o antecedente
ó porque alimenLamos a hipótese ele que oxisle um sen/Jdo prelendido
do pronome e a estabelecer a continuidade requerida para
que jusli!ica a ligacão de dois ou mais elementos. A gramáUca representa
o enunci a do;
um dos cornponenles desse senlido. Atenção: apenas uM dos componenLes
• cm (8 ), (o Imperador), o nexo é da do pela rep etição li teral
Existem ournos. que não podem ser perd idos de vista!
1
d a palavra; nesse caso, esse recurso é o ma is indicado, pois, t .... ~~,.,,,.,,' '". "" . ' ·'"'"·""' ""''"''"'~""""4""'~--~---------
- 1
---~ - -
dl ana !Ises de Lextos quanto a aspeotoe de sua coneuuç&o .i
Até aqui an a li.sam os os nexos que se construíram no âmbi- p anffrase, o paralelismo de estruturas, o uso de expressões concc-
to da r eferenciação atualizada , o que implica uma concentração toras e seq uenciadoras.
no levantamento de expressões nominais (com substantivos ou Assim, no texto em análise, como amostra desses recurs os,
p ronomes com o núcleos). Vale salientar, no entanto, que pode merece observar:
ocorrer uma equivalência d e sentido entre d uas expressões com - d.as pa lavras ' fl: oresta ' ; ' uru b u ' ; ' av e'
• a rcpet1·ç;:10 · ; 'pas s·'ar·1·-
va lor de adjetivo ou entre duas predicações, por exemplo, o que nho' ; 'sabiá'; 'canto', 'canta r'; 'escola ', 'concurso'; 'd iplo-
estaria fo ra do âmbito refere ncial, mas não deixaria de consti- ma'; repa remos que a reiteração na escolha dessas pal.a-
tuir um nexo coes ivo. Podíamos lembrar a vrns já é indício dos núcleos tem áticos do texto; portanto,
• Sou rcsremunha da difirnl<Lidc 1
conriguidade de sentido entre os atos de 'en- a repetição de cada uma fu ncio na como marca de que os
dos professores para tr:1r;ir das crespar a testa' e 'entortar o bico' ou entre túpicos centrais do tex to se mantêm;
quesrõcs grnmarica is no e nsinu 'a quebra da tranquilida de dos uru hus' e 'a • a substitu i<,:ão de uma palavra por outra equivalente, como
da língua . É que a tr;uliç:i o lhe~
proporcionou o estudo de 11111:.1
tagare.lice dos passarinhos que brincavam e aconteceu no nexo entre ' pintassilgos, ca nários e sab.iás'
gram:11ica à p :1rtc, fora do texto. faz iam se renatas'. É muito significati vJ tam - e 'as pobres mies'; entre ' documentos de seus concursos'
Esrnmos vendo, pdas amí lises fci bém a associação entre as difer entes atribui-
tas, q ue rnda :1 g ran1:í1i..::1 ocorre
e 't~is coisas' (substituições pelo uso de um h iperônimo);
nos r.:xros . E é, :1í, no tl·xro, qu e ções de sentido, corno já temos sublin hado . entre 'pintassilgos, canários e s:lbiás' e 'elas'; entre ' os ve-
po de mo, ver <:omo essa grn m:ítica Examinemos, por exem pl o, a p roximidade lhos urubus' e 'eles' (substituições por pronomes); n1ere-
se efo 1iva e que /i111ções tli sc11rsiv:1s
semântica entr e as predicações ' fu ndar esco- ce destat:ar o uso do pronome •Tudo', no i.nício do texto
cada L1111 n de sua' <><.:orrên.:ins cum -
pn:. ü que imporr.i não é a valiar las de ca nro' e 'importar professores, garga- (Tu do aconteceu ... ), numa espécie de a núncio de tudo que
os valores d as 1111idades isolnd<1s; rejar cló-r é-m i-fü, i1nprim ir di.plomas, fazer vai ser n:1 rrado (uma substitu ição de n;Hurez;1 catafó rica,
mas .:0 1110 es~n s 11nid:u lcs cu1nprt'111
no r<.:xto as fu nçõe s de :is~cgu r:i r a
competiçôes' etc. Ou seja, a continu idade que apon ta para os trechos seguintes) e, co ntrariamen-
cxpressiio de 11111 sentido e de umn que prom ove a coe rência não se fund a ape- te, o uso do pron ome 'Tudo', no meio do tex to (Tudo ia
i11le11('ãO, o qu<.: 1·x igc cncsri " eco - nas no âmbito das referências que são feitas.
Prê11cia. O cami11lH> não é csruda r mu ito bem) , que resume a narração fei ta até esse ponto
gra 111 ~ rica, isnlad.1111ente. O ca1ni-
Ela se estende a rodas as dimensões do texto (uma substituii;ão, portanto, de natureza a nafórica, que
nhn é ver como :1 g r:i rn fiiica possi- e nlca nça também o âmbito da atribuição e
bilita cm textos o cumprimcnro das
retoma portes anteriores); rep:1remos
da predicação {o que envo lve :1S expressões
funçõ~s comun i..:a tiva s. ainda no uso do demon strativo ' isto' ' 1n; isro na rdcvânci;i de a 11.ílises
predicativas e os prcdicodos verbais) 4 • dàu co nra dessas o perações
no seguinte trecho: lO s urubus 1 deci- qut•
texru ais dr promover '" li gações,
diram que (. . .) haveriam de se tornar a continuidade e a L111idade cio
Quanto aos recursos coesivos utilizados grandes cantores. E para isto ... ; vale r<"xru. Represe nta rnu i i·o pouco se
restl' ing ir à idcnti fic::içiio ela clus•c:
A análise q ue fizemos até este ponto compreendeu os t ipos identifica r aí outro nexo coesivo, que
de palavra a que penem:c o termo
de nexos coesivos estabelecidos no texto: nexos de equiva lência, tem como antecedente uma p redica- ' isro', por exe mplo. É pMnome de·
ele contiguidade, de associação. O estabelecim.enro desses n exos ção inteira e como term o de retomada mo 11H rativo, e daí? Q ue funçtlc1
tem? Para que serve nos tcxtol
envolve a utilização de difer entes recursos, pelos quais a pretendi- um pronome demonstrativo 5; que (Hzem os e receben1os? Como
da Ii.gação entre dois pontos se efetiva. Lemb ramos q ue se situam • merece observar ainda a funçã o coesi- po demos er11prcgá-lo hc111 ? Qur
conscquênci.1s 1eria cm c111rrc:14t\-l11
entre esses recursos a r epet ição d e uma pala vra, a associação va do termo ' assim ', no trecho em que
i11 a dequ :1cl~ 111c11tc?
semântica entre elas, sua substituição por o utra equ ivalente, a os passarinhos declaram que nunca
•p•~-'"'' __.,................. . . ,. .. "~as te~ - tundsmentog eprétloei
apresentaram um diploma para provar que sa/Jiam cantar, ,, os segmentos numa terra distante e Em terra de urubus
\
e os urubus respondem que assim não podesa Cantar sem diplomados, fica deli mitado para o .l eitor o espaço em
a titulação devida é um desrespeito à ordem; vejamos que que as afirmações seguintes valem; da mesma forma, o
o termo 'assím' tanto retoma a predicação anterior corno segm ento no tempo em qite os hichos fa lavam também
pode ser projetado para a afirmação seguinte; em um outro funciona como um delimitador, agora temporal, dos fatos
trecho: Foi assim que eles organizaram concursos, o termo n arra dos; ou seja, a val idade desses fatos é demarca da
'assim' também retoma toda a predicação do parágrafo por esses limites de espaço e tempo; em Tudo ia muito
anterior; bem até que..., a expressão sublinhada também tem wn
• um outro recurso coesivo presente no texto em anál ise é valor temporal: o va lor de um tempo terminal (até que,
o uso de estrutu ras paralelas, ou do paralelismo, como até q ua ndo), o que representa para o leitor uma pista de
se costuma chamar, um expediente que cria uma espé- que vai ter início uma situação nova;
cie de re iteração, provocada pela similaridade expressa
• em: aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes
na seleção das fonnas sintáticas; vejamos o pa ralelismo para o canto, o conectivo subl inhado expressa uma oposi-
s in t;hico-scm ântico conseguido no seguinte trecho: 1os
ção: as aves tinham poder (s im bolizado pe.lo uso da beca);
urubus] fundararn escolas e importaram f1rofessores, ~ar
não t inham o dote do canto;
gare jaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir dif7lmnas, e
fizeram competições (todos os verbos estão no mesrno
• em decidiram que, mesmo contra a n a tureza, eles have-
riam de se tornar grandes cantores é expresso, ao mesmo
tempo e modo, adota m a mesma regência e rodos têm
tempo, um sentido de oposição e de concessão; ou seja,
como complemento a mesma classe de palavras; igual re-
tornar-se grandes cantores era uma pretensão que con-
cu rso ocorre em relação a outros trechos (por exemplo,
trariai1a a natureza dos urubus (sentido de oposição), o
a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus fo i estre-
que não imped iu a tentativa de se conseguir (sentido de
mecida . A floresta fo i invadida; bandos de fJintassilgos
co ncessão); q uer d izer, no nexo q ue comumente chama-
(.. .) brincava m com os canários e faziam serenatas com
mos de concessivo, subjaz também um valor semântico
os sabiâs); como se pode perceber, essa co incidência de
de op osição; a concessão der iva exa -
determinados fatos gra maticais constitui um recurso da
tamente da desconsideração a essa • Vale a pena i:essalta r esse Ycd or
reiteração exigida pela coesão e pela coerência do texto.
oposição estabelecida; a lém disso, a de oposição presente na s co11ccs·
si\•as, comumenre vistas, nos livroN
concessão implica u ma o rie ntação
Quanto aos recursos de conexão sintático-semântica de gramática, bem distinta s (e d is·
argumentativa favon1vel ao objeto rnntes) das adversativas e J e ro dns
A pr.imeira observação que podemos fazer inc ide sobre o nú - da declaração: os urubus, ainda que as locuções que exprimem se11tido
co11td rio.
mero de ocorrência da conjunção aditiva 'e' (11 ve1.es), propi- contrariando a natureza, reali.zaram i.. ···-·----········ ....
ciada pelo caráter narrativo do texto, no qual as referências aos seu projeto6 ;
fatos vão-se somando na sequência e na continuidade do texto. • em: para ver quais deles seriam, a palavra sublinhada
Além d esse tipo de conector, podemos apontar: inicia um segmento em que se declara a finalidad e ou
• o uso de expressões que cumprem a função de indicar o objetivo atribuído aos term os do enuncia do anterior;
a delimitação do espaço onde os fatos ocorrem; assim , essa finalidade poderia ser exp ressa por meio de outras
lllllllllllllJ7""1"'4""'54_......,~.--•'"'·•"-'" '"" "' "
relevante de linguagem , em função de um determinado propósito Recife. e os espanhóis. no imenso terriLório. t1oielbrasileiro j que Iica a leste
comunicativo, em um determinado context o social. do meridiano de Tordesilhas. (__) A partir do século XIX , preocupadas em
Em suma , explicitação e análise das categorias gramaticais, '·branqu~ª!.'.' ~IP?Pu lação brasiJeüale em substituir a mão de-obra escra~a,
dentro de um /Jarâmetro de utilidade; ou seja, para que possamos as elites tdo país ~ co meçaram a lançar projetos de colonização,' desti nados a
nos comunicar melhor. alrair imigrantes europeus e asiáticos.
~ Diante de Ludo isso. Hca evidente qu e. clesde 1b00 até o linal do Império, o
~: lsrasiil loi um espacolmullilinguele um enorme laboratóriollinguístico.I
7.2 Análise do texto expositivo "Quinhentos anos de (Rodollo llari. Re n a ~o Basso. OPorwguês da genle- a língua que estudamos a
história linguística'' Unnua que talamos. São Paulo: ContcxLo, 2006, pp. 60-61. Adaptado}.
: .. "•"' . ..•
~ -_ •. .... . ......... ...
... - .-
~-
1 -,
Í QUINHENTOS f1 NOS DE 1-!ISTÓHIA LJNGU]STfCA ' Q uanto à seleção vocabular como elem ento da coesão do texto
~ <
[ Ao longo de 500 anos de história. a si luação linguíslica do !Brasilj foi 1 M esmo nu ma pri meira leitura , já é possível perceber, entre os
I supercomplexa, pela presença das linguas indígenas (desde sempre), do ~ dois últ imos tex ros, grandes d ife renças, em relaçã o à con strução
!Põrtug·~ ~dos ·Colonizador~s.: das Hnguas !aladas pelos[SSêravõSãiiTCãnõSJ 1 e às estratégias de sequenciaçã o e de rn nstitui.ção da un id ade re-
(a partir de 1532) e, depms. das Hnguas europeias e asiáticas !aladas querida. Tais d iferenças têm a ver, antes de tudo, com determina-
.1~.~1.?;~}~~H~.~~~es. No processo de implantação do~~ no contia.ente ções do tipo e do gênero dos do.is textos: um. narrativo , do gênero
'SU)fi;1rtt~J.\lt1~·~sr~; enconlramos praLicamenLe todas as situações ele conlaLO fá bula; o o utro, expositivo, do gênero 'lição d.id ácica', 'trecho de
linguístico possíveis. Ou seja. ª.~ist.?.!~ª da implantação do ~Ôrl~9uêsJ no .., um Ji vro de divu lgação científica'. Uma das diferenças fla grantes
Brasil foi urna histó1ia de§ulL~i· ~-~~sm~1 é o número bem red uzido de retomad as pronomina is oo segund o
Por ocasião do[~.§~cobrimen0.ldizem os especialisLas, vivia nolBrasilluma texto. No ent anto, são evidentes ta mbém as marcas lexica is de
i população nativa esLimada em seis milhões de ·ndigenas. Sempresegundo u ma densa concentração temática, como passamos a con siderar
~ os especialistas, essoslindigenaslfaiavam cerca de 340 Línguas que eram cm segu id a .
~ obviamente não indo-europeias e pertenciam a troncos linguíslicos mui Lo Para a anál ise deste texto, me ocorreu pô r em destaque ter-
dilerenles entre si. Portanto. o multiJinguismo já existia no continente mos que se repetiam. Dá para perceber, então, que deter.mi.nados
.sul-americano, antes da ·colonização' portuguesa. Os j'PõrLu~ preci-·
termos reincidem n uma frequência ma.i or, com o 'língua', 'por-
saram aprender e usar essas línguas indígenas por razões ele sobrevi-
t uguês', ' Brasil' (e derivados), e, ern me11or número, ' indígena',
vência e pa ra impor seu domínio aos 1iativos. Por sua vez. o Lráíico de
'escravo' , 'colon ização'; na verd ade, um a seleção de termos que
scravos que Lerrnina olicialmenLe em 18!:>0, mas que na prá lica durou até
j á apo n ta para uma uni<la de temática relacion ada à h istória da
o linal do século XIX. trouxe para o!Brasil lalguns milhões de frícanos,
falantes dellin guasJpertencenLes ao tronco niger-congo. Por mui Lo tempo, o língua portuguesa no Brasil. O número de ocorrência do vocá-
elemenLO lindíge.najloi predominante na população rural. e o elemento ·e~ bu lo ' língua' e derivados é uma pista confiável de q ue, p or esse
na população dos cenlros urbanos. Para complicar o quadro. lembre-se de campo , transita o desen volvimento do tem a cent ra l do texto.
queos~Ôrlug ueses ncio !oram os únicos europeus que Lentaramestabelecer Podemos confirmar, assim, um dos princípios q ue regem a
:COiônias no aluai terrilório brasileiro: por perlodos mais OU menos extensos. construção coerente de um texto: as palavras selecionadas devem
os írance.ses estiveram no Rio de Janeiro e no Maranhão. os holandeses. no guardar entre si contiguidade sem ântica. Umas, mais que OLl tras,
constituem centro desse núcleo temático (por isso mesmo a pare- conceito de m ulti lin gu ismo é reiterado ainda • Por isso é que - insisto Cnr.ot p
cem mais vezes). O utras, se fi cam nas adjacências, nem por isso q uando se faz referência a troncos linguísti- lcninramento d.is pnlnvros de um
texto, parn reconhecer, puro e 1lm•
deixam de ter algu m tipo de vinculação com, pelo menos, uma cos muito diferentes entre si. Ou seja, as pa- ple,~mcnrc, a que classe s mmatlcal
outra presente no texto. lavras vão acontecendo na dependência de elas pertencem, é deixa r de perce•
ber os laços que das ..:riam no texro
Observemos, por exemplo, a associação implicada nas ex- outras, atadas a outras, em vista a uma uni-
e a coerênc ia qu e d isso rcs ulrn .
pressões 'população ru ral' e 'populaçã.o dos centros urbanos' dade semântico-pragmática esperada 9 •
com a reiterada referência à 'população brasileira', também re- Merece destaca r o fra gmento 'DIANTE DE TUDO isso', que apa -
ferida como 'popub ção nativa' ou ' nativos' . Da mesma forma, rece no fina l do texto e que tem, evidentemente, urna funç ão de
podíamos reconh ecer a associação entre a referência a 'coloniza- retomada resumitiva; o pronome indefinido ' isso' presta-se m uito
ção' e as outras a 'escravos' e a 'indígenas', uma associação que bem a essa fu nção.
se deve mais ao nosso conhecimento da história do que ao nosso Como tenho in sistido, resulta artificia l separar o lexical do
conhecimento linguístico. Ig ualm ente, a refe rência a 'imigrantes gramatical, até porq ue certos valores semânticos expressos se de-
europeus' dá acesso a que se fale na p resen- vem, ao mesmo tempo, à gramática e ao léx ico. Na verdade, am-
" l'od l· ser (1fil, ue~sc mom en to,
c h a 111~1r a •i rcnç:\o p:i rn ~qu i lo que ça de ' portugueses', ' fra nceses', ' hol.andeses', bos estão a se rv iço dos sen tidos e dos propósitos comunica tivos
é "for:i do 11on11:i l" em um t<'X W . 'espa nhóis' no territóri.o bras il eiro, o que, do texto e, ass im , tomam a mesma direção se mântico-pragmática
Ou scj•l , vcj~nH>S que, cm um rexw
conw o que <.:~t:imos a na li sando,
cm cadeia, já conduz à rcfcrênci.<l a 'o conti- esperada. Reparemos, por exemplo, na coe-
11iio :ich:1 111os mu iw prodvd 4ut: nente su l-americano'. A alusão ao projeto de rência lexica l entre as a lusões à história da "' Vou prefe rir n:io :.1:guir ra1-11do·
apa (CÇ<I 111 p :1 lavr.1s .:omo: ·e~rrcla s •• "bnmq uea r" o Brasil reitera, por oposição, mt"ntc a o rd em em que , no rc~ro
'pen itêucia ·, ·nu:rrt1·.. "conl:ession;.\-
colonização brasileira e o fragmento ' Po r
~111n:rior, os difrrcntcs asp1·cws de
ria ', 't:ncri.:i:i' <'tC. O n1ícleo tc1mí ri- ns referências ao elemento negro presente ocasião do descohri111e11to', um frag mento sua construção foram .1nali~:tdoA
co do 1cx 10 não kva a :l$Soci~ções no Bras il pela presença de alguns milhões de qLte poderia ser enquadrado, também , no Ess;~ preferência aponta para n
com o s domínios onde essas pala-
a1.{,ncanos'.
• X
â mbito da conexilo temporal, um contexto cmwcniência de niio se fnn a lccer
vr~s se l1hcrevcrn. ro ri 11as rígidas de a n:í lisc, 11 qu e
O termo 'multi.J ingui smo', não por pura mais cornumente vi sto como gramatical. a.:aba, às vezes, por '·cnp,cssnr" n
co incidência, está presente no primeiro e no último parágrafos, Mesmo ass im, isto é, sem perder de vista a ri vid ad e e criar um a csp<!cie de
fó rmula mecanic,1mcntc rcpcti clu.
sina liza ndo qu e o tema perpassa exaustiva rnentc o texto. As vá- essa conjunção entre o lexical e o gra mati- Vou me deixar levar, um pouco,
rias alusões a dat;:is ta mbém constituem um sin a 1 da convergência cal, vejamos ::1lguns nexos criados no texto, pelo que o texto vai s ugcri 11do, s~m
tem:üica do texto, no q ue se refere à sua local ização temporal: deixar, conrudo, de con~idcra r 01
mais especifica mente, no âm bito das relações
aspectos de sua c1J11S lrtl(•'''·
Ao longo de SOO anos de história; (a partir de J 5.32); A partir . . 'º.
gramaticais
do século X IX; oficialmente em 185 O; até o fi1ZaÍ do século X IX;
desde 1500 até o final do Império. Essas a lusões já corroboram Quanto à natureza dos nexos estabelecidos
a particularidade de que o tex to aborda aspectos da história do
Brasil. Sumariamente, podemos afirmar que predominam nexos de
Por sua vez, defin ir a situação linguística do Brasil como su- contiguidade, sobretudo em relação à cadeia de expressões re-
percomplexa ganha respa ldo na dedaração posterior do 'multi- ferenciais. Na verdade, as referências aos mesmos objetos não
/inguismo' {não por acaso, as duas palavras são formadas com acontecem em grande número, como ocorreu cm relação à fá-
prefixos que se aproximam semanticamente - supe1~ multi). O bula Os urubus e os sabiás. Podemos recon hecer um nexo de
equiva lência, por exen1plo, nas ocorrências da expressão ' o Bra-
sil', que, por sua vez, aparece, mais no final, substituída por 'o
r seg mentos que reafirmam essa orientaçao do texLo para a dimensao hls·
Lórica do tema LraLaclo: além clisso, cumprem a !unção de demarcar um
país'. Va le o bservar que, com a expressão 'o português' (no sin-
gul a r), se está referindo à 'Jfngua '; com a expressão 'os portugue-
'1 determinado período de tempo em relação ao qual o tema é pertinente;
(e} no seguinte trecho: PorLanlo. o mullilinguismo já existia no continente
ses' (no plural ), se está referindo ao 'povo de Portugal'. sul-americano ames da colonizacão po1Lt1guesa. pode-se reconbecer tam-
1
Foram mais frequentes os riexos por conriguidade ('línguas bém. pelo termo destacado, uma alusão temporal; uma outra observação
indígena s' e 'línguas europeias e asiáricas') e aq ueles por associa - perlinenLe tem a ver com o uso da expressão ·portanto', que se jusUiica.
ção, como já mostrei no tópico anterior {ver, por exemplo, 'tráfi- como conclusão. às afirmações dos segmentos imedialamente anteriores:
co de escravos' e ' mão de obra escrava'; 'milhões de a fri canos' e vivia no Brasil uma população nalíva estimada em seis mil/Jões de indíge-
'elemento negro', para ficar apenas nesses casos). nas(...) que falavam cerca de 340 línguas(...) pertencenles a lloncos linguis-
O que é pertinente, nessas análises, é ressaltar essa prox im i- Ucos muilo diferentes enlre si:
dade de refcrênci.a ou de sentido que acontece nos textos coesos e (d) o segmento Para complicar o quadro. sobretudo pelo valor semântico
coe rentes, seja por identidade, seja por contíguidade ou, a penas, da palavra ·complicar', avanca. para o leitor. a expectativa ele que outros
por associação . No texto, as palavras não são autônomas, no ~ argumentos. ma.is sérios ainda, vão ser apresenLados;
sentido de que cada un:ia se basta. Elas estão em rede, um a ligada ~ (e) merece sa observada a correlriç~o semânU.ca enlre o fragmento 'A partir
à outra e às outras. O texto é um grande terreno de grandes vi - ij do século XJX· (com destaque para a expressão 'a parllr de'} e o outro ·co-
zinhanças. Esse senti.do da co-textualização mais amp la perde-se 1 meçaram a lança r projetos'; isto é, a expressão 'a pari.ir de· indica o ponto
nas atividades de formar frases soltas. 1 inicial de alguma coisa. o qu e cslâ e m. coe rê ~cia com a consLrução ~sp~c
: Lual seguinte ·começar a'; oulra vez, J1 ca ev1denle. nessas convergenc1as
Quanto aos recursos da conexão sintático-semântica •. ! ponLuais. a reiteração que dá unidade ao texto;
i (l} uma observação semelhanle poderia ser leila em relação à correlação
Como já adiantei um pouco no item precedente, ocorrem nes-
te texto muita s expressões de va lor temporal - sob a forma sin-
! entre ·desde J!JOO a/€ o final do Império· e o tempo verbal no passado em ·o
Brasil for: ou seja. o vertJo com valor de Lempo concluído (o Brasil !01) en-
tática de adjuntos adverbiais tempora is - o que, como vimos, en- l contra apoio na expressão ·até'. indicadora. por isso mesmo. de um limite.
contra pleno apoio na temática central desenvolvida, que explora 1 de um Lempo linal:
elementos históricos da língua portuguesa no Brasil. Tais adjuntos (g} pode-se consLalar um senlido de Cdusalidade no segmento sublinhado
merecem se r destaca dos, portanto, pela sua vinculação a aspectos em: A parUr do século XIX, oreocupadas em "branauear" a oopulação bra-
do tema tra tado, ou seja, pela coerência que empreendem . . sileira e em subslíluir a mâo-de-obra escrava. as elites do país começaram
Ass im , vejamos: a lançar proieLOs de colonização:
.........,..,.,,:....,.,.,..,,,.._:•~~l.....__~.---............._..__,_..,,.,~""'"-"~-,,.,.
~'-•"1• ..--.·...... ~ ........... .,.,,,, _,..."'---·~-~":'<.
(h) o segmento com que o texto linali za - DIANTE DE TUDO ISSO - ao
(a) Ao longo de 500 anos de história e Por ocasião do descobrimenlo sã o mesmo Lempo que retoma e sinLetiza o conteúdo dos trechos anteriores
dois íragmenLos com valor Lemporal. que, não por mera coincidênc.ia. ini- ('tudo isso '). situa o espaço frente ao qual se pode dize[ que o Brasil foi um
ciam o primeiro e o segundo parágralos. reiteranclo. ass.im. a delimilação espaço multílíngue e um enorme laboralório Iiaguistico.
do Lema na direção de suas circunstâncjas llistórjcas;
(b) desde sempre: Por muito tempo; por períoclos maís ou .menos exten- Enfim, podemo-nos debruçar so bre o texto e procurar per-
sos: A parlir do século XIX: desde 1500 até o final do Jmpél?o são outros ceber nele rodos esses elos, que, lexical o u gramaticalmente,
"llJ\...~"·*""·""""'Y-~3f<,-
linguística ou pragmaticamente, o deixam com sentido e capaz 9. Escri tora brasileira? Ué, mas no B1asil ex istem editoras?
de constüuir urna in terloc ução relevante. 10. A culminância lo.i a ob~ervação d~ uma c1llica berlinense. num ~rtigo
A an :.í lise desta ú ltima seção contém a exploração dos recur- sobre umromance meu editado por 1a, acrescenLando. a alguns elogios. a
sos gra matica is mais salientes em função da coesão e da coerên -
1~ grave re.strição: "porém não pa rece li vro brasileiro. pols não faJa nem de
cia . A par t ir da s categoria s analisadas, o professor pode progra - \ plantas. nem de índios. nem de bichos."
m ar a exp loração e sistem atização d e um outro po nto m a is per- , 1LDiante dos três poemas sobre o Brasil, esquisitos para qualquer brasi-
tinente. Po uco a pouco , os alunos vão p erce bendo q ue não ex iste leiro, pensei mais uma vez que esse uesconhecimenlo não se deve apenas
gram ática fora do tex to . , à natural (ou inalural} alienação estrangeira quanlo ao geogralicamente
fora de seus interesses, mas também é culpa nossa. Pois o Que mais expor·
lamos de nós é o exótico e o rolclórico.
7.3. Análise da crônica "Nós, os brasileiros" 12. Em uma feira elo livro de F'ra nkfurL. no espaço brasileiro. o que se via
,.:: .. . .... . . .
''•. ~·· ' '
eram livros (não mu ito bern arrumados), mu ita ca ipirinl1a na mesa. e tele-
~ visões mostra ndo carnaval, luLebol, 11raias e. . maLos.
~ Nos. os BHf\SI LE1flos
13. E eu , mu lher essencia 1menLe urbana, escritora das geografias interiores
~
~
L Uma ecliLora europeia me pede que traduza poemas ele autores eSlran· de meus personagens neuróli cos. me sonLi lão clcslocada quanto um maca-
geiros solJro o IJrosil. co em uma loja de crista is.
2. Corno sempre, elos falam ela li ores ta amazônica, uma floresLa mu i Lo pou- 14. Mesmo que LenLasse explicar. ninguém clCredilarla que eu era Lão brasi·
co rea l. aliás. Um bosque poético, com ··mulheres de corpos aJvíssi mos ~ leira quanLo qualquer neg ra de origem alrica na vendendo acarajé nas ruas
~
esnreilando enlre os Lroncos das árvores e 0J11os de serpeflles l1ir1.as aca ri- ,~ de Salvador. Porqu e o Brasil é Ludo isso.
cia ndo esses corpos como dedos amorosos ". Não Ja ltam llores azuis. 1ios i J[) E nem a cor rle meu cal)elo e ol hos. nem 1neu sobrenome, nem os livros
cristalinos e liqres mágicos. que li na inlância. nem o iclioma que lalei naquele tempo, além do porLu·
3. Traduzo os poomas por dever de ofício. mas com uma secreta e nunca guês. me lazem menos nascicla e vivicld nesta Lerrc1 ele tão surpreenclenLes
realizada - vonlade de inserir ali um grãozinho ele realidade. misturas: imensa, clesaproveilacla. instigante e (por que Ler medo da palavra?)
maravilhosa.
4. Nas minhas idas (nem tantas) ao Exterior. onde convivi sobreLuclo com
escri Lores ou professores e esLudanLes universilários - porLanto, gente (Lya Lu!L. Prnsat r transgreclit: Rio CIG laneiro: Recorei, 2009, 49-~1).
razodvelmenLo culla , lui invariavelmente surpreendicla com a profunda
ignorência a rcspeilo ele quem. como e o que somos.
Tra ta-se de uma crôni ca, sob a fo rm a de um relato pessoal,
5. /\ sonhom é bras ileira? ComcnLaram espanLados alunos de uma Univer- entrerrieado, no entanto, de comentários acerca da questão en-
sidacfe america na lamosa - Mas a senhora é loira i volvida nesse relato: a imap;enz que os estrangeiros têm do Brasil
6. Depois de ler nurn Congresso de escriLores em Amsterdã um Lrecho de é irreal e fantasiosa. Na verdad e, a crôn ica n ão deix a d e apresen-
um de meus romances traduzidos em inglês, ouvi de um sent1or eleganLe, tar um teor argumentativo, uma vez que a estratégia de relatar
clono de um anliquário Jamoso. que segurou comov ido minhas duas mãos: e comentar os episódios preencheu a função de, tal como argu-
7. Que maravi lha! Nunca imaginei que no Brasil houvesse pessoas cullas! mentos, comprovar o ponto de vista defendido pela a utora já no
8. Pio1ainda, no Canadá, alguém exclamou incrédulo: parágcafo introdutório.
•fiP-....-....- ...... ~,... ....... _. . ..... ..
Os comentá rios q ue preenchem a crônica se apoiam em ex- as palavras: poemas, romance. escriLores. auLores, 12 M io se 1ra ta, porrnnro, de rcduilf l
periências vivid as pela autora, que assume, assim, em primeira professores, universidades. estudantes, livros, edito- o lcvanrnmcnto do voc:ibulá no do
· - ·' rrxto ao critério d e dar o sig ni fica ·
pessoa, o papel de narradora parri.cip::itiva. Aliás, o fato de todo 1'~ ra. traduzir. inglês. enLre ouLras: essas assoc1açoes 1a do desconhecido de cenas palavras.
o relato acontecer em primeira pessoa já constitui um recurso ~ seriam suficientes para nos aponLar em que direção TrMn -se de rom•ll" o l~xico do rexm
~ vai a unidade semântica do textd 2: como pism par;1 rcconbccimcmo de
reiterativo, um meio de marcar a coesão e a coerência do texto. ~- s11as informações. suas ideias. seus
1\tlas vamos a mais d etalhes ace rca da construção da crônica (c) um outro tipo de repelição pode ser visLO na re- argumenros principais. sua unidade
Nós os brasileiros. corrência de estruturas sinl.áLicas - o paralelismo - scma:11iq, sua cocrêpd:l, enfim.
, COffiO já detinimOS; O paralelismo, de fato. COnSlilUi Uffi Por esse vi~s, fica cvidenrc ,1indo
se repetem . Partindo do pressuposto de que a ocorrência de re- mos o paralelismo presenLe na sequência de segmen- se itinrou esse grnpo de palanas não
fo i scm;\11tica; foi gráfica. E ni:1gué11:
petições, mesmo em um texto da .r xosa literária não é a leatória LOS coordenados a seguir: E nem a COI de meu cabelo fob Oll es~revc 3 parti r da prt•rensâo
' ' e Ol}IOS, nem meu SOIJ!BlJOfll e, nem OS livros C(U8 li na 1 de junta r p:davras que apresentam os
podemos descobrir, nessas repetições, fu nções d iscurs ivas sign ifi-
,: iJJfâiJCi8, 11em 0 idi0/n8 (}LJ8 fafei J18QUefGleJnpO; lllCSlllOS sons ou as mesmas lcrrns. l\
cativas. Vejamos, por exemplo: ~ . g<.:11te fa la ou escreve para dizer coi·
,~,:· ... ,,., '• .·~~····· . . .- . . ....~.. ••• ,,,..,.., ')li..... _. '· ~ - ..........._ "''"" ~·.• W'. ......
•l'I•~
~ (d) igualrnenle. Lern uma composição reilmatJva o sas que cêm sentido. coisas scmami
1(a) a repetiç5o da palavra 'Brasil' e de seus derivados ('ürasileiro '/"bra- ~ segmento: Não faltam flores 8?.IÚS, rios cristalinos 1 cn mcnt~ a fins t:, pnrtal11 r~'. coerente\.
i sileira·) - conslil.ui para o leitor urna insliuçãoacerca de um dos Lópicos i e /.igres mágicos (expressões referen ciais !armadas . .
1. Lratados, possivelmenLe o principal. já Que é a pa- 1 por substantivos no plural 1sem delerrninanlel sequidos ele um ad1et1vo): o
~. outro segrnenLo com que a au~ora , no linal, leclla suas considerações lam-
I
" Po r si11af, a ocorrência dc an-
l<J vra que se repele o ma ior número ele vezes: essa
1ti11i111os, 11;1 sequência cio tex to, conclusão pode ser respaldada pela constalação de bém apresenta paralelismo em sua conslrução (uma sucessão de atri bu-
t111Hi>l- 111 é sinal de arricu l;1ção ent re que palavras que expressamseu contrârio. corno ·es- LOs): nesta terra de Lão surpreendenLes mislmas: ime11sa, desaproveitada,
p.trllº~ cio rcxto ou ele su:i coesão. O inslíganle e (por que Ler medo da palavra ?) maravílliosa:
q11l precisa ser ex plorado é :1 re la-
0
trangeiro", e 'fxLerior". também ocorreram mais de
~· .lo de co111inuiclade criada no rex- uma vezl!: corrobora ainda essa conclusão a relerên· (e) a a!irmaçâo de que a imagem do Brasil é. para os estrangeiros. muito
111 pc J.1s dois ou 111ais anttmi:nos. É eia reiLcrada a 011Lros países ou a cidades de outros oouco real encontra coerência. na sequência do Lexlo. com out~as expres~
11111ito po11co significarivo apcnas
países: ou seja, uma pista que regularrnenle pode sões. tais como: bosque JJoéUco. tigres m~. seroenles /?1rlas acan·
H11 hcr que tal pal;wra correspondt"
"º .111rônit11<) de uma ourra. ser dada como indicaçao da trilha por onde vai o ! ciando cwos como dedos amorosos:
terna central do Lexto é a evidênci a das repelições: i (0 no final , o segmenLO Porque o Brasil é wdo issaé claramente resumilivo:
(b) se tomarmos a repetição como reileração - num sentido bem amplo lo pronome indefinido 'isso' presta-se rnuiLo bem a essa retomada, que. pr~-
- podemos consLatac que. se as palavras nao se repetem literalmente. se ticamenle. reilera Lodas as a1irmações que foraJn feitas antes sobre o Brasil;
repetem seus valores semânticos nas associações que são feitas. até mesmo (g) o segmento Mesmo que tentasse explicar estabelece com o Lrecl10 ante-
quando há oposição entre tais valores: observemos, por exemplo. em relação rior uma relação de concessão, Lanto assim que. em seu lugar, poderiamo8
a ·Brasi I' (e a tudo que delese /ala e se con llece). as associações perceptívejs usar um outro conectivo concessivo como ·ainda que', ·ernbora· etc.; vale
entre itens corno floresta. plantas. rios, bichos. ílores. carnaval. caipirinha. a pena considerar a correlação entre os tempos verbais em Mesmo que
lutebol. praias, matos; igualmente, podemos reconhecer as associações entre ~~atasse expUca1, ninguém g,~redilaria: o primeiro verbo exprimindo uma
-
hipólese requer. na orac<Jo seguinle. um outro verbo que também exprima
uma possibilidade Jutura;
Quanto a outros aspectos da construção do texto
(!1) com o Lrecho nesta terra de Ião surpreenclences misturas. podemos res- Nem sem pre a continuida de depende da presença exp lícita de
gatar. além da referência a 'Brasil' ('nesta Lerra'). a ide.ia de que o país é conectivos ou de exp ressões que denotem a lgum tipo de sequê n-
o resultado de diferentes expressões culturais. como está explicitado no cia. É o caso da crônica em a11é:1lise, como veremo s a seguir.
lrecbo imediaLamente anLerior (eu era Lãa b1asilei1a quanto qualquer negra D e fo to, a contin uidade da c rô n ica é perce bida pela sucessão
de Oiigem africana vendendo acarajé nas ruas de Salvadoi).
e unida de. Qua lq ue r ruptur a com essa reg ul a r idade é justificá ve l: ~ (a) nos dois primeiros pa rágralos, o Lema é posLo. assim como a disposição
o bser ve-se q ue a ocorrê ncia d as palavras marncu, loja, cristais - ela auLora frenle a ele (vonlade de inserir ali lnos poemas que traduzi um
que foge tota l~11ente a os eixos semânticos do rexto - se explica aràozin/10 de reali.f!.M!fl):
pelo fato de ta is pa lavras p erte ncerem a um rrfr 5o popular (" T ifo
(IJ) o 3º. parág raro prepara o leiLor para a série ele episM ios (Nas min /1as
est ranho ~ua n to u~n macaco cm uma loja de c rista is" .), esse, s.im ,
como refra o, rclacrnn ado ao aspecto temático tra ta do n a crônica . iclas (nem tan1.as) ao Sxlerior), a parLír dos quais é1 constaLação da autora
De out~·a fo rma, não tcri::i sentido assoc iar pa la vras tã o clisra nrcs (d imagem que se 1em do Brasil no Fx1e1ior é irreaf) vai ser demonsLrada:
se11.1anttca111ente das ourrns q ue constituem o fio central do texto. ~ {e) nos parag rafos seguinLes. (do 4º ao 9°). os episódios se suceclem: a se·
C? q~1 e se r: rn r eveJado ev ide nte nessas :rncí. lises é que a de- quência entre eles é marcada simplesmente pela passagem de um episódio
pcndencia scmant1 ca entre as pa rtes de um texto vem tam bém a ou Lro: essa passagem. por vezes. foi si rtdlizada por expressões que supu-
(sobre~ud ~?) pe lo léxico . A co ncentração do ensino el a líng ua c m nliam uma ligaçã o com algo anterior. como no inicio elo séLi. mo parágrato
dass1f1caçoes e nomencla turas dos itens ela grn m;l tjca nos p ri vo u Pior ainda (pior cio que aquilo que loi narrado no item a11Lerior) ; também
de perceber esse asp ecto . Prnricarne nte, de ixa mos de la do 0 léx ico se pode perceber uma relacão de conlinuiclade sinalizacla pela expressão
e_ vimos_o tex to, a pe nas, como uma peça con str uída pela gra má -
A culminância. cujo sentido exprime uma relação de comparação (com·
n ca . Ev1dcntc1n ente, só há um sentido recu pcd vc l em Uma edito-
paraçâo de superioridade) com algo dilo anLeriormenLe: essas expressões
ra europeia n~e pede que traduza poemas de a uto res estran geiros
indicam ainda que se LraLava de episódios análogos - por isso, um pode
sobre ~ Brasil porque as pa l:ivras estã o arrum ncl as segundo ;i s
ser vislO como ·pior' que ouLro ou corno ·o pior ele Lod.os' ('a culminância');
d~tenm~1 açõcs da gramá ric_<t d a l.íngua . .Mas ta is dete rminações já
sa? sab1das por todos os b ian tes nativ os e não respeitá-las, im- (d) do 10º ao 14º parágralos. a auLora se concentra na sua avaliação dos
plica, nat ura lmente, compron1eter o que se pre tende dizer. E isso episód ios relatados ('pensei mais uma vez que... '); comeca por admi tir que
ninguém qu er. Le m bremos, por exemplo, qu e ni nguém , mes mo a imagem de um Brasil irreal néio é devida simplesmente a visões de es-
um an alfa beto, diri ~ "E uro peia editora uma me gn e pede tra du- â Lrangeiros (mas também é culpa nossa. Pois o que mais exoorta~os .de
za poemas cstrange1ros de a urores Brasil sobre o. " Pois é: va le a ~ nm
é o exótico e o lolclóríco): vale a pena considera r o uso da pnmena
pena não s~pa ra r léx i.co e gram<hica, para que fiqu e bem explíc ito
que os sentidos dos textos são expressos pela conjunção dos dois
- esses mesm os - léxico e g ramática - submetidos às circ uns-
tâ~1cias em q ue ocorre o evento comunicativo. N essa persp ectiva,
l pessoa do plu ra l nesse segmento. expresso nos pronomes ·nossa'. ·nos· e
no verbo ·export ar', uso que recupera a reJerência a 'Brasil ' e que explicita
a nacionalidade da autora:
(e) o 12º e o 14º parágrafos se iniciam com o coneclivo aclilivo ·e·. como
vejamos m a is a lgumas observações acerca da c rônica em aná lise.
1 marcador de um lio em conti nuiclade;
-- -- ~-
1 ' 1
• • ". ~ • • '· • l" '· .'!•.'<,\',..,'°' •.
.,.,1'
(1) vale a. pen.a considerar ta~bém ?s comentários do enunciador sobre J incentivo permanenLe à pesquisa cientifica da complexa realidade lin·
seu próprio cliscurso. o que 11cou evidente empassagens como: Traduzo 1 1 guislica nacional e à ampla divulgaçã o de seus resultados. eslimulan·
os poemas por dever ele olfcio. mas com uma secret.a - e nunca realizada 1 ~ cio com isso, por exemplo, um registro mais adequado. em gramáticas
~ vonlacte de Ínserh aJj ~m grâo~inl10 de realidade. Ou em: Nas minhas 1 ~ e dicionários, da norma-padrão rea l. bem como das demais variedades
idas (.nem lantasJao Extenor; Ou arnda em: (nor a11e ler medo da palavra?)
:' do português, viabilizamio uma comparação sistemática de todas elas.
Esse.s comentários. já que são inserções que logem ao fio das ideias. vêm ·
como Iorma de subsidiar o acesso escolar (hoje tão precarizado) ao pa-
;~.~:~A:~d~s :o~"~~av~::.:.?.e~ ~u .parê1n_:~~::,. . ,,,....... ,-........, . . . ,. . . . .., ·-.. . , ,j . drão oral e escriLo.
~ (5) Apesar de termos essas Lareras maiúsculas à trenle. .roi uma questão mi·
~ núscula que. a partir d.e uma grosseira simplificação dos ratos, acabou por
7.4. Análise do comentário "O maiúsculo e o minúsculo" ~ tomar corpo em prcjuizo de todo o resLo: a presença de pa lavras da língua
r"''''°'
~
•'< • ' < ' ..... W N " ,·
"
• - .•..-tv.llJiJ µ 4
fato é retomado logo a seguir, pelas expressões ~ es- ' questões linguísticas', ' línguas indígenas', 'observaçao
trangeirismos, muitos deles, a maio ria. cuidadosa e honesta', 'acesso escolar', 'patrimônio cultu-
• A informação de q ue os estrangeirismos vêm a partir de ral brasileiro', 'complexa realidade linguística nacional',
uma grosseira !iimplificação dos fatos reitera o que é dito entre muitas outras.
no início: É lastimável quando alguém simplifica em de- • A formula ção com que se inicia o ú ltimo parágrafo (Mos -
masia as realidades complexas. É dessa 'simpbficação' que tra-nos ainda mais) também estabelece coesão com opa -
resu lta u ma questão min úscula, a qua l, por isso mesmo, rágrafo anterior, pois, além da elipse de sujeito, q ue re-
não representa m ais que uma insignificante gota d'água toma a expressão 'Uma observação cuidadosa e honesta
(algumas poucas dezenas) num imenso oceano. Como se dos fatos', instrui o leitor para o acréscimo de mais um
vê, as ideias vão se re iterando umas às outras. Cada uma argumento (ainda m ais).
vai, em algum ponto, mantendo o fio da conversa. • A referência a uma grosseira simplificação dos fatos -
• No âmbito da r eferenciação , são frequentes as retomadas o q ue está na linha do min úscula - remete depois p ara
corrcferenciais, que implica m volta a um mesmo objeto 'Uma o bservação cuidadosa e honesta dos fatos' - o que
de discurso anteriormente r eferido; evidentemente, essas resu.l tará no domínio do maiúsculo. M anrém -se assim a
retomadas sào elos fo rtes que vão marcando a continu i- oposição an unciad a desd e o título.
dade semântica do texto. • No trecho, "É lastim ável quando alguém simplifica em
• Nesse ;'l mbito da corrcferên cia, vejamos, p or exemp lo, no demasia as rea lid ades complexas: perde a proporção dos
p r imeiro p arágrafo, as expressões essas simplificaçôes o u fatos e se põe a fazer afirmações desprovidas de qualquer
a tais limites, a lém do pronome 'lhe' que ta mbém r etoma fundamento", os dois-pontos sin a lizam que vem a seguir
co.rrefcrencia.lmeote a expressão 'cada um '; no segundo uma exp licação d a afi rmação anterio r. I~ p reciso juntar
parágrafo, em 'discussão em torno da língua', o termo cm os d o is segmentos para a panhar o sent ido do todo. Essa
destaqu e é retomad o por 'nessa área '; no fina l ci o m esmo ideia <le 'simplificação', já vim os, é reiterada depois no
pa rágrafo, é dito que O Brasil precisa desencadear um quinto parágrafo.
amplo debate com vista à elaboração de uma nova políti- • Outras ocorrências, envolvendo r etomada s pronominais
ca; esta expressã.o é retomada logo a seguir em 'Essa nova ou adverbiais, também podem ser vi.s ta s: (Brasil: si; Bra sil:
política ', no terceiro e no quarro parágrafos, deixando, aqui) .
portanto, os três pa nígra fos bem ama rrados. Além des- • O uso ele 'contudo', no primeiro parágrafo, s ina liza a
ses elos, va le referi r q ue o terceiro e o quarto parágrafos oposiçã o entre as simplificações q ue ca bem nos limites
cons istem numa descrição acerca do que seria 'essa nova estritos do idiossincrático e as outras que ultrapassam tais
política', urna política vo.ltada para as grandes questões limites. Essa oposição já antecipa a outra, que cons istirá
linguísticas do país, o que será, s.ignificativamente, reto- num dos eixos m ais significa tivos do texto: o minúsculo
mad o depois, no início do quinto par<1grafo, pela expres- - UJTl a simpli ficação para além do idiossincrático.
são essas tarefas maiúsculas. • Outras oposições p o dem ser perce bidas entre: 'simplifi-
• Muitas expressões referenciais aparecem delimitadas pelo car' e 'realidades complexas'; entre: 'limi tes estritos do
uso de ad jetivos restritores ou especificadores, como em idiossincrático' e 'pa ra :ilém do id iossincrático'; entre
- ---
----~ -
1
Anál!se de textos - lundamenLos e praticas
'diversidade do português falado' e 'língua úni'ca e ho- e de forma relevante, pelos fato res gramaticais. Isolar, na pers-
mogênea'; tais oposições são tão coesivas quanto as re- pectiva dos sentidos e das intenções pretendjdos, a contribuição
laçõ es de equivalência, pois mantêm o foco temático em de cada um desses fatores torna-se uma tarefa pouco sjgnificativa
desen volv imento. além de pratica mente impossível.
• A referência, na primeira p essoa do plura l em: uma situa- Pelas análises que acaba mos de fa zer, pode-se perceber como
ção ainda muito mal resolvida entre nós e cm nossas re- o uso de pronomes (pessoais e demonstrativos), de expressões
lações sociais evidencia a pretensão do autor de incluir-se nominais indefinidas e definidas, de ad jetivos restritores ou es-
entre as pessoas envolvidas no problema ana lisado. pecificadores, de numera is, d e conjunções, ele preposições e locu -
• O caráter rnultilíngue do país é mais adiante especificado, ções, de advérbios, de afirmações explicativas ou interrogativas
pois são referidas as muitas línguas indígenas. europeias e (precedidas ou não dos respectivos sinais), de vírgulas e parênte-
asiáticas que aqui se falam. ses, para citar apenas estes itens, contribu iu para a expressão do
• O qua rto parágrafo começa com o trecho: Será preciso que se pretend ia dizer. Merece referir ai nd a - além dos sentidos
incluir... , para mais adiante reiterar: E incluir ainda ... São postos e pressupostos nas pa lavnas - a própria arrumação das
marcas da conti nuidade do texto tanto a conjunção ad i- palavras na estruturaçã o sin tática dos enunciados, o que implica
t iva, qu anto a repetição do verbo, q uanto a presença do também a efetivaçã o da coesão e d a coerência.
advérbio 'ainda'. Enfim, a construção ele um texto se faz ele forma integrada,
• O a utor se permite posicionar-se ante o que afirma nos indissociável; cada constituin te textual se s uperpondo a ourro ou
segmentos entre parênteses, como: (hoje tão precarizado) aos outros, sem falar em todos aq ueles elementos que estão impli-
e (e aqui u1n dado fundamental); (algumas poucas deze- cados contextua.lmentc, ou seja, fora do texto. Quer dizer, a cons-
nas}; (a maioria terá, como em qualquer outra é/Joca da trução de todo tex to supõe procedimentos que, simultaneamente,
história da língua, vida efêmera). O uso dos p arênteses asseguram a contin uidade do s senti J os e a unicfade semântica e
indica exatamente a entrada de uma outra voz: aquela pragmática ex pressos na materi alidade das palavras e nas pressu-
do autor, diferente da voz p ública do sa ber científico posições contextuais envolvida s.
divulgado. Em outras pa lavras: o sentido de qualquer texto se constrói
• Ou seja, por essa pequena amostra - n ão exa ustiva - na articulação : entre parres e todo, entre o lexical e o g.rarnati-
já se pode concluir pela densidade coesiva do texto em cal, entre o linguístico e o pragmático; entre o texto e a situação
aná lise, o qu e favorece, em m u ito, a apreensão de como de comunicação. Qualquer isolamento d e um desses elementos
os sentidos vão-se articulando para res ultar em um todo reduz a significação e a func ionalidade das ações de linguagem.
inteligível e interpretável. O ideal é que sejam sistemáticas, sejam frequentes análises de
textos pautad as por referenciais como os que temos explicitado
aqui. Em do ze anos de estudo escolar da língua - do fu nda-
7.5 E a gramática na construção desses textos? mental ao fim do ensino médio - é bem possível que alunos e
professores vejam, em qualquer texto, muito mais que exempJa-
Tenho reforçado, n estas análises, a convicção de que todo res soltos de classes de palavras o n de fo nções s intáticas de seus
texto se constrói pelo concurso de vários fatores, inclusivamente termos. É bem possível qu e vejam as múltip las fun ções que todas