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PRÉ-UNIVERSITÁRIO

TURBO 6.0

VOLUME
• LÍNGUAGENS E CÓDIGOS

• CIÊNCIAS HUMANAS
3

LIVRO
I
Formato papel capa papel miolo LOMBADA06/02/20
LA PROVA
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DADOS DO ALUNO
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HORÁRIO ESCOLAR

Aula Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado

Aula Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado

Aula Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado

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Aula Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado


PRÉ-UNIVERSITÁRIO

3
VOLUME

TURBO 6.0 – LIVRO I


• LINGUAGENS E CÓDIGOS
• CIÊNCIAS HUMANAS

SFB_PRE 6_VOL3_LA_L1_FRONTIS_2020.indd 1 06/02/20 13:47


LA PROVA PDF
SISTEMA FARIAS BRITO DE ENSINO EDITORA MODERNA
Direção-geral: Tales de Sá Cavalcante, Hilda Sá Cavalcante Prisco, Diretoria-geral de educação: José Henrique del Castillo Melo
Dayse de Sá Cavalcante Tavares Diretoria de negócios: Francisco Ribamar Monteiro
Direção administrativa: Patrícia Teixeira Diretoria de operações editoriais: Ricardo Seballos
Direção técnica: Fernanda Denardin Gerência de design e produção gráfica: Everson Laurindo de Paula
Gerência executiva: Danielle Cabral Coordenação de conteúdo: Jones Brandão
Coordenação de produção: Rafael Mazzari
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Iconografia: Amanda Pinto, Kelly Lopes, Tatielly Farias
Projeto visual: Felipe Marques, Franklin Biovanni,
Paulo Henrique dos Anjos, Raul Matos
Projeto gráfico, revisão e editoração: Gráfica FB

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação:


Bibliotecárias responsáveis: Raquel Hernandes Silva – CRB-3/950,
Lianna Cláudia Barbosa Costa – CRB-1/391, Lúcia Mara Nogueira Braga – CRB-3/880

Autores:
Adriano Rodrigues Bezerra, Alexandre Andrade de Lima, Ana Paula Soares Ramos,
Anquisis Moreira Silva, Antonio Ademilton Pinheiro Dantas, Dawison Ponciano Sampaio,
D’Laias Moraes de Oliveira, Francisco Erionilton Ivo de Sousa, Francisco Souza Nunes,
Hermeson Carvalho Veras, Paulo Sérgio Lobão da Costa, Pedro Antonio Queiroz Fernandes,
Victor Alan Andrade Marques, Zilfran Varela Fontenele.

Os textos aqui veiculados são de inteira responsabilidade de seus autores.


Fica proibida a sua reprodução total ou parcial, sob pena de detenção.
Lei no 9.610/98 e art. 184 do Código Penal.

P397p
CDD 373
Pena, Marcelo
Pré-universitário: turbo 6.0, volume 3: linguagens e códigos,
ciências humanas, livro I / Marcelo Pena, organizador. – 4. ed. –
Fortaleza: FB Editora, 2020.
3 v. (várias paginações) : il.; 29 cm. – (Pré-universitário turbo 6.0;
v. 3. Linguagens e Ciências humanas; livro I)

Obra em 6 volumes
ISBN 978-85-8420-153-2

1. Educação (Ensino Médio). 2. Enem. 3. Linguagens e códigos.


4. Ciências humanas. I. Título: Turbo 6.0, volume 3, linguagens e
códigos, ciências humanas, livro I.

0800 17 2002 | www.moderna.com.br/SFB

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Caro Estudante,

Este material didático, estruturado segundo as Matrizes de Referência do Enem, segue o seu principal
eixo norteador, que é aproximar os conteúdos teóricos de sua aplicação em nosso cotidiano.
Aqui, você encontrará exercícios direcionados ao exame, além da interação com outros importantes recursos
pedagógicos, como a resolução dos exercícios propostos e de fixação no Portal SFB. Tudo parte integrante de
um Projeto maior de Pré-Vestibular pensado para garantir o seu ingresso na Universidade.
E, com a evolução dos processos seletivos, mais do que nunca, faz-se necessário ir muito além da aquisição
de informações. É preciso apropriar-se delas, saber com clareza quando, como e para que finalidade elas servirão
e reconhecê-las nas mais simples situações do nosso dia a dia, ou seja, transformá-las em conhecimento.
Por isso, as competências e habilidades referentes a essas Áreas do Conhecimento foram distribuídas de
maneira a facilitar o seu estudo.
Da mesma forma, o quadro-síntese, apresentado abaixo, foi elaborado para que você entenda melhor, e
de maneira bem objetiva, a estrutura do Enem.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA
matriZ de reFerênCia para o enem

EIXOS COGNITIVOS (comuns a todas as áreas de conhecimento)


I. Dominar linguagens (DL): dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens
matemática, artística e científica e das línguas espanhola e inglesa.
II. Compreender fenômenos (CF): construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a
compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das
manifestações artísticas.
III. Enfrentar situações-problema (SP): selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações
representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema.
IV. Construir argumentação (CA): relacionar informações, representadas em diferentes formas, e
conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente.
V. Elaborar propostas (EP): recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de
propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a
diversidade sociocultural.

ENEM
EIXOS COGNITIVOS
MATRIZES DE I II III IV V
REFERÊNCIA (ÁREAS
DL CF SP CA EP
DO CONHECIMENTO)
DOMINAR COMPREENDER ENFRENTAR CONSTRUIR ELABORAR
LINGUAGENS FENÔMENOS SITUAÇÕES-PROBLEMA ARGUMENTOS PROPOSTAS
COMPETÊNCIAS DE ÁREA

LINGUAGENS, CÓDIGOS C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9
E SUAS TECNOLOGIAS
H1 a H4 H5 a H8 H9 a H11 H12 a H14 H15 a H17 H18 a H20 H21 a H24 H25 a H27 H28 a H30
HABILIDADES

MATEMÁTICA E SUAS C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
TECNOLOGIAS
H1 a H5 H6 a H9 H10 a H14 H15 a H18 H19 a H23 H24 a H26 H27 a H30

CIÊNCIAS HUMANAS C1 C2 C3 C4 C5 C6
E SUAS TECNOLOGIAS
H1 a H5 H6 a H10 H11 a H15 H16 a H20 H21 a H25 H26 a H30

CIÊNCIAS DA NATUREZA C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
E SUAS TECNOLOGIAS
H1 a H4 H5 a H7 H8 a H12 H13 a H16 H17 a H19 H20 a H23 H24 a H27 H28 a H30

* 5 EIXOS COGNITIVOS * 6 A 9 COMPETÊNCIAS POR MATRIZ DE REFERÊNCIA (COMPETÊNCIAS DE ÁREA)


* 4 MATRIZES DE REFERÊNCIA * 30 HABILIDADES POR MATRIZ DE REFERÊNCIA = 120 HABILIDADES
SUMÁRIO
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUA PORTUGUESA I
AULA 11: A LINGUAGEM DA POESIA I .................................................................................................................................................................................................. 2
AULA 12: A LINGUAGEM DA POESIA II ............................................................................................................................................................................................... 11
AULA 13: AFRICANIDADES: A CULTURA DE UM POVO EM DESTAQUE .......................................................................................................................................................... 19
AULA 14: A LINGUAGEM DA MÚSICA E A ERA DE OURO DO RÁDIO NO BRASIL ............................................................................................................................................ 30
AULA 15: COMPREENSÃO TEXTUAL III (ANÁLISE DE PROVA DE VESTIBULAR)................................................................................................................................................ 42

LÍNGUA PORTUGUESA II
AULA 11: ROMANTISMO IV PRODUÇÃO LITERÁRIA EM PROSA .................................................................................................................................................................. 48
AULA 12: REALISMO I ROMANCES MACHADIANOS ................................................................................................................................................................................ 55
AULA 13: REALISMO II CONTOS MACHADIANOS ................................................................................................................................................................................... 62
AULA 14: NATURALISMO I OBRA DE ALUÍSIO AZEVEDO .......................................................................................................................................................................... 68
AULA 15: NATURALISMO I – OBRA DE RAUL POMPEIA ........................................................................................................................................................................... 72

LÍNGUA PORTUGUESA III


AULA 11: A NOTÍCIA, O ARTIGO DE OPINIÃO E O EDITORIAL ................................................................................................................................................................... 78
AULA 12: A CORREÇÃO TEXTUAL E A SUPERAÇÃO DOS ERROS.................................................................................................................................................................. 89
AULA 13: COMO ELABORAR O TÍTULO E A TESE .................................................................................................................................................................................. 102
AULA 14: AS ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS E A SUA APLICAÇÃO .......................................................................................................................................................... 109
AULA 15: A ARTICULAÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO...................................................................................................................................................... 122

LÍNGUA PORTUGUESA IV
AULA 11: TIPOS DE VERBOS E LOCUÇÕES VERBAIS............................................................................................................................................................................... 138
AULA 12: VERBOS III: VOZES VERBAIS ............................................................................................................................................................................................ 144
AULA 13: VERBOS IMPESSOAIS ....................................................................................................................................................................................................... 147
AULA 14: PREDICAÇÃO VERBAL....................................................................................................................................................................................................... 151
AULA 15: PREPOSIÇÃO E ADVÉRBIO ................................................................................................................................................................................................. 154

LÍNGUA PORTUGUESA V
AULA 11: AS VANGUARDAS I – CUBISMO E FUTURISMO ....................................................................................................................................................................... 164
AULA 12: AS VANGUARDAS II – EXPRESSIONISMO .............................................................................................................................................................................. 172
AULA 13: AS VANGUARDAS III – DADAÍSMO E SURREALISMO................................................................................................................................................................ 181
AULA 14: O ABSTRACIONISMO ....................................................................................................................................................................................................... 188
AULA 15: A PINTURA MODERNISTA BRASILEIRA ................................................................................................................................................................................. 197

LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
LÍNGUA INGLESA
AULA 11: INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ESTILO ENEM ............................................................................................................................................................................. 210
AULA 12: INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ESTILO ENEM ............................................................................................................................................................................. 213
AULA 13: INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ESTILO ENEM – CHARGES E TIRINHAS .............................................................................................................................................. 217
AULA 14: INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE OUTROS VESTIBULARES ............................................................................................................................................................ 221
AULA 15: VERBOS ANÔMALOS ........................................................................................................................................................................................................ 224

ESPANHOL
AULA 11: COMPREENSÃO DE TEXTO ................................................................................................................................................................................................. 230
AULA 12: DIVERGÊNCIAS LÉXICAS .................................................................................................................................................................................................... 232
AULA 13: COMPREENSÃO DE TEXTO ................................................................................................................................................................................................. 236
AULA 14: PRONOMES PESSOAIS ...................................................................................................................................................................................................... 240
AULA 15: COMPREENSÃO DE TEXTO ................................................................................................................................................................................................. 242
SUMÁRIO
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
HISTÓRIA I
AULA 11: PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL ................................................................................................................................................................................2
AULA 12: PRIMEIRO REINADO (1822-1831)......................................................................................................................................................................................10
AULA 13: PERÍODO REGENCIAL (1831-1840) ....................................................................................................................................................................................17
AULA 14: REVOLTAS REGENCIAIS (1831-1840) ..................................................................................................................................................................................23
AULA 15: SEGUNDO REINADO (1841 A 1889) POLÍTICA INTERNA E EXTERNA ............................................................................................................................................28

HISTÓRIA II
AULAS 11 A 13: CIVILIZAÇÃO ROMANA ..............................................................................................................................................................................................38
AULA 14: FEUDALISMO ...................................................................................................................................................................................................................55
AULA 15: IMPÉRIO BIZANTINO ..........................................................................................................................................................................................................61

HISTÓRIA III
AULA 11: REVOLTAS ANTICOLONIALISTAS NA ÁFRICA E NA ÁSIA ...............................................................................................................................................................70
AULA 12: TEORIAS OU DOUTRINAS SOCIAIS .........................................................................................................................................................................................77
AULA 13: PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ..............................................................................................................................................................................................86
AULA 14: REVOLUÇÃO SOCIALISTA RUSSA ...........................................................................................................................................................................................97
AULA 15: A CRISE DE 1929 .........................................................................................................................................................................................................107

TEMAS E ATUALIDADES
AULAS 11 E 12: CONSTITUIÇÕES DO BRASIL ......................................................................................................................................................................................118
AULA 13: HISTÓRIA DOS PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL .....................................................................................................................................................................127
AULA 14: GOLPES, RUPTURAS E PERMANÊNCIAS .................................................................................................................................................................................137
AULA 15: PLANOS ECONÔMICOS DO BRASIL REPUBLICANO ....................................................................................................................................................................144

GEOGRAFIA I
AULA 11: GEOMORFOLOGIA DO BRASIL.............................................................................................................................................................................................134
AULA 12: SOLOS DO BRASIL – POTENCIAIS E DEGRADAÇÃO ...................................................................................................................................................................166
AULA 13: AS CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS DO TERRITÓRIO BRASILEIRO ..................................................................................................................................................174
AULA 14: OS GRANDES DOMÍNIOS DE VEGETAÇÃO NO BRASIL ...............................................................................................................................................................183
AULA 15: RECURSOS HÍDRICOS DO BRASIL, BACIAS HIDROGRÁFICAS E SEUS APROVEITAMENTOS .....................................................................................................................196

GEOGRAFIA II
AULA 11: SOLOS – POTENCIAIS, DEGRADAÇÃO E SUSTENTABILIDADE .......................................................................................................................................................208
AULA 12: SITUAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA ......................................................................................................................................................................................217
AULA 13: CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA ...............................................................................................................................................................................................231
AULA 14: OS GRANDES DOMÍNIOS DA VEGETAÇÃO NO MUNDO .............................................................................................................................................................244
AULA 15: RECURSOS HÍDRICOS, BACIAS HIDROGRÁFICAS E SEUS APROVEITAMENTOS ....................................................................................................................................256

GABARITOS DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS ......................................................................................................................................... 271


3

LINGUAGENS, Volume

CÓDIGOS E SUAS
TECNOLOGIAS
LÍNGUA PORTUGUESA
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
ASSUNTOS ABORDADOS NO ENEM–2009 A 2018

LINGUAGENS, CÓDIGOS
E SUAS TECNOLOGIAS
LÍNGUA PORTUGUESA

Interpretação de Textos 25,52%


Literatura e Interpretação de Texto Literário 16,32%

Cultura Artística 13,54%

Tecnologias de Informação e Comunicação 10,94%

Gêneros Textuais/Sistemas de Comunicação 10,59%

Variedades Linguísticas 6,25%

Linguagem Corporal 5,90%

Gramática 3,99%

Coesão e Coerência 3,82%

Funções da Linguagem 3,13%

ESPANHOL

Interpretação e Compreensão de Texto 69,47%


Análise em diversos tipos de textos, bem como suas respectivas estruturas
(análise da semântica e domínio do vocabulário espanhol).
Textos (notícias, reportagens, artigos, textos publicitários e poemas).

Linguagem Verbal e Não Verbal 22,11%


Análise das estruturas de textos que apresentam cartum, charge e tirinhas.

Expressões da Língua 8,42%


Habilidade de interpretar expressões do idioma em diversos contextos
linguísticos.

LÍNGUA INGLESA

Análise de artigos, reportagens e notícias 33,33%

Interpretação de textos de cunho pessoal 16,67%

Leitura de textos publicitários, campanhas e notas 14,44%

Leitura e interpretação de cartuns, tirinhas e charges 11,11%

Análise e interpretação de letras de músicas e poemas 11,11%

Interpretação de textos e obras artísticas 10,00%

Leitura e interpretação de piadas e anedotas 3,33%


Competências, Habilidades e
Conteúdo Programático
COMPETÊNCIA DE ÁREA 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação H17 – Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e
e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes permanentes no patrimônio literário nacional.
para sua vida.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos
H1 – Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como
das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade
elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H2 – Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de
H18 – Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática
comunicação e informação para resolver problemas sociais.
e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros
H3 – Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação
e tipos.
e informação, considerando a função social desses sistemas.
H19 – Analisar a função da linguagem predominante nos textos em
H4 – Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das
situações específicas de interlocução.
linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
H20 – Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a
COMPETÊNCIA DE ÁREA 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) preservação da memória e da identidade nacional.
moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
COMPETÊNCIA DE ÁREA 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre
e grupos sociais*.
as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H5 – Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H21 – Reconhecer, em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não
H6 – Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de
verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos
ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
e hábitos.
H7 – Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função
H22 – Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos
e seu uso social.
linguísticos.
H8 – Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como
H23 – Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem
representação da diversidade cultural e linguística.
é seu público-alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos
COMPETÊNCIA DE ÁREA 3 – Compreender e usar a linguagem corporal utilizados.
como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da H24 – Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para
identidade. o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução,
H9 – Reconhecer as manifestações corporais de movimento como comoção, chantagem, entre outras.
originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 8 – Compreender e usar a língua portuguesa
H10 – Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais
como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
em função das necessidades cinestésicas.
do mundo e da própria identidade.
H11 – Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social,
H25 – Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas
considerando os limites de desempenho e as alternativas de
que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de
adaptação para diferentes indivíduos.
registro.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 4 – Compreender a arte como saber cultural H26 – Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso
e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo social.
e da própria identidade. H27 – Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas
H12 – Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos diferentes situações de comunicação.
artistas em seus meios culturais.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 9 – Entender os princípios, a natureza, a função
H13 – Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar
e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o
H14 – Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de
aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às
elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos
demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se
sociais e étnicos.
propõem solucionar.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos H28 – Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias
expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, da comunicação e informação.
mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de H29 – Identificar, pela análise de suas linguagens, as tecnologias da
acordo com as condições de produção e recepção. comunicação e informação.
H15 – Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua H30 – Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao
produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos produzem.
de construção do texto literário.
Competências, Habilidades e
Conteúdo Programático
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO • Estudo dos aspectos linguísticos da língua portuguesa: usos da língua:
norma culta e variação linguística – uso dos recursos linguísticos em
• Estudo do texto: as sequências discursivas e os gêneros textuais no
relação ao contexto em que o texto é constituído: elementos de referência
sistema de comunicação e informação – modos de organização da
pessoal, temporal, espacial, registro linguístico, grau de formalidade,
composição textual; atividades de produção escrita e de leitura de textos
seleção lexical, tempos e modos verbais; uso dos recursos linguísticos
gerados nas diferentes esferas sociais – públicas e privadas.
em processo de coesão textual: elementos de articulação das sequências
• Estudo das práticas corporais: a linguagem corporal como integradora
dos textos ou a construção da microestrutura do texto.
social e formadora de identidade – performance corporal e identidades
juvenis; possibilidades de vivência crítica e emancipada do lazer; mitos
e verdades sobre os corpos masculino e feminino na sociedade atual;
exercício físico e saúde; o corpo e a expressão artística e cultural; o corpo
no mundo dos símbolos e como produção da cultura; práticas corporais
e autonomia; condicionamentos e esforços físicos; o esporte; a dança;
as lutas; os jogos; as brincadeiras.
• Produção e recepção de textos artísticos: interpretação e representação
do mundo para o fortalecimento dos processos de identidade e cidadania
– Artes Visuais: estrutura morfológica, sintática, o contexto da obra
artística, o contexto da comunidade. Teatro: estrutura morfológica,
sintática, o contexto da obra artística, o contexto da comunidade, as
fontes de criação. Música: estrutura morfológica, sintática, o contexto da
obra artística, o contexto da comunidade, as fontes de criação. Dança:
estrutura morfológica, sintática, o contexto da obra artística, o contexto
da comunidade, as fontes de criação. Conteúdos estruturantes das
linguagens artísticas (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), elaborados a
partir de suas estruturas morfológicas e sintáticas; inclusão, diversidade e
multiculturalidade: a valorização da pluralidade expressada nas produções
estéticas e artísticas das minorias sociais e dos portadores de necessidades
especiais educacionais.
• Estudo do texto literário: relações entre produção literária e processo
social, concepções artísticas, procedimentos de construção e recepção
de textos – produção literária e processo social; processos de formação
literária e de formação nacional; produção de textos literários, sua
recepção e a constituição do patrimônio literário nacional; relações entre
a dialética cosmopolitismo/localismo e a produção literária nacional;
elementos de continuidade e ruptura entre os diversos momentos
da literatura brasileira; associações entre concepções artísticas e
procedimentos de construção do texto literário em seus gêneros (épico/
narrativo, lírico e dramático) e formas diversas; articulações entre os
recursos expressivos e estruturais do texto literário e o processo social
relacionado ao momento de sua produção; representação literária:
natureza, função, organização e estrutura do texto literário; relações
entre literatura, outras artes e outros saberes.
• Estudo dos aspectos linguísticos em diferentes textos: recursos expressivos
da língua, procedimentos de construção e recepção de textos –
organização da macroestrutura semântica e a articulação entre ideias
e proposições (relações lógico-semânticas).
• Estudo do texto argumentativo, seus gêneros e recursos linguísticos:
argumentação: tipo, gêneros e usos em língua portuguesa – formas de
apresentação de diferentes pontos de vista; organização e progressão
textual; papéis sociais e comunicativos dos interlocutores, relação entre
usos e propósitos comunicativos, função sociocomunicativa do gênero,
aspectos da dimensão espaço-temporal em que se produz o texto.
Língua Portuguesa I
Compreensão Textual

Objetivo(s):
• Desenvolver a compreensão textual a partir da leitura de poemas.
• Conhecer a riqueza da cultura afrodescendente no Brasil.
• Estudar a história da música brasileira, especialmente da Era de Ouro do Rádio.

Conteúdo:
Aula 11: A Linguagem da Poesia I A capoeira........................................................................................... 22
Leia um pouco sobre poesia.................................................................. 2 A religião africana............................................................................... 23
Com a palavra, o texto poético............................................................. 2 A culinária........................................................................................... 23
Os gêneros poéticos e a poesia............................................................. 2 Exercícios ........................................................................................... 23
Licença poética: o que é?...................................................................... 3 Aula 14: A Linguagem da Música e a Era de Ouro do Rádio no Brasil
Textos representativos da poesia em Língua Portuguesa para análise....... 4 Introdução.......................................................................................... 28
Exercícios ............................................................................................. 5 A linguagem da música...................................................................... 29
Aula 12: A Linguagem da Poesia II Entenda um pouco mais dos seguintes códigos musicais................... 29
Ainda sobre a poesia.......................................................................... 12 Leia sobre a história de alguns ritmos musicais.................................. 29
Diferença entre poesia e poema......................................................... 12 Entenda um pouco sobre a história de nossa música.......................... 31
Textos representativos da poesia em Língua Portuguesa para análise..... 12 A música popular brasileira – Anos 1930............................................ 32
Exercícios ........................................................................................... 14 A cultura de massa na década de 1930.............................................. 32
Aula 13: Africanidades: A Cultura de um Povo em Destaque Os veículos de comunicação............................................................... 33
Entenda um pouco sobre africanidades.............................................. 18 Exercícios ........................................................................................... 36
A cultura africana urbana................................................................... 19 Aula 15: Compreensão Textual III (Análise de Prova de Vestibular)
As artes e a cultura africana............................................................... 19 Exercícios ........................................................................................... 41
A música na cultura africana.............................................................. 21
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Aula 11:
Com a palavra, o texto poético
C-5 H-15, 16
Aula H-17 POESIA E AMOR
A Linguagem da Poesia I
11

M. J. Garnier/Wikimedia Foundation
Leia um pouco sobre poesia
Sendo uma das formas de manifestação humana, a poesia,
ou o gênero lírico, ocupa espaço privilegiado no decorrer da
história da arte ocidental. De fins estéticos, a arte poética é uma das
sete artes tradicionais. Em sua trajetória, a poesia tem despertado
o interesse do homem em relação a diversos temas, tais como:
o amor, a religião, a morte, a infância, o social, a guerra, a doença, A tarde que expira, A órfã que chora,
a paixão, o medo, a vida e a arte. A flor que suspira, A flor que se cora
É bom frisar que uma obra poética é feita com arte, e a arte O canto da lira, Aos raios da aurora,
é a própria poesia. O artífice, que é o poeta, cria a obra de arte Da lua o clarão; No albor da manhã;
(o poema), que expressa poesia, lirismo, sentimento. Na mensagem Dos mares na raia Os sonhos eternos,
poética, a finalidade pode variar, pois o poema pode se prestar tanto A luz que desmaia, Os gozos mais ternos,
ao louvor quanto à sátira de algo ou de alguém. E as ondas na praia Os beijos maternos
Lambendo-lhe o chão; E as vozes de irmã;
Há também o teor metafísico da poesia. Isso ocorre quando
a obra do poeta transcende a materialidade e busca no além Da noite a harmonia O sino da torre
da física a matéria-prima para a construção de uma arte que Melhor que a do dia, Carpindo quem morre,
desperte a reflexão no leitor. Muitos são os poetas que costumam, E a viva ardentia E o rio que corre
em sua poesia, explorar esse universo, pois nele o lirismo passa a Das águas do mar; Banhando o chorão;
incursionar caminhos desconhecidos, muitas vezes sem respostas, A virgem incauta, O triste que vela
que despertam o interesse do homem. As vozes da flauta, Cantando à donzela
Num sentido amplo, a poesia também se identifica com E o canto do nauta A trova singela
Chorando o seu lar; Do seu coração;
a própria arte, pois, assim como ela, quase sempre, a arte busca
o belo, o lírico, o poético e, sendo a arte linguagem, mesmo que Os trêmulos lumes, A luz da alvorada,
não verbal em muitas modalidades, aproxima-se da própria poesia. Da fonte os queixumes, E a nuvem dourada
No sentido mais restrito, a poesia assume formas verbais E os meigos perfumes Qual berço de fada
tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral. No uso Que solta o vergel; Num céu todo azul;
da linguagem, o poeta, por meio do poema, transfigura aquilo que As noites brilhantes, No lago e nos brejos
o inspira em algo poético, ou poesia. Nesse processo, a poesia, E os doces instantes Os férvidos beijos
muitas vezes, se aproxima da música; em outras, não. Como Dos noivos amantes E os loucos bafejos
Na lua de mel; Das brisas do sul;
exemplo dessa relação, podem-se citar a poesia clássica, a poesia
provençal, a poesia romântica e a poesia feita por alguns poetas
Do templo nas naves Toda essa ternura
modernistas brasileiros. Há também a poesia concreta, que é mais As notas suaves, Que a rica natura
“topográfica”, visual, espacial, não tendo, necessariamente, um E o trino das aves Soletra e murmura
compromisso com a lírica. Saudando o arrebol; Nos hálitos seus,
É preciso entender também que a poesia, embora possa As tardes estivas, Da terra os encantos,
estar na prosa, caracteriza-se por ser uma arte tradicional que se E as rosas lascivas Das noites os prantos,
distingue por ter uma composição em versos, com uma organização Erguendo-se altivas São hinos, são cantos
rítmica das palavras e com recursos estilísticos. Ela é também Aos raios do sol; Que sobem a Deus!
entendida como a produção literária de um país, de um povo, ou
A gota de orvalho Os trêmulos lumes,
como o caráter daquilo que pode ser considerado belo, que desperta Tremendo no galho Da veiga os perfumes,
sentimento, emoção. Já, em seu sentido figurado, a poesia está na Do velho carvalho, Da fonte os queixumes,
própria harmonia da obra de arte. Nas folhas do ingá; Dos prados a flor,
Para finalizar, é essencial compreender que o papel de O bater do seio, Do mar a ardentia
um poeta reside na capacidade que ele tem de combinar sinais Dos bosques no meio Da noite a harmonia,
ou símbolos, por meio de uma linguagem verbal acessível, para a O doce gorjeio Tudo isso é – poesia!
transformação do homem, ou mesmo de uma sociedade, que busca Dalgum sabiá; Tudo isso é – amor!
o reconhecimento da própria identidade. Casimiro de Abreu

2 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Os gêneros poéticos e a poesia No poema, o poeta tem o direito de fazer uso dos mais
diversos recursos da linguagem, como o uso da língua falada,
Os gêneros clássicos são três: épico, lírico e dramático. das figuras de estilo e, se preciso for, das palavras de baixo-calão.
Do lírico, surgiram muitos outros gêneros que bebem na fonte No ato criativo, o poeta deve ser um “fingidor”, conforme definira
clássica e que assumem funções em uma sociedade. É o caso, por Fernando Pessoa em “Autopsicografia”.
exemplo, de gêneros poéticos como epitalâmios, éclogas, odes,
hinos, elegias e sonetos. AUTOPSICOGRAFIA
Quanto aos gêneros, a poesia permite também uma O poeta é um fingidor.
classificação de poemas, conforme suas características. O poema Finge tão completamente
épico, por exemplo, aborda temas como a guerra, a bravura de Que chega a fingir que é dor
um povo ou situações extremas e é, quase sempre, narrativo e de A dor que deveras sente.
grande extensão. O poema lírico, porém, pode ser muito curto, E os que leem o que escreve,
pois pode retratar um momento sublime, um flash da vida, uma Na dor lida sentem bem,
situação emocional. Não as duas que ele teve,
Na poesia, tem-se a expressão de um sentimento, que não, Mas só a que eles não têm.
necessariamente, é o amor, embora seja esse o sentimento mais E assim nas calhas de roda
explorado pelos poetas. Atingir o leitor com o sentimento ou com a Gira, a entreter a razão,
beleza de um poema é tarefa que cabe aos poetas, que se dedicam Esse comboio de corda
a embaraçar e a burilar as palavras no intuito de criar imagens e Que se chama coração.
sentimentos que tocam a alma. PESSOA, Fernando. “Autopsicografia”, In.: Fernando Pessoa – Obra Poética,
Vale ressaltar que, numa visão ampla, a poesia é diferente Cia. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1972, pág. 164.

de poema, pois este é a forma, a estrutura, o que está escrito,


e aquela é o que dá emoção ao texto. Portanto, poesia é a arte de Observação:
exprimir sentimentos por meio da palavra ritmada. Em língua portuguesa de Portugal, calhas de roda são
Sabe-se também que a poesia tem assumido um papel trilhos e comboio de corda é um trem de brinquedo.
que se estende ao social e ao político, por isso muitos poetas têm
se dedicado a construir uma poesia crítica, analítica, capaz de Não se pode esquecer que a matéria-prima do poeta é
denunciar as injustiças sociais ou mesmo políticas. Outros poetas a palavra e, assim como o escultor cria a partir de um bloco de
buscam inspiração na própria poesia para compor seu poema. mármore, o poeta deve ter a liberdade de lidar como queira com a
É o caso do poema “Procura da Poesia”, de Carlos Drummond de linguagem verbal, mesmo que, para isso, implique romper com as
Andrade, que se constrói em um metapoema. Ou seja, a poesia normas gramaticais de um idioma.
pode se voltar para si mesma. Notícias em jornais, crônicas em livros, avisos em cartazes,
Há casos, porém, em que o ritmo da palavra pode ser anúncios em sites são formas de texto em prosa, que consiste num
anulado, em que se valorizam mais o sentido, o plurissignificado conjunto de palavras ordenadas de modo a formarem um sentido,
do texto e a imagem visual. Isso ocorre com a poesia concreta. sem a obrigação de apresentar rima, ritmo ou métrica. Já o texto
O poema é visto como um todo e se constrói no espaço do papel, poético costuma ser escrito em versos.
Na construção poética, os elementos rítmicos e melódicos
podendo este, inclusive, revelar significados. A musicalidade, comum
são essenciais, tanto para o poeta quanto para o leitor ou ouvinte
à poesia, é anulada em muitos poemas concretos.
da poesia. No Modernismo, a poesia tem tomado formas diversas,
Outra forma de se escrever poesia é a utilização de um
uma vez que há textos em prosa que têm poesia, assim como
enredo para a composição do poema, embora não seja essa a há textos em verso que não são poéticos.
maneira mais requisitada pela maioria dos poetas, com exceção, Ressalta-se que a poesia está acima das formas (verso,
dos populares, especialmente aqueles que escrevem literatura de métrica, estrofe...), pois ela é a expressão da alma humana, como
cordel. Na poesia narrativa, como ocorre em “A triste partida”, também o é outras modalidades artísticas.
de Patativa do Assaré, tem-se uma história que explora os elementos
de uma narração. Diferentemente da poesia clássica (ou mesmo a No poema, o conjunto de versos é chamado de estrofe.
moderna) em que a descrição, a sugestão e a criação de imagens Veja a nomenclatura deles:
poéticas se destacam, na poesia narrativa, o poeta assume o papel
de contar um enredo ao leitor por meio de versos e estrofes. NOMENCLATURA DAS ESTROFES EM UM POEMA
A poesia, portanto, é uma arte singular, que busca envolver Número de versos na estrofe Designação
o leitor nos mais diversos temas e despertá-lo para uma reflexão
2 versos Dístico
sobre a vida humana. Dada a sua importância, espera-se que,
um dia, a poesia faça parte do café da manhã de todo brasileiro, 3 versos Terceto
pois, assim sendo, teremos uma sociedade mais consciente dos 4 versos Quarteto ou quadra
dramas que o cercam.
5 versos Quintilha
6 versos Sextilha
Licença poética: o que é?
7 versos Septilha
Licença poética é a permissão que o poeta tem para
8 versos Oitava
extrapolar o uso de uma língua, sem se preocupar com norma-
-padrão ou com limites de uso linguístico, uma vez que a liberdade 9 versos Nona
criativa não pode ser censurada, tampouco limitada às orientações 10 versos Décima
gramaticais de uma língua.

Anual – Volume 3 3
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Outro dado que se deve considerar em relação à forma são Como se pode ver, o ritmo e a melodia dos versos são
as sílabas gramaticais que diferem das sílabas poéticas (ou métricas), importantes na poesia. A esse ritmo, pode ser acrescida a rima,
por vezes, não coincidindo, pois nem sempre o número de sílabas que é a coincidência de sons ao final dos versos. Entenda: não é a
gramaticais é igual ao número de sílabas métricas. A última sílaba rima que faz o poema, e sim todo o conjunto de ritmo e sonoridade,
poética é sempre a última sílaba tônica do verso. Veja: emoção e expressão. No Modernismo, por exemplo, os poetas
costumam dispensar a rima, pois se usam versos brancos,
Sílabas ou seja, sem rimas.
MI NHA TER RA TEM PAL MEI RAS Quanto às rimas, elas podem ser classificadas de acordo com:
gramaticais
Nº de a) a coincidência de vogais e consoantes:
1 2 3 4 5 6 7 8
sílabas
Minha terra tem palmeiras
Sílabas Onde canta o sabiá
MI NHA TER RA TEM PAL MEI* RAS
métricas As aves que aqui gorjeiam
Nº de Não gorjeiam como lá
1 2 3 4 5 6 7 X
sílabas
DIAS, Gonçalves, “Canção do Exílio”.
* última sílaba tônica In.: Primeiros cantos, 1847.

Como você pôde observar, o número de sílabas métricas e Na primeira quadra de “Canção do Exílio”, sabiá e lá têm
gramaticais não coincidiu. As regras básicas para a contagem de sons iguais na sílaba tônica; portanto, são versos consoantes.
sílabas métricas são: Já palmeiras e gorjeiam têm sons parecidos (apenas as vogais
a) Só se contam as sílabas até a última sílaba tônica de cada tônicas EI são iguais); por isso, são versos toantes.
verso. b) a posição do acento tônico:
b) Havendo encontro de vogais, em palavras diferentes,
elas podem fundir-se numa sílaba somente. É o caso da Neste caso, as rimas podem ser: agudas (quando as
elisão. palavras que rimam são oxítonas); graves (quando as palavras que
rimam são paroxítonas); esdrúxulas (quando as palavras que rimam
Atenção: Escandir ou fazer a escansão dos versos é são proparoxítonas).
indicar suas sílabas métricas e seus acentos.
O número de sílabas métricas em cada verso depende da c) a distribuição nas estrofes:
vontade do poeta. Geralmente vão de uma sílaba (verso muito raro)
até doze sílabas. Nesse aspecto, as rimas podem ser: emparelhas
Observe a nomenclatura dos versos, considerando o número (sucedem-se duas a duas); alternadas (o 1º verso rima com o 3º,
de sílabas poéticas: o 2º com o 4º etc.); cruzadas (o 1º verso rima com o 4º, o 2º com
o 3º etc.); encadeadas (o 1º verso rima com o 3º, o 2º com o 4º e
o 6º, 5º com o 7º e o 9º, e assim sucessivamente).
Número de Sílabas Nome dos versos

Uma sílaba Monossílabos


Textos representativos da poesia em
Duas sílabas Dissílabos Língua Portuguesa para análise
Três sílabas Trissílabos
Caro Estudante,
Quatro sílabas Tetrassílabos
Ao ler cada texto, atente para a estética a que pertence
Pentassílabos ou redondilha menor (com o poema, para a época em que foi produzido, para o tema
Cinco sílabas
acentos na 2ª e 5ª) abordado, para a finalidade (ou propósito) de sua composição,
Hexassílabos (com acentos na 2ª e 6ª para a tonalidade discursiva, para a modalidade de escrita, para a
Seis sílabas sequência (tipologia) textual e para a estrutura – métrica, estrofe,
sílabas)
rima etc. – do poema.
Heptassílabos ou redondilha maior (com
Sete sílabas
acentos na 3ª e 5ª)
Texto I
Octossílabos ou sáficos (com acentos na
Oito sílabas A LAGARTIXA
4ª e 8ª)
Eneassílabos ou jâmbicos (com acentos A lagartixa ao sol ardente vive
Nove sílabas
na 3ª, 6ª e 9ª)
E fazendo verão o corpo espicha:
Dez sílabas Decassílabos (com acentos na 6ª e 10ª) O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Hendecassílabos ou datílicos (com acentos
Onze sílabas
na 2ª, 5ª, 8ª e 11ª)
Amo-te como o vinho e como o sono,
Dodecassílabos ou alexandrinos (com
Doze sílabas Tu és meu copo e amoroso leito...
acentos na 6ª e 12ª)
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Mais de doze Bárbaros Travesseiro não há como teu peito.

4 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Posso agora viver: para coroas Texto III
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte BUSCANDO A CRISTO
Nas rosas mais gentis de teus amores.
A vós correndo vou, braços sagrados,
Vale todo um harém a minha bela, Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Em fazer-me ditoso ela capricha... Que, para receber-me, estais abertos,
Vivo ao sol de seus olhos namorados, E, por não castigar-me, estais cravados.
Como ao sol de verão a lagartixa.

AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas. Ed. críticas de Péricles A vós, divinos olhos, eclipsados
Eugênio da Silva Ramos/ Org. Iumna Maria Simon. Campinas/SP: De tanto sangue e lágrimas abertos,
Unicamp; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002.
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados,
Comentário analítico do poema:
________________________________________________________ A vós, pregados pés, por não deixar-me,
________________________________________________________ A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me.
Texto II
A vós, lado patente, quero unir-me,
O CANTO DO PIAGA A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
I
Ó Guerreiros da Taba sagrada, Gregório de Matos Guerra.
Ó Guerreiros da Tribu Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga, Comentário analítico do poema:
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi. ________________________________________________________

Esta noite — era a lua já morta — ________________________________________________________


Anhangá me vedava sonhar;
Eis na horrível caverna, que habito, Texto IV
Rouca voz começou-me a chamar. SONETO
Abro os olhos, inquieto, medroso,
Manitôs! que prodígios que vil Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Arde o pau de resina fumosa, Em meus versos teu nome celebrado;
Não fui eu, não fui eu, que o acendi! Por que vejas uma hora despertado
Eis rebenta a meus pés um fantasma, O sono vil do esquecimento frio:
Um fantasma d’imensa extensão;
Liso crânio repousa a meu lado, Não vês nas tuas margens o sombrio,
Feia cobra se enrosca no chão. Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
O meu sangue gelou-se nas veias,
Na tarde clara do calmoso estio.
Todo inteiro — ossos, carnes — tremi,
Frio horror me coou pelos membros, Turvo banhando as pálidas areias
Frio vento no rosto senti.
Nas porções do riquíssimo tesouro
Era feio, medonho, tremendo, O vasto campo da ambição recreias.
Ó Guerreiros, o espectro que eu vi.
Falam Deuses nos cantos do Piaga, Que de seus raios o planeta louro
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi! Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.
DIAS, Gonçalves. “O canto do piaga”.
In.: Primeiros cantos, 1847. COSTA, Cláudio Manuel da. Poemas escolhidos.

Comentário analítico do poema: Comentário analítico do poema:


________________________________________________________ ________________________________________________________

________________________________________________________ ________________________________________________________

Anual – Volume 3 5
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
C) visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade
da criação poética, conforme expressa o verso “e te
Exercícios de Fixação estilhaces, suicida”.
D) processo de contenção, amadurecimento e transformação
da palavra, representado pelos versos “numa explosão / de
01. (Enem/2018) diamantes”.
E) necessidade premente de libertação da prisão representada
Eu sobrevivi do nada, do nada pela poesia, simbolicamente comparada à “garrafa” a ser
Eu não existia “estilhaçada”.
Não tinha uma existência
Não tinha uma matéria
03. (Enem/2018)
Comecei existir com quinhentos milhões
e quinhentos mil anos o que será que ela quer
Logo de uma vez, já velha essa mulher de vermelho
Eu não nasci criança, nasci já velha alguma coisa ela quer
Depois é que eu virei criança pra ter posto esse vestido
E agora continuei velha não pode ser apenas
Me transformei novamente numa velha uma escolha casual
Voltei ao que eu era, uma velha podia ser um amarelo
verde ou talvez azul
PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, v. (Org.). Reino dos bichos e dos
animais é meu nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009. mas ela escolheu vermelho
ela sabe o que ela quer
Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade da e ela escolheu vestido
expressão lírica manifesta-se na e ela é uma mulher
A) representação da infância, redimensionada no resgate da então com base nesses fatos
memória. eu já posso afirmar
B) associação de imagens desconexas, articuladas por uma fala que conheço o seu desejo
delirante. caro watson, elementar:
C) expressão autobiográfica, fundada no relato de experiências o que ela quer sou euzinho
de alteridade. sou euzinho o que ela quer
D) incorporação de elementos fantásticos, explicitada por versos só pode ser euzinho
incoerentes. o que mais podia ser
E) transgressão à razão, ecoada na desconstrução de
referências temporais. FREITAS, A. Um útero é do tamanho de um punho.
São Paulo: Cosac Naify, 2013.

02. (Enem)
No processo de elaboração do poema, a autora confere ao eu
À GARRAFA lírico uma identidade que aqui representa a
A) hipocrisia do discurso alicerçado sobre o senso comum.
Contigo adquiro a astúcia B) mudança de paradigmas de imagem atribuídos à mulher.
de conter e de conter-me. C) tentativa de estabelecer preceitos da psicologia feminina.
Teu estreito gargalo D) importância da correlação entre ações e efeitos causados.
é uma lição de angústia. E) valorização da sensibilidade como característica de gênero.
Por translúcida pões
o dentro fora e o fora dentro 04. (Enem)
para que a forma se cumpra
e o espaço ressoe. MÃOS DADAS
Até que, farta da constante
Não serei o poeta de um mundo caduco.
prisão da forma, saltes
Também não cantarei o mundo futuro.
da mão para o chão
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
e te estilhaces, suicida,
Estão taciturnos mas nutem grandes esperanças.
numa explosão
Entre eles, considero a enorme realidade.
de diamantes.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
PAES. J. P. Prosas seguidas de odes mínimas.
São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.


A reflexão acerca do fazer poético é um dos mais marcantes
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
atributos da produção literária contemporânea, que, no poema
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
de José Paulo Paes, se expressa por um(a)
Não fugirei para ilhas nem serei rapto por serafins.
A) reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações no
processo criativo, manifesto na expressão “Por translúcida
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
pões”.
homens presentes,
B) subserviência aos princípios do rigor formal e dos cuidados
a vida presente.
com a precisão metafórica, como se observa em “prisão da ANDRADE, C.D. Sentimento do mundo.
forma”. São Paulo: Cia das Letras, 2012.

6 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Escrito em 1940, o poema Mãos dadas revela um eu lírico Flor é o salto
marcado pelo contexto de opressão política no Brasil e da da ave para o voo:
Segunda Guerra Mundial. Em face dessa realidade, o eu lírico o salto fora do sono
A) considera que em sua época o mais importante é a
quando seu tecido
independência dos indivíduos.
B) desvaloriza a importância dos planos pessoais na vida em se rompe; é uma explosão
sociedade. posta a funcionar,
C) reconhece a tendência à autodestruição em uma sociedade como uma máquina,
oprimida. uma jarra de flores.
D) escolhe a realidade social e seu alcance individual como
MELO NETO, J.C. Psicologia da composição.
matéria poética.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
E) critica o individualismo comum aos românticos e aos Fragmento.
excêntricos.
A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da
05. (Enem/2013) linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento
de João Cabral de Melo Neto, poeta da Geração de 1945,
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem o sujeito lírico propõe a recriação poética de
de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. A) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz comparada, a fim de assumir novos significados.
por trás de sua casa se chama enseada. B) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia vanguardas do início do século XX.
uma volta atrás da casa. C) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem
Era uma enseada. historicamente ligada à palavra poética.
Acho que o nome empobreceu a imagem. D) uma máquina, levando em consideração a relevância do
BARROS, M. O livro das ignorãças.
discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
Rio de Janeiro: Record, 2001. E) um tecido, visto que sua composição depende de elementos
intrínsecos ao eu lírico.
Manoel de Barros desenvolve uma poética singular, marcada
por “narrativas alegóricas”, que transparecem nas imagens 02. (Enem/2011)
construída ao longo do texto. No poema, essa característica
aparece representada pelo uso do recurso de Texto I
A) resgate de uma imagem da infância, com a cobra de vidro.
B) apropriação do universo poético pelo olhar objetivo. O meu nome é Severino,
C) transfiguração do rio em um vidro mole e cobra de vidro. não tenho outro de pia.
D) rejeição da imagem de vidro e de cobra no imaginário Como há muitos Severinos,
poético. que é santo de romaria,
E) recorte de elementos como a casa e o rio no subconsciente. deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
Exercícios Propostos do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
01. (Enem) por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
ANTIODE e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Poesia, não será esse Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
o sentido em que
ainda te escrevo: MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1994 (fragmento).

flor! (Te escrevo: TEXTO II


flor! Não uma
flor, nem aquela João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio,
flor-virtude – em transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe,
disfarçados urinóis). também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do
personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino
que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus
Flor é a palavra
traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.
flor; verso inscrito
no verso, como as SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).
manhãs no tempo.

Anual – Volume 3 7
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e na Embora – é meu destino. Em treva densa
análise crítica (Texto II), observa-se que a relação entre o texto Dentro do peito a existência finda
poético e o contexto social a que ele faz referência aponta Pressinto a morte na fatal doença!
para um problema social expresso literariamente pela pergunta
“Como então dizer quem fala / ora a Vossas Senhorias?“. A mim a solidão da noite infinda!
A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da
A) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem- Possa dormir o trovador sem crença.
-narrador. Perdoa minha mãe — eu te amo ainda!
B) construção da figura do retirante nordestino como um
AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos.
homem resignado com a sua situação.
São Paulo: Martins Fontes, 1996.
C) representação, na figura do personagem-narrador, de outros
Severinos que compartilham sua condição.
D) apresentação do personagem-narrador como uma projeção A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década
do próprio poeta, em sua crise existencial. de 1850, período conhecido na literatura brasileira como
E) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da
de ser descendente do coronel Zacarias. exacerbação romântica identifica-se com o(a)
A) amor materno, que surge como possibilidade de salvação
03. (Enem) para o eu lírico.
DA SUA MEMÓRIA B) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da
mãe e da irmã.
mil
C) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com
e
mui aparência melancólica.
tos D) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu
out desejo de dormir.
ros E) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir
ros um tormento constante.
tos
sol 05. (Enem)
tos
pou
coa CASAMENTO
pou
coa Há mulheres que dizem:
pag Meu marido, se quiser pescar, pesque,
amo mas que limpe os peixes.
meu
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço. ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
São Paulo: Perspectiva, 1998.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
Trabalhando com recursos formais inspirados no concretismo, de vez em quando os cotovelos se esbarram,
o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela ele fala coisas como “este foi difícil“
A) interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica “prateou no ar dando rabanadas“
racional. e faz o gesto com a mão.
B) reestruturação formal da palavra, para provocar o
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
estranhamento no leitor.
C) dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido atravessa a cozinha como um rio profundo.
das lembranças. Por fim, os peixes na travessa,
D) fragmentação da palavra, para representar o estreitamento vamos dormir.
das lembranças. Coisas prateadas espocam:
E) renovação das formas tradicionais, para propor uma nova
somos noivo e noiva.
vanguarda poética.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
04. (Enem)
SONETO
O poema de Adélia Prado, que segue a proposta moderna de
Oh! Páginas da vida que eu amava, tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação de
Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!… limpar peixes na qual a voz lírica reconhece uma
Ardei, lembranças doces do passado!
A) expectativa do marido em relação à esposa.
Quero rir-me de tudo que eu amava!
B) imposição dos afazeres conjugais.
E que doido que eu fui! como eu pensava C) disposição para realizar tarefas masculinas.
Em mãe, amor de irmã! em sossegado D) dissonância entre as vozes masculina e feminina.
Adormecer na vida acalentado E) forma de consagração da cumplicidade no casamento.
Pelos lábios que eu tímido beijava!

8 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
06. (Enem) eles se lambuzando e arrotando
Texto I na mesa
e eu a temperada
DOIS QUADROS servindo, contida

Na seca inclemente do nosso Nordeste, os meus irmãos jogando-se


O sol é mais quente e o céu mais azul na cama
E o povo se achando sem pão e sem veste,
e eis-me afiançada
Viaja à procura das terras do Sul.
por dote e marido
De nuvem no espaço, não há um farrapo,
QUEIROZ, S. O sacro ofício. Belo Horizonte:
Se acaba a esperança da gente roceira,
Comunicação, 1980.
Na mesma lagoa da festa do sapo,
Agita-se o vento levando a poeira. O poema de Sonia Queiroz apresenta uma voz lírica feminina
que contrapõe o estilo de vida do homem ao modelo reservado
Texto II à mulher. Nessa contraposição, ela conclui que
A) a mulher deve conservar uma assepsia que a distingue de
ABC DO NORDESTE FLAGELADO
homens, que podem se jogar na lama.
B) a palavra “fogo” é uma metáfora que remete ao ato de
O – Outro tem opinião
cozinhar, tarefa destinada às mulheres.
de deixar mãe, deixar pai, C) a luta pela igualdade entre os gêneros depende da ascensão
porém para o Sul não vai, financeira e social das mulheres.
procura outra direção. D) a cama, como sua “alvura e enxovais”, é um símbolo da
Vai bater no Maranhão fragilidade feminina no espaço doméstico.
onde nunca falta inverno; E) os papéis sociais destinados aos gêneros produzem efeitos
outro com grande consterno e graus de autorrealização desiguais.
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família 08. (Enem/2013)
pra construção do governo.
MAR PORTUGUÊS
Disponível em: <www.revista.agulha.com.br>.
Acesso em: 23 abr. 2010 (fragmento).
Ó mar salgado, quanto do teu sal
Os textos I e II são de autoria do escritor nordestino Patativa do São lágrimas de Portugal!
Assaré, que, em sua obra, retrata de forma bastante peculiar os Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
problemas de sua região. Esses textos têm em comum o fato Quantos filhos em vão rezaram!
de abordarem Quantas noivas ficaram por casar
A) a falta de esperança do povo nordestino, que se deixa vencer Para que fosses nosso, ó mar!
pela seca.
B) a dúvida de que a ajuda do governo chegará ao povo
Valeu a pena? Tudo vale a pena
nordestino.
Se a alma não é pequena.
C) o êxodo do homem nordestino à procura de melhores
condições de vida. Quem quer passar além do Bojador
D) o sentimento de tristeza do povo nordestino devido à falta Tem que passar além da dor.
de chuva. Deus ao mar o perigo e o abismo deu.
E) o sofrimento dos animais durante os longos períodos de Mas nele é que espelhou o céu.
estiagem.
PESSOA, F. Mensagens. São Paulo: Difel, 1986.

07. (Enem/2011) Nos versos 1 e 2, a hipérbole e a metonímia foram utilizadas


para subverter a realidade. Qual o objetivo dessa subversão
DAS IRMÃS
para a constituição temática do poema?
A) Potencializar a importância dos feitos lusitanos durante as
os meus irmãos sujando-se grandes navegações.
na lama B) Criar um fato ficcional ao comparar o choro das mães ao
e eis-me aqui cercada choro da natureza.
de alvura e enxovais C) Reconhecer as dificuldades técnicas vividas pelos navegadores
portugueses.
eles se provocando e provando D) Atribuir as derrotas portuguesas nas batalhas às fortes
do fogo correntes marítimas.
e eu aqui fechada E) Relacionar os sons do mar ao lamento dos derrotados nas
provendo a comida batalhas do Atlântico.

Anual – Volume 3 9
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
09. (Enem) Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do
movimento modernista brasileiro. Com seus poemas,
CIDADE GRANDE penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente
as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de
Que beleza, Montes Claros. uma relação tensa entre o universal e o particular, como se
Como cresceu Montes Claros. percebe claramente na construção do poema “Confidência
Quanta indústria em Montes Claros. do Itabirano”.
Montes Claros cresceu tanto,
ficou urbe tão notória, Tendo em vista os procedimentos de construção do texto
prima-rica do Rio de Janeiro, literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que
o poema anterior
que já tem cinco favelas
A) representa a fase heroica do Modernismo, devido ao tom
por enquanto, e mais promete.
contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos
ANDRADE, Carlos Drummond de.
típicos da oralidade.
B) apresenta uma característica importante do gênero lírico,
que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
Entre os recursos expressivos empregados no texto,
C) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
destaca-se a
comunidade, por intermédio de imagens que representam
A) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se
a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a
à própria linguagem.
constituição do indivíduo.
B) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros
D) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
textos.
inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as
C) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa,
prendas resgatadas de Itabira.
com intenção crítica.
E) apresenta influências românticas, uma vez que trata da
D) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu
individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra
sentido próprio e objetivo.
natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
E) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas,
atribuindo-lhes vida.

10. (Enem)

CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Fique de Olho

Alguns anos vivi em Itabira.


EROS E PSIQUE
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. ...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
Noventa por cento de ferro nas calçadas. que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
Oitenta por cento de ferro nas almas. aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
Do Ritual do Grau de Mestre do Átrio na
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, Ordem Templária de Portugal
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
horizontes. Conta a lenda que dormia
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, Uma Princesa encantada
é doce herança itabirana. A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: De além do muro da estrada.
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
Ele tinha que, tentado,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
Vencer o mal e o bem,
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
Antes que, já libertado,
este orgulho, esta cabeça baixa... Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público. A Princesa Adormecida,
Itabira é apenas uma fotografia na parede. Se espera, dormindo espera,
Mas como dói! Sonha em morte a sua vida,
ANDRADE, C. D. Poesia completa.
E orna-lhe a fronte esquecida,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. Verde, uma grinalda de hera.

10 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Longe o Infante, esforçado,
Aula 12:

Sem saber que intuito tem, C-5 H-15, 16


Rompe o caminho fadado, Aula H-17

Ele dela é ignorado,


A Linguagem da Poesia II
Ela para ele é ninguém.
12

Mas cada um cumpre o Destino


Ela dormindo encantada,

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Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro


Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,


À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era Álvares de Azevedo Alphonsus de Guimaraens
A Princesa que dormia.
Fernando Pessoa

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Publicado pela primeira vez in Presença, nos 41-42, Coimbra,
maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça este poema,
diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A.
Casais Monteiro, em carta a este último:
A citação, epígrafe ao meu poema “Eros e Psique”, de um
trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro
Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente
– o que é fato – que me foi permitido folhear os Rituais dos
três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência
desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não
citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando
a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]
Disponível em:<http://www.insite.com.br/art/ Olavo Bilac
pessoa/cancioneiro/182.php>

PROFISSÃO DE FÉ
Transfuchsian/123RF/Easypix

Não quero o Zeus Capitolino


Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.

Que outro – não eu! – a pedra corte


Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,


Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.

Invejo o ourives quando escrevo:


Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.

Anual – Volume 3 11
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Imito-o. E, pois, nem de Carrara Como já fizemos na aula anterior, desenvolva sua capacidade
A pedra firo: de analisar atentando para os diversos aspectos que envolvem a
O alvo cristal, a pedra rara, escrita de um poema, tais como: a estética a que ele pertence,
O ônix prefiro. a época de sua produção, o tema abordado, o objetivo do texto,
o tom discursivo, a sequência textual e a estrutura (métrica, estrofe,
Por isso, corre, por servir-me, rima etc.) de cada um deles.
Sobre o papel
A pena, como em prata firme Ainda sobre a poesia
Corre o cinzel.
Na poesia, o significante não existe meramente a serviço
Corre; desenha, enfeita a imagem,
do significado. Nela o significante e o significado funcionam
A ideia veste: juntos, sendo usados para provocar sentimentos, impressões,
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem emoções e reflexões. Isso ocorre porque, na poesia, cada palavra
Azul-celeste. tem seu papel não somente por seu significado, mas também por
seu ritmo, por sua sonoridade, por sua relação interna e por seu
Torce, aprimora, alteia, lima
aspecto visual.
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim. Diferença entre poesia e poema
Quero que a estrofe cristalina, É bom ressaltar a diferença entre poema e poesia. Apesar de
Dobrada ao jeito serem tratadas por muitos como sinônimos, o uso dos dois termos
Do ourives, saia da oficina entre os estudiosos apresenta diferenças:
Sem um defeito: • Poesia: caráter do que emociona e toca a sensibilidade devido
à sugestão de emoções por meio de uma linguagem.
E que o lavor do verso, acaso,
• Poema: trata-se de uma obra em verso em que há poesia.
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
Se o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma
De Becerril.
substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência
E horas sem conto passo, mudo, concreta e a segunda não. Ou seja: o poema, depois de criado,
O olhar atento, existe per si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas
A trabalhar, longe de tudo a poesia só existe em outro ser: primariamente, naqueles onde
ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se
O pensamento.
à percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente,
Porque o escrever – tanta perícia, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta
Tanta requer, (ou não) objetivá-la num poema; terciariamente, no próprio
Que ofício tal... nem há notícia poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta.
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena O poema destaca-se imediatamente pelo modo como se
Segue esta norma, dispõe na página. Cada verso tem um ritmo específico e ocupa
uma linha. O conjunto de versos forma uma estrofe e a rima pode
Por te servir, Deusa serena,
surgir no interior dessa estrofe. A organização do poema em versos
Serena Forma! pode ser considerada o traço distintivo mais claro entre o poema e
(...) a prosa (que é escrita em linhas contínuas, ininterruptas).
BILAC, Olavo. Profissão de fé. Fragmento.
Fique atento!
No panorama da poesia brasileira, muitos são os poetas
A poesia pode-se manifestar de diferentes formas, e não
que merecem crédito e devem ter suas obras lidas, compreendidas
necessariamente no poema. É comum, por exemplo, encontrarmos
e analisadas. No leque de opções, não podem faltar poetas da
peças publicitárias (ou mesmo qualquer outra manifestação
estirpe de Gregório de Matos, Cláudio Manuel da Costa, Gonçalves textual ou social) eivadas de poesia, de subjetividade, de lirismo.
Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Cruz e Souza, Olavo Bilac, Lembrem-se de que, principalmente no Modernismo brasileiro,
Augusto dos Anjos, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, prosa e poesia (no sentido de poema) entrelaçaram-se de tal
Cassiano Ricardo, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, forma que podemos deparar versos nos quais não há poesia,
Paulo Leminski, Vinicius de Moraes, Mário Quintana, Cecília assim como podemos encontrar prosas repletas de teor poético,
Meireles, Ferreira Gullar, entre tantos outros. a chamada prosa poética.
A seleção de poemas a seguir fará com que você mergulhe Outro aspecto que se deve levar em consideração ao ler
poemas são as tonalidades do discurso poético, pois identificá-las
um pouco no universo da poesia brasileira. Atente para o conteúdo
ajuda bastante na hora de compreender o texto. As tonalidades
e para a forma de cada poema, pois, independentemente da época
mais frequentes no poema são estas: lírica, épica, dramática,
em que cada texto foi escrito e do tema abordado, a escolha irônica, cômica, fantástica, mórbida, trágica, patética...
temática e a qualidade estética ou lírica de um poema ultrapassam
Por Tom Dantas
as determinações de tempo e de espaço.

12 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Textos representativos da poesia em Texto III

Língua Portuguesa para análise “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
Texto I E abro as janelas, pálido de espanto...
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade; E conversamos toda a noite, enquanto
É verdade, senhor, que hei delinquido; A via-láctea, como um pálio aberto,
Delinquido vos tenho, e ofendido, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Ofendido vos tem minha maldade. Inda as procuro pelo céu deserto.

Maldade encaminhada a uma mulher; Direis agora: “Tresloucado amigo!


Verdade, que todo me há vencido; Que conversas com elas? Que sentido
Vencido quero ver-me, e arrependido; Tem o que dizem, quando estão contigo?”
Arrependido em tanta enormidade.
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Arrependido estou de coração, Pois só quem ama pode ter ouvido
De coração vos busco, dai-me abraços, Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
Abraços, que me rendam vossa luz. Olavo Bilac.

Luz, que clara me mostra a salvação, Comentário analítico do poema:


A salvação pretendo em tais abraços,
________________________________________________________
Misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
________________________________________________________
Gregório de Matos Guerra
________________________________________________________
Comentário analítico do poema:
________________________________________________________ Texto IV

________________________________________________________ NA MINHA TERRA

Texto II Amo o vento da noite sussurrante


ISMÁLIA A tremer nos pinheiros
E a cantiga do pobre caminhante
Quando Ismália enlouqueceu, No rancho dos tropeiros;
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu, 5 E os monótonos sons de uma viola
Viu outra lua no mar. No tardio verão,
E a estrada que além se desenrola
No sonho em que se perdeu, No véu da escuridão;
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu, A restinga d’arcia onde rebenta
Queria descer ao mar... 10 O oceano a bramir,
Onde a lua na praia macilenta
E, no desvario seu, Vem pálida luzir;
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu, E a névoa e flores e o doce ar cheiroso
Estava longe do mar... Do amanhecer na serra,
15 E o céu azul e o manto nebuloso
E como um anjo pendeu Do céu de minha terra;
As asas para voar...
Queria a lua do céu, E o longo vale de florinhas cheio
Queria a lua do mar... E a névoa que desceu,
Como véu de donzela em branco seio,
As asas que Deus lhe deu
As estrelas do céu.
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu, AZEVEDO, Álvares de. Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
Seu corpo desceu ao mar...
Alphonsus de Guimaraens Comentário analítico do poema:

Comentário analítico do poema: ________________________________________________________

________________________________________________________ ________________________________________________________

________________________________________________________ ________________________________________________________

Anual – Volume 3 13
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Texto V Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
BELEZA MORTA Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
De leve, louro e enlanguescido helianto Marion! Marion!... É noite ainda.
Tens a flórea dolência contristada... Que importa os raios de uma nova aurora?!...
Há no teu riso amargo um certo encanto Como um negro e sombrio firmamento,
De antiga formosura destronada. Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
No corpo, de um letárgico quebranto, — Boa-noite!, formosa Consuelo!...
Corpo de essência fina, delicada,
Sente-se ainda o harmonioso canto ALVES, Castro. Boa-noite.
Da carne virginal, clara e rosada.
Comentário analítico do poema:
Sente-se o canto errante, as harmonias
________________________________________________________
Quase apagadas, vagas, fugidias
E uns restos de clarão de Estrela acesa... ________________________________________________________

Como que ainda os derradeiros haustos Texto VII


De opulências, de pompas e de faustos,
As relíquias saudosas da beleza. VERSOS ÍNTIMOS

CRUZ E SOUSA, João da. Broquéis. Vês! Ninguém assistiu ao formidável


Enterro de tua última quimera.
Comentário analítico do poema: Somente a Ingratidão – esta pantera –
________________________________________________________ Foi tua companheira inseparável!

________________________________________________________ Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Texto VI Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
BOA-NOITE Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora. o beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde... Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Não me apertes assim contra teu seio. Apedreja essa mão vil que te afaga,
Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite. Escarra nessa boca que te beija!
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito ANJOS, Augusto dos. Eu e Outras poesias.
— Mar de amor onde vagam meus desejos.
Comentário analítico do poema:
Julieta do céu! Ouve... a calhandra ________________________________________________________
Já rumoreja o canto da matina.
________________________________________________________
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
... Quem cantou foi teu hálito, divina! Texto VIII
Se à estrela-d’alva os derradeiros raios
DIZEM?
Derrama nos jardins do Capuleto,
Dizem?
Eu direi, me esquecendo d’alvorada: Esquecem.
“É noite ainda em teu cabelo preto...” Não dizem?
E noite ainda! Brilha na cambraia Disseram.
— Desmanchado o roupão, a espádua nua — Fazem?
O globo de teu peito entre os arminhos Fatal.
Como entre as névoas se balouça a lua... Não fazem?
É noite, pois! Durmamos, Julieta! Igual.
Recende a alcova ao trescalar das flores, Por quê
Fechemos sobre nós estas cortinas... Esperar?
— São as asas do arcanjo dos amores. Tudo é
A frouxa luz da alabastrina lâmpada Sonhar.
PESSOA, Fernando. In.: Cancioneiro.
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos Comentário analítico do poema:
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos ________________________________________________________
Treme tua alma, como a lira ao vento, ________________________________________________________

14 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
03. (Enem)
Exercícios de Fixação DESCOBRIMENTO

Abancado à escrivaninha em São Paulo


01. (Enem) Na minha casa da rua Lopes Chaves
LÉPIDA E LEVE De sopetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Língua do meu Amor velosa e doce, Com o livro palerma olhando pra mim.
que me convences de que sou frase, Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito
que me contornas, que me vestes quase, longe de mim,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse. Na escuridão ativa da noite que caiu,
Língua que me cativas, que me enleias Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos
os surtos de ave estranha, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
em linhas longas de invisíveis teias, Faz pouco se deitou, está dormindo.
de que és, há tanto, habilidosa aranha... Esse homem é brasileiro que nem eu...
[...]
ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987.
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor, O poema Descobrimento, de Mário de Andrade, marca a
postura nacionalista manifestada pelos escritores modernistas.
pela carne de som que à ideia emprestas
Recuperando o fato histórico do “descobrimento”, a construção
e pelas frases mudas que proferes poética problematiza a representação nacional, a fim de
nos silêncios de Amor!... A) resgatar o passado indígena brasileiro.
MACHADO. G. In: MORICONI. I. (org ) Os cem melhores poemas B) criticar a colonização portuguesa no Brasil.
brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Fragmento. C) defender a diversidade social e cultural brasileira.
D) promover a integração das diferentes regiões do país.
A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções E) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros.
artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado incorpora
referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta 04. (Enem/2018)
A) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona
O SEDUTOR MÉDIO
o cuidado formal.
B) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona
Vamos juntar
o poder da palavra.
C) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a Nossas rendas e
construção do verso livre. expectativas de vida
D) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e querida,
propõe a simplificação verbal. o que me dizes?
E) explora a construção da essência feminina, a partir da Ter 2, 3 filhos
polissemia de “língua”, e inova o léxico. e ser meio felizes?

02. (Enem/2018) VERISSIMO, L. F. Poesia numa hora dessas?!


Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a


imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás No poema O sedutor médio, é possível reconhecer a presença
de casa. de posições críticas
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o A) nos três primeiros versos, em que “juntar expectativas de
rio faz por trás de sua casa se chama enseada. vida” significa que, juntos, os cônjuges poderiam viver mais,
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que o que faz do casamento uma convenção benéfica.
fazia uma volta atrás da casa. B) na mensagem veiculada pelo poema, em que os valores da
Era uma enseada. sociedade são ironizados, o que é acentuado pelo uso do
adjetivo “médio” no título e do advérbio “meio” no verso
Acho que o nome empobreceu a imagem.
final.
BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008. C) no verso “e ser meio felizes?”, em que “meio” é sinônimo
de metade, ou seja, no casamento, apenas um dos cônjuges
O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “enseada” se sentiria realizado.
porque a D) nos dois primeiros versos, em que “juntar rendas” indica
A) terminologia mencionada é incorreta. que o sujeito poético passa por dificuldades financeiras e
B) nomeação minimiza a percepção subjetiva. almeja os rendimentos da mulher.
C) palavra é aplicada a outro espaço geográfico. E) no título, em que o adjetivo “médio” qualifica o sujeito
D) designação atribuída ao termo é desconhecida. poético como desinteressante ao sexo oposto e inábil em
E) definição modifica o significado do termo no dicionário. termos de conquistas amorosas.

Anual – Volume 3 15
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
05. (Enem) O texto de Adélia Prado apresenta uma mulher cuja vida se
“resume”. Sua expressão poética revela
SEM ACESSÓRIOS NEM SOM A) contradições do universo feminino infeliz.
B) frustração relativa às obrigações cotidianas.
Escrever só para me livrar C) busca de identidade no universo familiar.
de escrever. D) subterfúgios de uma existência complexa.
Escrever sem ver, com riscos E) resignação diante da condição social imposta.
sentindo falta dos acompanhamentos
02. (Enem/2017 – 2ª Aplicação)
com as mesmas lesmas
e figuras sem força de expressão.
Mas tudo desafina: DOIS PARLAMENTOS
o pensamento pesa
tanto quanto o corpo Nestes cemitérios gerais
enquanto corto os conectivos não há morte pessoal.
corto as palavras rentes Nenhum morto se viu
com tesoura de jardim com modelo seu, especial.
cega e bruta Vão todos com a morte padrão,
com facão de mato. em série fabricada.
Mas a marca deste corte Morte que não se escolhe
tem que ficar e aqui é fornecida de graça.
nas palavras que sobraram. Que acaba sempre por se impor
Qualquer coisa do que desapareceu sobre a que já medrasse.
continuou nas margens, nos talos Vence a que, mais pessoal,
no atalho aberto a talhe de foice alguém já trouxesse na carne.
no caminho de rato. Mas afinal tem suas vantagens
esta morte em série.
FREITAS FILHO, A. Máquina de escrever: poesia reunida Faz defuntos funcionais,
e revista.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
próprios a uma terra sem vermes.
Nesse texto, a reflexão sobre o processo criativo aponta para MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro:
uma concepção de atividade poética que põe em evidência o(a) Nova Fronteira, 1997. Fragmento.
A) angustiante necessidade de produção, presente em
“Escrever só para me livrar/ de escrever”. A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés
B) imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho temático muito presente em João Cabral de Melo Neto.
aberto a talhe de foice/ no caminho de rato”. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a)
C) agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as A) inutilidade de divisão social e hierarquia após a morte.
palavras rentes/com tesoura de jardim/ cega e bruta”. B) aspecto desumano dos cemitérios da população carente.
D) inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas C) nivelamento do anonimato imposto pela miséria na morte.
tudo desafina:/ o pensamento pesa/ tanto quanto o corpo”. D) tom de ironia para com a fragilidade dos corpos e da terra.
E) conflituosa relação com a inspiração, presente em “sentindo E) indiferença do sertanejo com a ausência de seus próximos.
falta dos acompanhamentos/ e figuras sem força de
expressão”. 03. (Enem)

CASA DOS CONTOS

Exercícios Propostos
& em cada conto te cont
o & em cada enquanto me enca
nto & em cada arco te a
01. (Enem)
barco & em cada porta m
RESUMO e perco & em cada lanço t
e alcanço & em cada escad
Gerou os filhos, os netos, a me escapo & em cada pe
Deu à casa o ar de sua graça dra te prendo & em cada g
e vai morrer de câncer. rade me escravo & em ca
O modo como pousa a cabeça para um retrato da sótão te sonho & em cada
é o da que, afinal, aceitou ser dispensável. esconso me affonso & em
Espera, sem uivos, a campa, a campa, a inscrição: cada claúdio te canto & e
1906-1970. m cada fosso me enforco &
SAUDADE DOS SEUS, LEONORA.
ÁVILA, A. Discurso da difamação do poeta.
PRADO, A. Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2007. São Paulo: Summus, 1978.

16 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
O contexto histórico e literário do período Barroco- 05. (Enem)
Árcade fundamenta o poema Casa dos Contos, de 1975.
ESTRADA
A restauração de elementos daquele contexto por uma poética
contemporânea revela que
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
A) a disposição visual do poema reflete sua dimensão plástica,
Interessa mais que uma avenida urbana.
que prevalece sobre a observação da realidade social.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
B) a reflexão do eu lírico privilegia a memória e resgata,
em fragmentos, fatos e personalidades da Inconfidência Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Mineira. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
C) a palavra “esconso” (escondido) demonstra o desencanto Cada criatura é única.
do poeta com a utopia e sua opção por uma linguagem Até os cães.
erudita. Estes cães da roça parecem homens de negócios:
D) o eu lírico pretende revitalizar os contastes barrocos, Andam sempre preocupados.
gerando uma continuidade de procedimentos estéticos e E quanta gente vem e vai!
literários. E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
E) o eu lírico recria, em seu momento histórico, numa Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho
linguagem de ruptura, o ambiente de opressão vivido pelos manhoso.
inconfidentes. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos
símbolos,
04. (Enem/2012) Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
O TROVADOR
BANDEIRA. M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

Sentimentos em mim do asperamente


A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de
dos homens das primeiras eras...
significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No
As primaveras do sarcasmo poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e
intermitentemente no meu coração arlequinal... cidade aponta para
Intermitentemente... A) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos
Outras vezes é um doente, um frio centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação
na minha alma doente como um longo som redondo... à cidade.
Cantabona! Cantabona! B) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela
observação da aparente inércia da vida rural.
Dlorom...
C) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como
Sou um tupi tangendo um alaúde!
possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas
D) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta
de Mário de Andrade. Belo Horizonte: gera insegurança.
Itatiaia, 2005. E) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca
da morte.
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional
é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. 06. (Enem)
Em O trovador, esse aspecto é
A) abordado subliminarmente, por meio de expressões como A DESPROPÓSITO
“coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à
brasilidade. Olhou para o teto, a telha parecia um quadrado de doce.
B) verificado já no título, que remete aos repentistas Ah! — falou sem se dar conta de que descobria,
nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas durando desde
viagens e pesquisas folclóricas. a infância, aquela hora do dia, mais um galo cantando,
C) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como um corte de trator, as três camadas de terra,
“Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” a ocre, a marrom, a roxeada. Um pasto,
(v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde não tinha certeza se uma vaca
“Dlorom” (v. 9). e o sarilho da cisterna desembestado, a lata
D) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde batendo no fundo com estrondo.
(civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta Quando insistiram, vem jantar, que esfria,
no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade. ele foi e disse antes de comer:
E) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos “Qualidade de telha é essas de antigamente”.
homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho
PRADO, A. Bagagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
brasileiro por suas raízes indígenas.

Anual – Volume 3 17
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
A poesia brasileira sofreu importantes transformações após a 08. (Enem)
Semana de 1922, sendo a aproximação com a prosa uma das
Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.
mais significativas. O poema da poeta mineira Adélia Prado
Não é.
rompe com a lírica tradicional e se aproxima da prosa por A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
apresentar Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
A) travessão, estrutura do verso com pontuação comum a ela falou comigo:
orações e aproximação com a oralidade, elementos próprios “Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
da narrativa. Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com
B) uma estrutura narrativa que não segue a sequência de água quente.
estrofes nem utiliza de linguagem metafórica. Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
C) personagem situado no tempo e espaço, descrevendo suas
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
memórias da infância.
D) discurso direto e indireto alternados na voz do eu lírico e
Um dos procedimentos consagrados pelo Modernismo foi
localização espacial.
a percepção de um lirismo presente nas cenas e fatos do
E) narrador em primeira pessoa, linguagem discursiva e cotidiano. No poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a
elementos descritivos. poesia desses elementos a partir do(a)
A) reflexão irônica sobre a importância atribuída aos estudos
07. (Enem) por sua mãe.
B) sentimentalismo, oposto à visão pragmática que reconhecia
FOGO FRIO na mãe.
C) olhar comovido sobre seu pai, submetido ao trabalho
O Poeta pesado.
D) reconhecimento do amor num gesto de aparente banalidade.
A névoa que sobe
E) enfoque nas relações afetivas abafadas pela vida conjugal.
dos campos, das grotas, do fundo dos vales,
é o hálito quente da terra friorenta. 09. (Enem/2012)
Ai, palavras, ai, palavras
O Lavrador que estranha potência a vossa!
Engana-se, amigo.
Todo o sentido da vida
Aquilo é fumaça que sai da geada. principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
O Poeta seu perfume em vossa rosa;
Fumaça, que eu saiba, sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
somente de chama e brasa é que sai!
O Lavrador A liberdade das almas,
E, acaso, a geada não é ai! Com letras se elabora...
fogo branco caído do céu, E dos venenos humanos
tostando tudinho, crestando tudinho, queimando tudinho, sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
se pena, sem dó? e mais que o aço poderosa!
FORNARI, E. Trem da serra. Porto Alegre: Reis, impérios, povos, tempos,
Acadêmica, 1987. pelo vosso impulso rodam...
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro:
Neste diálogo poético, encena-se um embate de ideias entre Nova Aguilar, 1985. (fragmento).
o Poeta e o Lavrador, em que
A) a vitória simbólica é dada ao discurso do lavrador e tem O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da
Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio
como efeito a renovação de uma linguagem poética
histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora
cristalizada. uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o
B) as duas visões têm a mesma importância e são equivalentes homem e a linguagem:
como experiência de vida e a capacidade de expressão. A) A força e a resistência humanas superam os danos
C) o autor despreza a sabedoria popular e traça uma caricatura provocados pelo poder corrosivo das palavras.
do discurso do lavrador, simplório e repetitivo. B) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu
D) as imagens contraditórias de frio e fogo referidas à geada equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
C) O significado dos nomes não expressa de forma justa e
compõem um paradoxo que o poema não é capaz de
completa a grandeza da luta do homem pela vida.
organizar. D) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às
E) o discurso do lavrador faz uma personificação da natureza gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
para explicar o fenômeno climático observado pelos E) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem
personagens. seu alcance limitado pelas intenções e gestos.

18 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
10. (Enem)
Aula 13:

C-3 H-9, 12
Pote Cru é meu pastor. Ele me guiará. Aula Africanidades: A Cultura de um C-4 H-13, 20
Ele está comprometido de monge.
13 Povo em Destaque
De tarde deambula no azedal entre torsos de
cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros,
de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas
albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,
linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em
Entenda um pouco
gotas de orvalho etc. etc. sobre africanidades
Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento Quando se usa a expressão africanidades se quer referir
Foi encontrado em osso. às raízes da cultura brasileira que tem origem na África. Há duas
Ele tinha uma voz de oratórios perdidos. formas de entender esse termo: primeiramente, reporta-se ao modo
BARROS, M. de. Retrato do artista quando coisa. de ser e de viver dos afrodescendentes brasileiros; secundariamente,
Rio de Janeiro: Record, 2002. refere-se às marcas da cultura africana que estão inseridas no
cotidiano do brasileiro, independentemente de sua etnia.
Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse poema, Muito provavelmente você já teve acesso a elementos da
o eu lírico identifica-se com Pote Cru porque cultura africana, pois já deve ter comido feijoada, ter dançado ou
A) entende a necessidade de todo poeta ter voz de oratórios
cantado samba, ou mesmo ter praticado capoeira. Nossa cultura foi
perdidos.
B) elege-o como pastor a fim de ser guiado para a salvação divina. (e é) influenciada pelos costumes africanos, pois, de norte a sul ou
C) valoriza nos percursos do pastor a conexão entre as ruínas de leste a oeste, a África se faz refletir nas atitudes da população
e a tradição. brasileira: seja na dança, seja na música, seja no folclore, seja na
D) necessita de um guia para a descoberta das coisas da natureza. religião, seja na gastronomia, seja no artesanato.
E) acompanha-o na opção pela insignificância das coisas. Em relação à feijoada, ao samba e à capoeira, algumas
considerações devem ser feitas, já que resultam de ações dos
africanos que, escravizados aqui no Brasil, buscavam formas de
sobreviver, expressando seu jeito de ser e de ver a vida, contribuindo,
Fique de Olho assim, para o engrandecimento da cultura brasileira. Sabe-se que
a receita de feijoada ou mesmo de vatapá significa muito mais do
que a mistura de ingredientes, pois é o retrato de soluções para
Reprodução/Editora Objetiva

manutenção da vida com o sabor da África. Já a capoeira nasce


como instrumento de defesa, de combate.
Falar de africanidades significa ultrapassar os limites do
material, uma vez que tanto um prato de sarapatel quanto uma
apresentação de rap contêm a essência de um povo que lutou
(e, em muitos casos, ainda luta) pela sobrevivência. Então, não se
pode esquecer que os processos que garantiram a incorporação de
tais elementos à sociedade brasileira são dignos de louvor.
Portanto, compreender as africanidades aqui no Brasil é
entender um jeito de ver a vida com todas as suas dimensões:
lazer, trabalho, religião, família, sobrevivência... Os africanos (e os
afrodescendentes), ao conviver com outras etnias, vão deixando
suas marcas, seus valores, seus brilhos, suas formas de viver e de
se relacionar com o outro e com o mundo.

A cultura africana urbana


No espaço urbano, a cultura africana está diretamente ligada
aos valores ocidentais, o que representa um contraste com a cultura
urbana tradicional que era rica e invejada. É bom lembrar que,
na Idade Média, as cidades da África eram exemplos, pois detinham
universidades, bibliotecas e templos importantes.
Ano após ano, o texto poético vem ganhando espaço cada Hoje, muitos valores ocidentais se sobrepõem à cultura
vez maior na prova do Enem. Em razão disso, é preciso estar atento tradicional da África, pois a dança, a música, a culinária, a literatura,
a importantes poemas do Panorama Literário Brasileiro. Não restam as artes e as línguas receberam também influências externas.
dúvidas para nós que o livro Os Cem Melhores Poemas Brasileiros Ou seja, a cultura africana, assim como qualquer cultura,
do Século, composto a partir de uma seleção de poemas feita por muda o mundo em sua volta e modifica-se com as influências
Ítalo Moriconi e publicado pela Editora Objetiva, apresenta-se como estrangeiras.
leitura indispensável a todo vestibulando brasileiro.

Anual – Volume 3 19
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
As artes e a cultura africana Obras de Debret
Diversificada é a palavra mais adequada para se falar da Ao observar as obras de Debret a seguir, note que o artista,
cultura africana, que, na arte brasileira, se faz presente em diversos num estado figurativo, tematiza a vida do negro em diferentes
tipos de manifestações, desde os entalhos em madeira até os situações: em momentos de castigo, em momentos de serventia;
trabalhos em bronze ou couro. Há também o uso de máscaras para no convívio social. Debret não teve uma intenção crítica ao pintar
comemorar e celebrar diferentes rituais, pois, na África, dança-se suas telas, pois seu objetivo era retratar o cotidiano da vida do
e canta-se por razões diversas: o nascimento, a morte, a vida, brasileiro, incluindo aí negros, índios e brancos. É possível, porém,
o casamento, a colheita etc. perceber traços da cultura africana em suas obras, como a presença
Além disso, a cultura africana está repleta de esculturas, de da capoeira, por exemplo.
pinturas, de cerâmicas, de máscaras cerimoniais, de pratos típicos

Museu Castro Maya


e de vestimentas religiosas. Por fazer parte da tradição africana,
o modo de vestir ganha bastante ênfase, pois é comum se valorizar
a aparência das pessoas, por isso os orixás (e mesmo as pessoas)
costumam ser apresentados usando joias, colares, braceletes e
anéis.
Aqui no Brasil, em diferentes épocas, os artistas exploraram
a cultural africana. Veja alguns:

Jean Baptiste Debret


Biblioteca Nacional

Feitores açoitando negros na roça, 1828, Aquarela s/papel 15 x 19,8 cm.

Museu Castro Maya


Autorretrato de Debret.

Debret, Jean-Baptiste (1768-1848), pintor francês


que esteve no Brasil com a Missão Artística Francesa, nasceu
em Paris, em 18 de abril de 1768 e faleceu na mesma cidade
em 11 de junho de 1848. Uma de suas obras serviu como base
para definir as cores e as formas geométricas da atual bandeira
republicana, adotada em 19 de novembro de 1889. Iniciou sua
vida profissional em Paris, sob a influência de Jacques-Louis David.
Volta à cidade de um proprietário de chácara, 1822,
Integrando a Missão Artística Francesa ao Brasil chefiada por Aquarela s/ papel, 16,2 x 24,5 cm
Lebreton, ficou no Brasil entre 1816 e 1831, dedicando-se à
Museu Castro Maya

pintura e ao magistério artístico. Em suas telas, retratou não


apenas a paisagem, mas também a sociedade brasileira, não se
esquecendo de destacar a forte presença dos escravos. Foi iniciativa
sua a realização da primeira exposição de arte no país, em 1829.
Tendo regressado a França em 1831, publicou, a partir de 1834 até
1839, uma numerosa série de gravuras na obra Viagem pitoresca
e histórica ao Brasil ou Estadia de um artista francês no Brasil.
Este livro é dividido em três tomos: no primeiro, de 1834, estão
representados índios, aspectos da mata brasileira e da vegetação
nativa em geral; no segundo tomo, de 1835, concentra-se na
representação dos escravos negros, no pequeno trabalho urbano,
nos trabalhadores e nas práticas agrícolas da época; e no tomo
terceiro, de 1839, trata de cenas do cotidiano, das manifestações
culturais, como as festas e as tradições populares.
Serradores, 1821, Aquarela s/papel, 17,3 x 24 cm.

20 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Rubem Valentim: um defensor da cultura

Museu Castro Maya


afrodescendente no Brasil
“Eu procuro a claridade, a luz da luz”.
Rubem Valentim

Rubem Valentim foi um pintor, escultor, gravador e


professor baiano. É considerado um dos grandes pintores
construtivistas brasileiros. Desde o início de sua produção, faz
referências às tradições populares do Nordeste brasileiro. Entre
os anos 1946 e 1947, integra o Movimento de renovação das
artes plásticas na Bahia, junto com Mário Cravo Júnior, Carlos
Bastos, entre outros.
A partir da década de 1950, recebe influências das religiões
de base africana, como o candomblé e a umbanda, e faz referência
ao simbólico através de suas formas geométricas, muitas vezes
presentes em signos e emblemas destas religiões.
Primeiras ocupações da manhã, 1826, Aquarela s/ papel, 18,7 x 24,2 cm. Valentim alia a geometria ao uso de cores de forma criativa,
intensas e diversas. No final dos anos 1960, realiza murais, relevos e
grandes esculturas em madeira, mantendo a linha geométrica mestra.
Hector Julio Páride Bernabó ou Carybé – Em 1972, fez um mural de mármore, considerado sua primeira obra
(Lanús, Argentina, 1911 – Salvador, BA, 1997) pública, para o edifício-sede da Novacap em Brasília. Em São Paulo,
realizou escultura de concreto, instalada na Praça da Sé.
Pintor, gravador, desenhista, ceramista, escultor, muralista.

J. DURAN MACHFEE/FUTURA PRESS


Em Salvador, frequentou aulas de capoeira, visitou candomblés
e realizou desenhos e pinturas, em 1944. Na Bahia, participou
ativamente do movimento de renovação das artes plásticas,
ao lado de Mário Cravo Júnior (1923), Genaro (1926-1971) e
Jenner Augusto (1924-2003). Em 1957, naturaliza-se brasileiro.
Autor e coautor de vários livros, publica, em 1981, após 30 anos
de pesquisa, Iconografia dos deuses africanos no candomblé da
Bahia, pela Editora Raízes. Como ilustrador, executa trabalhos
para livros de autores de grande expressão, como Mário de
Andrade, Gabriel García Márquez e Jorge Amado. Uma parte da
obra de Carybé se encontra no Museu afro-brasileiro de Salvador.
São 27 painéis representando os orixás do candomblé da Bahia. Marco sincrético da cultura afro-brasileira, 1978-79.
Cada prancha apresenta um orixá com suas armas e animal litúrgico. Concreto armado.
Foram confeccionadas em madeira de cedro, com trabalhos de
Considerado um dos maiores artistas representantes da
entalhe e incrustações de materiais diversos, para atender a uma cultura afro-brasileira no Brasil, Rubem Valentim, por questões
encomenda do antigo Banco da Bahia S.A.. ideológicas, buscou, na cultura popular afro-brasileira, as
Ao observar as obras de Carybé, perceba o valor que ele dá à características que norteariam seu trabalho até o final da vida
cultura africana no Brasil, sobretudo a religião, pois pintou bastante em suas pinturas, escultura e objetos. Em suas obras, nota-se a
os orixás. Há também a valorização da baiana e dos costumes do valorização dos símbolos dos orixás, como os machados duplos de
afrodescendente. Xangô e os abebés de Iemanjá.

Veja algumas de suas obras a seguir:


Carybé/Coleção particular

Reprodução autorizada por Roberto Bicca de Al encastro/


Coleção particular

Carybé (1911-1997). Baianas (década de 60). Óleo sobre tela.

Anual – Volume 3 21
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Veja outra obra de Rubem Valentim:

Reprodução autorizada por Roberto Bicca de Alencastro/


Coleção particular

Reprodução autorizada por Roberto Bicca de Alencastro/


Coleção particular

Reprodução autorizada por Roberto Bicca de Alencastro/Coleção particular


Reprodução autorizada por Roberto Bicca de Alencastro/
Coleção particular

VALENTIM, Rubem. Escultura-Objeto.


Objeto emblemático nº 1, madeira,
1969, 152 cm x 102 cm.

A música na cultura africana

Anikasalsera/123RF/Easypix
Reprodução autorizada por Roberto Bicca de Alencastro/Coleção
particular

Em todo o mundo, a música de origem africana tem


grande importância. Sabe-se que ritmos da África subsaariana
foram transmitidos, devido ao tráfico de escravos, pelo Atlântico,
resultando em diversos estilos musicais que encantam multidões
Na pintura anterior, a valorização de formas geométricas não
em todo o mundo. Alguns desses ritmos são o samba, o blues,
é por acaso, pois sintetiza os elementos presentes no candomblé, o jazz, o reggae, o rap etc.
como os oxés de Xangô (conhecido como machado duplo de Os tambores estão intimamente ligados à cultura e aos rituais
Xangô). Rubem Valentim recria o construtivismo artístico e, para africanos, por isso não se pode deixar de mencioná-los. Eles não
isso, emprega signos do candomblé em suas obras. Em função são somente como se vê, pois, em si, trazem conotações naturais
disso, o artista cria uma escrita própria para esses elementos, uma e, por vezes, sobrenaturais. Eles estão relacionados aos ritmos, às
espécie de signografia, que exige do observador conhecimento danças, às músicas e também à literatura.
acerca das religiões afro-brasileiras, pois, só assim, o apreciador Na América, os escravos contribuíram com a expansão
entenderá o real sentido da geometrização, e consequentemente de ritmos e de instrumentos, gerando uma mistura que costuma
da simbologia, em suas obras. Há também a valorização de cores confundir estudiosos quando procuram se aprofundar na cultura
fortes, típicas da África. musical da África.

22 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Vale ressaltar que, na África, o espírito que guia a poesia Cuíca – consiste numa espécie de tambor com uma haste
também guia a música e a dança, pois o poema está interligado de madeira presa no centro da membrana de couro, pelo lado
à música e esta se liga à dança. Talvez, por tudo isso, a música popular interno. O polegar, o indicador e o dedo médio seguram a haste no
brasileira seja influenciada pelos ritmos africanos, pois se notam, interior do instrumento com um pedaço de pano úmido, os ritmos
na nossa expressão musical, ritmos diversos, tais como: samba, são articulados pelo deslizamento deste tecido ao longo do bambu.
maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada e maxixe. A outra mão segura a cuíca e com os dedos exerce uma pressão
Durante muitos anos, a música trazida pelos escravos foi na pele. Quanto mais forte a haste for segurada e mais pressão for
desprezada pelo colonizador. Isso acontecera em todo o continente aplicada na pele, mais altos serão os tons obtidos.
americano, já que era vista como uma música de pouco valor, Kora – instrumento musical formado por 21 cordas.
que deveria ser dispensada, contribuindo, assim, para a sua Tem uma caixa de ressonância feita de cabaça e suas cordas
marginalização. Essa música só ganha notoriedade a partir do início eram originalmente feitas de pele de antílope. O instrumentista
do século XX, quando o samba chega à casa das elites brasileiras, usa somente o polegar e o indicador de ambas as mãos para
mesmo que disfarçadamente. Na realização dos ritmos africanos, é dedilhar as cordas da kora, sendo que os dedos restantes seguram
comum a utilização de instrumentos afro-brasileiros, como o afoxé, o instrumento. O som produzido pela kora é semelhante ao da
o agogô, o atabaque, o berimbau e o tambor. harpa.
Leia um pouco mais sobre alguns instrumentos e ritmos
Reco-reco – objeto musical feito de madeira ou bambu com
musicais africanos:
ranhuras transversais que são friccionados por uma vareta. O som
é obtido através da raspagem de uma baqueta sobre as ranhuras

Carlos Mora/123RF/Easypix
transversais.
Tambores – são os principais instrumentos musicais
africanos. Existem dos mais variados formatos, tamanhos e
elementos decorativos. É um objeto musical de percussão, é oco
e feito de bambu ou madeira. Além de sua utilização nos eventos
festivos, os tambores eram uma forma de comunicação entre
comunidades distantes, em razão de sua forte potência sonora.

Veja exemplos:

Andrey Armyagov/123RF/Easypix

Yelena Kovalenko/123RF/Easypix
Musicalidade Africana

A África, devido aos problemas de ordem social, econômica


e política, costuma ocupar grandes espaços na mídia. Porém, pouco
se fala da pluralidade cultural do povo africano, que, inclusive,
contribuiu para a formação de várias outras nações do mundo.
O afrodescendente costuma apresentar como principal
característica a musicalidade, fruto de ritmos e instrumentos Atabaque Tambor
diversos, e a dança, que embala o corpo inteiro. Nessa
relação, vê-se que vários instrumentos musicais contribuíram para
Chonchit Jansuebsri/123RF/Easypix

que essa relação – música e dança –, de fato, acontecesse, tais como:


Afoxé – é um instrumento musical de percussão formado

Tamara Kulikova/123RF/Easypix
por uma cabaça redonda coberta por uma rede de bolinhas ao redor
de seu corpo. O som é produzido quando se giram as bolinhas em
um sentido, e o cabo no sentido oposto. É um instrumento musical
muito utilizado nos rituais de umbanda e pelos grupos de samba
e reggae.
Agogô
Agogô – instrumento musical percussivo composto de
duas a quatro campânulas (objeto em forma de sino) de tamanhos
diferentes, ligadas entre si pelos vértices. É o instrumento mais Afoxé
antigo do samba.
Berimbau – é um instrumento de corda usado para fazer
percussão na capoeira. É um arco feito de uma vara de madeira, A capoeira
de comprimento aproximado de 1,20 m a 1,60 m, e um fio de aço A capoeira consiste num jogo que envolve dança, luta
(arame) preso nas extremidades da vara. Em uma das extremidades e música. É uma das expressões culturais afro-brasileiras mais
do arco, é fixada uma cabaça que funciona como caixa de desenvolvidas no Brasil. Trazida de Angola para o Brasil, logo depois
ressonância. Para a realização do som, é necessária a utilização de do século XVI, a capoeira se espalhou pelos seguintes estados:
uma pedra ou moeda, vareta e caxixi. Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Caxixi – é um instrumento de percussão que corresponde Na capoeira, forma-se uma roda com os participantes, que revezam
a um pequeno cesto de palha trançada contento sementes ou no toque do berimbau, que acompanha a dança e a luta ritual em
arroz para a produção do som. Esse objeto é um complemento pares no centro do círculo. Utilizam-se, na capoeira, acrobacias,
do berimbau. chutes e rasteiras.

Anual – Volume 3 23
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Embora já existam muitas pesquisas, a origem da capoeira Com o intuito de evitar rebelião, os senhores de escravos
ainda é incerta. Sabe-se, porém, que ela é fruto da combinação de costumam agrupar em suas senzalas escravos de origens distintas,
artes marciais africanas e brasileiras. Há também aqueles que dizem o que facilitou a mistura de costumes e povos africanos. Em função
ser a capoeira um estilo de luta africano e aqueles que acreditam ser disso, o candomblé, religião africana, fertilizou-se no Brasil, pois era
a capoeira uma forma de dança brasileira única, fruto de influências uma das formas de o afrodescendente resgatar a atmosfera mística
africanas e brasileiras. de sua pátria. Era na natureza que os seguidores do candomblé
atribuíam poder, ligando deuses aos elementos presentes nela. Isso
se dava por meio de culto e oração.

Fundação Biblioteca Nacional Rio de Janeiro RJ


As divindades africanas tomaram forças em solo brasileiro.
Do fetiche, culto que clamava por libertação e por sobrevivência,
ao candomblé, que é a religião que mais conservou as fontes do
panteão africano, que, mais tarde, serviria de base ao assentamento
das divindades da umbanda.
No candomblé, os deuses têm explicação milenar, já que
foram divinizadas à época dos ancestrais africanos. Os seguidores
do candomblé acreditam que os orixás são capazes de manipular
as forças naturais, daí a explicação de que cada orixá se relaciona
com um elemento da natureza. Essa religião também passou a ser
praticada em diversas partes da América Latina, onde ocorreu a
escravidão negra.
No ritual que se faz em homenagem a cada orixá, há um
toque específico, há um tipo de canto, há um ritmo de dança, há um
modo de agradecer em oferendas, há uma forma de incorporação,
Rugendas, (1802-1858). Negros jogando capoeira, 1835. há um local próprio e há uma saudação específica. As cerimônias
Óleo sobre tela. são realizadas com cânticos, em geral, em língua nagô ou yorubá.
Os cânticos em português são em menor número e refletem
Estudiosos falam que ela foi criada e desenvolvida por o linguajar do povo. Há sacrifícios de animais ao som de cânticos
escravos trazidos da África e que a capoeira era uma maneira de e danças, e a percussão dos atabaques constitui a base da música.
dissimular, já que se parece com jogo ou com dança, a arte marcial Aqui, no Brasil, há diferentes tipos de candomblé, que se
diferenciam pela maneira de tocar os atabaques, pela língua do
que deveria ser usada em defesa do negro. Os donos de escravos
culto e pelo nome dos orixás: o queto, na Bahia, o xangô, em
não permitiam a prática de qualquer arte marcial pelos escravos,
Pernambuco, o batuque, no Rio Grande do Sul, e o angola, em
então a capoeira funcionava de forma disfarçada. Fala-se também
São Paulo e Rio de Janeiro.
que ela era praticada e usada contra ataques de homens brancos Já a umbanda, religião fruto do espiritismo, do candomblé
ao quilombo dos Palmares. e do catolicismo, incorpora os adeptos dos deuses africanos, como
Por muito tempo, a capoeira foi proibida em território caboclos, pretos velhos, crianças, boiadeiros, espíritos das águas,
brasileiro, porque o então presidente Deodoro da Fonseca assinou exus e entidades desencarnadas aqui na Terra, o que explica o
lei proibindo e punindo quem a praticasse no Brasil. Mesmo com a sincretismo religioso que há nessa religião, pois se utiliza de crenças
lei, Mestre Bimba desenvolveu o novo estilo – a capoeira regional, católicas e espíritas.
diferente da capoeira de Angola, do Mestre Pastinha. Somente em Na umbanda, o chefe é o pai de santo, sendo filhos e filhas
1930, o valor cultural da capoeira foi aceito pelas autoridades, que seus seguidores. No ritual, é o pai de santo que inicia a cerimônia,
acabaram com a proibição. Em virtude disso, Mestre Bimba criou encruzando e defumando os presentes do local. Em sequência,
a Academia-Escola de Capoeira Regional (em 1932), em Salvador, surgem os cânticos sagrados em corrente para fazer baixar o santo.
sendo, por isso, considerado o pai da capoeira moderna. Na umbanda, orixás também são invocados, tais como: Ogun,
Oxóssi, Iemanjá e Exu. Há também há invocação de índios, de
caboclos, de ciganos e de pretos velhos.
A religião africana Valorizando a identidade de seus deuses, a umbanda entra
para a história das religiões como sendo pluralista, pois absorve o
Carybé/Coleção particular

culto aos Orixás, adaptando-o à nossa sociedade moderna.

A culinária
O principal prato tradicional brasileiro, a feijoada, costuma
ser apontado como tendo sido criado nas senzalas do Brasil.
Ela serviu de alimento aos escravos. Hoje, a feijoada é um prato
saboreado pela maioria dos brasileiros. Há quem diga, porém,
que a feijoada brasileira é uma adaptação da portuguesa, que,
inclusive, não era servida aos escravos.
A cozinha brasileira regional deve muito à culinária africana,
aos elementos portugueses e aos indígenas. De origem africana,
ainda podem ser citadas comidas típicas, como o acarajé, o vatapá
Carybé (1911-1997). Candomblé, 1983. Óleo sobre tela. 70 × 110 cm. e a moqueca.

24 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Em 20 de novembro de 1695, traído por um dos seus
Exercícios de Fixação homens que sucumbiu às torturas, Zumbi e seus homens
foram surpreendidos e mortos. Sua cabeça foi pregada em
um poste de uma praça da capital pernambucana para servir
01. Leia. de intimidação aos rebeldes. As terras do Quilombo dos
I Palmares foram distribuídas aos vencedores.
Em 1703, um dos negros de Palmares, Camuango,

Museo Itaú Cultural/São Paulo, Brasil


que fugiu nas primeiras investidas do bandeirante Domingos
Jorge Velho, fundou um quilombo pequeno, mas que
fora destruído anos depois. Alguns fugitivos de Palmares
se refugiaram em quilombos na Paraíba, os quais foram
destruídos em 1735.

SANTOS, Ana Paula Borges dos Reis Queiroz Santos. Africanidades:


Um olhar pedagógico para o ensino da cultura africana em sala
na aula. 2016. 41 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso
(Pós-Graduação em Africanidades e Cultura Afro Brasileira)
– Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas,
Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2015.

Navio Negreiro, Rugendas. Gravura. Cerca de 1830. Disponível em: <https://monografias.brasilescola.uol.com.br/


30.50cm x 50.30cm. Museu ItaúCultura. pedagogia/africanidades-um-olhar-pedagogico-para-
ensino-cultura-africana-sala-de-aula.htm>.
II Acesso em: 29 maio 2018.

Navio negreiro é o nome dado aos navios de carga


para o transporte de escravos, especialmente os escravos No fragmento de texto, extraído da monografia de Ana
africanos, até o século XIX. Neles, os escravos eram destinados Paula Borges dos Reis Queiroz Santos, tematiza-se a cultura
aos porões da embarcação, onde ficavam presos em grupos afro-brasileira com foco no papel que os quilombos obtiveram
às correntes. Cada navio levava em média quatrocentos na resistência à escravidão. Por esse prisma, percebe-se que,
africanos amontoados. O mau-cheiro imperava, e o espaço para
embora Zumbi tenha sido morto e, depois, exposto em praça
movimentação era mínimo, porque, embora navios deste tipo
fossem geralmente grandes, se otimizava o espaço do mesmo pública, seus ideais de liberdade
para caber o maior número possível de escravos. Homens, A) amadurecem, pois outros negros resistiram e aboliram a
mulheres e crianças eram transportados amontoados em escravidão no Brasil-Colônia.
compartimentos minúsculos dos navios, escuros e sem nenhum B) moderaram, por mais que outros negros tenham conseguindo
cuidado com a higiene. Conviviam no mesmo local, a fome, a driblar o homem branco.
sede, as doenças, a sujeira, os agonizantes e os mortos.
C) enfraqueceram, já que não houve resistência por parte de
Wikipédia, a enciclopédia livre outros negros fugitivos.
D) arrefeceram, ainda que outras lideranças tenham surgido e
Em I, tem-se uma obra de Johann Moritz Rugendas, alemão fundado outros quilombos.
que pintou povos e os costumes no Brasil. Em II, tem-se um E) continuaram, mesmo que aparentemente em vão dada a
texto que apresenta o que era um navio negreiro e como os
perseguição do colonizador.
escravos eram transportados. No paralelo que se pode fazer
entre a linguagem não verbal (em I) e a linguagem verbal (em
II), nota-se que há 03. Observe a obra:
A) excesso de discrepância temática.
B) nenhuma relação temática. Domínio Publico

C) pouca relação temática.


D) muita convergência temática.
E) maior discrepância temática.

02. Leia.

Zumbi dos Palmares foi o líder do Quilombo dos


Palmares e é, até hoje, o símbolo da resistência negra no
Brasil. A região do Quilombo dos Palmares abrigava cerca de
20 mil escravos. De difícil acesso, o quilombo era protegido por
florestas tropicais. Lá os habitantes sobreviviam das plantações,
caça e pesca. No entanto, por incomodar os brancos,
o Quilombo dos Palmares passou a ser alvo do governador
Souto Maior, o qual pediu auxílio ao bandeirante paulista
Jean Baptiste Debret: Interior de uma casa de ciganos, 1823.
Domingos Jorge Velho, famoso pela crueldade de seus atos. Aquarela sobre papel

Anual – Volume 3 25
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Jean-Baptiste Debret foi um importante artista plástico francês às vezes faço questão de não me ver
que viveu no Brasil. Integrou a Missão Artística Francesa. Suas e entupido com a visão deles
obras formam importante acervo para o estudo da história e da sinto-me a miséria concebida como um eterno
cultura brasileira. Em Interior de uma casa de ciganos, Debret começo
A) explora o cotidiano suntuoso em que viviam os negros no
fecho-me o cerco
Brasil.
sendo o gesto que me nego
B) retrata, num estilo neoclássico, o valor da cultura mística
brasileira. a pinga que me bebo e me embebedo
C) defende a ideia da miscigenação no período imperial brasileiro. o dedo que me aponto
D) descreve o dia a dia harmônico da sociedade brasileira imperial. e denuncio
E) tematiza, no estado figurativo, o cotidiano adverso da o ponto em que me entrego.
sociedade brasileira. às vezes!…
CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza, 2007. (fragmento).
04. (Enem/2014)
OLÁ! NEGRO
Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente
a presença de elementos que traduzem experiências históricas
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
o eu lírico
tentarão apagar a tua cor! A) incorpora seletivamente o discurso do seu opressor.
E as gerações dessas gerações quando apagarem B) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento.
a tua tatuagem execranda, C) engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças.
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro! D) sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento.
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi, E) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde igualitária.
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil,
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga Exercícios Propostos
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreenda agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro! 01. (Enem)
Olá, Negro! Olá. Negro!
Texto I
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!

Reprodução/Enem 2014
LIMA. J, Obras completas: Rio de Janeiro,
Aguilar, 1958. Fragmento.

O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão


do eu lírico, um contexto social assinalado por
A) modernização dos modos de produção e consequente
enriquecimento dos brancos.
B) preservação da memória ancestral e resistência negra à
apatia cultural dos brancos.
C) superação dos costumes antigos por meio da incorporação
de valores dos colonizados.
D) nivelamento social de descendentes de escravos e de
senhores pela condição de pobreza.
E) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de
hereditariedade.
BANKSY. Disponível em: <www.banksy.co.uk>.
05. (Enem/2018) Acesso em: 4 ago. 2012.
QUEBRANTO
Texto II
às vezes sou o policial que me suspeito
SÓ DEUS PODE ME JULGAR
me peço documentos
e mesmo de posse deles Soldado da guerra a favor da justiça
me prendo e me dou porrada Igualdade por aqui é coisa fictícia
às vezes sou o porteiro Você ri da minha roupa, ri do meu cabelo
não me deixando entrar em mim mesmo Mas tenta me imitar se olhando no espelho
a não ser Preconceito sem conceito que apodrece a nação
pela porta de serviço Filhos do descaso mesmo pós-abolição
[…]
MV BILL. Declaração de guerra. Manaus: BMG, 2002. Fragmento.

26 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
O trecho do rap e o grafite evidenciam o papel social das A obra de Rubem Valetim apresenta emblemas que, baseando-se
manifestações artísticas e provocam a em signos de religiões afro-brasileiras, se transformam em
A) consciência do público sobre as razões da desigualdade produção artística. A obra Emblema 78 relacionando-se com
social. o Modernismo em virtude da
B) rejeição do público-alvo à situação representadas nas A) simplificação de formas da paisagem brasileira.
obras. B) valorização de símbolos do processo de urbanização.
C) reflexão contra a indiferença nas relações sociais de forma C) fusão de elementos da cultura brasileira com a arte europeia.
contundente. D) alusão aos símbolos cívicos presentes na bandeira nacional.
D) ideia de que a igualdade é atingida por meio da violência. E) composição simétrica de elementos relativos à miscigenação
E) mobilização do público contra o preconceito racial em racial.
contextos diferentes.
04. (Enem)
02. (Enem) YAÔ
MARIA DIAMBA
Aqui có terreiro
Para não apanhar mais Pelú adié
falou que sabia fazer bolos: Faz inveja pra gente
virou cozinha. Que não tem mulher
Foi outras coisas para que tinha jeito. No jacutá de preto velho
Não falou mais: Há uma festa de yaô
Viram que sabia fazer tudo,
até molecas para a Casa-Grande. Ôi tem nêga de Ogum
Depois falou só, De Oxalá, de Iemanjá
só diante da ventania Mucama de Oxossi é caçador
que ainda vem do Sudão; Ora viva Nanã
falou que queria fugir Nanã Buruku
dos senhores e das judiarias deste mundo
para o sumidouro. Yô yôo
Yô yôo
LIMA, J. Poemas negros. Rio de Janeiro: Record, 2007.
No terreiro de preto velho iaiá
Vamos saravá (a quem meu pai?)
O poema de Jorge de Lima sintetiza o percurso de vida de
Xangô!
Maria Diamba e sua reação ao sistema opressivo da escravidão.
A resistência dessa figura feminina é assinalada no texto pela VIANA, G. Agô, Pixinguinha! 100 Anos. Som Livre, 1997.
relação que se faz entre
A) o uso da fala e o desejo de decidir o próprio destino. A canção Yaô foi composta na década de 1930 por Pixinguinha,
B) a exploração sexual e a geração de novas escravas. em parceria com Gastão Viana, que escreveu a letra. O texto
C) a prática na cozinha e a geração de novas escravas. mistura o português com o iorubá, língua usada por africanos
D) o prazer de sentir os ventos e a esperança de voltar à escravizados trazidos para o Brasil. Ao fazer uso do iorubá nessa
África. composição, o autor
E) o medo da morte e a vontade de fugir da violência dos A) promove uma crítica bem-humorada às religiões
brancos. afro-brasileiras, destacando diversos orixás.
B) ressalta uma mostra da marca da cultura africana, que se
03. (Enem) mantém viva na produção musical brasileira.
C) evidencia a superioridade da cultura africana e seu caráter
de resistência à dominação do branco.
Reprodução/Enem 2017

D) deixa à mostra a separação racial e cultural que caracteriza


a constituição do povo brasileiro.
E) expressa os rituais africanos com maior autenticidade,
respeitando as referências originais.

05. (Enem)

Texto I
BRASIL AFRICANO

De várias partes da África, veio a metade dos nossos


antepassados no período da escravidão, entre os séculos XVII
e XIX. As muitas línguas que falavam mudaram o português
existente no Brasil. Da estética à culinária, dos costumes à
religião, as influências também fora numerosas e permanecem.
VALENTIM, R. Emblema 78. Acrílico Os estudos africanos no país remontam ao começo do século
sobre tela. 73 × 100 cm. 1978.
XX, mas há, ainda, muito para ser descoberto e compreendido
Disponível em: <www.espacoarte.com.br>. dessas tantas trocas culturais.
Acesso em: 2 ago. 2012.

Anual – Volume 3 27
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Texto II 07. (Enem/2017) O hip hop tem sua filosofia própria, com valores
construídos pela condição das experiências vividas nas periferias

Reprodução/Enem
de muitas cidades. Colocando-se como um contraponto à
miséria, às drogas, ao crime e à violência, o hip hop busca
interpretar a realidade social. Seu objetivo é justamente
encontrar saídas e fornecer uma alternativa à população
excluída.
SOUZA, J.; FIALHO, V. M.; ARALDI, J. Hip hop: da rua
para a escola. Porto Alegre: Sulina, 2008.

As autoras abordam no texto um movimento cultural que


também tem características reconhecidas
A) nos traços e formas que representam personagens de olhos
desproporcionalmente maiores e expressivos, conhecidos
como mangá.
B) nas formas de se vestir e de cortar os cabelos com objetivos
Cais em Salvador, em foto de Gaensly & Lindermann, século XX contestadores à ordem social, próprios do movimento punk.
Revista Biblioteca Entre Livros: Vozes da África. São Paulo: Ediouro.
C) nas frases e dizeres de qualquer espécie, rabiscados sobre
fachadas de edifícios, que marcam a pichação.
Ao relacionar-se a temática dos Textos I e II, sobre a influência D) nos movimentos leves e sincronizados com os pés que
africana no Brasil, constata-se que deslocam o dançarino, denominado moonwalk.
A) fazem alusão ao fato de que a contribuição do povo africano E) nas declamações rápidas e ritmadas de um texto, com alturas
para a cultura brasileira não é comprovada. aproximadas, características do rap.
B) revelam que os estudos referentes à contribuição do povo
africano na formação do Brasil é incipiente. 08. (Enem/2014) No Brasil, a origem do funk e do hip-hop remonta
C) demonstram que a construção da identidade nacional é aos anos 1970, quando da proliferação dos chamados “bailes
marcada pela presença da cultura africana. black” nas periferias dos grandes centros urbanos. Embalados
D) informam que os negros foram os responsáveis pela pela black music americana, milhares de jovens encontravam
nos bailes de final de semana uma alternativa de lazer antes
formação cultural do nosso país.
inexistente. Em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo,
E) remetem à ideia de que essa influência inexistiu no âmbito
formavam-se equipes de som que promoviam bailes onde foi
linguístico. se disseminando um estilo que buscava a valorização da cultura
negra, tanto na música como nas roupas e nos penteados.
06. (Enem) As formas plásticas nas produções africanas conduziram No Rio de Janeiro ficou conhecido como “Black Rio”. A indústria
artistas modernos do início do século XX, como Pablo Picasso, fonográfica descobriu o filão e, lançando discos de “equipe”
a algumas proposições artísticas denominadas vanguardas. com as músicas de sucesso nos bailes, difundia a moda pelo
A máscara remete à influência africana no Brasil, constata-se restante do país.
que
DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização
da juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
Reprodução/Enem

A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se como


uma forma de
A) lazer gerada pela diversidade de práticas artísticas nas
periferias urbanas.
B) entretenimento inventada pela indústria fonográfica nacional.
C) subversão de sua proposta original já nos primeiros bailes.
D) afirmação de identidade dos jovens que a praticam.
E) reprodução da cultura musical norte-americana.

09. (Enem)
SOU NEGRO

Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
Máscara senufo, Mali. Madeira e fibra vegetal. minh’alma recebeu o batismo dos tambores
Acervo do MAE/USP. atabaques, gonguês e agogôs

A) preservação da proporção. Contaram-me que meus avós


B) idealização do movimento. vieram de Loanda
C) estruturação assimétrica. como mercadoria de baixo preço
D) sintetização das formas. plantaram cana pro senhor do engenho novo
E) valorização estética. e fundaram o primeiro Maracatu

28 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Depois meu avô brigou como um danado A partir dos textos apresentados, os trabalhos que são
nas terras de Zumbi pertinentes à criação popular caracterizam-se por
Era valente como o quê A) temática nacionalista que abrange áreas regionais amplas.
Na capoeira ou na faca B) produção de obras utilizando materiais e técnicas tradicionais
da arte acadêmica.
escreveu não leu
C) ligação estrutural com a arte canônica pela exposição e
o pau comeu
recepção em museus e galerias.
Não foi um pai João D) abordagem peculiar da realidade e do contexto, seguindo
humilde e manso criação pessoal particular.
E) criação de técnicas e temas comuns a determinado grupo
Mesmo vovó ou região, gerando movimentos artísticos.
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Fique de Olho
Na minh’alma ficou
o samba
o batuque Este artigo é parte da série:
o bamboleio
e o desejo de libertação… CULTURA DA ÁFRICA

Fedor Selivanov/123RF/Easypix
TRINDADE, Solano. Sou negro. In: BERALDO, Alda.
Trabalhando com poesia. São Paulo: Ática, 1990. v. 2.

O poema resgata a memória de fatos históricos que fazem


parte do patrimônio cultural do povo brasileiro e faz referência
a diversos elementos, entre os quais, incluem-se
A) as batalhas vividas pelos africanos e o carnaval.
B) a coragem e a valentia dos africanos e as suas brincadeiras.
C) o legado dos africanos no Brasil e a cerimônia do batismo
católico.
D) o espírito guerreiro, os sons e os ritmos africanos.
E) o trabalho dos escravos no engenho e a libertação assinada
pela Coroa.

10. (Enem/2013)
A cultura da África reflete a sua antiga história e é tão
Texto I diversificada como foi o seu ambiente natural ao longo dos milênios.
África é o território terrestre habitado há mais tempo, e supõe-se que
Reprodução/Enem

foi neste continente que a espécie humana surgiu; os mais antigos


fósseis de hominídeos encontrados na África (Tanzânia e Quênia)
têm cerca de cinco milhões de anos. O Egito foi provavelmente o
primeiro Estado a constituir-se na África, há cerca de 5000 anos,
mas muitos outros reinos ou cidades-estados se foram sucedendo
neste continente, ao longo dos séculos (por exemplo, Axum, o
Grande Zimbabwe). Além disso, a África foi, desde a Antiguidade,
procurada por povos que buscavam as suas riquezas.
O continente africano cobre uma área de 30.221.532
quilômetros quadrados, um quinto da área terrestre da Terra, e
Disponível em: <www.cefivasf.univasf.edu.br>. possui mais de 50 países. Suas características geográficas são
Acesso em: 6 jun. 2013.
diversas e variam de tropical úmido ou floresta tropical. O monte
Texto II Kilimanjaro (5895 metros de altitude) permanece coberto de neve
durante todo o ano, enquanto o Saara é o maior deserto da Terra.
Partindo do chão coletivo da comunidade rural ou das A África possui uma vegetação diversa, variando de savana, arbustos
cidades, à medida que se impregna de um ethos urbano – seja de deserto e uma variedade de vegetação crescente nas montanhas,
por migração, seja pela difusão de novos conteúdos midiáticos bem como nas florestas tropicais e tropófitas.
–, irão surgindo indivíduos que, na área da visualidade, gerarão
As pessoas possuem diferenças marcantes sob qualquer
uma obra de feição original, autoral, única. O indivíduo-sujeito
comparação: falam um vasto número de línguas, praticam diferentes
recorre à memória para a construção de uma biografia, a fim
religiões, vivem em uma variedade de tipos de habitações e se
de criar seu projeto artístico, a sua identidade social.
envolvem em um amplo leque de atividades econômicas.
FROTA, L. C. Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro
(século XX). Rio de Janeiro: Aeroplano, 2005. Wikipédia, a enciclopédia livre.

Anual – Volume 3 29
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
A linguagem da música
Aula 14:

A música se caracteriza por ser a arte de combinar sons com


Aula A Linguagem da Música C-18 H-12, 13
H-14 o silêncio. Se ela consiste em combinar sons, todos os ruídos que
e a Era de Ouro do Rádio nos cercam são capazes de integrar uma canção, talvez, por isso,
14 no Brasil a música integre a nossa vida.
O som está inserido na vida humana, pois ela advém da
natureza, do sopro dos ventos, do balançar das águas, dos trovões,
da “fala” dos animais. Isso nos leva a afirmar que a música é uma
Introdução linguagem universal.
Dentre as diversas linguagens, a música se classifica como
sendo mista, já que se utiliza de recursos verbais – a palavra – e

Museu de Orsay, França


não verbais – os sons. Na construção de uma canção, por exemplo,
o código musical depende da combinação de sucessivos sons,
que são responsáveis pelo ritmo, pela tonalidade e pela melodia.
Nesse processo, as notas musicais, os instrumentos, a letra e a
interpretação de cada canção não podem ser esquecidos.
A música também sofre influência das condições
socioculturais e econômicas do local onde é produzida ou mesmo
reproduzida. Por meio da música, os sentimentos humanos
afloram, dada a capacidade estética que a música tem de traduzir
sentimentos, emoções, anseios, desejos, valores, costumes...
A música constitui-se em linguagem regional e universal.
Por ser oculta e subjetiva, a mensagem que a música transmite
atinge de diferentes formas cada ouvinte. Isso acontece desde que
o homem começou a se agrupar, a criar suas comunidades, pois,
ao longo da história do homem, a música o acompanha, desde as
tribos primitivas até aos nichos elitistas da modernidade.
São vários os estilos musicais, e eles dependem de cada
povo, de cada cultura. No caso da música brasileira, pode-se afirmar
que ainda no Período Colonial surgem as primeiras manifestações,
embora não se tenham grandes registros. Nossa música vem dos
cantos indígenas, dos ritmos africanos, dos estilos europeus, pois
foi da reunião de diferentes estilos musicais que se formou a música
popular brasileira que se conhece hoje.
RENOIR. Pierre-Auguste (1841-1919). Assim como cada um de nós tem um pouco de cada povo –
Ao piano, 1892-1893. Óleo sobre tela. europeu, índio e africano, a nossa música também é assim, pois ela
absorveu os cantos indígena e africano, namorou o estilo clássico,
MÚSICA BRASILEIRA paquerou com o rock e o reggae, reviveu o interior, cantou dores
e paixões e inovou-se, transformando-se no que hoje se chama de
Tens, às vezes, o fogo soberano MPB, que é fruto do samba, do rock, da Bossa Nova etc.
Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza, Entenda um pouco mais dos
Todo o feitiço do pecado humano.
seguintes códigos musicais
Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Pavel Konovalov/123RF/Easypix

Dos desertos, das matas e do oceano:


Bárbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, chiba e fado, cujos


Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:

E em nostalgias e paixões consistes,


Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.
BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves, 23ª edição, 1964, p. 263.

30 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
O ritmo bailados de ciganas, cujos vestidos eram ornados com pequenas
bolas (as boleras). Cantores mais famosos: Agustin Lara, Bienvenido
É o tempo que demora a repetição de qualquer fenômeno Granda, Lucho Gatica, Gregório Barros, Pedro Vargas, Consuelo
repetitivo. Essa palavra é normalmente usada quando nos referimos Velásquez, Armando Mazanera, Trio Irakitã e recentemente Luis
à música, à dança ou à poesia. Na música, todos os instrumentistas Miguel.
lidam com o ritmo, mas ele é mais comum ao domínio dos bateristas
e dos percussionistas. Bossa Nova
A melodia Movimento renovador da música popular brasileira,
surgido no Rio de Janeiro, na década de 1950. Caracterizou-se por
É uma sucessão dos sons musicais combinados. É a voz harmonias elaboradas e letras coloquiais.
principal que dá sentido a uma composição musical. Encontra apoio
na harmonia, que é a execução de sons simultâneos dos demais Calypso
instrumentos ou vozes quando se trata de música oral.
Nasceu no carnaval de Trinidad e Tobago. Tinha no
A harmonia seu início um clima de “duelo” político. Cantor mais famoso:
Harry Belafonte.
Entende-se apenas em seu sentido de organização temporal,
pois a música pode conter propositalmente harmonias ruidosas Carimbó
(que contém ruídos ou sons externos ao tradicional) e arritmias
(ausência de ritmo formal ou desvios rítmicos). Música folclórica da Ilha de Marajó desde o século XIX.
Cantores mais famosos: Verequete, Pinduca, Milton Yamada.
Notas musicais Chá Chá Chá
São sinais que representam a altura do som musical.
Dança derivada do danzon cubano, que se seguiu ao
Apesar de serem inúmeros os sons empregados na música, a
mambo. O nome foi tirado do barulho feito pelos dançarinos nas
representação deles pode partir das sete notas: DÓ – RÉ – MI – FÁ –
pistas de dança. Popularizou-se no mundo com as formações das
SOL – LÁ – SI. O conjunto das sete notas sucessivas, com a repetição da
Big Bands, onde havia claro predomínio de instrumentos de sopro.
primeira, chama-se escala, que pode ser ascendente ou descendente.
Cantores mais famosos: Orquestra Aragón e Fajardo y sus Estellas.
Por exemplo, a escala de Sol envolve as seguintes notas ascendentes:
Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol e descendentes: Sol, Fá, Mi, Ré, Dó,
Si, Lá, Sol.
Dance Music
Nasceu na Alemanha, na metade dos anos de 1970, por
um dos homens fortes de Donna Summer. Hoje, quem mais fatura
Leia sobre a história com a dance music são os japoneses.
de alguns ritmos musicais
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Evgene Kharnam/123RF/Easypix

Foi a mãe da salsa. Surgiu com a união de diversos músicos


tocando o que queriam, em grandes shows. Fusão entre a música
latina, rigidamente estruturada e o improviso do jazz.

El Son
Antiga forma musical popular em Cuba.

Forró
Designação popular dos bailes frequentados e promovidos
por migrantes nordestinos nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Teve origem nas festas oferecidas pelos ingleses aos empregados
que construíam estrada de ferro.

Batuque Habanera
Dança de origem africana, caracterizada por requebros, Gênero de música e dança cubana, em compasso binário,
palmas e sapateados, acompanhados ou não de canto. Por extensão, que influenciou o tango, o maxixe e a música popular de quase
nome de certos ritmos marcados por forte percussão. todos os países hispano-americanos. Popular no século XIX,
foi utilizada por grandes compositores, como Bizet, Albéniz e Ravel.
Be Bop
É um tipo de jazz sofisticado. Anos 40.
Jive
Uma mistura de rock com boogie woogie americanos.
Bolero
Lambada
Um dos avós do mambo, do chá chá chá e da salsa,
nasceu na Inglaterra passando pela França e Espanha com nomes Nasceu da adaptação do carimbó eletrificado ao merengue
variados (dança e contradança). Mais tarde um bailarino espanhol, em 1976, Belém do Pará. Cantores mais famosos: Beto Barbosa,
Sebastian Cerezo, fez uma variação baseada nas seguidillas, Márcia Ferreira, Manezinho do Sax, Grupo Kaoma.

Anual – Volume 3 31
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Lundum Apesar de ser um gênero musical resultante das estruturas musicais
europeias e africanas, foi com os símbolos da cultura negra brasileira
Conhecido também como Lundu, Landu ou Londu. Dança que o samba se alastrou pelo território nacional. Embora houvesse
e canto de origem africana, baseados em sapateados, movimentos variadas formas de samba no Brasil (não apenas na Bahia, como
acentuados de quadris e umbigadas. Trazidos para o Brasil (Pará) por também no Maranhão, em Minas Gerais, em Pernambuco e em São
escravos Bantos no século XVIII. Nessa mesma época, os escravos Paulo) sob a forma de diversos ritmos e danças populares regionais
praticam-no no Rio de Janeiro, onde constituiu uma das origens que se originaram do batuque, o samba como gênero musical é
do Samba e da Chula. Cantores mais famosos: grupos folclóricos.
entendido como uma expressão musical urbana do Rio de Janeiro
– então capital do Brasil Imperial – onde chegou durante a segunda
Mambo metade do século XIX levado por negros oriundos do sertão baiano.
Nasceu em Cuba e virou uma salada musical. Tem como No Rio de Janeiro, a dança praticada pelos escravos libertos
antepassados os ritmos afro-cubanos derivados de cultos religiosos entrou em contato e incorporou outros gêneros musicais populares
no Congo. Seu nome vem da gíria usada pelos músicos negros entre os cariocas, como a polca, o maxixe, o lundu e o xote,
(“Estás Mambo”– tudo bem com você? –) que tocavam el son nas adquirindo um caráter totalmente singular nas primeiras décadas
charangas (bandas locais cubanas). Perez Prado adicionou metais do século XX. Um marco dentro da história moderna e urbana do
nas charangas e foi de fato o primeiro a rotular essa nova versão samba ocorreu em 1917, no próprio Rio de Janeiro, com a gravação
de el son de mambo. Invadiu os E.U.A. nos anos de 1950. Cantores em disco de “Pelo Telefone”, considerado o primeiro samba a ser
mais famosos: Perez Prado, Xavier Cugat,Tito Puente e Beny Moré. gravado no Brasil (segundo os registros da Biblioteca Nacional).
O sucesso alcançado pela canção contribuiu para a divulgação e
Merengue popularização do samba como gênero musical.
Ritmo veloz e malicioso, nascido na República Dominicana, A partir de então, esse estilo de samba urbano surgido
tem o seu nome derivado do jeito que os dominicanos chamavam no Rio começou a ser propagado pelo país e, no ano de 1930,
os invasores franceses no século XVII (merenque). Cantores mais foi alçado da condição “local” a símbolo da identidade nacional
famosos: Juan Luis Guerra e Walfrido Vargas. brasileira. Inicialmente, foi um samba associado ao carnaval e,
posteriormente, adquiriu um lugar próprio no mercado musical.
Milonga Surgiram muitos compositores como Heitor dos Prazeres, João
da Baiana, Pixinguinha, Donga e Sinhô, mas os sambas destes
Popular das zonas próximas ao estuário do rio da Prata, compositores eram amaxixados, conhecidos como sambas-maxixe.
interpretada com acompanhamento de violão. Os contornos modernos desse samba urbano carioca viriam somente
no final da década de 1920, a partir de inovações em duas frentes:
Pagode com um grupo de compositores dos blocos carnavalescos dos bairros
Variação do samba que apresenta características do choro, do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz e com compositores dos morros
tem estilo romântico e andamento fácil para dançar. Obteve grande da cidade como em Mangueira, Salgueiro e São Carlos. Não por
sucesso comercial no início da década de 1990. acaso, identifica-se esse formato de samba como “genuíno” ou
“de raiz”. À medida que o samba no Rio de Janeiro consolidava-se
Pasodoble como uma expressão musical urbana e moderna, ele passou a ser
tocado em larga escala nas rádios, espalhando-se pelos morros
Nasceu há três séculos, na Espanha, junto com as touradas. cariocas e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Inicialmente
Tem o mesmo ritmo quente e apaixonante desse espetáculo.
criminalizado e visto com preconceito, por suas origens negras, o
samba conquistaria o público de classe média também.
Polca O samba moderno urbano surgido a partir do início do século
Dança e música originária da Boêmia, popular em meados XX, no Rio de Janeiro, tem ritmo basicamente 2/4 e andamento
do século XIX nos salões europeus. Caracteriza-se pelo movimento variado, com aproveitamento consciente das possibilidades dos
rápido, em compasso binário e andamento alegreto. estribilhos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, e aos
quais seriam acrescentados uma ou mais partes, ou estâncias,
Quick Step de versos declamatórios. Tradicionalmente, esse samba é tocado
por instrumentos de corda (cavaquinho e vários tipos de violão) e
Ritmo americano que, como o próprio nome diz, é rápida
variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o
e cheia de pulinhos.
tamborim. Com o passar dos anos, outros instrumentos foram sendo
Reggae assimilados, criando-se, assim, novas vertentes oriundas dessa base
urbano-carioca de samba: o samba de breque, o samba-canção, a
Estilo musical que uniu os ritmos caribenhos com o jazz bossa nova, o samba-rock, o pagode... Em 2005, o samba de roda
e o rhythm and blues. Símbolo dos movimentos político-sociais se tornou um Patrimônio da Humanidade da Unesco.
jamaicanos nas décadas de 1960 e 1970. Seus principais intérpretes
são Bob Marley, Peter Tosh e Jimmy Cliff. Wikipédia, a enciclopédia livre.

Samba Xote
O samba é um gênero musical, que deriva de um tipo Xote é um ritmo musical binário ou quaternário e uma
de dança, de raízes africanas, surgido no Brasil e considerado dança de salão de origem centro-europeia. É um ritmo-dança
uma das principais manifestações culturais populares brasileiras. muito executado no forró. De origem alemã, a palavra “xote”
Dentre suas características originais, possui dança acompanhada é corruptela de schottisch, uma palavra alemã que signifi ca
por pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima, “escocesa”, em referência à polca escocesa, tal como conhecida
alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano. pelos alemães. Conhecido atualmente em Portugal como

32 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
“chotiça”, o Schottisch foi levado para o Brasil por José Maria A partir de meados do século XIX, o chorinho surge. Ele
Toussaint, em 1851 e tornou-se apreciado como dança da elite é fruto da mistura do lundu, da modinha e da dança de salão
no período do Segundo Reinado. Daí, quando os escravos negros europeia. Chiquinha Gonzaga, que exerceu importante papel na
aprenderam alguns passos da dança e acrescentaram sua maneira defesa dos direitos dos artistas, compõe Abre Alas (1899), que é
peculiar de bailado, o Schottisch caiu no gosto popular com o uma das marchinhas carnavalescas mais conhecidas da história da
nome de “xótis” ou simplesmente “xote”. música popular brasileira.
É no início do século XX que o samba começa a ganhar
Salsa corpo. De origem baiana, é nos morros e nos cortiços do Rio de
Janeiro que o samba se mistura com o batuque, com o pagode, com
A salsa é uma amálgama de estilos musicais latino-
as batidas dos orixás e com as rodas de capoeira. Em decorrência
-americanos, especialmente cubanos e porto-riquenhos, criada
disso, o carnaval, maior festa popular do mundo, toma forma,
por imigrantes caribenhos na cidade de Nova Iorque no início da
devido à participação de ex-escravos e mulatos. Didaticamente,
década de 1970.
tem-se o ano de 1917 como marco inicial do samba, pois Ernesto
dos Santos (o Donga) compõe o primeiro samba de que se tem
Tango notícia daquela época, chamado “Pelo Telefone”.
O tango é um tipo musical e uma dança a par. Tem forma Ainda nesse período, Pixinguinha, cantor e compositor da
musical binária e compasso de dois por quatro. A coreografia é MPB, grava sua primeira canção. Paralelamente, a música erudita
complexa e as habilidades dos bailarinos são celebradas pelos brasileira tem Heitor Villa-Lobos como seu principal representante.
aficionados. Segundo Discépolo, “o tango é um pensamento triste Nos anos 1920 e 1930, o rádio se populariza e, com ele,
que se pode dançar”. cresce a música popular brasileira. Naquela época, cantores e
compositores, como Ary Barroso, Lamartino Babo, Dorival Caymmi,
Valsa Lupicínio Rodrigues e Noel Rosa, se destacam. É o período também
dos grandes intérpretes da música brasileira, como, por exemplo,
Valsa é um gênero musical de compasso ternário, ou
Carmem Miranda, Mário Reis e Francisco Alves.
então binário composto (embora muitas vezes, para facilitar a
Na década de 1940, vem do Nordeste a inovação, pois Luís
leitura, seja escrita em compasso ternário). As valsas foram muito
Gonzaga, considerado “O Rei do Baião”, começa a despontar na
tocadas nos salões vienenses e muito dançadas pela elite da época.
história da música popular brasileira. “Asa Branca”, de sua autoria,
A valsa surgiu na Áustria e na Alemanha.
é uma das canções mais interpretadas da história de nossa música.
Jackson do Pandeiro também apresenta inovações.
Rock and Roll Em sequência, tem-se o samba-canção, a exemplo de
O rock and roll, conhecido também como rock’n’roll, é Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. Nesse estilo, o amor era um tema
um estilo musical que surgiu nos Estados Unidos no final dos recorrente. Nomes como Dolores Duran, Antônio Maria, Marlene,
anos 1940 e início dos anos 1950, com raízes nos estilos musicais Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Cauby Peixoto
afro-americanos, tais como: country, blues, R&B e gospel. despontam nessa época.
Rapidamente se espalhou para o resto do mundo. A Bossa Nova aparece no fim da década de 1950. Trata-se de
O instrumento mais comum neste estilo é a guitarra, sempre um estilo suave, sofisticado, melódico. Nomes como Elizeth Cardoso,
presente nas bandas, podendo possuir um único instrumentista, Tom Jobim e João Gilberto merecem elogios. É com a Bossa Nova
ou dois com funções diferenciadas (guitarrista base e solo). que as belezas do país ganham o mundo, pois o estilo faz muito
Normalmente, as bandas, além do instrumento predominante, sucesso no exterior, especialmente nos Estados Unidos da América.
a guitarra, são formadas por um contrabaixo (após 1950, um baixo Em meados dos anos 1960, a televisão começa a se
elétrico) e uma bateria. Nos primórdios do rock and roll, também se popularizar, o que também influencia a música. É nesse período,
utilizava o piano ou o saxofone frequentemente como instrumentos por exemplo, que a TV Record organiza festivais de música popular
bases, mas estes foram substituídos ou suplantados geralmente pela brasileira. Deles surgem nomes como Milton Nascimento, Elis
guitarra a partir da metade dos anos 1950. A enorme popularidade e Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Edu Lobo e
eventual visão no mundo inteiro do rock and roll deu-lhe um impacto tantos outros. Há também nessa época um programa especial para
social único. Muito além de ser simplesmente um gênero musical, promover a Jovem Guarda, que tinha, como representantes, Roberto
como visto nos filmes e na televisão, influenciou estilos de vida, moda, Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.
atitudes e linguagem. Nos anos 1970, inúmeros artistas começam a fazer sucesso
Wikipédia, a enciclopédia livre. pelo Brasil. Nara Leão homenageia Cartola e Nelson do Cavaquinho.
É também o momento das vozes marcantes de Maria Bethânia e Gal
Entenda um pouco sobre a Costa. Há também Djavan, Fafá de Belém, Clara Nunes, Belchior,
Fagner, Alceu Valença, Elba Ramalho, Raul Seixas, Rita Lee, Tim
história de nossa música Maia e Jorge Ben Jor.
Tendo surgido ainda no Período Colonial, a Música Popular De influências externas, o rock, o punk e o new wave
Brasileira é fruto da mistura de vários ritmos. Ela veio das canções despontam nos anos 1980 e 1990. O Rock in Rio, nos anos 1980,
populares, dos ritmos africanos, das fanfarras militares e das músicas é um marco da história do rock brasileiro. Naquela época, surgem
religiosas e eruditas da Europa. Não podemos esquecer os ritmos grupos como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Titãs, Kid
indígenas, que também foram importantes no processo de formação Abelha, RPM, Plebe Rude, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Engenheiros
da música brasileira. do Hawaii, Ira!, Barão Vermelho... Vozes marcantes despontam
Já, nos séculos XVIII e XIX, o lundu e a modinha assumiram naquela época, tais como: Cazuza, Rita Lee, Lulu Santos, Marina
papéis fundamentais na história de nossa música, pois eram os Lima, Cássia Eller e Raul Seixas. Nos anos de 1990, tem-se o
ritmos das cidades que cresciam. Veja que, naquela época, África e crescimento do estilo sertanejo, agora de batida romântica. Nomes
Europa dão o tom, pois o lundu é de origem africana, e a modinha, como Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro
portuguesa. O primeiro ritmo era sensual, dançante; o segundo, e Leonardo e João Paulo e Daniel. No rap, destacam-se Gabriel,
melódico, calmo, erudito e costumava falar de amor. o Pensador, O Rappa, Planet Hemp, Racionais MCs e Pavilhão 9.

Anual – Volume 3 33
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
O início do século XXI se volta para um público jovem, Os veículos de comunicação
com destaque para Charlie Brown Jr, Skank, Detonautas e
CPM 22. Sem dúvida, a música brasileira já nos deixou grande
legado, mas ainda tem muito o que nos dar. O rádio

Birgit Reitz-Hofmann/123RF/Easypix
A música popular brasileira – Anos 1930

A expansão do rádio também é responsável pelo impulso


da publicidade comercial nos anos de 1930. Com isso, as
programações se profissionalizaram, e as lideranças daquela
época passaram a ocupar grandes espaços de tempo no rádio,
a fim de expor seus pensamentos. O rádio foi usado por Hitler,
por Stálin, por Roosevelt e por Getúlio Vargas, com fins políticos.
A BBC, principal serviço radiofônico do planeta, surgiria em 1938.
No início, o rádio buscou a alta cultura, pois transmitia música
Por volta dos anos 1930, a música passa a ser um fenômeno erudita, leitura de peças teatrais, noticiários, mas, com o tempo,
e ganha proporções continentais, sobretudo nos Estados Unidos. tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, voltou-se para as massas
É o período em que se ouvem bastantes programas de rádio, o que populares, oferecendo-lhe o que ela queria ouvir. Daí se entende
contribuiu para o surgimento de novos compositores, de novos o custo dos anúncios, pois quanto maior a audiência mais caro
cantores e de mitos da comunicação. fica para o anunciante. Diante disso, o importante era agradar o
Naquela época, o estilo era o swing, próprio para dançar, consumidor. Até a Rádio Nacional disputava o mercado consumidor.
e logo foi defendido pela mídia, já que a população vivia as Embora nomes inesquecíveis da música popular brasileira
consequências da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e já tenham surgido, como os compositores Lamartine Babo e Ary
precisava se divertir. As condições técnicas já haviam melhorado Barroso e os cantores Orlando Silva, Francisco Alves, Sílvio Caldas,
bastante, o que facilitou a expansão da música pelo rádio. No Brasil, Araci de Almeida e Dalva de Oliveira, a nossa Era de ouro do rádio
o samba começa a se destacar e despontam nomes como Noel Rosa, ocorre nas décadas posteriores de 1940 e 1950.
Ary Barroso, Cartola, Wilson Batista, entre outros. “Pelo Telefone”, As vozes das irmãs Aurora e Carmem Miranda notabilizaram
gravado e interpretado por Donga, em 1917, é um marco na história essa época ao cantar, de João de Barro, a canção: “Nós somos as
do samba. O samba se torna um ritmo cultuado por muitos, não cantoras do rádio / Levamos a vida a cantar. / De noite embalamos
somente por negros, como outrora fora. Nos anos de 1920, ele passa teu sono, / De manhã nós vamos te acordar. Nós somos as cantoras
a fazer parte do carnaval. Com a expansão do rádio e do cinema, do rádio. / Nossas canções, cruzando o espaço azul, / Vão reunindo,
nos anos de 1930, esse estilo musical se espalha e ganha adeptos num grande abraço,/ Corações de Norte a Sul.”
em todo o país. É talvez a melhor safra de sambistas de todos os
tempos no Brasil. De sofisticada veia lírica, Noel Rosa consolida o O cinema
samba brasileiro, explorando o espírito carioca e o registro cronístico
Sabri Deniz KIZIL/123RF/Easypix
em suas canções, que, por sinal, são mais de duzentas.

A cultura de massa
na década de 1930
De meados dos anos 1920 e, sobretudo, a partir dos anos
1930, uma série de manifestações culturais desponta, decorrentes
dos avanços midiáticos. A chamada indústria do lazer chegara ao
Brasil, pois o rádio, o cinema e a música popular brasileira
avançavam a saltos largos. Estamos então na chamada Era da
cultura de massas. Era, sem dúvida, algo novo, pois a possibilidade
de atingir um maior número de pessoas de forma simultânea começa
a se tornar real e acaba agradando as massas.
Foi a escola de Frankfurt que nominalizou o novo momento,
chamando-o de período da Indústria Cultural, que é a forma como
as lideranças capitalistas passaria a manipular as massas. É por isso
que a comunicação de massa toma fôlego, pois o capitalismo a usava
para anular a capacidade crítica do homem, o que formaria uma
sociedade homogênea, fácil de consumir tudo que fosse produzido
em larga escala industrial.

34 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
É também na década de1930 que o cinema falado substitui O samba como conhecemos hoje tem marco didático com
o cinema mudo. Isso ocorreu ainda em 1927 quando do sucesso a gravação da canção “Pelo Telefone”, de Donga. Ernesto Joaquim
de The jazz singer, com Al Jonhson. Mais uma vez, Estados Unidos Maria dos Santos, ainda criança, frequentava rodas de samba e
e Alemanha põem-se à frente da produção cinematográfica, candomblé, o que contribuiu para que ele desenvolvesse esse
já que possuíam as patentes para a sonorização do cinema. gênero musical. Donga, por conviver com escravos e negros baianos,
Filmes como O anjo azul (1930), de Josef von Sternberg, aprendeu o jongo, o afoxé e outras danças. Tocou cavaquinho e
e O testemunho do doutor Mabuse (1932), de Fritz Lang, puseram a violão.
Alemanha em destaque. Porém, com a vitória de Hitler, os cineastas Conviveu com João da Baiana e com Pixinguinha. Em 1917,
alemães mudaram para os Estados Unidos. Então, Hollywood toma
gravou o primeiro disco de samba que se tem notícia, “Pelo telefone”.
fôlego e a “sétima arte” depende, sobretudo, da produção americana.
O registro está no nome de Donga e Mauro de Almeida, embora se
A partir daí, surgem musicais, filmes de ação, filmes de aventura,
fale que Mauro participa apenas do registro escrito. Integrou o grupo
filmes de terror, comédias e produções infantis para o deleite da
plateia, que era composta de espectadores de todo o mundo. Os Oito Batutas ao lado de Pixinguinha e outros músicos da época.
John Ford, cineasta de No caminho das diligências (1939), Esse grupo excursiona pela Europa em 1922. Da França, Donga traz
é responsável pela notável expansão do western, gênero criado o violão-banjo. Em 1928, forma a Orquestra Típica Pixinguinha-
para poetizar a dramática vida da nação. Esse estilo de filme tinha Donga, que, nos anos 1920 e 1930, faz algumas gravações.
plateia certa em todo o mundo. Os heróis de John Ford não tinham Em 1940, Donga grava sambas, toadas, macumbas e lundus.
verossimilhança histórica, na verdade, eles eram sequestradores Naquela época, o norte-americano Leopold Stokoeski e o brasileiro
e assassinos, mas as imagens minimizavam essas características Heitor Villa-Lobos organizam essas gravações para o disco Native
desses protagonistas e impulsionavam o cinema americano. Brazilian Music, lançado nos Estados Unidos pela Columbia.
A partir daquela época, o cinema ganha adeptos em todo o mundo. Na década de 1950, retorna ao grupo Velha Guarda.
Aqui, no Brasil, Coisas nossas (1932) é a primeira película Deixa-nos inúmeras canções, tais como: Passarinho Bateu Asas,
sonorizada. Continha samba-título de Noel Rosa, sambista carioca. Bambo-Bamba, Cantiga de Festa, Macumba de Oxóssi, Macumba
Em 1935, foi a vez de Bonequinha de seda, de Oduvaldo Viana. de Iansã, Seu Mané Luís e Ranchinho Desfeito.
Esse filme bateu recordes de bilheteria. Em seguida, se produz Aposentado como oficial de Justiça, doente e quase cego,
Alô, alô, Carnaval (1936), de Adhemar Gonzaga, com Aurora e Donga passa a viver na Casa dos Artistas, de onde só sairia para
Carmem Miranda. ser sepultado no Cemitério de São João Batista.
A Cinédia, primeiro estúdio industrial no Brasil, é
responsável pela realização da maior parte desses filmes. Eram obras
tecnicamente precárias, de histórias ingênuas. Noel Rosa
Nos anos de 1940 e 1950, as chanchadas, que eram

Reprodução/Abril Cultural
comédias musicais com visão malandra, se destacam. Em seguida,
o cinema americano ocupa o espaço e domina o mercado brasileiro,
como o faz até hoje.

A música popular
A Música Popular Brasileira também foi (e continua sendo)
importante veículo na divulgação de ideias, de costumes, de
tendências. Nas décadas de 1920 e 1930, esse estilo se consolida,
e isso só foi possível graças a fatores tecnológicos e comerciais,
pois as inovações fonográficas permitiam ao artista atingir o maior
público possível e a propaganda permitia a fomentação de nomes
fundamentais para o rádio e, consequentemente, para a música
brasileira.
Alguns nomes representativos:
Noel de Medeiros Rosa (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de
Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos) 1910 – Rio de Janeiro, 4 de maio de 1937) foi um sambista, cantor,
compositor, bandolinista, violonista brasileiro e um dos maiores e
Reprodução/Discos Marcus Pereira

mais importantes artistas da música no Brasil. Teve contribuição


fundamental na legitimação do samba de morro no “asfalto”, ou
seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação
em sua época. Isso foi um fato de grande importância, não só o
samba, mas também para a história da música popular brasileira.
Nascido de parto difícil, já que o uso do fórceps causou-
lhe afundamento da mandíbula, que o marcou por toda a vida.
Criado em Vila Isabel, Noel era filho de classe média e estudou no
Colégio São Bento. Na adolescência, aprendeu a tocar bandolim, o
que o fez tomar gosto pela música. Depois, veio o violão, e logo se
tornou conhecido na boemia carioca. Estudou Medicina, mas logo
abandona, pois o samba lhe parece mais atraente do que o ofício
de médico. Foi também integrante de vários grupos musicais, como
o Bando de Tangarás, de que também participam João de Barro
(o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito.

Anual – Volume 3 35
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Embora já tenha arriscado algumas composições, foi com • Leia e escute as canções Três Apitos e Fita Amarela de Noel
o samba Com que roupa? que Noel despontou para o sucesso na Rosa.
música. Trata-se de um samba que ainda hoje faz muito sucesso
ao ser tocado e cantado. TRÊS APITOS
Dentre os diversos aspectos que trazem suas canções,
destaca-se a veia cronística de Noel Rosa, pois soube retratar muito Quando o apito da fábrica de tecidos
bem o mundo que o cercava, já que falou da expansão feminina, Vem ferir os meus ouvidos
do malandro carioca, da filosofia, da desonestidade, do amor, das Eu me lembro de você
histórias do samba etc. Era um excelente letrista. Vários intérpretes Mas você anda
cantavam seus sambas: Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Sem dúvida bem zangada
Almeida. Ou está interessada
Era um boêmio namorador. Casa-se com Lindaura, mas Em fingir que não me vê
era mesmo apaixonado pela dama de cabaré Ceci. Sofreu com a
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
tuberculose e, em decorrência dela, falece aos 26 anos de idade.
Porque não atende ao grito
O país perdera um gênio da música, que deixou um grande legado,
Tão aflito
que até hoje, quando cantado, resulta em muito sucesso.
Da buzina do meu carro
Conheça agora algumas canções de Noel Rosa: Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
• A.E.I.O.U. (com Lamartine Babo), 1931
Não faz fé no agasalho
• Até amanhã, 1932
Nem no frio você crê
• Cem mil reis (com Vadico), 1936
Mas você é mesmo artigo que não se imita
• Com que roupa?, 1929
Quando a fábrica apita
• Conversa de botequim (com Vadico), 1935
Faz reclame de você
• Coração, 1932
Nos meus olhos você lê
• Cor de cinza, 1933
Que eu sofro cruelmente
• Dama do cabaré, 1934 Com ciúmes do gerente
• De babado (com João Mina), 1936 Impertinente
• É bom parar (com Rubens Soares), 1936 Que dá ordens a você
• Feitio de oração (com Vadico), 1933 Sou do sereno poeta muito soturno
• Para me livrar do mal (com Ismael Silva), 1932 Vou virar guarda-noturno
• Pastorinhas (com João de Barro), 1934 E você sabe porque
• Pela décima vez, 1935 Mas você não sabe
• Pierrô apaixonado (com Heitor dos Prazeres), 1935 Que enquanto você faz pano
• Positivismo (com Orestes Barbosa), 1933 Faço junto ao piano
• Pra me mentir (com Vadico), 1936 Estes versos pra você
• Provei (com Vadico), 1936 Noel Rosa
• Quando o samba acabou, 1933
• Filosofia (com André Filho), 1936 FITA AMARELA
• Fita amarela, 1932
• Gago apaixonado, 1930 Quero que o sol
• João Ninguém, 1935 Não invada o meu caixão
• Minha viola, 1929 Para a minha pobre alma
• Mulher indigesta Não morrer de insolação
• Não tem tradução, 1933 Quando eu morrer,
• O orvalho vem caindo (com Kid Pepe), 1934 Não quero choro nem vela,
• O X do problema, 1936 Quero uma fita amarela
• Palpite Infeliz, 1935 Gravada com o nome dela.
• Quem dá mais?, 1930 Se existe alma
• Quem ri melhor?, 1936 Se há outra encarnação
• São coisas nossas, 1936 Eu queria que a mulata
• Tarzan, o filho do alfaiate, 1936 Sapateasse no meu caixão
• Três apitos, 1933 Não quero flores
Nem coroa com espinho
• Último desejo, 1937
Só quero choro de flauta
• Você por exemplo, 1937
Violão e cavaquinho
• Você só… mente (com Hélio Rosa), 1933
Estou contente,
Wikipédia, a enciclopédia livre. Consolado por saber

36 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Que as morenas tão formosas Dorival Caymmi
A terra um dia vai comer.

Domínio Público
Não tenho herdeiros
Não possuo um só vintém
Eu vivi devendo a todos
Mas não paguei a ninguém
Meus inimigos
Que hoje falam mal de mim,
Vão dizer que nunca viram
Uma pessoa tão boa assim.
Noel Rosa

Ary Barroso
Caymmi na Rádio Nacional, em 1938.

Reprodução/Abril Cultural
Dorival Caymmi nasceu em Salvador (30 de abril de 1914)
e morreu no Rio de Janeiro (16 de agosto de 2008). Foi cantor,
compositor, violinista, pintor e ator brasileiro. Compôs inspirado
pelos hábitos, costumes e as tradições do povo baiano. Tendo como
forte influência a música negra, desenvolveu um estilo pessoal
de compor e cantar, demonstrando espontaneidade nos versos,
sensualidade e riqueza melódica. Poeta popular, compôs obras
como Saudade da Bahia, Samba da minha Terra, Doralice, Marina,
Modinha para Gabriela, Maracangalha, Saudade de Itapuã, O Dengo
que a Nega Tem, Rosa Morena.

Domínio Público
Ary Barroso fica órfão de pai e mãe aos sete anos de idade.
Foi adotado pela avó materna. Era de família de classe média.
Estudou teoria, solfejo e piano com a tia Ritinha. Trabalhou
como caixeiro da loja “A Brasileira”. Recebe herança de
40 contos (equivale a milhões de reais) do tio Sabino Barroso,
ex-Ministro da Fazenda. Estudou Direito. A Faculdade foi
importante na consolidação da veia artística, desportiva e política.
Dorival Caymmi, 1956. Arquivo Nacional.
Adepto da boemia, o que o leva a ser reprovado na Faculdade
de Direito. Emprega-se como pianista no Cinema Íris, no Largo
Foi apresentado ao diretor da Rádio Tupi, e, em 24 de junho
da Carioca e, depois, na sala de espero do Teatro Carlos Gomes. de 1938, estreou na rádio cantando duas composições, embora ainda
Retoma os estudos de Direito em 1926. Depois de algum tempo, sem contrato. Saiu-se bem como calouro e iniciou a cantar dois dias
resolve dedicar-se à composição. Compõe Amor de mulato, por semana, além de participar do programa Dragão da Rua Larga.
Cachorro quente e Oh! Nina, em parceria com Lamartine Babo. Neste programa, interpretou O que é que a Baiana Tem?, composta
Mário Reis, seu incentivador, grava Vou à Penha e Vamos deixar de em 1938. Com a canção, fez com que Carmem Miranda tivesse
intimidades, sendo esta seu primeiro grande sucesso. uma carreira no exterior, a partir do filme Banana da Terra, de 1938.
Nos anos de 1930, compõe para o teatro musicado do Sua obra invoca principalmente a tragédia de negros e pescadores
Rio de Janeiro. A canção Aquarela do Brasil, seu maior sucesso, da Bahia: O Mar, História de Pescadores É Doce Morrer no Mar,
foi regravada diversas vezes no Brasil e no exterior. Por fazer a A Jangada Voltou Só, Canoeiro, Pescaria, entre outras. Filho de
trilha sonora do filme Você já foi à Bahia? (1944), de Walt Disney, santo de Mãe Menininha do Gantois, para quem escreveu em
recebeu diploma da Academia de Ciências e Arte Cinematográfica 1972 a canção em sua homenagem: “Oração de Mãe Menininha”,
gravado por grandes nomes como Gal Costa e Maria Bethânia.
de Hollywood.
O primeiro grande sucesso O que é que a baiana tem?, cantado por
Nos anos de 1940, mantém o programa A hora do calouro,
Carmem Miranda, em 1939, não só marca o começo da carreira
na Rádio Cruzeiro do Sul, o qual incentivou vários novos talentos internacional da Pequena Notável vestida de baiana, como também
musicais. Foi também locutor esportivo. Compôs canções de vários influenciou a música popular dentro do Brasil, pois tornou-se
estilos: choro, xote, marcha, foxtrote e samba. São canções de conhecida a ponto de ser imitada e parodiada, como no choro
Ary Barroso O Tabuleiro da baiana (1937), Os Quindins de Yayá “O que é que a baiana tem?”, de Pedro Caetano e Joel de Almeida,
(1941) e Boneca de piche. Foi o compositor dos grandes sucessos ou na canção “A baiana diz que tem”, de Felipe Colognezi.
de Carmem Miranda. Ao compor Aquarela do Brasil, inaugura o Apesar das produções anteriores, as composições de Caymmi são
estilo samba-exaltação. as mais lembradas sobre a cultura baiana.

Anual – Volume 3 37
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Noel Rosa foi sambista, cantor, compositor e um dos mais
importantes artistas da música no Brasil. Ele teve papel
Exercícios de Fixação fundamental na legitimação do samba de morro e de “asfalto”.
Morto prematuramente, Noel Rosa deixou um conjunto de
01. (Enem – 2ª aplicação/2016) canções que se tornaram clássicas dentro do cancioneiro
popular brasileiro. Na letra da canção Pierrot Apaixonado, por
exemplo, o autor tematiza o(a)
AQUARELA DO BRASIL A) desilusão amorosa.
B) Comédia Dell’Arte italiana.
Brasil! C) marcha carnavalesca.
Meu Brasil brasileiro D) botequim carioca.
Meu mulato inzoneiro E) samba de morro e asfalto.
Vou cantar-te nos meus versos

O Brasil, samba que dá 03. (Enem/2019)


Bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor Irerê, meu passarinho do sertão do Cariri,
Terra de Nosso Senhor Irerê, meu companheiro,
Brasil! Pra mim! Pra mim, pra mim! Cadê viola? Cadê meu bem? Cadê Maria?
Ai triste sorte a do violento cantadô!
Ah! Abre a cortina do passado Ah! Sem a viola que eu cantava o seu amô,
Tira a mãe preta do Cerrado Ah! Seu assobio é tua flauta de Irerê:
Bota o rei congo no congado Que tua flauta do sertão quando assobia,
Brasil! Pra mim! Ah! A gente sofre sem querê!
Ah! Teu canto chega lá no fundo do sertão,
Deixa cantar de novo o trovador Ah! Como uma brisa amolecendo o coração,
A merencória luz da lua Ah! Ah!
Toda canção do meu amor Irerê, solta teu canto!
Quero ver a sá dona caminhando Canta mais! Canta mais!
Pelos salões arrastando Prá alembrá o Cariri!
O seu vestido rendado
VILLA-LOBOS, H. Bachianas Brasileira n. 5 para soprano e oito
Brasil! Pra mim, pra mim, pra mim! violoncelos (1938-1945). Disponível em: <htp://euterpe.blog.br>.
Acesso em: 23 abr. 2019.
ARY BARROSO. Aquarela do Brasil, 1939. Fragmento.
Nesses versos, há uma exaltação ao sertão do Cariri em uma
Muito usual no Estado Novo de Vargas, a composição de Ary ambientação linguisticamente apoiada no(a)
Barroso é um exemplo típico de A) uso recorrente de pronomes.
A) música de sátira. B) variedade popular da língua portuguesa.
B) samba exaltação. C) referência ao conjunto da fauna nordestina.
D) exploração de instrumentos musicais eruditos.
C) hino revolucionário.
E) predomínio de regionalismos lexicais nordestinos.
D) propaganda eleitoral.
E) marchinha de protesto.
04. (Enem)
02. Leia. Texto I
PIERROT APAIXONADO ONDE ESTÁ A HONESTIDADE?

Um pierrô apaixonado Você tem palacete reluzente


Que vivia só cantando Tem joias e criados à vontade
Por causa de uma colombina Sem ter nenhuma herança ou parente
Acabou chorando, acabou chorando Só anda de automóvel na cidade...

A colombina entrou num butiquim E o povo pergunta com maldade:


Bebeu, bebeu, saiu assim, assim Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?
Dizendo: pierrô cacete
O seu dinheiro nasce de repente
Vai tomar sorvete com o arlequim
E embora não se saiba se é verdade
Um grande amor tem sempre um triste fim Você acha nas ruas diariamente
Com o pierrô aconteceu assim Anéis, dinheiro e felicidade...
Levando esse grande chute Vassoura dos salões da sociedade
Foi tomar vermute com amendoim Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
ROSA, Noel.
Disponível em: <https://www.letras.mus.br/noel-rosa-musicas/125758/>. Em nome de qualquer defunto ausente...
Acesso em: 3 maio 2019. Noel Rosa.

38 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
Texto II

Um vulto da história da música popular brasileira, Exercícios Propostos


reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910,
no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, teria completado 01. (Enem)
100 anos em 2010. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima SEM FLECHA, NA RIMA
de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o O grupo de rap Brô MCs, criado no final de 2009,
patrimônio cultural brasileiro. Muitas de suas letras representam é formado pelos pares de irmãos (daí o “bro”, de brother)
a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas Bruno/Clemerson e Kelvin/Charles, jovens que cresceram
ouvindo hip hop nas rádios da aldeia Jaguapiru Bororo, em
no século XXI. Dourados, Mato Grosso do Sul.
— Desde o começo a gente não queria impor uma
Disponível em: <http://www.mpbnet.com.br>. cultura estranha que invadisse a cultura indígena – afirma o
Acesso em: abr. 2010.
produtor, chamando a atenção para o grande destaque do
Brô MCs: as letras em língua indígena. Expressar-se em língua
Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro originária e fazer com que os jovens indígenas percebam a
é atualizável, na medida em que ele se refere a valores e vitalidade do idioma nativo é uma das motivações do grupo.
situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a A dificuldade maior vem dos críticos, que não aceitam o
fato de que a cultura indígena é dinâmica e sempre incorpora
honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por meio novidades.
A) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa — “Mas índio cantando rap?”, tem gente que
de alguns. questiona. O rap é de quem canta, é de quem gosta, não é só
B) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança. dos americanos – avalia Dani [o vocal feminino].
C) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade. BONFIM, E. Revista Língua Portuguesa, n. 81, jul. 2012. Adaptado.
D) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade.
E) da insistência em promover eventos beneficentes. Considerando-se as opiniões apresentadas no texto, a
indagação “Mas índio cantando rap?” traduz um ponto de
05. Leia. vista que evidencia
A) desqualificação dos indígenas como músicos, desmerecendo
FEITIÇO DA VILA
sua capacidade musical devido a sua cultura.
B) desvalorização da cultura rap em contrapartida às tradições
Quem nasce lá na Vila musicais indígenas, motivo pelo qual os índios não devem
Nem sequer vacila cantar rap.
Ao abraçar o samba C) preconceito por parte de quem não concebe que os índios possam
Que faz dançar os galhos conhecer o rap e, menos ainda, cantar esse gênero musical.
Do arvoredo e faz a Lua D) equívoco por desconsiderar as origens culturais do gênero
Nascer mais cedo musical, ligadas ao contexto urbano.
E) entendimento do rap como um gênero ultrapassado em
Lá, em Vila Isabel relação à linguagem musical dos indígenas.
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba 02. Leia.
São Paulo dá café FILOSOFIA
Minas dá leite
O mundo me condena, e ninguém tem pena
E a Vila Isabel dá samba [...]
Falando sempre mal do meu nome
ROSA, Noel. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/>. Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Acesso em: 17 out. 2019. Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
Na letra da canção Feitiço da Vila, de Noel Rosa, os versos Ao A viver indiferente assim
abraçar o samba/ Que faz dançar os galhos / Do arvoredo e Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
faz a Lua / Nascer mais cedo apresentam o recurso expressivo
que se pode identificar como Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
A) hipérbole, uma vez que constitui exagero afirmar que o
Que a sociedade é minha inimiga
samba tem o poder de fazer ser inanimado dançar.
B) metáfora, porque a Lua constitui uma alegoria da negra Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba,
sambista em território carioca.
Muito embora vagabundo
C) antítese, que pode ser identificada na oposição que há entre Quanto a você da aristocracia
os termos “o samba” e “a Lua”. Que tem dinheiro, mas não compra alegria
D) metonímia, já que sugere que a expressão “Do arvoredo” Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
é uma parte de uma floresta. Que cultiva hipocrisia
E) sinestesia, que pode ser representada pela relação sensorial ROSA, Noel. Filosofia. Disponível em: <https://www.ouvirmusica.com.br/
entre “galhos” e “Lua”. noel-rosa-musicas/78664/>. Acesso em: 18 jul. 2017.

Anual – Volume 3 39
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Na década de 1930, Noel Rosa desponta como sendo um dos Porque não tens pudor
maiores sambistas brasileiros. Suas letras exploram o universo Faço tudo para evitar o mal
carioca, tematizando o dia a dia e estabelecem reflexão como Sou pelo mal perseguido
a que ocorre na letra de Filosofia. Segundo o autor, o eu lírico Só o que faltava era esta
que fala na canção opta por uma filosofia de vida, a qual Fui trair meu grande amigo
A) renega o statu quo em defesa de uma satisfação pessoal. mas vou limpar a mente
B) rejeita o samba e exalta uma vida sem ostentação social. Sei que errei
C) inspira uma vida simples em detrimento de satisfação Errei inocente
pessoal.
D) busca na alta sociedade explicação para a composição de Disponível em: <https://www.letras.mus.br>.
Acesso em: 25 set. 2018.
sambas.
E) revela uma sociedade hipócrita ao ostentar momentos de
As marcas linguísticas disseminadas pelo texto permitem
alegria.
identificar o seu locutor, ou o falante desse amor proibido.
Assinale a opção em que essas marcas linguísticas asseguram
03. (Enem) o gênero do locutor.
A) Trata-se de uma figura feminina, como pode ser comprovado
AQUI É O PAÍS DO FUTEBOL no verso “fui presa”.
Brasil está vazio na tarde de domingo, né? B) Trata-se de uma figura masculina, como atesta o verso “Sou
Olha o sambão, aqui é o país do futebol pelo mal perseguido”.
[...] C) Trata-se de uma figura feminina, devido ao adjetivo certa
em “mas fique certa...”.
No fundo desse país
D) Trata-se de uma figura masculina, como autoriza o verso
Ao longo das avenidas “Errei inocente”.
Nos campos de terra e grama E) Trata-se de uma figura feminina, identificada nos versos
Brasil só é futebol “Servi de pasto”.
Nesses noventa minutos
De emoção e alegria 05. (Enem)
Esqueço a casa e o trabalho
A vida fica lá fora PARA O MANO CAETANO
Dinheiro fica lá fora
A cama fica lá fora O que fazer do ouro de tolo
A mesa fica lá fora Quando um doce bardo brada a toda brida,
Salário fica lá fora Em velas pandas, suas esquisitas rimas?
A fome fica lá fora
Geografia de verdades, Guanabaras postiças
A comida fica lá fora
A vida fica lá fora 5 Saudades banguelas, tropicais preguiças?
E tudo fica lá fora
A boca cheia de dentes
SIMONAL, W. Aqui é o país do futebol. De um implacável sorriso
Disponível em: <http://www.vagalume.com.br>
Acesso em: 27 out. 2011. Fragmento.
Morre a cada instante
Que devora a voz do morto, e com isso,
Na letra da canção “Aqui é o país do futebol”, de Wilson 10 Ressuscita vampira, sem o menor aviso
Simonal, o futebol, como elemento da cultura corporal de
[…]
movimento e expressão da tradição nacional, é apresentado
de forma crítica e emancipada devido ao fato de E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo
A) reforçar a relação entre o esporte futebol e o samba. Tipo pra rimar com ouro de tolo?
B) ser apresentado como uma atividade de lazer. Oh, Narciso Peixe Ornamental!
C) ser identificado com a alegria da população brasileira. 15 Tease me. tease me outra vez1
D) promover a reflexão sobre a alienação provocada pelo futebol. Ou em banto baiano
E) ser associado ao desenvolvimento do país. Ou em português de Portugal
Se quiser, até mesmo em americano
04. (Unifor/2019.1) De Natal
AMOR PROIBIDO […]
1
Tease me (caçoe de mim, importune-me).
Sabes que vou partir LOBÃO. Disponível em: <http://vagatume.uol com.br>.
Com os olhos rasos d’água Acesso em: 14 ago. 2009. Adaptado.
E o coração ferido
Quando lembrar de ti Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários
Me lembrarei também recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos
Deste amor proibido ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do
Fácil demais idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem:
Fui presa A) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)
Servi de pasto B) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)
Em tua mesa C) “Que devora a voz do morto” (v. 9)
Mas fique certa que jamais D) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 12-13)
Terás o meu amor E) “Tease me, tease me outra vez” (v. 15)

40 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
06. (Enem) Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
ARGUMENTO
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar
Tá legal
Eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim Eu já corri de vento em popa
Olha que a rapaziada está sentindo a falta Mas agora com que roupa?
De um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Sem preconceito Com que roupa que eu vou
Ou mania de passado
Pro samba que você me convidou?
Sem querer ficar do lado
(...)
De quem não quer navegar
Faça como o velho marinheiro
ROSA, Noel. Com que roupa? (1930)
Que durante o nevoeiro Disponível em: <https://www.letras.mus.br>.
Leva o barco devagar. Acesso em: 17 abr. 2018
PAULINHO DA VIOLA.
Disponível em: <www.paulinhcxJaviola.com.br>. Lançada em 1930, é possível perceber, na composição, o
Acesso em: 6 dez. 2012. registro de variedade linguística de tempo, presentes nos versos
abaixo, exceto em:
Na letra da canção, percebe-se uma interlocução. A posição A) Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
do emissor é conciliatória entre as tradições do samba e os B) Pois esta vida não está sopa
movimentos inovadores desse ritmo. A estratégia argumentativa C) Agora eu não ando mais fagueiro
de concessão, nesse cenário, é marcada no trecho: D) Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
A) “Mas não me altere o samba tanto assim”. E) Eu já corri de vento em popa
B) “Olha que a rapaziada está sentindo a falta”.
C) “Sem preconceito / Ou mania de passado”. 09. (Enem)
D) “Sem querer ficar do lado / De quem não quer navegar”.
NÃO TEM TRADUÇÃO
E) “Leva o barco devagar”.

07. (Enem/2014) […]


Lá no morro, se eu fizer uma falseta
Por onde houve colonização portuguesa, a música A Risoleta desiste logo do francês e do inglês
popular se desenvolveu basicamente com o mesmo instrumental. A gíria que o nosso morro criou
Podemos ver cavaquinho e violão atuarem juntos aqui, em Bem cedo a cidade aceitou e usou
Cabo Verde, em Jacarta, na Indonésia, ou em Goa. O caráter […]
nostálgico, sentimental, é outro ponto comum da música das Essa gente hoje em dia que tem mania de exibição
colônias portuguesas em todo o mundo. O kronjong, a música Não entende que o samba não tem tradução no idioma
típica de Jacarta, é uma espécie de lundu mais lento, tocado francês
comumente com flauta, cavaquinho e violão. Em Goa não é Tudo aquilo que o malandro pronuncia
muito diferente. Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
De acordo com o texto de Henrique Cazes, grande parte As rimas do samba não são I love you
da música popular desenvolvida nos países colonizados por E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Portugal compartilham um instrumental, destacando-se o Só pode ser conversa de telefone
cavaquinho e o violão. No Brasil, são exemplos de música
popular que empregam esses mesmos instrumentos: ROSA. N. In: SOBRAL. João J. V. A tradução dos
A) Maracatu e ciranda. bambas. Revista Língua Portuguesa, Ano 4,
B) Carimbó e baião. n° 54, São Paulo: Segmento, abr. 2010.
Fragmento.
C) Choro e samba.
D) Chula e siriri.
E) Xote e frevo. As canções de Noel Rosa, compositor brasileiro de Vila
Isabel, apesar de revelarem uma aguçada preocupação do
08. (Unifor/2018.2) artista com seu tempo e com as mudanças político-culturais
COM QUE ROUPA? no Brasil, no início dos anos 1920, ainda são modernas.
Nesse fragmento do samba Não tem tradução, por meio do
Agora vou mudar minha conduta recurso da metalinguagem, o poeta propõe
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar A) incorporar novos costumes de origem francesa e americana,
Vou tratar você com a força bruta juntamente com vocábulos estrangeiros.
Pra poder me reabilitar B) respeitar e preservar o português padrão como forma de
fortalecimento do idioma do Brasil.
Pois esta vida não está sopa C) valorizar a fala popular brasileira como patrimônio linguístico
E eu pergunto: com que roupa? e forma legítima de identidade nacional.
Com que roupa que eu vou? D) mudar os valores sociais vigentes à época, com o advento
Pro samba que você me convidou? do novo e quente ritmo da música popular brasileira.
Com que roupa que eu vou E) ironizar a malandragem carioca, aculturada pela invasão de
Pro samba que você me convidou? valores étnicos de sociedades mais desenvolvidas.

Anual – Volume 3 41
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
10. (Enem) Se observarmos o maxixe brasileiro, a beguine da A clave, sinal colocado no extremo esquerdo da pauta,
Martinica, o danzón de Santiago de Cuba e o ragtime determina a posição das notas sobre esta pauta. Existem três claves:
norte-americano, vemos que todos são adaptações da polca. sol, fá e dó.
A diferença de resultado se deve ao sotaque inerente à música
de cada colonizador (português, espanhol, francês e inglês) e, Partituras
em alguns casos, a uma maior influência da música religiosa.
Contêm as músicas escritas para vários instrumentos e vozes.
CAZES, H. Choro: do quintal ao Municipal. São Paulo: Editora 34, 1998. Adaptado.
Numa partitura orquestral, a música das madeiras aparece
em cima, logo abaixo estão as partes dos instrumentos de percussão
Além do sotaque inerente à música de cada colonizador e da
influência religiosa, que outro elemento auxiliou a constituir os e dos metais, segue-se a música dos solistas, tanto vocais como
gêneros de música popular citados no texto? instrumentais e depois os coros, se houver.
A) A região da África de origem dos escravos, trazendo A música das cordas aparece na parte de baixo da partitura.
tradições musicais e religiosas de tribos distintas. Cada intérprete possui apenas uma partitura que contém só a parte
B) O relevo dos países, favorecendo o isolamento de comunidades, que vai tocar ou cantar e segue sempre as instruções do regente;
aumentando o número de gêneros musicais surgidos. este, sim, tem uma partitura completa com a parte de todos os
C) O conjunto de portos, que favorecem o trânsito de diferentes instrumentos, solistas e coros.
influências musicais e credos religiosos.
D) A agricultura das regiões, pois o que é plantado exerce Disponível em: <http://www.portaldarte.com.br/linguagemdamusica.htm>
influência nas canções de trabalho durante o plantio.
E) O clima dos países em questão, pois as temperaturas
influenciam na composição e vivacidade dos ritmos. Aula 15:

Aula Compreensão Textual III C-5 H-15, 16


H-17
(Análise de Prova de
Fique de Olho 15 Vestibular)
A LINGUAGEM DA MÚSICA
Maryana Teslenko/123RF/Easypix

Exercícios de Fixação

Texto

A CASA

Nome das composições 01 Vendam logo esta casa, ela está cheia
de fantasmas.
As obras musicais têm vários nomes oficiais e não oficiais.
Na livraria, há um avô que faz cartões de
O nome oficial pode indicar a forma da obra e identificar a sua
boas-festas com corações de purpurina.
tonalidade, como em Sinfonia nº 9 em Ré Menor; esse nome inclui
05 Na tipografia, um tio que imprime avisos
frequentemente um número de opus (obra) que corresponde
fúnebres e programas de circo.
à ordem de colocação da música na obra do autor, que poderá
Na sala de visitas, um pai que lê romances
ter escrito ou publicado outras obras entre sua 8ª e 9ª sinfonia.
Por exemplo: a Sinfonia nº 8 em Fá Maior, de Beethoven, é opus policiais até o fim dos tempos. No quarto, uma mãe
93 e a sua 9ª Sinfonia em Ré Menor é opus 125. Os números de que está sempre
opus indicam a ordem de publicação, e não a de composição. 10 parindo a última filha.
As músicas de Mozart são identificadas pelo índice Köchel, como Na sala de jantar, uma tia que lustra
K 550, que corresponde à sua colocação no catálogo publicado cuidadosamente o seu próprio caixão.
pelo musicólogo Ludwig von Köchel, em 1862.
Na copa, uma prima que passa a ferro
Notação todas as mortalhas da família.
15 Na cozinha, uma avó que conta noite e dia
É o conjunto de sinais convencionados para representar os histórias do outro mundo.
sons musicais. As partituras são escritas e publicadas de acordo No quintal, um preto velho que morreu na
com essa linguagem própria da música. As notas são sinais gráficos Guerra do Paraguai rachando lenha.
que representam os sons musicais, são símbolos escritos em preto E no telhado um menino medroso que espia
e branco na pauta (conjunto de cinco linhas horizontais). 20 todos eles; só que está vivo: trouxe-o até
A colocação das notas na pauta é que determina: ali o pássaro dos sonhos.
1. a altura dos sons; Deixem o menino dormir, mas vendam a
2. sua colocação numa sequência de sons; casa, vendam-na depressa.
3. sua duração; Antes que ele acorde e se descubra também
morto.
4. indicações do compositor sobre maneira como sua obra deverá
ser executada. PAES, José Paulo, Prosas seguidas de Odes mínimas.
São Paulo: Cia das Letras, 1992.

42 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
01. (Uece) Sobre o tom de linguagem empregado no poema
anterior de José Paulo Paes, é incorreto dizer que
A) o poeta se utiliza de uma linguagem marcada por elementos
Exercícios Propostos
oníricos que se assemelha a uma atmosfera de sonho.
B) o autor traz ao poema um traço de afetividade, ao recuperar, por
Texto
meio da memória, personagens, de um mesmo círculo familiar.
C) o texto poético apresenta-se com um tom saudosista quando EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA
resgata figuras do passado.
D) a poesia reflete fortemente um tom satírico e irônico do autor Dizem que todos os dias você deve comer
ao zombar da ideia de que não há como escapar da morte. uma maçã por causa do ferro. E uma banana
pelo potássio. E também uma laranja pela
02. (Uece) A ordem para vender a casa aparece indicada no início vitamina C.
– “Vendam logo esta casa” (linha 01) – e no final do poema
– “Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na 5 Uma xícara de chá verde sem açúcar para
depressa” (linhas 22-23). O uso repetido deste enunciado se prevenir a diabetes.
justifica pelo fato de o poeta Todos os dias deve-se tomar ao menos dois
A) alertar de uma possível briga entre familiares pela herança litros de água. E uriná-los, o que consome o
do imóvel. dobro do tempo.
B) enfatizar a urgência da venda da casa por ela estar
fortemente associada, em sua memória, à figura de pessoas 10 Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos
mortas. lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é,
C) criar um efeito poético de rima entre os versos do poema. mas que aos bilhões, ajudam a digestão).
D) destacar a monotonia de viver em uma casa habitada por Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
pessoas já falecidas.
Uma taça de vinho tinto também. Uma de
03. (Uece/2018) Sobre a descrição das personagens do poema, 15 vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
não é lícito afirmar que
A) as personagens descritas pelo poeta estão todas mortas e
Um copo de cerveja, para... não lembro bem
apresentam grau de parentesco entre si.
B) o autor utiliza-se da oração adjetiva restritiva para para o que, mas faz bem.
particularizar aspectos individuais de cada personagem.
C) as ações atribuídas às personagens são condizentes com o O benefício adicional é que se você tomar
espaço onde elas estão descritas e, ao mesmo tempo, com tudo isso ao mesmo tempo e tiver um
o tempo em que estas ações acontecem. 20 derrame, nem vai perceber.
D) há alusão ao tema da morte para descrever, direta ou
indiretamente, quase todas as personagens do poema. Todos os dias deve-se comer fibra. Muita,
muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer
04. (Uece/2018) A relação sintático-semântica estabelecida entre um pulôver.
os períodos do enunciado “Vendam logo esta casa, ela está
cheia de fantasmas” (linhas 01-02) é Você deve fazer entre quatro e seis refeições
A) de conclusão. 25 leves diariamente.
B) de alternância. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos
C) de explicação. cem vezes cada garfada. Só para comer,
D) de adição. serão cerca de cinco horas do dia... E não
esqueça de escovar os dentes depois de
05. Assinale a assertiva que não condiz com as questões temáticas
30 comer.
e estéticas presentes no poema.
A) O poema A casa é o exemplo de um texto poético que se Ou seja, você tem que escovar os dentes
pauta em uma descrição racional e lógica da realidade,
depois da maçã, da banana, da laranja, das
apresentando, para isso, elementos que não ultrapassam o
seis refeições e enquanto tiver dentes,
mundo da imaginação.
B) A poesia de José Paulo Paes mostra que resgatar um passado passar fio dental, massagear a gengiva,
distante para trazer à memória a imagem de pessoas que 35 escovar a língua e bochechar com Plax.
já não mais existem é uma maneira de ter consciência da
passagem fugaz do tempo, o que, consequentemente, pode Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e
trazer à tona a ideia de envelhecimento e de finitude. aproveitar para colocar um equipamento de
C) Pela leitura do poema, entende-se que a recuperação do som, porque entre a água, a fibra e os
passado pode se dar, simbolicamente, pelo auxílio da figura dentes, você vai passar ali várias horas por
do “pássaro dos sonhos”, cuja função é auxiliar o homem 40 dia.
a ter uma visão mais nítida da realidade transitória da vida.
D) Para compor o seu poema, o poeta se utiliza de recursos Há que se dormir oito horas por noite e
próprios da estética surrealista através de um conjunto trabalhar outras oito por dia, mais as cinco
de imagens que têm, entre si, uma relação desconexa e comendo são vinte e uma. Sobram três,
absurda, à semelhança de um pensamento livre, regrado desde que você não pegue trânsito.
pelos impulsos do subconsciente.

Anual – Volume 3 43
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
45 As estatísticas comprovam que assistimos 02. (Uece/2018) No enunciado “Sobram três, desde que você
três horas de TV por dia. Menos você, porque não pegue trânsito” (linhas 43-44), o trecho em destaque
todos os dias você vai caminhar ao menos poderia ser substituído, sem alteração do sentido do período,
meia hora (por experiência própria, após
quinze minutos dê meia volta e comece a pelas orações a seguir, com exceção de
50 voltar, ou a meia hora vira uma). A) ainda que você não pegue trânsito.
B) contanto que você não pegue trânsito.
E você deve cuidar das amizades, porque são C) se você não pegar trânsito.
como uma planta: devem ser regadas
diariamente, o que me faz pensar em quem D) sob condição de você não pegar trânsito.
vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
03. (Uece/2018) Assinale a opção em que o trecho destacado da
55 Deve-se estar bem informado também, lendo
crônica não corresponde à figura de linguagem indicada.
dois ou três jornais por dia para comparar as
informações. A) Há a presença do símile em “E você deve cuidar das
amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas
Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o diariamente [...]”. (linhas 51-53)
cuidado de não se cair na rotina. Há que ser
B) O zeugma está fortemente marcado no trecho “Dizem que
60 criativo, inovador para renovar a sedução.
todos os dias você deve comer uma maçã por causa do
Isso leva tempo – e nem estou falando de ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja
sexo tântrico. pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para
Também precisa sobrar tempo para varrer, prevenir a diabetes”. (linhas 1-6)
passar, lavar roupa, pratos e espero que
65 você não tenha um bichinho de estimação.
C) A hipérbole apresenta-se de forma expressiva no enunciado
Na minha conta são 29 horas por dia. A única “E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes
solução que me ocorre é fazer várias dessas cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do
coisas ao mesmo tempo! dia...”. (linhas 26-28)
Por exemplo, tomar banho frio com a boca D) Encontra-se claramente o eufemismo no enunciado “Você
70 aberta, assim você toma água e escova os deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente”.
dentes. (linhas 24-25)

Chame os amigos junto com os seus pais. 04. (Uece/2018) A modalidade é a forma como o enunciador
Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto
com a sua mulher... na sua cama. marca sua relação com o conteúdo do que enuncia por meio
de alguma categoria gramatical. Na crônica de Veríssimo,
75 Ainda bem que somos crescidinhos, senão aparecem diversas expressões verbais como recurso linguístico
ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 para indicar a modalidade. A este respeito, é correto afirmar
minutos, uma colherada de leite de que
magnésio.
A) em “Todos os dias deve-se comer fibra” (linha 21), o verbo
Agora tenho que ir. ‘dever’ traz o sentido de necessidade e, ao mesmo tempo,
80 É o meio do dia, e depois da cerveja, do de possibilidade.
vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E B) no enunciado “Há que se dormir oito horas por noite
já que vou, levo um jornal... Tchau! e trabalhar outras oito por dia” (linhas 41-42), há uma
Viva a vida com bom humor!!! construção com o verbo ‘haver’ como auxiliar, seguido da
preposição ‘de’ e de um verbo no infinitivo, para significar
VERÍSSIMO, Luís Fernando. Exigências da vida moderna.
necessidade ou obrigatoriedade.
Disponível em: <http:.www.refletirpararefletir.com.br/
4-cronicas-de-luis-fernando-verissimo>. C) o uso do verbo ‘dever’ nos enunciados “Dizem que todos os
Acesso em: 22 jun. 2018. dias você deve comer uma maçã por causa do ferro (linhas
1-2) e “Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros
01. (Uece/2018) A crônica Exigências da vida moderna aborda um de água (linhas 7-8)” tem sentido diferente para expressar
assunto discutido, com bastante frequência em nossos dias: a
a ideia de obrigação.
falta de tempo. Assinale o trecho em que esta ideia não está
explicitamente marcada no texto: D) no trecho “Ou seja, você tem que escovar os dentes depois
A) “Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras da maçã, da banana” (linhas 31-32), a locução verbal indica
oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. a possibilidade que o sujeito tem de realizar ou não a ação
Sobram três, desde que você não pegue trânsito”. de escovar os dentes depois das refeições.
(linhas 41-44)
B) “Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar
05. (Uece/2018) A forma no diminutivo crescidinhos, usada no
roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de
estimação. Na minha conta são 29 horas por dias. A única contexto do enunciado “Ainda bem que somos crescidinhos,
solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos,
tempo!” (linhas 63-68) uma colherada de leite de magnésio” (linhas 75-78), sugere o
C) “Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. sentido de
Fibra suficiente para fazer um pulôver”. (linhas 21-23) A) ironia.
D) “Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um B) depreciação.
Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite C) pequenez.
de magnésio”. (linhas 75-78) D) afeto.

44 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa I LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas
06. (Uece/2018) Ao discorrer sobre o gênero crônica, Antônio II. O uso do pronome você no texto, presente em enunciados
Cândido, estudioso da literatura, afirma que “Ela é amiga da como “Também precisa sobrar tempo para varrer, passar,
verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um
suas formas mais fantásticas, sobretudo porque quase sempre bichinho de estimação” (linhas 63-65), procura estabelecer
utiliza o humor” (1992, p. 13-14). O tom humorístico marca a um diálogo do autor com o seu leitor, criando uma certa
linguagem de Veríssimo ao longo de toda a crônica Exigências intimidade entre eles;
da vida moderna. O humor não se mostra evidente em III. A utilização do humor, tal como aparece no trecho “É o
A) “Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho
você toma água e escova os dentes” (linhas 69-71) que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal... Tchau!”
B) “Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, (linhas 80-82), produz um sentido de afinidade na interação
mas faz bem” (linhas 16-17) entre autor e leitor da crônica;
C) “Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por IV. A forma de tratamento de assuntos de cunho particular com
causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma o leitor, como a que se mostra no trecho “Ah! E o sexo!
laranja pela vitamina C” (linhas 1-4) Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina”
D) “Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não (linhas 58-59), marca bem esta busca de proximidade do
se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar autor com o seu interlocutor.
a sedução. Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo
tântrico” (linhas 58-62) É correto o que se afirma em:
A) I, II e III apenas.
07. (Uece/2018) O autor faz referência a determinados produtos B) I, II, III e IV.
de marcas estrangeiras bastante divulgadas pela propaganda C) III e IV apenas.
televisiva, como Yakult, Danoninho, Aspirina e Plax. D) I, II e IV apenas.
Considerando o objetivo da menção destes produtos na crônica,
atente aos seguintes itens e assinale com (V) os verdadeiros e 09. (Uece/2018) Sobre o uso dos conectivos oracionais e os seus
com (F) os falsos: respectivos valores semânticos na crônica, é correto dizer que
( ) chamar atenção para a dimensão persuasiva da A) no período “[...] (que ninguém sabe bem o que é, mas que
propaganda que interpela o consumidor a adquirir certos aos bilhões, ajudam a digestão)” (linhas 11-12) há, entre as
produtos, sem refletir, muitas vezes, a respeito da eficácia orações, uma ideia de adição.
deles. B) no enunciado “Cada dia uma Aspirina, previne infarto”
(linha 13), embora falte um conectivo entre as orações,
( ) mostrar que, se atendermos aos apelos a que somos
percebe-se claramente o sentido de conclusão entre elas.
submetidos todos os dias, através do discurso da mídia,
C) em “E já que vou, levo um jornal...” (linhas 81-82), o
nos faltaria, na verdade, tempo para cumprir as atividades
conectivo “já que” poderia ser perfeitamente substituído por
do cotidiano.
“uma vez que”, indicando uma relação sintático-semântico
( ) divulgar produtos de grande qualidade para ajudar na de causa entre as orações.
vida dos seus leitores. D) no trecho “Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar
( ) destacar que, na vida moderna, é difícil escapar da para colocar um equipamento de som, porque entre a
imposição de modelos de comportamento imposta pelos água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por
produtos midiáticos. dia.” (linhas 36-40) o período introduzido pelo conectivo
( ) ressaltar que o homem moderno, ao fazer uso diariamente “porque” mantém com as orações anteriores uma relação
dos produtos promovidos pela mídia, estará preparado de finalidade.
para viver uma vida bem mais saudável e feliz.
10. (Uece/2018) Luís Fernando Veríssimo, para escrever sua crônica,
A sequência correta, de cima para baixo, é: utiliza-se, várias vezes, de forma verbal no imperativo com
A) V – F – V – F – V diferentes funções. No que diz respeito a esse uso, assinale a
B) F – V – F – F – V afirmação falsa.
C) F – F – V – V – F A) O enunciado com que o cronista finaliza o texto – “Viva a
D) V – V – F – V – F vida com bom humor!!!” (linha 83) – tem o objetivo de dar
uma ordem ao leitor.
08. (Uece/2018) Uma das funções textuais da crônica é a de criar B) Em “E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes
uma certa familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem.
cada garfada” (linhas 26-27), o verbo no imperativo tem a
Desde o início até o fim do texto Exigências da vida moderna,
finalidade de propor uma sugestão ao seu interlocutor.
Veríssimo estabelece uma interlocução explícita com o leitor.
Sobre esta questão, considere as seguintes afirmações: C) No enunciado “(por experiência própria, após quinze
I. A utilização de uma sintaxe com período breves e minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira
entrecortados, muito próprios da fala informal, a exemplo uma)” (linhas 48-50), ao fazer udo do imperativo, o cronista
de “Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, tem o objetivo de dar um conselho ao seu interlocutor.
coma a maçã e a banana junto com a sua mulher.. na sua D) No trecho “Chame os amigos junto com os seus pais” (linha 72),
cama” (linhas 72-74), destaca o estilo coloquial de conversa a utilização do imperativo tem o propósito de fazer uma
entre amigos no texto, revelando um efeito de proximidade recomendação ao leitor da crônica.
entre o cronista e o seu leitor;

Anual – Volume 3 45
LInguagens, CÓdIgos e suas teCnoLogIas Língua Portuguesa I
Bibliografia
Fique de Olho AGUIAR E SILVA, Manuel de. Teoria da literatura. 7. ed. Coimbra:
Livraria Almedina, 1986.
ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB – A História de nossa
música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

Svetlin Rusev/123RF/Easypix
ASSARÉ, Patativa. Cordéis & Outros Poemas. Oraganizado por
Gilmar de Carvalho. Fortaleza: Edições UFC, 2006.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3. ed. São
Paulo: Cultrix, 1980.
CABRAL, Sérgio. No tempo de Ary Barroso. Rio de Janeiro: Lumiar, 1993.
CORAGEM, Amarílis Coelho & MAIA e SILVA, Sidmar Estevam. Arte.
Belo Horizonte: Educacional, 2008.
COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. 2. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand do Brasil, 2001.
COLI, Jorge. O que é arte. Coleção Primeiros Passos. 46. ed.
brasiliense, 2004.
Enciclopédia da música popular, erudita e folclórica. São Paulo:
Art Publifolha, 1998.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Porto: Paisagem, s.d.
GIGANTE, H. História, memória e cotidiano nas primeiras séries do
primeiro grau. Dissertação. (Mestrado em Educação). Faculdade de
A música do Brasil formou-se, principalmente, a partir da Educação. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos/SP, 1993.
fusão de elementos europeus e africanos, trazidos, respectivamente, JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 2005.
por colonizadores portugueses e pelos escravos. LOBATO, Monteiro. Viagem ao céu e O Saci. São Paulo: Brasiliense,
1950, p. 266-8.
Até o século XIX, Portugal foi a porta de entrada para a MOISÉS, Massaud. O simbolismo. São Paulo: Cultrix, 1966.
maior parte das influências que construíram a música brasileira, MONTEIRO, José Lemos. A estilística. São Paulo: Ática, 1991.
erudita e popular, introduzindo a maioria do instrumental, o MOURA, C. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1998.
sistema harmônico, a literatura musical e boa parcela das formas MARCUSCHI, L.A. Da fala para a escrita: atividades de textualização.
musicais cultivadas no país ao longo dos séculos, ainda que 3. ed. São Paulo: Contex, 2001, p. 41.
diversos destes elementos não fossem de origem portuguesa, MÁXIMO, João e DIDIER, Carlos. Noel Rosa: Uma biografia. Brasília:
Universidade de Brasília, 1990.
mas genericamente europeia. A maior contribuição do elemento
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa, Saraiva,
africano foi a diversidade rítmica e algumas danças e instrumentos, 8. ed. reformulada.
que tiveram um papel maior no desenvolvimento da música popular NAPOLITANO, Marcos. História & música – História cultural da
e folclórica, florescendo especialmente a partir do século XX. música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
O indígena praticamente não deixou traços seus na corrente PROENÇA, Graça. História da Arte, Ática, 16. ed. – 6a impressão.
principal, salvo em alguns gêneros do folclore, sendo em sua SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. 20. ed. São Paulo:
maioria um participante passivo nas imposições da cultura Cultrix, 1995, p. 22.
colonizadora. SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo,
São Paulo, 34, 1997.
Ao longo do tempo e com o crescente intercâmbio cultural
com outros países, além da metrópole portuguesa, elementos SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira – seus
fundamentos econômicos. 5.ed, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
musicais típicos de outros países se tornariam importantes, como
SOUZA, N. S. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
foi o caso da voga operística italiana e francesa e das danças como
VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira.
a zarzuela, o bolero e habanera de origem espanhola, e as valsas Rio de Janeiro: Martins, 1965.
e polcas germânicas, muito populares entre os séculos XVIII e XIX, VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira, 3. ed, Rio de
e o jazz norte-americano no século XX, que encontraram todos Janeiro: J. Olympio, 1954.
um fértil terreno no Brasil para enraizamento e transformação. ________. Introdução à literatura no Brasil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Com o importante infl uxo de elementos melódicos e Bertrand do Brasil, 2001.
rítmicos africanos, a partir de fins do século XVIII, a música popular ________. Notas de teoria literária, 2. ed, Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978.
começa a adquirir uma sonoridade caracteristicamente brasileira.
Na música erudita, contudo, aquela diversidade de elementos só Sites consultados:
apareceria bem mais tarde. Assim, naquele momento, tratava-se http://www.dicionariompb.com.br
http://cifrantiga3.blogspot.com
de seguir – dentro das possibilidades técnicas locais, bastante http://cliquemusic.uol.com.br
modestas em relação aos grandes centros europeus ou mesmo em http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa
comparação com o México e o Peru – o que acontecia na Europa http://www.revistadoprofessor.com.br
e, em grau menor, na América Espanhola. Uma produção de Quanto às questões da apostila:
caráter especificamente brasileiro na música erudita só aconteceria
• Muitas foram catalogadas de vestibulares de diferentes
após a grande síntese realizada por Villa-Lobos, já em meados universidades brasileiras, tais como: UFC, Uece, UFPE, UFPI, ITA,
do século XX. IME, UFBA, UFPB...
Wikipédia, a enciclopédia livre. • Muitas são inéditas, e outras foram retiradas do Enem, do Enceja,
Acesso em: 29 jun. 2013. do Enade...

46 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II
Romantismo (IV), Realismo e
Naturalismo
Objetivo:
• Estudar o Romantismo, o Realismo e o Naturalismo, focalizando o seu contexto histórico e social, a sua produção literária,
suas características e seus principais representantes.

Conteúdo:
Aula 11: Romantismo IV Produção Literária em Prosa
A prosa romântica................................................................................................................................................................................................... 48
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 52
Aula 12: Realismo I Romances Machadianos
Realismo.................................................................................................................................................................................................................. 56
Machado de Assis – produção literária.................................................................................................................................................................... 57
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 59
Aula 13: Realismo II Contos Machadianos
Contos machadianos................................................................................................................................................................................................ 62
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 65
Aula 14: Naturalismo I Obra de Aluísio Azevedo
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 69
Aula 15: Naturalismo I – Obra de Raul Pompeia
Raul Pompeia........................................................................................................................................................................................................... 73
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 73
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
Aula 11: CRONOLOGIA DOS PRINCIPAIS ROMANCES DO ROMANTISMO
C-5 H-15, 16
Aula Romantismo IV C-6 H-17, 18 1844 A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo)

11 Produção Literária em Prosa 1845 O Moço Loiro (Joaquim Manuel de Macedo)


Memórias de um Sargento de Milícias (Manoel Antônio
1852-53
de Almeida)
1856 Cinco Minutos (José de Alencar)
A prosa romântica 1857 O Guarani (José de Alencar)
Contrariamente à poesia, a prosa de ficção praticamente 1862 Lucíola (José de Alencar)
inexistiu durante o Período Colonial. Não temos autores em prosa 1865 Iracema (José de Alencar)
com a qualidade que se pôde verificar na produção poética anterior 1872 Inocência (Taunay); O seminarista (Bernardo Guimarães)
à era romântica, com Gregório de Matos, Cláudio Manuel da Costa,
1874 Ubirajara (José de Alencar)
Tomás Antônio Gonzaga ou Basílio da Gama como antecessores
da literatura nacional em prosa. Na ausência de uma tradição, os Senhora e O Sertanejo (José de Alencar); A Escrava
1875
autores românticos tiveram que partir do nada, restringindo-se, Isaura (Bernardo Guimarães)
necessariamente, ao modelo dos romances europeus, já bastante 1876 O Cabeleira (Franklin Távora)
difundidos entre nós na década de 1830. 1878 O Matuto (Franklin Távora)
Assim, não é de estranhar que o desenvolvimento da poesia
romântica tenha precedido o da prosa de ficção. Quando esta fazia Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)
suas primeiras tentativas mais consistentes, na década de 1840,

Fundação Biblioteca Nacional Rio de Janeiro RJ


aquela já tinha o seu primeiro grande autor – Gonçalves Dias.

Identidade e universalização da cultura


O romance urbano, por meio da divulgação de perfis,
espaços e comportamentos reconhecidos, também investe na
construção de uma identidade nacional. A consolidação dessa
nacionalidade é componente fundamental de seu projeto literário
e ocorre todas as vezes que um leitor se reconhece nas cenas
que lê, porque os comportamentos das personagens mostram-se
familiares. Se os brasileiros dos romances agiam socialmente de Formou-se em Medicina, mas não exerceu a profissão.
um modo semelhante ao desse leitor, então ele também era um Deu aulas de História e Geografia do Brasil no Colégio Pedro II e foi
brasileiro legítimo. professor dos filhos da princesa Isabel. Escreveu dezoito romances,
dentre os quais se destacam A Moreninha (1844), O Moço Loiro (1845) e
A Luneta Mágica (1869). Escreveu também peças de teatro e poemas.
Características centrais do
Romantismo: o romance urbano Reprodução/Editora Moderna

Representação dos
costumes da elite brasileira

Divulgação de valores morais

Consolidação da
identidade nacional

Com uma estrutura mais simples e sem lançar mão de


referências culturais sofisticadas (históricas, artísticas e/ou mitológicas),
o romance romântico urbano contribui para a democratização da
literatura, ampliando o seu alcance.

A linguagem romanesca A Moreninha (1844): relato sentimental da ligação entre


dois jovens, presos a uma promessa infantil.
A linguagem do romance romântico urbano é acessível, Importância da obra:
porém um aspecto merece atenção: é frequente o narrador Desperta no público o gosto pelo romance ambientado no Brasil.
estabelecer diálogo com um leitor específico, que pode ser um Características da obra:
amigo ou um parente. Essa interlocução faz que a história contada – Narrativas urbanas.
ganhe o aspecto de uma confidência trocada entre duas pessoas – Estrutura de folhetim.
íntimas. – Cenários identificáveis pelos leitores.
– Visão superficial de certos hábitos da classe média carioca.

48 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
A Moreninha foi o primeiro romance romântico urbano Obras:
com qualidade literária que alcançou grande sucesso de público
1. Romances indianistas: criação de um herói nacional e
e abriu caminho para uma vasta produção de folhetins escritos exaltação da natureza brasileira. Em Ubirajara, Alencar retrata
por autores brasileiros. o índio ainda não tocado pela civilização, em estado puro. Em
Ele conta a história de dois jovens, Augusto e Carolina, Iracema, conta a lenda da fundação do Ceará, descrevendo os
que se conhecem ainda crianças em uma praia. Nesse primeiro primeiros contatos do índio com o colonizador. Em O Guarani,
encontro, juram amor eterno e, como prova de fidelidade, trocam revela um índio vivendo entre os colonizadores. Peri é retratado
dois breves, um branco e um verde. O branco simbolizava a como um autêntico cavaleiro medieval, que põe sua vida a
candura da alma de Carolina, e o verde, a esperança do coração serviço de sua dama (Ceci). Este romance foi tema da ópera do
de Augusto. mesmo nome de Carlos Gomes.

Enredo básico – A Moreninha 2. Romances históricos: lembram os tempos coloniais, mas


sempre a trama sentimental ganha destaque. As Minas de Prata
Augusto, estudante de Medicina, orgulha-se de ser é o primeiro romance histórico brasileiro e retrata o início do
inconstante no amor e firma uma aposta com Filipe: se, até o dia ciclo de exploração dos metais. A Guerra dos Mascates narra
20 de agosto, tiver amado uma só mulher durante mais de quinze a revolução de 1710 em Pernambuco.
dias, será obrigado a escrever um romance sobre tal acontecimento. 3. Romances urbanos: retrata a vida na Corte, a sociedade
É véspera de Sant’Ana. Filipe leva seus amigos, Augusto, burguesa do Segundo Reinado. São romances cujo final feliz
Leopoldo e Fabrício, para passar a festa na casa de sua avó, prova que o amor tudo vence: Cinco Minutos, A Viuvinha,
numa ilha da Baía da Guanabara. Lá, dançando com Carolina, Encarnação, Sonhos d’ouro, Pata da Gazela e três perfis
a Moreninha, o estudante acaba se apaixonando, mas tanto de mulher — Diva, Lucíola (a heroína é uma prostituta
ele quanto ela evitam render-se ao amor. Cada um é impedido regenerada, que morre ao final) e Senhora.
por um juramento amoroso feito na infância. Depois de muitos 4. Romances regionalistas: reproduzem paisagens e tipos
desencontros e confusões, acabam por descobrir que eram as humanos do Nordeste (O Sertanejo) e da região Sul
duas crianças que um dia, na praia, haviam jurado amor eterno. (O Gaúcho). Til e O Tronco do Ipê voltam-se para o meio
Com o reconhecimento, a felicidade... e Augusto paga a aposta rural. A ação do primeiro passa-se numa fazenda de café
escrevendo o romance A Moreninha. no interior de São Paulo, e a do segundo, numa fazenda no
norte do Rio de Janeiro.
José de Alencar (1829-1877) Características da obra:

Reprodução/Editora Moderna
Domínio Público

Capa do livro Senhora. Editora moderna

Nasceu em Messejana, no Ceará, tinha o mesmo nome do – Projeto nacionalista: revela o Brasil horizontalmente (em termos
pai, importante figura política do Império. Formado em Direito, geográficos) e verticalmente (em termos históricos).
em São Paulo, Alencar dividiu suas atividades entre a advocacia, – Estrutura romântica, influenciada por Walter Scott, Chateaubriand
o jornalismo e a política, tendo sido deputado pela Província do e Fenimore Cooper.
Ceará e ministro da Justiça. Candidato ao cargo de senador, foi – Idealização permanente da realidade e valorização da natureza.
o primeiro colocado numa lista sêxtupla, da qual o Imperador – Estilo que tende ao “poético”.
deveria escolher dois nomes. – Tentativa de criar uma língua brasileira.
Não sendo escolhido, desgostou-se da política e retirou-se
da vida pública. Como escritor foi o principal prosador do Enredo básico – Senhora
Romantismo brasileiro, destacando-se, sobretudo, pela O tema deste romance – o casamento por interesse –
fecundidade de sua imaginação. Sua obra completa reúne condiciona sua composição. Ele divide-se em quatro partes, que
vinte romances de desigual qualidade, entre os quais duas correspondem às etapas de uma transação comercial: “O preço”,
“Quitação”, “Posse” e “Resgate”.
obras-primas – Iracema e Senhora; seis peças de teatro; crônicas
Fernando Seixas, um rapaz sem posses, mas ambicioso de
e artigos de jornal, polêmicas literárias e políticas, discursos;
subir na escala social, namora Aurélia, moça também humilde e órfã
pareceres jurídicos, uma pequena autobiografia (Como e por de pai. Passando por apuros financeiros, Seixas aceita, por um dote de
que sou romancista), além de um poema épico inacabado (Os trinta contos, a proposta de casamento com Adelaide Amaral. Mas o
Filhos de Tupã). destino preparava-lhe uma peça: Aurélia, a noiva preterida, recebe

Anual – Volume 3 49
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
uma inesperada herança do avô paterno e torna-se uma das mais Personagens:
disputadas moças do Rio de Janeiro. Dividida entre o amor e o
orgulho ferido, ela encarrega seu tutor, o tio Lemos, de negociar seu • Iracema: a virgem dos lábios de mel, guardiã da bebida sagrada
casamento com Fernando por um dote de cem contos. O acordo da Jurema filha do pajé da tribo tabajara, o velho Araquém.
realizado inclui, como uma de suas cláusulas, o desconhecimento Mulher de fibra, corajosa, que não hesita em abandonar seus
da identidade da noiva por parte do contratado até as vésperas valores, sua tribo, sua família e sua condição de sacerdotisa
do casamento. Na noite de núpcias, Aurélia pôde completar seu para entregar-se e viver um grande amor. Simboliza a terra
plano, humilhando o marido comprado e impondo-lhe as regras brasileira: dócil, mas enérgica, acolhedora e pronta para receber o
da convivência conjugal: em casa seriam dois estranhos, para a estrangeiro amigo. Simboliza também o processo de aculturação
sociedade fingiriam a felicidade de um casal perfeito. Fernando que o indígena brasileiro sofrerá.
submete-se às determinações de sua senhora, mas readquire seu
orgulho, e põe-se a trabalhar para reunir o dinheiro necessário • Martim Soares Moreno: guerreiro branco, amigo dos potiguaras
ao seu “resgate”. No final, quando devolve o dote a Aurélia, (habitantes do litoral), inimigo dos tabajaras. Representante do
ela lhe mostra o testamento que fizera no dia do casamento, colonizador português, é enaltecido como bravo, valente, fiel,
nomeando-o seu herdeiro universal. É a prova de seu amor. Estão cristão, pronto a enfrentar os perigos para proteger os interesses
ambos redimidos de seus erros. “As cortinas cerram-se, e as auras de sua pátria. Envolve-se com Iracema, embora guarde lembranças
da noite, acariciando o seio das flores, cantam o hino misterioso da virgem branca que deixou em Portugal.
do santo amor conjugal.”
• Poti: guerreiro potiguara, amigo de Martim, a quem dedicava
Disponível em: <https://faciletrando.wordpress.com/
2015/05/15/analise-da-obra-senhora/> uma lealdade ímpar. É exemplo do índio aculturado que se
cristianiza.
Enredo básico – Iracema • Caubi: irmão de Iracema, índio tabajara, exemplo de lealdade e
dedicação fraternal.
A história transcorre no século XVI, no início da colonização:
Iracema, virgem da tribo tabajara, consagrada a Tupã, conhece na • Irapuã: cacique da tribo dos tabajaras, vingativo e mau.
floresta o “guerreiro branco” Martim, a quem leva para a cabana Apaixonou-se por Iracema e por ela foi capaz de investir na luta
de seu pai, o pajé Araquém. Os jovens apaixonam-se, mas ambos contra os guerreiros liderados por Martim e Poti.
estão impedidos de realizar seu amor: ela, por seus votos a Tupã;
ele, porque sente saudades de Portugal e do que lá deixara. • Moacir: filho de Iracema e Martim, simboliza o nascimento do
Entretanto, não resistem ao impulso amoroso e fogem. primeiro brasileiro. Seu nome significa “filho do meu sofrimento”.
Iracema engravida. Martim se alegra, mas tem que partir para lutar
em outras terras. Quando volta, Iracema morre, depois de ter dado Enredo básico – O Guarani
à luz Moacir, o “filho da dor”. Martim toma o filho e parte com Escrito em folhetins para o Diário do Rio de Janeiro, o
ele para Portugal. romance conta a história do índio goitacá Peri, muito afeiçoado
ao fidalgo português D. Antônio de Mariz, que, no final do
século XVI, se muda para o Brasil com a família: D. Lauriana, a
Museu Nacional de Belas Artes – Iphan/MinC Rio de Janeiro RJ

esposa, D. Diogo, o filho, e Cecília, a filha. Estabelecem-se às


margens do rio Paraíba. Peri apaixona-se por Cecília. Dentre o
grupo de homens que formam a guarda da família, Loredano,
caráter mau e ambicioso, deseja ardentemente a jovem Cecília e,
movido por esse sentimento, incita uma rebelião para se apoderar
dela e das riquezas da família. Mas seu plano não dá certo, porque
é descoberto.
Enquanto isso, ocorre um ataque dos índios aimorés à casa.
Para não cair nas mãos dos índios, fato inevitável, D. Antônio decide
explodir a casa e pede a Peri que salve Cecília; antes disso, batiza-o
e torna-o cristão. Peri e Cecília fogem para um destino incerto,
MEDEIROS, José Maria de (1849-1925). Iracema, 1881. Óleo sobre tela.
Em Iracema, a teoria do “bom selvagem”, de Rousseau, é clara,
enquanto a casa explode e se incendeia.
pois a índia acaba vítima de seu amor pelo branco civilizado.
O GUARANI: O MITO DO HERÓI ROMÂNTICO
Características de Iracema:
Reprodução/Versátil

Estilo: ousado e inovador. José de Alencar rompeu com padrões


estilísticos e gramaticais do português literário do século XIX.
Procurou criar uma língua brasileira, pesquisando vocábulos de
origem indígena. Extremamente lírico, Iracema transformou-se em
um dos mais louvados poemas em prosa da Literatura brasileira.
Alencar utiliza adjetivação abundante, muitas comparações,
pontuação excessiva e prefere períodos coordenados.
Narrador: embora se coloque algumas vezes na narrativa,
utilizando-se de 1ª pessoa, o romance é predominantemente
narrado em 3ª pessoa.

Cenário: primórdios da colonização, século XVI, com a chegada


dos primeiros portugueses a terras brasileiras, ainda virgens.
O autor fantasia o enredo, o espaço e o tempo ao criar uma
lenda que metaforiza as origens do Ceará.
Capa do DVD O Guarani, de Norma Bengell.

50 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Alencar foi o primeiro romancista brasileiro a criar heróis: Encantado com a beleza de Inocência e desconhecendo os
em muitas das suas obras, tais como As Minas de Prata (romance costumes recatados do sertão, não esconde sua admiração.
histórico publicado em 1871), O Sertanejo, O Gaúcho, Ubirajara Pereira, desconfiado, passa a vigiá-lo, o que dá oportunidade a que
e, sobretudo, O Guarani. Surge sempre uma personagem que Cirino e Inocência se vejam mais. Meyer parte, com medo do pai,
é a encarnação do ideal de heroísmo, de nobreza, de lealdade Inocência pede a Cirino que viaje, a fim de pedir ao seu padrinho
etc. A figura do herói, criada por Alencar, traduz um desejo de uma interferência favorável aos dois. Nesse meio tempo, Pereira
compensação da sociedade brasileira de então, ainda mal ajustada, descobre o romance, por meio de um anão, Tico, encarregado de
cheia de problemas econômicos, sociais e políticos a resolver. vigiar Inocência. Manecão persegue Cirino e o mata. Pouco depois,
Destarte, o índio Peri, protagonista de O Guarani, é Inocência também morre.
o herói mítico cuja força e coragem o fazem vencer todos
os perigos, com honra e dignidade. Além disso, ele ama e Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)
dedica-se completamente a esse sentimento, que cultiva

Reprodução/Fundação Bilioteca Nacional


Rio de Janeiro RJ
incondicionalmente. Ele simboliza a mitologia da nacionalidade
brasileira com perfeição.

Visconde de Taunay (1843-1899)


Reprodução/Fundação Biblioteca
Nacional Rio de Janeiro RJ

Manuel Antônio de Almeida, também carioca, nasceu em


1831 e morreu em 1861, num naufrágio no litoral do Rio de Janeiro.
Taunay é reconhecido como um de nossos melhores De origem pobre e órfão de pai, conheceu muito bem a vida das
paisagistas. Inocência, seu romance mais notório, retrata o sudeste classes baixas, que descreveu em sua obra. Frequentou aulas de
mato-grossense, onde Inocência, prometida a Manecão, conhece desenho e fez curso de Medicina, trabalhando no jornal Correio
Cirino, forasteiro que a cura de maleita. Apaixonam-se. Manecão Mercantil para sobreviver. Publicou seu único romance, Memórias
descobre e mata Cirino. Inocência morre de saudade dois anos de um Sargento de Milícias, como folhetim, nesse mesmo jornal,
depois. entre 1852 e 1853.
O Brasil de Taunay é produto da observação atenta dos
costumes e da fala regional, o que o distancia do Brasil de Alencar. Memórias de um Sargento de Milícias

Reprodução/Editora Ática
Características da obra:
Reprodução/Editora Ediouro

Capa do livro Inocência


de Visconde de Taunay.
Capa do livro Memórias de um
– Precisão de detalhes e da paisagem. Sargento de Milícias, de Manuel
Antônio de Almeida.
– Estrutura romântica e acessórios realistas.
– Integração na vertente “sertanista”. Narrativa de costumes
Enredo básico – Inocência – Os hábitos, a moda, o folclore, a religiosidade das classes
populares no início do século XIX.
Pereira, um fazendeiro rústico, viúvo, promete sua filha, – Desmascaramento moral da sociedade.
Inocência, a um rude vaqueiro, Manecão. Mas Inocência acaba
apaixonando-se por Cirino, um prático farmacêutico, que percorria Destruição do Romantismo
o sertão como médico, dando atendimento nas fazendas, e que
– Ironia direta aos cacoetes românticos.
foi chamado para ver a moça, devido a uma súbita enfermidade
– Crise da idealização: os personagens são quase marginais.
desta. Hospeda-se também na casa de Pereira, um naturalista
– Crítica social.
alemão, Meyer, que viajava pelo Brasil à procura de borboletas.

Anual – Volume 3 51
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
Predomínio do humor sobre o dramático (romance picaresco) 03. Os quadros reproduzidos a seguir dialogam com três obras da
literatura brasileira. Com base em seus conhecimentos literários e
– Personagens caricaturizados. nos motivos retratados pelos artistas plásticos, assinale a alternativa
– Acontecimentos que desmentem as aparências das pessoas. verdadeira sobre fatos relativos às personagens em foco.
– Situações cômicas.

Coleção Cultura Inglesa


Rio de Janeiro RJ

Reprodução/L&PM Editores
– Ausência de tragédia humana.
Precursor do Realismo
– Objetividade.
– Descrença nos valores sociais.

Personagens
– Leonardo, Leonardo Pataca, Major Vidigal, Compadre, Luisinha, MEDEIROS, José de Maria de (1849-1925).
Lindóia, 1882. Óleo sobre tela.
Vidinha, Comadre.

Museu de Arte de São Paulo


Assis Chateaubriand MASP

Reprodução/Martin Claret
Enredo básico – Memórias de um Sargento de Milícias

O livro conta a história, passada na época de D. João VI,


de Leonardo, filho do meirinho português Leonardo Pataca, que
se muda para o Brasil, e Maria da Hortaliça, a quem conhece no
navio. Depois do nascimento e batizado do filho, já no Brasil,
Maria foge para Portugal, depois de ter sido fl agrada pelo
marido com outro homem. Leonardo é criado pelos padrinhos, MEIRELLES, Victor (1832-1903). Moema,
um barbeiro e uma parteira. 1866. Óleo sobre tela.
A partir daí, de peripécia em peripécia, Leonardo, o

Museu Nacional de Belas Artes –


Iphan/MinC Rio de Janeiro RJ

Reprodução/Editora Moderna
anti-herói, leva uma vida de malandro e vadio, envolvendo-se
em vários amores. Suas malandragens só terminam quando
o chefe de polícia, Vidigal, escolhe-o para ocupar uma vaga
na tropa de granadeiros (soldados), em virtude de sua larga
experiência em vadiagem.

Exercícios de Fixação MEDEIROS, José Maria de (1849-1925)


Iracema, 1881. Óleo sobre tela.

A) Victor Meirelles retratou, de modo realista, a personagem


01. (PUC) Nos romances Senhora e Lucíola, José de Alencar dá um de Caramuru.
passo em relação à crítica dos valores da sociedade burguesa, na B) As três personagens retratadas tiveram um destino comum:
medida em que coloca como protagonistas personagens que se foram abandonadas pelos seus companheiros.
deixam corromper por dinheiro. Entretanto, essa crítica se dilui C) As duas primeiras obras retratam motivos árcades, ao passo
e ele se reafirma como escritor romântico, nessas obras, porque que a terceira apresenta um motivo romântico.
A) pune os protagonistas no final, levando-os a um casamento D) O artista focalizou um momento prazeroso na vida de
infeliz. Moema: o banho de sol à beira-mar.
B) justifica o conflito dos protagonistas com a sociedade pela E) O artista focalizou o corpo de Lindoia, ao pé de um cipreste,
diferença de raça: uns índios idealizados; outros brasileiros morta a flechadas por uma tribo inimiga.
com maneiras europeias.
C) confirma os valores burgueses, condenando os protagonistas • Confronte o quadro e o texto reproduzidos a seguir para
à morte. resolver a questão 04.
D) resolve a contradição entre o dinheiro e os valores morais,
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo SP

tornando os protagonistas ricos e poderosos.


E) permite aos protagonistas recuperarem sua dignidade pela
força do amor.

02. (PUC)
“Então passou-se sobre este vasto deserto d’água
e céu uma cena estupenda, heroica, sobre-humana; um
espetáculo grandioso, uma sublime loucura.
Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que se
entrelaçavam pelos ramos das árvores já cobertas d’água,
e com esforço desesperado cingindo o tronco da palmeira
nos seus braços hirtos, abalou-se até as raízes.”
PARREIRAS, Antônio (1860-1937). Iracema, 1909. Óleo sobre tela.
O fragmento anterior exemplifica uma característica romântica
de José de Alencar, que é a Poti refletiu:
A) imaginação criadora. — As lágrimas da mulher amolecem o coração do guerreiro,
B) consciência da solidão. como o orvalho da manhã amolece a terra.
C) ânsia de glória. Meu irmão é um grande sabedor. O esposo deve partir sem
D) idealização do personagem. ver Iracema.
E) valorização da natureza.

52 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
O cristão avançou. Poti mandou-lhe que esperasse; da aljava
de setas que Iracema emplumara de penas vermelhas e pretas, e
suspendera aos ombros do esposo, tirou uma. Exercícios Propostos
O chefe potiguara vibrou o arco; a seta atravessou um goiamum
que discorria pelas margens do lago, e só parou onde a pluma não a
deixou mais entrar. 01. (Ceeteps-SP) Leia, com atenção, os trechos seguintes, que
Fincou o guerreiro no chão a flecha, com a presa atravessada, caracterizam as diferentes preocupações temáticas de José de
e tornou para Coatiabo: Alencar.
— Tu podes partir agora. Iracema seguirá teu rastro; Procura focalizar a corte; retrata a vida burguesa da época,
chegando aqui, verá tua seta, e obedecerá à tua vontade. utilizando histórias de amor como assunto das narrativas.
Martim sorriu; e quebrando um ramo do maracujá, a flor da Foi uma das soluções encontradas pelo escritor brasileiro
lembrança, o entrelaçou na haste da seta, e partiu enfim seguido por Poti. para repetir aqui a proposta europeia de volta ao passado.
Breve desapareceram os dois guerreiros entre as árvores. A civilização indígena representou literariamente o aspecto
O calor do Sol já tinha secado seus passos na beira do lago. Iracema mais autêntico de nossa nacionalidade.
inquieta veio pela várzea seguindo o rastro do esposo até o tabuleiro. Pretende trazer à tona figuras históricas ou até figuras lendárias,
As sombras doces vestiam os campos quando ela chegou à beira do lago. situando-as em seu tempo e momentos reais.
Seus olhos viram a seta do esposo fincada no chão, o Retrata diferentes partes do país, focalizando seus hábitos,
goiamum trespassado, o ramo partido, e encheram-se de pranto. costumes, linguagens, tradições; sempre em oposição aos
— Ele manda que Iracema ande para trás, como o goiamum, valores urbanos da corte.
e guarde sua lembrança, como o maracujá guarda sua flor todo o Tais características referem-se, respectivamente, aos romances:
tempo, até morrer. A) históricos, indianistas, urbanos, regionalistas.
Iracema, de José de Alencar.
B) regionalistas, históricos, indianistas, urbanos.
04. O quadro de Antônio Parreiras foi inspirado na passagem, C) indianistas, históricos, regionalistas, urbanos.
transcrita anteriormente, do romance de José de Alencar. D) urbanos, indianistas, regionalistas, históricos.
Confrontando a referida passagem com a leitura intertextual E) urbanos, indianistas, históricos, regionalistas.
que o pintor fez dela, é correto afirmar que o artista plástico
retratou 02. (Enem)
A) a tristeza de Iracema, por não entender o significado que a
flecha do esposo simbolizava. Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que
B) a reação de Iracema, ao decodificar a mensagem deixada atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro,
por Martim. e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que
C) a desilusão de Iracema, por sentir-se traída pelo marido, que produzirá seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu
retornava a Portugal para rever sua noiva. a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram
D) a revolta de Iracema, porque Martim partira com Poti sem todos com avidez informações acerca da grande novidade do
lhe dar satisfação. dia. Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu
E) o arrependimento da filha dos tabajaras, por ter deixado sua tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de
tribo para tornar-se esposa de um guerreiro branco inimigo que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era orfã; tinha em sua
de seu povo. companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas,
que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa parenta
05. (UFPE/2001) Sobre o romance romântico no Brasil, é correto não passava de mãe de encomenda, para condescender com
afirmar que: os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não
A) Não houve influência dos autores europeus na criação de tinha admitido ainda certa emancipação feminina. Guardando
uma narrativa romântica no Brasil, pois, além de os temas e com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não
linguagens diferirem muito, as obras estrangeiras não eram declinava um instante do firme propósito de governar sua casa
divulgadas, nem traduzidas no Brasil. e dirigir suas ações como entendesse. Constava também que
B) Em 1844, surgiu o primeiro romance brasileiro, A Moreninha, Aurélia tinha um tumor; mas essa entidade era desconhecida, a
de Joaquim Manuel de Macedo, o qual ultrapassou a julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência
condição das narrativas europeias, pela temática e pela em sua vontade, do que a velha parenta.
adaptação a cenários brasileiros. ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006.
C) Inserido na linha nacionalista do Romantismo, José de
Alencar lança, em 1856, seu primeiro romance, Cinco O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado em 1875.
Minutos. Daí em diante, procurou construir uma obra No fragmento transcrito, a presença de D. Firmina Mascarenhas
romanesca que abrangesse todo o Nordeste brasileiro, ao como “parenta” de Aurélia Camargo assimila práticas e
qual se limitou em razão de sua origem nordestina. Escreveu
convenções sociais inseridas no contexto do Romantismo, pois
romances históricos, regionalistas e indianistas – a maioria
A) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher ao retratar
situados na Era Colonial – e romances urbanos.
a condição feminina na sociedade brasileira da época.
D) Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um
B) o trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos sociais
Sargento de Milícias (1853), seguiu a tradição sentimental
no enredo de seu romance.
do tipo de narrativa praticado na época. Nos seus textos,
C) as características da sociedade em que Aurélia vivia são
adota a estética romântica na proposta de uma narrativa de
remodeladas na imaginação do narrador romântico.
costumes.
D) o narrador evidencia o cerceamento sexista à autoridade da
E) Entre os objetivos do movimento romântico no Brasil,
mulher, financeiramente independente.
estava o de revelar o país pela criação de uma literatura de
expressão nacional mais pela paisagem (natureza) e menos E) o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito
pela língua e pela valorização de uma língua brasileira. avançados para a sociedade daquele período histórico.

Anual – Volume 3 53
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
03. D) o indianismo, em ambos os movimentos, já surge como
“Não, não! A namoradeira é em breve tempo conhecida símbolo do povo brasileiro: o índio é o herói que paira
e ninguém a deseja por mulher. Julgas que os homens iludem- acima dos valores dos colonizadores, feito à imagem e
se com ela e que não sabem que valor devem dar aos seus semelhança dos cavaleiros medievais.
protestos? Que mulher pode haver tão fina, que namore a E) a obra dos poetas arcádicos já ganha contornos românticos,
expressando a subjetividade dos autores, quando descreve os
muitos e que faça crer a cada um em particular que é o único
amores arrebatados, em linguagem sentimental e emotiva.
amado? Aqui em nossa terra, grande parte dos moços são
presunçosos, linguarudos e indiscretos. Quando têm o mais • Texto para as questões de 06 a 09.
insignificante namorico, não há amigos e conhecidos que
não sejam confidentes. Que cautela podem resistir a essas (FGV) Leia o seguinte texto sobre a ópera O Guarani,
indiscrições?” de Carlos Gomes.
Desde a chegada à Europa, Carlos Gomes idealizava
O teatro de Martins Pena, conforme lembra o excerto, é o projeto de uma obra de maior vulto, que precisaria ser
A) naturalista: interessa-lhe a realidade como ela se apresenta, enviada ao Brasil como contrapartida pela bolsa recebida
mesmo aquela que tem contorno mais rude e que como tal do governo. A essa altura, seus biógrafos relatam que, com
saudades do Brasil, Gomes passeava sozinho pela Piazza del
deve ser claramente expressa.
Duomo quando ouviu o anúncio de um vendedor ambulante:
B) popular: ocupa-se dos costumes e hábitos do povo, do
“II Guarany, Storia del Selvaggi del Brasile“. Tomado de
retrato de sua cultura e linguagem. susto pela coincidência, conta-se que comprou ali mesmo
C) trágico: as personagens têm os caminhos traçados por um a tradução do livro de Alencar, certo de que aquele era um
destino mais forte que a vontade de cada uma delas. sinal: sua nova obra deveria se voltar às origens. A narrativa
D) alegórico: as personagens correspondem a ideias, e não a serve bem à construção dos mitos em torno do compositor,
tipos realmente humanos. mas o fato é que não há registro oficial algum do episódio,
E) simbolista: a realidade é antes indicada e sugere que seja pelo contrário: cartas e documentos mostram que, ao partir
expressa no sentido conotativo das palavras. para a Itália, Carlos Gomes já pensava em O Guarani como
tema para uma nova obra. Se ele comprou uma versão
04. (UFPE/2004) Sobre o surgimento e as características do italiana do romance foi apenas para facilitar o trabalho do
Romantismo, é insustentável afirmar que libretista Antonio Scalvini.
A) o movimento coincide com a democratização da arte, gerada O romance de José de Alencar tinha todos os
pelas mudanças sociais, políticas e econômicas do fim do século ingredientes de um bom libreto: o triângulo amoroso, a luta
XVIII. Tornou-se a expressão artística de uma nova sociedade entre o bem e o mal e cenas dramáticas e visualmente fortes.
burguesa, em oposição à arte neoclássica da aristocracia. No dia 2 de dezembro de 1870, o escritor José de
B) o Romantismo literário absorveu tendências do liberalismo, Alencar caminhou pela ruas do Rio de Janeiro até o Teatro
que propiciou a liberdade nas artes e, consequentemente, Lírico a fim de acompanhar a estreia brasileira da ópera
a expressão fora dos rígidos modelos precedentes. baseada em seu romance mais famoso, publicado em 1857.
C) foi inspirado pelas obras do francês Rousseau e pelo movimento Ao fim do espetáculo, a intensa ovação não foi suficiente para
alemão Sturm und Drag, que valorizava o folclórico, o popular fazer o escritor esquecer algumas restrições com relação à
e o nacional, em oposição ao universalismo clássico. adaptação. Anos depois, em suas memórias, ele se resignaria:
D) consolidou-se junto ao público europeu, em fins do “Desculpo-lhe, porém, por tudo, porque daqui a tempos,
século XVIII, com o romance Werther, de Goethe. talvez por causa das suas espontâneas e inspiradas melodias,
O sucesso do romance, que culmina com o suicídio, por não poucos hão de ler esse livro, senão relê-lo – e maior favor
amor, do jovem personagem, desencadeia uma onda de não pode merecer um autor“. Alencar não estava errado.
suicídios na Europa. A ópera não apenas ajudou a manter viva a fama do romance
E) apenas nos últimos anos do século XIX é que o Romantismo como se tornou símbolo máximo da obra de seu compositor.
se sedimenta na Europa, quando sua estética é Coleção Folha Grandes Óperas. São Paulo: Moderna, 2011. Adaptado.
introduzida no Brasil, coincidindo, portanto, com a nossa
independência política. 06. (FGV) Segundo o autor do texto, a
A) divulgação das cartas de Carlos Gomes acabou desmentindo
05. (UFPE/2004) O Arcadismo foi um movimento literário que que ele tivesse adquirido, na Europa, a versão italiana do
teve lugar em Vila Rica, Minas Gerais, acompanhando o romance de José de Alencar.
Ciclo do Ouro, no século XVIII. Sobre as semelhanças e B) utilização de O Guarani em italiano, por parte do libretista
diferenças com o movimento que o seguiu historicamente,
da ópera de mesmo nome, deve ser considerada somente
o Romantismo, é correto afirmar que
um hipótese.
A) ambos portam as marcas de submissão e servilismo aos
padrões estéticos europeus. C) estrutura dos libretos de ópera foi utilizada por Alencar
B) predominaram, nestes movimentos, o plágio, a imitação e para criar o enredo do romance O Guarani.
a cópia, sem nenhum traço de originalidade. D) tradução para o italiano do romance O Guarani, feita a
C) ambos propõem um retorno à natureza: o Arcadismo, pedido do próprio Alencar, serviu como um aviso para que
no sentido de uma natureza equilibrada e bucólica, Carlos Gomes compusesse sua ópera.
harmoniosa e pacata; o Romantismo, no sentido de uma E) reação do público à ópera de Carlos Gomes, em sua estreia
natureza exuberante, selvagem e tropical, identificada com no Rio, acabou referendando as críticas que lhe dirigira
os estados de espírito, a grandeza e as potencialidades José de Alencar.
físicas do país.

54 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
07. (FGV) O mencionado triângulo amoroso de O Guarani,
Aula 12:

de José de Alencar, é composto pelas personagens: C-5 H-15, 16


A) Peri, Cecília e Álvaro. Aula Realismo I C-6 H-17, 18

B) D. Diogo, Isabel e D. Antônio. 12 Romances Machadianos


C) D. Antônio, Dona Lauriana e Loredano.
D) D. Antônio, Isabel e Dona Lauriana.
E) Peri, Cecília e Isabel. REALISMO, NATURALISMO
E PARNASIANISMO
08. (FGV) Voltar “às origens” (l. 10), tendo como base o romance REALISMO REALISMO
O Guarani, de José de Alencar, significa, para Carlos Gomes,
Início: Memórias Póstumas de Literatura de combate social, crítica
retomar Brás Cubas, de Machado de à burguesia, ao adultério e ao clero.
A) o livro que dá início à história do romance brasileiro, Assis, publicado em 1881. Análise psicológica das personagens.
Objetividade, temas contemporâneos.
inaugurando a prosa de ficção em nossas Letras.
B) a figuração de uma gênese do Brasil, que conjuga elementos Destacou-se:
históricos, ficcionais e mitológicos. Machado de Assis – trilogia: Memórias
Póstumas de Brás Cubas (narrado em
C) o texto inaugural do Indianismo, estética fundadora de uma 1ª pessoa); Quincas Borba (“Ao vencedor,
sensibilidade autenticamente nacional. as batatas”); Dom Casmurro (narrado em
D) as matrizes da arte operística, constituídas elas próprias de 1ª pessoa – enigma de traição).
materiais épicos, líricos e dramáticos.
NATURALISMO NATURALISMO
E) a tradição operística brasileira, que já durante o Arcadismo
mineiro produzira óperas de enredo indianistas. Início: O Mulato, de Aluísio de Desdobramento do Realismo.
Azevedo. Escritores naturalistas retratam pessoas
marginalizadas pela sociedade.
09. (FGV) Um aspecto marcadamente ideológico do Indianismo Contexto histórico: O Naturalismo é fruto da experiência.
romântico brasileiro consistiu em • A Proclamação da República. Análise biológica e patológica das
personagens.
• A Primeira República.
A) reforçar o estereótipo do índio como selvagem canibal. Determinismo acentuado.
B) elidir a participação do negro na formação do Brasil. As personagens são comparadas aos
animais (zoomorfismo).
C) incentivar o antilusitanismo, tal como fez Alencar em
Destacou-se:
O Guarani.
– Aluísio Azevedo – Obras: O Mulato;
D) representar preferencialmente a colonização como um O Cortiço (romance social, personagem
processo cruento de genocídio. principal do romance é o próprio cortiço).
E) obliterar a contribuição europeia para a criação da literatura
brasileira.
Estilo especificamente poético,
desenvolveu-se junto com o Realismo
10. (PUC-PR) Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura – Naturalismo.
A maior preocupação dos poetas
brasileira, diz a respeito de Inocência, de Visconde de Taunay.
PARNASIANISMO parnasianos é com o fazer poético.
Arte pela arte.
Início: Fanfarras, de Teófilo Dias.
Por temperamento e cultura, o Visconde de Taunay Poesia descritiva sem conteúdo;
Contexto histórico: vocabulário nobre; objetividade.
tinha condições para dar ao regionalismo romântico a
• Contemporâneo do Realismo Os poetas parnasianos são considerados
sua versão mais sóbria. Homem de pouca fantasia, muito – Naturalismo.
“os mestres do passado”. Por suas manias
senso de observação, formado no hábito de pesar com de precisão foram criticados severamente
pelos poetas do 1º Tempo Modernista.
a inteligência as suas relações com a paisagem e o meio
Destacou-se:
(era engenheiro, militar e pintor) Taunay foi capaz de
Olavo Bilac (poeta representante) –
enquadrar a história de Inocência (1872) em um cenário Profissão de Fé.
e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é
verossímil. Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera
Museu d’Orsay Paris França

agreste e idílica que até hoje dá um renovado encanto à


leitura da obra.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2003, p. 144-145.

Com base no trecho anterior, é possível dizer que


A) o romantismo de Visconde de Taunay é, de certa forma,
um “realismo mitigado“.
B) Visconde de Taunay, com Inocência, antecipa o Realismo no
Brasil.
C) por sua pouca fantasia, Inocência não pode ser classificada
como obra genuinamente romântica, mas pré-realista.
D) o senso de observação de Visconde de Taunay em Inocência
o leva às portas do Naturalismo.
E) a fantasia, aliada ao senso de observação, torna esta obra o Os trabalhadores foram tema do Realismo.
CAILLEBOTTE, Gustave (1848-1894).
melhor representante do regionalismo pré-modernista. Os raspadores de assoalho, 1875. Óleo sobre tela.

Anual – Volume 3 55
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
realismo / Naturalismo / Contexto histórico
Século XIX
Parnasianismo: A Europa, na segunda metade do século XIX, foi marcada
• Segunda Revolução Industrial; por novos inventos (telefone, telégrafo, locomotiva a vapor), pela
• Cientificismo: socialismo científico, utilização de novas fontes de energia (petróleo, eletricidade) e pelas
positivismo, evolucionismo e novas descobertas científicas, que explicaram ao ser humano o,
até então, inexplicável. No entanto, a acelerada industrialização,
determinismo;
resultado da Segunda Revolução Industrial e do capitalismo,
• Consequências da Guerra do
contexto histórico: determinou o aparecimento de uma nova classe, o proletariado,
Paraguai; constituída por uma massa de trabalhadores miseráveis, sem direito
• Libertação dos escravos; a nenhuma vantagem trazida por esse progresso.
• Fim da Monarquia e Proclamação Criticando o misticismo, a religião, o sentimentalismo e
da República; o subjetivismo, o homem passou a basear-se na observação e na
• Imigração. experimentação para estudar os mais diversos fenômenos. Valeu-se
para isso de algumas doutrinas.
• Objetividade;
1) Positivismo: filosofia de Augusto Comte, segundo a qual só
• Predomínio da razão; importava o que podia ser medido e provado, isto é, todos os
• Observação, análise e denúncia fenômenos deviam ser explicados pela ciência.
dos males sociais; 2) Evolucionismo: teoria de Charles Darwin, que colocava em
características:
• Criação do romance de análise xeque a origem divina do homem, defendida pela Igreja, e
(Realismo); explicava a evolução das espécies pelo processo de seleção
• Aceitação de determinismos natural, pela sobrevivência do mais forte e do mais apto.
científicos (Naturalismo). 3) Determinismo: teoria de Hipólito Taine, que explicava a obra de
arte como consequência de três fatores: raça (hereditariedade),
meio e momento histórico. Segundo ele, o ser humano era
Projeto literário produto do meio em que vivia.
Realismo: Machado de Assis / 4) Socialismo científico: Engels e Karl Marx denunciaram a
Raul Pompeia. exploração do proletariado.
5) Experimentalismo: o médico Claude Bernard deu bases
Naturalismo: Aluísio de Azevedo /
científicas à medicina (observação, investigação) e demonstrou
autores: Inglês de Sousa / Júlio Ribeiro / Adolfo a importância da Fisiologia no comportamento humano.
Caminha / Domingos Olímpio.
Parnasianismo: Alberto de Oliveira / O Brasil viveu, nesse período, as consequências da Guerra do
Paraguai, o movimento abolicionista e a perspectiva da República.
Raimundo Correia / Olavo Bilac.
O surto modernizador sustentado pela exportação cafeeira fez
surgirem comerciantes e pequenos empresários que aderiram
realismo / Parnasianismo às novas ideias. A economia fortalecida exigia trabalho livre e
romantismo
Naturalismo (prosa) (poesia) começaram, então, as primeiras imigrações. Essas transformações
socioeconômicas apressaram o fim da Monarquia: federalistas,
• Subjetivismo. • Objetivismo. abolicionistas e positivistas opunham-se à centralização do poder
• Racionalismo,
objetivismo, e lutavam pela República. Em 1888, a escravatura foi abolida e, em
• Materialismo/
• Sentimentalismo. impessoalidade. 1889, proclamada a República.
racionalismo.

• Fantasia/ • Observação da • Perfeição


Manifestações artísticas
imaginação. realidade. formal. “A pintura, arte essencialmente objetiva, consiste na
representação das coisas reais existentes. A beleza não está
• Comprometimento no característico, mas na verdade”, afirmava o pintor francês
• Volta ao passado/
com o momento Courbet. Antiburguês convicto, deu espaço em seus quadros aos
indianismo.
presente. trabalhadores, aos camponeses, retratando cenas da vida popular
e cotidiana.
• Verdade A arquitetura e a escultura rebelam-se contra o academicismo.
• Verdade universal.
individual.
Museu de Belas Artes de Nantes França

Realismo
O Realismo e o Naturalismo, surgidos como reação
ao sentimentalismo romântico, iniciaram-se em 1881,
respectivamente, com a publicação de Memórias Póstumas de
Brás Cubas, de Machado de Assis, e O Mulato, de Aluísio de
Azevedo; manifestações poéticas do Parnasianismo já se faziam
sentir desde 1870. Assinala-se o ano de 1893 como início do
Simbolismo e final, portanto, do Realismo. No entanto, essa
data é puramente didática, uma vez que, até as duas primeiras COURBET, Gustave (1819-1877).
décadas deste século, é possível encontrar produções orientadas Les Cribleuses de blé, 1855. Óleo sobre tela.
por todas essas estéticas.

56 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
No Brasil, o que se vê retratado é o cotidiano da burguesia: Machado de Assis – produção literária
Arrufos, de Belmiro de Almeida, mostra a briga de um casal.
Almeida aproxima-se de um realismo mais comprometido com as
classes populares. Realismo

Machado de Assis

Museu Nacional de Belas Artes – Iphan/MinC Rio de Janeiro RJ


Joaquim Maria Machado de Assis

Wikimedia Foundation
nasceu em 1839, no Morro do Livramento,
Rio de Janeiro, e faleceu também no Rio,
em 1908, aos 69 anos. Filho de um pintor
e uma lavadeira, ambos muito pobres,
ficou órfão muito cedo.
Mulato, tímido, gago e epilético,
conseguiu, no entanto, sobreviver, fazendo
carreira como funcionário público e escritor.
Aos 16 anos, trabalhou como aprendiz de tipógrafo, em jornais da
Imprensa Nacional. Dois anos depois, tornou-se revisor de uma editora
e, em seguida, do Correio Mercantil. Em 1860, passou a trabalhar
ALMEIDA, Belmiro de (1858-1935). Ressentimento, 1887.
na redação do Diário do Rio de Janeiro, colaborando na seção
Óleo sobre tela. “Semana Ilustrada”. Autodidata, foi conquistando vasta cultura
literária e, embora escrevesse críticas teatrais e literárias, crônicas,
Literatura artigos políticos, contos e peças de teatro, a princípio ganhou nome
como poeta.
O Realismo iniciou-se na França, em 1857, com a Aos 30 anos, casou-se com Carolina Xavier de Novais
publicação do romance Madame Bovary, em que seu autor,
e desde então fez carreira burocrática, na qual ascendeu e
Gustave Flaubert, conta a história do adultério e suicídio de
uma jovem burguesa romântica. Dez anos depois, Émile Zola permaneceu até a morte. Foi um dos fundadores e presidente
inaugurou o romance naturalista com a publicação de seu da Academia Brasileira de Letras; ao longo de mais de 50 anos
romance experimental Thérèse Raquin, em que lança mão da de vida literária colaborou em inúmeros jornais e revistas.
observação científica da sociedade e das reações humanas. Considerado o maior escritor em prosa da literatura
Os escritores realistas/naturalistas, opondo-se aos brasileira, Machado de Assis é um autor múltiplo, inventivo, original.
românticos e impulsionados pela filosofia e ciência da época, Além de iniciar o Realismo brasileiro, em 1881, com Memórias
pretendiam reproduzir integralmente o real. Antimonárquicos, Póstumas de Brás Cubas, na mesma obra realiza a superação
antiburgueses e anticlericais, em sua maioria republicanos e desse estilo, dando um salto para a modernidade literária, que
até socialistas, ao sentimentalismo opunham o materialismo antecipa em vários aspectos a crítica da linguagem tradicional
e o racionalismo; ao subjetivismo, o objetivismo; à fantasia e
da narrativa, com microcapítulos digressivos, enredo não linear,
à imaginação, a observação do real; ao retorno ao passado, o
constante metalinguagem; o estilo antirretórico, substantivo;
comprometimento com o momento presente; ao nacionalismo,
o universalismo. a análise psicológica que anuncia a psicanálise; o humor sutil e
O romance realista, cujo maior representante é Machado permanente, destruindo as ilusões e pieguices românticas; a visão
de Assis, preocupou-se com a análise psicológica das personagens, metafísica aguda e relativista de todos os valores, em sentido
em função da qual critica a sociedade. Trata-se de um romance profundo, e por isso considerada pessimista; a linguagem repleta
documental, que pretende ser o retrato da época. Já o romance de ambiguidades e outros recursos estilísticos desconhecidos em
naturalista valorizou o coletivo, a análise social, entendendo o seu tempo. Outros romances fundamentais de Machado, na mesma
homem como um animal sujeito ao instinto, por isso a predileção direção das Memórias..., são Quincas Borba, Dom Casmurro e
temática pelas taras e desvios sexuais. Numa confrontação entre Memorial de Aires.
as duas estéticas, temos:
Principais características literárias de Machado de Assis
Realismo Intersecção Naturalismo
Antecipação da modernidade literária
Influenciados pelo • Enredo não linear.
• Análise
Positivismo e pelo • Análise social.
psicológica. • Microcapítulos digressivos.
Determinismo.
• Metalinguagem.
Anticlericais,
• Romance • Estilo antirretórico.
• Romance antiburgueses,
científico,
documental. antimonárquicos e • Análise psicológica / psicanalítica.
experimental.
antirromânticos.
• Humor sutil e permanente.

• Expressão • Ironia fina e corrosiva.


Retrato do real. • Expressão direta.
indireta. • Visão metafísica relativista de todos os valores humanos
(pessimismo).
Disponível em: <http://issuu.com/clictapejara/docs/clictapejara/164>

Anual – Volume 3 57
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
Principais obras de Machado de Assis maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer,
e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo
• Poesia (em que desenvolveu o estilo parnasiano)
regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios,
Crisálidas, Falenas Americanas e Poesias Completas. guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam,
• Romance: urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...”.
– Fase romântica: Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Garcia.
– Fase realista: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, – Metalinguagem, ironizando o leitor apressado e acostumado
Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires. com a estrutura dos folhetins românticos: narração direta, regular
e fluente.
• Conto: Contos Fluminenses, Histórias da Meia-Noite, Papéis
Avulsos, Histórias sem Data, Várias Histórias, Páginas Escolhidas, 3. “E aqui façamos justiça à nossa dama. A princípio, cedeu sem
Relíquias da Casa Velha. vontade aos desejos do marido; mas tais foram as admirações
colhidas, e a tal ponto o uso acomoda a gente às circunstâncias, que
• Teatro: Queda que as mulheres têm pelos tolos, Desencanto, ela acabou gostando de ser vista, muito vista, para recreio e estímulo
Quase ministro, Os deuses de casaca, Tu, só tu, puro amor. dos outros. Não a façamos mais santa do que é, nem menos.
Para as despesas da vaidade, bastavam-lhe os olhos, que eram
Os recursos estilísticos ridentes, inquietos, convidativos, e só convidativos: podemos
compará-los à lanterna de uma hospedaria em que não houvesse
Vamos enumerar e exemplifi car alguns dos principais cômodos para hóspedes. A lanterna fazia parar toda a gente,
recursos estilísticos de Machado de Assis, a fim de compreendermos tal era a lindeza da cor, e a originalidade dos emblemas; parava,
aspectos de sua escritura, que não apenas o distanciam dos
olhava e andava. Para que escancarar as janelas? Escancarou-as,
escritores de seu tempo, mas também o transformam em
anunciador da modernidade literária, isto é, das obras produzidas finalmente; mas a porta, se assim podemos chamar ao coração,
no século XX. essa estava trancada e retrancada”.
Quincas Borba.
• O narrador não confiável, que ilude, provoca, desconcerta o leitor,
em “conversas” em que muitas vezes ironiza suas expectativas, – Descrição da personagem Sofia, com comparações sofisticadas,
por exemplo, no caso das leitoras românticas. inesperadas e aguda análise psicológica.
• As reticências – omissões, lacunas, digressões –, que demonstram
capacidade de despistar o leitor ingênuo, fazendo parecer sem 4. “Aqui é que eu quisera ter dado a este livro o método de tantos
importância o que é fundamental, e vice-versa. outros – velhos todos – em que a matéria do capítulo era posta
• As reflexões metalinguísticas, que fazem a crítica da linguagem no sumário: ‘De como aconteceu isto assim, e mais assim’.
e da estrutura da narrativa tradicional, e questionam o próprio Aí está Bernardim Ribeiro; aí estão outros livros gloriosos.
processo de criação literária, ao longo de seu desenvolvimento.
Das línguas estranhas, sem querer subir a Cervantes nem a
• As comparações insólitas, incongruentes.
Rabelais, bastavam-me Fielding e Smollet, muitos capítulos dos
• As citações, das mais díspares e variadas fontes.
• A quebra da linearidade do enredo, com microcapítulos digressivos, quais só pelo sumário estão lidos. Pegai em Tom Jones, livro IV,
que explicam outros capítulos e dão pistas para a sua leitura. cap. I, lede este título: Contendo cinco folhas de papel. É claro,
• O estilo substantivo, antirretórico. é simples, não engana a ninguém; são cinco folhas, mais nada,
• O humor sutil e permanente, destruindo as ilusões românticas. quem não quer não lê, e quem quer lê, para os últimos é que o
• A linguagem sutil, ambígua, de múltiplos sentidos. autor concluiu obsequiosamente: ‘E agora, sem mais prefácio,
Novas palavras: português, volume único: livro do professor/
vamos ao seguinte capítulo’.”
Quincas Borba.
Emília Amaral (et al.). – 2. ed. – São Paulo: FTD, 2003.
– Microcapítulo digressivo e metalinguístico, com citação de
fontes literárias.
Exemplos:
Memórias Póstumas de Brás Cubas
1. “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética Publicado em 1881, Memórias Póstumas de Brás Cubas é o
para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me ocorre romance que marcou o início do Realismo na literatura brasileira.
imagem capaz de dizer, sem quebrar a dignidade do estilo, o Surgiu, primeiramente, em forma de folhetins.
que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. O protagonista-narrador, Brás Cubas, depois de morto,
É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido,resolve escrever a sua autobiografia. As lembranças vêm
misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como fragmentadas, cabendo ao leitor organizá-las para acompanhar
a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. o relato.
Em capítulos muito curtos, a história se inicia pela morte de
Dom Casmurro. Brás Cubas, e os personagens vão sendo apresentados à medida

– Metalinguagem, com ironia da retórica romântica. que participaram da vida dele. De tudo que narra, ressaltam-se os
seus amores na juventude. Primeiro, o namoro com a prostituta
2. “Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; de luxo, Marcela, que o explora e quase acaba com os seus bens.
eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros Para separá-lo dela, os pais o enviam à Europa. Quando volta, já é
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco doutor. Brás Cubas começa a namorar uma moça pobre, Eugênia,
da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz que tem um defeito na perna. Terminado mais esse namoro, fica
noivo de Virgília. Se realizado, o casamento teria ajudado muito
certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o
suas aspirações políticas, já que o pai de Virgília é muito influente.

58 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Mas Lobo Neves acaba por casar-se antes com ela. Brás Cubas fica
solteirão. Anos mais tarde, tornar-se-á amante de Virgília, vivendo
uma paixão ardente. A gravidez de Virgília alegra a Brás Cubas,
Exercícios de Fixação
mas a criança morre antes de nascer. Os amantes se separam. A
irmã de Brás Cubas, Sabina, arranja-lhe uma noiva – Eulália – que,
no entanto, morre, vitimada por uma epidemia. • Texto para as questões 01 e 02.
Brás Cubas, completamente sem rumo na vida, encontra
o seu amigo Quincas Borba. O filósofo explica-lhe a teoria do O que singulariza o pessimismo de Machado de Assis é a
Humanitismo. Mais tarde, o filósofo enlouquece. sua posição antagônica em relação ao Evolucionismo oitocentista,
Brás Cubas vai tentar a vida política, pois quer ser célebre.ao culto do progresso e da ciência. Frente às ingenuidades do
Em vão. Apanhado por uma pneumonia, vem a falecer. cientificismo, o sarcasmo de Brás Cubas reabre a interrogação
metafísica, a perplexidade radical ante a variedade do ser humano.
Dom Casmurro Um artista como Machado levou mais a sério do que os arautos
Publicado em 1900, Dom Casmurro é narrado em primeira do Evolucionismo cientificista o golpe que Darwin tinha desfecho
pessoa. Bentinho conta a sua própria história, a partir de um contra as ilusões antropocêntricas da humanidade.
flashback da velhice para a adolescência. MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides
Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito carinhoso Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 171-172.
– tia Justina, tio Cosme, José Dias –, recebendo todos os cuidados
da mãe, D. Glória, que o destinara à vida sacerdotal. 01. (PUC) É exemplo da atmosfera superiormente sarcástica com
Entretanto, Bentinho não quer ser padre – namora a vizinha, que Brás Cubas conduz suas memórias póstumas o fato de
Capitu, e quer se casar com ela. D. Glória, presa a uma promessa que que, nesse romance magistral,
fizera, aceita a ideia inteligente de José Dias de enviar um escravo A) o tom crítico-documental serviu às gerações seguintes como
ao seminário, para ser ordenado no lugar de Bentinho. uma cruel historiografia da segunda metade do século XIX.
Livre do sacerdócio, o moço se forma em Direito e acaba
B) a personagem que narra logrou combinar a pena da galhofa
se casando mesmo com Capitu. O casal vive muito bem, Bentinho
com a tinta da melancolia, tal como confessa ao seu leitor.
vai progredindo, mantém amizade com Escobar e Sancha. A vida
C) o narrador, um diplomata já aposentado, refaz sua vida
segue o seu curso. Nasce-lhe um filho, Ezequiel.
Escobar morre e, durante o seu enterro, Bentinho começa valendo-se das confissões mais impiedosas.
a achar Capitu estranha: surpreende-a contemplando o cadáver de D) o tom fantástico da narrativa aproxima-o das melhores
uma forma que ele interpreta como apaixonada. páginas da ficção científica que predominará no século XX.
A partir do episódio, Bentinho se consome em ciúmes e E) a estranha narrativa é conduzida de tal modo que apaga
tem início uma crise no casamento. Ezequiel se torna cada vez mais quaisquer traços realistas da sociedade da época.
parecido com Escobar – o que precipita em Bentinho a certeza de
que ele não é seu filho. Em consequência disso, o casal se separa, 02. (PUC-Campinas) Ao afirmar que Machado de Assis referendou
Capitu e Ezequiel vão para a Europa. Algum tempo depois ela morre. o golpe que Darwin tinha desfechado contra as ilusões
Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que antropocêntricas da humanidade, o autor do texto dá forças
constata a semelhança entre o filho e o antigo colega de seminário. à ideia de que o criador de Brás Cubas
Ezequiel morre no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais fechado em A) deixou-se levar pelo cientificismo dos pesquisadores mais
sua dúvida, ganha o apelido de “Casmurro” e põe-se a escrever o ingênuos.
livro de sua vida. B) acabou se identificando com os arautos do progresso
Quincas Borba histórico.
C) alinhou-se ao pessimismo darwinista em relação ao futuro
Publicado em 1891, Quincas Borba, narrado em terceira
pessoa, é a história do professor Rubião, mineiro de Barbacena, que da humanidade.
recebe como herança todos os bens do filósofo Quincas Borba, mais D) rechaçou a ideia de que os homens constituam o centro
a incumbência de tomar conta de seu cão – também denominado privilegiado do Universo.
Quincas Borba – e divulgar a filosofia conhecida como Humanitismo. E) considerou que a ciência da época soube como aliar-se às
Muda-se de Minas para o Rio de Janeiro, onde se apaixona eculubrações da metafísica.
por Sofia, esposa de Cristiano Palha.
Sabendo da paixão de Rubião por sua mulher, Palha
03. (PUC-RS/2019) No antológico trecho de Dom Casmurro em
incentiva Sofia a aceitar a corte do professor, a fim de usufruir de
vantagens financeiras. Sem desconfiar de nada, Rubião acredita ser que o narrador se refere aos “olhos de cigana oblíqua e
correspondido em sua paixão. Sofia sabe jogar com a paixão do dissimulada” de Capitu,
inocente apaixonado. Sem deixar de ser fiel ao seu marido, ela faz I. ele confere dois atributos aos olhos da cigana;
a paixão crescer. Palha vai enriquecendo. II. a construção contrapõe-se a outra do narrador Bentinho,
Motivado por problemas que já possuía e muito sensível
qual seja: “olhos de ressaca”;
pela paixão não realizada, Rubião começa a ter atitudes estranhas.
Deixa-se explorar, esbanja a fortuna, entra na política e fracassa. III. a capacidade de sedução de Capitu é sugerida por “olhos
Tem Sofia como pensamento fixo. de ressaca”.
Vai enlouquecendo aos poucos e cria fantasias: diz que é
Napoleão III e quer fazer de Sofia a sua duquesa. Está/Estão correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
É abandonado pelo casal, tendo somente o cachorro por A) I.
seu companheiro. Internado numa clínica, certo dia foge para
B) III.
Barbacena, levando o cão. Os dois se unem na miséria, tornando-
se objeto de chacota dos meninos de rua e desocupados. Morre C) I e II.
louco. Ao morrer, pronuncia a frase básica do Humanitismo: “Ao D) II e III.
vencedor, as batatas”.

Anual – Volume 3 59
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
• Texto para a questão 04. C) “fechei o olho três ou quatro vezes”, para o narrador,
ironicamente, não justifica a atitude do poeta de guardar
No meio disso, a que vinha agora uma criança
os versos e lhe alcunhar “Casmurro”.
deformá-la por meses, obrigá-la a recolher-se, pedir-lhe
D) “atribuir-me fumos de fidalgo” revela a aversão do narrador
as noites, adoecer dos dentes e o resto? Tal foi a primeira
aos costumes das classes mais abastadas da sociedade,
sensação da mãe, e o primeiro ímpeto foi esmagar o gérmen. duramente criticadas por ele.
Criou raiva ao marido. A segunda sensação foi melhor. E) “deram curso à alcunha“ revela o uso de vocabulário
A maternidade, chegando ao meio-dia, era como uma aurora rebuscado e inversões sintáticas, índices do tom grave
nova e fresca. Natividade viu a figura do filho ou filha brincando predominante em todo o excerto.
na relva da chácara ou no regaço da ala, com os três anos de
idade, e este quadro daria aos trinta e quatro anos que teria
então um aspecto de vinte e poucos...
Foi o que a reconciliou com o marido.
Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Exercícios Propostos
04. (ESPM/2007) Considerando os aspectos histórico-literários,
pode-se afirmar que o texto 01. (PUC-Campinas) A presença do leitor é uma constante no
A) apresenta aspectos do Barroco por mostrar os conflitos
romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de
existenciais da personagem influenciada pela religiosidade
Assis. O narrador, defunto autor, solicita dele uma participação
(daí o título da obra Esaú e Jacó).
efetiva capaz de balizar o andamento da narrativa e de dar
B) é coerente com o padrão do Realismo ao enfocar uma crítica
social à questão da rejeição da maternidade e o consequente sentido ao texto. Assim, indique, das ações do narrador,
abandono dos filhos. elencadas a seguir, a que se põe em desacordo com as várias
C) tem afinidade com o Naturalismo ao enfatizar o Determinismo referências ao leitor e a função, esperada dele, na leitura do
biológico e as personagens patológicas. romance.
D) está contra o padrão do Romantismo, imediatamente A) Abre o romance com um prólogo “Ao Leitor” e considera
anterior à obra, uma vez que não idealiza o instinto maternal que sua obra terá a acolhida tanto da gente grave quanto da
e a mulher. gente frívola, que são as duas colunas máximas da opinião.
E) faz sintonia com a poesia do Parnasianismo, pois apresenta B) Elabora capítulos desprovidos de palavras, mas configurados
a obsessão pela forma no vocabulário e o tema clássico por diagramação gráfica, como “O Velho diálogo de Adão e
greco-latino. Eva”, desafiando o leitor e pondo em cheque sua capacidade
interpretativa.
• Para responder à questão 05, leia o texto a seguir extraído do
C) Dedica ao leitor um capítulo em especial denominado “O
primeiro capítulo do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Senão do Livro”, em que o considera o maior defeito do
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho livro, por exigir do texto aquilo que ele não lhe pode dar.
Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro,
que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, D) Dirige-se ao leitor esperando sempre sua concordância e
sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou opinião favorável, capaz de validar a qualidade que o autor
recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser reconhece que a obra mesma tem.
que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que,
como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; 02. (PUC-Campinas) Machado de Assis revela em Memórias
tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse Póstumas de Brás Cubas uma linguagem rica em recursos
os versos no bolso.
estilísticos capaz de emprestar ao romance uma fina dimensão
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele. estética. Sua obra é repassada pelas diferentes funções da
— São muito bonitos. linguagem. Assim, indique a alternativa que contém trecho
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, em que predomina a função metalinguística.
mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte A) “Tudo tinha a aparência de uma conspiração das coisas
entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me contra o homem: e, conquanto eu estivesse na minha sala,
Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus olhando para a minha chácara, sentado na minha cadeira,
hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal ouvindo os meus pássaros, ao pé dos meus livros, alumiado
pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos pelo meu sol, não chegava a curar-me das saudades daquela
da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em
outra cadeira, que não era minha”.
bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.”
“— Vou para Petrópolis, Dom Casmurro [...].” B) “Fui ter com Virgília; depressa esqueci o Quincas Borba.
Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no Virgília era o traveseiro do meu espírito, um travesseiro mole,
sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem tépido, aromático, enfronhado em cambraia e bruxelas”.
calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me C) “Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija-flor;
fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! havia também a da lesma e do sapo. Retira, pois, a expressão,
alma sensível, castiga os nervos, limpa os óculos, – que isso
05. (ESPM/2007) Sobre o texto lido, é correto afirmar que o segmento: as vezes é dos óculos, – e acabemos de uma vez com esta
A) “pode ser que não fossem inteiramente maus “, ao indicar flor da moita”.
a qualidade mediana dos versos do rapaz, revela o tema do D) “Citando o dito da rainha de Navarra, ocorre-me que
conflito entre sentimento e aparência. entre o nosso povo, quando uma pessoa vê outra pessoa
B) “nem por isso me zanguei” revela o ceticismo em relação à arrufada, costuma perguntar-lhe: ‘Gentes, quem matou
natureza humana, tão presente na fase realista da produção seus cachorrinhos?’ Como se dissesse: ‘– quem lhe levou os
machadiana. amores, as aventuras secretas etc.’ Mas este capítulo não é
sério”.

60 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
• Texto para a questão 03. C) Palha, mesmo interessado na riqueza de Rubião, decide
confrontá-lo ao perceber o assédio dele a Sofia.
CAPÍTULO LXXI
D) Sofia tenta esconder do marido o interesse que tem por
Carlos Maria, que a seduziu em um baile.
O senão do livro
E) Sofia, mesmo interessada em Carlos Maria, faz de tudo para
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; que Maria Benedita se case com ele.
eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da • Leia o texto a seguir e responda às questões de 07 a 09.
eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa
contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior CAPÍTULO LXXI / O SENÃO DO LIVRO
defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me
livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo
canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns
regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios,
magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai
guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram,
um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira
gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... E caem! – Folhas
a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e
misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras
aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor.
belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de
Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas
saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa
a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.
livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
ameaçam o céu, escorregam e caem...
03. (Fuvest/2014) No contexto, a locução “Heis de cair”, na última
Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.
linha do texto, exprime:
A) resignação ante um fato presente.
B) suposição de que um fato pode vir a ocorrer. 07. (ESPM/2010) Ao comparar seu estilo aos ébrios, o narrador-
C) certeza de que uma dada ação irá realizar-se. -personagem faz alusão metafórica
A) a algumas características da obra como as digressões e a
D) ação intermitente e duradoura.
ausência de linearidade narrativa.
E) desejo de que algo venha a acontecer. B) à falta de compromisso com a escrita, ao utilizar uma
narrativa lenta, ziguezagueante e confusa.
04. (Fuvest/2014) Um leitor que tivesse as mesmas inclinações que C) ao aspecto denso da narrativa, que possui um discurso
as atribuídas, pelo narrador, ao leitor das Memórias póstumas interminavelmente filosofante.
de Brás Cubas teria maior probabilidade de impacientar-se, D) à incompatibilidade entre os leitores apressados e os
também, com a leitura da obra escritores morosos ou bêbados.
A) Memórias de um sargento de milícias. E) a um recurso utilizado pelo narrador para se distrair da
B) Viagens na minha terra. eternidade e substituir o arrependimento do livro.
C) O cortiço.
D) A cidade e as serras. 08. (ESPM/2010) Quando afirma “distrair-se um pouco diante da
E) Capitães da areia. eternidade”, remete-nos ao fato de, em outro momento da
obra, o narrador intitular-se
05. (Fuvest/2014) Nas primeiras versões das Memórias póstumas A) narrador-personagem. B) defunto autor.
de Brás Cubas, constava, no final do capítulo LXXI, aqui C) autor defunto. D) niilista convicto.
reproduzido, o seguinte trecho, posteriormente suprimido E) filho da burguesia.
pelo autor: [... Heis de cair.] Turvo é o ar que respirais, amadas
folhas. O Sol que vos alumia, com ser de toda a gente, é um 09. (ESPM/2010) O trecho: “... resmungam, urram, gargalham,
sol opaco e reles, de _________ e _____________. ameaçam o céu, escorregam e caem...” configura uma
A) anáfora.
As duas palavras que aparecem no final desse trecho, no lugar
B) hipálage.
dos espaços, podem servir para qualificar, de modo figurado, a
C) gradação.
mescla de tonalidade estilísticas que caracteriza o capítulo e o
D) antonomásia.
próprio livro. Preenchem de modo mais adequado as lacunas
E) silepse de número.
as palavras
A) acaso e invernia. B) Finados e ritual.
C) senzala e cabaré. D) cemitério e Carnaval. • Leia o trecho para responder à questão 10.
E) eclipse e cerração.
(...) “Confeitaria do Custódio”. Muita gente
06. (ITA/2019) No Realismo, o adultério subverte o ideal romântico certamente lhe não conhecia a casa por outra designação.
de casamento. Machado de Assis, porém, costuma tratá-lo de Um nome, o próprio nome do dono, não tinha significação
modo ambíguo, valendo-se, por exemplo, do ciúme masculino política ou figuração histórica, ódio nem amor, nada que
ou da dubiedade feminina. Com isso, em seus romances, a chamasse a atenção dos dois regimes, e, conseguintemente,
traição nem sempre é comprovada, ou, mesmo que desejada que pusesse em perigo os seus pastéis de Santa Clara,
pela mulher, não se consuma. Constatamos tal ambiguidade menos ainda a vida do proprietário e dos empregados.
em Quincas Borba, quando Por que é que não adotava esse alvitre? Gastava alguma
A) Palha se enraivece com os olhares de desejo que os homens coisa com a troca de uma palavra por outra, Custódio em
dirigem a Sofia nos eventos sociais. vez de Império, mas as revoluções trazem sempre despesas.
B) Sofia decide não contar ao marido que Rubião a assediou Machado de Assis. Esaú e Jacó. Obra completa, 1904.
certa noite, no jardim da casa deles.

Anual – Volume 3 61
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
10. (Unesp/2011) O fragmento, extraído do romance Esaú e Jacó, O conto “A Cartomante” apresenta: unidade de ação, tempo,
de Machado de Assis, narra a desventura de Custódio, dono espaço, objetividade e poucas personagens, isto considerando a teoria
de uma confeitaria no Rio de Janeiro, que, às vésperas da do conto dentro de uma visão mais tradicional. A ação gira em torno
proclamação da República, mandou fazer uma placa com o de um caso de adultério entre Camilo e Rita, esposa de Vilela, amigo
nome “Confeitaria do Império” e agora temia desagradar de infância de Camilo, o que – por sinal – favorece o adultério.
ao novo regime. A ironia com que as dúvidas de Custódio A história está focada num triângulo amoroso, tema
são narradas representa o marcante na literatura machadiana. A narrativa, contudo, não é
A) desconsolo popular com o fim da Monarquia e a queda do linear, pois o relato começa pelo meio, quando Rita e Camilo já são
imperador, uma personagem política idolatrada. amantes há algum tempo e andam preocupados com a possibilidade
B) respaldo da sociedade com que a Proclamação da República da descoberta da relação de ambos por Vilela. Usando a técnica
contou e que a transformou numa revolução social. do flash-back, a partir do quinto parágrafo o narrador intervém na
C) alheamento de parte da sociedade brasileira diante do narrativa para lhe dar uma ordem temporal. Esse recurso vai permitir
conteúdo ideológico da mudança política. ao leitor um apoio na linearidade desde passado-presente-futuro.
D) reconhecimento, pelos cidadãos brasileiros, da ampliação O suspense pode ser percebido a partir do momento em
dos direitos de cidadania trazidos pela República. que Camilo recebe, na repartição, um bilhete de Vilela. A partir daí,
E) impacto profundo da transformação política no cotidiano o narrador cria a expectativa de que algo chocante vai acontecer
da população, que imediatamente apoiou o novo regime. na casa de Vilela. Em seguida, quebra essa tensão através da
presença da cartomante diante de Camilo, dando-lhe tranquilidade
e assegurando-lhe que nada de mal lhe aconteceria, para no final
Aula 13:
acontecer tudo ao contrário, ou seja, o duplo assassinato cometido
C-5 H-15, 16 pelo marido traído.
Aula Realismo II C-6 H-17, 18
Já no início do conto, mais especifi camente nos dois
13 Contos Machadianos primeiros parágrafos, o narrador cria um clima de misticismo
e descrença, esta por parte de Camilo, que se mostra apático
e indiferente com as revelações da cartomante. Mais adiante,
no entanto, Camilo acaba recorrendo aos mesmos recursos
Contos machadianos de Rita. Isto surge no conto como uma revelação, como uma
Machado de Assis é o maior escritor do Brasil de todos forma de reforçar as contradições no interior das personagens
os tempos e um dos maiores da Língua Portuguesa. Sua obra, machadianas. Ainda a respeito desse assunto, fica claro que a
original e única, é lida e comentada em todo o mundo, e referência à tragédia de Shakespeare por meio da fala de Hamlet
continua, apesar dos anos, despertando o mais vivo interesse dos que se dirige ao confidente Horácio parece não deixar dúvida
estudiosos e dos leigos. Apenas para confirmar esta assertiva, quanto às contradições e às ambiguidades, ao inexplicável e
veja o estudo de Mr. John Gledson, Machado de Assis: Impostura ao inesperado dentro da obra machadiana. Senão vejamos
e Realismo, publicado na Inglaterra e lançado no Brasil em 1991 apenas a título de lembrança como o autor inicia o seu conto:
pela Cia. das Letras, e o recém-lançado Machado de Assis: Ficção “Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na
e Utopia, de Massaud Moisés, da Editora Cultrix, São Paulo, 2001. terra do que sonha a nossa filosofia”.
Escrevendo numa linguagem enxuta, objetiva, culta, Machado
de Assis conseguiu fugir dos modismos e cacoetes linguísticos que “O Enfermeiro”
permeavam a literatura brasileira do final do séc. XIX e início do séc. XX.
Os contos de Machado permitem ao leitor vislumbrar a Quem contrata um enfermeiro busca nele um assistente, um
riqueza e a abrangência da sua obra, que aborda um leque temático pilar de sustentação da vida. Contudo, ao contratar o enfermeiro
dos mais variados. Procópio, o Coronel Felisberto podia pensar em ter tudo, menos
O egoísmo humano e o interesse pessoal estão presentes alguém que viesse dar cabo à sua já agonizante existência.
em “O Caso da Vara”; o drama da expressão, a contradição entre
intuição espiritual e a expressão é a tônica de “Cantiga de Esponsais”; Neste conto, os elementos do gênero dramático estão bem
a sedução, a sensualidade e o rito iniciático aparecem em “Missa do presentes, especialmente o trágico: uma ação grave, praticada
Galo”; o sadismo é o tema de “A Causa Secreta”; a crítica ao poder sem vontade objetiva, leva a um resultado capaz de despertar
corruptor do dinheiro, destacando a relação essência-aparência, é terror e piedade. Terror pela ação nefanda praticada; piedade, pela
o tema de “O Enfermeiro” e “Conto de Escola”; o formalismo das involuntariedade de sua prática, suscitando compaixão ante o drama
imposições sociais determinando o comportamento dos indivíduos vivido pelo personagem.
é o tema de “O Espelho” e de “Teoria do Medalhão”; o adultério É nessa linha de análise que Salvatore D’onofrio (O texto
aparece em “A Cartomante”; a vaidade está em “Um Apólogo”; e, literário. São Paulo: Duas Cidades, 1983, pp. 159-170) analisa este
por fim, a sátira à política, na qual prevalece o casuísmo e as falcatruas conto.
estão em “A Sereníssima República”. Partindo do conceito aristotélico de peripécia (Poética, XI),
sendo a oposição de contrários, ou seja, a obtenção de um efeito
“A Cartomante” oposto ao esperado numa sequência narrativa, aquele autor procura
mostrar como “O Enfermeiro” se aproxima de um texto dramático
Conto de suspense, “A Cartomante” traz um trivial caso trágico.
de adultério, servindo de suporte para o autor analisar os No conto, Procópio, um funcionário público pobre, discreto,
mecanismos que informam o funcionamento da mente humana com prática de enfermagem, dirigindo-se a um leitor virtual, a quem
e os desdobramentos que se seguem ao seu atordoamento. se refere como “senhor” e que lhe pedira um relato, conta um fato,
Neste conto, o leitor acompanhará as aventuras de dois amantes um depoimento humano do que ele ocorreu certa vez.
e verá aonde o amor que os une os levará. Precisando ganhar dinheiro, fora servir de enfermeiro a
um velho coronel, Felisberto, prepotente e tirânico, em estado
periclitante, numa vila do Rio de janeiro.

62 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
O texto começa pelo meio, como se o leitor entrasse na A “Missa do Galo” não só é um exemplo perfeito de conto,
conversa como um espectador que a tudo assiste sem interferir. como se constitui num dos mais belos textos de Machado de Assis
As duas personagens pareciam se completar mutuamente: e, provavelmente, de toda a literatura brasileira, pela riqueza das
Procópio precisava de dinheiro e o coronel Felisberto, de imagens, pela simplicidade da trama e pelo caráter enigmático que
assistência. Essa mutualidade, contudo, não ocorreu. Após uma envolve as personagens.
semana de “lua de mel”, Procópio passa a ser tratado como a O conto é formado por um único episódio, o diálogo cheio
seus predecessores, recebendo toda sorte de injúrias do coronel. de sugestões eróticas e sensuais travado pelo narrador, Nogueira,
Aqui, no dizer de Salvatore D’onofrio, ocorreu a primeira peripécia: um jovem de dezessete anos no tempo do enunciado, e Conceição,
para obter vantagem econômica, Procópio se degradou casada e com trinta anos.
“não dormir” = ausência de vida vegetal O tempo e o espaço também são únicos neste conto.
“não pensar” = ausência de vida intelectual Tudo se passa entre as 22 e as 24 horas de uma noite de Natal, na
“recolher injúrias” = ausência de vida moral sala da casa de Conceição e Meneses, localizada na rua do Senado,
(obra citada, p. 165) no Rio de Janeiro.
As personagens centrais são Nogueira e Conceição.
Em função dos maus-tratos recebidos, Procópio tenciona
Nogueira, narrador-personagem, interiorano, está no Rio a fazer
ir embora. O vigário e o coronel instam a que ele fique. Após três
preparatórios (exame de admissão). Gosta de livros de aventuras e
meses, contudo, ele resolve ir-se. Mas tendo que acordar o coronel
tem curiosidade por ver uma missa do galo na Corte. Conceição,
certa noite e não o fazendo, é afrontado pelo velho, que lhe atira
balzaquiana, é tida como santa por suportar a indiferença e o
uma moringa no rosto. Enfurecido, Procópio esgana Felisberto,
desamor do marido, que semanalmente dorme fora. É passiva e
produzindo uma segunda peripécia: para defender-se da agressão
gosta de leituras românticas. As duas personagens guardam em
recebida, acaba matando o coronel. O destino subverteu a vontade
seus interiores as suas verdadeiras essências, já que ao longo da
humana e fez com que o enfermeiro, que fora à vila salvar o coronel,
narração não deixam transparecer o que de fato são.
acabasse por matá-lo de vez.
Toda a ação do conto se passa na conversação que os
Na sequência, ele se sente atordoado, tem visões, alucinações,
dois travam na sala da casa de Meneses, quando este está fora.
pensa em ir embora, mas teme a reação popular. Providencia,
O diálogo dos dois é cheio de implicações e sugestões, mas nunca
então, o enterro do velho e retorna ao Rio de Janeiro. Sete dias
revela claramente nada. A atmosfera de penumbra que perlustra
depois, recebe uma carta do vigário dizendo que fora encontrado o
todo o conto dá a ele o exato tom de mistério e enigma que
testamento de Felisberto, no qual Procópio constava como herdeiro
caracteriza a obra machadiana.
universal. Esse fato, no dizer de Salvatore D’onofrio, constitui o que
O Professor José Fernandes (Cadernos de pesquisa do ICHL,
Aristóteles chamou de anagnorisis ou reconhecimento, entendido
nº 05, Goiânia, Cegraf/UFG, 1990, pp. 722) lança algumas pistas
como a passagem do ignorar ao conhecer e constitui uma dupla
para a compreensão do conto, notadamente analisando o nome
peripécia: o coronel, tencionando premiar seu assistente, premiou
das personagens e a simbologia dos números que as envolvem.
seu assassino; Procópio, tentando livrar-se de seu algoz, terminou
No dizer daquele crítico, Nogueira, entre outras implicações,
por antecipar sua entrada na herança do velho coronel. A verdade
quer dizer “árvore” e assim possui casca e cerne, mas só revela a
essencial vem à tona. Procópio parece vítima, mas é o assassino;
casca, o exterior. O que se passa no seu interior é escamoteado.
Felisberto, apesar de parecer tirano, é a vítima.
Já Conceição tem os significados de “conceber”, “receber”,
recebendo o menino e devolvendo o homem.
Temos aqui o tema do conto, a relação ser-parecer, com o Ainda conforme José Fernandes, a idade de Conceição, trinta
predomínio do parecer sobre o ser. anos, menos a idade de Nogueira no tempo do enunciado, dezessete
anos, dá como resultado o número 13, número do galo no jogo do
O herói machadiano, na verdade, é um anti-herói que goza bicho. Este, por sua vez, relaciona-se à acuidade, à vigilância, ao
o que a sorte benévola e a máscara social lhe proporcionam. Tem-se, sexo. Desta forma, na noite da missa do galo, Nogueira passa por
assim, uma inversão de valores, com o triunfo do mal sobre o bem. um rito de passagem, saindo da infância à maturidade, passando
Machado quis mostrar que a hipocrisia é a chave para se penetrar de frango a galo.
na sociedade e nela permanecer e prosperar. E conseguiu. Estes são apenas alguns dos elementos simbólicos dos
No desfecho do conto, percebe-se toda a ironia com que quais se valeu Machado de Assis para dar a este conto um caráter
Machado de Assis descreve o ser humano e o seu pessimismo misterioso e enigmático, trazendo-o para o centro das discussões
cósmico. Sentindo-se culpado caso recebesse a fortuna deixada literárias em todo o Brasil.
pelo coronel Felisberto, Procópio pensa inicialmente em não
aceitá-la, pois que é fruto de uma ação criminosa; depois, pensa em “O Espelho” – Esboço de uma nova teoria
aceitá-la e dá-la toda; em seguida, cogita em dar apenas a metade, da alma humana
e, finalmente, em não dar nada, já que a sociedade não suspeitava
dele e os braços da lei pareciam nunca atingi-lo. Ele, então, encerra Neste conto surpreendente, Machado de Assis, por meio de
seu relato ironizando o sermão da montanha: “Bem-aventurados seu personagem Jacobina, um alferes, mostra que as pessoas
os que possuem, porque eles serão consolados’’. têm duas almas: uma que olha de dentro para fora, outra que
Consolados, sim, porque a sociedade tal como a retratou olha de fora para dentro. Conheça-as, lendo este conto incrível.
Machado de Assis sempre valorizou a aparência em detrimento da
essência, a posse sobre os valores morais. O conto se estrutura em dois níveis:
I. narrativa moldura: um narrador de terceira pessoa introduz
“Missa do Galo” a história, dizendo que quatro cavalheiros conversavam
calorosamente e um quinto ouvia a tudo sem dizer nada;
Um dos mais perfeitos contos de Machado de Assis, e de toda a
II. narrativa encaixada: Jacobina, o quinto cavalheiro, quando a
literatura brasileira, traz o envolvimento emocional de um jovem
rapaz, Nogueira, com uma senhora balzaquiana, Conceição, discussão recai sobre a alma humana, toma da palavra e, sem
carregado de sugestões e conotações erótico-sensuais tênues, que aceitar réplicas, relata em primeira pessoa uma experiência pela
despertam no leitor o fino gosto pelo detalhe e pelo pormenor. qual passou.

Anual – Volume 3 63
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
No seu relato, Jacobina surpreende a todos afirmando que, Com efeito, a dificuldade de Mestre Romão em conseguir
na verdade, o ser humano não tem só uma, mas duas almas: uma expressar o que sente, transpondo para a linguagem musical tudo
que olha de dentro para fora e outra que olha de fora para dentro. o que sentia em relação à sua jovem esposa, se frustra em razão
Todos ficaram espantados com a afirmativa do cavalheiro de ele se valer do meio impróprio para isto, a arte.
misterioso, mas este não admitiu contestação, ameaçando Ao colocar a jovem nubente cantarolando a frase musical
interromper seu relato. que tanto atormentou mestre Romão, Machado quis demonstrar
Prosseguindo na sua filosofia, afirmou que a alma exterior que é mais importante viver um sentimento do que teorizá-lo.
do homem tanto pode ser um espírito como um objeto. As duas A jovem conseguiu porque não se preocupou em teorizar sem
almas completam o homem, assim como as duas metades de uma sentir, mas simplesmente em exteriorizar um estado de alma pleno
laranja completam a laranja. A alma exterior, segundo ele, não é de prazer e cheio de vida.
única e imutável. A contradição pungente gerada pela conduta da moça que
Exemplificando sua teoria, conta ele um caso pessoal. canta sem refletir e a de mestre Romão, que reflete sem conseguir
Aos vinte e cinco anos foi nomeado alferes da Guarda Nacional e foi compor, gera uma angústia existencial, um sofrimento, um sentido
muito elogiado e bajulado pela família. Todos lhe enalteciam a farda. de vazio que incomoda e envolve a todos quantos leiam este conto.
Sua tia Marcolina o convidou para passar uns dias com ela, colocando A identificação com o desencontro artístico e amoroso do velhinho
até um grande espelho só para que ele pudesse se mirar melhor. se faz de imediato.
Jacobina tinha sonhos, sendo elogiado em todos eles. Certo O drama vivido pelo maestro deslinda o tema do conto – o
dia, contudo, mirou-se no espelho e não viu sua imagem claramente. drama da expressão – e revela que o cotidiano esconde dramas
Estava esfumada, tênue, difusa, sombria. Desesperado, correu e se intensos, embora anônimos e sem voz, mas nem por isso menos
vestiu. De volta à frente do espelho, o vidro o reproduzia agora com importante.
toda nitidez. Com isto finda seu relato. Transformar o cotidiano aparentemente mesquinho e
O narrador de terceira pessoa toma a palavra e emoldura a sem novidades em textos de intenso lirismo e acentuada poesia
narrativa, encerrando-a.
verbal também é característica de Machado de Assis. Nenhuma
Através da filosofia de Jacobina, Machado de Assis endereça
experiência cotidiana, por mais insignificante que pareça, passou
críticas à sociedade que só vê os aspectos exteriores da condição
despercebida pela sua parabólica intelectual.
humana, deixando de olhar para dentro do homem.

O Alienista – Resumo
A alma exterior é a aparência, a falsidade, a falsa imagem
e a falsa opinião. É como a sociedade vê o ser humano: como
um objeto, massificado, desessencializado. Neste sentido, o ser Através da obsessão científica do Dr. Simão Bacamarte
humano vale pelo que possui, pelo que tem. É o domínio do Ter e de suas consequências para a vida de Itaguaí, Machado de
sobre o Ser. Para Jacobina, o Ser só existia diante do Ter. Sua Assis faz neste livro a crítica da importação indiscriminada de
farda era sua identidade social e familiar. Por isso ele não se vê teorias deterministas e positivistas em nosso país.
diante do espelho, por isso sua imagem se esfuma, quando ele
está sem farda.
I – Narrador
Esfuma-se, porque o ser humano se apega demasiado ao
material e olvida o humano, valoriza a aparência e não a essência, Em O Alienista, escrito em terceira pessoa, Machado de
a hipocrisia e não a verdade. Assis usa, inicialmente, a autoridade das crônicas antigas, como
podemos perceber no início do texto:
Já a alma interior é o que de fato o ser humano é. ‘As crônicas da Vila de Itaguaí contam que em tempos
É o domínio do Ser. É a sua essência, os seus valores morais, remotos vivera ali um certo médico...’
éticos, religiosos, filosóficos etc. Em ritmo de ‘era uma vez’ dá-se o começo da narrativa.
Três expressões assumem um papel de relevo neste primeiro contato
Ao falar em duas almas humanas, Machado não está mais nosso com o narrador: crônicas, tempos remotos e o vivera.
do que fazendo uma crítica à obsessiva fixação da sociedade nos As três reforçam a antiguidade da história, dando-lhe a
aspectos exteriores da condição humana, e não na sua conduta mesma autoridade que o amarelado empresta aos livros.
moral, na sua riqueza interior. As crônicas trazem a respeitabilidade do que é aceito pela
tradição como verdadeiro. Se elas dizem, não há que contestar.
“Cantiga de Esponsais” Os tempos remotos servem para distanciar esta narrativa do
tempo presente, evitando qualquer deturpação por interesses
Conto-síntese, trata do fenômeno da criação artística imediatos. Finalmente, o verbo no pretérito mais-que-perfeito
e da sua complexidade como objeto, a partir do qual o artista – vivera – reforça os já distanciados tempos remotos. Assim,
reflete sobre si e o mundo. A criação, contudo, não é produto uma expressão intensifica a outra, cabendo-nos perguntar
só da vontade; há que ter também talento, aptidão interior e, por que o narrador se interessaria tanto em manter a história
sobretudo, sentimento. Mestre Romão queria compor uma peça restrita a um tempo passado, e bastante passado.
musical em homenagem ao seu grande amor, mas faltava-lhe o A resposta já foi colocada no início do parágrafo anterior:
sentimento desse amor, o sentimento da paixão. a distância no tempo aumenta a respeitabilidade da narração,
pretendendo dar-lhe uma autoridade quase que incontestável,
além de favorecer um distanciamento crítico do narrador-cronista
Integrando o volume de História sem Data (1884), em relação à história.
“Cantiga de Esponsais” é um dos mais profundos e líricos contos Entretanto, caso este narrador-cronista queira deturpá-la
de Machado de Assis. em proveito próprio, ele não pode fazê-lo, pois notamos no livro a
O conto desenvolve o tema da impotência criadora, o drama presença de um segundo narrador, que reconta a história, parecendo
da expressão, a contradição entre a intuição espiritual e a expressão garantir a isenção dela.
dessa intuição.

64 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
O foco narrativo deste segundo narrador está em foram soltos após revelarem algum desequilíbrio, provando que
conformidade com os princípios da literatura realista; isto estavam curados, mas o nosso alienista não fica contente: ainda
é, trata-se de um narrador-onisciente, preocupado com a não chegara a uma conclusão em suas pesquisas. Começa a
objetividade. Embora este narrador tenha a capacidade de desconfiar que ele não havia curado ninguém, que os pacientes só
nos trazer os aspectos íntimos dos vários personagens, o que haviam revelado um desequilíbrio que já possuíam anteriormente.
não poderia ser feito pelo narrador-cronista, ele centraliza Com isso, desloca seu estudo para si mesmo. Certifica-se de que é
a sua atenção em Simão Bacamarte, protagonista do conto. a única pessoa realmente equilibrada de toda a vila e se tranca na
Ao mesmo tempo, procura mostrar aqueles que se revelam mais Casa Verde, declarando-se, ao mesmo tempo, médico e paciente.
decadentes e denunciadores dos tipos humanos presentes em Morre depois de alguns meses.
O Alienista. Por exemplo, quando a esposa do boticário Crispim
está presa no hospício e ele não vem libertá-la, o narrador a
faz desfilar uma série de acusações ao marido. Estas acusações O enredo deste conto, além de discutir ironicamente as
estão em desacordo com o comportamento da personagem fronteiras entre a razão e a loucura, também coloca a questão do
ao longo da história – ela sempre pareceu acatar e respeitar o poder. Todos os que o exercem em Itaguaí, incluindo-se dentre
marido – revelando, assim, que na verdade a personagem até eles o revoltoso barbeiro Porfírio, fizeram uma composição com
então apenas ‘mantinha as aparências’, era cúmplice do marido. Simão Bacamarte, o que sugere que tanto a razão quanto a
“— Tratante! ... velhaco! ... ingrato! ... Um patife que loucura são usadas pelo poder, dependendo de seu interesse.
tem feito casas à custa de unguentos falsificados e podres ...Ah! Por isso nada foi feito de efetivo contra a Casa Verde, e os
tratante!...” prisioneiros liberados pelo próprio alienista. Assim, podemos
E assim por diante ... Através da “loucura” de vários concluir esta primeira leitura possível com um pessimismo
personagens [pelo menos assim o julgava o Dr. Bacamarte – o
machadiano: “O mal não parece estar no ‘racional’ ou no
alienista], o narrador vai mostrando as misérias humanas, o que
‘normal’, mas no humano...”
demonstra ser intrusa e não imparcial a sua onisciência.
Entretanto, a suposta “confiabilidade” do narrador-cronista 1. aquele que fábrica ou vende albarda ou albardão, ou seja, sela grosseira para
e a suposta “objetividade” do narrador-onisciente relativizam, aos resguardar o lombo das bestas de carga.
olhos do leitor, esta intrusão, fazendo predominar a impressão de
isenção do[s] narrador[es] que é característica da literatura realista.
II – Enredo Exercícios de Fixação
O Dr. Simão Bacamarte, médico da Corte, volta à terra natal,
Itaguaí, para entregar-se de corpo e alma ao estudo da ciência.
Com o tempo, resolve dedicar-se ao estudo da loucura, fundando • Utilize o texto seguinte para as questões 01 e 02.
o seu manicômio, a Casa Verde.
Com persistência e abnegação, o médico vai trabalhando As crônicas da Vila de Itaguaí dizem que em tempos
com os desequilibrados mentais que mandava recolher à remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte,
Casa Verde, sempre buscando entender o que era loucura. Vem-lhe filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de
então à mente uma nova teoria que alarga o conceito de loucura, Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua.
acabando com a antiga e aceita distinção entre normalidade e Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não
alienação mental. 05
podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo
Expõe a nova teoria ao padre Lopes, o clérigo de Itaguaí, a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da
que a acha perigosa: “Com a definição atual, que é de todos os monarquia.
tempos”, acrescentou, “a loucura e a razão estão perfeitamente – A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego
delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. único; Itaguaí é o meu universo.
Para que transpor a cerca?” 10 Dito isto, meteu em Itaguaí, e entregou-se de corpo e
No entanto, é destruída a cerca [...] O sábio começa a alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras,
encerrar em seu manicômio uma grande quantidade de pessoas, e demonstrando os teoremas com cataplasmas.
cujo comportamento era até então considerado “normal” pela Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e
sociedade: os que possuíam “mania” de oratória, como Martim Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juíz
Brito, os vaidosos, como o albardeiro1 Mateus, os excessivamente de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador
corteses, como Gil Bernardes, os emprestadores de dinheiro, como 15
de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de
o Costa, e, dentre todos eles, a própria esposa, Dona Evarista, que semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe
passara a noite hesitando entre um colar de granada e outro de safira que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de
para ir ao baile ...É bom que se diga que o padrão da normalidade primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente,
era constituído pelos critérios do alienista, obviamente em tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-
consonância com os ditames da Igreja e dos poderes constituídos. 20 -lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas,
Tão grande foi o número de internações, várias aparentemente – únicas dignas da preocupação de um sábio, – D. Evarista era
injustas, que ocorre uma rebelião em Itaguaí, liderada pelo barbeiro mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a
Porfírio. Este prometera destruir a Casa Verde, mas uma vez no Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da
poder entra em acordo com o Dr. Bacamarte. Isso basta para que ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.
haja uma nova revolta, liderada por outro barbeiro, o João Pina. 25 D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte,
Um destacamento militar, vindo da capital, põe fim às desordens não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural
em Itaguaí e o médico pôde prosseguir seu trabalho. da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três
Com o tempo, as conclusões do alienista sobre a loucura anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez
alteram-se drasticamente. um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores
Louco não é mais o desequilibrado, e sim aquele que exibe árabes e outros, que trouxeram para Itaguaí, enviou consultas
um perfeito equilíbrio das funções mentais. Por causa disso, Simão 30
às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar
Bacamarte liberta os antigos loucos e passa a prender os novos, à mulher um regímen aimentício especial. A ilustre dama,
como o padre Lopes, a esposa do boticário Crispim e o barbeiro nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí,
Porfírio: primeiramente preso pela inconsistência de sua rebelião; não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência,
depois, por ter percebido essa mesma inconsistência, e se recusado – explicável mas inqualificável, – devemos a total extinção da
a liderar outra rebelião... Com alguns meses de tratamento, todos dinastia dos Bacamartes.

Anual – Volume 3 65
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
01. (PUC-Rio) O alienista, publicado entre outubro de 1881 e março 05. Leia o fragmento a seguir, extraído de A Cartomante, de
de 1882, é considerado um dos mais importantes contos de Machado de Assis.
Machado de Assis. A partir da trajetória de Simão Bacamarte,
protagonista da estória, Machado constrói um painel da “Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em
sociedade brasileira de seu tempo, com seus valores, problemas criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal
e impasses. Tomando por base o fragmento selecionado, inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte
assinale a opção que melhor exprime a intenção do autor. anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa
A) Valorização da ciência como caminho preferencial para a vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como
superação do atraso intelectual do país. tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na
B) Ironia em relação aos critérios utilizados por Simão mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total.
Bacamarte na escolha de D. Evarista como sua esposa e
Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo,
genitora de seus filhos.
C) Apoio aos postulados do pensamento positivista e da não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo.
ideologia do progresso defendidos por Simão Bacamarte. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava
D) Crítica aos hábitos culturais da Vila de Itaguaí, em especial incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar
à alimentação, fator que contribuía para a dificuldade de os ombros, e foi andando”.
D. Evarista em engravidar.
E) Exaltação do papel do médico como referência de Segundo o trecho anterior, Camilo,
desenvolvimento de uma sociedade. A) ainda criança, preferiu não acreditar em nada.
B) desde criança desprezava superstições.
02. (PUC-Rio) Em relação ao foco narrativo, podemos afirmar que: C) diante do desconhecido, preferiu ficar indiferente.
A) A narrativa é constantemente interrompida pelos comentários D) era crédulo, apesar de negar qualquer fé.
de Simão, o que faz dele o narrador da estória. E) negava qualquer envolvimento com religião.
B) Alternam-se no trecho narradores de primeira e terceira
pessoas, prática comum na ficção realista.
C) O narrador é de primeira pessoa, onisciente.
D) O narrador constrói a sua narrativa a partir da leitura dos Exercícios Propostos
cronistas de Itaguaí, problematizando a noção de origem e
a veracidade dos fatos narrados.
E) Os cronistas da Vila de Itaguaí são os verdadeiros narradores • As questões 01 e 02 seguintes referem-se ao mesmo texto do
da estória, como pode ser percebido no início do texto.
conto O Alienista, que serve de base para as questões 01 e 02
dos Exercícios de Fixação.
03. (UFRGS/2019) Assinale a alternativa correta sobre o conto A
sereníssima república, de Machado de Assis.
A) O cônego Vargas apresenta, em uma conferência, sua 01. (PUC-Rio) O texto nos permite afirmar que:
pesquisa sobre o regime social das aranhas. A) Evarista recusava-se sisteamticamente a submeter-se aos
B) O tom do conto é eufórico com o sistema eleitoral adotado tratamentos de fertilidade propostos pelo marido.
na república e com a postura idônea dos eleitos e seus B) Evarista não se empenhava no projeto de ter filhos, pois
eleitores. temia que o marido passasse a dedicar somente ao filho o
C) O sistema eleitoral da sereníssima república consiste em pouco tempo livre de que dispunha.
sorteios imunes a fraudes e a qualquer tipo de manipulação. C) Evarista negou-se a fazer uma dieta alimentícia especial, à
D) O conto estrutura-se na forma de uma conferência em que o
base de carne de porco.
cônego Vargas saúda a proclamação da república brasileira.
E) Os fraudadores das eleições na sereníssima república são D) A devoção ao trabalho ajudou Bacamarte a esquecer um
duramente castigados para que a lei se mantenha inalterada. projeto frustrado em sua vida.
E) O tio Simão Bacamarte admirou-se de o sobrinho ter
04. Leia o seguinte trecho. escolhido como esposa a viúva de um juiz de fora.

Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e 02. (PUC-Rio) O texto nos permite afirmar de Simão Bacamarte que:
nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois A) mudou-se para Itaguaí por tratar-se de um lugar no Brasil
primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira
onde ainda não havia nenhuma autoridade na área da
de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra
patologia cerebral.
a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai
morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe B) declinou das ofertas do rei de Portugal, porque não
lhe arranjou um emprego público. correspondiam a suas expectativas.
C) casou-se com Evarista aos quarenta anos, embora a achasse
Assinale a alternativa correta a respeito de características de
miúda e vulgar, pois via a sua falta de atrativos como um
Machado de Assis, que aparecem no trecho transcrito.
A) Perspectivas detalhistas e cientificistas na composição das aspecto positivo.
cenas. D) passou a dedicar-se especificamente ao estudo das doenças
B) Uso de expressões arcaicas que caracterizam o preciosismo mentais somente alguns anos depois de seu regresso a
da linguagem. Itaguaí.
C) Defesa das relações familiares e dos valores morais. E) era dado a arroubos e explosões de temperamento no
D) Utilização de frases sintéticas e construção de expressões cenário doméstico, embora se mostrasse diferente em sua
irônicas. vida pública.
E) Composição de lirismo saudosista e exaltação nacionalista.

66 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
• Texto para responder à questão 03. • Leia o fragmento a seguir e responda às questões de 05 a 07.
Texto I
Olhei o espelho e recuei. O próprio vidro parecia Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em
conjurado com o resto do Universo; não me estampou a criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal
figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte
de sombra. Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa
nervosa em que andava; receei ficar mais tempo e enlouquecer. vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como
Subitamente por uma inspiração inexplicável, lembrou-me vestir
tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na
a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava
defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhes digo nada; mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total.
o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia
menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo o alferes que dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar
achava, enfim, a alma exterior. tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não
Machado de Assis. O espelho.
formulava incredulidade; diante do mistério, contentou-se
Texto II em levantar os ombros, e foi andando.
– Então, disse Dumbledore, você descobriu os
A Cartomante. de Machado de Assis.
prazeres do Espelho de Ojesed. Mas espero que tenha
percebido o que ele faz?
– Bom, ele mostra a minha família, respondeu Harry. 05. Em relação às descrenças de Camilo, há uma opinião do
– E mostrou seu amigo Rony como chefe dos monitores, disse narrador em:
Dumbledore, perguntando: – Você pode concluir o que é que A) “diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros,
esse espelho mostra a nós todos? Harry sacudiu negativamente e foi andando.”
a cabeça. – Ele nos mostra nada mais nada menos do que o B) “Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia
desejo mais íntimo, mais desesperado de nossos corações. dizê-lo (...)”
Só o homem mais feliz do mundo poderia usar o Espelho
C) “E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não
de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e
se veria exatamente como é. formulava a incredulidade”
J. K. Rowling, Harry Potter e a Pedra Filosofal.
D) “No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita,
e ficou só o tronco da religião.”
03. (UPE) O espelho é um tema sedutor para a literatura, sendo E) “Também ele, em criança, e ainda depois foi supersticioso”.
trabalhado pelos mais diversos autores. Considerando a leitura
dos dois textos e análise, é incongruente a proposição: 06. “No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita...”,
A) Pode-se dizer que o espelho do conto de Machado funciona a expressão destacada refere-se a
como o “Espelho de Ojesed” do livro de Rowling, ao refletir A) crendices.
o desejo mais íntimo do personagem que nele se contempla. B) ensinos.
B) Os espelhos nessas obras revelam que tanto o personagem C) ilusões.
de Machado, ao se reconhecer na farda de um “alferes”,
D) mistério.
quanto Rony, ao se reconhecer como “chefe dos monitores”,
E) religião.
dão mais valor aos cargos do que a si mesmos.
C) Pelo exposto em ambos os textos, deduz-se que os
personagens dessas histórias são as pessoas mais felizes 07. “... que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram.”,
do mundo. de acordo com o contexto, a palavra destacada significa
D) Baseando-se na verossimilhança entre o real e o ficcional, A) insinuar.
o Realismo procurava apresentar a literatura como um B) informar.
espelho da realidade. C) indicar.
E) No conto “O espelho”, Machado de Assis rompe com D) introduzir.
alguns princípios da escola realista quando evoca o E) invocar.
universo da fantasia.
08. (Insper/2013) É comum na obra de Machado de Assis a crítica
04. (PUC) No conto “Um homem célebre“, da obra Várias à contradição entre aparência e essência. Essa crítica pode ser
Histórias, de Machado de Assis, há uma profunda identificada no fragmento extraído da obra O Alienista, de
investigação da alma humana que pode ser resumida na Machado de Assis.
afirmação do narrador de que “o primeiro lugar na aldeia A) “Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior
não contestava a este César, que continuava a preferir-lhe, dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas.”
não o segundo, mas o centésimo em Roma”. Isso se justifica B) “entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciê ncia,
porque alternando as curas com as leituras e demonstrando os
A) Romão Pires, exímio regente de orquestra, busca aquilo que
teoremas com cataplasmas.”
não consegue alcançar.
C) “casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora
B) Pestana, exímio em sua atividade de compositor de polcas,
de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita
não se satisfaz com a perfeição que atinge.
C) Fortunato, dono de uma Casa de Saúde, diante da nem simpática.”
dor alheia sente um enorme prazer e a saboreia D) “cobrir-se de ‘louros imarcescíveis’, – expressão usada por
deliciosamente. ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica;
D) Vilela, afamado advogado e marido de Rita, mata a mulher exteriormente era modesto, segundo convé m aos
e o amante, acometido de indignação e furor. sabedores.”
E) Inácio, jovem aprendiz de escritório, refugia-se no sonho/ E) “– A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna
realidade, envolvido pelo objeto de sua amorosa. do médico.”

Anual – Volume 3 67
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
09. Quais os dados objetivos, em Dom Casmurro, que podem ser C) Linguagem carregada de lugares-comuns: há bons momentos
considerados como cabalmente reveladores de adultério? estilísticos no Machado de primeira fase, porém, em geral,
A) Ezequiel tem pés e mãos semelhantes aos de Escobar. surpreendemos um estilo que se compraz na repetição de
B) Não somente os traços físicos, mas os trejeitos do menino frases-feitas, lugares-comuns e imagens inexpressivas, como neste
em tudo lembram Escobar. trecho de Helena.
C) Num certo dia, Bentinho surpreende Escobar saindo de sua casa.
D) Quando Escobar morre, Capitu chora desesperadamente “Estima-te é certo; mas a estima é a flor da razão e eu
sobre seu cadáver. creio que a flor do sentimento é muito mais própria no canteiro
E) Não existe prova objetiva, na obra, para que se afirme do matrimônio.”
cabalmente o adultério de Capitu. Quanto ao aspecto da técnica narrativa, o Machado jovem
é um escritor tradicional, sem inovações.
10. (UFV) Sobre a narrativa machadiana A Cartomante, apenas não
se pode afirmar que:
A) a personagem Rita, ao concluir que “havia muita coisa A segunda fase do romancista
misteriosa e verdadeira neste mundo”, traduz vulgarmente
a sentença de Hamlet, o famoso herói shakespeareano: “Nada escapa ao naufrágio das ilusões”
“há mais coisa no céu e na terra do que sonha a nossa vã
filosofia”. As obras de segunda fase implicam um amadurecimento
B) o desfecho de A Cartomante é trágico e seus personagens, de linguagem e um câmbio de visão de mundo. Ao Machado
Vilela, Camilo e Rita, formam o típico triângulo amoroso de conformista da década de 1970 contrapõe-se um intelectual irônico,
grande parte das obras do período realista. pessimista, crítico. Esta fase apresenta cinco romances:
C) a personagem Rita mostra-se descrente em relação às Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
premonições da cartomante, opondo-se ao comportamento Quincas Borba (1891)
de Camilo, extremamente supersticioso e obcecado por
Dom Casmurro (1900)
bruxarias.
D) a ironia machadiana reflete-se, sobretudo, nos momentos Esaú e Jacó (1904)
finais do texto, pelo contraste entre as profecias otimistas Memorial de Aires (1908)
da cartomante e o destino cruel dos amantes Rita e Camilo. Os três primeiros são encarados como as obras-primas do
E) a narrativa A Cartomante retrata uma situação de adultério escritor carioca.
e confirma a tendência realista para destruir e ridicularizar o Esaú e Jacó e Memorial de Aires complementam a segunda
casamento romântico. fase.
GONZAGA, Sergius. Manual de Literatura Brasileira,
São Paulo: Mercado Aberto, 1996.

Fique de Olho Aula 14:

C-5 H-15, 16
Aula Naturalismo I C-6 H-17, 18

FASES MACHADIANAS 14 Obra de Aluísio Azevedo

A primeira fase do romancista


Reprodução/Fundação Bilioteca Nacional
Rio de Janeiro RJ

“Alguma coisa escapa ao naufrágio das ilusões”

A primeira fase de Machado de Assis é composta por quatro


romances:
Ressurreição (1872)
Helena (1876)
A Mão e a Luva (1874)
Iaiá Garcia (1878)
São relatos ainda comprometidos com o idealismo
romântico. Poderíamos resumir os principais defeitos desses
livros.
A) Conformismo do autor com os preconceitos e falsos valores da
sociedade imperial: Machado cria uma literatura que justifica Com O Mulato, Aluísio Azevedo inaugurou, em 1881, o
a maneira de viver das elites, aceitando e dando como eternas Naturalismo. Foi um dos poucos escritores do século XIX a viver da
as conveniências, o interesse e as hipocrisias. Ocasionalmente, atividade literária, pois, ao lado de seus romances naturalistas mais
parece desconfiar dos valores degradados da burguesia imperial, importantes – O Mulato, Casa de Pensão, O Cortiço –, escreveu
mas logo se submete a esse mundo. romances românticos de forte apelo popular, publicados em folhetins,
B) Esquematismo psicológico: desde Ressurreição, Machado se que lhe garantiam o sustento.
quer romancista de análise, quer traçar o contraste de caracteres Seus romances naturalistas, também chamados de romance
psicológicos. Mas nesta primeira fase suas figuras geralmente de tese, refletem o cientificismo dominante na época: o meio e a
carecem de complexidade, são lineares: x é o herói, y é o hereditariedade determinam o comportamento humano, guiado
orgulhoso, z é a ingênua, e assim por diante, numa simplificação pelo instinto. Aluísio Azevedo denunciou a hipocrisia e a corrupção
da alma humana. moral do clero e da burguesia, descreveu as misérias (física e moral)
e as injustiças que sofriam as camadas populares.

68 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Em O Mulato, tratou do racismo e da corrupção dos padres Resumo de O Cortiço
na sociedade do Maranhão. Raimundo, filho de escrava e português
(fato que ele desconhece), embora doutor, bem-apessoado e O cortiço é habitado por pessoas exploradas em três níveis
sedutor, não entende por que a sociedade de São Luís não o aceita. por João Romão, o proprietário: são seus inquilinos, trabalham em
Apaixona-se pela prima, Ana Rosa. A família da moça opõe-se ao sua pedreira e fazem compras em sua taverna.
casamento, ajudada pelo inescrupuloso cônego Diogo, que arquiteta À medida que vai enriquecendo, João Romão prepara-se
o assassinato de Raimundo pelo caixeiro Dias. Ana Rosa aborta. para se casar com Zulmira, filha do Miranda, o burguês dono do
Seis anos depois, ela se casa com o assassino, tem três filhos e vive sobrado no qual sua ambição se espelha, a fim de consolidar a
feliz. Leia esta passagem em que Ana Rosa, em confissão ao cônego própria ascensão social. No entanto, vive amasiado com Bertoleza,
Diogo, revela-lhe estar grávida:
uma escrava supostamente alforriada.
“E o velho apalpava com o olhar o corpo inteiro da afilhada,
como pretendendo descobrir nele a confirmação material do que Jerônimo, um português sério e conservador, e sua
ela dizia. mulher, Piedade, aparecem no cortiço, desencadeando um
— Sim senhora!... episódio marcante do livro. Jerônimo apaixona-se por Rita Baiana,
E tomou uma pitada. a típica mulata sensual e bela, que namora Firmo, um capoeirista,
— Bem vê... arriscou afinal a rapariga, entre lágrimas, que morador do “Cabeça de Gato”, outro cortiço, próximo ao de
não tenho outro remédio senão... João Romão.
— Está muito enganada! interrompeu o cônego No enfrentamento entre os rivais, Jerônimo é ferido com uma
energicamente. Está muito enganada! O que tem a fazer é casar navalha; depois, numa emboscada, assassina Firmo. Esse episódio
com o Dias! E logo! Antes que a sua culpa se manifeste! desemboca num confronto entre os cortiços, do qual resulta um
Ela não deu palavra. incêndio que só trará melhorias e prosperidade a João Romão.
— Quanto a isso... acrescentou o lobo velho, apontando, Para livrar-se da amante negra, ele a delata aos antigos
desdenhoso, com o beiço, o ventre da afilhada, eu me encarregarei senhores. Quando estes aparecem para capturá-la, Bertoleza
de lhe dar remédio para... suicida-se com uma faca de cozinha.
Ana Rosa ergueu-se com um só movimento e ferrou o olhar
no cônego...
— Matar meu filho!... exclamou lívida.
E, como se temesse que o padre lhe arrancasse ali mesmo Exercícios de Fixação
das entranhas, precipitou-se correndo para fora da igreja.”
Em Casa de Pensão, Aluísio Azevedo faz a análise de um
grupo social vivendo no ambiente pegajoso de uma pensão para 01. (PUC-Rio) O romance O Cortiço, escrito por Aluísio de Azevedo,
provar que o meio determina a conduta dos seres humanos. Conta integra a estética naturalista da literatura brasileira. A respeito
a vida de Amâncio e seu assassinato. dele, indique, nas alternativas a seguir, a que foge a uma
O proletariado urbano em formação é tema de O Cortiço, identificação com os fatos e as situações narradas na obra.
outra análise de um grupo social, cuja personagem central é o A) O romance revela a oposição e o contraste entre os dois
próprio cortiço, personificado neste trecho: espaços da narativa, o cortiço e o sobrado, e a disputa
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo gananciosa que se estabelece entre João e Miranda.
não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.” B) No cortiço, há uma infinidade de tipos, espécie de sínteses
No ambiente promíscuo, misturam-se negros, mulatos, sociais com que o autor procurou estabelecer a ponte
brancos, todos explorados por poucos portugueses e brasileiros entre os seres de ficção e a realidade. Por isso, o romance
endinheirados e reduzidos à animalidade instintiva. As personagens trata dominantemente da história de personagens, em sua
são comparadas a todo momento com animais: a negra Bertoleza individualidade, em detrimento da coletividade.
“tinha ancas de vaca do campo” e ao morrer “emborcou para frente, C) Todos os acontecimentos notáveis do cortiço contam com a
rugindo e esfocinhando moribunda, numa lameira de sangue”. participação do grupo de lavadeiras, que desempenha papel
O português Jerônimo tinha “construção de touro”; Firmo, “agilidade simultâneo de espectador e agente dos acontecimentos.
de maracajá”. Rita Baiana “era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta D) João Romão se desdobra para enriquecer, e o dinheiro é
viscosa, a muriçoca doida”. O ambiente do cortiço é assim descrito: a mola propulsora que o conduz, que o força unicamente
“ E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente para acumular, ainda que para isso seja necessário roubar,
e lodosa, começou a minhocar, a fervilhar, a crescer um mundo, escravizar, mentir, sofrer as maiores agruras.
uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali E) A relação de Bertoleza com João Romão começa com um
mesmo, daquele lameiro e multiplicar-se como larvas no esterco.” engano e termina em tragédia. João Romão a restitui ao
Mesmo Pombinha, uma cândida menina, não conseguindo fugir ao dono e à escravidão. Entre o retorno à escravidão e à morte,
determinismo do meio, transforma-se em meretriz. Bertoleza não tem dúvida: de um só golpe, certeiro e fundo
Ainda merecem destaque no panorama do romance
rasga o ventre de lado a lado.
naturalista:
• Inglês de Sousa (1853-1918) – Em O Missionário, em que
desenvolve a tese do celibato clerical: padre Antônio de Morais, 02. (Fuvest) Os costumes a que adere Jerônimo em sua
em função da hereditariedade (seu exacerbado temperamento transformação, relatada no excerto, têm como referência, na
sensual lhe viera do pai) e da atuação do meio (a selva época em que se passa a história, o modo de vida
amazônica), acaba se unindo à mameluca Clarinha. A) dos degredados portugueses enviados ao Brasil sem a
• Júlio Ribeiro (1845-1890) – Em A Carne, Lenita é totalmente companhia da família.
dominada pelos instintos. B) dos escravos domésticos, na região urbana da Corte, durante
• Adolfo Caminha (1867-1897) – Escreveu dois romances que o Segundo Reinado.
se orientam pelo determinismo do meio e o gosto pelos temas C) das elites produtoras de café, nas fazendas opulentas do
escabrosos: A Normalista e O Bom Crioulo. Vale do Paraíba fluminense.
• Domingos Olímpio (1850-1906) – Em Luzia-homem, as D) dos homens livres pobres, particularmente em região urbana.
personagens são esmagadas pelo meio hostil. O autor conta
E) dos negros quilombolas, homiziados em refúgios isolados e
a história de uma sobrevivente da seca de 1877, cujos modos
másculos ocultam uma alma feminina. anárquicos.

Anual – Volume 3 69
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
• Texto para a questão 03.
“As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de Exercícios Propostos
cavalgar as ilhargas maternas, as cabeças avermelhadas pelo Sol, a
pele crestada, os ventrezinhos amarelentos e crescidos, corriam e
guinchavam, empinando papagaios de papel.”
• Texto para as questões 01 e 02.
03. O texto faz lembrar que o romance naturalista
A) descreve objetivamente a sociedade, sem interferências, por
parte do autor, que possam influir na opinião do leitor sobre E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma
a realidade narrada. pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério,
B) fixa as características do meio, denunciando aspectos que a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era
sugerem a necessidade de uma reforma social. a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da
C) descreve a realidade de maneira impressionista, fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o
sentimentalista e acientífica.
D) é obra de tese, em que a dissertação e exposição de ideias atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva
ganham importância maior que os aspectos narrativos e que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e o açúcar
descritivos. gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju,
E) escolhe retratar com fidelidade o meio e, para tanto, abdica que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde
da linguagem expressiva para dar ênfase ao rigor científico. e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava
havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os
• Texto para a questão 04.
desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da
“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela terra, picando-lhe as artérias para lhe cuspir dentro do sangue uma
umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita
a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia
de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que
brotar espontânea ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se
zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa
como larvas no esterco.”
fosforescência afrodisíaca.
Aluísio Azevedo, O Cortiço.
04. Conforme lembra o trecho de O Cortiço, para o autor naturalista,
A) a vida não pode ser explicada ou esmiuçada: ela é um
fenômeno espontâneo, que se impõe para além da razão 01. (Fuvest/2015) Em que pese a oposição programática do
chã do ser humano. Naturalismo ao Romantismo, verifica-se no excerto – e na obra
B) a existência não oferece saída alguma e tampouco há saída a que pertence – a presença de uma linha de continuidade entre
para os homens, que só são capazes de construir sociedades o movimento romântico e a corrente naturalista brasileira, a
embrutecidas e violentas. saber, a
C) a natureza e as relações sociais devem ser objeto de um esforço A) exaltação patriótica da mistura de raças.
de compreensão fotográfica, fria, impessoal e imparcial. B) necessidade de autodefinição nacional.
D) o ser humano está preso a uma circunstancialidade orgânica C) aversão ao cientificismo.
e movido por sua filosofia, e não só pela razão e emoção.
D) recusa dos modelos literários estrangeiros.
E) a realidade, por ser fragmentária, é recomposta literariamente
com base no registro de pedaços de cenas e imagens, de E) idealização das relações amorosas.
faces isoladas de emoção.
02. (Fuvest/2015) Entre as características atribuídas, no texto,
05. Leia o fragmento de O Cortiço, com especial atenção aos dois à natureza brasileira, sintetizada em Rita Baiana, aquela
trechos a seguir. que corresponde, de modo mais completo, ao teor das
Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e transformações que o contato com essa mesma natureza
choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e provocará em Jerônimo é a que se expressa em:
pelo desespero.
[...] A) “era o calor vermelho das sestas da fazenda”.
E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia B) “era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a
dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre nenhuma outra planta”.
as chamas. [...] C) “era o veneno e era o açúcar gostoso”.
No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções literárias D) “era a cobra verde e traiçoeira”.
que configuram imagens plásticas no espírito do leitor, E) “[era] a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo
Aluísio Azevedo apresenta características psicológicas de
em torno do corpo dele”.
comportamento comunitário. Aponte a alternativa que explicita
o que os dois trechos têm em comum.
A) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no 03. Na seguinte passagem de O Cortiço, identifique a figura de
primeiro trecho, e preocupação de poucos em relação à linguagem utilizada pelo narrador.
tragédia comum, no segundo trecho.
B) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo “É que Pombinha, orçando pelos dezoito anos, não tinha
de todos por si próprios, no segundo trecho. ainda pago à natureza o cruento tributo da puberdade.”
C) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro (capítulo III)
trecho, e angústia de não se conhecer o outro, por quem
se é ajudado, no segundo trecho. A) Hipérbole.
D) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, B) Eufemismo.
e desespero que se expressa por apatia, no segundo trecho. C) Antítese.
E) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no
D) Disfemismo.
primeiro trecho, e anonimato da cooperação e do “todos
por todos”, no segundo trecho. E) Ironia.

70 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
• Texto para a questão 04. 05. Pode-se afirmar que o enlace amoroso entre Jerônimo e Rita,
próprio à visão naturalista, consiste
No século XIX, Charles Darwin descobriu que somos
A) na condenação do sexo e consequente reafirmação dos
filhos de macacos. Sob o impacto de sua própria conclusão, o
preceitos morais.
autor de A Origem das espécies ocultou, durante certo tempo,
a sua teoria da evolução. Ele vivia doente, queixando-se de B) na apresentação dos instintos contidos, sem exploração da
intensas dores de cabeça, derramando-se em vômitos e plena sexualidade.
contraindo-se em palpitações cardíacas. Sofria os efeitos de um C) na apresentação do amor idealizado e revestido de certo
conflito íntimo, como quem somatiza um drama de consciência. erotismo.
Darwin, que sonhara ser sacerdote, fora levado por D) na descrição do ser humano sob a ótica do erótico e
caminhos que o tornaram autor de uma teoria que, como animalesco.
a astronomia de Copérnico e Galileu, faria a Igreja vociferar E) na concepção de sexo como prática humana nobre e sublime.
também no século XIX. Chegou a confidenciar a seu amigo
Joseph Hooker que, ao admitir o parentesco entre o ser humano 06. O enlace amoroso, seja na perspectiva de Rita, seja na de
e os símios, ficou-lhe o sentimento de culpa de quem comete Jerônimo
um crime, um verdadeiro parricídio — o assassinato de Adão. A) é sublimado, o que lhe confere caráter grotesco na obra.
Disponível em: <http://www.correiocidadania.com.br/antigo/ed243/opiniao.htm> B) é desejado com intensidade e lhes aguça os ânimos.
C) reproduz certo incômodo pelo tom de ritual que impõe.
04. Influenciados pelas ideias de Darwin, os representantes do D) representa-lhes o pecado e a degradação como pessoa.
Naturalismo, movimento literário do século XIX, comparavam E) é de sensualidade suave, pela não explicitação do ato.
os seres humanos a animais. Os trechos a seguir foram extraídos
da obra O Cortiço, cujo autor, Aluísio de Azevedo, foi o maior
representante do Naturalismo no Brasil. Assinale a alternativa 07. A atração inicial entre Rita e Jerônimo não acontece na cena
em que essa característica, conhecida como zoomorfização, descrita. Segundo o texto, pode-se inferir que ela se relaciona
não esteja presente. com
A) “A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, A) uma dose de parati.
beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de
B) a cama de Rita.
macaca.”
B) “... uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira C) uma xícara de café.
e viva, lisa e seca como um moleque, conhecendo de D) o perfume de Rita.
orelha, sem lhe faltar um termo, a vasta tecnologia da E) o olhar de Rita.
obscenidade...”
C) “Nenen dezessete. Espigada, franzina e forte, com uma
• Texto para a questão 08.
proazinha de orgulho de sua virgindade, escapando como
enguia por entre os dedos dos rapazes que a queriam sem
ser para casar.” As mães dos outros dois rapazitos esperavam imóveis
D) “A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a e lívidas pela volta dos fi lhos, e, mal estes chegaram à
‘Machona’, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos estalagem, cada uma se apoderou logo do seu e caiu-lhe
e grossos, anca de animal do campo.” em cima, a sová-los ambos que metia medo.
— Mira-te naquele espelho, tentação do diabo!
• (Unifesp) Para responder às questões de números 05 a 07, leia exclamava uma delas, com o pequeno seguro entre as pernas
o trecho a seguir de O cortiço, de Aluísio de Azevedo. a encher-lhe a bunda de chineladas. Não era aquele que
Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de devia ir, eras tu, peste! aquele, coitado! ao menos ajudava
roupa e deitou-se na cama de Rita. a mãe, ganhava dois mil-réis por mês regando as plantas
–– Vem pra cá... disse, um pouco rouco. do Comendador, e tu, coisa-ruim, só serves para me dar
–– Espera! espera! O café está quase pronto! E ela só foi consumições! Toma! Toma! Toma!
ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa E o chinelo cantava entre o berreiro feroz dos dois
bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores (...) rapazes.
Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se João Romão chegou ao terraço de sua casa, ainda em
contra o seu amado, num frenesi de desejo doido.
mangas de camisa, e de lá mesmo tomou conhecimento do
Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir
que acontecera. Contra todos os seus hábitos impressionou-se
na sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir
inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de baunilha e com a morte de Agostinho; lamentou-a no íntimo, tomado de
cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao sentir estranhas condolências.
esmagarem-se no seu largo e peludo colo de cavouqueiro os Pobre pequeno! Tão novo... tão esperto... e cuja vida
dois globos túmidos e macios, e nas suas coxas as coxas dela; não prejudicava a ninguém, morrer assim, desastradamente!...
sua alma derreteu-se, fervendo e borbulhando como um [...]
metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos João Romão deu-lhe a notícia da morte do Agostinho
os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe e declarou que estava com dor de cabeça. Não sabia que
as próprias carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços
diabo tinha ele aquela noite, que não houve meio de pegar
irreprimíveis, que lhe sacudiam os membros, fibra por fibra,
direito no sono.
numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos
violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das Aluísio de Azevedo, O Cortiço.
labaredas do inferno.

Anual – Volume 3 71
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
08. No trecho anterior, narrado em 3ª pessoa, o narrador registra
o fluxo dos pensamentos de certa personagem, por meio
do chamado discurso indireto livre (ou seja: as palavras da Fique de Olho
personagem são apresentadas entre as palavras do narrador, sem
verbo declarativo, como disse, pensou ou outros). A alternativa
em que se verifica esse tipo de discurso é: Características do Naturalismo
A) “Mira-te naquele espelho, tentação do diabo! exclamava
uma delas [...]”. Literatura a serviço da ciência.
B) “Não era aquele que devia ir, eras tu, peste! aquele, coitado!
ao menos ajudava a mãe, ganhava dois mil-réis por mês
regando as plantas do Comendador, e tu, coisa-ruim, só Personagens tratados com olhar científico.
serves para me dar consumições!”
C) “Toma! Toma! Toma!” Olhar racional e objetivo para a realidade.
D) “Pobre pequeno! Tão novo... tão esperto... e cuja vida não
prejudicava a ninguém, morrer assim, desastradamente!...”

• Textos para a questão 09.


Aula 15:

Texto I C-5 H-15, 16


Aula Naturalismo I – Obra de C-6 H-17, 18
De cada casulo espipavam homens armados de pau,
achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo os agitava 15 Raul Pompeia
agora, a todos, numa solidariedade briosa, como se ficassem
desonrados para sempre se a polícia entrasse ali pela primeira
vez. Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois rivais,
estava direito! “Jogassem lá as cristas, que o mais homem
ficaria com a mulher!” mas agora tratava-se de defender a Raul Pompeia
estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém O Ateneu, o livro mais importante de Raul Pompeia, foi
ou alguma coisa querida. publicado primeiramente sob a forma de folhetim, em 1888, na
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974, p. 139. Gazeta de Notícias. Autobiográfico (uma vez que Raul Pompeia
fora também aluno interno), o romance, narrado em primeira
Texto II pessoa, conta a vida do adolescente Sérgio, dentro do internato.
Caricaturando seus colegas, professores e o diretor do internato,
O Cortiço é um romance de muitas personagens.
o autor acentua-lhes defeitos, erros, hostilidades, hipocrisias,
A intenção evidente é a de mostrar que todas, com suas
corrupções física e moral.
particularidades, fazem parte de uma grande coletividade,
de um grande corpo social que se corrói e se constrói Em seus doze capítulos, este livro desvenda as impressões
simultaneamente. deixadas pelos acontecimentos na memória do adolescente.
FERREIRA, Luiz Antônio. Roteiro de leitura: O Cortiço, de Aluísio Azevedo. O romance admite duas leituras que se completam e enriquecem:
São Paulo: Ática, 1997, p. 42. 1) denotativamente, o romance é resultado da experiência de
Sérgio, aluno interno do Ateneu.
09. Sobre os textos, assinale a alternativa correta. 2) conotativamente, pode-se, partindo dos nomes, ver no romance
A) No texto I, por ser ele uma construção literária realista, há uma metáfora crítica da época:
o predomínio da linguagem referencial, direta e objetiva; • Ateneu, do grego Athénaion, simboliza a importação (até de
no texto II, por ser ele um estudo analítico do romance, modelos culturais), típica da época;
há o predomínio da linguagem estética, permeada de • Aristarco, o diretor egocêntrico e despótico do colégio, tem
subentendidos. no nome a própria representação do poder: aristos (radical
B) A afirmação contida no texto II explicita o modo coletivo de presente em aristocracia) quer dizer ótimo e arché, governo;
agir do cortiço, algo que também se observa no texto I, o o aluno Américo (referência ao continente da América) provoca
que justifica o prevalecimento de um termo coletivo como o incêndio, que destrói o colégio, símbolo da Monarquia.
título do romance. • Ema, esposa de Aristarco, é a única mulher no colégio.
C) Tanto no texto I quanto no texto II há uma visão exacerbada Ela simboliza ao mesmo tempo a mãe e o sexo, o amor.
e idealizada do cortiço, sendo este considerado um lugar de Seu nome é o anagrama perfeito de mãe e ame.
harmonia e justiça.
D) No texto I prevalece a desagregação e corrosão da grande Conheça algumas características de Aristarco neste fragmento
coletividade a que se refere o texto II. de texto. O diretor explica a Sérgio e a seu pai como é a escola:
E) O que se afirma no texto II vai contra a ideia contida no Durante o tempo da visita, não falou Aristarco senão das
texto I, visto que no cortiço jamais existe união entre os seus suas lutas, suores que lhe custavam a mocidade e que não eram
moradores. justamente apreciados. “Um trabalho insano! Moderar, animar,
corrigir esta massa de caracteres, onde começa a ferver o fermento
das inclinações; encontrar e encaminhar a natureza na época
10. O juízo a seguir está em desacordo com a leitura da obra O Cortiço.
dos violentos ímpetos; amordaçar excessivos ardores; retemperar
A) É um romance urbano.
o ânimo dos que se dão por vencidos precocemente; espreitar,
B) O autor admite a influência do meio no comportamento do
adivinhar os temperamentos; prevenir a corrupção; desiludir as
indivíduo.
aparências sedutoras do mal; aproveitar os alvoroços do sangue para
C) Alcança a época da escravidão.
os nobres ensinamentos; prevenir a depravação dos inocentes; espiar
D) Romão é tudo, menos um ingrato.
os sítios obscuros; fiscalizar as amizades, desconfiar das hipocrisias;
E) O protagonista não se contenta com a ascensão econômica,
ser amoroso, ser violento, ser firme; triunfar dos sentimentos de
quer a social também.

72 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
compaixão para ser correto; proceder com segurança, para depois
duvidar; punir para pedir perdão depois... Um labor ingrato, titânico,
Exercícios de Fixação
que extenua a alma, que nos deixa acabrunhados ao anoitecer de
hoje, para recomeçar com o dia de amanhã... Ah! Meus amigos,
concluiu ofegante, não é o espírito que me custa, não é o estudo
• Texto para as questões 01 e 02.
dos rapazes a minha preocupação... É o caráter! Não é a preguiça
o inimigo, é a imoralidade!” Aristarco tinha para esta palavra uma Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me
entonação especial, comprimida e terrível, que nunca mais esquece a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.
quem a ouviu dos seus lábios. “A imoralidade!” Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
O Ateneu: fusão de romance e memórias Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um
sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos
O componente memorialístico do livro deve-se a um episódio
a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente
marcante da vida de Raul Pompeia, pelo trauma que lhe causou.
de novidade, como os negociantes que liquidam para começar com
Aos dez anos tornou-se aluno de um famoso internato carioca,
artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado
o Colégio Abílio, cujo diretor, o barão de Macaúbas, era conhecido
crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da
por sua severidade e prepotência.
meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
Assim, reconstruir as atrocidades cometidas nos bastidores
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do
do grande colégio da época, frequentado pela fina flor da sociedade
Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome
brasileira, criticar o sistema educativo do colégio, com suas punições,
de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias,
seu autoritarismo, o regime de hipocrisia e de espionagem instituído
conferêncais em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância,
pelo diretor, constitui uma das faces da obra. Nela o barão de
atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros
Macaúbas transfigurou-se literariamente em Aristarco, o diretor
elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido
do Ateneu.
concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais
Quanto a Raul Pompeia, homem profundamente sensível,
caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas
que se suicidou com trinta e dois anos, podemos dizer que se
públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas,
transfigurou literariamente em Sérgio, o adulto que narra em
amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se
primeira pessoa a própria história, desvendando as raízes de seu
ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins
sentimento de solidão, de inadaptação, de incomunicabilidade.
da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia
Aqui aparece a outra face do romance, em que predomina
surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E
a interiorização, a percepção psicológica fina e de caráter
não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do
impressionista.
espírito.
POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.
Resumo da obra
01. (FGV) Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o
Chamado pelo autor de “Crônica de saudades”, O Ateneu, narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio
no entanto, ultrapassa essa dimensão autobiográfica por sua demarcado pela
qualidade literária. Classifica-se como um “romance de formação”, A) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades.
B) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo
isto é, um romance que narra a passagem da mente infantil para a
educacional.
adulta, e tem como mola propulsora, como fio da meada, a memória C) produção pioneira de material didático, responsável pela
de Sérgio, o narrador-personagem. facilitação do ensino.
Já adulto, ele relata os episódios emocionalmente mais D) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos
marcantes, mais traumatizantes, ocorridos ao longo dos dois anos custos escolares.
em que foi aluno do Ateneu. E) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo
Tendo por tema central o drama da solidão, o desajuste interesse comum do avanço social.
do indivíduo num ambiente que lhe é hostil, O Ateneu
compõe-se de 12 capítulos que se assemelham a uma sucessão 02. (Puc-Campinas/2014) Em nossa literatura, o romance O Ateneu,
de Raul Pompeia, é a mais intensa narrativa que já se produziu
de quadros, não subordinados necessariamente entre si.
sobre a vida escolar num colégio. Para narrar em tom de
Mais do que relatar episódios, acontecimentos ou ações, tais
depoimento e de modo a preservar tanto os fatos vividos como
quadros relatam as impressões, as sensações que deixaram na as impressões fundas que o deixaram, o narrador conduziu sua
alma de Sérgio, seja em suas tentativas inúteis e malsucedidas narração valendo-se da
de encontrar amigos, seja no amor platônico que dedica a A) terceira pessoa, que garante a impessoalidade, e do estilo
Ema, a esposa de Aristarco. romântico, que favorece a poesia lírica mais exaltada.
Essas duas faces da obra – a de desvendamento do interior B) terceira pessoa, por ser mais fidedigna, e do estilo
do narrador-personagem e a de denúncia de todo um sistema parnasiano, para dar mais peso aos ornamentos retóricos.
educativo – são exemplos de como se reúnem tendências literárias C) primeira pessoa, que favorece o caráter de um testemunho,
e do estilo que conjuga realismo e impressionismo.
opostas, pode-se dizer conflitantes: de um lado a tendência
D) primeira pessoa, que favorece a fantasia e a imaginação, e
impressionista (e podemos acrescentar expressionista, simbolista, na
do estilo parnasiano, para dar mais peso ao classicismo.
medida em que convivem) e, de outro, uma tese a ser defendida, E) terceira pessoa, que favorece o tom documental, e do estilo
bem à moda naturalista. jornalístico, para buscar mais credibilidade.

Anual – Volume 3 73
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
• Texto para a questão 03. 05. Sobre o texto, é correto afirmar:
A mais terrível das instituições do Ateneu não era a famosa A) A atmosfera tensa presente no cotidiano do colégio era
justiça de arbítrio, não era ainda a cafua, asilo das trevas e do soluço, produto, sobretudo, da marcação cerrada dos inspetores, que
intervinham nos muitos conflitos.
sanção das culpas enormes.
B) Rômulo, devido às provocações que sofre, perde as certezas
Era o livro das notas.
sobre si mesmo e assume um comportamento que oscila entre
Todas as manhãs, infalivelmente, perante o colégio em a angústia e ataques de fúria.
peso, congregado para o primeiro almoço, às oito horas, o diretor C) Alguns alunos, por serem muito suscetíveis, importunavam
aparecia a uma porta, com solenidade tarda das aparições, e abria outros colegas, puxando-lhes o cabelo ou colocando-lhes
o memorial das apartes. apelidos.
D) A brutalidade física de Rômulo era a única solução que
03. Em O Ateneu, Raul Pompeia denuncia, como exemplifica o texto, a
encontrava para enfrentar a chacota dos alunos mais fortes.
A) perversidade do sistema educacional.
E) A unanimidade dos alunos em chamar Rômulo de cozinheiro
B) relação perigosa entre adolescentes. fazia com que preponderasse sua atitude de entregar-se ao
C) brutalidade física na educação. acabrunhamento.
D) vontade de poder do educador.
E) política interesseira da escola.

• As questões de números 04 e 05 tomam por base o fragmento


Exercícios Propostos
seguinte.
As provocações no recreio eram frequentes, oriundas • Texto para as questões 01 e 02.
do enfado; irritadiços todos como feridas; os inspetores a
Abriram-se as aulas a 15 de fevereiro.
cada passo precisavam intervir em conflitos; as importunações De manhã, à hora regularmente, compareci. O diretor, no
andavam em busca das suscetibilidades; as suscetibilidades a escritório do estabelecimento, ocupava uma cadeira rotativa junto
procurar a sarna das importunações. Viam de joelhos o Franco, à mesa de trabalho. Sobre a mesa, um grande livro abria-se em
puxavam-lhe os cabelos. Viam Rômulo passar: lançavam-lhe o colunas maciças de escrituração e linhas encarnadas.
apelido: mestre-cuca! Aristarco, que consagrava as manhãs ao governo financeiro
Esta provocação era, além de tudo, inverdade. do colégio, conferia os assentamentos do guarda-livros.
Cozinheiro, Rômulo! Só porque lembrava culinária, com a De momento a momento entravam alunos. Alguns acompanhados.
carnosidade bamba, fofada dos pastelões, ou porque era A cada entrada, o diretor fechava lentamente o livro,
gordo das enxúndias enganadoras dos fregistas, dissolução marcando a página com um espadim de marfim; fazia girar a cadeira
mórbida de sardinha e azeite, sob os aspectos de mais e soltava interjeições de acolhimento, oferecendo episcopalmente1
volumosa saúde? a mão peluda ao beijo contrito² e filial dos meninos. Os maiores,
(...) em regra, recusavam-se à cerimônia e partiam com um simples
Rômulo era antipatizado. Para que o não manifestassem aperto de mão.
excessivamente, fazia-se temer pela brutalidade. Ao mais O rapaz desaparecia, levando o sorriso pálido na face,
insignificante gracejo de um pequeno, atirava contra o saudoso da vadiação ditosa das férias. O pai, o correspondente, o
infeliz toda a corpulência das infiltrações de gordura solta, portador, despedia-se, depois de banais cumprimentos, ou palavras
desmoronava-se em socos. Dos mais fortes vingava-se, a respeito do estudante, amenizadas pela bonomia³ superior de
resmungando intrepidamente. Aristaco, que punha habilmente um sujeito fora de portas com o
riso fanhoso e o simples modo de segurar-lhe os dedos.
Para desesperá-lo, aproveitavam-se os menores do escuro.
A cadeira girava de novo à posição primitiva, o livro da
Rômulo, no meio, ficava tonto, esbravejando juras de morte,
escrituração mostrava outra vez as páginas enormes e a figura
mostrando o punho. Em geral procurava reconhecer algum dos
paternal do educador desmanchava-se, voltando a simplificar-se na
impertinentes e o marcava para a vindita. Vindita inexorável. esperteza atenta e seca do gerente. A este vaivém de atitudes estava
No decorrer enfadonho das últimas semanas, foi tão habituado o nosso diretor que nenhum esforço lhe custava a
Rômulo escolhido, principalmente, para expiatório do desfastio. manobra. Soldavam-se nele o educador e o empresário com uma
Mestre-cuca! Via-se apregoado por vozes fantásticas, saídas perfeição rigorosa, dois lados da mesma medalha: opostos, mas
da terra; mestre-cuca! Por vozes do espaço rouquenhas ou justapostos.
esganiçadas. Sentava-se acabrunhado, vendo se lembrava de haver Quando meu pai entrou comigo, havia no semblante de
tratado panelas algum dia na vida; a unanimidade impressionava. Aristarco uma pontinha de aborrecimento. Decepção talvez de
Mais frequentemente, entregava-se a acessos de raiva. Arremetia estatística: o número dos estudantes novos não compensando o
bufando, espumando, olhos fechados, punhos para trás, contra número dos perdidos, as novas entradas não contrabalançando as
os grupos. Os rapazes corriam a rir, abrindo caminho, deixando despesas do fim do ano. Mas a sombra do despeito apagou-se logo e
rolar adiante aquela ambulância danada de elefantíase. foi com uma explosão de contentamento que o diretor nos acolheu.
Raul Pompeia. O Ateneu. Sua diplomacia dividia-se por escaninhos numerados,
segundo a categoria de recepção que queria dispensar. Ele tinha
04. Indique a alternativa em que os fragmentos selecionados maneiras de todos os graus, segundo a condição social da pessoa.
exemplificam, respectivamente, a manifestação clara do ponto de As simpatias verdadeiras eram raras. No âmago de cada
vista do narrador e a opinião do grupo, a propósito de Rômulo. sorriso, morava-lhe um segredo de frieza que se percebia bem.
A) Cozinheiro, Rômulo! – Vindita inexorável. E duramente se marcavam distinções políticas, distinções
financeiras, distinções baseadas na crônica escolar do discípulo.
B) Vindita inexorável! – Cozinheiro, Rômulo!
Às vezes, uma criança sentia a alfinetada no jeito da mão a
C) Mestre-cuca! – Vindita inexorável. beijar. Saía indagando consigo o motivo daquilo, que não achava
D) Cozinheiro, Rômulo! – Mestre-cuca! em suas contas escolares... O pai estava dois trimestres atrasados.
E) Mestre-cuca! – Cozinheiro, Rômulo! Raul Pompeia, O Ateneu. Texto editado

74 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa II LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
¹episcopalmente: à maneira de um bispo. 04. No Romance O Ateneu, coexistem características estéticas
²contrito: arrependido, pesaroso. próprias do Realismo, do Naturalismo, do Impressionismo e
³bonomia: serenidade, lentidão, simplicidade, bondade. do Expressionismo.

“Quando meu pai entrou comigo, havia no semblante de É marcante a presença do Naturalismo em:
A) “O timbre da vogal, o ritmo da frase dão alma à elocução.
Aristarco uma pontinha de aborrecimento. Decepção talvez de
O timbre é o colorido, o ritmo é a linha e o contorno.
estatística: o número dos estudantes novos não compensando o
A lei da eloquência domina na música, colorido e linha,
número dos perdidos, as novas entradas não contrabalançando seriação de notas e andamentos; domina na escultura, na
as despesas do fim do ano. Mas a sombra do despeito apagou-se arquitetura. na pintura: ainda a linha e o colorido.”
logo e foi com uma explosão de contentamento que o diretor B) “O Cerqueira, ratazana, sujeito cômico, cara feita de
nos acolheu.” beiços rachada em boca como as romãs maduras, de
mãos enormes como um disfarce de pés, galopava a
quatro pelos salões zurrando em fraldas de camisa,
01. (FMTM) Os trechos em destaque constituem uma antítese. escoucinhando uma alegria sincera de mu.”
Esse recurso estilístico foi utilizado pelo autor para C) “Modulava-se a harmonia em suave gorjeio, entoando
elevação dos salmos, o êxtase sensual do Cântico dos
A) ressaltar o fato de que Aristarco colocava as questões
Cânticos na boca de Sulamita, e a sedução de Booz enredado
pedagógicas acima dos problemas financeiros do colégio. no estratagema honesto da ternura, e a melancolia trágica
B) demarcar o caráter ambíguo e a oscilação de comportamento de Judite, e a serena glória de Ester, a princesa querida.”
do diretor do colégio. D) “Sua diplomacia (de Aristarco) dividia-se por escaninhos
C) mostrar que Aristarco dava pouca importância aos problemas numerados, segundo a categoria de recepção que queria
financeiros do colégio. dispensar. Ele tinha maneiras de todos os graus, segundo
D) caracterizar o temperamento desconfiado de Aristarco como condição social da pessoa.”
diretor do colégio.
E) demonstrar que Aristarco tinha poucos aborrecimentos à • Leia o trecho a seguir para responder às questões seguintes.
frente da instituição. “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do
Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois
02. (FMTM) Quanto à maneira de recepcionar pais e alunos, pode-se a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões
afirmar que Aristarco os recebia de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é
A) com uma explosão de contentamento. 05 o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra
B) com expressão de aborrecimento. fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos
C) de maneira espontaneamente acolhedora. um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais
D) de maneira habilidosa e calculada. sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento,
E) com um desprezo que ele não se preocupava em ocultar. têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima
10 rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita,
03. (UFGRS) Considere as seguintes afirmações sobre obras de dos felizes tempos: como se a mesma incerteza de hoje, sob
três escritores do século XIX. outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não
viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.
I. O Ateneu, de Raul Pompeia, examina e avalia, mediante Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual
narrador em primeira pessoa, a experiência do menino 15 aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias que correram
Sérgio, que tenta adaptar-se, contestar, estabelecer como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em
amizades etc., no ambiente hostil do colégio sob a todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam,
autoridade Aristarco; das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente
II. O Cortiço, de Aluísio Azevedo, registra o árduo cotidiano do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças,
das camadas populares, na segunda metade do século XIX, 20 a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um
através de um relato pontuado de comentários irônicos pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura
quanto às explicações pretensamente científicas do ao crepúsculo – a paisagem é a mesma de cada lado beirando
comportamento humano; a estrada da vida.
III. Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, narra Eu tinha onze anos.
as desventuras de um burocrata patriota que, antes de
POMPEIA, Raul. O Ateneu: crônica de saudades.
combater a Revolta da Armada, tenta incrementar a São Paulo: Ática, p. 11, 1979.
produtividade rural mediante distribuição de terras e diálogo
com os lavradores. 05. O trecho “( ... ), a atualidade é uma.” (linha 20) significa que:
A) a atualidade traz a compensação dos desejos.
Quais estão corretas? B) a atualidade tem sempre a mesma natureza, em qualquer
A) Apenas I. momento.
C) a atualidade é simplesmente uma mesma base fantástica
B) Apenas III
de esperanças.
C) Apenas I e II. D) a atualidade é um eufemismo apenas, igual aos outros que
D) Apenas II e III. nos alimentam.
E) I, II e III. E) a atualidade é uma paisagem única, que só ocorre uma vez
na estrada da vida.

Anual – Volume 3 75
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa II
06. Está em desacordo com o texto de Raul Pompeia:
A) O ambiente familiar da infância aparentemente protege a
Fique de Olho
criança do mundo.
B) A entrada do Ateneu marca o fim de uma etapa.
C) O zelo familiar suaviza a rude impressão do contato com o
O IMPRESSIONISMO E O NATURALISMO EM O ATENEU
mundo.
D) O tempo vivido no Ateneu não é, em essência, diferente das Ao lado de passagens naturalistas, em que Sérgio faz
demais fases da vida.
caricaturas de personagens e de cenas, vendo-os de fora, há outras
E) Todas as fases da vida são substancialmente semelhantes.
de fina e sutil penetração psicológica, nas quais predominam as
impressões de Sérgio, a invasão de sua subjetividade naquilo que vê
07. A estética realista-naturalista se caracteriza no texto:
por dentro, a partir de si mesmo, e assim deformando o visto/vivido.
A) pela louvação da infância e das memórias como forma de Daí as características impressionistas, expressionistas e também
reconstrução do real idealizado. simbolistas dessa obra, rica e múltipla nos recursos estilísticos e
B) pela temática voltada para as classes sociais desfavorecidas. também na profundidade existencial do tema que explorou.
C) pela linguagem simples adotada como forma de reprodução
da fala do protagonista. IMPRESSIONISMO/EXPRESSIONISMO/SIMBOLISMO
D) pela escolha de um narrador de primeira pessoa, que reforça
a verossimilhança do narrado. Movimentos artísticos europeus, nascidos nas artes plásticas,
E) pela figura do protagonista, narrador de primeira pessoa, no final do século XIX, que são considerados fundadores da
que traça para si mesmo um perfil heroico, contestado e modernidade artística.
revolucionário.
Enquanto o Impressionismo consiste em realçar “não as
coisas, mas a impressão que elas causam” (Claude Monet) na
08. A análise seguinte está em desacordo com o texto: interioridade do artista, o Expressionismo enfoca o grotesco, o
A) Apresenta uma visão melancólica e dolorosa sobre a vida. bizarro, o estranho de que os objetos se revestem, deformados
B) Destrói a ingênua ilusão romântica de tempos felizes pela visão do criador. Já o Simbolismo caracteriza-se por uma visão
passados.
simbólica, subjetiva e mística do mundo.
C) Sofre influência da estética impressionista vigente no final
“O livro, pode-se dizer, é a memória adulta de uma
do século XIX.
experiência infantil vista por dentro. Os limites da visão, portanto,
D) Estabelece com o leitor um pacto de cumplicidade através
da utilização da primeira pessoa do plural. são ditados pela criança; só pode ser narrado ou comentado o que
E) Inaugura uma temática intimista precursora da narrativa esta experimentou. O Ateneu atende essa exigência com bastante
proposta pela Semana de 22. rigor. Em coerência com a perspectiva tomada, a única interioridade
que apresenta é a do próprio autor. As outras personagens são todas
vistas de fora, interpretadas à luz dos traços principalmente visuais,
09. A temática da homossexualidade, que ocupa as páginas de
O Ateneu, é também trabalhada no seguinte romance confrontados com um pessimismo biologista, feroz e irônico.”
brasileiro:
Roberto Schwarz. A Sereia e o Desconfiado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
A) Dom Casmurro.
B) O Bom-Crioulo.
C) Esaú e Jacó.
Bibliografia
D) O Mulato.
E) Quincas Borba. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Cultrix.
CALLADO, Antônio (s.d.) Retrato de Portinari. Rio de Janeiro:
10. Assinale a alternativa em desacordo com O Ateneu. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
CORTESÃO, Jaime 1994. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Lisboa:
A) Devido a apresentar uma estrutura bastante eclética, não Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
se trata de um romance que tem uma classificação rigorosa DIONÍSIO, Mário (1963); Portinari (1903-1962).
como representante de uma ou outra tendência literária.
FISCHER, Luís Augusto. Literatura Brasileira: modos de usar.
B) Tem um narrador em primeira pessoa, Sérgio, que relata
Porto Alegre: LP&M, 2008.
fatos ocorridos com ele no passado.
GONZAGA, Sérgius. Manual de Literatura Brasileira. 14. Ed. Porto
C) A ação deste romance transcorre no ambiente fechado
de um internato, onde convivem crianças, adolescentes, Alegre: Mercado Aberto, 1997.
professores e empregados. MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. Cultrix.
D) A maioria das personagens do romance é apresentada de NICOLA, José de. Literatura Brasileira. Scipione.
uma forma caricatural, realçando seus aspectos negativos. OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Literatura brasileira: Teoria e prática.
E) Em função de uma narrativa mais dinâmica, o autor abre 1. ed – São Paulo: Rideel, 2006.
mão da análise psicológica de personagens. PONTES, Marta. Minimanual de redação e literatura. São Paulo: DCL, 2010.

76 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III
Produção Textual

Objetivo(s):
• Capacitar o aluno a produzir textos que, sem transgredir a norma culta, demonstrem competência reflexiva e
crítica.
• Estudar a estrutura e os componentes da notícia, do artigo de opinião e do editorial a fim de produzi-los com
eficiência e eficácia, conforme a exigência dos vestibulares.
• Analisar com detalhes os principais tipos de erros cometidos na elaboração de uma redação, bem como os
mecanismos para superá-los.
• Estudar os mecanismos de elaboração de título e da tese, bem como seu conceito e relevância para o êxito
argumentativo.
• Estudar as principais estratégias argumentativas, com foco nos mecanismos de articulação textual que lhes dão
consistência.
• Estudar os mais importantes tipos de coesão textual como ferramenta indispensável para a articulação do texto.
• Exercitar leitura crítica a fim de fomentar a prática redacional.
• Treinar redação a partir de temas importantes da contemporaneidade.

Conteúdo:
Aula 11: A Notícia, o Artigo de Opinião e o Editorial
Introdução................................................................................................................................................................................................................78
Exercícios .................................................................................................................................................................................................................83
Aula 12: A Correção Textual e a Superação dos Erros
A correção textual.....................................................................................................................................................................................................86
Obediência à norma culta.........................................................................................................................................................................................86
Exercícios .................................................................................................................................................................................................................94
Aula 13: Como Elaborar o Título e a Tese
Introdução................................................................................................................................................................................................................97
Exercícios ...............................................................................................................................................................................................................104
Aula 14: As Estratégias Argumentativas e a sua Aplicação
Principais articuladores textuais.............................................................................................................................................................................107
Exercícios ...............................................................................................................................................................................................................114
Aula 15: A Articulação do Texto Dissertativo-Argumentativo
Introdução..............................................................................................................................................................................................................119
Coesão referencial..................................................................................................................................................................................................119
Coesão sequencial..................................................................................................................................................................................................120
Coesão interfrásica.................................................................................................................................................................................................120
Sinais de pontuação................................................................................................................................................................................................123
Exercícios ...............................................................................................................................................................................................................126
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Tivemos um ano com muitas expectativas e evoluímos.
Aula 11:

C-6 H-18, 22 O título deste torneio vem presentear esse trabalho. E que o próximo
Aula A Notícia, o Artigo de Opinião C-8 H-23, 27 ano seja feliz que jogará no futebol dos Estados Unidos.
e o Editorial Foi duro. O Canadá se impôs. Mas, mesmo jogando pelo
11 empate, não relaxamos e estamos felizes com mais um título.
E teve um gostinho de forra. Em 2010, aquele empate em 2 a 2
com um gol no finzinho fez o Canadá ser campeão – disse Marta,
que esteve presente nos outros cinco títulos, mas pela primeira vez
Introdução foi a capitã e levantou a taça.
O terceiro lugar ficou com o México, que derrotou Trinidad
e Tobago por 2 a 1.
Notícia Disponível em: <http://esportes.opovo.com.br/app/esportes/minuto/2015/12/20/
noticiaminutol.305672/torneio-de-futebol-feminino-brasil-bate-
É um texto narrativo que apresenta um fato. Normalmente,
canada-em-natal-e-e-hexa.shtml>
há pessoas envolvidas; o tempo e o lugar do fato; como e por que
ocorreu tal fato. Tem, como propósito comunicativo, informar. AUSTRÁLIA E INDONÉSIA REFORÇAM COOPERAÇÃO
A linguagem é objetiva e impessoal. CONTRA O TERRORISMO
• Estrutura A Austrália e a Indonésia firmaram hoje (21) um acordo de
1. Título – que sintetiza o fato. combate ao terrorismo, um dia depois de a polícia indonésia ter
2. Introdução – que identifica o fato. detido seis pessoas que supostamente planejavam um atentado.
3. Parágrafos que narram todos os aspectos do fato. Há uma Os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros dos
progressão temática: o que, quem, onde, quando, como, dois países assinaram o acordo durante reunião em Sydney, na qual
também anunciaram a renovação do acordo de cooperação militar
por que e para que.
que deve ser revisto em 2017.
4. Fechamento: encerra o texto com mais algumas informações
A ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Julie
sobre o fato.
Bishop, recusou-se a comentar se a Austrália forneceu informações
às autoridades indonésias para facilitar a detenção de um grupo
Exemplos: de supostos jihadistas que pretendia praticar atentados à bomba
durante as festividades do Natal e Ano Novo.
TORNEIO DE FUTEBOL FEMININO: BRASIL BATE CANADÁ
“A Austrália está sempre preparada para assumir o seu
EM NATAL E É HEXA
papel e, nesse caso, parece que a polícia indonésia teve êxito ao
O Brasil sagrou-se neste domingo hexacampeão do Torneio frustrar uma tentativa de ato terrorista”, disse Julie Bishop à estação
Internacional de Futebol Feminino/Copa Caixa, ao derrotar o Canadá de televisão ABC.
por 3 a 1 na Arena de Dunas, em Natal. O time brazuca precisava As detenções foram feitas pela Densus 88, a unidade
apenas do empate, mas venceu de virada, com gols da atacante antiterrorista treinada pelos Estados Unidos e a Austrália, criada
Andressa Alves e dois da zagueira Mônica (com duas assistências de depois do atentado em Bali em 2002, no qual morreram 202
Andressa Alves). Beckie abriu o placar para as canadenses. pessoas, a maioria turistas australianos.
A reunião ocorreu depois de os dois países terem reatado
Todos os gols foram na etapa final e o Canadá vendeu bem
as relações bilaterais, afetadas pela execução, em abril, de dois
caro a derrota, pois começou muito bem na marcação e teve a
australianos por tráfico de droga pelas autoridades indonésias.
melhor chance do primeiro tempo, aos 35 minutos, quando Beckie
Além da luta antiterrorista, durante o encontro também
chutou para grande defesa de Bárbara e, no rebote, Mattheson foram abordados assuntos de segurança nacional, a reabilitação
concluiu e a veterana Formiga deu um carrinho à David Luiz na Copa dos jihadistas e a troca de informação, assim como as relações
das Confederações – 2013 para tirar em cima da linha. Porém, o comerciais, o turismo e o intercâmbio de estudantes.
time perdeu a sua goleira Mcleod, machucada ainda na primeira Também foi abordada a imigração ilegal e a controversa
etapa, viu o Brasil crescer e quase sair na frente num chute de Bia política australiana de devolver aos seus portos de origem,
que bateu na trave. geralmente na Indonésia, os barcos com requerentes de asilo que
A etapa final começou a mil por hora. Antes do primeiro tentam alcançar a Austrália pelo mar.
minuto, Beckie recebeu pela esquerda, cortou a marcação e chutou O acordo foi assinado por Julie Bishop e Marise Payne, titular
cruzado, abrindo o placar para o Canadá, que seria o campeão com da pasta da Defesa australiana, e pelos ministros indonésios Retno
uma vitória. Felizmente para o Brasil, na saída de bola, as garotas Marsudi e Ryamizard Ryacudu.
conseguiram o empate. Marta recebeu na área e chutou cruzado.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2015-12/
A jogada acabou sendo um passe perfeito para Andressa Alves, australia-e-indonesia-reforcam-cooperacao-contra-o-terrorismo>
desmarcada, concluir para o gol.
Depois disso, a Seleção passou a jogar bem melhor do que Artigo de opinião
a rival e acabou chegando aos gols usando a mesma estratégia:
cobrança de escanteio de Andressa e cabeçadas da zagueira Mônica. O artigo de opinião é um gênero do discurso argumentativo
A primeira, aos 17 minutos. Andressa cobrou pela esquerda, e que tem a finalidade de expressar o ponto de vista do autor a respeito
Mônica entrou em velocidade, testando para o gol de Labbe. Aos 35, de determinado tema. A validade da argumentação é evidenciada
pelas justificativas de posições assumidas pelo autor ao apresentar
o escanteio foi cobrado pela direita. Mônica ganhou da marcação
informações e opiniões que se complementam ou se opõem. No texto,
na subida e mandou para o gol. O Canadá (que foi a única seleção
predominam sequências expositivo-argumentativas. Há vários tipos
a vencer este torneio sem ser a Brasileira) se entregou em campo
de artigo: jornalístico, científico, constitucional etc. Para o vestibular,
e, com muitas substituições, se deu por satisfeita com o resultado. o que mais interessa é o do tipo jornalístico. Feito para publicação em
O Canadá é forte, está entre os quatro melhores, tem jornal, o artigo de opinião é um texto que tem por objetivo tomar uma
condição física boa e marcação perfeita. Por isso, a vitória foi posição em relação a algo; analisar e opinar sobre um fato; argumentar
importante contra essa equipe de peso, terminamos o torneio com sobre determinado assunto. É um texto em que a opinião do autor,
100% de aproveitamento – disse o técnico Vadão. portanto, fica muito bem expressa.

78 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
• Estrutura MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O ACORDO DE PARIS: POR QUE
1. Introdução: anuncia o tema a ser discutido. DEVO ME IMPORTAR?
2. Desenvolvimento: demonstra os argumentos que defendem Um tema importante é pouco considerado por muitas
uma posição. Para isto, é bom que haja mais de um pessoas: as mudanças climáticas. Talvez devido a outros igualmente
parágrafo, de maneira que se desenvolva uma ideia em respeitáveis (inflação, corrupção, desemprego e violência), esse
cada um. assunto passa despercebido. Entretanto, estas mudanças merecem
3. Conclusão: retoma a ideia inicial, desta feita, conclusivamente. mais da nossa atenção. E por quê? Porque elas colocam em
risco todo o esforço que fizermos nas próximas décadas em prol
Observação do desenvolvimento econômico e social no Brasil e no Ceará.
Em situação real, os artigos de opinião têm um título, que As mudanças no clima ocorrem desde o início dos tempos e são
sintetiza a ideia geral do texto. Em alguns concursos vestibulares, elas que provocam mudanças na temperatura do ar e do mar, no
no entanto, esse item não tem sido exigido. regime de chuvas, de ventos, dentre outros.
Os ciclos da natureza e tudo que depende dela são alterados.
Porém, a ciência demonstra que esses ciclos têm sido modificados
Exemplos: devido a nossa interferência. Um recente trabalho da Nature, uma
COMO SERÁ O AMANHÃ? das principais revistas científicas, ilustra bem isso. Do nascimento
de Cristo ao início da Revolução Industrial, em 1800, existia um
Imersos em uma crise sem precedentes, os brasileiros se resfriamento natural do planeta. Segundo essa pesquisa, de 1800 a
perguntam, atordoados, o que acontecerá com suas vidas no 2000, houve aumento da temperatura. Tal pesquisa relaciona o fato
próximo ano. A crise política, iniciada logo após as últimas eleições, com a emissão dos gases de efeito estufa. Nesse mês de dezembro,
alimentada por escândalos diários de corrupção, produz dificuldades líderes de 195 países estão reunidos em Paris na 21ª Conferência
econômicas que retraem investimentos e subtraem empregos, do Clima em busca de um acordo que possa reduzir tais emissões.
esfacelando a credibilidade do País. Esta é mais uma tentativa das muitas que já ocorreram
Neste turbilhão, esperamos ansiosos o fim de 2015, mas em outros anos. Espera-se que essa, diferente das demais, tenha
tememos, aflitos, o início de 2016, acreditando que, dada a resultados satisfatórios. E o que faz com que tantas cabeças
insegurança que paira no ar, nada ainda está tão ruim que não pensantes não entrem em um acordo em um assunto tão
possa piorar. importante? A dificuldade é definir qual seria o papel dos países
O pessimismo se instala e a todos domina, encobrindo ricos e dos pobres. Os países ricos têm recursos e infraestrutura
avanços conquistados no ano que se finda. Eles existem e, para se adaptar ao que virá. E os pobres? Os países pobres querem
tudo indica, serão consolidados. São ganhos institucionais que os ricos assumam o financiamento para as mudanças do clima,
que demonstram que, em momentos de forte crise, abrem-se enquanto que os ricos pretendem dividir essa conta com os pobres.
oportunidades para o fortalecimento de instituições e da própria Segundo o Banco Mundial, devido às mudanças climáticas,
sociedade, com incremento considerável de cidadania. nos próximos 15 anos surgirão mais 100 milhões de pessoas pobres.
Os graves escândalos de corrupção fizeram a sociedade Um exemplo é a redução das chuvas interferindo diretamente na
brasileira transpor os limites de seu elevado grau de tolerância, agricultura, água potável e no aumento do preço dos alimentos.
passando a exigir medidas urgentes de responsabilização, de Chicos O Brasil, em especial o Ceará, deve abrir os olhos para o problema
e Franciscos, ao mesmo tempo em que, finalmente, começou a das mudanças climáticas e seus efeitos na economia, sociedade e
compreender o valor de suas instituições de controle e a importância biodiversidade. A economia do Ceará é baseada na natureza – pesca,
de fortalecê-las. Simplesmente por sentirmos um sopro de igualdade agricultura, água doce, rios, vento etc. Se não vemos importância
na aplicação da Lei, fazendo-a alcançar poderosos, evoluímos, e nisto, estaremos preparados para o que virá?
muito, na nossa consolidação democrática. Marcelo de Oliveira Soares
Temos, portanto, motivos para acreditar que, suportadas Dr. Professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da
e superadas as dificuldades que se avizinham, podemos extrair Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisador visitante da
de toda esta crise novas perspectivas de enfrentamento de nossas Universidade Autônoma de Barcelona.
mazelas e jamais seremos iguais ao que éramos. Seremos mais
conscientes e exigentes, menos tolerantes com desmandos e com Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/12/21/

a impunidade, mais participativos e coesos, menos golpistas e mais noticiasjornalopiniao,3552173/mudancas-climaticas-e-o-acordo-de-paris-

civilizados politicamente, enfim, seremos melhores. por-que-devo-me-importar.shtml>

Ariano Suassuna costumava dizer que um otimista é quase


sempre um tolo, o pessimista é um chato e que bom mesmo é ser
Editorial
um realista esperançoso. Devemos assim agir em 2016, cientes de O editorial é um gênero do discurso argumentativo que
nossa dura realidade, mas sem perder a esperança na enorme força tem a finalidade de manifestar a opinião de um jornal, de uma
que temos para transformá-la. revista, ou de qualquer outro órgão de imprensa, a respeito de
acontecimentos importantes no cenário nacional ou internacional.
Alessander Sales
Não é assinado porque não deve ser associado a um ponto de vista
Procurador da República no Ceará
individual. Deve ser enfático, equilibrado e informativo. Além de
Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovoopiniao/2015/12/19/ apresentar opiniões assumidas pelo veículo de imprensa, costuma
noticiasjornalopiniao,3551631/como-sera-o-amanha.shtml> também resumir opiniões contrárias, para refutá-las.

Anual – Volume 3 79
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
• Estrutura
1. Introdução, na qual se situa a tese.
2. Os parágrafos seguintes fundamentam o ponto de vista do jornal.
3. Na conclusão, há sugestões para a solução do problema.

Exemplo:
O VALOR DA INICIATIVA PRIVADA
O Brasil viu nos últimos dois meses uma instigante ebulição no mercado privado. Só em novembro passado, duas operações
nacionais mudaram de mãos. A Camargo Corrêa vendeu para a brasileira J & F (dona da Friboi) a sua participação (44,12%) na tradicional
Alpagartas por U$ 717 milhões. Já a Hipermarcas vendeu por U$ 984 milhões 100% de sua divisão de cosméticos para a francesa Coty.
O mercado viveu novo frisson nesta semana com a notícia de que a empresa cearense Pague Menos, que atua no ramo de
farmácias, passou 17% do negócio para o fundo norte-americano General Atlantic por R$ 600 milhões. Comparando as dimensões
das empresas negociadas no mercado, é possível concluir que a Pague Menos tem um valor global muito aproximado das duas outras
operações citadas.
São três operações que cresceram sem a influência direta do Estado. Nesse sentido, são ótimos exemplares da força empreendedora
dos investidores que fundaram e controlaram esses negócios. O caso da Pague Menos, que nasceu da capacidade empreendedora de
seu dirigente, o empresário Deusmar Queirós, é ainda mais relevante se considerarmos a sua origem baseada em um Estado (o Ceará)
que detém apenas 2% da riqueza brasileira.
No mesmo dia em que o noticiário tratou da venda de 17% da rede de farmácias, veio à tona a informação de que o Governo
Federal não vai bancar a participação da estatal Infraero na concessão dos aeroportos que já estão em processo de privatização. Entre
os quais, o nosso Pinto Martins. Boa notícia.
Quanto mais o Governo se mantiver distante dos negócios que hoje cabem à iniciativa privada, melhor. Operar aeroportos, assim
como terminais de ônibus, há bastante tempo deixou de ser uma obrigação do setor público. O Brasil formou massa crítica privada com
substância suficiente para cuidar desses negócios com muito mais eficiência.
Ao Estado moderno (regulador e fiscalizador), cabe a obrigação de fazer com que certos serviços, como os relacionados aos
terminais aeroportuários, sejam prestados de forma eficiente para o cidadão.
Mesmo diante de uma crise de grande dimensão, há motivos para comemorar dois fatos: 1 – A desenvoltura dos empreendedores
que prosperam (muitas vezes, apesar do Estado); 2 – A decisão do Governo de passar para iniciativa privada a gestão de negócios que
não são de caráter público.
Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/12/23/noticiasjornalopiniao,35533044/o-valor-da-iniciativa-privada.shtml>

ESTUDO DE CASO
Apesar de ter ingressado no século XXI como potência econômica, o Brasil enfrenta um dilema já superado por muitos países
desenvolvidos: a desigualdade social e a insegurança pública. Essa realidade deve-se a falhas educacionais e governamentais que
inviabilizam profundas mudanças estruturais na sociedade e contribuem para o agravamento de problemas, como o desemprego
e a violência.
Com efeito, a situação precária da educação pública contribui para a persistência da desigualdade social, tendo em vista
que o baixo nível de instrução dificulta o ingresso no ensino superior e no mercado de trabalho, que exige elevada qualificação
profissional a cada ano, acarretando mais desemprego e miséria. Em consequência disso, elevam-se os índices de violência social,
principalmente entre os jovens, que são mais vulneráveis à criminalidade, conforme estudo divulgado, em 2017, pela Unesco,
intitulado Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência. A saída para a superação dessa problemática está em as escolas investirem
no que o historiador Yuval Harari chamou de 4Cs: criticidade, criatividade, comunicação e colaboração. Sem isso, o Brasil continuará
a ocupar as tristes posições nas estatísticas mundiais em educação e em segurança pública.
Outro fator que perpetua a desigualdade no país é a ingerência do Estado brasileiro, pois, segundo o filósofo Thomas
Hobbes, o Estado existe para assegurar a harmonia social, o que não ocorre efetivamente no Brasil. Apesar de os governos terem
criado políticas públicas, como o Bolsa Família e outros programas sociais voltados para a melhoria da educação, esses projetos
não têm sido eficazes no que se propõem. A rigor, ao invés de propiciarem a ascensão social e econômica dos mais carentes, têm
contribuído para sua acomodação e dependência, incapacitando-os para a verdadeira cidadania. Ademais, a falta de investimento
no sistema prisional que incentive os internos a atividades laborativas e à remissão pela leitura tem inviabilizado a reintegração
social deles e aumentado o índice a criminalidade, fazendo do Brasil a terceira maior população carcerária do planeta.
À luz dessas considerações, urge que o Estado brasileiro desempenhe com eficiência a sua função precípua, assinalada por
Hobbes, para superar as injustiças sociais e garantir o crescimento do país. Para isso, deve investir em educação de qualidade,
a começar pela valorização dos docentes e pelo foco no desenvolvimento da criticidade, da criatividade, da colaboração e da
comunicação dos discentes, pilares imprescindíveis para o alcance da cidadania no contexto da 4ª Revolução Industrial. Daí ser
necessário valorizar disciplinas, como Filosofia e Sociologia, que ensinam a pensar. Desse modo, os jovens, os mais vulneráveis,
terão seus caminhos de ascensão sociais desobstruídos para ingressar no ensino superior e posteriormente no mercado de trabalho,
e não na criminalidade. Ademais, deve o Estado reestruturar o sistema prisional adotando políticas de incentivo ao trabalho e
à remissão pela leitura no cárcere, pois só por meio da educação e do trabalho poderão os ex-detentos ter oportunidade de
reintegração social, o que será benéfico para toda a sociedade brasileira.
Bruna de Oliveira Melo – FB MED Sobralense

80 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
RECONHECENDO O PLANEJAMENTO DA REDAÇÃO
TEMA: DESIGUALDADE SOCIAL E VIOLÊNCIA
TESE (NEGATIVA): _______________________________________

ARG. 1 (CAUSA):_______________

CAUSA 1: _______________________

REPERTÓRIO 1: __________________

ARG. 2 (CAUSA):_______________

CAUSA 2: _______________________

REPERTÓRIO 2: __________________

SOLUÇÃO:
1. AGENTE: _____________________________________________________________________________________________________
2. AÇÃO: _______________________________________________________________________________________________________
3. DETALHAMENTO: _____________________________________________________________________________________________
4. MEIO: ________________________________________________________________________________________________________
5. FINALIDADE/EFEITO: __________________________________________________________________________________________

Respostas:
5. Finalidade: Promover ascensão social de jovens.
4. Meio: Valorizar Filosofia e Sociologia.
3. Detalhamento: Valorização docente.
2. Ação: Investir em educação.
1. Agente: Estado.
Solução:

Repertório 2: Thomas Hobbes / Bolsa Família.


Causa 2: Não propicia a ascensão social e econômica.
Arg. 2 (desafio): Ingerência do Estado.

Repertório 1: Yuval Harari.


Causa 1: Dificulta o ingresso no mercado de trabalho.
Arg. 1 (desafio): Falha educacional.

Tese (negativa): A desigualdade inviabiliza mudanças.

Fique de Olho

ASPECTOS FORMAIS DA LÍNGUA


Dado/visto/haja vista
Os particípios “dado” e “visto” têm valor passivo e concordam em gênero e número com o substantivo a que se referem:
Dados o interesse e o esforço demonstrados, optou-se pela permanência do servidor em sua função. Dadas as circunstâncias...
Vistas as provas apresentadas, não houve mais hesitação no encaminhamento do inquérito.
Já a expressão “haja vista”, com o sentido de “uma vez que” ou “seja considerado”, veja-se, é invariável:
O servidor tem qualidades, haja vista o interesse e o esforço demonstrados.
Haja visto (com – o) é inovação oral brasileira, evidentemente descabida em redação oficial ou outra qualquer.
Ambiguidade
Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de todo texto dissertativo,
deve-se atentar para as construções que possam gerar equívocos de compreensão.
A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de identificar-se a que palavra se refere um pronome que possui mais de um antecedente
na terceira pessoa. Pode ocorrer com:
a) pronomes pessoais:
Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado que ele seria exonerado.

Anual – Volume 3 81
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu secretariado. Certo: Depois das últimas chuvas, pode haver centenas de
Ou então, caso o entendimento seja outro: desabrigados.
Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exoneração deste. Errado: Devem haver soluções urgentes para estes problemas.
b) pronomes possessivos e pronomes oblíquos: Certo: Deve haver soluções urgentes para estes problemas.
Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da República, em seu Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br
discurso, e solicitou sua intervenção no seu Estado, mas isso não /publicacoes-oficiais-1/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/
manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/view>
o surpreendeu.
Observa-se a multiplicidade de ambiguidade no exemplo acima,
as quais tornam virtualmente inapreensível o sentido da frase. ESPAÇO DA LEITURA
Claro: Em seu discurso, o Deputado saudou o Presidente da República.
No pronunciamento, solicitou a intervenção federal em seu Estado, A CULTURA BRASILEIRA DA PASSIVIDADE
o que não surpreendeu o Presidente da República. publicado em sociedade, por Hugo de Freitas
c) pronome relativo:
Eu cresci ouvindo que político não presta, que o país não
Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu costumava
tem jeito e que “esse pessoal de Brasília, são todos corruptos”.
trabalhar.
Minhas memórias me fazem refletir, qual foi o ponto específico que
Não fica claro se o pronome relativo da segunda oração se refere entregamos os pontos? Que aceitamos que nosso país é corrupto
à mesa ou ao gabinete, essa ambiguidade se deve ao pronome e que não tem mais solução?
relativo que, sem marca de gênero. A solução é recorrer às formas Apesar do Brasil ser um país rico em recursos naturais,
o qual, a qual, os quais, as quais, que marcam gênero e número. sempre entre os 10 países com o melhor PIB (Produto Interno
Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu costumava Bruto), somos um país extremamente injusto no que diz respeito
trabalhar. à distribuição de seus recursos entre a população. Um país rico,
Se o entendimento é outro, então: porém com a maioria das pessoas pobres, devido ao fenômeno da
Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu costumava desigualdade social. Mesmo com a Constituição Federal e diversos
trabalhar. códigos e estatutos, assegurando o acesso à educação, moradia,
Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da dúvida sobre saúde, segurança pública, além de autonomias econômicas e
a que se refere a oração reduzida: ideológicas, a realidade que se vê ainda é distante do que se
Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o funcionário. reza nos direitos do cidadão brasileiro no tocante à erradicação
da desigualdade social neste país, em constante crescimento
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, deve-se deixar
econômico e político. Sendo o país extremamente desigual, o acesso
claro qual o sujeito da oração reduzida.
à informação, cultura e lazer são totalmente seletivos e quase nunca
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este indisciplinado.
chegam na parte pobre da população. A falta de conhecimento do
Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma senhora chamou funcionamento do nosso sistema político, o descompromisso com
o médico. assuntos envolvendo política e a preguiça em se informar sobre
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi chamado qualquer coisa relacionada a este tema, revelam-se a ponta do
por uma senhora iceberg que este post se propõe. Temos pavor de política.
Em algum ponto entre 1983 e o início de 2016, nós
FALHAS COMUNS: FLEXÃO DE VERBOS IMPESSOAIS desistimos. Me refiro ao ano de 1983, pois foi o início do
movimento Diretas Já, que pedia pela volta das eleições diretas
Errado: Se houverem dúvidas favor perguntar.
para presidente, que não aconteciam desde 1960. Uma população
Certo: Se houver dúvida, por favor perguntar. cansada do Regime Militar, com a inflação alta, dívida externa
Para certificar-se de que esse “haver” é impessoal, basta recorrer exorbitante e desemprego expunham a crise do sistema. O que ficou
ao singular do indicativo: Se há ( e nunca: *hão) dúvidas... conhecido como um dos maiores movimentos populares do Brasil,
Há (e jamais: *Hão) descontentes... — em que o verbo fazer é conseguiu unir o país em apenas um coro, bem diferente do que
empregado no sentido de tempo transcorrido: as recentes manifestações pró-impeachment da presidenta Dilma.
Faz dez dias que não durmo. Nossa sociedade se dividiu em duas. Não conseguimos encontrar
Semana passada fez dois meses que iniciou a apuração das um consenso, tão pouco os partidos políticos, sejam os partidos no
irregularidades. poder ou na oposição. É explícito que enfrentamos não somente
Errado: Fazem cinco anos que não vou a Brasília. uma crise econômica, mas uma crise institucional e política.
Certo: Faz cinco anos que não vou a Brasília. Ora pois, temos o singelo número de TRINTA E CINCO partidos
políticos registrados na Justiça Eleitoral. Destes 35 partidos,
São muito frequentes os erros de pessoalização dos verbos haver e
fazer em locuções verbais (ou seja, quando acompanhados de verbo “apenas” 23 estão representados no Congresso Nacional.
auxiliar). Nesses casos, os verbos “haver” e “fazer” transmitem sua Ao decorrer desses 33 anos de redemocratização, perdemos
impessoalidade ao verbo auxiliar: as contas de por quantos escândalos de corrupção esse país já
passou. Cada um com o objetivo de ser maior que o anterior.
Errado: Vão fazer cinco anos que ingressei no Serviço Público.
Para registro, é importante registrar porque o Brasil perde cerca de
Certo: Vai fazer cinco anos que ingressei no Serviço Público.
10 bilhões de investimentos privados por ano, por conta das
Errado: Depois das últimas chuvas, podem haver centenas de
falcatruas.
desabrigados.

82 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Como podemos observar, temos um talento nato para a corrupção, até mesmo chego a acreditar que alguns nascem para ela.
Mas não é isso que me espanta, pois canalhas sempre existiram e irão existir. Me espanta uma população passiva e imóvel diante de
tantos bilhões e bilhões roubados do nosso bolso. A lista deixou de fora os casos de corrupção, tão escandalosos quanto, da memorável
e repugnante Ditadura Militar e a recente Operação Lava Jato. O intuito é analisar que, mesmo após a queda da ditadura, onde o povo
se uniu pelas Diretas Já, passamos 33 anos estampados nos jornais como um povo corrupto. O atual momento do governo, com a
deflagração da Operação Lava Jato, 21 bilhões de reais roubados da maior Estatal do país e, ainda sim, continuamos inertes. O escândalo
da FIFA e da Copa do Mundo no Brasil, com todos os seus estádios superfaturados, as mesmas empreiteiras e construtoras da Copa e
Olimpíadas, com seus respectivos CEOs atrás das grades e sendo investigados. A Câmara de Deputados e o Senado, governados por
Eduardo Cunha e Renan Calheiros. O que mais é preciso dizer?
Estamos criando uma geração e ensinando para eles que não existem regras. Tudo é permitido e aqui reina a impunidade.
As únicas explicações plausíveis são: ou nos tornamos estúpidos por vontade própria e em um frenesi coletivo afirmamos
“Odiamos política! Nos deixem em paz!!” ou cientistas precisam investigar a nossa água, pois é possível que esteja lotada de Rivotril.
Disponível: <http://obviousmag.org/pratica_urbana/2016/a-cultura-brasileira-da-passividade.html#ixzz5xRfrmNSP>. Adaptado.

Proposta de Redação

TEXTOS MOTIVADORES
(IFPE/2019.1)
Texto I
O MITO DA PASSIVIDADE DO POVO BRASILEIRO
A ideologia dominante cultiva a imagem do povo brasileiro como um povo “pacífico” e “ordeiro” por natureza. Trata-se de uma imagem
que continua a ter forte aceitação mesmo entre as próprias classes dominadas da sociedade. É comum se ouvir, sobre situações de injustiça
ou de opressão, que exigiriam uma reação contrária, comentários como: “brasileiro é passivo mesmo”, “brasileiro nunca reage” e outros.
Entretanto, não houve nenhum período da história da sociedade brasileira em que o protesto popular não se fez presente de uma
forma ou de outra. Em alguns momentos, a reação popular se fez notar pela sua radicalidade ou pela sua violência, como nos casos,
entre muitos outros episódios, da Guerra de Canudos (no início do século XX), ou da reação popular contra o aumento nas tarifas dos
transportes coletivos na cidade do Rio de Janeiro, em 30 de junho de 1987, e, também, mais recentemente, na cidade de São Paulo.
O Estado de Pernambuco é um exemplo do espírito contestador e crítico dos movimentos por mais direitos e igualdade. Foi a
primeira província a se rebelar contra a monarquia de Dom João VI. Aqui foi cenário de grandes batalhas, vitórias, derrotas e glórias do
nosso povo. Pernambuco foi protagonista de diversas revoltas: a Guerra dos Mascates, a Confederação do Equador, a Revolução de
1817 (comemoramos 200 anos de Revolução no dia 6 de maio de 2017).
No período da colonização portuguesa, em nosso país, o índio brasileiro foi tachado de “preguiçoso” e “covarde” pelos
portugueses exploradores. Contudo, esse tipo de manifestação passiva foi uma forma de rebeldia velada utilizada pelo nativo brasileiro,
mostrando, assim, um sinal de inteligência e senso crítico contra seus algozes. Os anos de chumbo no Brasil também foram marcados
por várias manifestações de cunho cultural, social e político contra o governo militar instaurado em 1964.
Por fim, a História da sociedade brasileira nos revela outra face de nosso caráter. Os brasileiros não são passivos às injustiças e
aos desmandos cometidos, principalmente, pela classe burguesa.
JERÔNIMO, Thiago. “O mito da passividade do povo brasileiro”.
Disponível em: <http://www.carlosbritto.com/artigo-o-mito-da-passividade-do-povo-brasileiro/>. Acesso em: 13 out. 2018. Adaptado.

Texto II
POLÍTICA IMPORTA, MAS EU NÃO ME IMPORTO
Levantamento mostra que eleitores de Curitiba consideram importante fiscalizar os políticos e manifestar opinião.
Apesar disso, a maioria dos eleitores admite não ser participativa.
Falar é uma coisa. Fazer é outra. Quando o assunto é política, o curitibano vai bem no discurso, mas na prática são poucos os
cidadãos que participam e acompanham a vida política da cidade. Esse é o retrato do eleitor de Curitiba revelado pelo Instituto Paraná
Pesquisas que, a pedido da Gazeta do Povo, fez um levantamento sobre como o curitibano atua e pensa a política.
Metade dos entrevistados acredita que é necessário fiscalizar e manifestar a opinião aos políticos, mas admite que não se
interessa por política. A maioria das pessoas ouvidas disse que não participa de ações como passeatas, associação de bairro e audiências
públicas. Só 3,2% das pessoas consultadas, por exemplo, disseram que costumam ir a audiências públicas - que são reuniões feitas pela
administração pública para ouvir as demandas e opiniões da comunidade.
Acompanhar o desempenho do político durante todo o mandato eletivo também não está entre as prioridades dos curitibanos.
Para 37% das pessoas ouvidas, basta votar e escolher seus representantes para cumprir seu papel político. Só 13,2% responderam que
nos últimos 12 meses, por exemplo, consultaram informações sobre a atividade dos parlamentares - seja no site da Câmara de Curitiba,
da Assembleia Legislativa, da Câmara ou do Senado Federal.
De acordo com o cientista político da UFPR Emerson Cervi, o comportamento do curitibano é semelhante ao do brasileiro em
geral e pode ser explicado por questões culturais e históricas. “A sociedade esteve longe historicamente da política. O cidadão aprendeu
a atuar na democracia através do voto”, diz Cervi, salientando que não necessariamente a participação ativa dos cidadãos na vida política
de uma cidade vai garantir melhor qualidade na democracia.
Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/politica-importa-mas-eu-nao-me-importo-dizcuritibano-elx2yhhtn8avtf1ifi6sphfta/#ancora>.

Anual – Volume 3 83
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Texto III

PERFIL
Levantamento do NÃO SIM
Instituto Paraná:
Pesquisa mostra que
curitibano acredita que
deve fiscalizar, mas
51% VOCÊ SE
21%
admite preferir não INTERESSSA POR
participar da vida política. POLÍTICA?
Confira o resultado que
traça o perfil da
participação política
dos eleitores de Curitiba:
28% ÀS
VEZES

SEU PAPEL
Como deveria ser a participação do cidadão Qual o principal papel do
cidadão na política?
Como está sendo a sua participação política
Reinvindicar
Fiscalizar e também manifestar 50%
direitos
sempre que
51%
sua opinião para os políticos* 18%
eles forem
violados
23%
Fiscalizar os políticos sempre
16%

Fiscalizar os políticos sempre que 13%


há crise política ou denúncias de Participar de
corrupção 17%
assuntos 28%
Cumpre o seu papel político ao 11%
públicos com
votar e escolher seus frequência
representantes 38%
Votar
Não precisa participar da
política de nenhuma forma
3%
11% Nenhum/
17%
não sabe 4%
*Mandando e-mails ou enviando mensagens para eles em redes sociais, seja participando de passeatas

84 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas

INTERAGINDO
Enviou e-mail ou telefonou para
Participação SIM NÃO
SIM NÃO
Alguma forma de trabalho voluntário 13 87 Serviço
39% 156 da
prefeitura
61%
Grupos de discussão na internet 12 88
Grupos de discussão sobre política 9 91
SIM NÃO
5 95 Governo
Passeatas
13% ou
prefeitura
87%
Associação de bairro 5 95
ONG 4 96
SIM NÃO
Senadores,
Audiências públicas 3 97 5% deputados ou 95%
vereadores
Partido político 3 97

INFORMANDO-SE

SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO


47% Viu noticiário 53% 13% Consultou a 87% 13% Seguiu 87%
político pelo atividade de políticos nas
menos uma vez parlamentares redes sociais?
por semana? na internet?*

*Sites da Câmara Municipal, da Assembleia Legislativa da Câmara dos Deputados do Senado.


Obs.: consultas nos últimos 12 meses na Internet e nas redes sociais.
Instituto Paraná Pesquisas. Metodologia: entre 19 e 22 de abril foram entrevistadas 640 habitantes
de Curitiba maiores de 16 anos. A margem de erro é de 4%. Infografia: Gazeta do Povo.
Disponível em: https: <//www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/politica-importa-mas-eu-nao-meimporto-diz-curitibano-elx2yhhtn8avtf1ifi6sphfta/#ancora>.
Acesso em: 25 out. 2018. Adaptado.

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores anteriores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A atitude do
brasileiro em situações decisivas”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize
e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Exercícios de Fixação

• Texto para a questão 01.


DIA A DIA ACELERADO
Com a mente inquieta, a ansiedade prejudica as atividades do cotidiano – mais do que até um ansioso pode imaginar!
[...]
“Ansiedade é o excesso de futuro”, resume Marcelo Santiago, coach de alta performance e palestrante motivacional. Marcelo
lembra um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo que constatou que 95% do sofrimento humano é
causado pelo pensamento e pela imaginação. “As pessoas ficam presas ao passado e não conseguem se desligar do ‘problema’ ou de
um fato que já aconteceu ou então estão preocupados demais com o futuro (‘pré-ocupar’ significa ocupar-se antes). Às vezes, aquele
filmezinho só acontece na mente e nem chega de fato a acontecer. Isso acaba gerando medo, estresse e ansiedade”, explica o coach.
SEGREDOS DA MENTE. Cérebro e Ansiedade. Ano 2. nº 3, 2017.

01. (Fundepes/2017) A propósito da concordância do verbo e do predicativo destacados no texto, é correto afirmar que
A) não está de acordo com a norma-padrão. Uma situação análoga ocorre no fragmento “A maioria das pessoas ficaria curiosa em
saber o que ela quer falar...” .
B) o singular é que é correto, para concordar com o núcleo do sujeito simples, que é o substantivo humano.
C) o plural é que é correto, para concordar com o sujeito composto pensamento e imaginação.
D) o singular é que é correto, porque concorda o verbo com o substantivo sofrimento.
E) é admissível o singular ou o plural.

Anual – Volume 3 85
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
• Texto para a questão 02. EVOLUÇÃO DA LEITURA NO BRASIL – 2011 E 2015
[...]
EvoluçãoPercentual
da leitura node
Brasil – 2011 e 2015
leitores
Uma equipe de pesquisadores da Universidade do Havaí
(EUA) descobriu que rochas da ilha de Baffin, no Canadá, contêm Percentual de leitores
Norte
indícios de que a água faz parte do planeta desde o início. Essas
rochas foram coletadas em 1985, de modo que os cientistas tiveram 2011: 47%
um longo tempo para analisá-las e concluir que há componentes das 2015: 53%
profundezas do manto terrestre. As rochas são as mais primitivas já
encontradas na superfície da Terra. Por isso, a água que elas contêm
é um recurso de grande valor para estudar as origens da Terra e a
procedência do líquido. [...]
Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/ciencia/agua-esta-presente-desde-o-
inicio-da-formacao-daterra-indica-novo-estudo>. Acesso em: 10 nov. 2019.
Nordeste
02. (Fundepes/2016) A propósito da concordância das formas Centro-Oeste 2011: 51%
verbais destacadas no fragmento textual, é correto afirmar que 2011: 53% 2015: 51%
A) sendo a forma verbal contêm seguida do sujeito indícios, está 2015: 57%
incorretamente flexionada. A forma correta seria contém.
B) a forma verbal descobriu foi usada incorretamente,
deveria estar pluralizada, uma vez que o sujeito referente é Sul
pesquisadores. 2011: 43%
C) o verbo conter, sendo derivado de ter, está corretamente 2015: 50% Sudeste
flexionado. Caso o sujeito referente estivesse singularizado,
a forma verbal mudaria para contém. 2011: 50%
D) o verbo haver em: “...há componentes das profundezas 2015: 61%
do manto terrestre”, poderia ser substituído por “existir”
flexionado na terceira pessoa do singular. Prof. Roberlei (Gráfico – UFPR/2017).
E) o verbo haver em: “...há componentes das profundezas do
manto terrestre”, não foi corretamente empregado, uma vez Escreva um lead de notícia, em que você apresente a um leitor
que seu emprego, nesse contexto, ocorre na forma pessoal. as informações do enunciado e do infográfico, explicitando as
correlações possíveis entre os dados.
• Texto para a questão 03.
_____________________________________________________
QUANDO A NATUREZA MATA
_____________________________________________________
A natureza não mata apenas com enchentes, deslizamentos,
terremotos e tsunamis. Mata também pelas mãos do homem,
o que é bem mais preocupante. • Texto para a questão 05.
A natureza, da qual fazemos parte, mata com muito mais
crueldade através de nós do que através do clima ou de movimentos Pensar no envelhecimento é algo que costuma incomodar a
da Terra, e de maneira bem mais assustadora: pois nós pensamos maior parte das pessoas. Herdamos das gerações passadas a ideia de
enquanto prejudicamos o nosso semelhante. Temos a intenção que a idade inexoravelmente sinaliza o fim de uma vida produtiva
de atormentar, torturar, matar, mesmo que em vários casos seja
plena e que o melhor a fazer é aceitar a decadência física, almejando
uma consciência em delírio – estamos tão drogados que achamos
contar com o conforto proporcionado por uma boa aposentadoria.
graça em tudo.
LUFT, Lya. Veja, mar. 2010, v. 43, p. 24. Mas o mundo mudou. Hoje, uma nova geração descobre que, se
tomar decisões sábias na juventude, pode tornar o tempo futuro
03. (Fundepes/2016) Assinale a alternativa correta a respeito dos uma genuína etapa da vida e, mais do que isso, uma fase áurea
elementos constituintes do texto. da nossa existência.
A) O vocábulo apenas significa somente e é um reforço Estudos demográficos apontam que as gerações nascidas
intensificador, usado para realçar a ideia exposta. desde a década de 1960 podem contar com, pelo menos, mais
B) O vocábulo apenas funciona como conector de valor 20 anos em sua expectativa de vida. Na verdade, se recuarmos
concessivo.
um pouco mais, vamos constatar que esse bônus de longevidade
C) A expressão articuladora mesmo que apresenta relação
é maior ainda. No início do século XX, mais ou menos na mesma
semântica de conclusão.
D) O vocábulo que é mero expletivo, apresenta-se como palavra época em que a aposentadoria foi criada, a expectativa de vida
de realce. ao nascer do brasileiro era, em média, de 33 anos. Hoje estamos
E) O advérbio bem está sendo usado como modificador de quase chegando aos 80. Em pouco mais de 100 anos o bônus de
um verbo. longevidade foi de quase 50 anos!
Você S/A
Previdência, setembro de 2016.
04. (UFPR) O gráfico a seguir apresenta os resultados da
4ª edição da pesquisa nacional “Retratos da Leitura no
Brasil”, realizada pelo Ibope e encomendada pelo Instituto 05. (FGV) No texto, a frase “Mas o mundo mudou.” (1º parágrafo)
Pró-Livro. O país possui, atualmente, 104,7 milhões relaciona diferentes informações da argumentação do autor.
de leitores (56% da população), o que representa um A) Que tipo de oração coordenada o autor empregou?
crescimento de 6 pontos percentuais em relação à última Que sentido ela estabelece no texto?
apuração, feita em 2011. Foram ouvidas, ao todo, 5.012 __________________________________________________
pessoas em todas as regiões do Brasil, com uma população ___________________________________________________
de 5 anos ou mais. ___________________________________________________
___________________________________________________

86 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
B) Qual é o ponto de vista do autor sobre o assunto de que um rico fazendeiro ao receber de seu filho um telegrama
trata e que tipo de argumento ele usa para sustentá-lo? com a frase singela – “mande-me dinheiro”, que ele
__________________________________________________ lia e relia emprestando-lhe um tom rude e imperativo.
___________________________________________________ O bom homem não era tão néscio quanto a anedota dá a
___________________________________________________ entender: estava no direito de exigir da formulação verbal
___________________________________________________ uma qualidade que lhe fizesse sentir a atitude filial de carinho
e respeito e de refugar uma frase que, sem a ajuda de gestos
e entoação adequada, soa à leitura espontaneamente como
Exercícios Propostos ríspida e seca.
J. Mattoso Câmara Jr.
Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.

• Texto para a questão 01. A) Considerando-se que o verbo da frase do telegrama


está no imperativo, se essa mesma frase fosse dita em

Reprodução/Ufal
uma conversa telefônica, haveria possibilidade de o pai
entendê-la de modo diferente? Explique.

B) Reescreva a frase do telegrama, acrescentando-lhe, no


máximo, três palavras e a pontuação adequada, de modo
a atender à exigência do pai, mencionada no texto.

05. (Fuvest) Avalie a redação das seguintes frases:


I. O futebol conquistou um papel na sociedade tanto
Disponível em: <https://www.stoodi.com.br/
culturalmente como econômico e político;
blog/2016/02/15/12-dicas-para-nao-esquecer-mudancasdo-
novo-acordo-ortografico-da-lingua-portuguesa/>.
II. Os clubes buscam a expansão do número de associados, bem
Acesso em: 10 fev. 2019.
como reduzir gastos com publicidade;
III. Doravante tais fatos, fica claro que o futebol exerce uma grande
01. (Ufal) Na gravura, o personagem brinca com a reforma influência no cotidiano do brasileiro;
ortográfica. Com relação ao emprego do hífen, assinale a IV. O técnico declarou aos jornalistas que, para o próximo jogo,
alternativa correta quanto à grafia da palavra. ele tem uma carta na manga do colete.
A) Anti-ético
B) Malentendido. A) Reescreva as frases I e II, corrigindo a falta de paralelismo nelas
C) Semi-interno. presente.
D) Panóptico.
E) Ante-aurora.

02. Corrija as falhas gramaticais cometidas no seguinte período:


B) Reescreva as frases III e IV, eliminando a inadequação
O gênero de filme que gosto de assistir, você certamente não vocabular que elas apresentam.
gosta.

03. (Fuvest – Adaptada) Leia a seguinte mensagem publicitária de


uma empresa da área de logística.
06. (Fuvest) Considere o seguinte texto, para atender ao que se
pede:
A gente anda na linha para levar sua empresa mais longe
Mudamos o jeito de transportar contêineres no Brasil e O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso
Mercosul. Através do modal ferroviário, oferecemos soluções próprio mérito; a vaidade, a consciência (certa ou errada) da
logísticas econômicas, seguras e sustentáveis. evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem
pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas,
Visando a obter maior expressividade, recorre-se, no título vaidoso e orgulhoso, pode ser – pois tal é a natureza humana –
da mensagem, ao emprego de expressão com duplo sentido vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender
(ambiguidade). Indique essa expressão e explique sucintamente. como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito
para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito.
04. (Fuvest) Leia o seguinte texto, que trata das diferenças entre Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação
fala e escrita. alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior,
e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede,
Talvez ainda mais digno de atenção seja o
na evolução da mente, a noção de causa interior desse
desaparecimento (na escrita) da mímica e das inflexões ou
mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que
variações do tom da voz. A sua falta tem de ser suprida por
não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade
outros recursos. É, neste sentido, que se torna altamente
em ação.
instrutiva a velha anedota, que nos conta a indignação de
Fernando Pessoa. Da literatura europeia.

Anual – Volume 3 87
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
A) Considerando-a no contexto em que ocorre, explique a frase 09. (Fuvest) Texto para a questão seguinte.
“o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde
uma interior”. DITADURA / DEMOCRACIA

A diferença entre uma democracia e um país totalitário


é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive
satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma
ditadura o que acha do seu país, ele responde sem hesitação:
B) Reescreva a frase “O homem prefere ser exaltado por “Não posso me queixar”.
aquilo que não é, a ser tido em menor conta por
aquilo que é”, substituindo por sinônimos as expressões Millôr Fernandes.
Millôr definitivo: a bíblia do caos.
destacadas.

A) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza,


esse texto emprega o recurso da ambiguidade? Justifique
sua resposta.
07. (Fuvest) Entrevistado por Clarice Lispector, para a pergunta
“Como você encara o problema da maturidade?”, Tom Jobim
deu a seguinte resposta: “Tem um verso do Drummond que
diz: ‘A madureza, esta horrível prenda...’ Não sei, Clarice,
a gente fica mais capaz, mas também mais exigente”. B) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até “queixar”),
Nota: O verso citado por Tom Jobim é o início do poema pondo no plural a palavra “cidadão” e fazendo as
“A ingaia ciência”, de Carlos Drummond de Andrade, modificações necessárias.
e sua versão correta é: “A madureza, essa terrível prenda”.

A) Aponte dois recursos expressivos empregados pelo poeta


na expressão “terrível prenda”.
10. (Fuvest/2012) Leia o texto.

Na mídia em geral, nos discursos, em mensagens


publicitárias, na fala de diferentes atores sociais, enfim, nos
B) Reescreva a resposta de Tom Jobim, eliminando as marcas diversos contextos em que a comunicação se faz presente,
de coloquialidade que ela apresenta e fazendo as alterações
deparamo-nos repetidas vezes com a palavra cidadania.
necessárias.
Esse largo uso, porém, não torna seu significado evidente.
Ao contrário, o fato de admitir vários empregos deprecia
seu valor conceitual, isto é, sua capacidade de nos fazer
compreender certa ordem de eventos. Assim, pode-se dizer
08. (Fuvest) Leia o seguinte texto, para atender ao que se pede. que, contemporaneamente, a palavra cidadania atende
bastante bem a um dos usos possíveis da linguagem,
CONVERSA DE ABRIL
a comunicação, mas caminha em sentido inverso quando se
É abril, me perdoareis. Estou completamente cansado. trata da cognição, do uso cognitivo da linguagem. Por que,
Retorno à aldeia depois de três dias de galope de jipe pelas então, a palavra cidadania é constantemente evocada, se o seu
estradas confusas de caminhões e poeira e explosões. Tenho significado é tão pouco esclarecido?
no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas
montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste Maria Alice Rezende de Carvalho.
tempo de primavera? Deixai-me estirar o corpo na cama; depois Cidadania e direitos.
tiro as botas. Ouvi-me. As montanhas, já vos descreverei as
montanhas. A) Segundo o texto, em que consistem o uso comunicativo e
Rubem Braga*
o “uso cognitivo” da linguagem? Explique resumidamente.
*Rubem Braga foi correspondente de guerra junto à FEB, Força Expedicionária
Brasileira, durante a Segunda Guerra Mundial.

O fragmento anterior pertence a uma de suas crônicas desse


período.

Tendo em vista as informações contidas no excerto, o início B) Responda sucintamente à pergunta que encerra o texto:
do texto – “É abril” – é coerente com o emprego do pronome “Por que, então, a palavra cidadania é constantemente
“este”, em “neste tempo de primavera”? Explique. evocada, se o seu significado é tão pouco esclarecido?”

88 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
1.
Nível ortográfico
Muitos erros são comuns nesse domínio, entre os quais os
Aula 12:

C-6 H-18, 22
Aula A Correção Textual e a C-8 H-23, 27
seguintes:
a) No uso da acentuação gráfica:
12 Superação dos Erros Eles sempre obtém boas notas nas provas. (Derivados do verbo
“ter”, como “obter”, “deter” e “reter”, e do verbo “vir”, como
“advir”, sobrevir e provir, recebem acento diferencial ( ) na terceira
pessoa do singular e ( ^ ) na terceira pessoa do plural). Correção:
Eles sempre obtêm boas notas nas provas./ Ele sempre obtém...
A correção textual b) No uso de sinais de pontuação:
Os estudantes quando terminaram as aulas, foram passear
Há duas espécies de erro: o que favorece o aprendizado e no shopping. (Sujeito não deve ser separado por vírgula; nesse caso,
o que o dificulta. A correção textual deve considerá-los para ser a oração temporal deve ficar entre vírgulas).
bem-sucedida. c) No uso das letras ao grafar as palavras:
O erro que dificulta o aprendizado é aquele que se repete, Após analizar o caso, sugeriu-se uma solução paleativa para
sem que o aprendiz lhe descubra a causa. É muito comum esse o problema. (Analizar grafa-se com “s”, e não com “z”: analisar;
tipo de erro na redação, e a sua persistência deve-se ao fato de o paleativo grafa-se com “i”, e não com “e”: paliativo.
aluno não entender o seu mecanismo e automatizá-lo. É preciso d) No uso do acento indicador da crase:
transformar esse erro prejudicial em algo benéfico. É simples. Chegamos a uma da tarde, após um debate à respeito dos
Toma-se nota de cada erro cometido e estuda-se seu mecanismo. Direitos Humanos. (A locução “a uma da tarde”, por referir-se
Quando se sabe a razão por que errou, os erros não se repetem mais. “às treze horas”, exige acento grave que indica crase: à uma da
tarde; já a locução “à respeito de” foi indevidamente acentuada,
A correção textual é linguística por excelência, isto é,
pois não se põe acento grave antes de masculino).
depois de refletir no assunto e selecionar o que vai ser focalizado,
deve-se então produzir um texto claro, preciso, objetivo, coerente, 2. Nível sintático
harmônico e correto. O texto bem escrito é aquele que passa A sintaxe consiste nas regras de combinação das palavras
determinado conteúdo semântico de maneira lógica, com apuro ou frases da língua. Entre os erros mais comuns nesse domínio,
estilístico, obedecendo à boa construção sintática, apresentando podemos apontar:
pertinência e riqueza vocabular, situando-se dentro das regras a) Na sintaxe de concordância:
ortográficas e das normas de pontuação. Ocorreu, na cidade de São Paulo, menos mortes nas estradas
Tudo isso exige um conhecimento preliminar de gramática, por acidente de trânsito este ano que no ano passado. (O verbo
o qual deve ser sempre cultivado e aprimorado. Esse conhecimento “ocorrer”, anteposto ao sujeito “mortes”, não sofreu a devida
depende de um universo amplo de informações gramaticais e flexão de números). Correção: Ocorreram, na cidade de São Paulo,
também da convivência com bons textos. menos mortes...
Li bastante livros nas férias. (bastante comporta-se como
Não poderíamos neste curso cuidar de todos os
muito; se este varia, aquele também varia.) Correção: Li muitos/
conhecimentos gramaticais e lexicais que embasam o nível
bastantes livros nas férias.
textual. Apresentemos, contudo, alguns exercícios práticos que Nos dois períodos seguintes, os erros de concordância são
funcionam mais como sugestão de revisão e aprimoramento dos possivelmente causados por sujeitos longos demais:
conhecimentos gramaticais básicos. É desnecessário dizer que O aumento do álcool e da gasolina em janeiro, registrado nas
as consultas às gramáticas, aos bons manuais e ao dicionário principais revendas das capitais das regiões Sul e Sudeste, refletem
tornam-se indispensáveis. oscilações de preço naturais em uma economia de mercado.
Comentário:
Observe que o núcleo do sujeito da forma verbal “refletem”
Ao longo do ano, tome nota dos erros cometidos é “aumento”, com o qual o verbo deveria ter concordado.
em suas redações e estude-os, a fim de compreendê-los Correção: O aumento do álcool e da gasolina... reflete.
e superá-los. Quando não se sabe a razão por que errou,
O impacto das tecnologias de comunicação em nossos
fica-se vulnerável a errar de novo. Faça uma lista deles
contextos sociais provocam disputas por atenção aos variados
para seu controle.
discursos produzidos.
Comentário:
Obediência à norma culta O núcleo do sujeito da forma verbal “provocam” é “impacto”,
com o qual deveria o verbo ter concordado em número (singular).
A produção de um texto dissertativo-argumentativo, Correção: O impacto das tecnologias de comunicação...
exigido pelo Enem e vestibulares em geral, requer o uso da provoca...
linguagem formal, o que implica a observância da norma culta. b) Na sintaxe de regência:
Assim, é imprescindível respeitar as convenções impostas pelo Estudo implica em declinação e esforço. A inércia da
consenso daqueles que usam esse tipo de linguagem. Nessas defesa implica na revelia do réu. (O verbo “implicar” não admite a
circunstâncias, o desvio gramatical sempre produz efeitos preposição “em” como complemento, exceto quando for o verbo
pronominal “implicar-se” em: Estudo implica dedicação e esforço.
contraproducentes.
A inércia da defesa implica a revelia do réu).
Com a finalidade de facilitar o conhecimento e o domínio
c) Na sintaxe de colocação:
dos aspectos formais da língua, classifi caremos a seguir os
Quando viu-se cercado, não reagiu. (A conjunção “quando”
tipos mais comuns de erros cometidos na prática da escrita. constitui fator de próclise, por isso está mal colocado o pronome “se”.)
O conhecimento desses tipos pode servir de vigilância para aquele Correção: Quando se viu cercado, não reagiu.
que escreve e de roteiro para consultar as obras destinadas a
d) Na sintaxe dos pronomes:
resolver as dúvidas quando elas ocorrerem. Todos disseram que viram ele andando por aqui. (Não se
Os desvios da norma culta mais comumente cometidos pode empregar pronome reto/sujeito na função de oblíquo/objeto.)
podem ser classificados em cinco grandes níveis. Correção: Todos disseram que o viram por aqui.

Anual – Volume 3 89
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
3. Nível morfológico Esses elementos não são de formas vazias que podem ser
Na morfologia, os erros mais comuns localizam-se, substituídas entre si, sem nenhuma consequência. Pelo contrário,
sobretudo, nos seguintes itens: são formas linguísticas portadoras de significado e, exatamente
a) Na conjunção verbal: por isso, não se prestam para ser usadas sem critério. A coesão do
O palhaço entreteu as crianças durante a festa. (O verbo texto é afetada quando se usa o elemento de coesão inadequado.
“entreter” conjuga-se pelo modelo de “ter”. Assim: ele teve, ele Considerem-se estes períodos:
entreteve). Correção: O palhaço entreteve as crianças durante a festa. I. Pode-se definir conhecimento com a reação humana ao
A polícia reaveu as joias furtadas. (“Reaver”segue o modelo meio que o cerca.
de conjugação de “haver”.) Logo: A polícia reouve as joias furtadas. Nesse período, ocorre um problema de coesão porque
o pronome oblíquo “o” deveria retomar um substantivo na
b) Na flexão dos substantivos e adjetivos: superfície do texto, mas esse substantivo não aparece. A expressão
Os meios de comunicações são fundamentais para o
“reação do homem” deveria estar no lugar de “reação humana”,
progresso de qualquer país. (Nas locuções substantivas só varia
para justificar o emprego do referido pronome oblíquo.
o primeiro elemento: os meios de comunicação). Ele comeu dois
Correção: Pode-se definir conhecimento como a reação do homem
pés de moleques. (Só o primeiro elemento varia). Ele comeu dois
pés de moleque. As roupas cinzas são lindas. (Não se deve flexionar ao meio que o cerca. (homem = o).
substantivo que indica cor: As roupas cinza (= cor de cinza) são II. O menor abandonado preocupa a população das grandes
lindas. Os cabelos da moça são castanhos-claros. (Em se tratando cidades porque a marginalidade os leva ao crime.
de adjetivos compostos, somente o segundo elemento varia: Aqui a coesão foi infringida porque se deixou de
Os cabelos da moça são castanho-claros.) realizar a concordância em número com o substantivo que se
estava retomando (o menor abandonado), por meio do plural.
c) Nas palavras invariáveis: Correção: O menor abandonado preocupa a população das
Aquela pessoa é meia distraída. (Meio é advérbio de grandes cidades porque a marginalidade o leva ao crime.
intensidade e constitui, portanto, palavra invariável.) Logo: Aquela
III. Embora ainda cumpra a função principal de assegurar às
pessoa é meio distraída. Não confundir com o adjetivo meio, que
famílias os recursos materiais necessários à sobrevivência,
varia normalmente: Esperarei meia hora; Meias verdades.
o trabalho hoje é também peça fundamental na
4. Nível lexical construção da autoestima das pessoas.
As palavras têm de ser usadas com propriedade, dentro do O emprego do conectivo “embora” criou uma frase sem
significado adequado ao contexto. sentido. Como as duas orações que formam o período composto
Dizer que os índios são aculturados, para dizer que não trazem ideias que se somam, não faz sentido o emprego da
têm cultura, é ignorar o que significa aculturado (o que assimilou concessiva “embora”. Deve-se usar em seu lugar a locução
a cultura de outro povo). Dizer que a estadia de alguém foi aditiva “além de”. Correção: Além de cumprir a função principal
prolongada é confundir permanência de pessoa (estada) com de assegurar às famílias os recursos materiais necessários à
permanência de veículos (estadia). Trata-se de parônimos que não sobrevivência, o trabalho hoje é peça fundamental na construção
devem ser confundidos. É o mesmo que confundir tráfico (comércio da autoestima das pessoas.
ilegal) com tráfego (trânsito). Constitui pleonasmo a expressão
“tráfico ilegal de drogas”. Se é trafico, só pode ser ilegal. Tipologia de erros e Simbologia de Correção
de Texto
Quem que tem o hábito de ler dificilmente comete
erros dessa natureza.
LINGUAGEM
5. Nível coesivo  A = ACENTUAÇÃO
É preciso ficar atento aos mecanismos de coesão para não Ausência de acentos gráficos ou o emprego inadequado deles.
ferir as regras dessa importante parte da redação. São elementos Observe algumas falhas de acentuação: cajú, caquí.
de coesão: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas, Correção: caju, caqui.
assim, daí, aí, dessa forma, isto é, embora e tantas outras.
Esses termos, além de conectarem partes do discurso,  P = PONTUAÇÃO
estabelecem entre elas certo tipo de relação semântica: causa, Deve-se atender às regras de pontuação de acordo com a
finalidade, conclusão, contradição, condição etc. Dessa forma, modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.
cada elemento de coesão manifesta um tipo de relação distinta. Observe algumas falhas de pontuação:
Ao escrever, deve-se ter o cuidado de usar o elemento apropriado • Esquecer o ponto final no término do texto.
para exprimir o tipo de relação que se quer estabelecer. • Usar inadequadamente a vírgula.
• Utilizar ponto e vírgula indevidamente.
Observe-se o exemplo que segue:
Posto que estava cansado, foi deitar-se.  ORT = ORTOGRAFIA

No caso, não faz sentido o uso da locução conjuntiva posto As palavras devem ser escritas de acordo com a modalidade
escrita formal da Língua Portuguesa.
que (= embora). Como ela estabelece um nexo de concessão/
contradição entre as orações, e a ideia que se quis passar era de Exemplo: precisar em vez de prescisar; com certeza em vez
causa, então a coesão foi afetada. A relação entre “estar cansado” de concerteza.
e “ir deitar-se” é de causa e efeito, não de oposição/concessão.
 NL = NOTAÇÕES LÉXICAS
Correção: Porque estava cansado, foi deitar-se.
Muitos alunos, ao redigir, não atentam para as diferentes Sinais que contribuem para a pronúncia correta das palavras
relações que os elementos de coesão manifestam e criam problemas ou para o legítimo significado. (Til, cedilha, apóstrofo, hífen,
semânticos. aspas, travessão).

90 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Exemplos:  CN = CONCORDÂNCIA NOMINAL
O til ( ~ ) indica a vogal nasal: ímã, órgão. Segundo a gramática normativa, o adjetivo, o pronome adjetivo,
A cedilha transforma o som do C: moça, feitiço. o artigo e o numeral devem concordar com o substantivo a que
O apóstrofo indica supressão de vogal: olho-d’água. se referem.
O hífen une palavras: guarda-chuva.
As aspas dão ênfase às palavras, destacam vocábulos que Exemplos:
não pertencem à nossa língua e indicam citação de outrem: Meninos e meninas são inteligentes.
“fashion”, “Antes só do que mal acompanhado”. Estes livros são importantes para se adquirir conhecimento.
O travessão indica dialogação, mudança do interlocutor: O povo brasileiro é alegre.
— Você vai à festa hoje? Duas canetas pretas eu comprei.
— Não. Estou ocupado.
 CP = COLOCAÇÃO PRONOMINAL
 T = TRANSLINEAÇÃO
Translinear é passar de uma linha para outra e deixar uma Colocação dos pronomes oblíquos átonos que acompanham
parte da palavra no fim da primeira linha. Deve-se evitar, o verbo.
nessa divisão silábica, deixar a vogal sozinha ou uma palavra Exemplos:
indecorosa.
Ênclise: Vendem-se apartamentos. / Quis deitar-me cedo.
Exemplos: a-cha-do / i-dei-a / vaga-bunda / pipi-lar / dis-puta Mesóclise: Dar-te-ei mais atenção. / Far-lhe-ei uma sugestão.
 R = RASURA Próclise: Isso não se faz, garoto! / Sempre te falo sobre tudo.

Borrão, risco, rabisco desnecessário ao texto, marca de corretivo,  FN = FLEXÃO NOMINAL


excesso de tinta da caneta, furo no papel provocado pelo uso Substantivos e adjetivos se flexionam em gênero, número e grau.
da borracha.
Exemplos:
 L = LEGIBILIDADE Cidadões (cidadãos), escrivona (escrivã), azuis-marinho
A legibilidade diz respeito ao texto que é legível, que se (azul-marinho). A forma correta acha-se entre parênteses.
pode ler. Portanto, o texto deve apresentar uma boa grafia e
deve conservar as idiossincrasias do alfabeto. Para isso, não  CV = CONCORDÂNCIA VERBAL
é necessário “enfeitar” a letra na hora de escrever o texto, Segundo a gramática normativa, o verbo deve concordar com
tampouco distorcer o desenho original das letras do alfabeto.
o sujeito em número e pessoa.
 ML = MARGEM LATERAL Exemplos:
A folha destinada à produção textual delimita a margem inicial — Vocês já leram esta revista?
e a margem final de cada linha do texto. Deve-se, portanto, O povo, ontem, não fez alusão ao pedido do presidente.
obedecer a essas margens. Ela, eu e minha nora viajaremos amanhã.
 M = MAIÚSCULA  FP = FALTA DE PALAVRA
O uso de inicial maiúscula segue regras propostas pela
Ausência de termos necessários.
modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.
Exemplo:
Exemplos:
ONU (Siglas); Exmo. Sr. Presidente (quando não aparece o Ele vinha longe. (Ele vinha de longe.)
nome do presidente ou em vocativo); País, Nação (quando
 OST = ORDENAÇÃO SINTÁTICA DOS TERMOS
substitui o nome de um país específico, já citado no texto);
Governo (quando substitui o presidente ou todos os Os termos devem estar dispostos organizadamente na oração,
governantes, sem especificação); o presidente da República de acordo com as funções sintáticas que cada um desempenha
(quando se refere a Estado); a Terra é iluminada pelo Sol no enunciado.
(quando se refere ao corpo celeste).
Exemplo:
 m = MINÚSCULA O sapo, a cobra comeu. (A cobra comeu o sapo = Sujeito +
Assim como o uso da maiúscula, a minúscula também apresenta Verbo + Complemento).
suas peculiaridades.
 MO = MARCA DE ORALIDADE
Exemplos:
Uso de marcas de oralidade. Palavras ou expressões que só são
O diretor disse que o ator é um deus (não se refere à entidade utilizadas na fala.
absoluta);
O plebiscito decidiu entre república e monarquia (quando se Exemplos:
refere à forma de governo); Aí, né, botar, tá (está).
Estava tomando banho de sol (quando se refere à luz do sol).
 PS = PARALELISMO SINTÁTICO
 RP = REPETIÇÃO DE PALAVRAS
Repetição de termos, dentro da estrutura sintática, para marcar
Palavras duplicadas. um aspecto textual relevante. Deve-se evitar quebrá-lo.
Exemplo: Exemplos:
“Eu só queria que ela me dissesse que aquilo que eu pensava O pai, o filho e o neto saíram da loja tarde. (correto)
era totalmente equivocado e que demonstrasse o que de fato Conte comigo, seja para ajudar na mudança, seja para limpar
passava pela sua cabeça.” Evite o queísmo. a casa. (correto)

Anual – Volume 3 91
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
 R = REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL “É tão estranho, os bons morrem jovens e isso nunca foi
profundamente estudado pelos cientistas”. (música de Renato
Relação de dependência existente entre o nome (substantivo, Russo)
adjetivo, advérbio) e seus complementos e os verbos e seus
Atenção! Não se deve transcrever nenhuma citação dos textos
complementos.
usados na proposta. Tais textos têm por finalidade ativar o
Exemplos: conhecimento prévio de quem pretende escrever.
Preste atenção ao ensino de Gramática.  EC = EXPRESSÃO CLICHÊ
Estou curioso de saber quem ganhou na loteria. Expressão muito utilizada e desgastada no seu valor estilístico.
É preferível teatro a cinema. É o mesmo que chavão.
Chegamos ao cinema atrasados.
Exemplos:
A filha da vítima precisou o local do crime. (indicar com certeza)
As crianças do Brasil precisam de uma alimentação adequada. “Desde os primórdios da civilização...”
“Venho, por meio desta carta,...”
(ter necessidade)
“Atualmente” (começando dissertação)
 V = VERBO (TEMPO VERBAL, MODO VERBAL E CORRELAÇÃO “Era uma vez...” (começando alguns tipos de narração)
TEMPORAL)
 MVD = MUDANÇA DA VOZ DISCURSIVA
O tempo do verbo deve situar a ocorrência do fato em relação Não se pode mudar a pessoa exigida pelo discurso. Se a
ao momento em que se fala. Portanto, a correlação deve ser proposta do texto é para ser desenvolvida em 1ª pessoa, o
feita sem comprometer o enunciado. autor não pode escrevê-la em 3ª.
Exemplos:  RI = RACIOCÍNIO INTERROMPIDO
O garoto voltou com os pés limpos, embora tinha jogado bola Quebra da sequência de ideias. Isso, geralmente, acontece na
na praça. (tivesse) interrupção de um parágrafo para o outro.
Quando os meninos chegaram, eu sairei. (chegarem) Exemplo:
Ontem eu lhe disse que você não brincará na praça. (brincaria) Logo no primeiro parágrafo, o autor do texto cita problemas
gerados pela poluição. Em seguida, ele não exemplifica esses
 EPS = EMPREGO DE PREFIXOS E SUFIXOS
problemas, que são esquecidos ao longo do texto.
Utilização de prefixo ou sufixo para formar palavras que não
 AD = AFIRMAÇÃO DESCONTEXTUALIZADA
são reconhecidas pela norma gramatical ou quando os afixos
escolhidos não se referem ao significado que o escritor gostaria Quando o texto apresenta partes que não correspondem a um
de dar ao vocábulo. todo significativo, compromete-se a coerência textual.
Exemplo:
Exemplos:
“Já não se trabalha como antes, porque as pessoas estão cada
Um ensino de qualidade garante a formação de grandes vez mais acomodadas por causa do tempo que não favorece o
profissionalizantes. (profissionais) desempenho das atividades.”
Depois de acertar os números da loteria, João ficou dinheiroso.
 AE = AFIRMAÇÃO EXTREMA
(endinheirado)
Uso generalizado de opiniões, geralmente sem comprovação.
 AP = ALÍNEA DO PARÁGRAFO Exemplos:
Homem não presta. Os políticos são ladrões.
Espaço dedicado à margem do parágrafo. Deve ter de 2 a 3
cm.  AI = ARGUMENTAÇÃO INVÁLIDA
Os argumentos servem para comprovar, realçar ou ilustrar o
 EP = EXCESSO DE PALAVRAS assunto sobre o qual se escreve ou se fala.
Acréscimo de palavras totalmente desnecessárias ao enunciado. A argumentação é inválida quando é fraca e apresenta ideias
e fatos óbvios.
Exemplo: Exemplos:
Por causa que (= porque) “A situação do menor abandonado é triste porque não tem
quem o ajude”.
COERÊNCIA “Não sou a favor do aborto porque representa a morte de um
ser.”
 CIT = CITAÇÃO
 AMB = AMBIGUIDADE
Apropriar-se do discurso alheio, muitas vezes, causa
empobrecimento do texto. A citação é adequada quando servir Quando o duplo sentido do enunciado compromete a
interpretação.
para a fundamentação da ideia.
Exemplos:
Exemplos:
A diretora recebeu a mãe com sua filha. (De quem é a filha:
“Ser ou não ser: eis a questão.” (In.: Hamlet, de William da mãe ou da diretora?)
Shakespeare) O cliente pediu sapato de homem vermelho. (Não se sabe se
vermelho é o homem ou o sapato.)

92 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
 IDV = INADEQUAÇÃO VOCABULAR  ISC = IDEIAS SEM COMPLEMENTAÇÃO
Uso de termo ou expressão inadequada ao contexto proposto. Ideia que não traz nada de específico, isto é, solta, que precisa
Exemplo: de complementos para ser entendida.
Ele se preparou para executar os problemas no dia seguinte. Exemplos:
(Executar é uma expressão não coerente para esse contexto.
Para se manter a coerência, dever-se-ia usar solucionar.) “A morte tem assolado a população. A falta de assistência (?)
é a maior causadora disso”. (Que tipo de assistência? A quem?
 COE = COERÊNCIA De que forma isso amenizaria do problema?)
Conjunto harmônico de ideias, no qual todas as partes se
encaixam perfeitamente, formando um todo significativo sem COESÃO
contradições.
 ECI = EMPREGO DOS CONECTORES INTRAFRASAIS
• Coerência sintática
Exemplo: Emprego de proposições, conjunções e pronomes que ligam
termos dentro das frases.
A alegria é um sentimento onde as pessoas se tornam mais
felizes. (O referente do pronome onde só pode ser um Exemplos:
lugar.)
Mas, porém, no entanto etc. (sem ter ideia adversativa);
• Coerência semântica
Portanto, (sem apresentar ideia de conclusão);
Exemplo: Este (quando se refere a algo já citado = esse);
Ele se preparou para executar os problemas no dia seguinte.
(Executar é uma expressão não coerente para esse contexto.  PSE = PARALELISMO SEMÂNTICO
Para se manter a coerência, dever-se-ia usar solucionar.)
Expressões que se apresentam, geralmente, em par e que
• Coerência estilística precisam uma da outra para completar o significado no
Exemplo: texto.
Os elementos de um mesmo grupo devem se apresentar na
Excelentíssimo Senhor Ministro da Previdência,
mesma forma, registrando uma equivalência de significado.
Que medidas o senhor pretende tomar em relação às escolas
públicas?
Exemplos:
(O enunciado estaria adequado se o destinatário fosse o
ministro da Educação) Não só os professores são importantes para a educação, mas
também os pais.
• Coerência Pragmática A economia do país está melhorando, tanto para quem ganha
Exemplo: muito quanto para quem ganha pouco.
Primeiro, é necessário decidir isso; segundo, pôr em prática
— Você já tomou banho hoje? tal ideia.
— Pretendo comer camarão.
(Para atingir a coerência desses enunciados, o leitor terá de  PG = PARAGRAFAÇÃO
criar uma situação que justifique a resposta inusitada.)
Fique atento, pois a incoerência compromete totalmente o Parágrafo muito extenso. Por conter muita informação,
texto. geralmente ocasiona perda de referencial, por causa disso,
quem escreve tende a cometer erro de concordância, já
Exemplo:
que os referentes das palavras já foram, há muito tempo,
“Ontem, na boate, o gelo seco tomou conta do ambiente, citados. O ideal é que um parágrafo tenha, no máximo,
de forma que eu não conseguia enxergar ninguém. Fiquei 6 linhas.
encostado na parede lateral e presenciei cenas engraçadíssimas.
A Vidinha ficou com o meu melhor amigo, que pisou o  RED — REDUNDÂNCIA OU TAUTOLOGIA
pé dela enquanto dançavam.”
Repetição de ideias, que geralmente são ditas de forma
 FME = FRASE MAL ESTRUTURADA diferente, porém com o mesmo significado. Essa falha ocorre,
quase sempre, quando o autor do texto não possui domínio
Que apresenta os termos desorganizadamente, gerando sobre o assunto.
problemas de entendimento para o leitor.
Exemplos:
Exemplo:
“Geralmente, são grupos de menores de idade, de várias classes A televisão influencia de forma negativa a população (...)
sociais, que se arriscam à noite para pichar muros, e não com o A televisão torna a população alienada (...)
intuito de expressar algo, somente para rabiscos escrever que A televisão inibe a criatividade das pessoas (...)
entre eles é uma forma de serem identificados, muitos morrem A televisão faz a população refém, à medida que rouba a
na tentativa de muros mais altos pichar.” capacidade das pessoas de pensar.

Anual – Volume 3 93
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
ESTUDO DE CASO
A questão da violência urbana no Brasil tem ampliado a sensação de insegurança e a descrença nos serviços de segurança pública,
os quais se tornam cada vez mais ineficientes. Destarte, pode-se dizer que, dentre os fatores que acarretam a violência, destacam-se a
desestruturação familiar e a alta taxa de desemprego no país, fatos que necessitam de uma maior atenção para minimizar os índices
de violência.
De fato, sabe-se da importância da educação familiar para o desenvolvimento do cidadão. Segundo Immanuel Kant, o ser humano
é aquilo que a educação faz dele. Diante disso, crianças e adolescentes que crescem sem a orientação familiar estão propensos a apresentar
comportamentos agressivos, visto que não lhes foram apresentados valores éticos e morais, como respeito e tolerância. Dessa forma, é
imprescindível a presença de orientadores durante o desenvolvimento dos jovens, a fim de que possam tornar-se cidadãos de caráter.
Além disso, conforme o Atlas da Violência 2018, divulgado pelo Ipea, o alto índice de desemprego que assombra o Brasil
está entre os grandes pivôs da violência urbana, visto que, ao encontrar-se em situação de risco, o indivíduo busca outros meios
para a subsistência e, na maioria das vezes, acaba associando-se a organizações criminosas e cometendo atos infracionais,
aumentando o índice de violência social. Sendo assim, são necessárias medidas para a redução do desemprego e, por conseguinte,
da violência urbana.
Logo, a presença dos pais ou responsáveis durante o crescimento dos jovens se faz importante fator de minimização da
violência urbana. Para isso, o Ministério da Educação adjunto com o Conselho Tutelar deve promover palestras em escolas e
comunidades sobre a importância do acompanhamento familiar para a formação do caráter. Ademais, é preciso que a Justiça do
Trabalho, em parceria com o Ministério da Economia, implante medidas que resultem em maior empregabilidade, como obras e
isenções ficais, por meio de parcerias com empresas, a fim de contratar um maior número de pessoas. Assim, o Brasil poderá ter
uma sociedade menos violenta e mais justa.
Antonio Gabriel Martins Maciel FB – SP

RECONHECENDO O PLANEJAMENTO DA REDAÇÃO


TEMA: VIOLÊNCIA URBANA
TESE (NEGATIVA): _______________________________________

ARG. 1 (CAUSA):_______________

CAUSA 1: _______________________

REPERTÓRIO 1: __________________

ARG. 2 (CAUSA):_______________

CAUSA 2: _______________________

REPERTÓRIO 2: __________________

SOLUÇÃO:
1. AGENTE: ______________________________________________________________________________________________________
2. AÇÃO: ________________________________________________________________________________________________________
3. DETALHAMENTO: _____________________________________________________________________________________________
4. MEIO: ________________________________________________________________________________________________________
5. FINALIDADE/EFEITO: ___________________________________________________________________________________________

Respostas:
5. Finalidade: Contratar pessoas.
4. Meio: Parcerias com empresas.
3. Detalhamento: Obras e isenções fiscais.
2. Ação: Medidas para empregabilidade.
1. Agente: Justiça no trabalho.
Solução:

Repertório 2: Atlas da Violência 2018.


Causa 2: Associação do crime para a subsistência.
Arg. 2 (desafio): Alta taxa de desemprego.

Repertório 1: Immanuel Kant.


Causa 1: Propensão à violência.
Arg. 1 (desafio): Desestruturação familiar

e a descrença nos serviços de segurança.


Tese (negativa): A violência amplia a sensação de insegurança.

94 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Para você ter uma ideia do inestimável valor do ponto
e vírgula em situações sintáticas desse tipo, vamos reescrever o
Fique de Olho
primeiro exemplo, usando apenas vírgulas para separar os vários
itens da enumeração. Como você verá, a leitura torna-se quase
ASPECTOS FORMAIS DA LÍNGUA impossível:
Entre várias pessoas que ele lesou estavam Antero, meu tio
O mais valioso de todos os talentos é o de nunca usar duas
por parte de mãe, Anita, minha prima, que também era minha
palavras, quando uma diz o que você quer.
colega de faculdade, Laura, minha vizinha do segundo andar,
Thomas Jefferson
Aldagisa, minha tia, mãe de Anita e Arlindo, seu marido.
O ponto e vírgula
Este utilíssimo sinal quase foi sepultado pela equivocada Ponto ou ponto e vírgula?
ligação da pontuação com as pausas da fala. Na antiga e fantasiosa
Use ponto e vírgula entre orações assindéticas
definição que afirmava que “a vírgula serve para assinalar uma
pausa, e um ponto, uma pausa maior”, cabia um papel muito triste Uma oração é assindética quando está relacionada à
ao ponto e vírgula: assinalar uma pausa maior do que a da vírgula anterior sem que haja entre elas uma conjunção explícita. Nesse
e menor do que a do ponto – o que quer que isso queira dizer. caso, a vírgula não pode ser usada, e você escolherá entre colocar
O incrível é que assim ele ainda é definido no dicionário um ponto ou um ponto e vírgula entre as duas orações. Embora
Aurélio e, mais espantoso ainda, no moderníssimo Houaiss. estejam corretas as duas opções, recomendamos a segunda por
Os usuários, desestimulados por essa personalidade tão vaga, seu valioso efeito retórico, pois o ponto e vírgula avisa o leitor de
praticamente abandonaram o ponto e vírgula, que muitos julgam ser que a frase está dividida em duas partes claramente identificáveis,
um sinal completamente supérfluo, servindo apenas como ornato mas relacionadas entre si para formar um pensamento completo.
nalinguagem dos pedantes.
A ideia equivocada de que o ponto e vírgula é apenas Em outras palavras, quando em frases desse tipo você usa
uma pausa maior do que a da vírgula e menor do que o ponto e vírgula em vez do ponto, obriga o leitor a perceber
a do ponto fez com que muitos deixassem de usar esse que o pensamento iniciou na maiúscula e prolongou-se até o
utilíssimo sinal gráfico. momento em que você o declarou encerrado com o ponto final.
Mesmo que o leitor não perceba exatamente qual o nexo entre
Clareza e legibilidade as duas partes, a presença do ponto e vírgula vai obrigá-lo a
pensar nisso.
No entanto, agora que a pontuação deixou de ser defendida
por sua relação com as pausas e passou a manter um vínculo cada Vou sortear outro jurado; este foi recusado pela acusação.
vez mais estreito com a sintaxe, o ponto e vírgula começou a ter Atentar para o clamor popular é uma coisa; condenar
funções tão específicas quanto úteis, tornando-se um recurso muito apenas para agradar à opinião pública é bem diferente.
eficiente para deixar o texto mais claro e mais legível. Ninguém pode Eu, de minha parte, não nego os fatos; o reclamante foi meu
se dar o luxo de dispensá-lo. empregado por cinco anos, mas nunca gerenciou a loja.

 Quando uma oração está relacionada à anterior sem uma


 O ponto e vírgula deixa o texto mais claro e aumenta a
conjunção explícita, utilize o ponto e vírgula; você estará
legibilidade; é um recurso indispensável na elaboração de
sinalizando para o leitor que a frase é composta de duas
boas petições.
partes e que o raciocínio ainda não terminou. O pensamento
será valorizado com excelente resultado retórico – tal como
Enumere e mantenha a ordem na frase anterior!

Um emprego valioso do ponto e vírgula é na separação


dos itens de enumerações complexas – isto é, enumerações cujos
Use ponto e vírgula com as conjunções
elementos já trazem consigo vírgulas próprias. Nesses casos, não pospositivas
podemos separar os itens entre si usando apenas vírgulas, como nas
enumerações simples; se o fizermos, as vírgulas deixarão de tornar Esta regra abrange todas as conjunções adversativas
evidente a estrutura da frase e o leitor terá sua atenção desviada do (exceto mas) – porém, todavia, contudo, entretanto, no
que realmente interessa. Em vez de se preocupar com o conteúdo entanto – e todas as conjunções conclusivas, sem exceção –
do texto, ele será obrigado a um esforço de decifração do sistema portanto, por conseguinte, consequentemente, pois e logo.
de pontuação que está sendo usado: Todas elas têm um comportamento peculiar, que as torna
semelhantes aos advérbios: ao contrário das demais conjunções,
Entre as várias pessoas que ele lesou estavam: Antero, meu elas podem se deslocar ao longo da oração em que se encontram,
tio por parte de mãe; Anita, minha prima, que também recebendo, por isso, o nome de pospositivas (“que podem ser
era minha colega de faculdade; Laura, minha vizinha do propostas”). Quando você tiver duas orações ligadas por um
segundo andar; Adalgisa, minha tia, mãe de Anita; Arlindo, desses conectores, poderá encerrar a primeira usando um ponto
seu marido. ou um ponto e vírgula:
De um lado, o Estado, com seu dever de informar; do outro, A viúva não quer nada para si; contudo, o avô quer garantir
o cidadão, com seu direito de ser informado; entre eles, o um bom patrimônio para os dois netos.
rádio e a TV, que serviam como intermediários da circulação
da mensagem. Ele só conseguiu a soltura do preso para a próxima semana;
portanto, é melhor impetrar um habeas corpus.

Anual – Volume 3 95
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
As conjunções pospositivas podem deslocar-se para o interior Nesse caso, o texto fica muito mais bem escrito se você
da segunda oração: aproveitar a característica mais importante desse tipo de conjunção,
A viúva não quer nada para si; o avô quer garantir, contudo, que é deslocabilidade, e recuá-la para o meio da frase. Assim,
um bom patrimônio para os dois netos. o parágrafo vai começar pelo sujeito, o que anuncia ao leitor,
Ele só conseguiu a soltura do preso para a próxima semana; é como vimos, qual será o tema discutido nas linhas seguintes.
melhor, portanto, impetrar um habeas corpus. O parágrafo anterior poderia ser reescrito da seguinte maneira:
Ele só conseguiu a soltura do preso para a próxima semana; é
melhor impetrar um habeas corpus, portanto. Nos países de Primeiro Mundo, contudo, a situação é
diferente, pois a economia é estável e os investimentos dos
É bom destacar alguns pontos importantes: fundos previdenciários são rigorosamente fiscalizados.
a) o ponto e vírgula não sai de sua posição; ele está ali para
assinalar o fim da primeira parte do período; Tudo agora fica mais claro para o leitor. Primeiro, você o
b) em seu lugar, seria também correta a utilização de um informa de que este parágrafo vai falar dos países do Primeiro
simples ponto, mas haveria, é claro, a perda daquele efeito Mundo; logo depois, com a conjunção adversativa “contudo”,
retórico que já descrevemos; deixa claro que as ideias que pretende desenvolver sobre o tema
c) a conjunção, uma vez deslocada, passa a ser tratada se opõem ao que foi dito no parágrafo anterior.
como uma intercalação comum, ficando obrigatoriamente
separada por vírgulas.
 O encadeamento de dois parágrafos através do uso de
conjunções pospositivas é perfeitamente simétrico ao de
 Nessas hipóteses, o ponto e vírgula assinala com perfeição duas orações. Além disso, ao movimentar a conjunção,
o fim da primeira parte do período; mas, ao contrário do você tem a vantagem de começar a frase pelo sujeito,
simples ponto, não interrompe o raciocínio. anunciando ao leitor o assunto que será tratado.

Os lugares do “pois” Sempre que puder, posponha a conjunção, para que ela
não fique evidente demais. Muitos leitores se queixam quando
Note que existem dois tipos de “pois”, com pontuações sentem que estão sendo conduzidos pelo autor, a golpes de
diferentes. O primeiro “pois” é explicativo, sinônimo de “porque”; conjunção:
o segundo é conclusivo, sinônimo de “portanto”: O aqui investigado admite as relações sexuais com a
Eles devem ter desistido da empreitada, pois nunca mais prima do investigante. Contudo, faz questão de deixar
entraram em contato conosco. (porque) claro que não foi o único a compartilhar de seu leito
Tudo foi feito conforme tinha sido previamente acordado de mulher solteira. Por conseguinte, não pode ser
conosco; não temos, pois, objeções à renovação do contrato apontado como pai da criança, pois a mãe fez uma
de locação. (portanto) verdadeira eleição do genitor, na qual infelizmente ele
saiu vencedor, pois usufrui de boa situação econômica.
A diferença entre eles fica marcada exatamente pela Portanto, repele a paternidade que lhe é imputada.
posição que ocupam na frase: o primeiro sempre virá no início da
oração que introduz; o segundo, para distinguir-se dele, sempre  O uso acintoso de conjunções transmite autoritarismo
será pospositivo. Dessa forma, o primeiro é antecedido de vírgula, para com o leitor. Evite os excessos.
enquanto o segundo, por estar deslocado, virá sempre entre vírgulas.
Português para convencer: comunicação e persuasão em direito/Cláudio Moreno,
Túlio Martins, 2ª ed., São Paulo: Ática, 2011, p. 154-160.
 O “pois” explicativo é antecedido por uma vírgula e
virá sempre no início da oração que introduz; o “pois”
conclusivo, equivalente a “portanto”, deve ser colocado ESPAÇO DA LEITURA
entre vírgulas.
POR QUE DEMARCAR?

Conjunção entre parágrafos Por que demarcar terras indígenas?

Assim como podem relacionar as duas partes de uma Ordenamento fundiário


frase, essas conjunções pospositivas também são usadas para
A demarcação de terras indígenas contribui para a política
relacionar dois parágrafos entre si. A estrutura, embora lide com
de ordenamento fundiário do Governo Federal e dos Entes
unidades maiores, é análoga à que vimos acima; a única diferença
é que aqui não entra em cena o ponto e vírgula, uma vez que Federados, seja em razão da redução de conflitos pela terra, seja
o primeiro parágrafo, por motivos óbvios, só pode terminar por em razão de que os Estados e Municípios passam a ter melhores
um ponto: condições de cumprir com suas atribuições constitucionais
de atendimento digno a seus cidadãos, com atenção para as
No Brasil, a previdência pública e a previdência privada
especificidades dos povos indígenas.
enfrentam os mesmos problemas estruturais: envelhecimento
progressivo da população, instabilidade da moeda, falta de Isso se dá a partir de políticas específicas, incentivos fiscais e
planejamento técnico confiável e manipulação política dos repasse de recursos federais exclusivamente destinados às terras
imensos recursos que administram. indígenas e às políticas indigenistas desenvolvidas dentro e
fora das terras indígenas (como, por exemplo: ICMS ecológico,
Contudo, nos países de Primeiro Mundo a situação é diferente,
pois a economia é estável e os investimentos dos fundos repasses relacionados à gestão territorial e ambiental de terras
previdenciários são rigorosamente fiscalizados. indígenas, repasses relacionados à educação escolar indígena,

96 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
recursos relacionados às políticas habitacionais voltadas às terras indígenas, recursos destinados a ações de etnodesenvolvimento,
fomento à produção indígena e assistência técnica agrícola em terras indígenas etc.). Especialmente nos estados e municípios
localizados em faixa de fronteira, a demarcação de terras indígenas garante uma maior presença e controle estatal nessas áreas
especialmente vulneráveis e, em muitos casos, de remoto acesso.

Garantia da diversidade étnica e cultural


A demarcação das terras indígenas também beneficia, indiretamente, a sociedade de forma geral, visto que a garantia e a efetivação
dos direitos territoriais dos povos indígenas contribuem para a construção de uma sociedade pluriétnica e multicultural. Ademais,
a proteção ao patrimônio histórico e cultural brasileiro é dever da União e das Unidades Federadas, conforme disposto no Art. 24,
inciso VII da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. As terras indígenas são áreas fundamentais para a reprodução
física e cultural dos povos indígenas, com a manutenção de seus modos de vida tradicionais, saberes e expressões culturais únicos,
enriquecendo o patrimônio cultural brasileiro.

Conservação ambiental
Beneficiam-se, ademais, a sociedade nacional e mundial com a demarcação das terras indígenas, visto que tal medida protetiva
consolida e contribui para a proteção do meio ambiente e da biodiversidade, bem como para o controle climático global, visto
que as terras indígenas representam as áreas mais protegidas ambientalmente (segundo dados PPCDAM - Plano de Prevenção e
Controle do Desmatamento na Amazônia, 2004-2012), localizadas em todos os biomas brasileiros. Assim, a demarcação de terras
indígenas também contribui para que seja garantida a toda a população brasileira e mundial um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, nos termos do art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Desmatamento médio
(2008-2012)

Terras Indígenas 288,5

UC Federal 291,9

UC Estadual 353,7

Proteção de Povos Indígenas Isolados


A demarcação de terras indígenas é especialmente importante para os povos indígenas isolados, que optam por não manter
qualquer relação de contato permanente com a sociedade nacional, vivendo de modo autônomo em ambientes que conhecem
em profundidade. Devido à situação de isolamento voluntário, esses povos são especialmente vulneráveis a doenças e epidemias.
Desse modo, ao executar uma política de proteção territorial diferenciada voltada a povos isolados, pautada pela premissa do
não-contato, o Estado brasileiro evita o genocídio, nos termos da legislação nacional e internacional.

Disponível em: <http://www.funai.gov.br/index.php/2014-02-07-13-25-20>.

Proposta de Redação

TEXTOS MOTIVADORES
(IFPE/2019.2)
Texto I
ÁREAS COM RISCO DE CONFLITO SOCIOAMBIENTAL NO BRASIL
Estudo traz mapeamento de 4.536 conflitos socioambientais latentes, locais onde atividades de mineração são vizinhas
de comunidades quilombolas, indígenas, assentamentos de trabalhadores rurais e áreas de proteção ambiental
Lançado no dia 10 de dezembro, o projeto jornalístico Latentes divulgou um estudo sobre os riscos de conflito socioambiental
relacionados à mineração em todo o Brasil. Foram mapeados 4.536 pontos de conflito socioambiental latente - nos quais áreas indígenas,
comunidades remanescentes de quilombolas, assentamentos e unidades de conservação são vizinhas ao extrativismo mineral. Foram
considerados 30.554 empreendimentos extrativistas legalizados no Brasil, georreferenciados a partir de informações da Agência Nacional
de Mineração ANM.

Anual – Volume 3 97
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III

Unidade de
conservação Assentamento
1.079 3.029

24%
TOTAL
4.536
4% áreas em risco 67%
245
Área de conflito
5%
indígena

183
comunidade
quilombola
LÁZARO JR., José. “Próximas de mineração, 194 áreas correm risco de conflito socioambiental no Paraná”. Jornal Gazeta do Povo. Publicado em 20 dez. 2018.
Disponível em: <https://infograficos.gazetadopovo.com.br/meio-ambiente/areas-com-risco-de-conflito-socioambiental-no-brasil/>. Acesso em: 20 maio 2019. Adaptado.

Texto II
TERRAS INDÍGENAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS
De acordo com a Constituição Federal vigente. os povos indígenas detém o direito originário e o usufruto exclusivo sobre as
terras que tradicionalmente ocupam. As fases do procedimento demarcatório das terras tradicionalmente ocupadas, abaixo descritas,
são definidas por Decreto da Presidência da República e, atualmente, consistem em:
• Em estudo: é a fase de realização dos estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais, que
fundamentam a identificação e a delimitação da terra indígena.
• Delimitadas: são as terras que tiveram os estudos aprovados pela Presidência da Funai, com a sua conclusão publicada no
Diário Oficial da União e do Estado, e que se encontram na fase do contraditório administrativo ou em análise pelo Ministério
da Justiça, para decisão acerca da expedição de Portaria Declaratória da posse tradicional indígena.
• Declaradas: são as terras que obtiveram a expedição da Portaria Declaratória pelo Ministro da Justiça e estão autorizadas
para serem demarcadas fisicamente, com a materialização dos marcos e o georreferenciamento.
• Homologadas: são as terras que possuem os seus limites materializados e georreferenciados, cuja demarcação administrativa
foi homologada por decreto Presidencial.
• Regularizadas: são as terras que, após o decreto de homologação, foram registradas em Cartório em nome da União e na
Secretaria do Patrimônio da União.
• Interditadas: são as áreas com restrições de uso e ingresso de terceiros, para a proteção de povos indígenas isolados.

QUANTIDADE DE
FASE DO PROCESSO SUPERFÍCIE (ha)
TERRAS

DELIMITADAS 44 2.184.522,4500

DECLARADAS 74 7.612.149,3759

HOMOLOGADAS 13 1.497.048,9576

REGULARIZADAS 436 105.773.689,9659

TOTAL 567 117.067.410,7494

EM ESTUDO 116 860,7268

PORTARIA DE INTERDIÇÃO 6 1.080.740,0000


Disponível em: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas>. Acesso em: 10 jun. 2019. Adaptado.

98 Anual – Volume 3
Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS POR REGIÃO DO PAÍS

Área indígena
72
Assentamento Área indígena
627 44
Comunidade Unidade de Assentamento
Quilombola conservação
41 146 1412
Comunidade Unidade de
Quilombola conservação
74 200
Área indígena
44
Assentamento
354
Comunidade Unidade de
Quilombola conservação Área indígena
8 94 28
Assentamento
310
Comunidade Unidade de
Quilombola conservação
Área indígena 40 498
57
Assentamento
326
Comunidade Unidade de
Quilombola conservação
20 141

Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/12/10/brasil-tem-4536-areas-com-risco-de-conflito-socioambiental-indica-estudo.htm>.


Acesso em: 18 maio 2019. Adaptado.

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija
texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Conflitos socioambientais:
desafios para assegurar a manutenção de terras demarcadas no Brasil.”, apresentando proposta de intervenção, que respeite
os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto
de vista.

Exercícios de Fixação

• Texto para a questão 01.


Qual a diferença entre robô, androide e ciborgue?
Robôs são máquinas que fazem tarefas pré-programadas de forma autônoma. Quando o robô tem aspecto humano é um androide.
Já os ciborgues são híbridos: parte humanos, parte máquinas.
Disponível em: <super.abril.com.br/blog/oraculo/qual-a-diferenca-
entre-robo-androide-e-ciborgue>.Acesso em: 10 jan. 2019.

01. (Fundepes/2017) No contexto, os verbos destacados possuem valores semânticos do presente do indicativo e sugerem noções
A) de presente em relação a um fato passado.
B) que não se referem a um tempo específico.
C) que perduram depois do momento da fala.
D) corriqueiras, habituais ou repetitivas.
E) de futuro próximo ou indeterminado.

Anual – Volume 3 99
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
• Texto para a questão 02. O acento recai, sobretudo, na sua capacidade de fundar uma
comunidade emocional, de agir como conectores de um “nós”

Reprodução/Fundepes – Adaptada
nacional.
O segundo aspecto é relativo à separação que se
verifica, no contexto contemporâneo, dos vínculos que
pareciam indissoluvelmente ligar sociedade e estado nacional.
A relação identificatória entre estado-nação e sociedade
perdeu a obviedade e naturalidade, quando, no contexto
da globalização, tornaram-se manifestas diversas formas de
socialidade completamente desvinculadas do estado-nação:
a “explosão” da complexidade social, no momento em que
outras agências de produção de significados (as religiões,
o mercado, a indústria cultural etc.) competem com o estado-
-nação, o que acaba por minar irreversivelmente sua centralidade
e capacidade de integração social.

Disponível em: <http://umvirgulacincoporcento.blogspot.com.br/>. LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Ficção televisiva e identidade cultural da
Acesso em: 09 fev. 2017.
nação. In: Revista Alceu, nº 20. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2010, p. 11-12.
Disponível em: <http://revistaalceu.com.puc-rio.br>.
02. (Fundepes – Adaptada) No trecho do quadro, a vírgula foi
Acesso em: 21 jul. 2015. Adaptado.
empregada para:
A) separar oração intercalada.
04. (PUC-RJ)
B) separar a oração principal da subordinada.
C) separar orações pertencentes a uma mesma categoria. A) O texto apresenta duas visões distintas que, hoje,
D) separar termos de uma mesma função sintática. encontram-se relacionadas ao conceito de nação.
E) isolar adjuntos adverbiais deslocados. Estabeleça a diferença entre elas.
__________________________________________________
• Texto para a questão 03.
__________________________________________________
Se, na educação básica, ____ homogeneidade de conteúdos __________________________________________________
básicos é uma condição essencial de equidade e de cidadania, __________________________________________________
na educação superior ____ insistência em um “modelo único”
de universidade tem levado na prática ____ consolidação das B) Com relação ao trecho abaixo, faça o que é solicitado a
desigualdades e ____ desqualificação da grande maioria dos seguir.
estudantes e seus cursos, por contraste com um suposto padrão de
“qualidade” que precisaria ser melhor explicitado e compreendido. A relação identificatória entre estado-nação e sociedade
perdeu a obviedade e naturalidade, quando, no contexto
CORRÊA, S. B.; MASSON, M. A. C. Indivíduo, universidade e sociedade brasileira.
Brasília: EducaçãoBrasileira, 1995. p. 47. da globalização, tornaram-se manifestas diversas formas
de socialidade completamente desvinculadas do estado-
03. (Fundepes/2017) Assinale a alternativa que completa, correta
-nação.
e respectivamente, as lacunas do texto.
A) à / à / a / à I) Justifique o emprego da forma verbal “tornaram-se” na
B) à / à / a / a 3ª pessoa do plural.
C) a / a / à / à _______________________________________________
D) a / à / à / à
_______________________________________________
E) a / a / a / à
_______________________________________________
• Texto para a questão 04. _______________________________________________
Há dois aspectos imprescindíveis a qualquer discurso que II) Reescreva o trecho, iniciando-o por “É possível que”.
queira, hoje, tratar do significado da nação.
Faça as modificações necessárias.
O primeiro é relativo à dimensão simbólica da ideia
de nação, entendida menos como território, mais como _______________________________________________
repertório de recursos identitários. Sobre o papel de constructo _______________________________________________
cultural e simbólico que a ideia de nação representa, temos _______________________________________________
autores que convergem sobre a arbitrariedade de sua gênese
(a nação como invenção histórica arbitrária, de Gellner; • Os textos a seguir se referem à questão 05.
como invenção da tradição, de Hobsbawm; como comunidade
imaginada, de Anderson). Porém, independentemente do ÚLTIMO TREM DA CANTAREIRA
reconhecimento de sua função ideológica ou de legitimação Estrada de ferro que ligava o centro da cidade à zona
política, o que hoje se enfatiza na ideia de nação é a forte
norte foi desativada em 1964.
carga simbólica e o caráter cultural que carrega. Dizer, então,
que os sentimentos de pertencimento são culturalmente O saudoso “trenzinho da Cantareira”, como era
construídos não significa necessariamente que eles se fundem carinhosamente chamado pelos paulistanos, fez sua última viagem
em manipulações mistificadoras ou subficções arbitrárias. há 50 anos, conforme noticiou, na época, o jornal O Estado.

100 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
CANTAREIRA JÁ NÃO TEM TREM Essa é a forma típica do “jeitinho”. Uma de suas primeiras regras é
O último trem da Cantareira saiu ontem à noite da Estação não usar o argumento igualmente autoritário, o que também pode
do Areal, em consequência da extinção do ramal por ato do ocorrer, mas que leva a um reforço da má vontade do funcionário.
governador do Estado. A supressão da linha foi determinada pelas De fato, quando se deseja utilizar o argumento da autoridade
obras de construção da ponte “Cruzeiro do Sul” – sobre o rio contra o funcionário, o jeitinho é um ato de força que no Brasil é
Tietê, e pela situação deficitária da estrada. Depois da retirada dos conhecido como o “Sabe com quem está falando?”, em que não
trilhos, o leito do ramal deverá ser pavimentado e transformado se busca uma igualdade simpática ou uma relação contínua com o
em avenida. agente da lei atrás do balcão, mas uma hierarquização inapelável
O Estado de S. Paulo, 11/11/1964. entre o usuário e o atendente. De modo que, diante do “não
pode” do funcionário, encontra-se um “não pode do não pode”
Eternizada pelo samba Trem das Onze, de Adoniran
feito pela invocação do “Sabe com quem você está falando?”.
Barbosa (embora não havia trem nesse horário), a estrada de ferro
De qualquer modo, um jeito foi dado. “Jeitinho” e “Você sabe com
conhecida como Tramway foi inaugurada em 1893 com a presença
quem está falando?” são os dois polos de uma mesma situação. Um
de autoridades e convidados ilustres.
é um modo harmonioso de resolver a disputa; o outro, um modo
O Estado de S. Paulo, 14/07/2014. Adaptado.
conflituoso e direto de realizar a mesma coisa. O “jeitinho” tem
05. (FGV) No texto de 1964, ocorre um trocadilho e, no de 2014, muito de cantada, de harmonização de interesses opostos, tal como
um erro gramatical. quando uma mulher encontra um homem e ambos, interessados
A) Reescreva a frase que contém o trocadilho, de tal forma que num encontro romântico, devem discutir a forma que o encontro
ele seja eliminado, fazendo as modificações necessárias. deverá assumir. O “Sabe com quem está falando?”, por seu lado,
afirma um estilo em que a autoridade é reafirmada, mas com a
__________________________________________________
indicação de que o sistema é escalonado e não tem uma finalidade
__________________________________________________ muito certa ou precisa. Há sempre outra autoridade, ainda mais alta,
__________________________________________________ a quem se poderá recorrer. E assim as cartas são lançadas.

B) Reescreva, de forma correta, o trecho que contém o erro DAMATTA, Roberto. O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho”.
gramatical. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 1884. P79-89. Adaptado.
__________________________________________________
__________________________________________________ 02. Ao afirmar ‘No Brasil, entre o “pode” e o “não pode”,
__________________________________________________ encontramos um “jeito”’, para a sustentação da sua tese,
o autor faz uso de duas estratégias argumentativas que podem
ser identificadas como:
Exercícios Propostos A) exemplificação e repetição de ideias.
B) postura objetiva e desconstrução de tese.
• Texto para a questão 01. C) generalização e inclusão do emissor no discurso.
D) autoquestionamento e conformidade.
FIM
Murilo Mendes
03. Ao estabelecer uma distinção entre o “Jeitinho” e o “Você
[...]
Eu preciso assistir ao fim do mundo sabe com quem está falando?”, o autor mostra que, em sua
para saber o que Deus quer comigo e com todos opinião, ambos são:
e para saciar minha sede de teatro. A) práticas que fazem uso da hierarquização como mecanismo
Disponível em: <http://artedofim.blogspot.com.br/2010/07/
de obtenção de benefícios.
fim_de_murilo?_mendes.html>. Acesso em: 10 fev. 2019. B) formas de evidenciar uma crítica clara aos sistemas das
instituições em geral.
01. (Fundepes/2017) Assinale a alternativa que apresenta uma C) meios regulamentados que solicitam a denúncia dos
reescritura do verso destacado no poema, sem danos à norma envolvidos nas práticas.
culta.
D) estratégias diferenciadas que visam a driblar regras ou
A) O fim do mundo, eu preciso ver-lhe.
mecanismos protocolares.
B) Eu quero presenciar ao fim do mundo.
C) Eu preciso constatar ao fim do mundo.
D) O fim do mundo, eu preciso assistir-lhe. 04. Em “Há sempre outra autoridade, ainda mais alta,”, o emprego
E) Ao fim do mundo, eu preciso assistir a ele. do singular na forma verbal em destaque deve-se:
A) à impessoalidade do verbo “haver” no contexto.
• Texto para a questão 02. B) à concordância entre o verbo e o sujeito “autoridade”.
No Brasil, entre o “pode” e o “não pode”, encontramos um C) ao emprego do advérbio sempre com sentido atemporal.
“jeito”, ou seja, uma forma de conciliar todos os interesses, criando D) ao sujeito desinencial subentendido pelo verbo “haver”.
uma relação aceitável entre o solicitante, o funcionário autoridade
e a lei universal. Geralmente, isso se dá quando as motivações 05. Na última frase do texto, o autor faz uso de uma ideia que
profundas de ambas as partes são conhecidas; ou imediatamente, confere à conclusão um sentido figurado que deve ser
quando ambos descobrem um elo em comum banal (torcer pelo
entendido como uma:
mesmo time) ou especial (um amigo comum, uma instituição pela
A) hipérbole.
qual ambos passaram ou o fato de se ter nascido na mesma cidade).
A verdade é que a invocação da relação pessoal, da regionalidade, B) metáfora.
do gosto, da religião e de outros fatores externos àquela situação C) antítese.
poderá provocar uma resolução satisfatória ou menos injusta. D) prosopopeia.

Anual – Volume 3 101


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
06. No fragmento “Um é um modo harmonioso de resolver a 10. (Unicamp) A coluna Marketing da revista Classe, ano XVII,
disputa; o outro, um modo conflituoso e direto de realizar nº 94, 30/08 a 30/10, 2002), inclui as seguintes passagens
a mesma coisa.”, o autor faz uso da seguinte figura de (parcialmente adaptadas):
linguagem: Os jovens de classe média e alta, nascidos a partir de 1980, foram
criados sob a pressão de encaixarem infinitas atividades dentro
A) antítese.
das 24 horas. E assim aprenderam a ensanduichar atividades. (...)
B) paradoxo.
Pressionados pelo tempo desde que nasceram, desenvolveram
C) metáfora. um filtro e separam aquilo que para eles é o trigo, do joio; ficam
D) hipérbole. com o trigo, e naturalmente, deletam o joio. (p. 26)
A) Explique qual é o sentido da palavra “ensanduichar” no texto e
07. No início do texto, o emprego da vírgula que segue a expressão diga por que ela é especialmente expressiva ou sugestiva aqui.
“No Brasil” deve ser justificado por tratar-se de: __________________________________________________
A) uma expressão intercalada. __________________________________________________
B) um aposto ilustrativo de lugar.
B) O texto menciona um ditado corrente, embora não na ordem
C) um objeto anteposto ao verbo que complementa. usual. Qual é o ditado e o que significa?
D) um adjunto adverbial deslocado da ordem direta. __________________________________________________
__________________________________________________
08. Reescreva o período seguinte, corrigindo-lhe os erros.
C) A palavra “deletar” confere um ar de atualidade ao texto.
Explique por quê.
“As pesquisas tem demostrado que, por hora, o mercado está
__________________________________________________
quase paralisado.” __________________________________________________
_____________________________________________________
____________________________________________________ Seção Videoaula
09. (Unicamp)

STF DÁ VITÓRIA AO GOVERNO NO Coesão Gramatical


JULGAMENTO DO ARTIGO 20

Pela diferença de um voto, o Governo saiu vitorioso ontem


no julgamento do pedido de liminar contra o artigo 20 da Lei
de Responsabilidade Fiscal. Uma retificação no voto do ministro Aula 13:

C-6 H-18, 22
Marco Aurélio garantiu a decisão do STF, que confirmou a Aula Como Elaborar o Título C-8 H-23, 27
constitucionalidade do artigo que estabelece os limites de gastos
13 e a Tese
com pessoal para os três poderes. A revisão promovida pelo
ministro Marco Aurélio favoreceu o governo, que corria o risco
de ficar impedido de aplicar cortes de despesas com folha de
pagamento previstas na lei, especialmente em relação aos Poderes Introdução
Legislativo e Judiciário no âmbito dos Estados e Municípios. Pontos relevantes em uma redação, o título e a tese são os
Existem ainda no STF outras cinco ações propostas pela desafios iniciais de um elaborador durante o processo de criação
oposição contra dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal. textual. Essa árdua tarefa se dá logo após o entendimento da
proposta e tipologia exigidas pela banca examinadora e necessita de
O Estado de S. Paulo, 12/10/2000.
algumas habilidades, como: criatividade e capacidade de sintetizar e
Nota: O título de “ministro” é dado aos juízes do Supremo julgar. Neste encontro, você terá informações mais específicas que
o ajudarão a lograr êxito nessa etapa da prova de redação.
Tribunal Federal.
A) No texto acima, ocorrem vários termos de jargão técnico que Importante:
remetem a diversas fases do andamento de um processo no • Toda dissertação se caracteriza, essencialmente, por uma
judiciário. Transcreva pelo menos três. tese. O texto pode até não apresentar um título, mas nunca
__________________________________________________ deixará de apresentar uma tese.
__________________________________________________ Título → Trata-se de um recurso de linguagem com
a finalidade de apresentar, resumidamente, um texto a um
B) O que os termos “retificação” e “revisão” informam sobre a examinador ou a um leitor.
participação do juiz Marco Aurélio de Mello no julgamento Nas redações de exames, os títulos geralmente são
da questão? opcionais, fato que ocorre no Enem. Porém, quando há
__________________________________________________ obrigatoriedade desse recurso, a banca coloca em letras garrafais
__________________________________________________ tal informação: “Dê um título a seu texto”. Há, também,
casos em que a banca dá um título expresso ao candidato,
C) Do que trata o artigo 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal? devendo este, obrigatoriamente, ser colocado, na linha 1 (um),
Responda, com base no texto. centralizado, ou em um local específico para ele. Já no caso de
__________________________________________________ o elaborador criar o próprio título, é determinante que aquele
__________________________________________________ siga algumas instruções. Veja:

102 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
1. Seja criativo;
2. Seu título não precisa de verbo, podendo ser uma frase nominal. Nesse caso, não convém colocar ponto final;
3. Um título é sempre uma frase-resumo, pois sua ideia é sintetizar todas as informações presentes em seu texto;
5. Escreva o texto primeiro e a partir dele é que se deve criar um título, daí a expressão clichê: “o título é a cereja do bolo”;
6. O título deve estar em consonância com a tipologia textual;
7. Neologismos são aceitos, porém use aspas;
8. Coloque pontuação no final sempre que seu título for uma oração;
9. Em caso de frases nominais como título, é válida a seguinte regra: Se houver pontuação no meio da frase nominal, é necessário
o ponto no final da frase;
10. Quanto ao uso de letras maiúsculas, siga a seguinte orientação: Se for uma expressão ou frase nominal, use maiúsculas em
todas as palavras que possuem sílaba tônica; caso o título seja uma oração, use maiúscula apenas na palavra inicial e em nomes
próprios;
11. O título deve ser breve e estar centralizado na linha 1 (um);
12. Não pule linhas para isolar o título;
13. Não repita a proposta de redação dada pela banca como seu título, exceto se esta exigir que isso seja feito;

Tese → é o posicionamento ou ponto de vista do participante diante do tema e da situação-problema apresentada nos textos
motivadores. Trata-se da ideia que você vai defender, devendo estar relacionada ao tema e apoiada em argumentos ao longo do texto.
Sua tese deve ser apresentada logo no primeiro parágrafo (introdução), em forma de período simples ou composto.
Observe o modelo:

O aumento dos casos de dengue, no Brasil, não pode ser visto, hodiernamente, como um mero problema de saúde.

Trata-se de uma grave questão social cujo combate requer medidas eficazes.

Urge, pois, que o poder público se mobilize no sentido de superar esse desafio.

Legendas
– Apresentação do tema
– Tese
– Fechamento do parágrafo

Para construir uma boa tese, são necessárias algumas ações, tais como:
 Fazer uma ampla pesquisa sobre o tema a ser discutido;
 Coletar informações e transformá-las em argumentos que sustentem sua tese;
 Reconhecer as diferentes opiniões sobre o tema e usá-las a seu favor;
 Elencar fatos e a partir deles criar uma tese;
 Distinguir juízo de fato × juízo de valor.

Juízo

Juízo de Fato Juízo de Valor


Evidencia como as coisas realmente são. Emite opinião, julgamento sobre algo.
Uma opinião ou um julgamento pode ser
Não há como fazer a defesa de um fato.
defendido.
Sua existência não está subordinada a
Meio subjetivo de analisar o fato.
quem o escreve.
Ex.: Equacionar o problema da corrupção
Ex.: A corrupção é um dos elementos no Brasil é inadiável, pois a continuidade
responsáveis pelo atraso social no Brasil. de práticas ilícitas contribui para o atraso
nacional.

Anual – Volume 3 103


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
ESTUDO DE CASO
OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS BRASILEIROS
PARA O ACESSO À SAÚDE PÚBLICA

É notório que o acesso à saúde pública, no Brasil hodierno, é um desafio que compromete o bem-estar social. Isso se
deve, sobretudo, à elevada demanda por atendimentos e à ausência de profissionais, especialmente, nos Interiores do país. Dessa
maneira, é de substancial relevância que o Poder Público e as mídias realizem providências cabíveis.
Sob esse viés, a crescente demanda por atendimento na saúde pública é um desafio para atender às necessidades da sociedade,
uma vez que, diante da falta de infraestrutura e esclarecimento informacional, essencialmente nas periferias dos grandes centros urbanos,
o cidadão fica suscetível à contaminação de parasitoses, por exemplo. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha em parceria com o
Conselho Federal de Medicina, 44% dos entrevistados esperavam há mais de um ano para agendar uma cirurgia e 19% aguardavam
há dois meses ou mais por consulta ou atendimento médico. Em razão disso, a proliferação de doenças aumenta vertiginosamente,
ocasionando superlotação nos atendimentos de saúde e instabilidade social.
Outrossim, a falta de profissionais, notadamente nos Interiores do Brasil, dificulta o acesso do indivíduo a um atendimento
de saúde de qualidade. Quando foi criado pela Constituição de 1988, o SUS tinha como base os princípios da universalidade,
integralidade e equidade, mas a prática é completamente diferente. Falta infraestrutura tecnológica nas regiões interioranas e é
escasso o número de médicos dispostos a lidar com esse inconveniente. Em consequência disso, a população sofre com o descaso
público, o qual gera longas e infindáveis filas de espera, comprometendo o bem-estar social.
Destarte, é de fulcral relevância o combate aos desafios do acesso à saúde gratuita. Para tanto, o Poder Público, em conjunto
com as mídias, deve intensificar as políticas de profilaxia, por meio de campanhas e palestras ministradas por profissionais de endemias,
além de compartilhar postagens nas redes sociais e promover melhorias estruturais de saneamento básico, a fim de conscientizar a
população sobre os riscos e, assim, reduzir os casos de doenças e suprir a demanda no atendimento. Ademais, urge que as secretarias
municipais busquem verbas para a aquisição de aparelhos modernos, com o intuito de melhorar a oferta de consultas e internamentos,
a fim de mitigar a superlotação.
Otávio Lopes FB Med.

RECONHECENDO O PLANEJAMENTO DA REDAÇÃO

TEMA: SAÚDE PÚBLICA


TESE (NEGATIVA): _______________________________________

ARG. 1 (CAUSA):_______________

CAUSA 1: _______________________

REPERTÓRIO 1: __________________

ARG. 2 (CAUSA):_______________

CAUSA 2: _______________________

REPERTÓRIO 2: __________________

SOLUÇÃO:
1. AGENTE: _____________________________________________________________________________________________________
2. AÇÃO: _______________________________________________________________________________________________________
3. DETALHAMENTO: _____________________________________________________________________________________________
4. MEIO: ________________________________________________________________________________________________________
5. FINALIDADE/EFEITO: __________________________________________________________________________________________
Respostas:
5. Finalidade: Conscientizar/contratar mais profissionais.
4. Meio: Campanhas e palestras de conscientização.
3. Detalhamento: Postagens em redes sociais.
profissionais.
2. Ação: Políticas de profilaxia e ampliação do número de
1. Agente: Poder público.
Solução:

Repertório 2: Constituição de 1988 e a criação do SUS.


Causa 2: Longas filas.
Arg. 2 (desafio): Falta de profissionais.

Federal de Medicina.
Repertório 1: Instituto Datafolha em parceria com o Conselho
Causa 1: Susceptibilidade à contaminação por parasitose.
Arg. 1 (desafio): Grande demanda por atendimento.

bem-estar.
Tese (negativa): O precário acesso à saúde compromete o

104 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
ESPAÇO DA LEITURA
Fique de Olho
PARA 31%, BRASIL NUNCA DEVE VIOLAR LEI
INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
ASPECTOS FORMAIS DA LÍNGUA
Segundo pesquisa em 24 países, país é o quinto que menos
Infinitivo pessoal e impessoal concorda com a questão

Nossa língua possui dois infinitivos: o pessoal (conjugável, Flávia Mantovani


por isso variável) e o impessoal (invariável). Ao infinitivo dá-se
o nome de verbo regido, enquanto ao outro verbo se chamará
regente. SÃO PAULO Três em cada dez brasileiros (31%) acreditam
que o país nunca deve violar a lei internacional de direitos
Emprega-se o infinitivo pessoal: humanos, aponta pesquisa feita em 24 países. Segundo o
levantamento, o Brasil é o quinto país que menos concorda com a
1) Quando os sujeitos dos verbos são diferentes:
questão – a média global é de 38%.
Comprei estes livros para meus filhos estudarem/Eles supunham
Os dados são do instituto Ipsos, que entrevistou 17 mil
estarmos sonegando imposto.
pessoas entre abril e maio deste ano. No Brasil, foram ouvidas cerca
2) Quando houver coincidência de sujeitos, não se flexiona o de mil pessoas, e a margem de erro é de 3,1 pontos percentuais.
infinitivo:
Queremos saber toda a verdade/Eles precisam encontrar o

Fabrice Coffrini/AFP
caminho.
3) Quando ele for usado antes do verbo regente:
Ao chegarem ao colégio, os alunos entraram em forma.
4) Quando ele iniciar uma oração que represente sujeito do verbo
“parecer”, usado no singular:
As estrelas parecia brilharem com mais intensidade.
5) Quando ele estiver muito distante do verbo regente, para efeito
de clareza:
Deixem as pobres crianças desta escola brincarem.

Emprega-se o infinitivo impessoal:


1) Quando ele tiver sujeito igual ao do verbo regente:
Devemos praticar o bem.
Reunião do Conselho de Direito Humanos da ONU,
2) Quando ele depender dos verbos “deixar”, “fazer”, “mandar”, em Genebra.
“ouvir”, “ver” e “sentir”:
Mande sair as crianças/Vi morrer os soldados. Segundo os resultados, a Polônia é o país que mais acredita
que as leis de direitos humanos não devem ser violadas, com 58%
3) Quando ele depender dos verbos “obrigar a”, “ensinar a”,
“aconselhar a” e semelhantes: de respostas positivas para essa questão. Em seguida vêm Hungria
Aconselhei os presentes a permanecer sentados. e Espanha, ambas com 49%.
Na outra ponta está a Coreia do Sul, em que apenas
4) Quando ele depender de um substantivo ou de um adjetivo:
13% responderam que o país deve respeitar as leis de direitos
Eram lições difíceis de ser aprendidas.
humanos sempre. Depois vêm Malásia (22%), Japão (24%) e
5) Quando o infinitivo estiver antecedido de preposição: Estados Unidos (31%).
Estamos dispostos a colaborar contigo/Eles têm a certeza de No Brasil, além dos 31% que acreditam que a lei internacional
estar com a razão. de direitos humanos nunca deve ser violada, 21% disseram que ela
Obs.: Nesse caso, a flexão será obrigatória se o verbo regido de pode ser quebrada em circunstâncias extremas, e 20%, que ela deve
preposição for pronominal ou se exprimir reciprocidade ser levada em conta tanto quanto outros fatores na hora de tomar
ou reflexibilidade da ação:
decisões. Para 5%, ela deve ser ignorada.
Os adversários foram convidados a se abraçarem/Sugiro
Quando os entrevistados foram questionados sobre o que
que vocês saiam para se entenderem lá fora/Entrem para
se vestirem. deve ser mais importante para os líderes brasileiros ao decidir sobre
as relações com outros países, os benefícios econômicos vieram em
6) Sempre que na locução verbal o auxiliar estiver no gerúndio, primeiro lugar, citados por 39%.
usa-se o infinitivo impessoal:
Em seguida, aparecem benefícios de segurança (32%) e
Podendo os débitos ser renovados/Devendo as mensalidades
impacto ambiental no país (25%). Os direitos humanos foram
ser pagas.
mencionados por 22%, empatados com “se o país é ou não uma
7) Na voz passiva formada com o infinitivo regido da preposição democracia” e “se o país obedece ou não as leis internacionais”.
“de”: Rússia (65%), Malásia (63%) e Coreia do Sul (61%) são os
Coisas duras de dizer = serem ditas/Livros fáceis de ler = serem
países que mais valorizam os benefícios econômicos.
lidos.

Anual – Volume 3 105


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Para 36% dos brasileiros, o Brasil deve ter papel ativo e deveria intervir para impedir que outra nação continue a cometer crimes
de guerra. Globalmente, 41% acreditam que o seu país deveria intervir. A Índia possui o índice mais alto, com 66%, e o Japão, o mais
baixo: só 20% defendem que o governo intervenha em uma situação como essa.
O Japão é o país que menos concorda com a afirmação (31%). O Brasil está empatado com México e Argentina. Por outro lado,
a Polônia é a nação que mais concorda com essa situação (67%), seguida por Índia (65%) e África do Sul (63%).
O levantamento também perguntou se as Forças Armadas deveriam sempre evitar baixas civis e seguir as regras de guerra
antes do interesse nacional de seu país. O Brasil foi o país com mais pessoas discordando dessa afirmação (25%). Globalmente, 53%
concordaram com a questão.

Disponível em : <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/07/para-3-em-cada-10-brasileiros-pais-nunca-deve-violar-lei-de-direitos-humanos.shtml>.

Proposta de Redação

TEXTOS MOTIVADORES
(IFPE/2018.2)
Texto I
A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Os direitos humanos consistem em direitos naturais garantidos a todo e qualquer indivíduo, e que devem ser universais,
isto é, se estender a pessoas de todos os povos e nações, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, nacionalidade ou
posicionamento político.
São exemplos de direitos humanos o direito à vida, à integridade física, à dignidade, entre outros. A Declaração Universal dos
Direitos Humanos foi criada com a liderança da Organização das Nações Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial.
No Brasil, os direitos humanos são garantidos na Constituição Federal de 1988, a qual garante os direitos civis, políticos, econômicos,
sociais e culturais dos nossos cidadãos. Essas garantias aparecem, por exemplo, logo no primeiro artigo, em que é estabelecido o
principio da cidadania, da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Já no artigo 5º, é estabelecido o direito à vida,
à privacidade, à igualdade, à liberdade e outros importantes direitos fundamentais, sejam eles individuais ou coletivos.
Disponível em: <http://www.politize.com.br/direitos-humanos-no-brasil/>. Acesso em: 10 maio 2018. Adaptado.

Texto II
VIOLAÇÕES CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES FORAM AS MAIS DENUNCIADAS NO DISQUE 100

A Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos recebeu 133.061 mil denúncias de violação de direitos humanos no ano de 2016.
O módulo Crianças e Adolescentes lidera a quantidade de ligações que o Disque Direitos Humanos - Disque 100 - registra, somando
76 mil atendimentos, 58% do total. Pessoa Idosa (32.632) e com Deficiência (9.011) ocupam, respectivamente, o segundo e terceiro
lugar no recebimento de denúncias.

DENÚNCIAS DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS, EM 2017


Dados se referem aos casos relatados pelo Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos.

1,21% 0,7%

0,65%
8,19%
Crianças e adolescentes: 58,91%

Outros: 3,86%

Pessoas em restrição de liberdade:


3,26%

23,22% Pessoa idosa: 23,22%

Igualdade racial: 0,65%


58,91%
LGBT: 1,21%

Pessoas com deficiência: 8,19%


3,26%
3,86% Pessoas em situação de rua: 0,7%

Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/noticias/2017/abrc/disque-100-recebeu-mais-de-131-mil-denuncias-de-violacoes-de-direitos-humanos-em-2016>.


Acesso em: 10 maio 2018. Adaptado.

106 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Texto III

Reprodução/IFPE 2018.2
Disponível em: <http://valdecyalves.blogspot.com.br/2015/12/10-de-dezembro-de-2015-dia.html>.
Acesso em: 10 maio 2018. Adaptado.

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto
dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Como garantir o cumprimento
dos direitos humanos no Brasil?”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Exercícios de Fixação

• Texto para responder às questões de 01 a 05.

NICK VUJICIC: AUSTRALIANO SEM BRAÇOS E PERNAS PASSARÁ EM 5 CIDADES DO BRASIL EM OUTUBRO DE 2016

Histórias de superação são sempre fascinantes, porque nos mostram que vencer as dificuldades, por piores que elas sejam,
é possível. A incrível e emocionante vida do australiano Nick Vujicic já tinha sido transformada em livros, e agora ele chega com uma
turnê ao vivo entre 3 e 8 de outubro no Brasil. Já estão confirmadas as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
Nick Vujicic nasceu sem pernas e sem braços devido a uma síndrome rara, denominada tetra-amelia, que ocorre por falha na
formação embrionária. Apesar de suas limitações, aprendeu a escrever com a boca, a digitar, nadar, mergulhar, surfar, jogar futebol, andar
de skate, jogar golfe... Formou-se em Economia e Contabilidade, casou-se e é pai. Não satisfeito, tornou-se palestrante motivacional e
escritor best-seller. Já falou para mais de seis milhões de pessoas, em 50 países, sendo sempre ovacionado pelo público.
“Sabe por que consigo fazer tudo isso? Porque não tenho medo de dificuldades e me esforço bastante!”, conta Nick, no
seu livro Me Dá Um Abraço, lançado pela editora Mundo Cristão. Em oito capítulos ricamente ilustrados, o autor narra alguns
acontecimentos que mais marcaram sua vida, sempre ressaltando a importância do amor e dos gestos daqueles que influenciaram
positivamente sua trajetória. Logo no primeiro capítulo ele traz o emocionante relato sobre um encontro com uma garotinha de
três anos de idade, que o olhava espantada, mas que, para a surpresa dele, aproximou-se para abraçá-lo com os braços para trás.
“Que jeito mais especial de abraçar! Esticou o pescoço, apoiou a cabeça em meu ombro e pressionou seu pescoço de leve contra o
meu. Nós nos abraçamos como duas girafas”, escreveu.

Disponível em: <https://noticias.terra.com.br/dino/nick-vujicic-australiano-sem-bracos-e-pernas-passara-em-5-cidades-do-brasil-em-outubrode-2016,980ba27b0a6


dc406c5664e4e45e0a12ad1jp4dqy.html.>

01. (Consulplan) É possível identificar elementos que constituem um discurso subjetivo em:
A) “Formou-se em Economia e Contabilidade, casou-se e é pai.” (2º§)
B) “[...] conta Nick, no seu livro Me Dá Um Abraço, lançado pela editora Mundo Cristão.” (3º§)
C) “Histórias de superação são sempre fascinantes, porque nos mostram que vencer as dificuldades, por piores que elas sejam, é
possível.” (1º§)
D) “Nick Vujicic nasceu sem pernas e sem braços devido a uma síndrome rara, denominada tetra-amelia, que ocorre por falha na
formação embrionária.” (2º§)

Anual – Volume 3 107


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
02. (Consulplan) Dentre as estratégias de referenciação pode- De qualquer jeito, se você achava que a Terra ainda está
se indicar a retomada do objeto já presente no discurso. repleta de vastas áreas intocadas pela nossa espécie, pense de novo.
Dentre os trechos a seguir, tal estratégia só não pode ser A pesquisa, que acaba de sair na revista “Science”, indica
identificada em: que mais da metade dos pedaços de chão não atravessados por
A) “[...] que ocorre por falha na formação embrionária.” (2º§) estradas têm área de menos de 1 km², e 80% desses trechos medem
B) “A incrível e emocionante vida do australiano Nick Vujicic menos de 5 km² de área. Grandes áreas contínuas (com mais de 100
[...]” (1º§) km²), sem brechas abertas especificamente para o tráfego humano,
C) “Apesar de suas limitações, aprendeu a escrever com a boca, são apenas 7% do total.
[...]” (2º§) E daí? Decerto uma estradinha passando nas vizinhas não
D) “[...] e agora ele chega com uma turnê ao vivo entre 3 e 8 faz tão mal assim, faz? Muito pelo contrário, indica a literatura
de outubro no Brasil.” (1º§) científica avaliada pela equipe do estudo, que inclui a brasileira
Mariana Vale, do Departamento de Ecologia da UFRJ.
03. (Consulplan) As sugestões de alterações para os trechos Para calcular as fatias em que o planeta foi picado,
selecionados a seguir apresentam mudança de pessoa verbal. Mariana e seus colegas utilizaram como critério uma distância de
Dentre as sugestões pode-se afirmar que ocorre inadequação pelo menos 1 km da estrada mais próxima – isso porque distâncias
gramatical apenas em: iguais ou inferiores a 1 km estão ligadas a uma série de efeitos
A) “[...] o autor narra alguns acontecimentos [...]” (3º§) – negativos das estradas sobre os ambientes naturais que cortam.
tu narras alguns acontecimentos. Estradas são, é claro, vias de acesso para caçadores e
B) “Nós nos abraçamos como duas girafas, [...]” (3º§) – Vós gente munida de motosserras; trazem poluentes dos carros e
vos abraçastes como duas girafas. caminhões para as matas e os rios; além de trazer gente, trazem
C) “Porque não tenho medo de dificuldades e me esforço espécies invasoras (não nativas da região) que muitas vezes
bastante!” (3º§) – Porque não tendes medo de dificuldades deixam as criaturas nativas em maus lençóis. Considere ainda que
e te esforçais bastante! estradas, em certo sentido, dão cria: a abertura de uma rodovia
D) “Apesar de suas limitações, aprendeu a escrever com a boca, em regiões como a Amazônia quase inevitavelmente estimula a
[...]” (2º§) – Apesar de nossas limitações, aprendêramos a abertura de ramais secundários, dos quais nascem outras picadas,
escrever com a boca. num processo que vai capilarizando a devastação. [...]
Reinaldo José Lopes. Folha de S. Paulo. 18 de dezembro de 2016.
04. (Consulplan) Caso o termo “dificuldades” tivesse sido
introduzido no texto anteriormente ao trecho “vencer as
dificuldades” (1º§), haveria correção gramatical e coesiva em 01. (Consulplan) Para compor o discurso dissertativo-argumentativo,
sua substituição por: o articulista utilizou alguns recursos referentes a tal tipo textual.
A) Vencê-las. B) Vencê-lhes. Analise os elementos apresentados a seguir.
C) Vencer-nas. D) Vencer-lhes. I. Exemplos;
II. Digressões;
05. (Consulplan) Considerando a relação de regência verbal e o III. Dados estatísticos;
estudo da crase, assinale a alteração de “devido a uma síndrome IV. Progressão temporal;
rara” (2º§) em que há correção gramatical V. Apresentação de fatos;
A) devido à sintoma raro. VI. Consistência do raciocínio.
B) devido à síndrome rara.
C) de acordo à síndrome rara.
Dentre os elementos citados anteriormente, fazem parte da
D) em relação à uma síndrome rara.
constituição do texto apresentado apenas
A) I, V e VI B) I, III, IV e V
C) I, III, V e VI D) II, III, IV e VI
Exercícios Propostos
02. (Consulplan) Assinale a opção em que ocorre desvio de
concordância verbal:
• Texto para responder às questões de 01 a 10.
A) “Dois toques na tela do celular são suficientes...”
ESTRADAS PARA A PERDIÇÃO? B) “ – ainda faltam dados a respeito de certas áreas...
C) “...80% desses trechos medem menos de 5 km² de área.”
Numa época em que quase todo mundo carrega um GPS D) ”... isso porque distâncias iguais ou inferiores a 1 km estão
facílimo de operar no bolso ou na bolsa, imagens de satélite nunca ligadas...”
foram tão banais. Dois toques na tela do celular são suficientes para E) “Estradas são, é claro, vias de acesso para caçadores...”
que o sujeito consiga examinar uma representação mais ou menos
realista e atualizada da Terra vista do espaço. 03. (Consulplan) A expressão “um ‘bolo planetário’ cortado em 600
Mesmo assim, uma forma inovadora de enxergar o nosso mil pedacinhos.” (2º§) apresenta a impressão do autor acerca
planeta, bolada por uma equipe internacional de cientistas, é capaz da situação apresentada através do emprego de uma figura de
de deixar surpreso – e cabreiro – quem ainda tem um pouco de linguagem que pode ser observada no exemplo dado em:
imaginação. O trabalho revela um globo retalhado por estradas, um A) “Comerás o pão com o suor do teu rosto.”
“bolo planetário” cortado em 600 mil pedacinhos. B) “A urbanização está destruindo os pulmões da cidade.”
Note, aliás, que essa estimativa do número de fatias C) “Soube que é um pobre rapaz rico que não sabe nada da
separadas pela ação humana provavelmente é conservadora – vida.”
ainda faltam dados a respeito de certas áreas, o que significa que D) “Continuando o desmatamento não sobrará uma sombra
o impacto global das estradas deve ser ainda maior. de pé.”

108 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
04. (Consulplan) O título do texto apresenta-se em forma de um 10. (Consulplan) A locução empregada para introduzir o 2º§
questionamento. Em relação a tal pergunta é correto afirmar que estabelece, em relação ao parágrafo anterior, um sentido que
A) a resposta é apresentada de modo objetivo e direto. seria preservado havendo substituição dela por:
B) a resposta negativa advém da constatação de dados reais. A) Pois que.
C) a partir dos dados apresentados é possível identificar uma
B) Visto que.
resposta positiva para a indagação feita.
C) Mas também.
D) caso fosse transformada em uma frase nominal, excluindo-se
o ponto de interrogação, sua adequação e sentido original D) Não obstante.
seriam preservados.
Seção Videoaula
05. (Consulplan) Em “... dos quais nascem outras picadas,...”
(8º§), o termo em destaque tem um referente que retoma
um objeto introduzido no texto:
A) Outras picadas. Regência Verbal – Parte I
B) Abertura de ramais.
C) Ramais secundários.
D) Regiões como a Amazônia.

06. (Consulplan) Assinale a alternativa em que o sentido de “aliás”


foi corretamente descrito:
Regência Verbal – Parte II
“Note, aliás, que essa estimativa ...”

A) adição B) adversidade
C) concessão D) ratificação
E) ressalva
Regência Verbal – Parte III
07. (Consulplan) É possível constatar no texto o emprego de uma
variedade linguística informal através das expressões “bolada”
e “cabreiro”, por exemplo. Ocorre, porém, que também é
possível reconhecer o emprego da variedade culta ultraformal
da língua através da expressão vista no trecho: Aula 14:

A) “[…] todo mundo carrega um GPS facílimo de operar no C-6 H-18, 22

bolso ou na bolsa, […]” (1º§)


Aula As Estratégias Argumentativas C-8 H-23, 27
B) “[…] essa estimativa do número de fatias separadas pela 14 e a sua Aplicação
ação humana provavelmente é conservadora […]” (3º§)
C) “[…] mais da metade dos pedaços de chão não atravessados
por estradas têm área de menos de 1 km², […]” (5º§)
D) “[...] indica a literatura científica avaliada pela equipe Estratégias argumentativas são todos os recursos
(verbais e não verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte,
do estudo, que inclui a brasileira Mariana Vale, do
para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo
Departamento de Ecologia da UFRJ.” (6º§) mais facilmente, para gerar credibilidade etc.
Os exemplos a seguir poderão dar melhor ideia acerca do
08. (Consulplan) A expressão em destaque em “Estradas são, é que estamos falando.
claro, vias de acesso para caçadores [...]” (8º§) aparece entre A clareza do texto – para citar um primeiro exemplo – é
vírgulas por indicar uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo claro,
A) elipse de verbo em estrutura de coordenação. o leitor/ouvinte poderá entender, e entendendo, poderá concordar
B) uso de locução que expressa conexão discursiva. com o que está sendo exposto. Portanto, para conquistar o
C) separação de oração coordenada de valor não aditivo. leitor/ouvinte, quem fala ou escreve vai procurar por todos os meios
D) acréscimo de oração justaposta para registro de ato de ser claro, isto é, utilizar-se da estratégia da clareza. A clareza não
fala. é, pois, um argumento, mas é um meio (estratégia) imprescindível,
para obter adesão das mentes, dos espíritos.
O emprego da linguagem culta formal deve ser visto
09. (Consulplan) No 3º§ do texto, o autor faz uma referência
como algo muito es-tra-té-gi-co em muitos tipos de texto.
a dados anteriormente expressos aplicando, deste modo,
Com tal emprego, afirmamos nossa autoridade (= “Eu sei escrever.
recurso que contribui para a progressão textual. A respeito da Eu domino a língua! Eu sou culto!”) e com isso reforçamos, damos
organização das ideias neste parágrafo pode-se afirmar que maior credibilidade ao nosso texto. Imagine, então, um advogado
A) o autor assume que o posicionamento explicitado em escrevendo mal ... (“Ele não sabe nem escrever! Seus conhecimentos
relação à estimativa é hipotético. jurídicos também devem ser precários!”).
B) para o autor, os dados apresentados são ambíguos, Em outros contextos, o emprego da linguagem formal
permitindo interpretações variadas. e até mesmo popular poderá ser estratégico, pois, com isso,
C) a afirmação acerca do conservadorismo indica uma consegue-se mais facilmente atingir o ouvinte/leitor de classes
conclusão cuja certeza do autor pode ser comprovada. menos favorecidas.
D) indistintamente, a característica apresentada da ação O título ou o início do texto (escrito/falado) devem ser
humana reflete uma característica pessoal do autor do texto utilizados como estratégias ... como estratégia para captar a atenção
de acordo com o posicionamento por ele assumido. do ouvinte/leitor imediatamente. De nada valem nossos argumentos
se não são ouvidos/lidos.

Anual – Volume 3 109


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
A utilização de vários argumentos, sua disposição ao censura, mas como um procedimento necessário à clareza e
longo do texto, o ataque às fontes adversárias, as antecipações à concisão sugeridas para o texto opinativo.
ou prolepses (quando o escritor/orador prevê a argumentação do Em uma situação de concurso, quando o tempo deve
adversário e responde a ela), a qualificação das fontes, a utilização da ser considerado, o bom e treinado enunciador faz uma sábia
ironia, da linguagem agressiva, da repetição, das perguntas retóricas, repartição do tempo, na qual reserva, segundo sua capacidade
das exclamações etc. são alguns outros exemplos de estratégias. individual, cerca de dois terços do horário disponível para
Passaremos a examinar os principais articuladores que a reescrita (aspectos estilísticos e textuais) e para a revisão
contribuem para a organização textual e sua efetiva estratégia (elementos ortográficos e gramaticais).
argumentativa. A experiência colhida ao longo de duas dezenas de anos
dedicados à preparação de redatores para a escrita de textos em
Principais articuladores textuais concursos permite fazer treinamento cujos resultados se têm
mostrado significativamente positivos:
a) proceda-se à leitura completa do texto reescrito, o que irá permitir
Para parágrafos de introdução uma visão do conjunto formado pela composição;
b) em seguida, releia-se, por ordem, cada unidade textual
É possível que...
compreendida no interior de um parágrafo;
É certo que...
c) tome-se, ainda por ordem, cada oração formadora dos períodos
Acontecimentos recentes ...
e esgote-se uma visão sobre ortografia e acentuação, sobre o
Em recente estudo sobre ...
uso da crase, as regências usuais dos verbos e dos nomes e as
Pode-se aceitar que...
concordâncias verbais, nominais e verbo-nominais, sem esquecer
É inegável ...
a sintaxe de colocação dos pronomes oblíquos;
É consenso geral ...
d) releve-se a necessidade de uso, durante o treinamento, do
Discute-se insistentemente
instrumental necessário a todo produtor textual: um bom
A questão do... vem provocando ...
dicionário, uma boa gramática, um bom tira-dúvida e um
Segundo opinião geral ...
razoável guia ou breviário de conjugação verbal, pois na prática
desses recursos de revisão é que é construída a competência
Para análise – parágrafos de desenvolvimento necessária ao bom desempenho nas situações nas quais o emissor
se sentirá solitário;
É preciso ... em primeiro lugar... e) repassar todo o texto e verificar se entre os parágrafos existem
É preciso lembrar, em primeiro lugar,... em evidência os articuladores / marcadores textuais;
... considerar... f) por último, deve-se proceder à releitura da redação, quando se
... observar... deve passar o texto a limpo, cuidando da atenção e do asseio e
... analisar... caprichando na letra, pois examinador, editor ou leitor devem ler
Analise-se a questão o escrito sem dificuldade, porque para este fim são despendidos
Analise-se inicialmente... todos os esforços e treinamento do enunciador.
Trate-se inicialmente...
Com efeito... É importante desenvolver essa prática, pois representa o
aspecto mais sério da escrita, quando se tem oportunidade de
Para continuação da análise – verificar se se manteve no tema proposto, se se atingiu o objetivo
parágrafos de desenvolvimento pretendido e de fazer os cortes necessários à concisão, mantendo
a lógica e a objetividade do texto.
Não se pode esquecer... Para isso, faça a leitura da redação a seguir:
Nota-se, por outro lado,...
Observe-se também... A moral de uma época nunca pode se desvencilhar
Insista-se no fato de que... do seu momento histórico. O conjunto de normas sociais
Por último... considerado coerente e por vezes nem percebido por alguns
Além disso... devido sua suave inerência teoricamente não aceita distorções
Acrescente-se... externas para talvez mudar.
No Brasil desde a chegada dos portugueses até hoje
Paralelamente...
observa-se uma constante mudanças de modos e costumes.
Antes os índios com sua vida igualitária e suas poucas ou
Para a conclusão nenhuma vestes foram aniquilados culturalmente por uma
ideologia capitalista e católica que condenava imoral e herege
Portanto.... o modo de vida anteriormente adotado e executado.
Assim... D e v i d o à s , re l a t i v a m e n t e , r á p i d a s m u d a n ç a s
Finalmente... históricas deste último século, vive-se uma moral efêmera
Em suma, e manipulável. O avanço tecnológico no ramo das
Dessa forma, telecomunicações influencia neste processo à nível global
Definitivamente, fazendo que as culturas dominantes economicamente pelo
menos, se mesclem com outras dando origem à várias
Uma das fases mais importantes na produção de mudanças culturais.
dissertações é a revisão do texto. Esta envolve, além dos aspectos Não se pode adotar posturas radicais nem para a
textuais e estilísticos, os elementos ortográficos e gramaticais. influência estrangeira nem para nacionalismos exagerados.
A objetividade é outro dado a ser considerado, porém tal fase É preciso assumir uma postura crítica, sendo coerente e
e o planejamento se colocam em momento anterior da escrita, atencioso para descobrir os benefícios ou prejuízos desta
quando a disciplina não seja perseguida como uma espécie de nova moral.

110 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
O tema proposto foi: O conector “nesse sentido”, pela sua característica
regressiva, retoma todo o primeiro período, e a textualidade torna-
“Cada roca tem seu fuso e cada época tem seu uso.”
se evidente porque atribuídas coesão e clareza ao parágrafo. Esse
A leitura preliminar leva a concordar que o enunciador se procedimento dá a garantia da compreensibilidade da alínea textual.
manteve no tema, embora o tenha delimitado, e atingiu o objetivo Passe-se, à releitura do segundo parágrafo:
de demonstrar argumentadamente aquilo que o assunto sugeriu.
Agora, repartindo o texto em unidades menores, No Brasil desde a chegada dos portugueses até hoje
proceda-se às revisões necessárias conforme sugerido observa-se uma constante mudança de modos e costumes.
anteriormente: Antes os índios com sua vida igualitária e suas poucas ou
Releia-se o primeiro parágrafo. nenhuma vestes foram aniquilados culturalmente por uma
ideologia capitalista e católica que condenava imoral e herege
A moral de uma época nunca pode se desvencilhar o modo de vida anteriormente adotado e executado.
do seu momento histórico. O conjunto de normas sociais
considerado coerente e por vezes nem percebido por alguns No tópico frasal houve a inversão do adjunto adverbial
devido a sua suave inerência, teoricamente, não aceita “desde a chegada dos portugueses até hoje”, o mesmo ocorrendo
distorções, necessitando de influências externas para talvez com o outro adjunto adverbial “No Brasil” pertencente à oração.
mudar. Duas providências resolveriam o problema: Primeira, o adjunto
adverbial deslocado poderia ir para o seu lugar: “Observa-se uma
No primeiro período, é identificado um erro de sintaxe de constante mudança de modos e costumes no Brasil”; Segunda,
colocação pronominal. A presença do advérbio “nunca” antes da o deslocamento do adjunto seria indicado por uma vírgula, assim:
locução verbal “pode desvencilhar” faz com que o oblíquo deva “No Brasil, observa-se uma constante mudança de modos e
ser colocado antes ou depois da locução. Assim, “nunca pode costumes”.
desvencilhar-se” ou “nunca se pode desvencilhar”. O possessivo Tratando-se de um texto dissertativo, no qual a clareza é
presente no período pode ser dispensado sem que o texto perca a exigência textual maior, o enunciador deve dar preferência à
a clareza, pois melhora a concisão. A reescrita deve ser “... do primeira forma. Procedimentos semelhantes seriam aplicados ao
momento histórico.” deslocamento do outro adjunto adverbial: Primeiro, colocá-lo no
É preciso não esquecer: texto conciso, no qual, com o lugar adequado, no final da oração: “Observa-se uma constante
menor número de palavras, consegue-se passar o máximo de mudança de modos e costumes no Brasil desde a chegada dos
informações, possui melhor qualidade. portugueses até hoje”; segundo, marcar o deslocamento por
No segundo período, o fluxo das ideias traiu o enunciador. vírgula: “Desde a chegada dos portugueses até hoje, observa-se uma
O fragmento “... devido a sua suave inerência teoricamente ...” constante mudança de modos e costumes no Brasil.” Por motivos
figura sem sentido, numa ideia perdida do autor. Logo, deve ser já explicados, o primeiro procedimento é preferível ao segundo.
eliminado. “O conjunto de normas sociais considerado coerente...” Ainda nesse período atente para a redundância de ordem
pode tornar-se conciso como “As normas sociais consideradas semântica: “... desde a chegada dos portugueses até hoje.”
coerentes...”. O adjunto adverbial “às vezes” deve ser deslocado Ora, a presença portuguesa no Brasil é uma constante desde que
para o lugar, junto do verbo, “... percebido por vezes...” aqui desembarcaram, portanto a expressão temporal “até hoje”
Mantendo-se a inversão, o enunciador obriga-se a colocar o constitui repetição de conteúdo ideológico, logo, dispensável,
adjunto adverbial entre vírgulas, assim: “... coerente e, por porque é localizável em nível de repertório. O período seria reescrito:
“Observa-se uma constante mudança de modos e costumes no
vezes, despercebidas por alguns...”, ocasião em que se trata do
Brasil desde a chegada dos portugueses.”
vocabulário apropriado (nem percebidas = despercebidas). O verbo
No segundo período desse parágrafo, a necessidade
“necessitar” foi empregado no gerúndio.
de reescrita e de correção é maior. Perceba-se inicialmente a
O texto seria melhorado se se procedesse ao uso do
inadequação de informações como “ideologia capitalista e católica”.
paralelismo. O verbo anterior, “aceitar”, encontra-se no presente
Não se tratava disso na época. Assim, a expressão “ideologia
do indicativo e deve-se fazer o mesmo com o verbo “necessitar”, capitalista” não pode ser empregada, tampouco “ideologia
apoiando-se em uma conjunção aditiva “e” e a oração torna-se católica”. Seria mais adequado reescrever “postura católica de
desenvolvida: “...não aceitam distorções e necessitam ...”, assim então”. Ocorre o mesmo com as “poucas ou nenhuma vestes dos
fez-se a concordância dos verbos com normas da reescrita. índios”, preferível seria limitar-se “poucas vestes”, uma vez que um
Falta acento gráfico na palavra proparoxítona influências, e a simples cocar representava a veste completa para o índio.
redundância “influências externas” pode ser eliminada, bastando Ainda no mesmo período, “aniquilados culturalmente” seria
figurar “influências”, vez que toda influência é externa. A palavra talvez substituída por “aculturados”; e “o modo de vida anteriormente
não tem justificativa, sobra no período, portanto deve-se eliminá-la. adotado e executado” ficaria livre de redundâncias pela reescrita: esse
O parágrafo poderia ser reescrito como segue: modo de viver, quando seria evitada a repetição da palavra “vida”.
Em nível gramatical, observe-se a necessidade de marcar,
com vírgula, o deslocamento do adjunto adverbial “antes”,
A moral de uma época nunca pode desvencilhar-se de eliminar o possessivo “suas”, trocando-o pelo artigo “as”. Atente
do momento histórico. As normas sociais consideradas para o verbo “condenar”.
coerentes e, por vezes, despercebidas por alguns não aceitam Outra forma seria substituí-lo por “considerar”, pois este
distorções e necessitam de influências para mudar. também é transitivo direto. O adjunto “antes” é incongruente e
deve ser dispensado.
Está pronta a reescrita? Não. Deve-se tornar evidente o elo O parágrafo poderia ser reescrito como segue:
de coesão entre os dois períodos. Assim:
Observa-se uma constante mudança de costumes no
A moral de uma época nunca pode desvencilhar-se Brasil desde a chegada dos portugueses. Os índios, com a vida
do momento histórico. As normas sociais consideradas igualitária e as poucas vestes, foram aculturados pela postura
coerentes nesse sentido e, por vezes, despercebidas por alguns católica de então, que considerava imoral e herege esse modo
não aceitam distorções e necessitam de influências para mudar. de viver.

Anual – Volume 3 111


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Está pronta a reescrita? Claro. O adjunto adverbial “antes” No tópico frasal sobram conjunções “nem”. Como existem
constrói a ligação coesiva entre os dois períodos do parágrafo pela apenas dois elementos: “influência estrangeira” e “nacionalismos
relevância semântica que institui em nível temporal do repertório. exagerados”, destaca-se a necessidade do advérbio “não” para o
elemento da primeira oração e de uma única conjunção “nem” no
Passe-se, então à releitura do terceiro parágrafo:
segundo, introduzindo o termo “nem nacionalismos exagerados”.
Devido as relativamente rápidas mudanças históricas Identifica-se a ausência de paralelismo entre os elementos: os dois
deste último século vive-se uma moral efêmera e manipulável. devem ser escritos no singular ou ambos iriam para o plural.
O avanço tecnológico no ramo das telecomunicações influencia No segundo período, há outro problema de ausência de
neste processo à nível global fazendo que as culturas as paralelismo quanto ao emprego da introdução de oração com
dominantes economicamente pelo menos, se mesclem com o gerúndio, quando os verbos “assumir”, da primeira oração,
outras dando origem à várias mudanças culturais. e “descobrir”, da última oração, estão no infinitivo. O verbo
“ser”, da segunda oração, deve ser escrito também no infinitivo.
No primeiro período sobram informações: o adjetivo “rápidas” O demonstrativo “desta” está empregado erroneamente na função
dispensa o advérbio “relativamente”. Existe incongruência entre o relacional; o correto seria “dessa nova moral”.
que diz o pronome demonstrativo “deste” (na função temporal O parágrafo receberia, então, a reescrita:
= o século presente) e “último” (que diz respeito ao anterior).
Ora, o enunciador quis informar que as ocorrências se deram no Não se podem adotar posturas radicais para influências
presente século, dado identificável nas informações do período estrangeiras nem para nacionalismos exagerados. É preciso
seguinte, logo a reescrita seria deste século (do presente século). assumir uma postura crítica, ser coerente e atencioso para
As palavras proparoxítonas “históricas” e “efêmeras” necessitam descobrir os benefícios ou os prejuízos dessa nova moral.
receber os acentos gráficos e o paralelismo semântico exige que o
adjetivo “manipulável” seja substituído por outro, “manipulada”. Retomando todos os parágrafos, a composição seria reescrita
como segue:
O período seria reescrito corretamente como segue:
A moral de uma época nunca pode desvencilhar-se do
Vive-se uma moral efêmera e manipulada devido às momento histórico. As normas sociais consideradas coerentes
rápidas mudanças deste século. e, por vezes, despercebidas por alguns não aceitam distorções
e necessitam de influências para mudar.
O outro período do parágrafo merece os seguintes reparos: Observa-se uma constante mudança de costumes no
a oração “O avanço tecnológico no ramo das telecomunicações Brasil desde a chegada dos portugueses. Os índios, com a vida
influencia neste processo a nível global” poderia ficar conciso. igualitária e as poucas vestes, foram aculturados pela postura
A reescrita seria “O avanço das telecomunicações influencia esse católica de então, que considerava imoral e herético esse modo
processo em nível global”, quando o pronome demonstrativo na de viver.
função relaciona e estabelece a coesão entre os parágrafos. Vive-se uma moral efêmera e manipulada devido às
Na oração “... fazendo que as culturas as dominantes rápidas mudanças deste século. O avanço das telecomunicações
economicamente pelo menos, se mesclem com outras...” deve-se influencia esse processo em nível global, faz com que as culturas
corrigir a falta de paralelismo sintático pelo uso do verbo no se mesclem e deem origem a várias transformações culturais.
gerúndio, “... as dominantes economicamente pelo menos ...” é Não se podem adotar posturas radicais para
expressão inadequada, portanto deve ser eliminada. A redundância influências estrangeiras nem nacionalismos exagerados.
subjacente à expressão “mesclar-se com outras” é evidente, pois
É preciso assumir uma postura crítica, ser coerente e atencioso
o verbo contém a informação “com outras” e esta é dispensável.
para descobrir os benefícios e os prejuízos dessa nova moral.
Observe-se, também, que antes do indefinido cativo da crase
constitui erro o mesmo ocorre com “à nível”.
O t e x t o e s t á a c a b a d o q u a n t o a s u a c o r re ç ã o ?
O parágrafo poderia ser reescrito assim: Aparentemente, pois há necessidade de coesão entre os
Vive-se uma moral efêmera e manipulada devido às parágrafos, além da caracterização conclusiva do último
rápidas mudanças deste século. O avanço das telecomunicações parágrafo, do que se tratará no tópico seguinte.
influencia esse processo em nível global, faz com que as culturas
se mesclem e deem origem a várias transformações culturais. O emprego dos articuladores do texto como
Está pronta a reescrita do parágrafo? Claro, mas atente
estratégia argumentativa
para a substituição da palavra “mudanças” por “transformações” A justaposição entre períodos de um parágrafo e entre
no segundo período, visando à substituição do termo já registrado parágrafos de um texto dissertativo constitui risco para a
no primeiro período. Por exigência de paralelismo sintático, os decodificação e entendimento dos enunciados. Como os textos
verbos “fazer” e “dar” (ou originar), escritos no gerúndio,
só se justifi cam se forem lidos e compreendidos dentro do
transformar-se-iam em presente do indicativo, na forma
contexto comunicacional, portanto transformador, os elos de
desenvolvida, ao se destacar a relação com o verbo “influenciar”.
coesão entre as orações de um período e entre os períodos de
O recurso coesivo do demonstrativo esse, em “esse processo”,
um parágrafo têm o emprego justificado.
destaca a textualidade da alínea.
Entre os parágrafos de um texto, sobretudo quando este for
O quarto e último parágrafo da composição, de conclusão, opinativo, os elos de coesão recebem uma denominação especial,
portanto, é: são chamados de articuladores ou marcadores textuais.
Tornados evidentes, eles dão ao enunciador a segurança
Não se pode adotar posturas nem para a influência
de que aquilo que escreveu será lido e compreendido. Para
estrangeira nem para nacionalismos exagerados, sendo coerente
competência nessa prática, deve-se estar ciente de que tais
e atencioso para descobrir os benefícios ou prejuízos desta
nova moral. recursos fazem parte da última providência a ser tomada no
decorrer da revisão.

112 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
No texto opinativo, o parágrafo inicial, de introdução, por
Por outro lado, vive-se uma moral efêmera e
ser o primeiro da composição, dispensa articulação com algum
manipulada devido às rápidas mudanças deste século.
fragmento anterior. Existindo tal exigência, o articulador estabelece-se
O avanço nas telecomunicações influencia nesse processo
contextualmente, apelando para os repertórios do emissor e do receptor
em nível global, faz com que as culturas se mesclem e deem
ou, ainda, para o título, quando este for exigido ou permitido, mas tal
origem a várias transformações culturais.
procedimento merece um estudo à parte.
Para que se possa tornar essa prática usual, retome-se a O último parágrafo, de conclusão, deve receber esta
composição finalizada no tópico anterior: característica, portanto o articulador/marcador textual do tópico
frasal deve possuir dupla caracterização: de elo de coesão e de
A moral de uma época nunca pode desvencilhar-se do indicador de conclusão. Sugere-se, no contexto da composição
momento histórico. As normas sociais consideradas coerentes em que se está trabalhando, a expressão recuperativa “assim”, o
e, por vezes, despercebidas por alguns não aceitam distorções parágrafo recebendo a reescrita:
e necessitam de influências para mudar.
Assim, não se podem adotar posturas radicais para
O parágrafo seguinte, o primeiro do desenvolvimento da influências estrangeiras nem nacionalismos exagerados.
composição, destaca: É preciso assumir uma postura crítica, ser coerente e atencioso
para descobrir os benefícios e os prejuízos dessa nova moral.
Observa-se uma constante mudança de costumes no
Agora, sim, a composição pode ser denominada de texto.
Brasil desde a chegada dos portugueses. Os índios, com a vida
igualitária e as poucas vestes, foram aculturados pela postura O texto será transcrito a seguir, depois apresenta-se o
católica de então que considerava imoral e herege esse modo resumo, como se vem demonstrando ser necessário para avaliar a
de viver. qualidade e a estruturação do escrito:

Só é percebido que este parágrafo se liga à introdução A moral de uma época nunca pode desvencilhar-se do
porque um vem seguido do outro, isto é, justapostos. Isso constitui momento histórico. As normas sociais consideradas coerentes
risco à textualidade. É importante mostrar como isso é feito: e, por vezes, despercebidas por alguns não aceitam distorções
emprega-se um elo de coesão no início, no meio ou no final do e necessitam de influências para mudar.
primeiro período do segundo parágrafo, e, a título de exemplo, Nesse sentido, observa-se uma constante mudança de
sugere-se o articulador / marcador textual “nesse sentido” costumes no Brasil desde a chegada dos portugueses. Os índios,
(o sentido do que foi tratado no primeiro parágrafo, retomando a com a vida igualitária e as poucas vestes, foram aculturados pela
ideia ali contida), assim: postura católica de então, que considerava imoral e herético
esse modo de viver.
Observa-se nesse sentido uma constante mudança de Por outro lado, vive-se uma moral efêmera e manipulada
costumes no Brasil desde a chegada dos portugueses. Os índios, devido às rápidas mudanças deste século. O avanço nas
com a vida igualitária e as poucas vestes, foram aculturados telecomunicações influencia nesse processo em nível global,
pela postura católica de então, que considerava imoral e herege faz com que as culturas se mesclem e deem origem a várias
esse modo de viver. transformações culturais.
Assim, não se podem adotar posturas radicais para
O articulador/marcador textual poderia ficar no início do influências estrangeiras nem nacionalismos exagerados.
parágrafo e a reescrita seria: É preciso assumir uma postura crítica, ser coerente e atencioso
para descobrir os benefícios e os prejuízos dessa nova moral.
Nesse sentido, observa-se uma constante mudança
de costumes ... Chega-se à avaliação verificando se o resumo implícito nos
tópicos frasais dos parágrafos constitui uma síntese do texto, assim:
O terceiro parágrafo da composição, e segundo do
desenvolvimento, é: A moral de uma época nunca pode desvencilhar-se
do momento histórico. Nesse sentido, observa-se uma
Vive-se uma moral efêmera e manipulada devido às constante mudança de costumes no Brasil desde a chegada
rápidas mudanças deste século. O avanço das telecomunicações dos portugueses. Por outro lado, vive-se uma moral efêmera
influencia esse processo em nível global, faz com que as e manipulada devido às rápidas mudanças deste século.
culturas se mesclem e deem origem a várias transformações Assim, não se podem adotar posturas radicais para influências
culturais. estrangeiras nem nacionalismos exagerados.

Sugere-se o marcador/articulador textual “por outro A convergência entre resumo e texto comprova a qualidade
lado” devido às informações do terceiro parágrafo, além de e a textualidade da redação, o que garante boa estratégia
complementarem as do segundo, se opõem, em períodos distintos. argumentativa.
E o parágrafo seria reescrito, assim:
SKEFF, Alvisto. Curso Interativo de Redação. 1ª. edição, 1988.
Edições Demócrito Rocha, p. 278; 323-330

Anual – Volume 3 113


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
ESTUDO DE CASO
Rito de passagem, real integração social, hierarquia dos veteranos e violência desenfreada. Essas são as principais características
atribuídas aos trotes no Brasil hodierno. Nesse processo, o medo que os calouros têm, nas primeiras semanas de aula, nas universidades,
tem acentuado o debate sobre qual a real necessidade de formas de integração aos novatos. Desse modo, faz-se necessário analisar e
questionar o binômio entre a diversão e a violação de direitos.
Nesse âmbito, para compreender as ações pelas quais passam os novatos, é preciso aludir ao pensamento do psicanalista David
Levisky, segundo o qual a sociedade atual é muito permissiva, o que facilita a transgressão dos direitos. Logo, os jovens veem um mundo
relativamente impune antes de deparar com a realidade de uma faculdade, por exemplo. Visto como um ato de integração social, o
trote acaba por ser banalizado, a partir do momento em que sua vertente é desvirtuada para a violência física e moral, acarretando
desde traumas psicológicos até o encerramento da vida acadêmica do indivíduo.
Nesse sentido, o cumprimento das condutas impostas pelos veteranos aos calouros, como as bebedeiras, os cortes de cabelo e
os atos sexuais, acaba sendo visto, a priori, como uma aspiração por esses, que veem, em sua participação, o modo mais pragmático
de integração à nova realidade. Tal situação se evidencia, também, na ideologia de Paulo Endo, o qual afirma que o jovem associa essa
competição ao que considera como correto entre os adultos, no qual todos querem um lugar de destaque.
Urge, portanto, que Família, Escola e Governo juntos busquem formar cidadãos atuantes, capazes de lidar com pensamentos
sociais e altruístas. Para tanto, a Família deve informar-se, no ato da matrícula, de como são feitas as recepções pelos veteranos aos
calouros, por intermédio do diálogo com a universidade, que, por sua vez, deve acompanhar e incentivar que os trotes sejam feitos
dentro da instituição, para que ocorra o acompanhamento com maior eficácia e benevolência. Ademais, o Governo deve criar leis que
punam os praticantes de tais atos violentos, a fim de atenuar os casos que violem os direitos individuais.

Autor: Sued Magalhães Moita


FB MED Sobralense

RECONHECENDO O PLANEJAMENTO DA REDAÇÃO


TEMA: TROTES
TESE (NEGATIVA): _______________________________________

ARG. 1 (CAUSA):_______________

CAUSA 1: _______________________

REPERTÓRIO 1: __________________

ARG. 2 (CAUSA):_______________

CAUSA 2: _______________________

REPERTÓRIO 2: __________________

SOLUÇÃO:
1. AGENTE: ______________________________________________________________________________________________________
2. AÇÃO: ________________________________________________________________________________________________________
3. DETALHAMENTO: _____________________________________________________________________________________________
4. MEIO: ________________________________________________________________________________________________________
5. FINALIDADE/EFEITO: ___________________________________________________________________________________________

Respostas:
5. Finalidade: Ácompanhamento dos atos.
4. Meio: Diálogo com a Universidade.
3. Detalhamento: Incentivo ao trote dentro da instituição.
2. Ação: Deve-se informar sobre a recepção de novatos.
1. Agente: Família.
Solução:

Repertório 2: Paulo Endo – Jovem se associa à competição.


Causa 2: Bebedeira, corte de cabelo e atos sexuais.
Arg. 2 (desafio): Inserção no trote como forma de integração.

Repertório 1: David Levisky – Sociedade permissiva.


Causa 1: Banaliza a violência.
Arg. 1 (desafio): Impunidade.

Tese (negativa): O trote gera medo e viola direitos.

114 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Mas, se as quantidades forem acompanhadas de artigo, o verbo
volta ao plural: Os trinta votos foram suficientes para a Comissão
Fique de Olho
aprovar o projeto. / Os R$ 20 que você me deu são suficientes para
pagar o ingresso. / Os quatro quilos que perdeu foram suficientes
para ela ficar satisfeita com seu peso.
ASPECTOS FORMAIS DA LÍNGUA
Custar – É preciso atentar para a regência desse verbo.
Comunicar – Uma decisão é comunicada, mas ninguém é O correto é: Custou ao deputado aceitar a decisão da maioria
comunicado de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, da bancada; e não “O deputado custou a aceitar a decisão da
avisado) da decisão; nunca “Já foi comunicado da decisão”. bancada”.
Outra forma incorreta: A diretoria comunicou os empregados da Demais / de mais / por demais – O advérbio “demais”
decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos (e a locução “por demais”) significa “excessivamente”, “em demasia”.
empregados / A decisão foi comunicada aos empregados. A discussão deixou-a irritada demais (por demais irritada).
Concordância verbal – A regra geral é que o verbo deve A expressão “de mais” quer dizer “a mais”. No troco, ele recebeu
concordar com o sujeito, em número e pessoa. Quando o verbo é dinheiro de mais. / Acredito que haja um erro nessa conta; o garçom
composto, apenas o primeiro se flexiona; o segundo, permanece está cobrando de mais. Para eliminar dúvidas, o antônimo de
no infinitivo. O mesmo vale para a oração subordinada cujo sujeito “de mais” é “de menos”. Demais também é pronome indefinido,
seja o mesmo da oração principal: Os deputados reúnem-se hoje plural, geralmente precedido de artigo, com a acepção de “os outros”,
à noite para, em grupos, discutir as propostas da Mesa / O relator “os restantes”. Permaneceu na sala o presidente do Sindicato.
e o presidente da Comissão pediram ontem mais 20 dias de prazo Os demais sindicalistas se retiraram.
para encerrar os trabalhos / Parte dos recursos destinados ao
De que – “A moça que ele gosta” é frase incorreta.
programa de alimentação será liberada em poucos dias. Palavras
Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente:
que expressem ideia de grupo regem o verbo: A maior parte dos
O dinheiro de que dispõe; O filme a que assistiu (e não que assistiu):
vizinhos quer... / Metade dos carros perdeu-se no incêndio. / Um
A prova de que participou; O amigo a que se referiu etc.
grupo de 15 trabalhadores participou da manifestação / A maioria
das pessoas acredita que... / O deputado José da Silva foi um dos Descendência – Essa palavra se refere às gerações que
que votaram contra..../ se seguem. As gerações anteriores, de que alguém procede, são
Palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. referidas pela palavra “ascendência”. É incorreta, portanto, a
Por isso: A realidade das pessoas pode mudar (e não “podem expressão “O presidente da empresa tem descendência alemã
mudar”). / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e (querendo significar que seus avós eram alemães)”. O certo é “...
não “foram punidas”). tem ascendência alemã”.
É comum o erro de concordância quando o verbo está
Eminente / iminente – Eminente é forma de tratamento
antes do sujeito. “Causou-me estranheza as palavras”. Use o
respeitoso, dispensado a cardeal: alto, elevado. Iminente é o que está
certo: “Causaram-me estranheza as palavras”. Quando o verbo
em vias de acontecer, que representa possibilidade de ocorrência
“ser” liga um substantivo no singular ou pronome (que não o
imediata. A Segurança da Casa estava na iminência de perder o
pessoal) a um substantivo no plural, o verbo vai para o plural.
controle da multidão.
Exemplos: Nossa sorte são os erros que ele comete / Tudo são
flores / O estudo aplicado são os ossos do ofício de quem pretende Em via de – Como “às custas de”, também a expressão
crescer na vida / O que o advogado de defesa pede são provas “em vias de” é imprópria. Deve ser empregada no singular: A
objetivas / Um país são seus habitantes. Exceção: se o sujeito for ararinha azul é espécie em via de extinção./ O relatório está em
uma pessoa, a concordância será sempre com ele e não mais com via de conclusão.
o predicativo: O homem é as suas circunstâncias / O homem é Estada / Estadia – Estada é ato de permanecer, estar,
cinzas. O verbo “ser” sempre concorda com o pronome pessoal, demorar em algum lugar. Aplica-se a pessoas ou animais.
independentemente da posição que ele ocupe na oração: O Brasil “Três dias de estada no hotel, à beira-mar, bastaram para seu
somos nós (= nós somos o Brasil). / A dificuldade são eles (= eles descanso”. Estadia é o tempo em que um veículo permanece em
são a dificuldade); Quando percentuais cumprem a função de garagem, estacionamento ou lugares do gênero, habitualmente
sujeito na oração, o verbo concorda com o número: 80 por cento sob pagamento. Embora alguns dicionaristas o admitam, convém
dos projetos colocados em votação na Comissão foram aprovados evitar seu emprego para designar a permanência de pessoas em
(80 em cada 100 foram aprovados) / 1 por cento dos veículos locais determinados.
apresentou defeito de fábrica. Quando é explícita a unidade
em relação à qual o percentual é empregado, é permitido fazer Favorecer a – Favorecer, na acepção de proteger ou
a concordância por proximidade: 90 por cento da população fazer favor, é transitivo direto e, portanto, rejeita “a”: Favoreceu
brasileira possui televisão (porém, na ordem inversa a concordância o parecer do relator (nunca “favoreceu ao parecer do relator”).
é com o número: Da população brasileira, 90 por cento possuem A decisão favoreceu os parlamentares.
televisão). Quando o número que expressa quantidade for Ficar de / ficar para – Ficar de recuperação e ficar de segunda
acompanhado da expressão “ser suficiente”, o verbo fica no época são expressões largamente empregadas por estudantes – mas
singular: Trinta votos é suficiente para a Comissão aprovar o projeto. incorretamente. O certo é “ficar para recuperação”; “Ficar para
/ R$ 20 é suficiente para pagar o ingresso no cinema. / Quatro segunda época”.
quilos a menos foi suficiente para ela ficar satisfeita com seu peso.

Anual – Volume 3 115


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Furtar / roubar – Furtar é tomar ou reter bens de outro, ESPAÇO DA LEITURA
sem que ele o saiba. Roubar é tomar bens à vista da vítima ou por
meios violentos. QUEM LÊ APRENDE MAIS E ESCREVE MELHOR
Independente – “Independente” é adjetivo, e serve para
A BUSCA PELO CORPO PERFEITO
qualificar um substantivo. “Vera é uma mulher independente”.
“Independentemente” é advérbio e se associa a adjetivo ou Na busca pela beleza idealizada, pacientes se submetem a
verbo. “Ele trabalhou independentemente de receber ordens”. procedimentos sem estar atentos aos cuidados
Cuidado para não incorrer no vício, comum hoje na imprensa, de Estabelecimentos sendo fechados por realizar procedimentos
usar o adjetivo em lugar do advérbio. estéticos invasivos sem a supervisão de médicos, pacientes morrendo
em consequência de uso de substâncias não recomendadas e por
Intempestivo – É o que ocorre fora do tempo, fora do prazo. erros de técnica. Com o Brasil ocupando o segundo lugar, atrás dos
Jamais tem o sentido de caráter instável, emotivo, temperamental. EUA, no ranking de países em que mais se realizam cirurgia plástica,
O antônimo é tempestivo, que ocorre no tempo certo. conforme a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética
(Isaps), os casos recentes mostram que é preciso estar atento aos
Intermediar / remediar / ansiar / incendiar – Os verbos
riscos na idealização da beleza e na busca por ela.
“mediar” e “intermediar” conjugam-se como “odiar”: Ele intermedeia
De acordo com o último Censo da Situação da Cirurgia
(ou medeia) a negociação. “Remediar”, “ansiar” e “incendiar” também
Plástica no Brasil, promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia
seguem essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio. Plástica (SBCP) e divulgado em 2017 (dados de 2016), o número de
Intervir – Verbo derivado de vir, tem a mesma conjugação cirurgias plásticas no Brasil chegou a 1,47 milhão de procedimentos,
deste. Assim, fala-se “eu intervim”, “ele interveio”, “se ela interviesse”. sendo 57% (839.288) deles com fins estéticos. O número total
apresentou um aumento de 134% entre 2009 e 2016; o número
Mediar – Cinco verbos terminados em iar não seguem a de cirurgias estéticas cresceram 82% no período.
conjugação normal. É fácil memorizá-los – suas primeiras letras Aumento de mama (288.597), lipoaspiração (229.700),
formam a palavra Mario: Mediar, Ansiar, Remediar, Incendiar dermolipectomia abdominal (229.512), mastopexia (144.299) e
e Odiar. Em alguns tempos, existe um “ei” (como em medeio); redução de mamas (141.435) foram os cinco procedimentos mais
em outros, apenas “i” (como em mediou). A regra é a seguinte: procurados. E a faixa que mais realiza procedimentos de fins estéticos
quando a sílaba tônica é a que inclui o d, aparece o grupo de vogais é entre 19 e 35 anos.
“ei” (medeio, medeie); quando a sílaba tônica é a seguinte, o verbo Em 2017, o Brasil, conforme dado apresentado no Jornal da
é conjugado de maneira regular (apenas com o i, como em mediava, Universidade de São Paulo (USP), é superior aos EUA em cirurgias
mediaria, mediassem, mediando). realizadas em jovens. Nos EUA, 4% dos pacientes que se submetem
à cirurgia estética são adolescentes - sendo realizadas em 2017,
Penalizar – Essa palavra significa “causar pena” ou cerca de 66 mil cirurgias estéticas. No Brasil, com uma população
“desgosto”, embora alguns dicionaristas admitam a acepção muito menor, este número chegou a 90 mil.
de impor pena. O sentido mais comum é este: A menina ficou Os números ligam o alerta para a motivação e a segurança
penalizada com o sofrimento do cão atropelado. Assim, evite a nesses procedimentos. O cirurgião plástico e professor da Faculdade
construção “José da Silva foi penalizado com 30 anos de cadeia”. de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) Salustiano
O verbo adequado, nesse caso, seria apenar. Por ser pouco Pessoa acredita que, na ânsia pela realização do procedimento,
conhecido e de uso restrito, melhor substituí-lo por condenar, o paciente esquece de ficar atento às questões de segurança.
punir, castigar. “O amor por si próprio tem de ser o filtro para isso, quem entende
o que aquele procedimento significa e estima a própria vida não se
Perca / perda – “Perda” é substantivo. Houve uma perda
coloca em risco”, afirma.
irreparável. “Perca” é verbo. “É preciso que você perca dois quilos”.
“O paciente que se decide por uma cirurgia plástica tem de
É preciso cuidado com o uso indevido de uma forma em lugar de
solicitar a comprovação da qualificação do médico (CRM e RQE).
outra: *Houve uma perca irreparável.
Segundo, não tem que se atemorizar ninguém, mas o paciente
“Tratam-se” de – Essa forma é incorreta. Nesse caso, deve ser bem realista quanto ao resultado e ser informado sobre as
o verbo não varia quando é seguido de preposição: Trata-se de possíveis complicações. Quando há no paciente expectativas muito
projetos que alteram a Lei de Falências. altas em relação àquela cirurgia, como se o bisturi do cirurgião
fosse uma vara de condão, normalmente, contra-indico a cirurgia”,
Unânime – Esse adjetivo tem o significado de “relativo a aponta Salustiano.
todos”. Não deve, portanto, ser acompanhado da palavra “todos”. Na busca por um corpo idealizado, há também o que o
A construção “Todos os membros da comissão foram unânimes em cirurgião plástico Giovanni Bezerra Martins, presidente da SBCP
apoiar a moção” incorre no erro da redundância. no Ceará, explica se tratar de “dismorfismo corporal”. “Pacientes
que apresentam um quadro parecido com anorexia, mas com um
Ver – No modo subjuntivo, o verbo “ver” se conjuga como
outro foco: busca do corpo perfeito, deformando o seu corpo. Sem
“se eu vir” (e não “se eu ver”). O mesmo vale para os verbos dele
dúvidas, o exagero leva a uma série de problemas como queda
originados: revir, previr etc. Igualmente, se eu vier (de vir); convier,
precoce, estrias, etc. Por isso, os implantes têm que ser adequados
se eu tiver (de ter); mantiver; se ele puser (de pôr); impuser; se ele
para cada biotipo de paciente. O médico tem que aferir as medidas
fizer; desfizer; se nós dissermos; predissemos.
da mama para indicar o tamanho adequado e não acatar imposições
não realísticas dos pacientes”.
Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais-1/
manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao-da-presidencia-da- Disponível em: <https://www.opovo.com.br/jornal/cienciaesaude/2018/08/a-busca-
republica/view> pelo-corpoperfeito.html>

116 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas

Proposta de Redação

TEXTOS MOTIVADORES

(Enem 2ª – Aplicação)
Texto I
A beleza parece caminhar em uma linha tênue entre as escolhas do indivíduo e a imposição coletiva. Se, por um lado, cada um
pode buscar a beleza da maneira que considerar melhor para si, por outro, cuidar da beleza torna-se um imperativo. Modelos funcionam
como fonte de comparação social e a exposição às imagens idealizadas da mídia tem como efeito uma redução no nível de satisfação dos
indivíduos com relação à própria imagem Este processo de comparação social também influencia fortemente a autoestima do indivíduo.
A percepção de uma discrepância acentuada entre o eu real e o eu ideal gera ansiedade e sentimento de insatisfação com relação ao
seu autoconceito e, consequentemente, uma redução na sua autoestima Na tentativa de atingir um ideal estético socialmente aceito,
muitos se dedicam a uma luta incansável para esculpir o corpo perfeito e aproximar-se de um padrão de beleza.

FONTES, O. A.; BORELLI, F. C.; CASOTTI, L. M. Como ser homem e ser belo? Um estudo exploratório sobre a relação entre masculinidade e o consumo de beleza.
Disponível em: http://seer.ufrgs.br Acesso em: 22 jun. 2015. Adaptado.

Texto II

Reprodução/Enem 2017

ROSSETTI, C. Disponível em: <http://www.carolrossetti.com.br/>.


Acesso em: 21 jul. 2017.

Texto III
Os transtornos alimentares mais relevantes em nosso contexto sociocultural são a anorexia e a bulimia nervosas. A anorexia
nervosa se caracteriza pelo pavor descabido e inexplicável que a pessoa tem de engordar, com grave distorção da sua imagem
corporal. Para atingir esse padrão de “beleza” inatingível, o anoréxico se submete a regimes alimentares bastante rigorosos e
agressivos. Já a bulimia nervosa se caracteriza pela ingestão compulsiva e exagerada de alimentos, geralmente muito calóricos,
seguida por um enorme sentimento de culpa em função dos ‘excessos* cometidos. Não podemos perder de vista que a formação
da autoimagem corporal de cada pessoa está fortemente influenciada pela maneira como a sociedade “impõe” o que é ter um
corpo esteticamente apreciável.
SILVA, A. B. B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. Adaptado.

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto
dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Consequências da busca por padrões
de beleza idealizados”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de
forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Enem 2017, 2ª Aplicação.

Anual – Volume 3 117


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III

Exercícios de Fixação

01. (Unicamp) Em transmissão de um jornal noturno televisivo (RedeTV, 7/10/2008), um jornalista afirmou: “Não há uma só medida
que o governo possa tomar.”
A) Considerando que há duas possibilidades de interpretação do enunciado acima, construa uma paráfrase para cada sentido
possível de modo a explicitá-los.

B) Compare o enunciado citado com: Não há uma medida que só o governo possa tomar. O termo ‘só’ tem papel fundamental na
interpretação de um e outro enunciado. Descreva como funciona o termo em cada um dos enunciados. Explique.

02. (Unicamp) A comunidade do Orkut “Eu tenho medo do Mesmo” foi criada em função do aviso bastante conhecido dos usuários
de elevadores: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.

Reprodução/Unicamp

A) Explique o que torna possível o jogo de palavras “Mesmo, o maníaco dos elevadores” usado pelos membros dessa comunidade.

B) Reescreva o aviso de forma que essa leitura não seja mais possível.

118 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
03. (Unicamp) Leia atentamente o folheto (distribuído nos pontos A) Explique o título do curta-metragem.
de ônibus e feiras de Campinas) e as definições de “simpatia”
extraídas do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Reprodução/Unicamp
B) Identifique pelo menos duas possibilidades de leitura de
“sua obra” e justifique cada uma delas.

C) As três ocorrências da partícula “que” destacadas em


negrito estabelecem relações de natureza linguística diversa.
Explicite-as.

D) Os dois trechos sublinhados retomam elementos


anteriormente apresentados no texto de maneira diferente
dos recursos analisados nos itens b e c. Como funciona
esse processo de retomada?

1. afinidade moral, similitude no sentir e no pensar que 05. (Unicamp) O texto abaixo é parte de uma campanha promovida
aproxima duas ou mais pessoas. [ ... ] 3. Impressão agradável, pela ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas).
disposição favorável que se experimenta em relação a alguém
que pouco se conhece. [ ... ] 6. atração por uma coisa ou
uma ideia. [ ... ] 9. Brasileirismo: usada como interlocutório SURFAMOS A INTERNET, NADAMOS EM REVISTAS
pessoal (– qual o seu nome, simpatia?). 10. Brasileirismo: A Internet empolga. Revistas envolvem.
ação (observação de algum ritual, uso de um determinado
A Internet agarra. Revistas abraçam.
objeto etc.) praticada supersticiosamente com finalidade de
conseguir algo que se deseja. A Internet é passageira. Revistas são permanentes.
A) Dentre as definições do Dicionário Houaiss mencionadas, E essas duas mídias estão crescendo.
qual é a mais próxima do sentido da palavra “simpatia” no
texto? Um dado que passou quase despercebido em meio ao
barulho da Internet foi o fato de que a circulação de revistas
aumentou nos últimos cinco anos. Mesmo na era da Internet,
o apelo das revistas segue crescendo. Pense nisto: o Google
B) Há, no texto, duas ocorrências de “desvendar”, sendo que existe há 12 anos. Durante esse período, o número de títulos
uma delas não coincide com o uso padrão desse termo. de revistas no Brasil cresceu 234%. Isso demonstra que uma
Qual é, e por quê? mídia nova não substitui uma mídia que já existe. Uma mídia
estabelecida tem a capacidade de seguir prosperando, ao
oferecer uma experiência única. É por isso que as pessoas não
deixam de nadar só porque gostam de surfar.
C) Independentemente do título, algumas características da
Imprensa, nº 267, maio 2011, p. 17. Adaptado.
segunda parte do texto são de uma oração ou prece ou reza.
Quais são essas características?
A) O verbo “surfar” pode ser usado como transitivo ou
intransitivo. Exemplifique cada um desses usos com
enunciados que aparecem no texto da campanha.
Indique, justificando, em qual desses usos o verbo assume
04. (Unicamp) Em sua coluna na Folha Ilustrada, Mônica Bergamo um sentido necessariamente figurado.
comenta o curta-metragem previsto para ser lançado em
novembro de 2003 – Um Caffé com o Miécio. Transcrevemos
parte da coluna a seguir:
(...) Quando ouvia a trilha sonora do curta Um Caffé B) Que relação pode ser estabelecida entre o título da
com o Miécio, que Carlos Adriano finaliza sobre o caricaturista, campanha e o trecho reproduzido a seguir? Como essa
colecionador de discos e estudioso Miécio Caffé (1920-2003), relação é sustentada dentro da campanha?
Caetano Veloso se encantou por uma música específica.
Era a desconhecida marchinha “A Voz do Povo”, de A Internet empolga. Revistas envolvem.
Malfitano e Frazão, que Orlando Silva gravou em 1940, cuja A Internet agarra. Revistas abraçam.
letra diz “que raiva danada que eu tenho do povo, que não A Internet é passageira. Revistas são permanentes.
me deixa ser original”. “É um manifesto, como sua obra”,
disse o músico baiano ao cineasta paulistano.
Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo, 11/10/2003, p. E2. Adaptado.

Anual – Volume 3 119


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
C) Comparando a afirmação “No Brasil nem a esquerda é
direita” com “No Brasil a esquerda não é direita”, qual
Exercícios Propostos a diferença de sentido estabelecida pela substituição de
“nem” por “não”?

01. (Unicamp) Em 28/11/2003, quando muito se noticiava sobre


a reforma ministerial, a Folha de S. Paulo publicou uma
matéria intitulada “Lula sugere que Walfrido e Agnelo ficam”.
Considerando as relações entre as palavras que compõem o
04. (Unicamp) Na capa do cader no “Aliás”, do jor nal
título da matéria, justifique o uso do verbo “ficar” no presente O Estado de S. Paulo de 10 de julho de 2005, encontramos
do indicativo. o seguinte conjunto de afi rmações que também fazem
referência à crise política do governo Lula:
Getulio tanto sabia que preparou a carta-testamento.
Juscelino sabia que seria absolvido pela História. Jânio sabia
que sua renúncia embutia um projeto autoritário. Jango sabia
02. (Unicamp) Por ocasião da comemoração do dia dos o tamanho da conspiração ao seu redor. Médici ia ao futebol,
professores, no mês de outubro de 2003, foi veiculada a mas sabia de tudo. Geisel sabia que Golbery entendera o
projeto de abertura. (...)
seguinte propaganda, assinada por uma grande corporação
de ensino: A) Em todas as afirmações, há um padrão que se repete.
Qual é esse padrão e como ele estabelece a relação com a
crise política do atual governo?
Parabéns [Pl. de parabém] S. m. pl. 1. Felicitações,
congratulações. 2. Oxítona terminada em ens, sempre
acentuada. Acentuam-se também as terminadas em a, as,
e, es, o, os, e em.
B) Apresente, por meio de paráfrases, duas interpretações
Para a homenagem ao Dia do Professor ser completa, a gente
para a palavra “tanto” na frase “Getulio tanto sabia que
precisava ensinar alguma coisa. preparou a carta-testamento”.

A) Observe os itens 1 e 2 do verbete Parabéns no interior do


quadro. Há diferenças entre eles. Aponte-as.

05. (Unicamp) Marca-passo Natural – Uma alternativa menos


invasiva pode substituir o implante do marca-passo eletrônico
B) Levando em conta o enunciado que está abaixo do quadro, [...]. Cientistas do Hospital John Hopkins, nos EUA, conseguiram
a quem se dirige essa propaganda? converter células cardíacas de porquinhos-da-índia em células
especializadas, que atuam como um marca-passo, controlando
o ritmo dos batimentos cardíacos. No experimento, o coração
dos suínos recuperou a regularidade dos movimentos.
A expectativa é que em alguns anos seja possível testar a
C) Diferentes imagens da educação escolar sustentam essa
técnica em humanos.
propaganda. Indique pelo menos duas dessas imagens. IstoÉ, 1720, 18/09/2002.

A) Alguém que nunca tivesse ouvido falar de marca-passo poderia


dar uma definição desse instrumento lendo este texto.
Qual é essa definição?
03. (Unicamp) Na sua coluna diária do jornal Folha de S. Paulo de
17 de agosto de 2005, José Simão escreve: “No Brasil nem a
esquerda é direita!”.
A) Nessa afirmação, a polissemia da língua produz ironia. B) A ocorrência da expressão “a técnica”, no final do texto,
Em que palavras está ancorada essa ironia? indica que ela foi explicada anteriormente. Em que consiste
essa técnica?

B) Quais os sentidos de cada uma das palavras envolvidas na


C) Apesar do nome, o porquinho-da-índia é um roedor.
polissemia acima referida?
Sendo assim, há uma forma equivocada de referir-se a ele no
texto. Qual é essa forma e como se explica sua ocorrência?

120 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
06. (Unicamp) “Os turistas que visitam as favelas do Rio se 08. (Unicamp) No folheto intitulado “Saúde da mulher – orientações”,
dizem transformados, capazes de dar valor ao que realmente distribuído em consultórios médicos, encontramos estas
importa”, observa a socióloga Bianca Freire-Medeiros, autora informações acerca de um produto que, aqui, chamaremos “P”:
da pesquisa “Para ver os pobres: a construção da favela carioca
como destino turístico”. “Ao mesmo tempo, as vantagens, A liberdade da mulher pode ficar comprometida quando
os confortos e os benefícios do lar são reforçados por meio surge em sua vida o risco de uma gravidez indesejada. Para estas
da exposição à diferença e à escassez. Em um interessante situações, ela pode contar com P, um método de Contracepção
paradoxo, o contato em primeira mão com aqueles a quem de Emergência, ou pós-ato sexual, capaz de evitar a gestação
vários bens de consumo ainda são inacessíveis garante aos com grande margem de segurança. O ginecologista poderá
turistas seu aperfeiçoamento como consumidores.” orientá-la sobre o uso correto desse método. [...] “P” é um
método indolor, bastante prático e quase sem efeitos colaterais.
No geral, o turista é visto como rude, grosseiro, invasivo, Deve ser tomado num período de até 72 horas após o ato
pouco interessado na vida da comunidade, preferindo visitar sexual desprotegido, sendo mais efetivo nas primeiras 48 horas.
o espaço como se visita um zoológico e decidido a gastar Age inibindo ou retardando a ovulação e torna o útero um
o mínimo e levar o máximo. Conforme relata um guia, ambiente impróprio para que o óvulo se implante. Dessa forma,
não pode ser considerado um método abortivo, já que, quando
“O turismo na favela é um pouco invasivo, sabe? Porque
atua, ainda não houve implantação do óvulo no útero.
você anda naquelas ruelas apertadas e as pessoas deixam as
janelas abertas. E tem turista que não tem ‘desconfiômetro’, A) A posição assumida no texto se baseia em uma distinção
mete o carão dentro da casa das pessoas! Isso é realmente entre (medicamento) contraceptivo e (medicamento)
desagradável. Já aconteceu com outro guia. A moradora abortivo. Explique o que vem a ser aborto para os fabricantes
estava cozinhando e o fogão dela era do lado da janelinha; de “P”.
o turista passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa
da panela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.”
Carlos Haag, Laje cheia de turista. Como funcionam os tours pelas
favelas cariocas. Pesquisa FAPESP nº. 165, 2009, p.90-93. Adaptado.

A) Explique o que o autor identifica como “um interessante B) A partir do trecho transcrito, pode-se dizer que o folheto
toma posição numa polêmica que tem um aspecto
paradoxo”.
ético-religioso e um aspecto científico. Qual é a questão
ético-religiosa da polêmica? Qual é a questão científica?

B) O trecho em itálico, que reproduz em discurso direto à fala


do guia, contém marcas típicas da linguagem coloquial oral.
Reescreva a passagem em discurso indireto, adequando-a à
linguagem escrita formal. 09. (Unicamp)

QUANDO VITAMINAS ATRAPALHAM


Consumir suplementos de vitaminas depois de praticar
exercícios físicos pode reduzir a sensibilidade à insulina, o
hormônio que conduz a glicose às células de todo o corpo.
07. (Unicamp) A propaganda abaixo explora a expressão idiomática
Temporariamente, um pouco de estresse oxidativo – processo
“não leve gato por lebre” para construir a imagem de seu produto.
combatido por algumas vitaminas e que danifica as células
– ajuda a evitar o diabetes tipo 2, causado pela resistência à
NÃO LEVE GATO POR LEBRE insulina, concluíram pesquisadores das universidades de Jena,
SÓ BOM BRIL É BOM BRIL na Alemanha, e Harvard, nos Estados Unidos. Desse estudo,
publicado em maio na PNAS, participaram 40 pessoas, metade
delas com treinamento físico prévio, metade sem. Os dois
A) Explique a expressão idiomática por meio de duas paráfrases. grupos foram divididos em subgrupos que tomaram ou não uma
combinação de vitaminas C e E .Todos os subgrupos praticaram
exercícios durante quatro semanas e passaram por exames de
avaliação de sensibilidade da glicose à insulina antes e após
esse período. Apenas exercícios físicos, sem doses adicionais de
vitaminas, promovem a longevidade e reduzem o diabetes tipo 2.
B) Mostre como a dupla ocorrência de Bom Bril no slogan Ao contrário do que se pensava, os resultados negam que
“SÓ BOM BRIL É BOM BRIL”, aliada à expressão idiomática, o estresse oxidativo seja um efeito colateral indesejado da
constrói a imagem do produto anunciado. atividade física vigorosa: ele é na verdade parte do mecanismo
pelo qual quem se exercita é mais saudável. A conclusão é clara:
nada de antioxidantes depois de correr.

Quando vitaminas atrapalham.


Revista Pesquisa FAPESP 160, p.40, junho de 2009. Adaptado.

Anual – Volume 3 121


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
A) Por se tratar de um texto de divulgação científica, apresenta recursos linguísticos próprios a esse gênero. Quais são eles? Transcreva
dois trechos em que esses recursos estão presentes.
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____________________________________________________________________________________________________________
B) O experimento em questão concluiu que as vitaminas atrapalham. Explique como os pesquisadores chegaram a essa conclusão.
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________

10. (Unicamp) Em setembro de 2003, uma universidade brasileira veiculou um convite-propaganda para a palestra “Desenvolvimento
da saúde e seus principais problemas”, que seria proferida por José Serra, ex-ministro da saúde. Do convite-propaganda fazia parte
uma foto de José Serra sobre a qual foi colocada uma tarja branca com o seguinte enunciado:

A “Universidade X “Adverte:
ESSA PALESTRA FAZ BEM À SAÚDE

A) Esse enunciado faz alusão a um outro. Qual?


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____________________________________________________________________________________________________________
B) Compare os dois enunciados.
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C) O convite-propaganda situa a “Universidade X” em um lugar de autoridade. Explique como isso acontece.
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________

Aula 15:

C-6 H-18, 22
Aula C-8 H-23, 27
A Articulação do Texto Dissertativo-Argumentativo
15

Introdução
A articulação das ideias de um texto em um todo enunciativo se caracteriza por meio da coesão e de seus mecanismos
(pronomes, advérbios, relações semânticas...). Tal recurso, responsável pela ligação de ideias, é avaliado, na prova do Enem,
na Competência IV – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação – e para
mais esclarecimento, destacamos as informações presentes no Guia de Redação do Enem. Observe o quadro abaixo:

Nível 0
Ausência de marcas de articulação, resultando em fragmentação das ideias;
0 pontos
Nível 1
Articula as partes do texto de forma precária;
40 pontos
Nível 2 Articula as partes do texto, de forma insuficiente, com muitas inadequações e apresenta repertório limitado de
80 pontos recursos coesivos;
Nível 3 Articula as partes do texto, de forma mediana, com inadequações e apresenta repertório pouco diversificado de
120 pontos recursos coesivos;
Nível 4
Articula as partes do texto com poucas inadequações e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos;
160 pontos
Nível 5
Articula bem as partes do texto e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.
200 pontos

122 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Conceitos importantes
Por coesão se entendem a articulação, a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem
a tessitura textual. A coesão é tanto sintática e gramatical, quanto semântica, pois, em muitas situações, os mecanismos coesivos se
baseiam em uma relação entre os significados de elementos do texto.
A coesão estabelece conexões, articulações, ligações, concatenando as ideias, e permite a progressão do texto em direção à
comprovação da proposição que se visa defender. Isso significa dizer que a estrutura gramatical das frases trata de criar coesão entre
os constituintes de um texto.
Para a avaliação da Competência IV, nas redações do Enem, destacamos três grandes modalidades de coesão: a coesão referencial,
a coesão sequencial e ainda a coesão interfrásica.

Coesão referencial
A coesão referencial é aquela que se estabelece entre dois ou mais componentes da superfície textual que remetem a (ou permitem
recuperar) um mesmo referente (que pode, evidentemente, ser acrescido de outros traços que se lhe vão agregando textualmente).
A coesão referencial ocorre quando um componente da superfície textual é retomado (anáfora) ou precedido (catáfora)
por um pronome, verbo, advérbio ou quantificadores que substituem outros elementos do texto. Em outras palavras, esse tipo de
coesão é feito pela citação de elementos que já apareceram ou vão aparecer, no próprio texto. Para a efetivação dessas citações,
são utilizados pronomes pessoais, possessivos, demonstrativos ou expressões adverbiais. Esses recursos tanto podem se referir,
por antecipação, a elementos que serão citados na sequência do texto, quanto podem retomar elementos já citados no texto ou
que são facilmente identificáveis pelo leitor.
Exemplo de coesão referencial:
A prática de violência contra as mulheres, no Brasil, apresenta um índice elevado, o que é preocupante. Com isso, a fim
de minimizar as consequências dessa ação nefasta, foi aprovada a Lei Maria da Penha.

 Tipos de Coesão Referencial


A. Anáfora: ocorre quando o elemento referente do texto é retomado por um pronome, verbo, advérbio ou quantificadores que
substituem outros elementos do texto.

Ex.: As famosas capas sem manchetes da Revista X já não existem, pois elas foram proibidas pelo editorial da empresa.

B. Catáfora: ocorre quando o elemento referente do texto é precedido (antecipado) por um pronome, verbo, advérbio ou quantificadores
que substituem outros elementos do texto.

Ex.: Isto é inaceitável em nosso meio, uma vez que a negligência na Saúde atrasa o Brasil.

C. Coesão por Elipse (Ø): é uma estratégia que permite a omissão de elementos facilmente identificáveis ou que já tenham sido citados
anteriormente. Algumas vezes, essa omissão é marcada por uma vírgula. Pronomes, verbos, nomes e frases inteiras podem estar
omissos.
Ex.: No Brasil, a mulher é muito discriminada, sobretudo, a Ø negra.

Omissão da palavra MULHER

D. Coesão Lexical: a coesão pode ser lexical, ou seja, por meio do léxico: hiperônimos, sinônimos, nomes genéricos, expressões
nominais definidas, repetição do mesmo item lexical e nominalizações.

Ex.: O Zika vírus tem causado grande preocupação à comunidade científica, já que há suspeitas da relação desse agente etiológico
com os casos de microcefalia registrados no Brasil.

Anual – Volume 3 123


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Coesão sequencial
A coesão sequencial se faz por mecanismos como recorrência de termos, de estruturas (o chamado paralelismo), de conteúdos
semânticos, sendo mais comum o uso de conectivos interligando os períodos e parágrafos entre sim.
Ex.:
_____________________.
Isso _______________________
No 1º parágrafo, os conectivos ligam apenas
__________________________.
períodos.
Logo, _____________________
__________________________.

Nesse sentido, _________


__________________________. No 2º parágrafo, os conectivos ligam as ideias
Além disso, ________________ do parágrafo anterior aos novos períodos
__________________________ do parágrafo.
__________________________.

Em verdade, ___________
__________________________. No 3º parágrafo, os conectivos ligam as ideias
Nesse contexto, ____________ do parágrafo anterior aos novos períodos
__________________________ do parágrafo.
__________________________.

Desse modo, __________.


Para tanto, ________________ No parágrafo conclusivo, os conectivos ligam
__________________________. as ideias do parágrafo anterior aos novos
Ademais, _________________ períodos do parágrafo.
__________________________.

Coesão interfrásica
Há também a coesão interfrásica, que designa mecanismos de sequenciação que marcam diversos tipos de interdependência
entre as frases que ocorrem em um texto. Basicamente, a conexão interfrásica é assegurada por conectores: conjunções, advérbios,
locuções conjuncionais, locuções adverbiais, preposições, locuções prepositivas, expressões adjetivas ou orações completas.
Ex.: Em São Paulo, os brasileiros fizeram um protesto contra a corrupção praticada no Congresso Nacional, porque a consideram o
principal elemento do constante atraso social em nosso meio. Diante disso, o ministro da Segurança veio a público e considerou
a manifestação um ato democrático, uma vez que este julga essencial e legítima a participação popular para a construção
do País.
 Erros graves na Competência IV
I. Período truncado: um enunciado incompleto, que carece do emprego de elementos gramaticais para a conclusão do pensamento.
Ex.: “Alguns dias atrás, assistindo a um noticiário na tevê, tomei conhecimento de que um grupo de rapazes, que se encontrava
em uma rua para se divertir, apostando corridas de carros e quem seria o melhor, ou seja, o mais rápido. Por isso, é bom
evitar acidentes.”
II. Conector inadequado: uso de um elemento de ligação impróprio, inadequado para relacionar frases, parágrafos no texto.
Ex.: “Eu sou um grande jogador onde sempre sei que vou fazer uma jogada de craque.”

III. Quebra da sequência lógica discursiva: é vista como uma descontinuidade da ideia (salto temático) que vinha sendo tratada
anteriormente no texto.
Ex.: “Nós, brasileiros, sofremos preconceitos de nós mesmos, se não começarmos a nos valorizar e querer melhorar o nosso
país, tudo continuará do mesmo jeito, todos nós seremos uns europeus frustrados.”

IV. Má ordenação das ideias ou dos parágrafos: é a apresentação, por exemplo, de uma conclusão antes das demais partes do
texto, por falta de um planejamento de ideias.
Ex.: “O que preocupa Portugal, país de língua que originou a nossa, porque os portugueses não querem ver o léxico
do país que eles colonizaram ficar “americanizado”, é o governo brasileiro não tomar nenhuma providência para
proibir o uso exagerado de estrangeirismos no país.”
V. Quebra do paralelismo sintático: fenômeno linguístico caracterizado pela falta de correspondência estrutural no enunciado.
Ex.: “Não é somente o povo acolhedor, mas também as belíssimas praias, calor e diversas opções de lazer fazem do
Ceará um dos lugares mais escolhidos no Brasil para o turismo.”
VI. Quebra do paralelismo semântico: fenômeno linguístico caracterizado pela falta de correspondência de significado entre os
elementos do enunciado.
Ex.: “Se não houvesse tanta corrupção, muitas áreas seriam beneficiadas, como a construção de hospitais, escolas e alimentação
farta aos carentes.”

124 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
VII. Falha de referenciação (coesão referencial): ausência de um elemento referente anterior, o que compromete a construção
de sentido.
Ex.: “Adolescência vivida em família que não lhes transmitiram valores éticos, formação moral e não lhes puseram limites de
disciplina.”
Ex.: “Na periferia das cidades brasileiras, vivem milhões de crianças que se enquadram nessas condições de risco.”
VIII. Discurso circular: conteúdo repetitivo, que não favorece a progressão textual na sequência discursiva.
Ex.: “Existem pessoas que se revoltam com tudo o que veem pela frente e existem pessoas que não fazem absolutamente
nada para melhorar o Brasil e o mundo. Elas precisam lutar muito para as maldades acabarem, mas são raras as pessoas
que se propõem a lutar por um mundo melhor.”
 Quadro resumo dos principais conectores a serem usados em um texto dissertativo-argumentativo

Ideias Conectores

Adição /soma / E, também, mas também, além disso, outrossim, ademais, diante disso, com isso, ainda, nesse sentido, nesse contexto,
continuidade para tanto, nessa perspectiva, nesse âmbito, no que tange a, em face disso...

Explicação /
Pois, porque, uma vez que, devido a, já que, como, que, por causa de, por isso, em verdade, com efeito, em virtude
justificativa /
disso, por meio de, por intermédio de...
causa

Oposição / Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora, mesmo que, ainda que, posto que, apesar de que,
concessão não obstante, a despeito...

Finalidade A fim de que, para que, com o fito de, para...

Conclusão Portanto, logo, desse modo, dessa maneira, destarte, por conseguinte, pois...

ESTUDO DE CASO

O URGENTE COMBATE À AUTOMEDICAÇÃO NO BRASIL

No Brasil, a prática da automedicação surgiu com os índios, os quais produziam substâncias voltadas para a solução de suas
enfermidades. Mais de quatrocentos anos depois, tal prática, embora perigosa, tem-se intensificado em boa parte da sociedade brasileira
devido à falta de informação e de fiscalização, o que deve ser combatido urgentemente em razão de suas graves consequências. Para
isso, é primordial a participação do Poder Público e da população nesse combate.
Efetivamente, entre os males da automedicação, está a possibilidade do aparecimento de diversos tipos de câncer, como o de
estômago, pâncreas, fígado; o aumento de resistência de bactérias a tratamentos com antibióticos e a redução da imunidade. Além disso,
esse ato contribui para o maior número de internações e mais gastos para a cura de pacientes, o que ocorre tanto no sistema público
de saúde quanto na rede privada. Diante de tão graves problemas, por que ainda persiste a prática de automedicar-se? Certamente,
a desinformação e a falta de fiscalização por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) são as causas principais dessa
persistência.
Com efeito, uma das razões desse mau hábito é o fato de milhares de brasileiros desconhecerem os perigos da automedicação,
já que a sazonalidade de campanhas educativas sobre o tema, normalmente, contribui para isso. Pouco se debate esse assunto, por
exemplo, em âmbitos laborais, escolares, midiáticos. Outras são deficiências no Sistema Único de Saúde (SUS), visto que, principalmente
no atendimento primário do qual fazem parte postos de saúde, revela-se nestes um modelo burocrático que dificulta a marcação de
consultas e gera longas filas, o que se deve também ao número reduzido de médicos. Há de se registrar inclusive a falta de medicamentos
nas farmácias desses postos.
Portanto, urge combater a automedicação no Brasil. Para isso, é preciso que o Ministério da Saúde, com apoio de secretarias
estaduais e municipais, direcione mais verbas, por meio de previsão orçamentária, para ampliar a oferta de médicos, abastecer os
postos de saúde com os necessários medicamentos e desburocratizar atendimentos. É necessário ainda que o Poder Público intensifique
as campanhas educativas, especialmente em mídias de longo alcance, esclarecendo a população mais humilde sobre os riscos da
automedicação. Desse modo, a saúde da população estará resguardada.

Anual – Volume 3 125


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
RECONHECENDO O PLANEJAMENTO DA REDAÇÃO

TEMA: O URGENTE COMBATE À AUTOMEDICAÇÃO NO BRASIL


TESE (NEGATIVA): _________________________________________________________________________________________________

ARG. 1 (CAUSA):_______________

CAUSA 1: _______________________

REPERTÓRIO 1: __________________

ARG. 2 (CAUSA):_______________

CAUSA 2: _______________________

REPERTÓRIO 2: __________________

SOLUÇÃO:
1. AGENTE: ______________________________________________________________________________________________________
2. AÇÃO: ________________________________________________________________________________________________________
3. DETALHAMENTO: _____________________________________________________________________________________________
4. MEIO: ________________________________________________________________________________________________________
5. FINALIDADE/EFEITO: ___________________________________________________________________________________________

Respostas:
automedicação.
5. Finalidade: Orientar e conscientizar sobre os riscos da
4. Meio: Campanhas e palestras de conscientização.
3. Detalhamento: Divulgação, postagens nas redes sociais.
2. Ação: Ampliar a oferta de médicos / abastecer postos.
1. Agente: Ministério da Saúde.
Solução:

Repertório 2: SUS.
Causa 2: Automedicação.
conscientização / pouca oferta de médicos.
Arg. 2 (desafio): A sazonalidade de campanhas de

Repertório 1: ANVISA.
Causa 1: Surgimento de doenças graves e superbactérias.
Arg. 1 (desafio): Falta de informação.

Tese (negativa): Os riscos da automedicação.

Fique de Olho

ASPECTOS FORMAIS DA LÍNGUA


Acentuação gráfica
A acentuação é um fenômeno que se manifesta tanto na língua falada quanto na escrita. No âmbito da fala, marcamos a
acentuação das palavras de forma automática, com uma sutil elevação de voz. Eventualmente, ocorrem dúvidas quanto à pronúncia que
são na verdade dúvidas quanto à acentuação de determinada palavra, como nos exemplos: rubrica ou */ rúbrica /, Nobel ou */ Nóbel /.
Na língua escrita, a acentuação das palavras decorre basicamente da necessidade de marcar aqueles vocábulos que, “sem acento,
poderiam ser lidos ou interpretados de outra forma”.
A acentuação gráfica compreende o uso de quatro sinais:
a) o agudo (.´.), para marcar a tonicidade das vogais “a” (paráfrase, táxi, já), “i” (xícara, cível, aí) e “u” (cúpula, júri, miúdo); e a tonicidade
das vogais abertas “e” (exército, série, fé) e “o” (incólume, dólar, só);
b) o grave (.`.), exclusivamente para indicar a ocorrência de crase, i.e., é a coocorrência da preposição “a” com o artigo feminino
“a” ou com os demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo (ver adiante Casos Especiais).
c) o circunflexo (^), para marcar a tonicidade da vogal “a” nasal ou nasalada (lâmpada, câncer, espontâneo), e das vogais fechadas “e”
(gênero, tênue, português) e “o” (trôpego, bônus, robô);
d) e acessoriamente o til (~), para indicar a nasalidade (e, em geral, a simultânea tonicidade) em “a” e “o” (cristã, cristão, pães, cãibra;
corações, põe(s), põem).

126 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Regras de Acentuação Gráfica preposição “a” com o artigo feminino “a”, “as” ou com os
demonstrativos “aquele(s)”, “aquela(s)”, “aquilo”: encaminhar a a
Quanto à Tonicidade Procuradoria > Encaminhar à Procuradoria; Devido a a gestão
do ministro > Devido à gestão do ministro; Falar a a secretária >
– Proparoxítonos: todas as palavras em que a antepenúltima falar à secretária.
sílaba é a mais forte são acentuadas graficamente:
Emprega-se, ainda:
câmara, estereótipo, falávamos, discutíamos, América, África.
Seguem, ainda, esta regra os proparoxítonos eventuais ou – para diferenciar a preposição “a” do artigo feminino singular
relativos, i. e, os terminados em ditongo crescente: ministério, “a” em locuções como à caneta, à máquina;
ofício, previdência, homogêneo, ambíguo, Ásia, Rondônia. – em locuções em que significa à moda, à maneira (de):
– Paroxítonos: as palavras em que a penúltima sílaba é a mais sair à francesa, discurso à Rui Barbosa etc.
forte são acentuadas graficamente quando terminam em: b) Acento diferencial: marca a diferença entre homógrafos ou
– i(s): júri(s), táxi(s), lápis, tênis; homófonos exclusivamente nos seguintes casos:
– us: bônus, vírus, Vênus;
– ã(s), -ão(s): órfã, ímã, órfãs, órgão, órgãos, bênção, bênçãos; – têm (eles) para distingui-lo de tem (ele), e vêm (eles), distinto
– on, -ons: nêutron, elétron, nêutrons; de vem (ele); (vale nos derivados: eles detêm, provêm,
– um, -uns: fórum, álbum, fóruns, álbuns; distinto de detém, provém (ele);
– l: estável, estéril, difícil, cônsul, útil; – pôde (pretérito perfeito) distinto de pode (presente);
– n: hífen, pólen, líquen; c) Til: tem como função primeira a de indicar a nasalização das
– r: açúcar, éter, mártir, fêmur; vogais “a” e “o”, mas eventualmente acumula também a função
– x: látex, fênix, sílex, tórax; de marcar a tonicidade (chã, manhã, cristã, cãibra).
– ps: bíceps, fórceps.
Acrescente-se, por fim, que as regras para acentuação
gráfica valem igualmente para nomes próprios (América, Brasília,
Observações: Suécia, Pará, Chuí, Maceió etc.) e para abreviaturas de palavras
a) A regra de acentuar paroxítonos terminados em “i” ou “r” acentuadas (página – pág., páginas – págs., século – séc.).
não se aplica aos prefixos terminados nessas letras: anti-, A acentuação de palavras estrangeiras ainda não
semi-, hemi-, arqui-, super-, hiper-, alter-, inter- etc. aportuguesadas segue as regras da língua a que pertencem:
b) Atente para o fato de que a regra dos paroxítonos détente, habitué, vis-à-vis (francês).
terminados em -en não se aplica ao plural dessas palavras
nem a outras com a terminação -ens: liquens, hifens, Sinais de pontuação
itens, homens, nuvens etc.
Aspas
– Oxítonos: as palavras em que a sílaba mais forte é a última são As aspas têm os seguintes empregos:
acentuadas quando terminadas em:
– a(s): guaraná, atrás, (ele) será, (tu) serás, Amapá, Pará; a) usam-se antes e depois de uma citação textual:
– e(s): tevê, clichê, cortês, português, pajé, convés; A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988,
– o(s): complô, robô, avô, avós, após, quiproquó(s); no parágrafo único de seu artigo 1º afirma: “Todo o poder emana
– em, -ens: armazém, armazéns, também, (ele) provém (eles) do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
detêm (Casos Especiais, b.). diretamente”.
As palavras tônicas que possuem apenas uma sílaba b) dão destaque a nomes de publicações, obras de arte,
(monossílabos) terminadas em “a”, “e” e “o” seguem também intitulativos, apelidos etc.:
esta regra: pá, pé pó, (tu) dás, três, mês, (ele) pôs, má, más; O artigo sobre o processo de desregulamentação foi
assim também os monossílabos verbais seguidos de pronome: publicado no “Jornal do Brasil”.
dá-la, tê-lo, pô-la etc. A Secretaria da Cultura está organizando uma apresentação
das “Bachianas”, de Villa Lobos.
Quanto aos Encontros Vocálicos
c) destacam termos estrangeiros:
– Ditongos abertos tônicos: os ditongos “ei”, “eu”, “oi”
têm a primeira vogal acentuada graficamente quando for O processo da “détente” teve início com a Crise dos Mísseis
aberta e estiver na sílaba tônica: papéis, réis, mausoléu, em Cuba, em 1962.
céus, corrói, heróis. “Mutatis mutandis”, o novo projeto é idêntico ao
anteriormente apresentado.
Observação: d) nas citações de textos legais, as alíneas devem estar
Se o ditongo aberto estiver na posição de penúltima entre aspas:
sílaba(paroxítona), não haverá acento. Ex.: heroico. O tema é tratado na alínea “a” do artigo 146 da Constituição.
– Hiatos em “i” e “u”: “i” e “u” tônicos, finais de sílaba com Obs.: Atualmente, no entanto, tem sido tolerado o uso de itálico
ou sem “s”, e precedidos de vogal não tremada, levam acento como forma de dispensar o uso de aspas, exceto na hipótese de
agudo quando não forem seguidos de “nh”. Ex.: ensaísta, citação textual.
saída, juízes, país, baú(s), saúde, reúne, amiúde (adv.), viúvo A pontuação do trecho que figura entre aspas seguirá as
(atenção: bainha, moinho). regras gramaticais correntes. Caso, por exemplo, o trecho transcrito
entre aspas terminar por ponto-final, este deverá figurar antes
Casos Especiais do sinal de aspas que encerra a transcrição. Exemplo: O art. 2º
da Constituição Federal – “São Poderes da União, independentes
a) Acento grave: é usado sobre a letra “a”, para indicar a
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”
ocorrência de crase (do grego krásis, mistura, fusão) da
– já figurava na Carta anterior.

Anual – Volume 3 127


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
Travessão Conclusivas: relacionam pensamentos tais que o segundo
contém a conclusão do enunciado no primeiro. São: logo, pois,
O travessão, que é um hífen prolongado (—), é empregado portanto, consequentemente, por conseguinte etc.
nos seguintes casos:
a) substitui parênteses, vírgulas, dois-pontos: A inflação é o maior inimigo da Nação; logo, é meta
O controle inflacionário — meta prioritária do Governo — será prioritária do governo eliminá-la.
ainda mais rigoroso. Explicativas: relacionam pensamentos em sequência
As restrições ao livre mercado — especialmente o de produtos justificativa, de tal modo que a segunda oração explica a razão de
tecnologicamente avançados — podem ser muito prejudiciais ser da primeira. São: que, pois, porque, portanto.
para a sociedade. Aceite os fatos, pois eles são o espelho da realidade.
b) indica a introdução de enunciados no diálogo:
Indagado pela comissão de inquérito sobre a procedência de Períodos Subordinados e Conjunções
suas declarações, o funcionário respondeu:
Subordinativas
— Nada tenho a declarar a esse respeito.
c) indica a substituição de um termo, para evitar repetições: As conjunções subordinativas unem duas orações de
natureza diversa: a que é introduzida pela conjunção completa o
O verbo fazer (vide sintaxe do verbo —), no sentido de tempo
sentido da oração principal ou lhe acrescenta uma determinação.
transcorrido, é utilizado sempre na 3ª pessoa do singular:
As orações subordinadas desenvolvidas (i. e, aquelas que apresentam
Faz dois anos que isso aconteceu.
verbo em uma das formas finitas, indicativo ou subjuntivo) e as
d) dá ênfase a determinada palavra ou pensamento que segue: conjunções empregadas em cada modalidade de subordinação
Não há outro meio de resolver o problema — promova-se o são as seguintes:
funcionário.
Substantivas: desempenham funções de substantivo, ou
seja, sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo. Podem
Tipos de Orações e Emprego de Conjunções ser introduzidas pelas conjunções integrantes que, se, como;
As conjunções são palavras invariáveis que ligam orações, pelos pronomes relativos, que, quem, quantos; pelos pronomes
termos da oração ou palavras. Estabelecem relações entre orações interrogativos quem, (o) que, quanto(a)(s), qual (is), como,
e entre os termos sintáticos, que podem ser de dois tipos: onde, quando. De acordo com a função que exercem, as orações
são classificadas em:
a) de coordenação de ideias de mesmo nível, e de elementos de a) Subjetivas:
idêntica função sintática; É surpreendente que as transformações ainda não tenham sido
b) de subordinação, para estabelecer hierarquia entre as ideias, assimiladas.
e permitir que uma oração complemente o sentido da outra. Quem não tem competência não se estabelece.
b) Objetivas diretas:
Por esta razão, o uso apropriado das conjunções é de O Ministro anunciou que os recursos serão liberados.
grande importância: seu emprego indevido gera imprecisão ou c) Objetivas indiretas:
combinações errôneas de ideias. A liberação dos recursos depende de que o Ministro a autorize.
d) Predicativas:
Períodos Coordenados e O problema do projeto foi que ninguém previu todas as suas
Conjunções Coordenativas consequências.

As conjunções coordenativas unem elementos de mesma Adjetivas: desempenham a função de adjetivo, restringindo
natureza (substantivo + substantivo; adjetivo + adjetivo; o sentido do substantivo a que se referem, ou simplesmente lhe
advérbio + advérbio; e oração + oração). Em períodos, as orações acrescentando outra característica. São introduzidas pelos pronomes
por elas introduzidas recebem a mesma classificação, a saber: relativos que, o (a) qual, quem, quanto, cujo, como, onde,
quando. Podem ser, portanto:
Aditivas: relacionam pensamentos similares. São duas:
e e nem. A primeira une duas afirmações; a segunda, a) Restritivas:
duas negações. Só poderão inscrever-se os candidatos que preencheram todos
O Embaixador compareceu à reunião e manifestou o os requisitos para o concurso.
interesse do seu governo no assunto. b) Não restritivas (ou explicativas)
O Embaixador não compareceu à reunião, nem manifestou O Presidente da República, que tem competência exclusiva nessa
o interesse de seu governo no assunto. matéria, decidiu encaminhar o projeto.
Adversativas: relacionam pensamentos que se opõem Observe que o fato de a oração adjetiva restringir, ou não,
ou contrastam. A conjunção adversativa por excelência é “mas”. o substantivo (nome ou pronome) a que se refere repercute na
Outras palavras também têm força adversativa na relação entre pontuação. Na frase de a), a oração adjetiva especifica que não
ideias: porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto. são todos os candidatos que poderão inscrever-se, mas somente
O piloto gosta de automóveis, mas prefere deslocar-se em aqueles que preencherem todos os requisitos para o concurso.
aviões. Como se verifica pelo exemplo, as orações adjetivas restritivas
O piloto gosta de automóveis; prefere, porém, deslocar-se não são pontuadas com vírgula em seu início. Já em b) temos o
em aviões. exemplo contrário: como só há um Presidente da República, a
Alternativas: relacionam pensamentos que se excluem. oração adjetiva não pode especificá-lo, mas apenas agregar alguma
As conjunções alternativas mais utilizadas são: ou, quer...quer, característica ou atributo dele. Este segundo tipo de oração vem,
ora...ora, já...já. obrigatoriamente, precedido por vírgula anteposta ao pronome
O Presidente irá ao encontro (ou) de automóvel, ou de avião. relativo que a introduz.

128 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Adverbiais: que cumprem a função de advérbios. As ESPAÇO DA LEITURA
conjunções que com mais frequência conectam essas orações
vêm listadas ao lado da denominação de cada modalidade.
As orações adverbiais são classificadas de acordo com a ideia QUEM LÊ APRENDE MAIS E ESCREVE MELHOR
expressa por sua função adverbial:
OS PILARES QUE VÃO MOVER A ECONOMIA DO BRASIL
a) Causais: porque, como, desde que, já que, visto, uma vez que
(antepostos). À frente do superministério da Economia, Guedes foi direto
O Coronel assumiu o comando porque o General havia falecido. em seu discurso e apresentou os direcionamentos
Como o General havia falecido, o Coronel assumiu o comando. para fazer a economia crescer.
b) Concessivas: embora, conquanto, ainda que, posto que, se bem O discurso do novo ministro da Economia, Paulo Guedes,
que etc. na passagem de cargo, ontem, reafirmou o compromisso com a
O orçamento foi aprovado, embora os preços estivessem altos. agenda liberal. Para ele, o desequilíbrio fiscal é o cerne da crise
c) Condicionais: se, caso, contanto que, sem que, uma vez que, e o tripé reforma da Previdência, privatizações e simplificações
dado que, desde que etc. de tributos é o que vai tirar as contas públicas do vermelho.
O Presidente baixará uma medida provisória se houver Mas, a abertura de mercado é o quarto pilar para fazer a roda da
necessidade. economia girar.
Informarei o Secretário sobre a evolução dos acontecimentos Empossado no dia 1º de janeiro, ao lado de outros
contanto que ele guarde sigilo daquilo que ouvir. 21 representantes do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Guedes
d) Conformativas: como, conforme, consoante, segundo etc. comanda o superministério, que integra sete secretarias especiais.
Despachei o processo conforme determinava a praxe em vigor. A pasta reúne os antigos Ministérios da Fazenda, do Planejamento
e) Comparativas: que, do que (relacionados a mais, menos, maior, e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, além de absorver
menor, melhor, pior); qual (relacionado a tal); como ou quanto parte das funções do Ministério do Trabalho.
(relacionados a tal, tanto, tão); como se etc. “O diagnóstico tem que começar pelo controle de gastos.
Nada é tão importante como (ou quanto) o respeito aos direitos Não precisa cortar dramaticamente, é não deixar crescer no ritmo
humanos. que crescia”, disse em seu primeiro discurso pós-posse. Ainda em
f) Consecutivas: que (relacionado com tal, tão, tanto, tamanho); lua de mel com o governo bolsonarista, o mercado reagiu. O aceno
de modo que, de maneira que etc. às privatizações valorizou os papéis da Eletrobras (alta de 20,72%),
O descontrole monetário era tal que não restou outra solução Eletrobras PNB (alta de 14,52%) e a Sabesp (alta de 9,11%).
senão o congelamento. Sobre a reforma previdenciária, a avaliação é que ela
g) Finais: para que ou por que, a fim de que, que etc. constrói a saída para o desequilíbrio fiscal provocado pelo sistema
O pai trabalha muito para (ou a fim de) que nada falte aos atual de aposentadoria e deve ser aprovada de maneira célere.
filhos. O plano B, caso não consiga a votação, é apresentar uma
h) Proporcionais: à medida ou proporção que, ao passo que etc. Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para desvincular os
As taxas de juros aumentavam à proporção (ou medida) que recursos orçamentários da União. Aplicar medidas mais duras.
a inflação crescia. Ricardo Eleutério, professor de Economia da Universidade de
i) Temporais: quando, apenas, mal, até que, assim que, antes ou Fortaleza (Unifor) e conselheiro do Conselho Regional de Economia
depois que, logo que, tanto que etc. Ceará, aponta que a medida é arriscada e coloca as contas nas
O acordo será celebrado quando alcançar-se um entendimento mãos dos políticos. “Tem todo um conjunto de forças e interesses.
mínimo. Vivemos num País com extrema desigualdade e se a população
Apenas iniciado o mandato, o governador decretou a moratória carente não estiver representada e um congresso com maior
da dívida pública do Estado. autonomia para decidir com gastos públicos, pode servir para piorar
a nossa péssima distribuição de renda e riqueza”.
Orações Reduzidas No âmbito das concessões, elas têm a missão de reduzir o
tamanho do Estado. O cearense Tarcísio Gomes de Freitas, ministro
A mesma classificação das orações subordinadas da Infraestrutura, reitera que a pauta é prioridade. E a simplificação
desenvolvidas vale para as reduzidas, aquelas em que o verbo está dos gastos visa gerar um aumento da receita.
em uma das três formas nominais (infinitivo, particípio e gerúndio). No geral, o ministro está confiante e prevê que uma carga
Mencionemos alguns exemplos: tributária ideal para o Brasil é de 20% do Produto Interno Bruto (PIB).
a) substantivas: são sempre reduzidas de infinitivo (pois essa é “Acima disso, é o quinto dos infernos”, brincou. Guedes aposta na
a forma nominal substantiva do verbo): criação de um imposto único. Segundo ele, a medida vai unificar o
É obrigatório revisar o texto. pagamento de sete a oito tributos e ajudar na descentralização de
O Chefe prefere refazer ele mesmo o texto. recursos para Estados e municípios.
Eu gosto de reler todos os textos. O secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra,
O grande objetivo é escrever bem. reforçou que há uma série de alternativas em andamento. Ele disse
preferir a tributação sobre as movimentações financeiras, mas é
b) adjetivas:
possível também um imposto sobre valor agregado (IVA) ou sobre
Havia lá um arquivo contendo leis e decretos. o faturamento de empresas. “Ainda analisamos alternativas”.
c) adverbiais: ocorrem na forma reduzida das orações causais, Para Eleutério, é necessária uma medida de simplificação
concessivas, condicionais, consecutivas, finais e temporais: para um sistema menos injusto e complexo. Ele pondera, no entanto,
Irritou-se por andar excessivamente atarefado. que alguns tributos podem não ser contemplados.
Apesar de ler muito gramática, não escreve bem. (...)
Elaborado com atenção, o texto melhora muito.
Não conseguia trabalhar sem concentrar-se. Disponível em: <https://www.opovo.com.br/
jornal/reportagem/2019/01/os-pilares-que-vao-mover-a-economia-do-brasil.html>.
Manual de Redação da Presidência da República.
Acesso: 28 fev. de 2019

Anual – Volume 3 129


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III

Proposta de Redação

TEXTOS MOTIVADORES
(Enem/2018)
Texto I

Reprodução/Enem 2018
Portal G1 com dados do iBGE.
Disponível em: <http:/g1.globo.com>. Acesso em: 7 maio 2018. Adaptado.

Texto II

Moedas sociais circulam por todo o Brasil e impulsionam economia das comunidades

Engana-se quem pensa que o Real é a única moeda em circulação no Brasil. Além dele, existem centenas de outras, chamadas de
moedas sociais, já muito usadas em diversas regiões do país. As moedas sociais estão ligadas a bancos comunitários. Elas são consideradas
complementares à moeda oficial brasileira e, em geral, são lastreadas pelo Real. Hoje, as mais de cem moedas sociais em circulação no
Brasil movimentam mais de R$ 6 milhões por ano, seja em crédito produtivo, seja em meio circulante físico. Esses bancos atuam onde
os bancos tradicionais não entram.
Disponível em: <www.conexaoplaneta.com.br>.
Acesso em: 7 maio 2018. Adaptado.

Texto III
Reprodução/Enem 2018

Desde 2011, os Xavante da aldeia Marãiwatsédé fazem parte da Rede de Sementes do Xingu. A aldeia Ripá, da mesma etnia,
se juntou a eles no trabalho de coleta e comercialização de sementes florestais para a recuperação de áreas degradadas. Além de ser
uma importante alternativa econômica para os Xavante, a atuação na produção de sementes efetiva caminhos para o mapeamento
participativo dos territórios e integra valorização da cultura tradicional com novas oportunidades para os jovens.
Disponível em: <http://terramirim.org.br>. Acesso em: 7 maio 2018. Adaptado.

130 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Texto IV

P.S.O.: Qual seria a importância principal da economia solidária na sociedade brasileira atual?
Paul Singer: O trabalho é uma forma de aprender, de crescer, de amadurecer, e essas oportunidades a economia solidária oferece
a todos, sem distinção. [...] Os trabalhadores não têm um salário assegurado no fim do mês, que é uma das conquistas importantes dos
trabalhadores no sistema capitalista, no qual eles não participam dos lucros e tampouco dos riscos. Agora, trabalhando em sua própria
cooperativa, eles são proprietários de tudo o que é produzido, mas também os prejuízos são eles.

SINGER, Paul. Economia Solidária. [Jan/Abr. 2006] São Paulo: Estudos Avançados.
v. 22. nº 62. Entrevista concedida a Paulo de Salles Oliveira.

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um
texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Formas de organização
da sociedade para o enfrentamento de problemas econômicos no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que
respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.

Exercícios de Fixação

01. (Fuvest) Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.


Tem-se discutido muito sobre as funções essenciais da linguagem humana e a hierarquia natural que há entre elas. É fácil
observar, por exemplo, que é pela posse e pelo uso da linguagem, falando oralmente ao próximo ou mentalmente a nós mesmos,
que conseguimos organizar o nosso pensamento e torná-lo articulado, concatenado e nítido; é assim que, nas crianças, a partir
do momento em que, rigorosamente, adquirem o manejo da língua dos adultos e deixam para trás o balbucio e a expressão
fragmentada e difusa, surge um novo e repentino vigor de raciocínio, que não só decorre do desenvolvimento do cérebro, mas
também da circunstância de que o indivíduo dispõe agora da língua materna, a serviço de todo o seu trabalho de atividade mental.
Se se inicia e desenvolve o estudo metódico dos caracteres e aplicações desse novo e preciso instrumento, vai, concomitantemente,
aperfeiçoando-se a capacidade de pensar, da mesma sorte que se aperfeiçoa o operário com o domínio e o conhecimento seguro
das ferramentas da sua profissão. E é este, e não outro, antes de tudo, o essencial proveito de tal ensino.

J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.

A) Transcreva o trecho em que o autor trata da relação da linguagem com o pensamento.

B) Transcreva o trecho em que o autor trata da relação da linguagem com a fisiologia.

C) Segundo o autor, qual é o “essencial proveito” do ensino da língua?

Anual – Volume 3 131


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
02. (UFRN) Articule, coerentemente, as três orações listadas B) O texto mostra que a experiência de leitura promove uma
abaixo em um só período. importante mudança subjetiva. Explique essa mudança e
– O professor não é a árvore da sabedoria. (oração principal) cite dois trechos nos quais ela é explicitada.
– O professor possui grandes conhecimentos. (oração
subordinada)
– O professor também aprende com seus alunos. (oração
subordinada)
• Texto para a próxima questão.
Para isso, considere as seguintes orientações:
– a oração principal e as subordinadas já estão previamente AONDE VOCÊ VAI?
definidas, não podendo haver permuta entre elas;
– a ordem em que as orações surgirão no período é livre; Para quem não sabe aonde vai qualquer caminho serve.
– as orações subordinadas, necessariamente, deverão Só que o indeciso perde muito tempo. E tempo é o bem mais
assumir uma forma desenvolvida (não reduzida). escasso. Definir a rota de primeira ajuda a ganhar pontos.
A rota é o objetivo.
Lembre-se de que, ao articular as orações, pode ser necessário
Dad Abi Chahine Squerisi. Correio Braziliense, Cidades,
fazer certos ajustes no que se refere à flexão verbal e à coesão. 18/12/96, p.6. Adaptado.

• Na questão a seguir, assinale os itens corretos e os itens errados


usando (V) e (F).

03. (Unicamp/2015) No texto abaixo, há uma presença significativa 04. (UnB) Considerando o parágrafo retirado do Correio
de metáforas que auxiliam na construção de sentidos. Braziliense como parte de um texto dissertativo, que deve
primar pela objetividade, pela clareza, pela coerência e pelo
ENTRE SILÊNCIOS E DIÁLOGOS tratamento consistente da ideia principal escolhida, julgue os
Havia uma desconfiança: o mundo não terminava onde itens a seguir.
os céus e a terra se encontravam. A extensão do meu olhar ( ) Por apresentar mais de três ideias diferentes, esse
não podia determinar a exata dimensão das coisas. Havia o parágrafo faz parte do desenvolvimento de uma
depois. Havia o lugar do sol se aninhar enquanto a noite se argumentação.
fazia. Havia um abrigo para a lua enquanto era dia. E o meu
( ) Nesse parágrafo, não há conectivo ou outro elemento de
coração de menino se afogava em desesperança. Eu que não
coesão.
era marinheiro nem pássaro – sem barco e asa.
Um dia aprendi com Lili a decifrar as letras e suas somas. ( ) A coerência desse parágrafo baseia-se no processo
E a palavra se mostrou como caminho poderoso para encurtar de repetição de algumas palavras-chave; por exemplo,
distância, para alcançar onde só a fantasia suspeitava, para “tempo” e “rota”.
permitir silêncio e diálogo. Com as palavras eu ultrapassava
a linha do horizonte. E o meu coração de menino se afagava 05. (Unicamp) O autor do texto a seguir conhece um tipo de
em esperança. raciocínio cuja estrutura lembra propriedades de um círculo e
Ao virar uma página do livro, eu dobrava uma esquina, tenta reproduzi-lo. No entanto, não é bem-sucedido.
escalava uma montanha, transpunha uma maré.
Ao passar uma folha, eu frequentava o fundo dos (...) Gera-se, assim, o círculo vicioso do pessimismo. As coisas
oceanos, transpirava em desertos para, em seguida, me fazer não andam porque ninguém confia no governo. E porque
hóspede de outros corações. ninguém confia no governo as coisas não andam.
Pela leitura temperei a minha pátria, chorei sua miséria,
provei de minha família, bebi de minha cidade, enquanto, Gilberto Dimenstein,
pacientemente, degustei dos meus desejos e limites. Folha de S. Paulo, 22/11/1990.
Assim, o livro passou a ser o meu porto, a minha porta,
o meu cais, a minha rota. Pelo livro soube da história e criei os A) Reescreva o trecho de maneira que ele passe a ter estruturas
avessos, soube do homem e seus disfarces, soube das várias de um verdadeiro círculo vicioso.
faces e dos tantos lugares de se olhar. (...) Ler é aventurar-se
pelo universo inteiro.

Bartolomeu Campos de Queirós, Sobre ler, escrever e outros diálogos.


Belo Horizonte: Autêntica, 2012, p. 63.

A) No trecho “Assim, o livro passou a ser o meu porto, B) Comparando o que você fez e o que fez o autor, explique
a minha porta, o meu cais, a minha rota”, há metáforas que em que ele se equivocou.
expressam a experiência do autor com a leitura. Escolha uma
dessas metáforas e explique-a, considerando seu sentido
no texto.

132 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles
movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo o
Exercícios Propostos instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor
inundaria o meu cromo italiano.
E foi assim que a testa e a calva do valente filho do
01. (UEMA) O texto a seguir foi transcrito integralmente da obra povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um
Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina brilho de espelho, à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos
Maria de Jesus. Leia-o com atenção e observe o mecanismo tão brilhantes, tão dignamente suados.
de coesão entre as frases no último parágrafo. Na hora de pagar, alegando não ter nota menor,
deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado,
30 DE OUTUBRO retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu
(...) viesse a precisar no resto dos meus dias.
Eu comecei a fazer as contas quando levar os filhos Saí daquela cadeira com um baita sentimento de
na cidade quanto eu vou gastar de bonde. 3 filhos e eu, culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos
24 cruzeiros ida e volta. Pensei no arroz a 30 o quilo. assim, por 45 míseros tostões fizera um filho do povo suar
Uma senhora chamou-me para dar-me papeis. Disse-lhe para ganhar seu pão. 1Olhei meus sapatos e tive vergonha
que devido ao aumento da condução a polícia estava nas ruas. daquele brilho humano salgado como lágrimas.
Ela ficou triste. Percebi que a notícia do aumento entristece CONY, Carlos Heitor. In: Eu aos pedaços: memórias.
todos. Ela disse-me: São Paulo: Leya, 2010. p. 114-115.
– Eles gastam nas eleições e depois aumentam
qualquer coisa. O Auro perdeu, aumentou a carne. 02. (Uece) Escreva (V) ou (F), conforme seja verdadeiro ou
O A d h e m a r p e rd e u , a u m e n t o u a s p a s s a g e n s . falso o que se afirma sobre referenciação e relações
Um pouquinho de cada um, eles vão recuperando o que sintático-semânticas.
gastam. Quem paga as despesas das eleições é o povo! ( ) O trecho “No dia seguinte, os jornais diriam que fora o dia
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio”
Diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007. constitui, na narrativa, uma digressão cuja função discursiva é
comprovar o que se afirma em “Fazia calor no Rio, quarenta
O discurso direto, reproduzido no fragmento em destaque, graus e qualquer coisa, quase quarenta e um.”
é marcado por um encadeamento semântico-discursivo que ( ) A expressão “esses engraxates” (ref. 3) justifica-se, no
resulta na sequência narrativa. A expressão coesiva responsável texto, pela relação indireta com o verbo “engraxar”:
por essa sequência é o ato de engraxar pressupõe um agente, no caso, um
A) “qualquer coisa”. B) “das eleições”. profissional — um engraxate — “esses engraxates”.
C) “de cada um”. D) “e depois”. ( ) Nas expressões “(n)aquela espécie de cadeira canônica
E) “o que”. [...]” (ref. 4) e “Pegou aquele paninho que dá brilho [...]”
(ref. 5), ao usar o pronome aquele(a), o enunciador não
• Texto para a questão 02. aponta para nenhum elemento da superfície textual, mas
aposta no conhecimento de mundo do enunciatário; em
O texto a seguir foi extraído do livro de memórias algo que acredita estar na memória dele.
do escritor e jornalista carioca, que nasceu em 1926, ( ) Nas palavras do cronista, “Uso-o pouco, em parte para
Carlos Heitor Cony. poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre
Um livro de memórias é “relato que alguém faz, de tênis.” (ref. 6), o pronome o(lo) substitui a expressão
frequentemente, na forma de obra literária, a partir de o meu sapato, (ref. 7), funcionando como elemento
acontecimentos históricos dos quais participou ou foi de coesão entre o enunciado em pauta e o enunciado
testemunha, ou que estão fundamentados em sua vida anterior.
particular”. Não deve ser confundido com autobiografia.
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:
O SUOR E A LÁGRIMA A) V – V – V – V
B) F – V – F – F
Fazia calor no Rio, quarenta graus e qualquer coisa, C) F – F – V – F
quase quarenta e um. No dia seguinte, os jornais diriam que D) V – F – F – V
fora o dia mais quente deste verão que inaugura o século e o
milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava atrasado,
2
03. (Unicamp) A organização sintática dada a certos trechos exige
decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio são raros
do leitor um esforço desnecessário de interpretação. A seguir
3
esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos
você tem um exemplo disso.
lugares avulsos.
Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de
4
“Ao chegar ao ancoradouro, recebeu Alzira Alves Filha um colar
coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de indígena feito de escamas de pirarucu e frutos do mar, que
um rei desolado de um reino desolante. estava acompanhada de um grupo de adeptos do Movimento
O engraxate era gordo e estava com calor — o que me Evangélico Unido.”
pareceu óbvio. Elogiou 7meu sapato, cromo italiano, fabricante Folha de S. Paulo, 12/02/1992.
ilustre, os Rossetti. 6Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em A) Reescreva o trecho, apenas alterando a ordem, de forma a
parte porque quando posso estou sempre de tênis. tornar a leitura mais simples.
Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou
seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva.
5
Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com
ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

Anual – Volume 3 133


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III
B) Com base na solução que você propôs, explique por que, Das duas ocorrências de “de que”, no excerto acima, uma está
do ponto de vista da estrutura sintática do português, o correta e a outra não.
trecho anterior oferece dificuldade desnecessária para a A) Justifique a correta.
compreensão.

B) Corrija a incorreta, dizendo por quê.


04. (Unicamp)
SEM COMENTÁRIOS
Do delegado regional do Ministério da Educação no
Rio, Antônio Carlos Reboredo, ao ler ontem um discurso de 08. (Unicamp) Ao ler o texto a seguir, alguns leitores podem
agradecimento ao seu chefe, o ministro Eraldo Tinoco: ter a impressão de que o verbo “achar” está flexionado
“Os convênios assinados traduz (sic) (*) os esforços...” equivocadamente:
Folha de S. Paulo, 12/09/1992. Painel.
ERA DO TERROR
O título da nota anterior, “Sem comentários”, é, na verdade,
um comentário que expressa o ponto de vista do jornal,
Assessores de Itamar filosofam que governo justo é
motivado por um problema gramatical no discurso lido por
aquele que entra do lado do mais fraco. Como consideram
A.C. Reboredo.
a inflação resultado de conflito na distribuição de renda,
(*) sic: palavra latina que significa “assim”. Nesse caso, é usada apregoam cadeia para quem acham que “abusa” nos preços.
pelo jornal com o sentido de “exatamente desta forma”.
Folha de S. Paulo, 11/03/1994. Painel.
A) Que problema gramatical provocou o comentário do jornal?
A) A quem o jornal atribui a opinião de que quem abusa nos
preços deve ir para a cadeia?
B) Explicite o comentário que está sugerido, neste caso
específico, pela expressão “Sem comentários”.

B) Do ponto de vista sintático, o que produz a sensação de que


há um erro de concordância?
05. (Fuvest) “Uma forte massa de ar polar veio junto com a frente
fria e causou acentuada queda da temperatura. As lavouras
de trigo da região Sul foram danificadas. Isso, associado ao
longo período com registro de pouca chuva, deve reduzir o C) Explique por que não há erro algum.
potencial produtivo da cultura.”
O Estado de S.Paulo, 04/08/1993, Suplemento Agrícola. Adaptado.

Reescreva o texto anterior, reunindo em um só, composto por


subordinação, os três períodos que o compõem, mantendo 09. (Unitau)
as relações lógicas, existentes entre eles e fazendo as
adaptações necessárias. “Andorinha
____________________________________________________ Andorinha lá fora está dizendo:
____________________________________________________ – “Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga
06. (Fuvest) “A Polícia Federal investiga os suspeitos de terem é mais triste!
ajudado na fuga para o Paraguai e a Argentina. A polícia desses Passei a vida à toda, à toa!!!...”
países não puderam prendê-los porque o governo brasileiro Manuel Bandeira
não fez o pedido formal de captura.”
O Estado de S. Paulo, 22/08/1993. Adaptado. Comente três tipos diferentes de pontuação.
____________________________________________________
A) No segundo período, há uma infração às normas de ____________________________________________________
concordância. Reescreva-o de maneira correta.
____________________________________________________

10. (UFPE) Observe os inconvenientes linguísticos e reescreva a


B) Indique a causa provável dessa infração. frase de forma que atenda à norma-padrão.
Convidamos aos professores para que dê início as discussões
dos assuntos em palta.
____________________________________________________
07. (Fuvest) “Não tenho dúvidas de que a reportagem esteja
à procura da verdade, mas é preciso ressalvar de que a ____________________________________________________
história não pode ser escrita com base exclusivamente em ____________________________________________________
documentos da polícia política.” ____________________________________________________
O Estado de S. Paulo, 30/08/1993.

134 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa III LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Educação. Manual de Atos e Comunicações
Oficiais. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2003.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Normas sobre
correspondências e atos oficiais. Brasília, 2001.
BRASIL. Presidência da República. Manual de redação. Coordenação
de Gilmar Ferreira Mendes. Brasília, 2004.
BRASIL. Senado Federal. Manual de correspondência oficial da
Subsecretaria de Administração de Pessoal. Brasília, 2000.
CARNEIRO, Agostinho Dias. Redação em construção – a escritura
do texto. São Paulo: Editora Moderna, 1993.
DELMANTO, Dileta. Escrevendo Melhor. Editora Ática, 1995.
DURIGAN, Regina H. de Almeida e et al. “A dissertação no
vestibular”. In: A magia da mudança – vestibular Unicamp: língua
e literatura. Campinas: Editora da Unicamp, 1987, p. 13-4.
FIGUEIREDO, Luiz Carlos. A Redação pelo Parágrafo. Editora UnB, 1995.
FIORIN, J. L. e PLATÃO, F. S. Para entender o texto – leitura e redação.
São Paulo: Ática, 1990.
GRANATIC, Branca. Técnicas Básicas de Redação. Editora Scipione, 1988.
SOARES, Magda Becker; CAMPOS, Édson Nascimento. Técnica de
Redação. Ao Livro Técnico, 1982.
TUFANO, Douglas. Estudos de Redação. Editora Moderna, 1996.

Anotações

Anual – Volume 3 135


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa III

Anotações

136 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV
Gramática Aplicada ao Texto

Objetivo(s):
• Reconhecer os tipos de verbos e suas variações.
• Identificar as formas nominais exercendo função de verbo principal.
• Diferenciar os tipos de locuções verbais em uma estrutura sintática.
• Empregar corretamente os verbos abundantes nos tempos compostos e na voz passiva.
• Diferenciar voz ativa, passiva e reflexiva.
• Compreender o conceito de voz reflexiva.
• Reconhecer o uso gramaticalmente incorreto dos pronomes reflexivos na linguagem informal.
• Adequar à norma-padrão as inadequações recorrentes no uso da voz passiva na oralidade e na escrita.
• Analisar o uso das vozes verbais no cotidiano.
• Reconhecer, em estruturas linguísticas, os verbos denominados impessoais.
• Empregar corretamente a concordância dos verbos impessoais em orações.
• Identificar os sentidos denotados pelos verbos impessoais.
• Compreender a predicação verbal de acordo com as relações semânticas existentes na estruturação linguística.
• Classificar os verbos quanto à sua predicação no contexto em que estão inseridos.
• Reconhecer as particularidades de cada transitividade verbal e seu papel na construção do predicado das orações.
• Identificar morfologicamente preposições e advérbios.
• Empregar os advérbios e as preposições na estruturação textual.
• Reconhecer as circunstâncias que os advérbios denotam.
• Perceber a funcionalidade coesiva dos advérbios e das preposições.

Conteúdo:
Aula 11: Tipos de Verbos e Locuções Verbais
Tipos de Verbos...................................................................................................................................................................................................... 138
Locução Verbal....................................................................................................................................................................................................... 138
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 140
Aula 12: Verbos III: Vozes Verbais
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 145
Aula 13: Verbos Impessoais
Os verbos impessoais............................................................................................................................................................................................. 147
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 148
Aula 14: Predicação Verbal
Predicação Verbal................................................................................................................................................................................................... 151
Verbos de Ligação.................................................................................................................................................................................................. 151
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 152
Aula 15: Preposição e Advérbio
Preposição............................................................................................................................................................................................................. 154
Advérbio................................................................................................................................................................................................................ 156
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 157
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
• Verbos anômalos: são os verbos que apresentam, em suas
Aula 11:

C-6 H-18 conjugações, mais de um radical.


Aula Tipos de Verbos e C-8 H-27 Exemplos:
Locuções Verbais “E foi assim que nos juntamos distraídos”.
11 “Ninguém pode negar que o nosso amor é tudo”.
“Não são tão poucas as arestas pra aparar”.

Nos trechos anteriores, encontra-se o verbo “ser”, considerado


Tipos de Verbos verbo anômalo de nossa língua, pois consegue ter mudanças mais
Os verbos são elementos importantes em uma estruturação profundas em seu radical. O verbo “ir” também é considerado
linguística. Eles denotam sentidos diferentes, independente da anômalo.
conjugação em que se apresentem. Nesse contexto, é importante Exemplo:
destacar algumas classificações que eles podem ter. “Não vou deixar você passar”.
• Verbos regulares: são denominados regulares os verbos que Em outras conjugações, há mudança significativa em seu radical:
permanecem com o mesmo radical, nos modos e nos tempos eu ia, eu irei, eu vou...
em que estão conjugados. • Verbos defectivos: são verbos que não podem ser conjugados
Exemplo: de forma completa, ou seja, não possuem todas as pessoas,
“Quando eu te vi andava tão desprevenido tempos ou modos verbais. Exemplo clássico é o verbo colorir,
“Por mais que eu corra...” pois não se pode conjugá-lo na 1ª pessoa do presente do
Os verbos evidenciados pertencem, respectivamente, à 1ª e à 2ª indicativo. Veja a lista a seguir de verbos defectivos.
conjugação. O que eles têm em comum é a repetição do radical
nas conjugações a que forem submetidos, isto é, o AND- no
verbo ANDA e o o CORR- no verbo CORRER. abolir doer grassar
• Verbos irregulares: são os verbos cujos radicais se alteram ou aturdir ebulir guarnir
cujas terminações não seguem o modelo da conjugação dos banir esbaforir haurir
verbos regulares. brandir esculpir
Exemplo: impingir
carpir estanguir
“Quando notei já não tinha como recuar”. precaver
colorir exaurir
reaver
O verbo “ter”, quando conjugado em outro tempo verbal, terá combalir explodir
recolorir
o seu radical alterado: eu tive; eu terei... comedir extorquir
concernir reflorir
falir
• Verbos abundantes: são verbos que apresentam particípio condir ressarcir
feder
duplo, ou seja, duas formas equivalentes no particípio, uma retorquir
condoer florir
regular e uma irregular.
delinquir fornir revelir
“O nosso amor não morrerá”.
demolir ganir ruir
A forma nominal no particípio do verbo “morrer” pode ser
“morrido” (regular) ou “morto” (irregular). Um estudo sobre o
emprego dessas duas formas será abordado ainda mais nesta aula. Locução Verbal
LISTA DE ALGUNS VERBOS ABUNDANTES Também chamadas conjugações perifrásticas, as locuções
Verbos abundantes da 1ª conjugação verbais são constituídas de verbos auxiliares com o verbo principal
aceitar: aceitado (regular) e aceito (irregular) no gerúndio ou no infinitivo. Em uma frase, desempenham papel
entregar: entregado (regular) e entregue (irregular) equivalente ao de um verbo. Nelas, o chamado verbo principal (último
ganhar: ganhado (regular) e ganho (irregular) verbo) surge sempre numa de suas formas nominais, e as flexões
matar: matado (regular) e morto (irregular) de tempo, modo, número e pessoa ocorrem nos verbos auxiliares
pagar: pagado (regular) e pago (irregular) (primeiro verbo). Nos trechos a seguir, encontramos alguns exemplos:
pegar: pegado (regular) e pego (irregular) “E você foi me conquistando devagar” – a locução equivale a
salvar: salvado (regular) e salvo (irregular) “conquistou”.
“Não vou deixar você passar” – a locução equivale a “deixo”.
Verbos abundantes da 2ª conjugação
acender: acendido (regular) e aceso (irregular) “Poder” e “dever” são auxiliares que exprimem a potencialidade
eleger: elegido (regular) e eleito (irregular) ou a necessidade de que determinado processo se realize ou não.
envolver: envolvido (regular) e envolto (irregular)
Exemplo:
morrer: morrido (regular) e morto (irregular)
“Ninguém pode negar que o nosso amor é tudo”.
prender: prendido (regular) e preso (irregular)
revolver: revolvido (regular) e revolto (irregular)
suspender: suspendido (regular) e suspenso (irregular) Observação: nem sempre a sequência de um verbo conjugado e
uma forma nominal equivale a uma locução verbal.
Verbos abundantes da 3ª conjugação Exemplo:
expelir: expelido (regular) e expulso (irregular) “Que nem ouvi tocar o alarme de perigo”.
exprimir: exprimido (regular) e expresso (irregular)
extinguir: extinguido (regular) e extinto (irregular) No verso, o verbo “tocar” faz parte da oração que completa
frigir: frigido (regular) e frito (irregular) o sentido do verbo “ouvi” da oração anterior, pois esse verbo no
imprimir: imprimido (regular) e impresso (irregular) infinitivo representa uma oração reduzida e não traz a informação
incluir: incluído (regular) e incluso (irregular) principal.
submergir: submergido (regular) e submerso (irregular)

138 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Tempos compostos Tempos Compostos do Subjuntivo
Para ocorrência de verbos nos tempos compostos, Os tempos compostos do modo subjuntivo são: pretérito
conjuga-se apenas o auxiliar, que são os verbos “ter” e “haver” perfeito, pretérito mais-que-perfeito e futuro.
enquanto o verbo principal fica sempre no particípio.
Pretérito Perfeito
Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no
Formação dos Compostos do Indicativo presente do subjuntivo.
Os tempos compostos do modo indicativo são: pretérito Exemplo:
perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e futuro • 1ª conjugação:
do pretérito. tenha gritado, tenhas gritado, tenha gritado, tenhamos gritado,
tenhais gritado, tenham gritado.
Pretérito Perfeito
Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no presente do • 2ª conjugação:
indicativo. tenha corrido, tenhas corrido, tenha corrido, tenhamos corrido,
Exemplo: tenhais corrido, tenham corrido.
• 1ª conjugação: • 3ª conjugação:
tenho gritado, tens gritado, tem gritado, temos gritado, tendes tenha conseguido, tenhas conseguido, tenha conseguido,
gritado, temos gritado. tenhamos conseguido, tenhais conseguido, tenham conseguido.
• 2ª conjugação: Pretérito mais-que-perfeito
tenho corrido, tens corrido, tem corrido, temos corrido, tendes Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no
corrido, temos corrido.
imperfeito do subjuntivo.
• 3ª conjugação:
Exemplo:
tenho conseguido, tens conseguido, tem conseguido, temos
conseguido, tendes conseguido, temos conseguido. • 1ª conjugação:
tivesse gritado, tivesses gritado, tivesse gritado, tivéssemos
Pretérito mais-que-perfeito gritado, tivésseis gritado, tivessem gritado.
Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no • 2ª conjugação:
pretérito imperfeito do indicativo. tivesse corrido, tivesses corrido, tivesse corrido, tivéssemos
Exemplo: corrido, tivésseis corrido, tivessem corrido.
• 1ª conjugação: • 3ª conjugação:
tinha gritado, tinhas gritado, tinha gritado, tínhamos gritado, tivesse conseguido, tivesses conseguido, tivesse conseguido,
tínheis gritado, tinham gritado. tivéssemos conseguido, tivésseis conseguido, tivessem
• 2ª conjugação: conseguido.
tinha corrido, tinhas corrido, tinha corrido, tínhamos corrido,
tínheis corrido, tinham corrido. Futuro
• 3ª conjugação:
Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no futuro
tinha conseguido, tinhas conseguido, tinha conseguido, tínhamos
do subjuntivo.
conseguido, tínheis conseguido, tinham conseguido.
Exemplo:
Futuro do Presente • 1ª conjugação:
Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no futuro tiver gritado, tiveres gritado, tiver gritado, tivermos gritado,
do presente do indicativo. tiverdes gritado, tiverem gritado.
Exemplo: • 2ª conjugação:
• 1ª conjugação: tiver corrido, tiveres corrido, tiver corrido, tivermos corrido,
terei gritado, terás gritado, terá gritado, teremos gritado, tereis tiverdes corrido, tiverem corrido.
gritado, terão gritado. • 3ª conjugação:
• 2ª conjugação: tiver corrido, tiveres corrido, tiver corrido, tivermos corrido,
terei corrido, terás corrido, terá corrido, teremos corrido, tereis tiverdes corrido, tiverem corrido.
corrido, terão corrido.
• 3ª conjugação: Formas Nominais
terei conseguido, terás conseguido, terá conseguido, teremos
conseguido, tereis conseguido, terão conseguido. Infinitivo Pessoal
Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no
Futuro do Pretérito infinitivo pessoal.
Os verbos auxiliares “ter” e “haver” são conjugados no futuro Exemplo:
do pretérito. • 1ª conjugação:
Exemplo: ter gritado, teres gritado, ter gritado, termos gritado, terdes
• 1ª conjugação: gritado, terem gritado.
teria gritado, terias gritado, teria gritado, teríamos gritado, teríeis • 2ª conjugação:
gritado, teriam gritado. ter corrido, teres corrido, ter corrido, termos corrido, terdes
• 2ª conjugação: corrido, terem corrido.
teria corrido, terias corrido, teria corrido, teríamos corrido, teríeis
• 3ª conjugação:
corrido, teriam corrido.
ter conseguido, teres conseguido, ter conseguido, termos
• 3ª conjugação:
teria conseguido, terias conseguido, teria conseguido, teríamos conseguido, terdes conseguido, terem conseguido.
conseguido, teríeis conseguido, teriam conseguido.

Anual – Volume 3 139


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
Infinitivo Impessoal 02. (Unifesp/2017) Os trechos “Ele sugeriu que ela entrasse em sua
O verbo auxiliar “ter” e “haver” é conjugado no infinitivo cabana” e “vieram os caçadores e perguntaram ao lenhador
impessoal. se ele tinha visto uma raposa” foram construídos em discurso
Exemplo: indireto. Ao se transpor tais trechos para o discurso direto, o
• Ter gritado. verbo “entrasse” e a locução verbal “tinha visto” assumem,
• Ter corrido. respectivamente, as seguintes formas:
• Ter conseguido.
A) “entrai” e “vira”.
Gerúndio B) “entrou” e “viu”.
O verbo auxiliar “ter” e “haver” é conjugado no gerúndio. C) “entre” e “vira”.
Exemplo: D) “entre” e “viu”.
• Tendo gritado. E) “entrai” e “viu”.
• Tendo corrido.
• Tendo conseguido. • Texto para a questão 03.

IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA


Observação: é interessante atentar para o emprego dos particípios
regulares e irregulares no tocante aos tempos compostos. (...)
a) O estagiário havia impresso o relatório.
No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem
b) O estagiário havia imprimido o relatório. assumindo grande importância.
As duas sentenças podem parecer corretas, mas somente a (...)
presente na letra b obedece à norma-padrão. Isso ocorre, porque, Disponível em: <http://www.boasaude.com.br>. Acesso em: 26 out. 2016.
nos tempos compostos, somente o particípio regular (imprimido) Texto modificado.
pode ser o verbo principal.
03. (UFJF-Pism 1/2017) Na introdução do texto, é dito que “No
Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo
grande importância”.
Exercícios de Fixação
Pode-se falar sobre a locução verbal que
A) seu verbo auxiliar está no presente do indicativo.
B) sua conjugação refere-se ao momento passado.
01. Quando alguém fala ou escreve, deixa, como enunciador,
C) seu verbo principal está no futuro do pretérito.
marcas de sua presença no enunciado. Algumas dessas marcas
são os indicadores de modalidade, ou de atitude do falante: D) seu complemento é “um problema”.
são os índices de avaliação, os de distanciamento ou adesão E) seu sujeito é “o sedentarismo”.
do locutor ao seu discurso. Falamos da modalização e dos
modalizadores. No seguinte enunciado, há uma marca de que • Texto para a questão 04.
o enunciador não adere totalmente ao que diz: PESSOAS HABITADAS
“Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha
quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance Estava conversando com uma amiga, dia desses.
consternou a todos. Muitos homens choravam também, as Ela comentava sobre uma terceira pessoa, que eu não conhecia.
mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se
(...)
a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali.“
MEDEIROS, Martha. In: Org. e Int. SANTOS, Joaquim Ferreira dos.
Dom Casmurro, Machado de Assis. As Cem Melhores Crônicas Brasileiras. Objetiva, 324-325.

Essa marca é expressa pelo vocábulo


04. (Uece/2016) Considere o excerto “Estava conversando com
A) daquele. B) parece.
C) só. D) mesma. uma amiga, dia desses”, e o que se diz sobre ele.
E) outra. I. Tem-se uma locução verbal de gerúndio – estava
conversando –, em que “estava” é o verbo auxiliar e
• Leia a fábula A raposa e o lenhador, do escritor grego Esopo “conversando” é o verbo principal;
(620 a.C.?-564 a.C.?), para responder à questão 02. II. O verbo auxiliar, no presente exemplo, empresta um matiz
semântico novo ao verbo principal;
Enquanto fugia de caçadores, uma raposa viu um lenhador
e lhe pediu que a escondesse. Ele sugeriu que ela entrasse em sua III. Do ponto de vista aspectual, “estava conversando” não é
cabana e se ocultasse lá dentro. Não muito tempo depois, vieram o mesmo que “conversava”. Em “estava conversando”,
os caçadores e perguntaram ao lenhador se ele tinha visto uma a ideia de ação verbal em curso é mais forte do que em
raposa passar por ali. Em voz alta ele negou tê-la visto, mas com a “conversava”. Essa constatação é importante principalmente
mão fez gestos indicando onde ela estava escondida. Entretanto, na leitura de um texto literário, que pode ter em cada
como eles não prestaram atenção nos seus gestos, deram crédito às
elemento uma carga expressiva a mais.
suas palavras. Ao constatar que eles já estavam longe, a raposa saiu
em silêncio e foi indo embora. E o lenhador se pôs a repreendê-la, Está correto o que se diz em:
pois ela, salva por ele, não lhe dera nem uma palavra de gratidão. A) I e II, apenas.
A raposa respondeu: “Mas eu seria grata, se os gestos de sua mão B) II e III, apenas.
fossem condizentes com suas palavras.”
C) I e III, apenas.
Fábulas completas, 2013. D) I, II e III.

140 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
• Texto para a questão 05. Atente ao que se diz sobre os verbos desse excerto.
I. O pretérito imperfeito (do indicativo), empregado no texto,
MÚSICA, DIVINA MÚSICA! em vez de reportar-se ao passado, parece neutralizar o
valor desse passado, dando a impressão de que as ações se
(...) realizam ou pelo menos se estendem ao momento da fala;
II. Os verbos no pretérito perfeito do indicativo indicam que
O músico continuou as volutas de sua fantasia musical
a ação ou as ações que estão sendo narradas aconteceram
enquanto abria a jaula dos leões. Os leões, também hipnotizados,
antes do momento em que fala o enunciador (narrador).
foram saindo, pé ante pé, com o respeito que só têm os grandes Não é por acaso que os contos tradicionais são narrados
aficionados da música. E assim a flauta continuou soando no meio nesse tempo verbal;
da noite, mágica e sedutora, enquanto o gênio ia abrindo jaula após III. O verbo “dever”, que exprime obrigação, usado como
jaula e os animais o acompanhavam, definitivamente seduzidos, auxiliar em uma locução verbal, tem o papel de modalizar
como ele previra. o enunciado em que aparece (isto é, mostrar a relação
(...) do falante com o conteúdo daquilo que expressa).
No enunciado em análise, o verbo “dever” aparece duas
FERNANDES, M. Fábulas fabulosas. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/millor/
vezes como auxiliar nas seguintes locuções verbais: “deviam
fabulas/055.htm>. Acesso em: 03 out. 2017.
chegar” e “deveria manter”. A primeira, em virtude de
“dever” estar no presente do indicativo, causa impressão
05. (IFPE/2018) Analise as afirmativas abaixo sobre as formas verbais
de que o enunciador assume como certo o que diz o
empregadas no terceiro parágrafo do texto. enunciado (sem dúvida eles devem “chegar até a baixa
I. No primeiro período, “O músico continuou as volutas de noite a Encantado”). Já a segunda, em virtude de o verbo
sua fantasia musical enquanto abria a jaula dos leões”, “dever” vir no futuro do pretérito, produz a impressão de
os verbos “continuar” e “abrir”, embora conjugados em que o enunciador assume com reservas o conteúdo do seu
tempos diferentes, estabelecem ações concomitantes, enunciado.
relação estabelecida pela conjunção “enquanto”.
II. Em “Os leões, também hipnotizados, foram saindo Está correto o que se diz em:
A) I, II e III.
[...]”, a locução verbal destacada indica uma ação passada
B) I e II, apenas.
prolongada, repetida e com limites imprecisos. C) I e III, apenas.
III. Em “o respeito que só têm os grandes aficionados da D) II e III, apenas.
música”, o verbo “ter” marca uma ação pontual ocorrida no
passado contínuo das ações descritas no terceiro parágrafo. 02. (Insper/2014)
IV. A forma verbal “acompanhavam” em “os animais o PARA VOCÊ ESTAR PASSANDO ADIANTE
acompanhavam” indica uma ação consumada, momentânea
e delimitada temporalmente e sem qualquer relação com Este artigo foi feito especialmente para que você possa
outro tempo do passado. estar recortando e possa estar deixando discretamente sobre
V. No final do parágrafo, “os animais o acompanhavam, a mesa de alguém que não consiga estar falando sem estar
definitivamente seduzidos, como ele previra”, a forma espalhando essa praga terrível da comunicação moderna,
verbal destacada foi escolhida para retomar a previsão feita o futuro do gerúndio. Você pode também estar passando
pelo músico no início da história, indicando, assim, uma ação por fax, estar mandando pelo correio ou estar enviando pela
anterior a todas as outras já narradas. Internet.
O importante é estar garantindo que a pessoa em
São verdadeiras, apenas, as afirmativas questão vá estar recebendo esta mensagem, de modo que ela
A) II, III e IV possa estar lendo e, quem sabe, consiga até mesmo estar se
B) I, III e V dando conta da maneira como tudo o que ela costuma estar
C) I, II e V falando deve estar soando nos ouvidos de quem precisa estar
escutando. (...)
D) III, IV e V
E) I, II e IV FREIRE, Ricardo. As cem melhores crônicas brasileiras.
São Paulo: Objetiva, 2010.
Assinale a alternativa na qual o autor emprega a mesma
Exercícios Propostos estratégia discursiva usada por Ricardo Freire na defesa de seu
ponto de vista sobre o gerundismo.
A) “Do chefão ao office-boy escuta-se o vou estar
providenciando, vamos estar mandando, vão estar
01. (Uece/2016) Leia com atenção o trecho transcrito a seguir:
telefonando. Viu? O intruso é usurpador. Quer indicar
“No caminho a menina pegou uma pedra e atirou-a longe, futuro. Esquece que a nossa língua tem duas formas pra
o mais que pôde. O menino puxava a sua mão e reclamava
falar no porvir. Uma: o futuro simples (mandarei, mandarás,
da vagareza da menina. Deviam chegar até a baixa noite a
Encantado, e o menino sabia que ele era responsável pela mandará). A outra: o composto (vou mandar, vais mandar,
menina e deveria manter uma disciplina. Que garota chata, vai mandar). O gerundismo pertence ao time do empurra-
ele pensou”. com-a-barriga. Finge que faz. Mas embroma.”

NOLL, João Gilberto. In: Romances e contos reunidos. Dad Squarisi.


São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 690-692. Adaptado. Disponível em: <www.brasiliaemdia.com.br>.

Anual – Volume 3 141


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
B) “Nas redações de vestibulandos, o problema com o • Texto para a questão 03.
gerundismo é mais profundo. Vai além de clichês ou
PORTÃO
modismos, (...) e afeta os mecanismos estruturais da
língua. A maior parte das falhas ocorre quando o gerúndio O portão fica bocejando, aberto
aparece depois de uma ou mais orações, “pendurado” no para os alunos retardatários.
fim da frase. Isso torna ambígua a identificação do sujeito (...)
e compromete a coerência do enunciado.”
ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Carlos Drummond de Andrade:
Poesia e Prosa. Editora Nova Aguilar:1988. p. 506-507.
(Chico Viana, Revista Língua Portuguesa)

03. (Uece/2014) Observe a metáfora que inicia o poema – “O portão


C) “Todos os defensores da língua pura estão criticando
fica bocejando” – e o que se diz sobre ela.
uma locução verbal supostamente nova que apareceu e I. Essa metáfora empresta ao portão faculdades humanas,
se espalhou. Confesso que não a ouvia, ou não me dava constituindo, também, uma prosopopeia ou personificação.
conta de que existia, até que tive minha atenção chamada Por outro lado, essa expressão aceita, ainda, a seguinte
para ela pelos guardiões da língua que imaginam que tudo leitura: o portão representa metonimicamente a escola, com
aquilo de que não gostam ou for novo – o que vier antes – seus valores criticáveis e seus preconceitos;
é necessariamente ruim. Penso o contrário. Se não gostam, II. O emprego da locução verbal de gerúndio “fica bocejando”,
deve ser interessante. Se acham que não serve para nada, no lugar da forma simples boceja, dá à ação expressa pelo
alguma serventia deve ter.” verbo bocejar um caráter de continuidade, de duração;
III. O gerúndio realça a própria semântica do verbo bocejar.
Sírio Possenti.
Disponível em: <http://vaiencarar.wordpress.com>. Está correto o que se afirma em:
A) I, II e III. B) I e III, apenas.
D) C) II e III, apenas. D) I e II, apenas.
Reprodução/Insper 2014

• Texto para a questão 04.

O SAL DA TERRA

Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br>.
Falo desse chão, da nossa casa
E) Vem que tá na hora de arrumar
Reprodução/Insper 2014

05 Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo


10 Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver
15 A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da
Terra!
20 És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
A TRADIÇÃO NOS TRÓPICOS
Canta!
Luís de Camões, o grande poeta português, e uma Leva tua vida em harmonia
operadora de telemarketing: por que será que em Os 25 E nos alimenta com seus frutos
Lusíadas o poeta disse “cantando espalharei por toda parte”, Tu que és do homem, a maçã
e não “a cantar espalharei por toda parte”? Os operadores Vamos precisar de todo mundo
de telemarketing sabem a razão: o gerúndio do Brasil é a Um mais um é sempre mais que dois
forma clássica da língua; modernismo é o jeito de falar dos Pra melhor juntar as nossas forças
portugueses. 30 É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Disponível em: <http://veja.abril.com.br>.
Para merecer quem vem depois

142 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Deixa nascer, o amor 08. (Enem PPL/2012) Não há crenças que Nelson Leirner não
Deixa fluir, o amor destrua. Do dinheiro à religião, do esporte à fé na arte, nada
35 Deixa crescer, o amor resiste ao deboche desse iconoclasta. O principal mérito
Deixa viver, o amor da retrospectiva aberta em setembro na Galeria do SESI-SP
O sal da terra
é justamente demonstrar que as provocações arquitetadas
GUEDES, Beto. durante as últimas cinco décadas pelo artista quase
Disponível em: <www.mundojovem.com.br>. octogenário continuam vigorosas.
Acesso em: 18 abr. 2016.
Bravo, n. 170, out. 2011. Adaptado.

04. (Epcar (Cpcar) 2017) Assinale a alternativa que apresenta uma


análise sintática ou morfológica incorreta. Um dos elementos importantes na constituição do texto
A) A palavra “que”, no verso “Tu que és do homem, a maçã” é o desenvolvimento do tema por meio, por exemplo, do
(v. 26), classifica-se como partícula denotativa de realce. encadeamento de palavras em seu interior. A clareza do tema
B) Em “Tão te maltratando por dinheiro” (v. 21), há uma garante ao autor que seus objetivos — narrar, descrever,
locução verbal cujo verbo no gerúndio aponta para uma informar, argumentar, opinar — sejam atingidos. No parágrafo
ação continuada e repetitiva. do artigo informativo, os termos em negrito
C) O pronome “quem”, em “Para merecer quem vem depois” A) evitam a repetição de termos por meio do emprego de
(v. 32), é sujeito da segunda oração e compõe o objeto direto sinônimos.
da oração principal.
B) fazem referências a outros artistas que trabalham com
D) A conjunção “e”, em “E quem não é tolo pode ver” (v. 14)
e em “E nos alimenta com seus frutos” (v. 25), possui valor Nelson Leirner.
adversativo. C) estabelecem relação entre traços da personalidade do artista
e suas obras.
05. (FGV-RJ/2016) Leia a seguinte frase: D) garantem a progressão temática do texto pelo uso de formas
“O que os olhos não virem, o seu coração não vai sentir.” nominais diferentes.
E) introduzem elementos novos, que marcam mudança na
Considere as seguintes afirmações sobre essa frase, utilizada
direção argumentativa do texto.
em uma propaganda de software para empresas.
I. Contém um erro de conjugação verbal, no uso de “virem”
• Texto para a questão 09.
em lugar de “verem”;
II. Expressa ideia de futuro por meio da locução “vai sentir”, O OUTRO MARIDO
que equivale a “sentirá”;
III. Resulta de uma reelaboração de um conhecido provérbio (...)
popular.
Ao aparecerem nele as primeiras dores, Dona Laurinha
Está correto apenas o que se afirma em: penalizou-se, mas esse interesse não beneficiou as relações do casal.
A) III B) I e II Santos parecia comprazer-se em estar doente.
C) I D) II
E) II e III (...)
Carlos Drummond de Andrade.
06. A alternativa em que se encontra um verbo defectivo é:
A) Choveram dificuldades na resolução da questão. 09. O verbo “comprazer-se”, de forma geral, é classificado como
B) Estaríamos calmos se vocês se comportassem. A) defectivo e só se usa nas formas nominais, ou seja, infinitivo,
C) É preciso tirar medidas para que se merça o tecido. gerúndio e particípio.
D) Eu sempre coloro minhas telas com cores fortes.
B) abundante, havendo as formas “comprazera-me” e
07. (Insper/2013) ”comprouve-me”.
C) essencialmente pronominal como pentear-se, queixar-se e
TROQUE O VERBO OU FECHE A BOCA
matar-se.
Rita Lee cantava uma música que dizia “o resto que D) transitivo e só se usa com dois objetos: um direto e outro
se exploda, feito Bomba H”. Será que na língua culta existe indireto.
“exploda”? Explodir é verbo defectivo, ou seja, não tem E) regular com conjugação completa em todos os tempos do
conjugação completa. No presente do indicativo, deve-se
modo indicativo e subjuntivo.
conjugá-lo a partir da segunda pessoa do singular (tu explodes,
ele explode etc.). Muita gente não sabe da existência dos
defectivos e os “conjuga” em todas as pessoas. 10. (Cesgranrio) “Acesas” é particípio adjetivo de “acender”, verbo
chamado abundante, porque possui dupla forma de particípio
Pasquale Cipro Neto.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br>. (acendido e aceso). Em abundância, que é geralmente do
particípio, em alguns verbos ocorre em outras formas. Assim,
A alternativa que exemplifica o que foi expresso no último por exemplo, é o caso de:
período é: A) Coser
A) Houveram dificuldades na resolução da questão. B) Olhar
B) Ficaremos felizes se vocês mantiverem a calma. C) Haver
C) É preciso fazer contas para que a prestação caiba no orçamento.
D) Vir
D) Empresário reavê judicialmente a posse de seu imóvel.
E) Dançar
E) Polícia deteu quase 60 torcedores nas imediações do Morumbi.

Anual – Volume 3 143


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
Metropolitana de Belém do Pará”
Aula 12:

C-8 H-27
“o fenômeno só pode ser chamado de tornado quando a coluna
Aula de ar em forma de redemoinho toca o solo.”
Verbos III: Vozes Verbais Percebe-se que há os sujeitos, no caso, “Os vídeos”, “o
12 vídeo” e “o fenômeno” os quais sofrem as ações das estruturas
verbais “estão sendo encaminhados”, “foi gravado” e “pode ser
chamado”, porém não se pode identificar o agente que pratica
SUPOSTO TORNADO EM SANTANA DO ACARAÚ essas ações, isto é, no caso, o agente da passiva. Isso não quer
ACONTECEU, NA VERDADE, NO PARÁ. E NÃO FOI TORNADO.
dizer que toda notícia terá voz passiva com seu agente da passiva
E na verdade não foi um tornado, mas uma nuvem-funil. indeterminado, pois, como exemplo ainda na notícia analisada,
encontramos trecho em que há esse agente:
Formação de ventos circulares durante tempestade “Fontes foram ouvidas pela Rede Liberal, afiliada da Globo no
foi chamada de “tornado” e atribuída a Santana do Acaraú, Pará”. O termo em evidência pratica a ação sofrida pelo sujeito
município distante 242,3 km de Fortaleza. Os vídeos estão sendo “Fonte”.
encaminhados em redes sociais. Mas, na verdade, o vídeo foi
gravado em Ananindeua, município da Região Metropolitana de Existem dois tipos de voz passiva:
Belém do Pará. a) A passiva analítica: formada por locução verbal com o verbo
Fontes foram ouvidas pela Rede Liberal, afiliada da Globo “ser” exercendo função de auxiliar e o principal no particípio,
no Pará, as quais afirmaram que a ventania é uma nuvem-funil (já o qual concorda com o sujeito paciente em número e gênero.
que os tornados tocam o chão). O fenômeno aconteceu no fim de Ademais, há o agente da passiva, o qual pratica a ação que o
semana e foi suficiente para causar estragos: algumas casas ficaram sujeito sofre e é iniciado por preposição “por” ou “per” e suas
destelhadas, no município. contrações(pelo, pela, pelos, pelas) e tem como núcleo um
Para entender substantivo ou palavra a qual esteja exercendo a função deste.
Para a meteorologia, o fenômeno só pode ser chamado de Pode-se, então, definir a estrutura de uma oração na voz passiva
tornado quando a coluna de ar em forma de redemoinho toca o da seguinte maneira:
solo. Nesse caso, aparentemente, houve apenas uma nuvem-funil. sujeito verbo agente da
Apesar de o registro em questão não ter sido no Ceará, + + particípio + preposição +
paciente auxiliar passiva
O POVO Online buscou a Fundação Cearense de Meteorologia e ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
Recursos Hídricos (Funceme), que já recebeu as imagens e analisa Fontes foram ouvidas pela Rede Liberal
registros de fenômenos do tipo na região Norte do Ceará.
Observação:
Disponível em: <https://www.opovo.com.br>. Além do verbo “ser”, existem outros verbos auxiliares que,
Acesso em: 3 dez. 2018. Adaptado. embora menos frequentes, podem formar a voz passiva
analítica, como os verbos estar, ficar, andar, viver etc.
O texto anterior é uma notícia e, nesse tipo de gênero, é
bastante comum encontrarmos estruturas linguísticas envolvendo b) Voz passiva sintética: Nessa estrutura, é comum encontrarmos
o agente da passiva indeterminado, pois é bastante utilizada em
as vozes verbais, dentre elas, a voz passiva, uma vez que esta dá ao
anúncios de compra e venda, ou quando não se quer atribuir
texto um teor de impessoalidade, típica de qualquer notícia, e a voz a ação a um ser específico. É formada por um verbo transitivo
ativa, mostrando as ações presentes nesse texto. Entende-se por direto conjugado na 3.ª pessoa do singular ou do plural mais o
voz verbal as situações em que se indicam se o sujeito gramatical é pronome apassivador “se”, seguindo quase sempre a estrutura:
agente ou paciente da ação expressa pelo verbo. Ela é classificada Verbo transitivo + pronome “se” + sujeito paciente.
em três tipos: a voz ativa, a passiva e a reflexiva.
dimaberkut/123RF/Easypix

Voz ativa
Diz-se que o verbo se encontra na voz ativa quando se
percebe que o sujeito gramatical é o agente da ação, ou seja,
quando este pratica a ação verbal.
Exemplos:
“Os tornados tocam o chão”.
“O POVO Online buscou a Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (Funceme)”

Voz passiva
O verbo se encontra na voz passiva quando o sujeito
gramatical é paciente da ação, ou seja, quando este sofre a ação Na propaganda anterior, o verbo “vende” encontra-se
verbal praticada. Em algumas situações, podemos encontrar o que no singular, pois concorda com o sujeito, “um lugar ao sol”.
se chama de agente da passiva, isto é, o elemento textual que Além disso, a presença do pronome “se” deixa o verbo na voz
pratica a ação que o sujeito sofre. Na notícia anterior, esse tipo passiva sintética, ou pronominal como também é chamada.
de estrutura verbal, como já dito, é utilizada para dar um ar de Essa construção, muitas vezes, quando produzida, sofre erro de
impessoalidade. Veja: concordância, uma vez que há uma tendência a colocar o verbo
“Os vídeos estão sendo encaminhados em redes sociais” apenas no singular. Isso pode ser comprovado em anúncios de
“o vídeo foi gravado em Ananindeua, município da Região compra e venda colocados nas cidades.

144 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas

Exercícios de Fixação

• Texto para a questão 01.

“A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns


instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que
não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas…
As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela. Capitu
enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava
na sala.”
Dom Casmurro – Machado de Assis

Na imagem anterior, a voz passiva tem sua concordância em 01. Das orações presentes no trecho acima, a única que se pode
desacordo com a norma-padrão da língua, porque a forma verbal transcrever para voz passiva se encontra na alternativa
“Aluga” deveria concordar com o sujeito “salas comerciais”, nesse A) “A confusão era geral.”
caso, no plural. Por isso, é bastante importante observar nas produções B) “Capitu olhou alguns instantes para o cadáver”
textuais se os verbos se encontram na voz passiva pronominal para C) “As minhas cessaram logo.”
que desacordo dessa natureza não venha a acontecer. D) “...lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...”
E) “Capitu enxugou-as depressa,”
Como passar a voz ativa para passiva
Para que isso ocorra, é necessário observar o seguinte
• Texto para a questão 02.
esquema:
(...)
VOZ ATIVA
“Os tornados tocam o chão”. As noções de segurança e de vida comunitária foram
substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento
que o medo impõe.
Sujeito agente VTD complemento verbal (OD) (...)
Violência urbana, 2003.

O chão é tocado pelos tornados. 02. (Unesp/2017) O trecho acima foi construído na voz passiva.
Ao se adaptar tal trecho para a voz ativa, a locução verbal
“foram substituídas” assume a seguinte forma:
VOZ PASSIVA ANALÍTICA A) substitui. B) substituíram.
C) substituiriam. D) substituiu.
Ao se analisar o esquema, percebe-se que o sujeito da voz E) substituem.
ativa, “os tornados”, vira o agente da passiva, “pelos tornados”
na voz passiva; o verbo na voz ativa, “tocam”, assume a forma de • Texto para a questão 03.
locução verbal formada pelo verbo “ser” e o particípio “tocado”; (...)
e o complemento verbal, “o chão“, torna-se o sujeito paciente.
Às vezes guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os santos
Voz reflexiva (...)
O verbo encontra-se na voz reflexiva quando o sujeito In: Silviano Santiago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.

gramatical pratica e sofre a ação. É formada por um verbo na voz


ativa mais um pronome oblíquo reflexivo (me, te, se, nos, vos, se). 03. (Unifesp/2019) Ao se transpor a frase acima para a voz passiva
Este atua como objeto. analítica, o termo destacado assume a seguinte forma:
A) seriam guardadas. B) fossem guardadas.
Zdenka Darula/123RF/Easypix

C) foram guardadas. D) eram guardadas.


E) são guardadas.

04. (Unesp/2018) “Um mês depois, os amigos recebem uma carta


escrita em tinta azul [...].”
Assinale a alternativa que expressa, na voz passiva, o conteúdo
dessa oração.
A) Um mês depois, uma carta escrita em tinta azul seria recebida
pelos amigos.
B) Os amigos deveriam ter recebido, um mês depois, uma carta
escrita em tinta azul.
C) Um mês depois, uma carta escrita em tinta azul foi recebida
pelos amigos.
D) Um mês depois, uma carta escrita em tinta azul é recebida
pelos amigos.
A voz reflexiva pode ser recíproca, ou seja, quando se nota que há E) Os amigos receberiam, um mês depois, uma carta escrita
dois sujeitos os quais praticam a ação um no outro. em tinta azul.
Exemplo:
Os jogadores abraçaram-se depois de vencida a partida.

Anual – Volume 3 145


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
05. (Unifesp/2018) “Em sua teoria da relatividade geral, ele 03. (IFSP/2016) Considerando a norma-padrão da Língua
mostrou que a presença de massa (ou de energia) também Portuguesa, marque (VP), para voz passiva, (VA), para voz ativa
influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja e assinale a alternativa correta.
irrelevante em nosso dia a dia.” I. ( ) O jogador marcou um belo gol na última semana.
II. ( ) O ônibus atrasou bastante na tarde de ontem.
Ao se converter o trecho destacado para a voz passiva, o verbo
III. ( ) A bola foi atrasada de modo muito forte pelo zagueiro.
“influencia” assume a seguinte forma:
IV. ( ) O computador foi desligado inadequadamente
A) é influenciada na última vez.
B) foi influenciada
C) era influenciada A) VA – VP – VP – VA. B) VP – VA – VA – VP.
D) seria influenciada C) VA – VA – VP – VP. D) VP – VP – VA – VA.
E) será influenciada E) VP – VA – VP – VA.

04. (UFRGS/2016) Assinale a alternativa que apresenta a correta


passagem do segmento em negrito da voz ativa para a voz
Exercícios Propostos passiva.
A) Transformações radicais entraram em curso –
Transformações radicais foram entradas em curso.
B) Para evitar que torvelinho similar vitimasse o Reino
01. (PUC-Camp/2018) “As telas de plasma, o processo digital e Unido – Para evitar que o Reino Unido fosse vitimado por
a interface com a informática foram dotando a TV de muitos torvelinho similar.
outros recursos, até que, bem mais tarde, tivesse que enfrentar C) Toda assistência aos pobres deveria ser suspensa
a concorrência de outras telas, muito menores, portáteis, de imediato e a taxa de natalidade deveria ser
disponíveis nos celulares, carregados de aplicativos e serviços. severamente controlada – Os pobres deveriam suspender
Apesar disso, nada indica que a curto prazo desapareçam da de imediato toda assistência e deveriam controlar
casa os aparelhos de TV, enriquecidos agora por incontáveis severamente a taxa de natalidade.
dispositivos.” D) Os donos da terra receberiam uma parte cada vez mais
significativa da renda nacional – A renda nacional seria
LIMA E SOUTO, Percival. Lembrando e pensando a TV. Inédito. recebida por uma parte cada vez mais significativa dos donos
Considerado o trecho anterior, em seu contexto, comenta-se da terra.
apropriadamente: E) O valor da terra permaneceu alto por algum tempo –
O valor da terra foi permanecido alto por algum tempo.
A) A forma verbal “tivesse” exprime uma condição, considerada
hipotética.
05. (UFRGS/2015) Assinale a alternativa que apresenta a correta
B) A substituição de “bem mais tarde” por “posteriormente” passagem em negrito da voz ativa para a voz passiva.
mantém todos os traços de sentido da formulação original. A) Chagas e Silva postava-se de palito à boca – Chagas e
C) A palavra destacada em “muitos outros recursos” constitui Silva era postado de palito à boca.
força de expressão, porque nenhum outro recurso foi B) Ele, que tanto marcou a rua – A rua, que tanto foi marcada
mencionado anteriormente na frase. por ele.
D) Transpondo a frase “As telas de plasma, o processo digital e C) Fixou-se na Rua da Praia – Foi fixado na Rua da Praia.
a interface com a informática foram dotando a TV de muitos D) Os estudantes tomaram conta dele – Ele foi tomado
conta pelos estudantes.
outros recursos” para a voz passiva, tem-se corretamente a
E) Essas casas punham ao alcance dos gourmets
forma verbal “foi sendo dotada”.
virtuosíssimos ‘‘secos e molhados” – Os gourmets eram
E) Em seguida à enumeração de elementos que propiciaram o postos ao alcance de virtuosíssimos “secos e molhados”
ganho de recursos para a TV, surge a expressão “até que”, por essas casas.
anunciando com antecipação que as vantagens agregadas
chegariam a seu ponto máximo. • Texto para a questão 06.

02. (UFRGS/2017) Assinale a alternativa que apresenta a correta A INTERNET E A NEUTRALIDADE DA REDE
passagem do segmento em negrito da voz ativa para a voz A Internet vista, unanimemente, como o território livre,
passiva. a tecnologia libertadora que, em muitos países, permitiu o
A) Como os dois formam uma realidade única – Como uma florescimento da cidadania, a ampliação das oportunidades
realidade única é formada pelos dois. de educação, o ambiente para novas empresas e novos
B) Trata-se, sempre, da questão de identidade – É tratado, empreendedores, para o trabalho colaborativo em rede.
sempre, da questão de identidade. Graças a seu ambiente libertário, internacionalmente
C) A pergunta, na sua discreta singeleza, permite ajudou a derrubar ditaduras e monopólios de mídia, o controle da
descobrir algo muito importante – Algo muito importante informação, tanto por governos como por cartéis.
é perguntado, na sua discreta singeleza. 1
No entanto, não se considere um modelo consolidado.
D) O Brasil ter sido descoberto por portugueses e não por Em outros momentos da história surgiram novas tecnologias,
chineses – Portugueses, e não chineses, terem descoberto promovendo rupturas, abrindo espaço para a democratização e,
o Brasil. no momento seguinte, quedaram dominadas por novos cartéis e
E) Nunca lhe propusemos esta questão relacional e monopólios que se formaram.
reveladora – Esta questão relacional e reveladora nunca (...)
lhe foi proposta. Luís Nassif. Coluna Econômica. 7 set. 2013.

146 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
06. (Uece/2015) Atente ao que se diz sobre o seguinte enunciado: 10. (UEFS/2018) Na voz passiva, o trecho transcrito assume a
“No entanto, não se considere um modelo consolidado” (ref. 1). seguinte redação:
A) O que, há alguns séculos, era considerado causa suficiente
I. Para ser entendido, o enunciador exige a cooperação do leitor, para queimar mulheres na fogueira é explicado hoje pela
que deverá, por inferência, saber de qual modelo ele fala; microbiologia e pela meteorologia.
II. Ao enunciado falta uma expressão que desempenhe o papel B) A microbiologia e a meteorologia explicariam hoje o que,
de sujeito da voz passiva do verbo considerar; há alguns séculos, era considerado causa suficiente para
III. Dependendo do contexto, a não explicitação do sujeito queimar mulheres na fogueira.
do verbo considerar torna o enunciado passível de duas C) O que, há alguns séculos, era considerado causa suficiente
leituras: 1. No entanto, não considere a si mesmo um modelo para queimar mulheres na fogueira seria explicado hoje pela
consolidado. 2. No entanto, não seja considerado (o modelo microbiologia e pela meteorologia.
da Internet) como um modelo consolidado. D) A microbiologia e a meteorologia explicaram hoje o que,
há alguns séculos, era considerado causa suficiente para
queimar mulheres na fogueira.
Está correto o que se diz em:
E) O que, há alguns séculos, era considerado causa suficiente
A) I, II e III. para queimar mulheres na fogueira foi explicado hoje pela
B) II e III, apenas. microbiologia e pela meteorologia.
C) I e II, apenas.
D) I e III, apenas.

07. (Fatec/2015) Observe a seguinte frase: “E assim recebi o livro


Aula 13:

C-8 H-27
na mão(...)” Aula
Ao passar a oração destacada nesse trecho para a voz passiva
Verbos Impessoais
analítica, teremos:
13
A) O livro era recebido por mim.
B) O livro é recebido por mim.
C) O livro será recebido por mim. Os verbos impessoais são aqueles que, por uma situação de
D) O livro foi recebido por mim. sentido ou normatização da língua, não possuem sujeito e estão
E) O livro seria recebido por mim. conjugados, em sua maioria, na 3ª pessoa do singular. A oralidade
muitas vezes interfere no emprego desses verbos, uma vez que os
• Texto para a questão 08. falantes os flexionam de forma inadequada à norma-padrão ou
dão essa impessoalidade a outros verbos os quais não se encaixam
(...) nessa categoria. Vejamos:

Olha: não posso mais! Ando tão cheio


Deste amor, que minh’alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...

(...)
Olavo Bilac

08. O pronome “se”, no trecho acima, deve ser reconhecido como


Garfield, Jim Davis © 1999 Paws, Inc. All Rights Reserved / Dist. Universal Uclick
A) reflexivo.
B) recíproco. Na tirinha, o segundo quadrinho traz o verbo “ter”
C) apassivador. no sentido de existir. Esse emprego não é aceito pelas normas
D) parte integrante do verbo. gramaticais de nossa língua, pois esse verbo denota ideia de posse,
não de existência. Tal emprego é comum ocorrer na oralidade, mas
não se pode empregar na escrita de texto. Como se trata de uma
09. (IFSP/2013) Assinale a alternativa em que se apresenta o
tirinha, esse emprego é aceitável, pois representa a linguagem do
emprego da voz passiva analítica. cotidiano, dando-lhe coerência.
A) (...) a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas
prejudicaram monetariamente o país (...).
B) Estamos carentes de excelência.
Os verbos impessoais
C) (...) as universidades, que aos poucos (...) vão se tornando Haver
reduto de pobreza intelectual.
D) (...) não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento 1. Quando empregado no sentido de “existir”.
Exemplo:
truncado e pobre.
“Quando houvesse alguma intenção sexual, quem me provaria
E) (...) parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens que não era mais que uma sensação fulgurante, destinada a
(...). morrer com a noite e o sono? Há remorsos que não nascem de
• Leia o trecho de um artigo do livro O mundo assombrado pelos outro pecado, nem têm maior duração.”
demônios, do astrônomo e divulgador científico Carl Sagan
Machado de Assis, Dom Casmurro.
(1934-1996), para responder à questão 10.
Observe que as duas ocorrências do verbo “haver”, “houvesse”
A microbiologia e a meteorologia explicam hoje o que,
e “Há”, encontram-se no sentido de “existir” e estão flexionadas
há alguns séculos, era considerado causa suficiente para queimar na 3ª pessoa do singular, caracterizando esse verbo como
mulheres na fogueira. impessoal.
O mundo assombrado pelos demônios, 2006. Adaptado

Anual – Volume 3 147


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
2. Quando empregado no sentido de tempo transcorrido. Exemplo:
Exemplo: É uma hora da manhã / São duas horas da manhã.
Há dias que não vejo seu irmão na escola.
O verbo “haver”, nessa sentença, denota ideia de tempo (Faz dias).
Observação: Fazer
• O verbo “haver”, quando impessoal, transmite essa 1. Quando empregado no sentido de tempo transcorrido ou
impessoalidade para o seu auxiliar nas locuções verbais.
indicando clima.
Exemplo:
Exemplos:
Deve haver motivos para tanta discussão entre os funcionários.
Faz uma hora que ele saiu de casa para o trabalho.
O verbo auxiliar “Deve” tem de ficar flexionado na 3ª pessoa Faz muito frio na Europa no mês de dezembro.
do singular, pois faz parte de uma locução verbal cujo verbo
principal é “haver”. Muitas vezes ocorre de se produzir uma Observação:
sentença flexionando o verbo auxiliar no plural “Devem”, • O verbo “fazer” no sentido de executar uma ação tem sujeito.
por achar que este tem como sujeito a palavra “motivos”. Exemplos:
• Nem sempre o verbo “haver” será considerado impessoal, Meu namorado faz uma lasanha deliciosa.
pois existem situações em que ele será flexionado, uma vez
que há sujeito. Veja:
a) Quando utilizado como auxiliar nos tempos compostos Meus amigos fazem meu dia mais animado.
dos verbos.
Exemplo:
Os alunos haviam dito que o professor pediu o relatório
antes de fim de semestre.
Nesse caso, o sujeito do verbo “haviam” é “os alunos”,
Exercícios de Fixação
pois temos um exemplo de tempo composto.
b) Quando utilizado no sentido de prestar contas.
Quando eu voltar, todos hão de me pedir desculpas. 01. (Enem 2017) João/Zero (Wagner Moura) é um cientista genial,
mas infeliz porque há 20 anos atrás foi humilhado publicamente
Verbos que denotam fenômenos da natureza durante uma festa e perdeu Helena (Alinne Moraes), uma
antiga e eterna paixão. Certo dia, uma experiência com um
Os verbos “chover”, “nevar”, “relampejar”, “trovejar” de seus inventos permite que ele faça uma viagem no tempo,
são impessoais quando empregados em seu sentido literal. Dessa retornando para aquela época e podendo interferir no seu
maneira, devem estar flexionados na 3ª pessoa do singular. destino. Mas quando ele retorna, descobre que sua vida mudou
totalmente e agora precisa encontrar um jeito de mudar essa
história, nem que para isso tenha que voltar novamente ao
passado. Será que ele conseguirá acertar as coisas?
Disponível em: <http://adorocinema.com>. Acesso em: 4 out. 2011.

Qual aspecto da organização gramatical atualiza os eventos


apresentados na resenha, contribuindo para despertar o
Dik Browne. O melhor de Hagar, o horrível. Porto Alegre: L&PM, 2003. V. 1. interesse do leitor pelo filme?
A) O emprego do verbo “haver”, em vez de “ter”, em “há 20
Na tirinha, o verbo chover está empregado em seu sentido anos atrás foi humilhado”.
literal. Nesse caso, não há sujeito, pois não há um ser, em situação B) A descrição dos fatos com verbos no presente do indicativo,
real, que cometa o ato de chover. como “retorna” e “descobre”.
Observação: quando empregados em sentido metafóricos, esses C) A repetição do emprego da conjunção “mas” para contrapor
verbos têm sujeito. ideias.
Exemplo: Choveram elogios a sua atuação ontem na peça. D) A finalização do texto com a frase de efeito “Será que ele
conseguirá acertar as coisas?”.
E) O uso do pronome de terceira pessoa “ele”, ao longo do
Na sentença, o verbo tem como sujeito a palavra “elogios”, texto, para fazer referência ao protagonista “João/Zero”.
pois está empregado em sentido figurado e deve ser flexionado
de acordo com o número do sujeito, no caso, 3ª pessoa do plural. 02. (IFSC/2017) Em um texto se fazem muitas escolhas linguísticas,
Ser que incluem classes de palavras, tempos verbais, ortografia,
regência, concordâncias verbais e nominais, entre outras. Com
1. Quando empregado no sentido de tempo, horas ou clima. base nessas informações, assinale a alternativa correta.
Exemplos: A) As palavras “silêncio”, “possível”, “implacáveis” e
É primavera no sul do Brasil. “pássaro” são todas acentuadas segundo a mesma regra
São duas da manhã e não consigo dormir. de acentuação.
É quente no Rio de Janeiro nos primeiros meses do ano. B) Se a oração “Há silêncios libertadores” estivesse no passado
Observação: imperfeito, seria escrita “Haviam silêncios libertadores”, sem
• O verbo ser “quebra” a regra de concordância dos verbos que a norma padrão escrita da língua fosse violada.
impessoais quando empregado para indicar horas, pois, nesse C) Na oração “A noite apagou todos os sons”, se o acento
sentido, concordará com o numeral. indicativo de crase fosse colocado sobre a palavra em
destaque, não haveria alteração no sentido.

148 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
D) Em “Há silêncios libertadores”, o verbo “haver” está no 05. (Udesc/2015) Assinale a alternativa correta em relação ao texto.
singular porque é impessoal, e a oração não tem sujeito. A) Em “Sabendo que na história da sua família havia
E) A oração “Talvez algum pássaro emita um som” tem o vários loucos” (referência 1), a expressão destacada é,
mesmo sentido de “Talvez algum pássaro imita um som” sintaticamente, objeto direto.
pois, por equívoco, a autora mudou a escrita do vocábulo B) A leitura do texto mostra, mais uma vez, que o comissário
em destaque. Mattos intuiu corretamente a respeito do assassino
procurado pela polícia.
03. (Fuvest/2017) Encontra-se oração com verbo impessoal na C) Em “há anos que os bondes não iam mais até a galeria”
alternativa: (referência 2) quanto à concordância verbal, o verbo “haver”
A) “Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela” pode ser substituído pelo verbo “fazer”, ficando a oração:
B) “Desde o momento de sua ascensão, ninguém lhe disputou fazem anos que os bondes não iam mais até a galeria.
o cetro;” D) Em “o comissário pensava na entrevista que tivera momentos
C) “(...)foi proclamada a rainha dos salões.” antes” (referência 3), a segunda oração, em relação à
D) “Era rica e formosa.” primeira, é subordinada substantiva objetiva direta.
E) “que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante.” E) O pronome átono na passagem “com a mentira que lhe
dizia” (referência 4) está proclítico, mas pode, também,
04. (IFCE/2016) O verbo “haver” no trecho “(...) não havia negros ser colocado após o verbo que não implica transgressão à
nas categorias de atuação” está sendo utilizado em sua acepção norma culta da língua.
de “existir”, o que o caracteriza como impessoal. A seguir
estão listadas outras frases que utilizam o mesmo verbo com
a mesma acepção, exceto: Exercícios Propostos
A) “Mesmo quando não havia nenhuma esperança, sempre
procurei, dar o melhor de mim.” (Orson Welles)
B) “Antigamente dizia-se que fora da Igreja não havia salvação; 01. (ESPM/2016) Em uma das opções abaixo, o verbo “haver” é
agora parece que, politicamente, fora dos partidos também impessoal e, por isso, não deveria estar no plural. Assinale-a:
não há.” (José Saramago) A) Traficantes da Favela do Alemão haviam ordenado o fechamento
C) “A peste do governo é a irresolução. Está parado o que do comércio local, como represália à morte de um deles.
havia de correr, está suspenso o que havia de voar, porque B) Por haverem patrimônio ilegal, muitos políticos foram
indiciados na investigação da Operação Lava Jato.
não atamos nem desatamos.” (Padre Antônio Vieira)
C) Até aqueles que estiveram envolvidos em tráfico de
D) “Antes do impressionismo não havia sombras azuis.” (Oscar Wilde)
influência se haverão com a Polícia Federal.
E) “Quando eu ficava sozinha, não havia uma queda, havia
D) Em início de temporada, times grandes da Capital não se
apenas um grau a menos daquilo que eu era com os outros, houveram bem nos jogos da última rodada.
e isso sempre foi a minha natureza e a minha saúde.” E) Em São Paulo e no Rio, houveram casos de policiais
(Clarice Lispector) espancados por jovens mascarados nos protestos de rua.
• Texto para a questão 02.
• Texto para a questão 05.
Ao sair do escritório de Lomagno, o estômago de Mattos Você lerá no texto a seguir um trecho do poema “Morte
doía fortemente. Ele tinha médico marcado para aquela tarde. e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, importante poeta
Da Leiteria Mineira, na rua São José em frente à Galeria Cruzeiro, pernambucano da Geração de 45 do Modernismo brasileiro.
Mattos telefonou para o médico desmarcando a consulta. Tomou No excerto, um retirante chamado Severino, protagonista da obra,
meio litro de leite e foi pegar um bonde no Taboleiro da Baiana, encontra dois homens que estão carregando um defunto numa rede.
2
há anos que os bondes não iam mais até a galeria.
No bonde, a caminho da Casa de Saúde Doutor Eiras, o Texto
3
comissário pensava na entrevista que tivera momentos antes.
Lomagno no início estava muito perturbado; no fim, muito – A quem estais carregando, irmãos das almas, embrulhado
tranquilo. Acostumara-se 4com a mentira que lhe dizia, ou com nessa rede? Dizei que eu saiba.
a verdade? A história do macumbeiro talvez fosse verdadeira. E – A um defunto de nada, irmão das almas, que há muitas
também o que Lomagno lhe dissera sobre Alice. Essa reflexão horas viaja à sua morada.
fazia-lhe doer o estômago e o coração, prejudicava-lhe o raciocínio, – E sabeis quem era ele, irmãos das almas, sabeis como ele
se chama ou se chamava?
impedia que o tira pensasse com clareza no papel do – Gregório
– Severino Lavrador, irmão das almas, Severino Lavrador,
ainda não, ainda era cedo! – do misterioso homem negro. Alice mas já não lavra.
doente mental. Ele não percebera isso quando haviam estado juntos. – E de onde que o estais trazendo, irmãos das almas, onde
Como uma pessoa tão bonita podia ser doente? Não, ele não teria foi que começou vossa jornada?
sua lucidez prejudicada por dúvidas impertinentes: o negro era – Onde a Caatinga é mais seca, irmão das almas, onde uma
o Gregório, cada vez tinha mais certeza disso. O F de Fortunato terra que não dá nem planta brava.
gravado no anel de ouro. Então ele, que gostava de repetir a máxima – E foi morrida essa morte, irmãos das almas, essa foi morte
de Diderot de que o ceticismo era o primeiro passo em direção à morrida ou foi matada?
verdade, estava agora cheio de certezas? Novamente a doença de (...)
Alice. Alice. Lembrou-se da irmã de sua mãe, que não era boa da – E quem foi que o emboscou, irmãos das almas, quem
cabeça, contando para ele – quando fora mesmo? – que vira um contra ele soltou essa ave-bala?
escarro na calçada e quedara-se repetindo mentalmente “lambo ou – Ali é difícil dizer, irmão das almas, sempre há uma bala
voando desocupada.
não lambo?”. Sabendo que na história da sua família havia vários
1
– E o que havia ele feito irmãos das almas, e o que havia ele
loucos, considerava possível sofrer, também ele, um surto psicótico.
feito contra a tal pássara?
Possível, mas não provável. – Ter um hectare de terra, irmão das almas, de pedra e areia
FONSECA. Rubem. Agosto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010, pp. 195-196. lavada que cultivava.

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LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
– Mas que roças que ele tinha, irmãos das almas que podia C) Se o verbo “haver” fosse substituído por “fazer” na oração
ele plantar na pedra avara? “Moro há 18 anos num prédio da Lagoa” (ref. 3), teríamos
– Nos magros lábios de areia, irmão das almas, os intervalos que escrever “Moro fazem 18 anos num prédio da Lagoa”.
das pedras, plantava palha. D) No período “Um dos argumentos que me dão é que posso
falar com pessoas na Indonésia [...] na Espanha” (ref. 4), caso
02. (IFPE/2012) Em relação à sintaxe dos períodos retirados no texto, substituíssemos “um dos argumentos” por “o argumento”,
é correto afirmar que: o verbo “dar” teria que ficar no singular (dá).
A) Em “há muitas horas viaja à sua morada”, no segundo verso, E) Se o termo “o vizinho” (ref. 5) fosse posto no plural, o
o sujeito do verbo “haver” é “muitas horas”. período ficaria: Os suicidas se realizam porque, na hora do
B) Em “há uma bala voando desocupada”, o termo destacado desespero, falta os vizinhos que lhe desejem sinceramente
funciona como um adjunto adverbial de modo. uma boa noite.
C) “um defunto de nada” é sujeito do verbo “haver” que
aparece no mesmo verso. 04. (UPE/2011) As normas da concordância verbo-nominal
D) No quinto verso, o possessivo “vossa” pode estar-se constituem um padrão privilegiado para o que se considera
referindo apenas ao “irmão das almas”, condutor do “o português culto”. De acordo com tais normas:
defunto, ou a ambos, ou seja, ao condutor e ao defunto. I. O sujeito – simples ou composto, singular ou plural – quando
E) Na expressão “Ter um hectare de terra”, “de terra” constitui vem posposto, deixa o verbo no singular, como em: “Falta
um objeto indireto do verbo “ter”, tendo em vista ter sido políticas de proteção do idioma contra a entrada injustificada
exigida uma preposição. de palavras estrangeiras.”
II. Se o núcleo do sujeito é um pronome indefinido singular,
• Texto para a questão 03. seguido de um complemento no plural, o verbo fica no
plural, como em: “Nenhum dos empréstimos oportunos
VIZINHOS E INTERNAUTAS acabaram por ser traduzidos ou aportuguesados”.
III. O verbo “haver”, no sentido de existir, é impessoal, mas em
(...) alguns contextos admite a concordância no plural, como em:
“Ao longo dos séculos, houveram intercâmbios comerciais,
1
A densidade demográfica, os apartamentos, a violência
contatos entre povos, viagens, grandes ondas migratórias,
urbana, o rádio e mais tarde a TV ilharam cada indivíduo no casulo
disseminação de fatos culturais”.
doméstico. Moro há 18 anos num prédio da Lagoa; tirante os raros e
3
IV. Em alguns casos, o verbo ser pode concordar com o
inevitáveis cumprimentos de praxe no elevador ou na garagem, não
predicativo e não com o sujeito, como em: “O empréstimo
falo com eles nem eles comigo. Não sou exceção. Nesse lamentável
de palavras estrangeiras são fenômenos legítimos da
departamento, sou regra.
dinâmica das línguas”.
Daí que não entendo a pressão que volta e meia me fazem
V. A concordância do verbo é, fundamentalmente, com o
para navegar na Internet. 4Um dos argumentos que me dão é que
núcleo do sujeito, como em: “Até hoje, a experiência das
posso falar com pessoas na Indonésia, saber como vão as colheitas
crianças mostra como é fácil fazer gestos virarem desenhos
de arroz na China e como estão os melões na Espanha.
quando elas aprendem a escrever”.
(...)
Uma de minhas filhas vangloria-se de ser internauta. Tem As observações são aceitáveis, do ponto de vista da correção
amigos na Pensilvânia e arranjou um admirador em Dublin, terra gramatical, apenas nas afirmativas:
do Joyce, do Bernard Shaw e do Oscar Wilde. Para convencê-la de A) I, II e III B) II, III e V
seus méritos, ele mandou uma foto em cor que foi impressa em alta C) I, II e IV D) III e IV
resolução. É um jovem simpático, de bigode, cara honesta. Pode E) IV e V
ser que tenha mandado a foto de um outro.
Lembro a correspondência sentimental das velhas revistas 05. O verbo “ser” na oração “Será uma época de sofrimento” está
de antanho. Havia sempre 2a promessa: “Troco fotos na primeira sendo utilizado em sua acepção de verbo impessoal. A seguir
carta”. Nunca ouvi dizer que uma dessas trocas tenha tido resultado estão listadas outras frases que utilizam o mesmo verbo com
aproveitável. a mesma acepção, exceto:
Para vencer a incomunicabilidade, acredito que o internauta deva A) É inverno no Sul do Brasil no mês de julho.
primeiro aprender a se comunicar com o vizinho de porta, de prédio, B) São 14 horas agora.
de rua. Passamos uns pelos outros com o desdém de nosso silêncio, C) São os meus sonhos os meus sobrinhos.
de nossa cara amarrada. Os suicidas se realizam porque, na hora do D) É tarde para arrependimentos.
desespero, falta o vizinho que lhe deseje sinceramente uma boa noite.
5

• Texto para a questão 06.


CONY, Cartos Heitor. Vizinhos e internautas.
Folha de S.Paulo, 26 jun. 1997. Opinião. p.A2.
De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz
VocaBULÁrio
de ser o menor. Tem bico redondo e rabo curto e é todo verde,
tirante – exceto por
praxe – costume mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar. Três filhotes,
(James) Joyce, Bernard Shaw e Oscar Wilde – escritores cada um mais feio que o outro, ainda sem penas, os três chorando.
antanho – antigamente O menino levou-os para casa, inventou comidinhas para eles; um
morreu, outro morreu, ficou um.
Rubem Braga
03. (IFSC/2012) Considerando as regras de concordância verbal na
norma-padrão da língua portuguesa, assinale a alternativa correta.
06. (Fuvest/1999) Das afirmações sobre o verbo destacado em “que
A) Na oração “A densidade demográfica, os apartamentos, a
tem no Brasil”, qual a única incorreta?
violência urbana, o rádio e mais tarde a TV ilharam cada
A) É um uso típico da variante popular da língua.
indivíduo no casulo doméstico” (ref. 1), o verbo destacado
B) Pode ser corretamente substituído por “há”.
poderia ser escrito no singular (ilhou) sem desrespeitar as
C) Seu valor semântico difere daquele que apresenta nas demais
regras de concordância verbal.
ocorrências.
B) Se substituíssemos “a promessa”(ref. 2) por “as promessas”, o verbo
D) É um verbo impessoal cujo objeto direto é o pronome “que”.
“haver” precisaria continuar no singular: Havia sempre promessas.
E) Pode ser corretamente substituído por “existe”.

150 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
07. (UFPI–Adaptada) Partindo da premissa de que o verbo “haver”,
ora indicando o sentido de existir, atua nos casos de oração sem
Aula 14:

C-6 H-18
sujeito ou sujeito inexistente, assinale a alternativa que contém Aula C-8 H-27
a informação correta quanto ao sujeito das orações 1 e 2. Predicação Verbal
1) Existem homens loucos nas ruas. 14
2) Há homens sadios nos hospícios.
A) oração sem sujeito (1) – indeterminado (2)
B) oração sem sujeito (1) – homens sadios (2)
C) homens loucos (1) – homens sadios (2)
D) homens loucos (1) – oração sem sujeito (2) Predicação Verbal
E) indeterminado (1) – oração sem sujeito (2) A predicação verbal diz respeito à situação em que alguns
verbos necessitam ou não de complemento para que seu sentido
08. (EsPCEx-Aman/2016) Assinale a alternativa correta quanto ao possa ser entendido. Essa predicação pode ser classificada de
emprego do verbo “haver”. seguinte maneira:
A) Eu não sei, doutor, mas devem “haver” leis. 1) Verbos Intransitivos: são aqueles cujo sentido não transitam para
B) Também a mim me hão ferido. outro elemento, isto é, a informação se encerra nele. Muitas
C) Haviam tantas folhas pelas calçadas. vezes, são agregadas a esses verbos expressões circunstanciais,
D) Haviam oito dias que não via Guma. porém não necessárias para entendimento.
E) Não haverão umas sem as outras. Exemplo:
“Porém existem arestas para serem aparadas.”
09. (EsPCEx-Aman/2014) Marque a única alternativa em que o
emprego do verbo “haver” está correto. 2) Verbos Transitivos: são aqueles cujo sentido transitam para outro
A) Todas as gotas de água havia evaporado. elemento o qual irá completar o sentido deles. Pode-se dividi-los
B) Elas se haverão comigo, se mandarem meu primo sair.
em três tipos:
C) Não houveram quaisquer mudanças no regulamento.
a) Transitivo direto: pede complemento que não será iniciado
D) Amanhã, vão haver aulas de informática durante todo o
período de aula. por preposição.
E) Houveram casos significativos de contaminação no hospital Exemplo:
da cidade.
“Até hoje ultrajam a consciência de todos nós”.
• Texto para a questão 10. “Os direitos humanos protegem os cidadãos, suas vidas e
liberdades.”
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos b) Transitivo indireto: pede complemento que será iniciado
precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se por preposição.
de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente Exemplo:
porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a
alegria, e precisa 2reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: “Configura-se em um pacto internacional que projeta
minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente, pois a avanços concretos.”
alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece
que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes preposição
da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é c) Transitivo direto e indireto: pede dois complementos – um
possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio iniciado sem preposição e outro iniciado por preposição.
só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não Exemplo:
faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é “Assegurem aos cidadãos do mundo o direito a uma vida
tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em mais digna e justa.”
drama. Implora-se também que venha, 1implora-se com a humildade
da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa preposição sem preposição
com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o
direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não
se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a
Verbos de Ligação
dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria São denominados assim os verbos cuja função é ligar o
até mesmo divina para dar. sujeito à expressão que denota estado ou qualidade desse agente
Clarice Lispector. verbal. Esses verbos não são constituídos de significado e os mais
Disponível em: <http://pensador.uol.com.br>. Acesso em: 30 maio 2012.
comuns são ser, estar, permanecer, continuar, ficar, tornar-se, virar,
andar etc.
10. (EPCar (CPCAR)/2013) Assinale a afirmativa falsa a respeito do
texto. Exemplo:
A) A palavra “fugaz”, no contexto, está sendo empregada no
sentido de “que passa rapidamente; de pouca duração; “O documento foi uma resposta aos horrores cometidos durante
transitório, efêmero, fugidio, fugitivo”. a Segunda Guerra Mundial.”
B) Em “reparti-la” (ref. 2), o pronome “la” retoma o Observação:
antecedente “alegria”.
C) A preposição “a” em “Essa pessoa que atenda ao anúncio A classificação dos verbos quanto à transitividade depende
[...]” (ref. 3) é justificada pela regência do verbo “atender”. do contexto em que estão inseridos. Observe:
D) O verbo “haver” na última frase do texto iria para o plural, 1) O barco virou devido às grandes ondas.
2) Sempre disseram que Marina viraria uma grande atriz.
caso o sujeito dele fosse substituído, por exemplo, por “em
3) Após o sinal do professor, o aluno virou a prova para resolvê-la.
meu rosto e em meus olhos”.

Anual – Volume 3 151


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
Os três períodos anteriores têm em comum a presença do 03. (Col. Naval/2015) Assinale a opção na qual o termo oracional
verbo “virar”, porém, no tocante às suas classificações, elas se destacado foi classificado corretamente.
distinguem em cada ocorrência. No primeiro exemplo, o verbo se
classifica como intransitivo, uma vez que sua ideia se encerra nele, A) “[...] inclusive elegendo representantes que partilhem
o termo que o acompanha “devido às grandes ondas” denota uma desta convicção e não estejam pensando somente nos seus
circunstância de causa. No segundo, comporta-se como um verbo benefícios pessoais.” (2º §) (núcleo do predicado verbal)
de ligação, pois liga o seu sujeito “Marina” a uma qualidade dele B) “[...] e notei que muitos pais expressavam o desejo de ter
“uma grande atriz”. No terceiro, o verbo denota a ação do agente
bons professores [...].” (1º §) (predicativo do sujeito)
verbal “o aluno” e seu significado transita para um complemento
C) “O mercado observa a carência de pessoal qualificado para
não preposicionado “a prova”. Nesse sentido, é importante observar
o contexto da estrutura linguística para que se possa classificar um elevar a eficiência do trabalho.” (3º §) (objeto indireto)
verbo sintaticamente. D) “[...] mas não se sentiam responsáveis para participarem
ativamente das atividades educacionais, [...].” (1º §)
Paralelismo sintático nos verbos (complemento nominal)
E) “[...] parece difícil que consigam transmitir aos filhos o
É comum, em algumas produções textuais, ocorrer o que se
chama de quebra do paralelismo sintático. Observe o período abaixo: mínimo de educação.” (1º §) (objeto direto)
“... até hoje ultrajam a consciência de todos nós que
defendemos, atuamos e ansiamos por um mundo amparado por • Texto para a questão 04.
justiça e liberdade.”
No período, os verbos “defendemos”, “atuamos” e A Ilha Grande não merecia ser um presídio. Desde as casas
“ansiamos” estão dispostos em uma sequência coordenada e
brancas dos pescadores que foram ficando para trás, lá embaixo, no
têm como complemento o termo “por um mundo amparado por
justiça e liberdade”; no entanto, houve a quebra do paralelismo, Abraão, até 1os caminhos sinuosos que vão cortando as montanhas,
já que esses verbos têm transitividades diferentes: defender é um tudo parece um cenário de liberdade. 2Olho para baixo e lá está
verbo transitivo direto; atuar, nesse contexto, desempenha função o azul para se mergulhar, aquela faixa molhada da praia onde
intransitiva, porque denota ideia de ação, agir; e ansiar exerce costumamos caminhar para refrescar os pés, o toque da brisa. 3Além
função de verbo transitivo indireto seguido de complemento iniciado
do mais há mato, vegetação, verde. Tudo aqui é tão selvagem, tão
pela preposição por. Dessa forma, para obedecer à estrutura da
norma culta, o período deve ser escrito da seguinte maneira: natural, como é que poderiam ter imaginado um presídio nesta
“até hoje ultrajam a consciência de todos nós que Ilha? Teria sido um requinte de crueldade, deixar que os punidos
defendemos um mundo amparado por justiça, ansiamos por ele e se lembrem diariamente da água, da areia, da brisa e do mato?
atuamos com esse objetivo”. Quando chegamos, todos os presos que tinham vista
A reescrita agora estabelece as relações sintáticas exigidas
para a entrada estavam colados nas grades das celas. Queriam
pela transitividade dos verbos.
ver as novas caras. A Ilha seria o presídio de muitos anos, o lugar
onde ficaríamos, talvez para sempre. Íamos olhando todo aquele
cenário curioso, mas também com uma certa calma de quem
Exercícios de Fixação vai reencontrá-lo muitas vezes. 4Passamos a guarda na entrada,
penetramos no prédio branco, ganhamos uniformes e fomos
introduzidos na galeria dos presos políticos.
01. (Unifesp/2018) Em “Um a um tombavam os soldados da
Gabeira, Fernando. O que é isso, companheiro?
guarnição estoica.”, o termo destacado é um Rio de Janeiro: Codecri, 1979, p. 181.
A) verbo transitivo direto e indireto.
B) verbo intransitivo.
C) verbo transitivo indireto. 04. (Udesc/2015) Assinale a alternativa correta em relação à obra
D) verbo de ligação.
O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira, e ao trecho
E) verbo transitivo direto.
retirado da mesma.
A) Em “os caminhos sinuosos que vão cortando as montanhas”
02. (IFBA/2016) Leia a anedota de Ziraldo e indique a opção que
corresponde aos tipos de predicado presentes na fala atribuída (ref. 1) há antítese.
à professora, obedecendo à ordem em que eles aparecem no B) No período “Olho para baixo e lá está o azul para se
texto. mergulhar” (ref. 2), os verbos destacados, quanto à
A inspetora da escola visitando todas as turmas quando o transitividade, são classificados, na sequência, como verbo
Juquinha levou um tombo no corredor e berrou todos os transitivo direto e verbo de ligação.
palavrões que conhecia. C) Em “Além do mais há mato, vegetação, verde” (ref. 3)
Escandalizada, a inspetora perguntou: tem-se uma oração sem sujeito e as palavras destacadas
– Onde essa criança aprendeu tanto palavrão? são, sintaticamente, objeto direto.
E a professora, muito sem graça: D) A obra é narrada em 3ª pessoa com interferência do próprio
– Aprendeu nada! Isso é dom natural.
autor, que relata também sua trajetória como militante
Ziraldo. Mais anedotinhas do Bichinho da Maçã. político, durante o período da ditadura militar no Brasil.
10 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1993. p. 10-11.
E) No período “Passamos a guarda na entrada, penetramos no
prédio branco, ganhamos uniformes e fomos introduzidos
A) Nominal e Verbal. B) Verbal e Nominal.
na galeria dos presos políticos” (ref. 4) há cinco orações
C) Verbal e Verbo-Nominal. D) Verbo-Nominal e Verbal.
coordenadas, sendo a última coordenada sindética aditiva.
E) Verbo-Nominal e Nominal.

152 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
• Texto para a questão 05. 03. Há um verbo transitivo em:
O MILAGRE DAS FOLHAS A) Chegar, à mente, um desejo.
B) Há vários problemas.
(...)
C) Ama-se muito.
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou
D) Existem pessoas tristes.
andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos
cabelos. A incidência da linha de milhões de folhas transformadas
em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi- 04. (Udesc/2014) Assinale a alternativa incorreta em relação ao
las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me período da novela A hora da estrela, de Clarice Lispector:
considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos “Quando eu era mulher-dama já ia juntando meu dinheirinho,
furtivos tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais
dando porcentagem à chefa, é claro.”
diminuto diamante.
A) O vocábulo “mulher-dama” é um substantivo composto;
(...)
se pluralizado fica “mulheres-damas”.
LISPECTOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos.
Organização e introdução. As cem melhores crônicas brasileiras.
B) O período é composto, formado por quatro orações,
Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 186-187. sendo que a segunda e a terceira orações são reduzidas de
gerúndio, em relação à primeira oração, que é a principal.
05. (Uece/2015) “Isso me acontece tantas vezes que passei a me C) A palavra “já”, no período, indica uma circunstância de tempo.
considerar modestamente a escolhida das folhas.” D) O substantivo “dinheirinho” quanto à flexão de grau é
Assinale a afirmação incorreta em relação aos elementos do diminutivo sintético, e o sufixo -inho está sendo usado para
enunciado transcrito. indicar valor afetivo.
A) O pronome “isso” tem duas funções neste trecho: E) A palavra “mulher-dama”, sintaticamente, é predicativo do
1. Apontar para trás situando no espaço físico do texto o sujeito, e “dando”, quanto à transitividade, é verbo transitivo
que foi dito; 2. Resumir em si mesmo o que foi dito antes. direto e indireto.
B) Substituindo-se as partículas “me” por expressões
substantivas, têm-se as seguintes estruturas: 1. Isso acontece 05. (Espcex (Aman)/2017) Assinale a alternativa que classifica
a minhas primas, tantas vezes [...]; 2. Considerei meu pai o corretamente a sequência de predicados das orações abaixo.
herói do momento.
C) As duas partículas “me”, que se relacionam com os verbos
– Soa um toque áspero de trompa.
acontecer (me acontece) e considerar (me considerar), têm,
respectivamente, o valor de complemento verbal direto e – Os estudantes saem das aulas cansados.
complemento verbal indireto. – Toda aquela dedicação deixava-o insensível.
D) Pode-se dizer que há, entre as duas orações desse enunciado, – Em Iporanga existem belíssimas grutas.
uma relação entre causa e efeito. Mudando-se o foco, o – Devido às chuvas, os rios estavam cheios.
enunciado pode ser assim reescrito: Porque isso me acontece – Eram sólidos e bons os móveis.
tantas (muitas) vezes, passei a me considerar modestamente
a escolhida das folhas. A) Verbal; verbo-nominal; verbo-nominal; verbal; nominal;
nominal.
B) Verbal; verbal; verbo-nominal; nominal; verbo-nominal;
Exercícios Propostos nominal.
C) Nominal; verbal; verbo-nominal; verbal; nominal; verbo-
-nominal.
01. (Ifal/2018) Considerando que o verbo “estar” pode ser D) Verbo-nominal; verbal; nominal; verbal; verbo-nominal;
interpretado como sendo verbo de ligação, se indica apenas nominal.
um estado, ou verbo intransitivo, se a estada em determinado E) nominal; verbal; verbal; nominal; nominal; verbo-nominal.
local. Assinale a opção em que, no par de sentenças, o verbo
“estar” seja verbo de ligação na primeira sentença e verbo
06. (UEL/2010) Quanto à predicação verbal, é correto afirmar:
intransitivo na segunda.
A) Em “Lançar-se ao espaço implicava algum reconhecimento”
A) Astrogildo estava em casa. Ele estava cansado.
B) Astrogildo estava cansado. Por isso ele estava em casa. o verbo “implicar”, nesse contexto, é um verbo transitivo
C) Adalgiza está cansada. Ela está doente. direto, por isso seu complemento não exige preposição.
D) Publílio está em casa. Ele está em Maceió. B) Em “Não há um imperialismo visionário como ele à vista”
E) Epafrodito está no sítio do tio. Ele está em Rio Largo. o verbo “haver” é considerado um verbo de ligação, pois
estabelece relação entre sujeito e seu predicativo.
02. (Eear/2017) Relacione as colunas e, em seguida, assinale a C) Em “A ISS (estação espacial internacional) representa a
alternativa que apresenta a sequência correta:
prova viva” o verbo “representar” é intransitivo, portanto,
I. Predicado Verbal
II. Predicado Nominal não necessita complemento.
III. Predicado Verbo-nominal D) Em “Marte é o futuro da humanidade” o verbo “ser” é
classificado como verbo transitivo direto e indireto, ou seja,
( ) Receava que eu me tornasse rancorosa.
possui um complemento precedido de preposição e outro não.
( ) As irmãs saíram da missa assustadas.
( ) Da janela da igreja, os padres assistiam à cena. E) Em “Ele nos fornecerá a experiência vívida e a imagem”
o verbo “fornecer” é classificado como verbo defectivo,
A) II – I – III B) III – I – II
pois não apresenta a conjugação completa.
C) I – III – II D) II – III – I

Anual – Volume 3 153


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
• Texto para a questão 07.
Aula 15:

C-6 H-18
(...) Aula C-8 H-27
Preposição e Advérbio
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela 15
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem
sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha,
vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi
andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia
Preposição
mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, A preposição estabelece uma relação entre dois ou mais
a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou termos da oração. Essa relação é subordinativa, isto é, entre os
ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou elementos ligados por ela não existe sentido individualizado, uma
esperando o baile. vez que o sentido da expressão é dependente da união de todos
os elementos que a preposição vincula.
Machado de Assis, Um Apólogo. Veja:
A mulher de Pedro tem um modo estranho de andar.
07. Quanto à transitividade verbal é correto afirma que A mulher de Pedro / modo estranho de andar.: elementos ligados
A) “respondia“ (l.1) é um verbo transitivo indireto. por preposição
B) “faz“(l.3) é um verbo intransitivo. de: preposição
C) “dava” (l.4) é um verbo transitivo direto e indireto. Ela leu com decepção a carta que lhe escrevera.
D) “Continuou” (l.7) é um verbo de ligação. leu com decepção: elementos ligados por preposição com
Nesse tipo de relação, os conectivos cumprem a função de
ligar elementos. A preposição é um desses conectivos e se presta a
ligar palavras entre si num processo de subordinação denominado
08. Dependendo do contexto, um verbo, comumente empregado
regência.
como transitivo direto, pode tornar-se intransitivo. Assinale a Exemplos:
alternativa em que aparece um exemplo disso: A leitura das obras machadianas é essencial na escola.
A) Eles não têm maldade no coração. A leitura das obras machadianas: elementos ligados por preposição
B) Alguém ama sem carinho. de + as = das: preposição
leitura: termo antecedente = rege a construção “das obras
C) Quem o afaga sem vontade?
machadianas”
D) Ele virou um grande artista. “obras machadianas”: termo consequente = é regido pela
E) Ele o consome sem necessidade. construção “leitura da”
Meus pais passaram por problemas no início de suas vidas..
passaram por problemas: elementos ligados por preposição
09. (Fuvest/1993) Observar a oração: por: preposição
passaram: termo antecedente = rege a construção “por problemas”
“... e Fabiano saiu de costas...” problemas: termo consequente = é regido pela construção
Assinale a alternativa em que a oração também tenha verbo “passaram por”
intransitivo: As preposições, por não sofrerem flexão de gênero e
número, são consideradas palavras invariáveis, no entanto, em
A) “... Fabiano ajustou o gado...”
diversas situações, elas se combinam a outras palavras da língua
B) “... acreditara na sua velha.” (fenômeno da contração) e, assim, estabelecem uma relação de
C) “... davam-lhe uma ninharia.” concordância em gênero e número com essas palavras às quais
D) “Atrevimento não tinha...” se ligam. Apesar disso, não se trata de uma variação própria da
E) “Depois que acontecera aquela miséria...” preposição, mas sim da palavra com a qual ela se funde.
Por exemplo:
de + o = do
por + a = pela
10. (Cesgranrio/1995–Adaptada) Assinale a opção que traz correta
em + um = num
classificação da predicação verbal.
A) “Houve... uma considerável quantidade” – verbo transitivo As preposições podem introduzir:
direto. A) Complementos Verbais
B) “que jamais hão de ver país como este” – verbo transitivo Por exemplo: Eu creio “nos meus pais”.
indireto. B) Complementos Nominais
C) “mas reflete a pulsação da inenarrável história de cada um” Por exemplo: Tenho credibilidade “em meus pais”.
– verbo transitivo direto e indireto. C) Locuções Adjetivas
D) “que se recebe em herança” – verbo transitivo indireto. Por exemplo: É uma garota “de coragem”.
D) Locuções Adverbiais
E) “a quem tutela” – verbo intransitivo.
Por exemplo: Falou “com arrogância”.
E) Orações Reduzidas
Por exemplo: “Ao entrar”, percebeu a bagunça.

154 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Classificação das preposições Combinação e contração da preposição
Chamamos de preposições essenciais as palavras da língua As preposições a, de, em e per podem se unir a certas
portuguesa que atuam exclusivamente como essa classe de palavras. palavras, formando um só vocábulo. Essa união pode ser por:
São elas: • Combinação: ocorre quando a preposição, ao unir-se a outra
palavra, mantém todos os seus fonemas. Por exemplo:
a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para,
preposição a + artigo masculino o = ao
per, perante, por, sem, sob, sobre, trás
preposição a + artigo masculino os = aos
• Contração: ocorre quando a preposição sofre modificações
Observações: na sua estrutura fonológica ao unir-se a outra palavra. As
1) A preposição após, acidentalmente, pode ser advérbio, com a preposições de e em, por exemplo, formam contrações com os
significação de atrás, depois. Por exemplo: artigos e com diversos pronomes. Veja:
Os professores entraram na sala, e os alunos os acompanharam
logo após. Do dos da das
2) Trás, modernamente, é empregada em locuções adverbiais e
prepositivas: por trás, para trás, para trás de. Num nuns Numa numas
3) Até pode ser palavra denotativa de inclusão. Por exemplo:
Disto disso daquilo
Acusaram-me até de traidor.
Naquele naqueles naquela naquelas
Existem palavras de outras classes gramaticais que, em
determinadas situações, podem atuar como preposições. São, por Observe outros exemplos:
isso, chamadas preposições acidentais: em + a = na
em + aquilo = naquilo
de + aquela = daquela
como (= na qualidade de), conforme (= de acordo com), segundo de + onde = donde
(= conforme), consoante (= conforme), durante, salvo, fora,
mediante, tirante, exceto, senão, visto (=por). Vale ressaltar que as formas pelo, pela, pelos, pelas resultam
da contração da antiga preposição per com os artigos definidos.
As preposições essenciais regem sempre a forma oblíqua Por exemplo:
per + o = pelo
tônica dos pronomes pessoais.
Por exemplo:
Sentidos estabelecidos pelas preposições
Não perguntei a ti sobre o assunto.
As preposições acidentais, por sua vez, regem a forma reta Autoria – Esse poema é de Augusto dos Anjos.
desses mesmos pronomes. Lugar – Meus pais moram em Blumenau.
Por exemplo: Tempo - Eu vivi durante três anos em Paris.
Modo ou conformidade - Vamos nomear o novo diretor por mérito.
Todos, exceto ela, saíram da sala na hora da fala do palestrante.
Causa – Está sofrendo por amor.
Assunto – Não gosto de falar sobre minha vida.
Locuções prepositivas Fim ou finalidade – Eu vim para estudar Arquitetura.
Denomina-se locução prepositiva o conjunto de duas ou Instrumento – Cavou-se o buraco com pá.
mais palavras que tem o valor de uma preposição. Nesse sentido, Companhia – Gosto de sair com meu namorado.
a última palavra dessas locuções é sempre uma preposição. Meio – Voltarei a andar de metrô.
Veja a lista da principais locuções prepositivas. Matéria – Comprou um lindo casaco de pele.
Posse – Esta é a casa de Marília.
Oposição – A minha escola jogará contra a sua.
Conteúdo – Degustei um copo de (com) vinho do Porto.
abaixo de acima de acerca de a fim de
Preço – Comprei essa camisa a (por) R$ 30,00.
Origem – Você descende de italianos.
além de a par de apesar de antes de Especialidade – João é excelente em Engenharia.
Destino ou direção – Olhe para os lados ao atravessar uma rua!

depois de ao invés de diante de em fase de Distinção de “a” exercendo papel de


preposição, pronome pessoal oblíquo e artigo
em vez de graças a junto a junto com • Preposição: liga dois termos, estabelece entre eles relação
de dependência, o ”a” permanece invariável, nesse contexto,
exercendo função de preposição. Por exemplo:
junto de à custa de defronte de através de
Fui a Brasília nas férias.
• Pronome Pessoal Oblíquo: substitui um substantivo na frase.
em via de de encontro a em frente de em frente a Por exemplo:
Eu levei minha família a Recife.
Eu a levei a Recife.
sob pena de a respeito de ao encontro de • Artigo: antecede um substantivo, determinando-o. Por exemplo:
A diretora foi a Brasília.

Anual – Volume 3 155


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
Advérbio Por exemplo:
Renato fala altíssimo.
Compare estes exemplos: Obs.: as formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são comuns
Plantação de milho é incendiada. na língua popular. Observe:
Ontem, plantação de milho é incendiada em fazenda do interior Sempre mora pertinho da casa de minha avó. (muito perto)
do Ceará. Meu pai levanta cedinho todos os dias. (muito cedo)
A palavra ontem acrescentou à locução verbal foi
incendiada uma circunstância de tempo: ontem é um advérbio. Classificação do advérbio
O palestrante saiu-se bem em sua apresentação. De acordo com a circunstância que exprime, o advérbio
O palestrante saiu-se muito bem em sua apresentação. pode ser de:
• Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, além, lá,
A palavra muito intensificou o sentido do advérbio bem: detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde, longe,
muito, nesse contexto, é um advérbio. debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, alhures,
embaixo, externamente, a distância, à distância de, de longe, de
perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta.
Gramado é uma cidade linda.
• Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, amanhã,
Gramado é uma cidade muito linda.
cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, doravante,
nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim, afinal,
A palavra muito intensificou a qualidade contida no adjetivo amiúde, breve, constantemente, entrementes, imediatamente,
linda: muito, nessa frase, é um advérbio. primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sentido de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em
do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. Às vezes, ele pode tempos, em breve, hoje em dia.
se referir a uma oração inteira; nessa situação, normalmente • Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa, acinte,
transmitem a avaliação de quem fala ou escreve sobre o conteúdo debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade,
da oração. Por exemplo: às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa
Os ataques, em rede sociais, às classes menos favorecidas é uma maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
constante, lamentavelmente. vão e a maior parte dos que terminam em “-mente”: calmamente,
tristemente, propositadamente, pacientemente, amorosamente,
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescentar docemente, escandalosamente, bondosamente, generosamente.
• Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efetivamente,
várias ideias, tais como:
certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
• Tempo: Os garotos chegaram cedo do cinema.
• Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de forma
• Lugar: Ele não costuma vir muito aqui. nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
• Modo: Os alunos se comportaram mal.
• Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavelmente,
• Negação: Ela não viajou naquele dia.
• Dúvida: Talvez tenha se enganado com o conteúdo da conversa. quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
• Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso, bastante,
Flexão do advérbio mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, assaz, que
(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de muito,
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apresentam
por completo, extremamente, intensamente, grandemente, bem.
variação em gênero e número. Alguns deles, porém, permitem a
• Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente,
variação em grau. Observe a seguir.
• Grau Comparativo simplesmente, só, unicamente.
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo que o • Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também.
comparativo do adjetivo: • Ordem: depois, primeiramente, ultimamente.
de igualdade: tão + advérbio + quanto (como)
Por exemplo: Advérbios Interrogativos
Pedro é tão alto quanto João. São as palavras: “onde?”, “aonde?”, “donde?”, “quando?”,
de inferioridade: menos + advérbio + que (do que) “como?” e “por que?”, nas interrogações diretas ou indiretas,
Por exemplo: referentes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja:
Renato é menos alto do que João.
de superioridade:
Analítico: mais + advérbio + que (do que) Interrogação Direta Interrogação Indireta
Por exemplo: Perguntei como ocorreu o
Renato é mais alto do que João. Como ocorreu o acidente?
acidente.
Sintético: melhor ou pior que (do que)
Indaguei onde morava sua
Por exemplo: Onde mora sua mãe?
mãe.
Renato escreve melhor que João.
• Grau Superlativo Por que não viajas? Não sei por que não viajas.
O superlativo pode ser analítico ou sintético:
Perguntei aonde vai com tanta
Analítico: acompanhado de outro advérbio. Aonde vai com tanta pressa?
pressa.
Por exemplo:
Renato escreve muito bem. Pergunto donde vens,
Donde vens, mocinha?
muito = advérbio de intensidade mocinha.
bem = advérbio de modo Quando voltas? Pergunto quando voltas.
Sintético: formado com sufixos.

156 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Locução adverbial • Retificação: aliás, isto é, ou melhor, ou antes:
Somos um país rico, ou melhor, feliz.
São chamadas de locuções adverbiais duas ou mais palavras • Situação: então, mas, se, agora, afinal:
que exercem função de advérbio. Elas podem expressar as mesmas Mas quem determinou essa mudança no contrato?
noções dos advérbios.
Normalmente, são iniciadas por uma preposição. Veja: Utilizam-se as palavras denotativas em frases e textos
• Lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para dentro, diretamente com as estratégias argumentativas. Por isso, o papel
por aqui... de palavras como até, aliás, também desempenham efeitos de
sentido responsáveis pelas situações efetivas de interlocução.
• Afirmação: por certo, sem dúvida...
• Modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em geral, frente
a frente...
• Tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje em
dia, nunca mais...
Exercícios de Fixação

Relação de algumas locuções adverbiais


01. (Unicamp/2018)

Reprodução/Unicamp 2018
às vezes às claras às cegas
à esquerda à direita à distância
ao lado ao fundo ao longo
a cavalo a pé às pressas
ao vivo a esmo à toa
de repente de súbito de vez em quando
por fora por dentro por perto
por trás por ali por ora
com certeza sem dúvida de propósito
lado a lado passo a passo o mais das vezes Bruno Fonseca. Facebook.
Disponível em: <https://www.facebook.com>. Acesso em: 31 ago. 2017.

Palavras e Locuções Denotativas Considerando os sentidos produzidos pela tirinha anterior,


é correto afirmar que o autor explora o fato de que palavras
Assemelhem-se a advérbios e não possuem, segundo a como “ontem”, “hoje” e “amanhã”
Nomenclatura Gramatical Brasileira, classificação especial. A) mudam de sentido dependendo de quem fala.
Sintaticamente, são expletivas, isto é, não assumem nenhuma B) adquirem sentido no contexto em que são enunciadas.
função, porém, morfologicamente, são invariáveis e podem vir C) deslocam-se de um sentido concreto para um abstrato.
originadas de outras classes gramaticais. Já semanticamente, são
D) evidenciam o sentido fixo dos advérbios de tempo.
importantes no contexto em que se encontram. Classificam-se em
função da ideia que expressam:
02. (EBMSP/2018)
• Adição: ainda, além disso:

Reprodução/Ebmsp 2018
Faltou a reunião e ainda foi desaforado ao telefone.
• Afastamento: embora:
Foi embora de sua cidade natal há anos.
• Afetividade: ainda bem, felizmente, infelizmente:
Ainda bem que o ano está acabando.
Aproximação: quase, lá por, bem, uns, cerca de, por volta de:
Ela quase conseguiu descobrir o segredo de sua receita de bolo.
• Designação: eis:
Eis nosso novo modelo de sociedade.
• Exclusão: apesar, somente, só, salvo, unicamente, exclusive,
exceto, senão, sequer, apenas:
Não me deu sequer um adeus.
• Explicação: isto é, por exemplo, a sabe:
Revisou vários textos, a saber, os artigos científicos.
• Inclusão: até, ainda, além disso, também, inclusive:
Eu também vou ficar no Rio de Janeiro mais alguns dias.
AJUDE daqui a espalhar o que acontece lá.
• Limitação: só, somente, unicamente, apenas: Disponível em: <http://voxnews.com.br>. Acesso em: ago. 2017.
Só ele não compreende o assunto da prova.
• Realce: é que, cá, lá, não, mas, é porque: A campanha dos Médicos sem Fronteiras desenvolve sua
E você lá sabe o que é ser adulto? argumentação na chamada principal, através de elementos
O que não diria esse jovem se soubesse que já fui amigo de verbais e não verbais, que estão corretamente analisados na
infância de seu pai. alternativa

Anual – Volume 3 157


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
A) O uso do imperativo “Ajude”, por meio do sujeito implícito, 04. (CFTMG/2019) Os pedaços de papel presos perpendicularmente,
revela que o público a que ela se dirige faz parte do contexto que vinham caídos sobre os outros, finalmente se apartaram,
evidenciado na imagem. balançando soltos e revelando o que verdadeiramente eram:
orelhas e tromba. As extremidades mostraram-se como pernas
B) A contração “daqui” e o advérbio “lá”, presentes no texto,
e o imenso miolo, antes informe, o corpo de um elefante
sugerem que o enunciador aborda a realidade de um espaço que, agora, pairava desengonçado sobre o convés do navio.
do qual está distante, assim como o seu interlocutor, ficando E as crianças corriam e riam muito porque o elefante estava
implícito que esse distanciamento não é empecilho para que finalmente de pé, imponente e frágil.
se possa apoiar essa organização.
STIGGER, Veronica. Opisanie Œwiata. São Paulo: SESI-SP, 2018. p. 95-96.
C) O infinitivo “espalhar” gera, pela ausência de seu objeto
Considere as seguintes afirmações sobre as formas linguísticas
direto, um paradoxo com o imperativo “Ajude”, revelando
do excerto:
uma ação oposta e contraditória ao que foi proposto I. O advérbio “verdadeiramente” exprime a intenção do
inicialmente. narrador de ironizar o objeto construído pelas crianças.
D) O demonstrativo “o” faz referência anafórica ao local em II. O verbo expressa a ideia de “aparência” na frase “As
que se encontra o locutor, indicando que o leitor deve extremidades mostraram-se como pernas”.
divulgar as suas próprias experiências e o cenário em que III. O adjetivo “informe” altera o sentido do substantivo
atua, para que indivíduos de outros lugares e países possam “miolo”.
IV. A expressão “imponente e frágil” é contraditória, porque
ter mais exemplos de solidariedade.
relaciona duas características mutuamente excludentes.
E) A forma verbal “acontece” está no presente do indicativo,
apresentando uma comparação entre fatos que já se Estão corretas apenas as afirmativas
concretizaram e práticas futuras, inspiradas na ideia A) I, II e III B) I e IV
transmitida pelo verbo “ajudar”. C) II e IV D) II e III

• Texto para a questão 03. • Leia o trecho inicial do conto “A doida”, de Carlos Drummond
de Andrade, para responder à questão 05.
Texto (...)
OS BENS E O SANGUE Dos doidos devemos ter piedade, porque eles não gozam
VIII dos benefícios com que nós, os sãos, fomos aquinhoados. Não
(...) explicavam bem quais fossem esses benefícios, ou explicavam
demais, e restava a impressão de que eram todos privilégios de gente
Ó filho pobre, e descorçoado*, e finito
adulta, como fazer visitas, receber cartas, entrar para irmandades.
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais E isso não comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que
com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos miséria. E os três sentiam-se inclinados a 1lapidar a doida, isolada
para tristeza nossa e consumação das eras, e agreste no seu jardim.
para o fim de tudo que foi grande! (...)
Ó desejado, Contos de aprendiz, 2012.
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lago de pez** e resíduos letais... 05. (Unifesp/2019) No trecho “Dos doidos devemos ter piedade,
És nosso fim natural e somos teu adubo, porque eles não gozam dos benefícios com que nós, os sãos,
tua explicação e tua mais singela virtude... fomos aquinhoados”, em respeito à norma-padrão, estaria
Pois carecia que um de nós nos recusasse correto o uso da preposição “a” em lugar de “com” se a
expressão destacada fosse substituída por
para melhor servir-nos. Face a face
A) fazemos jus. B) recebemos.
te contemplamos, e é teu esse primeiro C) somos merecedores. D) estamos satisfeitos.
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro. E) nos orgulhamos.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

* “descorçoado”: assim como “desacorçoado”, é uma variante


de uso popular da palavra “desacoroçoado”, que significa
“desanimado”. Exercícios Propostos
** “pez”: piche.

03. (Fuvest/2018) Considere o tipo de relação estabelecida pela • A questão a seguir refere-se ao que segue, trecho adaptado de
preposição “para” nos seguintes trechos do poema: matéria publicada na Revista da Cultura, editada pela Livraria
I. “ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais”; Cultura (edição 113, junho de 2017).
II. “Ó tal como quiséramos para tristeza nossa e consumação
Texto
das eras”;
III. “para o fim de tudo que foi grande”; São as contradições e as fragilidades do ser humano que
IV. “para melhor servir-nos”. muito interessam à dramaturga já premiada Silvia Gomez. É
assim desde o início de sua trajetória no teatro, na mineira Belo
A preposição “para” introduz uma oração com ideia de Horizonte, sua terra natal, e de 1onde saiu, em 2001, para residir
finalidade apenas em em São Paulo.
A) I 2
Agora, a partir deste mês de junho, nossos conflitos voltam
B) I e II ao tablado em São Paulo, em mais um texto da dramaturga.
C) III A célebre artista Selma Egrei, com mais de quatro décadas
D) III e IV’ de trajetória na arte da interpretação, empresta sua grande
E) IV sensibilidade à construção de uma importante personagem da
peça, chamada NC.

158 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
É com Silvia Gomez e Selma Egrei esta conversa a seguir. 02. (Fatec/2017) No trecho “correspondentes a sistemas de
Silvia, o que é ser dramaturga? pensamento e linguagens”, a palavra destacada é
Para mim, ser dramaturga tem muito a ver com exercitar a A) um artigo definido feminino que concorda com o substantivo
empatia e a alteridade, coisas que a gente precisa muito no mundo sistemas.
de hoje. 3É essa coisa de também estar no lugar do outro, se colocar B) um pronome possessivo referente ao substantivo
dentro da pele, vestir o casaco do outro, virá-lo do avesso e expor pensamento.
as entranhas. É ouvir o que aquele outro diz e o que tem a ver com C) uma conjugação no presente do indicativo para o verbo
o mundo de hoje. Para mim, 4ser dramaturga está ligado também haver.
com o ser cronista de nosso tempo. Eu queria muito olhar para D) uma preposição regida pelo adjetivo correspondentes.
as coisas que incomodam e falar delas. Não queria usar o teatro E) um adjetivo para destacar o advérbio linguagens.
como um lugar apenas para a recreação. Sempre encarei o teatro
como o lugar de encontro das pessoas e de estarmos juntos para 03. (CFTMG/2019) “Ao ver Opalka sentado num dos bancos da
falar de coisas profundas e olhar de verdade o mundo que está a estação, lendo compenetrado o jornal, sorriu feliz. Acelerou
nosso redor. o passinho, tropeçou na barra do quimono e se espatifou no
E ser atriz, Selma, o que é? chão a apenas alguns passos do banco.”
O que é mais forte para mim no ser atriz é poder ser um Sobre esse trecho, afirma-se que
veículo para colocar, discutir e amenizar as dores do mundo. Acho
que, através da figura do ator, 5você se vê representado ali, sabe que I. o termo ‘feliz’ modifica o sentido do verbo ‘sorrir’;
não está só no mundo com seus sofrimentos e angústias, e percebe
6 II. o advérbio ‘apenas’ pode ser substituído por ‘simplesmente’,
que isso pode ser vivenciado de forma mais grupal, o que, de
7 mantendo-se o sentido da frase;
alguma forma, dá mais alento às pessoas. Então, vejo meu trabalho
8 III. o emprego do diminutivo em ‘passinho’ manifesta uma
por aí. E claro que tem também o lado de poder me expressar, me intenção humorística do narrador.
sentir viva, manifestar minhas dores e minhas angústias.
Estão corretas as afirmativas
Observação: A) I e II
B) I e III
empatia = processo de identificação em que o indivíduo se C) II e III
coloca no lugar do outro e tenta compreender o comportamento D) I, II e III
do outro.
alteridade = natureza ou condição do que é outro, do que é • Texto para a questão 04.
distinto.
SUPER-HERÓIS AJUDAM CRIANÇAS
A ACEITAR QUIMIOTERAPIA
01. (Puccamp/2018) É comentário correto sobre o que se tem no
texto:
Hospital cria tratamento infantil com acessórios da Liga da
A) (referência 2) Pode ser atribuído um sentido à palavra Justiça e oferece gibi sobre a luta do Batman contra o câncer como
Agora somente porque vem acompanhada da expressão a inspiração a crianças com a doença.
partir deste mês de junho, pois esse advérbio nada significa Batman está com câncer, mas os vilões nem tiveram tempo
se não vier acompanhado de referência temporal mais de comemorar a revelação feita na edição extra da história em
precisa. quadrinhos (HQ). Logo após o diagnóstico, o herói mascarado
B) (referência 1) A palavra onde está corretamente já 3começou a receber uma 5”Superfórmula” contra a doença e,
empregada no texto, como também estaria correto o uso apesar de ter perdido cabelo e emagrecido um pouco, está forte
de “aonde” na frase “Ele não sabia para aonde ia aquele para voltar a combater o mal.
trem”; a preposição destacada em aonde é necessária para Na vida real, todos os pacientes infantis atendidos no Centro
indicar a ideia de direção, inexistente em outro parte do de Referência AC.Camargo, em São Paulo, também 4passaram a
enunciado. ter acesso ao tratamento que, no gibi, promete salvar a vida do
C) (referência 6) No segmento destacado em percebe que homem-morcego.
isso pode ser vivenciado de forma mais grupal, o que, de
ARANHA, Fernanda. Minha Saúde. iG São Paulo.
alguma forma, dá mais alento às pessoas, se o pronome Disponível em: <www.saude.ig.com.br>. Acesso em: 06. jun. 2013. Adaptado.
viesse posposto ao substantivo, a expressão adquiriria um
valor negativo. 04. (UFSM/2014) Assinale a alternativa correta quanto ao papel
D) (referências 3, 8, 7 e 4, respectivamente) São marcas da semântico exercido pela preposição no excerto em destaque,
oralidade os elementos destacados em É essa coisa de tendo em vista o contexto em que foi empregada no texto.
também estar no lugar do outro; vejo meu trabalho por A) “Superfórmula contra a doença” – proximidade.
aí; isso pode ser vivenciado de forma mais grupal; ser B) “a HQ com a trajetória vitoriosa” – companhia.
dramaturga está ligado também com o ser cronista de C) “oncologia pediátrica do AC.Camargo” – posse.
nosso tempo. D) “apresentar o câncer às crianças” – causa.
E) (referência 7) Em você se vê representado ali, o pronome E) “faz toda a diferença para os meninos e as meninas”
oblíquo exerce a função de objeto indireto. – lugar.

Anual – Volume 3 159


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV
05. (IME/2018) Na frase “só o bobo é capaz de excesso de amor”, 09. (Unifesp/2018) “Falou rapidamente a diversas pessoas,
a semântica da palavra só, nesse contexto, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve
A) estabelece comparação entre bobos e espertos e funciona oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano”
como adjetivo.
Os termos em destaque constituem, respectivamente,
B) evidencia a solidão dos que são bobos num mundo em que
A) uma preposição, uma preposição e um artigo.
a quase totalidade das pessoas são espertas. Funciona como B) um pronome, uma preposição e um artigo.
adjetivo. C) um artigo, um artigo e um pronome.
C) modifica o sentido do substantivo amor, sendo, por isso, um D) uma preposição, um artigo e um artigo.
advérbio. E) um pronome, uma preposição e um pronome.
D) incide sobre o adjetivo capaz, intensificando essa capacidade
que apenas os bobos têm. Funciona, portanto, como • A questão a seguir aborda um texto, de um site especializado em
advérbio. esportes, com instruções de treinamento para a corrida olímpica
E) tem valor restritivo quanto ao mundo dos que são capazes dos 1500 metros.
de excesso de amor e funciona como um advérbio que se
refere à palavra bobo. CORRIDA – PROVA 1500 METROS RASOS

06. (ESPM/2017) Quando se perde o grau de investimento, corre- A prova dos 1 500 metros rasos, juntamente com a da
se o risco de uma debandada dos capitais estrangeiros, aí é
milha (1609 metros), característica dos países anglo-saxônicos,
preciso tomar medidas mais drásticas do que se desejaria.
é considerada prova tática por excelência, sendo muito importante
Joaquim Levy. o conhecimento do ritmo e da fórmula a ser utilizada para vencer
O vocábulo destacado aí é: a prova. Os especialistas nessas distâncias são considerados
A) advérbio, expressando a ideia de “nesse lugar”. completos homens de luta que, após um penoso esforço para
B) interjeição, traduzindo ideia de apoio, animação. resistir ao ataque dos adversários, recorrem a todas as suas energias
C) palavra expletiva (dispensável) ou de realce. restantes a fim de manter a posição de destaque conseguida
D) advérbio, expressando ideia de conclusão “então”. durante a corrida, sem ceder ao constante assédio dos seus
E) substantivo, traduzindo ideia de “por outro lado”. perseguidores.
[...] Para correr essa distância em um tempo aceitável,
07. No trecho “Sempre vivi por amor à minha família”, a locução
deve-se gastar o menor tempo possível no primeiro quarto da prova,
adverbial em destaque denota ideia de
devendo-se para tanto sair na frente dos adversários, sendo essencial
A) causa. B) concessão.
C) explicação. D) tempo. o completo domínio das pernas, para em seguida normalizar o
E) modo. ritmo da corrida. No segundo quarto, deve-se diminuir o ritmo, a
fim de trabalhar forte no restante da prova, sempre procurando
• Texto para a questão 08. dosar as energias, para não correr o risco de ser surpreendido por
um adversário e ficar sem condições para a luta final.
Se o relógio da História marca tempos sinistros, o tempo Deve ser tomado cuidado para não se deixar enganar por
construído pela arte abre-se para a poesia: o tempo do sonho e da algum adversário de condição inferior, que normalmente finge
fantasia arrebatou multidões no filme O mágico de Oz estrelado por possuir energias que realmente não tem, com o intuito de minar
Judy Garland e eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris. o bom corredor, para que o companheiro da mesma equipe possa
Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação especial do tempo: tirar proveito da situação e vencer a prova. Assim sendo, o corredor
as notas combinam-se, ritmam e produzem melodias, adensando experiente saberá manter regularmente as suas passadas, sem
as horas com seu envolvimento. deixar-se levar por esse tipo de artimanha. Conhecendo o estado
de suas condições pessoais, o corredor saberá se é capaz de um
08. (PUC-Camp/2016) Considere o parágrafo e o verbete extraído sprint nos 200 metros finais, que é a distância ideal para quebrar a
do Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa a seguir.
resistência de um adversário pouco experiente.
Aliás:
O corredor que possui resistência e velocidade pode conduzir
Advérbio
a corrida segundo a sua conveniência, impondo os seus próprios
1. De outro modo, de outra forma.
Ex.: Sempre ajudou o filho, aliás seria mau pai se não o meios de ação. Finalmente, ao ultrapassar um adversário, deve-se
fizesse. fazê-lo decidida e folgadamente, procurando sempre impressioná-lo
2. Além disso. com sua ação enérgica. Também deve-se procurar manter sempre
Ex.: Aliás, não era a primeira sujeira que ele fazia. uma boa descontração muscular durante o desenvolvimento da
3. Emprega-se em seguida a uma palavra proferida ou escrita corrida, nunca levar a cabeça para trás e encurtar as passadas para
por equívoco; ou melhor, digo. finalizar a prova.
Ex.: Estávamos em março, aliás, abril.
Disponível em: <http://treino-de-corrida.f1cf.com.br >.
4. Seja dito de passagem; verdade seja dita; a propósito.
Ex.: Não aceitou o emprego, que aliás, é muito cobiçado.
10. (Unesp/2015) Observando as seguintes passagens, marque a
5. No entanto, contudo.
alternativa em que as duas palavras em negrito são utilizadas
Ex.: Andar muito é cansativo, sem, aliás, deixar de ser
como advérbios.
saudável.
A) “não correr o risco de ser surpreendido”.
O sentido preciso com que a palavra “aliás” foi empregada no B) “finge possuir energias que realmente não tem”.
texto está indicado em: C) “deve-se fazê-lo decidida e folgadamente”.
A) 3 B) 2 D) “nunca levar a cabeça para trás”.
C) 5 D) 4 E) “forte no restante da prova, sempre procurando dosar”.
E) 1

160 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa IV LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Bibliografia
ANTUNES, Irandé. Gramática Contextualizada: limpando ‘o pó das ideias simples’. 1 ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 2ª ed. São Paulo: Publifolha, 2008.
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 16. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
COSTA VAL, M. Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
CUNHA, Antônio Geraldo. Dicionário de Etimologia da Língua Portuguesa. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2010.
FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 2002. (versão 2009)
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 52ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2014.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário Prático de Regência Verbal. 9ª ed. São Paulo: Ática, 2010.
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa, volume único.11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Na trilha da gramática: conhecimento linguístico na alfabetização e letramento. São Paulo: Cortez, 2013.
REGIS, Herman Wagner de Freitas. Gramática aplicada aos contextos da língua portuguesa. 1ª ed. Fortaleza: Editora Dinâmica, 2012.

Anotações

Anual – Volume 3 161


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Portuguesa IV

Anotações

162 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V
Múltiplas Linguagens

Objetivo(s):
• Possibilitar ao aluno uma reflexão acerca dos movimentos culturais que marcaram a história da arte no início do século XX;
• Proporcionar ao aluno o conhecimento sobre os conceitos estéticos que definiram as seguintes escolas: Suprematismo,
Construtivismo, Neoplasticismo e Bauhaus;
• Desenvolver no aluno o gosto pela produção das artes plásticas modernas no Brasil;
• Possibilitar ao aluno o contato com a produção artística dos maiores expoentes da pintura moderna brasileira;
• Oportunizar ao aluno a compreensão das técnicas desenvolvidas pelos expressionistas, cubistas, dadaístas, futuristas na
produção artística, especialmente na pintura.
• Promover uma discussão sobre os aspectos que envolvem a pintura O Grito, de Edvard Munch, um dos mais importantes
representantes da corrente artística expressionista, destacando cores, formas e representações.

Conteúdo:
Aula 11: As Vanguardas I – Cubismo E Futurismo
Introdução.............................................................................................................................................................................................................164
Cubismo.................................................................................................................................................................................................................164
Futurismo...............................................................................................................................................................................................................166
Exercícios ..............................................................................................................................................................................................................167
Aula 12: As Vanguardas II – Expressionismo
Introdução.............................................................................................................................................................................................................172
Exercícios ..............................................................................................................................................................................................................174
Aula 13: As Vanguardas III – Dadaísmo e Surrealismo
Dadaísmo...............................................................................................................................................................................................................181
Surrealismo............................................................................................................................................................................................................181
Exercícios ..............................................................................................................................................................................................................183
Aula 14: O Abstracionismo
Introdução.............................................................................................................................................................................................................188
Tendências Abstratas ............................................................................................................................................................................................189
Exercícios ..............................................................................................................................................................................................................191
Aula 15: A Pintura Modernista Brasileira
Introdução.............................................................................................................................................................................................................197
Representantes da Moderna Pintura Brasileira......................................................................................................................................................198
Exercícios ..............................................................................................................................................................................................................203
Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Aula 11:

C-04 H-12, 13
Aula H-14
As Vanguardas I – Cubismo E Futurismo
11

Introdução
A segunda metade do século XIX tornou-se uma espécie de celeiro de movimentos

Eric Broder Van Dyke /123RF/Easypix


artísticos inovadores, como o Impressionismo e o pós-Impressionismo. Somam-se a isso
as mudanças sociais, culturais e o surgimento da cultura de massa, que resultou em uma
atmosfera propícia para o desenvolvimento de novas bases artísticas. É esse contexto de
mudança e inovação que marca a origem das vanguardas históricas europeias (Cubismo,
Futurismo, Dadaísmo, Expressionismo e Surrealismo) no início do século XX. O termo
“vanguarda”, embora de origem militar, serviu como identificação para os artistas
romperem os conceitos clássicos ou acadêmicos da história da arte, já que esses sujeitos
buscavam a produção artística mais moderna, aspecto que acompanhava a modernização
dos grandes centros.

QUADRO-RESUMO DAS PRINCIPAIS VANGUARDAS HISTÓRICAS NO SÉCULO XX


Vanguardas Origem Idealizador Características Relevantes
• Múltipla visão dos objetos;
• Fragmentação do olhar;
Cubismo (1907) Espanha e França Pablo Picasso • Decomposição da perspectiva;
• Volume;
• Geometrização das formas.
• Rejeição ao passado;
Futurismo (1909) Itália Fillipo Tommaso Marinetti • Valorização da vida e dos elementos modernos;
• Dinamismo e velocidade.
• Distorção das imagens;
Expressionismo (1910) Alemanha e Noruega Indeterminado • Manifestação do mundo interior;
• Expressão do medo, pavor e da angústia.
• Originalidade, espontaneidade;
Dadaísmo (1916) Suíça Tristan Tzara • Anarquia, improviso;
• Radicalismo.
• Exaltação dos sonhos, da fantasia;
Surrealismo (1924) França André Breton • Influência da psicanálise;
• Ilogismo.

Cubismo
Sucession Pablo Picasso/AUTVIS, Brasil 2019

PICASSO, Pablo (1881-1973). Les demoiselles


d’Avignon (1907). Óleo sobre tela.

164 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
O surgimento do movimento cubista está relacionado com as A tela a seguir exemplifica o Cubismo analítico.
primeiras experiências dos artistas Pablo Picasso e Georges Braque,

Sucession Pablo Picasso/AUTVIS, Brasil 2019


durante os anos 1906 e 1909. Essa corrente estética foi além dos
pilares tradicionais da arte e dos trabalhos iniciais de geometrização
da natureza de Paul Cézanne, pois sugeriu inovadoras intervenções
para a representatividade artística, sobretudo a decomposição
das formas e a geometrização como bases de elaboração da
pintura. Assim surgiu a tela “Les demoiselles d’Avignon”, de
Picasso, conhecida como marco inicial do cubismo. Nesse trabalho,
Picasso apresenta o modo como os cubistas avaliavam as coisas –
em três dimensões, com linhas retas e em uma superfície plana sob
formas geométricas. Isso ocorria porque para a vertente cubista
a aparência real era irrelevante, contrastando, dessa forma, com
a ideia pregada pelos pintores realistas. Com isso, os cubistas
visavam à simultaneidade dos objetos a partir de todos os ângulos PICASSO, Pablo (1881-1973).
e promoveram grandes transformações aos estilos vindouros. Ma Jolie (1912). Óleo sobre tela.
Sobre o movimento, assim comenta o crítico Christian Demilly,
As principais características do Cubismo analítico são:
“Na Europa, os artistas continuam a explorar caminhos traçados
• A geometrização das formas e dos volumes;
pelos primeiros pintores abstratos. Mas a abstração desses artistas
não é geométrica: sua pintura não representa nenhuma realidade, • Grande renúncia à perspectiva;
tampouco procura reproduzir formas precisas. Cada artista inventa • O contraste de claro e escuro perde sua função;
sua própria linguagem. Cores, formas e luz são exploradas, • Maior representação do volume colorido sobre superfícies planas;
desenvolvidas e invadem as telas. Traços vivos e dinâmicos... • Maior sensação de pintura escultórica;
Para cada um, uma abstração, um lirismo.” Já para Ian Chilvers, • Desestruturação da obra em todos os seus elementos;
“tal vanguarda rompeu radicalmente com a ideia de arte como • Visão total da figura;
imitação da natureza, prevalecente na pintura europeia desde • A cor se reduz aos tons de castanho, cinza e amarelo.
a Renascença. Seus principais adeptos abandonaram as noções
tradicionais de perspectiva, tentando representar solidez e volume Cubismo Sintético ou de colagem
em uma superfície bidimensional, sem converter pela ilusão a tela
Trata-se de uma reação contrária ao excesso de fragmentação
plana em um espaço pictórico tridimensional. Múltiplos aspectos
do cubismo analítico. Nessa fase, os pintores tentavam tornar as
do objeto eram figurados simultaneamente; as formas visíveis figuras mais reconhecíveis, pois adicionavam elementos reais e os
eram analisadas e transformadas em planos geométricos, que objetos eram visualizado em um ângulo apenas. Além disso, era
eram recompostos segundo vários pontos de vista simultâneos. Tal empregada a técnica com papiers collés (coloagem em papéis) e o
vanguarda era e dizia ser realista, mas tratava-se de um realismo uso de cores mais fortes, haja vista a intenção de superar o aspecto
conceitual, e não óptico.” visual e atingir efeitos plásticos e táteis. Dessa forma, o cubismo
sintético sinaliza para a ideia de “tratar de unir uma pluralidade em
Características gerais do Cubismo uma unidade que supera as contradições”, ou seja, em vez de dar
vários pontos de vista de um mesmo objeto, tentava-se sintetizá-lo
• Destaque às formas geométricas como meio de expressão: em uma única forma. Os artistas Juan Gris e Fernand Léger são os
cones, cilindros, esferas, pirâmide, prismas. mais relevantes dessa fase. Observe a tela de Juan Gris, O homem
• Há múltiplas perspectivas do objeto/simultaneidade; no café, ela ilustra o Cubismo Sintético.
• Ocorre pouco senso de profundidade espacial;
Acquavella Galleries; Inc.; Nova Iorque

• Tem-se a sensação de pintura escultural;


• Ocorre a superposição de partes de um objeto sob um
mesmo plano;
• Usa-se a técnica da colagem.

Fases cubistas
Duas vertentes cubistas merecem destaque: Cubismo
Analítico e Cubismo Sintético.

Cubismo Analítico ou Hermético


GRIS, Juan (1887-1927).
Consiste em decompor o objeto em planos pictóricos, O homem no café, 1914.
sucessivos e superpostos, a fim de alcançar um olhar global da figura
em todos os ângulos e em um mesmo instante. Nessa vertente, ocorre As principais características do Cubismo sintético são:
o abandono do ponto de vista unitário e se altera o equilíbrio dos • Colagem de letras, palavras, números, pedaços de madeira,
vidro, metal e até objetos inteiros nas pinturas;
planos da representação, tornando a imagem quase irreconhecível.
Com tons em cinza, castanho e bege, os objetos eram fragmentados • Sensação figurativa;
e visualizados simultaneamente. Os principais representantes • Estímulo visual;
do Cubismo analítico são Pablo Picasso e Georges Braque. • Exploração da livre reconstituição do objeto;
• Cores mais vibrantes.

Anual – Volume 3 165


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Futurismo A pintura futurista

© BALLA, Giacomo/ AUTVIS, Brasil, 2020.


O movimento artístico futurista foi idealizado por Filippo
Tommaso Marinetti (1876-1944) e tinha como propósito a
destruição do passado e valorização dos novos recursos da vida
moderna, como a máquina, eletricidade, velocidade, o dinamismo
e o automóvel. Essa tendência artística e literária surgiu na Itália
no começo do século XX e estava ligada à modernidade trazida
com a virada do século. A ideia dos artistas futuristas era levar à
arte um novo formato dinâmico, inovador que seguisse o ritmo do
novo século. Nesses termos, o Futurismo se alicerçou em combater
a forma de fazer arte tradicional, agora considerada ultrapassada. Obra futurista do artista Giacomo Balla.
Para isso, Marinetti cria o “Manifesto Futurista”, documento que
norteava os novos rumos que a arte deveria seguir e que inaugura Na pintura, os pintores futuristas, em um momento inicial,
o movimento futurista. Segundo Nobert Lynton, Marinetti hesitara recorreram à técnica e procedimentos similares ao divisionismo
para escolher o nome do movimento artístico que criara entre dos fauves, ao utilizar pinceladas grandes e separadas entre si.
dinamismo, eletricidade e Futurismo. Esses nomes revelam a No entanto, foi ao incorporar os elementos do Cubismo analítico
consciência de Marinetti sobre o mundo do “poder tecnológico e sintético que o movimento obteve a sensação almejada pelos
crescente, Marinetti queria que as artes demolissem o passado artistas. Eles deram à pintura cores mais vibrantes, vivas e
e celebrassem as delícias da velocidade e da energia mecânica.” sobrepunham as imagens a fim de torná-las mais dinâmicas, o que
O Futurismo apresentou desdobramentos além da literatura, como garantia a ideia de que o objeto pintado percorresse o espaço da
a pintura, música, escultura, arquitetura, teatro e cinema. Diversos tela, como se ele estivesse em movimento. Para atingir tal aspecto,
manifestos foram publicados em todos esses setores. Movimento os pintores seguiam as ideias de Marinetti dispostas no Manifesto
de origem literária, o Futurismo ganha espaço com a adesão Futurista. Com isso, o desejo não era o de pintar uma máquina ou
um carro, mas captar o movimento plástico que o objeto realizava,
de um grupo de artistas reunidos em torno do Manifesto dos
expressando o deslocamento atual e a velocidade.
Pintores Futuristas e do Manifesto Técnico dos Pintores Futuristas
(1910). Nesse ínterim, eleva-se como um movimento artístico O Futurismo em outras artes
mais amplo, defensor da experimentação técnica e estilística nas
artes em geral, sem deixar de lado as questões político-ideológicas. As propostas futuristas impregnam diversas artes. Na música,
Umberto Boccioni (1882-1916), Carlo Carrà (1881-1966), o teórico, pintor e músico Russolo defende “a arte dos ruídos”, pela
Luigi Russolo (1885-1947), Giacomo Balla (1871-1958) e Gino Severini criação de instrumentos que produzem surpreendente gama de sons
(1883-1966) estão entre os principais nomes do primeiro Futurismo, (os “entoadores de ruídos”). Nas artes cênicas, o teatro sintético
que conhece um refluxo em 1916, com a morte de Boccioni e com futurista (1915) prevê ações simultâneas que tomam o palco e a
a crise social e política instaurada pela Primeira Guerra Mundial plateia. A ênfase na invenção cênica aparece nos posteriores Teatro
(1914 - 1918). Um segundo Futurismo tem lugar, sem a unidade da Surpresa (1922) e no Teatro Visionário (1929). As experiências
criadora e a força do momento originário, apresentando Fortunato futuristas com o cinema, por sua vez, acompanham o movimento
Depero (1892 - 1960) como protagonista. a partir de 1915, e mobilizam Marinetti, Balla, entre outros
(Vida Futurista, 1916). O cinema é visto como a nova forma
The Museum of Modern Art / New York City

de expressão artística que atenderia à necessidade de uma


expressividade plural e múltipla, declara o manifesto Cinema
Futurista (1916). A arquitetura visionária de A. Sant´Elia (1888-1916)
é mais um exemplo da extensão do projeto futurista.
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo358/futurismo>.

Questão comentada
• (Enem – 2ª Aplicação/2016)
Reprodução/Enem 2016

Umberto Boccioni. A cidade se levanta, 1910.

Caraterísticas gerais do Futurismo


• Desvalorização da tradição e do moralismo;
• Valorização do desenvolvimento industrial e tecnológico;
• Propaganda como principal forma de comunicação;
• Uso de onomatopeias (palavras com sonoridade que imitam
ruídos, vozes, sons de objetos) nas poesias;
• Poesias com uso de frases fragmentadas para passar a ideia
de velocidade;
• Pinturas com uso de cores vivas e contrastes.
• Sobreposição de imagens, traços e pequenas deformações
para passar a ideia de movimento e dinamismo.
• Nacionalismo. PICASSO, P. Les demoiselles d’Avignon. Óleo sobre tela, 243,9 × 233,7 cm.
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, 1907.

166 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
A obra Les demoiselles d’Avignon, do pintor espanhol Pablo Uma obra representativa da estética à qual o texto se refere
Picasso, é um dos marcos iniciais do movimento cubista. está reproduzida em:
Essa obra filia-se também ao Primitivismo, uma vez que sua
A)

Reprodução/Unifesp 2017
composição recorre à manifestação cultural de um determinado
grupo étnico, que se caracteriza por
A) produção de máscaras ritualísticas africanas.
B) rituais de fertilidade das comunidades celtas.
C) festas profanas dos povos mediterrâneos.
D) culto à nudez de populações aborígenes.
E) danças ciganas do sul da Espanha.

Comentário:
A arte africana teve grande influência sobre a arte moderna,
isso devido ao valor dado ao primitivismo no final do século Salvador Dalí. Leda atômica.
XIX, manifestado por artistas como Gauguin ou poetas como
Rimbauld. Além do caráter ideológico, o que despertou a atenção
B)

Reprodução/Unifesp 2017
dos modernistas foi a simplificação, a sintetização e a estilização
das formas. Essas características encontraremos principalmente no
Cubismo de Picasso e no Fauvismo, estando presente também em
esculturas expressionistas de Modigliani. A confecção de máscaras
constitui uma tradição cultural africana. As máscaras são utilizadas
nos ritos e mitos africanos, e a arte da sua confecção é passada
de geração para geração na África.

Resposta: A
Roy Lichtenstein. Ohhh...Atright

Exercícios de Fixação C)

Reprodução/Unifesp 2017
01. (UFRGS) Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as afirmações
abaixo, sobre as relações entre arte, política e sociedade no
século XX.
( ) Pablo Picasso denunciou o regime franquista ao retratar
as consequências do bombardeio aéreo na cidade de
Guernica, no período da Guerra Civil espanhola.
( ) A arte, durante o Nazismo na Alemanha, foi vinculada
Pablo Picasso. Mulher sentada.
aos aspectos étnicos do povo alemão, com a condenação
de expressões artísticas consideradas inferiores ou
degeneradas. D)
Reprodução/Unifesp 2017

( ) O chamado “Cinema Novo” no Brasil notabilizou-se por


uma estética classicista, pela linguagem parnasiana e pelo
predomínio de temáticas urbanas.
( ) Os grupos paramilitares, durante o acirramento das
perseguições políticas no Brasil, na ditadura civil-militar,
organizaram ações violentas contra manifestações
artísticas consideradas “de esquerda”, como o ocorrido
no teatro onde era encenada a peça Roda Viva, de Chico
Buarque de Holanda. Marcel Duchamp. L.H.O.O.Q

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima


E)
Reprodução/Unifesp 2017

para baixo, é
A) V – V – F – F
B) V – F – V – F
C) F – V – V – F
D) F – F – V – V
E) V – V – F – V

02. (Unesp) A partir do início do século XX, na França, alguns


artistas vão subverter a concepção que se tinha da pintura.
Em vez de simplesmente representar o que era visto, eles
decidem representar aquilo que não podia ser visto. Os rostos
de perfil têm dois olhos, a natureza se decompõe em formas
geométricas... a realidade se revela em todas as suas facetas, Henri Matisse. Greta Prozor.
como um cubo achatado.
Christian Demilly. Arte em movimentos e outras correntes do século XX, 2016. Adaptado.

Anual – Volume 3 167


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
03. (FGV-RJ) A cidade do Rio de Janeiro recebeu a exposição D) a sociedade burguesa buscava ser mais cosmopolita
“Picasso e a Modernidade” em 2015, para comemorar os e democrática, como se vê na publicidade e na art
40 anos do fim do regime franquista. Em uma das salas, um nouveau, aderindo a novos modelos de comportamento
vídeo apresentava o processo de criação do quadro Guernica, e sociabilidade inspirados pelo american way of life e os
reproduzido a seguir. padrões de consumo de massa.
E) a perspectiva de uma sociedade mais humana, marcada pelas
luzes, pelos valores burgueses e pela noção de evolução

Reprodução/FGV-RJ 2016
constante havia motivado experiências sociais como a
Comuna de Paris.

5. (PUCCamp) Alguns artistas reconhecidos e certos movimentos de


vanguarda, do início do século XX, aproximaram-se publicamente
de partidos e ideologias políticas. Essa proximidade pode ser
verificada entre alguns
A) dadaístas e anarquistas, a exemplo da atuação política de
Disponível em: <www.museoreinasofia.es/coleccion/obra/guernica>. Tristán Tzara, que propôs a criação de um partido e uma
internacional anarquista durante o entreguerras.
Com relação ao quadro Guernica, assinale (V) para a afirmação B) futuristas e fascistas, a exemplo de Filippo Marinetti, que
verdadeira e (F) para a falsa. lutou ao lado do exército italiano na Segunda Guerra e
( ) O touro, figura representativa da cultura espanhola, militou no Partido Nacional Fascista.
simboliza o terror e a violência das forças que apoiavam C) integralistas e nazistas, a exemplo do apoio dos modernistas
o ditador Francisco Franco, responsáveis pelo bombardeio
brasileiros Plínio Salgado e Cassiano Ricardo ao Eixo, durante
da cidade de Guernica, no País Basco.
o Estado Novo.
( ) A iconografia da figura feminina, com uma criança nos
D) surrealistas e comunistas ortodoxos, a exemplo do
braços, que urra em direção ao alto, remete à dor das
mães que perdem seus filhos na guerra. “Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente”,
( ) A composição das figuras em formas geométricas produz redigido por André Breton e León Trotski, na URSS.
uma imagem realista que, em perspectiva, busca uma E) expressionistas e republicanos, caso de Francisco de Goya,
semelhança com a natureza. que lutou contra os franquistas e pintou os horrores da
Guerra Civil Espanhola.
As afirmações são, respectivamente,
A) F – V – F
B) F – V – V Exercícios Propostos
C) V – F – F
D) V – V – F
E) F – F – V 01. (Unesp/2018) Na Europa, os artistas continuam a explorar
caminhos traçados pelos primeiros pintores abstratos. Mas a
• Texto para as questões 04 e 05. abstração desses artistas não é geométrica: sua pintura não
Para responder à(s) questões a seguir, considere o texto abaixo. representa nenhuma realidade, tampouco procura reproduzir
formas precisas. Cada artista inventa sua própria linguagem.
De um modo geral, todos esses movimentos da vanguarda Cores, formas e luz são exploradas, desenvolvidas e invadem as
europeia de fins do século XIX e início do século XX estavam telas. Traços vivos e dinâmicos... Para cada um, uma abstração,
sob o signo da desorganização do universo artístico de sua um lirismo.
época. A diferença é que uns, como o futurismo e o dadaísmo, Christian Demilly. Arte em movimentos e outras correntes do século XX, 2016.
queriam a destruição do passado e a negação total dos valores Adaptado.
estéticos presentes; e outros, como o expressionismo e o cubismo, O comentário do historiador Christian Demilly aplica-se à obra
viam na destruição a possibilidade de construção de uma nova reproduzida em:
ordem superior. No fundo eram, portanto, tendências também A) B)
organizadoras de uma nova estrutura política e social.
Reprodução/Unesp 2018

Reprodução/Unesp 2018

TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo


brasileiro. Rio de Janeiro: Vozes, 1972. p. 10.

04. (PUCCamp) Muitos artistas de vanguarda contestavam os


valores que haviam marcado a chamada belle époque, período
em que, na Europa,
Franz Marc.
A) a burguesia havia substituído a aristocracia no poder, Cavalo numa paisagem, 1910.
Tom Wesselmann.
rejeitando o eurocentrismo e os rituais de distinção social Natureza-morta, 1962.
em prol de seu modo de vida baseado na valorização do
C) D)
trabalho.
Reprodução/Unesp 2018

Reprodução/Unesp 2018

B) o clima de otimismo e a crença no progresso contínuo


propiciado pelo suposto avanço da cultura e da civilização
se viram abalados pela eclosão da Grande Guerra.
C) as revoltas proletárias ameaçavam o clima de “estabilidade”
do mundo burguês, despertando o pronto apoio dos artistas
e intelectuais, que assumiram a causa operária e criaram Joan Miró.
um rótulo irônico – bela época − para denominar essa fase Azul II, 1961.
Kazimir Malevich.
de tensões. Quadrado negro, 1923.

168 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
E) 03. (Fuvest/2017) Examine este cartaz, cuja finalidade é divulgar
uma exposição de obras de Pablo Picasso.

Reprodução/Unesp 2018

Reprodução/Fuvest 2017
Delaunay. Ritmo, 1938.

02. (Unifesp/2018) Tal vanguarda rompeu radicalmente com a Disponível em: <http://institutotomieohtake.org.br>.
ideia de arte como imitação da natureza, prevalecente na
pintura europeia desde a Renascença. Seus principais adeptos
Nas expressões “Mão erudita” e “Olho selvagem”, que
abandonaram as noções tradicionais de perspectiva, tentando
compõem o texto do anúncio, os adjetivos “erudita” e
representar solidez e volume numa superfície bidimensional,
“selvagem” sugerem que as obras do referido artista conjugam,
sem converter pela ilusão a tela plana num espaço pictórico
respectivamente,
tridimensional. Múltiplos aspectos do objeto eram figurados
A) civilização e barbárie.
simultaneamente; as formas visíveis eram analisadas e
B) requinte e despojamento.
transformadas em planos geométricos, que eram recompostos
C) modernidade e primitivismo.
segundo vários pontos de vista simultâneos. Tal vanguarda era
D) liberdade e autoritarismo.
e dizia ser realista, mas tratava-se de um realismo conceitual, e
E) tradição e transgressão.
não óptico.
Ian Chilvers (org). Dicionário Oxford de arte, 2007. Adaptado. 04. (Enem-PPL/2017)

Uma pintura representativa da vanguarda à qual o texto se refere

Reprodução/Enem PPL 2017


está reproduzida em:
A) B)
Reprodução/Unifesp 2018

Reprodução/Unifesp 2018

René Magritte. Império das


Edvard Munch. O grito, 1893. luzes, 1954.

C) D)
Reprodução/Unifesp 2018

Reprodução/Unifesp 2018

PICASSO. P. Guitar, Sheet Music, and Glass, Fall. Papel colado, guache e carvão,
48 x 36,5 cm. McNay Art Museum, San Antonio, Texas, 1912.
FOSTER, H. Et al. Art since 1900: Modernismo, Antimodernism,
Pablo Picasso, As senhoritas de Henri Matisse, Violinista Postmodernism. Nova York: Thames & Hudson, 2004.
Avignon, 1907. à janela, 1917.

E) Inovando os padrões estéticos de sua época, a obra de


Reprodução/Unifesp 2018

Pablo Picasso foi produzida utilizando características de um


movimento artístico que
A) dispensa a representação da realidade.
B) agrega elementos da publicidade em suas composições.
C) valoriza a composição dinâmica para representar movimento.
D) busca uma composição reduzida e seus elementos primários
Roy Lichtenstein,
Luminárias vermelhas, 1990.
de forma.
E) explora a sobreposição de planos geométricos e fragmentos
de objetos.

Anual – Volume 3 169


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
05. (Enem – 2ª aplicação/2016) 07. (Enem/2011)
Texto I

Reprodução/Enem 2011
Reprodução/ Enem 2016

Reprodução/Enem 2011
Vicente do Rego Monteiro.
Michelangelo. Pietà, século XV. Pietà, 1924.
SEVERINI, G. A hieroglífica dinâmica do Bal Tabarin. Óleo sobre tela, 161,6 x 156,2 cm.
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, 1912. Vicente do Rego Monteiro foi um dos pintores, cujas telas
Disponível em: <www.moma.org>. Acesso em: 18 mai. 2013.
foram expostas durante a Semana de Arte Moderna. Tal como
Texto II Michelangelo, ele se inspirou em temas bíblicos, porém com
A existência dos homens criadores modernos é muito um estilo peculiar. Considerando-se as obras apresentadas, o
mais condensada e mais complicada do que a das pessoas dos artista brasileiro
séculos precedentes. A coisa representada, por imagem, fica A) estava preocupado em retratar detalhes da cena.
menos fixa, o objeto em si mesmo se expõe menos do que B) demonstrou irreverência ao retratar a cena bíblica.
antes. Uma paisagem rasgada por um automóvel, ou por um
C) optou por fazer uma escultura minimalista, diferentemente
trem, perde em valor descritivo, mas ganha em valor sintético.
de Michelangelo.
O homem moderno registra cem vezes mais impressões do que
o artista do século XVIII. D) deu aos personagens traços cubistas, em vez dos traços
europeus, típicos de Michelangelo.
LEGÉR, F. Funções da pintura. São Paulo: Nobel, 1989.
E) reproduziu o estilo da famosa obra de Michelangelo, uma
A vanguarda europeia, evidenciada pela obra e pelo texto, vez que retratou a mesma cena bíblica.
expressa os ideais e a estética do
A) Cubismo, que questionava o uso da perspectiva por meio 08. (Enem/2011)
da fragmentação geométrica.

Reprodução/Enem 2011
B) Expressionismo alemão, que criticava a arte acadêmica,
usando a deformação das figuras.
C) Dadaísmo, que rejeitava a instituição artística, propondo a
antiarte.
D) Futurismo, que propunha uma nova estética, baseada nos
valores da vida moderna.
E) Neoplasticismo, que buscava o equilíbrio plástico, com
utilização da direção horizontal e vertical.

06. (Enem/2015) As formas plásticas nas produções africanas


conduziram artistas modernos do início do século XX, como
Pablo Picasso, a algumas proposições artísticas denominadas
vanguardas.
Reprodução/ Enem 2015

LÉGER, F. Soldados jogando cartas. 1917. FARTHING, S. Coleção


Grandes Artistas. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

Fernand Léger, artista francês envolvido com o movimento


cubista, tinha como princípio transformar imagens em figuras
geométricas, especialmente cones, esferas e cilindros. A obra
apresentada mostra o homem em uma alusão à Revolução
Industrial e ao pós-Primeira Guerra Mundial e explora
A) as formas retilíneas e mecanizadas, sem valorização da
questão espacial.
B) as formas delicadas e sutis, para humanizar o operário da
Máscara senufo. Mali. Madeira e fibra vegetal. Acervo do MAE/USP. indústria têxtil.
C) a força da máquina na vida do trabalhador pelo jogo de
A máscara remete à formas, luz/sombra.
A) preservação da proporção. D) os recursos oriundos de um mesmo plano visual para dar
B) idealização do movimento. sentido a sua proposta.
C) estruturação assimétrica. E) a forma robótica dada aos operários, privilegiando os
D) sintetização das formas. aspectos triangulares.
E) valorização estética.

170 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
09. (Enem/2016)

Reprodução/Enem 2016
PICASSO, Pablo. Guernica, 1937.
Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia. Madri.

Podem ser relacionadas ao texto lido as partes:


A) a1, a2, a3
B) f1, e1, d1
C) e1, d1, c1
D) c1, c2, c3
E) e1, e2, e3

PICASSO, P. Les demoiselles d’Avignon. Óleo sobre tela, 243,9 × 233,7 cm.
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, 1907.
Disponível em: <www.moma.org>. Acesso em: 13 set. 2012. Fique de Olho

A obra Les demoiselles d’Avignon, do pintor espanhol Pablo


Assista ao filme Os amores de Picasso, longa que conta a história
Picasso, é um dos marcos iniciais do movimento cubista.
do pintor cubista sob a perspectiva de suas muitas mulheres.
Essa obra filia-se também ao Primitivismo, uma vez que sua
composição recorre à manifestação cultural de um determinado

Divulgação
grupo étnico, que se caracteriza por
A) produção de máscaras ritualísticas africanas.
B) rituais de fertilidade das comunidades celtas.
C) festas profanas dos povos mediterrâneos.
D) culto à nudez de populações aborígines.
E) danças ciganas do sul da Espanha.

10. (Enem/2002) A leitura do poema “Descrição da guerra em


Guernica” traz à lembrança o famoso quadro de Picasso.

Entra pela janela


o anjo camponês;
com a terceira luz na mão;
minucioso, habituado
aos interiores de cereal,
aos utensílios que dormem na fuligem;
os seus olhos rurais
não compreendem bem os símbolos
desta colheita: hélices,
motores furiosos;
e estende mais o braço; planta
no ar, como uma árvore
a chama do candeeiro.
[...]
OLIVEIRA, Carlos de. in ANDRADE, Eugénio.
Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa.
Porto: Campo das Letras, 1999.
Uma análise cuidadosa do quadro permite que se identifiquem
as cenas referidas nos trechos do poema.

Anual – Volume 3 171


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Aula 12:

C-04 H-12, 13
Aula H-14
As Vanguardas II – Expressionismo
12

Introdução
O Expressionismo constituiu um movimento artístico heterogêneo que destacou

Allen Memorial Art Museum, Ohio.


as perspectivas emocionais e psicológicas oriundas do mundo interno dos artistas.
Embora seja um dos mais relevantes “ismos” europeus, essa vanguarda, de caráter
desorganizado, resumiu-se a uma reunião de vários posicionamentos dos grupos
artísticos que revelaram uma obra marcada pela angústia, imaginação e pelo medo.
Tendo mais destaque na Alemanha, a corrente passou a ser reconhecida por meio do
grupo Die Brücke (A ponte), fundado em 1904 por Erich Heckel (1883-1970), Karl
Schmidt-Rottluff (1874-1976) e Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938). Mais tarde, em
1911, surge um novo grupo denominado Der Blaue Reiter (O cavaleiro azul), cuja
tendência era atribuir um caráter mais metafísico e espiritual à pintura. No entanto,
foi o norueguês Edvard Munch o principal destaque dessa tendência ao fazer uso de
uma técnica de distorção de formas e imagens perturbadoras, pintadas em tons
sombrios. Nesses termos, o crítico de arte Stephen Little, no livro “...ismos, para
entender a arte”, diz que os expressionistas “exploraram a extinção dos sentimentos
genuínos pela sociedade, que precisava ser ‘purgada’ ou ‘purificada’. Os artistas
visualizavam esse processo por meio de desastres naturais ou da referência a cenas
bíblicas, como o Apocalipse, no qual o mundo é destruído e refeito por um Deus KIRCHNER, Ernst (1880-1938). Autorretrato como
soldado (1915). Óleo sobre tela.
colérico.”

Características gerais do Expressionismo


• Expressão dos sentimentos íntimos;
• Pintura de caráter emocional e pessoal;
• Cores fortes, às vezes irreais;
• Pinceladas rápidas, agressivas;
• Formatação dos sentimentos por meio da pintura;
• Deformação da pintura;
• Relação passional entre o artista e a tela.

A pintura pré-expressionista
Pintores do século XIX, como Paul Gauguin, Van Gogh e Henri Matisse, tiveram forte influência sob os artistas expressionistas,
sobretudo Van Gogh, que oscilou entre o Impressionismo e o Expressionismo. Surgia, nesse contexto, a pintura pré-expressionista
cuja técnica era chamada de empaste, camada de tinta grossa para que as pinceladas fiquem visíveis e pareçam sair da tela
quando seca. Van Gogh foi mestre nessa técnica ao utilizá-la para retratar a paisagem com formas retorcidas e, com isso, sugerir
o movimento instável das plantas ao vento e de sua própria vida íntima. Observe a obra Campo de trigo com cipreste:
National Gallery, Londres

GOGH, Vincent Van (1853-1890). Campo de trigo com ciprestes (1889).


Óleo sobre tela.

172 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias

Box de Informações:

A PINTURA EXPRESSIONISTA DE EDVARD MUNCH

Edvard Munch foi um pintor que estudou na Escola de Artes e Ofícios de Oslo, vindo a ser influenciado por Courbet e
Manet. No lugar das ideias, o pensamento de Henrik Ibsen e Bjornson, marcou o seu percurso inicial. A arte era considerada
como uma arma destinada a lutar contra a sociedade. Os temas sociais estão assim presentes em O Dia Seguinte e O dia depois
de amanhã, de 1886.

Munchmuseet/Oslo, Norway
Edvard Munch/Galeria Nacional, Oslo
MUNCH, Edvard (1983-1944). MUNCH, Edvard (1983-1944).
O Grito (1893). Óleo sobre tela. Madona (1894). Óleo sobre tela.

Com A Menina Doente (Das Kränke Mädchen, 1885) inicia uma temática que surgiria como uma linha de força em todo
o seu caminho artístico. Fez inúmeras variações sobre este último trabalho, assim como sobre outras obras, e os seus sentimentos
sobre a doença e a morte, que tinham marcado a sua infância (sua mãe morreu quando ele tinha 5 anos, a irmã mais velha faleceu
aos 15 anos, a irmã mais nova sofria de doença mental e uma outra irmã morreu meses depois de casar; o próprio Edvard estava
constantemente doente), assumem um significado mais vasto, transformados em imagens que deixavam transparecer a fragilidade
e a transitoriedade da vida. Edvard Munch descobre em Paris a obra de Vincent van Gogh e Paul Gauguin, e indubitavelmente o seu
estilo passa então por grandes mudanças.
Em 1892 um convite para expor em Berlim torna-se num momento crucial da sua carreira e da história da arte alemã. Inicia
um projeto que intitula O Friso da Vida. Edvard Munch representou a dança em 1950.
Aos trinta anos ele pinta “O Grito”, considerada a sua obra máxima, e uma das mais importantes da história do
Expressionismo. O quadro retrata a angústia e o desespero, e foi inspirado nas decepções do artista tanto no amor quanto com
seus amigos. É uma das peças da série intitulada O Friso da Vida. Os temas da série recorrem durante toda a obra de Munch,
em pinturas como A Menina Doente (1885), Amor e Dor (1893-94), Cinzas (1894) e A Ponte. Rostos sem feições e figuras
distorcidas fazem parte de seus quadros.
Em 1896, em Paris, interessa-se pela gravura, fazendo inovações nesta técnica. Os trabalhos deste período revelam uma
segurança notável. Em 1914 inicia a execução do projeto para a decoração da Universidade de Oslo, usando uma linguagem simples,
com motivos da tradição popular.
Munch retratava as mulheres ora como sofredoras frágeis e inocentes (ver Puberdade e Amor e Dor), ora como causa de
grande anseio, ciúme e desespero (ver Separação, Ciúmes e Cinzas). As últimas obras pretendem ser um resumo das preocupações
da sua existência: Entre o Relógio e a Cama, Auto-Retrato de 1940. Toda a obra está impregnada pelas suas obsessões: a morte,
a solidão, a melancolia, o terror das forças da natureza.
Faleceu em 23 de janeiro de 1944. Encontra-se sepultado no Cemitério de Nosso Salvador, Oslo, na Noruega.[1]
Wikipédia, a enciclopédia livre.

O estilo de Munch
• Abordagem de temas relacionados aos sentimentos e tragédias humanas (angústia, morte, depressão, saudade).
• Pintura de imagens desfiguradas, passando uma sensação de angústia e desespero.
• Forte expressividade no rosto das personagens retratadas.
• Pintura de figuras marcadas por fortes atitudes.

Anual – Volume 3 173


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Questão comentada C) Diego Rivera, representante do Muralismo.

Reprodução/Enem 2017
• (Enem/2017)
Texto I

Reprodução/Enem 2017
Mineiro, Diego Rivera.

D) Pablo Picasso, representante do Cubismo

Reprodução/Enem 2017
GOELDI, O. Sem título. Bico de pena, 29,4 x 24 cm.
Coleção Ary Ferreira Macedo, circa 1940.

Disponível em: <https://revistacontemporartes.blogspot.com.br>.


Acesso em: 10 dez. 2012.
Retrato de Igor Stravinsky, Pablo Picasso.
Texto II
E) René Magritte, representante do Surrealismo.
Na sua produção, Goeldi buscou refletir seu caminho

Reprodução/Enem 2017
pessoal e político, sua melancolia e paixão sobre os intensos
aspectos mais latentes em sua obra, como: cidades, peixes,
urubus, caveiras, abandono, solidão, drama e medo.
ZULIETTI, L. F. Goeldi: da melancolia ao inevitável. Revista de Arte, Mídia e Política.
Acesso em: 24 abr. 2017. Adaptado.

O gravador Oswaldo Goeldi recebeu fortes influências de


um movimento artístico europeu do início do século XX, que
apresenta as características reveladas nos traços da obra de
A) Alfred Kubin, representante do Expressionismo.
Os amantes, René Magritte.
Comentário:
Reprodução/Enem 2017

A imagem que reproduz uma gravura de Oswald Goeldi


constante no texto I, assim como o artigo publicado na
Revista de Arte, Mídia e Política sobre o mesmo autor revelam
características da sua obra carregada de alusões aos dramas
existenciais em que a morte, solidão e medo são presença
constante. Desta forma, deduz-se que foi fortemente
influenciado pelo movimento estético do Expressionismo,
vanguarda europeia do início do séc. XX a que está vinculado
Alfred Kubin
Resposta: A

Sonho e desarranjo, Alfred Kubin.

B) Henri Matisse, Representante do Fauvismo Exercícios de Fixação


Reprodução/Enem 2017

01. (ESPM) Com o final da Primeira Guerra Mundial a derrota


do império alemão e a abdicação do kaiser Guilherme II, foi
proclamada a República na Alemanha. Em 1919 foi promulgada
a Constituição da República de Weimar.
A vida intelectual da República de Weimar foi de uma riqueza
excepcional.
Claude Klein. Weimar.

Bailarina deitada, Henri Matisse.

174 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
As alternativas abaixo elencam algumas das manifestações C) expõe a imagem idílica do campo para a identificação da
culturais que floresceram sob a República de Weimar, uma mão de obra rural.
verdadeira vanguarda. Assinale a alternativa que apresente uma D) demonstra a fragilidade humana para a realização de tarefas
manifestação cultural produzida fora do período de vigência na colheita.
da chamada República de Weimar:
A) nascimento do Expressionismo alemão com o filme “O 04. (UEL) Analise as figuras a seguir.
Gabinete do Doutor Caligari”.
B) filmagem de “Metrópolis” de Fritz Lang.

Reprodução/UEL
C) nascimento da arquitetura moderna com o movimento
Bauhaus.
D) florescimento do teatro político em que sobressaiu, entre
seus autores, Bertold Brecht;.
E) filmagem de “O Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstahl.

02. (Enem) Ela nasceu lesma, vivia no meio das lesmas, mas
não estava satisfeita com sua condição. Não passamos de
criaturas desprezadas, queixava-se. Só somos conhecidas por
nossa lentidão. O rastro que deixaremos na História será tão
desprezível quanto a gosma que marca nossa passagem pelos
pavimentos.
Acervo CGPH – UEL. Fundo Nixdorg, 1932.
A esta frustração correspondia um sonho: a lesma queria ser
como aquele parente distante, o escargot. O simples nome já a

Reprodução/UEL
deixava fascinada: um termo francês, elegante, sofisticado, um
termo que as pessoas pronunciavam com respeito e até com
admiração. Mas, lembravam as outras lesmas, os escargots são
comidos, enquanto nós pelo menos temos chance de sobreviver.
Este argumento não convencia a insatisfeita lesma, ao contrário:
preferiria exatamente terminar sua vida desta maneira, numa
mesa de toalha adamascada, entre talheres de prata e cálices
de cristal. Assim como o mar é o único túmulo digno de um
almirante batavo, respondia, a travessa de porcelana é a única
lápide digna dos meus sonhos.
SCLIAR, M. Sonho de lesma. In: ABREU, C. F. et al. A prosa do mundo.
São Paulo: Global, 2009.

Incorporando o devaneio da personagem, o narrador compõe Cândido Portinari. Café, 1935. Óleo sobre tela. 130 × 195 cm.
uma alegoria que representa o anseio de Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ)
A) rejeitar metas de superação de desafios.
B) restaurar o estado de felicidade de desafios. A relação do homem com a terra, expressa pelo universo do
C) materializar expectativas de natureza utópica. trabalho, é assunto recorrente na produção de fotógrafos
D) rivalizar com indivíduos de condição privilegiada. e artistas plásticos. A fotografia e a pintura abordam
E) valorizar as experiências hedonistas do presente. essa temática. Com base na análise dessas figuras e nos
conhecimentos sobre arte e história, considere as afirmativas
03. (G1–CFTMG) Analise a reprodução do quadro Café, pintado a seguir.
por Cândido Portinari, em 1935. I. Tanto na fotografia quanto na pintura, há elementos
compositivos que constituem um sistema perspectivo
Reprodução/CFTMG

gerador do efeito de profundidade e que podem ser


considerados documentos históricos;
II. Café explicita anseios do movimento modernista, como
a busca de uma temática nacional no contexto de uma
economia predominantemente agrícola;
III. A fotografia, por ser um instrumento mecânico de apreensão
da realidade, renuncia a elementos estéticos ou de caráter
documental;
IV. Em Café, a figura humana adquire formas robustas,
sugerindo a ligação dos personagens com o trabalho e a
terra, bem como a sua capacidade produtiva.
Museu Nacional de Belas Artes, RJ. Assinale a alternativa correta.
Nesse quadro, o artista A) Somente as afirmativas I e II são corretas.
A) apresenta a força do trabalho coletivo para a produção da B) Somente as afirmativas I e III são corretas.
riqueza agrícola. C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
B) evidencia a necessidade do feitor para a fiscalização dos D) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
trabalhadores. E) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Anual – Volume 3 175


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
05. (UPE) Observe a imagem a seguir: B)

Reprodução/Unesp2018
Reprodução/UPE
Jean-Auguste-Dominique Ingres.
Retrato da Condessa
Disponível em: <http://metropolis1927.com/>. d’Haussonville, 1854.
C)

Reprodução/Unesp 2018
Ela retrata uma das mais destacadas produções do
expressionismo alemão nas primeiras décadas do século XX.
Sobre esse movimento artístico, não é correto afirmar que
A) ele foi um movimento de vanguarda surgido na primeira
década do século XX.
B) teve como principal influência o movimento operário,
tomando como base o cinema soviético de David W. Griffith.
C) se manifestou basicamente na pintura, na literatura e no
teatro. Edward Hopper. O farol em duas luzes, 1929.
D) no cinema, suas principais preocupações foram o indivíduo, D)

Reprodução/Unesp2018
suas inquietações pessoais e o drama de uma sociedade
devastada pela guerra.
E) suas mais destacadas produções no cinema foram o
Gabinete do Dr Caligari, Nosferatu e Metrópolis.

Exercícios Propostos

01. (Unesp/2018) Expressionismo: Termo aplicado pela crítica e


pela história da arte a toda arte em que as ideias tradicionais
de naturalismo são abandonadas em favor de distorções ou
Andy Warhol,
exageros de forma e cor que expressam, de modo premente, Lata de sopa Campell, 1962.
a emoção do artista. Neste sentido mais geral, o termo pode E)
ser aplicado à arte de qualquer período ou lugar que conceda
Reprodução/Unesp2018

às reações subjetivas um lugar de maior importância que à


observação do mundo exterior.
Ian Chilvers (org.). Dicionário Oxford de arte, 2007.

De acordo com essa definição, pode ser considerada


expressionista a obra:
A)
Reprodução/Unesp 2018

Vicent Van Gogh.


A igreja de Auvers-Sur-Olse, 1890.

02. Forma de arte que se fixa na intensidade da expressão;


tendência artística e literária (surgida na Alemanha nos últimos
anos do séc. XIX) que, reagindo contra o Impressionismo, visa
a encontrar um modo de expressão das sensações, e não a
Gustavo Coubet. O encontro, 1854. produzir a impressão causada pelo mundo exterior.
Disponível em: <https://www.dicio.com.br>.

176 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Uma pintura representativa da vanguarda à qual o texto se 03. Tal corrente estética implicou um novo conceito da arte,
refere está reproduzida em: entendida como uma forma de captar a existência, de transluzir
A) em imagens o substrato que subjaz à realidade aparente, de

Galeria Nacional, Oslo


refletir o imutável e eterno do ser humano e a natureza.
De Micheli (2008), p. 84.
O comentário do historiador de arte aplica-se à pintura
reproduzida em:
A)

ArtInstituteofChicago/Chicago,EstadosUnidos
Edvard Much. O grito, 1893.
B) VAN GOGH, Vincent (1853-1890).

© Estate of Roy Lichtenstein /


AUTVIS, Brasil, 2019.
Quarto de Vincent em Arles (1889). Óleo sobre lona.
B)

Rijksmuseum/Amesterdã
Roy Lichtenstein,
Luminárias vermelhas, 1990.
C) VERMEER, Johannes (1657-1658).
Leiteira (1660). Óleo sobre tela.
© Photothèque R. Magritte/
AUTVIS, Brasil, 2019.

C)

© Photothèque R. Magritte/
AUTVIS, Brasil, 2019.

René Magrite, Golconde, 1953.


D)
MAGRITTE, Rene (1898–1967).
The Museum of Modern Art,
New York

A Verificação em Branco (1965).


Óleo sobre tela.
D)
Museu Solomon R. Guggenheim/ Nova
Iorque, Estados Unidos

Umberto Boccioni, A cidade se levanta, 1910.


E)
© Association Marcel Duchamp /
AUTVIS, Brasil, 2019.

KANDISKY, Wassily (1866-1944).


Vários Círculos (1926). Óleo sobre tela
E)
Private collection von Thyssen

KIRCHNER, Ernst Ludwig (1880–1938).


A Roda de bicicleta, de 1913, Fränzi na frente de uma cadeira esculpida (1910).
Duchamp. Óleo sobre tela.

Anual – Volume 3 177


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
04. (Enem/2015) D) Romantismo e o Parnasianismo
E) Cubismo e Dadaísmo
Texto I

Reprodução/Enem 2015
06. (UEG/2013) Analise as imagens.

Reprodução/UEG 2013

Reprodução/UEG 2013
DESCENDO O CASTELO. Publicado na
AVENIDA CENTRAL. revista O Malho em 1905. In: RODRIGUE,
In: RODRIGUE, Joelza Ester. Joelza Ester. História em documento:
História em documento: imagem e texto 8. São Paulo:
imagem e texto 8. FTD, 2000. p. 39.
FREUD, L. Francis Wyndham. Oléo sobre tela, São Paulo FTD, 2000, p. 39.
64 x 52 cm, Coleção pessoal, 1993.

Texto II No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro recebeu uma


série de intervenções de modernização e saneamento em sua
Lucian Freud é, como ele próprio gosta de relembrar às pessoas, infraestrutura urbana. Muitas foram as consequências das ações
um biólogo. Mais propriamente, tem querido registrar verdades
governamentais, entre as quais a expulsão da população de
muito específicas sobre como é tomar posse deste determinado
suas casas no episódio conhecido como “desmonte do Morro
corpo nesta situação particular, neste específico espaço de
do Castelo”, que deu lugar à Avenida Central.
tempo.
SMEE, S. Freud. Köin: Taschen, 2010.
Uma comparação entre a fotografia e a charge revela que há
Considerando a intencionalidade do artista, mencionada no A) um contraste entre a desocupação do morro e a reforma
Texto II, e a ruptura da arte no século XX com o parâmetro destinada à elite econômica, que pode ser observado pela
acadêmico, a obra apresentada trata do(a) expressividade do desenho e pela precisão na captação da
A) exaltação da figura masculina. imagem da nova avenida.
B) descrição precisa e idealizada da forma. B) uma semelhança entre a expulsão da população do morro e
C) arranjo simétrico e proporcional dos elementos. a ocupação da nova avenida carioca, que pode ser notada
D) representação do padrão do belo contemporâneo. pela imprecisão do desenho e pela beleza do lugar registrado
E) fidelidade à forma realista isenta do ideal de perfeição. na imagem.
C) uma diferença entre a retirada da população de baixa renda
05. (UEG/2015) da área central e a criação da nova avenida, que pode ser
constatada pelo uso da mesma linguagem visual nas duas
Reprodução/UEG 2015

imagens.
D) uma disparidade entre o exílio da população da área central
e a instalação da nova avenida, que pode ser vista pela
semelhança da técnica de representação entre o desenho e
o registro da imagem.
E) uma reprodução fiel da realidade do século XIX em que a
arte serviu como uma arma de denúncia social e explorou
SEGALL, Laser. Emigrantes. Disponível em: <http://www.museusegal.org.br>.
o grotesco para atingir seu objetivo.
Acesso em: 27 ago. 2014.
07. (ESPM/2017) No ano de 1917, o evento artístico que mais
[...] magro e macilento, um tanto baixo, um tanto
repercutiu e mais levantou questões quanto à necessidade de
curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso
uma revolução na arte e cultura brasileira, foi a nova exposição
constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos
e chatos; quando ele andava, lançava-os desairosamente da pintora Anita Malfatti, em São Paulo, no dia 12 de dezembro.
para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. A exposição marcava o coroamento dos anos de estudo da
Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em pintora pela Europa e Estados Unidos.
que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava ALAMBERT, Francisco. A Semana de 1922: A Aventura Modernista no Brasil.
perto da gente sentia-se logo um cheiro azedo de roupas sujas.
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. p. 17. Em cartaz entre 07/02/2017 e 30/04/2017, no MAM (Museu
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 21 ago. 2014 de Arte Moderna), a mostra sobre Anita Malfatti é uma
A pintura de Lasar Segall e o fragmento de Aluísio de homenagem ao centenário da polêmica exposição de 1917.
Azevedo, embora afastados no tempo, servem-se de motivos Dividida em três núcleos, a exposição reúne cerca de setenta
semelhantes, e caracterizam, respectivamente, o obras, entre desenhos e pinturas, sendo que dez telas estavam
A) Simbolismo e o Naturalismo na exposição de 1917.
B) Arcadismo e o Colonialismo Disponível em: <guia.folha.uol.com.br/exposições/2017/02>.
C) Expressionismo e o Realismo

178 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
A obra mais famosa do artista norueguês, O Grito, sintetizou

Reprodução/ESPM 2017
os principais ingredientes do Expressionismo. O cenário tenso,
a distorção da forma humana que chega a beirar o caricatural,
a agressividade das pinceladas, tudo colabora para compor
uma atmosfera dramática, que emana desolação, tragédia e
pessimismo. ‘A imagem expressionista tenta impressionar não
o olho, mas penetrar, atingir profundamente quem vê’, definiu
o crítico italiano Giulio Carlo Argan, autor do já clássico Arte
Moderna.

A estética expressionista procurou refletir as angústias e


inquietações do homem contemporâneo, um ser atônito,
imerso em um mundo povoado pela dúvida, pela alienação e
pela incerteza. (...)”

Disponível em: <http://mestres.folha.com.br/pintores/15/contexto_historico.html>.


A obra “O Farol” traz à tona as influências aprendidas por
Anita Malfatti durante o tempo em que passou estudando na A partir da análise da tela de Edvard Munch e da interpretação
Alemanha. do texto, assinale a alternativa correta.
Assinale a alternativa que indique corretamente a base dessas A) A tela representa exclusivamente os conflitos individuais do
influências: autor, que era sabidamente uma pessoa com transtornos
A) Expressionismo.
B) Romantismo. psíquicos.
C) Surrealismo. B) A tela deve ser associada aos problemas políticos e sociais da
D) Cubismo. Noruega nesse período, os quais o autor desejou representar.
E) Impressionismo. C) O medo, a angústia e a aflição representados na tela são
próprias do período contemporâneo, no qual a inexistência
08. (PUCPR/2016) Observe o quadro de Edvard Munch a seguir e de normas sociais rígidas faz os indivíduos sentirem-se
leia o texto:
perdidos.
D) A tela representa especificamente o contexto do final do
Reprodução/PUCPR 2016

século XIX, quando houve o crescimento dos sentimentos


nacionalistas.
E) A tela representa o medo, a aflição e as incertezas do
ser humano, sentimentos próprios do período histórico
contemporâneo, podendo ser associada ao desenvolvimento
do individualismo.

09. (UFF/2010)

Ler bem é ouvir o que as palavras nos dizem. O que


dizem as palavras quando as despimos, quando perscrutamos
seu passado, suas reentrâncias, seu parentesco? Não dizem
tudo, é verdade. Sempre falta à palavra outra palavra que a
O Grito, Edvard Munch, 1893. Óleo sobre tela, complemente e que a explique. Nathalie Sarraute, no livro
têmpera e pastel sobre cartão. Galeria Naional, Oslo.
Disponível em: <https://digartmedia.wordpress. O uso das palavras, imagina as palavras produzindo inúmeras
com/2014/04/23>.
ondulações. Captar essas ondulações, ler as entrelinhas, e as
Trecho do texto As raízes do expressionismo, publicado no entreletras, é instrutivo, divertido e trabalhoso. Captá-las com
jornal Folha de São Paulo (Folha on-line): outras palavras é o exercício de quem quer ler para valer. Tal
esforço se renova infinitamente.
“Além de colocar a Noruega no mapa artístico da Europa,
a obra de Edvard Munch foi um dos marcos fundadores do Gabriel Perissé. Revista Língua Portuguesa.
Expressionismo, movimento que se caracterizou pela tentativa
de passar para a tela o impacto emocional, os sentimentos e as Para compreender a passagem de língua (sistema de signos)
experiências interiores do artista. O pintor não era mais apenas
a discurso (produção de sentido), deve-se ler as entrelinhas,
um mero observador das aventuras e desventuras humanas. Era
e as entreletras. Esse processo implica o conhecimento de
parte integrante e indissociável delas. ‘Assim como Leonardo
da Vinci estudou a anatomia humana e dissecou cadáveres, eu mundo que, pela intertextualidade, enfatiza determinado
procuro dissecar a alma humana’, observou Munch. desenvolvimento discursivo.

Anual – Volume 3 179


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Observe bem a foto e o título da seguinte notícia jornalística. 10. (UPE) Observe os quadros a seguir:

Reprodução/UPE

Reprodução/UPE
O GRITO

Reprodução/UFF 2010
MUNCH, Edvard.
O Grito, 1893. KOLLWITZ, Káthe. Necessidade,
(1893-1901)
Eles são parte integrante do movimento artístico que marcou
A tucana Yeda Crusius se descontrola diante do a transição do século XIX para XX, denominado
protesto à sua porta. A) cubista, graças ao tratamento da natureza mediante formas
geométricas.
A governadora gaúcha Yeda Crusius (PSDB) bateu boca com B) futurista, baseando-se na velocidade e nos desenvolvimentos
cerca de 200 professores que, na porta de sua casa, pediam seu tecnológicos.
impeachment. Irritada, Yeda acusou os professores de “torturar C) dadaísta, por questionar o conceito de arte antes da Primeira
crianças” porque seus netos ficaram com medo de sair para ir Guerra Mundial.
D) impressionista, por meio da exploração da forma conjunta
à escola.
da intensidade das cores e da sensibilidade do artista.
O Globo, 17/07/09. p.11. E) expressionista, com o objetivo de mostrar como uma emoção
é capaz de transformar nossas impressões sensoriais.
Assinale a obra de arte que, pela intertextualidade, encaminha
uma determinada compreensão da foto e do título da notícia.
A) B) Fique de Olho
Reprodução/UFF 2010

Reprodução/UFF 2010

Divulgação
CHAGALL, Marc. (1887-1985) PORTINARI, Cândido. Mulher
Autorretrato com um cavalete do Pilão. Óleo sobre tela.
(1914). Óleo sobre tela.
Reprodução/UFF 2010

C) D)
Reprodução/UFF 2010

Edvard Munch (1974)

PICASSO, Pablo (1881-1973). MALFATTI, Anita. (1889- Esse filme dirigido por Peter Watkins foi primeiramente
As senhoristas de Avignon 1964). Autorretrato (1922). projetado como uma minissérie para TV, com três episódios.
(1907). Óleo sobre tela. Pastel sem cartão rígido
(desenho). No entanto, uma versão para o cinema foi lançada e selecionada
E) para o Festival de Cannes em 1976. Acompanha-se cerca de 30
Reprodução/UFF 2010

anos da vida do pintor norueguês Edvard Munch, autor de quadros


famosos como O Grito e A Menina Doente. O enredo evidencia a
alma de sua pintura de maneira reveladora e faz um percurso de
sua juventude (repleta de desilusões amorosas, doenças e boemia)
até a vida adulta. Watkins procurou gravar tomadas inquietantes,
indo das pinceladas das pinturas expressionistas de Munch até o
olhar selvagem e melancólico dos atores para a câmera. Como o
próprio Ingmar Bergman uma vez disse sobre o longa: “Trabalho
de um gênio”.
MUNCH, Edvard. (1863-1944)
O Grito.(1893) Óleo, têmpera Disponível em: <https://super.abril.com.br/blog/turma-do-fundao/13-filmes-
e pastel sobre cartão. brilhantes-sobre-pintores-famosos/>.

180 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Aula 13:
Marcel Duchamp e o Dadaísmo
C-04 H-12, 13
Aula As Vanguardas III – Dadaísmo e H-14 Marcel Duchamp (1887-1968) foi o principal artista do
Surrealismo Dadaísmo, chagando a transpor os limite p passou a incorporar
13 material de uso comum nas suas esculturas. Em vez de trabalhá-los
artisticamente, ele simplesmente os considerava prontos e os exibia
como obras de arte.

Dadaísmo

© Association Marcel Duchamp /


AUTVIS, Brasil, 2019.
© Association Marcel Duchamp /
AUTVIS, Brasil, 2019. Marcel Duchamp, A fonte.

A Fonte, obra que fez repercutir o nome de Duchamp ao


redor do mundo, especialmente depois de sua morte, está baseada
nesse conceito de ready made: pensada inicialmente por Duchamp,
que a enviou com a assinatura “R. Mutt” - fábrica que produziu
O Dadaísmo foi uma corrente artística surgida em 1916,
o urinol, lida ao lado da peça, para figurar entre as obras a serem
na Suíça. Essa vanguarda foi organizada pelo escritor e diretor
julgadas para um concurso de arte promovido nos Estados Unidos.
teatral Hugo Ball (1866-1927) e pelo poeta Tristan Tzara por
A escultura foi rejeitada pelo júri, uma vez que, na avaliação deste,
meio da realização de ações artísticas, como saraus musicais e
não havia nela nenhum sinal de labor artístico. Com efeito, trata-se de
literários, cujo propósito era revelar novas experiências sensoriais
um urinol comum, branco e esmaltado, comprado em uma loja de
que divergissem do padrão mercantilista imposto à arte daquele
construção e assim mesmo enviado ao júri. Entretanto, a despeito
período. A produção da arte dadaísta era de caráter espontâneo e
do gesto iconoclasta de Duchamp, há quem veja nas formas do
pregava uma forte crítica à instabilidade trazida pela Primeira Guerra
urinol uma semelhança com as formas femininas, de modo que
Mundial, já que essa tendência revolucionária se mostrava uma arte
se pode ensaiar uma explicação psicanalítica quando se tem em
radical, debochada, anárquica aos padrões pré-estabelecidos. Nesses
mente o membro masculino lançando urina sobre a forma feminina.
termos, ela se tornou uma arte crítica à própria arte. Baseando-se
em dois pilares – a provocação e o irracionalismo – os “dadás” Wikipédia, a enciclopédia livre.
reivindicavam o acaso como principal processo de criação, aspecto
que expressa caráter abstrato e renuncia o significado em favor da
originalidade. Para melhor explicar, com a palavra o próprio Tzara:
Surrealismo
“Dada não significa nada: Sabe-se pelos jornais que os negros Krou

© Salvador Dalí, Fundació Gala-Salvador Dalí,


AUTVIS, Brasil, 2019.
denominam a cauda da vaca santa: Dada. O cubo é a mãe em certa
região da Itália: Dada. Um cavalo de madeira, a ama-de-leite, dupla
afirmação em russo e em romeno: Dada. Sábios jornalistas viram
nela uma arte para os bebês, outros Jesus chamando criancinhas
do dia, o retorno ao primitivismo seco e barulhento, barulhento
e monótono. Não se constrói a sensibilidade sobre uma palavra;
toda a construção converge para a perfeição que aborrece, a ideia
estagnante de um pântano dourado, relativo ao produto humano.”
Formas de Criação Dadaísta
DALÍ, Salvador. O Sono, 1937.
São três os processos de criação do Dadaísmo:

1. Poesia Fonética – Consiste na utilização da abstração do som O Surrealismo foi, inicialmente, um movimento literário
em detrimento do significado das palavras, ocorrendo desvio criado por poetas no começo do século XX. Com intenção elevar
quanto à acepção prévia do vocábulo. o movimento a outras vertentes da arte, o poeta André Breton
(1896-1966), membro desse grupo de poetas vanguardistas,
2. Ready Made – Trata-se da ressignificação de qualquer objeto e chamou para si essa responsabilidade ao estabelecer os parâmetros
o aproveitamento deste como material artístico. Assim, surgem do primeiro Manifesto Surrealista, que propunha a relação entre
trabalhos a partir de fotomontagem e da collage derivada do a criação artística e automatismo psíquico puro. Nesses termos,
Cubismo. a proposta dos surrealistas era de que a produção artística fosse
concebida a partir do ilogismo, do absurdo e do universo onírico.
3. Performance – O artista “dadá” tinha participação direta em No manifesto do Surrealismo apresentado em 1924, André Breton
eventos, deslocando a essência do fazer artístico para a vivência declara: “Creio na integração destes dois estados, aparentemente
cotidiana. contraditórios, que são o sonho e a realidade, e que formam uma
espécie de realidade absoluta, a “surrealidade”, se podemos chamá-la

Anual – Volume 3 181


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
assim. Esse é o meu objetivo.” Para Breton, o irracional é a porta René Magritte
de criação da arte, aspecto que relaciona os trabalhos surreais

Reprodução
aos estudos psicanalíticos de Freud. Dessa forma, a arte surreal se
consolidou como criativa porque procurava uma nova realidade e
tentava explorar o inconsciente e o subconsciente.

Os temas da arte surrealista:


• a loucura;
• a solidão;
• os sonhos;
• as alucinações;
• o amor;
• o humor.

A pintura surrealista Nasceu em 1898 e morreu em 1967. Ao ser classificado


de surrealista, reagiu e disse fazer uso da pintura com o objetivo
© Salvador Dalí, Fundació Gala-Salvador Dalí, AUTVIS, Brasil, 2019.

de tornar visíveis os seus pensamentos. Magritte foi de fato um


surrealista, mas foi também um pensador. O seu trabalho é sempre
complexo e obriga ao raciocínio, à interpretação e ao estudo.
Os quadros de Magritte não podem ser simplesmente vistos.
Precisam ser pensados. Todo o surrealismo tem um trago de
loucura que revela a genialidade do artista. Vale ressaltar que
“as imagens extravagantes e naturalisticamente pintadas por
Magritte não são produtos de sonhos nem de estados psicológicos
autoinduzidos. Ao contrário, elas são o resultado da contemplação
e do questionamento do artista em relação aos fenômenos da vida
diária. Magritte acreditava que o pensamento consciente é que
conduz a uma ideia, e a ideia é o que importa na pintura.”
DALÍ, Salvador. Espanha, 1938. FARTHING, Stephen; CORK, Richard. Tudo sobre arte.
Editora Sextante, 2010. p. 4-32.
Pintores do Surrealismo
Salvador Dalí “René Magritte (1898-1967) tinha apenas 13 anos
Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos

quando a sua mãe cometeu um ato terrível. Depois de várias


tentativas de suicídio, ela atirou-se de uma ponte, afogando-se no
Rio Sambre. Diz-se que este acontecimento viria a marcar para o
resto da vida o pintor belga, levando-o a pintar quadros como Les
Amants (1928), em que dois namorados se beijam encapuzados
– da mesma forma que a sua mãe tinha sido encontrada, com o
vestido cobrindo-lhe a cabeça. Apesar da tragédia, a verdade é que
Magritte se tornou um dos pintores mais famosos do século XX e
um marco incontornável da arte surrealista.”

Nascido na Catalunha, região da Espanha, Dalí (1904-


© Photothèque R. Magritte, Magritte,
René/ AUTVIS, Brasil, 2019.

1989) amadureceu no mesmo ambiente que gerou outros grandes


artistas do país, como Pablo Picasso e Joan Miró; ambos
exerceram influência no desenvolvimento e na carreira de
Dalí. Um artista de reconhecido talento e diferentes interesses.
“Dalí evoluiu artisticamente através de inúmeros períodos estilísticos,
explorando uma gama de atividades que incluiu pintura, escultura,
criação de objetos. Montagens, artes gráficas, fotografia, cinema
e obra de arte.”
A sua participação no Surrealismo, iniciada em 1929,
trouxe uma nova vitalidade. Seu compromisso de explorar
aspectos de inspiração freudiana sobre os sonhos, não levando
em consideração quão polêmicas, bizarras ou reveladoras
fossem as imagens – o que Dalí chamou de “atividade
crítico-paranoica” – tornou-se uma importante estratégia do
Surrealismo em todas as suas manifestações. Certa vez, comentou MAGRITTE, René. Os Amantes, 1928.
o artista: “Toda a minha ambição no campo pictório é materializar
Diana Caldeira Guerra – Devidos Magazine
as imagens da irracionalidade concreta com a mais imperialista Disponível em: <http://obviousmag.org>.
fúria da precisão.”

182 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Questão comentada Comentário:

A partir da leitura do texto e observação da obra, podemos


• (Enem)
perceber que A cama desloca um objeto de uso cotidiano
Texto I e o ressignifica, transformando-o em obra de arte. Esse
procedimento criado pelos dadaístas ficou conhecido como

Reprodução/Enem
ready-made. Este mesmo procedimento foi utilizado por
Duchamp para ressignificar o urinol batizado de A Fonte, uma
das obras mais icônicas do dadaísmo.

Resposta: B

Exercícios de Fixação

01. (UEL) Leia o texto e observe a imagem a seguir.

No contexto da Primeira Guerra Mundial, surgiu


o Dadaísmo, um movimento antiartístico, antiliterário,
antipoético, contra a beleza eterna, a harmonia, a objetividade,
a eternidade dos princípios, as leis da lógica, a imobilidade do
pensamento e a favor da liberdade desenfreada do indivíduo,
da espontaneidade, do aleatório, da anarquia contra a ordem,
RAUSCHENBERG, R. Cama. Óleo e lápis em travesseiro, colcha e folha da imperfeição contra a perfeição.
em suporte de madeira. 191,1 x 80 x 20,3 cm.
Museu de Arte Moderna de Nova York, 1995.
Disponível em: <www.moma.org>. Acesso em: 8 jun. 2017. MICHELI, M. As vanguardas artísticas. São Paulo: Martins Fontes,
1991. p.131-137. Adaptado.
Texto II

Reprodução/UEL
No verão de 1954, o artista Robert Rauschenberg
(n. 1925) criou o termo combine para se referir a suas novas
obras que possuíam aspectos tanto da pintura como da
escultura. Em 1958, Cama foi selecionada para ser incluída
em uma exposição de jovens artistas americanos e italianos no
Festival dos Dois Mundos em Spoleto, na ltália.
Os responsáveis pelo festival, entretanto, se recusaram
a expor a obra e a removeram para um depósito. Embora o
mundo da arte debatesse a inovação de se pendurar uma cama
numa parede, Rauschenberg considerava sua obra “um dos
quadros mais acolhedores que já pintei, mas sempre tive medo
de que ninguém quisesse se enfiar nela”.
DEMPSEY. A. Estilos, escolas e movimentos: guia enciclopédico da arte moderna.
São Paulo: Cosac & Naify. 2003.
Kurt Schwitters, Something or Other,

A obra de Rauschenberg chocou o público na época em “que colagem, 8,2 × 14,5 cm, 22.

foi feita e recebeu forte influência de um movimento artístico


Com base no texto, na imagem e nos conhecimentos sobre o
que se caracterizava pela dadaísmo, atribua (V) verdadeiro ou (F) falso às afirmativas a
A) dissolução das tonalidades e dos contornos, revelando uma seguir.
produção rápida. ( ) O Dadaísmo tem uma base positivista tanto quanto o
surrealismo.
B) exploração insólita de elementos do cotidiano, dialogando
( ) No processo de criação dadaísta, se é que se trata
com os ready-mades. de criação, o verbo “criar” foi substituído pelo verbo
C) repetição exaustiva de elementos visuais, levando à “montar”.
simplificação máxima da composição. ( ) O caráter antiartístico das colagens dadaístas constituía
um modelo estético baseado no acaso.
D) incorporação das transformações tecnológicas, valorizando ( ) Para o Dadaísmo, o gesto provocativo era mais importante
o dinamismo da vida moderna. do que a obra.
E) geometrização das formas, diluindo os detalhes sem se ( ) O movimento Dadá, por ser favorável à sociedade
preocupar com a fidelidade ao real. burguesa, foi contra a arte que a questionava.

Anual – Volume 3 183


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, D)

Reprodução/UEL
a sequência correta.
A) V – F – V – V – F
B) V – F – F – F – V
C) F – V – V – F – V
D) F – V – F – V – F
E) F – F – V – V – V

02. (UEL) Leia o texto a seguir. E)

Reprodução/UEL
As origens do Surrealismo nas artes visuais estão no
movimento Dadá e nas obras de De Chirico e Marc Chagall.
Esses artistas já realizavam um arranjo irracional de objetos, em
uma ausência de lógica que caracteriza as imagens oníricas,
abrindo caminho para os domínios do inconsciente. Com
a colaboração dos dadaístas, Hans Arp e Max Ernst, Breton
propôs, com base na psicanálise, um método de criação
poética espontâneo, denominado “automatismo psíquico”. 03. (ESPM)
Tal método pretendia acessar diretamente as imagens simbólicas

Reprodução/ESPM

Reprodução/ESPM
do inconsciente, independente de qualquer preocupação
estética ou moral, sem o “filtro” da razão e da lógica. Além de
Ernst e Arp, se destaca o trabalho de Joan Miró, com poéticas
mais intuitivas que racionais. Alguns artistas, como Buñuel,
Dali, Magritte, Giacometti, tiveram relação com o movimento
surrealista. Artistas brasileiras, como a escultora Maria Martins e
a pintora Tarsila do Amaral (na sua fase antropofágica), tiveram
influência marcante desse movimento.
HERBERT, R. História da Pintura Moderna. Roda de bicicleta (1912) Fonte (1917)
São Paulo: Círculo do Livro S.A., s/d. p.23-143. Adaptado.
O autor foi o criador do Ready-made, termo criado para
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, designar um tipo de objeto, por ele inventado, que consiste em
assinale a alternativa que apresenta, correta e respectivamente, um ou mais artigos de uso cotidiano, produzidos em massa,
selecionados sem critério estético e expostos como obras
as imagens das obras de um precursor do surrealismo, de um
de arte em espaços especializados como museus e galerias.
surrealista europeu e de um artista brasileiro surrealista.
Ao transformar qualquer objeto em obra de arte, o artista
A) realiza uma crítica radical ao sistema da arte.
Reprodução/UEL

Carol Strickland. Arte Comentada.

Assinale a alternativa que mencione respectivamente o nome do


artista responsável pelos trabalhos apresentados na questão e
o movimento artístico que adotava os procedimentos expostos
no enunciado, levando muitos a exclamarem: “Isso não é arte!”
A) Marcel Duchamp – Dadaísmo.
B) George Braque – Expressionismo.
B) C) Alberto Giacometti – Surrealismo.
Reprodução/UEL

D) Henri Moore – Surrealismo.


E) Franz Arp – Dadaísmo.

04. (Unesp) A peça Fonte foi criada pelo francês Marcel Duchamp
e apresentada em Nova Iorque em 1917.
Reprodução/Unesp

C)
Reprodução/UEL

Obra de Marcel Duchampp,


fotografada por Alfred Stieglitz.

184 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
A transformação de um urinol em obra de arte representou,
entre outras coisas,
Exercícios Propostos
A) a alteração do sentido de um objeto do cotidiano e uma
crítica às convenções artísticas então vigentes.
B) a crítica à vulgarização da arte e a ironia diante das
vanguardas artísticas do final do século XIX. • Texto para a questão 01.
C) o esforço de tirar a arte dos espaços públicos e a insistência
Observe a imagem e leia o poema a seguir para responder à
de que ela só podia existir na intimidade.
questão.
D) a vontade de expulsar os visitantes dos museus, associando
a arte a situações constrangedoras.

Reprodução/UEG 2018
E) o fim da verdadeira arte, do conceito de beleza e importância
social da produção artística.

05. (Enem)

Texto I

Ta m b é m c h a m a d o s i m p re s s õ e s o u i m a g e n s
fotogramáticas [...], os fotogramas são, numa definição
genérica, imagens realizadas sem a utilização da câmera
fotográfica, por contato direto de um objeto ou material com
uma superfície fotossensível exposta a uma fonte de luz. Essa
técnica, que nasceu junto com a fotografia e serviu de modelo
a muitas discussões sobre a ontologia da imagem fotográfica, FRANCO, Siron. O aliado (1978). Óleo sobre tela.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br
foi profundamente transformada pelos artistas da vanguarda,
/obra12757/o-aliado>.
nas primeiras décadas do século XX. Representou mesmo, Acesso em: 24 ago. 2017.
ao lado das colagens, foto montagens e outros procedimentos
técnicos, a incorporação definitiva da fotografia à arte moderna Um galo sozinho não tece uma manhã:
e seu distanciamento da representação figurativa. ele precisará sempre de outros galos.
COLUCCI, M. B. Impressões fotogramáticas e vanguardas: De um que apanhe esse grito que ele
as experiências de Man Ray. Studium, n. 2, 2000. e o lance a outro; de um outro galo
Texto II que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
Reprodução/Enem

que com muitos outros galos se cruzem


os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que,
RAY, M. Rayograph, 1922. 23,9 × 29,9 cm. que, tecido, se eleva por si: luz balão.
MOMA, Nova York.
Disponível em: <www.moma.org>. MELO NETO, João Cabral de. Tecendo a manhã.
Acesso em: 18 abr. 2018. Adaptado. Disponível em: <http://www.jornaldepoesia.jor.br/joao02.html>.
Acesso em: 24 ago. 2017.
No fotograma de Man Ray, o “distanciamento da representação
01. (UEG) A leitura da pintura e do poema permite que se entreveja
figurativa” a que se refere o Texto I manifesta-se na
a importância da
A) ressignificação do jogo de luz e sombra, nos moldes
A) expectativa de pessoas e animais que anseiam pela
surrealistas.
construção de um mundo melhor.
B) imposição do acaso sobre a técnica, como crítica à arte B) solidariedade e da comunicação para a construção de
realista. vínculos e de novas realidades.
C) composição experimental, fragmentada e de contornos C) ênfase a sentidos que se estabelecem por meio do
difusos. isolamento individual.
D) abstração radical, voltada para a própria linguagem D) indiferença e da informação para constituir narrativas
fotográfica. ficcionais de caráter social.
E) imitação de formas humanas, com base em diferentes E) caracterização literal de figuras cujo retrato metaforiza o
objetos. desencontro entre os seres.

Anual – Volume 3 185


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
02. (Enem-PPL) B)

Reprodução/Unifesp
Texto I

Reprodução/Enem PPL
As férias de Hegel, 1958.
C)

Reprodução/Unifesp
DUCHAMP, M. Roda de bicicleta. Aço e madeira, 1,3 m x 64 cm x 42 cm, 1913.
Museu de Arte Moderna de Nova York.
DUCHAMP, M. Roda de bicicleta. Barcelona: Polígrafo, 1995.

Texto II
Ao ser questionado sobre seu processo de criação de
ready-mades, Marcel Duchamp afirmou:
— Isto dependia do objeto; em geral, era preciso tomar Decalcomania, 1966.
cuidado com o seu look. É muito difícil escolher um objeto
porque depois de quinze dias você começa a gostar dele D)

Reprodução/Unifesp
ou a detestá-lo. É preciso chegar a qualquer coisa com uma
indiferença tal que você não tenha nenhuma emoção estética.
A escolha do ready-made é sempre baseada na indiferença
visual e, ao mesmo tempo, numa ausência total de bom ou
mau gosto.
CABANNE, P. Marcel Duchamp: engenheiro do tempo perdido.
São Paulo: Perspectiva, 1987. Adaptado.

Relacionando o texto e a imagem da obra, entende-se que o


artista Marcel Duchamp, ao criar os ready-mades, inaugurou O sedutor, 1953.
um modo de fazer arte que consiste em E)
Reprodução/Unifesp
A) designar ao artista de vanguarda a tarefa de ser o artífice
da arte do século XX.
B) considerar a forma dos objetos como elemento essencial da
obra de arte.
C) revitalizar de maneira radical o conceito clássico do belo na
arte.
D) criticar os princípios que determinam o que é uma obra de arte.
E) atribuir aos objetos industriais o status de obra de arte.
A cascata, 1961.
03. (Unifesp) Nesta obra, o observador é atraído por uma ideia
poética: a de um objeto que assume a substância do material
em que se sente à vontade.
Marcel Paquet. René Magritte: o pensamento tornado visível, 2000. 04. (Enem)
Adaptado.

Tal comentário aplica-se à seguinte obra do pintor belga René Texto I


Magritte (1898-1967):
Reprodução/Enem

A)
Reprodução/Unifesp

BACON, F. Três estudos para um autorretrato. Óleo sobre tela.37,5 x 31,8 cm (cada).
Disponível em: <www.metmuseum.org>.
A explicação, 1954. Acesso em: 30 maio. 2016.

186 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Texto II 07. (UFV) A imagem a seguir reproduz uma obra do artista plástico
brasileiro Cândido Portinari (1903-1962). Ela revela a influência
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas,
que o artista recebeu de um importante movimento estético
sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece com
do século XX.
pessoas de traços delicados, o contorno é o mesmo mas a

Reprodução/UFV
matéria foi destruída. Tenho um rosto destruído.
DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

Na imagem e no texto do romance de Marguerite Duras,


os dois autorretratos apontam para o modo de representação
da subjetividade moderna. Na pintura e na literatura modernas,
o rosto humano deforma-se, destrói-se ou fragmenta-se em razão
A) da adesão à estética do grotesco, herdada do romantismo
europeu, que trouxe novas possibilidades de representação.
B) das catástrofes que assolaram o século XX e da descoberta
de uma realidade psíquica pela psicanálise. Assinale a alternativa que indica o nome desse movimento
C) da opção em demonstrarem oposição aos limites estéticos e uma característica comum às obras de alguns de seus
da revolução permanente trazida pela arte moderna. representantes.
D) do posicionamento do artista do século XX contra a negação A) O Futurismo, exaltando a modernidade e o futuro.
do passado, que se torna prática dominante na sociedade B) O Surrealismo, denunciando violências contra a humanidade.
burguesa. C) O Neoclassicismo, valorizando elementos da arte grega e
romana.
E) da intenção de garantir uma forma de criar obras de arte D) O Impressionismo, registrando os fenômenos luminosos.
independentes da matéria presente em sua história pessoal. E) O Romantismo, imprimindo dinamismo às figuras.

05. (Enem) 08. (UEL/2016) Leia o texto e observe a imagem a seguir.

Texto I
Reprodução/Enem

No contexto da Primeira Guerra Mundial, surgiu


o Dadaísmo, um movimento antiartístico, antiliterário,
antipoético, contra a beleza eterna, a harmonia, a objetividade,
a eternidade dos princípios, as leis da lógica, a imobilidade do
pensamento e a favor da liberdade desenfreada do indivíduo,
da espontaneidade, do aleatório, da anarquia contra a ordem,
da imperfeição contra a perfeição.
MICHELI, M. As vanguardas artísticas. São Paulo: Martins Fontes,
1991. p.131-137. Adaptado.

Texto II

Reprodução/Uel2016
MAGRITTE, R. A reprodução proibida.
Óleo sobre tela, 81,3 x 65 cm.
Museum Boijmans Van Buningen, Holanda, 1937.

O Surrealismo configurou-se como uma das vanguardas


artísticas europeias do início do século XX. René Magritte, pintor
belga, apresenta elementos dessa vanguarda em suas produções.
Um traço do Surrealismo presente nessa pintura é o (a)
A) justaposição de elementos díspares, observada na imagem
do homem no espelho.
B) crítica ao passadismo, exposta na dupla imagem do homem
olhando sempre para frente.
C) construção de perspectiva, apresentada na sobreposição de
planos visuais.
D) processo de automatismo, indicado na repetição da imagem KURT Schwitters. Something or Other,
do homem. colagem, 18,2 x 14,5 cm, 1922.
E) procedimento de colagem, identificado no reflexo do livro
no espelho. Com base no texto, na imagem e nos conhecimentos sobre o
Dadaísmo, infere-se que
06. (UPE) Em 1916, em plena Guerra, Marcel Duchamp lançou a A) O Dadaísmo tem uma base positivista tanto quanto o
obra Roda de bicicleta. Nem a roda servia para andar nem o Surrealismo.
banco servia para sentar. O que a obra de Duchamp anunciava? B) No processo de criação dadaísta, se é que se trata de criação,
A) Fascínio pela tecnologia, que conduziria o homem ao o verbo “criar” foi substituído pelo verbo “montar”.
progresso. C) O caráter antiartístico das colagens dadaístas constituía um
B) Apego pela ciência que produziria homens cada vez mais modelo estético baseado no acaso.
sábios. D) Para o Dadaísmo, o gesto provocativo era menos importante
C) Incentivo para se produzirem, cada vez mais, armas. do que a obra.
D) Olhar mais questionador no mundo das artes. E) O movimento Dadá, por ser favorável à sociedade burguesa,
E) Busca pela preservação dos princípios iluministas. foi contra a arte que a questionava.

Anual – Volume 3 187


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
09.
Texto I Fique de Olho

© Salvador Dalí, Fundació Gala-


-Salvador Dalí,
AUTVIS, Brasil, 2019.
O SURREALISMO (PORTUGUÊS)
CAPA COMUM – 1 JAN 1992
por Jacqueline Chenieux-Gendron (Autor)

Reprodução
A Tentação de Santo Antão (1946), de Salvador Dali.
Disponível em: <https://trabalhosparaescola.com.br>.
Acesso em 7 out. 2018.

Texto II
Sua ênfase no poder da imaginação colocou-os
na tradição do Romantismo, mas ao contrário de seus
antepassados, eles acreditavam que as revelações poderiam ser
encontradas na rua e na vida cotidiana. O impulso de tocar a
mente inconsciente, e seus interesses em mito e primitivismo,
passou a moldar muitos movimentos posteriores, e o estilo
permanece influente até hoje.
LEGÉR, F. Funções da pintura. São Paulo: Nobel, 1989.

A vanguarda europeia, evidenciada pela obra e pelo texto,


destaca os preceitos e a tendência do
A) Futurismo, que exalta os pormenores da vida moderna.
B) Dadaísmo, que buscava o acaso como resolução aos Em uma época em que o alcance sociológico do surrealismo
problemas da arte. é extremamente amplo e difuso tentou-se neste livro limitar de modo
C) Surrealismo, que se relaciona ao universo onírico.
mais preciso a definição de alguns conceitos centrais (o de acaso
D) Cubismo, que explora a tendência simultânea dos objetos.
E) Expressionismo, que renuncia os sentimentos da alma objetivo) de algumas práticas (as da imagem da escrita automática
humana. do humor negro) e localizar algumas veias divergentes que irrigam
o movimento.
10. Disponível em: <www.https://www.fnac.pt/O-Surrealismo-CHENIEUX-GENDRON-J/
a1113823>.
© Photothèque R. Magritte/
AUTVIS, Brasil, 2019.

Aula 14:

C-04 H-12, 13
Aula H-14
O Abstracionismo
14

MAGRITTE, Rene (1898-1967).


Decalcomania (1966). Óleo sobre tela. Introdução
O Surrealismo configurou-se como uma das vanguardas
Yale University Art Gallery New Haven/foto

artísticas europeias do início do século XX. René Magritte,


pintor belga, apresenta elementos dessa vanguarda em suas
produções. Um traço do Surrealismo presente nessa pintura é
o (a)
A) fusão consciente da realidade em ficção, extrapolando sem
limites o mundo onírico.
B) crítica ao passadismo, exposta na dupla imagem do homem
olhando sempre para frente.
C) construção de perspectiva, apresentada na sobreposição de
planos visuais.
D) processo de automatismo, indicado na repetição da imagem MALEVICH, Kazimir (1878-1935).
do homem. O Amolador de Facas.
Óleo sobre tela, 79,5 × 79,5 cm.
E) procedimento de colagem, identificado no corte da cortina New Haven, EUA.
e no mar ao fundo.

188 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
O Abstracionismo ou a arte abstrata deve ser entendido

The Bridgeman Art Library/Grupo Keystone


como uma vertente artística cuja característica principal é reproduzir
objetos (pintura ou escultura) que não fazem parte da realidade
concreta. Nesse sentido, o artista abstrato promove uma sinergia
entre as formas, a superfície de cores, os traços e as linhas para
construir uma imagem que foge ao sentido figurativo do objeto de
arte. Nesses termos, essa tendência constitui um tipo de vanguarda
de arte, já que rejeita os padrões acadêmicos e busca uma forma
de fazer arte cheia de inovação.

Tendências Abstratas
Vladimir Tatlin, Monumento à
Terceira Internacional, 1919.
Suprematismo
Aspectos:
Segundo Stephen Little, “o Suprematismo rejeitava os
conceitos convencionais da arte em favor da exploração artística Construtivismo Russo:
de uma realidade espiritual capaz de se expressar por meio da • Movimento estético-político de vanguarda;
abstração geométrica”*. Essa tendência abstrata foi idealizada pelo • Iniciado na Rússia em 1919 após a Revolução Soviética;
russo Kazimir Malevich, que utilizou as formas geométricas e, muitas • Forte influência na arquitetura e na arte ocidental;
vezes, a ausência de cores para criar suas obras, defendendo um • Movimento com tendência para a arquitetura e design;
puro visual plástico, aspecto que o difere do Cubismo. Malevich, no • Arte inspirada pela máquina e pela industrialização;
Manifesto do Suprematismo, apresentado em 1915, afirmava que • Opção pela atividade coletiva em oposição ao individualismo;
o Suprematismo significava a supremacia do sentimento puro da • Os seus pioneiros foram Malevich e Rodchenko;
arte, um sentimento de negação à objetividade que tentava libertar • O escultor mais importante foi Vladimir Tatlin.
a arte do lastro do mundo das coisas.
* *LITTLE, Stephen ...ismos, Para entender a arte. São Paulo: Globo, 2010. Neoplasticismo
O Neoplasticismo tem ligação profunda e indissolúvel com
Museu Stedelijk Amsterdã Holanda

a produção artística de Piet Mondrian. Suas obras, baseadas em


formas gradeadas, buscam revelar a ordem espiritual atemporal
que margeia a aparência infinitamente variável do mundo. O termo
Neoplasticismo é também inseparável das ideias associadas em torno
da revista de arte holandesa De Stijl, “pois definia a abordagem
do grupo, segundo a qual a coloração estava limitada às três cores
primárias acrescidas de preto, branco e cinza, e os elementos
composicionais se limitavam a linhas horizontais e verticais, bem
como superfícies retangulares”**. Os três principais representantes
dessa corrente estética foram: Van Doesburg, Piet Mondrina e Bart
Van Der Leck.
**FARTHING, Sthepen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2010.

Galleria Nazionale d’Arte Moderna, Roma

MALEVICH, Kazimir (1878-1935). Composição


Suprematista (1915). Óleo sobre tela.

Construtivismo Russo
Tendência artística utópica, oriunda dos ideais da Revolução
Russa, o que a caracteriza como uma espécie de arte totalitária. MONDRIAN, Piet. Composição A.
Óleo sobre tela, 90 × 91. Roma, Itália.
Seus adeptos buscavam desenvolver uma forma de arte voltada
para a renúncia de qualquer traço natural do objeto, bem como
Características do Neoplasticismo:
romper com as formas de fazer arte passadistas, o que torna o • Emprego de formas em grade;
Construtivismo próximo ao Futurismo. Além disso, o objeto artístico • Aplicação de cores primárias e chapadas;
se liberta de sua base, do pedestal, do paralelismo à parede, • Desnudamento do figurativo;
trabalha mais com o espaço como elemento da linguagem plástica. • Redução da pintura ao estilo;
Na pintura chega ao branco sobre o branco, ressaltando a presença • Ordem espiritual;
matérica da tela, o objeto “tela” como mais importante que • Descentralização da imagem na pintura; pintura periférica;
representações feitas sobre sua superfície. • Destaca-se o elementar.

Anual – Volume 3 189


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
O Neoplasticismo foi além da manifestação pictórica de Nova Iorque no centro do mundo artístico (posição previamente
telas, já que alcançou adeptos em outras áreas, como a arquitetura, exercida por Paris, na França). Por vezes, é chamado de Escola de
a movelaria e a moda. Veja algumas imagens da expansão Nova Iorque. O Expressionismo Abstrato reúne um grande conjunto
neoplástica: de manifestações, sendo possível identificar duas tendências
principais. Uma, que se integra na corrente da Action Painting, inclui
as obras de pintores como Jackson Pollock, Willem de Kooning ou

Domínio Pùblico
Franz Kline. Nas suas obras, bastante gestualistas, a tinta era lançada
diretamente na tela, através de gestos instintivos, onde o acaso e o
aleatório determinavam a evolução da pintura. A outra tendência,
a Color Field, mais meditativa ou “mística”, integra os pintores
Rothko e Gottlieb. Estes artistas exploraram preferencialmente as
qualidades tácteis e os efeitos sensitivos da cor e produziram quadros
abstratos utilizando poucos elementos, representados com limites
indefinidos e relações cromáticas de grande sutileza.
Wikipédia, a enciclopédia livre

© The Pollock-Krasner Foundation /


AUTVIS, Brasil, 2019.
Domínio Público

POLLOCK, Jackson (1912-1956). Convergência (1952) Óleo sobre tela.


©RIETVELD, Gerrit/Autvis, Brasil, 2019.

Questão comentada

• (UFMS/2008) Com referência à obra ilustrada abaixo, assinale


a alternativa correta.

Reprodução/UFMS 2008

Capa da revista De Stijl (março de 1921)


Gemeentemuseum, Den Haag, Holanda.
Eric Koch/Wikimedia Foundation

A) A obra Composição em vermelho, preto, amarelo e cinza


(1920), pintada por Piet Mondrian, é um dos maiores ícones
Expressionismo Abstrato
da história do movimento Antropofágico.
Expressionismo abstrato foi um movimento artístico com B) A obra Composição em vermelho, preto, amarelo e cinza
origem nos Estados Unidos, cujo auge foi atingido nas décadas (1920), pintada por Piet Mondrian, é o expoente clássico do
posteriores à Segunda Guerra Mundial. Foi o primeiro movimento
Abstracionismo Geométrico.
especificamente americano a atingir influência mundial, colocando

190 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
C) A obra Composição em vermelho, preto, amarelo e B)
cinza (1920), pintada por Piet Mondrian, que foi um dos
precursosres do período Neossimplista, influenciou Paul

Reprodução/UEL
Cézanne após a Segunda Guerra Mundial.
D) A obra Composição em vermelho, preto, amarelo e cinza
(1920), pintada por Kandinsky, revolucionou o período
Abstracionista.
E) A obra Composição em vermelho, preto, amarelo e cinza
(1920), pintada por Kandinsky, é um dos maiores ícones da
história do movimento Cubista.

Comentário:

Neoplasticismo é o termo criado pelo artista holandês Piet Mondrian


para uma arte abstrata e geométrica. Segundo o artista, a arte
deve ser desnaturalizada e liberta de toda referência figurativa C)

Reprodução/UEL
ou de detalhes individuais de objetos naturais. Assim, Mondrian
restringiu os elementos de composição pictórica à linha reta,
ao retângulo e às cores primárias, azul, amarelo e vermelho,
aos tons de cinza, preto e branco.
Essa pintura representa um modelo exemplar da harmonia
universal ou verdadeira beleza, a medida da evolução humana
por um ambiente total que pudesse viver em harmonia.
Considera-se a obra de Mondrian o expoente máximo do
Abstracionismo Geométrico.

Resposta: B

D)

Reprodução/UEL
Exercícios de Fixação

01. (UEL) Leia o texto a seguir.

O Concretismo teve sua origem no Brasil a partir da


I Bienal de São Paulo, em 1951, quando foram premiados
artistas brasileiros e estrangeiros que desenvolviam pesquisas
orientadas na direção da Arte Concreta. Max Bill recebeu o
1º prêmio de escultura com a famosa Unidade Tripartida,
uma escultura em aço inoxidável estruturada no espaço E)

Reprodução/UEL
através de uma forma orgânica e dinâmica. Lygia Clark e Hélio
Oiticica assumiram radicalmente a ruptura com as linguagens
tradicionais, integrando a participação do corpo na constituição
da obra, desencadeando o movimento neoconcreto. Lygia Clark
explorou a experiência tátil e Oiticica explorou formas e cores
no espaço e criou os Ambientes e Parangolés.
RIBEIRO, M. A. Neovanguardas: Belo Horizonte anos 60.
Belo Horizonte: Cia das Artes, 1997. p.58-61. Adaptado.

Assinale a alternativa que apresenta, correta e respectivamente,


as obras de Max Bill, Lygia Clark e Hélio Oiticica.

A)
Reprodução/UEL

02. (UEL) A partir dos conhecimentos sobre arte contemporânea


na tridimensionalidade, relacione as obras com os seus artistas.
I.
Reprodução/UEL

Ttéia, 2002.

Anual – Volume 3 191


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
II. 03. (UEL) Relacione as imagens às manifestações artísticas a seguir.

Reprodução/UEL
I.

Reprodução/UEL
PROENÇA, Graça. História da Arte,
2009. p. 49.

II.

Reprodução/UEL
Cambuí, 2011.

III.
Reprodução/UEL

Disponível em: <ensinarhistoriajoelza.com.br>.

III.

Reprodução/UEL
Escultura do monumento do emissário de
Santos, 2008.

IV.
Reprodução/UEL

PROENÇA, Graça. História


da Arte, 2009. p. 54.

IV.

Reprodução/UEL

Linda do rosário, 2004.

A) Adriana Varejão. Faz parte do movimento da arte


Disponível em: <caleidoscopio.
contemporânea brasileira e destaca-se pela mistura de blog.br>.
materiais, como um bricoleur, coleta fragmentos de histórias
e os traduz em outros, ocupando uma sala no museu aberto
de Inhotim. A) Representa a natureza e o cotidiano, bem como a visão do
B) Tomie Otake. Ligada à estética não figurativa contemporânea, homem na captação de formas simples.
apresenta fortes contornos das formas com equilíbrio, luz e B) Ocupa espaços públicos, por meio de intervenções e
sombra, movimento e curvas vertiginosas, sombreados em
algumas superfícies, transcendendo a realidade e ocupando performances artísticas, estabelecendo a relação entre arte
espaços públicos. e cidade.
C) Ligia Pape. Reinterpreta o modernismo europeu no contexto C) Utiliza a pintura para causar efeitos ilusórios por meio da
brasileiro, dentro e além do movimento neoconcreto,
trabalhando com os mais diversos suportes, como fios, perspectiva arquitetônica das cenas.
experimentando uma ampla gama de linguagens e formatos. D) Expressa o poder, respeitando as convenções, como a
D) Caciporé. Faz parte da arte da segunda metade do século frontalidade e a indicação do lugar das personagens na
XX. Suas obras proporcionam uma leitura de esculturas de
grandes dimensões, com construções de aspecto maciço, composição.
em ferro fundido, não figurativas.
Assinale a alternativa que contém a associação correta.
Assinale a alternativa que contém a associação correta.
A) I-C, II-A, III-B, IV-D. A) I-B, II-D, III-A, IV-C.
B) I-C, II-B, III-D, IV-A. B) I-C, II-A, III-D, IV-B.
C) I-C, II-D, III-B, IV-A. C) I-C, II-B, III-A, IV-D.
D) I-A, II-D, III-C, IV-B. D) I-D, II-A, III-C, IV-B.
E) I-B, II-C, III-D, IV-A. E) I-D, II-C, III-A, IV-B.

192 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
04. (Unesp) Amilcar de Castro (1920-2002) foi um importante 05. (Enem)
artista brasileiro que se destacou por suas esculturas em ferro.
A fotografia mostra uma de suas esculturas, feita a partir de Texto I
uma chapa originalmente plana e retangular, que se encontra

Reprodução/Enem 2018
na Praça da Sé, em São Paulo.

Reprodução/Unesp
A escultura possui influências do movimento artístico
A) neoconcreto e apresenta um corte e uma dobra na chapa.
A representação da chapa original e seu corte correspondem
à figura GRIMBERG, N. Estrutura vertical dupla.
Disponível em: <www.normagrimberg.com.br>.
Acesso em: 13 dez. 2017.

Texto II

Reprodução/Enem 2018
B) cubista e apresenta um corte na chapa, seguido de
soldagem. A representação da chapa original e seu corte
correspondem à figura

Urna cerimonial marajoara. Cerâmica.


1400 a 400 a.C. 81 cm.
C) neoclássico e apresenta um corte e uma dobra na chapa. Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A representação da chapa original e seu corte correspondem Disponível em: <www.museunacional.ufrj.br>.
Acesso em: 11 dez. 2017.
à figura
As duas imagens são produções que têm a cerâmica como
matéria-prima. A obra Estrutura vertical dupla se distingue da
urna funerária marajoara ao
A) evidenciar a simetria na disposição das peças.
B) materializar a técnica sem função utilitária.
C) abandonar a regularidade na composição.
D) neoclássico e apresenta um corte na chapa, seguido de D) anular possibilidades de leituras afetivas.
soldagem. A representação da chapa original e seu corte E) integrar o suporte em sua constituição.
correspondem à figura

Exercícios Propostos

01. Em O mundo sem objeto, livro publicado em 1927 pela Bauhaus,


o autor descreve a inspiração que deu origem à poderosa imagem
do quadrado negro sobre um fundo branco:
E) neoconcreto e apresenta um corte e uma dobra na chapa.
A representação da chapa original e seu corte correspondem “Eu sentia apenas noite dentro de mim, e foi então que concebi
à figura a nova arte, que chamei suprematismo.”
Wikipédia, a enciclopédia livre.

O comentário acima aplica-se à tendência abstrata, pois


A) revela uma produção preocupada com os anseios
mercadológicos da época.
B) discute a existência de conceitos opostos entre arte figurativa
e arte naturalista.

Anual – Volume 3 193


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
C) insinua a plena discordância de que qualquer objeto possa Os registros fotográficos de Yard e Deep Walls apresentam uma
ser considerado arte. característica comum a muitas obras de arte contemporânea,
D) projeta uma nova ideia acadêmica sobre as formas figurativas que se traduz no convite à
do fazer artístico. A) fruição coletiva.
E) defende a supremacia da sensibilidade sobre o próprio B) estimulação do olhar.
objeto. C) projeção de imagens.
D) contemplação crítica.
02. (Fuvest/2019) E) interação com a obra.

04. (Enem/2011)

Reprodução/Fuvest 2019

Reprodução/Enem 2011
Lasar Segall, Navio de Emigrantes, 1939-1941,
óleo com areia sobre tela.

Esta imagem é a reprodução de


A) uma pintura impressionista, marcada por pinceladas soltas
e pela temática da emigração americana para o continente
europeu.
B) um mosaico cubista, caracterizado pelas formas geométricas
LEINER, N. Tronco com cadeira (detalhe), 1964.
que procuram salientar a esperança daqueles que se dirigem Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br>. Acesso em: 27 jul. 2010.
para terras estrangeiras.
C) uma pintura expressionista, que reforça o sofrimento dos Nessa estranha dignidade e nesse abandono, o objeto foi
que se deslocavam em um contexto de perseguições e exaltado de maneira ilimitada e ganhou um significado que se
intolerâncias. pode considerar mágico. Daí sua “vida inquietante e absurda”.
D) um painel surrealista, que procurava destacar o subconsciente
Tornou-se ídolo e, ao mesmo tempo, objeto de zombaria. Sua
atormentado daqueles que deixavam seus locais de origem.
E) uma pintura futurista, influenciada pelas referências de realidade intrínseca foi anulada.
modernização tecnológica características da primeira metade
JAFFÉ, A. O simbolismo nas artes plásticas. In: JUNG, C.G. (org.).
do século XX.
O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

03. (Enem/2017) A relação observada entre a imagem e o texto apresentados permite


o entendimento da intenção de um artista contemporâneo. Neste
Reprodução/Enem 2017

caso, a obra apresenta características


A) funcionais e de sofisticação decorativa.
B) futuristas e do abstrato geométrico.
C) construtivistas e de estruturas modulares.
D) abstracionistas e de releitura do objeto.
E) figurativas e de representação do cotidiano.

KAPROW, A. Yard: environments, situations, spaces. 1961. 05. Leia atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale o que
Sculputure Garden at Martha Jackson Gallery. Nova York.
estiver correto a respeito do estudo de História da Arte.
Reprodução/Enem 2017

“[...] o estilo desempenhou um papel significativo na formulação


de histórias da arte, e só recentemente a noção de progresso
estilístico na arte ocidental tem sido reavaliada. Na verdade,
a ênfase no estilo nos leva a esperar a noção de progressão
e constante desenvolvimento na arte. Se desejarmos que a
arte seja a representação do mundo que pensamos ver, então
podemos impor uma expectativa de contínuo movimento em
direção ao naturalismo. Mas, se é assim, o que pensar da arte
que não está interessada na representação naturalista?”
KAYE, N.; STRICKLAND, R.; BUSHNELL, A. Deep Walls, 2003.
Disponível em: <www.snibbe.com>. Acesso em: 10 nov. 2013. ARNOLD, Dana. Introdução à História da Arte. São Paulo: Ática, 2008. p. 19.

194 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Dana Arnold considera representação abstrata a obra: 06. (Enade/2017)
A)

Stedelijk Museum/Amsterdam
Texto I
Joan Miró sentia a mão direita demasiado sábia e que de saber
tanto já não podia intentar nada. Quis então que desaprendesse
o muito que aprendera a fim de reencontrar a linha ainda fresca
da esquerda. Pois que ela não pôde, ele, ele pôs-se a desenhar
com esta até que, se operando, no braço direito ele a enxerta.
A esquerda (se não se é canhoto) é mão sem habilidade:
reaprende a cada linha, cada instante, a recomeçar-se. Piet
Mondrian, também, da mão direita andava desgostado; não por
ser ela sábia: porque, sendo sábia, era fácil. Assim, não a trocou
MALEVICH, Kazimir (1879–1935). de braço: queria-a mais honesta e por isso enxertou outras mais
Pintura suprematista: oito retângulos vermelhos
(1915). Óleo sobre a tela. sábias dentro dela. Fez-se enxertar réguas, esquadros e outros
utensílios para obrigar a mão a abandonar todo improviso.
B)

Domínio Público
Assim foi que ele, à mão direita, impôs tal disciplina: fazer o
que sabia como se o aprendesse ainda.
MELO NETO, J. C. “O sim contra o sim”. In: Serial e antes.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. Adaptado.

Texto II

Reprodução/ENADE2017
COUBERT, Gustave (1819-1877).
O homem desesperado (1843). Óleo sobre a tela.

C)
Museu do Louvre, Paris

MIRÓ, J. L’Or de I’azur, 1967

Texto III

Reprodução/ENADE 2017
VINCI, Leonardo da (1452-1519). Monalisa (1503).
Óleo sobre tela.

D)
Museu do Louvre, Paris

MONDRIAN, P. Composition
No. II, with Red and Blue. 1930.

DAVID, Jacques-Louis (1748-1825). O Juramento dos Horácios (1784). Ao estabelecer relações intersemióticas com os procedimentos
Óleo sobre tela.
composicionais dos pintores Joan Miró e Piet Mondrian, o poeta
E) A) valoriza a imposição de constantes desafios ao ato de
Museu Nacional de Belas Artes
(MNBA, Rio de Janeiro

criação, em gesto de recusa à improvisação artística.


B) defende o predomínio da inspiração sobre a técnica, no
intuito de desvincular a criação artística do controle racional.
C) nega o papel da disciplina no ato da composição artística, com
o propósito de resgatar a origem libertária da obra de arte.
D) enaltece a importância da sabedoria e da humildade no
trabalho artístico, em um elogio à resignação diante da
insatisfação.
E) relaciona a inabilidade artística ao desenvolvimento de
ALMEIDA, Belmiro (1858–1935). Arrufos (1887). um técnica pictórica singular, em vista de contrapor a
Óleo sobre tela. originalidade à imitação.

Anual – Volume 3 195


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
07. (Enem/2016) Quadro II

Reprodução/Enem 2016

Reprodução/UFMS 2011
TOZZI, C. Colcha de retalhos. Mosaico figurativo.
Beatriz Milhazes. As meninas de Lázaro, 1960.
Estação de Metrô Sé.
Técnica mista.
Disponível em: <www.arteforadomuseu.com.br>.
Acesso em: 8 mar. 2013.
A complexidade formal compreende um aspecto visual
Colcha de retalhos representa a essência do mural e convida o constituído por muitos elementos, resultando em uma leitura
público a difícil e lenta.
A) apreciar a estética do cotidiano. Quadro III
B) interagir com os elementos da composição.

Reprodução/UFMS 2011
C) refletir sobre elementos do inconsciente do artista.
D) reconhecer a estética clássica das formas.
E) contemplar a obra por meio da movimentação física.

08. (FAP/2010) A Bauhaus foi criada em 1919, na cidade alemã de


Weimar, com o propósito de aproximar os modos de produção
industrial e de criação artística e, entre os objetivos da escola,
destacavam-se:
A) reunir cursos profissionalizantes e artísticos para aumentar
a produtividade industrial e oferecer objetos para concorrer
com o mercado de arte. Kasimir Malevich. Quadrado preto e quadrado
B) reunir propostas inovadoras e preparar mão de obra vermelho, 1915. Óleo sobre tela.
especializada para a crescente indústria alemã, incentivando A simplicidade formal na linguagem visual envolve o
o uso de processos tecnológicos. imediatismo e facilidade na leitura e, geralmente, envolve a
C) oferecer objetos de uso cotidiano que somente adotassem simplificação da forma.
energia limpa em seus processos de produção, incentivando A obra e a sua correspondente definição está(ão) correta(s):
o consumo consciente.
A) Apenas no quadro I.
D) oferecer alimentos produzidos sem agrotóxicos, incentivando
B) Apenas no quadro II.
o consumo consciente e a reciclagem de material.
C) Apenas no quadro III.
E) reunir pintura, escultura, arquitetura, desenho industrial
D) Apenas nos quadros I e II.
em uma mesma ação, reconciliando artes e ofícios, artes e
E) Nos quadros I, II e III.
técnicas.

09. (UFMS/2011) Observe atentamente as três figuras abaixo e as 10. (UFMS/2010)


respectivas definições.
Quadro I Imagem 1 Imagem 2
Reprodução/UFMS 2010
Reprodução/UFMS 2010
Reprodução/UFMS 2011

Spencer Tunick. Dublin Installation,


2008. Instalação.

A sequencialidade da forma corresponde a uma ordenação


espacial seguindo certa lógica.

196 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Imagem 3 olhar para a capa de um romance. Organizado cronologicamente
e repleto de ícones que encantaram o mundo, este livro traça um

Reprodução/UFMS 2010
panorama da evolução artística em seus mais importantes estilos e
movimentos, apresentando as obras emblemáticas da pintura, da
escultura, da arte conceitual e da performática, além de análises
detalhadas que facilitam sua compreensão.
• Contém mais de 1.100 ilustrações coloridas de obras-primas.
• Abrange todos os gêneros artísticos, da pintura e escultura
tradicionais à arte contemporânea.
• Traz a cronologia dos principais acontecimentos, o que ajuda o
leitor a compreender o contexto sociocultural da época em que
as obras foram criadas.
• Apresenta a história da arte de maneira acessível, numa
diagramação que facilita a leitura.
Disponível em: <https://www.amazon.com.br/
A partir das imagens 1, 2 e 3, assinale a alternativa correta. Tudo-sobre-arte-Stephen-Farthing>.
A) A simplicidade da linguagem, obtida pelos contrastes tonais
e a linha, aponta para o movimento Cubista Sintético.
B) As imagens estão compostas por formas orgânicas Aula 15:

ordenadas de forma linear. C-04 H-12, 13

C) As imagens foram inspiradas no movimento Conceitual, Aula H-14


A Pintura Modernista Brasileira
em que a principal característica é a tridimensionalidade e 15
o figurativo.
D) As linhas, aplicadas na veste, no vaso e na fachada
da edificação, têm uma função específica de suporte,
pois valorizam as tonalidades assim como equilibram a
Introdução
composição criando novas formas a partir do vazio.

Acervo de Tarsila do Amaral


E) As composições apresentadas são inspirações das obras do
artista cubista Alfredo Volpi.

Fique de Olho

TUDO SOBRE ARTE


Divulgação

AMARAL, Tarsila do. Abaporu, (1928). Óleo


sobre tela, 85 × 72 cm. MALBA, Buenos Aires,
Argentina.

A pintura brasileira passou por grandes transformações no


início do século XX. Fortemente influenciados pelas vanguardas
europeias, os artistas dessa época criaram conceitos próprios e
inovadores, o que levou a vertente pictórica nacional à condição de
moderna, à frente de seu tempo. No entanto, esse reconhecimento
não se deu durante as primeiras décadas deste período, visto
que parte expressiva da sociedade, naquele tempo, entendia que
fazer arte derivava de uma condição acadêmica, mostrando-se
conservadora. Embora fossem desprezados e não compreendidos,
Abrangente e informativo, Tudo sobre arte será seu guia nomes relevantes, como Trasila do Amaral, Anita Malfatti,
pelas imagens mais importantes de todos os tempos - aquelas Di Cavalcante, Cândido Portinari e muitos outros, não se intimidaram
que encontramos ao visitar museus, folhear jornais e revistas ou e elevaram a arte nacional à posição de destaque mundial.

Anual – Volume 3 197


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Representantes da Moderna Pintura

Instituto Anita Malfatti


Brasileira
Anita Malfatti

Instituto Anita Malfatti


MALFATTI, Anita (1889-1964). Soltando Balão (1915).
Nascida em São Paulo, Anita Malfatti(1889-1964) teve Óleo sobre tela.
contato com a arte ainda na juventude. Ela aprendeu os primeiros

Instituto Anita Malfatti


rudimentos de artes plásticas com a própria mãe, que dava aulas
particulares em casa. Consegue financiamento com seu padrinho
para ir estudar na Europa em 1910, ano de forte efervescência
artística. Na Alemanha, especificamente, recebeu a sugestão para
estudar no ateliê do artista pintor Fritz Burger. Fritz Burger era
um retratista que dominava a técnica pontilhista ou divisionista.
Foi o primeiro mestre alemão de Anita. Nessa época ela ingressou
na Academia de Belas Artes de Berlim. Teve aulas também com
Lovis Corinth, nome mais conhecido do que seu primeiro mestre.
Alguns anos antes, Corinth sofrera um acidente vascular cerebral
(AVC) que, como sequela, tal como a aluna, lhe deixara alguma
MALFATTI, Anita (1889-1964). O Farol (1915).
dificuldade motora na mão direita. Anita estava cada vez mais Óleo sobre tela.
interessada pela pintura expressionista. Desejava aprender seu
conceito e sua técnica. Em 1913, inicia aulas com o professor Ernst
Bischoff-Culm da mesma escola de Corinth. Com a instabilidade
Tarsila do Amaral
política e social causada por uma guerra que se mostrava iminente, Tarsila participou ativamente da

Acervo de Tarsila do Amaral.


Anita Malfatti resolve deixar Berlim e, passando rapidamente por renovação da arte brasileira do século XX.
Paris, retorna ao Brasil. Nesse ínterim, voltou ao Brasil, onde realizou
Com sua produção artística, a pintura
sua primeira exposição e logo depois passou uma temporada
brasileira começa a procurar uma expressão
aperfeiçoando a técnica expressionista nos Estados Unidos.
Manteve com a tendência expressionista forte ligação, mas nunca se moderna, no entanto, identificada com
prendeu definitivamente às correntes estéticas que a influenciaram. as nossas raízes culturais. A autora
Sua obra apresenta como principais características a produção integrou-se ao movimento modernista,
livre, voltada para arte modernista, usando as cores de maneira muito embora não tenha exposto na
diferente, expressando um novo dinamismo e movimento. Durante Semana de Arte Moderna e tenha
sua exposição em 1917, foi alvo de duras críticas de Monteiro colaborado decisivamente para o
Lobato, com o qual mais tarde se juntaria para desenvolver um desenvolvimento da arte moderna
programa de arte no rádio. Torna-se uma figura icônica da Semana brasileira, e ligou-se, com especial interesse, à questão da
de Arte Moderna de 1922, sendo uma relevante artista plástica da brasilidade. Formou, com Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário
1ª Geração do Modernismo brasileiro.
de Andrade e Oswald de Andrade, com quem se casou no ano de
1924, o grupo dos cinco.
Eis algumas de suas obras:
Foi detentora de uma formação acadêmica muito sólida, em
Instituto Anita Malfatti

São Paulo e em Paris, o que gerou uma artista sem amarras estéticas
ou imposições formais. Muito pelo contrário, a formação acadêmica
só reforçou a singularidade da cultura popular brasileira para
Tarsila. Podemos dizer que Tarsila do Amaral encontrou soluções
extremamente pertinentes para o que talvez seja o maior dilema da
arte brasileira contemporânea: a difícil combinação entre as novas
informações e a tradição advindas da arte europeia e o caldo cultural
brasileiro, principalmente no que se refere à expressão popular.
Tarsila do Amaral foi uma artista muito consciente da sua
importância no movimento modernista e da inserção da sua obra no
panorama brasileiro das artes plásticas. Tarsila integrava a vanguarda
MALFATTI, Anita (1889-1964).
intelectual e artística da época, cultivando uma forte amizade com
A Estudante (1915). o intelectual franco-suíço Blaise Cendrars.
Óleo sobre tela.

198 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Em 1928, pintou o Abaporu, tela batizada por Oswald e Em 1926, Tarsila expôs na galeria Percier, em Paris. A fase
pelo poeta Raul Bopp, e que inspiraria o movimento antropofágico, antropofágica, de retorno ao primitivo, da qual o exemplo mais
importante movimento cultural da década de 1920, vinculado notável é o quadro Abaporu, inicia-se em 1928.
ao Modernismo e encabeçado por Oswald de Andrade. A teoria Na Bienal de São Paulo de 1963, sala especial foi dedicada à
antropofágica propunha que os artistas brasileiros conhecessem os retrospectiva de sua obra. Foram apresentadas suas diversas fases e
movimentos estéticos modernos europeus, mas criassem uma arte deu-se destaque ao quadro Operários (1933), da fase social – essa
com feição brasileira. De acordo com esse manifesto, para ser artista fase foi iniciada depois de uma viagem que Tarsila fez aos países
moderno no Brasil não bastava seguir as tendências europeias, era socialistas no início dos anos de 1930 – em que as cores são mais
preciso criar algo enraizado na cultura do País. Em 1950, Sergio Milliet sombrias, mas a nitidez anterior é conservada. Outra obra do mesmo
organizou uma retrospectiva da artista no Museu de Arte Moderna período é Segunda classe.
de São Paulo. Tarsila participou também da I Bienal, em 1951.

Gentilmente cedido pela


família de Tarsila do Amaral.
Em 1964, participou da Bienal de Veneza, e em 1969 o Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugurou uma grande exposição
de sua obra: 50 Anos de Pintura. A tela Abaporu de Tarsila bateu
o recorde de preço de uma obra brasileira, comprada por um
colecionador da Argentina.

Gentilmente cedido pela família de Tarsila do Amaral.

AMARAL, Tarsila do. (1886-1973) Operários (1933).


Óleo sobre tela, 150 × 205 cm. São Paulo.

Tarsila esteve ainda representada na mostra Arte Moderna no


Brasil (1957), na XXXII Bienal de Veneza (1964) e na mostra Arte da
América Latina desde a Independência (1966). Em 1960, o Museu
de Arte Moderna de São Paulo organizou a retrospectiva de sua
obra. Entre suas demais telas destacam-se A negra, no Museu de
Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, e São Paulo,
AMARAL, Tarsila do (1886-1973). na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Tarsila morreu em São Paulo-SP,
Abaporu, (1928). Óleo sobre tela, 85 × 72
cm. MALBA, Buenos Aires, Argentina.
em 17 de janeiro de 1973.

As fases da pintura de Tarsila do Amaral


Características de suas obras:
• Uso de cores vivas; Tarsila do Amaral é uma das mais importantes figuras
• Influência do Cubismo (uso de formas geométricas); da arte moderna brasileira. Sua produção artística é rica no que
• Abordagem de temas sociais, cotidianos e paisagens do Brasil; concerne às grandes referências aos aspectos culturais e sociais
• Estética fora do padrão (influência do Surrealismo na fase do Brasil.
antropofágica). Influenciada, inicialmente, pela tradição conservadora, a
pintora, que integrará o Modernismo, mais tarde irá romper com
Tarsila do Amaral nasceu em Capivari, SP em 1886. Estudou
esse conservadorismo. A própria artista comentou em entrevistas
com Pedro Alexandrino, a partir de 1917, e depois com George Fischer
que os seus primeiros professores a ensinaram que não deveria
Elphons, em São Paulo. Em Paris, frequentou a Académie Julien, sob
a orientação de Émile Renard. Entrou em contato com Fernand Léger, usar demasiado as cores, nem fazer representações de qualquer
cujo estilo a marcou sobremodo, André Lhote e Albert Gleisse, e coisa que fosse caipira como os temas populares, para que sua
estruturou sua personalidade artística a partir das influências cubistas. pintura mantivesse essa tradição artística, mas os estudos na
Em 1922, participou em Paris do Salão dos Artistas Franceses. Europa e o contato com as Vanguardas Europeias transformaram
Retornando ao Brasil em 1924, percorreu as cidades a formação estética de Tarsila, o que promovera uma mudança
históricas mineiras em companhia do escritor francês Blaise Cendrars. na sua percepção artística. Some-se a isso a sua adesão ao
Deslumbrada com a decoração popular das casas dessas cidades, Modernismo subversivo que surgia no Brasil no ano de 1923.
assimilou a tradição barroca brasileira às recém-adquiridas teorias e
práticas cubistas e criou uma pintura que foi denominada Pau-Brasil. A primeira fase – 1924 a 1928
Essa pintura inspirou um movimento, variante brasileira do Cubismo,
e influenciou Portinari. Chamada de Pau-Brasil, esse momento da pintura
de Tarsila promove uma ruptura com qualquer tipo de
conservadorismo, apresentando um pluralismo de cores e formas,
Gentilmente cedido pela família de Tarsila do Amaral.

alimentando-se da viagem que a artista havia realizado pelo Brasil


na companhia dos seus amigos modernistas. Essa viagem de
“redescoberta do Brasil” vai nortear os caminhos da sua pintura.
Nessa fase, merecem destaque as influências do Cubismo e do
Futurismo. Suas telas, nesta fase que se inicia em 1924, refletem
principalmente temas tropicais brasileiros, a exaltação da fauna,
da flora, das máquinas, os trilhos símbolos da modernidade
urbana que contrastavam com a riqueza e diversidade de todo
o país. Destaque também para o emprego demasiado das cores
AMARAL, Tarsila do. (1886-1973) Morro da favela brasileiras, acentuando o tom de nacionalismo e identidade
(1924). Óleo sobre tela, 64 × 76 cm. São Paulo.
nacional.

Anual – Volume 3 199


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
A segunda fase – 1928 a 1933 país. Seus quadros, gravuras, murais revelam a alma brasileira
(a cultura, os fatos históricos). Preocupado, também, com aqueles
A segunda fase, denominada Antropofágica, foi idealizada que sofrem, Portinari mostra em cores fortes a pobreza, as
pelo seu marido na época, Oswald de Andrade, após a pintora dificuldades, a dor. O tema essencial da obra de Cândido Portinari
presenteá-lo com a famosa tela Abaporu, palavra indígena que é o Homem. Seu aspecto mais conhecido do grande público é a
significa “homem que come carne humana”, no sentido de que eles força de sua temática social, fio condutor presente em quase toda a
iriam “comer” as técnicas estrangeiras para digeri-las em obras que sua obra. Pela importância de sua produção estética e pela atuação
fossem precipuamente brasileiras. A obra Antropofagia, de 1929, consciente na vida cultural e política brasileira, Cândido Portinari
alcança reconhecimento dentro e fora do país. Essa dimensão social,
inaugura o movimento antropofágico dentro do modernismo.
associada ao trágico, pode ser observada na série de pinturas que
Nesta fase, a artista ainda fazia emprego de cores fortes,
retrata a vida dos retirantes.
entretanto os temas eram provenientes do seu imaginário, do
Disponível em: <http://www.portinari.org.br/#/pagina/candido-portinari/apresentacao>
mundo dos seus sonhos, as lembranças da infância, as visões de
objetos reais transformados em bichos. Observe a obra a seguir:

Acervo Projeto Portinari


A terceira fase – 1933
A fase social é a última grande fase da pintura de
Tarsila, que tem seu ponto alto quando a artista vai a Paris,
onde trabalha como operária em uma construção, após passar
pela União Soviética. Em 1933, com o quadro Segunda classe,
a artista inaugura uma fase de temas voltados para o universo
social da época, a situação dos trabalhadores etc. Após o
esgotamento do tema social, a pintora retoma temas das fases
anteriores, além de inserir novos elementos e temas, como o
religioso.
PORTINARI, Cândido (1903-1962). Retirantes,1944.
Óleo sobre tela. 190×180 cm.
Cândido Portinari
O desenvolvimento da pintura de Portinari
“Quanta coisa eu contaria se pudesse
E soubesse ao menos a língua como a cor...” Após seu retorno da Europa, Portinari descobre efetivamente
o Modernismo e torna-se um artista com traços independentes,
Cândido Portinari buscando em suas telas redescobrir o Brasil em suas cores e formas,
dramas e alegrias, repensando a arte em sua expressão, e partir
Acervo Projeto Portinari

em busca de suas raízes. É preciso destacar que a ruptura com o


academicismo foi gradual. Notadamente na década de 1930, Portinari
começa a produção de uma pintura mais moderna, mais madura.
Por volta de 1933-1934, o pintor produziu uma série de
telas que o crítico Mário Pedrosa definiu como pertencentes à fase
marrom ou brodowskiana de sua produção artística. Nesta fase,
Portinari recordou os tempos que viveu em Brodowski, por isso, os
quadros têm um forte apelo sentimental. As telas desse período se
caracterizam por uma superfície marrom dominante, que simboliza
a terra roxa da cidadezinha paulista.
Os céus das paisagens são turvos e o artista abusa dos
Cândido Portinari nasce no dia 30 de dezembro de 1903, contrastes de claro-escuro e dos efeitos de luz. A pastosidade das
numa fazenda de café, em Brodósqui, no interior do Estado de tintas também é um componente marcante. Os exemplares mais
São Paulo. Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, representativos desta fase são o Circo, o Futebol (primeira versão)
recebe apenas a instrução primária e, desde criança, manifesta Casamento em Brodowski e o Morro – hoje no Museu de Arte
sua vocação artística. Aos quinze anos de idade vai para o Rio de Moderna de Nova Iorque (PEDROSA, 1981).
Janeiro, em busca de um aprendizado mais sistemático em pintura,
matriculando-se na Escola Nacional de Belas-Artes. Observe a obra a seguir:
Em 1928, conquista o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da
Acervo Projeto Portinari

Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Parte em


1929 para Paris, onde permanece até 1930. Longe de sua pátria,
saudoso de sua gente, decide voltar ao Brasil, no início de 1931,
retratar em suas telas o povo brasileiro, superando aos poucos sua
formação acadêmica e fundindo à ciência antiga da pintura, uma
personalidade moderna e experimentalista.
Essa formação fora do Brasil foi muito importante para a
composição de seus fundamentos estéticos. Sua produção artística
guarda traços do Expressionismo, Cubismo e até de Abstracionismo
Geométrico. Na sua trajetória artística, Portinari põe em relevo um
panorama do Brasil, retratando as grandezas e misérias desse imenso PORTINARI, Cândido (1903-1962). Jogo de Futebol
em Brodowski,1933. Óleo sobre tela. 95×124 cm.

200 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Passada a fase marrom, Portinari se entrega a uma exaustiva terminou dois grandes painéis murais realizados no prédio da
pesquisa das técnicas e materiais utilizados na pintura. Os problemas Organização das Nações Unidas (ONU), situado na cidade de Nova
do espaço e da perspectiva o atormentam neste momento. Iorque: Guerra e Paz. Nessas obras ele usou poucas cores, linhas
Abandona então a pastosidade satisfeita das tintas da fase anterior retas e formas geométricas, com figuras sobrepostas, sem se
para entregar-se a uma enorme tensão analítica, procurando traduzir preocupar com perspectiva e profundidade, apresentando, assim,
a realidade plástica por uma abstração geométrica de planos e características cubistas.
dimensões. Esta fase data de 1934 e 1935. As principais obras são Observe a obra:
o Estivador e o Sorveteiro. (PEDROSA, 1981).

Acervo Projeto Portinari


PORTINARI, Cândido (1903-1962). Sorveteiro, 1934. Acervo Projeto Portinari
Óleo sobre tela. 44×59 cm.

Estas telas já demonstram um traço marcante da


produção pictórica portinariana: a deformação dos personagens, PORTINARI, Cândido (1903-1962). Guerra e Paz, 1952 – 1956
especialmente o exagero dos pés e das mãos. Esta característica
confere uma pincelada expressionista aos trabalhos do pintor, Além de possuir um forte simbolismo contra qualquer tipo
uma vez que visa chamar a atenção de seus observadores para de violência (foi feito pouco depois do término da Segunda Guerra
as inquietações das fi guras representadas, especialmente o Mundial e no início da Guerra Fria, período de polarização de forças
trabalhador. (PROENÇA, 2005). políticas e bélicas), o quadro traz referências à infância do pintor e
Observe a obra a seguir: a regiões do Nordeste brasileiro.
Acervo Projeto Portinari

Principais características da pintura de


Cândido Portinari
• Denúncia das questões sociais do Brasil, especialmente os temas
do retirantes e dos lavradores de café.
• Emprego de vários elementos artísticos da arte moderna
europeia.
• Suas pinturas revelam traços do Expressionismo, do Cubismo,
do Surrealismo e da arte dos muralistas mexicanos.
• Produz arte figurativa, embora faça uso das conquistas da arte
moderna.

PORTINARI, Cândido (1903-1962). Café, 1935.


Óleo sobre tela. 130×195 cm.
A temática – O pluralismo temático da pintura
O que passou a interessar Portinari foi o homem e o
de Portinari
trabalho. Através das obras dessa época podemos ver a evolução • O meio ambiente
do ambiente social do homem: a terra era primitiva, mergulhada em • O ciclo de Dom Quixote
sombras e passou a ser uma terra cultivada, bem delimitada pelas
• A figura do mestiço
linhas e perspectivas, repartidas geometricamente pelas carreiras
• As favelas
dos cafezais numa gradação progressiva de planos e de cores na
• O lavrador de Café
profundeza dos horizontes claros e iluminados. (PEDROSA, 1981).
Portinari produziu também muitos painéis e pinturas murais. • O sapateiro de Brodósqui
Parte de sua obra sofreu influência do Cubismo e de Pablo Picasso. • Os meninos e piões
Essas influências marcantes do Cubismo em seus trabalhos em • As lavadeiras
murais, que também definiram esteticamente inúmeras telas do • Os grupos de meninas brincando
pintor, surgiram após Portinari conhecer o quadro cubista Guernica, • O menino com carneiro
pintado pelo artista espanhol em 1937. Desde 1936 Portinari • As cenas rurais
desenvolveu pinturas murais. Naquela época, o governo brasileiro • A primeira missa no Brasil
costumava encomendar este tipo de pintura para colocar em • São Francisco de Assis
prédios públicos. Os temas sociais estavam presentes nos trabalhos • Os Retirantes
muralistas do artista. Portinari afirmava que “a pintura mural é • Os espantalhos
a mais adequada para a arte social, porque o muro geralmente • As crianças em atividades lúdicas
pertence à coletividade e ao mesmo tempo conta uma história • A cultura brasileira (a música, o folclore)
interessando a um maior número de pessoas”. Em 1956, o artista • As cenas da História do Brasil

Anual – Volume 3 201


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
Questões comentadas Mundo”, revelando o olhar do colonizador sobre a gente
da terra. Nesse sentido, é coerente afirmar que tal carta se
• (Enem/2013) revela como um documento histórico-político, veiculando
Texto I impressões sobre essa terra descoberta, mais tarde chamada
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; de Brasil.
e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, Na pintura de Portinari, um dos grandes expoentes do
este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Modernismo, observa-se a interpretação do descobrimento
Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por do Brasil através da técnica do “deformismo-expressismo”,
carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. [...] Andavam muito peculiar à sua pintura. As figuras, no primeiro plano (os
todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas índios) da tela, manifestam movimentos que sinalizam para
tinturas que muito agradavam ideia de inquietação diante da frota de Pedro Alvares Cabral,
CASTRO. S. A carta de Pero Vaz de Caminha. visto que os nativos ficaram assustados com a chegada dos
Porto Alegre: L&PM, 1996 (Fragmento)
portugueses.

Texto II
Considerando as informações, o comentário que apresenta
coerência em relação aos textos propostos para análise é o
Reprodução/Enem 2013 indicado na alternativa C.

Resposta: C

• (Enem/2010)

Reprodução/Enem 2010
PORTINARI, C. O desenvolvimento do Brasil. 1956.
Óleo sobre tela, 199 × 169 cm
Disponível em: <www.portinari.org.br>.
Acesso em: 12 jun. 2013.

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro, 1925.
Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos Óleo sobre tela, 65x70, IEB/USP.
portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que
A) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das O Modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas
primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras
europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos
brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.
passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente.
B) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados,
cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se
brasileira e a contestação de uma linguagem moderna. que, nas artes plásticas, a
C) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar A) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas.
do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, B) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano.
em primeiro plano, a inquietação dos nativos. C) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico.
D) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – D) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada.
verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e E) forma apresenta contornos e detalhes humanos.
artística.
Comentário:
Comentário:
A tela de Tarsila proposta para análise integra a fase Pau-
A carta conhecida como “Carta de Pero Vaz de Caminha” Brasil, momento da pintura da artista bastante influenciada
é um documento no qual o escrivão (Pero Vaz de Caminha) pelo Cubismo, o que na obra se caracteriza pela valorização
de Pedro Álvares Cabral registrou suas primeiras impressões
das linhas retas. Some-se a isso a temática do cotidiano tão
sobre a terra descoberta. É considerado o primeiro
explorada pela autora.
documento escrito da História do Brasil. A carta exemplifica
o deslumbramento típico dos europeus em relação ao “Novo Resposta: B

202 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
C) pela rejeição ao romantismo, à pintura de cavalete e ao
espírito da Belle Époque, diante do evidente crescimento
Exercícios de Fixação dos movimentos operários e da disseminação das ideias
socialistas e revolucionárias, que conduziam os artistas à
militância política de esquerda.
D) pela herança do fascismo, que se amparara em discursos
01. (ESPM) Observe a imagem e o texto. inflamados que saudavam a perspectiva de construção
de sociedades tecnológicas, ordenadas, vanguardistas,

Reprodução/ESPM
semelhantes à norte-americana e opostas à velha Europa.
E) pela recusa crescente à arte academicista e à busca de
propostas formais que traduzissem a realidade vertiginosa
da modernidade, explorando a beleza encontrada nas
máquinas, nas geometrias, no uso da eletricidade e na
comunicação de massa.

03. (G1-IFSC) Dentre as várias iniciativas e resultados da famosa


Semana da Arte Moderna ocorrida no Brasil em 1922, podemos
destacar as tentativas de renovar, transformar o contexto
artístico e cultural urbano, tanto na literatura quanto nas artes
A Cuca (1924).
plásticas, na arquitetura e na música. Sobre esse movimento e
suas contribuições é correto destacar que:
A) Em plena vigência da República Velha, muitos dos artistas
Figura canônica da arte moderna brasileira, do início do foram retirados de suas apresentações sumariamente e
século XX, a pintora paulista ganha a primeira mostra nos Estados presos, pois não estavam dentro dos padrões da moral e
Unidos exclusivamente devotada à sua obra no Museum of Modern do bom gosto estipulados pelo Departamento de Imprensa
Art (MoMA-NY). A exposição é portentosa, com 120 trabalhos e Propaganda – DIP.
(incluindo telas, desenhos, livros de esquetes, fotografias e B) Um dos principais escritores deste movimento foi Monteiro
outros documentos históricos). Paulista de Capivari, a artista Lobato. Lobato organizou para a Semana da Arte Moderna
estudou desenho, piano, escultura e se mudou para Paris nos uma série de contos infantis, pois acreditava que a moderna
anos 1920, para estudar na Académie Julian. Ali, foi aluna de cultura brasileira deveria começar já na infância.
mestres como Fernand Léger, ingressou naquilo que chamou
de seu ‘serviço militar’ no Cubismo. C) Apesar do cunho cultural, a Semana da Arte Moderna foi
Revista Carta Capital, 14 fev. 2018. muito mais política que cultural. Mário de Andrade e Anita
O quadro em questão e o texto devem ser relacionados com: Malfatti usaram o poema e a pintura apenas para criticarem
A) Zina Aita. as políticas governamentais da República Velha.
B) Lygia Clark. D) Mesmo sendo lembrado como um movimento revolucionário,
C) Anita Malfatti. seus idealizadores tinham como prioridade a exaltação
D) Tarsila do Amaral. da nação brasileira, comemorando os 100 anos de
E) Maria Pardos. independência. Exemplo disso foi “O Guarani” de Carlos
Gomes.
• Texto para a questão 02. E) Oswald de Andrade lançou o Manifesto Antropofágico. Sua
principal reivindicação era que o artista deveria “deglutir” o
Os modernistas de São Paulo, em especial Menotti del Picchia legado cultural europeu e “digeri-lo” sob a forma de uma
e Oswald de Andrade, usavam habitualmente o termo “futurismo”, arte tipicamente brasileira.
mas o faziam em sentido elástico, para designar as propostas mais
ou menos renovadoras que se opunham às receitas “passadistas” e
“acadêmicas”. A polarização futurismo × passadismo servia como 04. (FGV) Leia o texto.
tática retórica eficaz – mas também simplificadora. Esse aspecto
do discurso modernista, que se apresentava como ruptura com A Semana de 22 não foi um fato isolado e sem origens.
o “velho”, acabava por atirar na lata do lixo do “passadismo” As discussões em torno da necessidade de renovação das
manifestações variadas, às quais, diga-se, não raro os próprios artes surgem em meados da década de 1910 em textos de
“novos” estavam atados. revistas e em exposições, como a de Anita Malfatti em 1917.
Em 1921 já existe, por parte de intelectuais como Oswald de
GONÇALVES, Marcos. Augusto. 1922. A semana que não terminou.
Andrade e Menotti Del Picchia, a intenção de transformar as
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 20. comemorações do centenário em momento de emancipação
artística. (...)
02. (PUCCamp) O afã de rompimento com o passado e o Disponível em: <www.itaucultural.org.br>.
entusiasmo presente em movimentos artísticos contemporâneos
ao futurismo, na Europa, ecoavam um contexto marcado Em geral, os artistas participantes da Semana de Arte Moderna
A) pelos efeitos da industrialização nas grandes capitais propunham
europeias, responsável pela glamorização de cidades como A) que a arte, especialmente a literatura, abandonasse as
Londres, e o desenvolvimento de uma contracultura que preocupações com os destinos brasileiros e se voltasse para
questionava os hábitos burgueses e preconizavam um o princípio da arte pela arte.
“homem novo”, mais próximo da natureza e do hedonismo. B) a rejeição ao conservadorismo presente na produção artística
B) pelo trauma das duas grandes guerras, que arrasaram brasileira, defendendo novas estéticas e temáticas, como a
as principais cidades e despertaram um forte desejo de discussão sobre as questões brasileiras.
renovação e a busca de novos paradigmas estéticos e C) que os artistas estabelecessem vínculos com correntes
projetos utópicos de sociedade que pudessem se contrapor filosóficas, mas não com projetos políticos e ideológicos,
ao niilismo vigente. fossem estes progressistas ou conservadores.

Anual – Volume 3 203


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
D) o reconhecimento da superioridade da arte europeia 02. (Mackenzie) A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um
e da importância da civilização portuguesa no notável marco cultural e a expressão da busca de um novo Brasil que
desenvolvimento cultural brasileiro. conseguisse superar suas características arcaicas, refletindo
E) que apenas as artes plásticas, com destaque para a pintura, mudanças em todas as áreas de nosso país. Em 1928, Oswald
poderiam representar avanços revolucionários em direção a de Andrade publicou o Manifesto Antropofágico, que procurou
uma arte de fato inovadora. “traduzir” o espírito da cultura nacional. A respeito do contexto
histórico e cultural da época, é correto afirmar que
05. (Fuvest) No “Manifesto Antropófago”, lançado em São A) Como proposta de mudança para a Arte do século XX, ao
Paulo, em 1928, lê-se: “Queremos a Revolução Caraíba (...). se aceitarem as influências estrangeiras, sem se menosprezar
A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem a identidade nacional, e sim reforçando-a, retoma-se a
(...). Sem nós, a Europa não teria sequer a sua pobre declaração proposta da antropofagia como “ferramenta” na elaboração
dos direitos do homem.” da verdadeira cultura nacional.
B) Todas as novas correntes artísticas advindas da Europa, no
Essas passagens expressam a início do século XX, são fundamentais para a elaboração
A) defesa de concepções artísticas do impressionismo.
de uma cultura verdadeiramente nacional, pois estavam
B) crítica aos princípios da Revolução Francesa.
C) valorização da cultura nacional. engajadas na preocupação de favorecer as classes
D) adesão à ideologia socialista. trabalhadoras dentro da nova sociedade moderna mundial.
E) afinidade com a cultura norte-americana. C) O Modernismo brasileiro surgiu com a intenção de promover
uma atualização da arte brasileira, capaz de ajudar na
consolidação da identidade nacional de tal forma que
tiveram de se desligar da influência cultural externa para a
Exercícios Propostos dedicação única da arte, considerada nacional e genuína.
D) Reflete um novo posicionamento em relação à Arte no
Brasil, reproduzindo as ideias que, no plano político, eram
01. (Uerj – Simulado) defendidas pelo movimento Verde-Amarelismo de Plínio
Salgado que defendia a presença de estrangeirismos em
Reprodução/Uerj

nossa cultura.
E) Mostra o rompimento de vários artistas nacionais, como
Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, com as influências
externas, principalmente com o movimento futurista italiano,
profundamente aliado aos ideais fascistas e autoritários.

03. (UFRGS) Observe a figura a seguir:

Reprodução/UFRGS
Samba, de Di Cavalcanti.
Óleo sobre tela, 1927.
Disponível em: <plastico.blogfolha.uol.com.br>.
Reprodução/Uerj

A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo em 1922,


representou um marco na cultura brasileira. Tarsila do Amaral
trouxe a público, em 1928, a obra o Abaporu, que passou a
Aboporu, de Tarsila do Amaral. ser representativa do Manifesto Antropofágico.
Óleo sobre tela, 1928.
Disponível em: <pt.wikipedia.org>. Esse manifesto
As telas retratadas anteriormente foram reunidas pela primeira A) defendia a migração de europeus para diminuir a importância
vez no país em 2016 para a exposição “A Cor do Brasil”, dos brasileiros.
realizada no Museu de Arte do Rio (MAR). Ambas fazem B) propunha a “deglutição” da cultura europeia remodelada
parte de um inovador movimento cultural que, dentre outros
e devidamente enraizada à terra brasileira, sintetizada na
aspectos, rediscutiu a identidade nacional.
conhecida frase “Tupi or nor tupi, that’s the question”.
A partir da análise das telas, uma proposta desse movimento C) exaltava a cultura europeia e o transplante cultural e artístico
foi: do Velho para o Novo Mundo.
A) glorificar a pobreza D) valorizava a presença da cultura estrangeira no Brasil e
B) naturalizar o exotismo também a manutenção de padrões arcaicos.
C) exaltar a deformidade E) justificava a mentalidade subserviente e o sentimento de
D) valorizar a miscigenação inferioridade do brasileiro em relação aos europeus.

204 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
04. (Fuvest/2005) A análise dos documentos apresentados demonstra que o
cenário artístico brasileiro no primeiro quartel do século XX
era caracterizado pelo(a)

Reprodução/Fuvest 2005
A) domínio do academicismo, que dificulta a recepção da
vertente realista na obra de Anita Malfatti.
B) dissonância entre as vertentes artísticas, que divergiam sobre
a validade do modelo estético europeu.
C) exaltação da beleza e da rigidez da forma, que justificavam
a adaptação da estética europeia à realidade brasileira.
D) impacto de novas linguagens estéticas, que alteravam o
conceito de arte e abasteciam a busca por uma produção
artística nacional.
E) influência dos movimentos artísticos europeus de vanguarda,
que levava os modernistas a copiarem suas técnicas e
Sobre este quadro, “A Negra”, pintado por Tarsila do Amaral temáticas.
em 1923, é possível afirmar que
A) se constituiu numa manifestação isolada, não podendo ser • Texto para a questão 06.
associada a outras mudanças da cultura brasileira do período.
B) representou a subordinação, sem criatividade, dos A mulher era uma pena na cidade grande.
padrões da pintura brasileira às imposições das correntes E a cidade grande se lhe exibia como uma prostituta na
internacionais. vitrine. E se insinuava, sorrateira, entre um e outro setor. Vista
C) estava relacionado a uma visão mais ampla de nacionalização num relance, seu conjunto urbano parecia se erigir em meio
das formas de expressão cultural, inclusive da pintura. aos interstícios de sonhos diacrônicos, que, unidos, formavam
D) foi vaiado, na sua primeira exposição, porque a artista pintou um mosaico por meio de cujo vislumbre o presente e o passado
uma mulher negra nua, em desacordo com os padrões conviviam na forma arquitetônica de seus prédios. Era antiga e
morais da época. nova ao mesmo tempo. Essa cidade grande se chamava Trude
E) demonstrou o isolamento do Brasil em relação à produção e era fruto de um desejo e de uma realidade.
artística da América Latina, que não passara por inovações. [...] Então Heloíse Dena passou a sentir muito medo.
Não da cidade em si, nem dos perigos e dos riscos multiplicados
05. (Enem-PPL) pela configuração da urbe imensa. Seu medo era de algo mais
Texto I profundo, menos aparente. No fundo, receava não conseguir
viver o contexto de uma busca e de um encontro em meio a
Embora eles, artistas modernos, se deem como novos tantos e tão altos prédios. Por essa época, só se sentia realmente
precursores duma arte a ir, nada é mais velho que a arte à vontade dentro de seu carro, quando estava com os vidros
anormal. De há muitos já que a estudam os psiquiatras em seus fechados e as portas trancadas.
tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam
as paredes internas dos manicômios. Essas considerações são FREITAS, Ewerton. As metades invisíveis.
São Paulo: Ixtlan, 2010. p. 130.
provocadas pela exposição da Sra. Malfatti. Sejam sinceros:
futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam

Reprodução/UEG
de outros tantos ramos da arte caricatural.
LOBATO, M. Paranoia ou mistificação: a propósito da exposição de Anita Malfatti.
O Estado de São Paulo, 20 dez. 1917. Adaptado.
Texto II
Anita Malfatti, possuidora de uma afta consciência
do que faz, a vibrante artista não temeu levantar com os
seus cinquenta trabalhos as mais irritadas opiniões e as mais
contrariantes hostilidades. As suas telas chocam o preconceito
fotográfico que geralmente se leva no espírito para as nossas
exposições de pintura. Na arte, a realidade na ilusão é o que
todos procuram. E os naturalistas mais perfeitos são os que
melhor conseguem iludir.
ANDRADE. O. A exposição Anita Malfatti. Jornal do Commercio, AMARAL, Tarsila do. Operários (1933).
11 jan. 1918 Adaptado. Disponível em: <http//novaescola.org/arte/prática-
pedagógica/tem-muitas-histórias-brasil-telas-tarsilia-424884.shtml>.
Texto III Acesso em: 22 ago. 2016.
Reprodução/Enem

06. (UEG) A seguinte relação pode ser estabelecida entre o


fragmento e a pintura:
A) a pintura deixa-se pautar por uma preocupação de ordem
social, ao passo que no excerto nota-se o retrato de um
drama de contornos individuais.
B) a imagem veicula um sentimento de nostalgia, ao passo que
o fragmento se constrói, em termos discursivos, com base
no presente da narrativa.
MALFATTI, A. O homem amarelo, 1915-1916.
C) tanto a pintura quanto o fragmento constituem exemplos
Óleo sobre tela, 61 x 51 cm.
Disponível em: <www.estadão.com.br>.
de obras cuja intencionalidade se volta para a representação
Acesso em: 28 fev. 2013. do sentimento de plenitude humana.

Anual – Volume 3 205


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V
D) tanto a pintura quanto o fragmento constituem exemplos Ao comparar os quadros e levando-se em consideração a
de obras cuja intencionalidade se direciona para o retrato explicação dada, observa-se que
de eventos trágicos vivenciados pelas personagens. A) a influência da religião católica na catequização do povo
E) a imagem deixa-se pautar pelo retrato de uma cena comum nativo é objeto das duas telas.
B) a ausência dos índios na segunda tela significa que Portinari
às cidades de médio porte, ao passo que o fragmento retrata
quis enaltecer o feito dos portugueses.
e descreve uma cidade pequena.
C) ambas, apesar de diferentes, retratam um mesmo momento
e apresentam uma mesma visão do fato histórico.
07. (CFTMG/2014) Analise a reprodução do quadro Café, pintado D) a segunda tela, ao diminuir o destaque da cruz, nega a
por Cândido Portinari, em 1935. importância da religião no processo dos descobrimentos.
E) a tela de Victor Meirelles contribuiu para uma visão

Reprodução/CFT MG 2014
romantizada dos primeiros dias dos portugueses no Brasil.

09. (Fuvest)

Reprodução/Fuvest
Museu Nacional de Belas Artes, RJ.

Nesse quadro, o artista


A) apresenta a força do trabalho coletivo para a produção da
riqueza agrícola.
B) evidencia a necessidade do feitor para a fiscalização dos
trabalhadores.
C) expõe a imagem idílica do campo para a identificação da
mão de obra rural. Olhando para esta tela do pintor brasileiro, Candido Portinari,
D) demonstra a fragilidade humana para a realização de tarefas “Família de Retirantes”, de 1944, pode-se estabelecer relações
na colheita. com a(s)
A) ideias integralistas dos nacionalistas.
08. (Enem – Cancelado/2009) Distantes uma da outra quase B) doutrina social da hierarquia da Igreja católica.
100 anos, as duas telas seguintes, que integram o patrimônio C) propaganda oficial da política de Vargas.
cultural brasileiro, valorizam a cena da primeira missa no Brasil, D) desesperança típica do pós-guerra.
relatada na carta de Pero Vaz de Caminha. Enquanto a primeira E) postura de engajamento e crítica social.
retrata fielmente a carta, a segunda – ao excluir a natureza e os
índios – critica a narrativa do escrivão da frota de Cabral. Além 10. (Vunesp/2017)

Reprodução/Vunesp 2017
disso, na segunda, não se vê a cruz fincada no altar.
Reprodução/Enem

Primeira Missa do Brasil – Victor Meirelles (1861)


Disponível em: <www.contramare.net>.
Disponível em: <http://www.moderna.com.br>. Acesso em: 3 nov. 2008.

O artista Artur Barrio nasceu em Portugal e mudou-se para


Reprodução/Enem

o Brasil em 1955, dedicando-se à pintura a partir de 1965.


Em 1969, começa a criar as Situações: trabalhos de grande
impacto, realizados com materiais orgânicos como lixo, papel
higiênico, detritos humanos e carne putrefata, com os quais
realiza intervenções no espaço urbano. No mesmo ano, escreve
um manifesto no qual contesta as categorias tradicionais da
arte e sua relação com o mercado, e a conjuntura histórica
da América Latina. Em 1970, na mostra coletiva Do corpo à
Primeira Missa do Brasil – Cândido Portinari (1948) terra, espalha as Trouxas ensanguentadas em um rio em Belo
Disponível em: <http://www.casaportinari.com.br>. Horizonte.
Acesso em: 3 nov. 2008. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br>. Adaptado.

206 Anual – Volume 3


Língua Portuguesa V Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias
Relacionando-se a imagem, as informações contidas no texto e _______________. Descobrindo a História da Arte. São Paulo:
o contexto do ano da mostra coletiva Do corpo à terra, é correto Ática, 2005.
interpretar a intervenção Trouxas ensanguentadas como uma _______________. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo:
A) denúncia da situação política e social do Brasil. Contexto, 1997.
B) revelação da pobreza da população brasileira.
_______________. A interação pela linguagem. São Paulo: Contexto,
C) demonstração do caráter perdulário das sociedades de
1997.
consumo. _______________. Ler e compreender: os sentidos do texto. São
D) crítica à falta de planejamento das cidades latino-americanas. Paulo: Contexto, 2006.
E) melhoria, por meio da arte, das áreas degradadas das
cidades. SCHAPIRO, Meyer. A Arte Moderna – Séculos XIX e XX. Tradução de
Luiz Roberto Mendes Gonçalves. São Paulo: Editora da USP, 1996.
SCHWARZ, Roberto. Que horas são? São Paulo: Cia das Letras, 1994.
Bibliografia WOOD, Paul. Arte Conceitual. Tradução Betina Bischof. São Paulo:
Cosac & Naify, 2002. 80 p., il p&b. (Movimento da Arte Moderna)
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Gramática, Texto:
Análise e construção do sentido. São Paulo: Moderna, 2006. GARIFF, David. Os pintores mais infl uentes do mundo ... e os artistas
que eles inspiraram. São Paulo: Ed. Girassol, 2008.
AMARAL, Aracy. (org.). São Paulo: Perspectiva, 1981. Artigo: “Os traços modernistas da pintura de Cândido Portinari”
BULFINCH, Thomas. Mitologia – Histórias de deuses e heróis. – Contemporâneos – Revista de artes e humanidades, n. 3, Nov–
Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. Abr–2009. Autora: Ana Carolina Machado Arêdes
FABRIS, Annateresa. (organização, introdução e notas) Portinari,amico Bacharel e Licenciada em História – Universidade Federal Viçosa
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Anual – Volume 3 207


Linguagens, CÓdigos e suas teCnoLogias Língua Portuguesa V

Anotações

208 Anual – Volume 3


Língua Inglesa
Interpretação de Textos Estilo Enem,
Questões de Outros Vestibulares e Revisão
de Pontos Gramaticais (Verbos Anômalos) Objetivo(s):
• Ler textos aplicando situações do cotidiano com questões que contemplam as habilidades exigidas pelo Enem.
• Trabalhar a interpretação de textos em forma de charges e tirinhas.
• Trabalhar textos e questões de outros vestibulares.
• Estudar os verbos anômalos e seus usos na interpretação de textos.

Conteúdo:
Aula 11: Interpretação de Textos Estilo Enem
Exercícios ...............................................................................................................................................................................................................210
Aula 12: Interpretação de Textos Estilo Enem
Exercícios ...............................................................................................................................................................................................................213
Aula 13: Interpretação de Textos Estilo Enem – Charges e Tirinhas
Exercícios................................................................................................................................................................................................................216
Aula 14: Interpretação de Textos de Outros Vestibulares
Exercícios................................................................................................................................................................................................................220
Aula 15: Verbos Anômalos
Exercícios ...............................................................................................................................................................................................................224
LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
O texto anterior relata o caso de um fazendeiro prestes a se
aposentar e vender sua fazenda. O aspecto cômico desse texto
Aula 11:

C-2 H-5, 6
Aula Interpretação de Textos H-7, 8 provém da
A) constatação pelo fazendeiro da razão de sua aposentadoria.
11 Estilo Enem B) opinião dos vizinhos referente à forma de se livrar dos animais.
C) percepção do fazendeiro quanto à relação de poder entre
o casal.
D) agressividade da esposa relacionada a um questionamento
inocente.
E) indecisão dos cônjuges quanto à melhor escolha a ser feita
Exercícios de Fixação no momento.

03. (Enem/2017 - 1ª Aplicação)


01. (Autoral) LETTERS
THE STAR-SPANGLED BANNER
Children and Guns
Oh, say! can you see by the dawn’s early light Published: May 7, 2013
What so proudly we hailed at the twilight’s last gleaming; To the Editor: Re “Girl’s Death by Gunshot Is Rejected as
Whose broad stripes and bright stars, through the perilous fight, Symbol” (news article, May 6):
O’er the ramparts we watched were so gallantly streaming?
And the rocket’s red glare, the bombs bursting in air, I find it abhorrent that the people of Burkesville, Ky., are not
Gave proof through the night that our flag was still there: willing to learn a lesson from the tragic shooting of a 2-year-old
Oh, say! does that star-spangled banner yet wave girl by her 5-year-old brother. I am not judging their lifestyle
O’er the land of the free and the home of the brave? (…) of introducing guns to children at a young age, but I do feel
that it’s irresponsible not to practice basic safety with anything
Disponível em: <https://www.ingles200h.com>. potentially lethal – guns, knives, fire and so on. How can anyone
Acesso em: 4 jul. 2019. justify leaving guns lying around, unlocked and possibly loaded,
in a home with two young children? I wish the family of the
O trecho acima corresponde à primeira estrofe do hino nacional victim comfort during this difficult time, but to dismiss this as a
dos Estados Unidos, “The Star-Spangled Banner” (A Bandeira simple accident leaves open the potential for many more such
Estrelada). Composto em 1812 e oficializado como hino “accidents” to occur. I hope this doesn’t have to happen several
nacional apenas em 1931, podemos identificar nos versos a more times for legislators to realize that something needs to
adoração à bandeira americana como um símbolo de be changed.
A) autonomia dos 50 estados da federação, representados no Emily Loubaton
pavilhão nacional por cada uma das estrelas presentes no Brooklyn, May 6, 2013
estandarte.
Disponível em: <www.nytimes.com>. Acesso em: 10 maio 2013.
B) firmeza e devoção aos valores tradicionais do país, como a
liberdade, a democracia, a justiça social e a igualdade de
No que diz respeito à tragédia ocorrida em Burkesville, a autora
gêneros.
da carta enviada ao The New York Times busca
C) resistência e superação em momentos de conflitos e ataques
A) reconhecer o acidente noticiado como um fato isolado.
que puseram em risco valores como liberdade e democracia.
B) responsabilizar o irmão da vítima pelo incidente ocorrido.
D) força e poder, que desperta nos inimigos da pátria a sensação C) apresentar versão diferente da notícia publicada pelo jornal.
de impotência e fragilidade perante uma nação tão poderosa D) expor sua indignação com a negligência de portadores de
e grandiosa. armas.
E) submissão quando atacados os valores tradicionais inerentes E) reforçar a necessidade de proibição do uso de armas por
ao país, tais como a liberdade e a democracia. crianças.

02. (Enem/2015 – 2ª Aplicação) 04. (Autoral)


HORSE OR COW

Prior to taking retirement and selling off his land, a


farmer needed to get rid of all the animals he owned, so he
decided to call on every house in his village. At houses where
the man was the boss, he gave a horse; at houses where the
woman was the boss, he gave a dairy cow.
Approaching one cottage, he saw a couple gardening
and called out, “Who’s the boss around here?”
“I am,” said the man.
The farmer said: “I have a black horse and a brown
horse. Which one would you like?”
The man thought for a minute and said, “The black one.”
“No, no, get the brown one,” said his wife.
The farmer said, “Here’s your cow.”
TIBBALLS, G. The book of senior jokes. Great Britain:
Michael O’Mara, 2009. Adaptado.

210 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Placas e cartazes são usados com o objetivo de passar adiante, In an effort to reduce the number of errors, Web
de maneira direta e objetiva, uma determinada instrução. Information Transfer Systems, an Internet start-up company
Na placa da imagem anterior, a intenção é que as pessoas evitem 10 based in Phoenix, has set up a web site (www.webinfotrans.com)
A) comportar-se de maneira estúpida em parques públicos. that allows physicians to check medications prescribed
B) tirar proveito inadequado das instalações públicas de um by other doctors, prescribe medications electronically to
parque. eliminate errors in deciphering handwriting, and check an
C) estacionar em locais destinados a pessoas com necessidades online version of the Physician’s Desk Reference for adverse
especiais. 15 drug interactions. Subscribers can also search for the
D) trafegar em local exclusivo de pessoas com necessidades latest information about a specific condition. A similar site
especiais. developed by Cigna Healthcare of Arizona reduced errors in
E) passear em parques com animais de estimação sem o devido prescriptions for birth control pills by 15 percent. The new
cuidado. site should be fully operational by this summer.
05. (Unicamp/2019) Popular Science, Vol. 256, n. 4, April 2000, p. 30.

Reprodução/Unicamp 2019
01. (Uespi) The text says that
A) it is safe for people go to the doctor when they are sick.
B) people should not go to the doctor when they are sick.
C) medical mistakes kill a great number of people in the U.S.
D) many people die in hospitals in the United States.
E) the Institute of Medicine advises people to consult the doctor.

02. (Uespi) According to the text, the solution to the problem


presented in the text was
We raise girls to cater to the fragile egos of men. We teach A) to build more hospitals.
girls do shrink themselves, to make themselves smaller. We tell B) to help people with health insurance.
girls ‘You can have ambition, but not too much’. ‘You should C) to distribute medications freely.
aim to be successful, but not too successful, otherwise you will
D) to put an online service for consultation.
threaten the man’. (…) We teach girls shame – ‘Close your legs,
cover yourself!’. We make them feel as though by being born E) to set up a web site to help doctors to eliminate errors.
female, they’re already guilty of something. And so, girls grow
up to be women who cannot see they have desire. They grow 03. (Uespi) The aim of setting up the web site on the Internet was
up to be women who silence themselves. They grow up to be to orient
women who cannot say what they truly think. And they grow A) people to choose the best doctors.
up – and this is the worst thing we do to girls – to be women
B) people to select the best hospitals.
who turn pretense into an art form.
C) people to check medications in drugstores.
Adaptado da palestra “We should all be feminists”, 15/07/2009. D) doctors to check medications electronically.
Disponível em: <https://www.youtube.com/>. Acesso em: 14 maio 2018.
E) doctors to check other doctors’ handwriting.
O texto anterior reproduz trechos de uma palestra proferida pela
escritora nigeriana Chimamanda Adichie, em 2009. Segundo a 04. (Uespi) The text states that a Cigna Healthcare site helped
autora, o fato de serem criadas para agradar aos homens faz A) increase people’s reliance on doctors.
com que as mulheres B) reduce errors in prescriptions of medications.
A) valorizem sua sexualidade ao longo de suas vidas. C) reduce errors in diagnosing diseases.
B) cresçam vendo a dissimulação como algo normal. D) decipher the doctor’s handwriting.
C) sejam ameaçadas, caso se tornem bem-sucedidas. E) locate patients with fatal diseases.
D) tenham suas vozes silenciadas pelos homens.
05. (Uespi) According to the text, Web Information Transfer Systems
is based in
Exercícios Propostos A) Phoenix.
B) Oregon.
C) Alabama.
• (Uespi) Read the text and answer questions 01 to 08.
D) New York.
BAD MEDICINE E) California.

Going to the doctor isn’t as safe as you might 06. (Uespi) A synonym for the word “blunders” (line 6) is
think. Medical mistakes kill between 44,000 and 98,000 A) tests.
people in the United States annually, reports the Institute of B) mistakes.
Medicine — a private agency that advises the government C) medications.
05 and industry. The problem isn’t the cold you might catch D) exams.
in the waiting room, but blunders like improper testing, E) diagnoses.
incorrect diagnoses, and medicine mix-ups.

Anual – Volume 3 211


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
07. constant: Buenos Aires’ graceful elegance and cosmopolitan cool.
This attractive city continues to draw food lovers, design buffs and
party people with its riotous night life, fashion-forward styling and
a favorable exchange rate. Even with the uncertain economy, the
creative energy and enterprising spirit of Porteños, as residents
are called, prevail – just look to the growing ranks of art spaces,
boutiques, restaurants and hotels.
SINGER, P. Disponível em: <www.nytimes.com>. Acesso em: 30 jul. 2012.

Nesse artigo de jornal, Buenos Aires é apresentada como a


capital argentina, que
A) foi objeto de novelas televisivas baseadas em sua vida
noturna e artística.
B) manteve sua elegância e espírito cosmopolita, apesar das
crises econômicas.
C) teve sua energia e aspecto empreendedor ofuscados pela
incerteza da economia.
D) foi marcada historicamente por uma vida financeira estável,
com repercussão na arte.
E) parou de atrair apreciadores da gastronomia, devido ao alto
Disponível em: <https://www.grammarly.com>. valor de sua moeda.
Acesso em: 26 set. 2018.
10. (Autoral)
O estudo da gramática normativa da língua inglesa consiste em
um trabalho árduo, porém necessário para qualquer falante do DIGITAL HEAVEN
idioma. O texto acima usa da ironia e do humor para
A) enfatizar a importância do uso correto da pontuação em If you had the opportunity to live forever, would you
um discurso. take it? The obstacles to keeping your body alive indefinitely
B) salientar o quanto a gramática não interfere na comunicação still seem insurmountable, but some scientists think there is
informal. another possibility opened up by digital technology: creating
C) ilustrar a dificuldade em se aprender um idioma estrangeiro, a digital copy of your “self” and keeping that “alive” online
como o inglês. long after your physical body has ceased to function.
D) amenizar o impacto que a frase pode ter para alguém que In effect, the proposal is to clone a person electronically.
não entende o idioma. Unlike the familiar physical clones - offspring that have identical
E) desconstruir a ideia geral de que frases em inglês não devem features as their parents, but that are completely separate
ter vírgulas. organisms with a separate conscious life - your electronic clone
would believe itself to be you. How might this be possible? The
first step would be to map the brain.
08. (Enem/2014 – 3ª Aplicação)
Disponível em: <http://fullspate.digitalcounterrevolution.co.uk/>.
SLOW FOOD Acesso em: 5 jul. 2017.
Slow Food describes a movement created “to counteract
fast food and fast life, the disappearance of local food traditions O avanço tecnológico tem aumentado, no meio científico, a
and people’s dwindling interest in the food they eat, where it ideia da imortalidade. Com base na passagem anterior, essa
comes from, how it tastes and how our food choices affect possibilidade seria concreta, inicialmente, por meio
the rest of the world,” according to the movement’s website. A) de mapeamento cerebral.
More broadly, it involves an emphasis on local and seasonal B) de clonagem física.
produce and an adherence to regional cultures. Its goals also C) da criação de organismos separados.
include lobbying against the use of pesticides and genetic D) do congelamento da memória humana.
engineering of food. E) de identificação de padrões de parentescos.
Disponível em: <www.ecomii.com>. Acesso em: 30 set. 2011.

O objetivo do movimento Slow food é


A) eliminar o hábito de fast food e os efeitos negativos da vida
Fique de Olho
agitada.
B) unir interesse por alimentação e responsabilidade ambiental.
C) investir em pesticidas e engenharia genética de alimentos. THINGS INVENTED IN THE UNITED STATES
D) tornar globais as tradições locais de alimentação. IN THE LAST FEW YEARS
E) transformar as culturas gastronômicas regionais.
A timeline of United States inventions (after 1991)
encompasses the ingenuity and innovative advancements of
the United States within a historical context, dating from the
Contemporary era to the present day, which have been achieved
09. (Enem/2015 – 2ª Aplicação) by inventors who are either native-born or naturalized citizens of
36 HOURS IN BUENOS AIRES the United States. Patent protection secures a person’s right to his
or her first-to-invent claim of the original invention in question,
Contemporary Argentine history is a roller coaster of highlighted in Article I, Section 8, Clause 8 of the United States
financial booms and cracks, set to gripping political soap operas.
Constitution which gives the following enumerated power to the
But through all the highs and lows, one thing has remained
United States Congress:

212 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
1994 DNA Computing
Aula 12:

C-2 H-5, 6
DNA computing uses DNA, biochemistry and molecular Aula Interpretação de Textos H-7, 8

biology, instead of the traditional silicon-based computer


technologies. DNA computing, or, more generally, molecular
12 Estilo Enem
computing, is a fast-developing interdisciplinary area. Research
and development in this area concerns theory, experiments and
applications of DNA computing. DNA computing is fundamentally
similar to parallel computing in that it takes advantage of the many
Exercícios de Fixação
different molecules of DNA to try many different possibilities at once.
Leonard Adleman of the University of Southern California initially
pioneered this field in 1994. Adleman demonstrated a proof-of-concept
01. (Autoral)
use of DNA as a form of computation which solved the seven-point
Hamiltonian path problem.
REVEALED: AIR POLLUTION MAY BE DAMAGING
1994 Segway PT ‘EVERY ORGAN IN THE BODY’

The Segway PT is a two-wheeled, self-balancing, zero-emission, Air pollution may be damaging every organ and virtually
electric vehicle used for “personal transport”. Segways have every cell in the human body, according to a comprehensive
had success in niche markets such as transportation for police new global review. The research shows head-to-toe harm, from
departments, military bases, warehouses, corporate campuses or heart and lung disease to diabetes and dementia, and from liver
industrial sites, as well as in tourism. problems and bladder cancer to brittle bones and damaged
skin. Fertility, fetuses and children are also affected by toxic air,
1994 Quantum Cascade Laser the review found.
The systemic damage is the result of pollutants causing
A quantum cascade laser is a sliver of semiconductor inflammation that then floods through the body and ultrafine
material about the size of a tick. Inside, electrons are constrained particles being carried around the body by the bloodstream.
within layers of gallium and aluminum compounds, called quantum Air pollution is a “public health emergency”, according to the
wells are nanometers thick, much smaller than the thickness of a World Health Organization, with more than 90% of the global
hair. Electrons jump from one energy level to another, rather than population enduring toxic outdoor air. New analysis indicates
moving smoothly between levels and tunnel from one layer to the 8.8m early deaths each year – double earlier estimates – making
next going “through” rather than “over” energy barriers separating air pollution a bigger killer than tobacco smoking. But the
the wells. When the electrons jump, they emit photons of light. The impact of different pollutants on many ailments remains to be
quantum cascade laser was co-invented by Alfred Y. Cho, Claire F. established, suggesting well-known heart and lung damage is
Gmachl, Federico Capasso, Deborah Sivco, Albert Hutchinson, and only “the tip of the iceberg”.
Alessandro Tredicucci at Bell Laboratories in 1994.
Disponível em: <https://www.theguardian.com/environment>.
Acesso em: 18 jul. 2019.
1995 JavaScript
A poluição do ar tem sido, talvez, um dos maiores problemas
JavaScript, a scripting language widely used for client-side da humanidade nos últimos séculos. As revelações do texto
web development, became the originating dialect of the ECMAScript acima podem ser consideradas alarmantes porque, dentre
standard. It is a dynamic, weakly typed, prototype-based language outras coisas, indicam que
with first-class functions. JavaScript was influenced by many A) não há solução a curto, médio ou longo prazo para o
languages and was designed to look like Java, but to be easier for problema da poluição do ar no nosso planeta.
non-programmers to work with. Brendan Eich invented JavaScript B) haverá, em pouco tempo, quase nove milhões de mortes
(which he called Mocha) in 1995; it later became renamed to anuais decorrentes de problemas de saúde causados pelas
LiveScript, and finally to JavaScript. partículas tóxicas encontradas no ar poluído das grandes
cidades.
1996 Adobe Flash C) o ar poluído afeta diretamente as crianças, podendo
causar infertilidade e interferir diretamente no processo de
Adobe Flash is a multimedia platform created by Macromedia reprodução da espécie num futuro não tão distante.
and currently developed and distributed by Adobe Systems. Since D) os efeitos causados por diferentes poluentes ainda carecem
its introduction in 1996, Flash has become a popular method for de mais esclarecimentos, pois o que se sabe, até agora,
adding animation and interactivity to web pages. Jonathan Gay pode ser considerado apenas uma pequena amostra do
wrote the Flash code in 1996 by while in college and extended it problema.
while working for Silicon Beach Software and its successors. E) as recentes pesquisas revelam uma situação irreversível no
que diz respeito aos efeitos da poluição do ar na saúde dos
Wikipedia, the free encyclopedia.
cidadãos.

Anual – Volume 3 213


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
02. (Enem/2018 – 1ª Aplicação) A poetisa Kamala Das, como muitos escritores indianos, escreve
LAVA MAE: CREATING SHOWERS ON suas obras em inglês, apesar de essa não ser sua primeira língua.
WHEELS FOR THE HOMELESS Nesses versos, ela
A) usa a língua inglesa com efeito humorístico.
San Francisco, according to recent city numbers, has B) recorre a vozes de vários escritores ingleses.
4,300 people living on the streets. Among the many problems C) adverte sobre o uso distorcido da língua inglesa.
the homeless face is little or no access to showers. San Francisco D) demonstra consciência de sua identidade linguística.
only has about 16 to 20 shower stalls to accommodate them. E) reconhece a incompreensão na sua maneira de falar inglês.
But Doniece Sandoval has made it her mission to change
that. The 51-year-old former marketing executive started Lava 05. (Unicamp 2019)

Reprodução/Unicamp 2019
Mae, a sort of showers on wheels, a new project that aims to
turn decommissioned city buses into shower stations for the
homeless. Each bus will have two shower stations and Sandoval
expects that they’ll be able to provide 2,000 showers a week.
ANDREANO, C. Disponível em: <http://abcnews.go.com>.
Acesso em: 26 jun. 2015. Adaptado.

A relação dos vocábulos shower, bus e homeless, no texto,


refere-se a
A) empregar moradores de rua em lava a jatos para ônibus.
B) criar acesso a banhos gratuitos para moradores de rua.
C) comissionar sem-teto para dirigir os ônibus da cidade.
D) exigir das autoridades que os ônibus municipais tenham
banheiros.
E) abrigar dois mil moradores de rua em ônibus que foram Your Car is German. Your Vodka is Russian. Your Pizza is Italian.
adaptados. Your Democracy is Greek. Your Coffee is Brazilian. Your Movies are
American. Your Shirt is Indian. Your Oil is Saudi Arabian. Your
03. (Autoral) Electronics are Chinese. Your Numbers Arabic, your Letters Latin.
And YOU complain that YOUR Neighbor is an Immigrant?
Disponível em: <https://br.pinterest.com>.
Acesso em: 10 jun. 2018.

O post anterior aponta


A) as vantagens da globalização para o consumidor e os
problemas causados pela imigração.
B) o impacto negativo dos processos migratórios no modo
como as culturas vêm sendo globalizadas.
C) os efeitos da globalização no nosso cotidiano e o preconceito
contra imigrantes.
D) o consumo excessivo de produtos estrangeiros no mundo
capitalista contemporâneo.

Photographed by Anquisis Moreira – Los Angeles, Ca – July 2019. Exercícios Propostos


A frase acima traz uma mensagem de que a vida é
A) muito curta e por isso deve ser vivida na sua plenitude.
B) bela, porém muito árdua de ser entendida. • (Unesp/2012) Read the text and answer questions 01 to 05.
C) uma dádiva e que devemos aproveitá-la. WHY USE BIOFUELS FOR AVIATION?
D) um fardo que temos que carregar até o final.
E) difícil de ser compreendida se vivida sem aventura. The aviation industry has seen huge growth since its
beginning. Today, more than two billion people enjoy the social
and economical benefits of flight each year. The ability to fly
04. (Enem/2018 – 1ª Aplicação) conveniently and efficiently between nations has been a catalyst
for the global economy and has shrunk cultural barriers like
Don’t write in English, they said, no other transport sector. But this progress comes at a cost.
English is not your mother tongue... In 2008, the commercial aviation industry produced
...The language I speak 677 million tones of carbon dioxide (CO2). This is around
Becomes mine, its distortions, its queerness 2% of the total man-made CO 2 emissions of more than
All mine, mine alone, it is half English, half 34 billion tones. While this amount is smaller compared
Indian, funny perhaps, but it is honest, with other industry sectors, such as power generation and
ground transport, these industries have viable alternative
It is as human as I am human...
energy sources currently available. For example, the power
...It voices my joys, my longings my
generation industry can look to wind, hydro, nuclear and
Hopes... solar technologies to make electricity without producing much
(Kamala Das, 1965:10) CO2. Cars and buses can run on hybrid, flexible fuel engines
GARGESH. R. South Asian Englishes. In: KACHRU. B. B.; KACHRU. Y.; NELSON,
or electricity. _________________ powered trains can replace
C. L. (Eds). The Handbook of World Englishes. Singapore: Blackwell. 2006. ____________________ locomotives.

214 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
The aviation industry has identified the development of 05. (Unesp/2012) Quais palavras completam corretamente os dois
biofuels as one of the major ways it can reduce its greenhouse espaços no segundo parágrafo do texto?
gas emissions. Biofuels provide aviation with the capability to A) Carbon e electric.
partially, and perhaps one day fully, replace carbon-intensive B) Diesel e wind.
petroleum fuels. They will, over time, enable the industry to C) Electric e diesel.
reduce its carbon footprint significantly. D) Petroleum e diesel.
GLOBAL CO2 EMISSIONS E) Carbon e wind.

Land use change and


06. (Autoral)
Building light
forestry (25%) and heat (20%)

Industrial Other electricity


processes (3%) and heat (12%)
Other energy (10%)
Chemicals (6%)
Other transport (2%)
Cement (5%)
Air (2%) Other industry (2%)
Road (13%)

World Resources Institute 2002. Beginner’s Guide to Aviation Biofuels.


May 2009. Adaptado.

01. (Unesp/2012) Duas das razões apontadas para o desenvolvimento


de biocombustíveis e sua utilização em aviões são
A) a eliminação das pegadas deixadas na história da indústria
aeronáutica e dos combustíveis derivados do petróleo.
B) a redução das taxas de emissão de carbono pelos aviões e
do efeito estufa sobre o nosso planeta.
C) a eliminação do efeito estufa e das pegadas deixadas na Placas de anúncio são muitas vezes usadas com linguagem
história da indústria aeronáutica. satírica e bem-humorada como forma de passar uma
D) a redução de combustíveis derivados do petróleo e do custo mensagem de maneira mais sutil. Na placa anterior, encontrada
das viagens aéreas.
em um clube, o objetivo é pedir que os usuários evitem
E) a redução do custo elevado das viagens aéreas e das taxas
A) entrar na piscina sem tomar uma ducha antes.
de emissão de carbono pelos aviões.
B) urinar dentro da piscina.
C) permitir que crianças usem a piscina desacompanhadas.
02. (Unesp/2012-Adaptada) Entre as opções indicadas no texto
D) comer ou beber no interior da piscina.
para que se reduzam as taxas de emissão de carbono no setor
energético estão E) saltar de forma arriscada para dentro da piscina.
A) a energia eólica, as hidrelétricas e a energia solar.
B) o uso da água, do vento e a geração de eletricidade a partir do CO2. 07. (Enem/2014 – 3ª Aplicação)
C) a energia nuclear, a energia solar e o gás carbônico.
D) o uso da água, a energia nuclear e o gás carbônico. LAND OF ALL PEOPLES
E) a geração de eletricidade a partir do CO2 e as hidrelétricas.
Paraná has approximately 10 million inhabitants. It is
03. (Unesp/2012-Adaptada) De acordo com o gráfico, os setores que the 6th most populous state, with 5,6% of the total Brazilian
ocasionam as menores taxas de emissão de CO2 no mundo são population and 38% of the population of the southern region.
A) as formas de transporte que excluem os aviões, indústrias Its demographic density is 47,98 inhabitants per km2.
variadas e de aquecimento. A melting pot of several ethnic groups, Paraná is
B) os processos industriais diversos, o transporte rodoviário e known as the “land of all peoples”. The state has welcomed
as indústrias de cimento. immigrants from the most diverse parts of the world: Poles,
C) os processos industriais diversos, de aquecimento e as Italians, Ukrainians, Japanese, Germans, Spaniards, Dutchmen,
substâncias químicas.
Frenchmen, Syrians, Lebanese, Englishmen and Israelis.
D) o transporte rodoviário e outras formas de transporte, menos
They have contributed to the state’s social and cultural
os aviões.
E) as indústrias variadas, o transporte aéreo e outras formas structure, substantially influencing its everyday language, its
de transporte. oral and written literature, its religious celebrations, its cooking
habits and many other social activities. To this day, that rich
04. (Unesp/2012) A partícula but, na última oração do primeiro ethnic variety is carefully preserved and even developed further,
parágrafo, estabelece um contraste entre giving Paraná a rather unique human typology.
A) os benefícios do desenvolvimento da indústria aeronáutica
Secretaria de Estado da Indústria, do Comércio e assuntos do Mercosul.
e o alto custo do progresso, que afeta a economia global. Paraná, a state of opportunity.
B) as barreiras culturais estabelecidas pela economia global e
o desenvolvimento da indústria aeronáutica. No trecho anterior, extraído de um catálogo informativo sobre o
C) as barreiras culturais estabelecidas pela economia global e
Estado do Paraná, percebe-se que seus autores têm a intenção de
o alto custo do desenvolvimento da aviação no mundo.
A) enfatizar a diversidade cultural do Estado.
D) o desenvolvimento da aviação e seus benefícios para a
sociedade, e uma consequência negativa do crescimento B) apresentar a visão de culturas predominantes.
do setor aéreo. C) exemplificar a fragmentação de suas culturas.
E) o desenvolvimento da indústria aeronáutica e o seu alto D) reforçar o valor de algumas culturas sobre outras.
custo, como o estabelecimento de barreiras culturais. E) comparar a cultura do Paraná com a de outros estados.

Anual – Volume 3 215


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
08. (Autoral) 10. (Enem/2015 – 2ª Aplicação)
THE CHERNOBYL NUCLEAR DISASTER FIRST FOOTING
One of the major Hogmanay customs was “first-footing”.
On April 26 1986, the No 4 reactor at the Chernobyl Shortly after “the bells” – the stroke of midnight when public
power station in Ukraine blew up. Facing nuclear disaster clocks would chime to signal the start of the new year –,
on an unprecedented scale, Soviet authorities responded by neighbours would visit one another’s houses to wish each other
sending thousands of ill-equipped men into the radioactive a good new year. This visiting was known as “first-footing”,
and the luckiest first-foot into any house was a tall, dark and
hell. A book by Russian journalist Svetlana Alexievich tells the
handsome man – perhaps as a reward to the woman who
stories of eyewitnesses who recall the terrible human cost of traditionally had spent the previous day scrubbing her house
the catastrophe. (another Hogmanay ritual). Women or red heads, however,
were always considered bad luck as first-foots.
Disponível em:<http://fullspate.digitalcounterrevolution.co.uk/>. First-foots brought symbolic gifts to “handsel” the
Acesso em: 5 jul. 2017. house: coal for the fire, to ensure that the house would be warm
and safe, and shortbread or black bun (a type of fruit cake) to
O livro escrito pela jornalista russa Svetlana Alexievich sobre o symbolise that the household would never go hungry that year.
acidente nuclear de Chernobyl teve como base First-footing has faded in recent years, particularly with
A) depoimentos de autoridades do governo soviético. the growth of the major street celebration in Edinburgh and
B) relatos de homens doentes que trabalhavam no local do Glasgow, although not the Scots love of a good party, of which
desastre. there are plenty on the night!
C) documentos conseguidos de forma secreta com autoridades Disponível em: <www.visitscotland.com>. Acesso em: 23 nov. 2011.
russas.
D) matérias jornalísticas publicadas na época do episódio. A partir da leitura do texto sobre a comemoração do Ano-Novo
na Escócia, observa-se que, com o tempo, aspectos da cultura
E) histórias contadas por testemunhas oculares da terrível
de um povo podem ser
catástrofe. A) passados para outros povos.
B) substituídos por outras práticas.
09. (Enem/2014 – 2ª Aplicação) C) reforçados pelas novas gerações.
D) valorizados pelas tradições locais.
Languages and cultures use non-verbal communication E) representados por festas populares.
which conveys meaning. Although many gestures are similar in
Thai and English, such as nodding for affirmation many others
are not shared. A good example of this is the ubiquitous “Thai Fique de Olho
smile”. The “smile” carries a far wider range of meanings in
Thai than it does in English culture. This can sometimes lead Samuel Langhorne Clemens (November 30, 1835 – April 21,
to serious communication breakdowns between Thais and 1910), better known by his pen name Mark Twain, was an American
author and humorist. He wrote The Adventures of Tom Sawyer
English speakers.
(1876) and its sequel, Adventures of Huckleberry Finn (1885), the
An example from my own early experience in Thailand latter often called “The Great American Novel”.
illustrates the point. When confronting the Thai owner of a Twain grew up in Hannibal, Missouri, which provided the
language school with administrative problems, complaints setting for Huckleberry Finn and Tom Sawyer. After an apprenticeship
regarding student numbers in the class were met by a beaming with a printer, he worked as a typesetter and contributed articles
to the newspaper of his older brother, Orion Clemens. He later
smile and little else. I took this to mean lack of concern or an
became a riverboat pilot on the Mississippi River before heading
attempt to trivialise or ignore the problem. I left the discussion west to join Orion in Nevada. He referred humorously to his singular
upset and angry by what appeared to be the owner’s offhand lack of success at mining, turning to journalism for the Virginia City
attitude to my problems. Territorial Enterprise. In 1865, his humorous story, “The Celebrated
It was only later when another native speaking English Jumping Frog of Calaveras County”, was published, based on a story
he heard at Angels Hotel in Angels Camp, California, where he had
teacher, with considerably more experience of Thailand,
spent some time as a miner. The short story brought international
explained that a smile meant an apology and the fact that the attention, and was even translated into classic Greek. His wit
following day all my complaints had been addressed, that I fully and satire, in prose and in speech, earned praise from critics and
understood the situation. peers, and he was a friend to presidents, artists, industrialists, and
European royalty.
Disponível em: <www.spring.org.uk>. Though Twain earned a great deal of money from his
Acesso em: 11 jul. 2011. Fragmento.
writings and lectures, he invested in ventures that lost a great deal
of money, notably the Paige Compositor, a mechanical typesetter,
Viver em um país estrangeiro pode ser uma experiência which failed because of its complexity and imprecision. In the
enriquecedora, embora também possa ser um desafio, pelo wake of these financial setbacks, he filed for protection from his
choque cultural. A experiência relatada pelo autor do texto creditors via bankruptcy, and with the help of Henry Huttleston
revela diferentes atribuições de sentido a um determinado Rogers eventually overcame his financial troubles. Twain chose to
comportamento, mostrando que naquela situação o sorriso pay all his pre-bankruptcy creditors in full, though he had no legal
indicava um(a) responsibility to do so.
A) forma educada de fazer uma reclamação. Twain was born shortly after a visit by Halley’s Comet, and
he predicted that he would “go out with it”, too. He died the day
B) modo irônico de reagir a uma solicitação.
after the comet returned. He was lauded as the “greatest American
C) jeito de reconhecer um erro e se desculpar. humorist of his age”, and William Faulkner called Twain “the father
D) tentativa de minimizar um problema. of American literature”.
E) estratégia para esconder a verdade. Wikipedia, the free encyclopedia

216 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
03. (ITA/2019)
Aula 13:

Aula Interpretação de Textos C-2 H-5, 6


H-7, 8
Estilo Enem – Charges e

Reprodução/ITA 2019
13 Tirinhas

• Os textos em formato de charges ou tirinhas carregam tanto


informação verbal quanto informação não verbal (visual).
• A informação não verbal deve ser bem compreendida para que
a informação verbal possa ser melhor absorvida.
• O humor é um elemento constante nesses textos, e a análise
é onde está a graça, e não se existe graça.
• No caso das tirinhas, o desfecho se encontra sempre no último
quadrinho, e é esse que normalmente carrega a resposta
esperada para a questão.
• Em se tratando de charge, atenção para quem está dizendo a
frase presente. Esse personagem estará com a boca aberta.

Exercícios de Fixação
CommitStrip.com

01. (Enem/2018 – 1ª Aplicação) De acordo com a tirinha,


A) o chefe está criticando um jornal concorrente por não
Reprodução/Enem 2018

verificar fatos, não se apoiar em fontes confiáveis e usar


títulos sensacionalistas.
B) o jornalista justifica a seu chefe o porquê de escrever matérias
que não respeitam o código de ética dos jornalistas.
C) o jornalista salienta que aquele tipo de matéria é o que causa
maior repercussão; ainda assim, seu chefe desaprova seu uso.
D) após a crítica do chefe, o jornalista concorda em seguir o
código de ética dos jornalistas e zelar pelo conteúdo de suas
matérias.
E) o chefe do jornalista está zangado porque seguir os princípios
“WHEN I WAS 5 EVERYONE TOLD ME TO BE A BIG BOY. éticos do jornalismo causa prejuízos para a sua empresa.
WHEN I WAS 10 THEY TOLD ME I SHOULD BE MORE MATURE
NOW THEY SAY IT‛S TIME TO START ACTING LIKE AND ADULT.
AT THIS RATE, I‛LL BE ELIGIBLE FOR SOCIAL SECURITY 04. (Unicamp/2019)
BEFORE I GRADUATE FROM HIGH SCHOOL!“

Reprodução/Unicamp 2019
GLASBERGEN, R. Disponível em: <www.glasbergen.com>.
Acesso em: 3 jul. 2015. Adaptado.

No cartum, a crítica está no fato de a sociedade exigir do


adolescente que
A) se aposente prematuramente.
B) amadureça precocemente.
C) estude aplicadamente.
D) se forme rapidamente.
E) ouça atentamente.

02. (Unifor – Medicina/2019.2)


Reprodução/Unifor 2019.2 - Medicina

Disponível em: <https://www.creators.com/>.


Acesso em: 18 mar. 2018.

Este cartum foi criado pelo norte-americano Bruce Beattie,


em 2011. Nele, o cartunista faz uso da ironia para
A) justificar a meritocracia como princípio de reconhecimento
Na sentença: “I’ve decided to sell my vacuum cleaner because de igualdade de oportunidades.
it’s just collecting dust”, o trecho em destaque significa: B) identificar a garantia do salário mínimo como condição
A) “Eu acabei de decidir vender o meu aspirador...” suficiente para a proteção da classe trabalhadora.
B) “Eu venderei o meu aspirador...” C) abordar os efeitos da precarização do trabalho nas
C) “Eu vou vender o meu aspirador...” sociedades contemporâneas.
D) “Eu tenho decidido vender o meu aspirador...” D) propor que a empregabilidade leva à recuperação da
E) “Eu decidi vender o meu aspirador...” economia e à justiça social.

Anual – Volume 3 217


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
05. (UNIFOR/2019.2) • Texto para as questões 02 e 03.

Reprodução/Unifor 2019.2
There was a house in the great Metropolis which was
older than the town. Many said that it was older, even, than
the cathedral, and, before the Archangel Michael raised his
voice as advocate in the conflict for God, the house stood there
in its evil gloom, defying the cathedral from out its dull eyes.
It had lived through the time of smoke and so. Every
year which passed over the city seemed to creep, when dying,
into this house, so that, at last it was a cemetery – a coffin,
filled with dead tens of years. Set into the black wood of the
door stood, copper-red, mysterious, the seal of Solomon, the
pentagram.
It was said that a magician, who came from the East
(and in the track of whom the plague wandered) had built
Quando o colega pergunta ao outro “How do you turn this the house in seven nights. But the masons and carpenters
thing on?”, podemos concluir que of the town did not know who had mortared the bricks,
A) o que os alunos têm nas mãos é um minicomputador. nor who had erected the roof. No foreman’s speech and
B) os alunos estão confusos com as instruções do professor.
no ribboned nosegay had hallowed the Builder’s Feast after
C) os alunos não estão mais habituados a manipular livros.
the pious custom. The chronicles of the town held no record
D) os alunos não estão mais habituados a manipular
computadores. of when the magician died nor of how he died. One day it
E) os alunos estão surpresos com o que eles têm que fazer na occurred to the citizens as odd that the red shoes of the
sala de aula. magician had so long shunned the abominable plaster of
the town. Entrance was forced into the house and not a
living soul was found inside. But the rooms, which received,
neither by day nor by night, a ray from the great lights of
Exercícios Propostos the sky, seemed to be waiting for their master, sunken
in sleep. Parchments and folios lay about, open, under a
covering of dust, like silver-grey velvet.
01. (PUC-SP – Inverno/2017) HARBOU, T. von. Metropolis. [S.l.]:
The Gutenberg Project, 2006.
Dmytro Demianenko/123RF/Easypix

02. No trecho sobre a casa em Metropolis, as referências bíblicas


presentes no primeiro parágrafo têm como objetivo
A) fazer um contraponto com a estrutura soturna da
catedral.
B) ilustrar o estilo arquitetônico relativo ao período em que a
casa foi construída.
C) posicionar o leitor quanto aos usos da casa e da catedral
pelos personagens.
D) enfatizar que a casa era muito velha.
E) relacionar a função da catedral com a aparência da casa.

03. O trecho “But the rooms [...] seemed to be waiting for


their master, sunken in sleep.” é uma alusão ao fato de
que
A) os moradores da cidade, ao entrarem na casa, perceberam
que ela estava aparentemente em boas condições, apesar
de não haver ninguém morando nela.
B) os moradores da cidade sabiam que o dono da casa voltaria
um dia para reclamar sua propriedade por direito.
C) a atmosfera dentro da casa era de um torpor que lembrava
A afirmação feita sobre a cadeira do anúncio permite inferir que: o de um sono profundo.
A) A maior parte dos pisos hoje em dia apresenta algum tipo D) havia indícios dentro da casa de que reformas estavam sendo
de desnível. feitas e que elas eram temporárias.
B) Cadeiras Harvey Probber podem ser ajustadas aos desníveis E) dentro da casa foram encontradas mensagens de
do chão.
boas-vindas.
C) Se a cadeira está bamba, ela não é uma Harvey Probber.
D) Cadeiras Harvey Probber são anatômicas e perfeitas.

218 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
04. (Enem/2015 – 1ª Aplicação) Na fase escolar, é prática comum que os professores passem
atividades extraclasse e marquem uma data para que as mesmas
sejam entregues para correção. No caso da charge, a professora
ouve uma estudante apresentando argumento para
A) discutir sobre o conteúdo do seu trabalho já entregue.
B) elogiar o tema proposto para o relatório solicitado.
C) sugerir temas para novas pesquisas e relatórios.
D) reclamar do curto prazo para a entrega do trabalho.
E) convencer de que fez o relatório solicitado.

06. (Enem/2013 – 2ª Aplicação)

Reprodução/Enem 2013
IT‛S THE SCARIEST “AMERICA‛S FUNNIEST ...”YOU‛RE GOING TO
THING ANYONE HOME VIDEOS” YEAH! MY FAVORITE
TONIGHT WAS
GROW UP TO BE JUST
COULD EVER SAY IS THE BEST THE GUY WHO LIKE YOUR MOM
SHOW ON TV!
TO ME... ACCIDENTALLY
SWALLOWED
AND DAD”.
A WHOLE
WATERMELON!

Disponível em:<www.arcamax.com>. Acesso em: 26 fev. 2012.

Tirinhas são construídas a partir de contextos sociais e podem


promover reflexões diversas. Essa tirinha provoca no leitor
uma reflexão acerca da
A) divisão de espaço com os pais.
B) perda da atenção dos pais.
C) submissão aos pais.
D) ausência dos pais.
E) semelhança com os pais.
For Better Or For Worse, Lynn Johnston © 2010 Lynn Johnston Prod.,
Inc / Dist. by Andrews McMeel Syndication 07. (Enem/2014 – 3ª Aplicação)

Na tira da série For better or for worse, a comunicação entre as


personagens fica comprometida em um determinado momento
porque
A) as duas amigas divergem de opinião sobre futebol.
B) uma das amigas desconsidera as preferências da outra.
C) uma das amigas ignora que o outono é temporada de
futebol.
D) uma das amigas desconhece a razão pela qual a outra a
maltrata.
E) as duas amigas atribuem sentidos diferentes à palavra season.

05. (Enem/2011 – 1ª Aplicação)


Reprodução/Enem 2011

Peanuts, Charles Schulz © 1964 Peanuts Worldwide LLC. / Dist. by Andrews McMeel Syndication

A tira, definida como um segmento de história em quadrinhos,


pode transmitir uma mensagem com efeito de humor. Na tira,
a presença desse efeito no diálogo entre Lucy e seu irmão Linus
acontece porque
A) Linus prefere interpretar o ciclo da natureza à sua própria
maneira.
B) Lucy dá uma lição de moral em Linus usando o ciclo da vida
e da natureza.
C) Lucy se surpreende com a compreensão de Linus sobre o
ciclo da natureza.
D) Lucy associa o ciclo da natureza, que ocorre a cada dois
anos, ao ciclo da vida.
E) Linus satiriza a explicação que Lucy fornece sobre o ciclo da
natureza e da vida.

Anual – Volume 3 219


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
08. (Enem/2011 – 2ª Aplicação) 10. (Unifor/2017.2)

Reprodução/Unifor/2017.2
Reprodução/Enem 2011
“I start every song by counting 1-2-3-4 because it
reminds me of Math. Math depresses me and
that helps me sing the blues.” “I’ll have the misspelled ‘Ceasar‘ salad and the improperly
hyphenated veal osso-buco.”
Ao estabelecer uma relação entre a matemática e o blues a John Denmone Ziegler Jr. nasceu no Brooklyn, em Nova
partir da opinião pessoal de um dos rapazes, a charge sugere Iorque, no dia 13 de julho de 1942, em Forest Hills, Queens, e
que morreu aos 74 anos, no dia 31 de março de 2017, em Kansas City,
A) as canções iniciadas com a contagem de 1 a 4 fazem lembrar Kansas. Iniciou sua carreira em meados de 1970, que foi
definida pelo seu estilo satírico, observador e irônico.
o blues.
B) o blues, com seu ritmo depressivo, alivia o sentimento Observe a tirinha de Ziegler Jr. e analise as afirmações:
causado pela matemática. I. O cliente está indeciso sobre seu pedido;
C) as canções devem se iniciar com a contagem de 1 a 4 para II. O cliente está reclamando da ortografia dos pratos de seu pedido;
se tornarem tristes. III. O cliente decidiu por uma salada ‘Caesar‘ e um ossobuco
D) o blues, assim como a matemática, consegue despertar um de vitela;
sentimento inspirador. IV. O cliente está pedindo informações sobre a salada ‘Caesar‘
E) o sentimento despertado pela matemática serve como e ossobuco de vitela;
motivação para o blues. V. O cliente está criticando a qualidade da salada ‘Caesar‘ e
do ossobuco de vitela.
09. (Enem/2011 – 2ª Aplicação)
É correto apenas o que se afirma em
A) I e III
B) II e III
C) IV e V
D) II e IV
E) I, II e IV

Fique de Olho

In modern print media, a cartoon is a piece of art, usually


humorous in intent. This usage dates from 1843 when Punch
magazine applied the term to satirical drawings in its pages,
particularly sketches by John Leech. The first of these parodied the
preparatory cartoons for grand historical frescoes in the then-new
Palace of Westminster. The original title for these drawings was
© 2000 Art & Chip Sansom / Dist. by Andrews McMeel Syndication for UFS Mr Punch’s face is the letter Q and the new title “cartoon”was
intended to be ironic, a reference to the self-aggrandizing posturing
A tirinha é um gênero textual que, além de entreter, trata de of Westminster politicians.
diferentes temas sociais. No caso dessa tirinha, as falas no 3º Modern single-panel gag cartoons, found in magazines,
quadrinho revelam o foco do tema, que é generally consist of a single drawing with a typeset caption positioned
A) a curiosidade dos filhos ao interpelarem os pais. beneath or (much less often) a speech balloon. Newspaper syndicates
B) a desobediência dos filhos em relação aos pais. have also distributed single-panel gag cartoons by Mel Calman, Bill
C) a paciência dos pais ao conversarem com os filhos. Holman, Gary Larson, George Lichty, Fred Neher and others. Many
D) a postura questionadora dos filhos em relação aos pais. consider New Yorker cartoonist Peter Arno the father of the modern
E) o cansaço dos pais em repetir as coisas para os filhos. gag cartoon (as did Arno himself). The roster of magazine gag
cartoonists includes Charles Addams, Charles Barsotti and Chon Day.

220 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Bill Hoest, Jerry Marcus and Virgil Partch began as a magazine It may seem strange for a bookstore chain to be developing
gag cartoonists and moved on to do syndicated comic strips. Noteworthy and selling artisanal soup bowls and organic cotton baby onesies.
in the area of newspaper cartoon illustration is Richard Thompson, who But Indigo’s approach seems not only novel but crucial to its success
illustrated numerous feature articles in The Washington Post before and longevity. The superstore concept, with hulking retail spaces
creating his Cul de Sac comic strip. Sports sections of newspapers usually stocking 100,000 titles, has become increasingly hard to sustain
featured cartoons, sometimes including syndicated features such as in the era of online retail, when it’s impossible to match Amazon’s
Chester “Chet” Brown’s All in Sport. vast selection.
Editorial cartoons are found almost exclusively in news Indigo is experimenting with a new model, positioning itself
as a “cultural department store” where customers who wander in
publications and news websites. Although they also employ humor,
to browse through books often end up lingering as they impulsively
they are more serious in tone, commonly using irony or satire.
shop for cashmere slippers and crystal facial rollers, or a knife set
The art usually acts as a visual metaphor to illustrate a point of view
to go with a new Paleo cookbook. Over the past few years, Ms.
on current social and/or political topics. Editorial cartoons often Reisman has reinvented Indigo as a Goop-like, curated lifestyle
include speech balloons and, sometimes, multiple panels. Editorial brand, with sections devoted to food, health and wellness, and
cartoonists of note include Herblock, David Low, Jeff MacNelly, Mike home décor.
Peters and Gerald Scarfe. Ms. Reisman is now importing Indigo’s approach to the
Comic strips, also known as “cartoon strips” in the United United States. Last year, Indigo opened its first American outpost,
Kingdom, are found daily in newspapers worldwide, and are usually at a luxury mall in Millburn, N.J., and she eventually plans to open
a short series of cartoon illustrations in sequence. In the United States a cluster of Indigos in the Northeast. Indigo’s ascendance is all the
they are not as commonly called “cartoons” themselves, but rather more notable given the challenges that big bookstore chains have
“comics” or “funnies”. Nonetheless, the creators of comic strips — as faced in the United States. Borders, which once had more than
well as comic books and graphic novels — are usually referred to as 650 locations, filed for bankruptcy in 2011. Barnes & Noble now
“cartoonists”. Although humor is the most prevalent subject matter, operates 627 stores, down from 720 in 2010, and the company
adventure and drama are also represented in this medium. Noteworthy put itself up for sale last year. Lately, it has been opening smaller
cartoonists of humor strips include Scott Adams, Steve Bell, Charles stores, including an 8,300-square-foot outlet in Fairfax County, Va.
Schulz, E. C. Segar, Mort Walker and Bill Watterson. “Cross-merchandising is Retail 101, and it’s hard to do in a
typical bookstore,” said Peter Hildick-Smith, president of the Codex
Wikipedia, the free encyclopedia. Group, which analyzes the book industry. “Indigo found a way to
create an extra aura around the bookbuying experience, by creating
a physical extension of what you’re reading about.”
Aula 14:

C-2 H-5, 6
The atmosphere is unabashedly intimate, cozy and
Aula Interpretação de Textos de H-7, 8 feminine — an aesthetic choice that also makes commercial sense,
given that women account for some 60 percent of book buyers.
14 Outros Vestibulares A section called “The Joy of the Table” stocks Indigo-brand ceramics,
glassware and acacia wood serving platters with the cookbooks. The
home décor section has pillows and throws, woven baskets, vases
and scented candles. There’s a subsection called “In Her Words,”
which features idea-driven books and memoirs by women. An area
Exercícios de Fixação labeled “A Room of Her Own” looks like a lush dressing room, with
vegan leather purses, soft gray shawls, a velvet chair, scarves and
journals alongside art, design and fashion books.
Books still account for just over 50 percent of Indigo’s sales
• Texto para as questões de 01 a 05. and remain the central draw; the New Jersey store stocks around
HOW A CANADIAN CHAIN IS REINVENTING 55,000 titles. But they also serve another purpose: providing a
BOOK SELLING window into consumers’ interests, hobbies, desires and anxieties,
which makes it easier to develop and sell related products.
By Alexandra Alter Publishing executives, who have watched with growing alarm
About a decade ago, Heather Reisman, the chief executive of as Barnes & Noble has struggled, have responded enthusiastically
Canada’s largest bookstore chain, was having tea with the novelist to Ms. Reisman’s strategy. “Heather pioneered and perfected the
Margaret Atwood when Ms. Atwood inadvertently gave her an idea art of integrating books and nonbook products,” Markus Dohle,
for a new product. Ms. Atwood announced that she planned to the chief executive of Penguin Random House, said in an email.
go home, put on a pair of cozy socks and curl up with a book. Ms. Ms. Reisman has made herself and her own tastes and
Reisman thought about how appealing that sounded. Not long after, interests central to the brand. The front of the New Jersey store
her company, Indigo, developed its own brand of plush “reading features a section labeled “Heather’s Picks,” with a display table
socks.” They quickly became one of Indigo’s signature gift items. covered with dozens of titles. A sign identifies her as the chain’s
“Last year, all my friends got reading socks,” said Arianna “founder, C.E.O., Chief Booklover and the Heather in Heather’s
Huffington, the HuffPost cofounder and a friend of Ms. Reisman’s, Picks.” She appears regularly at author signings and store events,
who also gave the socks as gifts to employees at her organization and has interviewed prominent authors like Malcolm Gladwell,
Thrive. “Most people don’t have reading socks — not like Heather’s James Comey, Sally Field, Bill Clinton and Nora Ephron.
reading socks.” When Ms. Reisman opened the first Indigo store in
Over the last few years, Indigo has designed dozens of other Burlington, Ontario, in 1997, she had already run her own consulting
products, including beach mats, scented candles, inspirational wall firm and later served as president of a soft drink and beverage
art, Mason jars, crystal pillars, bento lunchboxes, herb growing company, Cott. Still, bookselling is an idiosyncratic industry, and
kits, copper cheese knife sets, stemless champagne flutes, throw many questioned whether Indigo could compete with Canada’s
pillows and scarves. biggest bookseller, Chapters. Skepticism dissolved a few years later

Anual – Volume 3 221


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
when Indigo merged with Chapters, inheriting its fleet of national
stores. The company now has more than 200 outlets across Canada,
including 89 “superstores.” Indigo opened its first revamped
Exercícios Propostos
concept store in 2016.
The new approach has proved lucrative: In its 2017 fiscal
year, the company’s revenue exceeded $1 billion Canadian for the • Texto para as questões de 01 a 06.
first time. In its 2018 fiscal year, Indigo reported a revenue increase
(Uece/2017.2 – 2ª fase)
of nearly $60 million Canadian over the previous year, making it
the most profitable year in the chain’s history. Text I
The company’s dominance in Canada doesn’t guarantee it
will thrive in the United States, where it has to compete not only Researchers used genetic information from Zika virus to
with Amazon and Barnes & Noble, but with a resurgent wave follow its spread among affected regions in South and Central
of independent booksellers. After years of decline, independent America and the Caribbean.
stores have rebounded, with some 2,470 locations, up from 1,651 The Zika virus probably arrived in the Western Hemisphere
a decade ago, according to the American Booksellers Association. from somewhere in the Pacific more than a year before it
And Amazon has expanded into the physical retail market, with was detected, a new genetic analysis of the epidemic shows.
around 20 bookstores across the United States. Researchers also found that as Zika fanned outward from Brazil,
Ms. Reisman acknowledges that the company faces it entered neighboring countries and South Florida multiple times
challenges as it expands southward. Still, she’s optimistic, and is without being noticed.
already scouting locations for a second store near New York. Although Zika quietly took root in northeastern Brazil in
late 2013 or early 2014, many months passed before Brazilian
Disponível em: <https://www.nytimes.com>. health authorities received reports of unexplained fever and skin
rashes. Zika was finally confirmed as the culprit in April 2015.
01. (UECE/2019.2) Indigo, Canada’s largest bookstore chain, started The World Health Organization did not declare the
expanding to other countries last year, opening a new store in epidemic a public health emergency until February 2016, after
A) a European country. babies of Zika-infected mothers began to be born with severe
B) England. neurological problems. Zika, which is carried by mosquitoes,
C) the United States. infected an estimated 1 million people in Brazil alone in
2015, and is now thought to be transmitted in 84 countries
D) a Latin-American city.
worldwide.
Although Zika’s path was documented starting in 2015
02. (UECE/2019.2) The successful selling of a variety of products by through records of human cases, less was known about how
Indigo bookstores started with the virus spread so silently before detection, or how outbreaks
A) velvet chairs. in different parts of Central and South America were connected.
B) reading lamps. Now two groups working independently, reporting online May
C) scented candles. 24 in Nature, have compared samples from different times and
D) reading socks. locations to read the history recorded in random mutations of
the virus’s 10 genes.
One team, led by scientists in the United Kingdom and
03. (UECE/2019.2) This type of store that approaches the selling of
Brazil, drove more than 1,200 miles across Brazil — “a Top
books together with a wide range of other related items has Gear–style road trip,” one scientist quipped — with a portable
been called device that could produce a complete catalog of the virus’s
A) artisanal bookstore. genes in less than a day. A second team, led by researchers at
B) cultural department store. the Broad Institute of MIT and Harvard, analyzed more than
C) books & co. 100 Zika genomes from infected patients and mosquitoes in
D) reading & co. nine countries and Puerto Rico. Based on where the cases
originated, and the estimated rate at which genetic changes
appear, the scientists re-created Zika’s evolutionary timeline.
04. (UECE/2019.2) Indigo has established itself as a successful Together, the studies revealed an epidemic that was silently
bookseller, a fact evidenced by the merging with churning long before anyone knew. “We found that in each of
A) Chapters. the regions we could analyze, Zika virus circulated undetected
B) Amazon. for many months, up to a year or longer, before the first locally
C) Barnes & Noble. transmitted cases were reported,” says Bronwyn MacInnis,
D) Shakespeare & Company. an infectious disease geneticist at the Broad Institute, in
Cambridge, Mass. “This means the outbreak in these regions
was under way much earlier than previously thought.”
05. (UECE/2019.2) One of the reasons for the aesthetic choice of
Although the epidemic exploded out of Brazil, the
a cozy and feminine atmosphere at Indigo’s bookstores is the scientists also found a remote possibility of early settlement in
fact that the Caribbean. “It’s not immediately clear whether Zika stopped
A) they’re good places to buy gifts for girls. off somewhere else in the Americas before it got to northeast
B) most book buyers are women. Brazil,” said Oliver Pybus, who studies evolution and infectious
C) in Canada women have published more titles than men. disease at the University of Oxford in England.
D) they look more attractive to all types of customers. In a third study reported in Nature, researchers from
30 different institutions followed a trail of genetic clues to
determine when and how Zika made its way to Florida. Those
researchers concluded that Zika was introduced multiple
times into the Miami area, most likely from the Caribbean,

222 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
before local mosquitoes picked it up. The number of human • Texto para as questões de 07 a 10.
cases increased in step with the rise in mosquito populations,
said Kristian Andersen, an infectious disease researcher at CAN YOU LEARN IN YOUR SLEEP?
the Scripps Research Institute in La Jolla, Calif. “Focusing on
getting rid of mosquitoes is an effective way of preventing Sleep is known to be crucial for learning and memory
human cases,” he says. formation. What’s more, scientists have even managed to pick
Previous studies have found traces of the virus’s out specific memories and consolidate them during sleep.
footprints across the Americas, but none included so However, the exact mechanisms behind this were unknown
many different samples, says Young-Min Lee of Utah — until now.
State University, who has also studied Zika’s genes. The Those among us who grew up with the popular cartoon
current studies provide a higher-resolution look at the “Dexter’s Laboratory” might remember the famous episode
timing of the epidemic’s spread, he says, but in terms of wherein Dexter’s trying to learn French overnight. He creates
Zika’s origins and progression from country to country, a device that helps him to learn in his sleep by playing French
“overall the big picture is consistent with what we suspected.” phrases to him. Of course, since the show is a comedy, Dexter’s
In addition to revealing Zika’s history, genetic studies are record gets stuck on the phrase “Omelette du fromage” and
also valuable in fighting current and future disease outbreaks. the next day he’s incapable of saying anything else. This is, of
Since diagnostic tests and even vaccine development are based course, a problem that puts him through a series of hilarious
on Zika’s genetics, it’s important to monitor mutations during situations.
an outbreak. Researchers developed quick-turnaround genomic The idea that we can learn in our sleep has captivated
analyses for Ebola in recent years, for example, that could aid the minds of artists and scientists alike; the possibility that one
a faster response during the next outbreak. day we could all drastically improve our productivity by learning
In the future, faster analysis of viral threats in the field
in our sleep is very appealing. But could such a scenario ever
might improve the odds of stopping the next epidemic, Lee says.
become a reality?
It’s possible for a single infected traveler stepping off a plane to
spark an epidemic long before doctors notice. “If one introduction New research seems to suggest so, and scientists in
[of a virus] can cause an outbreak, you have a very narrow window general are moving closer to understanding precisely what
to try to contain it.” goes on in the brain when we sleep and how the restful state
Disponível em: <www.nytimes.com>. affects learning and memory formation.
For instance, previous studies have shown that non-
01. (Uece/2017.2 – 2ª fase) According to the text, the Zika virus rapid eye movement (non-REM) sleep — or dreamless sleep
A) was first detected in poor areas of Puerto Rico. — is crucial for consolidating memories. It has also been shown
B) is the main cause of allergies in many countries. that sleep spindles, or sudden spikes in oscillatory brain activity
C) no longer causes severe brain problems. that can be seen on an electroencephalogram (EEG) during
D) got to the Western Hemisphere long before being detected. the second stage of non-REM sleep, are key for this memory
consolidation. Scientists were also able to specifically target
02. (Uece/2017.2 – 2ª fase) As to unexplained fever and skin rashes certain memories and reactivate, or strengthen, them by using
in the Brazilian northeast auditory cues.
A) it took a long time to blame the Zika virus. However, the mechanism behind such achievements
B) only in February 2016 the Zika epidemic was confirmed. remained mysterious until now. Researchers were also
C) a special group of scientists is working in 84 cities. unaware if such mechanisms would help with memorizing
D) more than 100 Zika genomes have been found there. new information.
Therefore, a team of researchers set out to investigate.
03. (Uece/2017.2 – 2ª fase) One of the positive achievements by a Scott Cairney, from the University of York in the United
group of scientists working to find more about Zika was that Kingdom, co-led the research with Bernhard Staresina, who
they were able to works at the University of Birmingham, also in the U.K. Their
A) discover traces of the virus’s footprints in the Miami area. findings were published in the journal Current Biology.
B) produce a very efficient diagnostic test.
Cairney explains the motivation for the research,
C) track the virus’s evolutionary history.
D) prevent future disease outbreaks. saying, “We are quite certain that memories are reactivated
in the brain during sleep, but we don’t know the neural
04. (Uece/2017.2 – 2ª fase) A sad thing these scientific studies processes that underpin this phenomenon.” “Sleep
showed was that the virus spindles,” he continues, “have been linked to the benefits
A) will continue to go undetected in the Caribbean region. of sleep for memory in previous research, so we wanted to
B) spread without being detected for nearly a year. investigate whether these brain waves mediate reactivation.
C) will get stronger in the next five years. If they support memory reactivation, we further reasoned that
D) has more than ten different genes. it could be possible to decipher memory signals at the time
that these spindles took place.”
05. (Uece/2017.2 – 2ª fase) A way to prevent the number of infected To test their hypotheses, Cairney and his colleagues
people from increasing is to asked 46 participants “to learn associations between words
A) look at the timing of the epidemic’s spread. and pictures of objects or scenes before a nap.” Afterward,
B) study the Zika’s origins in the Americas. some of the participants took a 90-minute nap, whereas others
C) monitor Zika’s progression in South America.
stayed awake. To those who napped, “Half of the words were
D) eliminate the mosquito population
[...] replayed during the nap to trigger the reactivation of the
newly learned picture memories,” explains Cairney.
06. (Uece/2017.2 – 2ª fase) Monitoring mutations when a Zika
outbreak occurs is relevant because “When the participants woke after a good period of
A) it can help the geneticists at the Broad Institute. sleep,” he says, “we presented them again with the words
B) the production of a vaccine is based on the virus’s genes. and asked them to recall the object and scene pictures. We
C) new viral threats will no longer occur. found that their memory was better for the pictures that were
D) it might improve the odds of next year’s epidemic. connected to the words that were presented in sleep, compared

Anual – Volume 3 223


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa
to those words that weren’t,” Cairney reports.
Using an EEG machine, the researchers were also
able to see that playing the associated words to reactivate
Fique de Olho
memories triggered sleep spindles in the participants’ brains.
More specifically, the EEG sleep spindle patterns “told” the BREXIT
researchers whether the participants were processing memories
related to objects or memories related to scenes. The United Kingdom’s withdrawal from the European Union
“Our data suggest that spindles facilitate processing of is widely known as Brexit, a portmanteau of “British exit”.
relevant memory features during sleep and that this process Following a referendum held in June 2016, in which 52% of
boosts memory consolidation,” says Staresina. “While it has votes were cast in favour of leaving the EU, the UK government
been shown previously,” he continues, “that targeted memory intends to invoke Article 50 of the Treaty on European Union,
reactivation can boost memory consolidation during sleep, the formal procedure for withdrawing, by the end of March
we now show that sleep spindles might represent the key 2017. This, within the treaty terms, would put the UK on a
underlying mechanism.” course to leave the EU by March 2019. Prime Minister Theresa
Cairney adds, “When you are awake you learn new May, elected by the ruling Conservative Party in the wake of
things, but when you are asleep you refine them, making it the referendum, has promised a bill to repeal the European
easier to retrieve them and apply them correctly when you need Communities Act 1972 and to incorporate existing EU laws into
them the most. This is important for how we learn but also for UK domestic law. The terms of withdrawal have not yet been
how we might help retain healthy brain functions.” negotiated; in the meantime, the UK remains a full member
Staresina suggests that this newly gained knowledge of the European Union.
could lead to effective strategies for boosting memory while The UK joined the European Economic Community (EEC), a
sleeping. predecessor of the EU, in 1973, and confirmed its membership
So, though learning things from scratch à la “Dexter’s in a 1975 referendum by 67% of the votes. Historical opinion
Lab” may take a while to become a reality, we can safely say that polls 1973–2015 tended to reveal majorities in favour of
our brains continue to learn while we sleep, and that researchers remaining in the EEC, EC or EU. In the 1970s and 1980s,
just got a lot closer to understanding why this happens. withdrawal from the EEC was advocated mainly by some Labour
Party and trade union figures. From the 1990s, withdrawal from
Disponível em: <https://www.medicalnewstoday.com/>. the EU was advocated mainly by some Conservatives and by
the newly founded UK Independence Party (UKIP).
07. (Uece/2019) According to the text, the idea that sleep is relevant The term “Brexit”
to learning
Brexit (like its early variant, Brixit) is a portmanteau of “Britain”
A) seems to be absolutely new and surprising.
and “exit”. It was derived by analogy from Grexit, referring
B) has been frequently studied without success.
to a hypothetical withdrawal of Greece from the eurozone
C) has never received attention from the scientific community.
(and possibly also the EU). The term Brexit may have first
D) is common knowledge among scientists.
been used in reference to a possible UK withdrawal from the
EU by Peter Wilding in a Euractiv blog post on 15 May 2012.
08. (Uece/2019) The novelty of the research mentioned in the text is The terms “hard Brexit” and “soft Brexit” are much used
related to the unofficially, and are understood to describe the prospective
A) unveiling of what exactly allows us to learn in our sleep. relationship between the UK and the EU after withdrawal,
B) unexpected contradiction of what was already known. ranging from hard, that could involve the UK trading with
C) age of people involved and to the way their dreams were the EU like any other non-EU-member country under World
reported. Trade Organisation rules but with no obligation to accept free
D) fact that they were supposed to speak while sleeping. movement of people, to soft, that might involve retaining
membership of the EU single market for goods and services and
09. (Uece/2019) Among the previous studies, the text reports one in at least some free movement of people, according to European
which an association was established between Economic Area rules.
A) dreaming and successfully recalling new information from Wikipedia, the free encyclopedia.
the day.
B) listening to recordings during sleep and mental confusion Aula 15:

when waking.
C) being woken in the second REM stage of sleep and forgetting Aula
things more easily. Verbos Anômalos
D) the non-REM stage of sleep and the reactivation and 15
consolidation of memories.

10. (Uece/2019) The new investigation was led by researchers Todos os verbos auxiliares em inglês, à exceção de be, do e
working at have, são caracterizados como defectivos ou anômalos. Diferente
A) the University of New York and a team from the University de outros verbos auxiliares, os anômalos só podem ser usados na
of Birmingham. função de auxiliares; eles não podem aparecer isolados na frase,
B) the University of Birmingham and another university in atuando como verbo principal.
the UK. Be, do e have também se diferenciam dos demais verbos
C) two American universities and two other British institutions. auxiliares porque podem servir como verbos comuns (ordinary) em
D) a British University and Dexter’s Lab. determinadas frases.
Os verbos anômalos são: can / could / may / might / must /
ought to / shall / should / will / would.

224 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Modal Examples Uses
They can control their own budgets. Ability / Possibility.
Exercícios de Fixação
We can’t fix it. Inability / Impossibility.
Can
Can I smoke here? Asking for permission.
Can you help me? Request. 01. Qual a forma correta?
Could I borrow your dictionary? Asking for permission. A) The mail must go on whether there are a hundred storms.
Could you say it again more slowly? Request. B) The mail can go on whether there are a hundred storms.
We could try to fix it ourselves. Suggestion. C) The mail should go on when there are a hundred storms.
Could I think we could have another Gulf Future possibility. D) The mail must go on if there are a hundred storms.
War. E) The mail is going on if there are a hundred storms.
He gave up his old job so he could Ability in the past.
work for us. 02. Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna da
frase apresentada:
May I have another cup of coffee? Asking for permission.
May China may become a major economic Future possibility.
power. – Excuse me, sir. ________ you tell me the time?
– Sure, it’s 5:20.
We’d better phone tomorrow, they Present possibility.
Might might be eating their dinner now. A) May
They might give us a 10% discount. Future possibility. B) Do
Necessity / Obligation. C) Can
We must say good-bye now.
Prohibition. D) Have
Must They mustn’t disrupt the work more
E) Shall
than necessary.

We ought to employ a professional Saying what’s right or 03. Assinale a alternativa correta:
Ought to
writer. correct.
Shall We ________ hurry. The bus leaves in 10 minutes.
(More Shall I help you with your luggage? Offer.
common Shall we say 2.30 then? Suggestion. A) can
in the UK Shall I do that or will you? Asking what to do. B) must
than the C) do
US) D) did
We should sort out this problem Saying what’s right or E) would
at once. correct.
Should I think we should check everything Recommending action. 04. Assinale a letra correspondente à alternativa que preenche
again. corretamente as lacunas da frase apresentada.
Profits should increase next year. Uncertain prediction.
Janet: Look, our boat is sinking!
I can’t see any taxis so I’ll walk. Instant decisions. Peter: Oh, dear! Can you swim?
I’ll do that for you if you like. Offer.
Janet: Yes, but we won’t have to, there’s a life boat on board.
Will I’ll get back to you first thing on Promise.
Monday.
In the above dialogue, the verbs can and have to express
Profits will increase next year. Certain prediction.
respectively ________ and ________.
Would you mind if I brought a Asking for permission. A) ability – obligation
colleague with me? B) permission – prohibition
Would you pass the salt, please? Request. C) possibility – prohibition
Would you mind waiting a moment? Request. D) permission – possibility
“Would three o’clock suit you?” – Making arrangements E) ability – necessity
Would
“That’d be fine.”
Would you like to play golf this Invitation 05. Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna da
Friday?
frase apresentada.
“Would you prefer tea or coffee?” Preferences
– “I’d like tea, please.” – Excuse me, sir. ___________ you tell me the time?
– Sure, it’s 5:20.
Disponível em: <http://www.learnenglish.de/grammar/verbmodal.htm>.

A) May
Atenção: B) Do
Os verbos anômalos são sempre seguidos por um verbo C) Can
normal (ordinary) na sua forma básica. D) Have
E) Shall

Anual – Volume 3 225


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa

Exercícios Propostos Fique de Olho

01. When he was a little boy, he suffered an accident and became BANK HOLIDAYS IN ENGLAND
blind, so he _________ see you at all.
A) can’t B) mustn’t The 1871 Bank Holiday Act awarded the British a series of
C) shouldn’t D) couldn’t paid off work, many of which seem to have been chosen entirely
E) may not at random.
Many, however, were chosen by very important people to
02. In the 1980s very few athletes _________ run 100 m in less coincide with big meetings in the village cricketing calendar.
than 10 seconds. While the English and the Welsh have accepted these ever
A) can B) must
since, the Northern Irish and Scots have understandably picked
C) may D) might
days that actually mean something to them to celebrate. And also
E) could
managed somehow to wrangle some extra time off into the bargain.
03. __________ you have left the keys in the car? So, the Scots get less excited about Easter, but give
A) Could B) Must themselves an extra day to recover after New Year. Both the Irish
C) Needn’t D) May and the Scots take a day to celebrate their national saints, while
E) Will the Welsh wave flowers and the English grumble about the April
showers.
04. Well, you __________ have sold him the car if you didn’t think Moves to put the English and the Welsh on the same par
he would pay you.
A) mustn’t B) needn’t by giving them their Saint’s Day off have been promised. For the
C) may not D) can’t English, this would mean a day off to celebrate the legendary
E) mightn’t victory in combat of a Christian knight with a murky past over a
fire-breathing creature that almost certainly never existed.
05. The students _________________ to use the phone in class
because they had to search for some information on Google.
A) are allowed B) were allowed New Year’s Day
1st January
C) are able D) was allowed 2 January (Scotland)
E) have to
Saint David’s Day
1st March
06. It’s forbidden to park in this area, so you ____________ leave (Patron Saint of Wales)
your car around here. Saint Patrick’s Day
A) may B) could 17 March
(Patron Saint of Ireland)
C) can D) can’t
E) couldn’t Saint George’s Day
23 April
(Patron Saint of England)
07. I fell off the boat but, fortunately, I ________________ swim
to the river bank. Good Friday Friday before Easter Monday
A) can B) could
C) may D) was able to
E) am able to Easter Monday Between 22 March and 25 April

08. Assinale a alternativa que traduz melhor a se guinte sentença: Easter Tuesday (Northern
Between 22 March and 25 April
Ireland)
I can’t tell one from the other.
Early May Bank Holiday First Monday in May
A) Não distingo uma da outra.
Victoria Day (Scotland) 3rd Monday in May
B) Não conto com nenhuma outra.
C) Não falo com nenhuma outra. Spring Bank Holiday Last Monday in May
D) Não posso falar de uma para outra.
Orangeman’s Day (Northern
E) Não posso dizer para a outra. On or after 12 July
Ireland)
09. Assinale a alternativa correta. Summer Bank Holiday
First Monday in August
(Scotland)
He ____ avoid ____ mistakes.
Summer Bank Holiday
A) ought – making (England, Northern Ireland Last Monday in August
B) must – make and Wales)
C) shall – make Remembrance Day 11 November
D) needs – make
E) should – making Saint Andrews Day
30 November
(Patron Saint of Scotland)
10. He _______________ to see a doctor. He looks pale.
A) should B) can Christmas Day 25 December
C) may D) might Boxing Day 26 December
E) ought

226 Anual – Volume 3


Língua Inglesa LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas
Although these days are known as Bank Holidays, many
establishments and businesses stay open, and the greatest banking
issue is likely to be cashpoints running out of notes.
Timing of the Easter weekend changes every year, but
generally will fall on the first Sunday which follows the first full
moon after 21 March. But not always.
CRYSTAL, Ben & RUSS, Adams. Sorry, I’m British! –
An Insider’s Guide to Britain from A to Z.
Oneworld Publications, 2010.

Bibliografia
CRYSTAL, Ben & RUSS, Adam. Sorry, I’m british! An Insider’s Guide
to Britain from A to Z. Oxford, England: Oneworld Publications, 2010
DRISCOLL, Liz. Real Reading, Volume 2. Press – Cambridge, England:
Cambridge University, 2008.
Provas:
Enem
Unicamp
Uespi
Unesp
PUC-SP
ITA
Unifor
Uece

Anotações

Anual – Volume 3 227


LInguagens, cÓdIgos e suas tecnoLogIas Língua Inglesa

Anotações

228 Anual – Volume 3


Espanhol
Interpretação de Texto e Gramática

Objetivo(s):
• Analisar, interpretar e aplicar as habilidades propostas na Competência de área 2, Língua Espanhola, enfoque nas habilidades
5, 6, e 8.
• Explicar sobre as principais divergências existentes entre espanhol e português, no tocante ao seu vocabulário, quanto à
tonicidade, à grafia, ao gênero e ao significado.
• Ensinar sobre os pronomes pessoas sujeitos, bem como as formas de tratamento em espanhol.

Conteúdo:
Aula 11: Compreensão de Texto
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 230
Aula 12: Divergências Léxicas
Heterosemántico.................................................................................................................................................................................................... 232
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 234
Aula 13: Compreensão de Texto
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 236
Aula 14: Pronomes Pessoais
Pronombres Personales Sujetos y Pronombres Personales Objetos........................................................................................................................ 240
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 241
Aula 15: Compreensão de Texto
Exercícios .............................................................................................................................................................................................................. 242
lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas Espanhol
01. (UFRGS/2019) O cantor e compositor uruguaio Jorge Orexler,
Aula 11:

C-2 H-5, 6
nessa canção, conta a história da vinda de sua família para a
Aula H-7, 8 América do Sul. A ideia central do texto é:
Compreensão de Texto A) Destacar a atitude dos bolivianos de receberem imigrantes
11 europeus que escapavam dos horrores da Segunda Guerra
Mundial.
B) Chamar a atenção para que os viajantes levem sempre
documentação adequada sob o risco de serem barrados nas
alfândegas.
Exercícios de Fixação C) Afirmar que aqueles que saem de seus países por conta de
guerras logo vão querer retornar.
D) Relembrar que imigrantes europeus, na Segunda Guerra
Mundial, temiam vir para a América do Sul.
• Texto para as questões de 01 a 05. E) Concluir que pessoas em contexto de guerra imploram para
conseguir as coisas de que necessitam.
BOLIVIA
02. (UFRGS/2019) Considere as seguintes afirmações sobre o texto:
Europa, 1939
I. A cidade de Berlim é apresentada como um espaço
Todos decían que no en las cancillerías
dominado por alguém que possui um discurso ameaçador
(Años de guerra caliente
e arrogante;
Varios años antes de la Guerra Fría)
II. A história é metaforicamente comparada a uma porta
giratória, em que os acontecimentos históricos não estão a
5 Todos decían que no
salvo de serem repetidos;
Cuando dijo que sí Bolivia
III. O medo aparece representado como algo que ia crescendo
com o tempo.
Berlín era un nido de ratas
EI paladín de la bravata, gritaba Quais estão corretas?
Llenaba estadías A) Apenas I. B) Apenas II.
10 De un árido erial de desvarío ario C) Apenas III. D) Apenas II e III.
Un árido erial de desvarío ario E) I, II e III.

Las puertas se iban cerrando 03. (UFRGS/2019 Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as
EI tiempo colgaba de un pelo seguintes afirmações sobre o texto:
Y aquel niño en los brazos de mis abuelos ( ) Todos estavam seguros de que as autoridades bolivianas
permitiriam a entrada de imigrantes no país.
15 Y el pánico era evidente ( ) Os avós de Jorge Drexler deixaram a Europa e vieram para
Y todo lo presagiaba: a América do Sul.
EI miedo ganaba cauce ( ) Muitos países se abstiveram de receber pessoas que saíam
Abría fauces, vociferaba da Europa por causa da Segunda Guerra Mundial.
Y entonces llegó del frío ( ) As pessoas, em 1939, vinham continuamente da Europa
20 En pleno glaciar hiriente à América do Sul de barco.
Una insólita vertiente de agua tibia:
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima
Todos decían que no para baixo, é:
Cuando dijo que sí Bolivia A) V – V – F – F
B) V – F – V – V
Y el péndulo viene y va C) F – V – F – V
25 Y vuelve a venir e irse D) F – V – V – F
Y tras alejarse vuelve E) F – F – F – V
Y tras volver, se distancia
Y cambia la itinerancia 04. (UFRGS/2019) Considere as seguintes propostas de substituição
Y los barcos van y vienen de expressões no texto.
30 Y quienes hoy todo tienen I. A expressão “las puertas se iban cerrando” (I. 12) poderia
Mañana por todo imploran ser substituída por las puertas iban cerrándose.
Y la noria no demora II. A expressão “Y todo lo presagiaba” (I. 16) poderia ser
En invertir los destinos substituída por “Y todo le presagiaba”.
En refrescar la memoria III. A expressão “Y vuelve a venir e irse” (I. 25) poderia ser
substituída por “Y va y vuelve”.
35 Y los caminos de ida
En cambias de regreso Quais substituições poderiam ser realizadas sem afetar as
Se transforman, porque eso: regras gramaticais da Língua Espanhola?
Una puerta giratoria A) Apenas I.
No más que eso, es la historia B) Apenas II.
C) Apenas III.
DREXLER, Jorge. Bailar en la cueva. 2016.
D) Apenas I e III.
E) I, II e III.

230 Anual – Volume 3


Espanhol lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas
05. (UFRGS/2019) A expressão EI tiempo colgaba de un pelo (I. 13) 01. (UFRGS/2019) Considere as seguintes afirmações a respeito do
significa que: texto:
A) O tempo cura tudo. I. Um dos efeitos da migração é gerar um fluxo econômico
B) O tempo permite tudo. do qual usufruem os países da região;
C) O tempo estava se esgotando. II. Um dos efeitos negativos da migração é a perda de pessoas
D) O tempo estava se alongando. qualificadas, com formação no exterior;
E) O tempo estava se deslocando. III. Mario Vargas Llosa afirma que, na América Latina, habitam
todas as culturas do mundo.

Quais estão corretas?


Exercícios Propostos A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
• Texto para as questões de 01 a 08. D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
Capturar en una imagen la migración es una tarea
prácticamente imposible. En este momento, miles de personas 02. (UFRGS/2019) Considere as seguintes afirmações sobre o texto.
están cruzando por tierra, por mar o por aire alguna frontera,
I. A Argentina, nos últimos anos, atingiu uma porcentagem
dejando atrás su lugar de origen para salir en busca de mejores
de 4,6% de imigrantes chineses, dominicanos e africanos;
5 oportunidades, escapar de la crisis o la violencia.
II. O número de imigrantes haitianos é exíguo no Brasil;
En palabras del escritor peruano Mario Vargas Llosa, “la
III. A boa situação econômica da Colômbia redunda em um
riqueza de América Latina está en ser tantas cosas a la vez que
hacen de ella un microcosmos en el que cohabitan casi todas aumento de imigrantes no país.
las razas y culturas del mundo”.
10 La región se conforma como una fusión de culturas, Quais estão corretas?
religiones, etnias y costumbres. En la búsqueda de nuevos A) Apenas I.
territorios, nuestros ancestros viajaron por el continente B) Apenas II.
dejando rastros de su cultura. Ese movimiento continúa, y hoy C) Apenas III.
reconocemos nuevos patrones migratorios que obedecen, D) Apenas I e II.
15 principalmente, a las desigualdades en el desarrollo económico E) I, II e III.
entre las naciones, un desafío tanto para gobiernos como para
la ciudadanía. 03. (UFRGS/2019) Assinale a alternativa que apresenta a ideia
La manifestación reciente de nuevas olas migratorias central do segmento que está no último parágrafo.
internas produce grandes aportes para los países, pero A) Novas ondas migratórias ocorrem em toda a América Latina,
20 éstos también exportan problemas. Por un lado, el flujo especificamente na América Central.
migratorio“favorece el desarrollo, genera válvulas de escape B) Os refugiados saem da Europa e desejam ir aos Estados
al desempleo y remesas del destino al origen” y, por otro Unidos.
lado, también lo frena porque se pierden “personas de alta C) Conflitos armados na América Central têm estimulado à
calificación, capital humano y social relevante”, subraya migração para os Estados Unidos.
25 tajantemente Jorge Martínez, experto en migraciones de la D) Guerras civis e conflitos políticos são fatos característicos da
división de población de la Cepal.
Europa e do Oriente Médio.
Las realidades son diferentes según cada país.Los flujos
E) A América Central recebe também imigrantes que provêm
de llegadas varían como también lo hacen las regulaciones.
de zonas em conflito.
En América Latina tenemos casos como el de México, uno de
30 los países con más ciudadanos fuera de la nación, 12 millones
en Estados Unidos, que se ha convertido en un puente hacia 04. (UFRGS/2019) A melhor tradução para o trecho “favorece el
el “sueño americano”. Por otra parte, está Argentina, donde desarrollo, genera válvulas de escape al desempleo y remesas
el 4,6 por ciento de la población es extranjera, y que ha visto del destino al origen” (l. 21-22) é:
crecer en el último tiempo la llegada de chinos, dominicanos, A) “favorece o desenvolvimento, gera válvulas de escape ao
35 africanos, entre otros. En Brasil, la secular tendencia de recepción desemprego e envio de dinheiro do destino à origem.”
de españoles y japoneses ha sido superada por el alza que se B) “favorece o desenvolvimento, freia válvulas de escape ao
registra en los últimos cinco años con la llegada de bolivianos. desemprego e envio de dinheiro do destino à origem.”
Asimismo,es exponencial la inmigración de haitianos. Por su C) “favorece o desenvolvimento, impossibilita válvulas de escape
buena situación económica, Colombia recibe hoy un gran ao desemprego e envio de dinheiro do destino à origem.”
40 número de inmigrantes; vive al mismo tiempo una crisis en su D) “favorece o desenvolvimento, generaliza válvulas de escape
frontera con Venezuela, debido a los miles de personas que buscan ao desemprego e envio de dinheiro do destino à origem.”
cruzarla para escapar de la difícil situación en aquel país. E) “favorece o desenvolvimento, obstaculiza válvulas de escape
“El desafío para muchos, especialmente en ao desemprego e envio de dinheiro do destino à origem.”
Centroamérica, es la recepción de migrantes irregulares que
45 buscan llegar a Estados Unidos. El movimiento de refugiados no 05. (UFRGS/2019) A palavra lo (l. 29) refere-se a
caracteriza especialmente a la región, como ocurre en Europa A) flujo migratorio (l. 20 e 21).
y Medio Oriente. Sin embargo, se están registrando peticiones B) desarrollo (l. 21).
desirios que escapan de la guerra civil en su país y también de C) desempleo (l. 22).
quienes huyen de la violencia y los conflictos políticos.
D) destino (l. 22).
El Tiempo, 14.08. 2016. Disponible en: <http://www.eltiempo.com/mundo/ E) origen (l. 22).
latinoamerica/movimiento-migratorio-en-america-latina-44592>.
Accedido en: 05 ago. 2018. Adaptado.

Anual – Volume 3 231


lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas Espanhol
06. (UFRGS/2019) Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as • Texto para a próxima questão.
afirmações a seguir.
( ) A palavra tajantemente (l. 25), em português, significa AMOR DE TARDE
acertadamente.
( ) As palavras según (l. 27) e país (l. 27) obedecem à mesma Es una lástima que no estés conmigo
regra de acentuação. cuando miro el reloj y son las cuatro y a cabo la planilla y pienso
( ) O pronome que (l. 31) remete a México (l. 29). diez minutos
( ) A palavra secular (l. 35), em espanhol, significa “constante”. y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima y me doblo los dedos y les saco mentiras.
para baixo, é:
A) V – V – F – F B) F – F – F – V Es una lástima que no estés conmigo
C) V – V – V – F D) F – V – F – V cuando miro el reloj y son las cinco
E) F – F – V – F y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
07. (UFRGS/2019) A palavra alza (l. 36) poderia ser substituída, sem o un oído que escucha como ladra el teléfono
alteração de sentido no texto, por o un tipo que hace números y les saca verdades.
A) descenso. Mário Benedetti
B) posibilidad.
C) incremento. 10. Sobre o poema de Mário Benedetti, o poeta uruguaio, nos
D) intención. remete a ideia de:
E) proyección. A) Uma escrita simples e nostálgica, dando uma sensação de
lamento.
08. (UFRGS/2019) Qual das palavras a seguir leva o artigo definido B) Busca pelo entendimento de um processo racional-amoroso.
“la”? C) Um sentimento cruel e impiedoso.
A) Alma B) Almíbar D) Um amor por indefinição, sendo entendido por aqueles que
C) Alhaja D) Azúcar já amaram.
E) Alba E) Uma maneira exaltada e dramática de sua escrita.

Aula 12:

C-2 H-5, 6
Aula
Quino

H-7, 8
Divergências Léxicas
12

Heterosemántico
Falso amigo, seudo equivalente, falso cognato
Son palabras que presentan una falsa semejanza entre el
español y el portugués.

1. absolutamente -
2. lienzo -
3. torpe -
4. novelista -
5. rubio -
6. apurado -
Disponível em: <locosporlasintaxis.wordpress.com>.
7. testar -
09. A conversa entre Mafalda e seu amigo 8. exquisito -
A) desvaloriza as atividades escolares e a capacidade de 9. rojo -
entendimento e respeito pelas mesmas.
B) expressa o predomínio de uma forma de pensar e a 10. cachorro -
possibilidade de realizar entre posições divergentes. 11. encerrado -
C) ilustra a possibilidade da realização e de respeito pela
12. largo -
importância das atividades como prioridade.
D) mostra a preponderância do ponto de vista de Mafalda na 13. atestado -
importância das atividades para superar divergências. 14. zurdo -
E) revela a real dificuldade de fazer atividades cotidianas que se
se transformam em atividades pesadas e difíceis de cumprir. 15. carroza -

232 Anual – Volume 3


Espanhol lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas
16. recorrer - 63. apellido -
17. clase - 64. pastel -
18. reto - 65. taza -
19. pegar - 66. pasta -
20. rato - 67. sitio -
21. enojarse - 68. borrar -
22. pipa - 69. jornal -
23. vago - 70. boato -
24. basura - 71. termo -
25. salsa - 72. vírgula -
26. coma - 73. candelero -
27. cubierto - 74. piña -
28. ingreso - 75. bodega -
29. despacho - 76. luego -
30. copa - 77. salada -
31. sótano - 78. coche -
32. neto - 79. distinto -
33. farda - 80. aula -
34. sobrenombre - 81. prejuicio -
35. crianza - 82. calzada -
36. cuello - 83. cigarro -
37. sobremesa - 84. escoba -
38. copo - 85. oficina -
39. brincar - 86. inversión -
40. fechado - 87. criollo -
41. ladrillo - 88. americana -
42. zueco - 89. padre -
43. chico - 90. oso -
44. carro - 91. apenas -
45. aborrecer - 92. borracha -
46. braga - 93. todavía -
47. flaco - 94. tapa -
48. cola - 95. penas -
49. caviloso - 96. apuro -
50. palco - 97. alejado -
51. manteca - 98. firma -
52. presunto - 99. bolsa -
53. tasa - 100. sin -
54. cena - 101. botiquín -
55. goma - 102. beca -
56. taller - 103. mermelada -
57. ligero - 104. asignar -
58. escritorio - 105. botones -
59. contestar - 106. competencia -
60. madre - 107. departamento -
61. embarazada - 108. aceitar -
62. pronto - 109. cartera -

Anual – Volume 3 233


lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas Espanhol
110. balcón - 157. billón -
111. ligar - 158. cacho -
112. ferias - 159. confiado -
113. berro - 160. estrellar -
114. casal - 161. exprimir -
115. estafa - 162. funda -
116. boa - 163. garfio -
117. asignatura - 164. grasa -
118. alza - 165. hipo -
119. latir - 166. honda -
120. propina - 167. jubilación -
121. topo - 168. lograr -
122. cobijar - 169. magra -
123. saber - 170. mono -
124. cana - 171. ola -
125. comarca - 172. olla -
126. carpeta - 173. presupuesto -
127. mesón - 174. resta -
128. ganancia - 175. ruin -
129. gente - 176. sereno -
130. colar - 177. seta -
131.emprestar - 178. tuerto -
132. muela - 179. turma -
133. rapaz - 180. cinta -
134. risco - 181. rienda -
135. abonado - 182. expertos -
136. esposas - 183. aposta -
137. bolso - 184. abonar -
138. billete -
139. engrasado -
140. caderas -
Exercícios de Fixação
141. banda -
142. cartón -
143. polvo - 01. (Uece/2019.1 – 2ª Fase)

144. carreta - “Las especies que nos resultan más cercanas, simpáticas o
carismáticas.”
145. sobre -
146. cuchillo - La palabra “cercanas” puede ser sustituída, sin perder su
sentido, por
147. acordarse - A) conocidas.
148. blanco - B) apartadas.
C) angostas.
149. facha - D) insociables.
150. ciruela -
151. sortear - 02. (Uece/2019.1 – 1ª Fase)

152. carrasco - La expresión “de largo” debe ser traducida al portugués


como:
153. apremiar -
A) de largura.
154. acreditar -
B) de espessura.
155. aposentar - C) de cumprimento.
156. atestar - D) de altura.

234 Anual – Volume 3


Espanhol lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas
03. (Uece/2019.1 – 1ª Fase) • Texto para a próxima questão.
La palabra “cuello”, por su significado, es un heterosemántico. EL MURCIÉLAGO YODA
Apunta la opción que trae otra palabra con la misma
clasificación. Los mamíferos alados parecen especialmente propensos
A) Apellido a sorprendernos por su aspecto peculiar. Uno de los más
B) Cabaña extraños es el que hasta ahora se conoce únicamente como
C) Imbécil murciélago Yoda, por lo que algunos juzgan como un cierto
D) Rodillazo parecido con el personaje de la saga cinematográfica Star Wars.
El animal, que vive en las selvas de Papúa Nueva Guinea, había
04. (Uece/2018.2 – 2ª Fase) sido observado anteriormente, pero fue con ocasión de una
expedición auspiciada en 2009 por Conservation International,
Apunta la frase con un heterosemántico. cuando se hizo popular en Internet. Por el momento, los
A) Me gustan los colores fuertes. científicos sólo saben que probablemente pertenece al género
B) El viaje fue estupendo. Nyctimene, un tipo de murciélagos de la fruta extendido por
C) Nadie me ha llamado por teléfono. Oceanía y que desempeña una importante función ecológica
D) Te espero a las nueve en mi oficina. en la dispersión de semillas. Por lo demás, lo único que puede
añadirse sobre este curioso murciélago es que hay quienes
05. (Uece/2018.2 – 2ª Fase) niegan categóricamente su parecido con Yoda.
La expresión “tesoro desempolvado” puede ser sustituída por Javier Yanes. El País (España), 27/06/2019.
A) monumento atascado.
B) efigie libre del polvo. 03. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
C) estatua incompleta.
Según el texto, el murciélago Yoda
D) coloso desaparecido.
A) ya participó en una exitosa película estadounidense.
B) es una especie autóctona de las montañas de Nueva Guinea.
C) sorprende a los científicos por ser un mamífero alado.
D) es considerado un sembrador natural muy importante.
Exercícios Propostos
• Texto para a próxima questão.
EL PEZ BORRÓN
• Texto para as questões 01 e 02.
En su hábitat natural, el pez borrón o blobfish no
FERIA DE MONSTRUOS: LAS JOYAS MÁS RARAS presenta un aspecto especialmente llamativo. Pero fuera
DEL MUNDO ANIMAL del agua es otra cosa. Al tratarse de una especie de aguas
No cabe duda de que hoy se destinan grandes esfuerzos profundas, observada entre 600 y 1.200 metros, este habitante
a la conservación de especies amenazadas. Pero no a todas de las costas de Australia y Nueva Zelanda ha encontrado
por igual: en los últimos años han sido varios los expertos que un curioso sistema para mantener su flotabilidad sin ayuda
han alertado de que nuestro esfuerzo de conservación tiende a de vejigas natatorias de gas que servirían de poco a tales
centrarse en las especies que nos resultan cercanas, simpáticas profundidades. En su lugar, este pez de unos 30 centímetros
o carismáticas — como los pandas, las ballenas, los elefantes posee un cuerpo de consistencia gelatinosa, que le ofrece una
o los osos polares. Sin embargo, para la naturaleza no existe densidad menor que la del agua. Pero cuando se le saca a la
la estética, sólo la necesidad de conservar todas las especies superficie, su carne se desparrama, resultando en un aspecto
por su valor ecológico. He aquí algunos de los animales más chocante que le hizo muy popular en Internet; en 2013,
extraños y sorprendentes de nuestro planeta. Algunos de ellos su aparente rostro triste y melancólico, que incluso ha sido
quizá no inviten precisamente a abrazarlos, pero también recreado en peluches, le valió el título de animal más feo de
merecen sobrevivir. la Ugly Animal Preservation Society. Los expertos advierten de
que podría hallarse en riesgo de extinción, ya que aparece con
Javier Yanes. El País (España), 27/06/2019.
frecuencia como captura accidental en las redes de pesca en
aguas profundas.
01. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
Javier Yanes. El País (España), 27/06/2019.
El trozo arriba sugere atención para especies amenazadas
A) como los pandas, las ballenas y los osos polares. 04. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
B) poco conocidas que existen en nuestro planeta.
C) que presentan una estética agradable al hombre. El texto nos presenta un pez
D) capaces de conquistar y hasta recibir un abrazo. A) que no consigue sostenerse en la superfície del agua.
B) con poca o casi ninguna movilidad en su hábitat natural.
02. (Uece/2019.2 – 2ª Fase) C) que se protege de los depredadores en las profundidades.
D) con los aspectos físicos según el ambiente que esté.
Con la lectura del texto podemos inferir que
A) Los esfuerzos a la conservación de especies amenazadas son 05. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
escasos.
B) Los expertos no presentan programas eficaces a la De acuerdo con el texto, el pez borrón
conservación. A) a menudo es víctima de la captura al azar.
C) La naturaleza no hace distición a la conservación de animales. B) no cambia esté dentro o fuera del agua.
D) Sólo los animales exóticos y muy raros deben ser conservados. C) siempre se nos presenta con mucha belleza.
D) posee una carne recomendable al consumo.

Anual – Volume 3 235


lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas Espanhol
• Texto para as questões de 06 a 08. 09. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
EL AYE-AYE El tiburón duende, según el texto
A) representa el 95% de la espécie en los océanos.
La isla de Madagascar es un experimento natural B) tiene um peculiar ajuste a las condiciones ambientales.
de evolución independiente. Separada del resto de masas C) fue classificado desde hace trescientos años.
continentales desde hace unos 88 millones de años, sirve de D) es um ser marino com periódicas mutaciones.
hogar a innumerables linajes únicos en el mundo. Sin duda, los
animales más conocidos y representativos de la fauna malgache 10. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
son los lémures. Y este término, que en la mitología romana hacía Asimismo nos dice el texto, el tiburón duende
referencia a espíritus malignos, tal vez comenzó a aplicarse a los A) ataca el hombre en las costas de todos los océanos.
primates endémicos de Madagascar por causa del aye-aye. Se trata B) tiene un cuerpo largo y rasposo como los cocodrilos.
de un raro lémur, único en su familia. Su aspecto poco agraciado C) descende de ancestrales de remotísimo origen.
para el ojo humano le ha convertido en víctima de la superstición: D) su hábitat está por encima de los 100 metros de profundidad.
los habitantes locales lo exterminan por considerarlo un mensajero
de la desgracia capaz incluso de provocar la muerte con su huesudo
y fino dedo medio — según contó magistralmente el naturalista Aula 13:

C-2 H-5, 6
británico Gerald Durrell en el libro Rescate en Madagascar, tras Aula H-7, 8
una expedición en 1990. En realidad, el dedo central del aye-aye Compreensão de Texto
es una adaptación única entre los mamíferos; lo emplea para 13
golpear los árboles en busca de huecos donde se ocultan las larvas
de las que se alimenta.
Javier Yanes. El País (España). 27/06/2019.

06. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)


Nos dice el texto que los lémures
Exercícios de Fixação
A) tienen 88 millones de años.
B) habitan la isla malgache.
C) son animales mitológicos. • Leia o texto para responder às questões de 01 a 05.
D) representan la bonanza.
MEDIOS INTERNACIONALES REVIVIERON “EL MURO DE
07. (Uece/2019.2 – 2ª Fase) LA VERGÜENZA” DE LIMA
Según el texto, el lémur aye-aye
Esta semana, el medio brasileño O Globo y el alemán
A) es un recadero de los dioses.
Deutsche Welle realizaron reportajes sobre el muro que divide
B) trae la desgracia con el dedo medio.
Pamplona con Casuarinas.
C) hirió mortalmente a Gerald Durrel.
D) busca siempre el ojo humano.

Reprodução/IFPE/2018.1
08. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
El texto nos dice todavía que el aye-aye
A) utiliza su dedo medio para sobrevivir.
B) es muy respetado por los habitantes.
C) se alimenta de las hojas de los árboles.
D) tiene hábitos nocturnos y es muy tardo.

• Texto para as questões 09 e 10.


EL TIBURÓN DUENDE Una frase de Salazar Bondy en el “Muro de la Vergüenza”.
Los mares son especialmente pródigos en criaturas VOLANTE Y RASANTE
desconocidas para el ser humano, ya que el 95% de los océanos
Dos medios internacionales publicaron esta semana
aún no ha sido explorado, según datos de la Administración
noticias sobre el muro que divide los distritos de San Juan de
Atmosférica y Oceánica de EEUU (NOAA). Muchos de estos
Miraflores y Surco. Se tratan del medio brasileño O Globo y el
seres marinos poseen extrañas adaptaciones singulares que les
alemán Deutsche Welle, quienes titulan sus reportajes como “El
confieren un aspecto inusual. Es el caso del tiburón duende.
Muro de la Vergüenza” el cual separa los ricos de los pobres.
Aunque se conoce desde 1898, su clasificación fue inicialmente
Este muro sería un claro ejemplo de la discriminación que es
dudosa debido a su rasgo anatómico más sobresaliente: un
latente en Perú.
morro aplastado bajo el cual se esconde una boca proyectable
Diferencias territoriales. O Globo comparó la geografía
hacia delante con temibles dientes. Con la boca totalmente
del barrio de Pamplona (San Juan de Miraflores) y el de
desplegada, se diría que es un cocodrilo lo que sale por su
Casuarinas (Surco). Observó que, en Pamplona, la gente vive en
hocico. Fue esta peculiaridad la que dificultó su identificación,
condiciones precarias y con un difícil acceso al agua y caminos
ya que los ejemplares con la boca oculta y proyectada parecían
asfaltados.
especies distintas. Finalmente se determinó que el tiburón duende
”En Casuarinas, al otro lado del muro, Lima no parece la
es el único heredero de una familia por lo demás extinta hace
misma. Plazas, luces, agua, asfalto y todo”, dice el reportero
125 millones de años. Está extendido por las costas de todos los
de O Globo. En este barrio de Surco las personas justifican la
océanos, aunque no suele interactuar con el ser humano porque
presencia del muro con el argumento de la seguridad. Y es que,
prefiere profundidades por debajo de los 100 metros.
aunque parezca discriminatorio, el muro se ha convertido en
Javier Yanes. El País (España), 27/06/2019.
una especie de “mal necesario”.

236 Anual – Volume 3


Espanhol lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas
Desigual distribución. Deutsche Welle explicó que la
riqueza en Perú es asimétrica. “Los ricos del país se han hecho
más ricos, pero los pobres siguen igual de pobres”, dijo el Exercícios Propostos
medio alemán.
El medio alemán entrevistó a pobladores de Casuarinas
y de Pamplona para conocer sus opiniones. Ambas posturas • (Uncisal/2016)
coincidían que el problema reside en los políticos, porque no hay
una distribución justa de la riqueza mineral de Perú. Además, EL HOMBRE QUE APRENDIÓ A LADRAR
señalan que las décadas de corrupción que afronta el país son
las que han abierto una brecha más extensa entre ricos y pobres. Lo cierto es que fueron años de arduo y pragmático
aprendizaje, con lapsos de desalineamiento en los que estuvo a
Disponível em: <http://rpp.pe/lima/actualidad/medios-internacionales-
revivieron-el-muro-de-la-verguenza-de-lima-noticia1050663>. punto de desistir. Pero al fin triunfó la perseverancia y Raimundo
Acesso em: 06 out. 2017. aprendió a ladrar. No a imitar ladridos, como suelen hacer
algunos chistosos o que se creen tales, sino verdaderamente
01. (IFPE/2018.1) Uma vez lida a notícia em sua totalidade, marque a ladrar. ¿Qué lo había impulsado a ese adiestramiento? Ante
a alternativa que melhor apresenta a ideia central do texto. sus amigos se auto flagelaba con humor: “La verdad es que
A) La situación de corrupción política que afronta el país y sus ladro por no llorar”. Sin embargo, la razón más valedera era
consecuencias para la población. su amor casi franciscano hacia sus hermanos perros. Amor es
B) La comparación entre la geografía del barrio de Pamplona comunicación.
y el de Casuarinas, además de sus condiciones sociales. ¿Cómo amar entonces sin comunicarse?
C) El muro fue construido para la seguridad de la población del Para Raimundo representó un día de gloria cuando su
barrio de Casuarinas (Surco). ladrido fue por fin comprendido por Leo, su hermano perro,
D) Un reportaje hecho por dos importantes medios y (algo más extraordinario aún) él comprendió el ladrido de
internacionales sobre la situación de discriminación social Leo. A partir de ese día Raimundo y Leo se tendían, por lo
que el muro representa. general en los atardeceres, bajo la glorieta y dialogaban sobre
E) El posicionamiento de los medios internacionales respecto temas generales. A pesar de su amor por los hermanos perros,
a la situación de pobreza de dos barrios de Lima. Raimundo nunca había imaginado que Leo tuviera una tan
sagaz visión del mundo.
02. (IFPE/2018.1) A causa da barreira criada entre ricos e pobres no Por fin, una tarde se animó a preguntarle, en varios
Peru, segundo a população entrevistada pelo jornal alemão, é: sobrios ladridos: “Dime, Leo, con toda franqueza: ¿qué opinas
A) la escasez de sus recursos minerales. de mi forma de ladrar?”. La respuesta de Leo fue bastante
B) la sensación de inseguridad que asola los pobladores. escueta y sincera: “Yo diría que lo haces bastante bien, pero
C) el hecho de que los ricos disfrutan de buena infraestructura tendrás que mejorar. Cuando ladras, todavía se te nota el
en su barrio. acento humano.”
D) la asimetría geográfica de Perú. BENEDETTI, Mário. El hombre que aprendió a ladrar y otros cuentos, 2001.
E) la mala conducta de los políticos que genera la desigualdad Disponível em: <http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/esp/benedett/el_
social. hombre_que_aprendio_a_ladrar.htm>. Acesso em: 08 dez. 2015.

03. (IFPE/2018.1) Os moradores de Casuarina acreditam que a 01. De acordo com o texto, Raimundo aprendeu a latir para
construção do muro é um “mal necessário”. Essa afirmação A) ser mais amigo de seu cachorro.
expressa: B) brincar com seus amigos humanos.
A) el sentimiento de superioridad en relación a los pobladores C) passar as tardes com seu cachorro.
de Pamplona bajo el pretexto de seguridad. D) entender o que falava seu cachorro.
B) el rechazo a la construcción del muro. E) comunicar-se com seus irmãos cachorros.
C) la concienciación de la necesidad de la construcción del muro.
D) la certeza del mal que el muro hace a los dos barrios 02. (Uncisal/2016)
E) la conciencia de la discriminación que la separación pode
causar a todas las personas del entorno. SÓLO VINE A HABLAR POR TELÉFONO

04. (IFPE/2018.1) Quanto ao termo “aunque” (3º parágrafo), […] Estábamos en el Marítim, el populoso y sórdido
é correto dizer que: bar de la gauche divine en el crepúsculo del franquismo,
A) Es un vocablo que expresa una explicación. alrededor de una de aquellas mesas de hierro con sillas
B) Es un conectivo que establece una relación de concesión de hierro donde sólo cabíamos seis a duras penas y nos
entre las dos oraciones. sentábamos veinte […].
C) Es una conjunción que puede ser sustituida por la expresión MÁRQUEZ, Gabriel García. Doce cuentos peregrinos, 1992.
“con tal que”. Disponível em: <http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/esp/ggm/
solo_vine_a_hablar_por_telefono.htm>. Acesso em: 08 dez. 2015.
D) Establece una relación de causa entre las oraciones.
E) Expresa comparación entre las dos oraciones.
A palavra destacada pode ser substituída, sem alteração de
05. (IFPE/2018.1) O vocábulo “reportaje” muda de gênero em sentido da frase, por
relação ao idioma português, por isso está incluído no grupo A) à frente de.
dos heterogenéricos. Marque a alternativa em que todas as B) ao lado de.
palavras sofrem a mesma mudança. C) à direita de.
A) Escoba, sal, costumbre B) Miel, puente, oso D) ao redor de.
C) Sangre, sal, viaje D) Garaje, rato, puente E) à esquerda de.
E) Sangre, vaso, taza

Anual – Volume 3 237


lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas Espanhol
03. (Uncisal/2016) 05. (Uncisal/2016)

MARÍA DE MI CORAZÓN CARTAS DE AMOR TRAICIONADO

Hace unos dos años, le conté un episodio de la vida […] Las cartas comenzaron a llegar regularmente.
real al director mexicano de cine Jaime Humberto Hermosillo, Sencillo papel blanco y tinta negra, una escritura de trazos
con la esperanza de que lo convirtiera en una película, pero grandes y precisos. Algunas hablaban de la vida en el campo,
no me pareció que te hubiera llamado la atención. Dos meses de las estaciones y los animales, otras de poetas ya muertos y
después, sin embargo, vino a decirme sin ningún anuncio de los pensamientos que escribieron. A veces el sobre incluía
previo que ya tenía el primer borrador del guión, de modo que un libro o un dibujo hecho con los mismos trazos firmes de la
seguimos trabajándolo juntos hasta su forma definitiva. Antes caligrafía. Analía se propuso no leerlas, fiel a la idea de que
de estructurar los caracteres de los protagonistas centrales, cualquier cosa relacionada con su tío escondía algún peligro,
nos pusimos de acuerdo sobre cuáles eran los dos actores que pero en el aburrimiento del colegio las cartas representaban
podían encarnarlos mejor: María Rojo y Héctor Bonilla. Esto su única posibilidad de volar. Se escondía en el desván, no ya
nos permitió además contar con la colaboración de ambos a inventar cuentos improbables, sino a releer con avidez las
para escribir ciertos diálogos, e inclusive dejamos algunos notas enviadas por su primo hasta conocer de memoria la
apenas esbozados para que ellos los improvisaran con su propio inclinación de las letras y la textura del papel. Al principio no
lenguaje durante la filmación […]. las contestaba, pero al poco tiempo no pudo dejar de hacerlo.
El contenido de las cartas se fue haciendo cada vez más útil
GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. El país, 5 mayo.
Disponível em: <http://elpais.com/diario/1981/05/05/opinion/
para burlar la censura de la Madre Superiora, que abría toda
357861609_850215.htlm>. Acesso em: 08 dez. 2015. la correspondencia. Creció la intimidad entre los dos y pronto
lograron ponerse de acuerdo en un código secreto con el cual
No trecho “[…] Dos meses después, sin embargo, vino a empezaron a hablar de amor […].
decirme sin ningún anuncio previo que ya tenía el primer ALLENDE, Isabel. Cuentos de Eva Luna.
borrador del guión, de modo que seguimos trabajándolo juntos Disponível em: <http://www.cuentosinfin.com/cartas-deamor-traicionado/>.
hasta su forma definitiva [...]”, a palavra destacada se refere a Acesso em: 08 dez. 2015.

A) ele.
B) dois. No trecho “[...] Se escondía en el desván, no ya a inventar
C) meses. cuentos improbables, sino a releer con avidez las notas
D) esboço. enviadas por su primo hasta conocer de memoria la inclinación
E) anúncio. de las letras y la textura del papel […]”, a expressão destacada
estabelece, com a frase anterior, uma relação de
04. (Uncisal/2016) A) condição.
B) oposição.
LA HONESTIDAD C) retificação.
D) acréscimo.
Empujando un carrito con una bandeja en la que hay E) comparação.
un vaso de agua, un frasco de cápsulas, un termómetro y una
carpeta, la enfermera entra en la habitación 93, dice «Buenas 06. (Uncisal/2016)
tardes» y se acerca a la cama del enfermo, que yace con los ojos
cerrados. Lo mira sin excesivo interés, consulta las indicaciones DISCONTINUIDADES EN AMÉRICA LATINA
colgadas a los pies de la cama, saca una cápsula del frasco que Las fronteras en América Latina pueden ser consideradas
lleva en el carrito y, mientras coge el vaso de agua, dice: como espacios dinámicos en los que se entrecruzan categorías
— Señor Rdz, es hora de la cápsula. como tiempo, territorio y etnia. Esta característica atraviesa el
El señor Rdz no mueve ni un párpado. La enfermera continente y marca límites materiales y simbólicos entre sus
le toca el brazo. habitantes. Se puede hablar de fronteras desde distintos puntos
— Vamos, señor Rdz. de vista, refiriéndolas tanto a los límites políticos entre estados,
Con los presentimientos más negros, la enfermera como a las discontinuidades existentes entre grupos humanos
coge la muñeca del enfermo para tomarle el pulso. No tiene. diferenciados en razón del género, la posición generacional,
Está muerto. la cultura u otros aspectos considerados relevantes para
Guarda la cápsula en el frasco, arrincona el carrito y distinguirlos entre sí. Tanto en el caso de las fronteras étnicas
sale de la habitación. Corre hasta el mostrador de control de como en el de las estatales, la común noción de discontinuidad,
esa ala del hospital (la D) y le anuncia a la enfermera jefe que de un “adentro” y un “afuera”, y la consiguiente dinámica de
el paciente de la habitación 93 ha muerto […]. inclusión y exclusión que generan, es el factor compartido que
MONZÓ, Quim. El porqué de las cosas, 1994. guía la reflexión propuesta en estas páginas […].
Disponível em: <https://www.wattpad.com/87451468-elporqu%
BARTOLOMÉ, Miguel A. Todavía. Nº 15, Abril, 2003.
C3%A9-de-las-cosas-la-honestidad>. Acesso em: 08 dez. 2015.
Disponível em: <http://www.revistatodavia.com.ar/
todavia26/15.bartolomenota.html>. Acesso em: 08 dez. 2015.
No trecho “[…] Lo mira sin excesivo interés, consulta las
indicaciones colgadas a los pies de la cama, saca una cápsula Pode-se entender como fronteiras, de acordo com o texto, as
del frasco que lleva en el carrito y, mientras coge el vaso descontinuidades entre
de agua, dice [...]”, a expressão destacada estabelece, com a A) tempo, território e etnia.
frase anterior, uma relação de B) política, grupos e tempo.
A) causa. B) finalidade. C) estados, posição e etnia.
C) conclusão. D) consequência. D) tempo, espaço e crenças.
E) simultaneidade. E) estados, geração e cultura.

238 Anual – Volume 3


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07. (Uncisal/2016) 09. (Uncisal/2016)

EL NIÑO AL QUE SE LE MURIÓ EL AMIGO EL CUADERNO DE MAYA

Una mañana se levantó y fue a buscar al amigo, al otro […] Hace una semana, mi abuela me abrazó sin lágrimas
lado de la valla. Pero el amigo no estaba, y, cuando volvió, le en el aeropuerto de San Francisco y me repitió que, si en algo
dijo la madre: valoraba mi existencia, no me comunicara con nadie conocido
— El amigo se murió. hasta que tuviéramos la certeza de que mis enemigos ya no
— Niño, no pienses más en él y busca otros para jugar. me buscaban. Mi Nini es paranoica, como son los habitantes
El niño se sentó en el quicio de la puerta, con la cara de la República Popular Independiente de Berkeley, a quienes
entre las manos y los codos en las rodillas. «Él volverá», pensó. persiguen el gobierno y los extraterrestres, pero en mi caso no
Porque no podía ser que allí estuviesen las canicas, el camión exageraba: toda medida de precaución es poca. Me entregó un
y la pistola de hojalata, y el reloj aquel que ya no andaba, y el cuaderno de cien hojas para que llevara un diario de vida, como
amigo no viniese a buscarlos. Vino la noche, con una estrella hice desde los ocho años hasta los quince, cuando se me torció
muy grande, y el niño no quería entrar a cenar. el destino. «Vas a tener tiempo de aburrirte, Maya. Aprovecha
— Entra, niño, que llega el frío – dijo la madre. para escribir las tonterías monumentales que has cometido, a
Pero, en lugar de entrar, el niño se levantó del quicio y ver si les tomas el peso», me dijo. Existen varios diarios míos,
se fue en busca del amigo, con las canicas, el camión, la pistola sellados con cinta adhesiva industrial, que mi abuelo guardaba
de hojalata y el reloj que no andaba. Al llegar a la cerca, la voz bajo llave en su escritorio y ahora mi Nini tiene en una caja de
del amigo no le llamó, ni le oyó en el árbol, ni en el pozo. Pasó zapatos debajo de su cama. Éste sería mi cuaderno número 9.
buscándole toda la noche. Y fue una larga noche casi blanca, Mi Nini cree que me servirán cuando me haga un psicoanálisis,
que le llenó de polvo el traje y los zapatos. Cuando llegó el sol, porque contienen las claves para desatar los nudos de mi
el niño, que tenía sueño y sed, estiró los brazos y pensó: «Qué personalidad; pero si los hubiera leído, sabría que contienen
tontos y pequeños son esos juguetes. Y ese reloj que no anda, un montón de fábulas capaces de despistar al mismo Freud. En
no sirve para nada». Lo tiró todo al pozo, y volvió a la casa, con principio, mi abuela desconfía de los profesionales que ganan
mucha hambre. La madre le abrió la puerta, y dijo: «Cuánto ha por hora, ya que los resultados rápidos no les convienen. Sin
crecido este niño, Dios mío, cuánto ha crecido». Y le compró embargo, hace una excepción con los psiquiatras, porque uno
un traje de hombre, porque el que llevaba le venía muy corto. de ellos la salvó de la depresión y de las trampas de la magia
cuando le dio por comunicarse con los muertos […].
MATUTE, Ana María. Los niños tontos, 1962.
Disponível em: <http://www.ciudadseva.com/textos/cuentos/esp/matute/ ALLENDE, Isabel. El cuaderno de Maya.
el_nino_al_que_se_le_murio_el_amigo.htm>. Acesso em: 08 dez. 2015. Disponível em: <http://www.isabelallende.com/es/book/maya/excerpt>.
Acesso em: 08 dez. 2015.
Após a leitura do conto, podemos entender que o trecho “Y
le compró un traje de hombre, porque el que llevaba le venía O título do livro El cuaderno de Maya pode ser explicado, de
muy corto” remete à metáfora de que o menino tinha acordo com o fragmento anterior, por tratar-se de
A) amadurecido pela perda do amigo. A) um caderno especial que contaria sua viagem.
B) crescido após buscar seu amigo. B) uma recomendação psiquiátrica para a menina.
C) deixado de usar roupas infantis. C) uma ideia da avó para saber tudo da vida da neta.
D) se tornado um homem adulto. D) uma menina que gostava de escrever em cadernos.
E) vestido roupas muito curtas. E) uma avó que obrigava que a menina escrevesse em cadernos.

08. (Uncisal/2016) 10. (Uncisal/2016)

CENA ZARITÉ

El fulano que acaba de sentarse cerca de mi mesa tiene En mis cuarenta años, yo, Zarité Sedella, he tenido
aspecto de estar bastante satisfecho de la existencia. Entró, cruzó mejor suerte que otras esclavas. Voy a vivir largamente y mi
el local y se acomodó como si la noche le perteneciera, gozando vejez será contenta porque mi estrella – mi z’etoile – brilla
de la silla, la refrigeración, el murmullo de la gente y toda la también cuando la noche está nublada. Conozco el gusto
fuerza de sus 50 años. Pasea alrededor una mirada cargada de de estar con el hombre escogido por mi corazón cuando sus
simpatía. Nadie parece haber advertido esta generosa propuesta manos grandes me despiertan la piel. He tenido cuatro hijos y
de comunicación. Nadie, salvo yo, que me pongo alerta. un nieto, y los que están vivos son libres. Mi primer recuerdo
Se acerca el mozo y le alcanza la lista forrada en cuerina de felicidad, cuando era una mocosa huesuda y desgreñada,
marrón. El fulano agradece con un gesto, la recorre, estudia, es moverme al son de los tambores y ésa es también mi más
llama al mozo y formula un par de preguntas. Arranca con el reciente felicidad, porque anoche estuve en la plaza del Congo
antipasto de la casa y una botella de buen vino blanco (el bailando y bailando, sin pensamientos en la cabeza, y hoy mi
más caro, según compruebo inmediatamente al consultar mi cuerpo está caliente y cansado […].
propia lista). Llega la fuente y cualquiera, esté cerca o lejos, ALLENDE, Isabel. La isla bajo el mar, 2009. Disponível em: <http://www.
puede apreciar el deleite con que el fulano ataca los fiambres. isabelallende.com/es/book/island/excerpt>. Acesso em: 08 dez. 2015.

MASETTO, Antonio Dal. Contratapa, 1996. No trecho “[…] Mi primer recuerdo de felicidad, cuando era
Podemos substituir as palavras “mozo”, “lista” e “antipasto”, una mocosa huesuda y desgreñada, es moverme al son de
respectivamente, sem alteração de sentido, por: los tambores y ésa es también mi más reciente felicidad […]”,
A) Moço, lista, antepasto. a palavra destacada pode ser substituída, sem alteração de
B) Moço, cardápio, antepasto. sentido da frase, por
C) Garçom, menu, sobremesa. A) moçoila. B) pirralha.
D) Moço, listagem, sobremesa. C) atrevida. D) manhosa.
E) Garçom, cardápio, antepasto. E) malandra.

Anual – Volume 3 239


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Objeto indirecto
Aula 14:

C-2 H-5, 6 1ª persona singular me


Aula H-7, 8
Pronomes Pessoais 2ª persona singular te
14 3ª persona singular le/se
1ª persona plural nos
2ª persona plural os
3ª persona plural les/se
Pronombres Personales Sujetos y
Pronombres Personales Objetos Ejemplos de uso de estos pronombres
Los pronombres personales representan directamente a • Yo compro leche todas las mañanas. Leche = objeto directo
personas, animales o cosas e indican las personas gramaticales. Yo la compro todas las mañanas.

Los pronombres sujeto • Vemos a Juan cada dos días. Juan = objeto directo
Lo vemos cada dos días.
• Amo mucho a mis hijas. Mis hijas = objeto directo
Masculino Femenino Neutro De cortesía Las amo mucho.

1ª persona • Quiero mucho a ustedes. Ustedes = objeto directo


Yo Yo – – Los quiero mucho.
singular
2ª persona • Conté la historia a mi hermano. Mi hermano = objeto indirecto
Tú Tú – –
singular Le conté la historia.
3ª persona • Daremos un libro al profesor. El profesor = objeto indirecto
Él Ella Ello Usted
singular Le daremos un libro.
1ª persona • Informaré a Rita y a Elena de lo ocurrido. Rita y Elena = objeto
Nosotros Nosotras – –
plural indirecto
2ª persona Les informaré de lo ocurrido.
Vosotros Vosotras – –
plural • Venderé este coche a usted. Usted = objeto indirecto
3ª persona Le venderé este coche.
Ellos Ellas – Ustedes
plural
• Entregaremos a vosotros el criminal. Vosotros = objeto indirecto
Ello Os entregaremos el criminal.

Este pronombre neutro se refiere siempre a un conjunto de Observaciones:


cosas o de ideas y nunca a personas ni a cosas determinadas. Se
La posición del pronombre será proclítica (antes del verbo)
usa poco en la lengua hablada y, generalmente, se lo sustituye por
o enclítica (detrás del verbo), según las siguientes reglas:
un pronombre demostrativo neutro (esto, eso o aquello).
Ejemplo: Verbos en
Ello es más convincente para mí. Infinitivo
posición enclítica.
= Esto es más convincente para mí. gerundio e
Imperativo afirmativo
Usted, ustedes
Es fórmula de cortesía o de respeto y corresponde a la
Verbos en otras formas. posición proclítica.
tercera persona. Se opone de tú o de vosotros/as que expresa más
familiaridad.

Pronombres personales objetos Ejemplos:


Las formas pronominales que se usan para los complementos • Tratándonos de esta manera, no conseguirás nada.
directos (objeto directo) e indirectos (objeto indirecto) son las • Pude comprarla por dos pesos.
siguientes: • Tráigame un vaso de vino.
Objeto directo • La vimos ayer por la noche.
• Les rogamos que nos escuchen.
1ª persona singular me
• Mañana los enviaré por correo.
2ª persona singular te
3ª persona singular lo/la
1ª persona plural nos
2ª persona plural os
3ª persona plural los/las

240 Anual – Volume 3


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05. (Uece/2018.1 – 2ª Fase)
Observaciones:
Aunque la función de un pronombre sea la de evitar la En “destruirlos”, el pronombre “los” está enclítico. Ese uso es
repetición de un nombre, en español, es muy común y plenamente obligatorio porque el verbo
aceptable el uso pleonástico de los pronombres le/les juntamente A) es de tercera conjugación.
con los nombres a que se refieren. B) está en el infinitivo.
C) tiene conjugación irregular.
D) no presenta irregularidad.
Ejemplos:
• Le daremos un libro al profesor.
• Le conté la historia a mi hermano.
• Les informaré a Rita y a Elena de lo ocurrido.
• Les venderemos estos coches a ustedes.
Exercícios Propostos
Cuando hay un pronombre de complemento directo y
otro de complemento indirecto en una misma frase, el indirecto 01. (Uece/2017.2 – 2ª Fase)
antecede al directo. Apunta la respuesta correcta para la pregunta abajo:
Ejemplos: ¿Le mandaste todo eso a tu hijo?
A) Sí, se lo mandé.
• Dieron regalos a mí. Me los dieron.
B) Sí, le lo mandé.
• Pasaron las informaciones a ti. Te las pasaron.
C) Sí, se le mandé.
Cuando tenemos que sustituir simultáneamente un objeto D) Sí, lo le mandé.
directo y un objeto indirecto por sus respectivos pronombres, usamos
“se” para el indirecto, si este es de tercera persona. 02. (Uece/2017.1 – 2ª Fase)
La respuesta correcta para la pregunta:
Ejemplos:
¿Habéis hecho ya los deberes?
• Daremos un libro al profesor. Se lo daremos. A) — No, los hemos hecho todavía.
• Entregué la carta a mi novia. Se la entregué. B) — No, no los hemos hecho todavía.
• Doy caramelos a mis hijos. Se los doy. C) — No, no hemos hecho ya.
D) — No, los hemos hecho ya.

03. (Uece/2017.1 – 2ª Fase)


Exercícios de Fixação
El uso del pronombre complemento enclítico se obliga con el
verbo en gerundio, imperativo e/y
A) subjuntivo.
01. (Uece/2019.2 – 2ª Fase) B) participio.
La forma singular de la palabra “ellos” es: C) infinitivo.
A) ello D) pretérito imperfecto.
B) él
C) el 04. (Uece/2016.2 – 2ª Fase)
D) ele
En “Le pedí a Antonio quinientos euros”, el pronombre “Le”
y el sustantivo “Antonio” son, respectivamente,
02. (Uece/2019.2 – 2ª Fase)
A) objeto indirecto y objeto indirecto.
La frase “__________ pedí un favor a Andrés” se completa con B) objeto indirecto y sujeto.
el pronombre C) objeto directo y objeto directo.
A) Se D) objeto directo y sujeto.
B) Lo
C) Me 05. (Uece/2016.1 – 2ª Fase)
D) Le
El uso de la enclisis, en español, se obliga con el verbo en el
03. (Uece/2019.1 – 2ª Fase) infinitivo, en el gerúndio y en el
A) participio.
Las partículas “me lo” tienen función de, respectivamente,
B) imperativo.
A) pronombre sujeto y artículo neutro.
C) presente de indicativo.
B) complemento directo y complemento indirecto.
D) presente subjuntivo.
C) complemento indirecto y complemento directo.
D) pronombre de la voz pasiva y artículo neutro.
06. (Uece/2016.1 – 2ª Fase)
04. (Uece/2018.2 – 2ª Fase) Los pronombres personales complementos que completan
La respuesta a la pregunta ¿Regalaste el juguete a tu sobrino? correctamente la frase “Te presto el libro de matemáticas y
Está correcta en: espero que __________ __________ devuelvas pronto”, son:
A) Sí, se lo regalé. A) se – le
B) Sí, se le regalé. B) se – lo
C) No, no le lo regalé. C) me – lo
D) No, no me lo regalé. D) te – me

Anual – Volume 3 241


lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas Espanhol
07. (Uece/2015.2 – 2ª Fase) En el régimen alimenticio de las poblaciones más
La forma “dale” trae el verbo “dar” 15 longevas del mundo, el pescado acostumbra a tener un gran
A) en el imperativo más un pronombre complemento indirecto. protagonismo. No es casual entonces que el bioquímico
B) seguido de una forma pronominal proclítica. Valter Longo defina su dieta como “vegano-pescetariana”.
C) en el presente de subjuntivo. ____: “La mayoría de los alimentos que la forman son de
D) seguido de um pronombre complemento directo. origen vegetal y el pescado está llamado a sustituir el papel
20 que habitualmente cumple la carne a la hora de aportarnos
08. (Uece/2015.2 – 2ª Fase) proteínas”, explica. no todo el pescado tiene el
En “avisarme”, el pronombre está pospuesto por tratarse de mismo efecto ni conviene tomarlo sin control. El especialista
una forma en el infinitivo. ¿Qué otras dos formas también en nutrición recomienda comer entre dos y tres veces a la
exigen el pronombre enclítico? semana pescado y marisco con alto contenido de omega-3
A) Gerundio y participio. 25 y vitamina B12. Estos elementos abundan en el salmón, los
B) Imperativo y gerundio. boquerones, las sardinas, el bacalao, la dorada, la trucha, las
C) Participio e imperativo. almejas y las gambas.
D) Subjuntivo y gerundio. Si por Valter Longo fuera, estaríamos todo el día
comiendo lentejas, garbanzos, judías, guisantes y habichuelas.
09. (Uece/2014.1 – 1ª Fase) 30 En ensaladas o en potajes, cocidas o al vapor, las legumbres
constituyen uno de los alimentos más sanos y saludables que
El término “ello” tiene función de pronombre
A) personal neutro. existen. “La razón es que aportan muchos de los nutrientes
B) demostrativo, masculino. necesarios para el día a día y, por el contrario, incorporan
C) personal tercera persona, singular. pocos elementos nocivos para el cuerpo. Son una fuente
D) demostrativo neutro. 35 inagotable de fibras, vitaminas y minerales, y su potencial
proteico nos permitiría vivir a base de legumbres olvidándonos
10. (Uece/2014.2 – 2ª Fase) de la carne”, explica el experto. Asimismo, hay que pensar en
otro factor. Es importante acordarse de que los hidratos de
En la concurrencia de pronombres personales átonos, es carbono son frecuentes en la dieta mediterránea, reconocida
correcto decir:
40 mundialmente como una de las más sanas que existen. El pan
A) En primer lugar viene el complemento directo y luego el
y la pasta suelen ser la base de ese aporte de carbohidratos,
indirecto.
que Longo ve con buenos ojos, ____ con una salvedad:
B) Ese uso de pronombres complementos sólo es posible en la
proclisis. “No conviene abusar de ellos, porque ese exceso de hidratos
C) En el lenguaje coloquial se prohíbe esa concurrencia. de carbono se convierte en azúcar en el organismo y a la larga
D) Los indirectos “le” y “les” son sustituídos por “se”. redunda en obesidad”.
Juan Fernández, 2017.
Disponível em: <https://www.elperiodico.com>. Adaptado.

Aula 15: 01. (PUC-RS/2019.1) Las palabras que rellenan correctamente las
C-2 H-5, 6 lagunas entre las líneas del 2º y 3º parrafos son, respectivamente:
Aula H-7, 8
A) Aún más – Sin embargo – sobre todo
Compreensão de Texto
15 B) Es decir – Pero – aunque
C) O sea – Todavía – aún más
D) Por lo tanto – Más – aun

02. (PUC-RS/2019.1) De acuerdo con el texto, es posible decir que:


Exercícios de Fixação A) La alimentación es decisiva para la definición dela fecha de
nuestra finitud.
B) La longevidad de la población mundial se debe al
protagonismo del pescado.
• (PUC-RS/2019.1)
C) El bioquímico sugiere comer pescados con alto contenido
de omega-3 y vitamina B12 con regularidad.
Texto I
D) Las legumbres, fuente de fibras, vitaminas y minerales,
La expresión “somos lo que comemos” se instaló hace incorporan también proteínas que las transforman en los
tiempo en el acervo popular para subrayar la importancia que alimentos más sanos que existen.
la comida tiene en nuestro bienestar. Lo que hasta ahora no
estaba tan claro, pero va camino de confirmarse, es la influencia 03. (PUC-RS/2019.1) La única pregunta que encuentra respuesta
5 que ejercen los alimentos que tomamos en la fijación de nuestra en el texto es:
propia fecha de caducidad. El bioquímico italiano, Valter A) ¿Cuál el sentido de la expresión “somos lo que comemos”?
Longo, lleva 30 años estudiando la relación que hay entre la B) ¿Cuáles son los alimentos que tenemos que alternar durante
alimentación y la longevidad y sus conclusiones aconsejan tener la semana para completar la necesidad de nutrientes del
muy presente cada bocado que ingerimos si queremos retrasar cuerpo humano?
10 al máximo el día de nuestra muerte. “Junto a la genética, que C) ¿Cuáles son los usos y beneficios de omega-3 y de la vitamina
no podemos modificar porque nos viene de fábrica, la comida B12 para proteger la salud?
es el factor que más influye en el número de años que vamos D) ¿Cuáles son los pescados que debemos consumir de forma
a vivir”, sentencia el científico. controlada?

242 Anual – Volume 3


Espanhol lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas
04. (PUC-RS/2019.1) Las expresiones “subrayar” (línea 02), Recuerda que si compartes esta receta en tus redes
“aportan” (línea 32) y “a la larga” (línea 44) pueden ser 35 sociales lograrás que otras personas aprendan a cocinar recetas
traducidas al portugués, respectivamente, sin alterar el sentido fáciles y deliciosas como esta.
en el texto, por: Disponível em: <https://www.comedera.com/>. 2018. Adaptado.
A) Divulgar – contêm – com o tempo
B) Sublinhar – aportam – certamente 01. (PUC-RS/2019.1) Las palabras que rellenan correctamente las
C) Perceber – trazem – em abundância lagunas en Preparación, sin alterar el sentido del texto, son,
D) Destacar – acrescentam – lentamente respectivamente,
A) pícalo – comience – sirve
05. (PUC-RS/2019.1) El lugar más adecuado en el texto para la B) despedace – empieza – coma
inclusión de la frase “Por el contrario, el bioquímico italiano C) córtelo – empiece – consume
previene contra los pescados que hayan podido incorporar a
D) haga picadillo – comienza – lleve a la mesa
su interior un alto contenido de mercurio, como el pez espada
y el emperador.”, sin alterar el sentido, sería en la línea ____
02. (PUC-RS/2019.1) Considere las frases del texto, indicando
después de _______.
(V) Verdadero o (F) Falso. De acuerdo con el texto, es posible
A) 16 – protagonismo
decir que:
B) 17 – [vegano-]pescetariana
( ) “Arroz con verduras” se lo prepara con lo que tenga a
C) 25 – B12
disposición según el gusto del cocinero.
D) 27 – gambas
( ) El plato debe acompañar cualquier otro a base de carnes.
( ) Se da la oportunidad a que las demás personas pasen a
comer comidas sanas y de calidad al compartir la receta.
Exercícios Propostos ( ) Todo tipo de sopas, ensaladas, estofados y postres son
saludables y de fácil elaboración.
Texto II La secuencia correcta, de arriba hacia abajo, es:
• (PUC-RS/2019.1) A) V – F – V – F
B) V – V – F – V
¿Quieres comer sano y delicioso? Tenemos una buena C) F – F – V – F
selección de recetas saludables de todo tipo, desde sopas, D) F – V – F – V
ensaladas y estofados, hasta maravillosos postres sin azúcar.
03. (PUC-RS/2019.1) Analice las sugerencias de reescritura de los
ARROZ CON VERDURAS
fragmentos señalados del texto y elija la única alternativa cuya
Aprende cómo hacer un colorido y delicioso arroz propuesta en negrito no podría sustituir la expresión original
con verduras con esta receta explicada paso por paso. El por alterar la corrección.
arroz con verduras es una de esas recetas clásicas y deliciosas A) “Calienta una sartén profunda o una olla paellera y no
que cualquiera puede preparar en su casa. ¡Es muy fácil! No sofrías los vegetales sin seguir este orden...”
5 necesitas ingredientes raros, rebuscados o difíciles de conseguir, B) “No agregues más de una cucharadita de sal y más de
con lo que tengas en la nevera es suficiente. una pizca de pimienta.”
Ingredientes: 1 taza y media de arroz, 3 tazas de caldo de C) “No revuelves por mucho tiempo y permite que hierva.”
vegetales (puedes usar agua también), media cebolla de tamaño D) “Revisa que el grano esté listo y, si en efecto lo está, retira
mediano, media zanahoria, medio calabacín, 2 dientes de ajo, del fuego, no dejes reposar por mucho tiempo...”
10 ¼ de pimentón, ½ taza de guisantes verdes, un trozo de tallo
de puerro, 1 tallo de cebollín, 1 tomate mediano, sal, pimienta, 04. (PUC-RS/2019.1) La expresión “en efecto” (línea 25) establece,
aceite de oliva. en el texto, una relación de
Preparación: pica todos los vegetales en cubos pequeños. El A) inclusión.
ajo ____ muy, muy pequeño. Calienta una sartén profunda o B) equivalencia.
15 una olla paellera y sofríe los vegetales en este orden: el ajo, C) confirmación.
la cebolla, la zanahoria, el pimentón, el tomate, el calabacín, D) consecuencia.
el puerro y el cebollín. Agrega una cucharadita de sal y una
pizca de pimienta. Deja que se sofría todo un par de minutos 05. (PUC-RS/2019.1)
y que suelte un poco de jugo. Agrega la taza y media de I. Los textos I y II alternan información y elementos que deben
20 arroz, mezcla bien y agrega los guisantes verdes y las 3 tazas conformar una dieta saludable;
de agua. Revuelve un poco y permite que hierva. Cuando el II. El Texto I presenta los resultados de la investigación del
agua ____ a secarse y solo queden burbujas sobre los granos bioquímico y el tiempo de vida, según lo que se come,
de arroz, baja el fuego al mínimo y tapa tu sartén. Deja y el Texto II trata de explicar cómo se prepara un plato con
cocinar unos 10-15 minutos. Revisa que el grano esté listo y, legumbres y el tiempo que se lleva para prepararlo;
25 si en efecto lo está, retira del fuego, deja reposar un par de III. El Texto I se caracteriza, con relación a su contenido, como
minutos y ____ tu delicioso arroz con verduras. Recuerda que expositivo-explicativo, y el Texto II como instruccional.
las verduras propuestas aquí pueden variar en función de lo
que tengas a disposición y de tus gustos. El resultado siempre El análisis de las afirmativas permite concluir que está(n)
será muy parecido. Este arroz con vegetales puedes usarlo para correcta(s)
30 acompañar cualquier plato de proteínas. Te recomiendo usarlo A) I, solamente.
para acompañar unas albóndigas en salsa, chuletas de cerdo, B) I y III, solamente.
un filete de pescado, un corte de carne de res, o incluso para C) II y III, solamente.
comer junto con una pieza de pollo asado al horno. D) I, II y III.

Anual – Volume 3 243


lInGuaGEns, cÓdIGos E suas tEcnoloGIas Espanhol
• Texto para as questões de 06 a 10. 08. (PUCRS/2017.2) De acuerdo con el texto, es posible decir que:
A) Este hallazgo marca la primera detección de una atmósfera
Un equipo de astrónomos ha detectado una atmósfera alrededor de un planeta muy parecido a la Tierra.
alrededor de la super-Tierra GJ 1132b. El planeta gira alrededor B) La masa del planeta GJ 1132b asume la sexta parte total
de la estrella enana roja GJ 1132 en la constelación de Vela de la masa terrestre y su radio es cuatro veces el radio de la
Sur, a una distancia de 39 años luz de nosotros. Este hallazgo Tierra.
5 marca la primera detección de una atmósfera alrededor de C) Hay evidencias de grandes cantidades de oxígeno de otro
un planeta muy parecido a la Tierra que ______ cuenta con exoplaneta, mucho más masivo que la Tierra.
atmósfera; un paso significativo hacia la detección de vida en D) Solo es posible observar el reflejo de la luz de los planetas
un exoplaneta. gigantes o de grandes super-Tierras.
Los expertos del Instituto Max Planck de Astronomía E) El estudio publicado en The Astronomical Journal dice sobre
10 (Alemania), en conjunto con otros investigadores, emplearon la descubierta de una atmósfera que gira alrededor del
el telescopio del Observatorio Austral Europeo (ESO) / MPG de planeta Tierra.
2,2 m en Chile para tomar imágenes de la estrella anfitriona
del planeta y midieron la ligera disminución del brillo a medida 09. (PUCRS/2017.2) De acuerdo con el texto, las expresiones “hacia
que el planeta y su atmósfera absorbían parte de la luz de la la detección” (línea 7), “de cara a” (líneas 19 e 20) y “allana
15 estrella, al pasar directamente delante de su estrella anfitriona. el camino” (línea 29) pueden ser reemplazadas, sin cambio
Es la primera vez que se detecta una atmósfera significativo de significado, respectivamente, por:
alrededor de un planeta tan parecido ______ nuestro, pues A) para el descubrimiento – en relación con – quita el obstáculo
tiene 1,6 masas terrestres y su radio es de 1,4 radios el de la B) a la descubierta – totalmente para – supera la dificultad
Tierra. Lo siguiente en lo que están inmersos los científicos de C) en dirección al desvelamiento – enteramente a – hace más
20 cara a encontrar vida es detectar la composición química de la fácil
atmósfera de este planeta, en busca de ciertos desequilibrios D) hasta el encuentro – con vistas a – aplana el terreno
químicos, como, en nuestro caso, la presencia de grandes E) de la localización – desde adelante para – facilita el camino.
cantidades de oxígeno.
Hasta ahora las observaciones de la luz de las atmósferas 10. (PUCRS/2017.2) De acuerdo con el texto, es posible decir que:
25 de otros exoplanetas estaban asociadas a planetas mucho más ( ) “pues” (línea 17) tiene el mismo sentido que “aunque”.
masivos que la Tierra; esto es, gigantes gaseosos (parecidos ( ) “esto es” (línea 26) introduce una refutación.
a nuestro Júpiter) o una gran súper-Tierra con más de ocho ( ) “Así” (línea 35) puede ser reemplazado por “De esa
veces la masa de nuestro planeta. Esta observación es distinta: manera”.
allana el camino al análisis de la atmósfera de planetas más ( ) “En cuanto a” (línea 38) puede ser sustituido por “Por lo
30 pequeños, de masa más baja, que son mucho más parecidos que toca a”.
a la Tierra en tamaño y masa. ( ) “así como” (línea 40) establece una comparación en tono
Respecto a la observación, el instrumento Grond Imager dubitativo.
de eso permitió examinar el planeta ______ en siete bandas
de longitudes de onda diferentes. GJ 1132b es un planeta La secuencia correcta, de arriba hacia abajo, es:
35 en tránsito. Así, desde la perspectiva de un observador en la A) V – F – V – V – V
Tierra, el planeta pasa directamente delante de su estrella cada B) F – V – F – F – F
1,6 días, bloqueando parte de la luz de la estrella. C) V – V – F – V – V
En cuanto a la composición de su atmósfera, los D) F – V – V – F – V
científicos creen que la atmósfera podría ser rica en agua E) F – F – V – V – F
40 y metano, algo así como un “mundo de agua” con una
atmósfera de vapor caliente. El estudio se ha publicado en The
Astronomical Journal.
Sarah Romero, 2017.
Disponível em: <http://www.muyinteresante.es>. Adaptado.

06. (PUCRS/2017.2) Las palabras que rellenan correctamente las


lagunas entre las líneas 6 y 33 son, respectivamente: Bibliografia
A) mientras – al – paralelamente
CARVALHO, M. C., CARNEIRO, A. D. Gramática da Língua Espanhola.
B) aun – a – esporádicamente Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1969.
C) sin embargo – a lo – inexorablemente
GALERA, M. C. Novo Manual Nova Cultura. São Paulo: Gráfica
D) aún – a lo – totalmente
Círculo, 1997.
E) todavía – al – simultáneamente
HERMOSO, A. G.; CUENOT, J. R.; ALFARO, M. S. Gramática de
Español Lengua Extranjera. 3 ed. España: Edelsa Grupo Didascalia,
07. (PUCRS/2017.2) La única pregunta que encuentra respuesta
S. A., 1995.
en el texto es:
MORAIZ, P. R. Verbos Españoles Conjugados. 5 ed. Madrid: Sociedade
A) ¿Cuándo se descubrió el planeta GJ 1132b?
General Española de Librería, S. A., 1995.
B) ¿Cuántos países están involucrados en las observaciones?
C) ¿Cuál es el próximo paso para los científicos com relación a MORALES, J. L. O. La Gramática de La Real Academia Española.
2 ed. Madrid: Editorial Playor S. A., 1994.
la atmósfera descubierta?
D) ¿Qué ocurre con el planeta Tierra cada vez que GJ 1132b Real Academia Española. Esbozo de una Nueva Gramática de la
pasa delante de su estrella? Lengua Española. Madrid: Espasa Calpe, S. A., 1973.
E) ¿Cuál es la composición de la atmósfera? SARMIENTO, R., SANCHEZ, A. Gramática Básica del Español. Madrid:
Sociedade General Española de Librería, S. A., 1989.

244 Anual – Volume 3


3

Volume
CIÊNCIAS
HUMANAS E SUAS
TECNOLOGIAS
HISTÓRIA
TEMAS E ATUALIDADES
GEOGRAFIA
ASSUNTOS ABORDADOS NO ENEM–2009 A 2018

CIÊNCIAS HUMANAS
E SUAS TECNOLOGIAS
HISTÓRIA GEOGRAFIA

Idade Contemporânea 29,1% Questões Ambientais 14,3%


Agropecuária 12,7%
Brasil Império 12,6%
Geopolítica 9,3%
Brasil Colônia 10,9% Demografia 8,7%
Urbanização 6,7%
República Velha 8,0%
Globalização 6,3%
Teoria, Memória e Patrimônio 7,5% Energia 6,0%
Idade Moderna 7,1% Clima 4,3%
Transporte 4,0%
Era Vargas 6,3% Indústria 4,0%
Regime Civil-Militar 5,7% Migrações 3,7%
Vegetação 3,3%
Idade Antiga 4,0% Geomorfologia 3,3%
Idade Média 3,8% Cartografia 3,0%
Hidrografia 2,3%
Nova República 2,9% Solo 2,0%
República Populista 2,1% Geologia 1,7%
Geografia Regional 1,7%
Orientação e Localização 1,0%
Domínios Morfoclimáticos 1,0%
Comércio 0,7%

FILOSOFIA
Mitologia e Filosofia Antiga 28,57%
(Pré-Socráticos, Grécia Clássica e Helenismo)

Filosofia Moderna 19,29%


(Racionalismo, Empirismo, Criticismo, Iluminismo e Liberalismo)

Filosofia Contemporânea 18,57%


(Filosofia da Ciência, utopias revolucionárias, maioridade da razão, existencialismo, fenomenologia, ....)

Ética, Moral e Justiça 14,29%

Filosofia Renascentista 10,00%


(Humanismo, Reforma e Revolução Científica)

Filosofia Medieval 7,14%


(Patrística e Escolástica)

Estética 1,43%

Lógica 0,71%

SOCIOLOGIA

Revolução Industrial, Organização Científica do Trabalho e... 17,57%


Cultura (Conceitos, classificação, aspectos e características, teorias....) 14,21%
Movimentos Sociais 11,89%
Relações de Poder 11,11%
Meios de Comunicação, Indústria Cultural, Cultura de Massa e... 7,49%
Cidadania e Direitos Humanos 6,98%
Ideologia de Gênero e Intolerância (Étnica, religiosa, política e de...) 6,46%
Democracia 5,94%
Sociologia Urbana, Violência e Conflitos Agrários 5,17%
Globalização 4,13%
Sociologia Brasileira 3,62%
Estratificação, Mobilidade e Desigualdades Sociais 2,58%
Antropologia 1,29%
Teorias Sociológicas Clássicas 1,03%
Ideologia 0,52%
Competências, Habilidades e
Conteúdo Programático
COMPETÊNCIA DE ÁREA 1 – Compreender os elementos culturais que H19 – Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que
constituem as identidades. determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural
H1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais e urbano.
acerca de aspectos da cultura. H20 – Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações
H2 – Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas. impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do
H3 – Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos trabalho.
históricos.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para
H4 – Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre
compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia,
determinado aspecto da cultura.
favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H5 – Identificar as manifestações ou representações da diversidade do
H21 – Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida
patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
social.
H22 – Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às
COMPETÊNCIA DE ÁREA 2 – Compreender as transformações dos espaços mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder. H23 – Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política
H6 – Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos das sociedades.
espaços geográficos. H24 – Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H7 – Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder H25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
entre as nações.
H8 – Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica
COMPETÊNCIA DE ÁREA 6 – Compreender a sociedade e a natureza,
dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem
reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos
econômico-social.
e geográficos.
H9 – Comparar o significado histórico-geográfico das organizações
H26 – Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios
políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H10 – Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e
H27 – Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio
a importância da participação da coletividade na transformação da
físico, levando em consideração aspectos históricos e/ou geográficos.
realidade histórico-geográfica.
H28 – Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais
em diferentes contextos histórico-geográficos.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 3 – Compreender a produção e o papel H29 – Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço
histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas
diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais. ações humanas.
H11 – Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no H30 – Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no
espaço. planeta nas diferentes escalas.
H12 – Analisar o papel da justiça como instituição na organização das
sociedades.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
H13 – Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para
mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
• Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade.
H14 – Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos
– Cultura material e imaterial; patrimônio e diversidade cultural no Brasil.
e interpretativos, sobre situações ou fatos de natureza histórico-
– A Conquista da América. Conflitos entre europeus e indígenas na
geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
América colonial. A escravidão e formas de resistência indígena e
H15 – Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos
africana na América.
ou ambientais ao longo da história.
– História cultural dos povos africanos. A luta dos negros no Brasil e
o negro na formação da sociedade brasileira.
COMPETÊNCIA DE ÁREA 4 – Entender as transformações técnicas e – História dos povos indígenas e a formação sociocultural brasileira.
tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento – Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na vida
do conhecimento e na vida social. política e social.
H16 – Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na
organização do trabalho e/ou da vida social. • Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento político e
H17 – Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no ação do Estado.
processo de territorialização da produção. – Cidadania e democracia na Antiguidade; Estado e direitos do cidadão a
H18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas partir da Idade Moderna; democracia direta, indireta e representativa.
e suas implicações socioespaciais. – Revoluções sociais e políticas na Europa Moderna.
Competências, Habilidades e
Conteúdo Programático
– Formação territorial brasileira; as regiões brasileiras; políticas de A nova ordem ambiental internacional; políticas territoriais ambientais;
reordenamento territorial. uso e conservação dos recursos naturais, unidades de conservação,
– As lutas pela conquista da independência política das colônias da corredores ecológicos, zoneamento ecológico e econômico.
América. – Origem e evolução do conceito de sustentabilidade.
– Grupos sociais em conflito no Brasil Imperial e a construção da nação. – Estrutura interna da terra. Estruturas do solo e do relevo; agentes
– O desenvolvimento do pensamento liberal na sociedade capitalista e internos e externos modeladores do relevo.
seus críticos nos séculos XIX e XX. – Situação geral da atmosfera e classificação climática. As características
– Políticas de colonização, migração, imigração e emigração no Brasil climáticas do território brasileiro.
nos séculos XIX e XX. – Os grandes domínios da vegetação no Brasil e no mundo.
– A atuação dos grupos sociais e os grandes processos revolucionários
do século XX: Revolução Bolchevique, Revolução Chinesa, Revolução • Representação espacial.
Cubana. – Projeções cartográficas; leitura de mapas temáticos, físicos e políticos;
– Geopolítica e conflitos entre os séculos XIX e XX: Imperialismo, a tecnologias modernas aplicadas à cartografia.
ocupação da Ásia e da África, as Guerras Mundiais e a Guerra Fria.
– Os sistemas totalitários na Europa do século XX: nazifascista,
franquismo, salazarismo e stalinismo. Ditaduras políticas na América
Latina: Estado Novo no Brasil e ditaduras na América.
– Conflitos político-culturais pós-Guerra Fria, reorganização política
internacional e os organismos multilaterais nos séculos XX e XXI.
– A luta pela conquista de direitos pelos cidadãos: direitos civis, humanos,
políticos e sociais. Direitos sociais nas constituições brasileiras. Políticas
afirmativas.
– Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, pobreza e segregação
espacial.

• Características e transformações das estruturas produtivas.


– Diferentes formas de organização da produção: escravismo antigo,
feudalismo, capitalismo, socialismo e suas diferentes experiências.
– Economia agroexportadora brasileira: complexo açucareiro; a
mineração no Período Colonial; a economia cafeeira; a borracha na
Amazônia.
– Revolução Industrial: criação do sistema de fábrica na Europa e
transformações no processo de produção. Formação do espaço
urbano-industrial. Transformações na estrutura produtiva no século XX:
o fordismo, o toyotismo, as novas técnicas de produção e seus impactos.
– A industrialização brasileira, a urbanização e as transformações sociais
e trabalhistas.
– A globalização e as novas tecnologias de telecomunicação e suas
consequências econômicas, políticas e sociais.
– Produção e transformação dos espaços agrários. Modernização
da agricultura e estruturas agrárias tradicionais. O agronegócio, a
agricultura familiar, os assalariados do campo e as lutas sociais no
campo. A relação campo-cidade.

• Os domínios naturais e a relação do ser humano com o ambiente.


– Relação homem-natureza, a apropriação dos recursos naturais
pelas sociedades ao longo do tempo. Impacto ambiental das
atividades econômicas no Brasil. Recursos minerais e energéticos:
exploração e impactos. Recursos hídricos; bacias hidrográficas e seus
aproveitamentos.
– As questões ambientais contemporâneas: mudança climática, ilhas de
calor, efeito estufa, chuva ácida, a destruição da camada de ozônio.
História I
História do Brasil

Objetivo(s):
• Compreender a conjuntura mundial no início do século XIX, destacando o choque de interesses entre França e
Inglaterra.
• Contextualizar a fuga da Família Real para o Brasil dentro da situação histórica gerada pelo Bloqueio Continental
napoleônico.
• Destacar os principais fatos econômicos, sociais, políticos e culturais do Período Joanino (1808-21).
• Relacionar a proposta recolonizadora da Revolução do Porto com a chamada Independência do Brasil.
• Entender o conteúdo elitista, excludente e dependente do processo emancipacionista brasileiro.
• Explicar os principais fatos da política interna e externa do Primeiro Reinado.
• Interpretar a abdicação de D. Pedro I como a vitória do liberalismo da aristocracia brasileira sobre o autoritarismo
e absolutismo do imperador.
• Analisar a evolução histórica do Período Regencial, destacando os principais fatos históricos.
• Citar e explicar as principais revoltas do Período Regencial (Cabanagem, Sabinada, Balaiada e Farrapos).
• Entender o Golpe da Maioridade como uma articulação política dos liberais.
• Identificar e explicar os principais fatos da política interna do Segundo Reinado.
• Identificar e explicar os principais fatos da política externa do Segundo Reinado.

Conteúdo:
Aula 11: Processo de Independência do Brasil Aula 14: Revoltas Regenciais (1831-1840)
Introdução: de olho no Enem................................................................. 2 Introdução: de olho no Enem............................................................... 23
A situação de Portugal e a transferência da Corte Portuguesa para o Levante dos Malês (Bahia/1835).......................................................... 23
Brasil...................................................................................................... 2 Cabanagem (Grão-Pará – 1835 a 1840).............................................. 23
O governo de D. João no Brasil ............................................................. 2 Sabinada (Bahia – 1837 a 1838).......................................................... 24
Revolução Liberal do Porto (1820)......................................................... 4 Revolução Farroupilha (Rio Grande do Sul / Santa Catarina –
Exercícios .............................................................................................. 6 1835 a 1845)....................................................................................... 24
Aula 12: Primeiro Reinado (1822-1831) Exercícios ............................................................................................ 25
Introdução: de olho no Enem............................................................... 10 Aula 15: Segundo Reinado (1841 a 1889) Política interna e externa
A Constituição de 1824........................................................................ 11 Introdução: de olho no Enem............................................................... 28
A Confederação do Equador (1824)..................................................... 12 Política interna do Segundo Reinado................................................... 28
O processo de impopularidade de D. Pedro I........................................ 13 Política externa do Segundo Reinado................................................... 30
Exercícios ............................................................................................ 14 Exercícios ............................................................................................ 32
Aula 13: Período Regencial (1831-1840)
Introdução: de olho no Enem............................................................... 17
Evolução histórica................................................................................ 17
Regência Trina Provisória (1831).......................................................... 18
Regência Trina Permanente (1831 a 1835)........................................... 18
Surgem os choques políticos................................................................ 18
Regência Una de Feijó (1835 a 1837).................................................. 19
Regência Una de Araújo Lima (1837 a 1840)....................................... 19
Exercícios ............................................................................................ 20
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Ao tomar conhecimento do acordo anglo-português,
Aula 11:

C-1 H-4 Napoleão Bonaparte assinou com a Espanha o Tratado de


Aula Processo de Independência C-2 H-7, 8 Fontainebleau, estabelecendo a invasão de Portugal por tropas

11 do Brasil H-10 franco-espanholas, a deposição da Dinastia de Bragança e a divisão


das colônias portuguesas entre os dois países.
Iniciada a invasão francesa ao território português, D. João
determinou, em 24 de novembro de 1807, a transferência da
Corte portuguesa para o Brasil, iniciando-se a fuga na madrugada
Introdução: de olho no Enem do dia seguinte.
Houve muita confusão e correria no embarque, pois tropas
O contexto da crise do Sistema Colonial que abalou os francesas já penetravam em terras portuguesas. Não havia lugar para
alicerces do Antigo Regime na Europa repercutia em toda a América. todos nos navios e muita bagagem foi deixada para trás. Fidalgos,
Nesse contexto, iniciava-se o processo de independência do Brasil. nobres e membros da elite portuguesa se apertavam em pequenos
Nesta aula vamos buscar compreender o longo processo, botes ou se atiravam às águas geladas do Tejo tentando chegar às
avaliando os fatores externos e internos que favoreceram a embarcações que os trariam para a América.
independência do Brasil. À altura da ilha da Madeira uma tempestade provocou a
Inicialmente, a transferência da corte portuguesa para o Brasil, divisão da esquadra real: o navio de mantimentos se separou e houve
consequência da iminente invasão napoleônica à Península Ibérica, racionamento de comida a bordo. Também há relatos de que uma
propiciou o que alguns historiadores chamam de “inversão”, afinal, praga de piolhos teria atingido o navio no qual viajava a Família Real,
a colônia portuguesa na América passou a ser o centro das decisões levando as mulheres, inclusive a Rainha Mãe e a Princesa Carlota
políticas. A presença da Corte, no entanto, contribuiu sobremaneira Joaquina a rasparem o cabelo. A divisão da esquadra fez com que
para mudar os hábitos da população, especialmente no Rio de Janeiro. uma parte dos navios seguisse direto para o Rio de Janeiro, enquanto
Da mesma forma, as muitas ações administrativas tomadas por a outra parte, na qual viajava D. João, seguiu para Salvador, onde
D. João VI, visando dotar o Brasil de uma melhor infraestrutura, desembarcaram em janeiro de 1808.
tiveram fortes impactos socioeconômicos, por isso é importante
ficar atento a tais transformações no âmbito da cultura, política e Embarque da Família Real portuguesa no cais de Belém,
economia que tiveram como desdobramento o conflito de interesses em 29 de novembro de 1807
que culminou com a independência política do Brasil em relação a

Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa, Portugal.


Portugal. Finalmente não podemos deixar de dar conta a importante
atuação da Inglaterra, que tinha interesses que seriam favorecidos
caso o Pacto Colonial fosse definitivamente desfeito, isso ajuda em
parte a explicar seu apoio ao desejo de liberdade do Brasil.

A situação de Portugal e a transferência


da Corte Portuguesa para o Brasil
Quando foi decretado o Bloqueio Continental, Portugal
era governado por D. João, que ocupava o trono como Príncipe
Regente, em virtude do afastamento de sua mãe, D. Maria I, devido
a problemas mentais. L’EVÊQUE, Henry (1769-1832). Embarque do príncipe regente de Portugal,
A situação de Portugal era muito complicada, pois a não Dom João, e toda Família Real para o Brasil no cais de Belém, 1815. 40 × 56 cm.
adesão ao Bloqueio Continental poderia custar a invasão do
território do país e até mesmo a perda da Coroa pela Dinastia O governo de D. João no Brasil
de Bragança. Entretanto, Portugal era aliado e dependente
economicamente da Inglaterra desde sua aproximação no século
XVII após o fim da União Ibérica e da assinatura do Tratado de A abertura dos portos às nações amigas
Methuen, em 1703. Além disso, a Inglaterra contava com uma
poderosa frota naval que ameaçava tanto Lisboa como o Brasil, Logo que desembarcou em Salvador, o Príncipe Regente
que poderia ser atacado pelos ingleses como represália a uma D. João assinou a Carta Régia de 28 janeiro de 1808, determinando
eventual adesão portuguesa ao Bloqueio imposto pela França. a abertura dos portos brasileiros às nações amigas de Portugal.
Em meio a tais dificuldades, D. João procurou manter O decreto revogava, ainda, todos os decretos anteriores que
Portugal em posição de neutralidade, adotando postura dúbia proibiam o comércio entre o Brasil e outros países.
e negociando com diplomatas ingleses e franceses. A posição O principal significado desta medida foi o fim do Pacto
portuguesa desagradava tanto ingleses quanto franceses, que Colonial, na medida que extinguiu o monopólio português sobre
exigiam um posicionamento do soberano português. Impaciente com o comércio brasileiro. Os portos brasileiros estavam abertos ao
a indefinição, Napoleão fez um ultimátum a D. João, em agosto de comércio internacional. Esta medida é considerada o primeiro
1707: oferecendo-lhe um prazo de 20 dias para declarar guerra à grande passo em direção à Independência do Brasil, apesar de seu
Inglaterra, fechar os portos portugueses aos navios ingleses e prender aspecto transitório, e deveria vigorar enquanto a Corte portuguesa
e confiscar os bens dos súditos britânicos residentes no país. estivesse no Brasil.
Pressionado pelo embaixador inglês Lorde Strangford, Logo depois da assinatura deste decreto, D. João embarcou
D. João assinou uma Convenção secreta com a Inglaterra, através junto com a Família Real para o Rio de Janeiro, frustrando a
do qual a Família Real portuguesa seria transferida para o Brasil população baiana que acreditava que, com a presença da Corte,
escoltada por uma esquadra britânica. O acordo estabelecia a cidade de Salvador voltaria a ser capital do Brasil. No Rio,
ainda que a Inglaterra teria direito a um porto livre na Ilha D. João tomou uma série de medidas que muito contribuíram para
da Madeira e outro em Santa Catarina, bem como poderia o desenvolvimento econômico e político do Brasil, criando bases
comercializar livremente com o Brasil. fundamentais para a independência política.

2 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
Decreto da abertura dos portos, Tratados assinados com a Inglaterra
Biblioteca Nacional do Brasil
Em 1810 foram assinados tratados comerciais entre Portugal e

Arquivo Nacional do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil.


Inglaterra: Comércio e Navegação; Aliança e Amizade e a Convenção
sobre Paquetes.
Esta última estabelecia visita mensal de paquetes (navios)
ingleses trazendo notícias, cartas e comunicados de Londres, Lisboa
e Ilha da Madeira para o Brasil, permitindo uma maior comunicação
entre os dois países e entre a Corte portuguesa e a Europa e África.
O Tratado de Comércio e Navegação estabelecia as tarifas
alfandegárias que passariam a ser aplicadas nos portos brasileiros.
As taxas incidiam sobre o valor dos produtos (ad valorem) e estavam
assim especificadas: produtos de nações amigas – 24%; produtos
portugueses – 16%; produtos ingleses – 15%. Ficou estabelecido,
ainda, que cidadãos ingleses residentes no Brasil só poderiam ser
Príncipe Regente Dom João VI e Conde da Ponte. julgados por magistrados ingleses.
Decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas, 1808. O Tratado de Aliança e Amizade ratificava a aliança entre os
dois países e o compromisso inglês de só reconhecer a Dinastia de
A estruturação burocrática do Estado Bragança como detentora do trono português, não reconhecendo
português para o Brasil outra dinastia que porventura viesse a tomar o poder no país. Além
disso, Portugal se comprometeu a não permitir a instalação do
Ao se instalar no Rio de Janeiro, D. João teve como Tribunal da Santa Inquisição no Brasil e extinguir gradativamente
preocupação imediata à instalação da Corte e a montagem de um o tráfico negreiro.
aparelho político-administrativo no Brasil. É importante lembrar O resultado direto desses acordos foi uma total abertura
do mercado consumidor brasileiro aos produtos ingleses, que
que, junto com a Família Real, vieram para o Brasil altos funcionários
inundaram as prateleiras dos comércios e armazéns de todo o Brasil,
públicos, ministros, magistrados e nobres, sendo necessária a recriação principalmente do Rio de Janeiro. Com dificuldades de penetrar
do aparelho burocrático português, restabelecendo as funções nos mercados europeus em virtude da expansão napoleônica, os
administrativas e delegando novas que fossem necessárias. Desta comerciantes ingleses enviaram vários produtos que muitas vezes
forma, foram (re)criadas várias repartições públicas e ministérios, que não tinham utilidade no Brasil, como esquis e patins para neve e
teriam as mesmas funções e poderes que tinham em Portugal. casacos de pele. Os baixos impostos pagos por produtos ingleses
É importante frisar que houve grande burocratização da inviabilizavam a instalação de manufaturas e fábricas no Brasil,
máquina pública, predominando a ineficiência, o apadrinhamento, bem como provocaram uma crescente dependência econômica em
o nepotismo, a incompetência, a corrupção e o confronto de funções relação aos britânicos.
ou até mesmo sua duplicidade.
Também foram distribuídos cargos, títulos de nobreza e
Algumas outras medidas de D. João no Brasil
títulos de várias ordens como a Ordem de Cristo, de Santiago, de Nos 13 anos que permaneceu no Brasil, D. João ainda
São Bento de Avis e da Torre a vários membros da elite brasileira em tomou uma série de medidas que muito contribuíram para o
troca de favores ou da sua simpatia, buscando angariar seu apoio. desenvolvimento e a autonomia do Brasil, entre as quais podemos
destacar:
A criação destas repartições e ministérios consolidou a
autonomia política da colônia, que passava a funcionar independente • A instalação da Imprensa Régia e da Biblioteca Régia;
da metrópole, constituindo o que alguns autores definem como a • A fundação do Horto Real (Jardim Botânico);
Inversão Brasileira, já que na colônia se concentravam as decisões • A criação das Escolas de Medicina de Salvador e do Rio de Janeiro;
políticas da metrópole. • A criação da Escola de Comércio e da Escola Real de Artes,
Ciências e Ofícios;
A liberdade industrial e outras medidas econômicas • O financiamento da vinda de uma Missão Artística Francesa, que
trouxe para o Brasil pintores como Nicoles Taunay e Jean-Baptiste
Logo que chegou ao Rio de Janeiro, D. João assinou o Alvará Debret; o escultor Auguste Taunay; o arquiteto Grandjean de
de Liberdade Industrial, permitindo a instalação de manufaturas e Montigny; e o gravador Marc Ferrez. Esta missão francesa lançou
fábricas no Brasil e anulando as proibições impostas pelo Alvará de bases para a Academia de Belas Artes;
1785, assinado por sua mãe. • Foram fundadas ainda a Academia Real Militar e a Academia da
Apesar de um relativo e iminente surto industrial, com a Marinha, bem como o Teatro São João e a Fábrica de Pólvora.
criação de algumas manufaturas têxteis e siderúrgicas, a medida
não foi suficiente para promover a industrialização do Brasil, já que Outros fatos importantes na Política Externa
não havia capital suficiente para ser aplicado em fábricas; mercado de D. João no Brasil
consumidor, principalmente devido ao grande número de escravos; Logo que chegou ao Brasil, D. João determinou a ocupação
e a concorrência inglesa. da Guiana Francesa, como represália à invasão de Portugal por
O Príncipe Regente determinou ainda a criação da Casa tropas napoleônicas. Anexada em 1809, a região ficou sob poder
da Moeda e do Banco do Brasil. A primeira seria responsável pela luso-brasileiro até 1817, quando foi devolvida em cumprimento do
emissão monetária e o segundo serviria para atender as necessidades Princípio da Legitimidade, definido no Congresso de Viena.
bancárias das elites portuguesas e brasileiras e para regulamentar Em 1816 foi anexada a Banda Oriental, que passou a ser
a arrecadação tributária, altamente necessária para o custeio do chamada de Província Cisplatina, com o objetivo de garantir o
acesso à região Platina, sob a justificativa de preservar os interesses
aparelho burocrático montado no Brasil.
da princesa Carlota Joaquina.

Anual – Volume 3 3
ciências Humanas e suas tecnologias História I
A elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal Foi instituída uma Lei Orgânica enquanto não era convocada
uma Assembleia Constituinte. Esta determinava a adoção do regime
e Algarves republicano, a liberdade de comércio e de imprensa.
Após a derrota de Napoleão Bonaparte, os países vencedores A reação do governo português foi imediata, enviando
organizaram, em 1814/1815, o Congresso de Viena, que tinha tropas da Bahia e do Rio de Janeiro, bloqueando o porto de Recife
como objetivo básico a reorganização da Europa e a restauração e atacando os revoltosos por terra e mar. Despreparado, o exército
das estruturas do Antigo Regime abaladas pela expansão francesa revolucionário foi derrotado facilmente pelas tropas leais ao governo
e difusão dos ideais revolucionários. Joanino. Alguns líderes foram mortos em combate, enquanto outros
Para Portugal participar do Congresso era necessário foram executados em Salvador (Padre Miguelinho e Domingos José
regularizar a situação do país, pois a Corte estava na colônia e Martins) e no Recife (Domingos Teotônio Jorge e José de Barros Leal).
seu território na Europa estava sob dominação inglesa. A solução Alguns envolvidos foram anistiados em 1821 pelo príncipe
foi a oficialização do Brasil como sede da monarquia lusa, através D. Pedro, como Frei Caneca, Antônio Carlos de Andrada e o padre
de elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves, cearense José Martiniano de Alencar.
equiparando-o a Portugal e oficializando o Rio de Janeiro como
centro das decisões políticas portuguesas.
A medida agradava aos brasileiros, que temiam que, com o Revolução Liberal do Porto (1820)
fim das guerras napoleônicas, a Família Real voltasse para Portugal
Após a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, o
e restaurasse os laços coloniais aos ingleses, que continuariam livres
reino português ficou em uma difícil situação: abandonado por seu
para dominar o comércio brasileiro.
governo, nobreza e fidalguia, teve seu território ocupado por tropas
franco-espanholas no final de 1807. Convém lembrar que as elites
A Revolução Pernambucana de 1817 portuguesas embarcaram para o Brasil, levando aproximadamente
A economia nordestina e a pernambucana enfrentavam séria 80% do dinheiro que circulava no país, mergulhando-o em uma
crise econômica no início do século XIX, devido à queda nos preços séria crise econômica agravada pela perda do monopólio comercial
e na exportação de açúcar e algodão, respectivamente os maiores sobre o Brasil. Em 1809 os franceses foram expulsos e o território
produtos de exportação da região e da capitania. O açúcar sofria ainda português passou a ser um protetorado inglês, governado pelo Lorde
a concorrência do açúcar produzido pelos ingleses a partir da beterraba, Beresford, cujo autoritarismo desagradava a população.
enquanto o algodão sofria concorrência da produção norte-americana. A situação do país estava precária: a produção agrícola
Os grandes proprietários rurais e a população nordestina em estava em crise, as manufaturas, falidas e o comércio, decadente.
geral enfrentavam sérias dificuldades, agravadas pelas constantes A burguesia tinha perdido o monopólio comercial sobre o Brasil
secas ocorridas na região, provocando mais carestia, fome e e não tinha perspectivas de melhoria econômica. A inflação, o
miséria. Além disso, o comércio era controlado por portugueses e desemprego e a miséria completavam a triste realidade portuguesa.
os cargos públicos eram sempre oferecidos aos lusitanos, excluindo A situação revoltava a população, e sociedades secretas
os brasileiros das decisões políticas. como a Maçonaria e o Sinédrio começaram a se organizar para reagir
A presença da Corte portuguesa no Rio de Janeiro à situação, contando com rápida adesão da burguesia comercial e
demandava altos gastos para o Estado e, para sustentá-la, D. João industrial, militares e nobres.
promovia constantes aumentos de tributos, aumentando ainda mais Em agosto de 1820 teve início a Revolução Liberal do Porto,
o custo de vida dos brasileiros e nordestinos. que tinha como objetivos:
Esta realidade levou alguns segmentos sociais pernambucanos • expulsar Lorde Beresford do governo e do país;
a organizar um movimento revolucionário influenciado pelas ideias • elaborar uma Constituição;
Iluministas e pelo liberalismo político do movimento de Independência • a volta da Família Real;
dos EUA e da Revolução Francesa, que objetivava a separação de • acabar com o absolutismo;
Pernambuco. Os principais meios de difusão das ideias liberais em • recuperar a economia;
Pernambuco eram o Seminário de Olinda e o Areópago de Itambé. • recolonizar o Brasil.
Além da independência, os revolucionários pernambucanos O movimento contou com a rápida adesão da população
queriam a adoção de uma república federalista e a adesão de outras portuguesa e imediatamente se espalhou pelo país, atingindo
províncias contrárias à presença e políticas da Corte portuguesa no Brasil, Lisboa e Coimbra. Formou-se uma Junta Provisional do Governo
bem como o fim dos monopólios comerciais e dos tributos excessivos. Supremo do Reino, que convocou eleições para a formação das
Participavam do movimento alguns clérigos, fazendeiros, Cortes Constituintes, que elaborariam uma Constituição para o país.
militares e maçons, cabendo a liderança a Antônio Carlos Ribeiro de A notícia da revolução logo chegou à América, empolgando
Andrada, Padre Miguelinho, Frei Caneca, o comerciante Domingos portugueses e brasileiros. Chegou a ficar acertado que o Brasil
José Martins e o capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado. poderia enviar deputados para participar da elaboração da
O movimento teve início quando o Governador de Constituição, o que não foi respeitado pelas Cortes, que iniciaram
Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, recebeu
os trabalhos à revelia dos brasileiros.
denúncias de que estava sendo organizada uma conspiração e
Jurando lealdade ao rei D. João VI, as Cortes exigiam a volta
ordenou a prisão dos líderes civis e militares. A prisão dos civis foi
da Família Real a Lisboa e começaram a adotar medidas restritivas
tranquila, enquanto o capitão José de Barros Leal, o Leão Coroado,
às liberdades econômicas do Brasil, demonstrando claramente o
reagiu ao ser preso, matando os portugueses brigadeiro Barbosa
interesse pela recolonização.
de Castro e o tenente-coronel Alexandre Tomás. Daí em diante, os
Pressionado de um lado por portugueses, que queriam que
revoltosos anteciparam o levante e tomaram o poder, instituindo
obedecesse às Cortes, e por outro por brasileiros, temerosos pela
um governo provisório composto por representantes do Comércio
recolonização, D. João resolveu ficar no Brasil e enviar o herdeiro do
– Domingos José Martins; Agricultura – Manuel Correia de Araújo;
trono, Príncipe D. Pedro a Portugal. A decisão não foi aceita pelas
Exército – Domingos Teotônio Jorge; Igreja – padre João Ribeiro; e
Cortes, que exigiam a presença do próprio rei. Em 26 de abril de
Magistratura – José Luís de Mendonça. O movimento contou ainda
1821, D. João VI retornou a Portugal, deixando o Príncipe D. Pedro
com a adesão de revolucionários da Paraíba, Rio Grande do Norte,
como governante regente do Brasil.
Ceará e Alagoas.

4 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
O embarque da Corte ocorreu em meio a grande tumulto, As Cortes acirraram os decretos recolonizadores. As tropas
pois manifestantes brasileiros protestavam contra o embarque de metropolitanas sediadas no Brasil movimentaram-se contra o
grande quantidade de ouro brasileiro e dinheiro que havia sido regente D. Pedro.
retirado do Banco do Brasil. Os protestantes gritavam: “Olho vivo, Isto acelerou os acontecimentos.
pé ligeiro! Vamos a bordo, buscar nosso dinheiro!” • Instituição do decreto do “Cumpra-se”. As leis portuguesas,
Demonstrando seu autoritarismo, o Príncipe Regente enviou doravante, só seriam acatadas após receber o visto de D. Pedro.
tropas que reprimiriam violentamente a manifestação. • Convocação no Rio de Janeiro do Conselho de Procuradores
Gerais das Províncias do Brasil.

Acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo,


São Paulo, Brasil.
• A maçonaria oferece e o regente D. Pedro I aceita o título de
Defensor Perpétuo do Brasil.
• Licença apenas para o desembarque das tropas que jurassem
obediência ao regente.
• Nomeação de diplomatas brasileiros em países europeus e nos EUA.
• Viagem de D. Pedro a Minas, onde acalmou os ânimos mais exaltados.
• Convocação de uma Assembleia Geral e Constituinte.
O país caminhava para a separação final. A monarquia,
encabeçada pelo regente D. Pedro, consolidaria a hegemonia dos
latifúndios; esvaziaria o ideal republicano; refutaria o federalismo,
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848). Retratos de D. João VI e D. Pedro I optando por uma forma unitarista, com o poder centralizado no
Rio. A imposição da independência necessitava apenas de um ato
“Diga ao povo que fico” público. Este competia a D. Pedro.
D. Pedro viajou para São Paulo em agosto de 1822. Tentava
O caráter recolonizador das Cortes gerou a reação acalmar a província, agitada pela Bernarda de Francisco Inácio.
anticolonialista dos brasileiros. O termo “brasileiros” devia ser Este movimento havia destituído Martim Francisco e abalado o
entendido como sendo os favoráveis à independência, tivessem prestígio dos Andrada. Enquanto D. Pedro estava em São Paulo, a
ou não nascido no Brasil. maçonaria decidiu pela separação no Brasil de Portugal. A chegada
A burguesia portuguesa não permitiria que ocorresse do navio-correio, trazendo notícias restritivas à autonomia do Brasil,
a separação. O Brasil proporcionava-lhes produtos tropicais, precipitou os acontecimentos.
couro, ouro e madeira a baixo preço, que eram utilizados tanto José Bonifácio enviou um mensageiro que foi encontrar
para o comércio interno como para a revenda com altos lucros. D. Pedro no Ipiranga, quando voltava de Santos. Os relatórios dos
Os traficantes lusos também beneficiavam-se com a venda de irmãos Andrada, de Lisboa e do Rio, e a carta de D. Leopoldina
escravos. A máscara do liberalismo lusitano, cuja verdadeira convenceram-no a imediatamente proclamar a independência. Era
intenção era reativar o colonialismo no Brasil, caíra por terra. o dia 7 de setembro de 1822.
A aristocracia rural brasileira não admitiria a pura e simples
volta ao status colonial. Não permitiria mais poderes discricionários Independência do Brasil: óleo sobre tela por François-René
nem espoliações realizadas em nome do fisco. Moreaux (Museu Imperial de Petrópolis). Foi executado
O ideal emancipacionista era por demais forte. A presença em 1844, a pedido do Senado Imperial.
da corte de D. João VI no Brasil arruinou os alicerces do sistema

Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro.


colonial. Este não só já estava inadequado à nova realidade mundial,
como também não tinha mais sustentação interna. Os grupos
anticolonialistas fortaleceram-se. Seus ideais foram propagados e
popularizados. A aristocracia procurava apoio no povo.
A corrente anticolonialista estava muito dividida. Dos dois
grupos mais importantes destacava-se José Bonifácio, considerado
um moderado. Acreditava que mesmo o Reino Unido poderia
ser preservado se fosse mantida a autonomia do país. De outro
lado, Gonçalves Ledo, radical, interpretava os anseios dos setores
urbanos mais intelectualizados e pregava o rompimento total
com Portugal. MOREAUX, François-René (1807-1860). A Proclamação da Independência,
A maior ameaça pairava sobre a unidade nacional. 1844. Óleo sobre tela, 2,44 × 3,83 m.
Os radicais e republicanos poderiam levar o país a fracionar-se.
Uma monarquia centralizada no Rio, com D. Pedro à frente, seria Independência ou Morte, mais conhecido como
mais uma garantia que a independência atribuiria apenas ao nível O Grito do Ipiranga, 1888, Museu Paulista
do arranjo político. Sem revolução, não interessava às classes
Museu Paulista da USP, São Paulo.

agrárias e escravistas.
Havia a necessidade de uma definição. Um abaixo-assinado
foi levado a D. Pedro por José Clemente Pereira, no dia 9 de janeiro
de 1822. Pressionado pelo presidente do Senado e da Câmara,
comprometeu-se diante do povo a permanecer aqui.

“Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil”


A reação portuguesa não se fez esperar. O comportamento
de D. Pedro com o partido da independência teve reflexos internos
e externos. AMÉRICO, Pedro (1843-1905). Independência ou Morte, 1888. Óleo sobre tela.

Anual – Volume 3 5
ciências Humanas e suas tecnologias História I
• Rio de Janeiro – 1808: desembarque da Família Real
portuguesa na cidade onde residiriam durante sua
Exercícios de Fixação permanência no Brasil.
• Salvador – 1810: D. João VI assina a carta régia de abertura
dos portos ao comércio de todas as nações amigas, ato
01. (Enem-PPL/2016) É hoje a nossa festa nacional. O Brasil inteiro, antecipadamente negociado com a Inglaterra em troca da
da capital do Império a mais remota e insignificante de suas escolta dada à esquadra portuguesa.
aldeolas, congrega-se unânime para comemorar o dia que o • Rio de Janeiro – 1816: D. João VI torna-se rei do Brasil e de
tirou dentre as nações dependentes para colocá-lo entre as Portugal, devido à morte de sua mãe, D. Maria I.
nações soberanas, e entregou-lhe os seus destinos, que até • Pernambuco – 1817: As tropas de D. João VI sufocam a
então haviam ficado a cargo de um povo estranho. revolução republicana.
Gazeta de Notícias, 7 set. 1883. GOMES. L. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte
corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil.
As festividades em torno da Independência do Brasil marcam o São Paulo: Planeta, 2007 (adaptado).
nosso calendário desde os anos imediatamente posteriores ao
7 de setembro de 1822. Essa comemoração está diretamente Uma das consequências desses eventos foi
relacionada com A) a decadência do império britânico, em razão do contrabando
A) a construção e manutenção de símbolos para a formação de produtos ingleses através dos portos brasileiros.
de uma identidade nacional.
B) o fim do comércio de escravos no Brasil, porque a Inglaterra
B) o domínio da elite brasileira sobre os principais cargos
decretara, em 1806, a proibição do tráfico de escravos em
políticos, que se efetivou logo após 1882.
seus domínios.
C) os interesses de senhores de terras que, após a Independência,
C) a conquista da região do rio da Prata em represália à aliança
exigiram a abolição da escravidão.
entre a Espanha e a França de Napoleão.
D) o apoio popular às medidas tomadas pelo governo imperial
D) a abertura de estradas, que permitiu o rompimento do
para a expulsão de estrangeiros do país.
isolamento que vigorava entre as províncias do país, o que
E) a consciência da população sobre os seus direitos adquiridos
dificultava a comunicação antes de 1808.
posteriormente à transferência da Corte para o Rio de Janeiro.
E) o grande desenvolvimento econômico de Portugal após a
vinda de D. João VI para o Brasil, uma vez que cessaram as
02. (UEMG/2017)
despesas de manutenção do rei e de sua família.
“Ouvi, ó Povos, o grito,
Que vamos livres erguer; 04. (Enem/2014) A transferência da Corte trouxe para a América
O Brasil sacode o jugo, portuguesa a Família Real e o governo da Metrópole. Trouxe
Independência ou Morrer. também, e sobretudo, boa parte do aparato administrativo
Congresso opressor jurara português. Personalidades diversas e funcionários régios
Nossos povos abater: continuaram embarcando para o Brasil atrás da Corte, dos seus
Em seu despeito amamos empregos e dos seus parentes após o ano de 1808.
Independência ou Morrer. NOVAIS, F. A.; ALENCASTRO, L. F. (Org.). História da vida privada no Brasil.
São Paulo: Cia. das Letras, 1997.
Depois de trezentos anos
Livre o Brasil vai viver:
Deve a Pedro a Liberdade, Os fatos apresentados se relacionam ao processo de
Independência ou morrer.” independência da América portuguesa por terem
A) incentivado o clamor popular por liberdade.
“Independência ou morrer”. Poesia anônima, publicada pela Tipografia do
B) enfraquecido o pacto de dominação metropolitana.
Diário no ano de 1822, Rio de Janeiro. Apud: CARVALHO,
José Murilo de, BASTOS, Lúcia & BASILE, Marcelo C) motivado as revoltas escravas contra a elite colonial.
(Orgs.). Guerra literária: panfletos da Independência (1820-1823). D) obtido o apoio do grupo constitucionalista português.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014, 257-258. 4 v. E) provocado os movimentos separatistas das províncias.
No cenário político em que a poesia acima foi elaborada, as
relações entre Brasil e Portugal agravaram-se devido à/ao: 05. (UFSM/2002)
A) tentativa das Cortes portuguesas de recolonizar o Brasil. INDEPENDENCE OF BRAZIL
B) objetivo das elites brasileiras de expulsar o Príncipe Regente.
C) expectativa dos liberais portugueses em fortalecer o
Reprodução/UFSM 2002

Absolutismo.
D) esforço dos deputados escravistas para criar a Constituição
cidadã.

03. (Enem/2010) Em 2008 foram comemorados os 200 anos da


mudança da Família Real portuguesa para o Brasil, onde foi
instalada a sede do reino. Uma sequência de eventos importantes
ocorreu no período 1808 – 1821, durante os 13 anos em que
D. João VI e a Família Real portuguesa permaneceram no Brasil.
Entre esses eventos, destacam-se os seguintes:
• Bahia – 1808: Parada do navio que trazia a Família Real
TEIXEIRA, Francisco M. P. Brasil: História e Sociedade.
portuguesa para o Brasil, sob a proteção da marinha
São Paulo: Ática, 2000. p.162.
britânica, fugindo de um possível ataque de Napoleão.

6 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
O quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, 02. (Enem/2007) Após a Independência, integramo-nos como
concluído em 1888, é uma representação do 7 de setembro exportadores de produtos primários à divisão internacional
de 1822, quando o Brasil rompeu com Portugal. Essa do trabalho, estruturada ao redor da Grã-Bretanha.
representação enaltece o fato e enfatiza a bravura do herói O Brasil especializou-se na produção, com braço escravo
importado da África, de plantas tropicais para a Europa
D. Pedro, ocultando que:
e a América do Norte. Isso atrasou o desenvolvimento de
A) o fim do Pacto Colonial, decretado na Conjuração Baiana,
nossa economia por pelo menos uns oitenta anos. Éramos
conduziu à ruptura entre Brasil e Portugal. um país essencialmente agrícola e tecnicamente atrasado
B) o processo de emancipação política iniciara com a por depender de produtores cativos. Não se poderia confiar
instalação da Corte portuguesa no Brasil e que as medidas a trabalhadores forçados outros instrumentos de produção
de D. João puseram fim ao monopólio metropolitano. que os mais toscos e baratos.
C) o Brasil continuara a ser uma extensão política e O atraso econômico forçou o Brasil a se voltar para fora.
administrativa de Portugal, mesmo depois do 7 de Era do exterior que vinham os bens de consumo que
setembro. fundamentavam um padrão de vida “civilizado”, marca que
distinguia as classes cultas e “naturalmente” dominantes do
D) a Abertura dos Portos e a Revolução Pernambucana se
povaréu primitivo e miserável. (...) E de fora vinham também
constituíram nos únicos momentos decisivos da separação
os capitais que permitiam iniciar a construção de uma
Brasil-Portugal. infraestrutura de serviços urbanos, de energia, transportes
E) a separação estava consumada, o processo estava e comunicações.
completo, visto que havia, em todo o Brasil, uma forte
Paul Singer. Evolução da economia e vinculação internacional.
adesão militar, popular e escravista à emancipação. In: I. Sachs; J. Willheim;P. S. Pinheiro (Orgs.). Brasil: um século de
transformações. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 80.

Levando-se em consideração as afirmações anteriores, relativas


à estrutura econômica do Brasil por ocasião da independência
Exercícios Propostos política (1822), é correto afirmar que o país
A) se industrializou rapidamente devido ao desenvolvimento
alcançado no Período Colonial.
01. (Enem/2011) No clima das ideias que se seguiram à revolta B) extinguiu a produção colonial baseada na escravidão e
de São Domingos, o descobrimento de planos para um fundamentou a produção no trabalho livre.
levante armado dos artífi ces mulatos na Bahia, no ano C) se tornou dependente da economia europeia por realizar
de 1798, teve impacto muito especial; esses planos tardiamente sua industrialização em relação a outros países.
D) se tornou dependente do capital estrangeiro, que foi
demonstravam aquilo que os brancos conscientes tinham
introduzido no país sem trazer ganhos para a infraestrutura
já começado a compreender: as ideias de igualdade social
de serviços urbanos.
estavam a propagar-se numa sociedade em que só um terço E) teve sua industrialização estimulada pela Grã-Bretanha, que
da população era de brancos e iriam inevitavelmente ser investiu capitais em vários setores produtivos.
interpretados em termos raciais.
MAXWELL, K. Condicionalismos da Independência do Brasil. 03. (Enem/2009) No tempo da independência do Brasil, circulavam
In: SILVA, M. N. (coord.) nas classes populares do Recife trovas que faziam alusão à
O Império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Estampa, 1986. revolta escrava do Haiti:
O temor do radicalismo da luta negra no Haiti e das Marinheiros e caiados
propostas das lideranças populares da Conjuração Baiana Todos devem se acabar,
(1798) levaram setores da elite colonial brasileira a novas Porque só pardos e pretos
posturas diante das reivindicações populares. No período O país hão de habitar.
da Independência, parte da elite participou ativamente do AMARAL, F. P. do. Apud CARVALHO, A. Estudos pernambucanos.
processo, no intuito de Recife: Cultura Acadêmica, 1907.

A) instalar um partido nacional, sob sua liderança, garantindo


O período da independência do Brasil registra conflitos raciais,
participação controlada dos afrobrasileiros e inibindo novas
como se depreende
rebeliões de negros.
A) dos rumores acerca da revolta escrava do Haiti, que
B) atender aos clamores apresentados no movimento baiano, circulavam entre a população escrava e entre os mestiços
de modo a inviabilizar novas rebeliões, garantindo o controle pobres, alimentando seu desejo por mudanças.
da situação. B) da rejeição aos portugueses, brancos, que significava a
C) firmar alianças com as lideranças escravas, permitindo rejeição à opressão da Metrópole, como ocorreu na Noite
a promoção de mudanças exigidas pelo povo sem a das Garrafadas.
profundidade proposta inicialmente. C) do apoio que escravos e negros forros deram à monarquia,
D) impedir que o povo conferisse ao movimento um teor com a perspectiva de receber sua proteção contra as
injustiças do sistema escravista.
libertário, o que terminaria por prejudicar seus interesses e
D) do repúdio que os escravos trabalhadores dos portos
seu projeto de nação.
demonstravam contra os marinheiros, porque estes
E) rebelar-se contra as representações metropolitanas, isolando representavam a elite branca opressora.
politicamente o Príncipe Regente, instalando um governo E) da expulsão de vários líderes negros independentistas, que
conservador para controlar o povo. defendiam a implantação de uma república negra, a exemplo
do Haiti.

Anual – Volume 3 7
ciências Humanas e suas tecnologias História I
04. (UFMG/2008) Analise estas duas representações do chamado A) O processo de Abertura dos Portos é visto como o fim do
Grito do Ipiranga, de 7 de setembro de 1822. monopólio lusitano sobre o comércio brasileiro e marca
uma nova fase das relações internacionais do Brasil com a

Museu Paulista da USP, São Paulo, Brasil.


Inglaterra, país modelo da Revolução Industrial.
B) Os acordos realizados após a chegada da Família Real
inauguram a fase mercantilista da economia brasileira, ainda
marcada pelo escambo e pelas propriedades extrativistas.
C) As cláusulas de nação mais favorecida praticadas nos acordos
de importação que se seguiram após a abertura favoreciam
os privilégios portugueses e colaboravam para manter a
AMÉRICO, Pedro (1843-1905). Independência ou Morte, ordem lusitana sobre o comércio brasileiro.
1888. Óleo sobre tela. D) Os acordos realizados no Brasil pela diplomacia britânica às
vésperas da emancipação norte-americana demonstravam

Museu Imperial de Petrópolis,


Rio de Janeiro, Brasil.
que o Reino Unido seria tolerante aos interesses dos colonos
rebeldes da América Espanhola como forma de estabelecer
um acordo de paz com a França napoleônica.

06. (Fuvest/2008) Em novembro de 1807, a Família Real portuguesa


deixou Lisboa e, em março de 1808, chegou ao Rio de Janeiro.
O acontecimento pode ser visto como:
A) incapacidade dos Braganças de resistirem à pressão da
MOREAUX, François-René (1807-1860). A Proclamação da Espanha para impedir a anexação de Portugal.
Independência, 1844. Óleo sobre tela, 2,44 × 3,83 m.
B) ato desesperado do Príncipe Regente, pressionado pela
A partir da análise dessas duas representações e considerando-se rainha-mãe, Dona Maria I.
outros conhecimentos sobre o assunto, é correto afirmar que, C) execução de um velho projeto de mudança do centro
em ambas, político do Império português, invocado em épocas de
A) a disposição dos atores – coletivos e individuais, bem como crise.
dos aspectos que compõem o cenário, é diferenciada e D) culminância de uma discussão popular sobre a neutralidade
expressa uma visão particular sobre D. Pedro – na primeira, de Portugal com relação à guerra anglo-francesa.
como o protagonista central; na segunda, como líder de E) exigência diplomática apresentada por Napoleão Bonaparte,
uma ação popular. então primeiro cônsul da França.
B) as mesmas concepções históricas e estéticas fundamentam
e explicam a participação dos mesmos grupos sociais e 07. (IFSC/2015) Em 1806, o Imperador francês Napoleão Bonaparte
personagens históricos – o príncipe, militares, mulheres, anunciou o Bloqueio Continental à Inglaterra, estabelecendo
camponeses e crianças. que nenhum país europeu poderia comercializar com os
C) D. Pedro, embora seja o protagonista, se destaca de modo ingleses. O rei de Portugal, pressionado pela onda liberal da
diferente – na primeira, ele recebe o apoio de diversos grupos Revolução Francesa e apoiado pela Inglaterra, fugiu para a
sociais; na segunda, a participação das camadas populares colônia portuguesa, na América, para esperar a situação se
é mais restrita.
normalizar.
D) os artistas conseguem causar um mesmo efeito – descrever
a Independência do Brasil como um ato solene, grandioso,
Com relação à presença da Família Real portuguesa no Brasil
sem participação popular e protagonizado por D. Pedro.
é correto afirmar que
05. (UEMG/2008.2) Leia o trecho do artigo de Rubens Ricupero a A) a Revolução Farroupilha, ocorrida no sul do Brasil, tinha
seguir. como principal objetivo expulsar a Corte portuguesa e
proclamar a independência da colônia americana.
“Seria mais correto dizer que o tratado e o predomínio B) Salvador foi elevada à condição de capital do Reino Unido
comercial britânico, assim como a Abertura dos Portos, faziam de Portugal e Algarves, tornando-se o maior centro político,
parte de conjunto de acontecimentos que iriam transferir, de econômico e cultural da colônia.
fato e de direito, a anacrônica dependência da colônia em
C) a presença da Corte portuguesa no Brasil, exercendo
relação a uma metrópole decadente há séculos para o país
um governo absolutista e conservador, contribuiu para
hegemônico da Revolução Industrial e novo centro do poder
retardar a Independência do Brasil, pois as melhorias
econômico e político mundial. É esse processo de modernização
administrativas e econômicas deixaram a elite liberal
do modelo de inserção do Brasil no sistema internacional que
tem como ponto de partida formal a Abertura dos Portos de brasileira satisfeita.
1808.” D) chegando ao Brasil, D. João VI tratou logo de cumprir o
prometido aos ingleses e decretou a abertura dos portos, em
RICUPERO, Rubens. O problema da Abertura dos Portos.
1808, para as nações amigas comercializarem diretamente
Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. São Paulo: Faap, 2008. p. 2.
com a colônia.
Considerando a abordagem sobre a Abertura dos Portos E) em 1821, os franceses foram expulsos de Portugal e
autorizada por D. João VI, conforme texto apresentado, assinale D. João VI foi chamado para assumir o trono português,
a alternativa que interpreta corretamente o pensamento do mas ele preferiu ficar no Brasil. Esse fato ficou conhecido
autor. como “Dia do Fico”.

8 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
08. (Uece/2007.1) “...diz Oliveira Lima que um oficial português 10. (Uespi/2007) Houve mudanças na economia brasileira, no
jurou a um oficial brasileiro que o Brasil continuaria escravo de século XIX, que indicavam crescimento das cidades e sinais de
Portugal e que o príncipe embarcaria, mesmo que, para isto, modernização. A cidade do Rio de Janeiro, capital do Império,
tivesse sua espada de servir-lhe de prancha”. A) tornou-se o centro político e cultural do Brasil, influenciada
LUSTOSA, Isabel. Perfis Brasileiros: D. Pedro I. por hábitos franceses.
São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p 132/133. B) teve um surto de industrialização bastante significativo para
O episódio acima narrado refere-se ao famoso “Dia do Fico”. a época.
Em relação aos desdobramentos dele decorrentes, considere C) comandou o movimento abolicionista, liderado por
as seguintes afirmativas: intelectuais socialistas.
I. A oficialidade portuguesa não se conformou com a decisão D) dinamizou seu comércio, embora não tenham sido feitas
reformas urbanas.
de D. Pedro I de permanecer no Brasil. As tropas armadas
E) cresceu com a chegada de imigrantes, mas perdeu sua
portuguesas saíram dos quartéis, armados de cassetetes,
importância política.
insultando transeuntes e praticando desacatos;
II. Medidas para conter os desagravos das tropas portuguesas
não foram tomadas e, contraditoriamente, D. Pedro I exigiu
que as mesmas permanecessem no Brasil e posteriormente Fique de Olho
premiou as tropas, tornando-as sua guarda pessoal;
III. Instalou-se um clima de guerra com toda tropa de linha e
miliciana do país. A estes juntaram-se cidadãos de todas Sites:
as classes: roceiros, agregados, negros forros, escravos
dispostos a enfrentar a divisão portuguesa. http://espacohistorico.blogspot.com/2008/01/chegada-da-familia-
São corretas: real-portuguesa-ao-html
A) I, II e III. http://www.historiamais.com/familia_real.htm
B) apenas I e III. http://www.vestibulareconcurso.com/modules/smartsection/item.
C) apenas I e II. php?itemid=354
D) apenas II e III. http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=3
http://www.vertibulareconcurso.com/modules/smartsection/item.
09. (Mackenzie/2011) No ano de sua independência, o Brasil php?itemid=265
tinha […] tudo para dar errado. De cada três brasileiros,
dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou Sugestão de Livros:
mestiços. Era uma população pobre e carente [...]. O medo
de uma rebelião dos cativos assombrava a minoria branca. • Ilmar R. de Matos e outros. O Rio de Janeiro, capital do Reino.
O analfabetismo era geral. […]. Os ricos eram poucos e, com Atual, 1995.
raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades • Manuel Correia de Andrade. A Revolução Pernambucana de
entre as províncias prenunciavam uma guerra civil […]. 1817. Ática, 1995.
• Berbel, Márcia. A Independência do Brasil, | 1889-1923/1999
Laurentino Gomes, 1822. Saraiva.
• Albuquerque, Wlamyra Ribeiro de. Algazarra nas ruas:
É correto afirmar que a Independência do Brasil só não comemorações da independência na Bahia, 1889-1923/1999
confirmou os temores apresentados no trecho, Ed. da Unicamp/Unicamp, Centro de Pesquisa em História Social
A) porque ao defender a revolução popular de inspiração da Cultura.
camponesa, inspirou legisladores como José Bonifácio e • O Brado do Ipiranga/1999 Edusp/Museu Paulista.
Joaquim Nabuco a defenderem a emancipação completa • Villa, Marcos Antonio, Sociedade e história do Brasil/
em relação a Portugal. Independência do Brasil/1999 Instituto Teotônio Vilela.
B) porque o povo conseguiu entender os anseios de D. Pedro • Bagno, Marcos, O processo de independência do Brasil/2000.
e da elite brasileira, ao pegar em armas e defender até a
morte uma independência que parecia condenada em sua Vídeo:
própria estrutura.
C) porque foi realizada à revelia da população pobre – • Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (BRA, 1994). Dir. Carla
destacadamente de origem africana e indígena – uma vez Camurati.
que suas simpatias pela Revolução Americana ameaçavam
os poderes da elite branca.
D) porque parcelas significativas da elite brasileira se Seção Videoaula
aglutinaram em torno de D. Pedro, a fim de manter as
antigas bases de um Brasil colonial na estrutura do novo
país que nascia em 1822.
E) porque foi inspirada pela Revolução Francesa e pelas O Processo de Independência do Brasil
ideias iluministas, no contexto da crise do Antigo Sistema
Colonial, sendo liderada pela elite burguesa contra a
tirania representada por D. Pedro. O movimento de
independência foi liderado pela elite rural e pela alta
burocracia civil e militar ligada a D. Pedro I.

Anual – Volume 3 9
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Os grupos dominantes temiam, ainda, que ocorresse
Aula 12:

C-2 H-8 na América Portuguesa uma fragmentação política como a


Aula C-3 H-13, 15 ocorrida na América Espanhola, e por isso fizeram um acordo
Primeiro Reinado (1822-1831) com o Príncipe-Regente, que através do regime monárquico iria
12 aproveitar o aparelho burocrático já instalado, mantendo um
governo centralizado e afastando os grupos sociais indesejados
das decisões políticas. Portanto, não seria interessante arriscar
uma luta contra os Braganças e sim unir-se a seu representante –
Introdução: de olho no Enem – D. Pedro.
Este jogo levou ao rompimento definitivo com Portugal, mas
Nesta aula, vamos entender a construção do Estado brasileiro
aprofundou a dependência externa, principalmente em relação à
independente, vamos perceber também a singularidade desse
processo iniciado com a transferência da Corte portuguesa para Inglaterra, à qual o Brasil recorria constantemente em busca de
o Brasil, marcado por contradições de interesses que alteraram empréstimos, mediante juros altíssimos. Além disso, a autonomia
constantemente o quadro político nacional. Nesse contexto merece política não alterou as velhas estruturas coloniais, sendo mantidos
destaque todo especial a Constituição de 1824 que repercutiu em o latifúndio agrário-exportador, principalmente de cana-de-açúcar,
reações como a Confederação do Equador no Nordeste. Mais uma algodão, couro e tabaco; a escravidão; a exclusão social; a miséria
vez é bom ficar de olho na dinâmica dos movimentos sociais e e elevados índices de problemas sociais, como analfabetismo e
na importância da justiça na estruturação das sociedades, nesses precárias condições de existência.
quesitos é bom estarmos prontos também para fazer alguns
questionamentos críticos. Vamos começar? Nem todos aceitaram a Independência do
Na passagem da colônia para o império, podemos
Brasil
observar certa singularidade já que o processo se iniciou com
a abertura dos portos logo após a chegada da Família Real ao A construção da Independência brasileira não foi pacífica,
Brasil em 1808, ou seja, de uma iniciativa da própria metrópole. visto que algumas províncias, como Bahia, Maranhão, Grão-Pará,
O projeto político da independência foi resultado das contradições Piauí e Cisplatina, não a aceitaram, bem como não reconheceram
entre os interesses da elite agrária brasileira e do projeto a autoridade do Imperador D. Pedro I. O principal motivo
português de recolonização do Brasil expresso na Revolução desta recusa foi o fato dessas províncias serem governadas por
Liberal do Porto. Sabendo do risco que corria, a aristocracia portugueses que preferiram se manter fiéis às Cortes e interesses
rural brasileira aproxima-se do jovem príncipe D. Pedro, portugueses.
pretendendo convencê-lo das vantagens de sua permanência. O meio utilizado por D. Pedro para consolidar sua
Em 1822, o rompimento com a metrópole ocorre simbolicamente
autoridade e a Independência do Brasil, bem como evitar a
no famoso episódio no dia 7 de setembro com o grito do Ipiranga,
fragmentação do território, foi a força, com o envio de tropas
mas a sua permanência, contrariando as ordens de Lisboa em
fiéis a seu governo a estas províncias.
09 de janeiro de 1822, é fator fundamental para que pouco
se mudasse na estrutura de poder. De fato o Brasil manteve a Todavia, o Brasil ainda não tinha um Exército aparelhado
monarquia, a unidade territorial, a estrutura agroexportadora e organizado e muito menos uma Marinha capaz de enfrentar
e principalmente a escravidão, uma grande contradição ao os navios portugueses que auxiliavam as províncias rebeldes.
espírito liberal que invocava os protagonistas desse processo. A saída foi a compra de navios no exterior e a contratação de
Ainda podemos associar a este episódio os interesses externos, mercenários estrangeiros para ocupar postos de comando, bem
já que a Inglaterra ciosa de ampliar mercados consumidores como a convocação de milícias populares para ajudar na luta.
teve destacada atuação. Ressalte-se, porém, que a maior parte Entre os estrangeiros contratados podemos destacar os ingleses
da população não participou ativamente, o que ajuda em parte John Taylor, John Greenfell e James Norton; o escocês Lorde
a explicar a pequena manifestação popular ao celebrar a nossa Cochrane; e o francês Pierre Labatut.
independência, diferente das manifestações de orgulho nacional O principal foco de resistência ocorreu na Bahia, onde as
que se observa em eventos esportivos, especialmente em Copas tropas portuguesas eram comandadas pelo general Madeira de
do Mundo de Futebol. Melo. Após violentas batalhas e o cerco do porto de Salvador
por uma esquadra naval comandada pelo almirante Grenfell,
Repensando a Independência as tropas fiéis a D. Pedro I obrigaram os rebeldes a se render.
O que a Independência trouxe de mudanças para o Brasil? Grenfell acabou ainda com a resistência no Pará, ordenando a
A Independência brasileira foi singular no contexto americano, pois prisão de mais de 250 pessoas no porão de seu navio, quando a
o Brasil foi o único país, a exceção do México por curto período, a maioria morreu asfixiada. Na Cisplatina, a resistência liderada por
adotar a monarquia como forma de governo, bem como o processo D. Álvaro da Costa Macedo foi derrotada por tropas sob comando
de rompimento com a metrópole foi estranho, pois foi liderado de Carlos Frederic Lecór. Depois de fugir do Piauí, o português
por um príncipe português e interessava às elites dominantes e major João José da Cunha Fidiê foi ao Maranhão se juntar a outro
também a outros países como a Inglaterra, sem contar com grande foco de resistência à independência, sendo derrotados por tropas
participação popular. comandadas pelo Lorde Cochrane.
O liberalismo presente na Independência brasileira era É importante frisar que o Brasil enfrentava sérias
essencialmente econômico e político, mas não social, o que foi dificuldades econômicas naquele momento e teve que recorrer
comprovado na marginalização das massas e na manutenção da a empréstimos junto à Inglaterra e banqueiros ingleses para
escravidão. Os líderes políticos queriam evitar grandes convulsões sanar as despesas militares, o que agravava a crise econômica
sociais, bem como a perda de privilégios conquistados e que do jovem Império e aumentava a dependência em relação ao
garantiam sua posição privilegiada. capital estrangeiro, notadamente inglês.

10 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
O reconhecimento de Portugal e Inglaterra foi seguido por

Acervo Artístico do Ministério das Relações Exteriores -


Palácio Itamaraty,Brasília, Brasil.
vários outros países, como Áustria e França, que também buscaram
obter vantagens econômicas ou alfandegárias.

A Assembleia Nacional Constituinte e a


“Constituição da Mandioca”
Convocada em junho de 1822, ainda antes da Independência,
a Assembleia Nacional Constituinte só se reuniu em maio de 1823.
Das 19 províncias, apenas 14 enviaram seus deputados para a
elaboração da Constituição.
Os deputados representavam diversos segmentos sociais,
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848). Coroação de D. Pedro I, 1828.
Óleo sobre tela, 340 x 640 cm. como a aristocracia rural, comerciantes, Igreja Católica, funcionários
públicos, militares e profissionais liberais. Participaram ainda os
ex-inconfidentes José Resende Costa Filho e o padre Manuel Rodrigues,
O reconhecimento externo de nossa
que tiveram a pena de morte comutada para degredo e depois
independência retornaram ao Brasil. Também podemos citar os irmãos Andrada, que
O Brasil precisava ter sua independência reconhecida pelos tiveram importante participação no processo de Independência.
outros países, pois precisava manter relações políticas e econômicas A abertura dos trabalhos foi feita pelo próprio imperador,
com o exterior. Apesar de interessar a muitos países, como a Inglaterra, que demonstrou naquela oportunidade seu autoritarismo ao afirmar
o reconhecimento da Independência brasileira foi difícil e lento. que aceitaria e juraria a Constituição desde que fosse “digna do
O principal motivo da demora foi a falta de credibilidade Brasil e de mim”. Daí em diante surgiram embates ideológicos entre
internacional na Independência brasileira, devido ao fato de ter sido os deputados, notadamente em questões pertinentes ao liberalismo,
conduzida pelo herdeiro do Trono português. Pensava-se que se aos poderes do imperador e à centralização política.
tratava de uma briga passageira e que, após a morte de D. João VI, O projeto constitucional que teve como relator Antônio
D. Pedro acumularia os tronos brasileiro e português, voltando a Carlos de Andrada ficou conhecido como Constituição da Mandioca,
unir os países sob seu comando. pois estabelecia o voto censitário, estabelecendo a participação
A maioria dos países europeus apoiava a postura política política de acordo com uma renda equivalente a alqueires de
antiliberal e recolonizadora da Santa Aliança, que previa inclusive a mandioca plantados. Além disto, as eleições seriam indiretas e foram
intervenção militar em países ou colônias europeias onde ocorressem mantidas as bases econômicas coloniais, destacando-se a escravidão.
movimentos de caráter liberal. O Estado seria tripartite: Legislativo, Executivo e Judiciário.
Os países americanos não viam com bons olhos a adoção do Havia um relativo predomínio do Legislativo sobre o Executivo
regime político monárquico no Brasil, bem como o governo de um e o imperador não poderia vetar decisões do Legislativo e determinava
príncipe português. Também era estranha a falta de participação que portugueses não pudessem ocupar cargos públicos.
popular no movimento e o fato de várias províncias não aceitarem Descontente com o projeto, D. Pedro I se desentendeu
a Independência brasileira. com os irmãos Andrada e vários outros deputados constituintes e
O primeiro país a reconhecer oficialmente a Independência determinou o fechamento da Assembleia, que permaneceu reunida
brasileira foi os EUA, em 1824, após D. Pedro I renunciar ao sob protesto, na noite do dia 11 para 12 de novembro – Noite
Trono português em favor de sua filha, D. Marina da Glória. da Agonia. Amanhecendo, o prédio estava cercado por tropas imperiais
O reconhecimento norte-americano baseava-se na Doutrina e a Constituinte foi dissolvida, sendo presos vários deputados.
Monroe, através da qual os EUA defendiam o direito à soberania
dos povos americanos, em oposição aos interesses antiliberais da A Constituição de 1824
Santa Aliança. Além disso, os EUA desejavam reduzir a influência
inglesa no continente e obter relações favoráveis, ampliando seus Alegoria do juramento da Constituição Brasileira de 1824.
mercados consumidores. D. Pedro salva a Índia (que representa o Brasil)
Maior beneficiária da Independência brasileira, a Inglaterra da ameaça do absolutismo
só a poderia reconhecer oficialmente depois de Portugal, devido ao
Coleção Fundação Biblioteca Nacioal, Rio de Janeiro, Brasil.

bom relacionamento diplomático e às alianças políticas entre os dois


países. Portugal ainda nutria a esperança de recuperar sua antiga
colônia, mas pressionado pelo Estado inglês, acabou aceitando
negociar o reconhecimento da autonomia brasileira, mediante
algumas vantagens.
Somente em agosto de 1825, Portugal assinou o acordo
de reconhecimento da Independência brasileira, mediante uma
indenização de 2 milhões de libras esterlinas e a concessão do título
de Imperador Honorário do Brasil para D. João VI como forma de
homenageá-lo. Como o Brasil não possuía recursos financeiros
para arcar com a indenização, novamente recorreu aos banqueiros
britânicos, consolidando sua dependência econômica e aumentando
ainda mais a dívida externa da jovem nação.
A Inglaterra também reconheceu a Independência do Brasil em
1826, mas em troca procurou obter vantagens econômicas através de
duas exigências: a manutenção das tarifas alfandegárias preferenciais
de 15% para os produtos ingleses e o compromisso do Governo
Gianni. Alegoria do juramento da Constituição
brasileiro de extinguir o tráfico negreiro num prazo de 5 anos. Brasileira de 1824.

Anual – Volume 3 11
ciências Humanas e suas tecnologias História I
A Primeira Constituição é uma Carta Os rebeldes objetivavam, além do regime republicano,
o federalismo, adotando provisoriamente a Constituição da
Outorgada Grã-Colômbia. O nome escolhido para a jovem república nordestina
Depois de dissolver a Assembleia Constituinte de 1823, foi Confederação do Equador, em virtude de sua posição setentrional,
D. Pedro I nomeou um Conselho de Estado composto por dez próxima à linha imaginária do Equador. Houve, ainda, a proibição
membros, com a função de elaborar, sob a supervisão pessoal do provisória do desembarque de escravos no porto de Recife e a
imperador, um novo projeto constitucional para o Brasil. Apesar de ter questão abolicionista se tornou o centro das discussões, provocando
adotado alguns aspectos do Projeto de Constituição da Mandioca, a divergências e afastando as elites do movimento, enfraquecendo-o.
nova Constituição ficou pronta em 1824, sendo outorgada (imposta) O governo imperial organizou imediatamente uma violenta
por D. Pedro I em 25 de março com as seguintes características: repressão, cujo comando da esquadra foi entregue ao Lorde Cochrane
• Monarquia Hereditária Constitucional; e do Exército ao brigadeiro Francisco de Lima e Silva. Foram realizadas
várias prisões e muitos rebeldes morreram em combate. Paes de
• Unitarismo, que é a centralização do poder político, sendo que
Andrade conseguiu fugir do país e Frei Caneca foi preso e condenado
as províncias não teriam autonomia e seus presidentes seriam
à forca. Como os carrascos se recusaram a executar a pena, o frei
nomeados pelo poder central;
carmelita foi fuzilado por ordem direta de D. Pedro I.
• 4 poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. Além destes, outros envolvidos das outras províncias
O poder Legislativo seria exercido por deputados e senadores também foram fuzilados em Fortaleza e Natal, demonstrando a
e o Judiciário, pelos juízes de paz. O poder Executivo seria exercido intolerância do imperador e a força com que trataria qualquer
pelo Imperador, Ministros de Estado e Presidentes das Províncias. Já movimento que contestasse sua autoridade.
o poder Moderador era exclusivo do Imperador, podendo intervir
nos demais poderes e servindo como ponto de equilíbrio político

Museu Antônio Parreiras, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.


do Estado. Simbolizava o autoritarismo do monarca:
• Voto Censitário, ou seja, baseado em uma renda mínima
preestabelecida para os indivíduos votarem e poderem se
candidatar aos cargos públicos;
• Senado Vitalício – os senadores ficariam no cargo até sua morte.
Sempre que ocorria a morte de um senador, eram convocadas
eleições e a lista dos mais votados era apresentada ao Imperador
que nomeava um destes;
• Confessional que significa a adoção de uma religião oficial.
No caso brasileiro, a religião Católica foi adotada como oficial
do Estado, sendo proibidos templos e manifestações públicas de
quaisquer outras religiões, as quais só era permitido culto privado;
• Padroado – A Igreja Católica era subordinada ao Estado;
PARREIRAS, Antônio, 1860-1937. Estudo para Frei Caneca, 1918.
• Beneplácito – Determinava que as leis da Igreja só pudessem Óleo sobre tela, 77 x 96,2 cm.
entrar em vigor no Brasil com a autorização do Imperador.
A Carta de 1824 não era democrática. Guardava os Província Cisplatina transformava-se no Uruguai
princípios do liberalismo, desvirtuados pelo excessivo centralismo
do Imperador. A posse do Prata tinha grande significado geopolítico
para o Brasil. Todavia, a região da Cisplatina não mais poderia
A Confederação do Equador (1824) permanecer como um apêndice do Império. A força não impediria
a consolidação do ideal nacionalista de emancipação política.
A dissolução da Assembleia Constituinte de 1823 e a outorga De uma forma geral, a independência da região era vista com
da Constituição de 1824 foram grandes exemplos do autoritarismo simpatia pelos brasileiros.
de D. Pedro I e geraram grande descontentamento em várias Os nacionalistas Lavalleja e Rivera juntaram-se nas
províncias, especialmente Pernambuco, que já havia liderado um ações militares contra os contingentes brasileiros estacionados
movimento em 1817 em reação à presença da Corte portuguesa na Cisplatina. Os uruguaios reunidos constituíram um regime
no Brasil e à situação da província e da região Nordeste. republicano e decidiram pela incorporação à atual Argentina,
A c r i s e e c o n ô m i c a p e r s i s t i a , e s p e c i a l m e n t e n a então chamada Províncias Unidas do Prata. O Império declarou-lhes
agro-manufatura açucareira, atingindo os diversos segmentos sociais guerra. Não podia ser escolhido o momento mais importuno
em Pernambuco. Além disto, os liberais, outrora empolgados com para o país entrar em luta. Não era esta um colorário do
a independência, tiveram suas expectativas frustradas pelas ações movimento expansionista, intrínseco da população brasileira. Antes,
autoritárias do monarca brasileiro. representava a política imperialista de D. João VI. Não era popular, e
A situação levou figuras como Cipriano Barata e Frei Caneca D. Pedro foi acusado de preferir a herança portuguesa de conquista
a se manifestarem publicamente contra D. Pedro I e suas atitudes, ao verdadeiro interesse nacional de harmonia e paz.
através de jornais como o Sentinella da Liberdade na Guarita Havia desentendimento entre Lecor, comandante das forças
de Pernambuco, de responsabilidade do primeiro, e o Typhis terrestres, e Caldeira Brandt, comandante naval. Buenos Aires foi
Pernambucano, editado pelo segundo. bloqueada e assolada pela fome. O comércio internacional sofria
O movimento revolucionário teve início quando D. Pedro I perdas consideráveis. Ocorriam ataques corsários de ambos os lados.
destitui Manuel Carvalho Paes de Andrade da presidência de Forças brasileiras foram batidas. Algumas vitórias custaram muitas
Pernambuco, nomeando para seu lugar Francisco de Paes Barreto, vidas e muitos sacrifícios.
em julho de 1824. Paes de Andrade rompeu com o governo e As negociações falhavam. Novas derrotas brasileiras.
proclamou o regime republicano na província, contando com a O mercenário Brown afundou muitas embarcações no rio Uruguai.
adesão de liberais de províncias vizinhas como Paraíba, Ceará e O Rio Grande do Sul foi invadido por Rivera.
Rio Grande do Norte.

12 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
Finalmente, a Inglaterra interveio. Interessava-lhe a A Guerra da Cisplatina (1825-1828) também contribuiu
independência da província. Quanto mais países livres, maiores significativamente para a crescente impopularidade do imperador,
seriam os mercados consumidores. A existência de um país em que insistiu numa guerra onerosa e desnecessária para evitar
cada margem do rio do Prata assegurar-lhe-ia a livre navegação a independência da Província Cisplatina para, posteriormente,
pela bacia interior da América Latina. Com isso, estenderia seu atendendo à pressões inglesas, conceder através de decreto a
imperialismo ainda mais. Independência da Cisplatina, que adotou o nome de República da
Em 1828, Brasil e Argentina reconheciam a Independência Banda Oriental do Uruguai.
da República Oriental do Uruguai. O conflito acabou por A insatisfação contra o governo era constantemente
comprometer D. Pedro I.
manifestada através da imprensa, em jornais como A malagueta
e Aurora Fluminense, que assumiam postura contrária e de
O processo de impopularidade denúncia das arbitrariedades do imperador. Este, por sua vez,
de D. Pedro I ordenava o fechamento de jornais, o espancamento e prisão
de jornalistas e impediu a investigação acerca do assassinato
Inicialmente considerado herói nacional por ter rompido do jornalista Líbero Badaró, editor do jornal oposicionista
com sua pátria e ter liderado o processo de Independência do O Observador Liberal.
Brasil, D. Pedro I passou a ser mal visto no Brasil e criticado por
suas atitudes autoritárias, o que fez com que fosse perdendo apoio
e, consequentemente, se isolando na condução política do Brasil. O fim do Primeiro Reinado
Podemos citar vários motivos para justificar a Alvo de constantes críticas, D. Pedro resolveu viajar para
impopularidade de D. Pedro I, principalmente seu autoritarismo, escapar um pouco do ar pesado da Corte (Rio de Janeiro) e visitar
expresso na dissolução da Assembleia Constituinte de 1823,
outras províncias, onde poderia manter contato com a população,
na Outorga da Constituição de 1824 e na violenta repressão à
melhorando sua imagem. Outra medida neste sentido foi a
Confederação do Equador.
nomeação de um ministério composto somente por brasileiros,
Também desagradavam e suscitavam críticas a falta de
atitudes concretas para resolver a crise econômica que afetava reduzindo a influência política dos membros do Partido Português,
o país, bem como a vida pessoal promíscua do imperador, que o que desagradava a população.
possuía várias amantes, sendo mais conhecida a Marquesa de A viagem começou por Minas Gerais, onde o imperador
Santos, Domitila de Castro, que chegou a ser nomeada camareira foi recebido friamente: os sinos das Igrejas tocavam um som
da imperatriz para ficar mais perto de D. Pedro I. fúnebre e várias casas tinham panos pretos exibidos em suas
Outro fato que suscitou críticas ao imperador foi sua atuação janelas, demonstrando luto pela morte do jornalista Líbero Badaró.
na questão da sucessão do Trono português. Com a morte de Insatisfeito e contrariado, D. Pedro I resolveu voltar ao Rio de Janeiro.
D. João VI em 1826, a Coroa portuguesa deveria ser herdada Para animar o imperador e manifestar seu apoio, os
por D. Pedro I. Este renunciou ao Trono luso em nome de sua portugueses prepararam uma festa de boas-vindas, no dia
filha mais velha, D. Maria da Glória. Como esta era menor de 13 de março. Sabendo da recepção, brasileiros oposicionistas foram
idade quando o monarca seu avô falecera, ficou acertado que ao local da festa, entrando em conflito com os portugueses, na
D. Miguel, irmão de D. Pedro, assumiria o Trono português chamada Noite das Garrafadas.
como regente enquanto sua sobrinha atingia a maioridade. Diante da situação e das críticas, D. Pedro I percebeu que a
Neste momento, os dois se casariam e assumiriam em definitivo nomeação de um ministério composto somente por brasileiros não
o Trono. Descumprindo o acordo, D. Miguel usurpou o trono surtiu efeito e resolveu substituí-lo por um ministério formado por
luso em 1828, se autoproclamando rei. A situação revoltou
portugueses – o Ministério dos Marqueses, no dia 05 de abril de
D. Pedro, que interviu e mobilizou a diplomacia brasileira,
1831. Esta medida provocou aumento nas manifestações contra o
ameaçando inclusive enviar tropas brasileiras a Portugal.
imperador, que viu-se completamente isolado e sem apoio popular.
Os brasileiros não aprovaram as atitudes de D. Pedro I, que
deveria se preocupar com os graves problemas brasileiros e D. Pedro I resolveu, então, abdicar do trono brasileiro,
não podia usar recursos ou tropas nacionais para intervir em no dia 07 de abril de 1831, em nome de seu filho D. Pedro
assuntos internos de Portugal. de Alcântara, que na época tinha apenas 5 anos de idade.
A medida pôs fim ao Primeiro Reinado e é vista por alguns autores
como a consolidação da Independência do Brasil, afastando
Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa, Portugal.

definitivamente o perigo da recolonização.

Abdicação do Imperador D. Pedro I, 1831.


Artista: Aurélio de Figueiredo
Palácio Guanabara, Rio de Janeiro, Brasil.

FIGUEIREDO, Aurélio de (1854-1916). A abdicação do primeiro Imperador do


Brasil, D. Pedro I, 1911.

DAUMIER, Honoré (1808-1879). Ksssse! Pédro – Ksssse! Kssssse! Miguel!, 1833.


Litografia aquarelada.

Anual – Volume 3 13
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Leitura Complementar C) Ao declarar que a América estava tão distante da Europa
“como a lua da Terra”, Nabuco reforçava a necessidade
imediata de o Brasil romper suas relações diplomáticas com
O ENDIVIDAMENTO EXTERNO Portugal.
”Logo após a Independência, nosso país começou a D) O pensamento americano considerava legítimas as intenções
tomar os primeiros empréstimos externos, enveredando dessa norte-americanas na América Central, bem como o apoio
forma por um caminho que seria longo e melancólico, trazendo às ditaduras na América do Sul, desde o século XIX.
consideráveis prejuízos à economia nacional. A propósito de nossa
primeira operação desse tipo, escreveu um estudioso do assunto.” 02. (Enem/2011)
E a verdade é que, com aquele empréstimo, o Brasil declarava ao
mundo a sua independência política, mas o que é mais grave, ficava 0,7%
RELIGIÕES NO BRASIL – 2007

em absoluta dependência econômica, sacrificando o seu futuro 1,7% 1,4%


desenvolvimento... Formava-se a bola de neve... 4,3%
De fato, a bola de neve foi se formando daí por diante para 7,4% Católica apostólica romana
Assembleia de Deus e evangélicas pentecostais
acabar rolando pesadamente sobre nós, quase nos aniquilando com
10,7% Sem religião
os juros e amortizações que pagamos e ainda estamos pagando, Batista e evangélica de missão
sem falar na sujeição por muitos anos que ficamos à finança inglesa 73,8% Espírita, umbanda e candomblé
em consequência disso. Testemunhas de Jeová
A primeira transação desse gênero foi tentada em 1823 Católica apostólica brasileira e outras religiões

(...). A operação foi realizada com êxito no ano seguinte, em SMITH, D. Atlas da Situação Mundial. São Paulo: Cia.
1824, montando a 3.686.200 libras... (com prazo de trinta anos) Editora Nacional, 2007 (adaptado).
e dando uma garantia à hipoteca das rendas das alfândegas do Uma explicação de caráter histórico para o percentual da
Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Maranhão. Sua aplicação religião com maior número de adeptos declarados no Brasil
foi de 56% para pagamento do Governo ao Banco do Brasil e foi a existência, no passado colonial e monárquico, da
o restante consumido em juros e amortizações. Ao terminar seu A) incapacidade do Cristianismo de incorporar aspectos de
prazo, em 1854, só haviam sido amortizadas 513.000 libras, de outras religiões.
onde decorreram prorrogações sucessivas até sua liquidação que B) incorporação da ideia de liberdade religiosa na esfera pública.
se deu em 1890, o que quer dizer que pagamos juros durante mais C) permissão para o funcionamento de igrejas não cristãs.
de 65 anos... D) relação de integração entre Estado e Igreja.
Pelo tratado de paz e aliança firmado entre o Brasil e E) influência das religiões de origem africana.
Portugal em agosto de 1825, através do qual Portugal reconhecia
nossa Independência, assumimos um compromisso de 2.000.000 03. (Enem PPL/2015) É simplesmente espantoso que esses núcleos
de libras, das quais 1.400.000 constituíam uma dívida de Portugal à tão desiguais e tão diferentes se tenham mantido aglutinados
Inglaterra e 600.000 do que se denominou de “conta das 600.000 numa só nação. Durante o Período Colonial, cada um deles
libras”. Devido ao atraso nos pagamentos de juros e amortizações, o teve relação direta com a metrópole. Ocorreu o extraordinário,
dispêndio, mais tarde, para sua liquidação, importou em 6.186.199 fizemos um povo-nação, englobando todas aquelas províncias
libras, ou seja, três vezes mais do que o compromisso inicial.” ecológicas numa só entidade cívica e política.
LIMA, Heitor Ferreira. História Político-Econômica e Industrial do Brasil.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: formação e sentido do Brasil.
Coleção Brasiliana, vol. 347. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
São Paulo: Cia. das Letras, 1988.
1976, p. 194 e 195.
Após a conquista da autonomia, a questão primordial do
Brasil residia em como garantir sua unidade político-territorial
diante das características e práticas herdadas da colonização.
Exercícios de Fixação Relacionando o projeto de independência à construção do
Estado nacional brasileiro, a sua particularidade decorreu da
A) ordenação de um pacto que reconheceu os direitos políticos
01. (Unicamp/2012) “Ninguém é mais do que eu partidário de aos homens, independentemente de cor, sexo ou religião.
uma política exterior baseada na amizade íntima com os B) estruturação de uma sociedade que adotou os privilégios
Estados Unidos. A Doutrina Monroe impõe aos Estados Unidos de nascimento como critério de hierarquização social.
uma política externa que se começa a desenhar. (…) Em tais C) realização de acordos entre as elites regionais, que evitou
condições a nossa diplomacia deve ser principalmente feita em confrontos armados contrários ao projeto luso-brasileiro.
Washington (...). Para mim, a Doutrina Monroe (...) significa D) concessão da autonomia política regional, que atendeu aos
que politicamente nós nos desprendemos da Europa tão interesses socioeconômicos dos grandes proprietários.
completamente e definitivamente como a lua da terra.” E) Afirmação de um regime constitucional monárquico que
garantiu a ordem associada à permanência da escravidão.
Adaptado de Joaquim Nabuco, citado por José Maria de Oliveira Silva,
“Manoel Bonfim e a ideologia do imperialismo na América Latina”,
04. (FMP/2017) O texto a seguir é um fragmento de decreto de
em Revista de História, n. 138. São Paulo, jul. 1988, p.88.
D. Pedro I, de 1823, em que o imperador dissolve a Assembleia
Sobre o contexto ao qual o político e diplomata brasileiro
Constituinte.
Joaquim Nabuco se refere, é possível afirmar que:
A) A Doutrina Monroe a que Nabuco se refere estabelecida Havendo Eu convocado, como Tinha Direito de convocar, a
em 1823, tinha por base a ideia de “a América para os Assemblea Geral, Constituinte e Legislativa, [...] e havendo esta
americanos”. Assemblea perjurado ao tão solemne juramento, que prestou á
B) Joaquim Nabuco, em sua atuação como embaixador, Nação [...]: Hei por bem, como Imperador, e Defensor Perpetuo
antecipou a política imperialista americana de tornar o Brasil do Brasil, dissolver a mesma Assemblea, e convocar já huma
o “quintal” dos Estados Unidos. outra na forma das Instruções, feitas para a convocação desta,

14 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
que agora acaba; a qual deverá trabalhar sobre o Projecto de 02. (Enem/2011) Art. 92. São excluídos de votar nas Assembleias
Constituição, que Eu Hei-de em breve Apresentar; que será Paroquiais:
duplicadamente mais liberal, do que a extincta Assemblea I. Os menores de vinte e cinco anos, nos quais não se
acabou de fazer. compreendam os casados, e Oficiais Militares, que forem
D. PEDRO I. Decreto de dissolução da Assembleia Nacional Constituinte, em maiores de vinte e um anos, os Bacharéis Formados e Clérigos
12 nov. 1823 apud PEREIRA, V. “A longa ‘noite da agonia’”. Revista de História de Ordens Sacras.
da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: SABIN, ano 7, n. 76, jan. 2012, p. 42. IV. Os Religiosos, e quaisquer que vivam em Comunidade claustral.
V. Os que não tiverem de renda líquida anual cem mil réis por
Com base na justificativa do ato político explicitado no texto bens de raiz, indústria, comércio ou empregos.
do decreto, e analisando as suas consequências, identifica-se Constituição Política do Império do Brasil (1824).
um antagonismo entre: Disponível em: <https://legislacao.planalto.gov.br>. Acesso em: 27 abr. 2010.
A) Monarquia e República. Adaptado.
B) Capitalismo e Socialismo. A legislação espelha os conflitos políticos e sociais do
C) Imperialismo e Independência. contexto histórico de sua formulação. A Constituição de 1824
D) Absolutismo e Liberalismo. regulamentou o direito de voto dos “cidadãos brasileiros“ com
E) Nacionalismo e antilusitanismo. o objetivo de garantir
A) o fim da inspiração liberal sobre a estrutura política brasileira.
05. (Enem/2012) Após o retorno de uma viagem a Minas Gerais, B) a ampliação do direito de voto para maioria dos brasileiros
onde Pedro I fora recebido com grande frieza, seus partidários nascidos livres.
prepararam uma série de manifestações a favor do imperador C) a concentração de poderes na região produtora de café, o
no Rio de Janeiro, armando fogueiras e luminárias na cidade. Sudeste brasileiro.
Contudo, na noite de 11 de março, tiveram início os conflitos D) o controle do poder político nas mãos dos grandes
que ficaram conhecidos como a Noite das Garrafadas, durante proprietários e comerciantes.
os quais os “brasileiros” apagavam as fogueiras “portuguesas” E) a diminuição da interferência da Igreja Católica nas decisões
e atacavam as casas iluminadas, sendo respondidos com cacos político-administrativas.
de garrafas jogadas das janelas.
VAINFAS, R. (Org.). Dicionário do Brasil Imperial. 03. (Unifor/2009.2) Considere os textos.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 (adaptado). O que deveria ser a República brasileira começou a
Os anos finais do Primeiro Reinado (1822-1831) se caracterizaram tomar forma de Monarquia. Em maio de 1822, o príncipe foi
pelo aumento da tensão política. Nesse sentido, a análise dos aclamado Defensor Perpétuo do Brasil; (...) em 6 de agosto de
episódios descritos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro revela 1822 foi assinado um manifesto dirigido “às nações amigas”,
A) estímulos ao racismo. anunciando a Independência do Brasil, mas ressalvando que o
B) apoio ao xenofobismo. país se mantinha “reino irmão de Portugal”.
C) críticas ao federalismo. O Estado nacional brasileiro, no século XIX, era
D) repúdio ao republicanismo. fortemente controlado pela elite agrária e pelos dois
E) questionamentos ao autoritarismo. imperadores, Pedro I e Pedro II. (...) As camadas populares
foram sistematicamente excluídas das decisões políticas e dos
benefícios econômicos. Um dos mecanismos de exclusão foi o
voto censitário baseado na renda: para votar ou se candidatar
Exercícios Propostos a cargo público eletivo era necessário rendimento somente
alcançado pelos ricos. Outro fator de exclusão era a cor da pele.
Para a parcela de população que descendia de africanos o acesso
01. (IFMG/2010.2) “Na Assembleia-Geral, Constituinte e Legislativa aos canais de participação política era ainda mais bloqueado.
do Império do Brasil, em 1823, houve uma discussão sobre Em geral, as pessoas oriundas das camadas mais pobres
quem seriam membros da sociedade política. O deputado dificilmente enriqueciam a ponto de alcançar o rendimento
paulista Nicolau Vergueiro propôs que o termo ‘membros’ exigido pelo voto censitário.
fosse substituído por ‘cidadãos’ e argumentou: ‘Pouco importa, Adaptados de Nicolina L de Petta e Eduardo A. B. Ojeda. História:
que nem todos gozem dos mesmos direitos, e que alguns não uma abordagem integrada. São Paulo: Moderna, 2003. p. 160.
exercitem os direitos políticos, por não terem os requisitos, que Com base nas informações dos textos, pode-se associar o regime
a Lei exige: todos eles são hábeis para o exercício de todos os político adotado no Brasil, após a Independência, ao fato de a
direitos uma vez que consigam as qualificações da Lei’.” A) monarquia garantir a ordem e a tranquilidade necessárias
Diário da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa para a elite brasileira promover a autonomia provincial e o
do Império do Brasil: 1823. Brasília: Senado Federal, 1973, vol. 3, p. 92.
desenvolvimento econômico do país.
B) monarquia garantir a manutenção da política econômica
O argumento do deputado Vergueiro demonstra a favorável à aristocracia rural brasileira e privilégios, como a
A) certeza de que a condição de cidadania não garantia concentração de terras e a escravidão.
participação política a todas as pessoas. C) aristocracia rural defender a monarquia constitucional como
B) determinação de construir uma nacionalidade fundamentada única via capaz de ampliar o direito de liberdade e assegurar
nos direitos iguais para os cidadãos. a autonomia econômica do país.
C) vontade política de adotar o sufrágio universal nos processos D) aristocracia rural acreditar que o estabelecimento da
de escolha dos representantes da Nação. República seria fator de estabilidade social e política, como
D) opinião de que os princípios políticos liberais não deveriam ocorreu nas colônias inglesas da América.
ser adotados em uma sociedade escravocrata. E) monarquia ser a única forma de governo capaz de acabar
E) convicção de que era inviável organizar politicamente a com as rebeliões regionais e de promover a ampliação da
sociedade civil de um país marcado pela desigualdade social. participação política do povo brasileiro.

Anual – Volume 3 15
ciências Humanas e suas tecnologias História I
04. (Uece/2010.1) “Tivemos nossas guerras de independência, só C) os quadros dos monarcas têm baixo impacto promocional,
que não para realizá-la, mas sim para sustentá-la.” uma vez que não estão usando a coroa, nem ocupam o trono.
FRANCES, Daniel. História do Brasil. Fortaleza: Premius, 2004, p 187.
D) a arte dos retratos, no Brasil do século XIX, era monopólio
de pintores franceses, como Debret.
A partir da frase anterior, entende-se que a independência E) o fato de pai e filho aparecerem pintados de forma
brasileira de 1822 representou: semelhante sublinha o caráter de continuidade dinástica,
A) Uma ruptura completa com a metrópole colonizadora e a aspecto político essencial ao exercício do poder régio.
vitória dos grupos defensores da República no Brasil.
B) Um ato político-administrativo, porém, na prática, a 07. (Uece/2017) Observe o seguinte enunciado:
continuidade da ordem econômica e social.
“Com a dissolução da Assembleia Constituinte, em 12 de
C) A ruptura da ordem econômica com a abolição da
novembro de 1823, aumentou a insatisfação com o governo de
escravatura e o fim da estrutura do latifúndio.
D. Pedro I, sobretudo no Nordeste. Em 2 de julho de 1824, em
D) A diminuição radical dos desníveis socioeconômicos
Pernambuco, Manuel Carvalho Paes de Andrade lança o manifesto
herdados do Período Colonial.
que dá origem ao movimento. Contudo, antes da manifestação
ocorrida no Recife, apoiada por Cipriano Barata e por Joaquim
05. (UEPB/2008) Em relação aos primeiros anos de independência
da Silva Rabelo (o Frei Caneca), ambos experientes revoltosos,
política do Brasil, é correto afirmar:
a província do Ceará já tinha sua manifestação contrária ao
A) A Constituição de 1824 consagrou o princípio democrático
Imperador, ocorrida no município de Nova Vila do Campo Maior
e garantiu às camadas populares o direito de voto e acesso
(hoje Quixeramobim), em 9 de janeiro de 1824 e liderada por
à candidatura para os diversos cargos eletivos.
Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Melo (o Padre Mororó)”.
B) O Primeiro Reinado (1822-1831) foi marcado pelas lutas
entre as elites regionais das províncias e os partidários de O movimento ocorrido no Brasil durante o Império a que o
D. Pedro I, que defendiam medidas centralizadoras e não enunciado acima se refere é denominado
afastavam a hipótese de uma reunificação do império A) Revolução Pernambucana.
luso-brasileiro. B) Revolução Praieira.
C) A independência política do Brasil formalizada em 1822 C) Contestado.
garantiu mudanças estruturais da economia brasileira, D) Confederação do Equador.
inclusive com a extinção do sistema plantation.
D) O primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foi 08. (Uern/2015) Observe o quadro.
a França, em 1825, que emprestou dois milhões de libras
ao Brasil para pagar de indenização a Portugal. SISTEMA ELEITORAL DA CONSTITUIÇÃO DE 1824
E) O espírito liberal de D. Pedro I garantiu o fim do centralismo
político no Primeiro Reinado, bem como maior autonomia Eleitor de paróquia
100 mil réis ao ano
para as províncias do Nordeste, sobretudo após a
Confederação do Equador. ELEGE

06. (Enem/2009) As imagens reproduzem quadros de D. João VI Eleitor da Província


e de seu filho, D. Pedro I, nos respectivos papéis de monarcas. 200 mil réis ao ano
A arte do retrato foi amplamente utilizada pela nobreza
ocidental, com objetivos de representação política e de ELEGE ELEGE
promoção social. No caso dos reis, essa era uma forma de se
fazer presente em várias partes do reino e, sobretudo, de se Senador Deputado
mostrar em majestade. 800 mil réis ao ano 400 mil réis ao ano

Marques, 2006. p. 402


Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil.

Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil.

A partir da análise do quadro e tendo em vista o contexto do Brasil


no I Império, é possível classificar o voto, naquele período, como:
A) censitário, amplo, indireto e irrestrito.
B) universal, masculino, direto e representativo.
C) censitário, masculino, indireto e em dois graus.
D) universal, apartidário, direto e em quatro graus.

09. (UFAL/2008-PSS2) Apesar da conquista da Independência do


Brasil, não havia a liberdade política que grupos mais radicais
desejavam. A administração de D. Pedro I provocava rebeldias
e constantes inquietações. Na Confederação do Equador, em
Imagem I Imagem II 1824, os rebeldes
DEBRET, Jean-Baptiste. Retrato SILVA, Henrique José da (1792- A) consideravam a Constituição de 1824 como autoritária e
de D. João VI de Portugal, 1817. 1834). Retrato do Imperador
Óleo sobre tela, 60 x 42 cm. em trajes majestáticos, 1822. conservadora, combatendo as medidas políticas do governo
Gravura feita sobre metal por central.
Urbain Massard, 64 x 44 cm.
B) conseguiram ajudas expressivas das províncias do sul do
A comparação das imagens permite concluir que Brasil, interessadas em afirmar o domínio do liberalismo
A) as obras apresentam substantivas diferenças no que diz radical.
respeito à representação do poder. C) adotaram ideias socialistas, embora seguissem o modelo da
B) o quadro de D. João VI é mais suntuoso, porque retrata um Constituição norte-americana no seu conteúdo maior.
monarca europeu típico do século XIX.

16 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
D) fizeram alianças com as províncias do Norte, mas se limitaram
Aula 13:
à assinatura de um manifesto político contra a escravidão. C-2 H-9
E) defenderam o liberalismo, propondo mudanças na Aula C-3 H-14, 15
Constituição de 1824, sem, contudo, almejar a radicalização Período Regencial (1831-1840)
política. 13
10. (Unifor/2006.1) “Termos da abdicação de D. Pedro I: Usando do
direito que a Constituição me concede, declaro que hei muito
voluntariamente abdicado na pessoa do meu mui amado e Introdução: de olho no Enem
prezado filho o Sr. Pedro de Alcântara. Boa Vista _ 7 de abril
Nesta aula analisaremos um dos períodos mais agitados
de 1831, décimo da Independência e do Império _ D. Pedro I.”
da história do Brasil denominado de Período Regencial. O debate
Antonio Mendes Jr. et al. Brasil-História, Texto e Consulta. Império. São Paulo: em torno da centralização ou descentralização do poder entre os
Brasiliense, 1977. p.200.
diversos grupos políticos exige uma avaliação crítica dos verdadeiros
interesses envolvidos. A forma de atuação do Estado para solucionar
Os fatos que conduziram à abdicação foram: questões de ordem econômica e social também é elemento fundamental.
A) repressão aos revolucionários da Confederação do Observa-se ainda a origem de fenômenos como o Coronelismo
Equador, incorporação da Guiana Francesa e outorga da diretamente relacionada à criação de instituições como a Guarda Nacional.
Constituição. De fato, todo esse quadro de instabilidade nas regências é, em
B) favorecimento aos comerciantes brasileiros em detrimento parte, síntese da herança do Primeiro Reinado e que requer uma avaliação
dos portugueses, dívida externa elevada com a Guerra da histórica para que possamos entender a importância deste momento.
Cisplatina e falência do Banco do Brasil. Mas, afinal, por que deveria existir uma regência? É o que
C) repressão contra os revolucionários da Confederação do vamos descobrir a seguir.
Equador, perda da província Cisplatina e falência do Banco
do Brasil.
D) perda da Província Cisplatina, dissolução da Assembleia Evolução histórica
Constituinte e punição exemplar aos pistoleiros que
O Período Regencial teve início com a abdicação de D. Pedro I,
executaram o jornalista Líbero Badaró.
em 7 de abril de 1831 e se estendeu até o Golpe da Maioridade,
E) controle das finanças nacionais, respeito aos constituintes
em 1840, quando a antecipação da maioridade de D. Pedro II
que elaboraram a primeira constituição e favorecimento aos
deu início ao Segundo Reinado.
comerciantes brasileiros.
O período é um dos mais agitados da História do Brasil,
marcado por séria crise econômica, instabilidade política e revoltas
em várias províncias, que ameaçaram a unidade do território
nacional. Apesar das dificuldades, as elites nacionais assumiram o
Fique de Olho controle do poder político e afastaram definitivamente o risco de
recolonização do Brasil, consolidando o Estado Nacional.

Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil.


Sites:
• http://www.vestibulareconcurso.com/modules/smartsection/iem.
php?itemid=454
• http://www.planetarios.com/manual-independencia-Brasil/
brasilimprio.html
• http://www.mundovestibular.com.br/articles/405/1/ O-BRASIL-
IMPERIO/Paacutegina1.html

Sugestão de Livros:
• LEITE, Glacyra Lazzari. A confederação do Equador. Ática, 1996.
• TAVARES, Luís Henrique Dias. O fracasso do Imperador. Ática,
1995.
• OLIVEIRA, Cecília Helena Salles. A Independência e a Construção
do Império. Atual, 1995.
• TEIXEIRA, Francisco M. P. Frei Caneca e a Resistência PALLIÈRE, Armand (1784-1862).
Pernambucana. Ática, 1991. Dom Pedro de Alcântara, 1830.
• TELLES, Carlos Queiroz. O Menino das Canecas. Frei Joaquim do Óleo sobre tela.
Amor Divino Caneca. Moderna, 1993. A Regência foi necessária porque, segundo a Constituição de
1824, o imperador é considerado menor de idade até os 18 anos e
caso o trono fique vago por qualquer motivo e o herdeiro não seja
Seção Videoaula
maior de idade, o governo deveria ser exercido por uma regência,
da qual deveria pertencer o parente mais próximo do imperador com
mais de 25 anos. Caso esta exigência não pudesse ser atendida, o
país deveria ser governado por uma regência trina e permanente,
Primeiro Reinado escolhida pela Assembleia Geral, até que o imperador completasse a
maioridade. Como o herdeiro do trono brasileiro D. Pedro II contava
apenas com 5 anos de idade no momento da abdicação de seu pai,
fez-se necessária a instalação de uma regência no Brasil.

Anual – Volume 3 17
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Regência Trina Provisória (1831) Batalhão de Fuzileiros da Guarda Nacional (1840–1845).
Oficina litográfica Brito & Braga
A abdicação de D. Pedro I ocorreu num momento em que

Museus Castro Maya, Rio de Janeiro, Brasil


a Assembleia Geral estava em recesso e a maioria dos deputados
e senadores estava fora do Rio de Janeiro, em suas respectivas
províncias. As dificuldades de comunicação eram grandes, bem
como a distância de algumas províncias, especialmente no Norte
e Nordeste e, portanto, levaria muito tempo até que todos os
deputados fossem convocados e a Assembleia Geral pudesse se
reunir e escolher a regência permanente.
Como o país não poderia ficar sem governo, os deputados e
senadores que estavam no Rio de Janeiro organizaram, em caráter
de urgência, uma Regência Trina Provisória, que governaria o país
até a Câmara eleger a regência permanente.
Os regentes foram escolhidos levando em consideração um Oficina Litográfica Brito & Braga. Batalhão de Fuzileiros da Guarda
critério político, sendo escolhidos um liberal, o senador Nicolau Nacional (1840-1845), 1850.
Pereira de Campos Vergueiro; um conservador, o senador José
Em 1832, o ministro Feijó entrou em atrito com deputados
Joaquim Carneiro de Campos, o Marquês de Caravelas; e um militar,
e senadores que se opunham ao aumento dos seus poderes.
o brigadeiro Francisco Lima e Silva. Além disso, o ministro tentou destituir José Bonifácio de Andrada
As principais medidas adotadas por esta Regência Provisória do cargo de tutor de D. Pedro II, acusando-o de conspiração. Os
nos dois meses e meio em que esteve no poder foram: desentendimentos levaram à renúncia de Feijó do cargo de Ministro
• A reintegração do Ministério Brasileiro que havia sido demitido da Justiça.
por D. Pedro I; Também em 1832, foi criado o Código de Processo Criminal,
• A anistia aos prisioneiros políticos; através do qual foram ampliados os poderes dos municípios, que
• A suspensão do Poder Moderador, que era exclusivo do teriam maior autonomia judiciária, com os juízes de paz eleitos
imperador; pela população local.
• A aprovação da Lei da Regência, que proibia os regentes de
dissolver a Câmara, decretar guerra ou conceder títulos de Surgem os choques políticos
nobreza.
O período também foi marcado pelo surgimento dos
primeiros partidos políticos do Brasil, a partir de grupos políticos
Regência Trina Permanente que existiam no Primeiro Reinado: os partidos português, brasileiro
(1831 a 1835) e liberais radicais. Os partidos surgidos na Regência foram Liberais
Moderados, Liberais Exaltados e Restauradores.
O critério adotado para a formação da Regência Trina
Permanente foi geográfico, sendo formada por João Bráulio Muniz, Liberais Moderados ou Chimangos
que representaria a elite agrária nordestina; José da Costa Carvalho,
representante da aristocracia sulista; e o brigadeiro Francisco Lima • Principal força política que controlava o governo na época.
e Silva, representante do exército e responsável pelo equilíbrio • Composto pela aristocracia rural, especialmente do Sudeste.
político do país. • Monarquistas e escravistas, mas não admitiam a volta de D. Pedro
O padre Diogo Antônio Feijó ocupava a pasta de Ministro I.
da Justiça, sendo dotado de grandes poderes, se destacava pela • Defesa do voto censitário.
• Defesa de um forte controle do Rio de Janeiro sobre as províncias
energia empregada para acalmar as agitações políticas e sociais
(centralizadores).
do período. Em 1831, Feijó criou a Guarda Nacional, com o
• Ligados à Sociedade Defensora da Liberdade e da Independência
objetivo de combater os distúrbios que ameaçavam a ordem
Nacional.
vigente.
• Apoiados pelos jornais A Aurora Fluminense, Astreia e O Sete
A Guarda Nacional era subordinada ao Ministério da
d’Abril.
Justiça, sendo os seus membros dispensados do serviço militar
obrigatório, o que enfraqueceu o Exército Nacional. Esta milícia
Liberais Exaltados, Farroupilhas ou Jurujubas
se caracterizava como uma força paramilitar comandada por
membros da aristocracia agrária que compravam a patente de • Proprietários rurais de regiões periféricas sem influência do Rio
coronel e obtinham a permissão de recrutar e armar sua milícia. de Janeiro, classes médias urbanas e setores do exército.
Desta forma, a Guarda Nacional servia como instrumento de • Defesa do regime republicano e extinção do poder Moderador.
poder das oligarquias agrárias e defesa de seus interesses, • Federalismo (grande autonomia provincial).
especialmente a grande propriedade rural. • Pregação de alguns ideais democráticos, como o voto universal.
O enfraquecimento do Exército era uma forma de limitar • Alguns de seus membros defendiam o fim da escravidão.
suas posições cada vez mais revolucionárias, uma vez que grande • Ligados à Sociedade Federal.
parte dos militares pertencia à classe média e apoiava medidas • Jornais: A Malagueta, A trombeta dos Farroupilhas e O Grito
descentralizadoras e até mesmo republicanas. dos Oprimidos.
• Foco de revoltas.

18 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
Restauradores ou Caramurus Regência Una de Araújo Lima
• Portugueses, descendentes de portugueses e burocratas ligados
ao antigo governo de D. Pedro I.
(1837 a 1840)
• Contrários a qualquer reforma política (conservadores). Pedro de Araújo Lima assumiu interinamente o cargo de
• Absolutistas. Regente Uno após a renúncia do padre Feijó e foi efetivado no
• Objetivo básico: volta de D. Pedro I. cargo em 1838, após vencer as novas eleições regenciais. O novo
• Clube político: Sociedade Militar. regente era representante da ala dos Regressistas.
• Jornais: O Caramuru, O Caolho e O Tamoio. O gover no de Araújo Lima se caracterizou pelo
conservadorismo, justificado como necessário para conter as
Em 1834, com o objetivo de acalmar as agitações sociais revoltas cada vez mais graves que agitavam o país e ameaçavam a
e políticas no Brasil, foi realizada uma reforma na Constituição de unidade do território nacional. O liberalismo do Ato Adicional era
1824: o Ato Adicional de 1834. apontado como principal responsável pelas agitações do período e
Através deste, a Regência Trina Permanente seria substituída a volta à centralização era vista como necessária para restabelecer
por uma Regência Una, eletiva e temporária (4 anos). Foi extinto a ordem no país.
o Conselho de Estado (órgão vinculado ao do Poder Moderador), Araújo Lima nomeou Bernardo Pereira de Vasconcelos para
e foram criadas as Assembleias Legislativas Provinciais, foi criado o
Ministro da Justiça e estes foram responsáveis pela Lei Interpretativa
Município Neutro do Rio de Janeiro. O voto censitário e o senado
vitalício foram mantidos. do Ato Adicional, em 1840. Na prática, a nova lei anulava várias
As medidas e mudanças desencadeadas pelo Ato foram medidas descentralizadoras do Ato Adicional, com destaque
consideradas uma “experiência republicana” no Brasil, levando o para a redução do poder das Assembleias Legislativas Provinciais.
período a ser considerado um Avanço Liberal. As medidas centralizadoras levaram o período a ser definido como
No mesmo ano foram marcadas eleições para a escolha do Regresso Conservador.
novo regente, sendo eleito por uma pequena diferença de votos o Contrários à centralização do regime, os Progressistas/
padre Diogo Antônio Feijó, que representava as oligarquias agrárias Liberais fundaram o Clube da Maioridade, que tinha como objetivo
sulistas, concorrendo pelo partido Liberal Moderado. antecipar a maioridade de D. Pedro II, permitindo sua imediata
ascensão ao trono e afastando os Regressistas/Conservadores do
Regência Una de Feijó (1835 a 1837) poder. Desenvolveu-se então a Campanha da Maioridade, que
cresceu e ganhou adeptos em todas as províncias, especialmente
Na chefia do Governo, Feijó enfrentou muitos problemas:
revoltas nas províncias (Cabanagem, Sabinada e Farroupilha); crise no Rio de Janeiro, até mesmo entre o grupo palaciano que gozava
econômica; divergências com a Igreja Católica, pois defendia a de grande intimidade junto ao jovem herdeiro do trono.
extinção de ordens eclesiásticas e o fim do celibato clerical, além de A proposta foi levada ao jovem herdeiro por uma
maior autonomia para os membros do clero; falta de apoio político; comissão, que o consultou se aceitava ascender ao Trono imperial.
e divisão interna no seu partido. O fato ocorreu no dia 22 de julho de 1840 e o regente Araújo
Uma parcela significativa dos membros do Partido Liberal Lima chegou a propor que a maioridade lhe fosse concedida
Moderado, o mesmo do Regente, não apoiava seu governo. no próximo dia 2 de dezembro, quando completaria 15 anos.
A divergência provocou uma divisão no partido. A ala que apoiava D. Pedro de Alcântara respondeu que queria a antecipação de sua
Feijó o acompanhou em um novo partido, o Partido Progressista. maioridade imediatamente.
Os outros membros do antigo Partido Liberal Moderado, mais O Golpe da Maioridade pôs fim ao Período Regencial e
conservadores, formaram o Partido Regressista, que fez forte oposição
marcou o início do Segundo Reinado, que duraria até 1889, quando
a Feijó.
foi proclamada a República no Brasil.
O mandato de Feijó deveria se estender até 1839, já que
o mandato do Regente Uno era de 4 anos. Todavia, diante das
dificuldades econômicas e políticas que seu governo enfrentava e Estudo para a sagração de Dom Pedro II – 1840. Manuel de
de uma saúde seriamente comprometida, Feijó resolveu renunciar Araújo Porto-alegre
ao mandato para o qual tinha sido eleito em 1837.
Diogo Antônio Feijó, regente único de 1834 a 1837.
Por Miguelzinho Dutra (1810–1870) Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, Brasil.
Museu Republicano “Convenção de Itu”.

PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo, Barão de Santo Ângelo (1806-1879). Estudo


para a sagração de Dom Pedro II, 1841. Óleo sobre tela, 80 × 100 cm.
DUTRA, Miguelzinho (1810-1870). Diogo
Antônio Feijó, regente do Brasil (1835-37).

Anual – Volume 3 19
ciências Humanas e suas tecnologias História I
03. (Ibmec-RJ/2009.2) Medida jurídica da maior importância,
o Ato Adicional de 1834 introduziu as seguintes reformas no
Exercícios de Fixação
Período Regencial brasileiro:
A) reabertura do Banco do Brasil e a transformação da Regência
Trina em Uma.
01. (UPE-SSA-2/2017) Rio de Janeiro, 1831. Com cerca de 150 mil
B) separação entre a Igreja e o Estado e a criação do
habitantes, a capital do Império era um grande caldeirão político
parlamentarismo.
e social em ebulição. A chamada Revolução de 7 de abril forçara
a abdicação do primeiro imperador e instituíra uma regência C) fim do regime de Capitanias Hereditárias e a instituição da
trina para governar a nação até a maioridade de Pedro II. Lei de Terras.
D) criação das Assembleias Legislativas Provinciais e a supressão
BASILE, Marcello. “Revolta e cidadania na corte regencial”.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tem/v11n22/v11n22a03>. do Conselho de Estado.
E) suspensão do Poder Moderador e a introdução da eleição
No contexto apontado, a arena política brasileira encontrava- direta para os cargos de regente, com a participação de
se dividida entre três grupos, que disputavam o poder e os todos os cidadãos maiores de 21 anos.
cargos públicos com interesses bastante distintos. Eram eles,
respectivamente: 04. (Unesp/2015) A escravatura, que realmente tantos males
A) unitaristas, maragatos e jacobinos. acarreta para a civilização e para a moral, criou no espírito dos
B) liberais, militares e conservadores. brasileiros este caráter de independência e soberania, que o
C) socialistas, federalistas e anarquistas. observador descobre no homem livre, seja qual for o seu estado,
D) liberais moderados, liberais exaltados e caramurus.
profissão ou fortuna. Quando ele percebe desprezo, ou ultraje
E) comerciantes, proprietários de escravos e militares.
da parte de um rico ou poderoso, desenvolve-se imediatamente
o sentimento de igualdade; e se ele não profere, concebe
02. (Unicamp/2017) O escritor José de Alencar relata como ocorriam
as reuniões do Clube da Maioridade, realizadas na casa de ao menos, no momento, este grande argumento: não sou
seu pai em 1840. Discutia-se nessas ocasiões a antecipação escravo. Eis aqui no nosso modo de pensar, a primeira causa da
da maioridade do imperador D. Pedro II, então com apenas tranquilidade de que goza o Brasil: o sentimento de igualdade
14 anos, para que ele pudesse assumir o trono antes do profundamente arraigado no coração dos brasileiros.
tempo determinado pela Constituição. No fim da vida, José
Padre Diogo Antônio Feijó apud Miriam Dolhnikoff.
de Alencar rememora os episódios de sua infância e chega a
O pacto imperial, 2005.
uma surpreendente conclusão: os políticos que frequentavam
sua casa na ocasião iam lá não porque estavam pensando no
futuro do país, mas apenas para devorar tabletes e bombons O texto, publicado em 1834 pelo Padre Diogo Antônio Feijó,
de chocolate. Conforme o relato do escritor, os membros do A) parece rejeitar a escravidão, mas identifica efeitos positivos
Clube da Maioridade, discutindo altos assuntos na sala de sua que ela teria provocado entre os brasileiros.
casa, pareciam realmente gente séria e preocupada com os B) caracteriza a escravidão como uma vergonha para todos os
destinos do Brasil, até que chegava a hora do chocolate. brasileiros e defende a completa igualdade entre brancos e
Para Alencar, a discussão política no Brasil se resumia a um negros.
“devorar de chocolate”, isto é, cada um defendia apenas seus C) defende a escravidão, pois a considera essencial para a
interesses particulares e nada mais. manutenção da estrutura fundiária.
Adaptado de Daniel Pinha Silva, “O império do chocolate”, D) revela as ambiguidades do pensamento conservador
Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/. brasileiro, pois critica a escravidão, mas enfatiza a
Acessado em: 01/08/2016.
importância comercial do tráfico escravagista.
Sobre o Golpe da Maioridade e a visão de José de Alencar a E) repudia a escravidão e argumenta que sua manutenção
esse respeito, é correto afirmar que: demonstra o desrespeito brasileiro aos princípios da
A) O golpe foi uma manobra das elites políticas, que criaram igualdade e da fraternidade.
uma forma de alterar a Constituição e contemplar os seus
05. (ESPM/2014) Num momento da história do império conhecido
interesses durante o Período Regencial, fato criticado por
Alencar ao fazer uma anedota com o chocolate. como “avanço liberal”, durante as regências, foram adotadas
B) Ao entregar o poder a um jovem de 14 anos, alegando ser algumas medidas que concediam maior poder à representação
maior de 18, os políticos do Império manifestavam uma local.
ousada visão política para evitar a influência da Inglaterra Sonia Guarita do Amaral.
nos assuntos brasileiros, preservando seus interesses como O Brasil como império.
donos de escravos.
C) O golpe foi uma resposta dos conservadores às propostas Aponte entre as alternativas aquela que apresente duas
liberais que pretendiam estabelecer a República no país, e reformas liberais.
Alencar apontou uma prática política dos parlamentares que A) Ato Adicional – Reforma do Código de Processo Criminal.
é recorrente na história do país. B) Lei de Terras – Lei Saraiva Cotegipe.
D) José de Alencar expressou sua decepção com os políticos e, C) Lei Rio Branco – Código de Processo Criminal.
ao registrar sua visão sobre o Clube da Maioridade, o escritor D) Tarifa Alves Branco – Lei Interpretativa do Ato Adicional.
contribuiu para inibir procedimentos semelhantes durante E) Código de Processo Criminal – Ato Adicional.
o Império, assegurando uma transição pacífica e legal para
a República, em 1889.

20 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
04. (UEPB/2009) A Guarda Nacional foi criada para defender a
Constituição, a liberdade, a independência e a integridade
Exercícios Propostos
do Império. Sobre ela, é correto afirmar:
A) O alistamento para compor a Guarda Nacional era
facultativo.
01. (Uece/2015.2) Aprovado em agosto de 1834, o chamado Ato
Adicional propôs alterações à Constituição brasileira de 1824. B) A Lei Orgânica que deu origem à Guarda Nacional
inspirou-se em lei inglesa promulgada em 1850.
A principal delas se caracterizou por C) Era uma milícia civil formada por homens livres, em sua
A) conceder maior autonomia às Províncias. maioria ofi ciais do Exército, proprietários de terras e
B) substituir a Regência Una Pela Regência Trina. comerciantes, burocraticamente controlada e sob estreita
C) manter e ampliar o poder do Conselho de Estado. supervisão do Estado.
D) extinguir a vitaliciedade do Senado. D) Nenhum fazendeiro ou chefe político podia receber a
patente de coronel da Guarda Nacional.
02. (UFRGS/2011) O cargo de juiz de paz teve suas funções
E) A Guarda nacional não podia combater nenhum grupo,
regulamentadas pelo Código de Processo Criminal de 1832.
facção ou instituição que contestassem as autoridades do
Esses juízes representavam o liberalismo brasileiro durante o
Período Regencial. Império. Esta era uma atribuição exclusiva do Exército.

Esses magistrados eram 05. (UFC/2009) O Ato Adicional, decretado no período das
A) nomeados diretamente pelo Imperador, exercendo as regências no Brasil, pela Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834,
funções de chefe de polícia. estabeleceu algumas modificações na Constituição de 1824.
B) designados diretamente pelo ministro da Justiça, exercendo Acerca dessas alterações, assinale a alternativa correta.
as funções de promotor público. A) O Conselho de Estado foi reorganizado para que fosse
C) eleitos pelos cidadãos para exercer funções conciliatórias e possível conter os conflitos provinciais.
de qualificação eleitoral. B) Os presidentes provinciais passaram a ser eleitos a ter o
D) eleitos pelos deputados gerais para administrar os bens dos poder de aprovar leis e resoluções referentes ao controle
órfãos e de pessoas ausentes. dos impostos.
E) indicados pelo presidente provincial para pacificar os
C) O estabelecimento da Regência Una, ao invés da Regência
conflitos pela terra.
Trina, signifi cou a eleição de um único regente, com
03. (UEFS/2016) mandato até a maioridade de D. Pedro II.
D) As Assembleias legislativas provinciais foram criadas
Exaltados moderados Restauradores para proporcionar autonomia política e administrativa às
províncias no intuito de atender às demandas locais.
Democracia! E) A Corte, com sede no Rio de Janeiro, por meio da aliança
ordem!
entre progressistas e regressistas, continuou centralizando
saudade! as ações em defesa da Constituição de 1824.

06. (Unifor/2009.2) Analise o texto.

Brasileiros! − Um acontecimento extraordinário veio


surpreender todos os cálculos de humana prudência; uma
revolução gloriosa foi operada pelos esforços e patriótica
ANDRADE, Maria José; TEIXEIRA, Maril G. História do Brasil. união do povo e tropa do Rio de Janeiro sem que fosse
Secretária de Educação e Cultural. Instituto de Radiodifusão
Educativa da Bahia. Salvador: IRDEB, 1993, p. 168. derramada uma só gota de sangue (...) Do dia 7 de abril de
1831 começou a nossa existência nacional, o Brasil será dos
A precisão das posições políticas dos Exaltados, Moderados e brasileiros e livre (...)
Restauradores, registradas na charge, se opõe Proclamação aos Brasileiros. Coleção das Leis do Brasil, 1831. Rio de Janeiro,
A) às semelhanças políticas demonstradas pelos grupos Imprensa Nacional, 1889. In Cecília Oliveira Salles. 7 de setembro de 1822.
comunistas e integralistas que atuaram no Brasil durante São Paulo: Nacional, 2005. p. 33)
toda a República Velha.
B) à campanha abolicionista, que concentrava a propaganda O acontecimento a que o texto se refere, interpretado por
do Partido Republicano, desde o início do Brasil monárquico. políticos e militares contrários ao Imperador como o dia da
C) ao unipartidarismo vigente durante a ditadura militar no verdadeira Independência do Brasil, foi a
Brasil, que reconhecia apenas a ARENA, como partido A) Abolição da escravatura.
legítimo. B) Abdicação de D. Pedro I.
D) à indefinição política e ideológica de grande parte dos C) Deposição de D. Pedro II.
partidos registrados no STE, que atuam na política brasileira,
D) Proclamação da República.
no momento atual. E) Revolução Pernambucana.
E) ao pluripartidarismo que marcou a vida política no Brasil
monárquico do Segundo Reinado.

Anual – Volume 3 21
ciências Humanas e suas tecnologias História I
07. (FGV/2017) Sobre a regência do paulista Diogo Antônio Feijó, 09. (IFCE/2006.2) De acordo com o Período Regencial, é correto
entre 1835 e 1837, é correto afirmar que afirmar que:
A) o regente conseguiu vencer a eleição devido ao apoio A) foi uma das fases de maior estabilidade de nossa História,
recebido dos produtores de algodão do Nordeste, classe sendo marcada pela balança comercial favorável, mais
emergente nos anos 1830, o que possibilitou o combate às intensidade na representatividade (principalmente com o
rebeliões regenciais e o início do processo de centralização Ato Adicional de 1834), além da ampliação da autonomia
político-administrativa. nas províncias.
B) o apoio inicial que Feijó recebeu de todas as forças políticas B) com a abdicação de D. Pedro I, as elites políticas formaram
do Império foi, progressivamente, sendo corroído porque imediatamente a Regência Trina Permanente. Esta foi
o regente eleito mostrou simpatia pelo projeto político da escolhida pela Câmara de Deputados Imperiais.
Balaiada, que defendia uma Monarquia baseada no voto C) durante a Regência Trina Permanente, desenvolveram-se
universal. três tendências políticas: o Partido Exaltado, o Partido
C) a opção de Feijó em negociar com os farroupilhas e com Moderado e o Partido Restaurador.
a liderança popular da Cabanagem provocou forte reação D) com o Ato Adicional de 1834, a Regência Una foi
dos grupos mais conservadores, especialmente do Partido substituída pela Regência Trina Permanente, pondo fim na
Conservador, que organizaram a queda de Feijó por meio pseudo experiência federativa do Brasil.
de um golpe de Estado. E) a economia brasileira passava por uma de suas melhores
D) o isolamento político do regente Feijó, que provocou a sua fases na exportação, tendo como principais produtos o
renúncia do mandato, relacionou-se com a sua incapacidade açúcar, o fumo e o algodão.
de conter as rebeliões que se espalhavam por várias
províncias do Império e com a vitória eleitoral do grupo 10. (PUC-RJ/2006) “E foi justamente com o objetivo de garantir
regressista. a continuidade desse ‘mal menor’ que o governo regencial
E) as condições econômicas brasileiras foram se deteriorando promulgou, em novembro de 1831, uma lei proibindo
durante a década de 1830 e provocaram um forte desgaste o tráfico negreiro para o Brasil, declarando livres os
da regência de Feijó, que renunciou ao cargo depois de um escravos que aqui chegassem e punindo severamente os
acordo para uma reforma constitucional. importadores. Por meio dela, não se pretendia, na verdade,
pôr fim ao tráfico negreiro, e sim diminuir a pressão dos
08. (UFV/2010) Observe a imagem a seguir. interesses ingleses. Não por outra razão, comentava-se na
Câmara, nas casas e nas ruas, que o ministro Feijó fizera
Museus Castro Maya, Rio de Janeiro, Brasil.

uma lei ‘para inglês ver’.”


Ilmar R. de Mattos e Márcia de A. Gonçalves.
O Império da Boa Sociedade, p. 34.

Tendo como base o texto apresentado, assinale a única


afirmativa correta.
A) A lei antitráfico, de 1831, não só pôs fim ao tráfico
intercontinental de escravos, como igualmente viabilizou
a extinção da escravidão no Brasil.
B) As pressões inglesas pelo fim do tráfico negreiro estiveram
associadas à proposta de investir na industrialização do Brasil.
C) A lei antitráfico, de 1831, ao cumprir cláusula presente
nos tratados de 1827, contribuiu para a maior entrada de
trabalhadores imigrantes.
D) A “lei para inglês ver”, na prática, não extinguiu o tráfico
Oficina litográfica Brito & Braga. Batalhão de Fuzileiros da
Guarda Nacional (1840-1845), 1850. intercontinental de escravos, ampliando, contudo, de forma
decisiva, a polêmica sobre tal questão.
Com relação à Guarda Nacional, criada durante o Império, é E) O ministro da Justiça, Diogo Feijó, promulgou a lei
correto afirmar que: antitráfico, de 1831, em função das ameaças inglesas de
A) funcionava como única força armada que podia defender restringir o comércio com o Brasil.
os interesses dos escravistas e coibir a fuga dos escravos.
B) objetivava o controle da Corte e da burocracia imperial,
alvos frequentes de manifestações populares de Fique de Olho
descontentamento.
C) tinha por finalidade a garantia da segurança e da ordem,
defendendo a Constituição, a obediência às leis e a Período Regencial
integridade do Império. Complemente seus estudos acessando o site:
D) atuava na defesa das fronteiras externas brasileiras, http://historia.abril.com.br/2006/edicoes/tomosetelas/not_176722.
impedindo a expansão dos países platinos em direção ao shtml
território brasileiro. Assista ainda a minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003) produção
contextualizada em torno da Guerra dos Farrapos.

22 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias

Domínio Público.
Aula 14:

C-2 H-10
Aula C-3 H-13
Revoltas Regenciais (1831-1840)
14

Introdução: de olho no Enem


Os movimentos sociais neste período da história do
Brasil mostram a inquietação dos diferentes segmentos sociais
que desejavam reformas mais profundas, especialmente após
a abdicação de D. Pedro I, pois o centralismo que vigorava no
Primeiro Reinado era incompatível com o interesse de diferentes
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848). Vendedores de palmito e de samburás,
grupos sociais, desde elementos marginalizados, como os escravos
1839. Gravura baseada em aquarela.
na revolta dos Malês, até proprietários de terras no Sul, como na
Revolução Farroupilha, insatisfeitos com a política fiscal e econômica
adotado pelo governo. Vamos então observar a dinâmica dos Cabanagem (Grão-Pará – 1835 a 1840)
movimentos socais e buscar compreender os objetivos específicos
A economia do Grão-Pará se baseava no extrativismo de
de cada uma.
drogas-do-sertão e madeira e também na produção de cacau
As Regências enfrentaram quatro das mais importantes e arroz. A produção se baseava na exploração da mão de obra
rebeliões intestinas do Brasil indígena e o número de escravos era reduzido na província.
Havia ainda um pequeno comércio controlado por portugueses
ou seus descendentes. A maioria da população era composta por
mestiços, brancos pobres e índios destribalizados que viviam de
forma miserável em palafitas, sendo por isso os rebeldes chamados
Amazonas de Cabanos.
Maranhão Ceará Rio Grande
Grão-Pará do Norte Assim como no Primeiro Reinado, na Regência a região
Paraíba continuava marcada pela miséria, exclusão social e a fome, que
Piauí Pernambuco
Alagoas revoltavam a população e provocavam constantes levantes tanto no
Sergipe
Bahia interior como na capital Belém, que eram violentamente reprimidos
Mato
Grosso pelo presidente da província, Lobo de Sousa.
Goiás No início de 1835, os revoltosos tomaram o poder e
Minas
Gerais fuzilaram Lobo de Sousa. O governo revolucionário passou a ser
Cabanagem
(1835-1840) chefiado pelo fazendeiro Félix Clemente Malcher, que entrou em
Guerra dos Farrapos atrito com Cabanos mais radicais e jurou lealdade ao Império, sendo
(1835-1845) São Paulo
Paraná Oceano Atlântico por isso deposto e executado pelos rebeldes.
Sabinada Santa Catarina O poder passou a ser ocupado por Francisco Vinagre e
(1837-1838)
naquele momento intensificou-se a repressão do Governo Regencial.
Balaiada S. Pedro
(1838-1841) do R. G. do Sul Os grupos dominantes se afastavam cada vez mais do movimento,
temendo o radicalismo das massas e enfraquecendo o governo
rebelde, facilitando a ação das tropas repressoras.
Derrotados na capital, os Cabanos fugiram para o interior
Levante dos Malês (Bahia/1835) onde se reorganizaram sob o comando do líder radical Eduardo
Angelim, que proclamou a República, separando-a do Império
O movimento foi a mais importante revolta de escravos
Brasileiro.
da história da Bahia. Os malês eram escravos islamizados, isto
é, adeptos da religião muçulmana e se constituiu em uma Os conflitos se estenderam até 1840 e se caracterizaram pela
forma de reação à escravidão, como tantas outras ocorridas violência praticada por ambos os lados, especialmente as tropas
no Brasil. legalistas, quando, já no início do Segundo Reinado a província foi,
A rebelião contava com aproximadamente 600 participantes finalmente, pacificada.
e durou apenas algumas horas, nas quais os revoltosos ocuparam A Cabanagem está marcada na história brasileira como
algumas ruas de Salvador. O movimento negro repercutiu no único movimento popular do Período Imperial em que camadas
Império, permanecendo por longo tempo na memória das classes populares tomaram o poder em uma província, mantendo-o
dominantes da Bahia e mesmo da Corte, que tomaram diversas durante certo tempo. Além dos já citados, merecem destaque
medidas para impedir que outro movimento similar ocorresse. as lideranças anônimas de figuras como Domingos Onça, Mãe
A repressão aos envolvidos foi violenta, como era de se da Chuva, João do Mato, Sapateiro, Remeiro, Gigante do Fumo,
esperar das autoridades brasileiras em relação a um movimento Pepira, Zefa de Cima, Zefa de Baixo e outros.
de caráter popular e social. Grande parte dos envolvidos foi Além da implantação de uma república, do desejo de uma
condenada a penas de castigo (chibatadas) e prisão. Um número reforma agrária e da luta contra desigualdades, os rebeldes não
considerável de libertos foi deportado para a África, enquanto tinham um programa político definido e não mantiveram unidade,
aproximadamente uma centena de negros terminou condenada o que favoreceu a repressão governamental.
à morte.

Anual – Volume 3 23
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Luís Alves de Lima e Silva, futuro Barão de Caxias, foi

Domínio Público.
nomeado presidente da província em 1840, promovendo forte
repressão aos revoltosos. Quando ascendeu ao trono, D. Pedro
II concedeu anistia aos rebeldes que ainda restavam, pondo fim
ao movimento.

Domínio Público
O revolucionário brasileiro Eduardo
Angelim (1814-1882), participante da
Cabanagem, 1850. Fabricantes de balaios, século XIX.

Sabinada (Bahia – 1837 a 1838) Revolução Farroupilha (Rio Grande do


A Sabinada teve início em setembro de 1837 e tem este Sul / Santa Catarina – 1835 a 1845)
nome devido à liderança do médico Francisco Álvares da Rocha
O mais longo movimento revolucionário ocorrido no Brasil se
Sabino. O movimento resultou da insatisfação de segmentos sociais
deu inicialmente no Rio Grande do Sul e se estendeu posteriormente
médios de Salvador com a realidade da Província, esquecida pelo
poder central e atravessando séria crise econômica. a Santa Catarina, onde foram proclamadas, respectivamente, as
Revoltados com o centralismo político regencial e a Repúblicas do Piratini e Juliana.
imposição de presidentes à província, os revoltosos proclamaram Motivada pela insatisfação dos estancieiros com os altos
a República Bahiense, que se separaria do Império Brasileiro impostos sobre o charque gaúcho, dificultando a concorrência com
provisoriamente, até que D. Pedro II atingisse a maioridade e o charque platino; e a excessiva centralização política do Império,
assumisse o trono. que nomeava presidentes para a província que normalmente
Os grandes proprietários rurais baianos não apoiaram a desagradavam os estancieiros, os revoltosos queriam maior
revolta e auxiliaram a repressão governamental ao movimento, autonomia provincial e o direito de escolher governantes mais
que acabou sufocado. Várias casas foram incendiadas e os sensíveis aos problemas da região e comprometidos em resolvê-los.
rebeldes atirados às fogueiras. As estatísticas apontam para mais A Revolução Farroupilha era elitista, separatista, republicana
de 2000 mortos. Principal líder do movimento, o médico Sabino e não tinha um caráter social, pois os grandes proprietários sulistas
foi degredado para Goiás, de onde foi para Mato Grosso, onde
não se interessavam em resolver os problemas da população pobre
morreu algum tempo depois.
e inicialmente não planejavam a abolição da escravidão.
O Ato Adicional de 1834 determinou a criação das
Balaiada (Maranhão – 1838-1841) Assembleias Legislativas Provinciais, o que não resolveu as queixas
A economia maranhense enfrentava sérias dificuldades dos gaúchos, pois o presidente da província continuava a ser
nas primeiras décadas do século XIX, especialmente em virtude nomeado pelo governo central da Regência. Já na primeira reunião
das dificuldades enfrentadas pela lavoura algodoeira, devido da Assembleia gaúcha, em 1835, surgiram sérias divergências entre
à concorrência norte-americana. As dificuldades econômicas os deputados estancieiros, especialmente Bento Gonçalves, e o
agravavam a fome e a miséria na região, atingindo grande parte presidente nomeado para a Província, Antônio Rodrigues Braga.
da população local.
Insatisfeitos, os estancieiros formaram uma tropa que atacou
O poder político da província era disputado por liberais
Porto Alegre, tomando o poder e depondo o presidente da Província,
(Bem-te-Vis) e conservadores, que geralmente recorriam à
violência para atingir seus objetivos. Os crimes políticos geralmente proclamando a República Rio-Grandense ou República do Piratini,
ficavam impunes, o que agravava a violência de ambas as partes. nomeando Bento Gonçalves para presidente.
A instabilidade favorecia constantes fugas de negros, que Imediatamente, o Governo Regencial enviou tropas para
formavam quilombos e viviam saqueando as fazendas. a região, que ao vencer os rebeldes em uma batalha ocorrida
A revolta teve início quando o vaqueiro Raimundo Gomes, próxima a Porto Alegre, prenderam Bento Gonçalves, conduzindo-o
ligado aos Bem-te-vis, e alguns companheiros atacaram a cadeia a uma prisão na Bahia. Ajudado pelos rebeldes da Sabinada, Bento
para libertar seu irmão que estava preso acusado de assassinato. Gonçalves conseguiu fugir da prisão e retornou ao Rio Grande do
Alguns soldados aderiram ao movimento e iniciaram uma marcha Sul, reassumindo a presidência da República do Piratini.
que recebia adesões por onde passava, especialmente de mulatos, As forças rebeldes passaram a contar, a partir de 1837, com
negros, quilombolas, chefiados pelo negro Cosme e artesãos, entre a ajuda do mercenário italiano Giuseppe Garibaldi, que com o auxílio
os quais Francisco dos Anjos Ferreira, o Balaio. do estancieiro Davi Canabarro e seus homens, conseguiram estender
O movimento não tinha objetivos bem definidos,
a revolução até Santa Catarina, em 1839, tomando inicialmente a
resultando da insatisfação das camadas pobres com a pobreza
cidade de Laguna, e proclamando a República Juliana. Em Laguna,
e a miséria vigentes e da falta de compromisso das autoridades.
Mesmo desorganizados, os rebeldes conseguiram tomar a Giuseppe conheceu e se apaixonou por Anita Garibaldi, habilidosa
cidade de Caxias e promoviam saques e ataques a várias vilas. amazona que chegou a lutar ao lado das tropas republicanas.

24 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
Em 1840, teve início o Segundo Reinado e o jovem A Guerra dos Farrapos em quadro
imperador D. Pedro II nomeou o Luís Alves de Lima e Silva, o de Guilherme Litran
Barão de Caxias, para a presidência do Rio Grande do Sul, para

Museu Júlio de Castilhos, Rio Grande do Sul, Brasil.


que conseguisse a paz na região e a reintegração do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina ao Império. Ao mesmo tempo que travava
violentas batalhas contra os rebeldes, Caxias realizava negociações
com os líderes republicanos.
Os rebeldes necessitavam de soldados e começaram a
recrutá-los entre os escravos da região, prometendo-lhes liberdade
ao final do conflito. Em contrapartida, o Império determinou o
confisco das propriedades de todos os envolvidos.
A posição social de prestígio e o poder econômico das
lideranças rebeldes fizeram o Império tratar a Revolução Farroupilha
de maneira diferente dos outros movimentos populares. Perceba que
Caxias, apesar de combater o movimento, procurava uma solução
negociada, atendendo várias reivindicações dos rebeldes, o que não
foi feito com outros movimentos populares.
O conflito foi finalizado a partir de um acordo entre as
lideranças imperiais e rebeldes firmado em 1845, o Acordo de
Ponche Verde, que estabelecia:
• anistia dos envolvidos gaúchos; LITRAN, Guilherme. Carga de cavalaria, 1893. Óleo sobre tela.

• incorporação dos farrapos no exército nacional;


• permissão para escolher o Presidente de Província;
• devolução de terras confiscadas na guerra;
• proteção ao charque gaúcho da concorrência externa; Exercícios de Fixação
• libertação dos escravos envolvidos.
É importante lembrar que o governo imperial era contrário
01. (Enem-2010/1ª aplicação) Após a abdicação de D. Pedro I, o
à libertação dos escravos do exército republicano. Todavia, havia
Brasil atravessou um período marcado por inúmeras crises: as
uma promessa de libertação destes que os rebeldes não aceitavam
diversas forças políticas lutavam pelo poder e as reivindicações
quebrar. A solução para o impasse foi a combinação de uma batalha,
populares eram por melhores condições de vida e pelo direito de
a Batalha de Porongos, para onde foram enviados soldados negros
participação na vida política do país. Os conflitos representavam
que foram trucidados pelas forças imperiais. Desta maneira, o
também o protesto contra a centralização do governo. Nesse
número de escravos alforriados na região foi reduzido.
período, ocorreu também a expansão da cultura cafeeira e o
surgimento do poderoso grupo dos “barões do café”, para o
Samory Santos CC BY 3.0/Wikimedia Foundation

qual era fundamental a manutenção da escravidão e do tráfico


negreiro.
O contexto do Período Regencial foi marcado
A) por revoltas populares que reclamavam a volta da monarquia.
B) por várias crises e pela submissão das forças políticas ao
poder central.
C) pela luta entre os principais grupos políticos que reivindicavam
melhores condições de vida.
D) pelo governo dos chamados regentes, que promoveram a
ascensão social dos “barões do café”.
E) pela convulsão política e por novas realidades econômicas
que exigiam o reforço de velhas realidades sociais.
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02. (Fuvest/2009) “Nossas instituições vacilam, o cidadão vive


receoso, assustado; o governo consome o tempo em vãs
recomendações... O vulcão da anarquia ameaça devorar
o Império: aplicai a tempo o remédio.”
Padre Antonio Feijó, em 1836.

Essa reflexão pode ser explicada como uma reação à


A) revogação da Constituição de 1824, que fornecia os
instrumentos adequados à manutenção da ordem.
B) intervenção armada brasileira na Argentina, que causou
grandes distúrbios nas fronteiras.
C) disputa pelo poder entre São Paulo, centro econômico
importante, e Rio de Janeiro, sede do governo.
D) crise decorrente do declínio da produção cafeeira, que
produziu descontentamento entre proprietários rurais.
O estopim da revolução se deu com a fuga de Bento Gonçalves do E) eclosão de rebeliões regionais, entre elas, a Cabanagem no
Forte do Mar, o atual Forte São Marcelo. Pará e a Farroupilha no sul do país.

Anual – Volume 3 25
ciências Humanas e suas tecnologias História I
03. (Unesp/2017) A Revolta dos Malês, ocorrida em 1835 na Bahia,
contou com ampla participação popular e defendeu, entre
outras propostas,
Exercícios Propostos
A) a rejeição ao catolicismo e a construção de uma ordem
islâmica.
B) a manutenção da escravidão de africanos e a ampliação da 01. (Uespi/2012) Entre os movimentos sociais que contestavam o poder
escravização de indígenas. centralizado do Império brasileiro, destaca-se o conflito cuja duração
C) o retorno de D. Pedro I e o restabelecimento da monarquia se estendeu da Regência ao Segundo Reinado, reconhecido como
absolutista. A) Confederação do Equador, que, iniciando-se em Pernambuco, contou
D) a ampliação das relações diplomáticas e comerciais com os com a adesão de grande parte das demais províncias nordestinas.
países africanos. B) Revolução Praieira, que se singularizou pela luta contra o
E) o reconhecimento dos direitos e deveres de todo cidadão poder das oligarquias locais de Pernambuco.
brasileiro. C) Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador (BA) e organizada
por negros de religião muçulmana, sendo considerada a
04. (Mackenzie/2017) “... esses males, nós os temos suportado em maior rebelião de escravos do Brasil.
comum com as outras Províncias da União Brasileira (...). Para D) Guerra dos Farrapos, empreendida pelos Republicanos
que lançássemos mãos das armas foi preciso a concorrência gaúchos, denominados de Farroupilhas, em que lutaram
de outras causas (...) que nos dizem respeito(...) e que nos juntos grandes estancieiros, peões e escravos.
trouxeram íntima convicção da impossibilidade de avançarmos E) Revolta de Beckman, deflagrada no Maranhão pelos colonos,
na carreira da Civilização e prosperidade sujeitos a um governo contra o poder dos jesuítas e o monopólio comercial português.
que há formado o projeto iníquo de nos submeter à mais abjeta
escravidão (...).” 02. (Unicamp/2011 – Simulado) Desde 1835 cogitava-se antecipar
O trecho do Manifesto Farroupilha de 1838 referia-se ao a ascensão de D. Pedro II ao trono. A expectativa de um
A) fortalecimento do poder central nas mãos da elite imperador capaz de garantir segurança e estabilidade ao país
latifundiária, ligados ao setor exportador, impedindo, era muito grande. Na imagem do monarca, buscava-se unificar
assim, a participação política das camadas médias urbanas, um país muito grande e disperso.
sobretudo dos militares. Adaptado de Lilia Moritz Schwarcz. As barbas do imperador:
B) estabelecimento de tarifas alfandegárias favoráveis aos D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo:
interesses dos estanceiros gaúchos e charqueadores e maior Companhia das Letras, 2006, p. 64, 70, 91.
autonomia aos governos provinciais. No Período Regencial, a estabilidade e a unidade do país
C) desejo de um governo federalista capaz de limitar o anseio e estavam ameaçadas porque:
efetiva participação das classes populares e ampliar o poder A) a ausência de um governo central forte causara uma crise
dos grandes proprietários de escravos junto ao governo. econômica, devido à queda das exportações e à alta da
D) anseio autonomista das diversas províncias do país e inflação, o que favorecia a ocorrência de distúrbios sociais
eliminação do regime de produção escravista, vigente e o aumento da criminalidade.
também no sul do país, para tentar dinamizar o mercado B) o desenvolvimento econômico ocorrido desde a transferência
consumidor nacional. da corte portuguesa para o Rio de Janeiro levou as elites
E) repúdio à política centralizadora do governo imperial, assim provinciais a desejarem a emancipação em relação à metrópole.
como às demais rebeliões populares que assolavam o país, C) a ausência de um representante da legitimidade monárquica
defendendo reformas sociais e a adesão a um regime unitarista. no trono permitia questionamentos ao governo central,
levando ao avanço do ideal republicano e à busca de maior
05. (Mackenzie/2005) Durante o Período Regencial, o processo de autonomia por parte das elites provinciais.
integração política do Brasil foi marcado por uma série de rebeliões. D) a expansão da economia cafeeira no Sudeste levava as
Assinale a alternativa que apresenta a correta relação entre elites agrárias a desejarem uma maior participação no
essas rebeliões e o centralismo da época. poder político, levando à ruptura da ordem monárquica e à
A) As rebeliões regências foram movimentos de cunho instauração da República.
exclusivamente econômico, que tiveram em comum o
objetivo de reduzir a cobrança de impostos e taxas realizada 03. (Vunesp/2010.2) Entre as várias rebeliões ocorridas no Período
pelo governo central. Regencial, destaca-se a chamada Guerra dos Farrapos, iniciada
B) Todos os movimentos chamados rebeliões do Período em 1835. O conflito
Regencial tiveram como característica comum a luta A) prosseguiu até a metade da década seguinte, quando o governo
pela descentralização político-administrativa, visando à do Segundo Império aumentou os impostos de importação dos
autonomia provincial. produtos bovinos argentinos e anistiou os revoltosos.
C) Para os grandes proprietários rurais, interessava que B) demonstra que as disputas comerciais entre Brasil e Argentina
as Assembleias provinciais não tivessem o mínimo de se iniciaram logo depois da independência e desde então se
autonomia e que sua liberdade de ação fosse controlada agravaram, até atingir a atual rivalidade entre os dois países.
pelo governo no Rio de Janeiro. C) permitiu a adoção de um regime federalista no Brasil,
D) Os participantes das rebeliões coloniais (Balaiada, uma vez que as negociações entre o governo imperial e os
Cabanagem, Sabinada e Farroupilha) desejavam, todos, a rebeldes determinaram a autonomia política riograndense.
implantação imediata de um regime republicano de governo D) revela a impossibilidade de estabelecer relações políticas e
em todo o território brasileiro. diplomáticas na América Latina após a independência política
E) Nesse período de transição, do Primeiro Império para o
e durante o período de formação dos estados nacionais.
Segundo, as lutas das várias correntes políticas regionais
E) impediu a continuação do Período Regencial e levou à
representavam opiniões diferentes a respeito da maneira
aceitação de outra exigência dos participantes da revolta: a
de organizar a economia do país.
antecipação da maioridade do futuro imperador Pedro II.

26 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
04. (UFG/2010.2) A ocorrência de rebeliões, tais como a 07. (UEPB/2008) O Período Regencial é marcado por tensões entre
Cabanagem (1835-1840), no Pará, a Sabinada (1837-1838), o governo central e algumas províncias, o que provocou o
na Bahia, e a Balaiada (1838-1841), no Maranhão, determinou surgimento de vários conflitos, como a Guerra dos Malês, a
a caracterização da Regência como um período conturbado. Cabanagem, a Guerra dos Farrapos, a Sabinada e a Balaiada,
Todavia, a ocorrência de rebeliões tão distintas apresenta como entre outros. Sobre a Guerra dos Malês é correto afirmar:
aspecto comum a A) Conseguiu unir por um certo período escravos foragidos,
A) reivindicação popular pela abolição da escravatura, índios, camponeses, mestiços e trabalhadores independentes
na luta contra a interferência do Rio de Janeiro na
tornando inviável o apoio das camadas médias urbanas aos
administração local.
movimentos contra a ordem regencial.
B) Os Malês conseguiram grandes vitórias devido ao efeito
B) influência da experiência republicana da América Hispânica, surpresa, e chegaram a dominar a província da Bahia, sendo
decorrente da proximidade intelectual entre as elites reprimidos por tropas imperiais.
imperiais e os criollos. C) Rebelião urbana de escravos com lideranças exclusivamente negras,
C) mobilização das camadas populares pelos segmentos que teve como principal objetivo exterminar brancos e mulatos.
da elite, objetivando o controle do poder nas referidas D) Caracterizou-se pela ampla participação das camadas
províncias. populares que escapavam ao controle da oligarquia local
D) tentativa de restabelecer o poder moderador, transferindo-o dividida em duas tendências: liberais e conservadores.
para a Regência Una como forma de resistir às reformas E) Não sofreu influência religiosa, apesar de muitos integrantes
liberais. do movimento serem adeptos do judaísmo, em decorrência
E) rejeição ao regime monárquico, revelador da permanência do ambiente urbano de Salvador ter facilitado de muitas
do privilégio concedido ao português desde a Colônia. maneiras a propagação judaica.

05. (IFSUL/2017) A Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, 08. (Unifesp/2007) Como elemento comum aos vários movimentos
insurrecionais que marcaram o Período Regencial (1831-1840),
Província da Bahia, na noite de 24 de janeiro de 1835, durante
destaca-se
o Brasil Império, mais precisamente durante o Período Regencial
A) a oposição ao regime monárquico.
(1831 a 1840), representou uma rápida rebelião organizada B) a defesa do regime republicano.
pelos escravos e que foi reprimida pelas tropas imperiais. C) o repúdio à escravidão.
Disponível em: <https://www.todamateria.com.br>. D) o confronto com o poder centralizado.
Acesso em: 22 jul. 2016. Adaptado. E) o boicote ao voto censitário.
Essa revolta representou a mobilização de cerca de 1500
09. (PUC-PR/2004) O Período Regencial da História do Brasil durou
escravos africanos, os quais lutavam pela
de 1831 a 1840.
A) libertação dos negros de origem islâmica e pela tomada do
Sobre o mesmo, pode-se afirmar corretamente que
poder. A) o Governo Regencial não estava previsto no texto da
B) libertação dos índios guaranis e de outros escravos dos constituição e foi uma improvisação política, necessária
engenhos vizinhos. devido à renúncia de D. Pedro I.
C) independência do Brasil e pelas ideias republicanas. B) das guerras civis que eclodiram no período, a Cabanagem
D) defesa da religião católica e pela manutenção de suas foi a que mais teve a participação das elites regionais.
crenças, cultos e costumes. C) apresentou grande instabilidade política, nele ocorrendo o perigo
de fragmentação territorial, decorrente das várias guerras civis.
06. (UEPB/2007) Podemos perceber várias rebeliões no chamado D) durante o período foi alterada a constituição, o que permitiu
“Período das Regências”. Sobre isso, assinale a alternativa a substituição da forma unitária do Estado pela forma
correta. denominada federação.
A) A Cabanagem foi um movimento da elite do Pará contra E) a criação da Guarda Nacional para a manutenção da ordem
os altos impostos cobrados pelo governo imperial sobre pública foi obra do Regente Uno Pedro de Araújo Lima.
os produtos que saíam da província pelo Porto de Belém, 10. (Uece 2017) Entre abril de 1831 e julho de 1840, durante o
que não precisou da repressão das tropas governamentais, período em que o príncipe herdeiro, Pedro de Alcântara, foi
sendo resolvido através da negociação de cargos e favores menor de idade, o Brasil esteve sob comando de regentes. As
entre os governos da província e do país. quatro regências (duas trinas e duas unas) se seguiram durante
B) As chamadas rebeliões regenciais tinham forte cunho nove anos que marcaram a nossa história no século XIX. Sobre
liberal, questionavam o excesso de centralização política e esse período, é correto afirmar que
a situação de miséria do povo brasileiro, além de reivindicar A) ocorreram avanços sociais inegáveis, como a abolição
mais liberdade e maior participação no cenário político. da escravatura e a concessão do direito ao voto para os
C) As rebeliões regenciais tinham como fio condutor a luta analfabetos, contudo, ambos foram revogados com a
contra a escravidão e a criação de um sistema republicano chegada de D. Pedro II ao trono.
no Brasil que garantisse o fim da instabilidade política e B) foi um período de grande agitação social e política no qual
criasse uma forma mais justa de cobrança de impostos. ocorreram revoltas de escravos, como a dos Malês, em
Salvador e revoltas separatistas como a Cabanagem, no
D) A Revolução Farroupilha foi uma das mais consequentes
Pará, a Sabinada, na Bahia e a Farroupilha, no Rio Grande
revoltas do período regencial, pois além de reivindicar maior
do Sul e Santa Catarina.
autonomia provincial e a redução dos altos impostos, defendia C) foi um período de grande paz interna, o que proporcionou
a total e imediata abolição da escravidão e até mesmo uma um desenvolvimento econômico e social sem precedentes,
reforma agrária que distribuísse terras com os ex-escravos. isso foi o que garantiu a D. Pedro II um governo longevo de
E) Os revoltosos que fizeram parte da Sabinada na Bahia 49 anos que só acabou com sua morte em 1889.
defendiam a abolição da escravidão, ao ponto de não D) durante esses anos o país expandiu seu território, tendo
terem definido uma posição clara sobre a autonomia da anexado a Província Cisplatina e o estado do Acre, definindo,
província, ao contrário de todas as outras revoltas do assim, suas atuais fronteiras e sua posição de maior país da
Período Regencial. América do Sul.

Anual – Volume 3 27
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Bandeira do Segundo Reinado do Brasil
Perceba as semelhanças com o pavilhão republicano.
Fique de Olho

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Sites:

• http://www.vestibulareconcursos.com/modules/smartsection/
item.php?item=454
• http://www.planetarios.com/manual-independencia-Brasil/
brasilimprio.html
• http://www.mundovestibular.com.br/articles/405/1/ O-BRASIL-
IMPERIO/Paacutegina1.html

Sugestões de Livros:

• FLORES, Moacyr. Revolução dos Farrapos, Ática, 1994. Estruturando nosso estudo
• OLIVEIRA, Roberson. As Rebeliões Regenciais. FTD, 1996.
• SCILIAR, Moacyr. O Rio Grande Farroupilha. Ática, 1995. O Segundo Reinado teve início com o Golpe da
Maioridade, quando D. Pedro II teve sua maioridade decretada
• LYRA, Maria de Lourdes Viana. O Império em Construção –
quando tinha apenas 14 anos, em julho de 1840. A medida foi
Primeiro Reinado e Regências. Atual, 1999. uma iniciativa dos Liberais que desejavam retomar o controle
• MOREL, Marco. O Período das Regências (1831-1840). J do poder central, do qual foram afastados desde a ascensão do
Zahar, 2003. regente Araújo Lima. A medida procurava, ainda, a estabilidade
• Movimentos Populares no Nordeste no Período Regencial. política do Império e o controle das rebeliões que ameaçavam
Fundação Joaquim Nabuco, Massangana, 1989. a integridade do território, através da ascensão da figura do
• FAZOLI FILHO, Arnaldo. O Período Regencial. Ática, 1990. Imperador, dotado de grande prestígio e poder, e da restauração
do poder Moderador.
Apenas para fins didáticos, vamos dividir o estudo do
Segundo Reinado em três fases:
Seção Videoaula • Estruturação (1840-1850): Período de consolidação do
governo, marcado pela pacificação das revoltas que surgiram
na regência e no próprio Segundo Reinado e criação de leis
voltadas para o equilíbrio e a ordem internas.
Período Regencial • Apogeu (1850-1870): Fase de grande prosperidade e
desenvolvimento econômico, com uma série de realizações
modernizantes e um surto industrial, motivados especialmente
pelas grandes rendas geradas pela exportação de café.
O Império envolveu-se ainda em questões na região Platina e na
Guerra do Paraguai (1864-1870), vencendo-as todas, apesar da
Aula 15: última deixar-lhe grandes sequelas.
C-2 H-7, 9
Aula Segundo Reinado (1841 a 1889) C-3 H-15
• Declínio (1870-1889): Os movimentos abolicionista e
republicano cresceram, bem como o prestígio de exército.
15 Política Interna e Externa Além disso, o Império se envolveu em questões que lhe tiraram
importantes bases de sustentação, contribuindo para sua queda
e a proclamação da República.

Introdução: de olho no Enem Política interna do Segundo Reinado


A política interna do Segundo Reinado foi marcada
Vamos estudar agora o mais longo governo consecutivo
pela disputa política e a alternância à frente dos Ministérios e
da História do Brasil, o Segundo Reinado, onde o jovem garoto
Gabinetes de dois partidos: Liberal e Conservador. Os primeiros
subiu ao Trono antes mesmo de completar 15 anos e só sairia
defendiam mais autonomia às províncias, enquanto os segundos
49 anos depois. Nesse período tivemos a nossa primeira
eram adeptos de uma maior centralização política. Fora isto, não
experiência parlamentarista que nos permitirá estabelecer
havia grandes divergências ideológicas entre os dois partidos, que
comparações com o modelo inglês. A ausência de princípios
representavam basicamente os mesmos grupos sociais (grandes
ideológicos entre os partidos liberal e conservador poderá nos
proprietários rurais, comerciantes e funcionários públicos) e
levar a uma reflexão crítica sobre os valores éticos na estruturação
queriam ocupar o poder.
da sociedade.
O primeiro ministério foi formado por D. Pedro II em
E por falar na Inglaterra, nessa fase, as questões referentes
1840 e composto por políticos do Partido Liberal, responsáveis
à política externa do Brasil, como a questão Christie e a Guerra
pelo Golpe da Maioridade. O ministério ficou conhecido como
do Paraguai, se relacionavam diretamente com os interesses
Ministério dos Irmãos, pois era composto pelos irmãos Antônio
britânicos nos permitindo identificar os significados histórico-
Carlos e Martim Francisco de Andrada; os Viscondes de Suassuna
-geográficos das relações de poder entre as nações
e Albuquerque, da família Cavalcanti; e os irmãos Aureliano e
Antônio Coutinho.

28 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
As primeiras eleições do Segundo Reinado foram que, por sua vez, indicava o resto do ministério. Além disso,
realizadas ainda em 1840. No poder, os liberais utilizaram a o primeiro-ministro se tornava Chefe de Governo, ficando o rei como
coação, a fraude e a violência como instrumentos para garantir Chefe de Estado, representando o país no exterior e resguardando
a vitória dos deputados de seu partido e a maioria das cadeiras internamente o sistema com o poder de demitir o primeiro-ministro
no Congresso. Estas eleições ficaram conhecidas como Eleições e dissolver o parlamento, convocando novas eleições.
do Cacete e foram vencidas pelos liberais. Os incidentes No Brasil, o Imperador utilizava-se do Poder Moderador para
levaram D. Pedro II a anular as eleições e dissolver o Gabinete nomear o primeiro-ministro e os outros ministros, e então eram
liberal, nomeando um outro composto pelos Conservadores. convocadas eleições. Se o primeiro-ministro fosse Conservador,
No poder, estes restauraram o Conselho de Estado (Órgão do através de meios fraudulentos, procurava garantir a vitória dos
Poder Moderador extinto na Regência). Todavia, aquelas práticas conservadores; se fosse Liberal, fazia o mesmo para garantir a
eleitorais perduraram por todo o Segundo Reinado, sempre maioria liberal no Legislativo. Por funcionar de maneira diferente do
procurando favorecer o partido que estava no poder. modelo clássico inglês, o parlamentarismo brasileiro era chamado
Revoltados com a sua saída do poder e com a anulação de “Parlamentarismo às avessas”.
das Eleições do Cacete, os liberais promoveram revoltas em
algumas províncias, conhecidas como Revoltas Liberais de 1842. FUNCIONAMENTO DO PARLAMENTARISMO NO BRASIL
O movimento eclodiu em São Paulo, tendo como principais nomeia nomeia
Imperador
lideranças o ex-regente Feijó e o senador e ex-regente provisório Poder Moderador
Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Em Minas Gerais, o

escolhe
movimento teve início na cidade de Barbacena, liderado por Teófilo Conselho de Estado Senado
Otoni. O movimento foi reprimido sob comando de Luís Alves de
Lima e Silva e as lideranças foram presas, sendo anistiadas em 1844, Presidente do
marca e comanda Conselho de Ministros preside Conselho de
quando um gabinete liberal ascendeu ao poder. (1º Ministro)
Ministros
Em 1853, foi formado o Ministério da Conciliação, por
iniciativa de Honório Carneiro Leão, o Marquês de Paraná, que aprova Câmara de
formou o ministério composto tanto por liberais quanto por Eleições Deputados
conservadores. A conciliação caracterizou-se pela alternância
pacífica entre liberais e conservadores, que adotavam a mesma
política, tanto no Governo quanto na oposição.
Revolução Praieira (Pernambuco – 1848)
Qual a diferença entre um liberal e um A situação de Pernambuco, os movimentos liberais ocorridos
conservador? em 1848 na Europa e a excessiva centralização política do Império
podem ser considerados os principais motivos da Revolução Praieira.
Os partidos políticos que se formaram no Brasil não
Predominavam na província a concentração de terras e
traziam em si uma constituição ideológica. Muito menos conteúdo
a exclusão social e política da maioria da população. A maioria
programático. Muitas leis apresentadas pelos liberais foram
dos engenhos (cerca de 1/3) concentrava-se em poder da família
aprovadas e executadas pelos conservadores. Então, qual a
Cavalcanti, enquanto as outras terras estavam em poder de outras
diferença entre liberais e conservadores? Há uma frase famosa que
famílias como os Barros, Souza Leão e Rêgo. A concentração
diz “nada mais parecido com um conservador do que um liberal”.
fundiária provocava miséria e dependência para a maioria da
Por aí conclui-se que os partidos políticos do império eram totalmente
população. Além disso, o comércio na província era controlado por
artificiais. Haviam sido criados sem nenhuma consulta às bases
portugueses, que se recusavam a oferecer trabalho a brasileiros,
populacionais, sem nenhuma coerência. Eram típicos partidos de
agravando a exclusão social na região.
patronagem. Deles faziam parte a aristocracia rural e os bacharéis.
A política pernambucana era controlada pelos Cavalcanti,
O denominador comum dos partidos era a manutenção da
que comandavam tanto o Partido Liberal quanto o Conservador,
estrutura escravista de produção e a alienação das massas do processo
garantindo sua perpetuação no poder. Os liberais mais radicais eram
político. Assim se faria o resguardo dos privilégios e se evitaria que as
revoltados com a situação e fundaram um novo partido para se opor
classes mais baixas alcançassem o poder. Os dois partidos alternavam-
aos latifundiários. Como a sede do novo partido ficava situada no
se no poder, defendendo os interesses comuns e lutando pela posse
prédio do jornal Diário Novo, situado na Rua da Praia, o partido ficou
do poder político.
conhecido como Partido da Praia e seus membros como praieiros.
A pacificação do país, cujo agente mais importante foi
Suas ideias continham ainda propostas do Socialismo Utópico.
Caxias, alcançou importante vitória ao findar-se a Guerra dos
O movimento eclodiu em novembro de 1848 quando o
Farrapos, em 1845. O Sul voltava a fazer parte da nação, com o
liberal Antônio Pinto Chichorro da Gama foi demitido da presidência
indulto dos chefes políticos e a absorção de chefes militares pelo
de Pernambuco, sendo substituído pelo conservador Herculano
Exército. No fim da década de 40, o Império estava suficientemente
Pena, o que revoltou ainda mais os praieiros. Os principais líderes
calmo e assentado no revezamento dos partidos no poder.
foram o próprio Chichorro da Gama; o capitão Pedro Ivo Veloso; os
deputados Nunes Machado e Félix Peixoto de Brito; e o jornalista
O parlamentarismo brasileiro é “às avessas” e proprietário do jornal Diário Novo Antônio Borges da Fonseca,
Em 1847, foi criado o cargo de Presidente do Conselho de autor do Manifesto ao Mundo, que trazia as principais reivindicações
Ministros, que formalizava a implantação do sistema Parlamentarista dos revoltosos:
no Brasil. As razões para a implantação do novo sistema foram a • República;
pouca idade e inexperiência do Imperador D. Pedro II e a influência • Federalismo;
inglesa no Brasil. • Voto Universal;
Entretanto, o parlamentarismo brasileiro funcionava de • Liberdade de Imprensa;
maneira diferente do britânico, onde o povo através de eleições • Nacionalização do Comércio;
escolhia os membros do Parlamento, com o partido que obtivesse • Extinção do Senado Vitalício e do Poder Moderador;
mais votos ganhando o direito de indicar o primeiro-ministro, • Garantia de emprego para os brasileiros.

Anual – Volume 3 29
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Observe que o programa não trazia proposta de grandes Imperador Dom Pedro II do Brasil, 1873
mudanças nas estruturas sociais, como a abolição da escravidão ou

Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil.


limites ao latifúndio, até porque era liderado por membros da elite
revoltados com o mandonismo no Império e na província.
Foram travados combates em Recife, Olinda e no interior,
com constantes derrotas dos rebeldes, uma das quais morreu
Nunes Machado. Pedro Ivo e Borges da Fonseca decidiram atacar a
Paraíba, onde o último foi morto e o primeiro ofereceu resistência
até ser preso, em 1850. Conhecido como “Capitão da Praia”,
Pedro Ivo foi levado para o Rio de Janeiro, de onde conseguiu fugir,
embarcando em um navio com destino à Europa, falecendo logo
depois do navio zarpar.

Crônica da Rebelião Praieira

Domínio Público

AMÉRICO, Pedro (1834-1905).


Fala do Trono, 1872. Óleo sobre tela,
288 × 205 cm.

A Questão Christie (1861 a 1865)


O incidente diplomático que envolveu Brasil e Inglaterra
levando ao rompimento de relações entre os dois países, em
1863, foi resultado da absoluta falta de habilidade, arrogância e
incompetência do embaixador inglês no Brasil, William Christie, que
transformou questões simples numa séria crise entre as duas nações.
Os problemas começaram em 1861, quando o navio inglês
Prince of Wales naufragou no litoral sul do Brasil e teve sua carga de
artigos de luxo saqueada por populares. O embaixador exigiu uma
indenização pela carga e uma investigação acompanhada por um
oficial inglês para punir os responsáveis pelo saque. O Brasil admitiu
pagar a indenização, mas não admitiu a interferência britânica nas
investigações, contrariando o embaixador William Christie.
Em 1862, oficiais da marinha britânica que serviam
na fragata Fort foram presos no Rio de Janeiro por motivo de
embriaguês e desordem. A prisão dos oficiais desagradou o
embaixador Christie, que exigiu a punição dos policiais brasileiros
responsáveis pelas prisões e voltou a reclamar a indenização pela
carga do navio naufragado.
A recusa brasileira em atender as absurdas exigências do
embaixador levou os ingleses a aprisionar em seus portos cinco
navios brasileiros. A atitude provocou grande revolta no Brasil e a
MELO, Jerônimo Martiniano Figueira de. questão foi entregue à arbitragem internacional. O juiz escolhido
Crônica da Rebelião Praieira, 1848 e 1849.
foi o rei belga Leopoldo I, que ouvia as duas partes e concedeu
parecer favorável ao Brasil, determinando que a Inglaterra pedisse
Foi concedida liberdade de imprensa na província e, em 1852, desculpas oficiais pelo incidente. Diante da recusa britânica em se
os rebeldes presos foram anistiados, encerrando definitivamente o desculpar, o Governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com
movimento e inaugurando um período de paz e estabilidade no a Inglaterra, em 1863.
Segundo Reinado. As relações econômicas foram mantidas e, em 1865, em
virtude da Guerra do Paraguai que muito lhe interessava, a Inglaterra
Política externa do Segundo Reinado pediu desculpas oficiais ao Brasil e os dois países reataram relações
A política externa brasileira durante o Segundo Reinado diplomáticas.
foi marcada por uma aproximação muito grande entre o Brasil e
a Inglaterra, que aumentou a dependência em relação ao capital As Questões Platinas
britânico, especialmente após a Guerra do Paraguai, apesar do Visando garantir sua hegemonia na região platina, o Brasil
rompimento de relações diplomáticas entre os dois países em virtude se envolveu em questões com o Uruguai e a Argentina, intervindo
da Questão Christie. na política interna de ambos para garantir o poder a seus aliados.
O Brasil consolidou sua hegemonia na América do Sul, em Em 1851, o Brasil interviu no Uruguai para derrubar da
conflitos na região platina, com destaque para a da destruição do presidência Manuel Oribe, do Partido Blanco, e entregar o poder ao
Paraguai, no maior conflito da América do Sul. Todavia, os efeitos da Partido Colorado, comandado por Frutuoso Rivera e aliado brasileiro.
Guerra do Paraguai atingiram diretamente o Império, contribuindo No ano seguinte, o Império brasileiro interviu na Argentina
significativamente para a sua queda. para depor o ditador Francisco Rosas, do Partido Federalista,

30 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
que apoiava os Blancos uruguaios. O Brasil contou com o apoio das Em 1867, as tropas aliadas passaram a ser comandadas
províncias de Corrientes e Entre Rios que se opunham ao ditador. por Luís Alves de Lima e Silva, o Barão de Caxias. No mesmo ano,
Após a vitória sobre Rosas, os Unitaristas assumiram o poder Argentina e Uruguai se retiraram da guerra alegando problemas
no país, que passou a ser governado por Justo José de Urquiza, econômicos, deixando o Brasil sozinho na luta contra o Paraguai.
ex-governador de Entre Rios. Caxias reorganizou e reaparelhou as tropas, comprando armas
Em 1864, os Blancos retomaram o poder no Uruguai, e canhões, filtros de água para evitar epidemia de cólera e
liderados por Atanásio Aguirre, que deu apoio a ataques de estendeu cabos telegráficos até a região de combate para facilitar
pecuaristas locais a fazendas gaúchas da fronteira e posteriormente as comunicações. Caxias comandou vitórias brasileiras em várias
se recusou a pagar as indenizações exigidas pelo Governo brasileiro. batalhas, como Itororó, Avaí e Lomas Valentinas. Em 1869, Assunção
Esta recusa levou tropas brasileiras, comandadas pelo general Mena foi tomada e Solano López retirou-se para o interior, onde continuou
Barreto a invadirem o Uruguai para depor Aguirre e recolocar os a resistir. Caxias então solicitou seu desligamento do comando das
Colorados no poder do país, quando as exigências brasileiras foram tropas alegando problemas de saúde.
atendidas.
Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias,
em rótulo de cigarro
Guerra do Paraguai (1864 a 1870)

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O maior e mais sangrento conflito da América do Sul teve
início em virtude da represália do ditador paraguaio Solano López ao
Brasil pela deposição de seu aliado, Atanásio Aguirre, no Uruguai.
López determinou, em novembro de 1864, a apreensão do navio
brasileiro Marquês de Olinda, que navegava pelo rio Paraguai em
direção ao Mato Grosso e não atendeu ao ultimátum brasileiro pela
libertação do navio, rompendo relações com o Império brasileiro em
dezembro de 1864 e atacando o sul de Mato Grosso.
A medida paraguaia dava início à concretização do sonho do
ditador de criar o “Paraguai Mayor”, ou seja, estender o território
do país até o litoral do oceano Atlântico, conquistando uma saída
para o mar, tomando terras brasileiras, uruguaias e argentinas.
Quando assumiu a presidência em 1862, Solano López
Para substituir Caxias, D. Pedro II nomeou seu genro
recebeu um país desenvolvido, autônomo e industrializado. Todavia,
Gastão de Orleans, o Conde D’eu, que perseguiu Solano López
o Paraguai dependia da navegação na Bacia Platina para escoar
até Cerro Cora, onde derrotado, o ditador paraguaio foi morto,
sua produção, tendo que pagar impostos alfandegários a Brasil,
encerrando-se definitivamente o conflito.
Argentina e Uruguai.
A guerra levou à total destruição do Paraguai, incluindo
A saída para o mar era o que restava para o pequeno país
suas indústrias e lavouras. Aproximadamente 90% da população
que construíra sua autonomia econômica a partir de medidas
masculina morreu, sobrando apenas crianças, velhos e mutilados.
implantadas desde sua independência, em 1811, pelos presidentes
O país mergulhou em grave crise econômica e não mais conseguiu
Gaspar Rodrigues Francia, Carlos Antônio Lopez e Francisco Solano se recuperar.
Lopez. O primeiro confiscou inúmeras propriedades, distribuiu A vitória na guerra consolidou a hegemonia do Brasil no
terras a camponeses ao criar as Estâncias da Pátria, aumentou continente, mas agravou a situação econômica do país em virtude
impostos para os ricos e combateu o analfabetismo. O segundo da elevação da dívida externa e do aumento da dependência em
deu continuidade à política desenvolvimentista e estimulou a relação à Inglaterra. O exército saiu fortalecido e grande parte de
industrialização, criando a Fundição Ibycuí. Além disto, o país seus membros assumiram posições abolicionistas e republicanas,
possuía navios, ferrovias e cabos telegráficos cobrindo praticamente passando a contestar o regime imperial.
todo o território.
Domínio Público
Além do expansionismo de López e das tensões na região
platina, podemos apontar como motivo para a Guerra do Paraguai
os interesses ingleses na América do Sul, com destaque para o
desejo de destruir um país que poderia se tornar um concorrente
e que servia de exemplo de autonomia e desenvolvimento para
seus vizinhos.
Em maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai firmaram uma
aliança militar chamada Tríplice Aliança, totalmente apoiada pela
Inglaterra, muito interessada na destruição paraguaia. Enquanto o
exército paraguaio tinha um número estimado de 90 mil homens,
além de pólvora e armamentos fabricados em seu território, os
exércitos da Tríplice Aliança contavam algo em torno de 30 mil
homens e dependiam totalmente de armas e munições importadas
da Inglaterra. Para reforçar o exército brasileiro, D. Pedro II convocou
escravos aos quais seria garantida a liberdade, bem como a esposas
e filhos ao final da guerra.
Inicialmente a Tríplice Aliança foi comandada pelo presidente
argentino Bartolomeu Mitre. Sob seu comando, os aliados venceram
a Batalha Naval do Riachuelo, em junho de 1865, bloqueando a
ofensiva paraguaia. Daí em diante, todas as batalhas ocorreram em
AGOSTINI, Ângelo (1843-1910).
território paraguaio. De Volta do Paraguai, 1870.

Anual – Volume 3 31
ciências Humanas e suas tecnologias História I
03. (Enem/2013)
Exercícios de Fixação

Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro.


01. (Enem-PPL/2014) Enquanto as rebeliões agitavam o país, as
tendências políticas no centro dirigente iam se definindo.
Apareciam em germe os dois grandes partidos imperiais
– o Conservador e o Liberal. Os conservadores reuniam
magistrados, burocratas, uma parte dos proprietários rurais,
especialmente do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, e os
grandes comerciantes, entre os quais muitos portugueses.
Os liberais agrupavam a pequena classe média urbana, alguns
padres e proprietários rurais de áreas menos tradicionais,
MOREAUX, François-René (1807-1860). A Proclamação da
sobretudo de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul. Independência, 1844. Óleo sobre tela, 2,44 × 3,83 m.
FAUSTO, B. História do Brasil. S Paulo: Edusp, 1996.

Domínio Público.
No texto, o autor compara a composição das forças políticas que
atuaram no Segundo Reinado (1840-1889). Dois aspectos que
caracterizam os partidos Conservador e Liberal estão indicados,
respectivamente, em:
A) Abolição da escravidão – Adoção do trabalho assalariado.
B) Difusão da industrialização – Conservação do latifúndio
monocultor.
C) Promoção do protecionismo – Remoção das barreiras
alfandegárias.
D) Preservação do unitarismo – Ampliação da descentralização
provincial.
E) Implementação do republicanismo – Continuação da
FERREZ, Marc (1843-1923).
monarquia constitucional. Dom Pedro II, O Imperador, 1885.

02. (USF/2017) Leia o excerto a respeito da política brasileira durante As imagens, que retratam D. Pedro I e D. Pedro II,
o Segundo Reinado. procuram transmitir determinadas representações políticas
Conservadores e liberais, apesar de lutarem intensamente pelo acerca dos dois monarcas e seus contextos de atuação.
poder, representavam basicamente os mesmos interesses, ou A ideia que cada imagem evoca é, respectivamente,
seja, os interesses dos grandes proprietários rurais. A afirmação A) habilidade militar – riqueza pessoal.
da época “nada mais parecido com um conservador do que B) liderança popular – estabilidade política.
um liberal no governo” tanto era verdadeira que, no início C) instabilidade econômica – herança europeia.
da segunda metade do século XIX, liberais e conservadores D) isolamento político – centralização do poder.
chegaram a participar do mesmo ministério. Durante quase todo E) nacionalismo exacerbado – inovação administrativa.
o Segundo Reinado, predominou o regime parlamentarista.
04. (UFG/2005) Durante o Segundo Reinado, as relações entre o
Sobre a política do Segundo Reinado, assinale a alternativa Brasil e a Inglaterra ficaram tensas. Nesse clima, a Questão
correta. Christie (1863) foi deflagrada pela
A) O Brasil adotou o regime parlamentarista sob os moldes A) resistência das elites escravistas brasileiras em extinguir o
britânicos, extinguindo o Poder Moderador, valorizando, tráfico de africanos, gerando descontentamento entre os
assim, as atividades do Poder Legislativo. diplomatas ingleses.
B) O Ministério da Conciliação foi formado por representantes B) decisão do governo brasileiro de não renovar o tratado de
dos partidos Restaurador e Farroupilha, constituindo uma comércio com a Inglaterra, favorecendo a situação financeira
ala progressista de apoio ao governo imperial. do governo imperial.
C) O Exército brasileiro participou ativamente da política C) aprovação da lei Bill Aberdeen pelo Parlamento inglês,
brasileira nesse período, defendendo desde o início do proibindo o tráfico de escravos no Atlântico, sob pena da
Império ideias positivistas. apreensão de navios negreiros.
D) A Revolução Praieira, ocorrida em Pernambuco, apresentava D) pilhagem da carga de um navio inglês naufragado no Brasil
caráter republicano liberal, tendo influência das revoluções e pelo aprisionamento, pela Inglaterra, de navios brasileiros
europeias de 1848. no Rio de Janeiro.
E) Ao final do Império, os partidos Republicano Paulista e o E) instabilidade nas relações comerciais do Brasil com a Inglaterra,
Republicano Mineiro, promoveram um golpe de Estado que decorrente da entrada de produtos industrializados,
resultou no novo regime a partir de 1889. principalmente dos Estados Unidos.

32 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
05. (Enem/2010-2a aplicação) Para o Paraguai, portanto, essa foi O discurso do autor, no período do Segundo Reinado no Brasil,
uma guerra pela sobrevivência. De todo modo, uma guerra tinha como meta a implantação do
contra dois gigantes estava fadada a ser um teste debilitante e A) regime monárquico representativo.
severo para uma economia de base tão estreita. Lopez precisava B) sistema educacional democrático.
de uma vitória rápida e, se não conseguisse vencer rapidamente, C) modelo territorial federalista.
provavelmente não venceria nunca. D) padrão político autoritário.
LYNCH, J. As Repúblicas do Prata: da Independência à Guerra do Paraguai. E) poder oligárquico regional.
BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: da Independência até 1870,
v. III. São Paulo: EDUSP, 2004. 03. (FGV-RJ/2007) No curso do século XIX, os principais conflitos
militares, em termos de número de vítimas e impactos sociais,
A Guerra do Paraguai teve consequências políticas importantes ocorreram no continente americano: a Guerra de Secessão, nos
para o Brasil, pois Estados Unidos, entre 1861 e 1865, e a Guerra do Paraguai,
A) representou a afirmação do Exército Brasileiro como um ato envolvendo os governos do Paraguai, da Argentina, do Uruguai
político de primeira ordem. e do Brasil, entre 1864 e 1870.
B) confirmou a conquista da hegemonia brasileira sobre a Assinale a alternativa que identifica corretamente um efeito
comum a esses dois episódios.
Bacia Platina.
A) A abolição do regime republicano de governo e o
C) concretizou a emancipação dos escravos negros.
crescimento das influências de militares na vida política.
D) incentivou a adoção de um regime constitucional
B) A aceleração do crescimento industrial em detrimento da
monárquico.
expansão das atividades agroexportadoras.
E) solucionou a crise financeira, em razão das indenizações C) A crise do escravismo, fosse por sua abolição, fosse pelo
recebidas. aumento de críticas à sua vigência.
D) A corrida armamentista e a implementação do serviço militar
obrigatório.
E) A adoção de políticas alfandegárias de natureza protecionista
Exercícios Propostos associadas ao reforço do intervencionismo estatal.

04. (PUC-SP/2008) A Guerra do Paraguai (1865-1870) envolveu


01. (ESPM/2017) Tratava-se de um parlamentarismo sem povo. também a Argentina, o Brasil e o Uruguai. Sobre essa guerra,
Os partidos, criados pelas camadas economicamente pode-se dizer que:
dominantes, sem ideários muito nítidos, coagiam e manipulavam A) derivou exclusivamente dos interesses expansionistas
paraguaios, que pretendiam obter uma saída para o mar
um eleitorado ínfimo, sem traduzir-lhes os interesses concretos.
e, para tanto, desafiaram Argentina, Brasil e Uruguai, que
O caráter oligárquico definia tais partidos. Mais que isso,
se uniram para defender a soberania de seus territórios.
esta definição provinha de uma oligarquia enriquecida pelo
B) foi o único conflito militar da América do Sul, embora
oficialismo, em que só o controle do poder suscitava às maiorias persistam até hoje disputas políticas, comerciais e
vindas, do nada, levando-as a recear participação popular. diplomáticas entre argentinos, brasileiros, paraguaios e
Adriana Lopez; Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uruguaios, todos em busca da hegemonia continental.
uma interpretação. C) derivou da disposição imperialista inglesa, que pretendia
vender seus produtos manufaturados no mercado interno
A leitura do texto e o conhecimento do sistema político do Paraguai e, para tanto, forçou Argentina, Brasil e
brasileiro do Segundo Reinado permitem afirmar que: Uruguai a atacarem o país vizinho.
A) o poder moderador conduzia o processo, as maiorias eram D) foi o maior conflito militar da América do Sul e se
forjadas e o poder legislativo era subordinado ao poder relacionou às dificuldades no processo de formação
executivo. nacional dos países hispano-americanos e aos anseios
B) havia um pluripartidarismo que expressava uma rica expansionistas de argentinos, brasileiros e paraguaios.
diversidade de ideários. E) derivou da intransigência do governo imperial brasileiro,
C) era expressiva a participação popular nos partidos, fato que que pretendia ampliar o território nacional na região do
era estimulado pelo sufrágio universal. Prata e, para tanto, obrigou o Paraguai a reagir para
D) o parlamentarismo adotado no Brasil concentrou a preservar sua autonomia.
autoridade no poder legislativo.
E) em função do bipartidarismo e das diversidades ideológicas, 05. (Enem/2015)
um partido defendia os interesses da aristocracia rural,
enquanto o outro apoiava os setores urbanos populares e
os camponeses.

02. (Enem/2014) “Respeitar a diversidade de circunstâncias entre


as pequenas sociedades locais que constituem uma mesma
nacionalidade, tal deve ser a regra suprema das leis internas
de cada Estado. As leis municipais seriam as cartas de cada
povoação doadas pela assembleia provincial, alargadas
conforme o seu desenvolvimento, alteradas segundo os
conselhos da experiência. Então, administrar-se-ia de perto,
governar-se-ia de longe, alvo a que jamais se atingirá de outra
sorte.”
BASTOS, T. A província (1870). São Paulo: Cia. SCHWARCZ, L. M. As barbas do imperador: D. Pedro II, um
Editora Nacional, 1937 (adaptado). monarca nos trópicos. São Paulo: Cia das Letras, 1998. Adaptado.

Anual – Volume 3 33
ciências Humanas e suas tecnologias História I
Essas imagens de D. Pedro II foram feitas no início dos anos de 09. (Enem/2010 – 1ª aplicação) “Substitui-se então uma história
1850, pouco mais de uma década após o Golpe da Maioridade. crítica, profunda, por uma crônica de detalhes onde o
Considerando o contexto histórico em que foram produzidas patriotismo e a bravura dos nossos soldados encobrem a
e os elementos simbólicos destacados, essas imagens vilania dos motivos que levaram a Inglaterra a armar brasileiros
representavam um e argentinos para a destruição da mais gloriosa república que
A) jovem maduro que agiria de forma irresponsável. já se viu na América Latina, a do Paraguai.”
B) imperador adulto que governaria segundo as leis.
C) líder guerreiro que comandaria as vitórias militares. CHIAVENATTO, J. J. Genocídio americano: A Guerra do Paraguai.
São Paulo: Brasiliense, 1979 (adaptado).
D) soberano religioso que acataria a autoridade papal.
E) monarca absolutista que exerceria seu autoritarismo.
“O imperialismo inglês, ‘destruindo o Paraguai, mantém o
06. (IFMG/2010.1) Analise a tabela abaixo referente à representação status quo na América Meridional, impedindo a ascensão do seu
partidária no Período Imperial brasileiro. único Estado economicamente livre’. Essa teoria conspiratória
vai contra a realidade dos fatos e não tem provas documentais.
Partido Conservador Partido Liberal Contudo essa teoria tem alguma repercussão.”
Proprietários rurais 47,54% 47,83% DORATIOTO, F. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai.
São Paulo: Cia. das Letras, 2002 (adaptado).
Comerciantes 13,12% 8,69%

Outros 18,03% 26,09% Uma leitura dessas narrativas divergentes demonstra que ambas
Sem informação 21,31% 17,39%
estão refletindo sobre
A) a carência de fontes para pesquisa sobre os reais motivos
CARVALHO, José Murilo. A construção da ordem: teatro de sombras. dessa Guerra.
Rio de Janeiro: UFRJ, Relume-Dumará, 1996. p. 192.
B) o caráter positivista das diferentes versões sobre essa Guerra.
Considerando-se o contexto sociopolítico nesse período e as C) o resultado das intervenções britânicas nos cenários de
informações obtidas na tabela, é correto afirmar que batalha.
A) a predominância de proprietários rurais e comerciantes D) a dificuldade de elaborar explicações convincentes sobre os
acirrava os conflitos internos. motivos dessa Guerra.
B) os partidos políticos no Império representavam igualmente E) o nível de crueldade das ações do exército brasileiro e
os interesses sociais no Brasil. argentino durante o conflito.
C) o índice de filiados sem informação profissional refletia a
atuação de escravos forros na política. 10. (Unicamp/2012) “A política do Império do Brasil em relação
D) a origem social comum dos membros fazia com que ambos
ao Paraguai buscou alcançar três objetivos. O primeiro deles
os partidos representassem as elites econômicas.
foi o de obter a livre navegação do rio Paraguai, de modo a
E) a presença de classes populares nos partidos facilitava a
garantir a comunicação marítimo-fluvial da província de Mato
mobilização de massas através de comitês eleitorais.
Grosso com o restante do Brasil. O segundo objetivo foi o de
07. (IFCE/2010.1) Corresponde a uma das reivindicações do buscar estabelecer um tratado delimitando as fronteiras com o
Manifesto ao Mundo da Revolta Praieira de 1848 em país guarani. Por último, um objetivo permanente do Império,
Pernambuco: até o seu fim em 1889, foi o de procurar conter a influência
A) O voto censitário baseado na renda da terra para o povo argentina sobre o Paraguai, convencido de que Buenos Aires
brasileiro. ambicionava ser o centro de um Estado que abrangesse o antigo
B) O comércio a retalho só para os comerciantes portugueses. vice-reino do Rio da Prata, incorporando o Paraguai.”
C) A independência dos poderes constituídos.
Adaptado de Francisco Doratioto, Maldita Guerra: nova história da Guerra do
D) A manutenção do Poder Moderador e a criação do sistema Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 471.
parlamentar.
E) O unitarismo e a criação do juro convencional. Sobre o contexto histórico a que o texto se refere, é correto
afirmar que
08. (Vunesp/2011) A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi definida, A) a Guerra do Paraguai foi um instrumento de consolidação
por alguns historiadores, como um momento de apogeu do de fronteiras e uma demonstração da política externa do
Império brasileiro. Outros preferiram considerá-la como uma Império em relação aos vizinhos, embora tenha gerado
demonstração de seu declínio. Tal discordância se justifica
desgastes para Pedro II.
porque o conflito sul-americano
B) as motivações econômicas eram suficientes para empreender
A) estabeleceu pleno domínio militar brasileiro na região do
Prata, mas provocou grave crise financeira no Brasil. a guerra contra o Paraguai, que pretendia anexar territórios
B) abriu o mercado paraguaio para as manufaturas brasileiras, do Brasil, da Bolívia e do Chile, em busca de uma saída para
mas não evitou a entrada no Paraguai de mercadorias o mar.
contrabandeadas. C) a Argentina pretendia anexar o Paraguai e o Uruguai, mas
C) freou o crescimento econômico dos países vizinhos, mas foi contida pela interferência do Brasil e pela pressão dos
permitiu o aumento da influência americana na região. EUA, parceiros estratégicos que se opunham à recriação do
D) ajudou a profissionalizar e politizar o Exército brasileiro, vice-reino do Rio da Prata.
mas contribuiu na difusão, entre suas lideranças, do D) o mais longo conflito bélico da América do Sul matou
abolicionismo. milhares de paraguaios e produziu uma aliança entre
E) fez do imperador brasileiro um líder continental, mas gerou indígenas e negros que atuavam contra os brancos
a morte de milhares de soldados brasileiros. descendentes de espanhóis e portugueses.

34 Anual – Volume 3
História I ciências Humanas e suas tecnologias
Seção Videoaula
Fique de Olho

• Observe uma outra análise da política interna do Segundo


Reinado: Segundo Reinado

Após extintos os últimos focos de resistência representados


pelos praieiros de 1848, a monarquia brasileira entrou em seu
período de maturidade, quando todos seus potenciais e contradições
se desenvolveram ao máximo. No comando político, firmaram-se Bibliografia
os setores conservadores da sociedade, principalmente ligados aos
interesses da nova potência econômica do país: os cafeicultores do SODRÉ, Nelson Werneck. As Razões da Independência.
Centro-Sul. Até 1868, mantiveram-se ininterruptamente no poder, GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas.
apesar dos intervalos de 1853-58 – chamados impropriamente de GORENDER, Jacob. Escravismo Colonial.
“Conciliação” – e 1864-8 – o “segundo quinquênio liberal”. SODRÉ, Nelson Werneck. Formação Histórica do Brasil.
Sob a direção do arqui-conservador Marquês de Olinda, SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa Brasileira.
assumiu o gabinete que já de imediato levou à dissolução da ALENCAR, Francisco. História da Sociedade Brasileira.
Câmara dos Deputados. Logo antes, em 1849, os três principais História da Vida Privada. (Vários Autores).
nomes do partido – Paulino, Soares de Souza e Rodrigues Torres FAUSTO, Boris. História do Brasil.
– haviam composto a chamada “trindade saquarema”, auge dos VICENTINO, Cláudio. História do Brasil.
conservadores no poder. Entre suas principais realizações estão a VIANA, Hélio. História do Brasil.
lei de terras, que regulamentou a propriedade da terra em favor CAMPOS, Raimundo. História do Brasil.
dos latifundiários, e a lei Eusébio de Queirós, que extinguiu o tráfico JÚNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil.
intercontinental, ambas de 1850. Sociedade Brasileira: Uma História – Aquino e outros.
Os principais assuntos que preenchiam a pauta das sessões SKIDMORE, Thomas. Uma História do Brasil.
parlamentares giravam em torno dos conflitos que eclodiam, mais
uma vez, na região platina e das urgentes reformas administrativas
que precisavam ser feitas. Liberais e conservadores aproximaram-
se nesse período, quando todos veiculavam a ideia da conciliação: Anotações
um congraçamento das oposições em favor do “progresso” do
país. Ideia muito atraente para o Imperador, significava na verdade
a anulação das oposições por meio da compra de suas lideranças
com pequenas frações de poder.
Nem todos, porém, se renderam a essa tática e após as
eleições de 1852 já manifestava-se com alguma voz a dissidência
parlamentar, composta em sua maioria de políticos do Nordeste,
que vinham perdendo cada vez mais espaço para os do Sul.
Mas até 1853 predominou a vitalidade conservadora. Suas maiores
realizações foram, além da lei de terras e da lei Eusébio de Queirós, a
política na bacia do Prata, a elaboração do Código Comercial, a criação
das províncias do Amazonas e do Paraná, o incentivo à imigração –
através do assentamento de colônias. Muitos outros dispositivos, em
consequência sobretudo da extinção do tráfico, se fizeram urgentes.
Ligavam-se aos problemas da escravidão, da vida judiciária, diplomática,
financeira e da reorganização dos serviços em bases mais racionais.
A ascensão do gabinete de Honório Hermeto Carneiro
Leão, Marquês do Paraná, dá início à prática da conciliação.
Esta não significou propriamente um conflito de ideias. Os partidos
conservador e liberal continuaram existindo. Sem um programa
elaborado, a conciliação foi mais uma aproximação de homens
que de seus princípios. E uma atitude de cúpula – um acordo de
cavalheiros da classe dominante com total exclusão popular.
As principais realizações administrativas da conciliação
foram o incentivo à instalação de estradas de ferro e à navegação
fluvial, reformas na justiça, controle de emissões financeiras.
A morte do Marquês do Paraná não pôs fim à conciliação, que
continuou sob o gabinete Caxias, nomeado pelo imperador e, em
seguida, sob o gabinete do Marquês de Olinda.
Os atritos constantes, no entanto, levaram a um desgaste
inevitável, pois era muito difícil agradar por muito tempo a interesses tão
distintos como os de conservadores e liberais. Em 1857, os conservadores
retomam sozinhos, mais uma vez, a direção política do país.
MALERBA, Jurandir. O Brasil Imperial (1808-1889): Panorama da história do Brasil
no século XIX / Jurandir Malerba. – Maringá: Eduem, 1999ç

Anual – Volume 3 35
ciências Humanas e suas tecnologias História I

Anotações

36 Anual – Volume 3
História II
História Geral I

Objetivo(s):
• Analisar o processo de ocupação da Península Itálica.
• Analisar a formação da civilização romana.
• Analisar a evolução política e social de Roma nos períodos da Monarquia e República.
• Observar a influência da família e da religião na formação política, social e jurídica de Roma.
• Analisar o expansionismo romano e suas consequências.
• Identificar as características políticas e sociais de Roma no Período do Império.
• Analisar as políticas públicas adotadas no Período Imperial.
• Observar o processo de decadência do Império Romano.
• Identificar os principais aspectos da cultura romana e sua influência no mundo ocidental.
• Analisar as principais características do Direito Romano e sua influência no Ocidente.
• Observar o processo de formação, desenvolvimento e consolidação do Cristianismo em Roma.
• Identificar as influências romanas e bárbaras na formação do sistema feudal.
• Analisar a importância dos povos bárbaros na formação da Europa Medieval.
• Observar as características do Feudalismo.
• Analisar o processo de separação entre as partes ocidental e oriental do Império Romano.
• Identificar as principais características do Império Bizantino.
• Observar o processo de reconquista bizantina no Mediterrâneo Oriental.
• Analisar o Cisma do Oriente.

Conteúdo:
Aulas 11 a 13: Civilização Romana
Introdução............................................................................................................................................................................................................... 38
Monarquia ou realeza (753-509 a.C.)...................................................................................................................................................................... 38
República (509-27 a.C.)........................................................................................................................................................................................... 39
Expansionismo romano............................................................................................................................................................................................ 39
Lutas de classes....................................................................................................................................................................................................... 40
A crise agrária e as tentativas de reformas.............................................................................................................................................................. 40
A crise da República Romana e os triunviratos........................................................................................................................................................ 41
Império (27 a.C. – 476)............................................................................................................................................................................................ 41
Baixo Império (236-476).......................................................................................................................................................................................... 42
Os povos bárbaros................................................................................................................................................................................................... 43
Cultura romana........................................................................................................................................................................................................ 43
O cristianismo.......................................................................................................................................................................................................... 44
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 45
Aula 14: Feudalismo
O Sistema Feudal..................................................................................................................................................................................................... 55
Características do Feudalismo.................................................................................................................................................................................. 55
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 56
Aula 15: Império Bizantino
Introdução............................................................................................................................................................................................................... 61
Política..................................................................................................................................................................................................................... 61
Economia e sociedade............................................................................................................................................................................................. 62
Cultura..................................................................................................................................................................................................................... 62
Religião.................................................................................................................................................................................................................... 63
Exercícios ................................................................................................................................................................................................................ 63
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
região onde foram encontrados pela misteriosa loba, na encosta do
Aulas 11 a 13:

C-2 H-7, 10
monte Palatino. Ainda segundo a lenda, os deuses apresentavam
Aulas C-3 H-12 preferências por Remo. Com ciúmes do irmão, Rômulo matou Remo
Civilização Romana C-5 H-22 e se tornou o primeiro rei de Roma. Apesar do caráter lendário, a
11 a 13 C-18 H-18, 20 obra de Virgílio traz importantes informações da Roma primitiva.
A provável origem de Roma está relacionada à existência
de numerosas aldeias de agricultores e pastores latinos no alto das
colinas existentes à margem esquerda do rio Tibre. O surgimento de
Introdução Roma se deu quando essas aldeias se uniram numa liga de caráter
defensivo e religioso, denominada Septimontium, criando uma única
A Roma Antiga pode ser considerada como a civilização da comunidade, por volta de 753 a.C.
Antiguidade que mais exerceu e exerce influência sobre a civilização A história de Roma é dividida em três fases, de acordo com
ocidental. Dos romanos, o Ocidente herdou princípios políticos, sua constituição política: Monarquia ou Realeza (753-509 a.C.),
a base da organização jurídica, a religião cristã e a língua latina, que República (509-27 a.C.) e Império (27a.C.-476 d.C.).
deu origem a vários idiomas como o português – considerado pelo
poeta Olavo Bilac “a última flor do Lácio”.
Monarquia ou

Iofoto/123RF/Easypix
realeza (753-509 a.C.)
Na fase inicial de sua história política, a economia dos
romanos baseava-se na produção agrícola, especialmente de
cereais, e na pecuária. Com o aumento da população, o comércio
e o artesanato também se desenvolveram, bem como houve
divisão de trabalhos e o surgimento de classes sociais, tornando
aquela sociedade mais complexa.
As classes sociais eram determinadas pela origem ou
nascimento dos indivíduos, sendo a sociedade romana composta
por patrícios, plebeus e escravos.
Os patrícios eram os descendentes das famílias (gens) que
fundaram Roma, sendo, portanto, cidadãos que possuíam terras e
rebanhos e exerciam o poder político na cidade. As famílias patrícias –
Estátua do Capitólio mostrando loba amamentando Remo e Rômulo. as “gentes” – reconheciam ter um antepassado comum, praticavam
o culto familiar e formavam uma aristocracia. Os membros das
Roma situava-se na Península Itálica, na planície do Lácio, “gentes” eram denominados patrícios, nome derivado de pater
região de solo fértil banhada pelo rio Tibre, próximo ao litoral (pai), o chefe todo-poderoso de cada família nobre.
pelo Mar Tirreno. A cidade foi fundada por povos de origem A maioria da população de Roma era formada pela plebe,
indo-europeia que migraram para a região por volta do segundo constituída por pessoas sem organização gentílica, de origem
milênio a.C., com destaque para sabinos e latinos que formaram variada. Os plebeus correspondiam aos estrangeiros e descendentes
tribos a partir da fusão de várias famílias (gens) e da união destas de estrangeiros, que viviam basicamente do comércio e artesanato.
em cúrias. Apesar de livres, não possuíam direitos políticos e não lhes era
No início do 1o milênio a.C., a região do litoral do Mar permitido casar com patrícios. Havia ainda os clientes, plebeus
Tirreno, entre os rios Tibre e Arno, foi conquistada pelos etruscos que recebiam proteção jurídica ou estavam associadas a famílias
(invasores vindos da Ásia Menor) que aí se estabeleceram e patrícias. A clientela permaneceu como um traço marcante da
penetraram pelo interior até o vale do rio Pó, ao norte da Península. sociedade romana até o Império, e como símbolo do poder das
Os etruscos praticavam a agricultura e a pecuária, exploravam as
famílias patrícias.
minas de cobre e ferro da região, produziam objetos de metais e
A classe dos escravos era formada por prisioneiros de guerra
tecidos e desenvolviam um amplo comércio com as colônias gregas
e indivíduos que não conseguiam quitar suas dívidas. Não possuíam
ao sul da Itália e com a colônia fenícia de Cartago, ao norte da África.
Entre os séculos VIII e VI a.C., o litoral sul da Península Itálica liberdade nem direitos sociais ou políticos, sendo considerados
foi ocupado pelos gregos, cuja colonização deu origem às cidades instrumentos de trabalho e exploração por seus donos.
de Siracusa, Tarento, Nápoles, Síbares, Crotona, Megara, região No período monárquico, a estrutura do poder político
conhecida como Magna Grécia. de Roma era controlada pelos patrícios, subdividida entre o Rei,
A origem de Roma é apresentada em uma versão lendária, Senado e a Assembleia Curial. Os reis exerciam funções religiosas
citada na obra A Eneida, do poeta Virgílio. Segundo o autor, Roma e militares, além de contar com dois atributos especiais: o imperium
foi fundada no século VIII a.C. pelos irmãos gêmeos Rômulo e (mando supremo), e o auspicium (capacidade de interpretar
Remo, filhos da princesa Réia Silvia e do Troiano Enéas. Estes eram a vontade dos deuses pelo voo dos pássaros). O Senado era
netos do rei Numitor de Alba Longa, que havia sido deposto do composto por anciãos e exercia funções legislativas, podendo vetar
trono por seu irmão Amúlio. Os gêmeos teriam sido colocados medidas reais sempre que contrariassem as leis tradicionalmente
em um cesto e abandonados no rio Tigre. Os meninos teriam estabelecidas, baseadas nos costumes dos antepassados. Havia
sido encontrados na encosta do monte sagrado, amamentados ainda a Assembleia Curial, composta por cidadãos em idade militar,
por uma loba e posteriormente foram criados por um pastor que confirmava ou não algumas decisões do senado.
chamado Fáustulo. Quando cresceram, retornaram a Alba Longa e Neste período, Roma sofreu a dominação dos etruscos,
vingaram-se matando o usurpador Amúlio e reconduzindo o avô com a imposição por parte destes dos três últimos reis romanos –
Numitor ao trono. Em seguida, os gêmeos fundaram Roma na Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo.

38 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
A Reforma Serviana e a queda da Monarquia Expansionismo romano
Sérvio Túlio foi o sexto rei de Roma, segundo de origem O Período Republicano foi marcado pelo grande expansionismo
etrusca. O monarca foi responsável por várias medidas que, em dos romanos, que necessitavam ampliar a obtenção de alimentos
geral, desagradaram os patrícios e beneficiavam a classe plebeia, para abastecer a crescente população da cidade que se desenvolvia,
com destaque para a elevação de famílias plebeias à condição de especialmente após o início do processo de incorporação de
nobres. O rei propunha ainda uma nova divisão social, baseada no outras pequenas cidades próximas, ainda na fase monárquica.
critério censitário e não mais na origem dos indivíduos. As medidas Quando caíram os reis etruscos, as populações vizinhas deram
enfraqueciam o domínio exclusivo dos patrícios e permitiam a início a um movimento para exigir maior autonomia, o que
ascensão política de plebeus ricos. obrigou Roma a intensificar suas ações militares e até reconstruir
Os patrícios reagiram, lutando contra Sérvio Túlio e depondo a antiga Liga Latina, dessa vez sob seu comando.
seu sucessor, Tarquínio, o Soberbo, proclamando a República, Ao longo do século V a.C., Roma dominou diversos povos
em 509 a.C. O novo regime garantiu a supremacia do senado e na Península Itálica. A vizinha cidade etrusca de Veios, principal
manteve a exclusividade do poder político dos patrícios. rival de Roma, foi destruída em 396 a.C., ao fim de dez anos
de guerra. No início do século IV, povos celtas procedentes da
República (509-27 a.C.) planície da Europa Central invadiram o norte da Itália e venceram
os etruscos. Prosseguindo seu avanço pela Península, chocaram-se
Com o advento da República, Roma passou a ter uma nova com as forças romanas junto ao Rio Ália e as derrotaram em
estrutura política, marcada pela supremacia do Senado, órgão 390 a.C. Os celtas apoderaram-se então de Roma e a incendiaram
mais importante, centro das decisões políticas, que controlava a ao abandoná-la, depois de reunir um grande saque. Roma se
estrutura administrativa, jurídica e financeira. recuperou rapidamente e, em poucos anos, se transformou na maior
potência da Itália Central, ao mesmo tempo que as cidades etruscas

Palazzo Madama, Roma, Itália


entravam em decadência, vítimas dos constantes ataques gauleses,
que contribuíram para arruinar sua civilização. A cidade de Cápua,
situada na Campânia, a sudeste de Roma solicitou, sem êxito,
a ajuda dos romanos para enfrentar os samnitas, seus inimigos.
A poderosa comunidade samnita infiltrada em Roma – que se
transformava numa metrópole para a qual acorriam imigrantes das
mais diversas etnias – conseguiu que a cidade de Roma se voltasse
contra Cápua. Depois que esta foi derrotada, os samnitas deram
início a uma série de guerras contra seus vizinhos, o que acabou
por lhe valer o domínio da Itália, forçando a reação dos romanos,
que os derrotaram, passando a dominar todo o centro da Itália.
O expansionismo de Roma, já convertida em grande
potência, voltou-se para as ricas cidades gregas do sul da Península.
A poderosa Tarento caiu em suas mãos em 271 a.C. e logo toda
MACCARI, Cesare (1840-1919). Cícero denuncia Catilina, 1889. a Península Itálica tornou-se romana. Roma submetia as cidades
dominadas a regimes jurídicos diversos. Basicamente, respeitou as
Foram instituídas as magistraturas, responsáveis por áreas instituições governamentais de cada uma delas e executou uma hábil
específicas da administração. Os principais magistrados foram: política, concedendo, em alguns casos, a cidadania romana a seus
• Cônsul – com mandato de um ano, em número de dois, habitantes, embora sem direitos políticos na metrópole.
presidiam o Senado e as Assembleias, encarregados dos aspectos O resultado foi a conquista de um vasto território em que
administrativos. a ordem jurídica se encontrava uniformizada e garantida, o que
• Pretor – responsável pela justiça. permitiu o incremento das relações comerciais e a manutenção de
um poderoso exército. Logo foram construídas as primeiras grandes
• Questor – encarregado pelas finanças, contas públicas e
vias de comunicação terrestre e estabelecido o domínio marítimo
arrecadação de impostos.
da costa da Península. Cidadãos romanos estabeleceram colônias,
• Censor – responsável pelo recenseamento populacional, que primeiro no Lácio e depois no resto da Península Itálica, o que
observava especialmente a renda dos indivíduos. contribuiu para a integração do território.
• Edis – indivíduos que cuidavam da administração das cidades,
com destaque para questões de limpeza, segurança e estrutura.
• Sumo Pontífice – exerciam a liderança das cerimônias religiosas
e dos cultos públicos.
• Ditador – o cargo era instituído em momentos de necessidades
especiais, como guerras e calamidades, por um período de seis
meses, com o fortalecimento deste cargo para que tivesse força
suficiente para resolver as tensões vigentes.

A estrutura política republicana era composta ainda por


Comícios ou Assembleias:
• Assembleia Centurial – a mais importante das assembleias, era
composta por grupos de centúrias (cem soldados) que votavam
projetos oriundos do senado. Havia 98 centúrias patrícias e
95 plebeias, o que garantia o controle das decisões aos patrícios.
• Assembleia Curial – responsável pela análise de assuntos
religiosos.

Anual – Volume 3 39
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
Após dominar a Península Itálica, Roma empreendeu Lutas de classes
a expansão em direção ao Mar do Mediterrâneo, que seria
completamente dominado e chamado pelos romanos de “mare O monopólio político exercido pelos patrícios e a situação
nostrum”. Para isso, era inevitável o confronto com um poderoso de desemprego, miséria e exclusão da maioria dos plebeus
inimigo: Cartago, nas chamadas Guerras Púnicas (264 a 146 a. C.). desencadearam uma acirrada luta social, na qual a plebe começou
a exercer forte pressão sobre os patrícios, exigindo reformas que
A cidade localizava-se no norte da África e controlava um extenso
incluíam a melhoria das suas condições de vida, bem como a
império comercial que incluía, além das costas africanas, o sul da
formalização destas conquistas através de uma legislação clara,
Península Ibérica, a Córsega, a Sardenha e a maior parte da Sicília.
que contemplasse seus interesses. Apesar de a plebe possuir alguns
Todas as três ilhas caíram em poder dos romanos após a Primeira direitos, como o direito de propriedade, a opressão dos patrícios se
Guerra Púnica, de 264 a 241 a. C. fazia indistintamente entre plebeus ricos e pobres.
Paralelo ao estabelecimento de seu domínio sobre o Diante do poder de pressão da plebe, que se dava pelo fato
Mediterrâneo Ocidental, Roma empreendeu a expansão pela de esta ser a maioria da população e a base do exército romano, os
zona oriental. A intervenção na Macedônia e Grécia teve início na patrícios foram obrigados a fazer algumas concessões aos plebeus,
época da Segunda Guerra Púnica, mas a Macedônia só se tornou dentre as quais podemos destacar:
província romana em 148 a. C. Os romanos passaram a controlar • A participação política, com a instituição, em 494 a.C., do cargo
praticamente toda a costa do Mediterrâneo, passando a chamá-lo de Tribunos da Plebe (inicialmente dois e, posteriormente,
de “Mare Nostrum”. passando a dez, em 471 a.C.).
• A publicação da Lei das Doze Tábuas, primeiras leis escritas, que
Consequências do expansionismo apesar de quebrar o monopólio da interpretação das leis, baseado
A expansão romana e a conquista e dominação da costa nos costumes pelos patrícios, permitiu a estes a manutenção
mediterrânea trouxeram profundas transformações para a República dos seus privilégios. Este Código foi elaborado por Decênviros
patrícios e plebeus, convocados em 450 a.C., gravado em tábuas
Romana, que se transformou na maior potência econômica e
de bronze, serviu como um dos fundamentos do Direito Romano.
comercial do mundo antigo. O gigantesco acúmulo de riquezas veio
• Através da Lei Licínia-Sextia, publicada em 367 a.C., os plebeus
através do domínio de territórios onde era grande a produção agrícola
puderam participar do Consulado, que passaria a ter um cônsul
e pastoril, gerando um grande afluxo de gêneros primários para a
patrício e outro plebeu.
Itália, bem como estimulou a produção e o comércio de manufaturas.
• A Lei Canuleia permitiu o casamento entre patrícios e plebeus.
Os vários territórios dominados foram incorporados como
É importante lembrar que, por ocasião do expansionismo, muitas
províncias ao domínio romano, a Grécia foi saqueada e seus tesouros
famílias plebeias enriqueceram, ao passo que a desvalorização
artísticos enviados a Roma. As classes altas assimilaram a cultura
das terras arruinou muitas famílias patrícias, que utilizaram o
helênica, que foi amplamente incorporada ao cotidiano romano casamento misto como forma de garantir os seus interesses.
em seus vários aspectos, como ocorreu com a religião, que adotou Esses casamentos resultaram na formação de uma aristocracia
alguns deuses gregos rebatizando-os com nomes romanos. de dinheiro, os Nobilitas.
O sistema econômico, muito monetarizado, foi marcado por • A Lei Ogúnia estabeleceu a igualdade religiosa entre patrícios
notável acúmulo de capitais, em virtude da ampliação dos negócios e plebeus, permitindo o acesso dos últimos aos Colégios
e rotas de comércio. Os grandes comerciantes e banqueiros romanos Sacerdotais e ao cargo de Pontífice Máximo.
pertenciam em geral à classe dos cavaleiros (equestre), intermediária • Outra importante conquista plebeia foi a criação do Concílium
entre as grandes famílias que dividiam as cadeiras do Senado Plebis, que posteriormente, à partir da aprovação da Lei Hortência
(ordem senatorial) e as classes baixas. as decisões do Concílium ganharam força de lei (Plebiscito).
Rotas comerciais passaram para o controle romano, bem • Em 326 a.C. foi extinta a escravidão por dívida.
como as guerras constantes levaram à formação de grandes
contingentes de escravos recrutados entre os prisioneiros de guerra. Apesar de todas as conquistas, faz-se necessário lembrar
Estes constituíram um imenso exército de cativos, cujo trabalho que apenas os plebeus ricos que contraíram casamento com os
barato nas grandes propriedades e nas manufaturas arruinou os patrícios tiveram os seus direitos ampliados, com o poder deixando
camponeses e os artesãos livres da Península Itálica. de vir do nascimento para a riqueza. Na prática, os plebeus pobres
A massa plebeia romana foi extremamente prejudicada continuavam explorados e com limitado acesso às decisões políticas.
pela ampliação da escravidão, pois o baixo preço dos escravos
estimulava a demissão de trabalhadores livres e a ruína dos A crise agrária e as
pequenos proprietários rurais, impossibilitados de concorrer com
os latifúndios escravistas. A plebe transformou-se numa classe tentativas de reformas
ociosa que vivia miseravelmente das subvenções e distribuições de As tensões sociais e os problemas ligados à expansão
alimentos, frequentava as termas e era entretida com jogos públicos. dos latifúndios estimularam a mobilização de grupos na busca
A própria Roma tornou-se uma grande cidade parasita, que importava por reformas mais profundas, que atendessem efetivamente aos
grande quantidade de mercadorias de luxo e especiarias orientais, interesses das massas plebeias. Neste contexto, merece destaque
além de produtos como o trigo da Sicília e do norte da África, azeite a atuação dos Irmãos Graco, que ocuparam o cargo de Tribunos
da Espanha e escravos de todo seu imenso território colonial. da Plebe.
A enorme quantidade de escravos e a exploração a que Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe em 133 a.C. e
estavam submetidos provocaram revoltas e rebeliões dos cativos, através da Lex Agrária elaborou uma proposta de reforma agrária
merecendo destaque a sublevação liderada por Spartacus, ocorrida que limitava o acesso a terras públicas, confiscando as áreas que
entre os anos de 73 e 71 a. C., que chegou a aglutinar um numeroso excedessem os limites impostos e distribuindo-as entre os pobres, na
exército rebelde que ameaçou a própria cidade de Roma e serviu forma de arrendamento. O projeto foi vetado pelo Senado e Tibério
de exemplo para outros levantes. acabou assassinado juntamente com seus seguidores.

40 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Caio Graco assumiu o cargo de tribuno da plebe em desencadeou novo período de lutas civis. Em 43 a.C., o Senado
123 a.C., sendo apoiado pela plebe urbana e rural. Tentou implantar foi obrigado a reconhecer um Segundo Triunvirato, integrado
uma democracia do tipo ateniense, ao propor que as decisões por Marcus Antonius, Marcus Aemilius Lepidus (Lépido) e Caius
importantes fossem transferidas do Senado para a Assembleia Octavius Thurinus (chamado depois Otávio Augusto). Os triúnviros
Popular. Lutou ainda pela aprovação da Lex Frumental, que dividiram os domínios de Roma, mas nem por isso cessaram as lutas
obrigava o Estado a vender trigo mais barato ao povo pobre. internas. Lépido, logo neutralizado por Marco Antônio e Otávio,
Perseguido como o irmão e sofrendo forte oposição do Senado, ocupou habilmente o poder no Ocidente, aliando-se ao Senado,
acaba se suicidando, o que impede a continuidade e a efetivação colocando-o contra Marco Antônio, cada vez mais impopular em
de seu projeto de reforma. Roma devido a seu comportamento de déspota oriental e sua aliança
com Cleópatra. Após vencer Marco Antônio, na batalha de Actium,
em 31 a.C., Otávio tornou-se o único senhor de Roma.
A crise da República
Romana e os triunviratos Império (27 a.C. – 476)
A morte dos Graco foi sucedida pela radicalização das lutas

Museu do Louvre, Paris, França/foto: Marcovarro/123RF/Easypix


políticas e sociais, mergulhando a República Romana em uma grave
crise. Já não se tratava, como no início do período republicano, da
reivindicação de igualdade de direitos por parte dos plebeus, mas
do protesto do povo, reduzido à miséria, contra os ricos e, muito
especialmente, contra a nobreza senatorial, proprietária da maior
parte das terras da Itália.
As classes altas tentavam consolidar as instituições
republicanas, enquanto o povo desejava, com determinação cada
vez maior, um governante único. Por outro lado, as possessões
orientais, cuja influência no mundo romano era considerável,
careciam de tradição republicana e seus habitantes consideravam
natural o fato de serem governados por autocratas divinizados.
A guerra social eclodiu na Itália quando os habitantes
da península exigiram a cidadania romana para terem acesso Busto do Imperador Augusto
(63 a.C. – 14 d.C.)
à distribuição das terras públicas. Em 91 a.C., estendeu-se pela
península uma verdadeira guerra civil que só terminou quando, A ascensão política de Otávio trouxe a implantação de um
ao fim de três anos, foi concedida a cidadania romana a todos os novo sistema político, baseado na sua autoridade pessoal e no controle
italianos. deste sobre o exército, sobrepondo-se ao Senado. Este regime foi
O resultado desta instabilidade foi o acirramento dos denominado Principado e inaugurou um período de estabilidade
conflitos e a interferência de militares, notadamente generais política para Roma, sob um poder extremamente centralizado.
como Mário e Silas, que se aproveitaram do poderio de seus O Senado, progressivamente enfraquecido pela crise da
exércitos e de sua popularidade entre o povo para tentar controlar República, forneceu apoio e contribuiu para o fortalecimento do
o Estado romano. Mário chegou a ser eleito cônsul por seis vezes poder pessoal de Otávio e concedendo-lhe, em 27 a.C., os títulos de
consecutivas, se aproveitando do cargo para reformular o exército, Princeps (o Primeiro Cidadão), Pater Patriae (Pai da Pátria), Pontifex
inserindo nestes soldados que receberiam salários e teriam direito Maximus (Pontífice Máximo) e Augustus (sagrado). Na prática, Otávio
a parte dos espólios de guerra. Após a morte de Mário, em 86 a.C., concentrava tantos poderes, que havia se tornado soberano absoluto
Silas assumiu o poder, instituindo uma ditadura e perseguindo de Roma, inaugurando o período imperial. Costumeiramente,
antigos aliados de seu antecessor até seu afastamento da política, o período do Império Romano é subdividido em duas fases:
em 79 a.C., pouco antes de sua morte. o Alto Império (27 a.C. – 236) e o Baixo Império (236 – 476).
Em 73 a.C. eclodiu a rebelião de escravos liderados pelo
gladiador Spartacus, que foi reprimida por Cnaeus Pompeius Magnus Alto Império (27 a.C. – 236)
(Pompeu). Este ainda conseguiu a vitória na luta contra os piratas
e nas guerras do Oriente, o que lhe permitiu voltar triunfalmente A principal característica dessa fase foi a existência de uma
a Roma. O Senado, temeroso de seu prestígio, desautorizou seu relativa estabilidade política – Pax Romana, inaugurada por Otávio
trabalho legislativo no Oriente e sua promessa de distribuir terras aos Augusto, que buscou a centralização política e administrativa do
veteranos da guerra. Em represália, Pompeu se aliou a dois outros Principado, introduzindo reformas que asseguraram Pax Romana,
líderes poderosos, Caius Julius Caesar (Júlio César) e Marcus Licinius também caracterizada pela hegemonia de Roma sobre as regiões
Crassus (Crasso), para enfrentar a nobreza senatorial. conquistadas. Foram concedidos lotes de terra aos soldados
O Primeiro Triunvirato, estabelecido em 60 a.C., manteve desmobilizados depois das guerras civis, transformando o exército
o equilíbrio de poder durante vários anos, ao longo dos quais numa força permanente, disciplinada e profissional que, por ser
Júlio César promoveu a conquista das Gálias e expedições além bem remunerada, era extremamente leal.
do Reno e do Canal da Mancha. O Senado procurou o apoio de O Principado contou com crescente burocracia formada
Pompeu, em 52 a.C., para destruir o crescente poder de Júlio por milhares de funcionários encarregados da administração, do
César. Eclodiu, então, uma guerra civil e os partidários de Pompeu governo das províncias e da cobrança de impostos. O sistema jurídico
foram derrotados em todas as regiões do mundo romano. Júlio desenvolvido na República foi mantido, principalmente na parte do
César fez-se nomear ditador perpétuo e assumiu plenos poderes. direito privado, que regulamentava as relações entre os cidadãos.
Em pouco tempo, modificou a legislação romana, o censo de A ele se sobrepuseram os amplos poderes dos imperadores, que
cidadãos e o calendário. A 15 de março de 44 a.C., foi assassinado governavam através dos decretos imperiais. Por isso, o Principado,
por um grupo de senadores. mesmo centralizado e burocratizado, diferia das monarquias
O Senado tentou recuperar seu antigo poder, mas a despóticas do Oriente, porque existiam leis que garantiam os direitos
revolta do povo romano após os funerais do ditador Júlio César individuais dos cidadãos.

Anual – Volume 3 41
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
Otávio Augusto adotou uma política de distribuição de proprietários começaram a arrendar parcelas de terras a agricultores
cereais e alimentos à massa pauperizada e criou empregos através livres (colonos) em troca de uma parte da produção, iniciando-se o
de um amplo programa de construções e embelezamento urbano. sistema de colonato. A produção de metais diminuiu provocando
Reformulou a arrecadação de impostos nas províncias, acabando constantes desvalorizações monetárias. As fronteiras começaram
com os abusos e instituiu um novo sistema de taxação sobre a terra, a ser ameaçadas pela presença cada vez mais constante de tribos
bem como a capitação. Criou ainda um serviço postal e um sistema “bárbaras”. O grande número de funcionários e a manutenção do
regular de comunicações ligando as províncias. Instalou colônias exército aumentavam as despesas do Estado, levando o governo
em pontos afastados do Império, concedeu às famílias ricas das a constantes elevações de impostos, que recaiam principalmente
províncias o direito de participar do Senado e das Magistraturas. sobre os pequenos produtores e arrendatários.

Império Romano sob Augusto


Baixo Império (236-476)
Oceano
Atlântico Gália O processo de declínio do Império Romano caracterizou o
Dácia Mar período convencionalmente chamado de Baixo Império. O período
Dalmácia Mar Negro Cáspio
Armênia de 236 a 284 foi marcado pela anarquia militar, com lideranças do
Espanha Itália Trácia exército, disputando o poder político e ocupando a liderança do
Partos Estado, sucedendo-se mais de vinte imperadores de origem militar no
trono romano durante esta fase. A sede do poder político deixou de
Mauritânia ser a capital Roma e foi transferida para os campos de batalha, onde
Árabes o que valia era a vitória de um comandante militar sobre seus rivais.
Alexandria A crise econômica do Império agravou-se, especialmente
África
Egito devido à escassez de mão de obra escrava, provocando diminuição
da produtividade das terras. As moedas desvalorizavam-se, perdiam
Adaptado de: MELLO, Leonel Itaussu A. & COSTA, Luís César Armad. poder de compra, resultando em constantes elevações de preços,
História Antiga e Medieval. São Paulo: Abril Educação, 1985. p. 160. provocando revoltas em diversos pontos do Império.

A produção cultural e as artes foram estimuladas pelo

Thomas Ihie CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation

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principal responsável por este setor, Mecenas, com o objetivo
de fomentar os grandes espetáculos que seriam apresentados
à população – Pão e Circo.
Otávio Augusto teve como sucessores os imperadores das
dinastias Júlio Claudiana (Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Galba,
Otão e Vitélio – de 14 a 69 d.C.); dos Flávios (Vespasiano, Tito e
Domiciano – de 69 a 96); e dos Antoninos (Nerva, Adriano, Antonino
Pio, Marco Aurélio, Pértinax e Dídio Juliano – de 96 a 193), oriundos
da aristocracia senatorial romana e das aristocracias das províncias.
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Trajano Busto de Marco Aurélio

A escravidão entrou em declínio em função da dificuldade


de se encontrar escravos e também devido à possibilidade de as
classes superiores encontrarem trabalhadores livres dispostos a se
empregar, em troca de proteção.
Devido à falta de escravos, os grandes proprietários rurais
passaram a arrendar parte de suas terras a plebeus que abandonavam
as cidades em decadência. Desenvolveu-se então o colonato.
Os camponeses viviam de sua produção, mas deviam trabalhar de
Coliseu em Roma, Itália graça alguns dias por semana e pagar em moedas e produtos pela
terra arrendada. Para evitar a desorganização da produção e controlar
Os dois primeiros séculos do Império foram marcados a cobrança de impostos, o governo romano proibiu que os colonos
pela segurança externa, pois as fronteiras se estabilizaram, e pela
saíssem das propriedades. Assim, os camponeses tornaram-se servos:
prosperidade econômica. As técnicas agrícolas e artesanais receberam
presos à terra (semilivres), recebiam a proteção do latifundiário, de
aperfeiçoamentos, aumentando a produção de azeite, pão, vinho,
vidro, cerâmica. A arquitetura descobriu o arco e a abóbada, surgindo quem dependiam. Eis a origem da servidão feudal.
embelezamentos urbanos na capital e nas províncias, com a construção As fronteiras eram continuamente atacadas pelos bárbaros.
de fóruns, aquedutos, termas, palácios, redes de água e esgoto etc. Os saxões, na Bretanha, os francos, na Gália, os godos, na Ásia
No final do século II e início do século III, quando Roma estava Menor, os persas, na Mesopotâmia e Síria penetravam nos territórios
controlada pela dinastia dos Severos (Sétimo Severo, Caracala, Geta, imperiais, aumentando a violência e a instabilidade.
Macrino Heliogábalo e Alexandre Severo – de 193 a 235), surgiram O comércio e as manufaturas decaíam continuamente e
os primeiros sintomas de crise econômica no Império. As guerras de a crise econômica acentuou as diferenças entre as partes oriental
conquista eram cada vez menos frequentes, provocando escassez e ocidental do Império, sendo a última mais atingida, pois ali o
de mão de obra escrava, que encarecia cada vez mais. Os grandes latifúndio e o trabalho escravo eram a base do sistema econômico.

42 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Em meio às dificuldades do período, destacou-se a atuação vitalidade demográfica e econômica, enquanto que o império
do imperador Diocleciano (284-305), que impôs o Edito Máximo, ocidental se decompôs com rapidez.
estabelecendo limites aos preços das mercadorias e aos salários. O último imperador ocidental foi Rômulo Augusto, deposto
Estabeleceu ainda um governo de caráter despótico, denominado por Odoacrus, rei dos hérulos, no ano 476 d.C, conquista que pôs
Dominato, pois o imperador se intitulava Dominus et Deus (Senhor fim ao Império Romano do Ocidente. O império oriental prolongou
e Deus), devendo ser adorado e reverenciado como os soberanos sua existência, com diversas vicissitudes, durante um milênio, até
orientais. Outra medida de Diocleciano foi a divisão administrativa a conquista de Constantinopla pelos Turcos, em 1453.
do Império entre quatro generais de sua confiança – Tetrarquia,
afim de garantir a restauração da ordem interna.
Com o intuito de garantir o sustento da burocracia estatal, Os povos bárbaros
foram lançadas novas taxações sobre a terra, o comércio e as Os romanos se consideravam extremamente evoluídos e
demais atividades. Foi também criado um imposto em gêneros consideravam inferiores os povos que viviam fora das fronteiras
– a “anoma” – recolhido pelos “curiales”, altos funcionários do imperiais, pois não falavam o latim, não conheciam suas leis e
governo, destinado à manutenção da burocracia e dos exércitos. não possuíam seu nível de desenvolvimento cultural, taxando-os
Diocleciano foi sucedido por Constantino (306/337), que pejorativamente de Bárbaros.
adotou medidas importantes como a mudança da capital de Roma De uma maneira geral, esses povos não possuíam organização
para Constantinopla, a concessão de liberdade religiosa através do estatal e se organizavam em tribos divididas em vários grupos, como os
Edito de Milão (313), beneficiando a religião cristã que conquistava Tártaro-mongóis (hunos, turcos e búlgaros); Eslavos (russos, poloneses
a sua efetiva liberdade. Constantino baixou decretos no sentido de e sérvios); Escandinavos (vikings, normandos e magiares) e Germânicos
vincular o homem à terra e às suas profissões urbanas, facilitando (ostrogodos, visigodos, hérulos, anglos e saxões).
a cobrança de impostos. Também não possuíam leis escritas, suas normas eram
Nas áreas agrícolas, os camponeses e colonos foram consuetudinárias (baseadas nos costumes), transmitidas de forma oral,
proibidos de abandonar a gleba em que trabalhavam, beneficiando bem como eram politeístas e praticavam uma economia agro-pastoril.
os grandes proprietários. Nas cidades, as atividades administrativas, Os bárbaros começaram a adentrar as fronteiras do Império
comerciais e artesanais se tornaram obrigatoriamente hereditárias Romano no início do século I, em busca de terras para o cultivo
e seus membros foram proibidos de mudar de ramo, favorecendo ou fugindo da violenta pressão de outros grupos, como os hunos.
os detentores de melhores cargos públicos. Inicialmente foram incorporados como mão de obra servil e até
As reformas introduzidas por Diocleciano e Constantino mesmo ao exército, como mercenários. O agravamento da crise
conseguiram preservar, ainda que de forma atabalhoada, a unidade econômica e das tensões sociais levaram o governo romano a
política do Império durante o século IV. Em 395, com a morte do limitar o acesso dos bárbaros ao interior do Império, levando estes
imperador Teodósio, o Império foi dividido entre seus filhos Honório e a promoverem invasões que levaram à desestruturação e queda
Arcádio, em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente. do Império Romano do Ocidente.
Além dos problemas internos que Roma enfrentava, as
invasões dos povos bárbaros, especialmente de origem germânica,
agravaram a situação de crise que no século V se manifestou em Cultura romana
toda a parte ocidental do Império.
A influência romana no mundo ocidental se faz presente
em diversos aspectos, como as línguas derivadas do latim e o direito.
Bretanha O sistema jurídico romano foi constituído gradativamente desde o
início da civilização, baseando-se na religião e na família, dividindo-
Gália se em Jus Naturale, Jus Gentium e Jus Civili. Os princípios jurídicos
romanos são aplicados constantemente na atualidade, sendo
comuns os termos em latim nas petições e despachos jurídicos.
Hispania Na literatura, destacaram-se Virgílio, autor de Eneida;
Itá
lia

Mérida Roma Macedônia Bizâncio Tito Lívio, que escreveu A história de Roma; Ovídio, autor de A arte
Ponto
de amar; e o orador Cícero. A arquitetura romana foi marcada pelo
Nisibis
uso de colunas e abóbadas, além da suntuosidade presente nas
construções de palácios e prédios públicos, aquedutos e estradas.
A religião romana era politeísta, de caráter familiar,
cultuando-se antepassados como deuses. Houve ainda a influência
Alexandria grega quando os romanos dominaram esta civilização, adaptando
Egipto
sua mitologia à realidade romana e incorporando vários deuses,
I. R. do Ocidente I. R. do Oriente rebatizando-os com nomes latinos.
Divisão do Império Romano
depois da morte de Teodósio (395 d.C.)
NoMe GreGo NoMe LatiNo
A crise motivou a degeneração política do Império, que
enfraquecia-se cada vez mais. O imperador Teodósio (379 a 395) Zeus deus-rei do Olimpo Júpiter
foi o último a exercer sua autoridade sobre todo o Império, Hera esposa de Zeus Juno
preservando a integridade territorial diante da ameaça dos bárbaros
e suas constantes investidas contra as fronteiras imperiais. Teodósio Atena deusa da inteligência Minerva
adotou religião Católica como oficial e obrigatória através do Edito
Ares deus da guerra Marte
de Tessalônica (391), que ainda proibia cultos pagãos.
Foi Teodósio que determinou a separação do Império Afrodite deusa do amor Vênus
entre o Oriente e o Ocidente do império ao entregar o governo
de Roma a seu filho Honorius, e o de Constantinopla, no Oriente, Deméter deusa da agricultura Ceres
ao primogênito, Arcadius. A parte oriental conservou uma maior

Anual – Volume 3 43
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II

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NoMe GreGo NoMe LatiNo

Héstia deusa do lar Vesta


Apolo deus da razão Apolo
Ártemis deusa da caça Diana
Hefesto deus do fogo Vulcano
Hermes deus do comércio Mercúrio
Dionísio deus do vinho e da aventura Baco Catacumba romana sob ruínas.

De todas essas divindades, a trindade principal, cultuada Apesar das perseguições, o cristianismo crescia, especialmente
no período republicano, era formada por Júpiter, Juno e Minerva. entre as classes baixas, pois a mensagem de fé e esperança alcançava
Refletindo o caráter prático e utilitário da cultura romana, a grande repercussão nos grupos sociais baixos, marcados pela miséria
religião baseava-se num princípio utilitarista: eu dou algo aos e sofrimento. O martírio dos cristãos era visto como prova de fé e o
deuses (cerimônias e ritos) para receber alguma recompensa sofrimento era visto como forma de purificação e aproximação com
(saúde, boa sorte, sucesso etc.). Jesus, que morreu crucificado depois de longas horas de tortura e
violência física.
Em 312, o imperador Constantino conduziu suas tropas à
O cristianismo vitória contra o general Maxêncio, na batalha de Ponte Mívio, próximo
às muralhas de Roma. Segundo a tradição cristã, o imperador romano
O Cristianismo surgiu na Palestina, com a fundação da havia invocado a proteção de Deus e tido uma visão de uma cruz com
Igreja Cristã por Jesus Cristo (1 a 33 d.C.). Sua mensagem e os dizeres: “Com este símbolo vencerás”. Assim, a cruz foi usada pelas
seus ensinamentos se propagaram pelas províncias do Império legiões romanas que venceram a batalha.
Romano, a partir dos discípulos de Jesus, baseados nas ideias

Museu do Vaticano, Cidade do Vaticano


de igualdade de todos perante Deus, na humildade, no amor ao
próximo e na salvação após a morte. Os cristãos eram monoteístas
e se recusavam a cultuar o imperador e os demais deuses pagãos,
bem como defendiam a paz, se recusando a servir o exército,
além de serem contrários à escravidão. Por estes motivos foram
perseguidos, já que sua fé em Deus era vista como uma ameaça
à autoridade imperial.
Galeria Austríaca Belvedere, Viena, Áustria.

Raphael. A visão da Cruz, 1520-1524. Afresco.

Como agradecimento pela vitória em Ponte Mívio,


Constantino reconheceu o Cristianismo, convertendo-se, e no
ano seguinte proclamou o Edito de Milão, concedendo a essa
religião uma igualdade de situação com os demais cultos pagãos
e cessando com as perseguições. Posteriormente, em 325, foi
convocado o Concílio de Nicéia, que definiu as bases estruturais
e organizacionais da Igreja Católica. Constantino buscava obter
uma unidade religiosa que facilitasse o controle sobre a população
e fortalecesse a autoridade do Imperador.
A partir de Constantino, a Igreja passou a receber doações
do Estado e verbas provenientes dos impostos. Os bispos foram
equiparados aos altos funcionários do Império, incorporando-lhe
uma enorme e dispendiosa burocracia clerical, formada de bispos,
diáconos e padres. Embora buscasse a unidade e a universalidade,
a Igreja Católica (do grego Katholikós = universal) achava-se, no
Crucificação de Santo André, obra em óleo sobre madeira, de 1470, por autor século IV, profundamente dividida internamente entre os adeptos do
desconhecido – Galeria Belvedere, Museu de Arte Medieval, em Laranjal, Viena.
sacerdote Ário – que não aceitava a ideia de um Cristo da natureza
Durante os três primeiros séculos da Era Cristã, foram divina como Deus Pai – e os demais membros do clero, defensores
intensas as perseguições e o martírio de cristãos por iniciativa do do dogma da Santíssima Trindade.
Império Romano. Nesta situação, os cristãos procuraram alternativas Em 380, o imperador Teodósio, através do Edito de
para fugir às perseguições e para continuar praticando e difundindo Tessalônica, impôs a todos os súditos do Império a religião católica
os ensinamentos de Jesus Cristo – a boa nova. Normalmente, os “que o apóstolo Pedro transmitiu aos romanos”, de acordo com as
cristãos reuniam-se e sepultavam seus mortos em Catacumbas, normas do Concílio de Niceia, reconhecendo a “única divindade do
situadas em áreas subterrâneas das cidades, inclusive Roma. Pai, do Filho e do Espírito Santo”, ou seja, da Santíssima Trindade.

44 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Na estrutura geral da Igreja cristã, os bispos, considerados os Dentre os vários aspectos da arquitetura romana, destaca-se a
sucessores dos apóstolos, conquistaram em muitas cidades poderes monumentalidade de suas construções. A relação entre o “arco
maiores do que as autoridades do Estado. Assim, a organização do triunfo” e a História de Roma está baseada
primitiva comunitária da Igreja foi sendo substituída por um sistema A) no processo de formação da urbe romana e de edificação de
administrativo e hierárquico, semelhante ao do Império. A cidade, com entradas defensivas contra invasões de povos considerados
seu território urbano e rural, formava uma diocese sob a liderança de bárbaros.
um bispo, auxiliado pelos cônegos e pelos curas, encarregados das
B) nas celebrações religiosas das divindades romanas vinculadas
paróquias. As dioceses agrupavam-se em províncias, que tinham à
frente um arcebispo ou bispo metropolitano. No topo da hierarquia aos ritos de fertilidade e aos seus ancestrais etruscos.
encontravam-se os patriarcas, encarregados de um conjunto de C) nas celebrações das vitórias militares romanas que
províncias com sede nas cidades mais importantes: Roma, Alexandria, permitiram a expansão territorial, a consolidação territorial
Jerusalém, Antioquia e Constantinopla. e o estabelecimento do sistema escravista.
Foi estabelecido no ocidente que o bispo de Roma, sucessor D) na edificação de monumentos comemorativos em memória
do apóstolo Pedro e pastor da primeira cidade do mundo, exercesse das lutas dos plebeus e do alargamento da cidadania
uma posição predominante, sendo chamado de Sumo Pontífice romana.
ou Papa, o chefe supremo da Igreja Católica Romana. No Oriente, a E) nos registros das perseguições ao cristianismo e da destruição
supremacia do Papa nunca foi aceita, prevalecendo a existência dos de suas edificações monásticas.
patriarcas.
03. (UECE/2018) As Guerras Púnicas, que se constituíram por uma
série de combates entre Roma e Cartago no período entre o
Exercícios de Fixação século III e o século II a.C., assinalaram uma mudança radical
na história de Roma e do mundo antigo, porque
A) mesmo tendo Roma sofrido algumas derrotas, triunfou com
01. (PUC/SP – 2018) Considere os textos abaixo. as vitórias de Aníbal.
B) os conflitos entre Roma e Cartago duraram mais de um
“[...] Amúlio expulsa seu irmão e apodera-se do trono. século.
Depois deste crime, cometeu outro: ele extermina todos os
C) após o fim do conflito, Roma se aproximou de uma civilização
filhos varões do irmão e, sob o pretexto de honrar sua sobrinha
Réia Sílvia, colocando-a entre as vestais, ele tira toda a esperança mais avançada e rica.
de se tornar mãe condenando-a à virgindade perpétua. D) redesenhou toda a organização do mundo antigo e Roma
Mas acredito que o destino estava encarregado da fundação de transformou-se na grande potência do Mediterrâneo.
uma cidade tão poderosa: era a ele que cabia lançar os alicerces
deste vasto império que iguala o dos deuses. [...]” 04. (UERR/2019) Leia o texto e responda à questão conforme se
pede.
Tito Livio – História de Roma, livro I, p.10. – Texto traduzido e adaptado de
TITO LÍVIO. Historia de Roma desde su fundación. (Ab urbe condita). “Em suma parece que as mulheres desempenharam um
Disponível em: <http:// historicodigital.com/download/tito%20livio%20i.pdf>.
Acesso em: 07 nov. 2017. papel de destaque nas igrejas dos tempos de Paulo. De certo
“Os romanos foram honrados em quase todas as modo, esse destaque não era comum no mundo greco-romano
nações: impuseram as leis da sua hegemonia a muitos povos: e pode estar baseado, como defendo, na proclamação de Jesus
hoje, as letras e a história celebramos em quase todas as raças. de que no Reino vindouro haveria igualdade entre homens e
Não têm motivo para queixar-se da justiça do Deus supremo mulheres (...). Ao mesmo tempo intérpretes modernos têm a
e verdadeiro: eles receberam sua recompensa...; os judeus, impressão de que Paulo não se empenha por uma revolução no
que tinham morto Cristo, foram justamente entregues aos relacionamento entre homens e mulheres – assim como não se
romanos, para a glória destes. Aqueles, que pelas suas virtudes, empenhou pela abolição da escravatura, mesmo tendo afirmado
[...] procuraram e obtiveram a glória terrestre deviam vencer que em Cristo ‘não há nem escravo nem livre’. Em vez disso, ele
aqueles que, com seus enormes vícios, mataram e recusaram o insistia: dado que o ‘tempo é curto’ (antes da vinda do Reino),
dispensador da verdadeira glória e da Cidade Eterna.” cada um devia se contentar com os papéis a si atribuídos e que
Santo Agostinho – A Cidade de Deus – Livro V, cap. XVIII, p. 527. - Texto adaptado:
Disponível em: <http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/Cidade-de-Deus- ninguém devia mudar a própria posição – seja escravo, livre,
Agostinho.pdf>. Acesso em 07 nov. 2017. casado, solteiro, homem ou mulher”.
BART, Ehrman. O que Jesus disse? O que Jesus não disse?
Os textos foram escritos por cidadãos romanos, em diferentes São Paulo: Prestígio, 2006. p. 190-191.
épocas, e tratam momentos distintos da história de Roma.
No entanto, eles concordam que De acordo com o texto, Paulo não se empenhou por fazer
A) a dominação militar de Roma sobre outros povos não seria revoluções sociais através das doutrinas cristãs. Entretanto,
duradoura. o Cristianismo mudou radicalmente o curso da história no
B) o poder de Roma dependeu da conquista militar e da Ocidente. Pensando nessas questões levantadas no texto,
aceitação das leis. aliadas aos seus conhecimentos sobre a História de Roma na
C) a explicação para o imenso poderio romano é de ordem Antiguidade, reflita e escolha a alternativa correta dentre as
religiosa.
afirmações a seguir.
D) o crime e os vícios dos fundadores de Roma foram os
fundamentos do império. A) Os romanos apreciavam tanto a liderança feminina que,
quando César se apaixonou por Cleópatra, rainha do Egito,
02. (Fuvest/2019) (...) o “arco do triunfo” é um fragmento de logo a nomearam imperatriz de Roma e encarnação da deusa
muro que, embora isolado da muralha, tem a forma de uma Isis, também adorada entre os romanos.
porta da cidade. (...) Os primeiros exemplos documentados são
B) As mulheres do primeiro século desfrutavam de grande
estruturas do século II a.C., mas os principais arcos de triunfo
são os do Império, como os arcos de Tito, de Sétimo Severo prestígio social e liberdade no mundo grecoromano. Tanto
ou de Constantino, todos no foro romano, e todos de grande que poderiam participar da vida política, exercer cargos
beleza pela elegância de suas proporções. públicos, votar e serem votadas, por isso tiveram uma
PEREIRA, J. R. A., Introdução à arquitetura. participação efetiva no ministério de Jesus e na igreja
Das origens ao século XXI. Porto Alegre: Salvaterra, 2010, p. 81. primitiva.

Anual – Volume 3 45
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
C) O cristianismo não teve nenhuma relação com a decadência Tendo como alvo a República Romana, assinale a alternativa
do Império Romano, visto que a queda dele se deu correta.
quatro séculos depois da origem daquela religião e estava A) A desestruturação agrária em Roma, que estabeleceu
relacionada com as invasões bárbaras, bem como aos baixos sistemas de latifúndios, beneficiou os grupos empobrecidos,
salários que acarretaram a falta de mão de obra no império. uma vez que estes podiam abandonar o campo e se
D) A religião romana, muito semelhante à grega, era politeísta estabelecer em cidades.
e por isso não era compatível com o Cristianismo. O principal B) As guerras constantes ajudaram as classes dominantes
motivo de discordância entre as duas religiões era o culto ao da Roma republicana a desviar a atenção dos problemas
imperador romano, a que os cristãos se negavam a praticar fundiários derivados do latifundium nos séculos seguintes.
devido a sua crença em Jesus e ao monoteísmo. C) Foi por meio da intervenção dos irmãos Graco que o
E) A religião em romana não tinha muita importância e por isso problema da reforma agrária foi resolvido no século II, pois
não interferia na vida política ou nas relações sociais, essa os poderes políticos foram transplantados ao senado e,
interferência só veio ocorrer anos após a queda de Roma por assim, Roma viu mais um século de paz.
conta das invasões bárbaras e o misticismo desses povos. D) Os tribunos da plebe tiveram um papel importante no
processo da reforma agrária romana, possibilitando a
05. (UEL/2018) Durante o século II, o Império Romano atingiu sua transformação do modo de vida de maneira a permitir que
máxima extensão territorial, dominando quase toda a atual todo pequeno agricultor transformasse sua propriedade em
Europa, o norte da África e partes do Oriente Médio. No final um Domus.
do século IV, porém, essa unidade começaria a ser desfeita E) O domínio social e econômico das cidades provinha de
com a divisão do império em duas porções: a ocidental, com a delicada relação entre a manutenção de sistemas agrários
capital em Roma, e a oriental, com a capital em Bizâncio. Nos em que a mão de obra escrava era aproveitada de forma
séculos IV e V, a fragmentação territorial se aprofundou ainda esporádica e a utilização ocasional de grandes extensões de
mais e o Império Romano do Ocidente acabou desaparecendo terra.
para dar lugar a diversos reinos germânicos.

Quanto à desagregação e queda do Império Romano do 07. (Unesp/2018.1)


Ocidente, assinale a alternativa correta.

Reprodução/Unesp 2018.1
A) O êxodo rural causado pelos ataques dos povos germânicos MAR DO
NORTE
resultou em um crescimento desordenado das cidades, criando
instabilidade e desordem política nos centros urbanos e
Augusta
forçando a abdicação do último imperador romano. Treverorum Carnunto
B) O paganismo introduzido no Império Romano pelas tribos Sarmicegetusa
germânicas enfraqueceu o cristianismo e causou a divisão entre
cristãos católicos e ortodoxos, encerrando o apoio da Igreja ao MAR NEGRO
Roma MAR
imperador e consequentemente fazendo ruir o império. CÁSPIO
C) A língua oficial do Império Romano, o latim, ao se fundir com os Pérgamo
idiomas falados pelos invasores, deu origem às línguas germânicas,
Cartago
dificultando a administração dos territórios que se tornaram cada Palmira
MAR MEDITERRÂNEO
vez mais autônomos até se separarem de Roma.
Cirene
D) A disputa entre os patrícios romanos e a plebe pelas terras Alexandria
férteis facilitou a invasão do império pelos “povos bárbaros”, Disponível em: <http://recursostic.educacion.es>
pois o exército romano foi obrigado a deixar as fronteiras
desguarnecidas para defender os proprietários das terras O mapa do Império Romano na época de Augusto (27 a.C. – 14 d.C.)
das constantes rebeliões. demonstra
E) Com o fim das conquistas territoriais, o escravismo e a A) a dificuldade das tropas romanas de avançar sobre territórios
produção entraram em declínio, somado às “invasões da África e a concentração dos domínios imperiais no
bárbaras” e à ascensão do cristianismo, que aceleraram a continente europeu.
fragmentação e queda de Roma. B) a resistência do Egito e de Cartago, que conseguiram impedir
o avanço romano sobre seus territórios.
06. (UFPR/2018) Leia o texto a seguir: C) a conformação do maior império da Antiguidade e a
Foi a República Romana que primeiro uniu a grande imposição do poder romano sobre os chineses e indianos.
propriedade agrícola com a escravidão em grupos no interior D) a iminência de conflitos religiosos, resultantes da tensão
em maior escala. O advento da escravidão como um modo de provocada pela conquista de Jerusalém pelos cristãos.
produção organizado inaugurou – como na Grécia – a fase E) a importância do Mar Mediterrâneo para a expansão imperial
clássica que distinguia a civilização romana, o apogeu de seu e para a circulação entre as áreas de hegemonia romana.
poder e de sua cultura. Mas enquanto na Grécia isso havia
coincidido com a estabilização da pequena agricultura e de um 08. (Udesc/2018.2) Observe a linha do tempo a seguir.
compacto corpo de cidadãos, em Roma foi sistematizado por
uma aristocracia urbana a qual já gozava de um domínio social 1500 a.C (1) (2) (3) (4) (5) 475 d.C
e econômico sobre a cidade. O resultado foi a nova instituição
rural do latifundium escravo extensivo. A mão de obra para as A respeito da chamada Antiguidade Clássica, assinale a
enormes explorações que emergiam do século III a.C. em diante alternativa que apresenta a correta ordem dos eventos, segundo
era abastecida pela espetacular série de campanhas que deu a a linha do tempo apresentada.
Roma o poder sobre o mundo mediterrâneo. A) Fundação de Roma pelos etruscos; Configuração do modelo de
ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. democracia ateniense; Instauração do Império Romano; Queda
São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 58. do Império Romano; Instauração da República Romana.

46 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
B) Acontecimentos narrados por Homero em Ilíada e Odisseia; O texto anterior faz referência a acontecimentos importantes
Desenvolvimento das noções de democracia e cidadania grega; do governo de Constantino, entre os quais se destaca
Crise da República Romana; Instauração do Império Romano; A) o fim da escravidão e a adoção de um amplo processo de
Oficialização do cristianismo como religião do Império Romano. reforma agrária e econômica.
C) Expansão do Império Romano; Queda do Império Romano; B) o combate à revolta dos escravos e a divisão do Império
Estruturação do Sistema Feudal; Crise do século XIV; Renascimento. Romano em Oriental e Ocidental.
D) Queda do Império Romano; Oficialização do cristianismo;
C) a adoção de um novo sistema de cobrança de impostos,
Proclamação da República Romana; Proclamação da República
que reorganizou a economia do Império.
Grega; Expansão dos etruscos para Atenas.
D) a instalação da república romana e a criação de uma
E) República Ateniense; Ascensão do Império Espartano;
Oficialização do cristianismo; Proclamação da República hierarquia administrativa baseada na tetrarquia.
Romana; Expansão do Império Romano. E) o estabelecimento de outra capital para o Império, em
Constantinopla, e a liberdade de culto aos cristãos.
09. (Enem/2017)
12. (Unicsal/2013)
Texto I
Sólon é o primeiro nome grego que nos vem à mente quando Quando Orestes morreu, os invasores, liderados pelo general
terra e dívida são mencionadas juntas. Logo depois de 600 a.C., Odoacro, condenaram o César à morte. Mas como era apenas
ele foi designado “legislador” em Atenas, com poderes sem um garoto, a pena foi cancelada, ele recebeu uma mesada e se
precedentes, porque a exigência de redistribuição de terras e mudou para um castelo na cidade de Nápoles, onde viveu até os
o cancelamento das dívidas não podiam continuar bloqueados 51 anos. Foi [...] sorte, no fim das contas. Dos 111 imperadores
pela oligarquia dos proprietários de terra por meio da força ou romanos da história, só 31 não foram assassinados. E Rômulo
de pequenas concessões. foi um deles. Quando Rômulo trocou o papel de imperador por
FINLEY. M. Economia e sociedade na Grécia Antiga. uma casa e a aposentadoria, o título de César desapareceu em
São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013 (adaptado).
Roma. [...] Com sede na cidade de Constantinopla, na Turquia,
Texto II o império Romano Oriental teve césares até 1453, quando
A “Lei das Doze Tábuas” se tornou um dos textos fundamentais Constantino X foi derrubado pelos turcos-otomanos.
do direito romano, uma das principais heranças romanas que Que fim levou o último césar? Aventuras na História,
chegaram até nós. A publicação dessas leis, por volta de 450 a.C., especial Roma, São Paulo: Abril, p. 66, fev. 2007.
foi importante, pois o conhecimento das “regras do jogo” da vida
em sociedade é um instrumento favorável ao homem comum e Sobre o fim deste grande Império que foi o Romano, é válido dizer:
potencialmente limitador da hegemonia e arbítrio dos poderosos. A) a entrada de Odoacro marcou o início da República em Roma,
FUNARI, P. P. Grécia – Roma. São Paulo: Contexto, 2011 (adaptado). caracterizando como uma época de grandes conquistas e
realizações no governo romano.
O ponto de convergência entre as realidades sociopolíticas B) a partir de Odoacro, a unidade política romana se
indicadas nos textos consiste na ideia de que a estabeleceu, as cidades tornaram-se mais seguras e foram
A) discussão de preceitos formais estabeleceu a democracia. reconstruídas.
B) invenção de códigos jurídicos desarticulou as aristocracias. C) com Odoacro, um novo modo de vida se estabeleceu:
C) formulação de regulamentos oficiais instituiu as sociedades. voltavam-se as atividades agrícolas, as pessoas começaram
D) definição de princípios morais encerrou os conflitos de a buscar abrigos nos feudos, as rotas comerciais foram
interesses. desaparecendo.
E) criação de normas coletivas diminuiu as desigualdades de
D) nas novas cidades, os hábitos romanos foram valorizados,
tratamento.
dentre eles o respeito à individualidade, a lealdade para com
10. (UVA/2017.2) Roma foi a sede de um poderoso império. o governo e o compromisso perante suas dívidas financeiras
Mas decaiu com o correr do tempo. No ano 476, um povo e pagamentos em dia às instituições financeiras (bancos).
estrangeiro, a quem os romanos chamavam de bárbaro, a E) a adaptação entre os vários povos que formaram Roma e
conquistou. Este acontecimento marcou o as novas situações existentes a partir de então fizeram com
A) início da Idade Antiga. que novas estruturas governamentais existissem, inclusive,
B) início da Idade Média. novos reinados, como o governo dos Francos.
C) fim da Idade Média.
D) fim da Idade Moderna. 13. (FDF/2017) A conquista do Mediterrâneo por Roma, a partir
do século III a.C., provocou, entre outros efeitos,
11. (Unicsal/2016) Os pesquisadores que têm se aproximado das A) a supressão do trabalho escravo, que foi substituído
questões que envolviam o Império Romano no reinado de
pelo trabalho assalariado de pessoas vindas das áreas
Constantino I (306-337), encontram grande diversidade de
conquistadas.
ideias e imagens ao retratá-lo. Ora visto como um político
astuto, pragmático em suas decisões, ora visto como um B) a reação de outras cidades e impérios europeus, que
imperador com preocupações místicas religiosas. Mas uma imediatamente atacaram e ocuparam a cidade de Roma.
coisa é inegável, “um dos acontecimentos decisivos da história C) a realização de um amplo programa de reforma agrária, que
ocidental, e mesmo mundial, se produziu em 312, no imenso permitiu a fragmentação dos territórios conquistados.
Império Romano”, sob o governo de Constantino. D) a ampliação dos recursos financeiros de Roma, que passou
SILVA, Diogo Pereira da. As abordagens historiográficas sobre Constantino I a recolher regularmente tributos nas áreas conquistadas.
(306-337): uma revisão. Dimensões, Vitória, vol. 25, p. 32-45, 2010 (adaptado).

Anual – Volume 3 47
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
14. (Fatec/2015.1)
Exercícios Propostos

Reprodução Fatec/2015.1
01. (Unicamp/2019 – 2ª Fase) Havia em Alexandria uma filósofa
chamada Hipátia que foi admitida na escola de Platão,
demonstrando competência para ensinar as ciências a todos
os que o desejassem. Hipátia interrogava: “Por que as estrelas
não caem do céu?” E respondia: “Porque seguem a rota mais
perfeita, que é o círculo do céu em tomo da Terra, que, por sua
vez, é centro do cosmos.” Acreditando nesta tradição e movida
pela curiosidade, ela instigava: “Se você não questiona aquilo
em que acredita, não pode acreditar.” Além disso, acrescentava:
“Eu acredito na filosofia e é preciso nos livrarmos de todas as
ideias preconcebidas de qualquer natureza.” Na história da
filosofia, Hipátia é considerada uma expoente do neoplatonismo.
A oposição entre o neoplatonismo e o cristianismo teria
Disponível em: http://<tinyurl.com/l4w436k Acesso em: 30 jun 2014.>
marcado o tempo em que ela viveu. Para o filósofo Pierre Hadot.
Durante toda a História, os homens criaram tecnologias, inclusive o neoplatonismo foi um foco de resistência ao cristianismo. Essa
para proteger o corpo, buscando atingir seus objetivos. Podemos resistência continuou até 529, quando o imperador Justiniano
ver um exemplo disso nas formações militares desenvolvidas proibiu os pagãos de ensinar, fechou as escolas filosóficas de
pelos romanos, chamadas de “tartaruga” ou “testudo”. Atenas e passou a perseguir filósofos em Alexandria. Nesse
Nessas formações, a aproximação com o inimigo era facilitada por contexto, a matemática Hipátia foi assassinada em 415, em
grandes escudos empunhados à frente e acima do corpo pelos Alexandria, por cristãos fanáticos.
soldados, como podemos ver na imagem apresentada.Sobre o período
da República Romana, em que foram desenvolvidas as formações Salma Tannus Muchail, Notícias de Hipátia. Labrys, estudos feministas,
militares citadas, é correto afirmar que ele foi caracterizado v. 23, jan./jun. 2013.
A) pela expansão territorial, que levou ao domínio de territórios Disponível em: <http://www.labrys.net.br/labrys23/filosofia/salma.htm>.
na Europa e no Mediterrâneo. Acesso em: 10 jul. 2017.
B) pelo governo dos grandes imperadores, que centralizavam
o poder em todo o território romano. A partir do texto anterior e de seus conhecimentos históricos
C) pela predominância de Assembleias populares e democráticas, e filosóficos,
conduzidas por senadores e magistrados. A) identifique dois princípios filosóficos defendidos por
D) pelos conflitos entre plebeus e patrícios, visando à libertação Hipática;
dos escravos de origem africana. B) aponte explique uma motivação do imperador Justiniano
E) pelos tratados de cooperação entre reis e senadores, para para perseguir correntes de pensamento não cristãs.
evitar guerras contra os bárbaros germânicos.
02. (Uece/2018.2) A partir do século V d.C., a língua latina, utilizada
15. (Unicamp/2017-2ª fase) em todo o Império Romano, passou a ser influenciada pelos
idiomas falados por populações que invadiram o Império,
“Onde está aquela tua prudência? Onde está a sagacidade nas especialmente os germânicos e os árabes, dando surgimento
coisas que se devem discernir? Onde está a grandeza de alma? às Línguas Românicas, também conhecidas como Línguas
Já as pequenas coisas te afligem? (....) Nenhuma destas coisas é Neolatinas. São línguas neolatinas que surgiram do encontro
insólita, nenhuma inesperada. Ofender-te com estas coisas é tão do latim com outros idiomas:
ridículo quanto te queixares porque caíste em público ou porque A) inglês, mirandês, alemão, occitano, sardo, austríaco, búlgaro.
te sujaste na lama. (...) O inverno faz vir o frio: é necessário gelar. B) italiano, francês, provençal, espanhol, catalão, português,
O tempo traz de novo o calor: é necessário arder. A intempérie romeno.
do céu provoca a saúde: é necessário adoecer. Uma fera em C) friulano, romanche, espanhol, grego, russo, mandarim,
algum lugar se aproximará de nós, e um homem mais pernicioso dalmático.
que todas as feras. Algo a água, algo o fogo nos retirará. Esta D) lombardo, vêneto, lígure, siciliano, piemontês, napolitano,
condição das coisas não podemos mudar. Mas isto podemos: valenciano.
adotar um espírito elevado e digno do homem nobre para que
corajosamente suportemos as coisas fortuitas e nos harmonizemos 03. (UFPR/2019) Leia o trecho abaixo, escrito por Agostinho de
Hipona (354-430) em 410, sobre a devastação de Roma:
com a Natureza.
Sêneca, Carta de Sêneca a Lucflio. CVII. Prometeus. Maceió, ano 1 - n°1, “Não, irmãos, não nego o que ocorreu em Roma. Coisas horríveis
p.121. jan.-jun. 2008. Disponível em: <https://www.academia edu/4204064>. nos são anunciadas: devastação, incêndios, rapinas, mortes
Acessado em 19/12/2016. e tormentos de homens. É verdade. Ouvimos muitos relatos,
gememos e muito choramos por tudo isso, não podemos
A partir da leitura do texto escrito pelo filósofo Sêneca, consolar-nos ante tantas desgraças que se abateram sobre a
A) identifique e explique um princípio do estoicismo latino. cidade.”
B) cite dois legados culturais do mundo romano, além da filosofia, Santo Agostinho. Sermão sobre a devastação de Roma. Tradução de Jean Lauand.
Disponível em: Acesso em: 11 de ago. 2018.
para a tradição ocidental.

48 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Considerando os conhecimentos sobre a história do Império 06. (ESPM/2018.1) Durante o seu governo, Otávio apoiado pelos
Romano (27 a.C. – 476 d.C.) e as informações do trecho equestres e conciliando com a aristocracia senatorial, enfeixou
anterior, assinale a alternativa que situa o contexto histórico em suas mãos imensos poderes. No plano da organização militar
em que ocorreram os problemas relatados sobre Roma e a sua criou-se uma guarda especial, a Guarda Pretoriana.
consequência para o Império, entre os séculos IV e V. Rubim Santos Leão de Aquino. História das Sociedades
A) Trata-se do contexto das invasões dos povos visigodos, sendo das comunidades primitivas às sociedades medievais
uma das causas do final do Império Romano do Oriente. A Guarda Pretoriana citada no texto era encarregada
B) Trata-se do contexto dos saques de povos vândalos, A) de defender as fronteiras e as províncias afastadas.
sendo uma das causas do final do Sacro Império Romano- B) da segurança pessoal do imperador e da vigilância da capital.
Germânico. C) da expansão territorial e da obtenção de mão de obra
C) Trata-se do contexto das pilhagens de povos ostrogodos, escrava.
sendo uma das causas do final do Império Bizantino. D) de garantir a reunião da Assembleia Curiata, da qual
D) Trata-se do contexto das incorporações de povos vikings, participavam todos os patrícios.
sendo uma das causas do final do Sacro Império Romano E) de garantir a arrecadação dos tributos e proteger os
do Oriente. questores.
E) Trata-se do contexto das invasões de povos bárbaros, sendo
uma das causas do final do Império Romano do Ocidente. 07. (FMABC/2017) “O cidadão romano era aquele que possuía
direitos e obrigações políticas, econômicas e militares. Devia
04. (FAMERP/2019) Leia o texto para responder à questão. participar das assembleias, pagar impostos e ir para a guerra
para exercer plenamente sua cidadania.”
Enquanto nas cidades o poder ficou nas mãos Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império.
São Paulo: Saraiva, 2004, p. 20. Adaptado.
dos bispos, nos campos, concentrou-se na dos grandes
proprietários. O governo romano perdeu força: já não era capaz
A partir da afirmação anterior, sobre a República romana, é
de cobrar os impostos de maneira eficiente, nem mesmo de
correto afirmar que a cidadania
pagar os exércitos. Em 476, o último imperador romano foi
A) associava-se prioritariamente às atividades agrícolas e
deposto. Era o fim do Império Romano e do mundo antigo e comerciais.
o início de uma nova era, a Idade Média. B) implicava a participação nas atividades militares, produtivas
Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004. Adaptado. e políticas.
C) era desempenhada pelos homens que viviam na cidade,
A queda do Império Romano do Ocidente foi provocada, entre livres ou escravos.
outros fatores, D) dependia da participação voluntária dos camponeses no
A) pela fragilização do poder central, que gradualmente perdeu exército.
o controle das províncias que compunham o Império.
B) pelo declínio econômico das colônias asiáticas, que deixaram 08. (FDF/2017) A conquista do Mediterrâneo por Roma, a partir
de fornecer matérias-primas à capital do Império. do século III a.C., provocou, entre outros efeitos,
C) pela hegemonia econômico-financeira da Igreja, que passou A) supressão do trabalho escravo, que foi substituído pelo trabalho
a combater militarmente os imperadores pagãos. assalariado de pessoas vindas das áreas conquistadas.
D) pelo desenvolvimento militar dos impérios macedônio e B) a reação de outras cidades e impérios europeus, que
persa, que se tornaram rivais de Roma e a derrotaram. imediatamente atacaram e ocuparam a cidade de Roma.
E) pelas invasões dos bárbaros, que saquearam o Império C) a realização de um amplo programa de reforma agrária, que
Romano e, assim, facilitaram sua conquista pelos hunos. permitiu a fragmentação dos territórios conquistados.
D) a ampliação dos recursos financeiros de Roma, que passou
05. (UFRGS/2019) Considere as seguintes afirmações sobre a a recolher regularmente tributos nas áreas conquistadas.
história antiga de Roma.
I. Com o fim do período monárquico, a hierarquia social na 09. (Enem-PPL/2016)
República deixou de estar fundada na descendência familiar No aniversário do primeiro decênio da Marcha sobre Roma,
e na propriedade de terras, valorizando as ocupações ligadas em outubro de 1932, Mussolini irá inaugurar sua Via dell
ao comércio urbano e à prática da magistratura; Impero; a nova Via Sacra do Fascismo, ornada com estátuas de
II. No contexto dos séculos III e II a.C., a manumissão de César, Augusto, Trajano, servirá ao culto do antigo e à glória
estrangeiros, escravizados a partir de conquistas bélicas, do Império Romano e de espaço comemorativo do ufanismo
possibilitava a tais indivíduos liberdade social e cidadania italiano. Às sombras do passado recriado ergue-se a nova Roma,
política; que pode vangloriar-se e celebrar seus imperadores e homens
III. Entre as principais causas do fim da República, estão a fortes; seus grandes poetas e apólogos com Horácio e Virgílio.
invasão de tribos normandas oriundas do norte da Europa, SILVA, G. História antiga e usos do passado: um estudo de apropriações da
a difusão do cristianismo e a crise econômica provocada Antiguidade sob o regime de Vichy. São Paulo: Annablume, 2007 (adaptado).
pela chamada “Conspiração de Catilina”.
A retomada da Antiguidade clássica pela perspectiva do
Quais estão corretas? patrimônio cultural foi realizada com o objetivo de
A) Apenas I. A) afirmar o ideário cristão para reconquistar a grandeza perdida.
B) Apenas II. B) utilizar os vestígios restaurados para justificar o regime político.
C) Apenas III. C) difundir os saberes ancestrais para moralizar os costumes sociais.
D) Apenas I e II. D) recompor a organização republicana para fortalecer a
administração estatal.
E) I, II e III.

Anual – Volume 3 49
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
10. (UNP – Medicina/2015.2) Na Antiguidade, sobressai-se a cultura A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima
greco-romana; sobre ela, podemos afirmar que: para baixo, é
A) Os gregos e os romanos, em igualdade de condições, A) 2 – 1 – 4. B) 1 – 2 – 4.
contribuíram de maneira significativa apenas para a C) 2 – 1 – 3. D) 1 – 2 – 3.
formação do mundo medieval. E) 3 – 4 – 2.
B) Os gregos foram conquistados militarmente pelos romanos,
mas os romanos absorveram a cultura grega ajudando a 13. (Fatec/2009) As civilizações da antiguidade clássica – Grécia e
difundi-la pelo mundo. Roma – desenvolveram uma estrutura socioeconômica alicerçada
C) Os romanos militarmente destruíram a cultura grega e deram no escravismo. Sobre essa temática, pode-se afirmar que:
origem a uma nova mentalidade, baseada na praticidade, I. a escravidão foi indispensável para a manutenção do ideal
haja vista a criação do Direito. democrático em Atenas, uma vez que os cidadãos ficavam
D) Os gregos militarmente se destruíram na guerra civil do desincumbidos dos trabalhos manuais e das tarefas ligadas
Peloponeso e os romanos não puderam usufruir da grandeza à sobrevivência;
cultural helênica. II. a escravidão foi abolida em Atenas quando Péricles estabeleceu
o direito político a todos os cidadãos, reconhecendo, dessa
11. (UFPR/2015) Tendo em vista diferentes contextos históricos em forma, a igualdade jurídica e social da população da Grécia;
que predominou a escravidão, identifique como verdadeiras III. os escravos romanos, por terem pequenas propriedades e
(V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas que comparam a direitos políticos, conviveram pacificamente com os cidadãos
escravidão na Roma Antiga e a escravidão no Período Colonial romanos, como forma de evitar conflitos e a perda de direitos;
da América portuguesa: IV. os escravos romanos, que se multiplicavam com o expansionismo
( ) Na Roma Antiga os escravos eram mercadorias obtidas no de Roma, estavam submetidos à autoridade de seu senhor,
comércio triangular, enquanto que no Período Colonial e sua condição obedecia mais ao direito privado do que ao
brasileiro os escravos eram prisioneiros de guerra ou direito público.
apreendidos por motivo de dívida.
( ) Tanto no período antigo de Roma quanto no Período É correto apenas o que se apresenta em:
Colonial brasileiro, os escravos obedeciam a uma hierarquia A) I e II B) I e IV
de funções, sendo utilizados para vários tipos de atividades C) II e III D) II e IV
– afazeres domésticos, comércio e trabalho na agricultura. E) III e IV
( ) Tanto no período antigo de Roma quanto no Período
Colonial brasileiro, a escravidão era considerada uma 14. (UFPR/2006) Os dois trechos a seguir referem-se a momentos
realidade natural, justificada por pensadores e por distintos de expansão e imperialismo: o primeiro diz respeito
sacerdotes, mas também era questionada por opositores à Antiguidade Clássica, quando Roma havia conquistado uma
da escravidão dentro das próprias elites. grande quantidade de territórios, e o segundo se refere ao
( ) Na Roma Antiga, as rebeliões de escravos eram raras, domínio que a Europa exerceu sobre o mundo no final do século
pois eles viviam em boas condições e tinham a compra XIX. Compare essas duas formas distintas de imperialismo.
da alforria facilitada, enquanto que no Período Colonial
brasileiro, as rebeliões eram constantes devido às “Os conquistados recebiam um tratamento muito diversificado,
condições desumanas de tratamento e impossibilidade segundo sua posição em relação ao poder romano. Os que
de alforria. se aliassem, recebiam direitos totais ou parciais de cidadania,
enquanto os derrotados que não cedessem eram subjugados,
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de muitos vendidos como escravos, outros eram submetidos
cima para baixo. a tratados muito desiguais e que davam ao Estado romano
A) F–V–F–V. grandes rendas na forma de impostos e tributos. Roma, surgida
B) F–V–V–F. de uma união de povos, sabia conviver com as diferenças (…).”
C) V–F–F–V. FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2001, p. 86.
D) V–V–F–F.
E) F–F–V– V. “A dominação política e industrial que a Europa exerceu
sobre o mundo no final do século XIX e a teoria do progresso
12. (UFRGS/2013) No bloco superior a seguir, são listados alguns foram a reivindicação dos europeus como portadores de
líderes que atuaram no período republicano da Antiga Roma; um direito moral para liderar outros ramos da humanidade.
no inferior, são citadas ações desses líderes. Muitos vitorianos tardios influentes reivindicaram que sua
sociedade estava no auge do desenvolvimento social, com
Associe corretamente o bloco inferior ao superior. todos os estágios ‘anteriores’ da humanidade colocados em
1. Otávio uma progressão linear em direção a este estado ideal.”
2. Caio Mário
HINGLEY, Richard. Concepções de Roma – uma perspectiva glesa. In: FUNARI,
3. Tibério Graco Pedro Paulo. “Repensando o mundo antigo”.Textos didáticos n. 47, IFCH/Unicamp, 2002.
4. Pompeu
15. (Unesp/2014) Apesar de não ter sido tão complexo quanto os
( ) Operou uma reforma militar que permitiu o recrutamento
governos modernos, o Império (Romano) também precisava
de soldados entre a população mais pobre de Roma.
pagar custos muito altos. Além de seus funcionários, da
( ) Acumulou uma série de títulos e cargos e acabou por
manutenção das estradas e da realização de obras, precisava
estabelecer em Roma o sistema político imperial.
manter um grande exército distribuído por toda a sua extensão.
( ) Tentou implementar uma reforma que permitisse a
A cobrança de impostos é que permitia ao governo continuar
distribuição de terras públicas entre os cidadãos mais
funcionando e pagando seus gastos.
pobres de Roma.
MACHADO, Carlos Augusto Ribeiro. Roma e seu império, 2004.

50 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Os gastos militares intensificaram-se a partir dos séculos III a IV 18. (Uece/2014.2) O desenvolvimento de núcleos urbanos, o
d.C., devido: crescimento demográfico, a necessidade de intensificar as
A) ao esforço romano de expandir suas fronteiras para o centro trocas e controlar as rotas comerciais e as zonas ricas de
da África. matérias- primas impulsionaram a criação de “colônias gregas”
B) às perseguições contra os cristãos, que, bem sucedidas, ao longo da costa do Mediterrâneo; dessa maneira, o modelo
permitiram o pleno retorno ao politeísmo. urbano e habitacional grego se difundiu, em larga escala,
C) à necessidade de defesa diante de ataques simultâneos de
influenciando e marcando o molde de uma cultura comum, a
bárbaros em várias partes da fronteira.
D) aos anseios expansionistas, que levaram os romanos a buscar estrutura e o gosto urbano de cidades distantes entre si.
o controle armado e comercial do Mar Mediterrâneo.
Assinale a opção que corresponde a dois exemplos de grandes
E) à guerra contra Cartago pelo controle de terras no norte da
África e na Península Ibérica. centros urbanos resultantes de ocupações gregas.
A) Roma e Cartago.
16. (Uece/2014.1) “(...) com seus 10 a 15 mil habitantes, a B) Pérgamo e Alexandria.
Pompeia dos anos 70 d.C. apresentava-se como uma C) Constantinopla e Mileto.
cidadezinha provinciana enriquecida. Possuía uma agricultura D) Capadócia e Luxor.
desenvolvida, que alguns autores consideram capitalista devido
à sua orientação para o mercado. No campo, predominavam 19. (Simulado/FB) Ao referir-se aos gregos antigos como uma
fazendas escravistas voltadas para a produção de mercadorias, civilização clássica talvez não tenhamos a dimensão da
trigo, azeite e, principalmente, vinhos de diversas qualidades: importância do legado dessa civilização para o mundo
populares, aromatizados, para aperitivo, medicinais, para citar contemporâneo. A filosofia, a história, os Jogos Olímpicos, o
apenas alguns. A criação de gado e a floricultura também eram teatro e a ciência política tiverem ali notável destaque.
praticadas no campo. As principais manufaturas encontravam-
se concentradas no interior do recinto urbano: fábricas de
Qual das opções abaixo nos permite melhor associar as
cerâmica, construção civil, tinturarias, lavanderias, manufaturas
têxteis e de confecções, de conservas de peixe e panificadoras. manifestações culturais do presente aos seus processos
Embora não possamos falar em revolução industrial, não cabe históricos:
dúvida que a urbanização ligava-se ao papel articulador do A) noções de cidadania e democracia foram desenvolvidas entre
mercado numa economia baseada no consumo de massa.” os gregos com tal perfeição que no mundo contemporâneo
FUNARI, Pedro Paulo A. A vida quotidiana na Roma Antiga.
se estruturaram em bases idênticas.
São Paulo: Annablume, 2003. p. 54-55. B) a história teve espaço destacado com representantes ilustres
como Heródoto que narrou com fidelidade, imparcialidade
No fragmento anterior, Pedro Paulo de Abreu Funari se refere a:
e rigor metodológico o episódio das Guerras Médicas.
A) uma cidade medieval que vivenciou o lento processo de
C) o Teatro grego se notabilizou como elemento de inclusão
transição da economia rural e agrícola do feudalismo para
uma economia urbana e mercantil da modernidade. social tendo em vista que todos os membros da comunidade,
B) uma cidade romana que viveu o seu apogeu no período do independente de classe social, podiam participar de suas
Império, com grande pujança econômica e desenvolvimento encenações.
urbano grandioso, até sua destruição pela erupção vulcânica D) a escultura helênica, estando desligada de valores religiosos,
do monte Vesúvio. valorizava o corpo humano, inspirou os artistas renascentistas
C) uma colônia inglesa na América que se desenvolveu que, da mesma forma, repudiavam temas religiosos.
autonomamente em relação à sua metrópole, praticante E) a vitória nos Jogos Olímpicos assumia um significado de
comércio com áreas vizinhas e diversificando suas atividades poder entre as cidades-estados como ainda ocorre nas atuais
econômicas. olimpíadas entre as nações hegemônicas.
D) uma cidade europeia que teve seu desenvolvimento econômico
ligado ao processo de industrialização de manufaturas têxteis
20. (UEA/2013)
e de confecções desenvolvidas a partir da evolução técnica
oportunizada pela revolução industrial moderna.

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17. (Uern/2014) “Desde os tempos mais antigos, a humanidade
vive experiências de dominação. Embora haja fatores específicos
em cada império, alguns elementos parecem comuns. Entre
eles o incontido desejo humano de superioridade e a busca
deliberada de subjugação social, cultural e econômica.”
Benicá, 2013.

No caso específico do Império Romano, que floresceu na


antiguidade ocidental, é(são) fator(es) decisivo(s) para seu
surgimento e expansão:
A) A formação, através das guerras, de um grande arsenal de Aqueduto romano Pont-du-Gard, sul da França.
escravos, provenientes dos povos conquistados.
B) A organização político-democrática que permitia a Os aquedutos, invenção romana do século I depois de Cristo,
manutenção da autonomia e da isonomia cultural dos povos
são reveladores de aspectos essenciais da cultura e do legado
conquistados.
civilizacional do antigo Império Romano. Entre esses aspectos,
C) a redistribuição das riquezas conquistadas à população,
principalmente aos guerreiros, e o fim das desavenças entre destacam-se:
patrícios e plebeus. A) o caráter pouco prático das suas realizações e a ênfase
D) A unificação religiosa em torno do cristianismo, o que acentuada nos elementos plásticos.
garantiu a obediência dos cidadãos e a ausência de revoltas B) os conhecimentos de engenharia e a associação de utilidade
e convulsões sociais. e beleza em suas construções.

Anual – Volume 3 51
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
C) a imitação servil da construção grega e a falta de criatividade C) após a vitória, Roma entrou em contato com diversas
nas construções civis e militares. civilizações e adquiriu maior progresso.
D) a fragilidade de suas construções e a natureza espiritual e D) Roma se afirmou como primeira potência e dominou política
religiosa de suas edificações. e culturalmente os povos do Mediterrâneo.
E) a ausência de funcionalidade de seus prédios e o desejo de
provocar temor aos povos conquistados. 25. (UEA/2011) “Outros talvez, que não tu, saberão, acredito, dar
melhor vida ao bronze e tirar do mármore vívidas figuras; outros
21. (UFPB/2007) O escravismo constituiu-se em uma das mais saberão melhor defender causas, melhor descrever o movimento
importantes instituições das chamadas Sociedades Clássicas – dos céus e dos astros. Mas tu, romano, lembra-te que nascestes
Grécia e Roma. para impor tuas leis ao universo. Teu destino é ditar tuas condições
Sobre o escravismo romano, é correto afirmar: de paz, poupar os vencidos e domar os soberbos.”
A) Durante a fase final da República romana, o número de Virgílio. Eneida, século I a.C.
escravos diminuiu sensivelmente, aumentando a importância
dos camponeses e artesãos livres. Segundo o poeta Virgílio, os romanos:
B) Devido à proliferação de movimentos abolicionistas cada A) eram pacíficos nas suas relações com os vizinhos, procurando
vez mais organizados, a escravidão em Roma foi abalada e, solucionar os conflitos pela diplomacia.
posteriormente, acabou sendo extinta. B) desconheciam as artes plásticas, como a pintura e a escultura,
C) Embora a maioria dos escravos fossem destinados aos serviços a retórica e a ciência da astronomia.
pesados, alguns deles exerciam atividades especializadas, C) eram tolerantes internamente, protegendo os plebeus e
como médicos, dançarinos, músicos e professores. proibindo a exploração da mão de obra escrava.
D) Entre o crescimento do cristianismo e o fim do escravismo D) eram senhores de si mesmos, dominadores, livres e guiados
em Roma, não há uma relação direta, pois a Igreja nascente por sentimentos de severidade e de qualidades morais.
ignorou os escravos. E) evitavam desenvolver relações comerciais com outras
E) Na fase de desagregação do Império, a mais belicosa da história cidades, temendo enfraquecer-se militarmente.
romana, o número de escravos elevou-se consideravelmente,
barateando o preço e popularizando o uso dessa mão de obra. 26. (Uece/2010.2 - 2ª fase - 1° dia) Entre os séculos VI e VIII,
passaram a figurar no contexto histórico da Europa povos que
22. (Unicamp/2013) Por que as pessoas se casavam na Roma até então estavam às margens, que eram conhecidos como
Antiga? Para esposar um dote, um dos meios honrosos de “bárbaros”: germanos, francos, godos, lombardos, hunos
enriquecer, e para ter, em justas bodas, rebentos que, sendo etc. Estes povos consolidaram seu poder e formaram reinos
legítimos, perpetuassem o corpo cívico, o núcleo dos cidadãos. independentes, dando início a uma nova fase da história do
Os políticos não falavam exatamente em natalismo, futura mundo ocidental. Assinale a afirmação verdadeira.
mão de obra, mas em sustento do núcleo de cidadãos que A) O termo “bárbaro” era utilizado para reconhecer e
fazia a cidade perdurar exercendo a “função de cidadão” ou glorificar aqueles povos que negociaram com os romanos
devendo exercê-la. e alternaram, com estes, a posição de poder.
Adaptado de ARIÈS, P. e DUBY, G. História da Vida Privada. B) A palavra “bárbaro” era empregada por gregos e romanos para
São Paulo: Companhia das Letras, 1990. v. 1, p. 47. delimitar o que, para eles, significava povos não civilizados.
C) Os diferentes povos, oriundos de locais geograficamente
A) Por que o casamento tinha uma conotação política entre distantes, se autodenominavam bárbaros.
os cidadãos, na Roma Antiga? D) A denominação “bárbaros” foi empregada especificamente
B) Indique dois grupos excluídos da cidadania durante a pelos historiadores para contrapor a “romanos”.
República Romana (509-27 a.C.).
27. (Enem/2009 – Prova Cancelada) O fenômeno da escravidão, ou
23. (UEA/2012) A cidade de Roma foi fundada em meados seja, da imposição do trabalho compulsório a um indivíduo ou a
do século VIII a.C. sobre colinas nas margens do rio Tibre. uma coletividade, por parte de outro indivíduo ou coletividade,
Os materiais diversos depositados pelo rio nas suas margens é algo muito antigo e, nesses termos, acompanhou a história
formaram colinas ou rochedos escarpados. Considerando o da Antiguidade até o séc. XIX. Todavia, percebe-se que tanto
local escolhido para a fundação de Roma, percebe-se que os o status quanto o tratamento dos escravos variou muito da
primeiros romanos: Antiguidade greco-romana até o século XIX, em questões
A) buscaram edificar a cidade longe de rotas comerciais e militares. ligadas à divisão do trabalho.
B) preocuparam-se com a proteção militar da cidade e com
a prática da agricultura. As variações mencionadas anteriormente dizem respeito:
C) escolheram espaços adequados para a instalação de A) ao caráter étnico da escravidão antiga, pois certas etnias
monumentos públicos. eram escravizadas em virtude de preconceitos sociais.
D) visavam a organização de uma República pacífica e democrática. B) à especialização do trabalho escravo na Antiguidade, pois
E) pretendiam iniciar a conquista das cidades gregas instaladas certos ofícios de prestígio eram frequentemente realizados
na Itália. por escravos.
C) ao uso dos escravos para a atividade agroexportadora, tanto
24. (Uece/2012.2) As Guerras Púnicas foram uma série de combates na Antiguidade quanto no mundo moderno, pois o caráter
entre Roma e Cartago, entre o III e o II século a.C.; receberam étnico determinou a diversidade de tratamento.
esse nome porque os romanos chamavam os cartagineses de D) à absoluta desqualificação dos escravos para trabalhos
púnicos. Tiveram importância significativa na história de Roma mais sofisticados e à violência em seu tratamento,
e do mundo antigo, porque: independentemente das questões étnicas.
A) Roma não superou várias derrotas para Aníbal. E) ao aspecto étnico presente em todas as formas de escravidão,
B) o embate entre Roma e Cartago durou muito tempo, mais pois o escravo era, na Antiguidade greco-romana, como no
de um século. mundo moderno, considerado uma raça inferior.

52 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
28. (Enem/2000)
“Somos servos da lei para podermos ser livres.” Fique de Olho
Cícero

“O que apraz ao príncipe tem força de lei.”


Ulpiano CONSTANTINO E O CRISTIANISMO

As frases acima são de dois cidadãos da Roma Clássica que Ascensão a Augusto do Ocidente
viveram praticamente no mesmo século, quando ocorreu a
Nascido em Naissus, na Mésia (actual Niš na Sérvia), filho
transição da República (Cícero) para o Império (Ulpiano).
de Constâncio Cloro (ou Constâncio I Cloro) e da filha de um casal
Tendo como base as sentenças acima, considere as afirmações.
de donos de uma albergaria na Bitínia, Helena de Constantinopla,
I. A diferença nos significados da lei é apenas aparente,
Constantino teve uma boa educação – especialmente por ser filho
uma vez que os romanos não levavam em consideração as
de uma mulher de língua grega e haver vivido no Oriente grego,
normas jurídicas;
o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilingue própria da elite
II. Tanto na República como no Império, a lei era o resultado
romana – e serviu no tribunal de Diocleciano depois do seu pai ter
de discussões entre os representantes escolhidos pelo povo
sido nomeado um dos dois Césares, na altura um imperador júnior,
romano;
na Tetrarquia, em 293. Embora sua condição junto a Diocleciano
III. A lei republicana definia que os direitos de um cidadão
fosse, em parte, a de um refém, Constantino serviu nas campanhas
acabavam quando começavam os direitos de outro cidadão;
do César Galério e de Diocleciano contra os Sassânidas e os sármatas.
IV. Existia, na época imperial, um poder acima da legislação
Quando da abdicação conjunta de Diocleciano e Maximiano,
romana.
em 305, Constâncio seria proclamado Augusto (imperador senior),
mas Constantino seria descartado como César em proveito de Flávio
Estão corretas, apenas: Severo (também conhecido modernamente como Severo II, título
A) I e II. B) I e III. que jamais usou, para não ser confundido com o grande imperador
C) II e III. D) II e IV. do século anterior, Septímio Severo).
E) III e IV. Pouco antes da morte de seu pai, em 25 de julho de 306,
Constantino conseguiu a permissão de Galério para reunir-se a
29. (UFG/2009) A utilização de trabalho forçado é um fenômeno ele no Ocidente, chegando a fazer uma campanha juntamente
verificado na Roma Antiga e no Brasil atual. Ao comparar-se esses com Constâncio Cloro contra os pictos, estando junto do leito de
dois contextos, observa-se como elemento comum a ocorrência: morte do seu pai, em Eburacum (atual York) na Britânia, o que lhe
A) do estatuto jurídico dos indivíduos cativos, que é sustentado permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu proveito,
pelo Estado. proclamando-se César e sendo reconhecido como tal por Galério,
B) da concepção de inferioridade racial atribuída a um grupo, então feito Augusto do Oriente. Desde o início de seu reinado,
que redunda na perda de sua liberdade. assim, Constantino tinha o controle da Britânia,Gália, Germânia e
C) do período de permanência no cativeiro, que é vitalício e Hispânia, com sua capital em Trier, cidade que fez embelezar e fortificar.
hereditário. Nos dezoito anos seguintes, combateu uma série de batalhas
D) do endividamento pessoal, que serve à manutenção do e guerras que o fizeram governador supremo do Império Romano.
trabalho compulsório. Como Maximiano desejava retomar sua posição de Augusto, da qual
E) do apadrinhamento, que serve de mecanismo de atenuação havia-se afastado a contragosto junto com Diocleciano, Constantino
das condições de trabalho. recebeu-o na sua corte e aliou-se a ele por um casamento, em
307, com a filha de sete anos de Maximiano, Fausta, o que lhe
30. (Fatec/2008) “A principal diferença entre as pessoas, quanto permitiu ser reconhecido tacitamente como Augusto, em 308,
ao direito, é esta: todos os homens são ou livres ou escravos. por Galério, numa conferência dos tetrarcas em Carnuntum (atual
Os homens livres subdividem-se, por sua vez, em nascidos livres Petronell-Carnuntum, na Áustria). Em 309, no entanto, Constantino
e libertos ou forros. São nascidos livres os que assim nasceram; enfrentaria seu sogro, que tentava recuperar abertamente o
são libertos os que foram alforriados. Os libertos são de três poder, capturando-o em Marselha e fazendo assassiná-lo; em 310,
tipos: cidadãos romanos, cidadãos latinos ou não cidadãos.” Constantino seria formalmente reconhecido como Augusto por
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Roma. Vida pública e Galério. Severo, havendo sido entrementes eliminado, em 307, por
vida privada. São Paulo: Atual, 1993. p. 29. Maxêncio, filho de Maximiano, que havia-se proclamado imperador
em Roma, Constantino deveria acabar por enfrentrar seu cunhado
O documento acima retirado do Institutas, cap. I, versículos para conseguir o domínio completo do Ocidente romano. Após uma
9-17, demonstra a existência em Roma de uma: série de mediações fracassadas e lutas confusas, Constantino, após
A) sociedade dividida por classes, onde a diferenciação era feita apoiar o usurpador africano Lúcio Domício Alexandre, cortando
pelo acúmulo de riquezas dessa ou daquela classe. o suprimento de trigo de Roma, de 308 a 309, desceu, em 312,
B) divisão bastante clara dos homens, mas ao mesmo tempo, até a Itália para eliminar Maxêncio.
deixa evidente que havia possibilidade de mobilidade, Essas guerras civis constantes e prolongadas fizeram de
mudança de um grupo para outro. Constantino, antes de mais nada, um reformador militar, que, para
C) sociedade igualitária, onde todos eram cidadãos romanos aumentar o número de tropas à sua disposição imediata, constituiu
com direitos e deveres muito claros. o cortejo militar do imperador (comitatus) num corpo de tropas
D) divisão entre homens livres e não livres que se mantinha por de elite autossuficiente – um verdadeiro exército de campanha –
toda a vida, uma vez que era proibida a mobilidade entre principalmente pelo recrutamento de grande número de germanos
os grupos. que se apresentavam ao exército romano nos termos de diversos
E) sociedade capitalista em que o crescimento pela força tratados de paz, a começar pelo chefe dos alamanos, Chrocus, que
do trabalho definia o lugar de cada indivíduo dentro da teve um papel decisivo na aclamação de Constantino como Augusto.
sociedade.

Anual – Volume 3 53
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
Religião Hídria observa: “Constantino nunca se tornou cristão”. No dia
anterior ao da sua morte, Constantino fizera um sacrifício a Zeus, e
O fato de Constantino ser um imperador de legitimidade até o último dia usou o título pagão de Sumo Pontífice. E, de fato,
duvidosa foi algo que sempre influiu nas suas preocupações Constantino, até o dia da sua morte, não havendo sido batizado, não
religiosas e ideológicas: enquanto esteve diretamente ligado a participou de qualquer ato litúrgico, como a missa ou a eucaristia.
Maximiano, ele apresentou-se como o protegido de Hércules, No entanto, era uma prática comum na época retardar o batismo,
deus que havia sido apresentado como padroeiro de Maximiano que era suposto oferecer a absolvição a todos os pecados anteriores
na primeira Tetrarquia; ao romper com seu sogro e eliminá-lo, – e Constantino, por força do seu ofício de imperador, pode ter
Constantino passou a colocar-se sob a proteção da divindade percebido que suas oportunidades de pecar eram grandes e não
padroeira dos imperadores-soldados do século anterior, Deus Sol desejou “desperdiçar” a eficácia absolutória do batismo antes de
Invicto, ao mesmo tempo que fez circular uma ficção genealógica haver chegado ao fim da vida.
(um panegírico da época, para disfarçar a óbvia invenção, falava, Qualquer que tenha sido a fé individual de Constantino,
dirigindo-se retoricamente ao próprio Constantino, que se tratava de o fato é que ele educou seus filhos no cristianismo, associou a sua
fato “ignorado pela multidão, mas perfeitamente conhecido pelos dinastia a esta religião, e deu-lhe uma presença institucional no
que te amam”) pala qual ele seria o descendente do imperador Estado romano (a partir de Constantino, o tribunal do bispo local,
Cláudio II – ou Cláudio Gótico – conhecido pelas suas grandes a episcopalis audientia, podia ser escolhida pelas partes de um
vitórias militares, por haver restabelecido a disciplina no exército processo como tribunal arbitral em lugar do tribunal da cidade.
romano, e por ter estimulado o culto ao Sol. E quanto às suas profissões de fé pública, num édito do início de seu
Constantino acabou, no entanto, por entrar na história reinado, em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os pagãos
como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar “os ritos
na sequência da sua vitória sobre Maxêncio na Batalha da Ponte de uma velha superstição”.
Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais Esta clara associação da casa imperial ao Cristianismo criou uma
tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo a tradição, na noite anterior situação equívoca, já que o cristianismo tornou-se a religião “pessoal”
à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim: dos imperadores, que, no entanto, ainda deveriam regular o exercício do
paganismo – o que, para um cristão, significava transigir com a idolatria.
“In hoc signo vinces” O paganismo retinha ainda grande força política – especialmente
— “Sob este símbolo vencerás” entre as elites educadas do Ocidente do Império – situação que só
seria resolvida por um imperador posterior, Graciano, que renunciaria
De manhã, um pouco antes da batalha, mandou que ao cargo de Sumo Pontífice em 379 – sendo assassinado quatro anos
pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu uma depois, por um usurpador, Máximo. Somente após a eliminação de
vitória esmagadora sobre o inimigo. Esta narrativa tradicional não Máximo e de outro usurpador pagão, Eugênio, por Teodósio I, é que
é hoje considerada um fato histórico, tratando-se antes da fusão o cristianismo tornar-se-ia a única religião legal (395).
de duas narrativas de fatos diversos encontrados na biografia de O imperador romano Constantino influenciou em grande
Constantino, pelo bispo Eusébio de Cesareia. parte na inclusão na igreja cristã de dogmas baseados em tradições.
No entanto, é certo que Constantino era atraído, enquanto Uma das mais conhecidas foi o Édito de Constantino, promulgado
homem de estado, pela religiosidade e pelas práticas piedosas – em 321, que determinou oficialmente o domingo como dia
ainda que se tratasse da piedade ritual do paganismo: o Senado de repouso, com exceção dos lavradores – medida tomada por
Romano, ao erguer em honra a Constantino o seu arco do triunfo, Constantino, utilizando-se da sua prerrogativa, como Sumo
o Arco de Constantino, fez inscrever sobre este que sua vitória Pontífice, de fixar o calendário das festas religiosas, dos dias fastos
devia-se à “inspiração da Divindade”(instinctu divinitatis mentis), e nefastos (o trabalho sendo proibido durantes estes últimos).
o que certamente ia de encontro às ideias do próprio imperador. Note-se que o domingo foi escolhido como dia de repouso, não apenas
Até um período muito tardio de seu reinado, no entanto, em função da tradição sabática judaico-cristã, como também por
Constantino não abandonou claramente sua adoração com relação ser o “dia do Sol” – uma reminiscência do culto de Sol Invictus.
ao deus imperial Sol, que manteve como símbolo principal em suas
moedas, até 315. Wikipédia, a enciclopédia livre.
Só após 317 é que ele passou a adotar clara e, principalmente,
lemas e símbolos cristãos, como o “chi-rô”, emblema que Sugestão de Filme:
combinava as duas primeiras letras gregas do nome de Cristo O GLADIADOR (Gladiator, EUA, 2000).
(“X” e “P” superpostos). No entanto, já quando da sua entrada Direção: Ridley Scott
solene em Roma, em 312, Constantino recusou-se a subir ao
Reprodução/Universal Home Video

Capitólio para oferecer culto a Júpiter, atitude que repetiria nas suas
duas outras visitas solenes à antiga capital para a comemoração
dos jubileus do seu reinado, em 315 e 326.
A sua adoção do cristianismo pode também ser resultado de
influência familiar. Helena, com grande probabilidade, havia nascido
cristã e demonstrou grande piedade no fim da sua vida, quando
realizou uma peregrinação à Terra Santa, localizou em Jerusalém
uma cruz que foi tida como a Vera Cruz e ordenou a construção
da Igreja do Santo Sepulcro, substituindo o templo à Afrodite, que
havia sido instalado no local – tido como o do sepultamento de
Cristo – pelo imperador Adriano.
Mas, apesar de seu batismo, há dúvidas se realmente ele se
tornou cristão. A Enciclopédia Católica diz: “Constantino favoreceu
de modo igual ambas as religiões. Como sumo pontífice, ele velou
pela adoração pagã e protegeu seus direitos.” E a Enciclopédia Capa do filme O Gladiador (2000),
do diretor Ridley Scott.

54 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
um pouco de terra para sobreviverem e retirarem seu sustento, em
Seção Videoaula
troca de seu trabalho nos domínios senhoriais. Esse sistema ficou
conhecido como colonato, que originou a servidão feudal.

Os germânicos não compreenderam as sutilezas romanas;


Civilização Romana: Monarquia eles não conseguiram entender como uma pessoa podia ser
“escrava” de uma coisa. Assim, quando um colono fugia, para os
romanos era compreensível uma ordem que mandasse “devolver o
colono à sua terra de origem”. Foi essa diferença (de “terra” para
“dono”) que converteu o colono, gradualmente, em outro tipo de
trabalhador tipicamente feudal: o servo.
PEREIRA, Manzi Frayze Denise; KOSHIBA, Luiz. História Geral e Brasil:
Civilização Romana: República trabalho, cultura, poder. 1. ed. São Paulo: Atual, 2004. p. 91.

A constituição de domínios senhoriais ou senhorios fez


do latifundiário a maior autoridade na terra sob seu domínio,
reduzindo o poder e influência nacionais em detrimento do poder
local, diretamente ligado à posse da terra. Outro elemento romano
presente na formação do sistema feudal foi o Cristianismo, que
Civilização Romana: Império
sobreviveu à queda do Império Romano com a Igreja mantendo uma
organização e uma hierarquia baseadas na estrutura romana, e se
constituiu em religião dominante, especialmente com a conversão
de diversos grupos e reinos bárbaros e o grande acúmulo de terras
e riquezas.
Aula 14:
Elementos bárbaros e germânicos: Os bárbaros
C-1 H-4
praticavam uma economia agro-pastoril, voltada para sua
Aula C-3 H-11, 14
Feudalismo C-4 H-18
subsistência. Possuíam normas consuetudinárias (baseadas
14 C-18 H-18, 20
nos costumes) transmitidas de maneira oral. Suas relações
pessoais baseavam-se no comitatus (fidelidade) e no beneficium
(recompensa). Conquistando vários territórios e até mesmo
chegando a constituir reinos, estes povos foram se integrando e
contribuindo com suas práticas àquela nova realidade que surgia
O Sistema Feudal na Europa ocidental: o feudalismo.
O feudalismo foi o sistema econômico, social e político que
se desenvolveu na Europa entre os séculos V e XV. Este período Características do Feudalismo
é convencionalmente chamado de Idade Média, utilizada pela
primeira vez no contexto do Renascimento Cultural, obedecendo a
uma periodização que levava em consideração a história europeia.
Economia
Costuma-se ainda dividir a Idade Média em duas fases: Alta Idade

Museu Condé, Chantilly, França


Média (séc. V- X) e Baixa Idade Média (séc. XI-XV). Na primeira,
ocorreu o surgimento, desenvolvimento e apogeu do feudalismo,
enquanto na segunda fase ocorreu o processo de desintegração
do sistema feudal. É importante frisar que, apesar de seu declínio
no século XV, as características do feudalismo não desapareceram
completamente, observando-se a existência de algumas de suas
estruturas na Europa até o início do século XX.

Origem
A origem do sistema feudal está diretamente ligada
à decadência do Império Romano do Ocidente, a partir do
século III, e às invasões bárbaras, podendo ser apontado como
resultado da fusão de elementos de origem romana, que
sobreviveram à destruição do Império Ocidental; e elementos de
origem bárbara, com destaque para os germânicos, que passaram
a integrar o cotidiano da população europeia.
Elementos Romanos: Inicialmente, os latifundiários romanos
viviam nas cidades, que eram os principais centros econômicos do
Império. A partir do século II, com a anarquia militar que marcou
a estrutura romana e do século III, quando se iniciaram as várias
crises que culminaram na própria destruição de Roma, os grandes
proprietários rurais começaram a se fixar em seus domínios – as villas,
em busca de segurança. Para lá, pelo mesmo motivo e em busca de
trabalho e proteção, migraram grandes levas de pobres e miseráveis.
D’EYCK, Barthélemy (1444-1469).
Diante da falta de mão de obra escrava, os senhores passaram a Très Riches Heures du duc de Berry.
absorver estes contingentes que vinham das cidades, fornecendo-lhes

Anual – Volume 3 55
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
As principais atividades econômicas do feudalismo eram É importante lembrar que as obrigações variavam,
a agricultura e a pecuária. Em virtude da insegurança, lutas pois cada senhor determinava em seus domínios, de acordo com
e invasões, principalmente nos núcleos urbanos, o comércio suas vontades, os tributos que os servos deviam pagar. Segundo
praticamente desapareceu, e com ele o uso sistemático de Leo Hubermam:
moedas. Desta forma, a produção tendeu à subsistência,
com a terra passando a ser a principal unidade de produção. Havia vários graus de servidão(…) Havia os “servos dos
Os feudos eram os instrumentos de acumulação de produção e domínios”, que viviam permanentemente ligados à casa do
riqueza, sendo a terra o principal tipo, podendo-se ainda observarsenhor e trabalhavam em seus campos durante todo o tempo(…)
cargos e até pontes servindo de feudo. Havia camponeses muito pobres, chamados “fronteiriços”, que
As terras eram subdivididas em reservas ou mansos: mantinham pequenos arrendamentos (…) a orla da aldeia, e os
senhorial, comunal e servil. O manso senhorial correspondia “aldeões”, que nem mesmo possuíam um pequeno arrendamento,
às terras do senhor feudal, onde tudo o que era produzido lhe mas apenas uma cabana, e deviam trabalhar para o senhor, como
pertencia; manso comunal eram as áreas de uso comum, como braços contratados, em troca de comida.
florestas, rios e pastos; enquanto no manso servil ou tenência os Havia os “vilãos” que, ao que parece, eram servos com maiores
servos viviam e retiravam seu sustento. privilégios pessoais e econômicos. Distanciavam-se muito dos servos
A produção agrária era exercida pelos camponeses em na estrada que conduz à liberdade, gozavam de maiores privilégios
regime de servidão. Submetidos a rígidas obrigações de trabalho, e menores deveres para com o senhor. Uma diferença importante,
eram obrigados a trabalhar e produzir nas terras senhoriais – também, está no fato de que os deveres que realmente assumiam
manso senhorial, sem direito a nada do que colhiam nesta área. eram mais precisos que os dos servos. Isso constituía grande vantagem,
Além disso, eram obrigados a entregar aos senhores parte do pouco porque então os vilãos sabiam qual sua exata situação. O senhor não
que produziam para si nas terras que lhes eram destinadas. podia fazer-lhes novas exigências a seu bel prazer(…)
Sociedade HUBERMAM, Leo. História da riqueza do homem.
21. ed. São Paulo: JC Editora. p. 7.
Clero
Nobreza
Política
Servos O poder político no contexto do feudalismo era diretamente
Vilões
ligado à posse da terra, assumindo um caráter local e, portanto,
descentralizado. Apesar da existência de reis, de uma maneira geral,
estes não exerciam o controle político de seus reinos, mantendo grandes
poderes econômicos e militares. Para compreender esta situação,
devemos esclarecer as relações de suserania e vassalagem.
Suseranos eram indivíduos que doavam lotes de terra de
extensão variável, enquanto os vassalos recebiam estas terras
Adaptado de: VICENTINO, Cláudio; DORICO, Giampaolo. (beneficium) em uma cerimônia chamada Homenagem, jurando
História para o Ensino Médio. São Paulo: Scipione, 2002, p. 121. fidelidade e ajuda militar, bem como o compromisso de transferir
parte de sua arrecadação a seu suserano. Além das terras, este se
A sociedade feudal era predominantemente rural, composta comprometia com a proteção de seus vassalos e das terras que
por ordens onde praticamente inexistia mobilidade social, adquirindo ocupavam.
um caráter estamental. As ordens sociais básicas da estrutura feudal De uma maneira geral, os reis eram grandes vassalos que
eram senhores, clérigos e servos. transferiam terras a nobres – os seus vassalos. Estes, por sua vez,
Os senhores correspondiam à nobreza em suas diversas também poderiam ter vassalos e doar terras para a Igreja. Como os
hierarquias. Os clérigos eram os membros da Igreja Católica, que reis geralmente possuíam muitos vassalos, eram fortes econômica e
constituíam uma hierarquia: no baixo clero, que vivia em condições militarmente, enquanto o poder político-administrativo era exercido
miseráveis eram encontradas pessoas oriundas de camadas sociais por nobres que detinham o controle efetivo das terras – o senhor
baixas, enquanto fazia parte do alto clero, que ocupava as posições feudal. Assim, de forma hierárquica, ía se constituindo uma cadeia
de liderança somente elementos oriundos da nobreza. de relações que se estendia até os servos, que deviam obediência
Os servos correspondiam a camponeses e vilões, que viviam e produção a seu senhor, que tinha um suserano, que era vassalo
miseravelmente, submetidos a grande exploração por parte de seus de outro nobre e assim sucessivamente, até chegar ao rei.
senhores, a quem deviam obediência e fidelidade por juramento,
além de várias obrigações de produção e trabalho, dentre as quais
destacamos:
• Corveia – obrigação dos servos de trabalhar nas terras do senhor Exercícios de Fixação
feudal, sem direito ao que era produzido.
• Talha – o servo deveria entregar parte de sua produção no manso
servil a seu senhor.
• Banalidades – imposto pago em produtos ou trabalho pela 01. (Uece/2019.1) As principais características do Feudalismo são
utilização de instrumentos do senhor, como ferramentas, as relações de dependência e fidelidade. A doação do feudo
moinhos ou armazéns. se concretizava com um juramento por meio do qual o nobre
• Capitação – imposto pago por cada membro (per capta) da se comprometia a
família dos servos. A) proteger e auxiliar militarmente o outro.
B) respeitar e amar o seu vassalo.
• Mão morta – imposto pago pelos filhos de um servo morto para
C) pagar o direito de usufruto.
continuar ocupando as terras fornecidas a seu pai pelo senhor.
D) proporcionar isenção no pagamento de tributos.

56 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
02. (IFRR/2019.1) Assinale a única alternativa que traz uma das D) localizavam-se no manso comum, sendo utilizados
características marcantes da política medieval: coletivamente pelos diversos grupos sociais.
A) A lei dos feudos era baseada nos costumes e muitas vezes E) evidenciavam a dependência da natureza em face da
as lideranças religiosas eram responsáveis por determinar constante estagnação comercial daquele período.
punições a quem fosse considerado um perigo para a
sociedade. 04. (Unesp/2018) A era feudal tinha legado às sociedades que
B) O poder do estado era centralizado em um rei absoluto que a seguiram a cavalaria, cristalizada em nobreza. [...] Até nas
produzia as leis, a justiça e a administração pública. nossas sociedades, em que morrer pela sua terra deixou de ser
C) Havia muitos estados organizados em que os três poderes – monopólio de uma classe ou profissão, o sentimento persistente
executivo, legislativo e judiciário - eram exercidos pelo clero, de uma espécie de supremacia moral ligada à função do guerreiro
a nobreza e os servos. profissional – atitude tão estranha a outras civilizações, tal como
D) O clero detinha muito poder religioso, mas não se a chinesa – permanece uma lembrança da divisão operada, no
pronunciava sobre questões políticas como a distribuição começo dos tempos feudais, entre o camponês e o cavaleiro.
de terras ou as noções de justiça. Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987. Adaptado.
E) Entre os líderes católicos, os monges e os mosteiros eram
os mais envolvidos em questões relacionadas à política dos Segundo o texto, a valorização da ação militar
feudos. A) representa a continuidade da estrutura social originária da
Idade Média.
03. (FB UNI/2017.2) “Uma inovação do período medieval foi o B) ultrapassa as barreiras de classe social, igualando os homens
emprego de moinhos. Os romanos tinham conhecido as rodas medievais.
de água, porém praticamente não as utilizaram, em parte C) deriva da associação, surgida na Idade Média, entre nobres
porque possuíam escravos em número suficiente para não e cavaleiros.
se preocuparem com máquinas poupadoras de mão de obra D) surgiu na Idade Média e é desconhecida nas sociedades
e em parte porque na maioria dos territórios romanos não modernas.
abundavam correntes rápidas.” E) revela a identificação medieval de quem trabalhava com
quem lutava.
BURNS, Edward, McNall. História da civilização ocidental: do homem das
cavernas às naves espaciais. São Paulo: Globo, 2000, p. 240-241. Adaptado.
05. (UAB-Ufal/2014)
Crispi/Wikimedia Foundation;

REPRESENTAÇÃO DAS TRÊS CLASSES SOCIAIS: CLERO


(CLÉRIGO), NOBREZA (CAVALEIRO), POVO (SERVO)

Disponível em: <https://www.google.com.br/>. Reprodução/UAB-Ufal/2014

“Os senhores também chegaram a introduzir algumas


inovações, como a azenha, um moinho de roda movido a água.
Quase um símbolo dessa época, aos poucos a azenha deixou
de ser uma curiosidade para se transformar num importante
equipamento produtor de energia para o Ocidente.”
Disponível em:<http://plinio correadeoliveira.info/>
KOSHIBA. Luiz. História: origens, estruturas e processos. Acesso em: 9 dez. 2013.
São Paulo: Ed. Atual, p.167.
O servo na Idade Média representa o status social mais
De grande importância socioeconômica na Idade Média, os baixo, subjugado as outras categorias sociais; ele é a base de
moinhos sustentação produtiva da sociedade. O que diferenciava o servo
A) foram a maior invenção tecnológica do período, sem do escravo era o fato dele
precedentes na história. A) se tornar livre após alguns anos de trabalho.
B) eram concedidos aos vassalos em troca do trabalho na terra B) poder comprar sua liberdade com o próprio trabalho.
e de fidelidade militar. C) comprar seus próprios produtos e receber salário do seu Senhor.
C) constituíam possessão senhorial, com uso condicionado ao D) ser dono do pedaço de terra em que trabalhava.
pagamento de banalidades. E) não poder ser vendido, pois não pertencia a ninguém.

Anual – Volume 3 57
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
04. (Unicsal/2014) O período de auge do Feudalismo foi o que se
costuma chamar de Alta Idade Média (séculos V a X). Mas,
Exercícios Propostos a partir do século X, as coisas começaram a mudar. Diversos
fatores ajudam a explicar por que a agricultura deixara de ser a
principal atividade econômica, abrindo espaço para o chamado
01. (Famerp-2019) Leia o texto para responder à questão. Renascimento Comercial, que, a partir do século XI, inaugurou
definitivamente a Baixa Idade Média, que se estenderia até o
“Enquanto nas cidades o poder ficou nas mãos século XV.
dos bispos, nos campos, concentrou-se na dos grandes Disponível em: <http://educacao.uol.com.br.>
proprietários. O governo romano perdeu força: já não era capaz Acesso em: 25 out. 2013.
de cobrar os impostos de maneira eficiente, nem mesmo de
pagar os exércitos. Em 476, o último imperador romano foi O período referido no texto é caracterizado pelo
deposto. Era o fim do Império Romano e do mundo antigo e A) fortalecimento do sistema de colonato; relações de suserania
o início de uma nova era, a Idade Média.” e vassalagem.
B) aumento do despovoamento; incremento da regressão urbana.
Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004. Adaptado.
C) aumento do número de conflitos entre vilas e burgos.
D) incremento da liberdade política e econômica; desativação
O texto alude à gênese de duas características importantes da da produção artesanal.
Idade Média Ocidental: E) crescimento populacional; florescimento das cidades e do
A) o fim do comércio internacional e o crescimento do trabalho urbano.
republicanismo.
B) a feudalização e o aumento do poder político da Igreja. 05. (Enem/2019)
C) o desaparecimento do poder real e a ruralização.
D) a supressão dos exércitos nacionais e o avanço do islamismo. A lei dos lombardos (Edictus Rothari), povo que se instalou na
E) o igualitarismo social e a autossuficiência das propriedades Itália no século VII e era considerado bárbaro pelos romanos,
estabelecia uma série de reparações pecuniárias (composições)
rurais.
para punir aqueles que matassem, ferissem ou aleijassem os
homens livres. A lei dizia: “para todas estas chagas e feridas
02. (UVA/2019.1) Na chamada Alta Idade Média estabeleceu-se
estabelecemos uma composição maior do que a de nossos
uma estrutura social, econômica, política e cultural chamada antepassados, para que a vingança que é inimizade seja
de Feudalismo, o qual teve como características: relegada depois de aceita a dita composição e não seja mais
A. ( ) Predomínio da agricultura para consumo local. exigida nem permaneça o desgosto, mas dê-se a causa por
Ausência/inexistência de utilização de moeda e comércio terminada e mantenha-se a amizade.”
bastante reduzido
ESPINOSA. F. Antologia do textos históricos medievais.
B. ( ) Predomínio da agricultura em larga escala. Uso de mão Lisboa: Sá da Costa. 1976 (adaptado).
de obra escrava para o cultivo das terras. Intensiva
circulação de moedas entre os vários reinos. A justificativa da lei evidencia que
C. ( ) Intensificação do comércio agrícola. Intensa circulação A) se procurava acabar com o flagelo das guerras e dos mutilados.
de moedas movida pelas relações comerciais agrícolas. B) se pretendia reparar as injustiças causadas por seus
Uso de servidão coletiva no cultivo das terras disponíveis. antepassados.
D. ( ) Desenvolvimento das relações comerciais entre os C) se pretendia transformar velhas práticas que perturbavam
reinos. Centralização econômica e política. Circulação a coesão social.
de variados tipos de moedas. D) havia um desejo dos lombardos de se civilizarem, igualando-se
aos romanos.
03. (Uece/2018.2) A historiografia recente não aceita mais uma E) se instituía uma organização social baseada na classificação
ideia negativa sobre a Idade Média, porque considera essa ideia de justos e injustos.
um juízo de valor do humanismo renascentista que pretendia
ligar-se diretamente ao pensamento clássico da antiguidade 06. (Uern/2015) Na Idade Média, um mesmo cavaleiro podia ser
greco-romana. vassalo de um suserano e um suserano de outro cavaleiro.
O vassalo de um vassalo de determinado cavaleiro também era
Atente ao que se diz a seguir em relação à Idade Média, e vassalo do mesmo cavaleiro. E se um cavaleiro fosse vassalo de
dois suseranos que entravam em guerra? Nessa caso, prevalecia
assinale com (V) o que for verdadeiro e com (F) o que for falso.
o princípio da “homenagem lígia”.
( ) Nesse período foram extintas algumas línguas e literaturas. Vainfas, 2010.
( ) Ocorreu aumento demográfico causado por maior
produtividade. Nesse contexto medieval de suserania e vassalagem, e correto
( ) Houve dinamismo social impulsionado pelos comerciantes afirmar que “homenagem” era:
e artesãos. A) a cerimônia de entrega, lealdade e submissão de um vassalo
( ) Foram criadas as primeira universidades. a outro nobre que seria, então, seu suserano.
B) o contrato estabelecido entre as partes, em que constavam
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência: os valores, prazos, direitos e deveres de suseranos e vassalos.
A) F, V, V, V. C) o juramento feito diante de toda a comunidade medieval, que
B) V, F, V, F. tornava suseranos e vassalos “irmãos na vida e na morte.”
C) V,V, F, F. D) o feudo, na forma de terra, pensão, ou rendimento agrícola,
recebido pelo suserano, devido à gratidão do vassalo à sua
D) F, F, F, V.
pessoa.

58 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
07. (ExPCEx/2012) O período conhecido por Idade Média prevaleceu na Europa desde a queda do Império Romano Ocidental (século
V) até a queda de Constantinopla (século XV). Nesse período, o sistema vigente era o feudal.
Leia atentamente os itens abaixo.
I. Fortalecimento do poder real e enfraquecimento dos poderes locais;
II. Declínio das atividades comerciais urbanas e fortalecimento da vida rural;
III. Uso generalizado de trabalho escravo no campo;
IV. Os nobres estavam obrigados a pagarem aos seus servos uma pequena indenização, que passou a ser conhecida
por banalidade;
V. Existência de vínculos pessoais entre os nobres mais poderosos e os nobres mais fracos (suserania e vassalagem).

Assinale a única alternativa que apresenta todos os itens com características desse período.
A) I e II
B) II e IV
C) III e V
D) I e IV
E) II e V

08. (IFRN/2015) Em uma aula que remete ao contexto da Idade Média, o professor deve compreender que conceito de feudo era:
A) um privilégio adquirido por conquistas militares, responsável pela concentração fundiária entre os membros dos estamentos
dominantes no medievo.
B) a concessão de terras entre os integrantes da elite fundiária, resultante do crescimento econômico verificado na Europa durante
o auge do regime feudal.
C) um benefício de natureza e amplitude variáveis, concedido pelos senhores a seus vassalos o qual, com relativa frequência,
desvinculava-se de base territorial.
D) a prerrogativa conquistada por nobres, no âmbito das relações de suserania e vassalagem, na qual o direito adquirido limita-se
à posse de bens de raiz.

09. (Uece/2015.2) Robin Hood, o herói mítico inglês, era conhecido também como “príncipe dos ladrões”, porque praticava crimes como
roubar da nobreza para dar aos pobres no tempo do rei Ricardo Coração de Leão. Segundo a história, ele era um aventureiro muito
ágil no uso do arco e flecha, que deixou sua cidade para viver na floresta de Sherwood em companhia de vários amigos. Ali era
possível usufruir de liberdade, companheirismo, manter-se distante da opressão dos senhores e das hierarquias do poder monárquico
e feudal. Esse personagem representa bem o imaginário medieval em relação à floresta, a contraparte do mundo humano que tem
um horizonte inquietante e ambíguo. A importância da floresta no período medieval indica o quanto aquela sociedade dependia
economicamente dos recursos disponíveis nesse local. A economia na fase medieval era movimentada pela utilização de
A) sementes para o plantio nos campos.
B) raízes e frutos para a alimentação.
C) madeira para a construção de casas.
D) animais de caça para alimentação.

10. (Uern/2014) “Os nobres são guerreiros, protetores das igrejas, defensores do povo, do grande e dos pequenos. A outra classe é
a dos servos: essa raça infeliz nada possui sem sofrimento. Alimentos e roupas, os servos fornecem tudo a toda gente. A casa de
Deus, que se crê uma, está pois dividida: alguns rezam, outros combatem e outros trabalham. Essa três partes não suportam ser
separadas; os serviços prestados por uma são condição das obras das duas outras.”

Adalberón, Bispo de Laon. Canto ao rei Roberto, século X.


In: Pedrero Sánchez, M.G. História da Idade Média: textos e testemunhas.
São Paulo: UNESP, 2000. p. 91.
Observe a imagem:

oratores bellatores

laboratores

A mentalidade medieval, expressa no texto e representada na imagem:


A) atendeu a necessidade dos governantes da época, à medida que preconizava a divisão equitativa das tarefas.
B) foi, em grande parte, a responsável pela manutenção da ordem social vigente na Europa, entre os séculos V e XV.
C) privilegiou as classes aristocráticas e clericais, embora garantisse os direitos e a posição social dos servos de gleba.
D) era contra as concepções da Igreja Católica, cuja doutrina cristã pregava a igualdade e o respeito ao próximo “como a si mesmo.”

Anual – Volume 3 59
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II

Fique de Olho

CASTELOS MEDIEVAIS
A principal função de um castelo não era servir de residência

lianem/123RF/Easypix
para o senhor feudal, mas sim como uma construção fortificada para
proteger o feudo. Para entender porque é que eles surgiram, é preciso
pensar sobre a Idade Média (entre os séculos V e XV). O período histórico
surgiu após a dissolução do Império Romano.“A Europa se fragmentou,
se perderam as rotas de comércio e transporte, a economia se organizou
em unidades pequenas e independentes, chamadas feudos. Os castelos
surgiram para defender essas unidades econômicas, e todo feudo se
estruturava em torno deles”, explica Oswaldo Coggiola, professor
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da
Universidade de São Paulo (USP).
Ou seja, um castelo não tem nada a ver com as construções
luxuosas dos desenhos animados. O que acontece é uma mistura dos
conceitos de castelos e palácios. “Há uma confusão histórica. O palácio
existe desde o Império Romano e é basicamente uma casa luxuosa. Seu
nome vem do latim ‘palazzo’, nome dado às residências dos imperadores Fachada do Castelo de Óbidos, em Portugal.
que ficavam no Monte Palatino, em Roma. Outra característica é que os palácios são tipicamente urbanos, enquanto o castelo é rural”, explica
Coggiola. Se os palácios já existiam desde o Império Romano, os castelos de pedra surgiram só na metade da Idade Média e seu nome vem do
latim “castellum”, que significa “local fortificado”.
Desde o Período Neolítico, os homens constroem fortificações. E os castelos são uma evolução de construções como a cidade
de Jericó, Troia e os fortes romanos. Os precursores dos castelos que se tornaram famosos surgiram já no começo da Idade Média,
quando góticos, lombardos e francos se apoderaram das construções romanas e criaram as primeiras fortificações rurais. Porém, Kelly
DeVries, em seu livro Medieval Military Technology (Tecnologia Militar Medieval, inédito em português), conta que o que impulsionou a
construção de grandes fortificações foi a invasão de vikings e húngaros. Frente à ameaça, a Inglaterra e a Europa continental sentiram
a necessidade de construções capazes de conter o avanço inimigo. Os primeiros castelos surgiram entre os séculos IX e X, e foram
construídos com madeira e terra. Os mais eficazes tinham um muro de madeira cercando uma colina de terra, com um grande pátio no
centro. Porém, os castelos só se tornaram eficazes quando passaram a ser feitos de pedra. Kelly DeVries diz que não há evidências de
quando os primeiros foram construídos. O que se sabe é que no século XII essas construções dominavam a Europa. No início do reinado
de Henrique II, em 1154, havia 274 castelos de pedra sob o domínio do rei.
A estrutura defensiva do castelo era impressionante. A primeira defesa era feita por um fosso, que possuía as famosas pontes
elevadiças. Ao redor do fosso, havia um muro externo, que poderia chegar a até 10 metros de altura e 8 metros de espessura. Em
muitos castelos, esse muro também tinha muralhas, grandes blocos de pedra atrás dos quais os soldados podiam ficar em guarda. Os
muros também podiam ter passarelas e aberturas por onde soldados e arqueiros atacavam os inimigos. Logo após os muros vinham
as torres, estruturas mais altas e arredondadas, pelas quais se fazia o monitoramento. A porta de entrada, que ficava no muro dos
castelos, também era uma estrutura de defesa. Chamada de cabine do portão, era um túnel com aberturas pelas quais se podia lançar
flechas ou jogar líquidos quentes nos invasores. No fim do túnel, portas pesadas de madeira ofereciam mais um obstáculo. Depois de
tudo isso, ainda podia existir mais um muro e torres internas, com as mesmas estruturas das externas. Em seguida, vinha o pátio, um
espaço aberto, onde o invasor ficava vulnerável ao ataque vindo das torres. No meio de tudo isso é que ficavam as outras estruturas nas
quais viviam o senhor feudal, sua família, soldados e alguns súditos. Atrás dos muros havia a torre onde vivia o senhor feudal, a capela,
os estábulos, os poços e os salões de exposição. Há controvérsias sobre qual seria o maior castelo já construído. Mas, segundo O livro
Guinness dos Recordes, o maior castelo do mundo ainda em pé é o Castelo de Praga, com 70000 m2.
Paula Sato / Abril Comunicação S / A Nova Escola / FVC
Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/serviam-castelos>
474476.shtml. Acesso em 23 jul. 2018.
Sessão Videoaula

Europa Feudal: Alta Idade Média Europa Feudal: Feudalismo

Europa Feudal: A sociedade e a Igreja

60 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Aula 15:

C-1 H-5
Aula C-3 H-12, 15
Império Bizantino
15

Introdução
O Império Romano do Oriente surgiu quando, por determinação do imperador Teodósio, em 395, o Império Romano
foi dividido em duas partes: Império do Ocidente, com sede em Roma e Império do Oriente, com sede em Constantinopla. A capital
Oriental chamava-se anteriormente Bizâncio, de origem grega, e apresentava grande desenvolvimento econômico comercial, especialmente
em virtude de sua privilegiada e estratégica localização, entre os mares Egeu e Negro. O Imperador Constantino planejava transformá-
la na nova sede do Império Romano e promoveu uma grande reforma na mesma, construindo palácios e prédios públicos, passando a
denominá-la Constantinopla.
Os orientais preferiam chamar a cidade por seu antigo nome grego, daí o Império Oriental ser conhecido também como Império Bizantino.
A localização privilegiada de Constantinopla era de vital importância estratégica, cultural e comercial. Neste último caso, em
virtude das rotas que passavam obrigatoriamente pela cidade, que ligavam a Europa à Ásia.

Neceu CC BY 2.5/Wikimedia Foundation


As fronteiras do Império correspondiam a áreas situadas no sudeste da Europa, sudoeste da Ásia e na parte nordeste de África, que
incluíam os territórios atuais de países como Grécia, Turquia, Síria, Jordânia, Israel, Líbano, Chipre, Egito e a região mais oriental da Líbia.

Política
A divisão do Império Romano, determinada pelo imperador Teodósio, tinha finalidades militares: garantir que cada uma das partes
pudesse se defender das invasões bárbaras de maneira satisfatória. Enquanto a parte Ocidental ruiu, o Império Oriental ou Bizantino
sobreviveu às migrações e ataques de povos como godos e hunos, especialmente nos séculos V e VI. Já no século VII, o imperador
Heráclio I conseguiu estabelecer uma trégua com os persas, que atacavam ao sul, recuperando a Síria, a Palestina e o Egito.
Ainda no século VII, o Império Bizantino e, principalmente sua capital, foram alvos de incursões árabes, que se estenderam pelos
séculos seguintes. Todavia, a força militar dos bizantinos impediu que sua capital e partes importantes do território fossem conquistados
pelos inimigos muçulmanos durante longo período, até o século XV, quando Constantinopla finalmente foi tomada pelos poderosos
turcos Otomanos, que a transformaram na capital de seu Império.
A principal explicação para a força do Império Bizantino foi o enriquecimento proporcionado pelo comércio, que favoreceu o
fortalecimento econômico do Estado e permitiu a formação de uma monarquia centralizada, despótica, teocrática e hereditária.
O imperador possuía grandes poderes políticos, além de ser chefe do Exército e da Igreja, possuindo o direito de intervir nos
assuntos eclesiásticos, originando o Cesaropapismo. A burocracia estatal era composta por grande número de ministros, funcionários
públicos, lideranças militares, e uma corte requintada e onerosa.
O principal imperador Bizantino foi Justiniano, que governou no século VI, entre os anos de 527 a 565. Neste período, o poder
imperial atingiu seu apogeu, sendo conferidos poderes ilimitados ao imperador que, por sua vez, ampliou os privilégios do clero e da
nobreza, marginalizando colonos e escravos. Durante seu governo, as conquistas territoriais se estenderam às Penínsulas Itálica e Ibérica,
e levaram à dominação de territórios no norte da África.

Anual – Volume 3 61
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
O início do século IX foi marcado por grande esplendor

Domínio Público
para o Império Romano do Oriente, sob o comando da dinastia
Macedônia, iniciada com Basílio I. Houve grande impulso cultural,
com destaque para as artes e a literatura, que buscaram revigorar
os valores clássicos.
O declínio do Império Bizantino foi motivado pelos
constantes ataques que Bizâncio passou a sofrer, especialmente
de cidades italianas, a partir do século XI, e das investidas de
bárbaros e árabes. Sua posição e riqueza despertavam a cobiça
de impérios que surgiam e se fortaleciam. Depois de um longo
cerco, em 1453, os turcos otomanos conquistaram a cidade de
Constantinopla ou Bizâncio, destruindo o Império Bizantino.
A tomada de Constantinopla é utilizada como marco de transição
da Idade Média para a Idade Moderna.

Economia e sociedade
A localização estratégica – entre os mares Egeu e Negro,
onde se permitiam contatos comerciais e culturais entre Oriente e
Ocidente, constituiu-se em importante elemento de constituição
Justiniano I da realidade bizantina. O comércio permitiu o crescimento da
importância e gerou grande enriquecimento para Bizâncio, que se
A estrutura burocrática, associada aos enormes gastos tornou a grande metrópole oriental, a ponto de despertar o interesse
militares, obrigaram o governo a promover a elevação de impostos, do Imperador Constantino, que a converteu em nova capital romana.
provocando insatisfações e revoltas populares, dentre as quais Centro de importantes rotas comerciais, a cidade passou a
destacamos a Sedição de Nike, em 532, reprimida com grande controlar o intercâmbio de produtos que eram transportados pelo
violência, sob a liderança do general Belizário. mar Negro e através do estreito de Bósforo. A produção agrícola
A referida revolta eclodiu no Hipódromo de Constantinopla, fornecia alimentos e produtos primários para o comércio, e era
em virtude de uma discussão acerca de uma dúvida quanto ao realizada predominantemente em latifúndios onde prevalecia
vencedor. Mas a aparentemente simples discussão evoluiu, em a exploração de colonos livres e escravos.
virtude da insatisfação da população por vários motivos, como os A sociedade bizantina era predominantemente urbana.
altos impostos, a fome e a falta de moradia. Dinâmica, era dominada por comerciantes, nobres e clérigos.
Ainda no governo de Justiniano foi construída a igreja de Vale lembrar que a maior parte da sociedade era composta por
Santa Sofia, considerada a mais importante obra da arquitetura trabalhadores assalariados ou arrendatários, bem como servos
bizantina, cuja suntuosidade exprimia a força do poder estatal. e escravos eram muito utilizados nas atividades em geral, como
A igreja passou a ser o palco da maioria das cerimônias de coroação comércio, artesanato e agricultura.
de imperadores bizantinos.
Os bizantinos preservaram algumas instituições ocidentais,
Luciano Mortula/123RF/Easypix

como o uso eventual do latim, estruturas administrativas,


Cristianismo e alguns costumes sociais. Todavia, houve ali
predominância de aspectos culturais gregos e orientais, com
destaque para a oficialização da língua grega no século VII.

Cultura
Ozgur Guvenc/123RF/Easypix

Hagia Sophia em mesquita de Sultanahmet, em Istambul, na Turquia.

Aquela que é considerada a maior realização de Justiniano


foi no campo jurídico, com a publicação do Corpus Juris Civili,
ou Código de Justiniano, que serviu de referência a códigos civis
de diversas nações. O código resultou de uma compilação do Direito
Romano e tinha a seguinte subdivisão:
• Código = conjunto de leis romanas;
• Digesto = comentários dos grandes juristas sobre estas leis;
• Institutas = princípios fundamentais do Direito Romano;
• Novelas = novas leis do período de Justiniano.
Cristo pantocrator. Mosaico da Basílica de Santa Sofia.

62 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
As manifestações culturais bizantinas foram marcadas pela fusão de aspectos, elementos e influências romanas, gregas e orientais,
com predomínio das últimas, especialmente em virtude do isolamento em relação ao Ocidente. O luxo, a ostentação e o fausto faziam
parte do cotidiano das camadas dominantes e comerciantes, sendo elemento recorrente nas artes.
As igrejas e palácios representam os maiores exemplos da suntuosidade da arte a da arquitetura bizantina. Os mosaicos foram
bastante utilizados como adornos, com temas predominantemente religiosos, sendo também comuns imagens de imperadores.
As imagens em mosaicos eram constituídas por pequenos pedaços coloridos, normalmente de pedras, que eram agrupados e colados
até que as figuras que se queria representar fossem formadas.
Outro traço marcante da cultura bizantina é na arquitetura, com destaque para a construção de igrejas, nas quais eram construídas
cúpulas majestosas sustentadas por enormes colunas, e que buscavam representar a grandiosidade de Deus. A Basílica de Santa Sofia é
considerada uma das mais importantes construções bizantinas.
Na pintura bizantina, os afrescos ganharam destaque, especialmente as pinturas que adornavam as igrejas e as miniaturas, que
eram utilizadas para ilustrar livros. Aqui também observamos o predomínio de temas religiosos.

Religião
Antes da divisão do Império Romano em duas partes (Ocidente e Oriente), o imperador Teodósio havia determinado a oficialização
e obrigatoriedade do cristianismo em todas as fronteiras imperiais, através do Edito de Tessalônica (391).
No Oriente, o cristianismo foi integrado à cultura local, sendo marcante na vida das pessoas e na produção cultural, incorporando
aspectos da realidade bizantina inteiramente diversos da realidade ocidental. Assim, o cristianismo oriental passou a ter características próprias,
diferenciando-se cada vez mais do ocidental, destacando-se a valorização da espiritualidade, com grande ligação com a cristandade helenística,
através de ritos predominantemente de origem grega. As diferenças litúrgicas evoluíram para divergências dogmáticas, e como consequência,
surgiram elementos doutrinários no oriente – as heresias, com destaque para o monofisismo e a iconoclastia.
Os monofisistas defendiam a natureza unicamente divina de Cristo, enquanto os iconoclastas pregavam a destruição das imagens.
Alguns estudiosos apontam ainda para o fato de o movimento iconoclasta buscar a redução do poder e influência dos mosteiros.
As divergências levaram à separação entre as igrejas oriental e ocidental, em 1054 – o Cisma do Oriente, que levou à formação
de duas igrejas distintas: a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo Papa, com sede em Roma; e a Igreja Cristã Ortodoxa, liderada
pelo Patriarca de Constantinopla e subordinada ao Imperador Bizantino.

Exercícios de Fixação

01. (UPE/2018) O Saltério de Chludov, hoje na Rússia, é um dos mais importantes documentos provenientes do Império Bizantino. Essa
iluminura, em especial, retrata um importante movimento sociopolítico ocorrido nesse Estado, denominado de
Reprodução/UPE 2018

Iluminura do Saltério de Chludov. Bizantino. Séc. IX

A) Cesaropapismo, a aliança entre o Imperador e o Patriarca.


B) Iconoclasmo, o movimento pela destruição dos ícones religiosos.
C) Bizantinismo, a discussão interminável sobre temas exotéricos.
D) Cisma, a excomunhão mútua entre as igrejas Católica Romana e Ortodoxa Oriental.
E) Iluminismo, a política em prol da ilustração dos manuscritos.

Anual – Volume 3 63
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
02. (FPP MEDICINA/2018) Leia o excerto a seguir. se diz também, secular. Poderíamos crer que, na parte do mundo
marcada pela tradição cristã, essa relação em torno da questão
[…] Os povos ainda pagãos que se tornarão cristãos ao da autonomia já estaria prontamente organizada, pois o Cristo
longo da Idade Média serão convertidos a oeste por Roma e a
anunciou que seu reino não era deste mundo, que a submissão
leste por Constantinopla.
a Deus não interferia em nada na submissão a César. No entanto,
Dessa forma, estabelece-se na Europa uma ruptura,
a partir do momento em que o imperador Constantino impôs o
essencialmente religiosa, mas correspondente sem dúvida às
cristianismo como religião de Estado, no século IV, a tentação de
diferenças mais gerais e mais profundas entre os europeus
apoderar-se de todos os poderes de uma vez revelou-se. É fácil
do Oeste e os europeus do Leste. Outras diferenças virão, ao
longo da história, agravar essa ruptura, mas, dos dois lados, entender a razão desse movimento. Dir-se-á que a ordem temporal
somos cristãos. reina sobre os corpos, a ordem espiritual sobre as almas. Mas
alma e corpo não são entidades simplesmente justapostas, no
LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa. Petrópolis: Vozes, 2010. interior de cada ser eles formam inevitavelmente uma hierarquia.
Para a religião cristã, a alma deve comandar o corpo; por isso
Uma das instituições mais poderosas do planeta, a Igreja cabe às instituições religiosas, isto é, à Igreja, não somente
Católica Apostólica Romana passou por conflitos internos que
dominar diretamente as almas, mas também, indiretamente,
culminaram em rupturas, algumas delas definitivas.
controlar os corpos e, portanto, a ordem temporal. Por sua vez,
Analise as afirmativas abaixo. o poder temporal procurará defender suas prerrogativas e exigirá
I. Instituído como religião oficial desde o Império Romano a manutenção do controle sobre todos os negócios terrestres,
pelo imperador Teodósio, o cristianismo gerou discussões inclusive sobre uma instituição como a Igreja. Para proteger sua
irreconciliáveis e a divisão, durante o mesmo governo, autonomia, cada um dos dois adversários fica então tentado a
do Império Romano em Ocidental, com sede em Roma, e invadir o território do outro.”
Oriental, com sede em Constantinopla;
O espírito das Luzes, 2006.
II. O clero do cristianismo bizantino não se submetia ao Papa, e
sim ao Imperador. Surgiram também diversas heresias, como
Considerando o modo como as ideias estão organizadas, é
a negação da virgindade de Maria. Tal quadro se agravou até
correto afirmar que o texto
a ruptura com Roma e a criação da Igreja Cristã Ortodoxa;
A) defende a ideia de que a verdade sobre os fatos é uma só
III. Um dos maiores problemas enfrentados pelo cristianismo
e independe das opiniões e dos pontos de vista.
foi a crise moral de parte do clero, principalmente durante
o século XVI; os abusos de poder; a compra de cargos; a B) descreve uma polêmica com duas soluções possíveis,
venda de indulgências, levando ao surgimento da chamada justapondo argumentos em favor de uma e contra a outra
Reforma Protestante; solução.
IV. A corrupção e a desmoralização de uma parcela do clero C) argumenta sobre como dois pontos de vista opostos podem
católico levaram a um processo chamado de Cisma do ser conciliados se os defensores das opiniões divergentes
Oriente no século XVI, quando, após anos de tensão, a Igreja entrarem em diálogo.
Católica dividiu-se em Igreja Católica Apostólica Romana e D) expõe uma questão polêmica e elenca elementos para
Igreja Cristã Ortodoxa, que negava a autoridade papal, além mapear as divergências entre diferentes pontos de vista.
de condenar a prática da simonia. E) narra a saga das religiões cristãs, do tempo de Cristo até os
tempos de hoje.
Marque a alternativa que contém todas as afirmativas corretas.
A) II e III. 05. (UPF/2013) Após a desagregação do Império Romano, se
B) I e II. destacaram o Bizâncio, o Islamismo e a cristandade europeia.
C) I e III. A civilização bizantina distinguiu-se pela riqueza econômica,
D) II e IV. pela religião cristã, pela língua e cultura de base grega e
E) III e IV. pela organização administrativa romana. Sobre a civilização
bizantina, é incorreto afirmar que:
03. (UVA/2017.1) Justiniano, notável Imperador bizantino, foi A) apresentava cultura qualificada e diversificada, apoiada
também grande administrador e deixou obras monumentais,
nos estudos dos eruditos nas áreas da literatura, filosofia,
viveu no luxo e no esplendor.
cartomancia, energia atômica, telepatia, ciência e direito.
Dos fatos mencionados a seguir, assinale o que não está
B) Constantinopla, sua capital, apresentava inúmeras escolas,
relacionado ao governo de Justiniano.
bibliotecas, praças, mercados.
A) elaboração do “Corpus Juris Civilis“.
C) adotou os ritos, cerimônias e demais práticas ditadas pela
B) construção da Igreja de Santa Sofia.
Igreja Ortodoxa, após o Cisma do Oriente (1504), que
C) conquista do reino dos vândalos.
D) questão iconoclasta. fracionou a Igreja Católica entre ortodoxos e apostólicos
romanos.
04. (Famerp/2016) D) manteve o grego como língua base da religião, enquanto
que no Ocidente predominava o latim.
“Desde o início da história europeia, criamos o hábito de distinguir E) seus governantes apresentavam-se como escolhidos
entre poder temporal e poder espiritual. Quando cada um deles por Deus para empreender os anseios divinos na Terra e
dispõe da autonomia em seu domínio e se vê protegido contra
detinham poder absoluto para com seus súditos.
as intrusões do outro, fala-se de uma sociedade laica ou, como

64 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
03. (PUC – PR/2015) O Império Bizantino foi uma civilização na qual
a religião tinha um lugar de grande destaque. Temas religiosos
Exercícios Propostos eram muito correntes entre a opinião pública em geral. Em
diversos setores da vida bizantina havia forte influência religiosa.
Em especial, na vida política havia uma conexão importante entre
01. (CUSC/2016) Estado e Igreja, chegando o imperador a ter um papel de destaque
na vida religiosa em Bizâncio. Com base no exposto, indique o
O papa Francisco mostrou abertura para debater e
tipo de regime político que se desenvolveu no Império Bizantino.
rever a regra do celibato na Igreja Católica, dizendo que não
A) Califado.
é um “dogma de fé” e prometeu “tolerância zero” contra os
B) Monarquia absolutista.
abusos sexuais a crianças.
C) Cesaropapismo.
O chefe do Vaticano lembrou ainda que há sacerdotes
D) Monarquia eletiva.
casados nos ritos orientais e que “a porta está sempre aberta”
E) Sacro Império Romano.
para tratar o tema mas que, no entanto, esta não é uma
questão com “prioridade imediata”.
04. (Uece/2011.1) O Corpus luris Civilis (Corpo do Direito Civil)
“O celibato não é um dogma de fé, é uma regra de
é a reunião e atualização de inúmeras leis imperiais romanas
vida, que aprecio muito e creio que é uma oferta à Igreja”, disse
compiladas por ordem do imperador romano do Oriente,
o chefe do Vaticano durante o voo de regresso a Roma desde
Justiniano. Obra extensa publicada em 533 d.C. contém noções
Israel, segundo a agência noticiosa italiana Ansa.
fundamentais de direito civil. Sobre o Corpus luris Civilis, assinale
A afirmação do Papa Bergoglio foi feita dias depois de
o correto.
se conhecer uma carta a solicitar uma revisão da disciplina do
A) Não obstante o imenso volume da obra, representou a
celibato, escrita por um grupo de 26 mulheres, que vivem ou
manutenção do ordenamento jurídico do direito romano
viveram uma relação com um sacerdote. Até hoje, a Santa Sé
sem repercussões maiores para o Direito Civil do Ocidente.
não tinha feito qualquer comentário sobre esta carta.
B) Base da jurisprudência latina, seus princípios jurídicos
Na Igreja Católica de rito latino, o celibato eclesiástico,
influenciaram legislações europeias, sendo a base de vários
isto é, a renúncia ao matrimônio, e a promessa de castidade,
códigos civis, inclusive no Brasil.
são uma obrigação para os sacerdotes desde o II Concílio de
C) Coleção monumental cuja repercussão esteve estritamente
Letrán, em 1139. Ao contrário, nas igrejas católicas de rito
ligada ao direito canônico e eclesiástico; uma coleção que
oriental esta obrigação não se verifica. [...]
constituiu a base estrutural da legislação cristã antiga.
Disponível em: <http://economico.sapo.pt/noticias/papamostra-
abertura-para-rever-celibato_194279.html>.
D) Este documento reuniu fragmentos de obras de juristas
clássicos, entretanto, Justiniano manteve sua posição de
A questão do celibato eclesiástico, ainda bastante polêmica no teocrata e de representar-se como um porta-voz de Deus.
seio da Igreja Católica Romana, não abrange a Igreja de rito
oriental. Esta divergência entre os ritos da Igreja de Roma e a 05. (UFPB) Em inícios do século VIII, o império Bizantino, tendo à
Igreja oriental tem origem frente Leão Isáurico, encontrava-se abatido diante da expansão
A) já no século I da era cristã, quando os governantes do muçulmana. Leão entendeu que as derrotas do Império
Império Romano proibiam o culto a Jesus Cristo. deviam-se à adoração crescente dos fiéis às imagens de santos
B) no século V, quando o Império Romano é invadido por povos resolveu destruí-las.
asiáticos que aos poucos vão adotando o cristianismo e Esse movimento ficou conhecido como:
adaptando-o a seus ritos. A) Monofisista.
C) na disputa política entre a Igreja Católica e os príncipes B) Cesaropapista.
alemães que pretendiam fundar sua própria religião. C) Iconoclasta.
D) no século XI com o Cisma do Oriente que deu origem D) Telefisita.
à Igreja Católica Apostólica Romana, sob orientação do E) Legitimista.
papa, e à Igreja Ortodoxa, sob a liderança do patriarca de
Constantinopla. 06. (Uece/2016.1) O Império Otomano foi um dos mais longos
E) na Idade Média, quando o poder da Igreja passa a superar e duradouros da história. Seu apogeu, que ocorreu entre os
o poder temporal. séculos XVI e XVII sob o reinado de Solimão, o Magnífico, era
então um império multiétnico, multicultural e plurilinguístico,
02. (ACAFE Medicina 2019.1) Em 1054, o Cisma do Oriente
que se estendia dos confins do Império Sacro Romano, nas
serviu para acentuar o distanciamento já existente entre
periferias de Viena e da Polônia, ao norte, até o Yemen e a
Constantinopla e a Igreja da Europa Ocidental. Uma das
Eritreia, ao sul; da Algéria, a oeste, até o Azerbaijão e, a leste,
principais consequências do Cisma do Oriente foi:
controlando grande parte dos Balcãs, do Oriente Próximo e do
A) a criação do termo “cristãos novos” para designar a
Norte da África. Constantinopla era a sua capital e mantinha
população do Império bizantino que tinha se desfiliado da
um rigoroso controle no Mediterrâneo. Foi o centro das
Igreja Romana.
relações entre o Ocidente e o Oriente por quase cinco séculos.
B) a Convocação das Cruzadas para invadir e conquistar o
Durante a Primeira Guerra Mundial, aliou-se à Alemanha, ao
reino de Jerusalém e a formação de um Exército no Império
Império Austro-húngaro e ao Reino da Bulgária, e foi duramente
Bizantino para apoiar os cruzados que se dirigiam para a
abatido até ser desintegrado por vontade dos vencedores.
Terra Santa.
C) o início das Guerras Religiosas, que vai determinar o Esse império foi controlado pelos:
surgimento da Reforma Protestante e acentuar as divisões A) persas.
internas do cristianismo europeu. B) romanos.
D) o surgimento da Igreja Ortodoxa, ligada ao Patriarcado C) turcos.
de Constantinopla e a Igreja Católica Apostólica Romana, D) alemães.
dirigida pelo Papa.

Anual – Volume 3 65
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II
07. (ESPM/2012) Observe a imagem, leia o texto e responda. 10. (Unesp/2010) Observe a imagem.

Reprodução/ESPM 2012

Museu de Arte Metropolitano, Nova York, Estados Unidos.


Depois da queda do Império Romano do Ocidente (476) Roma
caiu num período de obscuridade enquanto Constantinopla
permanecia o farol da civilização e da cultura, sendo
constantemente embelezada por monumentos magníficos.
BERLINGHIERI, Berlinghiero,
Um deles, Santa Sofia, obra-prima da arquitetura, erguida Madonna e menino, 1230.
no século VI e considerada pelos historiadores de arte como
a oitava maravilha do mundo. Em 1453 Constantinopla foi O ícone, pintura sobre madeira, foi uma das manifestações
submetida ao domínio de outro povo e o monumento passou características da Civilização Bizantina, que abrangeu amplas
por modificações exteriores e interiores. regiões do continente europeu e asiático. A arte bizantina resultou
A) do fim da autocracia do Império Romano do Oriente.
Assinale a alternativa que apresente, respectivamente, os B) da interdição do culto de imagens pelo cristianismo primitivo.
responsáveis pela construção e pelas posteriores alterações em C) do “Cisma do Oriente”, que rompeu com a unidade do
Santa Sofia: cristianismo.
A) gregos – persas. D) da fusão das concepções cristãs com a cultura decorativa oriental.
B) gregos – turcos seljúcidas. E) do desenvolvimento comercial das cidades italianas.
C) bizantinos – árabes muçulmanos.
D) bizantinos – turcos otomanos.
E) francos – hindus. Fique de Olho
08. (FGV) Entre as múltiplas razões que explicam a sobrevivência do
Império Romano no Oriente, até meados do século XV, está a:
ASCENSÃO DOS OTOMANOS E A QUEDA
A) capacidade política dos bizantinos em manter o controle DE CONSTANTINOPLA
sobre seu território subordinado a uma Monarquia Despótica Biblioteca Nacional da França, Paris, França.

e Teocrática.
B) autonomia comercial das Cidades-estados otomanas
subordinadas ao Império Romano do Ocidente.
C) essencial ruralização da sociedade para proteger-se de
migrações desagregadoras.
D) capacidade do Sultão Maomé II de manter, ao longo de seu
governo, a unidade otomana do Império Bizantino.
E) política descentralizada, consequência das migrações gregas
e romanas.

09. No Império Bizantino, a estrutura política e a forma de poder


na qual o imperador possuía autoridade política e religiosa,
adquirindo um caráter divino, sendo característica marcante
no governo de Justiniano, ficou conhecida como:
A) Cesaropapismo.
B) Teocracia militar.
C) Monarquia Teocrática.
D) República Teocrática.
E) Plutocrassia. D’OUTREMER, Bertrandon de la Broquière in
Voyages. Cerco de Constantinopla de 1453.

66 Anual – Volume 3
História II CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
O cerco de Constantinopla em 1453, de acordo com uma vez do Império de Trebizonda. No entanto, localidades isoladas
miniatura francesa do século XV. como Monemvasia, a península de Mani e o castelo Salmênico,
(...) A situação piorou para o império durante as guerras civis
este último controlado por um paleólogo (Graitzas Paleólogo),
que se seguiram à morte de Andrônico III. Uma guerra civil de seis resistiram por mais algum tempo. André Paleólogo, o sobrinho
anos devastou o império, possibilitando que o governante sérvio de Constantino XI, recebeu o título do imperador do extinto
Estêvão IV Duchan (r. 1331-1346) invadisse a maioria dos territóriosImpério Bizantino, intitulando-se Imperator Constantinopolitanus
bizantinos restantes nos Bálcãs e criasse um Império Sérvio de curta(“imperador de Constantinopla”); em 1491, em uma viagem à
duração. Em 1354, um terremoto em Galípoli devastou a fortaleza, França, cedeu ao rei Calos VIII (r. 1483-1498) seu direito ao trono.
o que permitiu que os otomanos, que tinham sido contratados Após a sua morte, o papel do imperador como patrono da Ortodoxia
como mercenários durante a guerra civil por João VI Cantacuzeno Oriental foi reivindicado por Ivã III (r. 1462-1505), grão-duque da
(r. 1347-1354), se instalassem na Europa. Quando as guerras Moscóvia, casado com a irmã de André, Sofia Paleóloga, cujo
civis terminaram, os otomanos haviam derrotado os sérvios e os neto, Ivã IV (r. 1547-1584), tornar-se-ia o primeiro czar da Rússia.
subjugado como vassalos e, depois da batalha do Kosovo, grande Seus sucessores consideraram Moscou como a herdeira legítima
parte dos Bálcãs estava nas mãos dos otomanos. de Roma e Constantinopla e mantiveram a ideia do Império Russo
Os imperadores bizantinos pediram ajuda ao Ocidente, como a “Terceira Roma” até seu desaparecimento com a Revolução
mas o papa só enviaria ajuda em troca de uma reunião da Igreja Russa em 1917. Além deles, os próprios turcos e os monarcas dos
Orodoxa com a Sé de Roma. Essa união foi considerada e finalmente Principados do Danúbio também se intitularam sucessores dos
realizada por decreto imperial, mas os cidadãos e o clero ortodoxos imperadores bizantinos.
ressentiram-se intensamente da autoridade de Roma e do rito As diversas transformações econômicas e políticas que
latino. Algumas tropas ocidentais chegaram para reforçar a defesa se seguiram à queda do Império Romano do Oriente levaram
de Constantinopla, mas a maioria dos governantes ocidentais, os historiadores a convencionarem o ano de 1453 como o
distraídos com seus próprios assuntos, nada fez em relação aos marco do fim da Idade Média. Entre as principais consequências
avanços dos otomanos, que foram tomando os territórios bizantinos da conquista de Constantinopla destaca-se a migração de
que restavam. intelectuais bizantinos que levaram consigo conhecimentos que
Nessa época, a cidade de Constantinopla estava despovoada influenciaram o movimento cultural conhecido como Renascimento.
e em ruínas. A população havia se reduzido de tal forma que Com a conquista de Constantinopla, o comércio de especiarias,
a cidade não passava de um aglomerado de vila separadas por anteriormente monopolizado pelas repúblicas de Veneza e de
campos. Em 1402, o império experimentou algum desafogo da Gênova, foi abalado, pois além de serem cobradas taxas altíssimas
ameaça otomana quando Tamerlão (r. 1370-1405) derrotou os pelos produtos comercializados, tornou-se muito perigoso para
otomanos na batalha de Ancara. Porém, isso não impediu que, cristãos navegarem no Mediterrâneo Oriental. Esse foi um dos
em 2 de abril de 1453, o sultão Maomé II, o Conquistador (r. 1451- motivos que levaram os estados nacionais a procurar por novas
1481) lançasse um ataque contra Constantinopla com um exército rotas para adquirir as especiarias da Índia e da China. Foi depois
de 80000 homens. Apesar da defesa desesperada de última hora da queda de Constantinopla que Portugal descobriu o caminho
pelas tropas cristãs (cerca de 7000 homens, dos quais 2000 eram marítimo para a Índia e a Espanha chegou à América.
estrangeiros), Constantinopla finalmente caiu em 29 de maio de
Wikipédia, a enciclopédia livre.
1453, depois de dois meses de cerco. As muralhas da cidade,
poderosas e inexpugnáveis por séculos, não conseguiram deter Bibliografia
o avanço otomano. O último imperador bizantino, Constantino
XI Paleólogo (r. 1449-1453), foi visto pela última vez despojando-se AQUINO, Rubim Leão Santos de & outros. História das Sociedades:
de suas insígnias imperiais, antes de lançar-se em combate corpo a das comunidades primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro:
corpo depois de as muralhas da cidade terem sido tomadas. Ao Livro Técnico, 1980.
CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Reinaldo. Domínios da
História. São Paulo: Campus, 2000.
LEGADO POLÍTICO E CONSEQUÊNCIAS CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete olhares sobre a Antiguidade.
Brasília: Editora UNB, 1994.
Biblioteca do Congresso, Washington DC, Estados Unidos.

_____________. Antiguidade oriental, Política e religião. São Paulo:


Contexto, 1997 (2 ed.)
COTRIM, Gilberto. História Geral: para uma geração mais consciente.
2o Grau. São Paulo: Saraiva, 1996.
COULANGES, Fustel. A cidade antiga. São Paulo: Hemus, 1975.
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia – Romance da História da
Filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora S/A, 21 ed. Rio de Janeiro, 1986.
KOSHIBA, Luis. História – Origens, estruturas e processos. Uma
leitura da História Ocidental para o Ensino Médio. São Paulo: Atual,
2000.
MOTA, Miriam Becho; BRAICK, Patrícia Ramos. História: das
cavernas ao terceiro milênio. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2002.
NEVES, Joana. História Geral – A construção de um mundo
ORTELIUS, Abraham (1527-1598). Teatro do Globo Terrestre, 1570. globalizado. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
PLUTARCO. Alexandre e Cesar: as vidas comparadas dos maiores
Poucos anos após a queda de Constantinopla, Maomé II guerreiros da Antiguidade. 3 ed. São Paulo: Ediouro, 2004.
empreendeu a conquista dos últimos estados bizantinos existentes: VICENTINO, Cláudio. História Geral: Ensino Médio – Volume Único.
em 1460 foi tomado o Despotado da Moreia e em 1461 foi a São Paulo: Scipione, 2006.

Anual – Volume 3 67
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História II

Anotações

68 Anual – Volume 3
História III
História Contemporânea

Objetivo(s):
• Analisar o comportamento geral das populações coloniais diante das imposições do imperialismo, identificando o seu grau de
resistência e/ou passividade, a partir das revoltas empreendidas.
• Comparar as diversas revoltas existentes na África e na Ásia como forma de entender os caracteres e necessidades de cada
região, bem como perceber o que há de comum entre elas, no que pese à percepção da opressão capitalista sofrida.
• Identificar autores e teorias sociais na perspectiva do contexto histórico em que estas se desenvolveram, compreendendo a
correlação entre suas ideias e a realidade social, econômica, política, ideológica e cultural.
• Compreender as Doutrinas Sociais como uma forma de reação ao processo de desenvolvimento do capitalismo, sobretudo,
em relação aos princípios capazes de estabelecer a exploração do homem pelo homem.
• Reconhecer os fatores que contextualizaram o século XIX e que serviram de fundamento para a eclosão da Primeira Guerra
Mundial, bem como a dinâmica do seu desenvolvimento na perspectiva capitalista.
• Perceber no desfecho da Primeira Guerra Mundial os elementos comprovadores de que esta se tratava de um conclave resultante
das disputas imperialistas preexistentes.
• Entender o nível de estagnação econômica da Rússia como um lento desdobramento do Antigo Regime e a Revolução Russa
como sendo uma forma de ponto de saturação generalizada do seu organismo socioeconômico e político.
• Avaliar o processo de consolidação do Socialismo na dinâmica do processo revolucionário russo e a sua repercussão no contexto
histórico mundial, como também as permanências e rupturas existentes entre a teoria aplicada e a realidade do país.
• Enumerar os principais elementos ou fatores, em contexto, que foram capazes de provocar a Crise de 1929.
• Verificar o comportamento geral dos Estados Nacionais no que se refere ao seu nível de intervenção, no que se refere aos
colapsos cíclicos do sistema capitalista, bem como o processo de adaptação do sistema a essas fases de crise.

Conteúdo:
Aula 11: Revoltas Anticolonialistas na África e na Ásia O fim do isolamento dos Estados Unidos e do Brasil na guerra.......... 91
Introdução.......................................................................................... 70 O desfecho da guerra.......................................................................... 92
A expansão colonial no continente asiático........................................ 71 A herança da guerra........................................................................... 93
A situação geral do continente africano............................................. 72 Exercícios ........................................................................................... 93
As guerras do ópio.............................................................................. 72 Aula 14: Revolução Socialista Russa
A Revolta dos Cipaios......................................................................... 73 Introdução.......................................................................................... 97
A Rebelião dos Boxers........................................................................ 74 A Rússia pré-revolucionária................................................................ 98
A Guerra dos Bôeres........................................................................... 74 A guerra russo-japonesa e a situação interna..................................... 99
Exercícios ........................................................................................... 75 O advento da Primeira Guerra.......................................................... 100
Aula 12: Teorias ou Doutrinas Sociais O governo provisório........................................................................ 100
Introdução.......................................................................................... 77 A revolução de outubro.................................................................... 101
Primeiras manifestações sociais.......................................................... 78 As reformas de Lenin........................................................................ 101
O movimento operário........................................................................ 78 A nova política econômica................................................................ 101
Os socialistas utópicos........................................................................ 79 Stalin × Trotsky................................................................................. 102
O socialismo científico........................................................................ 80 O stalinismo...................................................................................... 102
O Anarquismo..................................................................................... 81 Exercícios ......................................................................................... 103
O Catolicismo social............................................................................ 82 Aula 15: A Crise de 1929
Exercícios ........................................................................................... 83 Introdução........................................................................................ 107
Aula 13: Primeira Guerra Mundial Uma sociedade de consumo em euforia e expansão........................ 108
Introdução.......................................................................................... 86 Contradições..................................................................................... 108
As unificações tardias e o tardio Imperialismo.................................... 87 E o tempo parou............................................................................... 108
O fim do “equilíbrio europeu” e a política de alianças....................... 87 A crise nos Estados Unidos............................................................... 109
A velada corrida armamentista........................................................... 88 O New Deal....................................................................................... 110
A questão balcânica e o estopim da guerra........................................ 89 Exercícios ......................................................................................... 112
O processo de guerra.......................................................................... 89
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III

Aula 11:

C-2 H-8, 9
Aula C-3 H-14, 15
Revoltas Anticolonialistas na África e na Ásia
11

Introdução

Aris Katsaris CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation


1945

Reino Unido
Domínios Britânicos
França
Portugal
Espanha
Holanda
Belgica
Estados Unidos
Neocolonialismo em 1945.

O processo de desenvolvimento do Imperialismo foi marcado pela ideologização de uma exploração capitalista em escala global
e de caráter inicialmente irreversível, tendo em vista a fundação de núcleos econômico-políticos de domínio e hegemonia europeia.
Tensões começaram a se estabelecer não somente entre as nações dominantemente imperialistas, devido à grande concorrência entre
os países que já consolidavam a Segunda Revolução Industrial. No interior das próprias colônias, as populações submetidas despertaram.
Aquela ideia de Missão Civilizadora, caracterizada pelo discurso de levar o progresso, a evolução aos “povos primitivos”;
a promessa da gestão de um amplo desenvolvimento para os povos afro-asiáticos caía por terra, na medida em que a exploração da
mão de obra se tornava cada vez mais humilhante.
As populações dos continentes ditos inferiores passaram a identificar a incompatibilidade dos interesses dos povos exógenos
ou estrangeiros que se fixavam em seus territórios, atribuindo-se um poder governamental, solapando a liberdade e a autonomia das
nacionalidades.
Começaram, portanto, a irromper diversos movimentos, coordenados ou não, consistentes ou não, mas reveladores de uma
forma de protesto quanto à invasão de capitais, pessoas e imposições políticas.
Na China, a Guerra do Ópio e dos Boxers; na Índia, a Revolta dos Cipaios; na África do Sul, a Guerra dos Bôeres, para citar
alguns dos movimentos de resistência à manutenção do imperialismo; do neocolonialismo, enfim, da sujeição que sofriam as massas
humanas que viviam “abaixo da linha do equador”.
Não se suportava mais o “fardo do homem Branco”, conforme a metáfora de Hudyard Kipling, poeta inglês que exprimiu
o preconceito do século XIX.
Apesar do regionalismo das revoltas ou guerras antes mencionadas, podemos afirmar que elas não tiveram a força necessária para
determinar a libertação definitiva da África e da Ásia, elas serviram de base para a elaboração futura do processo de descolonização.
Se associarmos tais manifestações ao desenvolvimento do desgaste geral da Europa com a Primeira e a Segunda Guerras, teremos uma
visão mais ampla de como os povos afro-asiáticos conseguiram produzir um ideal de emancipação, com o auxílio de organismos internacionais.
Ressalte-se ainda o advento dos Direitos Humanos, com a criação da Organização das Nações Unidas e a consolidação de princípios
que também abrigaram o direito às identidades nacionais, éticas e linguísticas.

Os efeitos do Imperialismo
A Segunda Revolução Industrial acirrou a concorrência entre os países europeus e o ostensivo desenvolvimento da industrialização
acelerou os métodos de exploração dos territórios além do Mediterrâneo.
Hegemônica, a Inglaterra controlava um quarto de todas as regiões neocolonizadas, enquanto nações como a Alemanha e a
Itália, tardiamente unificadas, tentavam garantir alguma fatia desse domínio econômico, durante o final do século XIX e início do século XX.
A Bélgica, a Holanda, a Noruega, a Dinamarca, a Rússia, a França, Portugal e Espanha e até a Turquia estavam determinados ao
enriquecimento pela apropriação político-econômica das regiões afro-asiáticas.
Essa atmosfera de euforia se coordenava por meio da configuração de um complexo sistema financeiro monopolista,
estruturado com base nas operações bancárias, já relativas a títulos, ações e papéis da Bolsa de Valores.

70 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Países como a Inglaterra chegaram a formular uma A iniciativa de negociar os limites e fronteiras das regiões
infraestrutura política chamada “protetorado”, com a capacidade exploradas no continente africano visava aliviar uma concorrência,
de controlar e garantir os interesses metropolitanos e suprimir as que beirava a possibilidade de novos confrontos de guerra.
revoltas que viessem a surgir no embate com as necessidades de Muitas das diferenças ampliadas entre tribos e etnias foram
cada população submetida.
iniciativas estratégicas usadas pelos países imperialistas, com a
A presença de um aparato militar também se tornou uma
finalidade de enfraquecer e evitar a organização de movimentos
espécie de padrão, independente da nação metropolitana envolvida,
capaz de inibir e evitar movimentos de resistência interna, oposicionistas de relevância.
também com o fim de garantir a submissão da mão de obra e a Foi exatamente esse conjunto de fatores que provocou
usurpação da matéria-prima. a formulação de um sentimento nacionalista por parte de
Por mais que todos viessem a elaborar uma forma de variadas populações dos continentes africano e asiático, com vistas
ideologização para maquiar a realidade exploradora do Imperialismo, a lutar por sua emancipação e autonomia diante das imposições
nem sempre tais ideias vieram a se tornar uma mentalidade geral metropolitanas.
por parte dos povos explorados.

A expansão colonial no continente


USSR Post/Wikimedia Foundation
asiático
A prática do imperialismo, na perspectiva do sistema
capitalista, transformou-se no ciclo vicioso de exploração e
utilização de espaços geográficos como instrumento de riqueza, de
expansionismo financeiro, de modo a exigir cada vez mais territórios.
Grandes impérios como o chinês não escaparam à ambição
empresarial e governamental dos países imperialistas; nações como a
portuguesa já se assenhoreavam de áreas como Macau e Hong Kong
Selo de 1989 da União Soviética que marca o aniversário de 80 anos de Kwame já havia se tornado, no século XIX, o mais importante entreposto
Nkrumah, criador do termo “Neocolonialismo”. comercial usado pelos europeus, sobretudo pela Companhia das
Índias Orientais, no contrabando de ópio.
O imperialismo não deve ser avaliado apenas por um único
aspecto relativo à usurpação. Trustes, Holdings e Cartéis que se Além disso, os lusitanos também se estabeleceram no
estruturaram tinham formas de instrumentação variadas, desde Timor indonésio, Damão, Goa e Diu, na Índia. Em Java, também
parcerias, contrapartes, com poderes locais ou governamentais das na Indonésia, os holandeses fixaram o seu domínio, bem como em
nações afro-asiáticas. Sumatra, enquanto os espanhóis controlavam as Filipinas. A Índia
Os choques de interesses entre governos coloniais e sofreu, durante muitas décadas, com a presença inglesa, além da
metropolitanos podiam ser resolvidos pela diplomacia, entretanto, através exploração dos países imperialistas mencionados.
de imposições econômicas e quando não chegavam a um acordo, As investidas no Japão já não tiveram tanto êxito, no sentido
o militarismo era utilizado esmagando qualquer espécie de oposição.
de uma monopolização e controle econômico-político, uma vez
A intensidade com que a corrida imperialista se
que houve a exigência de acordos comerciais com os japoneses.
aprofundava levou ao desenvolvimento de tensões e conflitos entre
os países europeus, fato que exigiu a realização da Conferência de A nação japonesa soube cooptar os interesses europeus no
Berlim, em 1884/85, com a finalidade de promover uma divisão do seu território, de modo a evitar o seu domínio; muito embora tenha
continente africano; a denominada Partilha da África. sofrido ameaças norte-americanas para abertura de seus portos
ao comércio mundial. Tendo que ceder a essa pressão, o Japão se
OCEANO
EUROPA
EUROPA modernizou durante a Era Meiji, depois de haver liberalizado o
ATLÂNTICO
MARROCOS
seu mercado interno através de tratados com a Inglaterra, Rússia
Madeira
ESPANHOL TUNÍSIA
Mar Mediterrâneo
ÁSIA e França.
MARROCOS
Canárias IFNI
Canal de Suez A europeização dos japoneses permitiu-lhes desenvolver
RIO DE OURO
ARGÉLIA LÍBIA EGITO uma infraestrutura também, capaz de declarar guerra à China, em
1894, tomando para si a ilha de Taiwan, e de participar da partilha
Cabo Verde MAURITÂNIA SUDÃO
daquele país com os demais países imperialistas.
IA L F R A N C E S A

(POR) NÍGER
FRANCÊS
SENEGAL SUDÃO
GÂMBIA
ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA
ALTO ANGLO-EGÍPCIO
ERITRÉIA
SOMÁLIA
Desse modo, o Japão tornou-se a mais significativa exceção
GUINÉ VOLTA
DAOMÉ

GUINÉ FRANCESA SOMÁLIA quanto à lógica do imperialismo europeu no continente asiático,


TOGO

PORTUGUESA COSTA DO NIGÉRIA


SERRA LEOA MARFIM ABISSÍNIA BRITÂNICA
TO R

CHADE
LIBÉRIA COSTA
CAMARÕES
(ETIÓPIA)
chegando mesmo ainda a provocar uma guerra contra a Rússia, em
UA

DO OURO SOMÁLIA
Príncipe (POR) RIO MUNI UGANDA ÁFRICA ITALIANA 1904, estimulando a posse da Coreia e da Manchúria, por parte da
EQ

N
São Tomé (POR) GABÃO ORIENTAL
A

CONGO OCEANO
IC

BRITÂNICA
Inglaterra, com a consequente derrota dos russos.
FR

Á BELGA ÍNDICO
ÁFRICA
Seichelles
ORIENTAL
ALEMÃ
(GB)
Comores
Mas a hegemonia industrial europeia também se fez sentir
Territórios sob controle de
países europeus antes de 1914 ANGOLA RODÉSIA
(FRA)
NIASSALÂNDIA
no Vietnã e no Camboja, que passaram ao controle da França, bem
Alemanha
Bélgica
DO NORTE
RODÉSIA QU
E
como o Afeganistão, o Oriente Médio e a Birmânia com a introdução
MADAGASCAR
I
MB

ÁFRICA DO DO SUL
Espanha SUDOESTE BECHUA- do domínio da Inglaterra.
MOÇA

Maurício
França ALEMÃ NALÂNDIA
Inglaterra
TRANSVAAL (GB) Após o enfraquecimento geral da China, o seu vasto
Itália UNIÃO DA
SUAZILÂNDIA
território foi dividido em várias zonas de influência, durante toda a
Portugal BASUTOLÂNDIA
ÁFRICA DO SUL
sua fase imperial-monárquica; regiões sob o controle do Japão, da
Países independentes 0 900 1800 km
França, da Alemanha e da Rússia.

Anual – Volume 3 71
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Devemos pensar na subversão cultural do trabalho

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entre os próprios africanos confrontando o antes e o depois da
presença imperialista europeia. Também devemos reflexionar sobre
os aspectos relativos a uma rotina em que a religião se inseria no
seu cotidiano. Tudo foi modificado.
As exigências do capitalismo transformavam qualquer
trabalho humano em uma forma de engrenagem que deveria
funcionar na mesma velocidade das máquinas e dos negócios, ritmo
esse ao qual os africanos não se achavam acostumados, em face
da predominância das atividades eminentemente agrárias e, ainda,
classificadas pelos europeus como feudais.

Algumas reações africanas


O crescente ressentimento da população nativa levaria,
inevitavelmente, a tentativas, mesmo que fracassadas, de reação
frente à espoliação abusiva dos europeus em seus territórios.
Uma forma de resistência se estendeu em várias regiões,
com iniciativas que iam desde as fugas dos ambientes de trabalho,
Representação do Canal de Suez, 1881.
aos levantes armados ou o boicote ao pagamento dos tributos
Os processos de construção geral, levaram a França e a cobrados à população.
Inglaterra, especialmente, à construção do Canal de Suez, cujo Entre 1892 e 1898, diversos povos, tais como os matabele,
objetivo era criar um entreposto capaz de favorecer a interação os iorubá e os mandingas vieram a se insurgir contra o militarismo
comercial junto à Ásia Menor e demais regiões do Oriente. europeu na Nigéria e na África ocidental.
O capital utilizado nesse fenômeno não era propriamente A inexperiência com processos de guerra mais sofisticados
estatal, mas se mesclava aos interesses de transnacionais já existentes, e a superioridade técnica dos europeus tornaram os levantes
cujos interesses se voltavam para aquele empreendimento. verdadeiros fracassos não oferecendo maior dificuldade de
suplantação e domínio. Somente os axântis conseguiram maior
A situação geral do continente africano tempo de resistência contra os ingleses, entre os anos de 1823 e
1896, através de quatro grandes confrontos. Após a sua derrota
De todos os territórios africanos dominados e explorados entre
foram anexados à Costa do Ouro, colônia britânica, no ano de 1900.
os anos de 1880 e 1914, somente a Libéria e a Etiópia tiveram as suas
autonomias preservadas. A denominada Corrida da África foi a mais Podemos observar outra sublevação anti-imperialista
ostensiva corrida imperialista daquele contexto, relativo à Segunda entre os islamitas do Sudão; a Guerra Mahdista, liderada por
Revolução Industrial. Foi necessária apenas uma década para completar Mohammad Ahmad, que foi capaz de desestruturar o governo
a maior parte do processo de domínio neocolonialista. inglês na região entre 1885 e 1898.
Tal fenômeno ostensivo foi, em algumas situações, Através da Batalha de Adowa, os etíopes conseguiram
favorecido pela abertura que alguns governantes africanos fizeram, garantir a autonomia territorial, em 1896, resistindo à pressão
por meio de concessões econômicas e comerciais, sobretudo imperialista por meio de ações militares, estrategicamente
quando isso envolvia a subjugação de inimigos intertribais. conjugadas, vencendo o armamentismo italiano.
Um exemplo disso se observa na atuação dos gandas que, em
comunhão com as forças britânicas, contribuíram para a invasão As guerras do ópio
territorial e a consequente formação da Uganda, por volta de 1903.
Em termos gerais, as parcerias financeiras entre líderes do

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continente e os governos dos países europeus resultou na expansão
desse domínio.
Instituições empresariais tais como a Real Companhia do
Níger e a Companhia da África do Sul, ambas de origem inglesa;
as alemãs Companhia Sudoeste da África e a Companhia da África
Ocidental, bem como a lusitana Companhia do Niassa foram
responsáveis pela introdução do capital europeu de forma impositiva
e irreversível, através da cobrança de tributos, e abolição da moeda
regional, sem qualquer declaração ou autorização dos governos das
áreas nas quais se instalaram.
Com a finalidade de garantir o extrativismo do cacau,
açúcar, borracha, minério e ferro, vasta mão de obra foi mobilizada,
sobretudo, para também trabalhar na construção de ferrovias
que ligariam o interior das áreas de domínio aos seus respectivos Juncos chineses sob bombardeio britânico durante a Guerra
litorais, estruturando, com velocidade assombrosa, um processo do Ópio. Pintura de Edward Duncan, 1843.

amplo de urbanização geral. O assim conhecido “Dragão Chinês”, durante o século XIX,
A subjugação pelo trabalho forçado estabeleceu uma visão tornou-se uma das regiões mais atraentes para a expansão do
equivocada de submissão e passividade negra diante da presença capitalismo financeiro monopolista europeu, tendo em vista a
europeia, ou mesmo de aceitação, de ideação de uma parceria amplitude territorial, bem como de seus produtos e matérias-
que houvesse se desenvolvido na mentalidade local, porém, não -primas, tais como a seda, o chá, a porcelana e um artesanato,
corresponde à realidade. verdadeiramente, incomum.

72 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Tal comércio se desenvolveu, inicialmente, em uma

The Granger Collection, New York


perspectiva de parceria e troca, sem maiores imposições políticas
ou militares, no entanto, um dos produtos abundante na China,
atraiu uma atenção mais ostensiva dos comerciantes ingleses: o ópio.
Com ele a possibilidade de revenda para os próprios chineses, uma vez
que não poderia ser utilizado somente como remédio, mas como
alucinógeno ou droga a ser ingerida pela população em geral.
A introdução desse tipo de comércio que extrapolou os
interesses meramente industriais da farmacologia europeia levou a
um estado de calamidade e saúde públicas, tendo em vista o grau
de viciação que provocava.

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A Revolta dos Cipaos.

A quase hegemonia britânica entre os hindus, cujo território


envolvia a Índia propriamente dita, além dos atuais Paquistão e Caxemira,
desenvolveu, entre os anos de 1784 e 1858 uma espécie de protetorado
inglês, articulado economicamente a partir da Companhia das
Índias Orientais que se fixava, gradativamente, conforme os acordos
comerciais que firmava com as autoridades regionais, através da
cobrança de impostos, do comando militar e das práticas comerciais
e da integração de soldados nativos ao exército britânico chamados
de Cipaios. Apesar de uma certa interação de forças estrangeiras
Chineses se viciando em ópio. e locais, o ano de 1848 foi marcado por maiores imposições do
O governo chinês, preocupado com o rumo social daquele protetorado, que passou a cobrar impostos individuais em dinheiro,
negócio, revolveu decretar a proibição da venda do ópio e instituiu além de forçar a diminuição das tarifas comerciais de importação.
severas penas a quem integrasse o comércio do produto, chegando Ressalte-se, ainda, que a circulação dos manufaturados
mesmo a retaliar os ingleses com o confisco de cargas em seus portos. ingleses levaram à decadência da indústria artesanal têxtil da Índia,
A Inglaterra reagiu, utilizando o seu aparato militar em face da concorrência desleal.
naval contra os portos chineses, desencadeando guerras que Boatos de que porcos e bois estavam sendo sacrificados
ficaram conhecidas como “as guerras do ópio”, ocorridas entre para que o sebo fosse usado na lubrificação de armas provocou
1839 e 1842, com a derrota fragorosa dos chineses, além de uma total abominação da população hindu, tendo em vista que
um outro confronto destes, já debilitados, contra uma aliança os muçulmanos apontavam os porcos como animais impuros,
franco-inglesa entre 1856 e 1860. enquanto os bois e vacas eram sagrados para os hinduístas.

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Depósitos de ópio da Companhia das Índias Orientais, na Índia.

Os confrontos forçaram o governo chinês a assinar o Tratado


de Naquim, em 1842, reabrindo os cinco portos ao comércio
europeu e permitindo a anexação de Hong Kong pelos ingleses. BEATO, Felice. O enforcamento de dois rebeldes, 1858.
Em 1858 outro tratado, o de Tientsin, obrigou os chineses a
aceitarem a livre importação do ópio, com a liberalização de mais dez Uma grande revolta estourou entre 1857 e 1859,
portos e a livre circulação de missionários cristãos em seu território. denominada de Revolta dos Cipaios, integrando soldados hindus,
muçulmanos e alguns dos principados locais contra as forças
A Revolta dos Cipaios imperialistas britânicas.
Até aquele momento, o domínio inglês se estabelecia
O vasto território da Índia tornou-se objeto de ostensiva na perspectiva econômica; com o levante duramente reprimido,
ambição imperialista em face da amplitude de especiarias o protetorado político se firmou de modo ostensivo, fazendo com
locais, raríssimas para o continente europeu; além de haver se que a Índia se tornasse parte do Império Britânico, sob o comando
transformado em um amplo mercado, destinado ao comércio de
da rainha Vitória, que também passou a ser chamada de imperatriz
tecidos e algodão, bem como lastro populacional para o consumo
da Índia.
de produtos industrializados ingleses.

Anual – Volume 3 73
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
A Rebelião dos Boxers Os Bôeres, ao longo do desenvolvimento intracolonial
haviam estruturado latifúndios e negócios comerciais variados.
Ficaram com receio de perder seus privilégios financeiros, bem

Peter d'Aprix CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation


como as suas terras para os interesses britânicos, sobretudo, suas
minas de diamante e ouro no Transvaal e Estado Livre de Orange.

scuola inglese/Wikimedia Foundation


O resultado final da Guerra dos Bôeres foi a anexação
Soldado boxer armado somente com das repúblicas bôeres ao Império Britânico, em 1902.
uma lança e uma espada. Representação
feita por George S. Stuart. Através da arregimentação de esforços militares próprios
os Bôeres dificultaram a anexação inglesa da região do Transvaal,
A presença europeia no território chinês não afetava somente sitiando e dominando as cidades de Kimberley, Ladysith, Stormberg
a infraestrutura política e econômica do país, mas também os aspectos e Mafeking, utilizando-se de táticas de guerrilha.
de natureza cultural existente e tradicionalmente cultivados. Os britânicos acionaram o general Kitchener, que articulou
Não se tratava, portanto, apenas de uma invasão de capitais, diversos reforços de numerosos exércitos, destruindo os latifúndios
empresas e protetorados, mas também uma forma de subjugação bôeres e formando campos de concentração. A elite bôere acabou
cultural estrangeira. tendo que se render.
Em face dessa percepção, nacionalistas chineses organizaram

National Army Museum National Army Museum


um levante ou revolta que ficou conhecida como a Rebelião dos
Boxers, caracterizada por uma série de atentados, afetando os
protetorados europeus.
De acordo com os ativistas, era uma questão de honra utilizar-se
das artes marciais, que os identificavam com as suas tradições, contra
o imperialismo europeu, contra as armas de fogo, enfim.
A superioridade militar, porém, denominada de “diplomacia
do canhão” foi humilhante para os nacionalistas chineses.
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Mulheres e crianças bôeres num campo de concentração.

Leitura Complementar

A RESISTÊNCIA AFRICANA
“Entre os anos de 1880 e 1900, a África tropical apresentava
um estranho e brutal paradoxo. Se o processo da conquista e da
Soldados boxers. ocupação pelos europeus era claramente irreversível, também era
altamente resistível. Irreversível por causa da revolução tecnológica –
A reação não se fez por esperar, entre 1900 e 1901, os pela primeira vez os brancos tinham uma vantagem decisiva nas armas,
boxers foram rechaçados por uma aliança entre norte-americanos e, também pela primeira vez, as ferrovias, a telegrafia e o navio a vapor
e japoneses que passou a exigir o pagamento de indenizações permitiam-lhes oferecer resposta ao problema das comunicações no
pelos prejuízos de guerra e o livre trânsito das tropas estrangeiras. interior da África e entre a África e a Europa. Resistível devido à força
das populações africanas e porque na ocasião a Europa não empregou
A Guerra dos Bôeres na batalha recursos muito abundantes nem em homens nem em
tecnologia. De fato, os brancos compensavam a escassez de homens
Bôeres era o termo que se utilizava para denominar os
recrutando auxiliares africanos. Mas eles não eram manipuladores
descendentes dos holandeses no processo de colonização da África
diabolicamente inteligentes de negros divididos e atrasados. Os
do Sul. Desse modo, eles formavam uma espécie de elite branca
europeus estavam apenas retomando o repertório das estratégias dos
local, relativamente integrada à população nativa daquela região
antigos impérios. Quanto a detalhes, muitas vezes sabiam menos das
do continente.
coisas que os dirigentes africanos. A implementação da estratégia de
No jogo das relações internacionais, dos países europeus
penetração foi muito desordenada e inábil. Os europeus enfrentaram
imperialistas, sobretudo, depois da Conferência de Berlim, em
uma enormidade de movimentos de resistência, que provocaram e
1884/85, o domínio colonial da África do Sul passou para o controle
até inventaram por ignorância e medo. Tinham de ‘obter a vitória
metropolitano da Inglaterra.

74 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
final’, e, uma vez obtida, trataram de pôr em ordem o conturbado Texto II
processo. Escreveram-se livros sobre a chamada ‘pacificação’; tinha-se
a impressão de que, na maior parte, os africanos haviam aceito a Pax [...] Por outro lado, é forçoso reconhecer que o fim dos
Colonica com reconhecimento e fez-se caso omisso de todos os fatos impérios coloniais dos séculos XIX e XX não resultou de uma
da resistência africana. Mas a vitória dos europeus não significa que a decisão metropolitana ou do desejo de abdicação do poder,
resistência africana não tenha tido importância no seu tempo ou que e sim da capacidade de revolta que é inerente ao oprimido.
não mereça ser estudada agora. E, efetivamente, tem sido objeto de Daí, a impropriedade do termo “descolonização”, que reflete a
muitos estudos nos últimos vinte anos. visão eurocêntrica da História. A liberação do sistema colonial,
Em seu conjunto, as pesquisas dessas duas décadas são sérias, sobretudo na década 1950-1960, resultou muito mais de uma
detalhadas e eruditas, não evitando as ambiguidades características de necessidade ou de uma imposição, do que propriamente de
grande número dos movimentos de resistência. Mas, na maior parte, uma escolha unilateral por parte do poder metropolitano [...].
apoiam-se ou servem para demonstrar três postulados doutrinários, A própria resistência de Portugal à ideia de “descolonização”
que, a meu ver, continuam verdadeiros em essência, embora recentes pôde ir até o momento em que as revoltas nas colônias se
trabalhos de pesquisa e análise os tenham corrigido. tornou irresistível [...].
Em primeiro lugar, afirmou-se que a resistência africana
LINHARES, Maria Yedda. A Luta Contra a Metrópole.
era importante, já que provava que os africanos nunca se haviam São Paulo: Brasiliense, 1981.
resignado à ‘pacificação’ europeia. Em segundo lugar, sugeriu-se
que, longe de ser desesperada ou ilógica, essa resistência era muitas Analisando-se os textos, percebe-se que o primeiro trata
vezes movida por ideologias racionais e inovadoras. Por fim, em A) da implantação do salazarismo, que favoreceu a
terceiro, argumentou-se que os movimentos de resistência não eram descolonização tanto na África quanto na Ásia, já o segundo
insignificantes; pelo contrário, tiveram consequências importantes critica a visão eurocêntrica da História.
em seu tempo, e têm, ainda hoje, notável ressonância.” B) da Revolução Constitucionalista do Porto, que, através de suas
RANGER, Terence O. Iniciativas e resistência africanas em face da partilha e da ações liberais, emancipou as colônias, enquanto no segundo
conquista. In: BOAHEN, A. Adu (Coord.). História geral da África: África sob
dominação colonial, 1880-1935, 2, ed. Brasília: Unesco, 2010. p. 51-52. há uma forte crítica ao imperialismo português na África.
C) da queda do franquismo e a implementação da monarquia
em Portugal, e o segundo, dos movimentos emancipatórios
na África.
D) das emancipações políticas afro-asiáticas no contexto da
Exercícios de Fixação Guerra Fria, ao passo que o segundo demonstra essas
emancipações como reflexo das transformações na
metrópole.
01. (Unesp/2017) Em 1955, foi realizada na Indonésia a Conferência E) da Revolução dos Cravos e define que a política das colônias
de Bandung, que lançou as bases do chamado Movimento portuguesas foi consequência dessa, enquanto o segundo
dos Não Alinhados. Considerando o contexto do Pós-Segunda destaca a autonomia dos movimentos emancipatórios.
Guerra Mundial, a Conferência de Bandung expressava
A) uma manifestação pelo reconhecimento internacional da 03. (PUC-RJ/2009) A caricatura a seguir representa de forma satírica
hegemonia asiática sobre a economia do pós-guerra. a expansão imperialista na Ásia por parte dos Estados Unidos
B) uma ruptura com os padrões socioculturais preconizados (tio Sam), da Grã Bretanha (leão), da França (galo), da Alemanha
pela Tríplice Aliança e pela Tríplice Entente. (águia imperial germânica) e da Rússia (urso siberiano). Com
C) a resistência política contra os confrontos armados entre os base em seus conhecimentos e a partir da imagem, é possível
Países Aliados e os Países do Eixo. afirmar que ela se refere:
D) a consolidação da influência socialista no hemisfério oriental,

Reprodução/Pucrj 2009
com a redefinição de antigas fronteiras políticas.
E) a tentativa de alguns países de se manterem neutros diante
da bipolaridade estabelecida pela Guerra Fria.

02. (UFPEL/2006)

Texto I

Com a revolução em Portugal, haveria inexoravelmente


a descolonização na África e, em consequência, o poder iria
para movimentos guerrilheiros de orientação marxista-leninista.
E foi, na Guiné-Bissau, em Moçambique, em Cabo
Verde, em São Tomé e Príncipe e em Angola, para seguir a
ordem cronológica da independência (Timor Leste também
ficou independente na mesma época, mas foi logo depois
ocupado pela Indonésia).
[...] Portugal já não tinha mais colônias, o divórcio já
havia sido legalizado, a polícia política havia sido dissolvida, e
até a primeira eleição livre em praticamente cinquenta anos A) à disputa pela Coreia, na primeira guerra sino-japonesa
se realizou (em abril de 1975) para escolher os delegados a (1894/95) e na guerra entre Japão e o Império Russo (1905).
uma Assembleia Constituinte. B) à divisão de parte da China em áreas de influência europeia,
bem como à reivindicação americana de também se
Folha de São Paulo, 25 de abril de 2004. beneficiar com a abertura dos portos chineses.

Anual – Volume 3 75
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
C) à Revolta dos Cipaios, sufocada pelas potências europeias De acordo com o texto, é possível concluir:
e pelo Japão no século XIX, de modo a abrir caminho para A) prega-se como instrumento de libertação anti-colonial a
a penetração imperialista na China. luta em termos morais e diplomáticos apenas, sem o uso
D) à imposição de tratados desiguais à China (como o Tratado da violência.
de Nanquim) por meio de ameaça de bombardeio por parte B) trata-se de uma condenação ao Colonialismo, porém
do navio US Mississipi do Comodoro Perry (1853), com o apenas nos seus aspectos políticos contrários à autonomia
objetivo de forçar a abertura dos portos daquele país. colonial.
E) à força expedicionária de várias nações que sufoca o levante C) a questão colonial revela-se em sua plenitude após a
dos Boxers (1900/1901), derruba o governo Manchu e Segunda Guerra Mundial, abrindo o caminho para a
estabelece uma República. descolonização.
D) o Congresso anteriormente citado representou apenas uma
04. (UFPEL/2007) Em 1887 o Vietnã passou a ser, oficialmente, uma forma de chamar a atenção mundial para as reivindicações
colônia, situada na Península da Indochina e era fornecedora dos colonizados, com o objetivo de que fossem feitas
de arroz, borracha e madeira para o mercado europeu, nos reformas na administração colonial.
moldes do modelo imperialista implantado pelas grandes E) dá-se ênfase especial à dominação econômica, deixando
nações capitalistas. para segundo plano a questão do auto-governo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi fundada a Liga para a
Independência do Vietnã (Vietminh), de orientação socialista 03. (Uepa/2015) A Conferência de Berlim, realizada na Alemanha
e liderada por Ho Chi Minh.
em 1885, sacralizou o processo de partilha da África. Dela
Depoimento do advogado português Jorge Santos, fizeram parte a Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Itália,
In: RODRIGUES, Urbano Tavares (org.). “A Guerra do Vietname”. Portugal e Espanha. A geopolítica imposta ao Continente
Lisboa: Estampa, 1968.
Africano gerou, nas décadas posteriores, o sentimento
A colonização referida foi efetivada no século XIX pelo seguinte anticolonialista, pois
país: A) a s i t u a ç ã o d e s u p re m a c i a e u ro p e i a d e f i n i u - s e
A) China. B) Japão. diplomaticamente, garantindo a prerrogativa de defesa
C) Estados Unidos. D) Inglaterra. dos direitos civis dos países que negassem o princípio de
E) França. protetorado que as potências do Norte queriam implantar
nas colônias do Atlântico Sul, assegurando aos africanos a
05. (PUC-PR/2007) Um dos fatores decisivos para as rivalidades liberdade de expressão.
políticas da segunda metade do século XIX foi B) os territórios afro-asiáticos a serem explorados formaram
A) o apoio da Inglaterra à emancipação política da América Latina. a Aliança Nacional Libertadora e, apoiados pelos Estados
B) as disputas entre Estados católicos e Estados protestantes. Islâmicos, resistiram ao domínio europeu transformando o
C) as divergências entre capitalistas e socialistas utópicos no Norte da África em um campo intercultural, em que cristãos
que dizia respeito às conduções dos negócios do Estado. e muçulmanos buscavam a supremacia.
D) a disputa colonial e o parcelamento dos continentes. C) a luta pela independência das colônias africanas
E) a luta entre Estados com regime constitucional e os que transformou-se posteriormente em objeto de debate local
defendiam o Absolutismo. e global, ora de orientação capitalista, ora de orientação
socialista, mesclados aos discursos locais nacionalistas,
representados por diferentes projetos políticos.
D) o nível de atraso no desenvolvimento tecnológico,
Exercícios Propostos industrial e econômico africano em comparação
aos outros continentes deixou de existir graças aos
empreendimentos dos países capitalistas nas áreas de
01. (ESPM/2007) Ocorreu em Cuba, durante o mês de setembro, dominação, assinalando o avanço bem-sucedido do
cúpula com 56 chefes de Estado e de Governo em que houve capitalismo em relação ao socialismo.
um virtual relançamento do movimento nascido durante a E) o processo de independência das colônias em relação
Guerra Fria. O Brasil, que participou como observador, enviou às metrópoles europeias foi assegurado através das
o chanceler Celso Amorim. reedições da Conferência, que a cada ano estabelecia
Folha de São Paulo, 17 ago. 2006.
um plano de metas de desenvolvimento local garantindo
O movimento em questão, citado no enunciado, é o para as partes envolvidas igual partilha dos recursos
A) movimento dos países emergentes. naturais.
B) movimento pan-americano.
C) movimento dos não-alinhados. 04. (Unesp/2015) A partilha da África entre os países europeus, no
D) movimento de coexistência pacífica. final do século XIX,
E) movimento de neutralismo. A) buscou conciliar os interesses de colonizadores e colonizados,
valorizando o diálogo e a negociação política.
02. (Fatec/1999) Nós afirmamos o direito de todos os povos B) respeitou as divisões políticas e as diferenças étnicas então
coloniais seguirem seu próprio destino. É preciso que todas as existentes no continente africano.
colônias sejam libertadas da dominação imperialista estrangeira, C) ignorou os laços comerciais, políticos e culturais até então
quer seja ela política ou econômica. Os povos colonizados existentes no continente africano.
devem ter o direito de eleger seus próprios governantes, sem D) privilegiou, com a atribuição de maiores áreas coloniais, os
restrições de vindas de potências estrangeiras. Afirmamos aos países que haviam perdido colônias em outras partes do
povos colonizados que eles devem lutar para alcançar seus mundo.
objetivos por todos os meios à sua disposição. E) afetou apenas as áreas litorâneas, sem interferir no Centro
Declaração do V Congresso Pan-Africano, março de 1945, Manchester. e no Sul do continente africano.

76 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
05. (Cefet-MG/2014) 09. (G1/1996) No final do século XIX, em decorrência do neocolonialismo,
um violento conflito se deu entre China e Inglaterra, devido ao
O FARDO DO HOMEM BRANCO (1899) interesse britânico em impor seu domínio sobre a China.
O conflito a que se refere o texto foi
Tomai o fardo do Homem Branco A) a Guerra da Manchúria. B) a Guerra dos Bôeres.
Envia teus melhores filhos C) a Guerra dos Boxers. D) a Guerra dos Cipaios.
Vão, condenem seus filhos ao exílio E) a Guerra do Ópio.
Para servirem aos seus cativos;
10. (UFSM/1999) Assinale a afirmativa correta em relação ao
Para esperar, com arreios processo de colonização da África e da Ásia, realizado pelas
Com agitadores e selváticos principais potências mundiais, nos séculos XIX e XX.
Seus cativos, servos obstinados, A) O término do Apartheid, na África do Sul, só foi possível
Metade demônio, metade criança. pela derrota dos exércitos ingleses na Guerra dos Bôeres.
Rudyard Kipling. B) O fim da escravidão, apesar de ser fundamental para a
Disponível em: <http://historiacontemporaneaufs.blogspot.com.br>. implantação do capitalismo na África, só ocorreu quando
Acesso em: 25 mar. 2014. o MPLA (Movimento pela Libertação de Angola) tomou o
poder em Angola.
O poema desse escritor inglês, nascido na Índia, durante a C) A conquista colonial teve a finalidade de transformar a África
dominação inglesa e a Ásia em fornecedores de matérias-primas, consumidores
A) critica a teoria da superioridade entre raças. de produtos industriais e receptores de investimentos das
B) defende a convivência pacífica entre os povos. potências mundiais.
C) denuncia o inútil sacrifício civilizatório europeu. D) O Japão foi o país asiático que mais se beneficiou das
D) reconhece a natureza humana em sua diversidade. colônias conquistadas na África, pois nelas instalou o seu
E) condena a prática do trabalho servil dos migrantes. excedente populacional, entre outros benefícios.
E) A chamada partilha da África foi consequência direta do
06. (UFSM/2013) Analise o fragmento a seguir. Tratado de Paz de Versalhes, firmado entre os vencedores e
os perdedores da Primeira Guerra Mundial.
A primeira grande fome registrou-se entre os anos de 1800
e 1825 e matou 1,4 milhão de pessoas. De 1827 a 1850,
morreram de fome cinco milhões de pessoas. Entre 1875 e Fique de Olho
1900, a Índia sofreu dezoito grandes epidemias de fome que
mataram 26 milhões de pessoas. Em 1918, houve mais de oito
milhões de mortos por desnutrição e gripe. Filmes:
55 dias em Pequim (1953, EUA, Direção: Nicholas Ray)
BRUIT, Héctor, in VICENTINO, Cláudio. História Geral: ensino médio.
São Paulo: Scipione, 2006. p. 356.
Diamante de Sangue – Blood Diamond (EUA) 2006

Essas acentuadas perdas humanas foram consequência da Livros:


desestruturação da economia tradicional e da imposição de BOAHEN, Albert Abu. O legado do colonialismo. In: Correio da
novos padrões de produção e consumo durante o período em Unesco, ano 12, n. 7, p. 35, jul. 1984.
que a Índia esteve sob a dominação colonial do(a) CONRAD, Joseph. O coração das trevas. Belo Horizonte: Itatiaia,
1984, p.23-24.
A) China.
B) Império Otomano. Site:
C) França.
www.historianet.com.br
D) Inglaterra.
E) Império Russo.
Aula 12:

07. (G1/1996) A reação à presença inglesa na Índia pelos soldados C-3 H-11, 13

nacionalistas hindus, é conhecida como: Aula C-5 H-22, 25


Teorias ou Doutrinas Sociais
A) Revolta dos Cipaios.
12
B) Rebelião dos Boers.
C) Guerra dos Boxers.
D) Terror Branco.
E) Conferência de Berlim. Introdução
A expansão do sistema capitalista não se deu apenas em
08. (UFF/1999) A expansão imperialista sobre os territórios asiáticos
um clima de otimismo e euforia econômicas que tomaram conta do
e africanos no decorrer do século XIX foi, antes de tudo, um
ambiente europeu, em especial, ou mesmo do norte da América;
ato de conquista. ele veio acompanhado de uma realidade que se tornaria cada vez
A partir desta afirmativa, identifique a opção que indica a nação mais presente: a ampliação das diferenças sociais.
europeia expansionista, a região colonizada e o movimento de Surgia um novo segmento social, mais tarde denominado
resistência possíveis de inter-relacionar-se corretamente. pelas teses socialistas pelo termo “proletariado”.
A) França/ Argélia/ Guerra do Boxers Na medida em que o liberalismo de Adam Smith
B) Inglaterra/ Índia/ Revolta dos Cipaios aprofundava a sua prática, como instrumento de transformação do
C) Inglaterra/ Sudão/ Revolta dos Bôeres processo produtivo em lucro, mais e mais, se definia a existência do
D) Portugal/ Angola/ MPLA mercado, tal como se fosse um elemento da dinâmica comercial
E) Alemanha/China/ Movimento Taiping com vida própria e mobilidade.

Anual – Volume 3 77
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
mais radicais do processo revolucionário. Era a Revolta dos

Gerhard Streminger/Wikimedia Foundation


Iguais, liderada por François Noël Babelf, jornalista extremista
que pregava o fim da propriedade privada, com a formação de
uma República igualitária.
O movimento de Babeuf, ocorrido em 1796, ocorreu muito
tempo antes de se ouvir falar em o Manifesto Comunista de Karl
Marx e, parecia ter alguma associação com as ideias de Rousseau, um
dos únicos críticos do conceito de propriedade até então estipulado,
o que o tornava uma exceção diante dos outros iluministas burgueses.
Note-se que, depois da consolidação e difusão do
pensamento iluminista, contagiando a maioria do continente
europeu, tivemos, mesmo com os esforços conservadores do
Congresso de Viena, a eclosão da Primavera dos Povos, cuja
Página inicial do A Riqueza das Nações. riqueza de ideias democráticas, liberais, sociais e até socialistas
vieram demonstrar uma certa fragilidade no edifício do capitalismo
Desde a Revolução Industrial, já vinham se desestruturando os como sistema.
fundamentos da economia eminentemente feudal, pelo surgimento de Também podemos mencionar que a Itália, em seu processo
uma mais ampla complexidade social e pela transição eixo do poder do de unificação tardia e, diante do advento de um governo unitário
referencial “terra” ou “propriedade”, para o do “lucro” ou “capital”. para todo o seu território, também experimentou a atuação
De um lado arregimentava-se uma minoria detentora de de movimentos de trabalhadores, para citar como exemplo os
poder financeiro, dona dos bens e dos meios de produção, enquanto carbonários ou carvoeiros, cujas ideias se aproximaram do ideário
do outro, tínhamos aqueles que se limitavam à “venda” da sua anarquista, sobretudo porque eles, bem como os camponeses
força de trabalho. italianos do sul passaram a ver no Estado uma ameaça à sua
O abismo social entre burgueses e trabalhadores em geral sobrevivência, em face da imposição do confisco de terras.
produziria uma série de movimentos, bem como a elaboração Percebe-se ainda que os ideais socialistas estiveram presentes
de teorias que apontassem em um sentido oposto ao sistema na Comuna de Paris, em 1871, e que, apesar da pouca duração
capitalista, visto como a exploração do homem pelo homem. do movimento, tornou-se a primeira tentativa concreta de aplicação
As disposições das relações do trabalho já não se achavam dos princípios do Manifesto Comunista, de 1848.
radicadas em uma perspectiva de fidelidade; surgia a noção do
pagamento, em dinheiro, pelo serviço prestado, migrando de uma O movimento operário
realidade doméstica e ainda campesinal para a realidade urbana e
Se de um lado estruturou-se um poder elitizado nas mãos de
industrial, principalmente a partir da produção de tecidos.
uma minoria burguesa e patronal, do outro tivemos a formulação
Surgia a figura do operariado urbano das fábricas, de um trabalho em massa, coletivo e, por isso mesmo, capaz de se
normalmente, remanescente das zonas rurais e vítima do processo tornar integrado não somente quanto ao processo produtivo, como
de decadência do feudalismo agrário. também às revoltas que seriam capazes de articular.
Porém, não havia uma política salarial, de modo a fixar os Desse modo, foi com as próprias indústrias que nasceram
trabalhadores ou proletários subordinados ou dependentes do as primeiras organizações operárias de base, com repercussões
discernimento ou definição dos valores relativos a cada atividade econômicas e políticas até, perfazendo o que se convencionou chamar
desenvolvida. Não eram os operários que definiam o que deveriam de Movimento Operário, ainda compreendido como um conjunto
receber pela aplicação da sua mão de obra ao sistema fabril; de fatos sociais e reivindicatórios relativo a direitos ainda inexistentes.
eram os patrões que, aleatoriamente e, sem maior padronização, As pioneiras manifestações e reivindicações eclodiram na
estipulavam o salário a ser pago por um trabalho segmentado e Inglaterra, na transição do século XVIII para o século XIX e tiveram
repetitivo. como protagonista líder um operário de nome Ned Ludd, cuja ideias
O advento da favelização no entorno das fábricas, atribuía às máquinas a culpa pelas condições de trabalho inóspitas
as condições adversas de trabalho, a ostensiva carga horária que vinham sofrendo nas fábricas.
exigida, bem como os pagamentos miseráveis atribuídos, criaram
um ambiente de contradições que fizeram explodir movimentos
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operários, tais como o Ludismo e o Cartismo.


Além disso, também diversos filósofos, filantropos e
intelectuais passaram a se desafiar a escrever teorias que permitissem
desenvolver maior justiça social, mais igualitarismo e menos
exploração. A exemplo disso, tivemos os socialistas utópicos, o
Marxismo, o Anarquismo, o Anarcossindicalismo e o Catolicismo
Social.

Primeiras manifestações sociais


Não vem de hoje a busca de uma sociedade mais justa e
igualitária. Desde que o capitalismo se consolidou como sistema,
através da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, houve
percepções relativas à parcialidade e limite dos benefícios sociais,
econômicos e políticos daí advindos.
Recordamos que, durante a fase do Diretório, dominada
pela alta burguesia, em face da revogação das anteriores leis Desenho de dois ludistas destruindo uma
jacobinas de Robbespierre, houve a eclosão de um dos movimentos máquina de tear em 1812.

78 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
O Ludismo, como ficou conhecido, definiu-se pela a existência de membros do anarquismo.
destruição das máquinas, por forma de protesto contra a exploração A II Internacional foi caracterizada pela existência de duas
que os operários vinham sofrendo, a partir de baixos salários e concepções relacionadas com a forma de realizar uma revolução
jornadas de trabalho que chegavam a quinze horas diárias. proletária: aqueles que imaginavam chegar ao poder pela via
Embora tenha assombrado muitos donos de fábricas e democrática ou parlamentar e aqueles que acreditavam numa
se espalhado por algumas cidades da Inglaterra, o Movimento ação mais radical e armada para se chegar à implementação da
Ludista não conseguiu alcançar maiores objetivos ou ter mais ampla Doutrina Socialista.
consistência ideológica. Por ocasião do desenvolvimento de uma atuação política dos
A quebradeira de máquinas gerou reações nas elites bolcheviques na Rússia, foi que se desenvolveu a III Internacional,
patronais e no governo, chegando a punir com a prisão e a morte tornando-se uma referência para outras organizações operárias ou
aqueles que quebrassem máquinas ou integrassem tais movimentos, sindicais espalhadas por outros países.
acusados de criminosos.
Por volta de 1875, surgiram as chamadas Trade Unions,
antes consideradas ilegais pelas autoridades e governos constituídos; Os socialistas utópicos
transformaram-se em agremiações operárias, cuja finalidade era a Alguns autores e ativistas, diante da dicotomia criada
luta pelos direitos dos trabalhadores urbanos. pelo Capitalismo e da percepção de grande abismo social que se
Somente em 1830, organizações mais consistentes desenvolvia com a lógica da economia de mercado, elaboraram
apontaram com a formulação do que mais tarde seriam chamados ideias do que seria um mundo ideal, criticando o modelo burguês
de sindicatos, abrindo caminho para manifestações, tais como o de sociedade, no século XIX.
Cartismo, resultante de uma organização operária, de 1837 que Muitos deles estavam ainda impregnados pelos ideais
veio a elaborar um documento: a Carta ao Povo, escrita por William iluministas, sobretudo aqueles que tinham sido formulados
Lovett e enviada ao parlamento inglês. pelo pensador Jean Jacques Rousseau, pois este autor situava a
propriedade privada como sendo a base de toda a desigualdade
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existente.
Tais socialistas foram definidos por Friedrich Engels como
utópicos, pois os classificava como empíricos em seus sistemas de
pensamento, já que eles se limitavam a querer uma nova sociedade
por meio de estratégias de propaganda, práticas ou experiências que
servissem de modelo, porém fantasiosos na pouca aplicabilidade
que tinham, concretamente.
Segundo essa premissa, os socialistas utópicos sonhavam
sem grande possibilidade de realizar o seu intento, pois lhes faltava
uma sistematização de ideias, uma práxis capaz de mobilizar a
profunda transformação das estruturas socioeconômicas.

National Portrait Gallery, Londres, Inglaterra.


Um motim cartista em Londres.

Tal documento tinha um caráter bem mais ideológico e


sistemático que as intenções dos antigos ludistas, pois trazia uma
série de petições, com aspectos políticos, como o voto secreto,
sufrágio universal, participação de representação operária no
parlamento inglês, eleições anuais, entre outras.
A iniciativa coletiva dos cartistas resultou na regulamentação
do trabalho feminino e infantil, com a proteção do trabalho destes
últimos. Uma luta que se iniciou em 1833 e se concluiu em 1847,
com a determinação de dez horas diárias para o trabalhador.
Os alcances das propostas do Cartismo tiveram amplas BROOKE, William Henry (1772-1860).
Robert Owen.
repercussões e fortaleceram o movimento operário no mundo,
contribuindo para a busca de formulação de toda uma ideologia Robert Owen (1771-1858), por exemplo, na condição de
operária, sob as mais diversas influências política, social, econômica patrão e dono de uma fábrica, dispôs-se a melhorar as condições
e cultural. de vida do seu operariado, oferecendo educação aos seus filhos,
Chegaram a surgir organizações internacionais que visavam a reduzindo a jornada de trabalho e redimensionando o conceito
integração dos movimentos dispersos. Nesse sentido, mencionamos de lucro, pela distribuição e socialização do mesmo entre os
a fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores ou, trabalhadores.
comumente chamada de Internacional e as denominadas Centrais Em sua tecelagem, localizada na Escócia, Owen acreditou
Gerais dos Trabalhadores, todas do final do século XIX. poder criar o que se convencionou chamar de núcleos cooperativos,
Diversas correntes de pensamento se desenvolveram, desde com remunerações mais altas aos operários, com a implementação
então. Na Internacional se conglomeraram marxistas, cartistas, de um centro de assistência que atendia às famílias operárias.
anarcossindicalistas e anarquistas em geral, que entraram em O projeto dos núcleos cooperativos contaria com a
conflito com os interesses dos socialistas científicos, criticados na existência de dormitórios, cozinha, escola, igreja e creche, podendo
perspectiva da sua teoria sobre a Ditadura do Proletariado. chegar a abrigar cerca de dois mil operários, contando inclusive com
Os constantes conflitos levaram ao fim da Associação a participação e integração de consumidores diretos. No entanto,
Internacional por volta de 1872, vindo a ser criada a II Internacional, além de não ter sido bem recebida, essa ideia não alcançou êxito
em 1889, recebendo o cognome de “Internacional Socialista”, sem na Inglaterra.

Anual – Volume 3 79
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Por volta de 1824 e 1829 tentou ampliar essa prática, Embora fosse de origem alemã, ele viveu muitos anos (de 1949
aplicando-a também no continente americano, através da ideia de até a sua morte) em Londres. Em face da humilde condição da sua
uma colônia comunitária que ele denominou “Nova Harmonia”, posição social e do seu isolamento, Marx foi, durante muito tempo,
porém, a economia de mercado, a concorrência e a deturpação da praticamente, sustentado pelo seu incansável colaborador Friedrich
sua iniciativa entre os próprios operários levaram o empreendimento Engels, cujas publicações também esposavam as ideias marxistas.
ao fracasso. A obra O Capital, de Karl Marx foi produzida ao longo de uma
O religioso francês, de origem nobiliárquica, Claude-Hanri década, desde 1850, sendo, o primeiro volume somente publicado
de Rouvroy ou, simplesmente, Saint-Simon (1760-1825) enxergava em 1867, desvelando, em sua exposição cientificamente detalhada,
na pobreza uma anomalia, sendo a desigualdade social, para ele, os meios e modos de produção; a posição dos trabalhadores,
uma falha sistêmica de grave efeito sobre a criatura humana. forçados a viver sem a parte que lhes cabia nos lucros; as bases da
Por isso, acreditava que o processo da industrialização deveria se lógica do sistema capitalista; como os trabalhadores eram alienados
desenvolver mediante a equanimidade ou igualitarização favorável e forçados a vender a sua força de trabalho.
ao operariado, já que se tratava da maioria da força produtiva. O marxismo defendia que as revoluções anteriores foram de
Saint-Simon não aceitava plenamente as ideias iluministas natureza burguesa e que não eram verdadeiras, pois não alteraram
e revolucionárias francesas, pois acreditava que o individualismo profundamente o construto social. Somente o proletariado, segundo
pregado pela ilustração, bem como o seu conceito de liberdade a sua teoria, era capaz de promover a verdadeira transformação social.
ameaçavam a coletivização dos benefícios em favor do proletariado.

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Apesar de não pregar a eliminação completa da propriedade
privada, defendia a tese de que o patronato empresarial deveria
desenvolver os negócios sem esquecer das necessidades ou
responsabilidade social. Daí, Saint-Simon imaginou ser possível
reunir diversos empresários para formular um projeto de sociedade
justa e igualitária.
Ainda segundo o pensamento do Conde de Saint-Simon,
o construto social se achava dividido em dois grupos: os “ociosos”
e os “produtores” e que eles necessitavam de um governo que
atendesse às suas respectivas necessidades, pela harmonização de
interesses entre patrões e empregados.
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Karl Marx e Friedrich Engels.

Mas para que a classe trabalhadora viesse a desenvolver a


sua revolução, era necessário compreender que a história, sobretudo
do capitalismo, era marcada pela luta de classes e que, depois da
ascensão da burguesia ao poder, houve um processo de alienação,
capaz de manter a superestrutura e a infraestrutura do sistema.
A superestrutura era composta pela Igreja, escola,
Estado e família, meios através dos quais o pensamento burguês
se estabelecia nas mentalidades; a chamada “ideologia da classe
dominante”, conceito que Marx tirou do filósofo Hegel. Os
trabalhadores precisavam, antes de tudo, libertar-se, emancipar-se
para perceber-se maioria, capaz de tomar o poder e implementar
Panfleto socialista utópico feito por Rudolph Sutermeister.
a “Ditadura do Proletariado”.
A infraestrutura dizia respeito a todos os bens e meios de
Outro socialista utópico que se destacou, durante o século XIX, produção, instrumentos de produção que foram desapropriados
foi um outro francês, Charles Fourier (1770-1837), que criticava o dos operários, com o advento das revoluções liberais burguesas.
capitalismo, sobretudo porque esse sistema separava o trabalho do De acordo com o ideário marxista, a história humana
prazer e, segundo a sua tese, era necessário que o ser humano pudesse poderia se dividir em modos de produção, o Comunitário Primitivo,
se realizar através do máximo de prazer haurido nas suas atividades. o Escravista, o Feudal e o Capitalista, que trazia consigo uma
Nesse sentido, enxergava homens e mulheres num mesmo contradição sistêmica. Segundo esse princípio, o capitalismo era
plano de aquisição de direitos, defendendo o liberalismo sexual. a tese, o socialismo a antítese e o comunismo a síntese.
Propunha ainda que a sociedade deveria estar formulada Embora muitos autores usem os termos “socialismo”
em bases cooperativistas, através da existência do que ele e “comunismo” como sinônimos, em termos doutrinais, no
denominou “falanstérios”, que se tratavam de unidades produtivas socialismo ainda haveria uma estrutura governamental, formada
autossuficientes, contando com aproximadamente mil e oitocentos pelos trabalhadores. Foi isso o que fez com que muitos anarquistas
trabalhadores. Desse modo, tudo o que fosse desenvolvido, deveria na I Internacional viessem a criticar o marxismo e romper com
ser também compartilhado igualitariamente. ele, já que o anarquismo não admite nenhuma forma de poder,
mesmo que fosse um governo formado somente pelo operariado.
No comunismo, a fase final, é que não haveria mais a Ditadura
O socialismo científico do Proletariado, e sim a formação de diversas comunas ou
O caráter científico do socialismo somente veio a ser forjado, comunidade independentes, de autogestão.
a partir dos escritos do pensador social e líder político Karl Marx O conceito de materialismo histórico, em Marx, refere-se à
(1818-1883), cujas ideias eram o resultado da dialética com a ideia de que os homens, a sociedade, enfim, se relacionam a partir
realidade e os fatos sociais. da matéria; os bens e os meios de produção seriam o epicentro

80 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
do construto social, econômico, político, cultural e até religioso.

Liberty, Londres, Inglaterra.


Esse princípio foi inspirado no pensador alemão Feuabach e
também serviu de base para o desenvolvimento do que o marxismo
denominou de mais-valia, ou seja, a diferença entre o valor do
que é produzido para o que o proletário recebe enquanto salário.
Os marxistas adotaram, em sua maioria, o cepticismo em
relação à religião, daí, Marx ter afirmado que “a religião é o ópio
do povo”, acreditando no seu caráter alienante e copartícipe das
bases da elite social.

Karl Marx e Friedrich Engels/Wikimedia Foundation

Gravura de Walter Crane representando os mártires


de Haymarket. A Revolta de Haymarket é considerada
uma das origens das comemorações internacionais
do 1º de maio, Dia do Trabalhador.

Pode-se afirmar que o nascedouro do movimento anarquista


se deu no mesmo período do socialismo marxista, através de
Proudhon (1809-1865), por meio da publicação de uma obra com
o título Que é a propriedade?, sob a conclusão de que se tratava
de um roubo.
Acreditava que a propriedade era uma espécie de suicídio
da sociedade, contrária à dimensão do direito.
Mas como os princípios defendidos pelo anarquismo
necessitavam de um mínimo de difusão e organização, Proudhon
imaginava que os sindicatos seriam o epicentro desse processo
de mobilização geral do trabalhador, afim de garantir o êxito
Capa do Manifesto do Partido Comunista. da proposta anárquica, além de substituir o conceito de Estado.
Surgia daí um desdobramento chamado “anarcossindicalismo”.
A Doutrina Social Marxista alcançou grande repercussão no Os seus teóricos mais proeminentes foram Georges Sorel e Antônio
mundo, principalmente com a publicação do Manifesto Comunista, Labriola.
em 1848, chegando a ser adotada, mesmo que não fielmente Diferentemente de Proudhon, o pensador Mikhail Bakunin
ou completamente em países como a Rússia, a China e Cuba, (1814-1876), também integrante da I Internacional, discordava
para citar os principais, que atenderam à chancela do manifesto: frontalmente de Marx, já que afirmava a necessidade de eliminar
“Trabalhadores do mundo, uní-vos!”. imediatamente o Estado. Segundo ele, qualquer forma de poder
era uma forma de opressão, além de ser uma ficção ou abstração
O Anarquismo política alienante, portanto.
Nadar/Wikimedia Foundation

Um dos principais pioneiros das ideias anarquistas foi o


pensador William Godwin (1756-1836), que se recusava em
reconhecer a autoridade dos governantes, bem como da lei e dos
sistemas jurídicos em geral, além de criticar frontalmente a existência
da propriedade privada. Godwin pregava a premissa de manter
um equilíbrio entre vontade, necessidade e liberdade, mediante a
formulação de um sistema, eminentemente, comunitário.
Além desse teórico, na mesma direção de raciocínios,
tivemos Pierre-Joseph Proudhon, Mikhail Bakunin, Prior Kropotikin
e Tolstoi.
É comum as pessoas associarem a ideia de Anarquismo
à desordem ou rebeldia, entretanto, o termo provém do idioma
grego e significa apenas “sem governo”, daí o fato de muitos dos
pensadores citados afirmarem a possibilidade de se estruturar uma
sociedade “regulada pela própria consciência”, sem a intervenção
de Estado, poder ou Igreja. Mikhail Alexandrovich Bakunin.

Anual – Volume 3 81
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
O Estado, segundo o sociólogo e revolucionário russo, era Embora não venha a ser considerada uma doutrina social
o resultado de uma construção ideológica de natureza burguesa, propriamente dita, o Catolicismo Social abriu espaço para a
portanto, abominável e incapaz de promover a verdadeira reforma inserção de padres e freiras no ambiente social e político, servindo
social, que somente se daria mediante a destruição das suas bases como um certo precedente para a formulação de associações como
fundamentais. os COCs (Círculos Operários Católicos), com atuação para a eleição
Os anarquistas, em geral, defendiam algumas ações de políticos católicos, no Brasil; a LCT (Legião Cearense do Trabalho),
desestabilizantes dos poderes constituídos, tais como greves, sob a liderança de Severino Sombra e que chegou a reunir cerca de
passeatas, protestos, motins, revoltas armadas, panfletagem e o trinta mil operários católicos; uma instituição de cunho antiliberal
uso de jornais denunciadores. Também condenavam a existência e anticomunista, extremamente conservador. Também podemos
de partidos políticos, exaltando o livre-arbítrio humano, contra citar que, dessa tendência social da encíclica, surgiram as chamadas
toda e qualquer forma de autoritarismo, já que este destruía a livre pastorais da fé, com grande atuação até os dias atuais.
manifestação do ser humano. Embora polêmica e não plenamente aceita pela cúpula da
Desse modo, quaisquer decisões de interesse geral deveriam Igreja, tal preocupação religiosa com o mundo serviu de base para
ser tomadas com igual direito de voz por todos os membros de uma a formulação da Teologia da Libertação que, durante as décadas
determinada comunidade. de 70 e 80 teve uma grande atuação na América Latina, sobretudo,
No anarquismo parece haver uma contradição ou paradoxo, com a liderança do padre Leonardo Boff.
tendo em vista que, embora contrários às formas usuais de
autoritarismo e uso do poder militar, somente imaginavam o Leitura Complementar
fim da sociedade capitalista por meio da revolta armada. Além
disso, negavam a existência de qualquer forma de liderança para o
O MANIFESTO DE MARX E ENGELS
movimento, atuando de modo disperso e sem grande consistência
revolucionária. “A história de todas as sociedades até hoje existentes é
a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e
plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro,
O Catolicismo social em resumo, opressores e oprimidos, em constante oposição,
Com o avanço das ideias marxistas e anarquistas, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada;
a Igreja Católica passou a revelar uma grave preocupação, não uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação
somente pelo fato de a humanidade estar em contato com uma revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas
modernidade que tendia a afastá-la de Deus, mas, sobretudo, classes em conflito. [...]
porque as novas ideologias o negavam, através do cepticismo A burguesia desempenhou na história um papel
materialista. eminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado
Em 1874, o papa Leão XIII elabora uma Encíclica o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e
denominada Rerum Novarum, cujo cerne propunha uma nova idílicas. Rasgou todos os complexos e variados laços que prendiam
concepção da sociedade, pela aplicação da harmonia proposta pelo o homem feudal a seus ‘superiores naturais’, para só deixar subsistir,
Evangelho do Cristo. de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências
do ‘pagamento à vista’. [...]
Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime
Library of Congress

um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os


países. Para desespero dos reacionários, ela roubou da indústria
sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e
continuam a ser destruídas diariamente. São suplantadas por novas
indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas
as nações civilizadas – indústrias que já não empregam matérias-
-primas inacionais, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais
distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio
país mas em todas as partes do mundo [...]
A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes
centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das
cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma
Papa Leão XIII. grande parte da população do embrutecimento da vida rural.
Do mesmo modo que subordinou o campo à cidade, os países
A proposta de caráter religioso se dirigia a patrões e bárbaros ou semibárbaros aos países civilizados, subordinou os
empregados, conclamando-os a uma paz social e negociações povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente. [...]
que preservassem a dignidade humana e os princípios do bem e A burguesia, em seu domínio de classe de apenas um século,
da fraternidade. criou forças produtivas mais numerosas e colossais do que todas as
O ideário católico proposto não tinha uma conotação gerações passadas em seu conjunto. A subjugação das forças da
revolucionária, apenas apaziguadora, pois, conforme afirmava o natureza, as máquinas, a aplicação da química na indústria e na
papa, era necessário acabar com a exploração capitalista do homem, agricultura, a navegação a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo
através do exercício da fraternidade. elétrico, a exploração de contingentes inteiros, a canalização dos
A Rerum Novarum (sobre novas coisas) referia-se ao perigo rios, populações inteiras brotando da terra como por encanto – que
vermelho, do comunismo e do anarquismo como ameaças aos século anterior teria suspeitado que semelhantes forças produtivas
princípios mantenedores das bases da sociedade, qual sejam a estivessem adormecidas no seio do trabalho social? [...]
família, a religião, o Estado. A sociedade burguesa, com suas relações de produção
Por isso, eram contrários às greves, motins, passeatas, tudo e de troca, [...] já não pode controlar os poderes infernais que
quanto viesse a abalar o equilíbrio geral. invocou. [...] Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se
periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade

82 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
burguesa. [...] A sociedade vê-se subitamente reconduzida a um ‘A capacidade de raciocínio é tão reduzida nas mulheres
estado de barbárie momentânea; [...] o comércio e a indústria que elas necessitam de ajuda adventícia, e se não têm a orientação
parecem aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui e a supervisão de uma consciência religiosa, é inútil esperar que
civilização em excesso, comércio em excesso. [...] As armas que a tenham autocontrole quanto a princípios abstratos. Não avaliam
burguesia utilizou para abater o feudalismo voltam-se hoje contra as consequências e são negligentes quando se transige com
a própria burguesia. A burguesia, porém, não se limitou a forjar as elas uma vez, de modo que só se mantêm corretas por meio de
armas que lhe trarão a morte; produziu também os homens que suas afeições, do sentimento religioso e do senso moral de boa
empunharão essas armas – os operários modernos, os proletários.” formação’.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. Ao contrário da maioria de seus contemporâneos,
São Paulo: Boitempo, 1999. p. 40-46 alguns homens ilustres apoiaram a igualdade de direitos para
as mulheres. ‘Pode o homem ser livre se a mulher for escrava?’,
FEMINISMO: ESTENDENDO O PRINCÍPIO DA IGUALDADE perguntou Shelley, que era favorável ao sufrágio feminino.
“Um outro exemplo da expansão do liberalismo foi o Assim também pensavam o teórico social Jeremy Bentham e o
surgimento dos movimentos feministas na Europa Ocidental e economista político William Tompson (...) [Apelo de uma metade
nos Estados Unidos. As feministas insistiam em que os princípios da raça humana] (1825). John Stuart Mill achava que as diferenças
de liberdade e igualdade fossem incorporados à Declaração dos entre os sexos (e entre as classes) deviam-se mais à educação que
Direitos do Homem e do Cidadão na França e a Declaração de às desigualdades herdadas. Acreditanto que todas as pessoas –
Independência dos Estados Unidos, fossem aplicados às mulheres. homens e mulheres – deveriam ser capazes de desenvolver seus
Assim, a Declaração dos Direitos das Mulheres (1791), de Olympe talentos e intelectos tão plenamente quanto possível, Mill foi um
de Gouges, formulada com base na Declaração dos Direitos dos primeiros a defender a igualdade das mulheres, inclusive, o
do Homem e do Cidadão – tributo da Revolução Francesa aos sufrágio feminino.”
ideais iluministas – , afirmava: ‘mulher nasce livre e permanece
PERRY, Marvin. Civilização ocidental, uma história concisa.
igual ao homem em direitos (...) o objetivo de toda associação São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 437-439.
política é a preservação dos [direitos] naturais (...) do homem
e da mulher.’ Em 1837, a romancista e economista inglesa
Harriet Martineau observou: ‘um dos princípios fundamentais
anunciados na Declaração de Independência é de que os poderes
emanam seu justo poder do consentimento dos governados. De Exercícios de Fixação
que maneira a condição política das mulheres pode conciliar-se
com isso?’
Nos Estados Unidos, na década de 1830, Angelina e 01. (Cesgranrio/1997) Ao longo do século XIX, a difusão da
Sarah Grinke falaram em público – o que as mulheres raramente Revolução Industrial alterou as condições de vida nas diversas
faziam – contra a escravidão e pelos direitos femininos. Em 1838, áreas atingidas pelo processo de industrialização, o que fez
Sarah Grinke publicou Cartas sobre a igualdade dos sexos e a surgirem novas concepções e doutrinas comprometidas com
condição das mulheres, em que declarava enfaticamente o seguinte: o desenvolvimento ou com a reforma da sociedade capitalista.
‘Homens e mulheres foram criados iguais: são ambos seres morais e Dentre as propostas dessas doutrinas sociais, identificamos
responsáveis, e o que for direito do homem fazer, é também direito corretamente a
das mulheres (...) Quão monstruosa e anticristã é a doutrina de que a A) crítica da propriedade privada, formulada pelo marxismo
mulher deve ser dependente do homem!’. O movimento pelo Sufrágio científico.
Feminino, que realizou sua primeira convenção, em 1848, em Seneca B) submissão integral do trabalhador ao capital, expressa pela
Falls, Nova York, redigiu uma Declaração de afirmações e Princípios doutrina social da Igreja, na Rerum novarum.
que ampliou a Declaração de Independência: ‘Sustentamos que estas C) defesa da livre associação dos trabalhadores em corporações
verdades são evidentes por si mesmas: que todos os homens e mulheres e sindicatos profissionais, proposta pelo liberalismo
foram criados iguais’. O documento protestava ‘que a mulher por muito doutrinário.
tempo se acomodou aos restritos limites que lhe foram traçados por D) subordinação do cidadão a um Estado totalitário, pregada
costumes corruptos e por uma aplicação deturpada das Escrituras’. pelo movimento anarquista.
E exortava ao esforço incansável, por parte de homens e mulheres, E) opção pela democracia partidária, defendida pelos socialistas
para assegurar a estas ‘uma participação igual a dos homens nas várias utópicos, sendo o sufrágio universal censitário o único meio
ocupações, profissões e comércio’. de o proletariado alcançar o poder.
Em sua luta pela igualdade, as feministas tiveram que
vencer premissas profundamente arraigadas sobre a inferioridade 02. (Unesp/1994) Leon Trotsky argumentava, em 1904, que a tese
e deficiências da mulher. Os oponentes dos direitos femininos política defendida por Lênin poderia “conduzir a organização
argumentavam que as exigências feministas ameaçariam a do partido a substituir o partido, o Comitê central a substituir
sociedade, por minarem o casamento e a família. Um artigo na a organização do partido, e finalmente um ‘ditador’ a substituir
Saturday Review, periódico inglês, declarou: ‘Não é do interesse o Comitê central”.
dos Estados (...) encorajar a existência de mulheres que não sejam
dependentes do homem, tanto para a sua subsistência como TROTSKY. Nossas tarefas políticas.
para proteção e amor. O casamento é a profissão da mulher.’ Brochura redigida e publicada em 1904, em genebra.
Em 1870, um membro da Câmara dos Comuns indagou ‘o que
seria, não apenas da influência da mulher, mas de suas obrigações Assinale a alternativa com o nome do responsável pelo regime
no lar, de seu cuidado com os assuntos domésticos, sua supervisão que, na prática, confirmou a previsão de Trotsky.
de todas aquelas tarefas e ambientes que fazem um lar feliz (...) se A) Bukharin.
começássemos a ver as mulheres tomando a frente e participando B) Stalin.
do governo do país’. Essa preocupação com a família ajustava-se C) Kalinin.
à visão tradicional e enviesada da natureza da mulher, conforme D) Brejnev.
revelou um dos escritores da Saturday Review: E) Molotov.

Anual – Volume 3 83
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
• Texto O fragmento do jornal conclama a uma prática organizativa
própria do movimento anarquista brasileiro, segundo a qual
Brás Cubas busca articular a política de domínio paternalista, A) o exercício físico seria o meio para o fortalecimento do
sob fogo cerrado nos anos 1870, com aspectos da onda de ideias espírito dos militantes.
cientificistas europeias do tempo – especialmente no que tange ao B) a militância política deveria ser exercida em todas as
darwinismo social como forma de explicar a origem e a reprodução dimensões da vida do trabalhador.
das desigualdades sociais. C) a participação dos cidadãos nos clubes de futebol das
fábricas reforçaria a harmonia social.
CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis Historiador.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 96.
D) a aliança proletário-burguesa deveria ser buscada por
intermédio das práticas desportivas.
03. (Puccamp/2017) Os altos índices de pobreza, o aumento E) os militantes deveriam conscientizar os operários de que o
futebol é um esporte alienante.
das desigualdades sociais e a precária condição de trabalho
nas fábricas, entre outros fatores, contribuíram para o
crescimento do movimento operário na Europa, no século
XIX. Diversas organizações operárias sofreram influência
do socialismo e do anarquismo, ideologias que postulavam, Exercícios Propostos
respectivamente,
A) a ação armada para intensificar a luta de classes; e a proposta
de que a sociedade se organizasse em comunidades 01. (UFMG/1994) Leia o texto:
operárias, denominadas falanstérios.
B) a aliança entre trabalhadores e burguesia para a destruição O bem estar de grande número, único fim legítimo, deve ser
do sistema capitalista; e a ditadura do proletariado, a única preocupação também do governo. Como preliminar
organizado em sindicatos. essencial a estas reformas e a outras para assegurar ao povo
C) a construção de um Estado forte, proletário, clerical; e a os meios pelos quais seus interesses poderão ser eficazmente
crença na existência de uma fraternidade natural entre os defendidos e assegurados, pedimos que, na confecção das leis,
homens. a voz de todos possa, sem entraves, ser ouvida.
D) o avanço revolucionário rumo ao desenvolvimento de uma
Petição Cartista. Inglaterra, 1838.
sociedade sem classes; e o autogoverno dos trabalhadores.
E) a supressão da propriedade privada e das fronteiras Entre as reformas defendidas pelo Movimento Cartista,
nacionais; e a destruição do Estado burguês para a livre podemos destacar:
organização da sociedade em comunas. A) A intituição do voto censitário.
B) A extinção do bicameralismo.
04. (ESPM/2011) Em conjunto com as grandes transformações C) O fim das eleições anuais.
econômicas, políticas e sociais do século XIX, surgiram D) A supressão dos deputados.
doutrinas e correntes ideológicas. Uma delas foi o Anarquismo, E) O sufrágio universal.
que pregava
A) o respeito à propriedade privada, o controle demográfico e 02. (Unifesp/2007) Do papa Leão XIII na encíclica Diuturnum,
a observância da lei natural da oferta e da procura. de 1881: “se queremos determinar a fonte do poder no Estado,
B) a revolução socialista, o controle do Estado pela ditadura a Igreja ensina, com razão, que é preciso procurá-la em Deus.
do proletariado, o comunismo. Ao torná-la dependente da vontade do povo, cometemos
C) a erradicação do Estado, das classes, das instituições e primeiramente um erro de princípio e, além disso, damos à
tradições visando à imediata instalação do comunismo. autoridade apenas um fundamento frágil e inconsistente”.
D) a necessidade de um contrato entre os governados e o Nessa encíclica, a Igreja defendia uma posição política
Estado, o imperativo da moral e do bem comum como A) populista. B) liberal.
fundamentos do poder político. C) conservadora. D) democrática.
E) a religião como instrumento de reforma e justiça social, além E) progressista.
da formação de comunidades coletivistas.
03. (Unesp/2016) A condição essencial da existência e da
05. (UFG/2010) Leia o texto a seguir. supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas
mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital;
VIVA O ESPORTE PROLETÁRIO! a condição de existência do capital é o trabalho assalariado.
[...] O desenvolvimento da grande indústria socava o terreno
A necessidade de esporte para a juventude é um fato em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de
incontestável. apropriação dos produtos. A burguesia produz, sobretudo,
A burguesia se aproveita desse fato para canalizar todos os seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado
jovens das fábricas para seus clubes. são igualmente inevitáveis.
Que fazem os jovens nos clubes burgueses? Karl Marx e Friedrich Engels. Manifesto Comunista.
Defendem as cores desses clubes. Se o clube é de uma fábrica, Obras escolhidas, vol. 1, s/d.

é o nome e a cor da fábrica que defendem; a burguesia cultiva


neles a paixão e a luta contra a juventude de outras empresas […] Entre as características do pensamento marxista, é correto citar
Todo operário footballer deve ingressar nos clubes proletários. A) o temor perante a ascensão da burguesia e o apoio à
internacionalização do modelo soviético.
O trabalhador gráfico. 25 jun. 1928. Apud DECCA,
B) o princípio de que a história é movida pela luta de classes e
Maria Auxiliadora Guzzo de. Indústria, trabalho e cotidiano.
Brasil – 1889 a 1930. São Paulo: Atual, 1991. p. 71. Adaptado. a defesa da revolução proletária.

84 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
C) a caracterização da sociedade capitalista como jurídica e 06. (UFC/2010) “A maneira como os indivíduos manifestam sua
socialmente igualitária. vida reflete exatamente o que são. O que eles são coincide,
D) o reconhecimento da importância do trabalho da burguesia pois, com sua produção, isto é, tanto com o que eles produzem
na construção de uma ordem socialmente justa. quanto com a maneira como produzem. O que os indivíduos
E) a celebração do triunfo da revolução proletária europeia e são depende, portanto, das condições materiais da sua
o desconsolo perante o avanço imperialista. produção.”
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã.
04. (FGVRJ/2016) O direito ao sufrágio torna-se, na viragem do São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 13.
século, o eixo principal da luta feminista. Para as radicais
não se trata apenas de um princípio de igualdade, mas de Com base nessa citação do livro A ideologia alemã, que trata
uma condição sine qua non da realização dos direitos na vida da teoria marxista para a interpretação da sociedade, é correto
privada e pública. Para as moderadas, o sufrágio permanece afirmar que
um objetivo longínquo; ele será a coroação de seus esforços: A) o capitalismo teve origem no modo de produção socialista,
devem merecê-lo graças a uma melhor formação e dar as suas a partir de uma revolução burguesa.
provas por meio de um trabalho de utilidade pública. B) o capitalismo teve origem em ideias religiosas, a partir do
KÄPPELI, A.-M., “Cenas feministas”, in DUBY, G. e PERROT, M. dir., Renascimento, e no crescimento da burguesia.
História das Mulheres. O século XIX. Trad., Porto: Afrontamento, 1994, p. 556. C) a produção de ideias na vida social, no decorrer da história,
está separada da produção da vida material.
Os movimentos feministas, no final do século XIX, D) a perspectiva de análise marxista examina a sociedade
A) possuíam como objetivo o estabelecimento de cotas de levando em consideração as relações sociais estabelecias
participação de mulheres nas atividades públicas nos países no modo de produção.
europeus. E) o pensamento marxista surgiu no início da revolução
B) conseguiram a equiparação com os homens no que diz francesa, com a defesa da igualdade e da fraternidade entre
respeito ao direito de voto em todos os países europeus até todos os seres humanos.
o final do século XIX.
C) tinham como objetivo o direito de voto mesmo que, para 07. (FGV/2014) O “socialismo real” agora enfrentava não apenas
as mais moderadas, não fosse uma conquista a ser obtida seus próprios problemas sistêmicos insolúveis, mas também,
imediatamente. os de uma economia mundial mutante e problemática, na
D) obtiveram o direito ao trabalho para as mulheres e para as qual se achava cada vez mais integrado.
crianças nas fábricas e em outros serviços urbanos oferecidos Com o colapso da URSS, a experiência do “socialismo
nos países da Europa. realmente existente” chegou ao fim. Pois, mesmo onde os
E) mantiveram-se isolados e independentes dos movimentos regimes comunistas sobreviveram e tiveram êxito, como na
socialistas e anarquistas do período. China, abandonaram a ideia original de uma economia única,
centralmente controlada e estatalmente planejada, baseada
05. (Unicamp/2011) A história de todas as sociedades tem sido a em um Estado completamente coletivizado.
história das lutas de classe. Classe oprimida pelo despotismo
feudal, a burguesia conquistou a soberania política no Estado Eric Hobsbawm, Era dos extremos. p. 458 e 481.
Adaptado.
moderno, no qual uma exploração aberta e direta substituiu a
exploração velada por ilusões religiosas.
A partir do texto, é correto afirmar que
A) os países do socialismo real, como a União Soviética,
A estrutura econômica da sociedade condiciona as suas formas
acompanharam em parte as mudanças da década de 1970
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas. Não é
e sobreviveram sem reformas, pois, mesmo sem o grande
a consciência do homem que determina o seu ser, mas, ao
avanço técnico-científico, conseguiram neutralizar os
contrário, são as relações de produção que ele contrai que
graves efeitos da burocratização, da economia planificada,
determinam a sua consciência.
da proletarização da classe média e do obsoleto parque
Adaptado de K. Marx e F. Engels, Obras escolhidas.
industrial e, ainda, mantiveram a unidade do bloco
São Paulo: AlfaÔmega, s./d., vol 1, p. 21-23, 301-302. socialista.
B) nos anos 1980, as reformas econômicas e políticas –
As proposições dos enunciados anteriores podem ser associadas a perestroika – colocaram os países do socialismo
ao pensamento conhecido como real no rumo do capitalismo, substituindo a ação
A) materialismo histórico, que compreende as sociedades estatal pelo mercado, com ênfase nas privatizações e
humanas a partir de ideias universais independentes da na abertura para o capital estrangeiro, medidas que
realidade histórica e social. obtiveram pleno êxito e fizeram a economia perder
B) materialismo histórico, que concebe a história a partir da suas características estatizantes, impedindo, ainda, o
luta de classes e da determinação das formas ideológicas fim do bloco socialista.
pelas relações de produção. C) a unidade do bloco do socialismo real foi motivada
C) socialismo utópico, que propõe a destruição do capitalismo pelo equilíbrio da estrutura política dos Estados em se
por meio de uma revolução e a implantação de uma ditadura adaptar às necessidades da economia de mercado, pois a
do proletariado. planificação pelo Estado burocratizado é incompatível com
D) socialismo utópico, que defende a reforma do capitalismo, a economia de mercado, apoiada no desenvolvimento
com o fim da exploração econômica e a abolição do Estado técnico-científico, nas crescentes privatizações, no apoio
por meio da ação direta. do capital externo e nas diferenciações salariais.

Anual – Volume 3 85
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
D) nos países do socialismo real, os problemas externos, D) Os movimentos de esquerda foram um dos fatores decisivos
isto é, da economia mundial, a partir dos anos 1970, no encerramento do Império alemão, instituindo o regime
responsáveis pelas oscilações do comércio internacional, socialista na Alemanha no início do século XX, por meio da
prevaleceram sobre os problemas internos, como a organização dos anarquistas. As forças de esquerda naquele
burocratização do Estado e o atraso técnico-científico, que país desejavam se articular com as revoluções socialistas em
sofreram reformas estatais nos anos 1980 e minimizaram curso no restante da Europa.
as graves tensões sociais, mantendo a união do bloco E) A esquerda dividiu-se em muitas vertentes entre o final
do século XIX e início do século XX, o que permitiu que
socialista.
somente os anarcossocialistas se tornassem uma força
E) além dos problemas internos da própria estrutura política
política crucial no cenário europeu, em especial na Itália
endurecida pela burocracia e pelo autoritarismo, os países
e na Espanha. Até então, as forças de esquerda foram
do socialismo real, a partir dos anos 1970, já inseridos no irrelevantes naquele continente, ficando à margem da
mercado mundial, enfrentaram o baixo desenvolvimento política de massas.
técnico-científico e as tensões sociais e ensaiaram, sem
êxito, nos anos 1980, reformas políticas e econômicas 10. (Uespi/2012) A modernidade não se fez sem a multiplicidade de
para manter a unidade do bloco socialista. saberes e o confronto de concepções de mundo. Por exemplo,
no século XIX, o movimento romântico
08. (Uespi/2012) O capitalismo se propagou em busca de mercados A) incentivou ideais nacionalistas e construiu críticas ao Iluminismo.
e de novas técnicas de produção. No entanto, o progresso B) negou as principais teorias de Rousseau e dos filósofos idealistas.
desejado não atingia a todos e provocava desigualdades. C) foi contra as tradições populares, o que favoreceu a escolha
Uma crítica radical ao capitalismo se expressou na obra de de caminhos elitistas.
Marx, que D) aceitou muitas regras do classicismo, desprezando o
A) renovou a concepção econômica da época, negando todos individualismo burguês.
os princípios defendidos pelos economistas clássicos e E) anulou a importância da memória histórica e do apego às
fisiocratas. tradições.
B) formulou propostas de revoluções sociais que lembram
as teses anarquistas mais comuns no movimento
bolchevique. Fique de Olho
C) definiu utopias importantes para resolver as questões
da desigualdade social, adotadas, com coerência, pelo
socialismo no século XX. Filmes:
D) acusou a existência de exploração do trabalho humano, Oliver Twist. Direção de Roman Polanski. Inglaterra/República Tcheca/
que trazia dificuldades sociais para a maioria da França/Itália, 2005. 130 min.
população. 1900 (Bernardo Bertolucci, 1976)
E) defendeu a organização da classe operária em sindicatos Pocilga (Pier Paolo Pasolini, 1969)
urbanos com a finalidade de constituir seus movimentos de Livros:
reivindicação.
ZOLA, Émile. Germinal. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 358-361.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo:
09. (UFPR/2012) Considerando os conhecimentos sobre os movimentos
Expressão Popular, 2009. p. 87-88.
de esquerda política na Europa ao longo do século XIX, é correto KROPOTIKIN, Piotr. O Estado e seu papel histórico. São Paulo:
afirmar: Imaginário, 2000. p. 90-91.
A) A esquerda foi importante para a implantação definitiva
do comunismo na França, por meio da Comuna de Site:
Paris, trazendo os sovietes para homens e mulheres, Aula respectiva da FBTV.
além de condições igualitárias de acesso ao trabalho
e à educação. Mas a sua atuação não foi favorável à
democracia, pois, após a I Internacional Comunista, a Aula 13:

C-2 H-7, 9
esquerda desvirtuou-se e passou a favorecer governos
Aula C-3 H-15
aristocráticos. Primeira Guerra Mundial C-4 H-18
B) A esquerda abrangeu um amplo espectro de ideais, 13
partidos, sindicatos e organizações (jacobinismo,
socialismos utópico e científico, anarquismo, partidos
e sindicatos de massa). De forma geral, ela exerceu
uma pressão fundamental para a instituição de direitos Introdução
democráticos em muitos países da Europa ocidental ao Ninguém imaginava que a Segunda Revolução Industrial,
final do século XIX, tais como legislação trabalhista e além de criar as bases para o desenvolvimento do imperialismo e
sufrágio universal masculino, que foram incorporados por do neocolonialismo, abrigaria motivações suficientes para ampliar
Estados aristocráticos e burgueses temerosos pelo “medo diferenças, conflitos, disputas e concorrências entre as nações
vermelho” (comunista/socialista). europeias, a ponto de produzir não somente artefatos de comércio
C) Os movimentos de esquerda fizeram uma grande pressão mas, também, uma Guerra de proporções consideráveis.
para que governos monárquicos adotassem constituições, O fato é que o século XIX, ao elaborar uma mentalidade
mas os socialistas utópicos recusavam-se a participar de romântica e nacionalista também ampliou as manifestações de
qualquer forma de governo burguesa. Isso frustrou o projeto sectarismo, mesmo que, aparentemente a parentela entre as nações
de uma revolução internacionalista, articulada pela I e II fosse caracterizada por casamentos e promessas entre filhos e netos
Internacional Comunista. de líderes governamentais.

86 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Bismarck chegou a afirmar o seu tédio, pois “todas as coisas As unificações tardias e o tardio
já haviam sido criadas...”. Ele mesmo acreditou que a Conferência
de Berlim fosse suficiente para apaziguar os possíveis e futuros Imperialismo
conclaves quando, na verdade, nem todos saíram satisfeitos Quando abordamos a retardatária unificação de nações
daquelas reuniões demoradas que transitaram entre 1884 e 1885. como a Itália e a Alemanha, não percebemos, em toda a sua inteireza
O fato é que, do interior das colônias africanas e asiática, que, o atraso não foi somente quanto à definição de um governo
bem como de suas fronteiras começaria a exsudar um cheiro de único para italianos e alemães, mas quanto à corrida imperialista
pólvora; também a pólvora de um passado no qual a França houvera para a qual a Inglaterra havia se tornado hegemônica.
perdido a região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, na Guerra Com um quarto de todas as colônias extraeuropeias sob
Franco-Prussiana, de 1870. o controle britânico, pouco sobrou para suprir as necessidades
O revanchismo francês, aliás, foi um outro motivo da industrializantes dos germânicos, por exemplo, diante de uma
iniciativa de Otto Von Bismarck quanto à realização da Partilha da tímida e ainda limitada Itália.
África que tentava, com isso, compensar as perdas francesas e isolar Se Bismarck exaltou o espírito nacionalista alemão, através do
a França de alianças que viessem a ameaçar a geografia da recém pangermanismo, se a autoestima do país cresceu com a sua estratégia
unificada Alemanha. e discursos nacionalistas, bem como com a vitória sobre os franceses,
garantindo a tomada de um território rico em carvão mineral da Alsácia-

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Lorena, por outro lado, os limites internacionais e colonialistas deixaram
os povos germânicos, de um certo modo, frustrados.
A necessidade de expansão industrial e comercial deixou a
Alemanha em um impasse diante da Inglaterra, sobretudo, quanto
à indústria naval e se os ingleses eram os líderes inquestionáveis
da corrida imperialista, sentiam-se agora ameaçados, enquanto os
alemães já não aceitavam esse status quo internacional.
A Conferência de Berlim não foi capaz de satisfazer
plenamente os anseios da Alemanha. Por isso, não se tratava de
esperar uma guerra, mas enxergar na guerra uma oportunidade de
aquisição e de ampliação territorial.
Mesmo que o governo italiano se identificasse com os
mesmos objetivos dos alemães, o fato é que os italianos estavam
confusos, pois também cobiçavam possessões similares às da
Alemanha. Daí a sua fragilidade em manter-se aliada.

O fim do “equilíbrio europeu” e a
política de alianças
A Guerra Franco-Prussiana pode ser definida como
o marco inicial da perda do chamado equilíbrio europeu, tão
defendido pelo antigo Congresso de Viena (1815), uma vez que
desencadeou o revanchismo francês e tensões entre as duas nações
Imagens da Primeira Guerra Mundial. em face da necessidade de controle de um território rico em carvão
mineral e ferro.
Outro importante elemento de análise, sobre os fatores que Tal rivalidade se estenderia às disputas pelas regiões da
levariam à Primeira Guerra Mundial e sobre o contexto anterior a África, sobretudo, com o surgimento da Questão Marroquina.
esse fenômeno histórico se prende à conjunção de aspectos relativos O século desfechara com a região do Marrocos sob forte
ao culto ao passado, associado ao romantismo; uma já complexa concorrência alemã, francesa e inglesa, situação de tensão geral
globalização do sistema capitalista consolidado e a existência de reações que somente alcançou algum apaziguamento com a realização da
aos impérios constituídos sob bandeiras ideológicas emancipacionistas. Convenção de Madri, em 1880, determinando que o território
Os alemães pareciam viver uma fase adolescente, seria igualmente explorado por essas nações.
querendo que o mundo os reconhecesse através de uma guerra; O problema é que aquela convenção foi transgredida no
a França parecia aguardar uma oportunidade para reaver a posse momento em que os franceses vieram a apoiar a posse britânica do
de territórios perdidos; a Inglaterra, ainda hegemônica, começava Egito, recebendo apoio para dominar completamente o Marrocos.
a se sentir ameaçada com o progresso germânico, enquanto o Em 1905 o então kaiser germânico Guilherme II passou a apoiar a
anarquismo era usado como estratégia por um grupo de bósnios autonomia do povo marroquino, abalando a diplomacia francesa
na região balcânica. com o sultão da colônia em litígio. O conflito somente voltou a ser
E o entusiasmo ou euforia nacionalista se misturava apaziguado com a realização da Conferência de Algeciras (1906)
ao medo de um conclave irreversível, daí as nações buscarem que decretava o igual direito de atuação econômica francesa e alemã
se proteger através da formação de blocos ou alianças na região; mesmo assim, novos conflitos não se fizeram esperar e
econômico-militares. somente se redefiniu novo apaziguamento quando os alemães cederam
Porém, se de um lado não estar sozinho para uma possível o direito de exploração do Congo Francês. Porém, a insatisfação
guerra representava alguma segurança para evitá-la, sob outro prisma, germânica prosseguiria alimentando as bases para a eclosão de uma
a formação de acordos comprometia as nações aliadas a se envolverem, grande guerra.
por efeito dominó, com motivações locais ou particularistas de guerra. Todo esse estado de tensão generalizada deixava clara a
A Primeira Grande Guerra representou, no cenário mundial, possibilidade de maiores conclaves, por isso, as nações se organizaram,
a expressão militar de uma guerra que já existia nos bastidores das mediante a formação de alianças. Em 20 de maio de 1882 foi criada
máquinas industriais – era a Guerra do Capitalismo; a guerra das a Tríplice Aliança com a ideia de formular uma espécie de barreira
burguesias politicamente consolidadas. político-militar, isolando a França, diplomaticamente.

Anual – Volume 3 87
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III

Alianças militares
em 1914
Poderes centrais

Tríplice Entente
Aliados eslavos da
Rússia
Grupos minoritários
da Áustria-Hungria
Mapa das alianças militares da Europa, em 1914.

A Tríplice Aliança confluiu os interesses da Alemanha e da Itália, porém, os italianos estabeleceram limites quanto ao seu apoio
em um caso de guerra e esse limite era a Inglaterra, ou seja, não se oporiam ao Império Britânico no caso de um conflito armado.
A Itália também assumiu esse acordo confusamente, já que a aliança era compartilhada pela adesão da Áustria-Hungria, antiga
inimiga do seu processo de unificação e regiões como da Dalmácia, Trentino e Ístria ainda tinha populações italianas e estavam sob o
controle austríaco.
Quando se falou em traição italiana na Primeira Guerra, os italianos, ao apoiarem a Entente, alegaram que a Tríplice Aliança era
um acordo de defesa, acusando a Alemanha e a Áustria-Hungria de desencadearem a guerra.
O direcionamento político de confronto, articulado pelo kaiser Guilherme II, com a questão marroquina e com a indústria naval
e com a aliança firmada com os austríacos e italianos, fizeram com que a França, interessada em combater o pangermanismo e as
pressões colonialistas alemã e austríaca, firmando um acordo com a Inglaterra, ficando pendente o apoio da Rússia à formação da
Tríplice Entente, sob a promessa de adquirir o domínio sobre o Império Turco Otomano que fracassara nas tentativas de obter um
acordo de apaziguamento com britânicos e franceses, por isso a sua aproximação do outro bloco.
Acrescentamos, ainda, que o afastamento de Otto Von Birmarck do centro do processo decisório, quanto aos rumos da política
europeia, também foi um fator decisivo para desequilibrar os acordos de paz de uma Europa que, há quase nove décadas não vivia um
processo de guerra.

A velada corrida armamentista


Dominio Público.

U-155 exibido próximo à Tower Bridge, em Londres, depois de 1918.

Se o processo de industrialização já era ostensivo na transição do século XIX para o século XX, o desenvolvimento das máquinas
não se limitou à produção de artefatos ou produtos domésticos, importação e exportação do próprio maquinário na concorrência
selvagem que se estabeleceu entre as diversas nações europeias, a ponto de conduzi-las à exploração dos continentes africano e asiático.
Com a percepção mais clara de que as tensões nacionalistas se avolumavam e, sobretudo, com a formação de alianças,
inaugurou-se uma nova modalidade de indústria; a indústria armamentista.

88 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias

British Government

Serbian archives.
Rei George V e um grupo de oficiais inspecionam
uma fábrica de munições britânica em 1917.
Essa foto é geralmente associada à prisão de Gavrilo Princip, embora alguns
acreditam que se trate de Ferdinand Behr, um espectador que foi inicialmente
Tão eficiente quanto a indústria comum, a indústria suspeito do envolvimento no assassinato.
armamentista também geraria lucros e empregos, alimentando a
Gavrilo Príncip, anarquistas, nacionalistas e radicais do
guerra não mais como possibilidade, mas como necessidade, para
Grupo Mão Negra conseguiram promover o atentado contra o
dar sentido à fabricação de armamentos em geral. arquiduque e a sua esposa Sophie, em 28 de junho de 1914, sendo
Interessante é notar que a divisão do trabalho, além arrastado pelos policiais, depois de duas tentativas fracassadas de
de atender à uma lógica própria do sistema fabril, também, suicídio: com um tiro e com um veneno já vencido.
garantiu a alienação do proletariado quanto ao fato de estarem Estava, portanto, deflagrada a faísca que fez explodir a
produzindo tanques, metralhadoras, submarinos ou aviões, Primeira Guerra, uma vez que a Áustria-Hungria, diante da iminência
enfi m, de um certo modo, estava garantido o “segredo de declarar guerra à Sérvia (apoiada pela Rússia), pediu o apoio da
Estado” necessário. Alemanha. O problema é que a entrada da Alemanha na guerra
levaria à oportunidade de confronto que a França tanto esperava
para recupera a Alsácia-Lorena.
A questão balcânica e Mesmo com as solicitações alemãs de neutralidade da
Rússia diante do evento, os russos, que já tinham aderido à Entente,
o estopim da guerra em 1907, demoraram a responder e acabaram apoiando os sérvios,
associando-se militarmente aos franceses.
As tensões entre sérvios e austro-húngaros se ampliaram A Inglaterra pretendia permanecer neutra, no entanto,
na medida em que os primeiros conseguiram garantir alguma os alemães invadiram a sua aliada Bélgica, sendo forçada a entrar
autonomia territorial, frente ao domínio imperialista na região. diretamente no conflito.
O território da Bósnia-Herzegovina tornou-se o epicentro
de um impasse que levaria a acender o estopim da Primeira Grande
Guerra.
O processo de guerra
Diversos grupos de ativistas se organizaram no interior do

George H. Mewes/Wikimedia Foundation


país para lutar pela libertação dos bósnios em relação ao Império
Austro-Húngaro, entre estes grupos, havia o “Mão Negra”, de
cunho anarquista e terrorista, cujo lema era “Libertação ou Morte”,
portanto, um grupo radical que enxergou na visita do arquiduque
Franz Ferdinand em Sarajevo a oportunidade de desarticular as
forças do governo.
Desde 1870, a região vivia sob estado de forte tensão
também em função do Império Otomano, já que regiões como
a Bulgária, Montenegro, Romênia, Macedônia e Sérvia travavam
lutas nacionalistas.
Surgia no território um movimento conhecido como
pan-eslavismo e passou a contar com o apoio da Rússia em
1877, levando à derrota dos otomanos e ao reconhecimento da
emancipação sérvia, romena e montenegrina, fracassando, porém
a tentativa de independência da Bulgária, retomada pelos russos,
depois da Guerra da Criméia, enquanto a Bósnia ficou sob o
domínio do Império Áustro-Húngaro, em 1878, anexando-a,
formalmente, em 1908.
Por isso, quando eclodiu a Primeira Guerra, a Rússia deu
suporte militar à Grécia, Bulgária e Sérvia, contribuindo para a
completa expulsão dos turcos e a consequente divisão do território Tropas russas em uma trincheira,
búlgaro dando origem à Albânia. esperando o ataque alemão, em 1917.
A anexação da Bósnia provocou uma onda de protestos Se o mundo houvera assistido guerras como as napoleônicas,
e conflitos, sobretudo, entre a juventude nacionalista sérvia que que assombraram a Europa através de canhões e baionetas,
culminou com a articulação do plano de assassinato de Franz a Primeira Guerra Mundial, desencadeada em 1914 não tinha
Ferdinand, herdeiro do trono austríaco. precedentes de comparação.

Anual – Volume 3 89
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Estamos diante de uma guerra de caráter industrial; O problema é que a Alemanha sofria um cerco, contra a
seu armamentismo estaria forjado em uma tecnologia que a França e contra a Rússia na parte oriental, tendo que lutar em duas
tornava rápida, letal e extremamente eficiente. Desse modo, frentes de batalha mas concentrando-se, sobretudo, na busca por
foram abandonados os confrontos ou estratégias de colunas debilitar o exército russo, a partir de 1915. O problema é que a Itália
antes utilizados pelas nações, mediante marchas ao som de rompeu com a Tríplice Aliança, integrando-se à Entente Cordiale,
tambor e trompetes. ainda assim, os alemães contaram com a adesão da Turquia e da
Bulgária.

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Agence Rol/Biblioteca Nacional da França.


Soldados alemães a caminho do frente, em 1914. No início da Soldados franceses alinhados para a luta (1914).
guerra, ambos os lados esperavam que o conflito seria curto.
Em 1916, os alemães conseguiram novamente avançar sobre
A Primeira Guerra tornava suicídio qualquer forma de Paris, tentando estabelecer um domínio, a partir do nordeste da França,
maior exposição do peito livre do soldado. O longo alcance de com a derrocada das fortalezas de Verdun, enquanto os franceses os
metralhadoras e canhões; a aviação; a utilização do lança-chamas, atacaram através do Rio Somme, causando uma das maiores baixas
enfim, o advento dos tanques de guerra – uma invenção inglesa –, de todo o processo de guerra, cerca de um milhão de soldados de
tornaram a guerra um espaço no qual era mais do que necessário ambas as nações morreram nesse confronto e, embora se mantivesse
estar protegido para um ataque seguro. um equilíbrio entre elas, a Alemanha não conseguiu o seu intento de
Por isso, afirmamos que as trincheiras não foram o controlar o território francês, conforme havia planejado.
resultado da engenhosidade de um homem, mas uma necessidade A expansão e a demora indefinida da Guerra já havia
inevitável, a fim de que as balas não alcançassem os soldados, sob depauperado a Rússia, a ponto de o conselheiro Rasputin haver
a utopia de que os aviões não os enxergassem.
aconselhado o Czar Nicolau II a retirar as suas tropas, já em 1915.
O soldado perdeu a noção do tempo; havia o tempo
Um conjunto de eventos desenvolveu uma trama que levaria à morte
psicológico e o tempo real, em uma guerra que as ilusões
do monge místico da Sibéria, tendo a Inglaterra como a principal
governamentais imaginavam não durar um ano e que se arrastou
até 1918. interessada na manutenção dos esforços de guerra da Rússia, em face
Minas, bombas, explosões, um som ensurdecedor fez parte da necessidade de preservar a superioridade militar na parte oriental.
de um cenário caracterizado por cinza e escombros, levando muitos Ressalte-se que o envolvimento da Rússia na Primeira Guerra
indivíduos à loucura, ao transtorno de ordem mental. Além disso, contribuiu com a articulação da revolução bolchevista, em outubro
eram utilizadas bombas de gás asfixiante. de 1917, pelo enfraquecimento interno da família Romanov, diante
da população, aprofundando as contradições já existentes de uma
nobreza radicada no antigo regime e na influência da Igreja Ortodoxa.
Royal Engineers No 1 Printing Company./Wikimedia Foundation

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Alemães em uma trincheira de comunicação.

O epicentro da guerra não foi somente o continente


europeu. Espalhou-se pelas colônias, envolvendo ainda o Japão e
a Turquia.
Com o plano de invadir a França e aplicar o Plano
Schilieffen, do general de mesmo nome, a Alemanha invadiu a Pôster estimulando mulheres a se
Bélgica, forçando a entrada dos ingleses, em defesa daquele país, juntarem ao esforço britânico da guerra,
enquanto os alemães eram derrotados na Batalha de Marne, em publicado pela Associação Cristã
setembro de 1914, o que revelava a fragilidade daquela estratégia. de Mulheres Jovens.

90 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
A essa altura, a Europa caminhava para um colapso econômico; as matérias-primas estavam em processo de total
esgotamento; os milhões de soldados mortos tencionava ainda mais o apoio popular aos governos envolvidos; mulheres e crianças
tiveram que ser introduzidas no interior das fábricas; estouraram revoltas sociais na Itália, bem como na França, Áustria e Alemanha;
o estado de desequilíbrio minava a infraestrutura geral, provocando uma crise no próprio sistema capitalista.

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Tratado de Brest-Litovski, 1918.

No entanto, dois eventos alteraram os rumos da guerra: a Revolução Socialista Russa levou à assinatura do Tratado Brest-
Litovscky com a Alemanha – um armistício. E a entrada dos Estados Unidos na guerra, em face do afundamento do navio Luzitânia
que, embora inglês, conduzia civis norte-americanos.

O fim do isolamento dos Estados Unidos e do Brasil na guerra


Podemos afirmar que o processo de isolamento dos Estados Unidos e do Brasil obedeceu a fatores geográficos, geopolíticos,
econômicos e ideológicos.
A ideia de não se envolver nos conflitos próprios da Europa vinha de longe, desde a Doutrina Monroe (1823), com a
pregação de uma “América para os Americanos”, os estadunidenses buscaram concentrar os seus esforços industriais e imperialistas
(Big Stick, no século XIX) no próprio continente.

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Primeira página do The New York Times no Dia do Armistício,


em 11 de novembro de 1918.

Anual – Volume 3 91
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
No entanto, a guerra trouxe consigo uma grande possibilidade O desfecho da guerra
de ampliar os lucros, provocando a expansão do parque industrial
dos Estados Unidos, por isso mesmo, mantendo-se neutro diante do

Leonard P. Ayers, ed/Wikimedia Foundation


2.000.000

conflito, visando utilizar a guerra como instrumento de enriquecimento


geral. Alemães
1.600.000 1.639.000
1.672.000 1.682.000
Aliados
1.569.000 1.694.000
O aumento das taxas de exportação norte-americana foi 1.500.000
1.556.000
1.485.000
1.495.000
tão extraordinário que essa nação, antes devedora dos países Aliados
1.412.000 1.395.000
1.339.000
1.343.000
europeus, passou à condição de credora dos mesmos, tudo em 1.245.000 Alemães 1.223.000

função da guerra.
1.000.000
O Brasil, por sua vez, vivia uma atmosfera de Bélle Époque
866.000
durante o século XIX e início do século XX, de modo que apenas
ensaiava maiores iniciativas na expansão industrial, mesmo que
ainda estivesse radicado como um país eminentemente agrário 500.000

exportador.
O governo Venceslau Brás havia optado pela neutralidade,
até porque o Brasil não tinha infraestrutura para uma guerra daquele 0

porte, além dos problemas internos que o mesmo enfrentava quanto Apr. 1 May 1 June 1 July 1 Aug. 1 Sept. 1 Oct. 1 Nov. 1

às questões trabalhistas e sociais, já em pauta naquele momento Aliados aumentaram sua força de linha de frente enquanto a força
histórico. alemã caiu na metade de 1918.

A nova tentativa alemã de furar o bloqueio francês na cidade


Arquivo Plínio Doyle/WIkimedia Foundation
de Paris foi fracassada, em face da disseminação do contingente militar
norte-americano, em 1918. Essa nova tentativa somente foi deflagrada
porque a Grã-Bretanha, os Estados Unidos, a própria França e o Japão
estavam tentando minar o avanço bolchevista na Rússia.
A Bulgária não suportou a guerra e abandonou o seu
desenvolvimento em setembro de 1918; a Áustria-Hungria já se achava
falida e em vias de desmembramento ou fragmentação, retirando-se da
guerra, juntamente com os Turcos, cujo império também se esfacelara.
Desse modo, a Alemanha ficou praticamente isolada,
insistindo incoerentemente com a permanência na guerra,
ampliando sua humilhação e derrota, quando a Turquia também
deixou o cenário de guerra. A população já se achava faminta
e esgotada protestando contra a manutenção do conclave. Sob
pena de desaparecer do mapa, a Alemanha finalmente se rendeu,
Venceslau Brás declara guerra contra o Império Alemão. Ao seu lado, mas somente em novembro de 1918, com a renúncia do kaiser
o ex-presidente da República e ministro interino das Relações Exteriores, Guilherme II. Surgiria, a partir daquele momento, a República de
Nilo Peçanha, e o presidente de Minas Gerais e futuro Weimar, com o fim do chamado II Reich.
presidente da República, Delfim Moreira.
O saldo da guerra era desesperador. Alguns analistas
calculam o número de quase dezesseis milhões de mortos, além
Foi a dependência econômico-política do Brasil quanto aos de um exército de mutilados, desaparecidos e transtornados.
Estados Unidos que o fez atuar de modo, mesmo que inexpressivo A economia estagnou-se; um processo inflacionário tomou conta
no processo de guerra, rompendo com a neutralidade em outubro dos países europeus, em especial; o Império Áustro-Húngaro deixou
de 1917, já que, além de compor contingentes na Cruz Vermelha de existir, juntamente com o Império Turco-Otomano.
e dar suporte à guerra da Entente com o fornecimento de alimentos Em janeiro de 1919, quase trinta países se reuniram em
e suprimentos em geral, os brasileiros atuaram nas expedições de torno da Conferência de Paris para assinar armistícios e acordos
patrulha no Atlântico e costa italiana, sem confronto mais direto de paz, sob a liderança dos países vencedores, da Tríplice Entente.
nos fronts de batalha. França e Inglaterra monopolizaram os dispositivos dos tratados
Os Estados Unidos entrou na guerra em face do ataque com o objetivo de arruinar econômica e politicamente a Alemanha.
alemão ao navio Luzitânia, também por motivações econômicas, já Foi criada a Liga das Nações, sob a sugestão do presidente
que a Europa caminhava para um desgaste financeiro que o afetaria Woodrow Wilson, com a finalidade de garantir a paz mundial, no
diretamente, além de perceberem a aproximação diplomática entre entanto, ele não alcançou o apoio do Congresso Norte-americano e
a Alemanha e o México. ainda perdeu as futuras eleições. Mesmo assim, teria elaborado um
A entrada dos Estados Unidos, em abril de 1917, foi documento; os 14 pontos para a paz e que, em síntese, defendiam
realmente decisiva para a vitória da Tríplice Entente. O equilíbrio a democracia como regime equânime; o direito à soberania nacional
econômico do país, a efetividade da atuação militar, a tecnologia dos países; o direito à autodeterminação dos povos; o capitalismo e
de guerra já ajustada ao patamar europeu foram elementos que as relações comerciais como instrumento para preservar as relações
de fraternidade entre as nações, entre outros princípios.
tornaram os norte-americanos heróis de guerra e proeminentes
A França, entretanto, enxergou naquele momento uma
líderes da vitória sobre os alemães. Mesmo que o democrata e
oportunidade para aplicar o seu revanchismo, através do Tratado de
presidente Wilson não quisesse se envolver na guerra, forçado pela
Versalhes, assinado em junho de 1919, resultado de uma imposição
opinião pública, articulou contingentes para o confronto e tornou-se sobre os alemães que, apesar de terem solicitado alterações nos
uma figura tão respeitada que chegou a ser chamado para liderar dispositivos expostos, não foram atendidos pela Liga das Nações.
a Liga das Nações, órgão criado com o objetivo de evitar novas Através dessas imposições, a Alemanha foi obrigada a
guerras e que se desviou, de imediato, dos seus fundamentos assumir total responsabilidade pela guerra; teve que iniciar o
pacificadores. pagamento de uma indenização de aproximadamente 33 bilhões

92 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
de marcos-ouro (moeda alemã); fornecer dezenas de toneladas de O NACIONALISMO
carvão sob o controle da França; devolver o território da Alsácia-
Entre as duas guerras, o esporte como um espetáculo de
-Lorena àquele país; eliminar a sua força área; aceitar a emancipação
massa foi transformado numa sucessão infindável de contendas,
da Polônia e Lituânia; ceder todas as suas colônias de ultramar para
onde se digladiavam pessoas e times simbolizando Estados-nações,
os países da Tríplice Entente; limitar o seu continente militar a apenas
o que hoje faz parte da vida global. [...] Eles simbolizavam a unidade
cem mil homens e não mais produzir armamentos. desses Estados, assim como a rivalidade amistosa entre suas nações
O fato é que tal humilhação desferida contra os alemães reforçava sentimento de que todos pertenciam a uma unidade, pela
se tornaria uma ferida, um rancor não curado, tornando o Tratado institucionalização de disputas regulares, que proviam uma válvula
de Versalhes, uma motivação para a eclosão da Segunda Guerra de escape para as tensões grupais, as quais seriam dissipadas de
Mundial, sob a liderança de Adolf Hitler, que havia sido um mero modo seguro nas simbólicas pseudolutas. [...]
soldado durante a Primeira Guerra. Entre as guerras, porém, o esporte internacional tornou-se
[...] uma expressão de luta nacional, com os esportistas representando
A herança da guerra seus Estados ou nações, expressões fundamentais de suas
comunidades imaginadas. Foi nesse período que [...] a Copa do
Novas fronteiras e espaços geográficos foram delimitados Mundo foi introduzida no meio futebolístico e, como demonstrou
após a Primeira Guerra Mundial, sobretudo com o surgimento o ano de 1936, que os Jogos Olímpicos se transformaram
do que se convencionou chamar de Leste Europeu, a partir da indubitavelmente em ocasiões competitivas de autoafirmação
fragmentação dos impérios Austro-húngaro e Turco-otomano. nacional. O que fez do esporte um meio único, em eficácia, para
A Áustria-Hungria se dividiu entre Tchecoslováquia, Áustria inculcar sentimentos nacionalistas, de todo modo só para homens,
e Hungria, sendo obrigada, ainda, a ceder territórios para a Itália, foi a facilidade com que até mesmo os menores indivíduos políticos
também para novos países como a Iugoslávia, Romênia e Polônia. ou públicos podiam se identificar como a nação, simbolizada por
Os turcos-otomanos tiveram que sofrer o domínio inglês jovens que se destacavam no que praticamente todo homem
fragmentando a sua parte oriental e tomando posse da Palestina quer, ou uma vez na vida terá querido: ser bom naquilo que faz.
(região neutra) e da Mesopotâmia, com a França controlando a A imaginária comunidade de milhões parece mais real na forma de
Síria e o Líbano. um time de onze pessoas com nome. O indivíduo, mesmo aquele
Além disso, devemos registrar o massacre ou genocídio que apenas torce, torna-se o próprio símbolo de sua nação. [...]
armênio que se iniciou em 1915, levando à morte de mais de [...] Entre os ex-beligerantes, o nacionalismo, é claro, tinha
1 milhão de armênios, que tiveram seus livros queimados, perseguição sido reforçado pela guerra, especialmente após a maré de esperança
de literatos, pensadores e poetas, além da sua deportação. revolucionária ter baixado no início da década de 20. O fascismo
Pode-se afirmar que a Primeira Guerra Mundial ocasionou e outros movimentos direitistas foram rápidos em explorar isso,
o fim da hegemonia europeia mundial e o enfraquecimento do fazendo-o, em primeira instância, para mobilizar os estratos médios,
exclusivismo econômico e industrial inglês, diante, sobretudo, da e outros apavorados com a revolução social, contra a ameaça
ascensão dos Estados Unidos. vermelha que podia ser – especialmente na sua forma bolchevique
O depauperamento geral das economias europeias também – rapidamente identificada com o internacionalismo militante e, o
que parece ser a mesma coisa, com um antimilitarismo reforçado
contribuiria para a futura crise do liberalismo econômico e político,
pelas experiências bélicas em 1914-1918. O apelo de tal propaganda
tendo como desdobramento o surgimento dos estados totalitários
nacionalista era bem mais eficiente, de fora, e os traidores, de
e a eclosão da crise de 1929, que abalaria o mundo capitalista.
dentro, pelo fracasso ou pela fraqueza. E havia bastante fracasso e
Também podemos anotar a formação do primeiro país
fraqueza para serem explicados.
socialista do mundo, com a vitória da Revolução Bolchevique,
liderada por Lenin, provocando, ainda, alguma industrialização dos HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780.
países da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 170-2.
De algum modo estava predestinada a Segunda Guerra, em
face do revanchismo alemão que se estabeleceu e, sobretudo, em
função das problemáticas imperialistas que não foram solucionadas, Exercícios de Fixação
nem as disputas territoriais diluídas.

Leitura Complementar 01. (Uerj/2019) Tratado de Versalhes (1919)


PARTE VII
OS MOTIVOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL Sanções
“Cada país temia que sua existência e seu futuro estivessem Artigo 227
ameaçados pelos outros. O verdadeiro ‘culpado’ se encontra nessa As potências aliadas ou associadas acusam publicamente a
atmosfera de insegurança coletiva que pesa sobre a Europa no Guilherme II de Hohenzollern, ex-Imperador da Alemanha, por
decênio que vai de 1905 a 1915. (...) Assim, a guerra poderia ser ofensa suprema contra a moral internacional e a autoridade
evitada? sagrada dos Tratados.
Somente uma ação política decisiva, capaz de restaurar
a confiança nas relações internacionais e desfazer o clima de PARTE VIII
desconfiança, poderia detê-la. Mas ninguém caminhava nessa Reparações
direção. Artigo 231
O reforço das ideologias nacionalistas, que as classes Os governos aliados e associados declaram e a Alemanha
dominantes burguesas tinham conseguido implantar em largos reconhece que ela e seus aliados são responsáveis por haver
setores da classe média, não contribuiu para acalmar os ânimos. causado todas as perdas e todos os prejuízos que sofreram
Ele acabou degenerando sob a forma de chauvinismo [fanatismo], os Governos aliados e associados e seus cidadãos, como
de racismo, de agressividade imperialista”. consequência da guerra que foi imposta pela agressão da
ISNENGHI, Mario. História da Primeira Guerra Mundial. Alemanha e de seus aliados.
São Paulo: Ática, 1995. pp. 13-14.
Disponível em: <cervantesvirtual.com>. Adaptado.

Anual – Volume 3 93
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
O Tratado de Versalhes foi elaborado no contexto das 03. (FGV/2018) Observe os dois mapas.
negociações de paz após o fim da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918). A partir do texto anterior, observa-se que no

Reprodução/FGV 2018
tratado foram instituídas cláusulas para o governo alemão com
base no seguinte princípio:
A) belicismo.
B) revanchismo.
C) integracionismo.
D) colaboracionismo.

02. (Mackenzie/2018)

Reprodução/Mackenzie 2018

Pierre A. Renoir, artista francês, ao realizar seu trabalho Baile


no Moulin de la Galete, em 1876, registrou a alegria, otimismo
e a intensa movimentação em Paris, no final do século XIX: a
Belle Époque. Esse período, marcado por um intenso progresso
científico e tecnológico que, de forma acelerada, apontava para
um período de prosperidade e paz.
Todavia, sob a aparente tranquilidade e segurança desse Antonio Pedro e Lizânias de Souza Lima. História por eixos temáticos, 2012.
cenário, desenrolavam-se inúmeros fatores de insatisfação,
que acabaram por levar à Grande Guerra de 1914. A respeito O Mapa 1 representa
dos precedentes que levaram ao conflito mundial, é incorreto A) a Europa no início do século XIX, no momento da expansão
afirmar que: do Império Napoleônico, que se estende até a Rússia; o
A) a Alemanha, para combater a concorrência comercial, Mapa 2 mostra a Europa pós-Segunda Guerra, isto é, em
adotou uma política de expansão pelo uso da força plena Guerra Fria, com o aumento do poder da URSS e de
militar, fechando-se perante qualquer solução diplomática,
seus satélites.
provocando inúmeros atritos com os demais países, que só
B) a Europa no início do século XX, com os impérios Russo,
foram solucionados por meio da guerra.
Austro-Húngaro, Alemão e Otomano e as potências como
B) apesar de persistirem antigas rugas entre Inglaterra e
França, os mesmos se aliaram, junto com a Rússia, em 1907, a França e Reino Unido; o Mapa 2 mostra a divisão política
formando a Tríplice Entente, com o objetivo de combater os após a Primeira Guerra, com surgimento de novos países a
interesses imperialistas alemães sobre os mercados chineses partir do fim desses impérios.
e africanos. C) todos os países envolvidos na Guerra dos 7 anos, entre
C) mesmo apresentando um cenário tranquilo, várias nações 1756 e 1763, na Europa: França e Espanha de um lado e,
europeias se dedicaram a fortalecer o exército e a marinha, Inglaterra e Portugal, de outro; Mapa 2 mostra os países da
e a adotar o serviço militar obrigatório. Esse período, de OTAN e do Pacto de Varsóvia, blocos militares surgidos no
corrida armamentista e ausência de guerras, ficou conhecido contexto da Guerra Fria.
como Paz Armada (1870-1914). D) as transformações geopolíticas das decisões do Congresso
D) os países europeus tinham necessidade de expandir seus de Viena em 1814-1815, reduzindo os territórios dos
mercados consumidores e, na disputa pelos mesmos, fizeram perdedores, como a França; o Mapa 2 mostra o resultado
surgir diversas zonas de tensão, além de despertarem o
político da vitória dos Aliados na Segunda Guerra, como a
sentimento cívico e patriótico nas regiões sob o domínio
URSS, a Inglaterra, a França e a Polônia.
estrangeiro.
E) o atentado de Sarajevo acabou se tornando o estopim para o E) o momento final do processo de unificação da Alemanha, na
início da guerra, não tanto pela gravidade do fato em si, mas, segunda metade do século XIX, com a formação do Segundo
sobretudo, devido à série de acordos e alianças, que foram Reich; o Mapa 2 mostra a Europa no final dos anos 1970,
estabelecidos entre vários países, que se comprometiam a com a queda do Muro de Berlim e as repercussões do fim
se auxiliarem mutuamente. do avanço soviético.

94 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
04. (Unesp/1998) “A guerra atual é, por parte de ambos 02. (PUCRJ/2017)
os grupos de potências beligerantes, uma guerra (...)
conduzida pelos capitalistas pela partilha das vantagens

Reprodução/PUCRJ 2017
que provêm do domínio sobre o mundo, pelos mercadores
do capital financeiro (bancário), pela submissão dos povos
fracos etc.”
Resolução sobre a Guerra, publicada no jornal
PRAVDA em abril de 1917.

O texto oferece uma interpretação característica dos


bolcheviques sobre a
A) Guerra Russo-Japonesa.
B) Guerra da Coreia.
C) Guerra da Crimeia.
D) Primeira Guerra Mundial.
E) Primeira Guerra Balcânica.

05. (PUC-Camp/1998)
I. “... a disputa de mercados pela indústria inglesa, mais antiga,
e a emergente indústria alemã”;
II. “... conflitos do capital internacional e problemas das
minorias nacionais oprimidas pelos grandes impérios”;
III. “... interesse anglo-francês em manter a sua hegemonia
imperialista sobre as áreas periféricas do planeta,
situação privilegiada, ameaçada pela concorrência
da Alemanha Imperial, recém-chegada à corrida Disponível em: <http://www.iwmshop.org.uk/images/prod_12784.jpg>.
neocolonialista.” Acesso em: 19 set. 2016.

O cartaz acima mostra Lord Kitchener, Secretário de Estado da


Aos itens I, II e III pode-se associar Guerra do governo britânico, entre 1914 e 1916, conclamando
A) as consequências da escalada militarista e expansionista a população a se alistar nas forças armadas britânicas por
durante o Nazifascismo.
ocasião da Primeira Guerra Mundial.
B) os aspectos das relações políticas internacionais no período
Entre Guerras. O cartaz põe em destaque
C) as razões da descolonização afro-asiática após a Segunda A) o igualitarismo.
Guerra Mundial. B) o nacionalismo.
D) as causas principais dos conflitos étnicos no Leste C) o eurocentrismo.
Europeu. D) o regionalismo.
E) os fatores responsáveis pela Primeira Guerra Mundial. E) a xenofobia.

03. (UPF/2016) Atualmente, vemos o ressurgimento de organizações


e manifestações fascistas e nazistas em várias partes do mundo,
inclusive no Brasil.
Exercícios Propostos Enquanto modelo político, o nazismo e o fascismo surgiram
como consequência:
A) do desenvolvimento de partidos nacionalistas, com
01. (EsPCex (Aman)/2018) Pouco depois da 1ª Guerra Mundial, pregações em favor de um Executivo forte, totalitário, com
em 28 de abril de 1919, os membros da Conferência de o objetivo de solucionar a crise generalizada diante da
Paz de Versalhes aprovaram a criação da Liga das Nações, desorganização surgida após a Primeira Guerra.
atendendo a uma proposta do presidente dos Estados B) da esperança de conseguir estabilidade com a união das
Unidos, Woodrow Wilson. Aponte, nas alternativas abaixo, o “doutrinas liberais” de tendências individualistas, contrárias
país que não participou da Liga das Nações, com o respectivo às tendências socializantes que estavam em voga na
motivo. Europa.
A) Estados Unidos, porque teve sua participação vetada pelo C) da instituição do parlamentarismo na Itália e na Alemanha,
Senado Americano. agregando partidos populares nacionalistas, contrários à
B) Inglaterra, porque, sendo uma ilha, não viu necessidade de grande burguesia.
participar da Liga. D) do enfraquecimento da alta burguesia e do apoio do
C) França, porque era inimiga da Alemanha e queria sua governo às camadas sociais lideradas pelos sindicatos
destruição e não um acordo. socialistas.
D) Itália, que não teve direito de participar porque inicialmente E) do coletivismo pregado pelos marxistas, que causava
integrou a Tríplice Aliança. verdadeiro pavor nas classes trabalhadoras, que lutavam
E) Brasil, porque, sendo um país sul-americano, estava muito por estabilidade no trabalho e por melhoria das condições
longe da guerra. de vida.

Anual – Volume 3 95
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
04. (ESPM/2015) “Foi um período caracterizado por rápidas CARTAZ FRANCÊS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
investidas. Os alemães invadiram a Bélgica, cuja resistência

Reprodução/Mackenzie 2014
heroica, notadamente em Liège, possibilitaria a plena mobilização
dos franceses e dos russos. Apesar dos esforços franceses, 78
divisões germânicas armadas com artilharia pesada chegaram às
vizinhanças de Paris. Graças à extrema habilidade do general Joffre,
os alemães foram obrigados a recuar até o vale do Rio Marne,
onde, em setembro, foi disputada a primeira batalha do Marne
com a participação de 2 milhões de homens.”
Luiz Cesar Rodrigues. A Primeira Guerra Mundial

A primeira batalha do Marne tratada no texto deve ser


relacionada com
A) a Blitzkrieg, estratégia de guerra alemã que combinava o rápido
avanço de tropas de infantaria com o apoio aéreo e de blindados.
B) a guerra de trincheiras, cenário que dominou todo o curso
da Primeira Guerra Mundial.
C) a guerra de movimento, adotada no início da Primeira
Guerra Mundial pelos alemães, estratégia que fazia parte
do chamado Plano Schlieffen.
D) a primeira batalha em que se registrou o emprego do gás
como arma, recurso utilizado pelos alemães.
E) o sucesso do plano escolhido pelos alemães para derrotar
rapidamente a França, pois com a vitória na Batalha do
Marne os alemães conquistaram Paris. Biblioteca Nacional de Portugal.
Disponível em: <http://purl.pt/609/1>.
05. (PUCCamp/2017) “O mundo está quase todo parcelado e o
que dele resta está sendo dividido, conquistado, colonizado. Em 1º plano, globo terrestre com mancha de sangue alastrando
Pense nas estrelas que vemos à noite, esses vastos mundos que a partir da França; por detrás, soldado francês tentando,
jamais poderemos atingir. Eu anexaria os planetas, se pudesse; com dificuldade, fixar nesse ponto uma bandeira um pouco
penso sempre nisso. Entristece-me vê-los tão claramente e ao esfarrapada com a palavra “Liberté” (“Liberdade”). O soldado
mesmo tempo tão distantes.” veste uma farda de cor azul; a bandeira é branca, com letras
Cecil Rodes vermelhas, mesma cor do sangue que escorre sobre o globo.
Ao mesmo tempo, essas palavras refletem e, em última Vermelho, azul e branco são as cores da bandeira francesa.
instância, remetem ao fator determinante, para muitos
Pela análise do texto e da imagem, conclui-se que uma ideologia
historiadores especialistas no tema, da Primeira Guerra Mundial:
está por trás, tanto da discussão realizada no excerto, quanto na
o Imperialismo.
montagem e na organização do cartaz. Essa mesma ideologia
In: BERUTTI, Flavio. Tempo, Espaço & História. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 404. esteve não somente entre as causas da Grande Guerra, mas
também nas insatisfações que levariam à Segunda Guerra
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que a Guerra de 1914 Mundial (1939–1945). Trata-se do
A) estabeleceu os fundamentos do armamentismo na A) internacionalismo. B) socialismo.
geopolítica de conquista territorial. C) nacionalismo. D) liberalismo econômico.
B) resultou da emergência das revoluções socialistas que E) nazifascismo.
desajustaram os países capitalistas.
C) marcou o início de uma nova era na história da sociedade 07. (UPE/2015) No início de 1914, o Estado Otomano estava sob
e um desafio à ordem burguesa. o firme controle do Comitê União e Progresso, sobretudo dos
D) foi o desdobramento previsível e inevitável das contradições ministros Talaat Paxá, do Interior, Djemal Paxá, da Marinha e Enver
próprias do capitalismo. Paxá, da Guerra. Apesar de seus procedimentos autoritários, eles
E) representou o fim da política de compensação territorial contavam com bastante apoio popular. Em agosto, iniciada a
adotada pelas nações imperialistas. Grande Guerra, escolheram ombrear-se com a Alemanha, apesar
das opiniões divergentes no gabinete governamental.
06. (Mackenzie/2014) A respeito da Primeira Guerra Mundial
GONÇALVES, José Henrique Rollo. O Império Otomano e as Rivalidades
(1914–1918), analise o texto e a imagem que se seguem. Imperialistas. In: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (ORG).
Impérios na História. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2009, p. 220.
[Na França] (...) a bandeira tricolor, ou seja, o repúdio da
bandeira branca (a monarquia) e da bandeira vermelha
O relato anterior destaca um momento bastante singular da
(o socialismo), e a soma das duas cores ao azul simbolizam
história do Império Turco Otomano.
emblematicamente um consenso que reunia laicos e cristãos. Os
Sobre esse período, assinale a alternativa correta.
padres se revelaram oficiais tão bons quanto os professores. (...).
A) Com o fim da Grande Guerra, os territórios do Império
A França e a Alemanha, duas nações cristãs, se massacraram
Turco Otomano ficaram sob a égide da Organização
durante mais de quatro anos. Hoje é possível apontar certa
das Nações Unidas e tiveram reconhecido seu direito à
ingenuidade nesse ardor patriótico: no entanto, foi ele que
autodeterminação.
permitiu a vitória à França e, para os alemães, evitou que suas
B) Os britânicos, logo após o fim da guerra, prometeram
forças armadas se desintegrassem em 1918.
independência aos árabes e construíram um lar nacional para
Gerard Vincent. Uma história do segredo. os judeus na Palestina, mediante a declaração de Balfour.

96 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
C) Ao aliar-se à Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial, 10. (FGV/2000) Os 14 pontos apresentados pelo presidente
o Império Turco-Otomano saiu fortalecido do conflito tanto norte-americano Woodrow Wilson, em janeiro de 1918,
política quanto economicamente, o que lhe proporcionou refletem alguns objetivos para a paz na Europa após a Grande
uma sobrevida até a Segunda Guerra Mundial. Guerra. Entre eles destacou-se a
D) Uma consequência direta da Grande Guerra foi o A) determinação da independência da Hungria, da Polônia, da
estabelecimento de uma República Turco-Grega com sede Iugoslávia e da Tchecoslováquia.
em Istambul e liderada por Mustafá Kemal. B) autorização para que os franceses passassem a controlar a
E) A Grande Guerra exauriu todos os recursos do sultanato, Síria, e os ingleses, a controlar a Mesopotâmia e a Palestina.
deixando-o definitivamente à mercê das grandes potências, C) correção do episódio que tinha perturbado a paz mundial
que, entre 1915 e 1917, negociaram a futura partilha do seu por muito tempo e determinava a devolução do território
território. da Alsácia-Lorena à França.
D) incorporação da Eslováquia à República Tcheca.
08. (UPF/2013) Após a Primeira Guerra Mundial os Estados Unidos E) determinação de que a Bulgária cedesse para a Romênia, a
da América destacaram-se no contexto internacional como Iugoslávia e a Grécia, a maior parte dos territórios anexados
um dos vencedores do conflito e como principal país industrial durante as guerras balcânicas.
do mundo. Sua riqueza contrastava com a Europa, devastada
com o conflito e ainda buscando sua reconstrução. Todavia,
a prosperidade dos anos 1920 não duraria muito para os
estadunidenses. Em 1929 a queda brusca dos valores das ações Fique de Olho
negociadas na Bolsa de Nova York desencadeou uma das mais
graves crises do capitalismo mundial.
Filmes:
Sobre o contexto mencionado anteriormente é correto afirmar Nada de Novo no Front (1930)
que: Glória Feita de Sangue (1957)
A) a Primeira Guerra Mundial foi muito vantajosa para os Lawrence da Arábia (1962)
estadunidenses, pois, para suprir a demanda de produtos e
alimentos da Europa em guerra, os EUA tiveram sua indústria Livros:
ampliada, diversificada e consolidada. ISNENGHI, Mario. História da Primeira Guerra Mundial. São Paulo:
B) as vendas de produtos foram estimuladas pela oferta de crédito Ática, 1995.
facilitado e de parcelamento das compras de bens duráveis. HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780. Rio de
C) a situação de depressão econômica nos EUA começou a Janeiro: Paz e Terra, 1991
ser diminuída com a eleição do democrata Franklin Delano KROPOTIKIN, Piotr. O Estado e seu papel histórico. São Paulo:
Roosevelt e a posterior implantação do New Deal (Novo Imaginário, 2000. p. 90-91.
Acordo).
D) o cotidiano dos cidadãos norte-americanos foi bruscamente Site:
alterado pela crise iniciada em 1929. A Cruz Vermelha Aula respectiva da FBTV
organizava filas para a distribuição de comida e roupas, http://spotniks.com/a-1-guerra-mundial-em-25-fotos-colorizadas/
em um contraste com o anunciado american way of life
(estilo de vida americano), que tinha como pressupostos o
Seção Videoaula
consumismo e o liberalismo econômico.
E) todas as alternativas estão corretas.

09. (UFPR/2012) Com base nos estudos sobre as consequências da


Primeira Guerra Mundial
Primeira Guerra Mundial para a Europa, é correto afirmar:
A) Apesar de grande parte do território europeu ter sido
devastado com a Guerra, o mapa geopolítico do continente
permaneceu o mesmo, demonstrando a força das
monarquias nacionais.
B) A Primeira Guerra Mundial levou ao fim o Império Austro-
-Húngaro e Otomano, que se dividiram em diversos países Aula 14:

C-2 H-10
independentes e adotaram o socialismo soviético, conforme Aula C-3 H-11, 14
acordado no Tratado de Brest-Litovski. Revolução Socialista Russa H-15
C) Essa Guerra marcou o final dos Impérios Austro-Húngaro 14
e Otomano, a implantação do modelo democrático-liberal
em vários países europeus, a afirmação do princípio de
autodeterminação dos povos em bases étnicas e culturais e a
grande penalização da Alemanha pelo Tratado de Versalhes. Introdução
D) A Alemanha e a Itália foram as grandes derrotadas nessa A história não se desenvolve de um modo uniforme.
guerra, perdendo parte de seus territórios, que se declararam A prova disso é a Revolução Russa diante de um passado marcado
independentes pelo princípio de autodeterminação do pelo Antigo Regime e da presença ainda de elementos próprios do
presidente Woodrow Wilson. arcaico sistema feudal.
E) Além do final do Império Otomano, essa guerra trouxe o fim Também não podemos afirmar que os historiadores,
dos impérios coloniais de França e Alemanha, sem contar analistas, revisionistas e pensadores da ciência histórica são profetas,
o fim do recém-implantado socialismo soviético, por conta tendo em vista que muitas das suas perspectivas também sofrem o
do Tratado de Versalhes. condicionamento e o limite do seu tempo.

Anual – Volume 3 97
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Karl Marx, por exemplo, imaginava que o Socialismo seria o Ao lado desse cenário de euforia transformadora e radical
resultado das contradições capitalistas e acreditava, portanto, que a se conglomeravam os mencheviques, mais moderados e crentes
nação que se achasse mais desenvolvida em termos capitalistas é que em uma mudança que preservasse a figura do czar sem grandes
sofreria a revolução do proletariado. No entanto, a Inglaterra, como poderes, subserviente à autoridade do parlamento.
berço e liderança industrial, prosseguiu capitalista e o socialismo viria a De fato, o turbilhão histórico-social da Rússia viveria três
se manifestar em um país ainda, predominantemente, rural. momentos de grande convulsão: o Ensaio Geral, a Revolução
de Março e a Revolução de Novembro.

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O governo marcou a sua administração pelo abuso do
poder, pelo descaso com os problemas econômicos e sociais dos
camponeses, pela irreflexão na utilização do exército na Guerra
Russo-Japonesa de 1904, por ignorar a força das novas ideias
marxistas, pela violência com que tratou a Passeata Pacífica de
1905, pela irresponsabilidade e falha estratégica ao enviar as suas
tropas para a Primeira Guerra, desprotegendo-se internamente,
diante dos rumores revolucionários que já tomavam conta das ruas
de São Petersburgo.
“Todo poder aos soviets” era o grito que ressoava nos quatro
cantos da Rússia...

A Rússia pré-revolucionária
Maior país de toda a Europa, a Rússia tinha uma densidade
demográfica de, aproximadamente, cento e setenta milhões de
habitantes, situando-se entre o extremo leste da Ásia e toda a
Europa Oriental. Era um mosaico de culturas, etnias e nações fixadas,
sobretudo, na zona rural.
O processo de industrialização russo, portanto, representou
um anacronismo diante de tanto atraso econômico e tão variadas
Única página que restou do primeiro rascunho
do Manifesto Comunista, escrito à mão
crises existentes entre o campesinato, diante de um reduzido
por Karl Marx. operariado que se formava incipientemente.

Military Historical Museum of Artillery, Engineers and Signal Corps, São


Petersburgo, Rùssia.
A Rússia vivia há décadas sob o domínio da família
Romanov e sob a influência predominante da Igreja Ortodoxa,
numa configuração típica de Antigo Regime.
O czar Nicolau II não conseguira imprimir um desenvolvimento
industrial dinâmico e o país se arrastava em meio à crise do campo
e aos conflitos sociais com as classes operárias.
O marxismo se espalhava pelas escolas e universidades à
revelia do governo e da censura, contagiando intelectuais e até
convertendo burgueses.
Comissões de trabalhadores e de soldados, denominados
soviets, representantes de um segmento massificado de classes
subalternas integravam-se aos anseios do partido bolchevique,
quanto à necessidade da implantação de um governo socialista.
Uma mentalidade conservadora e autoritária pensava no
marxismo não apenas como uma via de elaboração da justiça social,
mas como uma fuga dos valores feudais do passado.
LAVROV, Nikolay (1820-1875).
Katedra Chrystusa Zbawiciela w Moskwie CC BY-AS 2.5/Wikimedia Foundation

Alexandre II, 1868.

Tão lento era o processo de desenvolvimento político-


-econômico do país que, somente em 1861, no governo do czar
Alexandre II, é que grande parte da população havia se liberado da
servidão coletiva, própria dos campos.
Porém, o processo histórico posterior viveu sob a tensão de
um controle ostensivo do governo sobre a vida pública dos cidadãos,
com a atuação de uma espécie de política denominada Okharana,
criada pelo czar Alexandre III, perseguindo opositores, assassinatos
e deportações de inimigos políticos.
A opressão acirrou ainda mais os ânimos das classes
subalternas que se dividiam ativistas chamados de eslavistas,
defensores do czarismo; os ocidentalistas que, embora fossem
conservadores, assimilavam ideias ocidentais de reforma;
os populistas ou narodniques que ansiavam por um socialismo rural;
e os marxistas propriamente ditos, que queriam uma revolução mais
Igreja Ortodoxa Russa. radical e totalizante.

98 Anual – Volume 3
História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Com a ascensão de Nicolau II (1894-1917) houve algum

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impulso ao processo de industrialização geral, a partir do
endividamento externo e de alianças feitas com o capital
internacional.

De Jongh Freres Neully Paris/Wikimedia Foundation


Membros da família Romanov, 1892. Guerra russo-japonesa.

A circulação de capital permitiu um fluxo financeiro capaz O investimento financeiro foi alto, porém, os russos vieram
de dar suporte à urbanização, com o crescimento das cidades e a ser derrotados, desestruturando o exército e a população pelo
abertura de vias férreas que alcançaram até o extremo oriente do elevado número de mortos, bem como pela vergonha nacional.
país. Desse modo, os contrastes e abismos sociais se alargaram Durante o processo de guerra, marinheiros iniciaram uma
ainda mais, diante de um reduzido número de burgueses e de um revolta, tomando o couraçado Potekimin, juntamente com soldados
extremo autoritarismo de Estado. do exército; explodiram, ainda, greves e protestos contra o regime
czarista e o seu autoritarismo e descaso.
Quaisquer revoltas eram duramente reprimidas, sendo quase
Parte da classe média, intelectuais e uma minoria elitista,
todas as forças oposicionistas anuladas, inibidas ou expulsas do
articulados através do partido Cadete ou Partido Constitucional
território nacional. Democrático passaram a pressionar o governo por reformas
Com a criação do Partido Social-Democrata Russo, em sociais urgentes. Manifestações se fizeram sentir diante do Palácio
1898 e de cunho socialista, o número de seus coligados cresceu de Inverno, em São Petersburgo, por volta do mês de janeiro de
assombrosamente, compondo-se de operários, camponeses e 1905, na tentativa de fazer o czar despertar da sua indiferença,
intelectuais variados, porém, muitos dos seus líderes, exilados utilizando-se de um manifesto.
que se achavam, fora da Rússia, realizaram uma Convenção Também chamada de a “Passeata Pacífica”, com a presença,
em Londres, por volta de 1903, contando com a presença de inclusive, de padres como o Padre Gapon, o movimento conduzia
personalidades como Lenin e Plekhakov. uma espécie de petição dos operários ao czar; no entanto, o
A convenção, entretanto, não se desenvolveu de forma Czar Nicolau II mandou atirar na multidão, causando centenas de
homônima, em face da oposição interna de ideias entre os mortes e fazendo esse domingo ser conhecido como o “Domingo
seus integrantes. A maioria (os bolcheviques), sob a liderança Sangrento”.
de Vladimir Lenin, pretendia criar um exército popular para Com a derrota para o Japão, a crise russa aumentou.
articular uma luta armada a fim de tomar o poder; a minoria O Japão tinha navios de tecnologia e potencial superior aos da
(menchevique), encabeçada por Julius Martov, imaginava Rússia, humilhando o seu rival e se revelando como uma potência
imperialista, fato que também ajudou a desgastar, cada vez mais a
chegar ao poder de modo pacífico, sem confrontos ou
imagem da família real e do regime czarista.
traumas, desenvolvendo alianças e acordos, mediante eleições
O episódio da tomada do couraçado Potekin, em 1905,
democráticas.
no mar negro reforçou a pressão popular, obrigando Nicolau II a
fazer algumas reformas liberalizantes, tais como a aceitação de
A guerra russo-japonesa uma Assembleia Constituinte, que mais tarde se converteria
em Congresso Nacional, mesmo com a maioria das atribuições e
e a situação interna deliberações centradas nas mãos do czar.
O imperialismo alcançou a esfera geográfica do Oriente,
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envolvendo nações como a Rússia e o Japão, de modo a


desenvolver uma acirrada disputa industrial, de hegemonia sobre
terras e mares.
Russos e japoneses se confrontaram tanto na Coreia como
na Guerra da Manchúria.
Iniciada no nordeste da Ásia, entre 1904 e 1905, essa guerra
tratava-se de um desdobramento das disputas imperialistas na
região, rica em carvão mineral e ferro, além de servir de entreposto
comercial para ambas as nações. Stalin, Lenin e Mikhail Kalinin em 1919.

Anual – Volume 3 99
CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Na medida em que a autocracia do governo não cedia O governo provisório
espaço para uma mais ampla cidadania popular, camponeses,
soldados e operários formavam conselhos chamados “sovietes”, A expansão das revoltas em 1917 tomou as ruas de
permitindo uma unidade revolucionária que serviu de base para a Petrogrado, que passou a ser chamada de São Petersburgo, já que
futura articulação bolchevique, na tomada do poder. aquele nome era tido como de origem alemã. Os ativistas exigiam
O Parlamento ou Duma Legislativa, no entanto, apenas o fim do governo czarista. Em março, os revoltosos dominaram,
completamente, as ruas da capital e as tropas acionadas pelo
figurava diante das medidas neutralizantes do Czar, afastando a
governo agora se recusavam a atirar na multidão.
possibilidade de uma mudança pautada em parâmetros pacíficos,
ainda mais que a repressão aos movimentos populares prosseguiu

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até 1912.

O advento da Primeira Guerra


A Rússia czarista estava endividada com o capital estrangeiro;
a fome e o frio assolavam os camponeses; as revoltas reprimidas
não impediam novos protestos, e o czar estava preso a uma política
de alianças.
Os interesses internacionais russos se voltavam para a
Sérvia, na luta por emancipação da Bósnia-Hezergovina contra
o Império Áustro-Húngaro e, sob a pressão da Alemanha,
a Rússia acabou se contrapondo aos germânicos, associando-se
à Tríplice Entente.
A Rússia, diante da recente Guerra Russo-Japonesa não tinha
o devido suporte para se introduzir na Primeira Guerra Mundial, Revolucionários prostestando em Fevereiro de 1917.
mesmo assim, o czar enviou as suas tropas; milhões de soldados
foram mobilizados para a morte. Formaram-se partidos de esquerda, representados
A industrialização russa, mal consolidada, teve que se pelos sovietes integrando, ao mesmo tempo, bolcheviques
voltar para a produção armamentista e, com ela, a concentração e mencheviques e tornando-se o centro da oposição ao
de capital na zona urbana agravou ainda mais o depauperamento Antigo Regime Russo. Em paralelo a esse grupo, formou-
da vida camponesa. se também um outro que passou a constituir a Duma
(parlamento), a fim de organizar um Comitê e estabelecer
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um governo provisório.
Com a renúncia do Czar, o poder da Duma se ampliou,
com a presidência atribuída ao presidente, um liberal de
nome Georgy Lvov, tendo Kerenski como vice-presidente,
representando o soviete de Petrogrado. O governo provisório
discutiria a permanência ou não na Primeira Guerra Mundial
e o perdão daqueles que se achavam exilados. Isso permitiu
o retor no de Lenin e Leon Trotski, que contribuiriam
ostensivamente para o fortalecimento político dos sovietes.
Os radicais esbarraram na premissa menchevique de
que as classes populares não tinham condições de assumir o
poder diretamente.
O problema é que o estado da Rússia na guerra se
agravava com o avanço da Alemanha e uma atmosfera de
insegurança tomou conta da população, gerando pressões
sobre o governo provisório e a consequente renúncia de
Lvov. Kerenski assumiu o comando sob a tentativa fracassada
de golpe por parte dos bolcheviques, que passaram a ser
Grigori Rasputin.
perseguidos violentamente, a ponto de Lenin ter que se exilar
As derrotas militares da Rússia, em 1915, foram vergonhosas, na Finlândia, enquanto Trotsky organizava uma revolta armada
mais de um milhão de soldados mortos. Foi por isso que Gregory a partir de Petrogrado, na condição de presidente do soviete
Rasputin, um místico que havia se associado à família Romanov em local, formulando o que se convencionou chamar de “Guarda
face da doença do filho do Czar e da sua esposa Alessandra, Alexei Vermelha”.
que tinha hemofilia, aconselhou Nicolau II a retirar urgentemente Em agosto de 1917, um novo golpe foi articulado
as suas tropas. pelo partido Cadete, juntamente com outras forças
Rasputin foi misteriosamente morto, para que a sua contrarrevolucionárias, ameaçando o encaminhamento
influência evitasse a saída da Rússia da guerra. O militarismo das transformações soviéticas. Embora debelado o golpe,
czarista tornou-se o seu suicídio político, já que a família real ficou fortaleceram-se as bases do bolchevismo quanto à necessidade
desprotegida em relação à possibilidade de uma guerra civil. de tomar o poder urgentemente.

100 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
A revolução de outubro Mas a prioridade do governo Lenin foi também a retirada
das tropas da Primeira Guerra, através da assinatura do Tratado
Com o agravamento da situação geral do exército na Brest-Litovski; armistício vantajoso para a Alemanha, que estaria
Primeira Guerra e o fortalecimento da Guarda Vermelha, de eliminando um front de guerra e para a Rússia que se concentraria em
Trotsky, os bolcheviques ampliaram o seu número na Rússia, se reorganizar internamente sob a bandeira do socialismo soviético.
contando com o retorno de Lenin do seu segundo exílio. No início de 1918, foi elaborada e aprovada uma nova
Constituição, denominando a Rússia de República Federativa

Viktor Deni/Wikimedia Foundation


Socialista, porém, discordâncias e conflitos internos ameaçaram
o equilíbrio do processo revolucionário e a Constituição não foi
plenamente colocada em prática, sob pena da possibilidade de
ocorrer uma guerra civil.
As dificuldades experimentadas pela revolução tiveram a
ver com o que os opositores chamavam de Exército Branco que
contou com alguns contingentes ingleses, franceses, japoneses e,
até, norte-americanos, para tentar impedir a manutenção do poder
bolchevista e, consequentemente, a Revolução.
Apenas com a retirada das tropas estrangeiras e o
enfraquecimento do Exército Branco é que o Exército Vermelho,
comandado por Trotsky, teve chance de debelar a guerra civil, por
volta de 1921.
O constitucionalismo russo somente se consolidou
em 1922, depois que todos os focos de revoltas internas
e contrarrevolucionárias foram eliminados, formando-se,
concretamente o que se chamou de União das Repúblicas Socialistas
Pôster político bolchevique de 1920, Soviéticas, a partir da integração daquelas províncias que tinha se
mostrando Lenin varrendo monarcas,
clérigos e capitalistas. fragmentado com as lutas revolucionárias.

As bases da revolução seguiam a premissa revolucionária de


“todos o poder aos sovietes” e os princípios das Teses de Abril (de
A nova política econômica
Lenin): “Paz, Terra e Pão”. Estava articulado a partir de outubro e A aplicação do “comunismo de guerra”, durante o governo
novembro de 1917 o “comunismo de Estado”. Lenin resultou na estatização de alguns setores da economia,
No dia 24 de outubro do calendário russo (equivalente a 6 de mediante a desapropriação, bem como o controle direto sobre o
novembro do nosso), o partido bolchevista detonou uma revolta em processo produtivo em geral.
Petrogrado, através da invasão e ocupação de territórios, fábricas, Na medida em que essas deliberações criaram uma transição
instituições públicas e, no dia 25 tomaram o Palácio de Inverno, econômica difícil, paralisou o fluxo de capitais, ameaçando o
promovendo a deposição de Kerenski. futuro do país, ainda mais com a guerra civil em processo de
Sob a bandeira vermelha, os sovietes realizaram um apaziguamento e controle.
Congresso, com uma representação de maioria bolchevique e O governo leninista lançou mão de um programa de
organizaram a formulação do Comitê dos Comissariados do medidas ou reformas, conhecido como NEP ou Nova Política
Povo, sob a liderança de Vladimir Ulianov Lenin. Econômica e consistia na permissão da livre circulação de capitais,
A Rússia se tornou o primeiro país eminentemente socialista inclusive estrangeiros, com o objetivo de reaquecer, internamente,
da Europa, ainda sob uma ampla resistência interna, estruturada a economia russa.
pelos contrarrevolucionários czaristas ou conservadores e, ainda, Desse modo, pequenas e medias empresas de capital privado
alguns moderados. teriam direito de atuação e ainda seria mantida a existência de
pequenas propriedades rurais.
As reformas de Lenin Alguns analistas enxergam nessa estratégia uma forma de
elaborar um sistema econômico misto.
Desde que tomou o poder, os intelectuais russos do Pelo que se registra historicamente, a NEP permitiu dinamizar
marxismo compreendiam que precisavam modificar os padrões da a produção industrial e agrária, retomando atividades comerciais
mentalidade através dos processos educacionais, daí a necessidade de vulto.
de aplicar um programa baseado no que chamavam de “Sobre a
Mobilização”, capaz de integrar artistas e pensadores, pedagogos e
Domínio Público

profissionais, a fim de utilizar a arte como propaganda e a educação


como forma de assimilação do novo modelo.
O novo governo socialista, mesmo tendo que combater
os focos de resistência, criou uma política secreta para investigar
e eliminar traidores do novo regime instaurado. A família real foi
presa e isolada na região dos Urais, completamente afastada das
regiões urbanizadas.
O governo leninista não deixou de ser opressor, embora
pregasse a participação popular através do comissariado do povo,
uma vez que promoveu a perseguição e a morte dos seus principais
opositores e traidores do regime.
Lenin promoveu a nacionalização dos bancos e estradas de Corpo de Lenin.
ferro em geral; as fábricas passaram a ser controladas diretamente
pelo Estado; foi iniciada uma ampla reforma agrária, permitindo No entanto, esse programa econômico não foi plenamente
a acessibilidade à terra por parte dos camponeses, enquanto concluído porque Lenin veio a falecer, em 1924. A sua morte
Trotsky reestruturava o Exército Vermelho, bem como a Okhrana, constituiu-se em risco para a preservação da unidade do
ou polícia política. pensamento e da mentalidade revolucionária.

Anual – Volume 3 101


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Stalin × Trotsky e crescimento econômico, através de estatísticas falsas, chegou a
mandar matar mais de dez milhões de ucranianos, tudo em nome
Com a morte de Lenin, o comando do que se convencionou chamar de reengenharia demográfica, ou

Library of Congress.
geral do governo se tornou o epicentro na busca por compatibilizar produção e população.
de um grave conflito, aparentemente Em 1921, foi criado o GOSPLAN, ou Comitê Estatal de
ideológico. Planejamento, cuja função específica seria formular os planos
O então secretário-geral do econômicos do governo para aplicação de cinco anos; também
Partido Comunista, Josef Stalin e Leon chamados de Planos Quinquenais. Dois deles foram instituídos no
Trotsky, que era o chefe da Guarda período entre guerras.
Vermelha, também líder da Revolução Embora a prioridade do primeiro plano (1928-1932) fosse
de Outubro (novembro), bem como garantir a plena reforma agrária ou coletivização da propriedade,
comissário de Defesa da URSS, travaram também se preocupou em expandir o processo produtivo nas áreas
uma verdadeira guerra de poder pela industrial e agrária, sobretudo, quanto à indústria pesada ou de
condução dos destinos do país. Josef Stalin. base.
O motivo da divisão instaurada pelos dois ativistas era o fato O fechamento da União Soviética à economia de mercado e
de não concordarem sobre o futuro da revolução. Trotsky defendia aos capitais estrangeiros a protegeu dos abalos sofridos pelos países
a internacionalização do processo revolucionário, sob pena capitalistas quando da Crise de 1929. Nesse momento da história,
de a União Soviética ficar tão isolada que se fragilizaria diante do a população russa enxergava em Stalin uma espécie de “messias”,
ataque de países anticomunistas. Segundo ele, a revolução viveu isso comemorando o que acreditavam ser um acerto do seu governo
quando ingleses, norte-americanos, japoneses e franceses tentaram e de Karl Marx.
auxiliar as tropas contrarrevolucionárias. Foi nesse período que surgiram os sovcoses; assim chamadas
Stalin tinha uma abordagem voltada para a consolidação e as fazendas estatais que funcionavam mediante o assalariamento
o fortalecimento interno do socialismo na URSS, que era a política do camponês integrado e os kolcoses ou cooperativas com terras
conhecida como “o socialismo em um só país”; para somente depois destinadas à produção camponesa.
disseminar o regime por outras nações. Isso permitiu que a Rússia chegasse a uma condição de
Embora a diferença estivesse mais no momento da difusão potência industrial até que fosse aplicado o segundo plano, entre
do que na posição, em si, de ambos o fato é que essa luta se tornou 1933 a 1937, com a aceleração do processo produtivo e a aplicação
violenta, sobretudo, com a vitória de Stalin, em 1928, que foi de tecnologias mais avançadas. Porém, por mais espantoso que
empossado pelo Partido Comunista e, assim que assumiu o comando pareça, o status social do trabalhador ainda parecia pior do que
central do país, passou a perseguir Trotsky que foi obrigado a fugir, em países com regime capitalista de trabalho e assalariamento.
primeiramente para a Inglaterra e depois para o México, onde foi Na aplicação do terceiro plano, a URSS acabou se envolvendo
encontrado por um agente secreto de Stalin e morto. na Segunda Guerra Mundial, voltando a sua produtividade para
a indústria armamentista de guerra. A conjunção de fatores
associando o estado de guerra com a necessidade de garantir
Bundesarchiv, Bild 183-R15068 CC-BY-SA 3.0/ Wikimedia Foundation

a consolidação do regime socialista produziram uma espécie de


tecnocracia ou burocracia tecnocrata com a apoio popular.
Isso foi possível em face da estruturação de um poder
eminentemente personalista e voltado para o culto da imagem de
Stalin, reunindo técnicos e uma elite estatal que integrava o Comitê
Central e o PCUS, Partido Comunista da União Soviética. Essa
infraestrutura política impedia questionamentos e oposições, não
deixando de haver repressões principalmente na década de 1930.
O governo elitista ou socialismo de Estado desenvolvido por
Stalin perdurou até meados de 1950, quando ele veio a falecer,
gerando o início de uma crise, no centro da qual passou a se
questionar os bastidores daquele governo stalinista, quanto à sua
real fidelidade aos princípios eminentemente marxistas.
Essa crise do marxismo russo foi acompanhada pelo governo
de Nikita Kruchev que estabeleceu a desestalinização da União
Soviética, a partir do início de um processo de desburocratização
Leon Trotsky.
interna capaz de tentar refazer o encaminhamento do socialismo no
Josef Stalin procurou eliminar a imagem histórica de Trotsky país. Tais medidas levaram à descoberta de uma série de assassinatos
dos registros russos, fotos, jornais, escritos, artigos foram queimados promovidos a mando de Stalin, bem como do seu aparato de
e até fotografias alteradas, na tentativa de passar a ideia da sua controle do poder através da propaganda.
total inexistência para a Revolução.
Leitura Complementar
O stalinismo
PETIÇÃO DOS OPERÁRIOS AO CZAR – 1905
O novo governo socialista, agora nas mãos de Stalin, tinha o Majestade! Nós, os operários da cidade de São Petersburgo,
desafio de garantir a sua sustentabilidade, através da modenização nossas mulheres, nossos filhos e nossos velhos pais inválidos, viemos
da economia planificada e organizada, bem como por meio do a V. Majestade procurar justiça e proteção.
controle do processo produtivo que precisava ser compatibilizado Caímos na miséria, oprimem-nos, sobrecarregam-nos de
com a densidade demográfica existente. trabalho esmagador, insultam-nos; ninguém reconhece em nós
Stalin, que passou a utilizar os meios de comunicação como o homem. Somos tratados como escravos, que devem aguardar
instrumento de manipulação e projeção de uma imagem de poder pacientemente seu amargo e triste destino e calar!

102 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
E aguentamos o destino! Porém, somos compelidos
cada vez mais para o abismo da miséria, da ausência de direito,
da ignorância. O despotismo e a arbitrariedade nos esmagam,
Exercícios de Fixação
e estamos nos afogando. Chegamos ao fim de nossas forças.
Majestade! O limite da paciência foi ultrapassado, pois
chegamos nesse momento terrível em que é preferível morrer 01. (ESPM/2018) Quando os bolcheviques – até então um partido
a ver prolongarem-se sofrimentos insuportáveis. E então de operários – se viram em maioria nas principais cidades
abandonamos o trabalho e declaramos aos nossos patrões que russas, e sobretudo na capital, Petrogrado e Moscou, e depressa
não começaremos a trabalhar antes que tenham satisfeito os ganharam terreno no exército, a existência do Governo
nossos pedidos. [...] Provisório tornou-se cada vez mais irreal; em especial quando
Nosso primeiro pedido era que nossos patrões teve de apelar às forças revolucionárias na capital para derrotar
examinassem, junto conosco, as nossas necessidades; mas uma tentativa de golpe contrarrevolucionário de um general
mesmo isso nos foi recusado [...], achando que a lei não nos monarquista em agosto. A onda radicalizada de seus seguidores
reconhece esse direito. inevitavelmente empurrou os bolcheviques para a tomada
Ilegal também foi considerado o nosso pedido de diminuir do poder. O Governo Provisório, sem mais ninguém para
o número de horas por dia; de estabelecer o preço do nosso defendê-lo, simplesmente se esfumou.
trabalho em conjunto; de melhorar as nossas instalações (oficinas)
Eric Hobsbawm. Era dos Extremos: o breve século XX – 1914-1918.
[...] Segundo os nossos patrões, tudo era ilegal, todos os nossos
pedidos eram um crime. [...] Qualquer de nós que se atreve elevar Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, quem
a voz para a defesa dos interesses da classe operária é encarcerado, liderava o Governo Provisório, derrubado pela Revolução
mandado para o exílio.” Bolchevique, e quem assumiu a presidência do Conselho de
Comissários do Povo, organizado após a revolução de 25 de
MATOSO, Kátia M. de Queirós (Org.). Textos e documentos para o estudo da
história contemporânea: 1789-1963. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1977. p. 140-141.
outubro (7 de novembro no calendário gregoriano):
(Coleção de Ensaios) A) Príncipe Lvov – Stalin. B) Kerenski – Lenin.
C) Kornilov – Trotsky. D) Koltchak – Bukharin.
UMA VISÃO DA RÚSSIA CZARISTA E) Denikine – Kamenev.
A família de Stepan mal conseguia sobreviver. Como muitos
camponeses, Stepan arrendava uma parte da terra da Sra. Sotova 02. (Unirio/1998) “O socialismo é a abolição das classes ... Para
ou Stikha, como a chamavam. [...] Na serralheria, não tinha tempo, abolir as classes devemos abolir as diferenças entre o operário
não dava para fazer tudo: as crianças era um peso e a mulher, pelo e o camponês, devemos transformá-los todos em operários.”
menos, conseguia arar, semear e carregar adubo junto com o marido. Lenin, 1918.
[...] Kolia já conhecia este cotidiano e aos poucos envolveu-se nas
preocupações dos camponeses: se novo colega, Vasia, às vezes A Revolução Russa caracterizou-se como um importante
raciocinava como um homem adulto. [...] movimento social, que marcou historicamente o século XX, em
O mundo social se partiu visivelmente na mente de Kolia. virtude das transformações estruturais que empreendeu. Sobre
Antes, as pessoas para ele dividiam-se somente em duas grandes o processo de construção do socialismo na Rússia, assinale a
categorias: adultos e crianças, sendo que os adultos, às vezes, afirmativa correta.
enganavam as crianças. Depois, os próprios adultos dividiam-se A) As anexações territoriais conquistadas pelo exército russo
em bons e maus, carinhosos e grossos. Mas agora sobressaía uma na Polônia e na Ucrânia, durante a Primeira Guerra Mundial
nova dualidade do mundo, a sua divisão entre o mundo dos ricos (1914 - 1918), fortaleceram política e economicamente a
e o mundo dos pobres. Quando Kolia lembrava-se do poema de monarquia czarista.
Heine, O navio escravo ou dos monólogos de William Ratclyffe na B) A revolta armada ocorrida na Guarda Vermelha possibilitou
taberna noturna escocesa, percebia tudo isso de uma nova maneira. o lançamento do Manifesto de Outubro, com o qual foi
Ele começou a ter vergonha da carne “que comia todo dia”, da deposto o Czar Nicolau II e instalada a República da Duma
roupa limpa, do cotidiano meio senhorial e começou a alimentar (1917), chefiada pelo líder comunista Trotsky.
algo próximo do ódio e da raiva, em relação aos babados das C) A vitória dos extremistas revolucionários mencheviques,
senhoras das terras, suas sombrinhas, chapéus [...]. Quanto mais se liderados por Alexandre Kerenski, foi acompanhada da
aproximava da vida dos pobres, mais se ligava a Vasia, sua família e criação da República Soviética Russa (1918).
seus amigos; mais pesados tornavam-se para ele aqueles símbolos D) No governo de Lenin, instituiu-se a Nova Política Econômica
externos sociais, da roupa até as chamadas “boas maneiras” que (1921), NEP, que se caracterizou por estimular a produção
expressavam, apesar de incidentalmente, a sua filiação aos ricos e em pequenas manufaturas e o comércio privado.
seu cúmplices.[...] E) A industrialização da Rússia socialista foi alcançada no início
Ele não era condescendente com os “irmãos inferiores”, do governo de Stalin (1924), com a extinção dos planos
simplesmente via neles pessoas iguais a si próprio, que viviam quinquenais e a liberação de investimentos estrangeiros nas
uma vida que ele não achava nem um pouco pior, ao contrário, indústrias russas.
achava mais livre e interessante que a dos meninos e meninas
bem-educados do outro mundo, que não conseguiam distinguir 03. (Famerp/2018) Seja como for, o comunismo não se limitava
uma bétula de uma araucária e que pensavam que o pão crescia à Rússia. [...] Uma das minhas primeiras experiências políticas,
em árvores e que o painço podia ser plantado. Ele simplesmente quando me tornei membro do partido [comunista] na época
começou a olhar para o mundo de baixo e os interesses, as em que ainda estudava em Berlim, foi uma discussão com o
preocupações, as aflições, as tristezas e amarguras, as esperanças companheiro responsável por meu recrutamento. Ele ficou
e as alegrias das camadas inferiores tornavam-se cada vez mais desconcertado quando lhe disse: “Bem, todo mundo sabe que
próximas e queridas para ele, pois se identificava cada vez mais a Rússia é um país atrasado, por isso podemos esperar que o
com elas e sua vida se tornou a deles. comunismo tenha suas derrotas por lá.”
BUKHARIN, Nicolai. O romance do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 168-171. Eric J. Hobsbawm. O novo século, 2000.

Anual – Volume 3 103


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
A afirmação do estudante de Berlim e futuro historiador inglês DEPOIS

Reprodução/UFU 2017
baseava-se na ideia de que
A) as revoluções operárias vitoriosas ocorreram ao longo da
história nos países mais industrializados.
B) as rupturas sociais radicais, inauguradas pela Revolução
Francesa, deram origem a regimes totalitários.
C) o sucesso revolucionário seria possível somente no caso
da propagação da revolução para países dominados pelos
europeus.
D) a vitória dos comunistas na Rússia foi liderada por partidos
oriundos dos movimentos camponeses.
E) a revolução bolchevista deveria enfrentar a questão do
desenvolvimento econômico do país.
MORAES, José Geraldo Vinci de. História: geral e Brasil.
Vol. único, 1. ed. São Paulo: Atual, 2003, p. 316.
04. (UFRRJ/2005) Leia o texto a seguir.

Em 1921, o problema nacional central era o da Essas imagens apresentam um dos recursos utilizados pelo
recuperação econômica – o índice de desespero do país é stalinismo para a anulação dos “inimigos” do regime soviético.
eloquente: naquele ano, 36 milhões de pessoas não tinham A respeito do stalinismo na União Soviética, marque a
o que comer. Nas novas e ruinosas condições da paz, alternativa correta.
o “comunismo de guerra” revelava-se insuficiente: era preciso A) Stalin empreendeu um governo autoritário, com
estimular mais efetivamente os mecanismos econômicos da características totalitárias, espalhando o terror, massacrando
sociedade. Assim, ainda em 1921, no X Congresso do Partido, grupos considerados oposicionistas, cujas práticas
Lenin propõe um plano econômico de emergência: a Nova foram denunciadas e apuradas após sua morte, o que
Política Econômica. desencadeou uma grande crise do socialismo real e do
marxismo ocidental.
NETO, J. P. O que é Stalinismo. São Paulo: Brasiliense, 1981. B) No plano econômico, foram estabelecidos os chamados
Planos Quinquenais, responsáveis pela implementação da
Sobre a chamada Nova Política Econômica, é correto afirmar reforma agrária com distribuição de pequenas propriedades
que aos camponeses e incentivo ao consumo de bens
A) ela reintroduziu práticas de exploração econômica anteriores domésticos que promoveu a melhoria do padrão de vida
à Revolução Russa de 1917 que se traduziram em um dos trabalhadores em relação ao mundo capitalista.
abandono temporário de todas as transformações socialistas C) A segunda fotografia, ao retirar a figura de Trotsky,
já feitas e um retorno ao capitalismo. demonstra a tentativa de eliminar não só a presença deste
B) ela consistiu na manutenção de elementos econômicos líder dos documentos oficiais, mas a sua própria memória
socialistas, na organização da economia (como o planejamento) em relação à Revolução Russa, quando defendia que a
e na permissão para o estabelecimento de elementos revolução socialista deveria ser limitada ao território russo
capitalistas por meio da livre iniciativa em certos setores. para depois estendê-la a outros países, na chamada política
C) ela significou fundamentalmente uma reforma agrária radical do socialismo em um só país.
que promoveu a coletivização forçada das propriedades
D) A imagem de Stalin como o grande líder da revolução pode
agrárias e a construção de fazendas coletiva, os Kolkhozes.
ser atestada pela sua postura diante dos trabalhadores na
D) seu resultado foi catastrófico, mesmo permitindo a volta
foto e pela técnica de adulteração de fotografias que retirou
controlada de relações capitalistas na economia, já que ela
Trotsky da segunda imagem. Estas iniciativas foram também
ampliou ainda mais o nível de desemprego e produziu fome
implementadas nos programas radiofônicos e na produção
em grande escala.
de filmes pelo governo de Stalin, a fim de justificar as suas
E) ela significou, com a abertura para o capitalismo, um aumento
medidas impopulares no chamado “comunismo de guerra”.
substancial da produção industrial, mas, ao mesmo tempo,
por ter retirado todos os incentivos anteriormente concedidos
à produção agrícola, foi a razão da ruína do campo.
Exercícios Propostos
05. (UFU/2007) Interprete as imagens a seguir.
ANTES
01. (Mackenzie/1998) “Hoje ainda é moda (...) falar da Revolução
Reprodução/UFU 2007

bolchevique como de uma ‘aventura’. Muito bem, se for uma


aventura, trata-se de uma das mais maravilhosas em que já
se empenhou a humanidade, aquela que abriu às massas
laboriosas o campo da história,... “
John Reed

Assinale os acontecimentos que levaram o Jornalista John Reed


a entusiasmar-se com a Revolução.
A) A implementação de um projeto socialista desvinculado do
elemento democrático e das aspirações internacionalistas,
reafirmando os ideais nacionalistas dos sovietes.
B) A substituição do Estado por uma sociedade de homens
livremente associados, sem leis codificadas.

104 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
C) A implantação do primeiro Estado socialista, representativo 04. (FMP/2014) Em 1921 o país estava em ruínas. No inverno de
das aspirações operárias e camponesas, alterando, na Rússia, 1921-1922, houve uma grande fome que, com as epidemias,
as relações sociais capitalistas de produção. matou cerca de cinco milhões de pessoas. As revoltas locais, as
D) A construção do Estado comunista, através da organização greves, a insurreição revolucionária do Kronstadt configuravam
um quadro de descontentamento generalizado.
de uma sociedade de classes.
E) O apaziguamento das agitações operárias, através do REIS FILHO, Daniel Aarão. As revoluções russas e o socialismo soviético.
São Paulo: Editora UNESP, 2003. p. 77.
fortalecimento dos partidos políticos na Rússia czarista.
A situação socioeconômica da Rússia no início da década de
02. (UEFS/2018) Uma política foi sendo aos poucos colocada em 1920, resumida no texto, foi causada, dentre outros motivos,
prática, desde 1919, pelos países vencedores na Primeira Guerra pelo
Mundial: não intervir, porém conter o bolchevismo. Formar uma A) extermínio dos kulaks.
“barragem contínua”, apoiando-se no exército polonês e no B) conflito militar contra Hitler.
exército romeno. Era o primeiro esboço do mais tarde chamado C) isolamento internacional do país.
“cordão sanitário”. D) aperfeiçoamento do regime czarista.
E) fim das restrições ao comércio externo.
Jean-Jacques Becker. O Tratado de Versalhes, 2011.
Adaptado.
05. (FGV/2017) Controle público absolutamente indispensável.
(...) Corrupção inevitável (...) A prática do socialismo exige
O historiador alude, implicitamente, uma completa subversão no espírito das massas (...).
A) à irrelevância da revolução russa nas relações internacionais. Instintos sociais em lugar dos instintos egoístas (...). Mas
B) à ausência de plano no combate dos capitalistas ao ele [Lênin] se engana completamente no emprego dos
socialismo soviético. meios. Decreto, poder ditatorial dos inspetores de fábrica,
C) à aliança entre nações capitalistas e forças czaristas no sanções draconianas, terror (...). A única via que leva a
combate ao socialismo. um renascimento é a própria escola da vida pública, uma
D) à defesa pelo Ocidente das liberdades democráticas nos democracia mais ampla (...). É justamente o terror que
estados socialistas. desmoraliza.
E) à consolidação da revolução socialista na Rússia soviética. Rosa Luxemburgo. A Revolução Russa (1918), apud Marc Ferro.
A Revolução Russa de 1917, 1974. Adaptado.

03. (Unesp/2015) A influência e o domínio do povo pelo A partir do fragmento, é correto afirmar que
“partido”, isto é, por alguns recém-chegados (os ideólogos A) o processo de criação do Estado socialista na Rússia,
comunistas procedem dos centros urbanos), já destruiu a a partir de 1917, faz-se com métodos violentos,
influência e a energia construtiva desta promissora instituição defendidos pela autora: esvaziamento do poder dos
que eram os sovietes. No momento atual, são os comitês sovietes, fortalecimento da polícia secreta, burocracia e
do partido e não os sovietes que governam a Rússia. E sua implantação de uma ditadura para realizar as mudanças
organização padece de todos os defeitos da organização econômicas tão importantes naquele momento de
burocrática. crise.
B) o texto da militante comunista é uma crítica à forma
KROPOTKIN, Piotr. Carta a Lênin (04.03.1920). como a Revolução de 1917, liderada por Lênin, organizou
Textos escolhidos, 1987.
o Estado de forma centralizadora, burocrática, sem
As críticas do anarquista Kropotkin a Lenin, presentes nessa tolerar a oposição, impunha a requisição de grãos, a
carta de 1920, indicam a sua estatização com o comunismo de guerra, afastando-se
A) crença de que o partido bolchevique consiga reconhecer o da democracia.
C) a militante anarquista russa critica a forma como a
poder supremo dos sovietes e extinguir a injustiça social,
liderança menchevique usa meios violentos para implantar
a hegemonia burguesa e o autoritarismo.
o socialismo, baseado na reforma agrária, no controle dos
B) insatisfação em relação à diminuição da influência das bancos, dos transportes e das riquezas do subsolo, na
associações de soldados e trabalhadores e ao aumento da tentativa de diminuir as distâncias sociais e aumentar o
influência política das lideranças bolcheviques. poder dos sovietes.
C) disposição de anular a influência dos sovietes, para que D) a autora considera que a Revolução Russa de 1917 havia
o Estado russo seja eliminado e se instale uma nova avançado no seu projeto de construção do Estado socialista e
organização política, baseada na supressão de toda forma no êxito de suas realizações econômicas: controle da máquina
de poder. administrativa para evitar a corrupção, a organização do
D) avaliação de que o partido social-democrata se tornou, após Estado de forma democrática e o estabelecimento da
propriedade coletiva.
a Revolução de Outubro de 1917, o único grupo político
E) a militante comunista alemã, a partir de uma crítica
capaz de conter as manifestações sociais e reestruturar o
contundente, aponta erros na rota planejada por Lênin
Estado russo. para o Estado socialista russo e sugere caminhos como:
E) discordância diante do esforço organizativo do país, o controle público da economia, o terror com a polícia
empreendido pelos bolcheviques, e sua aposta no retorno secreta, sanções contra a corrupção administrativa
da monarquia parlamentar derrubada pela Revolução de e, por fim, a ditadura para garantir os princípios
Outubro de 1917. socialistas.

Anual – Volume 3 105


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
06. (UPF/2017) Neste ano, está se comemorando um século da 08. (UFMG/1999-Adaptada) Leia o texto.
Revolução Russa, iniciada em 1917 e que derrubou o regime “Nenhumas dúvidas são possíveis. Os kulaques são o inimigo
absolutista czarista e implantou pela primeira vez o socialismo enraivecido do Poder Soviético. Ou os kulaques degolarão
em um país. um número infinito de operários, o os operários esmagarão
Em relação às medidas adotadas pelo então novo governo impiedosamente as insurreições da minoria kulaque,
socialista, é correto afirmar que espoliadora do povo contra o poder dos trabalhadores. Aqui
A) com a livre abdicação do Czar Nicolau II, foi possível a não pode haver meio termo. Não pode haver paz: o kulaque
formação de uma aliança política entre os líderes do antigo pode, e pode facilmente, conciliar-se com o latifundiário,
regime czarista e os dirigentes do novo governo provisório. com o tzar e com padre mesmo que tenham brigado, mas
B) Lênin, grande líder socialista, prisioneiro político nunca com a classe operária.
Guerra implacável contra estes kulaques! Morte a eles!
exilado na Sibéria, acabou ficando excluído do processo
Ódio e desprezo aos partidos que o defendem: os socialistas-
revolucionário, bem como do governo que se instalou na
-revolucionários de direita, os mencheviques e os atuais
Rússia. socialistas-revolucionários de esquerda! Os operários devem
C) o início do processo revolucionário caracterizou-se pela esmagar com a mão de ferro as insurreições dos kulaques,
mudança nas leis dos direitos civis, pela anulação dos títulos que concluíram uma aliança com os capitalistas estrangeiros
de nobreza, pela separação entre Igreja e Estado, pela contra os trabalhadores do seus país.“
reforma agrária e pelo fim da propriedade privada. LENINE, Vladimir. MARCHAREMOS PARA O ÚLTIMO E DECISIVO COMBATE!
D) o governo socialista implantou imediatamente o projeto Agosto, 1918. In Obras Escolhidas em Três Tomos, 1978, t2, p 665-668,
de reconstrução da economia, a chamada Nova Política Edições Avante! – Lisboa, Edições Progresso – Moscovo.
Econômica (NEP), que eliminou por completo a propriedade Considerando as ideias contidas nesse texto, o conflito dos
privada no país. bolcheviques com os kulaques, após a revolução de 1917, pode
E) no nível político, o governo revolucionário promulgou, no ser relacionado
mesmo ano de 1917, uma nova constituição, que legitimou A) às disputas com os mencheviques e socialistas-revolucionários,
a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em os soviets e o Comissariado do Povo pelo controle da
decorrência da imediata expansão revolucionária para fora estrutura governo governamental.
da Rússia. B) à oposição à Nova Política Econômica, que permitia a volta de
práticas capitalistas, política tida, por Lênin, como abandono
07. (Unisc/2012) George Orwell, através de uma linguagem da Revolução em suas bases.
C) ao conflito com o Exército Vermelho, integrado pelos
metafórica, em A revolução dos bichos, um dos clássicos da
partidários do socialismo popular soviet, financiado pelas
literatura mundial, constrói uma sátira em que critica a Rússia
potências europeias.
Soviética e o regime lá implantado por Josef Stalin, resultantes D) à necessidade de controlar a produção agrícola para reverter
da Revolução Bolchevique, de outubro de 1917. No primeiro a crise de fome e mortandade nas zonas urbanizadas do
capítulo da obra, descreve o discurso de Major, um porco país.
moribundo, o animal mais conceituado e respeitado da granja, E) à crítica à medidas liberalizantes, inicialmente tomadas pelo
em uma reunião dos bichos, em que relata um estranho sonho governo, quanto à necessidade de reaquecimento interno
que tivera: da economia geral da Rússia.
“(...) quase todo o produto do nosso esforço nos é roubado
09. (Unesp/2011) Os operários das fábricas e das usinas, assim
pelos seres humanos. Eis aí, camaradas, a resposta a todos os como as tropas rebeldes, devem escolher sem demora seus
nossos problemas. Resume-se em uma só palavra – Homem. representantes ao governo revolucionário provisório, que deve
O homem é o nosso verdadeiro e único inimigo. Retire-se da ser constituído sob a guarda do povo revolucionário amotinado
cena o Homem, e a causa principal da fome e da sobrecarga de e do exército.
trabalho desaparecerá para sempre. (...) Que fazer? Trabalhar Manifesto de 27 de fevereiro de 1917, In: FERRO, Marc.
A Revolução Russa de 1917, 1974.
dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero
humano. Esta é a mensagem que eu vos trago, camaradas: O manifesto, lançado em meio às tensões de 1917 na Rússia,
Revolução!” revela a posição dos
ORWELL, George. A Revolução dos bichos.
A) czaristas, que buscavam organizar a luta pela retomada do
Disponível em: <http://wwjahr.org>, pág.10-12. poder.
B) bolcheviques, que chamavam os operários a se mobilizarem
O trecho anterior, embora fictício e metafórico, permite que se nos sovietes.
estabeleça uma correspondência com que ideólogo? C) social-democratas, que pretendiam controlar o governo
A) Martinho Lutero, que liderou a revolução protestante na provisório.
Alemanha, no século XVI. D) mencheviques, que defendiam o caráter democrático do
novo governo.
B) Mikhail Gorbachev, último presidente da URSS, que, através
E) militares, que tentavam controlar a revolta popular.
da perestroika e da glasnost, procurou implantar reformas
na economia e na política soviética.
10. (UEL/2009) Compreender o processo revolucionário socialista
C) Karl Marx, defensor da revolução comunista através do ocorrido na Rússia de 1917 implica discernir historicamente os
proletariado. seus autores e as atitudes assumidas por eles.
D) O aiatolá Khomeini, fundamentador da revolução Desta forma, pode-se afirmar.
fundamentalista islâmica. A) O partido comunista russo, criado por Marx e Engels em
E) Pierre Boulle, autor do romance francês O Planeta dos pleno vigor da lei de exceção imposta pelo Czar Nicolau II,
Macacos, que defendia a ideia de que o homem deveria ser adotou táticas de guerrilha de elevada eficácia sociopolítica,
substituído pelo macaco. vencendo assim a guerra revolucionária.

106 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
B) O processo revolucionário leninista colocou um ponto Mas até ali, os estadunidenses estavam vivendo uma
final no período feudal soviético dos Petrogrados, unindo fase áurea de prosperidade econômica, com grande circulação
os comerciantes revolucionários das principais cidades e de capitais próprios e estrangeiros; havia se tornado a economia
os camponeses como anteriormente havia ocorrido na segura para investir; tinha se ampliado ainda mais a especulação
Revolução Francesa de 1789. financeira e o sonho americano de riqueza não era distante ao
C) O comandante do exército bolchevique, Stalin, assumiu cidadão comum; o país havia deixado de ser devedor da Europa e o
o poder no processo revolucionário expulsando o Czar e aceleramento do processo produtivo garantiu uma sustentabilidade
nomeando como seu líder no congresso socialista, Trotsky, industrial impressionante. Esse estado de euforia financeira e social
organizador das barricadas sindicais na Praça Vermelha. foi denominado de American Way of Life, ou “Estilo de Vida
D) Marx e Bakunin elaboraram os princípios revolucionários de Americano”.
uma sociedade socialista, no entanto, devido aos intensos A história marcava no relógio uma era resultante do
debates entre eles sobre a forma como o processo deveria imperialismo, através do qual algumas nações europeias se
ocorrer, distanciaram-se, tornando-se adversários. enriqueceram com a exploração extracontinental, inclusive o
E) Proudhon, exilado na Rússia, organizou os operários em próprio Estados Unidos que, através do seu próprio imperialismo,
sindicatos comunistas que, na revolução, se integraram ao durante o século XIX, desenvolveu-se do ponto de vista industrial,
exército vermelho chefiado por Kerensky, estabelecendo a pela exploração de matéria-prima, mercado consumidor e mão de
estratégia da guerra total contra o exército branco. obra barata ao longo da costa do oceano pacífico e do domínio
continental.
Capitais acumulados, expansão ostensiva das exportações,
Fique de Olho alta produtividade, todos os sinais demonstravam uma saúde
econômica invejável. No entanto, a década de vinte foi marcada,
progressivamente, por um processo de retração dos mercados.
Livros:
Academia de Ciências da URSS. História da URSS: época do

Queda do Dow Jones em 1929.


Wall Street on the Dow Jones Industrial Average, 1929
400
socialismo, 1917-1957. São Paulo, Grijalbo, 1967.
Bahro, Rudolf. A Alternativa: Para uma Crítica ao Socialismo Real.
São Paulo, Editora Paz e Terra, 1980. 300

Carr, E. H. A Revolução Russa, de Lênin a Stalin. Rio de Janeiro,


Editora Zahar, 1969. 200

Site:
100
Aula respectiva da FBTV.

Seção Videoaula Oct Jan Apr Jul Oct Jan Apr Jul Oct
1929 1930

A Europa necessitava se recuperar dos traumas financeiros da


guerra e os seus respectivos governos começaram a adotar políticas
A Revolução Mexicana e a protecionistas. Tais medidas já representavam que uma crise se
Revolução Russa avizinhava rápido de suas fronteiras, mas a onda maior atingiria os
Estados Unidos, com efeitos reversos na direção de todas as nações
a ele integradas.
Havia capitais, porém, não havia áreas para investimento; havia
produção, mas não havia compradores; houve um desequilíbrio, e a
famosa “Lei da Oferta e da Procura” estava ameaçada.
Aula 15:

C-2 H-10
Aula
James Eaton-Lee CC BY-AS 3.0/Wikimedia Foundation

C-3 H-11, 14
A Crise de 1929 H-15
15

Introdução
Pode-se afirmar que a Primeira Guerra Mundial se
transformou em um mercado; o mercado de armas, munição, aço,
roupas, medicamentos, alimentos e suprimentos em geral; embora
caracterizada como Mundial, o eixo da guerra se concentrou no
epicentro Europa, África e Ásia. Isso tornou possível o lucrativo
isolamento norte-americano. E um dos fatores para a quebra
dessa política de neutralidade foi exatamente o risco de que o
prolongamento da guerra não garantisse o retorno financeiro do
que foi aplicado.
Concluído o conclave, os Estados Unidos retornam à posição
de isolamento por força da oposição no Congresso Nacional, quanto
à possibilidade de envolvimento mais direto do país na Liga das Uma placa comemorativa para Adam Smith
Nações. está localizada na sua cidade natal, Kirkcaldy.

Anual – Volume 3 107


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Não foram poucos os economistas que concluíram, pela Contradições
falha do pensamento de Adam Smith, que o mercado seria regulado
por uma “mão invisível”. Apesar de todos os avanços e do crescimento de um novo
Como a maior parte de todos os investimentos nacionais estilo, uma nova linguagem e uma nova moda, sobretudo, com
e internacionais estavam radicados e configurados em títulos das uma certa emancipação feminina, como visão da mulher moderna
bolsas de valores, Wall Street entrou em colapso – era o Crash. e independente, alguns setores da sociedade reagiram, não vendo
com bons olhos a mudança que se operava no comportamento
Uma sociedade de consumo geral.
Segmentos religiosos e sectários e moralistas viam na
em euforia e expansão liberalização dos costumes uma ameaça às tradições do passado,
Mesmo com a crise dando os seus sinais desde o final da aos valores até então construídos; sendo assim, o excesso de
Primeira Guerra Mundial, ela chegaria primeiro para a Europa, propagandas e os seus conteúdos eram questionados.
enquanto os Estados Unidos viveriam um estado de crescimento Por isso, alguns estados norte-americanos chegaram a
vertiginoso. decretar a Lei Seca, em 1919, argumentando que a liberalização
A mão de obra já estava plenamente mecanizada e com do álcool em um contexto de euforia e de alteração dos valores
a automação dos processos produtivos, o fordismo havia se morais poderia levar a sociedade ao caos.
consolidado, através das linhas de montagem e do trabalho em
série, acelerando exponencialmente a produção.

Wikimedia Foundation
Em quase todas as fábricas e indústrias já se utilizavam dos
motores elétricos e as mercadorias de lá saiam obedecendo a um
padrão específico, sob a supervisão de escritórios burocráticos e do
planejamento do sistema fabril.
Henry Ford, o pioneiro da indústria automobilística
aplicou os princípios do taylorismo de modo a também oferecer um
modelo eficiente que, logo, foi adotado pelos setores produtivos
de eletrodomésticos.
O gover no autorizou e instituiu os sistemas de
crédito que se tornou uma forma de equalizar os possíveis
desequilíbrios entre a oferta e a procura, incrementando o
mercado de consumo, com a ilusão da fácil aquisição e da
Agentes do governo no ato de confiscar e descartar
euforia consumista, sobretudo nos segmentos médio e bebidas clandestinas em Chicago em 1921.
elitizado da sociedade norte-americana, uma vez que a política
salarial havia se tornado cada vez mais desigual.
O decreto dividiu opiniões e causou grande polêmica,
O equilíbrio desse quadro interno estava no consumo
porém enriqueceu os bolsos de indivíduos que passaram a ver no
proveniente dos mercados europeus que adquiriam produtos
momento uma oportunidade de crescimento financeiro, a partir
norte-americanos quase que, por tradição ou status.
da formação de um comércio paralelo e clandestino. O tráfico de
A aplicação da eletricidade pode ser considerada um dos
bebidas alcoólicas tornou homens como Capone milionário; nascia
grandes marcos desencadeadores do desenvolvimento industrial dos
o gangsterismo, que se tornou um dos graves problemas da lei
países ricos da década de 20, mas a sua utilização não se limitou
às máquinas convencionais. Também contribuiu para a difusão da naquele momento, em face de assassinatos individuais e coletivos,
cultura e da informação, encurtando distâncias. forjados pela luta de grupos mafiosos por áreas ou pontos de
O século XX, aliás, tornou-se a época da modernização das comércio negro.
prensas, das comunicações, da difusão dos jornais, da mudança Na perspectiva do conservadorismo, houve o crescimento
da linguagem que passou a ser mais direta e objetiva, mais visual e da K, ou Ku Klux Klan; desde 1865, quando foi criada, a KKK
dinâmica. Assim, fotos, ilustrações, cartuns e imagens em geral eram ampliou o número dos seus adeptos em função da tentativa de
rapidamente impressos para alcançar as mais diversas distâncias, já manter as tradições escravistas de algumas regiões como Pulaski,
que os transportes também encurtaram as distâncias. Alabama, Virgínia, Tennessee, tendo sido reprimida pelo governo
Além disso, o processo de fotografar e revelar se tornou mais federal, no final do século XIX e retornado com grande força a partir
simples e veloz, aperfeiçoando uma invenção do século anterior; desse de 1915. Dessa vez, o objeto de ódio ou agressão do grupo não
modo, o mundo da imagem abriu caminho para a expansão do mundo eram somente os negros, mas também judeus, afrodescendentes,
do cinema, também do século XIX, adquirindo som, especialização de católicos e estrangeiros.
estúdios, registros mais eficientes e de melhor qualidade. Alguns historiadores denominam essa fase com o tempo de
Mas a década de 20 foi a década do rádio, tornando-se um Wasp, iniciais das palavras White, anglo-saxon, protestant, como
dos instrumentos mais eficazes de difusão da comunicação à época, imposição de um padrão para se viver nos Estados Unidos.
a ponto de, em apenas uma década depois, haver um verdadeiro
parque radiofônico na maioria dos países ocidentais; assim, músicas, E o tempo parou
notícias e propagandas alcançavam as mais diversas pessoas.
Da radiofonia, os inventores desenvolveram o fonógrafo, A Europa, como epicentro da Primeira Guerra, teve a sua
capaz de gravar a voz e o canto, a música e a melodia, enfim, a partir vida financeira estagnada, sobretudo porque os países das potências
da confecção de vitrolas, eletrolas e congêneres, multiplicando, com centrais e mesmo dos vencedores da Entente tiveram grande
isso as agências de propaganda, algumas das quais se tornaram dificuldade em se recuperar da guerra, com graves problemas
poderosas. socioeconômicos para solucionar.
Abria-se, desse modo, um caminho também para a difusão O antigo Império Britânico, líder hegemônico da industrialização
das ideias, ideologias e concepções políticas; a massificação não e imperialismo, sofreu uma grave decadência e, mesmo a tentativa de
se fecharia no aspecto de natureza industrial ou econômica, mas aumentar a produção industrial, na busca de ampliar os seus mercados
também no sentido cultural, inclusive, padronizado, gerando consumidores, deu-lhe uma sobrevivência econômica tímida, com a
debates e críticas variadas. desvalorização da libra e a retração da demanda externa.

108 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Afinal, a Crise de 1929 não se tornou apenas uma crise

Dorothea Lange/Library of Congress


econômica, também se transformou numa crise do liberalismo
político, uma vez que as populações passaram a questionar o papel
do Estado Burguês, simpatizando com o marxismo e o anarquismo
e outros segmentos da burguesia, e, temerosos, passaram a
promover o culto a líderes salvacionistas.

A crise nos Estados Unidos


O governo norte-americano não conseguiu prever que a
excessiva produtividade já havia extrapolado os limites do potencial
de consumo geral. A partir de 1920, já se experimentava alguma
dificuldade para escoar toda a produção.
O cerne da crise repousava na superprodução industrial, já
que a oferta era maior do que a procura; financeira, uma vez que
os capitais acumulados não tinham meios de aplicação. Portanto,
A Grande Depressão causou pobreza geral nos Estados
Unidos e em diversos países do mundo. Aqui, família não se trata de uma crise caracterizada pela inflação, mas sim, pela
desempregada, vivendo em condições miseráveis, deflação, com a queda vertiginosa dos preços dos produtos, como
em Elm Grove, Oklahoma, Estados Unidos. também da própria moeda.
A França, por sua vez, viveu uma situação semelhante a dos

NARA
britânicos, estava afundada em dívidas e retardou a sua recuperação
econômica, mesmo com o saldo territorial, relativamente positivo e
com os benefícios advindos do Tratado de Versalhes.
O pior contexto econômico foi o da Alemanha, devastador,
por sinal, uma vez que, além das imposições dos tratados de guerra,
dos pesados encargos e indenizações, não houve qualquer chance de
recuperação econômica, sofrendo uma hiperinflação, desemprego em
massa e humilhação internacional. De um lado cresciam, em projeção,
os países de esquerda, de outro as ideologias totalitárias do nazismo.
Os países do Leste Europeu e da Região Balcânica também
enfrentaram grandes dificuldades, sobretudo em face da política
geográfica adotada que levou ao esfacelamento dos impérios
austro-húngaro e otomano.
A crise afetou também os países mediterrâneos, tais como a
Espanha e a Itália, abrindo caminho para o extremismo nacionalista
do franquismo e do fascismo, em face da ameaça de adoção de
ideologias de esquerda.
Diversas nações da América Latina tiveram que alterar
o curso dos seus investimentos para promover a substituição
das importações, estimulando o processo de industrialização e
reforçando a ideologia nacionalista dessas regiões. Programas do New Deal contratavam
professores desempregados para
Dorothea Lange/Library of Congress

providenciar programas
educacionais gratuitos.

Além de iludir a população com promessas falsas de


recuperação e crescimento, o então presidente Herbert Hoover,
eleito em 1928, elevou as taxas de importação, sofrendo igual
retaliação dos mercados europeus e decidiu armazenar, sobretudo,
a produção do setor agrário, foi um “tiro no pé”.
As ações logo entraram em declínio assombroso,
diferentemente do que havia ocorrido entre os idos de 1922 e 1925.
As promessas falsas ainda geraram a ampliação da especulação
financeira quando o preço das ações caiu, chegando a níveis
reais, nos quais os títulos ou papeis nada mais valiam. Foi um caos.
A bolsa de valores de Nova Iorque parou.
Começou, a partir desse eixo, um efeito dominó: faliram
bancos, indústrias, fábricas, empresas de comércio em geral;
o desemprego chegou a níveis calamitosos e o desemprego
ostensivo, por sua vez, ampliou a incapacidade de consumo do
A fotografia Migrant Mother, de Dorothea Lange, mercado, afetando o lucro e gerando novas falências; um ciclo
uma das fotos estadunidenses mais famosas da
vicioso de elevadas consequências. O nível de recessão atingiu a
década de 1930, mostrando Florence Owens
Thompson, mãe de sete crianças, de 32 anos de cerca de 15 milhões de norte-americanos.
idade, em Nipono, Califórnia, março de 1936, em
busca de um emprego ou de ajuda social para
sustentar sua família. Seu marido havia perdido
seu emprego em 1931, e morrera no mesmo ano.

Anual – Volume 3 109


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Além disso, criou um vasto sistema de assistência pública, através

Franklin D. Roosevelt Presidential Library and Museum


da criação de sopões, dormitórios públicos e seguro desemprego.
Também antecipou aposentadorias, visando abrir mais vagas aos
desempregados existentes.

U.S. National Archives and Records Administration


Programa de excedente de commodities.

A crise se alargou até o final do mandado presidencial do


republicano Hoover, favorecendo a campanha eleitoral democrática
que colocaria no poder Franklin Delano Roosevelt, cujos discursos
se voltaram para a recuperação econômica dos Estados Unidos. Projeto de administração pública: Barragem Bonneville.

Em função dessas medidas, Roosevelt chegou a ser acusado


O New Deal de adotar práticas comunistas de estado.
O protecionismo alfandegário adotado com esse plano
O novo presidente dos Estados Unidos, o democrata Franklin econômico também afetou o Brasil, uma vez que um dos maiores
Delano Roosevelt, a partir de 1932, elaborou um conjunto de
compradores de café era os Estados Unidos. Isso abalou os
reformas econômicas denominadas Novo Acordo ou New Deal.
cafeicultores, bem como a República Velha que era uma espécie
Ele abandonou os princípios do economista Adam Smith,
de monopólio dos coronéis. Esse foi um fator que contribuiu para
convertendo o Estado norte-americano de um governo liberal para
a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder,
um governo intervencionista, inspirando-se no pensamento de John
porém, ocasionou a destruição de toneladas do produto.
Maynard Keynes. Podemos afirmar, portanto, que o New Deal, que
O governo brasileiro teve, então, que promover uma política
tinha a missão fundamental de gerar emprego, para gerar salário
de substituição das importações, estimulando o nacionalismo,
e daí gerar consumo, era um programa econômicos baseado no
Keynesianismo. bem como recambiando investimentos para a industrialização
do país.
National Portrait Gallery.

Vaughn Shoemaker/Wikimedia Foundation

John Maynard Keynes.

Tratava-se de um plano de emergência que reuniu, em torno


do governo, diversos economistas, técnicos e especialistas que se
debruçaram sobre a crise numa fase conhecida como Cem Dias.
A centralização estatal na perspectiva econômica criou Cartum editorial parodiando o New Deal como jogo
esquemas de crédito e de empréstimos para proprietários rurais, privado de Roosevelt com as agências alfabéticas.
indústrias e bancos e investiu na construção de obras pública com
a finalidade de ampliar o lastro de empregabilidade e reduzir a Pode-se afirmar que o New Deal sozinho não seria capaz
recessão. de solucionar a crise. É obvio que as estatísticas melhoraram
Através do New Deal também houve a regulamentação geral significativamente, porém, somente com a eclosão da Segunda
do trabalho, com a fixação do salário mínimo e o controle da jornada Guerra Mundial é que a economia capitalista voltaria a se
de trabalho, favorecendo a atuação dos sindicatos associados. regenerar.

110 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
Ressalte-se que, apesar de todo o caos, empresas como deixou Quesnay em um dilema quando se tratou de considerar a
a de Aço e a IBM não sofreram os mesmos abalos, uma vez controversa questão dos impostos. Obviamente estes deviam ser
que encontraram nos alemães mercados de consumo à sua mantidos num mínimo. E como, segundo o laissez-faire, o governo
produção. deveria ser limitado a manter a lei e a ordem, e à defesa do reino, sua
necessidade de receita era apropriadamente reduzida. Mesmo assim,

Rjensen CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation


National debt as % of GNP, 1929-1950 não se poderia esperar dos proprietários de terras que arcassem com
140%
toda a conta dos impostos. Mas quem mais havia? Obviamente não
se podia esperar que a “classe produtiva” dos camponeses pagasse.
120%
Para começar, não ganhavam o bastante para isso. Se ganhassem o
100% suficiente para pagar impostos, isso significaria que o proprietário da
80% terra estava de fato pagando impostos duas vezes: um estado de coisas
60%
inconcebível. Restava assim a terceira classe de manufatores urbanos e
assemelhados. Mas se esse grupo depreciado não produzia realmente
40%
nenhuma riqueza (como fora tão convincentemente demonstrado),
20% como se poderia esperar que pagasse impostos? Os fisiocratas haviam
0% se enfiado eles mesmos em um beco sem saída, e nunca realmente
descobriram uma resposta satisfatória para esse problema.
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Um exame atento das ideias de Quesnay revela um
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source: Historical Stats US series F32 and Y493
sabor curiosamente pessoal em seu pensamento. Ele chegou à
Dívida pública dos EUA - 1929-50. economia em uma idade tardia, após uma vida inteira na medicina.
Sua receita para a economia tem impressionante semelhança com
Outra observação que podemos fazer é a de que a maioria sua atitude em relação à saúde. O direito natural faz eco à sua
dos países capitalistas sofreram com a crise de 1929, porém a União crença da capacidade do corpo de se curar por si só; o laissez-faire
Soviética, em face do seu isolamento em relação à economia de corresponde à abordagem não intervencionista. E suas virulentas
mercado não sofreu qualquer forma de desestruturação, fato que ideias anticomerciantes? É impossível não pensar que o sucesso de
foi objeto de grande exaltação por parte dos intelectuais socialistas, seu pai como pequeno negociante, e talvez sua atitude laissez-faire
atribuindo uma condição messiânica salvacionista a Stalin. em relação à educação do filho, podem ter alguma coisa a ver com
isso. Um engenhoso psicólogo francês propôs uma sugestão ainda
Leitura Complementar mais arguta. Aparentemente, a condenação de seu pai à classe
estéril, feita por Quesnay, contém a sugestão implícita de que o
jovem Quesnay suspeitava que era ilegítimo.
ANTES DE ADAM SMITH A capacidade racional de Quesnay de perceber um esquema
global de coisas é que se provaria mais produtiva. Os fisiocratas exibiam
Muitos mercantilistas haviam acreditado também que
a riqueza de uma nação podia ser medida por seu ouro, uma uma curiosa mescla de liberalismo (laissez-faire) e feudalismo (sistema
suposição natural da parte de um negociante. No entanto, um de classes). Ali estava, contudo, o primeiro pensamento estruturado
proprietário de terras numa economia, predominantemente, rural sobre esse assunto, e alguns dos conceitos que eles elaboraram
tende a ver sua terra como sua riqueza. E essa era precisamente deveriam se tornar traços permanentes do cenário econômico.
a ideia dos fisiocratas: seu terceiro conceito central. Segundo O mais notável deles foi, é claro, o laissez-faire, junto com as primeiras
Quesnay, “a agricultura é a fonte de toda a riqueza do Estado e sugestões de suas vantagens e de como operava.
da riqueza de todos os cidadãos”. Outras formas de indústria, Quesnay atraiu vários seguidores fisiocratas talentosos.
como aquelas praticadas por comerciantes e negociantes, nada O mais influente deles foi o político Pierre Samuel du Pont de Nemours,
acrescentavam. que editou uma coleção de escritos de Quesnay a que chamou
Essa visão um tanto rústica do comércio refletia-se na A fisiocracia. Esse foi de fato o primeiro uso da palavra fisiocracia,
concepção que os fisiocratas tinham das classes sociais, que viam e a obra enfatizava a tese central de que toda riqueza vinha “do
com uma estrutura de três camadas. No nível superior estavam solo”. Du Pont iria se distinguir escrevendo a primeira história da
aqueles que possuíam a terra e eram responsáveis pela produção economia, antes mesmo que essa disciplina tivesse propriamente
agrícola. Em seguida vinha a “classe produtiva”, que de fato fazia nascido. Os franceses o declaram o primeiro economista a pôr
o trabalho na propriedade rural. Depois que tinham recebido paga suas ideias em prática no governo. (Esta omissão nacional no que
suficiente para subsistir, o dinheiro restante ia para os proprietários diz respeito a John Law é certamente compreensível.) Du Pont foi
das terras. Este era então usado para financiar o incremento da responsável pelo tratado de livre-comércio entre a Grã-Bretanha e
produção: a safra do ano seguinte e assim por diante. Quesnay a França em 1783. Como membro do governo de Luís XVI, foi um
era contrário ao acúmulo de riqueza na forma de poupança. realista fiel, mas era também um forte partidário de reformas. Isso
Considerava que isso não contribuía para nada. O ouro não o deixou numa posição delicada quando a Revolução Francesa foi
utilizado, a verdadeira riqueza dos comerciantes, era na verdade deflagrada em 1789. Durante alguns anos difíceis, ele fez o que
nocivo à produção. pôde para salvar a pele, oferecendo conselhos econômicos aos
Na camada inferior da estrutura social estava a terceira classe, revolucionários, mas finalmente foi obrigado a se esconder. No
que incluía comerciantes, negociantes, manufatores, artesãos e rastro do Terror, foi preso e teve a sorte de escapar com vida. Em
congêneres. Estas eram ocupações exercidas nos burgos, e não no 1799 emigrou para a os Estados Unidos com seu filho Eleuthère,
campo, onde o direito natural prevalecia de maneira mais ostensiva. que fora discípulo de Lavoisier, o fundador da química moderna.
(“Fisiocracia” significa “governo pela natureza”.) Segundo Quesnay, Dois anos mais tarde, Eleuthère usou seu conhecimento científico
essas ocupações urbanas não davam absolutamente nenhuma para instalar uma fábrica de pólvora em Brandywine Creek, perto de
contribuição para a riqueza nacional. Ele chegou mesmo a chamá-la Wilmington, em Delaware. Foi o começo da Du Pont, o conglomerado
a “classe estéril” (insulto não pequeno para um francês). As atividades químico americano que iria se tornar uma das maiores corporações
dessa classe eram indiscutivelmente secundárias. Antes de se poder do país. Diferentemente de organizações similares fundadas mais
ter mais costureiros, era preciso ter mais carneiros. No entanto, essa tarde naquele século por gente do porte de Rockefeller e J.P. Morgan,
visão bastante deformada dos moradores das cidades e seus negócios, a Du Pont permaneceria sob o controle da família por mais de 150 anos. Os

Anual – Volume 3 111


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
Du Pont, os Rockefeller e os Morgan iriam todos fazer suas fortunas O esboço desses temas maiores do keynesianismo permite
em um mercado que praticava uma ausência fisiocrática de restrição e entender sua contribuição: nele há uma síntese de diversas
regulação. Mesmo em suas atividades com petróleo, produtos químicos explicações parciais – encontramos o subconsumo, a saturação
e ferrovias podia-se dizer, grosso modo, que ganhavam dinheiro “do dos mercados bloqueadora da instigação para investir, a influência
solo”. E seu desprezo pela “classe estéril” (seus empregados) estava perturbadora da moeda –, mas trata-se de uma síntese aberta e ativa,
ostensivamente de acordo com as noções dos fisiocratas. Não sabemos que repudia o determinismo e convoca à experimentação sistemática.
ao certo, no entanto, se aqueles pensadores econômicos franceses As tomadas de posição de Keynes entre 1920 e 1936
pioneiros teriam reconhecido os grandes tubarões americanos como, contra a deflação, pela desvalorização, pela estimulação do
de certa forma, os legítimos herdeiros de seu sistema. poder de compra e contra o padrão-ouro não tiveram um poder
STRATHERN, Paul. Uma breve história da economia. Zahar Editora. São Paulo: 2003. mobilizador imediato, talvez por sua inegável dimensão provocativa: o
padrão-ouro é uma “relíquia bárbara” (1923); é preciso denunciar,
O IMPULSO KEYNESIANO durante as tentativas deflacionistas inglesas, “o estado de histeria e
perda de senso de responsabilidade no qual os membros do gabinete
A publicação da Teoria geral, de Keynes, data de 1936. Ao acabaram se colocando” (1931); é preciso estimular o gasto, “ou
ler sua obra, é impossível não ficar surpreso: não há nenhum esforço então vocês, donas de casa cheias de patriotismo, cheguem às ruas
sistemático de explicação de 1929. O curto capítulo 22, intitulado amanhã desde a primeira hora e visitem esses maravilhosos saldos
“Notas sobre o ciclo econômico”, com menos de 20 páginas, se que a publicidade anuncia em toda parte. Vocês farão bons negócios,
propõe simplesmente a relacionar os principais resultados do livro pois nunca as coisas estiveram tão em conta, a um ponto que vocês
às teorias dos ciclos. Sem esquecer as frequentes e muitas vezes não poderiam sonhar... E ofereçam, além do mercado, a alegria de dar
provocativas intervenções de Keynes durante a crise, como expert mais trabalho a seus compatriotas, de acrescentar à riqueza do país
e jornalista, devemos considerar que sua contribuição explicativa colocando em marcha atividades úteis...” (discurso radiofônico, 1931).
está em grande parte implícita e consiste em transformar os termos A Teoria geral traz assim a justificativa a posteriori de
do debate – é por isso que, seguindo a obra de A. Barrère 16, uma política econômica ativa e sua canalização em direção a
falaremos aqui em impulso keynesiano. Pai da macroeconomia uma política quantificada de intervenção conjuntural capaz de
moderna, Keynes concebeu uma teoria econômica em grande aproximar boa parte das correntes liberais e dos partidários de
parte instrumental que renova a apresentação das relações reformas profundas do capitalismo. O objetivo estatal passa a ser
econômicas, evitando pensar por mercados para pensar por funções o pleno emprego, e a tarefa dos poderes públicos é sustentar uma
(investimento, consumo) e por circuitos. situação constantemente próxima do boom, utilizando sobretudo
Ele recusa a Lei de Say, postulada pela economia ortodoxa – três meios: primeiro, déficits orçamentários que injetam recursos no
que afirma que “toda oferta cria sua própria demanda” e, portanto, circuito e reanimam diretamente a atividade; segundo, uma política
que nenhuma superprodução constante é concebível em um sistema de baixa taxa de lucro, evitando as restrições monetárias; por fim,
de mercados funcionando sem perturbação, porque toda produção uma política de redistribuição que privilegie o poder de compra
provoca um fluxo de rendimentos (salários, lucros) que permite seu das camadas menos favorecidas, que têm uma forte “propensão
escoamento –, não por constatar as dificuldades cíclicas, mas por para consumir” e poupam pouco – o que justifica os sacrifícios de
observar que a poupança pode constituir uma “fuga” no circuito, proteção aos desempregados e de construção da Previdência Social.
pois adia uma despesa e não necessariamente é investida. Decorre Pouco importa, nessa perspectiva, o jogo exato das forças
disso o conceito-chave do keynesianismo, o do equilíbrio do que conduziram à crise e sua extensão ao resto do mundo. Com ela,
subemprego, que designa uma configuração estável dos preços e entendemos melhor a relativa desenvoltura de Keynes a propósito
das quantidades de uma economia, mas que é acompanhado pelo do ciclo econômico iniciado em 1920. Em grande parte virado para
desemprego. Essa “revolução copérnica”, segundo seu próprio o futuro e a previsão, o impulso keynesiano dissolve ao mesmo
autor, tem a vantagem de continuar a teorizar as interdependências tempo o determinismo dominante em 1930-1935 e a urgência do
econômicas em termos de equilíbrio, mostrando ao mesmo tempo debate causal.
como elas podem resultar em desequilíbrio contínuo no mercado
de trabalho (desemprego crônico, acima de tudo), o que concentra GAZIER, Bernard. A Crise de 1929. L&PM. São Paulo: 2009.
a teoria keynesiana na prolongada depressão britânica dos anos
1920 ou na conjuntura mundial de 1932-1936.
A lógica da apresentação em termos de circuito Exercícios de Fixação
macroeconômico é a recusa do jogo de interdependências
microeconômicas entre agentes individuais, para estabelecer a
primazia dos ajustes globais em termos de quantidades sobre os
01. (Mackenzie/2000) Tomei consciência pela primeira vez do
ajustes por preço, conforme ilustrado pela famosa teoria elementar
problema do desemprego em 1929. Lembro-me do choque,
do multiplicador. Keynes retoma o mecanismo estabelecido por
do espanto que senti, quando pela primeira vez me misturei
Kahn em 1931; porém, em vez de pensar em ondas sucessivas
com vagabundos e mendigos, ao descobrir que uma boa parte,
de emprego desencadeadas por um impulso inicial, ele pensa em
talvez uma quarta parte dessa gente, eram jovens e honestos
termos de receita nacional e de crescimento dessa mesma receita.
contemplando seu destino: era como se nunca mais fossem
O mecanismo pode funcionar de maneira inversa, e seria essa
ter a oportunidade de voltar a trabalhar. Nessas circunstâncias,
a explicação das dificuldades enfrentadas pelo capitalismo moderno.
era inevitável, no início, que fossem perseguidos por um
As poupanças acumuladas numa sociedade rica favorecem uma
sentimento de degradação pessoal.
“demanda de liquidez”, da moeda por ela mesma, que perturba o George Orwell
financiamento dos investimentos e faz prever uma demanda fraca.
Quando os empresários comparam as rentabilidades dos projetos de A solução dessa crise econômica foi implementada por F.D.
infraestrutura com as taxas de juros que estão amplamente ligadas Roosevelt, que formulou um conjunto de medidas denominada
à “preferência pela liquidez”, eles podem eventualmente renunciar de
a certos investimentos. A sociedade rica entra então em uma A) Plano Marshall. B) Corolário Roosevelt.
depressão cumulativa e crônica, sem perspectiva de reerguimento C) Macartismo. D) New Deal.
a longo prazo. E) Estado Mínimo.

112 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
02. (FM Petrópolis RJ/2015) Durante a Grande Depressão, a 05. (IBMECRJ/2009) Inúmeras foram as consequências da Crise de
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) manteve-se 29. Dos itens a seguir, assinale o que não está relacionado a
relativamente a salvo dos efeitos mais intensos da recessão ela:
econômica. Enquanto diversos países capitalistas tiveram que A) vitória dos democratas com a eleição de Franklin Roosevelt
rever suas políticas econômicas, o governo socialista liderado para o governo dos Estados Unidos.
por Josef Stalin exibia pujança econômica e fornecia modelos B) agravamento da crise na Alemanha, facilitando a ascensão
de planejamento estatal que serviram de inspiração para do nazismo ao poder.
economistas de todo o mundo. C) retração do comércio internacional e da produção industrial;
D) problemas com a comercialização do café brasileiro, produto
Que medida punitiva tomada por países capitalistas após a considerado supérfluo.
Primeira Guerra Mundial contribuiu para proteger a URSS dos E) crescimento econômico soviético em função da aplicação
efeitos da crise de 1929? da NEP.
A) Isolamento da Rússia por aliança de países limítrofes do país
socialista.
B) Financiamento a Trotsky e seus seguidores para enfraquecer
Stalin. Exercícios Propostos
C) Adoção da Nova Política Econômica (NEP) pelo governo de
Lênin.
D) Expulsão da União Soviética da Liga das Nações. 01. (IFSUL/2015)
E) Invasão do território soviético por tropas alemãs.

03. (Enem/2014) Ao deflagrar-se a crise mundial de 1929, a


situação da economia cafeeira se apresentava como se segue.
A produção, que se encontrava em altos níveis, teria que seguir
crescendo, pois os produtores haviam continuado a expandir
as plantações até aquele momento. Com efeito, a produção
máxima seria alcançada em 1933, ou seja, no ponto mais baixo
da depressão, como reflexo das grandes plantações de 1927-
1928. Entretanto, era totalmente impossível obter crédito no
exterior para financiar a retenção de novos estoques, pois o
mercado internacional de capitais se encontrava em profunda Tradução livre: Se o que aconteceu anteriormente tivesse sido
depressão, e o crédito do governo desaparecera com a condenado, nós poderíamos ter prevenido o que se seguiu.
evaporação das reservas. Esse não foi o único caso da História incapaz de servir de alerta
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: para a sucessão de eventos que se seguiram.
Cia. Editora Nacional, 1997 (adaptado).
Disponível em: <http://www.bbc.co.uk>. Acesso em: 26 abril 2015.

Uma resposta do Estado brasileiro à conjuntura econômica Como exemplo dessa realidade, é correto afirmar que
mencionada foi o(a) A) a crise econômica de 1929 foi antecedida de diversas
A) atração de empresas estrangeiras. crises ao longo das primeiras duas décadas do século XX,
B) reformulação do sistema fundiário. que foram encaradas pelos economistas como acertos
C) incremento da mão de obra imigrante. necessários para fortalecer a economia capitalista-
D) desenvolvimento de política industrial. -liberal.
E) financiamento de pequenos agricultores. B) a Revolução Russa de 1917, responsável pela implantação
do socialismo no país, já tinha sido antecedida por diversas
04. (PUC-RS/2010) Inicialmente favorecida pelas condições manifestações populares de oposição ao czarismo autoritário
internacionais do pós-Primeira Guerra, a economia dos do país, como a Guerra Civil de 1905, liderada por Rasputin,
Estados Unidos conheceu um período de forte expansão e revolucionário ligado ao anarquismo e defensor das ideias
de Lênin.
euforia nos anos 1920. Todavia, ao final dessa década, o país
C) a Revolução Francesa de 1789, longe de ser inédita, já
seria um dos focos da crise mundial de 1929 e da Grande
tinha sido anunciada pela tomada do poder do país por
Depressão que a seguiu. Um dos motivos dessa violenta
Louis Blanc e seus revolucionários, e pela jornada dos
reversão de expectativas foi
três dias gloriosos, curtos em sua duração, mas evidentes
A) a falência das principais medidas estabilizadoras do New
em denunciar o desgaste do governo absolutista dos reis
Deal. Bourbon.
B) a política antitruste determinada pela Sociedade das D) a independência dos Estados Unidos em 1776, longe de
Nações. ser original, foi o ponto final de diversos movimentos
C) a perda de mercados devido à descolonização afro-asiática. emancipatórios ocorridos no continente americano
D) a superprodução no setor primário dos Estados Unidos. iniciados pelas lutas no Haiti e que tiveram em
E) o crescimento da dívida norte-americana em relação às Simon Bolívar um inspirador maior e conselheiro dos
principais potências europeias. estadunidenses.

Anual – Volume 3 113


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III
02. (PUCMG/2008) O cartaz a seguir é do filme E o Vento Levou, Além das consequências que estão explícitas na charge,
lançado, em cores, no ano de 1939 e dirigido por Victor também são resultados daquela crise:
Fleming, que marcou sua época e a história do cinema. O filme A) O aumento dos salários e dos preços das mercadorias,
narra a complicada vida de Scarlet O’Hara (vivida por Vivien aumentando também a oferta de empregos na área
Leigh), seus amores e desilusões, em um período que tem a industrial europeia.
Guerra Civil americana como pano de fundo. B) A recuperação da prosperidade da Europa, com altos

Reprodução/PUCMG 2018
investimentos dos fundos financeiros particulares norte-
-americanos.
C) Os contínuos aumentos das exportações do café, fazendo
com que o Brasil se mantivesse fora da crise.
D) O abandono do padrão ouro por parte da Inglaterra, permitindo
a desvalorização da Libra, fazendo com que o mundo todo
fosse afetado drasticamente.
E) A duplicação da produção industrial alemã nos primeiros anos
da década de 1930, acarretando o crescimento do comércio
mundial.

05. (Enem/2017) O New Deal visa restabelecer o


equilíbrio entre o custo de produção e o preço,
Clark Gable é “Rett Butler”, um aventureiro que tem uma entre a cidade e o campo, entre os preços
relação de amor com Scarlet. O filme, como as telenovelas de agrícolas e os preços industriais, reativar o
hoje, é marcado por conflitos e cenas inesquecíveis de amor. A mercado interno – o único que é importante – pelo controle
grande inovação do filme é a ausência de um final feliz. Sobre de preços e da produção, pela revalorização dos salários e do
a época e o filme, pode-se afirmar que ele registrou poder aquisitivo das massas, isto é, dos lavradores e operários,
A) uma época (período entre guerras) difícil e sem a certeza de e pela regulamentação das condições de emprego.
um final feliz, como no filme. CROUZET, M. Os Estados perante a crise, In: História geral das civilizações.
B) um momento de crise para o nacionalismo americano e por São Paulo: Difel, 1977 (adaptado).
isso a temática da guerra civil.
C) o cientificismo da sociedade com o uso da tecnologia e que, Tendo como referência os condicionantes históricos
por isso, pôde inovar ao ser filmado em cores. do entreguerras, as medidas governamentais descritas
D) uma mudança de mentalidade já que as pessoas passaram objetivavam
a valorizar o amor aventureiro. A) flexibilizar as regras do mercado financeiro.
B) fortalecer o sistema de tributação regressiva.
03. (EsPCEx-Aman/2015) Nos primeiros anos da década de 1930, C) introduzir os dispositivos de contenção creditícia.
o mundo assistiu a uma grave crise econômica que atingiu boa D) racionalizar os custos da automação industrial mediante
parte do mundo capitalista. Para combatê-la o governo dos negociação sindical.
Estados Unidos da América adotou um conjunto de medidas E) recompor os mecanismos de acumulação econômica por
que ficou conhecido como New Deal. Esse programa meio da intervenção estatal.
A) diminuiu a intervenção do Estado na economia.
B) aumentou a intervenção do Estado na economia.
06. (USF/2017) Vários foram os fatores geradores da crise norte-
C) retirou a presença do Estado da economia.
-americana de 1929 que, em pouco tempo, atingiu o mundo
D) tornou a economia americana mais liberal.
E) provocou a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, capitalista. O Brasil também não escapou dos efeitos desse
dando origem ao episódio que ficou conhecido como a desastre econômico.
“quinta-feira negra”. Dentre os fatores que contribuíram para a eclosão dessa crise
nos Estados Unidos, destaca-se
04. (UPF/2017) A Charge a seguir refere-se a uma das grandes A) a superprodução agrícola aliada à diminuição das
crises do capitalismo, a crise de 1929, marcada pelo craque importações europeias após a Primeira Guerra Mundial.
da Bolsa de Valores de Nova York, em outubro daquele ano.
B) o aumento do consumo interno, devido à política
Crise de... Povo unido, jamais
governamental norte-americana de incremento dos salários,
Reprodução/UPF 2017

superprodução? será vencido!


e pelo fato de as indústrias não conseguirem abastecer o
FOME!
mercado.
Não há MISÉRIA! C) a Primeira Guerra Mundial, que dificultou as exportações
emprego
e importações de produtos industrializados e de matéria-
Queimo para Queremos
-prima, prejudicando o mercado norte-americano.
manter os lucros! trabalhar! D) a Revolução Russa, que despertou na classe operária
o desejo pela busca de direitos, provocando greves na
maioria das indústrias norte-americanas, comprometendo
a produção.
E) o incremento das importações pelos norte-americanos,
desestabilizando a economia e desvalorizando os produtos
AQUINO, Rubim et. al. Fazendo a História. Rio de Janeiro:
Ao Livro Técnico, 1986, p. 134. nacionais, que deixaram de ser competitivos.

114 Anual – Volume 3


História III CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias
07. (FGV/2013) Quando se processaram as eleições de novembro de D) de uma ampla crise do liberalismo, que ganhou contornos
1932, o país estava numa situação pior do que nunca. Todas as mais nítidos após a Primeira Guerra Mundial e desembocou
“curas” do Sr. Hoover não conseguiram dar vigor ao paciente na quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.
moribundo. Os trabalhadores eram assolados pelo desemprego; E) do forte crescimento econômico da Alemanha na passagem
os lavradores eram arrasados pela crise da agricultura; a classe do século XIX para o XX e da acirrada competição comercial
média tinha perdido suas economias nas falências dos bancos e naval deste país com a Grã-Bretanha e a França.
e temia pela sua segurança econômica.
Em 8 de novembro de 1932, o povo americano elegeu Franklin 10. (IFSP/2011) Em seu discurso de posse, em 1933, o presidente
D. Roosevelt para presidente dos Estados Unidos. dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, tentou encorajar seus
O New Deal do Sr. Roosevelt foi chamado de revolução. Era e compatriotas: “O único medo que devemos ter é do próprio
não era. Era uma revolução quanto às ideias, mas não na sua temor. Uma multidão de cidadãos desempregados enfrenta
parte econômica. o grave problema da subsistência e um número igualmente
grande recebe pequeno salário pelo seu trabalho. Somente um
Leo Huberman, História da riqueza dos EUA (Nós, o povo). otimista pode negar as realidades sombrias do momento.”
Não era uma revolução econômica, pois O problema que atemorizava os EUA, cujos efeitos foram
A) o volume de recursos destinados à recuperação econômica desemprego e baixos salários, referido pelo presidente
era pequeno e beneficiou apenas as regiões industrializadas. Roosevelt, era:
B) não ocorreu qualquer alteração no direito à propriedade A) a Primeira Guerra Mundial, em que os EUA lutaram ao lado
privada, assim como foi mantida a mesma estrutura de classe. da Tríplice Entente contra a Tríplice Aliança, obtendo a vitória
C) os operários e produtores rurais não tiveram nenhum após três anos de combate. Entretanto, a vitória não trouxe
ganho importante, uma vez que os benefícios atingiram crescimento econômico, mas, sim, desemprego e fome.
exclusivamente as classes médias. B) a Segunda Guerra Mundial, quando os norte-americanos
D) os principais causadores da crise – os grandes conglomerados lutaram ao lado dos Aliados contra o Eixo nazifascista.
oligopolistas – foram os que mais recursos receberam do Embora vencedores, o ônus financeiro da guerra foi muito
governo americano. pesado.
E) privilegiaram-se os investimentos diretos em agentes C) a Guerra do Vietnã, quando os EUA apoiaram o Vietnã do
econômicos tradicionais, como as grandes casas bancárias Sul contra o avanço comunista do Vietnã do Norte , tendo
e as principais corporações. gasto milhões de dólares em uma guerra infrutífera.
D) a depressão de 1929, causada pela existência de uma
08. (FGVRJ/2012) O período entre as duas grandes guerras superprodução, acompanhada de um subconsumo, crise
mundiais, de 1918 a 1939, caracterizou-se por uma intensa típica de um Estado Liberal.
polarização ideológica e política. Assinale a alternativa que E) a Primeira Guerra do Golfo, quando o Iraque invadiu o
apresenta somente elementos vinculados a esse período: Kuwait e os EUA , na defesa de seus interesses petrolíferos,
A) New Deal; Globalização; Guerra do Vietnã. invadiram o Iraque na defesa de seu pequeno estado aliado.
B) Guerra do Vietnã; Revolução Cubana; Muro de Berlim.
C) Guerra Civil Espanhola; Nazifascismo; Quebra da Bolsa de
Nova York.
D) Nazifascismo; New Deal; Crise dos Mísseis. Fique de Olho
E) Doutrina Truman; República de Weimar; Revolução Sandinista.

• (Unesp/2012) Texto para a questão 09. Filmes:


As vinhas da ira (The grapes of Wrath) Diretor: John Ford. EUA. Ano
A história dos vinte anos após 1973 é a de um mundo de lançamento: 1940.
que perdeu suas referências e resvalou para a instabilidade O sol é para todos (To kill a Mockingbird) Diretor: Robert Mulligan.
e a crise. Só no início da década de 1990 encontramos o EUA. Ano de lançamento: 1962.
reconhecimento de que os problemas econômicos eram de Bonnie e Clide uma rajada de balas. Diretor: Arthur Penn. EUA. Ano
fato piores que os da década de 1930. Em muitos aspectos,
de lançamento: 1967.
isso era intrigante. Por que deveria a economia mundial ter-se
Carr, E. H. A Revolução Russa, de Lênin a Stalin. Rio de Janeiro,
tornado menos estável?
Editora Zahar, 1969.
Eric Hobsbawm. Era dos extremos, 1995. (Adaptado)
Livros:
09. (Unesp/2012) Os problemas econômicos da década de 1930, MARQUES, Adhemar et al. História Contemporânea Através de
citados no texto, derivaram, entre outros fatores, Textos. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2004.
A) dos fortes movimentos sociais e mobilizações revolucionárias CROUZET, Maurice. A Grande Depressão. In: História Geral das
na América Latina, em especial no México, que impediram Civilizações. VII – A Época Contemporânea. São Paulo, Difel, 1977.
a exportação de produtos industrializados norte-americanos Apud. MARQUES, Adhemar et al. História Contemporânea Através
para a região. de Textos. 10 ed. São Paulo: Contexto, 2004.
B) do conjunto de reformas financeiras e sociais realizadas GALBRAITH, J. K. Dias de Boom e de Desastre. In: Roberts, Op.
na União Soviética após a Revolução de 1917, que fechou Cit., p.p. 1331-1332. Apud MARQUES, Adhemar et al. História
os mercados do bloco socialista aos países capitalistas do Contemporânea Através de Textos. 10 ed. São Paulo: Contexto,
Ocidente. 2004.
C) da ascensão do nazismo alemão e dos regimes fascistas na
Itália, Espanha e Portugal, que provocaram a Segunda Guerra Site:
Mundial e paralisaram a produção industrial europeia. Aula respectiva da FBTV.

Anual – Volume 3 115


CiÊnCias Humanas e suas teCnoloGias História III

Anotações

116 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades

Objetivo(s):
• Analisar as Constituições brasileiras, levando em consideração o contexto histórico em que cada uma delas foi elaborada.
• Relacionar as transformações econômicas e políticas vivenciadas pela sociedade brasileira, assim como os seus
interesses conflitantes que resultaram na promulgação ou outorga de novas constituições.
• Identificar as diferenças entre uma Constituição promulgada e uma Constituição outorgada.
• Atentar para as conquistas sociais e a ampliação da cidadania ao longo das Constituições brasileiras.
• Reconhecer e analisar o papel dos partidos políticos nas relações de poder na história do Brasil a partir do processo
de independência.
• Comparar a organização dos grupos políticos do Brasil no período imperial com as estruturas partidárias desenvolvidas
no período republicano, destacando as mudanças nessa área a partir da segunda metade do século XX.
• Destacar a importância dos partidos políticos na construção e no fortalecimento dos regimes democráticos.
• Refletir sobre a crise de representatividade que reflete na insatisfação da sociedade brasileira com a classe política do País.
• Identificar as diferenças entre golpe, revolta e revolução.
• Analisar alguns momentos decisivos na história política brasileira, buscando compreender suas rupturas e
permanências, avanços, retrocessos e os grupos sociais que estiveram na condução desses episódios que de uma
forma ou de outra, trouxeram mudanças para o País.
• Analisar os diversos planos econômicos implantados nos primeiros anos da Nova República.
• Buscar compreender termos e conceitos inerentes à economia, como inflação, recessão, deficit etc.
• Relacionar os problemas econômicos vivenciados no Brasil nos anos 1980 e 1990 com o contexto internacional,
como a crise do socialismo no Leste Europeu, globalização, neoliberalismo etc.

Conteúdo:
Aulas 11 e 12: Constituições do Brasil O funding loan.................................................................................. 145
Evolução Histórica............................................................................ 118 O dirigismo econômico da Era Vargas .............................................. 145
1o Projeto × 1a Constituição.............................................................. 118 O Plano Salte no Governo Dutra....................................................... 146
1891: 1a Constituição Republicana................................................... 119 A política desenvolvimentista de
1937: A Constituição Polaca.............................................................. 120 Juscelino Kubitschek: o Plano de Metas............................................ 146
1946: A Redemocratização................................................................ 120 O modelo econômico do regime civil-militar .................................... 146
1967: Institucionalização do Regime Militar..................................... 120 Planos econômicos na Nova República............................................. 147
A Constituição Cidadã de 1988......................................................... 121 Exercícios ......................................................................................... 147
Exercícios ......................................................................................... 121
Aula 13: História dos Partidos Políticos no Brasil
Introdução........................................................................................ 127
República.......................................................................................... 130
Exercícios ......................................................................................... 134
Aula 14: Golpes, Rupturas e Permanências
Introdução........................................................................................ 137
Processo de Independência............................................................... 137
Proclamação ou Golpe Republicano................................................. 137
Revolução de 1930........................................................................... 138
A Era Vargas...................................................................................... 138
O colapso do populismo................................................................... 138
Redemocratização............................................................................. 140
Exercícios ......................................................................................... 141
Aula 15: Planos Econômicos do Brasil Republicano
Introdução........................................................................................ 144
A política econômica de Rui Barbosa: o encilhamento...................... 145
CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
Essa Constituição foi a que mais tempo durou, cerca de
Aulas 11 e 12:

C-3 H-12
67 anos, e que tinha ambiguidades e características específicas.
Aulas C-5 H-22, 24 Em linhas gerais, o projeto pode ser sintetizado no Art. 3º,
Constituições do Brasil H-25 que estabelece que “o seu governo é monárquico hereditário,
11 e 12 constitucional e representativo”. A ambiguidade fica pelo caráter
liberal, pois a existência de um projeto constitucional com a divisão
dos poderes e a realização de eleições regulares eram características
liberais (não confundir liberalismo com democracia).
Evolução Histórica Vale salientar que, assim como no primeiro projeto
(Constituição da Mandioca), o voto era censitário e indireto, ainda
Nestas duas aulas, pretendemos desenvolver uma breve
que o critério fosse alterado, passando a exigência a ser feita em
análise das sete Constituições brasileiras (alguns consideram oito,
dinheiro. Para ser eleitor de primeiro grau era necessária renda de
tomando por base a Emenda Constitucional de 1969), abordando
100 mil réis; para ser eleitor de segundo grau, a exigência aumentava
também o contexto histórico em que foram geradas, o que nos
para 200 mil réis; para ser Deputado era necessária a comprovação
possibilitará um verdadeiro passeio pela história do Brasil.
de 400 mil réis de renda e, finalmente, para Senador a renda deveria
Você já deve ter se perguntado: “por que o Brasil teve
ser de 800 mil réis para compor a lista da qual o Imperador indicaria
tantas Constituições? Foi uma questão de incompetência dos que
o escolhido em caráter vitalício.
elaboraram os primeiros projetos? Por que os EUA tiveram, ao longo
Aos poucos nota-se o seu verdadeiro objetivo, que era
de sua história, apenas uma única Constituição?” Talvez algumas
reforçar o poder do Imperador, a quem cabia, além da chefia dos
dessas perguntas tenham ficado sem respostas, mas vamos tentar
Poderes Executivo e Moderador, outras atribuições, como a de
elucidá-las ao longo deste trabalho.
indicar os senadores que exerceriam mandato vitalício, bem como
Primeiro observamos que, ao contrário do Brasil, desde a sua
o direito de nomear os juízes dos tribunais.
independência, obtida em 1776, os EUA já nascem fundamentados
Destaque especial merece a criação do Poder Moderador,
no modelo republicano confirmado na Constituição de 1787, em
inspirado nas ideias de Benjamim Constant e de competência
que a opção pelo federalismo permitia aos estados resolver as
exclusiva do Imperador, que em princípio deveria ter um caráter
questões de ordem específica, respeitando as particularidades de
conciliador, como especifica o Art. 98: “O Poder Moderador é a
um País, assim como o nosso, de dimensões continentais e, óbvio,
chave de toda a organização política, e é delegado privativamente ao
de características culturais bem distintas. Mas veja que mesmo lá
Imperador. (..) para que incessantemente vele sobre a manutenção
alguns pontos geraram divergências que resultaram em conflitos,
da Independência, equilíbrio, e harmonia dos demais poderes
como, por exemplo, a questão da manutenção ou abolição dos
políticos (..) dissolvendo a Câmara dos Deputados nos casos em
escravos, que resultou na Guerra de Secessão, no século seguinte.
que o exigir a salvação do Estado”.
Não obstante a isso, a história norte-americana não passou por sérios
abalos na sua estrutura política, ao contrário do Brasil, que alternava
períodos democráticos com períodos autoritários. A estabilidade Poder Moderador
política nos EUA foi fator determinante para a manutenção de um Imperador
projeto constitucional durante tantos anos. +
Conselho de Estado

1o Projeto × 1a Constituição
Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário
A independência do Brasil assumiu características
específicas, na medida em que era comandada pela aristocracia Câmara Imperador Supremo Tribunal
rural, que temia mudanças radicais que viessem a comprometer dos Senado + de Justiça
Deputados Ministério
os seus privilégios e buscou todos os meios de manter a mesma
estrutura agrária e exportadora, uma marca do período colonial.
Aliás, esteve à frente da independência do Brasil D. Pedro I, Presidentes
filho de D. João VI, rei de Portugal, ou seja, nos separamos de Província
politicamente de Portugal, mas quem comandava o País era o
herdeiro legítimo do trono português.
Eleitorado Conselhos
No contexto do pós-independência surgia o projeto de 2o grau ou
de Paróquia Provinciais
constitucional, em 1823, denominado de Constituição da Mandioca,
elaborado em uma Assembleia Constituinte controlada pela
aristocracia rural brasileira, que procurou assegurar sua hegemonia Eleitorado Conselhos
ao estabelecer o voto censitário com critério fixado na posse das de 1o grau ou Municipais
terras (alqueires de mandioca) e dividido em dois graus. Portanto, de Paróquia
havia o eleitor de paróquia (com exigência mínima de 150 alqueires
de mandioca) e o eleitor de província (com exigência mínima de Flávio de Campos e Miriam Dolhnikoff. Atlas História do Brasil. Adaptado.
250 alqueires de mandioca).
O anteprojeto ainda tinha um caráter liberal e antilusitano Percebe-se, de fato, que era concedido ao Imperador
(com restrições políticas específicas aos elementos portugueses) que, poderes praticamente ilimitados, já que ele não precisaria prestar
na prática, limitaria os poderes do Imperador. O projeto foi rejeitado contas de seus atos a nenhum outro órgão ou instância, como
por D. Pedro I, que ordenou a dissolução da Assembleia, o que estabelece o Art. 99: “A pessoa do Imperador é inviolável e sagrada,
resultou no episódio da Noite da Agonia. Mas a nação independente não estando sujeita a responsabilidade alguma”.
não poderia ficar sem uma Constituição. D. Pedro I estabelece e No mais, podemos destacar o caráter unitário e o caráter
nomeia alguns dos integrantes para a formação do Conselho de confessional, isto é, a existência de uma religião oficial no Império
Estado, órgão encarregado de elaborar a nova Constituição, que Brasileiro, do que podemos concluir que havia submissão da
acabou outorgada pelo Imperador em 1824. Igreja ao Estado, manifesta em dois mecanismos básicos, que

118 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
eram o padroado (direito de nomeação e responsabilidades de praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino
pagamento dos sacerdotes) e o beneplácito (que era o direito superior, e os mendigos, como estabelece o Art. 70. Percebe-se
à censura dos documentos da Igreja). Ainda que não fossem dessa maneira que a grande maioria da população seria impedida
proibidas as práticas religiosas além da religião católica apostólica de votar e, como o voto é o signo mais visível em uma democracia,
romana, havia determinadas restrições quanto à realização de estava definitivamente comprometida a questão da cidadania nesse
cultos, como se verifica no Art. 5º: “A religião católica apostólica projeto.
romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras Em 1934, em meio à polarização ideológica que marcou o
religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, período entreguerras, surge mais uma Constituição no Brasil, que,
em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de ainda que durasse pouco tempo, apenas 3 (três) anos, promoveu
templo.” algumas importantes alterações no quadro político e social do País.
Esse projeto foi resultado da necessidade de regulamentação do
1891: 1a Constituição Republicana processo político iniciado em 1930, quando Vargas chegou ao poder.
Passados dois anos, sobreveio forte questionamento dos
O próximo projeto constitucional resulta do contexto da paulistas, que ensejaram uma revolução, ainda que o termo
Proclamação da República no Brasil e, ao contrário da primeira, possa ser questionado, denominada por eles de Constitucionalista
esta foi promulgada. Em 1891 havia um conjunto de forças que, de 1932, a qual foi derrotada por Vargas. Porém, um dos seus
embora convergissem para o modelo republicano, divergiam sobre a objetivos acabou sendo alcançado após a lei eleitoral, que
forma a ser implantada, especialmente os militares, que desejavam introduzia novidades como o voto secreto e extensivo às mulheres
um estado unitário, e os civis, destacadamente os fazendeiros do e a determinação da realização de eleições em que caberia aos
oeste paulista, desejosos de um modelo que lhes concedesse maior parlamentares eleitos a tarefa de elaborar uma nova Constituição
autonomia (federalista). para o País. Desse projeto vamos nos ater a algumas novidades.
As classes médias urbanas também ansiavam que o Destaque para o caráter corporativista que se manifesta na escolha
novo regime cumprisse a função evidenciada em seu nome, dos deputados classistas provenientes das classes regulamentadas
isto é, república (coisa do povo), ampliando as possibilidades em um sindicato subordinado ao Ministério do Trabalho.
de participação efetiva na política. De fato, esse projeto foi O título IV, que trata da Ordem Econômica e Social, está em
inspirado no modelo norte-americano, tendo à frente o intelectual acordo com o modelo populista que se manifestava principalmente
baiano Rui Barbosa. Dessa forma, o Brasil passou a se chamar com a introdução de leis trabalhistas e sua regulamentação, como
República Federalista dos Estados Unidos do Brasil, como definia o preceitua o Art. 121: “A lei promoverá o amparo da produção e
Art. 1º: “A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos,
regime representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses
novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua e indissolúvel econômicos do País”.
das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil.” A defesa dos interesses e das riquezas nacionais se expressam
A Constituição acabou com as principais instituições no Art. 119: “O aproveitamento industrial das minas e das jazidas
monárquicas, como o Poder Moderador, o voto censitário, o senado minerais, bem como das águas e da energia hidráulica, ainda que
vitalício e o Conselho de Estado. A clássica tripartição do poder foi de propriedade privada, depende de autorização ou concessão
estabelecida com a formação de um legislativo bicameral eletivo federal, na forma da lei.”
(duas Câmaras eleitas por voto direto – Câmara dos Deputados e o Também chama a atenção nesse projeto a extinção do
Senado Federal), o estabelecimento de um Estado laico (separação cargo de vice-presidente e o estabelecimento do ensino primário,
entre a Igreja e o Estado), a transformação das antigas províncias obrigatório e gratuito como atribuição do Estado. Finalmente,
em estados, a grande naturalização, entre outros aspectos. constatamos que os votos secreto e feminino também foram
confirmados.
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Domínio Público

Destaque todo especial merece a questão do voto, tendo


gerado em muitos propagandistas da república enorme frustração.
O voto seria então universal e aberto (ou descoberto), sendo
permitido apenas aos homens maiores de 21 anos e que fossem
alfabetizados, estando excluídos as mulheres, os religiosos de
ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades
de qualquer denominação sujeitas a voto de obediência, regra
ou estatuto que importe a renúncia da liberdade individual, as

Anual – Volume 3 119


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
1937: A Constituição Polaca

Wikimedia Foundation/Almanaque Lusofonista


Três anos após a promulgação da Constituição de 1934,
que proibia a reeleição, Vargas, disposto a permanecer no poder e
usando como pretexto a defesa da nação do suposto plano Cohen,
decretou estado de sítio com anuência do Congresso e inaugurou
o Estado Novo, só que desta vez respaldado em uma Constituição.
Na mesma data que anunciava o golpe, Vargas também divulga o
projeto constitucional que nortearia os próximos anos da república
no Brasil, sendo esta coordenada pelo jurista Francisco Campos e
outorgada pelo Presidente Vargas em 10 de novembro de 1937.
A hipertrofia do Poder Executivo seguia uma tendência mundial,
especialmente na Europa, sob o domínio de regimes fascistas.
A inspiração tomada do modelo semifascista polonês valeu
ao projeto constitucional brasileiro o apelido de “polaca”. Merecem
destaque especial a regulamentação dos símbolos nacionais –
Art. 2°: “A bandeira, o hino, o escudo e as armas nacionais são de
uso obrigatório em todo o País. Não haverá outras bandeiras, hinos,
escudos e armas. A lei regulará o uso dos símbolos nacionais”.
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Mini exemplar da Constituição brasileira de 1946, impresso pelo IBGE, em


comemoração ao primeiro decênio da Carta Constitucional de 1946.

Redemocratização em parte, porque foi fechado e


decretado ilegalidade do PCB, que teve os mandatos de seus
representantes cassados (resultado da forte influência dos EUA no
contexto da Guerra Fria), o uso frequente da censura, a intervenção
nos sindicatos e a limitação do direito de greve são posturas
antidemocráticas. Por fim, o mandato presidencial foi fixado em
5 anos, sem direito à reeleição.

1967: Institucionalização do Regime Militar


A sucessão de crises na república liberal entre 1946 e 1964
Em cerimônia pública, Vargas determinou a queima das
(suicídio de Vargas, tentativa de impedimento da posse de JK, a
bandeiras dos estados e estabeleceu a primazia da bandeira
renúncia de Jânio e as propostas de reformas de base de Jango)
nacional. Na prática, esse ritual era uma maneira de referendar o
levaram ao colapso do populismo e à implantação do regime militar
caráter unitário que o País assumiria a partir daquele momento.
que vigorou no Brasil por 21 anos.
O mandato presidencial, conforme o artigo 80, deveria durar seis
Mais uma vez uma ruptura e a implantação de um novo
anos, embora o artigo 187 previsse a promoção de um plebiscito
regime exigia modificações jurídico-político-institucionais, o que
legitimador, que nunca foi feito.
resultou em mais uma Constituição, desta feita em 1967. Trinta
Ao presidente também caberia prerrogativas especiais, como
anos após o Estado Novo surgia mais uma Constituição autoritária
o direito à censura prévia, direito de nomear interventores para os
no País. A “Revolução de 1964”, como era chamada pelos seus
estados e até de legislar pelos decretos-leis, principalmente durante
o estado de emergência. O projeto ainda reconhecia e determinava idealizadores, implantou medidas legais para institucionalizar o
as condições a que a pena de morte seria imputada. Finalmente, regime, denominadas de Atos Institucionais, que se notabilizavam
como preceituava o Art. 139: “A greve e o lockout [paralisação pelo reforço do Poder Executivo federal destruindo o equilíbrio entre
de empresários] são declarados recursos antissociais, nocivos ao os poderes constituídos. Por esses atos os elementos de oposição ao
trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses regime no Congresso foram progressivamente expurgados.
da produção nacional.” Com regras estabelecidas pelo AI–4, o Congresso foi
convocado para aprovar o novo projeto constitucional, que de
fato não foi elaborado pelos parlamentares, veio praticamente
1946: A Redemocratização pronto sob encomenda da alta cúpula militar. Sem a presença
Com a deposição de Vargas em 1945, tornava-se necessária dos indesejáveis parlamentares opositores, o projeto foi aprovado
uma mudança constitucional capaz de dotar o Brasil daquilo que era praticamente sem alterações, sendo considerado oficialmente
a nova tendência mundial após a Segunda Guerra, especialmente no promulgada, mas na verdade foi semi-outorgada.
Ocidente, que era a redemocratização. O novo projeto constitucional Durante todo o período em que os militares estiveram no poder
do Brasil, datado de setembro de 1946, cumpriu em parte a sua foram editados, além dos 17 Atos Institucionais, cerca de 130 Atos
missão de promover a redemocratização do Brasil, sendo importante Complementares e quase mil leis excepcionais. Na prática, podemos
instrumento de normalização das relações políticas institucionais concluir que a função da Carta era de legitimar as determinações
e da democracia representativa, especialmente por restaurar as contidas nos Atos Institucionais que atuavam no sentido de promover
eleições diretas em todos os níveis, garantir a liberdade de expressão a centralização do poder, de estabelecer o controle da cultura mediante
e associação, inclusive do direito de greve (exceto para os casos censura, no controle da estrutura político-partidária, sindicatos e
previstos por leis específicas). associações de classe e dar legitimidade à repressão política.

120 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias

Reprodução

Agência Brasil
Mesmo que muitos questionamentos possam ser feitos
sobre a sua eficácia e aplicabilidade, temos nela, especialmente
no que se refere aos direitos sociais, a mais ampla, sem esquecer
que com a garantia do direito ao voto, de liberdade de expressão
e associação, consolidava-se definitivamente o regime democrático
A Emenda Constitucional nº 1, de 1969, outorgada instituído em 1985. Desse projeto podemos destacar a ampliação da
pela Junta Militar, incorpora nas suas Disposições Transitórias os legislação trabalhista, a permissão do voto em caráter facultativo aos
dispositivos do Ato Institucional nº 5 (AI–5), de 1968, permitindo que jovens maiores de 16 anos e menores de 18 anos, bem como aos
o presidente, entre outras coisas, feche o Congresso, casse mandatos analfabetos, a instituição do habeas data que permite livre acesso
e suspenda direitos políticos. Dá aos governos militares completa a documentos de órgãos públicos que se refiram à sua pessoa,
liberdade de legislar em matéria política, eleitoral, econômica e a instituição do racismo como crime inafiançável e imprescritível,
tributária. Na prática, o Executivo substitui o Legislativo e o Judiciário. além de legislações específicas sobre a proteção ao índio e ao meio
No período da abertura política, várias outras emendas preparam o ambiente. O texto ainda previa uma revisão constitucional após
restabelecimento de liberdades e instituições democráticas. 5 anos, que incluía um plebiscito, realizado em 1993, em que a
maioria da população optou pela manutenção da forma republicana
e do sistema presidencialista.
A Constituição Cidadã de 1988
Com o fim do regime militar em 1985, o Brasil entraria em
uma nova fase. Democracia e cidadania eram os principais temas do Exercícios de Fixação
momento. E você sabe, mudou o regime, mudou o modelo, sinal de
uma nova Constituição. Mesmo diante do contexto conturbado da
gestão de Sarney, mergulhado em denúncias de corrupção e perdido
01. (Enem (Libras) 2017) Constituição Política do Império do Brasil
em meio à inflação descontrolada, havia certa esperança de que esse (de 25 de março de 1824)
novo projeto constitucional fosse enfim capaz de dar a estabilidade
política e garantir avanços concretos nas áreas social e econômica Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização
de que o País necessitava. Vale lembrar que sobre Sarney pesava política, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe
forte desconfiança por ter, durante anos, militado pela Arena e pelo Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que
PDS, partidos que deram sustentação ao regime militar. incessantemente vele sobre a manutenção da independência,
A ideia da formação de uma Assembleia Constituinte eleita equilíbrio e harmonia dos demais Poderes Políticos.
com a finalidade exclusiva de elaboração do projeto não vingou. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>.
Convocadas as eleições gerais de 1986, os Deputados e Senadores Acesso em: 18 abr. 2015. Adaptado.
eleitos foram transformados em Assembleia Nacional Constituinte,
tiveram a missão de elaborar o novo projeto constitucional que A apropriação das ideias de Montesquieu no âmbito da norma
deveria seguir os indicativos da Emenda de Maio de 1985, que constitucional citada tinha o objetivo de
ampliava, pelo menos na teoria, o exercício da cidadania e da A) expandir os limites das fronteiras nacionais.
liberdade de expressão (direito de voto aos analfabetos, eleições B) assegurar o monopólio do comércio externo.
diretas para presidente e legalização de todos os partidos políticos). C) legitimar o autoritarismo do aparelho estatal.
D) evitar a reconquista pelas forças portuguesas.
Diversas tendências políticas compuseram aquela Assembleia,
E) atender os interesses das oligarquias regionais.
mas, de fato, esta foi dominada pelo grupo do Centrão no qual se
destacava o PMDB, que obteve expressiva votação em virtude do
02. (Enem/2016) A regulação das relações de trabalho compõe
sucesso inicial do Plano Cruzado em 1986. uma estrutura complexa, em que cada elemento se ajusta aos
Surgiram, nesse contexto, denúncias da realização de demais. A Justiça do Trabalho é apenas uma das peças dessa
Lobbies de empresários, latifundiários e de outros grupos poderosos vasta engrenagem. A presença de representantes classistas
sobre os parlamentares, que pretendiam, pela pressão exercida, que na composição dos órgãos da Justiça do Trabalho é também
determinadas emendas que lhes beneficiassem fossem incorporadas resultante da montagem dessa regulação. O poder normativo
ao texto da Constituição. também reflete essa característica. Instituída pela Constituição
Enfim, em meio a esse emaranhado de interesses, foi de 1934, a Justiça do Trabalho só vicejou no ambiente político
promulgada em outubro de 1988, após um ano e meio de debates, do Estado Novo instaurado em 1937.
tendo como relator Ulysses Guimarães, deputado ícone da campanha
ROMITA, A. S. Justiça do Trabalho: produto do Estado Novo. In: PANDOLFI, D.
Diretas Já, a Constituição Cidadã, apelido pelo qual ficaria conhecida. (Org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999.

Anual – Volume 3 121


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
A criação da referida instituição estatal na conjuntura histórica C) Eleições diretas para todos os cargos dos poderes Legislativo
abordada teve por objetivo e Executivo; fim da exigência de renda mínima para o
A) legitimar os protestos fabris. exercício do voto; exclusão de analfabetos e de mulheres
B) ordenar os conflitos laborais. do direito de voto; voto aberto.
C) oficializar os sindicatos plurais. D) Eleições diretas para os cargos dos poderes Legislativo e
D) assegurar os princípios liberais. Executivo; exigência de renda mínima para o exercício do
E) unificar os salários profissionais. voto; exclusão de analfabetos do direito de voto; inclusão do
voto de mulheres casadas (obedecendo os critérios de renda
03. (Cefet-MG/2015) A Primeira República, no Brasil, mínima, idade e de autorização do cônjuge); voto aberto.
institucionalizou um modelo de cidadania assinalado pela E) Eleições diretas para todos os cargos dos poderes Legislativo
A) exclusão dos analfabetos no processo eleitoral. e Executivo; fim da exigência de renda mínima para o
B) participação das mulheres no Poder Legislativo. exercício do voto; inclusão de analfabetos e exclusão das
C) atuação dos anarco-sindicalistas na esfera partidária. mulheres do direito de voto; voto secreto.
D) redução do poder das oligarquias no cenário político.
E) intervenção das lideranças camponesas no Congresso. 07. (UPF/2016) Em 1961, com a renúncia do presidente Jânio
Quadros, os ministros militares impediram que o vice-presidente,
04. (PUC-SP/2018) Durante o ano de 2017, duas Constituições João Goulart, assumisse a presidência da República, conforme
brasileiras estão “aniversariando”: a “Polaca”, como foi previa a Constituição de 1946. A partir daí, a Campanha da
chamada a Constituição de 1937, e a Carta de 1967. Legalidade movimentou o país pela posse de Goulart. Como
Entre elas, há muitas semelhanças, tais como solução para o impasse criado, as elites políticas e os militares
A) o fato de serem decretadas por presidentes eleitos para chegaram a uma solução negociada: a adoção de um novo
estabelecer regimes autoritários capazes de manter a paz sistema político para que João Goulart assumisse funções de
política e social e a segurança em momentos de polarização chefe de Estado, mas não de chefe do Governo.
política.
B) ambas ampliaram o Poder Executivo em detrimento do Qual foi esse sistema?
Legislativo e do Judiciário, enfraqueceram a autonomia dos A) Presidencialismo.
Estados e criaram mecanismos para controlar os meios de B) Constitucionalismo.
comunicação. C) Parlamentarismo.
C) ambas criaram dispositivos legais para o funcionamento D) Distrital Misto.
do pluripartidarismo e para a participação equilibrada dos E) Presidencialismo de coalizão.
poderes republicanos.
D) a incorporação de Atos Institucionais autoritários que 08. (Udesc/2018) A Constituição de 1988, conhecida como
reforçavam o poder Legislativo para garantir a paz interna e a “Constituição Cidadã”, foi elaborada por meio de uma
independência do país através de ampla atividade legislativa. assembleia nacional constituinte e marca o período que se
convencionou chamar “Nova República”.
05. (UFMG/2009) Considerando-se os fatores que contribuíram Analise as proposições, segundo este Texto Constitucional.
para a longevidade do regime militar no Brasil, é correto afirmar I. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
que foi de grande relevância o (a) Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas ou
A) combinação entre a ordem constitucional, amparada pela manter com eles, ou com seus representantes, relações de
Constituição de 1967, e a arbitrariedade, expressa em dependência ou aliança;
sucessivos Atos Institucionais. II. São reconhecidos quatro poderes: Executivo, Legislativo,
B) manutenção de um sistema político representativo, Judiciário e Moderador;
com eleições indiretas em todos os níveis, exceto para a III. Homens e mulheres são iguais, em direitos e obrigações;
Presidência da República. IV. Ninguém será submetido à tortura, ao tratamento desumano
C) desenvolvimento econômico-social do País, acompanhado ou degradante.
de um constante crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Assinale a alternativa correta.
D) rodízio de lideranças políticas entre as Forças Armadas, por
A) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
meio de eleições indiretas no âmbito do Comando Supremo
B) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
da Revolução.
C) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
D) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
06. (IFPE/2018) O regime republicano brasileiro, instalado em 1889,
E) Somente a afirmativa I é verdadeira.
passou por diversas mudanças ao longo de seus quase 130 anos.
Os anos iniciais foram de graves conflitos e a jovem República
necessitava de uma Constituição para se consolidar, a qual foi 09. (UFPR/2019) Em 5 de outubro de 1988 foi promulgada a
promulgada dois anos depois. Marque a alternativa que descreve Constituição que se encontra em vigência no Brasil. A respeito
corretamente o modelo político da Constituição de 1891. da história da construção e da aplicação dessa Constituição,
A) Eleições diretas para os cargos do poder Legislativo e considere as seguintes afirmativas:
indiretas para o poder Executivo; fim da exigência de renda I. Essa Constituição ampliou os direitos civis, políticos e sociais,
mínima para o exercício do voto; exclusão de analfabetos e tais como a previdência social, a proteção à maternidade e
mulheres do direito de voto; voto fechado. à infância e a garantia ao acesso universal à educação e à
B) Eleições diretas para todos os cargos dos poderes Legislativo saúde;
e Executivo; fim da exigência de renda mínima para o II. Após 30 anos da promulgação dessa Constituição,
exercício do voto; inclusão de mulheres do direito de voto comemora-se o cumprimento do item III do artigo 3º da
(desde que alfabetizadas e autorizadas pelos maridos); Constituição: “erradicar a pobreza e a marginalização e
exclusão dos analfabetos; voto aberto. reduzir as desigualdades sociais e regionais”;

122 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
III. Essa Constituição foi elaborada por uma Assembleia Nacional C) A organização política instaurada pela Constituição de 1824
Constituinte eleita por voto indireto em colégio eleitoral, dividia-se em 4 poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e
por conta da rejeição da emenda das “Diretas Já” pelo Moderador, sendo que este último determinava a pessoa
Congresso Nacional; do imperador como inviolável e sagrada.
IV. Essa Constituição foi elaborada com a finalidade de romper D) A Constituição de 1824 determinou a cidadania amplificada
com o período da ditadura civil-militar (1964-1985) e atender e o direito ao voto para todos os nascidos em solo brasileiro,
ao processo de redemocratização. independentemente de gênero, raça ou renda.
E) A Constituição de 1824 promoveu, em diversos artigos,
Assinale a alternativa correta. ideais de cunho abolicionista. Tais ideais foram respaldo
A) Somente a afirmativa I é verdadeira. para movimentos políticos posteriores, tais como a Revolta
B) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. dos Farrapos e a Revolta dos Malês.
C) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
D) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. 03. (G1-CFTMG/2018) Analise os textos seguintes.
E) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.
Texto I
10. (Enem/2018) O marco inicial das discussões

Reprodução/CFTMG/2018
parlamentares em torno do direito do voto
feminino são os debates que antecederam a
Constituição de 1824, que não trazia qualquer
impedimento ao exercício dos direitos políticos
por mulheres, mas, por outro lado, também não
era explícita quanto à possibilidade desse exercício. Foi somente
em 1932, dois anos antes de estabelecido o voto aos 18 anos,
que as mulheres obtiveram o direito de votar, o que veio a se
concretizar no ano seguinte. Isso ocorreu a partir da aprovação
do Código Eleitoral de 1932.
Disponível em: <http://tse.jusbrasil.com.br>.
Acesso em: 14 maio 2018.

Um dos fatores que contribuíram para a efetivação da medida


mencionada no texto foi a
A) superação da cultura patriarcal.
HENFIL. Disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=359726>.
B) influência de igrejas protestantes. Acesso em: 26 set. 2017.
C) pressão do governo revolucionário.
D) fragilidade das oligarquias regionais. Texto II
E) campanha de extensão da cidadania. “Peço-lhes que, ao invés de discursos, por mais que sejam, sobre
a iniquidade da lei presente, construamos logo a boa lei, a lei
nova. Não percamos tempo em batalhas circunscritas a esta
Exercícios Propostos Casa, que não levantam as ruas (...). O que a Nação necessita
hoje é que já, e logo, marchemos para a nova Constituição;
que já, e logo, tenhamos a chance de dizer o que o nosso povo
01. (Unesp/2018) A primeira Constituição brasileira, de 1824, foi quer e deseja”.
A) aprovada pela Câmara dos Deputados e estabeleceu o voto Discurso do Sr. Fernando Henrique Cardoso (PMBD-SP).
censitário. In: BRASIL. Diário da Assembleia Constituinte. Quinta feira,
B) imposta por Portugal e determinou o monopólio português 26 de fevereiro de 1987.
Brasília: Subsecretaria de edições técnicas, 1987. p. 593.
do comércio colonial.
C) outorgada pelo imperador e definiu a existência de quatro
poderes. Não é uma das expectativas dos autores dos textos em relação
D) promulgada por uma Assembleia Constituinte e concentrou à Assembleia Constituinte, o(a)
a autoridade no Poder Executivo. A) anseio de que o povo brasileiro fizesse parte do processo de
E) determinada pela Inglaterra e estabeleceu o fim do tráfico redemocratização do país.
de escravos. B) necessidade da transição lenta e gradual entre o regime
militar e o governo civil no Brasil.
02. (Udesc/2017) Em 25 de março de 1824, Dom Pedro I outorgou C) desejo de que a classe política representasse efetivamente
a Constituição Política do Império do Brasil. Em relação à os interesses dos cidadãos brasileiros.
Constituição de 1824, assinale a alternativa correta. D) urgência da soma de esforços entre os diferentes segmentos
A) O Texto Constitucional foi construído coletivamente pela da sociedade para uma reconstrução nacional.
Câmara de Deputados, votado e aprovado em 25 de março
de 1824. Expressava os interesses tanto do partido liberal 04. (IFPE/2016) A Era Vargas, ou Período Getulista, como também
quanto do partido conservador, para o futuro na nação que ficou conhecida, teve início com a Revolução de 1930, que deu
recém-conquistara sua independência. fim à República dos Oligarcas, afastando o então presidente
B) A Constituição de 1824 instaurava a laicidade no território Washington Luís e uma série de governadores do poder.
nacional, extinguindo a religião católica como religião oficial Essa era teve seu fim em 1945, quando terminou a Segunda
do império e expressando textualmente que “todas as outras Guerra Mundial e Vargas foi pressionado pelos militares a deixar
religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou o cargo e retirar-se para o Rio Grande do Sul, sua terra natal.
particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma Identifique, nos itens a seguir, as principais mudanças do
exterior do Templo”. período.

Anual – Volume 3 123


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
A) Os direitos trabalhistas concedidos permitiam plena liberdade Tendo em vista a situação das mulheres no Brasil na década de
de organização da classe trabalhadora sem nenhum controle 1930, é correto afirmar que o texto
do governo sobre os sindicatos. A) busca estimular as mulheres a exercerem o seu direito de
B) Entre os direitos trabalhistas estavam o Décimo Terceiro voto que havia sido garantido pela Constituição Brasileira
Salário, licença maternidade por 90 dias e o adicional de de 1891.
um terço do salário no mês de férias. B) defende a superioridade das mulheres e condena as decisões
da Constituição Brasileira de 1934, que negaram o direito
C) A Constituição de 1934 adotou medidas democráticas
ao voto feminino.
e criou as bases da legislação trabalhista. Além disso,
C) diverge das ações feministas do Rio Grande do Norte, que
sancionou o voto secreto e o voto feminino. culminaram no exercício do direito de voto pelas mulheres
D) Houve a extinção do Ministério do Trabalho e dos tribunais em 1928.
do trabalho, medidas que visavam cortes nos gastos públicos D) reflete o clima de radicalização política no Brasil no período
para estabilizar o País, que ainda sofria reflexos da Crise e acabou por impedir o avanço nas conquistas políticas das
de 1929. mulheres.
E) Ocorreu estímulo à indústria leve e criação de mecanismos E) sustenta a igualdade de gêneros em sintonia com campanhas
para proteger os interesses dos cafeicultores, pois o governo que consagraram o direito de voto para as mulheres na
deveria comprar os excedentes da produção de café para Constituição de 1934.
salvar o setor agrícola.
07. (UFF/2011) “Visto que, de fato, a Constituição de 1946
05. (Enem/2009) O autor da Constituição de 1937, Francisco estabeleceu normas e medidas para a instalação de uma
Campos, afirma no seu livro, O Estado Nacional, que o eleitor estrutura democrática no País, dando ensejo a uma abertura do
processo político nos dezoito anos subsequentes, ao observador
seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem;
mais descuidado a redemocratização pode parecer mais radical
a independência do Poder Judiciário acabaria em injustiça e do que na realidade o foi.”
ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em
SOUZA, Maria do Carmo Campello de. Estado e Partidos Políticos no Brasil
Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao (1930-1964). São Paulo: Alfa-Omega, 1976, p. 105.
Estado, pois Vargas teria providencial intuição do bem e da
verdade, além de ser um gênio político. Com base nas afirmações contidas no texto, é possível afirmar
que o(a)
CAMPOS, F. O Estado nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940. Adaptado. A) redemocratização iniciada em 1945 perdeu sua radicalidade
por ter sido apenas um ritual político, vazio de efetivos
Segundo as ideias de Francisco Campos, partidos.
A) os eleitores, políticos e juízes seriam mal-intencionados. B) redemocratização de 1945 só pôde existir em função da
B) o governo Vargas seria um mal necessário, mas transitório. criação de três novos grandes partidos políticos, totalmente
C) Vargas seria o homem adequado para implantar a independentes de vínculos com o Estado Novo: o PSD, a
democracia de partidos. UDN e o PTB.
C) retorno do pluripartidarismo e de eleições diretas foram
D) a Constituição de 1937 seria a preparação para uma futura
superpostos à estrutura herdada do Estado Novo,
democracia liberal.
marcada pelo sindicalismo corporativista e pelo sistema de
E) Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo interventorias.
inteligente e correto. D) redemocratização não foi radical devido à preponderância
que teve, junto a ela, a União Democrática Nacional (UDN),
06. (FGV-RJ/2017) Em 1934, um grupo de mulheres brasileiras, partido formado com o beneplácito de Vargas.
liderado por Bertha Lutz, elaborou um texto que ficou E) hipertrofia do Poder Legislativo foi uma das consequências
conhecido como Manifesto Feminista. Leia um trecho desse da redemocratização.
documento.
08. (Mackenzie/2018) “As diferenças entre o regime representativo,
As mulheres, assim como os homens, nascem membros vigente entre 1945 e 1964, e o regime militar são claras”.
livres e independentes da espécie humana, dotados de FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13ª ed. São Paulo: EDUSP, 2009, p. 513.
faculdades equivalentes e igualmente chamados a exercer,
Dentre as diferenças mencionadas, é correto afirmar que
sem peias, os seus direitos e deveres individuais, os sexos são
A) a liberdade sindical e o pluripartidarismo, vigentes no
interdependentes e devem, um ao outro, a sua cooperação. primeiro período, foram suplantados pelo controle sindical
A supressão dos direitos de um acarretará, inevitavelmente, por parte do governo e pela inexistência de partidos políticos
prejuízos para o outro, e, consequentemente, para a Nação. de oposição ao novo regime.
Em todos os países e tempos, as leis, preconceitos e costumes B) a plena democracia e a liberdade de expressão e a associação,
tendentes a restringir a mulher, a limitar a sua instrução, a vigentes no primeiro período, foram suplantados pelos
entravar o desenvolvimento das suas aptidões naturais, a deputados classistas e pela outorga da “Polaca”, em 1967.
subordinar sua individualidade ao juízo de uma personalidade C) as eleições indiretas e o poder decisório do Congresso,
alheia, foram baseados em teorias falsas, produzindo, na vida vigentes no primeiro período, foram suplantados pela
moderna, intenso desequilíbrio social; a autonomia constitui o sistemática perseguição aos opositores e pela imposição
direito fundamental de todo indivíduo adulto; a recusa desse dos Atos Institucionais, a partir de 1965.
direito à mulher é uma injustiça social, legal e econômica D) a Constituição de 1946 e a liberdade de expressão, vigentes
no primeiro período, foram suplantados pela outorga da
que repercute desfavoravelmente na vida da coletividade,
Constituição de 1967 e pelas eleições diretas para a escolha
retardando o progresso geral. dos presidentes militares.
E) o controle dos políticos profissionais e o poder decisório do
Apud DUARTE, C. L. Feminismo e literatura no Brasil.
Revista de Estudos Avançados, v. 17, n. 49, set/dez 2003. Congresso, vigentes no primeiro período, foram suplantados
Disponível em: <http://www.scielo.br>. pela alta cúpula militar, pelos órgãos de informação e
Acesso em 6 jul. 2016. repressão e pela burocracia técnica.

124 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
09. (IBMEC-RJ/2013) O parlamentarismo é um sistema de governo A) Identifique, na Constituição de 1946, duas medidas que tenham
que por duas vezes se tentou implantar no Brasil republicano representado a reconquista das liberdades democráticas.
por meio de plebiscitos. Em ambas as tentativas, foi derrotado B) Considerando o contexto brasileiro do período, explique por
de forma inquestionável. A primeira vez foi em 1963, durante que o governo Dutra assumiu um caráter conservador.
o governo João Goulart e a segunda
A) em 1964, quando os militares tomaram o poder em função 12. (UFRGS/2017) Assinale a alternativa correta sobre as principais
de um golpe. características históricas da sociedade brasileira, a partir da
B) em 1967, como parte da aprovação a que foi submetida a segunda metade do século XX.
nova Constituição elaborada no governo Castello Branco. A) Altas taxas de migração para o interior e acelerado processo
C) imediatamente após a eleição de Tancredo Neves no Colégio de concentração populacional nas áreas rurais do país.
Eleitoral. B) Pacto democrático considerado como fundamento político
D) em 1993, como parte das Disposições Transitórias da da sociedade, o qual pôs fim às recorrentes rupturas
Constituição de 1988. institucionais ocorridas durante a Primeira República.
E) durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, pois faz C) Perda de protagonismo internacional ocasionada pelo
parte do programa defendido pelo PSDB. término da Guerra Fria, caracterizando o isolamento político
do Brasil na primeira década do século XXI.
10. (Uern/2015) Observe o quadro. D) Considerável retração da produção cultural, ocorrida em
função das constantes crises econômicas e da redução do
SISTEMA ELEITORAL DA CONSTITUIÇÃO DE 1824 mercado consumidor no país.
E) Processo de ampliação da cidadania, através da conquista
de direitos políticos, sociais e civis que foram consolidados
Eleitor de paróquia
com a promulgação da Constituição de 1988.
100 mil réis ao ano
13. (UEG/2019) Leia o texto a seguir.
ELEGE
Porém foi logo outorgada
Eleitor de Província Nova Constituição:
200 mil réis ao ano Uma carta diferente
Sem ter tido eleição,
ELEGE ELEGE O chamado “Estado Novo”
Sem ter o voto do povo
Senador Deputado Na sua elaboração. [...]
800 mil réis ao ano 400 mil réis ao ano
Agora os trabalhadores
Marques, 2006. p. 402.
Pela lei nacional
Tinham um salário mínimo
A partir da análise do quadro e tendo em vista o contexto do Com descanso semanal,
Brasil no Primeiro Império, é possível classificar o voto, naquele Férias e outros direitos,
período, como Embora não tão perfeitas
A) censitário, amplo, indireto e irrestrito. Porém dando o essencial.
B) universal, masculino, direto e representativo.
C) censitário, masculino, indireto e em dois graus. SANTOS, Antônio Teodoro dos. Vida, tragédia e morte do presidente
D) universal, apartidário, direto e em quatro graus. Getúlio Vargas. 1954. Folheto de cordel.

11. (UFRJ/2008) O poema de cordel citado comenta a Constituição de 1937,


TEM GENTE COM FOME redigida às pressas por Francisco Campos, com o objetivo de dar
aparência de legitimidade ao governo de Getúlio Vargas após
Trem sujo da Leopoldina
o golpe que impôs o Estado Novo. Esse texto constitucional
correndo correndo
ficou conhecido como
parece dizer
tem gente com fome A) Pai dos Pobres, por criar o salário mínimo e estabelecer
tem gente com fome diversas leis trabalhistas.
tem gente com fome B) Camisa Verde, por apoiar manifestações patrióticas do
Piiiiii Movimento Integralista.
Estação de Caxias C) Polaca, por ter sido inspirado nas constituições da Itália
de novo a dizer fascista e da Polônia.
de novo a correr D) Carta Nova, por abandonar e tornar nulos os preceitos da
tem gente com fome Constituição de 1934.
tem gente com fome E) Queremista, por fomentar manifestações com o lema
tem gente com fome “queremos Getúlio”.
Os versos de Tem gente com fome, do primeiro livro de Solano
14. (UEPB 2013) Após a Revolução Constitucionalista de 1932,
Trindade, Poemas de uma Vida Simples, levaram o poeta para a
experimentamos o “Período Constitucionalista” (1934/1937).
cadeia, por ordem do presidente Eurico Gaspar Dutra. Embora
Em 1934, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, da
tenha tomado outras medidas como essa, o governo Dutra
(1946-1950) é conhecido como um período de redemocratização, qual participou Carlota Pereira de Queirós (única mulher entre
durante o qual foi elaborada a Constituição de 1946. os constituintes), primeira deputada federal no Brasil.

Anual – Volume 3 125


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
Assinale a única alternativa incorreta. D) estabeleceu a separação entre o Estado e a Igreja Católica,
A) Mais marcante do que a própria Assembleia Nacional mas o catolicismo continuou sendo considerado a religião
Constituinte de 1934, foi o fato de as mulheres terem oficial do País, tendo em vista o receio dos novos dirigentes
conquistado o direito ao voto. A luta das sufragistas republicanos de que as religiões protestantes, introduzidas
brasileiras, iniciada com o próprio século XX, finalmente pelos imigrantes europeus, dividissem a população brasileira.
conseguia um feito em nível nacional. E) aceitou a livre associação e a reunião dos cidadãos brasileiros
B) A Constituição de 1934 incorporou a legislação trabalhista, já – exceto em casos de mobilização sediciosa –, tendo sido,
em vigor, e ainda acrescentou a instituição do salário mínimo. por isso, considerada uma constituição liberal; mas também
Criou, também, o Tribunal do Trabalho. Mas a nova carta
mostrou seu lado conservador ao não instituir o habeas
seguia não reconhecendo o direito ao voto de analfabetos
corpus, por julgá-lo excessivamente perigoso à ordem social.
e soldados.
C) Com a promulgação da nova Constituição e a eleição de
17. (Enem/2011) Art. 92. São excluídos de votar nas Assembleias
Getúlio Vargas, quando se aboliu de vez o governo provisório
Paroquiais:
que vinha desde 1930, o Brasil viu surgirem dois movimentos
I. Os menores de vinte e cinco anos, nos quais não se
antagônicos: a Aliança Libertadora Nacional (ANL) e a Ação
Integralista Brasileira (AIB). compreendam os casados, e oficiais militares que forem
D) A promulgação da Constituição de 1934 foi prova inequívoca maiores de vinte e um anos, os Bacharéis Formados e
de que o Brasil caminhava para a implantação de um sólido Clérigos de Ordens Sacras;
sistema democrático. Enquanto na Europa as ditaduras IV. Os Religiosos, e quaisquer que vivam em Comunidade
totalitárias iam se enraizando no poder, no Brasil se fazia claustral;
eleição, promulgava-se constituição e se aumentavam as V. Os que não tiverem de renda líquida anual cem mil réis por
liberdades individuais. bens de raiz, indústria, comércio ou empregos.
E) Mesmo com uma Constituição promulgada e um governo
Constituição Política do Império do Brasil (1824).
eleito, no Brasil só se pensava em golpes e revoluções. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Em 1935, militares comunistas ou não promovem uma Constituicao/ Constituicao24.htm>. Adaptado.
insurreição para derrubar o governo federal e implantar o
comunismo no Brasil. A legislação espelha os conflitos políticos e sociais do
contexto histórico de sua formulação. A Constituição de 1824
15. (ESPM/2015) Nas eleições ocorridas no Brasil, em outubro de regulamentou o direito de voto dos “cidadãos brasileiros” com
2014 em vários estados e, no caso da presidência da República, o objetivo de garantir o(a)
a decisão ficou para um segundo turno. Outro aspecto presente
A) fim da inspiração liberal sobre a estrutura política brasileira.
nesta eleição, e que tem sido objeto de discussões, é o instituto
B) ampliação do direito de voto para maioria dos brasileiros
da reeleição para o Executivo federal e estadual. Sobre o assunto
nascidos livres.
aponte a alternativa que apresente corretamente quando
C) concentração de poderes na região produtora de café, o
foram instituídos, respectivamente, a eleição em dois turnos e
o instituto da reeleição: Sudeste brasileiro.
A) Constituição de 1946 – Constituição de 1988. D) controle do poder político nas mãos dos grandes proprietários
B) Constituição de 1967 – Constituição de 1988. e comerciantes.
C) Constituição de 1967 – Emenda Constitucional de 1969. E) diminuição da interferência da Igreja Católica nas decisões
D) Constituição de 1988 – Emenda Constitucional de 1997. político-administrativas.
E) Constituição de 1969 – Emenda Constitucional de 2013.
18. (Mackenzie/2018) “Como o Brasil e como a própria democracia,
16. (PUC-RS/2014) A Proclamação da República, em 15 de a Constituição de 1988 também é imperfeita. Envolveu
novembro de 1889, exigiu que o País adotasse um novo texto movimentos contraditórios e embates formidáveis entre forças
constitucional. Sobre a nova Constituição, aprovada em 1891, políticas desiguais, e inúmeras vezes errou de alvo. (...). Mas
podemos afirmar que a Constituição de 1988 é a melhor expressão de que o Brasil
A) instituiu uma República Federativa no Brasil, transformando tinha um olho no passado e outro no futuro e estava firmando
as antigas províncias em Estados, mas sem conferir-lhes
um sólido compromisso democrático”.
grande autonomia, pois eles permaneceram dependentes do
governo federal para prover suas despesas administrativas. SCHWARCZ, L; STARLING, H. Brasil: uma biografia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015, pp. 488-489
B) estabeleceu o direito de voto para todos os cidadãos de
21 anos; entretanto, o contingente de eleitores era restrito,
Dentre as contradições da Constituição de 1988, aponta-se a
pois estavam excluídos os analfabetos, as mulheres e
A) conservação do tempo de mandato de cinco anos, com direito
os mendigos, que constituíam a maioria da população
à reeleição, de um lado, e à criação de mecanismos mais
brasileira.
democráticos e imparciais em processos de afastamento de
C) implementou o regime republicano, com a eleição direta para
presidentes acusados de crime de responsabilidade, de outro lado.
presidente da República, para o Senado e para a Câmara
B) manutenção da inelegibilidade e a ausência do direto de
Federal, sendo que os estados também podiam eleger seus
voto direto aos analfabetos, de um lado, e o estabelecimento
governadores e suas Assembleias Legislativas, mas não
da demarcação de terras indígenas e o amplo projeto de
podiam dispor de uma constituição própria.
reforma agrária radical, aos mais necessitados, de outro lado.

126 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
C) manutenção do voto obrigatório e a idade mínima de dezoito
anos para participação política, de um lado, e a concessão do
direito de elegibilidade e o voto aos analfabetos maiores de Fique de Olho
idade, residentes no Brasil, de outro lado.
D) conservação da estrutura agrária e a manutenção
da inelegibilidade de analfabetos, de um lado, e o EMENDA CONSTITUCIONAL
reconhecimento de direitos de minorias e o empenho em
prever meios e os instrumentos constitucionais legais para A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pode ser
a participação popular direta, de outro lado. apresentada pelo presidente da República, por um terço dos deputados
E) manutenção da autonomia das Forças Armadas para definir federais ou dos senadores ou por mais da metade das Assembleias
assuntos de seu interesse, de um lado, e o aprofundamento Legislativas, desde que cada uma delas se manifeste pela maioria
relativa de seus componentes. Não podem ser apresentadas PECs
de mecanismos de investigação e a punição aos envolvidos
para suprimir as chamadas cláusulas pétreas da Constituição (forma
em atos de tortura e o cerceamento de liberdades durante
federativa de Estado; voto direto, secreto, universal e periódico;
a ditadura civil-militar, de outro lado.
separação dos poderes e direitos e garantias individuais). A PEC é
discutida e votada em dois turnos, em cada Casa do Congresso, e será
19. (UPE/2015) Ao assumir o poder, Getulio Vargas começara a
aprovada se obtiver, na Câmara e no Senado, três quintos dos votos
colocar em prática propostas que buscavam construir uma nova
dos deputados (308) e dos senadores (49).
ideia de Estado e de nação. As políticas desse governante em
relação ao Esporte estão inseridas em uma característica maior Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/
de seu governo, que visava ampliar a intervenção estatal em emenda-constitucional>. Acesso em: 04 jan. 2016.

diversas dimensões da sociedade, como a saúde, a educação,


o serviço social e a distribuição de bens culturais.
Aula 13:

DRUMOND, Maurício. Esporte e Política no Estado Novo. In: PONTES JR, Geraldo; C-2 H-9
PEREIRA, Victor Hugo Adler (Org). O Velho, o novo, o reciclável Estado Novo. Aula História dos Partidos Políticos C-3 H-15
Rio de Janeiro: De Letras, 2008, p.167.
13 no Brasil
O texto demonstra que, no âmbito sociopolítico, o governo
Vargas de 1930-1945 não objetivava
A) promover o espírito nacionalista que, pela Constituição de
1937, torna obrigatório o ensino de educação física. Introdução
B) formar o ‘novo homem’ nacional com a ligação entre Estado
e juventude, utilizando-se do esporte e das festas cívicas De uma forma objetiva podemos definir partido político
como recurso. como sendo um agrupamento de indivíduos que apresenta um
C) utilizar o futebol e outras atividades esportivas como ideário político, um programa de governo e tem como objetivo
propaganda para a difusão da popularidade do governo. atingir o poder, exercer o governo de determinado estado ou
D) oficializar o controle sobre as práticas esportivas, com o nação. Teoricamente, os partidos devem representar os anseios
intuito de manter a sociedade sob sua tutela, nos mais da sociedade, servindo como mais um meio para que o cidadão
variados aspectos. expresse suas opiniões no campo da política.
E) cercear práticas esportivas consideradas populares, como o O nosso objetivo nesta aula é fazer uma abordagem da
futebol, para garantir a homogeneização da sociedade. história dos partidos políticos no Brasil, partindo dos grupos políticos
que surgiram no processo de independência com seus interesses
20. (Imed/2018) A respeito da Constituição Federal de 1988 (CF/88), particulares até o surgimento de legendas tal como conhecemos
marque a alternativa incorreta: os partidos atualmente.
A) Trata-se da primeira constituição brasileira em que não há
religião oficial, pois todas as anteriores declaravam o Brasil Império
como um país oficialmente católico. No decorrer do processo de independência do Brasil, ainda
B) Além de reafirmar a função social da terra e a realização no contexto da presença de D. João VI no Rio de Janeiro, surgem
da reforma agrária como um objetivo, assegurou aos dois grupos políticos, o “Partido português”, composto por militares
povos indígenas e quilombolas a demarcação de áreas de alta patente, burocratas e comerciantes que tinham o interesse
tradicionalmente ocupada por eles. em manter o Brasil subordinado à metrópole, dentro dos padrões
C) Estabeleceu o meio-ambiente saudável como um direito do exclusivismo comercial, os monopólios, e o imediato retorno do
fundamental dos cidadãos brasileiros, bem como definiu o Rei, bem como do príncipe D. Pedro a Portugal.
Brasil como uma República Federativa. Contrários a esse posicionamento, formou-se o “Partido
D) Assegurou o voto secreto como um direito fundamental, brasileiro”, composto por grandes proprietários rurais, comerciantes,
funcionários públicos, alguns setores urbanos e burocratas que
assim como concedeu o direito ao voto, pela primeira vez
nasceram no Brasil. A princípio estavam mais preocupados em
na história do País, aos analfabetos.
garantir seus interesses do que propriamente com a ruptura
E) Ao longo da história brasileira, a Constituição Federal de imediata com Portugal. Esse grupo sentia-se ameaçado diante
1937 é uma da que apresenta características mais diferentes das medidas recolonizadoras que vinham das Cortes portuguesas,
daquelas da CF/88, pois a primeira legitimava um Estado representava em sua essência os interesses das elites agrárias,
autoritário, enquanto a segunda estabeleceu o Estado a aristocracia rural, objetivando manter a liberdade comercial e a
Democrático de Direito no Brasil. autonomia administrativa. Posteriormente, dissidentes desse grupo

Anual – Volume 3 127


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
passaram a defender a independência do Brasil e a proclamação Durante o período regencial (1831-1840), que se inicia
de uma República. Foram os membros do Partido brasileiro que se logo após a abdicação de D. Pedro I, o País vive um momento de
aproximaram de D. Pedro e elaboraram um documento com mais instabilidade e agitação política e social, nas palavras de Bóris Fausto:
ou menos oito mil assinaturas, que acabou entrando para a história “O período regencial foi um dos mais agitados da história
como o Dia do Fico, exigindo a permanência do príncipe regente política do País e também um dos mais importantes. Naqueles
no Brasil, o qual acabou liderando o processo que culminou com a anos, esteve em jogo a unidade territorial do Brasil, e o centro
independência em 7 de setembro de 1822. do debate político foi dominado pelos temas da centralização ou
Os dois grupos não passavam de correntes que convergiam descentralização do poder, do grau de autonomia das províncias e
em objetivos e não devem ser considerados legitimamente partidos da organização das Forças Armadas.”
políticos, da maneira como o termo é compreendido hoje. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2a ed. São Paulo: Edusp, 1995. p. 161.
Esses dois grupos continuaram atuando no cenário político
logo após a independência, como ficou constatado nos trabalhos O cenário político foi caracterizado pela presença de três
da Assembleia Constituinte em 1823. O chamado Partido brasileiro correntes que, aproveitando o vácuo de poder, uma vez que o
defendia, entre outros pontos, uma monarquia constitucional, herdeiro do trono ainda não tinha idade para assumir, divergiam
submetendo o imperador às leis, além de uma maior autonomia às quanto à forma de organização do Estado brasileiro. Divulgavam
províncias em relação ao governo central. Já o Partido português suas ideias em jornais, e em linhas gerais esses grupos políticos
propunha uma monarquia centralizada com o fortalecimento do estavam assim organizados:
poder do imperador, cabendo a esse a nomeação dos presidentes Restauradores (caramurus) – eram favoráveis ao retorno
das províncias, que poderia ser destituído de acordo com a vontade de D. Pedro ao trono. Composto por comerciantes portugueses.
do monarca. “Os brasileiros” temiam a implantação de um governo Conservadores, defendiam o Absolutismo monárquico e eram
absolutista. No que concerne à escravidão e à unidade territorial, contrários a qualquer ideia de mudanças estruturais. O grupo perdeu
os dois grupos convergiam. força após a morte de D. Pedro, migrando seus membros para a
Percebe-se que as duas correntes não representavam o corrente dos liberais moderados.
interesse público, não demonstravam desejo de profundas reformas Liberais moderados (chimango) – Esse grupo político,
e muito menos apresentavam projetos nacionais, como fica claro formado em sua maioria por grandes proprietários de terras,
nas palavras de Antônio Feijó, representante paulista nas Cortes defendia uma monarquia centralizada na capital como forma de
de Lisboa em 1821: “Não somos deputados do Brasil, porque cada garantir a unidade das províncias e evitar a fragmentação territorial
província se governa hoje independentemente”. do País. Era favorável à manutenção da ordem existente, ou seja,
Quando o projeto da Constituição foi apresentado, limitando
à escravidão e à economia agroexportadora. Não concordava
a autoridade do imperador, sujeitando-o ao Legislativo, além de
com o retorno de D. Pedro I e defendia o fortalecimento do Poder
dificultar e restringir a participação de portugueses na política,
Legislativo como forma de evitar um governo absolutista.
D. Pedro I não aceitou, dissolveu a Assembleia e mandou prender
deputados. Esse episódio ficou conhecido como “noite da agonia”. Liberais exaltados (jurujubas) – Formado por proprietários
Logo em seguida o monarca convocou um grupo de sua confiança rurais, além de camadas urbanas como profissionais liberais e
para elaborar a Carta Magna do País, saindo daí a primeira militares, esse grupo defendia a descentralização administrativa,
Constituição do Brasil, de 1824, outorgada, que atendia a vontade uma maior autonomia para as províncias. Setores mais exaltados,
do imperador. Exemplo disso foi a criação do Poder Moderador, considerados radicais para a época, pregavam a proclamação da
exercido exclusivamente pelo imperador, esvaziando em parte as República e a adoção do federalismo.
outras esferas de poder. Os primeiros anos do período regencial foram marcados
pela ascensão dos liberais moderados. No entanto, a instabilidade
Portugueses X brasileiros política logo veio à tona com as agitações sociais que assolavam o
País. A abdicação do imperador acabou abrindo espaço para que
Hoje, quando se pergunta sobre a nacionalidade, qualquer cada grupo tentasse impor seus projetos e interesses políticos.
pessoa nascida no Brasil responde sem pestanejar: sou brasileiro. Nesse contexto, alguns problemas desafiavam as classes
A construção do significado de ser brasileiro, entretanto, não foi políticas do País: consolidar o processo de construção do Estado
tão fácil, tampouco rápida. Brasileiro, no período colonial, indicava nacional e garantir a unidade territorial, ao mesmo tempo tendo
aquele que tinha negócios com os produtos do Brasil. que conciliar os interesses, as particularidades e divergências dos
Por conta disso, na época da independência, quando os governos provinciais. Como conceder autonomia às províncias sem
ânimos ficaram mais inflamados, as denominações português permitir o surgimento de movimentos separatistas?
e brasileiro passaram a significar uma opção política, e não um Alguns arranjos políticos tentaram amenizar a situação,
local de nascimento. O nome que indicava o nascimento no Brasil como foi caso do Ato adicional de 1834, que adotava algumas
era brasiliense – brasileiro era aquele que adotava a causa do medidas descentralizadoras. No entanto, à medida que
Brasil contra as pretensões portuguesas. Depois da independência, começaram a despontar revoltas (cabanagem, farroupilha,
o termo se firmou cada vez mais como emblema da identidade do balaiada e sabinada) que colocavam em risco a unidade política
novo Estado, mas ainda não tinha relação com o local de nascimento e territorial do País, muitos políticos mudavam de posição, como
dos cidadãos. percebemos neste discurso do político mineiro Bernardo Pereira
Na Assembleia Constituinte de 1823, portugueses eram de Vasconcelos:
os partidários de D. Pedro que defendiam a centralização do poder “Fui liberal; então a liberdade era nova no País, estava
nas mãos do imperador, em oposição aos brasileiros, que lutavam nas aspirações de todos, mas não nas leis; o poder era tudo;
pela descentralização. fui liberal. Hoje, porém, é diverso o aspecto da sociedade: os
A Constituição de 1824 permitiu a todos os nascidos em princípios democráticos tudo ganharam e muito comprometeram;
Portugal optar pela cidadania do Brasil. Aqueles que o fizeram a sociedade, que então corria risco pelo poder, entra em risco pela
tornaram-se brasileiros; os outros permaneceram portugueses, desorganização e pela anarquia.”
sendo muito hostilizados. MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Introdução à história dos partidos políticos brasileiros.
VAINFAS, Ronaldo et al. História 2 – 2a Ed. – São Paulo: Saraiva, 2013. p. 151. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. p. 32 Adaptado.

128 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
No texto, Bernardo Pereira de Vasconcelos critica os Segundo Reinado (1840-1889)
excessos do Liberalismo Político, defendendo a autoridade e a
Essa fase da monarquia, a mais longa do Império, foi
centralização.
caracterizada na política interna pelas disputas e pelos acordos
entre as duas correntes esquematizadas a seguir:
No final do período regencial, diante do quadro de agitação
e revoltas em algumas províncias, os políticos acabaram ficando Partidos no Segundo Reinado
divididos em duas correntes: os progressistas, defensores de um
governo centralizado no Rio de Janeiro, embora tolerassem algumas
Partidos Liberal Partidos Conservador
concessões às províncias, como ocorrera com a aprovação do Ato (“Luzias”)* (“Saquaremas”)**
adicional; e os chamados regressistas, que eram contrários a
qualquer liberdade para as províncias e favoráveis à centralização
política e a um parlamento forte. Exemplo concreto dessa postura Defendiam Venceram as Defendiam De volta ao
mais primeiras um poder poder em 1841,
regressista ocorreu na Regência Una de Araújo Lima, que, por autonomia eleições central forte tomaram
meio da Lei Interpretativa do Ato Adicional, anulava na prática para as parlamentares: medidas para
províncias “eleições do reduzir o poder
o “avanço liberal” concedido pelo Ato Adicional de 1834. cacete” das províncias
No discurso da época, eram decisões necessárias para garantir
a “ordem pública”; afinal, na visão de muitos políticos, “era *O nome se refere à cidade mineira de Santa Luzia, que foi foco de
preciso parar o carro da revolução”. uma revolta liberal em 1842. O movimento foi derrotado e, em tom
Em 1840, os progressistas, não concordando com a regência pejorativo, “Luzia” passou a ser o apelido dos liberais.
do regressista Araújo Lima, passaram a defender a antecipação da **Refere-se a uma cidade do interior do Rio de Janeiro que concentrava
políticos do Partido Conservador. Por esse motivo, o nome da cidade
maioridade, com o argumento de que a figura de um imperador
se tornou o apelido dos conservadores.
no trono poderia trazer a ideia de unidade do Estado brasileiro
diante das ameaças separatistas que eclodiam em algumas partes Em regra geral, sem divergências ideológicas, disputavam e
do País. Foi nessas circunstâncias que o parlamento votou e aprovou se alternavam no poder, mas convergiam para a conciliação. Ambos
a coroação de D. Pedro II como imperador do Brasil. Era o chamado representavam elites econômicas. Foram 36 gabinetes ministeriais no
Golpe da Maioridade, que, para muitos, foi uma manobra política decorrer do segundo reinado, sendo 21 liberais e 15 conservadores.
dos Liberais (progressistas) para voltarem a controlar o poder. “Para além das divergências entre liberais e conservadores,
Pouco tempo depois, os progressistas passam a ser ambos compartilhavam o mesmo princípio conservador no que
conhecidos como o Partido Liberal, e os regressistas recebem a toca ao direito de propriedade e às hierarquias sociais. Para uns e
denominação de Partido Conservador. Esse cenário vai dominar outros, tratava-se de, por modos e meios distintos, assegurar que
o quadro da política brasileira durante todo o Segundo Reinado. as mudanças fossem realizadas dentro da ordem, conservando-se,
portanto, o status quo que garantia a manutenção e a reprodução
de uma sociedade estruturada sobre a desigualdade, a hierarquia
OS PARTIDOS POLÍTICOS NO IMPÉRIO e a escravidão. Contudo, embora semelhantes no que se refere
Primeiro Segundo Reinado à partilha de um sentimento aristocrático comum, liberais e
Reinado
(1822 a 1831)
(1831 a 1889) conservadores possuíam diferenças importantes, defendendo projetos
de organização política do Império diferentes e até opostos.”
Período Regencial Governo Pessoal de D. Pedro II
1831-1834-1836 1840 1868-1870 VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 167.

“Partido” Restauradores Se os dois grupos concordavam em alguns pontos, como


Português (Os Caramurus)
SOCIEDADE MILITAR na preservação da unidade territorial do País, divergiam quanto aos
papéis desempenhados pelo Legislativo e pelo Poder Moderador.
O debate centralização X descentralização continuou durante todo o
Partido Partido Império, sendo uma das razões, anos mais tarde, do fortalecimento
Regressista Conservador
do movimento republicano que pregava a ideia do federalismo.
Nas eleições os métodos empregados iam desde as fraudes
– Gabinete de Conciliação nas urnas até mesmo à utilização da violência, como foi o caso
Liberais Mascarados
(ou “Chimangos”) (1853/1858)
das eleições de 1840, vencidas pelos liberais e conhecidas como
SOCIEDADE DEFENSORA
– Liga Progressista “eleições do cacete”.
DA LIBERDADE E (1862/1868)
INDEPENDÊNCIA NACIONAL
“Conservadores e liberais utilizavam-se dos mesmos recursos
para lograr vitórias eleitorais, concedendo favores aos amigos e
empregando a violência em relação aos indecisos e aos adversários.”
“Partido” Partido Partido
Brasileiro Progressista Liberal FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 181.

Partido Partido
Liberal Republicano Outros pontos de divergências foram surgindo à medida
Liberais Exaltados
(ou “Farroupilhas”) Radical que o País passava por mudanças, como a expansão da economia
SOCIEDADE FEDERAL cafeeira que fortaleceu os políticos paulistas, que passaram a
exigir reformas administrativas no sentido de garantir uma maior
descentralização do poder (o federalismo), daí surgindo o Partido
Republicano Paulista, fruto de uma dissidência do Partido Liberal e
que teve papel decisivo no processo que desencadeou o golpe da
proclamação da República.

Anual – Volume 3 129


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
República Assim como no Império, esses partidos representavam os
interesses das oligarquias, das elites econômicas, não apresentavam
programas de governo para o País, nem muito menos os anseios da
República Velha (1889-1930) maioria da população. Acordos, conchavos, clientelismo e outras
Várias foram as denominações dadas pelos estudiosos para práticas estabeleciam a política nacional, como a indicação dos
o período de nossa história que vai de 1889 até 1930. República candidatos à presidência da República.
Velha, Primeira República, República do “Café com leite”, República No entanto, o País passava por transformações econômicas
dos coronéis e República oligárquica. A justificativa para tais termos e sociais. O aumento da população, o crescimento da indústria,
reside no fato de que a política brasileira, de modo geral, continuou do comércio e das atividades de bens e serviços contribuíram
sendo dominada pelas elites agrárias. Com exceção dos anos iniciais, de forma decisiva para o crescimento dos centros urbanos e de
após a proclamação da República, que teve no Executivo militares, novos segmentos sociais, como a burguesia, a classe média e o
a República da Espada (1889-1894), as décadas seguintes tiverem no operariado, que tinham suas pautas de reivindicações específicas,
comando do País as oligarquias rurais nos níveis federal, estadual e mas também tinham em comum a insatisfação com os governos
municipal. A novidade não era o fato dos fazendeiros continuarem oligárquicos. Esses “novos” grupos sociais passaram a buscar seus
controlando todas as esferas do poder, mas o fato de que o novo espaços na vida pública e representatividade política gerando
regime passou a adotar o federalismo, concedendo uma maior conflitos com os poderes estabelecidos. O Estado oligárquico
dava seus sinais de crise.
autonomia para os estados, descentralizando a administração,
A década de 1920 foi marcada por episódios que abalaram
fortalecendo ainda o domínio das oligarquias.
as estruturas da República Velha. A Semana de Arte Moderna de
A seguir, observe um breve resumo das práticas políticas 1922, o movimento tenentista e suas revoltas, a crise de 1929 e o
que caracterizaram o período. rompimento da política do café com leite. Vale ressaltar a fundação
• Política do Café com Leite: predomínio das oligarquias de do Partido Comunista do Brasil em 1922, que, embora em vários
São Paulo e Minas Gerais no controle do Executivo federal. momentos, desde sua criação, tenha sido colocado na ilegalidade,
As oligarquias mais poderosas do País alternavam-se na exerceu significativa influência nos movimentos sociais, como no
presidência da República. Além de serem os maiores produtores meio do operariado urbano por meio dos sindicatos e junto aos
de café, principal produto de exportação da época, os dois trabalhadores do campo por meio do Bloco Operário e Camponês.
estados somavam um grande número de eleitores. As oligarquias Outra sigla que surgia, em 1926, era o Partido Democrático. Com
menos expressivas apoiavam o acordo em troca de cargos ou origem em São Paulo, trazia em seu discurso um programa liberal
ministérios. com propostas reformistas como a moralização do processo eleitoral.
• Política dos Governadores: também conhecida como “política dos Merecem destaque, nesse contexto, as disputas e alianças
estados”, funcionava como um acordo firmado entre o Executivo nas eleições de 1930 com as oligarquias paulista e mineira apoiando
federal (a partir da presidência de Campos Sales (1898-1902)) candidaturas diferentes. Os paulistas apoiaram Júlio Prestes, e os
mineiros, formando com os gaúchos e outras oligarquias a Aliança
e os governos estaduais que visavam o apoio mútuo e a não
Liberal, lançaram Getulio Vargas como candidato.
interferência de ambos em seus governos. Assim, o presidente
“O programa da Aliança Liberal refletia as aspirações das
da República conseguia obter os votos necessários para levar classes dominantes regionais não associadas ao núcleo cafeeiro e
adiante seu governo, garantindo estabilidade, ao mesmo tempo tinha por objetivo sensibilizar a classe média. Defendia a necessidade
que não interferia nos assuntos internos dos estados aliados. de se incentivar a produção nacional em geral, e não apenas o
• Coronelismo: poder local dos coronéis. Coronel era o nome café; combatia os esquemas de valorização do produto em nome
pelo qual os latifundiários eram conhecidos. Esse título remonta da ortodoxia financeira e por isso mesmo não discordava neste
ao período regencial quando da criação da guarda nacional. ponto da política de Washington Luís. Propunha algumas medidas
Usavam sua influência pessoal para arregimentar votos em troca de proteção aos trabalhadores, como a extensão do direito à
dos quais obtinham financiamentos do governo ou obras de aposentadoria, regulamentação do trabalho do menor e das
infraestruturas como barganha política. Quanto maior o “curral mulheres, aplicação da lei de férias. Em uma evidente resposta
eleitoral” (número de eleitores que o coronel podia controlar) ao presidenta, que afirmou ser a questão social, no Brasil, ‘uma
do coronel, maior o seu poder. questão de polícia’, a plataforma da oposição dizia não se poder
negar a sua existência ‘como um dos problemas que teriam de ser
O PODER DAS OLIGARQUIAS AGRÁRIAS encarados com seriedade pelos poderes públicos’. Sua insistência
Governo Federal Poder federal maior era a defesa das liberdades individuais, a anistia (com o que
Política do “Café se acenava para os tenentes) e a reforma política, para assegurar a
Apoio político e financeiro com Leite” (PRP/PRM) chamada verdade eleitoral.”
Votos FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. pp. 319-320.

Mesmo com o apoio do eleitorado urbano, o candidato da


Governadores do Estado Poder estadual
Política dos
Aliança Liberal, Getulio Vargas, saiu derrotado nas urnas; porém,
Verbas e benefícios Governadores o candidato vencedor, Júlio Prestes, não chegou a tomar posse
diante do movimento de 1930. Era o início da Era Vargas.
Votos

Coronéis Poder municipal


A Era Vargas (1930-1945)
Coronelismo A “Revolução de 1930” é resultado da aliança heterogênea
de grupos insatisfeitos com a política do País. Embora tivessem
A consolidação da autonomia estadual acabou por refletir
interesses diversos, viam naquele momento a oportunidade de
na organização partidária, caracterizada pelo domínio de partidos
implementar as reformas que atendessem aos seus objetivos.
republicanos restritos a seus estados, diferente da estruturação de
Nesse contexto, vários partidos passaram a se articular visando
partidos nacionais com sede, diretórios e filiados a nível nacional
eleger representantes para a Assembleia Constituinte que seria
que conhecemos hoje. Os partidos com maior influência eram o
encarregada de elaborar a nova Constituição do País. Mas foi logo
Partido Republicano Paulista, o Partido Republicano Mineiro e o
após a promulgação da Carta Magna de 1934 que dois partidos
Partido Republicano Rio-Grandense, refletindo o poder econômico
passaram a ter notoriedade nacional.
de suas respectivas oligarquias.

130 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
“Entre as experiências partidárias mais consistentes do Estado novo em 1937, no entanto sua liderança se sentiu
surgidas na primeira fase do governo Vargas destacam-se, sem marginalizada por parte do governo e, em maio de 1938,
sombra de dúvida, os casos da AIB (Ação Integralista Brasileira) e os integralistas tentaram derrubar Vargas e tomar o poder, episódio
da ANL (Aliança Nacional Libertadora), esta última praticamente que ficou conhecido como a Intentona integralista. O golpe
uma cobertura legal para o clandestino Partido Comunista fracassou e o partido saiu da cena política.
Brasileiro (PCB). Aliancistas e integralistas produziram um fato
• ANL (Aliança Nacional Libertadora):
inédito na história brasileira, o surgimento de organizações
– Aliança de esquerda reunindo comunistas, socialistas,
políticas com capacidade de mobilização de massas populares.
democratas e simpatizantes de esquerda em geral.
Os dois movimentos lograram atrair o apoio entusiástico de
– Luís Carlos Prestes (líder de honra).
milhares de cidadãos pelo País afora, muitos dos quais chegaram
a se filiar formalmente. As atividades que promoviam, comícios, – Defendiam o não pagamento da dívida externa, reforma
passeatas, demonstrações públicas, conseguiam galvanizar a agrária e respeito às liberdades individuais (direito de greve,
participação de multidões.” imprensa livre..), nacionalização de empresas estrangeiras e
governo popular.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Introdução à história dos partidos políticos brasileiros.
Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. p.66 – Combate ao fascismo.

Os dois partidos refletiam o contexto da crise do liberalismo • Getulio coloca a ANL na ilegalidade (Jul/1935).
da década de 1930, quando os governos buscavam soluções A ANL, com seu discurso, acabou atraindo trabalhadores
para os efeitos da crise econômica iniciada em 1929. Na Europa, urbanos, sindicatos, setores da classe média urbana, militares,
os regimes totalitários de direita defendiam que somente um intelectuais, profissionais liberais e estudantes. Porém, em 1935,
Estado forte atuando em todas as áreas seria capaz de superar os o congresso aprovou a Lei de Segurança Nacional e no mesmo ano
problemas econômicos, a instabilidade política e as agitações sociais. o governo Vargas decretou a ilegalidade da ANL, argumentando
Era o caso do fascismo italiano e do nazismo alemão. Já no que o manifesto de julho, no qual aparecia o lema “Todo poder
totalitarismo de esquerda soviético a solução seria a superação à ANL!”, atentava contra a ordem pública e social. Diante desse
do capitalismo e a estatização dos meios de produção com a quadro, os comunistas organizaram o levante de 1935, uma
implantação do socialismo. tentativa fracassada de se iniciar um movimento revolucionário.
Em linhas gerais, os integralistas seguiam os ideais Os líderes foram presos e o Partido Comunista continuou na
nazifascistas e os aliancistas se inspiravam em algumas propostas ilegalidade até o fim do Estado Novo.
comunistas. A seguir um breve resumo da ideologia dos dois

Wikimedia Foundation
partidos:
• AIB (Ação Integralista Brasileira):
– Grupo fascista.
– Plínio Salgado (líder).
– Condenavam o capitalismo financeiro internacional
(associado aos judeus), mas não a propriedade privada.
– Totalitarismo, unipartidarismo e Estado centralizado forte.
– Lema: “Deus, Pátria e Família”.
– Saudação: ANAUÊ.
– Apoiados por setores da Igreja (combate ao “comunismo
ateu”), classe média alta, empresários capitalistas e
imigrantes ou descendentes de imigrantes ítalo-germânicos
radicados especialmente no RS e SC.
Wikimedia Foundation

Ainda no governo Vargas, durante a ditadura do Estado


Novo, todas as atividades políticas que caracterizavam um regime
liberal foram suspensas – eleições, congresso nacional, assembleias
estaduais, câmaras municipais. Sem representatividade, os partidos
políticos não têm razão de ser.

República Liberal (1945-1964)


Durante a crise do Estado Novo, Vargas, percebendo a
impossibilidade de continuar a ditadura diante de um cenário
nacional e internacional contrário aos regimes autoritários, sinalizou
para reformas liberais, entre elas eleições e a possibilidade da
criação e organização de partidos políticos. O País voltava a ter
vida partidária.
Sessão de encerramento do Congresso Integralista – Plínio Salgado encontra-se ao Para alguns estudiosos do tema, o Brasil viveu a primeira
centro (sentado) – em Blumenau, Santa Catarina, 1935.
Date 1936
experiência partidária viável, com uma dinâmica de competição
entre vários partidos, que apresentavam bases estruturadas,
Seguindo o modelo fascista, os integralistas tornaram-se programas de governo e se apresentavam como mediadores entre
uma organização paramilitar, em que seus integrantes organizavam a sociedade e o Estado. Dos treze partidos que compunha o cenário
desfiles com seus militantes uniformizados com camisas verdes político, vamos destacar aqui aqueles que se destacaram nas suas
marchando de forma sincronizada, passando para o público a relações com o poder:
ideia de ordem e disciplina. A AIB apoiou Vargas na implantação

Anual – Volume 3 131


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades

Reprodução

Wikimedia Commons/Partido Comunista Brasileiro


• PCB (Partido Comunista do Brasil): foi reorganizado depois
de anos na ilegalidade, no entanto teve seu registro cassado
em 1947, assim como seus representantes eleitos em 1945. A
• UDN (União Democrática Nacional): antigetulista, era contrário justificativa foi a de que o partido representava os interesses do
à intervenção do Estado na economia, defendendo uma postura comunismo internacional liderado pela União Soviética. Forte
dentro da lógica do liberalismo econômico, posicionando-se a influência em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
favor da abertura da economia nacional ao capital estrangeiro Principal liderança: Luís Carlos Prestes.
e questionava as leis trabalhistas. No contexto da Guerra Fria,
defendiam o alinhamento com os Estados Unidos. Tinha o apoio Presidentes eleitos nesse período:
de banqueiros, empresários ligados ao capital estrangeiro e de • Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1951): PSD + PTB
grupos de comunicação nacionais, além de setores da classe • Getulio Vargas (1951 – 1954): PTB + PSP
média. Alguns nomes de destaques: Carlos Lacerda, José Sarney • Juscelino Kubitschek (1956 – 1961): PSD + PTB.
e Antônio Carlos Magalhães. • Jânio Quadros (1961): PTN
• João Goulart (1961 – 1964): PTB
Reprodução

Os políticos desses partidos estiveram presentes como


principais protagonistas nos momentos decisivos e de crises que
marcaram este período: a Constituição de 1946; as disputas entre
nacionalistas X entreguistas sobre qual modelo econômico deveria
ser implantado para o desenvolvimento do País; a crise política que
resultou no suicídio de Vargas; a tentativa de golpe para impedir
a posse de Juscelino Kubitschek; a crise para a posse de João
Goulart; o golpe de 1964 que implantou a ditadura civil-militar e
que interrompeu essa experiência democrática.

Ditadura civil-militar (1964-1985)


Após o Golpe de 1964, que implantou uma ditadura
• PTB (Partido Trabalhista Brasileiro): de orientação getulista, civil-militar no Brasil, os partidos políticos foram alvo de novas
defendia o nacionalismo econômico com intervenção do Estado, perseguições. O Ato Institucional número 1 criava poderes
tinha base eleitoral nos sindicatos legalizados durante o governoexcepcionais ao executivo que poderia suspender os direitos
Vargas. Principais nomes: Getulio Vargas, João Goulart e Leonel políticos de qualquer cidadão. Nos primeiros meses do regime,
Brizola. foram cassados os direitos civis de centenas de pessoas, como
juízes, militares, sindicalistas e políticos que apresentavam posições
contrárias às do novo governo, em especial aqueles que tinham
Reprodução

posições nacionalistas e de esquerda. No campo do legislativo


federal, em torno de cinquenta parlamentares perderam seus
mandatos; dezoito eram do PTB, nenhum da UDN.
Em outubro de 1966, o governo federal decretava o Ato
Institucional nº 2 (AI-2), que, entre outras prerrogativas, extinguia
todos os partidos existentes que atuavam no cenário nacional
desde o fim do Estado Novo, estabelecendo o bipartidarismo, ou
seja, a existência de apenas dois partidos: a Aliança Renovadora
Nacional (ARENA), formado por políticos que apoiavam o regime
militar, na sua maioria oriundos da UDN e do PSD. O outro partido
era o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), uma oposição
consentida formada por políticos remanescentes do PTB e do PSD.
• PSD (Partido Social Democrático):formado principalmente por Os militares argumentavam que a atuação de vários partidos levava o
políticos tradicionais com grande prestígio em suas regiões. congresso a constantes crises políticas, além de atrasar a aprovação
Industriais, banqueiros e latifundiários associados ao regime de das medidas necessárias ao andamento do País. Na prática era
Getulio Vargas. Pretendiam associar o partido ao getulismo, sem, uma forma do governo controlar o congresso, conhecendo seus
no entanto, aproximarem-se das lideranças sindicais. Alguns opositores, além de mascarar o regime autoritário, uma vez que
de seus principais nomes eram Juscelino Kubitschek, Ulysses deixava o congresso funcionando, tendo até partido de oposição,
Guimarães e Tancredo Neves. passando a ideia de normalidade política.

132 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias

Domínio Público
10 PSC Partido Social Cristão 29.3.1990 Everaldo Dias Pereira 20
Partido da Antonio Carlos
11 PMN 25.10.1990 33
Mobilização Nacional Bosco Massarollo
Roberto João Pereira
12 CIDADANIA Cidadania 29.10.1992 23
Freire
José Luiz de França
13 PV Partido Verde 30.9.1993 43
Penna
Luis Henrique de
14 AVANTE Avante 11.10.1994 70
Oliveira Resende
Ciro Nogueira Lima
15 PP Partido Progressista 16.11.1995 11
Filho
Partido Socialista
José Maria de
16 PSTU dos Trabalhadores 19.12.1995 16
Almeida
Unificado
Partido Comunista
17 PCB 9.5.1996 Edmilson Silva Costa 21
Brasileiro
Merece destaque, nesse contexto, a atuação da luta armada. Partido Renovador José Levy Fidelix da
18 PRTB 18.2.1997 28
Ainda no início do regime militar, logo após o golpe de 1964, grupos Trabalhista Brasileiro Cruz
de esquerda não concordaram com a posição do Partido Comunista 19 DC Democrata Cristã 5.8.1997 José Maria Eymael 27
Brasileiro (PCB), acusando a liderança do partido de não oferecer 20 PCO
Partido da Causa
30.9.1997 Rui Costa Pimenta 29
resistência à implantação do regime. Muitos decidiram, então, partir Operária

para a luta armada. Renata Hellmeister


21 PODE Podemos 2.10.1997 19
de Abreu
“No Brasil, a organização tradicional de esquerda – o PCB
22 PSL Partido Social Liberal 2.6.1998 Luciano Caldas Bivar 17
– opunha-se à luta armada. Em 1967, um grupo liderado pelo
M a rc o s A n t o n i o
veterano comunista Carlos Marighella rompeu com o partido e 23 REPUBLICANOS Republicanos 25.8.2005
Pereira
10
formou a Aliança de Libertação Nacional (ALN). A AP [Ação Popular] Partido Socialismo e
24 PSOL 15.9.2005 Juliano Medeiros 50
já optara pela luta armada e novos grupos foram surgindo, entre eles Liberdade
o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8) e a Vanguarda 25 PL Partido Liberal 19.12.2006
José Tadeu
22
Candelária
Popular Revolucionária (VPR); esta última com forte presença de
Partido Social
militares de esquerda.” 26 PSD
Democráticos
27.9.2011 Gilberto Kassab 55
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 479. A d i l s o n B a r ro s o
27 PATRIOTA Patriota 19.6.2012 51
Oliveira
Em 1979, em meio à abertura política, durante o governo 28 PROS
Partido Republicano
24.9.2013
Eurípedes G.de
90
da Ordem Social Macedo Júnior
Figueiredo, foi realizada uma reforma partidária. Os partidos políticos
Paulo Pereira da
estavam autorizados a funcionar e era o fim do bipartidarismo. 29 SOLIDARIEDADE Solidariedade 24.9.2013
Silva
54
Essa reforma também promoveu o surgimento de novos partidos, João Dioníso
30 NOVO Partido Novo 15.9.2015 30
muitos que estão hoje em atividade. A ARENA passou a ser o PDS Filgueira B. Amoêdo
(Partido Democrático Social), de onde mais tarde surgiram o PPB, 31 REDE
Rede
22.9.2015
Pedro Ivo de Souza
18
depois PP e o PFL, mais tarde rebatizado como DEM (Democratas), Sustentabilidade Batista

um partido de centro-direita. O MDB transformou-se em Partido Partido da Mulher Suêd Haidar


32 PMB 29.9.2015 35
Brasileira Nogueira
do Movimento Democrático Brasileiro. O PTB se reorganizou e
outros partidos foram criados, como o PDT (Partido Democrático Disponível em: <http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-políticos/registrados-no-tse>.

Trabalhista) e o PT (Partido dos Trabalhadores), organizado em torno


do novo sindicalismo surgido no ABC paulista. Apesar do grande número de partidos, a sociedade brasileira
tem demonstrado uma grande insatisfação com a classe política, não
A Nova República (de 1985 aos dias atuais) se sentindo representada por essas legendas. Nas manifestações que
ocorreram em 2013 nas várias capitais do País, participantes levavam
Com o fim da ditadura civil-militar em 1985 e a transição cartazes contendo uma pluralidade de pautas que questionavam
democrática, novas legendas foram criadas. a qualidade do serviço público nas áreas de saúde, educação e
Observe o quadro a seguir, que contém os partidos políticos segurança, exigindo o “padrão FIFA”, fazendo um trocadilho com
registrados no TSE. os estádios construídos para a copa do mundo de 2014. A falta de
ética na política foi um dos temas recorrentes nos protestos, diante
0001 Sigla Nome Deferimento Presidente Nacional No
de novos escândalos que estavam em evidência na mídia.
Movimento Luiz Felipe Baleia
1 MDB 30.6.1981 15 Alguns cartazes chamavam atenção, como “somos contra
Democrático Brasileiro Tenuto Rossi
Partido Trabalhista Roberto Jefferson a tudo que está aí” ou “nenhum partido me representa”, frases
2 PTB 3.11.1981 14
Brasileiro Monteiro Francisco que denunciam a distância existente entre a classe política e suas
3 PDT
Partido Democrático
10.11.1981 Carlos Lupi 12 legendas dos verdadeiros anseios da sociedade.
Trabalhista
Se de um lado os protestos e manifestações trouxeram à
Partido dos Gleisi Helena
4 PT
Trabalhadores
11.2.1982
Hoffmann
13 tona o descontentamento da sociedade com o atual cenário político,
Antônio Carlos deixando claro o anseio por reformas que permitam aos cidadãos
5 DEM Democratas 11.9.1986 25
Magalhães Neto se sentirem verdadeiramente representados pelos candidatos eleitos
6 PCdoB
Partido Comunista
23.6.1988
Luciana Barbosa de
65 democraticamente, por outro lado as insatisfações e decepções
do Brasil Oliveira Santos
de parte da sociedade podem criar condições para o surgimento
Partido Socialista Carlos Roberto
7 PSB
Brasileiro
1o.7.1988
Siqueira de Barros
40 de discursos oportunistas, personalistas, que levem ao descrédito
Partido da Social Bruno Cavalcanti de das instituições democráticas, abrindo o caminho para soluções
8 PSDB 24.8.1989 45
Democracia Brasileira Araújo miraculosas, espetaculares de “salvadores da pátria” ou até mesmo
9 PTC
Partido Trabalhista
22.2.1990 Daniel S. Tourinho 36 o sentimento que somente um regime forte e autoritário é capaz
Cristão
de conduzir as mudanças necessárias.

Anual – Volume 3 133


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
“Hoje, os partidos políticos aparecem como elementos “Saquarema” e “Luzia” eram os apelidos dados aos membros dos
indispensáveis à sobrevivência dos regimes democráticos modernos. partidos Conservador e Liberal, respectivamente. De acordo com
[..] Os defeitos dos partidos são, em verdade, defeitos dos homens. o sistema políticos vigente no Brasil Império, é correto afirmar que
O que cumpre é seguir corrigindo-os, para que em marcos saudáveis o relato do então senador Holanda Cavalcanti evidencia
se possa mantê-los. Apesar de suas falhas, não há como negar que A) a presença de ideais políticos de igualdade e liberdade
os partidos políticos constituem peças fundamentais na mecânica da nos dois grupos que lutavam juntos pela implantação do
democracia: onde quer que sucumbam, cede consigo a engrenagem socialismo no Brasil nos mesmos moldes de países europeus,
do governo popular.” como a França, a Inglaterra e a Alemanha.
Disponível em:<http://www.justicaeleeitoral.jus.br/arquivos/tserevista-eletronica-eje- B) o empenho dos políticos em buscar atender os interesses
n-6-ano-iii-outubro-novembro-2013-1384199573370.>
de seus eleitores, não importando serem classificados como
pertencentes ao grupo dos “Saquarema” ou ao grupo dos
“Luzias”, desde que seus projetos de lei fossem aprovados.
Exercícios de Fixação C) que os dois principais grupos políticos do Brasil Império não
chagavam a representar interesses ou projetos políticos,
pois aceitavam e defendiam a manutenção da escravidão e
01. (Uece/2016) Atente ao que se diz a respeito dos dois partidos do monopólio da terra, discordando apenas na questão da
políticos denominados Partido Português e Partido Brasileiro, centralização, ou não, do poder.
considerando os acontecimentos que culminaram com o D) a incapacidade dos revolucionários “Luzias” em implantar
processo de emancipação política brasileira de 1822. medidas políticas, como voto universal e secreto, durante
I. O Partido Português, composto em sua maioria por sua participação no poder no lugar dos conservadores
comerciantes portugueses, gostaria de ver mantidos os “Saquaremas” que, por sua vez, desejaram a manutenção
privilégios a eles proporcionados pela estrutura colonial e do voto censitário.
desejava o retorno de Dom Pedro a Portugal para que as
E) o revezamento dos partidos Liberal e Conservador no poder
medidas recolonizadoras fossem aplicadas.
foi devido a um acordo entre as oligarquias cafeeiras das
II. O Partido Brasileiro reunia burocratas, grandes proprietários
províncias de Minas Gerais e São Paulo, que ficou conhecido
de terras, advogados e investidores urbanos nascidos no
como política dos governadores ou política do café com leite.
Brasil. Esse grupo foi privilegiado pela abertura dos portos
de 1808 e gostaria que fosse mantida a elevação do Brasil
a Reino Unido de Portugal e Algarves. 04. (Uece/2018) Atente ao seguinte excerto sobre o evento
denominado pejorativamente, pelo Governo Vargas, de
Acerca das duas proposições acima, é correto afirmar que Intentona Comunista:
A) ambas são verdadeiras. “Luiz Moreira, militar excluído das Forças Armadas por
B) I é falsa e II é verdadeira. participar da Intentona Comunista em novembro de 1935,
C) ambas são falsas. teve reconhecido o direito de ser reintegrado ao Exército
D) I é verdadeira e II é falsa. brasileiro. A decisão da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal
02. (UEL/2017) Sob o ponto de vista das ideias, foram diversas as da 2ª Região estabeleceu que ele será enquadrado como
correntes políticas que atuaram no período regencial no Brasil 2º tenente, graduação que teria alcançado se tivesse
(1831-1840). permanecido em serviço até sua reforma”.

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, os ANISTIA REMOTA. Militar que participou da Intentona Comunista é
integrantes e suas posições político-ideológicas. reincorporado. Revista Consultor Jurídico, online, 11 de julho de 2005.
A) Os cabanos situavam-se na região norte do país, eram
Sobre esse evento, é correto afirmar que
administradores das províncias, corporações do exército local
e elite dos comerciantes portugueses; defendiam o retorno A) tendo sido organizado pela Aliança Nacional Libertadora
da família imperial. (ANL), que era liderada por Luís Carlos Prestes, esse levante
B) Os farroupilhas eram pequenos proprietários rurais e realizado por militares rebeldes insatisfeitos com o governo
comerciantes, representavam o setor mais conservador do constitucional de Vargas amotinou quartéis em Natal, Recife
grupo dos chimangos; postulavam o retorno da monarquia e Rio de Janeiro.
com a imposição de medidas centralizadoras. B) foi arquitetado e executado por membros da Ação
C) Os liberais exaltados eram proprietários rurais, integrantes do Integralista Brasileira (AIB) que pretendiam derrubar o
exército e classe média urbana, que defendiam a descentralização Governo democrático de Getúlio Vargas e impor um estado
do poder imperial e a autonomia das províncias. totalitário de orientação fascista no Brasil.
D) Os liberais moderados, ou chimangos, eram comerciantes C) teve sua origem no movimento das Ligas Camponesas, de
portugueses, aristocratas e integrantes da alta patente orientação Comunista, que, a partir das ações no campo
do exército, que defendiam a volta do ex-imperador e a passaram a apoiar movimentos grevistas de trabalhadores
autonomia das províncias. urbanos, com o intuito de derrubar o Estado Novo instituído
E) Os restauradores, ou caramurus, eram membros do setor por Getúlio Vargas.
rural abolicionista e intelectuais da classe média; defendiam D) foi uma artimanha de Vargas, que utilizou este evento falso
as reformas socioeconômicas que visavam à expulsão do como justificativa, perante a opinião pública, para instituir
ex-imperador. um governo totalitário de características fascistas, chamado
Estado Novo, em 1937.
03. (G1 - col. naval/2017) Leia a frase a seguir.
Nada se assemelha mais a um “saquarema” do que 05. (Espm/2017) Tratava-se de um parlamentarismo sem povo.
um “luzia” no poder. Os partidos, criados pelas camadas economicamente
dominantes, sem ideários muito nítidos, coagiam e manipulavam
Antônio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque
(1797-1863), político do Império do Brasil.
um eleitorado ínfimo, sem traduzir-lhes os interesses concretos.

134 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
O caráter oligárquico definia tais partidos. Mais que isso, 02. (FGV/2012)
esta definição provinha de uma oligarquia enriquecida pelo “Todos os sofrimentos do mundo moderno se originam
oficialismo, em que só o controle do poder suscitava às maiorias de um só defeito da grande máquina: a falta de disciplina. O
vindas, do nada, levando-as a recear participação popular. conceito da liberdade excessiva, o predomínio do individualismo
mais desenfreado determinou o desequilíbrio social que
Adriana Lopez; Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação. perturba o ritmo da vida do nosso século.
Desde a Revolução Francesa, outro não tem sido o grito
A leitura do texto e o conhecimento do sistema político da humanidade, senão aquele que atroou todos os recantos
brasileiro do Segundo Reinado permitem afirmar que: do mundo e do século:
A) o Poder Moderador conduzia o processo, as maiorias eram — Liberdade! Liberdade!
E foi a liberdade que espalhou pelas nações as doutrinas
forjadas e o Poder Legislativo era subordinado ao Poder
mais contraditórias, as afirmativas mais absurdas, os brados
Executivo. mais lancinantes de angústia do pensamento e do coração.”
B) havia um pluripartidarismo que expressava uma rica
SALGADO, Plinio. Liberdade, caminho da escravidão. In: O Sofrimento Universal.
diversidade de ideários. São Paulo: José Olympio, 1934, pág. 217 a 220.
C) era expressiva a participação popular nos partidos, fato que
era estimulado pelo sufrágio universal. O texto pode ser vinculado ao
D) o parlamentarismo adotado no Brasil concentrou a A) integralismo, pelo seu conteúdo de crítica ao individualismo
autoridade no Poder Legislativo. e à liberdade.
E) em função do bipartidarismo e das diversidades ideológicas, B) comunismo, pela defesa do coletivismo e da revolução social.
C) anarcossindicalismo, pelo conteúdo de crítica social e defesa
um partido defendia os interesses da aristocracia rural,
do sindicalismo.
enquanto o outro apoiava os setores urbanos populares e D) liberalismo, por remeter à herança da Revolução Francesa e
os camponeses. ao individualismo.
E) conservadorismo, pela defesa da tradição e da religião cristã.

03. (PUCSP/2016) “Desde a promulgação da Constituição de 1988,


Exercícios Propostos o sistema partidário e o legislativo constituíram as principais
vias pelas quais as demandas da população foram canalizadas
para o sistema político. As mudanças socioeconômicas desde
então promovidas podem ser insuficientes, mas não são poucas.
01. (Uece 2017/ Adaptado) No começo do século XX, desenvolveu-se E foram alcançadas por meio do voto e de sua representação
uma doutrina política que defendia a ideia de que a sociedade no Executivo e no Legislativo.”
só funcionaria se houvesse ordem e paz, respeito à hierarquia
social e com harmonia. Era inspirada na Doutrina Social da Igreja Argelina Cheibub Figueiredo. “O Brasil na encruzilhada: democracia ou
reformas?”, in Angela Alonso e Miriam Dolhnikoff (org.). 1964,
Católica. No Brasil, seus membros usavam uniformes verdes, do golpe à democracia. São Paulo: Hedra, 2015, p. 40.
o que resultou em serem conhecidos como “camisas verdes”
ou, ainda, “galinhas verdes”, e cumprimentavam-se com a
saudação indígena “Anauê”. Foi um “[...] movimento político A partir do texto, pode-se afirmar que, após o fim do regime
de inspiração fascista com forte ligação com os movimentos militar brasileiro (1964-1985),
conservadores e o pensamento autoritário brasileiro em A) o processo de redemocratização fracassou, ao não realizar
decurso. Para compreender a importância desse movimento e o mudanças profundas na composição e na atuação dos
nível de mobilização que atingiu, congregando grande número partidos políticos brasileiros.
B) o aparato político partidário e parlamentar brasileiro, apesar
de pessoas de todas as classes, é necessário evidenciar a sua
de suas limitações, contribuiu para o aprimoramento da
estrutura, seu ideário e as estratégias mobilizadoras, pensadas ordem democrática.
em torno de grandes temas.”. C) os projetos de democratização e de reforma social foram
bem-sucedidos graças aos eficazes mecanismos brasileiros
REGIS, João Rameres. Galinhas-Verdes: Memórias e Histórias (...) em Limoeiro –
Ceará (1934-1937). Dissertação. UFC, 2002. p. 61.
de representação política.
D) os avanços sociais e políticos, ocorridos no país, foram
O movimento político a que o excerto anterior se refere é o mínimos e não provocaram alteração significativa no
A) anarquismo, trazido pelos imigrantes, sobretudo italianos e cotidiano da maioria dos brasileiros.
espanhóis, que defendia o fim do Estado e a sua substituição
pela autogestão e cooperação social. 04. (PUC-SP/2012) Assim como os nazistas e os fascistas, os
integralistas pregavam a substituição da luta de classes pela
B) integralismo, liderado por Plínio Salgado que, apoiado em
ascensão dos melhores, para renovar as camadas dirigentes e
preceitos conservadores, fundou a AIB (Aliança Integralista
continuar estrutural e funcionalmente o seu papel na sociedade.
Brasileira), partido que teve participação ativa em parte do
período Vargas. CANDIDO, Antonio. Teresina etc.
C) socialismo cristão, que aplicando os ensinamentos bíblicos Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 129. Adaptado.
à realidade brasileira do período Vargas, defendia, através
da ANL (Aliança Nacional Libertadora), o estabelecimento O texto compara nazismo, fascismo e integralismo, identificando-os
de uma república cristã socialista. A) no anseio de estabelecer um governo proletário, capaz
D) comunismo, estabelecido no Brasil com a fundação do PCB de frear a ascensão da burguesia e de patrocinar amplas
(Partido Comunista Brasileiro), em 1922, e que contava com reformas sociais e políticas.
B) na aceitação da luta de classes como princípio das relações
militantes como Luís Carlos Prestes, o escritor Jorge Amado
sociais e na valorização da reforma administrativa como
e o ator e poeta Mário Lago. forma de eliminar os problemas políticos.

Anual – Volume 3 135


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
C) no esforço de valorizar a identidade nacional, único traço O termo “ditabranda” reporta-se ao
capaz de impedir a luta de classes e assegurar a formação A) golpe político aplicado por Getúlio Vargas; encerramento da
de um governo socialista. chamada República Velha; repressão ao Partido Comunista;
D) na rejeição da ideia de que a sociedade seja movida pela políticas econômicas de cunho nacionalista; suicídio de
luta de classes e na defesa de que o poder seja exercido por Vargas e divulgação da carta-testamento.
um grupo limitado e privilegiado de pessoas. B) período do coronelismo na política brasileira; ocorrência de
E) na busca de uma revolução proletária internacional e no fraudes nas eleições, por meio do chamado voto de cabresto;
reconhecimento do papel central que o governo deve exercer polícia política constituída por capangas e jagunços.
na harmonização das relações sociais.
C) período de Juscelino Kubitschek; imposição do crescimento
econômico por meio da industrialização; slogan
05. (UPE-SSA 2/2017) Rio de Janeiro, 1831. Com cerca de
governamental “50 anos em 5”; tempo de democracia
150 mil habitantes, a capital do Império era um grande caldeirão
restrita, com voto censitário.
político e social em ebulição. A chamada Revolução de 7 de
abril forçara a abdicação do primeiro imperador e instituíra D) golpe político-militar que instalou a ditadura; imposição
uma regência trina para governar a nação até a maioridade de Atos Institucionais; extinção dos partidos existentes;
de Pedro II. instituição do bipartidarismo – ARENA e MDB; repressão à
oposição e censura à imprensa.
BASILE, Marcello. Revolta e cidadania na corte regencial. E) período de redemocratização; eleições diretas para o
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tem/v11n22/v11n22a03>.
executivo, legislativo e judiciário; urbanização acelerada e
enfraquecimento do poder dos presidentes da república.
No contexto apontado, a arena política brasileira encontrava-
se dividida entre três grupos, que disputavam o poder e os
08. (Enem/2013)
cargos públicos com interesses bastante distintos. Eram eles,
PSD – PTB – UDN
respectivamente: PSP – PDC – MTR
A) Unitaristas, maragatos e jacobinos. PTN – PST – PSB
B) Liberais, militares e conservadores. PRP – PR – PL – PRT
C) Socialistas, federalistas e anarquistas.
D) Liberais moderados, liberais exaltados e caramurus. Finados
E) Comerciantes, proprietários de escravos e militares. FORTUNA. Correio de Manhã,
ano 65, n° 22 264,
2 nov. 1965.
06. (USF/2017) Leia o excerto a respeito da política brasileira durante
o Segundo Reinado. A imagem foi publicada no Jornal Correio da Manhã, no dia de
Finados de 1965. Sua relação com os direitos políticos existentes
Conservadores e liberais, apesar de lutarem intensamente
no período revela a
pelo poder, representavam basicamente os mesmos interesses,
A) extinção dos partidos nanicos.
ou seja, os interesses dos grandes proprietários rurais.
B) retomada dos partidos estaduais.
A afirmação da época “nada mais parecido com um conservador
C) adoção do bipartidarismo regulado.
do que um liberal no governo” tanto era verdadeira que,
D) superação do fisiologismo tradicional.
no início da segunda metade do século XIX, liberais e
E) valorização da representação parlamentar.
conservadores chegaram a participar do mesmo ministério.
Durante quase todo o Segundo Reinado, predominou o regime 09. (Enem/2011) A consolidação de regime democrático no Brasil
parlamentarista. contra os extremismos da esquerda e da direita exige ação
Sobre a política do Segundo Reinado, assinale a alternativa enérgica e permanente no sentido do aprimoramento das
correta. instituições políticas e da realização de reformas corajosas no
A) O Brasil adotou o regime parlamentarista sob os moldes terreno econômico, financeiro e social.
britânicos, extinguindo o Poder Moderador, valorizando Mensagem programática da União Democrática Nacional (UDN) – 1957.
assim, as atividades do Poder Legislativo.
B) O Ministério da Conciliação foi formado por representantes Os trabalhadores deverão exigir a Constituição de um governo
dos partidos Restaurador e Farroupilha, constituindo uma nacionalista e democrático, com participação dos trabalhadores
ala progressista de apoio ao governo imperial. para a realização das seguintes medidas:
C) O Exército brasileiro participou ativamente da política I. Reforma bancária progressista;
brasileira nesse período, defendendo desde o início do II. Reforma agrária que extinga o latifúndio;
Império ideias positivistas. III. Regulamentação da Lei de Remessas de Lucros.
D) A Revolução Praieira, ocorrida em Pernambuco, apresentava
Manifesto do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) – 1962.
caráter republicano liberal, tendo influência das revoluções BONAVIDES, P; AMARAL, R. Textos políticos da história do Brasil.
europeias de 1848. Brasília: Senado Federal, 2002.
E) Ao final do Império, os partidos Republicano Paulista e o
Republicano Mineiro, promoveram um golpe de Estado que Nos anos 1960 eram comuns as disputas pelo significado de
resultou no novo regime a partir de 1889. termos usados no debate político, como democracia e reforma.
Se, para os setores aglutinados em torno da UDN, as reformas
07. (Unesp/2010) Um editorial do jornal Folha de S. Paulo gerou deveriam assegurar o livre mercado, para aqueles organizados
polêmica e protestos no início de 2009. No entender do no CGT, elas deveriam resultar em
editorialista (..) as chamadas “ditabrandas” – caso do Brasil A) fim da intervenção estatal na economia.
entre 1964 e 1985 – partiam de uma ruptura institucional e B) crescimento do setor de bens de consumo.
depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa C) controle do desenvolvimento industrial.
política e acesso à Justiça (..). D) atração de investimentos estrangeiros.
Folha de S. Paulo, 17 fev. 2009. E) limitação da propriedade privada.

136 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
10. (Unifor/2014) O Tribunal Superior Eleitoral aprovou, em
setembro de 2013, a criação de mais dois partidos políticos
Processo de Independência
no Brasil: o Partido Republicano da Ordem Social – PROS –, Para chegarmos ao primeiro processo de ruptura, temos que
liderado pelo ex-vereador em Goiás Eurípedes de Macedo, e o nos reportar às origens da colonização do Brasil. Em nossa história,
Solidariedade, montado pelo deputado federal Paulo Pereira do ponto de vista formal, o período entre a chegada dos portugueses
da Silva, presidente da Força Sindical. Os dois partidos são, (1500) e a Independência (1822) é conhecido como Período
respectivamente, o 31º e o 32º do país. Colonial. Nesse período, o Brasil se enquadrou perfeitamente à
A propósito da trajetória dos partidos políticos no Brasil, é lógica do sistema colonial, obedecendo às diretrizes econômicas do
correto afirmar que modelo mercantilista, funcionando como uma área fornecedora de
A) imediatamente após o golpe militar de 1964, foram extintos matérias-primas e consumidora de gêneros manufaturados. Açúcar,
todos os partidos políticos que existiam no Brasil, situação tabaco, algodão, drogas do sertão, minérios, de tudo se explorou
que permaneceu até a redemocratização do país, no início por essas bandas em nome da subordinação do Pacto Colonial.
da década de 1980. No final do século XVIII, esse cenário vai ser alterado, pois as
B) no mês de outubro de 2013, a ex-ministra do Meio transformações resultantes do avanço das ideias liberais burguesas
Ambiente, Marina Silva, conseguiu criar o partido Rede na Europa repercutiram no Brasil, bem como em outras colônias
Sustentável, legenda sob a qual pretende concorrer à europeias na América. Era o declínio do Antigo Regime que levaria
presidência da República em 2014. à crise do Sistema Colonial.
C) durante quase todo o período da ditadura militar que se Na sequência, mais um evento na Europa terá implicações
sucedeu ao golpe de 1964, conviveram no Brasil apenas dois diretas na América. As rivalidades entre França e Inglaterra levaram
partidos políticos: a Aliança Renovadora Nacional – ARENA o dirigente francês Napoleão Bonaparte a decretar o Bloqueio
e o Movimento Democrático Brasileiro – MDB. Continental (1806), na tentativa de fragilizar economicamente a
D) pela legislação eleitoral atualmente vigente à época Inglaterra. D. João VI, rei de Portugal, não tendo como enfrentar
da criação do PROS e do Solidariedade, os políticos o poderio militar francês, mas dependendo da economia inglesa,
detentores de mandatos eletivos que se transferirem para optou pela transferência da Corte para o Brasil. Aqui chegando, foi
os novos partidos antes das próximas eleições perderão,
decretada a Abertura dos Portos (1808), sendo este considerado
automaticamente, seus mandatos.
um episódio decisivo no contexto do processo de independência
E) com a criação do PROS e do Solidariedade, faltam apenas
do Brasil. A assinatura dos Tratados Comerciais de 1810, entre
três legendas para o atingimento do limite máximo de 35
Portugal e Inglaterra, permite-nos concluir que ao mesmo passo
partidos políticos previsto no Artigo 17 da Constituição
que a colônia evoluía em direção ao rompimento político, também
Brasileira promulgada em 1988.
avançava em direção à dependência econômica junto aos britânicos,
que passavam a ter aqui privilégios excepcionais.
A presença da Corte portuguesa no Brasil ajuda a explicar as
Fique de Olho condições em que o rompimento político com a metrópole se deu.
Trata-se de um processo conduzido pela elite agrária brasileira, que
LEGENDA DE ALUGUEL pretendia ao máximo manter a parte que lhe interessava da estrutura
dos tempos de colônia com o mínimo de sobressaltos, daí todo o
Diz-se que são “de aluguel” as legendas dos partidos esforço de manter o príncipe regente D. Pedro, que, a despeito
desprovidos de representação no Congresso ou com escassíssimo das pressões para que retornasse para Portugal, foi convencido
número de filiados e/ou parlamentares, e disponíveis para abrigar a permanecer no Brasil. Ao fim, percebemos que os elementos
candidaturas de políticos – geralmente endinheirados – dispostos a
de continuidade superaram os de ruptura, pois mantivemos a
pagar um preço pela sua inscrição e apresentação da candidatura a um
monarquia e a unidade territorial, a escravidão foi preservada, bem
posto eletivo – geralmente federal e, menos frequentemente, estadual.
como a estrutura agroexportadora. Destaca-se que o processo ainda
Legendas de aluguel. In: FARHAT, Saïd. Dicionário parlamentar e político: se deu praticamente sem participação popular.
o processo político e legislativo no Brasil. São Paulo: Melhoramentos;
Fundação Peirópolis, 1996. p. 556.

Proclamação ou Golpe Republicano


Aula 14:
A própria República que foi instituída em 1889 foi muito
C-3 H-13, 15
Aula C-5 H-22
mais resultado da fragilidade do Império, que há décadas dava sinais
Golpes, Rupturas e Permanências de desgaste, do que pela força dos valores republicanos, sendo para
14 muitos um verdadeiro golpe militar. Obras como Os bestializados, de
José Murilo de Carvalho, abordam este momento, e com frequência
a frase “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem
saber o que significava. Acreditavam estar vendo uma parada”, do
jornalista Oliveira Viana, é usada para mostrar a pouca identificação
Introdução dos setores populares com o novo regime. De fato, precisamos
Em momento tão singular no País, marcado por inúmeras lembrar que o Imperador se envolveu em questões que aos poucos
manifestações populares, propomos nesta aula traçar um panorama foram tirando suas bases de sustentação, como foi o caso da questão
de alguns momentos de nossa história, abordando um pouco os religiosa, resultado dos conflitos entre o Estado e a Igreja, devido
golpes e as revoluções, discutindo que rupturas e permanências à aproximação de D. Pedro II com a maçonaria. Da questão militar
produziram. Em nosso recorte histórico, vamos analisar o momento que pode ser vista como resultado do fortalecimento do Exército
da Independência, a Proclamação da República, a Revolução de após a Guerra do Paraguai, que passou a exigir maior participação
1930, o golpe do Estado Novo, a Redemocratização, a sucessão no cenário político; e, finalmente, o desgaste do Imperador com os
após a morte de Vargas, a renúncia de Jânio, o golpe de 1964, proprietários de escravos na chamada questão sociopolítica, devido
o surgimento da Nova República e o impeachment de Collor. ao avanço do abolicionismo.

Anual – Volume 3 137


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
Ao ser implantada a República, logo no governo provisório

Claru Jansson/Wikimedia Foundation


do Marechal Deodoro da Fonseca, foi preciso dar um fim às
instituições monárquicas, tais como o Poder Moderador, voto
censitário e o senado vitalício. Na sequência, a promulgação
da Constituição de 1891 daria o novo perfil institucional da
jovem República. Neste projeto, com forte influência do modelo
norte-americano, ficou determinado o caráter republicano,
representativo, federalista e presidencialista. Definia-se ainda a
tripartição e o equilíbrio entre os poderes constituídos com o Estado,
passando a ser laico, e o legislativo bicameral e eletivo.

Pinacoteca Municipal de São Paulo


A Era Vargas
Getulio Vargas imprimiu em todo esse período sua
marca pessoal de líder carismático e identificado com as massas
urbanas, típico do modelo populista, orientando estrategicamente
suas diretrizes econômicas em direção ao nacionalismo e
intervencionismo. No Governo Provisório, iniciado em 1930, e que
durou quase quatro anos, já era possível perceber as pretensões de
Vargas que governou sem uma constituição, tendo fechado o Poder
Legislativo, além de ter indicado interventores para os estados. Nesse
período, era visível também o seu desejo de se perpetuar no poder.
No entanto, o projeto continuísta teria que vencer a resistência de
São Paulo, que, alijada do poder, articulou um movimento contra o
presidente. Após derrotar a revolta em São Paulo, Vargas procurou
Quanto tempo duraria essa nova ordem institucional? Durou conduzir o processo que culminou na Constituição de 1934, que
até Deodoro ter seus interesses centralistas contrariados pelo Congresso estabelecia que o primeiro presidente deveria ser eleito por voto
de maioria civil e de tendência federalista, tendo o mesmo decretado indireto, sendo ele próprio indicado para um mandato de quatro
o seu fechamento. Para muitos, fechar o principal órgão legislativo era anos, mas sem direito à reeleição.
um atentado ao recém-nascido estado republicano, um verdadeiro Antes mesmo de terminar o seu mandato iniciado em 1934,
mais precisamente em 10 de novembro de 1937, Vargas articula
golpe. Mesmo Floriano Peixoto, na condição de vice-presidente, tendo
mais uma vez a sua permanência no poder com a implantação da
autorizado a reabertura do Congresso, o acirramento de interesses
ditadura do Estado Novo, em meio a um quadro de agitação política
entre civis e militares não diminuiu; aliás, nesse momento, houve e social, usando como justificativa a necessidade de desbaratar
até a discussão sobre legalidade constitucional de Floriano concluir o a ameaça de um suposto plano comunista (Plano Cohen). Aliás,
mandato iniciado por Deodoro. Vargas não fazia questão de esconder sua aversão aos comunistas.
Durante o Estado Novo, Vargas consolidou a sua imagem,
respaldado em uma Constituição (1937) que lhe assegurava plenos
Revolução de 1930 poderes (hipertrofia do Poder Executivo), na ampliação das Leis
Mas a Primeira República, que durou de 1889 a 1930, Trabalhistas (CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas), do investimento
observamos uma hegemonia de uma poderosa elite agrária ligada em indústrias de base (Cia. Siderúrgica Nacional e Cia. Vale do Rio
à produção de café. Mesmo com todo o poder, as oligarquias Doce), além dos tradicionais mecanismos de controle, como o DIP
(Departamento de Imprensa e Propaganda), que atuava na censura dos
tradicionais não conseguiram se perpetuar no poder da forma como
meios de comunicação e da cultura em geral, o DOPS (Departamento
desejavam. Durante a década de 1920, os sinais de desgaste eram
de Ordem Política e Social) e o do controle da burocracia estatal com
notórios, pois as transformações pelas quais passava a sociedade o DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público).
brasileira fizeram surgir novos grupos (alguns não tão novos assim), Nem mesmo todo esse aparato foi suficiente para assegurar
que aos poucos vão abrindo caminho para o processo que culminou Vargas no poder após 1945. Durante o contexto da Segunda Guerra
com a Revolução de 1930, com destaque para o movimento Mundial (1939 a 1945), especialmente por ter o Brasil declarado guerra
operário, para o tenentismo e as próprias dissidências oligárquicas. às potências do Eixo, decidindo-se pela participação no conflito junto
Ainda que o termo revolução seja discutido por sociólogos e com os Aliados, observou-se uma forte contradição interna. A pressão
historiadores, quando aplicado aos episódios de 1930, não podemos pela democracia resultou na renúncia (deposição) de Vargas em 1945.
ignorar as transformações que resultaram desse processo. Nesse
momento, evidenciamos em termos políticos o início da transição O colapso do populismo
do modelo oligárquico para o modelo populista, em que entra em
cena um Estado mediador sob o comando de um líder carismático A chamada fase liberal (1945 a 1964) de nossa República
tinha tudo para ser marcada pela estabilidade política, especialmente
e fortemente identificado com as camadas populares, devido ao
com a concretização da redemocratização na Constituição de 1946,
atendimento de algumas demandas reprimidas, como era o caso
mas não foi bem assim. Nesse período, apenas dois presidentes
das leis trabalhistas. Em termos econômicos, aos poucos o Brasil vai terminaram seus mandatos (Dutra e Juscelino), sendo apenas
se urbanizando e industrializando, ainda que suas bases estivessem um civil (Juscelino). Nesse contexto, foram várias alterações
ainda fortemente ligadas ao setor agroexportador. Além disso, a da normalidade institucional que acabaram forçando soluções
Revolução de 1930 inaugurou um período que duraria 15 anos em emergenciais sombreadas pela possibilidade de um golpe, que ao
que o comando do País estaria nas mãos da mesma pessoa. final se materializou em 1964.

138 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
Lembremos que em meio a pressões, especialmente após o Nos 21 anos de regime autoritário (1964 a 1985),
atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, diante de uma possível governaram cinco presidentes, mas a evolução política nesse período
derrota política, Vargas opta pelo suicídio, faltando cerca de um ano e não foi linear nem ocorreu de maneira uniforme em termos políticos,
meio para concluir seu mandato. A sucessão foi conturbada até o final econômicos ou sociais. Para começar, entre os próprios militares
do mandato. Inicialmente, Vargas foi sucedido pelo vice-presidente Café existiam tendências diferentes. Com maior força destacava-se
Filho, que acabou se licenciando para cuidar de sua saúde, abrindo o grupo ligado a ESG (Escola Superior de Guerra), conhecidos
caminho para que Carlos Luz, presidente da Câmara, assumisse o como tecnocratas ou linha de Sorbonne, alinhados aos EUA e
Executivo Federal. Nesse contexto, após o resultado das eleições, que defensores da D.S.N (Doutrina de Segurança Nacional). Esse grupo,
garantiram a vitória de Juscelino (PSD) para presidente e João Goulart além de buscar o binômio segurança e desenvolvimento, pretendia
(PTB) para vice, rumores de um golpe que pretendia anular o resultado disfarçar o autoritarismo, mantendo uma aparência mais ou menos
das eleições fizeram despontar para o cenário político o general e democrática com a promessa de, gradualmente, devolver o poder
Ministro da Guerra Teixeira Lott, que afastou Carlos Luz da presidência, aos civis. De outra forma pensavam os militares da chamada linha
episódio interpretado por alguns como golpe preventivo. Os últimos dura, que pretendiam radicalizar o processo, leia-se ampliar o
meses de mandato foram cumpridos pelo senador Nereu Ramos, que estado de exceção, mantendo a pureza da “revolução” por tempo
transmitiu o cargo a Juscelino Kubitschek. indeterminado.
Depois do governo Juscelino Kubitschek (1956 a 1961), A hegemonia dos tecnocratas é o que nos permite explicar
que, apesar de alguns desgastes empreendeu uma marca de algum grau de liberdade que existia entre os anos de 1964 e 1968,
estabilidade política e crescimento da economia (o famoso mesmo com cassações e limitações de vários direitos políticos
50 anos em 5), foi eleito para a presidência a controversa figura presentes nos primeiros Atos Institucionais. Existia um bipartidarismo
de Jânio Quadros pelo PTN, tendo mais uma vez João Goulart do que servia bem aos interesses do governo de mascarar o
PTB sido eleito para vice-presidência. Jânio foi considerado por autoritarismo. O congresso estava aberto, porém mutilado pelas
alguns um fenômeno eleitoral, mas seu estilo teatral e suas medidas cassações dos que se propunham a, de fato, fazer uma oposição.
excêntricas provocavam reações antagônicas no eleitorado, como, Nesse espaço, cresceu a insatisfação de importantes
por exemplo, no episódio das pequenas proibições (brigas de galo, movimentos sociais, com destaque para a mobilização de estudantes
o lança-perfume e os biquínis) e na condecoração do revolucionário e operários. Temendo pelo avanço de tais movimentos, em
“Che” Guevara. As desconfianças sobre o presidente aumentaram dezembro de 1968, foi editado no governo do general Costa e
especialmente quando este buscou uma política externa Silva o Ato Institucional 5 (AI-5), que, na prática, concedia plenos
independente, aproximando-se do bloco socialista, rompendo poderes ao presidente. Em linhas gerais, Costa e Silva não teve
pelo menos em parte com a diretriz de alinhamento incondicional muito tempo de usufruir das benesses do AI-5, criado em sua
aos EUA, estabelecida desde o governo Dutra. Desgastado, Jânio gestão, pois foi obrigado a afastar-se do cargo por problemas de
escreve um “bilhete” alegando “forças ocultas” para justificar a sua saúde. Nesse momento, ocorre mais uma quebra da “normalidade”
renúncia à presidência. Esse ato, para muitos especialistas, era mais constitucional, pois o vice-presidente Pedro Aleixo (civil), que
uma de suas artimanhas, já que, de fato, ele pretendia explorar o manifestara desconforto ante a aprovação do AI-5, foi impedido
temor e a desconfiança que os setores conservadores tinham das de assumir a presidência numa manobra política, que resultou na
supostas ligações de João Goulart com os comunistas. Vale lembrar indicação do General Emílio Médici para a presidência.
que, naquele momento, João Goulart estava em missão oficial na

Biblioteca Nacional
China comunista, o que reforçava ainda mais tais desconfianças.
Porém, a expectativa de Jânio que houvesse alguma manifestação
ou manobra política para demovê-lo da renúncia não se concretizou;
aliás, sua renúncia foi interpretada por alguns políticos como uma
atitude irresponsável, pois quase mergulhou o País numa guerra civil.
O embate entre os grupos que apoiava a posse de João
Goulart a partir do Rio Grande do Sul, conhecido como Rede
pela Legalidade, e os que eram contrários, alegando que o
vice-presidente tinha ligações com o comunismo, só não produziram
confronto de fato pela adoção em caráter emergencial do sistema
parlamentarista em 1961, que, na prática, iria garantir a posse de
João Goulart, mas com poderes limitados. Jango só teria plenos
poderes após o plebiscito realizado antecipadamente em 1963
(estava previsto apenas para 1965), quando o povo decidiu pelo
retorno ao Presidencialismo.
Já no controle do Poder Executivo, as medidas nacionalistas
de João Goulart, somadas às suas propostas de reformas de
base, levaram ao esgotamento do modelo populista que vinha
numa espécie de sobrevida desde a morte de Vargas, em 1954.
Crise econômica, inflação e greves se espalharam pelo País. Além A aparente estabilidade obtida pelo binômio crescimento
disso, é necessário lembrar o cenário político internacional marcado econômico (milagre brasileiro) e repressão, que atingiu seus
pelo auge das tensões da Guerra Fria. Os EUA estavam preocupados níveis máximos no governo Médici, deu sinais de decadência,
que a evolução do quadro político do Brasil se assemelhasse ao especialmente pelos reflexos da crise mundial de 1973, que
que houvera ocorrido em Cuba, entre 1959 e 1962. De fato, os repercutiu fortemente no Brasil. O esgotamento do modelo
norte-americanos tiveram forte influência para o golpe que destituiu econômico que sustentava o milagre brasileiro contribuiu para o
o presidente e que a princípio era conhecido como a Revolução fortalecimento dos que criticavam o regime militar.
de 1964. Naquele momento, muitos comemoravam um possível Com a posse do general Geisel, em 1974, iniciava-se um
retorno à normalidade. A promessa era que os militares restituíssem período de transição para a democracia que, segundo o presidente,
a lei e a ordem e, em seguida, devolvessem o País aos civis. deveria ocorrer de forma lenta, segura e gradual, posição que, em

Anual – Volume 3 139


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
linhas gerais, continuou a ser adotada no governo de seu sucessor, De fato, várias medidas tomadas em maio de 1985, por
o general Figueiredo. Ainda que com algumas e não poucas Sarney, indicavam que a redemocratização seria realizada, mas
frustrações, devido a retrocessos e recaídas autoritárias, como nos somente com a promulgação da nova Constituição, em 1988, ela
episódios da Lei Falcão, do Pacote de Abril, dos assassinatos no estaria plenamente amparada juridicamente. Eleições diretas para
DOI-CODI, do atentado do Riocentro, entre outros, a mobilização todos os cargos do Executivo e Legislativo, ampliação do direito
de vários segmentos da sociedade contribuiu para mudar aos ao voto (facultado aos jovens maiores de 16 anos e analfabetos),
poucos a ordem institucional e constitucional estabelecida pelos
delimitação da atuação dos poderes, liberdade partidária e
governos militares.
ideológica são algumas determinações importantes desse projeto.
Entre os avanços, destacamos, mesmo com algumas
ressalvas, a Lei da Anistia (perdão político) e a Reforma Partidária,
ENCERRAMENTO DOS TRABALHOS DA CONSTITUINTE DE 1988
que trouxe de volta o pluripartidarismo para o País. Em 1982,
foram restituídas as eleições diretas para governadores, tendo a

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oposição obtido resultados expressivos em importantes estados.
Nos anos seguintes, viu-se uma grande manifestação nacional em
favor do retorno das eleições diretas para presidente, conhecida
como Campanha “Diretas Já”. Mesmo com toda a mobilização,
a emenda proposta pelo deputado Dante de Oliveira, que propunha
eleições diretas para presidente, não foi aprovada. As eleições de
1985 ainda seriam indiretas.

ULYSSES GUIMARÃES: UM DOS ÍCONES DA


CAMPANHA “DIRETAS JÁ”
ABr CC BY 3.0 br/Wikimedia Foundation

Redemocratização
Para concluir nosso trabalho, faremos referência à última
grande alteração da normalidade política (pelo menos por enquanto,
lembre-se que a história é dinâmica e se constrói diante dos nossos
olhos a cada dia), analisando o processo que culminou com o
primeiro impeachment de um presidente na República brasileira.
Mesmo diante de tal frustração, a indicação do moderado Estamos nos referindo a Fernando Collor de Mello.
Tancredo Neves como candidato pelo PMDB aglutinou em torno Vale lembrar que Collor foi também o primeiro presidente
de si diversos grupos políticos, tendo recebido apoio inclusive dos eleito por voto direto desde a eleição de Jânio Quadros para
dissidentes do PDS (partido herdeiro da Arena), como foi o caso de presidente em 1960. Aliás, os dois têm muitos aspectos em comum.
José Sarney, que acabou como vice na chapa de Tancredo. Nova Primeiramente, elegeram-se por pequenas legendas buscando se
frustração: Tancredo vence as eleições, mas não assume, pois teve distanciar dos políticos e partidos tradicionais, tentando se apresentar
complicações em sua saúde, o que resultou em sua morte. Sarney, ao eleitorado com alternativas de mudança, porém contando com
que tinha assumido provisoriamente, foi efetivado na presidência. apoio de legendas tradicionais; no caso de Jânio, a UDN, e no caso
Para muitos, o caminho da redemocratização estaria comprometido, de Collor, o PFL. Tinham também discursos moralizadores com a
pois Sarney era egresso dos quadros da antiga Arena, partido que promessa de combate à corrupção. Jânio subia no palanque com
dava sustentação ao regime militar. sua tradicional vassoura, prometendo varrer a corrupção; já Collor
prometia acabar com a farra dos Marajás, denominação dada a
Biblioteca Nacional

funcionários que acumulavam cargos e benefícios recebendo altos


salários, ou ainda os que não exerciam qualquer função, conhecidos
como funcionários fantasmas.
O desfecho do governo de cada um, na verdade, é que nos
permite fazer algumas diferenciações. Jânio renunciou transcorridos
apenas alguns meses de governo. Para muitos, numa clara atitude
golpista, pois sabia das restrições que setores tradicionais teriam em
aceitar o seu vice, João Goulart, como presidente. Collor se envolveu
em uma série de escândalos de corrupção que, apurados pela CPI
no Congresso Nacional, valeram-lhe a cassação dos seus direitos
políticos por 8 anos, não obstante a sua renúncia, momentos antes
da votação. Ressalte-se que mesmo assim Collor reapareceria no
cenário político nacional agora na condição de Senador.
Destaca-se, contudo, que, ao contrário de outros momentos
em que alguns presidentes não concluíram seus mandatos por
golpes ou iminência de golpes, desta feita o afastamento do
presidente, pelo menos em tese, se deu dentro de uma normalidade
Foto reprodução da capa de Jornal destacando a morte de Tancredo Neves constitucional. Em tese porque, para alguns, ainda que o processo

140 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
de impeachment tenha transcorrido conforme previa a Constituição, III. No fim da década de 1920, os setores que contestavam
a sessão do Senado que aprovou o afastamento e a perda dos as instituições da República Velha viam, com otimismo, a
direitos políticos de Collor cometeu equívocos, não pelo mérito, possibilidade de êxito. Os tenentes, junto às classes médias
mas pelo procedimento, pois Collor já havia renunciado. Ao que urbanas, passaram a se organizar em comitês e a eleger,
parece, os Senadores precisavam dar uma resposta ao movimento
em número cada vez mais expressivo, candidatos que os
das ruas que clamavam por ética e moralidade, que na prática
deveria se materializar na cassação do presidente e na perda de representassem.
seus direitos políticos.
Assinale a assertiva correta.
A) Somente a I está correta.
Exercícios de Fixação B) Somente a II está correta.
C) Somente a III está correta.
D) Somente a I e a II estão corretas.
01. (Enem/2009) No tempo da independência do Brasil, circulavam E) Somente a II e a III estão corretas.
nas classes populares do Recife trovas que faziam alusão à
revolta escrava do Haiti: 03. (Enem PPL/2016)

Marinheiros e caiados Enfermo a 14 de novembro, na segunda-feira o velho


Todos devem se acabar, Lima voltou ao trabalho, ignorando que no entretempo caíra
Porque só pardos e pretos o regime. Sentou-se e viu que tinham tirado da parede a velha
O país hão de habitar. litografia representando D. Pedro de Alcântara. Como na
ocasião passasse um contínuo, perguntou-lhe:
AMARAL, F. P. do. Apud CARVALHO, A. Estudos pernambucanos.
Recife: Cultura Acadêmica, 1907.
— Por que tiraram da parede o retrato de Sua
Majestade?
O período da independência do Brasil registra conflitos raciais, O contínuo respondeu, num tom lentamente
como se depreende desdenhoso:
A) dos rumores acerca da revolta escrava do Haiti, que — Ora, cidadão, que fazia ali a figura do Pedro Banana?
circulavam entre a população escrava e entre os mestiços — Pedro Banana! — repetiu raivoso o velho Lima.
pobres, alimentando seu desejo por mudanças.
E, sentando-se, pensou com tristeza:
B) da rejeição aos portugueses, brancos, que significava a
rejeição à opressão da Metrópole, como ocorreu na Noite — Não dou três anos para que isso seja uma República!
das Garrafadas.
AZEVEDO, A. Vidas alheias. Porto Alegre, s.e, 1901. Adaptado.
C) do apoio que escravos e negros forros deram à monarquia,
com a perspectiva de receber sua proteção contra as
injustiças do sistema escravista. A crônica de Artur Azevedo, retratando os dias imediatos à
D) do repúdio que os escravos trabalhadores dos portos instauração da República no Brasil, refere-se ao(à)
demonstravam contra os marinheiros, porque estes A) ausência de participação popular no processo de queda da
representavam a elite branca opressora. Monarquia.
E) da expulsão de vários líderes negros independentistas, que B) tensão social envolvida no processo de instauração do novo
defendiam a implantação de uma república negra, a exemplo
regime.
do Haiti.
C) mobilização de setores sociais na restauração do antigo
02. (Mackenzie/2017) “O movimento de 1930 não pode ser regime.
entendido sem a intervenção das classes médias, mas não é D) temor dos setores burocráticos com o novo regime.
uma revolução destas classes, nem no sentido de que elas sejam E) demora na consolidação do novo regime.
o setor dominante no curso da revolução, nem de que sejam
seus principais beneficiários. ” 04. (UEFS/2018) O Estado que nasceu com a Revolução de
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.
1930 no Brasil distinguiu-se do Estado da Primeira República
(1889-1930)
De acordo com o trecho acima, considere e analise as afirmativas A) pela suspensão dos impostos sobre as atividades industriais e
abaixo a respeito da Revolução de 1930. pelo abandono da política de proteção à economia cafeeira.
I. Durante a década de 1920, diante da crise econômica e B) pela moralização dos processos eleitorais previstos pela
do controle oligárquico do poder, surgiram outros grupos primeira Constituição republicana e pela concessão de voto
sociais que passaram a reivindicar participação nas decisões
aos analfabetos.
governamentais e reformas nas instituições políticas. As
aspirações da classe média urbana eram as mesmas do C) pelo fortalecimento do poder central e pela tendência a
movimento tenentista, ao defender, entre outros, o voto conceder algum tipo de proteção aos trabalhadores urbanos.
secreto, reformas sociais e econômicas; D) pela aplicação dos princípios da política dos governadores
II. A Revolução resultou da aliança temporária, diante da Crise e pelo projeto econômico-financeiro do Encilhamento.
de 1929, das oligarquias dissidentes, das classes médias E) pelo esforço de organização de uma comunidade de países
urbanas e do setor militar tenentista, contra o predomínio latino-americanos e pela oposição à hegemonia dos Estados
político dos interesses dos cafeicultores paulistas, expresso
Unidos na América.
na eleição e vitória de Júlio Prestes;

Anual – Volume 3 141


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
05. (IFBA/2018) A ditadura implantada desde 1964 até 1985 A análise acima, da historiadora Emília Viotti da Costa, refere-se à
se autoproclamava como uma revolução que retomou a proclamação da independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822.
democracia no Brasil, ameaçada pelo comunismo, pela A análise da autora, a respeito do fato histórico, aponta que
corrupção e pela inflação. No entanto, os historiadores A) apesar dos integrantes da elite nacional terem alcançado seu
caminham para um entendimento de que o que aconteceu
objetivo: o de romper com os estatutos do plano colonial,
em 1964 foi um golpe de Estado de caráter “Civil-Militar”.
no que diz respeito às restrições à liberdade de comércio, e
Por quê?
A) Contou com o apoio de toda a sociedade que saiu às ruas à conquista da autonomia administrativa, a estrutura social
em marchas contra o comunismo e silenciou-se frente a do país, porém, não foi alterada.
tortura de militantes contrários à ditadura. B) a independência do Brasil foi um fato isolado, no contexto
B) Porque parte dos militares golpistas estavam na Reserva. americano de luta pela emancipação das metrópoles. Isso se
C) Porque pretendia devolver o governo para os civis assim que deu porque era a única colônia de língua portuguesa, e porque
o “inimigo interno” fosse vencido. adotava, como regime de trabalho, a escravidão africana.
D) Porque, como toda revolução, não pode ser feita sem a C) caberia, às futuras gerações de brasileiros, o esforço no
participação do povo, apoiando a tomada de poder.
sentido de impor seus valores para Portugal, rompendo,
E) Porque setores do alto empresariado, associados a empresas
definitivamente, os impasses econômicos impostos à Colônia
internacionais, e grandes proprietários de terra financiaram e
organizaram associações conspiratórias e desestabilizadoras pela metrópole portuguesa desde o início da colonização.
durante o governo João Goulart e depois dele apoiaram o D) apesar de alguns setores da elite nacional possuírem
regime. interesses semelhantes à burguesia mercantil lusitana e,
portanto, afastando-se do processo emancipatório nacional,
com a eminente vinda de tropas portuguesas para o país,
passaram a apoiar a ideia de independência.
Exercícios Propostos E) assim como Portugal passava por um processo de
reestruturação, após a Revolução Liberal do Porto; no Brasil,
esse movimento emancipatório apenas havia começado e
01. (PUC-CAMP/2016) Considere o manifesto abaixo. só fora concluído, com a subida antecipada ao trono, de
D. Pedro II, em 1840.
MANIFESTO DOS BAIANOS, AGOSTO DE 1798
03. (Fac. Pequeno Príncipe – Medici 2018) Na interpretação mais
(...) considerando os muitos e repetidos latrocínios conhecida sobre a História do Brasil, a data de 7 de setembro
feitos com os títulos de imposturas, tributos e direitos que são de 1822 representou um marco, pois, nesse dia, D. Pedro
cobrados por ordem da Rainha de Lisboa (...) e no que respeita proclamou oficialmente a separação da Colônia da metrópole
à inutilidade da escravidão do mesmo Povo tão sagrado e
portuguesa.
digno de ser livre, com respeito à liberdade e qualidade ordena,
manda e quer que para o futuro seja feita nesta cidade e seu Sobre o processo de Independência do Brasil, assinale a
termo a sua revolução para que seja exterminado para sempre alternativa correta.
o péssimo jugo da Europa. A) As relações entre a Coroa portuguesa e o Brasil melhoraram
KOSHIBA, Luiz; PEREIRA, Denise M. F. História do Brasil, no contexto quando Dom João VI, de Portugal, apoiado pela Corte
da história ocidental. São Paulo: Atual, 2003, p.157. portuguesa, assinou um decreto concedendo o título
de Regente do Brasil a seu filho Dom Pedro. Entretanto,
Com base no manifesto pode-se afirmar que, para os aproveitando-se da autoridade que lhe foi concedida, no dia
conjurados baianos,
7 de setembro de 1822, Dom Pedro rompeu politicamente
A) os movimentos de rebeldia favoreciam a divulgação das
ideias liberais europeias e denunciavam a exploração com Portugal e proclamou a Independência do Brasil.
metropolitana das riquezas da colônia. B) A Independência brasileira foi um processo liderado, em
B) o rompimento com a metrópole não significava apenas a grande parte, pelos setores sociais que mais se beneficiavam
autonomia política, mas também a manutenção da estrutura com a ruptura dos laços coloniais: os grandes proprietários de
econômica tradicional no país. terra e os grandes comerciantes, pois a separação tinha como
C) a independência não era apenas a ruptura dos laços objetivo preservar a liberdade de comércio e a autonomia
coloniais, mas também a alteração da ordem social, a administrativa. A maioria da população permaneceu na
começar pela abolição da escravatura. situação anterior à proclamação da Independência.
D) a rebelião não era apenas uma manifestação contra a
C) Após o processo de Independência, a economia brasileira tornou-
metrópole, mas também uma forma de demonstrar o
amadurecimento da consciência colonial. se competitiva no mercado internacional, pois devido ao apoio
E) autonomia política era a melhor maneira de eliminar as econômico inglês o Brasil começou a desenvolver a atividade
desigualdades sociais e construir uma nação baseada nos industrial, o que era proibido pelo governo metropolitano.
princípios do socialismo utópico. D) A mudança mais significativa após a Independência do
Brasil ocorreu no âmbito econômico-social, pois com o
02. (Mackenzie/2018) “(...). Conquistar a emancipação desenvolvimento econômico surgiram novas classes sociais
definitiva e real da nação, ampliar o significado dos princípios urbanas ligadas ao processo industrial.
constitucionais foi tarefa delegada aos pósteres”. E) A Inglaterra, interessada em manter os benefícios comerciais
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. garantidos pelos tratados de comércio e navegação de 1810,
São Paulo; Livraria Editora Ciências Humanas, 1979. P.50.
foi a primeira nação a reconhecer a Independência do Brasil.

142 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
04. (Mackenzie 2017) (...) no segundo ano do governo de Araújo C) O golpe foi uma resposta dos conservadores às propostas
Lima aumentaram as disputas políticas no Congresso. (...) liberais que pretendiam estabelecer a República no país, e
por lá os ânimos estavam divididos. A saída veio rápida, Alencar apontou uma prática política dos parlamentares que
e inesperada, a despeito de não ser de todo inusitada. O único é recorrente na história do país.
consenso possível foi antecipar a maioridade política do menino D) José de Alencar expressou sua decepção com os políticos e,
Pedro, que na época contava apenas catorze anos. (...). Por isso ao registrar sua visão sobre o Clube da Maioridade, o escritor
preparou-se um golpe, o golpe da maioridade, e o maior ritual contribuiu para inibir procedimentos semelhantes durante
público que o Brasil já conheceu. o Império, assegurando uma transição pacífica e legal para
a República, em 1889.
SCHWARCZ, L.; STARLING, H. Brasil: uma biografia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 266.
06. (FGV/2016) A Revolução de 1930 põe fim à hegemonia da
Assinale a alternativa correta que contenha o contexto em que burguesia do café, desenlace inscrito na própria forma de
ocorreu o golpe a que o texto se refere. inserção do Brasil no sistema capitalista internacional. Sem
A) A antecipação da maioridade do imperador demonstrou ser um produto mecânico da dependência externa, o episódio
a incapacidade política das elites brasileiras, reunidas no revolucionário expressa a necessidade de reajustar a estrutura
partido conservador, em gerenciar o país; daí a necessidade do país, cujo funcionamento, voltado essencialmente para um
de recorrer à figura de D. Pedro, ainda menino, para único gênero de exportação, se torna cada vez mais precário.
solucionar o problema. FAUSTO, B. A Revolução de 1930. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 112.
B) O golpe da maioridade foi a resposta dos Conservadores às
reformas promovidas pelos Liberais, o que reforçou o clima
A respeito da Revolução de 1930, é correto afirmar que ela
de instabilidade política vivida no país e acentuou a crise
A) ocorreu devido à divisão das oligarquias brasileiras num
política, só superada, por sua vez, com a proclamação da
contexto de enfraquecimento da economia paulista.
República.
B) foi liderada pelos antigos tenentes e por Luís Carlos Prestes
C) Diante das várias rebeliões regenciais, dos projetos
em aliança com a oligarquia gaúcha.
republicanos e da radicalização da situação, reforçou-se uma
C) foi desencadeada pelo movimento operário influenciado
saída simbólica, sustentada em um regime monárquico de
pelo sucesso da Revolução Russa de 1917.
governo, em que só o monarca poderia garantir a unidade
D) aconteceu devido à desaceleração da indústria paulista e às
nacional.
contestações das oligarquias nordestinas.
D) Diante das pressões políticas, da crise econômica e das
E) foi provocada pelas desavenças entre as oligarquias de Minas
insatisfações sociais, a maioridade de D. Pedro foi a saída
Gerais e do Rio Grande do Sul.
encontrada pela família imperial, à revelia do Congresso,
para se manter a unidade nacional e o poder das elites
agrárias nacionais. 07. (PUC-CAMP/2017) É interessante notar como, em Machado de
E) Venerado pelas camadas populares, D. Pedro II usou de sua Assis, se aliavam e se irmanavam a superioridade de espírito,
popularidade para angariar apoio à sua ascensão ao poder, a maior liberdade interior e um marcado convencionalismo.
mesmo que, para isso, tenha mergulhado o país em uma Dois termos que se repelem, pensador e burocrata, são os que
instabilidade política que só seria superada com a Lei Áurea. melhor o exprimem. Entre Memórias póstumas de Brás Cubas
e Quincas Borba, a vida nacional passara pelas profundas
05. (Unicamp/2017) O escritor José de Alencar relata como ocorriam modificações da Abolição e da República.
as reuniões do Clube da Maioridade, realizadas na casa de − Que pensa de tudo isso Machado de Assis? indagava
seu pai em 1840. Discutia-se nessas ocasiões a antecipação Eça de Queirós.
da maioridade do imperador D. Pedro II, então com apenas À queda da Monarquia, disse Machado no seu gabinete
14 anos, para que ele pudesse assumir o trono antes do de burocrata, diante da conveniência de tirar da parede o
tempo determinado pela Constituição. No fim da vida, José retrato do imperador:
de Alencar rememora os episódios de sua infância e chega a − Entrou aqui por uma portaria, só sairá por outra
uma surpreendente conclusão: os políticos que frequentavam portaria.
sua casa na ocasião iam lá não porque estavam pensando no Era o que tinha a dizer aos republicanos, atônitos com
futuro do país, mas apenas para devorar tabletes e bombons esse acatamento ao ato de um regime findo.
de chocolate. Conforme o relato do escritor, os membros do
Clube da Maioridade, discutindo altos assuntos na sala de sua PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis. 6. ed. rev.,
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1988, p. 208. Adaptado.
casa, pareciam realmente gente séria e preocupada com os
destinos do Brasil, até que chegava a hora do chocolate.
O republicanismo no Brasil, sobretudo a linha defendida pelos
Para Alencar, a discussão política no Brasil se resumia a um militares, sofreu forte influência do positivismo – forma de
“devorar de chocolate”, isto é, cada um defendia apenas seus pensamento característico do século XIX −, filosofia de Auguste
interesses particulares e nada mais. Comte. Os republicanos positivistas
A) pretendiam chegar ao regime republicano por meio de
SILVA, Daniel Pinha. O império do chocolate.
Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/>.
mudanças decorrentes de movimentos de luta entre os
Acesso em: 01 ago. 2016. Adaptado. monarquistas e os positivistas.
B) concebiam o Estado como uma entidade voltada ao
Sobre o Golpe da Maioridade e a visão de José de Alencar a aprimoramento positivo da sociedade, independentemente
esse respeito, é correto afirmar que: do regime de governo.
A) O golpe foi uma manobra das elites políticas, que criaram C) consideravam que só seria possível a criação de uma
uma forma de alterar a Constituição e contemplar os seus sociedade igualitária através do republicanismo e de
interesses durante o período regencial, fato criticado por “reformas positivas do trabalho”.
Alencar ao fazer uma anedota com o chocolate. D) defendiam que a monarquia seria superada pelo “estágio
B) Ao entregar o poder a um jovem de 14 anos, alegando ser positivo da história da humanidade”, representado de modo
maior de 18, os políticos do Império manifestavam uma especial pela república.
ousada visão política para evitar a influência da Inglaterra E) acreditavam que a queda da monarquia ocorreria por meio
nos assuntos brasileiros, preservando seus interesses como de uma “revolução baseada nos princípios do positivismo e
donos de escravos. do republicanismo”.

Anual – Volume 3 143


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
08. (UPE-SSA/2-2016) A Proclamação da República é um episódio Assinale a alternativa correta a respeito do governo de João
da modernização à brasileira. Nas décadas finais do Império, Goulart e da instauração de uma ditadura que se prolongou
o vocábulo república expandiu seu campo semântico, por mais de 15 anos no Brasil.
incorporando as ideias de liberdade, progresso, ciência, A) Convencidos da inaptidão de João Goulart para o exercício
democracia, termos que apontavam, todos, para um futuro da presidência da república, grupos militares e civis
desejado. mobilizaram-se em prol da destituição do presidente,
MELLO, Maria Tereza Chaves. A modernidade Republicana. conscientes de que isto significaria abdicar da realização de
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tem/v13n26/a02v1326.pdf>. novas eleições diretas para presidente até 1985.
Adaptado. B) A notícia da posse João Goulart foi recebida com profundo
desagravo por parcela das forças militares e de grupos civis
O texto demonstra que, no final do Segundo Império, os (em função, entre outros motivos, de sua trajetória política
ideais republicanos já estavam bastante difundidos no Brasil. ligada a Getúlio Vargas). Tal fator auxilia compreender
Os adeptos do republicanismo, nesse período, tinham como os motivos que levaram à aprovação de uma Emenda
principal pensamento a Constitucional instaurando o regime parlamentarista no
A) defesa do federalismo, buscando maior autonomia para as Brasil. O Regime Presidencialista volta a vigorar em 1963,
províncias. antes, portanto, da instauração da ditadura militar.
B) luta pela continuidade da concentração política, mesmo sem C) O programa político de João Goulart apresentou medidas
a figura do imperador. que se tornaram impopulares para parcela da sociedade civil
C) organização de uma República centralizadora, sendo o e de grupos militares. Dentre elas cita-se, especialmente,
Estado de São Paulo a sede político-administrativa. a retomada da proposta de privatização da Petrobrás
D) implantação de um regime militar em que os grandes nomes elaborada já em 1953, durante o segundo governo de
da guerra da Tríplice Fronteira tomassem a direção nacional. Getúlio Vargas.
E) construção de um parlamentarismo em que o primeiro- D) Ao assumir a presidência da república, João Goulart construiu
ministro seria o responsável pela manutenção da unidade uma base política exclusivamente de esquerda, marcada
nacional. pela presença única do PT, PDT e PTB no Congresso e no
Senado. Este fator gerou grande descontentamento e foi
09. (G1-IFPE/2018) [...] a causa principal do movimento militar que culminou, em
1964, com a deposição deste presidente.
Eu quisera poder dar a esta data a denominação seguinte: E) A instauração da ditadura em 1964 deve ser compreendida
15 de novembro, primeiro ano da República; mas não posso como resposta exclusivamente militar às ações de João
infelizmente fazê-lo. O que se fez é um degrau, talvez nem Goulart. Não houve qualquer participação ou manifestação
tanto, para o advento da grande era. [...] de apoio por parte da sociedade civil.
Por ora, a cor do governo é puramente militar, e deverá ser
assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do Aula 15:

elemento civil foi quase nula. O povo assistiu àquilo bestializado, C-4 H-18

atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos


Aula Planos Econômicos do Brasil
acreditaram seriamente estar vendo uma parada. [...] 15 Republicano
LOBO. Aristides. Acontecimento único. Diário Popular, São Paulo, 18 nov. 1889.
Apud CARONE, Edgar. A Primeira República: texto e contexto.
Rio de Janeiro: Difel,1969, p.288-289.

Alguns dias após a proclamação da República no Brasil, o Introdução


republicano Aristides Lobo, autor do texto, escreveu sobre os Você já deve ter percebido o quanto a política econômica
acontecimentos de 15 de novembro para o Diário Popular. desenvolvida pelo governo interfere diretamente em nosso
Considerando o texto, é possível afirmar que Lobo cotidiano. Geração de emprego, recessão, inflação, balança
A) rejeitava o levante popular que defendia a instalação de uma comercial, cambio e vários outros termos do vocabulário econômico
República de caráter liberal. estão presentes nos noticiários. Nosso objetivo nas próximas linhas
B) censurava o movimento sedicioso, sem bases sociais, é fazer uma abordagem dos principais planos econômicos que
provocado por militares. contribuíram, nem sempre de forma positiva, para a construção
C) desaprovava a organização de um governo democrático do País que conhecemos hoje. Tomamos como ponto de partida o
com liberdade de participação popular. Brasil republicano.
D) condenava os partidários do ideal positivista, que defendiam A implantação do regime republicano no Brasil não foi obra
uma ditadura de intelectuais civis. de um único grupo homogêneo. Militares, fazendeiros, destacando
E) intercedia em favor dos partidários de um governo militar, os cafeicultores, e alguns segmentos urbanos. Cada grupo com
com restrições quanto à participação popular. seus interesses, já demonstravam insatisfação com a monarquia.
Coube aos militares a tarefa de conduzir o movimento, o golpe de
10. (Udesc/2017) “O golpe militar de 1964 não é o inaugurador da 15 de novembro, que derrubou o império instalando a República.
ditadura. Ele foi gestado muito tempo antes, em um processo No entanto, ficava evidente as divergências em torno da construção
relativamente longo. Posso afirmar que ele se origina na crise do novo regime.
que envolve a renúncia do presidente Jânio Quadros e toda Observe a seguir um resumo das principais tendências ou
expectativas políticas em torno da república recém-implantada:
a movimentação que cercou a posse do vice-presidente João
• República Positivista: defendia a centralização política com um
Goulart. O golpe foi uma expressão do autoritarismo presente
executivo forte na pessoa do presidente. Postura predominante
em determinados setores da sociedade brasileira.”
entre os militares. Prevaleceu entre 1889 e 1894, durante a
Carlos Fico, historiador. chamada República da Espada.

144 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
• República Liberal: pregava o federalismo, ou seja, a efeitos do “encilhamento”, as contas do governo no exterior
descentralização administrativa com grande autonomia para eram pagas em libra esterlina, gerando um descompasso entre
os estados. Postura defendida pelos fazendeiros. Estrutura receitas e despesas.
política que predominou entre 1894 e 1930, durante a chamada Na Europa, Campos Sales fechou um acordo com os credores
República Oligárquica. que ficou conhecido como funding loan (empréstimo consolidado).
• República Jacobina: formação de uma república com forte O acordo previa, entre outras medidas: a renegociação da dívida
participação popular e favorável à criação de medidas com externa brasileira; um novo empréstimo num total de 10 milhões
alcance social. Postura predominante entre setores da classe de libras, que seriam utilizados para o pagamento dos juros da
média urbana que não chegou a se concretizar. dívida; moratória em um prazo de dez anos para o pagamento do
novo empréstimo contraído, ou seja, a conta ficaria para governos
A política econômica de Rui Barbosa: posteriores; compromisso do governo brasileiro em fazer ajustes na
economia no sentido de combater a inflação, valorizando a moeda
o encilhamento nacional, visando estabilizar a economia do País. Como garantia
para negociação, o Brasil penhorou as receitas da alfândega do Rio
Logo no início do governo provisório de Deodoro da Fonseca de Janeiro e, se necessário, as receitas da estrada de ferro Central
(1889-1891), dentro das expectativas positivistas dos militares de do Brasil e do serviço de abastecimento de água, também do Rio
“Ordem e Progresso”, o então ministro Rui Barbosa foi incumbido de Janeiro.
da tarefa de estabelecer estratégias para o desenvolvimento da Logo no início de seu governo, Campos Sales, por meio do
indústria no País. Avaliando que um dos obstáculos para atingir seu ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, começou a colocar em
esse objetivo era a falta de crédito, o ministro autorizou alguns prática uma série de ações com o objetivo de sanear as contas públicas
bancos privados a emitirem papel moeda. Na sua leitura, o Brasil do País: cortes nos gastos públicos, diminuindo as despesas do Estado;
acabara de abolir a escravidão (1888), os trabalhadores agora aumento dos impostos; criação de novas taxas; retirou quantidade de
passariam a receber salários, incrementando o mercado consumidor, papel moda de circulação; desestímulo à indústria, afinal desde 1894,
e os empresários deveriam iniciar novos negócios e investir no com a eleição de Prudente de Morais, consolidava-se a hegemonia dos
aparelhamento tecnológico das indústrias já existentes (instalações, fazendeiros também no governo federal, reforçando a ideia do Brasil
maquinário etc.), daí a necessidade da oferta de crédito. como um País de vocação agrária.
Em janeiro de 1890, por meio de decreto, Rui Barbosa Se tais medidas trouxeram os resultados esperados no que
estabeleceu as primeiras medidas. O lastro da moeda imperial diz respeito ao saneamento financeiro e à queda sensível da inflação,
(os réis ou real) foi substituído por novas cédulas do real republicano, que passou de 115%, em 1896, para –7%, em 1900, ou seja, uma
que passaram a ser emitidas por bancos particulares autorizados deflação, o mesmo não se pode afirmar em relação à economia em
pelo governo sem obedecer ao lastro ouro. A garantia seria dada seu conjunto. A diminuição do crédito desestimulava a produção,
por título da dívida pública. Dezenas de empresas foram criadas no além do aumento dos impostos, que reduzia o poder de compra
papel; contraíam empréstimos nos bancos, levando è emissão de da população. O mil-réis valorizado facilitava a compra de produtos
mais papel moeda, teoricamente para novos investimentos. importados, principalmente industrializados, afetando ainda mais
No entanto, o aumento da circulação de dinheiro na a indústria nacional. O resultado foi a recessão e o aumento de
economia não era correspondido proporcionalmente à produção de desemprego, levando ao descontentamento geral nos estados.
bens de consumo, gerando de imediato um processo inflacionário Não por acaso, ainda no governo de Campos Sales, é firmado um
devido à desvalorização da moeda. Outro problema gerado foi a pacto político entre o governo federal e os governadores estaduais.
especulação financeira. Já que ações de empresas fictícias eram Era a “Política dos governadores”.
negociadas na bolsa de valores, investia-se em papéis e não no
setor produtivo. De maneira geral, o resultado foi uma grande crise
econômica e financeira: aumento dos preços, desvalorização da O dirigismo econômico da Era Vargas
moeda, falências de bancos e empresas, desemprego. Situação ainda A ascensão política de Getulio Vargas deu-se a partir da
mais delicada para as camadas populares que sentiam no cotidiano conjugação de várias forças políticas e econômicas. Tradicionais
o descompasso entre seus salários e a disparada incontrolável dos oligarquias agrárias, militares e setores urbanos em crescimento
preços. Não por coincidência, a eclosão de revoltas e movimentos (classe média e trabalhadores) apoiaram a “Revolução de 1930”.
sociais nos primeiros anos da República. No poder ,Vargas equilibrou-se atendendo às demandas desses grupos.
No início de seu governo, adotou medidas de combate
à crise econômica que atingia o nosso principal produto, o café.
Encilhamento vem de encilhar, colocar os arreios em
Comprando, estocando e, quando necessário, destruindo parte
cavalos. O termo foi usado para caracterizar a política econômica
da produção, numa política de valorização do produto, buscando
de Rui Barbosa, fazendo uma comparação ao hipódromo,
garantir o apoio dos produtores. Mas a novidade desse período foi
local onde ocorriam as corridas de cavalos, quando os jóqueis
o incentivo destinado à indústria por meio de medidas adotadas
“encilhavam” os animais e eram feitas as últimas apostas, como
pelo Estado. Se em outros momentos da história econômica do
na bolsa de valores com a especulação e venda de ações.
País ocorreram surtos industriais, como no Segundo Reinado e
na República Velha, a partir da década de 1930, esse setor passa
por um processo de desenvolvimento significativo a partir de
funding loan
O um planejamento envolvendo o Estado e a incipiente burguesia
Logo após sua eleição, em 1898, antes mesmo de tomar industrial brasileira.
posse, o presidente eleito, Campos Sales, viajou à Europa com Vale lembrar que, com os efeitos da crise econômica iniciada
o objetivo de renegociar a crescente dívida externa brasileira. em 1929, as práticas do liberalismo econômico, que preconizava
As fi nanças do governo estavam desequilibradas, o tesouro o pleno desenvolvimento da economia sem a necessidade de
nacional praticamente sem fundos. Enquanto a arrecadação intervenção do Estado, perdeu força. A tendência passou a ser um
tributária era cobrada em moeda nacional, o mil-réis, que já vinha capitalismo intervencionista baseado nas ideias de John Maynard
passando por um processo de desvalorização agravado pelos Keynes.

Anual – Volume 3 145


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
Foi no Estado Novo (1937-1945) que ficou mais evidente a Ao final dos anos JK, o Brasil havia mudado. Muitos foram os
política econômica nacionalista de Vargas, com o governo traçando avanços, e muitas foram as críticas à opção de JK pelo crescimento
áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento da indústria: econômico com recurso ao capital estrangeiro, em detrimento de
petróleo, mineração, siderurgia e eletricidade. uma política de estabilidade monetária. O crescimento econômico
Nesses setores, várias empresas estatais foram criadas como e a manutenção da estabilidade política, apesar do aumento da
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), a Companhia Vale inflação e das consequências daí advindas, deram ao povo brasileiro
do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional. Outras empresas o sentimento de que o subdesenvolvimento não deveria ser uma
estatais surgiram nos setores de transporte, nos ramos de navegação condição imutável. Era possível mudar, e o Brasil havia começado
e ferrovia. O dirigismo econômico estatal se deu também por a fazê-lo.“
meio de vários órgãos que foram criados para coordenar setores
SILVA, Suely Braga da. 50 anos em 5: o Plano de Metas. FVG/CPDOC.
específicos, a exemplo do Conselho Técnico de Economia e Finanças Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Economia/PlanodeMetas>.
(1937), Conselho Nacional do Petróleo (1938), Conselho Nacional Acesso em: 06 jan. 2016.
de Águas e Energia Elétrica etc.
Se o Estado respondia pela chamada indústria de base, Percebe-se, nas ações do governo, que sua política
a iniciativa privada atuava na produção de bens de consumo, desenvolvimentista aproximava investimentos estatais e setor
impulsionando as relações capitalistas no País, o que alguns privado, não fazendo restrições ao capital estrangeiro. Empresas
estudiosos denominam de modernização conservadora. multinacionais instalaram-se no País, com destaque para o setor
automotivo e suas montadoras na região do ABC paulista. No final
O Plano Salte no Governo Dutra do seu governo, a taxa de crescimento econômico era em média
de 8% ao ano, porém a inflação ultrapassava os 20% anuais, além
O governo Dutra (1946-1951) deve ser analisado no do aumento da dívida externa.
contexto da Guerra Fria, em que o Brasil adotou uma postura
pró-Estados Unidos, o que acabou refletindo no campo econômico.
Nos dois primeiros anos de seu governo, Dutra adotou uma postura O modelo econômico do
econômica liberal, facilitando a importação, principalmente de regime civil-militar
produtos norte-americanos. Àquela altura, o governo estadunidense
não via com bons olhos políticas econômicas nacionalistas, como as Logo após a implantação do regime militar, a partir do golpe
desenvolvidas nos anos anteriores por Getulio Vargas. de 1964, que derrubou o então presidente João Goulart, a equipe
No entanto, o liberalismo econômico acarretou para o Brasil econômica do governo do general Castelo Branco, tendo à frente
a perda das reservas em dólares acumulados nos anos anteriores, Roberto Campos (ministro do Planejamento) e Otávio Gouveia de
caindo, aproximadamente, de 708 milhões de dólares para 92 Bulhões (ministro da Fazenda), passou a atuar no sentido de ajustar a
milhões, além da retração industrial, uma vez que era complicado economia do País aos interesses das elites econômicas que apoiaram
para a indústria brasileira competir com os produtos estrangeiros o golpe no contexto do capitalismo internacional.
como os norte-americanos. Logo, aumentou o desemprego e a O primeiro desafio herdado dos governos anteriores era
dívida externa voltou a crescer, assim como a inflação. o combate à inflação. Na visão dos ministros, esse problema
Na tentativa de reverter esse quadro, o governo anuncia tinha suas origens no excesso da demanda e os elevados índices
o Plano Salte (1947), que tinha como estratégia aplicar recursos salariais. Em 1964, foi apresentado ao congresso o PAEG (Plano
públicos nas áreas de Saúde, Alimentação, Transporte e Energia. de Ação Econômica do Governo), um conjunto de medidas
Era um retorno do intervencionismo estatal na economia. Porém, que deveria solucionar a crise, proporcionar estabilidade, atrair
o plano foi um fracasso. Sem investimentos, acabou sendo mais investidores, preparando o País para o crescimento. Os métodos
utilizado como uma forma do governo controlar os gastos nas áreas empregados foram instrumentos da receita já conhecida: corte
que se propôs a investir. nos gastos públicos, aumento de tarifas e impostos, restrição
ao crédito, renegociação da dívida externa, novos empréstimos;
e outras ações que atingiram em cheio os trabalhadores, como
A política desenvolvimentista de o fim da lei da estabilidade, aumento salarial uma vez por ano,
Juscelino Kubitschek: o Plano de Metas diminuição da inflação.
Se olharmos somente para os números e gráficos, o plano
Ainda durante a campanha eleitoral para a presidência da
pode ser considerado satisfatório, levando-se em consideração à
república, o candidato Juscelino Kubitschek (JK) apresentava em
queda da inflação e a estabilidade econômica que criaram o cenário
seu discurso uma proposta que objetivava ampliar e alterar algumas
para o chamado “milagre econômico”. Por outro lado, deixava para
diretrizes da produção industrial brasileira. Essa política recebeu a
a maioria das massas trabalhadoras o arrocho salarial.
denominação de Plano de Metas; seu lema era “cinquenta anos em
Durante o governo do General Médici (1969-1974), tendo à
cinco”, que correspondia ao tempo de seu mandato.
frente o ministro Delfim Neto, o País viveu uma fase de crescimento
“O Plano de Metas mencionava cinco setores básicos
econômico que ficou em torno de 10% ao ano. Facilidade de
da economia, abrangendo várias metas cada um, para os quais
crédito, investimentos estrangeiros, grandes empréstimos e arrocho
os investimentos públicos e privados deveriam ser canalizados.
Os setores que mais recursos receberam foram energia, transportes salarial caracterizaram o “milagre econômico”, que também deixou
e indústrias de base, num total de 93% dos recursos alocados. Esse o aumento da concentração de renda e crescimento da dívida
percentual demonstra por si só que os outros dois setores incluídos externa, heranças que vão marcar profundamente a economia e
no plano, alimentação e educação, não mereceram o mesmo sociedade da década de 1980.
tratamento dos primeiros. A construção de Brasília não integrava Ainda durante a ditadura militar, no governo de Ernesto
nenhum dos cinco setores. Geisel (1974-1979), foi posto em prática o Plano Nacional de
As metas eram audaciosas e, em sua maioria, alcançaram Desenvolvimento (PND), mantendo a base do modelo anterior.
resultados considerados positivos. O crescimento das indústrias Destaque para as obras das usinas hidrelétricas de Itaipu e
de base, fundamentais ao processo de industrialização, foi Sobradinho, além do investimento para construção de usinas
praticamente de 100% no quinquênio 1956-1961. nucleares em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.

146 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
Planos econômicos na Nova República Governo Collor (1990-1992)
Com o fim do regime civil-militar, o País viveu a transição O Plano Collor (Brasil Novo): Zélia Cardoso de
democrática. De um lado, a sociedade voltando à normalidade do
estado de direito, garantido pela Constituição de 1988; do outro,
Mello
enfrentando os desafios de uma economia de inflação galopante, • Restabeleceu o cruzeiro como moeda.
em alguns momentos convivendo com a hiperinflação que corroía • Bloqueou os depósitos em contas-correntes e nas cadernetas
o poder de compra da população. de poupança que ultrapassassem cinquenta mil cruzeiros novos
Os primeiros governos apresentaram diversas medidas no (18 meses), bem como parte de outras aplicações.
sentido de solucionar o grande inimigo da sociedade, a inflação. • Suspendeu subsídios.
Foram tantas as tentativas que, para facilitar sua compreensão, • Extinguiu empresas estatais.
vamos tentar esquematizar esses planos econômicos. • Tirando dinheiro de circulação, pretendia reduzir a inflação.
• Resultados: fracassou porque provocou recessão, desemprego,
Governo José Sarney (1985-1990) arrocho salarial e novo descontrole inflacionário; foi imposto
de forma autoritária e truculenta, provocando numerosas
Plano Cruzado (1986) reações da sociedade; e a corrupção assumiu níveis jamais
• Extinção do cruzeiro, que perdia três zeros, e criação do cruzado. vistos.
• Fim da correção monetária (desindexação da economia).
• Congelamento dos preços e salários.
Plano Collor II: Zélia Cardoso de Mello
• Gatilho Salarial: correção automática dos salários sempre que a • Novo congelamento de preços e salários.
inflação atingisse 20%. • Prefixação dos juros e aumento de impostos.
• Atuação da população na fiscalização de preços, por meio da • O novo fracasso ocasionou a substituição da equipe econômica.
SUNAB. Zélia (envolvida num romance com o ministro Bernardo Cabral)
se afasta e assume Marcílio Marques Moreira, que descartou
Por que não deu certo? Explosão de consumo, desestímulo novos choques usando a tática recessiva por meio da elevação
à poupança, desabastecimento, cobrança de ágio e desequilíbrio da taxa de juros para combater a inflação.
entre a oferta e a procura.
Resultados políticos: o governo Sarney segurou Governo Itamar Franco (1992-1995)
artificialmente o Plano Cruzado até a realização das eleições de
1986 (para a Assembleia Constituinte), em que o PMDB fez ampla O Plano Real
maioria de governadores (22 dos 23 eleitos), deputados e senadores. • A culminância da atuação do Ministério da Fazenda (FHC
era ministro) deu-se com a implantação de um novo plano
Cruzado II (1986) econômico: o Plano Real.
• Descongelamento dos preços. • Tratava-se de um conjunto de medidas que deveriam recuperar
• Reajuste das tarifas públicas, do álcool, da gasolina e empréstimo a moeda e promover a estabilidade da economia.
compulsório para conter o consumo. • Inspirado, de certo modo, nas experiências do México e da
• Decretação de Moratória (crise das contas externas). Argentina (Plano Cavallo).
• Resultados: os preços dispararam e a inflação sai do controle • Foi criada uma nova moeda (o real), com uma taxa cambial
(365% em 1987). muito próxima do dólar. Criação da Unidade Real de Valor
Segundo Sarney, “o Cruzado II foi o maior erro que (URV), um indexador diário, em março de 1994. A nova
cometemos no governo e, por ele, paguei muito caro”. moeda, valendo uma URV ou 2.750 cruzeiros reais, em 1º de
julho de 1994.
A avaliação dos economistas era de que o aumento dos impostos
sobre cinco produtos de consumo da elite não traria impacto • O efeito imediato foi a queda espetacular da inflação e foi
na inflação. A teoria e as ações propostas não cumpriram recebido com euforia pelos diversos setores da população: moeda
as expectativas. Dentro da própria equipe econômica havia estável, aumento do consumo, crescimento do comércio, das
vendas a prazo etc.
divergências. O ministro Sayad defendia que o ajuste fosse
feito por meio do imposto de renda. Cinco meses após a edição • Entretanto, passadas as eleições de outubro de 1994,
do Cruzado II, o ministro Dílson Funaro foi substituído por o governo começou a restringir o consumo, a dificultar o
crédito com juros altos, a diminuir os prazos dos consórcios
Luis Carlos Bresser Pereira.
e das prestações etc. A produção começou a cair e o
Disponível em: <http://www.josesarney.org/o-político/presidente/plano-cruzado-ii/>
Acesso em: 06 jan. 2016.
desemprego aumentou.

Plano Bresser (1987) – Luis Carlos Bresser Pereira


• Congelamento de preços e salários (2 meses). Exercícios de Fixação
• Aumento das tarifas públicas e dos impostos.
• Extinção do gatilho salarial.
• Suspensão da moratória. 01. (G1-Col. Naval 2016) Leia o texto a seguir.
Plano Verão (1989) – Maílson da Nóbrega A administração da Fazenda Pública com a mais severa
economia e a maior fiscalização no emprego da renda do Estado
• Decretou novo congelamento e criou o cruzado novo.
será uma das minhas preocupações. Povos novos e onerados
• Buscava conter a inflação a partir do corte dos gastos públicos
de dívidas nunca foram povos felizes, e nada aumenta mais as
(demissão de funcionários e privatizações).
dívidas dos estados do que as despesas sem proporção com os
• Consequências: não conseguiu evitar a inflação que chegou a
recursos econômicos da nação, com as forças vivas do trabalho,
1.764% ao ano, levando à recessão, especulação e elevadas das indústrias e do comércio, o que produz o desequilíbrio
dívidas externa e interna. dos orçamentos, o mal-estar social, a miséria. Espero que,

Anual – Volume 3 147


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
fiscalizada e economizada a Fazenda Pública, mantida a ordem As informações dos dois gráficos estão traduzidas na tabela:
no País, a paz com as nações estrangeiras sem quebra da nossa A)
honra e dos nossos direitos, animado o trabalho agrícola e
Rede ferroviária Rede rodoviária
industrial e reorganizado o regime bancário, os abundantes
recursos do nosso solo vaporizarão progressivamente o nosso 1928 31.851,2 113,570,0
meio circulante, depreciado para as permutas internacionais, 1938/39 34.206,6 258.390,0
e fortificarão o nosso crédito do interior e no exterior.
1955 37.092,0 459.714,0
Trecho do discurso de posse de Floriano Peixoto
Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/91988>.
B)
Em um trecho de seu discurso de posse, apresentado
Rede ferroviária Rede rodoviária
anteriormente, Floriano Peixoto demonstrou grande
preocupação com a economia brasileira que vivia a chamada 1928 36.441,4 98.673,0
“Crise do Encilhamento”. É correto afirmar que entre as
1938/39 25.004,0 240.221,0
características da crise estavam:
A) o decréscimo das reservas cambiais e a escassez de papel- 1955 32.533,8 501.342,0
moeda no país.
B) a queda do preço do minério de ferro no mercado C)
internacional e a baixa movimentação financeira da bolsa
de valores. Rede ferroviária Rede rodoviária
C) as falências de indústrias e a inflação que elevou o custo de 1928 31.851,2 254.772,0
vida.
D) a liberação das barreiras fiscais para a importação de 1938/39 41.436,3 213.870,0
produtos ingleses, levando à falência indústrias e grupos 1955 21.984,6 440.657,0
comerciais.
E) o excesso de gastos públicos com políticas assistencialistas D)
e o endividamento com credores no exterior.
Rede ferroviária Rede rodoviária
02. (Uece/2018) O modelo Nacional-desenvolvimentista, surgido
no governo de Getúlio Vargas, fortaleceu-se no período em 1928 22.389,6 302.793,0
que Juscelino Kubistchek governou o país e se estendeu aos 1938/39 44.376,0 266.134,0
governos seguintes. Essa ideologia que teve no ISEB (Instituto
Superior de Estudos Brasileiros) sua principal escola formuladora 1955 50.328,9 115.681,0
e difusora, da qual participaram nomes como Hélio Jaguaribe
e Nelson Werneck Sodré, também contou com a colaboração E)
de influentes personagens da cultura nacional, como Sérgio Rede ferroviária Rede rodoviária
Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Heitor Villa Lobos, Celso
Furtado, dentre outros. 1928 32.231,0 109.273,0

Entre as contribuições, para o Brasil, da ideologia Nacional- 1938/39 30.579,2 260.991,0


desenvolvimentista difundida pelo ISEB encontra-se o(a) 1955 27.774,6 155.832,0
A) privatização de empresas públicas e de economia mista que
davam prejuízos ao Estado brasileiro, tais como o Banco do
04. (PUC-RJ/2018) É preciso “fazer o bolo crescer, para depois
Brasil e a Petrobrás.
B) desenvolvimento de políticas de inserção e assistência social, dividi-lo”. A frase foi atribuída ao ministro da Fazenda, Antônio
com a criação de programas como o Fome Zero, o Bolsa Delfim Neto, um dos formuladores do chamado “milagre
Família e o ProUni. econômico”, ocorrido entre os anos de 1967 e 1973. Durante
C) criação do órgão de planejamento e desenvolvimento o regime ditatorial brasileiro, a economia se expandiu de modo
regional para o Nordeste, a SUDENE, que devia combater a acelerado e sem precedentes na história do país. Nesse período,
disparidade regional no país. o Produto Interno Bruto (PIB) subiu a média anual de 10,9%
D) encerramento de programas que oneravam o Estado como a
Eletrobrás Eletronuclear e a Agência Espacial Brasileira (AEB). de 1968 a 1974. Esse crescimento econômico proporcionou o
aumento do poder aquisitivo de grande parte do empresariado
03. (Unesp/2019) Os gráficos indicam a expansão das redes de e da classe média, ampliando o poder de consumo para esses
transporte ferroviário e rodoviário no Brasil (em km) em função setores.
do tempo (ano).
Ainda assim, o presidente Emílio Garrastazu Médici declarou
“A economia vai bem, mas o povo vai mal” (Jornal do Brasil,
11 de março de 1970). Segundo o historiador Boris Fausto,
“O PIB é um bom indicador do estado geral da economia,
mas, seja em números brutos, seja em números per capita,
não exprime a distribuição de renda”.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. Edusp: São Paulo, 1995, p. 486.

A) Explique duas medidas econômicas que impulsionaram o


crescimento da economia na ditadura militar.
Dados extraídos de: Paul Singer. “Interpretação do Brasil: uma experiência B) Cite dois aspectos negativos provocados pelo “milagre
histórica de desenvolvimento“. In: Boris Fausto (org.).
História geral da civilização brasileira, tomo III, vol. 4, 1986. econômico”.

148 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
05. (PUC-PR/2018) Leia a manchete reproduzida na imagem a 02. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2018) A tabela abaixo sintetiza
seguir. dados sobre a produção cafeeira no Brasil, no Mundo (em
milhares de sacas) e a participação relativa do país em relação
à produção mundial.

Reprodução/Pucpr 2018
Período Mundo Brasil Participação (%)
1900 115.100 12.069 80
1910 14.350 10.653 74
1920 20.290 17.116 84
1930 25.230 17.652 70
1940 26.500 15.797 60
1950 31.300 16.754 54
A tabela apresenta os dados para as décadas de 1900, 1910,
1920, 1930, 1940 e 1950 no mundo e no Brasil. A participação
relativa do Brasil em cada período é, respectivamente, 80%,
Inflação do ano atinge 1.764,86%. O Estado de S. Paulo. 24 dez. 1989. 74%, 84%, 70%, 60% e 54%.
Disponível em: <http:// economia.estadao.com.br/>.
Acesso em: 12 de jun. 2017. Disponível em: <http://revistacafeicultura.com.br/?mat=3640>.
Acesso em: 20.06.2017.

A imagem reproduz uma manchete do jornal O Estado de Sobre a importância do café na economia brasileira da primeira
São Paulo, datado de 29 de dezembro de 1989, com o seguinte metade do século XX, é incorreto afirmar que
título: “Inflação do ano atinge 1.764,86%”. A) pela importância que tinha na produção mundial, as safras de
café brasileiro impactavam diretamente no preço do produto
Considerando o contexto econômico das décadas de 1970 a no mercado internacional, fazendo com que políticas ativas
de manutenção de preço fossem empreendidas desde o
1990 no Brasil, assinale a alternativa correta.
Império.
A) A inflação no Brasil se tornou crescente desde o final do B) a diminuição da participação relativa do Brasil no mercado
chamado “Milagre Brasileiro” (1968-1973), ainda no Regime mundial de café derivou tanto do estabelecimento de novos
Militar, até a estabilização de preços gerada pelo Plano Real polos produtores mundiais (como o Sudeste asiático), como
(1994), com breves intervalos de queda proporcionados por da diversificação da pauta de exportações brasileiras, que
planos econômicos como o Plano Cruzado e o Plano Verão. incorporou novos produtos como minérios e bens industriais.
B) A inflação, ao final da década de 1980, era bastante inferior C) a importância do café na economia brasileira traduziu-se na
aos níveis observados durante o Regime Militar, período no hegemonia política das elites dos estados produtores durante
a segunda metade do Império e na República Velha.
qual o país viveu sob permanente hiperinflação. D) a política de queima dos estoques de café, realizada
C) O Plano Real foi a primeira iniciativa governamental tomada principalmente pelo primeiro governo Vargas (1930-1945),
desde o início dos anos 1970 visando a contornar o problema visava a diminuição da dependência que o Brasil tinha desse
crônico da subida de preços. produto, pois a diminuição de sua oferta possibilitou uma
D) O sucesso no combate à inflação obtido pelo Plano Real maior participação de outros bens e produtos na balança
só foi possível pela dolarização da economia, ou seja, pelo comercial nacional.
uso preponderante do dólar nas transações domésticas em E) a industrialização pioneira da cidade de São Paulo e região,
no início do século XX, tem relação com a riqueza acumulada
substituição à moeda nacional. pela produção e pela exportação cafeeira no interior do
E) A hiperinflação e a crise econômica ocorridas no final dos estado.
anos 1980 levaram à deposição do Regime Militar e ao
reestabelecimento da democracia em 1994, a partir da 03. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2018) Fenômeno político que
promulgação de uma nova Constituição. ocorreu entre os anos de 1930, o populismo, como ideologia
política, se caracterizou por um discurso de libertação nacional,
anti-imperialista e críticas moderadas ao sistema capitalista.
Na América Latina, de maneira geral, a sua forma de atuação
política foi baseada na relação direta entre o Estado e as massas
Exercícios Propostos populares, por intermédio de um líder popular e carismático.

Sobre a prática política populista do governo de Getúlio Vargas,


01. (Unesp/2016) A chamada crise do Encilhamento, no final do assinale a alternativa correta.
século XIX, foi provocada pelo(a) A) O nacionalismo foi amplamente utilizado pelos governos
A) moratória brasileira da dívida contraída junto a casas populistas com base em um discurso voltado contra a
dominação do capital estrangeiro e a favor da defesa dos
bancárias alemãs e italianas.
interesses nacionais. No Brasil, por exemplo, em 1953, a
B) crise da Bolsa de Valores, que não resistiu ao surto campanha “O Petróleo é nosso” e a proposta do governo
especulativo do pós-Primeira Guerra Mundial. da lei de lucros extraordinários, são exemplos desse caráter
C) fim da política de proteção à produção e exportação de café, nacionalista.
que enfrentava forte concorrência colombiana. B) Getúlio Vargas foi um ponto de coesão e referência
D) emissão descontrolada de papel-moeda, que provocou sociopolítica, demonstrando notável capacidade de
especulação financeira e alta inflacionária. mobilização popular e o seu governo se legitimou nas
E) encarecimento dos bens de primeira necessidade, que eram suas práticas políticas tendo como referência a elite
majoritariamente importados dos Estados Unidos. agroexportadora, cujos interesses dizia combater.

Anual – Volume 3 149


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades
C) Como os governos populistas se utilizavam muito da D) “Varre, varre, vassourinha...” e o plano de política econômica
propaganda para reforçar a imagem do grande líder, eles chamado de Plano de Metas.
permitiam que a imprensa, assim como os demais meios de E) “Brasil sem miséria” e o plano de política econômica
comunicação de massa, atuasse de forma livre. chamado de Plano Real.
D) O discurso nacionalista e desenvolvimentista utilizado por
Getúlio Vargas desagradou, tanto a elite burguesa urbana 06. (Unicamp/2018) Vistas em conjunto, as aspirações ruralistas
e industrial, quanto às massas operárias. Tanto que o ato de não eram contraditórias ou incompatíveis com o programa
cometer suicídio pode ser considerado como confirmação desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. A ideia de
desse fracasso. incompatibilidade entre o projeto nacional-desenvolvimentista
E) Do ponto de vista econômico-financeiro, o governo e os interesses agrários era uma ficção.
provisório de Getúlio Vargas mostrou-se preocupado com
a situação da produção industrial brasileira voltada para MOREIRA, Vânia. Os Anos JK: industrialização e modelo oligárquico de
a exportação, importante para chegar a um equilíbrio na desenvolvimento rural. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília (Orgs.).
O Brasil Republicano. v. 3. Rio de Janeiro:
balança comercial. Para isso, em fevereiro de 1931, criou o Civilização Brasileira, 2003, p. 169-170. Adaptado.
Conselho Nacional da Indústria e do Emprego com o objetivo
de regularizar, proteger e expandir a produção industrial. Considerando a composição do setor rural nacional e o
programa desenvolvimentista do governo JK, é correto afirmar
04. (ESPM/2018) O período que correspondeu à presidência de que:
Juscelino Kubitschek (1956-1961) pode ser definido por uma A) A “Marcha para o Oeste” obteve grande êxito porque,
palavra: desenvolvimentismo. O Plano de Metas, primeiro além dos grandes ruralistas, conseguia atender também aos
projeto de planejamento para o desenvolvimento econômico interesses dos pequenos posseiros, trabalhadores sem-terra
desencadeou crescimento econômico sem precedentes. e indígenas.
A reação às políticas inovadoras e até arrojadas de Juscelino B) O desenvolvimentismo atendia às ambições da oligarquia
partiu de vários setores da sociedade. Já em 1957, Juscelino rural, em função das políticas de modernização da
enfrentara lockout de cafeicultores de São Paulo, Minas e agricultura, permitindo que ela se beneficiasse da expansão
Paraná que, pelas estradas, mobilizaram agricultores com do mercado consumidor, um dos desdobramentos da
suas máquinas (a “Marcha da Produção”), enquanto o Pacto industrialização.
de Unidade Intersindical (PUI) articula em São Paulo, 450 mil C) O Plano de Metas do governo JK fracassou porque os
operários na greve contra a carestia. No fim do governo, as interesses do agronegócio se mostraram posteriormente
classes médias, embora tenham experimentado melhora em inconciliáveis com as demandas da velha oligarquia rural
suas condições de vida, estavam insatisfeitas com a política das regiões Norte e Centro-Oeste.
desenvolvimentista. D) Os interesses agrários e o projeto de industrialização do
nacional-desenvolvimentismo eram compatíveis porque o
LOPEZ; Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação.
Partido Trabalhista Brasileiro era composto principalmente
pela oligarquia rural.
A partir da leitura do texto e de seu conhecimento a respeito do
governo do presidente JK, é correto assinalar que a reação às
07. (Uepa/2015) Leia o texto para responder à questão.
políticas desenvolvimentistas, que afetavam as classes médias,
derivou do(a) “Um amigo neoliberal (...) confiou-me que o problema crítico
A) apoio de JK à Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro no Brasil durante a presidência de Sarney não era uma taxa
em 1959; de inflação demasiado alta – como a maioria dos funcionários
B) ruptura com os Estados Unidos e a adesão a uma política do Banco Mundial tolamente acreditava –, mas uma taxa
terceiro-mundista; de inflação demasiado baixa. ‘Esperemos que os diques se
C) aceleração da inflação e aumento do endividamento do país rompam’, ele disse, ‘precisamos de uma hiperinflação aqui, para
com o exterior; condicionar o povo a aceitar a medicina deflacionária drástica
D) ruptura com o PSD, partido que congregava a burguesia e que falta neste país’.”
o empresariado;
E) retumbante fracasso do Plano de Metas, especialmente nos ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo.
setores da indústria e dos transportes. In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Orgs.) Pós-neoliberalismo:
as politicas sociais e o Estado democrático.
05. (G1-IFCE/2019) O conceito de “populismo” surgiu nos anos Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 11.
de 1950 tendo como base estudos de intelectuais que queriam
compreender as mudanças políticas ocorridas em países da A política deflacionária, mencionada pelo historiador Perry
América Latina após os anos de 1930. Anderson, foi adotada nos mandatos do Presidente Fernando
Henrique Cardoso, com a implantação do Plano Real.
No Brasil, um dos governos considerados populistas foi o
São resultados desta política econômica:
de Juscelino Kubitschek, também conhecido como JK, que
A) Confisco generalizado da poupança no país e importação
inaugurou seu mandato prometendo grandes mudanças e
projetos, em especial no que se referia à industrialização. em larga escala de manufaturados.
B) Aumento dos gastos com a previdência social e com as
Fizeram parte do governo de Juscelino Kubitschek o slogan políticas de proteção ao desemprego.
A) “Pra frente Brasil” e o plano de política econômica chamado C) Estatização em massa de empresas privadas e aumento dos
de Plano Lafer. gastos com as empresas públicas.
B) “Brasil de Todos” e o plano de política econômica chamado D) Aumento da taxa de juros, corte de gastos com políticas
de Plano Trienal. sociais e ampliação da taxa de desemprego.
C) “Cinquenta anos de progresso em cinco de governo:
E) Controle da taxa de câmbio e congelamento dos preços de
cinquenta anos em cinco” e o plano de política econômica
chamado de Plano de Metas. bens de consumo.

150 Anual – Volume 3


Temas e Atualidades CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias
08. (UFRGS/2019) Leia o trecho abaixo. C) substituição do programa liberal pela planificação
Como um dos últimos atos de seu governo, Castelo Branco econômica, apoiada pelos setores produtivos nacionais e
promulgou uma nova Constituição e uma de suas medidas internacionais, o que revigorou o mercado interno por meio
era desobrigar o governo a investir coeficientes mínimos em do aumento dos salários.
educação e saúde. A decisão resultou na contínua redução do D) implementação do controle de gastos do governo, exigido
orçamento do MEC [Ministério da Educação e Cultura], que por grupos econômicos nacionais e internacionais como
saiu dos 10,6% dos gastos totais da União em 1965 para 4,3% condição para realizarem os investimentos necessários nas
em 1975, e os gastos com Saúde foram de 4,29% em 1966 indústrias de base.
para 0,99% do orçamento da União em 1974. Os recursos
drenados da Educação e da Saúde permitiram o reforço dos
gastos com investimentos em infraestrutura, como a construção 10. (EsPCEX (Aman) 2017) Diante do impasse econômico-financeiro
de estradas e hidrelétricas, que iam se intensificar nos anos no país e de circunstâncias internacionais, os governos
posteriores ao governo Castelo. [...] As inversões em rodovias brasileiros, no período de 1986 a 1994, tentaram reverter
e hidrelétricas não eram acompanhadas de investimentos em esta situação combatendo a inflação e procurando retomar o
saúde e educação; dados indicam que o número de desnutridos crescimento através de vários planos econômicos que foram
no país se elevou de 27 milhões em 1961-1963 (38% da implementados naquela época.
população) para 71 milhões de pessoas (67% da população)
em 1968-1975.
Para a conquista da estabilização econômica, foram implantados
CAMPOS, Pedro. Estranhas catedrais: as empreiteiras brasileiras e a
os seguintes planos econômicos:
ditadura civil-militar, 1964-1988. Niterói: UFF, 2014. p. 338-340.
1. Plano Cruzado
2. Plano Collor
Sobre a política econômica a qual o texto se refere, é correto
afirmar que 3. Plano Real
A) a ideologia nacionalista do período baseava-se em grandes 4. Plano Verão
inversões de recursos oriundos das empresas privadas para 5. Plano Bresser
investimentos em educação pública.
B) o corte nos gastos com saúde pública e com programas de A sequência cronológica correta dos planos listados é
redução da fome foi compensada pela criação do Sistema A) 4, 2, 3, 1 e 5.
Único de Saúde, o SUS. B) 3, 5, 4, 1 e 2.
C) o crescimento da economia no final dos anos 1960 e início C) 5, 2, 1, 4 e 3.
dos anos 1970 esteve relacionado à política de diminuição
D) 2, 4, 1, 5 e 3.
dos investimentos nas áreas da educação e da saúde.
D) o chamado “milagre econômico” foi marcado pelo amplo E) 1, 5, 4, 2 e 3.
financiamento em áreas estratégicas como educação, saúde,
transporte e produção de energia elétrica.
E) a política econômica do período caracterizou-se pela redução
do repasse de verbas para empreiteiras e pela melhoria do
regime alimentar do conjunto da população.
Fique de Olho
09. (Fac. Albert Einstein – Medicin 2017) “(...) A economia se
aqueceu e a inflação, em vez de subir, passou a cair. Teve • Cédulas e moedas brasileiras
início um surto de crescimento que, no seu apogeu, superou Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/museu-espacos/
qualquer período anterior, e o governo começou a falar em pdrmonet.asp?idpai=CEDMOEBR>
‘milagre econômico brasileiro’. A performance de crescimento
seria indiscutível, porém o milagre tinha explicação terrena.
Misturava, com a repressão aos opositores, a censura aos Bibliografia
jornais e demais meios de comunicação, de modo a impedir a
veiculação de críticas à política econômica, e acrescentava os FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 1995.
ingredientes da pauta dessa política: subsídio governamental e MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Introdução à história dos partidos
diversificação das exportações, desnacionalização da economia políticos brasileiros. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
com a entrada crescente de empresas estrangeiras no mercado, SILVA, Suely Braga da. 50 anos em 5: o Plano de Metas. FVG/CPDOC.
controle do reajuste de preços e fixação centralizada dos Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 06/01/2016.
reajustes de salários. (...) VAINFAS, Ronaldo. História. Vol. 2. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil imperial. Rio de Janeiro:
SCHWARCZ, L.; STARLING, H. Brasil: uma biografia.
São Paulo: Cia das Letras, 2015, pp. 452-453. Objetiva, 2002.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-políticos/
O texto trata da economia brasileira durante o governo registrados-no-tse> Acesso em: 04/01/2016.
Médici (1969-1974). De acordo com as autoras, o “milagre Disponível em: <http://www.tse.jus.br>. Adaptado. Acesso em:
econômico” desse período pode ser explicado pela 03/01/2016.
A) negociação entre governo e setores da sociedade civil, Disponível em: <http://www.josesarney.org/o-político/presidente/
o que permitiu a incorporação dos projetos liberais nacionais plano-cruzado-ii>. Acesso em: 06/01/2016.
de aumento da concorrência e da produção ao programa
do governo.
B) eliminação das críticas de opositores ao programa
do governo, que era pautado no incentivo estatal às
exportações, na abertura ao capital estrangeiro e no controle
de preços e salários.

Anual – Volume 3 151


CiênCias Humanas e suas TeCnoloGias Temas e Atualidades

Anotações

152 Anual – Volume 3


Geografia I
Geografia Física do Brasil –
Fitogeografia e Hidrografia do Brasil
Objetivo(s):
• Descrever as características do relevo do Brasil e sua classificação, informar as técnicas utilizadas para a compartimentação
geomorfológica em unidades e relacionar o relevo às construções de usinas hidrelétricas e ao clima.
• Descrever o processo de formação do solo e destacar fatores naturais e humanos responsáveis pela sua dinamização, caracterizar
os principais tipos de solos existentes no mundo e suas classificações, relacionar fatores como clima, relevo e ação antrópica
ao processo de erosão do solo.
• Descrever as características climáticas do Brasil, detalhar os fatores naturais e humanos condicionantes do clima, especificar
a diversidade climática na qual o território brasileiro está inserido, analisar a exclusão climática sofrida no sertão semiárido e
seus efeitos.
• Compreender a relação existente entre os fenômenos climáticos no Brasil e no mundo.
• Diferenciar as paisagens brasileiras, considerando-as suas características climáticas e biológicas.
• Identificar os biomas do Brasil.
• Estudar características dos biomas brasileiros, relacionando aos aspectos biológicos e regionais.
• Compreender os fatores naturais e humanos responsáveis na transformação da paisagem.
• Analisar o território hidrográfico do Brasil e suas características.

Conteúdo:
Aula 11: Geomorfologia do Brasil Economia de fronteira e Amazônia................................................... 185
Introdução........................................................................................ 154 Políticas de proteção à Amazônia..................................................... 186
O relevo brasileiro............................................................................. 154 Floresta Subtropical ou Mata de Araucárias...................................... 186
O relevo brasileiro e sua classificação............................................... 155 Formações arbustivas e herbáceas.................................................... 187
Resumo didático............................................................................... 159 Vegetações litorâneas....................................................................... 191
Exercícios ......................................................................................... 162 Exercícios ......................................................................................... 192
Aula 12: Solos do Brasil – Potenciais e degradação Aula 15: Recursos Hídricos do Brasil,
Introdução........................................................................................ 166 Bacias Hidrográficas e seus Aproveitamentos
Fatores condicionantes na formação do solo.................................... 166 As reservas brasileiras de água doce................................................ 196
Características gerais dos solos das regiões brasileiras..................... 168 Características gerais da hidrografia brasileira................................. 197
Erosão do Solo.................................................................................. 168 Bacias hidrográficas do Brasil........................................................... 197
Exercícios ......................................................................................... 170 Exercícios ......................................................................................... 202
Aula 13: As Características Climáticas do Território Brasileiro
Introdução........................................................................................ 174
Características gerais do clima do Brasil........................................... 174
Condicionantes do clima do Brasil.................................................... 174
ZCIT (Zona de Convergência Intertropical)........................................ 174
ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul)................................. 174
Massas de ar..................................................................................... 175
A Influência do El Niño no Brasil....................................................... 176
Climas do Brasil................................................................................ 176
Exercícios ......................................................................................... 179
Aula 14: Os Grandes Domínios de Vegetação no Brasil
Introdução........................................................................................ 183
Floresta Equatorial ou Amazônica..................................................... 184
ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I

Aula 11:
Leitura complementar
C-6 H-26, 27
Aula H-28, 29 IBGE revê altitude de sete picos brasileiros: o da
Geomorfologia do Brasil
11 Neblina fica mais alto
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
revisou a altitude dos sete maiores pontos culminantes do país.
Os dois pontos mais altos, os picos da Neblina e o 31 de Março,
fi caram ofi cialmente 1,52 metro mais elevados. Segundo as
Introdução medições feitas no final de 2015, o Pico da Neblina passou a ter
Ao analisarmos a geomorfologia do Brasil, de cima para baixo, 2.995,30 metros.
podemos visualizar as altitudes modestas de seu relevo. Ao observar

Robson Esteves Czaban CC BY 3.0/Wikimedia Foundation


o mapa a seguir, veremos que a maior concentração de terras
altas no Brasil está em um cinturão que acompanha o litoral Sul e,
principalmente, o Sudeste.

De acordo com a medição anterior, feita em 2004 e 2005,


o principal ponto culminante do Brasil, localizado na Serra do Imeri,
As altitudes modestas são produtos de uma longa exposição no Amazonas, tinha 2.993,78 metros.
do relevo à erosão, isto é, a estrutura geológica do Brasil, por ser O segundo mais alto pico brasileiro, o 31 de Março, situado
muito antiga, teve maior desgaste geológico. Vamos lembrar que na mesma serra, a menos de um quilômetro de distância do Pico
quanto mais tempo exposto à erosão maior será a destruição do da Neblina, passou de 2.972,66 na medição de 2004/2005 para
relevo, e quanto mais jovem for sua geologia maior será a altitude. 2.974,18 metros na medição atual.
Essa revisão da altitude não significa que o pico ficou mais
Jovem alto, mas sim que as tecnologias e os modelos de medição estão
mais avançados. Medir a altitude de um pico não é tarefa simples.
O primeiro passo é instalar um equipamento de GPS (sistema de
posicionamento global).
O GPS informa aos pesquisadores determinada altitude em
relação a uma superfície imaginária regular chamada elipsoide,
estabelecida com base em cálculos matemáticos para representar
a forma da Terra.
No entanto, o nível do mar depende também da aceleração
da gravidade, que muda de lugar para lugar. A aceleração da
Maduro gravidade em Brasília, por exemplo, é diferente da observada em
Florianópolis. Isso significa que, se o mar chegasse até Brasília, ele
teria uma altitude diferente daquela que tem em Florianópolis.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br>.

O relevo brasileiro
O relevo brasileiro, como o de toda a Terra, é resultado da
Antigo atuação de agentes internos e externos. O Brasil tem uma estrutura
geológica bastante antiga (Arqueozoico e Proterozoico para os
terrenos cristalinos, e Paleozoico e Mesozoico para boa parte dos
sedimentares) e é exatamente por ser antiga que ela foi e é bastante
erodida. Os processos que modelaram as formas do nosso território
como se apresentam atualmente são, de modo geral, recentes
(Era Cenozoica) e, é claro, continuam atuando.
Nossa estrutura antiga e nossa estabilidade tectônica atual
não nos deram condições de possuirmos Dobramentos Modernos.
A erosão é o agente responsável pelo desgaste do relevo. Ela atua Na realidade, o que temos é a presença de alguns Dobramentos
como uma espécie de “lixa de carpinteiro”, que vai talhando a rocha. Antigos, como é o caso dos escudos das guianas e os planaltos
A estrutura geológica antiga do Brasil favoreceu o maior e serras do Leste e Sudeste. Essas duas unidades já sofreram
desgaste de seu relevo. movimentos orogênicos, isso porque o Brasil já viveu períodos de

154 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
instabilidade tectônica. Você tem que imaginar que, ao longo da • Em 1958, Aziz Ab’Saber, também professor do Departamento de
história geológica, o Brasil não viveu sempre no centro de uma placa, Geografia na USP, publicou um trabalho que alterou a definição
ele já esteve em zonas de ações internas, e as guianas e as serras das unidades de relevo. Ele estabeleceu uma classificação um
do Leste e Sudeste são evidências disso, são estruturas antigas, pouco mais detalhada, que considerava, além da altitude, os
produtos de ações tectônicas. processos geológicos responsáveis pelo formato ou modelado
Quando você visualizar o relevo do Brasil, você tem que do relevo. Os planaltos, segundo essa nova classificação, são
dimensionar de forma macro, pois todo o Brasil pertence à definidos como terrenos onde o processo de erosão supera o
mesma placa tectônica: a Sul-americana. Perceberá então, que de sedimentação, já as planícies são terrenos cujo processo de
há afloramentos cristalinos e há formações sedimentares que sedimentação supera o processo de erosão.
preencheram as depressões cristalinas. O predomínio das Bacias
Sedimentares no Brasil, em relação às estruturas cristalinas, ratifica Erosão supera a deposição
a ideia de que no Brasil, ao longo de sua história geológica, teve
Planaltos
um processo de desgaste de sua geologia. Então, podemos dizer desgaste de partículas
que a estrutura geológica do Brasil é antiga, mas os agentes que
atuaram no modelado do seu relevo são recentes.

Tabela Hipsométrica do Brasil. A deposição supera a erosão

Planícies
0 a 200 m 40% do território acúmulo de partículas
200 m a 900 m 57% do território
Maior 900 m 3% Diminuem de tamanho
com o tempo

O relevo brasileiro e sua classificação Brasil: relevo (classificação de Aziz Ab’Sáber)


O território brasileiro é marcado por apresentar uma
variedade de formas e estruturas de relevo, como serras, escarpas,
planaltos, depressões, chapadas, planícies, cuestas e muitas outras. PLANALTO Equador
Três classificações das unidades do relevo brasileiro foram DAS GUIANAS

formuladas em períodos diferentes: segundo os professores Aroldo PLANÍCIE E TERRAS


de Azevedo, Aziz Ab’Saber e Jurandyr Ross, cada uma delas foram BAIXAS AMAZÔNICAS PLANALTO DO
MARANHÃO-
feitas levando-se em conta determinado critério. PLANALTO PIAUÍ

RAS
Apesar de tentativas anteriores, somente na década de 1940 CENTRAL PLANALTO
NORDESTINO

EI
foi realizada uma classificação do relevo brasileiro considerada a

ST
PLANALTO BRASILEIRO CO
mais próxima da realidade. Ela foi elaborada por um dos primeiros

AS
professores do Departamento de Geografia da Universidade de OCEANO

BAIX
São Paulo (USP), Aroldo de Azevedo (1910-1974), que teve como ATLÂNTICO
PLANÍCIE DO SERRAS E
critério de classificação apenas as cotas altimétricas, definindo o PANTANAL

R RAS
PLANALTOS
que seria planalto e o que seria planície (nessa classificação não foi DO LESTE E
OCEANO SUDESTE

TE
considerada a depressão). Segundo os critérios de Aroldo Azevedo, PACÍFICO
PLANALTO E
IES Tr ó p i c o d e C a
pricórni
planaltos são terrenos levemente acidentados, com mais de 200 N
MERIDIONAL NÍC o
A

metros de altitude, e planícies são superfícies planas, com altitudes


PL

Planícies e
inferiores a 200 metros. Essas classificações mostram os planaltos Terras Baixas
ocupando 59% do território e as planícies, os 41% restantes. 0 660 1320 PLANALTO
URUGUAIO SUL- Planaltos
km RIO-GRANDENSE
RELEVO DO BRASIL - CLASSIFICAÇÃO DE AROLDO DE AZEVEDO

Em 1990, o geógrafo Jurandyr Ross, outro professor


PLANALTO da Universidade de São Paulo, teve uma vantagem técnica em
DAS GUIANAS
relação aos professores anteriores, pois seu estudo foi apoiado em
AZÔ
NICA levantamentos técnicos e imagens de radar obtidas no período de
AM
CI
E 1970 a 1985 pelo Projeto Radambrasil. Este projeto consistiu em

I R A

PL
A
um mapeamento completo e preciso do país, no qual se desvendam
O

P L A N A LT O C E N T R A L
IC

as potencialidades naturais do território, como minérios, madeiras,


E

T
NT

S
O solos férteis e recursos hídricos.

PLANÍCIE DO
C

Até esse período, o mapeamento e a classificação do relevo


AT

PANTANAL
N
C I E

brasileiro baseavam-se, praticamente, em observações realizadas


TO

NO NE PLANALTO
AL

em terra. No levantamento da década de 1990, era usada a técnica


N Í

MERIDIONAL
O L
N

de aerofotogrametria (por meio de radares instalados em aviões),


A
A

L
P
L

SO SE

realizados pelo Radambrasil.


P

S
Planalto das Guianas A classificação de Ross associa critérios altimétricos aos
ESCALA Planalto Brasileiro processos de erosão, sedimentação e gênese, integrando-os às
0 554 1108
Planícies estruturas geológicas nas quais ocorrem. Nessa classificação, o relevo
km
brasileiro passou a ser classificado de três formas, isto é, além do
Fonte: IBGE. Atlas Nacional do Brasil, 2000.
planalto e planície, passou a considerar a depressão.

Anual – Volume 3 155


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
• Condicionantes para explicar o relevo, bem como:
– Fatores morfoestruturais: tipo de estrutura geológica.
– Fatores morfoclimáticos: dinâmica entre o clima e o relevo.
– Fatores morfoesculturais: dinâmica entre os agentes
externos e o relevo.

O Projeto Radam forneceu informações mais precisas sobre a geomorfologia do Brasil e


Jurandyr Ross, se beneficiou desse recurso.

A proposta de Jurandyr Ross vai ajudar na atividade da mineração, porque essa divisão identifica as áreas de acordo com a
geologia. Jurandyr vai dividir o relevo brasileiro em 28 unidades de relevo, e assim teremos: 11 planaltos, 11 depressões e 6 planícies.

Intemperismo químico Vento quente


Intemperismo físico em
em estrutura cristalina e seco
estrutura cristalina

Vento quente
Planalto da
e úmido
Borborema Zona
da
Agreste Planície
Sertão Mata
costeira

Oceano
Atlântico

Topografia plana Topografia mamelonar, policonvexa,


meia-laranja (mares de morro)

Planaltos Unidades Morfoestruturais do Brasil


1990 (Jurandyr L. S. Ross)
BACIAS SEDIMENTARES
1 Planalto da Amazônia Oriental 6
3 Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba
4 Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná
INTRUSÕES E COBERTURAS RESIDUAIS DE PLATAFORMA 13 23
5 Planalto e Chapada dos Parecis 2 1 23
6 Planaltos Residuais Norte-Amazônicos 28
7 Planaltos Residuais Sul-Amazônicos
23 1
CINTURÕES OROGÊNICOS
7
8 Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste 7 3
9 Planaltos e Serras de Goiás-Minas 2 14 7 7 28
10 Serras Residuais do Alto Paraguai 7 11
NÚCLEOS CRISTALINOS ARQUEADOS
25 19
11 Planalto de Borborema 24 20
12 Planalto Sul-Rio-Grandense 5
16 15 9
17 10
Depressões 8 28
26
2 Depressão da Amazônia Ocidental
13 Depressão Marginal Norte-Amazônica Planícies 4
18
14 Depressão Marginal Sul-Amazônica 10
15 Depressão do Araguaia 23 Planície do Rio Amazonas
21
16 Depressão Cuiabana 24 Planície do Rio Araguaia
17 Depressão do Alto Paraguai-Guaporé 25 Planície e Pantanal do Rio Guaporé
18 Depressão do Miranda 26 Planície e Pantanal Mato-Grossense
19 Depressão Sertaneja e do São Francisco 27 Planície da Lagoa dos Patos e Mirim Depressões
20 Depressão do Tocantins 28 Planícies e Tabuleiros Litorâneos 22 Planícies
21 Depressão Periférica da Borda 12
Leste da Bacia do Paraná 27 Planaltos
22 Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense

156 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
As depressões no Brasil são marcadas por terrenos relativamente inclinados nos quais predominam erosão e que ocorrem em
estruturas cristalinas ou sedimentares. São relevos encontrados em altitudes que variam entre 100 metros a 500 metros e apresentam
bordas em aclive (em colinas temos bordas “declive”). A maioria das depressões do Brasil se originou a partir de processos erosivos que
atuaram nas bordas das bacias sedimentares.
Na Amazônia, por exemplo, temos as depressões norte e sul-Amazônica, onde foram esculpidas em terrenos cristalinos, e que
ocupam agora uma grande estrutura sedimentar. Essas depressões são denominadas de “marginais” (vide nessa aula a definição de
depressão marginal).
Em alguns trechos dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Cataria e Rio Grande do Sul temos as depressões periféricas, que têm
características diferentes das depressões marginas da Amazônia. As depressões do Sul estão próximas aos terrenos cristalinos (limitam-se
a Leste com os terrenos cristalinos)
A depressão sertaneja do São Francisco, cortada em parte pelo rio São Francisco, apresenta uma peculiaridade: é a existência
de pediplanos (área rebaixada, gerada por milenares fases erosivas, nas quais se alternavam condições climáticas extremamente úmidas
com outras intensamente secas).
Os planaltos apresentam superfícies irregulares (planas ou acidentadas), onde o processo de erosão prepondera o processo de
sedimentação, podendo ser cristalino ou sedimentar. Localizam-se, geralmente, acima dos 300 metros de altitude.
Conforme a classificação de Jurandyr Ross, os planaltos são agrupados em quatro categorias de acordo com sua gênese:
• Planaltos Sedimentares: são quase todos circundados por depressões periféricas ou marginais. Citamos como exemplos: planalto da
Amazônia Oriental, formado na bacia sedimentar da Amazônia; os planaltos e chapadas da bacia do Parnaíba; planaltos e chapadas
da bacia do Paraná, com estruturas geológicas que apresentam terrenos sedimentares e vulcânicos; o planalto e chapada dos Parecis.
• Planaltos em núcleos cristalinos arqueados: formados no cinturão orogênico da faixa atlântica, os quais sofreram um intenso processo
de erosão no Terciário. São os planaltos da Borborema e Sul-Rio-Grandense.
• Planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataforma: que se formaram em terrenos sedimentares residuais, cristalinos, vulcânicos
e dobramentos do Pré-Cambriano. São os planaltos residuais norte-Amazônicos e sul-Amazônicos.
A saber!
• Relevo residual: denominação às formas de relevo que resultam de um trabalho de erosão desigual dos diversos agentes erosivos.
Isso se deve ao fato de existirem formações rochosas próximas, com diferentes constituições, isto é, algumas mais resistentes e outras
menos.
• Planaltos em cinturões orogênicos: formados em trechos da Idade Antiga onde ocorreram ciclos de dobramentos, intrusões e
falhamentos, que deram origem às escarpas, como as serras do Mar e da Mantiqueira, nos planaltos e serras do Atlântico-Leste-
-Sudeste, onde estão os mares de morro (topografia mamelonar) e as serras de Goiás-Minas (Cinturão de Brasília) e os planaltos e
serras do Alto Paraguai (cinturão do Paraguai-Araguaia).

As planícies são unidades mais restritas e em alguns casos estão sujeitas a inundações. Nessas áreas, o processo de sedimentação
é predominante. As planícies apresentam bordas em aclive e suas altitudes variam entre 0 e 100 metros.
No Brasil, a planície é pouco apresentada, sua formação está associada à deposição de sedimentos de origem marinha, lacustre ou
fluvial; sendo a sedimentação, nesse caso, um processo recente, ocorrido no Quaternário. Exemplos: margens de rios como o Amazonas
e alguns de seus afluentes, o Rio Araguaia, Pantanal, Lagoas dos Patos e Mirim, no Rio Grande do Sul.
Do Amapá até o Rio Grande do Sul, em vários trechos do litoral, estão presentes os tabuleiros costeiros, onde suas bordas
voltadas para o mar sofrem abrasão marítimo e formam as barreiras (geologia sedimentar) ou falésias (origem cristalina). Os tabuleiros
têm, em média, 50 metros de atitude.

Corte do perfil geomorfológico de três regiões do Brasil

Região Norte
Perfil 1
Planaltos Residuais
Norte-Amazônicos Planalto da
Amazônia Oriental
3000 m
Planaltos
Depressão Marginal
2000 m Planície do Residuais
Norte-Amazônica Depressão Marginal
Rio Amazonas Sul-Amazônicos
Sul-Amazônica
1000 m

0m
NORTE Esse perfil (noroeste-sudeste), com cerca de 2 mil quilômetros, vai das altas serras de Roraima até Mato Grosso.
Mostra as faixas de planícies às margens do Rio Amazonas, a partir das quais vêm extensões de terras mais altas:
planaltos e planícies.

A Amazônia apresenta o maior conjunto de terras baixas do Brasil, onde predominam baixos platôs e depressões; a planície está
em menor porção, sendo vista apenas na área de várzea, seguindo o rio. Então, se formos tirar o perfil do relevo amazônico, observamos
que as bordas são planaltos cristalinos intercalando com sedimentares – ao Norte, o planalto residual norte-amazônico (pertence ao
escudo das Guianas) e ao Sul, os planaltos residuais sul-amazônicos (pertencem ao escudo central) –, em seguida, nós temos a depressão
marginal, que está entre o planalto oriental (platôs) ou terras firmes, e os planaltos das bordas e, seguindo o rio, temos a área de várzea,
essa corresponde à planície.

Anual – Volume 3 157


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Região Nordeste
Perfil 2
As chuvas orográficas possibilitam a ocorrência de áreas de maior
verdor nas unidades de alta cota altimétrica. Essas regiões também são
conhecidas como enclaves úmidos ou ilhas úmidas. Essas ilhas úmidas
não dependem da estrutura geológica, mas sim da cota altimétrica.
O intemperismo físico favorece a
topografia plana em estruturas cristalinas. O intemperismo físico favorece a
topografia plana em estruturas
cristalinas.
Escarpa
(ex-serra) Planalto da
Planaltos e Borborema Tabuleiros
3000 m do Ibiapaba
chapadas da litorâneos
bacia do rio
Parnaíba
2000 m Depressão
Sertaneja Oceano
1000 m Rio Parnaíba
Atlântico

0m
NORDESTE Com quase 1,5 mil quilômetros, esse perfil vai do Maranhão a Pernambuco. É um retrato fiel do relevo da
região, com destaque para os dois planaltos (o da bacia do Parnaíba e o da Borborema) cercando a Depressão Sertaneja
(ex-Planalto Nordestino).

Saindo de Piauí até o litoral do Nordeste, observamos, já no Piauí, a presença de um planalto sedimentar, a Chapada de
Ibiapaba, conhecida também por Cuesta (chapada cuja geometria tem uma borda íngreme e a borda reversa, uma inclinação
mais suave). Logo após, vamos à maior unidade geomorfológica do Nordeste, a Depressão Sertaneja, cuja estrutura é cristalina;
no Agreste (área de transição), observamos a presença do planalto da Borborema que, ao contrário do planalto da Bacia do
Parnaíba, é de formação cristalina. O planalto da Borborema é uma formação cristalina de 250 km de norte a sul, cortando os
estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, com altitude, em média, de 400 m, mas atinge picos de 1.000 m,
encravado entre a depressão sertaneja e a planície litorânea. No leste, vamos ter os tabuleiros (formação sedimentar que mede até
50 m, cujas bordas revelam-se na praia, em forma de barreiras ou falésias) e as planícies litorâneas.
Os planaltos cristalinos e sedimentares do Nordeste, dentro do ponto de vista climatológico, são considerados enclaves úmidos.
Esses enclaves úmidos são microclimas, que têm um clima diferenciado. No meio de toda aquela semiaridez, ela vai se apresentar mais
úmida em função das condições geomorfológicas (do relevo) e das condições termopluviométricas (chuvas), ou seja, a altitude do relevo
condiciona, na vertente do barlavento, a formação de florestas pluvio-nebulosas, com presença da Mata Atlântica, formação de brejos
de altitude e pé-de-serra, formação de ressurgência e redução da taxa de evaporação.
Os enclaves úmidos do nordeste são importantes para a economia, isso explica a maior ocupação da depressão sertaneja ser
maior nessas regiões.

Região Centro-Oeste e Sudeste


Perfil 3
Planaltos e Depressão
3.000 m periférica da Planaltos e
chapadas da
borda leste serras do Atlântico
Planície do bacia do Paraná
2.000 m da bacia do Paraná leste-sudeste
Pantanal Mato-
-Grossense Rio Paraná Oceano
1.000 m Atlântico

0m

CENTRO-OESTE E SUDESTE Esse corte, de cerca de 1,5 mil quilômetros, vai do Mato Grosso do Sul ao litoral paulista.
Além da planície do Pantanal, pode-se ver a bacia do Paraná, formada por rios de planalto, que abriga as maiores
hidrelétricas do país.

Perfil 4
PERFIL ESQUEMÁTICO DO RELEVO DO ESTADO DE SÃO PAULO
A B
Rio Paraná

3
Ribeirão São Paulo
Preto 4
1 2
Santos
5

ONO ESE
Ab’Saber, 1954. Adaptado.

158 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Na sequência do perfil 3, no sentido oeste para leste, observamos a Planície Pantanal (maior planície alagada do mundo,
formada na Era Cenozoica); os Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná (datados da Era Mesozoica, formados por arenito e, na
camada superior, formados por basalto) estão confinados parte do Aquífero Guarani; a depressão periférica; os planaltos e serras
do Atlântico Leste e Sudeste, que se estendem do Rio Grande do Sul até Minas Gerais (muitas vezes, as bordas do planalto estão
voltadas para o mar, formando os chamados Costões. E em Santos, apresenta-se uma estreita terra de planície, como pode ser
observado no perfil 4.

A
B
SERRA DA MANTIQUEIRA VALE DO PARAÍBA DO SUL SERRA DO MAR PLANÍCIE COSTEIRA
PICO

OCEANO ATLÂNTICO
m chuva ITAPEVA
2000– (1800 mm)
chuvas aumentando
(até 2000 mm)chuvas ilha seca na chuvas aumentando
1500 – fracas sombra da montanha (até 4500 mm)
Corta (1200 mm)
1000 – MG Corta chuvas
RJ RJ (2500 mm)
SP SP
500 – PR
A SC B

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Resumo didático

Unidades Geomorfológicas do Brasil, de acordo com a classificação de Jurandyr Ross


11 – Planaltos
11 – Depressões
06 – Planícies

Maciços Formados na Era Pré-


Cristalino -Cambriana, formações
Inselbergues mais antigas
Planaltos
Tubuliforme Formadas nas
Sedimentar Chapada Eras Paleozoica e
Cuesta Mesozoica

Os planaltos são relevos de superfície irregular com presença de escarpas nas bordas. São relevos em que o processo de erosão
supera o de deposição, portanto, são relevos em processo de desgaste. Quando uma formação cristalina se apresenta em conjunto,
denominamos de maciços, caso se apresente como uma elevação isolada, denominamos de monólitos; quanto à formação sedimentar,
o planalto recebe o nome de chapada; quando essa chapada apresenta uma geometria na qual uma borda se apresenta íngreme e a
outra borda com suave inclinação, essa chapada é denominada de cuesta.

Fluvial ou aluvial Formadas no período


Quartenário da Era
Cenozoica, isto é, são
Planícies Sedimentar Flúvio-marinha formações recentes,
vulneráveis, frágeis e
Costeira instáveis

As planícies são zonas de depósitos sedimentares pela ação do rio ou do mar. Não por acaso, a maioria das planícies estão
localizadas às margens de rios e mares.
Com a nova classificação, muitas unidades que eram consideradas planícies passaram a ser consideradas depressões marginais,
com isso, as unidades das planícies ocupam agora menor porção do território brasileiro. As planícies estão presentes somente nas áreas
de várzea que acompanham o Rio Amazonas, o Pantanal e a região litorânea que vai do Amapá até o Rio Grande do Sul.
Para sua melhor compreensão, veja o mapa a seguir, tendo as planícies destacadas de cor verde.

Anual – Volume 3 159


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I

Após a classificação de Jurandyr Ross,


muitas unidades que eram classificadas
como planície passaram a ser classificadas
como depressões periféricas e marginais,
assim, as unidades de planícies passaram
a ocupar menos espaço no território,
principalmente na Amazônia, como Relevo
observado no mapa.

Deltas
Litoral
Planícies flúvio-marinhas

Pantanal

Planaltos

Planícies Lagoa dos Patos e Mirim (RS)

Depressões

As áreas classificadas como planícies são formadas por sedimentos que têm sua origem em material de origem marinha, lacustre
ou fluvial em áreas planas, como se verifica nas várzeas e “igapós” da Amazônia, no pantanal mato-grossense ou planície mato-grossense,
com oscilação de altitude entre 100 e 150 m.
• Planícies costeiras: na área costeira nordestina, aparecem planícies e os tabuleiros costeiros (baixos planaltos que sofrem erosão e
podem ter no limite, junto ao mar, as barreiras).
• Planícies continentais: planície do Pantanal e planícies fluviais junto aos rios.
• No litoral do Rio Grande do Sul podem se destacar as planícies da Lagoa dos Patos e Mirim.
NASA/GSFC/LaRC/JPL, MISR Team/Wikimedia Foundation

Planície da Lagoa dos Patos.


Fique Ligado!
Restinga: extensão de água mais ou menos salobra, separada do mar por ilhas – barreira.
Tômbulos: ilhas ligadas à praia por uma estreita faixa de terra.

Depressões
São áreas rebaixadas. De acordo com a última classificação (Jurandyr Ross), muitas unidades que eram consideradas planícies
passaram a ser consideradas depressões marginais; o Brasil apresenta onze depressões, que recebem nomes diferentes, conforme suas
características e localização.
• Depressões periféricas:
Nas regiões de contato entre estruturas sedimentares e cristalinas, como a Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense.
• Depressões marginais:
Margeiam as bordas de bacias sedimentares, esculpidas em estruturas cristalinas, como a Depressão Marginal Sul-Amazônica.
• Depressões interplanálticas:
São áreas mais baixas em relação aos planaltos que as circundam, como a Depressão Sertaneja e do São Francisco.

160 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Tabuleiros

Allants/Wikimedia Foundation
São formações sedimentares datadas da Era Cenozoica, período Terciário, superfície tabular com altitude que varia entre 20 a 50 m.
No lado do mar afloram as barreiras, popularmente, conhecidas por falésias.
Observações:
• Barreiras: são afloramentos rochosos, voltados para o mar, de geologia sedimentar.
• Falésias: são afloramentos rochosos, voltados para o mar, de geologia cristalina.
• Costões: são as escarpas (bordas) das serras cristalinas voltadas para o mar. Ex.: Serra do Mar. Veja o exemplo a seguir.

Arleyramos CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation

Exemplo de Costões na região Sudeste do país, como é o caso da Serra do Mar.

• Dolina: caracterizada por relevos cársticos, que quer dizer “cavernas”.


Mauricio Ximenez CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation

Buraco das Araras (MS), maior dolina da América Latina.

É um vale cujo relevo foi adelgaçando (afinando) pela água, que dissolveu o calcário, e sofreu um colapso (afundou), formando
esse vale. Essa formação dá origem a grutas e cavernas, e é por esse motivo que esses tipos de relevos também são chamados de cársticos.
A formação desse relevo está condicionada a fatores geológicos, como a presença de calcário, e fatores pluviométricos, com a ocorrência
de chuva. A água dissolve o calcário até ele colapsar.

Anual – Volume 3 161


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
03. (UPE-SSA 2/2018) Observe a figura a seguir:
Exercícios de Fixação

Reprodução/UPE-SSA 2018
01. (CP2/2016) Observe atentamente o mapa:

Disponível em: <http://www.ybytucatu.net.br/>.

Essa paisagem esboçada na figura mostra uma compartimentação


do relevo de um trecho da Região Sudeste do Brasil, que foi
influenciada pela conjugação da estrutura geológica com as
Planaltos ações erosivas, decorrentes das ações climáticas pretéritas.
Na área, situa-se o município de Botucatu.
O relevo observado é do tipo
Depressões
A) cristas residuais.
B) pediplanos mesozoicos.
Planícies C) domos cristalinos.
D) cuestas.
E) planaltos cristalinos.

04. (Enem) As plataformas ou crátons correspondem aos terrenos


ROSS, Jurandyr L.S. In: MIRANDA, Leodete e AMORIM, Lenice.
Atlas Geográfico. Cuiabá: Entrelinhas, 2001, p. 7. mais antigos e arrasados por muitas fases de erosão. Apresentam
uma grande complexidade litológica, prevalecendo as rochas
Elaborado com base em imagens de radar, o novo mapa metamórficas muito antigas (Pré-Cambriano Médio e Inferior).
do relevo brasileiro, de Jurandyr Ross, possibilitou ampliar a Também ocorrem rochas intrusivas antigas e resíduos de rochas
complexidade da geomorfologia do Brasil. Aos planaltos e sedimentares. São três as áreas de plataforma de crátons no Brasil:
planícies já presentes em classificações anteriores, o geógrafo a das Guianas, a Sul-Amazônica e a do São Francisco.
propôs a criação de uma terceira macrounidade, as depressões, ROSS, J. L. S. Geografi a do Brasil. São Paulo: Edusp, 1998.
que são
A) porções residuais salientes do relevo, que apresentam intensa As regiões cratônicas das Guianas e a Sul-Amazônica têm como
atividade sísmica e vulcânica. arcabouço geológico vastas extensões de escudos cristalinos,
B) superfícies essencialmente planas, nas quais os processos ricos em minérios, que atraíram a ação de empresas nacionais
de sedimentação superam os de erosão. e estrangeiras do setor de mineração e destacam-se pela sua
C) superfícies mais rebaixadas que as áreas do entorno, onde história geológica por
predominam processos erosivos. A) apresentarem áreas de intrusões graníticas, ricas em jazidas
D) áreas elevadas devido à ação do intemperismo, com terrenos minerais (ferro, manganês).
sedimentares de origem tectônica.
B) corresponderem ao principal evento geológico do Cenozoico
no território brasileiro.
02. (Uece/2016) O litoral do Nordeste se estende, segundo Silveira
C) apresentarem áreas arrasadas pela erosão, que originaram
(1964), das proximidades da Baía de São Marcos até a Baía
a maior planície do país.
de Todos os Santos, dividido em dois macrocompartimentos:
D) possuírem, em sua extensão, terrenos cristalinos ricos em
a costa semiárida, a nordeste do Cabo Calcanhar; e a costa
reservas de petróleo e gás natural.
nordeste oriental, ou das Barreiras, do Cabo Calcanhar até a
Baía de Todos os Santos. E) serem esculpidas pela ação do intemperismo físico,
decorrente da variação de temperatura.
MUEHE, Dieter. O litoral Brasileiro e sua compartimentação.
Geomorfologia do Brasil. Cunha, S. B. 2003. Rio de Janeiro. p. 290.
05. (PUC-SP/2009) Leia com atenção.
Considerando os aspectos fisiográficos do litoral nordestino, “[...] a Amazônia se destaca pela extraordinária continuidade
pode-se afirmar corretamente que as dunas costeiras: de suas florestas, pela ordem de grandeza de sua principal rede
A) ocorrem indistintamente em todo o litoral nordestino e hidrográfica e pelas sutis variações de seus ecossistemas, em
possuem maior expressão e representatividade no sul da Bahia. nível regional e de altitude. Trata-se de um gigantesco domínio
B) no Ceará, não têm nenhuma relação, quanto ao seu de terras baixas florestadas, disposto em anfiteatro [...].”
deslocamento, com o clima ou com a estação chuvosa.
Aziz AB’SÁBER. In: Os Domínios de Natureza no Brasil, p. 65.
C) presentes nos Lençóis Maranhenses, têm idade geológica
do Cretáceo, por isso são formadas por areias quartzosas Esse trecho se refere ao domínio morfoclimático amazônico.
distróficas.
Considerando a classificação dominante (e atual) do relevo
D) têm sua origem, em parte, relacionada aos processos de
brasileiro, é correto dizer que:
subida e descida do nível do mar.

162 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
A) a Amazônia é um imenso segmento territorial de planícies 04. (Mackenzie/1998)
rebaixadas, produto de deposição de sedimentos.
B) embora apresente terras baixas, a Amazônia é constituída Era Geológica Evento
de planaltos na sua maior extensão, e apenas alguns pontos
Cenozoica A
são realmente planícies.
C) há presença dominante de planícies, com pequenos B Formação dos escudos cristalinos
segmentos de depressões nas margens dos maiores rios.
D) planaltos, depressões e planícies, formações de origens Assinale a alternativa que substitui corretamente A e B no
diferentes, equivalem-se em extensão, e estão, mais ou quadro referente à geomorfologia do território brasileiro.
menos, na mesma faixa de altitude. A) sedimentação do Pantanal – Pré-Cambriana
E) predominam as depressões, com a presença de planícies B) formação da “serra” do Mar – Mesozoica
descontínuas no sul e ao longo da calha do Rio Amazonas, C) formação da bacia sedimentar Paranaica – Paleozoica
e uma formação planáltica ao norte. D) derrames basálticos – Cenozoica
E) formação de jazidas de carvão – Proterozoica
E) grandes áreas descampadas encontradas no alto dos morros.
Exercícios Propostos 05. (UPE) O corte topográfico e geológico, mostrado a seguir,
representa, grosso modo, um perfil feito por um pesquisador que
se deslocou da área costeira para o interior do Brasil, objetivando
01. (CPS/2016) Na cidade de São Paulo, no início do século XX, realizar um estudo integrado do meio ambiente de uma região
a prática do futebol começa a se espalhar entre os trabalhadores. do país. Nesse corte, estão indicados, pelos números 1 e 2,
Nos finais de semana, era comum o encontro de pessoas para importantes compartimentos regionais de relevo.
jogarem futebol, nas áreas de várzea. Daí, surge a expressão
“futebol de várzea”, bem antes do esporte se tornar profissional. 3 000 1
A área conhecida como várzea significa 2 000 2 Tabuleiros
A) superfície elevada e irregular, com muitas ondulações, Rio litorâneos
1 000 Parnaíba
entalhada por planaltos encaixados. Oceano
0
B) área aplainada nas margens dos rios que passa por Terrenos cristalinos
alagamentos periódicos. Terrenos sedimentares
C) pequenas ruas de terra exposta, localizadas nas periferias
das cidades.
D) topo plano de pequenas colinas, circundado por declives Considerando-se as informações contidas no gráfico, é correto
suaves. afirmar que esses compartimentos são, respectivamente,
E) grandes áreas descampadas encontradas no alto dos morros. A) Chapada do Apodi e Planalto da Borborema.
B) Chapada do Araripe e Depressão Sertaneja.
02. (Cefet-MG/2015) Leia o trecho abaixo. C) Planalto de Diamantina e Bacia do Parnaíba.
O território brasileiro possui algum grau de suscetibilidade aos D) Planalto da Borborema e Depressão Sertaneja.
processos erosivos devido a uma série de fatores, tais como: E) Chapada do Araripe e Planalto do Meio Norte.
diferentes classes de solos, com suas respectivas propriedades
físico-químicas; tropicalidade dos climas; tipo de cobertura 06. (Fuvest) Esta foto ilustra uma das formas do relevo brasileiro,
vegetal; forma, declividade e comprimento das encostas e, que são as chapadas.
finalmente, o uso e manejo inadequado dos solos.

Kennedy Silva CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation


CUNHA, S.B. e GUERRA, A.J.T. Geomorfologia do Brasil.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

Nesse contexto, é correto afirmar que a suscetibilidade do


território brasileiro aos processos erosivos pode ser acentuada
pela presença de
A) plantação em degraus. B) relevo movimentado.
C) cobertura vegetal. D) solos profundos.
E) aridez climática.

03. (UFC) Tratando das relações entre o relevo e a estrutura


geológica do território brasileiro, é verdadeiro afirmar que:
A) as regiões de chapadas e chapadões estão relacionadas às
rochas cristalinas e constituem os denominados escudos É correto afirmar que essa forma de relevo está
brasileiros. A) distribuída pelas regiões Norte e Centro-Oeste, em terrenos
B) o Planalto do Maranhão-Piauí, marcado por chapadas e cristalinos, geralmente moldados pela ação do vento.
cuestas, relaciona-se a rochas sedimentares e compõe a B) localizada no litoral da região Sul e decorre, em geral, da
chamada Bacia do Meio-Norte. ação destrutiva da água do mar sobre rochas sedimentares.
C) as depressões sertanejas semiáridas relacionam-se, C) concentrada no interior das regiões Sul e Sudeste e
preferencialmente, às áreas de domínio de rochas formou-se, na maior parte dos casos, a partir do intemperismo
sedimentares e vulcânicas. de rochas cristalinas.
D) os relevos de cuestas ocorrem, preferencialmente, em áreas D) restrita a trechos do litoral Norte-Nordeste, sendo resultante,
de domínio de rochas cristalinas muito antigas. sobretudo, da ação modeladora da chuva, em terrenos cristalinos.
E) o denominado domínio dos “mares de mortos” formou-se E) presente nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, tendo sua
por ação de intenso intemperismo físico sobre as rochas formação associada, principalmente, a processos erosivos
sedimentares. em planaltos sedimentares.

Anual – Volume 3 163


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
07. (FGV – Economia) Graben e Horst são formas de relevo 09. (Unesp/2015) Observe o mapa e a fotografia.
associadas às falhas tectônicas.
I -I –Graben
Graben
II - Horst
Oceano
Atlântico
2
Praia
Vermelha
50
100
3 150 Morro da 1

200
250
300
350
Urca
Legenda
curvas de nível Praia de
orientação/ Fora
perspectiva da Urca
observação
50 Praia Enseada
Morro Cara da Urca de Botafogo
de Cão
Graben II - Horst
II – Horst 4
5

Reprodução/Unesp 2015
No Brasil, os exemplos para I e II são, respectivamente,
A) Vale do Itajaí e Serra Geral.
B) Vale do Paraíba e Serra do Mar.
C) Planície Amazônica e Serra do Cachimbo.
D) Vale do São Francisco e Chapada Diamantina. A partir de conhecimentos cartográficos sobre orientação,
E) Planície Costeira e Serra do Espinhaço. localização e altimetria, é correto afirmar que a fotografia foi
realizada a partir da posição
08. (Unicamp) As restingas podem ser definidas como depósitos
A) 2 B) 5
arenosos produzidos por processos de dinâmica costeira
C) 3 D) 4
atual (fortes correntes de deriva litorânea, podendo interagir
com correntes de maré e fluxos fluviais), formando feições E) 1
alongadas, paralelas ou transversais à linha da costa. Podem
apresentar retrabalhamentos locais associados a processos 10. (UFRN – Adaptada) Em uma aula de Geografia sobre a dinâmica
eólicos e fluviais. Quando estáveis, as restingas dão forma às da população brasileira, o professor apresentou dados do
“planícies de restinga”, com desenvolvimento de vegetação Censo Demográfico 2010. Segundo esses dados, o país atingiu
herbácea e arbustiva e até arbórea. As restingas são áreas um total de 190.755.799 habitantes, que se encontram
sujeitas a processos erosivos desencadeados, entre outros distribuídos pelos seus 8.514.876,599 km2, apresentando uma
fatores, pela dinâmica da circulação costeira, pela elevação do densidade demográfica média de 22,43 hab./km2. Para ilustrar
nível relativo do mar e pela urbanização. as informações, o professor mostrou aos alunos os mapas a
Adaptado de Célia Regina G. Souza e outros, Restinga: conceitos e emprego seguir.
do termo no Brasil e implicações na legislação ambiental.
São Paulo: Instituto Geológico, 2008.
Brasil: Densidade Demográfica
por Regiões (2010) Brasil: Relevo

É correto afirmar que as restingas existentes ao longo da faixa OCEANO

litorânea brasileira são áreas Equador


ATLÂNTICO
Planalto da Guianas
A) pouco sobrecarregadas dos ecossistemas costeiros, devido ao
modo como ocorreu a ocupação humana, com o processo Norte Planícies e Terras Baixas
de urbanização. 4,12 hab. km2 Nordeste Amazônicas Pla
Mara
B) onde a cobertura vegetal ocorre em mosaicos, encontrando-se 34,15 hab. km2

em praias, cordões arenosos, dunas, depressões, serras e Planalto Central


Centro-Oeste
planaltos, sem apresentar diferenças fisionômicas importantes. 8,75 hab. km2
C) suscetíveis à erosão costeira causada, entre outros fatores, Planície
do
por amplas zonas de transporte de sedimentos, elevação do OCEANO
Sudeste Pantanal Pl
86,92 hab. km2
nível relativo do mar e urbanização acelerada. PACÍFICO
OCEANO Planalto
córnio PACÍFICO Meridional
de Capri
D) onde o solo arenoso não apresenta dificuldade para a Trópico

retenção de água e o acesso a nutrientes necessários ao Sul


N
O L
desenvolvimento da cobertura vegetal herbácea em praias 48,58 hab. km2
S Plana
e dunas. 0 571 1142 km 0 550 km
Urugu
Grand

164 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
emográfica
2010) Brasil: Relevo
Fique de Olho
OCEANO
ATLÂNTICO
Planalto da Guianas • Capitais do Brasil situadas em ilhas:

Mariordo CC BY-AS 3.0/Wikimedia Foundation


Planícies e Terras Baixas
Amazônicas Planalto do
Nordeste Planalto
Maranhão-Piauí
34,15 hab. km2 Nordestino

Planalto Central
e Planícies e
Terras Baixas
m2 Costeiras
Planície
do Serras e
Sudeste Pantanal Planaltos do
6,92 hab. km2 OCEANO
Leste e
Planalto Sudeste
PACÍFICO Meridional

N
OCEANO
O L
ATLÂNTICO Florianópolis
. km2
S Planalto

Erick Coser/Wikimedia Foundation


0 571 1142 km 0 550 km
Uruguaio Sul-Rio-
Grandense

Disponível em: <www.ibge.gov.br>.


Acesso em: 7 jun. 2011. Adaptado.

No decorrer da aula, a exposição sobre a dinâmica da população


brasileira e a leitura dos mapas referentes à densidade
demográfica e ao relevo do Brasil por regiões permitiu ao aluno
concluir que:
A) a população encontra-se distribuída de forma desigual
pelo território, sendo a região Sudeste, onde predominam
planaltos, a que apresenta maior densidade demográfica, Vitória
devido, entre outros fatores, ao dinamismo econômico e à

Lechenet.com CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation


capacidade de atrair migrantes.
B) os maiores índices de concentração da população ocorrem
nas planícies localizadas no interior, onde se desenvolvem
atividades do agronegócio que resultam, entre outros
fatores, do processo de modernização agrícola.
C) a distribuição da população pelo território ocorre de forma
desigual, sendo a região Nordeste, onde predominam planícies,
a que apresenta menor densidade demográfica, devido, entre
outros fatores, ao processo de ocupação desde o Período
Colonial.
São Luís
D) os menores índices de concentração populacional ocorrem
nos planaltos localizados na Zona Costeira, onde o Florianópolis, em Santa Catarina; Vitória, no Espírito Santo;
e São Luís, no Maranhão, são as três capitais de estados brasileiros
processo de ocupação e o desenvolvimento econômico
localizadas em ilhas.
foram dificultados, entre outros fatores, pelas elevadas
altitudes. • Movimentos Epirogenéticos no Brasil
E) a população encontra-se distribuída de forma desigual pelo No Cenozoico (Terciário), o continente Sul-americano sofreu, em
território, tendo uma concentração demográfica nas terras seu conjunto, soerguimentos orogenéticos na borda ocidental
baixas da região Sudeste. (Cordilheira dos Andes) e epirogenéticos em todo o restante. Esse
soerguimento atingiu o território brasileiro de modo desigual, sendo
que algumas áreas foram mais levantadas e outras bem menos.
Esse processo, associado à tectônica de placas, soergueu tanto as
áreas de crátons como os antigos cinturões orogênicos e as bacias
sedimentares. Foi através da epirogênese terciária que as bacias
sedimentares ficaram em níveis altimétricos elevados e surgiram
as escarpas das serras do Mar e da Mantiqueira, por falhamentos,
e formou fossas tectônicas, como as do médio do vale do Paraíba
do Sul.

Anual – Volume 3 165


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Serra da Mantiqueira Introdução
O Brasil apresenta uma variedade de solos, mas devido ao
Serra do Mar
predomínio do clima tropical quente e úmido, há predominância
Vale do Paraíba
do solo de Latossolo (profundo, bem desenvolvido).
Se formos a uma aula em campo no sertão do Nordeste
Falhas observaremos outro solo que reflete o clima semiárido, o Litossolo
Geológicas (raso e pouco desenvolvido), mas se tivermos a oportunidade
de passar pela região do Apodi, entre Ceará e Rio Grande do
Norte, iríamos nos deparar com o Cambissolo (um solo em
O movimento epirogenético realiza um movimento de desenvolvimento, pois ele tem um horizonte B ainda no início da
gangorra (vertical), isto é, uma área da placa ascende e o local formação). Claro que existem outros tipos de solos no Brasil, que
oposto descende. Esse movimento ocasiona as transgressões são mais estudados e aprofundados em cursos técnicos, mas essa
marinhas e regressões marinhas. aula tem como finalidade destacar os principais solos do Brasil.
O movimento epirogenético ajuda a entender a geologia de Vamos lembrar que o processo de formação e desenvolvimento
Ibiapaba no Ceará, com a presença de calcário (calcário é formado do solo se dá dentro de um período longo, portanto, vamos rever
pelo mineral calcita encontrado nas carapaças de organismos a formação do solo para entender melhor a aula.
marinhos), ou seja, Ibiapaba já sofreu Transgressão Marinha quando
ainda não tinha elevada altitude. Veja: Solos
Formação

Regressão Marinha ou Transgressão Marinha


ROCHA MÃE INTEMPERISMO SOLO 2
Horst
Eustasia negativa ou Eustasia positiva. Físico Biológico Químico
Graben
Variação de temperatura Líquens Água da chuva
Ação do gelo Bactérias
Ação dos ventos Musgos
É necessário cerca de 10.000 anos para formar 1 cm de solo.
Pinheiros
Ervas e Matagal abertos
pequenos com arbustos
ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2009. Adaptado. Rocha Líquens e
musgos arbustos
nua
Seção Videoaula

Elemento fundamental para a agropecuária, o solo é um ambiente


Geomorfologia do Brasil terrestre que está em contato com todos os elementos da natureza – com
a litosfera (no caso, a rocha), em contato com a atmosfera (no caso, o ar),
em contato com a hidrosfera (no caso, os mananciais) e com a biosfera (os
elementos vivos, pois ela hospeda organismos).
O solo que nós conhecemos hoje não se formou da noite
Aula 12:

C-6 H-26, 27
para o dia, ele é resultado de um processo que dura milhares de
Aula Solos do Brasil – Potenciais e H-28, 29
anos (segundo os especialistas em gênese do solo, são necessários
10.000 anos para formar 1 cm de solo).
12 degradação H-30
O elemento a partir do qual vai dar início a formação do solo
é o substrato rochoso (material não intemperizado), daí o porquê
da denominação “rocha-mãe” ou “rocha matriz” atribuída à rocha,
pois é a partir da intemperização da rocha que o solo vai se organizar
em camadas (horizontes). É importante o aluno saber que quando
falamos em intemperização significa o processo de desintegração e
decomposição da rocha; assim temos: o intemperismo físico (quebra
a rocha) e o químico (provoca a dissolução química da mesma).
Essa atividade faz do clima o agente mais importante no processo
de formação do solo.

Fatores condicionantes na
LEGENDA formação do solo
ARGISSOLOS
CAMBISSOLOS
CHERNOSSOLOS
Clima Clima
Organismos
ESPODOSSOLOS Relevo
GLEISSOLOS
LATOSSOLOS
NEOSSOLOS
NITOSSOLOS N
SOLO
PLANOSSOLOS Rocha Processos
PLINTOSSOLOS
ORGANOSSOLOS
VERTISSOLOS Tempo

166 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
LATOSSOLO OU
• Clima: é responsável pelo intemperismo. Vamos ter, em ambientes LITOSSOLO CAMBISSOLO PODZÓLICO
(com horizonte B (Horizontes
úmidos, o predomínio do intemperismo químico, favorecendo a (Horizonte A)
incipiente) A, B e C)
formação de um solo mais profundo; e, em ambientes secos, onde Matéria Fragmentos Matéria
predomina o intemperismo físico, que favorecerá a formação de orgânica minerais e matéria orgânica
orgânica
um solo mais raso, ele é litólico e pedregoso. Húmus
• Organismos: são responsáveis pela decomposição da rocha e
Horizonte A Horizonte A
produção do húmus.
• Relevo: os relevos de inclinação bem escarpada, onde a gravidade Horizonte B
potencializa a erosão, não permitem o desenvolvimento do solo, Matéria-prima
Rocha em Matéria-prima
restringindo-se a um solo raso, como em ambientes secos; desintegração
Matéria-prima
Horizonte C Horizonte C
portanto, em relevos íngremes, uma região pode ser úmida, mas
apresentar solos rasos.
• Tempo: quanto maior o tempo de exposição da rocha, maior Leito rochoso Leito rochoso Leito rochoso Leito rochoso
será o grau de seu desenvolvimento.
1 2 3 4
O solo
Material de origem O leito rochoso
começa a se
A matéria
orgânica facilita
Formam-se os desenvolvido
horizontes sustenta uma
desintegrar a desintegração
• Solo eluvial: formado a partir do material da rocha encontrada vegetação densa
imediatamente abaixo do solo. Ex.: solo de terra roxa (resultado
da decomposição do basalto). À medida que todos os agentes externos condicionantes
• Solo aluvial: formado a partir de material transportado pela do solo vão agindo, o solo vai se organizando em camadas
erosão fluvial. Ex.: solo de várzea. denominadas de horizontes. Se cortarmos o perfil de um solo
• Solo coluvial: formado a partir de material transportado pela
maduro, ou seja, que apresenta todos os horizontes bem definidos
gravidade em relevos íngremes. Ex.: solos de montanhas.
da camada mais superficial para a rocha matriz, nós vamos ter na
Classificação e camadas do solo sequência: O, A, B, C e R.
• H1 – O: horizonte orgânico no qual é mais presente o material
vegetal e animal decomposto. É a camada superficial de florestas
água + ar + M.O + M.I e matas.
São necessários 10.000 anos para formar 1 cm de solo.
• H2 – A: camada que apresenta a matéria orgânica bem
decomposta, é o chamado horizonte humífero (húmus), e a
camada eluvial, ou seja, camada de perda de material inorgânico
exportado para a camada inferior através da lixiviação.
Líquens Arbustos Árvores
• H3 – B: pouca presença de matéria orgânica e camada aluvial,
ou seja, vai acumular matérias importantes do horizonte A.
Solo Solo Solo • H4 – C: é o horizonte que está sobre a rocha-mãe, é uma camada
não madura e, por não ser madura, apresenta muito regolito
(pedregulhos) de granulação mais grossa.
• H5 – R: substrato rochoso ainda consolidado que deu origem
ao solo.
Rocha Rocha Rocha
Tipos de solos
Solo Primitivo Solo Jovem Solo Maduro
• Pedalfer (A e Fe) – clima temperado.
O grau de evolução dos solos nos permite classificá-los de• Pedocal (cálcio) – clima seco.
acordo com o grau de desenvolvimento: • Laterítico ou laterito – óxido de Fe e A / clima úmido.
• Zonais • Hidromórficos – excesso de água.
Fatores climáticos como preponderantes no processo de • Halomórfico – excesso de sais (baixa fertilidade, desprovido de
formação. vegetação, regiões áridas e semiáridas).
Ex.: solos de tundra (podzol, tchernozion), solos do deserto e • Podzólico ou argissolo – solos profundos de clima temperado,
latossolos. menos intemperizado do que o latossolo, presença de argila,
boa fertilidade.
• Intrazonais
• Latossolo – solos profundos de clima úmido (predomina no
Fatores geomorfológico (relevo) e geológico (rocha origem) como
Brasil), predominância de óxido de Fe e A , baixo teor de siltes,
preponderantes no processo de formação.
hidromórficos.
Ex.: hidromórfico e halomórfico.
• Cambissolo – pouco desenvolvido (intermediário), horizonte B
• Azonais (típico de ambientes instáveis / solos jovens) pouco desenvolvido, altos teores de silte.
São tipos de solos pouco desenvolvidos, desprovidos do • Litossolo – solo mais raso (mais jovem), fica imediatamente sobre
horizonte B. a rocha, situa-se em áreas montanhosas.
Ex.: litossolo (relevo inclinado), regossolo (colinas e declives • Tchernozion – solos mais férteis do mundo.
suaves), aluvial (raso), solo de colúvio (solo de montanhas). • Loess (solto) – fértil, de origem eólica (China – Rio Amarelo).

Anual – Volume 3 167


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Tipos de solos existentes no Brasil Obs.: o solo não recebe nutrientes de baixo para cima (pois é profundo e
carente), mas de cima para baixo, por meio da chuva e da sua biomassa.
• Solo arenoso: permoporosidade alta e menor capacidade de
reter água, tem boa aeração e capacidade de infiltração da água, Solo Cerrado
o que pode dificultar a existência de plantas e microrganismo –
solos mais claros. • Latossolo;
• Solo argiloso: menor permeabilidade do que o arenoso e • Pobre em matéria orgânica, presença de minerais como Fe e A,
maior capacidade de reter água; menos arejado, embora seja coloração avermelhada;
menos permeável – alguns solos brasileiros são permeáveis • Arenoso (intemperismo físico);
graças aos poros de origem biológica; boa presença de A • Ácido (PH menor que 7) – corrigido com calagem;
e Fe; grãos estão bem ligados entre si, retendo água e sais • Período da seca: laterização do solo (formação de carapaça laterítica
minerais em quantidade necessária para a fertilidade do solo “ferruginosa”). Causa dessa ocorrência: resultado da oxidação do
e o crescimento das plantas. Mas se o solo tiver muita argila, Fe que, ao evaporar, a água transporta do subsolo para a superfície.
pode ficar encharcado, cheio de poças após a chuva. A água
em excesso nos poros do solo compromete a circulação de
Solo do Sertão
ar, e o desenvolvimento das plantas fica prejudicado. Quando
está seco e compacto, sua porosidade diminui ainda mais, • Litossolo (raso, delgado, litólico – raso e pedregoso);
tornando-o duro e ainda menos arejado. • Pobre em matéria orgânica (nutrientes) e rico em minerais;
• Solos aluviais: são formações de solos situados próximo aos • Sujeito à salinização quando mal manejado (irrigação);
rios, isto é, nas planícies formadas por processo de deposição
• Capilaridade alta (subida de sais para a superfície através da
fluvial, não são profundos, são argilo-arenosos e ricos em matéria
evaporação da água no subsolo) – a água sobe e saliniza;
orgânica. Um exemplo desse tipo de solo é o solo de várzea,
• Predomínio do intemperismo físico;
muito presente na região Norte.
• Desprovido do horizonte C.

Solos brasileiros mais férteis


Solo Mata Atlântica
Esses três solos são classificados como solos eluviais (formados pela
• Profundo, rico em matéria orgânica, argiloso, predomínio do
rocha abaixo do solo):
intemperismo químico.
Terra roxa
• Resultado da decomposição do basalto; Solo das Araucárias
• Extrema fertilidade (cor avermelhada, rico em húmus);
• Encontrado no Planalto meridional, presente em estados da • Solo eluvial (rocha basáltica);
região Centro-Sul, principalmente no estado do Paraná e São • Profundo;
Paulo; • Predomínio do intemperismo químico.
• Solo de qualidade para o plantio do café.
Solo dos Mangues
Massapê
• Resultado da decomposição do gnaisse e, às vezes, do calcário; • Argiloso;
• Fértil (cor escura, rico em matéria orgânica); • Pouco desenvolvido (raso), impermeável – argiloso;
• Presente na Zona da Mata Nordestina; • Eutrofização alta – pobre em oxigênio, daí as raízes aéreas;
• Foi explorado pela atividade canavieira. • Halomórfico (salino) e hidromórfico (úmido);
• Lodoso, lamacento;
Salmorão • O Mar é importante na oxigenação e o rio é importante para a
• Resultado da decomposição do granito; nutrição;
• Fertilidade média; • Rico em matéria orgânica;
• Presente em trechos da região Centro-Sul, mais especificamente • Não agricultável;
no Planalto Atlântico; • Baixa fertilidade.
• Plantio de produtos como o milho, feijão, mandioca, entre outros.

Erosão do Solo
Características gerais dos solos das
regiões brasileiras O solo é um ambiente totalmente exposto à atmosfera e
essa condição dá a ela um ônus, uma desvantagem, que é a de
ser vítima da ação da erosão e da ação antrópica, que acelera e
Solo Amazônico
intensifica seu desgaste.
• Latossolo na Mata de Terra Firme; Então, quando falamos em erosão, nós pensamos em
• Raso na região de Várzea (considerado mais fértil quando não dois agentes erosivos: a natureza e o homem, com o manuseio
inundado); inadequado do solo. Por exemplo:
• Pobre (sobrevive da reciclagem); A natureza contribui com a chamada erosão pluvial
• Lixiviação (principalmente nas várzeas); (chuva). A água, ao atingir a superfície, tem dois destinos:
• Soja em terra firme / agricultura de subsistência nas várzeas infiltrar ou escoar. Quando isso acontece em superfícies
(arroz); cobertas por matas, o impacto da água é menor, a vegetação
• Arenoso, avermelhado, pobre em potássio, fósforo, cálcio e serve ali como um agente que disciplina a violência da água.
magnésio; Ao praticar o desmatamento, o homem deixa a superfície despida,
• Período úmido: solo fica ácido (reage com óxido). mais vulnerável, frágil, e essa ausência vai custar caro para o solo,

168 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
pois a água, ao infiltrar-se no solo desprotegido, vai atuar na subsuperfície (erosão remontante) – a erosão se dará de baixo para cima,
provocando o transporte de materiais de baixo para cima, favorecendo a formação de voçorocas, de ravinas (rasgam a terra e criam
buracos); se ocorre em relevo inclinado, a força gravitacional vai favorecer uma maior força para o escoamento da água (erosão laminar)
– nesse caso, a água atua sobre a superfície (a erosão se dá de cima para baixo), favorecendo o transporte de materiais da superfície,
tendo como consequência o assoreamento de rios.

Outros tipos de erosão do solo


• Por lixiviação: provoca laterização, formação de uma capa ferruginosa (Centro-Oeste do Brasil), e, na Amazônia, a lixiviação favorece
a lavagem e perda de minerais, contribuindo para o seu empobrecimento.

Werner Schellmann CC BY-SA 2.5/Wikimedia Foundation


• Por irrigação: provoca a salinização, pois o manejo inadequado da irrigação transporta, por capilaridade, sais para a superfície; é bom
lembrar que a irrigação também provoca impactos socioambientais, pois a água transporta resíduos químicos para a subsuperfície,
provocando a poluição hídrica.

pathomp/123RF/Easypix

• Atividade agrícola: o uso de máquinas agrícolas pesadas e o pisoteamento do gado contribuem para a compactação do solo e sua
impermeabilidade, exigindo técnicas de aeração e descompactação do solo.
Robert Mawby/123RF/Easypix

Anual – Volume 3 169


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
• Erosão Pluvial
Laminar (superfície do solo).

Wikimedia Foundation

U.S. Fish and Wildlife Service/Wikimedia Foundation


• Remontante (subsuperficial): provoca as ravinas, sulcos e voçorocas.

José Reynaldo da Fonseca CC BY 2.5/Wikimedia Foundation

Manejos adequados do solo:


• O rodízio de culturas;
• Plantio em nível;
• Irrigação por gotejamento;
• Adubação verde;
• Calagem;
• Ceifa do mato;
• Controle de pastoreio.

Exercícios de Fixação

01. (Fuvest) Os desmatamentos, as queimadas, o estabelecimento da agropecuária extensiva ou da agricultura itinerante, seguidos pela
lixiviação dos solos, podem acarretar, nas zonas tropicais,
A) a exposição de lateritas ou crostas ferruginosas.
B) a alteração da fertilidade dos solos podzóis.
C) a concentração excessiva de fosfatos nos tchernozions.
D) o empobrecimento dos solos de pradarias.
E) o aumento do latossolo nas regiões semi-áridas.

02. (Uece/2017) Observe a seguinte descrição de uma parcela da compartimentação geoambiental do Ceará:
“O relevo cearense tem uma predominância muito significativa de terras situadas abaixo do nível de 300 m. Os compartimentos
serranos de maciços residuais e de planaltos sedimentares acima de 700 m têm extensões restritas. No litoral, além dos campos
de dunas modelados em sedimentos atuais, os depósitos mais antigos são entalhados incipientemente pela drenagem superficial,
isolando interflúvios tabulares que representam os tabuleiros pré-litorâneos inaparentes.”
Souza, M. J. N. de. Compartimentação Geoambiental do Ceará. Ceará um novo olhar geográfico. Borzacchiello, J. et. al. Ed. Demócrito Rocha. Fortaleza. 2007. p. 131.

170 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Considerando a unidade planície litorânea, podem ser 05. (UFF/2007) Entre 1800 e 1850, a cafeicultura expandiu-se
apontados como elementos de risco à ocupação pelo vale do Paraíba a partir do Rio de Janeiro. Nos 40 anos
A) o desmatamento das áreas de mangue, que promovem a seguintes, ela avança pelo interior paulista na região dominada
lixiviação dos solos. pela depressão periférica da borda leste da bacia do Paraná.
B) a erosão de vertentes em função dos desmatamentos. A partir de 1900, o café prossegue sua marcha em direção à
C) o desequilíbrio no balanço sedimentológico do litoral. porção ocidental do Estado de São Paulo, atingindo o vale do
D) a contaminação química dos solos por agrotóxicos. Rio Paraná. Em meados do século XX, todo o extremo oeste
paulista, e parte expressiva do noroeste paranaense, já havia
03. (Enem/2011) Um dos principais objetivos de se dar continuidade se inserido nessa produção. O mapa seguinte assinala um
às pesquisas em erosão dos solos é o de procurar resolver os importante fator natural relacionado à expansão da cafeicultura
problemas oriundos desse processo, que, em última análise, descrita anteriormente.
geram uma série de impactos ambientais. Além disso, para
a adoção de técnicas de conservação dos solos, é preciso
conhecer como a água executa seu trabalho de remoção,
transporte e deposição de sedimentos. A erosão causa, quase
sempre, uma série de problemas ambientais, em nível local ou
até mesmo em grandes áreas.
GUERRA, A. J. T. “Processos erosivos nas encostas”.
In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e
conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. Adaptado.

A preservação do solo, principalmente em áreas de encostas,


pode ser uma solução para evitar catástrofes em função da
intensidade de fluxo hídrico. A prática humana que segue no
caminho contrário a essa solução é
A) a aração. B) o terraceamento. 0 1000 Km
C) o pousio. D) a drenagem.
E) o desmatamento.

04. (UFU/2012) O grupo que mais resistiu à delimitação é o de


grandes produtores de arroz. São oito fazendas que ocupam LEINZ, Viktor, AMARAL, Sérgio. Geologia Geral. Editoral Nacional, pág. 284.
cerca de 15 mil hectares, ou aproximadamente 1% da área
da Raposa Serra do Sol. Segundo o governo de Roraima, a Assinale a alternativa que aponta esse fator, bem como o
produção dessas fazendas corresponde a 6% da economia do aspecto particular dele originado, que propiciou essa influência
Estado. O líder dos fazendeiros é [...] o prefeito de Pacaraíma sobre a cultura cafeeira.
e dono da fazenda Depósito, a maior da região. Segundo a
A) Soerguimento do período Terciário, favorecendo o uso dos
Funai, esses fazendeiros chegaram na região depois de 1992,
rios para obtenção de energia.
época do estudo antropológico.
B) Glaciação ocorrida no período Carbonífero, propiciando o
Disponível em: http://www.estadao.com.br>. Acesso em: jun 2012. Fragmento. surgimento de fontes de energia.
C) Dobramentos típicos da era Cenozoica, responsáveis pelo
Na demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e da surgimento do Aquífero Guarani.
reserva com a mesma denominação, no estado de Roraima, D) Transgressão marinha do período Devoniano, que resultou
os rizicultores fizeram grande oposição ao processo de em grandes depósitos de sais minerais.
delimitação, pelo fato de produzirem arroz nessa área desde E) Derrame basáltico ocorrido na era Mesozoica, com a
a década de 1990. No ambiente amazônico, como o que é
decorrente formação de solos férteis.
retratado no texto, a produção agrícola, especialmente do
arroz, ocorre devido a condições físico-naturais presentes no
relevo.
A) aplainado, de solos rasos (litossolos) e com alto PH, típicos Exercícios Propostos
de ambiente de florestas latifoliadas e duas estações bem
definidas: verão chuvoso (junho a setembro) e inverno seco
(dezembro a março). 01. (Enem-PPL/2017)
B) ondulado (acidentado), formado por elevações que podem
variar de 600 a 2.000 m de altitude, solos profundos
(latossolos) e com baixo PH, típicos de ambiente de campos-
cerrados e duas estações bem definidas: verão chuvoso (junho
a setembro) e inverno seco (dezembro a março).
C) aplainado, de solos profundos (latossolos) e com baixo PH,
típicos de ambiente de campos-cerrados e duas estações
bem definidas: verão chuvoso (junho a setembro) e inverno
seco (dezembro a março).
D) ondulado, de solos rasos (litossolos) e com baixo PH, típicos
de ambiente de florestas latifoliadas e duas estações bem
definidas: verão chuvoso (dezembro a março) e inverno seco SUERTEGARAY, D. M. A. (Org.). Terra: feições ilustradas.
(junho a setembro). Porto Alegre: UFRGS, 2008.

Anual – Volume 3 171


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
As características morfológicas do terreno da figura anterior 06. (Unesp/2013) Para o geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber, o domínio
estão representadas no bloco diagrama, que mostra uma região morfoclimático e fitogeográfico pode ser entendido como um
acometida por processos erosivos decorrentes da conjunto espacial extenso, com coerente grupo de feições
A) resistência geológica. B) instabilidade do terreno. do relevo, tipos de solo, formas de vegetação e condições
C) profundidade do solo. D) intervenção antrópica. climático-hidrológicas.
E) ação de cursos de água.
DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS BRASILEIROS:
02. (Unicamp) Solo é a camada superior da ÁREAS NUCLEARES, 1965
superfície terrestre onde se fixam as plantas, Horizonte ou Camada O
que dependem de seu suporte físico, água
e nutrientes. Um perfil de solo é Horizonte A

representado na figura ao lado.


Sobre o perfil apresentado, é correto Horizonte B

afirmar que:
A) o horizonte (ou camada) O corresponde
ao acúmulo de material orgânico Horizonte C
que é gradualmente decomposto e
incorporado aos horizontes inferiores,
acumulando-se nos horizontes B e C.
B) o horizonte A apresenta muitos Rocha não
alterada
minerais não alterados da rocha N
que deu origem ao solo, sendo
normalmente o horizonte menos fértil do perfil. 0 1200 2400
C) o horizonte C corresponde à transição entre solo e rocha, km
apresentando, normalmente, em seu interior, fragmentos
da rocha não alterada.
D) o horizonte B apresenta baixo desenvolvimento do solo, Amazônico Cerrado Mares de Morros
sendo um dos primeiros horizontes a se formar e o horizonte
com a menor fertilidade em relação aos outros horizontes. Caatingas Araucária Pradarias

Faixas de transição
03. (Uece) Solos pouco evoluídos, delgados, com ausência de
horizonte B, onde predominam de forma bastante preservadas Aziz Nacib Ab’Saber. Os domínios de natureza no Brasil,
as características da rocha original, são conhecidos como 2003. Adaptado.

A) luvissolos. B) argissolos.
C) neossolos. D) planossolos. São características do domínio morfoclimático dos Mares de
Morros:
04. (UFG/2010) Segundo os geógrafos Aroldo de Azevedo (1948) A) relevo com morros residuais; solos litólicos; vegetação
e Aziz Ab’Saber (1956), no Planalto Meridional do Brasil, formada por cactáceas, bromeliáceas e árvores; clima
destaca-se a ocorrência de solos de terra roxa, caracterizados semiárido.
por elevada fertilidade natural e por isso muito utilizados nas B) relevo com topografia mamelonar; solos latossólicos; floresta
atividades agrícolas. O tipo de rocha, a estrutura geológica latifoliada tropical; climas tropical e subtropical úmido.
que dá origem ao solo de terra roxa e a atividade agrícola C) relevo de chapadas e extensos chapadões; solos latossólicos;
historicamente nele desenvolvida são, respectivamente: vegetação com arbustos de troncos e galhos retorcidos; clima
A) o basalto, que é uma rocha ígnea extrusiva da Bacia Sedimentar tropical.
do Paraná, onde se desenvolveu o cultivo de café. D) relevo de planaltos ondulados; manchas de terra roxa;
B) o arenito, que é uma rocha sedimentar marinha da Bacia vegetação de pinhais altos, esguios e imponentes; clima
Sedimentar do Maranhão, onde se desenvolveu a plantação temperado úmido de altitude.
de arroz. E) relevo baixo com suaves ondulações; terrenos basálticos;
C) o granito, que é uma rocha ígnea intrusiva do Escudo Cristalino vegetação herbácea; clima subtropical.
do Brasil Central, onde se desenvolveu o cultivo de feijão.
D) o gnaisse, que é uma rocha metamórfica bandeada do Escudo 07. (Unimontes – Adaptada) Sobre os tipos de solos e suas
Cristalino Atlântico, onde se desenvolveu o plantio de laranja. características, assinale a alternativa correta.
E) o diabásio, que é uma rocha ígnea extrusiva da Bacia A) Os solos eluviais formam-se por acúmulo de sedimentos e
Sedimentar da Amazônia, onde se desenvolveu o cultivo partículas, transportados a grandes distâncias pela força das
de pimenta-do-reino. águas e dos ventos.
B) O solo muito arenoso apresenta alto teor de matéria orgânica
05. (Mack) Os solos do semiárido nordestino são, em geral, mais e grande capacidade de retenção de água, sendo, assim,
rasos que os solos do Sul e do Sudeste do Brasil, em virtude
muito fértil.
A) da intensa lixiviação na região, que provoca constante dissolução
C) Os solos mais claros, como os do semiárido, são os de
e transporte dos elementos mais solúveis contidos nos solos.
mais alto valor para a agricultura, pois apresentam grande
B) da formação das lateritas, ocasionadas pelos baixos índices
quantidade de matéria orgânica.
pluviométricos da região.
D) O processo de formação do solo, a partir de uma rocha
C) do aumento da acidificação, que compromete o uso do solo
para as atividades agrárias. matriz, é um processo lento e depende da ação de elementos
D) da fraca pluviosidade e da elevada evapotranspiração da região. naturais, como o clima.
E) da diminuição de nutrientes minerais e orgânicos, decorrente E) O solo coluvial é formado a partir da decomposição da rocha
do clima seco e quente. que está imediatamente abaixo do solo.

172 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
08. (ESPM/2019) Observe o mapa a seguir. C) o uso adequado do solo no Nordeste, em função da fraca
atividade econômica, retarda o processo de desertização
dessa região.
D) a região Nordeste tem um solo marcado pelo predomínio
do intemperismo físico, fato esse que explica a boa
profundidade do solo e das raízes das plantas.
E) a extrusão do magma, ocorrida no planalto meridional,
permitiu a formação de um dos solos mais férteis do Brasil,
o solo de terra roxa, formado a partir da decomposição do
granito.

10. (UFRGS/2007) Assinale a alternativa que preenche corretamente


as lacunas do texto a seguir, na ordem em que aparecem.
Nas áreas de declividade acentuada, os solos são mais
__________ porque a __________ velocidade de escoamento
das águas __________ a infiltração; assim, a água fica pouco
tempo em contato com as rochas, __________ a intensidade
do intemperismo.
A) profundos – alta – aumenta – diminuindo.
Adaptado de: IBGE, 2016. B) rasos – alta – aumenta – aumentando.
C) profundos – baixa – diminui – diminuindo.
A partir de sua interpretação e de seus conhecimentos, pode-se D) rasos – alta – diminui – diminuindo.
depreender que: E) profundos – baixa – aumenta – aumentando.
A) o gênero agrícola em questão se expandiu para as áreas de
clima mais propício ao cultivo.
B) os biomas Cerrado e Amazônico foram os mais afetados
por sua expansão. Fique de Olho
C) o produto expandiu para as áreas de melhores solos.
D) a grande expansão verificada no mapa é para atender à
demanda interna.
DIA MUNDIAL DO SOLO CHAMA ATENÇÃO PARA A
E) o fato de o produto ter expandido em direção ao interior e
DEGRADAÇÃO DE RECURSO LIMITADO
longe do litoral explica o fato de a grande produção brasileira
ser escoada pelo Pacífico.
O objetivo é mobilizar a população para a importância
de preservar e utilizar corretamente os solos e a necessidade de
sua recuperação, devido a práticas como desmatamento e uso
09. (Simulado FB) agrícola inadequado. A data, no entanto, não vem sozinha: 2015
foi declarado o Ano Internacional dos Solos.
Biomas Brasileiros Aprovadas por resolução da Assembleia Geral das Nações
N Unidas de 2013, as celebrações foram criadas após o reconhecimento
da urgente necessidade de se conscientizar a população sobre a
W E
sustentabilidade dos recursos limitados do solo. A motivação do
S alerta são os altos índices de degradação e contaminação do solo:
33% das terras do planeta estão degradadas por razões físicas,
químicas ou biológicas, segundo a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
As maiores reservas de terras cultiváveis do mundo se
encontram na América Latina e no Caribe, informou a FAO.
Amazônia
Caatinga Responsável por organizar os eventos em 2015, o órgão promoveu
Cerrado o lançamento regional do Ano Internacional dos Solos, em Santiago,
Mata Atlântica
Pampa no Chile.
Pantanal “Os solos saudáveis estão na base da agricultura familiar,
na produção de alimentos e na luta contra a fome, e ainda
Com base no mapa anterior e no conhecimento sobre solos cumprem um papel como reservatórios da biodiversidade. Além
do Brasil, podemos inferir que disso, compõem o ciclo de carbono, por isso que o seu cuidado
A) os solos mais férteis do Brasil situam-se no bioma da é necessário para mitigar e enfrentar as mudanças climáticas”,
Amazônia e do Cerrado. informou o órgão.
B) a lixiviação sofrida pelo solo do cerrado provoca a acidez do Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/>.
mesmo, fato esse que demanda a prática da calagem.

Anual – Volume 3 173


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I

Seção Videoaula Características gerais do clima do Brasil


O Brasil possui 92% de seu território situado na zona
de maior insolação do planeta: a Zona Tropical (23º 27’ Norte e
23º 27’ Sul); isso quer dizer que a posição do Brasil no globo
permite insolação durante o ano todo, temperatura acima de
Solos do Brasil
18 ºC (motivo que torna difícil a percepção de todas as estações
do ano, como outono e primavera), baixa amplitude térmica, maior
umidade, maior pluviosidade, maior estoque de biodiversidade da
terra – principalmente as exuberantes matas equatoriais e tropicais
(estima-se que o Brasil abrigue 1/3 das espécies do mundo). No entanto,
tem outro lado do Brasil que representa apenas 8% de seu território,
a Zona subtropical: temperatura abaixo de 18 ºC e elevada amplitude
Aula 13:

C-6 H-26, 27
Aula As Características Climáticas do H-28, 29 térmica e a presença bem definida das estações primavera e outono.

13 Território Brasileiro
Condicionantes do clima do Brasil
Vários fatores condicionam e dinamizam o clima do Brasil,
dentre eles podemos citar a grande extensão latitudinal (5º Norte
a 33º Sul), ou seja, as insolações no Brasil são desiguais, vai de
muito quente na região Norte até o frio na região Sul. As chuvas
são controladas por sistemas atmosféricos como as massas de ar,
as estações do ano, o El Niño, a ZCIT, a ZCAS e fatores tradicionais
Trópico de Câncer como a altitude, o relevo e a vegetação.
23° 27’ Norte
92% do território brasileiro está inserido na zona
mais iluminada, a Zona Tropical. Grosso modo, essa
ZCIT (Zona de Convergência
Brasil região apresenta apenas duas estações bem definidas.
Intertropical)
Trópico de Capricórnio
Ventos carregados de umidade, oriundos dos trópicos
23° 27’ Sul
(alísios), que se deslocam para a região do Equador, provocando
8% do território situa-se na Zona Temperada chuvas no Norte e Nordeste do Brasil.
do Sul, Subtropical. Essa região apresenta as
quatro estações bem definidas.

Introdução
O clima tem o poder de intervir na vida de todos, na
sociedade e natureza, talvez seja o elemento mais importante da
natureza, pois participa do processo de formação do solo, define
os tipos de paisagens, de vegetações, define o regime de rios
(perenes ou temporários), modela o relevo, decompõe rochas e
ainda interfere em atividades humanas, como a agropecuária, e,
como se não bastasse, ainda participa, direta ou indiretamente,
de certas matrizes de energia, como a eólica, a solar e a hidráulica
– dessas, podemos considerar a agropecuária como sendo a
atividade que mais depende do clima. Imagem de satélite da Zona de Convergência Intertropical.
Dentro desse contexto, podemos dizer que o clima
possui a capacidade de afetar, interferir em um complexo que ZCAS (Zona de Convergência do
envolve produção, distribuição, elevação de preços, inflação,
desemprego, enfim, crises ou crescimentos.
Atlântico Sul)
Estudar o clima não signifi ca tão somente estudar o
estado atmosférico, mas significa também uma necessidade de
compreender sua dinâmica, como forma de tentar minimizar
estragos causados por interferência negativa do clima. Podemos
citar como exemplo disso a seca do nordeste, em 2012, e a B
seca em São Paulo, em 2014, problemas esses que geram mal-estar Baixa pressão
econômico, com a elevação de preço de produtos básicos
para nossa alimentação como feijão e farinha, e, o que é pior,
o mal-estar social. A severidade da seca foi em um grau tão
elevado que levou à morte de centenas e centenas de gado,
suicídio de proprietários de gado (a depressão ocasionada pela
seca), à falta de água para a família rural. Qualquer menção A
que se faça à citação “Futuramente a guerra será por água.”
já não é hoje nenhuma frase exagerada ou dramática, pois em Alta pressão

várias regiões do Oriente Médio, e até mesmo no Brasil, existem


instabilidades sociais em função da crise hídrica. Imagem de satélite da Zona de Convergência do Atlântico Sul.

174 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
É a formação de um corredor de ventos, carregados de No verão, mais quente no sul, ocorre maior penetração das
umidade, que se estende da Amazônia até o Sudeste. Esses ventos massas equatoriais para o restante do Brasil; já no inverno, mais
se convergem para esse corredor em função da mPa, que é alta quente no norte, as massas equatoriais são mais tímidas e ocorre
pressão, e empurra os ventos para o corredor, tendo como efeito maior penetração da massa tropical atlântica e principalmente da
a ocorrência de grandes volumes de chuvas. No verão, cria-se um Massa Polar Atlântica.
cenário propício para a formação das ZCAS. A Massa Tropical Continental tem pouca expressão já que
se trata de uma região continental.
Massas de ar • MEAN: origina-se no Atlântico Norte, na proximidade do
arquipélago dos Açores na África, conhecida como Anticiclone
VERÃO INVERNO dos Açores, situada próximo ao 30º N entre a África e a
mEa mEa América Central – é uma célula de alta pressão, é atraída para
o continente em função da diferença de pressão atmosférica
mEc entre as superfícies continental e oceânica.
mEc
• MEAS: origina-se no Anticiclone de Santa Helena. No verão do
Hemisfério Sul (inverno no Norte, provoca a expansão da massa
polar do Norte no sentido Sul, deslocando o anticiclone, assim,
interagindo com os ventos alíseos do Nordeste) o ar frio do
Hemisfério Norte impulsiona a expansão dos Anticiclones dos Açores
mTc mTc
mTa
para o Sul, originando a MEA nas mais baixas latitudes do Hemisfério
mTa
MPa Norte. Ao mesmo tempo, a MEAS será também impulsionada para
Equatorial Tropical Equatorial Tropical Polar
atlântica atlântica atlântica atlântica atlântica o norte, especificamente, sobre o litoral do Nordeste brasileiro.
Equatorial Tropical Equatorial Tropical
continental continental continental continental
Veja a seguir onde se formam a MEAN e a MEAS
MASSAS DE AR DA AMÉRICA DO SUL, COM CENTROS
Na faixa equatorial DE AÇÃO, E SEUS DESLOCAMENTOS

Tropical Atlântica do H.N. o


• MEA (Massa Equatorial Atlântica) Alísio de Sudeste e Nordeste
Ea Anticiclone dos Açores
Tem sua origem no Oceano Atlântico, nos anticiclones dos Açores
Equatorial Atlântica
(norte). Essa massa é atraída para o continente em função da Hemisfério Norte
diferença de pressão entre as superfícies continental e oceânica;
Equador
é responsável pelas chuvas no litoral da região Norte e Nordeste.
Cordilheira
• MEC (Massa Equatorial Continental) dos Andes Ec Equatorial Continental
Tem sua origem na porção mais ocidental (centro ocidental) da da Amazônia
OCEANO
ATLÂNTICO
Amazônia e apresenta um aspecto singular dentre as massas
continentais: é úmida, pois se origina sobre uma superfície Tropical Continental Tc
Trópico de Capricórnio
com farta hidrografia e fitogeografia, trabalhando como se do Chaco
fosse uma “fábrica de umidade”. A atuação dessa massa OCEANO PACÍFICO Ta
Anticiclone de Santa Helena
de ar dá-se principalmente no verão, época em que o vento Tropical Atlântica do H.S.
encontra mais facilidade de desenvolvimento em direção ao
Sul, favorecendo a ocorrência de chuvas em várias regiões.
Frente Polar Hemisfério Sul
Pacífica
Na faixa tropical (F.P.P.)
Frente Polar Atlântica
Polar Pacífica
Polar Atlântica (F.P.A.)
• MTA (Massa Tropical Atlântica)
É uma das mais dinâmicas massas de ar do Brasil, tem sua origem no
• MEC: origem na Amazônia, é quente e úmida por se localizar na
centro de alta pressão subtropical do Atlântico e possui temperaturas
Amazônia, além de ter sua umidade enriquecida com a umidade
e umidade elevadas. Sua atuação é maior durante o verão, quando
oceânica proveniente do Leste (trazida pela ZCIT) e Nordeste
é atraída por relativas baixas pressões que se formam sobre o
(trazida pela MEA).
continente, transportando bastante umidade e calor, reforçando
– Verão: sua atuação é maior no verão, época em que o ar
as características da tropicalidade climática do Brasil.
quente encontra mais facilidade de desenvolvimento em
• MTC (Massa Tropical Continental)
Tem sua origem na região central da América do Sul, na depressão direção sul, em função da maior insolação da região Sul.
de Chaco (Argentina/Paraguai), é quente e seca, possui atuação • MTA: é uma das principais massas de ar da dinâmica atmosférica
muito limitada. do Brasil, desempenhando importante influência na definição
dos tipos climáticos. Origina-se no centro de altas pressões
subtropicais do Atlântico e possui características de temperatura
Na faixa Subpolar
e umidade elevadas.
• MPA (Massa Polar Atlântica) – Verão: ela é atraída pelas baixas pressões que se formam
Tem sua origem na região da Patagônia (Argentina); é fria e sobre o continente, trazendo umidade e calor, reforçando
úmida. Sua atuação é maior no inverno quando ela é atraída a tropicalidade climática do país, toda via, ela atua durante
pelas baixas pressões tropicais e equatoriais, provocando chuvas o ano todo nos climas do Brasil, principalmente no litoral,
frontais em algumas regiões e redução de temperatura, como é onde, devido à orografia, provoca boas precipitações mais
o caso da porção sul da região Amazônica. acentuadas no verão.

Anual – Volume 3 175


• Os ventos que sopram na superfície do Pacífico de leste para oeste
empurram a massa de água aquecida pelo sol em direção à Ásia,
expondo águas frias no litoral Sul-americano.
• Com a concentração de água quente (vermelho), aumentam a
evaporação e as chuvas na Ásia. O ar chega à alta atmosfera e é
ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias empurrado, para depois descer. Cria-se uma correnteGeografi a
de convecção. I
• MTC: forma-se na porção central da América do Sul, no final do El Niño
inverno e início da primavera, antes de começar a estação chuvosa.
Durante as outras estações do ano, a Depressão de Chaco atua
como uma área de atração de massas de ar de outras regiões. Dessa
forma, a região é facilmente dominada pelo ar polar no inverno e
pelo ar quente e úmido do Equador, no verão.
• MPA: forma-se sobre o oceano Atlântico, na altura Centro-Sul da
Patagônia, de característica fria e úmida. A massa polar é
atraída pelas baixas pressões tropicais e equatoriais. A disposição
longitudinal dos alinhamentos gerais do relevo Sul-americano e
de suas calhas naturais facilita o deslocamento da massa polar
Condições
em direção norte. Quando essa massa polar tiver forte inverno
(tem aí uma intensidade expressiva), ela consegue se desenvolver • Os ventos de superfície enfraquecem. Agora, o pacífico esquenta por
igual (vermelho), aumentando as chuvas no meio do oceano. Em
até a latitude 0º e, em condições mais extremas, até mesmo algumas regiões, os ventos se invertem.
ultrapassar a linha do Equador. Em tais condições, sua atuação • A corrente de convecção se divide, provocando secas na Ásia e chuvas no
sobre a Amazônia provoca a ocorrência do fenômeno conhecido litoral Sul-americano.
regionalmente por friagem.

A Influência do El Niño
no Brasil Aqui falta
chuva
As frentes frias
É um fenômeno que provoca mudanças no deslocamento de normais não passam Jato antinordeste...
massas, isto é, um desarranjo nas massas de ar, afetando o clima no Correntes de jato são rios
Corrente de ar que disparam a
Brasil e no mundo, provocando chuvas em algumas regiões, como
de jato Aqui sobra 12 000 metros de altura.
no sul do Brasil, e secas em outras, como no nordeste do Brasil. chuva Com o El Niño, uma delas
Ocorre de forma irregular, em intervalos de 2 a 7 anos, bloqueia as frentes frias
com duração que varia entre 12 e 18 meses. que, normalmente, criam
No El Niño, a velocidade dos ventos alísios diminui por Frentes frias as chuvas do Nordeste
cerca de 1 a 2 m/s; sem a força dos ventos, a água fria das desviadas em fevereiro e março.
porções mais profundas do oceano não ascende, não ressurge, ficam no Sul
...e antisul.
fica, então, na superfície, a água quente, favorecendo o aumento Na Região Sul, o bloqueio da
da temperatura da superfície do mar. Esse fenômeno vai provocar corrente tem um efeito oposto.
mudanças nas temperaturas, na circulação dos ventos e das Ele trava as frentes frias sobre
ele, provocando chuvas
massas de ar. Esse cenário vai ser responsável por mudar de rota
torrenciais e enchentes.
uma massa de ar que é responsável pelas chuvas no nordeste
do Brasil, a MEC (Massa Equatorial Continental), que vai ser
arrastada no sentido Noroeste-Sudeste, em direção ao Sul do
país. A consequência é a ocorrência de enchentes no Sul do país Climas do Brasil
e de seca na região do clima semiárido nordestino e extremo
norte do país, principalmente em Roraima.
A La Niña é o inverso, ocorre com menor frequência. Tropical
0° Equador
As causas que levam ao aparecimento desses dois fenômenos
ainda são desconhecidas.

Equatorial
Circulação 10° Semiárido
da Convecção
Tropical
América
do Sul
Tropical Tropical
20° de Atlântico
altitude
Trópico de
Capricórnio
Subtropical
Entenda o fenômeno 30° Km 400
0
Condições Normais
• Os ventos que sopram na superfície do Pacífico de leste para oeste 70° 60° 50° 40°
empurram a massa de água aquecida pelo sol em direção à Ásia,
expondo águas frias no litoral Sul-americano.
• Com a concentração de água quente (vermelho), aumentam a
evaporação e as chuvas na Ásia. O ar chega à alta atmosfera e é
empurrado, para depois descer. Cria-se uma corrente de convecção.

El Niño
176 Anual – Volume 3
Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
• Média térmica inferior a 18ºC; • Média térmica superior a 18ºC; • 3000 mm/ano;
• Alta amplitude térmica; • Baixa amplitude térmica; • Esse clima apresenta uma expressiva homogeneidade térmica,
• Clima regido pela Massa Polar • Clima regido pelas massas sem grande amplitude térmica (a pequena amplitude é devido
Atlântica; equatoriais e tropicais no verão, a umidade), oscilando entre 24ºC e 27ºC;
• Apresenta as quatro estações no inverno tem influência da • Maiores índices de chuvas: verão e outono;
bem definidas. Massa Polar Atlântica; • Na porção mais norte da Amazônia chove mais no inverno,
• Influência de sistemas atmosféricos porque coincide com a estação de verão no Hemisfério Norte;
como a ZCIT e ZCAS; no restante da região, a precipitação é menor no inverno.
• Não apresenta as quatro estações
bem definidas.
Observação:
Se a temperatura é homogênea não podemos dizer o
Clima Equatorial mesmo da chuva, pois essa apresenta uma distribuição mais
heterogênea – áreas mais chuvosas com 3 000 mm/anual, é o
É um tipo de clima tropical marcante nas regiões próximas
extremo leste (Ilha de Marajó, no Baixo Amazonas, devido à
à linha do Equador, região mais úmida do Brasil, isso porque essa
ação da MEA) e o extremo oeste (Amazônia Ocidental, onde
região tem duas “fábricas de umidade”, o Rio Amazonas e a Floresta
a presença da baixa pressão equatorial é quase permanente),
Amazônica (vale lembrar que uma árvore na Amazônia joga, em média,
ao passo que em outras áreas não passam de 1 600 mm/anual,
1 000 litros de água na atmosfera) são verdadeiros rios voadores
como nas regiões Noroeste e Sudoeste.
que se formam. Esse clima tem elevada temperatura (acima de
18 graus Celsius), baixa amplitude térmica, alto índice de pluviosidade
(média de 3 000 mm/ano), recebe influência de mecanismos
atmosféricos como MEC (Massa Equatorial Continental), MEA Tropical Semiúmido ou Tropical Típico
(Massa Equatorial Atlântica) e no inverno a porção sul da região
Norte vai atrair a MPA. Essa massa fria e úmida vai aproveitar o Clima Tropical Continental
corredor de terras baixas na porção mais interior do continente mm ºC
(Depressão do Paraguai), deslocando-se até lá e, ao estacionar 425 31
sobre essa região, vai alterar o clima: essa massa fria e úmida vai 400 30
reduzir a temperatura da região e, consequentemente, reduzir 375 29
a pluviosidade – a queda da temperatura pode chegar até 8 ºC 350 28
no Sudoeste da região (posso até citar que, em 1936, em Sena 325 27
Madureira, município do Estado do Acre, a temperatura foi a 300 26
7,9ºC), fenômeno esse conhecido como friagem. 275 25
250 24
225 23
Clima Equatorial (2.892 mm) 200 22
175 21
mm Cº
Lugar: Uaupés (AM) 150 20
425 31 125 19
400 30 100 18
375 29 75 17
350 28 50 16
325 27 25 15
300 26 0 14
275 25 J F M A M J J A S O N D
250 24
225 23 Predomina na maior parte do país, especialmente nas regiões
200 22 Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste e no estado de Tocantins. É um
175 21 clima quente, marcado por duas estações bem distintas: verão
150 20 úmido e inverno seco.
125 19 É o clima da famosa vegetação do cerrado (o cerrado é uma
100 18 paisagem transicional entre os quentes e úmidos das florestas e o
75 17
subtropical frio e úmido ao Sul). É um clima regido por sistemas
50 16
25 15 atmosféricos equatoriais (como é o caso da MEC) e tropicais (como
0 14 é o caso da MTA e MTC) e também tem influência da atuação da
J F M A M J J A S O N D
MPA. Essas características atmosféricas determinam a alternância
do clima nessa região – quente e úmido concentrado no verão e
quente e seco concentrado no inverno. É exatamente por isso que
Vale lembrar também que esse clima é controlado por esse clima evidencia a tropicalidade do Brasil – marcado por duas
sistemas atmosféricos úmidos, que são atraídos por essa região estações distintas: verão úmido e inverno seco.
equatorial pelo fato dela ter baixa pressão (áreas de baixa pressão Média das máximas: 36ºC em setembro, o mês mais quente
são zonas convergentes de ar, essa área recebe dois nomes que da região.
estão ligados a ela: Calmarias e Doldrums), isto é, sistemas Ao contrário do norte, tem uma heterogeneidade térmica:
atmosféricos carregados de umidade são atraídos para ela, o mais ao sul, média térmica anual de 20ºC e, na porção mais ao
que favorece a ocorrência de chuvas: são os alísios (ventos que norte, média térmica anual de 26ºC.
vêm das áreas tropicais de alta pressão para a zona equatorial). As chuvas são concentradas no verão (entre novembro e
• Médias térmicas estão acima de 24ºC; março) – 1 500mm/2 000mm.

Anual – Volume 3 177


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Embora o cerrado seja o principal bioma ao qual se associa Tropical Úmido ou Litorâneo
esse tipo de clima central do Brasil, ele não apresenta características
de homogeneidade, pois elementos geográficos como relevo e
Clima Tropical Úmido
sistemas atmosféricos são bastante heterogêneos nessa região.
mm Cº
Lugar: Maceió (AL)
Tropical Semiárido 425 31
400 30
É o clima mais seco do Brasil e abrange o sertão do Nordeste 375 29
e o norte de Minas Gerais. Possui elevada temperatura, baixa 350 28
325 27
amplitude térmica anual e alta amplitude térmica diária, pouca 26
300
quantidade de chuvas (média anual inferior a 1 000 mm/ano). 275 25
Além da pouca chuva, a sua irregularidade é um outro problema, 250 24
chovendo concentrado em fevereiro, março, abril e maio. 225 23
A fraca atuação das massas de ar úmidas na região ajuda 200 22
175 21
a entender a baixa pluviosidade e os períodos de seca nessa área. 150 20
• As principais massas de ar que atuam no Nordeste são a 125 19
MEC (Massa Equatorial Continental) e a MTA (Massa Tropical 100 18
Atlântica). A Equatorial Atlântica e a Polar Atlântica também 75 17
50 16
podem chegar até a região, o problema é que, em geral, todas 25 15
elas, quando chegam ao sertão nordestino, já estão secas, pois já 0 14
perderam o conteúdo de umidade em relevos de cota altimétrica J F M A M J J A S O N D
alta, como o Planalto da Borborema.
• Nos anos de predominância do El Niño, o aumento da Abrange o litoral, estendendo-se do Rio Grande do Norte
temperatura no Pacífico Sul enfraquece os ventos alísios.
até trechos do litoral do Estado de São Paulo. Clima quente e
As massas de ar aquecido formam barreiras que impedem o
úmido, elevada temperatura, média pluviométrica que atinge os
deslocamento normal das frentes frias carregadas de umidade,
provocando secas no Nordeste. 2 000 mm/anual. O clima é regido por massas de ar carregadas
• A diferença de temperatura entre as águas superficiais do de umidade, oriundas do Oceano Atlântico, bem como pela MTA
Atlântico Sul (mais frias) e as do Atlântico Norte (mais quentes), (Massa Tropical Atlântica) e no inverno tem a influência da MPA
fenômenos conhecidos como dipolo negativo, e o deslocamento (Massa Polar Atlântica). A umidade desse clima é retratada na
da Zona de convergência Intertropical (ZCIT) para o Hemisfério paisagem com a presença da Floresta Tropical.
Norte, em épocas previstas para permanência no Hemisfério Sul, O encontro da Massa Tropical Atlântica com o relevo
favorecem a ocorrência de anos secos no Nordeste. acidentado (Serra do Mar, Serra da Mantiqueira, Borborema, etc)
• Recentemente, alguns geógrafos afirmaram que a corrente provoca chuvas de relevo ou orográfica.
marítima de Benguela (corrente de água fria que é responsável No outono e no inverno o encontro da Massa Polar Atlântica
pela formação do deserto de Kalahari no sul da África), seria com a Massa Tropical Atlântica provoca chuvas frontais.
empurrada pela corrente do Atlântico Sul para a costa do
Nordeste, inibindo, assim, a evaporação.
Tropical de Altitude
Clima Semiárido
do Sertão Nordestino Clima Tropical de Altitude
mm Cº mm Cº
Lugar: Cabaceiras (PB) Lugar: São Lourenço (MG)
425 31 425 31
400 30 400 30
375 29 375 29
350 28 350 28
325 27 325 27
300 26 300 26
275 25 275 25
250 24 250 24
225 23 225 23
200 22 200 22
175 21 175 21
150 20 150 20
125 19 125 19
100 18 100 18
75 17 75 17
50 16 50 16
25 15 25 15
0 14 0 14
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

Em função da severidade climática e da fraca economia, Clima que corresponde às áreas elevadas da região
é considerada a região que apresenta os piores índices sociais do Sudeste, são regiões serranas e planaltos. As temperaturas são
país; é considerada a região semiárida mais populosa do mundo, mais baixas do que as registradas no Tropical Típico. Apesar de
com pouco mais de 20 milhões de habitantes, o que corresponde ter ocorrência de chuva o ano todo, o índice de pluviosidade é
a cerca de 10% da população do Brasil. maior no verão.

178 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Subtropical No gráfico, essas cidades estão representadas, respectivamente,
pelos símbolos:
Clima Subtropical Úmido
A)
das pradarias
mm Cº B)
425 31
400 30 C)
375 29
350 28 D)
325 27
300 26
275 25 E)
250 24
225 23 02. (UPF/2019) Analise os dois climogramas que seguem e, pelas
200 22
21 informações que eles apresentam e por seus conhecimentos sobre o
175
150 20 tema, identifique a classificação climática e a cidade onde ocorrem.
125 19
100 18 Climograma 1
75 17
50 16
25 15 P (mm) T (°C)
0 14 500 40
J F M A M J J A S O N D 35
400
30
Esse clima está abaixo do Trópico de Capricórnio, linha
imaginária que marca o limite meridional da declinação anual do sol 300 25
e sinaliza também o início da área de clima subtropical (claro que as 20
fronteiras climáticas não têm a rigidez das fronteiras políticas, pois 200 15
são apenas referências astronômicas). O Brasil subtropical começa
em uma faixa de latitude correspondente à posição dos Estados 10
de São Paulo e Paraná, a partir da qual o domínio da MPA e das 100
5
massas extratropicais passam a ter controle. A MTA atua com vigor
na costa; a MEC (úmida), a MTC (seca) e as linhas de instabilidade 0 0
tropicais exercem uma ação periférica. J F M A M J J A S O N D
É bom destacar que a Massa Polar Atlântica faz com que Pluviosidade média
o inverno seja mais rigoroso no Sul do que no restante do país. Temperatura média
A entrada de frentes frias provoca geada e, por vezes, neves nas
áreas mais altas. Climograma 2

P (mm) T (°C)
400 40
Exercícios de Fixação
35
300 30
01. (Fuvest/2019) O gráfico mostra as temperaturas médias mensais
25
históricas de cinco cidades, todas localizadas em altitudes
próximas do nível do mar: Alexandria (Egito), Barcelona 200 20
(Espanha), Buenos Aires (Argentina), Santos (SP, Brasil), São 15
Luís (MA, Brasil).
100 10
30 5
0 0
25 J F M A M J J A S O N D
Temperatura média (°C)

Pluviosidade média
20 Temperatura média
Fonte: IBGE. In: ALMEIDA; RIGOLIN. Geografia: Geografia geral e do
15 Brasil. São Paulo: Ática, 2008, p. 114-115.

10 A) 1) Equatorial Úmido / Belém; 2) Subtropical Úmido / Curitiba


B) 1) Equatorial / Goiânia; 2) Subtropical / Porto Alegre
5
C) 1) Tropical de Altitude / Salvador; 2) Semiárido / Juazeiro
0 D) 1) Temperado / Santos; 2) Equatorial Úmido / Manaus
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez E) 1) Litoral Úmido / Maceió; 2) Tropical Árido / Cuiabá
Weatherbase

Anual – Volume 3 179


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
03. (UFRRJ) Observe os mapas. 04. (Enem/PPL) Desde a sua formação, há quase 4,5 bilhões de
anos, a Terra sofreu várias modificações em seu clima, com
TIPOS DE CLIMA DO BRASIL
períodos alternados de aquecimento e resfriamento e elevação
ou decréscimo de pluviosidade, sendo algumas em escala global
e outras em nível menor.
ROSS. J. S. (Org.) Geografia do Brasil.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. Adaptado.

Um dos fenômenos climáticos conhecidos no planeta atualmente


é o El Niño, que consiste
A) na mudança da dinâmica da altitude e da temperatura.
Equatorial B) nas temperaturas suavizadas pela proximidade com o mar.
Tropical C) na modificação da ação da temperatura em relação à latitude.
Semi-árido D) no aquecimento das águas do Oceano Pacifico, que altera
Subtropical
o clima.
Tropical-Litorâneo
E) na interferência de fatores como pressão e ação dos ventos
Tropical de Altitude
do Oceano Atlântico.
Disponível em:<http://www.geografiaparatodos.com.br/>.
Acesso em: 31 ago. 2007.
05. (UFJF-Pism 1/2016) Pulmão do mundo. No que você pensa ao
MASSAS DE AR QUE ATUAM NO BRASIL ouvir essa expressão? Ora, só dá para imaginar que a Amazônia é
a maior produtora mundial do oxigênio que mantém a Terra viva!
Verão
Acontece que essa história de “pulmão do mundo” é uma enorme
Equador
bobagem. (...) E mais: florestas como a Amazônia, segundo os
cientistas, são ambientes em clímax ecológico. Isso quer dizer que
elas consomem todo – ou quase todo – o oxigênio que produzem.
Período das Disponível em: <http://brasilnomundo.org.br/>. Acesso em: 20 out. 2015.
chuvas

Trópico de Capricórnio
Inverno
(não atua no Brasil
nesse período) O verdadeiro “pulmão do mundo” são
A) as algas marinhas, uma vez que produzem mais oxigênio
OCEANO
ATLÂNTICO pela fotossíntese do que precisam na respiração.
Equador
OCEANO
B) as áreas cultivadas, porque impedem que os raios solares
PACÍFICO
transformem o oxigênio em gás carbônico.
Friagem
Chuvas
C) as estepes e campos que, devido à vegetação de gramíneas,
Periodo de
frontais consomem menos oxigênio do que produzem.
Trópico de Capricórnio
estiagem
D) os bosques e florestas, porque seus arbustos promovem a
Baixas absorção do oxigênio através de suas folhas.
temperaturas
e geadas
OCEANO E) os continentes gelados que, durante o degelo, promovem
OCEANO
PACÍFICO
ATLÂNTICO
a liberação de oxigênio para a atmosfera.

Exercícios Propostos
LUCCI, Ellan Alabl. et all. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia
geral e do Brasil – ensino Médio, volume único. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 529.

01. (EsPCEx (Aman)/2019) Leia os trechos a seguir:


Sobre a dinâmica das distintas massas de ar que atuam
no território brasileiro e os diferentes tipos de clima que o “17/07/2017 – Canela, Gramado e Caxias do Sul, [...]
caracterizam, indique a única opção correta. registraram o fenômeno. Frio chegou com intensidade ao
A) O Clima Tropical Típico, característico da região Centro-Oeste, estado e temperatura deve cair ainda mais ao longo do dia.“
é marcado pela atuação da Massa Equatorial Continental Disponível em: <https://g1.globo.com>.
durante todo o ano, o que concede altíssima umidade a essa
“31/03/2016- Com chances de neve já no outono, o frio em
região, tanto no verão como no inverno.
Gramado promete chegar com tudo [...]”
B) O Clima Equatorial do Norte do Brasil tem como principal
Disponível em: <https://www.dicasdegramado.com.br>.
característica a sazonalidade das chuvas, devido à atuação
da Massa Tropical Atlântica durante o inverno. Nos últimos anos, temos observado na mídia uma série de
C) O Clima Subtropical, que marca a Região Sul, apresenta notícias evidenciando o rigor do inverno na região acima
as maiores amplitudes térmicas entre os climas brasileiros referida. Esta região tem atraído inúmeros turistas que gostam
e, apesar de dominado pela Massa Tropical Atlântica, está de contemplar o frio, as comidas típicas locais e têm o anseio
sujeito à penetração da Massa Polar Atlântica. de conhecer, ao vivo, a neve e o congelamento das águas em
D) O Clima Tropical Litorâneo, que marca a faixa litorânea pleno Brasil. A associação de dois importantes fatores climáticos
do leste do país, caracteriza-se por chuvas irregularmente justifica a ocorrência de tais fenômenos meteorológicos nesta
distribuídas, já que, no verão, ocorre a penetração da Massa região. São eles:
Equatorial Continental e, no inverno, a Massa Tropical A) latitude e altitude.
Continental reduz muito a umidade do ar. B) maritimidade e latitude.
E) O Clima Semi-Árido é dominado pela atuação da Massa C) continentalidade e maritimidade.
Tropical Atlântica durante o ano todo e, por isso, caracteriza-se D) altitude e longitude.
pela pequena amplitude térmica e elevada pluviosidade. E) correntes marítimas e massas de ar.

180 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
02. (UFRN) Uma importante característica dos tipos de clima do A) A Frente Polar Atlântica, principal área de instabilidade
Brasil é a predominância da tropicalidade, que decorre da da América do Sul meridional, é responsável pelas chuvas
localização da maior parte do seu território na chamada “zona previstas no texto.
intertropical do Planeta”. A influência de determinados fatores, B) As áreas de instabilidade são geradas por nuvens de desenvolvimento
como altitude, latitude, continentalidade, maritimidade e vertical, por isso a previsão de pancadas de chuva.
C) As pancadas de chuva são típicas dos climas úmidos, muito
massas de ar, interfere na configuração de diferentes índices bem representados pelas regiões mencionadas no texto.
de temperatura, umidade e precipitação. D) O deslocamento da massa de ar tropical em direção a leste
Observe os climogramas a seguir. é que gera as áreas de instabilidade mencionadas no texto.
E) A massa de ar quente e úmida que se encontra sobre o
CLIMOGRAMA 1 estado do Mato Grosso do Sul corresponde à Massa Tropical
Continental, geradora de chuvas e pancadas.
mm ºC
400 40
04. (Uece/2019) Os tipos climáticos da Região Sul são controlados
por massas de ar tropicais e polares, fator que confere a esses
300 30

TEMPERATURA
PRECIPITAÇÃO

tipos de clima algumas características particulares em relação


a outros climas do Brasil, dentre as quais se encontra
200 20 A) a ocorrência das maiores chuvas anuais nos meses de julho
e agosto nas cidades de Curitiba e Florianópolis.
100 10 B) uma maior regularidade na distribuição pluviométrica anual
associada às baixas temperaturas no inverno.
0 0 C) a pequena variação térmica anual que mantém as
J MM J S N temperaturas sempre acima de 28 ºC.
MESES
D) a atuação da MEC e da ZCIT, principais elementos
atmosféricos na formação das chuvas nessa região.
CLIMOGRAMA 2
mm ºC 05. (UTFPR) “Nova frente fria trará chuva e frio para as regiões
400 40 produtoras do MS, PR, SC e RS neste fim de semana; as
temperaturas podem atingir os menores índices do ano”. Essa
300 30 manchete do dia 24 de maio de 2017, comum nos sites de
TEMPERATURA
PRECIPITAÇÃO

previsão do tempo, trata de um fenômeno típico do inverno


brasileiro e que afeta principalmente o Centro-Sul.
200 20 Assinale a alternativa que explica corretamente esse processo
meteorológico.
100 10 A) É o encontro da Massa Equatorial Atlântica e da Massa
Tropical Continental, que produz chuvas convectivas.
B) As barreiras orográficas da Serra do Mar direcionam as
0 0
J MM J S N massas úmidas dos polos, produzindo as chuvas de relevo.
MESES
C) O frio é causado pela massa polar de origem patagônica.
FERREIRA, Graça Maria Lemos. Moderno atlas geográfico.
Depois de sua passagem, o tempo fica úmido e ameno.
São Paulo: Moderna, 2008. p. 6. D) Envolve a chegada de uma massa de ar polar que se encontra
com o ar mais quente, produzindo chuvas frontais.
E) São chuvas causadas pela Zona de Convergência do Equador
A partir dos climogramas e das características climáticas
e pelo encontro dos ventos alísios na região Sul.
existentes no Brasil, é correto afirmar que
A) o Climograma 1 refere-se ao Clima Equatorial Úmido, que 06. (UFPel) O ar atmosférico está sempre em movimento, na
abrange a maior parte da Amazônia e apresenta temperaturas forma de massa de ar ou de vento. Se uma massa de ar possui
elevadas e chuvas bem distribuídas durante o ano. características particulares de temperatura e umidade, torna-se
B) o Climograma 2 diz respeito ao Clima Tropical Litorâneo importante para a determinação do tempo e do clima de uma
úmido, que predomina no Nordeste e apresenta elevadas área. Dependendo da estação do ano, as massas avançam para
temperaturas e precipitações pluviométricas irregulares. o território brasileiro ou recuam, o que vai determinar o clima.
C) o Climograma 1 refere-se ao Clima Tropical, que abrange Observe o mapa representativo da ação das massas de ar no
a região Centro-Oeste, caracterizando-se pelos elevados Brasil, no verão e no inverno.
índices de precipitação e baixas temperaturas. Brasil: massas de ar
D) o Climograma 2 diz respeito ao Clima Subtropical Úmido,
VERÃO INVERNO
que prevalece na região Sul, caracterizando-se pela
alísios de
irregularidade das chuvas e altas temperaturas. nordeste 2
2 Equador

03. (UFPR)”Nesta terça-feira (15/09/09), áreas de instabilidade que 1 1


se deslocam pelo norte da Argentina devem chegar ao Brasil
a partir da tarde e voltam a provocar pancadas de chuva no
oeste e norte do RS, no centro-oeste de SC, no oeste do PR e Trópico de
no sul de MS, onde tem-se uma massa de ar quente e úmida.” Capricórnio
3 3 4
O texto anterior refere-se à previsão do tempo para o dia 15/09/09, 4 alísios de
sudeste
5
realizada pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos N
0 1300
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Levando em km
consideração os dados apresentados, assinale a alternativa correta. SENE & MOREIRA, 1998.

Anual – Volume 3 181


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Com base nas informações dadas anteriormente e em seus 10. (UFSCar) A tropicalidade é um dos fatores que mais influenciam
conhecimentos, é correto afirmar que: no comportamento climático de áreas do território brasileiro.
A) a Massa Equatorial Continental (MEC) – indicada na figura A primeira coluna do quadro faz referência às características do
ambiente tropical, e a segunda coluna procura relacionar essas
pelo número 2 –, quente e úmida, com centro de origem na
características com sua manifestação e efeitos sobre o Brasil.
parte ocidental da Amazônia, domina, durante quase todo
o ano, a porção noroeste dessa região. CARACTERÍSTICAS EFEITOS NO BRASIL
B) a Massa Polar Atlântica (mPa) – indicada na figura pelo
Temperaturas superiores a
número 5 –, fria e seca, origina-se na depressão do Chaco e 18 ºC e diferenças sazonais Ocorre em cerca de 95% do
abrange uma área de atuação muito limitada, permanecendo, 1
marcadas, sobretudo, pelo território brasileiro.
durante quase todo o ano, em sua região de origem. regime de chuvas.
C) a Massa Tropical Continental (MTC) – indicada na figura pelo Registra-se desde o extremo
número 3 –, quente e úmida, originária do Oceano Atlântico, Amplitude térmica anual setentrional até o paralelo
nas imediações do Trópico de Capricórnio, exerce enorme 2
inferior a 6 ºC. de 20º de latitude Sul,
influência sobre o clima da parte litorânea do Brasil. aproximadamente.
D) a Massa Equatorial Atlântica (MEA) – indicada nas figuras Circulação atmosférica
pelo número 2 –, quente e úmida, domina a parte litorânea Afeta quase todo o país,
controlada pela Zona de
exceto onde a ação da
da Amazônia e do Nordeste, em alguns momentos do ano, Convergência Intertropical
3 frente polar é mais relevante,
e tem seu centro de origem no Oceano Atlântico. (ZCIT), baixas pressões
como ao sul do Trópico de
E) a Massa Tropical Atlântica (MTA) – indicada na figura pelo equatoriais, alísios e altas
Capricórnio.
pressões subtropicais.
número 4 –, fria e úmida, forma-se nas porções do Oceano
Atlântico próximas à Patagônia. Atua mais no inverno, Presença dos três tipos de
Cobertura vegetal que
quando entra no Brasil como uma frente fria, provocando cobertura: deserto quente
vai do deserto quente
4 (Caatinga); floresta ombrófila
chuvas e queda de temperatura. à floresta ombrófila,
(Mata Atlântica) e savanas
passando pela savana.
(Cerrado e Pantanal).
07. (UFAL) Uma parcela considerável do Sertão nordestino, ou seja,
Todas as bacias hidrográficas
de uma área submetida aos climas semi-áridos, apresenta um Regimes fluviais controlados
apresentam rios de regime
regime de chuvas convectivas, que se concentram no período 5 pelo comportamento da
exclusivamente pluvial, sobretudo,
verão-outono. Qual o sistema atmosférico que é o principal precipitação.
os da bacia amazônica.
responsável por esse regime pluviométrico?
A) Convergência do Atlântico Sul. As correlações corretas entre características e efeitos são:
A) 1, 2 e 3 B) 3, 4 e 5
B) Zona de Convergência Intertropical.
C) 1, 2 e 4 D) 2, 4 e 5
C) Ondas de Leste. E) 1, 3 e 5
D) Vórtices Anticiclônicos.

08. (Ufla) A relação entre a massa de ar atuante no Brasil e suas Fique de Olho
características está correta na alternativa:
A) Tropical Atlântica (fria/seca) – Atua com mais intensidade nas
regiões Sul e Sudeste. Provoca chuvas de inverno no litoral CHUVA DE GRANIZO ASSUSTA NO SERTÃO DO CEARÁ
do Nordeste e quedas de temperatura na Amazônia.
B) Equatorial Continental (quente/úmida) – Atua na Amazônia federicofoto/123RF/Easypix

Ocidental e nas demais regiões do Brasil (no verão),


provocando chuvas.
C) Tropical Continental (quente/úmida) – Atua principalmente
no litoral das regiões Norte e Nordeste, formando os ventos
alísios do nordeste.
D) Equatorial Atlântica (quente/seca) – Atua no litoral.
Caro aluno, o título não está errado, esse fenômeno ocorreu
09. (Fatec) A Olimpíada de 2016 terá como sede a cidade do Rio de em dezembro de 2014, em pleno interior do Ceará, nos municípios
Janeiro, mas também ocorrerá em Manaus (AM), que receberá de Tamboril, Umari, Ipueiras e Iguatu, e não é a primeira vez.
A queda de granizo, segundo a Funceme (Fundação Cearense de
seis jogos do torneio de futebol olímpico. Meteorologia e Recursos Hídricos), ocorre em virtude da pré-estação
As equipes de futebol que jogarão em Manaus encontrarão chuvosa. As nuvens tendem a se desenvolver mais verticalmente,
A) o mesmo clima da cidade do Rio de Janeiro, com amplitude diminuindo a temperatura interna, facilitando a formação de gelo.
térmica elevada e chuvas concentradas no inverno. • Assista ao vídeo da chuva de granizo no Ceará, com o link abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=ROkvjw2yYFA
B) o mesmo clima da cidade do Rio de Janeiro, com verões quentes
e secos e invernos chuvosos e curtos, porém rigorosos.
Seção Videoaula
C) um clima com verões quentes e secos e invernos rigorosos
e chuvosos, diferente do clima da cidade do Rio de Janeiro.
D) um clima com pequena amplitude térmica e chuvas
constantes o ano inteiro, diferente do clima da cidade do
Rio de Janeiro. Climas do Brasil
E) um clima com grande amplitude térmica, verões e invernos
quentes e secos, diferente do clima da cidade do Rio de Janeiro.

182 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Aula 14:

C-6 H-26, 27
Aula H-28, 29
Os Grandes Domínios de Vegetação no Brasil
14

49%
Amazônia
2%
Pantanal

2%
Pampa

13% 24% 10%


Mata Atlântica Caatinga
Cerrado

Introdução
A vegetação é o espelho do clima, portanto, o clima é o fator determinante da distribuição dos vegetais na superfície terrestre.
No Brasil, essa ideia pode ser comprovada relacionando-se os tipos de clima com os de vegetação.
O Brasil possui grande extensão territorial e também latitudinal, é uma área de 8.515.767,049 km2 “esparramada” nos dois
hemisférios, Hemisfério Norte (apenas 7% de seu território) e no Hemisfério Sul (93%). Essa realidade permite, ao Brasil, ostentar
uma diversidade climática e, consequentemente, favorecer a ocorrência de vegetações que vão da Floresta Amazônica à Caatinga.
O território brasileiro apresenta diversos tipos de florestas e vegetação arbustiva e herbácea. O número de espécies nativas de vegetais
existentes no Brasil é estimado em cerca de 56.000.
No Brasil, a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Mata de Araucárias e a Mata dos Cocais constituem as formações florestais.
Entre as formações arbustivas, destacam-se a Caatinga e o Cerrado e, entre as herbáceas, temos os Campos. (É bom lembrar que
tanto a Caatinga como o Cerrado são arbustivas, intercalando com herbáceas). Temos ainda na fitogeografia do Brasil, o Pantanal e a
vegetação litorânea.
As fortes atividades econômicas realizadas em detrimento das vegetações brasileiras colocam o Brasil na condição de país com
alto índice de desmatamento e outros tipos de degradações, que trazem problemas nas esferas ambiental e social. Uma realidade atual
que ratifica essa imagem negativa é o fato de que o Brasil já tem dois biomas considerados pela ONU como hotspots (não confundir
o termo aplicado à geomorfologia), isto é, área de elevada riqueza natural e de biodiversidade que se encontram ameaçadas. No caso
do Brasil, o Cerrado e a Mata atlântica.

ZONAS DA TERRA

Círculo
polar Ártico Zona polar 66º33’
do Norte
Trópico de Zona temperada 23º27’
Câncer do Norte

Zona Tropical
5º Norte
Equador 0º
A grande extensão latitudinal do
Brasil favorece a diversidade de
climas e paisagens.
Trópico de 33º Sul
Zona temperada 23º27’
Capricórnio
do Sul
Zona polar
Círculo polar do Sul 66º33’
Antártico

Anual – Volume 3 183


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Observe, no mapa a seguir, a fitogeografia do Brasil.

Formações florestais ou arbóreas


1 – Floresta Equatorial ou Amazônica
5 – Floresta Tropical ou Mata Atlântica Formações arbustivas e herbáceas
9 – Mata dos Pinhais 4 – Cerrado
8 – Mata dos Cocais (Área de transição) 2 – Caatinga
3 – Campos

7
1 8

2
7

6 7
Formações complexas e litorâneas
6 – Complexo do Pantanal
5 7 – Vegetação litorânea:
• Manguezais
• Vegetações de dunas
9
7
3
0 375 750 1.500
Km

Floresta Equatorial ou Amazônica

Carlos Edgar Soares Neto/123RF/Easypix

Maior floresta tropical do mundo, representa quase metade do território do país. É dona do maior estoque de vida animal e
vegetal, com um número incalculável de espécies. É uma floresta heterogênea, com milhares de espécies vegetais (muitas ainda sem
classificação), e perene, isto é, sempre verde, não perde as folhas no outono-inverno. É uma mata densa e intricada, onde as plantas
crescem bastante próximas umas das outras e são comuns as plantas parasitas.
A floresta abriga cerca de 2 500 espécies de árvores (um terço da madeira tropical do planeta) e quase 40 mil das 100 mil espécies
de plantas da América Latina.
A Floresta Amazônica se estende por oito países Sul-americanos: Brasil, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru
e Bolívia e mais a Guiana Francesa (França). Abrange nove estados brasileiros: Maranhão, Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre,
Rondônia, Mato Grosso e Tocantins.
Apesar de apresentar uma rica flora e fauna, em geral, o solo amazônico apresenta baixa fertilidade, reduzidos nutrientes, e a
maior parte desses nutrientes é produzida pela própria floresta.
Por baixo da floresta, uma fina camada de solo fértil orgânico (húmus) é, continuamente, renovada pela decomposição de folhas,
galhos e animais mortos, os quais são convertidos em nutrientes e reabsorvidos pelas raízes das plantas. A retirada da vegetação significa
alterar esse delicado equilíbrio e o empobrecimento dos solos em curto prazo.

184 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Sua vegetação é marcada por plantas ombrófilas, hidrófilas, latifoliadas e perenifólias e se apresenta em três patamares.
São eles:

N S
3 1
Mata de Mata de Depressão marginal
Planalto das Guianas Terra Firme Igapó sul-amazônica e planaltos
2
Nível das águas altas residuais sul-amazônicos
Serras Planalto Mata de (enchente)
norte-amazônico Várzea
Rio Amazonas

Solo sedimentar
Depósitos sedimentares recente de várzea
terciários de terra firme Sedimentos

1. Mata de Igapó: sua ocorrência é em terrenos próximos ao rio, constantemente alagados. São plantas aquáticas, permanentemente
inundadas, com presença de plantas epífitas; nesse patamar encontramos também plantas como as orquídeas, as bromélias,
a vitória-régia e outras.
2. Mata de Várzea: são plantas inundadas na época de cheia do rio, medem entre 25 a 30 m, como as seringueiras; solo fértil,
areno-argiloso e pouco desenvolvido, nutrido pelas cheias do rio, planta-se, na época do recuo da água do rio, a policultura de
produtos como arroz pela, agricultura de família.
Na época de cheias, o rio inunda uma área equivalente à da Inglaterra. Destacam-se a seringueira, a sumaúma e outras.
3. Mata de Terra Firme: cobre 80% da floresta; essas áreas não são atingidas pelas inundações. É o habitat da maior estrutura
vegetal da região. São as vegetações mais distantes do rio, portanto isentas de inundação, com plantas que podem atingir até
50 m, como a Castanha do Pará, a Maçaranduba, Mogno e Cedro, ocorrência do desmatamento em função da agricultura da soja
e do extrativismo vegetal.

A Floresta Amazônica tem um importante papel no ecossistema, ela é fundamental para a sustentabilidade climática do
globo. Por se tratar de uma verdadeira fábrica de umidade, a floresta atua como um ar-condicionado, ela refrigera e circula o
ar; eleva a umidade; eleva a pluviosidade; participa do ciclo hidrológico, sorvedor de CO2 (regulador térmico); participa do ciclo
do carbono e do ciclo do nitrogênio. Diante de toda essa importância ambiental, o uso não sustentável da floresta provoca uma
desordem no meio ambiente, as atividades econômicas, como o desmatamento, reduzem o verde e, com isso, vem os impactos,
como a redução do albedo; intensificação do CO2; intensificação do efeito estufa; redução da biodiversidade, redução da umidade;
redução das chuvas; as hidrelétricas inundam as matas que, apodrecidas, lançam um gás estufa mais poderoso do que o dióxido
de carbono, o metano.
Cerca de 20% da floresta já foi devastada, essa degradação é puxada por atividades econômicas, das quais destacamos:
• Expansão da pecuária bovina;
• Atividade das madeireiras, geralmente, atuando de forma clandestina;
• Garimpo;
• Agronegócios (formando o arco do desmatamento).

As consequências dessas atividades:


• Menor umidade do ar;
• Redução do volume de água dos rios que passam pela região;
• Menor evapotranspiração;
• Rebaixamento do nível do lençol freático;
• Poluição dos recursos hídricos;
• Assoreamento de rios;
• Redução do índice de albedo;
• Invasão de terras indígenas.

Economia de fronteira e Amazônia


Já no Brasil colônia, percebemos o fenômeno conhecido como “economia de fronteira”, que diz respeito às áreas que sofrem
avanços de ocupação de terras para realização de práticas econômicas, geralmente, agropecuária.
Na Amazônia, isto vem ocorrendo com mais intensidade, nas duas últimas décadas, nos processos de atividades agropecuárias
de mineração, que acabam ocasionando graves impactos ambientais e sociais, como a invasão de terras indígenas
Vale lembrar que, no século XVIII, as drogas do sertão foram uma atividade e, no século XIX, com a borracha, a Amazônia teve
um pequeno fluxo atrativo.

Anual – Volume 3 185


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Políticas de proteção à Leitura complementar
Amazônia A Mata Atlântica é formada por um conjunto de formações
No regime militar, a Amazônia recebera planos de ação florestais (Florestas Ombrófila Densa, Ombrófila Mista, Estacional
voltados para sua proteção. Esses planos, fizeram parte da bandeira Semidecidual, Estacional Decidual e Ombrófila Aberta) e
levantada na época: “Amazônia, integrar para não entregar”. ecossistemas associados, como as restingas, manguezais e campos
Era preciso garantir a soberania da Amazônia e era preciso construir de altitude, que se estendiam originalmente por, aproximadamente,
estradas para unir, física e economicamente, a região. 1.300.000 km2 em 17 estados do território brasileiro. Hoje, os
Políticas de monitoramento: remanescentes de vegetação nativa estão reduzidos a cerca de 22%
• Calha Norte; de sua cobertura original e encontram-se em diferentes estágios
• Radam; de regeneração. Apenas cerca de 7% estão bem conservados
• Sivam. em fragmentos acima de 100 hectares. Mesmo reduzida e muito
O projeto Sivam visava atingir uma ampla gama de fragmentada, estima-se que na Mata Atlântica existam cerca de
interesses, como: prospecção (pesquisa) de jazidas minerais, controle 20.000 espécies vegetais (cerca de 35% das espécies existentes
do desmatamento, planejamento urbano, zoneamento agrícola, no Brasil), incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de
monitoramento meteorológico, proteção às reservas indígenas, extinção. Essa riqueza é maior que a de alguns continentes (17.000
controle do tráfego aéreo nacional e internacional, combate ao espécies na América do Norte e 12.500 na Europa) e, por isso,
narcotráfico e combate ao garimpo ilegal. a região da Mata Atlântica é altamente prioritária para a conservação
da biodiversidade mundial. Em relação à fauna, os levantamentos
Floresta Tropical ou Mata Atlântica já realizados indicam que a Mata Atlântica abriga 849 espécies de
aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis, 270 de
Deyvid Setti e Eloy Olindo Setti CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation
mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes.
Além de ser uma das regiões mais ricas do mundo em
biodiversidade, tem importância vital para, aproximadamente,
120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio, onde são
gerados, aproximadamente, 70% do PIB brasileiro, prestando
importantíssimos serviços ambientais. Regula o fluxo dos mananciais
hídricos, assegura a fertilidade do solo, suas paisagens oferecem
belezas cênicas, controla o equilíbrio climático e protege escarpas
e encostas das serras, além de preservar um patrimônio histórico
e cultural imenso. Neste contexto, as áreas protegidas, como as
Unidades de Conservação e as Terras Indígenas, são fundamentais
para a manutenção de amostras representativas e viáveis da
diversidade biológica e cultural da Mata Atlântica.
A cobertura de áreas protegidas na Mata Atlântica avançou
expressivamente ao longo dos últimos anos com a contribuição dos
governos federais, estaduais e, mais recentemente, dos governos
municipais e iniciativa privada. No entanto, a maior parte dos
remanescentes de vegetação nativa ainda permanece sem proteção.
Assim, além do investimento na ampliação e consolidação da rede de
A Floresta Tropical ou Pluvial apresenta características
áreas protegidas, as estratégias para a conservação da biodiversidade
semelhantes às da Amazônia: é ombrófila, hidrófila, latifoliada e
visam contemplar, também, formas inovadoras de incentivos para
perenifólia; abriga uma das mais ricas biodiversidades de plantas
a conservação e uso sustentável da biodiversidade, tais como a
do planeta; contém alto grau de endemismo; é uma formação
promoção da recuperação de áreas degradadas e do uso sustentável
bastante heterogênea devido à variação da latitude e da altitude.
da vegetação nativa, bem como o incentivo ao pagamento pelos
70% da população brasileira reside nessa região, onde
serviços ambientais prestados pela Mata Atlântica. Cabe enfatizar
se localiza a maior parte das capitais brasileiras, e é exatamente
que um importante instrumento para a conservação e recuperação
em função dessa ocupação populacional e industrial que a Mata
ambiental na Mata Atlântica foi a aprovação da Lei 11.428, de 2006,
Atlântica vai ganhar o infeliz título de “bioma mais agredido pelo
e o Decreto 6.660/2008, que regulamentou a referida lei.
homem”, restando, hoje, apenas resquícios seus no Nordeste e
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas/mata-atlantica>.
uma presença mais latente nas vertentes da Serra do Mar e Serra
da Mantiqueira. Essa floresta já esteve presente de ponta a ponta
no litoral brasileiro e hoje é uma relíquia no Nordeste, aparecendo Floresta Subtropical ou Mata de Araucárias
só em forma de manchas, e mais no litoral do Sudeste.
Os agressores da Mata Atlântica têm nome: nos séculos XVII,
Deyvid Setti e Eloy Olindo Setti/Wikimedia Foundation

a cana-de-açúcar; XVIII, a mineração; XIX/XX, o café; e séculos XX/


XXI, urbanização, industrialização e vias de integração.
Ecossistemas do bioma da Mata Atlântica definidos pelo
CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente):
• Floresta Ombrófila Densa;
• Floresta Ombrófila Aberta;
• Floresta Ombrófila Mista;
• Floresta Estacional Decidual;
• Floresta Estacional Semidecidual;
• Mangues;
• Restingas.

186 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Também conhecida como Mata dos Pinhais, esse bioma prepondera no Planalto Meridional, presente nos estados da região Sul,
como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e aparece também em algumas áreas altas de São Paulo e Minas Gerais.
Ao contrário da Floresta Amazônica, constitui uma formação mais aberta e homogênea, plantas ombrófilas, acicufoliadas e perenifólias.
Essa formação encontra-se também em um alto grau de exploração, em função do extrativismo de sua madeira para a indústria
de papel e celulose e da agricultura de grãos, por ter, nessa região, um dos solos mais férteis do Brasil – a terra roxa.
Atualmente, restam menos de 3% de sua área original. A extração de madeira para móveis e papel, sem reposição de árvores;
as queimadas, para a formação de pastos para a pecuária; a agricultura (soja, trigo e milho); e a instalação de indústrias são atividades
que levaram a floresta quase à extinção.

Mata dos Cocais

Rafael Drake/Wikimedia Foundation


Considerada uma zona de transição entre terras úmidas da Amazônia e terras semiáridas do Nordeste, a Mata dos Cocais é uma
paisagem que abrange, predominantemente, o Meio-Norte (uma das quatro sub-regiões do Nordeste onde se inserem o Maranhão e
o Piauí) e está presente também nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Tocantins.
A região é palco de exploração desde o período colonial, a partir do extrativismo de óleo de babaçu e da cera de carnaúba.
Atualmente, a região do Meio-Norte vem sendo desmatada pelo cultivo de grãos voltados para a exportação, com destaque para a soja.
Os carnaubais e os babaçuais são vistos, geralmente, acompanhando os vales dos rios, devido à existência de maior conteúdo
de umidade nessas áreas.
A carnaúba é mais produtiva no Piauí, o babaçu é bem pronunciado no Maranhão. O extrativismo é uma atividade econômica
bem latente, pois da carnaúba se aproveita quase tudo: a madeira; as raízes para obtenção de compostos medicinais; o fruto, que serve
de alimento para o gado; as folhas, com as quais são feitas redes e esteiras; a semente, da qual se produz óleo de cozinha; e a cera, sua
principal riqueza extraída da camada superficial da folha.
O babaçu é usado na produção de óleos obtidos a partir da amêndoa, da qual também se faz o sabão, lubrificantes e combustível.
O caule é usado para a estrutura em construções de casas e fabricação de adubo; das folhas são feitos cestos e esteiras.

Formações arbustivas e herbáceas


Cerrado
Esse bioma ostenta a segunda posição em tamanho, ocupando cerca de 24% do território brasileiro, superado apenas pela Floresta
Amazônica. Predomina nos chapadões do Planalto Central e aparece também em outras regiões, pois, além dos chapadões do Centro-Oeste,
podem ser vistas manchas dessa formação em alguns estados da região Norte, como em Roraima, Amapá e Amazonas; na região Sudeste,
como em Minas Gerais (porção oeste); e na região Nordeste, como no oeste da Bahia, porção sul dos estados de Maranhão e Piauí e algumas
manchas no Ceará.
Formações arbustivas intercaladas com herbáceas, são plantas tropófilas (adaptadas à variação de umidade), apresentam
xeromorfismo (apresenta características de plantas xerófilas), galhos e troncos tortuosos em função da acidez do solo, casca lenhosa –
essa casca lenhosa é um mecanismo de defesa das queimadas naturais e antrópicas, pois a casca funciona como um isolante térmico.
O cerrado é considerado um peso pesado na produção agrícola, milhões de hectares são destinados à lavoura e à pecuária,
realidade essa que motiva o desmatamento desse bioma.
Conrado CC BY-SA 2.5/Wikimedia Foundation

Anual – Volume 3 187


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
região. Nas três últimas décadas, o Cerrado vem sendo degradado
Se liga! pela expansão da fronteira agrícola brasileira. Além disso, o bioma
• Umidade atmosférica: é a presença do vapor de água na Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de
atmosfera. seu material lenhoso para produção de carvão.
• Umidade absoluta: é quantidade de vapor de água Apesar do reconhecimento de sua importância biológica,
existente na atmosfera em um dado momento (quando a de todos os hotspots mundiais, o Cerrado é o que possui a menor
atmosfera recebe a quantidade limite de vapor de água, porcentagem de áreas sob proteção integral. O Bioma apresenta
dizemos que foi atingido o ponto de saturação). 8,21% de seu território legalmente protegido por unidades de
• Umidade relativa: é a relação entre a umidade absoluta conservação; desse total, 2,85% são unidades de conservação de
do ar e seu ponto de saturação, isto é, é a relação entre proteção integral e 5,36% são unidades de conservação de uso
o conteúdo de vapor de água existente na atmosfera sustentável, incluindo RPPNs (0,07%).
no dado momento e o conteúdo total que ela pode ter. Disponível em: <http://www.ebc.com.br>.
Por exemplo, se a umidade absoluta e o ponto de saturação
forem, de 10 g e 20 g, respectivamente, a umidade relativa Caatinga
será de 50%. A atmosfera estará saturada apenas quando
a umidade relativa atingir 100%. Nesse caso, ocorrerá

Glauco Umbelino CC BY-SA 2.0/Wikimedia Foundation


precipitação.

Leitura complementar
Considerado como um hotspot mundial de biodiversidade,
o Cerrado apresenta extrema abundância de espécies endêmicas
e sofre uma excepcional perda de habitat. Do ponto de vista da
diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a
savana mais rica do mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas
nativas já catalogadas. Existe uma grande diversidade de habitats,
que determinam uma notável alternância de espécies entre
diferentes fitofisionomias. Cerca de 199 espécies de mamíferos são
conhecidas, e a rica avifauna compreende cerca de 837 espécies.
A Caatinga é uma área de, aproximadamente, 800.000
Os números de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies)
quilômetros quadrados, localizada na Região Nordeste do Brasil.
e anfíbios (150 espécies) são elevados. O número de peixes
endêmicos não é conhecido, porém os valores são bastante Abrange os Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e
altos para anfíbios e répteis: 28% e 17%, respectivamente. De Paraíba, além de algumas áreas da Bahia, Alagoas, Pernambuco e
acordo com estimativas recentes, o Cerrado é o refúgio de 13% Sergipe. Localiza-se entre a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica
das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins dos trópicos. e o Cerrado.
Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande As temperaturas, em geral, são altas e as chuvas são
importância social. Muitas populações sobrevivem de seus escassas, concentradas principalmente nos meses de verão. Os solos
recursos naturais, incluindo etnias indígenas, quilombolas, são pedregosos e secos, ocasionando uma rápida evaporação das
geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros e comunidades águas. Os rios e cursos d´água, na sua maioria, são intermitentes,
quilombolas que, juntas, fazem parte do patrimônio histórico e ou seja, secam por um período de sete a nove meses do ano e
cultural brasileiro, e detêm um conhecimento tradicional de sua reaparecem na época de chuva. Quando chove, a paisagem muda
biodiversidade. Mais de 220 espécies têm uso medicinal e mais rapidamente. As árvores cobrem-se de folhas e o solo fica forrado
416 podem ser usadas na recuperação de solos degradados, de pequenas plantas.
como barreiras contra o vento, proteção contra a erosão, ou Há várias fisionomias de Caatinga, desde a florestal até a
para criar habitat de predadores naturais de pragas. Mais de
herbácea, passando pela Caatinga arbustiva.
10 tipos de frutos comestíveis são regularmente consumidos
A biodiversidade de flora é média, e a vegetação em geral
pela população local e vendidos nos centros urbanos, como os
é xerofítica, ou seja, adaptada à escassez periódica da água, como
frutos do pequi (Caryocar brasiliense), buriti (Mauritia flexuosa),
no Cerrado. O endemismo nas plantas superiores chega a 30%.
Mangaba (Hancornia speciosa), cagaita (Eugenia dysenterica),
bacupari (Salacia crassifolia), cajuzinho-do-cerrado (Anacardium A fauna, por sua vez, é relativamente pobre se comparada a outros
humile), araticum (Annona crassifolia) e as sementes do baru biomas. Os animais aproveitam o período de chuvas para reprodução
(Dipteryx alata). e engorda.
Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm Não se sabe ainda a importância do impacto humano na
risco de extinção. Estima-se que 20% das espécies nativas e Caatinga. Estima-se que entre 30 e 50% da região já foi alterada
endêmicas já não ocorram em áreas protegidas e que pelo menos pelo homem, e o restante do bioma é bastante fragmentado.
137 espécies de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas É uma região pouco estudada e pouco habitada, com projetos
de extinção. Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma de desenvolvimento falidos e abandonados. As unidades de
brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana. conservação são poucas, espalhadas e cobrem uma pequena área
Com a crescente pressão para a abertura de novas áreas, visando territorial, tornando a Caatinga o bioma de menor área protegida
incrementar a produção de carne e grãos para exportação, tem entre os biomas brasileiros.
havido um progressivo esgotamento dos recursos naturais da

188 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Características:
• Folhas pequenas, que contêm cera ou espinhos para impedir a Desertificação

Parin Kiratiatthakun/123RF/Easypix
evaporação;
• Formações arbustivas intercaladas com cactáceas;
• Vegetação lenhosa, xerófila, raiz profunda, casca espessa no
caule (para respiração);
• Vida latente (maior biodiversidade entre os climas semiáridos);
• As plantas e os animais apresentam condições específicas que lhes
permitem viver nessas condições desfavoráveis, fato que faz dessa
região ter bastante endemismo (tanto da flora como da fauna),
plantas e animais que ocorrem naturalmente somente nessa região;
• Formações arbustivas intercaladas com cactáceas (cactos que têm A desertificação é a degradação dos solos em regiões de
capacidade fisiológica de armazenar água), vegetação lenhosa, baixa pluviosidade, onde a evaporação supera a precipitação,
xerófila, raiz profunda, geralmente as folhas pequenas possuem isto é, em regiões de clima árido ou semiárido.
uma cera e espinhos para impedir a evaporação. A vegetação pode
ser formada por três estratos: o arbóreo, com árvores de 8 a 12 m de
altura; o arbustivo, com vegetação de 2 a 5 metros; e o herbáceo, Leitura complementar
com a vegetação abaixo de 2 metros. Entre as espécies mais comuns,
As representações sobre o bioma Caatinga, no semiárido
estão: umbuzeiro, mandacaru e amburana. Algumas dessas plantas
brasileiro, são, geralmente, marcadas por preconceitos, além de
podem produzir cera, óleo vegetal, fibra e, principalmente, frutas.
serem extremamente superficiais. A nossa sociobiodiversidade é
tratada como homogênea, quando possui um número significativo
Processo de desertificação de paisagens singulares.
A Caatinga é o único bioma totalmente brasileiro e, até hoje,
Definida como sendo a perda total ou redução do potencial
não foi considerada patrimônio nacional como é a Amazônia e a
biológico da terra, a desertificação tem causas relacionadas a
Mata Atlântica, como consta na Constituição Federal, que também
condições naturais (desertização) e à ação antrópica (desertificação),
excetua o Cerrado. Incrível como as lutas (PEC 123/2003 e PEC
que podem ocorrer de forma separada ou simultaneamente.
504/2010) para que isso se efetive no Brasil esbarram no destrutivo
Entre as causas humanas, estão: o desmatamento, as
e silencioso sentido de se tratar a Caatinga como um lugar inóspito
queimadas, o uso inadequado do solo, entre outras.
e pobre. O próprio site do Ministério do Meio Ambiente refere-se
No processo de desertificação, há um desequilíbrio entre
a “um agrupamento de pessoas carentes”.
a quantidade de água perdida por evaporação e escoamento e
Tentam fazer acreditar que a Caatinga é um bioma pobre
a proveniente das precipitações. Isso pode levar à redução da
em espécies e endemismos. Mas, mesmo sendo a região menos
formação vegetal preexistente e ao consequente comprometimento
pesquisada do Brasil, já foram identificadas em torno de 178
da fauna, com reflexos, portanto, em toda a biodiversidade.
espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies
A perda de vegetação e de matéria orgânica, no solo, nos
de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas. Segundo Giullieti, na
processos de desertificação, desprende carbono, que, por sua vez,
Caatinga já foram identificadas mais de 5.344 espécies de plantas
contribui para o aquecimento global.
que produzem flores e sementes (fanerógamas), caracterizando-se
No caso brasileiro, as áreas suscetíveis aos processos de
como local de rica biodiversidade.
desertificação atingem, aproximadamente, 1.340.000 km2, dos
A região é a mais diversa do mundo, considerando as condições
quais 180.000 km já estão em situação grave ou muito grave,
2
de clima e solo semelhantes. Suas florestas e outras áreas naturais
principalmente, o Nordeste, mas abrangem também trechos do
representam 12% do território nacional, abrangendo os estados do
Norte (Tocantins) e do Sudeste (norte de Minas Gerais). E também,
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
devemos contar com a área afetada pelo processo de arenização
Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais. Sua rica biodiversidade confere
no Rio Grande do Sul.
valores biológicos e econômicos significativos para o Brasil, fazendo
da Caatinga, hoje com cerca de 28 milhões de habitantes, um bioma
A saber! prioritário para a conservação na América Latina.
Entenda a diferença entre desertificação e arenização: Não há consenso quanto ao tamanho e caracterização
Arenização do bioma Caatinga. De forma genérica, quando nos referimos
a ela, tratamos do tipo de vegetação que cobre boa parte da
RELEVO AÇÃO HUMANA
área, com clima semiárido na região Nordeste. Hoje, o sentido
CHUVAS
que atribuímos à Caatinga ultrapassa a noção de uma formação
CONSEQUÊNCIA
E VENTO vegetal especificamente. Ela é sinônimo de Nordeste (dimensão
Dep sociocultural) e de semiárido (dimensão climática).
o
Sed sição d B a De origem indígena, Caatinga significa “mata”, “floresta
ime e nco
ntos de a
reia branca”, certamente, em decorrência da sua extraordinária
capacidade de resistir a períodos de longas estiagens, protegendo-se
N TES E P OIS das adversidades climáticas quentes, ficando com um aspecto
A DEPOIS
D
esbranquiçado, como as árvores e outros organismos fazem em
áreas geladas. Em outros períodos, volta a ficar totalmente verde.
Conhecida também como processo de formação de bancos Parte da Caatinga é cortada pelo Velho Chico, um oásis que
de areia, a arenização se dá pela retirada da cobertura vegetal abriga mais de 17 milhões de pessoas e que agoniza, sobretudo,
em solos arenosos, em regiões de clima úmido, com regime de pela visível morte do Cerrado, de onde vem seus principais volumes
chuvas constantes, como é o caso do Rio Grande do Sul (nos de água. O Vale do São Francisco é um grande polo da fruticultura
Pampas). irrigada. Além da produção de frutas e verduras, hoje sua produção
de bons vinhos já é reconhecida mundialmente.

Anual – Volume 3 189


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Sua biodiversidade sustenta várias atividades econômicas, Nas áreas de campo natural, também se destacam as
quer para fins industriais (fármacos, alimentos e cosméticos), espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies), como a
quer para atividades agrosilvopastoris, destacando-se a criação de babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas
caprinos e ovinos, além de alguns espaços de produção bovina. de afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies
Essa região do Brasil constitui-se, também, como importante fonte de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa, vale
de extração mineral e de produção de energia. destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia
As atividades extrativistas entre as comunidades locais farnesiana), arbustos cujos remanescentes podem ser encontrados
se estabelecem como base da renda de centenas de famílias apenas no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra
sertanejas. Na Caatinga também estão tesouros paleontológicos e do Quaraí.
arqueológicos. Apesar de toda essa importância, mais da metade A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves,
da Caatinga já foi destruída. dentre elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus
Mais da metade da Caatinga está em solos rasos, cristalinos, rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus
onde se observa uma cobertura vegetal antiga que, se desmatada, chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-
considerando as visíveis alterações climáticas, raramente se -de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus)
recuperará, consequentemente, toda a região está susceptível aos e o pica-pau-do-campo (Colaptes campestres). Também ocorrem
intensos processos de desertificação. Segundo o Ministério do mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-
Meio Ambiente, o desmatamento na Caatinga já atingiu 46% da -campeiro (Ozotoceros bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex
área do bioma, decorrente da extração de lenha nativa de forma gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis
ilegal e insustentável, além da estruturação de pastagens e modos cuja), o tatu-mulita (Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e
inadequados de agricultura. Para agravar ainda mais essa situação, várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga
pouco mais de 1% dela está em unidades de proteção integral. um ecossistema muito rico, com muitas espécies endêmicas,
Texto da revista Carta Capital. Disponível em: <http://www.cartaeducacao.com.br>. tais como: tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-
-barba-azul (Heliomaster furcifer), o sapinho-de-barriga-vermelha
(Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas de extinção,
Campos tais como: o veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-
pantanal (Blastocerus dichotomus), o caboclinho-de-barriga-verde
Wikimedia Foundation

(Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus)


(Brasil, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de
importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a maior
parte do aquífero Guarani.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os
campos nativos tem sido a principal atividade econômica da região.
Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem
permitido a conservação dos campos e ensejado o desenvolvimento
de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional,
representada pela figura do gaúcho.
A progressiva introdução e expansão das monoculturas
e das pastagens com espécies exóticas tem levado a uma rápida
degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa.
Essa formação herbácea, que lembra um tapete graminoso Estimativas de perda de habitat dão conta de que em 2002 restavam
e os estepes da Europa, recebe o nome de Pampas, ocupa o 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa
extremo sul do Brasil, estende-se pela Argentina e Uruguai. do bioma Pampa (CSR/IBAMA, 2010).
Sua degradação está ligada ao cultivo de grãos e à pecuária
Disponível em: <http://www.ebc.com.br>.
extensiva. O pisoteamento do gado e o peso das máquinas
favorecem para a compactação do solo.
Pantanal
Leitura Complementar
Wilson Brito7 CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation

O Pampa está restrito ao estado do Rio Grande do Sul, onde


ocupa uma área de 176.496 km² (IBGE, 2004). Isto corresponde
a 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro.
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies,
de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um imenso patrimônio
cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa
se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também
a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos etc.
Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa
apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade ainda não
completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores O Pantanal é uma grande planície alagável, localizada na
em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de região Centro-Oeste dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do
gramíneas, são mais de 450 espécies (campim-forquilha, grama- Sul (está no centro da América do Sul e se estende pela Argentina,
-tapete, flechilhas, brabas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre Bolívia e Paraguai). É a maior área alagada da América do Sul e
outras). do mundo.

190 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Ao contrário do que alguns possam pensar, o Pantanal não é O bioma Pantanal mantém 86,77% de sua cobertura
somente pântano, ele é também uma planura (lugar plano), coberto vegetal nativa. A vegetação não florestal (savana [cerrado],
de verde, sentado em uma área de 240 mil km2 que presencia a savana estéptica [chaco], formações pioneiras e áreas
ocorrência de florestas e campos (o que predomina). Da sua porção de tensão ecológica ou contatos florísticos [ecótonos e
Norte (MT), chamada Pantanal Amazônico, até a porção Sul (MS), encraves]) é predominante em 81,70% do bioma. Desses,
chamada Pantanal Maior, são 650 km de comprimento ao longo 52,60% são cobertos por savana (cerrado) e 17,60% são
dos quais a vegetação se transforma, primeiro, em selva fechada, ocupados por áreas de transição ecológica ou ecótonos.
depois, em cerrado e, mais ao sul, dá lugar a um imenso mato ralo, Os tipos de vegetação florestal (floresta estacional semi-decidual
que lembra os campos. e floresta estacional decidual) representam 5,07% do Pantanal.
A geomorfologia e a hidrografia fazem do Pantanal a A maior parte dos 11,54% do bioma alterados por ação
maior planície interiorana inundável do mundo, pois é cercado por antrópica é utilizada para a criação extensiva de gado em pastos
elevações e essas elevações vão captar a água da chuva e convergir
plantados (10,92%); apenas 0,26% é usado para a lavoura.
para o pantanal (ao Norte – Chapada dos Parecis, ao Sul – Serra
Uma característica interessante desse bioma é que muitas
da Bodoqueira, ao Leste – Planalto Central e ao Oeste – a Bolívia).
espécies ameaçadas em outras regiões do Brasil persistem em
Esse cenário atrai para o Pantanal uma malha de rios que
populações avantajadas na região, como é o caso do tuiuiú
vão se “esparramar” sobre o Rio Paraguai, favorecendo, assim,
o transbordamento nas cheias do Rio Paraguai e, consequentemente, – ave símbolo do Pantanal. Estudos indicam que o bioma
inundação de cerca de 78% da área do Pantanal. abriga os seguintes números de espécies catalogadas: 263
Essas cheias (março, abril e maio) geraram uma relação de espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de
dependência da flora e da fauna, isso se deve ao fato de que as répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos,
cheias servem para reciclagem biológica, reciclagem do solo, pois sendo 2 endêmicas. Segundo a Embrapa Pantanal, quase duas
ela enriquece de nutrientes o solo, que depois servirá de pastagem mil espécies de plantas já foram identificadas no bioma e
para o gado. É bom destacar que nesse período ocorre o refúgio classificadas de acordo com seu potencial, e algumas apresentam
do gado; os gados vão ser conduzidos para as áreas mais altas, que vigoroso potencial medicinal.
servirão como uma espécie de ilha e lá, o gado permanece até a Apesar de sua beleza natural exuberante, o bioma vem
época de vazante (junho, julho e agosto). sendo muito impactado pela ação humana, principalmente pela
O Pantanal também possui grande biodiversidade, atividade agropecuária, especialmente nas áreas de planalto
totalmente adaptada às mudanças entre os períodos alagados e adjacentes ao do bioma.
secos, com fartura de vegetação e fauna aquática. Entretanto, Assim como a fauna e flora da região são admiráveis,
é a densidade da fauna que chama a atenção, especialmente, na há de se destacar a rica presença das comunidades tradicionais,
época seca, quando se aglomeram próximos às lagoas. O número de como as indígenas, quilombolas, os coletores de iscas ao longo do
espécies endêmicas, porém, é baixo, não ultrapassando 5% do total. Rio Paraguai, comunidade Amolar e Paraguai Mirim, dentre outras.
O difícil acesso à região protegeu-a de um grande impacto No decorrer dos anos, essas comunidades influenciaram diretamente
humano. A pecuária é forte, porém não é considerada prejudicial. na formação cultural da população pantaneira.
Os maiores problemas são a pesca e caça predatória, o tráfico de
Disponível em: <http://www.ebc.com.br/>.
animais silvestres e a poluição das águas dos rios que deságuam
na região. O potencial de crescimento para o turismo ecológico é
enorme. Vegetações litorâneas
Existem parques, estações ecológicas e algumas reservas
particulares em toda a região. A UNESCO também já declarou o Manguezais
Pantanal como “Reserva da Biosfera”:
• É considerada a síntese da vegetação brasileira; Características
• Típica planície brasileira, a maior planície inundável do mundo,

The Photographer CC0/Wikimedia Foundation


formada na era Cenozoica, período quaternário;
• Variação climática graças à ação de diversas massas;
• Seca: adubo e ocorre queimada (cinzas NPK);
• Cheia: necessária para a reciclagem do solo;
• Impactos ambientais: pecuária extensiva, extração da madeira,
pesca predatória, mineração (mercúrio contamina a água),
navegação, lixo urbano.

Leitura complementar
O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões
úmidas contínuas do planeta. Este bioma continental é considerado
o de menor extensão territorial no Brasil, entretanto, este dado
em nada desmerece a exuberante riqueza que o referente bioma • Planície flúvio-marinha(formação quaternária), área onde a
abriga. A sua área aproximada é 150.355 km², ocupando assim água do rio se encontra com a água do mar, configurando um
1,76% da área total do território brasileiro. Em seu espaço territorial ambiente Ecótono;
o bioma, que é uma planície aluvial, é influenciado por rios que • Formação vulnerável, frágil e homogênea;
drenam a bacia do Alto Paraguai. O Pantanal sofre influência direta • Formações arbóreas e arbustivas, latifoliadas, higrófilas,
de três importantes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata perenifólias, halófitas, pneumatófilas;
Atlântica. Além disso, sofre influência do bioma Chaco (nome dado • Rica biodiversidade (mais da fauna do que da flora);
ao Pantanal localizado no norte do Paraguai e leste da Bolívia). • Berçário ecológico;

Anual – Volume 3 191


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
• Elevada produção de SO2 e CH4;
6.344.800 ha (7,5% da área
• Grande sorvedor de CO2 (grande capacidade fotossintética) Caatinga 46,6%
do bioma)
– regulador térmico;
• Elevada umidade;
• Problemas ambientais: 694.700 ha (4,6% da área
Pantanal 15,4%
– Especulação imobiliária; do bioma)
– Pesca predatória;
– Carcinicultura; 113.630.400 ha (27,1% da
Amazônia 15,04%
– Vias de integração (costa mangue). área do bioma)
Disponível em: <http://www.florestal.gov.br>.
Vegetação de dunas
Observações:

Mariordo CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation


As unidades de conservação são divididas em dois grupos:
Unidades de Proteção Integral e Unidade de Uso Sustentável.
Atente:
Mesmo reconhecido por sua importância biológica, de
todos os hotspots do mundo, o Cerrado é o que apresenta
a menor porcentagem de áreas sob proteção: 8,21% de seu
território é legalmente protegido por unidades de conservação,
dos quais, apenas 2,85% são unidades de conservação de
proteção integral e 5,36% são unidades de conservação de uso
sustentável.
A Caatinga é um dos menos protegidos do país, pois
pouco mais de 1% destas unidades são de Proteção Integral,
A vegetação das praias e dunas pode estar presente, ademais, grande parte das unidades de conservação do bioma,
praticamente, ao longo de toda a costa brasileira, e é marcada especialmente as áreas de Proteção Ambiental (APAS), têm baixo
pela ocorrência de plantas herbáceas e arbustivas. As pressões nível de implementação.
antrópicas, no sentido de ocupação e urbanização da zona costeira, O Pampa é o bioma menos protegido, com uma grande
já reduziram muitas áreas representativas desta formação em vários lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação
pontos do litoral brasileiro. nativa e de espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora.
São necessárias ações para combater a extinção, ações que vão
Biomas e sustentabilidade da fiscalização à criação de corredores ecológicos.
A área devastada da Mata Atlântica caiu nos últimos anos.
Embora seja o bioma mais devastado do país, a Mata Atlântica teve
uma leve recuperação em termos de área preservada entre 2010 e
2012, segundo dados do estudo Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável (IDS) 2015. A área desmatada caiu de 88% para 85% no Exercícios de Fixação
período. Mesmo com esse cenário, dos 1,3 milhão de km originais,
2

restam apenas 14,5%.


As causas dessa redução estão ligadas ao reflorestamento 01. (CPS/2016) O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos define
(silvicultura) feito nesse território e até mesmo a recuperação natural. o solo da Caatinga como pouco profundo, pedregoso, rico em
A pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de minerais, mas pobre em matéria orgânica e que dificilmente
Geografia e Estatística) mostra que o Cerrado, segundo maior armazena as águas das chuvas. Os afloramentos rochosos
bioma do país, teve 49% de área desmatada até 2010, enquanto existentes se tornam uma característica comum na Caatinga
a Caatinga, até 2009, teve uma perda de 46%, o Pampa, bioma
que, associada aos solos rasos, propicia as condições ideais
restrito a um único estado (Rio Grande do Sul), teve 54% de
para a vegetação, que cresce nas pedras, em fissuras ou em
sua cobertura vegetal desmatada até 2010, já no Pantanal,
o percentual foi de 15%, o mesmo percentual de desmatamento depressões onde há acúmulo de areia, pedregulhos e outros
da Amazônia Legal. detritos.

Área Área protegida em A vegetação típica encontrada no solo descrito caracteriza-se


Bioma por apresentar
desmatada unidade de conservação
A) raízes superficiais para facilitar a sua fixação.
11.064.900 ha (10% da área B) folhas grandes e membranáceas para facilitar a realização
Mata Atlântica 85,5%
do bioma) da fotossíntese.
C) raízes respiratórias denominadas pneumatóforos, para
486.500 ha (2,7% da área obtenção do gás oxigênio.
Pampa 54,2%
do bioma) D) folhas pequenas e modificadas em espinhos para evitar a
transpiração excessiva.
17.460.400 ha (8,2% da área
Cerrado 49,1% E) árvores altas, com folhas grandes, sempre verdes e com
do bioma)
extremidades afiladas em goteira.

192 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
02. (Fuvest/2017) D) A região do Pantanal tem sido amplamente explorada pelos
cultivos de soja, trigo e pela criação intensiva de gado bovino.
Devido às suas elevadas altitudes, grandes quantidades de
O Povo no Campo de Concentração

Reprodução Fuvest/2017
agrotóxicos aplicados na região se deslocam para as áreas

dos Flagelados, em Tauápe de chapadas do Cerrado Brasileiro.


E) A conservação ambiental do Pantanal atende aos diferentes
interesses dos governos do Brasil, Argentina, Paraguai e
Chegaram, à noite, mais 1349 retirantes
O Serviço de Abastecimento - - Construção de Barracas
Uruguai, países que compartilham esse rico ecossistema.
-- Cenas impressionantes Contudo, a facilidade de acesso e de ocupação com
Fez hontem uma semana que chegou a
atividades agropecuárias tradicionais tem contribuído para
Visita ao Campo de Concentração
Fortaleza a primeira leva de flagelados
do Matadouro a degradação desse ambiente.
vindos do sul do Estado e já hoje se acham
abrigados na antiga feira do Matadouro Hoje, às 10 horas do dia, o diretor do O
Modelo e nos albergues de Otavio Bomfim e POVO, acompanhando o dr. Ubirajara de
Polícia Marítima cerca de 3000 infelizes Negreiros, percorreu demoradamente a 04. (Enem) Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva
antiga feira do Matadouro Modelo, no
vítimas da sêca.
Tauápe, onde se acham concentrados mais de
que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o
Hontem chegaram a esta capital duas
composições ferroviarias trazendo retirantes. dois mil retirantes. [...] desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras
[...]
francas. Ao passo que a outra o afoga; abrevia-lhe o olhar;
agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não
Jornal o Povo, Fortaleza, edição de 16/04/1932. o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com
os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente
Em 1932, o Estado Brasileiro instalou campos de concentração léguas e léguas, imutável no aspecto desolado; árvore sem
de flagelados no Ceará, desde a região do Cariri até Fortaleza, folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados
destinados a isolar os retirantes que saíam do interior. No total, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos
esses campos chegaram a concentrar mais de 73 mil pessoas
pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora
vivendo sob condições precárias.
agonizante…
Sobre o tema das secas no Nordeste, é correto afirmar que
A) o chamado “Polígono das Secas”, abrangendo a Zona Cunha. E. Os sertões. Disponível em: <http://pt. scribd.com>.

da Mata, desde a Bahia até o Maranhão, foi oficialmente Acesso em: 2 jun. 2012.

demarcado nos anos 1930, no contexto da grande seca.


B) grandes levas de retirantes flagelados do Ceará saíam do Os elementos da paisagem descritos no texto correspondem a
sertão e se direcionavam ao agreste nordestino, em busca de aspectos biogeográficos presentes na
trabalho nos canaviais, ou às capitais do Sudeste, à procura A) composição de vegetação xerófila.
de emprego no comércio. B) formação de florestas latifoliadas.
C) o projeto de transposição de águas do Rio São Francisco, C) transição para mata de grande porte.
implantado na atualidade como medida de combate à seca, D) adaptação à elevada salinidade.
resultará em desassoreamento desse canal fluvial. E) homogeneização da cobertura perenifólia.
D) a ocorrência de campos para flagelados explica-se pela
ausência de políticas de combate às secas, implantadas 05. (Unesp/2017) Leia o excerto do romance Águas atávicas, do
apenas em 1960 pela Sudene – Superintendência de escritor Marcos Faustino:
Desenvolvimento do Nordeste.
E) a explicação do fenômeno de migração para as cidades Império das águas, deserto de gente. Reino das onças, veados
como decorrente da pobreza no sertão e exclusivamente mateiros e capivaras na terra firme. Nos ares, multidão de
relacionada à seca é insuficiente, pois omite a lógica da pássaros variados, belas garças e os grandes e desajeitados tuiuiús,
concentração fundiária e suas consequências. jaburus. Por baixo, no esconderijo das águas, o perigo dos jacarés
traiçoeiros, sucuris imensas e peixes aos milhares. Brejão úmido de
03. (Mackenzie/2017) O Pantanal Mato-grossense constitui-se como imensas planuras. Esparsas ilhas de terrenos pouco mais elevados,
uma das mais importantes paisagens vegetais do mundo, entre maiores na vazante da seca em setembro, menores nas enchentes
outras razões, devido à sua biodiversidade e características de fevereiro.
únicas. Sendo assim, assinale a alternativa que indique
corretamente uma característica desse ambiente. Apud IBGE. Atlas das representações literárias de regiões brasileiras, 2016.
A) O Pantanal ocupa um vasto planalto cristalino de inundação, Adaptado.
com altitudes que podem variar entre 600 m e 900 m na
maior parte de sua área. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elaborou uma
B) Os índices de devastação do Pantanal estão entre os mais regionalização literária, associando conhecimentos geográficos
elevados do país, perdendo apenas para os da Floresta à percepção espacial das tramas brasileiras. A região literária
Amazônica, ambos superiores a 80% de suas áreas de apresentada no excerto corresponde ao
cobertura original. A) Pantanal.
C) Os índices de pluviosidade são inferiores aos verificados B) Jalapão.
na maior parte da região Centro-Oeste. As inundações C) Vale do Rio Doce.
periódicas justificam-se mais pela topografia da Bacia do D) Pampa.
rio Paraguai do que propriamente pelo volume das chuvas, E) Vale do Itajaí.
concentradas no verão.

Anual – Volume 3 193


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
D) a taxa de devastação dessa floresta tem seguido o sentido
oposto ao do crescimento populacional de cada uma das
Exercícios Propostos
regiões afetadas.
E) o crescimento industrial, na década de 50, foi o principal
fator de redução da cobertura vegetal na faixa litorânea do
01. (Fac. Albert Einstein – Medicin/2017) Leia:
Brasil, especialmente da Região Nordeste.
“’O Cerrado não revela seus mistérios à gente que não é cativa
desse destinozinho de chão’, escreveu certa vez Guimarães 03. (UPE) Faça a associação entre as três colunas da tabela a seguir.
Rosa, traduzindo desses segredos do cerrado [...] que podem
ter valor científico, social e econômico, mas não estão mesmo BIOMA CARACTERÍSTICAS FLORA
expostos à vista.” I. Caatinga 1. Clima quente e úmido, com índice A. P l a n t a s
ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. “Laboratório a céu aberto”. pluviométrico elevado. Solo rico em xeromórficas e
In: Pesquisa FAPESP, nº 208, junho de 2013. p. 40. nutrientes minerais. Local: região caducifólias.
costeira do Rio Grande do Norte ao
Considerando o texto sobre o Cerrado, pode ser dito sobre sul do Brasil.
esse bioma brasileiro que II. Mata de 2. Clima quente com estação seca e B. Plantas
A) o valor econômico é duvidoso, pois se sua área e formação Cocais estação das chuvas. Ocupa em torno latifoliadas e
de 25% do território brasileiro. Solo perenifólias.
vegetal dominante são propícias para a exploração da
ácido. Água não é fator limitante.
pecuária, o mesmo não pode ser dito para a agricultura,
III. Mata 3. Índice elevado de chuvas e C. Babaçu e
que não vingará nesses solos pobres e secos.
Atlântica temperatura média de 26 ºC. Solo Carnaúba.
B) os segredos do Cerrado são mais força de expressão com lençol freático pouco profundo.
literária do que reais, pois estamos diante de um bioma Local: Maranhão e Piauí.
marcado por certa homogeneidade biológica, que se repete IV. Cerrado 4. Área ocupa 10% do território D. V e g e t a ç ã o
monotonamente por vastas extensões. brasileiro. Com índices pluviométricos arbórea esparsa,
C) trata-se de uma formação de dominância herbácea, baixos e temperaturas entre 24 e 26 com casca grossa
ºC. Rios secam no verão. Água é fator e caule retorcido.
o que, no passado, ligava-a ao risco da devastação pela limitante.
pecuária excessiva, mas que atualmente está razoavelmente
preservada pelo seu baixo uso econômico.
Assinale a alternativa que apresenta a associação correta.
D) essa é uma formação savânica cuja marca é a presença dos
A) I – 1 – B; II – 4 – D; III – 3 – C; IV – 2 – A
três estratos vegetais (arbóreo, arbustivo e herbáceo), sem
predomínio de nenhum deles, e também a presença de uma B) I – 2 – D; II – 3 – B; III – 4 – C; IV – 1 – A
biodiversidade notável. C) I – 4 – A; II – 3 – C; III – 1 – B; IV – 2 – D
D) I – 3 – D; II – 1 – B; III – 4 – A; IV – 2 – C
02. (Enem) A Mata Atlântica, que originalmente se estendia por E) I – 4 – C; II – 2 – B; III – 3 – D; IV – 1 – A
todo o litoral brasileiro, do Ceará ao Rio Grande do Sul, ostenta
hoje o triste título de uma das florestas mais devastadas do 04. (IFPE/2018) Em relação aos Domínios Morfoclimáticos
mundo. Com mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, hoje Brasileiros, analise as assertivas a seguir.
restam apenas 5% da vegetação original, como mostram as I. O Domínio dos Mares de Morros é composto por uma
figuras. vegetação predominantemente herbácea, que foi muito
explorada e substituída por plantações de cana-de-açúcar;
II. O Domínio das Araucárias está situado numa área com clima
subtropical, e possui um relevo formado, principalmente,
por planaltos e chapadas da bacia do Paraná;
III. O Domínio dos Cerrados apresenta uma vegetação adaptada
à alternância de umidade e seca, e já sofreu uma redução
Mata Atlântica
de mais de 50% devido, entre outros fatores, à expansão
da fronteira agrícola brasileira;
Cobertura original 1950 - 1960 1960 - 1970 1970 - 1980 1980 - 1990 1990 - 2000
IV. O Domínio Amazônico possui um clima equatorial, que
Atlas Nacional do Brasil, IBGE, 1992 contribui para a formação de uma floresta densa com uma
Disponível em:<http://www.sosmataatlantica.org.br> . Adaptado.
das maiores biodiversidades do mundo;
V. O Domínio da Caatinga compreende a área com clima tropical
Considerando as características histórico-geográficas do Brasil
típico, sendo a área com o menor índice pluviométrico do
e a partir da análise das figuras é correto afirmar que
A) as transformações climáticas, especialmente na Região Brasil, situação refletida na sua vegetação e nos seus solos
Nordeste, interferiram fortemente na diminuição dessa rasos e pedregosos.
floresta úmida.
B) nas três últimas décadas, o grau de desenvolvimento regional Estão corretas, apenas, as alternativas.
impediu que a devastação da Mata Atlântica fosse maior do A) I, II e V
que a registrada. B) II, III, IV e V
C) as atividades agrícolas, aliadas ao extrativismo vegetal, têm C) I, IV e V
se constituído, desde o período colonial, na principal causa D) I, III e IV
da devastação da Mata Atlântica. E) II, III e IV

194 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
05. (Mackenzie) Observe o mapa C) A Mata Atlântica, formação que se estendia desde o litoral
ao lado e assinale a nordestino ao Rio Grande do Sul, onde se localiza boa
alternativa que corresponde parte dos maiores centros brasileiros, foi o bioma mais
à formação vegetativa da desmatado do país, motivo pelo qual seus remanescentes
área destacada e a suas foram transformados em unidades de conservação, o que
características. lhe garante a maior extensão em áreas preservadas do Brasil.
A) Cerrado – pertencente D) Uma característica comum entre esses três biomas é que
à classificação do todos apresentam elevada biodiversidade e presença de
bioma Savana, possui espécies endêmicas, evidenciando que todos precisam ser
grande biodiversidade igualmente preservados.
e forma ecossistemas E) No norte do Brasil, a urbanização excessiva das cidades
ricos, com espécies tem como consequência o desmatamento e as queimadas,
variadas como o pau-santo, o barbatimão, comprometendo a conservação da floresta, fato que
a gabiroba, o pequizeiro e a catuaba. frequentemente ganha grande dimensão na imprensa.
B) Mata dos Pinhais – chamada também de Floresta Aciculifoliada,
está localizada em clima úmido, com temperaturas de 09. (Uefs/2017) A natureza é uma totalidade onde todos dependem de
moderadas a baixas no inverno; tem em sua constituição todos. Essa totalidade é o resultado de combinações das condições
predominantemente o pinheiro. necessárias para que as espécies obtenham energia e participem
C) Mata dos Cocais – chamada também de Mata de Transição, das interações biológicas em seus nichos.
CONTI; FURIAM. 2011. p. 21.
é constituída de palmeiras ou palmáceas, com grande
predominância de babaçu e ocorrência de carnaúba. Considerando o excerto e os conhecimentos sobre as formações
D) Campos Naturais – formações rasteiras ou herbáceas, fitogeográficas do Brasil, marque (V) nas afirmativas verdadeiras
constituídas por gramíneas que atingem até 60 cm de e (F) nas falsas.
altura; têm origem associada a solos rasos e a áreas sujeitas a ( ) A Mata Atlântica também recebe o nome, nas áreas mais
inundações periódicas, ou, ainda, associada a solos arenosos. úmidas, de Floresta Latifoliada Úmida de Encosta, devido
à umidade que recebe da Massa Tropical Atlântica ou dos
06. (UFPI) Sobre o bioma que compreende o Cerrado brasileiro, ventos alísios de sudeste.
é correto afirmar que ( ) O Cerrado é um domínio vegetal nativo do Brasil Central,
A) é encontrado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, por conta apresentando vegetais tropófilos e vários aspectos ou
das densas redes hidrográficas regionais. fisionomias.
B) tem vegetação arbustiva, caducifólia com raízes profundas, ( ) O domínio da vegetação herbácea ou campo é encontrado
galhos retorcidos e casca grossa. em várias porções do país, sempre associado às elevadas
C) cobre 2 milhões de km2 do território nacional, sendo 80% altitudes e à degradação dos solos, formando areais.
inexplorados. ( ) A vegetação do Pantanal é considerada complexa,
D) apresenta duas espécies vegetais dominantes, o buritizeiro porque apresenta espécies das florestas, dos campos e
e o pequizeiro, não exploradas economicamente. dos cerrados, estando localizada em uma área de planície
E) tem solos de pouca profundidade, o que facilita a infiltração sedimentar drenada pelo rio Paraguai.
das águas que corrigem a acidez dos solos. ( ) A Mata de Araucária, das florestas brasileiras, é a única
localizada em clima temperado, razão pela qual apresenta
07. (Uema) “Uma das principais conclusões do Relatório Planeta vegetais higrófilos, latifoliados e caducifólios.
Vivo 2010, divulgado pela organização WWF em outubro
de 2010, aponta que, em um período inferior a 40 anos, A alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para
o mundo perdeu 30% de sua biodiversidade. Nos países baixo, é a
tropicais, a queda foi muito maior, atingindo 60% da fauna e A) F – V – F – F – V B) F – V – V – F – V
flora originais. Muito desse fato se dá pela exploração ilegal de C) V – V – F – V – F D) V – F – V – V – F
material genético, retirada de espécies da fauna e a apropriação E) F – F – V – F – V
da sabedoria popular de uma nação com fins de exploração 10. As florestas tropicais, as mais ricas em biodiversidade,
comercial em outro local, sem pagamento royalties ou de estão entre os ecossistemas mais importantes do planeta.
qualquer direito por seu uso comercial.” A Mata Atlântica, conforme se pode constatar na figura a
Relatório Planeta Ativo. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/>. seguir, sofreu uma redução brutal em termos de área ocupada.
Acesso em: 25 jul. 2013.

O Relatório em referência registra um problema conhecido como


A) biopirataria. B) sustentabilidade.
C) transnacionalização. D) territorialidade.
E) privatização.

08. (UFPR) O território brasileiro possui diversos biomas, entre


os quais destacam-se a Floresta Amazônica, o Cerrado e a
Mata Atlântica. Sobre esses biomas, é correto afirmar:
OCEANO
A) O Cerrado, que se localiza na região central do Brasil, tem ATLÂNTICO
como característica formar-se em solos pobres e arenosos e,
em consequência, é pouco ameaçado pela expansão agrícola.
B) A Floresta Amazônica, formação localizada notadamente no
norte do Brasil, tende a desaparecer nas próximas décadas,
haja vista que o desmatamento e as queimadas têm seus
Unidade de conservação
Cobertura original
Remanescentes atuais
índices elevados ano a ano, evidenciando a ausência de 120 0 240km
Mangue
Restinga

políticas públicas voltadas à conservação daquela floresta.

Anual – Volume 3 195


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
A degradação da Mata Atlântica, constatada na figura, foi As reservas brasileiras de água doce
intensificada em decorrência do ciclo econômico
A) do fumo. Dono de 12% da água doce do mundo, o Brasil é um
B) da soja. país ao qual Deus deu o privilégio de ter uma certa abundância
C) do café. de água. Apesar dessa ostentação hídrica, o nosso país apresenta
D) do algodão. alguns problemas com relação aos seus recursos hídricos, entre
E) da borracha. eles, destacamos: dificuldade de gestão das águas, tanto em
relação ao tratamento, saneamento básico e distribuição, como
aos problemas gerados por grandes usinas hidrelétricas em locais
Seção Videoaula pouco apropriados, projetos de irrigação, poluição, desperdícios e
ocupação inadequada do solo nas áreas de mananciais.
O fornecimento das regiões que demandam mais água,
desenvolvidas e industrializadas, muitas vezes ficam comprometidas,
Vegetação do Brasil pois aumentou não só o consumo de água, provocado pelo aumento
da população e da urbanização, como o de energia elétrica. Quando
os níveis dos reservatórios estão baixos em função da falta de chuvas,
as hidrelétricas limitam o fornecimento de água e, em algumas
situações, para evitar o fantasma do apagão, o governo aciona
Aula 15:
as termelétricas, usinas mais sujas e com o custo da produção de
Recursos Hídricos do Brasil, C-6 H-26, 27 MW/h bem mais caro.
Aula H-28, 29
Bacias Hidrográficas e seus
15
H-30
Bacias hidrográficas
Aproveitamentos
São consideradas como sendo uma estrutura ou uma área
drenada por um rio, seus afluentes e subafluentes (corresponde
WOtP CC BY-SA 4.0/Wikimedia Foundation

a um conjunto de rios). A área drenada por essa rede forma uma


bacia Hidrográfica.
Vale lembrar que a área mais elevada de uma bacia
hidrográfica tem o nome de divisor de águas, pois separa uma bacia
da outra, é um limite.
O declive entre o divisor de água e o rio principal, por onde
correm as águas dos afluentes, tem o nome de vertente. As águas
são depositadas no leito do rio que, em época de cheias, pode
transbordar para as margens (área de várzea – planície).

Hidrografia do Brasil
O regime de um rio diz respeito à variação do nível de suas
águas. No Brasil, os rios dependem da ocorrência das chuvas,
ou seja, regime pluvial (a Amazônia, além de pluvial é nival).
A dinâmica desse regime varia de acordo com o clima, vejamos: os
rios de regiões de clima tropical possuem cheias de verão e vazante
no inverno; os de clima semiárido são, em sua maior parte, rios
temporários (intermitentes); os de clima equatorial são caudalosos;
A natureza foi bastante generosa com a hidrografia do os de clima subtropical apresentam pequenas variações de nível
Brasil, pois temos um estoque gigante de água doce. Esse grande entre os períodos de cheias e vazantes. Quando a variação depende
capital hídrico corresponde a 12% de toda água doce do mundo do degelo, o regime é nival ou glacial. Um rio que apresenta regime
disponível em superfície, e se falarmos da água doce confinada no
nival e pluvial possui um regime misto.
subsolo, ou seja, os aquíferos, o Brasil se faz mais gigante ainda,
temos os dois maiores aquíferos do mundo – o Guarani, com 46 Grosso modo, os cursos d’água brasileiros são perenes,
mil km cúbicos de água (para você ter uma ideia da dimensão do nunca secam totalmente, mesmo em período de estiagem mais
volume de água no Guarani, ela é superior a todo o volume de água prolongada, exceção feita aos rios que têm curso limitado ao sertão,
doce superficial do mundo) e, na região Norte, no estado do Pará, devido ao clima semiárido.
temos o maior aquífero do mundo, o Alter do Chão, considerado A maior parte das águas brasileiras escorre por relevos de
o dobro do volume de água do aquífero Guarani. planaltos ou depressões, com diversos trechos em declive, favoráveis
Os responsáveis pelo Brasil ostentar essa riqueza hídrica
ao aproveitamento energético. Os poucos rios de planícies estão
estão ligados a condições físicas, como a localização geográfica, que
permite boas condições termopluviométricas – a zona equatorial distantes das regiões de maior aglomeração humana e de maior
é uma área de baixa pressão, isto é, atrai ventos dos trópicos, economia, o que explica, em parte, o subaproveitamento do
que favorecem a ocorrência das famosas chuvas ZCIT (Zona de transporte hidroviário.
Convergência Intertropical), sem falar na presença da Floresta O Brasil apresenta também uma má distribuição de seus
Amazônica e do Rio Amazonas, que funcionam como “fábricas de recursos hídricos, pois cerca de 80% da água do país está em uma
umidade”. Toda essa combinação, aliada aos relevos planálticos, região que não tem 10% da população, a região Norte.
permite que o Brasil possua vocação para energia hidráulica.

196 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Características gerais da Vale destacar e enfatizar que as bacias de grande extensão
são: a Amazônica, a do Tocantins, a do São Francisco e a do Prata,
hidrografia brasileira esta última é composta por três bacias: a do Paraná, a do Paraguai
e a do Uruguai.
• Condições favoráveis: extensão, morfologia e clima;
• Maior potencial de água doce do mundo; As 12 Regiões Hidrográficas Brasileiras
• Alta densidade hídrica, alto regime pluvial, drenagem exorreica
predominante;
• Foz em estuário predomina em relação à de delta;
• Rios de planalto (Paraná e S. Francisco) superam os rios de planície
(Amazonas e Paraguai);
• Possui três centros dispersores de água: Planalto das Guianas;
Planalto brasileiro e Cordilheira dos Andes;
• Predomínio de rios perenes em relação aos intermitentes ou sazonais;
• Pobre em formação lacustre (por conta de sua estrutura geológica
e geomorfológica):
– Lagos de várzea: pantanal mato-grossense; Amazonas
– Lagos costeiros: oceano deposita areia no litoral, forma Tocantins-Araguaia
restingas que, ao fechar, formam lagoas: Lagoa dos Patos Atlântico NE Ocidental
Parnaíba
(RS), Lagoa Rodrigo de Freitas-RJ (formada por restingas). Atlântico NE Oriental
A saber: restingas são formações arenosas, construídas pelas São Francisco
correntes litorâneas, retificando baías e enseadas; Atlântico Leste
• Subaproveitamento dos rios brasileiros para a navegação e para Atlântico Sudeste
a energia hidráulica. Paraná
Paraguai
O Brasil possui três centros dispersores de água que Uruguai
funcionam como “caixa d’água”, são eles: Planalto das Guianas, Atlântico Sul

os Andes e o Planalto brasileiro. ANA – Agência Nacional das Águas, 2005.


Saiba!
Centro dispersor de água é o ponto mais alto do vale por onde a
Bacia Amazônica
água converge e é coletada pelo rio. Cada centro dispersor separa

Claudio JJ CC BY-SA 4.0/Wikimedia Foundation


as bacias fluviais, ou seja, são pontos interfluviais.

Divisor de águas

áfica
rogr
a c i a hidrio B
B do
áfica
h i d rogr
Bacia do rio A

Os limites entre as bacias hidrográficas encontram-se nas partes


mais altas do relevo e são denominados divisores de água, pois
separam as águas de duas ou mais bacias. O declive entre o divisor
de água e o rio principal, por onde correm as águas dos afluentes,
chama-se vertente. As águas são depositadas no leito do rio.
O Amazonas tem sua origem na nascente do rio Apurímac
Bacias hidrográficas do Brasil (alto da parte ocidental da Cordilheira dos Andes), no sul do Peru,
e deságua no Oceano Atlântico junto ao rio Tocantins, no Delta do
De acordo com os órgãos governamentais, existem no Brasil
Amazonas, no norte brasileiro. Ao longo de seu percurso, recebe
doze grandes bacias hidrográficas, sendo que sete têm o nome de
ainda no Peru, os nomes de Carhuasanta, Lloqueta, Apurímac, Rio
seus rios principais – Amazonas, Paraná, Tocantins, São Francisco,
Parnaíba, Paraguai e Uruguai; as outras são agrupamentos de vários Ene, Rio Tambo e Ucayali. Entra em território brasileiro com o nome
rios, não tendo um rio principal como eixo, por isso são chamadas de de Rio Solimões e, finalmente, em Manaus, após a junção com o
bacias agrupadas. Das doze bacias, faremos um estudo individual de Rio Negro, recebe o nome de Amazonas e, como tal, segue até a
seis: Amazônica, Tocantins, São Francisco, Paraná, Paraguai e Uruguai. sua foz no Oceano Atlântico.

Anual – Volume 3 197


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
A bacia ocupa uma área de mais de 6 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 3,9 encontram-se em território brasileiro
(48% do território do Brasil). É considerada a maior bacia hidrográfica do mundo, sendo a bacia de maior potencial hidrelétrico não
aproveitado do país. Segundo o INPE, tem uma extensão de 6.992 km, que vai desde sua nascente, no sul do Peru, até sua foz, no Pará,
140 km a mais do que o Rio Nilo, com seus 6.852 km. É também o rio mais caudaloso do mundo, com um volume de água 60 vezes
maior do que o do Rio Nilo.
A bacia é de planície, portanto, a Bacia Amazônica não tem, dentro do ponto de vista geomorfológico, dom ou vocação para
produção de energia hidrelétrica a partir da energia gravitacional (força da queda d’água); seu relevo plano permite a produção de
energia a partir da força cinética (força gerada a partir da correnteza da água). A Bacia Amazônica é a bacia mais utilizada para a
navegação de mercadorias e pessoas.

Bacia Amazônica e os projetos hidrelétricos


As novas usinas da região Norte apresentam um desafio logístico: a transmissão de energia para os grandes centros consumidores,
que ficam distantes milhares de quilômetros.
Última fronteira a ser desbravada, a Amazônia pode gerar 121.246 MW, equivalente a 48,72% do potencial do país, se forem
acrescentadas à lista as usinas de Estreito e Santo Antônio, que entraram em operação em 2011. As novas usinas vão gerar 42.529
MW, o que significa aumento de 53,9% na capacidade instalada do país.
Metade da energia prevista para entrar no sistema até 2020 está na Amazônia.

Hidrelétricas 11 Jamanxin Boa Suriname Guiana


Total
Em operação desde 881 MW Vista Francesa
42.529,5 MW Guiana
2011/1° sem-2012 12 Cachoeira do Caí 21
802 MW
Em obras Área AP
13 Tabajara 19 14
350 MW Alagada Jari
Planejadas Neg RR 15
ro
14 Cachoeira Caldeirão 9.375,55 km2
219 MW 18 Macapá
Japurá Amazonas
1 Belo Monte 15 Ferreira Gomes Belém
So

11.233 MW 252 MW Içá Manaus


São
lim

2 Jirau 16 Cachoeira dos Patos


BRASIL
õe

Luís
9 17
s

3.300 MW 528 MW
ra
3 Santo Antônio 17 Jardim do Ouro ei s
10 11
AM ad ajó MA

Jamanxin
227 MW 12
3.150 MW M p 20 31
Juruá Ta 16 1
4 Teles Pires 18 Santo Antônio do Jari 29 30
1.820 MW 373 MW

gu
Purus 3 4

Xin
5 Sinop 19 Bem Querer 26 23

Tocantins
Porto 2 22

i
Rio

Irir
461 MW 708,4 MW 27
Peru AC Velho 13 24 8 7
6 Colider 20 Marabá Branco Te
28 25 le
342 MW 2.160 MW sP

Araguaia
Ro ire 6 TO
7 São Manoel 21 Paredão A 25 Ilha Três Quedas RO oseArip s
Palmas
746 MW 199,3 MW 115,5 MW vel uan
t ã MT
8 Foz do Apiacás 22 Prainha 26 Cachoeira Galinha 29 Santa Isabel 5
275 MW 796,4 MW 399,8 MW 1.087 MW
9 São Luiz do Tapajós 23 Sumauma 27 Inferninho 30 Estreito
6.133 MW 458,2 MW 361,1 MW 1.087 MW Bolívia
OBS: A Usina de Torixoréu, a ser instalada na Bacia do Araguaia/
10 Jatobá 24 Quebra Remo 28 Ilha São Pedro 31 Serra Quebrada Tocantins saiu do planejamento da EPE
2.338 MW 267,8 MW 131 MW 1.328 MW Fontes: Dados/Documentos disponíveis na internet: EPE, Aneel,
Ibama, Eletrobrás, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A hidrovia na Bacia Amazônica serve para transportar a soja produzida no Mato Grosso, que vai pelo Rio Madeira até o porto de
Itacotiara (AM) ou pelo Rio Tapajós até o porto de Santarém (PA), ambos situados no Rio Amazonas. Nesses portos a carga é coletada
e segue para o mercado externo pelo Rio Amazonas.

Bacia do Tocantins
Hallel CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation

198 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Essa é a maior bacia do Brasil, localizada inteiramente em território brasileiro. Drena uma área de 967.059 km2, correspondendo
a 9,5% do território brasileiro, ela drena os estados: MT, TO, GO, PA, MA e DF. Nasce no norte de Goiás a partir dos rios Maranhão e
Pará e deságua junto à foz do Amazonas, no estado do Pará, tendo o Rio Araguaia como seu principal afluente, o Rio Araguaia que
nasce em Mato Grosso e se une a ele no norte do Estado de Tocantins, o Rio Tocantins-Araguaia percorre uma extensão de 2.500 km,
é o segundo maior rio nacional, superado apenas pelo rio São Francisco. Por estar situada no Planalto Central, essa bacia tem grande
importância hidrelétrica: é o terceiro potencial de energia do país; nela está situada a usina hidrelétrica nacional de Tucuruí, localizado
ao sul do Pará, e sua construção teve como objetivo inicial abastecer o projeto de extração mineral do Grande Carajás.
Um outro destaque no campo do turismo é a paisagem natural da ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo, no curso do
Rio Araguaia.

Bacia do São Francisco

Barr.de RECIFE
Bacia do PI
Cabrobó Itaparica PE
Barr.de
São Francisco Sobradinho
Petrolina Ibó Barr.de
Remanso Juazeiro Paulo Paulo Afonso
Ecl.de Afonso AL
PALMAS Sento Sé Sobradinho MACEIÓ
Propria
Barra Xique-Xique
TO e SE ARACAJU
r a nd
Barreiras G Ibotirama
BA
te Bom Jesus
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Correntina da Lapa
SALVADOR
sco
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GO
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São

Januária
DF
atu
GOIÂNIA Parac
Oceano
Pirapora MG Atlântico
Três
Marias
Velha

Represa Convenção para Portos e Hidrovias


Três Marias Barragens
Par

Eclusas em Construção
s

BELO
ES Eclusas em Operação
aop

HORIZONTE Navegáveis
Navegáveis nas cheias
aba

SP VITÓRIA Navegação inexpressiveis

Segunda maior bacia do Brasil, drena uma área com cerca de 640.000 km2, o que equivale a 7,5% do território. Passando por
cerca de 500 municípios, é o mais extenso rio nacional com 2.830 km. O Rio São Francisco possui vários apelidos: Velho Chico, Rio dos
Currais e Nilo brasileiro. Nasce em MG, na Serra da Canastra, e deságua no Oceano Atlântico, entre os estados de Sergipe e Alagoas.
Ao longo do seu percurso, passa pelos estados de MG, BA, PE, AL e SE. O Rio São Francisco é um rio multifuncional, apresentando vários
atributos – geração de energia, navegação, irrigação, apresenta trechos de relevos altos, favorecendo a construção de UHE. Depois da
bacia do Paraná, a bacia do São Francisco é o maior potencial aproveitado, suas águas irrigam o maior polo de fruticultura do semiárido
localizado entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).
O rio apresenta um currículo histórico de ocupação e povoamento ao longo do seu curso, as populações foram se fixando. A criação
de gado nas margens do rio rendeu o apelido “Rio dos Currais”; esse gado serviu para fornecer carne e couro para o litoral nordestino.
Hoje, o Rio São Francisco disponibiliza água para o polo agrícola localizado entre Petrolina (Pernambuco) e Juazeiro (Bahia).
Sua vocação para hidrelétrica é retratada nas hidrelétricas existentes nessa bacia, que ajudam a fornecer energia tanto para o
Sudeste, com a usina de Três Marias, como também para o Nordeste, com as usinas de Paulo Afonso (BA), Sobradinho (PE/BA), Xingó (AL/
SE), Itaparica (PE/BA) e Moxotó (AL).
A bacia vem sendo devastada pelo uso excessivo de suas águas para a irrigação, efluentes químicos da agricultura, água de
esgotos, destruição da mata ciliar, entre outros.
O garimpo, o uso excessivo de suas águas para irrigação, a poluição por defensivos agrícolas, a carência de esgotos e de coleta
de lixo e a destruição da mata ciliar em suas cabeceiras são alguns dos problemas ambientais na bacia do São Francisco.
Ao longo do tempo, a retirada das matas ciliares provocou o alagamento das margens e assoreamento do rio, prejudicando a
pesca, a navegação e a dispersão dos poluentes.

A polêmica transposição das águas do Velho Chico


A transposição do São Francisco é uma obra de integração fluvial, já orçada em R$ 4,6 bilhões, hoje passa dos R$ 8 bilhões.
R$ 2,4 bilhões serão destinados a programas ambientais de revitalização do rio; o projeto tem como objetivo integrar as águas do Velho
Chico aos rios do semiárido, beneficiando 390 municípios e 12 milhões de pessoas, para tal, serão construídos cerca de 700 km de canais
de cimento para conduzir a água a partir de dois eixos: o EIXO NORTE – vai captar a água na cidade de Cabrobó (sertão de Pernambuco),
onde será o ponto de partida para a descida da água, que percorrerá 400 km, levando água para dois rios do Ceará, Salgado e Jaguaribe,
e para o Rio Apodi (RN); e o EIXO LESTE – a água será captada na barragem de Itaparica (no agreste pernambucano), de onde a água
desviada vai percorrer 220 km até o Rio Paraíba.

Anual – Volume 3 199


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Informações sobre o projeto: sustento dali. Com a construção da Barragem de Sobradinho, essa
• Serão construídos 30 reservatórios, tendo como função dar maior categoria desapareceu, pois não se tem mais uma previsão exata
sustentabilidade hídrica e energética; de quando ou quanto de água vem. Os vazanteiros, que eram uma
• Serão construídas 9 estações de bombeamento, sendo 3 no comunidade importantíssima aqui na região, praticamente deixaram
eixo norte e 6 no eixo leste, para bombear água das áreas mais
de existir. Observamos, cada vez mais, que o grande capital entende
elevadas – 180 m e 300 m, respectivamente;
• Segundo o ministério da integração nacional, apenas 1% da água o rio como um recurso econômico apenas. E não como um sistema
que ele joga no mar vai ser captada para garantir o consumo de interligações múltiplas, e que para garantir a sobrevivência desse
humano e animal na região semiárida nordestina; ecossistema é preciso também que se garanta a sobrevivência dessas
• Serão construídas adutoras que levarão água dos reservatórios populações que, historicamente, construíram essa região.
para outras cidades e perímetros de irrigação. Não dá para a gente entender o Rio São Francisco sem
Estados contra: MG, BA, SE e AL a presença dessas figuras: barqueiros, navegadores, ribeirinhos,
• Elevar a drenagem do rio e a ameaça de se tornar intermitente; pescadores artesanais, vazanteiros e lavadeiras, que são figuras
• Redução da capacidade de energia; importantíssimas, parte dessa paisagem e cada vez mais em
• Aumentar a concentração fundiária; extinção, por conta da implantação de grandes projetos que visam
• Impactos ambientais: desequilíbrio na flora e na fauna; exclusivamente ao ganho e ao lucro de alguns. Para um projeto ser
• Maior salinização do solo;
socialmente justo, seria necessário que todos se beneficiassem dele.
• Desarticulação da população ribeirinha.
Mas o que acontece, pelo contrário, é que essa população perde
Estados a favor (beneficiados): PE, CE, RN e PB toda a condição que tinha antes da implantação desses projetos.
• Democratização da água; Quando analisamos o finalzinho da década de 60 e os anos
• Melhor acesso e distribuição hídrica à população carente do
1970, quando foram implantados os grandes projetos de irrigação,
Polígono das Secas;
veremos uma ampliação absoluta da pobreza e o beneficiamento de
• Dinamização da economia: projetos agropecuários com maior
possibilidade de irrigação, aumento da área agrícola; um grupo muito reduzido de pessoas que ganharam e continuam
• Perenização de rios; ganhando muito dinheiro com o rio: os empresários.
• Melhoria da qualidade de vida da população semiárida; Os antigos proprietários das terras de gleba, que foram
• Maior disponibilidade de água para o abastecimento urbano. desapropriadas pela Codevasf (Companhia de Desenvolvimento
dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e pela Chesf
Fortaleza
Can
al ex
isten
(Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) para se implantar
te
Mossoró esses grandes projetos, viraram mão de obra alugada dessas
Ap
od
i Natal empresas. Alugadas porque não são assalariados, não têm
Rio
carteira assinada, não têm emprego fixo. Eles trabalham nessas
Rio Jagu

as
iranh Campina
Sousa Rio P Grande
propriedades quando há necessidade de maior contingente de
aribe

João Pessoa
Juazeiro
do Norte araíb
a trabalhadores na época de plantio e colheita.
EIXO NORTE Rio
P
Recife
Rio
Salgueiro Disponível em: <http://www.cartaeducacao.com.br/>.
Bríg
ido Cabrobó

Barragem EIXO LESTE

Petrolina
Juazeiro
de Itaparica Rio M
ororó
Maceió Leitura complementar 2
Barragem Adutoras Obras em execução
de Sobradinho
Cidades O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) informou,
Obras em projeto
Penedo
Eixos Açudes
Rios receptores em nota divulgada nesta terça-feira (12), que o governo federal
Adutoras futuras

está destinando R$ 144 milhões para assegurar a execução de


serviços do Projeto de Integração do Rio São Francisco e outras
Leitura complementar 1
obras que garantirão o abastecimento da população nos estados de
Às margens do Rio São Francisco, comunidades tradicionais Pernambuco, do Ceará, da Paraíba e de Alagoas. Com esses recursos,
aprendem a conviver com a seca do semiárido. A mudança os investimentos em projetos para reforçar o abastecimento de água
de uma perspectiva em que se buscava plantar milho para a
no Nordeste somam R$ 1,4 bilhão em 2019.
valorização de culturas como a alfafa, por exemplo, é fruto de uma
intensificação dos laços entre academia e população. De seis anos O montante contabiliza investimentos para operação e
para cá, professores da Univasf (Universidade Federal do Vale do manutenção da transposição do Rio São Francisco nos dois eixos do
São Francisco) trabalham juntamente com pescadores artesanais, projeto (Norte e Leste), a recuperação de reservatórios considerados
populações quilombolas, de terreiro e indígenas para não apenas estratégicos e outras obras para ampliar a oferta de água na região.
ajudá-los a agregar maior valor à sua produção, como também As primeiras obras da transposição foram iniciadas em 2007 pelo
aprender com eles sobre dinâmicas próprias do bioma.
Exército.
Carta Educação: Qual a importância das populações tradicionais
para a sobrevivência do Rio São Francisco? O Eixo Norte é um canal de 400 quilômetros que faz
Lúcia Marisy: A grande preocupação que a gente tem ao constatar a captação de águas próximo à cidade de Cabrobó (oeste de
a degradação do rio é a própria degradação das populações Pernambuco) para alimentação dos rios Salgado e Jaguaribe, com
tradicionais, ribeirinhas, que englobam pescadores artesanais, a finalidade de levar água a reservatórios no Ceará, no Rio Grande
quilombolas, indígenas, plantadores de vazante. Esta categoria era do Norte e na Paraíba. No Eixo Leste, o canal, que tem mais de 200
importantíssima, eram pessoas que plantavam quando o rio enchia
quilômetros, leva água ao Rio Paraíba para abastecer reservatórios
e na região que vazava. Então ali havia um depósito muito grande
de húmus, bastante rico, e as pessoas plantavam e retiravam seu em Pernambuco e na Paraíba.

200 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Além de viabilizar o fornecimento de água, a execução das Bacia do Paraná
obras gera emprego na região. Em Pernambuco, foram aplicados R$

Felomena Sandri CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation


24,2 milhões no Ramal do Agreste (Eixo Leste), que emprega 2,6 mil
trabalhadores. Só no estado, a obra leva águas do São Francisco “a
mais 2,2 milhões de pessoas em 68 municípios”, informa o MDR.
Também este ano, os investimentos somam cerca de R$ 77
milhões no Cinturão das Águas do Ceará (CAC). “A expectativa é
que, no primeiro trimestre do próximo ano, a água esteja disponível
no Reservatório Jati (...) beneficiando os municípios abastecidos pelo
Rio Jaguaribe e a Região Metropolitana de Fortaleza - cerca de 4,5
milhões de pessoas”, diz a pasta.
Já o Canal do Sertão Alagoano totaliza R$ 84,1 milhões de
investimentos em 2019. Os recursos visam ao funcionamento de um
sistema adutor (transporte da água) com captação no reservatório
da Usina Hidrelétrica de Moxotó. De acordo com descrição da pasta
do Desenvolvimento Regional, essa estrutura parte do município de
Delmiro Gouveia e segue até a cidade de Arapiraca “e atenderá mais É uma bacia internacional, tem como rio principal o Rio
de 1 milhão de moradores em 42 municípios alagoanos”. Paraná, que percorre 2.750 km de extensão desde a sua nascente,
Na Paraíba, o projeto Vertente Litorânea totalizará R$ 36,3 na confluência do Rio Paranaíba e Rio Grande (na divisa entre MT,
MG e SP), correndo no sentido oeste.
milhões do ministério em 2019. Esse sistema adutor vai integrar
A geomorfologia e os rios dessa região vão dar a essa bacia o
bacias litorâneas com as águas do Eixo Leste do Projeto São Francisco status de maior potencial aproveitado do Brasil, contando com a maior
disponibilizadas no Rio Paraíba, após abastecer o Reservatório densidade de hidrelétricas do país, e aí vale destacar a UHE binacional
Epitácio Pessoa, em Boqueirão, na Paraíba. “Quando concluídas, gerida por Brasil e Paraguai – Itaipu (14.000 MW/dia), sendo a maior
as obras irão beneficiar uma população de 630 mil habitantes, com do Brasil e a segunda do mundo, atrás apenas da UHE chinesa, Três
Gargantas, no Rio Yang Tsé Kiang (Rio Azul, com 18.200 MW/dia).
abastecimento humano e água para irrigação e indústria”, prevê
A bacia está localizada na região geoeconômica mais
o MDR. dinâmica, concentrando aí um terço da população brasileira em
Publicado em 12/11/2019 - 19:40Por Agência Brasil Brasília. Agência Brasil centros urbanos como São Paulo, indústrias e agricultura. Essa
diversidade econômica ajuda a entender o porquê dessa bacia ter
sua água intensamente utilizada tanto pela agricultura, por meio
Bacia Platina ou da Prata da irrigação, como também pela indústria. Esse aproveitamento já
está levando à condição de redução do seu potencial.
É uma bacia internacional que abrange além do Brasil, Muitos rios dessa bacia, como o Tietê, em função dos
Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Ela é formada por três efluentes químicos provenientes das águas de esgotos (resíduos de
rios: Rio Paraná, Rio Paraguai e Rio Uruguai. Esses três rios, por águas domésticas), indústrias e dos agrotóxicos, têm contribuído
sua vez, formam bacias fluviais separadas, por isso são estudados para o aumento do seu nível de poluição.
separadamente.
Bacia do Paraguai
Bacia do Paraguai + Bacia do Paraná + Bacia do Uruguai = Bacia da Prata

Ilosuna CC BY 1.0/Wikimedia Foundation


MT CCC
Bacia do Paraguai
Bolívia
RIO PA G UA I

Porto Ladário
Rio Taquari

A MG
Bacia do Paraná
Porto Esperança MS
R

Porto Murtinho
Paraguai RIO APA
SP

PR
Local onde o rio
Paraná e Paraguai
se cruzam. SC
Argentina
Bacia do Uruguai

Típico de planície, predominantemente, na planície


RS
do Pantanal mato-grossense, tem sua nascente no território
brasileiro, na serra de Araporé (Chapada dos Parecis), próximo
Uruguai a Cuiabá (MT). Drena uma área de 363.446 km2; por ser plano,
Rio da Prata é o local onde não apresenta potencial para instalação de usinas hidrelétricas.
os três rios se cruzam. OCEANO
A junção das três bacias ATLÂNTICO É aproveitado para a navegação e transporte no trecho brasileiro –
forma a Bacia da Prata. aqui existe a presença da hidrovia Paraguai-Paraná, destaque
para o porto fluvial de Corumbá (MS).

Anual – Volume 3 201


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
Bacia do Uruguai A retomada da navegação contribui para a redução dos
custos da produção, já que esse tipo de transporte tem custo
PR operacional inferior ao de outros modais. Além disso, a hidrovia
Bacia do Sul oferece vantagens logísticas, ao contribuir para reduzir o tráfego
Chapecó
Chapecó nas estradas.
Iraí
Uru
gua xe
SC
Argentina i Pe
i A Hidrovia Tietê-Paraná tem 2,4 mil quilômetros de extensão,
Porto Lucena Canoas
Florianópolis
sendo 1,6 mil no Rio Paraná, sob gestão da Administração da

Pe
Ijuí

lot
Hidrovia do Paraná (Ahrana), ligada ao Ministério dos Transportes,

as
i
ua
ug

Taqu
ari e 800 quilômetros no Rio Tietê, sob responsabilidade do
Ur

São Borja
Ibi
RS Lajeado
cu
í
Estrela Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo. A hidrovia
Dona Mariante Ecl.
Uruguaiana
Cacequi
Francisca Cach.
do Sul Jacuí
Bom Retiro
Ecl.
amarópolis Porto
conecta áreas de produção aos portos marítimos e serve aos
Qu Ecl. Charqueadas
ar Alegre
Barra do aí
Fandango
Ecl. Anel de principais centros do Mercosul, além de integrar um sistema de
Quaraí Dom Marco
Quaraí
Camaquâ
Lagoa
dos transporte multimodal nos estados de São Paulo, do Paraná, do
Patos Oceano
Atlântico Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
Canal de Pelotas
São Gonçalo Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br>.
Ja
gu Rio Grande
ar
Jaguarão ão Lagoa Santa Isabel
Uruguai
Mirim do Sul
Bacias de importância regional
Santa Vitória As demais bacias hidrográficas têm importância regional.
do Palmar
Dentre elas, destacam-se: a Bacia do Rio Parnaíba no Nordeste, que
drena o Piauí e boa parte do Maranhão, cuja foz em delta forma os
É a menor das bacias brasileiras, drena uma área de
lençóis maranhenses. Ainda no Nordeste, temos as bacias costeiras
173.533 km2, abrange trechos de relevo planáltico e também de
do Nordeste ocidental (rios Gurupi, Turiaçu, Mearim, Itapecuru e
áreas planas, portanto, apresenta um bom potencial para energia
Munim) e as costeiras do Nordeste oriental (rios Acaraú, Jaguaribe,
hidrelétrica. O rio nasce da junção dos rios Canoas e Pelotas, tendo
Apodi, Paraíba, Capibaribe, Itapecuru, de Contas, Jequitinhonha,
suas nascentes na Serra Geral; é divisa natural dos estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina. entre outros).
São importantes fontes de contaminação das águas No Sudeste temos as bacias costeiras do Sudeste (São
superficiais e subterrâneas na região: os efluentes da suinocultura Mateus, Doce, Paraíba do Sul, entre outras); no Sul, as bacias
e avicultura, no oeste catarinense, e os agrotóxicos utilizados, costeiras do Sul (Itajaí, Capivari, Guaíba e do Sistema Lagunar);
principalmente, na rizicultura. e no Norte, as bacias costeiras do Oiapoque e do Araguari.

As hidrovias do Mercosul
Exercícios de Fixação
As hidrovias Tietê-Paraná e Paraguai-Paraná constituem
importantes vias de transporte. O custo vantajoso desse sistema e
a integração econômica entre os países do Mercosul intensificou 01. (UENP) Observe a figura a seguir e assinale a alternativa correta.
o tráfego de mercadorias nas regiões atravessadas por esses rios.
BACIAS HIDROGRÁFICAS DO BRASIL
Leitura complementar

Atlântico
NAVEGAÇÃO NA HIDROVIA TIETÊ-PARANÁ É LIBERADA NE Ocidental
ANTES DA DATA PREVISTA
Atlântico
Amazônica NE Oriental
A navegação na Hidrovia Tietê-Paraná foi reativada hoje Parnaíba
(27), após uma interrupção de 20 meses, por causa do baixo Tocantins –
nível dos reservatórios das hidrelétricas Três Irmãos e Ilha Solteira. – Araguaia Atlântico
São
A suspensão da navegação no trecho que fica no Noroeste do Leste
Francisco
estado de São Paulo atingiu principalmente o transporte de soja,
milho, celulose e madeira. Paraguai
A retomada da navegação na hidrovia foi possível por causa Atlântico
Paraná
Sudeste
das chuvas registradas na região nas últimas semanas, além de
operações para a transferência de água dos reservatórios localizados
a montante de Três Irmãos e Ilha Solteira. Com isso, o Departamento
Uruguai
Hidroviário do estado de São Paulo determinou a reabertura da Atlântico
hidrovia antes da previsão inicial, que era fevereiro deste ano. Sul

202 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
A) A bacia hidrográfica do Rio Amazonas apresenta a maior 03. (UFRGS/2018) Considere o texto a seguir.
área geográfica e a de maior potencial hidráulico instalado
O Brasil é um país privilegiado no que diz respeito à quantidade
no território brasileiro.
de água. Tem a maior reserva de água doce da Terra, ou seja,
B) A bacia dos rios Araguaia e Tocantins drenam algumas
unidades federativas como Goiás, Tocantins, Maranhão, 12% do total mundial. Sua distribuição, porém, não é uniforme
Piauí, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, em todo o território nacional. A Amazônia, por exemplo, é uma
Bahia, Pernambuco e Pará. região que detém a maior bacia fluvial do mundo. O volume
C) A região do pantanal mato-grossense está inserida na região de água do Rio Amazonas é o maior de todos os rios do globo,
drenada pela bacia do Rio Paraguai. sendo considerado um rio essencial para o planeta.
D) A região do sertão nordestino é drenada pelas bacias dos Fonte: <http://riosvoadores.com.br/>. Acesso em: 30 ago. 2017.
rios São Francisco e Paraíba.
E) As bacias do Atlântico Sul, Atlântico Sudeste, Atlântico Leste, Assinale a afirmativa correta sobre a região hidrográfica amazônica.
Atlântico Nordeste Oriental e Atlântico Nordeste Ocidental A) O ecoturismo é a principal atividade econômica da região e
possuem os rios de menor extensão territorial, porém de colabora para a preservação desse rico patrimônio ambiental.
maior potencial hidráulico do país. B) As chuvas orográficas são provocadas pela intensa
evapotranspiração de superfícies úmidas e aquecidas.
02. (Unicamp/2019) Compreender a dinâmica de vazão dos rios
C) O garimpo e a mineração geram contaminação por metais
é fundamental para o gerenciamento dos recursos hídricos,
pesados e assoreamento, sem oferecer riscos à qualidade
pois a captação de água atende a diferentes necessidades
da água.
da sociedade e pode ser comprometida em caso de estiagem
extrema. Os gráficos de Regime Fluvial a seguir mostram a D) A expansão das áreas urbanas sobre as áreas das planícies
vazão de dois rios brasileiros ao longo do ano. de inundação é pouco significativa nessa região.
E) A região abrange territórios do Brasil, Peru, Bolívia,
Regime Fluvial do Rio A
m3/seg

Colômbia, Equador, Venezuela e Guiana.


900
800 04. (UEL/2019) Leia o texto a seguir.
700
600 O Aquífero Guarani constitui-se em um sistema hidroestratigráfico
500 Mesozoico, formado por sedimentos flúvio-lacustres de idade
400
300 Triássica (Formação Piramboia) e por depósitos de origem eólica
200 de idade jurássica (Formação Botucatu). É a denominação
100 formal dada ao reservatório de água subterrânea doce pelo
0 geólogo Danilo Anton, em homenagem à nação Guarani que
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
habitou essa região. Trata-se de um Aquífero transfronteiriço
que se estende por quatro países: Brasil, Uruguai, Paraguai e
Regime Fluvial do Rio B
m3/seg

Argentina.
350
ZANATTA, L. C. et. al. “Qualidade das águas subterrâneas do Aquífero
300 Guarani para abastecimento público no Estado de Santa Catarina”.
250 XV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, Natal, 2008. Adaptado.
200
150 Com base nos conhecimentos sobre o Aquífero Guarani e águas
100 subterrâneas, assinale a alternativa correta.
50 A) As águas subterrâneas podem ser captadas e ter seu uso
0 imediato no consumo diário, já que sua principal característica
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez é a potabilidade em toda a extensão do aquífero.
Agência Nacional de Águas, ANA. B) O conhecimento hidrogeológico deste Aquífero é amplo,
o que permite uma gestão adequada de seus recursos,
Considerando as informações dos gráficos e seus conhecimentos, possibilitando a exploração racional e equitativa por parte
assinale a alterativa correta. dos países da borda oriental.
A) O volume correspondente à vazão dos dois rios é similar, e C) Com o desenvolvimento dos planos diretores de uso do
o volume de chuvas responsáveis pela recarga desses cursos solo, todos os municípios localizados sobre o Aquífero são
d’água é o mesmo. obrigados a aplicar a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
B) Os dois rios possibilitam, durante todo o ano, o abastecimento o que garante a qualidade das águas infiltradas.
humano, a geração de energia, a navegação e a pesca. D) Os aquíferos estão protegidos da poluição, já que seu
C) A captação de água nos rios A e B pode ocorrer durante processo de formação impede que os agentes poluidores
todo o ano, pois em ambos há excesso de água no verão e cheguem às suas águas, o que permite manter sua qualidade.
deficit no inverno. E) Os aquíferos abastecem a região em que estão inseridos e
D) Os rios apresentam regimes fluviais diferentes: o rio A colaboram com a dinâmica ambiental, econômica e social,
corresponde ao Regime Pluvial Tropical e o rio B representa mantendo a quantidade de água subterrânea e superficial
o Regime Pluvial Semiárido. do planeta.

Anual – Volume 3 203


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
05. (UFRN) Estudos realizados em algumas bacias hidrográficas Considerando os dados apresentados no quadro anterior,
estimam que rios brasileiros possuem um potencial de geração assinale a alternativa correta.
de energia elétrica bem superior à atual capacidade instalada de A) Não há relação entre o crescimento populacional e o consumo
que dispomos. Todo esse potencial é atribuído, principalmente, de água, considerando-se que água é um recurso renovável.
a fatores naturais, dentre os quais pode(m) ser destacado(s): B) Infere-se do quadro anterior que as maiores concentrações de
A) predomínio de planícies, associado às elevadas médias recursos hídricos estão no complexo regional do Nordeste, onde
pluviométricas dos climas das áreas intertropicais. é registrada a maior concentração populacional do Brasil.
B) condições de clima e solo das bacias hidrográficas, associadas C) Nas regiões Sul e Sudeste, para suprir a carência dos recursos
às grandes extensões de cobertura vegetal. hídricos, uma das alternativas é substituir as hidroelétricas
C) elevadas médias pluviométricas dos climas tropicais e pelas termoelétricas, geradas a partir do carvão mineral,
equatoriais associadas ao predomínio de relevo de planalto. considerado fonte renovável de energia como a água.
D) aumento do volume de água dos rios associado ao degelo D) As maiores concentrações populacionais do Brasil encontram-se
das áreas montanhosas. nas regiões distantes dos grandes rios brasileiros, como o
Rio Amazonas.
E) Os dados apresentados no quadro 1 indicam que o Brasil
é privilegiado no que diz respeito à quantidade de água,
Exercícios Propostos considerando-se que sua distribuição é uniforme em todo
território nacional.

01. (Unesp/2017) A fotografia mostra a elevada concentração de 03. (UENP – Adaptada) Sobre as bacias hidrográficas do Brasil,
aguapés em um trecho do Rio Tietê, localizado a montante da analise as assertivas a seguir.
barragem de Barra Bonita (SP). I. A bacia do Rio Paraná é a que possui maior potencial
Reprodução/Unesp 2017
hidráulico instalado;
II. O Rio Amazonas possui baixo potencial hidráulico, no entanto,
seus afluentes têm grande potencial hidroenergético;
III. Na bacia do Rio Tocantins encontra-se instalada a usina
de Tucuruí, a maior hidrelétrica da região Norte do país,
construída para atender à principal região produtora de
alumínio do país;
IV. Na bacia do Rio São Francisco localizam-se algumas das
principais usinas hidrelétricas do Brasil, tais como: Três
Marias, Sobradinho, Itaparica e Xingó.

Estão corretas:
A) apenas I e II. B) apenas II e III.
C) apenas III e IV. D) apenas I e IV.
E) todas as assertivas.
O desenvolvimento acelerado dessas plantas constitui um
04. (UFRGS/2019) Leia o texto abaixo.
indicador de
A) assoreamento, oriundo do depósito de rejeitos de mineração O Perfil dos Municípios Brasileiros em 2017, divulgado
e da diminuição da matéria orgânica em suspensão. pelo IBGE, indica que, “dos municípios com mais de 500 mil
B) eutrofização, decorrente do aprofundamento dos leitos e habitantes, 93% foram atingidos por alagamentos e 62% por
da intermitência dos corpos d’água. deslizamentos. As secas foram o tipo de desastre que afetou
C) eutrofização, resultante do despejo de esgotos e da descarga a maior parte dos municípios brasileiros: 2.706 ou 48,6%,
de fertilizantes agrícolas. seguido por alagamento (31%) e enchentes ou enxurradas
D) assoreamento, proveniente do aumento da precipitação (27%). A região Nordeste teve 82,6% de seus municípios
média e da ocorrência da chuva ácida. afetados, especialmente o Ceará, em que essa proporção
E) lixiviação, derivada do turbilhonamento do fundo de lagos chegou a 98%, Piauí (94%), Paraíba (92%) e Rio Grande
do Norte (91%). Os outros desastres foram mais frequentes
e da oxigenação da água.
no Sul, em que 53,9% dos municípios foram atingidos por
alagamento, 51% por enchentes ou enxurradas, 25% por
02. (IFSC/2015) Distribuição dos recursos hídricos, da superfície e deslizamentos e 24,5% por erosão acelerada”.
da população no país (em %). Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br>.
Acesso em: 09 out. 2018.
Recursos
Região Superfície População Considere as seguintes afirmações sobre eventos climáticos
Hídricos
extremos e planejamento urbano:
Norte 68,50 45,30 6,98 I. Episódios de precipitação intensa podem levar à diminuição
Centro-Oeste 15,70 18,80 6,41 da capacidade de infiltração do solo e, consequentemente,
a perdas e danos em áreas urbanas;
Sul 6,50 6,80 15,05 II. As secas independem do quantitativo pluviométrico
Sudeste 6,00 10,80 42,65 e do armazenamento de água disponível superficial e
subsuperficialmente, pois são o reflexo do desajuste entre
Nordeste 3,30 18,30 28,91
o consumo e a disponibilidade;
Total 100 100 100 III. As cidades com maior concentração de áreas verdes, por
Disponível em: <http://www.daescs.sp.gov.br>. diminuírem a velocidade do vento e reterem a umidade do
Acesso: 13 ago. 2014. ar, propiciam melhores condições urbanas para ilhas de calor.

204 Anual – Volume 3


Geografia I ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias
Quais estão corretas? 07. (Unioeste) Leia as informações a seguir relativas às condições
A) Apenas I. B) Apenas II. que se encontram os mananciais de água no Brasil.
C) Apenas III. D) Apenas I e II. I. O Aquífero Guarani representa um dos maiores reservatórios
E) I, II e III. subterrâneos de água doce do mundo, estendendo-se por
diversos Estados brasileiros, além do Paraguai, Argentina e
05. (IFSul – Adaptada) “A foz do Rio Amazonas tem cerca de 300 Uruguai;
quilômetros de largura e vai do Farol de Curuçá, no Pará, até o II. Apesar de estar entre os países que contam com
norte do Arquipélago de Bailique, próximo à foz do Rio Araguari, expressivas fontes de água potável, a expansão dos grandes
no Amapá. No meio da foz, está a Ilha de Marajó, maior que a centros urbanos no Brasil vem acontecendo de forma
Suíça, e um número de ilhas menores em constante crescimento. desorganizada, comprometendo as reservas próximas às
Nesta região, ocorre o que os cientistas chamam de ‘encontro áreas metropolitanas;
de gigantes’: o grande gigante é o próprio Rio Amazonas, que III. Entre os fenômenos que comprometem os mananciais,
descarrega, no Atlântico, um volume de água correspondente a temos a eutrofização resultada do lançamento do esgoto
um quinto de toda a vazão dos rios de todo o Planeta.” sem tratamento adequado em rios e lagos. O esgoto rico
Disponível em: <http://www.ograndeamazonas.com.br>. em matéria orgânica pode provocar a produção em excesso
Acesso em: 20 ago. 2013. de nutrientes que aceleram o crescimento de algas que
Na foz do rio, os ventos alísios, a corrente norte brasileira e as impedem a passagem da luz e dificultam a transferência do
grandes marés oceânicas geram o fenômeno conhecido como: oxigênio atmosférico ao meio aquático;
A) piracema. B) pororoca. IV. Após décadas de investimentos públicos, a Região
C) estuário. D) delta. Metropolitana de São Paulo serve como modelo ao país no
E) montante. que se refere à recuperação bem sucedida de seus mananciais,
como é o caso da Represa de Guarapiranga e do Rio Tietê.
06. (Mackenzie/2018) Observe o mapa:
Assinale a alternativa que contém as informações corretas.
ESTUDO APONTA QUE DESMATAMENTO DA MATA A) I, II e III.
ATLÂNTICA AUMENTOU CERCA DE 60% EM UM ANO B) II e IV.
Entre 2015 e 2016, cerca de 290 quilômetros quadrados de C) Apenas a II.
floresta foram devastados, o que significa um aumento de D) Apenas a I.
57,7%, se comparado com os anos anteriores. E) I, II, III e IV.

08. (CPS) Na história do Brasil, a presença ou a proximidade de


rios, riachos, fontes e igarapés favoreceu, em determinada
região, o desenvolvimento de um importante tipo de exploração
econômica, técnica ou processo de produção.

Bacia Amazônica
Bacia do Tocantins
Bacia do Paraná

Atualmente restam cerca de 12% da área original da Mata Atlântica.


Bacia do Uruguai
(Foto: Arte EPTV) Bacia do São Francisco
Bacia do Norte-Nordeste
A Mata Atlântica percorre importantes regiões hidrográficas
N Bacia do Leste
brasileiras. Suas florestas são fundamentais para a manutenção
dos processos hidrológicos, garantindo a quantidade e a Bacia do Sudeste-Sul
qualidade da água potável para milhões de brasileiros e para
os diferentes setores da economia nacional.
Disponível em: <http://g1.globo.com>. Adaptado de: VESENTINI, José Willian, Geografia.
São Paulo: Ática, 2004. p. 259.
Tendo por base o mapa, as informações citadas e seus
Pode-se considerar como exemplo
conhecimentos, identifique, a seguir, a alternativa que apresenta,
apenas, regiões hidrográficas com ocorrências de Mata Atlântica. A) a prática do garimpo, no Vale do Rio Amazonas, e o
A) Região Hidrográfica do Uruguai; Região Hidrográfica do contrabando do ouro para as terras do sul.
Tocantins; Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental. B) a substituição do pilão de mão pelo monjolo movido à água,
B) Região Hidrográfica Atlântico Sul; Região Hidrográfica do na produção açucareira do Vale do Rio Tietê.
Paraná; Região Hidrográfica do Atlântico Leste. C) a utilização do engenho movido à água, mais produtivo do que
C) Região Hidrográfica Amazônica; Região Hidrográfica do o engenho movido à tração animal, no sertão nordestino.
Tocantins; Região Hidrográfica do Parnaíba. D) a criação de gado, no Vale do Rio São Francisco, para
D) Região Hidrográfica do Uruguai; Região Hidrográfica do abastecimento da região de produção açucareira.
Atlântico Nordeste Ocidental; Região Hidrográfica Amazônica. E) o cultivo da seringueira, a produção da borracha e o seu
E) Região Hidrográfica do Paraguai; Região Hidrográfica transporte no Vale do Rio Paraíba.
Amazônica; Região Hidrográfica do Piauí.

Anual – Volume 3 205


ciÊncias Humanas e suas tecnoloGias Geografia I
09. (Furg-RS) Observe o mapa a seguir. O trecho da música faz referência a uma importante obra na
região do Rio São Francisco. Uma consequência socioespacial
dessa construção foi
A) a migração forçada da população ribeirinha.
B) o rebaixamento do nível do lençol freático local.
A C) a preservação da memória histórica da região.
D) a ampliação das áreas de clima árido.
E) a redução das áreas de agricultura irrigada.
B
Seção Videoaula

Hidrografia do Brasil
D
E

F Bibliografia
ONNIG, James e MENDES, Ivan. Estudos para compreensão do
espaço. Ed. FTD, 2004.
ALABI, Elian, Lazaro, Anselmo e MENDONÇA, Cláudio. Território e
sociedade: no mundo globalizado. Ed. Saraiva, 2010.
CARLOS, João e SENE, Eustáquio. Espaço geográfico e globalização.
Sobre os rios identificados no mapa, é correto afirmar que: Ed. Scipione, 2008.
I. o Rio Araguaia, grifado pela letra E, localiza-se em uma zona ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil. Moderna.
de transição morfoclimática, identificada por uma extensa COELHO, Marcos de Amorim. Geografia Geral. Moderna.
baixada, com formações vegetais heterogêneas e é utilizado GARCIA, Hélio Carlos. Geografia: de olho no mundo do trabalho.
São Paulo 2005.
para a irrigação das lavouras de soja; MORAIS. Geografia Geral e do Brasil. Harbra.
II. o Rio Amazonas, grifado pela letra A, destaca-se SILVA, Vagner Augusto. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo.
mundialmente tanto pela sua extensão como pelo seu AB´SABER, Aziz Nacib. Dominios da Natureza no Brasil, as
débito; na região Norte, este rio e seus tributários constituem potencialidades paisagísticas. Ateliê Editorial.
TERRA, Lygia e BORGES Raul Guimarães. Estudos da Geografia Geral
importantes hidrovias;
e do Brasil. Geografia Conxexões. Ed. Moderna, 2010.
III. o Rio São Francisco, grifado pela letra C, nasce em Minas
Gerais e drena o polígono das secas; atualmente está
sofrendo modificações para que suas águas possam ser
transpostas a outras bacias do semiárido; Anotações
IV. o Rio Paraná, grifado pela letra D, desempenha importante
papel por drenar extensa planície, sendo amplamente
navegável até sua foz, no estuário do Prata;
V. o Rio Uruguai, identificado pela letra F, é um divisor político/
administrativo e amplamente navegável desde a nascente
até sua foz, no estuário do Prata.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas


corretas.
A) I – II B) II – III
C) III – IV D) II – V
E) III – V

10. (Enem)
SOBRADINHO
O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia
que o Sertão ia alagar.
SÁ E GUARABYRA. Disco Pirão de peixe com pimenta.
Som Livre, 1977. Adaptado.

206 Anual – Volume 3


Geografia II
Pedologia/Climatologia/
Fitogeografia/Hidrografia
Objetivo(s):
• Descrever o processo de formação dos solos.
• Analisar os principais processos de degradação dos solos.
• Identificar as camadas da atmosfera e os principais elementos do clima.
• Identificar as principais zonas climáticas do globo.
• Entender a dinâmica dos ventos e diferenciar seus tipos.
• Compreender o ciclo hidrológico que se verifica na circulação da umidade da Terra.
• Identificar e localizar as principais paisagens vegetais do globo.
• Localizar os principais canais, oceanos e estreitos do globo.
• Analisar a importância econômica dos mares, oceanos e rios.
• Compreender a interação entre os fatores ambientais: solo, clima, relevo e vegetação.

Conteúdo:
Aula 11: Solos – Potenciais, Degradação e Sustentabilidade Aula 15: Recursos Hídricos, Bacias Hidrográficas e seus Aproveitamentos
Introdução........................................................................................ 208 Introdução........................................................................................ 256
Horizontes do solo............................................................................ 208 A água no planeta ........................................................................... 257
Principais solos do Brasil................................................................... 208 Mares e oceanos............................................................................... 258
Degradação do solo.......................................................................... 209 Principais canais de navegação......................................................... 260
Processos de natureza climática ou antrópica Rios e lagos....................................................................................... 261
que ocorrem no território brasileiro. . ......................................210 O maior depósito de lixo dos oceanos.............................................. 263
Formas de conservação do solo........................................................ 212 Exercícios ......................................................................................... 265
Exercícios ......................................................................................... 213
Aula 12: Situação Geral da Atmosfera
Introdução........................................................................................ 217
Tempo e clima................................................................................... 218
Exercícios ......................................................................................... 226
Aula 13: Classificação Climática
Introdução........................................................................................ 231
Frio de montanha.............................................................................. 237
Exercícios ......................................................................................... 239
Aula 14: Os Grandes Domínios da Vegetação no Mundo
Introdução........................................................................................ 244
Classificação das formações vegetais............................................... 245
Formações vegetais de médias e altas latitudes............................... 245
Formações não florestais de médias e altas latitudes....................... 247
Formações não florestais de baixa latitude....................................... 248
Formações florestais de baixa latitude.............................................. 249
Exercícios ......................................................................................... 252
CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II

Aula 11:
Horizontes do solo
C-6 H-27, 28
Aula Solos – Potenciais, Degradação H-29 O solo possui camadas morfológicas dispostas de formas
horizontais que se diferenciam entre si. Essas camadas são chamadas
11 e Sustentabilidade
de horizontes. A soma destas camadas define o perfil do solo.
Quanto mais distante da rocha matriz, mais profundo é o solo e
mais intensa ou antiga foi a ação pedogênica.

Introdução
PERFIL DO SOLO
O solo pode se apresentar sob diferentes pontos de vista.
Para a Engenharia civil, solo é um corpo possível de ser escavado, Matéria orgânica (O)
sendo utilizado dessa forma como suporte para construções. Para a
agronomia (edafo/pedologia), solo é a camada na qual se desenvolve Horizonte (A)
vida vegetal e animal. Para a Biologia (ecologia e pedologia), o solo (matéria orgânica
e inorgânica)
atua no ciclo biogeoquímico dos nutrientes minerais.
Nessa unidade, levaremos em consideração os conceitos Horizonte (B)
relacionados à Biologia e a Agronomia, desse modo, o solo é (zona de acumulação)
constituído por materiais inconsolidados, formando a camada mais
superficial da litosfera, com capacidade arável e agricultável onde se
Horizonte (C)
desenvolve a vida. É constituído por duas partes básicas: a primeira (materiais provenientes
é orgânica, composta pela mistura de restos de animais e vegetais, da rocha-mãe)
atingidos pela ação de fungos e bactérias, formando o húmus;
a segunda, contendo minerais intemperizados (areia, calcário e argila),
formando a parte inorgânica do solo e se juntam ao ar e água.

Rocha-mãe (R)

Água
Um perfil de solo pode apresentar os seguintes horizontes:
± 25% • O – O horizonte orgânico superficial do solo. É formado por
restos de vegetais e substâncias húmicas que sofreram a ação de
Sólidos

Minerais
Poros

fungos e bactérias. É característico de áreas florestais e apresenta


46% cerca 20% de matéria orgânica.
Ar
• A – É o solo propriamente dito, sofrendo a interferência do
Mat

± 25% clima e da biomassa. É o horizonte onde ocorre grande atividade


. Or

biológica.
• B – Horizonte que apresenta grande quantidade de minerais
gân
± 4%

oriundos de horizontes superiores e pouca matéria orgânica.


ica

• C – Camada mineral de material inconsolidado, pouco afetado


pelo processo de pedogênese.
• R – Rocha matriz inalterada. Camada mineral de material
Os solos estão constantemente em desenvolvimento, sendo consolidado (rocha).
formados pela Pedogênese que, por sua vez, pode ser descrito como o
processo químico e físico de alteração (adição, remoção, transporte e A classificação de solos mais utilizada na pedologia, divide
modificação) que atua sobre a rocha matriz, que se desenvolve a partir os mesmos em:
da ação de certos condicionantes que atuam de forma ativa ou passiva. • Solos zonais são aqueles localizados em relevos estáveis,
A origem e a evolução dos solos são condicionadas por cinco fatores: formados pela ação do clima e bastante antigos.
• Clima: É o principal agente modificador da paisagem, atuando • Solos azonais são aqueles que existem em ambientes instáveis,
através da precipitação e temperatura, regula a natureza e a por exemplo, em aluviões.
velocidade das reações químicas, acelerando ou retardando as • Solos intrazonais são solos em que o relevo local ou material de
reações do intemperismo. origem prevalecem sobre o clima.
• Relevo: A disposição do relevo e a cobertura vegetal regulam Os solos podem ser formados pelo transporte de sedimentos
a velocidade do escoamento superficial das águas pluviais. levados pelo vento, chuva ou pela água dos rios, como as dunas e as
• Rocha (Material de origem): A ação do intemperismo nas terras de aluvião, ou originado da própria rocha matriz, formando
rochas depende de seus materiais que os constitui. o solo autóctone ou eluvião.
• Micro-organismos: A decomposição de matéria orgânica é
realizada por fungos e bactérias presentes no solo. O processo
de pedogênese só estará completo com o surgimento da vida
Principais solos do Brasil
microbiana. O Brasil se destaca mundialmente pelo fato de ser o terceiro
• Tempo: Age de forma passiva, onde o processo de formação maior produtor agrícola, superado apenas pelos Estados Unidos e
do solo pode demorar milhares de anos para se completar. China. Esse fato resulta da combinação de dois fatores: extenso
No entanto, a ação humana pode acelerar o processo erosivo, território e também da fertilidade dos diferentes tipos de solo.
provocando a degradação do meio ambiente. Terra-roxa: Encontrada no planalto meridional, mais precisamente

208 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
nos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Possui Monocultura
origem vulcânica, sendo resultado da decomposição do Basalto.
Possui coloração avermelhada e alta fertilidade.

Tom Grundy/123RF/Easypix
Massapé: É um solo encontrado principalmente na Zona da
Mata nordestina com coloração escura, constituído a partir da
decomposição de rochas como gnaisses e calcários. É utilizado desde
o período colonial para o plantio da cana-de-açúcar.
Salmorão: Esse tipo de solo é encontrado ao longo das regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, é constituído pela fragmentação
de rochas graníticas e gnaisses.
Aluviais: É um tipo de solo encontrado em áreas de várzeas ou vales
fluviais, formado a partir da sedimentação de matérias transportadas
pelas águas correntes ou vento.

Degradação do solo
Enquanto recurso natural, o solo é possível de ser degradado
em função do uso inadequado pela ação humana. A contaminação
do solo por resíduos industriais ou agrícolas, o uso indevido do
solo e de técnicas arcaicas na agricultura, os desmatamentos,
as queimadas, o lixo, os esgotos e a mineração são agentes
responsáveis pelas interferências negativas no equilíbrio ambiental,
diminuindo drasticamente a qualidade de vida nos ecossistemas. A substituição da cobertura vegetal original por uma
A seguir, estão colocadas algumas técnicas agrícolas ou
monocultura é uma prática que traz prejuízo ao solo, pois
práticas de exploração que trazem prejuízos ao solo.
acarreta desequilíbrio ambiental, reduzindo a biodiversidade,
provocando o empobrecimento e a redução da produtividade,
Erosão dos solos sendo necessária a aplicação de adubação química. Apresenta
A FAO (Fundação das Nações Unidas para a Alimentação também desvantagens sociais, porque reduz o uso da mão
e Agricultura) estima que 75 bilhões de toneladas de solos férteis de obra no campo, responsável pelo êxodo rural. E ainda há
sejam perdidos anualmente devido ao uso de técnicas inadequadas desvantagens econômicas, já que uma única doença ou praga
para o cultivo, que provoca o processo de desgaste acelerado do ou a queda do preço do produto no mercado podem abalar a
solo, reduzindo a capacidade produtiva e aumentando os índices economia local. Na Pré-História, o cardápio humana era formado
de subalimentação em várias partes do globo. por mais de 5 mil tipos de plantas alimentares, hoje os 7 bilhões
de habitantes do planeta têm somente 150 plantas presentes no
comércio mundial. Quase toda a produção de batata dos EUA
depende de três variedades. Situações similares ocorrem para o
trigo, café, soja e milho.

Desmatamento

Teeravut Atthasak/123RF/Easypix

Perda anual de solo:


75 bilhões de toneladas.

Algumas medidas preventivas para evitar erosão:


• Não retirar coberturas vegetais de solos, principalmente de
regiões montanhosas.
• Planejar qualquer tipo de construção (rodovias, prédios, A retirada da cobertura vegetal de uma região, além de
hidrelétricas, túneis etc). alterar a paisagem natural, contribui para a aceleração do processo
• Monitorar as mudanças que ocorrem no solo. erosivo e, consequentemente, perda do solo. No solo exposto
• Realizar o reflorestamento de áreas devastadas, principalmente às intempéries climáticas, a velocidade da erosão pluvial é bem
em regiões de encosta. maior que os processos naturais. Além disso, o desmatamento das
• Realizar o plantio acompanhado de uma curva de nível. matas ciliares é responsável por graves desequilíbrios ambientais.
• Consorciar lavouras com o plantio de vegetais. Um dos mais graves diz respeito ao assoreamento dos rios que,
muitas vezes, provoca a sua morte.

Anual – Volume 3 209


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Queimada São substâncias químicas, geralmente de baixa toxicidade,
utilizadas para aumentar a produtividade agrícola. A má utilização
destes fertilizantes pode desencadear além da contaminação dos

Roger Rosentreter/123RF/Easypix
solos, a contaminação de rios e lençóis freáticos. A contaminação
da água também pode levar à sua eutrofização, onde compostos
nitrogenados ou fosfatados, ao chegarem no meio aquático, estimulam
o crescimento e o aumento do número de algas, que, por sua vez,
levam à diminuição do oxigênio e à morte de diversos organismos.
Alguns ambientalistas afirmam que esse processo gera “zonas mortas”.

Uso de pesticidas

Sakhorn Saengtongsamarnsin/123RF/Easypix
Nas regiões mais pobres dos países subdesenvolvidos, é comum
a prática da queimada, que consiste em desmatar áreas nativas, para
posterior queima da biomassa e plantio. É uma prática antiga e barata,
mais bastante prejudicial ao solo. O fogo mata, além das plantas e
animais, os microrganismos. As cinzas são transportadas pela erosão
para outros locais, empobrecendo, desta maneira, o solo. Com o passar
do tempo, a falta de nutrientes no solo faz diminuir a produção agrícola,
sendo necessário a abertura de novos campos.
Os pesticidas são compostos químicos naturais ou sintéticos
utilizados para controlar insetos, ácaros, ervas daninhas, fungos e
Extrativismo outras formas de vida animal ou vegetal que prejudicam a lavoura e a
pecuária. Quando usados de forma indevida, acumulam-se no solo, os
Stephen Codrington CC BY 2.5/Wikimedia Foundation

animais se alimentam da vegetação contaminada prosseguindo o ciclo


de contaminação. Com as chuvas, os produtos químicos usados na
composição dos pesticidas infiltram-se no solo contaminando os lençóis
freáticos e acabam escorrendo para os rios continuando a contaminação.

Processos de natureza climática ou


antrópica que ocorrem no
território brasileiro
Lixiviação

A indústria extrativa mineral é aquela, entre os vários


segmentos industriais, que mais prejudica o meio ambiente. Muitas
vezes, podemos perceber, após o esgotamento das jazidas, gigantescas Zona de lixiviação ou eluvial
crateras, com níveis elevados de degradação e contaminação.

Uso de fertilizantes Zona de enriquecimento, ou de


laterização ou iluviação
Péter Gudella/123RF/Easypix

Zona de rocha pouco intemperizada

Zona de rocha-mãe ou rocha matriz

Nas regiões equatoriais e nas áreas de clima úmido, com


abundantes precipitações sazonais, ocorre o processo de lixiviação.
É popularmente conhecido como lavagem do solo, pois provoca o
deslocamento dos minerais mais solúveis (sódio, potássio, magnésio,
entre outros) para horizontes mais profundos, reduzindo a fertilidade
natural e “empobrecendo o solo”.

210 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Laterização DESERTOS NA CAATINGA
Mais de 18000 quilômetros quadrados do sertão nordestino, área
Ocorre nas regiões de clima tropical típico, com duas estações quase do tamanho do Estado do Sergipe, já desertificaram. Outros
bem definidas, onde a concentração do alumínio e ferro, por não 180000 qilômetros quadrados estão seguindo o mesmo caminho.
serem tão solúveis, leva à formação de uma crosta denominada de
laterita, canga ou pedra-Pará, que acaba contribuindo para um solo
mais ácido. A calagem é uma técnica desenvolvida para equilibrar
Irauçuba 2
o pH do solo. Esse processo consiste em adicionar-se calcário (base)
ao solo para neutralizar a acidez deixada pela lixiviação.
MA Seridó 3
CE

zych/123RF/Easypix
RN

Gilbués 1 PI PB

PE
Cabrobó 4 AL
SE
BA
Área desertificada
Área de alto risco

Área Habitantes
A região foi devastada
1 6131 km2 10000
por mineradoras
A ocupação desordenada
2 4000 km2 34250
arruinou o solo
A caatinga foi destruída para
Desertificação 3 2341 km2 244000
a extração de argila e lenha
4 5960 km2 24000 O solo frágil não suportou a
pecuária e a agricultura

Arenização

Raphael Lorenzeto de Abreu CC By 2.5/Wikimedia Fuundation


Risco de desertificação
Muito alto
Alto
Moderado

Em 1982, no Quênia, foi realizada pelas Nações Unidas uma


conferência para tratar sobre a desertificação. Naquela ocasião,
ficou convencionado que a desertificação é uma degradação de
solos em ambientes áridos, semiáridos e subúmidos devido à ação
antrópica. Segundo relatório da ONU, cerca de 40% do planeta
podem ser transformados em desertos, provocando a degradação
da qualidade de vida para mais de 2 bilhões de pessoas. As principais
causas desse processo são as retiradas e posterior queimadas da
cobertura vegetal para práticas agrícolas tradicionais; o extrativismo
vegetal, que utiliza a madeira como matriz energética; e a pecuária Localização de São Borja
extensiva de gado bovino, que provoca um sobre pastoreio.
No Brasil, esse processo pode ser percebido na sub-região Arenização é o processo de retirada de cobertura vegetal
do Sertão Nordestino, onde uma área de 1 milhão de quilômetros em solos arenosos, em regiões de clima úmido, com regime
de chuvas constantes. A região de ocorrência dos solos que
quadrados é suscetível à desertificação, provocando graves impactos
apresentam areais está localizada no sudoeste do Rio Grande do
ambientais, como a redução dos índices de pluviosidade e elevação Sul, em direção oeste até a fronteira com a Argentina e Uruguai,
da temperatura média; sucessíveis quebras de safras agrícolas; e onde localizam-se os municípios de Alegrete, Cacequi, Itaquí,
provocando o aumento da migração – êxodo rural. Maçambará, Manuel Viana, Quaraí, Rosário do Sul, São Borja,
São Francisco de Assis e Unistalda.

Anual – Volume 3 211


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Formas de conservação do solo • Terraceamento – técnica agrícola de conservação do solo,
destinada ao controle de erosão hídrica, utilizada em terrenos
Como sabemos, o solo é um dos elementos naturais mais muito inclinados.
significativos para a manutenção do equilíbrio natural do planeta

Alexson Scheppa Peisino/Wikimedia Foundation


e para a sobrevivência das espécies. O uso intensivo deste recurso,
somado a práticas não conservacionistas, está provocando a
perda de sua capacidade produtiva. Desse modo, para garantir a
perenidade de seu potencial, é necessária a utilização de práticas
conservacionistas, que garantam a recomposição das condições
físico-químicas e biológicas da terra.
Toda atividade agrícola pode provocar algum tipo de
degradação nos solos, mas a intensidade depende do tipo de
cultura, das técnicas de uso e manejo, bem como dos atributos
físico-químico dos mesmos.

Perdas de solo Mata


Solo erodido

4 kg ha ano

Pastagem
• Plantio consorciado – ocorre quando num mesmo espaço
Formas agrícola são cultivadas duas ou mais espécies de plantas
de 700 kg ha ano diferentes. Existe a cultura principal e secundária, com múltiplos
manejo
fins: servindo para fertilizar a terra, evitar ataques de pragas, ou
e
produzir um rendimento financeiro adicional para o agricultor.
perdas Cafezal
de solo

Surachet Khamsuk/123RF/Easypix
1100 kg ha ano

Algodoal

38000 kg ha ano

As técnicas conservacionistas mais utilizadas são o


plantio em curvas de nível, a prática do terraceamento, plantio
consorciado, rotação de cultura, plantio direto, adubação orgânica,
reflorestamento, cordões de vegetação permanente etc. A escolha
dos referidos métodos deve considerar os aspectos naturais e
socioeconômicos de cada região.
Conheça algumas dessas técnicas:

• Plantio em curvas de nível – é considerado uma das práticas • Rotação de cultura – visa diminuir a exaustão do solo devido a
mais eficientes para a conservação do solo, onde as curvas sucessivos plantios da mesma cultura no mesmo espaço agrícola.
diminuem a velocidade de escoamento da água, funcionam Geralmente, a alternância é feita entre uma leguminosa (chamada
como anteparo à enxurrada, retendo os elementos solúveis e de adubo verde, pois retira da atmosfera o nitrogênio e fixando
facilitam a infiltração da água no solo. no solo com suas raízes) e um cereal.
Tanakorn Moolsarn/123RF/Easypix

Lesław Zimny/Wikimedia Foundation

212 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
• Plantio direto – técnica desenvolvida no Brasil, onde restos vegetais

Sylvie Bouchard/123RF/Easypix
de outras culturas são mantidos na superfície do solo, garantindo a
proteção contra os processos erosivos, e mantendo a umidade.

Tim McCabe/Wikimedia Foundation


Exercícios de Fixação

01. A desertificação é um fenômeno que se desenvolve sobre


• Adubação orgânica – são adubos obtidos por meio de matéria ecossistemas fragilizados. Concebida como um fenômeno
de origem vegetal ou animal, como esterco, farinhas, bagaços, principalmente climático, a desertificação tem implicação
cascas e restos de vegetais, decompostos ou ainda em estágio sobretudo ecológica, daí falar-se em desertificação ecológica.
de decomposição. Diferentemente da desertificação climática, a ecológica pode
se desenvolver até mesmo em ambiente úmido, sendo que o
Alicja Neumiler/123RF/Easypix

elemento clima poderá não ter sofrido variação tão perceptível


quanto aquela do manto vegetal e do solo promovidos pela
ação humana.
Francisco Mendonça e Inês M. D. Oliveira. Climatologia, 2007. Adaptado.

Considerando as informações apresentadas no excerto,


constitui um indicador da desertificação ecológica a
A) redução do albedo em superfície.
B) redução do número de organismos vivos.
C) redução da intensidade da erosão eólica.
D) elevação da produtividade agrícola monocultora.
E) elevação do processo de humificação do solo.

02.
TAXA DE INFILTRAÇÃO EM DIFERENTES
TIPOS DE SOLO
• Reflorestamento – visa recompor áreas que tiveram a vegetação 125
suprimida pela ação humana (expansão de áreas agrícolas ou
exploração de madeira), ou por força da natureza.
100
Fábio Pozzebom/ABr

Taxa de infiltração (mm/h)

75
areia

Taxa terminal
50
silte

25
argila

0 1,0 2,0 3,0

• Agrofloresta – sistema de culturas que consorcia o cultivo de Tempo (h)


Antonio J. T. Guerra (org.). “Processo erosivos nas encostas”.
produtos agrícolas no interior de florestas, de modo a reduzir In: Antonio J. T. Guerra e Sandra B. Cunha.
o impacto ambiental com base no conservacionismo. Geomorfologia, 2012. Adaptado.

Anual – Volume 3 213


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Considerando a leitura do gráfico e os conhecimentos acerca I. os desmatamentos nas regiões tropicais destroem o sistema
da formação dos solos, é correto afirmar que o escoamento de armazenamento e reciclagem dos nutrientes e expõem
A) superficial ocorrerá primeiro no solo argiloso. o solo desprotegido à ação das chuvas;
B) subsuperficial sofrerá saturação por último no solo arenoso. II. a ocupação das formações campestres das regiões
C) superficial ocorrerá primeiro no solo siltoso. temperadas pela agricultura empresarial tem provocado
D) subsuperficial sofrerá saturação por último no solo argiloso. graves impactos ambientais;
E) superficial ocorrerá primeiro no solo arenoso. III. a retirada da cobertura vegetal para uso agrícola, nas regiões
semiáridas, acelera a velocidade do escoamento superficial,
03. (Enem/2015) O mapa a seguir destaca a área de ocorrência dos o que aumenta a erosão dos solos.
Pampas, no Brasil. Além de apresentarem solos susceptíveis à
erosão,os Pampas se caracterizam Assinale:
A) se somente a afirmativa I estiver correta.
B) se somente a afirmativa III estiver correta.
C) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
E) se as afirmativas I, II e III estiverem corretas.

05. (Col. Naval) Uma rocha submetida à ação da água, às


oscilações de temperatura e à atuação de seres vivos irá, com
o tempo, desintegrar-se e decompor-se. Os minerais que a
compõem irão se fragmentar e se separar em pedaços cada
vez menores, até dar origem ao solo. No caso brasileiro, em
função da sua localização geográfica e de suas características
N físicas, encontramos uma gama de solos, cada um com suas
especificidades. Nesse sentido, analise as afirmativas a seguir,
referentes aos diversos tipos de solos existentes no Brasil.
0 500 km I. O solo de várzea, argiloso e tipicamente das áreas meridionais
do país, possui grande riqueza de materiais orgânicos,
BIGARELLA, J. J. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. os quais são utilizados pelas populações ribeirinhas para
Florianópolis: UFSC, 2003. Adaptado. cultivos de gêneros agrícolas de subsistência;
II. O solo de massapé, arenoso e encontrado em todo o litoral
brasileiro, concentra grandes quantidades de nitrogênio e potássio,
A) pela vegetação arbórea, em área de clima temperado, sujeita o que acabou favorecendo o desenvolvimento de cultivos agrícolas
a processos de voçorocamento decorrente da eliminação da destinados majoritariamente para exportações;
cobertura vegetal. III. O solo de terra-roxa, argiloso e comum no norte do Paraná e
B) pela vegetação arbórea, em área de clima subtropical, oeste de São Paulo, em função da decomposição de rochas
sujeita a processos de arenização decorrente da eliminação magmáticas, resultou em nutrientes importantes, favorecendo
da cobertura vegetal. a sua utilização no plantio de culturas como o café;
C) pela vegetação de gramíneas, em área de clima subtropical, IV. O solo conhecido como salmourão, arenoso e com
sujeita a processos de arenização decorrente da eliminação grande gradiente de fertilidade, especialmente por sua
decomposição química e riqueza em materiais orgânicos,
da cobertura vegetal. contribuiu para que a região Nordeste se tornasse grande
D) pela vegetação de gramíneas,em área de clima temperado, produtora e exportadora de cana-de-açúcar.
sujeita a processos de voçorocamento decorrente da
eliminação da cobertura vegetal. Assinale a opção correta.
A) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
B) Apenas as afirmativas I e IV são verdadeiras.
04. (PUC-RIO/2003) Analise o desenho. C) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.
D) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
E) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.

Exercícios Propostos

01. Definido como um processo de degradação ambiental causado


pelo manejo inadequado dos recursos naturais nos espaços
áridos, semiáridos e subúmidos secos, que compromete os
sistemas produtivos das áreas suscetíveis, os serviços ambientais
e a conservação da biodiversidade. Esse processo pode ser
causado pelo homem ou pela própria natureza e agravado
pelas questões climáticas.
Disponível em> <www.mma.gov.br>. Adaptado.

Perda anual de solo: O fenômeno caracterizado pelo excerto é o processo de


75 bilhões de toneladas. A) lixiviação.
El Atlas GAIA de la Gestron del Planeta, 1987. B) desertificação.
Sobre os fatores que explicam a perda anual do solo, podemos C) voçorocamento.
D) inversão térmica.
afirmar que:
E) compactação do solo.

214 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
02. (UECE-2018.1) Atente ao seguinte excerto: “Os solos são 04. (Enem) Os dois principais rios que alimentavam o Mar de Aral,
corpos naturais da superfície terrestre que ocupam áreas e Amurdarya e Sydarya, mantiveram o nível e o volume do mar por
expressam características (cor, textura, estrutura etc.) da ação muitos séculos. Entretanto, o projeto de estabelecer e expandir
combinada dos fatores associados aos mecanismos e processos a produção de algodão irrigado aumentou a dependência de
de formação do solo”. várias repúblicas da Ásia Central da irrigação e monocultura.
Palmieri, F. e Larach, J. O I. Pedologia e Geomorfologia. Pág. 70. In.
O aumento da demanda resultou no desvio crescente de água
Geomorfologia e Meio Ambiente. Guerra, A. J. T. e Cunha, S. B. da. para a irrigação, acarretando redução drástica do volume de
Rio de Janeiro. 1996. Bertrand Brasil. tributários do Mar de Aral. Foi criado na Ásia Central um novo
deserto, com mais de 5 milhões de hectares, como resultado
Considerando o excerto anterior e os conceitos de formação da redução em volume.
do solo, é correto afirmar que solo pedológico é formado
TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez.
A) por uma camada de sedimentos silicosos de origem distrófica São Carlos: Rima. 2003.
que recobre a superfície terrestre.
A intensa interferência humana na região descrita provocou o
B) por sedimentos alíticos distróficos com elevada acidez, fator
surgimento de uma área desértica em decorrência da:
que favorece a sua fertilidade natural.
A) erosão.
C) por material mineral pouco espesso, com boa presença se
B) salinização.
sódio geralmente derivado de rochas do cristalino.
C) laterização.
D) por um conjunto de fatores, dentre os quais encontra-se a
D) compactação.
ação integrada do clima e dos organismos sobre o material
de origem. 05. (Enem/2017) Trata-se da perda progressiva da produtividade de
biomas inteiros, afetando parcelas muito expressivas dos domínios
03. (Puccamp) Observe os climogramas I e II de duas localidades
subúmidos e semiáridos em todas as regiões quentes do mundo.
brasileiras, para responder à questão.
É nessas áreas, ecologicamente transicionais que a pressão
I II sobre a biomassa se faz sentir com muita força, devido à
retirada da cobertura florestal, ao superpastoreio e às atividades
Precipitações Temperatura Precipitações Temperatura
em mm em ºC em mm em ºC mineradoras não controladas, desencadeando um quadro
600 30 600 30 agudo de degradação ambiental, refletido pela incapacidade
500 25 500 25 de suporte para o desenvolvimento de espécies vegetais, seja
400 20 400 20 uma floresta natural ou plantações agrícolas.
300 15 300 15 CONTI, J. B. A geografia física e as relações sociedade-natureza no mundo tropical.
200 10 200 10 In: CARLOS; A. F. A. (Org.) Novos caminhos da geografia.
100 5 100 5 São Paulo: Contexto 1999. Adaptado.

0 0 0 0
J F MAM J J ASOND J F MAM J J ASOND O texto enfatiza uma consequência da relação conflituosa entre
GARCIA Hélio C. e GARAVELLO Tito M. Lições de Geografia.
(Caderno de atividades). p. 10
a sociedade humana e o ambiente que diz respeito ao processo de
A) inversão térmica.
Assinale a alternativa que identifica condições de uso da B) poluição atmosférica.
terra adequadas às áreas que apresentam as características C) eutrofização da água.
climáticas, descritas, respectivamente, em I e II. D) contaminação dos solos.
A) I – Solos profundos, que devem sofrer aragem constante E) desertificação de ecossistemas.
para continuarem férteis.
06. (Mackenzie/2017.2)
II – Solos profundos, que devem receber cultivos permanentes
para não sofrerem erosão.
B) I – Solos rasos, que necessitam de irrigação controlada para
evitar laterização.
II – Solos profundos, que necessitam de aragem controlada
para evitar a salinização.
C) I – Solos profundos e muito férteis, que comportam plantas
temporárias, sem risco de erosão.
II – Solos rasos, que necessitam de constante adubação para
Disponível em: <http://crisisgroup.org/africa>.
evitar o intemperismo.
D) I – Solos rasos, que necessitam de constante adubação para A respeito da área destacada no mapa da África Setentrional,
evitar o intemperismo. julgue as afirmações a seguir:
II – Solos rasos, que necessitam de aragem profunda para I. Corresponde à região do Sahel. Apresenta baixos níveis
aumentar a produtividade. pluviométricos anuais a vegetações típicas de Estepes;
E) I – Solos profundos e pouco férteis, que necessitam de II. Essa extensa faixa territorial enfrenta conflitos tribais históricos e
cuidados para não sofrerem lixiviação. pobreza extrema. As populações locais dedicam-se à economia
II – Solos rasos, que necessitam de irrigação controlada para primário-extrativista e agropecuária de subsistência;
evitar salinização. III. Atualmente passa por um processo de desertificação devido ao mau
uso do solo, prolongadas estiagens e ao intenso desmatamento;

Anual – Volume 3 215


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
IV. Nas últimas décadas, é possível verificar considerável 08. (Unifor/2003.1) Observe as figuras para responder à questão.
recuperação nos índices de Desenvolvimento Humano nos
países que compõem o Chifre da África, como: Etiópia,
Somália, Chade, Gabão, Malauí e Djibuti.

Estão corretas
A) I e II, apenas. Mata
4 kg ha/ano
B) II e III, apenas.
C) III e IV, apenas.
D) I, II e III, apenas.
E) I, II, III e IV.

07. (Urca) Analise os dois perfis de solo a seguir. Pastagem


700 kg ha/ano

A
A
Cafezal
A 1100 kg ha/ano
Legenda:
A = solo arável
B B = subsolo
R C = regolito
R = rocha-mãe Solo Erodido
C Algodoeiro 38000 kg ha/ano

LEPSCH, Igor F. Solo – formação e conservação. São Paulo:


Melhoramentos, 1977, p. 142.
R
Assinale a alternativa que melhor interpreta as figuras.
Perfil I Perfil II
A) Em áreas com predomínio de rochas cristalinas, os solos são
ADAS, Melhem e ADAS, Sergio.Panorama Geográfico do Brasil.
São Paulo: Moderna. 2004.
menos sujeitos à erosão.
B) A erosão dos solos varia em intensidade, de acordo com o
uso da terra.
Identifique qual das assertivas traz informações corretas sobre
C) O emprego em larga escala de fertilizantes químicos é fator
os perfis de solo. importante na erosão dos solos.
A) O perfil II é típico do semiárido nordestino. Devido à escassez D) As perdas de solo são mais frequentes em áreas com baixos
de chuvas, a ação do intemperismo físico é limitada, o que índices pluviométricos.
faz com que o intemperismo químico seja o principal agente E) Inúmeros solos têm sua formação ligada ao transporte de
de formação do solo. sedimentos de outros locais.
B) O perfil I é típico do semiárido nordestino. Devido à escassez
de chuvas, a ação do intemperismo químico é limitada, o que 09. (Enem) Um dos principais objetivos de se dar continuidade
faz com que o intemperismo físico seja o principal agente de às pesquisas em erosão dos solos é o de procurar resolver os
problemas oriundos desse processo, que, em última análise,
formação do solo. Em consequência, o horizonte A é pouco
geram uma série de impactos ambientais. Além disso, para
profundo e se apoia diretamente sobre a rocha-mãe.
a adoção de técnicas de conservação dos solos, é preciso
C) O perfil I é típico das terras baixas amazônicas. Devido à conhecer como a água executa seu trabalho de remoção,
abundância de chuvas, a ação do intemperismo químico transporte e deposição de sedimentos. A erosão causa, quase
é muito intensa, o que faz com que o intemperismo sempre, uma série de problemas ambientais, em nível local ou
químico seja o principal agente de formação do solo. até mesmo em grandes áreas.
Em consequência, o horizonte A é muito profundo e se apoia GUERRA, A. J. T. Processos erosivos nas encostas. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA,
diretamente sobre rochas calcárias. S. B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. Adaptado.
D) O perfil II é típico da Zona da Mata nordestina. Devido à
abundância de chuvas, a ação do intemperismo biológico
A preservação do solo, principalmente em áreas de encostas,
é muito intensa, o que faz com que seja rico em material pode ser uma solução para evitar catástrofes em função da
orgânico. Em consequência, o horizonte C é muito profundo intensidade de fluxo hídrico. A prática humana que segue no
e rico em húmus. caminho contrário a essa solução é
E) O perfil I é típico do semiárido nordestino. Devido à escassez A) a aração.
de chuvas, a ação do intemperismo biológico é limitada, o B) o terraceamento.
que faz com que o mesmo seja ácido, pedregoso e salino. C) o pousio.
D) a drenagem.
E) o desmatamento.

216 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
10. (Enem/2010) Observe:
Aula 12:

C-6 H-27, 28
Aula H-29
Situação Geral da Atmosfera
12

Introdução

Exosfera
sfera 10000 km

TEIXEIRA. W. et al. (Orgs). Decifrando a Terra.


São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. Adaptado Termosfera
sfera
690 km
O esquema representa um processo de erosão em encosta.
Que prática realizada por um agricultor pode resultar em
aceleração desse processo? sfera
Mesosfera
A) Plantio direto. 85 km
B) Associação de culturas.
C) Implantação de curvas de nível.
D) Aração do solo, do topo ao vale. Estratosfera 50 km
E) Terraceamento na propriedade.
Troposfera 10 km

Fique de Olho

A classificação brasileira de solos, sempre em constante


atualização, é chamada de SiBCS (Sistema Brasileiro de Classificação).
É desenvolvida pela Embrapa, sendo a mais recente, publicada em
1999, com importante atualização em 2005.
Nesta classificação, feita por profissionais do órgão e diversos
voluntários acadêmicos, há 6 níveis categóricos (Ordem, Sub-ordem,
Grande Grupo, Subgrupo), sendo os níveis mais baixos (Família e A atmosfera é a delgada camada gasosa que envolve o
Série) ainda discutidos. planeta. É ligada à Terra através da ação da força gravitacional
Existiam, na SiBCS 1999, 14 ordens de solo, mas em 2005, e pelo campo magnético, reunindo as condições necessárias
uma ordem foi extinta. As 13 ordens resultantes são: ao desenvolvimento da vida. Desempenha diferentes e
• Organossolo: Solo com horizonte hístico com espessuras de 40 cm ou mais. importantes funções: propicia o equilíbrio térmico, reduzindo a
• Gleissolo: Solo com horizonte glei (subsuperficial acinzentado, grande variação de temperatura entre os períodos do dia e da
influenciado pela água) dentre os 50 primeiros centímetros superficiais. noite; proteção contra o choque de corpos siderais, como os
• Plintossolo: Solo com horizonte plíntico (plintita, ou laterita). meteoros; propicia a propagação do som e a queima dos gases;
• Planossolo: Solos com horizontes B plânico (B textural, com redistribui, através da chuva, a água evaporada da hidrosfera.
mudança abrupta), abaixo do horizonte eluvial e superficial. A atmosfera é composta por cerca de 78% de nitrogênio, 21%
• Espodossolo: Horizonte B espódico, abaixo do horizonte eluvial de oxigênio, 0,93% de argônio, de gás carbônico e pequenas
e superficial. quantidades de outros gases, como os gases do efeito estufa, vapor
• Latossolo: Solos com horizontes B muito intemperizados e com de água, ozônio, cinzas vulcânicas e poluição. Para fins de estudos,
boa distribuição de argila em todo perfil. a atmosfera terrestre é dividida em diversas camadas de acordo com
• Nitossolo: Solo com horizonte B nítico (com cerosidade) e argilas 1:1. a variação das transições de temperatura.
• Argissolo: Solo com horizonte B textural e argilas 1:1.
• Troposfera
• Chernossolo: Solo com A chernozêmico (rico em matéria
orgânica, teores de cálcio) de espessura mínima de 10 cm. É a camada gasosa mais baixa, porém a mais importante da
• Luvissolo: Solo com B textural rico em cátions básicos, com argilas 2:1. atmosfera, onde se desenvolve a vida. Se estende do nível do mar
• Cambissolo: Solos com B incipientes (pouco expressivo) até aproximadamente 12 km, sendo que nas regiões tropicais, ela
sem A chernozêmico. pode atingir até 17 km. Contém 80% dos gases, 90% da umidade,
• Vertissolo: Horizonte vértico (com argilas 2:1 e rachaduras). 80% do peso atmosférico, onde as temperaturas podem variar de
• Neossolo: Solos novos, sem horizonte B, e bastante influência 40 °C até –60 °C, de acordo com o fator altitude. Praticamente
da rocha matriz. todos os fenômenos meteorológicos (chuvas, orvalho, nevoeiro,
granizo, neve, formação de nuvens etc.) ocorrem nessa camada.
Wikipédia, a enciclopédia livre. Adaptado.
É também na troposfera que está contida a poluição do ar.

Anual – Volume 3 217


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
• Estratosfera
A estratosfera está situada em uma faixa que vai do fim da troposfera até 50 km acima do nível do mar. Se caracteriza pelos
movimentos horizontais do ar, onde as temperaturas variam de –5 °C a –70 °C. É nesta camada que está presente uma sub-camada
contendo o ozônio, um gás que absorve os mortíferos raios ultravioleta do Sol, que se atingissem nosso planeta de forma direta, tudo
seria calcinado. O lançamento de gases contendo CFC está ocasionando o enfraquecimento dessa camada. Muitos aviões a jato circulam
na estratosfera devido à sua estabilidade.

• Mesosfera
Esta camada tem início no final da estratosfera e vai até 80 km acima do solo. É marcada pela substancial queda de
temperatura, chegando até –100 °C, pois não há gases ou nuvens capazes de absorver a radiação. Nesta camada ocorre o fenômeno
da aeroluminescência e se dá a combustão dos meteoroides.

• Termosfera
Essa camada se inicia com 80 km e se estende até 500 km do solo, sendo, portanto, a mais extensa. É uma camada que atinge
altas temperaturas, pois apresenta uma grande quantidade de oxigênio atômico capaz de absorver a radiação do Sol, chegando a
apresentar 1.500 ºC de temperatura.

• Exosfera

A exosfera se estende a mais de 900 km acima do nível do mar, antecedendo o espaço sideral. Nessa porção da atmosfera, o ar
é muito rarefeito e as partículas se desprendem da gravidade do planeta. É a camada onde ocorre o fenômeno da aurora boreal e estão
situados os satélites de telecomunicações. É bastante importante, pois o campo magnético terrestre que nos protege dos perigosos
ventos solares fica situado nessa camada.

Tempo e clima
TEMPO CLIMA
Tempo e clima não são sinônimos

Comportamento momentâneo
Comportamento Comportamento duradouro
da atmosfera
atual da atmosfera da atmosfera

Equatorial
Tropical
Semiárido
Subtropical
Tropical Litorâneo
Tropical Litorâneo

Temperatura máxima do dia Classificação climática

Todos os dias os noticiários dos principais canais de televisão divulgam a previsão do tempo, como forma de alertar a população
sobre a ocorrência ou não de certos fenômenos meteorológicos. É exatamente nessa hora que a maioria da população confunde os
termos: Tempo e Clima. O primeiro pode ser descrito como o estado momentâneo da atmosfera, ou seja, ele é passageiro, sujeito a
mudanças a qualquer momento; já o segundo, diz respeito a uma sucessão habitual dos tipos de tempo num determinado local da
superfície terrestre, ao longo do ano, que para ser determinado, depende do estudo do comportamento do tempo durante pelo menos
30 anos, observando todas as variações da temperatura, umidade, precipitação etc.

218 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
ELEMENTOS E FATORES DO CLIMA É importante observar a forma que a radiação solar atinge
ELEMENTOS FATORES o planeta Terra. Somente 31% da radiação atinge efetivamente a
superfície, 30% são refletidas pelas camadas de nuvens e volta para
Latitude o espaço e 6% são refletidos pelo solo. Cerca de 15% é absorvida
Temperatura Os fatores climáticos são
na atmosfera, pelo vapor de água, CO2 e partículas (aerossóis).
determinantes no
comportamento diário
Aproximadamente 3% é absorvido na ionosfera, na formação do
Altitude ozônio. Cerca de 15% da radiação solar incidente é dispersada
Pressão dos elementos do clima.
Atmosférica pelas partículas sólidas e gasosas.
Relevo
Umidade
Umidade do Ar
Continentalidade e
maritimidade Corresponde à quantidade de vapor de água existente na
atmosfera, originado pela evaporação das superfícies líquidas e
Vegetação
Ventos da evapotranspiração dos vegetais e animais. A quase totalidade
dessa umidade está contida nos níveis mais baixos da troposfera
Correntes Marítimas
onde a quantidade de vapor sofrerá variações em função da altitude
Pluviosidade
e latitude. Praticamente 80% da umidade encontra-se abaixo de
Massas de Ar 1600 m e as regiões equatoriais, por apresentar maior temperatura
e ocasionarem mais evaporação, apresentam maior umidade em
Urbanização
relação às demais regiões do globo.
• Elementos climáticos: Também chamados atmosféricos, são Pode ser expressa em valores absolutos ou relativos:
aqueles que agem de forma primária, variando no tempo e no • A umidade absoluta do ar é a quantidade máxima de vapor de água
espaço, e que caracterizam o clima de uma determinada região. que, à determinada temperatura, um determinado volume de ar
Os elementos são: temperatura, umidade do ar, chuva, vento, pode conter. É medido em gramas por metro cúbico (g/m3);
pressão atmosférica etc. • A umidade relativa do ar é obtida através da relação entre a
umidade absoluta e o ponto de saturação, em determinado
• Fatores climáticos: São aqueles que agem de forma local ou momento. Ela é aferida pelo aparelho denominado de
secundária, influenciando e alterando a dinâmica dos elementos higrômetro e seu resultado expresso em porcentagem (%);
atmosféricos, provocando a modificação do clima de um • Ponto de saturação é a quantidade máxima de vapor de água
local, e devem ser analisados em conjunto. São eles: latitude, que o ar consegue reter. Quando a umidade atinge o ponto de
altitude, continentalidade, maritimidade, massas de ar, correntes saturação (100%), ela libera água que se precipita sobre o solo
marítimas, disposição do relevo etc. sob várias formas.
As condições de umidade relativa do ar são importantes
Elementos do clima para a saúde e a sensação de conforto térmico. De acordo com
a OMS (Organização Mundial de Saúde) a umidade ideal, está
compreendida entre os valores de 40% a 60%. Acima desta faixa,
Temperatura atmosférica a umidade começa a trazer desconforto térmico, principalmente nos
Pode ser definida como o grau de calor existente no ar dias quentes, quando nosso organismo sente a necessidade maior
atmosférico, proveniente da radiação solar. É medida em graus de transpirar; abaixo o ar seco agravam os problemas respiratórios.
Celsius (ºC), e se divide em média térmica e amplitude térmica.
UMIDADE RELATIVA DO AR DE ACORDO
• Amplitude térmica: É a diferença entre a temperatura máxima
COM A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS
e a temperatura mínima registradas num determinado período
de tempo. Para determiná-la é estabelecida a diferença entre a ESTADO DE ESTADO DE ESTADO DE
temperatura média do mês mais quente e a temperatura média ATENÇÃO ALERTA EMERGÊNCIA
do mês mais frio. Entre 30 e 20% Entre 20 e 12% Menor que 12%
• Média térmica anual: É obtida somando-se as médias mensais
e o resultado dividido por 12 (meses). – É melhor evitar – Recomendável – É preciso
exercícios físicos ao ar suspender exercícios interromper qualquer
Interação da radiação solar com a atmosfera terrestre livre entre 11 e 15 horas. físicos e trabalhos ao atividade ao ar livre
ar livre entre 10 e 16 horas. entre 10 e 16 horas.

Cerca de 30% – Umidificar o – Evitar aglomerações – Determinar a


Parte dessa radiação ambiente através de em ambientes suspensão de
da radiação solar refletida atravessa vaporizadores, toalhas fechados. atividades que exijam
se perde no espaço novamente a atmosfera; molhadas, recipientes aglomeração de
exterior. parte interage com as moléculas com água, umidificação pessoas em recintos
dos gases nela contidos e de jardins etc. fechados.
parte é reemitida em todas as direções.
Uma parcela da radiação reemitida
volta à Terra e aumenta a temperatura
da sua superfície e das camadas mais baixas – Sempre que possível – Usar colírio de – Manter umidificados
Cerca de 70%
da radiação solar da atmosfera. permanecer em locais soro fisiológico ou os ambientes internos,
atravessa a atmosfera protegidos do sol ou água boricada para principalmente
e é absorvida em áreas arborizadas os olhos e narinas e quartos de crianças,
pela sua superfície. beber muita água. idosos, hospitais etc.

A superfície da Terra – Usar colírios de soro – Usar colírios de soro


absorve a maior parte
da radiação infravermelha A superfície da Terra emite radiação
fisiológicos ou água fisiológico ou água
que chega a ela e eleva infravermelha: parte dela atravessa a boricada para os olhos boricada para os olhos
a sua temperatura. atmosfera e se perde no espaço exterior; e narinas e beber muita e narinas e beber
parte dela volta para a superfície (efeito estufa). água muita água.

Anual – Volume 3 219


Ar ascendente

CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Mar Geografia II


Pressão atmosférica Chuvas convectivas
ou de convecção
Pressão em atmosferas
1

Ar convergente
e ar ascendente

0,5

Chuvas ciclônicas
Sentido do deslocamento
ou frontais

0
0 São Paulo La Paz 5 Everest 10 15 Ar quente

Altitude em quilômetros
Ar frio posterior

Ar frio anterior
Limite superior da atmosfera
Col. de ar

* Chuva orográfica, de montanha ou de relevo:


Ocorre quando a disposição do relevo forma um obstáculo físico
Coluna de ar

dificultando a passagem do ar. Com a ascensão da massa de ar,


ocorre o resfriamento adiabático, provocando a condensação do
vapor, e consequentemente a formação de nuvens e a ocorrência
de chuvas de pequena intensidade e grande duração.
* Chuvas convectivas, equatoriais ou de verão:
É o resultado da ascensão vertical da umidade, que resfriada pela
altitude se precipita sob a forma de chuva. São características
das regiões de baixas latitudes, onde os ventos são fracos e os
Nível médio das águas do mar movimentos de ar são essencialmente verticais, podem ocorrer
nas regiões temperadas por ocasião do verão. São, geralmente,
Corresponde ao peso do ar atmosférico sobre a superfície chuvas de grande intensidade e de pequena duração.
terrestre, cujo valor é expresso milibares (mb). Ela sofre variações * Chuvas frontais, advectiva ou ciclônica:
de acordo com três elementos: altitude, latitude e temperatura. Ocorre quando há interação de massas de ar quentes e frias. Nas
Quanto maior a altitude, menor a pressão. Quanto menor a latitude, regiões de convergência da atmosfera, o ar quente e úmido, por
menor a pressão. Nas regiões mais quentes, região equatorial, o ar ser mais leve, ascende e ao se resfriar nas camadas mais altas,
se dilata ficando leve, por isso apresenta baixa pressão. Próximo aos condensa-se produzindo chuvas de grande duração, atingindo
polos, o ar se torna mais denso, o que eleva a pressão. Contudo, nas extensas áreas com intensidade média.
grandes altitudes, onde o ar é mais rarefeito, a pressão será menor.
• Orvalho:
A pressão atmosférica é o principal responsável pela formação do
mecanismo dos ventos. É um fenômeno físico no qual a umidade do ar precipita por
condensação na forma de gotas, pela diminuição brusca da
Precipitações atmosféricas temperatura ou em contato com superfícies frias. É o processo
contrário ao da evaporação.
As precipitações acontecem quando há queda de água sobre
Nik Merkulov/123RF/Easypix
a superfície terrestre, sob diferentes estados (líquido ou sólido).
• Chuva
É o tipo de precipitação atmosférica mais comum. É o resultado
da combinação de dois fatores básicos: elevada umidade do
ar (ponto máximo de saturação) e a baixa temperatura da
atmosfera, condição necessária para a formação de nuvens.
Durante um único ano, precipitam-se sobre a superfície dos
continentes cerca de 119 mil km³. As precipitações pluviais
podem variar em:

Chuvas orográficas
ou de relevo

Ar ascendente As precipitações sólidas são:


• Neve:
Ocorre nas regiões de média e elevadas latitudes, em condições
de temperaturas baixas e elevada umidade. A baixa temperatura
impede a fusão dos cristais (água congelada) formados pelo
Mar
vapor de água na atmosfera e estes se precipitam sob a forma
de neve (cristais de gelo).
Chuvas convectivas
ou de convecção
220 Anual – Volume 3

Ar convergente
e ar ascendente
Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
pressão (ciclonal). Desse modo, as zonas de alta pressão são

Elena Duvernay/123RF/Easypix
áreas dispersoras de ventos, enquanto as zonas de baixa pressão
são receptoras de ventos. Como consequência do movimento
de rotação da Terra, no hemisfério Norte, o seu deslocamento
obedece ao sentido horário nos centros de alta pressão e anti-
horário nos centros de baixa pressão. No hemisfério Sul, ocorre
o inverso.

1010
1000
990

+ –
1030
• Geada: 1025
É um fenômeno que ocorre quando se formam camadas finas de 1020
gelo sobre as plantas ou outras superfícies lisas, como vidros de
janelas. Os períodos mais comuns de ocorrência são o inverno Área anticiclonal Área ciclonal
ou o outono, quando as temperaturas estão mais baixas. Mas
as geadas também podem acontecer em outras épocas do ano, Os ventos se originam de áreas:
com a passagem de frentes frias ou de massas de ar polar.
ANTICICLONAIS
Krystyna Wojciechowska-Czarnik/123RF/Easypix • Frias
• Alta Pressão
• Dispersoras
CICLONAIS
• Quentes
• Baixa Pressão
• Receptoras
Quanto maior for a diferença de pressão, maior será a
velocidade de deslocamento do vento. Essa velocidade é medida
através de um aparelho denominado de anemômetro, e para
indicar o sentido do deslocamento utiliza-se o anemoscópio, ou
popularmente conhecido como biruta.
• Granizo:
É uma precipitação composta por pedras sólidas de gelo, que Circulação Geral da Atmosfera
podem medir de 5 mm ao tamanho de uma laranja. Ocorre
devido à ascensão vertical do ar atmosférico, no interior das Célula Polar
nuvens cumulo-nimbus, que ao atingir grandes altitudes, sofre
condensação e posterior congelamento. Célula de
Ferrel
Christa Eder/123RF/Easypix

Cédula
de
Hadley

Cédula
de
Hadley

Célula de
Ferrel
Ventos
Célula Polar
O vento pode ser descrito como o deslocamento do ar
De acordo com a circulação geral da atmosfera (Lei de Buys
presente na atmosfera. Esse movimento é contínuo e depende
Ballot), o planeta é circundado por zonas de ventos que formam um
das diferenças de pressão e temperatura entre as faixas climáticas,
padrão global. O dínamo desse processo e o Sol, que ao aquecer
nas quais o ar se desloca de forma horizontal ou vertical, de
a superfície terrestre origina zonas de baixa pressão, nas quais
uma zona de alta pressão (anticiclonal) para uma zona de baixa
ocorre a ascensão vertical do ar e posterior resfriamento com a

Anual – Volume 3 221


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
altitude deslocando-se de forma horizontal, retornando depois mais Os ventos podem ser agrupados de diversas formas:
denso e frio nas zonas de alta pressão. Essa circulação pode ser
Ventos constantes ou planetários:
observada entre os polos e círculos polares formando um circuito
verificado nos dois hemisférios, denominado de Célula Polar. Nas Quando sopram em todas as épocas do ano no mesmo sentido.
zonas temperadas, está presente célula de Ferrel, que origina os • Alísios: São ventos que sopram dos trópicos em direção ao
ventos oeste em ambos os hemisférios terrestres. Nas zonas de Equador, levando consigo bastante umidade, e por esse motivo
latitudes médias, nas proximidades de 30 graus (hemisfério Norte formam uma região de instabilidade, a zona de instabilidade
e Sul), tem início a Célula de Hadley, com a formação de zonas de intertropical (ZCIT).
alta pressão (com estabilidade pluviométrica), onde o ar é deslocado • Contra-alísios: São ventos secos, que sopram em elevadas
para o Equador (baixa pressão) sofrendo posterior aquecimento e altitudes, do Equador em direção às regiões tropicais.
asserção, resfriando com a altitude, provocando a formação de áreas • Polares: Sopram dos polares em direção às regiões temperadas.
de instabilidade com elevada precipitações, retorna em altitudes e
descende nas latitudes originais. Ventos periódicos ou sazonais:
São aqueles que alternam o seu sentido ao longo do ano.
ALTA PRESSÃO • Monções: São os ventos que, durante o verão, sopram do Índico
para a Ásia Meridional e, durante o inverno, sopram da Ásia
As altas pressões resultam da descida
Meridional para o Oceano Índico. Quando tem início o período
do ar frio. A rotação da Terra faz o ar, do verão, o continente se esquenta rapidamente, formando
ao descer, circular em volta do centro uma zona de baixa pressão, e as massas de ar do Oceano Índico
da alta pressão. O ar desloca-se no
sentido dos ponteiros do relógio no trazem as chuvas; essa dinâmica, comum em outros pontos do
hemisfério Norte e, no hemisfério planeta, tem maiores proporções nessa região em virtude da
Sul, na direção contrária. vastidão da terra (o Continente Asiático) e de mar (os oceanos
Índico e Pacífico) envolvida no fenômeno, provocando elevadas
precipitações.
MONÇÕES DE INVERNO
(Dezembro - Janeiro)

ALTA PRESSÃO
BAIXA PRESSÃO

HIMA
LAIA

As baixas pressões são causadas


pela elevação do ar quente. Este
circula no sentido dos ponteiros do
relógio no hemisfério Norte. No topo,
o ar se desloca para fora e é arrastado
para outro lado.

OCEANO
ÍNDICO
FLUXO DOS VENTOS
Região de chuvas MONÇÕES DE VERÃO
Célula polar abundantes (Julho - Agosto)
Corrente em jorro Polo Norte
Região de chuvas
Célula
de Ferrel médias
Ventos BAIXA PRESSÃO
Direção de do leste
rotação polares

Ventos HIMA
do oeste LAIA
Célula de
Hadley
Ventos alísios

Célula Célula de Calmas equatoriais


de Ferrel Hadley Equador
Ventos alísios

Célula polar Ventos do oeste


OCEANO
ÍNDICO
Ventos do leste polares
Polo Sul

222 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
• Brisas: São ventos sazonais que sopram do mar para o continente

NASAGsSFC
durante o dia e do continente para o mar durante a noite, devido
à diferença de calor específico entre os meios sólido e líquido.
DURANTE O DIA A terra se aquece mais rápido que o mar.
Resfriamento
do ar
O ar se movimenta
ocupando o lugar
AR FRIO

do ar que desce.

O ar frio desce,
ocupando o lugar
do ar quente • Ciclone: É o nome genérico para ventos circulares, como tufão e

NTE
que sobe
furacão. Caracteriza-se por uma tempestade violenta que ocorre

QUE
em regiões tropicais ou subtropicais, produzida por grandes massas

AR
de ar em alta velocidade de rotação. O nome ciclone é utilizado
para denominar os furacões que ocorrem no Oceano Índico.
• Tufão: É o nome que se dá aos ciclones formados no sul da Ásia
DURANTE A NOITE A terra esfria mais rápido que o mar. e na parte ocidental do Oceano Índico, entre julho e outubro.
Os tufões surgem no Mar da China e atingem o Leste asiático.
Resfriamento • Tornado: É o mais forte dos fenômenos meteorológicos, menor,
do ar porém mais intenso que os demais tipos de ciclone. Com alto
poder de destruição, atinge até 490 km/h de velocidade no centro
AR
FRIO

do cone. Produz fortes redemoinhos com duração entre 10 e


30 minutos e no máximo 10 km de diâmetro. Ocorre em zonas
temperadas do Hemisfério Norte, especialmente nas planícies
centrais dos EUA, em uma região denominada de corredor de
tornados, onde quase todos os anos provocam dezenas de mortes.
AR QUEN

David Schliepp/123RF/Easypix
Aquecimento
TE

do ar Ar frio

Ventos locais:
Os ventos locais são aqueles que se deslocam somente em certas
porções do planeta Terra, em determinadas épocas do ano.
• Bora: Sopra do Ártico em direção à Europa – é um vento frio e
seco.
• Simum: Sopra do sul do Saara em direção ao norte – é um vento
quente e seco.
• Siroco: Do norte da África (Saara) em direção ao sul da Europa
– é um vento quente e seco.
• Vendaval: Vento forte com um grande poder de destruição, que
• Minuano: Do deserto da Patagônia (Argentina), chegando ao
chega a atingir até 150 km/h. Ocorre, geralmente, de madrugada
Uruguai e ao sul do Brasil. Na Argentina, recebe o nome de
e sua duração pode ser de até cinco horas.
Pampero.
• Aracati: Sopra durante o período da seca em parte do sertão
nordestino. Fatores do clima
Ventos perigosos: São deslocamentos de ar que ocorrem acima Latitude
de 119 km/h, provocando muitas vezes grandes tragédias materiais
PN
e perda de vidas humanas. Zona fria do Norte
• Furacão: São ventos circulares que sopram a mais de 119 km/h, Cí
rcu
lo P
girando no sentido horário (no Hemisfério Sul) ou anti-horário o l ar
Tró

pi Á rtic o
co
(no Hemisfério Norte). Nascem próximos à Costa africana e de

nce
Zona temperada
do Norte
se deslocam na direção do Continente americano, atingindo Eq
r
ua
o Mar do Caribe e os EUA. Medem de 200 km a 400 km de do
r

diâmetro, e só podem ser vistos do espaço. São agrupados ró


T

p ic
em cinco categorias, e podem provocar danos gigantescos ao od Zona quente ou
eC
apr intertropical
patrimônio e a perda de vidas humanas. Em 2004, foi registrada icó
rnio

pela primeira vez a ocorrência de um furacão abaixo da Linha Cí


rc
ul o
do Equador. Trata-se do furacão Catarina, que atingiu o litoral Po
lar
Ant Zona temperada do Sul
ártic o
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, deixando para trás um
PS
rastro de destruição que resultou em um prejuízo estimado em Zona fria do Sul
1 bilhão de reais.

Anual – Volume 3 223


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Faz referência à distância de um determinado ponto da Terra em relação ao Equador. Pois, quanto mais nos afastarmos dessa
região, menor será a temperatura, devido à pequena incidência da radiação solar, uma vez que a luz e o calor não são distribuídos
de forma homogênea pelo planeta, em função do seu formato geoide, e do seu eixo de inclinação. É exatamente a relação entre a
latitude × radiação solar, que vai determinar as cinco Zonas Térmicas ou Domínios Climáticos da Terra.
Variação da temperatura em função da latitude

LATITUDE GRAUS ZONA CLIMÁTICA MÉDIA TÉRMICA AMPLITUDE TÉRMICA


BAIXA 0 a 23 ou 0 a 30 (N-S) Intertropical ALTA BAIXA
MÉDIA 23 a 66 ou 30 a 60 (N-S) temperado (N-S) BAIXA ALTA
ALTAS 60 ou 66 a 90 (N-S) GLACIAL BAIXA À BAIXÍSSIMA ELEVADA

Altitude
A

Nível médio das águas do mar

B
C

É a distância vertical medida em relação ao nível do mar. Quanto maior a altitude, menor será a temperatura, uma vez que o ar se
torna rarefeito, ou seja, a concentração de gases e de umidade é menor, o que vai reduzir a retenção de calor nas camadas mais elevadas
da atmosfera. Somado a esse fato, ainda existe outro ingrediente importante, pois nas regiões de baixa altitude, a atmosfera se torna mais
densa, retendo e conservando o calor por mais tempo. Em média, a cada 200 metros de altitude a temperatura diminui cerca de 1 °C (grau
hipsométrico).

Massas de ar
A A
A
A
Pc A Pc
Pm Pc
Pm
Pc
Tm
Tm Tc
Tm A Tc A Tm
Tm A A Tc Tc
Tm

ZONA DE C O NCIA TROPICAL


NVER GÊ

Tc Tm Tm
Tm
Tm
Tm Tm
A A Tm
A

Pm Pm
Pm
Pm
AA A
AA 0 3.060 km

SISTEMA FRONTAL - JUNHO SISTEMA FRONTAL - JANEIRO A - alta pressão


Tropical marítima - Tm Polar marítima - Pm
Tropical Continental - Tc Ártica - A
Polar Continental - Pc Antártica - AA

São grandes porções da atmosfera que se deslocam pela superfície terrestre, levando consigo as características das regiões onde
foram formadas (temperatura, umidade e pressão). O encontro de duas massas de ar (geralmente quente e fria) implica na formação
de uma frente, resultando na ocorrência de chuvas e mudanças do estado do tempo.

Massa polar: Forma-se nos dois polos e causa queda de temperatura.


Massa tropical: Origina-se próxima aos dois trópicos (Câncer e Capricórnio) e pode se formar sobre o continente
(em geral, é seca) ou sobre o oceano (carregada de umidade).
Massa equatorial: Forma-se na região da Linha do Equador e é muito quente e úmida.

224 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Brasil – Massas de ar Brasil – Massas de ar
Verão Inverno
mEa
Equador Equador
mEa

mEc mEc

mEa → Equatorial
atlântica
mEc → Equatorial
continental
mTa → Tropical
atlântica
mTc mTc → Tropical mTc mTa
continental
mTa mPa → Polar Alísios de
mPa sudeste
atlântica

• As massas de ar tropicais são formadas nas regiões intertropicais, e apresentam elevadas temperaturas. Podem ser úmidas quando
formadas sobre os oceanos; ou secas, quando formadas sobre os continentes.
• As massas polares são frias e originárias de regiões de elevadas latitudes. Elas também são secas, visto que as baixas temperaturas não
possibilitam uma forte evaporação das águas.

Maritimidade e continentalidade
DESERTO CIDADE LITORÂNEA

Calor
Raios solares

MANHÃ NOITE MANHÃ NOITE


O sol e a aridez reduzem O calor se dissipa rapidamente A umidade, resultante As nuvens funcionam como
a quase zero a umidade local. quando anoitece porque da evapotranspiração, uma estufa, que retém o calor
Não há formação de nuvens, a ausência ou a escassez é maior, e o vapor- do dia e evita grandes perdas
já que existe pouco vapor- de nuvens impede d’água aprisiona parte durante a madrugada,
d’água na atmosfera. que ele seja retido. do calor do dia. liberando-o pouca a pouco.

A estreita relação entre o volume de terras emersas e a proximidade de grandes massas líquidas, exerce influência direta na
variação da temperatura. Isso porque a água, por apresentar maior calor específico, demora a aquecer e perder calor, enquanto que os
continentes se aquecem e perdem calor em menor tempo. Desse modo, quanto mais estamos afastados dos oceanos, maiores serão
as variações da temperatura ao longo do ano, isso explica o fato do Hemisfério Norte (hemisfério das terras) apresentar invernos mais
rigorosos e verões mais quentes, em relação ao Hemisfério Sul (Hemisfério das águas).

Correntes marítimas

Corrente da
Groenlândia

Derivação
Atlântico Norte
Corrente de
Labrador
Oya-Shivo

Derivação Corrente Kuro Shivo


Pacífico Norte do Golfo

Corrente da Corrente
Califórnia Equatorial Norte

Contra-Corrente
Corrente Equatorial
Corrente do Brasil

Sub-Equatorial
Corrente de Bengala

Corrente das
Agulhas

Corrente de Corrente das


Humboldt Falklands Grandes Correntes do Oeste

QUENTES SECOS TEMPERADOS FRIOS


Equatorial Tropical árido Mediterrâneo Continental frio
Tropical Continental Árido Oceânico Polar
Subtropical Continental Montanhoso

Zonas de refluxo de água fria Corrente fria Corrente quente

Anual – Volume 3 225


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
São grandes massas de água que formam verdadeiros rios Fluxo de ar dominante
dentro dos oceanos, circulando a uma velocidade de 8 a 10 km/h,
com direções e constâncias bem definidas, que as impedem de se
misturar com as águas vizinhas. Movem-se devido à diferença de
temperatura e salinidade entre os oceanos, e transportam consigo suas Frio Massa de ar
características. Exercem forte influência no clima das regiões por onde
passam, provocando a elevação ou o abaixamento da temperatura;
Fresco
na formação das precipitações; na distribuição da vida nos oceanos;
na navegação, facilitando ou dificultando a locomoção dos navios. Encosta a Encosta a
De acordo com as regiões onde se formam, podem ser sotavento barlavento
classificadas em: seca úmida
• Correntes quentes:
São originárias de áreas da zona intertropical ou zonas tórridas Montanha
da Terra, e se deslocam com destino às zonas polares. Por Quente Tépido
serem quentes, provocam evaporação e consequentemente
precipitações por onde passam (Golfo do México, das Guianas,
do Brasil e a Sul Equatorial).
• Correntes frias: Esquema do efeito orográfico.
Têm origem nas zonas polares e migram em sentido às regiões Vegetação
equatoriais. A corrente fria de Humboldt, ao esfriar o ar, impede a
evaporação das águas do Pacífico, sendo responsável pelo surgimento A cobertura vegetal impede a incidência direta dos raios
do deserto do Atacama. O mesmo ocorre com a corrente de solares na superfície terrestre, amenizando o aquecimento.
Benguela, uma das causas da formação do Kalahari, na África. O processo de desmatamento acentuado é responsável por
mudanças climáticas em escala local, como a elevação da
• Ressurgência:
temperatura, a redução da umidade do ar e das precipitações.
Ocorre quando águas profundas e frias dos oceanos vêm para a
superfície. Esse fenômeno é provocado pelo vento que afasta as
águas quentes superficiais ou por movimentos semelhantes a um O fator humano
redemoinho que traz as águas frias para a superfície. As águas mais A ação humana também pode ser considerada um fator
frias são propícias ao desenvolvimento dos fitoplânctons, que servem climático, uma vez que a intensa atividade urbana-industrial e a
de base da cadeia alimentar, favorecendo a atividade pesqueira.
expansão do consumo estão provocando a degradação do meio
Principais correntes marinhas: natural. O lançamento de gases poluentes, geradores de chuvas
• Nova equatorial – corrente quente que tem origem na África e ácidas e efeito estufa; a edificação de grandes cidades, responsáveis
se dirige à América Central; pela formação do microclima urbano (ilha de calor); a construção
• Do Golfo – corrente quente que tem origem na América Central de barragem, que modifica o ciclo da água; o desmatamento,
e se dirige para a América do Norte; que altera a temperatura e o regime de chuvas; entre outras
• Das Canárias – corrente fria que se desloca da Europa para a África; ações humanas, exercem influências negativas sobre o planeta,
• Do Brasil – corrente quente que passa pela costa brasileira; provocando alterações na dinâmica climática, o que está provocando
a deterioração da qualidade de vida das populações.
• De Benguela – corrente fria que contorna parte do litoral Oeste
até a África;
• Kuro/Shivo ou do Japão – corrente fria que tem origem no Japão
e se desloca ao Oeste da América do Norte; Exercícios de Fixação
• Humbolt ou do Peru – corrente fria que contorna o litoral Oeste
da América do Sul;
01. (Enem/2018)
• Labrador – corrente fria que passa entre a Groenlândia e a
América do Norte; TRAJETÓRIA DE CICLONES TROPICAIS
• Oya/Shivo/Kurilas – corrente fria que passa entre a costa Leste
da Ásia e a Costa Oeste da América do Norte;
• Groenlândia – corrente fria que acompanha o litoral Leste da
Groenlândia;
• Das Guianas – corrente quente que se desloca do litoral
nordestino para as Guianas;
• Califórnia – corrente fria que tangencia o litoral da Califórnia;
• Agulhas – corrente quente que se desloca entre o litoral Oeste
da África e Madagascar;
• Falklands – corrente fria que se desloca do extremo sul da América
Disponível em: <http://globalwarmingart.com>.
do Sul, atingindo o Sul do Brasil; Acesso em: 12 jul. 2015. Adaptado.
• Austrália – corrente quente proveniente do Pacífico que atinge
o litoral Leste da Austrália. Qual característica do meio físico é condição necessária para a
distribuição espacial do fenômeno representado?
Relevo A) Cobertura vegetal com porte arbóreo.
A disposição do relevo pode facilitar ou dificultar a circulação B) Barreiras orográficas com altitudes elevadas.
das massas de ar, e influenciar diretamente nas condições climáticas, C) Pressão atmosférica com diferença acentuada.
como ocorre na fachada atlântica do litoral nordestino, onde o D) Superfície continental com refletividade intensa.
Planalto da Borborema, que barra as massas úmidas oriundas do E) Correntes marinhas com direções convergentes.
oceano, provoca o surgimento de chuvas orográficas.

226 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
02. Considere o esquema a seguir. 04. (Vunesp/2017)
EFEITOS DO FENÔMENO CLIMÁTICO EM DEZEMBRO,
JANEIRO E FEVEREIRO

Reprodução/Vunesp 2017
20.000°


10.000°

Disponível em: <www.ceptec.inpe.br>.

600 km 400 200 0 O mapa apresenta os efeitos do fenômeno climático de


Disponível em: <http://www.astrosurf.com>. interação atmosfera-oceano denominado
No esquema, a área hachurada mostra uma frente A) El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do
A) quente com chuva forte e trovoada, ar em ascensão, leve Oceano Pacífico nas proximidades do Equador.
aquecimento e céu encoberto por cumulonimbus. B) Alísios de Nordeste, caracterizado pela atuação em escala
B) fria com chuvas contínuas, visibilidade reduzida, temperatura local e em curto período de tempo sobre as águas do Oceano
em declínio, ventos fortes e predomínio de nimbostratus. Pacífico.
C) fria com chuvas intermitentes, presença de baixa pressão e C) La Ninã, caracterizado pelo resfriamento das águas
temperatura em declínio e predomínio de cirrus e stratus. superficiais do Oceano Pacífico na costa peruana.
D) quente com chuva intermitente, visibilidade reduzida, baixa D) Zona de Convergência Intertropical, caracterizado pela
pressão, ventos moderados e presença de cumulus e cirrus. formação de núcleos de aumento nas temperaturas
E) fria com chuvas torrenciais, temperatura estável, declínio da superficiais do Oceano Pacífico.
pressão, fraca visibilidade e ocorrência de cumulus. E) Zona de Convergência do Atlântico Sul, caracterizado pela
diminuição da temperatura e da umidade no Equador.
03. (Enem/2017)
05. (Unesp) Observe a imagem de satélite e o mapa.
Figura 1

Reprodução/Unesp
FORMAÇÃO DA BRISA MARINHA

BAIXA ALTA PRESSÃO


PRESSÃO
QUENTE MORNO

TERRA M
MAAR

Figura 2 EUA
OCEANO
FORMAÇÃO DO TERRAL Golfo do México ATLÂNTICO

México
Península
ALTA PRESSÃO BAIXA de Yucatán
PRESSÃO Ilhas
Cancún Cayman
Cuba

QUENTE MORNO Cidade Haiti Rep.


Dominicana
do México Belize Jamaica

TERRA M
MAAR Guatemala

OCEANO
PACÍFICO Venezuela
SALGADO-LABOURIAU, M. L. História ecológica da Terra.
Colômbia
São Paulo: Edgard Blucher, 1994. Adaptado.

Nas imagens constam informações sobre a formação de brisas Assinale a alternativa que identifica o fenômeno climático
em áreas litorâneas. Esse processo é resultado de representado anteriormente, a área de ocorrência e a causa
A) uniformidade do gradiente de pressão atmosférica. principal que favorece sua formação:
B) aquecimento diferencial da superfície. A) Ciclone; Mar das Caraíbas; áreas oceânicas com
C) quedas acentuadas de médias térmicas. predominância de ventos fracos, mas constantes, fenômeno
D) mudanças na umidade relativa do ar. típico de áreas tropicais.
E) variações altimétricas acentuadas. B) Tufão; Antilhas; formação de frentes frias em áreas
oceânicas, fenômeno típico de altas latitudes.

Anual – Volume 3 227


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
C) Tomado; América do Norte; formação de ciclones 03. (FGV – adaptada) O maior fenômeno atmosférico que ocorre
extratropicais nos oceanos, fenômeno típico de áreas em nosso planeta é denominado de El Niño. Acontece
polares. periodicamente a cada dois anos, provocando a mudança
D) Furacão; Caribe; áreas oceânicas onde a temperatura da nos padrões de pluviosidade. No Brasil, ocorre a redução das
água é mais elevada, fenômeno típico de áreas tropicais. chuvas na Amazônia oriental e sertão Nordestino, aumento das
E) Tromba d’água; América Central; formação de frentes frias temperaturas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste; e chuvas
e úmidas nas áreas oceânicas, fenômeno típico de áreas acentuadas na porção sul do país. O El Niño de 2015/16 poderá
temperadas. ser o maior da história desde 1880, trazendo graves prejuízos
para a economia, provocando a morte de milhares de pessoas,
devido aos fenômenos da seca ou enxurradas.
Exercícios Propostos (Adaptado)

O monitoramento do clima em escala mundial é importante


na escala regional e local em função:
01. O saldo de mortes provocadas pelas enchentes que atingem A) das mudanças ocorridas no microclima, decorrentes das
Índia, Bangladesh e Nepal superou 1200 pessoas. Os três países atividades humanas sobre o ambiente, como a indústria e
sofrem enchentes frequentes duranta as chuvas de monções a agricultura, tomando-se fatores que podem influenciar
(de junho a setembro), mas as agências internacionais de auxílio a dinâmica das massas de ar na escala ideal, com
dizem que neste ano a situação é pior – milhares de vilarejos consequências globais.
estão isolados e as pessoas estão sem comida e água limpa há B) da importância do comportamento climático para
dias. determinados setores da economia, como a agricultura,
que buscam o conhecimento prévio dos fatores que podem
Disponível em:<www.theguardian.com>. Acesso em: 30 ago. 2017. Adaptado.
influenciar a dinâmica das massas do ar, como, por exemplo,
As chuvas de monções, descritas no excerto, estão relacionadas a temperatura das águas oceânicas.
à C) do aumento dos fluxos turísticos em todo o mundo nas
A) atuação de massas úmidas, devido à proximidade do oceano. últimas décadas, pois o conhecimento prévio das condições
B) presença de planícies, que facilitam a passagem das massas climáticas nos lugares de destino é um dos principais fatores
úmidas. que determinam a opção dos turistas.
D) dos fenômenos pontuais decorrentes do “efeito estufa”,
C) presença de florestas, responsáveis pelo processo de
como o aumento das queimadas e das secas, os quais
evapotranspiração.
só podem ser previstos através do acompanhamento da
D) proximidade do trópico de câncer, área de convergência de
dinâmica das massas de ar em escala global e suas interações
massas úmidas. com o clima local.
E) diferença de pressão atmosférica, que atrai ventos úmidos. E) do crescimento dos fluxos de mercadorias e pessoas
decorrentes da globalização, o que influencia no
02. planejamento local e regional dos mercados financeiros que
dependem, para o seu bom funcionamento, de condições
climáticas estáveis.

04. (UFMG)
UTILIZAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR INCIDENTE
EM DIFERENTES PORÇÕES DO GLOBO (EM %)

Total da radiação
100% 100% 100%
solar incidente

% usada na
5% 60% 88%
evaporação

% usada no
Disponível em: <http://earthdata.nasa.gov>
aquecimento 95% 40% 12%
do ar
O furacão é um sistema circular que se estende a alturas de
12 km a 14 km, formando uma coluna elevada de ar em espiral.
Um furacão como o da imagem ocorre
A) no hemisfério sul em uma superfície oceânica fria a cerca
de 17 ºC.
B) no hemisfério sul em uma superfície oceânica aquecida a
cerca de 27 ºC.
C) no hemisfério norte em uma superfície oceânica aquecida
a cerca de 27 ºC.
D) na linha do equador em uma superfície oceânica aquecida deserto floresta na oceano
estação de
a cerca de 27 ºC. plena atividade
E) no hemisfério norte em uma superfície oceânica fria a cerca
RUMMEY, G. R.. (1970). “The Geosystem: dynamic integration of
de 17 ºC. land, sea and air”. WMC Brown, Dubuque, p: 35 (adaptado)

228 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Todas as alternativas podem ser comprovadas pela análise da À noite, ocorre um processo inverso ao que se verifi ca
figura, exceto: durante o dia:
A) a influência evidente da natureza diversificada da superfície
terrestre na disponibilidade de energia térmica.
B) a variação inversa do comportamento da evaporação e das
temperaturas do ar.
C) as posições extremadas dos valores quando comparados
desertos e oceanos.
D) o desequilíbrio entre a energia absorvida para a evaporação Brisa terrestre
e para o aquecimento do ar no deserto.
E) o papel pouco significativo das florestas no consumo de
energia térmica no processo de evaporação.

05. (IFBA) Desde a construção dos primeiros termômetros até a


análise de dados por meio de satélites e supercomputadores, a
Como a água leva mais tempo para esquentar (de dia), mas
meteorologia – a ciência que estuda os fenômenos atmosféricos
também leva mais tempo para esfriar (à noite), o fenômeno
aumentou enormemente o grau de previsão do tempo.
noturno (brisa terrestre) pode ser explicado da seguinte maneira:
Geografia atualidades. 2014, p. 46. A) O ar que está sobre a água se aquece mais; ao subir, deixa
Baseando-se nessa afirmação e em seus conhecimentos sobre uma área de baixa pressão, causando um deslocamento de
os fenômenos atmosféricos terrestres, pode-se dizer que: ar do continente para o mar.
A) a chuva frontal ou orográfica ocorre quando a massa de ar sobe Menor
B) O ar maispressão
quente desce e se desloca do continente para a
por causa de algum obstáculo de relevo, como uma montanha. água, a qual não conseguiuBrisa reter calor durante o dia.
marítima
B) a chuva orográfica, também chamada de chuva convectiva, C) O ar que está sobre o mar se esfria e dissolve-se na água;
ocorre quando a massa de ar sobe por causa de algum Maior
forma-se, assim, um centro de baixa pressão, que atrai o ar
obstáculo de relevo, como uma montanha. temperatura
quente do continente.
C) a massa de ar constitui-se como um corpo de ar com Menor temperatura
D) O ar que está sobre a água se esfria, criando um centro de
características próprias de umidade, pressão e temperatura,
alta pressão que atrai massas de ar continental.
herdadas, por sua vez, das diferentes regiões da superfície
terrestre. E) O ar sobre o solo, mais quente, é deslocado para o mar,
D) a Troposfera, também conhecida como Tropopausa, representa equilibrando a baixa temperatura do ar que está sobre o mar.
a camada atmosférica mais importante para o ser humano, por
concentrar a maioria dos fenômenos atmosféricos. 08. (Unesp/2015) As equipes de resgate trabalham contra o
E) geralmente, as áreas anticiclonais ou de baixa pressão tempo neste domingo [23.06,2013] para salvar as milhares
atmosférica são áreas dispersoras de ventos, enquanto as de pessoas que permanecem ilhadas no norte da Índia devido
áreas de alta pressão atmosférica ou ciclonais são zonas aos deslizamentos de terra e às inundações provocadas pelas
receptoras de ventos. chuvas que podem ter ocasionado mil mortes. As pesadas
chuvas, que atingem o subcontinente de junho a setembro,
06. (Mackenzie/2014) As correntes marítimas se movimentam costumam provocar alagamentos, mas começaram mais cedo
por todos os oceanos do mundo, modificando ciclicamente a este ano, pegando muitas pessoas de surpresa e expondo a
temperatura das águas, por isso são fundamentais para a definição falta de preparo para prever e enfrentar a situação.
dos climas por onde atuam. Sendo assim, algumas, com características Disponível em: <http://noticias.terra.com.br>. Adaptado.
frias, promovem o surgimento de desertos como o do Kalahari,
no continente africano, e do Atacama, na América do Sul. As chuvas torrenciais abordadas pelo texto estão associadas ao
As correntes marítimas, responsáveis pela formação dos dois fenômeno climático denominado:
desertos, citados no texto, são, respectivamente, A) Monções de verão. B) El Niño.
A) Humboldt e Benguela. B) Madagascar e Falkland. C) La Niña. D) Monções de inverno.
C) Bengela e Humboldt. D) Falkland e Guiné. E) Aquecimento global.
E) Guiné e Antártica.
09. (Ufac) De acordo com as condições atmosféricas, a precipitação
07. (Enem/2002) Numa área de praia, a brisa marítima é uma
Brisa terrestre pode ocorrer de várias formas: chuva, neve e granizo. Nas
consequência da diferença no tempo de aquecimento do solo regiões de clima tropical ocorrem três tipos de chuvas: frontal,
e da água, apesar de ambos estarem submetidos às mesmas orográfica e convectiva (ou de verão):
condições de irradiação solar. No local (solo) que se aquece
mais rapidamente, o ar fica mais quente e sobe, deixando uma
área de baixa pressão, provocando o deslocamento do ar da
superfície que está mais fria (mar).

Menor pressão
Brisa marítima

Maior
temperatura
Menor temperatura

Anual – Volume 3 229


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
A chuva demonstrada na imagem anterior é do tipo:
A) Frontal – esse tipo de chuva resulta do deslocamento horizontal e eventual choque entre massas de ar com diferentes características
de temperatura e pressão. O contato entre elas forma uma faixa de instabilidade, onde ocorrem as chuvas.
B) Orográfica – barreiras no relevo levam as massas de ar a atingir grandes altitudes, o que causa queda de temperatura e condensação
do vapor. As chuvas costumam ser localizadas, intermitentes e finas.
C) Convectiva – atingindo altitudes elevadas, a temperatura aumenta e o vapor se condensa em gotículas que permanecem em
suspensão. O ar fica mais denso, desce frio e seco para a superfície e inicia novamente o ciclo convectivo. Após a precipitação,
o céu fica claro novamente.
D) De verão ou convectiva – são causadas pela ascensão ou pela descida lenta (subsidência) do ar. O ar mais próximo da superfície
terrestre se aquece e ascende na atmosfera ao atingir camadas mais frias da troposfera. O vapor-d’água se condensa, formam-se
nuvens e chove. Geralmente, são chuvas torrenciais de curta duração acompanhadas de raios e trovões.
E) Frontal – geralmente, ocorre em zonas de contato entre duas massas de ar com características semelhantes. Logo, inicia o processo
de condensação do vapor e a precipitação da água na forma de chuva.

10. (Ufac/2011) Observe a imagem ao lado e responda:


ÁREAS ANTICICLONAL E CICLONAL, DEFINIDAS
PELAS ISÓBARAS1 MEDIDAS EM MILIBARES (mb)2
Com auxílio da figura, pode-se concluir que:
A) áreas frias (ou de alta pressão), como as polares e as subtropicais,
são dispersoras de massas de ar e ventos e recebem o nome de
áreas ciclonais.
B) as áreas quentes ou de baixa pressão atmosférica, como as
equatoriais, são receptoras de massas de ar e ventos que recebem 1030
1025
o nome de áreas ciclonais. 1020
C) o ar aquecido das zonas de baixas latitudes próximas ao equador Área anticiclonal
se expande, torna-se leve e sobe (ascende), criando uma área de
alta pressão ou ciclonal. 1010
1000
D) os movimentos do ar (massas de ar e ventos) resultam da 990
distribuição homogênea de energia solar nas zonas de baixas,
médias e altas latitudes.
E) a diferença de temperatura do ar atmosférico exerce uma função
muito importante na formação de áreas de baixa e alta pressão
atmosférica, porém não interfere no movimento das massas de Área ciclonal
ar e dos ventos. 1. Isóbaras: são linhas que, num mapa, unem pontos de igual pressão atmosférico.
2. Milibares (mb): unidade de medida da pressão atmosférica.

ADAS, Melhem Panorama geográfico do Brasil: Contradições, impasses e


desafios sócioespaciais. São Paulo: Moderna, 1998, p.332. Adaptado.

Seção Videoaula

A Dinâmica da Atmosfera - Parte I

A Dinâmica da Atmosfera - Parte II

A Dinâmica da Atmosfera - Parte III

230 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Aula 13:

C-6 H-27, 28
Aula H-29
Classificação Climática
13

Introdução
O clima compreende um padrão dos diversos elementos atmosféricos, como temperatura, umidade, pressão, ventos e precipitações,
associados a certos fatores que ocorrem de forma regional, como latitude, altitude, maritimidade, continentalidade, correntes marinhas
e massas de ar. As semelhanças em várias regiões da Terra de tipos específicos caracterizam os diversos tipos de clima, que, para a sua
determinação, são consideradas as variações médias dos elementos meteorológicos ao longo das estações do ano num período de 30
anos. De acordo com o tamanho de sua área de abrangência, podemos constatar a existência de microclimas, mesoclimas e macroclimas.
• Microclimas – variam de acordo com a superfície, mais, de uma modo geral, podemos considerar o microclima urbano e vegetal.
• Mesoclimas – são aqueles que sofrem uma variação local em algumas das suas características, pelos diversos aspectos da paisagem,
como o relevo ou altitude.
• Macroclimas – ou grandes tipos climáticos, são sempre classificados atendendo a um, dois ou mais elementos, em particular, a
temperatura e umidade. Pode ser denominado também de clima regional, correspondendo sempre ao clima médio presente num
território relativamente vasto da superfície do planeta.

40º

20º Trópico de Câncer

0º Equador

20º

Trópico de Capricórnio

40º

60º 60º 30º 0º 30º 60º 90º


120º 90º 120º
150º 150º
160º

CLIMAS QUENTES CLIMAS FRIOS CLIMAS TEMPERADOS CLIMAS DE ALTITUDES


Equatorial Polar Continental Continental
Tropical úmido Subártico Marítimo ou oceânico
Tropical seco Desértico Subtropical úmido
Desértico Continental Mediterrâneo 0 3300
km

ESCALAS DE CLIMA
Mario Sergio Araujo dos Passos/Wikimedia Foundation

Cookson69 CC BY-SA 3.0/Wikimedia Foundation

Mesoclima Macroclima

Anual – Volume 3 231


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II

The Photographer CC0/Wikimedia Foundation


Microclima

O estudo dos mesmos é de suma importância, em particular para a atividade agrícola, onde se pode escolher o melhor sistema
da agricultura a ser implementado, bem como prever o melhor momento para o plantio e a colheita.

Climograma

É a forma de representar graficamente o clima, permitindo de uma maneira simples e eficaz a verificação da sazonalidade
climática de determinada região do globo. Para a sua confecção, usamos o sistema de coordenadas cartesianas (ordenadas e abscissas).
Um climograma tem duas ordenadas: uma à esquerda, onde normalmente são representadas a incidência quantitativa das
precipitações anuais, e outra à direita, onde são marcadas as variações das temperaturas. No eixo das abscissas são representados os
meses do ano. As temperaturas são representadas por uma linha vermelha; e as precipitações, por barras azuis. Quando a concavidade
da linha de temperatura estiver para cima, o climograma representa uma região do hemisfério Sul. Se a concavidade estiver para baixo,
será o hemisfério Norte.

Análise do Climograma
Maior pluviosidade?
Maior temperatura? Em torno de 42 mm,
Em torno de 27 ºC Toledo em outubro
em julho
Menor pluviosidade?
Menor temperatura? TºC P. en
Em torno de 6 ºC, mm Em torno de 10 mm,
em janeiro 90 em julho e agosto
80 Comportamento da
Amplitude térmica?
70 pluviosidade em
27 ºC - 6 ºC = 21 ºC 30 60 relação às estações
25 50
Hemisfério? do ano?
20 40
Norte, pois as maiores 15
No verão ocorrem menos
30
temperaturas indicam a 10 chuvas do que nas demais
20
ocorrência do verão no 5 estações, quando as chuvas são
10
meio do ano 0 poucas e bem distribuídas.
0
J F M A M J J A S O N D

Tipos climáticos
Diferentes tipos climáticos compõem a dinâmica terrestre. Eles são determinados por uma gama de fatores e elementos que,
combinados, conferem a cada região do planeta um conjunto de características atmosféricas próprias. Existem diferentes classificações
do macroclimas presentes no planeta Terra, contudo, as mais usuais, relacionam as precipitações com a temperatura, desse modo,
usaremos essas características para nortear a descrição dos principais tipos climáticos do globo.

232 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Polar
T(ºC) P(mm)
20 40

Thulé

10 20

0 0

–10
Média anual Total anual
(–12,5 ºC) (109 mm) clima polar

–20

–30
J F MA M J J A S O N D

Está presente nas elevadas latitudes, precisamente norte do Canadá, da Rússia e do Alasca, em parte da Península Escandinava
e em todo o Continente Antártico. É marcado pela baixa temperatura, as menores registradas no planeta, com inverno longo,
permanece em torno de –30ºC e curto verão, com média de 4 ºC. A umidade relativa do ar é bastante elevada (70% e 80%), mas
raramente há precipitações (100 milímetros) que ocorre sob a forma de neve, mas como essa neve não derrete, são formados os
campos de gelo.

Subpolar ou subático
Está presente na transição entre os tipos climáticos polar e temperado, sendo, desse modo, reconhecido como o segundo tipo de
clima mais frio do planeta, pois sofrem grande influência de massas de ar polares continentais. Ocorre entre as latitudes 50 º e 70 º Norte, nas
porções mais setentrionais do Canadá, Alasca e Rússia. Caracteriza-se pela existência de verões curtos e pouco quentes (temperaturas
média de 10 º C) e invernos frios e prolongados (durante 6 a 8 meses do ano, a temperatura permanece com valores negativos).
Apresentam baixos índices pluviométricos do verão, correndo geralmente na forma de neve.

T(°C) P (mm)
160
140

120

100

80

30 60

20 40

10 20

0 0

-10
-20

-30

-40

J F M A M J J A S O N D

Anual – Volume 3 233


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Temperados

Oceano Glacial Ártico

C Oceano
Pacífico
A

Oceano
Oceano Atlântico
Pacífico

Oceano
Índico

CLIMA TEMPERADO MARÍTIMO


B

240
230 Climas temperados
220 0 4000 Tipo .....
210
200 km Mediterrâneo
190 Continental
180 CLIMA TEMPERADO CONTINENTAL C Marítimo
170
160 CLIMA TEMPERADO MEDITERRÂNEO A
150
140 140
130 130
120 60 120
120
110 110
110
50 100 50 100
50 100
90 90
90
40 80 40 80
40 80 70 70
70
30 60 30 60
30 60
50 50
50 20 40 20 40
20 40 30 30
30 10 20 10 20
10 20 10 10
10 0 0 0 0
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
0 0
J F M A M J J A S O N D

Está presente em latitudes médias, em torno de 30 até 65 Norte/Sul, entre as regiões polares e os Trópicos de Câncer e Capricórnio.
As temperaturas giram em torno de 18 °C, porém no inverno podem chegar a menos de zero. As chuvas são distribuídas de forma
regular durante o ano e as quatro estações são bem definidas: verão quente, outono com temperaturas amenas, inverno frio e primavera
mais quente com o passar dos dias. Podemos constatar a existência de vários subtipos climáticos.

• Temperado mediterrâneo: Apresenta verões quentes e secos (média 25 °C) e invernos moderados (0 –15 °C), e chuvosos, com
médias variando de 500 a 1.000 mm. É predominante no sul da Europa, influenciada pelo Mar Mediterrâneo, mas também ocorre
no Golfo do México, sudeste da China e no Chile.
• Temperado continental: Está presente nas áreas interiores da América do Norte, da Europa e do leste da Ásia. A continentalidade
age como um fator climático, tornando a umidade relativa do ar mais baixa e elevando a amplitude térmica anual. O inverno é muito
rigoroso, com média em torno de –5 ºC, e o verão quente, com média de 24 ºC, respectivamente. As precipitações são escassas,
ocorrendo, sobretudo no inverno.
• Temperado oceânico: Está presente nas fachadas litorâneas das latitudes médias, como o oeste e noroeste da Europa,
onde o fator maritimidade mantém a amplitude térmica baixa, com os invernos frios (média de – 3 ºC) e os verões, frescos
(média de 15 ºC). As chuvas são abundantes e bem distribuídas ao longo do tempo, devido à chegada de massas de ar do Oceano.

234 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Subtropical

Está presente na transição entre o clima temperado e tropical, sendo mais específico no sul da América do Norte, sudeste
da América, regiões do Centro, Norte e Sul do continente africano, Austrália, sudeste da China, Península Arábica e norte da Índia.
É caracterizado por apresentar uma grande amplitude térmica no decorrer do ano, as chuvas são bem distribuídas e há ocorrência de
queda de temperatura na estação do inverno, chegando a nevar. No verão, as temperaturas são semelhantes às de clima tropical.

C l i m a Subtropical Úmido com Invernos


Rigorosos (áreas mais elevadas)
mm ºC
425 31
400 30
375 29
350 28
325 27
300 26
275 25
250 24
225 23
200 22
175 21
150 20
125 19
100 18
75 17
50 16
25 15
0 14
J F M A M J J A S O N D

Tropical

Clima Tropical Continental


mm ºC
425 31 Círculo Polar Ártico
400 30
375 29
350 28
325 27
300 26
275 25 Trópico de Câncer
250 24
225 23
200 22 Equador
175 21
150 20
125 19 Trópico de Capricórnio
100 18
75 17
50 16 E . 1 : 300.000.000
25 15 Clima 0 2.000 4.000
0 14 tropical
J F MAM J J A S O N D

Está presente nas áreas situadas entre 5° e 30° de latitude Norte/Sul, entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, abrangendo grande
parte do território brasileiro, África, Índia, Península da Indochina e norte da Austrália. Apresenta temperatura média superior a 20 °C, pequena
amplitude térmica, e alto índice de chuvas, com precipitações de 1.000 a 2.000 mm, concentradas no período do verão. São registrados vários
subtipos climáticos, como o tropical continental ou típico (tropical seco), tropical úmido (litorâneo) ou o tropical monçônico, presente no Sudeste
asiático, destacam-se as chuvas de monções, tempestades torrenciais provocadas pelo vento úmido que sopra do Oceano.

Anual – Volume 3 235


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Equatorial

Clima Equatorial (2892 mm)


Lugar: Uaupés (AM)
mm ºC
425 31
400 30
375 29
350 28
325 27
300 26 Oceano
Atlântico Oceano
275 25 Pacífico
250 24 Equador
225 23
200 22 Oceano Oceano
175 21 Pacífico índico
150 20
125 19
100 18
75 17 0 3000
50 16 km
25 15
0 14
J F MAM J J A S O N D

Está presente nas regiões localizadas próximas à Linha do Equador (5° latitude Norte e Sul), é encontrado em parte da América
do Sul, em especial no Brasil, na região central da África (Vale do Rio Congo) e Indonésia e Malásia (Ásia). O clima se destaca por ser
quente (25 ºC) e úmido durante o ano inteiro, com média anual de umidade relativa do ar de 90%, e a chuva é abundante durante o
ano todo, com médias acima de 2000 mm anual.

Árido ou desértico
Localização dos principais
T (°C) P (mm) desertos quentes
30 60

20 40

Saara

10 20 Equador

Arábico
Namíbia
Média anual 0 0 Total anual
J F M A M J J A S O N D Calaári Australiano
(20,2 °C)
(102,3 mm)

Clima encontrado na faixa de 20° a 40° de latitude Norte/Sul. Sendo marcado pelo baixíssimo índice pluviométrico, onde a média
anual de precipitação é inferior a 250 milímetros, o equivalente a cerca de um mês de chuva no clima equatorial. A umidade relativa
do ar também é muito baixa, aproximadamente de 15%. Apresenta altas temperaturas, com média de 30 °C, com elevada amplitude
térmica diária: de dia a temperatura ultrapassa os 40 ºC e, à noite, chega a graus negativos. Esse tipo climático é encontrado na parte
central da Austrália (Oceania), na China (Ásia), norte do México e sul dos Estados Unidos (América do Norte), no Chile e no Peru
(América do Sul) e na Namíbia e Saara (África), por exemplo.

236 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Frio de montanha

Clima de montanha ou de altitude

Andes de vegetação
T(ºC)
40
8000 Oceano
30
20 Atlântico
10 7000 Oceano
0
J F M AM J J A S O N D Neves eternas Equador Pacífico
- 10 6000
Campos alpinos Oceano Oceano
5000 Pacífico Índico
4000
Coníferas
3000
Floresta temperada
0 3000 km
2000
Floresta tropical
1000

Ocorre nas grandes cadeias montanhosas do globo, como a Cordilheiras dos Andes, as Montanhas Rochosas, os Alpes e Himalaia,
onde a altitude age como um fator climático, independentemente da latitude, preservando e formando as neves eternas. Apresenta
baixas temperaturas, com médias anuais de 0°, com a redução de 6 ºC a cada mil metros de altitude. A quantidade de precipitação
também é variável, com médias de 1.500 mm.

Existem diversas classificações dos tipos de clima. Vejamos algumas:


• Classificação climática de Köppen: Nesta classificação são adotadas duas ou três letras para classificar o clima. Ela é mais usada
para estudos climáticos mais amplos que englobam grandes regiões.
Climas do planeta

MAPA MUNDIAL DA CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA KÖPPEN-GEIGER

Anual – Volume 3 237


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Clima do Brasil

80º 75º 70º 65º 60º 55º 50º 45º 40º 35º

5º 5º
Aw
Am Equador

Af
Af


Am Aw
Bsh
10º
Aw Am
CLIMA 10º
MEGATÉRMICO ÚMIDO
Am
E SUBÚMIDO
Af Sempre úmido
Am
Af 15º
Am Curta estação seca
Cwa
Aw Inverno Seco
Cwb
SECO 20º
Cfb
Bah Semiárido
Cfb Trópico d
Cfa e C ap r
icórni
MESOTÉRMICO ÚMIDO o
E SUBÚMIDO
Cfa Sempre úmido, verão quente Cfb OCEANO 25º

Cfb Sempre úmido, verão morno


ATLÂNTICO
Cwa Quente, inverno seco, 0 150 300 450 600 750 ml
verão quente
Quente, inverno seco, 0 250 500 750 1000 km 30º
Cwb verão morno
65º 60º 55º 50º 45º 40º 35º 30º

A 1ª letra maiúscula representa a característica geral do clima da região, a 2ª letra minúscula representa as particularidades
relacionadas à taxa de precipitação, a 2ª letra maiúscula é usada para classificar características específicas de climas secos ou climas polares, e a
3ª letra minúscula é usada para descrever as características de climas micro ou mesotérmicos. Veja:
1ª letra
– A: clima megatérmico (temperaturas médias superiores a 18 ºC)
– B: clima seco (precipitação anual menor que 500 mm)
– C: clima mesotérmico (–3 ºC > temperatura média < 18 ºC)
– D: clima microtérmico (temperatura < –3ºC)
– E: climas polares
2ª letra (junto com A, C, D)
– f: sempre úmido (mês mais seco com precipitação superior a 60 mm)
– m: monçônico, predominantemente úmido
– s: chuvas de inverno (mês mais seco com precipitação inferior a 60 mm)
– w: chuvas de verão (mês mais seco com precipitação inferior a 60 mm)
2ª letra (junto com B)
– S: clima semiárido (chuvas anuais entre 250 e 500 mm)
– W: clima árido ou desértico (chuvas anuais menores que 250 mm)
2ª letra (junto com E)
– T: clima de tundra (temperatura média entre 0 ºC e 10 ºC)
– F: clima de calota de gelo (temperatura inferior a 0 ºC)
3ª letra (junto com C e D)
– a: verões quentes (média igual ou superior a 22 ºC)
– b: verões brandos (média inferior a 22 ºC)
– c: frio o ano todo (média abaixo de 10 ºC)
3ª letra (junto com B)
– h: deserto ou semideserto quente (média anual igual ou superior a 18 ºC)
– k: deserto ou semideserto frio (média anual inferior a 18 ºC)

238 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
A classificação climática de Alisov O gradiente térmico ilustrado na imagem anterior é explicado
pela
Elaborada pelo geógrafo e climatólogo Boris Pavlovich Alisov, A) absorção da radiação solar na superfície, que compensa a
entre as décadas de 1930 e 1950. Trata-se de uma classificação falta de capacidade da atmosfera de absorver calor.
genérica, baseada, principalmente, na observação da distribuição B) orientação das vertentes, que demonstra diferenças
e atuação das massas de ar. Na classificação de Alisov, o planeta provocadas pela incidência irregular dos raios solares.
é dividido em sete cinturões climáticos com mesmo regime de C) rarefação do ar em altitude, que compromete a capacidade
atuação de massas de ar: equatorial, subequatorial (ou equatorial da atmosfera de conservar calor.
de monção), tropical, subtropical, temperado, subpolar (subártico D) dificuldade de circulação do ar em superfície, que indica
e subantártico) e polar (ártico e antártico). a plena atuação de massas de ar, dissipando o calor em
altitude.
Classificação climática de Thornthwaite E) zona de baixa pressão em altitude, que dificulta a chegada
Criada por Charles Warren Thornthwaite, onde o fator mais de ventos quentes às camadas mais altas da atmosfera.
importante é a evapotranspiração potencial e a sua comparação
com a precipitação que são típicas de uma determinada área. Com 03. (Fuvest/2019) No planeta Terra, há processos escultores, tais
base nos dados obtidos, são calculados vários índices, como o índice como a ação do gelo, o intemperismo e a ação do vento.
de umidade total (MI), usado para classificar o clima numa escala A atuação de tais processos pode ser representada em gráficos
de umidade que vai do seco (MI entre -110 e -66) ao muito úmido elaborados segundo variações médias de temperatura e
(com MI superior a 100). precipitação anual. Considere as características do deserto do
Saara, da Antártida e de uma floresta tropical e identifique o
Classificação climática de Flohn gráfico em que estão corretamente localizados.
A) ºc 2.000 1.000 250 mm B) ºc 2.000 1.000 250 mm
Classificação climática elaborada por Hermann Flohn e se –12
Antártida –12

fundamenta nos movimentos da atmosfera, em lugar do estado


médio de temperaturas e precipitações. Divide os climas em dois Deserto
do
Saara
tipos, aqueles em que todo o ano estão dentro de um mesmo 10 10

sistema de ventos, climas homogêneos, e aqueles que estão Floresta


Deserto
do Antártida
Floresta
Tropical
27 Tropical Saara 27
submetidos às variações do sistema de ventos, climas heterogêneos.
Elaborou sete zonas climáticas: zona equatorial, zona tropical, zona
C) ºc 2.000 1.000 250 mm
D) ºc 2.000 1.000 250 mm
subtropical seco todo o ano, zona subtropical com precipitação em –12 Antártida Floresta
Tropical –12
Antártida

inverno; zona temperada, zona subpolar e zona polar.


Deserto
do
10 Saara
10

Exercícios de Fixação
Deserto
do Floresta
27 Saara 27 Tropical

E) ºc 2.000 1.000 250 mm


Floresta
–12 Tropical
01. Está restrito a pequenos trechos, normalmente próximos a
desertos, como na Califórnia, Estados Unidos: na região central
Antártida
do Chile; nos extremos norte e sul da África; e no sul da Europa. 10
É caracterizado por verões quentes e secos – em função da Deserto
do
expansão das massas de ar seco dos desertos vizinhos – e por 27 Saara
inversos brandos e úmidos – período em que essas massas de
ar recuam e ficam estacionárias nos desertos.
04. (Fuvest) O rali Paris-Dacar é a maior e mais difícil prova da
LUCCI, BRANCO e MENDONÇA. Território e Sociedade no Mundo categoria no mundo. Em 2001, teve sua largada no dia 1º de
Globalizado. São Paulo: saraiva, 2014, p. 119.
janeiro, em Paris (49 °N), e terminou em 21 de janeiro, em Dacar
Assinale a opção correspondente ao tipo de clima descrito. (15 °N). Os participantes cruzaram a França, Espanha, Marrocos,
A) Clima Temperado. B) Clima Mediterrâneo. Mauritânia, Mali e Senegal, em um percurso de 10739 km.
C) Clima de Montanha. D) Clima Tropical. Assinale a alternativa que representa características climáticas
E) Clima Desértico. das regiões percorridas, durante a prova.
Direção Norte-Sul
02. Paris (49º N) Dacar (15º N)

GRADIENTE TÉRMICO A) T (ºC) B) T (ºC)


-10
0
10
20
30

-20
-10
0
10
20
30

700 P (mm) P (mm)


11,4 °C
3000
2000
1000
500
200
100
200
500
1000
500
200
100
0
100
200
500

600

12 °C
500

12,6 °C
C) T (ºC) D) T (ºC)
-10

10
20
0

30
10
20
0

30
40

400
P (mm) P (mm)
Metros

13,2 °C
2000
1000
500

0
200
100

2000
1000
500

0
200
100

300

13,8 °C
200

100
14,4 °C E) T (ºC)
-20
-10
0
10
20

0
16 °C P (mm)
3000
2000
1000
500
200
100
200

Elian A. Lucci et al. Território e sociedade no mundo globalizado, 2014.

Anual – Volume 3 239


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
05. (Enem/2012) A interface clima/sociedade pode ser considerada
em termos de ajustamento à extensão e aos modos como
as sociedades funcionam em uma relação harmônica com
seu clima. O homem e suas sociedades são vulneráveis às
variações climáticas. A vulnerabilidade é a medida pela qual
uma sociedade é suscetível de sofrer por causas climáticas.

AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010 (adaptado).

Considerando o tipo de relação entre ser humano e condição


climática apresentado no texto, uma sociedade torna-se mais
vulnerável quando:
A) concentra suas atividades no setor primário.
B) apresenta estoques elevados de alimentos.
C) possui um sistema de transportes articulado.
D) diversifica a matriz de geração de energia.
E) introduz tecnologias à produção agrícola.
Imagem relacionada à circulação geral da atmosfera.
Retirado do site: <http://www.internetgeography.net/
tropics/what-is-global-atmospheric-circulation>.
Exercícios Propostos
Os ventos são elementos climáticos importantes na formação das
paisagens naturais do planeta. Utilizando seus conhecimentos
01. (Fanema/2019) Analise o mapa. sobre o tema, a imagem anterior e o fragmento de
texto apresentado, assinale a alternativa que apresenta,
TEMPERATURA MÉDIA EM JANEIRO respectivamente, uma paisagem natural comum e característica
das latitudes próximas dos 30º, e a denominação dos ventos
que fluem de volta, rumo ao equador.
A) mata tropical e ventos de leste.
B) floresta temperada e ventos contra-alísios.
C) vegetação de altitude e brisas marítimas.
D) desertos e ventos alísios.

03. (Fuvest/2015) Observe o mapa a seguir.

OCEANO PACÍFICO

Acima de 30 °C -10 a 0 ºC
20 a 30 °C -20 a -10 ºC 50º
10 a 20 °C -30 a -20 ºC
0 a 10 °C Abaixo de -30 °C 50º
CÍRCU
LO
P
Olly Philipson. Atlhas geográfico mundial, 2014. POLO NORTE
O
LA

MAGNÉTICO Oceano Glacial


Ártico
A legenda do mapa está organizada segundo 90ºw
RTICO

A) áreas proporcionais. POLO NORTE


B) áreas ordenadas.
C) linhas diferenciadas.
D) pontos ordenados.
E) linhas proporcionais.
OC
EA

N
O
AT
02. (PUC/2018) Cinturões de vento surgem porque o Sol aquece a L ÂN
TIC
superfície mais intensamente no equador, onde os raios solares O

são quase perpendiculares ao terreno. O Sol aquece a Terra


0 950 km
menos intensamente em latitudes altas, pois aí os raios incidem
obliquamente na superfície. O ar quente, que é menos denso Atlas Geográfico Escolar. IBGE, 2012.
que o frio, ascende no equador e segue em direção aos polos,
descendo gradualmente à medida que esfria. O ar desce até A) Aponte, sobre a região ártica, um interesse geoeconômico,
atingir o nível do solo nos subtrópicos, a aproximadamente indicando três países nele envolvidos.
30 ºS e 30 ºN, depois flui de volta pela superfície terrestre em B) Explique a ocorrência de um impacto ambiental relacionado a
direção ao equador, (...). uma importante atividade econômica desenvolvida nessa região.

Para entender a Terra, 6ª edição. 2013, página 538, editora Bookman.

240 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
04. (Unesp/2007) Observe a tabela. 06. (Mackenzie/2017) Analise o climograma e as informações que
o acompanham.
EUROPA: MÉDIAS DE TEMPERATURA EM JANEIRO E JULHO
(INVERNO E VERÃO)
ºC mm
35 350
Média de Média de
Cidade temperatura (°C) temperatura (°C) 30 300
em janeiro em julho
25 250
Copenhague 0,0 16,0
20 200
Berlim 2,3 20,6
15 150
Atenas 10,8 29,4
10 100
Dublin 4,5 15,5
5 50
Reikjavik –0,4 11,2

Bucareste 2,8 23,7 0 0


Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Madri 4,5 24,0 Disponível em: <http://www.editoradobrasil.com.br/jimboe/img/galeria/


geografia/ano 5/unidade3/JBG5086B.jpg.> Adaptado.
Kiev –6,1 20,4

Liubliana 1,0 20,5 • Apresenta as maiores amplitudes térmicas anuais do Brasil;


Calendário Atlante de Agostini, 2001.
• A regularidade na distribuição das chuvas durante o ano é
uma de suas características marcantes;
Assinale a alternativa que contém o nome atribuído à variação • A Mata dos Pinhais é uma das principais formações vegetais
verificada entre as duas séries de dados e as localidades que da área por onde ele se estende no Brasil.
apresentam a maior e a menor variação.
A) Variação climática; Liubliana e Atenas. É correto afirmar que o climograma e as informações anteriores
B) Amplitude térmica; Kiev e Dublin. correspondem ao
C) Mudança climática; Bucareste e Copenhague. A) clima Tropical.
D) Amplitude térmica; Berlim e Reikjavik. B) clima Equatorial.
E) Variação climática; Madri e Atenas. C) cima Semiárido.
D) clima Subtropical.
05. (Unesp/2008) Grandes tempestades de areia ocorrem na área E) clima Tropical Úmido.
assinalada no mapa, alcançando cidades, fechando aeroportos
e provocando doenças respiratórias em larga escala. 07. (UEPB/2002) As áreas em destaque no interior dos continentes,
representadas no cartograma a seguir, caracterizam-se pela
fraca pluviosidade, grande variação diária na amplitude térmica
e, com algumas exceções, baixa densidade demográfica.
Assinale a resposta que identifica essas áreas.

OCEANO
PACÍFICO

ESCALA 1: 200 000 000


0 500 1100 2000

OCEANO ÍNDICO
0 2690 5380 km

Assinale a alternativa que contém o nome dessa área, o país


A) Áreas de florestas tropicais.
onde se localiza e o processo responsável pela ocorrência das
B) Áreas dominadas por desertos ou em processo de
referidas tempestades.
desertificação.
A) Saara; Nepal; sedimentação.
C) Áreas de altas montanhas.
B) Vitória; Índia; vossorocamento.
D) Áreas de florestas temperadas.
C) Atacama; Tailândia: meteorização.
E) Áreas com risco de erupções vulcânicas.
D) Kalaari; Vietnã; erosão.
E) Gobi; Mongólia; desertificação.

Anual – Volume 3 241


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
08. (FGV/2002) I II II

– Mediterrâneo – Temperado Continental – Subtropical


A) – Valparaíso – Varsóvia – Porto Alegre

– Temperado Oceânico – Mediterrâneo – Semiárido


B) – Nova Iorque – Barcelona – Recife

N – Equatorial – Tropical Continental – Temperado Oceânico


C) – Cingapura – Cuiabá – Londres
O L
S – Temperado
– Equatorial – Semiárido
D) Continental – Manaus – Nova Orleans
– Berlim
SIMIELLI, M. Elena. Geoatlas. SP: Ática, 2000. p. 16
– Equatorial – Semiárido – Desértico
No planisfério dado anteriormente, estão assinaladas as áreas E) – Campo Grande – Teresina – Riad
que apresentam:
A) intensa exploração vegetal, considerando-se que são ricas
em biodiversidade. 10. (Fuvest – adaptada) Considere as afirmativas, o mapa e o gráfico
B) formações geológicas recentes, também conhecidas como na China, para responder à questão.
dobramentos terciários, que originaram as cadeias mais
elevadas do mundo. TEMPESTADE DE AREIA
C) déficit hídrico, pois geralmente é negativa a diferença entre TEMPESTADES DE AREIA
os índices de pluviosidade e os de evapotranspiração.
D) elevada taxa de poluição dos solos e das águas, resultante
da descarga de dejetos urbanos e industriais.
E) intensa atividade sísmica, pois predominam terrenos de origem
recente, cujas camadas internas estão ainda em fase de
acomodação. MONGÓLIA

09. (PUC-RS) Resolver a questão com base nos climogramas que Deserto de Cobi
tratam da situação climática de três diferentes cidades. Pequim
CHINA
Precipitação Temperatura Oceano
0 240 km Pacífico
400 40

300 30

200 20 PRECIPITAÇÃO ATMOSFÉRICA


VISIBILIDADE NA REGIÃO DE PEQUIM
100 10 média nos períodos (mm)
<10 km
(mm) 0 0ºC 500
J F MA M J J A S O N D 1 -10 km
–10 480
0,5 - 1 km
–20
> 0,5 km 460
áreas não 440
Temperatura afetadas
Precipitação 420
linha do
400 40
litoral 400
30 1970-1972 1981-1991 1999-2008
300
Science & Vie, Climat, 2009.
200 20

100 10 I. Tempestades de areia que têm atingido Pequim nos últimos


(mm) 0 0ºC
anos relacionam-se a ventos que sopram do deserto de Gobi
J F MAM J J A S O N D em direção a essa cidade;
–10 II. A baixa pressão atmosférica predominante sobre o deserto
–20 de Gobi é responsável pela formação de ventos fortes nessa
região;
Precipitação Temperatura III. A diminuição de índices de precipitação atmosférica na
40 região de Pequim e o avanço de terras cobertas por areia
400
são indícios de um processo de desertificação;
300 30 IV. A grande região desértica asiática, da qual faz parte o deserto
20 de Gobi, liga-se à macrorregião formada pelos desertos do
200
Saara e da Arábia.
100 10
Está correto o que se afirma em:
(mm) 0 0ºC
J F MAM J J A S O N D A) I e II, apenas.
–10 B) II e III, apenas.
–20
C) I, III e IV, apenas.
D) II, III e IV, apenas.

242 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Chuvas Ácidas
Fique de Olho Ácido
Nítrico SO2
Ácido NO2 + H2O
Sulfúrico SO2,NO2
IMPACTOS AMBIENTAIS ATMOSFÉRICOS Chuvas ácidas
Emissões
Ilhas de calor
Por que ocorre o efeito ilha urbana de calor?

ZONA RURAL CIDADE

3º A 10ºC
MAIS QUENTE
Absorção e
retenção de
calor
Maior

Menor

Transpiração das
plantas e
evaporação
da água do
solo.

Penetração
de água

É um fenômeno climático que ocorre nas zonas urbanas, a Em 1872, o climatologista inglês Robert Angus Smith, elaborou o
partir da elevação da temperatura média da sua zona central, em termo “chuva ácida” para relacionar a elevação dos índices de poluição na
comparação com as zonas periféricas ou rurais, com oscilações cidade de Manchester, ao fenômeno da revolução industrial. São comuns
nos grandes centros urbanos e industrializados, mas podem ser levados
térmicas variando entre 4°C ou 11°C.
pelas corretes de vento para regiões mais distantes.
A origem desse fenômeno está relacionada às alterações da
As chuvas ácidas são oriundas das emissões de gases resultantes
paisagem realizadas pelo homem, como a retirada de áreas verdes
da queima de combustíveis fósseis, sobretudo o carvão mineral, que
e as construções de edificações, que alteram a capacidade térmica
provocam a liberação de óxidos de nitrogênio (NO), dióxido de carbono
do solo. Esses fatores, associados à pavimentação excessiva por (CO2) e do dióxido de enxofre (SO2). Ao serem lançados na atmosfera,
camadas de asfalto ou concreto, máquinas com motores ligados, e o os compostos químicos são combinados com o vapor-d’água,
próprio calor antropogênico, contribuem para concentrar mais calor. transformando-se, respectivamente, em ácido sulfúrico (H2SO4) e
A formação de ilha de calor provoca também a redução da umidade do ácido nítrico (HNO3). Ocorrendo a condensação na atmosfera, os
ar, alterações das precipitações e circulação do vento e são responsáveis compostos químicos chegam por gravidade à superfície na forma de
pela intensificação do fenômeno do aquecimento global. chuva, com pH inferior a 5,4, alterando a composição química dos
Inversão Térmica solos e ecossistemas aquáticos, provocando a corrosão de materiais,
a morte da vegetação, entre outros.
Fluxo Normal Inversão Térmica
A maior ocorrência de chuvas ácidas e registradas nas nações
desenvolvidas, como os Estados Unidos, Japão e países componentes
da União Europeia. Entretanto, com a transferência de parte dos
Ar mais frio Ar frio parques fabris para as nações em desenvolvimento, em fenômeno
passou a ser presente em outras partes do mundo, sobretudo na
China, que responde pela metade do consumo de carvão mineral
Ar frio Ar quente no mundo, superando os Estados Unidos no índice de emissão de
poluentes. No Brasil, a chuva ácida é mais comum nos estados de
Ar quente Ar frio
São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Efeito Estufa
Efeito de Estufa
Nos centros urbanos industrializados, principalmente aqueles B - Uma parte da radiação
cercados por cadeias serranas, é comum acontecer fenômenos que solar é refletida de volta
A - A radiação para o espaço.
alteram a circulação vertical da atmosfera. solar atravessa
a atmosfera. C - Outra parte da radiação infravermelha
As massas de ar movimentam-se verticalmente porque A maior parte é refletida pela superfície da Terra, mas não
a atmosfera sofre resfriamento nas camadas mais elevadas. da radiação consegue deixar a atmosfera.
é absorvida Ela é refletida novamente em direção à Terra
A Constância desse movimento provoca a dispersão dos gases pela superfície e de novo absorvida pela camada de gases
poluentes, gerados nas camadas mais baixas. Nas madrugadas frias terrestre e que envolve a atmosfera. A
aquece-a. B
(outono e inverno), as temperaturas próximas ao solo ficam mais C
baixas, dessa forma, ocorre uma inversão das camadas de ar: o ar ATMO
SFE
RA
frio (mais pesado) não consegue subir, e o ar quente (mais leve)
não chega a descer.
Outro agravante provocado pela inversão térmica é a
retenção próxima ao solo de uma grande concentração de gases
poluentes, formando uma camada de cor cinza, provocando
doenças respiratórias, irritação nos olhos e intoxicações.

Anual – Volume 3 243


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
O efeito estufa é um fenômeno natural da atmosfera, Camada de ozônio fica situada na estratosfera, entre
onde parte da radiação solar é armazenada no planeta mantendo 25 a 35 km de altitude, e possui a capacidade de absorver 98%
o seu desequilíbrio térmico. Contudo, em 1975, surgiu a teoria da radiação ultravioleta de alta frequência emitida pelo Sol. Sem a
do aquecimento planetário, onde os seus teóricos afirmam que a presença dessa camada, o planeta seria calcinado.
retenção da radiação solar está causando o aumento gradual das Pesquisadores descobriram, em 1983, a existência de um
temperaturas do planeta. buraco na camada de ozônio, sobre o território da Antártica e
O problema não está no efeito estufa, mas na sua outras porções da estratosfera. Na verdade, não se trata de um
intensificação, causada pelo lançamento de gases (metano, buraco, mas sim do enfraquecimento da camada de ozônio devido
dióxido de carbono, CFC, óxido nitroso e HFC), fazendo com que a ao lançamento do CFC (clorofluorocarbonetos), utilizado pelo
atmosfera retenha cada vez mais calor. Desde a Primeira Revolução homem em gases para refrigeração, em aerossóis e principalmente
Industrial até os dias de hoje, o planeta Terra já ficou 1 grau acima empresas petroquímicas.
da média. Após lançado, o CFC chega até a estratosfera, sendo
Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças quebrado quimicamente pela radiação ultravioleta e liberando o
Climáticas), as principais consequências do efeito estufa para o cloro, que reage com o ozônio, transformando-se em oxigênio
planeta são: simples. As baixíssimas temperaturas registradas na Antártica
• Mudanças climáticas: algumas partes do planeta poderão ficar aceleram a mudança dos clorofluorocarbonetos em cloro, o que
6 graus acima do normal, provocando mudanças na circulação explica a existência desse buraco na porção meridional do planeta.
do vento, consequentemente do tempo; As principais consequências são a intensificação do aquecimento
• Derretimento das calotas polares. Segundo os estudos, o Polo global e elevação no número de casos de câncer, pois a radiação
Norte deverá derreter até a metade do século XXI; ultravioleta altera o DNA das células. Para impedir que essa situação
• Aumento do nível do oceano, provocando alagação nas regiões se agrave, foi assinado em 1987, o Protocolo de Montreal, onde as
costeiras, onde moram 80% da humanidade; nações signatárias se comprometeram em eliminar o CFC. De acordo
• Algumas regiões serão transformadas em desertos, agravando com pesquisas, a camada de ozônio deve se normalizar por volta de
a problemática da fome; 2050, caso a redução no uso dos CFCs continue nos níveis atuais.
• Intensificação de doenças tropicais.
Visando o enfrentamento do problema, foi realizada em
1997, a Convenção da ONU sobre as Mudanças Climáticas, em
Aula 14:

C-6 H-27, 28
Kyoto (Japão). Nessa reunião foi firmado um acordo, denominado Aula Os Grandes Domínios da H-29

de Protocolo de Kyoto, para a redução da emissão de gases do efeito 14 Vegetação no Mundo


estufa, com base nos níveis de 1990. Esse documento definiu uma
redução média de 5,2%, por parte dos países desenvolvidos, meta
a ser atingida em 2012.
Em 2005, o Protocolo entrou em vigor, onde já conta com Introdução
a participação de mais 150 países. Contudo, os Estados Unidos O bioma pode ser descrito como um conjunto de
se recusaram em ratificar esse documento. Esse protocolo abre a ecossistemas formado por características (fauna e flora) fisionômicas
possibilidade da venda dos créditos de carbono. de vegetação semelhantes em determinada região do planeta. É
Em 2012, em Dora, no Catar, ocorreu a COP 18, que caracterizado por um tipo principal de vegetação, que é influenciada
estendeu a validade do Protocolo de Kyoto até 2020. Em 2015, por diferentes fatores, tais como a latitude, a temperatura, o
em Paris, durante a COP 21, foi criado o Protocolo de Paris, onde relevo, a pluviosidade e o tipo de solo. A distribuição desses biomas
a meta era evitar que a temperatura do planeta não aumentasse terrestres e seus tipos de vegetação e fauna estão diretamente
mais de 2 graus, bem como a criação de um fundo de 100 bilhões ligados ao clima, pois para cada tipo climático, corresponde um
de dólares, para auxiliar as nações em desenvolvimento a cumprirem bioma específico marcado por uma determinada cobertura vegetal.
suas metas.
BIOMAS
Buraco da Camada de ozônio
50 km

s
ta Alta
le
avio atmosfera
Trópico de Câncer
Oceano
ultr io
Atlântico
os ôn Oceano
i de oz Pacífico
Ra ada
Cam 15 km Equador
Oceano Oceano
Pacífico Índico
Baixa
atmosfera Trópico de Capricórnio N

0 3000

km
Floresta equatorial Estepe e pradaria Vegetação mediterrânea Taiga Tundra
Floresta tropical Deserto Floresta caducifolia Vegetação de alta montanha
Globo
terrestre Savana

244 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Classificação das formações vegetais
Quanto ao tipo
Vegetação heterogênea: Vegetação constituída de grande variedade de espécies.
Vegetação homogênea: Vegetação constituída de poucas ou de uma única espécie.
Densa: Vegetação com espécies que se encontram bem próximos umas das outras, dificultando a ocupação humana.
Aberta: Vegetação que se apresenta espaçada, o que favorece a ocupação humana.

Quanto ao porte
Arbórea: Vegetação de porte alto, geralmente superior aos sete metros.
Arbustiva: Formação vegetal de porte médio, com tamanho estimado entre 3 e 5 metros.
Herbácea: Vegetação rasteira, formada por gramíneas.
Estratificado: Quando apresenta mais de um estrato simultâneo.

Quanto à umidade
Higrófilas: Plantas adaptadas a muita umidade (climas úmidos), sendo necessariamente perenes.
Xerófilas: Plantas adaptadas à aridez (climas secos).
Mesófila/Tropófilas: Plantas adaptadas à alternância de uma estação seca e outra chuvosa.
Ombrófilas: Plantas que estão situadas em regiões de estrato índice pluviométrico.
Hidrófilas: Plantas aquáticas.

Quanto ao tipo de folha


Perenefoliada: Floresta sempre verde, que não perde as folhas em nenhuma estação.
Decídua: Caducifólias: diz-se de planta que perde as folhas em certas épocas do ano (sobretudo no inverno).
Latifoliadas: Plantas de folhas largas, de regiões muito úmidas, o que permite intensa transpiração.
Aciculifoliadas: Possuem folhas em forma de agulhas, como os pinheiros. Quanto menor a superfície das folhas, menos intensa
é a transpiração e maior a retenção de água pela planta.
Esclerófilas: plantas que apresentam folhas de consistência dura.
Coriáceas: Coriáceos: Folhas com texturas semelhantes ao couro.

Outros tipos
Orófilas: Planta adaptada às grandes altitudes.
Halófitas: Plantas adaptadas a ambientes salinos.
Umbrófilas: Plantas que estão adaptadas a ambientes com sombra.
Não existe consenso sobre quantos biomas existem no planeta, pois a definição de bioma varia de autor para autor. Contudo,
são citados 11 tipos de biomas diferentes, onde os mais destacados estão expressos a seguir:

Formações vegetais de médias e altas latitudes


Tundra

Groelândia

Ásia

Europa
América
do Norte

África

América
do Sul
Austrália

O bioma da tundra aparece nas fraudas boreais da região Ártica, precisamente entre os paralelos 60º e os 75º de latitude
Norte, estendendo-se pelas porções setentrionais da Rússia (Sibéria), Europa (Escandinávia), Groenlândia, Canadá e Alasca. O clima que
influencia essa formação vegetal se destaca pelo rigor, recebendo pouca luz solar e pouca umidade, onde em grande parte do ano a
temperatura não ultrapassa os – 6 ºC.

Anual – Volume 3 245


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Por cerca de dez meses do ano, a vegetação permanece As principais espécies encontradas são o pinheiro, cipreste
congelada, coberta por uma camada de neve. Porém, com a e o abeto, que são bastante explorados para a produção de papel,
chegada do verão, momento em que as temperaturas podem variar celulose, e para construção civil, que tem provocado o aumento da
entre – 6 °C e 10 ºC, a paisagem monótona, cede lugar às rochas, degradação ambiental na região. É o caso do Canadá, que é responsável
lamaçais e principalmente aos líquens (associação de fungos e por 50% de todo o papel-jornal comercializado no mundo.
algas), musgos e algumas plantas herbáceas. O curto verão faz da
tundra a formação vegetal de menor ciclo do planeta, mas que se TAIGA
desenvolve de forma maciça, uma adaptação para suportar o ar frio
e os fortes ventos. Outra grande dificuldade enfrentada pela tundra
diz respeito ao permafrost, onde o solo permanece congelado e
impermeável durante todo o ano, o que impede o desenvolvimento
das raízes. Nessas condições, as folhas tentem a ser pequenas para
reter a umidade com maior facilidade.

Antikainen/123RF/Easypix

Yanlev/123RF/Easypix
Pilens/123RF/Easypix

Taiga Sergey Belov/123RF/Easypix

A Taiga, também denominada de floresta boreal ou


de coníferas, está presente na porção setentrional do planeta,
em regiões com latitudes acima de 55º, mais precisamente na
Escandinávia (Noruega, Suécia, Finlândia), Canadá, Groenlândia, Floresta temperada
Japão e Alasca. Porém, as maiores extensões dessa floresta é
FLORESTA TEMPERADA
encontrada na Rússia.
Essa vegetação é influenciada diretamente pelo clima
subártico e pela baixa precipitação, desse modo, as plantas
apresentam um período de crescimento pequeno. Embora existam
precipitações, o solo congela durante o inverno, impossibilitando
a penetração das raízes. As folhas são do tipo aciculifoliada (forma
de agulha), com superfícies pequenas para reduzir o processo
de evapotranspiração, e cobertas por uma película cerosa,
que limitam a perda de água por transpiração, conservando Equador
assim a umidade e o calor durante o período mais frio do ano.
Apresenta também vegetais de grande porte com caules retilíneos e
copas em forma de cone, o que contribui para evitar a acumulação
da neve e a subsequente destruição das folhas.

246 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
As florestas temperadas são encontradas nas porções oeste

Melinda Fawver/123RF/Easypix
da Europa, leste dos Estados Unidos e da Ásia e sul da América
do Sul, regiões influenciadas pelo clima temperado e frio, com
invernos não prolongados e estações bem definidas, com acentuada
amplitudes térmicas, podendo variar entre –30 °C no inverno e
30 °C no verão.

Irantzu Arbaizagoitia/123RF/Easypix
Esse bioma pode ser encontrado entre 30º e 40º Norte
e Sul, mais precisamente nas margens da região banhada pelo
Mar Mediterrâneo, na Europa, África e Ásia, mas é possível de
ser encontrada em certas regiões da Califórnia (Estados Unidos),
Chile, África do Sul e também da Austrália. O clima desse bioma
é marcado por uma estação muito seca e quente: o verão.
O inverno é ameno e chuvoso. As características climáticas citadas
favorecem o desenvolvimento de uma vegetação composta por
Os vegetais são do tipo caducifoliados ou decídua, pois pequenas árvores distanciadas umas das outras, ou por bosques
as árvores perdem as folhas no período do outono/inverno, onde de árvores de folhas duras (esclerófilas). A vegetação original foi
bastante alterada, em muitas vezes, substituídas por plantações
reduzem a atividade metabólica, como forma de adaptação
de oliveira e videiras. Podem ser encontrados dois subtipos de
contra a seca fisiológica, uma vez que o período do inverno, que
vegetação:
dura aproximadamente três meses, é bastante rigoroso, com
• Garrigue: Formação bem aberta, encontrada em solos
congelamento da água no solo. No outono, as folhagens se tornam
calcários;
multicoloridas, variando do vermelho ao castanho, passando pelo
• Maqui: Formação bem fechada que cresce em solos
alaranjado, dourado e cobre. Esse acúmulo de folhas mortas silicosos.
enriquece com matéria orgânica e nutrientes o solo que geralmente
apresenta coloração escura, apresentando elevada fertilidade.
A floresta temperada pode apresentar até quatro estratos
Estepes e pradarias
diferentes, apresentando desde as coníferas e árvores com folhas
largas caducas, até arbustos, plantas herbáceas e musgos. Entre as ESTEPES E PRADARIAS
espécies mais significativas encontramos as bétulas, as nogueiras,
as sequoias, os pinheiros, faias, os castanheiros, ciprestes, olmos,
abetos etc.
Como essas formações estão situadas nas regiões mais
densamente povoadas, são também as mais ameaçadas de extinção
devido à expansão da atividade urbana industrial, sendo que em
porções da Europa só restam bosques secundários.

Formações não florestais de médias


e altas latitudes

Vegetação mediterrânea (ou Chaparral) Estepes


VEGETAÇÃO MEDITERRÂNEA (OU CHAPARRAL) São formações vegetais encontradas nas regiões de planície,
geralmente formando uma zona de transição vegetativa entre a
savana e um deserto, sob o domínio do clima semiárido frio, com
chuvas escassas e mal distribuídas, longe da influência marítima e
perto de barreiras montanhosas. Estão presentes nos EUA, e porções
da Ásia, Mongólia, na Sibéria e na China, apresentando poucas
árvores, sendo formada por herbáceas e pequenos bosques. Com
um pouco mais de chuva, a estepe poderia ser classificada como
pradaria; com um pouco menos, como deserto.

Anual – Volume 3 247


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II

Gary Tognoni/123RF/Easypix
Tykhyi/123RF/Easypix
Estepe na Mongólia
Pradaria
É uma cobertura vegetal onde predominam as gramíneas,

George Burba/123RF/Easypix
com árvores esparsas e arbustos isolados ou em pequenos grupos.
É encontrada em vários continentes, em particular nas regiões
intertropicais, com duas estações bem definidas, um período seco
bastante longo, alternado por uma estação chuvosa. Geralmente,
fazem a transição para outros tipos de biomas (campos e florestas).
A vegetação herbáceo-arbustivo, possui uma elevada
resistência ao fogo, algumas espécies necessitam de altas
temperaturas para que suas sementes quebrem a dormência. As
gramíneas apresentam folhas compridas que aproveitam ao máximo
a umidade existente e rizomas resistentes à seca. As árvores possuem
os troncos retorcidos, espessos e duros, onde algumas espécies
possuem a particularidade de armazenarem água em seus trocos,
como o baobá, africano, ou a barriguda, brasileira. A folhagem
das árvores são do tipo caducifoliada, uma vez que caem durante
o período seco, como estratégia de reduzir a evapotranspiração. A
As pradarias ocupam as regiões de planície, abrangendo uma
savana se apresenta sob várias denominações regionais: Venezuela e
área de 9.000.000 km², sob domínio de clima temperado continental da Colômbia (llanos); o cerrado, vegetação correspondente no Brasil;
úmido, presente em praticamente todos os continentes, com maior scrubs, no norte da Austrália; jungle, na Índia.
ocorrência no norte dos EUA, sul do Canadá, sul da América do Sul
e o leste da Europa. São vastas regiões abertas, onde predominam Desertos
gramíneas, alguns arbustos e quase nenhuma árvore, que
oferecem pastagens naturais, utilizadas para o desenvolvimento da DESERTOS
pecuária, e os melhores solos agricultáveis do planeta (Thernozion). LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS DESERTOS QUENTES
Pastoreo do solo da pradaria está levando esse bioma ao processo de
desertificação. Na América do Sul, essas formações estão localizadas
na Argentina, Uruguai e no estado do Rio Grande do Sul, onde
recebem a denominação de pampas.

Formações não florestais Saara

de baixa latitude Equador Arábico

Namíbia
Savanas Calaári
Austráliano

SAVANAS

Os desertos ocorrem, geralmente, entre as latitudes 15° e


30º, tanto ao norte como ao sul do Equador, sendo caracterizados
pela baixa pluviosidade, geralmente inferior a 500 milímetros. Sua
fisionomia é caracterizada pelos solos rasos, vegetação xerófita
e espaçada, formada por gramíneas e pequenos arbustos, que
se adaptam à escassez hídrica, apresentam raízes profundas,
que buscam água no lençol freático, e caules que possuem a
Equador particularidade de armazenamento de água. Para reduzir o processo
de evapotranspiração, as folhas são perdidas (caducifoliadas) ou
transformadas em espinhos para que possam proteger a água do
seu caule de predadores. Em algumas regiões com mais umidade,
aparecem as “ilhas de vegetação” – os chamados oásis.

248 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS

Kjersti Jorgensen/123RF/Easypix

Jane Rix/123RF/Easypix
Formações florestais de baixa latitude

Florestas tropicais

FLORESTAS TROPICAIS

Equador

As florestas tropicais estão presentes dentro das latitudes 28 graus ao norte ou ao sul do Equador, sendo submetidas a altas
temperaturas e a uma quantidade significativa de chuva, características do tropical úmido. Uma das principais características da floresta
tropical é a riquíssima biodiversidade vegetal e animal, onde muitas destas espécies ainda não são registradas pela ciência, e possivelmente
60% de todas as espécies do planeta se encontram neste ecossistema. O intenso desmatamento ocorrido nessas regiões estão reduzindo
de forma drástica essas formações vegetais.
Apesar de existirem subtipos de florestas tropicais, elas apresentam certas características comuns: heterogêneas, densas,
perenefoliadas, higrófilas, latifoliadas. Quanto mais próximo ao Equador, mais fechadas são as florestas, apresentado vários estratos
diferentes com árvores de diversos tipos e portes, com muitos cipós em seus troncos e galhos. A maior incidência dessas florestas pode
ser encontrada nas seguintes regiões: Brasil (Floresta Amazônica e Mata Atlântica), África (Bacia do Rio Congo), América Central, Ásia
(Vietnã, Laos, Camboja e Tailândia) e parte da Oceania (Nova Guiné, Bornéo e costa norte da Austrália).
Morley Read/123RF/Easypix

Anual – Volume 3 249


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Hotspots
Esse conceito, atualmente, bastante difundido na ecologia, foi criado pelo inglês Norman Myers para indicar as áreas mais
importantes para preservar a biodiversidade no planeta. Essas áreas apresentam em comum o fato de possuírem elevada biodiversidade,
eminente risco de desaparecimento, e devem apresentar pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenham perdido mais
de 3/4 de sua vegetação original. Apesar da grande importância, existem apenas 34 regiões demarcadas, o que corresponde apenas a
2,3% da superfície terrestre. No Brasil, foram estabelecidos dois Hotspot: a Mata Atlântica e o Cerrado, que apresentam 7% e 20%,
respectivamente, da sua cobertura vegetal original.

15

8
14 20
19 25
3

2 18
21

11
5 16
6 10

1 9 17

25 23
4
13
7 22
12
24

1. Tropical Andes, 2. Mesoamerica, 3. Caribbean, 4. Brasil’s Atlantic Forest, 5. Chico/Darien Western Equador, 6. Brasil’s Cerrado, 7. Central Chile,
8. California Floristic Province, 9. Madagascar, 10. Eastern Arc & Costal Forest of Tanzania/Kenia, 11. West African Forest, 12. Cape Floristic Province,
13. Succulent Karoo, 14. Mediterranean Basin, 15. Caucasus, 16. Sundiand, 17. Wallacea, 18. Phillippines, 19. Indo-Burma, 20. South-Central Chaina,
21. Western Ghats/Sri Lanka, 22. Southwest Australia, 23. New Caledonia, 24. New Zealand, 25. Polynesia/Micronesia.

Biopirataria
No ano de 1876, o inglês Henry Wickham, contrabandeou 70.000 sementes da Hevea brasiliensis (seringueira) da região de
Santarém no Pará, para a Malásia, e outras possessões tropicais administradas pelos britânicos, no que ficou marcado na história como
o maior caso de biopirataria do Brasil. Todavia, desde o momento em que os portugueses aportaram no país, aprenderam, com os índios
nativos, a técnica de extrair o corante vermelho do pau-brasil. Já se estabelecia o primeiro caso de biopirataria do país.
Esse tema passou a ganhar destaque mundial, muito tempo depois, com a “Convenção Sobre Diversidade Biológica” realizada
pela ONU, no Rio de Janeiro em 1992, onde ficou definido que biopirataria consiste na apropriação indevida de recursos da fauna e
flora, e do conhecimento das comunidades tradicionais. Segundo as normas da OMC (Organização Mundial do Comércio), as patentes
registradas a partir de pesquisas realizadas em outros países possuem validade legal, desde que as comunidades locais também tenham
participações nos lucros obtidos. Contudo, na grande maioria das vezes, esses tratados não são obedecidos pelas grandes corporações.
Estimativas superficiais dão conta que o Brasil, detentor do maior patrimônio genético do globo, perde mais de cinco bilhões de dólares
por ano com a biopirataria, porém esse número parece ser bem maior, uma vez que somente o lucro das indústrias farmacêuticas, onde
40% dos medicamentos são de origem natural, passe de U$400 bilhões por ano. Nesse contexto, o Brasil é um grande fornecedor de
material genético. Estima-se que 25 mil espécies de plantas sejam usadas para a produção de medicamentos. O incrível é que não existe
ainda uma legislação específica que defina a biopirataria como crime previsto em lei.
Outros casos de biopirataria no Brasil:
Jararaca Ana (Bothrops jararaca) – o veneno dessa serpente, cujo princípio ativo foi descoberto por cientistas brasileiros, mas
o registro da patente foi feita por uma empresa dos Estados Unidos, é utilizado na produção de um medicamento para hipertensão,
denominado de captropil.
Cupuaçu – fruto típico da floresta Amazônica, utilizado na extração do óleo de suas sementes e na produção do chocolate da
fruta, denominada de cupulate. Existem patentes registradas no Japão e Inglaterra.
Açaí – palmeira nativa da região Amazônica, da qual se extrai um fruto saboroso e de grande poder nutritivo, foi patenteado
pela empresa japonesa K. K. Eyela Corporation, em 2003, e só foi caçada devido à pressão internacional.
Andiroba (Carapa guianensis) – cujo óleo e extrato de seus frutos foram registrados pela empresa francesa Yves Roches, no
Japão, França, União Europeia e Estados Unidos, em 1999, e pela empresa japonesa Masaru Morita, em 1999.
Copaíba (Copaifera sp.) – teve sua patente registrada pela empresa francesa Technico-flor.
Espinheira santa (Maytenus ilicifolia) – A empresa japonesa Nippon Mektron detém uma patente de um remédio que se utiliza
do extrato da espinheira santa, desde 1996.

250 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Desmatamento
Ranking do desmatamento

alexwhite/123RF/Easypix
Área desmatada Percentual desmatado
(em quilômetros quadrados)
1º-Burundi 15,64%
1º-Brasil 22.264
2º-Haiti 7,95%
2º-Indonésia 13.124
3º-El Salvador 5,95%
3º-Sudão 9.589 4º-Santa Lucia 5,56%
4º-Zâmbia 8.509 5º-Ilhas Comoro 5%

5º-México 6.306 65º-Brasil 0,42%

Banco Mundial (dados para o ano 2000)

No ano 2000, a FAO (Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) definiu o termo “floresta” como uma área
de pelo menos 0,5 hectares, contendo árvores com porte superior a 5 metros de altura, e com um dossel de copas que gerem sombra
sobre 10% do solo desta área. É importante ressaltar que terras agricultadas com monoculturas, pomares ou parques urbanos estão
fora desta definição. Atualmente, cinco países – Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e China – concentram mais de 50% de toda a
área de florestas do globo.
Dessa forma, o desflorestamento ou desmatamento é o termo utilizado para designar o processo contínuo de supressão vegetal de
uma determinada área. A retirada aleatória de certas espécies arbóreas do meio natural, não pode ser configurada como desmatamento,
pois, a floresta continua a manter o seu equilíbrio biológico. O problema consiste na remoção acentuada da vegetação original.
O desflorestamento é um fenômeno antigo, que segundo evidências antropológicas, ocorre desde períodos pré-históricos em
diversas partes do mundo. Contudo, com a intensificação das atividades produtivas e o aumento da demanda global por áreas agricultáveis
ou matérias-primas, desencadeado com a Revolução Industrial em meados do século XVIII, a quase totalidade das florestas temperadas
do Hemisfério Norte foram suprimidas e, durante a segunda metade do século XX, esse processo passou a impactar também as florestas
tropicais, assumindo proporções alarmantes e catastróficas.
Essa devastação promovida através das atividades humanas já alterou, no período de apenas 300 anos, grande parte da superfície
que corresponde às terras emersas do planeta, pois mais de 50% de toda a cobertura vegetal natural já foi suprimida, restando apenas
31% de áreas florestais em diferentes graus de conservação, das quais aproximadamente 20% delas ainda estão em condições intocadas.
A taxa global de desflorestação foi da ordem de 170.000 km2 anuais entre as décadas de 2000 e 2010. Cerca de 70% da degradação
florestal no subcontinente Latino-americano, Oceania e Ásia (que já perdeu 60% de suas florestas) possui como causa a atividade extrativa
madeireira, e a maior parte da degradação existente na África tem origem no uso da madeira como matriz energética. Outros fatores podem
ser acrescidos como a expansão de áreas agricultáveis, a abertura de estradas, a expansão urbana e o extrativismo mineral.
As consequências da retirada da cobertura vegetal original são por demais danosas ao meio ambiente, e consistem principalmente
na erosão biológica (perda da biodiversidade), degradação do solo e o aumento da incidência do processo de desertificação, erosões,
mudanças climáticas (elevação da temperatura e redução das precipitações atmosféricas) e na rede hidrográfica.

Quadro síntese
APROVEITAMENTO IMPACTO
VEGETAÇÃO CLIMA LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS
ECONÔMICO AMBIENTAL
Norte da Ásia, Europa e Derramamento de
Tundra Polar e subpolar Musgo e liquens
América petróleo
Temperado Rússia, Leste europeu e Homogênea, perene e
Taiga Extrativismo vegetal Desmatamento
continental Canadá aciculifoliada

Temperado EUA, Europa Ocidental e Extrativismo e Ocupação urbano-


Floresta temperada Homogênea decídua
Oceânico litoral da China agropecuária industrial

Europa Ocidental, centro


Temperado Desmatamento e
Pradarias dos EUA, Sul da América Herbácea Agropecuária
subtropical Desertificação
do Sul

Faixas de transição entre o


Estepes Temperado Seco Xerófita Agropecuária Desertificação
clima tropical e temperado

Arbustiva, tropófitas e
Savanas Tropical continental Zona intertropical Agropecuária Desertificação
heterogênea

Semidesértico ou Faixas de transição entre o


Desertos Xerófitas Agropecuária Desertificação
desértico clima tropical e temperado
Banco genético,
Equatorial e Tropical Heterogênea, perene,
Florestas tropicais Faixa intertropical extrativismo vegetal Desmatamento
úmido densa e hidrófila
e agropecuária

Anual – Volume 3 251


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II

Exercícios de Fixação

01. Leia o texto.


Há 8 mil anos, o espaço geográfico onde se localiza o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Nesse mesmo período, a
Europa, sem a Rússia, possuía cerca de 7%; a África quase 11%; e a Ásia, 23,6%.
No início do século XXI, o espaço geográfico onde se localiza o Brasil detinha 28,3% das florestas mundiais. A Europa, sem
a Rússia, detinha apenas 0,1%; a África estava com 3,4%; e a Ásia, 5,5%.
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. Quando o Amazonas corria para o Pacífico: uma história desconhecida da Amazônia. Petrópolis, RJ. 2 ed.: VOZES, 2007.

Relacionando as informações dois dois períodos históricos citados no texto, é correto afirmar que
A) a Europa, sem a Rússia, foi o continente que possuía a maior quantidade de floresta do planeta e, no início do século XXI, possuía
a menor área florestada.
B) o ritmo do desmatamento, no território onde o Brasil está situado, foi menor se comparado aos continentes citados.
C) a Ásia e a Europa, sem a Rússia, ao longo dos séculos, aumentaram o tamanho de suas áreas de florestas.
D) a África e a Ásia apresentaram o mesmo ritmo de desmatamento ao longo dos séculos.
E) ao contrário de outras localidades do planeta Terra, não ocorreu desmatamento no Brasil.

02. (Unicamp/2019) A figura a seguir retrata a variação latitudinal Lat. 90°


dos padrões espaciais de distribuição dos principais biomas
terrestres.
Ártico
Considere a figura ao lado e assinale a alternativa correta. Tundra

e
nt
A) As florestas têm um aumento na diversidade de suas

ce
Taiga
espécies à medida que a precipitação aumenta e as

res
Subártico

ec
temperaturas apresentam declínio. od
B) Os desertos e as savanas ocorrem em todos os continentes,
çã
Floresta
em áreas com temperaturas elevadas e baixo volume de Bosque
ita

Chaparral Latitude
cip

precipitação. média
Pastagens Deserto
Pre

C) A taiga apresenta espécies arbóreas de maior porte em


razão da umidade proveniente das baixas pressões de Tropical úmida Floresta de
médias latitudes do Hemisfério Norte. monções
Espinheiros Tropical
D) As savanas e as florestas de monções dependem da e arbustos Savana Deserto
sazonalidade climática: invernos frios e chuvosos, verões
quentes e secos. Lat.0º
Precipitação decrescente
James F. Petersen, Dorothy Sack e Robert E. Glabler,
Fundamentos de Geografia Física. São Paulo: Cengage, 2015, p. 158.

03. (Unicamp) O mapa a seguir mostra a distribuição global do fluxo de carbono. As regiões indicadas pelos números I, II e III são,
respectivamente, regiões de alta, média e baixa absorção de carbono.

Extraído de Beer et al. Science, 329:834-838, 2010.

252 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Considerando-se as referidas regiões anteriores, pode-se afirmar que os respectivos tipos de vegetação predominante são:
A) I. Floresta Tropical; II. Savana; III. Tundra e Taiga.
B) I. Floresta Amazônica; II. Plantações; III. Floresta Temperada.
C) I. Floresta Tropical; II. Deserto; III. Floresta Temperada.
D) I. Floresta Temperada; II. Savana; III. Tundra e Taiga.

04. (Fatec/98) Assinale a alternativa que identifica corretamente:

3000 km

I. o nome da vegetação que ocupava originalmente as áreas representadas no mapa;


II. um dos fatores responsáveis pela redução dessas áreas na atualidade;
III. um aspecto que justifica sua importância para a sociedade.

A) I. Matas tropicais e subtropicais;


II. Secas prolongadas devido a fenômenos ocasionais como El Niño;
III. Fornecimento de plantas específicas para a indústria farmacêutica.
B) I. Florestas pluviais (Rainforest);
II. Queimadas associadas à expansão da agropecuária;
III. Megadiversidade, possuindo cerca de 70% das espécies vegetais e animais do mundo.
C) I. Savanas;
II. Queimadas associadas à expansão da agropecuária;
III. Biodiversidade, possuindo um dos mais ricos estoques genéticos do globo.
D) I. Florestas pluviais (Rainforest);
II. Drocesso de desertificação associado ao crescimento da atividade industrial;
III. Biodiversidade, possuindo um dos mais ricos estoques genéticos do globo.
E) I. Savanas;
II. Processo de desertificação associado ao crescimento da atividade industrial;
III. Megadiversidade, possuindo cerca de 70% das espécies vegetais e animais do mundo.

05. (Fuvest/1998) Analisando, de forma esquemática, a relação entre temperatura e precipitação anual, em um corte do Polo Norte ao
Equador, os domínios vegetais predominantes nas regiões 1, 2, 3 e 4 são:
Temperaturas Precipitações
anuais anuais
ºC zona zona zona ? zona tropical 2500
polar subpolar temperada
40 2000
Floresta floresta
1 2 caducifólia 3 4 fluvial 1500
30
e estepes
20 1000

10 500

0 0
Polo Norte Equador

A) tundra 1, floresta temperada 2, cerrado 3, deserto 4.


B) taiga 1, tundra 2, savana 3, deserto 4.
C) tundra 1, taiga 2, deserto 3, savana 4.
D) taiga 1, floresta temperada 2, deserto 3, savana 4.
E) taiga 1, tundra 2, savana 3, cerrado 4.

Anual – Volume 3 253


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
03. (FGV/2016)
Exercícios Propostos

01. (Unicamp/2019) O mapa a seguir registra parte do processo de


substituição dos domínios vegetais do continente europeu pela
agricultura sedentarizada ao longo dos últimos 10 mil anos.
Legenda
Domínios vegetais do continente europeu
Tundra
Floresta de coníferas
Misto de folhosas e coníferas
Pastagens e estepes
The Crop Site. Disponível em: <http://bit.ly/2fkMUcH>.
Floresta decidua temperada
Floresta mediterrânea e matagal Pautando-se em questões ambientais, é correto afirmar que as áreas
Início da Agricultura (anos atrás) destacadas no mapa anterior correspondem à ocorrência de
10 000 – 8 400
8 400 – 7 000
A) hotspots. B) desertificação.
7 000 – 5 500 C) corredores ecológicos. D) anecúmenos.
E) chuva ácida.

04. (Enem) A biodiversidade é garantida por interações das várias


formas de vida e pela estrutura heterogênea dos habitats.
Diante da perda acelerada de biodiversidade, tem sido
discutida a possibilidade de se preservarem espécies por meio
da construção de “bancos genéticos” de sementes, óvulos e
espermatozoides.
Apesar de os “bancos” preservarem espécimes (indivíduos),
sua construção é considerada questionável do ponto de vista
W. F. Rudmann. A Terra Transformada. Porto Alegre: Bookman, ecológico-evolutivo, pois se argumenta que esse tipo de
2015. p. 53 e 59. Adaptado. estratégia:
A análise do mapa permite concluir que: I. não preservaria a variabilidade genética das populações;
A) As pastagens e as estepes foram os domínios mais II. dependeria de técnicas de preservação de embriões, ainda
devastados pela implantação da agricultura, em função da desconhecidas;
fertilidade do seu solo em épocas de degelo, o que favoreceu III. não reproduziria a heterogeneidade dos ecossistemas.
a produtividade de grande escala.
B) Não é possível identificar grandes transformações nas Está correto o que se afirma em:
condições naturais dos domínios de vegetação europeus A) I, apenas. B) II, apenas.
em função do processo de sedentarização das sociedades C) I e III, apenas. D) II e III, apenas.
humanas. E) I, II e III.
C) O desenvolvimento de lavouras na Europa durante o
Neolítico foi base para a transformação de domínios vegetais 05. (UEFB/2011) A paisagem da foto mostra um dos biomas
naturais, o que significa que o desmatamento é uma prática caracterizados pela presença de uma fauna de grande
milenar. porte quase que dizimada pela caça esportiva praticada por
D) As áreas que hoje correspondente aos países da Península milionários do primeiro mundo. Hoje, embora a matança
Ibérica, ao Reino Unido e à Irlanda foram as pioneiras no de animais selvagens não seja mais permitida, a caça ilegal
desenvolvimento de práticas agrícolas sedentarizadas. ainda é praticada na clandestinidade. Diante da postura
preservacionista que se difunde por todo o mundo, este bioma
02. (Enem/2017) Ao destruir uma paisagem de árvores de troncos se volta na atualidade para o turismo ecológico com os safáris
retorcidos, folhas e arbustos ásperos sobre os solos ácidos,
organizados para observar os animais em seus habitats naturais.
não raro laterizados ou tomados pelas formas bizarras dos
Ryan Faas/123RF/Easypix

cupinzeiros, essa modernização lineariza e aparentemente


não permite que se questione a pretensão modernista de que
a forma deve seguir a função.
HAESBAERT, R. Gaúchos e baianos no novo Nordeste: entre
a globalização econômica e a reinvenção das identidades
territoriais. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. C.; CORREA, R. L.
(Org.). Brasil: questões atuais da reorganização do território.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
O processo descrito ocorre em uma área biogeográfica com
predomínio de vegetação
A) tropófila e clima tropical. Com base no texto e na ilustração anteriores é possível afirmar
B) xerófila e clima semiárido. que esse bioma é(são)
C) hidrófila e clima equatorial. A) a Floresta amazônica. B) a Savana africana.
D) aciculifoliada e clima subtropical. C) a Caatinga nordestina. D) a Taiga siberiana.
E) semidecídua e clima tropical úmido. E) as Pradarias canadenses.

254 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
06. (Vunesp/2013) As florestas crescem onde chove, ou chove onde crescem as
florestas? De acordo com o texto:
A) onde chove, há floresta.
Mediterrâneo Ásia Central
B) onde a floresta cresce, chove.
China
C) onde há oceano, há floresta.
Índia
D) apesar da chuva, a floresta cresce.
AMÉRICA CENTRAL E) no interior do continente, só chove onde há florestas.
Etiópia
Colômbia Rep. Dem. Indonésia, Malásia
do Congo e Austrália
09. (Udesc) Numere as colunas relacionando a vegetação à sua
Brasil característica.
Peru, Equador, Bolívia
( 1 ) Floresta de Coníferas ( 2 ) Vegetação Mediterrânea
Brasil, Paraguai Madagascar ( 3 ) Tundra ( 4 ) Pradaria
Chile ( 5 ) Savana ( 6 ) Estepe

( ) Vegetação rasteira de ciclo vegetativo curto. Exemplos:


musgos e líquens.
Roberto Giansanti. O desafio do desenvolvimento sustentável.
São Paulo:Atual, 1998. Adaptado.
( ) Vegetação herbácea, esparsa e ressecada. Surge em climas
semiáridos, na faixa de transição de climas úmidos para
As áreas destacadas no mapa caracterizam-se desertos.
A) pela grande diversidade genética. ( ) Formação florestal típica da zona temperada. É conhecida
B) pelo esgotamento dos latossolos. como Taiga e predominam os pinheiros.
C) pela extinção das florestas tropicais. ( ) Vegetação esparsa que possui três estratos: um arbóreo,
D) pela redução das fontes hídricas. um arbustivo e um herbáceo. Predomina em regiões de
E) pelo baixo nível de poluição atmosférica. clima mediterrâneo.
( ) Formação herbácea, composta por capim, que aparece
07. (PUC-RJ/2011) em regiões de clima temperado continental.
( ) Vegetação complexa que surge por influência do clima
zstockphotos/123RF/Easypix

tropical, alternadamente úmido e seco. Ocorre na África e


abriga animais de grande porte como leões, elefantes e girafas.

Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima


para baixo.
A) 2 – 1 – 6 – 4 – 5 – 3
B) 1 – 2 – 3 – 6 – 5 – 4
C) 3 – 6 – 1 – 2 – 4 – 5
D) 6 – 5 – 4 – 3 – 2 – 1
E) 4 – 3 – 2 – 5 – 1 – 6

10. (UFSM)

Altura das árvores


40 m
Em relação às florestas tropicais úmidas, é correto afirmar que nível superior
A) se localizam nas mais altas latitudes do planeta. 30 m


B) são constituídas de baixa à média biodiversidade. nível
C) são os ecossistemas mais bem preservados da Terra. médio
20 m
D) têm uma composição de flora dominantemente latifoliada.
E) reduzem a umidade do ar através da evapotranspiração. 10 m
nível herbáceo
0m
08. (Enem/2008) As florestas tropicais estão entre os maiores e mais
diversos complexos biomas do planeta. Novos estudos sugerem LUCCI, E. A.; MENDONÇA, C; BRANCO, A. L. Geografia Geral
que elas sejam potentes reguladoras do clima, ao provocarem um e do Brasil – Ensino Médio. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 326.
fluxo de umidade para o interior dos continentes e tenham umidade
para o interior dos continentes, fazendo com que essas áreas de Em relação ao perfil da vegetação mostrado na figura, é correto
florestas não sofram variações extremas de temperatura e tenham afirmar que caracteriza o bioma de formação vegetal do tipo
umidade suficiente para promover a vida. Um fluxo puramente físico A) floresta equatorial com o dossel superior formado por árvores
de umidade do oceano para o continente, em locais onde não há de grande porte e, no nível médio, por espécies arbóreas de
florestas, alcança poucas centenas de quilômetros. Verifica-se, porém, médio porte e epífitas.
que as chuvas sobre florestas nativas não dependem da proximidade B) tundra com cobertura vegetal de pequeno porte, constituída
do oceano. Esta evidência aponta para a existência de uma poderosa de musgos, liquens e gramíneas de ciclo vegetativo curto.
“bomba biótica de umidade” em lugares como, por exemplo, a C) floresta boreal, caracterizada por uma vegetação de grande
bacia amazônica. Devido à grande e densa área de folhas, as quais porte, relativamente homogênea, representada pela taiga.
são evaporadores otimizados, essa “bomba” consegue devolver D) vegetação mediterrânea bastante variada, com predominância
rapidamente a água para o ar, mantendo ciclos de evaporação e
de arbustos.
condensação que fazem a umidade chegar a milhares de quilômetros
E) savana composta por dois extratos, o arbóreo-arbustivo de
no interior do continente.
caráter lenhoso e o herbáceo-subarbustivo, formado pelas
NOBRE A. D. Almanaque Brasil socioambiental. Instituto Socioambiental, 2008. gramíneas e outras ervas.
p. 368-9 (com adaptações).

Anual – Volume 3 255


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II

Fique de Olho

A HISTÓRIA DA BIOPIRATARIA
Planta Origem Uso tradicional Patente/Proprietários Uso comercial
No Brasil, na Região
Norte, onde se situa a
Em 1876, as sementes foram
Floresta Amazônica. Extração do látex utilizado para a fabricação de Extração do látex utilizado para a fabricação
Seringueira levadas para a Malásia pelo
Presente em outras borracha de borracha.
inglês Henry Wickman.
regiões da América
Latina.
Foi disseminada pelo mundo.
Consumida como alimento, com registros de sua Brasil é um dos maiores
Soja China Gênero alimentício de exportação no Brasil.
utilização entre 2883 e 2838 a.C. produtores, ficando atrás
apenas dos EUA.
Foi disseminada em diversas
Café Etiópia A infusão dos grãos era utilizada como estimulante regiões, mas o Brasil é o maior Gênero alimentício de exportação no Brasil.
produtor mundial.
Jaborandi Laboratório Merck mais outros Seu princípio ativo, a pilocarpina, é utilizado
Tribos indígenas o utilizavam no preparo de chás
(Pilocarpus Amazônia brasileira 20 registros por outras em tratamentos de calvície e no controle do
diuréticos e expectorantes
microphyllus) empresas. glaucoma.
Espinheira-
Estudo feito por
santa
grupo de pesquisa Ação antiúlcera gástrica Nippon Mektron Ação antiúlcera gástrica
(Maytenus
brasileiro
ilicifolia)
Fonte primária de alimento para as populações
Cupuaçu Usado para fabricar um tipo de chocolate
Região Amazônica indígenas e animais. A polpa é usada para fazer sucos, Empresa ASAHI Foods Co., Ltd.
(Theobroma (o “cupulate”), além da geleia, bastante
brasileira e Peru cremes de sorvete, geleia e tortas. O povo tikuna utiliza de Kyoto, no Japão.
grandiflorum) comercializada.
as sementes para curar dores abdominais.
A polpa dos frutos é utilizada para fabricação de sucos,
sorvetes, cremes, picolés, licores, mingau. O caroço pode “Amazon Açaí” e “Açaí
ser usado para produzir artesanato e adubo orgânico de Power” são marcas registradas
Açaí (Euterpe Região Amazônica
excelente qualidade. O cacho é empregado na fabricação na Europa. A palavra açaí é Gêneros alimentícios e energéticos
precatoria) brasileira
de vassoura, adubo orgânico, repelente de insetos como de domínio da comunidade
o carapanã e maruim. As raízes combatem hemorragias europeia.
e verminoses.
Anti-inflamatório, diurético, expectorante,
O uso mais comum do óleo de copaíba é o medicinal, desinfetante, estimulante, anticoncepcional,
Região Amazônica sendo empregado como anti-inflamatório e vermifugo. É usada também no tratamento
TECHNICO-FLOR S.A. (França)
Copaíba brasileira e região anticancerígeno. A casca entra na composição de de caspa, dermatites, úlceras de estômago,
/ AVEDA CORP (EUA)
andina do Peru todos os xaropes para tosse. Utilizado também para dermatoses e psoríase; e ainda como
estrangúria e sífilis. combustível, substituindo o óleo diesel nas
lamparinas.
BANKS, Martin. Preserve as florestas tropicais. São Paulo: Moderna, 1999.

C-6 H-27
Aula
Aula 15:

Recursos Hídricos, Bacias Hidrográficas e seus Aproveitamentos H-28


H-29
15

Introdução
A hidrosfera é a camada líquida da Terra, formada pelas águas dos oceanos, mares, rios, lagos e a água que se encontra no
subsolo. A água se movimenta perpetuamente na natureza, num processo conhecido como ciclo hidrológico. A água em estado líquido
passa para a atmosfera em forma de vapor, em um processo chamado de evaporação ou evapotranspiração (animais e vegatais). Na
alta atmosfera, as reduzidas temperaturas fazem esse vapor de água se condensar, e se precipita sobre a superfície sob várias formas
(chuva, neve, granizo, nevoeiro e orvalho). Na superfície terrestre, as águas seguem três caminhos: escorrer, evaporar e infiltrar-se no
solo. Quando evapora, a água retorna à atmosfera como vapor, reiniciando assim, o ciclo hidrológico. A diferença entre a precipitação
e a evaporação é chamada de excedente hídrico e transformam-se em rios, lagos ou em lençóis de água subterrânea.
A origem da água está ligada aos primórdios da história geológica do planeta, quando a intensa atividade vulcânica do período,
lançou para a atmosfera primitiva grandes volumes de gases, entre os mais destacados o Oxigênio (O) e o Hidrogênio (H) que ao se
combinarem formam a água (H2O). Naquela época, as elevadas pressões e temperatura só possibilitavam a existência da água em estado
gasoso. Com o posterior resfriamento do planeta, ocorreu à condensação da umidade, precipitando-se pela superfície do planeta na
forma de chuva. Teorias científicas mais recentes apontam para uma possível origem cósmica da água, quando a mesma foi trazida por
corpos siderais (cometas), que impactaram com a Terra ainda no seu processo de formação.

256 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
CONSUMO DE ÁGUA POR SETOR
Condensação

4 Nuvens Consumo humano


Agricultura 8% Indústria
22%

Precipitação Transpiração Evaporação 70%


3 Neve e gelo

A água potável além de ser um recurso natural escasso,


também se encontra mal distribuída pelo planeta. Segundo
estimativas da ONU, mais de 100 países passam pelo estresse hídrico,
1 Oceanos, lagos uma vez que o seu consumo é superior à disponibilidade de água
Infiltração 2 Lençóis de água e rios
existente. Apenas oito países possuem em conjunto 60% de água
doce do mundo: Brasil (6.220 bilhões de m3), Rússia (4.059 – sempre
O ciclo hidrológico é formado pelos seguintes processos de em bilhões de m3), Estados Unidos (3.760 bilhões m3), Canadá
transferência: (3.290 bilhões de m3), China (2.800 bilhões de m3), Indonésia
• Evaporação – dos oceanos e outros corpos-d’água (rios, (2.530 bilhões de m3), Índia (1.850 bilhões de m3), Colômbia (1.200
lagos) para o ar. bilhões de m3), Peru (1.100 bilhões de m3). Em contrapartida, estão
• Evapotranspiração – das plantas terrestres e animais para o ar. os países com baixíssimo volume de água: Kuwait e Bahrein, Malta,
• Precipitação – pela condensação do vapor de água do ar e Gaza, Emirados Árabes, Líbia, Singapura, Jordânia, Israel e Chipre.
caindo diretamente sobre a superfície.
• Escoamento superficial ou infiltração – sobre a terra, que
dependera do tipo de estrutura de relevo, geralmente
A guerra pela água
atingem o mar. A GUERRA PELA ÁGUA

A água no planeta
A Terra possui 1.386 milhões de quilômetros cúbicos de
água, que recobrem 2/3 da superfície do planeta. Desse volume
total, cerca de 97,4% estão nos oceanos em estado líquido, com
elevada concentração de sais. A chamada água doce corresponde a
apenas 2,6% do total de água do planeta, onde 70% é encontrado
em estado sólido, formando grandes massas de gelo nas regiões
polares ou as neves eternas das grandes cadeias montanhosas. Pouca ou nenhuma Não avaliado Próximo da escassez
As águas subterrâneas correspondem a 29,7% da água doce, o escassez de água física de água
restante, 0,3%, está disponível em rios, lagos, lagoas e pântanos. Escassez física de água Escassez econômica
de água

DIAGRAMA DE BARRAS DA DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NA TERRA Segundo um relatório elaborado pelo Banco Mundial em
1998, as guerras do século XXI não serão mais motivadas pelo
Água doce 3% Outras 0,9% Rios 2%
petróleo, e sim pela água, onde cerca de 80 países podem entrar
Pântanos 11% em conflito devido à escassez do mais importante recurso natural
Água do Água da
subsolo do planeta. Já ocorreram conflitos motivados pelo ouro amarelo,
superfície
30,1% 0,3% ou seja, o metal, depois o ouro negro, o petróleo, que – a partir
Salgada Lagos dos anos 60 – causou enormes crises econômicas mundiais. Agora,
(Oceanos) 87% já é perceptível na política internacional que o pomo da discórdia
97% Camadas entre as nações será o ouro azul, ou seja, a água, cada vez mais
de gelo necessária devido ao aumento da população mundial e, portanto,
e geleiras
68,7% aumento das demandas ligadas à industrialização e à agricultura.
Nos países periféricos, metade da população consome
água sem o devido tratamento; todos os anos, pelo menos
Água da Terra Água doce Água doce 2,2 milhões de pessoas morrem em decorrência de água contaminada.
da superfície E, diariamente, 25 mil pessoas morrem devido à má qualidade das
(lagos)
águas que utilizam. Segundo estimativas, existe atualmente cerca de
Desse ínfimo percentual, 70% é utilizado pelo setor 1,1 bilhão de pessoas que praticamente não têm acesso à água potável
agropecuário, 22% pelo setor industrial e 8% se destinam ao em quantidade suficiente para realizar suas atividades cotidianas.
abastecimento humano. O consumo per capita de água é uma das Em 2025, 75% da população mundial estarão nessa mesma situação.
formas de atestar o grau de desenvolvimento de uma nação. A OMS Esses conflitos deverão ter início a partir de 2070, no
(Organização Mundial da Saúde), afirma que 110 litros/dia de água Continente africano e Oriente Médio, mais precisamente nas Bacias
são suficientes para suprir as necessidades básicas do ser humano, do rio Nilo, onde o Egito, Sudão e Etiópia divergem sobre o uso das
todavia, existe um desequilíbrio no uso da água. Os habitantes da águas; na Bacia do rio Tigre e Eufrates, envolvendo países como
cidade americana de Nova Iorque utilizam mais de 470 litros/dia de Iraque e Turquia; Bacia do rio Jordão, disputadas por Israel, Líbano,
água, enquanto os habitantes do interior do Sudão só têm acesso Jordânia e Síria. O Oriente Médio apresenta 60% do petróleo,
a 3 míseros litros. apenas 0,5% de água do planeta.

Anual – Volume 3 257


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Mares e oceanos
As grandes massas líquidas contribuem de forma significativa para a manutenção do equilíbrio planetário. Do ponto de vista
físico, age na formação da manutenção do clima, pois conseguem reter uma grande quantidade de calor, sendo uma espécie de grande
termostato do planeta. Também são responsáveis pela produção de grande parte do oxigênio da Terra e manutenção da vida, uma vez
que 3/4 dos seres vivos habitam os mares e oceanos. Já no aspecto humano, exercem importância na atividade comercial, pois 95%
das cargas são transportadas por navios, fornecem produtos químicos e minerais, tais como o sal e o petróleo, destacando também a
atividade pesqueira, o turismo, entre outras.
Apesar de cobrir 71% da superfície do planeta, apenas 5% dos oceanos foram explorados cientificamente. A radiação solar
só consegue penetrar pouco nessa imensidão, pois a maior parte das águas oceânicas escurece a uma profundidade de 30 metros.
Conhecemos mais a superfície lunar, que o fundo marinho. Milhões de espécies ainda não catalogadas podem existir abaixo da lamina
d’água, pois para cada espécie que habita as terras emersas, três outras vivem nos oceanos, onde muitas podem ser extintas antes mesmo
de serem descobertas. A principal razão dessa extinção é devida à elevação do nível de acidez das águas oceânicas, que aumentou em
cerca de 30% desde o início da Revolução Industrial.
Os mares são as porções costeiras dos oceanos, e possuem características físico-químicas próprias, influenciadas pelas condições
físicas das terras vizinhas. Podem ser agrupados em três categorias distintas:
Oceano Glacial Ártico

Mar do
Báltico

Mar do Mar de Mar de


Norte Mar Aral
Negro Okhotsk
Europa
América do Ásia
Mar
Norte Mediterrâneo Mar Mar da
Cáspio China

Mar das Mar Oceano


América Antilhas Vermelho Pacífico
Central
África Mar
Arábico Golfo de
Oceano Bengala
América do
Pacífico Sul Oceano
Atlântico Oceano
Índico Oceania

Tipos de mares
Abertos N
Interiores Oceano Glacial Antártico
Fechados

• Abertos: São aqueles que se comunicam amplamente com os oceanos que os formam. Como exemplos, podemos citar o Mar
do Caribe, o Mar do Japão, o Mar da China etc.
• Fechados: São aqueles que se encontram nos interiores dos continentes, desse modo, não apresentam uma ligação de maneira
direta com os oceanos. Foram formados por fenômenos geológicos pretéritos, e são alimentados por rios de drenagem endorreica.
São exemplos: o Mar Cáspio, o Mar de Aral, o Mar Morto etc.
• Mares interiores ou mediterrâneos: São aqueles que se comunicam com oceanos através de estreitos e canais, encontram-se
quase totalmente envolvidos por terra. Como exemplo, citamos o Mediterrâneo, Vermelho, Negro e Báltico.
Segundo a Organização Hidrográfica Internacional, existem 60 mares no mundo.

A tragédia do Mar de Aral Staecker/WIkimedia Foundation


NASA

Julho – Setembro, 1989 5 de Outubro de 2008

258 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Este já foi o quarto maior mar fechado do planeta com 68 000 km² de superfície e 1100 km³ de volume de água, estando situado
na Ásia Central entre o Cazaquistão e o Usbequistão. Durante a década de 1960, a URSS, desviou os rios que drenavam águas para o
Mar de Aral, o que resultou, segundo a ONU, na maior tragédia realizada pelo homem, durante o século XX. Atualmente, o mar se
encontra reduzido a menos 10% de seu tamanho original, onde ocorre um acentuado processo de desertificação, que tem provocado
mudanças climáticas em escala local, e retração da economia, uma vez que a atividade pesqueira da região praticamente desapareceu.

Oceanos
Oceano é uma gigantesca massa líquida de água salgada (em média 35 g/l) que se encontra dispersa sobre grande parte da
superfície terrestre, ocupando cerca de 71% de nosso planeta. Existe apenas um único oceano, uma vez que as águas se comunicam,
existindo assim ligações entre os oceanos. Porém, para facilitar o entendimento e a orientação, os oceanos por convenção, receberam
cinco nomenclaturas diferentes para suas localidades geográficas: Oceano Pacífico; Oceano Atlântico; Oceano Índico; Oceano Glacial
Ártico; Oceano Glacial Antártico.

Oceano Glacial
Ártico

Oceano
Pacífico
Oceano
Pacífico
Oceano
Atlântico

Oceano
Índico

Oceano Glacial
Antártico

Oceano Glacial Antártico


Localização: próximo ao Polo Sul, formado pelo encontro das águas dos
oceanos Pacífico, Atlântico e Índico.
Superfície aproximada: 20.327.000 km2 (incluindo seus mares periféricos)
Maior profundidade: Fossa de Sandwich do Sul com 7.235 m de profundidade
Oceano Glacial Ártico
Característica marcante: por estar em região de temperaturas muito baixas,
Localização: próximo ao Polo Norte, acima do norte da
suas águas permanecem congeladas durante grande parte do ano.
Europa, da Ásia e da América.
Superfície aproximada: 14.090.000 km2
Maior profundidade: é de 5.450 m de profundidade.
Oceano Índico
Característica marcante: presença de gigantescos blocos de
Localização: entre a Ásia, a África e a Oceania
gelo flutuantes, os icebergs, que dificultam a navegação.
Superfície aproximada: 74.000.000 km2
Maior profundidade: Fossa de Java, com 7.455 m
Importância: via de navegação e comunicação Oceano Pacífico
entre África e Ásia. Localização: Entre a Ásia, América e a Oceania.
Superfície aproximada: 180 milhões de km2 de área.
Maior profundidade: Fossa das Marianas, com 11.500 m,
mas proximidades das ilhas da Micronésia.
Oceano Atlântico (dividido em Atlântico Norte e Atlântico Sul).
Importância: via de navegação e comunicação entre a
Localização: entre a América, a Europa e a África.
América, Austrália e Ásia.
Superfície aproximada: área de 106.200.000 km2, pertencendo
1/3 das águas oceânicas mundiais.
Maior profundidade: Fossa do Porto Rico, com 8.648 m.
Importância: via de navegação e de comunicação, principalmente
entre a América e a Europa.

Anual – Volume 3 259


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
• Pacífico: Ocupa uma área de 180 milhões de km2 (48,9% das Principais canais de navegação
zonas oceânicas), estando situado entre Ásia, América e Oceania,
e se destaca por apresentar a maior profundidade submarina, e
uma grande quantidade de ilhas e arquipélagos. Canal de Suez
• Atlântico: Ocupa uma extensão de 106,1 milhões de km2

NASA
(27,7% dos oceanos), e possui uma grande importância para o
fluxo comercial internacional, pois concentra grande parte das
rotas marítimas. O Atlântico está localizado entre as Américas,
Europa e África (costa Oeste).
• Índico: Ocupa uma extensão de 74,9 milhões de km2 (21,2% das
zonas oceânicas), e fica localizado entre África, Ásia e Oceania.
O Índico se destaca por apresentar a maior salinidade e maior
temperatura entre os oceanos.
• Glacial Ártico: Cobre uma extensão de cerca de 14.056.000
km2, envolvendo o Polo Norte e abrangendo as fraudas boreais
da Eurásia e a América do Norte. É parcialmente coberto por
gelo durante todo o ano.
• Glacial Antártico: Circunda o continente Antártico, com uma
superfície de 20 milhões de km², sendo coberto por gelo durante
grande parte do ano. Durante o período do inverno, os glaciares
e mantos de gelo são formados e flutuam sobre a superfície do Possui uma extensão de 195 quilômetros, e liga Porto Said,
oceano formando as plataformas de gelo. Com a chegada do no Mar Mediterrâneo, a Suez, no Mar Vermelho. Desse modo,
verão, pedaços dessas plataformas são rompidos, formando os permite que embarcações naveguem da Europa à Ásia sem terem
icebergues. que contornar a África. Foi inalgurado em 1869, onde estima-se
que 1,5 milhão de egípcios tenham participado da construção, e
Salinidade que 120 000 morreram, principalmente, de Cólera. Em 1956, o
presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou a companhia
Marcello Malgari/123RF/Easypix

do canal. É um dos mais estratégicos canais, pois escoa grande parte


do petróleo extraído da região do Oriente Médio.

O Canal do Panamá

Kobby Dagan/123RF/Easypix
Grande parte da salinidade dos oceanos tem origem na
atividade vulcânica ocorrida no assoalho submarino, que fornece
elementos primordiais como bromo, cloro e principalmente sódio Atlantique
(Caribes)
CANAL DE PANAMÁ
que gradualmente são transformados em sais. Outra contribuição
provém das rochas da crosta terrestre, que se desgastam através dos Baie
Limón
Route maritime principale
Écluses Coupe Banana (route de service)
diferentes processos de erosão, onde uma parte significativa desse Rio Chagres Gatún
material é transportada para os mares ou oceano através dos rios.
A salinidade da água do mar não é uniforme ao redor Barrage
Gatún Barrage
do globo. Em média, a concentração de sais dissolvidos na água Madden

oceânica é cerca de 35 gramas para cada quilograma de água. Lac Alajuela


Essa concentração varia de acordo com a temperatura e umidade, Lac
Gatún
pois quanto maior for a temperatura, maior será a evaporação Rio Chargres

e concentrações de sais; a elevada precipitação de água sobre


os continentes, e posterior descarga sobre os oceanos, reduz a
Coupe Culebra
salinidade. O Golfo da Finlândia, situado no Mar Báltico, possui Écluses
Pedro Miguel
a água com menor grau de salinidade do planeta; Enquanto que N
Pont
centenaire
o Mar Morto, localizado entre Israel e a Jordânia (Oriente Médio), Écluses
Lac Miraflores

Miraflores
apresenta uma salinidade 10 vezes superior à de qualquer outro
mar ou oceano. No Brasil, o litoral do nordeste é o que apresenta O L Pont des
Amériques
maior salinidade, em virtude das elevadas temperaturas e escassez
de chuvas da região. S Pacifique (Golfo do Panamá)

260 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Corta o istmo do Panamá (com 81 quilômetros de extensão), Movimento dos mares e oceanos
ligando o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, sendo por esse
motivo um dos mais importantes para o comércio internacional, As águas dos mares e oceanos estão em constante
devido à grande diminuição de percusso, economizando, assim, movimento, tanto no sentido horizontal como no sentido vertical.
tempo e recursos econômicos e energéticos. Foi inaugurado em • As ondas: São movimentos horizontais causados
1914, e possui dois grupos de eclusas no lado do Pacífico (Pedro pelos ventos, que sopram sobre a superfície das águas.
Miguel e Miraflores) e um outro grupo no lado do Atlântico (Gatún). No momento em que as ondas se aproximam do litoral, a
O canal e a Zona do Canal, foram administrados pelos Estados profundidade tende a diminuir, desse modo, elas se dobram
e quebram em áreas de praias ou rochedos.
Unidos até 1999, quando o controle passou ao Panamá. Em 2016,
• O marulho: É um movimento oscilatório provocado pelo
o canal foi ampliado.
vento, que apenas “encrespa” a superfície da água. É o
A rota do Ártico resultado de um movimento distante, mas que sempre se
faz sentir, visto que o mar é uma única massa líquida.
• Tsunamis: São formados por maremotos causados por
A ROTA DO ÁRTICO erupções vulcânicas submarinas. São comuns no Pacífico,
A Passagem Nordeste, recém-aberta pelo derretimento do gelo no provocando grandes tragédias, como as ocorridas na
Oceano Ártico, é a rota mais curta para os barcos navegarem entre
Indonésia em 2004, que resultou na morte de 200 mil pessoas.
a Europa e a Ásia. Normalmente, para fazer esse trajeto, os navios
cruzam o Canal de Suez, no Egito.
Os movimentos verticais das águas do mar:
• As marés: Ocorrem devido à atração que a Lua e o Sol
exercem sobre os oceanos. Ocorrem a cada 6 horas, onde
o nível das águas se eleva (fluxo ou enchente), até atingir
a preamar ou maré alta. Depois ocorre o oposto, as águas
começam a descer (refluxo ou vazante), levando também seis
Oceano Pacífico
O Ártico perdeu 40% horas para alcançar o nível mais baixo (baixa-mar ou maré
de seu gelo permanente Ulsan baixa). Na Lua Cheia ocorrem as marés mais altas (marés de
COREIA DO SUL
desde 1985 sizígia ou de águas vivas). Na Lua Nova, ocorrem as marés
mais baixas (marés de quadratura ou de águas mortas).

Maré
ÁRTICO
DISTÂNCIA ENTRE DISTÂNCIA ENTRE
ULSAN E ROTERDÃ ULSAN E ROTERDÃ
Lua Nova Lua Cheia
Via Passagem Nordeste Via Canal de Suez TERRA
SOL
14.800 quilômetros 20.000 quilômetros
Duração da viagem: 70 dias Quarto
Duração da viagem: 60 dias
Minguante

Roterdã Maré
HOLANDA

SOL TERRA
Quarto
Achim Baque/123RF/Easypix

Crescente

Rios e lagos
Um rio é uma corrente natural de água que possui um
curso definido, sempre se deslocando das áreas mais altas para
áreas mais baixas. Podem nascer em lagos, fontes ou até mesmo
em outros rios e deságuam no mar, em lagos ou em outros rios.
O conjunto de rios forma a bacia de drenagem ou bacia hidrográfica,
que são áreas onde ocorre a capitação das precipitações pluviais.
Quanto ao tipo de drenagem das bacias, as mesmas podem ser
agrupadas em:
• Exorreica: Quando as águas drenam direta ou indiretamente
para o mar.
• Endorreica: Quando as águas são desaguadas em um lago
As mudanças climáticas estão provocando o derretimento da ou mar fechado.
calota polar Ártica em ritmo acelerado, o que tornará a navegação pelo • Arreica: Quando as águas alimentam os lençóis freáticos.
Oceano Glacial cada vez mais comum. A rota direta pelo Polo Norte é • Criptorreica: Quando o rio se infiltra no solo sem alimentar
20% mais curta do que a opção atual, que contorna a costa da Rússia. lençóis freáticos ou evapora, como acontece nos desertos.
Por volta de 2040, o período navegável ficará cada vez mais longo a De acordo com a frequência com que a água ocupa as
cada ano, à medida que o aquecimento global avança e encolhe mais drenagens, os rios podem ser classificados em:
o Ártico. Em 2012, em pleno período do inverno, a banquisa atingiu • Perenes: São rios que contêm água durante o ano
a sua menor dimensão da história, isso foi suficiente para que navios inteiro. Eles são alimentados por escoamento superficial e
russos estabelecessem uma nova linha de navegação marítima. subterrâneo.

Anual – Volume 3 261


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
• Intermitentes, sazonais ou temporários: Rios que secam
Vale
no período de estiagem, ou sofrem congelamento de sua Vertente Vertente
água durante o inverno. Eles desaparecem no período de
estio porque o lençol freático se torna mais baixo do que o Margem Leito Margem
direita esquerda
nível do canal, cessando sua alimentação.
• Efêmeros: Os rios que se formam somente por ocasião
das chuvas ou logo após sua ocorrência. São alimentados
exclusivamente pela água de escoamento superficial.

A variação da água no leito de um rio ao longo do ano recebe


o nome de regime, e esse pode ser agrupado em:
– Pluvial: Quando as cheias dependem exclusivamente das
chuvas.
– Glacial: Quando dependem de geleiras.
– Nival: Dependem do derretimento da neve.
– Misto: Dependiam dos dois processos, como no caso do rio
Amazonas.
Já o segundo, mostra o declive do leito do rio ao longo do
De acordo com a natureza do relevo, os rios podem ser
seu percurso, estando dividido em três partes: nascente, curso e foz.
agrupados em:
• Planaltos: São aqueles que apresentam rupturas de Nascente
declive, vales encaixados, entre outras características, que
lhes conferem um alto potencial para a geração de energia Afluente
elétrica. Barragem

Meandros
Andamanse/123RF/Easypix

Delta
Curso
superio Foz
r
Curso
interm
ediário
Curso
inferio
r

As diversas partes que compõem um rio:


Cabeceira ou nascente: Local onde o rio nasce.
Interflúvios ou divisor de águas: São as partes mais elevadas
que separam duas vertentes.
Leito ou curso: local onde o rio corre. Está dividido em alto
ou superior, médio e baixo ou inferior.
Margens: Partes laterais que demarcam o leito fluvial.
• Planícies: São aqueles que apresentam boas condições para Talvegue: Parte mais profunda do leito. Geralmente, marca a
a navegabilidade, por não apresentarem cachoeiras e saltos linha central de um leito.
em seu percurso. Afluentes: Nome dado a um rio que deságua em um rio
principal.
Confluência: Local de junção entre dois rios.
Julius Fekete/123RF/Easypix

Débito: Representa a quantidade de água que passa por um


ponto do rio durante um certo tempo. D = P – (E + 1)
Regime: Variação anual do débito de um rio. Em relação ao
clima, o regime pode ser pluvial, nival, glacial ou complexo.
Meandros: São as curvas que o leito do rio realiza, sempre no
baixo curso, onde a velocidade das águas é bem menor.
Montante: Todo o trecho em direção à nascente do rio.
Jusante: Todo o trecho em direção à foz do rio.
Foz ou desembocadura: Local onde o rio deságua. Pode se
apresentar em três formas: a foz em forma de estuário, onde
inexistem ilhas e é modelada por somente um canal. A foz em
forma de delta é cheia de ilhas e assim o rio deságua através de
diversos canais. Foz mista ou complexa, é aquela na qual um
lado da foz é em forma de delta e o outro é estuário.
Lagos: São depressões naturais da superfície terrestre recobertas
O rio pode ser analisado através do seu perfil transversal por água doce. Podem ter origem pluvial, fluvial ou a partir de
e perfil longitudinal. O primeiro mostra as características do vale uma nascente. Pode apresentar diferentes origens, entre elas,
numa determinada parte do rio. vulcânica, tectônica, residual, de depressão ou de origem mista.
Lagoa é a denominação utilizada para um pequeno lago.

262 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
As maiores bacias hidrográficas do mundo são as seguintes, de acordo com o nome; localização e área (km²):
• Bacia Amazônica, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Bolívia e Brasil, 7 050 000;
• Bacia do Congo, Congo, 3 690 000;
• Bacia do Mississípi, EUA e Canadá, 3 328 000;
• Bacia do Rio da Prata, Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina, 3 140 000;
• Bacia do Obi, Federação Russa, 2 975 000;
• Bacia do Nilo, Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quênia, República Democrática do Congo, Burundi, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia e
Egito, 2 867 000;
• Bacia do rio São Francisco, Brasil, 2 700 000;
• Bacia do Ienisei, Federação Russa, Mongólia, 2 580 000;
• Bacia do Níger, Nigéria, 2 092 000;
• Bacia de Amur, Federação Russa, 1 855 000;
• Bacia do Rio Amarelo, China, 1 807 199.
• Bacia do Rio Toraxischamun, Chile

O maior depósito de lixo dos oceanos


As correntes circulares, os chamados giros oceânicos, concentram lixo em vários pontos dos mares. O maior deles é o lixão
existente entre o Havaí e a Califórnia (área assinalada em vermelho no mapa).

Europa América
Ásia
do Norte
Havaí
América
África Central

América
Oceania do Sul

Giros
oceânicos

Em certas porções dos oceanos, as correntes marítimas se movimentam em vórtices, formando gigantescos redemoinhos. O lixo
lançado nos oceanos (80% proveniente dos continentes e 20% de navios ou plataformas petrolíferas) após vagar por anos fica gradualmente
aprisionado por esses giros, formando uma “Grande Mancha de Lixo”. O lixo exposto à superfície é apenas a “ponta de um iceberg”, pois
com o passar do tempo, os materiais começam a se degradar, formando uma amálgama com até 10 m de profundidade, que afeta a cadeia
alimentar, o equilíbrio dos ecossistemas e consequentemente o próprio homem.
O maior depósito de lixo do mundo está no Oceano Pacífico, mas precisamente entre a costa da Califórnia e o arquipélago do
Havaí. Possui um tamanho aproximado de 680 mil quilômetros quadrados, contendo 100 milhões de toneladas de detritos. Para termos
uma ideia da dimensão aproximada desse problema, a área dessa “ilha de lixo” é equivalente aos territórios dos estados de Minas Gerais,
Rio de Janeiro e Espírito Santo somados.

Águas subterrâneas

Precipitação

Zona do solo
Zona não

Recarga do
saturada

lençol freático
Lençol freático

Franja capilar
Zona saturada abaixo
do lençol freático

Água do lençol

Anual – Volume 3 263


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
Grande parte da água disponível nas terras emersas encontra-se armazenada no subsolo, que suprem as necessidades
de mais de dois bilhões de pessoas em diversas partes do globo, bem como, alimentam rios e lagos, que são os maiores
responsáveis pelo abastecimento humano. Essas águas são encontradas em duas formas possíveis: zona não saturada, onde
a água se encontra distribuída entre a atmosfera, solo e rochas; e zona saturada, onde a água se encontra armazenada
em grandes reservatórios naturais. De acordo com essa classificação é possível estabelecer outra, onde existem dois tipos
de lençóis subterrâneos: o lençol freático, que está localizado na zona não saturada, ficando próximo à superfície e,
portanto, mais vulnerável à contaminação; o lençol artesiano, está situado na zona saturada, apresenta maior profundidade e volume,
correspondendo aos aquíferos (formações geológicas compostas por rochas porosas e permeáveis capazes de armazenar água subterrânea).
De acordo com novos estudos hidrológicos, as águas existentes no subsolo possuem volume cem vezes maior que as águas superficiais.
Segundo a ANA (Agência Nacional das Águas), o Brasil apresenta 181 aquíferos que estão entre os maiores do planeta: Guarani
ou MERCOSUL, Barreiras (costa nordeste e norte do Brasil); Solimões e Alter do Chão (Amazônia); Cabeças, Serra Grande e Poti-Piauí
(estados do Piauí e Maranhão); Açu (no Rio Grande do Norte) e São Sebastião (na Bahia).

Veja onde estão os aquíferos Guarani e Alter do Chão


VENEZUELA SURINAME
GUIANA FRANCESA
COLÔMBIA
GUIANA
RR AP

AM
EQUADOR Aquífero Alter do Chão
A extensão superficial do Alter do Chão é PA MA CE
menor que a do Aquífero Guarani, mas tem RN
maior volume de água. PI PB
Dados preliminares apontam umACvolume de TO PE
água superior a 86 mil km3 no Aquífero AL
Alter do Chão. A capacidade
RO SE
PERU do Aquífero MT
BA
do Guarani gira em torno de 45 mil km3.
DF
PERU BOLÍVIA

MG ES
No caso do Aquífero Guarani, sua grande
extensão superficial ultrapassa a fronteira RJ
brasileira chegando a outros países. A gestão PARAGUAI Aquífero Guarani
do Aquífero Alter do Chão será facilitada
porque é exclusivamente nacional a da
Amazônia, pertencendo aos estados do Pará,
Amazonas e Amapá.

CHILE
ARGENTINA

Contaminação das águas


Rat Puanrak/123RF//Easypix

Szefei/123RF/Easypix
Narcis Parfenti/123RF/Easypix

Oceano
Pacífico

Oceano Oceano
Oceano
Pacífico Índico
Atlântico

Áreas industriais
Seasonal zones of oxygen depleted waters

264 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
A poluição das águas apresenta várias origens. Uma das mais • Ao escovar os dentes, só abrir a torneira para enxaguar a
destacadas, diz respeito à poluição gerada nos centros urbanos. boca e lavar a escova. Assim, economizam-se 16.425 litros
A carência de saneamento básico faz com que grande parte dos de água por ano.
efluentes, domiciliares e industriais, sejam lançados sem tratamento • Lavar o carro com balde e não com mangueira. O gasto
nos rios e córregos, que por sua vez serão carregados para o mar. com mangueira é de aproximadamente 600 litros de água;
Outro problema gerado nas cidades diz respeito aos lixões e aterros, com balde é de apenas 60 litros.
os quais produzem o chorume que contamina os cursos-d’água e • Molhe plantas de vasos e de jardins ao amanhecer ou ao
lençóis freáticos. Os compostos químicos lançados pela atividade entardecer. Isso reduz a evaporação da água.
industrial podem se converter em chuvas ácidas, que alteram o pH • Quando lavar louça ou roupa na máquina use a capacidade
da água, chegando a extinguir a vida aquática. máxima do equipamento, evitando lavagens frequentes com
No meio rural, os produtos químicos contidos nos pouca coisa a lavar.
agroquímicos, usados nas lavouras, infiltram-se no solo, • Antes de lavar pratos e panelas, retire os restos de alimento
contaminando às águas subterrâneas, ou são carregados para os com um papel.
rios e lagos, provocando a eutroficação. Esse fenômeno provoca a
proliferação de bactérias aeróbicas, que consomem rapidamente
todo o oxigênio existente na água. Em certos casos, a eutroficação
pode levar à formação da maré vermelha, causando a morte de Exercícios de Fixação
milhares de peixes, além de liberarem substâncias tóxicas na água.
Os oceanos e mares recebem milhões de toneladas
de substâncias poluentes procedentes do continente (esgoto
doméstico, industrial, resíduos de agrotóxicos), além de acidentes 01. (Enem/2018)
com navios petroleiros, que estão gerando graves prejuízos aos
ecossistemas marinhos, provocando o aparecimento de “zonas Precipitações (mm)
mortas”, que são áreas dos oceanos destituídas de oxigênio, 90
Vazão em áreas urbanizadas
e, portanto, incapazes de sustentar uma vida marinha regular. 80
70
Entre os mares mais contaminados do mundo estão o Mediterrâneo,
60
o Mar do Norte, o Canal da Mancha e os mares do Japão e China.
50 Vazão em áreas não urbanizadas
40
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA POLUIÇÃO 30
20
Tipos de 10
Origem Consequências
poluição
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Áreas agrícolas; pecuária,
Matéria Tempo (h)
efluentes domésticos e Mortandade de peixes.
Orgânica Disponível em: <http://www.biologiasur.org>.
industriais. Acesso em: 4 jul. 2015.
Adaptado.
Esgoto bruto ou Tr a n s m i s s ã o d e
Patogênico parcialmente tratado e doenças, como cólera e
A dinâmica hidrológica expressa no gráfico demonstra que o
excremento de animais. esquistossomose.
processo de urbanização promove a
Redução da população A) redução do volume dos rios.
Metais Descargas industriais, de peixes, diversos B) expansão do lençol freático.
pesados Iodo de estações de p ro b l e m a s à s a ú d e C) diminuição do índice de chuvas.
(resíduos tratamento de esgoto, humana, como disfunção D) retração do nível dos reservatórios.
químicos) aterro sanitário. dos rins, problemas nos E) ampliação do escoamento superficial.
ossos e no sistema nervoso.

Escoamento superficial Doença nos peixes e, nos 02. (FGV/2019)


Substâncias urbano e rural, descargas seres humanos, aumento
tóxicas domésticas, industriais e de risco de câncer de rins
infiltração. e bexiga.

Como economizar água


Cada brasileiro gasta em média 200 litros de água por
dia. Apenas metade disso seria suficiente para suprir todas as
necessidades. Há muita coisa que se pode fazer em casa para
economizar água.
• Não demorar muito tempo no chuveiro e fechar a torneira
ao se ensaboar.
• Eliminar logo os vazamentos que encontrar. Uma torneira
pingando gasta bem mais do que se imagina.
• Verificar se há vazamentos invisíveis: fechar todas as torneiras
e os registros da casa e observar se o hidrômetro sofre
alguma alteração. Se sofrer, é porque existe vazamento em
algum lugar da rede hidráulica.

Anual – Volume 3 265


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
O Projeto Pomar Urbano é uma atividade de recuperação A) Trata-se do Mar Cáspio e o processo de desertificação que
ambiental e paisagística do rio Pinheiros (SP), a cargo da se instalou naquela área praticamente acabou com a pesca
Secretaria de Estado do Meio Ambiente, em parceria com a do esturjão, peixe muito cobiçado por causa das suas ovas,
iniciativa privada. Entre as realizações do projeto, constam o com as quais se produz o caviar.
replantio de várias espécies de árvores e palmeiras, a construção B) Trata-se do Mar Negro, que em função da utilização das
da ciclovia do rio Pinheiros e a capacitação profissional de jovens águas do Rio Jordão para inúmeros projetos de irrigação
contratados pelas empresas parceiras. pelos países da região, levou à extinção do lago. Hoje o que
se tem é um imenso terreno desértico.
O Projeto Pomar Urbano é um exemplo de preocupação com C) Trata-se do Mar de Aral, cujas águas foram desviadas a partir
o meio ambiente em grandes cidades e objetiva da década de 1960 pela ex-União Soviética para atender à
A) revitalizar a mata ciliar nativa da região do rio Pinheiros e produção de algodão e outros produtos agrícolas nas áreas
promover a educação ambiental. próximas.
B) interromper a expansão urbanística e garantir a conservação D) Trata-se do Mar de Azov, que tem sofrido muito pela pesca
dos espaços naturais ao longo dos rios. predatória, boa parte das suas mais de 80 espécies de peixe
C) incentivar a expansão de áreas de lazer coletivas e preservar estão desaparecendo em função de não haver um controle
o ecossistema aquático. das atividades econômicas.
D) aplicar medidas de compensação e conscientizar o setor
industrial a respeito dos dejetos poluentes lançados nos rios.
04. (Enem) A irrigação da agricultura é responsável pelo consumo
E) medir os efeitos socioeconômicos dos padrões de consumo de mais de 2/3 de toda a água retirada dos rios, lagos e lençóis
e alertar a respeito do futuro ambiental. freáticos do mundo. Mesmo no Brasil, onde achamos que temos
muita água, os agricultores que tentam produzir alimentos
03. (PUC-SP/2018) Este já foi o quarto maior lago do mundo, também enfrentam secas periódicas e uma competição
está localizado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão e é crescente por água.
alimentado pelos rios Amu Darya e Syr Darya, cujas nascentes
MARAFON, G. J. et. al. O desencanto da terra: produção de alimentos,
localizavam-se nas montanhas próximas. Seu nome significa ambiente e sociedade. Rio de Janeiro: Garamond, 2011.
“mar de ilhas” em função das mais de 1500 ilhas que existiam
no local. Este lago de água salgada já possuiu 68000 km² de No Brasil, as técnicas de irrigação utilizadas na agricultura
superfície e 1100 km³ de volume de água, mas tem encolhido produziram impactos socioambientais como
gradualmente desde os anos 1960. As imagens de satélite A) redução do custo de produção.
mostram as transformações no lago entre 1989 e 2009. B) agravamento da poluição hídrica.
C) compactação do material do solo.
D) aceleração da fertilização natural.
Reprodução/PUC-SP

E) redirecionamento dos cursos fluviais.

05.
RELEVO SUBMARINO
metros
2.000 1

– 2.000 2 3
– 4.000
– 6.000 4
Julho/setembro 1989 Agosto/2003
– 8.000
– 10.000

Identifique a alternativa que relaciona corretamente os


compartimentos do relevo oceânico e seus respectivos
patamares representados na figura.
A) A área representada pelo número 1 corresponde às Bacias
Oceânicas e o número 4 ao Talude, ambos pertencentes ao
segundo patamar.
B) A área representada pelo número 1 corresponde à Plataforma
Continental e o número 2 ao Talude. Ambos pertencentes
ao primeiro patamar.
C) A área representada pelo número 4 corresponde a uma
Agosto/2009
Fossa Marinha e o número 3 a uma Dorsal Oceânica. Ambos
Disponível em:<https://petapixel.com/2016/09/07photos show one worlds pertencentes ao primeiro patamar.
largest lakes disappeared/>. Acesso em: 30 out. 2017. D) A área representada pelo número 1 corresponde a uma
Dorsal Oceânica, pertencente ao primeiro patamar e o
Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela que identifica número 2 ao Talude, que compõe o segundo patamar.
corretamente o nome do lago em questão, bem como os E) A área representada pelo número 2 corresponde à
motivos que levaram à situação mostrada pelas imagens de Plataforma Continental e o número 3 a uma Bacia Oceânica,
satélite. ambas pertencentes ao primeiro patamar.

266 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
Considerando a disponibilidade de água no território brasileiro,
pode-se concluir que o mapa apresenta um quadro sobre
Exercícios Propostos A) a escassez hídrica, que é menor onde a oferta de água é
realizada por rios intermitentes.
B) a segurança hídrica, que é maior nas bacias onde a
01. (Unicamp/2019) Compreender a dinâmica de vazão dos rios perenidade dos rios é constante.
é fundamental para o gerenciamento dos recursos hídricos, C) o potencial hídrico, que é maior na área meridional sob
pois a captação de água atende a diferentes necessidades influência da evapotranspiração.
da sociedade e pode ser comprometida em caso de estiagem D) o estresse hídrico, que é maior nas regiões onde a densidade
extrema. Os gráficos de Regime Fluvial a seguir mostram a demográfica é alta.
vazão de dois rios brasileiros ao longo do ano. E) a crise hídrica, que é menor na parcela oriental, onde a oferta
de água é abundante.
Regime Fluvial do Rio A
m3/seg

900
800 03. (FGV-SP) Leia atentamente o texto a seguir:
700
600 As Nações Unidas estimam que, até 2025,
500
400 dois terços da população mundial sofrerão escassez,
300 moderada ou severa, de água. Essa situação tem sido
200
100 interpretada como resultante da falta física de água doce
0 para o atendimento da demanda das populações da Terra.
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Entretanto, no plano geral, há água suficiente no mundo
(...) para satisfazer as necessidades de todos. De fato, este
Regime Fluvial do Rio B
m3/seg

350 cenário de escassez significa que, no ano 2025, apenas um


300 terço da humanidade deverá dispor de dinheiro suficiente para
250 pagar o serviço de abastecimento d’água decente, isto é, com
200 regularidade de fornecimento e qualidade garantida da água.
150
REBOUÇAS, Aldo. O ambiente brasileiro: 500 anos de exploração. In: RIBEIRO,
100
Wagner Costa. (Org.) Patrimônio Ambiental Brasileiro.
50 São Paulo: Edusp, 2003. pg. 206.
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Considerando os argumentos do texto anterior, é correto
Agência Nacional de Águas, ANA.
afirmar que:
A) a “crise da água” resulta do elevado crescimento da
Considerando as informações dos gráficos e seus conhecimentos,
população dos países mais pobres.
assinale a alternativa correta.
B) a “crise da água” não pode ser enfrentada com as
A) O volume correspondente à vazão dos dois rios é similar, e
tecnologias disponíveis, por isso tende a se aprofundar.
o volume de chuvas responsáveis pela recarga desses cursos
C) no cenário projetado pela ONU, a escassez de água
d’água é o mesmo.
tenderá a se agravar devido à continuidade do processo de
B) Os dois rios possibilitam, durante todo o ano, o abastecimento
urbanização.
humano, a geração de energia, a navegação e a pesca.
D) fatores sociais e econômicos desempenham um papel
C) A captação de água nos rios A e B pode ocorrer durante
importante no problema da escassez de água.
todo o ano, pois em ambos há excesso de água no verão e
E) a água é um recurso natural renovável, portanto, a escassez
deficit no inverno.
resulta apenas da distribuição desigual desse recurso pela
D) Os rios apresentam regimes fluviais diferentes: o rio A
superfície da Terra.
corresponde ao Regime Pluvial Tropical e o rio B representa
o Regime Pluvial Semiárido.
04. (UEPB) Observe o gráfico da distribuição da água doce na
superfície do planeta.
02. (Famerp/2018)
RELAÇÃO ENTRE DEMANDA E DISPONIBILIDADE Austrália e
HÍDRICA NOS PRINCIPAIS CURSOS D’ÁGUA
Europa; 8% Oceania; 5%

África; 11%

Ásia; 35%
América do Norte;
15%

América do Sul;
26%
5% 10% 20% 40%

Excelente Confortável Preocupante Crítica Muito crítica Com base nos conhecimentos sobre o tema e o auxílio do
Disponível em: <http://www.ana.gov.br>. gráfico, podemos afirmar:

Anual – Volume 3 267


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
I. A distribuição desigual dos recursos hídricos é apenas uma face da problemática escassez de água potável no mundo; o desequilíbrio
entre sua oferta e demanda passa também pela poluição dos grandes mananciais e pelas possibilidades das populações pobres
terem acesso à água tratada;
II. A América do Sul, que sozinha detém quase 1/3 da água doce do planeta, se configura como área estratégica.
Mas também enfrenta problema, com a ambiguidade entre o desperdício e a escassez de abastecimento de água potável entre
as camadas de suas populações;
III. Os recursos hídricos estão equitativamente bem distribuídos por todos os continentes e dentro deles a carência de acesso a esse
bem renovável se dá não por escassez, mas simplesmente por questões políticas, tais como no Nordeste brasileiro e no Saara,
onde o subsolo guarda grandes reservas de água doce que poderiam abastecer as populações e desenvolver a agricultura irrigada
sem problema;
IV As estatísticas da distribuição da água pelo planeta por si não revelam toda a realidade de acesso, ou não, das populações a
esse líquido, tal como ocorre com a Ásia, que, embora detenha um dos maiores percentuais da água doce do planeta, também
detém a maior população, parte vivendo em pobreza absoluta e alguns povos em áreas de escassez, onde o acesso à água é
causa de conflitos.

Estão corretas apenas as proposições:


A) I, II e III
B) I, II e IV
C) II, III e IV
D) I, III e IV
E) II e III

05. (Unesp/2013 - Modificada) Analise o mapa.

PLANISFÉRIO CORRENTES MARÍTIMAS

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

C. OIA
OCEANO SIVO
L
C. NORTE EQUATORIA
ATLÂNTICO
OCEANO
PACÍFICO
C. DAS MONÇÕES
EQUADOR

OCEANO OCEANO TRÓPICO DE


OCEANO ÍNDICO CAPRICÓRN
IO
PACÍFICO ATLÂNTICO

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO


ESCALA
0 2870 5740 km

Antonio Guerra et al. Atlas geográfico mundial, 2007. Adaptado.

Considerando as relações existentes entre zonas climáticas, sistema de circulação atmosférica e correntes marítimas de superfície,
é correto afirmar que:
A) as correntes quentes predominam nas zonas intertropicais e o sentido de seu deslocamento está associado aos ventos de oeste
predominantes na região.
B) as correntes frias predominam na zona equatorial e o sentido de seu deslocamento está associado aos ventos de leste predominantes
na região.
C) as correntes quentes predominam na zona equatorial e o sentido de seu deslocamento está associado aos ventos de leste
predominantes na região.
D) as correntes quentes predominam nas zonas subtropicais e o sentido de seu deslocamento está associado aos ventos de leste
predominantes na região.
E) as correntes frias predominam nas zonas intertropicais e o sentido de seu deslocamento está associado aos ventos de oeste
predominantes na região.

06. A escassez de recursos hídricos pode ser vista como resultado de um conjunto de fatores naturais e humanos que variam em cada
região. No caso da região Sudeste, em especial da região metropolitana de São Paulo, entre os fatores humanos que contribuem
diretamente para a restrição da disponibilidade de água estão:
A) a transposição de bacias hidrográficas e o grande consumo agrícola de recursos hídricos.
B) a intensa poluição de rios e lençóis freáticos e o grande consumo urbano e industrial de recursos hídricos.
C) o grande consumo urbano e agrícola de recursos hídricos e a inexistência de infraestrutura de captação, tratamento e distribuição
de água.
D) a preservação de vastas extensões de floresta nativa e a transposição de bacias hidrográficas.
E) a inexistência de infraestrutura de captação, tratamento e distribuição de água e a intensa poluição de rios e lençóis freáticos.

268 Anual – Volume 3


Geografia II CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS
07. (Uece/2002.1) A figura a seguir representa uma bacia D) O Canal do Panamá apresenta importância estratégica e
hidrográfica. militar para os EUA, apesar da pouca relevância econômica
referente às rotas comerciais marítimas.
E) O Canal do Panamá não teve um papel significativo na
5 5 circulação marítima internacional nem na estratégia de defesa
1 militar dos EUA.
2
1 3 09. (Unesp/2011) A espinha dorsal do Egito é o resultado da união
3 entre o Nilo Branco, que vem dos lagos da África Central, como
4 Nilo Azul, que desce as montanhas da Etiópia. Ele atravessa
2 metade do Sudão e corta o Egito de sul a norte, até desaguar
2
no Mediterrâneo.

5
Observe o mapa.

Considerando a ordem crescente, a denominação correta dos MAR MEDITERRÂNEO

elementos numerados é: Buto


N
Alexandria
A) estuário, rio principal, afluentes, delta e interflúvio. P.Ramsés
NO NE

Gizé O L
B) curso inferior, tributários, rio principal, planície fluvial e Mênfis Esaqqara
Heliópolis
MAR DE JUNCOS SO SE

divisor de água. Fayum S


C) nascentes, afluentes, rio principal, foz deltaica e divisor de Monte Bedr
água. DESERTO Monte Sinai
ORIENTAL
D) curso médio, afluentes, coletor principal, estuário e Amama
interflúvios. EGITO Tebas
Abidos
Vale dos Reis Luxor
08. (Fuvest) O Canal do Panamá foi construído em 1914 pelos
Estados Unidos, que controlaram sua administração por
Primeira Catarata
quase um século e só devolveram a soberania da área aos MAR
LAGO VERMELHO
panamenhos em 1999. A atual ampliação do canal visa permitir NASSER
Segunda
o tráfego de navios de maior porte, atualmente utilizados com DESERTO Catarata
mais frequência, em decorrência do aumento do volume do OCIDENTAL

comércio internacional nas últimas décadas. Mais de 100 rotas Terceira


Catarata
de transporte marítimo passam pelo Canal do Panamá, sendo DESERTO
uma das principais aquela que liga o Extremo Oriente à costa DA NÚBIA
RIO NILO
leste dos Estados Unidos.
SUDÃO

8.000 km
Aventuras na História. Egito edição especial, 2011. Adaptado.

21.000 km A partir da leitura do texto, da observação do mapa anterior e


de seus conhecimentos, analise as afirmações.
I. Há três milênios, uma vez por ano, entre julho e setembro, o
4300 km
degelo da neve nas montanhas da Etiópia e as fortes chuvas
na região provocavam torrentes de água e lama que faziam
o Nilo transbordar;
Disponível em: <http://people.hofstra.edu/geotrans>. Acesso em: jul. 2008. II. Atualmente, o comportamento do rio Nilo não mudou:
ele recebe o mesmo volume de água de seus afluentes,
especialmente depois da construção de barragens;
Com base em seus conhecimentos, no mapa e no texto, indique
III. O Nilo era tão importante para a sobrevivência dos
a alternativa correta.
egípcios que eles o consideravam um deus. Esta civilização
A) O Canal do Panamá reduziu sensivelmente as distâncias a serem desenvolveu-se junto ao curso do rio, construindo diques e
percorridas nas rotas marítimas entre as costas leste e oeste canais de irrigação;
dos EUA. IV. O rio Nilo percorre uma região desértica, que abrange
B) As rotas mais beneficiadas com a construção do Canal do apenas terras do Sudão e, no seu baixo curso, deságua no
Panamá são as que ligam a Europa e a África Ocidental à Mar Mediterrâneo, formando um extenso estuário.
costa leste dos EUA. Estão corretas as afirmações:
C) A ampliação do Canal do Panamá não deve apresentar um A) I e III, apenas.
aumento significativo no tráfego do canal, já que os navios B) II e IV, apenas.
de maior porte não são utilizados intensamente nos dias de C) I, II e III, apenas.
hoje. D) II, III e IV apenas.
E) I, II, III e IV.

Anual – Volume 3 269


CiÊnCiaS HumanaS e SuaS teCnoloGiaS Geografia II
10. (Enem) Segundo uma organização mundial de estudos Orientação geográfica
ambientais, em 2025, duas de cada três pessoas viverão
Tipos de orientação geográfica:
situações de carência de água, caso não haja mudanças no
– Margem esquerda – aquela que está à esquerda de quem
padrão atual de consumo do produto.
desce o rio.
– Margem direita – aquela que está à direita de quem desce
Uma alternativa adequada e viável para prevenir a escassez,
o rio.
considerando-se a disponibilidade global, seria:
– Montante – tudo o que está mais próximo da nascente.
A) desenvolver processos de reutilização da água.
– Jusante – tudo o que está mais próximo da foz.
B) explorar leitos de água subterrânea.
C) ampliar a oferta de água, captando-a em outros rios.
D) captar águas pluviais. Bibliografia
E) importar água doce de outros estados.
ADAS, Melhem. Panorama Geográfico do Brasil. Moderna.
COELHO, Marcos de Amorim. Geografia do Brasil. Moderna.
________. Geografia geral. Moderna.
Fique de Olho GARCIA, Helio Carlos. Geografia: de olho no mundo do trabalho.
São Paulo: Scipione, 2005.
QUADRO SÍNTESE - POTAMOLOGIA
Lúcia Marina e Tércio. Fronteira da Globalização. Ática.
Abastecimento: MORAIS. Geografia geral e do Brasil. Harbra.
SILVA, Vagner Augusto da. Geografia do Brasil e Geral. São Paulo:
Tipos de abastecimento:
– Pluvial – abastecido pela água das chuvas. Escala Educacional, 2005.
– Nival ou térmico – abastecido pelo degelo de neves e/ou VESENTINI, William. Sociedade e Espaço – geografia Geral. Ática.
geleiras. ________. Geografia Série Brasil. Ática.
– Misto – abastecido por chuvas e degelo de neves e/ou SILVA, Vagner Augusto da. Geografia do Brasil e Geral. São Paulo:
geleiras. Escala Educacional, 2005.
GARCIA, Hélio Carlos. Geografia: de olho no mundo do trabalho.
Foz: local onde o rio deságua
São Paulo: Scipione, 2005.
Tipos de foz:
– Estuário – rio deságua em um único canal. VESENTINI, William. Sociedade e Espaço – Geografia Geral. Ática.
– Delta – rio deságua em vários canais. Lúcia Marina e Tércio. Fronteira da Globalização. Ática.
– Mista – rio deságua em um canal maior e em vários canais
menores. SITE:
Curso: • www.nationalgeographic.com

Tipos de cursos: Mapas, artigos e fotos de paisagens naturais do mundo.


– Alto – próximo da nascente, é mais acidentado e predomina
a retirada de sedimentos.
– Médio – parte intermediária, tem relevo intermediário e
predomina o transporte de sedimentos. Anotações
– Baixo – próximo da foz, tem relevo mais suave e predomina
a deposição de sedimentos.

Drenagem
Tipo de drenagem:
– Exorreica – o rio corre direto para o mar ou oceano.
– Endorreica – o rio corre para o interior do continente.
– Arreico – sem drenagem ou direção específica, o rio infiltra-se
no solo ou evapora.
– Criptorreica – drenagens subterrâneas que se formam em
solos de formação calcária.

Relevo onde corre


Tipos de Relevo:
– De planalto – encachoeirado, ideal para a geração de energia
elétrica.
– De planície – suave, ideal para a navegação e a pesca.

Disponibilidade de água
Tipo de disponibilidade de água:
– Perene – possui água o tempo todo.
– Temporário ou intermitente – seca durante a estiagem.
– Efêmeros – aparecem apenas nas épocas das chuvas.

270 Anual – Volume 3


GABARITOS
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Língua Portuguesa III
Língua Portuguesa I Aula 11: A Notícia, o Artigo de Opinião e o Editorial
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 11: A Linguagem da Poesia I
C – – – – – – – – –
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
– Resolução e resposta no site.
A C D E E C E A C C
Aula 12: A Correção Textual e a Superação dos Erros
Aula 12: A Linguagem da Poesia II 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 E B D A B A D – – –
E C E D B A A D B E
– Resolução e resposta no site.

Aula 13: Africanidades: A Cultura de um Povo em Destaque Aula 13: Como Elaborar o Título e a Tese
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
C A C B C D E D D D C A B C C E A B A D

Aula 14: A Linguagem da Música e a Aula 14: As Estratégias Argumentativas e a sua Aplicação
Era de Ouro do Rádio no Brasil
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
– – – – – – – – – –
C A D B D A C D C A – Resolução e resposta no site.

Aula 15: Compreensão Textual III Aula 15: A Articulação do Texto Dissertativo-Argumentativo
(Análise de Prova de Vestibular)
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D A – – – – – – – –
C A D B A C D B C A
– Resolução e resposta no site.

Língua Portuguesa II Língua Portuguesa IV


Aula 11: Romantismo IV – Produção Literária em Prosa
Aula 11: Tipos de Verbos e Locuções Verbais
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
E D B E C B A B B A
A D A D E D D D B C

Aula 12: Realismo I – Romances Machadianos


Aula 12: Verbos III: Vozes Verbais
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
A D C B D D A B C C
D A C B B A D C A A

Aula 13: Realismo II – Contos Machadianos


Aula 13: Verbos Impessoais
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D D C B C A D D E C
E D B E C E D B B D

Aula 14: Naturalismo I – Obra de Aluísio Azevedo


Aula 14: Predicação Verbal
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
B C B B D B C D B D
B D B B A A C B E A

Aula 15: Naturalismo II – Obra de Raul Pompeia


Aula 15: Preposição e Advérbio
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
B D A B A C D E B E
C D B C E D A D A C

Anual – Volume 3 271


GABARITOS
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Língua Portuguesa V Espanhol

Aula 11: As Vanguardas I – Cubismo e Futurismo Aula 11: Compreensão de Texto


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D C E E D D D C A C A C E A B E C C E A

Aula 12: As Vanguardas II – Expressionismo Aula 12: Divergências Léxicas


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
E A E E C A A E E E B C D D A B B A B C

Aula 13: As Vanguardas III – Dadaismo e Surrealismo Aula 13: Compreensão de Texto
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
B D D B A D B B C A E D D E C E A E A B

Aula 14: O Abstracionismo Aula 14: Pronomes Pessoais Sujeitos e


Pronomes Pessoais Objetos
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
E C E D A A A E E D
A B C A B C A B A D
Aula 15: A Pintura Modernista Brasileira
Aula 15: Compreensão de Texto
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D A B C D A A E E A
A A C C B E C A A E
Língua Inglesa
Ciências Humanas e suas Tecnologias
Aula 11: Interpretação de Textos Estilo Enem
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 História I
C E D B A B A B B A
Aula 11: Processo de Independência do Brasil

Aula 12: Interpretação de Textos Estilo Enem 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 D C A A A C D B D A

B A E D C B A E C B
Aula 12: Primeiro Reinado (1822-1831)

Aula 13: Interpretação de Textos Estilo Enem – 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10


Charges e Tirinhas A D B B B E D C A C
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
C D A E E E A E D B Aula 13: Período Regencial (1831-1840)
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 14: Interpretação de Textos de Outros Vestibulares A C D C D B D C C D
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D A C B D B D A D B Aula 14: Revoltas Regenciais (1831-1840)
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 15: Verbos Anômalos D C A C A B C D C B
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
A E A B B D D A E E Aula 15: Segundo Reinado (Política 1840 a 1889)
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
A C C D B D C D D A

272 Anual – Volume 3


GABARITOS
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
História II Temas e Atualidades

Aulas 11 a 13: Civilização Romana Aulas 11 e 12: Constituições do Brasil


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
– B E A B B B D B B C C B C E E C E D C
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
B C B – C B A B E B – E C D D B D D E A
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 – Resolução e resposta no site.
C – B D D B B E D B
– Resolução e resposta no site. Aula 13: História dos Partidos Políticos no Brasil
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 14: Feudalismo B A B D D D D C E C
01 02 03 04 05
B A A A C Aula 14: Golpes, Rupturas e Permanências

06 07 08 09 10 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

A E C C B C A B C A A D A B B

Aula 15: Império Bizantino Aula 15: Planos Econômicos do Brasil Republicano

01 02 03 04 05 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

D D C B C D D A C C B D C B E

06 07 08 09 10
Geografia I
C D A A D

Aula 11: Geomorfologia do Brasil


História III
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

Aula 11: Revoltas Anticolonialistas na África e na Ásia B B B A D E B C B A

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 12: Solos do Brasil – Potenciais e Degradação
C C C C C D A B E C
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

Aula 12: Teorias ou Doutrinas Sociais E C C A D B D B B D

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 13: As Características Climáticas do Território Brasileiro
E C B C B D E D B A
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
A A A B D D B B D A
Aula 13: Primeira Guerra Mundial
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 14: Os Grandes Domínios de Vegetação no Brasil
A B A C D C E E C C
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D C C E C B A D C C
Aula 14: Revolução Socialista Russa
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 15: Recursos Hídricos do Brasil, Bacias Hidrográficas e
C E B C B C C D B D seus Aproveitamentos
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Aula 15: A Crise de 1929
C D E A B B A D B A
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
A A B D E A B C D D

Anual – Volume 3 273


GABARITOS
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Geografia II

Aula 11: Solos – Potenciais, Degradação e Sustentabilidade


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
B D E B E D B B E D

Aula 12: Situação Geral da Atmosfera


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
E C B E C C A A D B

Aula 13: Classificação Climática


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
B D – B E D B C C C
– Resolução e resposta no site.

Aula 14: Os Grandes Domínios da Vegetação no Mundo


01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
C A A C B A D B C A

Aula 15: Recursos Hídricos, Bacias Hidrográficas


e seus Aproveitamentos
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
D D D B C B C A A A

Anotações

274 Anual – Volume 3


Para quem quer aprender com quem já sabe

A coleção Pré-Universitário é resultado da parceria que uniu talen-


tos da Organização Educacional Farias Brito e da Editora Moderna.

São livros que levam a todo o país uma proposta consistente e


inovadora no segmento do Pré-Universitário, baseada no compro-
misso com a educação de qualidade.

As atividades, elaboradas por experientes educadores, estimulam o


estudante a conhecer o mundo e a experimentá-lo nas quatro áreas
do conhecimento, identificando e entendendo as habilidades e com-
petências das Linguagens, da Matemática, das Ciências Humanas e
da Natureza e suas respectivas Tecnologias, por meio da resolução
de diversas situações-problema.

Nada melhor do que se preparar para o Enem e os vestibulares com


o suporte dos professores do Farias Brito, a organização que lidera
os índices de aprovação nos exames mais difíceis do país, como ITA,
IME, Olimpíadas e Enem.

A coleção Pré-Universitário representa bem o que faz do Farias


Brito e da Editora Moderna referências nacionais na educação bra-
sileira – parceiros que sabem o que é necessário para sua aprovação,
além da determinação.

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