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PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA 1º ANO

PROFESSORA KARLA NIELS

ALUNO(A): _________________________________________ Nº:_____ TURMA:_________

1. (Unesp 2010) (0,5)


A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
(...)
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a Cidade da Bahia.

(Gregório de Matos. “Descreve o que era realmente naquelle tempo a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa”. In:
Obra poética (org. James Amado), 1990.)

O poema, escrito por Gregório de Matos no século XVII,


a) representa, de maneira satírica, os governantes e a desonestidade na Bahia colonial.
b) critica a colonização portuguesa e defende, de forma nativista, a independência brasileira.
c) tem inspiração neoclássica e denuncia os problemas de moradia na capital baiana.
d) revela a identidade brasileira, preocupação constante do modernismo literário.
e) valoriza os aspectos formais da construção poética parnasiana e aproveita para criticar o governo.

2. (Unicamp 2017) (2,0)

Enquanto quis Fortuna que tivesse


esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse


minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho com tormento,
para que seus enganos não dissesse.

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos


a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,

verdades puras são, e não defeitos...


E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos!

Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000164.pdf. Acessado em 02/08/2016.

a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas divindades são contrapostas por exercerem um poder sobre o eu lírico.
Identifique as duas divindades e explique o poder que elas exercem sobre a experiência amorosa do eu lírico.
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b) Um soneto é uma composição poética composta de 14 versos. Sua forma é fixa e seus últimos versos encerram o núcleo
temático ou a ideia principal do poema. Qual é a ideia formulada nos dois últimos versos desse soneto de Camões,
levando-se em consideração o conjunto do poema?
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3. (Espcex (Aman) 2017) (0,5)

Não indagues, Leucónoe

Não indagues, Leucónoe, ímpio é saber,


a duração da vida
que os deuses decidiram conceder-nos,
nem consultes os astros babilônios:
melhor é suportar
tudo o que acontecer.
[…]
Enquanto conversamos,
foge o tempo invejoso.
Desfruta o dia de hoje, acreditando
o mínimo possível no amanhã.

A segunda estrofe da poesia horaciana faz referência ao(s)


a) teocentrismo.
b) amor cortês.
c) feitos heroicos.
d) carpe diem.
e) amor platônico.

4. (Puccamp 2017) (0,5)

Do Brasil descoberto esperavam os portugueses a fortuna fácil de uma nova Índia. Mas o pau-brasil, única riqueza
brasileira de simples extração antes da “corrida do ouro” do início do século XVIII, nunca se pôde comparar aos preciosos
produtos do Oriente. (...) O Brasil dos primeiros tempos foi o objeto dessa avidez colonial. A literatura que lhe corresponde é, por
isso, de natureza parcialmente superlativa. Seu protótipo é a carta célebre de Pero Vaz de Caminha, o primeiro a enaltecer a
maravilhosa fertilidade do solo.

(MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides − Breve história da literatura brasileira.


Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 3-4)

Uma vez que se considere que o conceito de literatura, compreendida como um autêntico sistema, supõe a presença ativa de
escritores, a publicação de obras e a resposta de um público, entende-se que

I. ainda não ocorreu no Brasil a vigência plena de um sistema literário, capaz de expressar aspectos mais complexos de nossa vida
cultural.
II. os primeiros documentos informativos sobre a terra a ser colonizada devem ser vistos como manifestações literárias esparsas,
ainda não sistemáticas.
III. a carta de Caminha e os textos dos missionários jesuíticos fazem ver desde cedo a formação de um maduro sistema literário
nacional.

Atende ao enunciado o que está APENAS em


a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

5. (Unesp 2017) (0,5)

Leia o soneto XLVI, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), para responder à(s) questão(ões) a seguir.
Não vês, Lise, brincar esse menino
Com aquela avezinha? Estende o braço,
Deixa-a fugir, mas apertando o laço,
A condena outra vez ao seu destino.

Nessa mesma figura, eu imagino,


Tens minha liberdade, pois ao passo
Que cuido que estou livre do embaraço,
Então me prende mais meu desatino.

Em um contínuo giro o pensamento


Tanto a precipitar-me se encaminha,
Que não vejo onde pare o meu tormento.

Mas fora menos mal esta ânsia minha,


Se me faltasse a mim o entendimento,
Como falta a razão a esta avezinha.

(Domício Proença Filho (org.). A poesia dos inconfidentes, 1996.)

No soneto, o menino e a avezinha, mencionados na primeira estrofe, são comparados, respectivamente,


a) ao eu lírico e a Lise.
b) a Lise e ao eu lírico.
c) ao desatino e ao eu lírico.
d) ao desatino e à liberdade.
e) a Lise e à liberdade.

6. (Unifesp 2017) (0,5)


Leia o soneto “A uma dama dormindo junto a uma fonte”, do poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para responder à(s)
questão(ões) a seguir:

À margem de uma fonte, que corria,


Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme Sílvia, não vestia


O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia.

Não dão o parabém à nova Aurora


Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,


Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.

Poemas escolhidos, 2010.

Mais recorrente na poesia arcádica, verifica-se neste soneto barroco o recurso, sobretudo, ao seguinte lema latino:
a) “locus horrendus” (“lugar horrível”).
b) “locus amoenus” (“lugar aprazível”).
c) “memento mori” (“lembra-te da morte”).
d) “inutilia truncat” (“corta o inútil”).
e) “carpe diem” (“aproveite o dia”).

7. (Uerj 2017) (1,0)

Ao valimento que tem o mentir

Mau ofício é mentir, mas proveitoso...


Tanta mentira, tanta utilidade
Traz consigo o mentir nesta cidade
Como o diz o mais triste mentiroso.

Eu, como um ignorante e um baboso,


Me pus a verdadeiro, por vaidade;
Todo o meu cabedal meti em verdade
E saí do negócio perdidoso.

Perdi o principal, que eram verdades,


Perdi os interesses de estimar-me,
Perdi-me a mim em tanta 4soledade;

Deram os meus amigos em deixar-me,


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Cobrei ódios e inimizades...
Eu me meto a mentir e a aproveitar-me.

GREGÓRIO DE MATOS
PIRES, M. L. G. (org.). Poetas do período barroco. Lisboa: Comunicação, 1985.

O barroco apresenta duas vertentes: o cultismo, caracterizado pela linguagem rebuscada e extravagante, pelos jogos de palavras; e
o conceptismo, marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico.

O poema de Gregório de Matos, exemplo da estética barroca, insere-se em uma dessas vertentes. Identifique-a e justifique sua
resposta.

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8. (Unifesp 2016) (0,5)

A conhecida pintura de Pedro Américo (1840-1905) remete a um fato histórico relacionado à seguinte escola literária brasileira:
a) Barroco.
b) Arcadismo.
c) Naturalismo.
d) Realismo.
e) Romantismo.
Gabarito:

Resposta da questão 1:
[A]

Comentário de História: O poema denuncia os governantes e os mercadores usurários, que abusam do poder e dos
privilégios que possuem, como representantes diretos da metrópole. Pode ser compreendido como expressão do
nativismo, que antecede a defesa da independência colonial.

Comentário de Literatura: Gregório de Matos, autor inserido no Barroco brasileiro (1601- 1768), não poderia
apresentar características neoclássicas típicas do estilo subsequente, o Aracadismo (1768- 1836), muito menos
valorizar a estética parnasiana do final do século XIX ou desenvolver temática típica do Modernismo brasileiro das
primeiras décadas do século XX, o que invalida as opções c), d) e e). Embora a preocupação do texto seja
claramente a de satirizar a situação em que na época se encontrava a cidade da Bahia, não se pode afirmar que o
texto faça apologia da independência brasileira, como é afirmado em b).

Resposta da questão 2:
a) Nos dois quartetos do soneto “Enquanto quis Fortuna que tivesse”, o eu lírico menciona duas divindades,
Fortuna e Amor, que irão interferir na sua experiência amorosa. Enquanto Fortuna (destino) permitiu que
mantivesse esperanças de vir a ser feliz, o eu lírico teve inspiração para compor poemas, o que lhe foi negado
assim que o Amor se instalou nele e, por temer que alguma revelação negativa sobre ele poderia ser divulgada,
lhe tirou a capacidade de inspiração.
b) Os dois últimos versos do soneto são uma advertência do eu lírico às vítimas do Amor para que entendam que os
seus poemas terão tanto mais sentido para os leitores, quanto mais profunda tiver sido a sua experiência amorosa.

Resposta da questão 3:
[D]

A segunda estrofe remete à expressão latina “carpe diem” mencionada na alternativa [D]. Trata-se de um tema
desenvolvido no poema de Horácio (65 a.C.-8 a.C.), em que o eu lírico aconselha a sua amiga Leucone (“...carpe
diem, quam minimum credula postero" que traduzido corresponde a “...colha o dia de hoje e confie o mínimo possível
no amanhã”) a aproveitar o tempo presente, sem pensar no futuro.

Resposta da questão 4:
[B]

As proposições [I] e [III] são incorretas, pois:

[I] a literatura brasileira é fértil de autores cujas obras são reveladoras da complexidade da vida cultural do país (Fogo
Morto de José Lins do Rego; Seara Vermelha, de Jorge Amado; Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa;
Vidas secas, de Graciliano Ramos; etc.).
[III] a carta de Pero Vaz de Caminha e os textos dos missionários jesuíticos fazem parte de um conjunto de obras que
integram a chamada literatura de viagem e de catequese, respectivamente. Trata-se de testemunhos, cujos registros
e observações tinham como objetivo informar o mundo sobre a realidade do Brasil da época, ou seja, não constituíam
ainda uma expressão literária nacional.

Resposta da questão 5:
[B]

No soneto, Lise age em relação ao eu lírico da mesma forma que o menino age com a avezinha, isto é, como dona
da liberdade daquele que a ama. Se a avezinha está presa fisicamente aos caprichos do menino, o eu lírico está
preso sentimentalmente a Lise.

Resposta da questão 6:
[B]

Ao longo do poema, o eu lírico descreve a paisagem bucólica que rodeia a sua amada, Sílvia. Expressões como “À
margem de uma fonte”, “pássaros cantores”, “Flores canoras”, “pássaros fragrantes”, entre outras, remetem ao topo
locus amoenus, expressão latina que designa “paisagem ideal”, valorizando a vida aprazível no campo em detrimento
da vida conturbada na cidade. Assim, é correta a opção [B].

Resposta da questão 7:
Vertente: conceptismo.
O poeta estabelece um jogo entre os conceitos de mentira e verdade por meio de um raciocínio lógico, mostrando as
consequências da opção pela verdade.

Resposta da questão 8:
[B]

A representação de Tiradentes com a cabeça decepada e o corpo esquartejado sobre o cadafalso destaca a
violência do sistema colonial e evoca a traição de que fora vítima durante a Inconfidência Mineira, tentativa de revolta
abortada pelo governo em 1789. Escritores árcades mineiros como Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e
Cláudio Manuel da Costa tiveram participação direta no movimento da Inconfidência Mineira. A pintura de Pedro
Américo está, portanto, associada ao Arcadismo que, no Brasil, teve início no ano de 1768, com a publicação do livro
“Obras” de Cláudio Manuel da Costa. Assim, é correta a opção [B].

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