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Texto Teatral

Texto Teatral ou Dramático são aqueles produzidos para serem representados


(encenados) e podem ser escritos em poesia ou prosa.
São, portanto, peças de teatro escritas por dramaturgos e dirigidos por produtores teatrais
e, em sua maioria, são pertencentes ao gênero narrativo.
Ou seja, o texto teatral apresenta enredo, personagens, tempo, espaço e pode estar
dividida em “Atos”, que representam os diversos momentos da ação, por exemplo, a
mudança de cenário e/ou de personagens.

De tal modo, o texto teatral possui características peculiares e se distancia de outros


tipos de texto pela principal função que lhe é atribuída: a encenação.

Dessa forma, ele apresenta diálogo entre as personagens e algumas observações


no corpo do texto, tal qual o espaço, cena, ato, personagens, rubricas (de interpretação,
de movimento).

Já que os textos teatrais são produzidos para serem representados e não contados,
geralmente não existe um narrador, fator que o difere dos textos narrativos.

O teatro é uma modalidade artística que surgiu na antiguidade. Na Grécia antiga,


eles possuíam uma importante função social, donde os espectadores esperavam pelo
momento da apresentação, que poderia durar um dia todo.
Características do Texto Teatral

Textos encenados

Gênero narrativo

Diálogo entre personagens

Discurso direto

Atores, plateia e palco

Cenário, figurino e sonoplastia

Linguagem corporal e gestual

Ausência de narrador

Linguagem Teatral
A linguagem teatral é expressiva, dinâmica, dialógica, corporal e gestual. Para
prender a atenção do espectador os textos teatrais sempre apresentam um conflito, ou
seja, um momento de tensão que será resolvido no decorrer dos fatos.

Observe que em grande parte a linguagem teatral é dialógica, no entanto, quando


encenada por somente um personagem é chamado de monólogo, donde expressa
pensamentos e sentimentos da pessoa que está atuando.

Elementos da Linguagem Teatral


Os principais elementos que constituem os textos teatrais são:

Tempo: o tempo teatral é classificado em "tempo real" (que indica o da


representação), "tempo dramático" (quando acontece os fatos narrados) e o "tempo da
escrita" (indica quando foi produzida a obra).

Espaço: o chamado “espaço cênico” determina o local em que será apresentado


a história. Já o “espaço dramático” corresponde ao local em que serão desenvolvidas as
ações dos personagens.
Personagens: segundo a importância, os personagens dos textos teatrais são
classificados em: personagens principais (protagonistas), personagens secundários e
figurantes.

Estrutura dos Textos Teatrais


Os textos teatrais são constituídos por dois textos:

Texto Principal: que apresenta a fala das personagens (monólogo, diálogo,


apartes).

Texto Secundário: que inclui o cenário, figurino e rubricas.

Quando produzidos, são divididos de maneira linear em:

Introdução (ou apresentação): foco na apresentação das personagens, espaço,


tempo e do tema.

Complicação (ou conflito): determina as peripécias da peça teatral.

Clímax: momento de maior tensão do drama.

Desfecho: desenlace da ação dramática.

Gêneros Teatrais
Os gêneros teatrais mais conhecidos são:

Tragédia

Comédia

Tragicomédia
Teatro Gil Vicente

Gil Vicente - Humanismo e o nascimento do teatro em Portugal


Gil Vicente foi um dramaturgo tido como pai do teatro português. Criou o que se
convencionou chamar de teatro vicentino, caracterizado pelo poder da sátira, pertencente
ao Humanismo, movimento que incentiva a valorização do ser humano.
Foi poeta, no entanto, se destacou no teatro com a produção de diversas peças,
sobretudo os autos e as farsas. As obras mais bem sucedidas foram Auto da Barca do
Inferno, Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória, que juntas formam uma
trilogia. Outra obra importante foi a comédia Farsa de Inês Pereira.
Autos: finalidade de divertir, de moralizar e/ou de difundir a fé cristã.
Farsas: peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens,
extraídas do cotidiano.
Ambos são plenos de críticas à sociedade.
Foi o responsável por modificar o teatro do país, dividindo a arte da dramaturgia em
antes e pós Gil Vicente. O palco e o cenário começaram a ser utilizados nas peças do
escritor, que também interpretava nas comédias de sua autoria.

Estilo
O autor produzia textos do gênero dramático, textos que deveriam ser representados.
Suas peças passam a ser representadas em um palco, novidade no teatro português. Ele
introduz também o uso de cenário nas apresentações.
A linguagem apresenta certo coloquialismo, o autor busca ser fiel aos falantes de
cada origem, retratando assim os diferentes falares e as diferenças sociais. Com isso,
mistura o popular, o arcaico, o moderno e o elitizado. Vicente era um observador da
realidade.

Teatro vicentino
O teatro vicentino é o nome dado aos textos teatrais produzidos pelo dramaturgo
português Gil Vicente durante o período denominado Humanismo (1434-1527). O
humanismo determina uma fase de transição entre o Trovadorismo e o Classicismo. Ou
seja, é o momento que marca o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
O teatro vicentino tem início em 1502, com a apresentação da peça o “Monólogo do
vaqueiro”, também chamado de “Auto da visitação”.
A principal característica do Humanismo é a valorização do ser humano, com o
advento do pensamento antropocêntrico (homem no centro do mundo) no período
renascentista.
Posto que a maior parte de suas peças possua teor satírico, vale lembrar uma das
mais célebres frases do dramaturgo: “Rindo se castigam os costumes”.

Características do Teatro Vicentino


• Retrato da sociedade portuguesa
• Teatro de costumes
• Crítica social
• Obra de caráter universal
• Influência do antropocentrismo
• Presença de temas de cultura popular
• Personagens caricaturadas e alegóricas
• Perfil psicológico das personagens
• Presença de humor e comicidade
• Elementos alegóricos e místicos
• Caráter moralizante e satírico
• Temas pastoris, cotidianos, profanos e religiosos

O ponto mais forte de Gil Vicente está na criação de tipos humanos como o velho
apaixonado, a alcoviteira, a velha beata, o escudeiro fanfarrão, o médico incompetente, o
judeu ganancioso, o fidalgo decadente, a mulher adúltera e o padre corrupto.
Escritas em versos, as peças estão repletas de trocadilhos e ditados populares. É
importante ressaltar que a crítica do dramaturgo português é muito mais aos indivíduos
corruptos do que à religião em si mesma, seus dogmas e hierarquias.
Nesse aspecto, Gil Vicente crê no teatro como uma forma de denunciar a
degradação dos costumes, seja na Igreja, na família ou entre as classes profissionais
como os médicos ou sapateiros. Acima de tudo, acredita no poder do riso como uma
maneira de recolocar o homem no bom caminho, aquele que o afasta do vício em direção
à virtude.
Trecho de “O Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente – Peça de Teatro
[...]
DIABO
Oh, que caravela esta!
Põe bandeiras, que é festa.
Vela ao alto! Ancora a pique!
O poderoso Dom Henrique,
Cá vindes vos? Que coisa é essa?...
Aproxima-se o Fidalgo e, chegando ao barco infernal, diz:

FIDALGO
Esta barca para onde vai,
Que assim está apercebida? (preparada)

DIABO
Vai para a ilha perdida,
E há de partir daqui a nada.

FIDALGO
E para lá vai a senhora?

DIABO
Sou um senhor,
Ao vosso serviço.

FIDALGO
Parece-me isto um cortiço... (uma embarcação reles)

DIABO
Porque a vedes dai de fora.

FIDALGO
Pois sim, e por que terra passais?

DIABO
Para o inferno, senhor.

FIDALGO
Uma terra sem-sabor...

DIABO
O qué?... Mas também disso zombais?

DIABO
Em que esperas ter guarida? (salvação)

FIDALGO
Que deixo na outra vida, Quem reze sempre por mim.

DIABO
Quem reze sempre por ti?!...
Hi, hi, hi, hi, hi, hi hi...
Tu que viveste a teu prazer, Pensando cá guarnecer (salvares-te)
Por aqueles que lá rezam por ti?!..
Embarcai agora, embarcai!
Que haveis de ir nas traseiras
Mandai meter a cadeira,
Como também passou o vosso pal.

FIDALGO
0 quê!? O quê!? O quê!?
É lá que ele está?!

DIABO
Vai ou vem! Embarcal depressa!
Pelo que em vida escolheste,
Assim cá vos contentais
E como pela morte passastes,
Tereis que passar o río.

FIDALGO
Não há outro navio?

DIABO
Não, senhor, que este preparaste,
E assim que expiraste (morreste)
Me deste logo sinal.

FIDALGO
E que sinal foi esse tal?

DIABO
De que vós vos contentastes.
(que estava condenado)

FIDALGO
Para a outra barca me vou.

-Já ao pé da outra barca -

Oh da barca! Para onde is?


Oh, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Olá! Ó!...

-O Anjo Ignora-o-

Por deus, aviado estou! (perdido)


Quanto a isto é já pior...
Que Jericocins, salvanor!
(Mas que burro, com o devido respeito)
Pensam que eu sou um grou?
(um corvo, ou uma ave que
diz coisas sem sentido)

ANJO
Que quereis?

FIDALGO
Que me digais,
Pois morri tão sem aviso,
Se a barca do Paraíso
É esta em que navegais.

ANJO
Esta é. Que desejais?

FIDALGO
Que me deixeis embarcar.
Sou fidalgo de solar,
É bom que me recolhais.

ANJO
Não se embarca tirania,
Neste batel divinal.

FIDALGO
Não sei por que negais entrada
À minha senhoria...

ANJO
Para a vossa fantasia (vaidade)
Muito pequena é esta barca.

FIDALGO
Para senhor de bom nome,
Não há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio!
(a prancha e apetrechos para se subir para o barco) Levai-me desta ribeira!

ANJO
Não vindes cá a pensar
De entrar neste navio.
Aquele ali vai mais vazio.
Ali a cadeira entrará,
O rabo caberá

Ireis ali mais espaçosos,


Vossa fumosa senhoria, (arrogante)
A pensar na vossa tirania

Contra o pobre povo queixoso.


E porque, de generoso,

Desprezaste os pequenos,
Achar-vos-ei tanto menos (*)
Quanto mais foste fumoso. (arrogante).

[…]
Disponível em: <https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2013/03/Auto-da-Barca-do-Inferna.pdf>. Acesso em 19 sat. 2017.
Referências Bibliográficas
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/gil-vicente-humanismo-e-o-nascimento-do-
teatro-em-portugal.htm

https://www.todamateria.com.br/texto-
teatral/#:~:text=O%20Texto%20Teatral%20ou%20Dram%C3%A1tico,s%C3%A3o%20pertencente
s%20ao%20g%C3%AAnero%20narrativo.

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