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Humanismo (1434-1527)

Características: Antropocentrismo - homem no centro do conhecimento


(valorização de suas emoções e sentimentos).
Descentralização do conhecimento, onde a Igreja perde o monopólio do
conhecimento com o desenvolvimento da imprensa.
Cientificismo, esse conceito coloca a ciência em um lugar de destaque.
Através do método científico, ele fomenta as descobertas desse campo a
fim de entender os fenômenos naturais.

Autores na literatura: Fernão Lopes (prosa) e Gil Vicente (poesias e


peças de teatro)

Teatro Vicentino
O teatro vicentino é o nome dado aos textos teatrais produzidos pelo
dramaturgo português Gil Vicente durante o período denominado
Humanismo. O teatro vicentino tem início em 1502, quando ele apresentou
sua peça o “Monólogo do vaqueiro”, também chamado de “Auto da
visitação”.
Posto que a maior parte de suas peças possuem teor satírico, vale lembrar
uma das mais célebres frases do dramaturgo: “Rindo se castigam os
costumes”.
O teatro vicentino é basicamente caracterizado pela sátira, criticando
o comportamento de todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo.
Apesar de sua profunda religiosidade, o tipo mais comumente satirizado
por Gil Vicente é o frade que se entrega a amores proibidos (chegando a
enlouquecer de amor), à ganância (na venda de indulgências), ao exagerado
misticismo, ao mundanismo, à depravação dos costumes. Criticou desde o
frade de aldeia até o alto clero dos bispos, cardeais e mesmo o papa. A
baixa nobreza representada pelo fidalgo decadente e pelo escudeiro é outra
faixa social insistentemente criticada pelo autor.

Características do teatro vicentino


Retrato da sociedade portuguesa; Teatro de costumes; Crítica social; Obra
de caráter universal; Influência do antropocentrismo; Contexto do
renascimento; Presença de temas de cultura popular; Personagens
caricaturadas e alegóricas; Perfil psicológico das personagens; Presença de
humor e comicidade; Elementos alegóricos e místicos; Caráter moralizante
e satírico; Temas pastoris, cotidianos, profanos e religiosos.
Biografia de Gil Vicente
Gil Vicente foi poeta e dramaturgo português, considerado o “Pai do
Teatro Português”. Em Portugal, Gil Vicente foi a figura mais importante
do humanismo literário.
Gil Vicente nasceu em 1465 na cidade portuguesa de Guimarães. Estudou
na Universidade de Salamanca, Espanha.

Primeiramente, casou-se com Branca Bezerra, com quem teve dois filhos.
Após a morte de sua esposa, casou novamente com Melícia Rodrigues e
com ela teve três filhos.

Seu primeiro trabalho foi o "Auto da Visitação", também chamado de


"Monólogo do Vaqueiro".

Foi apresentado na presença do rei Dom Manuel e da rainha Dona Maria


em 1502 na celebração do nascimento do príncipe que viria a ser o futuro
D. João III. Além de ter escrito a peça baseada na adoração dos magos,
também participou como ator.

Nos anos seguintes, organizou diversos eventos, festejos e celebrações da


realeza sempre aproveitando para apresentar seus textos.

Assim, com grande aprovação do público e da Corte portuguesa, Gil


Vicente passa a ser um nome reconhecido, escrevendo cada vez mais peças
de teatro. Além de dramaturgo, foi também poeta.

Em 1511 foi nomeado vassalo do rei e mais tarde, mestre da balança da


Casa da Moeda (1513). Faleceu por volta de 1536 em local desconhecido.

Classificação das obras de Gil Vicente

Os autos: são inspirados em mistérios e moralidades medievais, com seres


não individualizados com própria psicologia, são símbolos que
personificam anjos, demônios, virtudes, vícios e etc. Gil Vicente foi
acrescentando aos seus autos uma dimensão bastante polêmica e satírica
que era unida com a Luxúria, a Avareza o Trabalho e a Comunhão, ou seja,
representava toda a sociedade no começo do Renascimento.

As Farsas: são bastante usadas para críticas através do riso, desnudam as


mazelas da sociedade pré-renascentista. Retratam os tipos humanos e
sociais, por meio da exploração de efeitos cômicos.
Principais obras de Gil Vicente:
- Auto da Barca do Inferno (1516)
- Auto da Barca do Purgatório (1518)
- Auto da Barca da Glória (1519)
- Farsa de Inês Pereira (1523)
- Auto da Visitação (1502)
Obra - Auto da Barca do Inferno
O Auto da Barca do Inferno foi a primeira trilogia das barcas, foi
classificada também como auto da moralidade, em que é retratada a
sociedade na época de Gil Vicente e que vale também como uma
advertência e uma edificação; indicando todos os pecados que a afastam da
salvação. As condições para Gil Vicente encenar suas peças não era a das
melhores, pois não tinha recursos cenográficos. Garcia de Resende, que era
também dramaturgo tinha relação com as maiores festas na corte. Então um
dia quando estava em uma das festas com D.Pedro II, ele fez uma
“apresentação” do que seria sua obra. Os personagens de O Auto da Barca
do Inferno são:
Diabo – Belzebu (barqueiro do inferno) – Anjo (barqueiro do inferno)
Fidalgo (tem título de nobreza, vai para o inferno) – Agiota (faz companhia
ao fidalgo na barca do inferno) – Parvo – (vai para o paraíso, pessoa tola
que não faz mal a ninguém) Sapateiro (rouba o povo) – Frade (corrupto) –
Brízida Vaz (alcoviteira, bruxa e prostituta) – Judeu (ganancioso e não é
cristão, por isso, vai para o inferno) – Corregedor (membro do judiciário -
só defende seus próprios interesses) - Procurador (corrupto) – Cavaleiros
(Os Cavaleiros de Deus, mártires da Santa Igreja, que dedicaram a vida a
causa cristã, são premiados com a paz eterna na barca do paraíso).
Observe que a maior parte dos personagens do teatro vicentino não tem
nome de batismo: os personagens são normalmente designados pela
profissão ou pelo tipo humano que representam. Gil Vicente denuncia os
absurdos da corte, as corrupções, os casos de nepotismo, o desperdício com
a verba pública.
Quanto à forma, a utilização de cenários e montagens, o teatro de Gil
Vicente é extremamente simples. Tampouco obedecem às três unidades do
teatro clássico – ação, lugar e tempo. Seu texto apresenta uma estrutura
poética, com o predomínio da redondilha maior (sete sílabas), havendo
mesmo várias cantigas no corpo de suas peças.

Análise da obra:
O "Auto da Barca do Inferno", ao que tudo indica, foi apresentado pela
primeira vez em 1517 na câmara da rainha D. Maria de Castela, que estava
enferma. Esse Auto, classificado pelo próprio autor como um "auto de
moralidade", tem como cenário um porto imaginário, onde estão ancoradas
duas barcas: uma com destino ao paraíso, tem como comandante um anjo; a
outra, com destino ao inferno, tem como comandante o diabo, que traz
consigo um companheiro. Com relação ao tempo, pode-se dizer que é
psicológico, uma vez que todos os personagens estão mortos, perdendo-se
assim a noção do tempo.
Todas as almas, assim que se desprendem dos corpos, são obrigadas a
passar por esse lugar para serem julgadas. Dependendo dos atos cometidos
em vida, elas são condenadas à Barca da Glorificação ou à do Inferno.
Tanto o anjo quanto o diabo podem acusar as almas, mas somente o anjo
tem o poder da absolvição. Quanto ao estilo, pode-se dizer todo Auto é
escrito em tom coloquial, ou seja, a linguagem aproxima-se a da fala,
revelando assim a condição social das personagens.
Em relação a estrutura pode-se dizer que o Auto possui um único ato,
dividido em cenas, nas quais predominam os diálogos entre as almas, que
estão sendo julgadas, com o anjo e com o diabo.
Os personagens do Auto, com exceção do anjo de do diabo, são
representantes típicos da sociedade da época. Eles raramente aparecem
identificados pelo nome, pois são designados pela ocupação social que
exercem. Como exemplo pode-se citar o onzeneiro, o fidalgo, sapateiro etc.
No começo do Auto o anjo divide o palco com o diabo e o seu
companheiro. Os dois últimos estão muito eufóricos enquanto realizam os
preparativos da sua barca, pois sabem que ela partirá repleta de almas. As
posturas assumidas pelo anjo e pelo diabo acentuam ainda mais a
tradicional oposição entre Bem e Mal.
As poucas falas, que fazem do anjo uma figura quase estática, se
contrapõem a alegria e ironia do diabo. Assim, o diabo, que conhece muito
bem cada um dos personagens que serão julgados, revelando o que cada um
tenta esconder, torna-se o centro das atenções e praticamente domina a
peça.
A primeira alma a chegar para o julgamento é o fidalgo. Ele vem vestido
com uma roupa cheia de requintes e acompanhado por um pajem, que
carrega uma cadeira, simbolizando o seu status social. Esse representante
da nobreza é condenado à barca do inferno por ter levado uma vida
tirana cheia de luxúria e pecados. A arrogância e o orgulho do fidalgo
são tantas que ele zomba do diabo quando fica sabendo qual seria o destino
do batel infernal, pois deixou "na outra vida" quem reze por ele. O fidalgo
dirige-se então a barca da glória e só quando é rejeitado pelo anjo percebe
que de nada valem as orações encomendadas. Só então mostra-se
arrependido, mas como já era muito tarde, embarca no batel infernal.
O segundo personagem que sofre julgamento é o onzeneiro ambicioso. Ao
chegar a barca do inferno o diabo o chama de "meu parente". Ao descobrir
o destino do batel infernal, ele recusa-se a embarcar e vai até a barca da
glorificação, mas o anjo o acusa de onzena (agiotagem) e não permite a sua
entrada. Condenado pela ganância, usura e avareza, o onzeneiro retorna
a barca do inferno e tenta convencer o diabo a deixá-lo voltar ao mundo
dos vivos para buscar o dinheiro que acumulou durante a sua vida. Mas o
diabo não cede a seus argumentos e ele acaba embarcando no batel
infernal.
A próxima alma a chegar é o parvo. Desprovido de tudo, ele é recebido
pelo diabo, que tenta convencê-lo a entrar em sua barca. Ao descobrir o
destino do batel infernal, o parvo xinga o diabo e vai até a o batel da glória.
Lá chegando, o parvo diz não ser ninguém e, por causa da sua humildade
e modéstia, a sua sentença é a glorificação.
O outro personagem que entra em cena é o sapateiro, que traz consigo
todas as ferramentas necessárias para a execução do seu trabalho. Ao saber
o destino da barca do inferno, ele recorre ao anjo, mas sua tentativa é vã e
ele é condenado por roubar o povo com seu ofício durante 30 anos e
por sua falsidade religiosa.
Acompanhado pela amante, o próximo personagem a entrar em cena é o
frade. Alegre, cantante e bom dançarino, o frade veste-se com as
tradicionais roupas sacerdotais e sob elas, instrumentos e roupas usadas
pelos praticantes da esgrima, esporte esse que ele se revela muito hábil. O
frade indigna-se quando o diabo o convida a entrar em sua embarcação,
pois acredita que seus pecados deveriam ser perdoados, uma vez que ele foi
um representante religioso. Então ele, sempre acompanhado da amante,
segue até o batel da glória, onde o anjo sequer lhe dirige a palavra, tamanha
a sua reprovação, cabendo ao parvo a tarefa de condenar o frade à barca
do inferno por seu falso moralismo religioso.
Depois do frade, entra em cena Brísida Vaz, uma mistura de feiticeira
com alcoviteira. Ao ser recebida pelo diabo ela declara possuir muitas
joias e três arcas cheias de materiais usados em feitiçaria. Mas seu maior
bem são "seiscentos virgos postiços". Como a palavra "virgo" corresponde
ao hímen, pode-se dizer que a alcoviteira Brísida Vaz prostituiu 600
meninas virgens. No entanto, o adjetivo postiço dá margem a interpretação
de que as moças não eram virgens e Brísida Vaz enganou seiscentos
homens. Ao saber qual era o destino do batel infernal, ela vai até à barca do
anjo e, com um discurso semelhante ao usado nas artes da sedução, tenta
convencer o anjo a deixá-la embarcar. Mas essa tentativa é inútil, pois ela é
condenada à barca do inferno pela prática de feitiçaria, prostituição e
por alcovitagem (Servir de intermediário em relações amorosas).
O próximo personagem que entra cena é o judeu, acompanhado de seu
bode, símbolo do judaísmo. Ele dirige-se ao batel infernal é até mesmo o
diabo, que sempre mostrou muito desejo por almas, recusou-se a levá-lo.
Então o judeu tenta subornar o diabo, mas esse, sob pretexto de não levar
bode em sua barca, o aconselha a procurar a "outra" barca. O judeu então
tenta aproximar-se do anjo, mas o parvo o impede, alegando que ele em
vida desrespeitou o Cristianismo.
Por alguns instantes tem-se a impressão de que o destino do judeu é ficar
vagando sem destino pelo porto imaginário, mas o diabo acaba levando o
judeu e bode rebocados em sua barca. O motivo de tanta discriminação
ao judeu deve-se ao fato de ter existido, durante o reinado de D. Manuel,
uma intensa perseguição aos judeus e aos cristãos novos, que tinha o
objetivo de expulsa-los do território português.
Vale lembrar que, apesar de haver um ataque aos judeus no "Auto da Barca
do Inferno", nas demais obras de Gil Vicente existe uma condenação à
perseguição sofrida pelos judeus e cristãos novos.
Depois do judeu, entra em cena o corregedor. Ele traz consigo vários autos
(processos) e pode ser comparado aos juízes atuais. Ao ser convidado a
embarcar no batel infernal ele começa a argumentar em sua defesa. No
meio da conversação, chega o procurador, trazendo consigo vários livros.
Ao ser convidado a embarcar, ele também se recusa e os dois
representantes do judiciário conversam sobre os crimes que cometeram
juntos e seguem para a barca da glória. Lá chegando, o anjo, ajudado pelo
parvo, não permite que eles embarquem, condenando-os ao batel infernal
por usarem o poder do judiciário em benefício próprio.
Vale lembrar que esses dois personagens utilizam em sua defesa vários
termos em Latim, misturados à Língua Portuguesa. Esse efeito de
adulteração da Língua Latina, aliado a má índole dos dois, remete a ideia
de que tanto a língua dos juristas quanto os que a usam estão sendo
corrompidos.
Dentro do batel infernal, o corregedor e o procurador fazem companhia à
Brísida Vaz, mostrando assim que eles se conheciam muito bem. Esse fato
dá margem a duas interpretações: a primeira é que Brísida Vaz respondeu a
vários processos judiciais; já a segunda remete a ideia de que Brísida Vaz
ofereceu seus serviços aos burocratas.
O próximo personagem a entrar em cena é o enforcado, que ainda traz no
pescoço a corda usada no seu enforcamento. Ele acredita que a morte na
forca o redime dos seus pecados, mas isso não ocorre e ele é condenado.
Tudo indica que o enforcado cometeu vários crimes em nome de seu chefe
Garcia Moniz. A fala de Brísida Vaz, dirigida ao corregedor, que anuncia a
chegada do enforcado Pero de Lisboa, nos leva a crer que ele trabalhava no
judiciário e que todos se conheciam. Dessa forma ideia de que Brísida Vaz
respondeu a vários processos judiciais é reforçada e a questão da corrupção
nos meios burocráticos retorna a cena. Por isso, a condenação do
enforcado ao batel infernal também é a da corrupção nos meios
burocráticos.
Os últimos personagens a entrar em cena são os quatro cavaleiros que
morreram nas cruzadas em defesa do Cristianismo. Eles passam
cantando pelo batel infernal, o diabo os convida a entrar, mas eles sequem
em direção ao batel da glorificação, onde são recebidos pelo anjo. O fato
de morrer pelo triunfo do Cristianismo garante a esses personagens
uma espécie de passaporte para a glorificação. Com a chegada dos
quatro cavaleiros a peça chega ao final. Site: Toda Matéria.

Vídeos para fixação do conteúdo:


https://www.youtube.com/watch?v=dDuWooB4m4A
https://www.youtube.com/watch?v=taAEA9Ji94s
https://www.youtube.com/watch?v=Vf3S2sReZ9s

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