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Auto da compadecida, de Ariano Suassuna.

Auto é uma modalidade do gênero


dramático ligada aos mistérios e às moralidades e, na Idade
Média, designou toda peça curta de tema religioso ou profano.

Ele equivaleria a um ato que viesse a integrar um espetáculo maior e completo, daí o
nome auto. Os mistérios são peças teatrais, cujos temas são retirados das sagradas
escrituras para transmitir ao povo, de forma acessível e concreta, a história da religião,
os dogmas e os artigos da fé. Nas moralidades, os temas histórico-concretos dos
mistérios são substituídos por argumentos abstrato-típicos, que mostram o conflito do
homem, em face do Bem e do Mal.

Suassuna traz para os nossos dias aquela forma dramática, que teve com Gil Vicente,
um dos maiores escritores portugueses do século XVI, seu apogeu em língua
portuguesa. O auto vicentino era de temática religiosa. A designação de farsa era dada
às peças de assunto profano.

No nosso exemplo, podemos observar que o dramático, como indica a própria origem
da palavra (drama vem do verbo grego dráo = fazer), é ação. Por isso, o mundo nele
representado (pois o texto dramático se completa na representação) apresenta-se como
se existisse por si mesmo, sem a interferência de um narrador.

Importante é notarmos que o objetivo do escritor não é cada passagem por si, como na
epopéia, nem o modo especial de transmitir emocionalmente um tema, como no poema
lírico, mas a meta a alcançar. Assim é que tudo se projeta para o final, através da
manutenção de uma forte expectativa, que desemboca no desfecho ou solução.

O curto trecho do Auto da compadecida nos leva a querer saber o que acontecerá depois
que o padre, levado pela cobiça, começa a admitir a possibilidade de benzer o cachorro,
cujo dono ele pensava que era o Major. Isto porque cada parte de uma peça dramática se
liga a outras, de tal forma que é sempre conseqüência da anterior e causa da seguinte.
Essa interdependência das partes é responsável pela tensão que, por sua vez, exige a
concentração no essencial e a aceleração do tempo, para que nada se perca, nem se veja
prejudicado o sentido do todo. É o que Aristóteles chamou de unidade de ação.

O diálogo (veja o exemplo) é a forma própria para que as personagens ajam sem
qualquer mediação, dando-nos sempre a impressão, até mesmo nos dramas históricos,
de que tudo está acontecendo pela primeira vez. Segundo Emil Staiger, o dramático
reúne o pathos e o problema. Conceitua o pathos como o tom da linguagem que
comove, que provoca paixão, envolvendo o espectador que passa a vivenciar, com o
ator, a dor ou o prazer. Já o problema seria a proposição, aquilo que o Autor do texto
dramático se propõe a resolver. Assim, unem-se o querer do patético e o questionar do
problemático, conduzindo sempre a ação para adiante, para o futuro, que equivale ao
desfecho. As perguntas do problema vão sendo respondidas pela força progressiva do
pathos que, eliminando as distâncias entre ator e espectador, leva este, obrigatoriamente,
à simpatia.
A peça “O auto da Compadecida” , um auto (peça de apenas um ato), escrita por Ariano
Suassuna em 1955, retoma elementos do teatro popular, contidos nos autos medievais, e
da literatura de cordel para exaltar os humildes e satirizar os poderosos e os religiosos
que se preocupam apenas com questões materiais. Então ela unifica a tradição do teatro
medieval português ao contexto social e histórico do nordeste brasileiro.

O enredo da peça é um trabalho de montagem e moldagem baseado em uma tradição


antiquíssima, que remonta aos autos medievais de Gil Vicente e mais diretamente a
inúmeros autores populares que se dedicaram ao gênero do cordel. Nesse tipo de
literatura, os criadores contam e recontam as mesmas histórias e acrescentam o seu
toque pessoal.

O argumento da peça gira em torno das aventuras de João Grilo, um tipo pitoresco que
protagoniza os acontecimentos de forma absolutamente imaginosa, e seu companheiro
Chicó. Ambos se envolvem no caso do cachorro da mulher do padeiro, comprometendo
um número considerável de personagens que, em meio às confusões armadas pelas
mentiras de João Grilo, vão se enredando numa trama que culmina com o julgamento de
algumas delas diante de Jesus, da Virgem Maria e do Diabo.

Estudo sobre as formas dramáticas

– Origens das formas dramáticas, – O termo “dramático” Drama, do grego dráo = ação.

Como o gênero narrativo, inicialmente representado pela épica, o gênero dramático era escrito
na forma de poesia, em versos. Posteriormente, séculos depois, liberou-se da estrutura poética e
passou a ser escrito em prosa.

A ação no texto dramático

– O texto dramático é relacionado à ação. – Na Epopéia há → Ação narrada X Drama → há


ação encenada. – No drama, a ação é expressa através da encenação. – Podemos dizer
que o texto dramático põe em cena a ação. Responsáveis pelo desenvolvimento do drama:
atores – Interpretação, – Gestos, olhares e vozes.

Autos religiosos

Mistérios

Os mistérios eram voltados para uma audiência popular. Havia uma função propedêutica nos
mistérios, no sentido de ensinarem ao povo aspectos da religiosidade católica, de modo simples,
concreto e compreensível. Geralmente, versavam sobre histórias bíblicas. Eram encenados nas
praças das cidades medievais e contavam com ampla participação popular.

Outro tipo de auto religioso, igualmente popular, eram os milagres, peças que contavam a vida
dos homens e mulheres considerados como santos pela Igreja Católica.
Devemos considerar, no contexto medieval, o fato de que a maior parte da população era
analfabeta, bem como o domínio da cultura pela escolástica, para compreendermos melhor a
importância dos autos religiosos, em seu momento inicial.

– Audiência popular. – Função propedêutica, de modo simples, concreto e compreensível.

– Geralmente, versavam sobre histórias bíblicas. – Encenados nas praças das cidades medievais

Milagres

Contavam a vida dos homens e mulheres considerados como santos, pela Igreja Católica.

Devemos considerar, no contexto medieval, o fato de que a maior parte da população era
analfabeta, bem como o domínio da cultura pela escolástica, para compreendermos melhor a
importância dos autos religiosos, em seu momento inicial.

Moralidades

– Dramas voltados para a discussão das angústias humanas.

– Representação de personagens estereotipadas e da representação maniqueísta da vida,


expressa no conflito entre o bem e o mal.

– Tinham como objetivo levar o espectador a refletir, em torno de um modelo moral


percebido como justo.

Farsas

Peças de temática profana e eram, geralmente, voltadas para a comicidade.

Discutiam aspectos morais do cotidiano, como o adultério e a escolha do marido.

Gil Vicente foi um autor que criou com desenvoltura peças de várias categorias, como a Farsa
de Inês Pereira, o Auto da Barca do Inferno, O milagre de São Martinho e a Moralidade da
Alma.

Auto da Barca do Inferno

Por meio da presença de dois barqueiros, o Anjo e o Diabo, eles recebem as almas dos
passageiros que passam para o outro mundo. A cena passa-se num porto e portanto, um dos
barcos vai em direção ao céu, e outro para o inferno. A maioria dos personagens vão para a
barca do inferno. Durante suas vidas não seguiram o caminho de Deus, foram trapaceiros,
avarentos, interesseiros e cometeram diversos pecados. Por outro lado, quem seguia os preceitos
de Deus e viveu de maneira simples vai para a barca de Deus. São eles: Joane, o parvo, e os
quatro cavaleiros. O Auto da Barca do Inferno é um grande clássico da literatura portuguesa.
Ele possui diversas sátiras envolvendo a moralidade. Pelo destino das almas de alguns
personagens, a obra satiriza o juízo final do catolicismo, além da sociedade portuguesa do
século XVI A alegoria do juízo final é um recurso utilizado pelo dramaturgo através de seus
personagens (diabo e anjo). Além disso, cada personagem possui uma simbologia associada à
falsidade, ambição, corrupção, avareza, mentira, hipocrisia, etc...

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