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O contexto me faz ver seu carácter literário; mas a linguagem em si própria carece
de qualidade ou propriedades que permitam distingui-lo de qualquer outro tipo de
discurso, e quem o empregasse no bar não seria admirado pela sua destreza literária.
Considerar a literatura como o fazem os formalistas equivale realmente a pensar
que toda literatura es poesia. Um fato significativo: quando os formalistas focaram a
sus atenção na prosa, a miúdo simplesmente lhe aplicaram o mesmo tipo de técnica que
usaram com a poesia.
Estranhamento > Carácter de “raro”
Outro problema relacionado com o “estranhamento” consiste em que, com
suficiente inteligência, qualquer texto adquire um carácter “raro”. Muitos avisos
aparentemente claros apresentam ambiguidades. Isto é, a ambiguidade não é uma
caraterística própria da literatura, que a “literatura” pode referir-se tanto ao que as
pessoas fazem com o escrito como ao que o escrito faz com as pessoas.
Fins não pragmático da literatura
Por conseguinte, poderíamos dizer que a literatura é um discurso “não
pragmático”. Ao invés dos manuais de biologia ou os recados que se deixam para o
entregador do leite, a literatura carece de um fim prático imediato, e deve referir a uma
situação de carácter general.
Este enfoque dirigido à maneira de falar e não à realidade de aquilo sobre o qual
se fala, às vezes se interpreta como se com isso se quisesse indicar que entendemos por
literatura certo tipo de linguagem autorreferente, uma linguagem que fala de si própria.
Porém, ainda se o tratamento “não pragmático” do discurso é parte do que se quer
dizer com o termo “literatura”, deduz-se desta “definição” que, de fato, não se pode
definir a literatura “objetivamente”. Deixa-se a definição de literatura à forma em que
alguém decide ler, não à natureza do escrito. Há certos tipos de textos — poemas, obras
dramáticas, romances — que obviamente não se conceberam com “fins pragmáticos”,
mas isso não garante que na realidade vão ser lidos adoptando esse ponto de vista.
Textos sem fins literários « textos literários
É verdade que muitas das obras que se estudam como literatura nas instituições
académicas foram “construídas” para ser lidas como literatura, pero também é verdade
que muitas não foram “construídas” assim. Um escrito pode começar a viver como
história ou filosofia e, posteriormente, ser classificado como literatura; ou pode
empezar como literatura e acabar sendo apreciado pelo seu valor arqueológico.
Alguns textos nascem literários; a outros lhes impõem o carácter literário.
Se as pessoas decidem que tal ou qual escrito é literatura pareceria que de fato o
é, independentemente do que se tenha intentado ao concebê-lo.
Neste sentido, pode considerar-se a literatura não tanto como una qualidade ou
conjunto de qualidades inerentes que aparecem de manifesto em certo tipo de obras, senão
corno as diferentes formas nas que as pessoas se relacionam com o escrito.
Não há absolutamente nada que constitua a “essência” mesma da literatura. Quiçá
“literatura” signifique precisamente o contrário: qualquer texto que, por tal o qual motivo,
alguém tem em muito. Como diria um filósofo, “literatura” e “hervajo” são termos mais
funcionais do que ontológicos; referem-se ao que fazemos e não ao ser fixo das coisas.
Referem-se ao papel que desempenha um texto ou um cardo em um contexto social, ao
que o relaciona com o seu entorno e ao que o diferencia de ele, a seu comportamento, aos
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fins aos que se pode destinar e às atividades humanas do entorno. Neste sentido,
“literatura” constitui um tipo de definição vazia, puramente formal.
Em muitas sociedades a “literatura” tem cumprido funções de grande valor
prático, como as de carácter religioso. Distinguir drasticamente entre o “prático” e o
“não prático” só resulta possível numa sociedade como a nossa, onde a literatura em
grande parte tem deixado de ter uma função prática.
Boa literatura « má literatura « não literatura
De modo geral, as pessoas denominam “literatura” aos escritos que lhes parecem
bons. Evidentemente a isto último se pode objetar que se fosse inteiramente certo não
haveria nada que pudesse ser chamado de “má literatura”.
Parecesse, pois, que os juízos de valor têm certamente muito a ver com o que se
julga como literatura e com o que se julga que não o é, mesmo que, não necessariamente
no sentido de que um escrito, para ser literário, tenha que caber dentro da categoria do
“bem escrito”, mas que tem que pertencer ao que se considera “bem escrito”, ainda
quando se trate de um exemplo inferior de una forma geralmente apreciada.
Significa que podemos abandoar de uma vez por sempre a ilusão de que a
categoria “literatura” é “objetiva”, no sentido de ser algo invariável, dado para toda a
eternidade. Qualquer coisa pode ser literatura, e qualquer coisa que inalterável e
inquestionavelmente se considera literatura — Shakespeare, por caso — pode deixar de
ser literatura. Pode abandoar-se por quimérica qualquer opinião acerca de que o estudo
da literatura é o estudo de uma entidade estável e bem definida.
Variação diacrônica e diatópica do cânon literário
Os juízos de valor são notadamente variáveis: por isso se deduz da definição de
literatura como forma de escrever altamente apreciada que não é uma entidade estável.
“Os tempos mudam, os valores não”, proclama o anúncio de um jornal, como se ainda
acreditássemos que há que matar às criaturas enfermiças ou exibir em público aos doentes
mentais. Como numa época as pessoas podem considerar filosófica a obra que mais tarde
qualificará de literária, ou vice-versa, também podem mudar de opinião sobre o que
considera escritos valiosos.
Por outro lado, isto não significa que o chamado “cânon literário”, a intocável
“gloriosa tradição” da “literatura nacional” tenha que se tomar como um conceito — uma
“construção”— cuja conformação esteve sob cargo de certas pessoas movidas por
certas causas em certa época. “Valor” é um termo transitório; significa o que algumas
pessoas apreciam em circunstâncias específicas, baseando-se em determinados critérios
e à luz de fins preestabelecidos.
Suponhamos que, graças a expertas pesquisas arqueológicas, descobrisse-se muito
mais sobre o que a tragédia grega em realidade significava para o público contemporâneo,
déssemo-nos conta da enorme distância que separa o que então interessava do que hoje
nos interessa, e relêssemos essas obras à luz de conhecimentos mais profundos. Isso
poderia dar por resultado — entre outras coisas — que deixássemos de gostar dessas
tragédias e comédias. Dito de outra forma, as sociedades “reescrevem”, mesmo
inconscientemente todas as obras literárias que leem. Mais ainda, ler equivale
sempre a “reescrever”. Os fatos estão à vista e são irrecusáveis, mas os valores são coisa
pessoal e arbitrária.
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O primeiro que vem a nosso pensamento é: a língua, mas nem sempre isto é
assim. Só em dois casos aparece o problema da língua. Quando se trata de uma
literatura em língua estrangeira, ou quando se trata de literatura
comparada.
O mais frequente é que esta literatura em língua original seja reservada para os
cursos de línguas estrangeiras, onde o idioma é o primeiro objeto de estudo.
Na realidade, é absolutamente necessário a contribuição da linguística para
o estudo de qualquer literatura. E esta contribuição torna-se imprescindível no estudo
de literaturas em mais de uma língua.
Em relação com os estudos literários, de cuja especificidade encarrega-se a
teoria literária (ou melhor, as teorias literárias, já que, não existe uma só teoria). Esta
teoria será a que defina modos ou gêneros literários, traços de estilo, retóricas,
sistemas, categorias, tudo aquilo que tem a ver com o sistema modelizante
secundário que se inscreve sobre o sistema modelizante primário, a língua.
Haveria, portanto, interdisciplinaridade no sentido de que é no cruzamento
de uma linguística com uma teoria da literatura que se realiza o estudo de
uma literatura.
Quando se trata do estudo de literaturas em mais de uma língua, o processo se
multiplica, cada uma delas deverá ser considerada no cruzamento particular com a língua
de que se trata (uma mesma linguística pode abordar duas línguas, mas o resultado será
diferente, porque as regras que se derivarão da sua aplicação o serão necessariamente).
Esse cruzamento de (pelo menos) duas línguas, implica, em primeiro lugar, o
estudo comparado de ambas as línguas mediante um instrumento específico: a
interlinguística ou linguística comparada. Esta abordagem já é interdisciplinar
em si. A isto se acrescenta a particularidade do objeto (a literatura) que envolve outra
disciplina específica (o estudo literário); e um novo cruzamento se produz no
enfrentamento de duas literaturas (dois sistemas literários) nacionais.
Em resumo: A literatura comparada poderia ser considerada interdisciplinar pela
inter-relação, em primeiro lugar, de dois disciplinas: a linguística e os estudos
literários. Em segundo lugar, aparece a inter-relação que se produz entre dois literaturas.
O cruzamento é complexo porque se trata da interlinguística e a linguística
de cada língua em relação com cada literatura. E, por último, num vaivém que nunca
se detém, o enfrentamento entre ambas as realizações literárias.
As literaturas nacionais constituem um objeto de estudo suficientemente
recortado. As línguas solem ser um dos traços marcantes, mesmo que não sejam o único.
Existem outras razões para pensarmos em que se trata de uma disciplina: obedece
à triple consideração sobre o recorte disciplinar: comunicabilidade — saber em
comunicação —, atividade — saber em ação —, especificidade — saber em
especificidade.
Saber em comunicação: os estudos literários não existem fora do ensino.
Saber em ação: Trata-se de uma atividade — a leitura (como fazer crítico).
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nas que essas literaturas se inscrevem. Não há como compreender os códigos do dito
nelas, o sobreentendido que aparece em todo texto literário e que só um integrante da
mesma comunidade cultural poderá ler.
Do mesmo jeito como temos pensado a literatura como um cruzamento de estudos
linguísticos e literários, a literatura comparada se produz no cruzamento com estes
estudos da cultura.
Isto indica a necessidade da participação de diferentes disciplinas (relação
literatura – arte, literatura – história, literatura – psicanálise ou outras). Qualquer seja
a relação não pode constituir-se fora de um campo interdisciplinar.
• E a questão metodológica?
A pergunta é: por que, então, falamos de literatura compara, no singular e não de
literaturas comparadas, no plural, ou, por exemplo, de literatura comparada com
música?
Uma resposta possível seria que esta denominação é usada no singular, mas
pensada no plural e que na realidade “acaba por rotular investigações bem variadas, que
adoptam diferentes metodologias”.
Conclui-se, portanto, que não só a literatura comparada não atinge um
campo disciplinar novo, mas que ela mesma, foi na sua base um estudo
particular de uma literatura, ou seja, inscrito num campo disciplinar
aparentemente único e é, hoje, o modo de chamar uma grande quantidade de estudos
interdisciplinares com uma denominação comum. Na realidade, estamos pensando em
plural e isso é adequado, por ser a realização destes estudos cada vez mais plural.
Fica claro então que o campo da Literatura Comparada só é possível
na interdisciplinaridade, os métodos utilizados pertencem a diferentes
disciplinas, isto é, só pode ser concebida na sua relação com outros saberes.
A sua metodologia é eclética.
Ao utilizar o termo “escolas” é preciso ter em conta esses aspectos e que a intenção
classificatória só tem sentido com relação a uma feição “clássica” dos estudos literários
comparados.
Ao lado da orientação francesa, também se costuma designar como “escolas” a
norte-americana e a soviética.
A primeira, despojada de inflexões nacionalistas, distingue-se da francesa por seu
maior ecletismo, absorvendo com facilidade noções teóricas, em particular os princípios
que regeram o new criticism — movimento crítico que se desenvolveu a partir dos anos
30 nos Estados Unidos.
Além de privilegiar a análise do texto literário em detrimento das relações entre
autores ou obras, os comparativistas norte-americanos aceitam os estudos comparados
dentro das fronteiras de uma única literatura, atuação recusada pela doutrina clássica
francesa. Sem ter um programa (ou doutrina) estabelecido.
Os comparativistas soviéticos adotam, como princípio básico, a compreensão da
literatura como produto da sociedade. Preocupam-se, sobretudo, em distinguir entre
analogias tipológicas e importações culturais (outra forma de designar as "influências").
A PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA
Aguiar e Silva - Capítulo 5
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Problemas epistemológicos
Como se organiza, como perdura e com o se transforma o campo literário, quer
considerado na relativa autonomia da sua organização intrasistemática, quer considerado
no âmbito das suas conexões intersistemáticas e extrasistemáticas?
Reconhecer a pertinência e a relevância destas perguntas equivale a
reconhecer a necessidade, no plano do conhecimento teorético e no plano do
conhecimento histórico, de construir uma periodização literária, isto é, de
identificar, delimitar e caracterizar fenômenos de homeostase e de homeorrese,
de continuidade e de mudança na literatura com o sistema semiótico, como
instituição, com o processo de produção e de recepção de textos e, obviam ente, com
o corpus textual.
A rejeição da pertinência e da relevância da periodização literária deriva tanto de
um anarquismo epistemológico, que denega a racionalidade do processo histórico e a
inteligibilidade da cultura, com o de um idealismo que concebe os textos literários como
insularidades irredutivelmente singulares (paradoxalmente, pelo menos na aparência, este
idealismo não raro coexiste com um positivismo escrupulosamente factológico).
A estética idealista, com o se verifica, por exemplo, na obra de Croce, ao postular
a essência monadológica dos textos literários, adopta logicamente, em relação aos
problemas da periodização literária, uma atitude de rejeição ou, pelo menos, de
cepticismo nominalista; “classicismo”, “romantismo”, “realismo”, etc., constituem
apenas, nesta perspectiva, etiquetas desprovidas de justificação e legitimidade,
denominações carecentes de capacidade heurística e hermenêutica. Na sua
essencialidade, cada texto literário é uma criação absoluta que se exime à lei da
continuidade” formulada por Gombrich e para o conhecimento do qual, por isso mesmo,
são inadequados conceitos como os de género e período literários.
O círculo e a espiral como modelos da periodização literária
A consciência histórica implica o reconhecimento da alteridade do passado e do
presente, quaisquer que sejam o fundamento e a natureza dessa alteridade, e pressupõe a
ideia de que o homem e a cultura se constroem, se desenvolvem e se modificam em
processos temporais, no âmbito da sociedade.
Petrarca concebe antes a história como um processo cíclico no qual reaparecem
alternadamente, reiterando-se, períodos de abatimento e decadência e períodos de
esplendor. A roda do Tempo e a roda da Fortuna, símbolos da mudança cíclica,
possibilitam a corrupção e a regeneração, a queda e a ascensão, o crepúsculo e a aurora.
Sob estas e semelhantes metáforas, coexistem tensamente uma concepção catastrofista e
uma concepção ativista do devir das civilizações.
As ideias de recorrência e de circularidade, fundadas na vivência e na
observação de múltiplos fenômenos cósmicos e biofisiológicos, enraizadas em mitos,
religiões, filosofias, etc., são inerentes ao significado primordial de “período” como
intervalo ou medida de tempo, pois que a palavra grega para “período”; significa o
curso ou a “revolução” dos astros, isto é, um caminho, ou uma trajetória, que se
desenvolve até regressar a uma posição inicial. Em rigor, as chamadas constantes
literárias são fatores recorrentes.
Perante a evidencia empírica de que existe uma história das artes e dos valores
estéticos, os teorizadores do classicismo adoptam necessariamente uma atitude
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É evidente que os elementos da teoria da literatura, que hoje tantos cultivam com ímpeto,
e as questões da Literatura Comparada se necessitam, concheavam e implicam
mutuamente; e é provável que se impliquem no futuro ainda mais.
Não se surpreenderão, meus leitores, de que o modelo C tem tardado tanto em
abrir-se caminho o estudo conjunto de fenômenos geneticamente independentes. Há trinta
ou quarenta anos, esta classe de investigação não se tinha por legítima.
A tarefa principal da Literatura Comparada — fica a dica — é o confronto da
Poética com nosso conhecimento da poesia; isto é, da teoria da literatura, sempre em
movimento, com o vasto leque de saberes e de interrogações, sempre em aumento, que o
comparatismo faz possível.
2. Problema de la periodización
Lo anterior, se refiere a una historia literaria como una semiótica de la
comunicación textual, con carácter pragmático, parte de una semiótica de la cultura.
Desde esta perspectiva, las periodizaciones convencionales de la historia general y de la
historia literaria tradicional son inoperantes. Ya no se trata de escribir una historia
literaria desmembrada de la historia cultural en su conjunto, sino del capítulo
literario de una historia cultural y del capítulo cultural de una historia social, el
problema de mayor urgencia es diseñar un modelo de ordenamiento que rebase las
cronologías lineales, sin detrimento de la ubicación de autores y obras en los
contextos temporales y espaciales donde se insertan dinámicamente. Es posible
diseñar un modelo de estilos semióticos que se aproximan lo más posible a la realidad de
la evolución cultural latinoamericana.
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vivido, pero que al hacerlo se les desborda el lenguaje: la voz río ya no basta cuando se
enfrenta al Orinoco o al Amazonas, y la de lluvia no acaba por cubrir el aguacero de la
Tierra de Gracia.
¿Es literatura latinoamericana, por ejemplo, la literatura de los jesuitas que en
1767 son expulsados del continente y que comienzan a constituir en Europa una especie
de conciencia de América en el exterior?
“Hay América anglosajona, dinamarquesa, holandesa, etc.; la hay española,
francesa, portuguesa, y a este grupo ¿que denominación científica aplicarle sino el de
latina?”
La noción de América Latina surge como oposición a la noción de América
sajona, tal como lo afirma José Martí en el mismo período, quien las opone y delimita la
noción de “nuestra América”, que es “la América en que nació Juárez” y de la cual hace
un análisis comparable al que han desarrollado las ciencias sociales latinoamericanas a
mediados de este siglo.
Se trata de un proceso plural por cuanto responden en un mismo período a
temporalidades diversas, a una historia de sectores distintos de la sociedad, así como
a diferentes medios de plasmación, ya sea en oralidad o escritura. Se trata de un discurso
global formado por tres sistemas: un sistema erudito, en español, portugués u otra lengua
metropolitana, un sistema popular en la expresión americana de las lenguas
metropolitanas (o en créole en el caso del Caribe) y de un sistema literario en lengua
nativa, según la región.
De la organización en períodos
La organización por épocas culturales —por su parte—, tales como Renacimiento
o Barroco, tiene el inconveniente de no dar cuenta exactamente del proceso de literaturas
que se construyen, no como eco o transposición mecánica de los modelos literario
metropolitano, sino como respuesta creativa a los procesos de expansión de las literaturas
metropolitanas o de centros culturales hegemónicos. Respuestas desarrolladas en
condiciones de dependencia económica y social, que lejos de entregar una expresión
especular de esta relación, genera más bien mecanismos de descentramiento, de
deformación, de respuesta creativa.
El proceso de consolidación de una literatura: podría argüirse la perspectiva
teleológica, la visión finalista de esta proposición. Estamos en una situación en donde
lo importante es la creación de una literatura autónoma y poderosa que trabaja
independientemente.
Ellas van respondiendo correlativamente a una época en dónde lo importante
son los géneros, una segunda en donde lo importante son los movimientos y una
tercera en donde lo importante son las corrientes.
El primer período observable es, pues, aquel que se desarrolla en el discurso
dialógico del descubrimiento y la conquista, en donde los interlocutores consignan una
visión de los vencedores y una visión de los vencidos como los polos en donde se va
fraguando muchas veces en medio de grandes contradicciones ideológicas el discurso de
América. Se trata de un período que se ha visto durante largo tiempo como una etapa
negra de nuestra historia cultural por la impronta del dogmatismo y la dominación.
Apunta Ángel Rama: “Yo realmente siento que hay tres grandes bloques: el
Iluminismo, el Romanticismo, el Positivismo con la aparición del realismo y las formas
peculiares de su culminación”.
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menos dos o tres: erudito y en lenguas indígenas, o afro-americano, o créole, además del
sistema popular en lenguas metropolitanas, como ya habíamos observado anteriormente.
En segundo lugar, porque las diferenciaciones culturales y lingüísticas en el
interior del continente —Hispanoamérica, Brasil o Caribe inglés, francés y holandés—
despliegan un espectro cultural y lingüístico que presenta las condiciones necesarias a un
estudio de este tipo.
En tercer lugar, porque tratándose de un continente de estructura social y
económica dependiente genera relaciones específicas de apropiación cultural de las
literaturas metropolitanas.
Ya desde los inicios de nuestra literatura, la literatura de viajes, objeto de los
estudios de “imagología” propios del comparatismo se sitúa en los comienzos de nuestro
discurso. Las cartas de relación, la crónica colonial, los relatos de travesías constituyen
una copiosa “literatura de viajes” que se aleja tal vez del modelo clásico —se trata de
viajes de conquista— pero que pertenecen con toda evidencia al género. Hay allí un
marco ideológico específico a considerar —por ejemplo. Colón y su afirmación
voluntarista del encuentro de las Indias Occidentales— que justamente enriquecen la
textualidad y son un desafío para el análisis. La opción metodológica ha sufrido en
cambio todo el peso del análisis positivista que ha desarrollado una perspectiva colonial
de modelos metropolitanos en donde nuestra literatura aparece como el mero reflejo
desdibujado de producciones mayores.
1. Los posibles niveles de un análisis comparativo en América Latina
El caso de nuestro continente y el problema que plantea no están aislados de otras
situaciones del llamado Tercer Mundo, en donde los procesos históricos han tenido etapas
parecidas.
En el caso de la América Latina, la pluralidad ha constituido la forma de existencia
de nuestra cultura desde el siglo XV por lo menos. El final de ese siglo marca el primer
contacto de las culturas vernáculas con Europa. como es sabido, la complejidad y
riqueza de estas culturas es evidente, y tos documentos que han llegado hasta nosotros,
los que se salvan de la hoguera de los “extirpadores de idolatrías” constituyen su
testimonio.
La situación de la pluralidad cultural entrega pues un panorama literario en donde
el comparatismo desempeña una función esencial de capacitación de la dinámica de la
recepción del universo literario indígena en el Occidental de deslinde de los procesos
intertextuales, de observación de los modos de producción literarios a partir de
núcleos generadores a menudo míticos o mágicos, de una textualidad de las formas
como la oralidad de una literatura (y una cultura) subvierte las estructuras de la
otra, de cómo las estructuras del lenguaje se “transculturan”.
El interés del método desborda el campo específico de lo literario, sin
embargo, para aproximarnos a conclusiones en relación con un problema que
obsesiona a la literatura del Continente: el de la “identidad”. Es cierto que la
vaguedad con que ha sido utilizado este término no lo ha llevado a constituirse en
concepto operativo para el análisis. Podrá serlo solo en la medida en que se asiente en un
análisis concreto de las situaciones concretas: en la tematización conceptual de una
articulación de parámetros que están presentes (no que “se buscan” como si no existieran)
en todos los ámbitos de la vida cotidiana, y en nuestro caso en los textos mismos y sus
relaciones, y que es necesario aprehender conceptualmente a través de un instrumento
válido.
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Arcádia e Ilustração
Bosi, Alfredo
“Dois momentos: o poético e o ideológico”
As tendências estéticas do Arcadismo como a busca do natural e do simples e a
adoção de esquemas rítmicos mais graciosos, entendendo-se por graça uma forma
específica e menor de beleza.
“O que já se postulava no período áureo do Barroco em nome do equilíbrio e
do bom gosto entra, no século XVIII, a integrar todo um estilo de pensamento
voltado para o racional, o claro, o regular, o verossímil; e o que antes fora modo
privado de sentir assume foros de teoria poética, e a Arcádia se arrogará o direito de ser,
ela também, “philosophique” e digna versão literária do Iluminismo vitorioso.
Importa, porém, distinguir dois momentos ideais na literatura dos Setecentos para
não se incorrer no equívoco de apontar contrastes onde houve apenas justaposição:
a) O momento poético que nasce de um encontro, embora ainda amaneirado,
com a natureza e os afetos comuns do homem, refletidos através da
tradição clássica e de formas bem definidas, julgadas dignas de imitação
(Arcádia);
b) O momento ideológico, que se impõe no meio do século, e traduz a crítica
da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero (Ilustração).
Denominador comum das tendências arcádicas é a procura do verossímil. O
conceito, herdado da poética renascentista, tem por fundamentos a noção de arte como
cópia da natureza e a ideia de que tal mimese se pode fazer por graus: de onde, o matiz
idealizante que esbate qualquer pretensão de um realismo absoluto. Já os primeiros
teóricos da Arcádia propunham mediações entre o natural e o ideal nas suas
fórmulas áureas de bom gosto.
Quanto ao bom gosto, será o deleite que se prova ao perceber a graça que
acompanha toda justa mimese do Bem e do Verdadeiro. Quem se agrada de falsos
ouropéis já está ontologicamente corrompido: o mau gosto e a depravação se juntam
como a cara e a coroa da moeda.
Não se pode esquecer que a evasão se faz dentro de um determinado sistema
cultural, em que é muito reduzida a margem de espontaneidade.
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Sua ação estritamente literária foi de escassa monta. Porém, interessa considerar
a sua existência porque revela um processo constante no espírito liberal e democrático
rio-platense.
As espécies cultivadas
Apresenta-se nas três primeiras décadas da pátria nova várias manifestações do
âmbito literário, fundamentalmente de carácter lírico, mesmo que de um lirismo
complexo. Pois, a poesia patriótica ou as relações gauchescas são percebidas às vezes
perante o épico convencional. A sátira, produto das decepções íntimas, a reminiscência
virgiliana, nascida das inquietudes vinculadas com a agricultura e a economia; a inflexão
gauchesca, que promete um telurismo definidor. Em outra ordem genérica, a dramática,
de clara militância ideológica. Poderia acrescentar-se, quase marginalmente, a prosa
política, o ensaio histórico, mas eles ficam de fora da criação literária propriamente dita.
O seu traço mais característico, e não superficial, é a luta íntima por mostrar uma
fisionomia própria através das formas satíricas, do virgilianismo, da formulação
patriótica, da atitude lírica e da expressão dramática, porque é através deles que
parece acordar uma expressão literária nacional, originais e de pessoalidade
autêntica.
Em cada um deles fica visível a imediata raiz colonial. Daí a escolha do ano de
1830 como limite convencional para começar a ver os albores da literatura argentina que
coloque a necessidade de uma emancipação intelectual semelhante à da política para
se lançar na busca de uma expressão que possa chamar-se própria.
Desabafo pela sátira
A sátira revela, ademais, quase marginalmente dos limites poéticos, um
optimismo social, um orgulho cidadão sem dúvida prematuro, mas fortemente sustento
nos séculos posteriores.
Aquele que pelo azar e as contingências da militância patriótica tiveram que lutar
ao mesmo tempo, com a espada e a pluma, foram tanto soldados quanto poetas pelo
império das circunstâncias.
Nos tempos da guerra com o Brasil proliferaram as sátiras contra os
portugueses.
Embora exceda o limite de 1830, não podemos deixar de mencionar um primeiro
ciclo da poesia satírica argentina, pouco conhecida “Sátira a los periodistas argentinos”
(1832) de Esteban Echeverría. Escrita como contestação às críticas recebidas pelos jornais
El Lucero, La Gaceta Mercantil e o British Packet pelo seu poema Elvira o la novia del
Plata.
O virgilianismo poético
Com uma surpreendente mistura da filosofia da natureza, caraterística do século
XVIII; das doutrinas dos fisiocratas e dos livre-cambistas e das questões político-
econômicas semelhantes aos da Roma atribuíram a Virgílio a contribuição de Las
Geórgicas, no Río de la Plata aparecem cedo ecos dessa perda que se exprime pela poesia
para advertir o significado das riquezas e fertilidade das terras, a necessidade da sua
exploração e as vantagens da visa simples junto à natureza: e, ao mesmo tempo, aclamar
perante o grave problema do abandono do trabalho no campo e o deslocamento massivo
para as cidades.
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O autor do Hino Nacional Argentino, Vicente López y Planes publica sua prosaica
oda “Delicias del Labrador” basicamente virgiliana, no seu elogio da vida simples do
homem das fazendas.
O virgilianismo, entre 1810 e 1830, oferece uma última expressão utilitário no
âmbito literário rio-platense, através da “Profecía de la grandeza de Buenos Aires”, de
Juan Cruz Varela, na qual, sob pressão de especiais orientações políticas, as divisas entre
o campo e a cidade ficam apagadas num enriquecimento mútuo.
As atitudes lírico-sentimentais
Nas letras argentinas, a lírica tem um surgimento tardio, a lírica propriamente dita,
a das efusões sentimentais, pessoais e íntimas. Esta se manifesta em rígidas genuflexões
cultas ou em religiosidades superficiais.
Uma conduta lírica baseada em elementos externos e descritivos, bem como a
ausência de intimismos e notas eróticas.
A poesia cívico-patriota
A poesia cívica característica, composta por letrados da revolução que
improvisam como poetas. Com uma bagagem retórica das humanidades clássicas advindo
da educação teocrática da Colônia, suprindo assim o dom estético que a natureza não lhes
concedeu. Daí que as suas obras poéticas resultem apenas da metrificação da prosa
(uma prosa metrificada).
Do ponto de vista dos conteúdos, a poesia patriótica, dentre 1810 e 1830,
concorda com os ideais de liberdade e luta contra os tiranos e os absolutismos.
Estes artistas inspirados sentem dentro de si o entusiasmo e o fervor do
patriotismo. A poesia patriótica, claramente contra a Espanha, apenas contava com
duas possibilidades de expressão: a adquirida através das humanidades clássicas ou
a recebida da própria Espanha.
Por sua vez, a lírica inglesa ou a francesa não eram conhecidas com a mesma
intensidade que as ideologias racionalista e enciclopedista. O caudal dessa poesia
patriótica é difundido em folhetos, jornais, manuscritos ou recitações em salões, tertúlias
e atos comemorativos.
Segundo Juan María Gutiérrez: Raro é o acompanhamento político daquele
período que não se ache concretizado num cielito, e existem algumas dessas
composições que são uma exposição completa das razões que o país teve para se declarar
independente.
O cielo se identificou especialmente com a sorte das nossas armas, e em cada
triunfo pátrio se ouviram suas populares harmonias à par dos hinos e das odas de grandes
poetas.
Três vertentes reconhecíveis
O colonialismo, o espírito localista e o gauchismo.
• A raiz do espírito colonial gera manifestações dramáticas;
• A segunda vertente manifesta um claro espírito localista e percorrem nelas todas
as peças que ajudam à causa patrióticas, obras que se afastando das ressonâncias
bélicas, procuram ingressar no doméstico e quotidiano da vida cidadã, refletindo
modos de vida, conflitos, idiossincrasias e interesses em jogo.
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O ROMANTISMO
Bosi, Alfredo
Caracteres gerais
Segundo Paul Valéry, seria necessário ter perdido todo espírito de rigor para
querer definir o Romantismo.
E, à falta de uma definição que abrace, no contorno de uma frase, a riqueza de
motivos e de temas do movimento, é comum recorrer ao simples elenco destes, ocultando
no mosaico da análise a impotência da síntese.
Mas aqui, como nos outros ciclos culturais, o todo é algo mais que a soma das
partes: é gênese e explicação. O amor e a pátria, a natureza e a religião, o povo e o
passado, que afloram tantas vezes na poesia romântica, são conteúdos brutos,
34
espalhados por toda a história das literaturas, e pouco ensinam ao intérprete do texto, a
não ser quando postos em situação, tematizados e lidos como estruturas estéticas.
Ora, é a compreensão global do complexo romântico que alcança entender esses
vários níveis de abordagem que a análise horizontal dos “assuntos” aterra no mesmo
plano.
A situação dos vários romantismos
O primeiro e maior círculo contorna a civilização no Ocidente que vive as
contradições próprias da Revolução Industrial e da burguesia ascendente. Definem-
se as classes: a nobreza, há pouco apeada do poder; a grande e a pequena burguesia, o
velho campesinato, o operariado crescente. Precisam-se as visões da existência:
nostálgica, nos decaídos do Ancien Régime; primeiro eufórica, depois prudente, nos
novos proprietários; já inquieta e logo libertária nos que veem bloqueada a própria
ascensão dentro dos novos quadros; imersa ainda na mudez da inconsciência, naqueles
para os quais não soara em 1789 a hora da Liberdade-Igualdade-Fraternidade.
Segundo a interpretação de Karl Mannheim, o Romantismo expressa os
sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza, que já caiu, e a
pequena burguesia que ainda não subiu: de onde, as atitudes saudosistas ou
reivindicatórias que pontuam todo o movimento.
O quadro, vivo e pleno de consequências espirituais na Inglaterra e na França,
então limites do sistema, exibe defasagens maiores ou menores à medida que se passa do
centro à periferia. As nações eslavas e balcânicas, a Áustria, a Itália central e meridional,
a Espanha, Portugal e, com mais evidência, as colônias, ainda vivem em um regime
dominado pela nobreza fundiária e pelo alto clero, não obstante os golpes cada vez
mais violentos da burguesia ilustrada.
O Brasil, egresso do puro colonialismo, mantém as colunas do poder agrário:
o latifúndio, o escravismo, a economia de exportação. E segue a rota da monarquia
conservadora após um breve surto de erupções republicanas, amiudadas durante a
Regência.
Carente do binômio urbano indústria-operário durante quase todo o século XIX,
a sociedade brasileira contou, para a formação da sua inteligência, com os filhos de
famílias abastadas do campo, que iam receber instrução jurídica (raramente,
médica) em São Paulo, Recife e Rio (Macedo, Alencar, Álvares de Azevedo, Fagundes
Varela, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Pedro Luís), ou com filhos de
comerciantes luso-brasileiros e de profissionais liberais, que definiam, grosso modo,
a alta classe média do país (Pereira da Silva, Gonçalves Dias, Joaquim Norberto,
Casimiro de Abreu, Castro Alves, Sílvio Romero). Raros os casos de extração humilde
na fase romântica, como Teixeira e Sousa e Manuel Antônio de Almeida, o primeiro
narrador de folhetim, o segundo, picaresco; ou do trovador semipopular Laurindo Rabelo.
Nesse esquema, do qual Bosi afasta qualquer traço de determinismo cego,
ressalte-se o caráter seletivo da educação no Brasil-Império e, o que mais importa, a
absorção pelos melhores talentos de padrões culturais europeus refletidos na Corte e nas
capitais provincianas.
Assim, apesar das diferenças de situação material, pode-se dizer que se formaram
em nossos homens de letras configurações mentais paralelas às respostas que a
inteligência europeia dava a seus conflitos ideológicos.
35
Teoria do Conto
40
as partes que o constituem e segundo as relações destas partes entre si e destas partes com
o conjunto do conto.
Partindo da análise da ação das personagens, constata que há ações constantes,
que ele chama de funções; função seria, então, “a ação de uma personagem, definida do
ponto de vista do seu significado no desenrolar da intriga”. Estas funções ou ações
constantes são independentes das personagens que as praticam e dos modos pelos quais
são praticadas. Isto é, as mesmas ações são praticadas por personagens diferentes e de
maneiras diferentes.
O que era verdade para todos passa ou tende a ser verdade para um só. Neste
sentido, evolui-se do enredo que dispõe um acontecimento em ordem linear, para um
outro, diluído nos feelings, sensações, percepções, revelações ou sugestões íntimas. Pelo
próprio caráter deste enredo, sem ação principal, os mil e um estados interiores vão se
desdobrando em outros.
A questão não é, pois, ser ou não ser a favor do enredo. É ser a favor de admitir
que há contos em que a ação é mais ou menos importante, por injunção da própria história
da estória.
passo. Em toda a composição não deve haver nenhuma palavra escrita cuja tendência
direta ou indireta não esteja a serviço deste desígnio preestabelecido”.
Estas considerações atentam já, sistematicamente, para uma característica básica
na construção do conto: a economia dos meios narrativos. Trata-se de conseguir, com o
mínimo de meios, o máximo de efeitos. E tudo que não estiver diretamente relacionado
com o efeito, para conquistar o interesse do leitor, deve ser suprimido.
Para Poe, tais propostas de construção da obra em função de um efeito
predeterminado, seja no poema, seja no conto, primam pela racionalidade. Existe sempre
a idéia de um projeto, ou propósito ou intenção, que posteriormente passa a ser executado,
mediante trabalho racional. Segundo ele, “com a precisão e rígida lógica de um problema
matemático”.
6. VOCABULÁRIO CRÍTICO
46
Ação: atos praticados por um sujeito, ou atitudes e caracteres que, em conjunto, compõem
o enredo; este agir, fazer ou acontecer se desenvolve em processo, organizando-
se numa sequência, que compõe a linha de ação; se a ação é forte e predominante
entre outros elementos de construção do conto, este é chamado conto de ação.
Acidente (ou incidente): acontecimento casual; episódio; uma parte da vida que adquire
realce no conto e em torno do qual o conto se desenvolve.
Anedota: relato curto, com final surpreendente e de caráter humorístico ou engraçado.
Argumento: resumo ou síntese da ação ou do que acontece; fábula.
Clímax: momento decisivo do enredo, em que se atinge o ponto máximo da tensão
(conflito) e que traz ou anuncia o desfecho ou resolução do conflito.
Conflito: relação mais ou menos tensa de luta entre personagens ou entre personagens e
outra força, como a social, por exemplo; uma instabilidade entre estas forças, sob
a forma de um desequilíbrio, que pode estar, por exemplo, numa situação de
incorrespondência amorosa ou num ato de injustiça social; o conflito pode ir
aumentando até o seu ponto máximo, o clímax; resolve-se – ou se desfaz – no
desenlace, e a este último segue-se uma parte final da narrativa, o epílogo.
Desfecho: desenlace; resolução do conflito. Pode ser seguido de epílogo.
Enredo: como a estória, é contada; encadeamento dos episódios conforme eles aparecem
organizados na narrativa; intriga, trama.
Epifania: revelação súbita do que é um objeto, após haver apreendido o objeto na relação
entre suas partes e na relação com outros objetos (Joyce).
Epílogo: parte final da narrativa, o que se narra depois do desfecho ou resolução do
conflito.
Estória: o que se conta numa narrativa e que pode ser recontado, recompondo-se os fatos
numa sequência cronológica, sem a preocupação de obedecer à ordem que tais
acontecimentos ocupam na narrativa; fábula.
Fábula: o que é contado; estória; “conjunto de acontecimentos ligados entre si que nos
são comunicados no decorrer da obra”; e também: estória curta, cujos personagens
são animais, vegetais ou minerais, e que tem objetivo moral.
Mito: enredo ou trama (Aristóteles); e também: narrativa simbólica na qual se instaura o
equilíbrio de valores espirituais ou sociais em que cada um possa se situar e que
fornece uma interpretação da existência.
Plano: disposição das partes de uma obra; projeto, desígnio (design), intenção.
Regra das três unidades: princípio que consiste em manter numa peça uma só ação, um
só lugar e um tempo (um dia).
Simetria: regularidade no plano ou estrutura de uma obra, causada, por exemplo, pelo
uso de um só elemento: um só episódio, espaço, ou outro elemento de construção
da narrativa.
Sketch (ingl.): texto em prosa curto, de caráter descritivo, que representa como é ou está
alguém ou alguma coisa; esboço, retrato, caracteres soltos e independentes;
quadro ou peça dramática de caráter estático.
Suspense: técnica narrativa que consiste em “suspender” a ação, adiando o desfecho e,
assim, instigando a tensão, ou o medo (contos de terror) ou a curiosidade do leitor.
47
Tensão: intensidade de força entre elementos de uma narrativa, que alimenta o conflito
entre elementos, ou seja, que promove a situação de instabilidade numa narrativa,
até a resolução do conflito ou o desfecho.
Trama: enredo, intriga; “o modo pelo qual as coisas que acontecem se organizam na
narrativa”.
Unidade: organização das partes de um objeto num todo único, de forma a possibilitar a
sua visão de conjunto; unidade de efeito: o efeito que causa no leitor um texto, se
lido de uma só vez, sem interrupções, de modo a lhe permitir uma impressão total
ou do conjunto da obra.
Yarn (ingl.): anedota, um único episódio que pode ter acontecido com alguém, contado
em linguagem coloquial; estória ou acontecimento breve, de caráter fantástico, do
gênero “acredite se quiser”.
I
En uno de sus cuadernos de notas Chéjov registra esta anécdota: «Un hombre, en
Montecarlo, va al Casino, gana un millón, vuelve a su casa, se suicida». La forma clásica
del cuento está condensada en el núcleo de ese relato futuro y no escrito.
Contra lo previsible y convencional (jugar-perder-suicidarse) la intriga se plantea como
una paradoja. La anécdota tiende a desvincular la historia del juego y la historia del
suicidio. Esa escisión es clave para definir el carácter doble de la forma del cuento.
Primera tesis: un cuento siempre cuenta dos historias.
II
El cuento clásico (Poe, Quiroga) narra en primer plano la historia 1 (el relato del juego)
y construye en secreto la historia 2 (el relato del suicidio). El arte del cuentista consiste
en saber cifrar la historia 2 en los intersticios de la historia 1. Un relato visible esconde
un relato secreto, narrado de un modo elíptico y fragmentario.
El efecto de sorpresa se produce cuando el final de la historia secreta aparece en la
superficie.
III
Cada una de las dos historias se cuenta de modo distinto. Trabajar con dos historias quiere
decir trabajar con dos sistemas diferentes de causalidad. Los mismos acontecimientos
entran simultáneamente en dos lógicas narrativas antagónicas. Los elementos esenciales
de un cuento tienen doble función y son usados de manera diferente en cada una de las
dos historias. Los puntos de cruce son el fundamento de la construcción.
IV
En «La muerte y la brújula», al comienzo del relato, un tendero se decide a publicar un
libro. Ese libro está ahí porque es imprescindible en el armado de la historia secreta.
¿Cómo hacer para que un gángster como Red Scharlach esté al tanto de las complejas
tradiciones judías y sea capaz de tenderle a Lönrot una trampa mística y filosófica?
Borges le consigue ese libro para que se instruya. Al mismo tiempo usa la historia 1 para
48
disimular esa función: el libro parece estar ahí por contigüidad con el asesinato de
Yarmolinsky y responde a una causalidad irónica. «Uno de esos tenderos que han
descubierto que cualquier hombre se resigna a comprar cualquier libro publicó una
edición popular de la Historia secreta de los Hasidim». Lo que es superfluo en una
historia, es básico en la otra. El libro del tendero es un ejemplo (como el volumen de Las
1001 noches en «El Sur»; como la cicatriz en «La forma de la espada») de la materia
ambigua que hace funcionar la microscópica máquina narrativa que es un cuento.
V
El cuento es un relato que encierra un relato secreto. No se trata de un sentido oculto que
depende de la interpretación: el enigma no es otra cosa que una historia que se cuenta de
un modo enigmático. La estrategia del relato está puesta al servicio de esa narración
cifrada. ¿Cómo contar una historia mientras se está contando otra? Esa pregunta sintetiza
los problemas técnicos del cuento.
Segunda tesis: la historia secreta es la clave de la forma del cuento y de sus variantes.
VI
La versión moderna del cuento que viene de Chéjov, Katherine Mansfield, Sherwood
Anderson, y del Joyce de Dublineses, abandona el final sorpresivo y la estructura cerrada;
trabaja la tensión entre las dos historias sin resolverla nunca. La historia secreta se cuenta
de un modo cada vez más elusivo. El cuento clásico a la Poe contaba una historia
anunciando que había otra; el cuento moderno cuenta dos historias como si fueran una
sola.
La teoría del iceberg de Hemingway es la primera síntesis de ese proceso de
transformación: lo más importante nunca se cuenta. La historia secreta se construye con
lo no dicho, con el sobrentendido y la alusión.
VII
«El gran río de los dos corazones», uno de los relatos fundamentales de Hemingway, cifra
hasta tal punto la historia 2 (los efectos de la guerra en Nick Adams) que el cuento parece
la descripción trivial de una excursión de pesca. Hemingway pone toda su pericia en la
narración hermética de la historia secreta. Usa con tal maestría el arte de la elipsis que
logra que se note la ausencia del otro relato.
¿Qué hubiera hecho Hemingway con la anécdota de Chéjov? Narrar con detalles precisos
la partida y el ambiente donde se desarrolla el juego y la técnica que usa el jugador para
apostar y el tipo de bebida que toma. No decir nunca que ese hombre se va a suicidar,
pero escribir el cuento como si el lector ya lo supiera.
VIII
Kafka cuenta con claridad y sencillez la historia secreta, y narra sigilosamente la historia
visible hasta convertirla en algo enigmático y oscuro. Esa inversión funda lo «kafkiano».
La historia del suicidio en la anécdota de Chéjov sería narrada por Kafka en primer plano
y con toda naturalidad. Lo terrible estaría centrado en la partida, narrada de un modo
elíptico y amenazador.
IX
Para Borges la historia 1 es un género y la historia 2 es siempre la misma. Para atenuar o
disimular la esencial monotonía de esa historia secreta, Borges recurre a las variantes
49
narrativas que le ofrecen los géneros. Todos los cuentos de Borges están construidos con
ese procedimiento.
La historia visible, el juego en la anécdota de Chéjov, sería contada por Borges según los
estereotipos (levemente parodiados) de una tradición o de un género. Una partida en un
almacén, en la llanura entrerriana, contada por un viejo soldado de la caballería de
Urquiza, amigo de Hilarlo Ascasubi. El relato del suicidio sería una historia construida
con la duplicidad y la condensación de la vida de un hombre en una escena o acto único
que define su destino.
X
La variante fundamental que introdujo Borges en la historia del cuento consistió en hacer
de la construcción cifrada de la historia 2 el tema del relato.
Borges narra las maniobras de alguien que construye perversamente una trama secreta
con los materiales de una historia visible. En «La muerte y la brújula», la historia 2 es
una construcción deliberada de Scharlach. Lo mismo sucede con Acevedo Bandeira en
«El muerto»; con Nolan en «Tema del traidor y del héroe»; con Emma Zunz.
Borges (como Poe, como Kafka) sabía transformar en anécdota los problemas de la forma
de narrar.
XI
El cuento se construye para hacer aparecer artificialmente algo que estaba oculto.
Reproduce la busca siempre renovada de una experiencia única que nos permita ver, bajo
la superficie opaca de la vida, una verdad secreta. «La visión instantánea que nos hace
descubrir lo desconocido, no en una lejana terra incognita, sino en el corazón mismo de
lo inmediato», decía Rimbaud.
Esa iluminación profana se ha convertido en la forma del cuento.
O realismo
Bosi, Alfredo
Um novo ideário
A poesia social de Castro Alves e de Sousândrade, o romance nordestino de
Franklin Távora, a última ficção citadina de Alencar já dizia muito, embora em termos
românticos, de um Brasil em crise. De fato, a partir da extinção do tráfico, em 1850,
acelerara-se a decadência da economia açucareira; o deslocar-se do eixo de prestígio para
o Sul e os anseios das classes médias urbanas compunham um quadro novo para a nação,
propício ao fermento de ideias liberais, abolicionistas e republicanas. De 1870 a 1890
serão essas as teses esposadas pela inteligência nacional, cada vez mais permeável ao
pensamento europeu que na época se constelava em torno da filosofia positiva e do
evolucionismo. Comte, Taine, Spencer, Darwin e Haeckel foram os mestres de Tobias
Barreto, Sílvio Romero e Capistrano de Abreu e o seriam, ainda nos fins do século, de
Euclides da Cunha, Clóvis Bevilacqua, Graça Aranha e Medeiros e Albuquerque, enfim,
dos homens que viveram a luta contra as tradições e o espírito da monarquia.
50
fará ver as raízes nacionais da nova literatura, raízes que nem sempre se identificam com
a massa de influências europeias então sofridas.
No plano da invenção ficcional e poética, o primeiro reflexo sensível é a descida
de tom no modo de o escritor relacionar-se com a matéria de sua obra. O liame que se
estabelecia entre o autor romântico e o mundo estava afetado de uma série de mitos
idealizantes: a natureza-mãe, a natureza-refúgio, o amor-fatalidade, a mulher-diva, o
herói prometeu, sem falar na aura que cingia alguns ídolos como a “Nação”, a “Pátria”, a
‘Tradição”, etc. O romântico não teme as demasias do sentimento nem os riscos da ênfase
patriótica; nem falseia de propósito a realidade, como anacronicamente se poderia hoje
inferir: é a sua forma mental que está saturada de projeções e identificações violentas,
resultando-lhe natural a mitização dos temas que escolhe. Ora, é esse complexo ideo-
afetivo que vai cedendo a um processo de crítica na literatura dita “realista”. Há um
esforço, por parte do escritor antirromântico, de acercar-se impessoalmente dos objetos,
das pessoas. E uma sede de objetividade que responde aos métodos científicos cada vez
mais exatos nas últimas décadas do século.
Os mestres dessa objetividade seriam, ainda uma vez, os franceses: Flaubert,
Maupassant, Zola e Anatole, na ficção; os parnasianos, na poesia; Comte, Taine e Renan,
no pensamento e na História. Em segundo plano, os portugueses, Eça de Queirós,
Ramalho Ortigão e Antero de Quental, que travavam em Coimbra uma luta paralela no
sentido de abalar velhas estruturas mentais. No caso excepcional de Machado de Assis,
foi a busca de um veio humorístico que pesou sobre a sua eleição de leituras inglesas.
O distanciamento do fulcro subjetivo (que já se afirmava na frase de Théophile
Gautier: “sou um homem para quem o mundo exterior existe”) é a norma proposta ao
escritor realista. A atitude de aceitação da existência tal qual ela se dá aos sentidos
desdobra-se, na cultura da época, em planos diversos, mas complementares:
a) – no nível ideológico, isto é, na esfera de explicação do real, a certeza
subjacente de um Fado irreversível cristaliza-se no determinismo (da raça, do meio, do
temperamento…);
b) – no nível estético, em que o próprio ato de escrever é o reconhecimento
implícito de uma faixa de liberdade, resta ao escritor a religião da forma, a arte pela
arte, que daria afinal um sentido e um valor à sua existência cerceada por todos os lados.
O supremo cuidado estilístico, a vontade de criar um objeto novo, imperecível,
imune às pressões e aos atritos que desfazem o tecido da história humana, originam-
se e nutrem-se do mesmo fundo radicalmente pessimista que subjaz à ideologia do
determinismo. E o que já fora verdade para os altíssimos prosadores Schopenhauer e
Leopardi, não o será menos para os estilistas consumados da segunda metade do século
XIX, Flaubert e Maupassant, Leconte de Lisle e Machado de Assis.
O Realismo se tingirá de naturalismo, no romance e no conto, sempre que
fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das “leis naturais” que
a ciência da época julgava ter codificado; ou se dirá parnasiano, na poesia, à medida
que se esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito.
Tentando abraçar de um só golpe a literatura realista-naturalista-parnasiana, é uma
grande mancha pardacenta que se alonga aos nossos olhos: cinza como o cotidiano do
homem burguês, cinza como a eterna repetição dos mecanismos de seu comportamento;
cinza como a vida das cidades que já então se unificava em todo o Ocidente. E é a moral
cinzenta do fatalismo que se destila na prosa de Aluísio Azevedo, de Raul Pompeia, de
Adolfo Caminha, ou na poesia de Raimundo Correia. E, apesar das meias-tintas com que
52
a soube temperar o gênio de Machado, ela não será nos seus romances maduros menos
opressora e inapelável.
A coexistência de um clima de ideias liberais e uma arte existencialmente negativa
pode parecer um paradoxo, ou, o que seria mortificante, um erro de enfoque do
historiador. Mas o contraste está apenas na superfície das palavras: a raiz comum dessas
direções é a posição incômoda do intelectual em face da sociedade tal como esta se veio
configurando a partir da Revolução Industrial. Agredindo na vida pública o status quo,
ele é ainda um rebelde e um protestatário, como o foram, entre nós, Raul Pompeia, Aluísio
Azevedo, Adolfo Caminha e o Machado jovem; mas, introjetando-o nos meandros de sua
consciência, reificando-o como lei natural e como seleção dos mais fortes, ele acaba
depositário de desencantos e, o mais das vezes, conformista. O apelo ao destino,
recorrente em grandes naturalistas europeus como Giovanni Verga e Thomas Hardy, deve
ser visto à luz dessa dialética de revolta e impotência a que tantas vezes se tem reduzido
a condição do escritor no mundo contemporâneo.
A FICÇÃO
O Realismo ficcional aprofunda a narração de costumes contemporâneos da
primeira metade do século XIX (Stendhal, Balzac, Dickens, Hugo) e de todo o século
XVIII (Lesage, Diderot, Defoe, Fielding, Jane Austen…). Nas obras desses grandes
criadores do romance moderno já se exibiam poderosos dons de observação e de análise,
razão pela qual não se deve cavar um fosso entre elas e as de Flaubert, Maupassant, Verga,
Thackeray e Machado. Entretanto, é sempre válido dizer que as vicissitudes que
pontuaram a ascensão da burguesia durante o século XIX foram rasgando os véus
idealizantes que ainda envolviam a ficção romântica. Desnudam-se as mazelas da vida
pública e os contrastes da vida íntima; e buscam-se para ambas causas naturais (raça,
clima, temperamento) ou culturais (meio, educação) que lhes reduzem de muito a área de
liberdade. O escritor realista tomará a sério as suas personagens e se sentirá no dever de
descobrir-lhes a verdade, no sentido positivista de dissecar os móveis do seu
comportamento.
As afirmações dos realistas franceses, a propósito, são exemplares.
Flaubert: “Esforço-me por entrar no espartilho e seguir uma linha reta geométrica:
nenhum lirismo, nada de reflexões, ausente a personalidade do autor” (Correspondência,
1-2-1852).
Jules e Edmond de Goncourt: “Hoje, quando o Romance cresce e se amplia,
quando ele começa a ser a grande forma séria, apaixonada, viva, do estudo literário e da
pesquisa social, quando ele se torna, pela análise e pela sondagem psicológica, a História
moral contemporânea; hoje, quando o romance impôs a si mesmo os estudos e os deveres
da ciência, ele pode reivindicar-lhes as liberdades e a franqueza” (Prefácio a Germine
Lacerteux, 1864).
Émile Zola: “Em Thérèse Raquin, eu quis estudar temperamentos e não caracteres.
Aí está o livro todo. Escolhi personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo
sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades
da própria carne. (…). Começa-se a compreender (espero-o) que o meu objetivo foi acima
de tudo um objetivo científico. Criadas minhas duas personagens, Thérèse e Laurent, dei-
me com prazer a formular e a resolver certos problemas; assim, tentei explicar a estranha
união que se pode produzir entre dois temperamentos diferentes e mostrei as perturbações
profundas de uma natureza sanguínea em contato com uma natureza nervosa. (…) Fiz
53
realista com aquela vida e aquela natureza transformadas pelo Positivismo em complexos
de normas e fatos indiferentes à alma humana. Quem não lembrará a atitude limite de
Machado de Assis, dando à natureza um rosto de esfinge a perseguir o pobre Brás Cubas
no seu delírio?
Em termos de construção, houve descarnamento do processo expressivo,
cortando-se as demasias romanescas de um Dickens e de um Balzac e considerando-se
ponto de honra não intervir com a força dos próprios afetos na mimese do real (a poética
da impessoalidade). Isso não significa que o autor se ausentasse, como queria
polemicamente Flaubert, ou que de algum modo deixasse de projetar-se na elaboração da
obra. O modo de formar, diz Umberto Eco, revela o grau de empenho do artista em face
da realidade: a estruturação “impessoal” do romance mostra, como já vimos, os
sentimentos amargos e, via de regra, certo fatalismo, que pesavam sobre o espírito de um
Maupassant ou de nosso Machado. A tendência de tudo centrar na fatura indicava o
retrair-se da concepção de realismo à esfera da formatividade mimética: o que era outra
forma de dizer a impotência a que estavam relegados como homens diante do todo social.
E nada melhor para explicar ou justificar essa impotência do que o férreo determinismo,
filosofia oficial desses anos em todo o Ocidente.
O determinismo reflete-se na perspectiva em que se movem os narradores ao
trabalhar as suas personagens. A pretensa neutralidade não chega ao ponto de ocultar o
fato de que o autor carrega sempre de tons sombrios o destino das suas criaturas. Atente-
se, nos romances desse período, para a galeria de seres distorcidos ou acachapados pelo
Fatum: o mulato Raimundo, a negra Bertoleza, Pombinha, o “Coruja”, de Aluísio
Azevedo; Luzia-Homem, de Domingos Olímpio; Sérgio, de Raul Pompeia; os
protagonistas de A Normalista e de O Bom Crioulo, de Adolfo Caminha; Padre Antônio,
de Inglês de Sousa…
Neles espia-se o avesso da tela romântica: Macedo e Alencar faziam passear as
suas donzelas nas matas da Tijuca ou nos bailes da Corte; Aluísio não sai das casas de
pensão e dos cortiços. O sertanejo altivo de Alencar não sofria das misérias que nos
descrevem A Fome, de Rodolfo Teófilo, e Luzia-Homem, de Domingos Olímpio. Os
costumes regionais, tão castos em Taunay e em Távora, tornar-se-ão licenciosos na selva
amazônica, a ponto de transviar o missionário de Inglês de Sousa. A adolescência,
fagueira e pura na pena de Macedo, conhecerá a tristeza do vício precoce no Bom Crioulo,
de Caminha, e na Carne, de Júlio Ribeiro, sem contar as angústias sexuais da puberdade
que latejam no Ateneu, de Raul Pompeia. Mas a suma, depurada e sóbria, do precário em
que se resume toda a existência se espelharia no romance e no conto de Machado de
Assis.
Assim, do Romantismo ao Realismo, houve uma passagem do vago ao típico, do
idealizante ao factual. Quanto à composição, os narradores realistas brasileiros também
procuraram alcançar maior coerência no esquema dos episódios, que passaram a ser
regidos não mais por aquela sarabanda de caprichos que faziam das obras de um Macedo
verdadeiras caixas de surpresa, mas por necessidades objetivas do ambiente (cf. O
Missionário) ou da estrutura moral das personagens (cf. Dom Casmurro). Nem sempre,
porém, a obediência aos princípios da escola impediu desvios melodramáticos ou
distorções psicológicas grosseiras (O Homem, O Livro de uma Sogra, de Aluísio; A
Carne, de Júlio Ribeiro). De um modo geral, contudo, a prosa de ficção ganhou em
sobriedade e em rigor analítico com o advento da nova disciplina.
Nos fins do século XIX e nas primeiras décadas do nosso, começa a hipertrofiar-
se o gosto de descrever por descrever, em prejuízo da seriedade que norteara o primeiro
55
El proyecto realista
Roberto J. Payró
Montes, Graciela
El origen del realismo literario puede situarse hacia mediados del siglo XIX en
Francia. Desde allí se extendió a otros países de Europa occidental y América. Entre ellos,
Inglaterra, Rusia, España, Portugal, Alemania y Estados Unidos, entre otros.
El programa del realismo literario penetró también las artes plásticas. Sin
embargo, la pintura realista no tuvo la misma receptividad que la literatura, que influyó
en otras corrientes como el naturalismo y se mantuvo vigente por varias décadas.
Características del realismo literario
El realismo literario se caracterizó por su compromiso social, la representación de
la realidad tal como era percibida, el afán de objetividad y la claridad del discurso. Todo
esto se despliega en los siguientes puntos.
Compromiso moral, político y humanitario
Preocupado por los problemas sociales, el realismo literario se caracteriza por un
declarado compromiso moral, político y/o humanitario. Piensa en el escritor como alguien
con la responsabilidad de denunciar las contradicciones sociales y las injusticias.
Representación de la realidad
La realidad concreta es vista como materia de creación, sin excluir los elementos
desagradables. Los escritores prefieren aquellos aspectos evadidos frecuentemente en el
arte romántico, tales como los problemas y contradicciones sociales.
Para el realismo, todo elemento de la realidad es digno de representación. No se
oculta nada solo porque pueda parecer desagradable, pobre, feo, escandaloso o inmoral.
Esto no quiere decir que el realismo sea grotesco o vulgar. Por el contrario, la objetividad
en la descripción favorece el cuidado de la forma del discurso.
Cientificismo y objetividad
La investigación científica fue parte de los recursos que utilizaban los escritores
para garantizar la objetividad. Ningún detalle podía quedar sujeto a la especulación. Un
ejemplo es Flaubert, quien para narrar con detalle la muerte de Madame Bovary, se
documentó en la literatura médica de la época.
Verosimilitud
El cientificismo y la objetividad narrativa están atadas a la búsqueda de
verosimilitud. Ni la fantasía ni la elucubración tienen cabida en el realismo. La realidad
descrita debe ser creíble, percibida como una posibilidad real para el lector, ya sea porque
se identifique en ella, ya sea porque le obliga a reconocer la realidad social silenciada en
el orden establecido.
Predominio del narrador omnisciente
La literatura realista prefiere el narrador omnisciente. Esto se debe a dos factores.
Por un lado, el narrador omnisciente sabe más que los personajes y esto permite abundar
en detalles o enfoques. Por otro lado, como el narrador omnisciente no participa en la
acción, favorece la sensación de objetividad, sea que se limite a narrar los hechos o que
los sancione.
Linealidad narrativa
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La estructura narrativa del realismo suele ser lineal. Significa que la línea temporal
del relato acostumbra ser cronológica, sin saltos temporales. Esto no impide que puedan
ser presentados al lector antecedentes, recuerdos o pensamientos del pasado que
expliquen una determinada acción.
Lenguaje claro, objetivo y directo
Los escritores del realismo optan por el uso del lenguaje directo. Prefieren
describir las cosas de manera clara y objetiva, aun cuando puedan abundar en detalles
explicativos y descripciones pormenorizadas. Se prescinde de la ambigüedad discursiva
y se exponen claramente las cosas tal como son entendidas por el autor.
Personajes comunes
El realismo fija su atención en los personajes comunes. Suele preferir los
personajes de la clase media y burguesa o de los sectores populares. Los personajes nobles
dejan de ser centrales o reciben un tratamiento diferente. Los personajes mitológicos o
legendarios, tan presentes en la literatura del pasado, son retirados del realismo.
Temas del realismo
Los realistas se ocupan de representar la realidad social. Sin embargo, el tema que
concentrará la mayor atención será la burguesía. Son presentes asuntos como las
transformaciones sociales, la pobreza y la exclusión; las tensiones entre la
aristocracia y la burguesía; la ambición y el ascenso social; la crisis de las
instituciones sociales —como el matrimonio (adulterio y divorcio)—; el rol social de
la mujer; etc.
O ENREDO
Mesquita, Samira Nahid de
ENREDO
O enredo como categoria estruturante da narrativa em prosa de ficção: conceitos teóricos
Tópico um
Enredo e História: dos rituais pré-históricos às novelas de TV e ao hipertexto
Enredo: arranjo de uma história, corpo de uma narrativa
• Apresentação / representação de situações, de personagens nelas envolvidos e as
sucessivas transformações que vão ocorrendo entre elas, criando-se novas situações, até
se chegar à final (o desfecho do enredo).
• Atividade lúdica: o narrador é um jogador, e forma, com o leitor e o próprio texto, o que
se pode chamar umacomunidade lúdica.
Tópico dois
Enredo e Mito: da visão mítica, estruturada do universo, à visão romanesca,
conflitiva do mundo
Mito: narrativa primordial, cada evento possui uma significação e se articula logicamente
com as demais
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Forma de...
• Ordenar a desordem
• Dominar o desconhecido
• Compensar o caos
Funções:
• Etiológica – significação de ordem geral, cósmica
• Ideológica – transmissão e preservação de valores da sociedade
Tópico três
Enredo e Gênero: Prosa, Verso, Teatro, Cinema, Música, etc.
Enredo e Gêneros em prosa
Enredo: categoria estruturante da narrativa de ficção em prosa
Gêneros tradicionais: causalidade, lógica temporal
(estruturação a partir de princípios)
Gêneros modernos: desestruturação da narrativa
A pintura moderna ao destruir a perspectiva destruiu a ‘figura’ (enunciado),
desprezando as leis da verossimilhança e dando maior valor ao ato de pintar
(enunciação). Anatol Rosenfeld
Tópico quatro
Enredo e Sentido: as diferentes significações para cada leitor, de cada época
O jogo tenso de ocultação e revelação dos sentidos
Um enredo pode apresentar o seu significado mais ou menos transparentemente, assim
como um leitor pode “ler”, com maior ou menor acuidade, o sentido de um texto.
O sentido de um texto: se revela, se oculta, se burla
A “organização” de um enredo, o sentido ou os sentidos que o texto guarda, variam para
cada leitor em cada época, e geram diferentes significações.
Tópico cinco
Enredo e Realidade: a realidade não prescinde da ficção e vice-versa
Cada sociedade produz a ficção de que necessita
No grande enredo de nossa humanidade, em todos os tempos, como se pode depreender,
a narrativa, oral ou escrita, está intimamente ligada à vida social dos grupos, em todas
as suas práticas significantes, e acompanha o homem desde a primeira idade, seja para
fazê-lo dormir, seja para despertá-lo.
Tópico seis
Enredo e Narração: a tipologia depende do tema: amor, viagens, ficção científica,
etc.
A tradição narrativa e a inovação narrativa
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O universo representado
• Matéria narrada
• Universo representado
• Materialidade do espaço físico.
Representação de um universo dentro do texto através dos signos verbais que o
compõem por meio da narração (transformações que passam situações e personagens) e
da descrição de espaços abertos e fechados, objetos e personagens.
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